FICHA T ´ECNICA EDIC¸ ˜AO: Vırgula (Chancela do Sıtio do Livro) T

Transcrição

FICHA T ´ECNICA EDIC¸ ˜AO: Vırgula (Chancela do Sıtio do Livro) T
FICHA T ÉCNICA
E DIÇ ÃO : Vı́rgula (Chancela do Sı́tio do Livro)
T ÍTULO : As Ciências e as Humanidades
A UTOR : Henri Poincaré
C APA , R EVIS ÃO
E
PAGINAÇ ÃO : Janela Francesa
T RADUÇ ÃO : Janela Francesa
1.a E DIÇ ÃO
L ISBOA , 2010
I MPRESS ÃO
E
A CABAMENTOS : Agapex
ISBN: 978-989-8413-16-1
D EP ÓSITO
LEGAL :
318664/10
c ENRI P OINCAR É
H
P UBLICAÇ ÃO
E
C OMERCIALIZAÇ ÃO
Sı́tio do Livro, Lda.
Lg. Machado de Assis, lote 2, Porta C 1700-116 Lisboa
www.sitiodolivro.pt
L ES S CIENCES ET LES H UMANIT ÉS
A S C I ÊNCIAS E AS
H UMANIDADES
Henri Poincaré
Tradution/Tradução: J ANELA F RANCESA
31 de Outubro de 2010
Nota sobre Henri Poincaré
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Henri Poincaré (1854-1912), foi considerado como um dos
últimos sábios antigos devido ao facto de conhecer em
profundidade todos os ramos das matemáticas e da fı́sica
da sua época e ao mesmo tempo produzir uma obra filosófica e literária de grande interesse, tendo uma atitude
cientı́fica e estética próxima da dos antigos Gregos. A originalidade das suas idéias e as metodologias que inventou não apenas marcaram profundamente a matemática,
a fı́sica e a astronomia, mas estão na origem de parte significativa dos actuais desenvolvimentos dessas disciplinas. As suas contibuiçõs são tão vastas que o leitor interessado poderá consultar utilmente a wikipédia.
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Nota do Tradutor (N. do T.)
Qualquer tradução tenta respeitar o estilo do autor, o conteúdo da sua mensagem, a fluência do seu texto, a sequência das suas idéias, as interconexões implı́citas entre certas palavras ou frases, etc. Ora, quando se passa um texto
para outra lı́ngua, esse conjunto de exigências revela-se 5
quase sempre auto-contraditório, e é-se por isso obrigado
a fazer concessões. O nosso caso não foi excepção, mas
existe um ponto sobre o qual fomos intrasigentes: a fiabilidade. Permitimo-nos ter uma tradução menos fluente,
com uma construção das frases menos habitual, mas que- 10
remos uma tradução que diga exactamente em português
o que foi escrito em francês, não mais, nem menos, nem
melhor nem pior. Queremos que a responsabilidade do
que está escrito seja de Henri Poincaré e não da tradução.
Uma tradução feita neste espı́rito é uma isopleroforia, 15
isto é, uma tradução na qual a quantidade de informação
que se pode extrair do texto original é idêntica à quantidade de informação que se pode extrair do texto na
lı́ngua final. É essa equivalência que assumimos enquanto
tradutores.
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A obra original em francês pode ser encontrada em vários
sı́tios, como por exemplo, no sı́tio das edições electrónicas
da obra de Henri Poincaré http://www.univ-nancy2.fr/poincare/bhp. Uma tradução de «As Ciências e as Humanidades»em português do Brasil encontra-se incluı́da 25
numa colectânea de textos de Poincaré (ISBN: 978-85-8591095-2).
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Préface
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Conférence pour la «Ligue Pour la Culture Française»1 Siége :
8. rue Drouot, Paris (Téléphone 105-19).
De toutes parts, on constate l’affaiblissement de la culture
générale et l’oubli de nos qualités de clarté et de logique ;
on parle d’une CRISE du FRANÇAIS. Ce malaise coincide avec l’abandon des études classiques, le discrédit du
latin et du grec, l’abus de la spécialisation qu’une suite de
réformes a introduit tant dans l’enseignement supérieur
que dans l’enseignement secondaire. La réforme de 1902,
entre toutes, accomplie dans un dessein utilitaire, a brisé
l’unité et l’intégrité de notre système d’études. L’expérience a condamné ces tendances nouvelles. Ce ne sont
pas des lettrés, des dillettantes, qui ont prouvé l’insuffisance de l’enseignement moderne, ce sont des savants,
des médecins, des ingénieurs, des industriels. La LIGUE
«POUR LA CULTURE FRANÇAISE»se propose de grouper tous ceux qui croient â la supériorité de l’éducation
classique. Défense des humanités, c’est-à-dire non seulement des études latines et grecques, mais d’une culture
générale et désintéressée de l’esprit ; tel est le sens précis
de son action. Par des brochures, conférences, enquêtes,
la Ligue veut éclairer l’opinion et la convaincre qu’il est
nécessaire de revivifier la tradition classique, c’est-à-dire
la grande tradition intellectuelle de la France.
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H. Poincaré devient, le 3 Juin 1911, membre du Comité d’honneur
de la Ligue pour la culture française fondée par Jean Richepin.
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Prefácio
Conferência para a «Liga para a Cultura Francesa»2 Sede: 8.
rue Drouot, Paris (Telefone 105-19).
Por todo o lado constata-se o enfraquecimento da cultura
geral e o esquecimento das nossas qualidades de clareza
e lógica; fala-se duma CRISE do FRANCÊS. Este malestar coincide com o abandono dos estudo clássicos, o
descrédito do latim e do grego, o abuso da especialização
que uma série de reformas introduziu tanto no ensino superior quanto no esnsino secundário. A reforma de 1902,
por entre todas, realizada com um objectivo utilitário,
desfez a unidade e a integridade do nosso sistema de
ensino. A experiência condenou estas novas tendências.
Não são os letrados, os diletantes, que provaram a insuficiência do ensino moderno, foram os sábios, os médicos,
os engenheiros, os industriais. A LIGA «PARA A CULTURA FRANCESA»propõe-se agrupar todos aqueles que
crêem na superioridade da educação clássica. Defesa das
Humanidades, isto é, não somente dos estudos latinos e
gregos, mas duma cultura geral de espı́rito desinteressado; tal é o sentido preciso da sua ação. Através de
brochuras, conferências, inquéritos, a Liga quer esclarecer a opinião e convencê-la que é necessário revitalizar a
tradição clássica, isto é a grande tradição intelectual da
França.
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Poincaré torna-se membro do comité de honra da Liga para a cultura francesa fundada por Jean Richepin no 3 de Junho de 1911.
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I
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Parmi les hommes qui ont, tous utilement, mais plus ou
moins brillamment servi la science, les uns avaient reçu
dans leur jeunesse une éducation classique solide, parfois raffinée, tandis que les autres n’avaient eu qu’une
formation littéraire hâtive, incomplète et sommaire. On
serait tenté d’en conclure que l’étude des lettres est inutile aux savants, puisque beaucoup d’entre eux ont pu
s’en passer. Ce serait aller un peu vite en besogne. Estil certain qu’on ne saurait faire de différence entre les
oeuvres des uns et des autres et y reconnaı̂tre une sorte
de marque d’origine. C’est là une comparaison que je
ne veux pasfaire ici, il faudrait citer des noms propres,
et je ne voudrais désobliger personne, même les morts.
En pareille matière, les appréciations sont difficiles, mais
quand même on aurait démontré que les uns ont été aussi
bons savants que les autres, qu’est-ce que cela prouverait ? Le fait s’expliquerait tout naturellement. Il y a eu
de longues années où il était difficile de percer sans avoir
fait ses classes, et en général de sortir de son rang. Ceux
qui y sont parvenus n’ont pu le faire que grâce à une
énergie exceptionnelle qui leur tenait lieu de bien d’autres
avantages, et qui pouvait les mettre de pair avec des esprits plus cultivés, mais servis par des caractères moins
bien trempés.
Ce qui est certain, c’est que les savants qui ont bénéficié
de l’éducation classique, s’en félicitent tous, tandis que
ceux qui en ont été privés le regrettent pour la plupart (je
dis pour la plupart parce que depuis quelque temps il y a
des hommes qui verraient volontiers dans leurs origines
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I.
Por entre os homens que, todos utilmente, mas mais ou
menos brilhantemente serviram a ciência, uns tinham recebido na sua juventude uma educação clássica sólida,
por vezes refinada, enquanto que outros tinham tido apenas uma formação literária precoce, incompleta e sumária.
Daqui ser-se-ia tentado a concluir que o estudo das letras
é inútil para os sábios, já que muitos dentre eles puderam passar sem ele. Seria concluir um pouco depressa
de mais. É certo que ninguém saberia fazer a diferença
entre as obras de uns e de outros e nelas identificar uma
espécie de marca de origem. Essa é uma comparação
que eu não quero fazer aqui, seria preciso citar nomes
próprios, e eu não gostaria de desagradar a ninguém,
mesmo aos mortos. Em semelhante matéria, as apreciações são difı́ceis, mas mesmo que se se tivesse demonstrado que uns foram tão bons sábios quanto os outros,
o que é que isso provaria? O facto explicar-se-ia muito
naturalmente. Houve longos anos em que era difı́cil subir na vida sem passar provas, e em geral sair da sua
posição. Aqueles que o conseguiram puderam fazê-lo
apenas graças a uma energia excepcional que tomou o
lugar de muitas outras vantagens, e que pôde pô-los de
par com os espı́ritos mais cultivados, mas servidos por
carácteres menos fortes.
O que é certo, é que os sábios que beneficiaram da educação clássica, felicitam-se todos disso, enquanto que aqueles que foram privados dela lamentam-no pela maior parte
(eu digo pela maior parte porque desde há algum tempo,
há homens que veriam de boa vontade nas suas origens
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primaires je ne sais quel titre de gloire démocratique et
comme une lointaine promesse de députation). Pourquoi
les uns se félicitent-ils pendant que les autres regrettent ?
Est-ce seulement parce que la science n’est pas tout, qu’il
faut d’abord vivre, et que la culture nous fait découvrir
à la fois de nouvelles raisons de vivre et de nouvelles
sources de vie ? Non, tous sentent confusément que ce
n’est pas seulement à l’homme, mais au savant même
que les humanités sont utiles.
Je voudrais expliquer ici les raisons de ce sentiment vague
dont ceux qui l’éprouvent rendraient peut-être difficilement compte. Pour traiter la question je suis obligé, de
la diviser : nous avons parlé des savants en général ; or,
il y a bien des espèces de savants, et les qualités du mathématicien ne sont pas celles du physicien, encore moins
celles du biologiste. On trouverait des gens pour dire que
ces qualités sont incompatibles et que la formation qui
convient aux uns ne saurait convenir aux autres.
D’un autre côté, quand on a cherché à énumérer les avantages des études classiques, on en a trouvé de bien divers
et dont l’action doit être bien différente. Elles exercent
l’esprit d’analyse en nous forçant à comparer les formes
du langage, disent les grammairiens. Elles développent
chez nous l’esprit de finesse, disent les autres. Elles nous
élèvent au-dessus des vulgarités de la vie utilitaire, diton encore. Les défenseurs de la culture littéraire ont donc
invoqué les arguments les plus variés. Ont-ils tous raison, c’est ce que nous ne pouvons décider sans examiner
ces arguments l’un après l’autre, et c’est ce qui m’oblige
à entrer ici dans quelques détails.
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