guerra fria 02

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guerra fria 02
Após 1945, a Europa, que fora palco das operações militares durante a guerra, viveu um período de estagnação econômica. Essa crise se deveu à paralisação das atividades produtivas, sobretudo agrícolas, e ao desmantelamento da rede ferroviária européia, o que dificultava a saída da pequena produção remanescente. A produção de matérias-primas, como o ferro, o carvão e o aço, caiu para menos da metade dos níveis atingidos
em 1939, afetando o setor industrial. Ao mesmo tempo a drástica redução da população economicamente
ativa, pelo grande número de baixas civis e militares, colocou obstáculos ao programa de recuperação do continente.
Esse panorama sombrio era agravado pela incerteza política que se instalara nas relações entre Estados Unidos e URSS, desde a Conferência de Potsdam, realizada em agosto de 1945. Eram evidentes o antagonismo
político e ideológico e a mútua desconfiança entre americanos e soviéticos, bem como suas divergências sobre a partilha territorial e as áreas de influência. Com o enfraquecimento da Inglaterra e da França, caberia aos
Estados Unidos e à União Soviética, que haviam saído do conflito como superpotências, decidir os destinos da
Europa.
DOUTRINA TRUMAN E O PLANO MARSHALL
A explosão das bombas atômicas sobre o Japão, logo após o término da Conferência de Potsdam, revelou a
indiscutível superioridade bélica norte-americana. Isso fez os soviéticos adotarem atitudes mais prudentes,
mesmo quando lhes foi negado, na Conferência de Paris (1946), o controle sobre os estreitos de Bósforo e
Dardanelos (passagem estratégica entre os mares Mediterrâneo e Negro).
Mas as tensões não diminuíram, principalmente porque Winston Churchill, que sempre tivera medo do perigo
vermelho, passou a fazer constantes pressões para que o Ocidente se fortalecesse contra o avanço soviético.
Num discurso proferido nos Estados Unidos, em 1946, o ex-chanceler Winston Churchill alertava para a criação, por Moscou, de uma cortina de ferro no Leste europeu que impediria qualquer influência ou ajuda do
capitalismo à Europa Centro-Oriental (durante a 2ª guerra, a URSS anexou as Repúblicas da Estônia, da Letônia
e da Lituânia, assim como a Ucrânia. Ao final da guerra, ocupou diversos países que ajudara a libertar dos nazistas. Os soviéticos cooperavam com os partidos comunistas locais para a formação de Repúblicas socialistas,
que permaneceriam assim sob sua esfera de influência. Foi o caso da Polônia, Iugoslávia, Albânia, Bulgária,
Romênia, Tchecoslováquia e Hungria. Nos Balcãs, apenas a Grécia e a Turquia escavam ao controle stalinista).
A Inglaterra, que devido à sua grave crise econômica não podia mais enviar armas e dinheiro aos monarquistas
gregos e ao Partido Democrático da Turquia, solicitou aos Estados Unidos que assumissem a responsabilidade
de manter governos pró-Ocidente nessas regiões.
Diante do pedido inglês, o presidente Harry Truman proferiu em março de 1947 um violento discurso no Congresso norte-americano, conclamando abertamente seu país e todo o Ocidente a lutar contra o totalitarismo
soviético (Doutrina Truman). Esse fato marcou o reconhecimento público das divergências existentes entre
os Estados Unidos e a União Soviética — a chamada guerra fria.
O esforço para conter a propagação do comunismo gerou o Plano Marshall, que sistematizou a ajuda econômica a ser dada pelos Estados Unidos para a reconstrução da Europa e principalmente da Alemanha Ocidental,
considerada como ponto fundamental para barrar uma possível expansão russa no Ocidente. Os Estados Unidos investiram na Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Inglaterra, Grécia, Irlanda, Islândia, Itália, Holanda, Luxemburgo, Noruega, Suécia, Portugal, Suíça e Turquia. Nenhum país do bloco socialista aceitou essa ajuda.
Stalin não podia aceitar a ajuda. Não apenas porque teria sido obrigado a revelar a assustadora exaustão da
URSS e a terrível lacuna em sua mão-de-obra, mas principalmente porque temia a penetração econômica norte-americana na Europa Oriental e até mesmo na própria Rússia, que poderia impulsionar todas as forças anticomunistas locais e fomentar a contra-revolução. O fato de o governo americano lançar seu poderio econômico em apoio de sua campanha anticomunista era mais importante que seus atos de intervenção militar.
A recusa soviética manifestou-se por meio da criação do Kominform, Comitê de Informação dos Partidos Comunistas e Operários, em 1947. O Kominform tinha como objetivo unificar a ação comunista na Europa Oriental, transmitindo aos partidos comunistas de cada país do bloco socialista. Assim, os soviéticos pretendiam
obter um maior controle político sobre o Leste europeu. Com exceção da Iugoslávia, que se rebelou em 1948,
todas as democracias populares foram intimidadas a admitir a intervenção de Stalin, que não hesitou em usar
da força repressora para obter o controle político e econômico das áreas ocupadas.
A CRISE DE BERLIM
Quando os vencedores da guerra decidiram dividir a Alemanha em 4 zonas de ocupação, ficou estabelecido
que a sua capital também seria objeto de partilha entre França, Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética.
Estando Berlim dentro da zona de ocupação soviética, os outros três quartos da cidade, sob ocupação ocidental, ficaram na estranha posição de possuírem orientação capitalista e estarem encravados na zona comunista.
Esta situação tornava inviável a possibilidade de uma administração conjunta. Assim, Estados Unidos, França,
e Inglaterra decidiram-se pela fusão de todo o setor ocidental, planejando a formação de um governo autônomo, pró-capitalista. Organizaram, então, uma conferência em Londres para tratar da integração econômica,
que deveria começar por uma reforma monetária a fim de reabilitar o marco alemão. A União Soviética foi
excluída desses debates.
Como as redes rodoviária e ferroviária de Berlim estivessem sob controle soviético, Stalin decretou, em represália, o bloqueio dos suprimentos para os Aliados, desencadeando a primeira crise de Berlim. O Ocidente contornou este obstáculo durante onze meses, utilizando-se de um "corredor aéreo" que, funcionando 24 horas
por dia, conseguiu garantir o abastecimento de Berlim Ocidental. Mesmo tendo provocado a crise mais perigosa da guerra fria, a situação acabou sendo controlada graças às atividades do "corredor aéreo".
Ainda em 1949, as zonas de ocupação ocidental foram transformadas na "República Federal da Alemanha"
com capital em Bonn, sob um governo capitalista. A zona oriental tornou-se a "República Democrática Alemã", inspirada no modelo soviético, com capital em Berlim Oriental.
A questão da Alemanha ressurgiria em 1961 quando, para evitar a fuga de mão-de-obra especializada para o
mundo capitalista, através de Berlim Ocidental, o governo do setor oriental (comunista) mandou construir um
muro, separando esta parte da cidade do setor ocidental. A parte oriental tornou-se capital da República Democrática Alemã. A ocidental ficou sob a administração da República Federal da Alemanha. Apesar dos protestos internacionais, a linha divisória permaneceu até 1989 como principal símbolo da guerra fria.
A EXPANSÃO DA GUERRA FRIA
Para ajudar na reconstrução do bloco socialista, a União Soviética criou em 1949 o COMECON — Conselho
para Assistência Econômica Mútua, orientado pelos princípios da planificação econômica.
No plano militar, a explosão da primeira bomba atômica soviética, em 1949, levou o Ocidente a criar a OTAN
— Organização do Tratado do Atlântico Norte, um organismo de defesa coletiva, que contou com a participação da maioria dos países da Europa Ocidental, além dos Estados Unidos e do Canadá.
A resposta soviética viria mais tarde, com a criação do Tratado de Assistência Mútua da Europa Oriental — o
Pacto de Varsóvia, também um organismo de defesa, integrado pela Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria,
Polônia, Romênia, Albânia, Tchecoslováquia e União Soviética.
O clima de animosidade entre Estados Unidos e União Soviética, estimulado pela propaganda venenosa e pela
espionagem, aumentou após os testes atômicos soviéticos, evidenciando o perigo de um confronto direto.
Nem por isso as disputas entre as duas potências cessaram. Camufladas na forma de ajuda militar e financeira,
elas se estenderam para outras regiões do planeta, sempre com o objetivo de ampliar as respectivas esferas
de influência e domínio de áreas estratégicas. A maior parte desses territórios pertencia aos grandes impérios
coloniais, em dificuldades quando suas metrópoles européias, concentradas nas tarefas de reconstrução, não
puderam mais manter a administração colonial.
Esta situação preocupava os Estados Unidos, pois o esvaziamento do poder capitalista na Ásia e na África poderia facilitar a penetração do comunismo, já que as próprias elites coloniais mantinham-se a duras no poder.
A GUERRA DA CORÉIA
Com a derrota do Japão em 1945, a Coréia, até então sob controle japonês, foi libertada pelos Aliados e dividida em dois setores de ocupação. Tais setores, ocupados por russos e norte-americanos, eram separados pelo
paralelo 38º, conforme ficara estabelecido na Conferência de Potsdam.
Em 1947, a ONU formou uma comissão temporária não reconhecida pela União Soviética, para reorganização
do país através de eleições nas duas zonas. Em 1948, formou-se no norte a República Popular Democrática da
Coréia (pró-soviética) e no sul a República da Coréia (pró-ocidente). Os dois governos, porém, reivindicavam
jurisdição sobre a totalidade do território coreano, o que tornou a fronteira entre ambos uma área de choques
e incidentes constantes. Após a evacuação das tropas soviéticas em dezembro de 1948 e das tropas americanas em 1949, desencadeou-se uma ativa batalha de propaganda entre o Norte e o Sul, acirrando as divergências entre as duas Coréias. Incentivados pela Revolução Comunista de Mão Tse-tung na China, os exércitos
norte-coreanos, sob pretexto de violação do paralelo 38º, fizeram um ataque surpresa ao Sul, em junho de
1950. No mesmo dia, aproveitando-se da ausência da União Soviética naquela sessão, o Conselho de Segurança da ONU, por influência de Truman, declarou a República Popular agressora e nomeou o general norteamericano MacArthur, para chefiar suas tropas de intervenção na Coréia. A União Soviética procurou não se
envolver diretamente, limitando-se a prestar ajuda aos norte-coreanos.
O conflito foi extremamente violento e as tropas da ONU penetraram fundo no território da Coréia do Norte,
até quase atingir as fronteiras da China. Diante dessa perigosa aproximação dos ocidentais, o governo chinês
ordenou uma poderosa ofensiva que provocou o recuo de MacArthur ao paralelo 38º. O general americano,
prevendo a estabilização das lutas na linha divisória, passou a exigir plenos poderes, inclusive nucleares, para
liquidar com a guerra. Todavia, o presidente Truman, favorável a uma política mais prudente, demitiu MacArthur e deu início às difíceis conversações de paz. Após muitas baixas de ambos os lados, finalmente foi assinado o Armistício de Pan Munjom, em 1953, que ratificou a divisão da Coréia feita em 1948. O cessar-fogo não
representou, entretanto, a pacificação do Oriente. Novos distúrbios emergiam na Indochina, área sob o controle francês, em pleno processo de independência.
Em 1953, com a morte de Stalin e a eleição do general Eisenhower para a Casa Branca, percebeu-se que o antagonismo entre os blocos socialista e capitalista era permanente. Essa nova consciência gerou os programas
de rearmamento da OTAN e do Pacto de Varsóvia, desencadeando sucessivos pactos militares. Enquanto a
União Soviética impedia revoltas nas áreas-satélites, como a da Hungria (1956), os Estados Unidos tomaram a
iniciativa de cercar o inimigo, criando a Organização do Tratado do Sudeste Asiático - OTASE (1954) e o Pacto
de Bagdá (1954) para o Oriente Médio.
Apesar dessa política de tratados de segurança o confronto Leste-Oeste voltaria a emergir de maneira brutal
na década de 60 com diversas crises, como a dos mísseis em Cuba e a Guerra do Vietnã.

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