Mayra Taiza Sulzbach e Valdir Frigo Denardin
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Mayra Taiza Sulzbach e Valdir Frigo Denardin
V Encontro Anual da ANDHEP - Direitos Humanos, Democracia e Diversidade 17 a 19 de setembro de 2009, UFPA, Belém (PA) Grupo de Trabalho: GT 4 – Direitos Econômicos Sociais e Política Públicas de Direitos Humanos 1 O emprego formal x o trabalho informal, o sonho x a realidade: o caso do município de Matinhos - PR Mayra Taiza Sulzbach1 Valdir Frigo Denardin2 Resumo O nível de emprego de um país é resultado da combinação da alocação dos recursos de uma nação com base no paradigma tecnológico adotado pelos principais setores produtivos do país e deveria ser o indicador usado pelo modelo de produção fordista, ou capitalista de massa. O uso desse indicador como unidade de medida colaboraria no sentido de demonstrar as diversidades de cultura, costumes, hábitos etc. O emprego formal, marco do modelo fordista de produção, é neste texto considerado um indicador capaz de demonstrar o grau de inserção de comunidades não industrializadas, como o município de Matinhos, zona costeira do Paraná. O artigo demonstra que a diversidade dos estágios de desenvolvimento de uma região são resultados de esforços que se distribuem espacialmente e distintamente no tempo. Palavras-chave: desenvolvimento, emprego formal, trabalho informal, litoral do Paraná. Introdução e objetivo Este artigo compreende a reflexão do conteúdo ministrado em sala de aula para o Curso de Graduação em Gestão e Empreendedorismo e de Especialização em Serviço Social. Nos dois cursos o tema “trabalho” é o eixo do conhecimento teórico e o resgate de vivência dos alunos no Litoral do Paraná. O conhecimento sobre o tema ainda encontra-se em construção, porém alguns resultados já possibilitam uma avaliação. O cunho teórico do tema trabalho baseia-se em literaturas de cunho econômico, com contribuições da pedagogia e do direito. Já o resgate empírico do mundo do trabalho no município de Matinhos se fundamenta na experiência de vida dos alunos, bem como em materiais secundários, como dados do Ministério do Trabalho – Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O objetivo geral deste artigo é refletir o grau de inserção do modelo fordista de produção em uma comunidade, tendo como indicador o volume do emprego formal da mesma comunidade. Para desenvolver tal reflexão, foram necessárias algumas revisões de bibliografias sobre os modelos de produção, mais especificamente o fordista e toyotista. Com este conhecimento, acrescido da experiência de vida da realidade local e dos dados secundários foi possível observar se os elementos 1 Professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Setor Litoral. Doutora em Políticas de Desenvolvimento. [email protected] 2 Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Setor Litoral. Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. [email protected] 2 estruturantes do modelo de produção são ou não observados no local. Este artigo se estrutura em quatro partes. Esta primeira que permite avaliar o que segue, a segunda que faz a reflexão teórica, a terceira que após os dados secundários se encontra relatos de experiência de vida e a última que termina com algumas considerações finais. 1. Do fordismo ao toyotismo 1.1. O modelo de desenvolvimento das nações pautado na organização do processo produtivo automobilístico No Brasil, a indústria automobilística continua sendo de importância estratégica para o desenvolvimento do capitalismo, desde a instauração da última crise econômica mundial ocorrida no final de 2008. Há quase um ano o governo brasileiro promove a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI para a indústria automobilística. Segundo Gounet (1999) a importância da indústria automobilística se dá por considerar quatro aspectos: um carro tem no mínimo 20 mil peças (representando nos principais países do mundo cerca de 10% do emprego); sua produção tornou-se uma questão de Estado, devido à guerra econômica entre os principais Estados do planeta; a indústria automobilística é pioneira em matéria de organização da produção (organização do trabalho), criando o fordismo (métodos flexíveis de produção); é o articulador do modelo de desenvolvimento dos países. O fordismo da indústria automobilística, no início dos anos 70, era o símbolo da exploração capitalista, mas que por outro lado já não produzia todos os benefícios que os patrões do automóvel esperavam (idem). O automóvel japonês, produzido sob a organização toyotista ocupava espaço cada vez maiores neste mercado. O fordismo é reconhecido por ser um modelo de organização da produção e do trabalho criado para fabricar um determinado modelo de veículo, por um preço relativamente baixo. Para efetivar o modelo de produção os operários deveriam ser desqualificados, ou seja, as tarefas do processo de produção deveriam ser distribuídas entre os trabalhadores. Por outro lado, também deveria ser capaz de ligar o trabalho individual de forma sucessiva, permitindo uma produção fluida, limitando ao máximo os estoques e o transporte entre as operações, o que resultaria em redução de custos. O modelo ultrapassava o comando dos muros da fábrica, necessitava de uma padronização das peças pelos seus fabricantes, o que levou Ford3 comprar as firmas que fabricavam as peças, exercendo o controle direto de cima para baixo no processo 3 Henry Ford desenvolve em 1913 um modelo revolucionário de produção de automóvel em sua empresa a Ford, criada em 1903. 3 de produção. Após o parcelamento das tarefas, a racionalização das operações sucessivas e a estandardização dos componentes a automatização foi possível. O volume da oferta de mão-de-obra para trabalhar na fábrica também deveria mudar com a automatização, tornou-se necessário maior volume de homens, estes foram atraídos com o pagamento em dobro das outras fábricas. Em 1921, 53% dos automóveis do mundo eram produzidos nas fábricas Ford, o que levou as empresas sobreviventes introduzirem os novos métodos de produção e aumento dos salários. Logo o modelo emigra para outras regiões do mundo. Após a Segunda Guerra Mundial o modelo norte-americano de produção fordista automobilística se instala como obrigatório na reconstrução da Europa e no Japão, porém neste o modelo não consegue funcionar sem adaptação nos veículos, pela demanda diversificada, limitada e fraca e pelos espaços das fábricas, que não o possibilitavam, devido aos custos imobiliários. Do movimento interno japonês na busca de proteger o seu mercado cria-se o Ministério do Comércio Internacional e da Indústria que elege a indústria automobilística como setor prioritário, apoiando os fabricantes nacionais. No Japão a Toyota cria nova organização do trabalho capaz de produzir produtos concorrênciais à produção norte-americana. Este modelo passa a dominar-se toyotismo. O toyotismo nas palavras do dono da Toyota é a experiência norte-americana de produção em série adaptada à situação do país (GUENET, 1999). Segundo o mesmo autor o novo método de produção pode ser resumido em seis pontos: a produção de modelos diferentes é puxada pela demanda e elevada pelo fluxo; a fluidez da produção é necessária pela carência de espaço e determinada pelo custo, limitando tempo de transporte, estocagem e controle de qualidade; a flexibilização da organização do trabalho, com o trabalho de equipe na operacionalização do sistema automatizado; os estoques são reduzidos pelo kanban (placa de sinalização) que indica estoque esgotado; a redução do tempo de adaptação de uma máquina para produção de veículos diferentes ocorre pela antecipação das operações de mudança e; a relação de subcontratação com fornecedores de autopeças. Com o modelo de organização da produção toyotista surgem novos setores de produção, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros e novos mercados, além da inovação comercial, tecnológica e organizacional (RAMOS, 1998), o que envolve mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões. O processo de produção toyotista promove produtos homogeneizados em pequenos lotes com grande variedade de produtos e pequenos estoques, viabilizados 4 pela informatização e melhoria dos meios de comunicação e transporte, mas que por outro lado também promove a terceirização da produção. O sistema de produção toyotista de produção segundo Guenet (1999) exige mais do trabalho operário, tanto para as subcontratações, como para as fábricas da montadora, do que o fordismo. A mão-de-obra é empregada intensamente e gerenciada por sinais luminosos, acusando problemas o tempo todo de forma a elevar constantemente o ritmo de produção. A flexibilidade da produção exige a flexibilidade do trabalho e dos trabalhadores, se a demanda por veículos aumenta, os operários são obrigados a fazer horas extras ou a empresa contrata trabalhadores temporários. Os operários têm que ser polivalentes e trabalham em equipe. Estes recebem o pagamento de salários na forma pessoal, recebendo bonificações e prêmios por produção, considerando a produtividade do grupo de trabalho. Este sistema de trabalho em equipe impõe aos trabalhadores integrantes do grupo fiscalização recíproca, já que a mesma interfere no pagamento individual. O controle da equipe pelos seus integrantes sobre a produção é exercido também no controle da qualidade da produção, que é realizada durante a produção e não ex-post como no fordismo. Para realizar o controle de qualidade os operários são treinados continuamente, sem que os mesmos recebam a mais pela sua qualificação. A estrutura de oferta de trabalhadores muda quando se contrapões os dois modelos de organização de produção e trabalho. Nos dois modelos a regulação do mercado de trabalho se faz necessária, possibilitando assim a manutenção do modelo predominante e do sistema de acumulação. 1.2. A regulação da organização da produção e do trabalho do fordismo ao toyotismo O desenvolvimento de uma nação, ou ainda, as políticas que são estabelecidas para o desenvolvimento de um país, nada mais é do que a combinação de um modelo de organização do trabalho às leis macroeconômicas, que descrevem os movimentos conjugados das condições de produção e das condições de uso social da produção. Portanto, o desenvolvimento de uma nação ocorre num modelo de regulação que permite a combinação de mecanismos que ajustam os princípios coletivos ao regime de acumulação. Nas palavras de Lipietz apud Gounet (1999; 58): 5 Um regime de acumulação aparece como resultado macroeconômico do funcionamento do modo de regulação, sobre a base de um modelo de organização do trabalho. E é o conjunto que constitui um modelo de desenvolvimento. Um modelo de desenvolvimento só se sustenta na medida em que suas promessas coincidem com alguma concepção possível de felicidade. A regulação, segundo Gounet (1999) incorpora elementos sociais e institucionais que permitem a eficácia da organização do trabalho e os ganhos de produtividade partilhados entre diferentes atores. Com o desenvolvimento da organização produtiva pautada no fordismo ocorre o aumento da produção de veículos, e por outro lado o aumento do consumo, especialmente pelos ganhos salariais dos operários da indústria automobilística americana. Com o aumento da demanda interna, o governo americano passa a registrar problemas referentes à organização da demanda social. Na tentativa de organizar a economia nacional, as políticas, denominadas keynesianas, de fomento estatal de investimento e de trabalho público foram implementadas. Acompanhado a estas, novas políticas de seguridade social do Estado-previdência foram colocadas em prática. Segundo Lipietz apud Gounet (1999) o fato dos Estados Unidos apresentarem hegemonia sobre a moeda e sobre os mercados internacionais, bem como deter influências sobre os organismos internacionais, sua forma de organização da produção e do trabalho foi recebida em todo o mundo no Pós-guerra. Este modelo baseava-se na busca da felicidade por meio de um número crescente de mercadorias consumidas por todos. Com o modelo de organização da produção e de trabalho difuso nos principais países produtores, não podia se esperar outro resultado quando este apresentasse qualquer problema. Com a recuperação da Europa Ocidental e do Japão e a saturação do mercado interno americano no Pós-guerra, novos mercados para exportação precisavam ser alavancados pela América do Norte, ainda na década de sessenta. Com a queda da produtividade e da lucratividade das indústrias americanas o problema fiscal surge, acompanhado do aumenta das taxas de inflação decorrentes dos compromissos do Estado keynesiano em conceder melhores condições sociais de vida aos trabalhadores e implementar políticas de infra-estrutura de expansão do capitalismo (HARVEY apud GOUNET, 1999). 6 Com a crise do petróleo em 1973 o mercado não comportava níveis de produção fixos, provocando problemas no investimento de capital constante e de capital variável. A redução do capital constate é resolvido com a eliminação de estoques, controle de inventário computadorizado e, melhores meios de comunicações e transportes. Já os problemas de capital variável necessitavam de alteração do modo de organização, ou seja, necessitavam a desregulamentação pelo Estado, pois o mesmo não conseguia mais manter a estabilidade do sistema. 1.3. A desregulamentação do mercado de trabalho No primeiro semestre de 2009, o governo brasileiro em busca de soluções de inserção do trabalhador informal no mercado de trabalho promove uma nova figura jurídica empresarial, que demonstra como a desregulamentação do mercado de trabalho vem sendo tratada. Numa campanha de massa o Governo vem divulgando a todos os trabalhadores informais podem agora contribuir com o Estado de previdência, podendo usufruir dos seus benefícios quando necessário. Os trabalhadores informais como carpinteiro, pedreiro, costureira, artesão são aqueles que já produziam um produto na economia, porém não contribuíam com a tributação para a manutenção do Estado previdenciário. A desregulamentação do direito do trabalho, segundo Souza (1998), refere-se a uma nova postura do Estado diante das relações entre capital e trabalho, implementando alterações na legislação trabalhista. As causas da desregulamentação, segundo o mesmo autor, estão fora do ordenamento jurídico, baseiam-se nos acontecimentos sociais, políticos e econômicos. Este processo torna-se latente com a crise do fordismo e implementação do modelo toyotista de produção. Uma nova combinação entre o mercado, o capital e a força de trabalho se molda exigindo uma nova regulação. A terceirização, a flexibilização, a cooperativização e a informalização são as novas formas de organização que permitiram sustentar o novo modelo produtivo. O modelo de produção toyotista impõe a flexibilização da exploração dos fatores de produção, dentre os quais a força de trabalho, mas para tal necessita, num primeiro momento, da flexibilidade da legislação, para num segundo momento ocorrer a desregulamentação. A desregulamentação do mercado de trabalho não ocorre tão somente pela legislação que se estabelece no direito do trabalho, mas também pela redução da representatividade do coletivo (sindicatos). 7 De acordo com Clarke apud Miqueluzzi (1998), o movimento sindical, durante a instauração do toyotismo, foi reduzido através da regulamentação das representações de interesses econômicos, que passam a ser específicas (incentivo para ser o sindicato da empresa ou da casa ou da classe), representando politicamente apenas os grupos de interesse dentro de um sistema político pluralista (com a terceirização também o corre a dispersão do acúmulo de trabalhadores na fabricas). A maior conseqüência destas novas formas de organização sindical, segundo o mesmo autor, foi à redução das formas de incorporar os marginalizados, elevando as desigualdades entre os trabalhadores e os desempregados. Esta nova forma de desregulamentação do mercado de trabalho estabelece o individualismo que cria uma cultura empreendimentista, assim chamada por Harvey apud Miqueluzzi (1998), aonde a classe trabalhadora vislumbra ser um trabalhador por conta própria, não ser mais assalariado. Portanto, o modelo de produção fordista ser substituído pelo modelo de produção toyotista reduz o emprego formal, marca registrada do fordismo que controlava o chão da fabrica centralizando os trabalhadores e a produção. O emprego formal já não se faz necessário, a estabilidade não pode mais ser garantida pelo empregador, todo trabalhador é estimulado a ser empregador da sua força de trabalho. 2. Os Indicadores do Emprego Formal e Trabalho Informal no município de Matinhos – PR 2.1. Os indicadores do emprego formal e trabalho informal De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2009) trabalho refere-se à ocupação econômica remunerada em dinheiro, produtos ou outras formas não monetárias, ou ocupação econômica sem remuneração, exercida pelo menos durante 15 horas na semana, em ajuda a membro da unidade domiciliar em sua atividade econômica, ou a instituições religiosas beneficentes ou de cooperativismo ou, ainda, como aprendiz ou estagiário. Empregados, segundo o mesmo Instituto, refere-se a pessoas que trabalham para um empregador ou mais cumprindo uma jornada de trabalho, recebendo em contrapartida uma remuneração em dinheiro ou outra forma de pagamento (moradia, alimentação, vestuário etc.). Para o IBGE, incluem-se, entre as pessoas empregadas, aquelas que prestam serviço militar obrigatório e os clérigos. Os empregados são classificados segundo a existência ou não de carteira de trabalha assinada. 8 Neste artigo considera-se empregados formais apenas aqueles que possuem carteira assinada, os demais empregados são classificados como trabalhadores informais. A carteira de trabalho é um documento obrigatório, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (2009), para toda pessoa que venha a prestar algum tipo de serviço à outra pessoa, seja na indústria, no comércio, na agricultura, na pecuária ou mesmo de natureza doméstica. A carteira de trabalho e previdência social foi instituida no Brasil em 1932, período de ascendencia do capitalismo mundial e sua necessidade de regulação pelo Estado. Quando a carteira de trabalho é confeccionada o trabalhador recebe o número do PIS/PASEP, e quando assinada o empregado passa a recolher mensalmente o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Estes dois instrumentos de controle da legislação nacional do trabalho podem ser observados em um outro instrumento de controle da atividade trabalhista no País, a Relação Anual de Informações Sociais – RAIS. Este também é um instrumento de coleta de dados que promove a elaboração de estatísticas do trabalho e a disponibilização de informações do mercado de trabalho às entidades governamentais. A Rais é um relatório de cunho obrigatório para todas as empresas do setor produtivo preencher e encaminharem em prazo determinado sujeito a multa à empresa que não enviar, o que o torna um instrumento de pesquisa confiável, porém não único. Como não há registro do trabalho informal no município de Matinhos, bem como não foi realizada nenhuma pesquisa primária para elaboração deste artigo, a analise empírica, que segue, foi construída através de dados disponíveis de base do Governo, os quais permitiam uma aproximação com o tema de interesse. Neste artigo compreende-se por população em idade ativa - PIA as pessoas economicamente ativas e as pessoas não economicamente ativas e, por população economicamente ativa – PEA o potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, ou seja, as pessoas ocupadas e as desocupadas. São consideradas pelo IBGE (2009) pessoas ocupadas, aquelas pessoas que num determinado período de referência trabalharam ou tinham trabalhado, sendo eles os empregados, os que trabalharam por conta própria, os empregadores e os que exerceram ocupação sem remuneração. As pessoas desocupadas são aquelas que não trabalharam num determinado período, mas estavam dispostas a trabalhar, tomando providencia para tal. 2.2. O nível de emprego no município de Matinhos 9 Com base no Censo de 2000 do IBGE (2009) é possível observar que o município de Matinhos registrava 24.184 habitantes, desta população 11.184 eram considerados população economicamente ativa e 19.051, população em idade ativa, ou seja, 46% da população eram economicamente ativas e 79% em idade ativa. Salienta-se que da população economicamente ativa se considera as pessoas desocupadas, bem como os que exercem ocupação sem remuneração. No mesmo ano, é possível observar na Tabela 1 que o emprego formal registrado na RAIS foi de 2.793 pessoas (MTE, 2009), que corresponde a 13,2% do total da população, ou 14% da PIA, ou 24% da PEA. Na Tabela 1 também é possível observar que o setor de serviços é o maior empregador do município ao longo dos anos, empregando mais de 60% dos trabalhadores formais. Tabela 2. Emprego formal por grande setor do IBGE em Matinhos, vários anos Grandes Setores IBGE 1990 1994 Indústria 29 15 Construção Civil 46 75 Comércio 169 372 Serviços 381 1.176 Agropecuária 10 12 Outros/Ignorados 758 37 TOTAL 1.393 1.687 Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS). 1998 37 62 597 1.736 3 0 2.435 2000 60 64 667 1.992 10 0 2.793 2004 93 6 1.030 2.234 3 0 3.366 2007 87 104 1.452 3.499 4 0 5.146 Outros dados secundários que podem ser apresentados sobre o Município que tratam do mundo do trabalho são os recolhimentos tributários, tal como o Imposto Sobre Serviços – ISS e Imposto de Renda Retido na Fonte - IRRF (Tabela 2). O ISS demonstra o valor arrecadado pela prestação de serviço no município, mesmo sendo o principal empregador no Município, a arrecadação promovida por ele é significativamente baixa (10% do total arrecadado pelo município) quando comparado à arrecadação de Impostos Predial e Territorial Urbano – IPTU, que se refere ao valor arrecadado pelo volume de imóveis sediados no Município (70% do total arrecadado pelo município). O IRRF também pode ser utilizado para destacar o volume pouco expressivo da renda da população trabalhadora do Município. O IRRF é um imposto recolhido pela União e distribuído aos municípios em um percentual de vinte e dois inteiros e cinco décimos. Este tributo tem origem no rendimento do contribuinte que recebe acima de um determinado valor, bem como de outros rendimentos não tributáveis, 10 venda de imóveis entre outros. Destaca-se que o volume mais significativo das contribuições tem origem nos rendimentos do trabalho assalariado, não-assalariado, proventos de aposentadoria, pensões, aluguéis, atividades rurais. Para o ano de 2007 foram tributados em 15% os rendimentos que ultrapassaram R$ 15.764,28 e foram inferiores a 31.501,44 e em 27,5% os rendimentos que ultrapassaram R$ 31.501,44. O município de Matinhos em 2007 obteve uma receita tributária advinda de IRRF de R$ 286.216,92 (22,5% parcela do município), ou seja, uma contribuição total de R$ 1.272.075,20, advinda de uma renda média bruta tributável em 21,3% [(15%+27,5%)/2], de R$ 6.000.354,71. Uma renda tributável da população inferior ao valor recolhido pelo IPTU. A arrecadação dos tributos municipais de Matinhos demonstra ser o Imposto Predial e Territorial Urbano o principal provedor de receitas do município, ou seja, a importância econômica do setor habitacional na geração de renda no município. Tabela 2. Receitas tributárias municipais, segundo as categorias, Matinhos 2007 Categoria Impostos - Total Imposto predial e territorial urbano (IPTU) Imposto de renda retido na fonte (IRRF) Imposto de renda retido na fonte (IRRF) Outros rendimentos Imposto sobre transmissão de bens imóveis (ITBI) Imposto sobre serviços (ISS) Taxas – Total Pelo exercício do poder de polícia Pela prestação de serviço Contribuição de Melhoria Total Fonte: Prefeitura Municipal de Matinhos. Extraído: IPARDES (2009). Valor (R$ 1,00) 10.078.346,52 7.312.690,58 243.885,09 42.331,83 1.493.792,53 985.646,49 813.046,46 356.427,11 456.619,35 28.467,81 10.919.860,79 Com base nas informações acima é possível afirmar que o setor produtivo que fomenta o desenvolvimento econômico do município de Matinhos não esta pautado na organização da produção fordista ou toyotista. Contudo, o emprego é por outro lado a busca constante da população economicamente ativa do município. Esta afirmação foi relatada por todos os alunos tanto do nível de graduação e pós-graduação que participaram da construção do conhecimento da realidade local. A Agência do Trabalhador do Município não dispunha de dados estatísticos para fundamentar o discurso dos alunos, no entanto reconhece que a demanda por emprego é continua e sempre maior do que a oferta. 11 3. Considerações finais A expectativa de um emprego formal ocorre mesmo em locais aonde o sistema produtivo capitalista não se encontra plenamente desenvolvido, como é o caso de Matinhos. A regulação do sistema produtivo capitalista é desenhada nacionalmente, tanto pela legislação trabalhista, bem como pelos incentivos á promoção de setores escolhidos. No caso de Matinhos as expectativas de garantia de emprego são promovidas pelo sistema de regulação do mercado de trabalho, porém não são promovidas pelas políticas macroeconômicas por não priorizar os setores produtivos locais. A combinação dos mecanismos que ajustam os princípios coletivos ao regime de acumulação é falha nos espaços onde os setores selecionados inexistem. Neste sentido, acredita-se que nos espaços políticos administrativos onde os setores produtivos dominantes no local não exigem o mesmo tipo de regulação trabalhista, a regulação promove tão somente um antagonismo da população em aceitar a regras locais de sobrevivência e lutar na busca do que lei estabelece com certo. No fordismo o Estado investia em seguridade social, assistência médica, educação, habitação, transportes etc., no toyotismo o Estado passa a realizar despesas com subsídios, empréstimos, financiamentos, socialização das perdas financeiras, reduzindo os impostos das empresas com o discurso de manutenção de uma classe já falida pelo sistema, mas sonhada por todos; o emprego. O Estado incentiva o emprego e o empreendedorismo individual, sendo estas as categorias que fornecem fundos para financiar os benefícios de seguridade social, assistência médica entre outros. Por outro lado, promove dispensa a contribuição das grandes empresas em nome do emprego que as mesmas devem continuar mantendo. Destaca-se ainda como resultado do trabalho que o emprego formal já não é mais regulado pelo Estado, devido à flexibilidade que a nova ordem internacional de competitividade aponta. Neste sentido, o emprego formal não é mais um indicador para medir a inserção do capitalismo nas economias, o mesmo não é mais obrigatório para estabelecer relações trabalhistas. Referência Bibliográfica Gounet, Thomas. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Boitempo Editorial, Coleção Mundo do Trabalho, 1999. 12 IBGE (2009). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. http://www.ibge.gov.br, acessado 26 de agosto as 18:00. IPARDES (2009). http://www.ipardes.gov.br/cadernos, acessado 26 de agosto de 2009 as 17:20. Miqueluzzi, Osvaldo. Do fordismo-keynesianismo à acumulação flexível: ascensão do individualismo e queda das organizações sindicais. Globalização, neoliberalismo e o mundo do trabalho. Curitiba : IBEJ. 1998. p. 257-270. MTE (2009). Ministério do Trabalho e Emprego. http://www.mte.gov.br, acessado 26 de agosto de 2009 as 14:00. Ramos, Alexandre Luiz. Acumulação Flexível, toyotismo e desregulamentação do direito do trabalho. Globalização, neoliberalismo e o mundo do trabalho. Curitiba : IBEJ. 1998. p 244-256. 13
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