O planeta Terra – Geociências na escola

Transcrição

O planeta Terra – Geociências na escola
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 1 .
SUMÁRIO
O planeta Terra – Geociências na escola
PROPOSTA PEDAGÓGICA ........................................................ 03
Ildeu de Castro Moreira
PGM 1 - História da Terra ........................................................ 08
Ismar de Souza Carvalho
PGM 2 - Mudanças climáticas ........................................................ 19
Andréia Guerra, José Claudio Reis e Marco Braga
PGM 3 - Grandes desastres naturais ........................................................ 24
PGM 4 - Recursos naturais da Terra ........................................................ 25
PGM 5 - Desenvolvimento sustentável ........................................................ 26
Emílio M. Eigenheer e João Alberto Ferreira
ANEXOS: ........................................................ 31
1. Texto para Leitura Complementar (referente ao PGM 3)
2. Texto para Leitura Complementar (referente ao PGM 1) - Reprodução de artigo publicado
na Revista Brasileira de Geociências
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PROPOSTA PEDAGÓGICA
O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA
Ildeu de Castro Moreira1
Os seres humanos e a vida, tal como nós a conhecemos, existem no planeta Terra. Nós
dependemos dele completamente, porque evoluímos a partir dele, somos parte dele e podemos
existir somente em função da sua capacidade de auto-sustentabilidade. A Terra provê riquezas
sobre as quais temos muito a aprender, por meio das pesquisas científicas e do
desenvolvimento de novas técnicas. E, quanto mais aprendemos, mais compreendemos nosso
dever de cuidar da Terra.
Tradicionalmente, os cientistas estudam as rochas do planeta e tentam entender a história e a
estrutura do globo. Tenta-se decifrar tudo o que aconteceu desde a sua origem, com o Sistema
Solar, há 4,6 bilhões de anos, e entender os processos que criaram os minerais, os
hidrocarbonetos, os metais agregados (areia, barro e pedregulho) e até a própria vida. Com
esses estudos, foi possível entender a idade do mundo e da vida, e o tempo relativamente
curto em que os seres humanos existem na Terra.
Em função da importância das questões globais do nosso planeta (vida no planeta,
sobrevivência da espécie humana, estrutura e riquezas da Terra, mudanças climáticas,
poluição atmosférica, etc.) a Organização das Nações Unidas - ONU fez uma convocação
internacional para que a questão global da Terra seja considerada como tema prioritário para
os próximos anos. O Ano Internacional do Planeta Terra teve sua proclamação declarada pela
Assembléia Geral da ONU em dezembro de 2005, com o apoio de 191 países, e é
comemorado desde janeiro de 2007, com ênfase no ano de 2008. Em função disto, no Brasil,
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foi escolhido Terra como lema para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que
acontece de 1 a 7 de outubro de 2007.
Esta série do Salto para o Futuro abordará alguns dos temas importantes sobre o planeta Terra
e terá a participação de especialistas no assunto e de professores. É muito importante que
esses temas sejam discutidos nas escolas brasileiras, porque afetam a vida de todos. O estudo
de Geociências, tradicionalmente pouco valorizado nas escolas, deve também ser estimulado e
melhorado. Serão discutidas essas temáticas: 1) História da Terra; 2) Mudanças climáticas; 3)
Grandes desastres naturais; 4) Recursos naturais da Terra; 5) Desenvolvimento sustentável.
Temas para serem debatidos na série O planeta Terra – Geociências
na escola, que será apresentada no programa Salto para o
Futuro/TV Escola/SEED/MEC, de 13 a 17 de agosto de 2007:
PGM 1 - História da Terra
No primeiro programa, serão discutidos estes temas: surgimento da Terra, eras
geológicas, deslocamento dos continentes, evolução da vida na Terra.
A
história
materializa
da
Terra
através
do
remonta
estudo
há
das
4,5
rochas,
bilhões
minerais
de
e
anos,
fósseis
história
que
se
encontrados
em
nosso planeta e que demonstra uma temporalidade que em muito transcende a
existência humana. A compreensão da magnitude do tempo geológico, no qual
tudo é possível, nos conduz à descoberta de outros mundos, de outros tempos
e à busca pelo significado da existência. Assim, através dos estudos geológicos, somos
conduzidos a grandes descobertas: a compreensão dos fenômenos de transformação da
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superfície do planeta, os grandes eventos tectônicos, as causas da preservação de restos
orgânicos por muitos e muitos milhões de anos, a descoberta dos eventos que
possibilitaram
as
modificações
no
ambiente
e
na
biota
no
decorrer
da
história de nosso planeta.
A partir desses estudos, cada vez mais aumenta nosso êxtase e nossa perplexidade frente às
possibilidades de transformação da Terra ao longo do tempo geológico.
A Geologia possibilita a todos uma feliz descoberta do fantástico universo da
criação e da transformação de nosso planeta e de nosso passado biológico,
dando-nos a possibilidade de compreender as mudanças futuras.
PGM 2 - Mudanças climáticas
As evidências científicas sobre o aquecimento global trazem grandes preocupações para todos
nós. Como prevenir e diminuir seus efeitos? Temas como o seqüestro de carbono, a
contribuição dos combustíveis fósseis e dos desmatamentos para o aquecimento global e os
caminhos alternativos que temos serão discutidos neste segundo programa.
PGM 3 - Grandes desastres naturais
A superfície da Terra é atingida por grandes acidentes e desastres naturais como terremotos,
tsunamis, vulcões, avalanches. Além destes, há os acidentes que podem ser provocados pela
ação humana, como as enchentes, as queimadas, os deslizamentos de terra, etc. Como
entendê-los e como fazer a prevenção deles? Essas são questões para o debate no terceiro
programa da série.
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PGM 4 - Recursos naturais da Terra
O quarto programa vai enfocar os recursos minerais da Terra, os recursos fósseis, a
biomassa, os biocombustíveis.
Toda a matéria-prima da humanidade e quase toda a sua energia vêm da Terra. A
sobrevivência da humanidade e da própria vida depende de manter o funcionamento do
Sistema Terrestre. Devemos buscar administrar as reservas naturais da Terra de maneira
sustentável, na perspectiva de que seus benefícios sejam repartidos de forma justa para toda a
humanidade. Como podemos explorar e nos beneficiar com os recursos do planeta sem
prejudicar o próprio funcionamento do Sistema da Terra?
PGM 5 - Desenvolvimento sustentável
No quinto programa serão enfocados: o que é desenvolvimento sustentável, reciclagem do
lixo, campanhas educacionais, despoluição dos rios e mares.
As atividades humanas que interferem no delicado sistema terrestre são assuntos de
preocupação global. Tais atividades trazem impacto sobre a Terra e sobre o meio ambiente,
incluindo, entre esses impactos, a possibilidade de grandes mudanças climáticas. O
desenvolvimento sustentável é uma necessidade para a sobrevivência da humanidade. A
educação ambiental é um tema importante para a discussão e para a prática cotidiana em
nossas escolas.
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Nota:
Professor do Instituto de Física da UFRJ e da Pós-Graduação em História da
Ciência e das Técnicas, também na UFRJ. Consultor desta série.
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PROGRAMA 1
HISTÓRIA DA TERRA
Fósseis: registro geológico da história da vida na Terra
Ismar de Souza Carvalho1
Expectativa, perplexidade e êxtase. Estas são as principais sensações de todo paleontólogo
com seus objetos de estudo – os fósseis. Expectativa pela descoberta do novo, do
revolucionário, das evidências e de tudo aquilo que leva à transformação das idéias, dos
conceitos, e que possibilita a formulação de novas hipóteses. Perplexidade, pela total surpresa
com o achado inesperado e inédito ou, então, por nenhuma nova descoberta. E êxtase, pela
percepção e pela compreensão de outros mundos, de outros tempos e da busca incansável pelo
significado da existência. Sensações sempre renovadas a cada novo fóssil encontrado.
A Paleontologia, ciência dedicada ao estudo dos diferentes organismos que habitaram a Terra
no transcorrer do tempo geológico, mostra-se como uma área de conhecimento diversificada e
com diferentes interfaces com outras ciências. Envolve assim, conhecimentos advindos da
Biologia, Geociências, Física, Química e Matemática que, conjugadas, possibilitam uma
compreensão integrada dos eventos e fenômenos que possibilitaram as transformações
ambientais e da biota durante a história geológica de nosso planeta.
Os fósseis
Os fósseis registram organismos ou partes de organismos que viveram em épocas geológicas
passadas. Podem corresponder a restos, os quais consistem geralmente da parte dura dos
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organismos, como, por exemplo, conchas, ossos, dentes, ou mesmo as partes moles,
preservadas em condições excepcionais, nas quais a pele, os músculos, os vasos sanguíneos
também são preservados. Um fóssil é o registro de um antigo elemento da biosfera, o qual
passou a se integrar à litosfera.
Há vários mecanismos de preservação das partes duras, que são, geralmente, partes
biomineralizadas dos organismos – como as conchas dos moluscos, carapaças dos equinóides
ou os ossos dos vertebrados – sendo os principais: a incrustação, a permineralização, a
recristalização, a substituição e a incarbonização. Já as partes moles podem ser preservadas
por processos de mumificação (geralmente associado à desidratação), de congelamento e de
aprisionamento em resinas vegetais (que, quando fossilizadas, são designadas como âmbar).
Todavia, tanto as partes moles quanto as partes duras devem ter um rápido processo de
soterramento, estarem sujeitas à baixa ação de bactérias e, preferencialmente, o ambiente deve
ter condições anaeróbicas.
Os icnofósseis
Os icnofósseis compreendem outro tipo de registro da existência dos organismos na história
geológica da Terra. Representam o documentário da atividade fisiológica de animais e
plantas, tais como as pegadas, fezes (coprólitos), ninhos, marcas de raízes, ou qualquer outro
tipo de registro deixado quando o animal ainda se encontrava em vida. Como exemplo de
icnofósseis, podemos citar as pegadas de dinossauros, as quais foram produzidas quando estes
animais, ainda vivos, deslocavam-se sobre a superfície de nosso planeta. Porém, quando
morreram, seus ossos, se preservados, serão considerados como fósseis.
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Documentário Paleontológico (1)
Desde o surgimento da vida na Terra, as adaptações, transformações e inovações
demonstradas pelos organismos evidenciam-nos fenômenos e uma temporalidade que em
muito transcende a dimensão da existência humana. São diversos grupos que existiram nos
últimos 3,8 bilhões de anos, compreendendo uma ampla variedade de bactérias, fungos,
protozoários, animais e vegetais.
A Paleontologia tem, assim, uma grande multiplicidade de elementos paleobiológicos para o
entendimento da origem e da evolução da vida na Terra. Estes podem ser de natureza
microscópica, como é o caso dos pólens, esporos e microfósseis (foraminíferos, radiolários,
nanofósseis, diatomáceas, ostracodes), ou macroscópica, que engloba fósseis de
invertebrados, vertebrados e vegetais.
Através da Paleontologia, podem também ser abordados temas como as teorias evolutivas,
causas das extinções, paleoecologia, paleobiogeografia e a origem das formas mais primitivas
de vida.
Teorias Evolutivas e os Fósseis
A formulação dos primeiros conceitos de origem e evolução das espécies, com base em
critérios científicos bem estabelecidos, deve-se a Charles Darwin (1809-1882). Ele publicou,
em 1837, sua importante obra A Origem das Espécies. Darwin baseou seus estudos na
observação dos ambientes, da flora e da fauna atual, bem como no registro fossilífero.
Durante cinco anos viajou através da América do Sul, coletando dados, amostras e
observando aspectos relacionados à geologia, paleontologia e biota recente. Pôde, assim,
formular um conjunto de idéias que revolucionaria a percepção do significado da presença
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humana sobre a Terra. A partir dos conceitos da variação dos indivíduos sob condições
naturais, a luta pela vida, a seleção natural e a sobrevivência do mais apto, Charles Darwin
demonstrou muitos dos processos atuantes no transcorrer da evolução, tais como a
modificação das espécies e os eventos de extinção.
Documentário Paleontológico (2)
Os fósseis compõem um amplo documentário sobre a evolução da vida na Terra, suas
modificações e os fatores que conduziram ao desaparecimento de muitas formas, para sempre,
do planeta.
Alguns dos mais antigos registros de vida são conhecidos através dos chamados fósseisquímicos ou biomarcadores. Trata-se de restos de compostos orgânicos preservados em
rochas com bilhões de anos. Os mais antigos provêm da Groenlândia (Grupo Issua) e datam
de aproximadamente 3,8 bilhões de anos. Em rochas com 3,5 bilhões de anos já são
encontrados organismos procariontos (tais como bactérias, cianobactérias e arqueobactérias)
que se preservaram, como estromatólitos e microfósseis.
Os estromatólitos são um dos mais abundantes registros desta fase inicial da vida na Terra, em
que, apesar de não haver o organismo propriamente preservado, sua atividade biológica ficou
documentada como estruturas de origem sedimentar em muitas rochas que tiveram origem
nos primeiros momentos da vida na Terra. Ocorrem com freqüência no território brasileiro,
sendo encontrados em antigas áreas marinhas com 1 bilhão de anos ou mais, no interior dos
estados de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia. Os estromatólitos registram,
assim, um primeiro grande evento biológico, que é o surgimento das cianobactérias. Através
de seu metabolismo com a realização da fotossíntese, as cianobactérias possibilitaram,
inclusive, a transformação da atmosfera terrestre, então composta por amônia, metano,
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nitrogênio, monóxido e dióxido de carbono, em uma atmosfera dominada pelo oxigênio, o
que levaria a uma revolução na história geológica da vida, nos milhões de anos que se
seguiriam.
Jazigos fossilíferos do Brasil
No Brasil, cerca de dois terços do território nacional é recoberto por áreas de bacias
sedimentares, onde são propícias as descobertas de fósseis. Apesar das dificuldades
relacionadas à cobertura vegetal e ao rápido intemperismo nas condições climáticas tropicais,
muitos são os jazigos fossilíferos importantes pela abundância, pela qualidade e pela
diversidade dos fósseis que possuem, e que estão distribuídos por todo nosso país. Um grande
desafio para o futuro da paleontologia brasileira é a preservação deste legado cultural da
nação brasileira e da humanidade, não destruindo o registro da história geológica da vida e
utilizando as informações daí advindas para a compreensão dos fenômenos de transformação
global, tais como as extinções, modificações climáticas e flutuações do nível do mar.
E por que preservar? Os fósseis, em face de sua importância científica e interesse para o
público, representam momentos únicos da história geológica da vida na Terra, possibilitando
a compreensão de catástrofes ecológicas, transformações ambientais, evolução dos seres vivos
e do próprio significado da vida em nosso planeta. É daí que advém o grande fascínio
exercido pela Paleontologia. O interesse crescente sobre a ciência da vida extinta origina-se
dessa percepção, mesmo que inconsciente, do sentido extemporâneo de nossa existência. A
percepção do quanto somos efêmeros, da perplexidade ao nos conscientizarmos de que muito
já existiu antes de nós, ao longo de uma gigantesca magnitude do tempo passado, quando
comparado com o tempo presente. Trata-se da descoberta de nossa insignificância,
materializada pela existência dos fósseis – algumas vezes microscópicos, tais como os
protistas, outras gigantescos como os dinossauros.
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A) Estromatólitos do Pré-Cambriano
Em rochas carbonáticas com 2,5 a 700 milhões de anos ocorrem nos estados de São Paulo,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia estromatólitos, os quais são algumas das
evidências mais antigas de vida na Terra. São estruturas produzidas por cianobactérias, as
quais, através de seu metabolismo, induzem a precipitação de minerais em sua trama
orgânica.
B) Os fósseis dos Mares Devonianos
Há 350 milhões de anos, muitas das regiões interiores do Brasil como nos estados do
Amazonas, Pará, Piauí, Pernambuco, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina eram recobertos
por amplos mares rasos, nos quais existia uma fauna bastante distinta da atual. Nestes mares
dominavam os trilobitas, braquiópodes, moluscos primitivos e cnidários, fauna muito
diferente daquela que vive nos mares de hoje.
C) Grande floresta petrificada permiana do Brasil Central
Localizada entre os estados de Tocantins, Maranhão e Piauí, a grande floresta petrificada do
Brasil Central inclui espécimes únicos no mundo, muitos ainda não descritos formalmente, de
caules e folhagens de pteridófitas preservados por silicificação e como impressões. Trata-se
de uma das maiores áreas da América do Sul, na qual estão registradas a fauna e flora do
Permiano (Bacia do Parnaíba, Formação Pedra de Fogo). Os espécimens vegetais denotam
geralmente uma preservação por histometabase, havendo assim detalhes anatômicos nítidos e
singulares.
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D) Floresta Petrificada de Mata
A floresta petrificada de Mata, localizada no estado do Rio Grande do Sul (Bacia do Paraná,
formações Santa Maria e Caturrita e Arenito Mata). Os lenhos fósseis aí encontrados são de
gimnospermas relacionadas às coníferas, estando inseridos no contexto das mudanças
climáticas iniciadas na passagem meso-neotriássica.
E) Dinossauros de Uberaba
No bairro rural de Peirópolis, município de Uberaba (Minas Gerais) ocorre uma grande
abundância de fósseis de vertebrados, sendo que os mais comuns são os de dinossauros.
Trata-se de materiais do período Cretáceo, e os fósseis coletados na região podem ser
conhecidos no Museu dos Dinossauros, o qual se localiza em Peirópolis.
F) Chapada do Araripe
A Chapada do Araripe localiza-se nas regiões sul do estado do Ceará e oeste do estado de
Pernambuco. São inúmeras as localidades fossilíferas nesta bacia, em que microfósseis,
icnofósseis, vegetais, invertebrados e vertebrados cretáceos são abundantes No acervo do
Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri pode ser conhecida uma parte da
diversidade da fauna e da flora existentes durante os períodos Jurássico e Cretáceo na região.
São mais de três mil exemplares de troncos silicificados, impressões de coniferófitas, plantas
com flores, moluscos, artrópodes, peixes, anfíbios e répteis, os quais estão entre os que
apresentam as melhores condições de preservação orgânica do mundo. São encontradas
estruturas anatômicas delicadas preservadas, tais como cerdas de insetos e restos musculares
de vertebrados, e mesmo a coloração original de alguns fósseis.
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G) Parque Vale dos Dinossauros
Na região de Sousa, estado da Paraíba, já foram identificados e mapeados 22 sítios
icnofossilíferos, e reconhecidas 296 pistas de grandes terópodes (dinossauros carnívoros); 29
de pequenos terópodes; 42 de saurópodes; 2 de ornitísquios quadrúpedes e 28 de ornitópodes.
Ao todo, já foi classificado um número superior a 395 indivíduos dinossaurianos.
A área mais importante de distribuição de pegadas fósseis, localizada em Passagem das
Pedras (Fazenda Ilha) no município de Sousa, é atualmente um parque com 40 hectares de
área. Possui infra-estrutura turística e guias treinados para o turismo ecológico e para proteção
do sítio icnofossilífero. Esta localidade icnofossilífera foi tombada como Monumento Natural
e designada como “Monumento Natural Vale dos Dinossauros”.
H) Museu de Paleontologia de Monte Alto
O município de Monte Alto localiza-se no estado de São Paulo, na região central da Bacia do
Paraná (Grupo Bauru). Em toda a região são encontradas inúmeras localidades fossilíferas do
Cretáceo Superior, com fauna e flora bem diversificadas de organismos terrestres. O Museu
de Paleontologia de Monte Alto possui um grande acervo de fósseis coletados em sedimentos
do Grupo Bauru, aflorantes na região de Monte Alto e nos municípios vizinhos. Em seu
acervo, há fósseis de dinossauros, crocodilos, tartarugas, moluscos bivalves, icnofósseis,
microfósseis, que são utilizados tanto pela comunidade de pesquisadores em paleontologia,
quanto para o desenvolvimento de atividades didáticas com alunos do Ensino Fundamental e
Básico.
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I) Ilha do Cajual – Maranhão
A ilha do Cajual localiza-se na baía de São Marcos, no município de Alcântara, estado do
Maranhão. Trata-se de uma área de proteção ambiental, na qual são encontrados afloramentos
de rochas cretácicas, extremamente fossilíferos. A maior concentração de fósseis localiza-se
próximo à Estação Ecológica da AMAVIDA, em um amplo pavimento denominado Laje do
Coringa, com cerca de 4.000 m2 de afloramentos descontínuos, onde há ossos e dentes de
dinossauros, crocodilos, escamas e placas ósseas de holósteos, bem como troncos de
traqueófitas de grande porte.
J) Parque Paleontológico São José de Itaboraí
A área onde está instalado o Parque Paleontológico São José de Itaboraí compreende a região
onde existiam depósitos paleocênicos da bacia sedimentar de São José de Itaboraí, no
município de Itaboraí, estado do Rio de Janeiro. Desta bacia são provenientes uma ampla
flora e uma ampla fauna terrestres, que não são encontradas em outras partes do território
brasileiro. Com destaque para os fósseis de fungos, pólens, angiospermas, moluscos
(gastrópodes), crustáceos (ostracodes), anfíbios (gymnophiona e anura), répteis (quelônios,
ofídeos e crocodilos), aves e mamíferos (marsupiais, condilartras, litopternas, notoungulados,
astrapoterias, xenungulatas, edentados e proboscídeos).
K) Megafauna do Neógeno da Região Amazônica
Em toda a Amazônia são encontrados inúmeros depósitos do Neógeno extremamente
fossilíferos, e que testemunham as transformações ambientais, climáticas e na biota da Região
Norte do Brasil. Dentre os jazimentos mais importantes estão os encontrados na Formação
Solimões (Mioceno Superior – Plioceno) ao longo dos rios do estado do Acre, revelando uma
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rica fauna de biválvios, gastrópodes, decápodes, crocodilomorfos, quelônios, mamíferos, além
de troncos permineralizados.
L) Megafauna do Pleistoceno – Cavernas de Minas Gerais e Bahia
Nas grutas calcárias dos estados de Minas Gerais e Bahia há um amplo registro de mamíferos
pleistocênicos, tais como marsupiais, quirópteros, edentados, primatas, roedores, carnívoros,
litopternos, notoungulados, proboscídeos, eqüídeos, camelídeos, taiassuídeos e cervídeo. As
grandes acumulações de fósseis aí encontradas originaram-se pela ação de enxurradas, que
transportaram grande quantidade de cadáveres de animais para seu interior. O estudo destes
fósseis teve início no século XIX, com o paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund, o
qual foi responsável pela primeira descoberta de fósseis humanos (“Homem de Lagoa
Santa”). Estes fósseis podem ser conhecidos no Museu de Ciências Naturais da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais e no Museu de História Natural da Universidade
Federal de Minas Gerais.
Referências para leitura
Carvalho, I. S. (ed). Paleontologia. Editora Interciências, 2 volumes. V. 1. 2004. 861 p.
Cartelle, C. Tempo Passado: Mamíferos do Pleistoceno de Minas Gerais. Acesita, 1994. 132
p.
Fernandes, A. C. S.; Borghi, L.; Carvalho, I. S. & Abreu, J. C. Guia dos Icnofósseis de
Invertebrados do Brasil. Editora Interciências, 2002. 260 p.
Lima, M. R. Fósseis do Brasil. T. A. Queiroz: Editora da Universidade de São Paulo, 1989.
118p.
McAlester, A. L. História Geológica da Vida. Editora Edgard Blücher, 7ª reimpressão, 2002.
173 p.
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Salgado-Laboriau, M. L. História Ecológica da Terra. Editora Edgard Blücher, 1997. 308 p.
Nota:
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Geologia – IGEO.
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PROGRAMA 2
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Aquecimento Global numa perspectiva histórica
Andréia Guerra1
José Claudio Reis2
Marco Braga3
As últimas notícias a respeito do aquecimento global deixaram todos preocupados. O alerta
sobre as mudanças climáticas que o planeta poderá sofrer em breve foi noticiado em todos os
meios de comunicação. Diferentes especialistas se pronunciaram, vários artigos foram escritos
sobre o tema, inúmeros programas foram realizados para informar a população do que está
ocorrendo ao planeta Terra. Revistas de divulgação científica dedicaram números especiais ao
aquecimento global. Em todas as notícias, ficava evidente a importância de que o tema fosse
de conhecimento de todos, uma vez que a ação dos homens sobre a Terra será decisiva para o
seu futuro. A seriedade e urgência de busca de possíveis soluções para o problema colocamnos diante de uma questão: e a escola? Qual o seu papel nesse processo?
A resposta a essas questões não está dissociada de outra: a escola é um local privilegiado para
informar ou para formar? Se optarmos pelo espaço da informação, tornaremos a sala de aula
muito vulnerável. Os meios de comunicação, cada vez mais ágeis e versáteis, cumprem muito
bem sua função de gerar informação. Fora isso, a diversidade tecnológica por eles utilizada os
torna mais atrativos aos alunos do que as exposições produzidas nas escolas. Por esse
caminho os professores, efetivamente, não têm como contribuir para o debate em torno do
aquecimento global. Para que possa ter um papel determinante no processo, é fundamental
que a escola seja um espaço de debate, e, portanto, de formação. E nesse caminho, o ensino de
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Ciências adquire uma dimensão fundamental, ao trazer o tema aquecimento global para a
agenda do dia-a-dia das escolas. Mas como colocar o tema nas aulas?
Os caminhos são diversos. Acreditamos que a importância do tema faz com que as melhores
estratégias sejam aquelas que priorizem uma discussão contínua e aprofundada a respeito do
assunto. E, nesse sentido, a utilização da história da ciência pode ser extremamente
interessante. Ao trabalharmos a ciência em sua perspectiva histórica, possibilitamos aos
alunos perceberem que esse é um conhecimento construído por homens inseridos num tempo
e espaço determinados, que por isso enfrentam problemas específicos e se utilizam das
ferramentas disponíveis no momento situado para construir as soluções das diversidades
encontradas. Por essa característica da ciência, o olhar para o passado, ao mostrar os caminhos
tomados pelos homens em determinadas épocas e que os levaram à situação presente, é uma
ferramenta muito importante para se construir as soluções necessárias a uma intervenção no
cotidiano. Nesse sentido, ao trabalharmos alguns temas em ciência, precisamos sair da mera
apresentação formal dos produtos científicos para mergulharmos no passado e entendermos o
processo de construção daquele produto. Um dos assuntos importantes nessa estratégia é o
estudo de energia. Tema abordado em diferentes séries do Ensino Fundamental e Médio, mas
que aqui trataremos a partir de um caminho utilizado no Ensino Médio, em aulas de Física.
Introduzimos o assunto, colocando para os alunos que o termo energia foi criado no início do
século XIX. Com o intuito de discutirmos essa origem, trabalhamos com eles a Revolução
Industrial (século XVIII), e, mais particularmente, as máquinas térmicas. Aqui, salientamos
não só o funcionamento das mesmas, como as mudanças no mundo do trabalho e na
organização das cidades que o desenvolvimento desse artefato proporcionou. O combustível
ali utilizado e a forma de exploração da natureza para adquiri-lo são temas privilegiados.
Após essa discussão histórica, conceituamos energia, as diferentes formas de energia
reconhecidas, as possíveis transformações de uma forma em outra e o princípio de sua
conservação.
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Ao longo desse estudo, apresentamos especialmente a energia elétrica e os diferentes
caminhos encontrados pelo homem para sua obtenção. Aqui, mais uma vez a história da
ciência é um recurso utilizado para trazer à sala de aula a reflexão em torno do consumo de
energia. Discutimos, assim, a construção do primeiro dínamo e do primeiro motor elétrico,
enfatizando mais uma vez o contexto científico-cultural no qual ocorreram essas invenções e
o impacto que geraram no mundo do trabalho e no cotidiano das cidades. O combustível ali
envolvido e a forma de exploração da natureza é também um tema abordado.
Ao longo do primeiro semestre do ano letivo de 2007, um dos componentes do Grupo Teknê
está desenvolvendo um projeto interdisciplinar (Física e Química no Ensino Médio) no
Colégio Pedro II. Paralelamente ao estudo do tema energia nas aulas de Física, nos moldes
descritos acima, foi proposta aos alunos a elaboração de um panorama das transformações
energéticas ocorridas do século XIX até os dias de hoje. A forma de apresentação do produto
final era livre, cada grupo pôde usar a mídia a ele mais interessante, o importante era que, ao
colocarem o trabalho para a turma, eles motivassem o restante dos alunos para discutir os
resultados de sua pesquisa. Os professores forneceram fontes bibliográficas para a pesquisa.
Em relação à questão energética atual, cada grupo se concentrou em uma das seguintes fontes
energéticas: petróleo, carvão, energia solar, eólica, nuclear, hidrogênio, hidrelétrica, gás
natural, biogás, álcool e biodiesel. Para cada um desses itens específicos, eles abordaram:
- aspectos técnicos, ou seja, como se obtém energia da fonte pesquisada, quais os princípios
físicos, químicos ou biológicos que explicam a sua utilização e aplicações.
- impactos ambientais provenientes da utilização da referida fonte energética e os caminhos
encontrados para diminuí-los.
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 21 .
- questões geopolíticas, ressaltando onde a fonte energética é mais abundante, quais as
conseqüências econômicas de sua utilização, os impactos na organização do espaço
geográfico e, também, as implicações políticas.
- problemas relacionados ao consumo, enfatizando como uma sociedade tecnológica, baseada
no consumo, pode resolver os problemas referentes à energia; e, ainda, a exclusão de grande
parte da população mundial da aquisição dos produtos industriais e bens de serviços, que
necessitam cada vez mais de energia para serem produzidos.
Antes das apresentações dos grupos, os professores tiveram acesso a um resumo do trabalho
final. Isso lhes possibilitou encaminhar questões aos grupos capazes de gerar discussão com
toda a turma.
O trabalho histórico em sala de aula, paralelo a um projeto de pesquisa realizado pelos alunos,
permitiu que um tema tão explorado pelos meios de comunicação, como o aquecimento
global e as mudanças climáticas daí oriundas, entrasse na sala de aula. Nesse caminho, a
capacidade tecnológica atual da mídia foi aproveitada, mas também foi superado o poder de
ação da mesma, uma vez que o trabalho de sala de aula, resgatando a história da ciência,
possibilitou, além de uma investigação histórica das origens do problema, um debate, no qual
os próprios alunos foram os especialistas do assunto.
Bibliografia
Como deter o aquecimento global – Edição Especial. Scientific American Brasil.
Grupo Teknê – Coleção Breve História da Ciência Moderna (3 volumes). Jorge Zahar
Editor.
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 22 .
Colin Ronan. História Ilustrada da Ciência (4 volumes). Jorge Zahar Editor.
Notas:
Grupo Teknê, CEFET-RJ.
2
Grupo Teknê, Colégio Pedro II.
3
Grupo Teknê, CEFET-RJ.
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 23 .
PROGRAMA 3
Grandes desastres naturais
A superfície da Terra é atingida por grandes acidentes e desastres naturais como terremotos,
tsunamis, vulcões, avalanches. Além destes, há os acidentes que podem ser provocados pela
ação humana, como as enchentes, as queimadas, os deslizamentos de terra, etc. Como
entendê-los e como fazer a prevenção deles? Essas são questões para o debate no terceiro
programa da série.
Nota:
1
O Texto relativo a este programa será enviado posteriormente.
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 24 .
PROGRAMA 4
Recursos naturais da Terra
O quarto programa vai enfocar os recursos minerais da Terra, os recursos fósseis, a
biomassa, os biocombustíveis.
Toda a matéria-prima da humanidade e quase toda a sua energia vêm da Terra. A
sobrevivência da humanidade e da própria vida depende de manter o funcionamento do
Sistema Terrestre. Devemos buscar administrar as reservas naturais da Terra de maneira
sustentável, na perspectiva de que seus benefícios sejam repartidos de forma justa para toda a
humanidade. Como podemos explorar e nos beneficiar com os recursos do planeta sem
prejudicar o próprio funcionamento do Sistema da Terra?
Nota:
1
O Texto relativo a este programa será enviado posteriormente.
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 25 .
PROGRAMA 5
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Lixo: compreender para esclarecer
Emílio M. Eigenheer1
João Alberto Ferreira2
Faz parte de nossa tradição avaliar os serviços públicos de limpeza urbana por dois
parâmetros básicos: a) coleta eficiente do lixo doméstico; b) varrição metódica de logradouros
públicos (ruas, praças, etc.), em especial os de maior visibilidade. Recentemente, também a
existência de um sistema de coleta seletiva de lixo passou a ser um ponto ressaltado e
valorizado.
Estes parâmetros, porém, não dão conta da complexidade da limpeza urbana e não são
suficientes para uma avaliação criteriosa desse serviço prestado pelas municipalidades, não só
nas médias e grandes cidades, mas, principalmente, em nossas metrópoles. Contudo, essa
percepção limitada acaba colaborando indiretamente para a permanência da difícil situação
que o Brasil enfrenta, como um todo, na gestão de seus resíduos urbanos. A ausência de uma
visão mais crítica e de cobranças bem fundadas pela população facilita a manutenção de
serviços inadequados e o desperdício de recursos, para não falar do crescimento da corrupção
no setor. Neste posicionamento limitado se deixa de lado um aspecto decisivo, que é a
preocupação com a destinação final do lixo, que não pode, hoje, abrir mão dos aterros
sanitários.
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 26 .
Quando esta peça fundamental do sistema de limpeza não existe, temos a utilização dos
vazadouros e, na melhor das hipóteses, dos aterros controlados. Nos primeiros, o lixo é jogado
indiscriminadamente a céu aberto, sem nenhum cuidado. No segundo, temos minimamente o
recobrimento dos resíduos depositados. Em ambos são bastante conhecidos tecnicamente os
conseqüentes impactos ambientais e na saúde pública. Só nos aterros sanitários – obra
complexa de engenharia – encontraremos o tratamento do chorume (líquido que percola
através do lixo), dos gases (sobretudo o metano) e o encerramento adequado da área, uma vez
esgotada. Cabe salientar que, por falta de planejamento, pelos tabus ligados às pessoas e áreas
relacionadas ao lixo, é cada vez mais difícil encontrar locais disponíveis para aterros
sanitários. E quanto mais longe estiverem das áreas urbanas, mais caro se torna o sistema, em
razão do transporte. A destinação final é também uma parte onerosa do sistema, mas
necessária. Fica, porém, distante do olhar do contribuinte e pouco destaque se dá à sua
importância. A desculpa de que falta dinheiro para construí-los não se justifica,
principalmente se atentarmos para o enorme desperdício, existente nas últimas décadas, de
recursos financeiros com tecnologias não adequadas, notadamente as chamadas usinas de
compostagem e reciclagem. Só no Estado do Rio de Janeiro estima-se um gasto de mais de
100 milhões de reais, com unidades que em muitos casos nem chegaram a entrar em
funcionamento.
Qual era e é ainda a falácia dessas usinas? A de que resolveriam por completo o problema do
lixo, com seu aproveitamento quase total. Com isto, não haveria necessidade dos aterros
sanitários.
Os técnicos sabem que, na melhor das hipóteses, teríamos nestas usinas cerca de 40% de
rejeitos, além de composto orgânico de baixa qualidade e dependência de um complexo e
instável mercado para os materiais recicláveis industrialmente (papel, vidro, plástico e
metais). Em nosso país, muitos produtos considerados recicláveis, por razões as mais
diversas, não têm mercado ou têm com restrições.
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 27 .
Ao confundir a questão do destino final (aterros sanitários) com formas de tratamento dos
resíduos, confundimos de forma irresponsável a opinião pública. Grande parte dos
profissionais dos meios de comunicação acaba, inadvertidamente, colaborando para essa
situação.
Geramos lixo e temos de dar destino a ele. Certamente diminuir a quantidade de lixo gerado e
reaproveitá-lo ao máximo são metas mais do que defensáveis, são necessárias. Mas é
importante ter em mente que esbarram em sérios obstáculos de ordem econômica, técnica e
cultural.
Primeiro, é preciso ter presente que a gestão de resíduos é cara tanto no que concerne à coleta
quanto ao tratamento e destino final. Por outro lado, estamos longe de termos nossos serviços
de limpeza financiados adequadamente pelos seus usuários, como já ocorre em alguns países.
Assim como acontece com os serviços de fornecimento de água, esgoto e luz, os serviços de
coleta, tratamento e destinação final do lixo devem ser financiados pelos usuários de acordo
com a quantidade de lixo gerada. E há métodos para se auferir isto.
Com as insuficientes taxas de lixo embutidas no IPTU, deixamos de ter, via de regra, suporte
financeiro para dar conta do problema como um todo. Isto torna ainda mais grave a
irresponsabilidade com o desperdício de recursos no setor. Uma das conseqüências é que
mesmo o tradicional serviço de coleta e varrição acaba não sendo feito em áreas desprotegidas
política e socialmente. E esta restrição acaba gerando efeitos perversos. Obstrução de rios e
canais, inundações, deslizamentos de encostas em áreas de morros (onde vive a população
mais pobre). De alguma forma o lixo acaba reaparecendo.
É importante o tratamento? Não resta dúvida. Mas de forma responsável e realista. A coleta
seletiva é fundamental para um reaproveitamento adequado tanto da matéria putrescível de
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nosso lixo através da compostagem, como de outros materiais pela reciclagem. Quanto mais
eficientes e detalhadas forem as separações prévias, melhor. Isto é ainda mais importante para
o material destinado à compostagem. Não se trata, porém, de uma panacéia, já que até mesmo
o mercado para esses produtos não é, como dissemos, garantido.
Não devemos jamais nos esquecer de que o Brasil já é um dos maiores recicladores mundiais,
conseqüência mais do enorme contingente de miseráveis que se ocupam da catação de lixo
nas ruas e lixões, do que de processos formais de coleta seletiva. Propostas de coleta seletiva
voluntária em pontos estratégicos das cidades, com o encaminhamento do material recolhido
para grupos organizados de catadores, constituem um passo importante. Eles se encarregariam
do trabalho de triagem e comercialização com vantagens para os próprios e para a
municipalidade.
A quantidade de material gerado por podas, restos de feiras e restaurantes é significativa.
Pode servir, com baixo custo, para o início de ações de compostagem visando a um composto
de boa qualidade.
É importante se passar para o cidadão, desde cedo, a complexidade da limpeza urbana e até
mesmo seus truques e subterfúgios. Enquanto tivermos um tratamento da questão de forma
equivocada, estaremos comprometendo ainda mais a difícil situação financeira dos
municípios, e por que não, facilitando que o setor de resíduos, por falta de interesse e
informação da população, se transforme em campo propício para a corrupção. Estima-se que
algumas cidades chegam a gastar com seus resíduos 20% do seu orçamento, e sem resolver
adequadamente o problema.
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As desigualdades sociais e a falta de controle social em áreas significativas de nossas grandes
cidades e metrópoles agravam a situação. Nelas, como já dito, nem mesmo serviços básicos
de coleta e varrição são satisfatoriamente executados.
A má qualidade dos serviços contribui para uma cultura de não participação, de pouco
envolvimento das populações – se o poder público não cumpre o seu papel, porque devo me
preocupar? – aumentando a sujeira das cidades e os custos dos serviços.
Só poderemos educar adequadamente nossos cidadãos se tivermos clareza do que deve ser
transmitido. Educá-los na expectativa de soluções fáceis ou mesmo mágicas só leva a agravar
a difícil situação dessa área onde, cabe ressaltar, já nos atrapalham há séculos, interdições e
tabus notadamente ligados ao nosso receio da morte. Afinal, a degenerescência, a decadência
e a deterioração de nosso corpo, de nossas obras e utensílios, não são fáceis de ser
enfrentadas. É mister que o façamos de forma consciente e técnica.
Enfim, é importante ter clareza do complexo sistema de limpeza urbana necessário às nossas
cidades para, a partir daí, educar a população. Não devemos reforçar crenças em soluções
milagrosas que nos afastam do enfrentamento técnico-cultural deste delicado problema que,
tal como a morte, a todos afeta.
Para maiores informações: E. Eigenheer, J. A. Ferreira, R. R. Adler. Reciclagem: mito e
realidade. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2005.
Notas:
Professor da Universidade Federal Fluminense - UFF e Universidade do Estado
do Rio de Janeiro – UERJ.
2
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
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ANEXOS
Texto para leitura complementar
(referente ao PGM 3)
CONCEITOS BÁSICOS: TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS
Kátia Mansur
A Terra é um planeta que tem um interior quente e parcialmente fluido, constatado pelo
homem na superfície através de fenômenos como atividades vulcânicas, fontes de águas
termais e outros. Vivemos no topo da litosfera, uma sólida camada que recobre nosso planeta.
A litosfera é toda quebrada em grandes placas (veja a Figura 1) que se movem. O calor
interno da Terra e a fricção entre as placas fazem com que ocorram, principalmente nos
limites das placas litosféricas, vulcões e terremotos. Em termos geológicos, uma placa é um
segmento rígido da crosta terrestre constituído por rocha sólida. A palavra tectônica encontra
a sua raiz no grego como o equivalente do verbo construir. Juntando estas duas palavras
Figura 1 - Limite das Placas Tectônicas (Fonte: NASA)
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 31 .
obtêm-se a designação de "Tectônica de Placas", que se refere à idéia de que a superfície da
Terra é construída por placas. Assim, numa perspectiva simplificada, podemos considerar que
a teoria da tectônica de placas defende que a camada mais exterior da Terra, a crosta, se
encontra fragmentada em placas de diferentes dimensões, que se movem umas em relação às
outras ao deslizar sobre material mais quente e móvel do interior da Terra. A crosta que fica
debaixo dos oceanos é rica em elementos químicos pesados (ex: ferro e magnésio), já a crosta
que forma os continentes é constituída por elementos mais leves (ex: alumínio e silício).
Existem 3 tipos de limites de placas: (a) Divergentes - quando uma nova crosta é gerada e as
placas se distanciam umas das outras; (b) Convergentes - quando a crosta é destruída por uma
placa que mergulha sob a outra; e (c) Transformantes - quando não há produção nem
destruição de placas, as quais deslizam horizontalmente uma em relação a outra.
a) Limites Divergentes: Ocorrem quando uma nova crosta oceânica é criada, com
movimento das placas em direções opostas. O nascimento de um oceano inicia com a quebra
de um continente. A placa litosférica continental é puxada lateralmente por forças divergentes
(Figura 2). O primeiro estágio inclui o estiramento da crosta continental e o fraturamento.
Forma-se uma grande depressão no meio do continente e a água do mar começa a inundar as
terras continentais gerando lagos salinos. A atividade vulcânica é intensa pois o estiramento
da crosta continental faz com que a camada quente e fluída que fica abaixo da litosfera (a
astenosfera) se aproxime da superfície. Este ambiente como um todo é chamado de rifte
continental. Um exemplo atual de um continente nesta fase de quebra é o grande “Rift
Valley” africano, na África Oriental.
No estágio 2, a divergência das forças continua e a crosta continental se parte formando dois
continentes, agora separados por um oceano encaixado em uma grande fratura. A subida de
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material magmático quente da astenosfera gera uma série de erupções vulcânicas que formam
um denso assoalho oceânico de basalto, denominado crosta oceânica. As bordas continentais
são levantadas formando montanhas. Um exemplo atual de um oceano em estágio de abertura
inicial é o Mar Vermelho que separa a Península Arábica da África Oriental.
Se a divergência continua, o oceano se alarga e chega-se ao estágio 3, da formação de um
oceano maduro. O calor vindo da astenosfera fica restrito à região oceânica central onde a
atividade vulcânica intensa forma a Cadeia Mesoceânica. A medida em que as placas se
afastam, mais frias ficam as bordas continentais (pois estão longe do centro de geração de
calor) logo afundam e são parcialmente recobertas pelas águas marinhas, formando a
plataforma continental. Um exemplo atual de um oceano maduro é o oceano Atlântico que
separa a América da África e Europa.
Figura 2 - Limites de placas divergentes (Fonte: Projeto Caminhos Geológicos)
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A velocidade mais baixa de separação de placas é de cerca de 2.5 cm/ano ou 25 km em 1
Milhão de anos (Cadeia do Ártico). A mais rápida é da Cadeia do Pacífico Leste, próximo à
Ilha de Páscoa, com mais de 15 cm/ano.
Figura 3 - Cadeia Meso-Atlântica
b) Limites Convergentes: O tamanho da Terra não variou significativamente nos últimos 600
Ma e, muito provavelmente, é muito parecido com o tamanho desde sua formação (4.5 Ga =
Bilhões de anos). A mudança no tamanho da Terra implica de que a crosta deve ser destruída
na mesma medida em que é criada. Tal destruição (reciclagem) da crosta ocorre ao longo das
bordas convergentes de placas por colisão ou porque uma mergulha embaixo da outra
(subducção).
O tipo de convergência de placas depende do tipo de litosfera envolvida: (a) oceânica continental; (b) continental - continental; e (c) oceânica - oceânica.
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
Convergência Oceânica-Continental
Se pudéssemos drenar o Oceano Pacífico, nós poderíamos ver um grande número de longas e
estreitas fossas (ou trincheiras) com 8 a 10 km de profundidade, cortando o fundo oceânico.
As fossas são as mais profundas partes dos oceanos e são criadas por subducção (Figura 4).
Na costa da América do Sul, ao longo da fossa Peru-Chile, a placa oceânica de Nazca está
sendo empurrada (por subducção) por baixo da placa continental Sul-americana. Por outro
lado, a placa Sul-americana está se levantando, formando a Cordilheira dos Andes.
Terremotos forte e destrutivos ocorrem no limite das placas e o rápido soerguimento de
montanhas é comum nesta região.
A convergência oceânica - continental também gera muitos dos vulcões hoje ativos. A
atividade vulcânica está claramente associada com a subducção nestas regiões.
Figura 4 - Convergência de placa
Oceânica com placa Continental.
Fonte: USGS

Convergência Oceânica-Oceânica
Assim como ocorre uma zona de subducção quando há convergência oceânica - continental, o
mesmo fenômeno ocorre quando duas placas oceânicas se encontram (Figura 5). Neste
processo há a formação de uma fossa oceânica. A fossa das Marianas (paralela às Ilhas
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 35 .
Marianas - profundidade próxima a 11 km) é produto da convergência da Placa do Pacífico
com a das Filipinas.
Neste processo há a formação de vulcões. Depois de milhões de anos de acúmulo de lava
desses vulcões submarinos, eles atingem o nível do mar formando uma ilha vulcânica. Estes
vulcões formam uma cadeia que é denominada arco de ilhas.
O magma que forma os arcos de ilhas é produto da fusão parcial do material subductado e/ou
por material que ascende da litosfera oceânica. A placa descendente produz uma fonte de
acumulação de energia pela interação com a outra placa, levando a terremotos freqüentes de
intensidade moderada a forte.
Figura 5- Convergência de placa
Oceânica com placa Oceânica.
Fonte: USGS

Convergência Continental-Continental
Devido a diferença de densidade entre a crosta oceânica e a crosta continental, quando a
oceânica se move em direção a uma crosta continental, a primeira (mais pesada) é empurrada
por baixo da segunda, formando uma zona de subducção e mergulhando para as regiões mais
profundas da Terra (veja o estágio 1 da Figura 6). Se este movimento continua, a porção
oceânica desaparece totalmente dando origem a uma colisão continental. O continente não
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 36 .
Figura 6 - Colisão de placa Continental com placa Continental.
Fonte: Projeto Caminhos Geológicos
afunda junto com a crosta oceânica, porque é menos denso, se aglutinando ao outro e
levantando uma grande cadeia de montanhas (veja o estágio 2 do modelo). A Cordilheira do
Himalaia, exemplo deste tipo de convergência, demonstra uma das mais espetaculares
conseqüências da Tectônica de Placas.

Limites Transformantes ou Transcorrentes
Uma zona entre duas placas que deslizam horizontalmente uma em relação a outra é chamada
de limite de falha transformante ou, simplesmente, limite transformante. Muitas falhas
transformantes ocorrem no oceano, gerando feições do tipo zig-zag. Entretanto, elas podem
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O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 37 .
ocorrer no continente. Este é o caso da Falha de Santo André na Califórnia. Nesta zonas
ocorrem terremotos com foco mais rasos.
Figura 7 - Falha de Santo
André.
Fonte: USGS
Este texto, com um pouco mais de detalhes pode ser encontrado em www.drm.rj.gov.br (entrar em “Projetos
e atividades” e depois em “Disseminação da informação”)
TSUNAMIS
Como podem se formar:
a) queda de grandes meteoros
b) explosão de um vulcão no mar
c) terremotos submarinos
d) deslocamento de grandes massas do continente para o mar (ex: um grande deslizamento)
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Falha geológica
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Para saber mais:
http://pubs.usgs.gov
http://www.ess.washington.edu/tsunami
http://www.pbs.org/wnet/savageearth
http://www.prh.noaa.gov
http://www.unb.br
http://www.angelfire.com
http://www.fema.gov
http://www.drgeorgepc.com
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Presidente da República
Luís Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO
Diretora do Departamento de Produção e Capacitação em Educação a Distância
Leila Lopes de Medeiros
Coordenadora Geral de Produção e Programação
Viviane de Paula Viana
Supervisora Pedagógica
Rosa Helena Mendonça
Acompanhamento Pedagógico
Carla Ramos
Coordenação de Utilização e Avaliação
Carla Inerelli
Mônica Mufarrej
Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins
Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TVE Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte
Consultor especialmente convidado
Ildeu de Castro Moreira
Email: [email protected]
Home page: www.tvebrasil.com.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar - Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Agosto 2007
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