O planeta Terra – Geociências na escola
Transcrição
O planeta Terra – Geociências na escola
….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 1 . SUMÁRIO O planeta Terra – Geociências na escola PROPOSTA PEDAGÓGICA ........................................................ 03 Ildeu de Castro Moreira PGM 1 - História da Terra ........................................................ 08 Ismar de Souza Carvalho PGM 2 - Mudanças climáticas ........................................................ 19 Andréia Guerra, José Claudio Reis e Marco Braga PGM 3 - Grandes desastres naturais ........................................................ 24 PGM 4 - Recursos naturais da Terra ........................................................ 25 PGM 5 - Desenvolvimento sustentável ........................................................ 26 Emílio M. Eigenheer e João Alberto Ferreira ANEXOS: ........................................................ 31 1. Texto para Leitura Complementar (referente ao PGM 3) 2. Texto para Leitura Complementar (referente ao PGM 1) - Reprodução de artigo publicado na Revista Brasileira de Geociências ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 2 . PROPOSTA PEDAGÓGICA O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA Ildeu de Castro Moreira1 Os seres humanos e a vida, tal como nós a conhecemos, existem no planeta Terra. Nós dependemos dele completamente, porque evoluímos a partir dele, somos parte dele e podemos existir somente em função da sua capacidade de auto-sustentabilidade. A Terra provê riquezas sobre as quais temos muito a aprender, por meio das pesquisas científicas e do desenvolvimento de novas técnicas. E, quanto mais aprendemos, mais compreendemos nosso dever de cuidar da Terra. Tradicionalmente, os cientistas estudam as rochas do planeta e tentam entender a história e a estrutura do globo. Tenta-se decifrar tudo o que aconteceu desde a sua origem, com o Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos, e entender os processos que criaram os minerais, os hidrocarbonetos, os metais agregados (areia, barro e pedregulho) e até a própria vida. Com esses estudos, foi possível entender a idade do mundo e da vida, e o tempo relativamente curto em que os seres humanos existem na Terra. Em função da importância das questões globais do nosso planeta (vida no planeta, sobrevivência da espécie humana, estrutura e riquezas da Terra, mudanças climáticas, poluição atmosférica, etc.) a Organização das Nações Unidas - ONU fez uma convocação internacional para que a questão global da Terra seja considerada como tema prioritário para os próximos anos. O Ano Internacional do Planeta Terra teve sua proclamação declarada pela Assembléia Geral da ONU em dezembro de 2005, com o apoio de 191 países, e é comemorado desde janeiro de 2007, com ênfase no ano de 2008. Em função disto, no Brasil, ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 3 . foi escolhido Terra como lema para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que acontece de 1 a 7 de outubro de 2007. Esta série do Salto para o Futuro abordará alguns dos temas importantes sobre o planeta Terra e terá a participação de especialistas no assunto e de professores. É muito importante que esses temas sejam discutidos nas escolas brasileiras, porque afetam a vida de todos. O estudo de Geociências, tradicionalmente pouco valorizado nas escolas, deve também ser estimulado e melhorado. Serão discutidas essas temáticas: 1) História da Terra; 2) Mudanças climáticas; 3) Grandes desastres naturais; 4) Recursos naturais da Terra; 5) Desenvolvimento sustentável. Temas para serem debatidos na série O planeta Terra – Geociências na escola, que será apresentada no programa Salto para o Futuro/TV Escola/SEED/MEC, de 13 a 17 de agosto de 2007: PGM 1 - História da Terra No primeiro programa, serão discutidos estes temas: surgimento da Terra, eras geológicas, deslocamento dos continentes, evolução da vida na Terra. A história materializa da Terra através do remonta estudo há das 4,5 rochas, bilhões minerais de e anos, fósseis história que se encontrados em nosso planeta e que demonstra uma temporalidade que em muito transcende a existência humana. A compreensão da magnitude do tempo geológico, no qual tudo é possível, nos conduz à descoberta de outros mundos, de outros tempos e à busca pelo significado da existência. Assim, através dos estudos geológicos, somos conduzidos a grandes descobertas: a compreensão dos fenômenos de transformação da ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 4 . superfície do planeta, os grandes eventos tectônicos, as causas da preservação de restos orgânicos por muitos e muitos milhões de anos, a descoberta dos eventos que possibilitaram as modificações no ambiente e na biota no decorrer da história de nosso planeta. A partir desses estudos, cada vez mais aumenta nosso êxtase e nossa perplexidade frente às possibilidades de transformação da Terra ao longo do tempo geológico. A Geologia possibilita a todos uma feliz descoberta do fantástico universo da criação e da transformação de nosso planeta e de nosso passado biológico, dando-nos a possibilidade de compreender as mudanças futuras. PGM 2 - Mudanças climáticas As evidências científicas sobre o aquecimento global trazem grandes preocupações para todos nós. Como prevenir e diminuir seus efeitos? Temas como o seqüestro de carbono, a contribuição dos combustíveis fósseis e dos desmatamentos para o aquecimento global e os caminhos alternativos que temos serão discutidos neste segundo programa. PGM 3 - Grandes desastres naturais A superfície da Terra é atingida por grandes acidentes e desastres naturais como terremotos, tsunamis, vulcões, avalanches. Além destes, há os acidentes que podem ser provocados pela ação humana, como as enchentes, as queimadas, os deslizamentos de terra, etc. Como entendê-los e como fazer a prevenção deles? Essas são questões para o debate no terceiro programa da série. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 5 . PGM 4 - Recursos naturais da Terra O quarto programa vai enfocar os recursos minerais da Terra, os recursos fósseis, a biomassa, os biocombustíveis. Toda a matéria-prima da humanidade e quase toda a sua energia vêm da Terra. A sobrevivência da humanidade e da própria vida depende de manter o funcionamento do Sistema Terrestre. Devemos buscar administrar as reservas naturais da Terra de maneira sustentável, na perspectiva de que seus benefícios sejam repartidos de forma justa para toda a humanidade. Como podemos explorar e nos beneficiar com os recursos do planeta sem prejudicar o próprio funcionamento do Sistema da Terra? PGM 5 - Desenvolvimento sustentável No quinto programa serão enfocados: o que é desenvolvimento sustentável, reciclagem do lixo, campanhas educacionais, despoluição dos rios e mares. As atividades humanas que interferem no delicado sistema terrestre são assuntos de preocupação global. Tais atividades trazem impacto sobre a Terra e sobre o meio ambiente, incluindo, entre esses impactos, a possibilidade de grandes mudanças climáticas. O desenvolvimento sustentável é uma necessidade para a sobrevivência da humanidade. A educação ambiental é um tema importante para a discussão e para a prática cotidiana em nossas escolas. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 6 . Nota: Professor do Instituto de Física da UFRJ e da Pós-Graduação em História da Ciência e das Técnicas, também na UFRJ. Consultor desta série. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 7 . PROGRAMA 1 HISTÓRIA DA TERRA Fósseis: registro geológico da história da vida na Terra Ismar de Souza Carvalho1 Expectativa, perplexidade e êxtase. Estas são as principais sensações de todo paleontólogo com seus objetos de estudo – os fósseis. Expectativa pela descoberta do novo, do revolucionário, das evidências e de tudo aquilo que leva à transformação das idéias, dos conceitos, e que possibilita a formulação de novas hipóteses. Perplexidade, pela total surpresa com o achado inesperado e inédito ou, então, por nenhuma nova descoberta. E êxtase, pela percepção e pela compreensão de outros mundos, de outros tempos e da busca incansável pelo significado da existência. Sensações sempre renovadas a cada novo fóssil encontrado. A Paleontologia, ciência dedicada ao estudo dos diferentes organismos que habitaram a Terra no transcorrer do tempo geológico, mostra-se como uma área de conhecimento diversificada e com diferentes interfaces com outras ciências. Envolve assim, conhecimentos advindos da Biologia, Geociências, Física, Química e Matemática que, conjugadas, possibilitam uma compreensão integrada dos eventos e fenômenos que possibilitaram as transformações ambientais e da biota durante a história geológica de nosso planeta. Os fósseis Os fósseis registram organismos ou partes de organismos que viveram em épocas geológicas passadas. Podem corresponder a restos, os quais consistem geralmente da parte dura dos ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 8 . organismos, como, por exemplo, conchas, ossos, dentes, ou mesmo as partes moles, preservadas em condições excepcionais, nas quais a pele, os músculos, os vasos sanguíneos também são preservados. Um fóssil é o registro de um antigo elemento da biosfera, o qual passou a se integrar à litosfera. Há vários mecanismos de preservação das partes duras, que são, geralmente, partes biomineralizadas dos organismos – como as conchas dos moluscos, carapaças dos equinóides ou os ossos dos vertebrados – sendo os principais: a incrustação, a permineralização, a recristalização, a substituição e a incarbonização. Já as partes moles podem ser preservadas por processos de mumificação (geralmente associado à desidratação), de congelamento e de aprisionamento em resinas vegetais (que, quando fossilizadas, são designadas como âmbar). Todavia, tanto as partes moles quanto as partes duras devem ter um rápido processo de soterramento, estarem sujeitas à baixa ação de bactérias e, preferencialmente, o ambiente deve ter condições anaeróbicas. Os icnofósseis Os icnofósseis compreendem outro tipo de registro da existência dos organismos na história geológica da Terra. Representam o documentário da atividade fisiológica de animais e plantas, tais como as pegadas, fezes (coprólitos), ninhos, marcas de raízes, ou qualquer outro tipo de registro deixado quando o animal ainda se encontrava em vida. Como exemplo de icnofósseis, podemos citar as pegadas de dinossauros, as quais foram produzidas quando estes animais, ainda vivos, deslocavam-se sobre a superfície de nosso planeta. Porém, quando morreram, seus ossos, se preservados, serão considerados como fósseis. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 9 . Documentário Paleontológico (1) Desde o surgimento da vida na Terra, as adaptações, transformações e inovações demonstradas pelos organismos evidenciam-nos fenômenos e uma temporalidade que em muito transcende a dimensão da existência humana. São diversos grupos que existiram nos últimos 3,8 bilhões de anos, compreendendo uma ampla variedade de bactérias, fungos, protozoários, animais e vegetais. A Paleontologia tem, assim, uma grande multiplicidade de elementos paleobiológicos para o entendimento da origem e da evolução da vida na Terra. Estes podem ser de natureza microscópica, como é o caso dos pólens, esporos e microfósseis (foraminíferos, radiolários, nanofósseis, diatomáceas, ostracodes), ou macroscópica, que engloba fósseis de invertebrados, vertebrados e vegetais. Através da Paleontologia, podem também ser abordados temas como as teorias evolutivas, causas das extinções, paleoecologia, paleobiogeografia e a origem das formas mais primitivas de vida. Teorias Evolutivas e os Fósseis A formulação dos primeiros conceitos de origem e evolução das espécies, com base em critérios científicos bem estabelecidos, deve-se a Charles Darwin (1809-1882). Ele publicou, em 1837, sua importante obra A Origem das Espécies. Darwin baseou seus estudos na observação dos ambientes, da flora e da fauna atual, bem como no registro fossilífero. Durante cinco anos viajou através da América do Sul, coletando dados, amostras e observando aspectos relacionados à geologia, paleontologia e biota recente. Pôde, assim, formular um conjunto de idéias que revolucionaria a percepção do significado da presença ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 10 . humana sobre a Terra. A partir dos conceitos da variação dos indivíduos sob condições naturais, a luta pela vida, a seleção natural e a sobrevivência do mais apto, Charles Darwin demonstrou muitos dos processos atuantes no transcorrer da evolução, tais como a modificação das espécies e os eventos de extinção. Documentário Paleontológico (2) Os fósseis compõem um amplo documentário sobre a evolução da vida na Terra, suas modificações e os fatores que conduziram ao desaparecimento de muitas formas, para sempre, do planeta. Alguns dos mais antigos registros de vida são conhecidos através dos chamados fósseisquímicos ou biomarcadores. Trata-se de restos de compostos orgânicos preservados em rochas com bilhões de anos. Os mais antigos provêm da Groenlândia (Grupo Issua) e datam de aproximadamente 3,8 bilhões de anos. Em rochas com 3,5 bilhões de anos já são encontrados organismos procariontos (tais como bactérias, cianobactérias e arqueobactérias) que se preservaram, como estromatólitos e microfósseis. Os estromatólitos são um dos mais abundantes registros desta fase inicial da vida na Terra, em que, apesar de não haver o organismo propriamente preservado, sua atividade biológica ficou documentada como estruturas de origem sedimentar em muitas rochas que tiveram origem nos primeiros momentos da vida na Terra. Ocorrem com freqüência no território brasileiro, sendo encontrados em antigas áreas marinhas com 1 bilhão de anos ou mais, no interior dos estados de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia. Os estromatólitos registram, assim, um primeiro grande evento biológico, que é o surgimento das cianobactérias. Através de seu metabolismo com a realização da fotossíntese, as cianobactérias possibilitaram, inclusive, a transformação da atmosfera terrestre, então composta por amônia, metano, ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 11 . nitrogênio, monóxido e dióxido de carbono, em uma atmosfera dominada pelo oxigênio, o que levaria a uma revolução na história geológica da vida, nos milhões de anos que se seguiriam. Jazigos fossilíferos do Brasil No Brasil, cerca de dois terços do território nacional é recoberto por áreas de bacias sedimentares, onde são propícias as descobertas de fósseis. Apesar das dificuldades relacionadas à cobertura vegetal e ao rápido intemperismo nas condições climáticas tropicais, muitos são os jazigos fossilíferos importantes pela abundância, pela qualidade e pela diversidade dos fósseis que possuem, e que estão distribuídos por todo nosso país. Um grande desafio para o futuro da paleontologia brasileira é a preservação deste legado cultural da nação brasileira e da humanidade, não destruindo o registro da história geológica da vida e utilizando as informações daí advindas para a compreensão dos fenômenos de transformação global, tais como as extinções, modificações climáticas e flutuações do nível do mar. E por que preservar? Os fósseis, em face de sua importância científica e interesse para o público, representam momentos únicos da história geológica da vida na Terra, possibilitando a compreensão de catástrofes ecológicas, transformações ambientais, evolução dos seres vivos e do próprio significado da vida em nosso planeta. É daí que advém o grande fascínio exercido pela Paleontologia. O interesse crescente sobre a ciência da vida extinta origina-se dessa percepção, mesmo que inconsciente, do sentido extemporâneo de nossa existência. A percepção do quanto somos efêmeros, da perplexidade ao nos conscientizarmos de que muito já existiu antes de nós, ao longo de uma gigantesca magnitude do tempo passado, quando comparado com o tempo presente. Trata-se da descoberta de nossa insignificância, materializada pela existência dos fósseis – algumas vezes microscópicos, tais como os protistas, outras gigantescos como os dinossauros. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 12 . A) Estromatólitos do Pré-Cambriano Em rochas carbonáticas com 2,5 a 700 milhões de anos ocorrem nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia estromatólitos, os quais são algumas das evidências mais antigas de vida na Terra. São estruturas produzidas por cianobactérias, as quais, através de seu metabolismo, induzem a precipitação de minerais em sua trama orgânica. B) Os fósseis dos Mares Devonianos Há 350 milhões de anos, muitas das regiões interiores do Brasil como nos estados do Amazonas, Pará, Piauí, Pernambuco, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina eram recobertos por amplos mares rasos, nos quais existia uma fauna bastante distinta da atual. Nestes mares dominavam os trilobitas, braquiópodes, moluscos primitivos e cnidários, fauna muito diferente daquela que vive nos mares de hoje. C) Grande floresta petrificada permiana do Brasil Central Localizada entre os estados de Tocantins, Maranhão e Piauí, a grande floresta petrificada do Brasil Central inclui espécimes únicos no mundo, muitos ainda não descritos formalmente, de caules e folhagens de pteridófitas preservados por silicificação e como impressões. Trata-se de uma das maiores áreas da América do Sul, na qual estão registradas a fauna e flora do Permiano (Bacia do Parnaíba, Formação Pedra de Fogo). Os espécimens vegetais denotam geralmente uma preservação por histometabase, havendo assim detalhes anatômicos nítidos e singulares. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 13 . D) Floresta Petrificada de Mata A floresta petrificada de Mata, localizada no estado do Rio Grande do Sul (Bacia do Paraná, formações Santa Maria e Caturrita e Arenito Mata). Os lenhos fósseis aí encontrados são de gimnospermas relacionadas às coníferas, estando inseridos no contexto das mudanças climáticas iniciadas na passagem meso-neotriássica. E) Dinossauros de Uberaba No bairro rural de Peirópolis, município de Uberaba (Minas Gerais) ocorre uma grande abundância de fósseis de vertebrados, sendo que os mais comuns são os de dinossauros. Trata-se de materiais do período Cretáceo, e os fósseis coletados na região podem ser conhecidos no Museu dos Dinossauros, o qual se localiza em Peirópolis. F) Chapada do Araripe A Chapada do Araripe localiza-se nas regiões sul do estado do Ceará e oeste do estado de Pernambuco. São inúmeras as localidades fossilíferas nesta bacia, em que microfósseis, icnofósseis, vegetais, invertebrados e vertebrados cretáceos são abundantes No acervo do Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri pode ser conhecida uma parte da diversidade da fauna e da flora existentes durante os períodos Jurássico e Cretáceo na região. São mais de três mil exemplares de troncos silicificados, impressões de coniferófitas, plantas com flores, moluscos, artrópodes, peixes, anfíbios e répteis, os quais estão entre os que apresentam as melhores condições de preservação orgânica do mundo. São encontradas estruturas anatômicas delicadas preservadas, tais como cerdas de insetos e restos musculares de vertebrados, e mesmo a coloração original de alguns fósseis. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 14 . G) Parque Vale dos Dinossauros Na região de Sousa, estado da Paraíba, já foram identificados e mapeados 22 sítios icnofossilíferos, e reconhecidas 296 pistas de grandes terópodes (dinossauros carnívoros); 29 de pequenos terópodes; 42 de saurópodes; 2 de ornitísquios quadrúpedes e 28 de ornitópodes. Ao todo, já foi classificado um número superior a 395 indivíduos dinossaurianos. A área mais importante de distribuição de pegadas fósseis, localizada em Passagem das Pedras (Fazenda Ilha) no município de Sousa, é atualmente um parque com 40 hectares de área. Possui infra-estrutura turística e guias treinados para o turismo ecológico e para proteção do sítio icnofossilífero. Esta localidade icnofossilífera foi tombada como Monumento Natural e designada como “Monumento Natural Vale dos Dinossauros”. H) Museu de Paleontologia de Monte Alto O município de Monte Alto localiza-se no estado de São Paulo, na região central da Bacia do Paraná (Grupo Bauru). Em toda a região são encontradas inúmeras localidades fossilíferas do Cretáceo Superior, com fauna e flora bem diversificadas de organismos terrestres. O Museu de Paleontologia de Monte Alto possui um grande acervo de fósseis coletados em sedimentos do Grupo Bauru, aflorantes na região de Monte Alto e nos municípios vizinhos. Em seu acervo, há fósseis de dinossauros, crocodilos, tartarugas, moluscos bivalves, icnofósseis, microfósseis, que são utilizados tanto pela comunidade de pesquisadores em paleontologia, quanto para o desenvolvimento de atividades didáticas com alunos do Ensino Fundamental e Básico. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 15 . I) Ilha do Cajual – Maranhão A ilha do Cajual localiza-se na baía de São Marcos, no município de Alcântara, estado do Maranhão. Trata-se de uma área de proteção ambiental, na qual são encontrados afloramentos de rochas cretácicas, extremamente fossilíferos. A maior concentração de fósseis localiza-se próximo à Estação Ecológica da AMAVIDA, em um amplo pavimento denominado Laje do Coringa, com cerca de 4.000 m2 de afloramentos descontínuos, onde há ossos e dentes de dinossauros, crocodilos, escamas e placas ósseas de holósteos, bem como troncos de traqueófitas de grande porte. J) Parque Paleontológico São José de Itaboraí A área onde está instalado o Parque Paleontológico São José de Itaboraí compreende a região onde existiam depósitos paleocênicos da bacia sedimentar de São José de Itaboraí, no município de Itaboraí, estado do Rio de Janeiro. Desta bacia são provenientes uma ampla flora e uma ampla fauna terrestres, que não são encontradas em outras partes do território brasileiro. Com destaque para os fósseis de fungos, pólens, angiospermas, moluscos (gastrópodes), crustáceos (ostracodes), anfíbios (gymnophiona e anura), répteis (quelônios, ofídeos e crocodilos), aves e mamíferos (marsupiais, condilartras, litopternas, notoungulados, astrapoterias, xenungulatas, edentados e proboscídeos). K) Megafauna do Neógeno da Região Amazônica Em toda a Amazônia são encontrados inúmeros depósitos do Neógeno extremamente fossilíferos, e que testemunham as transformações ambientais, climáticas e na biota da Região Norte do Brasil. Dentre os jazimentos mais importantes estão os encontrados na Formação Solimões (Mioceno Superior – Plioceno) ao longo dos rios do estado do Acre, revelando uma ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 16 . rica fauna de biválvios, gastrópodes, decápodes, crocodilomorfos, quelônios, mamíferos, além de troncos permineralizados. L) Megafauna do Pleistoceno – Cavernas de Minas Gerais e Bahia Nas grutas calcárias dos estados de Minas Gerais e Bahia há um amplo registro de mamíferos pleistocênicos, tais como marsupiais, quirópteros, edentados, primatas, roedores, carnívoros, litopternos, notoungulados, proboscídeos, eqüídeos, camelídeos, taiassuídeos e cervídeo. As grandes acumulações de fósseis aí encontradas originaram-se pela ação de enxurradas, que transportaram grande quantidade de cadáveres de animais para seu interior. O estudo destes fósseis teve início no século XIX, com o paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund, o qual foi responsável pela primeira descoberta de fósseis humanos (“Homem de Lagoa Santa”). Estes fósseis podem ser conhecidos no Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e no Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais. Referências para leitura Carvalho, I. S. (ed). Paleontologia. Editora Interciências, 2 volumes. V. 1. 2004. 861 p. Cartelle, C. Tempo Passado: Mamíferos do Pleistoceno de Minas Gerais. Acesita, 1994. 132 p. Fernandes, A. C. S.; Borghi, L.; Carvalho, I. S. & Abreu, J. C. Guia dos Icnofósseis de Invertebrados do Brasil. Editora Interciências, 2002. 260 p. Lima, M. R. Fósseis do Brasil. T. A. Queiroz: Editora da Universidade de São Paulo, 1989. 118p. McAlester, A. L. História Geológica da Vida. Editora Edgard Blücher, 7ª reimpressão, 2002. 173 p. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 17 . Salgado-Laboriau, M. L. História Ecológica da Terra. Editora Edgard Blücher, 1997. 308 p. Nota: Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Geologia – IGEO. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 18 . PROGRAMA 2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Aquecimento Global numa perspectiva histórica Andréia Guerra1 José Claudio Reis2 Marco Braga3 As últimas notícias a respeito do aquecimento global deixaram todos preocupados. O alerta sobre as mudanças climáticas que o planeta poderá sofrer em breve foi noticiado em todos os meios de comunicação. Diferentes especialistas se pronunciaram, vários artigos foram escritos sobre o tema, inúmeros programas foram realizados para informar a população do que está ocorrendo ao planeta Terra. Revistas de divulgação científica dedicaram números especiais ao aquecimento global. Em todas as notícias, ficava evidente a importância de que o tema fosse de conhecimento de todos, uma vez que a ação dos homens sobre a Terra será decisiva para o seu futuro. A seriedade e urgência de busca de possíveis soluções para o problema colocamnos diante de uma questão: e a escola? Qual o seu papel nesse processo? A resposta a essas questões não está dissociada de outra: a escola é um local privilegiado para informar ou para formar? Se optarmos pelo espaço da informação, tornaremos a sala de aula muito vulnerável. Os meios de comunicação, cada vez mais ágeis e versáteis, cumprem muito bem sua função de gerar informação. Fora isso, a diversidade tecnológica por eles utilizada os torna mais atrativos aos alunos do que as exposições produzidas nas escolas. Por esse caminho os professores, efetivamente, não têm como contribuir para o debate em torno do aquecimento global. Para que possa ter um papel determinante no processo, é fundamental que a escola seja um espaço de debate, e, portanto, de formação. E nesse caminho, o ensino de ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 19 . Ciências adquire uma dimensão fundamental, ao trazer o tema aquecimento global para a agenda do dia-a-dia das escolas. Mas como colocar o tema nas aulas? Os caminhos são diversos. Acreditamos que a importância do tema faz com que as melhores estratégias sejam aquelas que priorizem uma discussão contínua e aprofundada a respeito do assunto. E, nesse sentido, a utilização da história da ciência pode ser extremamente interessante. Ao trabalharmos a ciência em sua perspectiva histórica, possibilitamos aos alunos perceberem que esse é um conhecimento construído por homens inseridos num tempo e espaço determinados, que por isso enfrentam problemas específicos e se utilizam das ferramentas disponíveis no momento situado para construir as soluções das diversidades encontradas. Por essa característica da ciência, o olhar para o passado, ao mostrar os caminhos tomados pelos homens em determinadas épocas e que os levaram à situação presente, é uma ferramenta muito importante para se construir as soluções necessárias a uma intervenção no cotidiano. Nesse sentido, ao trabalharmos alguns temas em ciência, precisamos sair da mera apresentação formal dos produtos científicos para mergulharmos no passado e entendermos o processo de construção daquele produto. Um dos assuntos importantes nessa estratégia é o estudo de energia. Tema abordado em diferentes séries do Ensino Fundamental e Médio, mas que aqui trataremos a partir de um caminho utilizado no Ensino Médio, em aulas de Física. Introduzimos o assunto, colocando para os alunos que o termo energia foi criado no início do século XIX. Com o intuito de discutirmos essa origem, trabalhamos com eles a Revolução Industrial (século XVIII), e, mais particularmente, as máquinas térmicas. Aqui, salientamos não só o funcionamento das mesmas, como as mudanças no mundo do trabalho e na organização das cidades que o desenvolvimento desse artefato proporcionou. O combustível ali utilizado e a forma de exploração da natureza para adquiri-lo são temas privilegiados. Após essa discussão histórica, conceituamos energia, as diferentes formas de energia reconhecidas, as possíveis transformações de uma forma em outra e o princípio de sua conservação. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 20 . Ao longo desse estudo, apresentamos especialmente a energia elétrica e os diferentes caminhos encontrados pelo homem para sua obtenção. Aqui, mais uma vez a história da ciência é um recurso utilizado para trazer à sala de aula a reflexão em torno do consumo de energia. Discutimos, assim, a construção do primeiro dínamo e do primeiro motor elétrico, enfatizando mais uma vez o contexto científico-cultural no qual ocorreram essas invenções e o impacto que geraram no mundo do trabalho e no cotidiano das cidades. O combustível ali envolvido e a forma de exploração da natureza é também um tema abordado. Ao longo do primeiro semestre do ano letivo de 2007, um dos componentes do Grupo Teknê está desenvolvendo um projeto interdisciplinar (Física e Química no Ensino Médio) no Colégio Pedro II. Paralelamente ao estudo do tema energia nas aulas de Física, nos moldes descritos acima, foi proposta aos alunos a elaboração de um panorama das transformações energéticas ocorridas do século XIX até os dias de hoje. A forma de apresentação do produto final era livre, cada grupo pôde usar a mídia a ele mais interessante, o importante era que, ao colocarem o trabalho para a turma, eles motivassem o restante dos alunos para discutir os resultados de sua pesquisa. Os professores forneceram fontes bibliográficas para a pesquisa. Em relação à questão energética atual, cada grupo se concentrou em uma das seguintes fontes energéticas: petróleo, carvão, energia solar, eólica, nuclear, hidrogênio, hidrelétrica, gás natural, biogás, álcool e biodiesel. Para cada um desses itens específicos, eles abordaram: - aspectos técnicos, ou seja, como se obtém energia da fonte pesquisada, quais os princípios físicos, químicos ou biológicos que explicam a sua utilização e aplicações. - impactos ambientais provenientes da utilização da referida fonte energética e os caminhos encontrados para diminuí-los. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 21 . - questões geopolíticas, ressaltando onde a fonte energética é mais abundante, quais as conseqüências econômicas de sua utilização, os impactos na organização do espaço geográfico e, também, as implicações políticas. - problemas relacionados ao consumo, enfatizando como uma sociedade tecnológica, baseada no consumo, pode resolver os problemas referentes à energia; e, ainda, a exclusão de grande parte da população mundial da aquisição dos produtos industriais e bens de serviços, que necessitam cada vez mais de energia para serem produzidos. Antes das apresentações dos grupos, os professores tiveram acesso a um resumo do trabalho final. Isso lhes possibilitou encaminhar questões aos grupos capazes de gerar discussão com toda a turma. O trabalho histórico em sala de aula, paralelo a um projeto de pesquisa realizado pelos alunos, permitiu que um tema tão explorado pelos meios de comunicação, como o aquecimento global e as mudanças climáticas daí oriundas, entrasse na sala de aula. Nesse caminho, a capacidade tecnológica atual da mídia foi aproveitada, mas também foi superado o poder de ação da mesma, uma vez que o trabalho de sala de aula, resgatando a história da ciência, possibilitou, além de uma investigação histórica das origens do problema, um debate, no qual os próprios alunos foram os especialistas do assunto. Bibliografia Como deter o aquecimento global – Edição Especial. Scientific American Brasil. Grupo Teknê – Coleção Breve História da Ciência Moderna (3 volumes). Jorge Zahar Editor. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 22 . Colin Ronan. História Ilustrada da Ciência (4 volumes). Jorge Zahar Editor. Notas: Grupo Teknê, CEFET-RJ. 2 Grupo Teknê, Colégio Pedro II. 3 Grupo Teknê, CEFET-RJ. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 23 . PROGRAMA 3 Grandes desastres naturais A superfície da Terra é atingida por grandes acidentes e desastres naturais como terremotos, tsunamis, vulcões, avalanches. Além destes, há os acidentes que podem ser provocados pela ação humana, como as enchentes, as queimadas, os deslizamentos de terra, etc. Como entendê-los e como fazer a prevenção deles? Essas são questões para o debate no terceiro programa da série. Nota: 1 O Texto relativo a este programa será enviado posteriormente. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 24 . PROGRAMA 4 Recursos naturais da Terra O quarto programa vai enfocar os recursos minerais da Terra, os recursos fósseis, a biomassa, os biocombustíveis. Toda a matéria-prima da humanidade e quase toda a sua energia vêm da Terra. A sobrevivência da humanidade e da própria vida depende de manter o funcionamento do Sistema Terrestre. Devemos buscar administrar as reservas naturais da Terra de maneira sustentável, na perspectiva de que seus benefícios sejam repartidos de forma justa para toda a humanidade. Como podemos explorar e nos beneficiar com os recursos do planeta sem prejudicar o próprio funcionamento do Sistema da Terra? Nota: 1 O Texto relativo a este programa será enviado posteriormente. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 25 . PROGRAMA 5 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Lixo: compreender para esclarecer Emílio M. Eigenheer1 João Alberto Ferreira2 Faz parte de nossa tradição avaliar os serviços públicos de limpeza urbana por dois parâmetros básicos: a) coleta eficiente do lixo doméstico; b) varrição metódica de logradouros públicos (ruas, praças, etc.), em especial os de maior visibilidade. Recentemente, também a existência de um sistema de coleta seletiva de lixo passou a ser um ponto ressaltado e valorizado. Estes parâmetros, porém, não dão conta da complexidade da limpeza urbana e não são suficientes para uma avaliação criteriosa desse serviço prestado pelas municipalidades, não só nas médias e grandes cidades, mas, principalmente, em nossas metrópoles. Contudo, essa percepção limitada acaba colaborando indiretamente para a permanência da difícil situação que o Brasil enfrenta, como um todo, na gestão de seus resíduos urbanos. A ausência de uma visão mais crítica e de cobranças bem fundadas pela população facilita a manutenção de serviços inadequados e o desperdício de recursos, para não falar do crescimento da corrupção no setor. Neste posicionamento limitado se deixa de lado um aspecto decisivo, que é a preocupação com a destinação final do lixo, que não pode, hoje, abrir mão dos aterros sanitários. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 26 . Quando esta peça fundamental do sistema de limpeza não existe, temos a utilização dos vazadouros e, na melhor das hipóteses, dos aterros controlados. Nos primeiros, o lixo é jogado indiscriminadamente a céu aberto, sem nenhum cuidado. No segundo, temos minimamente o recobrimento dos resíduos depositados. Em ambos são bastante conhecidos tecnicamente os conseqüentes impactos ambientais e na saúde pública. Só nos aterros sanitários – obra complexa de engenharia – encontraremos o tratamento do chorume (líquido que percola através do lixo), dos gases (sobretudo o metano) e o encerramento adequado da área, uma vez esgotada. Cabe salientar que, por falta de planejamento, pelos tabus ligados às pessoas e áreas relacionadas ao lixo, é cada vez mais difícil encontrar locais disponíveis para aterros sanitários. E quanto mais longe estiverem das áreas urbanas, mais caro se torna o sistema, em razão do transporte. A destinação final é também uma parte onerosa do sistema, mas necessária. Fica, porém, distante do olhar do contribuinte e pouco destaque se dá à sua importância. A desculpa de que falta dinheiro para construí-los não se justifica, principalmente se atentarmos para o enorme desperdício, existente nas últimas décadas, de recursos financeiros com tecnologias não adequadas, notadamente as chamadas usinas de compostagem e reciclagem. Só no Estado do Rio de Janeiro estima-se um gasto de mais de 100 milhões de reais, com unidades que em muitos casos nem chegaram a entrar em funcionamento. Qual era e é ainda a falácia dessas usinas? A de que resolveriam por completo o problema do lixo, com seu aproveitamento quase total. Com isto, não haveria necessidade dos aterros sanitários. Os técnicos sabem que, na melhor das hipóteses, teríamos nestas usinas cerca de 40% de rejeitos, além de composto orgânico de baixa qualidade e dependência de um complexo e instável mercado para os materiais recicláveis industrialmente (papel, vidro, plástico e metais). Em nosso país, muitos produtos considerados recicláveis, por razões as mais diversas, não têm mercado ou têm com restrições. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 27 . Ao confundir a questão do destino final (aterros sanitários) com formas de tratamento dos resíduos, confundimos de forma irresponsável a opinião pública. Grande parte dos profissionais dos meios de comunicação acaba, inadvertidamente, colaborando para essa situação. Geramos lixo e temos de dar destino a ele. Certamente diminuir a quantidade de lixo gerado e reaproveitá-lo ao máximo são metas mais do que defensáveis, são necessárias. Mas é importante ter em mente que esbarram em sérios obstáculos de ordem econômica, técnica e cultural. Primeiro, é preciso ter presente que a gestão de resíduos é cara tanto no que concerne à coleta quanto ao tratamento e destino final. Por outro lado, estamos longe de termos nossos serviços de limpeza financiados adequadamente pelos seus usuários, como já ocorre em alguns países. Assim como acontece com os serviços de fornecimento de água, esgoto e luz, os serviços de coleta, tratamento e destinação final do lixo devem ser financiados pelos usuários de acordo com a quantidade de lixo gerada. E há métodos para se auferir isto. Com as insuficientes taxas de lixo embutidas no IPTU, deixamos de ter, via de regra, suporte financeiro para dar conta do problema como um todo. Isto torna ainda mais grave a irresponsabilidade com o desperdício de recursos no setor. Uma das conseqüências é que mesmo o tradicional serviço de coleta e varrição acaba não sendo feito em áreas desprotegidas política e socialmente. E esta restrição acaba gerando efeitos perversos. Obstrução de rios e canais, inundações, deslizamentos de encostas em áreas de morros (onde vive a população mais pobre). De alguma forma o lixo acaba reaparecendo. É importante o tratamento? Não resta dúvida. Mas de forma responsável e realista. A coleta seletiva é fundamental para um reaproveitamento adequado tanto da matéria putrescível de ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 28 . nosso lixo através da compostagem, como de outros materiais pela reciclagem. Quanto mais eficientes e detalhadas forem as separações prévias, melhor. Isto é ainda mais importante para o material destinado à compostagem. Não se trata, porém, de uma panacéia, já que até mesmo o mercado para esses produtos não é, como dissemos, garantido. Não devemos jamais nos esquecer de que o Brasil já é um dos maiores recicladores mundiais, conseqüência mais do enorme contingente de miseráveis que se ocupam da catação de lixo nas ruas e lixões, do que de processos formais de coleta seletiva. Propostas de coleta seletiva voluntária em pontos estratégicos das cidades, com o encaminhamento do material recolhido para grupos organizados de catadores, constituem um passo importante. Eles se encarregariam do trabalho de triagem e comercialização com vantagens para os próprios e para a municipalidade. A quantidade de material gerado por podas, restos de feiras e restaurantes é significativa. Pode servir, com baixo custo, para o início de ações de compostagem visando a um composto de boa qualidade. É importante se passar para o cidadão, desde cedo, a complexidade da limpeza urbana e até mesmo seus truques e subterfúgios. Enquanto tivermos um tratamento da questão de forma equivocada, estaremos comprometendo ainda mais a difícil situação financeira dos municípios, e por que não, facilitando que o setor de resíduos, por falta de interesse e informação da população, se transforme em campo propício para a corrupção. Estima-se que algumas cidades chegam a gastar com seus resíduos 20% do seu orçamento, e sem resolver adequadamente o problema. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 29 . As desigualdades sociais e a falta de controle social em áreas significativas de nossas grandes cidades e metrópoles agravam a situação. Nelas, como já dito, nem mesmo serviços básicos de coleta e varrição são satisfatoriamente executados. A má qualidade dos serviços contribui para uma cultura de não participação, de pouco envolvimento das populações – se o poder público não cumpre o seu papel, porque devo me preocupar? – aumentando a sujeira das cidades e os custos dos serviços. Só poderemos educar adequadamente nossos cidadãos se tivermos clareza do que deve ser transmitido. Educá-los na expectativa de soluções fáceis ou mesmo mágicas só leva a agravar a difícil situação dessa área onde, cabe ressaltar, já nos atrapalham há séculos, interdições e tabus notadamente ligados ao nosso receio da morte. Afinal, a degenerescência, a decadência e a deterioração de nosso corpo, de nossas obras e utensílios, não são fáceis de ser enfrentadas. É mister que o façamos de forma consciente e técnica. Enfim, é importante ter clareza do complexo sistema de limpeza urbana necessário às nossas cidades para, a partir daí, educar a população. Não devemos reforçar crenças em soluções milagrosas que nos afastam do enfrentamento técnico-cultural deste delicado problema que, tal como a morte, a todos afeta. Para maiores informações: E. Eigenheer, J. A. Ferreira, R. R. Adler. Reciclagem: mito e realidade. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2005. Notas: Professor da Universidade Federal Fluminense - UFF e Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. 2 Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 30 . ANEXOS Texto para leitura complementar (referente ao PGM 3) CONCEITOS BÁSICOS: TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS Kátia Mansur A Terra é um planeta que tem um interior quente e parcialmente fluido, constatado pelo homem na superfície através de fenômenos como atividades vulcânicas, fontes de águas termais e outros. Vivemos no topo da litosfera, uma sólida camada que recobre nosso planeta. A litosfera é toda quebrada em grandes placas (veja a Figura 1) que se movem. O calor interno da Terra e a fricção entre as placas fazem com que ocorram, principalmente nos limites das placas litosféricas, vulcões e terremotos. Em termos geológicos, uma placa é um segmento rígido da crosta terrestre constituído por rocha sólida. A palavra tectônica encontra a sua raiz no grego como o equivalente do verbo construir. Juntando estas duas palavras Figura 1 - Limite das Placas Tectônicas (Fonte: NASA) ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 31 . obtêm-se a designação de "Tectônica de Placas", que se refere à idéia de que a superfície da Terra é construída por placas. Assim, numa perspectiva simplificada, podemos considerar que a teoria da tectônica de placas defende que a camada mais exterior da Terra, a crosta, se encontra fragmentada em placas de diferentes dimensões, que se movem umas em relação às outras ao deslizar sobre material mais quente e móvel do interior da Terra. A crosta que fica debaixo dos oceanos é rica em elementos químicos pesados (ex: ferro e magnésio), já a crosta que forma os continentes é constituída por elementos mais leves (ex: alumínio e silício). Existem 3 tipos de limites de placas: (a) Divergentes - quando uma nova crosta é gerada e as placas se distanciam umas das outras; (b) Convergentes - quando a crosta é destruída por uma placa que mergulha sob a outra; e (c) Transformantes - quando não há produção nem destruição de placas, as quais deslizam horizontalmente uma em relação a outra. a) Limites Divergentes: Ocorrem quando uma nova crosta oceânica é criada, com movimento das placas em direções opostas. O nascimento de um oceano inicia com a quebra de um continente. A placa litosférica continental é puxada lateralmente por forças divergentes (Figura 2). O primeiro estágio inclui o estiramento da crosta continental e o fraturamento. Forma-se uma grande depressão no meio do continente e a água do mar começa a inundar as terras continentais gerando lagos salinos. A atividade vulcânica é intensa pois o estiramento da crosta continental faz com que a camada quente e fluída que fica abaixo da litosfera (a astenosfera) se aproxime da superfície. Este ambiente como um todo é chamado de rifte continental. Um exemplo atual de um continente nesta fase de quebra é o grande “Rift Valley” africano, na África Oriental. No estágio 2, a divergência das forças continua e a crosta continental se parte formando dois continentes, agora separados por um oceano encaixado em uma grande fratura. A subida de ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 32 . material magmático quente da astenosfera gera uma série de erupções vulcânicas que formam um denso assoalho oceânico de basalto, denominado crosta oceânica. As bordas continentais são levantadas formando montanhas. Um exemplo atual de um oceano em estágio de abertura inicial é o Mar Vermelho que separa a Península Arábica da África Oriental. Se a divergência continua, o oceano se alarga e chega-se ao estágio 3, da formação de um oceano maduro. O calor vindo da astenosfera fica restrito à região oceânica central onde a atividade vulcânica intensa forma a Cadeia Mesoceânica. A medida em que as placas se afastam, mais frias ficam as bordas continentais (pois estão longe do centro de geração de calor) logo afundam e são parcialmente recobertas pelas águas marinhas, formando a plataforma continental. Um exemplo atual de um oceano maduro é o oceano Atlântico que separa a América da África e Europa. Figura 2 - Limites de placas divergentes (Fonte: Projeto Caminhos Geológicos) ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 33 . A velocidade mais baixa de separação de placas é de cerca de 2.5 cm/ano ou 25 km em 1 Milhão de anos (Cadeia do Ártico). A mais rápida é da Cadeia do Pacífico Leste, próximo à Ilha de Páscoa, com mais de 15 cm/ano. Figura 3 - Cadeia Meso-Atlântica b) Limites Convergentes: O tamanho da Terra não variou significativamente nos últimos 600 Ma e, muito provavelmente, é muito parecido com o tamanho desde sua formação (4.5 Ga = Bilhões de anos). A mudança no tamanho da Terra implica de que a crosta deve ser destruída na mesma medida em que é criada. Tal destruição (reciclagem) da crosta ocorre ao longo das bordas convergentes de placas por colisão ou porque uma mergulha embaixo da outra (subducção). O tipo de convergência de placas depende do tipo de litosfera envolvida: (a) oceânica continental; (b) continental - continental; e (c) oceânica - oceânica. ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 34 . Convergência Oceânica-Continental Se pudéssemos drenar o Oceano Pacífico, nós poderíamos ver um grande número de longas e estreitas fossas (ou trincheiras) com 8 a 10 km de profundidade, cortando o fundo oceânico. As fossas são as mais profundas partes dos oceanos e são criadas por subducção (Figura 4). Na costa da América do Sul, ao longo da fossa Peru-Chile, a placa oceânica de Nazca está sendo empurrada (por subducção) por baixo da placa continental Sul-americana. Por outro lado, a placa Sul-americana está se levantando, formando a Cordilheira dos Andes. Terremotos forte e destrutivos ocorrem no limite das placas e o rápido soerguimento de montanhas é comum nesta região. A convergência oceânica - continental também gera muitos dos vulcões hoje ativos. A atividade vulcânica está claramente associada com a subducção nestas regiões. Figura 4 - Convergência de placa Oceânica com placa Continental. Fonte: USGS Convergência Oceânica-Oceânica Assim como ocorre uma zona de subducção quando há convergência oceânica - continental, o mesmo fenômeno ocorre quando duas placas oceânicas se encontram (Figura 5). Neste processo há a formação de uma fossa oceânica. A fossa das Marianas (paralela às Ilhas ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 35 . Marianas - profundidade próxima a 11 km) é produto da convergência da Placa do Pacífico com a das Filipinas. Neste processo há a formação de vulcões. Depois de milhões de anos de acúmulo de lava desses vulcões submarinos, eles atingem o nível do mar formando uma ilha vulcânica. Estes vulcões formam uma cadeia que é denominada arco de ilhas. O magma que forma os arcos de ilhas é produto da fusão parcial do material subductado e/ou por material que ascende da litosfera oceânica. A placa descendente produz uma fonte de acumulação de energia pela interação com a outra placa, levando a terremotos freqüentes de intensidade moderada a forte. Figura 5- Convergência de placa Oceânica com placa Oceânica. Fonte: USGS Convergência Continental-Continental Devido a diferença de densidade entre a crosta oceânica e a crosta continental, quando a oceânica se move em direção a uma crosta continental, a primeira (mais pesada) é empurrada por baixo da segunda, formando uma zona de subducção e mergulhando para as regiões mais profundas da Terra (veja o estágio 1 da Figura 6). Se este movimento continua, a porção oceânica desaparece totalmente dando origem a uma colisão continental. O continente não ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 36 . Figura 6 - Colisão de placa Continental com placa Continental. Fonte: Projeto Caminhos Geológicos afunda junto com a crosta oceânica, porque é menos denso, se aglutinando ao outro e levantando uma grande cadeia de montanhas (veja o estágio 2 do modelo). A Cordilheira do Himalaia, exemplo deste tipo de convergência, demonstra uma das mais espetaculares conseqüências da Tectônica de Placas. Limites Transformantes ou Transcorrentes Uma zona entre duas placas que deslizam horizontalmente uma em relação a outra é chamada de limite de falha transformante ou, simplesmente, limite transformante. Muitas falhas transformantes ocorrem no oceano, gerando feições do tipo zig-zag. Entretanto, elas podem ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 37 . ocorrer no continente. Este é o caso da Falha de Santo André na Califórnia. Nesta zonas ocorrem terremotos com foco mais rasos. Figura 7 - Falha de Santo André. Fonte: USGS Este texto, com um pouco mais de detalhes pode ser encontrado em www.drm.rj.gov.br (entrar em “Projetos e atividades” e depois em “Disseminação da informação”) TSUNAMIS Como podem se formar: a) queda de grandes meteoros b) explosão de um vulcão no mar c) terremotos submarinos d) deslocamento de grandes massas do continente para o mar (ex: um grande deslizamento) ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 38 . Falha geológica ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 39 . Para saber mais: http://pubs.usgs.gov http://www.ess.washington.edu/tsunami http://www.pbs.org/wnet/savageearth http://www.prh.noaa.gov http://www.unb.br http://www.angelfire.com http://www.fema.gov http://www.drgeorgepc.com ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 40 . Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Diretora do Departamento de Produção e Capacitação em Educação a Distância Leila Lopes de Medeiros Coordenadora Geral de Produção e Programação Viviane de Paula Viana Supervisora Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento Pedagógico Carla Ramos Coordenação de Utilização e Avaliação Carla Inerelli Mônica Mufarrej Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Diagramação e Editoração Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TVE Brasil Gerência de Criação e Produção de Arte Consultor especialmente convidado Ildeu de Castro Moreira Email: [email protected] Home page: www.tvebrasil.com.br/salto Rua da Relação, 18, 4o andar - Centro. CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ) Agosto 2007 ….......................................................................................................................... O PLANETA TERRA – GEOCIÊNCIAS NA ESCOLA. 41 .