Projeto Integral

Transcrição

Projeto Integral
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
CURSO DE COMUNICAÇÃO – JORNALISMO
EDINALDO ARAUJO MOTA JÚNIOR
GABON, MUY BUENAS NOCHES:
UMA ANÁLISE DO MODO DE ENDEREÇAMENTO E DA IDENTIDADE
LOCAL NO TELEJORNAL BASCO TELEBERRI, DA ETB2
Salvador
2009.1
EDINALDO ARAUJO MOTA JÚNIOR
GABON, MUY BUENAS NOCHES:
UMA ANÁLISE DO MODO DE ENDEREÇAMENTO E DA IDENTIDADE LOCAL
NO TELEJORNAL BASCO TELEBERRI, DA ETB2
Anteprojeto de Pesquisa apresentado ao curso de
graduação em Comunicação – Jornalismo, Faculdade de
Comunicação, Universidade Federal da Bahia, como
requisito para avaliação da disciplina Elaboração de
Projeto em Comunicação.
Docente: Profa Dra. Annamaria da Rocha Jatobá Palacios.
Indicação prof(a) Orientador(a): Profa. Dra. Itania Gomes
Salvador
2009.1
Zenbat aldiz oihukatu dugu
inposatzen dizkiguten kateen aurka
zenbat aldiz behin eta berriz
exigitu dugu gure askatasuna
Aske izateko apurtu beharreko
lehenengo katea gure barnean dago
urteetan zehar barneratu dizkiguten
erdal hizkuntzak baztertuz betirako
Euskaldunak garela aldarrikatzeko
euskal herria herri dela determinatzeko
gure nortasuna gure hizkuntza
euskara da geroa!
(Euskal Herria Eraikiz)
***
Cuantas veces hemos gritado
contra las cadenas que nos imponen
cuantas veces una y otra vez
hemos exigido nuestra libertad
para ser libres la primera cadena a romper
se encuentra en nuestro interior
Apartando para siempre las lenguas ajenas
que durante años nos han introducido,
Para reivindicar que somos vascos
Para determinar a Euskal Herria como pueblo
nuestra identidad nuestra lengua
el euskara es el futuro!
(País Vasco en construcción)
RESUMO
O presente anteprojeto de pesquisa busca descrever as etapas para o Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) em Comunicação – Jornalismo, Faculdade de Comunicação, Universidade
Federal da Bahia. Este trabalho final, de caráter monográfico, pretende analisar o modo de
endereçamento e questões de identidade no telejornal Teleberri, da cadeia de rádiotelevisão
do País Basco (Espanha), a Eitb. Utilizar-se-á a metodologia de análise de telejornais,
desenvolvida pela Profa. Dra. Itania Maria Mota Gomes no Grupo de Pesquisa de Análise de
Telejornalismo. O objetivo central é compreender a relação entre comunicação e cultura,
utilizando o telejornalismo basco para esta finalidade. Para tanto, é necessário a análise
contextual, apropriando-se da história política e cultural do País Basco, do contexto de
formação e dos discursos dos meios de comunicação local, e das discussões levantadas pelos
estudos culturais sobre comunicação e cultura, para, então, entender como é criado o tom ou
estilo do programa e a sua relação com a audiência.
Palavras-chave: telejornalismo – modo de endereçamento – identidade – país basco –
nacionalismo basco
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Mapa de Euskal Herria........................................................................9
Figura 2 Circuito de Produção da Cultura (Stuart Hall).....................................21
Figura 3 Contexto comunicativo no Teleberri (ETB2)......................................26
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................
07
1.1 Objetivo Geral.................................................................................................... 08
1.2 Objetivos Específicos......................................................................................... 08
1.3 Objeto................................................................................................................
08
1.4 Corpus ...............................................................................................................
09
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................
10
2.1 Da gênese do País Vasco ao nacionalismo radical............................................. 10
2.2 A Era Franquista................................................................................................
13
2.3 Discussões sobre os media no País Vasco.........................................................
16
2.4 Comunicação, cultura e política: a abordagem dos estudos culturais................ 20
2.5 Para analisar telejornais: premissas do jornalismo, estrutura de sentimento,
gênero televisivo e modo de endereçamento....................................................
25
3. DELIMITAÇÃO DA QUESTÃO................................................................... 30
4. JUSTIFICATIVA.............................................................................................
34
4.1 Hipótese ............................................................................................................
36
5. METODOLOGIA............................................................................................
37
6. CRONOGRAMA.............................................................................................
39
REFERÊNCIAS .............................................................................................
40
7
1. INTRODUÇÃO
“Gabon1, buenas noches. Carrera contra el reloj en los tribunales. Los jueces del
supremo han ordenador que, de momento, no se le entrega el senso a Askatasuna...”2. E
assim começa mais um Teleberri, telejornal vasco da rede de emisoras Eukal Irratia Telebista
(Eitb – Rádio Televisão do País Vasco). Quem não o conhece, atiça a curiosidade: articulando
expressões em basco para saudar uns aos outros, e para saudar ao seu telespectador, os
apresentadores na bancada divulgam um cem número de notícias que marcaram o dia no País
Vasco. Com a intenção de integrar o povo basco diante da tela, apresentando-lhes notícias
direcionadas, o Teleberri se consolida como telejornal mais visto em toda região.
Este é o tipo de análise que nos propomos a realizar: buscando minúncias contextuais,
que nos expliquem um quadro político, social e cultural do País Vasco, avançando numa
barca teórica dos estudos culturais, seguiremos com este projeto de pesquisa na intenção de
desvendarmos qual o modo de endereçamento do telejornal e como as marcas da identidade se
encontram presentes num telejornal pensado como instituição social e forma cultural.
A presente proposta de pesquisa conduzirá a formatação de um Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC), de caráter monográfico, para obtenção do grau em bacharel em
Comunicação, pela Universidade Federal da Bahia, no semestre letivo 2010.1. Os temas aqui
apresentados servirão de base para os próximos procedimentos acadêmicos de
desenvolvimento e redação de uma monografia.
Para atingir nossos objetivos, partimos do papel social do jornalismo e da televisão, sem
deixar de nos focar na cultura como um modo de vida. Para responder às perguntas que nos
inquietam, utilizaremos o método de análise de telejornais, proposto por Itania Gomes e que
vem sendo aplicado em análises no Grupo de Pesquisa de Análise de Telejornalismo da
Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Este método tem como
referencial teórico a corrente dos estudos culturais. No que tange a esta abordagem, serão
discutidos conceitos que permitem pensar a cultura por um viés marxista, sem reduzi-los ao
mero economicismo, através de uma abordagem política e social. A metodologia de análise de
1
2
Gabon: em euskera, língua basca, significa boa noite.
“Boa noite. Corrida contra o relógionos tribunais. Os juízos do Supremo ordenaram que, por enquanto, não
entregará o senso a Askatasuna”. (tradução nossa)
8
telejornais, levará em conta premissas básicas para se pensar o jornalismo, 3 conceitos chaves:
estrutura de sentimento, gênero televisivo e modo de endereçamento. Este último, nos
conduzirá a quatro operadores de análise (mediador, contexto comunicativo, pacto sobre o
papel do jornalismo e organização temática) pelos quais buscaremos responder nossos
questionamentos.
1.1. Objetivo geral
Identificar, na análise do telejornal Teleberri, o tom ou estilo que o programa constrói
para criar um vínculo com a sua audiência e as marcas da identidade basca como estratégias
para reforçar este endereçamento.
1.2. Objetivos específicos
• Analisar a formação da identidade basca e da construção do problema basco para
entender as articulações feitas no contexto em que o programa está inserido
• Perceber, através da metodologia de análise de telejornais, idealizada por Itania
Gomes (2007), como o telejornalismo se configura enquanto instituição social e forma
cultural dentro de determinado contexto
• Examinar as apropriações da cultura popular feitas pelo programa para atingir seu
público.
• Discutir noções de interesse público, aliadas a conceitos-chave do jornalismo, para
entender a formatação do telejornalismo basco enquanto programa do gênero
televisivo
1.3. Objeto
O objeto do estudo que utilizaremos é o processo de articulação entre o que chamamos
de cultura e identidade basca e os meios de comunicação locais, no caso específico da
emissora Eitb. Considera-se este objeto importante porque, a partir dele, podemos entender
como um produto se direciona ao seu receptor enquanto gênero televisivo e como se
estabelece o vínculo entre programa e audiência dentro de um cenário local.
9
1.4. Corpus
Para o projeto de pesquisa, serão utilizadas quatro semanas consecutivas do Teleberri,
veiculadas pela emissora ETB2 em língua espanhola, que resultam em 27 edições,
compreendidas entre os dia 2 de fevereiro à 1 de março de 2009. As edições gravadas
coincidem com o período de campanha pré-eleitoral e o dia da eleição para presidente da
Comunidade Autônoma do País Vasco.
10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para trilhar os caminhos desta pesquisa, nos é necessário seguir uma análise sobre as
bibliografias através de um percurso específico – foco na contextualização e a articulação com
a corrente dos estudos culturais, que será mais detalhado no tópico em que descrevemos a
metodologia. Faremos aqui discussões mais genéricas acerca do nosso objeto de estudo e
onde ele está inserido, pensando, aqui, no seu contexto histórico, social e cultural. Neste
tópico, tentaremos trazer à tona os principais autores que abordam o tema sobre o País Basco,
o conflito entre nacional e o local, questões de identidade basca, na intenção de pensar o que
se chama de conflito basco como um problema político e cultural, pautando-se em aspectos e
fatos históricos. Além de funcionar como percurso metodológico, serve para situar o leitor
durante o processo de entendimento da pesquisa, supondo a sua falta de conhecimento – sem
culpá-lo – acerca deste universo.
Ainda sobre a região, na tentativa de contextualizar o ambiente da análise, discutiremos
os principais estudos acerca dos meios de comunicação bascos, principalmente mantendo a
devida atenção para a criação e o estabelecimento de uma televisão pública basca, incluindo
premissas que envolvam o interesse público no processo da cobertura noticiosa. Em seguida,
o projeto segue em direção às principais correntes teóricas dos Estudos Culturais, que,
somadas aos conceitos de modo de endereçamento e gênero televisivo, servirão como
principal base teórica para o que se propõe este projeto de pesquisa. Vamos entender, a partir
destes três vieses, como o encontro de cada um deles nos possibilitará responder aos
questionamentos em relação ao nosso produto, ao telejornal basco, e sua articulação entre
jornalismo, identidade e cultura popular.
Da gênese do País Vasco ao nacionalismo radical
Atualmente, o que conhecemos pelo território atual da Comunidade Autônoma do País
Basco compreende as províncias de Álava, Guipuzcoa e Vizcaya. Entretanto, o território
basco, em tempos atrás, compreendia outras zonas como a que hoje forma a comunidade
autônoma de Navarra, e também as zonas sul-francesas conhecidas como Lapurdi, Zuberoa e
Baixa Navarra. Todas elas formavam o que se conhece, hoje, como Euskal Herria (ver figura
11
1), que se entende por terra daqueles que falam basco3, o território pelo qual os movimentos
de libertação nacionalista basco, que pregam a autodeterminação política da região, lutam em
busca da separação dos estados espanhol e francês.
Fonte: Basque Culture On Line
<http://www.eke.org/>
Figura 1 – Mapa de Euskal Herria
A característica marcante do que se chama de Euskal Herria é socialização do euskera4
como língua própria. Era o que os separavam das conquistas por novos reinos, pelo
colonialismo e aumento dos estados absolutistas. Entretanto, o País Vasco perde duas regiões
que formavam este bloco: o Reino de Navarra, durante o século XVI, submetido ao Reino da
Castilla, que logo se tornaria o Reino da Espanha e os territórios que hoje compreendem o
País Vasco francês. O resultado destas disputas forma o que hoje conhecemos como
Comunidade Autônoma Basca, ou Euskadi, território e realidade política espanhola, que é
nosso fruto de pesquisa. Entretanto, é importante salientar que o que consideramos aqui como
cultura vasca tem origem nos primórdios desta região, quando ainda se consideravam as três
realidades políticas – Euskadi, Navarra e zona vasco-francesa.
3
Para esta explicação etimológica, buscamos dois diferentes verbetes: euskal, traduzido para o espanhol como
“vasco” e herri, traduzido como “pueblo”, “tierra” e “público”. (SARASOLA, Ibon. (Ed.). Hiztegi Txikiak:
Euskara-Gaztelania/Gaztelania-Euskara. Bilbao: Lur, 2001.). A principal tradução, encontrada em fontes
diversas, principalmente em meio eletrônico, chama Euskal Herria de “terra daqueles que falam a língua basca”.
4
Euskera, ou euskara, é a forma como se chama a língua basca. As duas variações são, respectivamente, versões
em língua espanhola e basca.
12
Na busca incessante de destacar, dentro da vasta história do povo basco, os pontoschave para este projeto de pesquisa, nos deparamos com o processo de criação do que muitos
teóricos chamam de “cultura do nacionalismo”. Através da cronologia e de uma análise do
nacionalismo e o caminho que segue o povo basco neste percurso social, Jose Mari Espinosa
(2004) destaca o período das chamadas guerras carlistas como importante para o
desenvolvimento de um sentimento independentista que se tornará, após este período,
característico deste povo. Durante o período carlista, em que o pretendente a corte espanhola,
o rei Carlos de Bórbon, mobilizou tropas da região contra um exército espanhol, trouxe para
os bascos somente a derrota e a submissão à corte. A partir de então, começou o processo de
intervenção legal, que culminou no fim das antigas leis vascas, a maioria presentes desde os
tempos em que as normas jurídicas se mantinham através da oralidade, além da implantação
da soberania espanhola nos territórios vascos (MONTERO, 1993). Esta dominação acarretou
no fim de um modelo democrático, os chamados “fueros”5.
[...] la aplicación de las leyes hispanas en suelo vasco durante el siglo XIX no
hubiera sido posible sin la colaboración de clases nativas (banqueros, comerciantes,
mineros etcétera), interesadas en la inclusión de sus negocios en el mercado español
y en desaparición de algunos impedimentos forales. (ESPINOSA, 2004, p.21)
Se alguns – os liberalistas – comemoraram a derrocada de uma incipiente luta política
vasca, vale salientar que eram poucos. A insatisfação do povo basco incitou um processo que
almejava a autodeterminação, em um movimento de conservação das peculiaridades vascas,
principalmente no âmbito cultural e lingüístico. Era um movimento oriundo do campo e dos
proprietários de terras, que enxergavam nitidamente um processo de urbanização à vista.
Espinosa (2004) destaca que esta parte da população, que era a grande maioria, apoiou e
acreditou no movimento carlista como caminho para libertação, e houve uma frustração
generalizada, principalmente com a abolição dos fueros. Neste contexto que surge a semente
de um movimento marcante para a história do País Vasco, uma semente que se tornaria marca
da sua identidade: o nacionalismo e a luta por uma satisfação local plena:
5
Sobre os fueros, Montero (1993) explica: “os foros vascos são o conjunto dos foros particulares de cada uma
das Províncias Vascongadas. Nunca existiu um foro unificado para todo o País Basco. Cada um dos foros
provinciais tem suas peculiaridades, entretanto todos possuem aspectos comuns. Os foros foram se formando
pelos costumes durante a fase histórica em que as Províncias Vascongadas eram independentes de qualquer
poder externo. [...] Os foros se transmitiam por tradição oral, porém, depois do pacto de cada província, faziam a
transmissão escrita.” (MONTERO, 1993, p. 63) (tradução nossa).
13
“[...] no fue casual que los fundadores del nacionalismo vasco procedieran y
militaran inicialmente en la ideología del carlismo foral. El resultado de las guerras
carlistas y la final abolición de los Fueros, seguido de una constante represión
española contra sus defensores, vinieron a ser un cualquier caso el revulsivo que
provocaría una toma de consciencia vasquista basada en la reivindicación de la
lengua, la territorialidad y la recuperación de la soberanía perdida. Y luego, la
evolución de esta misma conciencia hacia un movimiento nacional vasco cuyo
origen es sobre todo una reflexión sobre la pérdida de la independencia política.”
(ESPINOSA, 2004, p. 22)
A reivindicação se torna sentimento presente no cotidiano dos vascos. Entretanto, a
presença de um nacionalismo próprio somente surge através da figura de Sabino Arana (18651903), escritor e articulador dos movimentos nos anos finais do século XIX. Arana sempre
articulou com questões autênticas da sua região de origem, tanto que, em pleno século XIX,
quis se especializar no estudo do euskera. Na mesma época em que tenta se aprofundar nesta
área, cria uma série de artigos nos quais expõe as bases para um nacionalismo radical. Arana
os reúne em um folheto, chamado “Bizkaia por su independência”. Em 1984, o bilbaíno funda
o primeiro círculo nacionalista, chamado batzoki6 e funda o Partido Nacionalista Vasco
(ESPINOSA, 2004.). As idéias do nacionalismo radical de Arana, que pregava um sistema de
exaltação do que ele chama de “raça basca” e um radicalismo anti-espanhol, são os
precursores para o movimento terrorista que surgirá em 1958, em plena ditadura franquista.
A Era Franquista
O regime militar do general Francisco Franco (1892-1975), o Caudilho como era
comumente chamado, durou 39 anos e foi extremamente marcante para a história da Espanha,
e principalmente na história das regiões da Catalunha, da Galícia e do País Vasco – todas com
línguas e identidades próprias. Durante este período, o país sofreu uma intensa repressão e
esteve em estágio de pobreza em grande parte dos grandes pólos, e principalmente, na zona
rural.
6
Sobre batzoki, nos dicionários bascos, não encontramos nenhuma tradução literal para o termo. Neles, consta
informação que podemos descrever quando visitamos as cidades do País Vasco. Em cada uma delas, as sedes do
Partido Nacionalista Vasco (PNV), são bares que funcionam como locais de interação social, além de sitio
específico para os debates políticos. Estes lugares levam o nome de batzoki. Ver: TÁPIZ FERNÁNDEZ, José
María. Locales del partido y transmisión ideológica: el caso de los batzokis del PNV durante la II
República. Disponível em: <http://www.euskomedia.org/PDFAnlt/vasconia/vas27/27211224.pdf>. Acesso em
12 jun. 2009.
14
O golpe dado pelo militar em 1936 foi uma ação contra os movimentos de forças que
lutavam pelo fim do engessamento pelo qual passavam as instituições econômicas e políticas
na época e contra a incipiente república criada a partir de 1936 – que logo veio a cair com o
golpe do militar (COMELLAS, 2003). Em 1939, os alemães, a pedido do regime espanhol,
bombardeiam a cidade basca de Guernika para conter movimentos independentistas e
republicanos.
O sofrível isolamento da Espanha pós II Guerra, por ter sido aliada da Alemanha, criou
uma mobilização contrária ao que se esperava com o fim do conflito mundial: ao contrário de
uma luta constante pela queda do regime, os espanhóis, em sua grande maioria, tentaram se
unir. Daí que surge um sentimento nacionalista e a formação de grupos que lutavam pelo
reerguimento da Espanha enquanto estado-nação europeu, ao mesmo tempo em que, em
outros cantos do país, começavam a se formar pequenos movimentos dissidentes. As
mobilizações e manifestações contra a ação externa de bloqueio do país por parte da massa
nacionalista e unificadora, que seguia com o lema “España: una, grande y libre”, e a
valorização da indústria interna foram grandes pontos sustentados por Franco, para que, no
pós-guerra, a Espanha iniciasse seu processo de industrialização.
A falta de investimentos privados, tanto internacionais como nacionais, foi suprida pela
presença do Estado, promovendo o processo de industrialização. O período coincidiu com o
pós II Guerra Mundial; a entrada de capitais estatais e a intensa relação produção-consumo
permitiram que o país trilhasse o pós-guerra relativamente bem, se comparado a outras
potências européias. O sentimento nacional era forte, principalmente porque o capital nacional
estava em voga e trazendo retornos. Neste período, uma das mais significativas medidas de
Franco foi a proibição do uso de outras línguas regionalistas, em favor do espanhol. Esta ação
atingia diretamente as três regiões em que as línguas minoritárias, ali, eram mais fortes do que
a considerada língua nacional: Catalunha, Galícia e o País Vasco.
O governo de Franco, entretanto, foi feroz quanto a este tipo de movimento que
mobilizava a sociedade civil contra seu governo e a favor de uma república, de uma
igualdade. Logo, os idiomas considerados nacionais foram proibidos, as escolas que
ensinavam integralmente a língua local foram colocadas na ilegalidade, os símbolos e festejos
que fizessem referência a uma cultura não-espanhola deviam sofrer represálias. Inclusive,
alguns teóricos que abordam questões da língua basca identificam este período como aquele
15
em que a forte tradição lingüística foi perdida, juntamente com a força da identidade local,
percebendo, já neste ponto, uma intríseca relação entre língua e cultura. Arielle Weisman
(2007) faz uma intensa análise entre este laço lingüístico-cultural no País Vasco, percebendo
como se deu as tentativas incessantes de refortalecer o euskera, articulando este movimento
com o contexto histórico. Em certo ponto, Weisman (2007) encontra dados que atestam a
brusca queda dos euskaldunes7 pós-franquismo: no início dos anos 80, apenas 32% da
população vasca falavam o idioma, em um cenário que, antes, era marcado por uma
totalidade:
Durante sus más de 40 años como dictador de España, el Generalísimo Francisco
Franco mantuvo una supresión severa de las lenguas regionales – la vasca, la
catalana y la gallega – con la finalidad de unir a la gente española bajo un idioma
común: el castellano. Con la persecución oficial de la representación escrita y oral
del euskera, la lengua vasca, Franco quiso erradicar por completo la identidad
distinta de los vascos, relegando el euskera al estatus de reliquia folklórica que nada
tenía que ver con la España moderna. Cuatro décadas de represión resultaron en la
casi desaparición de la lengua vasca, y, por consiguiente, la identidad vasca en sí. El
salto de la pérdida de lengua a la de la identidad es lógica, porque para los vascos, la
lengua es el rasgo cultural que más los destaca. (WEISMAN, 2007, p.4)
A análise de Weisman (2007) reflete acerca do processo de restauração da língua, e,
conseqüentemente, da identidade vasca, pensando nas políticas públicas e no contexto
histórico pós-ditadura e pré-modernização. Entretanto, dentro desta análise (e de outras, como
a que faz Adriana Villalón8), é importante perceber um movimento, natural diante destas
circunstâncias, de resgate e manutenção da própria cultura basca, buscando trazer novamente
questões levantadas no final do século XIX e no início do século XX por Sabino Arana,
quando pensou nas bases para um nacionalismo radical, e também nas questões políticas de
autonomia e autodeterminação levantadas pelo primero lehendakari9, José Antonio Aguirre,
durante a II República. Entretanto, a incompatibilidade entre o que podemos chamar de
nacionalismo civil, apoiado pela sociedade basca (proletariado, intelectuais, jovens
universitários e lideranças campesinas), e o nacionalismo oficial, na figura de Aguirre, criou
um racha dentro do Partido Nacionalista Vasco (PNV). Sobre este ponto, Espinosa(2004) diz:
7
Euskaldun: do basco, “vasco-parlante; vasco. Persona que ha aprendido euskara después de niño”.
SARASOLA, Ibon. (Ed.). op. cit.)
8
Argentina, doutoranda do Programa Pós-graduação em Antropologia Social - Museu Nacional/ Universidade
Federal de Rio de Janeiro (PPGAS.MN/UFRJ). É membro da Ankulegi (Asociación Vasca de Antropología) e é
autora de inúmeros artigos, incluindo “Definições para o problema basco” (VILLALÓN, A. 2000, 20 pp.)
9
Lehendakari: presidente. (SARASOLA, Ibon. (Ed.). op. cit.)
16
La realidad era que la represión franquista contra el nacionalismo vasco, contra sus
militantes, contra el euskara, incluso contra los nombres o símbolos vascos y contra
las más inocuas costumbres folklóricas, se acentuaba a medida que los occidentales,
con Washington al frente, apoyaban a Madrid y la resistencia interior no pasaba de
algunas huelgas y protestas duramente reprimidas. Frente a esta situación, un PNV
traicionado y desgastado no sabrá jugar la alternativa nacionalista precisa. En este
marco, se producirá la reacción espontánea de algunos jóvenes independentistas
residentes en Bilbo y Donostia, que según sus propias palabras por “puro
patriotismo, ante la represión franquista y contra el inmovilismo del nacionalismo
oficial”, decidieron crear nuevas fórmulas de lucha por la libertad vasca.
(ESPINOSA, 2004, p. 67)
Este grupo, formado basicamente por estudantes, tinha inicialmente a intenção de
dissipar a cultura vasca, organizando encontros para ensinar o euskera, a história da região,
costumes e os códigos de leis, principalmente pensando nas transformações desde os fueros
até a chegada dos códigos de leis franquistas. A formação deste campo de disputa ocasionará,
em 1958, uma total divisão entre os jovens partidários, e a conseqüente saída da ala radical,
que dará lugar a organização terrorista ETA (Euzkadi Ta Askatasuna10) – facção responsável
por inúmeros atentados violentos; a visibilidade que suas ações terão, ao longo dos tempos,
será a responsável pela associação da cultura e da sociedade vasca, incluindo aí a cultura do
nacionalismo, ao terrorismo (WEISMAN, 2007). O cenário que se formará, para a identidade
política da região, é a da esquerda política, que futuramente se dividirá entre o PNV e outros
partidos de esquerda conhecidos como abertzale11, e a dissidência armada que prega o que
Espinosa (2004) chama de reeuskaldunización, ou seja, uma intensa batalha em para reaver os
valores culturais vascos, principalmente com a língua e com a reunificação dos territórios de
identidade vasca. Esta grupo assume este discurso pela lógica da força coercitiva.
Discussões sobre os media no País Vasco
As principais discussões que se tinha em relação aos meios de comunicação do início do
século XX no País Vasco tratava do direcionamento para o regional que havia com o
jornalismo impresso, mas que sofria com a censura do regime franquista – inclusive, neste
período, cerca de 3 jornais que tinham características bilíngüe e esquerdistas foram fechados,
mantendo-se tradicionalmente, até hoje, o Gara (traduzido como “Nós”, é escrito em euskara
10
11
Euzkadi Ta Askatasuna: sigla do ETA traduzida como Pátria Basca e Liberdade.
A situação da esquerda abertzale, atualmente no País Vasco, é problemática. Durante o trajeto da esquerda, o
PNV se divide entre a ala centro-esquerda, que mantem o nome, e a esquerda radical, que se transforma em
Alianza Nacionalista Vasca (ANV). Hoje, o partido, junto ao radical Askatasuna,encontra-se ilegal, por ser
acusado de representar a força política legalizada do ETA.
17
e tem raízes esquerdistas) e o Deia (traduzido para “Chamada”, surgiu de uma dissidência do
Partido Nacionalista Vasco e predomina na região de Vizcaya. Com o surgimento da RTVE,
cadeia de radiodifusão espanhola, em 1956, e a veiculação das imagens no País Vasco na
mesma época, este questionamentos aumentaram. As notícias locais podiam ser encontradas,
mas não possuiam o enfoque desejado, com um cuidado de apuração e busca por informações
da região (DIÉZ, 2002, p. 405)
Com as evoluções tecnológicas nas telecomunicações e na radiodifusão, o avanço da
televisão no país impulsiona um movimento que exige dos governos regionais – tratando aqui
das regiões autonômicas da Espanha – a criação de cadeias de televisão pública de caráter
regional. Garitaonandía & Moragas (1995) discutem, por exemplo, esta exigência quando o
panorama é ultrapassa o âmbito estadual, e, pensando em nível de Europa, transnacional. Para
os autores, existe uma esquizofrenia no panorama das televisões européias, já que o incentivo
a uma identidade européia é constante, mas o que encontramos é uma identidade fragmentada
em estados, e dentro destes estados em regiões com línguas e costumes diferentes:
En la construcción europea se ha dado prioridad a los Estados, descuidando las
mesovariables o los mesoconceptos, como las regionales. Todo lo más se habla de
identidad europea basada en la diversidad de identidades nacionales, a la vez que
dentro de los distintos Estados muchas veces pasa lo mismo. Claro que vivimos una
esquizofrenización de la realidad pues se contrapone por un lado lo uno-económicomercado-global con lo plural-cultural-fórum-local y se prima lo singular (identidad
europea, mercado único, etc.) sobre lo plural, de forma que esta pluralidad (de
lenguas por ejemplo) impide la consecución de objetivos económicos [...] lo cultural
y lo económico mantienen relaciones muy complejas y muy difíciles de aprehender
porque ambos componentes de la realidad son netamente dinámicos.
(GARITAONANDÍA & MORAGAS, 1995, p. 183)
Os autores assinalam que, durante a história da formação das televisões regionais na
Europa, é possível identificar dois períodos distintos: um, nos anos 60 e 70, quando
apareceram as primeiras televisões regionais, que se diferenciavam das nacionais por alguns
minutos da grade televisiva de conteúdo local; e nos anos 80, onde os autores evidenciam um
período de democratização da comunicação, com a assinatura de termos de concessões
públicas para criação destas emissoras. Inclusive, é neste período que surgem três emissoras
importantes para pensarmos as televisões regionais: a S4C gaélica (Irlanda), a Euskal
Telebista (País Vasco) e a TV3 (Catalunha). São três emissoras que correspondem a
diferentes regiões da Europa marcadas por uma identidade e cultura próprias, com traços
políticos e culturais distintos dos estados nacionais onde se localizam.
18
É neste contexto que encontramos a Euskal Telebista (ETB), a televisão vasca, em
1982. Surge através de concessão pública e se consolida por ser o primeiro canal veiculado no
País Vasco que veicula material em língua materna. A lei que cria a emissora tem como
objetivo primordial o de funcionar como meio de comunicação que promova a normalização
cultural e lingüística da região (ARANA, 2003, p.3) como tentativa de resgatar a forte
identidade cultural que havia antes do regime franquista. Entretanto, o que discute Arana
(2003) é que existe uma fragmentação político-administrativa em relação aos territórios de
língua e cultura basca, através da divisão entre zona autonômica basca, zona autonômica
navarra e zona francesa, que impede que a rede de canais da Euskal Telebista consiga atingir
o seu público possível. Desta maneira, a tentativa de normalizar a cultura vasca se restringe,
em sua grande maioria, aos territórios que compõem a Comunidade Autônoma, onde a
emissora tem mais da metade da sua audiência.
Para pensar a importância dos meios de comunicação em euskera, ou até os que sejam
bilíngüe e sigam um incentivo da prática da língua própria, é importante pensarmos quanto, a
nível nacional, estes media funcionaram e ainda funcionam como uma espécie de esfera
pública alternativa ao uma esfera de nível nacional. Para alguns teóricos da comunicação de
origem basca, que discutem a questão da língua e da identidade nacional, é importante
pensarmos neste panorama da esfera pública a partir da formação identitária basca. Josu
Amezaga (2000), para entender como os media locais reforçam ou mesmo criam uma
identidade coletiva, faz o caminho da construção desta identidade para entender o conceito de
esfera pública nestes meios. Para ele, existem alguns tipos de construções e desconstruções
identitárias que formam o que ele aborda como identidade coletiva. Uma destes tipos seria um
movimento de construção da identidade nacional fora dos limites do País Vasco, a intensa
desconstrução desta identidade para formação de uma particular. Neste processo, as
mediações entre sociedade civil, pensando sociedade basca, e o poder público aconteceriam
através de meios de comunicação em que os indivíduos se identificassem enquanto comuns:
It is precisely the existence of a community whose identity is forged in mediated
relationships that makes the importance of the state and the public sphere most
evident, as mediators of those relationships. And it is thus in relationship with this
mediation that we can consider the weight of the means of communication, as media
through which the members of the community enter into contact, and co-ordinate
with each other, albeit in an indirect form. We thus understand the public sphere to
be a space in which, through the means of communication, the members of the
19
community delimited by the area of these media, enter into contact with each other
and constitute themselves into a "we". (AMEZAGA, 2000, p. 3)12
Através desta lógica, Amezaga (2000) faz uma ressalva que esta compreensão da esfera
pública e o funcionamento de uma alternativa ao vigente nos demonstra a importância da
consolidação de uma identidade local e a normalização da língua materna, que no caso da sua
análise, abordará a identidade coletiva basca. Para demonstrar características de uma
identidade coletiva na região, Amezaga utiliza dados quantitativos coletados através de
pesquisas realizadas pelo autor ou por órgãos oficiais do Governo Basco. Servem para nos
contextualizar acerca do ambiente basco, principalmente quando se pensa na articulação entre
media e identidade.
Um trabalho interessante que faz este mesmo autor é, através de um corpus composto
por todos os jornais publicados no País Basco durante uma semana e mais de 294 horas de
programação noticiosa no canal ETB, é perceber como se constrói a identidade coletiva
através da utilização de uma gama de textos que fazem referência a um “nós” ampliado.
Apesar de ser esta uma análise que se concentra na construção de um discurso, sendo que os
estudos culturais ampliam este tipo de análise, incluindo os aspectos dominantes, residuais e
emergentes ao longo da história, os resultados são interessantes para percebemos que, na
mídia impressa produzida na própria região, a grande maioria toma como referência para
construção de notícias o que acontece em âmbito regional, e a construção do nós, bascos
dentro destes jornais está relacionada com a posição perante o nacionalismo – por exemplo, o
jornal Euskaldunon Egunkaria13, era nitidamente um jornal de esquerda nacionalista, e 75%
do seu noticiário era composto por fatos locais.
Quando analisa a cadeia Eitb, Amezaga (2000) se apropria de dados do contexto de
criação da televisão pública basca para entender a criação de sistema de referências –
12
“É justamente a existência de uma comunidade cuja identidade é forjada nas relações mediadas que torna a
importância do Estado e da esfera pública mais evidente, como mediadores dessas relações. E é assim, em
relação com esta mediação que podemos considerar o peso dos meios de comunicação, como os meios através
dos quais os membros da comunidade entram em contato, e coordenam com os outros, ainda que de forma
indireta. Compreende-se assim a esfera pública a ser um espaço em que, através dos meios de comunicação, os
membros da comunidade delimitada pela área destes meios entram em contato uns com os outros e se
constituem em um "nós".” (tradução nossa)
13
É importante destacar que este jornal foi o pioneiro na publicação de conteúdo exclusivamente em euskera.
Em 2003, o Governo Basco decretou o fechamento do jornal, alegando que havia o financiamento do ETA na
publicação e linha editorial.
20
categorias do que é veiculado na programação – e assim poder concluir sobre media e
identidade. Segundo ele, a criação do canal ETB1, exclusivo em euskera, surgiu para que este
funcionasse como principal incentivador da cultura vasca e responsável pela normalização
lingüística, como evidenciou Arana (2003). Em 1986, surge o canal ETB2, ligado também a
cadeia rádiotelevisiva Eitb, mas, desta vez, com conteúdo em espanhol, para que este seja um
caminho de integralização regional, abarcando aqueles que falam ou não a língua basca.
Entretanto, a análise da programação trouxe informações que evidenciam que as
programações não são independentes, elas se completam: enquanto a ETB1 possui programas
voltados mais para o público infantil, programas de variedades no formato de revista e
cobertura esportiva, a ETB2 presa pelos programas jornalísticos e ficção (produções de
teledramaturgia próprias ou compradas por grandes estúdios).
Os dados mencionados são importantes para pensarmos o lugar onde é construído o
telejornal basco e quais as demandas que o jornalismo possui na região. A maioria das
análises focam-se em dados estatísticos e pesquisas quantitativas voltadas para a produção e
emissão de material televisivo/jornalístico, criando um vazio quando se pensa nos estudos da
recepção. Esta revisão que propomos acerca do que é nitidamente próprio do País Vasco,
desde sua história até a formação e consolidação dos media são úteis para que nos impulsione
a pensar no lugar do público e na relação e trocas entre produção e recepção. Desta maneira, é
importante pensarmos questões acerca da cultura, da comunicação e os principais estudos da
recepção que possibilitem perceber a relação que se cria entre produtores e consumidores.
Comunicação, cultura e política: a abordagem dos estudos culturais
Compreender a noção de cultura ultrapassa o saber antropológico ligado aos aspectos
folclóricos de determinada comunidade, aspectos exclusivos de comportamento de
determinado grupo. Tampouco se relaciona com uma definição que apresenta a cultura como
uma simples transmissão do conhecimento. Na tentativa de aplicar um novo olhar ao conceito
de cultura, relacionando-o com a comunicação e a política, a corrente dos estudos culturais
aparece, na figura da Escola de Birmingham, para investigar aspectos importantes da cultura
contemporânea. Grande marca dos teóricos que surgirão nesta corrente, valendo-se da base
política da Nova Esquerda, movimento que fez uma releitura do que pregou Karl Marx, e de
uma linguagem multidisciplinar, é pensar nos receptores dentro do processo de consumo de
21
produtos culturais, atribuindo-lhes a atividade que, antes, lhes havia sido negada, nos modelos
de comunicação.
As contribuições dos estudos culturais para este projeto são importantes, já que, como
descreveremos na metodologia, o processo de análise do modo de endereçamento está
inserido em uma base teórica desta corrente. Para isso, é necessário entendermos como certos
conceitos serão apropriados pela autora da metodologia para analisar certo tipo de programas.
Além disso, os estudos culturais possibilitarão uma abordagem da identidade basca com foco
na produção material e simbólica, fugindo de uma gama de abordagens que pensa na
identidade como algo individual.
Através de Raymond Williams (1979), um dos precursores da Escola de Birmingham,
em seu livro “Marxismo e Literatura”, podemos entender como são articulados os conceitos
do marxismo para construção de uma teoria cultural. Williams amplia o conceito de cultura,
descontruindo esta como um simples artefato, que passa a ser concebida enquanto modo de
vida, ou seja, passa a ser pensada naquilo que é da ordem do material (infra-estrutura) e da
ordem do simbólico (uma superestrutura). Por isso, Williams critica pensar numa estrutura de
reflexo, tanto entre infra e superestrutura, como entre cultura e sociedade. Critica o
determinismo econômico de Marx, já que, pensando na cultura como um modo de vida, ela
não deve ser entendida pela economia.
Williams critica, ainda, o determinismo, porque, novamente, trata-se de um processo
reflexivo e comportamental, em que somente um lado – o da dominação – determina. A
proposta do autor é justamente pensarmos nestes limites que são criados pelo capitalismo,
mas pensar que estes limites também possibilitam, movem a história. Desta maneira, pensa a
determinação como ponto importante para se pensar a cultura:
Na prática, a determinação não é nunca apenas a fixação de limites, mas também a
existência de pressões. E também esse sentido de “determine” em inglês: determinar
que se faça alguma coisa, ou estar disposto (determined) a fazê-la, é um ato de
vontade e propósito. [...] A sociedade não é nunca, então, apenas a “casca morta”
que limita a realização social e individual. E sempre também um processo
constitutivo com pressões muito poderosas que se expressam em formações
políticas, econômicas e culturais [...] (WILLIAMS, 1979, p. 91)
Para Williams, pensar em estruturas determinadas é cometer o erro do economicismo,
reduzindo os limites que existem no modo de produção capitalista à infra-estrutura e,
22
conseqüentemente, excluindo um processo contrário, as pressões, que juntos fazem mover a
história.
Para trabalhar com hegemonia, Williams recorre a Antonio Gramsci (apud WILLIAMS,
1979, p. 111) para falar de um complexo de forças políticas, sociais e culturais necessários
que avançam o conceito de ideologia (relação imaginária dos indivíduos com suas reais
condições de existência). Desta maneira, Gramsci irá dizer que não podemos conceber
processos de dominação pura, porque existe uma luta dentro do campo social. O conceito de
hegemonia permite ver a ideologia como valores e crenças, práticas de todo tipo, sem atrelá-la
ao âmbito da consciência. Para Williams, a hegemonia é necessária para ser analisada dentro
do processo histórico, e para avançar dentro da história, é importante entender como se
relacionaram as tradições, instituições e formações através de elementos dominantes,
residuais e emergentes. As tradições são vistas como visões do passado que servem para
ligarem-se ao presente, identificadas através da presença de elementos que são da ordem do
passado, mas continuam operando – elementos residuais. As instituições são consolidações
hegemônicas do presente, em que as identificamos quando nos deparamos com características
dominantes, enquanto as formações, movimentos e tendências efetivos, mostram um caminho
para o futuro, numa relação imbricada com o presente. Desta maneira que, para Williams,
podemos fazer uma análise cultural, levando em consideração os aspectos históricos.
Através destes conceitos, outros autores importantes dos estudos culturais propuseram
novas abordagens, com a preocupação de manterem o viés para a comunicação e a cultura
contemporânea. Stuart Hall, por exemplo, é outro importante teórico da corrente culturalista.
Hall (2002) vai falar de representação como conceito-chave para entender a cultura e os
discursos apresentados ao longo da história. Para tratar da representação, Hall pensa,
primeiramente na cultura como algo partilhado, amplia quando pensa na cultura como,
também, conjunto de códigos culturais que colocam diferentes pessoas em processo de
partilha de sentido. A linguagem funciona, aqui, como instrumento para a produção de sentido
que convocam representações simbólicas de algo que é material.
Para pensar a cultura dentro de um processo de partilha, Hall (2002) afirma que não
podemos, então, dissociar cultura e identidade. Para ele, as identidades estão presentes no
processo de produção da cultura e se dão através do reconhecimento do um em oposição ao
que é diferente em outro. Através da cultura, somos capazes de entrever a nossa identidade.
23
A importância da representação que Hall (2002) aborda é a criação de um circuito de
comunicação e cultura (ver figura 2) com ênfase na produção, circulação e consumo, criando
o devido lugar do receptor no processo. Hall (2002) se baseia no circuito de produção de
mercadorias, idealizado por Marx, pensando na produção econômica da indústria. A sua
importância está na criação de um circuito, que quebra com a unilateralidade das antigas
teorias da comunicação, incluindo o consumo, a formação da identidade e a representação no
processo de produção como lugares importantes para pensar a cultura.
Figura 2 – Circuito de Produção da Cultura (Stuart Hall)14
Ademais, se apropria das noções de discurso de Michel Foucault (apud HALL, 2002)
para entender as representações dentro das relações de poder. Hall, através de Foucault, busca
entender como certos discursos são possíveis em determinado processo histórico (formação
discursiva) e como é criado um regime de verdade para que os discursos sejam coerentes. E
mais, coerentes e hegemônicos, já que há uma forte disputa de forças para criação de um
regime de verdade. O discurso contra-hegemônico, portanto, necessita entender as regras do
discurso hegemônico, para encontrar suas incoerências, e a partir daí, lutar por um novo
regime de verdade.
14
Este modelo está presente em notas das aulas ministradas pela profa. Itania Gomes, na disciplina Comunicação
e Cultura Contemporâneas (Facom-UFBA), semestre 2009.1
24
Edward Said (1999), importante membro dos estudos culturais e que assume o papel
mais próximo do conceito de intelectual orgânico – aquele que utiliza a produção intelectual
para a luta política – toca em questões de formação de identidades, mas segue um rumo
diferente do de Stuart Hall. Na tentativa de analisar o imperialismo do século XIX através de
produtos literários, Said (1999) trava uma interessante discussão acerca do processo de
colonização durante este período e a situação das identidades destas colônias.
Para Said (1999), o neocolonialismo nunca implica em um processo unilateral de
dominação. Isto porque, segundo o autor, existe um intercâmbio entre dominador e dominado
que resulta em apropriações em cada um dos lados. Desta maneira, Said acredita no binômio
cooptação-resistência e que, em qualquer processo de dominação, até mesmo os que utilizam
a força física para consegui-la, existe um movimento de resistência. Neste campo de disputa
de forças é que as apropriações acontecem.
Nesta linha, Said (1999) pensa a cultura como partilha e não como fronteira. Assim, as
nações funcionam como narrativas e são estas que irão formar as identidades, seja a dos
dominantes ou dos resistentes. Para ele, não existe uma cultura pura, por isso é necessário
refletir acerca das trocas durante o movimento imperialista, já que as diferentes culturas não
funcionam como fronteiras.
A cultura do imperialismo não era invisível, nem ocultava seus vínculos e interesses
mundanos. Há uma clareza suficiente nas grandes linhas culturais para que
enxerguemos as notações amiúde escrupulosas ali feitas, e também para que
vejamos que não lhes foi concedida muita atenção [...] Uma das realizações do
imperialismo foi aproximar o mundo, e embora nesse processo a separação entre
europeus e nativos tenha sido insidiosa e fundamentalmente injusta, a maioria de nós
deveria agora considerar a experiência histórica do império como algo partilhado em
comum [...] Se o imperialismo avançou implacavelmente nos séculos XIX e XX, o
mesmo se deu com a resistência a ele. [...] Isso de forma alguma isenta de críticas os
povos colonizados e lesados; como revela qualquer levantamento dos estados póscoloniaism as ditas e desditas do nacionalismo, daquilo que se pode chamar de
separatismo e nativismo, nem sempre compõem uma história edificante. (SAID,
1999, p. 23-25)
Said (1999) evidencia que a cultura deve ser pensada como modo de vida e não só como
essência, porque é local de troca e também de disputa. São trocas que ocorrem mediante a
disputa de poder, na interpelação entre os sujeitos e na formação de discursos dominantes e
resistentes.
25
Ainda pensando na cultura dentro dos estudos culturais, levando estes questionamentos
para relação com a comunicação, para esta corrente, pensar o jornalismo é pensá-lo dentro da
cultura de massa, e a partir deste ponto que Peter Dahlgren (2000) faz críticas aos discursos
oficiais do jornalismo, quando falam que deve estar atrelado a cobertura dos fatos da política
e da economia. O que ele chama de jornalismo sério e convencional não admite que as
atividades jornalísticas sejam apropriadas pelo prazer, porque vai de encontro ao papel social
do jornalismo, a construção da esfera pública segundo Habermas. O que levanta Dahlgren é
que existe um jornalismo possível em que nele esteja presente o prazer e o entretenimento,
que seria o jornalismo popular – popular aqui no sentido de cultura popular, não no sentido de
alteridade, como comumente é pensado.
Desta maneira, Dahlgren quer nos mostrar que o jornalismo só pode ser compreendido
no âmbito da cultura popular, ou seja, na esfera em que estão aqueles que não compõem o
bloco do poder. Esta é uma intenção dos estudos culturais: entender a relação que se dá entre
jornalismo, e as disputas de discurso. Por isso, Dahlgren não diminui este tipo de produção,
porque o conceito de interesse público e esfera pública devem ser ampliados, para pensar nas
apropriações que o jornalismo deve fazer na sua narrativa que conquiste a fruição do seu
público.
Para analisar telejornais: premissas do jornalismo, estrutura de sentimento, gênero
televisivo e modo de endereçamento
Na tentativa de construir um referencial teórico que sirva como base para a construção
desta pesquisa, concluímos este processo utilizando um texto de Itania Gomes que, ao mesmo
tempo em que nos serve de arcabouço teórico para todo trabalho, porque segue uma linha de
raciocínio dentro dos estudos culturais, nos servirá como metodologia para análise de
telejornais. A proposta de Gomes (2007) é que para analisar um programa telejornalístico, é
preciso ter métodos adequados que possam garantir discussões acerca das premissas básicas
do jornalismo, da capacidade de pensarmos o jornalismo articulado com elementos
emergentes, residuais e dominantes. Além disso, que garantam as especificidades do gênero
televisivo e onde se possa pensar como um programa se endereça ao seu público, criando um
tom ou estilo do programa.
26
Para Gomes (2007), existem duas premissas básicas para análise de telejornais: o
jornalismo como instituição social e forma cultural, nos moldes de Raymond Williams (apud
GOMES, 2007). É conceber a televisão como tecnologia e forma cultural, entendendo como
se dão as relações entre formato e suporte; da mesma forma, conceber o jornalismo enquanto
instituição social é pensar na formação do campo e nos valores agregados a este. A partir
deste ponto, a atividade telejornalística deve ser pensada dentro do seu contexto social,
econômico, político, e acima de tudo cultural. Isso porque, para Gomes, a premissa básica do
telejornalismo enquanto veículo onde informações são colocadas publicamente a disposição
“é da ordem da cultura e não da ordem da natureza do jornalismo ter desenvolvido deste
modo em sociedade específicas” (GOMES, 2007, p. 4)
A compreensão do jornalismo, a partir de Williams em Gomes, nos leva a refletir acerca
de certas premissas do jornalismo e da sua validade dentro da produção como as noções de
objetividade, imparcialidade. Estas noções fazem sentido num modelo de jornalismo em que
este funcionaria como espécie de vigilância da agenda e dos agentes públicos, como uma
espécie de parlamento. Contudo, estas noções são importantes, segundo Gomes, para que
analisemos como o jornalismo é socialmente aceito, e como são enquadradas as ações
profissionais e as expectativas do público. (GOMES, 2007, p. 6)
A análise de telejornais proposta por Gomes estabelece três conceitos: estrutura de
sentimento, gênero televisivo e modo de endereçamento. Estrutura de sentimento, um
conceito criado por Williams, mas que não foi muito desenvolvido pelo autor, propõe uma
estrutura em que sejamos, enquanto analistas, capazes de perceber os deslocamentos que certo
tipo de elementos fazem ao longo da história. Aquilo que é da ordem da estrutura e que
podemos relacionar com aquilo que vemos hoje. Permite, enquanto analista, que analisemos o
processo histórico, encontrando elementos dominantes, residuais e emergentes. Para Gomes, é
um conceito importante para pensar o jornalismo:
[...] Acreditamos que estrutura de sentimento poderá ser útil à compreensão e à
abordagem do jornalismo como instituição social: permite olhar para o que é
socialmente instituído como normas, valores, convenções do campo e o que é
vivido, o que é a prática cotidiana e o que ela contém de características e qualidades
que ainda não se cristalizaram em ideologias e convenções. (GOMES, 2007, 16)
27
Estrutura do sentimento seria, então, um conceito que não é operacionalizado no
produto, mas que permite que olhemos a emergência de novas características, dentro do
processo histórico, que dizem respeito a ele.
O gênero televisivo seria o conceito utilizado para situar a audiência televisa, a sua
relação com o programa e a relação com o assunto tratado (GOMES, 2007, p. 18). O gênero
permite encontrar tradições na produção televisiva e como estes elementos acessam as
matrizes culturais da audiência15. Assim que o gênero funciona como conceito importante
para analisar a televisão enquanto formato e o que ela, dentro deste modelo, convoca do seu
público. Para pensar no telejornalismo, é importante que articulemos características do gênero
televisivo – as categorias que enquadram os programas entre ficção, noticiário, entretenimento
–, características do gênero jornalístico, no que tange a produção de notícia, e a representação
da cultura.
Modo de endereçamento, proveniente da análise fílmica para pensar em posições de
sujeitos, é um conceito importante para Gomes na medida em que se propõe a pensar na
relação que se cria entre produção e recepção. Para a autora, o conceito permite que
entendamos aquilo que é característico das práticas comunicativas de um programa, de
maneira que conquiste o seu público, e se crie um tom ou um estilo de interpelá-lo que o
identifica ou o diferencia dos demais. Para Gomes, é um conceito que deve ser pensado
através da análise do conceito de gênero, porque permite entender aquilo que os receptores
esperam diante de certos programas e como estes acessam suas matrizes culturais.
De acordo com Daniel Chandler (apud GOMES, 2007, p. 21), existe uma relação que se
contrói entre texto e espectador que associa o modo de endereçamento a aspectos sociais,
ideológicos e textuais. Seria, então, levar em conta formatos do gênero como contexto textual,
aspectos da produção do texto, de composição da audiência, aspectos institucionais e
econômicos, como contexto social e ideológico, e característica do meio, no caso o televisivo,
que dizem respeito à tecnologia.
15
Cf: BARBERO, Jesús Martín. Pistas para entre-ver meios as mediações. In: Id. Dos meios às mediações:
comunicação, cultura e hegemonia. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2006.
28
Para compreender o modo de endereçamento e, portanto, verificar como o jornalismo se
articula e se atualiza num programa específico como instituição social e forma cultural
(GOMES, 2007, p. 23), a autora estabeleceu quatro operadores de análise. Estes operadores
servem para articular elementos que encontramos no texto – parte semiótica dos programas –
juntamente com características sociais, culturais, políticas do programa, do jornalismo, e da
emissora. São operadores que não se sustentam isoladamente, ao contrário, a sua validade está
na articulação entre eles, e principalmente, o confronto entre a contextualização. Os quatro
operadores de análise são:
1. mediador: seria análise da performance dos apresentadores dos programas. Para isso,
é importante analisar quem são e qual a sua trajetória no jornalismo e no programa.
Analisar este operador é analisar como ele se comporta diante das câmeras, que, no
final das contas, é como ele está se comportando para os telepectadores. Além disso,
há também questões acerca da familiaridade através da veiculação periódica do
programa e como este vínculo cria uma relação entre telespectador e programa.
2. contexto comunicativo: este é o operador que permite analisar o lugar físico e mental
onde são partilhadas as informações. Relaciona-se com o modo como emissor se
direciona ao seu telespectador e como tenta criar, através do texto, uma relação entre o
receptor (por exemplo, afastamento ou proximidade). Em outro âmbito, também diz
respeito a escolhas técnicas como cenário, vinhetas, infográficos e postura do
apresentador (ver figura 3).
29
Figura 3 – Contexto comunicativo no Teleberri (ETB2)
3. pacto sobre o papel do jornalismo: pacto entre programa e telespectador que
evidencia o que o telespectador espera ver no programa. Neste operador, deve-se
analisar como o programa lida com certa premissas do jornalismo e quais
características que constituem o jornalismo como instituição social naquele programa.
Por exemplo, analsiar como determinado programa lida com noções de objetividade,
imparcialidade, factualidade, interesse público, responsabilidade social, liberdade de
expressão e opinião, atualidade, quarto poder, “como lida com a idéia de verdade,
pertinência e relevância da notícia, com quais valores-notícia de referência opera”.
(GOMES, 2007, p. 26)
4. organização temática: através deste operador, deve-se analisar como a temática é
trabalhada em certos programas e como ocorre a articulação com outros operadores de
análise.
30
3. DELIMITAÇÃO DA QUESTÃO
Através do que foi tratado na fundamentação teórica, pudemos transitar pelas principais
discussões levantadas pelos estudos culturais enquanto corrente teórica no que tange à análise
de produtos culturais, à construção identitária, ao telejornalismo e seu processo de análise.
Ainda pudemos entender as discussões que se fazem em relação à história do País Vasco.
Como a história de muitos territórios espalhados pelo mundo, a do País Vasco trata-se de uma
história marcada pela cooptação – entretanto, não devemos pensar um movimento único de
dominação, utilizando Edward Said para afirmar que onde existe cooptação, existe um
caminho contrário, o da resistência (SAID, 1999)
Além da resistência armada em locais tão diversos quanto a Irlanda, a Indonésia e a
Argélia no século XIX, houve também um empenho considerável na resistência
cultural em quase todas as partes, com a afirmação de identidades nacionalistas e, no
âmbito político, com a criação de associações e partidos com o objetivo comum da
autodeterminação e da independência nacional. (SAID, 1999, p. 12)
Os estudos citados, por exemplo, nos fazem perceber as razões pelas quais se formou
uma intensa cultura do nacionalismo na região. Pensando na língua enquanto força motriz de
um modo de vida, o caso específico da língua basca nos evidencia um processo intenso de
negação por parte dos dominadores daquilo que os diferencia, e em um movimento de
resistência por parte dos cooptados. Desta maneira, os bascos utilizam o euskera como meio
para se valerem enquanto diferentes, tomando aquilo que lhes pertence como objeto de luta.
Diante deste panorama, se cria um ambiente propício a uma constante valorização daquilo que
é tipicamente basco. Inclusive Said (1999) contribui para pensarmos que a formação da
identidade basca se dá através da imposição de um discurso hegemônico, que seria o
espanhol, e na automática formação de uma narrativa de resistência contra o dominante.
Segundo Said, o processo de construção identitária do povo colonizado passa por uma disputa
discursiva circunscrita em um processo histórico e político.
Um dos autores que levantam discussões sobre identidade e cultura, nos estudos
culturais, é Stuart Hall. Dentre os pontos pelos quais aborda a cultura enquanto modo de vida
e divide com teóricos clássicos da corrente este pensamento, é importante perceber como Hall
vê na identidade um processo de formação, nunca um engessado fato consumado. Inclusive a
identidade, pertencente à cultura, é local propício para intensas disputas discursivas:
31
É visto no País Vasco um processo intenso de resgate daquilo que conhecemos por
identidade basca – da ordem do material e do simbólico para os estudos culturais. Quando
Said (1999) aborda os movimentos imperialistas, analisa que as nações pensam a cultura
como fronteira, principalmente onde existe um sentimento nacionalista. Mas, para ele, existe
um intercambio inerente ao contato entre os povos que ajuda na formação de uma identidade
nacional, por isso, é necessário pensá-las como narrativas. Para os estudos culturais, diante do
contexto da quebra das fronteiras e o maior intercâmbio material e simbólico entre as nações,
não é possível que pensemos em cultura pura. É necessário ter em mente que o contato entre
culturas resulta em um mínimo de troca.
Estes questionamentos são importantes para a análise de um produto cultural. Quando
pensamos no telejornalismo, pensamos na televisão enquanto forma cultural e o jornalismo
enquanto instituição social (WILLIAMS apud GOMES, 2007, p. 4). Diante das expectativas
criadas do que deva ser ou não jornalismo, principalmente quando tratamos de televisão, em
que se misturam características do gênero e da instituição, esquece-se que a notícia é uma
construção e não pode ser pensada como um reflexo da realidade (GOMES, 2007, p. 6). São
importantes para pensar as questões de imparcialidade, subjetividade no telejornalismo e
como a noção de interesse público é articulada dentro do jogo entre imagem e notícia.
Uma grande contribuição para esta pesquisa são os questionamentos que fazem o
teórico dinamarquês Peter Dahlgren (2000). Para ele, o jornalismo deve ser concebido através
do vínculo entre informação e cultura popular. Seria, então, pensar que o próprio jornalismo
faz parte da cultura popular e não há como estar fora do modo de vida das pessoas. Na
articulação que tentamos fazer entre o contexto do País Vasco (onde nosso produto está
inserido) e os estudos culturais, é importante o que diz Dahlgren para refletirmos a produção
telejornalística local e como está presente esta articulação entre a identidade cultural, cultura
popular no sentido mais amplo e a produção noticiosa.
No que tange ao nosso produto, o Teleberri é o principal telejornal da rede pública de
televisão basca (Eitb), maior cadeia de televisão da região. Nele, encontramos marcas
importantes para refletir acerca das relações entre jornalismo, cultura popular e marcas de
identidade. Percebemos no programa características próprias da identidade local que são
incorporadas a veiculação jornalística de maneira que atenda uma exigência dos bascos: a
existência de um telejornal com notícias essencialmente locais e que tratem dos assuntos da
32
região de igual para igual (ARANA et alii, 2003) . São marcas textuais, que podemos
identificar na fala de âncoras e repórteres na construção do texto jornalístico, marcas
imagéticas, que, juntas, dizem respeito a uma análise semiótica do programa. Estes aspectos,
somados ao contexto histórico, político e cultural, ademais das discussões a respeito da
identidade do povo basco, poderão nos dar pistas para responder a questões primordiais de
como este programa, enquanto forma cultural e instituição social, cria um tom ou estilo para
se dirigir ao seu público.
Neste projeto, utilizando como base teórica os conceitos e discussões encontrados na
fundamentação teórica, e uma metodologia que será descrita mais adiante, buscamos entender
o modo de endereçamento do telejornal basco, na tentativa de analisar como o programa
interpela os sujeitos, de que maneira e através de que ferramentas consegue criar esta relação
particular com sua audiência. Ademais, as investigações propostas pretendem dar conta de
perceber, dentro do programa, como as marcas de identidade são utilizadas como estratégias
para dar força a esta relação criada com o tom do programa, através de um discurso que prega
a veiculação de uma grande temática que atenda ao interesse da população basca. E mais, ver
como estas estratégias são articuladas para dar credibilidade ao telejornal. Em outras palavras,
a pesquisa deverá dar conta de responder a certas perguntas básicas: qual o modo de
endereçamento criado pelo Teleberri, maior telejornal basco, para se dirigir ao seu público?
Como o produto lida com as premissas do jornalismo em relação com o seu contexto
histórico? De que forma são construídos os dispositivos da linguagem televisiva no
programa? Como se articula a relação entre jornalismo, cultura popular e as marcas da
identidade basca no telejornal?
Consideramos que a relevância desta pesquisa está em dois pontos. A primeira seria em
mais uma forma de testar a validade dos conceitos para análise de telejornais, desenvolvida
por Itania Gomes, e aplicada em diversos projetos de monografias, dissertações, qualificações
de mestrado e artigos pelo Grupo de Pesquisa de Análise de Telejornalismo16.
16
Ver: COSTA, M. O modo de endereçamento do Globo Repórter: uma análise a partir de três períodos
historicamente distintos. (2009); TRINDADE, A. Análise do modo de endereçamento do telejornal francês
Le 20 Heures, da TF1. (2008); VILAS BÔAS, V. Telejornalismo na TV pública brasileira: uma análise do
Repórter Brasil, da TV Brasil. (2008); SANTOS, M. Apropriação do popular pelo telejornalismo brasileiro:
estrutura de sentimento, gênero e modo de endereçamento. (2008); OLIVEIRA, Dannilo D. Jornalismo Policial
na televisão: gênero e modo de endereçamento dos programas Cidade Alerta, Brasil Urgente e Linha Direta.
(2007).
33
Além deste ponto, devemos pensar no caso basco como importante para pensarmos
como se dão as relações entre comunicação, cultura e política em outros países. As reflexões
possuem validade para o jornalismo enquanto instituição social de tal maneira importante que
nos dá respaldo para entendê-los em diversos pontos do mundo. Inclusive neste ponto,
encontramos uma incidência no contexto do nosso país, porque pensar no telejornalismo
basco pode nos ser útil para perceber que tipo de telejornalismo está sendo feito no Brasil.
34
4. JUSTIFICATIVA
Quando se conhece o País Vasco, logo se percebe em que contexto estamos: ali, as
pessoas reconhecem o “seu” em primeiro lugar do que o do “outro”. Antes de ser espanhol, o
que poucos assumem facilmente, são bascos e possuem particularidades. Carregam, em cada
casa de campo espalhadas pelos montes a tristeza de tempos duros, em que a própria, aquilo
que utilizamos para nos socializar, era proibido, tido como imoral e desintegrador. Isto,
percebemos durante 11 meses de contato com bascos. Hoje, não escondem o que lhes são
próprio: escolas, bancos, serviço público, todos exigem, primeiro, que o profissional saiba
euskera. As televisões, publicidades, cartazes, são, em grande maioria, feito em basco.
O contexto é propício para o florescimento desta cultura e identidade. Entretanto, ainda
existe resistência. Muitos, preferem continuar com o espanhol, já conhecido, mais fácil,
socialmente aceito fora do território basco. Outros, não puderam aprender com os pais, nas
escolas, e hoje buscam aprendê-lo. Uma parte sente medo, em razão das associações que
foram feitas entre a cultura vasca e a cultura do nacionalismo. O nacionalismo, por exemplo, é
algo vivo na cultura basca, mas é visto somente pelo viés do terrorismo. Os bascos, por
natureza, contestam, participam de manifestações, greves. Todos estes movimentos
contestatórios, na comunidade, são sempre em larga escala.
Trata-se de uma cultura que apresenta relações interessantes, com um intenso resgate do
que é tipicamente seu, a valorização por parte da política destes códigos, e a reação contrária
da Corte Espanhola, em manter sob seu comando a região, alegando pertencimento, mas, na
verdade, trata-se de um medo econômico. Sabe-se que o País Vasco é uma das principais
fontes de riqueza da Espanha, através de grandes comércios como a indústria do minério,
indústria naval e, agora, o turismo das artes.
Por outro lado, os meios de comunicação na região pensam somente na sua linha
editorial: se seguir o lado do governo ou não. Qual o papel da televisão pública e como ela
contribui para formação política deste cidadão basco? São perguntas que nos dizem respeito a
como o jornalismo vasco tem trabalhado com certas noções de interesse público, questões
relacionadas ao tratamento de temas que fujam do “jornalismo sério”, que merecem uma
análise dos meios enquanto instituição social e forma cultural.
35
Este é um dos motivos pelos quais surgiu o interesse da pesquisa: existe uma falta de
bibliografia, tanto no âmbito brasileiro quanto basco, que trate da relação entre comunicação,
cultura e política, através da abordagem dos estudos culturais, do problema basco. São poucas
as bibliografias que tomam o conflito como, acima de tudo, um conflito cultural e que estas
marcas de resistência estão presentes no modo de vida da comunidade basca. As análises são
feitas por caminhos sociológicos que demonstram um viés extremamente político, ou por um
viés antropológico, que assume a cultura basca como algo diferente, que exige seu completo
isolamento, para que aquela cultura se cristalize e torne-se pura.
Muitos dos teóricos dos estudos culturais, que abordamos incessantemente neste
projeto, pensam na globalização e na quebra das fronteiras. A conseqüência deste panorama
seria um intenso intercâmbio cultural entre os pais e a formação de culturas híbridas. Pensar
no projeto de pesquisa é pensar que estaremos analisando um produto de um lugar brasileiro.
Talvez, não iremos assumir aqui a causa basca justamente por este lugar que nossa e cultural.
Mas permite que, através de algo que não nos pertence, olhemos como se configura o do
outro, e, conseqüentemente, como se configura o nosso. Não tratamos aqui como um processo
de simples comparação, mas perceber, sem apontar, como é contruído o telejornalismo e a
relação com a cultura no Brasil.
Este interesse surgiu de uma experiência pessoal de intercâmbio na região. A
curiosidade por aquilo que nos é diferente impulsionou a busca por disciplinas na Universidad
del País Vasco que nos evidenciasse este panorama encontrado. A intenção era conhecer um
pouco da cultura através da teoria e da prática, na convivência com nativos. Percebemos,
portanto, que havia uma naturalização do problema e que ele não era levado para o plano das
discussões. As pesquisas, geralmente, aconteciam de forma isolada, os pesquisadores se
fechavam em grupos de interesse, e as manifestações pró e contra aconteciam comumente.
A partir de então, surgiu a vontade da pesquisa, mas invertendo os lados pesquisados.
As principais pesquisas dentro da Facultad de Ciencias Sociales y de la Comunicación
abordavam o tema pelo lado da produção de meios de comunicação que reforçassem o lado
identitário. Não encontramos nenhuma linha teórica que pensasse pela perspectiva da
recepção como acontecia a formação do campo da comunicação e a sua relação com a cultura
e a identidade popular.
36
Trata-se de um caso para, afinal, analisarmos questões como a identidade cultural, a
política e o choque étnico e o fenômeno do culturalismo, o tópico da pesquisa apresentada
parece ser bastante ilustrativo para pensarmos a questão da recepção. A análise propõe o
estudo de um corpus, gravações de edições do programa Teleberri – que coindice com a
cobertura a campanha pré-eleitoral e durante o processo eleitoral para o cargo de presidente
da Comunidade Autônoma Basca.
De acordo com o que já foi tratado minimamente em tópicos anteriores, o trabalho
serve, além de fonte para enriquecimento quanto às análises de telejornais, apresentando
versões variadas de programas e de diferentes nacionalidades, além de uma maneira de
testarmos a metodologia criada pela professora Itania Gomes. Serve, também, como caminho
para reflexões acerca da cultura global e local dos últimos tempos.
4.1
Hipótese
A hipótese que tentaremos demonstrar, através da análise, a relação que se cria entre o
telejornal e a sua audiência, ou seja, um modo de endereçamento que é levado em conta na
sua produção, pensando no público, e também no que exige este público em contrapartida.
Ademais, buscaremos entender como o telejornal se apropria de marcas da identidade basca
como estratégia para conquistar sua audiência.
37
5. METODOLOGIA
O presente projeto de pesquisa se propõe a analisar o modo de endereçamento e as
relações de marcas da identidade basca no telejornal Teleberri, da cadeia Eitb. Através da
análise dos objetivos principais que propomos para esta pesquisa, ela se classifica enquanto
pesquisa exploratória, aquela em que se caracteriza pelo desenvolvimento de idéias, com o
objetivo de oferecer um panorama de determinado fenômeno.
A pesquisa realizar-se-á, quanto aos procedimentos de coleta de dados, através do
método bibliográfico e documental. A parte bibliográfica funcionará como nosso arcabouço
teórico, dando-nos informações que ajudem na construção do caminho da pesquisa em direção
aos nossos objetivos. Necessitaremos de uma bibliografia que dê conta de esclarecer-nos o
panorama do problema basco nos níveis sociais, políticos, econômicos e culturais. Além
disso, é necessária a coleta de dados da conjuntura dos meios de comunicação do País Vasco,
principalmente que diga respeito a trajetória do canal vasco Eitb dentro do ambiente de
televisões da Espanha e Europa.
Já sobre a pesquisa documental,utilizaremos o corpus como documento para análise.
Este será a fonte de pesquisa principal. Entretanto, outros documentos far-se-ão importantes,
funcionando enquanto materiais que auxiliarão no entendimento do processo. Deverão ser
vistas edições esporádicas de outros telejornais: edições de anos anteriores do mesmo
telejornal, para entendermos a construção do programa durante a história; outros telejornais da
própria emissora, para que saibamos, comparativamente, onde o telejornal está posicionado
em nível de grade televisiva; outros programas de níveis locais e nacionais, para que
estejamos a par de como é construído o telejornalismo espanhol.
Itania Gomes (cf: GOMES, 2007, p.1-31), propõe uma metodologia de análise de
telejornais que se centra, a partir da perspectiva dos estudos culturais, em entender o modo de
endereçamento e questões do gênero televisivo. Este processo, primeiramente, funciona
através de coleta de dados que, quanto à natureza dos dados, são quantitativos e qualitativos.
Os quantitativos, aqueles mais objetivos e até estatísticos, servem para evidenciar o contexto,
quanto a formação da audiência, a questões econômicas que possam contribuir para o
trabalho. Os qualitativos servirão para compreendermos os fenômenos, e, a partir destes dois
tipos de dados, compreendermos em que contexto está inserido este produto cultural.
38
Os procedimentos teórico-metodológicos para analisar telejornais concebe três blocos
de conceitos que devem ser levados em conta: 1. premissas básicas do jornalismo, na tentativa
de analisar os deslocamentos ao longa de história e como o programa articula estes conceitos;
2. Os conceitos de estrutura de sentimento, gênero televisivo e modo de endereçamento, para
entender o programa na sua relação com aspectos dominantes, residuais e emergentes, a sua
relação com características do formato, e a interpelação produção-recepção; 3. operadores de
análise que evidenciam o telejornalismo enquanto instituição social e forma cultural.
Segundo Gomes, a contextualização deve ser parte importante no processo de análise,
de tal maneira equilibrada que não torne a história o foco das investigações. A importância da
contextualização está para nos evidenciar em que ambiência está imerso certo tipo de
programa, e daí possamos analisar a sua construção e relação com o público. Para Gomes:
Propomos que essa análise deva ser marcadamente histórica, ou seja, que ela se dê
na consideração de uma história cultural da televisão - é preciso que a análise de um
programa observe como ele se inscreve no contexto histórico, técnico, econômico,
social, cultural de formação da televisão em uma determinada sociedade e do
momento específico em que o programa em questão é transmitido – e de uma
história cultural do jornalismo - nesse caso, é preciso tomar em consideração na
análise como valores e normas que configuram o jornalismo e as expectativas
sociais sobre o jornalismo tomam corpo em um programa telejornalístico específico.
(GOMES, 2007, p. 13)
De posse do corpus, este deverá ser analisando levando em conta os quatro operadores
de análise que sugere Gomes (2007), sem que operadores estejam isolados. É importante levar
em conta influencia de um em outro operador, de maneira que, no processo de análise, sejam
observados os aspectos discutidos em cada dos operadores.
Além destes procedimentos, esclarecemos a importância da análise de outros programas
sem um corpus definido, para que funcionem como suporte durante a articulação entre o
contexto histórico e a análise. A nível local, analisaremos edições de anos anteriores do
Teleberri, para percebermos como se deu a transformação histórica do programa. Além disso,
o telejornal Telediário, da cadeia Rádio Televisão Espanhola (RTVE), telejornal mais
assistido no país, deverá ser analisado para percebermos as relações entre audiência,
concorrência e disputas políticas no interior dos programas.
39
6.
CRONOGRAMA
ATIVIDADE
PERÍODO: 2009.2 / 2010.1
AGO.
SET.
OUT.
Revisão Bibliografica
x
x x
Construção do
Referencial Teórico
x
x x
x x
Coleta de dados
NOV.
Revisão Final
Entrega do Trabalho
JAN.
FEV.
MAR.
ABR.
MAI.
JUN.
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
JUL.
x
x
Análise dos programas
Redação da Monografia
DEZ.
x
x
REFERÊNCIAS
AMEZAGA, Josu. Media and identity in the Basque Country. Mercator Media Magazine.
País de Gales: n. 4, 2000.
ARANA, Edorta et alii. Normalización lingüística y televisión de proximidad en el País
Vasco. Bilbao: Universidad del País Vasco, 2003, p. 1-9
COMELLAS, José Luís. Historia de España Moderna y Contemporánea. 16 ed. Madrid:
Ediciones Rialp, 2003.
DAHLGREN, Peter; SPARKS, Colin. Journalism and popular culture. Londres: Sage,
1992.
DIÉZ, María Teresa. Las emisoras municipales en el País Vasco: origen y desarrollo. Revista
Ámbitos
n.
9-10,
2002-2003.
Disponível
em
<
http://redalyc.uaemex.mx/pdf/168/16801211.pdf>. Acesso em 23 jun. 2009.
ESPINOSA, José Marí Lorenzo. Un pueblo en marcha: el nacionalismo vasco – resumen,
cronología y documentos. Bilbao: 2004.
EUSKADI. Viceconsejería de Politicas Lingüísticas del Gobierno Vasco. Plan general de
promoción del uso del euskera. Servicio Central de Publicaciones del Gobierno Vasco:
Vitória-Gasteiz, 1999. Disponível em < http://tinyurl.com/mvxzus>. Acesso em 07 jun. 2009
GARITAONANDÍA, Carmelo & MORAGAS, Miquel de (1995). Sobre las televisiones
regionales en Union Europea. In: _________________. Descentralización en la Era Global:
televisión en las regiones, nacionalidades y pequeños pueblos de Union Europea. 1995
GOMES, Itania. Questões de método na análise do telejornalismo: premissas, conceitos,
operadores de análise. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação - Compós, abril/2007.
GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. Campinas:
Editora Alínea, 2003.
HALL, Stuart. El trabajo de la representation (Trad. Elías Sevilla Casas). Lima: Instituto de
Estudios
Peruanos
(IEP),
2002.
Disponível
em
<
http://www.cholonautas.edu.pe/modulo/upload/tallhall.pdf> Acesso 01 jul. 2009.
MONTERO, Manuel. La Construcción del País Vasco Contemporáneo. Donostia: Txertoa
Editorial, 1993.
SAID, Edward W. Cultura e imperialismo, São Paulo, Companhia das Letras, 1999, p. 1131
VILLALÓN, Adriana M. Definições para o problema basco. In: ENCONTRO ANUAL DA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS
SOCIAIS (ANPOCS), 24, 2000, Petrópolis. Anais eletrônicos... Disponível em <
http://tinyurl.com/m7usgq>. Acesso em 01 jul. 2009.
WEISMAN, Arielle. Salvando la cultura vasca: La restauración del euskera en la época
posfranquista de España. Monografia (Bacharelado em Artes) – Departamento de Estudos
Internacionais – Programa de Estudos Europeus, Middlebury College. Jan 2007. Disponível
em < http://dspace.nitle.org/bitstream/10090/815/1/s10intl2007weisman.pdf>. Acesso em 07
jun. 2009.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura.( Trad. Waltensir Dutra), Rio de Janeiro:
Jorge Zahar [1971]1979.

Documentos relacionados