Integracao_via_Rede_CAN_Samuel_Cordeiro
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Integracao_via_Rede_CAN_Samuel_Cordeiro
INTEGRAÇÃO DO SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE BATERIA (BMS) E DE TRAÇÃO DE VEÍCULOS ELÉTRICOS VIA REDE CAN Samuel Cordeiro da Costa Centro Universitário da FEI Prof. Dr. Fábio Delatore Centro Universitário da FEI TEMA Este trabalho consiste no desenvolvimento de um sistema capaz de integrar via rede CAN (Controller Area Network), os principais módulos de um veículo elétrico e disponibilizar remotamente os principais parâmetros de operação do powertrain elétrico, assim como todas as falhas ocorridas. INTRODUÇÃO Para realizar o diagnóstico do sistema, utilizou-se um software de diagnóstico chamado DiagPC. Ao iniciar este software, o operador tem a liberdade de selecionar quais informações do veículo gostaria de visualizar. Esta requisição é transmitida via RF (Radio Frequency) para o Módulo de Diagnóstico que, por sua vez, interage no barramento com o(s) módulo(s) responsável(eis), coleta as informações necessárias para montar a(s) resposta(s), padroniza-a(s) no formato do protocolo do DiagPC e retorna para o software que exibe-a(s) no formato de gráficos para o operador. A Figura 1 apresenta o diagrama do sistema completo. Nos últimos anos, os veículos elétricos vêm ocupando um espaço cada vez maior no segmento automobilístico, sendo uma possível alternativa para a mobilidade nos centros urbanos, apontada por estudos científicos voltados às mudanças climáticas em função dos gases de efeito estufa e disponibilidade finita dos recursos naturais. Assim como nos veículos a combustão, onde a eficiência do sistema está baseada na emissão de poluentes, consumo de combustível e o máximo aproveitamento de energia, a eficiência dos veículos elétricos está principalmente baseada no equilíbrio entre a máxima autonomia com a máxima potência disponível. Este trabalho tem como objetivo integrar, via rede CAN, os principais componentes de um powertrain (conjunto de elementos responsáveis pela propulsão) elétrico e disponibilizar remotamente as informações de funcionamento do sistema para um software de diagnóstico semelhante aos softwares utilizados atualmente nos grandes centros de reparo automotivo para os tradicionais powertrains a combustão. As informações disponibilizadas remotamente são referentes aos principais parâmetros do sistema e as falhas ocorridas e armazenadas em memória. METODOLOGIA Para o desenvolvimento deste projeto, utilizou-se uma solução pronta com suporte à rede CAN, efetuando o papel do Módulo de Diagnóstico. O Módulo de Diagnóstico interage no barramento CAN com os demais módulos presentes na rede através de mensagens específicas para cada tipo de informação. Figura 1. – Diagrama do sistema completo Os elementos fundamentais envolvidos no desenvolvimento deste projeto serão descritos a seguir. Rede CAN (ControllerArea Network) Na década de 80, a Robert Bosch GmbH propôs um novo modelo de rede automotiva para interconexão dos componentes eletrônicos chamado CAN. O CAN possibilitou uma enorme redução na complexidade da rede e na quantidade de cabeamento, pois utiliza-se de um único barramento para a conexão de múltiplos módulos. A rede CAN está padronizada mundialmente pela ISO (International Standards Organization) 11898 que é composta por cinco partes: • • • • • ISO 11898-1: camada de sinais físicos; ISO 11898-2: CAN high-speed; ISO 11898-3: CAN low-speed; ISO 11898-4: CAN time-triggered; ISO 11898-5: CAN high-speed p/ aplicações de baixo consumo; As aplicações dos diferentes tipos de rede CAN e as aplicações em diversas modalidades automotivas é regulamentada pela SAE. Neste trabalho abordaremos o padrão ISO 11898-2, por ser o padrão aplicado nos demais componentes presentes no nosso sistema. Este padrão aplicase em taxas de comunicação de alta velocidade (taxa máxima de 1Mbps). A comunicação na rede é realizada através de mensagens compostas por conjuntos de bits com suas respectivas funções. Existem dois formatos padronizados de mensagens para as redes de alta velocidade: CAN 2.0A (11 bits de ID) e CAN 2.0B (29 bits de ID). A Figura 2 mostra alguns detalhes referentes ao formato CAN 2.0A, utilizado neste projeto. Figura 2. – Formato do frame CAN Os códigos da Figura 2 têm os seguintes significados: • SOF (Start Of Frame): Campo de 1 bit indicando o início do frame; • ID (Identifier): Campo composto de 11 bits de Identificação (valor único na rede), sendo que o menor valor possui prioridade na transmissão da mensagem; • RTR (Remote Transmission Request): Campo de 1 bit que indica se é um frame de dados ou um frame remoto; • IDE (Identifier Extension Bit): Bit utilizado para indicar se o frame possui ID extendido; • R0: Bit reservado; • DLC (Data Length Code): Campo de 4 bits contendo o total de bytes de dados do frame; • Data: Campo de dados que pode ser composto de até 64 bits; • CRC: Campo de 15 bits de verificação de integridade do frame e mais um bit recessivo (CRC Delimiter); • ACK: Composto por dois bits, sendo o ACK slot como recessivo (1) e qualquer nó pode torná-lo dominante (0) no caso de falha no frame e o ACK delimiter (bit recessivo); • EOF (End Of Frame): Campo composto por 7 bits recessivos indicando o final do frame. • IFS (Inter Frame Space): Campo de 7 bits representando o tempo mínimo para que o controlador CAN capture o frame transmitido na rede. BMS (Battery Manager System) O BMS utilizado neste trabalho foi o Lithiumate Pro, fabricado pela empresa Elithion. Existem diversos modelos de BMS disponíveis com interface CAN, porém foi escolhido este devido à disponibilidade para testes práticos dentro do Centro Universitário da FEI. Figura 3. – BMS Lithiumate Pro Os packs de baterias presentes nos veículos elétricos normalmente são compostos com diversas células, na maioria das vezes Li-Ion, configuradas em série e/ou paralelo. Este módulo suporta conexão de até 255 células e monitora suas temperaturas e tensões individualmente, efetuando o balanceamento do pack durante as cargas e descargas. O BMS também administra as falhas apresentadas pelas células e efetua as providências necessárias, caso estiver programado, ou apenas armazena o defeito em memória para que possa ser apresentado posteriormente. A taxa de comunicação no barramento CAN (baudrate) pode ser configurada para 125 Kbps, 250 Kbps, 500 Kbps (default) ou 1 Mbps. Utiliza-se o padrão ISO 11898-2 Standard (CAN 2.0 A). Inversor de Frequência O Inversor de Frequência utilizado neste trabalho foi o Bamocar D3, fabricado pela empresa Unitek. Assim como a BMS, esse modelo foi escolhido devido à disponibilidade para testes práticos dentro do Centro Universitário da FEI. Figura 4. – Inversor de Frequência Bamocar D3 Este componente possui funcionamento semelhante à uma ECU de Injeção Eletrônica nos veículos à combustão, pois recebe os sinais dos atuadores de controle do veículo, como o pedal do acelerador, freio, alimentação dos packs de baterias, entre outros, efetua as estratégias pré-programadas e fornece a saída para o motor onde está acoplado ao conjunto de tração do veículo. Por ser um módulo passivo no barramento CAN, para obter os dados dos parâmetros ou as falhas armazenadas, é necessário que o Módulo de Diagnóstico faça a requisição das respectivas informações. As taxas de comunicação no barramento CAN (baudrate) são configuráveis, partindo de 100 Kbps até 1 Mbps. Utiliza-se o padrão ISO 11898-2 Standard (CAN 2.0 A). Módulo de Diagnóstico O Módulo de Diagnóstico, cedido gratuitamente pela Alfatest Ind. e Com. de Produtos Eletrônicos para o desenvolvimento deste trabalho, faz uso de um transciver Microchip MCP2551 para comunicação física no barramento CAN (CAN High e CAN Low) e um microcontrolador Microchip PIC32 operando com clock de 80MHz e com suporte à rede CAN integrado que recebe os sinais do transciver e disponibiliza os frames prontos para a camada de aplicação do firmware. Módulo RF O RF proposto neste trabalho é um par de dispositivos ZigBee, fabricados pela Digi International Inc. A tecnologia ZigBee é um protocolo desenvolvido pela ZigBee Aliance baseado no padrão IEEE 802.15.4. Esta tecnologia possui diversas vantagens, dentre elas, destaca-se a facilidade de operação e o baixo consumo de energia. O padrão 802.15.4 da IEEE garante taxas de transferência de dados de 250Kb/s (2.4GHz16 canais), 40Kb/s (915 MHz - 10 canais) e 20Kb/s (868MHz - 1 canal). O alcance varia de 10 a 1600 metros, dependendo da potência empregada e das condições ambientais, tais como edifícios, paredes e a geografia local. CONCLUSÕES ESPERADAS Para possibilitar os testes de integração, foi necessário o desenvolvimento de um firmware para o Módulo de Diagnóstico que trabalhasse como um sniffer para monitorar o barramento CAN e transmitir, via UART, os frames trafegados no barramento. Para isso, utilizou-se a IDE MPLAB, compilador PIC32 e ferramentas de debuger como o PIC-Kit 3. A validação do sniffer foi realizada com o apoio de uma ferramenta chamada CAN ANALYSER que simular uma rede CAN. Com o sniffer finalizado, iniciou-se o estudo de quais parâmetros disponíveis nos módulos BMS e Inversor de Frequência seriam necessários para realizar um diagnóstico completo no veículo. Parâmetros - BMS Figura 5. – Módulo de Diagnóstico O Módulo de Diagnóstico tornou-se o componente fundamental na integração da rede, pois cada módulo possui uma identificação única (ID) e apenas o Módulo de Diagnóstico reconhece todos os IDs presentes no barramento, podendo operar como mensageiro entre os módulos ou apenas coletando informações para reportar remotamente ao software DiagPC. Seu ID na rede foi adotado como 7E0h. Software de Diagnóstico - DiagPC O DiagPC é um software de propriedade da Alfatest Ind. e Com. de Produtos Eletrônicos, também cedido gratuitamente para o desenvolvido deste trabalho. Este software é composto por uma base de dados onde contém todas as informações disponíveis para o diagnóstico de todos os veículos realizado pela empresa. O software oferece diversos recursos para realizar um diagnóstico completo no veículo, podendo monitorar diversos parâmetros simultaneamente, com opção de gráficos, apresenta as falhas contidas no sistema com guias de reparo, e outros recursos que não foram utilizados, como teste de atuadores e ajustes do veículo. O módulo BMS possui diversos parâmetros disponíveis, onde os principais estão em um grupo chamado Standard Traction Pack Messages. Este grupo de parâmetros é divido em várias mensagens CAN contendo IDs específicos e são transmitidas no barramento com período de 1s. Seguem os 26 parâmetros escolhidos para o sistema de diagnóstico: • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Nome do Fabricante Revisão de Hardware e Software Tempo de funcionamento [s] Tensão da Bateria [V] Menor tensão nas células de bateria [V] ID da célula com a menor tensão Maior tensão nas células de bateria [V] ID da célula com a maior tensão Corrente da Bateria [A] Corrente máxima permitida (carga) [A] Corrente máxima permitida (descarga) [A] Total de energia carregada [kWH] Total de energia consumida [kWH] Carga da bateria [%] Capacidade atual da bateria [AH] Estado da bateria [%] Temperatura média da bateria [ºC] Menor temperatura nas células de bateria [ºC] ID da célula com a menor temperatura Maior temperatura nas células de bateria [ºC] ID da célula com a maior temperatura Resistência total da bateria [mΩ] Menor resistência nas células de bateria [mΩ] ID da célula com a menor resistência Maior resistência nas células de bateria [mΩ] ID da célula com a maior resistência Parâmetros - Inversor de Frequência Existem diferentes maneiras de requisitar os parâmetros para este módulo. Neste trabalho foi utilizada a estrutura de requisição unitária, onde é efetuado o pedido do parâmetro através do ID 201h e a resposta é fornecida na sequência através do ID 181h. Seguem os 3 parâmetros escolhidos para o sistema de diagnóstico: • • • Rotação do motor [rpm] Sobre-Alimentação Status do Freio O mesmo estudo realizado na seleção dos parâmetros foi realizado para a montagem da lista das falhas que o sistema pode apresentar. A maneira de aquisição das falhas é semelhante à dos parâmetros. Lista de Falhas – BMS e Inversor de Frequência A Tabela 1 apresenta a lista de falhas relacionadas ao módulo BMS. As falhas deste módulo estão contidas no ID 622h (byte 4). A Tabela 2 apresenta a lista de falhas relaciona ao módulo Inversor de Frequência. Tabela 1. – Lista de falhas do BMS. Descrição Condução foi desabilitada quando conectado Interlock está desarmado Falha de comunicação com um banco ou uma célula Falha de sobrecorrente na bateria - modo carga Falha de sobrecorrente na bateria - modo descarga Temperatura da bateria muito alta Tensão baixa - BMS Tensão alta - BMS Sem tensão de alimentação da bateria Alta tensão B- (fuga para o chassi) Alta tensão B+ (fuga para o chassi) Relé K1 está em curto Contator K2 está em curto Contator K3 está em curto K1 ou K3 aberto, ou K2 em curto K2 aberto Tempo de pré-carga excessiva EEPROM stack overflow Falha na comunicação CAN Código 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Tabela 2. – Lista de falhas do Inversor de Frequência. Descrição REGID Falha nos dados de parâmetro 8Fh - bit 0 Falha no estágio de saída (excesso de temperatura, 8Fh - bit 1 excesso de tensão ou curto-circuito) Falha Reservada 8Fh - bit 2 Falha na comunicação com o CAN-BUS 8Fh - bit 3 Falha no sinal resolvedor (incorreto/defeito) 8Fh - bit 4 Sem tensão de alimentação 8Fh - bit 5 Temperatura do motor muito alta 8Fh - bit 6 Corrente muito alta 8Fh - bit 7 Corrente fora da tolerância 8Fh - bit 8 Falha de sobre-corrente (300%) 8Fh - bit 9 Falha no modo corrida (sem valor de comando, polaridade 8Fh - bit 10 incorreta) Falha na comunicação CAN (Hardware) 8Fh - bit 11 Falha no ADC (hardware) 8Fh - bit 12 Falha no sinal do encoder incremental 8Fh - bit 13 Falha na programação do software 8Fh - bit 14 Sobrecarga no circuito do reator 8Fh - bit 15 Todas as informações do sistema de diagnóstico foram implementadas na base de dados do DiagPC, incluindo o nome do sistema, modelo contemplado, os parâmetros e as falhas. Desta forma, o nosso sistema de diagnóstico trabalha de maneira semelhante aos sistemas comerciais de propulsão a combustão. Os testes práticos serão realizados no Centro Universitário da FEI assim que os componentes utilizados estiverem disponíveis para utilização, uma vez que estão sendo preparados para a montagem do Fórmula SAE. Para validar a integração, serão realizados os seguintes testes: • CAN - Integração do BMS O objetivo deste teste é validar a comunicação entre o Módulo de Diagnóstico e o BMS, obtendo seus parâmetros e suas possíveis falhas, que são transmitidos periodicamente a cada 1s; • CAN - Integração do Inversor de Frequência O objetivo deste teste é validar a comunicação entre o Módulo de Diagnóstico e o Inversor de Frequência, requisitando e recebendo seus parâmetros e suas possíveis falhas. • CAN - Integração completa O objetivo deste teste final é validar o sistema como um todo, testando a comunicação do Módulo de Diagnóstico com o BMS e o Inversor de Frequência, certificando-se que não há conflitos entre os módulos no barramento. Com a comunicação CAN estabelecida entre os módulos, será alterado o firmware do Módulo de Diagnóstico para trabalhar como uma ECU, interagindo com os outros módulos e disponibilizando remotamente as informações padronizadas para o DiagPC através dos dispositivos ZigBee. Desta forma, espera-se que o sistema de diagnóstico seja concluído com sucesso, integrando os principais componentes de um powertrain elétrico utilizando uma rede CAN. Para trabalhos futuros, sugere-se: • Adaptação do sistema para que seu uso seja feito em competições, como por exemplo, a competição Fórmula SAE – Elétrico; • Desenvolvimento de outros módulos integrados na rede para alterar propriedades do Inversor de Frequência e do BMS em tempo real, de acordo com a atual situação do veículo. Desta forma, será possível otimizar o funcionamento do sistema através de estratégias para economia de energia e melhorias no desempenho do veículo. CONTATO Samuel Cordeiro da Costa – Centro Universitário da FEI [email protected] Prof. Dr. Fábio Delatore – Centro Universitário da FEI [email protected]