García sobe o tom com o Chile e eleva tensão

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García sobe o tom com o Chile e eleva tensão
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ESCALAPB
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ESCALACOR
Produto: ESTADO - BR - 14 - 18/11/09
A14 -
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QUARTA-FEIRA, 18 DE NOVEMBRO DE 2009
O ESTADO DE S.PAULO
A14 INTERNACIONAL
AMÉRICA LATINA
OSCAR FARJE/EFE-16/11/2009
García sobe o
tom com o Chile
e eleva tensão
Após denunciar caso de espionagem, líder peruano
diz que o país vizinho é ‘republiqueta’; Bachelet reage
João Paulo Charleaux
Ruth Costas
O presidente peruano, Alan
García,qualificouoChile de“republiqueta” na madrugada de
ontem, contribuindo para criar
umnovofoco detensão naAmérica Latina. As relações entre
osdois países já andavam estremecidas havia meses, mas azedaram de vez no fim de semana,
quando García acusou o Chile
de cooptar um militar peruano
para espionar para o seu governo. “Esses são atos repulsivos,
que não correspondem aos de
um país democrático e deixam
mala presidência do Chile”, disse García. “São próprios de
uma republiqueta.”
Apresidentechilena,Michelle Bachelet, reagiu: “As acusações, que eu considero ofensivas, não contribuem para a cooperação e a integração entre os
dois países.”
Poucodepois,ochanceler peruano, José Antonio García Belaúnde, anunciou que as provas
doatodeespionagemseriamentregues para Santiago. “Estamos num ponto delicado das relações (com o Chile)”, admitiu.
Às vésperas da eleição do dia 13,
aoposiçãochilenapedeorompimento com o Peru.
DeacordocomLima,osuboficial da Força Aérea Víctor Ariza foi recrutado pelo Chile sete
anos atrás e recebia US$ 3 mil
mensaispara repassarinformaçõesrelativas aoarsenal,os planosdecontingênciaeaidentidadedosalunos daescola deinteligência da Aeronáutica peruana. As provas do esquema estariam no computador de Ariza e
em documentos encontrados
com ele.
Emagosto,Garcíajátinhadenunciadoumacordo secretoentre o Chile e a Bolívia, que daria
saídaparaomarparaosbolivianos, mas prejudicaria os interesses de Lima. Além disso, em
duas ocasiões, em 2008, o Chile
disse ter sido vítima de espionagemdosperuanos.Na maisgrave, funcionários da embaixada
chilena em Lima tiveram seus
e-mails vasculhados por um
hacker, supostamente a serviço da inteligência do Peru.
O aumento da desconfiança
entreosdoispaísesteria,segundo analistas chilenos e peruanos ouvidos pelo Estado, três
motivações.
Aprimeira éoprocessomovido por Lima contra Santiago na
Corte Internacional de Justiça
daONU,emHaia.OPerureivindica do Chile uma área de 95
km² no Oceano Pacífico.
“Porisso,tenta darvisibilidade a sua demanda e mostrar-se
agredido,naesperança dereceberumadecisão favorável”,disse Mladen Yopo, subdiretor da
Academia Nacional de Estudos
Políticos e Estratégicos do Ministério da Defesa do Chile.
ALTA TENSÃO
Um continente
em pé de guerra
Países latino-americanos não
estão livres de problemas de
fronteira
Conflitos
1
NICARÁGUA
E HONDURAS
3 NICARÁGUA
5 COLÔMBIA
7 GUIANA
9 MALVINAS:
E COSTA RICA
E VENEZUELA
E SURINAME
ARGENTINA E
2 NICARÁGUA
4 EQUADOR
E COLÔMBIA
E COLÔMBIA
6 VENEZUELA
E GUIANA
CHILE
8 PERU,
E BOLÍVIA
GRÃ-BRETANHA
BELIZE
MÉXICO
H O N D U RAS
1
2
N I CA R ÁG UA
G UAT E M A L A
E L SA LVA D O R
5
3
VENEZUELA
C OSTA R I CA
6
GUIANA
SURINAME
GUIANA
F RA N C E SA
7
COLÔMBIA
PA N A M Á
4
EQ UA D O R
1909
Foi o ano em que o
Brasil assinou seu último
tratado importante de
limites
PERU
B RAS I L
BOLÍVIA
8
PERU
PA RAG UA I
PERPENDICULAR
REIVINDICADA
PELO CHILE
ÁREA EM
LITÍGIO
CHILE
ARGENTINA
MEDIANA
REIVINDICADA
PELO PERU
U R U G UA I
CHILE
OCEANO
ATLÂNTICO
DISPUTA PELO MAR
Peru quer área de 35 mil km2
atualmente sob controle do Chile
9
OCEANO
PACÍFICO
ENÉRGICO – García discursa contra o Chile em Lima; disputa por faixa do Pacífico alimenta rivalidade
INFOGRÁFICO/AE
ACUSAÇÕES
Alan García
Presidente do Peru
“Esses são atos repulsivos, que
não correspondem a um país
democrático. São atos próprios
de uma republiqueta”
Região sofre com
velhas disputas
mal resolvidas
“García crê que a Corte lhe dará
razão e o Chile não acatará a
decisão. Por isso, seria
necessário aumentar sua força
militar e controlar o crescimento
das forças chilenas por meio da
pressão da opinião pública”
Além da Guerra do Pacífico,
que transformou em inimigos Peru, Chile e Bolívia, outros conflitos mantêm a região em constante crise. Quito e Bogotá romperam no ano passado, quando a
Colômbia bombardeou um acampamento das Farc no Equador.
Recentemente, a Venezuela acusou a Colômbia de querer levar
os dois países à guerra. Caracas
também reivindica parte do território da Guiana, que tem um problema semelhante com o Suriname. A Nicarágua vive às turras
com Honduras, por causa da fronteira marítima; com a Costa Rica,
em razão de um tratado de limites mal feito; e até com a Colômbia, pela posse do arquipélago de
San Andrés. A disputa entre Argentina e Grã-Bretanha pela soberania das Malvinas levou ambos à guerra, em 1982, e também
atormenta a diplomacia regional.
aforçamilitarperuanaecontrolar o crescimento da chilena pelapressãodaopinião públicaregional e global”, opina José Rodríguez Elizondo, professor de
direito da Universidade do Chile, em Santiago.
Osegundo motivoé a compra
de armamentos dos militares
chilenos – como a recente encomenda feita aos EUA de US$
665 milhões em mísseis Stinger
de médio alcance e em um novo
sistema de radares.
O Peru diz que as compras
chilenasextrapolamosparâme-
Michelle Bachelet
Presidente do Chile
“São acusações ofensivas que
em nada contribuem para a
cooperação e a integração. Esse é
o momento de trabalhar pelo
bem-estar de nossos povos e o
que deve primar é o respeito e a
responsabilidade das
autoridades”
●● ●
tros da “dissuasão” e “projeção de força”.
“Nos anos 70, chilenos e
peruanos gastavam quase o
mesmo em defesa”, diz Farid
Kahhat, cientista político da
UniversidadeCatólicadoPeru. “De lá para cá, os gastos
do Peru permaneceram quase estáveis. Os do Chile aumentaram três vezes e não
há perspectiva de reversão
desse processo, já que a Lei
do Cobre destina 10% das exportações deste produto para as Forças Armadas.”
Atritos tiveram
início há 130 anos
Guerra do Pacífico transformou
em inimigos Peru, Chile e Bolívia
Por trás do duro discurso feito
ontem pelo presidente peruano, Alan García, há 130 anos de
ressentimentos e desconfiança. Chile, Peru e Bolívia enfrentaram-se entre 1879 e 1884 na
Guerra do Pacífico, que terminou com os chilenos anexando
parte do território peruano e
bloqueando a saída da Bolívia
para o mar – duas feridas nunca
cicatrizadas. A herança de litígios fronteiriços começa no Deserto do Atacama e avança pelo
Oceano Pacífico, em uma área
de aproximadamente 95 quilômetros quadrados.
O problema é que qualquer
solução que seja negociada entre Chile e Peru continuará impedindo que os bolivianos voltem a ter acesso ao Pacífico. Da
mesmamaneira,qualqueracordoentreChile eBolíviainviabilizará a demanda original peruana pela ampliação de seu mar
territorial.
Diantedoimpasse,oChilearmou-se, priorizando a compra
de fragatas e submarinos. A Bolívia deu sinais de que poderia
aceitar a simples abertura de
umcorredordeacessoaoPacífico. E o Peru levou o caso à Corte
Internacional de Justiça da
ONU, em Haia, de onde espera
por uma resposta há cerca de
dois anos.
“Aprimeiraetapadaestratégia peruana foi jurídica e terminou com a instalação do processo na Corte Internacional de
Justiça, em Haia, em janeiro do
ano passado. Agora, estamos
vendo uma segunda etapa, na
qual os principais componentes são de cunho comunicacional e militar”, disse ao Estado
José Rodríguez Elizondo, exembaixador chileno que esteve
exilado no Peru por dez anos e
se dedicou ao estudo do conflito
sobre a fronteira marítima entre ambos os países. ● J.P.C.
Congresso debaterá volta de Zelaya após eleição
ra desatar o impasse na política
hondurenha,ontemosubsecretárioadjuntoparaAssuntosHemisféricos, Craig Kelly, desembarcou em Tegucigalpa.
O emissário de Washington
deverá se reunir tanto com Micheletti quanto com Zelaya. É a
segunda vez em menos de uma
semana que Kelly vai a Honduras para negociar com os dois
lados.
Três quartos dos deputados
hondurenhos estão em campanha pela reeleição no dia 29. Até
então,a maioriados congressistas tem evitado se pronunciar
sobre a destituição de Zelaya
antes da votação, temendo perder votos. ● EFE E REUTERS
ESCALADA ARMAMENTISTA
“García parte da hipótese de
que a Corte lhe dará razão e o
Chile nãoacatará a decisão. Por
isso, seria necessário aumentar
José Rodríguez Elizondo
Professor de Direito da
Universidade do Chile
ECONOMIAS ASSIMÉTRICAS
O último fator que impulsionaria a tensão entre os dois
paíseséaassimetrianasrelações econômicas.
Segundo Kahhat, hoje há
US$7bilhõeseminvestimentos chilenos no Peru e só US$
1bilhãoeminvestimentosperuanos no Chile.
“Já há uma rivalidade histórica entre os dois países
por causa da Guerra do Pacífico (mais informações nesta
página). Agora, esse aumentoda presença chilena évista
como uma nova ameaça no
Peru”, diz. Segundo pesquisasrecentescitadaspeloanalista, 74% dos peruanos
veem os investimentos estrangeiros no país com bons
olhos. Quando o capital é chileno, o índice cai para 41%. ●
Presidente do Legislativo diz que deputados só decidirão restituição do líder deposto a partir do dia 2
TEGUCIGALPA
OCongresso hondurenho deverá começar a debater a restituição do presidente deposto, Manuel Zelaya, em 2 de dezembro
– três dias após as eleições gerais. A informação foi revelada
ontempelopresidentedo Legislativo,AlfredoSaavedra,ementrevista à rádio HRN, que apoia
o governo de facto.
Após a assinatura do acordo
entre Zelaya e o líder de facto,
Roberto Micheletti, no fim de
outubro,oCongressofoi incumbido de dar a palavra final sobre
a restituição. A mesa diretora,
contudo, decidiu ganhar tempo, solicitando vários pareceres do Judiciário.
De acordo com Saavedra, a
Comissãode Direitos Humanos
e a Procuradoria-Geral de Hon-
duras já haviam enviado suas
conclusões – que até agora não
foram reveladas. A Suprema
Corte e o Ministério Público
prometeramconcluir seusrelatórios na próxima semana,
abrindo o caminho para que os
deputados possam votar.
Noentanto,a batalhanoCongressopodeestar apenascomeçando. Zelaya, que antes considerava que sua restituição não
dependiadadecisãodosdeputados, disse na segunda-feira, em
carta ao presidente dos EUA,
Barack Obama, que se recusa a
voltar ao poder nos termos do
acordo San José-Tegucigalpa.
O líder deposto afirma que o
pacto legitimaria o golpe que o
destituiu. Já os golpistas afirmam que a decisão do Congresso – a favor ou contra a restituição – é soberana.
Há discórdia também sobre
a natureza dos pareceres do Judiciário. Os zelaystas dizem
que são apenas “opiniões”. Os
golpistasdefendem que sãovinculantes – assim, se considerarem a restituição inconstitucional, impedirão os deputados de
recolocar Zelaya na presidência.
Emmeioà ofensivadoDepartamentodeEstadodosEUA pa-

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