Valorização da Biodiversidade – Capacitação e inovação

Transcrição

Valorização da Biodiversidade – Capacitação e inovação
VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA NA FITOINDÚSTRIA NO AMAZONAS
Dimas José Lasmar
TESE
SUBMETIDA
AO
CORPO
DOCENTE
DA
COORDENAÇÃO
DOS
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS
PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA
DE PRODUÇÃO.
Aprovada por:
_____________________________________________
Prof. Anne-Marie Maculan, Ph.D
_____________________________________________
Prof. Antônio José Junqueira Botelho, Ph.D.
_____________________________________________
Prof. José Manoel Carvalho de Mello, Ph.D.
_____________________________________________
.
Prof. José Vitor Martins Bontempo, D.Sc
_____________________________________________
Prof. John Wilkson, Ph.D.
_____________________________________________
Prof. Léo Fernando Castelhano Bruno, Ph.D.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
MAIO DE 2005
LASMAR, DIMAS JOSÉ
Valorização da biodiversidade: capacitação
e inovação tecnológica na fitoindústria no
Amazonas. Rio de Janeiro: UFRJ – COPPE
[Rio de Janeiro] 2005.
XV, 228 p. (COPPE/UFRJ, D.Sc.,
Engenharia de Produção, 2005).
Tese-Universidade Federal do Rio de
Janeiro – COPPE, 2005.
1. Biodiversidade
2. Capacitação tecnológica
3. Atividades inovadoras
I. COPPE/UFRJ II. Título (série)
ii
DEDICATÓRIA
“Para minha linda flor Yasmin, que veio a este
mundo enquanto eu me debruçava com os
desafios da pesquisa, por ter sido sempre
vigilante durante longas noites inesquecíveis
com seu melodioso choro, que eu nunca distingui
se era fome ou um aviso para me manter alerta”.
iii
AGRADECIMENTOS
À minha querida orientadora, professora Anne-Marie Maculan, pela competência,
experiência de vida, atenção, paciência, incentivo e sábios conselhos.
À Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, que investiu recursos
públicos no programa de doutoramento do qual sou um dos beneficiados.
À Coordenação e professores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia - COPPE da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e Coordenação do Programa de PósGraduação em Engenharia da Universidade Federal do Amazonas, pela seriedade e
competência com que conduziram o Curso de Doutorado em Engenharia de Produção.
À Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica – FUCAPI, na pessoa da
Dra. Isa Assef, diretora presidente, que tem apoiado seus funcionários a se capacitarem,
como parte da missão de apoio ao desenvolvimento do Estado do Amazonas.
Aos empresários, representantes das empresas pesquisadas, técnicos de órgãos do governo
e pesquisadores, pela acolhida e informações concedidas.
Ao meu sobrinho Ricardo que tanto me ajudou na tabulação e organização dos dados,
refazendo-as pacientemente e por diversas vezes quando necessário.
Às minhas irmãs por terem cuidado dos nossos pais. E à minha esposa Monique que se
encarregou da doce tarefa de cuidar da nossa filha Yasmin.
Aos colegas do curso, com quem tive o imenso prazer de conviver, trocar experiências e,
sobretudo, aprender, em especial aos amigos Niomar e Guajarino sem a ajuda dos quais
minha missão de concluir o doutoramento teria sido muito mais árdua.
Aos amigos da Suframa, principalmente ao José Lopo, Raimundo Sampaio e Antônio
Botelho, pelo auxílio na interpretação dos dados do Pólo Industrial de Manaus - PIM.
Aos colegas da Fucapi e a todas as pessoas e amigos, cuja lista é extensa, que tanto me
ajudaram com os mais variados tipos de contribuição para que eu pudesse, enfim, concluir
esta pesquisa.
iv
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.).
VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA NA FITOIDÚSTRIA NO AMAZONAS
Dimas José Lasmar
Maio / 2005
Orientadora: Anne-Marie Maculan
Programa: Engenharia de Produção
Este estudo pretende apresentar alguns elementos sobre o processo de
aprendizagem, capacitação e inovação tecnológica na Fitoindústria no Amazonas. Mais
recentemente ressurgiu o debate sobre a perspectiva de valorização dos recursos da
biodiversidade baseada em conhecimentos, em substituição ao modo arcaico de
extrativismo e de comercialização das espécies in natura. As empresas que utilizam
matéria-prima de origem da floresta na fabricação de seus produtos, embora atuando em um
ambiente bastante complexo, vêm buscando adicionar progressivamente valor a esses
recursos, indicando ainda um dos caminhos possíveis para o desenvolvimento regional.
Essas empresas, todavia, para se tornarem competitivas, necessitam investir em novas
tecnologias, acumular novas competências e modernizar suas práticas gerenciais,
organizacionais, produtivas e de comercialização. Com o objetivo de avaliar a dinâmica de
modernização da Fitoindústria, foi realizada uma pesquisa, mediante a aplicação de um
questionário submetido às empresas, assim como entrevistas com pesquisadores, técnicos e
especialistas sobre a exploração dos recursos da biodiversidade, políticas públicas e infraestrutura. A metodologia seguiu uma abordagem qualitativa, a partir da freqüência das
respostas sobre os diversos indicadores do questionário apreciado pelas empresas. Os
resultados da pesquisa indicam que a maioria das empresas adotam práticas gerenciais, de
modernização organizacional e realizam atividades de pesquisa e desenvolvimento pouco
avançadas, porém estão buscando alcançar níveis mais elevados de capacitação tecnológica.
v
Abstract of Thesis presented to UFRJ / COPPE as a partial fulfillment of the requirements
for the degree of Doctor of Science (D.Sc.).
BIODIVERSITY VALORIZATION: TECHNOLOGICAL AND INNOVATION
CAPABILITIES IN AMAZON PHYTOINDUSTRY
Dimas José Lasmar
May/2005
Advisor: Anne-Marie Maculan
Department: Production Engineering
The objective of this research is to present some indicators concerning learning,
capabilities accumulation and technological innovation in Amazon Phytoindustry. Recently
the discussion upon the perspective of biodiversity valorization based on knowledge rose
again, in order to replace an archaic way of extracting and commercializing natural
resources. The enterprises which use raw material from jungle in their products
manufacture are progressively seeking add value to those resources, also pointing to an able
way of regional development, although functioning in a much complex environment.
However, these enterprises to become competitive need invest in new technologies,
accumulate new capabilities, and modernize its managerial, organizational, productive, and
commercialization practices. With the purpose of evaluating the dynamism of
Phytoindustry a research was accomplished through a
questionary submitted for
enterprises appreciation, interview with researchers and specialists regarding to biodiversity
exploration, public policies and infrastructure. The methodology followed up a qualitative
approach based on the answers frequency upon various indicators comprised into the
questionary appreciated by the enterprises. The investigation results show that most
enterprises adopt low advanced managerial, organizational and P&D practices, though they
are seeking to reach higher level capabilities.
vi
SUMÁRIO ANALÍTICO
I. INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 1
I.1 ESTRUTURA E ESCOPO DA PESQUISA ........................................................................................... 1
I.2. BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E INDUSTRIALIZAÇÃO DO AMAZONAS 3
I.3. REPENSANDO A EXPLORAÇÃO AUTO-SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE E A ORGANIZAÇÃO
DA FITOINDÚSTRIA .................................................................................................................. 6
I.4. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA, HIPÓTESE E OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................... 11
I.5. RELEVÂNCIA DA PESQUISA ..................................................................................................... 12
II. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA ..................................................................... 14
II.1. AS IMPLICAÇÕES DA LEGISLAÇÃO NAS ATIVIDADES DA FITOINDÚSTRIA .............................. 15
II.2. DIFICULDADES DE GOVERNANÇA DOS ATORES PARA A EXPLORAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE .................................................................................................................. 20
II.3. MERCADO DE PRDUTOS NATURAIS E DE MATÉRIA-PRIMA DE ORGIEM DA FLORESTA
AMAZÔNICA ......................................................................................................................... 24
II.4. OS DESAFIOS TECNOLÓGICOS DA FITOINDÚSTRIA .................................................................. 36
II.5. OS DESAFIOS PARA A CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA DAS EMPRESAS .................................... 61
III. REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................. 70
III.1. APRENDIZADO, CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ................................................. 70
III.2. CONCEITOS BÁSICOS PARA A PESQUISA................................................................................. 84
IV. METODOLOGIA DA PESQUISA.................................................................................... 87
IV.1. REFERÊNCIAS PARA A SELEÇÃO DE INDICADORES ................................................................. 88
IV.2. QUESTÕES METODOLÓGICAS PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA ......................................... 92
IV.3. AMOSTRA E COLETA, TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS .................................... 93
V. RESULTADOS DA PESQUISA.......................................................................................... 99
V.1. INDICADORES DE CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA ................................................................... 100
V.2. ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DA TRAJETÓRIA DOS PRINCIPAIS FATORES ....................................... 144
V.3. ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DA TRAJETÓRIA DOS FATORES DE MAIOR VARIAÇÃO EM IMPORTÂNCIA
RELATIVA ............................................................................................................................ 153
V.4. CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS EXPORTADORAS ............................................................. 160
V.5. NÍVEL E TRAJETÓRIA DA CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA DA FITOINDÚSTRIA E SUBSETORES. 163
VI. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES..................................... 167
vii
VI.1. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS MAIS RELEVANTES ...................................................... 167
VI.2. PRINCIPAIS CONCLUSÕES .................................................................................................... 184
VII. RECOMENDAÇÕES ..................................................................................................... 191
VII.1. ESTUDOS COMPLEMENTARES À PESQUISA ......................................................................... 191
VII.2. ESTRATÉGIAS PARA AS EMPRESAS ..................................................................................... 192
VII.3. DIGRESSÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS.......................................................................... 194
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 196
ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO DE INDICADORES SUBMETIDO ÀS EMPRESAS PESQUISADAS .............. 205
ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO SUBMETIDO AOS TÉCNICOS DO GOVERNO, ESPECIALISTAS E
PESQUISADORES ................................................................................................................... 211
ANEXO 3 - EMPRESAS PESQUISADAS.......................................................................................... 212
ANEXO 4 - TÉCNICOS DO GOVERNO, ESPECIALISTAS E PESQUISADORES ENTREVISTADOS ........... 213
ANEXO 5 - GLOSSÁRIO DAS ESPÉCIES DA FLORESTA EMPREGADAS COMO MATÉRIA-PRIMA........214
viii
FIGURAS
FIGURA 1 - ATORES
QUE INTERFEREM NA EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS DA FLORESTA
AMAZÔNICA ........................................................................................................................... 20
FIGURA 2 - CADEIA PRODUTIVA BÁSICA DA MATÉRIA-PRIMA ......................................................... 35
FIGURA 3 - CADEIA DE PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA ....................................... 53
FIGURA 4 - MINI USINA DE PRODUÇÃO DE ÓLEO BRUTO ................................................................ 57
FIGURA 5 - EXTRAÇÃO DO ÓLEO BRUTO ........................................................................................ 58
FIGURA 6 - FLUXO PARA CREDENCIAMENTO .................................................................................. 64
FIGURA 7 - ÓLEO ESSENCIAL ......................................................................................................... 65
FIGURA 8 - SEMENTES, FRUTAS E PARTES COMESTÍVEIS DE PLANTAS REGIONAIS........................... 66
FIGURA 9 - CONCENTRADO DE BEBIDA NÃO ALCOÓLICA ............................................................... 66
FIGURA 10 - ETAPAS DO PROCESSAMENTO DE UM FITOTERÁPICO .................................................. 67
FIGURA 11 - ETAPAS PARA ALCANÇAR VANTAGEM COMPETITIVA ................................................. 77
FIGURA 12 - ACUMULAÇÃO TECNOLÓGICA (APRENDIZADO).......................................................... 81
FIGURA 13 - ESTRUTURA DOS NÍVEIS DE ATIVIDADES INOVADORAS .............................................. 89
FIGURA 14 - FABRICAÇÃO DE ÓLEO REFINADO ............................................................................ 142
FIGURA 15 - TRAJETÓRIA DA CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA......................................................... 166
ix
GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - VENDAS POR SUBSETOR DA FITOINDÚSTRIA ............................................................ 106
GRÁFICO 2 - VENDAS DA FITOINDÚSTRIA POR REGIÃO................................................................. 106
GRÁFICO 3 - EXPORTAÇÕES DA FITOINDÚSTRIA .......................................................................... 107
GRÁFICO 4 - MÃO-DE-OBRA DIRETA ............................................................................................ 109
GRÁFICO 5 - GERAÇÃO DE EMPREGOS INDIRETOS ........................................................................ 110
GRÁFICO 6 - FATORES DE ATRATIVIDADE LOCACIONAL............................................................... 145
GRÁFICO 7 - MODERNIZAÇÃO GERENCIAL E ORGANIZACIONAL DO PROJETO ............................... 145
GRÁFICO 8 - CERTIFICAÇÃO PARA A MELHORIA DA QUALIDADE E ATENDIMENTO À LEGISLAÇÃO 146
GRÁFICO 9 - GESTÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS ................................................................ 146
GRÁFICO 10 - ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO ......................................................... 147
GRÁFICO 11 - DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS ............................................................ 147
GRÁFICO 12 - CONTROLE DE QUALIDADE ................................................................................... 148
GRÁFICO 13 - ATIVIDADES DE BIOTECNOLOGIA........................................................................... 148
GRÁFICO 14 - FONTES INTERNAS DE APRENDIZAGEM .................................................................. 149
GRÁFICO 15 - FONTES EXTERNAS DE APRENDIZAGEM ................................................................. 149
GRÁFICO 16 - CARÊNCIA DE PESSOAL QUALIFICADO POR ATIVIDADE .......................................... 150
GRÁFICO 17 - LIMITAÇÕES DE INFRA-ESTRUTURA FÍSICA ............................................................ 150
GRÁFICO 18 - DIFICULDADES DE COOPERAÇÃO ........................................................................... 151
GRÁFICO 19 - DIFICULDADES PARA A AQUISIÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA DA FLORA ........................ 151
GRÁFICO 20 - DIFICULDADES AMBIENTAIS .................................................................................. 152
GRÁFICO 21 - ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS ................................................................................ 152
GRÁFICO 22 - FATORES DE ATRATIVIDADE LOCACIONAL ............................................................ 154
GRÁFICO 23 - GERENCIAMENTO DO PROJETO E MODERNIZAÇÃO ORGANIZACIONAL .................... 154
GRÁFICO 24 - CERTIFICAÇÕES PARA ATENDER A QUALIDADE E A LEGISLAÇÃO ........................... 155
GRÁFICO 25 - GESTÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS .............................................................. 156
GRÁFICO 26 - ATIVIDADES DE BIOTECNOLOGIA........................................................................... 156
GRÁFICO 27 - FONTES EXTERNAS DE APRENDIZAGEM ................................................................. 157
GRÁFICO 28 - DIFICULDADES PARA O USO DA MATÉRIA-PRIMA DA FLORA .................................. 158
GRÁFICO 29 - OUTRAS DIFICULDADES PARA UTILIZAR RECURSOS DA FLORA............................... 158
GRÁFICO 30 - PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DA FITOINDÚSTRIA E SUBSETORES ................................ 159
GRÁFICO 31 - COMPRAS TOTAIS DA FITOINDÚSTRIA POR REGIÃO ................................................ 185
GRÁFICO 32 - COMPRAS LOCAIS EM RELAÇÃO AO TOTAL DE COMPRAS POR INDÚSTRIA .............. 185
x
TABELAS
TABELA 1 - NÍVEL DE VENDAS E EMPREGOS DO PIM ........................................................................ 5
TABELA 2 - PRODUÇÃO E VENDA ANUAL DE ESPÉCIES EMPREGADAS COMO MATÉRIA-PRIMA POR
SAFRA ........................................................................................................................... 29
TABELA 3 -PRODUÇÃO E VENDA ANUAL DE ESPÉCIES EMPREGADAS COMO MATÉRIA-PRIMA ......... 29
TABELA 4 - EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS DA FLORESTA AMAZÔNICA ............................................. 33
TABELA 5 - CARACTERÍSTICAS DA FITOINDÚSTRIA E SUBSETORES ................................................ 98
TABELA 6 - FORMAÇÃO ACADÊMICA E PROFISSIONAL DOS DIRIGENTES ...................................... 101
TABELA 7 - EMPRESAS FABRICANTES DE INSUMOS E BENS FINAIS POR ORIGEM DO CAPITAL ....... 102
TABELA 8 - INSUMOS POR SEGMENTO DE MERCADO .................................................................... 102
TABELA 9 - BENS FINAIS POR SEGMENTO DE MERCADO .............................................................. 103
TABELA 10 - FATORES DE ATRATIVIDADE LOCACIONAL ............................................................. 104
TABELA 11- MATÉRIA-PRIMA DA FLORA AMAZÔNICA ................................................................. 108
TABELA 12 - FATORES E ATIVIDADES DE MODERNIZAÇÃO ORGANIZACIONAL ............................. 111
TABELA 13 - CERTIFICAÇÃO PARA ATESTAR A QUALIDADE ......................................................... 112
TABELA 14 - GESTÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS ............................................................... 114
TABELA 15 - GESTÃO DO PROCESSO PRODUTIVO ......................................................................... 115
TABELA 16 - DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO ........................................................................... 116
TABELA 17 - ATIVIDADES DE BIOTECNOLOGIA ............................................................................ 120
TABELA 18 - FONTES INTERNAS DE INFORMAÇÃO E APRENDIZAGEM .......................................... 121
TABELA 19 - CONTROLE DE QUALIDADE...................................................................................... 122
TABELA 20 - FONTES EXTERNAS DIVERSAS DE INFORMAÇÃO E DE APRENDIZAGEM .................... 124
TABELA 21 - NECESSIDADE DE PESSOAL QUALIFICADO POR TIPO DE ATIVIDADE ......................... 126
TABELA 22 - DIFICULDADES DE INFRA-ESTRUTURA DE P&D E PRODUÇÃO.................................. 127
TABELA 23 - DIFICULDADES DE COOPERAÇÃO COM INSTITUTOS DE P&D E EMPRESAS ............... 129
TABELA 24 - LIMITAÇÕES DE ATIVIDADES COM A MATÉRIA-PRIMA ............................................ 132
TABELA 25 - ANÁLISES LABORATORIAIS PARA O CONTROLE DE QUALIDADE E P&D .................. 134
TABELA 26 - DIFICULDADES DE ACESSO AO MERCADO PARA O PRODUTO FINAL .......................... 136
TABELA 27 - OUTRAS DIFICULDADE DA FITOINDÚSTRIA .............................................................. 137
TABELA 28 - ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA FITOINDÚSTRIA ............................... 140
TABELA 29 - POTENCIAIS EXPORTADORES, EXPORTADORES DE CAPITAL LOCAL
E EXPORTADORES DE CAPITAL ESTRANGEIRO ......................................................... 160
TABELA 30 - NÍVEL DE CAPACITADADE PRODUTIVA E TECNOLÓGICA DA FITOINDÚSTRIA............ 163
xi
QUADROS
QUADRO 1 - COMPLEXIDADE DAS ATIVIDADES DE PESQUISA E TECNOLÓGICA ............................... 49
QUADRO 2 - VANTAGENS ATRIBUÍDAS À FITOINDÚSTRIA COMPARATIVAMENTE AO PIM .............. 68
QUADRO 3 - PRINCIPAIS ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM A PROBLEMÁTICA ............................... 69
QUADRO 4 - COMPETÊNCIAS DE PRODUÇÃO E COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS ............................. 83
QUADRO 5 - NÍVEIS DE CAPACIDADE TECNOLÓGICA DA FITOINDÚSTRIA ....................................... 91
QUADRO 6 - QUATRO QUESTÕES METODOLÓGICAS PARA A PESQUISA ............................................ 94
QUADRO 7 - VANTAGENS HIPOTÉTICAS DA FITOINDÚSTRIA SOBRE O PIM................................ 184
QUADRO 8 - NOVAS EMPRESAS DE BIOTECNOLOGIA (NEBS) VS. EMPRESAS ............................... 187
xii
GLOSSÁRIO
ANVISA
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APLs
- Arranjos Produtivos Locais
ATPF
- Autorização para Transporte de Produto Florestal
BIAMAZÔNIA
- Associação Brasileira para o Uso Sustentável da Amazônia
CBA
- Centro de Biotecnologia da Amazônia
CGEN
- Conselho de Gestão do Patrimônio Genético
CIDE
- Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial
CITES
- Comércio Internacional de Espécies da Floresta e da Fauna
Selvagem em Perigo de Extinção
COIAB
- Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
EMBRAPA
- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FAPEAM
- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
FLO
- Fairtrade Labelling Organizations International
FSC
- Florest Stewardship Council
FUCAPI
- Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica
HEMOAM
- Instituto de Hemodiálise do Estado do Amazonas
IBD
- Instituto Biodinâmico
IDAM
- Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do
Amazonas
IMT
- Instituto de Medicina Tropical do Estado do Amazonas
INPA
- Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
INPI
- Instituto Nacional de Propriedade Industrial
MCT
- Ministério da Ciência e Tecnologia
MDIC
- Ministério de Indústria e Comércio Exterior
NEBs
- Novas Empresas de Biotecnologia
OCB
- Unidade do Amazonas das Organizações das Cooperativas do Brasil
PAP
- Programa de Apoio à Pesquisa
PIM
- Pólo Industrial de Manaus
PINTEC
- Pesquisa Industrial Inovação Tecnológica
PITCE
- Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
xiii
PNSQV
- Plano Nacional de Segurança e Qualidade dos Produtos de Origem
Vegetal
PPB
- Processo Produtivo Básico
PROBEM
- Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso
Sustentável da Biodiversidade da Amazônia
PROGEX
- Programa de Apoio Tecnológico à Exportação
PTU
- Programa do Trópico Úmido
RESEX
- Reserva Extrativista
RHAE
- Programa de Recursos Humanos nas Áreas Estratégicas
SDR
- Agência de Floresta da Secretaria de Desenvolvimento Social
SEBRAE
- Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa
SECT
- Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas
SUFRAMA
- Superintendência da Zona Franca de Manaus
UEA
- Universidade Estadual do Amazonas
UFPA
- Universidade Federal do Pará
UFAM
- Universidade Federal do Amazonas
UNCTAD
- Conferência das Nações Unidas sobre Comércio
e Desenvolvimento
UTAM
- Instituto Tecnológico do Estado do Amazonas
ZFM
- Zona Franca de Manaus
xiv
I.
INTRODUÇÃO
Este estudo de pesquisa busca identificar o nível atual e as perspectivas de capacitação
tecnológica das empresas instaladas em Manaus, capital do Amazonas, que integram o setor
da fitoindústria, assim denominado por utilizarem na fabricação de seus produtos a matériaprima de origem da floresta amazônica.
Com esse objetivo são analisados aspectos gerenciais, organizacionais, produtivos,
mercadológicos e estratégicos dessas empresas. Destacam-se os fatores e atividades,
considerados fundamentais para o processo de aprendizagem, de capacitação e de inovação
tecnológica. É examinada, também, nesse contexto, a interação dessas empresas com o
ambiente institucional e os efeitos dos fatores macroambientais.
Para examinar o impacto desses fatores sobre as empresas, foram reunidos dados e
informações que caracterizam a cadeia produtiva da fitoindústria. Buscou-se enfatizar
aqueles referentes às principais atividades que envolvem a produção, manejo,
transformação e comercialização da matéria-prima de origem da floresta.
Todos esses elementos contribuem para facilitar a compreensão do conjunto de atividades
empreendido por esse setor, permitindo estabelecer uma base de reflexão a partir das
empresas.
I.1 ESTRUTURA E ESCOPO DA PESQUISA
O Capítulo I. Introdução apresenta, além da estrutura e escopo da pesquisa, um breve
histórico do desenvolvimento econômico e industrialização do Amazonas, aborda ainda a
exploração auto-sustentável da biodiversidade e o surgimento da fitoindústria. É formulada
a pergunta que a pesquisa se propõe a responder, também introduz a hipótese, os objetivos
da pesquisa e a relevância da pesquisa.
O capítulo II. Contextualização do problema examina cinco temas considerados
importantes para o desempenho da fitoindústria: 1. as implicações da legislação que afetam
a atividade produtiva que emprega os recursos da biodiversidade, em particular os extraídos
da floresta amazônica, 2. a dificuldade de governança dos principais atores que interferem
1
na exploração desses recursos, 3. o mercado de produção de matéria-prima de origem da
floresta e de produtos naturais, 4. os desafios tecnológicos na cadeia produtiva para a
valorização dos recursos e de produtos naturais, e 5. os desafios para a capacitação
tecnológica das empresas.
O capítulo III. Referencial teórico analisa os seguintes temas: a inovação como elemento
essencial à competitividade das empresas, a adequação de Sistemas de Inovação para a
realidade de regiões em desenvolvimento como a Amazônia, estratégias para a inovação,
aprendizagem e capacitação tecnológica e os conceitos básicos que fundamentam os
objetivos da pesquisa, buscando destacar as atividades inovadoras e a gestão dessas
atividades.
O capítulo IV. metodologia da pesquisa define os parâmetros e busca destacar a
importância da pesquisa qualitativa, pela predominância de variáveis intangíveis e da
riqueza de detalhes para a melhor compreensão dos fatores que determinam o desempenho
da fitoindústria.
O capítulo V. Resultados da pesquisa apresenta os dados consolidados dos fatores
analisados que caracterizam o processo, o nível e trajetória da capacitação tecnológica da
fitoindústria e subsetores. Os dados estão assim organizados: indicadores de capacitação
tecnológica, ilustração gráfica da trajetória do fator de maior importância relativa para a
capacitação tecnológica, ilustração gráfica da trajetória dos fatores de maior variação em
importância relativa, as características das empresas exportadoras, o nível e trajetória da
capacitação tecnológica da fitoindústria e subsetores.
O capítulo VI. conclusões busca destacar os principais resultados da pesquisa e os compara
com características de outros setores considerados importantes para o desenvolvimento
regional.
O capítulo VII. recomendações apresenta algumas proposições de estudos complementares
à pesquisa, de políticas públicas para estimular o desenvolvimento da fitoindústria e de
estratégias de gestão das atividades inovadoras para a capacitação tecnológica das
empresas.
2
I.2.
BREVE
HISTÓRICO
DO
DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
E
INDUSTRIALIZAÇÃO DO AMAZONAS
A partir dos anos 90 do século XX ressurgiu o debate sobre a importância dos recursos da
biodiversidade, porém desta vez como fonte de bioprospecção. Assim, o paradigma tecnoeconômico do uso intensivo de recursos naturais no Amazonas, de outrora, passou a ser
substituído por outro mais recente baseado em informação, ciência e tecnologia, com
aplicação no processo produtivo das empresas.
Tradicionalmente, a economia do estado do Amazonas1 foi sustentada, desde sua criação
pelos portugueses em 1755, pela comercialização de produtos in natura, até o surgimento
em 19672 do projeto Zona Franca de Manaus - ZFM3, hoje denominado de PIM.
Os objetivos do projeto eram de criar no interior da Amazônia um centro comercial,
industrial e agropecuário, levando-se em consideração também aspectos geopolíticos,
definidos pelo governo militar, de ocupação dos espaços amazônicos. O projeto foi
aprovado com vigência inicial de 30 anos e prorrogado mais recentemente até 2023.
Desde o início de sua ocupação pelos portugueses, a história econômica da Amazônia foi
marcada por ciclos de prosperidade intercalados com períodos de estagnação, declínio ou
de crescimento lento das atividades produtivas, até a implementação do projeto ZFM na
versão mais moderna a partir de 1967.
Uma das características da economia amazônica tem sido o isolamento da região em
relação aos centros mais habitados do país, resultando sempre em elevados custos de
transporte para os produtos industrializados. Esses custos também têm sido elevados
mesmo para os produtos in natura, cuja maior parte e de maior valor tem-se destinado ao
mercado externo.
O extrativismo florestal, que constituiu a base econômica da região até o surgimento da
ZFM, sempre obedeceu a períodos de sazonalidade das espécies e enchentes dos rios
1
À época batizado de Capitania de São José do Rio Negro.
Nesse ano a área da ZFM foi ampliada de 200 hectares para 10.000 km2 coincidindo com o território
ocupado pelo município de Manaus e também foram ampliados os incentivos fiscais.
3
Esse projeto foi aprovado no Congresso Nacional em 1957 e regulamentado em 1960, estabelecendo uma
área de livre comércio de importação, em um perímetro na cidade de Manaus.
2
3
amazônicos, ou em conseqüência das flutuações dos preços no mercado internacional. A
economia após a criação do estado do Amazonas foi baseada na exploração de produtos
florestais e especiarias – estas chamadas de drogas do sertão -, sustentando a frágil
economia do estado até o advento do ciclo da borracha, exatamente um século depois.
Os povoados amazônicos, muitos deles ainda hoje mantendo as características originais de
ribeirinhos, surgiram pela necessidade de se criar núcleos de apoio à colonização
portuguesa na exploração dos recursos da floresta, incluindo posteriormente a exploração
da borracha. O crescimento demográfico crescia ou diminuía proporcionalmente ao
crescimento ou diminuição da exploração extrativista.
A abertura do rio Amazonas à navegação estrangeira em 1866, principalmente, estimulou o
ingresso de investimento inglês que foi fundamental para o financiamento da produção da
borracha que, no auge de sua exploração, chegou a ser juntamente com o café um dos
principais produtos de exportação brasileira, passando a declinar a partir de 1912. Nesse
período, outros produtos de origem extrativista como a castanha-do-Brasil (ou castanha-doPará como é mais conhecida na região), óleo de pau-rosa, bálsamo de copaíba etc. também
auxiliavam a economia do estado e a balança de divisas de exportações do país.
O extrativismo da Amazônia historicamente estabeleceu mais ligações com o comércio
internacional e agora surge a perspectiva de também criar vínculos com o setor industrial
local. Isto é conseqüência, nas últimas décadas, de movimentos com tendência para a
exploração de produtos do chamado “mercado verde e produtos naturais” que tem
despertado a atenção sobre a diversidade genética natural da Amazônia, cujas propriedades
e uso, para grande parte delas, já são bem conhecidos das comunidades locais.
Com espécies levadas da Amazônia, os seringais da Malásia provocaram a queda do preço
da borracha no mercado internacional, conduzindo o Estado do Amazonas a um longo
período de depressão econômica, a partir de 1912, agravada ainda pela primeira guerra e
posteriormente pela recessão mundial, pós 1929.
As possibilidades e limites do crescimento econômico regional ficaram sempre restritos a
medidas de governo, às oscilações de mercado, à demanda de produtos naturais e às
condições bastante adversas do locus de produção na Amazônia. Os poucos investimentos
nunca tiveram efeito multiplicador para o conjunto da economia. O aporte em infra-
4
estrutura sempre foi pouco significativo e geralmente se circunscrevia às necessidades mais
imediatas do modelo extrativo-exportador (SALAZAR, 2004, p. 224).
Surgiu assim o projeto Zona Franca de Manaus, permeado de ações voluntarista e
intervencionista do governo federal, cuja finalidade era a de criar um centro industrial,
comercial e agropecuário, dotados de condições econômicas que permitissem o
desenvolvimento da Amazônia Ocidental, constituída pelos Estados do Amazonas, Acre,
Roraima e Rondônia.
O projeto redirecionou a economia do Estado para a industrialização, com os incentivos
beneficiando diretamente a produção. Houve o início de um processo de deslocamento de
atividades manufatureiras para Manaus de empresas nacionais da região Sudeste do país e,
principalmente, por empresas transnacionais criando novas filiais. O resultado é hoje um
parque industrial dos mais modernos do país, com capacidade de competir com seus
produtos em diversos mercados, apresentando anualmente taxas crescentes de exportação,
embora o projeto original visasse atender tão somente o mercado interno.
Hoje são aproximadamente 350 indústrias instaladas no PIM, a maioria é de filiais de
empresas multinacionais de diversos países. Apesar da variação cambial, o faturamento
médio do PIM tem se mantido em torno dos 10 bilhões de dólares nos últimos anos,
atingindo aproximadamente 13 bilhões de dólares em 2004. O nível de emprego direto, que
vinha caindo, reverteu essa tendência nos últimos anos, chegando a cerca de 97.000 postos
de trabalho em 2004, resultado do crescimento industrial, quando já havia alcançado cerca
de 80.000 em 1992. Dados históricos de vendas, exportação e importação (US$ 1.000,00) e
nível de emprego são apresentados na tabela 1.
Tabela 1 - Nível de vendas e empregos do PIM
Anos
Vendas
Exportação
Importação
(A)
(B)
(C)
9.109.991
375.653
2.141.135
1999
11.843.213
741.626
3.025.474
2000
10.218.361
829.042
2.701.678
2001
10.006.762
1.025.653
2.581.573
2002
11.146.683
1.224.940
3.223.339
2003
Fonte: http://www.suframa.gov.br.
Saldo
(B-C)
-1.765.482
-2.283.848
-1.872.636
-1.555.920
-1.998.399
Emprego
(D)
38.583
42.892
48.470
51.137
57.159
5
I.3.
REPENSANDO
A
EXPLORAÇÃO
AUTO-SUSTENTÁVEL
DA
BIODIVERSIDADE E O SURGIMENTO DA FITOINDÚSTRIA
O termo “fitoindústria” foi extraído do documento de proposta de pesquisa denominado de
“Desenvolvimento de dois produtos fitoterápicos e um fitocosmético a partir de espécies
amazônicas”, coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA em
2003. O termo foi adaptado neste estudo para simplificar e caracterizar um setor constituído
de empresas dos diversos segmentos econômicos que utilizam recursos da floresta na
fabricação de seus produtos.
A maior abertura do mercado nacional, ocorrida nos anos 90 do século passado, fez surgir a
necessidade de repensar a dinâmica do desenvolvimento econômico da região. As
atividades extrativistas foram então reconsideradas a partir da perspectiva do
desenvolvimento sustentável e da possibilidade de desenvolver tecnologias no âmbito de
projetos regionais, para a valorização dos recursos da biodiversidade. Um discurso mais
ecologista passou, assim, a merecer mais atenção.
A Convenção da Biodiversidade Biológica (1992, p. 9) adotou a seguinte definição para a
biodiversidade: “é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens e os complexos
ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies,
entre espécies e de ecossistemas”.
O desenvolvimento sustentável procura melhorar a saúde pública e a qualidade de vida para
todos os residentes, limitando os desperdícios, prevenindo poluição, maximizando a
conservação, promovendo a eficiência, e desenvolvendo os recursos locais para revitalizar a
economia local, que não afete a geração corrente e a geração futura (BEBBINGTON, 2001,
p.136, AGUIRRE, 2002, p.103). Segundo Clement (2003, p.24), não existe hoje, todavia,
um acervo de conhecimentos científicos e tecnológicos que possibilitem atender as metas
para um desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Um conjunto de stakeholders (clientes, empregados etc.) das companhias, a sociedade e o
governo estão atentos para a insustentabilidade ambiental das atividades das empresas
devido à escassez de recursos naturais e o contínuo crescimento do consumo de recursos. O
fato é que os custos associados com o gerenciamento ambiental e, em particular, o consumo
6
de recursos naturais (água, matéria-prima natural etc.) e o desperdício continuam crescentes
(NOCI & VERGANTI, 1999, p. 3).
Todavia, a ampliação de novos mercados e o crescimento populacional no mundo têm
apontado para a necessidade de fabricação de novos produtos, cuja matéria-prima natural
torna-se essencial. Emerge a necessidade, portanto, da busca de soluções para a exploração
auto-sustentável de recursos naturais e biogenéticos, com o avanço das fronteiras que são
cada vez maiores. As políticas públicas e os discursos sobre a necessidade da exploração
racional e sustentável da biodiversidade podem ser interpretados por diversas ações.
No Programa de Biotecnologia e Recursos Genéticos, consta que por ser “detentor da maior
diversidade biológica do planeta, o Brasil ainda não utiliza satisfatoriamente o imenso
potencial econômico de sua biodiversidade e dos seus produtos e aplicações em inúmeros
segmentos industriais” (SILVEIRA, 2001, p. 6).
O MCT no “Livro Branco - Ciência Tecnologia e Inovação” (2002, p. 4) apresentou como
uma de suas metas: “fortalecer ações de pesquisa que valorizem a biodiversidade e
contribuam perante a sociedade brasileira e a comunidade internacional para o
desenvolvimento sustentável dos ecossistemas brasileiros...”.
O mesmo Ministério, para estimular atividades em P&D e no esforço em aderir à
“Iniciativa Biotrade”, implementada pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento – UNCTAD, adotou para o período 1999-2002 em caráter multiinstitucional o Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da
Biodiversidade da Amazônia – PROBEM.
O Programa tinha como objetivos principais: (a) pesquisar e desenvolver recursos da
biodiversidade, passando pelas fases de coleta de amostras até preparo de extratos; e (b)
determinar as propriedades desses recursos. Porém, antes já havia sido criada em 1997 a
Associação Brasileira para o Uso Sustentável da Amazônia - BIOAMAZÔNIA,
credenciada pelo governo federal como uma Organização Social, para ser uma instituição
dinâmica e dar suporte à implantação do PROBEM/Amazônia que incentivou a criação do
Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA que está na sua fase inicial de implantação.
O Programa de Biotecnologia e Recursos Genéticos – GENOMA do MCT está calcado na
premissa da não-utilização satisfatória do imenso potencial econômico da biodiversidade e
7
dos seus produtos em inúmeros segmentos industriais. O programa Biodiversidade em
Recursos Genéticos (BIOVIDA) do Ministério do Meio Ambiente - MMA tem como
objetivos: promover o conhecimento, a conservação, o uso sustentável da biodiversidade e
dos recursos genéticos bem como a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da
sua utilização.
No final de 2003, para ampliar o acesso da população aos medicamentos e reduzir um
déficit comercial, o setor de fármacos – que tem no conhecimento tradicional uma valiosa
fonte - e medicamentos foi escolhido como uma das quatro áreas estratégicas da Política
Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE)4 (FINEP, 2004, p.1).
Os chamados “conhecimentos tradicionais” resultam da experiência adquirida por índios,
seringueiros, ribeirinhos e fazendeiros sobre as espécies nas áreas em que vivem. O
conhecimento de índios e seringueiros facilita a procura de cientistas e empresários por
moléculas na floresta empenhados em descobrir fontes de matéria-prima genética.
Projetos de bioprospecção estão sendo conduzidos, obedecendo ao acordo para o acesso e
provisão de benefícios, conforme a Convenção da Biodiversidade – CBD, em inúmeros
países no mundo incluindo Argentina, Austrália, Bermudas, Camarões, Chile, China, Costa
Rica, Índia, Indonésia, Jamaica, Malásia, México, Nigéria, África do Sul e Suriname
(ARTUSO, 2002, p. 1359).
Sem desprezar a importância da bioprospecção, da biotecnologia ou da nanotecnologia, são
de igual valor diversas outras atividades tecnológicas na cadeia produtiva da fitoindústria.
Este é o desafio: como aproveitar a vocação regional na exploração dos recursos naturais,
incorporando tecnologia e agregando valor aos produtos?
A cadeia produtiva refere-se a um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e
vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos, em ciclos de produção,
distribuição e comercialização de bens e serviços. Implica em divisão de trabalho, na qual
cada agente ou conjunto de agentes realiza etapas distintas do processo produtivo
(CASSIOLATO et al., 2003, p.5).
4
As outras áreas prioritárias são as de semicondutores, software e bens de capital.
8
Além das tecnologias avançadas, a fitoindústria emprega tecnologias de diferentes níveis de
complexidade para a seleção, colheita, classificação, conservação, transporte, controle de
qualidade, produção e distribuição, visando atender o mercado de consumo final que
costuma ser muito exigente em matéria de qualidade e apresentação.
Nesse contexto a biodiversidade pode ser considerada como uma fonte de recursos para o
desenvolvimento econômico da região amazônica? Quais são as condições para que as
empresas valorizem os recursos da floresta, possam efetivamente crescer e inovar?
Os recursos da biodiversidade são considerados fontes importantes de matéria-prima para o
desenvolvimento regional, podendo servir de complemento ou alternativa ao arquétipo de
desenvolvimento do projeto Zona Franca de Manaus. Muito embora esse modelo tenha
produzido riquezas e outros benefícios, não foi coerentemente instrumentalizado para
estender esses benefícios ao interior do Estado (SALAZAR, 2004, p. 245). Entre as
distorções atribuídas ao modelo constam:
¾ A economia do Amazonas tornou-se extremamente dependente da sua atividade
industrial, representando aproximadamente 40% do seu PIB;
¾ O projeto tem prazo até 2023, para encerrar a concessão dos incentivos fiscais, exigindo
atenção permanente no Legislativo em Brasília para sua prorrogação;
¾ A atividade industrial na capital estimulou o êxodo do interior pela busca de melhores
perspectivas oferecidas pela indústria, concentrando a população em Manaus com
1.527.314 de um total de 3.031.68 da população do estado (IBGE, 2003);
¾ A balança de divisas apresenta déficit considerado ainda elevado (ver tabela 1);
¾ O tipo de indústria estimulou a compra de insumos no restante do país, principalmente
de São Paulo e do exterior;
¾ Com o aumento da arrecadação tributária, em função do crescimento do PIM, o Estado
tornou-se arrecadador de impostos e pouco investidor em ciência e tecnologia.
Concomitantemente à abertura da economia brasileira no início dos anos 90, alguns
esforços para incentivar a produção com recursos regionais passaram a ser considerados.
Todavia, algumas experiências no passado não lograram o sucesso esperado. Novamente
em 2002, o governo do Estado retomou o discurso para usar os recursos naturais como
9
fonte de desenvolvimento, implantando o Programa de Desenvolvimento Sustentável e
Zona Franca Verde. A proposta central é desenvolver e produzir produtos florestais não
madeireiros por serem estes associados à imagem de destruição da floresta, a partir de
sistemas de produção florestal, pesqueira e agropecuária.
O extrativismo perde, assim, seu caráter de atividade arcaica para ressurgir como uma
atividade que garante a conservação da biodiversidade e que forma uma base para o
desenvolvimento da biotecnologia. A Amazônia torna-se, novamente, um reservatório
quase infinito de bancos de dados genéticos. O extrativismo é redescoberto como uma
atividade não predatória, uma possível via de valorização econômica da Amazônia
(EMPERAIRE, 2000, p.1).
Mais recentemente filiais de multinacionais e laboratórios estrangeiros vêm demonstrando
cada vez mais interesse em se instalar no PIM para explorar os recursos regionais,
particularmente da biodiversidade. Isto fica evidenciado pelas crescentes consultas à
Suframa.
Vários projetos de P&D na região, envolvendo os recursos da biodiversidade, já vêm sendo
estruturados ou já estão em execução. Uma infra-estrutura de instituições de P&D para dar
suporte à atividade produtiva começa a se formar com a construção do Centro de
Biotecnologia da Amazônia – CBA.
Diante desse panorama, é sempre conveniente ressaltar a pressão de governos estrangeiros,
de ONGS e organizações indígenas, e a dimensão das reservas florestais e ecológicas hoje
demarcadas, sempre que se debate políticas de desenvolvimento com base na exploração de
recursos da biodiversidade. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e
Desenvolvimento (Unctad) já manifestou sua preocupação com essas questões e já prevê a
destinação de recursos da ONU para o incentivo do bionegócio na região, que deverão ser
compartilhados entre as comunidades da bacia amazônica e as instituições científicas.
Há a compreensão, entretanto, de que o desenvolvimento da Amazônia depende da forma
como serão administradas suas potencialidades. Depende, sobretudo, de como deverão ser
consideradas questões tais como desenvolvimento sustentável, equilíbrio ecológico,
melhoria da qualidade de vida da população, crescimento econômico, modernização,
avanço tecnológico e sua integração à economia nacional e mundial.
10
I.4. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA, HIPÓTESE E OBJETIVOS DA PESQUISA
I.4.1. Formulação do problema e hipótese
I.4.1.1. Formulação do Problema
Como as empresas estão adquirindo capacitação tecnológica e adicionando valor aos
recursos da floresta amazônica?
I.4.1.2. Hipótese
A capacitação tecnológica da fitoindústria depende da adoção de tecnologias com graus
diferenciados de complexidade e da gestão das atividades na cadeia produtiva.
I.4.2. Objetivos da pesquisa
I.4.2.1. Objetivos Gerais
Examinar o processo de aprendizagem e de capacitação tecnológica das empresas que
empregam recursos da floresta amazônica na fabricação de seus produtos.
I.4.2.2. Objetivos Específicos
¾ Identificar os principais fatores que contribuem e restringem as atividades para o
processo de aprendizagem, capacitação e inovação tecnológica das empresas;
¾ Comparar as características: (a) das empresas exportadoras; (b) das empresas da
fitoindústria com as Novas Empresas de Biotecnologia; e (c) da fitoindústria com o
Pólo Industrial de Manaus – PIM;
¾ Avaliar o nível atual e a tendência da trajetória da capacitação tecnológica da
fitoindústria.
11
I.5 RELEVÂNCIA DA PESQUISA
I.5.1. Escassez de estudos sobre o uso dos recursos da biodiversidade da Amazônia
São escassos os estudos realizados sobre a exploração econômica, o desenvolvimento
científico e tecnológico com aplicação industrial dos recursos da biodiversidade amazônica.
Este trabalho de pesquisa pretende apresentar alguns elementos de resposta para essas
questões, a partir da análise do processo de aprendizagem, da capacitação e de inovação
tecnológica das empresas que utilizam em seus produtos recursos naturais da floresta
amazônica como matéria-prima.
I.5.2. Adoção de políticas públicas e privadas de desenvolvimento regional
A urgência em aprofundar os estudos sobre a exploração da biodiversidade da Amazônia
deve-se a alguns relevantes fatores:
O primeiro é a explosão populacional no mundo que está degradando o meio ambiente com
taxas aceleradas, crescendo a importância da preservação dos recursos da biodiversidade da
Amazônia.
O segundo é que a ciência está descobrindo novas aplicações, e por isso demandando mais
recursos da diversidade biológica, embora com o desenvolvimento de produtos que podem
reduzir o sofrimento humano e de tecnologias capazes de contribuir para evitar os danos
ambientais.
O terceiro é que muitas espécies da biodiversidade da Amazônia estão sendo
irremediavelmente perdidas pela destruição de seu habitat natural.
O estudo deverá contribuir para melhor compreensão do ambiente que envolve diversos
atores e fatores, com níveis diferentes de complexidade em que a fitoindústria tem de se
harmonizar. Permitirá examinar a combinação de vários elementos tais como a criação de
uma plataforma tecnológica endógena, a necessidade de internacionalização, mudanças na
operação do dia-a-dia e no relacionamento das empresas com seus parceiros, governos e
pesquisadores.
12
A compreensão da relação e influência desses agentes nesse ambiente deverá contribuir
para a adoção de políticas públicas dirigidas ao desenvolvimento regional e para as
estratégias das empresas no uso auto-sustentável dos recursos naturais.
I.5.3. Contribuição científica e metodológica
Este estudo poderá oferecer alguma contribuição cientifica e metodológica com base nos
seguintes argumentos:
o É escassa a literatura que trata de fluxos de aprendizagem, acumulação de
competências
e
inovação
tecnológica
em
regiões
em
desenvolvimento,
particularmente na Amazônia que abordem atividades industriais sustentadas pelos
recursos de origem da biodiversidade;
o Foram adaptados modelos teóricos, concebidos para estudos dessas questões em
regiões desenvolvidas e em desenvolvimento, e a adequação para a realidade do
Amazonas de indicadores considerados nos estudos que tratam de capacitação e
inovação tecnológica nos países desenvolvidos, nos países do continente americano
e em particular o Brasil.
13
II. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
Neste capítulo serão examinados os fatores macroambientais que afetam as atividades da
fitoindústria: 1. as implicações da legislação nas atividades da fitoindústria; 2. dificuldades
para harmonizar os interesses dos principais atores que interferem na exploração dos
recursos da floresta; 3. mercados de produtos naturais e de matéria-prima; 4. os riscos
inerentes à exploração da biodiversidade; 5. os desafios tecnológicos da cadeia produtiva
da fitoindústria; e 6. os desafios para a capacitação tecnológica das empresas.
¾ Legislação - será examinado o conjunto de leis que tratam de recursos vegetais, saúde e
alimento, ressaltando os aspectos fito-sanitários, de biossegurança e de acesso à
biodiversidade; análise da legislação da Zona Franca de Manaus, em particular uma de
suas partes integrantes: o Processo Produtivo Básico – PPB;
¾ Governança dos agentes sociais e econômicos – serão identificados e caracterizados os
principais agentes locais que influenciam nas decisões e meios de exploração dos
recursos da floresta;
¾ Mercado – serão analisados os elementos que caracterizam o mercado de produtos
naturais e de produção de matéria-prima da origem da floresta;
¾ Os desafios tecnológicos da fitoindústria – serão estudos os mecanismos de aplicação
da biotecnologia para a produção e transformação dos recursos da biodiversidade, com
base no “estado da arte”. A bioprospecção será um desses instrumentos analisados,
como meio para identificar os recursos genéticos, bem como as diversas tecnologias
consideradas essenciais às atividades da cadeia produtiva, ressaltando os riscos de
exploração da biodiversidade;
¾ Os desafios para a capacitação tecnológicos da empresas – serão analisados os
principais aspectos gerenciais, organizacionais, estratégicos e de capacitação
tecnológica que caracterizam as empresas da fitoindústria.
14
II.1.
AS
IMPLICAÇÕES
DA
LEGISLAÇÃO
NAS
ATIVIDADES
DA
FITOINDÚSTRIA
O ordenamento jurídico desde 1988 da Constituição Federal5 prevê a necessidade de
assegurar a efetividade do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado:
“preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético”. Considera também que6, “a Floresta Amazônica brasileira, a Mata
Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são
patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao
uso dos recursos naturais".
A legislação ambiental, ao generalizar indiscriminadamente e determinar que somente 20%
da área das propriedades amazônicas sejam utilizadas para atividades produtivas, cerceou
ao mesmo tempo a possibilidade de desenvolvimento sustentável, impedindo que através
do conhecimento científico, da tecnologia e da criatividade possam ser adotados modelos
corretos de produção, inclusive para sistemas de manejo em áreas degradadas (SALAZAR,
2004, p.175).
Apesar dessas restrições, empresas continuam a produzir, principalmente em Manaus, e
outras também desejam explorar os recursos da biodiversidade no Amazonas, como fonte
de matéria-prima. Porém, para que produzam legalmente devem observar, particularmente,
a legislação que trata do acesso e uso de recursos vegetais e de produtos que podem afetar a
saúde humana. São também afetadas pela legislação de incentivos fiscais do projeto Zona
Franca de Manaus. Alguns aspectos dessa legislação merecem ser examinadas:
O transporte de produtos florestais de origem nativa é permitido mediante a obtenção da
Autorização para Transporte de Produto Florestal (ATPF), emitida pelo IBAMA, para o
desmate ou plano de manejo aprovado, e o Regime Especial de Transporte (RET).
Para o comércio internacional, o controle e o monitoramento do comércio das espécies da
fauna e floresta ameaçadas de extinção são realizados pela Convenção Internacional sobre o
Comércio Internacional de Espécies da Floresta e da Fauna Selvagem em Perigo de
Extinção – CITES. A permissão é concedida se proveniente de propagação artificial ou
5
Art. 225, parágrafo 1o, inciso II;
6
Nos termos no parágrafo 4o;
15
oriunda de plano de manejo. Essa comercialização é autorizada mediante emissão da
Licença de Exportação pelo IBAMA.
O acordo Trade Related Intellectual Property Rights (TRIPs) no âmbito da Organização
Mundial do Comércio (OMC) é altamente abrangente no que se refere ao reconhecimento
de direitos de propriedade intelectual nas áreas biológica e biotecnológica associado à
biodiversidade. Isto pode levar à diminuição do fluxo e intercâmbio de material genético,
afetando áreas estratégicas, como a de medicamentos e segurança alimentar, sobretudo
quando se trata do patenteamento de plantas (ALBAGLI, 1998, p. 10).
Há alguns temores para pesquisar novas drogas com base nas plantas. Em geral se acredita
que os produtos naturais não podem ser patenteados com o mesmo grau de segurança que
componentes sintéticos (FARNWOTH, apud WILSON, 1989, p. 83).
A lei internacional de patentes que protege novas descobertas farmacêuticas foi
reconhecida internamente em 1996. Porém, já a partir de 1995, as empresas farmacêuticas
brasileiras foram obrigadas a documentar a eficácia farmacêutica e a segurança, e antever a
toxicologia dos remédios fitoterápicos da mesma forma como o fazem com qualquer outro
produto farmacêutico. Essas medidas têm levado as melhores empresas farmacêuticas no
país a começarem a investir na legitimação de remédios derivados de plantas.
O valor dos conhecimentos tradicionais e dos recursos da biodiversidade hoje passa a ser
propriedade de quem desenvolve os produtos e os lança no mercado. Com a entrada em
vigor da nova Lei de Propriedade Intelectual7, no 9.279 de 1996, o Brasil passou a
concordar com as regras de padrões internacionais.
A Lei de Proteção de Cultivares, n° 9.456, de 1997 é compatível com o convênio
internacional que rege a matéria, a Union pour la Protéction des Obténcions Végétales UPOV. A Lei brasileira protege material de propagação das plantas, ou seja, plantas e parte
delas (sementes, bulbos e outros). Não protege o processo e o produto final: flores, frutos,
raízes, etc. (FERNANDES, 2002, p. 118).
Os fitoterápicos, nos casos em que requerem prescrição médica, exigem a comprovação
científica da segurança, de uso e da eficácia terapêutica dos produtos, o que implica a
7
A lei que Regula Direitos e Obrigações Relativos à Propriedade Industrial no Brasil é a Lei no 9.279 de 14.05.96.
16
realização de ensaios clínicos análogos aos dos produtos farmacêuticos tradicionais
(FAJNZYLBER, 2002, p. 14). O ambiente regulatório dos fitoterápicos varia muito de país
para país. Na Europa e no Japão são regulados com padrões estabelecidos para a
manufatura e para a matéria-prima e integrados aos sistemas de saúde. Os EUA estão em
processo de regulamentação há vários anos e ainda estão tentando uma via de acesso ao
sistema de saúde (FERNANDES, 2002, p. 81).
A Lei nº 10.742 de 2003 dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os
medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e
outros produtos. A vigilância sanitária é o Sistema de avaliação e controle de qualidade dos
produtos e procedimentos de consumo humano do Ministério da Saúde que visa identificar
problemas que possam causar danos à saúde da população e tem como missão proteger e
promover a saúde da população garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e
participando da construção de seu acesso.
A ANVISA regulamentou a concentração dos princípios ativos dos fitoterápicos, através da
Resolução RDC no 48, de 16.03.2004, que dispõe sobre o registro de medicamentos
fitoterápicos, para padronizar e assegurar a pureza e a reprodutibilidade da produção, que
são análises que afetam tanto as pequenas empresas quanto as grandes. Produtos in natura,
entretanto, tais como chás e folhas deixam de ser regulamentados e não mais serão
fiscalizados pela ANVISA. Até agora, apenas 3 plantas brasileiras foram registradas na
ANVISA, uma das quais é o guaraná do Amazonas, mas que foi registrado por empresa que
não é da Amazônia. A fitoterapia é utilizada por grande parte da população do Amazonas
que até recentemente não era sujeita à regulação.
Para se conseguir a liberação de medicamentos baseados em ervas que não as catalogadas,
os fabricantes terão de seguir normas rigorosas de qualidade e apresentar ensaios clínicos
ou trabalhos publicados em fontes bibliográficas confiáveis, modelo parecido com o
europeu.
A legislação americana para cosméticos é bem mais branda que a dos medicamentos. Na
Europa, entretanto, a legislação de cosméticos é bastante rígida, justificando o menor
número de documentos de patente no EPO - European Patent Office (FERNANDES, 2002,
p. 132).
17
O Ministério da Agricultura criou Instruções Normativas, tentando adequar os exportadores
brasileiros às exigências de países importadores da castanha-do-Brasil. Seguindo a Lei
9.712 de 1998 e ações previstas no Plano Nacional de Segurança e Qualidade dos Produtos
de Origem Vegetal – PNSQV, que foi publicado em 11/09/2003, pretende-se emitir
certificado que assegure, dentre outros, a qualidade e a sistematização da rastreabilidade
das diversas etapas ao longo dessa Cadeia Produtiva da castanha. O IBAMA classifica
como produtor quem cultiva e produz a matéria-prima associada à biodiversidade e como
fabricante aquele que a utiliza na fabricação de bens finais.
A Medida Provisória no 2.186-16 de 23/08/2001, conhecida como Lei da Biodiversidade,
dispõe sobre os recursos da floresta, uma vez que se tentou disciplinar os bens, direitos e
obrigações: a) acesso a componente do patrimônio genético existente no território
brasileiro...; b) conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético e relevante à
conservação da diversidade biológica à sua integridade no País, e à utilização de seus
componentes; c) repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados de sua exploração; d)
acesso à tecnologia e sua transferência para a conservação e utilização da diversidade
biológica.
Sobre a regulamentação da exploração comercial de plantas medicinais, a legislação
ambiental brasileira estabelece que a exploração de plantas nativas sejam mediante a
aprovação e adoção de planos de manejo sustentável (www.senado.gov.br/legbras/). A
legislação prevê, ainda, que o plano de manejo deve ser fundamentado em estudos técnicocientíficos.
O Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), do Ministério do Meio Ambiente,
concedeu em 2004 a primeira autorização para que uma empresa privada faça coleta de
material genético da biodiversidade brasileira para fins comerciais. A empresa Extracta
Moléculas Naturais está instalada na Fundação BioRio no Rio de Janeiro e mantém uma
biblioteca química com cerca de 40 mil moléculas e compostos químicos vegetais extraídos
da floresta nacional, que são pesquisados para uso em medicamentos e cosméticos.
A obtenção do material fica condicionada à assinatura de contrato padrão, garantindo a
repartição de eventuais lucros com os proprietários da terra – que podem ser fazendeiro,
governo, ou uma tribo indígena. Cada novo extrato estará sujeito a um contrato
18
correspondente. Todavia, ainda não foram regulamentadas questões para esses contratos
tais como royalties, sustentabilidade ambiental e transferência de tecnologia para as
reservas extrativistas. Deverão ser levados em consideração para novo projeto de lei laudos
antropológicos, instrumentos considerados essenciais pelo CEGEN.
A lei brasileira estabelece que parcerias entre instituições e empresas com índios e
seringueiros sejam ratificadas antes pelos donos do conhecimento. Na maioria das vezes o
uso do conhecimento popular de uma espécie abrange uma região inteira e pode atravessar
fronteiras entre países. Como assegurar que um contrato depois de assinado impeça que
outras comunidades reivindiquem os mesmos direitos?
O projeto de Lei de Biossegurança, aprovada em 06/03/2005 dispõe sobre a política
nacional de biossegurança e estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização
de organismos geneticamente modificados – OGMs deverá ter impacto nos meios de
produção de matéria-prima da floresta.
E por atuarem no Pólo Industrial de Manaus as empresas podem ficar sujeitas a regras
estabelecidas no Processo Produtivo Básico – PPB para a fabricação de seus produtos, sob
a supervisão da Superintendência da Zona Franca de Manaus, que é uma autarquia
subordinada ao Ministério da Indústria e Comércio Exterior. O Processo Produtivo Básico
- PPB para o segmento de cosméticos já foi regulamentado, pelo Decreto no 783 de
25.03.1993 e Portaria aprovada em 13.08.2002.
O PPB prevê o seguinte: “ficam estabelecidas as participações quantitativas mínimas de
utilização de matérias-primas oriundas da fauna e floresta regionais a serem empregadas em
produtos de perfumaria ou de toucador, preparados e preparações cosméticas, em
conformidade com o Processo Produtivo Básico”8. Na prática a percepção é a de que o
PPB para cosméticos dificulta a produção para as empresas locais, privilegiando as
empresas que estão fora do Estado, desestimulando a interiorização da produção e
restringindo a comercialização para o mercado nacional, restando a opção de exportação.
8
Anexo X ao decreto no 783, de 25 de março de 1993.
19
II.2.
DIFICULDADES
DE
GOVERNANÇA
DOS
ATORES
PARA
A
EXPLORAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
A exploração dos recursos da biodiversidade na Amazônia tem sido influenciada por
diversos atores, de difícil harmonia pelos interesses muitas vezes conflitantes, sendo os
mais representativos: 1. Institutos de P&D, 2. organizações governamentais de fomento, 3.
organizações indígenas (ONGs) e 4. empresas industriais.
Genericamente, o conceito de governança refere-se às diversas formas pelas quais
indivíduos e organizações (públicas e privadas) gerenciam seus problemas comuns,
acomodando interesses conflitantes ou diferenciados e realizando ações cooperativas. Diz
respeito não só a instituições e regimes formais de coordenação e autoridade, mas também
a sistemas informais (CASSIOLATO et al., 2003 p. 14). A governança local é considerada
hoje como a chave determinante do resultado das estratégias de desenvolvimento
econômico e ações para melhorar a qualidade de vida (OECD, 2004, p.4).
As instituições incluem normas, rotinas, hábitos comuns, práticas estabelecidas,
regulamentações, leis, padrões e assim por diante, que moldam a cognição de agentes e
afetam a interação entre agentes (MALERBA, 2002, p.11). A figura 1 ilustra a conexão dos
atores com os recursos da biodiversidade, notadamente com os recursos da floresta, por
serem evidenciados neste estudo.
Figura 1 - Atores que interferem na exploração dos recursos da floresta amazônica
Institutos
de P&D
Empresas
Exploração
da Floresta
Governo
ONGs
Fonte: própria
20
II.2.1. Institutos de P&D
As principais instituições locais de P&D que exercem algum tipo de interferência na
exploração dos recursos naturais da floresta amazônica como fonte de matéria-prima são:
INPA, UFAM, EMBRAPA e está em fase de implantação o CBA.
O Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, subordinado ao Ministério de
Ciência e Tecnologia (MCT), é a principal instituição de pesquisa local. A Universidade
Federal do Amazonas – UFAM, Universidade Estadual do Amazonas - UEA e a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA são as outras importantes instituições no
Amazonas que desenvolvem atividades de P&D empregando recursos da floresta. Embora
São Paulo possua o maior número de grupos de estudos de plantas medicinais do país, no
Amazonas essa atividade já é desenvolvida pelo INPA, UFAM e EMBRAPA.
Está em construção o Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA com o apoio dos
Ministérios do Meio Ambiente, Ministério de Ciência e Tecnologia e Ministérios de
Indústria e Comércio Exterior. O CBA deverá comandar uma Rede Nacional de
Laboratórios, apoiada por uma Rede de Fornecedores da Biodiversidade, principalmente
pelas comunidades locais e ser o centro de análises químicas para a indústria farmacêutica e
cosmética da região com exames de toxicologia, farmacologia e de determinação dos
princípios ativos. O Centro deverá desenvolver algumas das atividades similares as do
Instituto Nacional de Biodiversidade - INbio da Costa Rica, uma instituição dedicada ao
inventário, à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade daquele país.
O CBA deverá ter no futuro 25 laboratórios, dos quais 12 estão em fase final de
implantação. O projeto prevê a instalação de conjuntos de laboratórios básicos
contemplando as seguintes áreas: origem vegetal, origem animal, microorganismos e
central analítica. Também deverá dispor de projetos básicos: uma central de produção de
extratos, uma incubadora de empresas e uma planta de processos industriais.
No que se refere à pesquisa, o CBA deverá privilegiar aquelas que beneficiem a população
de modo geral e empresas do setor produtivo. Pesquisadores de diversas partes do mundo já
manifestaram interesse em integrar-se à equipe de pesquisadores do CBA quando este
estiver operando. Porém, a contratação e alocação desses pesquisadores deverão ocorrer
21
após a definição do modelo de gestão do Centro, que se encontra em fase de elaboração,
compatíveis com os objetivos dos projetos.
O objetivo principal do Centro é desenvolver atividades de biotecnologia. Para dispor do
mínimo de capacidade nas atividades de inovação em biotecnologia os projetos serão
organizados e integrados em redes e consórcios para a redução de custos e integração,
devido à necessidade de capital e competência existentes nos diversos lugares. O Amazonas
poderá criar competência local para participar do esforço nacional de desenvolvimento da
biotecnologia?
II.2.2. Organizações governamentais de fomento
As principais instituições locais de fomento que apóiam ou desenvolvem atividades
produtivas empregando recursos da biodiversidade são: Superintendência da Zona Franca
de Manaus – Suframa, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas –
FAPEAM, Agência de Floresta e Negócios Sustentáveis do Amazonas, que é um órgão da
Secretaria de Desenvolvimento Social – SDR, e o SEBRAE-Am.
A Superintendência da Zona Franca de Manaus - Suframa é um órgão do governo federal,
subordinado ao Ministério de Indústria e Comércio Exterior - MDIC, responsável pela
administração de incentivos fiscais federais do projeto Zona Franca de Manaus, concedidos
às empresas. A Suframa também financia projetos para os Estados da Amazônia Ocidental
e é quem está financiando a construção do Centro de Biotecnologia do Amazonas – CBA,
em fase de implantação em Manaus-Am.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM é um órgão
subordinado à Secretaria de Ciência e Tecnologia - SECT do governo estadual, implantada
em 2003, que administra os fundos para financiamento de pesquisa.
A Agência de Floresta e Negócios Sustentáveis do Amazonas é um órgão da Secretaria de
Desenvolvimento Social - SDR do Governo do Estado do Amazonas, que passa a ter um
papel mais ativo na transferência de tecnologia e organização das comunidades produtoras
de matéria-prima de origem da floresta.
O SEBRAE-Am e a Unidade das Organizações das Cooperativas do Brasil - OCB do
Amazonas são instituições não governamentais também envolvidas no apoio à exploração e
22
produção de matéria-prima a partir de recursos de origem da floresta. O Centro de
Incubação e Desenvolvimento Empresarial – CIDE é uma Incubadora multisetorial que
conta com o apoio de várias instituições do Amazonas9 e que dispõe de 10 projetos de
empresas para desenvolver pesquisas e novos produtos com recursos naturais da região.
II.2.3. Organizações Indígenas (ONGs)
Existem várias Organizações Não Governamentais – ONGs que vêm exercendo bastante
influência nos debates que tratam da exploração dos recursos naturais do Amazonas.
Entretanto, as organizações indígenas são as que mais se destacam.
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, com sede
em Manaus, foi criada em 1989, para fortalecer regionalmente o movimento indígena na
luta política para fazer valer os direitos assinalados na Constituição Federal. Está vinculada
a 75 organizações que representam 165 povos que habitam os estados amazônicos. Com
população estimada em 204.000 habitantes, representando 60% da população indígena do
Brasil (http://www.coiab.com.br/yakino.php).
A Associação de Produção e Cultura Indígena - Yakinõ foi criada como um braço
executivo da COIAB, com sede em Manaus (AM), fundada em 2002. Tem defendido e
promovido a forma tradicional de uso e conservação das terras indígenas. No momento são
42 comunidades envolvidas no Alto Solimões, Baixo Madeira, Alto Madeira e Rio Negro,
atingindo cerca de 2.000 pessoas. Comunidades tradicionais como essas são detentoras de
conhecimentos tradicionais e fornecedoras de espécies utilizadas como matéria-prima pela
fitoindústria (http://www.coiab.com.br/yakino.php).
II.2.4. Empresas industriais
As empresas são aquelas que integram a fitoindústria, atuando nos segmentos de fármacos,
cosméticos e alimentos, foco central deste estudo. Informações mais detalhadas das
empresas são apresentadas no item II.4.3.
9
Além da Associação Brasileira para o Uso Sustentável da Amazônia - BIOAMAZÔNIA, também apoiaram
a implantação do CIDE a Superintendência da Zona Franca de Manaus - Suframa; Fucapi - Fundação
Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica; Universidade Federal do Amazonas - UFAM,
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia - INPA, Unidade de Serviço de Apoio à Pequena e Média
Empresa – Sebrae-AM; etc.
23
II.3. MERCADO DE PRODUTOS NATURAIS E DE MATÉRIA-PRIMA DE
ORIGEM DA FLORESTA AMAZÔNICA
A variedade de espécies de plantas existentes nos ecossistemas brasileiros é uma fonte
biológica inestimável, constituída de genes, moléculas e microorganismos. Esses recursos
têm crescido em importância como matéria-prima para atividades biotecnológicas com
aplicação na indústria farmacêutica, agronegócio, química industrial, cosmética, medicina
botânica, horticultura etc.
O segmento de alimentos e o segmento de energia também apresentam grande potencial.
Este último de certa forma é até ilimitado. A produção de petróleo deverá sofrer restrições
cada vez maiores, tendendo a criar espaço para o desenvolvimento do biodiesel, embora
ainda hoje inviável economicamente, pela inexistência de cultivo e oferta das quantidades
necessárias das espécies nativas.
Os recursos naturais da biodiversidade amazônica, com destaque para os de origem da
floresta, podem ter diversas aplicações tais como: (a) a castanha-do-Brasil e o guaraná
podem ser empregados principalmente na indústria de alimentos; (b) o óleo fixo, extraído
de espécies como o buriti e a copaíba, é empregado na indústria de fitocosméticos e
fitofármacos; (c) o óleo essencial extraído de espécies como o pau-rosa é empregado na
indústria de cosméticos, perfumaria e fragrâncias em geral; (d) substâncias isoladas como a
cafeína e pilocarpina extraídas de diversas espécies são empregadas nos segmentos
farmacêutico e cosmético.
A título de exemplo do potencial da biodiversidade, o estudo “Subsídios Para Política
Pública de Biotecnologia para o Estado do Amazonas” (2002, p. 8) considera que os
recursos biogenéticos da floresta amazônica são constituídos de plantas medicinais,
aromáticas, alimentícias, toxinas, corantes, oleaginosas e fibrosas que podem ser usados
para a produção de fármacos, fitoterápicos, alimentos, cosméticos, e várias outras
aplicações.
O estudo afirma ainda que apenas cerca de 3.000 plantas foram identificadas pela medicina
popular e que a grande maioria delas ainda não foi submetida a processos de avaliação
química, toxicológica e farmacológica indispensáveis para transformá-las em produtos
24
comercializáveis. Das 120 plantas que poderiam ter aplicação quase imediata no mercado
de cosméticos, somente 20 estão sendo efetivamente usadas.
A biodiversidade também tem futuro promissor como fonte de recursos para o
desenvolvimento da biotecnologia pelas seguintes razões: (a) a descoberta de drogas
naturais volta a ter forte apelo, depois de ter sido negligenciada desde o advento da
combinação de técnicas da química com a biologia molecular; (b) vários dos medicamentos
mais vendidos no mundo são derivados de produtos naturais. A origem desses produtos
naturais é de plantas, bactérias, fungos, etc., ratificando a importância atribuída às fontes
biológicas da biodiversidade amazônica.
A exploração da biodiversidade demanda uma estratégia de articulação com bancos de
germoplasma e de microorganismos, gerando uma demanda crescente para serviços
biotecnológicos, que pode ser uma das grandes avenidas de expansão da biotecnologia no
país (SILVEIRA et al., 2001, p. 35). E a farmacogenômica usufruirá da evolução
direcionada e da recombinação gênica in vitro, na busca de novos medicamentos,
nutracêuticos e cosmecêuticos. São características da análise genética contemporânea, a
industrialização, a automação e informatização (MACHADO, 2001, p. 2).
Apesar desse potencial, as atividades para desenvolver a biotecnologia no país com
recursos da biodiversidade ainda são pouco exploradas. A coleta, identificação e o
monitoramento da diversidade biogenética são limitadas. Esta limitação é ainda mais
acentuada na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste onde se concentram os ecossistemas
pertencentes aos biomas Floresta Amazônica, Cerrados e Pantanal, altamente diversos e
ainda inexplorados.
Alguns dos dados apresentados a seguir foram extraídos de publicações10 de grande
circulação no país:
¾ O Brasil está em primeiro lugar com 23% do total de espécies do planeta. A Suíça tem
apenas uma planta “endêmica” – que só existe naquele país -, a Alemanha possui 19, o
México 3.000, enquanto o Brasil possui 20.000 apenas na Amazônia;
10
Embora não se possa assegurar a confiabilidade dos dados, grande parte deles foi obtida das seguintes
publicações: revista Exame (no 35, maio de 2001), (Revista Exame no 20, 2003), (Revista Exame, no 37,
2003), (Revista Época, fevereiro de 2004).
25
¾ Dos 119 princípios ativos usados em remédios, 74% foram revelados pela medicina
botânica. Entre eles estão a penicilina, a morfina e o ácido acetilsalicílico.
¾ O pouco conhecimento da população e a pouca pesquisa sobre plantas medicinais da
biodiversidade brasileira limitam o uso e a exportação de muitas espécies;
¾ Os medicamentos fitoterápicos movimentam cerca de US$ 60 bilhões por ano no
mundo e R$ 1 bilhão no Brasil; dos 206 fitoterápicos registrados no país em 2003, 89%
eram feitos com plantas européias; dos medicamentos, as ervas são a base de mais de
um terço dos remédios disponíveis; de todos os medicamentos, 39% têm origem vegetal
e 6% são fitoterápicos. O Brasil participa com menos de 2% do consumo mundial de
medicamentos;
¾ Em alguns países como França e Alemanha, o consumo de fitoterápico já rivaliza com o
de medicamentos convencionais; o mercado mundial para bioativos da Amazônia já é
estimado em U$ 500 milhões ao ano atualmente;
¾ Estima-se que a demanda mundial por extratos de plantas, que vem crescendo a taxas
elevadas, já tenha superado os 2 bilhões de dólares ao ano. De cada 10 ativos presentes
nos 15 principais produtos de tratamento de pele vendido no mundo, cinco são à base de
planta.
São considerados fitoterápicos os medicamentos farmacêuticos feitos com a planta inteira,
sem manipulação química. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de
seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. É raro encontrar
um fitoterápico que não faça alusão ao conhecimento tradicional. Os fitoterápicos são feitos
com extratos concentrados de plantas, enquanto os medicamentos alopáticos, mesmo
aqueles à base de ervas, são fabricados com substâncias isoladas.
Os fitofármacos são remédios feitos com princípios ativos retirados de plantas. Os semisintéticos são aqueles em que o princípio ativo é retirado da planta, isolado e embalado. Um
fitofármaco é uma substância nova, ou já conhecida, com estrutura quimicamente definida e
com atividade farmacológica determinada.
Para o segmento “natural” da indústria de cosméticos e produtos de higiene pessoal embora
seja bastante difícil de ser caracterizado, estima-se um crescimento de mercado a taxa anual
26
de 8 a 25%. Em 2000, foram negociados US$ 700 milhões e a previsão é de US$ 1 bilhão
ao ano para os próximos 10 anos no país (HERBARIUM, 2002). Cosméticos e produtos de
higiene pessoal nos mercados de luxo e o de massa cada vez mais aumentam a utilização de
substâncias naturais em suas formulações.
Uma demanda por produtos cosméticos e de higiene pessoal mais sofisticados, que
apresentem efeito biológico como produtos terapêuticos está crescendo no mundo,
chamados de cosmecêuticos. Muitas substâncias presentes nos produtos cosméticos e de
higiene pessoal foram derivadas do uso tradicional. A indústria de fármacos a partir de
plantas medicinais vem apresentando um rápido crescimento mundial, com taxa entre 10 a
20% ao ano em muitos países.
A produção industrializada de polpas, doces, balas e chocolates, com a diversidade de
frutas da Amazônia, tem criado um número significativo de micro e pequenas empresas e a
conseqüente geração de empregos. Esses segmentos têm crescido a taxas bastante elevadas
nos últimos anos, muito embora atendendo até agora o mercado local e regional, porém
com perspectiva de expansão para o mercado nacional e até para o externo.
A demanda crescente por produtos naturais no país, seguindo a tendência mundial, tem
atraído investimentos de filiais de grandes laboratórios estrangeiros, podendo representar
uma ameaça para a pequena indústria local e brasileira que podem não ter como competir.
O interesse por produtos naturais e fitoterápicos, entretanto, fabricados por filiais de
grandes laboratórios estrangeiros ou por pequenas indústrias brasileiras deverá incentivar a
pesquisa e estimular o surgimento de novos especialistas no país, ampliando o
conhecimento sobre as plantas brasileiras e o uso correto da fitoterapia.
Pelo domínio e a participação dos grandes laboratórios farmacêuticos multinacionais em
atividade no mercado brasileiro, os fitoterápicos, por enquanto, têm apenas uma pequena
representatividade nas vendas totais, existindo assim um mercado em potencial que poderá
ser explorado pelas empresas de capital nacional e local.
O “preço justo”, um conceito ainda pouco conhecido, pode facilitar o acesso ao mercado
internacional de produtos de origem natural. “A prioridade do Mercado Justo é um
comércio que combine o social com o econômico, facilitando a colocação desses produtos
27
certificados nos mercados dos países desenvolvidos, com o menor envolvimento de
intermediários, e proporcionando o maior retorno econômico para seus produtores”.
Entre os produtos comercializados via “Mercado Justo”, encontra-se o guaraná dos SateréMawé da área indígena do Andirá-Maraú, no município de Parintins-Am, considerado um
santuário ecológico e cultural do guaraná e banco genético natural do mundo inteiro do
guaraná nativo. O guaraná dessa Comunidade Indígena é comercializado hoje para diversos
países tais como EUA, Alemanha, Japão, França, Itália e Suíça pela empresa Agrorisa que
utiliza as facilidades criadas pelo “Mercado Justo”.
A comercialização de produtos de origem natural tem levado a exigências cada vez maiores
dos países importadores tais como a comprovação de qualidade e boas práticas de
fabricação e de procedência, ou origem, mesmo os in natura. Alguns importantes países da
Europa, por exemplo, passaram a exigir recentemente o limite máximo de contaminação da
castanha-do-Brasil (ou do Pará) com aflotoxinas de 4 ppb (parte por bilhão). Para alguns
países o limite é zero.
A indicação de procedência é “toda denominação, expressão ou signo que indique que um
produto ou serviço procede de um país, região ou lugar específico”. “A denominação de
origem é aquela expressão que identifica um produto originário de um país, de uma região
ou localidade geográfica, quando a qualidade desse produto se deve exclusiva ou
fundamentalmente à sua origem geográfica, incluídos os fatores naturais e humanos”.
São cada vez maiores as pressões sociais e de mercado, que ficam expressas quando são
exigidos certificados de origem orgânica, de comércio seguro, de fontes ambientalmente
seguras e de divisão de benefícios no caso de serem extraídas de comunidades e com o
aproveitamento de conhecimento tradicional. Ressalte-se, entretanto, que o “mercado de
produtos naturais foi construído sobre uma imagem de valorização da floresta e do saber
tradicional dos grupos indígenas” (FERREIRA, 2000, p. 177).
Com a crescente demanda de matéria-prima da floresta para aplicação industrial, tanto da
fitoindústria quanto do mercado nacional e principalmente o internacional, algumas
questões passaram a adquirir maior relevância. Destacam-se o desenvolvimento
sustentável, a escala de produção, oferta, logística de transporte, sazonalidade, identificação
de origem, preservação ambiental, preço, cooperação com os fornecedores, a valoração e
28
valorização dos recursos da biodiversidade e a necessidade de estabelecer os limites de sua
exploração para a produção auto-sustentável de matéria-prima.
Em contraste, seis categorias distintas de valor podem ser simultaneamente geradas a partir
da conservação da biodiversidade: existência, ecoturismo, serviços ambientais, agricultura
sustentável, extrativismo e bioprospecção. Dificilmente qualquer um dos seis, todavia, será
suficiente para justificar os custos de oportunidade de atividades aparentemente mais
lucrativas que exterminariam a diversidade biológica (VOGEL, 1997, p. 2).
Os dados disponíveis de produção e venda de algumas espécies empregadas como matériaprima pela fitoindústria são apresentados nas tabelas 2 e 3.
Tabela 2 - Produção e venda anual de espécies empregadas como matéria-prima por safra
Produto
Unidade
2000/2001
2001/2002 2002/2003
2003/2004
Cupuaçu
Fruto/
6.060.9/
9.096/
19.397/
16.869/
tonelada de
1.006
2.766
1.869
3.914
polpa
Pupunha
tonelada de
508/
508/
947/
902/
palmito/
3.600.000
4.607.000
5.061.000
5.479.000
cacho
Guaraná
tonelada
435,5
480
498
743
Fonte: Relatório de Atividades do IDAM, (2003, seção 12.1), órgão do governo do
Amazonas.
Tabela 3 - Produção e venda anual de espécies empregadas como matéria-prima
Produto
Unidade
2001
2002
2003
Urucum
tonelada
20
6.4
6
Açaí
mil cachos
290
502
1.001
Cana-detonelada
1.208
1.356
227
Açucar
Fonte: arquivo eletrônico fornecido pelo IDAM (2004)
Algumas empresas do segmento de fitoterápicos e fitocosméticos utilizam a maior parte da
matéria-prima natural que é adquirida de outros estados e procedentes do exterior, apesar
do grande potencial regional. A produção de plantas medicinais para medicamentos não é
ainda uma atividade desenvolvida na região, assim como a produção de matéria-prima para
outros segmentos econômicos. Destaca-se que grande parte das plantas medicinais também
pode ser empregada como conservantes naturais.
29
Já existe razoável literatura sobre algumas espécies de plantas com potencial para aplicação
no segmento farmacêutico, e de outras espécies mais conhecidas empregadas por outros
segmentos econômicos da fitoindústria. O que não se sabe devidamente é a distribuição
espacial delas, como elas se proliferam na floresta e como lidar com elas.
O projeto “Fito” do programa de plataformas tecnológicas e de arranjos produtivos locais
do MCT, que envolve as seguintes instituições: INPA, UFAM, SECT e a empresa Pronatus,
para o qual a FUCAPI é a proponente, tem o objetivo de solucionar gargalos de validação
botânica, química e biológica para fins de industrialização de espécies da floresta com fins
de registro na ANVISA. Vários municípios no interior do Estado foram selecionados como
potenciais produtores de plantas medicinais: Atalaia do Norte, Tabatinga, Benjamin
Constant, Manaquiri, Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Silves, Barreirinha e Parintins
(FOLHADELA & TRINDADE, p. 53). O projeto define gargalo como “restrições que,
solucionadas, causam um salto ou melhoria nas atividades do arranjo”.
Em 2003, o SEBRAE-AM ao analisar a aquisição da matéria-prima por essas empresas
concluiu que não havia identificação de procedência, constatando ainda pouco uso das
plantas regionais e elevado índice de contaminação em seu manejo, comprometendo a
qualidade final do produto. Aquela organização iniciou um programa denominado de PróVárzea que tem como objetivo inicial organizar a produção de matéria-prima para
fitoterápicos, formar lideranças e empreendedores nas comunidades.
Estima-se que menos de 10% dos insumos empregados nos fitofármacos e fitocosméticos
pela fitoindústria são de origem regional, cuja maioria é procedente do Sul/Sudeste. Mesmo
as espécies amazônicas são beneficiadas naquelas regiões e depois retornam para aplicação
no processo produtivo das empresas locais.
Algumas das espécies mais utilizadas pela fitoindústria são o açaí, cupuaçu e camu-camu
para a extração de polpa. O guaraná para a produção de concentrados empregados na
produção de refrigerantes; a cana-de-açúcar para a produção de açúcar industrial; o urucum
que é bastante empregado em cosméticos; a pupunha que é empregada principalmente na
fabricação do palmito e ração animal. Uma empresa nos EUA iniciou experiência com o
açaí para a produção de suco e o guaraná será o próximo a ser testado11, indicando o
11
Revista Exame, Seção Primeiro Lugar, p. 12, ano 39, no 5, 16/03/2005.
30
interesse crescente por espécies da Amazônia. O Cupulate, produto resultante de pesquisas
do INPA e EMBRAPA com o cupuaçu, está sendo testado naquele mercado como
suplemento à merenda escolar.
Algumas das principais plantas e raízes da floresta amazônica usadas pela medicina popular
são a andiroba, carapanaúba, copaíba, cipó-tuíra, guaraná em pó e pau-d´arco. Não se sabe,
todavia como utilizar a maioria dessas espécies e milhares de outras existentes para a
fabricação de bens de consumo e produtos farmacêuticos.
Como garantir que a matéria-prima da fitoindústria seja obtida com sustentabilidade? O
conceito de sustentabilidade é baseado na definição da Comissão Mundial sobre o
Ambiente e o Desenvolvimento: “atender às necessidades da geração atual sem
comprometer a habilidade de gerações futuras em atender às suas necessidades”. Partindo
do pressuposto de que o desenvolvimento sustentável da Amazônia exigirá que a floresta
seja mantida de pé e funcionando, não sabemos, porém, como fazer isto e gerar o
crescimento econômico (CLEMENT, 2003, p. 24).
Para quem não conhece e não lida no dia-a-dia com a floresta, o extrativismo parece ser
uma prática predatória. Entretanto, para quem convive diariamente com a floresta
amazônica e para seus estudiosos o extrativismo é considerado viável. O que se torna
fundamental é identificar a melhor opção ou combinação entre extrativismo e cultivo,
ancorados em estudos científicos.
A análise dos gargalos para a produção de fitoterápicos no país permitiu observar que os
produtores de plantas medicinais não estão organizados e não mantêm um controle botânico
adequado de qualidade, podendo esbarrar na tendência para se adotar nos mercados dos
países desenvolvidos o chamado “selo verde12” (SANT’ANA, 2002, p. 165). Outro gargalo
é o caso de exclusividade estabelecida entre algumas comunidades e ONGs (LESCURE,
2000, p. 191), o que pode limitar o acesso das empresas à matéria-prima de melhor
qualidade.
Apenas o extrativismo, que tem sido a principal forma de gerar produtos naturais, não pode
garantir a produção de matéria-prima em quantidades suficientes para atender a demanda
12
A Empresa Natura criou o “Programa de Certificação de Ativos” da biodiversidade brasileira, que são
utilizados nos produtos da empresa (Gazeta mercantil, Natura Avança na biodiversidade C2, 29.04.03).
31
crescente, face à fraca densidade das espécies encontradas e exploradas em seu habitat. O
cultivo pode implicar em impacto na floresta e a sua substituição por ecossistemas
simplificados e frágeis sob diversos aspectos: erosão genética, degradação dos solos,
problemas fito-sanitários, a perda irremediável de espécies substituídas e a monocultura
intensiva (BAHRI, 2000, p.191, SHIVA, 2001, p. 16). Observa-se, como exemplo, o
contínuo crescimento de áreas ocupadas na Amazônia para a produção de soja.
Um grupo brasileiro iniciou um projeto em Maués ocupando uma área de 2.700 hectares
para a produção de mudas do guaraná, resistentes a pragas, distribuídas aos agricultores da
região, para recuperar os guaranazais daquele Município. De outro, uma Usina coligada a
uma empresa de capital estrangeiro iniciou projeto para plantio, colheita e beneficiamento
do guaraná que pode reduzir a praga e aumentar a produtividade, cuja meta é à autosuficiência em 2005. São exemplos de produção de espécies empregadas como matériaprima pela fitoindústria em grande escala.
Não é uma restrição à produção de culturas para a exportação ou de matéria-prima para a
fitoindústria, mas considerar a hipótese de práticas de cultivo que podem eliminar espécies
nativas representa ameaça à vida e à própria sobrevivência de habitantes nativos que
dependem dos recursos da floresta. O desaparecimento de espécies está relacionado com a
extinção de inúmeras outras espécies, através de redes de alimentos e cadeia alimentar
sobre os quais a humanidade ainda é totalmente ignorante (SHIVA, 2001, p. 14).
A produção e comercialização de espécies na Amazônia ainda seguem práticas pouco
usuais no mundo moderno. Por um legado cultural13, ainda é comum a relação de
exclusividade na venda de produtos extraídos da floresta para um único comprador. A
castanha-do-Brasil, empregada na produção de alimentos e óleo para cosméticos, por
exemplo, historicamente tem sido vendida por grande parte de seus coletores às grandes
Usinas da região. Essa relação de exclusividade, na maioria das vezes, limita a venda por
um preço artificialmente baixo.
Acima de 90% da produção brasileira da castanha é vendida para o exterior, sendo o
Amazonas o maior produtor e o segundo maior exportador, depois do Estado do Pará.
13
É comum na região amazônica a figura do regatão, embora o número venha diminuindo com o passar do
tempo, estabelecer para seus fornecedores de produtos da floresta exclusividade de fornecimento.
32
Usinas do Pará compram no Amazonas grande parte da castanha que é exportada daquele
estado.
O país exportou aproximadamente 10,5 toneladas da castanha em 2001 e em 2003 cerca de
4 toneladas, mas está perdendo espaço para a Bolívia no mercado internacional. Uma das
alegações das usinas da Amazônia para a queda nas exportações é a de que as usinas
bolivianas recebem elevados incentivos fiscais e suporte tecnológico do governo. Porém, as
usinas bolivianas têm demonstrado competência empreendedora, chegando a compartilhar
os benefícios com os coletores, cujas práticas ainda não são adotadas pelas usinas do
Amazonas.
As usinas bolivianas já atendem a exigências fito-sanitárias dos países importadores,
tornando-se os principais exportadores da castanha com cerca de 12,5 toneladas/ano.
Grande parte é adquirida de coletores em áreas brasileiras, principalmente no estado do
Acre, pagando um preço mais elevado que o pago pelas usinas brasileiras
(http://www.pagina20.com.br/, 18.03.2004).
O óleo de copaíba, principalmente, para aplicação farmacêutica, e o óleo de pau-rosa para
aplicação em cosméticos são subprodutos de grande procura por estrangeiros. Embora não
tenham sido identificados dados oficiais, estima-se que saiam do estado do Amazonas
aproximadamente 300 t/ano de copaíba, principalmente para o exterior. Na tabela 4 são
apresentados alguns dados de valores com a exportação de produtos da floresta, embora
ainda não sejam facilmente acessíveis ao público.
Tabela 4 - Exportação de produtos da floresta amazônica
Produto
2002
2003
2004*
Países importadores
US$ 1,00 US$ 1,00 US$ 1,00
448.962 96.562
126.782 Alemanha/EUA/França/Japão
Bálsamo/Óleo
de Copaíba
Guaraná em Pó 243.697
314.527
227.410
EUA/França/Itália/Portugal/
Alemanha/Holanda/Suíça
Óleo essencial 480.516 621.712 135.879 Alemanha/Bélgica/Espanha/EU
de pau-rosa
A/França/Inglaterra
* Estimativa com base nas vendas até outubro de 2004; Fonte: Ministério da Agricultura Posto de Manaus.
O guaraná do Amazonas é uma das espécies de grande aceitação no país e no exterior, que
responde por cerca de 25% do mercado de refrigerantes no Brasil. Diversas indústrias
33
nacionais e estrangeiras se interessam pela compra do extrato e do resíduo da semente do
guaraná para aplicação, também, na indústria de cosméticos.
A andiroba, além de servir para fármacos, é uma das principais espécies utilizadas na
fabricação de cosméticos. Entretanto, outras espécies tais como o murumuru, que já vêm
sendo utilizado, o urucuri e o babaçu apresentam também grande potencial para a
fabricação de óleo que é empregado na fabricação de cosméticos. Em um novo projeto a ser
implantado pela UFAM para a produção de biodiesel, o urucuri e o babaçu deverão ser as
principais espécies utilizadas. Apenas no município de Barreirinha, o babaçu que também
pode ser domesticado apresenta um potencial de 75.000 t. Qualitativamente já se conhece o
potencial de oleaginosas nas diversas localidades da Amazônia, mas não se sabe o potencial
quantitativo.
No entanto, “apesar de toda a diversidade da floresta amazônica, das cerca de 149 espécies
medicinais comercializadas no mercado de Manaus, ou feiras, apenas cerca de 56 são de
origem amazônica. No segmento farmacêutico, somente 18 dos 86 produtos levantados são
à base de plantas amazônicas ou são incluídas em suas fórmulas. Dos produtos vendidos em
Manaus, mas produzidos nas regiões Sul e Sudeste do país, a farmacopéia amazônica se
reduz a apenas 9 plantas. Destacam-se as espécies cultivadas principalmente pelas
sociedades indígenas: guaraná, sacaca, urucum e pupunha” (FERREIRA, 2002, p. 177).
Adicionalmente às restrições de informação e pesquisa, as longas distâncias pela extensa
dimensão geográfica da Amazônia, o precário sistema de transporte, a dificuldade de
navegabilidade em alguns rios em certos períodos do ano e a sazonalidade das espécies são
alguns dos problemas enfrentados para assegurar o fornecimento da matéria-prima, e
permitir que as empresas planejem e garantam o volume programado de produção.
As principais espécies são coletadas na floresta principalmente pelas comunidades
tradicionais. Essa matéria-prima segue, geralmente, um percurso que envolve diversos
intermediários na cadeia produtiva, desde o local de produção até chegar ao consumidor
final.
Um exemplo da trajetória mais usual da matéria-prima é apresentado no fluxograma da
figura 2, desde a coleta ou extração pelos produtores nos municípios do Estado, até o
34
ingresso na fábrica em Manaus. Ressalta-se que a armazenagem e transporte são efetuados
em ambientes inadequados, sobretudo pelos intermediários.
Figura 2 - Cadeia produtiva básica da matéria-prima
1
Coleta
2
Armazenagem
6
7
Mercado
Fábrica
3
Transporte
4
Intermediário
5
Transporte
Fonte: própria
A fixação de preço da matéria-prima não é uma tarefa fácil, pois existem várias
interpretações quanto a finalidade da biodiversidade. Estados e regiões dentro dos estados
enfrentam prioridades conflitantes na identificação dos caminhos do desenvolvimento. A
conservação da biodiversidade é de baixa prioridade simplesmente porque existem
problemas de mensuração e de valoração (OECD, 2002, p.2).
Como e com que valores remunerar o conhecimento tradicional e a imagem dos índios que
participem das campanhas publicitárias? “A semente de muirapuama conhecido como o
viagra brasileiro por custar cerca de R$ 300,00/Kg”14 tem um preço justo? Ninguém ainda
sabe quanto vale esse conhecimento tampouco a imagem dos índios e como remunerá-los.
A inexistência de preço regulador e a pouca intensidade da força do livre mercado têm
contribuído para a disparidade de preços entre as diferentes regiões. Em 2003 no município
de Manicoré, a lata da castanha foi vendida a R$ 15,00, enquanto em outros municípios
como Fonte Boa foi vendida a R$ 4,00. Outros fatores também influenciam a fixação de
preço tais como o nível de desenvolvimento do município, a organização da comunidade, a
qualidade do produto e a sazonalidade.
Em resumo, a produção de matéria-prima com espécies da floresta é bastante desorganizada
no Estado. Não há padronização de qualidade e as condições do pequeno produtor são
bastante adversas, agravadas pela inexistência de cooperativismo. O preço da matéria-prima
varia bastante de um lugar para outro em função de diversos fatores e faltam as condições
necessárias para a produção, comercialização e distribuição.
14
Revista Exame: Ano 37, no 5; 12/03/2003.
35
II.4. OS DESAFIOS TECNOLÓGICOS DA FITOINDÚSTRIA
Nesta seção serão examinados os seguintes temas: 1. a biotecnologia como o estado da arte
para valorizar os recursos da floresta; 2. a relevância da biotecnologia para a fitoindústria 3.
as diversas tecnologias empregadas na cadeia produtiva da fitoindústria.
II.4.1. A biotecnologia como estado da arte para valorizar os recursos da floresta
A biotecnologia tem sido defendida por vários segmentos da sociedade brasileira e local
como essencial e estratégica à valorização dos recursos da biodiversidade amazônica, cujas
principais ações de políticas públicas estão descritas na seção I.3.
Por essa razão, buscou-se através de pesquisa da literatura publicada identificar os fatores
considerados fundamentais ao desenvolvimento da biotecnologia nos diversos países. A
partir desse diagnóstico, tentar estabelecer algumas comparações com o seu
desenvolvimento no país e as perspectivas de desenvolvimento no Amazonas.
Pela Convenção da Biodiversidade (1992, p. 9) “a biotecnologia pode ser entendida como a
aplicação tecnológica que utiliza sistemas biológicos, organismos vivos, ou derivados, para
fabricar ou modificar produtos ou processos destinados à utilização específica; emprego de
processos biológicos à produção de materiais e substâncias para uso industrial, medicinal,
farmacêutico, de cosméticos, alimentício etc”.
No início da década de 70 do século XX, a partir do desenvolvimento da técnica do DNA
recombinante, que permitiu a transferência de material genético entre organismos vivos
através de meios bioquímicos, passaram a existir dois conceitos de biotecnologia: a
tradicional e a moderna. A biotecnologia pode ser classificada em três fases distintas
(OAKEY et al. 1990):
¾ A primeira geração (7000 A.C.) caracterizou-se pelo uso da fermentação para produzir
bebidas, alimentos e combustível. Tais práticas foram essencialmente empíricas e de
pequena escala.
¾ A segunda geração (anos de 1940), após a segunda guerra, caracterizou-se pela primeira
organização de matéria-prima para a ciência e processo produtivo, escala de produção e
o processo de fermentação para a fabricação de antibióticos e foi baseada na aplicação
integrada da microbiologia industrial.
36
¾ A terceira geração (a partir dos anos de 1970) inclui a potencial aplicação de todo
processo de biotecnologia existente, e novos produtos e processos. Passou a ser
associada a técnicas de engenharia genética.
Esses autores ao compararem o nascimento da indústria de biotecnologia com a indústria de
semicondutores observaram que a produção de alta tecnologia considera a “matéria-prima”
como um tipo acabado ou semi-acabado. Na biotecnologia, ao contrário, é a tecnologia
incorporada que representa um alto valor agregado.
Assim, a biotecnologia clássica é entendida como a utilização para fins industriais de
propriedades de organismos existentes na natureza, enquanto a biotecnologia moderna
(engenharia genética) passa a ser definida como a utilização de seres vivos modificados
artificialmente e manipulados através de técnicas laboratoriais e industriais específicas.
Em alguns casos são usadas propriedades desses seres vivos encontrados na biodiversidade,
empregando a biotecnologia clássica ou tradicional. Em outros casos os organismos são
geneticamente modificados para produzir substâncias específicas, empregando a moderna
biotecnologia. Esta considera que os produtos e serviços exigem um nível de conteúdo
científico e tecnológico mais elevado, na fronteira da ciência e tecnologia.
Alguns marcos históricos podem auxiliar na compreensão do desenvolvimento da
biotecnologia até a biotecnologia contemporânea, ou moderna (VIANA, 1991):
¾ A produção de antibióticos, a partir da década de 1940, consagrou a biotecnologia com
os avanços na microbiologia industrial, resultando no melhoramento genético de
microorganismos e de aperfeiçoamentos em processos e projetos. Em 1944, constatouse que os genes eram constituídos de DNA seguindo-se pesquisas sobre sua autoreprodução.
¾ Com a possibilidade de se obter a divisão celular contínua e a regeneração do vegetal a
partir da cultura “in vitro” de tecidos, ampliaram-se as fronteiras da aplicação da
biotecnologia na agricultura visando o melhoramento e a seleção de espécies. Em 1957,
obteve-se a regeneração de tecidos do tabaco.
37
¾ Em 1970 obteve-se o primeiro sucesso na fusão de protoplastos de espécies vegetais
diferentes. Os anticorpos monoclonais foram gerados, inicialmente, em 1975, a partir da
fusão de células animais e do cultivo do híbrido resultante.
Assim, tiveram início as técnicas biológicas avançadas, ou a moderna biotecnologia, que
são caracterizadas pela possibilidade de manipulação direta do código genético. Essas
técnicas se referem ao DNA recombinante (ou engenharia genética), fusão celular de
tecidos animais, cultura de tecidos vegetais e os bioprocessos de cultivo dos agentes
biológicos recombinados.
A biotecnologia é reconhecida como uma das tecnologias-capacitadoras para o século 21,
face as suas características de inovação radical frente a problemas globais (doenças,
nutrição e poluição ambiental) (CANHOS et al., 2002, p. 4). Genética e Informática
descobrem-se complementares e afins em natureza, além de multiplicadoras quando
associadas tecnologicamente (MACHADO, 2001, p.1).
Alguns componentes da mudança de paradigma em biotecnologia requerem especial
atenção: sistemática e ecologia microbiana, bioinformática e informática para
biodiversidade e genômica. Ocorre hoje uma migração do in vitro para in silico
(bioprospecção por data mining), onde, a partir de uma base de informação, se desenham
estratégias para a seleção e triagem in vivo (CANHOS et al., 2002, p. 5).
O desenvolvimento da biotecnologia sugere a existência de quatro “ambientes de seleção”:
(a) técnico-econômico; (b) científico-econômico (estaria incluída neste conjunto a maior
parte das pequenas empresas especializadas em biotecnologia próximas às universidades);
(c) básico-científico (instituições acadêmicas propriamente ditas); (d) tecno-governamental
(programas de governo) (SILVEIRA, 2001, p. 5).
A indústria de biotecnologia, que não existe oficialmente, é um setor emergente que
compreende um número de produtos e serviços heterogêneos, geralmente com elevada
especificação técnica (OAKEY et al. 1990). Nesse setor há dois tipos de empresas: (a) a
que desenvolve pequenos projetos e foca nichos de mercado, com limitado investimento em
pesquisa, e vende tanto produtos como serviços; e (b) a que desenvolve pesquisa intensiva e
foca um grande mercado interno e externo, e é apoiada em suas pesquisas e projetos de
inovação (MANGEMATIN et al., 2003, p. 624).
38
O surgimento da biotecnologia comercial, na forma como é conhecida hoje, ocorreu nos
EUA no final da década de 70 e início dos anos 80 do século XX, com a formação de
pequenas companhias de biotecnologia, as Novas Empresas de Biotecnologia – NEBs.
Alguns fatores determinantes para o surgimento das NEBs foram o apoio do governo, uma
forte participação do capital de risco e a cooperação entre as empresas e institutos de
pesquisa, além do background industrial competitivo (ACHARYA, 1999, p. 34).
Algumas das características desse setor são: atividades de pesquisa intensiva realizadas
pelas PMEs, que estão localizadas perto da fonte de conhecimento e das principais
universidades, mesmo não sendo spin-off destas; a maioria dos fundadores de empresas
dessa indústria tem elevado conhecimento científico, um PhD e são membros de rede
científica (MANGEMATIN, 2003, p. 622). Os investimentos feitos pelas instituições
públicas ou privadas em P&D são fundamentais para a viabilidade econômica do processo
de inovação nessa indústria e o marketing para a divulgação (MACHADO, 2001, p. 1).
Em países onde a moderna biotecnologia logrou sucesso, alguns fatores têm sido
determinantes, mesmo em graus diferenciados, para a capacitação tecnológica das NEBs,
de acordo com as características de cada país e da disponibilidade dos recursos. Esses
fatores estão associados ou são influenciados pelos recursos humanos, fontes de
financiamento, infra-estrutura de P&D, mercado, cooperação e apoio do governo.
A formação de pessoal qualificado para gerir negócios em biotecnologia tem sido uma das
ênfases de alguns países. A Alemanha tem estimulado o empreendedorismo para encorajar
jovens cientistas a comercializarem suas idéias (MOMMA, 1999, p. 273, MULLER, 2002,
p. 288). No Canadá, houve avanços na formação de pessoal com habilidade para reconhecer
a aplicação comercial dessa tecnologia, habilidade gerencial para empresas do setor e
especializado em pesquisa (HALL, 2002, p. 242).
O aporte financeiro dos governos tem sido uma das características do desenvolvimento da
biotecnologia. Na Europa e Japão, onde as novas empresas de biotecnologia surgiram mais
tardiamente, o governo agiu com freqüência com o apoio financeiro em forma de
empréstimo e garantias, ou para estimular a cooperação entre a pesquisa e produção
(FRASMAN & TANAKA, 1995, p. 15). Os EUA tradicionalmente têm destinado fundos
federais para o desenvolvimento de P&D especialmente as modernas tecnologias-chave
39
como a biotecnologia.
Infra-estrutura tais como os laboratórios de pesquisa e universidades públicas também
integraram o modelo de desenvolvimento do setor de biotecnologia nos EUA e países
europeus (DIAZ et al, 2002, p. 33).
Em países em desenvolvimento a carência não é apenas de infra-estrutura de laboratórios e
universidades para as atividades de P&D dirigidas ao desenvolvimento da biotecnologia,
mas também um estoque de pesquisa que dê sustentação ao seu desenvolvimento. Na Índia,
por exemplo, os plantadores de cardamo, uma planta tradicional daquele país, tiveram que
abandonar sua plantação porque não existia pesquisa ou tecnologia apropriada para
combater a praga que contaminou essa espécie, até que um programa nacional buscasse
uma solução (MEHRA, 2001, p. 18).
A proximidade e o intercâmbio com institutos de pesquisa e universidades têm facilitado a
cooperação entre o setor privado, principalmente envolvendo as pequenas empresas,
levando os EUA à liderança no setor. As grandes empresas têm desenvolvido tipos de jointventure colaborativo com as empresas start-up, criando janelas de oportunidades
tecnológicas.
Umas das principais características da formação dos mercados da moderna biotecnologia
são os contratos de cooperação, seja para pesquisa, para desenvolvimento, seja para
financiamento, comercialização, licenciamento e marketing. Isto ocorre em razão de uma
permanente incerteza que permeia as atividades de pesquisa e produção em biotecnologia
(SALLES, 2001, p. 7).
No Japão, a colaboração informal entre empresas e universidades tem sido uma prática de
intercâmbio tecnológico ao longo dos anos. O governo está estimulando o desenvolvimento
comercial da biotecnologia, coordenando interações entre representantes da indústria,
universidade e governo (FRASMAN & TANAKA, 1995 p. 14). No Reino Unido também
tem sido estimulada a união dos setores público e privado para a pesquisa básica e aplicada
(OAKEY, 1990).
O relacionamento das NEBs com grandes empresas no Canadá tem
permitido a
concentração das primeiras nas atividades de P&D (HALL, 2002, p. 233). Isto tem
caracterizado a existência de “ativos complementares” relacionando atividades de P&D e
40
marketing. Uma das vantagens da colaboração entre empresas é permitir a transferência de
pesquisas avançadas das PMEs para as grandes, e o acesso à estrutura das grandes que têm
capacidade para envolver-se em todos os níveis do processo de inovação: pesquisa básica,
desenvolvimento de produto, e comercialização.
O apoio dos governos e suas políticas públicas nos países desenvolvidos têm dado uma
contribuição decisiva para estimular atividades de inovação na área de biotecnologia. As
políticas nacionais têm privilegiado, sobretudo, pesquisas conjuntas entre as empresas, os
institutos e laboratórios de pesquisa, a formação, capacitação e mobilização de recursos
humanos qualificados, a criação de mecanismos de regulação e legislação, e de fundos de
financiamento.
Nos países em industrialização, todavia, a combinação de baixa competência dos recursos
humanos e de poucos investimentos em P&D na área de biotecnologia é considerada a
desvantagem frente aos países industrializados. O Brasil, porém, sempre demonstrou um
grande potencial para a biotecnologia, a exemplo do Programa Genoma em que foi o
primeiro país do terceiro mundo a dominar a tecnologia do sequenciamento genético. O que
falta, então, para o país atingir nesse campo o nível dos países industrializados?
Até a década de 90 do século XX, praticamente não houve mudanças significativas no
contexto de interação entre os diferentes agentes da inovação em biotecnologia e uma nova
perspectiva para o Brasil. Entretanto, o sucesso do Projeto Genoma Xylella15 de 1997,
trouxe uma dinâmica da moderna biotecnologia, que tem se apoiado principalmente nos
conhecimentos dos institutos e centros públicos de pesquisa e das universidades, que
passam a conformar assim o nó das redes de inovação. Um dos principais avanços em 2000
foi a implementação da Rede Genoma, de âmbito nacional (SALLES, 2001:15).
Ao mesmo tempo em que o país avançou na capacitação tecnológica em algumas áreas da
biotecnologia, por ter deixado de investir e continuar algumas pesquisas importantes perdeu
parte dessas conquistas. O melhoramento de plantas, por exemplo, foi por muitas décadas
um campo disciplinar no qual o Brasil possuía uma forte excelência científica e
15
A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) lançou um programa de pesquisa
genômica com o objetivo de seqüenciar o genoma completo da bactéria fitopatogênica Xyllela fastidiosa, o
agente causal da clorose variegada do citrus, doença que afeta 30% dos laranjais paulistas, causando danos
estimados em US$ 50 milhões/ano.
41
tecnológica, perdendo posteriormente essa condição, devido principalmente à deficiência e,
especialmente, pela pouca requalificação de recursos humanos (BATALHA, 2001, p. 8).
Em 1987, o MCT lançou o Programa de Recursos Humanos nas Áreas Estratégicas –
RHAE, que tinha por diretrizes básicas a formação de profissionais em áreas estratégicas
como a biotecnologia e a atuação institucional junto a empresas, universidades e centros de
pesquisa, buscando elevar sua competência em algumas áreas de interesse. No setor
farmacêutico, todavia, os avanços não foram tão significativos.
As empresas no mercado brasileiro de fitoterápicos, por falta de recursos para P&D, pelos
recursos humanos limitados e dificuldades na cadeia de suprimento, dentre outros, não
tiveram condições de desenvolver a produção de fármacos, limitando-se à condição de
copiadoras (SANT’ANA, 2002, p. 160).
Até as primeiras décadas do século XX toda a produção farmacêutica se originava de
pequenos estabelecimentos de origem familiar, dedicados à produção de medicamentos a
partir de extratos vegetais e manufatura de produtos de origem mineral. A indústria
farmacêutica brasileira que até 1945 era considerada forte, amparada na riqueza da floresta
e fauna farmacologicamente exótica do Brasil, não acreditou na tecnologia química, não
investiu em P&D no setor e não resistiu à pressão do mercado (SCT/PR, 1991).
Hoje existem no país grandes empresas farmacêuticas, cuja maior parte de suas vendas
concentra-se em produtos sintéticos e apenas uma pequena parcela é de origem vegetal,
cujos princípios ativos são obtidos por extração (fitofármacos). De outro lado estão os
laboratórios menores, com produção dirigida para medicamentos de origem vegetal, entre
os quais, possivelmente, seja maior a participação de fitoterápicos em relação a
fitofármacos (FERNANDES, 2002, p. 92).
As grandes empresas, de modo geral, encaram os segmentos de fitofármacos e fitoterápicos
como marginais, concentrando-se principalmente na produção de sintéticos. Imagina-se que
a obtenção de fármacos a partir de plantas é ponto a ser explorado pela indústria nacional.
As inovações incrementais em biotecnologia são fundamentais nos primeiros estágios do
avanço tecnológico, porém as radicais, que constituem a principal fonte de riquezas e que o
país ainda não possui, exigem uma participação ativa dos inventores. Isso exige
42
conhecimento em áreas como biologia molecular, química estrutural, bioquímica e
farmacologia, por exemplo, (FINEP, 2004, p. 3).
E no Amazonas que estratégias estão sendo pensadas para valorizar seus recursos naturais e
biogenéticos com o suporte da biotecnologia? Que importância têm exercido para essas
estratégias os fatores considerados essenciais ao desenvolvimento da biotecnologia em
países industrializados?
II.4.2. A relevância da biotecnologia para a fitoindústria
A fitoindústria, para a capacitação tecnológica e valorização dos recursos da floresta,
considera importante o desenvolvimento de atividades em biotecnologia, ou pretende ser
usuária desse tipo de tecnologia?
A bioprospecção é apontada como uma das opções à valorização da biodiversidade. A
bioprospecção é a exploração da diversidade biológica por recursos genéticos e
bioquímicos de valor comercial e que, eventualmente, pode fazer uso do conhecimento de
comunidades indígenas ou tradicionais. Inclui setores como fitomedicamentos, agricultura,
cosméticos, alimentação e bebidas (SANT’ANA, 2002, p.p.5, 65 e 67).
Os recursos genéticos envolvem a variabilidade de espécies de plantas, animais e
microrganismos integrantes da biodiversidade, de interesse sócio-econômico atual e
potencial para utilização em programas de melhoramento genético, de pesquisas na área
farmacêutica e em diversas outras atividades dentro da biotecnologia e áreas afins. A
Convenção da Biodiversidade (1992, p. 9) considera a diversidade genética como o
somatório da informação genética existente nos organismos que constituem a floresta, a
fauna e a microbiota que, se adequadamente identificada e capturada, passa a constituir os
recursos genéticos, fonte da variação genética disponível ou variabilidade genética.
Como a biodiversidade pode interagir com a biotecnologia? A biodiversidade sustenta as
atividades do setor primário e é considerada estratégica para a indústria de biotecnologia.
Por seu lado, a biotecnologia pode auxiliar no estudo, na conservação e no uso da
biodiversidade, assegurar o manejo sustentável do meio ambiente, disponibilizar maior
quantidade e qualidade de diversos produtos.
43
A bioprospecção em países em desenvolvimento deve ser implementada em escala
comercial como tecnologia baseada em negócios que adiciona valor aos recursos naturais e
renda à população tradicional, com incentivos para a conservação dos recursos da
biodiversidade (WEISS, 1998, p. 481). Isto exige adicionar valor nos elos cadeia produtiva.
O valor da cadeia produtiva descreve a completa extensão de atividades que são requeridas
para tornar a concepção de um produto ou serviço, através de diferentes fases da produção
(envolvendo a combinação de transformação física e o ingresso de vários fornecedores de
serviços), entrega para consumidores finais e, finalmente, disponibilidade após o uso
(KAPLINSKY & MORRIS, 2002, p. 4).
A bioprospecção tem recebido uma atenção especial na mídia como um meio de financiar a
preservação dos habitats. Dos seis valores que podem ser gerados a curto prazo, a
bioprospecção, entretanto, ocupa o último lugar: existência, ecoturismo, serviços
ambientais, agricultura sustentável, extrativismo e bioprospecção (VOGEL, 1997, p. 6):
“Espera-se um baixo retorno por uma razão bastante simples: muitos dos
compostos químicos de interesse para as firmas de biotecnologia não
existem em apenas um país ou mesmo em uma espécie, mas estão
difundidos tanto através de fronteiras como de espécies. Este prognóstico
econômico foi confirmado também pela experiência. Uma guerra de preço
vem surgindo entre países provedores à medida que cada um oferece sua
diversidade biológica a preços cada vez mais baixos”.
Na sua forma moderna, a bioprospecção envolve a aplicação de tecnologias avançadas para
o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos, agroquímicos, cosméticos,
fragrâncias, enzimas industriais, e outros produtos para a biotecnologia (ARTUSO, 2002, p.
1355). Nos últimos 20 anos os investimentos em bioprospecção, embora com a produção de
poucos remédios, fomentou a pesquisa em duas áreas no país: padronização da planta para
o uso in natura e legitimação de sua eficácia medicinal e segurança, resultando em boa
infra-estrutura para P&D (LAPA, 2003). Como a bioprospecção pode ser mais bem
empregada na busca de recursos genéticos na biodiversidade da Amazônia?
Muito embora a EMBRAPA e principalmente o INPA, que é a mais destacada instituição
de pesquisa local, disponham de um significativo acervo, não têm desenvolvido pesquisas
em cooperação com o setor produtivo local, para o aproveitamento dos recursos da floresta
como matéria-prima. Apesar dos avanços como a pesquisa desenvolvida pela UFAM para
44
melhorar o controle de qualidade da castanha, diminuindo a contaminação por aflotoxina,
são poucas as pesquisas aplicadas ao agronegócio e bionegócio no Amazonas.
Todavia, mais recentemente o Amazonas integrou-se ao Projeto Genoma Brasileiro,
implementado pelo MCT através do CNPq, que deverá seqüenciar o microorganismo
Chromobacterium violaceum, que é uma rede constituída por 26 laboratórios e de três
projetos de suporte a Coleções de Culturas Microbianas e de Células Humanas.
Foram criados também nesses últimos anos cursos stricto sensu na área de biotecnologia no
Amazonas, motivados pela perspectiva do uso dos recursos biogenéticos da região como
matéria-prima, contando com o apoio financeiro da Suframa. O Programa planeja oferecer
os seguintes cursos: Bioquímica e Biofísica, Biologia Molecular, Engenharia Genética
Básica, Engenharia Genética Avançada, Uso de Marcadores Moleculares em Análise e
Melhoramento
Genético,
Bioinformática;
Engenharia
Metabólica,
Bioética
e
Biossegurança, Propriedade Intelectual na Era Genômica.
Estão em desenvolvimento ainda novos sistemas vetores X hospedeiros para engenharia
genética e novos genes de valor biotecnológico (Rede da Amazônia Legal de Pesquisas
Genômicas - REALGENE).
Outro projeto, o Proteoma (genoma da proteína), com o mesmo nível de importância, foi
criado em Manaus no início de 2004, devendo beneficiar a bioindústria. Parte do
financiamento provém da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia - SECT e a outra
parte do MCT. A rede Proteoma Nacional do MCT trabalha com a seguinte estrutura: os
laboratórios centrais que oferecem melhores condições de pesquisa, os laboratórios
associados e os laboratórios de usuários.
O Amazonas possui 3 laboratórios associados e 3 usuários. Embora se reconheça o esforço
com esse projeto para o desenvolvimento de atividades de pesquisa em biotecnologia no
Amazonas, como estratégia de um projeto nacional, não há indícios, todavia, de conexão
com as atividades das empresas da fitoindústria. Como elas, então, poderão participar e se
beneficiar de projetos dessa natureza?
O estudo de Plataformas Tecnológicas para o Amazonas (2002, p. 9), financiado pelo
MCT, identificou os seguintes gargalos nos subsetores de fitofármacos e fitocosméticos
para o uso da matéria-prima vegetal relacionados a atividades de biotecnologia ou afins à
45
Farmacologia, Toxicologia e Microbiologia: atividade antidiabética, DL50, toxicidade subaguda, toxicidade crônica, exposição a músculo liso, exposição a músculo estriado, “Open
field”, pressão arterial, coração, atividade antiinflamatória, ação fertilizante.
As Plataformas Tecnológicas envolvem parceiros institucionais do governo, comunidade
científica, setor privado e comunidades da sociedade civil para a identificação de gargalos
tecnológicos, sócio-econômicos e institucionais para a formulação de projetos cooperativos
para sua superação. Neste caso, empresas da fitoindústria foram envolvidas.
A partir da seleção de 3 plantas, para pesquisa, validação e aplicação na fabricação de
produtos nos APLs de fitofármacos e ficosméticos, foram definidos estudos de botânica,
fitoquímica e farmacologia, toxicologia e microbiologia. As etapas previstas são: (a)
botânica: revisão bibliográfica, inventário botânico, descrição macroscópica, distribuição
geográfica; e (b) fitoquímica para padronização: qualitativa e quantitativa dos princípios
ativos ou marcadores, físico-química, metodologia analítica, formação de um banco de
padrões, determinação de contaminantes (principalmente metais pesados) (SEDEC, p. 8).
Estimas-se que o desenvolvimento de um bom fitoterápico pode custar entre R$ 1 milhão e
R$ 150 milhões, sendo possível converter em menos de dois anos plantas em fitoterápicos
padronizados. O custo médio de P&D de um medicamento, porém é estimado em US$ 360
milhões por produto, podendo levar de sete a quinze anos, mas quando é originado de
plantas medicinais pode cair para cerca de US$ 70 milhões (SANT’ANA (2002, p. 67).
O melhoramento genético através da pesquisa e o cultivo in situ são caminhos que deverão
contribuir para a preservação e reprodução de espécies de melhor qualidade, sem
comprometer o equilíbrio ecológico. Mas, até que ponto as empresas estariam dispostas a
se envolver e apoiar esse tipo de atividade? Qual seria o interesse delas em implementar,
por exemplo, plano de plantio e manejo?
II.4.3. As diversas tecnologias empregadas na cadeia produtiva da fitoindústria
As tecnologias implícitas em todas as fases da cadeia produtiva de produtos primários
podem se equivaler à alta tecnologia como as adotadas por países desenvolvidos, embora se
admita que a biotecnologia, por aplicar modernas técnicas de pesquisa, pode valorizar mais
os recursos da floresta. Tecnologias de menor complexidade, todavia, também podem, no
conjunto, agregar significativo valor.
46
Pouco se avançou no desenvolvimento científico e tecnológico para a exploração
econômica dos recursos da flora amazônica na fabricação de produtos de alto valor
agregado. O estudo de Plataformas Tecnológicas do Estado do Amazonas (2002, pp. 4 e
5), além dos gargalos pertinentes à biotecnologia, identificou outros gargalos que afetam os
segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos no uso desses recursos:
¾ obtenção da matéria-prima: legislação ambiental, certificação das matérias-primas,
identificação botânica, identificação fitoquímica, controle de qualidade;
¾ processamento da matéria-prima: identificação físico-química de insumo, pesquisa
fitoquímica de marcadores, processo industrial na produção de matéria-prima, testes
para validação e registro do insumo vegetal junto aos órgãos sanitários;
¾ processamento do produto-acabado: capacitação de pessoal em formulações de
fitoterápicos e fitocosméticos, controle de qualidade do produto acabado, capacitação
de pessoal em “design”, embalagens e rótulos, e patentes;
¾ mercado: selo de qualidade ambiental e social vinculado ao Amazonas.
Na proposta de Ação para a Dinâmica dos Arranjos Produtivos Locais (APLs16) dirigido ao
Amazonas, nos segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos, no item sobre capacitação
inovadora e tecnológica, recomenda-se verificar como se dá a absorção e geração de novas
tecnologias localmente, sugerindo avaliar alguns fatores:
¾ internos às empresas: departamento de P&D, laboratórios, etc; internos ao Arranjo:
centros de pesquisa, universidades, centros tecnológicos, etc;
¾ externos ao Arranjo: licenciamento, assistência técnica; aquisição de máquinas e
equipamentos: incorporação de tecnologia através de aquisição e máquinas e
equipamentos; participação em feiras e congressos: nacionais/internacionais; outras
formas de aprendizado e inovação: reuniões informais, troca de informações,
capacitação e formação de RH, etc.
Grande parte das atividades tecnológicas não tem alcançado o resultado desejado nas ações
de pesquisadores e empreendedores de negócios na região e as causas são várias. Na cadeia
de fitoterápicos, por exemplo, todas as etapas: coleta, identificação, extração, padronização
16
Documento para sistematizar o processo de seleção de Arranjos Produtivos Locais (FINEP, 2002, P. 7).
47
e desenvolvimento de novos produtos exigem diversas atividades de P&D e de tecnologias
com variados graus de complexidade.
Para alcançar resultados satisfatórios nas atividades de P&D com os recursos da flora é
necessária a desconcentração de programas de formação de pessoal do Sul e Sudeste para
criar mecanismos de cooperação interinstitucional (BATALHA, 2001, p. 78). Devem ser
combinadas de forma equilibrada, a pesquisa científica, desenvolvimento, validação,
transferência de tecnologias e marketing, bem como estudos de cadeias produtivas de
agronegócios e bionegócios com os recursos da floresta amazônica.
O quadro 1 apresenta na coluna A uma classificação das atividades de biotecnologia
indicando o volume de investimentos necessários, compatíveis com o correspondente nível
de complexidade da pesquisa e da tecnologia (MCT, 2002). Observa-se que quanto mais
complexas são essas atividades, maiores devem ser os investimentos necessários para
implementá-las, porém tanto maior será o valor agregado.
A mesma classificação é feita na coluna B para outras atividades tecnológicas que
envolvem o uso dos recursos da flora amazônica na cadeia produtiva da fitoindústria. Como
na coluna A, a coluna B mostra que há diversos níveis de complexidade para a pesquisa e
desenvolvimento tecnológico necessários, além de atividades em biotecnologia,
compatíveis também com os níveis de investimentos para agregar valor às espécies.
48
Quadro 1 - Complexidade das atividades de P&D na cadeia produtiva
Categorias
Atividades de
Biotecnologia (A)
Tecnologias para a
Fitoindústria (B)
Utilização de técnicas sofisticadas de
base molecular, exigindo
Alta
investimentos elevados e altos custos
Complexidade operacionais e de manutenção.
Produtos de alto valor agregado.
Utilização de técnicas sofisticadas tais
como testes clínicos, cristalização,
conversão química, high throughput
screening.
Utilização de tecnologias menos
complexas, como, por exemplo, as
técnicas de fermentação, preparados
enzimáticos, cultura de tecidos, dentre
Complexidade outras, exigindo investimentos
Intermediária moderados, embora o controle
operacional possa ser sofisticado.
Produtos de valor agregado
intermediário.
Utilização de tecnologias menos
complexas tais como técnicas de
plantio e manejo, identificação
botânica, identificação e padronização
qualitativa e quantitativa dos princípios
ativos ou marcadores, padronização
físico-química, padronização da
metodologia analítica, pasteurização.
Utilização de tecnologias simples
como, por exemplo, a produção de
biogás, proteínas microbianas,
Baixa
fermentações mistas ou naturais,
Complexidade exigindo baixos investimentos e
controle operacional simples. Produtos
de baixo valor agregado.
Utilização de tecnologias simples como
secagem, separação de semente,
extração do óleo vegetal,
armazenamento, transporte,
refrigeração, desidratação, maceração,
centrifugação, filtração, ajuste de PH.
Fonte: Adaptado de Burril & G. Steven (1999, Life size into the Millenium In Programas de
Ciência e Tecnologia do MCT, 2002).
Nem sempre o maior valor agregado, todavia, é conseqüência de elevados investimentos
em P&D. Um projeto da UFAM, para reduzir a contaminação por aflotoxina da castanhado-Brasil, mesmo in natura, desenvolveu tecnologia de baixo custo. A pressão de países
importadores, principalmente da Comunidade Européia que restringiu a compra da castanha
sob a alegação de elevado índice de contaminação, que ocorre principalmente no local de
coleta na floresta, levou a UFAM a pesquisar e encontrar uma solução tecnológica para
reduzi-la a níveis toleráveis.
Entretanto, como não há ainda estudos complementares e completos nas etapas posteriores
da cadeia: no transporte e beneficiamento nas Usinas, não é possível determinar se o
controle no local da coleta é suficiente para se evitar a contaminação nas etapas posteriores.
Na maioria das vezes a matéria-prima é transportada em recipientes inadequados, causando
contaminação por resíduos como fertilizantes e lubrificantes. Uma prática comum também
49
é a mistura com produtos mais baratos. Por exemplo, o óleo da copaíba que é comprado
atualmente por cerca de R$ 7,00 o litro pode ser misturado com produtos de menor preço
como a soja, cuja identificação só é possível mediante análises de laboratório.
Os produtos fitoterápicos podem sofrer adulteração ou contaminação, cujo primeiro estágio
na produção de um produto comercial desse segmento é a correta identificação da planta.
Mais de 10% dos produtos fitoterápicos no mercado mundial contêm ervas não
identificadas e pelo menos outros 20% contêm ervas ou extratos adulterados (LEUNG,
1997 apud FERNANDE, 2002, p. 38).
Fabricantes de fitoterápicos nos EUA e países europeus raramente conduzem pesquisa de
campo ou em laboratório no desenvolvimento de novos produtos. As empresas preferem
focar suas atividades em novas aplicações para as espécies conhecidas, evitando pesquisa
que impliquem em controvérsias. Grandes empresas estimam que o custo para o
desenvolvimento de um produto comercial com novas espécies é de US$ 8,91 milhões, que
são importantes para diferenciação de mercado (FERNANDES, 2002, p. 37).
Um outro problema associado ao plano de manejo é que não existe ainda pesquisa científica
indicando, para a maioria das espécies, as quantidades a serem preservadas. Algumas
experiências isoladas, todavia, de plantio de plantas medicinais para aplicação em fármacos
começam a florescer no Amazonas.
No esforço de criar a oferta de matéria-prima em quantidade e qualidade para atender a
demanda e fortalecer a fitoindústria, particularmente do setor farmacêutico, o MCT, através
do Programa de Plataformas Tecnológicas, está apoiando no Amazonas o estudo com 3
plantas selecionadas, de um total de 11 pré-selecionadas, com mais possibilidade de serem
validadas, cujo projeto é coordenado pelo INPA.
Duas plantas são para atender o segmento de Fitoterápicos: Muirapuama – Ptychopetalum
olacoides Benth e Chichuá – Maytenus guianensis Klot e uma para atender o segmento de
Fitocosméticos: Crajiru – Arrabidaea chica. Nesse projeto há o envolvimento de uma
empresa produtiva, da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica –
FUCAPI e do Instituto de Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA.
50
II.4.4. Comunidades: fontes de conhecimento e recipiente de capacitação tecnológica
para produção de matéria-prima
Grande parte do território da Amazônia Ocidental é constituída de áreas indígenas, reservas
florestais e ecológicas. É nesse espaço geográfico e também em áreas ocupadas por
comunidades não tradicionais que se encontra parte significativa em diversidade e
quantidade a matéria-prima natural extraída e utilizada pela fitoindústria. O extrativismo
não representa apenas uma questão econômica para os índios e comunidades da Amazônia,
mas tornou-se também, uma questão política e fundiária.
Reservas Extrativistas (RESEX) Indígenas começam a florescer na Amazônia para a
produção de matéria-prima, como por exemplo, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Iratapuru: Laranjal do Jarí, no Amapá: (a) Castanha-do-Brasil – xampus, hidratantes e
sabonetes; Copaíba – aromatizantes de ambientes; (b)) Reserva Extrativista Médio Juruá:
Carauari, no Amazonas: Andiroba – sabonetes, cremes e xampus; e (c) Assentamento de
pequenos agricultores: Nova Califórnia, na divisa entre o Acre e Rondônia: Cupuaçu:
hidratantes.
Na Convenção sobre Biodiversidade (1992, p. 12), foi definida que a Comunidade
Tradicional “é o grupo humano, incluindo remanescentes de comunidades de quilombos,
distinto por suas condições culturais, que se organiza, tradicionalmente, por gerações
sucessivas e costumes próprios, e que conserva suas instituições sociais e econômicas”.
As comunidades tradicionais podem ter um ótimo conhecimento das plantas úteis e de
práticas sobre manejo dos ecossistemas, todavia, permanecem vagos, tanto por razões
históricas quanto ecológicas. Considerar o extrativismo no âmbito de condutas sociais, e de
práticas de manejo, compatíveis com a idéia de desenvolvimento sustentável, representa um
verdadeiro desafio em face do contexto local freqüentemente desfavorável (PINTON &
AUBERTIN, 2000, p. 51). Apesar das comunidades tradicionais da Amazônia
reconhecidamente possuírem um imenso conhecimento sobre o uso dos recursos naturais,
existe em contraposição um grande atraso em termos de pesquisa e de conhecimento
científico sobre as espécies da flora.
Para possibilitar a exploração dessas espécies, com fins de industrialização ou mesmo de
pesquisa, é necessário considerar a sustentabilidade ética que consiga aliar a expectativa de
51
ganhos econômicos às respectivas demandas sociais e ambientais envolvidas. Não se pode
ignorar a necessidade de integração do homem da região respeitando suas características
etnoculturais. Um exemplo, embora aparentemente de pouca importância, mas ilustrativo, é
o completo desconhecimento desses indivíduos dos padrões que se subordinam à atividade
industrial tais como planejamento, prazo e qualidade.
Ter os nativos como parceiros pode resultar em um forte apelo de marketing, com a
exploração da imagem, sobretudo nos mercados internacionais, e representar barreira
invisível à entrada dos concorrentes. Os laços com as comunidades é uma forma de
conseguir, também, exclusividade dos recursos oferecidos pela natureza e em muitos casos
do conhecimento tradicional.
Alguns exemplos de parceria formais entre a iniciativa privada e as comunidades
tradicionais são: (a) Guarani – Kaiowá e Aveda Corporation; (b) Yawanawá - Katukina e
Aveda Corporation; (c) Kayapó e The Body Shop; (d) Uru-Eu-Wau-Wau e Hoescht, Merck
Co; (e) Guajajara e Merck Co; (f) Universidade Federal do Ceará - UFCE e Tom’s of
Maine; (g) Instituto Pró Natura e parceiros internacionais; e (h) Raintree Nutrition Inc. com
reservas extrativistas (FERNANDES, 2002, p 28).
As organizações indígenas brasileiras legalmente constituídas têm autonomia para procurar
alternativas econômicas e melhoria da qualidade de vida das comunidades. São as relações
com as comunidades, as informais principalmente, que facilitam o suprimento da maior
parte da matéria-prima de origem da floresta para a fitoindústria.
Foi baseado no conhecimento dos índios Saterê Mawé da região do município de MauésAm, que se descobriu o poder energético da fruta do guaraná. Até os anos de 1980 o
Amazonas liderava a produção brasileira do guaraná que depois foi assumida pelo Estado
da Bahia, apresentando maior produtividade embora o tipo produzido no Amazonas
obtenha maior valor de mercado.
O trabalho de identificação de novos produtos para subsetores como o farmacêutico e
cosmético passou a receber significativo impulso a partir da etnobioprospecção, ou seja, da
tradução dos usos que as comunidades tradicionais fazem dos recursos biológicos, embora
o número de empresas em nível mundial seja ainda pequeno. Este método consiste em um
52
estudo onde são identificados usos tradicionais de plantas utilizadas (FERNANDES, 2002,
p. 42).
Estima-se que essa contribuição dos povos tradicionais pode reduzir em até cerca de 50%
os custos da bioprospecção. O conhecimento tradicional deixa de ter o mesmo valor
relativo que representa para a pesquisa de um fitoterápico, se empregado na pesquisa de
fitofármacos que exige a síntese dos princípios ativos. A pesquisa de um produto
farmacêutico para a fabricação em grande escala, para atender o mercado mundial, pode
consumir investimentos que representam muitos milhões de dólares.
O conhecimento tradicional é utilizado por várias empresas no mundo, principalmente do
segmento de fitoterápicos, como um importante complemento aos testes científicos e é
muito consultado para a confirmação de resultados de pesquisa produzidos em laboratórios,
incluindo testes de segurança e eficácia. Quase toda empresa de fitoterápico faz uso do
conhecimento tradicional documentado, associado de alguma forma às espécies.
O próximo fluxograma mostra um exemplo onde já são realizadas algumas etapas de
transformação na cadeia produtiva da matéria-prima por comunidades tradicionais, até o
ingresso na planta fabril para a produção de óleo aplicado em cosméticos.
Figura 3 - Cadeia de produção e distribuição da matéria-prima
1
Coleta
6
Ensacamento
2
Matéria-prima
7
Transporte
3
Fermentação
4
Secagem
5
Preparação
8
Fábrica
Fonte: própria
É mais racional agregar valor no lócus de produção das espécies, mesmo empregando
métodos artesanais, do que transportar a matéria-prima in natura para a unidade fabril
instalada em Manaus. Com a extração por processo mecanizado nas comunidades é
possível a produção acima de 40% do que por processo artesanal.
Uma parte do processo de extração do óleo bruto, e quem sabe do óleo refinado no futuro,
assim como o tratamento de plantas medicinais, e de frutos pode ser realizada pelas
próprias comunidades, preferencialmente através de cooperativas. São atividades essenciais
53
para acumular competências e organizar a produção de matéria-prima para a fitoindústria,
oferecendo às comunidades a perspectiva de ultrapassarem o estágio de meros coletores.
Algumas comunidades – foram identificadas pelo censo de 2002 do IBGE
aproximadamente 4.600 no Amazonas - já iniciaram experiências de cooperação com
empresas e instituições como a Agência de Floresta do Governo do Estado, Organização de
Cooperativas do Brasil - OCB, Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Instituto de
Pesquisa da Amazônia - INPA e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas - SEBRAE-Am.
Todavia, esses diferentes projetos, que têm basicamente os mesmos objetivos – produção
de insumos industriais - são implementados em sua maioria isoladamente com pouca
conexão um com outro, deixando a impressão de que falta coordenação para centralizar as
ações, economizar recursos e unir competências. Esses projetos visam também desenvolver
novas tecnologias, diminuir os custos de fabricação, reduzir ou eliminar os intermediários
na cadeia produtiva e agregar valor à matéria-prima em benefício das comunidades.
Casos assim exigem um papel de “governança”, podendo a coordenação ser implementada
por usuários (cadeia de mercadoria orientada para usuário) ou por produtores que
desempenham um papel chave (cadeia de mercadoria orientada para produtor)
(KAPLINSKY & MORRIS, 2002, p. 22). Entretanto, a coordenação é mais difícil de ser
exercida por empresas e instituições privadas, principalmente pelo receio de integrarem
redes, pois existe a preocupação sobre os custos e quem se apropria dos benefícios
(STABER, 2001, p. 549).
A vasta literatura discute a difusão do conhecimento como conseqüência da proximidade
entre as firmas, universidades e serviços que são essenciais para o processo da inovação.
Isto é especialmente verdadeiro para áreas urbanas nas quais a concentração de indivíduos,
ocupação, instalações industriais e comunicação aceleram o fluxo de informação que
conduzem à inovação (OERLEMANS et al., 2001, p. 2). É possível acelerar o processo de
inovação nas distantes comunidades da Amazônia?
A UFAM está desenvolvendo um projeto em parceria com algumas comunidades no
município de Carauari para a produção de óleo bruto, inicialmente destinado ao setor de
cosméticos. Essa produção, realizada por mais de 40 comunidades com cerca de 350
54
famílias, ocorre no período de safra que se estende de fevereiro a novembro. O projeto
conta com aporte financeiro da empresa Cognis, de capital estrangeiro, instalada em São
Paulo, que assegura a compra da quantidade produzida do produto, complementando com o
refino e distribuição.
O planejamento do projeto teve início em 1997 com o PTU – Programa do Trópico Úmido
e começou a ser implementado em 1998 para estudar a energia alternativa com
sustentabilidade econômica, ambiental e social no médio Juruá, na primeira reserva
extrativista (RESEX) no Amazonas. O objetivo do projeto era produzir energia baseada nos
óleos vegetais, agregando valor aos produtos florestais e valorizar a biodiversidade.
A visão de empresas do segmento de cosméticos, principalmente as instaladas fora do
estado, que identificaram um grande potencial econômico para o aproveitamento de
sementes oleaginosas como a andiroba, antes desperdiçadas ao se deteriorarem ao relento
nas diversas áreas onde brotavam na região amazônica, motivaram a UFAM a repensar o
projeto de produção de biodiesel.
Esse projeto passou a ser considerado secundário, tendo em vista que os ganhos
econômicos das comunidades com a venda do óleo como matéria-prima para indústria
cosmética é suficiente para adquirir combustível convencional e ainda sobra para adquirir
outros bens. Futuramente o óleo produzido poderá atender da mesma forma o segmento de
fármacos e outros segmentos econômicos. Os subprodutos ou resíduos do óleo fabricado
podem ser também empregados na criação de animais pelas comunidades.
A Agência de Floresta, criada pelo atual Governo do Estado, iniciou um projeto com o
objetivo de capacitar comunidades para produzir, analogamente ao projeto da UFAM, o
óleo vegetal a ser empregado na fabricação de cosméticos, alimentos e fármacos. As
regiões do Purus, Alto Solimões, Juruá, e Madeira são consideradas pela Agência fontes
potenciais de oleaginosas, para as quais há a necessidade de realizar estudos que permitam
dimensionar a capacidade de produção e para onde deverá ser estendido o projeto no futuro.
Deverá essa Agência, em outro projeto que conta com o suporte técnico da UFAM,
beneficiar cerca de 12 comunidades integrantes da “Associação da Comunidade do
Sardinha”, no município de Lábrea. Futuramente, para facilitar e auxiliar a implementação
do projeto deverá ser envolvida representação indígena.
55
A estratégia da Agência é instalar as Miniusinas em locais eqüidistantes à maioria das
comunidades adjacentes, para utilizar sua capacidade máxima de produção. Na medida em
que seja explorado o limite de capacidade produtiva, a Miniusina deverá ser transferida
para iniciar a produção em outras comunidades, sendo substituída por uma Miniusina de
maior capacidade na localidade onde estava instalada.
No município de Manicoré, a Agência está criando uma Cooperativa envolvendo 22
Associações para instalar uma dessas Miniusinas e beneficiar a castanha. Isto permitirá sua
comercialização diretamente ao consumidor, cuja experiência pode ser disseminada com
outras comunidades extrativistas, tradicionais ou não. A perspectiva é de reduzir o preço de
comercialização, reduzir os intermediários, a exemplo de experiência similar já em prática
no Estado do Acre.
A Agência também iniciou um projeto piloto na “Comunidade do Roque” no município de
Carauari para a extração do óleo de andiroba, cuja principal aplicação é a produção de
fármacos, que no ano de 2004 servirá como experiência e, se bem sucedida, permitirá que
seja levada para outras comunidades. A primeira experiência já permitiu produzir
aproximadamente 6 toneladas em 2004. Mais de 95% das comunidades do entorno da
Reserva estão sendo atendidas pelo projeto da UFAM e da Agência de Floresta. A Agência
coordenou um trabalho de mapeamento das potencialidades dos recursos da floresta
apresentado na 1a Conferência das Populações Tradicionais, realizada em 2004
(www.florestas.am.gov.br).
No mesmo município está sendo implantado um outro projeto piloto coordenado pela
Organização das Cooperativas do Brasil - OCB, contando com o envolvimento de
pesquisadores da UFAM, que pretende estimular no Amazonas o cooperativismo de crédito
para a agroindústria e extrair, inicialmente, o óleo da castanha-do-Brasil. A instalação de
uma Miniusina tem como objetivo principal transformá-la em insumos para a fabricação de
alimentos e eliminar intermediários, aproximando as comunidades dos consumidores.
A primeira experiência do projeto será produzir “barras de cereal”, resultado de uma
pesquisa acadêmica da UFAM, desenvolvida como parte do Programa Plataformas
Tecnológicas do MCT, cuja renda se estima ser superior em até 12 vezes que a obtida hoje
com a venda da castanha in natura. Esse projeto envolve instituições de fomento, de
56
tecnologia e de P&D: UFAM, FUCAPI e a Secretaria de Produção Rural do governo do
estado. A aprovação desses projetos é condicionada à apresentação de um Plano de
Negócio elaborado pelo SEBRAE-Am.
A OCB também pretende instalar pequenas Miniusinas para a produção de óleo bruto,
inicialmente com a castanha-do-Brasil, em uma comunidade eqüidistante de diversas outras
comunidades. A OCB do Amazonas optou pela instalação de Miniusinas em locais
estratégicos, baseando-se na experiência mal sucedida, por falta de estudo de viabilidade
técnico-econômica, ocorrida com a implantação de uma grande usina no Estado do Acre
para processar essa espécie com recursos financeiros da Suframa.
O projeto de Miniusina configura-se como uma rede, permitindo que a matéria-prima seja
levada das comunidades por um transporte específico e conduzida até à unidade produtiva
na comunidade central, como mostra a ilustração da figura 4. Esse projeto se assemelha ao
projeto da UFAM e ao projeto da Agência de Floresta.
A metáfora de redes captura algumas características essenciais de relacionamento de
usuário-fornecedor, de aglomeração regional etc. Os benefícios futuros de uma rede são a
criação de sinergia de conhecimento através da interação, acumulação tecnológica
dinâmica, aprendizado social e aspectos de redes laterais de inovadores (DEBRESSON,
1999, p.363 e 366).
Figura 4 - Miniusina de produção de óleo bruto
Miniusina
Comunidades
Fonte: própria
Na hipótese de uma Miniusina apresentar algum defeito técnico, a produção de óleo não
deverá ser interrompida, pois haverá outra unidade operando nas adjacências com outras
57
comunidades, embora localizada um pouco mais distante, que pode ser utilizada
emergencialmente, atendendo aos dois grupos de comunidades. Além da castanha, várias
outras espécies pouco conhecidas estão sendo testadas para a produção de óleo.
Algumas empresas do mercado nacional já manifestaram interesse em adquirir o óleo
produzido para ser empregado na fabricação de produtos de exportação. Entretanto, a
capacidade de produção instalada não pode atender ainda o volume demandado e a
qualidade é considerada baixa. A UFAM não atendeu a quantidade demandada pela
empresa Cognis em 2004, que esperava receber 100 toneladas, recebendo apenas cerca de
15 toneladas, mesmo já tendo antecipado o pagamento em troca da garantia do
fornecimento do óleo produzido.
Um exemplo da produção do óleo bruto pode ser observado no fluxograma da figura 5, que
ilustra as fases posteriores ao recebimento da matéria-prima das diversas comunidades,
conforme o descrito na figura 4 – Miniusina de produção de óleo bruto. As etapas de 1 a 3,
em muitos casos, já são realizadas pelas comunidades fornecedoras de matéria-prima.
Figura 5 - Extração do óleo bruto
1
Seleção da
semente
2
Lavagem
6
7
Secador
Desidratação
11
Filtragem
12
Extração do
óleo bruto
3
Secagem
ao sol
4
Transporte
8
9
10
Aquecedor
Tanque
decantado
Triturador
5
Pré-secagem
13
Armazenagem
Fonte: própria
No projeto da Agência de Floresta é empregada a técnica de extração por condensação para
a obtenção do óleo bruto e a pretensão é evoluir para a extração de óleo refinado. O
objetivo desse projeto é transferir gradativamente tecnologias mais complexas às
comunidades, que são os principais e potenciais fornecedores, agregando mais valor à
matéria-prima antes do produto beneficiado ser vendido para a indústria. Em uma etapa
58
posterior, a Agência pretende estimular a aproximação das comunidades com as empresas
para que cooperem entre si e encontrem soluções tecnológicas em conjunto.
Entretanto, é igualmente fundamental a adoção de tecnologias mais simples, como a
construção em cada comunidade de um tablado com cobertura móvel, como é feito para o
cacau, visto que no período de cheia do rio em muitas comunidades fica reduzido o espaço
de secagem e armazenagem da semente para a extração do óleo.
Três projetos experimentais com fitoterápicos foram criados pelo SEBRAE: um no
município de Manaquiri e outro no município de Barreirinha. Este é o maior e mais
avançado, porque tem o apoio da prefeitura local e indica ter mais chances de sucesso. No
município de Manaquiri será implantada uma pequena fábrica, ou Miniusina para a
extração de óleo. Em Barreirinha, a prefeitura pretende implantar uma Biofarma para a
produção de matéria-prima de melhor qualidade e atender a fitoindústria. Um terceiro
projeto e mais recente está sendo implantado na rota do gasoduto Coari17-Manaus.
O SEBRAE começou um trabalho de capacitação tecnológica nas comunidades. O objetivo
é que elas dominem técnicas de plantio, manejo, coleta e armazenagem e de combinação
das plantas. Para prover o suporte técnico necessário, foram contratados consultores
especializados, contando ainda com o apoio da EMBRAPA, da prefeitura local e de
pesquisadores do INPA. O SEBRAE espera contar no futuro com a participação da Agência
de Floresta em um projeto a ser implantado na região do Alto Solimões.
Além dos 2 municípios, o SEBRAE pretende apoiar em outros municípios do estado a
formação de grupos para a produção de fitoterápicos, organizados em cooperativas ou
associações e que futuramente atendam a fitoindústria, além da demanda local. Em Manaus
existem 8 grupos diferentes assistidos pelo SEBRAE para o desenvolvimento de
fitoterápicos.
Como as empresas estão considerando o papel das comunidades de potenciais fornecedores
e virtuais competidores? Elas estão dispostas, também, a garantir os instrumentos para a
capacitação tecnológica dessas comunidades?
17
No município de Coari estão sendo extraídos gás e petróleo pela Petrobrás.
59
II.4.5. Riscos para a exploração dos recursos da floresta amazônica
Há sempre o risco da transformação da floresta em produtos madeireiros em cujo setor
existem inúmeras espécies ameaçadas. Um problema global a ser analisado é a rápida
aceleração da perda de plantas e espécies animais, acompanhada do aumento populacional
e da demanda motivada pelo desenvolvimento econômico.
Pesquisas in vitro surgem como alternativa, pois possibilitam a economia de espaço e
reduzem o risco de manter espécies em coleções a campo (in vivo), as quais estão sujeitas
aos estresses bióticos (pragas e doenças) e as intempéries climáticas. Todavia, o avanço da
nanotecnologia, que facilita a integração da biotecnologia à microinformática e à
microeletrônica, pode permitir o conhecimento biológico dos ecossistemas, integrando-os a
sistemas biológicos artificiais de laboratórios nos países desenvolvidos.
Empresas privadas também têm feito acordos com países que dispõem de recursos naturais,
instituições locais, e pessoal habilitado para dividirem os ganhos com patentes (RIFKIN,
1999, p. 54). A engenharia genética que deverá ser crescentemente explorada, além dos
benefícios, pode trazer algum risco impossível de predizer e de reverter, pois pode acelerar
a expansão de monoculturas e a destruição da agrobiodiversidade (SHIVA, 2001, p. 56).
Não há consenso no meio científico sobre a importância da bioprospecção. Para Clement
(2003, p. 28), a era da bioprospecção nas florestas tropicais pode estar se encerrando ainda
em sua fase nascedoura por duas razões: primeiro, os compostos bioativos podem ser
encontrados em todo o mundo e segundo, a ciência genômica pode criar compostos
bioativos altamente específicos. A tendência das ações públicas em focar mais o
desenvolvimento da biotecnologia pode ignorar outras tecnologias menos complexas,
porém de igual importância para a cadeia produtiva e cadeia de valor na fitoindústria.
A biopirataria na Amazônia tem-se tornado cada vez mais freqüente. Um caso mais recente
e de grande repercussão foi a patente do cupuaçu obtida por uma empresa japonesa, fruto
típico da Amazônia, nos mercados americano, europeu e japonês. Foi necessária a
intervenção do governo brasileiro que ingressou na justiça do Japão para reaver o direito de
propriedade da espécie, baseado num dispositivo legal comum a todos os países membros
da Organização Mundial do Comércio (OMC). Com a biopirataria tem aumentado a
desconfiança das comunidades tradicionais sobre a seriedade do trabalho de pesquisadores.
60
II.5. OS DESAFIOS PARA A CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA DAS EMPRESAS
A pesquisa tem como um dos focos principais examinar as atividades desenvolvidas pelas
empresas para avaliar sua capacitação tecnológica e da cadeia produtiva da fitoindústria.
Nesta seção serão analisadas as seguintes questões: (a) caracterização das empresas e da
fitoindústria; (b) o esforço para o desenvolvimento de atividades inovadoras.
II.5.1. caracterização das empresas e fitoindústria
As empresas da fitoindústria atuam principalmente nos segmentos de fitoterápicos,
fitocosméticos, concentrados para bebidas não alcoólicas, balas, chocolates, polpa de frutas
e insumos para fitoterápicos, fitocosméticos e alimentos. São constituídas de capital local e
de capital estrangeiro.
No segmento de fitoterápicos, alguns dos principais produtos fabricados são: encapsulados
de plantas, xaropes, mel composto com plantas medicinais, vitaminas e gel. No segmento
de cosméticos são fabricados: água de colônia, sachê, xampu, preparado para banho, loção,
bronzeador, creme para pele etc. Os concentrados para bebidas não alcoólicas são
refrigerantes, sucos, chá etc. As balas, chocolates e polpas de frutas são produzidos à base
de frutas regionais. Os insumos são: extratos secos de plantas e ervas, sementes e óleo fixo
e essencial, extratos vegetais para complementos alimentares.
As empresas caracterizam-se como microempresas artesanais, micro e pequenas indústrias
e empresas estruturadas, com base na classificação de Sant’Ana (2002, p. 240) abaixo.
Ressalta-se que as empresas artesanais não foram incluídas na pesquisa, apenas as micro e
pequenas empresas e empresas estruturadas.
Empresas artesanais – pequenos produtores que se baseiam na tradição, incluídas as
farmácias de manipulação e assemelhados, com mínima capacidade de investimento na
produção, no desenvolvimento de tecnologia e na pesquisa.
Micro e pequenas empresas – As micro empresas são de até 10 empregados, as pequenas
com mais de 10 e até 50 empregados. São empresas industriais com capacidade variada de
investimento na produção, no desenvolvimento de tecnologia e de investimento de
pesquisa.
Empresas estruturadas – São caracterizadas por serem predominantemente de médio e
61
grande porte. As médias têm mais de 50 e até 100 empregados, as grandes têm mais de 100
empregados. No geral, apresentam maior capacidade dos que as micro e pequenas empresas
para investimento na produção e na pesquisa.
II.5.2. Esforço de modernização das empresas
Algumas das características comuns às empresas inovadoras e competitivas são: localização
da planta próxima dos fornecedores, de consumidores ou de infra-estrutura de instituições
de P&D; modernização de técnicas gerenciais e organizacionais; tecnologias avançadas de
processo e/ou produto; fabricação de produtos de qualidade; suporte a cliente; sistema de
distribuição eficiente; fontes razoáveis de financiamento; intensas atividades de P&D;
pessoal qualificado etc.
Para sobreviverem e prosperar as firmas necessitam de: (a) financiamento adequado; (b)
rede de apoio de serviços de negócios: técnico, legal, financeiro, maketing; e (c) adequada
infra-estrutura física (MALIZIA & FESER, 2000, p. 201).
A localização da planta fabril costuma ser determinada por alguns dos fatores que
costumam atrair investimentos: proximidade com o mercado consumidor, com a fonte de
matéria-prima, ou com a boa infra-estrutura de instituições tecnológicas, de pesquisa e
ensino; disponibilidade de mão-de-obra especializada; disponibilidade de energia e
transporte; concessão de incentivos fiscais dentre outros.
Um número razoável de autores tem enfatizado também a importância da proximidade
geográfica para o relacionamento das firmas (SCHMITZ, 1999, p.1629). A tendência das
firmas de se localizarem perto uma das outras parece fácil explicar nos mercados onde os
transportes de matéria-prima ou o resultado da produção vincula custo substancial - em tais
casos, a economia básica de produção e distribuição determina a localização da atividade da
indústria (STUART & SORENSON, 2002).
As empresas da fitoindústria, todavia, por estarem implantadas em sua maioria em Manaus,
capital do Amazonas, encontram-se distantes dos principais mercados consumidores para
os seus produtos tanto o interno quanto o externo. Embora mais próximas que empresas de
fora do Estado, também se encontram distantes, ou com dificuldades de acesso ao lócus de
extração e produção da matéria-prima da floresta.
62
Praticamente inexiste ligação por estrada do Amazonas para os grandes centros do país e
menos ainda entre seus municípios. Tem acesso para o Oceano Pacífico via Venezuela. Os
principais meios de transporte são o aéreo para fora do estado e o fluvial dentro do estado.
Grande parte da energia fornecida para a cidade de Manaus é de termoelétricas. Tanto o
custo de transporte quanto o de energia são considerados elevados pelas empresas. Para
compensar esses custos, são concedidos incentivos fiscais com base no projeto Zona Franca
de Manaus às empresas que se instalam no Pólo Industrial de Manaus – PIM.
Além das grandes distâncias dentro do próprio Estado, da difícil navegabilidade em alguns
períodos do ano face à vazante dos rios amazônicos, torna-se difícil o acesso e o
escoamento da matéria-prima utilizada pela fitoindústria. Que fatores, então, justificariam a
instalação de empresas em Manaus e quais as dificuldades de acesso à matéria-prima?
A modernização de técnicas gerenciais e organizacionais dessas empresas depende de duas
atividades básicas: (a) da transformação dos recursos e (b) da transação dos recursos. Os
recursos podem ser físicos: matéria-prima, insumos, máquinas, equipamentos, financeiros,
humanos etc; e intangíveis que são o conhecimento e o aprendizado adquiridos.
As atividades de transformação são desempenhadas pelas empresas combinando os
recursos físicos e não físicos, conectadas pelas atividades de transação desses recursos entre
as empresas e entre as empresas com outros agentes no ambiente da fitoindústria ou ainda
fora dele. Nas conexões e implementação de suas atividades, a heterogeneidade e a
mobilização de recursos são consideradas algumas de suas características.
O ambiente tecnológico ou a demanda definem a natureza dos problemas que as firmas têm
de resolver em suas atividades de produção, nas atividades inovadoras, nos tipos de
incentivos e restrições específicos para os diferentes comportamentos e organizações
(MALERBA, 2002, p. 8). A modernização exige que as empresas melhorem suas técnicas
gerenciais, organizacionais, de infra-estrutura de tecnologia da informação, o
relacionamento e atendimento a clientes e fornecedores e combinem de forma eficiente seus
recursos internos.
As empresas da fitoindústria são afetadas por um conjunto variado de leis e
regulamentações que as obrigam a obter certificações que comprovem o cumprimento de
diversas exigências formais e implícitas. A emissão dessas certificações, em geral, está sob
63
a jurisdição de um dos Ministérios: Saúde, Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do
Meio Ambiente. Muitas vezes a competência e responsabilidade não são bem estabelecidas
para o cumprimento e atuação de cada um desses Ministérios e de seus respectivos órgãos,
ou não são bem compreendidas pelas empresas.
Para ilustrar, o fluxograma da figura 6 mostra como surge a necessidade e como é obtida a
certificação. Basicamente a necessidade surge a partir da pressão exercida pelo mercado
sobre questões relacionadas ao acesso aos recursos da biodiversidade, à biossegurança e à
qualidade do produto, configuradas em normas e regulamentos para os quais as empresas
devem se adequar.
Figura 6 - Fluxo para credenciamento
Organismo
de
Certificação
Normas
Mercado
Empresa
Certificado
Regulamentos
Fonte: Adaptado do modelo de certificação do Sistema de Avaliação da Conformidade de
Material Biológico (MCT, 2002, p. 45, disponível em www.mct.gov.br).
Várias são as instituições autorizadas por um desses Ministérios para a emissão de
certificações. Algumas instituições estrangeiras, respeitadas internacionalmente, também
credenciam certificadoras no país que emitem certificados em nome delas, respaldando as
transações internacionais.
Como exemplos, a certificação emitida pela Forest Stewardship Council (FSC) para
produtos florestais, que é reconhecida internacionalmente, é exigida por alguns países
importadores de produtos naturais; a liga “Fairtrade Labelling Organizations International
(FLO)”, uma entidade sediada na Alemanha, concede um selo de qualidade para a
comercialização de produtos naturais via “mercado justo”; a Certificação Orgânica para
produtos naturais, pode ser emitida no Brasil pelo Instituto Biodinâmico – IBD. Assim, que
64
certificações são mais necessárias para facilitar as atividades desenvolvidas pelas
empresas?
A organização da produção implica, para muitas empresas, em lidar com diferentes tipos de
matéria-prima, de tecnologias e produtos dos diversos segmentos econômicos da
fitoindústria. O fluxograma da figura 7 mostra as etapas no processo produtivo para a
extração do óleo essencial empregado na produção de bens nos diversos segmentos
econômicos.
Figura 7 - Óleo essencial
1
Recebimento
6
Extração
do óleo
2
Pesagem
3
Controle de
qualidade
7
Decantação
11
12
Filtragem
Embalagem
4
Secagem
do vegetal
8
Separação
9
Desidratação
do óleo
5
Moagem
10
Centrifugação
Fonte: própria
As atividades de pesagem, decantação, centrifugação, filtragem, ajuste de PH, separação de
cascas ou sementes e refrigeração da matéria-prima são consideradas tecnologias básicas ou
simples que são praticadas pela maioria das empresas. Entretanto, existem outras atividades
consideradas de maior complexidade.
A seleção da matéria-prima realizada no controle de qualidade, etapa 3 na figura 7, após o
recebimento e pesagem, é uma tarefa essencial que depende, por falta de padronização
oficial, do conhecimento tácito do selecionador para a escolha das melhores espécies, sendo
uma das fases mais importantes no controle de qualidade do processo produtivo.
O processo de secagem do vegetal, etapa 4, ao ser escolhido o método a ser adotado, passa
a ser uma operação de rotina. Entretanto, a secagem feita principalmente para óleos
essenciais exige que a empresa adote um tipo de tecnologia para cada processo: secagem ao
ar livre, estufa, ou banco de gelo.
65
O processo de moagem empregado na etapa 5 tem impacto na produtividade com o maior
aproveitamento da matéria-prima. A produção, por exemplo, de 30% a mais no guaraná,
depende da granolometria do equipamento utilizado.
Para a melhoria dos processos de fabricação das empresas e o aumento de produtividade,
em grande parte dos casos, basta investir em equipamentos mais modernos. As etapas no
processo produtivo na fitoindústria de alguns produtos apresentam semelhanças mesmo
para a fabricação de diferentes produtos e de diferentes segmentos econômicos, como
mostra o fluxograma da figura 8.
Figura 8 - Sementes, frutas e partes comestíveis de plantas regionais
1
2
Recebimento
Pesagem
6
Separação
por Grânulo
3
Controle de
Qualidade
4
Separação do
Casquilho
5
Moagem
7
Embalagem à
Vácuo
Fonte: própria
O processo produtivo para a fabricação de concentrado de bebidas não alcoólicas, com os
insumos extratos aromáticos e açúcar industrializado pode ser representado pelo
fluxograma da figura 9.
Figura 9 - Concentrado de bebida não alcoólica
1
Matéria-Prima
5
Concentrado
2
Mistura
6
Mistura
3
Enchimento
4
Armazenamento
7
Armazenamento
Fonte: própria
Além dos investimentos necessários em recursos humanos e infra-estrutura de laboratórios,
uma das atividades mais importantes de P&D, considerada essencial para elevar o nível de
66
capacitação tecnológica das empresas, está subordinada à melhoria da qualidade da
matéria-prima de origem da floresta.
Os recursos das empresas para investimentos são escassos e não existem linhas de
financiamento em condições favoráveis. O problema é que as pequenas empresas
brasileiras não estão familiarizadas e nem existem em abundância agentes financeiros de
capital, especialmente o de risco. O Estudo Parque Nacional de Empresas de Biotecnologia
realizado em Minas Gerais mostra que cerca de 50% das empresas estudadas possuem
algum tipo de financiamento externo, porém apenas 6% são beneficiadas com capital de
risco (MASCARENHAS, 2001).
Existem poucas pesquisas sobre a aplicação industrial das espécies. Sabe-se pelo
conhecimento tradicional acumulado, que a copaíba, por exemplo, conhecida como o
antibiótico da Amazônia, tem ação eficaz como produto cicatrizante. Porém as empresas
fabricantes de fitoterápicos com essa matéria-prima necessitam da comprovação científica,
a fim de que possam receber autorização de fabricação. Um exemplo padrão de fluxograma
com as etapas de processamento produtivo de um fitoterápico é apresentado no fluxograma
10 (BREVOORT, 1998 apud FERNANDE, 2002, p. 54).
1
Erva fresca
Figura 10 - Etapas do processamento de um fitoterápico
2
3
4
Erva Seca
Tintura
Extrato
5
Extrato
Padronizado
A escassa pesquisa com os recursos da flora, para aplicação na atividade produtiva,
dificulta e retarda o desenvolvimento de novos produtos de maior valor agregado. Um
exemplo é a “unha de gato” que é vendida por produtores da região por cerca de US$ 1,00/
kg. Ainda no Brasil, em S. Paulo, é pulverizada para a produção de extrato de onde é
vendida para mercados como o americano entre US$ 3,00 a US$ 5,00/kg. Nos EUA o
extrato da “unha de gato” é encapsulado como fitoterápico e vendido para a Europa por um
valor significativamente superior. Neste caso não é apenas o diferencial de tecnologia e de
gargalo sobre estudos farmacológicos que exigem elevados investimentos, mas também
uma indicação de que as empresas dispõem de capacidade mercadológica bastante limitada.
67
A interação da empresa com o ambiente externo, embora possa absorver algumas
ineficiências, permite o acesso e alguns benefícios possíveis de serem obtidos dependendo
das facilidades de transação com os agentes tais como fornecedores de insumos, outras
empresas do setor, instituições de P&D e de serviços especializados para a mobilização de
recursos.
Pela diversidade de atividades a que são submetidas, como as empresas têm se empenhado
em harmonizar seus interesses com os interesses de diversos atores que influenciam a
exploração dos recursos da floresta? Quais fatores são mais representativos nas dificuldades
enfrentadas e no processo de capacitação tecnológica das empresas?
II.5.3. Comparação das características do PIM e fitoindústria
As vantagens atribuídas à fitoindústria, comparativamente ao Pólo Industrial de Manaus –
PIM, tais como as descritas no quadro abaixo extraídas do estudo Subsídios Para Política
Pública de Biotecnologia para o Estado do Amazonas (SEDEC, 2002, p. 11), são assertivas
que necessitam ser melhor examinadas.
Quadro 2 - Vantagens atribuídas à fitoindústria comparativamente ao PIM
PIM
É marcantemente importador
insumos e matérias-primas.
Fitoindústria
de Sua principal fonte de matéria-prima são os
recursos naturais da biodiversidade do
estado.
Por ser eminentemente importador Por utilizar recursos naturais existentes no
deixa baixíssimo valor agregado no Estado agrega localmente enorme valor aos
Estado.
produtos.
Seu parque industrial se concentra
integralmente em Manaus agravando
o desnível sócio-econômico em
relação ao interior do estado.
Oferece
amplas
possibilidades
de
interiorização da produção industrial de
base levando desenvolvimento aos demais
municípios do estado.
Por concentrar suas atividades em Opera a reversão do fluxo migratório pelas
Manaus, provoca um fluxo migratório atividades extrativista e de indústrias de
do interior para a capital.
base que são realizadas no interior do
Estado.
Fonte: Subsídios Para Política Pública de Biotecnologia para o Estado do Amazonas
(SEDEC, 2002, p. 11)
68
II.5.4. Resumo da problematização da fitoindústria
No quadro 3 são apresentados resumidamente alguns elementos que caracterizam a
problematização da fitoindústria.
Quadro 3 - Principais elementos que caracterizam a problemática
Problematização
1.
Legislação
regulação
Caracterísiticas
e • é bastante diversificada e trata de temas tais como controle
fito-sanitário, biossegurança, acesso à biodiversidade,
fitoterápicos etc.
• a legislação da Zona Franca de Manaus, em especial o
Processo Produtivo Básico – PPB exige quantidades
mínimas de utilização de matérias-primas oriundas da fauna
e flora regionais consideradas elevadas pelas empresas
2.
Dificuldade
governança
de • há dificuldades em harmonizar os principais agentes que
interferem na exploração dos recursos da floresta: 1.
Institutos de P&D, 2. organizações governamentais de
fomento, 3. organizações indígenas e ONGs, e 4. empresas
industriais.
3. Mercado de matéria- • há abundância de matéria-prima na floresta para aplicação
prima
em diversos segmentos: farmacêutico, alimentos,
cosméticos, combustível etc, porém existem dificuldades
para transformá-la em insumos de valor.
• a fitoindústria enfrenta dificuldades para adquirir a matériaprima da floresta na quantidade e qualidade desejada, por
ser um setor em início de organização.
4.
Desafios • a bioprospecção e a biotecnologia são apontadas como o
tecnológicos
da
“estado da arte” para a valorização da biodiversidade,
fitoindústria
porém tecnologias de graus diferenciados de complexidade
no âmbito do plantio, manejo, armazenagem, produção,
transporte etc. são essenciais para o desenvolvimento da
cadeia produtiva.
5. Desafios
capacitação
tecnológica
empresas
para
a • a competitividade das empresas depende de como elas
combinam seus recursos materiais e intangíveis e adquirem
das
novas
competências:
gerenciais,
organizacionais,
estratégicas e como interagem com o ambiente institucional
Fonte: própria
69
III. REFERENCIAL TEÓRICO
III.1. APRENDIZADO, CAPACITAÇÃO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
III.1.1. A inovação como base de competitividade das empresas
O aumento da competição tem exigido das empresas ações que sustentem sua capacidade
de sobrevivência. Para criar as condições favoráveis em busca da competitividade, a
inovação surge como novo paradigma e elemento essencial na gestão das empresas,
ilustrando a relação entre as mudanças tecnológicas e o seu crescimento econômico.
A competitividade pode ser considerada como a capacidade da empresa formular e
implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma
duradoura, uma posição sustentável no mercado.
A inovação é considerada o núcleo da “economia baseada no conhecimento”. A mudança
tecnológica resulta de atividades inovativas, incluindo os investimentos em intangíveis tais
como P&D para criar oportunidades de investimentos adicionais na capacidade produtiva.
As firmas inovadoras dispõem de diversas características que podem ser agrupadas em duas
categorias (OECD, 2004, p. 7 e 16):
¾ Habilidade estratégica - visão de longo prazo, habilidade para identificar e participar
das tendências de mercado, habilidade para absorver informações tecnológicas e
econômicas;
¾ Habilidade organizacional – gosto pelo risco, cooperação interna e externa,
envolvimento de toda a firma no processo de mudança e investimento em recursos
humanos.
Competir no mercado mundial exige não apenas que as firmas alcancem benchmark
internacional de eficiência produtiva, mas, principalmente, que realizem melhorias
tecnológicas o tempo todo. Além disso, a capacidade das nações em fomentar e gerenciar
mudanças técnicas é crucial para as firmas sobreviverem e crescer no mercado mundial
(BELL, 1987, apud FRASMAN, 1995, p.101).
A inovação pode aumentar significativamente a competitividade da empresa, melhorando o
desempenho e eficiência não apenas de suas operações produtivas, mas também
70
organizacionais e de comercialização. A inovação pode elevar a competitividade, mas ela
exige diferentes conjuntos de conhecimentos e habilidades bastante diferentes do modo
convencional da administração de negócios no dia-a-dia (TIDD et al, 1997, p. ix).
A inovação pode ocorrer por Science Push, empurrão da ciência, ou Demand Pull, atração
de demanda. Pode ser Incremental, um aperfeiçoamento pouco intensivo em conhecimento
técnico-científico, ou Radical, que altera o panorama mundial, intensivo em conhecimento
técnico-científico.
As características consideradas fundamentais para o sucesso inovador das firmas industriais
no século passado foram a forte atividade interna de P&D, pesquisa básica, conexões com o
mundo científico externo e com os consumidores. Outros fatores igualmente importantes
foram usar patentes para ganhar proteção e barganhar com competidores; reduzir mais que
os concorrentes o tempo da pesquisa e lançar os produtos no mercado; assumir riscos;
identificar imediatamente mercados potenciais; empreender bastante esforço para envolver,
educar e assistir aos usuários; dispor de forte empreendedorismo para coordenar P&D,
produção e mercado. Entretanto, foram as pequenas firmas a contabilizar as mais
importantes invenções e inovações (FREEMAN, 1997, p. 9).
A decisão das empresas para inovar, como agentes econômicos, visa buscar um melhor
desempenho no mercado, como resposta mais efetiva às pressões dos concorrentes e de
novas demandas dos clientes. A inovação no interior de uma firma está relacionada com as
habilidades de reconhecer, aproveitar as oportunidades e encontrar formas de combinar
eficientemente os fatores em função dessas oportunidades.
As inovações tanto podem ser incorporadas em produtos ou serviços como em processos de
fabricação ou de distribuição, às modalidades de organização de tarefas e assim por diante.
Diversas atividades de pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias menos complexas
podem contribuir com pequenos progressos técnicos que, no conjunto, acabam por
representar avanços significativos de capacitação tecnológica. Esses avanços facilitam ou
criam a base para o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias, que são fundamentais
no processo de inovação. Podem representar, ainda, um diferencial competitivo e de
aproximação cada vez maior do estado da arte (SÁENS, 2002, p. 73).
71
As empresas fabricam ou produzem bens similares seguindo métodos de produção
tecnicamente diferentes. Elas inovam na base de uma tecnologia própria, mas imitando
métodos utilizados por outras firmas, incorporando conhecimentos públicos disponíveis,
mas selecionados em função dos objetivos perseguidos.
Os dispositivos físicos existentes incorporam os avanços no desenvolvimento de uma
tecnologia de uma determinada atividade para a solução de problemas. Ao mesmo tempo,
uma parte “desincorporada” da tecnologia consiste da especialização específica,
experiência em tentativas passadas e soluções tecnológicas anteriores, juntamente com o
conhecimento e os avanços do estado da arte (DOSI, 1997).
As empresas da fitoindústria para elevar sua capacidade competitiva deverão considerar a
melhoria e o desenvolvimento de tecnologias na cadeia produtiva em atividades tais como a
extração, plantio, armazenagem, transporte, transformação e distribuição de matéria-prima
e de produtos acabados.
A difusão tecnológica incorpora um processo contínuo de mudança técnica incremental que
modela tecnologias para o uso em variadas situações específicas, modificando-as para
melhorar o desempenho original. A competitividade é uma constante mudança do nível
alcançado e sustentado por taxas de mudança técnica que supera ou pelo menos combina as
taxas geradas em outras regiões (BELL e PAVITT, 1995, p. 76).
III.1.2. Ajustando o conceito de Sistemas de Inovação para regiões em desenvolvimento
O conceito de Sistemas de Inovação permite destacar que a atuação das empresas não é
isolada de outras empresas e organizações, uma vez que está sujeita às restrições do
ambiente institucional. Pode ser definido como um conjunto de instituições distintas que
conjunta e individualmente contribuem para o desenvolvimento e difusão de tecnologias
não apenas em empresas, mas também em instituições de ensino e pesquisa, instituições de
financiamento do governo etc. (FREEMAN, 1997, p. 203).
Os Sistemas de Inovação nos vários países podem ser diferentes, assim como os Sistemas
Regionais (ou locais) para setores (sistemas tecnológicos). Também diferem em seu
desempenho em termos de desenvolvimento tecnológico e difusão (EDQUIST, 1997, p.
19). Vários autores têm argumentado que a “globalização” tem diminuído a importância da
72
nação-estado e as entidades sub-nacionais tais como províncias, distritos industriais,
cidades, etc. estão se tornando mais importantes (FREEMAN, 2002, p.2).
A abordagem de Sistema de Inovação necessita ser adaptada para a realidade de países em
desenvolvimento aliando-se à abordagem de construção de um Sistema. Quando aplicado
nesses países é importante reconhecer algumas fragilidades como a de ter sido criado para
os países desenvolvidos e ser usado principalmente como um conceito ex-post
(LUNDVALL, 2002, p.p. 14-16).
A literatura reconhece que nas economias emergentes, as empresas são crescentemente
forçadas a manter o foco, além de suas próprias operações, procurando arranjos
colaboradores. O crescimento do número de empresas na fitoindústria com diferentes
características, a diversidade dos serviços tecnológicos e atividades de pesquisa por elas
demandadas, envolvendo os recursos da flora, vêm tornando essa interdependência e
vínculos cada vez mais intensos e necessários. A emergência dessa aglomeração industrial
poderá gerar coletivamente atividades tecnológicas inovadoras.
A Aglomeração Industrial ou clustering industrial significa qualquer forma de organização
industrial ou filière18 apresentando uma concentração espacial de um número de firmas
pertencente a um ramo industrial similar. Freqüentemente, a maioria das firmas em um
cluster industrial realiza pequenas operações de média-escala, embora isto não signifique
que grandes firmas devam ser ignoradas (ALBU, 1997, p. 14).
Para regiões em desenvolvimento como o Amazonas, o conceito de Sistemas Produtivos e
Inovativos Locais pode ser bastante apropriado para esse tipo de abordagem. E o referencial
que permite o estudo do processo inovador é baseado em alguns conceitos fundamentais:
aprendizado, interações, competências, complementaridades, seleção, path-dependencies
etc (LASTRES & CASSIOLATO, 1999, p. 6).
O conceito e a abordagem metodológica de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos
Locais – ASPLs destacam: (a) o papel central da inovação e do aprendizado interativos,
como fatores de competitividade sustentada; e (b) englobam empresas e outros agentes,
18
O conceito de um filière pode ser entendido como um canal de produção e distribuição, incorporando todas
as operações técnicas e econômicas relacionadas, que alimentam bens direta ou indiretamente para um
mercado comum.
73
assim como atividades conexas que caracterizam qualquer sistema de produção
(CASSIOLATO et al., 2003, p. 3).
O termo aglomeração – produtiva, científica, tecnológica e/ou inovadora – tem como
aspecto central a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais
(empresas e outras organizações públicas e privadas). Isto é particularmente significativo
no caso de micro e pequenas empresas para a formação de economias de aglomeração, ou
seja, as vantagens oriundas da proximidade geográfica dos agentes, incluindo acesso a
matérias-primas, equipamentos, mão-de-obra e outros (CASSIOLATO et al., 2003, p. 7).
A abordagem dos Sistemas Tecnológicos ou de Inovação é um dos conceitos que podem
contribuir para melhor compreensão das características da fitoindústria e facilitar a adoção
de medidas para o seu desenvolvimento. Esses Sistemas consistem de redes de competência
e de conhecimento dinâmico, embutidos na infra-estrutura institucional. Essas redes são
conectadas pelos fluxos de informação. A presença do empreendedorismo e suficiente
massa crítica pode transformar a rede em um “bloco de desenvolvimento” inovador que
também depende de competência econômica e infra-estrutura institucional (SENKER,
1999).
Competência econômica, que é crucial para a prosperidade de Sistema de Inovação ou
Tecnológico, pode ser definida como o uso do conhecimento e informação para identificar,
explorar e expandir oportunidades de negócios. Entretanto, os arranjos institucionais
importantes tais como mercados de capital, política fiscal, intervenção pública,
regulamentação do trabalho, produção e distribuição de informação podem afetar o
desempenho do Sistema Tecnológico (SENKER, 1999).
Assim, o conceito de Sistema Setorial de Inovação e Produção considera elementos de
análise apropriados ao estudo de economias em desenvolvimento. Esse tipo de sistema é
definido como um conjunto de novos produtos e de produtos já estabelecidos para uso
específico, e um conjunto de agentes que executam a interação de mercado e não mercado
para a criação, produção e venda desses produtos. Um Sistema Setorial tem uma base de
conhecimento e de demanda potencial relacionada a setores, à convergência de produtos ou
ao surgimento de novas demandas. Em resumo, os elementos básicos de um Sistema
Setorial são (MALERBA, 2002, p.4):
74
¾ Produtos;
¾ Agentes: firmas e organizações não-firmas (tais como universidades, instituições
financeiras, governo central, autoridades locais), tanto quanto organizações de nível
mais baixo (departamento de P&D) ou de nível mais elevado de agregação (consórcio
de firmas individuais;
¾ Conhecimento e processo de aprendizagem: a base do conhecimento de atividades de
produção e de atividades inovadoras difere através dos setores e afeta fortemente as
atividades inovadoras, a organização e o comportamento das firmas e outros agentes
dentro do setor;
¾ Tecnologias básicas, insumos, demanda, articulações e complementaridades: conexões
e complementaridades na tecnologia, insumos e nível de demanda podem ser estáticos e
dinâmicos. Incluem interdependência entre setores horizontais ou verticais, a
convergência de produtos antes separados ou o surgimento de nova demanda.
Interdependência e complementaridade definem a real fronteira do sistema setorial.
Podem ser em insumos, tecnologia ou no nível de manda e podem referir-se à inovação,
produção ou venda;
¾ Mecanismos de interação na firma e fora da firma: os agentes são envolvidos em
processos de mercado e interações de não mercado;
¾ Processo de competição e seleção;
¾ Instituições: tais como padrões, regulações, trabalho, mercado e assim em diante.
Os sistemas setoriais diferem em tecnologias básicas, insumos e demanda. Uma vasta
literatura sobre tecnologia e mudança tecnológica tem mostrado claramente quanto os
setores diferem em suas tecnologias básicas e como estas tecnologias afetam a natureza,
fronteira e organização dos setores (MALERBA, 2002, p.8)
A capacidade de uma região para mobilizar recursos destinados a atividades de inovação
está associada à disponibilidade orçamentária do governo regional. Um orçamento maior
pode permitir a certa região implementar políticas mais autônomas e mais adequadas as
suas potencialidades (COOK, 1997, p. 481).
75
Freqüentemente o foco de análise de um Sistema Setorial específico não são
necessariamente as firmas, mas firmas individuais, sub-unidades de firmas (tais como P&D
ou departamento de produção) ou grupos de firmas (tais com consórcio industrial). As
firmas, entretanto, são os atores chave em um Sistema Setorial, incluindo também os
usuários e fornecedores com diferentes tipos de relacionamento com a inovação, produção
ou venda (MALERBA, 2002, p. 8).
III.1.3. Estratégias, aprendizagem e capacitação tecnológica
A estrutura mais usual de gerenciamento de inovação é a desenvolvida por Teece e Pisano.
Ela aborda a capacidade dinâmica da empresa e distingue três elementos de estratégia de
inovação corporativa: (a) posicionamento nacional competitivo; (b) trajetória tecnológica;
(c) processo de gerenciamento e organizacional (apud TIDD et al, 1997, p. 16). Para eles a
capacidade das firmas de se apropriarem dos benefícios dos investimentos em tecnologia
depende de dois fatores: (a) a capacidade para traduzir a vantagem tecnológica em produtos
ou processos viáveis; e (b) a capacidade de defender suas vantagens contra imitadores.
Chakrabarti (1991, p. 245), ao referir-se à estratégia para alcançar a inovação nas empresas
de biotecnologia nos EUA ressalta três componentes importantes: (a) estratégia de
aquisição tecnológica interna; (b) estratégia de aquisição tecnológica externa; e (c)
estratégia mercadológica.
Para esse autor, a estratégia de P&D interna enfatiza: a pesquisa básica e aplicada, melhoria
da qualidade dos produtos, melhoria do processo de fabricação, desenvolvimento de novos
produtos e redução de custos de fabricação. A estratégia de aquisição de tecnologia externa
leva em conta: a cooperação multilateral, cooperação bilateral, contrato de pesquisa,
licenciamento e garantias governamentais. A estratégia mercadológica considera: a
novidade do produto, a entrada em novos mercados, política de preço, política de qualidade
e investimentos em marketing.
Nonaka & Takeuchi (1997, p.1) afirma que o “sucesso das empresas japonesas se deve a
sua capacidade e especialização” na “criação de conhecimento organizacional”. Elas são
peritas em fomentar a inovação de forma contínua, incremental e em espiral. A inovação
contínua, por sua vez, leva a vantagens competitivas. O que é singular é a ligação entre o
seu ambiente externo e o interno.
76
Os autores afirmam ainda que esse conhecimento acumulado externamente é compartilhado
de forma ampla dentro da organização, armazenado como parte da base de conhecimentos
da empresa e utilizado pelos envolvidos no desenvolvimento de novas tecnologias e
produtos (p. 4 e 5):
Figura 11 - Etapas para alcançar vantagem competitiva
Criação do
Conhecimento
Inovação
Contínua
Vantagem
Competitiva
A integração do conhecimento e da tecnologia, além de ser associada à vantagem
competitiva da empresa, também é vista como uma competência organizacional específica.
Para Ariffin & Figueiredo (2003, p. 68), os estudos relevantes para o contexto de países
industrializados onde as competências tecnológicas já foram substancialmente criadas e
acumuladas na indústria têm menor relevância no contexto de países de industrialização
recente ou em desenvolvimento (regiões como a Amazônia). Nesses países e regiões de
industrialização tardia, as competências inovadoras significativas ainda precisam ser
construídas de maneira compreensiva e sistemática.
Competência significa especificamente a forma de reunir conhecimento sobre diferentes
áreas e ter um conteúdo organizacional intrínseco, aglutinar know how de diferentes agentes
para fazer diferentes produtos de diferentes formas (MALERBA, 2002, p. 3).
A dinâmica da capacitação tecnológica da empresa (TEECE & PISANO, 1994 apud TIDD
et al, 1997, p. 63) caracteriza-se por:
¾ Processo interno que facilita o aprendizado, incluindo a capacidade para reconfigurar o
que a firma fez no passado;
77
¾ Capacidade para especificar competências dentro de suas atividades, ou aquelas que são
desenvolvidas no Sistema Nacional ou Regional de Inovação;
¾ Trajetória de mudanças que é sempre resultante de uma trilha de dependência.
Para inovar é preciso integrar um conjunto de conhecimentos e de tecnologias, ter a visão
estratégica do mercado e a capacidade de transformar estruturas tradicionais e desempenhar
novas atividades. Ademais, a capacidade de inovar é fortemente influenciada pelo que a
empresa já realizou, por suas competências e aprendizado acumulado.
A contribuição do conhecimento tácito é que o crescimento econômico não está
simplesmente associado com tecnologias incorporadas, mas dependente de ativos
intangíveis e práticas de trabalho baseadas nas experiências individuais, expressa nas ações
humanas, na forma de avaliação, atitudes, pontos de vista, confiança, motivação etc.
(KOSKINEN & VANHARANTA, 2002, p. 57). O conhecimento tácito é um importante
constituinte de insumos tecnológicos e científicos para a inovação.
São seis os diferentes tipos de informação ou fluxo de conhecimento que têm sido
considerados para o “aprendizado” tecnológico: 1. experiência; 2. rotina; 3. sistema de
feedback de desempenho; 4. treinamento; 5. contratação; e 6. pesquisa (BELL & PAVITT,
p. 191).
Os tipos diferentes de processos pelos quais a capacidade tecnológica é adquirida (BELL &
PAVITT, 1995, p. 187, CASSIOLATO et al, 2003, pp. 8-9, ARIFINN & FIGUEIREDO
2003, p.76-77) baseiam-se nas fontes internas e fontes externas:
¾ Fontes internas: freqüentemente se refere ao processo de aquisição de habilidade e
conhecimento que depende ampla ou totalmente da experiência: learning-by-doing,
comercialização e uso (learning-by-using); na busca de novas soluções em suas
unidades de pesquisa e desenvolvimento (learning-by-searching) ou instâncias. A
execução de tarefas de produção no período gera um fluxo de informação e
entendimento que permite a melhoria em períodos subseqüentes.
“Trata-se de processos pelos quais os indivíduos adquirem conhecimento tácito
exercendo diferentes atividades dentro da empresa, por exemplo, participando da rotina
diária e/ou introduzindo melhoria nos processos existentes, na organização da
78
produção, no equipamento e nos produtos. Tal processo pode ser também através de
atividades de pesquisa em centros de P&D formalmente organizados, de laboratórios
instalados na fábrica e/ou experimentação sistemática nas unidades operacionais”.
¾ Fontes externas: o termo “aprendizado” tem sido usado para se referir muito mais
genericamente à aquisição e aumento de habilidade e conhecimento por qualquer meio.
Isto significa apropriar-se de vários tipos de aprendizado, o processo de compra,
cooperação e interação com fornecedores (de matérias-primas, componentes e
equipamentos), licenciadores, concorrentes, licenciados, clientes, usuários, consultores,
sócios, prestadores de serviços, organismos de apoio, entre outros (learning-byinteracting and cooperating); e aprendizado por imitação, gerado da reprodução de
inovações introduzidas por outras organizações, a partir de engenharia reversa,
contratação de pessoal especializado, etc. (learning-by-imitating).
“São processos pelos quais os indivíduos adquirem, fora da empresa, conhecimento
tácito e/ou codificado. Pode-se recorrer à importação de know-how, à assistência
técnica e ao treinamento no exterior. Podem envolver a canalização sistemática de
conhecimento externo codificado, o convite a especialistas para proferir palestras etc”.
Arifinn & Figueiredo (2003, p.77) referem-se ainda a outros processos de aprendizagem:
Processos de socialização do conhecimento – através dos quais os indivíduos compartilham
seu conhecimento tácito (modelos mentais e aptidões técnicas). Processos de codificação
do conhecimento - através deles o conhecimento tácito dos indivíduos (ou parte deste saber)
torna-se explícito.
Nesse contexto é destacado o papel do apoio de conhecimentos intermediários, por
exemplo: conhecimento intensivo em transações com fornecedores e cooperação com
institutos de P&D. Se a influência cresce, o papel do conhecimento muda? O que
precisamente contribui para o processo de inovação? O que desempenha um papel
importante na articulação entre o processo no nível de inovação da firma e os Sistemas de
Inovação nos quais essas firmas operam? (SMITS, 2002, p. 871).
Os processos de aprendizagem dependem da variedade de atividades adotadas nas firmas,
na coordenação desse conhecimento interno e a integração com o conhecimento adquirido
de fontes externas (SENKER, 1999). O processo de aprendizagem tecnológica,
79
especialmente em empresas de economias emergentes, pode ocorrer através de empresas
mãe, clientes, fornecedores, ou parceiros de joint ventures (ARIFINN & FIGUEIREDO,
2003, p.76).
O aprendizado através do mercado indica que o relacionamento entre desenvolvedores e
usuários é mais importante no caso de produtos novos e complexos. O aprendizado através
de alianças tem como objetivo: reduzir custos e riscos de desenvolvimento tecnológico ou a
entrada em novos mercados, alcançar escala econômica na produção, reduzir o tempo de
desenvolvimento e comercializar novos produtos (TIDD et al, 1997, pp. 220-221).
A aquisição de tecnologias tem sido em todas as economias o processo central tanto para
elevar a produtividade quanto a competitividade. Entretanto, poucos casos têm tido sucesso
pela transferência de tecnologia dos países industrializados para os em desenvolvimento. A
eficiência dinâmica sustentada depende fortemente de competências domésticas para
gerenciar mudanças nas tecnologias usadas na produção, que são baseadas em recursos
especializados (tais como mão-de-obra altamente especializada) (BELL e PAVITT, 1995,
pp. 70-71). A mudança técnica assume que a tecnologia toma duas formas: informação
codificada (ou tecnologia desincorporada) e bens de capital (tecnologia incorporada):
E nos países de industrialização tardia a aquisição de capacidades para gerar e
gerenciar mudança técnica é influenciada por quatro aspectos: (a) na prática, o
processo de “inovação” e “difusão” são difíceis de distinguir; (b) o processo
técnico é gerado por ambos: produtores e usuários de tecnologia incorporada ao
capital; (c) “learning by doing” isoladamente não manterá firmas importadoras de
tecnologia competitivas; (d) há freqüentemente pouca estabilidade tecnológica
nos últimos estágios do ciclo de vida do produto.
O processo de mudança tecnológica nos países em desenvolvimento decorre mais pela
aquisição e melhorias de competências tecnológicas do que pela inovação na fronteira do
conhecimento. Este processo consiste essencialmente do aprendizado para usar e melhorar
as tecnologias que já existem nos países de economias mais avançadas (LALL, 2000, p.3).
A acumulação de competências é uma condição necessária para a competitividade. O
conhecimento e habilidades que permitem gerar a mudança técnica estão relativamente
próximos da produção e são freqüentemente desenvolvidos na base da experiência
acumulada de produção, conforme ilustração da figura 12 (BELL & PAVITT, 1995, p. 78).
80
Figura 12 - Acumulação tecnológica (aprendizado)
Competência
Tecnológica
Os recursos necessários
para gerar e gerenciar
mudanças técnicas:
1. conhecimento,
habilidade, e
experiência;
2. estrutura institucional
e interdependências:
- com firmas
- entre firmas
- fora da firma.
Mudança
Técnica
Capacidade
de
Produção
1. introdução de
tecnologias incorporadas
em novos produtos e/ou
novas plantas através de
maiores investimentos
em projetos;
2. adaptação e melhorias
incrementais de
capacidade de produção
existente.
Produção
Industrial
Componentes de dado
sistema de produção:
- capital fixo
- know-how e habilidade
operacional da força de
trabalho
- especificações de
produto/projeto
- especificações de
insumos
- organização e
procedimentos de
produção.
Para os autores, a capacidade tecnológica de uma firma é considerada como resultante de
sua força de trabalho, de empregados capacitados, da competência de seus pesquisadores e
engenheiros e das seguintes características: aptidões de sua força de trabalho, estrutura
financeira, estratégia frente ao mercado e aos competidores, alianças com outras firmas,
vínculos com universidades e outras instituições, e em especial a organização interna.
Bell e Pavitt (1995) introduzem uma distinção geral entre capacidade de produção básica e
competências tecnológicas dinâmicas. As capacidades de produção são atributos estáticos.
Conhecer as capacidades de produção de uma firma permite usar instalações existentes de
produção, estabelecer padrões de decisão de investimento, expandir processos
estabelecidos. As competências tecnológicas, por outro lado, são recursos dinâmicos, que
cercam as habilidades, conhecimentos e rotinas envolvidas em gerar e gerenciar mudança
técnica, ao se referirem às atividades de produção, atividades de investimento ou relações
com outras firmas.
As competências de produção e tecnológicas são classificadas por diferentes níveis de
capacidade, conforme o seu grau de complexidade como é ilustrado no quadro 4 (BELL &
PAVIT, 1995, p. 84), adaptado de Lall (1992).
81
Quadro 4 - Competências de produção e competências tecnológicas
Atividades primárias
Investimento
Controle e decisão Preparação e
dos usuários das
implementação de
instalações
projeto
Competências Assegurar o
Preparação e
primeiro
básicas de
contorno do
contratante;
produção;
projeto inicial;
Capacidades para seguro e
construção de
usar técnicas de desembolso
obras civis;
produção
financeiro
construção de
planta básica.
Competências
de Produção
Produção
Processo e
Desenvolvimento
organização da
do produto
produção
Operações de
Reprodução de
rotina e
especificações e
manutenção
projeto;
básica de
rotina de CQ
instalações;
melhoria de
eficiência
Atividades de Apoio
Articulação
Suprimento de
bens de capital
Aquisição de
insumos
disponíveis;
atuais e novos
clientes
Reprodução de
itens
permanentes de
instalações e
máquinas
Competências Tecnológicas (capacidades para gerar e gerenciar mudança técnica)
Básico
Intermediário
Avançado
Monitoramento,
Estudo
de
escolha
da viabilidade;
tecnologia
planejamento;
busca
de
equipamento
de
Pesquisa; avaliação Aquisição
avaliação
e
seleção
de planta;
ambiental;
tecnologia/fontes;
de
gerenciamento total planejamento
projeto
e
do porjeto
gerenciamento.
Desenvolvimento
Projeto de processo
de novo sistema de básico
e
P&D
produção
e relacionados
componentes
Melhoria de Layout, planejamento
da
produção;
adaptação menor
Menor adaptação,
melhorias
incrementais
na
qualidade
do
produto
Licenciar
novas
Melhoria;
de
licença de novas tecnologias
produto;
novo
tecnologias;
projeto
mudanças
incremental
de
organizacionais
produto
Inovação
de Inovação
de
processo e P&D produto e P&D
relacionados;
relacionados
inovação radical na
organização
Novas informações Copiar novos tipos
de
fornecedores, e
adaptar
clientes,
e máquinas.
instituições locais
Transferência
tecnológica
para
fornecedores
e
clientes que eleve
eficiência, qualidade
e fonte local
Colaboração
no
desenvolvimento
tecnológico
Engenharia
reversa inovadora
incremental
e
projeto original de
planta
e
maquinário
P&D
para
especificações de
projetos de novas
plantas
e
maquinário
82
III.2. CONCEITOS BÁSICOS PARA A PESQUISA
III.2.1. Sistema de Inovação
Como o estudo trata de empresas que têm em comum a utilização da matéria-prima de
origem da floresta amazônica e a perspectiva de ampliação da “aglomeração industrial”
dessas empresas, o conceito de Sistema Tecnológico é um dos instrumentos de análise
considerados apropriados no auxílio ao estudo do setor da fitoindústria.
A teoria de Sistema Tecnológico difere da estrutura conceitual do Sistema Nacional de
Inovação nos quatro elementos principais (SENKER, 1999):
¾ O foco é específico em áreas tecno-industriais e não em uma visão ampla de todos os
componentes de um Sistema Nacional de Inovação;
¾ As fronteiras são definidas pela tecnologia, não pelas fronteiras geográficas;
¾ O escopo é limitado pelas considerações macroeconômicas. Embora a infra-estrutura
institucional seja considerada como influenciadora da performance do sistema
tecnológico, não é um ponto de foco;
¾ As atenções focam a aplicação do conhecimento e não a geração e difusão de
conhecimento.
Por abordar de forma similar e complementar aos Sistemas Tecnológicos, o conceito de
Sistemas Produtivos e Inovativos Locais apresenta-se bastante útil para abordar, da mesma
forma, questões pertinentes à fitoindústria: “são aqueles em que a interdependência,
articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com
potencial de gerar o incremento da capacidade inovadora endógena, da competitividade e
do desenvolvimento local” (LASTRES & CASSIOLATO, 2003, p. 2).
III.2.2. Aprendizado, conhecimento e capacitação tecnológica
A capacitação tecnológica é o processo de aprendizado pelo qual a habilidade e o
conhecimento são adquiridos por indivíduos e organizações (BELL & PAVITT, 1995, p.
12). A capacitação refere-se à acumulação de conhecimentos e habilidades, por indivíduos
e organizações, a partir de processos de aprendizado. A capacitação de empresas permitelhes desenvolver e reproduzir padrões produtivos e inovativos mais avançados,
possibilitando o incremento de sua dotação de recursos tangíveis (equipamentos, infra83
estrutura) e intangíveis (conhecimentos, habilidades, competências) e, deste modo, o
aumento de sua competitividade (LASTRES & CASSIOLATO, 2003, p. 9)
O aprendizado tecnológico refere-se a qualquer processo pelo qual os recursos para gerar e
gerenciar a mudança técnica são adquiridos ou fortalecidos. Refere-se à aquisição e à
construção de diferentes tipos de conhecimentos individuais e da organização,
competências e habilidades técnicas adicionais, não se limitando a ter acesso a informações
(BELL e PAVITT, 1995, p. 187). O conhecimento tecnológico é... específico, complexo e
muitas vezes tácito e cumulativo em seu desenvolvimento (PAVITT, 1999 apud
RESEARCH POLICY, 2004, p. 1254).
A tecnologia é um conjunto de conhecimentos, tanto “práticos” quanto “teóricos” (mas
aplicável à prática, mesmo que não necessariamente já aplicados), know-how, métodos,
procedimentos e experiência de sucesso e fracassos e, também, dispositivos e equipamentos
físicos (DOSI, 1997).
O conhecimento tácito abrange um tipo de capacidade ou habilidades capturadas no termo
“know how” e é cognitivo, pois consiste em esquemas, modelos mentais, crenças e
percepções (NONAKA, 1997, p. 8).
De forma geral, pode-se dizer que as capacitações empresariais referem-se a: (a)
capacitação produtiva: geralmente envolve a atualização de produtos e processos. Inclui a
difusão, no âmbito da firma, de procedimentos operacionais que possibilitam incrementar
os níveis de qualidade e produtividade; b) capacitação inovadora: refere-se ao domínio de
conhecimentos e tecnologias que são fundamentais para a introdução de inovações
tecnológicas e organizacionais e para a exploração de novas oportunidades (CASSIOLATO
et al, 2003, p. 9).
III.2.3. Inovação tecnológica e atividades inovadoras
A inovação é restrita ao esforço intencional para gerar benefícios através de novas
mudanças. Estas devem incluir benefícios econômicos, crescimento pessoal, aumento da
satisfação, coerência da melhoria de grupo, melhor comunicação organizacional, tanto
quanto a produtividade e mensurações econômicas que são usualmente levadas em
consideração. Para fins desta pesquisa, o que deve ser considerada é a abordagem
econômica em que “as inovações tecnológicas das firmas freqüentemente incluem
84
mudanças técnicas tais como novos produtos, processo de produção, a introdução de
tecnologias avançadas de manufatura, assim como a introdução de novos suportes
computacionais” (KOSKINEN & VANHARANTA, 2002, p. 61).
O Manual Frascati considera a inovação como “... a transformação, ou novos sistemas de
produção e sua difusão, comercialização e uso. E também a melhoria substancial de
produtos ou processos já existentes (OCDE, 1994, p. 5)”.
A inovação é um novo produto ou processo para a firma, embora não seja para o mundo ou
mercado. Quando uma empresa produz um novo bem ou serviço, ou utiliza um novo
método ou material, gera uma mudança técnica, podendo-se dizer que ocorreu uma
inovação, sendo mais um processo de longo prazo e não uma única mudança (HOBDAY,
1995, p.p. 47-48). A inovação utiliza-se de recursos, habilidades técnicas e científicas numa
variedade de combinações. Esses recursos e habilidades são importantes no
desenvolvimento de novos produtos e processos (FREEMAN, 1994, 1997, p. 265).
Haja vista que a inovação técnica é definida por economistas como a primeira aplicação
comercial ou produção de novo processo ou produto, resulta que o empreendedorismo é o
elo entre novas idéias e o mercado. “Embora a inovação no sentido econômico seja
concluída somente com a primeira transação comercial envolvendo o novo produto, sistema
de processo, ou dispositivo, o termo também é usado para descrever o processo inteiro”
(FREEMAN, 1994, 1997, p. 201).
A inovação tecnológica não implica necessariamente em um maior avanço tecnológico no
estado da arte (uma inovação radical), inclui também a utilização de contínuas mudanças
de pequena escala no know-how tecnológico (uma melhoria ou inovação incremental)
(ROTHWELL e GARDINER, 1985, apud TIDD et al., 1997, p. 24). As inovações radicais
ocorrem quando surge uma “janela de oportunidade” para a ruptura do paradigma
tecnológico. As inovações menores são aquelas que, mesmo apresentando um efeito
econômico ou social, não representam mudanças significativas sobre o nível tecnológico
existente: melhoria no design, ou no composto de um fitoterápico ou fitocosmético.
As firmas inovadoras, para o Manual de Oslo, são aquelas bem sucedidas em que as
atividades inovadoras resultam em inovações efetivas (1997, p. 39):
85
A capacidade tecnológica de uma firma é parcialmente inserida pela força de
trabalho. Empregados capacitados são o ativo chave para uma firma inovadora
(p.22). Define ainda atividades de inovação em produto e processo como sendo
“aquelas que abrangem todas as decisões e desenvolvimentos científicos,
tecnológicos, organizacionais, financeiros e comerciais que se levam a cabo no
interior de uma empresa, incluídos os investimentos em novos conhecimentos”.
O Manual de Bogotá amplia o conceito de Atividades Inovadoras do Manual de Oslo pois
se observam as condições particulares em que se desenvolvem as atividades inovadoras na
região (países da América do Sul e Caribe) e os impactos das mesmas, deslocando o eixo
central de análise da inovação para o esforço tecnológico e a gestão das atividades
inovadoras”, incluindo as atividades inovadoras do Manual de Oslo, abordando questões
tais como (RICYT, 2001, p. 21):
Pesquisa e desenvolvimento – compreende o trabalho criativo empreendido
sistematicamente para incrementar o estoque de conhecimentos e o uso deste
conhecimento para conceber novas aplicações; Esforço de inovação – inclui o
projeto, aquisição de tecnologia incorporada e não incorporada no capital,
comercialização e capacitação; Projeto, instalação e maquinaria nova,
engenharia industrial e produção em marcha; Aquisição de tecnologia
incorporada ao capital – aquisição de máquinas e equipamentos com
desempenho tecnológico melhorado (incluindo softwares integrados) vinculados
com as inovações implementadas pelas empresas; Aquisição de tecnologia não
incorporada ao capital – patentes, inventos não patenteados, licenças, know
how, projetos, marcas de fábrica; Modernização organizacional – Refere-se ao
esforço que conduz à introdução de mudanças na organização do processo
produtivo tendendo a reduzir desperdício de tempo, o tempo de processamento e
similares na linha de produção existente; Capacitação – compreende a
capacitação no âmbito de tecnologias centrais relacionadas ao processo
produtivo.
As Atividades Inovadoras definidas na Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica
(PINTEC) referem-se às “atividades representativas dos esforços da empresa voltados para
a melhoria do seu acervo tecnológico e, conseqüentemente, para o desenvolvimento e
implementação de produtos ou processos tecnologicamente novos ou significativamente
aperfeiçoados” (IBGE, 2003, p. 5).
Para Ariffin e Figueiredo (2003, p. 68), essas atividades recebem várias definições tais
como “tecnologias de processos”, “inovações de processos”, “melhoramentos contínuos ou
incrementais”, “pequenas adaptações” ou “desenvolvimento secundário”.
86
IV. METODOLOGIA DA PESQUISA
IV.1. REFERÊNCIAS PARA A SELEÇÃO DE INDICADORES
O Manual de Bogotá ressalta que na prática todas as pesquisas de inovação são
incompletas, independentemente do método ou procedimento utilizado (2001, p.72). Partese da idéia de que o problema de medição da inovação na América Latina necessita ampliar
a abordagem estrita de inovação do Manual de Oslo sobre Atividades Inovadoras (2001, pp.
40-41) para uma abordagem também de um conjunto de atividades que inclui aspectos tais
como esforço tecnológico, gestão das atividades inovadoras e acumulação de capacidades
tecnológicas. As premissas são as seguintes:
¾ A substituição de um modelo linear por um complexo tipo “feedback” em que os
elementos intermediários ganham importância frente a P&D;
¾ A importância das atividades de monitoração, avaliação, adoção, adaptação de
tecnologias por parte das unidades produtivas, assim como os requisitos de capacidades
tecnológicas destacam-se para o desenvolvimento dessas atividades;
¾ As peculiaridades assumem a mudança técnica nos países em desenvolvimento,
determinando a natureza difusão/adaptação/incremento da mudança técnica;
¾ O caráter de mudança que tem a geração dessas capacidades e o status de
condicionante/determinante que a mesma adquire, tanto com respeito a atividades
inovadoras como a busca de incrementos na produtividade e eficiência;
¾ A importância dos mecanismos de mudança tais como a modernização organizacional e
a mudança técnica;
¾ O conseqüente caráter de apoio que a atividade inovadora adquire pela mudança técnica
e a importância das condições de mudança da atividade inovadora.
O modelo de Hobday (1997), ilustrado na figura 13, aplicado na avaliação do setor
eletrônico de países da Ásia por Hobday e por Ariffin & Figueiredo na avaliação da
indústria eletrônica do Pólo industrial de Manaus - PIM (2003, p. 67) serviu de referência
na avaliação do nível de capacidade produtiva e tecnológica das empresas da fitoindústria.
87
Esse modelo é baseado no estudo de Bell e Pavitt que permite examinar o desenvolvimento
de capacitação tecnológica em duas dimensões:
¾ Movimento a partir de atividades de rotina (operação) para atividades com maior nível
de complexidade (ou profundidade tecnológica) ou inovadoras;
¾ Adequar nos níveis o movimento da empresa a partir da manufatura de produtos
simples a produtos mais complexos.
Figura 13 - Estrutura dos níveis de atividades inovadoras
7
Atividades de P&D
6
5
Atividades
Inovativas
4
Indústria
Global
3
2
1
Firma
Atividades
de
Rotina
As empresas não se capacitam necessariamente na seqüência linear e nem começam e
terminam nos mesmos níveis de capacidade tecnológica. As empresas da fitoindústria
possivelmente não apresentam ainda significativos avanços na acumulação de
competências inovadoras básicas, para produzir fluxos de inovação, tornando-se importante
considerar:
¾ A trajetória tecnológica de cada uma, a interação entre elas, com outras empresas e
instituições, e como se deslocam de um nível para outro nas atividades inovadoras; o
processo de aprendizado para a acumulação de conhecimentos, através da aquisição de
habilidades e do aproveitamento das capacidades naturais ou adquiridas.
Como as empresas da fitoindústria possivelmente não realizam P&D complexos que gerem
patentes, conclui-se ser extremamente relevante analisar o processo de capacitação
tecnológica e os avanços para níveis mais elevados de capacidade inovadora, seguindo os
parâmetros do quadro 5. Essas atividades resultam de consulta e testes prévios com 4
empresas representativas de diferente segmentos da fitoindústria, estabelecendo a seguinte
distinção com base no quadro 4:
88
¾ Competência operacional rotineira – Nos níveis 1 e 2, são estabelecidos os parâmetros
para a capacidade de produzir bens com certos níveis de eficiência e certos requisitos de
insumos – competências, conhecimentos e arranjos organizacionais ligados ao uso de
tecnologias existentes;
¾ Competência tecnológica inovadora – Nos níveis de 3 a 6 são estabelecidos os
parâmetros para a capacidade de criar, modificar ou aperfeiçoar produtos, processos e a
organização da produção ou do equipamento. A capacidade de gerar mudanças, que
consistem em conhecimentos, experiências e arranjos organizacionais são ligados à
modificação de tecnologia.
89
Quadro 5 - Níveis de capacidade tecnológica da fitoindústria
Níveis de
Gestão de projetos
Organização da produção
Capacidade
Nível 1
Definição do projeto;
Operações de rotina e manutenção
escolha da tecnologia;
básica das instalações; lay-out.
estudo de viabilidade, início
de operação.
Nível 2
Controle semiProcesso e controle da produção
informatizado
(PCP); extração; formulações de
administrativo/financeiro.
compostos.
Nível 3
Atendimento a cliente;
Linha de produção semiplano estratégico;
automatizada; melhoria no processo
certificações básicas;
de armazenagem, extração,
rotulagem; plano de plantio purificação e formulação dos
e manejo; registro na
compostos.
ANVISA/COVISA
Nível 4
Controle informatizado e
Linha de produção automatizada;
administrativo/financeiro
pequenas inovações; biotecnologia
integrado; registro de
tradicional; pasteurização de polpas e
patentes de produtos;
frutas secas; CQ de análises físicocertificação orgânica;
química e microbiológica
internamente.
kaizen, just in time.
Nível 5
Certificações: FSC, cadeia Inovação incremental no processo
de custódia; joint venture;
produtivo; conversão química, high
licenciamento de
throughput screening, melhoria
tecnologia, ingresso de
genética da matéria-prima da floresta.
capital de risco.
Nível 6
Registro de produtos na
Moderna biotecnologia; inovação
ANVISA resultantes de
radical de processo relacionado a
P&D da empresa.
P&D.
Fonte: Adaptado de Bell e Pavitt (1995)
Desenvolvimento
de produto
Inspeção simples
matéria-prima e
produto acabado.
Interação/ Atividades de Apoio
Identificação de fornecedores de
matéria-prima e de bens de capital.
Cópia simples de
produto.
Seleção e aquisição da matéria-prima
da floresta; subcontratação de análises
laboratoriais.
Treinamento de fornecedores;
Laboratório para
desenvolvimento de subcontratação de análises
laboratoriais; captar informações:
produto; cópia de
razoável
fornecedores, clientes e de P&D;
complexidade de
adaptação cópia simples de bens de
produto.
capital; participar de redes.
Inovação simples de Aprendizado de técnicas de plantio e
manejo; aprendizado de análises
novo produto
laboratoriais; projeto de bens de
resultado de novas
capital; projetos com instituições de
combinações da
P&D de pouca complexidade;
matéria-prima
parcerias com empresas do setor
Inovação
Pesquisas de grau de complexidade
incremental
intermediário com instituições de
intermediária de
P&D;
novo produto,
resultado de P&D.
Inovação radical de Pesquisa avançada com instituições de
novo produto.
P&D.
90
IV.2. QUESTÕES METODOLÓGICAS PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa é de natureza qualitativa e não probabilística, face às características da
predominância de variáveis intangíveis e de difícil mensuração, bem como para atender aos
objetivos da pesquisa de captar informações ricas em detalhes.
“Instrumentos quantitativos requerem questões padronizadas que limitam as respostas em
categorias pré-determinadas (menos extensa e profunda). Têm a vantagem de tornar
possível mensurar as reações de muitos respondentes para um limitado conjunto de
questões, facilitando assim comparações e agregação estatística de dados. Em contraste,
métodos tipicamente qualitativos produzem dados ricos em detalhes sobre um número bem
menor de população e amostra” (PATTON, 2002, p. 227).
Não há regras pra o tamanho da amostra em pesquisa qualitativa. Ela depende do que se
pretende saber, do propósito da pesquisa, do que dá sustentação, do que é útil, do que tem
credibilidade e do que pode ser feito com o tempo e recursos disponíveis. A validade,
significado e reflexões geradas pela pesquisa qualitativa têm mais relação com a riqueza de
informações dos casos selecionados e a capacidade analítica e de observação do
pesquisador do que com o tamanho da amostra (PATTON, 2002, pp. 244-245).
O autor considera ainda a diferença fundamental entre a pesquisa qualitativa e quantitativa:
(a) a lógica da amostra da pesquisa qualitativa consiste em selecionar casos ricos em
informações para estudos com mais profundidade com uma amostra relativamente pequena
(p. 230); (b) métodos quantitativos dependem de uma amostra muito maior e selecionada
aleatoriamente. Não apenas as técnicas para cada amostra, que são diferentes, mas a lógica
de cada abordagem é única porque o propósito de cada estratégia é diferente (p. 480).
91
IV.3. AMOSTRA E COLETA, TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS
IV.3.1. Amostra e coleta dos dados
Para Patton (2002, p. 342) há várias estratégias diferentes para selecionar casos ricos em
informações, sendo que a lógica de cada estratégia serve a um objetivo em particular. Para
este estudo, a lógica da pesquisa baseou-se em:
¾ “Amostra intensiva, que consiste de casos ricos de informação manifestando
intensamente o fenômeno de interesse”.
¾ “Amostra oportunista ou emergente”, cujo campo de pesquisa às vezes envolve no
espectro de decisão sobre a amostra a de explorar novas oportunidades durante a coleta
de dados. Pode incluir depois que a pesquisa já tenha começado a opção de adicionar na
amostra oportunidades não previstas anteriormente.
A condução da pesquisa de campo baseou-se no confronto de quatro questões
metodológicas: (a) seleção da amostra; (b) natureza dos indicadores e questões para
entrevista; (c) procedimentos para conduzir a aplicação do questionário e entrevista; e (d)
análise dos dados, adaptados com base no modelo de Siegel et al. (2003, p.36) e
considerações das principais características para uma pesquisa qualitativa definidas por
Patton (2002, p. 227, 244 e 245), ordenados no quadro 6.
Quadro 6 - Quatro questões metodológicas para a pesquisa
Seleção da amostra
Natureza dos
indicadores e
questões da
entrevista
Procedimentos
para a
condução da
pesquisa
Análise dos dados
Amostra conveniente
de 3 grupos de
empresas por afinidade
de produtos.
Questões padronizadas Aplicação do Tratamento dos dados
no questionário de questionário
nos
aplicativos:
indicadores submetido pessoalmente
Minitab e excell.
às empresas.
Respondentes:
diretores e gerentes.
Questões
relevantes Entrevista
com base nas respostas pessoalmente.
do questionário de
indicadores.
Amostra
conveniente Perguntas
semi- A
Gravação em fita e
transcrição
das
entrevistas para texto.
entrevista Gravação em fita e
92
Seleção da amostra
Natureza dos
indicadores e
questões da
entrevista
Procedimentos
para a
condução da
pesquisa
Análise dos dados
de
técnicos, estruturadas de acordo
pesquisadores
e com o tema; guia geral
especialistas que não de entrevista.
são empregados das
empresas.
levou
em transcrição
das
consideração
entrevistas para texto.
também
o
background do
entrevistado.
Amostra
intensiva, Riqueza de detalhes
oportunista
e com as entrevistas.
emergente
de
empresas estruturadas,
de capital local e
estrangeiro.
Tabelas e gráficos de
dados com freqüências
das respostas.
Projeto na Suframa;
Plano de Negócio no
CIDE;
PROGEX;
Feira Internacional da
Suframa.
Conversão
em
quantitativas
as
respostas qualitativas;
complemento
com
informações
obtidas
nas entrevistas.
Fonte: adaptação de Siegel (2003, p.37) e Patton (2002, p. 227, 244 e 245).
Foram definidos previamente três subsetores da fitoindústria para estudo: fármacos,
cosméticos e alimentos. A seleção das empresas seguiu os seguintes critérios:
¾ Predominantemente micro, pequenas e médias empresas, supostamente organizadas,
com graus diferenciados de capacitação tecnológica e ricas em informação para o
aprofundamento das análises;
¾ Empresas de bens finais dos segmentos fitofármacos e fitocosméticos; empresas
fabricantes de insumos dos segmentos de extratos, óleos e sementes, fornecedores dos
demais subsetores da fitoindústria; e empresas fabricantes de alimentos dos segmentos
de concentrados de bebidas não alcoólicas, balas e chocolates, e polpa de frutas.
¾ Empresas com projetos aprovados na Superintendência da Zona Franca de Manaus Suframa, ou com Plano de Negócios aprovado no Centro de Incubação e
Desenvolvimento Empresarial – CIDE, ou integrantes do Programa de Apoio
93
Tecnológico à Exportação – PROGEX, ou que participaram de exposição na feira
internacional da Suframa realizada em 2004 (ANEXO 2).
A seleção dos entrevistados seguiu os seguintes critérios:
¾ Representantes das empresas respondentes do questionário de indicadores (Anexo 1);
¾ Técnicos do governo, especialistas e pesquisadores sem vínculo empregatício com as
empresas pesquisadas, envolvidos com atividades relevantes abordadas na pesquisa.
Para a orientação estratégica das empresas, alguns indicadores servem de referência: (a)
metas de inovação: produto novo ou melhorado, novos métodos de produção, novos
mercados, novo marketing ou método de venda, novos métodos de distribuição; (b)
sistemas organizacionais inovadores: novos métodos de organização, novos métodos de
gerenciamento; (c) apoio à fronteira inovadora: serviço novo ou melhorado, novos métodos
de financiamento, novas informações tecnológicas (KICKUL & GUNDRY, 2002, p.90).
Nenhum indicador isolado, todavia, consegue refletir a complexidade e amplitude da
atuação de uma instituição e, muito menos, de um sistema de inovação (SÁENZ, 2002, p.
432). Assim, foram selecionados diversos indicadores, no esforço de estabelecer um
espectro da capacitação tecnológica da fitoindústria, baseados no Manual de Bogotá,
Manual de Oslo e da Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC. Os indicadores foram
adaptados observando-se as características da fitoindústria, após consulta prévia e testes
com quatro empresas: Pronatus, Amazon Ervas, Pharmakos e Magama.
Para a coleta de dados das empresas, a maioria dos subgrupos de indicadores foi
subdividida em 2 colunas: A e B. A coluna A reflete a situação atual das empresas em
relação à atividade ou fator e a coluna B a provável situação futura, a fim de apresentar
indicativos da possível trajetória do nível de importância desses fatores para as empresas.
O questionário (Anexo 1) foi organizado por assunto com os seguintes subconjuntos de
indicadores: 1. identificação e características das empresas; 2. atividades inovadoras; 3.
fontes de informação e aprendizagem; 4. fatores que afetam a inovação; 5. estratégias para
a capacitação tecnológica e competitividade das empresas:
¾ Identificação e características das empresas: fatores de vantagens locacionais,
formação acadêmica e profissional dos dirigentes, nível de vendas, pessoal empregado,
94
empresas fabricantes de insumos e bens finais por origem do capital, insumos e bens
finais por segmento de mercado, empresas por segmento de mercado, matéria-prima da
floresta utilizada nos produtos;
¾ Atividades Inovadoras: modernização e gerenciamento do projeto, processo e
organização da produção; desenvolvimento do produto;
¾ Fontes de informação e de aprendizagem: internas e externas;
¾ Fatores que dificultam as atividades de inovação: pessoal, financiamento, infraestrutura de produção e P&D, cooperação, mercado de matéria-prima e produto final,
análises laboratoriais e outras restrições;
¾ Estratégias: para o aprendizado, capacitação tecnológica e competitividade da empresa.
O questionário contém 148 questões denominadas de fatores, admitindo 2 respostas
objetivas cada e mais 2 questões admitindo apenas respostas descritivas. As questões do
subitem 1.1 não admitiram a subdivisão em coluna A e coluna B. As questões do subitem
1.2 ao item 5, exceto para os subitens 2.3.1. e 2.3.2 que admitiram apenas respostas
descritivas, foram subdivididas em coluna A e coluna B.
Na coluna A do questionário, foram admitidas as respostas sim ou não e na coluna B uma
das respostas com base na escala Likert: 1- 4, onde: 1 - sem importância, 2 - regular, 3 importante e 4 - muito importante.
Os representantes das empresas responderam a perguntas adicionais, esclarecendo ou
fornecendo mais dados sobre o porquê das respostas assinaladas nos questionários de
indicadores (Anexo 1).
Para as entrevistas com técnicos do governo, especialistas e pesquisadores, foi adotada a
“abordagem de guia geral de entrevista” (PATTON, p. 342): conversação informal e
entrevista orientada e padronizada que define um conjunto de questões antes do início da
entrevista, exploradas com cada respondente (Anexo 2). Este guia serve para assegurar que
todos os tópicos mais relevantes sejam tratados. Os entrevistados responderam a questões
gerais entremeadas em três temas principais:
95
¾ Políticas públicas: Arranjos Produtivos Locais – APLs, atividades industriais e de
pesquisa que merecem apoio; fontes e recursos financeiros para investimento em
atividades de P&D; capacitação de pessoal e áreas prioritárias; legislação; incentivos.
¾ Infra-estrutura de P&D e serviços tecnológicos de apoio à fitoindústria: instituições de
P&D e laboratórios com suas respectivas atividades que poderiam auxiliar a
fitoindústria; especializações necessárias de pessoal para atividades de P&D e prestação
de serviços tecnológicos para a fitoindústria.
¾ Cadeia produtiva da fitoindústria: gargalos e outras dificuldades para a melhoria da
cadeia produtiva; tecnologia de plantio, manejo, armazenagem e transporte; tecnologia
de processo e produto; produção, qualidade e preço da matéria-prima; certificações
necessárias para as empresas; tipo de mão-de-obra especializada e necessária para as
empresas.
IV.3.2. Tratamento e apresentação dos dados
Os dados do questionário respondidos pelas empresas foram tratados no aplicativo Minitab
e excel. Para a tabulação dos dados: da coluna A foram consideradas as respostas “sim”; da
coluna B foram consideradas apenas as respostas de grau 3 - importante ou 4 - muito
importante. As respostas das entrevistas dos representantes das empresas e de técnicos do
governo, especialistas e pesquisadores foram organizadas por assunto nos editores de texto
word e open-office.
A análise dos dados do questionário de indicadores e das entrevistas busca ressaltar os
fatores considerados mais relevantes para a capacitação tecnológica e adoção de estratégias
das empresas, e para a definição de políticas públicas de apoio ao desenvolvimento do
setor.
Na primeira seção, os dados da pesquisa serão apresentados através de tabelas, gráficos e
figuras, indicando, quando possível, os principais fatores, que são baseados nas respectivas
freqüências assinaladas, organizados pelos assuntos abordados no questionário de
indicadores (ANEXO 1).
Na segunda seção, será apresentada em gráficos a trajetória dos principais fatores para a
fitoindústria e seus subsetores. Na terceira seção, será apresentada a trajetória em gráficos
96
dos fatores com maior variação de importância relativa para a fitoindústria e seus
subsetores. Na quarta seção, serão apresentadas as principais características das empresas
exportadoras. Na quinta seção, serão apresentadas figuras representativas dos níveis e
tendência da trajetória da capacitação tecnológica da fitoindústria e de seus subsetores.
IV.3.3. Empresas e entrevistados na pesquisa
Os dados da pesquisa, realizada entre fevereiro a setembro de 2004, foram obtidos das
seguintes fontes: (a) 16 empresas responderam ao questionário; (b) 15 representantes das
empresas foram entrevistados, adicionalmente, para comentarem as respostas do
questionário consideradas relevantes; e (c) 18 pessoas foram entrevistadas entre técnicos do
governo, especialistas e pesquisadores de diversas organizações, sem vínculo empregatício
com as empresas, com o objetivo de reunir maior riqueza possível de detalhes sobre temas
pertinentes às atividades da fitoindústria.
As empresas que não concordaram em participar da pesquisa, as que não responderam a
consultas feitas e aquelas que responderam o questionário de forma incompleta alegaram
serem sigilosos os dados e informações. Os dados que caracterizam as empresas
pesquisadas e subgrupos, Anexo 2, estão apresentados na tabela 15.
Tabela 5 - Características da fitoindústria e subsetores
Características
Bens
finais
Insumos
Alimentos
No de empresas
5
5
6
Capital estrangeiro
1
1
1
Empresas de grande
porte
-
-
1
Fitofármacos e
fitocosméticos
Extratos,
essências,
óleo e
sementes
Balas e doces; polpas
de fruta e concentrados
de bebidas não
alcoólicas
13< x <
40
5< x < 60
7< x < 56 – sem a
Recofarma
Subsetores
predominantes/
Segmentos industriais
Empregos diretos por
empresa
97
Ressalta-se que algumas empresas que fabricam produtos em mais de um dos três
subsetores foram classificadas no subsetor onde seus produtos apresentam maior
representatividade nas vendas.
A empresa Recofarma, coligada de um grande grupo transnacional e incluída no subsetor
de alimentos, produz extrato e concentrados de guaraná destinados a bebidas não
alcoólicas. Por ser de grande porte, não terá seus dados computados de compra, venda e
mão-de-obra com os dados das demais empresas. Entretanto, é importante considerá-la,
para análise qualitativa juntamente com as demais empresas pesquisadas, pelos diferentes
graus de capacitação tecnológica que apresentam.
98
V. RESULTADOS DA PESQUISA
Este capítulo está subdividido nas seguintes seções: 1. indicadores de capacitação
tecnológica; 2. ilustração gráfica da trajetória dos fatores de maior importância relativa para
a capacitação tecnológica; 3. ilustração gráfica da trajetória dos fatores de maior variação
em importância relativa; 4. características das empresas exportadoras; e 5. nível e trajetória
da capacitação tecnológica da fitoindústria e subsetores.
A importância atribuída a cada fator tem como referência as respostas assinaladas como
“sim” na coluna A e 3 - importante ou 4 - muito importante na coluna B do questionário de
indicadores (Anexo 1). Entretanto, na análise dos dados, em alguns casos são ressaltados
adicionalmente aspectos considerados relevantes e ilustrativos para os objetivos de ressaltar
a riqueza de detalhes, que não obtiveram maior freqüência nas respostas das empresas. Os
fatores considerados de maior importância e destacados nos gráficos são aqueles de maior
freqüência na coluna A que representa a situação atual.
Para o cálculo das freqüências da situação futura, coluna B, que são consideradas apenas as
respostas com nível de importância: 3 - importante e 4 - muito importante é possível que
não sejam as mesmas empresas que atribuíram ao fator maior freqüência para a situação
atual, coluna A. Uma empresa pode ter atribuído ao fator recombinação de DNA, por
exemplo, o nível 4 – muito importante para suas atividades futuras e ter respondido como
“não” emprega essa tecnologia, não tem acesso ou não necessita desse fator atualmente,
assinalado na coluna A.
99
V.1. INDICADORES DE CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA
Nesta seção estão apresentados os dados consolidados do conjunto total de empresas
pesquisadas – fitoindústria - em gráficos e tabelas, seguindo a ordem do questionário de
indicadores como descrito anteriormente na seção IV.2.2: 1. identificação e características
das empresas; 2. atividades inovadoras; 3. fontes de informação e aprendizagem; 4. fatores
que afetam a inovação; 5. estratégias para a capacitação tecnológica e competitividade das
empresas.
A maioria das tabelas está subdividida em coluna A e coluna B. A coluna A apresenta os
dados dos fatores e atividades hoje implementados, praticados ou acessados pelas
empresas. Para simplificar, daqui a diante os fatores e/ou atividades serão denominados
apenas de fatores.
Para as respostas dos indicadores da coluna B (a realizar-se em até 6 anos) foram
computadas apenas aquelas consideradas pelas empresas como 3 - importante e 4 - muito
importante, na escala de Likert, sendo desprezadas as respostas 1 - pouco importante e 2 –
regular. Onde H = número de empresas que responderam ao conjunto de indicadores de um
determinado assunto; n = número de empresas que responderam a um indicador específico;
f % = relação de n/H que indica a freqüência para um fator específico.
No conjunto de indicadores 1. identificação e características das empresas, são analisados
os seguintes fatores: origem e formação acadêmica dos principais dirigentes, empresas por
origem do capital e segmento de mercado, matéria-prima obtida da flora, fatores de
atratividades locacionais, mercado para matéria-prima de origem da flora e de bens finais,
e capacidade de geração de emprego.
No conjunto de indicadores 2. atividades inovadoras, são analisados os principais fatores
relacionados às seguintes questões: modernização organizacional e desenvolvimento de
processo e produto; P&D e atividades de biotecnologia.
No conjunto de indicadores 3. fontes internas de informação e aprendizado, são analisados
os principais fatores nas empresas e no ambiente externo que contribuem para o processo
de aprendizagem e de capacitação tecnológica.
100
No conjunto de indicadores 4. fatores que afetam a inovação, são analisados os principais
fatores que restringem e limitam o processo de aprendizagem e de capacitação tecnológica.
No conjunto de fatores 5. estratégias para a capacitação tecnológica e competitividade das
empresas, são analisados os fatores que já estão disponíveis ou poderão tornar-se para a
fitoindústria no horizonte de 6 anos, capazes de melhorar o aprendizado, elevar a
capacitação tecnológica e de competitividade.
V.1.1. Identificação e características das empresas
V.1.1.1. Origem e formação acadêmica dos principais dirigentes
A formação acadêmica dos principais dirigentes das empresas é predominante da área de
farmácia, incluindo daqueles que possuem a titulação de mestre. Os dirigentes com maior
titulação são proprietários da empresa e atuam no segmento de fitoterápicos. Os dirigentes
são originários da indústria, na maioria dos casos, e uma parcela menor é de origem da área
acadêmica, conforme os dados da tabela 6.
Tabela 6 - Formação acadêmica e profissional dos dirigentes (H=15)
Titulação (%)
Origem
Academia
Indústria
Outros
n
4
9
2
%
26
60
13
Área
de
formação
3o grau
Farmácia
33%
Química
20%
Agronomia 13%
Outros
34%
Mestre
20%
0%
0%
6%
As áreas de farmácia, química e agronomia representam juntas 66% da formação dos
principais dirigentes, sendo que alguns deles ainda possuem formação em outras áreas. O
restante dos dirigentes tem formação principalmente nas áreas de administração e em outras
áreas das engenharias. Para o subsetor de bens finais, apenas a área de farmácia representa
60% da formação acadêmica dos dirigentes. Alguns dos dirigentes possuem a titulação de
mestre, a maior alcançada por dirigentes das empresas.
V.1.1.2. Empresas por origem do capital e nível de acabamento do produto
O capital das empresas pesquisadas é predominantemente de origem local, sendo a outra
parte de origem estrangeira, conforme mostra a tabela 7, não havendo empresas com capital
101
de origem de outros Estados do país. Grande parte das empresas fabrica tanto bens finais
quanto insumos, sobretudo as de capital local.
Tabela 7 - Empresas fabricantes de insumos e bens finais por origem do capital (H=16)
Fatores
Insumos e bens finais
Insumos
Bens finais
Total
Capital
Local
05
03
05
13
Capital
estrangeiro
01
01
01
03
total
%
06
04
06
16
38%
25%
38%
100%
Alguns exemplos de insumos em fabricação ou que deverão ser fabricados com matériaprima da flora são: sementes in natura desidratadas, guaraná em pó, extratos e óleos
vegetais, substância orgânica isolada, frutas e partes comestíveis de plantas regionais,
preparados de substâncias odoríferas para alimentos e bebidas, e corante natural. Exemplos
de bens finais: encapsulados de ervas e de óleos medicinais, preparados de plantas
medicinais em pó, fitoterápicos na forma líquida, corante natural, creme para pele, loção,
xampu, sabonete etc.
Os dados da tabela seguinte mostram a distribuição de fabricantes por tipos de insumos
para aplicação em fármacos, cosméticos e alimentos. Na coluna A está registrado o que já
vem sendo fabricado pela fitoindústria e na coluna B os insumos que deverão apresentar
grau de relevância: 3 - importante e 4 - muito importante para as empresas da fitoindústria.
Tabela 8 - Insumos por segmento de mercado (H=16)
A
Extrato para alimentos
Essências para cosméticos
Extrato para fármacos
Óleo para cosméticos
Óleo para fármacos
Extrato para cosméticos
Óleo para alimentos
Semente
n
6
3
3
2
2
1
1
1
B
%
37
18
18
12
12
6
6
6
n
7
3
3
3
2
3
2
1
%
43
18
18
18
12
18
12
6
Há interesse de algumas empresas fabricantes de insumos ampliarem os tipos ofertados,
pela perspectiva de aumento da demanda pelos fabricantes de bens finais e de
comercialização para o mercado nacional e principalmente o internacional.
102
Os fabricantes de bens finais, dados apresentados na tabela 9 por segmentos de mercado,
poderão ser atendidos no futuro por uma rede de fornecedores de matéria-prima da flora.
Essa rede deverá ser constituída principalmente de microempresas artesanais e
comunidades de toda a região que começam a emergir de forma mais organizada, cuja
matéria também é abordada na seção II.4.2.3.
Tabela 9 - Bens finais por segmento de mercado (H=16)
Alimentos
Cosméticos
Fármacos
n
8
4
4
A
%
50%
25%
25%
n
8
4
4
B
%
50%
25%
25%
Não há indícios de que as empresas venham a migrar no futuro do seu principal subsetor
para outro, não obstante algumas de capital local e todas de capital estrangeiro
manifestaram a intenção de atuar, adicionalmente, em outro segmento de mercado.
A empresa Crodamazon, por exemplo, após consolidar seu mercado de produtos à base de
óleo para cosméticos, pretende ingressar na produção de insumos para o segmento
farmacêutico. Com esse objetivo já vem realizando pesquisas em laboratórios do grupo
para identificar bioativos que possam ser empregados no processo industrial. Da mesma
forma a empresa Hisamitsu, que hoje atua apenas no segmento farmacêutico, também
planeja diversificar sua linha de produtos e ingressar no segmento de cosméticos.
Empresas de capital local tais como Amazon Ervas, Pronatus, PRB e Agrorisa também
planejam diversificar e atuar em outros segmentos de mercado. Em alguns casos
desmembrando linhas de produção para criar novas plantas e em outros explorando nichos
de mercado que tendem a ser relevantes tais como os segmentos de nutracêutico e
cosmecêutico.
Essa dinâmica implica na demanda por mais e nova matéria-prima e fornecedores, e mãode-obra mais qualificada. Entretanto, novos mercados e concorrentes também deverão ser
considerados. Todavia, é incerto se essa diversificação, em detrimento da especialização,
terá o efeito positivo esperado pelas empresas.
103
V.1.1.3. Fatores de atratividade locacional para a empresa
A tabela 10 apresenta os principais fatores que atraíram ou motivaram a implantação das
empresas da fitoindústria no Amazonas e a relevância deles no futuro. Destaca-se que baixo
custo e proximidade com instituições de P&D não são fatores que tenham sido
considerados relevantes para a implantação de empresas.
Tabela 10 - Fatores de atratividade locacional (H = 16)
A
Fatores
Proximidade com a fonte de matéria-prima
Produtos de origem da “Amazônia”
Exploração do conhecimento tradicional
Incentivos fiscais
n
13
11
9
5
B
%
81%
68%
56%
31%
n
11
12
6
8
%
73%
80%
40%
50%
A proximidade das empresas, mesmo instaladas em Manaus-Am, com a fonte de matériaprima que está espalhada nas diversas localidades do estado, facilita o seu transporte para a
unidade fabril, o acesso e a parceria com as comunidades, que são potenciais fornecedores,
comparativamente a empresas que estão instaladas em regiões mais distantes. As empresas
têm percebido maior interesse do consumidor para seus produtos, principalmente o
estrangeiro, quando associados à origem da Amazônia.
A empresa Hisaimitsu - de capital estrangeiro - implantou-se em Manaus com a crença de
assegurar o fornecimento da borracha produzida com o látex da seringueira, pela tradição
da região. Porém, nenhum fornecedor dessa matéria-prima, por falta de qualidade, foi
homologado até agora. Ironicamente, a empresa importa a borracha da Tailândia, país da
Ásia para cuja região foram levadas e cultivadas espécies da seringueira da Amazônia.
O conhecimento tradicional sobre a aplicação de uma determinada espécie tem influenciado
as empresas, particularmente do segmento de fitoterápicos, na decisão de fabricarem certos
produtos. Pesquisadores, embora reconheçam a importância do conhecimento tradicional,
defendem a necessidade cada vez maior da comprovação científica das espécies para
utilização na indústria, principalmente após a recente regulamentação da lei de uso de
fitoterápicos.
As empresas acreditam que os incentivos fiscais, que ora já são oferecidos pelo projeto
Zona Franca de Manaus, deverão adquirir maior importância como fator de atração e
104
viabilidade financeira das empresas. Um exemplo de interesse crescente por produtos
naturais da Amazônia é a compra da Brasmazon do Pará pela empresa Beraca, exportadora
de São Paulo. Uma das estratégias previstas por empresas que pretendem se instalar na
Amazônia é o de estabelecer parcerias na forma de joint venture com empresas menores de
capital local.
V.1.1.4. Mercado
a) Bens finais e produtos da floresta
As 15 empresas micro, pequenas e de médio portes - não foi incluída a Recofarma que é de
grande porte - vendem aproximadamente R$ 19.5 milhões de reais por ano. As vendas
médias da fitoindústria para o mercado nacional nos últimos 5 anos foram de
aproximadamente 55%, 24% para o mercado local e de 21% para o mercado externo.
As vendas das empresas de bens finais passaram de cerca de R$ 3.4 milhões em 2000 para
aproximadamente R$ 8,5 milhões em 2004. Para o mercado nacional a média de vendas dos
últimos cinco anos tem sido de aproximadamente 69% e de 31% para o mercado local e
com vendas pontuais e pouco significativas para o exterior.
segmentos
de
fitofármacos
e
fitocosméticos
as
Considerando-se apenas os
vendas
têm
sido
maiores,
proporcionalmente, para o mercado local.
As vendas das empresas fabricantes de insumos caíram de cerca de R$ 5.5 milhões em
2000 para aproximadamente R$ 3.5 milhões em 2004, em valores nominais, face à
diminuição nas vendas da castanha-do-Brasil para o mercado externo. Mesmo assim, a
média de vendas nos últimos cinco anos desse subsetor tem sido maior para o exterior com
cerca de 43% do total, 37% para o mercado nacional e 20% para o mercado local.
As vendas das empresas do subsetor alimentos cresceram de aproximadamente R$ 1.1
milhão em 2000 para cerca de R$ 7.5 milhões em 2004. As vendas médias dos últimos
cinco anos foram em torno de 17% para o mercado local e de 83% para o mercado
nacional.O gráfico 1 apresenta o comportamento das vendas por subsetor19.
19
As fontes dos dados são a Suframa e as empresas pesquisadas: 15 micro, pequenas e médias empresas, não
sendo incluída a empresa Recofarma.
105
Gráfico 1 - Vendas por subsetor da fitoindústria
R$ 1.000,00
18.000
15.000
12.000
9.000
6.000
3.000
0
Anos
2000
2001
2002
B. finais
2003
2004*
Insumos
2006
Alimentos
* projeções com base nos dados acumulados no ano até outubro;
para o ano de 2006, os dados são baseados nas projeções das
empresas.
A venda das empresas do subsetor de insumos, apenas no segmento de óleo vegetal e
essencial, extratos de plantas e sementes, foi de cerca de R$ 550 mil em 2000 e de R$ 1.5
milhão em 2004, com crescimento relativo bastante expressivo, não sendo suficiente,
entretanto, para compensar a queda de venda da castanha. A distribuição das vendas das
empresas pesquisadas por região está apresentada no gráfico 2 (fonte: Suframa e empresas)
Gráfico 2 - Vendas da fitoindústria por região
80%
%
60%
40%
20%
0%
2000
2001
Vendas Locais
2002
2003
2004*
Anos
Vendas Nacionais
Vendas Exterior
* Projeções para o ano com base nos dados até outubro.
As dificuldades fito-sanitárias impostas por países da comunidade européia à castanha-doBrasil, que vinha apresentando elevados índices de contaminação por aflotoxina, conforme
os novos padrões de tolerância estabelecidos provocou a queda das vendas do subsetor de
106
insumos nos últimos anos. A expectativa das usinas20 que comercializam essa espécie é
reconquistar já a partir de 2005 o mercado externo perdido, invertendo a tendência de
queda nas vendas totais do subsetor de insumos, demonstrado no gráfico anterior, e
exportações conforme gráfico 3.
Gráfico 3 - Exportações da fitoindústria
R$ 1.000,00
8.000
6.000
4.000
2.000
0
2000
2001
2002
Com a castanha
2003 2004* 2006
Anos
Sem a castanha
* projeções com base nos dados acumulados no ano até o mês de
outubro; para o ano de 2006, os dados são baseados nas projeções das
empresas.
A castanha-do-Brasil vem sendo substituída no mercado europeu pela castanha procedente
da Bolívia, cujas usinas se modernizaram em tecnologia e têm cumprido as exigências fitosanitárias dos países daquele continente. Enquanto o Brasil vende atualmente
aproximadamente 4 t/ano e já vendeu quantidades bem superiores no passado, a Bolívia já
superou as 11 t/ano, sendo que grande parte da matéria-prima é de origem dos estados da
Amazônia brasileira.
Das 16 empresas pesquisadas, 4 exportam regularmente: 3 de insumos e outra no segmento
de alimentos. Entretanto, quase todas as empresas do segmento de fitoterápicos e
fitocosméticos, e algumas de insumos que hoje não exportam, já efetuaram exportações
eventuais no passado. A empresa Amazon Ervas, por exemplo, fabricante de fitoterápicos e
fitocosméticos, experimentou recentemente a venda para países da Ásia e Índia na
expectativa de manter regularidade nas exportações no futuro.
20
Existem duas Usinas em Manaus que beneficiam e exportam a castanha-do-Brasil, porém apenas uma
atendeu ao pedido para participar desta pesquisa.
107
b) Demanda e produção de matéria-prima da flora empregada na fitoindústria
As principais espécies utilizadas como matéria-prima pela fitondústria estão relacionadas,
pelo nome popular, na tabela 11. No entanto uma diversidade significativa de outras
espécies também é empregada e novas espécies deverão ser demandas no futuro.
Exemplos: guaraná, crajiru, urucum, pau rosa21, babaçu, murumuru, pupunha, tucumã, látex
da seringueira, sacaca, carapanaúba, muirapuama (mirantã), unha de gato, muiraruira, leite
de amapá e camucamu. Não significa dizer, entretanto, que são as espécies com maior
volume e sim as utilizadas por um maior número de empresas. Uma lista mais extensa de
espécies já empregadas e que poderão ser demandas no futuro constam do Anexo 5.
Tabela 11- Matéria-prima da flora amazônica (H=16)
A
Matéria-prima
Cupuaçu
Castanha-do-Brasil
Buriti
Copaíba
n
9
9
8
6
%
56%
56%
50%
37%
B
n
8
8
7
8
%
50%
50%
43%
50%
O subsetor de bens finais utiliza mais crajiru, copaíba, cupuaçu e andiroba; o de insumos
utiliza mais castanha-do-Brasil, cupuaçu, copaíba e guaraná; o de alimentos utiliza mais a
castanha-do-Brasil, buriti, cupuaçu, e guaraná.
À medida que novas tecnologias vão sendo incorporadas na cadeia produtiva, novas
espécies, ou de partes delas, que antes não detinham qualquer valor, passaram a ser
aproveitadas para a fabricação de diversos produtos, reduzindo os custos com a matériaprima. Por exemplo, do cupuaçu, passou a ser aproveitada a casca para compostagem e
fertilizante; do cupuaçu e maracujá agora são aproveitadas as sementes para a extração de
óleo que é empregado na fabricação de cosméticos.
A expressiva maioria das espécies da flora, como a castanha-do-Brasil e óleo de pau-rosa, é
vendida ainda em estado in natura, ou com pouco valor agregado, principalmente para o
exterior. Com o aperfeiçoamento da cadeia de produção, atividades de P&D e com a
adoção da bioprospecção deverão agregar mais valor. Porém, são ações cujos resultados de
maior impacto levarão algum tempo para ocorrer.
21
O linalol, substância do pau rosa e empregado na fabricação do perfume francês chanel no 5.
108
As fontes da matéria-prima da flora são principalmente as selvagens ou naturais: as plantas
medicinais e aromáticas para o segmento de fitoterápicos, o óleo vegetal e essencial para o
de fitocosméticos e os frutos para o de alimentos. No entanto o guaraná já é amplamente
produzido mediante plano de plantio, atendendo, principalmente, o segmento de alimentos.
A tendência é crescer o cultivo porque pode garantir o fornecimento, padronização,
identificação de espécies e elevado nível de manuseio pós-colheita.
V.1.1.5. Capacidade de geração de emprego
Apenas algumas empresas dispõem de dados históricos e organizados sobre a mão-de-obra
empregada. Entretanto, pelos dados fornecidos, estima-se que em 2004 a mão-de-obra com
curso superior tenha sido de 16% e em 2007 poderá alcançar os 21%.
O total de empregos diretos gerados pelas empresas pesquisadas é de cerca de 400 postos
de trabalho. Os dados consolidados de mão-de-obra das empresas pesquisadas por subsetor
estão apresentados no gráfico 4.
Gráfico 4 - Mão-de-obra direta
Quantidade
400
300
200
100
0
2004
B. Finais
2007*
Insumos
Anos
Alimentos
* Estimativa com base nos dados projetados pelas empresas.
Os empregos diretos gerados até o momento pelas empresas, gráfico 4, não têm sido tão
expressivos quanto à geração de empregos indiretos22 apresentados no gráfico 5, criados nas
áreas produtoras de matéria-prima. As empresas que mantêm cadastro, ou por informações
dos fornecedores envolvidos com a produção de matéria-prima estimam que são gerados
atualmente cerca de 7 mil empregos indiretos, principalmente nas comunidades
22
Os dados de mão-de-obra indireta são estimativas das empresas que mantêm relação com as comunidades
fornecedoras de matéria-prima.
109
tradicionais, podendo alcançar cerca de 9.5 mil em 2007. Não são analisados aqui o grau de
formalidade e a renda média gerada por esses empregos.
Gráfico 5 - Geração de empregos indiretos
Quantidade
8000
6000
4000
2000
0
2004
B. Finais
2007*
Insumos
Anos
Alimentos
* Estimativa com base nos dados projetados pelas empresas.
110
V.1.2. Atividades inovadoras
Nesta seção serão analisados os fatores de gerenciamento do projeto e modernização
organizacional da produção: processo e produto.
V.1.2.1. Modernização organizacional e gerenciamento do projeto
Será apresentado um conjunto de fatores relacionados à modernização organizacional e
gerenciamento do projeto, incluindo certificações necessárias que asseguram a qualidade e
o cumprimento da legislação com impacto nas atividades da fitoindústria.
A maioria das empresas tem know-how para construir planta básica para a fabricação dos
seus produtos. Elas também dispõem de um ou mais sistemas integrados e informatizados:
controle financeiro, controle contábil, folha de pessoal ou estoque, embora a maioria não
tenha todos esses sistemas integrados. Viabilizam também treinamento para seus
fornecedores, em especial para os de matéria-prima da flora, sobre manuseio e qualidade, e
dispõem ainda de flexibilidade para fabricar com exclusividade por encomenda. Os dados
estão apresentados na tabela 12.
Tabela 12 - Fatores e atividades de modernização organizacional (H=15)
A
Fatores e atividades
n
%
Construção de planta básica
15 100%
Sistemas informatizados: financeiro, folha 12 80%
de pessoal, estoque, seis sigma, etc
Viabilidade
de
treinamento
para 11 73%
fornecedores
Fabricação
com
exclusividade
por 10 66%
encomenda
Sistema de atendimento a cliente
7 46%
Kaizen, Just-in-time, kanban;
5 33%
Plano estratégico
3 20%
B
n
14
13
%
93%
86%
11
73%
9
60%
10
5
7
66%
33%
46%
Entretanto, apenas minoria adota atualmente técnicas mais modernas de gestão de estoque e
de fabricação, até porque a maioria fabrica em pequena escala. Embora indique crescimento
para o futuro, a prática de elaboração periódica de Plano Estratégico é adotada por poucas
empresas.
São necessárias várias certificações para que as empresas desempenhem suas atividades,
variando consoante o tipo e origem da matéria-prima empregada, segmentos de mercado
111
onde as empresas atuam e a natureza do produto que fabricam. As principais certificações
são emitidas ou são de responsabilidade dos Ministérios da Saúde, da Agricultura ou do
Meio Ambiente para delegação e fiscalização. Muitas vezes há dificuldades de
interpretação a qual Ministério compete deliberar sobre determinadas questões.
A tabela 13 mostra que as empresas consideram de elevada importância as certificações de
Boas Práticas de Fabricação, exigidas ou pelo Ministério da Saúde ou da Agricultura. A
certificação emitida pela ANVISA do Ministério da Saúde também é importante para um
número também significativo de empresas. Essas certificações são as mais procuradas pelas
empresas dos segmentos de fármacos e cosméticos. Os fabricantes de insumos têm mais
interesse pela certificação orgânica e de boas práticas de fabricação, enquanto o de
alimentos procura, principalmente, pela de boas práticas de fabricação.
As empresas, por força da legislação que foi regulamentada para a fabricação de
fitoterápicos, agora necessitam obter a certificação emitida pela ANVISA para espécies
ainda não validadas. Estima-se que as empresas devem gastar para obterem essa
certificação, entre R$ 200 mil a R$ 300 mil, cujos recursos são para elas bastante elevados.
Elas esperam que o governo assuma, pelo menos parcialmente, os custos de registro junto à
ANVISA.
Tabela 13 - Certificação para atestar a qualidade (H=15)
A
Tipo de certificação
Boas Práticas de Fabricação
ANVISA (Ministério da Saúde)
Ministério da Agricultura
Plano de Plantio e Manejo
Cadeia de custódia
Certificação ISO
Certificação Orgânica
FSC (Certificação Florestal)
“Selo verde da Amazônia”
n
9
7
5
1
2
1
1
1
0
%
60%
46%
33%
6%
13%
6%
6%
6%
0%
B
n
12
7
6
4
3
6
3
2
4
%
80%
46%
40%
26%
20%
40%
18%
12%
26%
As empresas que pretendem exportar devem levar em conta a legislação de cada país,
entretanto algumas certificações são aceitas internacionalmente como o Forest Stewardship
Council (FSC) e a adoção da cadeia de custódia que comprove as práticas sustentáveis em
todas as etapas da cadeia produtiva.
112
O “selo verde da Amazônia” deverá indicar que o produto é fabricado no Amazonas, tem
qualidade, cumpre requisitos sócio-ambientais, de segurança e sustentabilidade. Deverá
servir, também, de estratégia para limitar o uso da marca “Amazônia” por empresas que
não estão instaladas ou que não proporcionam qualquer tipo de contribuição à região.
O CBA pretende criar um selo de qualidade para os produtos de origem da biodiversidade
amazônica que incorpore esses atributos. Todavia, poucas empresas atribuíram significativa
importância e pretensão de adotar o “selo verde da Amazônia”. Algumas das alegações é
que outros selos ou certificações já são tradicionais e aceitos pelo mercado internacinal.
A Crodamazon está preparando-se para obter a rastreabilidade de seus produtos, que visa
identificar os métodos de uso da matéria-prima da floresta e o processo de industrialização
como requisitos para a comprovação do Plano de Cadeia de Custódia. Outras empresas
pretendem adotar a certificação P+L (produção mais limpa) que é um atestado de Boas
Práticas de Fabricação, recomendado pelas Nações Unidas.
A certificação ISO deverá representar maior procura no futuro, em especial a série 9.000 –
Sistema de Gestão da Qualidade e a 14.000 – Sistema de Gestão Ambiental e a NBR ISO/
IEC 17.025 - Requisitos Gerais para Competência de Laboratórios de Ensaios e Calibração,
pelos laboratórios que prestam serviços às empresas. Provavelmente pela natureza da
matéria-prima da flora, que utilizam a força de trabalho das comunidades, há indícios de
que deverão também buscar a SA 8000 (NBR 16001) - Responsabilidade Social.
Outras certificações também são importantes, dependendo da necessidade em particular de
cada uma das empresas. Dentre elas encontram-se a certificação FSC sobre o uso dos
recursos da floresta de padrão internacional; a certificação orgânica que é importante para
assegurar que não são empregados defensivos agrícolas; o plano de plantio e manejo das
espécies que melhoram a qualidade da matéria-prima, a cadeia de custódia que assegura as
boas práticas e sustentabilidade da cadeia produtiva.
Assim, o controle de qualidade das atividades das empresas e de seus produtos, na maioria
dos casos, é comprovado ou assegurado pelas certificações que possuem. Muitas delas
resultam das imposições da legislação ou pela pressão do mercado.
113
V.1.2.2. Produção: desenvolvimento de processo e produto
A maioria das empresas faz manutenção regular de máquinas e equipamentos. Parte
significativa delas faz cópia simples e adaptações das especificações técnicas de projetos
existentes desses bens de capital para atender necessidades específicas. Algumas empresas
desenvolvem projetos desses bens de capital, conforme dados da tabela 14.
Tabela 14 - Gestão de máquinas e equipamentos (H=15)
A
Atividades
Manutenção
de
máquinas
equipamentos
Cópia simples e adaptação
projetos existentes
Projeto e desenvolvimento
máquinas e equipamentos
e
de
de
B
n
%
n
%
13
86%
11 73%
10
66%
8
53%
4
26%
6
40%
A prática de copiar, adaptar e desenvolver projetos de máquinas e equipamentos pode ser
considerada de extrema relevância porque, em geral, é feita por fabricantes de insumos que
processam a matéria-prima da flora. 80% das empresas desse subsetor fazem cópia simples
e adaptação de projetos existentes e 40% desenvolvem novos projetos, devendo essa prática
ser mantidas nesses níveis no futuro.
Por exemplo, uma equipe de técnicos da empresa Crodamazon com a colaboração de uma
equipe do laboratório de sua coligada de São Paulo pesquisaram e desenvolveram um
equipamento de desodorização do óleo de cupuaçu, do maracujá e da castanha. Não foi
identificada pela empresa nenhuma experiência anterior e similar de desenvolvimento de
equipamentos para desodorização de produtos inteiramente naturais ou orgânicos.
Um equipamento originalmente empregado na produção de leite em pó, denominado de
spray dry, foi adaptado pela coligada da empresa PRB em Belém para produzir o açaí em
pó e seus derivados, passando a ser utilizado também na unidade de Manaus.
A empresa Agrorisa costuma adaptar equipamentos para processar o guaraná, assim como a
empresa Magama para outras espécies. Esta empresa para transformar a matéria-prima
adapta e projeta bens de capital após avaliar, também, técnicas baseadas no conhecimento
tradicional.
114
Os dados da tabela 15 mostram atividades das empresas para gerir o processo produtivo,
cabendo um destaque para o fator automação. Embora a maioria considere que o processo
produtivo seja automatizado, na verdade, o que se observa, em grande parte das empresas,
são operações simples semi-automatizadas, sendo o produto em fabricação conduzido
manualmente para outro equipamento. A condição de processo produtivo semiautomatizada decorre da baixa escala de produção e é mais característico de empresas de
capital local.
Tabela 15 - Gestão do processo produtivo (H=15)
A
Atividade
Melhoria de lay-out & otimização da produção
Formulações dos compostos para a fabricação dos
produtos
Planejamento de processo e controle da produção
Automação do processo produtivo
B
n
13
13
%
86%
86%
n
13
13
%
86%
86%
12
10
80%
66%
12
8
80%
53%
A tecnologia empregada no processo de transformação da matéria-prima pelas empresas é
considerada de domínio público, sem muita complexidade. São realizadas basicamente
algumas operações tais como a transformação física da matéria-prima in natura,
prensagem,
desodorização,
neutralização,
sanitização,
aditivação
de
compostos,
refrigeração e análises laboratoriais para o controle de qualidade. As técnicas empregadas,
por serem pouco complexas, não apresentam diferenças significativas entre os diferentes
subsetores da fitoindústria.
A maioria das empresas, conforme dados na tabela 16, faz pequenas modificações no
produto que já fabrica para adequar à produção ou mercado, realiza cópia de produtos
existentes no mercado e considera que desenvolve novos produtos sem similares no
mercado. 80% das empresas do segmento de bens finais afirmam que praticam esses três
fatores. Do subsetor de insumos, 80% afirmam que desenvolvem novos produtos sem
similares no mercado e 60% desenvolvem cópia de produtos. Do subsetor de alimentos,
60% afirmam que desenvolvem novos produtos sem similares o mercado.
115
Tabela 16 - Desenvolvimento de produto (H=15)
A
Atividades
Desenvolvimento de novos produtos sem
similares no mercado
Cópia de produtos existentes no mercado
Pequenas modificações no produto para
adequar à produção ou mercado
B
n % n %
11 73% 11 73%
7 46% 7 46%
7 46% 6 40%
V.1.2.3. Gestão das atividades inovadoras
As tecnologias empregadas pelas empresas são similares nos respectivos subsetores e até
entre subsetores para algumas atividades. Entretanto, a diversidade de espécies de flora,
empregadas como matéria-prima, apresenta diferenças físico-químicas e farmacológicas
particulares para os segmentos fitoterápicos e fitocosméticos, e de diversidade de sabores
dos frutos utilizados na fabricação de alimentos.
Várias empresas, principalmente dos segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos, iniciaram
suas atividades desenvolvendo produtos a partir do conhecimento tradicional que é ainda
bastante explorado.
Muitas atividades de processo que poderiam ser consideradas simples, a princípio, tornamse complexas quando implicam em manejar e beneficiar espécies da flora amazônica,
principalmente pelas limitadas publicações de pesquisa. No início do processo de secagem
da andiroba e a maneira de quebrá-la, para separar a amêndoa da casca, por exemplo, eram
consideradas atividades complexas até que essas técnicas foram dominadas e depois
passaram à condição de triviais.
De forma análoga, a habilidade para a formulação de compostos para fitoterápicos depende
de fatores tais como a prática, sensibilidade e criatividade, que são típicas do conhecimento
tácito acumulado pelo profissional responsável. A importância desse profissional como
selecionador de matéria-prima decorre, sobretudo, das características diferenciadas e
inexistência de parâmetros para a padronização da matéria-prima, associada à falta de um
controle técnico-científico realizado por profissionais como botânicos e afins.
A formulação de compostos para fitoterápicos, combinando espécies de flora amazônica,
baseada no conhecimento tradicional, com espécies já consagradas cientificamente, tem
116
sido uma prática comum nesse segmento, além da combinação de espécies apenas
regionais. As empresas do subsetor de alimentos, no segmento de concentrados de bebidas
não alcoólicas, baseiam-se, sobretudo, nas propriedades naturais que asseguram a qualidade
da matéria-prima produzida na região. Os fabricantes de balas, chocolates e polpa de frutas
baseiam-se na popularidade e diversidade de sabores dos frutos, muitos deles ainda pouco
conhecidos, mesmo pela maior parte da população local.
A seguir, serão apresentados alguns exemplos das atividades inovadoras tanto no processo
de fabricação quanto no produto e outros exemplos que envolvem material, design de
embalagens, mercado e pesquisa.
O conhecimento tradicional, além de sua contribuição na identificação de espécies
aplicadas na fabricação de certos produtos, tem contribuído para a melhoria de processos
produtivos em atividades que envolvem a transformação das espécies. A empresa Agrorisa
substituiu a técnica que tinha adotado para torrar o guaraná e obter o extrato por outra
resgatada da prática antiga dos índios de torrá-lo em forno de barro, passando assim a ser
reconhecida por esse diferencial de mercado.
O resultado da adoção dessa técnica são as características diferenciadas do extrato obtido
nas propriedades como a cafeína, aroma e sabor. A empresa disseminou essa tecnologia a
todas as comunidades indígenas “saterê maués” que já haviam perdido essa tradição, com
as quais mantém cooperação, valorizando sua imagem junto aos clientes no mercado
externo por usar tecnologia e tradição indígenas. É provável que esse tipo de integração de
um conhecimento tradicional associado à exploração mercadológica venha a ser cada vez
mais valorizada no futuro.
Um produto na linha de cosméticos, fabricado pela empresa Essencial, denominado de
“poupourri amazônico” para aromatizar o ambiente, utiliza material apanhado da floresta:
casca de árvores, sementes, raízes e casca de frutos, também denominado de “apanhado”.
Foi desenvolvido um processo de tratamento que estabiliza e fixa a fragrância característica
dessa mistura. A embalagem desse produto é igualmente fabricada com resíduos da
floresta, assim como as embalagens que servem às empresas Bombons Finos e Oiran
fabricante de balas e chocolates.
117
A empresa Crodamazon desenvolveu nova tecnologia a partir de um tipo de óleo para
cosméticos que já produz, resultando em outro produto que pode ser solúvel em água.
A empresa Pharmakos desenvolveu pesquisa com a espécie crajiru – não possui o óleo
essencial e, portanto, não apresenta cheiro - baseada no conhecimento tradicional,
comprovando a existência de um princípio ativo antiinflamatório e cicatrizante, resultando
na fabricação de um produto ginecológico que já vem sendo comercializado, mas que
necessita de registro na ANVISA para se adequar à Lei que regulamentou a fabricação de
fitoterápicos.
Um produto à base do jambú para higiene bucal foi desenvolvido pela empresa PRB, que
está negociando a transferência de tecnologia para empresas do setor produtivo. Nas
pesquisas desenvolvidas foram comprovadas que o jambú apresenta potencial para
aplicação em diversos produtos de saúde.
A mesma empresa desenvolveu um outro produto denominado de “bebida sabor café”
empregando o açaí como matéria-prima, que demorou 5 anos para ser desenvolvido. Um
dos fundadores da empresa, ao realizar pesquisa com essa espécie como pesquisador do
INPA, descobriu que um de seus derivados apresentava um cheiro similar ao cheiro do
café, porém sendo 100% orgânico, com cheiro, cor, textura e aparência do café torrado,
mas que não contém a cafeína. Esse produto contém fibras e algumas substâncias que
contribuem para combater o colesterol e toxinas, comprovadas em pesquisas da UFPA e do
INPA.
No projeto para combater a aflotoxina que contamina a castanha-do-Brasil, coordenado
pela UFAM, o hectolitro que era comercializado para o mercado internacional a R$ 12,00
no início da safra 2001/2002, com a introdução de técnicas de estocagem, no final da safra
era vendido a R$ 35,00. Ressalta-se que a usina Ib Sabbá perdeu parte do seu mercado de
castanha para as usinas bolivianas porque não se adequou com pesquisa e tecnologia às
novas barreiras fito-sanitárias impostas pelos países europeus.
As empresas de capital estrangeiro dispõem de melhor infra-estrutura interna de
laboratórios e pessoal qualificado para desenvolverem atividades de P&D do que as de
capital local. As melhores condições para o desenvolvimento dessas atividades são
118
encontradas, principalmente, nos laboratórios de suas coligadas ou matrizes no exterior.
Elas demonstram maior interesse em obter patentes do que as empresas de capital local.
Apenas mais recentemente as empresas de capital local têm manifestado maior
preocupação com a obtenção de patente. Porém, o principal interesse tem recaído sobre o
registro da marca, embora reconheçam a importância e necessidade de patentearem as
pesquisas e produtos que desenvolvem.
É o caso da empresa PRB que depositou pedido de patenteamento para a marca e produto
da “bebida sabor café”, com o auxílio do escritório da Fucapi. Mesmo caminho poderá ser
seguido por outras empresas como a Pronatus, Essencial e Amazon Ervas que possuem
apenas a patente da marca, mas que pretendem da mesma forma patentear suas pesquisas e
produtos.
Pesquisas feitas pela Crodamazon nos laboratórios do grupo, inicialmente em Campinas e a
parte mais complexa em laboratórios da Europa, comprovaram a função cicatrizante do
óleo produzido com algumas espécies da Amazônia.
Uma pesquisa realizada com o óleo do cupuaçu pela empresa mostrou que essa espécie
pode ser utilizada como aditivo em produtos farmacêuticos. Está em curso uma pesquisa
com o óleo da castanha-do-Brasil que indica ser de qualidade especial para aplicação em
cosméticos. A matriz encarrega-se de providenciar as patentes para pesquisas como essas.
V.1.2.4 Atividades de P&D na área de biotecnologia
A comprovação científica do conhecimento tradicional e procedimentos de screnning,
conforme dados da tabela 17, são as atividades relacionadas à biotecnologia que algumas
empresas consideram como as mais relevantes para o desenvolvimento de novos produtos.
O interesse para a comprovação científica do conhecimento tradicional é ainda maior por
parte dos pesquisadores das instituições locais de pesquisa que lidam com as espécies.
119
Tabela 17 - Atividades de biotecnologia (H=12)
A
Atividades
Comprovação científica do
conhecimento tradicional
Procedimentos de screening
Combinações genéticas
Recombinação de DNA
Fermentação
Descoberta do código genético
B
n
5
%
41%
n
7
%
58%
4
2
1
1
0
33%
16%
8%
8%
0%
6
4
4
1
3
50%
33%
33%
8%
25%
Embora sejam os fatores mais relevantes para os fabricantes de bens finais, particularmente
no segmento de fitoterápicos, as atividades da moderna biotecnologia deverão ganhar
importância no futuro com técnicas como a recombinação de DNA.
Combinar o método científico com o conhecimento popular, entretanto, tem sido uma das
atividades de pesquisa preferidas de pesquisadores que lidam com recursos da flora,
método denominado de triangulação. Combinar várias plantas unindo o conhecimento
popular com o conhecimento científico, para a fabricação de um fitoterápico, segue a
mesma lógica da produção de um alopático, que combina várias substâncias com ações
diferentes.
Um exemplo da prática desse método é a combinação de uma planta usada pelo
conhecimento popular, para combater a sinusite, por exemplo, com uma outra planta
validada pelo conhecimento científico que contém óleos essenciais antiinflamatórios. A
combinação das duas plantas para a obtenção de um composto pode ter ação mais eficaz do
que apenas a utilização de uma única planta utilizada pela medicina popular.
O composto de um fitoterápico que projetou a Amazon Ervas no mercado, no início de suas
operações, é uma mistura de copaíba, de flora amazônica, que possui propriedades
antiinflamatórias e cicatrizantes, já popularizada pelo conhecimento tradicional,
complementada com o eucalipto e a própolis, espécies já consagrada de outras regiões. A
empresa está empenhada em registrá-lo como fitoterápico na ANVISA.
Para melhorar a qualidade da matéria-prima e, por conseguinte do produto, as empresas
consideram ser fundamental a melhoria genética das espécies da flora. Novas técnicas de
plantio e manejo podem ser desenvolvidas com o auxílio da biotecnologia moderna a partir,
120
por exemplo, do mapeamento do genoma ou mesmo do proteoma das espécies, facilitando
assim a adoção de políticas adequadas.
A pesquisa para a melhoria genética das espécies pode tornar-se mais fácil, considerando-se
que grande parte delas já é utilizada ou testada pela população para a cura de doenças, no
consumo como alimento, ou mesmo como cosmético. O camucamu, tucumã e buriti, são
algumas das espécies amplamente utilizadas em produtos desses segmentos.
V.1.3. Fontes de informação e aprendizagem
V.1.3.1. Fontes internas
Das fontes internas, o treinamento é considerado pelas empresas como o principal meio de
aprendizado até hoje. Porém, tanto o treinamento, quanto fatores como as atividades de
P&D e pessoal qualificado deverão apresentar praticamente o mesmo nível de importância
futuramente, com base nos dados apresentados na tabela 18.
Tabela 18 - Fontes internas de informação e aprendizagem (H=15)
A
Fatores
Treinamento
Pessoal qualificado
Atividades de P&D
n
12
10
9
B
%
80%
66%
60%
n
10
9
9
%
66%
60%
60%
Um funcionário treinado, por exemplo, que desempenhe suas atividades na área de
produção, ao deixar a empresa leva com ele o conhecimento tácito acumulado. Descascar
um tucumã ou selecionar a matéria-prima de qualidade são conhecimentos que muitas
vezes são adquiridos apenas com a experiência.
Pela falta de padronização regulamentada das espécies, é exigido do selecionador um
aprimorado conhecimento tácito. A experiência para selecionar a matéria-prima da flora, na
maioria dos casos, é considerada de extrema importância. Exemplo, pela cor da copaíba se
sabe que ela pode ter aplicação para um determinado tipo de produto: fitoterápico ou
fitocosmético. Um lote mal selecionado de matéria-prima compromete, inevitavelmente, a
qualidade do produto final.
121
Adicionar os compostos exige treinamento específico e tempo para acumular experiência
de como seguir corretamente os procedimentos estabelecidos, pois qualquer alteração nas
especificações pode comprometer um lote inteiro do produto fabricado.
Para desenvolver atividades de P&D, há uma pré-disposição das empresas, compelidas pela
legislação que trata do uso de recursos naturais e pela necessidade de colocar no mercado
melhores produtos, contratarem pessoal mais qualificado. Todavia, muitas dessas atividades
de que necessitam, mesmo em pequena escala, são desempenhadas por profissionais e
instituições de outras regiões do país mais desenvolvidas como São Paulo.
v.1.3.2 Fontes externas
As análises laboratoriais são as mais variadas, sendo que as microbiológicas, físico-química
e testes pré-clínicos são consideradas as mais importantes para a fitoindústria, cujos dados
apresentados na tabela 19. As análises químicas, analíticas, toxicológica e farmacológicas
são fundamentais para o segmento de fitoterápicos. Parte dessas análises é realizada nos
laboratórios das empresas ou de laboratórios subcontratados principalmente da região
Sudeste. Um dos motivos da variedade de análises deve-se à elevada diversidade de novas
matérias-primas testadas.
Tabela 19 - Controle de qualidade (H=15)
A
Atividades
Análise microbiológica
Análise físico-química
Teste pré-clinico e clínico
n
14
13
4
B
%
93%
86%
26%
n
13
13
7
%
86%
86%
46%
Não apenas para o controle de qualidade do processo produtivo essas análises são
realizadas, mas também para atividades de desenvolvimento de novos produtos resultantes
de atividades de P&D. Na maioria dos casos, entretanto, são necessárias análises
laboratoriais que a maioria das empresas não tem condições de realizá-las internamente,
transferindo essas atividades para laboratórios locais subcontratados e principalmente para
laboratórios de outros estados. Além de serem laboratórios mais avançados, as análises
realizadas em São Paulo, por exemplo, como conseqüência do elevado volume, tornam os
custos mais baixos do que as realizadas localmente.
122
As análises nos laboratórios locais em Manaus-Am, pelo que foi constatado, podem ser
feitas em um dos 5 laboratórios, dos quais apenas um pertence a uma organização pública.
Os laboratórios hoje implantados estão buscando criar infra-estrutura para realizar análises
que possam atender a demanda das empresas. Esses laboratórios são: Costa Curta,
Microlab, CQLAB, Água Pura e Nutricon. Uma série de análises, testes e ensaios químicos,
fisísico-químicos e microbiológicos já podem ser realizados por esses laboratórios.
Alguns laboratórios já realizam e outros estão se preparando para adquirir equipamentos
que possam realizar análise de agrotóxicos, metais pesados e para todas as análises
químicas exigidas pela ANVISA e Ministério da Agricultura. Um deles já obteve o
certificado da Reblas, órgão que credencia laboratórios, e está se preparando para se
certificar pela ISO 17.025 junto ao INMETRO, órgão reconhecido internacionalmente
como laboratório que regula as Boas Práticas de Fabricação no país.
Alguns desses laboratórios podem realizar análise físico-química e microbiológica e
capacitar pessoal dos laboratórios das empresas do setor produtivo. Podem executar várias
das análises de um laboratório credenciado, como informativo e consulta, porém sem a
mesma validade ainda. Um deles dispõe de capacidade para desenvolver Análise de Perigos
e Pontos Críticos de Controle (APPCC), além do que é exigido para as empresas obterem a
certificação de boas práticas de fabricação.
Os dados da tabela 20 mostram que conferências, publicações especializadas, feiras e
exposições, fornecedores e consumidores, incluindo os parceiros comerciais, e aquisição de
máquinas e equipamentos mais modernos são outras das principais fontes externas de
aprendizado da fitoindústria.
123
Tabela 20 - Fontes externas diversas de informação e de aprendizagem (H=15)
A
Fontes
Conferências, publicações especializadas,
feiras, exposições
Clientes e consumidores
Aquisição de máquinas e equipamentos
Conhecimento tradicional
Cooperação com Institutos de P&D
e consultores de locais
Cooperação com comunidades tradicionais
Concorrentes
Cooperação com Institutos de P&D,
e consultores de fora
Cooperação com empresas de fora
Redes de informações
Cooperação com empresas locais
Aquisição de tecnologia: licenças, patentes
e “know how”
B
n
12
%
80%
n
10
%
66%
11
10
10
9
73%
66%
66%
60%
11
11
7
11
73%
73%
46%
73%
8
8
7
53%
53%
46%
7
6
7
46%
40%
46%
6
5
5
3
40%
33%
33%
20%
6
7
5
3
40%
46%
33%
20%
Destaca-se que algumas das empresas, mesmo de capital local, têm como prática a
participação em feiras e exposições em outros países, investimentos em máquinas e
equipamentos mais modernos, melhor aproveitamento dos recursos, elevar a produtividade
e fabricar produtos de melhor qualidade.
Além das análises laboratoriais, ressalta-se que para as empresas do segmento de bens
finais consideram os clientes e consumidores, concorrentes e o conhecimento tradicional
como algumas das principais fontes de aprendizagem. Para as análises do segmento de
insumos são a cooperação com comunidades tradicionais, com institutos de P&D e
consultores locais. Para as do segmento de alimentos, a aquisição de máquinas e
equipamentos e clientes e consumidores.
O conhecimento tradicional tem sido considerado como uma das principais fontes de
aprendizagem até agora e auxiliado na escolha de produtos a serem fabricados, bem como
de atividades de P&D a serem desenvolvidas, principalmente para a comprovação científica
dos princípios ativos.
Por exemplo, na área farmacêutica a copaíba é considerada um antibiótico que tem
aplicações antiinflamatórias e cicatrizantes; o muirapuama é uma planta com características
124
do viagra; e o leite de amapá é aplicado no combate a doenças respiratórias. Essas espécies
têm sido empregadas na fabricação de fitoterápicos para combater diversos tipos de doença,
porém todas necessitam de comprovação científica.
Várias fórmulas têm sido criadas por pesquisadores na região, principalmente para
fitoterápicos, a partir da expressão verbal dos habitantes das diversas comunidades que
vivem nos municípios do interior do estado. A maioria dos pesquisadores que trabalha com
produtos naturais faz apenas os relatos desse conhecimento. Mesmo em publicações em
periódicos científicos, os pesquisadores apenas descrevem como as populações empregam
as espécies para combater certas doenças.
A identificação de um princípio ativo de uma planta de outra região, com função
cicatrizante, por exemplo, tem servido de base e agilizado a formulação de compostos com
plantas da Amazônia, que são utilizadas com a mesma finalidade, mas que dispõem apenas
do conhecimento popular sem a comprovação científica.
Um exemplo de aprendizado com o saber tradicional é a técnica de extração de óleo
vegetal, onde um dos principais segredos tecnológicos está na experiência e prática de
secagem, que varia de espécie para espécie, dominada por algumas comunidades.
Complementarmente, o método mais simples e comum da extração é feito por prensagem,
ou quebra da casca, cuja técnica começa a ser ensinada às comunidades através de projetos
desenvolvidos pela Agência de Floresta do governo do estado, que está associando o saber
popular com outras técnicas científicas.
Contrariamente à perspectiva de diminuição da importância futura do conhecimento
tradicional, como fonte de aprendizagem para o desenvolvimento de produto, a cooperação
com institutos de P&D deverá exercer um papel de maior relevância. Uma das principais
razões da busca por cooperação com os institutos de P&D é atribuída às atividades de P&D
que o CBA deverá desenvolver.
Entretanto, o aprendizado adquirido até agora na cooperação com os institutos de P&D
locais refere-se principalmente às análises laboratoriais que as empresas necessitam realizar
com freqüência. O objetivo é comprovar as boas práticas de fabricação, atestar a qualidade
do produto, ou mesmo obterem a certificação de que precisam, e muito pouco para o
desenvolvimento de P&D. Ademais, a relação da empresa com a instituição de P&D é na
125
maioria dos casos informal e decorrente do relacionamento particular do dirigente da
empresa com o pesquisador.
O aprendizado através das redes de informações embora indique crescimento no futuro,
hoje é uma fonte para um pequeno número de empresas. As empresas não praticam e
aprendem com a aquisição de tecnologia: licenças, patentes e know how.
V.1.4. Fatores que afetam as atividades inovadoras
V.1.4.1. Escassez de pessoal qualificado
A maior carência de pessoal qualificado da fitoindústria é para a produção, de acordo com
os dados da tabela 21. Todavia, embora ainda em níveis elevados, esse fator tende a ser
menos restritivo no futuro, situando-se mais ou menos no mesmo nível da necessidade de
pessoal para a realização de P&D, formulação de compostos dos produtos da empresa e
para registro de patentes.
Tabela 21 - Necessidade de pessoal qualificado por tipo de atividade (H=15)
A
Fatores
Produção
P&D
Formulação dos compostos dos
Produtos da empresa
Registro de patentes
B
n
10
8
7
%
66%
53%
46%
n
8
8
7
%
53%
53%
46%
6
40%
7
46%
A região ainda não dispõe de pessoal qualificado tais como botânicos em quantidade
suficiente para desempenhar certas atividades na cadeia produtiva da fitoindústria,
relacionadas à exploração dos recursos da flora, tampouco as instituições de P&D
disponibilizam seus pesquisadores para desempenharem tarefas que apóiem a atividade
industrial. A maioria das empresas, pela pequena escala de produção, ainda não demanda
muitos profissionais mais qualificados, por representarem para elas elevado custo.
Destaca-se que a necessidade de pessoal para registro de patentes, foi manifestada
principalmente pelas empresas do segmento de alimentos. Mesmo necessitando contratar
mão-de-obra mais especializada, parte das fiotoempresas prefere capacitar pessoal
internamente pelo receio de que algumas competências possam ser copiadas pelos
concorrentes.
126
v.1.4.2. Limitações de infra-estrutura física
As limitações de infra-estrutura dizem respeito a instalações prediais e de máquinas e
equipamentos, apresentadas na tabela 22, em geral para realizar as atividades produtivas e
de P&D para a obtenção de insumos de qualidade. A maior necessidade desses fatores foi
manifestada pelas empresas fabricantes de bens finais: fármacos e cosméticos.
Tabela 22 - Dificuldades de infra-estrutura de P&D e produção (H=15)
A
Atividades
Produção
P&D
n
6
5
B
%
40%
33%
n
6
5
%
40%
33%
Um dos dilemas das empresas atualmente é o montante que devem investir na criação de
infra-estrutura física própria de laboratório e contratar pessoal qualificado para
desempenhar algumas atividades internas de P&D, registrar patentes e formular compostos
para seus produtos.
Embora necessitem de modernos equipamentos para a produção, atividades laboratoriais,
de P&D e de pessoal qualificado, as empresas têm dificuldades orçamentárias. Uma outra
razão igualmente importante é a perspectiva de fortalecimento institucional local para
atividades de P&D e de serviços tecnológicos por elas demandados, que poderão ser
atendidos quando o CBA estiver plenamente implantado.
V.1.4.3. Escassez de fontes de financiamento
Cerca de 53% das empresas têm preferido o auto-financiamento para suas atividades
operacionais e de P&D, por entenderem que é inadequado atualmente o financiamento de
terceiros, face aos elevados encargos financeiros, além das dificuldades burocráticas que
em geral são impostas às empresas de pequeno porte. Todavia cerca de 60% das empresas
acreditam que necessitarão futuramente de financiamento de terceiros e que essa questão
merece ser melhor tratada pelas instituições de fomento.
Algumas das principais necessidades de financiamento são para investimento em
instalações fabris, máquinas e equipamento da produção, atividades laboratoriais e de P&D,
treinamento e melhoria da qualidade da matéria-prima. As empresas de capital local têm
destinado seus investimentos principalmente para ampliar a capacidade de produção e
127
modernizar o processo produtivo, porém são pouco significativos os investimentos em
pesquisa.
Em geral quem detém o conhecimento não dispõe de recursos financeiros para transformálo em produto. Por outro lado, as empresas de capital local da fitoindústria não dispõem de
recursos para remunerar tanto o pesquisador quanto a instituição de pesquisa, o que
permitiria a transferência desse conhecimento para o setor produtivo.
As empresas de capital estrangeiro, ao contrário, dispõem de recursos próprios, tanto para
investir em modernos equipamentos destinados ao processo produtivo como o acesso à
infra-estrutura moderna de laboratórios em suas matrizes ou coligadas, principalmente no
exterior.
O capital de risco de investidor privado, que tem sido um dos principais instrumentos nos
países desenvolvidos para financiar empresas de base tecnológica ainda não parece ser para
as empresas uma importante fonte de financiamento.
No entanto, outros tipos de financiamento começam a emergir. A análise de toxologia e
farmacologia, que hoje é realizada no Nordeste para as empresas e instituições de P&D
locais, estão sendo experimentadas com três espécies da região, financiadas com recursos
da FINEP para o acúmulo de competência local.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) criou um fundo
para participar do Programa de Apoio à Pequena Empresa (PAP) da FINEP. Essa Fundação
disponibilizou, inicialmente, R$ 2 milhões e o MCT mais R$ 2 milhões, totalizando R$ 4
milhões para financiar pequenas empresas de base tecnológica sem a obrigação de
ressarcimento.
O valor máximo desse tipo de financiamento é de até R$ 200 mil, sendo R$ 50.000 para
estudos de viabilidade econômica. Na primeira concorrência, foram apresentados pelas
empresas locais em torno de 130 projetos, cuja maioria não poderá ser atendida, face aos
limitados recursos disponíveis, mas é um demonstrativo do interesse das pequenas
empresas produtivas pela pesquisa, seno que parte delas emprega recursos naturais.
Há a expectativa da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas - SECT de
que com a lei de inovação poderá, também, estimular pesquisadores a iniciativas
128
empresariais criarem empresas de base tecnológica de interesse regional. A SECT está
aguardando, também, a definição do MCT para implantar o programa CRIATEC, que é um
fundo para financiar projetos de pesquisa hoje guardados nas prateleiras das universidades
com potencial de criar empresas de base tecnológica.
O projeto Proteoma (genoma da proteína), que deverá beneficiar a bioindústria, está sendo
criado também em Manaus e deverá dispor de recursos de R$ 400 mil da SECT e de R$
200 mil do MCT. A rede Proteoma Nacional do MCT trabalha com a seguinte estrutura: os
laboratórios centrais, que oferecem melhores condições de pesquisa, os laboratórios
associados e os laboratórios de usuários. O Amazonas dispõe de 3 laboratórios associados e
3 usuários. Essas iniciativas indicam importantes perspectivas para a disponibilidade de
fundos que financiem atividades de pesquisa da fitoindústria.
V.1.4.4. Pouca cooperação para o aprendizado e capacitação tecnológica
As empresas consideram a cooperação com institutos de P&D locais uma de suas principais
fontes de aprendizagem e de capacitação tecnológica e também como uma de suas
principais dificuldades, de acordo com os dados da tabela 23. A pouca interação das
empresas com os institutos de P&D contribui para o lento desenvolvimento da fitoindústria.
Para o subsetor de bens finais, esse fator representa a maior fragilidade comparando com os
tipos de cooperação.
Tabela 23 - Dificuldades de cooperação com institutos de P&D e empresas (H=15)
A
Instituições e empresas
Institutos de P&D locais
Comunidades tradicionais
Empresas locais
n
10
5
5
B
%
66%
33%
33%
n
9
4
3
%
60%
26%
20%
As principais instituições locais com quem as empresas podem cooperar são o INPA,
UFAM e EMBRAPA que dispõem de infra-estrutura de laboratório e pessoal qualificado
para a realização de atividades de pesquisa com os recursos da flora amazônica. No entanto,
na percepção das empresas, essas instituições não foram concebidas e readequadas para
desenvolverem projetos de pesquisa em cooperação com o setor produtivo.
Há um claro distanciamento entre as empresas e as instituições locais e regionais de P&D.
O Instituto Emílio Goeldi de Belém-PA, por exemplo, que tem longa tradição de pesquisas
129
com recursos da biodiversidade amazônica, também não mantém qualquer interação com as
empresas pesquisadas.
A expectativa é a de que a plena implantação do CBA deverá fortalecer a infra-estrutura
institucional, facilitando a aproximação com as instituições de P&D da Amazônia para o
apoio à pesquisa e à prestação de serviços tecnológicos às empresas, incluindo outras
instituições da Amazônia.
O CBA é considerado um projeto brasileiro para a Amazônia e seu principal papel será o
de coordenar uma rede de laboratórios associados, de caráter público e privado, de
pesquisadores, institutos, fornecedores e empresas, integrando o conhecimento científico e
tecnológico ao setor produtivo.
As empresas que empregam os recursos naturais deverão ser inicialmente o alvo principal
do CBA para a prestação de serviços, a fim de que alcancem um salto tecnológico. Serão
prestados serviços na área laboratorial começando com análises de toxologia, cujo
laboratório será o primeiro da Amazônia.
A pouca cooperação entre as empresas com as comunidades produtoras de matéria-prima,
particularmente as tradicionais, representa uma barreira ao aprendizado e desenvolvimento
tecnológico principalmente às técnicas de plantio e manejo, de processamento das espécies,
de melhoria de qualidade, produção e regularidade no fornecimento da matéria-prima.
Embora seja uma minoria de empresas que considere uma barreira a cooperação com outras
empresas, percebe-se que pelo distanciamento entre elas, por razões diversas, a maioria não
considera relevantes as atividades que possam ser implementadas conjuntamente.
A maior limitação para a cooperação entre as empresas é a que trata em especial do uso de
recursos compartilhados para a atividade produtiva. Uma das razões é o receio de que
alguns segredos industriais possam ser copiados, caracterizando a falta de confiança.
Atividades consideradas importantes, como os projetos de P&D, poderiam ser executadas
conjuntamente.
A caracterização das matérias-primas, que é extremamente importante para todas as
empresas, requer a organização de um banco de dados em cooperação com os institutos de
P&D locais. A aquisição de máquinas e equipamentos, a garantia e obtenção de
130
financiamento se tornariam mais fáceis desde que fossem realizados em consórcio pelas
empresas, que poderiam, da mesma maneira, compartilhar a utilização da capacidade
instalada e explorar nichos de mercado como a fabricação de fitoterápicos ou mesmo de
genéricos por demanda do governo.
Algumas empresas, todavia, não descartam possíveis parcerias com outras empresas que
não integram a fitoindústria, na forma de joint venture, e disponham de competência em
algum campo específico, como o de dominar tecnologias mais avançadas para o
desenvolvimento de projetos de P&D com o objetivo de acessarem novos mercados.
V.1.4.5. Barreiras ao acesso à matéria-prima da flora
São basicamente três caminhos explorados pelas empresas para a aquisição da matériaprima da flora: a) a compra no mercado livre sem a identificação de procedência; b)
parceria para o fornecimento com as comunidades tradicionais; e c) cultivo próprio. O
principal deles, utilizado pelas empresas, tem sido através do mercado livre por algumas
das seguintes razões:
A primeira é a fragilidade de organização dos fornecedores de matéria-prima, que é ainda
incipiente e precária, para se adequação à demanda das empresas tanto em quantidade
quanto em qualidade. A segunda é que, na percepção de algumas empresas, a compra feita
por intermediários no mercado livre poderá desobrigá-las, a princípio, de cumprirem o
previsto na Medida Provisória conhecida como lei da biodiversidade, quanto ao pagamento
às comunidades sobre o conhecimento tradicional e de outras dificuldades que enfrentam
para o acesso aos recursos da biodiversidade.
Com o crescimento da demanda e a necessidade de melhorar a qualidade da matéria-prima
da flora utilizada pelas empresas, a organização da cadeia de produção torna-se
fundamental para o sucesso da fitoindústria. Todavia, não há dados disponíveis e
organizados da real demanda, nem tampouco de produção da matéria-prima utilizada pela
fitoindústria. O mercado produtor de matéria-prima está em sua fase inicial de organização,
por isso algumas questões da tabela 24 requerem atenção especial por se relacionarem a
restrições ao planejamento de produção das empresas.
131
Tabela 24 - Limitações de atividades com a matéria-prima (H=15)
A
Fatores
Escassez
Planejamento e tecnologia de plantio e
manejo
Logística de transporte
Seleção
Ausência de política de preço
B
n
9
8
%
60%
53%
n
7
8
%
46%
53%
7
7
4
46%
46%
26%
9
6
4
60%
40%
26%
A escassez pode ser conseqüência do aumento de demanda pelas empresas ou pela baixa
produção da safra, há precariedade na adoção de tecnologias de manejo e mais ainda para o
plantio, comprometendo a produção também da matéria-prima e dificuldades em
estabelecer uma logística de transporte dessa matéria-prima da flora.
Um exemplo de como a escassez pode afetar uma empresa é o que ocorreu em 2003 com a
empresa Pharmakos, que enfrentou sérias dificuldades para adquirir o crajiru e não contou
com a colaboração de outras empresas do setor. Hoje a Pharmakos tem um fornecedor
regular que já recebeu orientação técnica sobre secagem e conservação, contornando
parcialmente o problema de fornecimento dessa espécie. Outras empresas, da mesma
forma, têm manifestado preocupação com a escassez desta e de outras espécies.
Outras dificuldades não menos importantes, porém indicadas por um número menor de
empresas são: a seleção da matéria-prima, por ser muito afetada pela baixa qualidade e pela
irregularidade de oferta; disparidade de preços para algumas espécies nas regiões do estado,
o que pode exigir a intervenção do governo para a regulação; outros problemas como a
sazonalidade e o impacto ambiental pela exploração inadequada de algumas espécies.
Ressalta-se que a dificuldade de seleção da matéria-prima, planejamento, tecnologia de
plantio e manejo são sentidas principalmente pelas empresas dos subsetores de bens finais e
de insumos.
A oferta de matéria-prima quando afetada pela sazonalidade, se a quantidade produzida
pela localidade não for muito acentuada, pode ser compensada por outra localidade.
Todavia, na hipótese de um crescimento abrupto de demanda, o estado não teria capacidade
suficiente de produção nem poderia preparar-se em curto espaço de tempo para atendê-la.
132
A cooperação, envolvendo empresas, órgãos do governo e demais instituições que apóiam
atividades com os recursos da flora, indica que está sendo feito esforço em transferir
tecnologias às comunidades para o plantio, manejo, produção e controle de qualidade.
Embora com poucos resultados obtidos ainda, por serem iniciativas recentes, tem-se
observado uma diferença significativa na qualidade das espécies quando há plano de
manejo.
As comunidades por seu lado dominam certas técnicas, herdadas de gerações, que
associadas às técnicas científicas acabam resultando na melhoria de procedimentos de
plantio e manejo. São técnicas baseadas na vivência e na relação com a floresta, que
também precisam ser consideradas e aprimoradas no auxílio à melhoria da qualidade da
matéria-prima.
A logística de transporte da matéria-prima proveniente da floresta afeta um número
pequeno de empresas, mas que merece ser ressaltada para chamar a atenção do que pode
representar de dificuldade no futuro, na hipótese provável de crescimento de demanda.
Uma carga do município de Boca do Acre, por exemplo, face à longa distância, pode
demorar cerca de 15 dias para chegar em Manaus, tendo como causada usual a dificuldade
de navegação em determinados períodos do ano, face à vazante dos rios que dificulta o
acesso às comunidades fornecedoras.
Mesmo de localidades como o município de Boca do Acre, o prazo de recebimento da
matéria-prima pode variar: 10 dias com o rio cheio e 15 dias com o rio vazante. Durante 6
meses do ano, não há acesso à comunidade de Boa Vista do Ramos, que é um importante
fornecedor. Destaca-se a inexistência de qualquer tipo de seguro em caso de acidente com
os barcos e a conseqüente perda da carga transportada.
Há a deficiência na infra-estrutura portuária de Manaus que é inadequada para receber esse
tipo de matéria-prima. O barco, que é o principal meio de transporte no estado, conduz ao
mesmo tempo tanto passageiro quanto carga, tornando o risco maior de contaminação da
matéria-prima.
A tecnologia, que ainda não é dominada, e a infra-estrutura de produção, que não está
disponível aos produtores, acabam por afetar o beneficiamento e a oferta de matéria-prima
133
da floresta. É necessário organizar fornecedores que não mantenham vínculo de
exclusividade para possam atender diversas empresas.
O acesso aos recursos da biodiversidade pode representar diferentes impactos ambientais. O
alto impacto pode ser ilustrado com a extração da madeira que necessita de autorização do
IBAMA. O médio impacto pode ser exemplificado com o desenvolvimento de mudas de
plantas para experiências que facilitem a transferência de tecnologia a uma comunidade. O
baixo impacto pode ser entendido pela extração de frutas, resinas e cascas.
Entretanto, para o controle ambiental, a comunidade científica ainda não tem elementos
suficientes que assegurem uma política de manejo adequada, para a grande maioria das
espécies da flora amazônica. Mesmo com a ausência desses dados científicos, algumas
empresas já passaram a adotar alguma política de preservação, como forma de auxiliar a
reprodução natural, embora sem a certeza se as quantidades preservadas são as adequadas.
V.1.4.6. Limitações para as análises laboratoriais
Embora as análises laboratoriais realizadas internamente nas empresas ou em laboratórios
subcontratados possam ser diferentes para as empresas de diferentes subsetores, a atividade
de identificação fiotoquímica de marcadores é considerada pela maioria delas como a
principal fragilidade, conforme dados da tabela 25.
Tabela 25 - Análises laboratoriais para o controle de qualidade e P&D (H=15)
A
Fatores
Identificação fitoquímica de marcadores
Identificação físico-química
Microbiologia
Testes pré-clínicos e clínicos
Screening
Cristalização
n
8
5
4
3
3
2
%
53%
33%
26%
20%
20%
13%
B
n
8
4
4
4
3
3
%
53%
26%
26%
26%
19%
20%
Algumas análises são específicas e servem para atender a mais de um subsetor da
fitoindústria. As atividades, tais como a identificação fitoquímica de marcadores e os testes
clínicos, são usualmente empregadas para os fitofármacos enquanto a análise
microbiológica é requerida por diversos segmentos.
134
Quando as empresas fabricantes de fitoterápicos e fitocosméticos, que são de capital local,
começaram suas atividades ainda não havia as exigências que hoje são impostas pela
ANVISA sobre eficácia e segurança. Os testes pré-clínicos e clínicos passaram a ganhar
importância, principalmente para as empresas fabricantes de fitoterápicos, para os quais não
existe ainda infra-estrutura adequada em Manaus.
A dificuldade de realizar localmente as análises farmacológicas e toxicológicas pode
implicar na não comprovação da qualidade, podendo dificultar a comercialização do
produto. Espécies como a andiroba e copaíba, por exemplo, em alguns casos, são
beneficiadas fora do estado e retornam para as empresas como insumos de maior valor.
Apenas as empresas de maior porte ou mais estruturadas até o momento demandam
serviços laboratoriais, principalmente as de capital estrangeiro, embora algumas de capital
local também já comecem a adotar essa prática. Todavia, as empresas menos estruturadas
demandam certas análises apenas quando são exigidas por órgãos de fiscalização.
Muitas vezes, realizar as análises laboratoriais da matéria-prima torna-se difícil, pela
dificuldade de rastrear a procedência das espécies e determinar uma amostra, porque são
misturadas durante o transporte com espécies procedentes de outras comunidades e
localidades.
Processos aplicados hoje na região com cobalto para descontaminar a matéria-prima, por
exemplo, para neutralizar a ação ou exterminar microorganismos e prolongar a vida útil do
produto, é uma prática não aceitável por grande parte dos países importadores de produtos
da fitoindústria que dão preferência a produtos genuinamente naturais. A redução
microbiana com o uso dessas técnicas também representa custo elevado para as empresas,
tornando a prevenção a melhor alternativa.
V.1.4.7. Barreiras de acesso a mercados para os produtos da fitoindústria
Além dos produtos atuais fabricados pelas empresas: fitoterápicos, fitocosméticos,
concentrados para bebidas não alcoólicas, balas e chocolates e polpa de frutas, outros
produtos apresentam um grande potencial. Alguns deles são os bioinseticidas,
biofertilizantes, biorremediação, plantas medicinais, frutas secas, artesanato, conservantes
para aumentar a qualidade de sementes empregadas em artesanatos com um novo processo
de secagem, marchetaria para a produção de resina natural para aumentar a qualidade da
135
cerâmica, insumos como amido, farinha, serviços tais como a identificação genética,
transgênicos e biomateriais passam a representar mercados potenciais.
A falta de propaganda é um dos fatores que tem dificultado a ampliação e conquista de
novos mercados pelas empresas, além da indisponibilidade de canais de distribuição
adequados para parte delas, conforme dados da tabela 26. A propaganda afeta mais as
empresas dos subsetores de bens finais e de alimentos.
Tabela 26 - Dificuldades de acesso a mercado para o produto final (H=15)
A
Fatores
Propaganda
Canal de distribuição
Preço
Design e embalagem do produto
Logística de transporte
n
10
8
6
5
2
B
%
n
%
66% 10 66%
53% 6 40%
40% 6 40%
33% 6 40%
13% 2 13%
Entretanto, a maioria das empresas considera a possibilidade de comercializar seus
produtos para o mercado externo. As de capital local pelo pequeno porte, limitado nível
organizacional e tecnológico e a falta de canais de distribuição adequados enfrentam mais
dificuldades para acessar o mercado externo do que as empresas de capital estrangeiro.
Estas costumam explorar os canais de distribuição e partilhar os mercados das coligadas.
A fixação de preço para os produtos de grande parte das empresas, em especial para os do
segmento de bens finais, cujo principal destino é o mercado interno, fica dependendo do
preço fixado pela concorrência para produtos similares ou substitutos.
De outra parte, não há receptividade de importadores para adicionar um valor intangível na
compra de produtos in natura. Isto auxiliaria na distribuição de benefícios, particularmente
da renda, para os habitantes das regiões produtoras de matéria-prima, que passariam a
participar da economia global. A lógica é ainda tratar recursos naturais incluindo os
biogenéticos como qualquer commodity.
Entretanto, a empresa Agrorisa, pela experiência em comercializar seus produtos via
“mercado justo”, que é um conceito em processo de consolidação, considera possível
adicionar algum valor como contribuição social.
136
O design e embalagem, sobretudo para produtos finais nos segmentos de fitoterápicos e
principalmente fitocosméticos, quando exigem melhor acabamento, arte e beleza, muitas
vezes não há fornecedor local.
Chama a atenção o fato da logística de transporte para a distribuição dos produtos vendidos
representar menor dificuldade do que a logística de transporte para a matéria-prima
adquirida. A exportação quando realizada diretamente de Manaus somente se torna viável
com a remessa de grandes volumes e via transporte marítimo, enquanto para pequenos
volumes a prática tem sido de utilizar o transporte aéreo.
O sistema de transporte de carga em Manaus ainda não evoluiu para receber pequenos
volumes e efetuar a distribuição para qualquer parte do mundo com custos compatíveis a de
outros centros industriais. A exportação dos pequenos volumes pela Crodamazon para os
EUA, por exemplo, é feita via coligadas que os redistribui para os diferentes destinos.
V.1.4.8. Fatores de dificuldades que afetam as atividades da fitoindústria
Os principais fatores que dificultam a capacitação tecnológica dizem respeito a: pessoal
qualificado, infra-estrutura física, financiamento, cooperação e análises laboratoriais.
Outros fatores têm apresentado, embora em graus diferenciados, algum tipo de dificuldade.
O principal deles é a ausência de apoio do governo, conforme dados apresentados na tabela
27.
Tabela 27 - Outras dificuldade da fitoindústria (H=15)
A
Fatores
Apoio do governo
Problemas alfandegários/tributários
Coordenação institucional para apoiar o setor
Incentivos fiscais
Falta de base industrial local em setores afins às
atividades da empresa
Implantação de grandes empresas
Legislação
Processo produtivo básico (PPB) para uso de
recursos da biodiversidade
Aprovação nos órgãos sanitários
Impacto ambiental, biopirataria, produtos
sintéticos similares
Tecnologia de processo e produto
B
n
14
12
12
11
%
93%
80%
80%
73%
n
12
11
10
9
%
80%
73%
66%
60%
10
66%
10
66%
7
7
46%
46%
6
6
40%
40%
5
33%
8
53%
5
33%
5
33%
5
33%
5
33%
3
20%
3
20%
137
Pela abrangência do que representa o fator apoio do governo, aspectos positivos acabaram
perdendo importância diante dos aspectos considerados negativos pelas empresas. Portanto,
cabem alguns esclarecimentos sobre algumas das interpretações desse fator pelas empresas:
¾ C&T – Com a implantação da FAPEAM, em 2004, vários projetos das empresas foram
contemplados com financiamento. Esse apoio recente à pesquisa passou a ser
considerado de extrema importância pelas empresas. Porém o histórico de apoio do
governo estadual nesse campo, antes da implantação da FAPEAM, é quase
insignificante;
¾ Estratégia de exploração da biodiversidade como base de desenvolvimento regional para as empresas, não existe o devido reconhecimento da relevância do potencial desses
recursos, em particular da flora, para desenvolver um tipo de indústria com
características regionais, alternativa ou complementar ao projeto Zona Franca de
Manaus – ZFM;
¾ Aglomeração Industrial – não existe até agora empenho suficiente para criar infraestrutura de instalação de empresas como houve para o projeto Zona Franca;
¾ Fundos – não existem fundos especiais para financiar atividades diversas da
fitoindústria em condições razoáveis de pagamento;
¾ Capacitação tecnológica – o governo não tem criado as condições necessárias de
produção e transferência de tecnologia para as atividades realizadas ao longo da cadeia
produtiva, principalmente para a produção de insumos com base na matéria-prima da
flora.
As empresas alegam enfrentar, além dos burocráticos, problemas alfandegários e com a
legislação fito-sanitária de alguns países importadores. Porém, um outro tipo de barreira
começa a surgir. A empresa Agrorisa, por exemplo, de capital regional, que exporta para
diversos países, identificou dificuldades impostas pelo Federal Drugs Administration
(FDA) para exportação aos EUA que receia a prática de “bioterrorismo”.
As obrigações tributárias são consideradas elevadas para grande parte das empresas, que
clamam por uma revisão e a concessão de mais benefícios fiscais concedidos a produtos
que agregam matéria-prima natural da Amazônia.
138
A ausência de coordenação, seja por parte do setor público seja do setor privado, tem
dificultado a adoção de ações que possam acelerar o desenvolvimento da fitoindústria. Falta
liderança para desempenhar esse papel que, para as empresas, poderia ser melhor exercida
pelo governo, ou quem sabe por ambos.
Os tributos e incentivos fiscais concedidos às empresas apoiadas pelo projeto ZFM são
considerados pela fitoindústria muito mais favoráveis do que os concedidos a empresas que
processam os recursos regionais. Ressalta-se que as empresas do subsetor de insumos não
consideram os incentivos fiscais como uma de suas principais dificuldades.
Considera-se que o Processo Produtivo Básico – PPB aprovado para os fabricantes de
cosméticos torna as empresas locais menos competitivas que as empresas de fora do estado.
Há a preocupação ainda com o PPB que venha a ser criado para os demais segmentos da
fitoindústria. Entretanto o subsetor de alimentos não considerou ser esse fator uma
dificuldade relevante.
Além dos fatores: PPB, tributos e incentivos fiscais, a legislação que regula a fabricação de
fitoterápicos, fitocosméticos e alimentos, biossegurança, meio ambiente e acesso à
biodiversidade têm forte impacto em algumas das empresas. Algumas delas enfrentam
dificuldades para a obtenção e aprovação de seus produtos nos órgãos de vigilância
sanitária similares e nos coordenados pela ANVISA.
A falta de uma base industrial dinâmica em Manaus em áreas afins ou que pudessem criar
sinergia com os segmentos da fitoindústria tem dificultado o desenvolvimento da
fitoindústria. Algumas das atividades produtivas que poderiam contribuir para acelerar esse
desenvolvimento são dos segmentos de química, insumos fabricados com a matéria-prima,
agronegócios, bionegócios, extratos de plantas medicinais, óleo vegetal e essencial.
O impacto ambiental e a biopirataria, embora possam afetar diretamente poucas empresas,
são fatores que ganham um nível de grandeza cada vez maior. À medida que cresce a
demanda por produtos da floresta, ou que extensas áreas são devastadas para servir de
matéria-prima aos mais diversos produtos, os danos ao meio ambiente são inevitáveis.
Espécies como a arraia dos rios da Amazônia e plantas medicinais são submetidas a
análises no exterior com o objetivo de identificar princípios ativos, para onde são enviadas
sob os mais diversos pretextos.
139
A maioria das empresas não considera que a implantação de grandes empresas concorrentes
seja forte ameaça e que não emprega tecnologias de processo e produto inferiores aos
concorrentes. A vantagem atribuída a concorrentes instalados no Sul/Sudeste do país e
mesmo do exterior é o suporte institucional de P&D e de tecnologia, além do apoio do
governo.
V.1.5. Estratégias para a capacitação tecnológica e competitividade das empresas
As empresas, para a aceleração de capacitação, inovação tecnológica e crescimento, já vêm
adotando ou deverão adotar as estratégias cujos fatores são apresentados na tabela 28. Deve
ser ressaltado que as estratégias variam de importância de empresa para empresa. Uma
empresa pode enfatizar a ampliação do mercado interno, outra o mercado externo e ambas
podem considerar a cooperação como a estratégia fundamental ao processo de aprendizado
e de capacitação tecnológica para impulsionar seus negócios.
Dados das empresas apontaram na Tabela 20 – Fontes externas diversas de informação e
aprendizagem na cooperação com os institutos de P&D locais como uma de suas principais
fontes de aprendizagem e na Tabela 23 – Dificuldades de cooperação com institutos de
P&D e empresas como um dos principais obstáculos. Todavia, esse fator é também
considerado como a principal estratégia para o aprendizado e capacitação tecnológica,
apresentado na tabela 28, similar às estratégias adotadas pelas empresas de tecnologia de
ponta e das que lograram sucesso em biotecnologia em economias avançadas.
Tabela 28 - Estratégias para o desenvolvimento da fitoindústria (H=16)
A
Fatores
Cooperação com institutos de P&D locais
Associação dos produtos à marca “Amazônia”
Infra-estrutura de produção
Capacitação de pessoal
Ampliação do mercado nacional
Apoio à criação de “selo verde da Amazônia”
Política de plantio e manejo de matéria-prima
Infra-estrutura de laboratório de P&D
Cooperação com as comunidades tradicionais
Uso da biotecnologia tradicional
Exportação
Uso da biotecnologia moderna
n
14
12
12
11
10
7
7
7
6
6
4
3
B
%
87%
75%
75%
68%
62%
43%
43%
43%
37%
37%
25%
18%
n
15
11
10
12
10
10
9
8
8
7
11
4
%
93%
68%
63%
75%
63%
63%
56%
50%
50%
43%
68%
25%
140
Associar os produtos à marca “Amazônia” reflete a percepção estratégica das empresas de
que isto facilitaria a comercialização de seus produtos, principalmente para o mercado
externo, contrariamente à pouca importância atribuída a esse fator assinalada na Tabela 8,
onde outras certificações indicaram serem mais relevantes.
A implantação do “selo verde da Amazônia” deverá conferir além da qualidade e origem,
transmitir a mensagem de que o produto é fabricado por empresa instalada na região,
restringindo assim o uso indevido da marca por empresas que não atendam a esses
requisitos.
Criar ou melhorar a infra-estrutura de produção é uma das preocupações das empresas.
Todavia destaca-se a importância que vem adquirindo a melhoria ou criação de infraestrutura de laboratório interno para as atividades de P&D, exceto para o subsetor de
alimentos. No entanto, as empresas têm a expectativa de que parte importante dessas
atividades possa ser atendida pelo Centro de Biotecnologia do Amazonas – CBA. Algumas
empresas, porém, manifestaram o receio de que a cooperação com instituições de P&D
possa facilitar a cópia de seus projetos.
A capacitação de pessoal é considerada uma importante estratégia das empresas para que
desempenhem atividades produtivas, de pesquisa, melhorem a competitividade e
impulsionem seus negócios. Algumas dessas atividades são: registrar patentes, atender
exigências de controle fito-sanitário, melhorar o design e embalagens dos produtos,
formular compostos para os produtos, selecionar matéria-prima da flora, desempenhar o
controle de qualidade, realizar análises laboratoriais e negociar com compradores
internacionais.
A cooperação com as comunidades locais, principalmente as nativas, é considerada de
extrema importância para o subsetor de bens finais e não é para os demais subsetores. Uma
das razões fundamentais para a necessidade desse tipo de cooperação é que dificilmente a
exploração dos recursos da flora possa ocorrer sem o envolvimento das comunidades, tanto
por questões legais quanto por imposição do mercado consumidor, que busca cada vez mais
clareza sobre as condições de relacionamento entre as empresas e seus fornecedores.
Outros fatores subjacentes a essa cooperação dizem respeito a legislação de acesso à
biodiversidade que prevê o uso, partilha dos benefícios e sustentabilidade; o aprendizado
141
com o conhecimento tradicional; transferência de etapas do processo produtivo das
empresas para as comunidades; comprovação da cadeia de custódia; garantia de
fornecimento da matéria-prima da flora; eliminação da figura do atravessador.
As empresas Agrorisa, Crodamazon e Essencial já mantêm cooperação com comunidades
tradicionais. A Agrorisa com as comunidades “sateré maué” no município de Maués-Am
para plantio e produção do guaraná, e plantio de pau-rosa e mirantã; a Crodamazon com a
comunidade Abonari, na reserva dos índios atroaris, localizada a cerca de 200 km de
Manaus, para o manejo do buriti, que já recebeu aprovação do IBAMA, cuja experiência
deverá ser levada para outras cerca de 17 comunidades; e a Essencial com a Organização
Indígena da Bacia do Içanã – OIBI para a compra de artesanato indígena.
No projeto da Agrorisa com os “saterés”, que envolve nativos com formação técnica
agrícola, pretende-se a produção do pau-rosa destinado à extração futura da essência a ser
usada em cosméticos e do mirantã para aplicação em produtos farmacêuticos e
complemento alimentar.
Em uma fase posterior do projeto de cooperação com as comunidades, a Crodamazon
pretende transferir para elas as etapas do seu processo de produção de óleo, cuja última
operação é a extração do óleo bruto, Figura 5, até a etapa 12, concentrando-se no
refinamento do óleo utilizado como insumo para a produção de cosméticos, conforme o
fluxograma da figura 14.
Figura 14 - Fabricação de óleo refinado
13
Óleo bruto
14
15
16
Filtragem
Purificação
Filtragem
final
17
Óleo refinado
Fonte: pesquisa própria
A maioria dessas comunidades, até há pouco tempo, vendia a matéria-prima completamente
in natura, porém algumas hoje já desidratam e extraem o óleo, mesmo que de forma
rudimentar. A empresa Crodamazon já recebe das comunidades as sementes do maracujá e
do cupuaçu com tratamento de fermentação e secagem.
142
Abstraindo a controvérsia se o tipo de relação é justa para as comunidades, ou que
eventuais efeitos negativos possam emergir, alguns benefícios lhes tem sido levados pelas
empresas tais como a orientação para o associativismo, treinamento para gestão de
negócios, técnicas de plantio e manejo, técnicas de beneficiamento da matéria-prima e de
produção de insumos e aproveitamento de resíduos orgânicos.
Na cadeia produtiva, técnicas de plantio e manejo são consideradas fundamentais,
sobretudo para melhorar a qualidade e produção da matéria-prima. Todavia, a biotecnologia
ainda parece ser importante apenas para um pequeno número de empresas, e principalmente
a tradicional, embora a moderna apresente sinais de crescimento significativo no futuro,
exceto para o subsetor de alimentos que não manifestou ter interesse, pelo menos até agora,
por esse tipo de tecnologia.
Outros fatores tais como a identificação fitoquímica, identificação e padronização físicoquímica, pesquisa fitoquímica de marcadores, descrição macroscópica, conversão química,
padronização da metodologia analítica, determinação de contaminantes (principalmente
metais pesados), farmacologia e microbiologia, técnicas de armazenagem e de transporte
demonstram igualmente relevância.
A exportação tende a ganhar importância, tornando-se uma das principais estratégias da
maioria das empresas. Muitos produtos exportados, ainda hoje, com pouco valor agregado.
4 (26%) das empresas exportam atualmente com regularidade, enquanto 11(68%) desejam
exportar futuramente. Outras empresas, com destaque para as de bens finais, já realizaram
exportações eventuais e continuam tentando novas exportações, porém em busca de
mercados com os quais possam manter vínculos duradouros.
Embora seja crescente a pré-disposição para exportar, a maioria das empresas pretende
ampliar sua participação no mercado nacional, principalmente o subsetor de bens finais que
se concentra, ainda no mercado local e em outras regiões da Amazônia. As empresas do
subsetor de insumos são as que mais vislumbram a possibilidade de exportar, uma vez que
o mercado externo é bastante receptivo a produtos naturais da Amazônia e pela variedade
de espécies da região.
143
V.2. ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DA TRAJETÓRIA DOS PRINCIPAIS FATORES
Nesta seção será apresentado em cada gráfico o principal fator e sua trajetória para a
capacitação tecnológica da fitoindústria e subsetores, seguindo a ordem dos assuntos
abordados no questionário de indicadores (Anexo 1). Embora os dados de freqüência dos
subsetores não estejam apresentados em tabelas como os consolidados e apresentados para
a fitoindústria na seção v.1 foram igualmente tratados.
O principal fator para a fitoindústria e para os subsetores foi definido com base na maior
freqüência indicada na coluna A, que reflete a situação atual, mostrando ao mesmo tempo a
freqüência da coluna B, refletindo (futuro), portanto uma indicação da possível trajetória.
Para o cálculo da freqüência da coluna A, foram computadas todas as respostas afirmativas
(sim) e para o cálculo da freqüência da coluna B (futuro), foram computadas apenas as
respostas de grau 3 - importante ou 4 - muito importante, sendo desprezadas as respostas de
grau 1- pouco importante e 2 - regular. A simbologia empregada nos gráficos é a seguinte:
X – Fitoindústria;
Y – Subsetor de bens Finas;
W – Subsetor de insumos;
Z – Subsetor de alimentos;
Atual – Situação Atual
Futuro - Perspectiva futura (<= 6 anos)
V.2.1. Características das empresas e atividades inovadoras
V.2.1.1. Características das empresas
Para o subitem 1.2. do questionário, os principais fatores são: a proximidade com a fonte de
matéria-prima, para a fitoindústria (X) e subsetores de bens finais (Y) e alimentos (Z),
associação a “produtos de origem da Amazônia”, para o subsetor de insumos (W).
144
Gráfico 6 - Fatores de atratividade locacional
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Proximidade com a matéria-prima
Y-Proximidade com a matéria-prima
W-Produtos da “Amazônia”
Z-Proximidade com a matéria-prima
V.2.1.2. Atividades inovadoras
Para o subitem do questionário “2.1.a. gerenciamento do projeto”, excluído o fator
construção de planta básica em que todas as empresas afirmaram possuir competência para
atender eventual necessidade de atualizar ou mesmo ampliar o projeto da unidade fabril, os
principais fatores são: sistemas integrados e informatizados, para a fitoindústria (X) e
subsetores de bens finais (Y) e alimentos (Z) e viabilização de treinamento a fornecedores,
para o subsetor de insumos (W).
Gráfico 7 - Modernização gerencial e organizacional do projeto
100%
80%
60%
40%
20%
0%
%
Atual
Futuro
Tempo
X-Sistemas informatizados...
Y-Sistemas informatizados...
W-Viabilização de treinamento...
Z-Sistemas informatizados..
145
Para o subitem do questionário “2.1.b. certificações”, o principal fator é a certificação de
boas práticas de fabricação tanto para a modernização organizacional da produção da
fitoindústria (X) quanto de seus subsetores.
Gráfico 8 - Certificação para a melhoria da qualidade e atendimento à legislação
100%
%
80%
60%
40%
20%
0%
Tempo
Atual
X-Boas práticas..
W-Boas práticas
Futuro
Y-Boas práticas..
Z-Boas práticas..
Para o subitem do questionário “2.2.a. gestão de máquinas e equipamentos”, o principal
fator é a manutenção tanto para a fitoindústria (X) quanto para seus subsetores. Para o
subsetor de insumos (W) tanto quanto a manutenção é igualmente importante a cópia
simples e adaptação de projetos de máquinas e equipamentos existentes.
Gráfico 9 - Gestão de máquinas e equipamentos
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Manutenção
Y-Manutenção
W-Manutenção
Z-Manutenção
Para o subitem do questionário “2.2.b. organização do processo de produção”, o principal
fator é melhoria de lay-out tanto para a fitoindústria (X) quanto para o subsetor de insumos
146
(W). Para o subsetor de bens finais (Y) é o fator planejamento e processo de controle da
produção e para o subsetor de alimentos (Z) é o fator formulação de compostos.
Gráfico 10 - Organização do processo de produção
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Melhoria de Layout
Y-Planej. e P. de C. da Prod.
W-Melhoria de Layout
Z-Formulações dos Compostos
Para o subitem do questionário “2.2.c. desenvolvimento de produto”, o principal fator é
desenvolvimento de novos produtos tanto para a fitoindústria (X) quanto para os subsetores
de insumos (W) e alimentos (Z). Para o subsetor de bens finais (Y) o principal fator é a
cópia de produtos existentes.
Gráfico 11 - Desenvolvimento de produtos
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
%
Atual
Futuro
Tempo
X-Des. de Novos Produtos
Y-Cópia de Prod. Existentes
W-Des. de Novos Produtos
Z-Des. de Novos Produtos
Para o subitem do questionário “2.2.d. controle de qualidade”, o principal fator é a análise
microbiológica tanto para a fitoindústria (X) quanto para os subsetor de alimentos (Z). Para
os subsetores de bens finais (Y) e insumos (W) o principal fator é a análise físico-química.
147
Gráfico 12 - Controle de Qualidade
100%
%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
X-Análise microbiológica
W-Análise físico-química
Futuro
Tempo
Y-Análise físico-química
Z-Análise microbiológica
O subitem do questionário “2.3.1 Atividades de pesquisa e patentes” trata de questões
descritivas sobre as atividades inovadoras, conforme abordado na seção V.1.2.3. Inovação
tecnológica das empresas, portanto não sendo possível demonstrar em gráfico.
Para o subitem do questionário “2.3.2. atividades de biotecnologia”, os fatores mais
importantes são: a comprovação científica do conhecimento tradicional, para a fitoindústria
(X) e subsetor de bens finais (Y), o procedimento de screening, para o subsetor de insumos
(W) e a fermentação para o subsetor de alimentos (Z).
Gráfico 13 - Atividades de biotecnologia
100%
80%
60%
40%
20%
0%
%
Tempo
Atual
X-Comprovação científica...
Futuro
Y-Comprovação científíca..
W-Procedimentos de screening..
Z-Fermentação
V.2.2. Fontes de informação e aprendizado
Para o subitem do questionário “3.a. fontes internas de aprendizagem”, o fator mais
importante é o treinamento tanto para a fitoindústria (X) quanto para os subsetores.
148
Gráfico 14 - Fontes internas de aprendizagem
100%
80%
60%
40%
20%
0%
%
Tempo
Atual
X-Treinamento
Futuro
Y-Treinamento
W-Treinamento
Z-Treinamento
Para o subitem do questionário “3.b. fontes externas de aprendizagem”, os fatores mais
importantes são: conferências, publicações, feiras e exposições para a fitoindústria (X),
clientes e consumidores, para o subsetor de bens finais (Y), cooperação com institutos de
P&D, para o subsetor de insumos (W), e aquisição de máquinas e equipamentos, para o
subsetor de alimentos (Z). A cooperação com institutos de P&D locais é tão importante
quanto as conferências, publicações, feiras e exposições, para a fitoindústria (X).
Gráfico 15 - Fontes externas de aprendizagem
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Conferências, publicações..
Y-Clientes e consumidores
W-Cooperação com Institutos L.
Z-Aquisição de máquinas..
V.2.3. Fatores que afetam as atividades inovadoras
Para o subitem do questionário “4.a. pessoal qualificado”, a maior carência está relacionada
às atividades produtivas para a fitoindústria (X) e subsetores de insumos (W) e alimentos
(Z), enquanto para o subsetor de bens finais (Y) refere-se às atividades de P&D. A
149
produção de fitoterápicos, principalmente, deverá exigir cada vez mais pessoal com melhor
formação acadêmica para realizar atividades de pesquisa.
Gráfico 16 - Carência de pessoal qualificado por atividade
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
X-Produção
Y-P&D
Futuro
W-Produção
Tempo
Z-Produção
Para o subitem do questionário “4.b. infra-estrutura física”, a maior carência, de forma
análoga ao item anterior, está relacionada à capacidade produtiva para a fitoindústria (X) e
subsetores de insumos (W) e alimentos (Z), enquanto para o subsetor de bens finais (Y)
refere-se à realização de atividades de P&D. As empresas, em especial as fabricantes de
bens finais, têm expressado a intenção de criar melhor infra-estrutura de laboratórios para a
realização de pesquisa.
Gráfico 4 - Limitações de infra-estrutura física
100%
80%
60%
40%
20%
0%
%
Atual
X-Para produção
W- Para produção
Futuro
Tempo
Y-Para P&D
Z- Para produção
O subitem do questionário “4.c. financiamento” não permite demonstração gráfica, porém
foi abordado na seção V.1.4.3. Escassez de fontes de financiamento.
150
Para o subitem do questionário “4.d. cooperação”, a principal dificuldade tanto para a
fitoindústria (X) quanto para os e subsetores de bens finais (Y), de insumos (W) e alimentos
(Z) é estabelecer cooperação com os institutos de P&D locais.
Gráfico 5 - Dificuldades de cooperação
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Com Int. de P&D locais
Y-Com Int. de P&D locais
W-Com Int. de P&D locais
Z-Com Int. de P&D locais
Para o subitem do questionário “4.e.1. matéria-prima”, a escassez é o fator de maior
dificuldade, ou gargalo, tanto para a fitoindústria (X) quanto para os subsetores de bens
finais (Y) e alimentos (Z), enquanto o fator seleção de matéria-prima é para o subsetor de
insumos (W).
Gráfico 19 - Dificuldades para a aquisição de matéria-prima da flora
100%
80%
60%
40%
20%
0%
%
Atual
X-Escassez
W-Seleção
Futuro
Y-Escassez
Z-Escassez
Tempo
Para o subitem do questionário “4.g. dificuldades ambientais”, os fatores mais importantes
são: a falta de apoio do governo, para a fitoindústria (X) e subsetores de bens finais (Y) e
151
alimentos (Z), e a falta de base industrial em atividades afins às desenvolvidas pela
fitoindústria (X), para o subsetor de insumos (W).
Gráfico 20 - Dificuldades ambientais
100%
%
80%
60%
40%
20%
0%
Tempo
Atual
X-Falta de apoio do Governo
Futuro
Y-Falta de apoio do Governo
W-Falta de base industrial
Z-Falta de apoio do Governo
V.2.4. Estratégias para a capacitação tecnológica e desenvolvimento da empresa
Para o item do questionário “5. estratégias da empresa para a capacitação tecnológica e
competitividade”, os principais fatores são: a cooperação com institutos de P&D locais,
para a fitoindústria (X) e subsetores de alimentos (Z) e subsetor de bens finais (Y) e
exportação para o de insumos (W).
Gráfico 21 - Estratégias das empresas
100%
%
80%
60%
40%
20%
0%
Tempo
Atual
X-Cooperação com inst. de P&D
Futuro
Y-Cooperação com inst. de P&D
W- Exportação
Z-Cooperação com inst. de P&D
152
V.3. ILUSTRAÇÃO GRÁFICA DA TRAJETÓRIA DOS FATORES DE MAIOR
VARIAÇÃO EM IMPORTÂNCIA RELATIVA
Os gráficos apresentados a seguir mostram a tendência da trajetória dos fatores que deverão
sofrer maior variação de importância relativa para as empresas na comparação entre
situação atual, coluna A, e situação futura, coluna B, para as questões do questionário de
indicadores (Anexo 1).
Para o registro da freqüência da situação futura, coluna B, foram computados apenas os
dados de 3 - importante e 4 - muito importante, sendo desprezados os dados de 1- pouco
importante e 2 – regular. Ressalta-se que para a situação atual é calculada a freqüência das
respostas assinaladas como “sim”.
Cinco empresas, por exemplo, podem ter assinalado como “sim”, na coluna A, que o
conhecimento tradicional foi um dos fatores de atratividade locacional para a instalação de
planta fabril, base de cálculo da freqüência da coluna A. Entretanto, outras 5 diferentes
empresas podem ter considerado relevante: 3 - importante ou 4 - muito importante esse
fator para o futuro como atratividade locacional, resultando, nesse caso, que não há
variação de trajetória do fator.
V.3.1. Fatores de atratividade locacional
Para o subitem do questionário “1.2. fatores de atratividade locacional para a empresa”,
deverá experimentar maior variação crescente o fator incentivo fiscais, tanto para a
fitoindústria (X) quanto para os subsetores de bens finais (Y) e alimentos (Z). Para o
subsetor de insumos (W), não há fator com tendência crescente que seja significativa. É
importante destacar que é comum a reivindicação das empresas por maiores incentivos
fiscais, como fator de atratividade locacional para a construção de planta fabril na Zona
Franca de Manaus.
Deverão experimentar maior variação decrescente: o fator conhecimento tradicional para a
fitoindústria (X) e subsetor de insumos (W), a proximidade com a fonte de matéria-prima
da flora pra o subsetor de bens finais (Y) e a experiência profissional dos dirigentes para o
subsetor de alimentos (Z).
153
Gráfico 22- Fatores de atratividade locacional
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Tempo
Futuro
X-Incentivos fiscais
Y-Incentivos fiscais
Z-Incentivos fiscais
X-Conhecimento tradicional
Y-Proximidade da matéria-prima
Z-Experiência profissional
W-Conhecimento tradicional
V.3.2. Modernização organizacional
Para o subitem do questionário “2.1.a. modernização gerencial e organizacional”, deverão
experimentar maior variação crescente: plano estratégico, para a fitoindústria (X) e subsetor
de bens finais (Y), e sistema de atendimento a cliente, para o subsetor de alimentos (Z).
Deverão experimentar maior variação decrescente: fabricação com exclusividade, para a
fitoindústria (X) e subsetor de bens finais (Y), e técnicas de gestão de materiais e produção:
just in time, kaizen, kan ban etc., para o subsetor de alimentos (Z).
Gráfico 23 - Gerenciamento do projeto e modernização organizacional
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Tempo
Atual
X-Plano Estratégico
Futuro
Y-Plano Estratégico
Z-Sistema de atendimento a cliente
X-Fabricação com exclusividade
Y-Fabricação com exclusividade
Z-Just in time, kan-ban…
154
Para o subitem do questionário “2.1.b. certificações” deverão experimentar maior variação
crescente: a certificação ISO, para a fitoindústria (X) e subsetor de bens finais (Y), o fator
certificação orgânica, para o subsetor de insumos (W), e o fator boas práticas de fabricação
para o subsetor de alimentos (Z). Nenhuma das certificações necessárias para as empresas
deverá apresentar significativa variação decrescente.
Gráfico 24 - Certificações para atender a qualidade e a legislação
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Tempo
Atual
Futuro
X-Série ISO
Y-Série ISO
W-Certificação Orgânica
Z-Boas Práticas de Fabricação
Para o subitem do questionário “2.2. atividades inovadoras de processo e produto”, deverão
apresentar maior variação crescente: o fator projeto e desenvolvimento de máquinas e
equipamentos, para a fitoindústria (X) e para o subsetor de alimentos (Z) e cópia simples e
adaptação de máquinas e equipamentos para o subsetor de bens finais (Y)
Deverão experimentar maior variação decrescente: o fator projeto e desenvolvimento de
máquinas e equipamentos, para o subsetor de bens finais (Y), manutenção de máquinas e e
equipamentos, para a fitoindústria (X) e cópia simples e adaptação de máquinas e
equipamentos, para o subsetor de e alimentos (Z).
155
Gráfico 25 - Gestão de máquinas e equipamentos
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Projeto e desenvolvimento..
Y-Projeto e desenvolvimento..
Z-Projeto e desenvolvimento..
X-Manutenção de máquinas..
Y-Cópia simples e adaptação..
Z-Cópia simples e adaptação…
V.3.3. Atividades em biotecnologia
Para o subitem do questionário “2.3.2. atividades de biotecnologia”, deverão experimentar
maior variação crescente: a recombinação de DNA, para a fitoindústria (X) e subsetores de
bens finais (Y) e de insumos (W) e a comprovação científica do conhecimento tradicional
das espécies da flora, para o subsetor de alimentos (Z). Embora seja relativamente baixa
atualmente, a importância relativa dos fatores de atividades em biotecnologia,
principalmente para o subsetor de bens finais (Y), deverá experimentar crescimento
significativo no futuro.
Gráfico 26 - Atividades de biotecnologia
%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Recombinação de DNA
Y-Recombinação de DNA
W-Recombinação de DNA
Z-Comprovação científica..
156
V.3.4. Fontes externas de aprendizagem
Para o subitem do questionário “3.b. fontes externas”, deverão experimentar maior variação
crescente: o fator cooperação com institutos de P&D locais para a fitoindústria (X) e
subsetor de bens finais (Y), a cooperação com institutos de P&D de fora para o subsetor de
alimentos (Z). O subsetor de insumos não deverá experimentar nenhum fator de variação
crescente para (W).
Deverão apresentar maior variação decrescente: o conhecimento tradicional, para a
fitoindústria (X) e subsetor de bens finais (Y) e a cooperação com as comunidades
tradicionais, para o subsetor de insumos (W).
Gráfico 27 - Fontes externas de aprendizagem
100% %
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Cooperação com institutos
Y-Cooperação com institutos
Z-Cooperação com institutos
X-Conhecimento tradicional
Y-Conhecimento tradicional
W-Cooperação com comunidades
V.3.5. Dificuldades para o desenvolvimento da fitoindústria e seus subsetores
Para o subitem do questionário “4.e.1. mercado de matéria-prima da flora” deverão
experimentar maior variação crescente: o fator ausência de política de preço, para a
fitoindústria (X), e o fator tecnologia de plantio e manejo para os subsetores de bens finais
(Y) e de insumos (W).
Deverão experimentar maior variação decrescente: o fator escassez, para a fitoindústria (X)
e subsetor alimentos (Z), o fator logística de transporte, para o subsetor de bens finais (Y) e
a seleção de matéria-prima para o subsetor de insumos (W).
157
Gráfico 28 - Dificuldades para o uso da matéria-prima da flora
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
X-Ausência de política de preço
W-Tecnologia de plantio e manejo
Y-Logística de transporte
Z-Escassez
Futuro
Tempo
Y-Tecnologia de pantio e manejo
X-Escassez
W-Seleção
Para o subitem do questionário “4.g. outras dificuldades” deverão experimentar maior
variação crescente: o fator processo produtivo básico – PPB, exigido pela Suframa, para a
fitoindústria (X) e subsetores de bens finais (Y) e insumos (W), e o fator falta de base
industrial em atividades afins às atividades das empresas, para o subsetor de alimentos (Z).
Nesse item não há fatores com tendência de variação decrescente significativa.
Gráfico 29 - Outras dificuldades para utilização de recursos da floresta
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-PPB
Y-PPB
W-PPB
Z-Falta de base industrial
158
V.3.6. Estratégias para o aprendizado e capacitação tecnológica
Para o subitem do questionário “6. Estratégias da empresa para a capacitação tecnológica e
competitividade” deverão experimentar maior variação crescente: a exportação, para a
fitoindústria (X) e subsetor de alimentos (Z), a cooperação com institutos de pesquisa
locais, para o subsetor de bens finais (Y), e o uso da biotecnologia tradicional, para o
subsetor de insumos (W).
Deverão experimentar maior variação decrescente: o fator infra-estrutura de laboratório
para atividades de P&D para a fitoindústria (X) e subsetor de bens finais (Y).
Gráfico 30 - Principais estratégias da fitoindústria e subsetores
%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Atual
Futuro
Tempo
X-Exportação
Y-Cooperação com institutos…
W-Uso da biotecnologia..
Z-Exportação
X-Infra-estrutura de Lab
Y-Infra-estrutura de Lab
159
V.4. CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS EXPORTADORAS
Os fatores apresentados na tabela 29 estão subdivididos por empresas que pretendem
exportar (J = 7 empresas): 1 de capital estrangeiro e 6 de capital local, exportadoras de
capital local (K = 2 empresas) e exportadoras de capital estrangeiro (L = 2 empresas). É
assinalada a maior freqüência de alguns dos principais fatores das fitooempresas que
pretendem exportar e das empresas exportadoras de capital local e de capital estrangeiro
como base de análise. Onde A - situação atual e B - situação futura (=<6 anos).
Tabela 29: Empresas exportadoras, exportadores de capital local e exportadores de
capital estrangeiro
a) Fatores de vantagens locacionais
Produtos de origem da “Amazônia”
b) Fabricantes de bens intermediários
Extratos para alimentos
c) Fabricantes de bens finais
Alimentos
d) Espécies usadas como matéria-prima
Castanha-do-Brasil
e) Certificações
Boas práticas de fabricação
f) Gestão de máquinas e equipamentos
Cópia simples e adaptação de projetos
existentes
g) Fonte de conhecimento externo
Cooperação com comunidades
tradicionais
h) Estratégias
Cooperação com institutos de P&D
locais
J
A
%
71
B
%
85
K
A
%
100
B
%
100
L
A
%
50
B
%
50
42
42
50
50
50
100
71
71
0
0
50
50
57
71
100
100
50
50
57
71
0
50
50
50
71
57
100
100
0
0
42
42
100
100
50
50
100
85
50
50
100
100
Para estimular as exportações, as empresas que pretendem exportar e as que já exportam,
além de associarem os produtos à origem da “Amazônia”, consideram essencial estarem
próximas da fonte de matéria-prima. As empresas de capital estrangeiro dispõem de
facilidades para a exportação, pelo acesso a canais de distribuição das coligadas presentes
em diversos países.
160
Uma alternativa encontrada pela empresa Agrorisa - de capital local - para exportar, foi
incorporar-se aos exportadores de produtos naturais com base no “mercado justo”23. O
objetivo do “mercado justo” é melhorar e fomentar as condições de vida e de trabalho das
famílias produtoras de produtos naturais da África, Ásia e América Latina.
Extratos para atender o segmento de alimentos e em seguida essências para o segmento de
cosméticos são os principais insumos fabricados ou a serem fabricados pelas empresas
exportadoras do subsetor de insumos. Para as empresas que pretendem exportar deverão ter
a preferência os produtos no segmento de alimentos.
Empresas tais como Amazon Ervas, Pronatus e Hisamitsu, classificadas na pesquisa como
fabricantes de bens finais - fitofármacos, fitocosméticos - e empresas de diversos subsetores
que pretendem exportar (coluna J na tabela 29) deverão fabricar tanto produtos - como os
destinados a complemento alimentar - quanto insumos, no segmento de alimentos.
A castanha-do-Brasil é a espécie mais utilizada tanto pelas empresas que pretendem
exportar, coluna J, quanto pelas exportadoras, colunas K e L. Outras espécies consideradas
importantes pelas empresas exportadoras e pelas que desejam exportar são: buriti, cupuaçu,
copaíba, guaraná, andiroba, muirapuama, crajiru e urucum.
Além de boas práticas de fabricação, o registro na ANVISA para as empresas que
pretendem exportar e plano de plantio e manejo, certificação de cadeia de custódia e
certificação orgânica para as empresas de capital estrangeiro exportadoras são as
certificações consideradas mais importantes.
A adoção do selo verde da “Amazônia” deverá representar relevância para as empresas de
capital local, mas não para as de capital estrangeiro. As de capital estrangeiro reconhecem
como mais importantes outros selos ou certificações como o FSC, que já é tradicionalmente
aceito pelo mercado externo.
Para as empresas que já exportam e as que pretendem exportar é preponderante prover
treinamento para a força de trabalho envolvida com a produção e melhoria de qualidade da
matéria-prima da flora.
23
Criado em 1998 na Alemanha com 16 países e o aval da liga FLO, que não comercializa os produtos, mas
concede um selo de qualidade para a comercialização e estimula o plantio ecologicamente correto.
161
O fator cópia simples e adaptação de projetos existentes de máquinas e equipamentos é
relevante para as empresas exportadoras de capital local, mas não é para as de capital
estrangeiro. Para as que pretendem exportar, deverá ser bastante relevante o fator
desenvolvimento de novos produtos sem similares no mercado, que tem relativa
importância para as empresas que já exportam, tanto as de capital local quanto as de capital
estrangeiro.
Manter a cooperação com as comunidades tradicionais e com os institutos de P&D locais é
preponderante tanto para as empresas que pretendem exportar quanto para as exportadoras.
162
V.5.
NÍVEL
E
TRAJETÓRIA
DA
CAPACITAÇÃO
TECNOLÓGICA
DA
FITOINDÚSTRIA E SUBSETORES
Nesta seção será empreendido esforço para classificar as 15 empresas, excluindo a
Recofarma, por nível de capacidade tecnológica com base nas competências acumuladas:
(a) gerenciamento do projeto; (b) organização da produção; (c) desenvolvimento do
produto; (d) interação/atividades de apoio e ilustração gráfica da trajetória da fitoindústria e
subsetores.
O desenvolvimento tecnológico das empresas, seguindo a escala sugerida no modelo do
quadro 5, até meados do segundo semestre de 2004, pode ser interpretado a partir da análise
dos resultados da pesquisa com as 15 micro, pequenas e média empresas, desenvolvidas até
o presente (2004).
É importante relembrar que as empresas não se capacitam necessariamente na seqüência
linear e nem começam e terminam nos mesmos níveis de capacidade tecnológica. Existem
algumas alternativas para classificar a empresa no nível de capacidade. Por exemplo, a
classificação poderia ser pelo nível mais baixo ou mais elevado de competência acumulada.
A opção neste caso corresponde ao nível mais elevado de competência alcançada pela
empresa nas dimensões das colunas da tabela 30.
Tabela 30 - Nível de capacidade produtiva e tecnológica da fitoindústria
Níveis de
Capacidade
Nível 1
Nível 2
Gerenciamento
do projeto
Organização
da produção
Desenvolvimento
do produto
Interação/
atividades
de apoio
1
2
1
1
0
2
0
1
Capacidade tecnológica inovadora: gerar e administrar mudanças técnicas
Nível 3
9
8
6
9
Nível 4
2
4
5
5
Nível 5
1
1
2
0
Nível 6
0
0
0
0
Total
15
15
15
15
Fonte: Extraído da pesquisa
163
Para o gerenciamento do projeto, embora todas as empresas disponham de capacidade para
a instalação de planta básica que amplia ou diversifica as atividades produtivas, 1 (7%)
empresa, porém, do subsetor de alimentos, não ultrapassou ainda o nível 1. Outras 2 (14%)
empresas, sendo 1 do subsetor de insumos e 1 o subsetor de alimentos, não ultrapassaram o
nível 2. O total de 12 (80%) empresas desenvolvem atividades inovadoras entre os níveis 3
e 5, entretanto, 9 (60%) delas situam-se no nível 3. Das 2 (13%) empresas situadas no nível
4, 1 possui certificação orgânica e 1 de sistema de controle administrativo/financeiro
informatizado e integrado. A outra empresa (7%) situada no nível 5 possui certificação
FSC.
Algumas empresas que desenvolvem atividades em níveis mais elevados de capacitação
tecnológica, ainda não desenvolveram certas capacidades em níveis mais baixos:
o Uma empresa embora classificada no nível 4 possui, todavia, sistema informatizado
de controle administrativo/financeiro com pouca integração entre os diferentes
subsistemas e não possui sistema de atendimento a cliente tampouco plano
estratégico formal;
o A empresa que está classificada no nível 5 ainda não possui, entretanto, sistema de
controle administrativo/financeiro informatizado integrado.
Para a organização da produção, apenas 1 (7%) empresa do subsetor de alimentos não
ultrapassou ainda o nível 1. No nível 2, situa-se 1 (7%) empresa do subsetor de alimentos.
13 (87%) das empresas desenvolvem atividades inovadoras entre os níveis 3 e 5, entretanto,
8 (53%) delas situam-se no nível 3. Outras 4 (27%) situam-se no nível 4, sendo que 2
porque possuem linha de produção considerada automatizada e 2 realizam controle de
qualidade
internamente
no
processo
produtivo
com
análises
físico-química
e
microbiológica, mesmo que empregando tecnologia menos sofisticada. A empresa que está
situada no nível 5 (6%) detém tecnologia para conversão química (refinamento do óleo).
Embora situadas em níveis mais elevados de capacitação tecnológica, ainda não
desenvolveram competências classificadas em níveis mais baixos:
o As 2 empresas situadas no nível 4, que dispõem apenas de um processo produtivo
semi-automatizado, sendo ambas do subsetor de bens finais;
164
o
As 2 empresas situadas no nível 5 que possuem apenas processo produtivo semiautomatizado, sendo que 1 delas não possui infra-estrutura interna de laboratórios
para realizar o controle de qualidade das análises físico-química e microbiológica.
Para o desenvolvimento de produto, 2 (14%) das empresas, sendo 1 do subsetor insumos e 1
do subsetor de alimentos, limitam-se a realizar cópia simples de produtos já lançados no
mercado, situando-se no nível 2, porém nenhuma está confinada apenas no nível 1. Ao todo
são 13 (87%) empresas que realizam atividades inovadoras entre os níveis 3 e 4, entretanto
6 (40%) delas situam-se no nível 3. As outras 5 (33%), que são do subsetores de bens finais
e alimentos, situam-se no nível 4, pois realizam novas combinações de matéria-prima da
floresta. As 2 (13%) empresas situadas no nível 5 desenvolveram produtos baseados em
atividades de P&D com certa complexidade mesmo que para diferenciar de produtos
similares e existentes no mercado.
Das empresas classificadas em níveis mais elevados e que não adquiriram algumas
competências essenciais nos níveis mais baixos, observa-se que:
o Tanto a empresa situada no nível 4 quanto à situada no nível 5 não possui infraestrutura adequada de laboratório para o desenvolvimento e melhoria de produtos.
Para a interação e atividades de apoio, 1 (6%) empresa do subsetor de alimentos não
ultrapassou o nível 2 de capacitação tecnológica. 14 (93%) das empresas realizam
atividades inovadoras entre os níveis 3 e 4, sendo que 9 delas no nível 3 e 5 no nível 4. Das
empresas situadas no nível 4, 2 estão desenvolvendo projetos de pesquisa em cooperação
com instituições de P&D em nível de pouca complexidade, 1 empresa está buscando
aperfeiçoar-se em técnica de plantio e manejo e 2 empresas buscam desenvolver bens de
capital para o processamento da matéria-prima de origem da floresta.
Das empresas classificadas em níveis mais elevados e que não adquiriram algumas
competências essenciais nos níveis mais baixos, observa-se que:
o 1 empresa que está situada no nível 4 não treina seus fornecedores de matériaprima;
o Outras 4 empresas situadas no nível 4 não participam de qualquer rede que pudesse
ser considerada como fonte externa para a busca de conhecimento.
165
Seguindo o modelo do quadro 5 e baseado nos dados da pesquisa, a figura 15 apresenta
indicativos da trajetória da capacitação tecnológica da fitoindústria e subsetores. O
movimento da curva para a direita na base da pirâmide indica progresso na capacidade
produtiva e o movimento na direção do cume da pirâmide indica progresso nas atividades
de P&D.
O grupo de empresas de bens finais: fármacos e cosméticos e de insumos: extratos,
essências, óleo etc. indicam, pelos resultados da pesquisa, que poderão avançar mais
rapidamente em P&D que o grupo de empresas do subsetor de alimentos: concentrados de
bebidas, balas, chocolates e polpa de frutas.
Entretanto, o avanço na capacidade produtiva dessas empresas não deverá apresentar
diferenças significativas entre os diferentes segmentos, embora o subsetor de alimentos se
encaminhe a ser ligeiramente superior que os demais, cuja representação da tendência da
trajetória tecnológica está apresentada na figura 15.
Figura 15 - Trajetória da capacitação tecnológica
2004
2010
2015
Fitoindústria
Bens Finais
Insumos
Alimentos
166
VI. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES
VI.1. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS MAIS RELEVANTES
(a) Características da fitoindústria e sua interação com o ambiente externo
O sucesso da fitoindústria dependerá não apenas dos avanços que venham a ocorrer no
interior das empresas, mas em toda sua cadeia produtiva. Dependerá, igualmente, da forma
como é afetada por fatores macro-ambientais tais como a legislação que trata do acesso à
biodiversidade e de incentivos fiscais, dos atores que interferem na exploração da
biodiversidade e mercado de produção da matéria-prima da flora e dos produtos fabricados.
No nível das firmas, o sucesso dependerá de como elas desempenhem a gestão de
atividades inovadoras, do desenvolvimento de tecnologias e de inovações, que sejam
capazes de agregar substancial valor aos recursos da flora. A gestão das atividades
inovadoras diz respeito à utilização dos recursos, da interação da firma com um virtual
Sistema Local de Inovação, da capacidade de ampliação de mercados, das estratégias para
reduzir as barreiras e acelerar o processo de aprendizagem, de capacitação e de inovação
tecnológica.
Algumas das características das empresas estão delineadas pelas seguintes considerações:
(a) as empresas de capital local que fabricam bens finais também produzem seus próprios
insumos; (b) as atuais empresas fabricantes de insumos, em geral, atendem essencialmente
os subsetores de fármacos, cosméticos e alimentos; (c) o subsetor de alimentos é o que
apresenta maior perspectiva de crescimento, influenciado também pelo interesse de
empresas que hoje atuam em outros subsetores da fitoindústria, com grande potencial para
o segmento de nutracêutico; e (d) no subsetor de cosméticos, o segmento de cosmecêuticos
deverá apresentar crescimento significativo.
Os incentivos fiscais, pelo menos os benefícios hoje concedidos com base no modelo Zona
Franca, são considerados fundamentais para a atração de novas empresas e para auxiliar na
competitividade das empresas já implantadas. Porém, cabe a observação de que é recorrente
essa reivindicação das empresas industriais instaladas no Amazonas, atraídas pelo projeto
Zona Franca de Manaus. Entretanto, a proximidade com a fonte de matéria-prima e a
167
fabricação de produtos associados à origem da “Amazônia” são considerados os principais
fatores de atratividade para a implantação e fabricação de produtos com recursos da flora.
Diversas espécies que não detinham qualquer valor de mercado, e seus subprodutos antes
desperdiçados, afora os tradicionais já utilizados em grande escala tais como o guaraná e a
copaíba, com o crescimento da fitoindústria, da diversificação de segmentos econômicos e
da fabricação de novos produtos passaram a ganhar valor econômico como matéria-prima
para a indústria.
Sementes da andiroba hoje são empregadas na produção de óleo para cosméticos e
fármacos, a semente do cupuaçu também hoje é empregada na fabricação de óleo e de
chocolate, a semente do maracujá na fabricação de óleo para cosméticos, resíduos da
floresta são empregados tanto na fabricação de cosméticos quanto de embalagens.
Algumas espécies são comercializadas na maioria dos casos ainda in natura, tanto para o
mercado interno e principalmente para o mercado externo, com pouco valor agregado, a
exemplo do óleo de pau-rosa, castanha-do-Brasil e da andiroba. Outras espécies como o
guaraná, que é empregado como principal matéria-prima dos concentrados para bebidas,
comercializadas tanto para o mercado interno quanto o externo, já recebem algum tipo de
beneficiamento na cadeia produtiva, resultando na conseqüente agregação de valor.
As empresas, porém, enfrentam dificuldades de acesso à matéria-prima da flora, em face de
fatores tais como logística precária de transporte nos rios da Amazônia, de difícil
navegabilidade em certos períodos do ano, de escassez e para a seleção como decorrência
da baixa qualidade e pela inexistência de planejamento, ou precária tecnologia de plantio e
manejo para sua produção.
Educar o produtor, o atravessador e transportador para que adotem procedimentos e evitem
a contaminação da matéria-prima da floresta, com boas práticas de plantio, manejo e
transporte parece ser uma necessidade básica. A castanha-do-Brasil, açaí, babaçu e pupunha
são espécies, como muitas outras, que exigem essas boas práticas, evitando processos
futuros de descontaminação como o da irradiação. Além dos elevados custos para as
empresas, esses processos comprometem a condição de produto orgânico ou natural criando
barreiras para a exportação.
168
Na fase atual, o gargalo para a extração do óleo bruto nas comunidades, que é empregado
na fabricação de cosméticos, está na limitada infra-estrutura de equipamentos e de
capacitação de seus habitantes que representam a força de trabalho. Ressalta-se que
trabalhos desenvolvidos por grupos de pessoas com as características das que integram as
comunidades exigem acompanhamento constante e in loco e de assistência técnica. As
limitações de infra-estrutura de máquinas e equipamentos para as atividades produtivas,
além de P&D, e instalações prediais também afetam as atividades das empresas.
A condição atual das comunidades tradicionais, que se apresentam como os principais e
potenciais fornecedores de matéria-prima da floresta para a fitoindústria, poderá não
apresentar a mesma relevância no futuro, se novos fornecedores surgirem no mercado como
há indícios de que isto venha a ocorrer.
Embora ainda em uma fase embrionária, de um lado as pesquisas de mapeamento, apoiadas
nas atividades desenvolvidas nos projetos dos APLs, começam a identificar as áreas de
maior potencialidade para a extração combinada ao cultivo das espécies. De outro,
pequenos empresários e pesquisadores iniciam experiências de plantio planejado para o
atendimento futuro ao provável crescimento de demanda da fitoindústria.
Surgem os primeiros projetos para a produção de matéria-prima com fins industriais, todos
envolvendo as comunidades tradicionais ou ribeirinhas, tanto com a participação das
empresas industriais ou não quanto de outras organizações. Pelas empresas, os projetos da
Recofarma, Crodamazon, Agrororisa, por outras organizações não industriais, os projetos
da UFAM, Agência de Floresta do governo do Estado, da Organização das Cooperativas do
Brasil e do SEBRAE-Am são exemplos de que o mercado de produção de matéria-prima
apresenta sinais de que poderá se organizar.
O projeto da Recofarma destina-se à produção do guaraná e, através de uma coligada, à
produção de açúcar industrial, aplicados na produção de concentrados para bebidas não
alcoólicas. O projeto da Crodamazon de produção de óleo é empregado na fabricação de
cosméticos. O projeto da Agrorisa, de fabricação de insumos de guaraná com tecnologia
diferenciada de torração, destina-se à fabricação de diversos produtos, notadamente para
exportação.
169
O projeto desenvolvido pela UFAM, para adaptar e instalar equipamentos cedidos pelo
Ministério de Minas e Energia, que conta com o envolvimento da Agência de Floresta do
governo estadual, servindo para a extração do óleo vegetal a ser empregado inicialmente
para a indústria cosmética, poderá futuramente atender a outros subsetores como o
farmacêutico e alimentos.
O projeto da Organização das Cooperativas do Brasil, através da unidade do Amazonas,
pretende produzir óleo para cosméticos e o projeto do SEBRAE-Am deverá produzir
plantas medicinais para fitoterápicos.
Dos recursos humanos empregados pelas empresas, seus dirigentes são egressos da
indústria e em menor número das instituições acadêmicas. Os procedentes da academia são
os que possuem maior titulação – mestrado - principalmente na área de farmácia e atuando
nos segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos, sem terem perdido o vínculo com a
atividade acadêmica.
Além de farmácia, que é predominante, outras áreas principais de formação acadêmica
desses dirigentes são a engenharia química e agronomia, indicando a importância em lidar
com a matéria-prima de origem da biodiversidade, além da formação em outras áreas como
administração.
São aproximadamente 27 pessoas em média empregadas no conjunto de micro, pequenas e
médias empresas da fitoindústria, sendo a mesma média para os subsetores de bens finais,
insumos e alimentos. Estima-se em cerca de 470 pessoas a mão-de-obra média indireta
gerada por empresa no lócus de produção da matéria-prima, muito embora de baixa
qualificação, com a predominância do 1o grau incompleto. O subsetor de insumos é o maior
empregador com média aproximada de 1.255 pessoas, por manter relação direta com a
produção de matéria-prima, e o menor é o subsetor de bens finais com 63 pessoas
empregadas.
A força de trabalho da fitoindústria com curso superior completo em 2004 foi estimada em
apenas 16%, com perspectiva de crescimento pouco expressivo para os próximos anos,
exceto nos subsetores de fitoterápicos e fitocosméticos para os quais a taxa do nível de
qualificação deverá crescer um pouco mais rapidamente.
170
Entretanto, há carência de pessoal qualificado para a realização de atividades no processo
produtivo e de P&D. Os profissionais necessários na região são principalmente botânicos,
farmacêuticos, engenheiros de alimentos e especialistas em cosméticos.
Infra-estrutura para P&D é menos disponível para as empresas de capital local do que para
as de capital estrangeiro. Estas dispõem de mais infra-estrutura interna, nas coligadas e nos
institutos de P&D com os quais as coligadas mantêm cooperação.
Da mesma forma, os recursos financeiros afetam muito mais as empresas de capital local
do que as de capital estrangeiro, visto que estas dispõem de fontes de financiamento do
grupo empresarial ao qual pertencem. A escassez de fontes adequadas, elevados encargos
financeiros e excesso de burocracia são fatores que têm levado as empresas a optarem pelo
autofinanciamento de suas atividades. Todavia, elas não consideram ainda o capital de risco
como uma importante fonte de financiamento.
(b) Modernização gerencial e organizacional das empresas
Como melhoria das atividades gerenciais do projeto, as empresas têm buscado implantar
alguns sistemas informatizados e integrados, tais como folha de pagamento, contabilidade,
controle de estoque etc. Observa-se, todavia, que a maioria das empresas de capital local
dispõe de sistemas informatizados ainda frágeis.
Embora viabilizem treinamento para seus fornecedores, isto ocorre de maneira não
sistematizada e apenas para procedimentos básicos de manuseio, bem como para garantir a
produção e o fornecimento regular de matéria-prima da floresta. A maioria das empresas
não dispõe de gestão estratégica e de sistemas sistematizados de atendimento a cliente.
Cada empresa pode apresentar uma necessidade específica ou de maior relevância dentre as
várias certificações que deve obter, para melhor desempenhar suas atividades operacionais,
embora a certificação de boas práticas de fabricação seja a mais procurada. A certificação
que autoriza o plano de plantio e manejo, por exemplo, pode ser importante para algumas
empresas, enquanto a certificação FSC para outras.
O “selo verde da Amazônia” trata-se de uma idéia, defendida por empresários,
pesquisadores e técnicos do governo, que deverá simbolizar os valores da região. Por este
atributo, o selo deverá ter maior importância do que atestar a qualidade, por exemplo, já
171
que existem outras certificações reconhecidas pelo mercado, principalmente o externo,
sendo, entretanto, considerado como uma das principais estratégias das empresas nas
atividades que deverão auxiliar no desenvolvimento do setor. A adoção do selo verde da
“Amazônia” indica ser bastante relevante para as empresas de capital local, tanto para as
exportadoras quanto para as que pretendem exportar.
Quando se analisam apenas as empresas que pretendem exportar, novamente a certificação
de boas práticas de fabricação e o registro na ANVISA são as mais necessárias. Para as
empresas exportadoras, as mais relevantes são o plano de plantio e manejo, certificação de
cadeia de custódia e certificação orgânica.
Na gestão organizacional da produção, a expressiva maioria das empresas utiliza processos
produtivos semi-automatizados, com o produto em fabricação conduzido manualmente de
um equipamento para outro. O grau dessa automatização é proporcional ao tamanho da
empresa, ou seja, quanto menor menos automatizada, que é explicada em parte pela
pequena escala de produção.
A tecnologia empregada no processo produtivo pelas empresas é considerada de domínio
público, apresentando certa similaridade nos diferentes subsetores, mesmo nas operações
básicas de menos complexidade para alguns produtos e um pouco mais para outros. Alguns
tipos de produtos nos subsetores de concentrados de bebidas não alcoólicas, de fitoterápicos
e fitocosméticos deverão exigir tecnologias mais complexas em tempo mais curto. De
forma análoga, os segmentos de nutracêuticos e cosmecêuticos, que mostram ter um grande
potencial de crescimento, também deverão empregar tecnologias mais avançadas.
As diferenças no processo produtivo dos diferentes subsetores tornam-se mais evidentes à
medida que cresce a complexidade do produto fabricado. As diferenças mais marcantes e
observadas dizem respeito ao processo de combinação de novas substâncias para a
formulação dos compostos, para os quais as empresas necessitam implementar
significativas melhorias, e pela diversidade de matéria-prima da flora utilizada na
fabricação dos produtos. Essas técnicas acabam sendo preservadas e mantidas como
segredo de fabricação por cada empresa. As empresas menos organizadas necessitam,
ainda, de melhorias de lay-out para a otimização do processo produtivo.
172
A cópia simples e adaptação de projetos existentes de bens de capital, empregados na
produção, é uma das atividades necessárias para a melhoria do processo produtivo das
empresas, fundamentalmente no subsetor de insumos. Nesse subsetor, também há a
necessidade eventual de desenvolvimento de um novo projeto de bens de capital específico
para o processamento de determinadas espécies empregadas como matéria-prima. As
espécies, na maioria dos casos, têm características diferentes de outras espécies já
conhecidas e cultivadas no resto do país para as quais já foram desenvolvidos bens de
capital.
Os projetos da Agência de Floresta e de biodiesel da UFAM também adaptam e
desenvolvem máquinas e equipamentos para atender o elo inicial da cadeia produtiva, para
o processamento da matéria-prima empregada na extração do óleo vegetal e essencial de
espécies tais como a castanha e a andiroba. Essas atividades de adaptação e
desenvolvimento contam com o suporte tecnológico de uma empresa especializada de São
Paulo.
Para a maioria das empresas, elas desenvolvem novos produtos sem similares no mercado.
No entanto, a maioria realiza cópias e pequenas modificações de produtos já existentes no
mercado e efetua pequenas modificações como a substituição de insumos procedentes de
outras regiões, ou a adição de insumos à base de matéria-prima da floresta com as mesmas
características dos substituídos. Seguindo o método de triangulação, são utilizadas espécies
da flora amazônica ainda sem comprovação científica, mas com características similares às
de espécies de outra origem geográfica que já disponham de comprovação científica,
empregadas na formulação de compostos para a fabricação de fitoterápicos.
A maioria das atividades inovadoras é bastante simples. Essas atividades podem ser
denominadas de inovações menores ou de inovações incrementais de pouco impacto, porém
significativas para elas. Outras, porém, são resultantes de atividades de P&D que têm o
suporte de instituições de pesquisa, laboratórios das empresas ou de coligadas, que podem
ser classificadas de inovações incrementais com impacto mais significativo.
173
(c) P&D e capacitação tecnológica
Como a prática de atividades de P&D das empresas ainda é de pouca complexidade e
incipiente, não é possível a obtenção de patentes que assegurem à fitoindústria uma posição
destacada no processo de desenvolvimento tecnológico.
O uso da biotecnologia na pesquisa e desenvolvimento de produtos na fitoindústria é uma
possibilidade e necessidade que pode valorizar mais os recursos da flora. No entanto, por
enquanto os procedimentos de screening são as atividades relacionadas à biotecnologia de
maior interesse das empresas.
Para algumas atividades não muito complexas, é possível a obtenção de patentes. Muito
embora os princípios ativos “brutos” de uma planta, por exemplo, não possam ser
patenteados, um composto resultante da combinação de várias plantas para a fabricação de
fitoterápicos pode. A produção de compostos é bastante praticada pelas empresas do
segmento de fitoterápicos. Como essas empresas, outras e de outros subsetores têm
igualmente manifestado o interesse em buscar patentes para suas pesquisas e produtos.
Existe sempre o receio das empresas, todavia, de que a patente possa ser copiada, além dos
custos envolvidos. Porém, no caso de fitoterápicos, não é um processo fácil, visto que
muito do conhecimento é tácito e exclusivo do pesquisador, acumulado por muitos anos de
pesquisa com determinadas espécies da flora.
Pelas exigências impostas pela Resolução que disciplinou a pureza e produção de
fitoterápicos, deverá ser exigida das empresas fabricantes desses produtos uma decisão
importante: acelerar a pesquisa para a comprovação científica das espécies regionais que
utilizam, ou adquirir espécies de outras regiões que já dispõem de comprovação científica
e, portanto, com menor dificuldade para o registro junto à ANVISA.
A transferência para o setor produtivo de tecnologia desenvolvida por um pesquisador,
vinculado a um instituto de pesquisa, em muitos casos é limitada pela inexistência de
recursos financeiros, além da dificuldade de comprovação científica da eficácia da espécie
pesquisada para a finalidade alegada. A “unha de gato”, por exemplo, que é empregada no
tratamento de diversos tipos de doenças na região, cujo conhecimento sobre sua aplicação
já é dominado por pesquisadores, é uma das espécies que poderia ser industrializada.
174
As principais fontes internas de aprendizagem das empresas referem-se a: (a) pessoal
capacitado; (b) análises laboratoriais; e (c) atividades básicas de P&D. As principais fontes
externas de aprendizagem são: (a) análises laboratoriais; (b) as conferências, publicações
especializadas, feiras e exposições; e (c) clientes e fornecedores.
A busca de pessoal capacitado resulta de treinamento proporcionado aos empregados e da
contratação de pessoal com o nível de qualificação desejada. O aprendizado com as análises
laboratoriais ocorre pela necessidade de atestar a qualidade da matéria-prima e do produto
fabricado. As atividades básicas de P&D resultam dos ensaios e testes para a formulação de
novos compostos e do desenvolvimento de novos produtos.
As análises laboratoriais realizadas nos laboratórios locais e de centros mais avançados
como São Paulo têm sido principalmente: análises microbiológicas, análises físicoquímicas e testes pré-clínicos para o controle de qualidade da matéria-prima e produto
fabricado.
A análise nesses centros mais avançados resulta no aprendizado de técnicas mais modernas
que em muitos casos são assimiladas e passam a ser praticadas internamente pelas
empresas. A identificação fiotoquímica de marcadores é considerada uma das principais
dificuldades que enfrentam as empresas nas atividades de análises laboratoriais.
A participação em feiras e exposições em outros países permite o contato com tecnologias
mais avançadas. O aprendizado com clientes diz respeito não apenas ao consumidor final,
mas a grande contribuição e influência dos distribuidores dos produtos. Eles observam as
características de produtos concorrentes, captam a necessidade dos consumidores e
transferem essas informações para as empresas que são utilizadas no desenvolvimento de
novos produtos.
Os sinais de interdependência cada vez mais fortes entre as empresas e seus fornecedores,
cuja maioria é constituída de comunidades tradicionais, apontam para a necessidade de
produção de matéria-prima da floresta de melhor qualidade, que se não for assim pode
tornar-se uma das ameaças resultando na baixa qualidade dos produtos fabricados.
Essa interdependência deverá exigir a utilização de tecnologias de plantio e manejo com
diferentes níveis de complexidade. Considera-se factível o emprego de técnicas da moderna
biotecnologia para a melhoria genética das espécies, visto que instituições de pesquisa
175
como o INPA e EMBRAPA possuem conhecimento suficiente nesse campo para oferecer
esses serviços e pelas pesquisas que podem ser desenvolvidas pelas equipes do projeto
Genoma e Proteoma que deverão acumular competências nessa área.
Os fabricantes de bens de capital e principalmente as comunidades tradicionais, que
fornecem a matéria-prima da flora, são os fornecedores que mais contribuem para o
aprendizado das empresas. Porém, não é apenas para as empresas que as comunidades
tradicionais transmitem algum tipo de conhecimento, mas também para os próprios
fabricantes de bens de capital sobre o processamento da matéria-prima.
O fornecedor de equipamentos para os projetos da UFAM, por exemplo, empregados na
produção do óleo bruto para cosmético e biodiesel, consulta previamente os pesquisadores
e as comunidades sobre as características e técnicas empregadas na transformação das
espécies para, então, realizar a adaptação ou desenvolvimento de novo bem de capital.
São diversos os projetos conduzidos por diferentes instituições em cooperação com as
comunidades, que apresentam muitos objetivos comuns, sinalizando a inexistência de
coordenação interinstitucional. Cada projeto, além da instituição promotora, conta com a
participação de uma ou mais das demais instituições de P&D locais, ou de seus
profissionais atuando apenas como consultores, que se envolvem quando o projeto
geralmente já tem sido iniciado.
(d) Agentes da cadeia produtiva e aspectos mercadológicos
As comunidades ocupam vastas áreas onde são encontradas diversas espécies de interesse
do setor produtivo e de pesquisadores, tornando-se agentes de extrema importância na
cadeia produtiva. As obrigações impostas pela legislação de acesso à biodiversidade
também valorizam as comunidades tradicionais, pois determinam a repartição de benefícios
para elas pelo uso do conhecimento tradicional.
Há várias formas de remuneração do conhecimento popular que estão sendo propostas: o
pagamento pelo valor de commodities, como é a prática atual; o pagamento puro e simples
para as comunidades fornecedoras, mediante um percentual sobre o faturamento obtido
com a venda do produto. Porém, existem ainda as pesquisas científicas. Talvez o mais justo
fosse dividir os benefícios entre a comunidade, instituição de pesquisa e governo.
176
A comprovação científica do conhecimento tradicional tornou-se necessária principalmente
a partir da aprovação da lei de fitoterápicos. Pesquisadores da região amazônica exploram o
conhecimento tradicional associando-o a conhecimentos científicos, adotando o método de
triangulação para a produção de fitoterapicos, que também já vem sendo praticado por
empresas desse segmento.
As empresas igualmente se baseiam no conhecimento tradicional para a escolha da matériaprima que é empregada nos diversos produtos fitoterápicos. Esse conhecimento, que não
tem fronteira, é muito explorado na identificação de plantas medicinais, muitas das quais
são consideradas insubstituíveis, sendo bastante utilizadas isoladamente ou em compostos
com outras espécies, como é o caso do eucalipto que é procedente de outras regiões. O
desafiador, porém, é como efetivar a comprovação científica e aplicação industrial para as
milhares de espécies já conhecidas e desconhecidas da flora amazônica.
O conhecimento tácito da força de trabalho com o processo produtivo adquire significativa
relevância, visto que as atividades que envolvem os recursos da biodiversidade ainda
necessitam de referências padronizadas e homologadas. Muitas vezes é exigido desse
empregado, sensibilidade, iniciativa e discernimento para agir e tomar decisões diante de
problemas eventuais, principalmente surgidos pelo uso incorreto da matéria-prima da flora.
Pelas suas características singulares e pela escassez de literatura sobre atividades de P&D
que orientem seu uso, o conhecimento tácito torna-se extremamente importante para a
seleção da matéria-prima e a conseqüente formulação dos compostos, para os diversos
segmentos: fitoterápicos, fitocosméticos, concentrados para bebidas, balas, chocolates etc.
Um aspecto relevante a ser ressaltado é a pouca interação e cooperação com outras
empresas locais do setor, indicando serem até menos intensas do que a interação e
cooperação com empresas de fora do estado. Isto poderá frear a sinergia e a dinâmica
comuns na aglomeração de empresas.
Embora as atividades de cooperação com os institutos de P&D sejam consideradas uma das
principais fontes de aprendizagem, pela pouca pratica são consideradas, por outro lado
umas das principais dificuldades para a capacitação tecnológica das empresas.
As principais estratégias para a gestão das atividades inovadoras e o crescimento dos
negócios das empresas são: (a) a cooperação com institutos de P&D locais; (b) associação
177
dos produtos à marca “Amazônia”; (c) criação de infra-estrutura de produção e P&D; (d)
estímulo à capacitação de pessoal; e (e) ampliação da participação no mercado nacional e
externo. A comercialização dos produtos das empresas, tanto no mercado interno quanto o
externo, está associada à crença de que produtos da “Amazônia” exercem um apelo
especial.
Em que pese o grande potencial de mercado para os produtos da floresta amazônica, outros
fatores, além da marca “Amazônia”, são essenciais para garantir o acesso a mercados mais
exigentes. Para tanto as empresas necessitam dispor de design adequado, qualidade,
regularidade no fornecimento, a necessidade cada vez maior da comprovação da cadeia de
custódia para os produtos que fabricam e investimento em marketing.
Analogamente, o mercado está compelindo os fabricantes de produtos naturais a alterarem
a forma de apresentação das substâncias no rótulo e requerendo testes e provas de
autenticidade das matérias-primas dos fornecedores. Estes, por sua vez, deverão buscar
embalar os insumos produzidos com matéria-prima da floresta com guias e avisos de uso.
Os escassos investimentos em marketing têm contribuído para dificultar a ampliação e
conquista de novos mercados, afetando mais os subsetores de bens finais e de alimentos.
Mesmo no mercado nacional, onde há o domínio de empresas das regiões Sul e Sudeste,
existe espaço para a ampliação de participação no mercado, dependendo principalmente de
recursos para a divulgação sistemática dos produtos.
As empresas fabricantes de bens finais nos segmentos de cosméticos e fitoterápicos, que
têm a capacidade de adicionar mais valor à matéria-prima da flora, comercializam seus
produtos no mercado nacional, mas principalmente no mercado local e regional, com
exportações pontuais e de pequenas quantidades.
De modo geral, as empresas consideram as dificuldades alfandegárias/tributárias como um
dos principais problemas para o acesso ao mercado externo. Por outro lado, as empresas
não têm se adequado em tecnologia para atender a essas novas exigências, a ponto de
espécies como a castanha-do-Brasil in natura perder mercados drasticamente. Isto deverá
ocorrer igualmente para outros produtos de maior valor agregado, desde que as empresas
não acompanhem as necessidades de atualização tecnológica. Os tipos de matéria-prima
178
mais utilizados pelas empresas exportadoras e pelas que desejam exportar são: buriti,
cupuaçu, guaraná, muirapuama, crajiru e urucum.
Assim como o Brasil que não faz parte dos países que são os maiores exportadores, embora
seja considerado o país com a maior biodiversidade do mundo, o Amazonas também não
exporta plantas medicinais e aromáticas, embora possua a maior biodiversidade do país.
Uma das características das empresas exportadoras de capital estrangeiro é o de criar infraestrutura própria para o desenvolvimento de fornecedores ou para a produção de matériaprima da flora que emprega em seus produtos. São as que mais dominam a tecnologia de
distribuição no que diz respeito a normas, procedimentos e especificações sobre condições
de embalagem, de armazenamento (temperatura, umidade e forma de armazenagem), de
transporte e de comercialização.
Empresas de capital estrangeiro como a Recofarma e a Crodamazon têm acesso mais
facilmente ao mercado externo do que as de capital local. A exploração do conceito do
“mercado justo”, entretanto, é um dos instrumentos que podem auxiliar as exportações de
empresa de capital local como tem sido explorado pela Agrorisa.
A empresa Crodamazon, de capital estrangeiro, em 2004 além de consolidar a venda de
óleo vegetal para cosméticos no Brasil, já vendeu para cerca de 19 países, e para alguns
diretamente de Manaus, aproveitando a presença de coligadas do grupo em 37 países. A
Recofarma é considerada como um dos maiores exportadores do Pólo Industrial de Manaus
– PIM e aproveita também a presença do grupo em países importadores. De 4 empresas
hoje que exportam regularmente, outras 7 também têm como estratégia a exportação.
Para as empresas, o desconhecimento do mercado sobre a origem e melhor qualidade da
matéria-prima natural da flora, embora com a dificuldade de comprovação científica,
contribuem para limitar a comercialização de seus produtos. Causa inquietação para
algumas empresas o risco de impacto ambiental pela extração e uso intensivo das espécies,
com a possibilidade de crescimento da biopirataria para fins de pesquisa científica em
centros mais avançados. Recentemente o governo brasileiro obteve no âmbito da OMC o
pedido de anulação de patente de um produto à base de cupuaçu, fruto típico da Amazônia
obtido por uma empresa japonesa.
179
(e) Barreiras e trajetória dos fatores e atividades para a capacitação tecnológica
São crescentes as restrições fito-sanitárias criadas por países importadores aos produtos que
podem afetar a saúde humana, com impacto nos produtos que empregam matéria-prima da
biodiversidade amazônica. Outro tipo de dificuldade para esses produtos são as barreiras
impostas por países como os EUA, que alegam existir o risco de prática de “bioterrorismo”,
como a que foi experimentada pela Agrorisa quando estudava possibilidade de exportar
para aquele país.
O papel do governo, particularmente o governo estadual e a Suframa como órgão do
governo federal, é considerado bastante limitado no apoio às atividades da fitoindústria. As
empresas atribuem ao governo ter adotado uma atitude muito passiva sobre ações essenciais
para o desenvolvimento da fitoindústria:
o Os produtos com matéria-prima da Amazônia não têm sido divulgados em
campanhas institucionais para o restante do país e para o exterior;
o Os incentivos fiscais são menos favoráveis do que os concedidos para empresas de
de outras regiões e tecnologia que se instalam no PIM;
o Até recentemente não eram financiadas atividade de P&D e continua inexistindo
linhas de financiamento específicas para infra-estrutura predial e bens de capital;
o Até agora não tem sido dada na prática a devida importância aos recursos naturais
como fonte de matéria-prima para o desenvolvimento industrial e de tecnologia
endógena;
o Os produtores de matéria-prima não têm sido apoiados suficientemente no
desenvolvimento, transferência e capacitação tecnológica;
o A falta de coordenação dos projetos importantes faz dispersar as competências
existentes nas diversas instituições, com cada um cuidando do seu próprio projeto.
Para as empresas, o governo poderia auxiliar na divulgação dos produtos da Amazônia com
campanhas na mídia e quando organiza feiras e eventos sobre produtos brasileiros no
exterior. Igualmente, incentivar mais a produção realizada com recursos regionais e a
Suframa readequar os Processos Produtivos Básicos - PPB para estimular a competitividade
da fitoindústria.
180
A FAPEAM disponibilizou recursos para financiar algumas das atividades de P&D das
empresas apenas a partir de 2004, consideradas ações muito recentes e sem a certeza de
continuidade, embora de efeito bastante positivo até agora. Cerca de 25 projetos de
pesquisa que empregam recursos da biodiversidade, em fase de desenvolvimento, foram
financiados por aquela Fundação sem a obrigação de ressarcimento.
O governo é considerado agente fundamental para a transferência de tecnologias às
comunidades para a produção de matéria-prima que atenda a fitoindústria, mas é
reconhecida sua carência de pessoal técnico qualificado e de outros recursos para prover
essa assistência técnica.
Face à pequena capacitação tecnológica dos produtores de matéria-prima, a figura do
atravessador surge com bastante destaque, sendo considerada prejudicial à organização da
cadeia produtiva e à sustentabilidade ambiental. O atravessador interessa-se apenas pela
compra da matéria-prima in natura, dificultando a capacitação tecnológica dos seus
produtores e a conseqüente maior contribuição na cadeia de valor.
Uma outra característica nociva do atravessador é quando anuncia nos locais de produção a
urgência em adquirir a matéria-prima. Essa atitude leva muitas vezes o extrativista
apressado em realizar o negócio, e por não dominar técnicas de manejo mais adequadas, a
causar danos irreparáveis ao meio ambiente, ao cortar uma árvore nativa de pau-rosa, por
exemplo, para extrair mais rapidamente a essência, que é empregada na fabricação de
cosméticos.
Há uma clara dificuldade de “governança” em harmonizar as atividades de instituições de
pesquisa, de pesquisadores, de órgãos públicos e empresas envolvidas na exploração dos
recursos da biodiversidade. É necessário o esforço das principais lideranças públicas e
privadas para a criação de um ambiente favorável à cooperação institucional.
Os fatores deverão sofrer variação no grau de importância relativa ao acesso,
disponibilidade, ou prática para as empresas com o passar do tempo. A trajetória desses
fatores é analisada a partir da comparação das respostas positivas referentes ao momento
atual (coluna A no questionário de indicadores, Anexo 1) com tão somente as respostas de
nível de importância elevado (3 ou 4 na escala Likert) prenunciadas para o futuro (coluna B
no questionário de indicadores, Anexo 1).
181
Para o gerenciamento do projeto e modernização organizacional, deverão sofrer maior
variação no nível de importância relativa para as empresas: um plano ou administração
estratégica sistematizada; obtenção da certificação ISO, certificação orgânica e certificação
de boas práticas de fabricação; projeto e desenvolvimento de bens de capital para o
processamento da matéria-prima da flora; atividades de biotecnologia para recombinação
de DNA e comprovação científica da eficácia das espécies da floresta empregadas como
matéria-prima.
As atividades da moderna biotecnologia deverão ser empregadas com mais intensidade com
o passar do tempo no segmento de fitoterápicos. Deverão perder importância relativa,
apenas para o subsetor de alimentos, os seguintes fatores: fabricação com exclusividade e
técnicas de administração de materiais e da produção tais como just-in-time, kan-ban e kai-
zen cópia simples de bens de capital empregados no processo produtivo para as empresas
fabricantes de bens finais.
A cooperação com institutos de P&D locais é o fator de aprendizagem das fontes externas
que indica crescimento de importância relativa futuramente. Entretanto, observa-se que
embora seja baixa, ou quase inexistente hoje, as empresas não consideram como relevante
futuramente a cooperação com outras empresas. Deverão perder importância relativa os
seguintes fatores: conhecimento tradicional para o as empresas fabricantes de bens finais, a
cooperação com as comunidades tradicionais para o subsetor de insumos, e conferências e
publicações para o de alimentos.
O conhecimento tradicional que foi um importante fator de atratividade para a implantação
das empresas hoje em atividade deverá perder importância relativa com o passar do tempo
para a implantação de novas empresas. Uma das explicações é que possivelmente não
manterá o mesmo grau de importância como fonte de conhecimento sobre a utilização das
espécies.
Os fatores que deverão crescer em nível de dificuldade na medida em que a fitoindústria se
desenvolve são: ausência de política de preço e tecnologia de plantio e manejo para as
espécies da flora utilizadas como matéria-prima, o processo produtivo básico – PPB
exigido pela Suframa e a falta de base industrial para atividades afins à fitoindústria.
182
Em contraposição, deverão perder importância relativa os seguintes fatores: escassez da
matéria-prima para o subsetor de alimentos, logística de transporte da matéria-prima para as
empresas fabricantes de bens finais e a seleção de matéria-prima para o subsetor de
alimentos.
Os fatores que deverão crescer em importância relativa como estratégias para o aprendizado
e capacitação tecnológica da fitoindústria são: exportação, cooperação com institutos de
P&D locais e uso de atividades de biotecnologia. Por outro lado, deverão perder em
importância relativa são os seguintes fatores: necessidade de infra-estrutura de laboratórios
para atividades de P&D para as empresas fabricantes de bens finais.
As definições de políticas públicas em apoio ao desenvolvimento econômico do Amazonas
são avaliadas freqüentemente pelas vantagens e desvantagens em incentivar a produção
industrial baseada na matéria-prima da região, comparativamente aos incentivos concedidos
pelo projeto Zona Franca de Manaus para atração de empresas. E o desenvolvimento da
biotecnologia é visto pelo governo como essencial e estratégico para a exploração e
valorização dos recursos da biodiversidade.
183
VI.2. PRINCIPAIS CONCLUSÕES
Nesta seção serão examinadas algumas características que distinguem: (a) Fitoindústria e o
Pólo Industrial de Manaus – PIM; e (b) Fitoindústria e Novas Empresas de Biotecnologia
(NEBs).
VI.2.1. Fitoindústria vs. Pólo Industrial de Manaus - PIM
No quadro 7 são descritas algumas das vantagens atribuídas ao desenvolvimento industrial
do Amazonas baseado nos recursos naturais da região frente à indústria do Pólo Industrial
de Manaus – PIM:
Quadro 7 - Vantagens hipotéticas da fitoindústria sobre o PIM
PIM
Importação de insumos e matérias-primas;
baixo valor agregado.
Atividades produtivas, população e
emprego concentrados em Manaus.
Fintoindústria
Principal fonte: biodiversidade
do Estado; alto valor agregado.
Interiorização da produção;
oferta de emprego; e fluxo
migratório inverso.
Fonte: Subsídios Para Política Pública de Biotecnologia para o Estado do
Amazonas (2002).
Atribui-se às empresas do PIM serem grandes importadoras de matéria-prima, agregando
baixo valor aos produtos fabricados localmente, contribuindo para o saldo negativo na
balança comercial do país - tabela 1 - enquanto as empresas que utilizam a matéria-prima
natural da região hipoteticamente não necessitariam importar.
Das 3 empresas de capital estrangeiro, todavia, 2 são importadoras de insumos do exterior
e, no geral, todas as empresas tanto as de capital local quanto as de capital estrangeiro
adquirem insumos de outras regiões do país. As compras por região estão demonstradas no
gráfico 31.
184
Gráfico 31- Compras totais da fitoindústria por região
%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Anos
2000
2001
2002
Compra Local
Compra do Exterior
2003
2004
Compra Nacional
Uma comparação das compras de insumos feitas na região em relação à compra total, tanto
pela fitoindústria quanto pelo PIM, mostra que a partir de 2002 a fitoindústria (dados
fornecidos pelas empresas) tem comprado ligeiramente mais, proporcionalmente, do que o
PIM (dados extraídos no site http://www.sufrma.gov.br). O gráfico 32 apresenta dados
históricos do comportamento dessas compras locais, indicando a tendência de equilíbrio
entre ambas as indústrias em um nível aproximado de 30% em relação às compras totais.
Gráfico 32 - Compras locais em relação ao total de compras por indústria
%
40%
30%
20%
10%
0%
2000
2001
Fitoindustria
2002
2003
2004
Anos
PIM
Uma das conclusões do estudo Subsídios Para Política Pública de Biotecnologia para o
Estado do Amazonas (2002), sobre as conseqüências do modelo do PIM, destaca a
concentração da população, da atividade produtiva e da geração de empregos em Manaus.
185
Algumas experiências dos projetos para a produção de matéria-prima, iniciados em
diversos municípios do estado, de certa forma confirmam essa conclusão do estudo. Com
esses projetos observa-se, também, um processo crescente de integração de tecnologias nas
fases
iniciais da cadeia produtiva, ilustrada na figura 5, e a perspectiva de geração
significativa de empregos indiretos, com o crescimento das atividades da fitoindústria,
ilustrada no gráfico 6 - geração de empregos indiretos. Há a indicação também da
perspectiva de desconcentração das atividades produtivas de Manaus para os municípios do
estado.
Enquanto a mão-de-obra média direta do conjunto de micro, pequena e média empresas foi
estimada em 27 pessoas em 2004, sendo a mesma média por subsetor, a indireta foi
estimada em 470 pessoas. O maior empregador de mão-de-obra indireta é o subsetor de
insumos porque mantém relação mais direta e intensa com os produtores de matéria-prima,
com média por empresa de 1.255 pessoas e o menor é o de bens finais com 63 pessoas.
Embora um dos principais fatores considerados restritivos para o crescimento mais
acelerado da fitoindústria seja a falta de base industrial local, em setores afins às atividades
desse setor, algumas externalidades positivas podem ser proporcionadas pelo PIM
beneficiando a fitoindústria, através do processo de aglomeração industrial e formação de
clusters etc.
As externalidades relevantes para a formação de cluster envolvem: (a) produção em massa;
(b) disponibilidade de serviços especializados; (c) formação de força de trabalho
especializada e a produção de novas idéias, mas baseadas na acumulação de capital humano
e comunicação face-a-face; e (d) existência de moderna infra-estrutura (MARSHAL
[1890]) apud FUJITA & THISSE, p. 9, 2002). Algumas dessas externalidades que podem
ser proporcionadas pelo PIM são:
o Capacidade gerencial acumulada na atividade industrial;
o Tecnologia de processo relativamente bem desenvolvida;
o Existência de base industrial para a fabricação de alguns produtos tais como
embalagens e diferentes tipos de gases, álcool, extratos aromáticos e açúcar
industrializado;
186
o Forte vínculo com o mercado externo através das coligadas, cuja maioria das
empresas são filiais de multinacionais, podendo facilitar a criação de importantes
canais de distribuição e exportação de produtos da fitoindústria.
VI.2.2. Novas Empresas de Biotecnologia - NEBs vs. Empresas da Fitoindústria
Conforme mostram os dados da pesquisa, alguns dos principais fatores que têm
caracterizado ou contribuído para o desenvolvimento das Novas Empresas de Biotecnologia
(NEBs) em diversos países são: atividades intensivas realizadas pelas pequenas e médias
empresas localizadas próximo das fontes de conhecimento; disponibilidade de recursos:
humanos capacitados, fontes de financiamento e infra-estrutura de P&D e produção;
cooperação com instituições e empresas para atividades inovadoras; existência de mercado
para os produtos fabricados; apoio do governo e base industrial em atividades afins.
Mesmo atuando em segmentos econômicos diferentes, algumas empresas deverão
demandar ou desenvolver atividades de biotecnologia, que são consideradas estratégicas
para a valorização dos recursos da biodiversidade. Com o decorrer do tempo essas
atividades, principalmente as do segmento de fitofármacos, poderão aproximar-se em nível
de complexidade daquelas desenvolvidas pelas NEBs, cuja comparação dos dois setores é
apresentada no quadro 8.
Quadro 8 - Novas Empresas de Biotecnologia (NEBs) vs. empresas da fitoindústria
NEBs
Empresas da Fitoindústria
1.Infra-estrutura e atividades de P&D
a) infra-estrutura disponível: nas a) no geral, precária infra-estrutura para a pesquisa;
instituições, na NEB ou grande
instituições de P&D não têm tradição em
empresa parceira;
disponibilizar seus laboratórios e suas pesquisas;
em fase de implantação a infra-estrutura do CBA;
nas
pequenas
b) intensiva
empresas;
b) a maioria das empresas é pequena, porém
desenvolve
poucas
atividades
de
P&D,
c) localizadas perto da fonte de
concentrando-se
mais
nas
análises
laboratoriais;
conhecimento e das principais
c) iniciativas como a do grupo da Rede Genoma e
universidades
Proteoma são recentes, mas existe o INPA com um
histórico de pesquisa bastante rico, embora sem a
tradição de cooperação com o setor produtivo
2. Recursos humanos
A maioria dos fundadores tem A maior titulação dos fundadores e dirigentes é a de
elevado conhecimento científico, mestre; são poucos aqueles que já desenvolveram ou
187
NEBs
Empresas da Fitoindústria
um PhD, são membros de rede manifestam interesse em participar de projetos de
científica e origem da academia
pesquisa, exceção para os dirigentes de empresas do
segmento de fitoterápicos.
3. Fontes de financiamento
a) forte participação do capital de a)
risco;
b)
b) existência de fundos específicos
de financiamento
não há participação de capital de risco;
não existem fundos específicos para apoiar
atividades da fitoindústria, exceto recentes
iniciativas contempladas por linhas de pesquisa da
FAPEAM.
4. Cooperação
a) entre as empresas com os a) é pouco significativa e quando existe é de caráter
institutos de pesquisa;
informal;
b) entre as empresas, para a b) não há cooperação entre as empresas com esses
pesquisa,
desenvolvimento,
objetivos, principalmente pela falta de confiança,
financiamento, comercialização,
exceto nas reivindicações junto aos órgãos
licenciamento e marketing.
governamentais.
5. mercado
o principalmente subcontratadas o não têm essa prática;
por grandes empresas.
o as de capital estrangeiro dispõem do canal de
distribuição das coligadas.
6. Apoio do governo
o os investimentos feitos pelas o acervo rico de pesquisa básica principalmente do
instituições públicas em P&D
INPA e EMBRAPA, mas quase nenhuma aplicação
foram essenciais.
na produção;
o a FAPEAM iniciou esse processo em 2004, mas os
investimentos necessários para a biotecnologia são
elevados.
7. Base industrial
o forte base industrial e atividades o a base industrial do Amazonas é recente, a partir
afins à biotecnologia nos países
dos anos de 1970, e sem afinidade com a
onde se desenvolveu.
biotecnologia.
Fonte: própria
188
VI.2.3. Considerações prospectivas sobre a fitoindústria
(a) O papel das comunidades
As comunidades, principalmente as tradicionais, estão se consolidando como os principais
fornecedores de matéria-prima da floresta para a fitoindústria. Há indícios de alteração do
papel dessas comunidades em que torna menos relevante sua principal função - de ser fonte
fornecedora de conhecimento tradicional - para outro de atuar como agente importante na
cadeia produtiva na produção e transformação da matéria-prima.
Entretanto, para a interação das empresas com essas comunidades, é necessário tecer
algumas considerações:
o “não se deve ignorar que as comunidades tradicionais, por se encontrarem
historicamente diante de uma situação de grande precariedade, enfrentam dificuldades
para o exercício de coesão social, interesse coletivo, práticas democráticas, um efetivo
controle dos recursos de suas terras, e também sua afirmação como parceiras na
utilização de longo prazo de recursos da floresta” (EMPERAIRE, 2000).
o a organização das comunidades tem permitido o fortalecimento de laços e interações
entre elas e empresas estruturadas de fora da região, potenciais compradores, mais do
que com as empresas locais.
o a capacitação tecnológica das comunidades permitirá a elas executarem processos cada
vez mais complexos na cadeira produtiva e se tornarem virtuais competidores das
empresas que hoje integram a fitoindústria, para as quais são ainda potenciais e
importantes fornecedores de matéria-prima.
(b) O futuro da fitoindústria
O futuro da fitoindústria está condicionado ao desempenho de suas atividades em harmonia
com a sustentabilidade ambiental, cumprimento da legislação, interação com os habitantes
da região amazônica e com a infra-estrutura institucional. Mas depende, sobretudo, de
aspectos mercadológicos, organizacionais, produtivos, recursos financeiros e humanos, e de
pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
O interesse crescente manifestado por grandes laboratórios e empresas, que dispõem de
recursos e tecnologias mais avançadas, para implantarem filiais no ambiente da
189
fitoindústria indicam o potencial de crescimento desse setor. Parte desse interesse é
decorrente da perspectiva do Centro de Biotecnologia da Amazônia - CBA prover os
serviços de P&D e de tecnologia que venham demandar.
As barreiras que restringem o desenvolvimento da fitoindústria apontam para fatores
diversos. Eles são bastante heterogêneos tais como atender a legislação que trata do uso de
recursos naturais; produção em quantidade e qualidade da matéria-prima da floresta;
diversidade de atores que interferem na exploração desses recursos; desenvolvimento de
atividades tecnológicas avançadas como a biotecnologia e que contemplem, ao mesmo
tempo, outras tecnologias menos complexas, porém de igual importância; e fragilidade do
sistema institucional de P&D.
Todavia, as empresas vêm buscando a modernização gerencial e organizacional para
alcançarem competitividade. Elas estão ampliando suas certificações que comprovam a
qualidade do produto que fabricam e o cumprimento à legislação, reproduzindo novos
padrões produtivos e iniciando um processo de atividades de pesquisa e de
desenvolvimento tecnológico.
O mercado produtor de matéria-prima sinaliza para o início de um processo de organização.
As empresas apresentam estratégias para fortalecer a cooperação com as instituições de
P&D, investir em nova infra-estrutura produtiva e de pesquisa, capacitar sua força de
trabalho, associar seus produtos à marca “Amazônia” e ampliar as vendas para o mercado
externo.
Entretanto, o apoio do governo é considerado fundamental para a consolidação da
fitoindústria. O tratamento que venha receber a fitoindústria comparativamente ao
concedido ao Pólo Industrial de Manaus – PIM, para a construção de um ambiente propício
ao florescimento de um arranjo produtivo e inovativo.
190
VII. RECOMENDAÇÕES
Neste capítulo serão apresentadas algumas recomendações que podem contribuir para: 1. a
realização de novas pesquisas acadêmicas; 2. facilitar a redefinição das estratégias das
empresas; e 3. contribuir para o governo estabelecer políticas públicas mais orientadas ao
melhor aproveitamento econômico dos recursos da floresta e de outros recursos naturais.
VII.1. ESTUDOS COMPLEMENTARES À PESQUISA
Alguns estudos complementares a esta pesquisa podem auxiliar no diagnóstico mais amplo
das atividades que envolvem a exploração dos recursos da biodiversidade amazônica, com
ênfase no aproveitamento dos bioativos e da diversidade de espécies da floresta, permitindo
ações mais eficazes de apoio ao desenvolvimento da fitoindústria:
¾ Cadeia de valor – Estudar mais detalhadamente as atividades tecnológicas necessárias
na cadeia produtiva que podem auxiliar na agregação de mais valor aos produtos da
fitoindústria;
¾ Novos segmentos industriais - Ampliar os estudos sobre capacitação tecnológica de
outros segmentos industriais tais como o moveleiro, pesqueiro, madeireiro, frutífero etc.
por utilizarem recursos da biodiversidade;
¾ Novos métodos de pesquisa – identificar e adaptar métodos de pesquisa sobre o
processo de aprendizagem, de capacitação, de gestão de atividades e de inovação
tecnológica compatíveis com as peculiaridades da Amazônia.
191
VII.2. ESTRATÉGIAS PARA AS EMPRESAS
Diversos são os fatores que se destacam tanto por limitarem a capacitação tecnológica da
fitoindústria quanto pela importância para o desenvolvimento desse setor. Como mostraram
os resultados da pesquisa, distinguem-se entre eles os seguintes fatores: financiamento,
coordenação, certificações, cooperação, pessoal capacitado, P&D e exportação.
O financiamento de terceiros, que tem sido um instrumento de grande valor para
impulsionar negócios em diversas economias, não tem sido utilizado para financiar as
atividades da maioria das empresas da fitoindústria, principalmente como decorrência dos
elevados encargos financeiros. A participação do capital de risco que tem sido fundamental
no financiamento de atividades de empresas de base tecnológica e das novas empresas de
biotecnologia nas economias mais desenvolvidas não tem sido explorada pelas empresas da
fitoindústria.
Considerando que as empresas empregam tecnologias, com diferentes graus de
complexidade na valorização dos recursos da biodiversidade, que são essenciais à
organização e desenvolvimento do setor, o capital de risco emerge como importante fonte
de financiamento para acelerar a modernização de suas atividades.
As empresas se ressentem da falta de uma instituição que exerça forte liderança e
desempenhe o papel de indutora dos programas e projetos para o desenvolvimento da
fitoindústria. Passa a ser uma decisão estratégica e significativa das empresas identificarem
e elegerem uma instituição que coordene essas ações.
A modernização organizacional vem se constituindo como uma importante necessidade das
empresas da fitoindústria que pretendem ser competitivas. Para tanto, algumas ações são
consideradas fundamentais tais como incrementar os recursos de tecnologia da informação,
ampliar as certificações, dispor de pessoal capacitado e realizar atividades de P&D.
Dependendo do tipo de empresa, produto que fabrique e respectivo mercado, uma
determinada certificação representará para ela nível mais elevado de importância. Todavia é
certo que quanto mais certificações as empresas conservem em seu poder, que comprovem
a qualidade do produto, as boas práticas de fabricação, a origem da matéria-prima e produto
maiores serão suas chances de ampliarem sua participação no mercado.
192
Uma das fragilidades apontadas pelas empresas é o insuficiente nível de capacitação de
pessoal para a realização de tarefas no processo produtivo e de atividades de P&D. Elevar o
nível de qualificação da força de trabalho para qualquer que seja a atividade dentro da
empresa, considerando que o nível de qualificação atual é tido como relativamente baixo,
torna essa questão de extrema relevância.
As empresas realizam poucas atividades de P&D, embora atuem em um setor que exige
constante avanço tecnológico em toda a cadeia produtiva. Entretanto, algumas pesquisas
são tidas como prioritárias: melhorar a qualidade das espécies e conseqüentemente da
matéria-prima empregada na fabricação dos produtos, técnicas de manejo, armazenagem,
transporte, processamento da matéria-prima, formulação dos compostos e desenvolvimento
de novos produtos.
A adoção de uma diversidade de tecnologias de menor grau de complexidade, tanto quanto
de tecnologias mais avançadas como a biotecnologia, torna-se necessária para agregar
maior valor aos recursos da biodiversidade.
A relação das empresas com os agentes do ambiente institucional para a transação dos
recursos necessários as suas atividades é um dos fatores que merecem reflexão. A
cooperação com instituições de P&D é considerada como uma das fragilidades pelas
empresas para a capacitação tecnológica, ao mesmo tempo em que é uma das principais
fontes de aprendizagem, merecendo, portanto, maior esforço das empresas em incrementar
esse tipo de interação.
Buscar parceria e cooperação com as comunidades para a produção, melhoria e
regularidade no fornecimento da matéria-prima e, em alguns casos, para melhorar a
imagem da empresa junto ao mercado, é uma das estratégias a serem observadas.
A propensão da maioria das empresas à exportação é um indicador da forte relação que
aproxima os recursos naturais da biodiversidade amazônica com o mercado externo. Isto
suscita a perspectiva de retomada do intenso comércio internacional ocorrida com a
abertura do Rio Amazonas à navegação estrangeira.
Entretanto, nesta nova era da valorização dos recursos naturais através de atividades de
C&T, o que se espera das empresas é que busquem substituir a comercialização de produtos
in natura por outros de maior valor agregado.
193
VII.3. DIGRESSÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS
A intervenção do governo, mediante a definição de políticas públicas que contemplem
alguns fatores prioritários, é considerada fundamental para incentivar não apenas o
desenvolvimento da fitoindústria, mas também de outros setores que utilizam a
biodiversidade da Amazônia como fonte de matéria-prima.
Diversas dessas questões dizem respeito à legislação que trata dos incentivos fiscais
baseados no processo produtivo básico – PPB administrado pela Suframa, a necessidade de
apoio para o registro de patentes, criação de fundos de financiamento, capacitação de
pessoal e estímulo à exportação.
Entretanto, algumas questões se destacam: (a)
aglomeração industrial; (b) Coordenação (c) capacitação tecnológica dos produtores de
matéria-prima; e (d) P&D.
Há a convicção do setor produtivo e de parte dos pesquisadores, técnicos e especialistas
entrevistados de que tanto o governo estadual quanto o federal, este representado pela
Suframa, são essenciais na criação de infra-estrutura necessária que estimule a aglomeração
de empresas que se apóiam nos recursos da biodiversidade.
Essa aglomeração deverá apresentar como conseqüência o ambiente apropriado para a
dinamização da atividade produtiva, intensificação de sinergia e arranjos como o de cluster.
Esses arranjos permitem criar um grau de enraizamento, implicando em articulações e
envolvimento dos diferentes agentes, e combinando os diversos recursos: naturais,
humanos, financeiros e técnico-científicos.
A aglomeração industrial deve ser incentivada não apenas para ser constituída por empresas
que já atuam na fitoindústria, mas também por empresas com tecnologias mais avançadas e
que atuam em outros segmentos importantes para o desenvolvimento de atividades
produtivas baseadas na biodiversidade. Essas atividades estão relacionadas ao agronegócio
e ao bionegócio.
Alguns dos segmentos econômicos, complementares aos que hoje integram a fitoindústria e
considerados essenciais são: artesanato, extrato de plantas medicinais, extrato aromático,
essência, óleo, nutracêutico, cosmecêutico, semente, fruta natural e cristalizada, polpa de
frutas pasteurizada e bioativos.
194
Cabe ao governo desempenhar um papel mais ativo na coordenação de ações importantes
relacionadas ao melhor aproveitamento econômico dos recursos da biodiversidade tais
como estimular alianças estratégicas entre as empresas e instituições de P&D e fomento
para estimulara a interação, troca de experiência e complementação de competências.
Uma dessas ações importantes é o de estimular a aproximação da indústria do PIM com a
fitoindústria. Considerando o estágio de desenvolvimento do PIM, alguns benefícios podem
emergir tais como a transferência de competências de gestão, acesso aos canais para a
exportação, visto que a maioria das empresas do PIM é de capital estrangeiro, estímulo à
participação das empresas do PIM como agentes financiadores de capital de risco.
Estimular a produção de matéria-prima para a fitoindústria no interior do estado poderá
proporcionar algumas vantagens como
estratégia de desenvolvimento regional,
desconcentrando de Manaus a oferta de emprego e a produção. Entretanto, é fundamental o
papel do governo no desenvolvimento e transferência de tecnologias para as atividades das
etapas iniciais da cadeia produtiva com ênfase na extração, armazenamento, produção e
distribuição dessa matéria-prima.
Diversas atividades de P&D são urgentes para a produção e distribuição da matéria-prima:
plantio, coleta, armazenagem, transporte e transformação. Atividades de P&D em
biotecnologia deverão priorizar: (a) Biotecnologia vegetal: cultura de tecidos, plantas
transgênicas, bioinseticidas, conservação in vitro, identificação de cultivares e produção de
alimentos modificados; (b) Área de saúde: desenvolvimento de produtos farmacêuticos e
fitoterápicos; (c) Meio ambiente: preservação da biodiversidade, tratamento e/ou
aproveitamento de resíduos, produção de bioenergia a partir de biomassa; (d)
Bioinformática: desenvolvimento de bases de dados, estudos sobre metodologias de
datamining; (e) Biomateriais: biofarmacêuticos e outros materiais de origem biológica com
seleção por screening.
A valorização dos recursos da biodiversidade dependerá, além das atividades de inovação
tecnológicas em toda a cadeia produtiva, dos projetos de pesquisas básicas e aplicadas com
o apoio, aporte financeiro e disponibilidade de recursos materiais que apenas o governo
poderá oferecer.
195
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204
DE DO AM
IDA
A
RS
S
NA
ZO
UNI
VE
Anexo 1 – Questionário submetido às empresas pesquisadas
I
UN
IN
R
ITA
S
UFRJ-COPPE/UFAM
VE
VE
RS
A SCIENTIA
CPG/ FT
Empresa:
Respondente
Data:
1. Identificação e características das empresas
1.1.Dados da empresa
a) Principais
A
Titulação
dirigentes
i) Origem
Academia
Indústria
Outras
3o grau
Área de formação
Mestre
doutor
Biologia
Química
Farmácia
Botânica
Agronomia
Outros
A
Qnt.
b) Mão-de-obra
1) Direta
B
% = > graduado
Primeiro ano da Empresa
Atual
Daqui a 6 anos
2) Indireta
Primeiro ano
Atual
Daqui a 6 anos
c) Vendas
Primeiro ano
2000
2002
$
Vendas
2003
2004
2006
$
1) Exportação
Primeiro ano
2000
2002
$
Exportação
$
2) Vendas para o mercado local
Primeiro ano da Empresa
2000
2002
$
2003
2004
2006
Vendas
2003
2004
2006
$
205
1.2.Fatores de atratividade locacional para a empresa
Fatores
A
B
Baixo custo de P&D, produção ou administrativo
Exploração do conhecimento tradicional das espécies
Incentivos fiscais
Produtos de origem da “Amazônia”
Proximidade com a fonte de matéria-prima
Experiência profissional
Outros
1.3. Matéria-prima utilizada pela empresa
Espécies
A
B
Andiroba
Babaçu
Borracha (látex)
Buriti
Castanha da Amazônia
Copaíba
Crajiru
Cupuaçu
Guaraná
Muirapuama
Murumuru
Pau rosa
Pupunha
Tucumã
Urucum
Outros
1.4. Bens intermediários e produtos da biodiversidade
Produtos
A
a) Bens intermediários
B
Óleo Bruto
Óleo vegetal refinado para cosméticos
Óleo vegetal refinado para fármacos
Óleo vegetal refinado para alimentos
Essências para cosméticos
Extratos para Cosméticos
Extratos para fármacos
Extratos para Alimentos
b)Bens finais
Fitocosméticos
Fitofármacos
Alimentos
Outros
A– Situação atual da empresa; B–Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3importante; 4-muito importante )
206
2.Atividades Inovadoras
2.1. Modernização gerencial e organizacional
a) Gerenciamento do projeto
A
B
A
B
Construção de planta básica
Sistema de atendimento a cliente
Fabricação com exclusividade por encomenda
Sistemas integrados informatizados: financeiro, folha de
pessoal, estoque
Kaizen, Just-in-time, kanban
Viabilização de treinamento a fornecedores
Plano Estratégico
b) Certificações
Série ISO
Certificação Orgânica
Selo Orgânico
GMP ou BPF
FFC
Certificação da cadeia de custódia
ANVISA
Plano de Plantio e Manejo
Ministério da Agricultura
Selo Verde Local
2.2. Atividades inovadoras de processo e produto
a) Gestão de máquinas e equipamentos
Faz manutenção de máquinas, equipamentos e substituição de
peças
Cópia simples e adaptação de especificações de projetos
existentes
Projeto e desenvolvimento de máquinas e equipamentos
b) Organização do processo de produção
Melhoria de lay-out & otimização da produção;
PCP – Planejamento e Processo de controle da produção
Automação do processo produtivo
Formulações dos compostos para a fabricação dos produtos
c) Desenvolvimento de produto
Pequenas modificações no produto para adequar à produção
ou mercado
Cópia de produtos existentes no mercado
Desenvolvimento de novos produtos sem similares no
mercado
d) Controle de qualidade
Análise físico-química
Análise microbiológica
Teste clínico
A– Situação atual da empresa; B– Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3importante; 4-muito importante )
207
2.3. P&D e atividades de biotecnologia
2.3.1. Atividades de pesquisa e patentes
Exemplos
a) Atividades de Pesquisa
b) patentes
2.3.2. Atividades de biotecnologia – empregando matéria-prima da flora
Atividades
Comprovação científica do
conhecimento tradicional
Fermentação
A
B
Atividades
Combinações genéticas
A
B
Descoberta do código
genético
Recombinação de DNA
Hibridoma
Outros (especifique)
Mutações genéticas
Procedimentos de screening
Bioconversão
Biocatálise
A– Atividade para a qual já existe competência local; B– Atividade que será possível realizar nos
próximos 10 anos (1-pouco importante; 2- regular; 3-importante; 4-muito importante )
3.Fontes internas e externas de informação e de aprendizado
a) Internas
Atividades internas de P&D
Pessoal qualificado
Treinamento
A
B
b) Externas
Aquisição de máquinas e equipamentos
Aquisição de tecnologia: licenças, patentes e “know how”
Consumidores e Fornecedores
Concorrentes
Conhecimento tradicional
Cooperação com comunidades tradicionais
Cooperação com empresas de fora, incluindo coligadas
Cooperação com empresas locais
Cooperação com Institutos de P&D,
e consultores de fora
Cooperação com Institutos de P&D,
e consultores locais
Conferências, publicações especializadas, feiras, exposições
Redes de informações
Outros
A– Situação atual da empresa; B– Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3importante; 4-muito importante )
208
4. Fatores que afetam as atividades inovadoras
a) Pessoal qualificado
A
B
P&D
Produção
Registro de patentes
Formulação dos compostos dos produtos da empresa
b) Infra-estrutura física
Para produção
Para P&D
c) Financiamento
d) Cooperação
Com Institutos de P&D Locais
Com Institutos de P&D de fora
Com as Comunidades Tradicionais
Com empresas locais
Com empresas de fora
e) Mercado
e.1. Matéria-prima de origem da flora
Logística de transporte
Escassez
Ausência de política de preço
Seleção
Planejamento e tecnologia de plantio e coleta
e.2. Produto
Logística de transporte
Canal de distribuição
Design e embalagem do produto
Propaganda
Preço
f) Análises, Ensaio e Testes (laboratório)
Identificação físico-química
Identificação fitoquímica de marcadores
Microbiologia
Conversão química (química fina)
Cristalização
Screening
Testes clínicos
Outros
g) Dificuldades ambientais
Apoio do Governo
Coordenação institucional para apoiar o setor
Implantação de grandes empresas concorrentes
Incentivos fiscais
Problemas alfandegários/tributários
209
Aprovação nos órgãos sanitários
Tecnologia de processo e produto
Legislação
Impacto ambiental, biopirataria, produtos sintéticos similares
Falta de base industrial local em setores afins às atividades da
empresa
Processo produtivo básico (PPB) para uso de recursos da
biodiversidade
Outros
A– Situação atual da empresa; B– Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3importante; 4-muito importante )
5. Estratégias da empresa para a capacitação tecnológica e competitividade
Estratégias
A
B
Cooperação com as comunidades tradicionais para
homologar fornecedor
Cooperação com Institutos de P&D locais
Política de plantio e manejo de matéria-prima
Infra-estrutura de produção
Infra-estrutura de laboratório de P&D
Classificar os produtos como orgânicos
Parceria para distribuição do produto
Delimitação do escopo de produtos e mercado
Capacitação de Pessoal
Associação a produtos à marca “Amazônia”
Ampliação do mercado nacional
Exportação
Apoio à criação de selo verde
Uso da biotecnologia Tradicional
Uso da biotecnologia Moderna
Outros
A– Situação atual da empresa; B–Grau de importância no futuro (próximos 6 anos) (1-pouco importante; 2- regular; 3importante; 4-muito importante )
210
Anexo 2 - Questionário submetido aos técnicos do governo, especialistas e
pesquisadores
Guia Geral de Entrevista: para utilização e valorização de recursos da flora
1. Políticas públicas e apoio do governo à fitoindústria
9 Arranjos Produtivos Locais – APLs, atividades industriais e de pesquisa que
mereceriam apoio;
9 Fontes e recursos financeiros para investimento em atividades de P&D;
9 Capacitação de pessoal e áreas prioritárias;
9 Legislação;
9 Incentivos.
2. Infra-estrutura de P&D e serviços tecnológicos de apoio à fitoindústria
9 Instituições de P&D e respectivas atividades que poderiam auxiliar a fitoindústria;
9 Laboratórios de análise e atividades que poderiam auxiliar a fitoindústria;
9 Especializações requeridas de pessoal para atividades de P&D e prestação de
serviços tecnológicos para a fitoindústria.
3. Cadeia produtiva e cadeia de valor da fitoindústria
9 Gargalos e outras dificuldades para a melhoria da cadeia produtiva e cadeia de
valor;
9 Tecnologia de plantio, manejo, armazenagem e transporte;
9 Tecnologia de processo e produto;
9 Produção, qualidade e preço da matéria-prima;
9 Certificações necessárias para as empresas;
9 Tipo de mão-de-obra especializada e necessária para as empresas.
211
Anexo 3 - Empresas pesquisadas
EMPRESA
1. Bens Finais
Amazon
Ervas
Homeopatia da Amazônia
Farmácia e Laboratório
Ltda.
Essencial – Arte em
Perfumaria Ltda.
Hisamitsu Farmacêutica
do Brasil Ltda.
Pharmakos D’Amazônia
Ltda
Pronatus do Amazonas
Ltda
2. Insumos
SUBSETOR/LINHA DE
PRODUTOS
RESPONDENTE/CARGO
Bens finais: Fitoterápicos, Graça Barbosa
Fitocosméticos.
Técnica.
Cosmético:
bens
intemediários e finais
Fitofármacos:
Adesivo
Cutâneo (emplasto)
Bens finais: Fitoterápicos,
Fitocosméticos.
Fitoterápicos,
Fitocosméticos: bens finais
–
Diretora
Fabio Vidal – Gerente de
Produção
Hidenobu Yano – Gerente
administrativo.
Schubert Pinto (Msc.) Proprietário e dirigente.
Evandro Araújo Silva –
proprietário e dirigente
bens Rivaldo Gonçalves de Araújo –
Agrorisa
Produtos Alimentos:
Proprietário e dirigente.
Alimentícios
Naturais intermediários.
Ltda.
Crodamazon Ltda.
Cosmético: óleo refinado
George Dantas – Gerente geral.
IB SABBÁ Ltda.
Alimentos:
Castanha
desidratada (Semente)
Magama Industrial Ltda.
Fitoterápicos
e
Fitocosméticos:
bens
intermediários
PRB – Produtos Regionais Alimentos: Extrato de açaí e
do Brasil Ltda.
cupuaçu
3. Alimentos
Amazônia Indústria e
Comércio de Polpas Ltda.
Bombons
Finos
da
Amazônia
Castro & CIA. Ltda.
Luis Mirrya – Gerente
administrativo
Daniel Israel do Amaral –
Proprietário e dirigente
Antônio Carlos Alencar –
Proprietário e dirigente
Polpas de Frutas Congeladas
Adalberto
Gonçalves
–
Proprietário
Alimentos: balas, bombons, Jorge Alberto Coelho –
geléias.
Proprietário
Alimentos: concentrados de Paulo Garcia de Souza – Sócio
guaraná
e dirigente
Alcides Sales – Proprietário e
Cupuama – Cupuaçu do Polpas de Frutas
dirigente
Amazonas Ind. Comércio
Exportação Ltda.
Oiram Chocolates Ltda.
Alimentos: Bombons de
délia Fogaça – Proprietária e
Chocolate Recheados com dirigente
Frutas Regionais
Recofarma Indústria do Alimentos: concentrado de Jório Veiga/Eraldo Sales –
Amazonas Ltda.
guaraná
Gerentes
212
Anexo 4 - Técnicos do governo, especialistas e pesquisadores entrevistados
Nome
Marly Costa (PhD)
Instituição ou Atividade
SECT/FAPEAM
Maria
Katherine FUCAPI – Fund. Centro
Oliveira (MsC)
de A. P. I. Tecnológica.
Alessandro Trindade
FUCAPI – Fund. Centro
de A. P. I. Tecnológica.
Ismael Tariano
Yakinõ – Associação de
Produção
e
Cultura
Indígena
José Bonifácio
FEPI – Fundação Estadual
dos Povos Indígenas
Fernando Tirolli/
C Q LAB – Consultoria e
Angela Melo (PhD)
Controle de Qualidade
Ltda.
Ariane Pacheco (MsC)
Nutricon
Objetivos da Entrevista
Financiamento de projetos para
pesquisa com a biodiversidade
Transferência de tecnologia às
comunidades tradicionais
Arranjos Produtivos Locais de
Fitoterápicos
Relação das Comunidades com
as empresas
Relação das Comunidades com
as empresas
Análises laboratoriais de apoio à
fitoindústria
Análises laboratoriais de apoio à
fitoindústria
Vanderléia Teixeira/
SEBRAE-AM
Arranjo Produtivo Local de
Marcionei Oliveira
Fitoterápicos/Fitocosméticos
Sr. Aguimar Simões Agência de Floresta e Transferência de Tecnologia para
(MsC)/ Karina Vilar
Negócios Sustentáveis do as comunidades no interior.
Amazonas
Robert Mouse
Empresário e consultor do Produção e processamento de
CBA
matéria-prima
Maria Aldenir Brito Ministério da Agricultura Qualidade dos produtos vegetais
(MsC)
e Certificações
José Merched Chaar Pesquisador da Univ. Fed. Pesquisa com a castanha-do(PhD)
do Amazonas - UFAM e Brasil para alimentos
coordenador da Org. das
Cooperativas do Brasil
(OCB) no Amazonas
Imar Araújo
Coordenador do Centro de Organização e atividades do
Biotecnologia
do CBA
Amazonas – CBA
Spartaco Filho (PhD)
Pesquisador da Univ. Fed. Atividades de biotecnologia no
do Amazonas -UFAM e Amazonas e formação de pessoal
membro do CBA.
José Castro (PhD)
Pesquisador da Univ. Fed. Instalação de Miniusinas para a
do Amazonas - UFAM
produção de óleo
213
Anexo 5 - Glossário de espécies da floresta empregadas como matéria-prima
Nome Popular
Açaí
Amapá
Acerola
Andiroba
Cedro Amargo
Cabacinha
Cana-de-Açucar
Capim-santo
Castanha
Cipó Cabeludo
Copaíba
Cuia
Cumaru
Elixir parigórico
Eucalipto
Imbaúba
Guaraná
Goiabeira
Graviola
Hortelã
Jatobá
Jucá
Jurubeba
Manjerioba
Mamão
Mangarataia
Mastruz
Mururé
Maracujá
Mastruço
Melão de São Caetano
Muirapuama
Pata de vaca
Pau d'Arco
Pedra Ume Caá
Puxuri
Sacaca
Sucuuba
Urucum
Nome Científico
Euterpe precatoria
Brosimum parinarioides
Malpighia glabra
Carapa guianensis
Cedrella odorata
Luffa operculata
Saccharum officinarum
Cymbopogon citratus
Bertholletia excelsa
Mikania hirsutissima
Copaifera officinalis
Crescentia amazônica
Dipteryx odorata
Piper hispidum
Eucalyptus globulus
Cecropia peltata
Paullinia cupana
Psidium guayava
Annona muricata
Mentha piperita
Hymenaea courbaril
Caesalpinia férrea
Solanum paniculatum
Cassia occidentalis
Carica papaya
Zinziber officinale
Chenopodium anbrosioides
Brosimum acutifolium
Passiflora edulis
Chenopodium ambrosiodes
Momordica charantia
Ptychopetalum olacoides
Bauhinia forticata
Tabebuia impetiginosa
Myrcia salicifolia
Licaria puchury-major
Croton cajucara
Himatanthus sucuuba
Bixa orellana
214