Mais um passo em direcção ao lançamento duma auditoria

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Mais um passo em direcção ao lançamento duma auditoria
Mais um passo em direcção ao lançamento duma auditoria cidadã da dívida
Extrait du CADTM
http://cadtm.org/Mais-um-passo-em-direccao-ao
Eslovénia
Mais um passo em direcção ao lançamento duma
auditoria cidadã da dívida
Date de mise en ligne : sábado 19 de Setembro de 2015
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Mais um passo em direcção ao lançamento duma auditoria cidadã da dívida
Recordemos que a Eslovénia se separou da Jugoslávia e adquiriu a independência a 25- junho
1991. Tem dois milhões de habitantes, é membro da União Europeia desde 1 de março de
2004 e aderiu à zona euro Zona euro Zona composta por 18 países que utilizam o euro como
moeda: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda,
Itália, Letónia (a partir da 1-01-2014), Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Portugal, Eslováquia e
Eslovénia. Os 10 países membros da União Europeia que não participam na zona euro são:
Bulgária, Croácia, Dinamarca, Hungria, Lituânia, Polónia, República Checa, Roménia, Reino
Unido e Suécia. e depois ao espaço Schengen em 2007.
Em 16 setembro, quarta-feira, Eric Toussaint deu uma conferência perante 100 pessoas (na sua maioria jovens) em
Liubliana, capital da Eslovénia. A conferência foi apoiada pelas duas principais confederações sindicais da
Eslovénia. Os presidentes dos dois sindicatos, Duaan Semoli pelo ZSSS |1| e Branimir `trukelj pelo SVIZ |2|,
intervieram para sublinhar as nefastas consequências sociais dos pagamentos da dívida eslovena e a necessidade
de dar resposta às suas imposições. A sessão foi presidida por Miha Andric, membro do Instituto de Estudos do
Trabalho em Liubliana (Institut za Delavske Studije).
A senhora Maja Breznik, socióloga e especialista de história cultural, foi a alma da organização deste encontro. Maja
Breznik traduziu para esloveno uma obra que Eric Toussaint escreveu com Damien Millet (AAA, Auditoria, Anulação,
Alternativa, publicado pelas edições Sofia em 2014, http://www.zalozba-sophia.si/katalo... ). Maja Breznik publicou
recentemente, com Rastko Mocnik, pelas edições CF, um livro colectivo intitulado A Dívida Pública: Quem Deve a
Quem. O livro fala da dívida na Grécia, em Portugal, em Espanha, na Argentina, em França e na Eslovénia. Na
introdução ela sublinha os aspectos nefastos do endividamento esloveno. Rumo idêntico é o seguido por Sacha
Furlan, autor marxista do Instituto de Estudos do Trabalho, e por Franek Drenovec |3|, economista conferencista,
autor de várias obras sobre a crise financeira. Sacha Furlan apresentou uma análise sucinta do desenvolvimento do
sobreendividamento do sector privado durante o período 2004-2008 e do endividamento do sector público no
período seguinte através da recapitalização dos bancos privados.
Eric Toussaint teve ocasião de desenvolver os pontos de vista do CADTM sobre as relações de dominação
Centro/Periferia na União Europeia, sobre a ofensiva generalizada à escala europeia pelo patronato das grandes
empresas, os governos nacionais e as instituições europeias. Mostrou que a dívida foi utilizada como um dos
pretextos principais para levar a cabo essa ofensiva. A seguir apresentou uma explicação sobre o endividamento na
Grécia. Pôs em destaque a forma como o primeiro-ministro Alexis Tsipras se lançou a si mesmo na armadilha de
não suspender o pagamento da dívida em fevereiro de 2015. Graças a isso, a Troika pôde manter as suas
exigências. Por fim, apesar de 62 % dos eleitores as terem recusado no referendo de 5-julho-2015, as condições
dos credores foram impostas, à revelia da maioria da população.
O debate que se seguiu revelou numerosas dúvidas e objecções à política que consiste em respeitar as exigências
da dívida e as consequências que daí derivam. Esta atitude explica nomeadamente o pesado programa de
privatizações do actual governo esloveno do primeiro-ministro Cerar, que na sua campanha eleitoral tinha prometido
o fim da corrupção e uma maior transparência na gestão da coisa pública. Está-se longe disso e na situação actual
ninguém sabe exactamente o que justifica o endividamento esloveno e suas consequências actuais.
Notou-se a presença na sala de deputados do partido socialista (Socialni demokrati): Jan `koberne e Janko Veber
(antigo ministro da Defesa), bem como a do jovem líder carismático da Esquerda Unida, Luka Mesec |4|. Também
estava presente Uroa Prikl (Desus), que preside a comissão parlamentar para os assuntos sociais. O público era
numeroso, jovem na sua maioria. Essa franja da população é particularmente afectada pela política neoliberal
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aplicada por sucessivos governos eslovenos após a independência da Eslovénia. A situação da juventude e a crise
social que atravessa a Eslovénia tornam necessária uma visão clara e a compreensão dos pretextos da política
austeritária em curso.
Foi apresentado o projecto de organizar em Liubliana, durante o ano de 2016, um atelier que irá examinar os
problemas levantados pelo endividamento do país. Eric Toussaint declarou que o CADTM poderia participar nesse
atelier, para o qual estão convidadas todas as pessoas de boa vontade.
No dia seguinte, quinta-feira 17 de setembro, Eric Toussaint foi convidado a ir a Maribor, segunda grande cidade do
país, para intervir numa conferência internacional sobre relações Centro/Periferia na União Europeia. Participou no
primeiro painel com Rastko Mochnik. A seguir deu 6 entrevistas à televisão eslovena e a diversos jornais.
Post-scriptum :
Tradução: Rui Viana Pereira
Revisão Maria da Liberdade
|1| O sindicato ZSSS é o que tem maior número de associados na Eslovénia. Conseguiu obrigar o Governo do conservador Jansa a renunciar à
«taxa nula», extremamente favorável aos investidores privados, que teria agravado a carga fiscal sobre a maioria da população. Uma
manifestação de 30 a 40 mil pessoas fez soar o dobre a finados desse projecto.
Dois anos mais tarde, outra manifestação agrupou, por iniciativa do ZSSS, o conjunto das organizações sindicais. O objectivo e o resultado foram
pôr freio às tentativas de destruição do sistema de protecção social. A manifestação reuniu perto de 80 mil pessoas, o que é muito significativo do
impacte do movimento sindical, num país de 2 milhões de habitantes.
|2| O SVIZ é o principal sindicato dos professores. Construído de base pelo seu actual presidente, Branimir Strukelj, este sindicato, graças ao seu
dinamismo, conseguiu manter um nível salarial decente para os professores. Durante o inverno de 2012-2013 uma enorme greve de professores
eslovenos refreou o ardor da regressão social do governo Jansa, que acabou por renunciar ao cargo de primeiro-ministro. Esta greve veio aliás
no seguimento das manifestações ocorridas no inverno de 2012-2013 de protesto contra a política do primeiro-ministro Jansa. O SVIZ faz parte
duma confederação mais alargada que agrupa sobretudo trabalhadores dos serviços públicos.
|3| Franek Drenovec escreveu o capítulo «A Génese da Dívida Pública» no livro A Dívida Pública : Quem Deve a Quem.
|4| Luka Mesec (https://sl.wikipedia.org/wiki/Luka_Mesec) é um dos 6 deputados da Esquerda Unida. A emergência de uma nova corrente à
esquerda da esquerda pode ser interpretada como consequência política das manifestações do inverno de 2012-2013. Estas manifestações
expressam a revolta da juventude, condenada ao desemprego e à precariedade. Assim se compreende que a Lista Unida tenha obtido tantos
votos (e deputados) como o Partido Socialista. Ver: http://www.criticatac.ro/lefteast/historic-victory-united-left-slovenia-6-seats/ . Eric Toussaint e
Luka Mesec já tiveram oportunidade de debater o tema da dívida aquando de um debate organizado em novembro-2014 em Saraievo, na Bósnia
(ver Sarajevo : l'espoir et la rébellion sociale de l'année 2014 ).
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