Nizan Guanaes - Cynthia Garcia

Transcrição

Nizan Guanaes - Cynthia Garcia
creditos auto
c h a p e u
O publicitário
Nizan
Guanaes,
por trás do
evento de moda
que promete
balançar a
cidade, esta
semana, é
transgressor,
polêmico,
brasileiríssimo.
Nas próximas
páginas,
revela-se como
você nunca viu
crédito foto
bom de
boca
por Cynthia Garcia
fotos Daryan Dornelles
O
Claro Rio Summer, de
quinta a domingo, no Forte
Copacabana, objetiva se transformar numa plataforma de negócios
de moda de apelo internacional para marcas top brasileiras.
Por trás da proposta ambiciosa está o baiano que sempre sonhou
grande. Ex-vendedor de prata, ex-locutor da Rádio Cidade de Salvador
e ex-redator, agora ele está com tudo e não está prosa. É presidente da
agência de marcas premium Africa (“sem acento”) e acionista majoritário do
Grupo ABC (“A de advertising, B de branding e C de conteúdo”), um guardachuva de 14 empresas, uma delas aberta este ano, em São Francisco, nos Estados Unidos. Segundo o ranking de maio de 2008 da Advertising Age, uma das
bíblias do mercado publicitário, o grupo liderado por Nizan é o 21.º maior
grupo de comunicação do mundo, com uma receita de US$ 228 milhões de
dólares em 2007, numa lista em que figura como o único latino-americano.
Está casado, desde 2002, com uma das mulheres mais chiques do Brasil,
a paulistana Donata Meirelles, diretora de importados da Daslu e uma das
curadoras do evento carioca. Inspirado na magreza da mulher e com a
ajuda da cirurgia de redução de estômago, ao qual se submeteu em
2006, Nizan perdeu mais de 54 quilos (“uma Sandy”) e tornou-se
um homem magro de 80 quilos, no qual roupas elegantes, como
convém ao marido de Donata, caem bem e, fundamental,
com estilo. “A vida só é possível reinventada.”
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mod a
n i z a n
g u a n a e s
Parafraseando o “o que é que a baiana tem”, o que o Rio não
A sociedade civil, a carioca ou a brasileira?
tem e precisa ter urgentemente?
Deve começar pela sociedade carioca, mas é da brasileira também. Não sinto que o Rio seja menos meu porque nasci na Bahia. O
Rio é patrimônio do Brasil. É uma campanha que todos devem abraçar, sobretudo os cariocas.
Paz para crescer. O Rio tem um problema de segurança desafiador, o governo do estado tem enfrentado de maneira contundente, mas
as coisas não se resolvem da noite para o dia.
O que significa o Rio de Janeiro para você?
É a grande marca brasileira no mundo. Algumas pessoas acham
que estou investindo na cidade porque gosto dela. Não é. Empresarialmente é a capital do entretenimento, é nossa Hollywood. E assim
deve ser tratada.
“as pessoas
dizem que invisto
na cidade porque
gosto dela. não é.
o rio é a nossa
hollywood”
No seu manifesto Bossa Nova, apresentado no IV Congresso
Brasileiro de Publicidade, em julho, você sugeriu mudar a etiqueta “Made in Brasil” para “Created in Brasil”. Explique.
Lifestyle carioca
Ao todo, o Rio Summer
receberá 16 grandes grifes,
em três dias de desfile
Como a mídia internacional vê o Rio?
Apaixonadamente. Repito, apaixonadamente.
Quinta, 6 de novembro
Apesar da violência?
Esse peso não está só nas costas do Rio. Em todo o mundo há
violência, seja do terrorismo, seja da criminalidade, seja até mesmo
da natureza.
A crise econômica mundial não atrapalha seus planos?
É um momento desafiador. Mas o que é que se vai fazer?
Essa crise não vai passar em uma, duas semanas, se você
ficar esperando, quem vai passar é você. Não sou pessimista,
sou cauteloso, é diferente. Cautela, provisões, medidas de
segurança são uma coisa, ficar paralisado é outra. Ficar sentado em casa não é meu jeito.
Como vê essa nova configuração do cenário mundial?
Vamos ter de aprender a conviver com uma economia mais
sensata, mais apertada, mais dura. Devemos adequar nossas empresas à nossa realidade deste novo momento, não deixando de
investir, mas esquecendo tudo que é tático e focando no que é
estratégico. Para mim, o Rio Summer é estratégico, faz parte de
uma plataforma de eventos realizados por todo o Brasil. Fazemos
o X Games, o Stock Car, a categoria Gran Turismo na GP3, o
vôlei de praia, a comercialização do Carnaval de Salvador. Tudo
isso tem a ver com nossa filosofia de trabalho.
quando e onde
14h – Carlos Miele
16h30 – Blue Man
18h – Salinas
19h30 – Adriana Degreas
22h – 284
o claro rio summer será realizado De 6 a 8
de novembro, no Forte de Copacabana
Direção: Donata Meirelles, Robert Forrest, Lenny
e Cacá de Souza são os curadores do Claro Rio Summer
Custo do evento: R$ 10 milhões, segundo a organização
Visitantes estimados: 3 mil pessoas por dia
Tops do casting: Raquel Zimmermann, Isabeli Fontana, Izabel
Goulart, Michelle Alves, Marcelle Bittar, Ana Claudia Michels
Ingressos: Trata-se de um evento só para convidados
credenciados. www.claroriosummer.com.br
Quem vem: Valentino (estilista), Andrea Casiraghi (príncipe
de Mônaco), Andrea Dellal (socialite) e jornalistas, como
Michael Roberts (Vanity Fair) e André Leon, Talley and Hamish
Bowles (Vogue América)
Sexta, 7
13h30 – Cris Barros
15h – Iodice
16h30 – Rosa Chá
18h – Totem
19h30 – Isabela Capeto
Sábado, 8
11h – Jo de Mer
14h – Triya
16h30 – Raia de Goeye
18h – Cia. Marítima
19h30 – Osklen / Lenny
Enfants
terribles
As estilistas Paula Raia e
Fernanda De Goye, da grife Raia
de Goye, são as preferidas de Nizan.
Explica-se: fontes seguríssimas garantem
que o publicitário está comprando uma parte
da marca delas. Ele nega – com um sorriso
no rosto. Mas fala sobre a dupla:
“Elas são as enfants terribles da moda
brasileira. Elas são ricas, charmosas,
talentosas e têm drive. O trabalho
delas vai além do estilismo –
coisa muito nova”.
No Rio Summer você comentou que não haverá espaço para a
indústria da “celebridade barata”. O que é isso?
Como presidente da
Tão importante como quem desfila é quem assiste. O mundo
se perdeu nessa coisa da celebridade que não fez nada, não deu
nenhuma contribuição. Acho isso muito ruim. Algumas promoters sabem que colocando umas pessoas assim o evento sai nas
revistas de celebridades. Sair é fácil, se você colocar uma melancia no pescoço vai sair também. É um desafio, mas gostaria
muito que o Rio Summer fosse uma referência do que é bacana,
do que é chique, do que é descontraído, do que é nosso, do que
é brasileiro. Essa cara que o Rio tem.
Associação de Empre-
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endedorismo da Unesco,
você vai propor que o Rio seja
elevado a patrimônio natural da humanidade. Explique.
É um longo processo, estamos começando a trabalhar
nisso. A sociedade civil tem de se unir para que a cidade seja
aceita como candidata. É um longo caminho, mas esse processo
lento se inicia no Rio Summer.
O Brasil tem um DNA criativo violento. Todos os países deviam estar atrelados a uma marca. A da França é moda. A do
Brasil é criatividade.
Algumas de suas frases são antológicas, como “não
paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro”.
Quem me vê trabalhar do jeito que trabalho pode ter
impressão de que trabalho por dinheiro. Se fosse por dinheiro, já teria parado há muito tempo. Há um momento
na vida que você já resolveu a sobrevivência. O que me
move é a animação e a paixão pelo que faço. Quando o
sujeito escolhe uma profissão apenas porque vai ter um
retorno financeiro, provavelmente ele não vai ter, porque
não vai ser bom nela.
E sua paixão pelo Brasil?
Tenho muito respeito pelos povos que se levantam
para defender seu país. Talvez em função da ditadura,
isso, no Brasil, ficou uma coisa babaca. É revoltante ver
alguém que não sabe cantar o Hino Nacional!
Dizem que você gosta de polemizar...
Sou empresário, não fico criando polêmica, nem posso, mas
há hora em que você tem de se levantar e reclamar. Seja no seu
prédio, seja na praia, seja num lugar público. Na vida, tudo que é
morno é muito chato.
Você já disse que a elite é brega, sem cultura e sem refinamento. A elite é brega, Nizan?
Existe dinheiro que foi construído, que se transformou em benfeitoria, e há determinado tipo de dinheiro inconseqüente, fácil. Fui
a St. Tropez, este ano, e numa boate vi pessoas abrindo champanhe
de 28 mil euros. Eu disse para minha mulher: “Pode ter certeza de
que vem uma crise mundial por aí, o mundo está perdido”. Não há
a menor justificativa, num mundo onde tanta gente passa dificuldade, com gente morrendo de fome, fazer uma coisa dessas. Dito e
feito. Quando ele entra fácil, sai fácil.
Você é um self-made man, o que diria sobre o trabalho?
Estamos investindo na Semana do Empreendedorismo, que será
em novembro, é preciso ensinar e cultivar nas pessoas o valor do
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mod a
p e r s o n a g e m
trabalho. No Brasil, às vezes, o sujeito enriquece, pára de
trabalhar! É preciso passar o valor do esforço, de criar
alguma coisa, o valor da leitura. É importante passar
isso, principalmente, para as crianças. Me preocupo muito com isso.
O João Gilberto não quer conhecer ninguém que ele já não
“nas coisas
que sei, sou um
pouco (arrogante).
mas também não
me levo muito
a sério”
Você é obsessivo?
Quando boto alguma coisa na cabeça, corro atrás. Sou taurino com
gêmeos, touro é o pé no chão, e gêmeos é a cabeça ao vento. Acredito nessa combinação.
conheça. E você?
Em absoluto, quero conhecer muita gente. Sou a pessoa mais
sociável do mundo, tenho uma curiosidade imensa pelas pessoas.
Puxo papo, me interesso.
Na festa em seu apartamento em Paris você circulou de sandália de dedo Ipanema, depois a Donata também desceu de
seu Balenciaga e calçou uma. Como foi isso?
Foi o lançamento internacional do Rio Summer. Eu estava simplesmente fazendo uma imagem e me senti muito bem, à vontade, o
tempo todo. Me diverti muito na festa.
Há gente que o acusa de
Como se sente mais magro?
arrogante...
Mais leve. É muito difícil carregar peso. Parecia que eu praticava halterofilismo todo dia, o dia inteiro. Para mim foi muito bom.
Nas coisas que sei, um pouco. Mas também não me levo
muito a sério. E tenho ótimo
ouvido, posso discordar num
minuto, e no minuto seguinte
a ficha cai e digo “essa pessoa
tem razão, vamos voltar atrás”.
Há uma frase do Juscelino que
adoro: “Com erro não há compromisso”.
Como vê o poder?
Nizan com Naomi
Campbell e o Vovô
do Ilê, no Carnaval
de Salvador; com a
família em Londres,
aos 10 anos, em 1968;
e com alunos da
Escola Estadual
Francisco Fusco,
“adotada”
pelo Grupo ABC
Você quer ser o melhor em tudo o que faz?
Não, eu quero dar o melhor de
mim em tudo o que faço. Não tenho
essa sanha. Quero fazer bem feito. Não
disputo com ninguém, minha disputa é
comigo mesmo.
Tira lições das suas viagens?
Gosto muito da Europa, porque ela é deliciosa, mas é frugal. Não há excessos, as cidades são
deliciosas, você pode andar. Não há o peso do dinheiro.
Em Paris você sente cultura, sente história. Em Londres
também. Apesar de que lá é mais money...
Baiano
premiado
Só de Leão no Festival
Internacional de Cannes, o Oscar
da publicidade, ele já abocanhou mais
de 70. Um dos prêmios mais significativos
na sua trajetória de conquistas veio este
ano, o de Empreendedor do Ano, dado
pela Ernst & Young, no qual venceu
na principal categoria. Mas revela:
“Não foi fácil, galguei degrau
por degrau, desde o zero”.
Sou empresário, gosto de trabalhar, o único poder que eu quero
é o de realizar as coisas, só isso. Não tenho nenhum projeto de poder.
Tenho muitos sonhos, quero fazer muitas coisas. Espero, principalmente, contribuir para fazer o meu país ser maior. O que está acontecendo com o Brasil neste cenário atual é de uma injustiça muito
grande. O país fez o dever de casa e está pegando uma situação internacional adversa. Mas cabe a nós, com coragem, contribuir para
que a gente saia dessa.
Com tantas conquistas, o que mais quer ainda?
O legal do sonho grande é que ele não tem horizontes. Eu tive
conquistas, mas também tive um monte de tropeços. Se for olhar, a
minha vida não foi um crescendo megalomaníaco em que se sai do
zero e se chega aqui. Fui redator, depois diretor de criação, depois
fui dono de agência, depois comecei um grupo de publicidade. Agora estou fazendo um grupo de eventos, essa caminhada tem uma lógica. O Warren Buffett (empresário americano e um dos homens mais
ricos do mundo), a quem admiro muito, diz que a vida é uma bola de
neve e que a gente tem um longo caminho com essa bola de neve.
Minha vida não foi de elevador, foi de escada. Subi degrau por degrau, caí e voltei a levantar. Não foi fácil. A gente sofre incompreensões, fala bobagem, às vezes a língua é o chicote do corpo. Mas a
gente aprende e vai em frente.
Cultura e história são coisas que o atraem?
Sempre gostei de ler, principalmente biografias e história. Respeito a cultura. Tenho cada vez menos tempo para me dedicar a essas
coisas – uma pena. Mas tudo é uma fase na vida.
Como vai a publicidade brasileira?
Está muito bem, é uma das mais premiadas do mundo. Claro que
a publicidade do mundo inteiro enfrenta desafios, porque antigamente havia duas ou três mídias, hoje há imensas possibilidades. Se nós
nos aprimorarmos em gestão, se tivermos olho aberto para ir além da
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publicidade, ou seja, prestar atenção na comunicação, eventos,
marketing direto, endomarketing, design, aí vamos continuar como
um dos líderes do mundo em publicidade.
O poder do publicitário, no Brasil, é exagerado?
O poder não, a visibilidade. E há exemplos disso no mundo
inteiro. O Jacques Séguélla é uma personalidade na França, os
irmãos Saatchi & Saatchi são na Inglaterra. Não é uma coisa só nossa,
eles são empresários, destacam-se, ganham visibilidade.
Quem faz estremecer o joelho do Nizan Guanaes?
Você que é um expert em marketing político, o que acha da
Foi amor à primeira vista?
eleição presidencial americana? Obama ou McCain?
Sem sombra de dúvida Obama, porque McCain is Bush again.
Claro que o Obama me desperta interesse por ser negro, ser um personagem diferente, além do que a América e o mundo merecem essa
esperança e precisam dela.
A Donata.
Foi, da minha parte foi.
Mais adiante, quando olhar para trás, o que pensará?
Quero olhar para minha vida e ver que construí um bom
obituário (risos). D
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