DISSERTAÇÂO GDLS MARCOPOLO final
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DISSERTAÇÂO GDLS MARCOPOLO final
1 UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO - FCAP PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL – GDLS MARCOPOLO DA SILVA MARINHO EMPODERAMENTO SOCIAL EMPREENDEDOR POR MEIO DO LÚDICO: UM ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO EMPREENDELER EM AÇÕES DE LEITURA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS EM COMUNIDADES SOCIALMENTE VULNERÁVEIS NO RECIFE/PE RECIFE 2016 2 MARCOPOLO DA SILVA MARINHO EMPODERAMENTO SOCIAL EMPREENDEDOR POR MEIO DO LÚDICO: UM ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO EMPREENDELER EM AÇÕES DE LEITURA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS EM COMUNIDADES SOCIALMENTE VULNERÁVEIS NO RECIFE/PE Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, como requisito à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, sendo objeto de defesa oral, perante banca examinadora, em sessão pública. Orientador: Professor Doutor Cristovão de Souza Brito 3 MARCOPOLO DA SILVA MARINHO EMPODERAMENTO SOCIAL EMPREENDEDOR POR MEIO DO LÚDICO: UM ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO EMPREENDELER EM AÇÕES DE LEITURA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS EM COMUNIDADES SOCIALMENTE VULNERÁVEIS NO RECIFE/PE Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, como requisito à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável. ORIENTADOR ___________________________________________________ Prof. Dr. Cristóvão de Souza Brito Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP) COMISSÃO EXAMINADORA ___________________________________________________ Profª. Drª. Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP) Examinador Interno ___________________________________________________ Profª. Drª. Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP) Examinador Interno ___________________________________________________ Profª. Drª. Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP) Examinador Externo 4 Faço uma homenagem à minha avó, que se faz presente na minha vida, por meio de seus exemplos e valores. Dedico esse trabalho à minha esposa, amante, companheira e amiga que com toda paciência entendeu a importância do tempo desprendido neste mestrado e à minha mãe, batalhadora que, com toda garra e determinação me proporcionou educação suficiente para entender que poderei, através da educação, mudar o mundo. 5 “Eu gostaria de ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida” (Paulo Freire) 6 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao meu Deus soberano pela força e auxílio motivador que me levou a galgar mais um passo em minha vida; Agradeço à minha mãe que com todo amor e dedicação lutou contra as adversidades da vida para educar a mim e a minha irmã, tendo nos formado em caráter exemplar; Agradeço à minha esposa pela contribuição dada nesta pesquisa e por entender que o tempo gasto nos estudos será posteriormente recompensado; Agradeço aos profissionais do Centro Social Dom João Costa, que abriram as portas de suas unidades para que a Associação Empreendeler pudesse compartilhar histórias. Agradeço a todos os amigos acadêmicos e profissionais que me proporcionaram uma excelente experiência - ao qual sempre usei como Benchmarking - para o desenvolvimento da minha carreira; Agradeço a todos os professores que transmitiram de boa vontade seus conhecimentos práticos e teóricos; Obrigado a todos! 7 RESUMO No presente trabalho foram estudadas as efetivas relações existentes entre a contação de história, empoderamento e comportamento empreendedor. Para tanto, foi realizado um estudo de caso numa organização não governamental que desenvolve um trabalho de empoderamento social por meio da contação de histórias, leitura, debate e brincar em um centro social no Alto José do Pinho, Recife/PE, onde objetivou-se explicar o impacto gerado na formação de indivíduos protagonistas e empreendedores em comunidades vulneráveis da Região metropolitana do Recife através da metodologia de empoderamento social aplicado pela Associação Empreendeler, revisando a literatura sobre o impacto do empoderamento social, explicando o funcionamento pedagógico dos diversos métodos de leitura e contação de histórias da Associação Empreendeler, acompanhando o desenvolvimento e os resultados das atividades de contação de história descrito pelas pessoas que interagem com crianças que passaram pelo método da Associação Empreendeler. A pesquisa realizada tem um carater exploratório e explicativo, onde, através de uma abordagem mista, observação participativa e dados secundários de uma análise qualitativa, pôde se chegar aos resultados presentes nesta dissertação. Com a revisão da literatura, examinou-se alguns formatos pedagógicos que envolvem as técnicas de contação de histórias, buscando-se travar um diálogo com a prática desenvolvida pela Associação. Desses exames teóricos, já pôde-se inferir que a contação de história pode transformar indivíduos por meio de uma linguagem acessível aos ouvintes. Também se inferiu que a mesma pode ser usada para empoderar uma juventude tida como socialmente vulnerável e ainda fortalecer os seus laços familiares e escolares. Palavras-Chave: Contação de Histórias. Empoderamento. Empreendedorismo 8 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Mapa da cidade do Recife destacando a inserção urbana do Alto José do 42 Pinho, apresentando também a região portuária do centro da cidade, o Rio Capibaribe e a Avenida Norte. Figura 02: Quadro de atuação por faixa etária da Associação 52 Figura 03: Representação visual do conto do Monge e a vaca. 82 Figura 04: Ilustração da Parábola do Cientista e da Criança: como consertar o mundo? 84 Figura 05: Ilustração do conto A Roupa do Rei 86 Figura 06: Ilustração do conto As Duas Cabras 87 Figura 07: Ilustração do conto O Leão e o Ratinho 88 Figura 08: Ilustração do conto O Menino, O Burro e o Cachorro 90 Figura 09: Ilustração do conto O Lenhador Honesto 92 Figura 10: Ilustração do conto Os Três Conselhos 94 Figura 11: Ilustração do conto A Raposa e o Lenhador 95 Figura 12: Ilustração do conto Os Três Porquinhos 97 Figura 13: Ilustração do conto A Galinha Ruiva 98 9 LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 01: Funcionários do CREAS do Cordeiro em momento de sensibilização ao trabalho da Empreendeler. 47 Fotografia 02: Seção de Contação de História no Centro Social Dom João Costa noAlto José do Pinho 48 Fotografia 03: Fotografia 04: Fotografia 05: Fotografia 06: Fotografia 07: Fotografia 08: Fotografia 09: Fotografia 10: Fotografia 11: Fotografia 12: Fotografia 13: Fotografia 14: Fotografia 15: Fotografia 16: Fotografia 17: Seção de estímulo à leitura após a contação de histórias. 50 Processo de interação lúdica em grupo. 50 Seção de leitura individual após a contação das histórias. 51 Momento da primeira entrega de alimentos realizada no Centro Social Dom João Costa. Participação no feirão de Carreiras do Papo de Universitário. Entrevista a participante do Startup e Makers da Campus Party Recife 2015. 53 54 55 Entrevistando Marcos Rodrigues do Papo de Universitário. 56 Os cantores Nando e Caiã Cordel contando as suas histórias. 57 Os empreendedores Saulo Andrade e Aline Cavalcante contando as suas histórias. Os empreendedores Saulo Andrade e Aline Cavalcante contando as suas histórias. 57 57 Brincando com as letras. 58 Participação em circuito inclusivo na Campus Party Recife 2015. 59 Ação voluntária no Hospital do Cancer de Pernambuco em 2015. 60 Participação na X Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. 61 Jovem beneficiada pelo projeto da Associação Empreendeler contando história na formatura da turma de novosa voluntários do período 2015.2. 62 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01: Gráfico 02: Gráfico 03: Gráfico 04: Gráfico 05: Gráfico 06: Gráfico 07: Gráfico 08: População brasileira que declarou fazer serviço voluntário. Características da população entrevistada Motivação para desenvolver um trabalho voluntrário Número de beneficiários que sabiam expressar o seu sonho no início de 2015 Número de beneficiários que sabiam expressar o seu sonho no início de 2015 Percepção de mudança de características Empreendedoras em casa 05 06 07 64 64 65 Percepção de mudança de características empreendedoras na escola 65 Percepção de mudança de características empreendedoras no centro 66 social Gráfico 09: Conhecimentosobre o termo empreendedorismo 67 Gráfico 10: Percepção sobre uma maior participação nas tarefas rotineiras em casa Gráfico 11: Percepção sobre uma maior participação nas tarefas rotineiras na escola 67 68 68 Gráfico 12: Percepção sobre uma maior participação nas tarefas rotineiras no centro social Gráfico 13: Sobre a comunicação e expressão em casa Gráfico 14: Sobre a comunicação e expressão na escola Gráfico 15: Gráfico 16: 69 69 Sobre a comunicação e expressão no centro social 70 Sobre saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente em 70 casa Gráfico 17: Sobre saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente na 71 escola Gráfico 18: Sobre saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente no 71 centro social Gráfico 19: Sobre capacidade de questionamento em casa 72 Gráfico 20: Sobre capacidade de questionamento na escola 72 Gráfico 21: Sobre capacidade de questionamento no centro social 73 Gráfico 22: Sobre a percepção de que para alcançar os sonhos precisam de 73 determinação e perseverança, visão dos pais Gráfico 23: Sobre a percepção de que para alcançar os sonhos precisam de 74 determinação e perseverança, visão dos professores Gráfico 24: Sobre a percepção de que para alcançar os sonhos precisam de 74 determinação e perseverança, visão dos funcionários do centro social. Gráfico 25: Sobre ter mais iniciativa em casa Gráfico 26: Sobre ter mais iniciativa na escola 75 75 11 Gráfico 27: Sobre ter mais iniciativa no centro social Gráfico 28: Sobre ser mais comprometido em casa Gráfico 29: Sobre ser mais comprometido na escola Gráfico 30: Sobre ser mais comprometido no Centro social Gráfico 31: Sobre buscar mais informações em casa Gráfico 32: Sobre buscar mais informações na escola Gráfico 33: Sobre buscar mais informações no Centro Social Gráfico 34: Sobre ser mais autoconfiante e independente em casa Gráfico 35: Sobre ser mais autoconfiante e independente na escola Gráfico 36: Sobre ser mais autoconfiante e independente no centro social 76 76 77 77 78 78 79 79 80 80 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas AEL Associação Empreendeler AJP Alto José do Pinho BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CNAS Conselho Nacional de Assistência Social CREAS Centro de Referência Especializado em Assistência Social DR Doutor Ed Editora IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística IBQP Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística ONG Organização não governamental OSCIP Organização da sociedade civil de interesse público UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância 13 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1 2. O VOLUNTARIADO NO BRASIL 5 2.1 EMPODERAMENTO SOCIAL 8 2.1.1 Necessidade de Empoderamento dos indivíduos e das comunidades 11 vulneráveis Protagonismo 12 2.1.2 2.1.2.1 Protagonismo Juvenil 13 2.1.3 Fortalecimento de Laços 14 2.1.4 Educação Empreendedora 16 2.1.4.1 Métodos de aprendizagem participativa no empreendedorismo 2.2 2.2.1 2.2.2 18 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO EMPODERAMENTO SOCIAL 21 DO INDIVÍDUO A importância da contação de história na formação de protagonistas 23 2.3.1 Impacto direto e indireto da contação de histórias e os segredos para 24 uma boa contação de história A IMPORTÂNCIA DO TERCEIRO SETOR E DOS NEGÓCIOS 29 SOCIAIS NA FORMAÇÃO DE INDIVÍDUOS EMPODERADOS 31 Perfil histórico do empreendedorismo social no Brasil 2.3.2 Funcionamento de negócios sociais e do terceiro setor, no segmento de contação de história, leitura e do brincar 2.3.2.1 Principais pontos de um estatuto exigido em organizações sociais de empoderamento por meio da contação de histórias, um exemplo da Associação Empreendeler 2.3.3 Atuais instituições fomentadoras à formalização e ao desenvolvimento de organizações de caráter social 2.4 ESTUDO DE CASO PARA A PESQUISA DE EMPODERAMENTO 33 3. METODOLOGIA 41 3.1 A ABORDAGEM DE PESQUISA A SER UTILIZADA E DADOS DO 41 OBJETO DE ESTUDO 3.2 O LÓCUS DA PESQUISA E CARACTERÍSTICAS DO UNIVERSO E 41 AMOSTRA 43 OS INSTRUMENTOS PARA A COLETA DOS DADOS 2.3 3.3 3.4 35 37 38 43 AS CATEGORIAS DE ANÁLISE 14 3.5 A ANÁLISE DOS DADOS 44 3.6 INSERÇÃO SOCIAL DA PESQUISA 45 4. 4.2 DISCUSSÂO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA ENTREVISTA 46 COM A GESTORA DA ASSOCIAÇÃO PESQUISA QUANTITATIVA SOBRE PERCEPÇÃO DE MUDANÇA 63 DOS BENEFICIÁRIOS DO MÉTODO EXEMPLO DE HISTÓRIA CONTADA E FORMULAÇÃO DA MORAL 81 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 99 REFERÊNCIAS 101 APÊNDICE I 107 4.1 1 1- INTRODUÇÃO Vive-se uma época em que, cada vez mais, a sociedade civil tem participado de ações que deveriam ser de atuação estatal, mas que, por razões diversas, não têm conseguido atender a estas demandas sociais de maneira sustentável e em seus devidos tempos. Geralmente, tais ações são fruto de iniciativas de pessoas que, ao invés de ficarem simplesmente reclamando, tomam uma atitude diante dos problemas sociais e fazem do seu ambiente um lugar melhor. Mas, ainda assim, para que essas ações tenham um impacto social necessário, deveriam ser replicadas e escaladas em locais mais vulneráveis. Para que isso aconteça, acredita-se que mais pessoas devam ser empoderadas e motivadas a enxergar as necessidades do entorno do próximo de maneira empática e protagonizar a mudança através de projetos ou movimentos sociais. Essa demanda por ações que transformem pessoas em protagonistas sociais e pessoais é algo cada vez mais observado e defendido, e tem encontrado cada vez mais espaços nos debates políticos locais e regionais, tendo em vista sua importância no empoderamento das pessoas. O empoderamento da comunidade e seus indivíduos, para que eles sejam protagonistas de suas próprias histórias e desenvolvam-se de maneira sustentável, tem sido um termo que entrou para o jargão das políticas públicas e dos analistas, neste novo milênio, e é algo muito próximo ao dito popular que expressa que se deve, além de dar o peixe, transformá-los nos melhores pescadores. O método empoderador defendido nesta dissertação – a contação de história mediada - não é novo, mas passa a ser novo na vida de atores que não o têm normalmente e reflete os aspectos da educação de crianças, jovens e adolescentes – esses que representam o futuro de seus locais - por meio de uma linguagem lúdica, onde leitura e contação de histórias passam a fazer parte da realidade desses que antes não tinham acesso a esta prática, mas que controladamente podem passar a levá-los a uma reflexão de mudança quando se envolve o lúdico em temas importantes e sérios. As práticas de leitura e contação de histórias, por não ser comum nessas comunidades, necessitam da interferência de agentes externos que, por meio de 2 projetos ou movimentos sociais, interagem com o meio ambiente transformando-o em algo melhor e, com isso, os beneficiários ao receberem um empoderamento empreendedor podem tornar-se replicadores do método e escalar a mudança local. Para Gohn (2004, p.23) trata-se de processos que tenham a capacidade de gerar desenvolvimento autossustentável, com a mediação de agentes externos - os novos educadores sociais – atores fundamentais na organização e o desenvolvimento dos projetos. O novo processo tem ocorrido, predominantemente, sem articulações políticas mais amplas, principalmente com partidos políticos ou sindicatos. Sempre que se fala neste tipo de ação, vê-se a grande importância da participação das Organizações sem fins lucrativos (ONG), assim como, dos negócios sociais, que, de acordo com o Portal Brasil (2012), entende-se por negócios sociais “empresas que geram lucro e oferecem produtos e serviços que melhoram a qualidade de vida da população excluída.”. Porém, a população brasileira, mesmo que amplamente empreendedora, não entende de maneira efetiva a lógica do modelo de negócios sociais, seus benefícios e como pode ter suporte das políticas públicas na geração de melhoria da qualidade de vida neste país. Ainda de acordo com o portal, além de lucro, estas iniciativas buscam desenvolver a sociedade através de mecanismos de mercado para, por meio da sua atividade principal, buscar as soluções de problemas. Mesmo considerando ser, o Brasil, um país empreendedor, não se vê muitos empreendimentos sociais estruturados com a verdadeira lógica dos diferentes setores econômicos do segmento na intenção de ofertar produtos (bens, serviços e/ou informação) de qualidade à população excluída do mercado tradicional. Ou seja, ajudando no combate à pobreza e diminuição drástica da desigualdade, com inclusão social, geração de renda e qualidade de vida, como deveria e, consequentemente, vê-se uma baixa formação de gerações, que se encontra em ambientes de alto risco criminal, não tendo a oportunidade de serem protagonistas e transformadoras de sua própria história. Com isto, vê-se a necessidade do aumento no número de pessoas e iniciativas ligadas ao desenvolvimento da educação e além de uma melhor estruturação dos modelos de gestão, o que tem ocorrido, mesmo que de maneira 3 lenta. Porém, o baixo índice de procura a orientações e de entendimento da mecânica de funcionamento e captação de recursos, tem gerado descontinuidade neste tipo de formação individual. De acordo com Brasil (2014) este tipo de negócio com impacto social tem aumentado em todo o país, cada vez mais desenvolvido por uma geração empreendedora que pauta sua estratégia em valores sustentáveis. Algumas instituições têm colaborado para a conceituação e fomento deste novo modelo de negócio, entre elas estão a organização internacional Artemísia, a Ashoka, pioneira no campo da inovação social, a Fundação Schwab, responsável pelo prêmio Empreendedor Social no Brasil e, a partir de maio de 2016, o novo Porto Social de Recife, sendo estes alguns dos órgãos que estimulam o desenvolvimento de negócios no Brasil. A escolha da temática justifica-se por já ser conhecido que práticas pedagógicas envolvendo leitura e contação de histórias são efetivas como método de ensino e também pela atual relevância do empreendedorismo social que permite utilizar este método no Brasil e o seu poder transformador para equacionar a carência de pessoas empoderadas no empreendedorismo politicamente correto nas comunidades vulneráveis. Além disso, existe uma baixa produção acadêmica de materiais que apontem soluções para uma gestão sustentável de ações do terceiro setor e serviços sociais envolvendo contação de história e a alta necessidade de geração de orientações técnico-cientificas de atuação eficiente nas ONG’s, tendo em vista que o Brasil possui hoje um número elevado de pessoas com baixa leitura, com baixo desempenho crítico e alto índice de analfabetismo funcional. Diante do contexto a ser traçado, tem-se a necessidade de resposta à seguinte problemática traçada em forma de pergunta de pesquisa: O processo de contação e leitura de história realizado por organizações não governamentais pode transformar crianças com alto potencial marginal e ou já marginalizadas em indivíduos proativos e protagonistas de suas próprias vidas, de maneira ética e moral de modo que as mesmas desenvolvam a sua localidade e repliquem as práticas de empoderamento? O que se acredita, como hipótese, é que tais práticas podem mudar as pessoas das comunidades e mudando as pessoas pode-se mudar 4 a própria comunidade, tornando-a um lugar em que as oportunidades geradas não envolvam a criminalidade, mas, em oposição, ações sustentáveis, cidadãs e morais. Na intenção de responder à questão de partida, esta pesquisa objetiva: Explicar o possível impacto gerado na formação de indivíduos protagonistas e empreendedores em comunidades vulneráveis da Região metropolitana do Recife através da metodologia de empoderamento social aplicado pela Associação Empreendeler. Irá, especificamente: Revisar na literatura o impacto do empoderamento social; Explicar o funcionamento pedagógico dos diversos métodos de leitura e contação de histórias da Associação Empreendeler; acompanhar o desenvolvimento e os resultados das atividades de contação de história da Associação Empreendeler; coletar informações junto às pessoas que interagem com crianças que passaram pelo método da Associação Empreendeler sobre o que mudou, individual e coletivamente, após a prática pedagógica da ONG. Em função do que foi exposto, a revisão da literatura segue com uma análise dos motivos que levam as pessoas a atuarem em comunidades de forma voluntária ao salientar os principais aspectos do empoderamento social, decorrentes da necessidade de inclusão de indivíduos e comunidades em situação de vulnerabilidade social. Aborda, também, as contribuições teóricas relacionadas ao desenvolvimento do protagonismo geral e juvenil e a importância dos laços afetivos e como o enfraquecimento de tais laços afeta o empoderamento, mas conectando a educação empreendedora como instrumento de empoderamento social e a importância da contação de história na formação de protagonistas. Traz à luz a visão de teóricos que se debruçam ao ofício de analisar os impactos da contação de histórias e os contributos analíticos sobre a importância do terceiro setor e dos negócios sociais na formação de indivíduos empoderados, desde o perfil histórico do empreendedorismo social no Brasil até o funcionamento de negócios sociais e do terceiro setor, no segmento de contação de história, leitura e do brincar. 5 2- O VOLUNTARIADO NO BRASIL Vive-se, hoje, um momento de grande participação da sociedade civil brasileira na busca de soluções e/ou minimizações dos impactos sociais negativos. Tais ações deveriam ser desenvolvidas pelas entidades estatais, mas, como dito anteriormente, não tem conseguido, por fatores diversos atender a estas demandas. Uma pesquisa realizada pelo IBOPE (2011) apresenta os dados de uma década sobre o serviço voluntário no Brasil, o qual demonstrou que, entre 2001 e 2011, 1 a cada 4 pessoas da população brasileira declarava participar ou ter participado de ações voluntárias em prol da melhoria social, econômica e ambiental. Ainda na pesquisa verificou-se que a maioria das pessoas que se envolviam no serviço voluntário eram casadas e possuíam filhos. Os dados coletados na pesquisa servem, também, como indicador de uma evolução social do ponto de vista da pro-atividade em busca de mudanças e evidencia o fato de que a população brasileira tem se ajudado, e muito, quando o assunto é a interatividade coletiva. Gráfico 01: População brasileira que declarou fazer serviço voluntário. Fonte: IBOPE (2011) Os perfis destes entrevistados estão tabulados conforme o gráfico 03 e mostram uma realidade sobre a população brasileira bem interessante. Sobre sexo, não se vê uma predominância, nem do homem, nem da mulher quanto à atuação 6 voluntária e quanto à classe social, vê-se uma predominância bem maior da própria classe menos favorecida economicamente. Vale também perceber que o interesse em envolver-se em atividades sociais cresce até a faixa dos 30 a 39 anos e decresce em seguida até a faixa verificada dos 70 anos ou mais, como mostra o gráfico 02. Gráfico 02: Características da população entrevistada Fonte: IBOPE (2011) Entre as ações elencadas na pesquisa foram identificadas dezoito categorias, mas seis delas possuíam uma maior representatividade, conforme segue: religiosas, captação de recursos, aconselhamento, educação/ ensino e treinamento, cultura/ lazer/ entretenimento e eventos. Quanto aos motivos que levam as pessoas a desenvolver ações voluntárias o IBOPE (2011) apontou que, em primeiro lugar, está o fato de se sentir solidário e ajudar os outros, seguido de fazer a diferença, motivações religiosas e dever de cidadania, conforme aponta o gráfico abaixo: 7 Gráfico 03: Motivação para desenvolver um trabalho voluntrário Fonte: IBOPE (2011) Este estudo é mportante para se identificar quais motivos levam as pessoas a agirem diante dos problemas sociais e com isso, ter um direcionador para empoderar mais atores a tornarem-se agentes de mudança em locais mais necessitados. Vê-se também na pesquisa que muitos poucos fazem as ações motivados a ter um reconhecimento social em seu ambiente profissional, familiar e entre amigos, o que pode refletir que as pessoas têm feito o bem pelo bem mesmo e não para gerar uma aceitação social falsa. Um estudo apresentado ao IBGE por Hypólito(2010) explica que “O trabalho voluntário vem sendo reconhecido como elemento propulsor na melhoria das condições de saúde, educação, bem-estar e qualidade de vida da sociedade, especialmente nos países em desenvolvimento.” Com isso observa-se a importância de se estudar estes aspectos quando reconhecidos os alarmantes dados brasileiros nas áreas citadas. Mas, ainda no texto, explica-se que o valor econômico que resulta da contribuição destas ações continua invisível o que gera uma demanda para que 8 mais pessoas sejam empoderadas e motivadas a observar os problemas do seu entorno de maneira mais humana, para que, assim, possa protagonizar a mudança através de projetos, empresas e movimentos. A Organização das Nações Unidas, por meio do Manual de Instituições Sem Fins Lucrativos (2003), pede uma atenção especial aos países para que evidencie e torne mais transparente a participação social nas demandas locais e globais e, para isso, é de extrema importância, o estudo sobre empoderamento social na transformação de indivíduos protagonista na sociedade brasileira. 2.1 EMPODERAMENTO SOCIAL Dissertar sobre empoderamento social é considerar a existência de duas carências sociais atuais, a primeira diz respeito à falta de recursos existentes em uma grande parte da população e a segunda refere-se a algo subjetivo existente nos valores e comportamentos encontrados na sociedade contemporânea, normalmente, oriunda dessa falta de recursos relacionados. Moreira et. Al. (2012) Apud. Bronzo (2008) Ao considerar o duplo caráter da pobreza — como fenômeno que envolve dimensões objetivas de falta de recursos e também dimensões subjetivas relativas a valores e comportamentos —, é necessário alterar as condições limitadoras, investir no empoderamento, na autonomia, nas competências e na capacidade de autodesenvolvimento, visando à ampliação da capacidade de ação das pessoas para a superação da pobreza. Tabela 01: Referencia aos motivos de pobreza que enfraquecem o poder pessoal Primeiro caráter da pobreza Segundo Caráter da pobreza - FALTA DE RECURSOS - VALORES E COMPORTAMENTOS Caráter OBJETIVO Caráter SUBJETIVO Fonte: Elaboração própria (2016) Esta duplicidade gera uma necessidade de ações que retomem as condições que têm limitado a ação de grupos menos favorecidos, seja do ponto de vista financeiro, seja étnico, seja racial e outros fatores que reduziram, desde os primórdios das sociedades o poder das pessoas para, assim, criar-se uma sociedade mais igualitária. 9 Bronzo (2008) ainda explica que a pobreza tem uma perspectiva de direitos como eixo central que não remete, exclusivamente, ao indivíduo, mas à sociedade como um todo, que se torna responsável pela partilha dos custos, sob o princípio da solidariedade e assim, políticas públicas devem, na grande maioria, pensar no desenvolvimento das ações para o desenvolvimento do todo. Uma definição para empoderamento está citada no glossário da Organização Mundial de Saúde (1998) como um processo que envolve questões sociais, culturais, psicológicas ou políticas onde indivíduos e grupos sociais são capazes de expressar suas necessidades, apresentar as suas preocupações, criar estratégias para a participação na tomada de decisões e conseguir uma ação política, social e cultural no atendimento a suas necessidades. Oliveira (2015) explica que o “empoderamento, junto com participação, é um conceito e uma abordagem que tem sido conquistada e expressa uma tendência predominante a partir dos anos 1990.” O que representa para a sociedade uma conquista real, mas tardia. Moreira et. Al. (2012) cita, também, Sen (1997), ao expressar que o processo de empoderamento da sociedade envolve equilibrar as relações de poder para os que têm menos recursos, de modo a criar um poder na relação direta com grupos majoritários. (conferir a norma da citação) Discute-se atualmente o empoderamento em três níveis, o individual, o relacional e o contextual. Para Mageste et. Al. (2008), estes níveis são como um espiral que se amplia e se interliga por relações de poder. Desta maneira se ligam e reagem mutuamente. Para Gohn (2004), o empoderamento individual abordado tem como indicadores a autoestima, autoconfiança e autoafirmação, tendo como foco a melhoria nas condições de vida. Baseando-se nestes indicadores percebe-se que o lúdico pode ser utilizado tanto para gerar autoestima, tanto para gerar autoconfiança e a autoafirmação e, neste aspecto, ações com métodos pedagógicos específicos podem fortalecer as comunidades em curto, médio e longo prazo. Um fator de empoderamento traçado por Moore (2009) incorpora aspectos do papel das relações familiares como elementos de empoderamento . Para Moreira et. Al. (2012) 10 o empoderamento comunitário, por outro lado, não possui indicadores universais, podendo envolver empoderamento pessoal, desenvolvimento de pequenos grupos de apoio mútuos, organizações comunitárias, associações e ação social e política, focalizando a conquista e defesa de direitos, a influência na ação do Estado, com capacidade de demanda e interferência direta ou indireta da população nas decisões políticas. O empoderamento social tratado nesta pesquisa envolve muito mais o empoderamento comunitário do que o individual, embora valha acrescer que os dois não são indissociáveis. Porém, para Romano e Antunes (2002) “o empoderamento é interpretado pelos diversos setores da sociedade de formas diferentes, o que para os autores distancia-se do real significado de empoderamento.” Romano e Antunes (2002) conceituam o empoderamento como “[...] uma abordagem que coloca as pessoas e o poder no centro dos processos de desenvolvimento; um processo pelo qual as pessoas, as organizações, as comunidades assumem o controle de seus próprios assuntos, de sua própria vida e tomam consciência da sua habilidade e competência para produzir, criar e gerir” e através desta visão de desenvolvimento e da ampliação das competências desenvolve-se uma sociedade menos dependente de ações assistencialistas e as transformam em atores e atrizes no processo econômico, social e ambiental como um todo. No foco do empoderamento o indivíduo tem acesso ao conhecimento, a instrumentos e aos meios que o possibilite adquirir as competências para alcançar a autonomia crítica, esta autonomia é um fator primordial para que os atores sociais tornem-se protagonistas. Friedmann (1996 apud LISBOA, 2008) declara o empoderamento como “todo acréscimo de poder que, induzido ou conquistado, permite aos indivíduos ou unidades familiares aumentarem a eficácia do seu exercício de cidadania”. Remete a uma característica que possibilitaria os sujeitos alcançar o nível de autonomia necessário para a sua devida participação nos processos de decisão. Outros autores apresentam tipos de empoderamento distintos. Lisboa (2008), por exemplo, indica as formas de empoderamento traçadas por Friedmann (1996 apud LISBOA, 2008) através do empoderamento social, o político e o psicológico. Para (Lisboa, 2008) as principais características para estes tipos são: Social: acesso à informação, ao conhecimento e às técnicas e recursos financeiros necessários ao seu desenvolvimento. Supõe-se o efetivo acesso a instituições, serviços e capacidade de influência. 11 Psicológico: envolve o despertar da consciência em relação à sua autonomia e o seu desenvolvimento pessoal, decorrente da consciência individual de força. Nesse aspecto, supõe-se que, os sujeitos empoderados devem ter capacidades e recursos suficientes para controlar a sua situação de vida, contemplando as possibilidades que lhe serão apresentadas e o poder de escolher o que lhe trará ganhos efetivos e reais. Político: se reporta a um processo através do qual as decisões são tomadas; não se trata apenas do mero poder de votar durante as eleições e sim o poder de voz e de ações realizadas de maneira individual e coletiva que integra de forma efetiva as pessoas ao âmbito político, o qual implica, inclusive, no acesso a ocupação de cargos de representação e direção em seu local. Para que isto aconteça é necessária a ampliação dos acessos aos espaços políticos de representação social, de grupos e de demandas sociais, além do direito à voz na formulação de políticas públicas que implicam nas mudanças necessárias no meio do qual participam. 2.1.1 Necessidade de Empoderamento dos indivíduos e das comunidades vulneráveis A necessidade de empoderamento individual gera, segundo Moreira et. Al. (2012) uma melhoria na qualidade de vida, um maior grau de conscientização, autoestima e autoconfiança. Isto se reflete numa conjunção de atributos essenciais que conduzem ao empoderamento familiar, através do qual se gera de uma forma mais grupal a inclusão social, a educação e a capacitação, em função da cobrança familiar para uma inclusão no âmbito comunitário. Este se foca na conquista e na defesa de direitos coletivos, formação de grupos e organizações de apoio comunitário, associações e projetos sociais. Para Oliveira (2015) a parcela da população que não tem acesso a diversos serviços de responsabilidade do Estado precisa, mais do que as demais, superar a opressão e a desigualdade junto aos mais bem colocados nas cadeias e classes sociais. Nesse sentido, existe uma necessidade de realização de melhores práticas de processos que incentivem o fortalecimento das classes sociais, mas, faz-se 12 necessário um trabalho de organização de grupos e indivíduos, visando: uma maior capacitação para a tomada de decisão; uma percepção do indivíduo como ator social ativo com acesso completo às informações que fomentem a sua atuação junto à coletividade. Mas, sobretudo, é fundamental que os sujeitos visualizem novas formas de reflexão crítica para a realidade que o cerca, problematizando as demandas comuns ao cotidiano da população. 2.1.2 Protagonismo No projeto Educar para crescer, Costa (2014) explica que protagonismo é a capacidade real de se enxergar como agente principal da própria vida. Quando se cruza a necessidade de protagonismo com a necessidade de empoderamento, vê-se que ambos necessitam ser desenvolvidos de maneira conjunta e exige o trabalhar de características subjetivas fundamentais que poderiam ser desenvolvidas, inclusive nas escolas. Para Brener (2005) a palavra protagonismo origina-se do termo “protos”, que em latim significa principal, o primeiro, e de “agonistes”, que significa lutador, competidor. Vale citar que este termo, sempre foi muito utilizado pelo teatro para definir o personagem principal de uma encenação, foi incorporado à Educação por Antônio Carlos Gomes da Costa, educador mineiro que vem desenvolvendo uma nova prática educativa com jovens. Ainda na visão do projeto citado, pessoas que demonstram protagonismo normalmente responsabilizam-se por suas atitudes, comparam e pesam as suas ações em função às ações dos outros e expressam iniciativa e autoconfiança. Para o desenvolvimento de uma comunidade vulnerável, essa característica é necessária, já que o indivíduo protagonista acredita que pode ajudar a mudar o seu entorno, desprende um maior esforço, dedicação e vontade de aprendizagem contínua. Para Costa (2014) A aprendizagem é um rotina, um trabalho processual", lembra Luciana Barros de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Portanto, não há como nascer sabendo, e é aí que entra o protagonismo. Achando que tudo na nossa vida já está pronto e decidido pelos nossos traços (inteligência ou falta dela, coordenação motora ou falta dela), pelo destino e pelos outros, fica difícil aprender e crescer. Se, por outro lado, nos sentirmos como protagonistas da nossa vida, capazes de mudar e melhorar cada vez mais, os caminhos se abrem à nossa frente. 13 Tal pensamento reforça a necessidade de empoderamento, pois se para os mais favorecidos se faz necessário criar um sentido de protagonista, quanto mais para os menos favorecidos. Daí, então, considera-se a importância de delimitar o estudo ainda mais sobre o tema quando o mesmo se foca no protagonismo de jovens. 2.1.2.1 Protagonismo Juvenil Sobre protagonismo juvenil Brener (2005) explica que “dentro da ideia de protagonismo juvenil proposta por Gomes da Costa, o jovem é tomado como elemento central da prática educativa, que participa de todas as fases desta prática, desde a elaboração, execução até a avaliação das ações propostas.” É deste tipo de empoderamento que as comunidades têm precisado, um empoderamento que os incentive a participar do processo evolutivo de sua comunidade, livre de preconceitos e de estigmas. Feltes Filho (2013) explica, do ponto de vista jurídico, que “o público infantojuvenil é apto ao pleno exercício da cidadania de maneira a participar, integrar, opinar e, na maior parte das vezes, protagonizar as ações e debates que dizem respeito aos seus próprios direitos.” Para o autor este tipo de protagonismo, que envolve crianças e adolescentes, parte do ponto de vista de que estes sujeitos têm a competência para pensar, manifestar-se e agir, transcendendo os limites do seu entorno pessoal e familiar, influenciando, assim, os acontecimentos da sua comunidade. (alinhar ou justificar parágrafos) Assim sendo, desta maneira, a postura protagonista pode gerar mudanças decisivas na realidade social, política, cultural nas demais áreas onde este indivíduo encontra-se inserido. De modo geral, este protagonismo ocorre pelo envolvimento em processos de discussão, decisão e execução de ações. Portanto, para Costa (1996), a ideia central deste tema é que o protagonismo juvenil possa estimular a participação social real dos jovens, contribuindo assim, não apenas com o desenvolvimento pessoal dos atingidos, mas com o desenvolvimento das comunidades em que os mesmos residam. Dessa forma o protagonismo juvenil contribui para a formação de pessoas mais autônomas e comprometidas socialmente, com valores de solidariedade e respeito mais incorporados, o que contribui para uma proposta de transformação social. 14 Costa (1196) acredita que a educação deve levar em conta duas perguntas básicas: Que tipo de homem se pretende formar e que tipo de sociedade pretendese construir? Tais questionamentos deveriam ser melhor discutidos nas políticas públicas educacionais do contexto atual, tendo em vista os problemas encontrados cotidianamente e claramente percebidos como omissão de algumas políticas educacionais mais ativas e de caráter integrativo na sociedade. Sabe-se também que a formação humana é dada pelo meio de inserção e pela participação familiar. Sobre este tipo de participação observa-se que, em diversos casos, os laços familiares em áreas de maior vulnerabilidade tem se enfraquecido de maneira significativa, o que deve também ser uma preocupação para o desenvolvimento de políticas que favoreçam este meio de empoderamento. 2.1.3 Fortalecimento de Laços Os laços sociais podem ser observados, a partir de uma visão macro, através da teoria dos sistemas. Tal teoria reflete os impactos desta relação uma vez que a sociedade é um sistema integrado de estruturas e funções sociais (PARSONS, 1991). Parsons (1991), explica que o sistema social consiste na pluralidade de atores individuais que interagem entre si, assim aproximando-se da visão de pluralidade de Merton. Desta forma, os laços sociais fazem parte do sistema social, uma vez que conecta os atores individuais propiciando os processos de interação entre estes. No entanto, o sistema social não é apenas um aspecto da interação, tampouco apenas a constituição pelo ator. Assim, o sistema social pode ser considerado com uma estrutura de status o qual tem o ator inserido nas relações neste sistema como um todo (PARSONS, 1991). Um grande problema nos dias atuais são os enfraquecimentos dos laços sociais, principalmente os familiares, tendo em vista que, cada vez mais, os pais se afastam dos filhos por problemas diversos e os mesmos passam a receber uma educação fora de casa. Uma história comumente veiculada nos treinamentos da Associação objeto deste estudo chama-se “Agora não Bernardo”, do David McKee, e expressa muito bem esta relação. Na história a criança tenta o tempo todo falar com a sua mãe e com o seu pai e ambos o ignoram o tempo todo dizendo, agora não Bernardo. 15 Então, o Bernardo vai para a rua, é tomado “devorado” pelo espírito de um monstro e passa a agir como um monstro e mesmo assim os seus pais não percebem a mudança e o Bernardo, então, aceita a condição de monstro. Nesta história refletese a importância dos laços familiares e o papel dos pais nesta relação. Já o pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, possui um diálogo que remonta à tentativa de formação de laço entre a raposa e o próprio pequeno príncipe: __ O que quer dizer "cativar"? __ Tu não és daqui - disse a raposa. __ Que procuras? __ Procuro homens - disse o pequeno príncipe. __ Que quer dizer "cativar"? __ Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas? __ Não - disse o príncipe. __ Eu procuro amigos. __ Que quer dizer "cativar"? __ É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. __ Significa "criar laços"... __ Criar laços? __ Exatamente - disse a raposa. __ Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo... Portanto, o criar laços depende do cativar e, para cativar, a comunicação é imprescindível. Exupéry trata os anseios sociais de forma lúdica, mas, muito filosófica e deixa clara a necessidade de interação entre as pessoas e a busca dos indivíduos na criação de laços que possam ativar uma moral e hábitos coletivos. Outra metodologia social que pode desenvolver cidadãos mais proativos e protagonistas é a educação empreendedora, que, mesmo pouco difundida entre crianças e jovens, vem ganhando espaço nas agendas de algumas escolas, organizações sociais e de algumas poucas políticas educacionais públicas. 16 2.1.4 Educação Empreendedora O processo de desenvolvimento humano, vivenciados pelas nações na contemporaneidade, tem exigido mudanças nas formas de estimulo ao pensamento e à interação com o mundo, seja entre adultos, crianças e/ou jovens, onde os processos antes utilizados, passam a ser adaptados a novas realidades, novos pensamentos e novos modelos de vida. Não diferente das diversas áreas, a educação tem passado por um processo de remodelagem e inserção de padrões atualizados, onde, neste contexto, passa a valorizar a ideia de contribuição e mudança proativa nos ambientes aos quais os atores educandos estão inseridos, entrando assim, aspectos como, por exemplo, o empreendedorismo. Rodrigues e Azevedo (2003) salientam que “a postura do professor não seria mais a do catalisador do saber e da atenção, para ser o integrador, mediador, que instiga a discussão e o diálogo.” E o diálogo, passa a ser um dos catalizadores da proatividade dos temas abordados nos novos métodos de ensino. Empreendedorismo na educação significa valorizar os processos educacionais que estimulam o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões, de forma que ele possa contribuir com ideias para o mundo dos negócios e para o ambiente em que está inserido (BARRETTO apud. EXAME, 2013) O processo de valorização dos processos educacionais citado por Barreto diz respeito à inserção de técnicas de ensino e abordagens que direcionam ao pensamento e ao protagonismo empreendedor e segue padrões utilizados por países europeus em 50% de seus países. Referência no ensino de empreendedorismo no Brasil e autor dos principais livros da área, Fernando Dolabela, explica em seu site sobre o método de ensino do empreendedorismo infanto-juvenil chamado de pedagogia empreendedora conforme descrito A Pedagogia Empreendedora é uma metodologia de ensino de empreendedorismo para a Educação Básica: educação infantil até o ensino médio. Atinge, portanto, idades de 4 a 17 anos. É vinculada a tecnologias de desenvolvimento local, sustentável; por isto tem como alvo não só o indivíduo, mas a comunidade. Estimula a capacidade de escolha do aluno sem influenciar as suas decisões, preparando-o para as suas próprias opções. Trata o empreendedorismo como uma forma de ser e não somente de fazer, transportando o conceito que nasceu na empresa para todas as áreas da atividade humana. 17 Com este pensamento, observa-se que o empreendedorismo visa não somente criar cidadãos fazedores, executores ou repetidores, mas atores protagonistas, transformados em valores e atitudes, cujos pensamentos e suas percepções podem ser ampliadas nas visões local e global. Paulo Freire (1987) identifica em nossa sociedade dois tipos de atores vinculados ao posicionamento de poder, o sujeito opressor e o sujeito oprimido, onde o primeiro impõe padrões vivenciais sobre o segundo na busca pela manutenção de seu próprio interesse e uma forma, muitas vezes coercitiva, de poder como verdade absoluta e o segundo busca a mudança e a transformação social por meio de uma sociedade mais humanizada, onde este não anseia ser opressor do opressor, mas, ter um destaque protagonista em meio a uma sociedade capitalista extremamente desumanizada. Como forma de empoderamento sugere-se restaurar as relações sociais através da libertação dos alienadores, que bloqueiam, muitas vezes as ações e até mesmo seus sentimentos. O Brasil vive hoje um momento em que a própria sociedade tem podado ideias daqueles que são estigmatizados como inferiores, onde, estes, passam a se expressar menos, achando que o que vai dizer não faz sentido e o que sempre vem de classes superiores são a verdade, vindo, estas verdades de forma metodológica apenas pela transmissão unilateral de conteúdos, o que cria uma sociedade menos proativa e mais alienada. O que se percebe nos meios educacionais é que as classes superiores têm tido acesso a uma informação diferenciada, onde o lúdico se integra a uma visão empreendedora e de poder a qual se desenvolve desde a infância, não sendo apenas por aspectos tecnológicos, mas, por um incentivo maior pelas pessoas que estão em seu meio. Freire (1987) transfere esta visão político-social para uma visão educacional e, com isso aborda a importância dos processos pedagógicos não apenas como alfabetizador, mas como parte da construção de uma participação e formação política. A sua pedagogia do oprimido ensina que ninguém liberta ninguém e ninguém se liberta sozinho. Os atores de uma sociedade progressista se libertam 18 coletivamente em comunhão, onde as ações de desenvolvimento precisam ser conjuntas e, para isso necessita-se, muitas vezes, do auxilio de outros oprimidos. O processo de libertação não se trata de um mero ativismo, desorganizado e pontual, mas exige uma reflexão para uma transformação sustentada em princípios que sejam acompanhados e continuados. Para Freire a escola, ao seguir padrões de uma concepção bancária de educação (com o mero acúmulo de conteúdo por meio da transmissão professor/aluno) tem contribuído com a falta de empoderamento dos oprimidos. Para que uma criança, jovem ou adolescente passe a ter um incentivo à capacidade crítica e de reflexão deve ter acesso a pessoas com o pensamento e a missão de educar por meio de processos educacionais ativos, onde a capacidade de enxergar o mundo de maneira mais ampla seja utilizada. A contação de histórias se constitui num dos processos mais eficientes ao alargamento da percepção de mundo. E o mais importante na contação de historia é que não é apenas o ouvinte que aprende e reflete sobre valores, mas, aquele que conta também. Esta via de mão dupla transforma todos os envolvidos no processo de comunicação reflexiva. Os métodos atuais devem ocorrer de maneira horizontal, nos quais a construção do conhecimento origina-se de um processo dialogado. A contação de histórias consegue construir o pensamento e, em seguida, dialogar por meio de uma problematização e gerar, com isso uma evolução do ouvinte e do contador por meio da participação ativa de ambos. 2.1.4.1 Métodos de aprendizagem participativa no empreendedorismo Os métodos descritos neste item levam a uma abordagem acentuadamente humanista. Como exemplo básico, a pedagogia do empreendedorismo, método este que elege como tema central não o enriquecimento pessoal, mas a preparação do indivíduo para participar ativamente da construção do desenvolvimento social, com vistas à melhoria de vida da população e eliminação da exclusão social, conforme cita o formulador do método, o Dolabela. Dolabella (2015) destaca que a metodologia chamada pedagogia do empreendedorismo deve utilizar o professor da própria instituição à qual a criança ou o jovem está vinculado, podendo assim, no caso de ONG’s de leitura e contação de 19 história, os próprios voluntários atuantes, devidamente capacitados, onde serão utilizados os conhecimentos já dominados por eles. Para definir o método, Dolabella descreve, em lista, as principais características utilizadas na metodologia, mas que pode ser compreendida e comparada com as técnicas de contação de histórias, porquanto o debater e o brincar acontecem da seguinte maneira: É voltado para a prática, sendo de fácil implementação; A prática pode ser desenvolvida inclusive quando se incentiva a participação do sujeito em ações de comunicação oral, onde, através da fala e da exposição, inclusive em grupo, pode-se levar o mesmo a participar coletivamente com a leitura e com a própria contação de história do ouvinte. Contadores de histórias profissionais como Camilo (2013) cita que “quem conta história é o primeiro a ouvi-la” e esta ação pode ser percebida tanto do ponto de vista da criatividade como pelo próprio processo de empoderamento literário. Não se trata de uma receita, um passo a passo: a metodologia é recriada pelo professor na sua aplicação, respeitando a cultura da comunidade, dos alunos, da instituição, do próprio professor; Deve-se entender que cada indivíduo e cada grupo têm características diferentes a ser explorada e cabe ao educador identificar estas características e desenvolver o processo de maneira personalizada. Possui material didático específico e inédito, construído inteiramente para a realidade brasileira; Atualmente existe uma gama muito grande de materiais específicos para o desenvolvimento das características empreendedoras e cabe aos educadores, aos contadores de histórias e seus grupos; Agente de mudança cultural; Neste aspecto já inicia a percepção no método da característica de agente de transformação, habilidade fortemente atrelada ao indivíduo empoderado. Permite a rápida disseminação da cultura empreendedora, sendo concebida para ser aplicada em larga escala, com alta dispersão geográfica; (...) 20 A disseminação da cultura empreendedora e de protagonismo, quando disseminada de maneira correta, pode transformar localidades vulneráveis inteiras e ter uma escalabilidade auto promovida pelos próprios agentes transformados. (...) a comunidade participa intensamente, como educadora e educanda; Este tipo de ação poderia ser acompanhada pelos próprios agentes educadores de modo a elevar a participação dos moradores de comunidades vulneráveis e a própria troca surgir de maneira espontânea. Considera a escola como umas das referências de comunidade; Por isso, muitas organizações, a exemplo está a organização objeto desta pesquisa, que vincula as suas atividades a crianças que estejam em plena comunhão com a sua escola local. é geradora de capital humano e social; As características acima são fundamentais na educação empoderadora e através das histórias e suas morais podem ser difundidas de maneira pedagógica e com acompanhamento de atores transformadores. apoia-se na geração do sonho coletivo, na construção do futuro pela comunidade; tem como alvo a construção de um empreendedorismo capaz de gerar e (principalmente) distribuir, renda conhecimento e poder. Tanto o sonho, quanto o conhecimento e o saber são fatores chaves das ações de instituição que trabalham com o lúdico, especialmente com a contação de histórias. O mais interessante, neste método é poder identificar que o objetivo não é econômico, mas, social, onde visa a transformação de um indivíduo em alguém melhor e que pode ser inserida com diversos padrões metodológicos, inclusive de contação de histórias. 21 2.2 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO EMPODERAMENTO SOCIAL DO INDIVÍDUO Para a Dra. Emília Cipriano, em epígrafe ao livro Invenção de Palavras “O contar histórias é uma forma de expressão que, desde os primórdios da comunicação, sempre fez parte da vida humana; se faz presente por meio da linguagem do desenho, da linguagem corporal e da linguagem oral.” Portanto, sendo uma forma de comunicação, pode ser usada como forma de instruir ouvintes por meio de diversas técnicas. Ainda na epígrafe, vê-se Cipriano descrevendo dois tipos de histórias, as reais e as de ficção, onde, para ela as primeiras são pautadas no desenvolvimento social, e observa-se sempre um trato com os resgates históricos, os conhecimentos acumulados historicamente, costumes e memórias de comunidades, conquistas, derrotas, erros, perversidades, respeito e desrespeito aos semelhantes e aos antagonistas. Já as segundas, de ficção, são escritas e contadas pelo imaginário humano onde, comumente, trazem a criação de deuses, mitos, fadas, duendes, bruxas e bruxos de reinados de encantamento e sonhos em que se destacam simbólicos reis e rainhas, príncipes e princesas, heróis e heroínas, vilões e vilãs, representando o desejo humano de bondade, justiça, conquistas, exemplos de caminhos e respostas repletas de finais humanizados. Em sua descrição Cipriano explica que “os antigos e os povos indígenas sentados em roda de conversas desenvolveram o ato de contar histórias de forma narrativa, valorizavam as tradições e os bons exemplos, e tinham como objetivo levar mensagens para a reflexão de lutas do bem contra o mal.” No cotidianos atual este tipo de prática ainda marca presença nas relações familiares, escolares e com pessoas que a desenvolve por meios diversos e muito dificilmente deixará de existir. Sabe-se pela história da comunicação que o método empoderador defendido nesta dissertação – a contação de história mediada - não é novo, mas tem sido novo na vida de atores que não o têm normalmente e reflete os aspectos da educação de crianças, jovens e adolescentes – esses que representam o futuro de seus locais por meio de uma linguagem lúdica, onde leitura e contação de histórias passam a fazer parte da realidade desses que antes não tinham acesso a esta prática, mas 22 que controladamente podem passar a levá-los a uma reflexão de mudança quando se envolve o lúdico em temas importantes e sérios. Quando se observa que as práticas de leitura e contação de histórias, não são comuns nessas comunidades, surge a necessidade de intervenção de agentes externos que, por meio de projetos ou movimentos sociais, interagem com o meio transformando-o em algo melhor e, com isso, os beneficiários, ao receberem um empoderamento empreendedor podem tornar-se replicadores do método e escalar a mudança local. A contação de história é um método pedagógico importantíssimo para o processo construtivo da aprendizagem humana, utilizado desde os primórdios da humanidade. O método de contar histórias é de fundamental importância para o processo de construção da aprendizagem, por estimular a criatividade, imaginação instigando os educandos a refletirem sobre o assunto trabalhado. Entretanto, ainda encontramos profissionais da educação que realizam essa prática sem nenhuma fundamentação, objetivo, apenas como um passatempo ou relaxamento. A arte de contar história está para além de uma distração, visa introduzir o aluno ao mundo diversificado através do seu imaginário. Trata-se de um costume antigo que por muitos séculos nos remonta as memórias vivas de um povo, perpassadas entre as diversas gerações através da oralidade. (SILVA, SOUZA & DUARTE, 2013) ver norma O estímulo à criatividade é algo de grande relevância no processo de formação empreendedora, e, para isto, a técnica de leitura, complementa o processo construtivo do indivíduo socialmente ativo e não deve ser realizado sem objetivos, para isto, o desenvolvimento de características personalizadas, podem ser utilizadas para direcionar o tipo de conhecimento pretendido. No processo educacional é de fundamental importância que o contador de história, estando ele em um ambiente escolar ou não, conscientize os alunos a não serem apenas receptores de conhecimento, mas, que sejam buscadores da interação com a história contada. FREIRE (2011 p.56) afirma que “Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mais criar as possibilidades para a sua própria produção ou construção” e por isso, trata da importância do processo de construção. 23 2.2.1 A importância da contação de história na formação de protagonistas A importância da contação de história no processo de formação do indivíduo decorre da sua capacidade de estimular os diversos sentidos do indivíduo que a recebe, onde as ideias podem ser remodeladas e atitudes incentivadas, tendo em vista a exemplificação de padrões de comportamentos por personagens referência. Na intenção de constituir um ser social, as histórias da literatura infantil, através da contação de histórias, estimulam o desenvolvimento intelectual, promovendo ideias e atitudes positivas que contemplam a formação de posturas e habilidades que contribuem para a formação pessoal e social. (SANTOS, 2011, p.06) Por meio da contação de histórias infanto-juvenis e dos diversos contos de fadas, tem-se a oportunidade de representar papeis e cenas do dia-a-dia, tomando posições decisórias e solucionando os problemas comuns de maneira livre, sem que haja uma intervenção das pressões da realidade, podendo ainda experimentar outras formas de ser e de pensar (BRASIL, 1998). Isso possibilita que a criança invente o seu próprio mundo, descobrindo respostas a dúvidas comuns, sendo utilizadas de forma fantasiosa revelando situações que levam a liberar todo um imaginário, ao pensamento e ao desenvolvimento pessoal, reconhecendo suas emoções, possibilitando novas vivências relevantes para o processo de socialização e empoderamento. A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual pertence. As instituições de educação infantil podem resgatar o repertorio de histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes que frequentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas, contribuindo na construção da subjetividade e da sensibilidade da criança. O processo de identificação de ações nas histórias serve, também, para que a criança tenha referências do que fazer diante de situações parecidas ou idênticas à ocorrida nos contos, estabelecendo uma forma de pensar e agir diferentes dos seus e podem ser desenvolvida por histórias que a mesma ouve com repetições ou não. Histórias que instruem, renovam e curam proporcionam a alimentação vital para a psique, que não pode ser obtida de nenhuma outra maneira. Histórias revelam, repetidamente, a aptidão peculiar e preciosa que os humanos possuem para obter êxito nas tarefas mais árduas. Elas fornecem todas as instruções essenciais que precisamos para ter uma vida útil, necessária e irrestrita, uma vida significativa, uma vida que vale a pena ser lembrada. (ESTÉS, CONTRACAPA, 1998) 24 O mais interessante é que a história não tem efeito único, ela pode, por exemplo, servir para enfatizar mais uma mensagem, ampliar o conhecimento e tem quem use, inclusive de modo a acalmar os ânimos e a ansiedade, pois a mesma prende a atenção e educa. Há quem conte histórias para enfatizar mensagens, transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de chantagem - se ficarem quietos, conto uma história, se isso¨, ¨se aquilo...¨- quando o inverso que funciona. A história aquieta, serena, prende a atenção, informa, socializa, educa. (COELHO, 1999, p.12). Mas a história não deve ser contada de todo jeito, pois ela precisa ser desenvolvida de modo que prenda a atenção do ouvinte, entretenha-o e gere curiosidade através do mundo imaginário. Para que a história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer a sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar em harmonia com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam. (BETTELHEIM, 2009, p.11) A história trabalha tanto o lado emocional, quanto intelectual do indivíduo e possui impactos diversos em atores diversos e quando contada de formas distintas, sejam esses impactos de forma direta ou indireta. 2.2.2 Impacto direto e indireto da contação de histórias e os segredos para uma boa contação de história A contação de história possui impactos diretos e indiretos, tanto ao que ouve, quanto ao que conta as histórias. Para Cipriano (2013) “Muitas histórias e contos de outros tempos atravessaram espaços, mundos e culturas e ainda estão presentes nas performances dos contadores de histórias.” Neste aspectos existem milhares de contos que não perderam a sua moral e suas origens, mas que foram se adaptando ao longo dos tempos e que são comumente usados nas ações de educação e empoderamento nos métodos atuais. Ainda para a estudiosa As historias têm um papel considerável para o desenvolvimento da criança e trazem em seus enredos princípios de organização da construção do pensamento, da ideias, da fala, de efetividade, de sentimentos, além de prazerosas viagens por mundos de encantamento com finais felizes e repletos de valores significativos. Ao falar de desenvolvimento da criança com o uso da construção de pensamentos e outros fatores ligados a valores, existe uma ligação direta com as 25 políticas educacionais instituídas por Paulo Freire, principalmete no que diz respeito à Pedagogia do Oprimido. Para Cipriano (2013) “a história tem um valor significativo no tocante à interação, o contar solicita do ouvinte o envolvimento dos cinco sentidos. Porque além do ouvir, leva à imaginação.” Em sua escrita a pesquisadora ainda explica que os contos podem favorecer o desenvolvimento de debates, explicitação de conceitos desconhecidos, exercícios cognitivos vinculados à memória, à imaginação, à abstração, à revisão de posturas, à aceitação dos diferentes e, principalmente, à motivação para a leitura. Nesta visão as histórias constroem um olhar sobre as múltiplas dimensões da vida. É uma ferramenta que liberta, amplia o olhar, reconstroi idéias, desconstroi preconceituosa busca eterna da felicidade. Os contos são sementes de palavras, significados e valores do ontem e di hoje que florescem nas primaveras das vidas humanas. (Cipriano, 2013) Mendonça (2007) em sua pesquisa explica que o impacto que as histórias podem causar em uma criança, pode ser bem mais intenso e durável que os instrumentos usados. A força de apresentação e estrutura de cenário mais lúdico devem ser pensadas e aplicadas de maneiras diferenciadas, que chamem a atenção, usando o máximo possível da ludicidade e da criatividade, em um clima livre, que favoreça a acomodação da criança. Estés (1998) percebe outros fatores importantes da contação de história e de sua origem, tais como o seu poder curativo, onde a mesma chega a considerar a história como remédio É preciso que se saliente também que muitos dos remédios, ou seja, histórias mais poderosas surgem em decorrência de um sofrimento terrível e irresistível de um grupo ou de um indivíduo. Pois a verdade é que grande parte da história deriva da aflição. Deles, nossa, minha, sua, de alguém que conhecemos, de alguém que não conhecemos e que está distante no tempo e no espaço. E no entanto, por paradoxal que seja, essas mesmas histórias que brotam do sofrimento profundo podem fornecer as curas mais poderosas para os males passados, presentes e futuros. (ESTÉS, 1998, p.10) Muitas vezes a compreensão de uma história é emocional e/ou cognitiva, e pode ajudar o ouvinte a entender a sociedade ou, até mesmo, a si própria. Portanto pode se dizer que a contação de histórias é um forte instrumento pedagógico, na 26 medida em que pode até responder às principais dúvidas da criança, do jovem e ou adolescente sobre questões como vida, sexualidade, medo, morte, etc. Ainda para Mendonça (2007), quanto à criança, sujeito em fase de formação que necessita muito de parâmetros já existentes, deve haver uma preocupação real para que este ato seja constante e não só porque executá-lo é o início da aprendizagem para ser leitor. A história, junto à leitura provoca a imaginação e trabalha fortemente a criatividade. Um dos impactos diretos da contação de história é o prazer dado na hora da leitura, do momento da viagem literária, quando ela se apresenta como fonte de prazer e encantamento pela vida. Através das histórias o ouvinte pode descobrir o mundo imenso de conflitos e soluções, pode sentir novas e diferentes emoções, conhecer novos lugares, formar opiniões, critérios, conceitos e novos valores. Para contar uma história é preciso saber, afinal podem se descobrir sons e palavras novas, e por isso é importante que se tenha uma metodologia específica. Mas aprender a contar história vem do próprio contar história, pois, como diz alguns contadores de história. Uma boa história é aquela que se aprende contando. Ribeiro (2010) explica que a contação de história na Educação Infantil estimula a curiosidade na criança, desperta o imaginário, a construção de ideias, expande seus conhecimentos e faz com que ela vivencie situações de alegria, tristeza, medo, entre outros, ajudando à resolver esses conflitos e criando novas expectativas. O interessante, na prática, é perceber que mesmo o adulto passa a vivenciar as histórias como uma própria criança e obter o mesmo benefício que as mesmas. Já para Bettelheim (2009), as histórias representam, de forma imaginativa, aquilo em que consiste o processo sadio de desenvolvimento humano. Ainda para Ribeiro (2010) o conto não poderia ter seu impacto psicológico sobre a criança se não fosse primeiro e antes de tudo uma obra de arte. O ato de narrar histórias além de trabalhar a emoção é também uma atividade lúdica que socializa, educa e informa. A contação de histórias desenvolve a capacidade cognitiva nas estruturações mentais das crianças, fornece elementos para a imaginação, estimula a observação e facilita a expressão de idéias. No cotidiano da Educação Infantil a narração de histórias pode ser um excelente instrumento de trabalho para o professor, um novo caminho para 27 a aprendizagem da criança e, consequentemente, para a formação de um aluno leitor. A socialização, a educação e a informação são prerrogativas básicas na formação de um indivíduo proativo e pode, com isso, gerar uma sociedade mais sadia. Quando estas características se unem ao poder de observação, expressão e imaginação pode fazer do indivíduo alguém mais pensante e inconformado com a mediocridade social. Ribeiro (2010) ainda afirma que “é preciso que quem conte, crie um clima de envolvimento, de encanto, e saiba dar pausas necessárias para que a imaginação da criança possa ir além” Para Abramovich, 1997, p.20) “... construir seu cenário, visualizar seus monstros, criar os seus dragões, adentrar pela sua floresta, vestir a princesa com a roupa que está inventando, pensar na cara do rei... e tantas outras coisas mais...” Seguindo com o estudo de Ribeiro (2010) vê-se que, antes de tudo, deve haver uma preparação, das crianças, feita pelo próprio professor ou contador de histórias, indagações e estímulos para aguçar a criatividade delas antes mesmo da história começar, assim elas sentem-se convidadas e ainda mais ligadas à história que irão ouvir. Vale salientar que o planejamento das atividades lúdicas deve se preocupar com os recursos e acessórios que serão utilizados. Fantoches, dramatizações, exposições de figuras ou mesmo do livro que se está lendo, irão complementar a formação da interpretação moral da história contada. Mas tudo de forma muito criativa e que prenda a atenção dos educandos. Diante do mundo que existe ao redor da criança, com jogos sonoros, cores, brincadeiras com rimas e palavras cabe ao professor buscar sempre mais para ilustrar essas atividades. Contar histórias é saber criar um ambiente de encantamento, suspense, surpresa e emoção, onde enredo e personagens ganham vida, transformando tanto narrador como ouvinte. Deve impregnar todos os sentidos, tocando o coração e enriquecendo a leitura do mundo na trajetória de cada um, isto é, aguçar a imaginação, os sentidos, ao mesmo tempo estimular a cognição. Ribeiro (2010) monta uma lista com os segredos que deverão ser observados por um bom contador de histórias, são eles: 28 a) Curtir a história – para que um beneficiário goste da história o contador deve ser o primeiro a curtir e acreditar no poder de sua história, envolver-se e vibrar com a mesma. Se o contador de história mediador não se interessar, dificilmente conseguirá interessar os ouvintes. b) Evitar adaptações – deve-se ler o que está escrito no livro e, por isso, deve-se ler as histórias antes mesmo de contar para que não aconteça do contador não curtir a historia. Salienta-se que não se deve privar os alunos do contato com o texto literário e de perceber que os velhos contos de fadas são histórias repletas de fantasias e de muita poesia. As histórias costumam lidar com os sentimentos fundamentais do ser humano, sentimentos como o medo, o amor, a angústia e o ódio e permitem à criança o exercício por meio da imaginação. Permitem, também, formular soluções para problemas concretos da vida, que interessam ao adulto. c) Não explicar demais – Explicar demais tira o lúdico da história, passa a ser uma aula e descaracteriza a história na vida da criança. Diversas vezes, a história tem uma função de desenvolver o mistério e o imaginário. Ao fazer a tradução ou adaptação, o professor deixa tudo muito bem esclarecido, não restando qualquer mistério. d) Uma história é um ponto de encontro – ao entrar numa roda de história, a criança participa de uma experiência de criação e fortalecimento de laços que geram ligações com as outras crianças. e) Uma história também é um ponto de partida para outras atividades: desenho, massa, cerâmica, teatro ou o que a imaginação sugerir, tais atividades facilitam a canalização da moral e fixação da mesma. f) Comentar a história – seja o contador comentando ou fazendo perguntas diretas para o beneficiário, pode se verificar se ele figurou bem cada um dos caracteres, se os moldou de acordo consigo mesmo. g) Dar modalidades e possibilidades da voz – falar conforme o personagem fala, sussurrar quando o personagem sussurra ou até mesmo gritar quando ele grita, além de usar, humoradamente, as onomatopeias, os ruídos, os espantos, levantar a voz quando uma algazarra está acontecendo. 29 Para Ribeiro (2010) “É fundamental dar longas pausas quando se introduz o “Então...”, para que haja tempo de cada um imaginar as muitas coisas que estão para acontecer em seguida, e, através da imaginação, fixar os principais conceitos e contextos pretendidos na história.” Diversas são as organizações sociais vinculadas ao terceiro setor brasileiro que tem atuado com a contação de história e ai, surge a necessidade de interpretar quais são os principais aspectos que tornam importante a vinculação de organizações sociais na formação de sujeitos protagonistas por meio de atividades de contação de história. 2.3 A IMPORTÂNCIA DO TERCEIRO SETOR E DOS NEGÓCIOS SOCIAIS NA FORMAÇÃO DE INDIVÍDUOS EMPODERADOS O terceiro setor representa um modelo de atuação pública não-estatal, formado pela iniciativa privada, voluntária, sem fins lucrativos, no sentido da realização do bem comum em referência suplementar à atuação estatal. [...] agregam-se, estatística e conceitualmente, um conjunto altamente diversificado de instituições, no qual incluem-se organizações não governamentais, fundações e institutos empresariais, associações comunitárias, entidades assistenciais e filantrópicas, assim como várias outras instituições sem fins lucrativos. (BNDES, 2001, p.04) Sendo assim, percebe-se que este tipo de iniciativa visa, também, o desenvolvimento local de maneira amplamente sustentável, pois cada comunidade pode ser beneficiada e/ou criar as suas próprias organizações em prol do bem comum de sua comunidade. Gohn (2004) destaca que “a participação da sociedade civil não pode, nunca, se resumir à participação nos espaços dos conselhos ou outros criados na esfera pública.” Cabendo, então, à sociedade civil, desenvolver ações mais práticas no desenvolvimento da sociedade. A autora explica ainda que se trata de um processo com capacidade de gerar desenvolvimento autossustentável, através da mediação de agentes externos - os novos educadores sociais – agentes fundamentais na organização e no desenvolvimento de cada projeto. O novo processo tem ocorrido, predominantemente, sem articulações políticas mais amplas, principalmente com partidos políticos ou sindicatos. Nestes casos, vê-se, também, a grande importância da participação das Organizações sem 30 fins lucrativos (ONG), assim como, dos negócios sociais, que, de acordo com o Portal Brasil (2012), entende-se por “empresas que geram lucro e oferecem produtos e serviços que melhoram a qualidade de vida da população excluída.”. Porém, quando se observam os dados sobre a população brasileira, mesmo sabendo-a amplamente empreendedora, não se entende de maneira efetiva a lógica do modelo de negócios sociais, seus benefícios e como pode ter suporte das políticas públicas na geração de melhoria da qualidade de vida neste país. Ainda de acordo com o portal, além de lucro, estas iniciativas buscam desenvolver a sociedade através de mecanismos de mercado para, por meio da sua atividade principal, buscar as soluções de problemas. Mesmo estando em um país empreendedor, não se vê muitos empreendimentos sociais estruturados com a verdadeira lógica dos diferentes setores econômicos do segmento na intenção de ofertar produtos de qualidade à população excluída do mercado tradicional, ajudando no combate à pobreza e diminuição drástica da desigualdade, com inclusão social, geração de renda e qualidade de vida, como deveria e, consecutivamente, vê-se uma baixa formação de gerações, que encontram-se em ambientes de alto risco criminal, sendo protagonistas e transformadoras de sua própria história. Com isto, vê-se a necessidade do aumento no número de pessoas e iniciativas ligadas ao desenvolvimento da educação e além de uma melhor estruturação dos modelos de gestão, o que tem ocorrido, mesmo que de maneira paulatina. Porém, o baixo índice de procura a orientações e de entendimento da mecânica de funcionamento e capitação de recursos, tem gerado descontinuidade neste tipo de formação individual. De acordo com Brasil (2014) este tipo de negócio com impacto social tem aumentado em todo o país, cada vez mais desenvolvido por uma geração empreendedora que pauta sua estratégia em valores sustentáveis. Algumas instituições têm colaborado para a conceituação e fomento deste novo modelo de negócio, entre elas estão a organização internacional Artemísia, a Ashoka, pioneira no campo da inovação social, e a Fundação Schwab, responsável pelo prêmio Empreendedor Social no Brasil, sendo estes alguns dos órgãos que estimulam o desenvolvimento destes negócios no Brasil. 31 2.3.1 Perfil histórico do empreendedorismo social no Brasil Foi por volta do final do século XIX que as entidades sem fins lucrativos passaram a ter uma participação mais ativa na sociedade brasileira. Quando, mais especificamente, houve um processo de formação e consolidação das organizações não governamentais (ONGs), hoje presentes no cenário nacional, nas décadas de 60 e 70, épocas estas marcadas pela restrição político-partidária imposta pelos governos militares da época, mas foi no período compreendido entre as décadas de 80 e 90 (século XX), que as mesmas mais cresceram e se tornaram visíveis. Apesar da evolução recente, as ONGs tiveram papel relevante enquanto catalisadoras dos movimentos e aspirações sociais e políticas da população brasileira. Só em meados dos anos 90 que as empresas do segundo setor passaram a apoiar, com maior seriedade, estrutural e financeiramente estas organizações, mas, ainda assim, grande parte das empresas criavam suas fundações e institutos, o que passou a gerar instituições mais fortes, para fomentar este tipo de ações. Em meados dos anos 90, deu-se a entrada organizada do setor empresarial em programas e projetos sociais, especialmente através de suas fundações e institutos associados, representando a inserção da visão de mercado no terceiro setor e novas possibilidades de parcerias e de fontes de recursos para as instituições atuantes na área. O modo de atuação empresarial e também o novo marco legal para o setor (como veremos a seguir) – que introduz uma qualificação jurídica específica e novas formas de regulação para a interação com o Estado – reforçaram a tendência de modernização e de aumento da profissionalização para as instituições integrantes do setor, que passaram a investir na aquisição de atributos que confiram melhorias de qualidade, transparência de ação e resultados (inclusive auditorias externas), aumento da visibilidade e da credibilidade e identificação de novas estratégias de sustentabilidade e financiamentos. (BNDES, 2011) Outro fator importante neste momento histórico, foi o cuidado na criação de cursos e instrumentos de apoio, que passaram a ajudar os empreendedores sociais, na luta pelo melhor planejamento estratégico das organizações e ações de marketing, o que facilitou, para alguns, o acesso a fontes de financiamento. Destaca-se, nessa década, a criação de vários cursos e instrumentos voltados para o planejamento, a gestão e o marketing de instituições do terceiro setor; para estratégias de captação de recursos; para sistematização de metodologias utilizadas nestas instituições; para a divulgação e avaliação das experiências (metodologias e instituição de prêmios), por exemplo. Na década presente, assiste-se ao desenvolvimento e ao debate das tendências acima referidas, relativos ao papel social que lhes cabe, seus desafios, limites e potencialidades. (BNDES, 2011) Ainda assim, vale ressaltar que o empreendedor social, tem uma característica maior para a ação do que para a capacitação, o que os distancia 32 destes modelos metodológicos de ensino, o que é bastante prejudicial até os dias de hoje e leva diversas organizações não serem sustentáveis e fechar suas portas. Já no final da década de 90, a Lei 9.790, de março de 1999, chamada de novo marco legal do terceiro setor, introduz importantes alterações no segmento, dentre as quais se destacam: Os novos critérios de classificação das entidades sem fins lucrativos de caráter público, inclusive reconhecendo outras áreas de atuação social antes não contempladas legalmente; As novas possibilidades no sistema de articulação entre as instituições de direito privado e público; A possibilidade de remuneração dos dirigentes das instituições sem fins lucrativos. Ainda de acordo com o BNDES (2011) É bom lembrar que apesar das mudanças significativas, as qualificações anteriores das instituições do terceiro setor - certificado de fins filantrópicos e título de utilidade pública federal - continuam vigorando concomitantemente. A fim de qualificar juridicamente as organizações do terceiro setor, a nova lei criou a figura da “Organização da Sociedade Civil de Interesse Público” (OSCIP), título que objetiva diferenciar aquelas instituições privadas de interesse público. Então, o banco informa que quando se tornam uma OSCIP, as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, qualificadas com base em outros diplomas legais - título 3, geram o fortalecimento da sociedade civil, interlocução política e realização de programas inovadores. Um dos exemplos destacados pela instituição é o dos programas de alfabetização de jovens e adultos e de capacitação de jovens - de utilidade pública e certificado de fins filantrópicos - que terão que atender a requisitos pré-estabelecidos em lei. Destaque-se também que a mudança da conformação jurídica das instituições é opcional e não significa perda dos benefícios fiscais já usufruídos. Para aquelas que optarem pela mudança, será assegurada a manutenção simultânea das qualificações (da antiga e da nova lei) por um prazo de cinco anos. Ademais, mesmo a qualificação como OSCIP não dispensa, para a utilização de benefícios fiscais, o credenciamento junto aos órgãos governamentais: registro de Declaração de Utilidade Pública Federal, concedida pelo Ministério da Justiça, e registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), vinculado ao Ministério da Previdência, para obtenção do Certificado de Fins Filantrópicos. (BNDES, 2011) 33 Ressalta-se que as organizações que realizam assistência social, atividades culturais, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico, educação e saúde gratuita, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do voluntariado, dentre outras podem ser qualificadas como OSCIP. E, dessa forma, admitindo a existência de entidades de direito privado com objetivo público, não foram beneficiadas as organizações de mercado, as cooperativas, as organizações sindicais, as entidades representativas de profissão ou partido político, os fundos de previdência e de pensão e as instituições vinculadas a igrejas ou práticas devocionais, com exceção daquelas que visam apenas o bem comum. Esta possibilidade passou a viabilizar muito mais as iniciativas sociais e fortaleceram as instituições abrangidas pela lei, que, tornando-se OSCIP, passaram ou poderão passar a ter mais benefícios e incentivos para desenvolvimento dos locais através de iniciativas suplementares às de responsabilidade do estado. 2.3.2 Funcionamento de negócios sociais e do terceiro setor, no segmento de contação de história, leitura e do brincar Os negócios sociais no Brasil têm suas atividades regidas pelo seu estatuto, documento que formaliza a missão e características de atuação desta organização. Estes tipos de organizações são constituídos como associações civis, sem fins econômicos, regidas pela legislação local e federal em vigor, por deliberação de uma assembleia Geral e da diretoria pré-estabelecida em ata. De acordo com o Estatuto da Associação Empreendeler (2015) Costumam ter como objeto a realização de obras de caráter assistencial, cultural, educacional e artístico destinadas à criança, podendo desenvolver obras próprias ou contribuir com recursos materiais e humanos para idênticas obras, mantidas por instituições dedicadas aos mesmos fins, promovendo as ações necessárias para atingir esse objetivo, tais como: Promover atividades culturais, educacionais, literárias, cênicas, plásticas, musicais, audiovisuais e outras afins que auxiliem o desenvolvimento e promovam a recuperação de crianças em fase de internação, recuperação hospitalar, período escolar, internação em orfanato, lar de acolhimento ou creche; a. Desenvolver projetos artísticos, culturais e educacionais, através de livros, audiovisuais e outros meios similares, junto a entidades assistenciais e hospitais, bem como quaisquer outros locais identificados com a finalidade da Associação (...); b. 34 Promover a formação de centros de cultura, arte e educação para pesquisa, estudo, desenvolvimento e treinamento das técnicas utilizadas nos serviços prestados pela Associação (...); d. Pesquisar, difundir e aplicar novas técnicas de comunicação, expressão, linguagem e representação aplicáveis à arte, à cultura e à educação na finalidade objetivada pela Associação (...); e. Promover intercâmbio e treinamento de profissionais, em geral dedicados às finalidades pretendidas pela Associação (...); f. Manter centros culturais e de estudos, e cursos de formação e orientação, bem como projetos de atendimento a entidades identificadas com os objetivos da Associação (...); g. Promover a interação de voluntários, profissionais, empresas e instituições públicas e privadas visando à realização de obras assistenciais, culturais, educacionais, artísticas e de benemerência objetivadas pela Associação (...); h. Celebrar contratos, termos de parceria e convênios de cooperação técnica, cultural, educacional, artística e financeira com instituições públicas e privadas; i. Executar quaisquer outras atividades compatíveis com as finalidades da Associação (...) que permitam o cumprimento dos propósitos por ela almejados. (EMPRENDELER, 2015, p.03) j. A dedicação às atividades previstas configura-se mediante a execução direta de projetos, programas e/ou planos de ação; doação de recursos físicos, humanos e/ou financeiros aos projetos e programas sociais aprovados; ou, ainda, pela prestação de serviços a outras organizações, sem fins lucrativos, e a órgãos do setor público que atuem em áreas afins. Ainda de acordo com a AEL (2015) a mesma poderá alienar ou dispor dos produtos e serviços decorrentes das atividades relacionadas, sendo todos recursos ou resultados operacionais obrigatoriamente aplicados na consecução de seus objetivos institucionais, e, em nenhuma hipótese os resultados poderão ser distribuídos entre os associados, conselheiros, instituidores, benfeitores ou qualquer outra pessoa física ou jurídica ligadas à mesma, direta ou indiretamente. Geralmente, as associações poderão, para atingir seus objetivos, celebrar termos de parceria e outros acordos com o Poder Público, entidade privadas e organismos internacionais. Quanto ao desenvolvimento de suas atividades, as associações deverão observar os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e eficiência, e não fará qualquer discriminação de raça, cor, sexo ou religião e têm objetos e normas exigidas na construção de seu estatuto que devem ser observadas pelas iniciativas sociais. 35 2.3.2.1 Principais pontos de um estatuto exigido em organizações sociais de empoderamento por meio da contação de histórias, um exemplo da Associação Empreendeler Deverá ser estabelecido em estatuto os procedimentos relativos às práticas de governança e gestão que visem a transparência e a coibição a práticas de retiradas financeiras indevidas por parte dos gestores e dirigentes. A Associação EmpreendeLer adotará práticas de gestão administrativas, necessárias e suficientes, a coibir a obtenção, de forma individual ou coletiva, de benefícios e vantagens pessoais pelos dirigentes da entidade e seus cônjuges, companheiros e parentes colaterais ou afins até o terceiro grau e ainda pelas pessoas jurídicas dos quais os mencionados anteriormente sejam controladores ou detenham mais de cinqüenta e um por cento (51%) das participações societárias. (EMPREENDELER, 2015) Além disso, deverá ser estabelecido o prazo previsto de existência da organização, onde o princípio da continuidade sempre deve ser levado em questão e no caso da Associação em questão, o seu artigo 06 aponta que a mesma terá como prazo de duração um período indeterminado, pois o seu objetivo é a permanência das ações ao longo de anos, sem previsão de termino. Como a organização está constituída como associação, existem regras sobre a vinculação de associados, onde, no artigo 7° indica que o número de associados é ilimitado e que pessoas de qualquer natureza jurídica possam vincular-se como associados podendo contribuir com a mesma através de doações regulares e periódicas ou através da prestação de serviços efetivos e voluntários. Artigo 7º O número de associados é ilimitado. Poderão fazer parte da Associação EmpreendeLer, como tal, quaisquer pessoas, físicas ou jurídicas, que para ela contribuam com doações regulares e periódicas ou ainda que lhe prestem serviços efetivos e voluntários. Tais associados podem ser definidos em categorias, tais como associados fundadores, associados efetivos, associados voluntários, associados mantenedores, tendo, todos, como dever, respeitar o estatuto e as decisões da diretoria, assembleia geral e conselheiros. Quando não for observado este dever ou se o associado apresentar procedimentos que venham a se tornar visível e notoriamente inconveniente, ou mesmo se deixar de cumprir as disposições estatutárias, deverá ser excluído do quadro social pela Diretoria, por decisão da maioria dos Diretores. Tal decisão poderá caber recurso à Assembleia Geral. Uma organização não governamental deverá possuir os seguintes órgãos: 36 a) Assembleia Geral; b) Diretoria; c) Conselho Consultivo; d) Conselho Fiscal. Vale salientar que a Assembleia geral é órgão máximo de uma associação e tem como função primordial fiscalizar administrativamente todos os outros órgãos da Associação e deverá ser composta por associados Fundadores e Efetivos, cabendo-lhe decidir, em última instância, sobre as seguintes matérias: a) aprovação das demonstrações financeiras, do balanço anual, e do relatório anual de atividades da Associação (...); b) aprovação do plano anual de metas traçado pela Diretoria; c) eleição dos membros da Diretoria e do Conselho Fiscal; d) destituição de membros da Diretoria, Conselho Fiscal e Conselho Consultivo; e) decisão sobre recursos impetrados contra atos da Diretoria ou de qualquer um dos Diretores; f) aprovação de alterações ao Estatuto Social da Associação (...); g) deliberação e decisão, em última instância, sobre a extinção da Associação (...) e destino de seu patrimônio em caso de dissolução; h) eleição do Diretor Presidente e dos Diretores Executivos, dentre os nomes indicados em lista pela Diretoria em exercício; i) deliberação sobre aquisição, oneração ou alienação de bens móveis e imóveis da Associação, desde que não adquirido com recursos públicos, mediante parecer favorável do Conselho Fiscal; j) instituir, uma vez ouvido o Conselho Consultivo, a remuneração aos membros da Diretoria; k) decidir sobre todos os demais assuntos que não tenham sido atribuídos especificamente a outros órgãos da associação e que se relacionarem com os fins da mesma. Quando se tratar das decisões expostas acima, sobre as alíneas (d) a (f) e (j), deverá ser apresentados o quantitativo de votos mínimos para aprovação, onde, no caso da Empreendeler é de 2/3 (dois terços) dos votos dos associados Fundadores e dos Efetivos que estiverem presentes na Assembleia Geral, convocada especificamente para esta finalidade, não podendo ela deliberar, em primeira convocação, sem a maioria absoluta dos associados Fundadores e Efetivos, ou com menos de 1/3 (um terço) nas convocações seguintes. Deverá ser definido em estatuto quantas reuniões ordinárias deverão ocorrer anualmente, podendo deixar flexível a possibilidade de convocações para reuniões extraordinárias. Mas não são apenas a necessidade de entendimento jurídico que reduzem a participação social no Brasil, outro fator importante é que muitos empreendedores sociais não possuem ou não sabem como articular outras instituições para o 37 fomento de suas atividades e, ainda, deixam de saber quais são as principais instituições que podem fomentar a aceleração de suas ações. 2.3.3 Atuais instituições fomentadoras à formalização e ao desenvolvimento de organizações de caráter social Cesnik (2012) afirma que “A utilização do incentivo fiscal é frequente em nosso país e é aplicada em vários campos da atividade humana. O incentivo à cultura, porém, sofre de uma carência de publicações que aliem aspectos doutrinários a uma ótica mais técnica.” O que demanda, e justifica a explanação de tópicos importantes como leis federais, estaduais e municipais comentadas e benefícios fiscais para empresas investidoras. Para o BNDES (2011), apesar da pequena contribuição das empresas privadas no orçamento total das organizações do terceiro setor, a participação das mesmas tem sido crescente nos últimos anos, ainda mais com as fundações e institutos a elas vinculados. Logo, nesse cenário, as empresas passam a ser importantes integrantes do terceiro setor quando passam a gerir seus próprios projetos sociais ou, ainda, ao se associarem, com suporte técnico-financeiro, a organizações da sociedade civil que já desenvolvem projetos bem-sucedidos em áreas diversas. Este tipo de atuação das empresas nacionais e corporações multinacionais geram uma tendência moderna de substituir as práticas da filantropia tradicional, caracterizada principalmente pelas doações pontuais e assistenciais aos empregados, a seus familiares e às comunidades circunjacentes às sedes empresariais, por ações mais sustentadas na sociedade. Outras origens de recursos estão no financiamento das agências internacionais de cooperação não governamentais; ações de filantropia internacional em prol do desenvolvimento de países emergentes; a venda de produtos e serviços juntamente com as doações individuais; e a captação de verbas públicas em programas próprios para o desenvolvimento de ações do terceiro setor. Mas, saliente-se também, que, existe hoje, no setor, um aumento da competição pelos recursos disponíveis, tanto internos quanto externos. Outras instituições que fomentam as atividades de cunho social são as incubadoras e aceleradoras. Em Pernambuco, nasce em 11 de maio de 2016 uma associação sem fins lucrativos, incubadora, que vem para desenvolver iniciativas 38 sociais através de mentorias, educação, assessorias, indicações e criação rede, com a finalidade crucial de estimular a prática da solidariedade no Recife, o Porto Social. De acordo com G1(2016) “a instituição irá incubar 20 projetos consolidados e outros 30 iniciantes. Anualmente, o Porto Social pretende manter o número de 50 projetos mentoriados.” Ainda segundo o G1, para o empreendedor social Fábio Silva explica que “A nossa ideia é profissionalizar ideias, ONGs e negócios sociais, mas sem perder a paixão, o brilho no olho de causar impacto social. O Porto Social surgiu para tentar construir esse equilíbrio”. 2.4 ESTUDO DE CASO PARA A PESQUISA DE EMPODERAMENTO O estudo de caso abordado neste trabalho refere-se à organização social Associação Empreendeler foi fundada em 2014 e tem como missão incentivar o emprendedorismo e o protagonismo de crianças, jovens e adolescentes através da leitura, contação de histórias, debate e brincar dando a elas escolhas de caminhos diferentes da marginalidade, exclusão e situações de risco, como visto nos altíssimos índices de violência brasileiros. Hoje conta com uma equipe de gestores composta por 3 administradores, 2 pedagogas, 1 letrólogo, 1 contadora e 1 psicóloga. Conta, também, com uma equipe de 32 outros voluntários e tem se tornado referência na área de incentivo ao empreendedorismo. Faz parte do Transforma Recife, onde tem atuação ativa. A sua sede fica situada no bairro de Santo Antônio e serve hoje como local de encontros, reuniões e treinamentos. Vale dizer que a atuação ocorre diretamente nas comunidades. O seu balanço social aponta que 570 pessoas foram impactadas diretamente em 2015, entre eles estão as crianças, jovens, adolescentes e alguns familiares e indiretamente, considerando os familiares das crianças, houve um impacto a 2.850 pessoas. 1.070 histórias foram contadas distribuídas em 2.379 horas doadas. Em 2015 atuou em 2 centros sociais (Alto José do Pinho e Santa Luzia), 1 lar de acolhimento (Massangana), 1 centro de economia solidária (Caranguejo Tabaiares) e Nos CREAS de Recife (Afogados, Espinheiro, Cordeiro e Boa Vista), 39 Além de fazer ações pontuais no Recife Antigo do Coração, ação junto à Prefeitura da Cidade do Recife. A associação tem recebido o incentivo e o apoio de diversos parceiros renomados desde sua fundação o que passa a dar uma credibilidade maior à escolha da mesma, na ocasião segue a fala de alguns dos parceiros: O Professor Msc. Otto Benar expressa a seguinte mensagem sobre a Associação Empreendeler: "Muito mais importante que dar o peixe para matar a fome é ensinar as crianças para que possam se tornar pescadores quando adultos. Os propósitos da EmpreendeLer são os mais nobres e tenho orgulho de conhecer os seus empreendedores e gestores. Ainda que a vida me tenha ensinado a ter cautela, aos dois entrego, sem medo, cheque assinado em branco e assino como fiador em promissória sem valor escrito. Mudar o Brasil para que se torne o país que queremos esta difícil. Façamos então o que está ao nosso alcance. Vamos dar uma força a esse pessoal. Garanto que vai valer a pena." Já o professor Dr. Genésio Gomes relata que (Fazer referência ABNT) “ O Brasil precisa, cada vez mais, de empreendedores, pessoas capazes de não esperar as coisas acontecerem e sim que fazem acontecer. São estas pessoas que estão fazendo o mundo mudar hoje, inclusive propondo ideias para saúde, educação, desenvolvimento urbano e questões sociais. Acredito que a proposta deste projeto é uma das melhores que já vi no sentido de trazer o ensino do empreendedorismo para crianças, jovens e adolescentes. Um dos objetivos do pilar Capital Humano do programa Brasil+Empreendedor. Assino embaixo e toda a equipe poderá contar sempre com o Células Empreendedoras para que este projeto tenha muito sucesso. Iniciativa fantástica, parabéns aos idealizadores e todos os voluntátios que estão colaborando.” Seguindo com os relatos, agora fora da academia, segue relato do Marcos Rodrigues, fundador do Clube do Orador e Papo de Universitário “Iniciativas como a Empreendeler são extremamente necessárias para criar e inspirar jovens em situação de risco social a mudarem suas realidades! Projetos que acreditam na mudança, com equipe de profissionais que realmente fazem a diferença, indico e apoio essa iniciativa.” E na área do lúdico o relato da contadora de histórias e pedagoga Adélia Oliveira “Projetos como o da Empreendeler são importantes porque fazem com que as crianças e jovens percebam a vida de outra maneira, pois 40 historias ensinam a olhar as coisas com outros olhos, de uma maneira mais leve e mais verdadeira. Os voluntários levam o que muitos não têm hoje “afeto” e o afeto, com certeza, transforma vidas.” As histórias contadas pelos voluntários da associação possue questionamentos que levam os ouvintes a refletir e filosofar sobre os diversos aspectos de melhoria social, além de possuir, sempre que possível atividades complementares de fixação baseadas nos métodos pedagógicos mais atuais. 41 3. METODOLOGIA 3.1 A abordagem de pesquisa a ser utilizada e dados do objeto de estudo De maneira local apresenta os dados de atuação de dois voluntários da Associação empreendeler em atuação no Centro Social Dom João Costa, no Alto José do Pinho (AJP), em Recife/PE, com uma amostra de 80 crianças durante os meses de Agosto a Dezembro de 2015, comparados aos resultados percebidos pelos pedagogos, bibliotecária e professores do centro durante atuação realizada entre os meses de setembro de 2014 e junho de 2015. Será feito um acompanhamento através de observação participativa e análise qualitativa por meio de entrevistas. 3.2 O lócus da pesquisa e características do universo e amostra Localizado às margens da antiga Estrada de Ferro, no eixo norte do Recife, a atual Avenida Norte, o Alto José do Pinho, que já foi conhecido como Alto da Munguba, começou a ser povoado por operários têxteis da antiga Fábrica da Macaxeira, na década de 40. O Alto José do Pinho foi um dos primeiros morros a ser ocupado no Recife. Para o historiador Silva (2011) tal ocupação foi ocasionada pelo processo de migração campo-cidade e em menor escala cidade-subúrbio ocorrido em meados do século XX e passou décadas por uma realidade de violência urbana e exploração de terras. Moradores entrevistados por Silva (Ibid.) descrevem que grande parte dos primeiros moradores passaram a habitar o alto trazidos por amigos conterrâneos ou familiares. Para Silva (Ibid.) a ocupação dos morros e córregos da zona norte e noroeste da cidade do Recife é um processo que se intensifica após a terceira década do século XX. A localidade conhecida como Alto José do Pinho, a partir do período posterior ao processo de redemocratização do país, pós-1945, é incorporada a dimensão urbana da cidade, deflagra um processo reivindicativo por serviços coletivos, passando a sofrer intervenções por parte do Estado e a inventar algumas instituições, que com suas práticas forçam a construção de identidades e demarcam localmente diferentes territórios. Essas instituições, suas práticas, seus territórios e suas representações, estabelecem sentidos para o lugar e constroem uma determinada memória. 42 Figura 01: Mapa da cidade do Recife destacando a inserção urbana do Alto José do Pinho, apresentando também a região portuária do centro da cidade, o Rio Capibaribe e a Avenida Norte. Fonte: Atla de Desenvolvimento Humano do Recife apud. Silva (2011) No local existe o Centro Social Dom João Costa, fundado em 1969 pelas religiosas da Instrução Cristã, onde, como Associação Sem Fins Lucrativos de natureza confessional, tem como missão valorizar e promover pessoas levando em consideração os aspectos morais, sociais e religiosos, sempre em conformidade e fidelidade ao carisma e aos objetivos da entidade fundadora e conta, desde março de 2015 com a parceria da Associação Empreendeler, Organização sem fins lucrativos cuja missão é incentivar o empreendedorismo e o protagonismo de crianças, adolescentes e jovens através da leitura e contação de histórias. A atividade de contação de história realizou-se no segundo semestre de 2015 toda segunda e quarta-feira na biblioteca do Centro Social Dom João Costa, a um 43 grupo de 20 crianças entre 07 e 10 anos e outro grupo de 40 adolescentes entre 10 e 15 anos, além de pedagogos e professores do centro. Foi observado que os voluntários, quase em todos os encontros perguntam às crianças, quais os sonhos delas e no primeiro dia de atuação destas turmas observadas, viu-se uma perspectiva de sonho muito pequena e/ou até expressamente inexistente. Esta expressão serviu de base na hora da pesquisa ao analisar, após alguns meses a existência ou não de sonhos transformados e/ou expressamente desenhados. 3.3 Os instrumentos para a coleta dos dados A pesquisa tem um carater exploratório e explicativo. Exploratório porque não foi identificado estudo que abordasse o potencial gerador de pessoas empreendedoras na contação de histórias e explicativa por apontar as melhores práticas devidas às ações não governamentais e à necessidade de fomento ao desenvolvimento de organizações que desenvolvam este processo de empoderamento dentro das comunidades e para a coleta de dados primários foram utilizadas entrevistas adaptadas a cada voluntário, observando os modelo de história contados junto à organização objeto e para a coleta de dados secundários foram utilizados observação, investigação participativa, documentos e a literatura conceitual da área. 3.4 As categorias de análise Esta pesquisa foi desenvolvida com 3 categorias de análise (educação empreendedora, contação de histórias e empreendedorismo social) subdesenvolvidas em 09 (nove) subcategorias conforme tabela 02: Tabela 02: Categorias e Subcategorias de análise da pesquisa CATEGORIA DE ANÁLISE SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE Métodos de ensino eficazes para o empreendedorismo EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA Empreendedorismo como fomentador da proatividade social e 44 Educação como mudança de valores A Constação de história participativa CONTAÇÃO DE HISTÓRIA Empoderamento através das histórias Mudança de valores através das histórias O negócio social como opção de carreira NEGÓCIOS SOCIAIS Desenvolvimento local através de organizações não governamental Estruturando corretamente um negócio social. Fonte: Elaboração própria (2015) 3.5 – A análise dos dados Os dados foram analisados através da observação participativa e respostas a questionários, na medida em que ocorreu cada tipo de coleta, de maneira a não perder as caracteristicas da atividade, momento e local aplicado, sempre comparado ao referencial bibliográfico. Além disso, foram entrevistados os agentes diretos na educação dos jovens e das crianças, além de seus pais e/ou responsáveis e um relato das atividades desenvolvidas pela Empreendeler, bem como o seu método pela equipe gestora da Associação. Os dados sobre as crianças foram todos coletados em momentos anteriores pela própria associação e foram utilizados na pesquisa para comparação e validação de alguns posicionamentos, além do que, foram dispostos em gráficos, o que facilita a visualização pelo leitor. Portanto, esta pesquisa utilizou dados primários, que ainda não haviam sido coletados e foram extraidos via entrevistas e questionários, com pais, professores e funcionários que atuam diretamente com as crianças. As coletas de informações acerca da pesquisa amostra da pesquisa, para evitar a tendenciosidade, foram realizadas em dias, locais e horários diferentes, de forma individualizada e sem a 45 interferência de outras pessoas durantre cada coleta primária, assim como dados secundários, informações já existentes na propria associação e em outros fontes de pesquisa, utilizados como forma de complementação das validações pretendidas para a pesquisa. 3.6 Inserção social da pesquisa A pesquisa gerará dois impactos, o educacional e o propriamente social, pois apresentará um modelo replicável de atuação social real desenvolvida por contadores de histórias, psicólogos e pedagogos da Associação Objeto deste estudo. O impacto educacional da pesquisa será exposto como um novo método a ser utilizado nas comunidades para que suas crianças, jovens, adolescentes e até mesmo adultos, possam criar uma visão ativa e reflexiva de mundo, onde possam enxergar que, através da comunicação eles podem ter uma vida mais proativa, sendo todos os responsáveis pelo próprio protagonismo e empreendedorismo. Já o impacto social diz respeito à capacidade de gerar informações para que as comunidades vulneráveis tomem um curso diferente em sua história, pois, segundo a propria pesquisa, se metodos de empoderamento lúdicos com a linguagem própria da criança forem inseridos em seus contextos, poderá haver um desenvolvimento exponencial das próximas gerações que se encontram em cada um destes locais. 46 4. DISCUSSÂO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA ENTREVISTA COM A GESTORA DA ASSOCIAÇÃO A principal entrevistada neste trecho da pesquisa foi a Ana Carla Albuquerque, voluntária e diretora presidente da Associação, a qual, ao ser questionada sobre o processo de inserção da Empreendeler nas comunidades iniciou a entrevista descrevendo que “a Empreendeler inicia um processo de contação de histórias nos centros sociais e lares de acolhimento”, e sobre porque o processo da associação desencadeia o empoderamento, onde informou o passo a passo de todo o processo. Segundo Ana “O processo inicia-se com a visita aos locais-alvo considerando a vulnerabilidade social pública, o fácil acesso pelos voluntários contadores de historias empoderadoras e o menor risco para eles.” Durante a explanação apontou-se a sequência dos processos de iniciação onde explica que, durante a primeira visita “apresenta-se os resultados da Associação para o potencial acolhedor das ações e a metodologia aplicada.” Notase que existe uma preocupação de sensibilizar os parceiros das comunidades, e percebe-se que, geralmente, o clima da apresentação torna-se muito emotivo e que, geralmente, as duas partes se emocionam com a apresentação da Empreendeler. A fotografia 01, vinda a seguir, refere-se a um desses momentos de apresentação, onde todos os integrantes do CREAS do Cordeiro são sensibilizados pela importância da contação de histórias e o que vem acontecendo com as crianças, jovens e adolescentes segundo descrições dos voluntários, da diretoria e dos outros parceiros beneficiados. Este processo, segundo Ana Carla “é importante para iniciar o senso de participação de todos os envolvidos no processo de incentivo ao empreendedorismo e o protagonismo daqueles que ouvirão e interagirão na ponta de todo o processo da associação. O que já inicia o processo de formação de empoderadores sociais no próprio local de atuação, com isso, outras iniciativas desenvolvidas pelo próprio local, poderá desenvolver outros empoderadores e assim por diante. 47 Fotografia 01: Funcionários do CREAS do Cordeiro em momento de sensibilização ao trabalho da Empreendeler. Fonte: Associação Empreendeler (2015) O próximo passo é um acordo, verbal ou escrito, dos dias de atuação, horários, data de início e fim e número de voluntários a frequentar o local. Além disso é apresentada a contra partida que é “a presença de um responsável pela unidade em cada seção de contação de história, onde se deixa claro a preferência por psicólogos, pedagogos ou assistente social do local, pois, identificado algum possível trauma, cabe à unidade beneficiada pela metodologia, tratar do trauma junto à criança, jovem ou adolescente.” Descreveu a Ana Carla. A contação de história realizada pela a Associação Empreendeler inicia-se com a preparação do local, pois, de acordo com os voluntários, a ambientação é parte do processo de transformação e de percepção de novas realidades. Para a voluntária Ana Carla Albuquerque, que já atua com contação de história desde o ano de 2010, “geralmente, crianças que residem em locais mais 48 vulneráveis socialmente, sofrem um amadurecimento muito precoce, perdendo, com isso, um pouco da característica infantil interna muito cedo”. Para a voluntária a preparação do ambiente, com a cenografia do tapete de retalhos e os livros espalhados, as crianças voltam, perceptivamente, a serem crianças, em função de um ambiente mais lúdico. Fotografia 02: Seção de Contação de História no Centro Social Dom João Costa noAlto José do Pinho Fonte: Associação Empreendeler (2015) O ambiente de convivência é um fator importante no processo de transformação social, pois interfere diretamente nas atitudes do ser humano e pode, inclusive, mudar seus hábitos coletivos e individuais. Entrevista realizada com a professora de atividades artísticas e oficinas educacionais do centro social1 apontou a existência da “mudança de alguns hábitos 1 A diretoria da Associação Empreendeler, na intenção de preservar a imagem social dos funcionários dos centro sociais descritos nesta pesquisa e de seus voluntários, pediu o anonimato na descrição das entrevistas autorizando a divulgação do nome apenas da diretora presidente e o restante será utilizado letras do alfabeto. 49 após o inicio das atividades de contação de história pela equipe da Associaçao Empreendeler, entre eles observou-se um aumento na participação das crianças em atividades de leitura, uma melhor interação entre as crianças e uma melhora efetiva na expressão oral eescrita, além de uma maior segurança na fala.” O voluntário a explicou que, neste tipo de prática pedagógica, o contador consegue falar de assuntos importantíssimos para o desenvolvimento do protagonismo de uma maneira lúdica, na “linguagem da criança, feito para a criança e tendo a moral contruída junto com ela”. Falou-se também que no ato da construção da moral “o ouvinte participante tem direito de expor sua opinião independente de estar certo ou errado, o que permite ter mais segurança na fala e poder de argumentação.” Outro fator importante observado, é que, com o livro na mão, o leitor e o ouvinte pode enxergar nas ilustrações e/ou com o próprio texto, a grandeza de outros mundos com características muito diferentes da sua, mas, não necessariamente, impossível de se construir. Na fotografia 03 vê-se uma criança refletindo com o livro do “Patinho Feio” de Hans Christian Andersen e contando a mesma para uma outra criança. Nesta história Um filhote de cisne é chocado no ninho de uma pata por razões adversas vinculadas ao destino. Naquele ambiente, por ser diferente dos demais filhotes, o pobre cisne é perseguido, ofendido e maltratado por todos os patos e outras aves daquele local. Certo dia, cansado das humilhações, o cisnezinho foge do ninho e, durante a sua jornada, ele para em vários lugares. O pior é que, na história, onde o cisne para é mal recebido em todos. Por fim, uma família de camponeses encontra o "patinho" feio e ajuda-o a superar o inverno frio. Quando finalmente chega a primavera, a família que havia o acolhido devolve-o para o lago, onde ele abre as suas asas, já majestosas, e se une a um outro majestoso bando de cisnes, sendo então reconhecido como o mais belo de todos. A relação das histórias com o empoderamento podem ser percebidas de forma imediata, desde o momento da leitura até o ouvir e debater as histórias, pois a história é a forma mais barata de viajar a mundos distantes de maneira reflexiva e filosófica. 50 Fotografia 03: Seção de estímulo à leitura após a contação de histórias. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Seguindo com as observações na metodologia empregada pela associação percebe-se a constância no trabalho sempre em grupo. Para o voluntário A “a prática da leitura e da contação de história em grupo permite a geração de uma maior interação social entre os participantes da comunidade, o que facilita o desenvolvimento da característica de empreendedorismo de trabalhar em equipe e cria nos mesmos um senso de coletividade”. Fotografia 04: Processo de interação lúdica em grupo. Fonte: Associação Empreendeler (2015) 51 Com o método da Empreendeler, a criança sente-se motivada a ler em grupo, conforme visto na fotografia 04, onde cada participante lê uma página do livro de maneira respectiva até chegar ao final da leitura e, com isso, criam-se novas conexões perceptivas de outras realidades através da interação da outra criança. Vê-se que a associação não se preocupa apenas em contar a história, mas fomentar hábitos de leitura, hábitos audíveis e a criação de laços entre os beneficiários diretos. Vale ressaltar que nas comunidades periféricas jovens tendem a disputar na adolescência territórios na comunidade e a criação desses laços pode reduzir os conflitos pessoais gerando um senso de participação social coletiva entre eles. Vale observar que a Associação, após a seção de leitura, costuma incentivar a leitura individual, segue a figura 05, e coletiva. Segundo o voluntário A, “este momento permite a reflexão sobre a moral da história pela própria criança” segundo a Ana Carla “a criança precisa refletir sobre a sua própria moral, pois temos o custume de achar que a nossa moral deve prevalecer, mas, a moral deve ser construida internamente, mas, mediada por agentes externos”. Fotografia 05: Seção de leitura individual após a contação das histórias. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Analisando o documento de apresentação institucional da Associação, percebe-se a descrição de que as seções de contação de história, para alcançar os 52 objetivos propostos, não deve ter cunho político, religioso e ou comercial; deve ser desenvolvida em dupla; não deve passar das 2 horas de contação; e deve envolver diversos métodos pedagógicos, entre eles, a contação de história verbal com o voluntário lendo, com a criança lendo para o grupo, com todos lendo em conjunto, a criação de histórias, a utilização de jogos e brincadeiras, o envolvimento da expressão através de desenhos, a gamificação competitiva, o debate e também o brincar. Figura 02: Quadro de atuação por faixa etária da Associação Fonte: Associação Empreendeler (2015) De acordo com a figura acima cada tipo de ação é desenvolvido observando critérios pedagógicos próprios por faixas etárias do público da Emprendeler, onde crianças de 0 a 3 anos passam por metodologias mais vinculadas ao brincar e os mais velhos metodologias mais gamificadas, mas ,todos passam por ações de contação de história mediadas pelos voluntários treinados da assaociação. A associação costuma registrar um histórico de seus acontecimentos de forma documentada, e em um de seus escritos relata-se um momento, logo nos primeiros meses de atuação, em que as crianças chamaram para a hora do lanche um grupo de voluntários que os seguiram. Todas as crianaças estavam muito alegres porque iriam lanchar. Na ocasião, observou-se um lanche muito simples, 53 mas que fazia a diferença para que a atuação ocorresse em qualquer esfera do centro. Segundo relato de funcionários do centro, aquele era, muitas vezes um dos poucos lanches que algumas crianças tinham ao longo do dia e que aquilo revigorava a participação nas atividades. A partir deste momento a associação passou a inserir no método aplicado, a prática de coletar alimentos junto à sociedade civil para que os mesmos tivessem mais acesso à alimentação e que, com isso, mantivessem a participação ainda mais ativa nos processos de empoderamento. Segundo uma voluntária B da Associação “ninguém consegue entender nada com fome”. Fotografia 06: Momento da primeira entrega de alimentos realizada no Centro Social Dom João Costa. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Na primeira doação cerca de 200 kg de alimentos foram entregues em dois centros sociais e passou a fazer parte das ações da instituição tendo em vista a associação da cognição com a alimentação. Uma preocupação constante da associação é a divulgação das atividades nos maiores eventos do estado, para que, com isso, otras pessoas possam se motivar a 54 desenvolver ações sociais não só na área de educação, mas em áreas demandadas pela sociedade mais vulnerável. Em 2015 participou de um feirão de carreiras, conforme fotografia 07, um feirão do estudante, participou também de 1 evento cristão chamado Papo Cristão e de uma das maiores feiras de tecnologia do Mundo, a Campus Party, onde se pôde palestrar para uma turma de jovens focadas na educação. A participação em eventos faz parte da metodologia a partir do momento de que, com isso, muito mais pessoas possam participar da Empreendeler ou, até mesmo, desenvolver suas próprias ações. A participação neste eventos levou a associação a ter maior exito na formação da segunda turma, tendo um número bem maior de participantes e um maior engajamento. Fotografia 07: Participação no feirão de Carreiras do Papo de Universitário. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Dando prosseguimento ao método da associação a mesma além de contar histórias no locus e levar alimento para fortalecimento físico, os membros da associação desenvolvem ações fora da comunidade, o objetivo destas ações é de ampliação da percepção espacial, onde as crianças, além de sair da comunidade 55 passam a ter exemplos reais de outras pessoas que têm desenvolvido ações protagonistas. A fotografia 08 mostra o momento em que o grupo observado visitou a Campus Party Recife de 2015 e conversou com um jovem de 15 anos que estava concorrendo a uma premiação com o seu projeto tecnológico na área educacional. Neste momento as crianças puderam conversar com o jovem, que contou a sua história e como conseguiu desenvolver o aplicativo em questão. Percebeu-se uma interação total das crianças e um brilho nos olhos delas. Na ocasião as crianças ficaram na área externa da campus party, a qual possui uma quantidade enorme de conteúdos gratuitos, mas, as mesmas perguntaram porque não iriam descer na parte de gestão de conteúdo e tiveram como resposta dos voluntários que os acompanhavam que no próximo ano eles poderiam estar na feira em uma outra condição, através dos seus próprios méritos e que isso dependeria apenas dos seus próprios esforços e interesses, mas que a Empreendeler estaria disponível para auxiliá-los nesta busca pelo desenvolvimento e alcance de objetivos. Fotografia 08: Entrevista a participante do Startup e Makers da Campus Party Recife 2015. Fonte: Associação Empreendeler (2015) auto 56 Ainda neste tipo de ação as crianças puderam ouvir a história de outros personagens autamente protagonistas em suas áreas de atuação, entre eles o Marcos Rodrigues do Papo de Universitário, conforme fotografia 09, que palestrava no evento e concorria na categoria negócios educacionais. Fotografia 09: Entrevistando Marcos Rodrigues do Papo de Universitário. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Esta prática de levar as crianças a personagens da sociedade ocorre tanto fora da instituição de atuação quando dentro da própria instituição e isto, segundo Ana Carla Albuquerque, “possibilita o empoderamento através dos exemplos práticos reais. Com estas ações as crianças podem identificar em personagens que hoje possuem sucesso em sua área de atuação formas de canalizar os seus sonhos, assim como outras pessoas também canalizaram. Neste tipo de ação as crianças podem perceber que muitos que possuem sucesso hoje tiveram que lutar muito e perseverar pelos seus sonhos”. O interessante é que nestas ações as histórias começam com era uma vez uma pessoa que... E, assim, o próprio personagem pode entrar e construir sua história diante das crianças. 57 A fotografia 10 mostra o momento em que os Cantores Nando Cordel e Caiã Cordel foram ao centro, através da Empreendeler e contaram a sua própria história de superação e protagonismo. Fotografia 10: Os cantores Nando e Caiã Cordel contando as suas histórias. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Outros exemplos de vidas foram contados através do era uma vez com os personagens Saulo Andrade e Aline Cavalcante, ambos diretores do Instituto Fora da Caixa e ele fundador do projeto Buruçu na Web. Os exemplos dos dois têm uma proximidade muito grande com a realidade das crianças e ao final da contação pudemos ver as crianças com uma maior vontade de alcançar seus objetivos. Fotografia 11 e 12: Os empreendedores Saulo Andrade e Aline Cavalcante contando as suas histórias. Fonte: Apresentação Institucional da Associação Empreendeler (2016) 58 Além de Contar histórias, levar alimento, levar as crianças a personagens e personagens às crianças a associação incentiva a participação das crianças ao brincar educacional. Em 2015, ainda na visita à Campus Party, levou as crianças a brincar com diversos jogos educativos, entre eles, um karaokê com incentivo à leitura, um jogo dos bichos, conforme fotografia 13, em que as letras faziam parte do jogo. Puderam acessar uma plataforma sustentável com o Óculois Rift, puderam participar de diversos jogos simuladores de realidade e outros. Fotografia 13: Brincando com as letras. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Atividades de inclusão também puderam ser vivenciadas por alguns do grupo, além de ouvir histórias inclusivas participaram de um circuito como se fossem cegos e cadeirantes e puderam viver um pouco da realidade do outro, gerando uma maior empatia com o próximo. 59 Fotografia 14: Participação em circuito inclusivo na Campus Party Recife 2015. Fonte: Associação Empreendeler (2015) De acordo com diversos autores a atividade de empoderamento exige ação e por isso, a associação desenvolveu um projeto em 2015 em que levou o grupo de jovens em estudo para uma ação em que eles seriam voluntários no hospital do câncer de Pernambuco, conforme segue na fotografia 15. Na ocasião, uma outra ONG Parceira entregaria 19 espaços reformados do hospital e chamou a Empreendeler para fazer uma ação voluntária junto aos seus voluntários. Neste momento a prática foi incluida nos jovens e os mesmos passaram a agir socialmente. Na ida ao hospital os mesmos ouviram uma breve história do hospital e do outro projeto e ao chegar foram, de imediato, recebidos com muitos abraços por um outro grupo de voluntários o que facilitou a inclusão dos mesmos e todos juntos, cerca de 2.000 voluntários, cantaram uma serenata aos pacientes com cancer, participaram de ação de distribuição de café da manhã, entrega de fantasias e de pintura e puderam, neste momento, viver os valores que são transmitidos ludicamente através das histórias da Empreendeler. 60 Fotografia 15: Ação voluntária no Hospital do Câncer de Pernambuco em 2015. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Para uma ampliação de ambiente parte do grupo estudado pode ouvir histórias de empoderamento na X Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, ocorrida no mês de outubro de 2015, na qual participaram de oficinas junto à Associaçãop Empreendeler, ouviram diversas histórias que tinham sido contadas no ato do lançamento do primeiro livroinfantil de empoderamento desenvolvido pela associação. Lá puderam interagir com muitas outras crianças e com diversos outros ambientes lúdicos e m uma feira que já é referencia no estado a 20 anos. 61 Fotografia 16: Participação na X Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Fonte: Associação Empreendeler (2015) Uma última ação realizada em 2015 pela equipe da Empreendeler foi a formatura da turma 02 de novos voluntários e lá pode ter um exemplo de culminância de uma ação realizada com as crianças. Na ocasião uma das crianças beneficiadas pelo processo em 2015 foi à frente de todos os voluntários, parentes e convidados e pode contar a história do lenhador honesto, conforme segue após a fotografia 17. Ao iniciar a contação a garota2 esteve muito nervosa e com o livro na mão para ler, mas, como sempre teve o exemplo da contação de história oral, largou o livro e contou a história sem errar. No final foi questionada sobre o nervosismo, onde respondeu “estava muito nervosa” mas ainda assim, vimos a mesma assumir o risco e enfrentar o medo de falar em público. 2 O nome não foi divulgado para preservar a criança. 62 Fotografia 17: Jovem beneficiada pelo projeto da Associação Empreendeler contando história na formatura da turma de novosa voluntários do período 2015.2. Fonte: Associação Empreendeler (2015) A história do lenhador Honesto segue uma linha moral que aborda desenvolver as ações pessoais sempre de maneira ética e honesta. Segue história adaptada pela Associação Empreendeler (2015) Há muito e muito tempo, numa floresta grande, verde e muito silenciosa, bem próximo a um riacho de águas cristalinas e espumantes corredeiras, vivia um lenhador muito pobre, que trabalhava muito para sustentar toda a sua família. Todos os dias, seguia a cansativa caminhada floresta adentro, levando no seu ombro um afiado, mas, bem velho, machado cortador de árvores. Seguia sempre assobiando, contente como ninguém, pois sabia que enquanto tivesse saúde e o seu machado, conseguiria ganhar o suficiente para comprar, dia a dia, todo o pão que a família necessitava para sobreviver. Um dia, estava ele cortando um enorme carvalho perto do rio. Grandes lascas voavam longe e o barulho do machado ecoava floresta adentro com tanta força que parecia haver uma dúzia de lenhadores trabalhando. Passado algum tempo, resolveu descansar um pouco. Encostou o machado na árvore e virou-se para sentar, mas, ao virar-se, tropeçou numa raiz velha e muito retorcida, e antes mesmo que pudesse pegá-lo, o machado caiu ribanceira abaixo, indo parar direto no riacho! Aquele pobre lenhador tentou procurar em cada centímetro do riacho por seu machado, mas aquele trecho era fundo demais. As águas continuavam 63 correndo com a mesma tranquilidade de sempre, ocultando, o que seria para aquele lenhador, o seu maior tesouro perdido. – Meu Deus, o que hei de fazer? Perdi o machado! Como vou dar de comer aos meus filhos? – gritou de maneira ensurdecedora o lenhador. Mal acabara de gritar, surgiu de dentro do riacho uma bela mulher. Era a fada do rio que viera até a superfície quando ouviu o lamento. – Por que você esta sofrendo tanto? – perguntou, em tom amável a fada do rio. O lenhador contou o que havia acontecido e, logo em seguida, mergulhou a fada, tornando a aparecer na superfície segundos depois com um machado completamente feito da mais pura prata. – É este o machado que você perdeu? Perguntou a fada do rio. O lenhador pensou em todas as maravilhas que poderia comprar para os filhos com toda aquela prata! Mas aquele machado não pertencia a ele, então balançou a cabeça, dizendo: – Não fada, não é esse. O meu machado era feito apenas de aço. A fada das águas colocou o machado de prata sobre a barranca do rio e tornou a mergulhar. Voltou logo-logo e mostrou outro machado ao lenhador, muito melhor, completamente forjado a ouro: – Talvez este machado seja o seu? Perguntou novamente a fada. E o homem, honesto como deve ser, respondeu: – Não é não! Esse é de ouro! Vale muito mais do que o meu. Como já falei o meu é feito de aço, seu valor não é financeiro, mas é o meu maior tesouro. A fada das águas colocou o machado de ouro na margem do rio. Mergulhou mais uma vez. Tornou a subir, trazendo, realmente, o machado perdido. – Sim, Esse é o meu! É o meu, sim; sem dúvida! Gritou o homem feliz da vida. – Esse é o seu – disse a fada das águas, - e agora, por sua tão grande honestidade, também serão seus os outros dois. É um presente do rio, por você ter dito a verdade. E à noitinha, o lenhador, feliz com tudo o que tinha acontecido e com a lição que havia aprendido, seguiu com a árdua caminhada de volta para casa, não só com um, mas com os três machados às costas, assobiando contente e pensando em todas as coisas boas que eles iriam trazer para sua família. A história contada pôde compor as novas formas de agir da contadora de história, sendo a sua realidade comparada e construída à medida que a leitura e a contação vai sendo desenvolvida. Nesse contexto todos puderam aprender sobre os benefícios da honestidade e o quanto de laços podem ser criados tendo este tipo de atitude social. 4.1 PESQUISA QUANTITATIVA SOBRE PERCEPÇÃO DE MUDANÇA DOS BENEFICIÁRIOS DO MÉTODO A pesquisa quantitativa foi realizada com 40 familiares (pais/mães/avós) quando tratado sobre a mudança tida em casa e entre os amigos, com 10 64 professores quanto à mudança na escola e nos estudos e com 10 profissionais do local de atuação, sobre a mudança pessoal tida no centro. A amostra foi acompanhada e observada durante todo o ano de 2015. O primeiro gráfico foi observado direto com as crianças, quando no início de 2015, apenas 24 das 40 crianças beneficiadas sabiam claramente qual era o seu sonho de vida e de futuro, o restante não sabiam opinar, já no final de 2015, todas as 40 crianças já diziam claramente qual era o seu sonho e conseguiam comunicar de forma mais clara e objetiva, conforme visto no gráfico 04 e 05. Gráfico 04: Número de beneficiários que sabiam expressar o seu sonho no início de 2015 Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Gráfico 05: Número de beneficiários que sabiam expressar o seu sonho no início de 2015 Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Vale analisar que o sonho é um dos fatores importantíssimos na motivação humana e que a falta de reflexão sobre o mesmo pode levar o indivíduo a se acomodar em uma zona de conforto viciante, o que desempodera e reduz a proatividade humana. Quando questionados sobre aumento de características empreendedoras e protagonistas, tais como Identificação de oportunidades,estabelecimento de metas em suas atividades cotidianas, persistência, comprometimento, autoconfiança, busca de informações, aumento da comunicação e da habilidade de ouvir, obtêvese os seguintes dados dos gráficos 06, 07 e 08. 65 Gráfico 06: Percepção de mudança de características empreendedoras em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Foi percebido, em todos os locais pesquisados, um aumento das características empreendedoras ao longo do ano, mas, observou-se um crescimento mais acentuado no comprometimento e na busca de informações, características básicas para um indivíduo empreendedor. Gráfico 07: Percepção de mudança de características empreendedoras na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 66 Gráfico 08: Percepção de mudança de características empreendedoras no centro social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) No centro social o que mais foi observado de melhoria estava ligado à busca por informações, onde tem-se percebido que os beneficiários que passam pelo programa de contação de histórias da Empreendeler tem procurado mais conhecimento e estudado melhor. Quando questionados sobre o que era empreendedorismo, foi notório o aumento do conhecimento sobre o termo, isto se dá pela quantidade de vezes que os contadores de história da associação repetem para os mesmos ao longo do ano e os fazem repetir, refletir e discutir. Não só conceitualmente, mas com exemplos constantes e debates construtivos. Nesta concepção todos os beneficiários atendidos foram questionados sobre a palavra empreendedorismo genérica, tanto no início do ciclo, quanto no final do ciclo, conforme aponta o gráfico 09 logo abaixo: 67 Gráfico 09: Conhecimentosobre o termo empreendedorismo Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Os questionários aplicados diretamente à família mostraram os aspectos indiretos vinculados à contação de história e quando os responsáveis pelos jovens foram questionados sobre a participação dos mesmos em atividades rotineiras de casa percebeu-se um aumento, mas não de forma tão extrema, pois a maioria das crianças já tinham uma participação ativa em casa, acompanhe os resultados no gráfico 10. Gráfico 10: Percepção sobre uma maior participação nas tarefas rotineiras em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 68 Quando questionados sobre a participação do beneficiário em atividades rotineiras na escola, pensou-se na verificação da mudança em ambientes distintos e como o ambiente é distinto, mas possui cunho educacional, o resultado sempre foi bem parecido com os do centro social, onde o gráfico 11 revela Na escola. Gráfico 11: Percepção sobre uma maior participação nas tarefas rotineiras na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Quando questionados sobre a participação do beneficiário em atividades rotineiras no centro social No Centro social Gráfico 12: Percepção sobre uma maior participação nas tarefas rotineiras no centro social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 69 Passou a perceber, conforme gráfico 12, também, um pequeno aumento na capacidade de comunicação mesmo na própria casa dos beneficiários, o que possibilta a criação e manutenção dos laços familiares. Gráfico 13: Sobre a comunicação e expressão em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Já na escola, onde os laços sociais são mais vinculados à aceitação em grupo o aumento na comunicação foi muito maior, ver gráfico 13, assim como no próprio centro social, conforme gráfico 14. Gráfico 14: Sobre a comunicação e expressão na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 70 Gráfico 15: Sobre a comunicação e expressão no centro social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente em casa Gráfico 16: Sobre saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente na escola 71 Gráfico 17: Sobre saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente no centro social Gráfico 18: Sobre saber ouvir e interpretar as coisas cotidianas corretamente no centro social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passou a questionar mais em casa 72 Gráfico 19: Sobre capacidade de questionamento em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passou a questionar mais na escola Gráfico 20: Sobre capacidade de questionamento na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 73 Passou a questionar mais no centro social Gráfico 21: Sobre capacidade de questionamento no centro social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a entender mais que para alcançar os sonhos precisam de determinação e perseverança, visão dos pais Gráfico 22: Sobre a percepção de que para alcançar os sonhos precisam de determinação e perseverança, visão dos pais Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 74 Passaram a entender mais que para alcançar os sonhos precisam de determinação e perseverança, visão dos professores Gráfico 23: Sobre a percepção de que para alcançar os sonhos precisam de determinação e perseverança, visão dos professores Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a entender mais que para alcançar os sonhos precisam de determinação e perseverança, visão dos funcionários do centro. Gráfico 24: Sobre a percepção de que para alcançar os sonhos precisam de determinação e perseverança, visão dos funcionários do centro social. Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 75 Passaram a ter mais iniciativa em casa Gráfico 25: Sobre ter mais iniciativa em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a ter mais iniciativa na escola Gráfico 26: Sobre ter mais iniciativa na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 76 Passaram a ter mais iniciativa no centro social Gráfico 27: Sobre ter mais iniciativa no centro social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a ser mais comprometidas em casa Gráfico 28: Sobre ser mais comprometido em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 77 Passaram a ser mais comprometidas na escola Gráfico 29: Sobre ser mais comprometido na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a ser mais comprometidas no centro social Gráfico 30: Sobre ser mais comprometido no Centro social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a buscar mais informações em casa 78 Gráfico 31: Sobre buscar mais informações em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a buscar mais informações na escola Gráfico 32: Sobre buscar mais informações na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a buscar mais informações no centro social 79 Gráfico 33: Sobre buscar mais informações no Centro Social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a ser mais autoconfiante e independentes em casa Gráfico 34: Sobre ser mais autoconfiante e independente em casa Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a ser mais autoconfiante e independentes na escola 80 Gráfico 35: Sobre ser mais autoconfiante e independente na escola Fonte: Elaboração própria do autor (2016) Passaram a ser mais autoconfiante e independentes no centro social Gráfico 36: Sobre ser mais autoconfiante e independente no centro social Fonte: Elaboração própria do autor (2016) 81 4.2 EXEMPLO DE HISTÓRIA CONTADA E FORMULAÇÃO DA MORAL A seguir será mostrado alguns exemplos de histórias contadas pelos voluntários da Associação Empreendeler e que fora, inclusive, organizadas em um livro da associação e que vem sendo trabalhadas durantes as seções de contação. Uma das histórias trabalhada no mês de setembro de 2015, adaptada pela bmn consultoria (2015) e contada pelo voluntário A, abordou temas como assumir risco, ter atitude, ser proativo e ter pensamento positivo, conforme segue: O Monge e a Vaquinha Um monge e seu discípulo faziam uma peregrinação e, durante a viagem pararam em um pequeno sítio, muito humilde e pobre. Cansados e com fome, pediram repouso e comida ali. O sitiante, sua esposa e 3 filhos estavam mal vestidos e claramente passavam necessidades, mas os acolheram e serviram uma refeição bastante simples. Enquanto comia, o monge perguntou: – Como vocês sobrevivem aqui, distantes de tudo? O sitiante respondeu: – Realmente a vida aqui não é fácil… Tudo o que temos é uma vaquinha, da qual tiramos leite para nosso consumo e para trocar por outros alimentos na vila, e com isso vamos tocando a vida. Após o descanso, o monge e seu aprendiz levantaram, agradeceram a hospitalidade e foram embora. Não haviam andado muito quando o monge falou ao discípulo: – Volte até o sítio, pegue a vaquinha e jogue-a do precipício. O aprendiz arregalou os olhos e tentou questionar. Porém, ao perceber o olhar do mestre, cumpriu a ordem a contragosto Anos depois, o aprendiz ficou com remorso e decidiu voltar ao mesmo sitio para ver o que tinha acontecido com a família. Ao chegar, viu o jardim florido, um rebanho de várias vaquinhas, uma bela casa recém-construída e ao fundo, uma vistosa plantação! Ao bater, percebeu que tudo havia mudado, mas a família era a mesma. Aliviado, questionou: – Puxa, percebi que a vida melhorou bastante para vocês, o que houve? O pai de família respondeu: – Depois que vocês foram embora naquele ano, a nossa vaquinha caiu no precipício e morreu. Achamos que seria o fim do mundo, mas tivemos que nos adaptar e descobrimos habilidades e competências que não conhecíamos em nós mesmos. Aquele acidente nos forçou a buscar oportunidades e novas fontes de renda que não havíamos pensado enquanto estávamos satisfeitos com a vaquinha. 82 No ambiente desenvolvido para contar esta história a voluntária C remeteu a uma reflexão de que: Voluntária C: muitas vezes nos prendemos à nossa pequena “vaquinha” ou condição de vida confortável, por medo de arriscar e, com isso, a pessoa deixa de receber da própria vida uma retribuição muito maior do que já tem recebido. Devemos refletir se o que temos agora é o máximo que podemos ter, ou se poderíamos, com uma pequena perda avançar muito mais. Com isso, a voluntária expressou às crianças que elas podem fazer pela vida delas muito mais do que tem feito hoje e que cada dia as convida para ter uma atitude de mudança dos maus hábitos, como acordar mais cedo e aproveitar melhor o dia, minimizar o impacto negativo do medo, respeitar o próximo, arriscar mais, pois, para ela, desafios maiores levam, geralmente, a lugares muito melhores. Figura 03: Ilustração do conto do Monge e a vaca. Fonte: DEROSE (2013) Com o seu método, a Associação Empreendeler desenvolveu um livro que sempre vem utilizando em suas ações nas comunidades, onde 10 contos foram adaptados para gerar uma reflexão sobre atitudes proativas envolvendo fatores generalistas para uma formação, mesmo que infantil. Analisando cada um dos contos pode se encontrar os seguintes textos e suas possíveis reflexões de acordo com a equipe que organizou: 1º A Parábola do Cientista e da Criança: como consertar o mundo? De um autor desconhecido que inicia assim, “Um cientista vivia preocupado demais com os problemas do mundo e estava empenhado a encontrar meios de melhorá-los. Passava dias e mais 83 dias em seu laboratório em busca de respostas para as dúvidas que mais perturbam a sociedade moderna. Certo dia, seu filho, um esperto garoto de apenas sete anos entrou no laboratório de seu pai, o qual o considerava um santuário, decidido a ajudálo a trabalhar. O cientista ficou muito nervoso pela interrupção e fez de tudo para que o filho fosse brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível tirá-lo dali, o pai procurou algo que pudesse oferecer ao filho com o objetivo de distrair sua atenção e, de repente, deparou-se com o mapa do mundo e rapidamente raciocinou. Com o auxílio de uma tesoura, recortou o mapa em vários pedacinhos e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo: — Você gosta de quebra-cabeças? Então, vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui está o mundo todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Faça tudo sozinho e não me interrompa mais. Calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa. Algumas horas depois, ouviu a voz do filho que o chamava: — Pai, pai, já fiz tudo. Consegui terminar tudinho! A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Era impossível que, naquela idade, o garoto tivesse conseguido recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Mas, para sua maior surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz? Então ele perguntou: — Você não sabia como era o mundo, meu filho, como você conseguiu? — Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a imagem de um homem. Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, tentei, tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo.” As reflexões sugeridas pelo livro para que os voluntários iniciem um debate com os ouvintes são: “O que aprendemos com a história?” “De acordo com a história, o que devemos consertar primeiro antes de consertarmos o mundo?” “Se era tão difícil montar o quebra-cabeça, como o garoto conseguiu montar? O que ele fez para conseguir?” 84 “Você também conseguiria montar o quebra-cabeça?” “O fato de alguém achar algo difícil significa que esta ou outra pessoa não deva mais tentar fazer este algo?” “O que você deve fazer quando alguém disser que você não conseguirá fazer algo?” Além destes questionamentos sugere-se a realização de uma atividade complementar, conforme orientação a seguir: Pegue uma folha de papel e alguns lápis coloridos e desenhe tudo o que foi percebido na história, desde as cenas até os personagens. Os voluntários são treinados na associação para não dar uma moral pronta, mas, para, através de questionamentos, levar o ouvinte a refletir sobre o certo e o errado. Nesta primeira história percebe-se, com o próprio texto e com a fala, que a mudança do mundo pode ser feita quando o homem for consertado, isto abre espaço para muito debate após a história. Além disso, quando pedido para realizar os desenhos, a equipe de acompanhamento pode identificar desenhos enviesados e direcioná-los aos psicólogos e/ou assistentes sociais dos locais de atuação. Figura 04: Ilustração da Parábola do Cientista e da Criança: como consertar o mundo? Fonte: EMPREENDELER (2013) 2º A Roupa do Rei... “Era uma vez, um rei tão vaidoso, mas tão vaidoso, que só faltava pisar na cabeça de seu povo. 85 Certo dia, um grupo de tecelões, mas os melhores tecelões do reino, o procuraram e fizeram uma grande proposta, que para um rei vaidoso seria irrecusável. Em sua proposta, aqueles maravilhosos tecelões, fariam uma roupa encantada, a mais linda, especial e rara do mundo. Mas existia um pequeno problema, só pessoas inteligentes poderiam enxergar a roupa. O rei achou a proposta divertida e por ser vaidoso, tratou de encomendar um traje completo. Isto custou muito dinheiro, mas o rei não se preocupou e pediu que aqueles homens não fizessem aquela roupa para mais ninguém. Os homens trabalharam dia e noite em um tear mágico, costuraram com linha invisível, da mais invisível do mercado, usaram um tecido invisível, daquele que só quem era “inteligente” via. Desde que os tecelões iniciaram o trabalho o rei sempre mandava que os seus ministros visitassem a oficina, afim de acompanhar o trabalho, e para que o rei não achasse que eles eram tolos, todos voltavam deslumbrados, elogiando a roupa e a precisão dos costureiros. Finalmente, chegou o grande dia, após muito tempo e dinheiro gasto, o rei recebeu a tal roupa especial, aquela que só ele tinha e que os inteligentes enxergavam. Marcou uma festa pública em frente ao seu castelo, só para ter o gostinho de mostrá- la ao povo e ver todos com inveja. Os tecelões compareceram ao palácio, vestiram o rei todinho, que os esperava só de ceroulas, e cobriram-no com as peças daquele tal traje encantado, ricamente bordado, mas invisível aos olhos dos que não eram inteligentes. O povo esperou lá fora, ansioso pela novidade, pois nunca tinham visto uma roupa invisível, e quando o rei apareceu, todos aplaudiram com muito entusiasmo, mesmo ninguém conseguindo ver a roupa, pois não queriam parecer tolos diante do rei. Os alfaiates, aproveitando a festa, desapareceram no meio do mundo, todos cheios de muito dinheiro. O rei seguiu com o cortejo, porém, ao atravessar uma das ruas pobres da cidade, um menino gritou: - O Rei está de ceroulas!!! O Rei está de ceroulas!!! Rá! Rá ! Rá! Rá! Todos os presentes repararam e viram que, realmente, o rei estava apenas de ceroulas, e que ninguém via roupa nenhuma, pois roupa ali não existia. Logo, uma estrondosa vaia foi ouvida, seguida de uma série de zombarias. O rei correu para o palácio, cheio de vergonha, pois viu que havia sido enganado. Desse dia em diante, corrigiu o seu orgulho e enquanto durou seu reinado foi um rei justo e simples para o seu povo.” Este conto foi adaptado de um conto da idade média compilado pela primeira vez na Espanha por Dom Juan Manuel, século XV, em um livro intitulado "Libro de Patronio ou do Conde Lucanor". Anderson o contista, mais tarde o adaptou e criou sua própria versão da história.” Para esta história levanta-se os seguintes questionamentos: “O que aprendemos com a história?” “Por que o Rei queria tanto essa roupa nova?” “Será que ela era mesmo importante?” “Será mesmo que a inteligência é um privilégio de algumas pessoas ou todos são inteligentes, mas nem sempre recebem estímulos para desenvolver sua inteligência?” “O que você pensa sobre a atitude dos tecelões, que enganaram o Rei?” “E das pessoas que aplaudiram “a roupa do Rei”, mesmo sem tê-la visto?” A história da roupa do rei reflete sobre o poder de manada em que as pessoas estão acostumadas a aceitar normas, regras e ordens sem refletir, sem discutir e isso pode levar a situações diversas e uma outra lição aborda a arrogância e o como esta característica afasta as pessoas da admiração e respeito. 86 Figura 05: Ilustração do conto A Roupa do Rei Fonte: EMPREENDELER (2013) 3º As Duas Cabras “Duas Cabras enormes, fortes como uma rocha e rápidas como o vento, brincavam alegremente sobre as pedras que ficavam na parte mais alta de um vale montanhoso. Uma ficava na montanha sinuosa, ao lado esquerdo de um violento rio, que descia pelo vale numa forte correnteza, já a outra, sobre a montanha dos ventos que uivam, no lado direito do rio. As duas cabras estavam separadas por um abismo, que era ligado por um fino e comprido tronco de uma árvore caída, único e estreito meio de cruzar de um lado ao outro do despenhadeiro, e que nem mesmo dois pequenos esquilos eram capazes de atravessar, ao mesmo tempo, com segurança. Aquele estreito e precário caminho era capaz de botar medo até mesmo no mais bravo dos pretendentes à travessia. Exceto àquelas duas Cabras. Mas existia um grande problema, as cabras eram orgulhosas, e o orgulho de cada uma delas, não permitiria jamais que uma permanecesse diante da outra, sem que isso não representasse uma afronta ou ameaça aos seus domínios. Certo dia, então, elas resolveram atravessar ao mesmo tempo aquele estreito caminho, na intenção única de brigarem com o propósito de decidir qual delas deveria permanecer naquele local. No meio da travessia as duas se encontraram, uma não quis ceder espaço para a outra, então começaram a se agredir com seus poderosos chifres e suas forças implacáveis e, desse modo, firmes na decisão de levar adiante o forte desejo pessoal de dominação e supremacia, nenhuma das duas mostrava disposição em ceder caminho à adversária. Assim, pouco tempo depois, acabaram por cair, as duas cabras, no profundo abismo, e logo foram arrastadas pela forte correnteza do rio. Este conto é uma adaptação do conto de Esopo, o mais conhecido dentre os fabulistas, foi, sem dúvida nenhuma, um grande sábio que viveu na antiguidade. Sua origem é um mistério cercado de muitas lendas. Mas, pode ter ocorrido por volta do ano 620 A.C. Várias cidades são indicadas como seu local de nascimento, e é comum que o tratem como originário de uma cidade chamada Cotiaeum na 87 província da antiga Frígia, Grécia. Acredita-se que nasceu escravo, e pertenceu a dois senhores. O Segundo viria a torná-lo livre ao reconhecer sua grande e natural sabedoria. Conta-se que mais tarde ele se tornaria embaixador. Em suas fábulas ou parábolas, ricas em ensinamentos, ele retrata o drama existencial do homem, substituindo os personagens humanos por animais, objetos, ou coisas do reino vegetal e mineral. Os questionamentos levantados nesta história são os seguintes: “Por que as cabras caíram no abismo?” “De quem foi a culpa por elas terem caído no abismo?” “O que elas deveriam ter feito para que ambas alcançassem o seu objetivo e não caíssem no abismo?” As Atividade complementares incentivadas foram: “Pegue uma caixinha de massa de modelar, molde todos os personagens, a cena da história e reconte-a de maneira apenas visual e em seguida, falada.” O principal debate trabalhado neste conto envolve os problemas existentes em relações sociais quando não se existe respeito ou trabalho em equipe, onde, também, a falta de educação com o próximo ou pré-julgamento pode levar o ser humano à própria queda. Figura 06: Ilustração do conto As Duas Cabras Fonte: EMPREENDELER (2013) 4° O Leão e o Ratinho Um Leão dormia sossegado, quando, de repente, foi despertado por um Rato, que passou correndo pelo seu rosto. Com um bote muito rápido, o leão o pegou, e já pronto para matá-lo, foi atrapalhado pela súplica do Rato: -Ora, senhor Leão, veja bem, se o senhor me poupar, tenho certeza de que um dia poderei retribuir sua bondade. Apesar de rir muito por achar ridícula 88 esta possibilidade, ainda assim, como não tinha nada a perder, o Leão resolveu libertá-lo. Aconteceu que, pouquíssimo tempo depois, o Leão caiu numa armadilha colocada por muitos caçadores que rondavam a região em busca de animais selvagens como era o caso do próprio Leão. Assim, preso ao chão, amarrado por cordas e redes, completamente indefeso e refém do inevitável destino que certamente o aguardava, sequer podia mexer-se. O Rato, reconhecendo o rugido daquele que o poupou, se aproximou e roeu as cordas até deixá-lo livre. Então disse: - O senhor riu da ideia de que eu seria capaz de um dia retribuir seu favor. Mas agora sabe, que mesmo um pequeno Rato é capaz de fazer um favor a um tão poderoso Leão. Os questionamentos para reflexão nesta história são: “O que salvou o ratinho no momento em que o leão iria devorá-lo?” “O que levou o leão a rir com a proposta do ratinho?” “O que você acha da atitude do Leão em não acreditar no poder do ratinho?” “Você acha que todos têm o poder de fazer o bem?” “Mesmo aqueles que parecem fracos?” A atividade complementar incentivada foi: “Pegue recortes de revistas, ou impressões da Internet de animais que representam os personagens dessa história anterior e monte, através de desenhos, toda a história narrada.” No conto do leão e o ratinho a criança residente em áreas de vulnerabilidade pode visualizar uma situação de igualdade até mesmo em personagens tão distintos e que o mais fraco, quando trabalha com objetivos e foco pode fazer grandes feitos e chegar muito longe. Figura 07: Ilustração do conto O Leão e o Ratinho Fonte: EMPREENDELER (2013) 89 5° O Menino, o Burro e o Cachorro, Conto popular no Nordeste sendo de origem desconhecida. Certo dia, um menino, esperto como deve ser, foi buscar lenha na floresta com seu burrico e aproveitou para levar junto o seu fiel escudeiro, Feijão, seu cachorro de estimação. Chegando ao meio da mata, que ficava não muitos quilômetros de sua casa, o menino juntou um grande feixe de lenha, olhou para o burro, e falou: - Vou colocar uma carga de lenha tão grande nesse jumento, que não precisarei voltar aqui nem tão cedo. Então o burrico, aquele que levaria o feixe, bateu com os cascos um no outro, cruzando suas patas e virando-se para o menino, disse em tom de indignação: - É Claro que vai querer levar tão grande carga, não é você quem vai carregar! Nem vem que não tem, companheiro. O Menino muito espantado com o fato de ter ouvido o burro falar e reclamar foi correndo contar tudo ao seu pai. Ao chegar em casa, quase sem fôlego, disse o menino: - Pai, pai, eu estava na mata juntando lenha, e depois de preparar uma enorme carga para trazer, virei-me para colocá-la na garupa do burro e, acredite se quiser, ele se olhou para mim e disse: "É Claro que vai querer levar tão grande carga, não é você quem vai carregar! Nem vem que não tem, companheiro." O Pai do menino olhou-o de cima a baixo, e meio desconfiado o repreendeu: - Você está dando para mentir agora?! Onde já se viu tal absurdo, animais não falam! Nesse momento, o cachorro que estava ali presente, saiu em defesa do garoto e falou: - Foi verdade, eu também estava lá e vi tudinho! Assustado o pobre camponês, julgando que o animal estivesse endiabrado, pegou um machado que estava encostado na parede e o ergueu para ameaçá-lo. Nesse momento, aconteceu algo ainda mais curioso. O machado começou a tremer em suas mãos, e de dentro dele saiu uma voz que soava temerosa: - O Senhor tenha cuidado, esse cachorro pode me morder! Os questionamentos para reflexão nesta história são: “Devemos fazer com o próximo aquilo que não queremos que façam conosco?” “Na história, quando o menino fala ao pai sobre o que aconteceu, o seu pai o repreende e diz que ele está mentindo. Para você, o que significa “Mentira”?” “Podemos mentir por algum motivo?” “O que acontece quando mentimos?” “E o que significa “Verdade”?” “O que ganhamos quando falamos a verdade?” 90 “O camponês, ao assustar-se com o cachorro falando levanta um machado para o animal. É certo bater em animais? Por quê?” A atividade complementar para esta história foi: Pegue uma folha de papel e alguns lápis coloridos e desenhe tudo o que foi percebido na história, desde as cenas até os personagens, recorte-os e reconte a história como se fosse um teatro de fantoche. Neste conto os voluntários desenvolvem um debate sobre a não violência, de uma forma lúdica, seja com os animais, objetos ou com o próximo. Figura 08: Ilustração do conto O Menino, O Burro e o Cachorro Fonte: EMPREENDELER (2013) 6°O lenhador honesto, texto adaptado de uma história escrita por Emilie Paulsson, tendo por inspiração um poema de Jean de La Fontaine. Há muito e muito tempo, numa floresta grande, verde e muito silenciosa, bem próximo a um riacho de águas cristalinas e espumantes corredeiras, vivia um lenhador muito pobre, que trabalhava muito para sustentar toda a sua família. Todos os dias, seguia a cansativa caminhada floresta adentro, levando no seu ombro um afiado, mas, bem velho, machado cortador de árvores. Seguia sempre assobiando, contente como ninguém, pois sabia que enquanto tivesse saúde e o seu machado, conseguiria ganhar o suficiente para comprar, dia a dia, todo o pão que a família necessitava para sobreviver. Um dia, estava ele cortando um enorme carvalho perto do rio. Grandes lascas voavam longe e o barulho do machado ecoava floresta adentro com tanta força que parecia haver uma dúzia de lenhadores trabalhando. Passado algum tempo, resolveu descansar um pouco. Encostou o machado na árvore e virou-se para sentar, mas, ao virar-se, tropeçou numa raiz velha e muito retorcida, e antes mesmo que pudesse pegá-lo, o machado caiu 91 ribanceira abaixo, indo parar direto no riacho! Aquele pobre lenhador tentou procurar em cada centímetro do riacho por seu machado, mas aquele trecho era fundo demais. As águas continuavam correndo com a mesma tranquilidade de sempre, ocultando, o que seria para aquele lenhador, o seu maior tesouro perdido. – Meu Deus, o que hei de fazer? Perdi o machado! Como vou dar de comer aos meus filhos? – gritou de maneira ensurdecedora o lenhador. Mal acabara de gritar, surgiu de dentro do riacho uma bela mulher. Era a fada do rio que viera até a superfície quando ouviu o lamento. – Por que você esta sofrendo tanto? – perguntou, em tom amável a fada do rio. O lenhador contou o que havia acontecido e, logo em seguida, mergulhou a fada, tornando a aparecer na superfície segundos depois com um machado completamente feito da mais pura prata. – É este o machado que você perdeu? Perguntou a fada do rio. O lenhador pensou em todas as maravilhas que poderia comprar para os filhos com toda aquela prata! Mas aquele machado não pertencia a ele, então balançou a cabeça, dizendo: – Não fada, não é esse. O meu machado era feito apenas de aço. A fada das águas colocou o machado de prata sobre a barranca do rio e tornou a mergulhar. Voltou logo-logo e mostrou outro machado ao lenhador, muito melhor, completamente forjado a ouro: – Talvez este machado seja o seu? Perguntou novamente a fada. E o homem, honesto como deve ser, respondeu: – Não é não! Esse é de ouro! Vale muito mais do que o meu. Como já falei o meu é feito de aço, seu valor não é financeiro, mas é o meu maior tesouro. A fada das águas colocou o machado de ouro na margem do rio. Mergulhou mais uma vez. Tornou a subir, trazendo, realmente, o machado perdido. – Sim, Esse é o meu! É o meu, sim; sem dúvida! Gritou o homem feliz da vida. – Esse é o seu – disse a fada das águas, - e agora, por sua tão grande honestidade, também serão seus os outros dois. É um presente do rio, por você ter dito a verdade. E à noitinha, o lenhador, feliz com tudo o que tinha acontecido e com a lição que havia aprendido, seguiu com a árdua caminhada de volta para casa, não só com um, mas com os três machados às costas, assobiando contente e pensando em todas as coisas boas que eles iriam trazer para sua família. Os questionamentos para reflexão nesta história são: “Por que o Lenhador ficou tão triste quando perdeu o seu machado?” “Por que o Lenhador ganhou os 3 machados da Fada do rio?” “Você teria escolhido o machado de ouro? Por quê?” “Para você o que é Honestidade?” A atividade complementar para a história foi: “Pegue recortes de revistas, ou impressões da Internet de animais que representam os personagens da historia anterior e monte, através de desenhos, toda a história narrada.” Nesta história os voluntários conseguem debater sobre valores e honestidade e a importância social do falar a verdade e não ficar com o que é dos outros para a formação de um bairro melhor, de um país melhor, de um mundo melhor. 92 Figura 09: Ilustração do conto O Lenhador Honesto Fonte: EMPREENDELER (2013) 7° Os Três conselhos Em uma cidade muito, mas muito distante, existia um jovem casal, recémcasados, bem pobres e que viviam de favores num sítio do interior daquela cidade. Certo dia, o jovem marido fez a seguinte proposta à sua esposa: Querida, vou sair de casa e viajar para bem longe, arrumar um bom emprego e trabalhar até que tenha condições de voltar e darlhe uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo ficarei distante de casa. Só lhe peço uma única coisa: Espere-me! Enquanto estiver fora, seja-me fiel, que eu também serei a você. Assim sendo, o jovem partiu em busca de um bom emprego. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um fazendeiro que estava precisando de alguém para ajudá-lo em sua fazenda. Ofereceuse para trabalhar e foi aceito, mas não sem antes propor o seguinte pacto ao seu empregador: - Patrão, peço-lhe apenas uma coisa: deixe-me trabalhar pelo tempo que quiser e, quando achar que devo ir embora, dispensa-me das minhas obrigações. Não quero receber meu salário mensalmente. Só lhe peço que o coloque na poupança até o dia em que eu decidir ir embora. Quando sair, recebo todo o meu dinheiro e sigo o meu caminho. Tudo combinado, o jovem trabalhou por vinte anos, sem férias nem descanso. Depois de todo esse tempo, chegou a sua hora, dirigiu-se ao patrão e cobrou-lhe o contrato feito há vinte anos: - Quero o meu dinheiro, conforme combinado, pois estou voltando para minha casa, minha esposa me espera. O patrão, então, disse-lhe: -Tudo bem, fizemos um acordo e irei cumpri-lo, só que, antes, quero fazer-lhe uma proposta irrecusável: pode escolher entre receber todo o seu dinheiro ou aceitar três conselhos meus e ir embora. Vá para seu quarto, pense durante a noite e depois me responda. O rapaz pensou durante dois dias. Procurou o patrão e disse-lhe: Sei que pode parecer loucura, conheço meu patrão muito bem e sei que não irá querer meu mal, vou preferir os três conselhos e irei embora. O patrão, então, começou a falar os conselhos, um a um: - Primeiro conselho: nunca tome atalhos em sua vida. Caminhos mais curtos e desconhecidos podem custar a sua vida. - Segundo conselho: não seja curioso para aquilo que é mal, pois a curiosidade poderá ser-lhe mortal. Terceiro conselho: jamais tome decisões em momentos de ódio e de dor. Poderá arrepender-se e ser tarde demais. Após dar-lhe os três conselhos, o patrão disse-lhe: É isto, meu jovem, aqui tem três pães, dois para comer durante a viagem e o terceiro para comer com sua esposa, quando chegar em casa. Assim, o rapaz partiu triste com sua escolha, mas feliz porque voltaria para casa, deixando a fazenda, depois de vinte anos, longe de casa 93 e da esposa que tanto amava. Andou durante o primeiro dia e encontrou um viajante, que lhe perguntou: - Para onde vai? Respondeu-lhe: - Para um lugar muito distante, que fica a mais de vinte dias de caminhada por esta estrada. O viajante aconselhou-o: - Este caminho é muito longo, conheço um atalho que vai encurtar bastante sua viagem. O rapaz ficou contente e começou a seguir pelo atalho, quando se lembrou do primeiro conselho do seu patrão. Então, voltou e seguiu seu caminho. Dias depois, soube que aquilo era uma emboscada e que aquele homem era um ladrão muito mal que queria fazer o mal contra todos que por ali passavam e aceitavam aqueles conselhos. Após alguns dias de viagem, achou uma pensão na beira da estrada, onde se hospedou. De madrugada, acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se, rapidamente, sem saber de onde vinham os gritos e do que se tratava. Recordou-se do segundo conselho. Voltou, deitou-se e dormiu. Ao amanhecer, o dono da hospedagem perguntou-lhe se não havia ouvido um grito e ele disse-lhe que sim. O hospedeiro questionou-lhe: - Não ficou curioso? - Não! O hospedeiro falou-lhe: -Você é o único hospede que vai sair vivo daqui, pois ontem hospedei um casal, muito suspeito, que gritaram muito durante a noite e quando os outros hóspedes saíram os roubaram e mataram-nos todos. E mostrou-lhe vários cadáveres. O rapaz seguiu sua longa caminhada, ansioso por chegar a sua casa. Depois de muitos dias e muitas noites de caminhada, já ao entardecer, viu, entre as árvores, a fumaça saindo da chaminé de sua casinha. Andou um pouco mais e logo notou, entre os arbustos, a silhueta da sua esposa. O dia estava escurecendo, mas viu que sua mulher não estava só. Andou mais um pouco e percebeu que havia um homem entre suas pernas, a quem estava acariciando os cabelos. Ao presenciar aquela cena, seu coração derreteu-se de ódio e amargura e decidiu ir ao encontro dos dois para matálos sem piedade. Respirou fundo e apressou os passos. Lembrou-se, então, do terceiro conselho. Parou, refletiu e resolveu dormir aquela noite ali mesmo. No dia seguinte, tomaria uma decisão. Ao amanhecer, já com a cabeça fria, pensou: - Não vou matar minha esposa e nem seu amante. Voltarei para meu patrão e lhe pedirei que me aceite de volta. Antes, quero dizer à minha mulher que fui fiel a ela. Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando sua esposa apareceu, reconheceu o marido, atirou-se no seu pescoço e abraçou-o afetuosamente. Tentou afastá-la, mas não conseguiu. Com lágrimas nos olhos, disse-lhe: - Fui-lhe fiel e você me traiu! Ela, espantada, respondeu-lhe: - Como?! Não o traí muito pelo contrário. Esperei-o durante esses vinte anos! Ele perguntou-lhe: - E aquele homem a quem estava acariciando? Ela disse-lhe: - É nosso filho! Quando você foi embora, descobri que estava grávida e, hoje, ele está com vinte anos de idade. Então ele entrou, conheceu seu filho, abraçou-o e contoulhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava-lhes o café. Sentaram-se para tomá-lo e comeram o último pão. Após a oração de agradecimento e lágrimas de emoção, ele abriu o pão. Ao partilo, ali estava todo o seu dinheiro, que o fazendeiro havia colocado de volta. Os questionamentos para reflexão nesta história são: “Como está sua confiança? “Sem ler na história, repita quais foram os 3 conselhos preciosos que o patrão disse ao trabalhador.” “Referente aos conselhos, você trocaria por todo o dinheiro de 20 anos de trabalho, o qual era seu?” “Você já seguiu um caminho diferente e se arrependeu?” “Ainda tem tempo para que você faça diferente. Você já pensou nisso?” 94 “Sua curiosidade te colocou em lugar ruim?” A atividade complementar vinculada a esta história foi: “Reconte a história, substituindo cada personagem por alguém que você conhece e acha parecido com o personagem.” Os três conselhos é uma história que pode ser trabalhada com diversas faixas etárias, principalmente com adultos, e gera uma reflexão acerca de padrões de vida,de prioridades, de não tomar atalhos com filar na escola, roubar, etc. Não ter curiosidade para o mal, como, por exemplo, uso de entorpecentes, e de nunca agir de cabeça quente. Figura 10: Ilustração do conto Os Três Conselhos Fonte: EMPREENDELER (2013) 8° A RAPOSA E O LENHADOR Em um pequeno vilarejo, bem no interior do Brasil, existia um Lenhador que acordava todos os dias às 6 da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha, e só parava à noite para ir dormir. Esse lenhador tinha um filho, lindo, de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bicho de estimação e de sua total confiança. Aquele lenhador não confiava em ninguém, como confiava em sua raposa. Todos os dias o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa a cuidar do seu filho e à noite, quando o lenhador retornava do trabalho, a raposa ficava feliz com sua chegada. Os vizinhos do Lenhador sempre alertavam sobre o perigo que aquele homem poderia estar correndo, diziam eles que a Raposa era um bicho ruim, um animal selvagem; e, que, portando, não era confiável. Seu vizinho mais próximo, um tal de Nhô Lau, dizia de maneira maldosa: Quando esta raposa sentir fome irá comer o seu filho. Mas, o Lenhador, sempre retrucando com os vizinhos, dizia que isso nunca aconteceria. Pois ele confiava demais em sua raposa. -A raposa é nossa amiga e jamais fará isso. Os vizinhos insistiam: - Lenhador abre os olhos! A Raposa vai comer o teu filho... -Quando sentir fome comerá teu filho! – Repetia também o Nhô Lau. Um dia, o Lenhador muito cansado do trabalho e influenciado por todos aqueles comentários, ao chegar à casa, viu a raposa sorrindo como sempre e sua boca totalmente ensanguentada... O Lenhador suou frio e sem pensar 95 duas vezes acertou com o machado o pescoço da raposa e cortou-lhe a cabeça... Ao entrar no quarto desesperado, encontrou o seu filho no berço dormindo tranquilamente e ao lado uma cobra morta... O Lenhador nem queria acreditar no que via! A raposa tinha salvo o seu filho da cobra e esperava o lenhador feliz para mostrar o que havia feito! Mas já não havia mais o que fazer. Os questionamentos para reflexão nesta história são: “Em sua opinião, devemos agir por impulso e de cabeça quente?” “Por que você acha que o homem preferiu dar ouvido aos seus vizinhos no lugar de confiar na sua amiga raposa?” “O que teria acontecido se, antes de matar a raposa, o lenhador tivesse ido conferir o que tinha acontecido no quarto de seu filho?” “Qual deve ter sido o sentimento do lenhador quando viu que havia tomado uma atitude tão precipitada?” Atividade complementar para esta história: Pegue recortes de revistas, ou impressões da Internet de animais que representam os personagens da historia anterior e monte, através de desenhos, toda a história narrada. Com a história do lenhador e a raposa os voluntários discutem a importância da confiança nos laços próximos, pais, mães, irmãos, etc e da importância de se cativar uma uma relação afetiva próxima. Figura 11: Ilustração do conto A Raposa e o Lenhador Fonte: EMPREENDELER (2013) 9°Os três Porquinhos, Conto do Folclore Inglês – autor desconhecido Era uma vez, três porquinhos espertos, que saíram da casa de sua mãe para viver uma nova vida. Acertaram eles que cada um construiria a sua própria casa e que seguiriam caminhos diferentes. O primeiro porquinho construiu a sua casa com palha. Logo-logo ficou pronta e ele foi dormir. Chegou um lobo muito mal, que comia porquinhos e outros bichos e disse: - 96 Abra a porta ou derrubarei. Irei soprar, soprar e derrubarei a sua casa com um sopro só! O porquinho, achando-se protegido, não abriu. O lobo soprou e derrubou a casa. O porquinho fugiu e foi para a casa do segundo porquinho. O segundo porquinho fez a sua casa com madeira retirada das árvores e seus galhos. Logo ficou pronta e ele foi dormir, junto ao seu irmão porquinho. Outra vez veio o lobo. - Porquinho, abra a porta ou vou assoprar e derrubar tudo. Os porquinhos, achando-se ainda mais protegidos com o ótimo material que havia construído a casa, não abriu, logo, o lobo assoprou e derrubou a casa. Mas os porquinhos fugiram e se esconderam na casa do terceiro porquinho. O lobo, que não era bobo nem nada, queria saber: Onde se meteram estes porquinhos? E lá na casa do terceiro porquinho, porquinho zeloso e muito mais que inteligente, que construiu a sua casa com tijolos e uma base sólida. O lobo se aproximou, mas, desta vez, o lobo soprou até cansar e não derrubou a casa. O lobo resolveu descer pela chaminé, mas a lareira estava acesa e ele saiu pegando fogo. O lobo foi embora e os porquinhos ficaram muito felizes, morando na casinha de tijolos. Os questionamentos para reflexão nesta história são: “O que aconteceria se, desde o começo, todos os porquinhos tivesses construído suas casas de tijolos?” “Por qual motivo as casas dos primeiros porquinhos foram construídas de materiais tão frágeis?” “Por que os dois primeiros porquinhos procuraram a casa do terceiro porquinho?” “Se você fosse um dos 3 porquinhos, como você construiria a sua casa? Com que materiais? Por quê?” “Podemos comparar a história com o que acontece na nossa vida normalmente?” “Na nossa escola, por exemplo, devemos construir o nosso conhecimento do mesmo modo que se construiu a casa de qual porquinho? Por quê?” A atividade complementar para a história foi: “Olhando para a imagem da historinha, conte onde aconteceu cada cena e reconte a história para outra criança.” Neste conto tão conhecido se trabalha ideologias, valores e características muito adultas, tais como o fato da mãe dos porcos não se importar com a saída de casa sem uma estrutura prévia, o fato de ter porcos preguiçosos que escolhem as coisas mais fáceis da vida e que o lobo, que pode ser diversos e principalmente o próprio porco, e o quanto vale a pena construir uma base sólida na vida, nos estudos e nas relações sociais. 97 Figura 12: Ilustração do conto Os Três Porquinhos Fonte: EMPREENDELER (2013) 10° A Galinha Ruiva, Conto do Folclore Inglês – Autor desconhecido Era uma vez uma galinha ruiva, que morava com seus pintinhos numa fazenda cheia de outros bichos. Um dia, ela percebeu que o milho estava maduro, pronto para ser colhido, mas estava cansada de comê-lo apenas cru e resolveu transforma-lo em algo mais incrementado. A galinha ruiva teve a ideia de fazer um delicioso bolo de milho. E ficou muito feliz em saber que todos iriam gostar! Ela sabia que seria muito trabalho e que precisaria de bastante milho para fazer o bolo. Quem poderia ajudar a galinha a colher a espiga de milho no pé? Quem poderia ajudar a debulhar todo aquele milho? Quem poderia ajudar a moer o milho para fazer a farinha de milho para o bolo? Foi pensando nisso tudo que a galinha ruiva encontrou seus amigos e então perguntou: -Quem pode me ajudar a colher o milho para fazer um delicioso bolo? - Eu é que não, disse o gato. Estou com muito sono. -Eu é que não, disse o cachorro. Estou muito ocupado. - Eu é que não, disse o porco. Acabei de almoçar. -Eu é que não, disse a vaca. Está na hora de brincar lá fora. Todo mundo disse não em toda ajuda que a galinha ruiva pediu, ninguém ajudou a colher, ninguém ajudou a debulhar, ninguém ajudou a preparar, ninguém ajudou a assar. Então, a galinha ruiva foi preparar tudo sozinha: colheu as espigas, debulhou o milho, moeu a farinha, preparou o bolo e colocou no forno. Quando o bolo ficou pronto... Aquele cheirinho bom de bolo foi fazendo os amigos se chegarem. Todos ficaram com água na boca. Então a galinha ruiva disse: - Quem foi que me ajudou a colher o milho para fazer o bolo? - Quem foi que me ajudou a debulhar o milho para fazer o bolo? - Quem foi que me ajudou a preparar o bolo? - Quem foi que me ajudou a assar o bolo? Todos ficaram bem quietinhos, pergunta a pergunta. (Ninguém tinha ajudado.) - Então, quem vai comer o delicioso bolo de milho sou eu e meus pintinhos, apenas. Vocês podem continuar a descansar olhando. E assim foi: a galinha e seus pintinhos aproveitaram a festa, e nenhum dos preguiçosos foi convidado. Os questionamentos para reflexão nesta história são: “Por que a galinha ruiva não compartilhou com todos o bolo que tinha feito?” 98 “O que teria levado a galinha ruiva a dividir o que tinha com os outros animais da fazenda?” “Devemos ajudar ao próximo? E se não ajudarmos, somos merecedores da mesma recompensa dos que o ajudaram?” “Se a galinha ruiva tivesse esperado pelos outros bichos o seu objetivo teria sido alcançado?” “Você precisa esperar pelo outros para ter sucesso ou pode ser protagonista do seu próprio sucesso?” A atividade complementar para esta história foi: “Pegue recortes de revistas, ou impressões da Internet de animais que representam os personagens da história anterior e monte, através de desenhos, toda a história narrada.” Figura 13: Ilustração do conto A Galinha Ruiva Fonte: EMPREENDELER (2013) 99 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tanto as teorias encontradas em fontes bibliográficas quanto nos resultados das pesquisas aplicadas em campo pela Associação Empreendeler dá indícios muito replicáveis de ser possível sim a transformação do indivíduo com alto potencial marginal e ou já marginalizadas em indivíduos proativos e protagonistas de suas próprias vidas de maneira ética e moral de modo que as mesmas desenvolvam a sua localidade e replique as práticas de empoderamento conforme problematizado na presente dissertação e sugerido como hipótese. Neste caso percebe-se que, primeiro, identifica-se na teoria que a mudança protagonista é gerada por fatores de autoestima, autoconfiança e autoafirmação e que, ainda na teoria, práticas de leitura e contação de história, unidas aos exemplos práticos tornam a comunicação melhor, desenvolvem o trabalho em equipe, a determinação, a garra e o enfrentamento dos medos, características estas necessárias aos atores empreendedores. Sobre o impacto gerado na formação de indivíduos protagonistas e empreendedores em comunidades vulneráveis da Região Metropolitana do Recife através da metodologia de empoderamento social aplicado pela Associação Empreendeler descrito como objetivo geral percebe-se que o impacto gerado permitiu o desenvolvimento de ações mais sociais, mais coletivas, voluntárias e comunicativas. A interação com os diversos atores sociais levados para interação com os mesmos pode incentivar o desenvolvimento de ações futuras, o que pode ser, inclusive, trabalhado como tese de doutorado. Todos os métodos pedagógicos desenvolvidos em 2015 pela Associação objeto desta pesquisa foram devidamente explicados e acompanhados onde puderam ter seus dados coletados e apresentados nesta pesquisa inclusive servindo como dados parao levantamento do balanço social do objeto, o que atende cada um dos objetivos específicos desta pesquisa. O que pôde ser percebido foi a importância da atuação destes empreendedores sociais diretamente na comunidade, não esperando apenas do governo, mas, indo lá e agindo e que, a transformação de qualquer uma das crianças abordadas já pode ser um grande marco na construção de uma sociedade mais colaborativa e coletiva. Os principais indícios de empoderamento identificados são as mudanças de algumas características dos beneficiados, que, diante das histórias, passam a ter 100 uma percepção diferente de suas vidas e da necessidade de participação social mais ativa. As histórias adaptadas podem levar a reflexões distintas e a reflexão passa a direcionar atitudes e visões diferentes, logo, cabe à sociedade brasileira, viabilizar mais ações que incentivem este tipo de prática, não apenas ações filantrópicas de doações, mas ações empoderadoras, para, assim, desenvolver a mudança esperada e a evolução necessaria para se criar um país mais livre e democrático. 101 REFERÊNCIAS ABRAMOVICH, Fanny. 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(Pergunta feita exclusivamente aos beneficiários) 4) Você identifica uma maior participação do beneficiário nas rotinas cotidianas? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 5) Você identifica uma maior participação do beneficiário nas tarefas cotidianas? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 6) Você percebe uma melhoria no processo de comunicação e expressão “fala” do beneficiário? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 7) Você percebe uma melhoria no processo de comunicação e expressão “ouvir” do beneficiário? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 8) Você percebe uma maior atitude questionadora do beneficiário? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 9) O beneficiário tem percebido uma maior percepção de que para alcançar os sonhos precisam de determinação e perseverança? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 10) Você tem percebido maior iniciativa em ações cotidianas pelo beneficiário? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 108 11) Você tem percebido maior comprometimento com as ações cotidianas? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 12) Você tem percebido maior de informações? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores) 13) Você tem percebido maior autoconfiança e independencia do beneficiário? (Pergunta feita aos pais, aos profissionais do centro social e aos professores)