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dezembro de 2009 edição 10 canto da liberdade Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo Dr. Dráuzio Varella fala da prática da Medicina nas prisões FUNAP marca presença no Congresso dos Municípios da AMA Penitenciária II de Bauru recebe Biblioteca “Ler é Preciso” Gestores Públicos no processo de Reintegração Social de Presos e Egressos Editora PAULUS distribui mais de 1.000 kit´s nas Penitenciárias do Estado Editorial CANTO da LIBERDADE C ontrariando um pouco a rotina dos editoriais do Canto da Liberdade, nos quais, a cada edição, eu procuro dar aos leitores e leitoras um panorama das matérias abordadas no informativo, nesta edição quero destacar um trabalho quase invisível, porém de absoluta relevância, que vem sendo organizado pela FUNAP. Trata-se da revisão e aprimoramento de nosso Programa Político Pedagógico, assunto da primeira notícia deste Canto. A FUNAP é responsável pelo maior programa de educação no sistema prisional do Brasil. Atendemos hoje cerca de 15 mil alunos e alunas, distribuídos em mais de 100 unidades prisionais. Temos uma proposta de educação diferenciada quando se compara com o modelo de educação oferecido em outros estados: o fato é que pensamos numa educação que não seja mera reprodução da educação escolar tradicional, mas que, inserida no contexto prisional, permita aos nossos alunos e alunas dar novos significados em suas vidas e repensar seu modo de participação cidadã. Assim, a educação busca um propósito libertador e solidário, devendo contribuir para a melhoria do quadro social. Essa opção, no entanto, não está isenta de críticas e aqueles que o fazem incorrem, geralmente, em preconceitos quanto às possibilidades transformadoras da educação. Para superar essas críticas, a FUNAP vem buscando parcerias em universidades – casos da UFSCar e UNESP, por exemplo – e Fóruns Temáticos, promovendo o intercâmbio de idéias e possibilidades como estratégias para a consolidação deste ideal de educação. E os resultados destes esforços se comprovam tanto pelas aprovações de nossos alunos e alunas nos exames de certificação (CESU, ENCCEJA, ENEM), quanto pelo destaque nacional e internacional que a FUNAP tem obtido, tal como nos casos de nossa participação no FISC - Fórum Internacional da Sociedade Civil e CONFINTEA - Conferência Internacional de Educação de Adultos. Investir em educação é sempre um desafio de longo prazo, mas como disse o sociólogo Bernardo Toro, “tem de ser sonho para não ser pequeno, tem de ser possível para não ser frustrante”. Temos certeza de que nosso sonho é possível. A vida é um desafio constante e vale a pena aceitá-lo, aproveitando o presente como um presente que da vida recebemos! Boa leitura! Lúcia Maria Casali de Oliveira - Diretora Executiva Participe do Canto Olá a todos os leitores do Canto da Liberdade! Estamos de volta com mais uma edição. A sua carta sempre será bem-vinda, pois o Canto da Liberdade é o seu canal de comunicação! Participe! “Agradeço essa Fundação por despertar a esperança de uma vida melhor em cada ser humano que se encontra nas unidades prisionais; principalmente em mim!” Fábio Fernando Pereira Machareth Centro de Ressocialização de Atibaia “Pensei em ser cantor, poeta ou escritor, queria ser famoso, chamado de Doutor. Em meio ao caminho, ‘um trago’ carregou, como folhas ao vento, os meus pensamentos. Hoje não sou cantor nem me chamam de Doutor. Escrevo meus poemas de uma cela onde estou, pois estou liberto, foi Jesus quem me libertou”. Luiz Eduardo de Souza Penitenciária de Lucélia EXPEDIENTE FUNAP - Fundação “ Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” Presidente: Arthur Allegreti Jolly Diretora Executiva: Lúcia Maria Casali de Oliveira Chefe de Gabinete: Rosália Maria Andreucci Naves Andrade “Dentre tantos acontecimentos ruins que temos vivido dentro do sistema, mesmo dentro de um saldo negativo de convivência diária, é um enorme prazer ter a certeza de que a credibilidade em muitos de nós ainda não foi totalmente perdida. Obrigada, Canto da Liberdade!” Julia Roberta Faquim Penitenciária Feminina de Sant´Anna “Já que nossos dias são incertos nesse lugar e não saberemos se o amanhã chegará, o que nos resta fazer a não ser reaprender a sonhar? Muitas vezes neste caminho as pedras irão nos machucar mas jamais desistiremos pois vale à pena sonhar!” Valterlândia Adriana Lisboa Penitenciária Feminina de Campinas Escreva-nos sempre! Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” – FUNAP A/C COMUNICAÇÃO R. Dr. Vila Nova, 268 - Vila Buarque - São Paulo / SP / CEP: 01222-020 Jornalista: Joyce Malet Kassim Vitorino (MTB 50973) Estagiária de Jornalismo: Verônica Gallo Petrelli Diagramação: João Carlos Marcondes da Silva Colaboradores: Regionais São Paulo/Vale; Grande São Paulo/Litoral; Campinas/Sorocaba; Presidente Prudente/Bauru; Ribeirão Preto; Araçatuba. Extramuros CANTO da L I B E R D A D E Em pauta: Projeto Político Pedagógico A Educação é uma das bases de atuação da FUNAP. Desde sua criação, em 1977, a Fundação tem por premissa levar este que é um dos direitos da pessoa que cumpre pena privativa de liberdade. Para aprimorar este Programa e socializar o processo de elaboração do Projeto Político Pedagógico, a Diretoria de Formação, Capacitação e Valorização Humana (DIFHOR) organizou o Encontro Estadual de Formação de Educadores. Realizado no período de 07 a 09 de outubro, no Hotel Fonte Santa Tereza, em Valinhos, o Encontro teve por objetivo definir aspectos centrais sobre as concepções do programa de educação que orientarão o Projeto Pedagógico, bem como definir a estrutura de funcionamento da alfabetização. O encontro foi dividido em duas etapas: de Formação, que propiciou aos participantes momentos de reflexão e discussão sobre as concepções de educação; e Deliberação, na qual decisões coletivas foram tomadas envolvendo todos os agentes do programa de Educação sobre os rumos do programa e as bases sobre as quais se estrutura. Com mesas de debate e discussão,educadores, monitores e agentes penitenciários buscaram Encontro estadual para discussão do Projeto Político Pedagógico entendimento mais aprofundado sobre as concepções de Educação e suas implicações pedagógicas numa rotina diferenciada, como a que ocorre dentro das unidades prisionais. No segundo dia, os participantes dividiramse em grupos para que temas específicos fossem tratados. Os grupos promoveram um debate denso e muitas propostas foram levantadas, as quais foram encaminhadas à plenária para devidas deliberações. A redação do Projeto Pedagógico está em fase de finalização, sob a responsabilidade da Comissão formada pelos gerentes Maria da Conceição Santin Capello (Regional São Paulo e Vale), Sílvio Luis do Prado (Regional Ribeirão Preto), José Antônio Gonçalves Leme (Regional Grande SP e Litoral) e do supervisor Juraci Antônio de Oliveira. O segundo encontro está previsto para acontecer em Dezembro e terá por foco os currículos do Ensino Fundamental e Médio. À ocasião, será apresentada a redação parcial do Projeto para que, depois de aprofundadas e delineadas as questões finais, seja submetida à aprovação da Diretoria Executiva da FUNAP até o final deste ano. FUNAP marca presença no Congresso dos Municípios da AMA O 3º Congresso dos Municípios da AMA - Associação dos Municípios da Araraquarense – foi realizado entre os dias 29 e 31 de outubro, no Ipê Park Hotel, em São José do Rio Preto. O Congresso teve como tema “Políticas Públicas para os Municípios” e contou com a participação de deputados, prefeitos, primeiras-damas e diversos vereadores. A Associação dos Municípios da Araraquarense conta com 128 cidades e todas elas enviaram seus representantes durante os 3 dias de evento. O objetivo principal do Congresso foi promover o debate de políticas públicas entre todos os municípios participantes. Na abertura oficial, o vice-governador do Estado, Alberto Goldman, ministrou a primeira palestra do congresso, que teve também a participação de técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), abordando temas ligados aos setores contábeis das prefeituras. Após cada dia de debate, técnicos do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam) sistematizaram os dados para a redação da Carta de Rio Preto, divulgada no último dia do evento, contendo as principais conclusões do encontro. O Congresso contou ainda com um atrativo especial. Foi reservado um espaço no Hotel para realização de uma feira onde mais de 20 instituições, empresas públicas e privadas puderam expor, em estandes, seus serviços e produtos direcionados aos municípios. Neste espaço, a FUNAP apresentou seus trabalhos desenvolvidos nas unidades prisionais do Estado. Com móveis administrativos e escolares, cadeiras, colchões antichamas e toda linha de artesanato da DASPRE, o estande era um dos mais movimentados do Congresso. Essa foi a 1ª participação da FUNAP em Congressos promovidos pela AMA e reflete a importância desse engajamento. Eventos como esse possibilitam contatos mais estreitos e diretos com os municípios, sensibilizando os governantes para a missão da FUNAP. “O público recebe muito bem nossos trabalhos e se surpreende com a qualidade dos produtos, de modo geral”, afirma Lúcia A. Silva, gerente de comercialização. Os contatos estabelecidos devem resultar em bons negócios, havendo demandas por parte dos municípios, já que todos compreendem o facilitador das compras com dispensa de licitação, como acontece com quem compra da FUNAP. Os produtos da DASPRE fizeram grande sucesso, principalmente junto ao público feminino. “Todos elogiaram a qualidade e criatividade do artesanato produzido pelas detentas”, relata Lúcia. CANTO da LIBERDADE Ser parte ativa no processo de ressocialização M Reflexões e trocas de experiências marcam 1º Encontro do Poder Público e Reintegração Social uitas pessoas já ouviram falar do Programa de Alocação de Mãode-Obra. São empresários que desejam instalar suas oficinas nas unidades prisionais ou querem contratar detentos que, em regime semiaberto, possam sair para trabalhar. A proposta deste Programa é proporcionar trabalho remunerado para as pessoas em cumprimento de pena, contribuindo para sua formação, qualificação profissional e geração de renda, preparando-as para a vida em liberdade e, ao mesmo tempo, sensibilizando os empresários na contribuição para a redução dos índices de criminalidade e de reincidência. A contratação de trabalhadores presos por empresas e também por parte do setor público é regulamentada pela Resolução da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) 509/2006 que estabelece normas para a contratação de empresas que oferecem serviço aos sentenciados, abrangendo também outras providências. A F UNAP presta orientação técnica para o empresário-contratante por ocasião da elaboração do contrato, no processo de seleção e acompanhamento dos presos trabalhadores, supervisionando, inclusive, a utilização do equipamento de proteção individual (EPI). Os benefícios do trabalho são muitos como a geração de renda, a redução de pena, o tempo ocioso que acaba sendo preenchido e o principal: a oportunidade de aprender uma profissão e, quando em liberdade, poder exercê-la com dignidade. Por isso, a busca incessante por postos de trabalho para os presos, tanto em empresas públicas e privadas. Além do programa de alocação de mão-de-obra, a F UNAP conta com outros meios de promover trabalho e capacitação para os presos. Atualmente, são 21 oficinas próprias que produzem móveis administrativos e escolares, reforma do mobiliário escolar, cadeiras de escritório, confecção e a mais recente fábrica inaugurada na Penitenciária de Assis, onde mais de 20 reeducandos trabalham na confecção de laminado reeducandos são vendidos à Secretaria da Administração Penitenciária e os colchões antichamas foram oferecidos às Santas Casas da Misericórdia e Hospitais de vários municípios. A parceria com diversos órgãos públicos por meio deste Programa reflete uma nova concepção da participação pública no processo de reinserção social. Prova desta interação foi a realização do 1º Encontro do Poder Público, promovido pela Prefeitura de Campinas. O PAPEL DO PODER PÚBLICO NA REINSERÇÃO SOCIAL Presos do CPP Ataliba Nogueira e da Penit. I de Hortolândia recebem cursos promovidos pela Prefeitura de Campinas de espuma antichamas. Nas oficinas são oferecidos postos de aprendiz, meio-oficial e oficial, onde todos são capacitados profissionalmente e aprendem a fabricar produtos que, posteriormente, são comercializados para órgãos federais, estaduais e municipais, além de pessoas físicas e jurídicas. O Departamento Comercial é responsável por oferecer os produtos da F UNAP aos diversos órgãos públicos, escolas e empresas. O Metrô de São Paulo, por exemplo, é um dos maiores clientes da linha de móveis administrativos; os uniformes dos Realizado entre os dias 28 e 29 de setembro, no Salão Vermelho do Paço Municipal de Campinas, este encontro teve o objetivo de apresentar a experiência da Prefeitura, por meio das secretarias municipais de Serviços Públicos e de Trabalho e Renda, na alocação de mão-de-obra de presos em regime semiaberto para trabalhos de manutenção da cidade, bem como discutir o papel do poder público na reinserção social dos sentenciados. “Nossos projetos existem porque nós ainda acreditamos no ser humano. A sociedade não tem que aceitar o crime, mas precisa aceitar o egresso recuperado”, afirmou a diretora executiva da F UNAP, Dra. Lúcia Casali. Ainda de acordo com a diretora, Campinas é pioneira dentro deste programa de alocação de mão-deobra. “O município é um grande exemplo para outras cidades porque tem o maior convênio de contratação de reeducandos. Isso é bom para a Prefeitura porque a Administração CANTO da LIBERDADE é possível e não custa caro aos cofres públicos usa melhor o dinheiro público, é bom para o contribuinte e significa, ainda, geração de renda para cerca de 500 pessoas que estão cumprindo pena”. Já o secretário de Serviços Públicos, Flávio de Senço, ressaltou os importantes resultados com o Todos com a mão na massa para a reforma do Palácio da Mogiana, em Campinas convênio entre a Prefeitura e a F UNAP. “Atividades como o combate à dengue, em 2006 e 2007, e a manutenção, capinação e limpeza das grandes avenidas da cidade são bons exemplos de como tem funcionado o trabalho com esse tipo de mão de obra”, afirmou. À ocasião, revelou a pretensão da Prefeitura em ampliar o programa que, atualmente, integra 500 sentenciados. “Para 2010, o prefeito Hélio de Oliveira Santos pretende elevar o número de presos trabalhando para 700. Neste evento, onde podemos trocar experiências, com certeza vamos aprimorar os projetos”, completou. A gerente de comercialização da F UNAP, Maria Solange Rosalem Senese, destaca um lado mais subjetivo da participação de órgãos públicos neste processo de ressocialização. “Quando o setor privado oferece postos de trabalho para presos, grandes oportunidades podem surgir para este trabalhador que concilia a liberdade e emancipação que o trabalho oferece. Mas, quando o posto de trabalho é oferecido pelo Estado, por meio das Prefeituras ou outros órgãos públicos, algo diferente acontece. Além dos trabalhadores, beneficiários diretos, suas famílias e toda a sociedade sentem, de perto, que o Estado, que somos todos nós, fez a diferença”. Em Campinas, o programa é utilizado atualmente em ações da Secretaria Municipal de Saúde, de Administração, de Transportes e de Serviços Públicos, por meio do Departamento de Parques e Jardins das macrorregiões e suas Administrações Regionais. O Encontro serviu ainda para lançar o Programa Municipal de Reintegração Social de Presos e Egressos Prisionais de Campinas, uma parceria entre a Prefeitura, a F UNAP, Coordenadoria de Reintegração Social da SAP e outros apoiadores locais. O Programa significa um avanço em relação à alocação de mão-de-obra, pois permitirá que todos os trabalhadores presos do convênio participem, durante a jornada de trabalho, de ações de qualificação profissional e desenvolvimento sociocultural. “Dos 500 trabalhadores, 100 estarão diariamente em sistema de rodízio, participando de atividades de formação e desenvolvimento humano e social, sem prejuízo de ganhos financeiros, uma vez que tais atividades serão inseridas na jornada de trabalho”, destaca o gerente da F UNAP Campinas/Sorocaba, Felipe Athayde Lins de Melo. Trata-se de um importante passo na construção de políticas de atendimento à população prisional, uma vez que o programa passa a contar, em nível municipal, com recursos específicos para a reintegração desta população. “Este tipo de política pública é prevista na Política Nacional de Assistência Social, dentro das medidas de média e alta complexidade. No entanto, é preciso vontade política e coragem para implantar medidas que não são bem vistas no contexto geral do jogo político”, destaca o gerente. A preocupação com a reinserção dos reeducandos e egressos, principalmente da mulher, foi destaque nos debates vespertinos do encontro. Técnicos ligados ao sistema penitenciário e a órgãos públicos ressaltaram a importância dos convênios, em particular das Prefeituras, para a utilização dos sentenciados em atividades da municipalidade. Na oportunidade, representantes dos municípios de Mirandópolis, Sorocaba, Iperó e Itirapina apresentaram as experiências com reeducandos e egressos. Em Campinas, a exemplo do que ocorre na maioria das cidades, são desenvolvidas atividades de manutenção como limpeza de praças, canteiros de avenidas e trechos de córregos, entre outras atividades. AMPLIAÇÃO DO CONVÊNIO A assinatura de convênio firmado entre a Prefeitura de Campinas e F UNAP foi realizada no segundo dia do encontro para encerramento das atividades. O vice-prefeito de Campinas, Demétrio Vilagra, e a chefe de gabinete da F UNAP, Dra. Rosália Andreucci Naves Andrade, assinaram o termo que eleva para 500 o número de trabalhadores presos atuando diretamente para o setor público. “Jamais assinei um convênio com a grandeza deste e fico honrada em ver uma Prefeitura preocupada com a qualificação desta população específica”, afirmou Dra. Rosália. Podem não ser medidas simpáticas à sociedade, porém, são medidas necessárias. “Tem que haver uma rede grande e forte de colaboradores”, finalizou o vice-prefeito. Intramuros O CANTO da L I B E R D A D E Instituto EcoFuturo e FUNAP inauguram Biblioteca “Ler é Preciso” na Penitenciária II de Bauru projeto Biblioteca Comunitária “Ler é Preciso” foi idealizado pelo Instituto EcoFuturo com o objetivo de contribuir com a formação intelectual e com o desenvolvimento pessoal do detento, sempre tendo em mente que a leitura proporciona uma perspectiva de ampliação de horizontes intelectuais, sociais e profissionais. Iniciado em 2001, o projeto foi concretizado graças à parceria com a FUNAP e a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) que, à época, indicou a Penitenciária “Dr. Eduardo de Oliveira Vianna” de Bauru. A inauguração da Biblioteca Comunitária “Ler é Preciso” foi realizada no dia 11 de setembro, em espaço preparado para receber o rico acervo de cerca de 4 mil exemplares. O novo espaço, que vai beneficiar reeducandos e funcionários da unidade, conta com obras novas e diversificadas, todas elas devidamente catalogadas em computador. O reeducando Samuel Bueno do Prado é monitor da FUNAP e será o responsável pela organização e manutenção da Sala Monitores e participantes da formação promovida pelo EcoFuturo, na Penitenciária II de Bauru de Leitura. Ele diz que, além do trabalho técnico, tem por tarefa diária disseminar o hábito da leitura entre os demais reeducandos e funcionários da unidade. Mesmo sentimento foi expresso pelo reeducando Márcio Kenji Nakayama, que falou em nome de todos os monitores da FUNAP. “Nossas expectativas também estão na realização de cursos como o de Auxiliar de Bibliotecário, como o realizado no mês de maio, o qual foi de grande valia e significância para cada um de nós monitores que obtivemos a oportunidade de participar, conhecer, praticar e, principalmente, adquirir importante aptidão na área profissional”, finalizou. Os horizontes da iniciativa educacional já se estendem para fora das grades e alambrados da penitenciária. “A educação pode me ajudar no futuro. É uma nova chance para uma nova vida!”, afirma animado o reeducando Antônio Carlos Urso. Como bem afirmou o pensador Voltaire: “A leitura engrandece a alma”. Esta parceria entre EcoFuturo, FUNAP e unidade representa muito bem esta afirmação. Concurso “Prevenir é o melhor remédio” revela verdadeiros dotes artísticos na Penitenciária de Irapuru S ocialização, educação e conscientização. Foram esses alguns dos principais objetivos do Concurso “Prevenir é o melhor remédio”, realizado no Centro de Reintegração e Educação da Penitenciária de Irapuru, dos dias 31 de agosto a 04 de setembro, em parceria com a Pastoral Carcerária. Nesse projeto, os reeducandos da unidade tiveram a missão de elaborar cartazes explicativos e preventivos acerca da Gripe Influenza A (H1N1). Aqueles que se sobressaíram com cartazes diferentes e criativos ganharam prêmios ao final do concurso, como bombons e doce de leite. Os cartazes ficaram expostos na unidade dos dias 10 a 11 de setembro e, neste período, houve votação em urna para os funcionários da unidade decidirem qual trabalho passou de maneira mais eficaz a mensagem de prevenção.Após a eleição,seguindo os critérios de criatividade, objetividade, organização e clareza nas informações, os três primeiros colocados receberam a premiação. Para o reeducando Júnior Cesar da Silva Albino, que ficou em segundo lugar no concurso,iniciativas Cartazes premiados pelo Concurso “Prevenir é o melhor remédio” como essa são importantes para aqueles que se encontram privados de liberdade. “Esses projetos despertam o interesse de quem busca, por meio da arte, mostrar o seu talento. Também se torna uma maneira de ocupar o tempo, a mente e o corpo, saindo um pouco da rotina da cadeia”, afirma. O reeducando e participante do concurso Samuel Lopes de Siqueira também exalta os pontos positivos do projeto: “Isso nos mostra que nunca é tarde para recomeçar. Somos capazes de alertar e, com certeza, incentivar as pessoas a estarem ocupando as suas mentes com algo bom”. Mais do que conscientizar e promover ressocialização, a iniciativa faz com que muitos dons artísticos que estão timidamente escondidos por detrás dos muros da penitenciária sejam revelados. Como afirma o participante Fábio dos Santos: “É preciso ter projetos constantes nas unidades, para despertar os talentos que podem estar perdidos”. O resgate da aura artística, atrelado a mensagens de prevenção e conscientização, pode propiciar um futuro melhor e mais colorido para os reeducandos de Irapuru. Oportunidade CANTO da L I B E R D A D E “Voltando a enxergar” na PI de Serra Azul E star em uma penitenciária requer dos sentenciados uma capacidade ímpar de superar obstáculos e de vencer dificuldades. E, com certeza, é isso que o reeducando Carlos César Pereira tem buscado ao longo de sua permanência na Penitenciária I de Serra Azul. Ele tem uma particularidade que o torna diferente dos demais detentos: é cego (perdeu a visão em 2005, na cadeia pública de Franca, depois de um tombo que lhe comprometeu a vista). Contudo, isso não foi motivo para Carlos desistir de seu sonho de estudar. Mesmo diante de sua deficiência, em conversa com funcionário do setor educacional da unidade, ele demonstrou muito interesse em assistir às aulas como ouvinte. Diante de sua vontade para aprender, a Diretora de Trabalho e Educação da Penitenciária, Eliana Locher, fez contato com a Associação de Cegos de Ribeirão Preto. Assim, o professor Valdir Souza, cego há 25 anos, se prontificou a ensinar voluntariamente o método Braille ao reeducando para fins de Cultura U leitura e matemática. As aulas estão ocorrendo desde fevereiro deste ano. Desde o início do aprendizado, Carlos só tem recebido elogios. O professor afirma que o Vivenciar o exercício da cidadania e aprender a ver o mundo por meio do tato reeducando tem muita determinação e vontade de aprender, obtendo desempenho acima da média. A diretora Eliana também falou muito bem do comportamento de Carlos. “O entusiasmo do sentenciado foi contagiante. Nas primeiras horas ele já era capaz de identificar o alfabeto e treinava a sensibilidade do tato, surpreendendo até mesmo o professor. Esse, com certeza, será um importante instrumento para a sua reinserção social”, afirma. Já Carlos declara sua empolgação, alegando que se preocupa muito com seu futuro profissional e que essa é uma oportunidade muito importante para sua independência. “Eu, decididamente, voltei a enxergar!”, conta o reeducando, animado. A unidade prisional de Serra Azul pretende tornar permanente a ação de ensinar Braille a sentenciados que possuam deficiência visual e não conheçam a técnica. É a idealização do Projeto “Leitura na ponta dos dedos”, o qual está sendo avaliado para vigorar em breve. Deste modo, os sentenciados sentem a clara manifestação de respeito ao ser humano, bem como a importância da educação e do exercício da cidadania para aqueles que não veem com os olhos, e sim com a alma. Novos ares de conhecimento são espalhados pelas Unidades Prisionais de São Paulo ma tarde quente de primavera acolheu os visitantes responsáveis por alegrar o Pavilhão 3 da Penitenciária Feminina de Sant´Anna. O Projeto “Leitura para Cidadania - Modalidade Livro Vivo” é fruto de uma parceria firmada entre Editora PAULUS, FUNAP e unidade prisional. Em 5 de novembro, representantes do Projeto proporcionaram momentos de descontração em um evento cultural regado à música, teatro e livros. Muitos livros. Com o propósito de incentivar a leitura e contribuir para a promoção social por meio da oferta de livros de qualidade, a Editora PAULUS já está na 4ª edição do Projeto, atingindo 29 regiões em 19 Estados. Agora, presente também na Penitenciária Feminina de Sant´Anna. Iniciado em 2006, o projeto atinge milhares de crianças e adolescentes oriundos de escolas públicas por meio da distribuição gratuita de livros paradidáticos e da Literatura Brasileira. Com esta atuação inédita no Sistema Prisional Paulista, a parceria tem por objetivo oferecer mais conhecimento à população carcerária e formação aos responsáveis pelo trabalho educacional dentro das unidades. A Oficina de Formação de Professores capacita os educadores que se tornam multiplicadores do projeto, além de atuarem como incentivadores de leitura. O educador André Luiz de Souza Rastini, da FUNAP, e o estagiário Rommel dos Santos Andrade Werneck foram certificados pela participação na oficina “A leitura como fator essencial para a cidadania”, ministrada por Kátia Karam Gonzalez, em maio deste ano. Coordenadora do Projeto, Elisandra Oliveira falou da importância da participação de cada uma das reeducandas no êxito do Livro Vivo. “A leitura e o conhecimento são o passaporte para uma vida melhor”. Em seguida, houve o momento de maior expectativa para as participantes do concurso literário promovido pelos organizadores do projeto com colaboração da escola da unidade prisional. Foram premiadas as 3 melhores produções, divididas pelas categorias de Ensino Fundamental e Médio. As alunas de Alfabetização optaram por outras manifestações artísticas, como peça teatral e um coral. A vencedora na categoria Fundamental, Elisangela Candido Nascimento, redigiu uma poesia cujo tema foi a solidão. Com a poesia “Humano Imperfeito”, Catia Cristiny levou o troféu entre as participantes do Ensino Médio. A editora PAULUS forneceu 1.000 kits à unidade e mais 300 kits a todas as outras onde há trabalhos com educação e salas de leitura. O projeto possibilita a expansão do universo cultural do indivíduo preso e, mais que isso, representa um novo ciclo de conhecimentos adquiridos com o hábito da leitura capaz de formar cidadãos atuantes em sua realidade. O livro traz liberdade para a alma daquele que se entrega às asas da imaginação. Entrevista M édico respeitado e autor do premiado “Estação Carandiru”. Voluntário há quase 20 anos no sistema prisional, Dr. Dráuzio Varella faz da pequena sala abafada onde atende as detentas da Penitenciária Feminina de Sant´Anna uma extensão de sua paixão pela Medicina. Com relatos e olhares comoventes, afirma que se realiza completamente como profissional por meio da prática de uma Medicina à moda antiga. Conheça um pouco deste profissional apaixonado pela medicina realizada por trás das grades. CL - Médico respeitado, autor reconhecido e premiado... O que o motiva a vir todas as semanas a um dos lugares mais desprezados pela sociedade? DV - Eu comecei a freqüentar a Casa de Detenção em maio 1989. Fiquei por lá até outubro de 2002, quando foi implodida. Aí vim para cá quando ainda era cadeia masculina e fiquei por três anos. Depois, fui atender no CDP do Ipiranga, mas por pouco tempo. E aí parei. Fiquei meio ano sem ir a cadeia nenhuma e comecei a ficar muito triste, infeliz mesmo. Aí, quando aqui virou feminino e teve também uma mudança na Secretaria, aqueles que me conheciam há mais tempo falaram: “Puxa, Dráuzio, você não quer ajudar a gente?” E eu falei: “Olha, me arranja uma cadeia, veja qual está precisando mais e eu vou...”. Vim para Sant´Anna em outubro de 2006. Eu digo que quando você faz um trabalho desse tipo, todo mundo acha que você tem uma motivação ou de ordem religiosa, muitas vezes política, ou simplesmente para se sentir útil. Mas eu nunca pensei em nada disso. Eu tenho uma atração pelo ambiente de cadeia e foi isso que me levou à Detenção. Se eu dei alguma coisa de bom para a cadeia, a cadeia me trouxe muito, muito mais, sempre mais. CL - Como o quê? DV - Me deu uma noção mais completa da vida. Hoje, tenho uma visão da realidade nacional que eu não teria tido se não tivesse essa experiência desses anos todos na cadeia. Porque a relação do médico na cadeia é completamente diferente da relação dos funcionários. Eu passei pelas coisas que eles passam, mas eles tem um universo no CANTO da L I B E R D A D E Medicina por trás das Muralhas qual eu não penetro e eles, por sua vez, não conseguem penetrar no meu. Aqui é onde as pessoas contam a vida, falam coisas que não tem coragem de falar para ninguém. E isso me preenche muito. Se não fosse isso, minha vida o que seria? Sair da minha casa, do meu conforto, ir para um dos melhores hospitais de São Paulo, depois voltar para a minha clínica... E minha vida ia ser isso, como a da maioria. Então, para mim, o que faz diferença mesmo é esse ambiente. CL - Ao longo desses anos, o que mais o comoveu? DV - Olha, é difícil saber... São tantos momentos fortes que você vive dentro da cadeia... Às vezes, o que mais me impressiona não é nem o acontecimento, “Praticar Medicina à moda antiga na cadeia me preenche mas um olhar, o jeito que a pessoa me olha muito. O que faz a diferença mesmo é esse ambiente” e transmite uma imagem, um sentimento mais forte que a realidade brutal. Não é a violência o que mais me choca, mas sim o faço Cancerologia, freqüento congressos sofrimento humano. Quem não está aqui internacionais... Mas aí fora, eu sinto que não faço diferença. Eu posso fazer dentro não faz idéia de como é isso. diferença para aquela pessoa que estou CL - E em relação à saúde dentro do atendendo, obviamente. Mas eu não faço Sistema Prisional? diferença, porque se eu não atender, outro DV - Olha, eu acho que equacionar o atende. Aqui não. Além disso, a medicina problema da saúde nos presídios é muito que se faz lá fora é uma medicina com complicado, porque a vocação do presídio é laboratórios, com facilidades tecnológicas. outra.Um hospital funciona para quê? Para dar Na cadeia, você tem que fazer a medicina atendimento médico às pessoas. Já o presídio à moda antiga. Você pede os exames e não tem outra vocação, que é prender, cuidar das tem idéia de quando vão chegar e se vão pessoas presas, da segurança, impedir que elas chegar. Você erra muito por fazer desse fujam e manter a ordem. Então, juntar essas jeito, mas aí você tem que ver aquele erro duas coisas é complicado... E o problema outra vez e aprender na seqüência, vendo não é só aqui, é no mundo inteiro. Ninguém e revendo, aí se encontra o caminho. Você sabe direito como organizar a saúde nos acaba corrigindo erros que cometeu na presídios. É complicado, é complexo. Porque análise anterior, alguma coisa que não foi você precisa da escolta para levar a pessoa ao percebida da outra vez... hospital, e nem sempre tem escolta. Já não é CL - Tem planos de lançar outros o diretor do presídio que é o responsável por livros? isto e sim a PM. Acredito que o ideal seria o caminho das parcerias, com a Santa Casa ou DV - Escrevi o Estação Carandiru Faculdades de Medicina. Essas instituições em 1999 e depois nunca mais escrevi de fora poderiam organizar este atendimento sobre cadeia. Agora tenho idéia de fazer de um serviço médico paralelo. Este é um um livro sobre a cadeia vista do lado dos funcionários. O Estação Carandiru foi caminho novo que pode funcionar. contado com a visão do médico de dentro CL - O senhor se completa como médico da cadeia. Seria a cadeia contada do lado aqui? dos funcionários, histórias deles. Eu tenho DV - Muito, muito. Eu faço medicina vontade de fazer isso. Não quero fazer moderna, não é? Trabalho em um hospital denúncias, apenas continuar contando que é um dos melhores de São Paulo, histórias desta realidade. SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA
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