Plantas de cravo-de-defunto (Tagetes erecta) e
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Plantas de cravo-de-defunto (Tagetes erecta) e
Plantas de cravo-de-defunto (Tagetes erecta) e controle biológico conservativo de pragas: uma nova proposta para o manejo de pragas na cultura do morangueiro 1 2 Pablo Garcia de Oliveira , Laércio Boratto de Paula , Bruno Almeida de Melo 3 1. Bacharel em Agronomia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG) – Câmpus Barbacena; 2. Professor do Núcleo de Agricultura do IF Sudeste MG - Câmpus Barbacena; 3. Professor voluntário do Núcleo de Agricultura do IF Sudeste MG - Câmpus Barbacena. [email protected] 1. Introdução Um dos desafios à expansão do cultivo de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch) é a implantação do Manejo Integrado de Pragas (MIP) visando reduzir o uso de agrotóxicos. No entanto, tal redução deve ser realizada com cautela, dada a alta incidência e agressividade das pragas relacionadas ao cultivo do morangueiro (SIMÕES et al., 2007). Na cultura do morangueiro é comum a presença de artrópodes-pragas, dentre os quais se destacam os ácaros fitófagos, pulgões, tripes, alguns percevejos, lagartas e brocas (GUIMARÃES et al., 2010). Com base no MIP é possível afirmar que o controle biológico de pragas e a manutenção da biodiversidade nos agroecossistemas são as práticas mais sustentáveis e eficazes (VAN LENTEREN, 2012). Desse modo, mediante o uso de plantas atrativas, como cravo-de-defunto, em intercultivo com olerícolas é possível aumentar a ocorrência de inimigos naturais e, consequentemente, reduzir a incidência de artrópodes-praga. Palavras chave: agroecologia, inimigos naturais, planta atrativa. Categoria/Área: BIC (graduação) / Ciências Agrárias e Ciências Ambientais. 2. Objetivo Identificar os insetos associados às plantas de cravo-de-defunto visando avaliar o potencial dessa planta no contexto do controle biológico conservativo de pragas na cultura do morangueiro. 3. Material e métodos O experimento foi conduzido de junho a novembro de 2014, em uma área de produção de morango comercial, no Sítio Milho Branco do proprietário Daniel Aloízio de Carvalho, localizado na cidade de Alfredo Vasconcelos (21° 8′ 16″ S, 43° 45′ 52″ O, altitude de 1050 metros) Minas Gerais, Brasil. Na área supracitada foi construído um canteiro de 40 m2 para o cultivo das plantas de cravo-de-defunto. Nesse canteiro foram instalados 10 blocos de 1 m2, espaçados 3 m entre si. Em cada bloco transplantou-se 12 mudas de cravo-de-defunto (Tagetes erecta). Esse canteiro experimental contendo os blocos com as plantas de Tagetes erecta foi construído entre dois canteiros de plantas de morangueiro, caracterizando assim o intercultivo. Sementes de cravo-de-defunto, doadas pelo Laboratório de Controle Biológico Conservativo da Universidade Federal de Lavras – UFLA foram semeadas no dia 20/06/2014 em bandeja de isopor contendo substrato comercial da marca Plantmax®. Após 21 dias da semeadura as mudas foram transplantadas para copos plásticos de 200 mL, contendo mistura de substrato e terra (50%/50%). Por fim, no 35º dia, as mudas de Tagetes erecta foram transplantadas no canteiro definitivo, adotando-se o espaçamento citado anteriormente. As coletas dos insetos associados às plantas de cravo-de-defunto tiveram início no dia 08/08/2014, duas semanas após o transplantio das mudas para o canteiro experimental, e se encerraram no dia 07/11/2014, totalizando 12 coletas durante o período de três meses. Na coleta dos insetos foi utilizado à técnica de batida das flores de cravo-de-defunto em bandejas de plástico branco, seguida da captura dos insetos com auxílio de um sugador entomológico. Foram coletados os insetos presentes em quatro plantas dentro de cada bloco, constituindo assim uma amostra. Dessa maneira foram amostradas semanalmente 40 plantas de cravo-de-defunto, perfazendo um total de 10 amostras (uma amostra por bloco). Os insetos coletados foram armazenados em frascos contendo álcool 70%, identificados e levados ao Laboratório de Microscopia do IF Sudeste MG - Câmpus Barbacena para triagem e identificação. Nesse processo foi utilizado estereoscópio óptico com capacidade de aumento de até 40X. A identificação dos indivíduos coletados foi conduzida prioritariamente ao nível taxonômico de família, chegando a alguns casos a gênero e espécie. Posteriormente, as amostras foram submetidas às análises de frequência e os táxons identificados foram classificados em relação a sua associação com as plantas de morangueiro em: a) insetos-praga da cultura do morangueiro; b) insetos fitófagos não praga do morangueiro; c) agentes de controle biológico (parasitoides e predadores); d) artrópodes com outros hábitos alimentares (detritívoros e fungívoros). 4. Resultados e discussão O número total de indivíduos coletados em plantas de Tagetes erecta durante o período de 08/08/2014 a 07/11/2014 foi de 2632, agrupados em 50 táxons e distribuídos em nove ordens (Araneae, Coleoptera, Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Neuroptera, Psocoptera e Thysanoptera). Durante esse período de levantamento foram realizadas 12 coletas nas quais se identificou espécimes com diferentes características em relação a sua associação com as plantas de morangueiro (Tabela 1). Tabela 1. Classificação dos táxons coletados em plantas de Tagetes erecta Classificação Nº de táxons % de táxons Nº de indivíduos % de indivíduos A 7 14 1142 43,39 B 12 24 626 23,78 C 25 50 579 22,00 D 6 12 285 10,83 Total 50 100 2632 100 A= insetos-praga da cultura do morangueiro; B= insetos fitófagos não praga do morangueiro; C= agentes de controle biológico (parasitoides e predadores); D= artrópodes com outros hábitos alimentares (detritívoros e fungívoros) Dos artrópodes coletados em plantas de Tagetes erecta 43,39% são considerados insetos-praga do morangueiro. Entre esses 7 táxons destacam-se as famílias Aphididae e Thripidae com respectivamente 345 e 733 indivíduos. Representantes da família Aphididae em altas populações podem ocasionar o enfraquecimento das plantas (sucção da seiva) e transmitir viroses no morangueiro (BERNARDI, 2013). Em relação à família Thripidae a principal espécie encontrada foi Frankliniella occidentalis. Apesar da alta incidência dos indivíduos das famílias Aphididae e Thripidae não foram observados surtos populacionais ao longo das coletas, podendo inferir que a presença dos inimigos naturais contribui para a manutenção do equilíbrio das populações supracitadas. Dentre os agentes de controle biológico coletados em plantas de cravo-de-defunto 422 indivíduos são predadores e 157 são parasitoides. Dentre os predadores, os 283 indivíduos (272 adultos e 11 jovens) da espécie Orius insidiosus apresentam-se como o principal agente de controle encontrado nas plantas de T. erecta. Em relação aos parasitoides foram coletados insetos pertencentes a 18 famílias, sendo Scelionidae (62 indivíduos) e Figitidae (Eucoilinae) (16 indivíduos) as famílias mais frequentes. Segundo Bueno et al. (2010) insetos da família Scelionidae são excelentes parasitoides de ovos de lepidópteros. Portanto, a presença de insetos da família Scelionidae associados às plantas de T. erecta podem contribuir para o manejo de importantes lepidópteros-praga que ocorrem no morangueiro. A família Figitidae (Eucoilinae) correspondeu a 10,19% dos himenópteros-parasitoide coletados. De acordo com Guimarães et al. (1999), indivíduos da família Figitidae (Eucoilinae) inclui parasitoides generalistas de várias espécies de Diptera. 5. Conclusão O cravo-de-defunto aloja pragas chave da cultura do morangueiro (733 tripes e 345 afídeos), contudo foi possível observar que inimigos naturais também estão associados às plantas (579 indivíduos). Portanto, plantas de Tagetes erecta podem contribuir no controle biológico conservativo de artrópodes-praga quando cultivadas nas adjacências da cultura do morangueiro. 6. Referências bibliográficas 1. BERNARDI, D.; ARAUJO, E. S.; ZAWADNEAK, M. A. C. ; BOTTON, M.; MOGOR, A. F.; GARCIA, M. S. Aphid Species and Population Dynamics Associated with Strawberry. Neotropical Entomology, v. 42, n.6, p. 628-633, September 2013. 2. BUENO, R. C. O. F.; CARNEIRO, T. R.; BUENO, A. F.; PRATISSOLI, D.; FERNANDES, O. A.; VIEIRA, S. S. Parasitism capacity of Telenomus remus Nixon (Hymenoptera: Scelionidae) on Spodoptera frugiperda (Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) eggs. Brazilian Archives of Biology and Technology, Curitiba, v.53, n.1, Jan./Feb. 2010. 3. GUIMARÃES, J. A.; ZUCCHI, R. A.; DIAZ, N. B.; SOUZA FILHO, M. F., UCHÔA FILHO, M. A. Espécies de Eucoilinae (Hymenoptera: Cynipoidea: Figitidae) parasitoides de larvas frugívoras (Diptera: Tephritidae e Lonchaeidae) no Brasil. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Londrina, v.28, n.2, p.263-273, 1999. 4. GUIMARÃES, J. A.; FILHO, M. M.; RIBEIRO, M. G. P. M.; JUNQUEIRA, A. M. R.; LIZ, R. S. Descrição e manejo das principais pragas do morangueiro. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2010. 8p. (Embrapa Hortaliças. Circular Técnica, 90). 5. SIMÕES J. A.; FADINI M. A. M.; VENZON M. Manejo integrado de pragas na cultura do morango. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 28, n. 236, p. 60, Jan./Fev. 2007. 6. VAN LENTEREN, J. C. The state of commercial augmentative biological control: plenty of natural enemies, but a frustrating lack of uptake. BioControl, v.57, n.1, p.120, 2012. Apoio financeiro: IF Sudeste MG – Câmpus Barbacena.