liberdade

Transcrição

liberdade
dezembro de 2009 edição 10
canto
da
liberdade
Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo
Dr. Dráuzio Varella fala da
prática da Medicina nas
prisões
FUNAP marca presença
no
Congresso
dos
Municípios da AMA
Penitenciária II de Bauru
recebe Biblioteca “Ler é
Preciso”
Gestores Públicos no
processo de Reintegração
Social de Presos e Egressos
Editora PAULUS distribui
mais de 1.000 kit´s nas
Penitenciárias do Estado
Editorial
CANTO
da
LIBERDADE
C
ontrariando um pouco a rotina dos editoriais do Canto
da Liberdade, nos quais, a cada edição, eu procuro dar
aos leitores e leitoras um panorama das matérias abordadas
no informativo, nesta edição quero destacar um trabalho
quase invisível, porém de absoluta relevância, que vem sendo
organizado pela FUNAP. Trata-se da revisão e aprimoramento
de nosso Programa Político Pedagógico, assunto da primeira
notícia deste Canto.
A FUNAP é responsável pelo maior programa de educação
no sistema prisional do Brasil. Atendemos hoje cerca de 15
mil alunos e alunas, distribuídos em mais de 100 unidades
prisionais. Temos uma proposta de educação diferenciada
quando se compara com o modelo de educação oferecido em
outros estados: o fato é que pensamos numa educação que não
seja mera reprodução da educação escolar tradicional, mas que,
inserida no contexto prisional, permita aos nossos alunos e
alunas dar novos significados em suas vidas e repensar seu modo
de participação cidadã. Assim, a educação busca um propósito
libertador e solidário, devendo contribuir para a melhoria do
quadro social.
Essa opção, no entanto, não está isenta de críticas e aqueles
que o fazem incorrem, geralmente, em preconceitos quanto às
possibilidades transformadoras da educação. Para superar essas
críticas, a FUNAP vem buscando parcerias em universidades –
casos da UFSCar e UNESP, por exemplo – e Fóruns Temáticos,
promovendo o intercâmbio de idéias e possibilidades como
estratégias para a consolidação deste ideal de educação.
E os resultados destes esforços se comprovam tanto pelas
aprovações de nossos alunos e alunas nos exames de certificação
(CESU, ENCCEJA, ENEM), quanto pelo destaque nacional
e internacional que a FUNAP tem obtido, tal como nos casos
de nossa participação no FISC - Fórum Internacional da
Sociedade Civil e CONFINTEA - Conferência Internacional
de Educação de Adultos.
Investir em educação é sempre um desafio de longo prazo, mas
como disse o sociólogo Bernardo Toro, “tem de ser sonho para
não ser pequeno, tem de ser possível para não ser frustrante”.
Temos certeza de que nosso sonho é possível.
A vida é um desafio constante e vale a pena aceitá-lo, aproveitando
o presente como um presente que da vida recebemos!
Boa leitura!
Lúcia Maria Casali de Oliveira - Diretora Executiva
Participe do Canto
Olá a todos os leitores do Canto da Liberdade! Estamos de
volta com mais uma edição. A sua carta sempre será bem-vinda,
pois o Canto da Liberdade é o seu canal de comunicação!
Participe!
“Agradeço essa Fundação por despertar a esperança de
uma vida melhor em cada ser humano que se encontra nas
unidades prisionais; principalmente em mim!”
Fábio Fernando Pereira Machareth
Centro de Ressocialização de Atibaia
“Pensei em ser cantor, poeta ou escritor,
queria ser famoso, chamado de Doutor.
Em meio ao caminho, ‘um trago’ carregou,
como folhas ao vento, os meus pensamentos.
Hoje não sou cantor nem me chamam de Doutor.
Escrevo meus poemas de uma cela onde estou,
pois estou liberto, foi Jesus quem me libertou”.
Luiz Eduardo de Souza
Penitenciária de Lucélia
EXPEDIENTE
FUNAP - Fundação “ Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel”
Presidente: Arthur Allegreti Jolly
Diretora Executiva: Lúcia Maria Casali de Oliveira
Chefe de Gabinete: Rosália Maria Andreucci Naves Andrade
“Dentre tantos acontecimentos ruins que temos vivido
dentro do sistema, mesmo dentro de um saldo negativo de
convivência diária, é um enorme prazer ter a certeza de que
a credibilidade em muitos de nós ainda não foi totalmente
perdida. Obrigada, Canto da Liberdade!”
Julia Roberta Faquim
Penitenciária Feminina de Sant´Anna
“Já que nossos dias são incertos nesse lugar
e não saberemos se o amanhã chegará,
o que nos resta fazer a não ser reaprender a sonhar?
Muitas vezes neste caminho as pedras irão nos machucar
mas jamais desistiremos pois vale à pena sonhar!”
Valterlândia Adriana Lisboa
Penitenciária Feminina de Campinas
Escreva-nos sempre!
Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” – FUNAP
A/C COMUNICAÇÃO
R. Dr. Vila Nova, 268 - Vila Buarque - São Paulo / SP / CEP: 01222-020
Jornalista: Joyce Malet Kassim Vitorino (MTB 50973)
Estagiária de Jornalismo: Verônica Gallo Petrelli
Diagramação: João Carlos Marcondes da Silva
Colaboradores: Regionais São Paulo/Vale; Grande São Paulo/Litoral;
Campinas/Sorocaba; Presidente Prudente/Bauru; Ribeirão Preto; Araçatuba.
Extramuros
CANTO
da L I B E R D A D E
Em pauta: Projeto Político Pedagógico
A
Educação é uma das bases de atuação da
FUNAP. Desde sua criação, em 1977, a
Fundação tem por premissa levar este que é
um dos direitos da pessoa que cumpre pena
privativa de liberdade. Para aprimorar este
Programa e socializar o processo de elaboração
do Projeto Político Pedagógico, a Diretoria
de Formação, Capacitação e Valorização
Humana (DIFHOR) organizou o Encontro
Estadual de Formação de Educadores.
Realizado no período de 07 a 09 de outubro,
no Hotel Fonte Santa Tereza, em Valinhos,
o Encontro teve por objetivo definir aspectos
centrais sobre as concepções do programa
de educação que orientarão o Projeto
Pedagógico, bem como definir a estrutura de
funcionamento da alfabetização.
O encontro foi dividido em duas etapas: de
Formação, que propiciou aos participantes
momentos de reflexão e discussão sobre
as concepções de educação; e Deliberação,
na qual decisões coletivas foram tomadas
envolvendo todos os agentes do programa de
Educação sobre os rumos do programa e as
bases sobre as quais se estrutura.
Com mesas de debate e discussão,educadores,
monitores e agentes penitenciários buscaram
Encontro estadual para discussão do Projeto Político Pedagógico
entendimento mais aprofundado sobre as
concepções de Educação e suas implicações
pedagógicas numa rotina diferenciada, como
a que ocorre dentro das unidades prisionais.
No segundo dia, os participantes dividiramse em grupos para que temas específicos
fossem tratados. Os grupos promoveram
um debate denso e muitas propostas foram
levantadas, as quais foram encaminhadas à
plenária para devidas deliberações.
A redação do Projeto Pedagógico está em
fase de finalização, sob a responsabilidade
da Comissão formada pelos gerentes Maria
da Conceição Santin Capello (Regional São
Paulo e Vale), Sílvio Luis do Prado (Regional
Ribeirão Preto), José Antônio Gonçalves
Leme (Regional Grande SP e Litoral) e do
supervisor Juraci Antônio de Oliveira.
O segundo encontro está previsto para
acontecer em Dezembro e terá por foco os
currículos do Ensino Fundamental e Médio.
À ocasião, será apresentada a redação parcial
do Projeto para que, depois de aprofundadas
e delineadas as questões finais, seja submetida
à aprovação da Diretoria Executiva da
FUNAP até o final deste ano.
FUNAP marca presença no Congresso dos Municípios da AMA
O
3º Congresso dos Municípios da
AMA - Associação dos Municípios
da Araraquarense – foi realizado entre os
dias 29 e 31 de outubro, no Ipê Park Hotel,
em São José do Rio Preto. O Congresso
teve como tema “Políticas Públicas
para os Municípios” e contou com a
participação de deputados, prefeitos,
primeiras-damas e diversos vereadores.
A Associação dos Municípios da
Araraquarense conta com 128 cidades e
todas elas enviaram seus representantes
durante os 3 dias de evento. O objetivo
principal do Congresso foi promover o
debate de políticas públicas entre todos
os municípios participantes.
Na abertura oficial, o vice-governador do
Estado, Alberto Goldman, ministrou a
primeira palestra do congresso, que teve
também a participação de técnicos do
Tribunal de Contas do Estado (TCE),
abordando temas ligados aos setores
contábeis das prefeituras.
Após cada dia de debate, técnicos do
Centro de Estudos e Pesquisas de
Administração Municipal (Cepam)
sistematizaram os dados para a redação da
Carta de Rio Preto, divulgada no último
dia do evento, contendo as principais
conclusões do encontro.
O Congresso contou ainda com um
atrativo especial. Foi reservado um espaço
no Hotel para realização de uma feira
onde mais de 20 instituições, empresas
públicas e privadas puderam expor,
em estandes, seus serviços e produtos
direcionados aos municípios.
Neste espaço, a FUNAP apresentou seus
trabalhos desenvolvidos nas unidades
prisionais do Estado. Com móveis
administrativos e escolares, cadeiras,
colchões antichamas e toda linha de
artesanato da DASPRE, o estande era um
dos mais movimentados do Congresso.
Essa foi a 1ª participação da FUNAP
em Congressos promovidos pela AMA e
reflete a importância desse engajamento.
Eventos
como
esse
possibilitam
contatos mais estreitos e diretos com os
municípios, sensibilizando os governantes
para a missão da FUNAP. “O público
recebe muito bem nossos trabalhos e se
surpreende com a qualidade dos produtos,
de modo geral”, afirma Lúcia A. Silva,
gerente de comercialização.
Os contatos estabelecidos devem resultar
em bons negócios, havendo demandas
por parte dos municípios, já que todos
compreendem o facilitador das compras
com dispensa de licitação, como acontece
com quem compra da FUNAP.
Os produtos da DASPRE fizeram grande
sucesso, principalmente junto ao público
feminino. “Todos elogiaram a qualidade
e criatividade do artesanato produzido
pelas detentas”, relata Lúcia.
CANTO
da
LIBERDADE
Ser parte ativa no processo de ressocialização
M
Reflexões e trocas de experiências marcam
1º Encontro do Poder Público e Reintegração Social
uitas pessoas já ouviram falar do
Programa de Alocação de Mãode-Obra. São empresários que desejam
instalar suas oficinas nas unidades
prisionais ou querem contratar
detentos que, em regime semiaberto,
possam sair para trabalhar.
A proposta deste Programa é
proporcionar trabalho remunerado
para as pessoas em cumprimento de
pena, contribuindo para sua formação,
qualificação profissional e geração
de renda, preparando-as para a vida
em liberdade e, ao mesmo tempo,
sensibilizando os empresários na
contribuição para a redução dos índices
de criminalidade e de reincidência.
A contratação de trabalhadores presos
por empresas e também por parte
do setor público é regulamentada
pela Resolução da Secretaria da
Administração Penitenciária (SAP)
509/2006 que estabelece normas para a
contratação de empresas que oferecem
serviço aos sentenciados, abrangendo
também outras providências.
A F UNAP presta orientação técnica
para
o
empresário-contratante
por ocasião da elaboração do
contrato, no processo de seleção
e acompanhamento dos presos
trabalhadores,
supervisionando,
inclusive, a utilização do equipamento
de proteção individual (EPI).
Os benefícios do trabalho são muitos
como a geração de renda, a redução
de pena, o tempo ocioso que acaba
sendo preenchido e o principal:
a oportunidade de aprender uma
profissão e, quando em liberdade,
poder exercê-la com dignidade. Por
isso, a busca incessante por postos
de trabalho para os presos, tanto em
empresas públicas e privadas.
Além do programa de alocação
de mão-de-obra, a F UNAP conta
com outros meios de promover
trabalho e capacitação para os presos.
Atualmente, são 21 oficinas próprias
que produzem móveis administrativos
e escolares, reforma do mobiliário
escolar, cadeiras
de
escritório,
confecção e a mais recente fábrica
inaugurada na Penitenciária de
Assis, onde mais de 20 reeducandos
trabalham na confecção de laminado
reeducandos são vendidos à Secretaria
da Administração Penitenciária e os
colchões antichamas foram oferecidos
às Santas Casas da Misericórdia e
Hospitais de vários municípios.
A parceria com diversos órgãos públicos
por meio deste Programa reflete
uma nova concepção da participação
pública no processo de reinserção
social. Prova desta interação foi a
realização do 1º Encontro do Poder
Público, promovido pela Prefeitura de
Campinas.
O PAPEL DO PODER PÚBLICO
NA REINSERÇÃO SOCIAL
Presos do CPP Ataliba Nogueira e da Penit. I de Hortolândia
recebem cursos promovidos pela Prefeitura de Campinas
de espuma antichamas. Nas oficinas
são oferecidos postos de aprendiz,
meio-oficial e oficial, onde todos
são capacitados profissionalmente
e aprendem a fabricar produtos que,
posteriormente, são comercializados
para órgãos federais, estaduais e
municipais, além de pessoas físicas e
jurídicas.
O
Departamento
Comercial
é
responsável por oferecer os produtos
da F UNAP aos diversos órgãos
públicos, escolas e empresas. O Metrô
de São Paulo, por exemplo, é um dos
maiores clientes da linha de móveis
administrativos; os uniformes dos
Realizado entre os dias 28 e 29 de
setembro, no Salão Vermelho do
Paço Municipal de Campinas, este
encontro teve o objetivo de apresentar
a experiência da Prefeitura, por meio
das secretarias municipais de Serviços
Públicos e de Trabalho e Renda, na
alocação de mão-de-obra de presos
em regime semiaberto para trabalhos
de manutenção da cidade, bem como
discutir o papel do poder público na
reinserção social dos sentenciados.
“Nossos projetos existem porque nós
ainda acreditamos no ser humano.
A sociedade não tem que aceitar o
crime, mas precisa aceitar o egresso
recuperado”, afirmou a diretora
executiva da F UNAP, Dra. Lúcia
Casali.
Ainda de acordo com a diretora,
Campinas é pioneira dentro deste
programa de alocação de mão-deobra. “O município é um grande
exemplo para outras cidades porque
tem o maior convênio de contratação
de reeducandos. Isso é bom para a
Prefeitura porque a Administração
CANTO
da
LIBERDADE
é possível e não custa caro aos cofres públicos
usa melhor o dinheiro público, é bom
para o contribuinte e significa, ainda,
geração de renda para cerca de 500
pessoas que estão cumprindo pena”.
Já o secretário de Serviços Públicos,
Flávio de Senço, ressaltou os
importantes
resultados
com
o
Todos com a mão na massa para a reforma
do Palácio da Mogiana, em Campinas
convênio entre a Prefeitura e a
F UNAP. “Atividades como o combate
à dengue, em 2006 e 2007, e a
manutenção, capinação e limpeza das
grandes avenidas da cidade são bons
exemplos de como tem funcionado
o trabalho com esse tipo de mão de
obra”, afirmou. À ocasião, revelou a
pretensão da Prefeitura em ampliar o
programa que, atualmente, integra 500
sentenciados. “Para 2010, o prefeito
Hélio de Oliveira Santos pretende
elevar o número de presos trabalhando
para 700. Neste evento, onde podemos
trocar experiências, com certeza vamos
aprimorar os projetos”, completou.
A gerente de comercialização da
F UNAP, Maria Solange Rosalem
Senese, destaca um lado mais subjetivo
da participação de órgãos públicos
neste processo de ressocialização.
“Quando o setor privado oferece
postos de trabalho para presos, grandes
oportunidades podem surgir para este
trabalhador que concilia a liberdade e
emancipação que o trabalho oferece.
Mas, quando o posto de trabalho é
oferecido pelo Estado, por meio das
Prefeituras ou outros órgãos públicos,
algo diferente acontece. Além dos
trabalhadores, beneficiários diretos,
suas famílias e toda a sociedade
sentem, de perto, que o Estado, que
somos todos nós, fez a diferença”.
Em Campinas, o programa é utilizado
atualmente em ações da Secretaria
Municipal de Saúde, de Administração,
de Transportes e de Serviços Públicos,
por meio do Departamento de Parques
e Jardins das macrorregiões e suas
Administrações Regionais.
O Encontro serviu ainda para lançar o
Programa Municipal de Reintegração
Social de Presos e Egressos Prisionais
de Campinas, uma parceria entre a
Prefeitura, a F UNAP, Coordenadoria
de Reintegração Social da SAP e
outros apoiadores locais. O Programa
significa um avanço em relação
à alocação de mão-de-obra, pois
permitirá que todos os trabalhadores
presos do convênio participem,
durante a jornada de trabalho, de
ações de qualificação profissional e
desenvolvimento sociocultural.
“Dos
500
trabalhadores,
100
estarão diariamente em sistema de
rodízio, participando de atividades
de formação e desenvolvimento
humano e social, sem prejuízo de
ganhos financeiros, uma vez que tais
atividades serão inseridas na jornada
de trabalho”, destaca o gerente da
F UNAP Campinas/Sorocaba, Felipe
Athayde Lins de Melo.
Trata-se de um importante passo na
construção de políticas de atendimento
à população prisional, uma vez que
o programa passa a contar, em nível
municipal, com recursos específicos
para a reintegração desta população.
“Este tipo de política pública é prevista
na Política Nacional de Assistência
Social, dentro das medidas de média
e alta complexidade. No entanto, é
preciso vontade política e coragem
para implantar medidas que não são
bem vistas no contexto geral do jogo
político”, destaca o gerente.
A preocupação com a reinserção dos
reeducandos e egressos, principalmente
da mulher, foi destaque nos debates
vespertinos do encontro. Técnicos
ligados ao sistema penitenciário
e a órgãos públicos ressaltaram
a importância dos convênios, em
particular das Prefeituras, para a
utilização dos sentenciados em
atividades da municipalidade.
Na oportunidade, representantes dos
municípios de Mirandópolis, Sorocaba,
Iperó e Itirapina apresentaram as
experiências com reeducandos e
egressos. Em Campinas, a exemplo
do que ocorre na maioria das cidades,
são desenvolvidas atividades de
manutenção como limpeza de praças,
canteiros de avenidas e trechos de
córregos, entre outras atividades.
AMPLIAÇÃO DO CONVÊNIO
A assinatura de convênio firmado entre
a Prefeitura de Campinas e F UNAP foi
realizada no segundo dia do encontro
para encerramento das atividades. O
vice-prefeito de Campinas, Demétrio
Vilagra, e a chefe de gabinete da
F UNAP, Dra. Rosália Andreucci Naves
Andrade, assinaram o termo que eleva
para 500 o número de trabalhadores
presos atuando diretamente para o setor
público. “Jamais assinei um convênio
com a grandeza deste e fico honrada
em ver uma Prefeitura preocupada
com a qualificação desta população
específica”, afirmou Dra. Rosália.
Podem não ser medidas simpáticas
à sociedade, porém, são medidas
necessárias. “Tem que haver uma rede
grande e forte de colaboradores”,
finalizou o vice-prefeito.
Intramuros
O
CANTO
da L I B E R D A D E
Instituto EcoFuturo e FUNAP inauguram
Biblioteca “Ler é Preciso” na Penitenciária II de Bauru
projeto Biblioteca Comunitária
“Ler é Preciso” foi idealizado pelo
Instituto EcoFuturo com o objetivo de
contribuir com a formação intelectual
e com o desenvolvimento pessoal do
detento, sempre tendo em mente que a
leitura proporciona uma perspectiva de
ampliação de horizontes intelectuais,
sociais e profissionais.
Iniciado em 2001, o projeto foi
concretizado graças à parceria com a
FUNAP e a Secretaria da Administração
Penitenciária (SAP) que, à época, indicou
a Penitenciária “Dr. Eduardo de Oliveira
Vianna” de Bauru.
A inauguração da Biblioteca Comunitária
“Ler é Preciso” foi realizada no dia 11
de setembro, em espaço preparado para
receber o rico acervo de cerca de 4 mil
exemplares. O novo espaço, que vai
beneficiar reeducandos e funcionários
da unidade, conta com obras novas e
diversificadas, todas elas devidamente
catalogadas em computador.
O reeducando Samuel Bueno do Prado é
monitor da FUNAP e será o responsável
pela organização e manutenção da Sala
Monitores e participantes da formação promovida pelo
EcoFuturo, na Penitenciária II de Bauru
de Leitura. Ele diz que, além do trabalho
técnico, tem por tarefa diária disseminar
o hábito da leitura entre os demais
reeducandos e funcionários da unidade.
Mesmo sentimento foi expresso pelo
reeducando Márcio Kenji Nakayama, que
falou em nome de todos os monitores da
FUNAP. “Nossas expectativas também
estão na realização de cursos como o de
Auxiliar de Bibliotecário, como o realizado
no mês de maio, o qual foi de grande
valia e significância para cada um de nós
monitores que obtivemos a oportunidade
de participar, conhecer, praticar e,
principalmente, adquirir importante
aptidão na área profissional”, finalizou.
Os horizontes da iniciativa educacional já se
estendem para fora das grades e alambrados
da penitenciária. “A educação pode me
ajudar no futuro. É uma nova chance
para uma nova vida!”, afirma animado o
reeducando Antônio Carlos Urso.
Como bem afirmou o pensador Voltaire: “A
leitura engrandece a alma”. Esta parceria
entre EcoFuturo, FUNAP e unidade
representa muito bem esta afirmação.
Concurso “Prevenir é o melhor remédio” revela
verdadeiros dotes artísticos na Penitenciária de Irapuru
S
ocialização, educação e conscientização.
Foram esses alguns dos principais objetivos
do Concurso “Prevenir é o melhor remédio”,
realizado no Centro de Reintegração e
Educação da Penitenciária de Irapuru, dos
dias 31 de agosto a 04 de setembro, em
parceria com a Pastoral Carcerária. Nesse
projeto, os reeducandos da unidade tiveram
a missão de elaborar cartazes explicativos
e preventivos acerca da Gripe Influenza A
(H1N1). Aqueles que se sobressaíram com
cartazes diferentes e criativos ganharam
prêmios ao final do concurso, como bombons
e doce de leite.
Os cartazes ficaram expostos na unidade dos
dias 10 a 11 de setembro e, neste período,
houve votação em urna para os funcionários
da unidade decidirem qual trabalho passou
de maneira mais eficaz a mensagem de
prevenção.Após a eleição,seguindo os critérios
de criatividade, objetividade, organização e
clareza nas informações, os três primeiros
colocados receberam a premiação. Para o
reeducando Júnior Cesar da Silva Albino, que
ficou em segundo lugar no concurso,iniciativas
Cartazes premiados pelo Concurso
“Prevenir é o melhor remédio”
como essa são importantes para aqueles que
se encontram privados de liberdade. “Esses
projetos despertam o interesse de quem
busca, por meio da arte, mostrar o seu talento.
Também se torna uma maneira de ocupar o
tempo, a mente e o corpo, saindo um pouco
da rotina da cadeia”, afirma. O reeducando
e participante do concurso Samuel Lopes de
Siqueira também exalta os pontos positivos
do projeto: “Isso nos mostra que nunca é tarde
para recomeçar. Somos capazes de alertar e,
com certeza, incentivar as pessoas a estarem
ocupando as suas mentes com algo bom”.
Mais do que conscientizar e promover
ressocialização, a iniciativa faz com que
muitos dons artísticos que estão timidamente
escondidos por detrás dos muros da
penitenciária sejam revelados. Como afirma
o participante Fábio dos Santos: “É preciso
ter projetos constantes nas unidades, para
despertar os talentos que podem estar
perdidos”. O resgate da aura artística, atrelado
a mensagens de prevenção e conscientização,
pode propiciar um futuro melhor e mais
colorido para os reeducandos de Irapuru.
Oportunidade
CANTO
da L I B E R D A D E
“Voltando a enxergar” na PI de Serra Azul
E
star em uma penitenciária requer dos
sentenciados uma capacidade ímpar de
superar obstáculos e de vencer dificuldades. E,
com certeza, é isso que o reeducando Carlos
César Pereira tem buscado ao longo de sua
permanência na Penitenciária I de Serra Azul.
Ele tem uma particularidade que o torna
diferente dos demais detentos: é cego (perdeu
a visão em 2005, na cadeia pública de Franca,
depois de um tombo que lhe comprometeu a
vista).
Contudo, isso não foi motivo para Carlos
desistir de seu sonho de estudar. Mesmo
diante de sua deficiência, em conversa com
funcionário do setor educacional da unidade,
ele demonstrou muito interesse em assistir às
aulas como ouvinte. Diante de sua vontade para
aprender, a Diretora de Trabalho e Educação
da Penitenciária, Eliana Locher, fez contato
com a Associação de Cegos de Ribeirão Preto.
Assim, o professor Valdir Souza, cego há 25
anos, se prontificou a ensinar voluntariamente
o método Braille ao reeducando para fins de
Cultura
U
leitura e matemática. As aulas estão ocorrendo
desde fevereiro deste ano.
Desde o início do aprendizado, Carlos só tem
recebido elogios. O professor afirma que o
Vivenciar o exercício da cidadania e
aprender a ver o mundo por meio do tato
reeducando tem muita determinação e vontade
de aprender, obtendo desempenho acima
da média. A diretora Eliana também falou
muito bem do comportamento de Carlos. “O
entusiasmo do sentenciado foi contagiante. Nas
primeiras horas ele já era capaz de identificar
o alfabeto e treinava a sensibilidade do tato,
surpreendendo até mesmo o professor. Esse,
com certeza, será um importante instrumento
para a sua reinserção social”, afirma.
Já Carlos declara sua empolgação, alegando que
se preocupa muito com seu futuro profissional e
que essa é uma oportunidade muito importante
para sua independência. “Eu, decididamente,
voltei a enxergar!”, conta o reeducando, animado.
A unidade prisional de Serra Azul pretende
tornar permanente a ação de ensinar Braille a
sentenciados que possuam deficiência visual
e não conheçam a técnica. É a idealização do
Projeto “Leitura na ponta dos dedos”, o qual está
sendo avaliado para vigorar em breve.
Deste modo, os sentenciados sentem a clara
manifestação de respeito ao ser humano, bem
como a importância da educação e do exercício
da cidadania para aqueles que não veem com os
olhos, e sim com a alma.
Novos ares de conhecimento são espalhados pelas Unidades Prisionais de São Paulo
ma tarde quente de primavera acolheu
os visitantes responsáveis por alegrar
o Pavilhão 3 da Penitenciária Feminina
de Sant´Anna. O Projeto “Leitura para
Cidadania - Modalidade Livro Vivo” é
fruto de uma parceria firmada entre Editora
PAULUS, FUNAP e unidade prisional. Em
5 de novembro, representantes do Projeto
proporcionaram momentos de descontração
em um evento cultural regado à música, teatro
e livros. Muitos livros.
Com o propósito de incentivar a leitura e
contribuir para a promoção social por meio
da oferta de livros de qualidade, a Editora
PAULUS já está na 4ª edição do Projeto,
atingindo 29 regiões em 19 Estados. Agora,
presente também na Penitenciária Feminina
de Sant´Anna.
Iniciado em 2006, o projeto atinge milhares
de crianças e adolescentes oriundos de escolas
públicas por meio da distribuição gratuita de
livros paradidáticos e da Literatura Brasileira.
Com esta atuação inédita no Sistema Prisional
Paulista, a parceria tem por objetivo oferecer
mais conhecimento à população carcerária
e formação aos responsáveis pelo trabalho
educacional dentro das unidades.
A Oficina de Formação de Professores
capacita os educadores que se tornam
multiplicadores do projeto, além de atuarem
como incentivadores de leitura. O educador
André Luiz de Souza Rastini, da FUNAP,
e o estagiário Rommel dos Santos Andrade
Werneck foram certificados pela participação
na oficina “A leitura como fator essencial para
a cidadania”, ministrada por Kátia Karam
Gonzalez, em maio deste ano.
Coordenadora do Projeto, Elisandra Oliveira
falou da importância da participação de cada
uma das reeducandas no êxito do Livro Vivo.
“A leitura e o conhecimento são o passaporte
para uma vida melhor”.
Em seguida, houve o momento de maior
expectativa para as participantes do concurso
literário promovido pelos organizadores
do projeto com colaboração da escola
da unidade prisional. Foram premiadas
as 3 melhores produções, divididas pelas
categorias de Ensino Fundamental e Médio.
As alunas de Alfabetização optaram por outras
manifestações artísticas, como peça teatral e um
coral. A vencedora na categoria Fundamental,
Elisangela Candido Nascimento, redigiu uma
poesia cujo tema foi a solidão. Com a poesia
“Humano Imperfeito”, Catia Cristiny levou o
troféu entre as participantes do Ensino Médio.
A editora PAULUS forneceu 1.000 kits à
unidade e mais 300 kits a todas as outras onde
há trabalhos com educação e salas de leitura.
O projeto possibilita a expansão do universo
cultural do indivíduo preso e, mais que isso,
representa um novo ciclo de conhecimentos
adquiridos com o hábito da leitura capaz de
formar cidadãos atuantes em sua realidade. O
livro traz liberdade para a alma daquele que se
entrega às asas da imaginação.
Entrevista
M
édico respeitado e autor do premiado
“Estação Carandiru”. Voluntário
há quase 20 anos no sistema prisional,
Dr. Dráuzio Varella faz da pequena
sala abafada onde atende as detentas da
Penitenciária Feminina de Sant´Anna uma
extensão de sua paixão pela Medicina. Com
relatos e olhares comoventes, afirma que se
realiza completamente como profissional
por meio da prática de uma Medicina à
moda antiga. Conheça um pouco deste
profissional apaixonado pela medicina
realizada por trás das grades.
CL
- Médico respeitado, autor
reconhecido e premiado... O que o motiva
a vir todas as semanas a um dos lugares
mais desprezados pela sociedade?
DV - Eu comecei a freqüentar a Casa de
Detenção em maio 1989. Fiquei por lá até
outubro de 2002, quando foi implodida.
Aí vim para cá quando ainda era cadeia
masculina e fiquei por três anos. Depois,
fui atender no CDP do Ipiranga, mas por
pouco tempo. E aí parei. Fiquei meio ano
sem ir a cadeia nenhuma e comecei a ficar
muito triste, infeliz mesmo. Aí, quando
aqui virou feminino e teve também uma
mudança na Secretaria, aqueles que me
conheciam há mais tempo falaram: “Puxa,
Dráuzio, você não quer ajudar a gente?” E
eu falei: “Olha, me arranja uma cadeia, veja
qual está precisando mais e eu vou...”. Vim
para Sant´Anna em outubro de 2006. Eu
digo que quando você faz um trabalho desse
tipo, todo mundo acha que você tem uma
motivação ou de ordem religiosa, muitas
vezes política, ou simplesmente para se sentir
útil. Mas eu nunca pensei em nada disso. Eu
tenho uma atração pelo ambiente de cadeia
e foi isso que me levou à Detenção. Se eu dei
alguma coisa de bom para a cadeia, a cadeia
me trouxe muito, muito mais, sempre mais.
CL - Como o quê?
DV - Me deu uma noção mais completa
da vida. Hoje, tenho uma visão da realidade
nacional que eu não teria tido se não tivesse
essa experiência desses anos todos na cadeia.
Porque a relação do médico na cadeia é
completamente diferente da relação dos
funcionários. Eu passei pelas coisas que
eles passam, mas eles tem um universo no
CANTO
da L I B E R D A D E
Medicina por trás das Muralhas
qual eu não penetro e eles, por sua vez, não
conseguem penetrar no meu. Aqui é onde
as pessoas contam a vida, falam coisas que
não tem coragem de falar para ninguém. E
isso me preenche muito. Se não fosse isso,
minha vida o que seria? Sair da minha casa,
do meu conforto, ir para um dos melhores
hospitais de São Paulo, depois voltar para
a minha clínica... E minha vida ia ser isso,
como a da maioria. Então, para mim, o que
faz diferença mesmo é esse ambiente.
CL - Ao longo desses anos, o que mais
o comoveu?
DV - Olha, é difícil saber... São tantos
momentos fortes que você vive dentro
da cadeia... Às vezes, o que mais me
impressiona não é nem o acontecimento,
“Praticar Medicina à moda antiga na cadeia me preenche
mas um olhar, o jeito que a pessoa me olha
muito. O que faz a diferença mesmo é esse ambiente”
e transmite uma imagem, um sentimento
mais forte que a realidade brutal. Não é a
violência o que mais me choca, mas sim o faço Cancerologia, freqüento congressos
sofrimento humano. Quem não está aqui internacionais... Mas aí fora, eu sinto
que não faço diferença. Eu posso fazer
dentro não faz idéia de como é isso.
diferença para aquela pessoa que estou
CL - E em relação à saúde dentro do atendendo, obviamente. Mas eu não faço
Sistema Prisional?
diferença, porque se eu não atender, outro
DV - Olha, eu acho que equacionar o atende. Aqui não. Além disso, a medicina
problema da saúde nos presídios é muito que se faz lá fora é uma medicina com
complicado, porque a vocação do presídio é laboratórios, com facilidades tecnológicas.
outra.Um hospital funciona para quê? Para dar Na cadeia, você tem que fazer a medicina
atendimento médico às pessoas. Já o presídio à moda antiga. Você pede os exames e não
tem outra vocação, que é prender, cuidar das tem idéia de quando vão chegar e se vão
pessoas presas, da segurança, impedir que elas chegar. Você erra muito por fazer desse
fujam e manter a ordem. Então, juntar essas jeito, mas aí você tem que ver aquele erro
duas coisas é complicado... E o problema outra vez e aprender na seqüência, vendo
não é só aqui, é no mundo inteiro. Ninguém e revendo, aí se encontra o caminho. Você
sabe direito como organizar a saúde nos acaba corrigindo erros que cometeu na
presídios. É complicado, é complexo. Porque análise anterior, alguma coisa que não foi
você precisa da escolta para levar a pessoa ao percebida da outra vez...
hospital, e nem sempre tem escolta. Já não é CL - Tem planos de lançar outros
o diretor do presídio que é o responsável por livros?
isto e sim a PM. Acredito que o ideal seria o
caminho das parcerias, com a Santa Casa ou DV - Escrevi o Estação Carandiru
Faculdades de Medicina. Essas instituições em 1999 e depois nunca mais escrevi
de fora poderiam organizar este atendimento sobre cadeia. Agora tenho idéia de fazer
de um serviço médico paralelo. Este é um um livro sobre a cadeia vista do lado dos
funcionários. O Estação Carandiru foi
caminho novo que pode funcionar.
contado com a visão do médico de dentro
CL - O senhor se completa como médico da cadeia. Seria a cadeia contada do lado
aqui?
dos funcionários, histórias deles. Eu tenho
DV - Muito, muito. Eu faço medicina vontade de fazer isso. Não quero fazer
moderna, não é? Trabalho em um hospital denúncias, apenas continuar contando
que é um dos melhores de São Paulo, histórias desta realidade.
SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO
PENITENCIÁRIA

Documentos relacionados

Os benefícios do trabalho

Os benefícios do trabalho definido no planejamento editorial do Canto da Liberdade em novembro/2005, o tema foi bastante discutido na imprensa neste início de ano, devido à denúncias de sindicatos de trabalhadores de que in...

Leia mais