Diapositivo 1 - Câmara Municipal de Águeda

Transcrição

Diapositivo 1 - Câmara Municipal de Águeda
Centro Urbano do Futuro
Parcerias para a Regeneração Urbana
Dezembro 2010
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Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Índice Geral
1. Plano de trabalho
1.1. Fase 1 – Análise do levantamento arquitectónico do centro urbano de Águeda
1.2. Fase 2 – Selecção dos edifícios alvo
1.3. Fase 3 - Elaboração de cadernos de encargos tipo
1.4. Fase 4 – Valorização do centro urbano
1.5. Fase 5 – Divulgação dos resultados do projecto
2. Enquadramento da cidade
2.1. Fase 1 – Análise do levantamento arquitectónico
2.2. Fase 2 – Selecção dos edifícios alvo
3. Sustentabilidade
3.1. Desenvolvimento Sustentável
3.2. Sustentabilidade em Portugal
3.3. Sustentabilidade e Edificado
3.3.1. Impactos Ambientais dos Edifícios
3.3.2. Princípios de Sustentabilidade para os Edifícios de Habitação
3.3.3. Factores associados aos edifícios
3.3.4. Factores associados à envolvente térmica dos edifícios
3.3.5. Factores associados aos sistemas e instalações
3.4. Ferramentas de avaliação da sustentabilidade
3.5. Medidas de Sustentabilidade
3.5.1. Aplicação das energias renováveis na construção
3.5.2. Melhoria da qualidade do ar interior
3.5.3. Melhoria no conforto termo-acústico
3.5.4. Redução do consumo de água
3.5.5. Redução e reciclagem de resíduos
4. Soluções construtivas sustentáveis
4.1. Reabilitação Estrutural e da Envolvente
4.1.1. Reabilitação da cobertura
4.1.2. Reabilitação de fachadas
4.1.3. Caixilharias e Envidraçados
4.1.4. Acabamentos
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4.2. Conforto térmico
4.2.1. Reabilitação térmica de Paredes Exteriores
4.2.2. Soluções de isolamento térmico pelo Interior
4.2.3. Reabilitação térmica dos Pavimentos
4.2.4. Reabilitação térmica das Coberturas
4.2.5. Reabilitação térmica dos Vãos Envidraçados
4.3. Integração das energias renováveis
4.3.1. Edifícios de Emissão Zero
4.3.2. Conceitos Bioclimáticos e de Design Passivo
4.3.3. Tecnologias de Energia Renovável
4.4. Acessibilidades
5. Representações Arquitectónicas
5.1. Propostas para uma arquitectura sustentável
5.2. Soluções Tipo para os Edifícios-alvo
5.2.1. Edifício Q09_12 – Rua 5 de Outubro
5.2.2. Edifício Q09_20 – Rua 5 de Outubro
5.2.3. Edifício Q06_12 – Rua Luís de Camões
5.2.4. Edifício Q04_13 – Rua Luís de Camões
5.3. Conclusão
6. Valorização do centro urbano (Fase 4)
6.1. Caracterização do Município de Águeda
6.2. Propostas de melhoria
Bibliografia
Anexos
Anexo I – Modelo do Inquérito inicial
Anexo II - Guia prático para a construção e reabilitação sustentável
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Índice
Plano de
trabalho
Enquadramento
da cidade
Sustentabilidade
Soluções
construtivas
sustentáveis
Representações
Arquitectónicas
Valorização do
centro urbano
do futuro
Anexos
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Fase 1 - Análise do levantamento arquitectónico do centro urbano de Águeda
Plano de trabalho
Fase 2 - Selecção dos edifícios-alvo
Fase 3 - Elaboração de propostas e de cadernos de encargos tipo
Fase 4 - Propostas de valorização do centro urbano (relatório final)
Fase 5 - Divulgação dos resultados do projecto
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1. Plano de trabalho
De acordo com o contrato estabelecido com o Município de Águeda, o plano de trabalho está elaborado em 5 fases de modo a dar cumprimento aos
objectivos do projecto a desenvolver pela Plataforma para a Construção Sustentável.
O projecto tem uma duração de 12 meses com o objectivo de promover a inovação e adequação dos espaços da cidade a novas necessidades das
populações locais. Este projecto para o centro urbano do futuro para a cidade de Águeda visa desenvolver novos modelos construtivos, de modo a
estimular a reabilitação sustentável do centro urbano e também sugerir medidas de regeneração dos espaços urbanos com o objectivo de tornar o
centro mais atractivo para os potenciais habitantes e população em geral.
As fases do plano de trabalho são:
1.1. Fase 1 – Análise do levantamento arquitectónico do centro urbano de Águeda:
Objectivos: Identificar e agrupar os edifícios do centro urbano através de um conjunto de parâmetros de selecção.
Descrição: Pretendeu-se nesta fase, através do levantamento arquitectónico dos serviços da C.M. Águeda, identificar e agrupar os edifícios do centro
urbano de modo a servir de base para a selecção do conjunto dos casos de estudo (edifícios-alvo).
Os parâmetros de análise para o agrupamento dos edifícios envolvem:
- valor arquitectónico;
- necessidade de reabilitação;
- faixa etária;
- sistemas construtivos;
- tipologia da construção.
1.2. Fase 2 – Selecção dos edifícios alvo:
Objectivos: Escolher através dos critérios atrás enunciados quatro edifícios retirados dos grupos estabelecidos na fase anterior.
Descrição: Os quatro edifícios alvos foram escolhidos para o estudo de casos de reabilitação sustentável. Possuem características tipo diferenciadas
mas representativas do conjunto edificado do centro urbano de Águeda.
1.3. Fase 3 - Elaboração de cadernos de encargos tipo:
Objectivos: Elaborar cadernos de encargos tipo para os edifícios-alvo seleccionados, nos quais se identifiquem os problemas tipo e as respectivas
soluções construtivas tipo, de modo a que os cadernos de encargos constituam um referencial para qualquer intervenção de reabilitação no centro
urbano.
Descrição: Estes cadernos de encargos visam tipificar os problemas e as respectivas soluções construtivas tendo em atenção os mais recentes
paradigmas construtivos ligados à construção sustentável e ainda promovendo a atractividade do centro urbano. Assim sendo, elegeram-se como
estruturantes os seguintes critérios funcionais para os edifícios:
Plano de Trabalho
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-Mobilidade e acessibilidade (Identificar soluções técnicas que permitam ultrapassar as barreiras arquitectónicas no acesso ao edifício e no seu
interior.
-Conforto térmico e acústico (Proceder à integração de intervenções inovadoras nos edifícios de modo a dotá-los de conforto térmico e acústico
elevando assim a atractividade da residência no centro urbano. Outro aspecto relevante é produzir edifícios energeticamente eficientes, ou seja, com
elevado conforto térmico e consumos energéticos baixos);
-Segurança (Garantir a aplicação de soluções construtivas e de materiais que promovam a segurança do utilizador e do próprio edifício,
nomeadamente, em termos de segurança contra incêndios, de capital importância nos centros urbanos devido ao seu valor patrimonial e histórico);
-Valorização arquitectónica (Apostar nas intervenções propostas, já que estas permitem contribuir para a valorização arquitectónica do património
edificado);
-Sustentabilidade da construção (Garantir que as opções apresentadas nos cadernos de encargos tipo tenham por referência os critérios da
sustentabilidade do ambiente construído. Entende-se prioritário, neste contexto, as questões relativas à eficiência energética, eficiência hídrica e ao
reaproveitamento dos recursos da região).
1.4. Fase 4 – Valorização do centro urbano:
Objectivos: Enquadrar os cadernos de encargos na valorização do centro urbano de modo a que a reabilitação seja efectuada de modo sustentável.
Descrição: Pretende-se criar um conjunto de recomendações de revitalização do centro urbano com integração das actividades sociais e económicas
da região, de modo a valorizar o centro urbano e torná-lo mais atractivo. Pretende-se também desenvolver e fornecer à C.M. Águeda um conjunto de
critérios de avaliação de projectos, à luz da sustentabilidade do ambiente construído. Entende-se fundamental a integração destes critérios nas práticas
correntes da C.M. Águeda por garantirem um desenvolvimento sustentado do seu centro urbano.
1.5. Fase 5 – Divulgação dos resultados do projecto:
Objectivos: Divulgar o projecto e os seus resultados aos cidadãos e promotores da reabilitação do centro urbano.
Descrição: A Plataforma desenvolve no meio e fim do projecto acções de divulgação pública dos objectivos e resultados do projecto.
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Plano de Trabalho
Enquadramento
da cidade
Fase 1 - Análise do levantamento arquitectónico
Fase 2 - Selecção dos edifícios-alvo
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2. Enquadramento da cidade
Entende-se por preservação a manutenção da identidade cultural e por reabilitação a inevitabilidade de, como em qualquer organismo vivo, nasceram
novas células para substituir aquelas que atingiram o seu limite de vida, mantendo é certo a unidade e a coerência do organismo de que fazem parte.
Sem esta renovação na cidade, só de forma artificial se pode manter os centros históricos vivos o que, a prazo, se torna insustentável, uma vez que
manter essa artificialidade conduzirá apenas à sua degradação.
Apontam-se como causas da degradação dos centros históricos o envelhecimento da população, a debilidade económica e social, o congelamento das
rendas, os espaços habitacionais com características insuficientes de habitabilidade, a falta de acessibilidade para todos e a ausência de conforto.
Se por um lado se assiste ainda ao abandono generalizado dos centros históricos dos núcleos urbanos, preteridos pelas zonas de expansão recente,
assiste-se simultaneamente, ao interesse de alguns em fixarem-se nos núcleos históricos, quer de gerações jovens em se manterem nos locais em que a
sua família de origem sempre residiu. Quer para uma ou para outra situação, consideram-se existirem razões válidas e que interessa precisar no sentido
de gerir a evolução dos núcleos urbanos.
O desafio da sustentabilidade urbana é procurar solucionar tanto os problemas que as cidades conhecem como os por ela causados.
A gestão sustentável dos recursos naturais reclama uma abordagem integrada para encerrar os ciclos dos mesmos, como a energia, a água e resíduos
nas cidades. Os objectivos dessa abordagem deverão incluir a redução do consumo dos recursos naturais, especialmente dos não renováveis; a
redução da produção de resíduos pela reutilização e reciclagem, sempre que possível; a redução da poluição do ar, do solo e da água e o aumento da
proporção das áreas naturais e da diversidade biológica nas cidades.
Estes objectivos serão mais fáceis de atingir em pequena escala, motivo pelo qual os ciclos ecológicos locais podem ser ideais para a introdução de
políticas mais sustentáveis para os sistemas urbanos. O poder local desempenha, pois, um papel crucial.
A sustentabilidade é uma responsabilidade partilhada. A cooperação e parceria entre diferentes níveis, organizações e interesses são elementos
essenciais da acção em prol da sustentabilidade. A gestão sustentável é um processo de aprendizagem, no âmbito do qual são elementos essenciais o
“aprender fazendo”, a partilha de experiências, o ensino e formação profissional, o trabalho multidisciplinar, as parcerias e redes, a consulta e a
participação da comunidade local.
Conseguir uma acessibilidade urbana sustentável é uma etapa essencial para a melhoria global do ambiente urbano e a manutenção da viabilidade
económica das cidades. A realização dos objectivos em matéria de ambiente e de transportes exige abordagens integradas, que combinem o
planeamento dos transportes, do ambiente e do espaço. Para conseguir uma acessibilidade urbana sustentável é necessário definir objectivos e
indicadores de sustentabilidade, estabelecer metas e controlos, a par de politicas tendentes a melhorar não só as condições de mobilidade mas também
a acessibilidade.
A regeneração urbana deverá ser usada para alcançar os objectivos de desenvolvimento sustentável mediante o uso do solo anteriormente utilizado ou
dos edifícios existentes, a conservação de espaços verdes e a protecção da paisagem, da fauna e da flora.
Enquadramento da Cidade
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Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
2.1. Fase 1 – Análise do levantamento arquitectónico:
No desenvolvimento do trabalho foi efectuado um inquérito inicial (ver modelo no Anexo I) para se identificar o estado de conservação dos edifícios e
a respectiva ocupação. A partir de uma avaliação preliminar dos inquéritos realizados, pode-se afirmar que cerca de 65% dos edifícios se encontram
desocupados nos pisos superiores e que a principal utilização do rés-do-chão é o comércio. A faixa etária dos utilizadores destes edifícios situa-se
acima dos 45-50 anos. A nível do interesse arquitectónico do edificado não se identificaram edifícios especialmente relevantes. Contudo, os aspectos
construtivos e as fachadas existentes simbolizam a identidade histórica do local, encontrando-se assim alguns casos de permanência secular, cujos
elementos cerâmicos e o trabalho de cantaria suscitaram interesse.
Na baixa da cidade de Águeda encontram-se vários edifícios onde é visível a necessidade de uma premente reabilitação, também por estes se
localizarem dentro das linhas de cheia.
O sistema construtivo predominante nas habitações do centro urbano de Águeda, caracteriza-se pelo uso de paredes exteriores em adobe ou em
alvenaria de pedra, caixilharia de madeira com vidro simples, estrutura de madeira e paredes interiores em fasquiado.
Relativamente às fachadas dos edifícios é frequente o uso de revestimentos cerâmicos produzidos na zona. O revestimento cerâmico é bastante
utilizado como revestimento da zona inferior das fachadas dos edifícios devido à probabilidade de ocorrência de cheias, sendo também utilizado na
totalidade das fachadas em alguns dos casos analisados.
Outra das características interessantes dos lotes dos quarteirões estudados é a existência de alguns relativamente estreitos e compridos, com
logradouros bastante interessantes do ponto de vista de novas soluções de ocupação desses espaços. Estes logradouros podem vir a facilitar a
acessibilidade, poderão ser utilizados para espaços técnicos, estacionamento, jardins, entre outras hipóteses de valorização do territorial/espacial.
Durante a elaboração dos inquéritos e do levantamento fotográfico foi estabelecido também um contacto pessoal com os habitantes e/ou proprietários
de alguns dos edifícios onde se obteve informação diversa que foi tida em conta no desenvolvimento do trabalho e das soluções arquitectónicas.
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Enquadramento da Cidade
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2.2. Fase 2 – Selecção dos edifícios alvo
Foram formulados quatro grupos com 10 dos 51 edifícios analisados, seleccionados com base nos parâmetros anteriormente mencionados. Estes dez
edifícios apresentam várias características com interesse de estudo, destacando-se algumas que os tornam edifícios de interesse único.
As visitas à cidade conduziram à introdução de novos parâmetros de carácter local, que definem e condicionam os desafios inerentes à transformação
do centro urbano de Águeda, sendo estes importantes para a selecção final dos 4 edifícios-alvo. Assim, organizaram-se os 10 edifícios em quatro
diferentes grupos baseados em condições de valor local. Foram escolhidos os seguintes quatro critérios de selecção ou agrupamento:
a) lote estreito e de difícil acesso;
b) localização privilegiada;
c) interesse da fachada
d) morfologia do lote.
No grupo distinguido através do lote estreito e de difícil acesso, estão os edifícios designados como Q04_14 e Q04_13 (fig. 1).
De acordo com a sua localização, encontram-se dois edifícios situados estrategicamente, com interesse de estudo: Q04_11 e Q06_12 (fig.2e3)
Figura 1- Edifícios Q04_14 e Q04_13
Enquadramento da Cidade
Figura 2 - Edifício Q04_11
Figura 3 - Edifício Q06_12
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Em Águeda é usual o emprego de revestimento cerâmico na fachada, produzido na zona. Os seguintes edifícios são exemplo do critério que releva o
interesse da fachada: Q09_12; Q09_15; Q05_07 e Q05_03 (Fig. 4 -7).
Figura 4 - Edifício Q09_12
Figura 5 - Edifício Q09_15
Figura 6 - Edifício Q05_07
Figura 7 - Edifício Q05_03
De acordo com a tipologia do lote, encontraram-se dois edifícios com interesse de estudo: Q05_04 e Q09_20 (Fig. 8-9).
Figura 8 - Edifício Q05_04
Figura 9 - Edifício Q09_20
A criação destes quatro grupos permitiu uma selecção mais apurada, não correndo o risco da selecção cair em edifícios de características muito
semelhantes. Facilita-se, deste modo, a escolha e a diversificação dos casos de estudo. A selecção foi feita em parceria com a Câmara Municipal de
Águeda, em reunião de 25 de Novembro de 2009.
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Enquadramento da Cidade
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Como conclusão, considerou-se que os edifícios alvos com maior interesse de acordo com os critérios pré-estabelecidos são:
Q04_14 e Q04_13 – escolheram-se ambos pois trata-se de um caso bastante particular que devido à sua largura poderão ou deverão ser considerados
conjuntamente. Apresentam condições únicas de acesso pelas Escadas do Adro e a sua utilização é, de momento, maioritariamente de serviços.
Q06_12 - o edifício do antigo “Café Moderno”, revela-se como um elemento chave na recepção de quem chega à cidade de Águeda e como tal a sua
recuperação é, sem dúvida, premente.
Q09_12 – encontra-se na fachada deste edifício um revestimento cerâmico que se julga ainda ser de época e que privilegia o contacto com a indústria
local.
Q05_04 – a selecção deste edifício prende-se com a morfologia do seu lote, comprido com duplo acesso, e também com o carácter do seu alçado que
insinua um cuidado especial na sua elaboração utilizando também materiais cerâmicos.
O processo de selecção dos edifícios teve também em consideração aspectos como o eventual envolvimento de recursos da região, podendo assim
promover a sustentabilidade social e económica baseada na tipologia de actividades industriais da cidade que permitem o desenvolvimento ao nível de
materiais de construção e das soluções construtivas para a requalificação do edificado e para a incorporação de novas tecnologias.
É de salientar que estes edifícios surgem duma selecção prévia onde foram tidos em conta o seu valor arquitectónico, necessidade de reabilitação,
faixa etária, sistema construtivo e a sua tipologia de construção, revelando-se em todos eles os parâmetros citados. Acordados os 4 edifícios-alvo,
desenvolveram-se as especificações de forma a incorporar os interesses e objectivos expressos na proposta do projecto, de modo a auxiliar a cidade de
Águeda no domínio de uma regeneração urbana sustentável.
Acredita-se que, com estes casos tipo, poder-se-á oferecer um conjunto de modelos e soluções construtivas que permitirão à Câmara Municipal de
Águeda estimular a sua população a realizar uma recuperação estruturada e sustentável do seu centro urbano.
Enquadramento da Cidade
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Interesse da Fachada
Casa Q09_12 – Rua 5 de Outubro
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Enquadramento da Cidade
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Morfologia do Lote
Casa Q09_20 – Rua 5 de Outubro
Enquadramento da Cidade
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Localização Privilegiada
Casa Q06_12 – Rua Luís de Camões
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Enquadramento da Cidade
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Lote Estreito e de Difícil Acesso
Casa Q04_13 – Rua Luís de Camões
Enquadramento da Cidade
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Desenvolvimento Sustentável
Sustentabilidade em Portugal
Sustentabilidade
Sustentabilidade e Edificado
Ferramentas de Avaliação da Sustentabilidade
Medidas de Sustentabilidade
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3. Sustentabilidade
3.1. Desenvolvimento Sustentável
O paradigma do Desenvolvimento Sustentável
As últimas décadas têm revelado uma transformação do pensamento sobre os rumos do desenvolvimento do planeta. Com o desenvolvimento
tecnológico, os elevados índices de poluição e todas as consequências que daí advém torna-se imperativo que se pense no desenvolvimento sustentável
do planeta, não se podendo perceber a sustentabilidade como uma opção mas sim como uma necessidade.
O desenvolvimento tecnológico, por mais evoluído que esteja não permite a nenhuma civilização sobreviver ao colapso dos seus sistemas de suporte
ambiental. Está-se hoje perante a presença de um novo mundo em que as colisões entre as necessidades e a capacidade do planeta em as satisfazer,
estão a tornar-se cada vez mais perto do declínio (KIBERT, 2005).
Sem se querer dissertar sobre a história do conceito de Desenvolvimento Sustentável, pretende-se conjecturar brevemente sobre a evolução do
conceito e sobre a necessidade de ocorrerem mudanças nos padrões de consumo energético e de recursos naturais e da necessidade de se alterar o
modo de vida das populações, face à problemática das alterações climáticas, determinadas pelo modo e intensidade do consumo.
O conceito de Desenvolvimento Sustentável tem a sua origem nos anos 70 do século XX, gerado a partir da tomada de consciência sobre os limites de
recursos naturais disponíveis e a capacidade de carga do ambiente natural para suportar o crescimento populacional, o aumento de consumo de bens e
alimentos e a deposição de resíduos. Todos estes factores são causados única e exclusivamente pela acção do homem sobre o ambiente em que vive,
podendo-se perceber as diversas reacções do planeta a estas intervenções.
Durante vários anos, palavras como ecologia ou meio ambiente estavam presentes em todos os congressos de âmbito mundial. Foi contudo no
Relatório de Brundtland (1987), sob o título de “Nosso Futuro Comum” que, a nível mundial, o termo de Desenvolvimento Sustentável surge definido
como: “desenvolvimento que dê resposta às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras darem resposta às delas”
(BRUNTLAND, 1987). A importância deste documento recai na incorporação do compromisso global que o desenvolvimento sustentável implica, na
forte mensagem de dependência que o homem construiu com a natureza e sobre o esgotamento dos recursos naturais.
Sustentabilidade
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Porém, a consolidação mais significativa do conceito de sustentabilidade surge no Rio de Janeiro, em 1992, associada à “Conferência das Nações
Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento” (CNUAD – Conferência do Rio, Brasil). Esta conferência estende o conceito de sustentabilidade para
além das preocupações ambientais no controlo da poluição e foca os primeiros objectivos para a sua prevenção. Este relatório procurou dar
importância simultânea às dimensões humanas, ecológicas e económicas na procura de uma sustentabilidade global. Desta Conferência foram
adoptados vários instrumentos, que progressivamente introduziram medidas preventivas para a protecção do ambiente nomeadamente a Agenda 21, a
Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração de Princípios sobre o uso das Florestas e a Convenção Quadro sobre as
Alterações Climáticas (CNUAD, 1992).
Após a Cimeira da Terra têm sido realizadas diversas reuniões no âmbito internacional, nacional, regional, municipal que, pelo volume de informação,
seria impossível analisar no âmbito deste trabalho, contudo, seria pertinente referir a sua importância enquanto contributo para a difusão global do
tema, na sua verdadeira definição no contexto específico de cada localidade, para garantir a sua aplicabilidade localmente, caso a caso, e não impostas
desde uma realidade mais universal e pouco objectiva.
Uma dessas reuniões, com especial relevância para o sector da construção, é a Conferencia das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos –
“Habitat II” em Istambul, Junho de 1996, uma vez que procedeu à discussão sobre a habitação adequada para todos e a sustentabilidade dos
assentamentos humanos, (UN, 1996), contendo diversas secções dedicadas ao sector da construção civil e à forma como os governos nacionais
deveriam estimular a indústria no sentido da sustentabilidade.
As tentativas para alcançar um consenso, no sentido do Desenvolvimento Sustentável, não estabilizariam nos anos seguintes. Exemplos disto
constituem entre muitos outros: a Carta de Aalborg (1994) para as cidades sustentáveis, no contexto europeu; o acordo de Quioto (1998), onde as
nações mais industrializadas se comprometeram a reduzirem as suas emissões tóxicas numa percentagem determinada para o período de 2008-2012
ou, mais recentemente, a Cimeira da Terra de 2002, celebrada em Joanesburgo, onde se rectificaram a maioria das pretensões e objectivos acordados
nos 10 anos anteriores, reflectindo sobre os fracos resultados e os avanços reais, estes foram muito poucos, condicionados pela dificuldade em
conciliar interesses políticos, económicos e tecnológicos associados a pensamentos culturais tão diversos.
Alterações Climáticas
Segundo o Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente (WCED, 1991), os riscos e as incertezas ambientais, decorrentes de um consumo
elevado de energia no futuro, são inquietantes. Entre os riscos, podem-se destacar as alterações climáticas devido ao efeito de estufa causado por gases
emitidos na atmosfera, sendo o mais importante, o dióxido de carbono (CO2), que é produzido pela queima de combustíveis fósseis. A concentração
de CO2 e de outros gases na atmosfera retém a radiação solar nas proximidades da superfície terrestre, provocando o aquecimento do planeta (figura
10). Isto pode fazer com que o nível do mar, nos próximos anos, se eleve ao ponto de inundar muitas cidades costeiras (figura 11), podendo causar, do
mesmo modo enormes transformações na produção agrícola nacional e internacional.
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Sustentabilidade
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
As alterações climáticas são uma das principais ameaças para o desenvolvimento sustentável, representando um dos principais desafios ambientais
com efeitos sobre a economia global, a saúde e o bem-estar social (fig. 10 ).
Figura 10 - Consequências das Alterações Climáticas,
(foto de Gary Braasch)
O primeiro acordo internacional sobre as alterações climáticas, o Protocolo de Quioto, assinado em 1997, só em 2005 foi rectificado pelo número
mínimo de países. Este acordo estabeleceu as metas de redução dos gases causadores de efeito estufa, constituindo o primeiro passo concreto no
sentido de evitar o aquecimento global do planeta e reduzir as previsões trágicas que vêm sendo traçadas por causa das alterações climáticas (CONTI,
2005). O acordo exige que os países mais industrializados, os maiores geradores desses gases, restrinjam as suas emissões em 8% até 2012, em relação
aos níveis emitidos em 1990, estabelecendo sanções para os não cumpridores. No âmbito do Acordo de Partilha de Responsabilidades da EU ficou
estabelecido que Portugal deveria limitar o crescimento das suas emissões em 27% em relação a 1990 (REA, 2008).
O Grupo Intergovernamental das Alterações Climáticas (IPCC), no quarto relatório de avaliação, aprovado em Paris de 2007, determina que o
aquecimento global é “inequívoco” e é atribuído à acção do Homem. A Declaração da Organização Meteorológica Mundial (OMM), organismo
especializado sobre o estado e comportamento da atmosfera terrestre, no relatório de 2008 que servirá de base científica para os futuros acordos sobre
as alterações climáticas (Copenhaga, Dezembro de 2009), refere que desde o início do século XX a temperatura média da superfície terrestre tem
aumentado, apesar do incremento não ser contínuo. A tendência linear do aquecimento durante os últimos 50 anos de 0.13ºC por década é
praticamente o dobro da dos últimos 100 anos (OMM, 2009).
Estes dados apenas confirmam que todos os problemas globais – desde a destruição da camada de ozono, às alterações climáticas e à perda de
biodiversidade – podem ser directamente relacionadas com a actividade humana, em especial, com o aumento da população, do consumo de energia,
dos recursos naturais e da tecnologia (MATEUS et al., 2006, PINHEIRO, 2006).
Sustentabilidade
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A actividade económica, tal como se conhece hoje, é contrária ao conceito de Desenvolvimento Sustentável. A sociedade de mercado consumista,
característica de todos os países industrializados, conta apenas com um quarto da população mundial, mas consome cerca de 60-80% dos combustíveis
fósseis e minerais e é responsável, na mesma medida, pelos problemas ambientais resultantes (KIBERT, 2005). Existe uma estreita relação entre a
intensificação da actividade humana, especialmente no consumo de combustíveis fósseis e a concentração de CO2 e de outros gases com efeito de
estufa, responsáveis pelas alterações climáticas.
O meio edificado é o principal responsável pelas emissões de gases com efeito de estufa por si só, e à escala do planeta, consome quase metade da
energia produzida, apenas para se tornar habitável (TIRONE, 2007). Os edifícios contribuem para o aquecimento global através de duas principais
causas: a primeira diz respeito à perda de superfícies vegetais, devido ao acelerado processo de urbanização registado nos últimos cinquenta anos e,
por outro lado, ao elevado consumo energético dispendido durante a fase de construção e sobretudo na fase de utilização.
A tomada de consciência da capacidade do planeta comportar as actividades humanas e a resultante procura das soluções para a resolução ou
prevenção de problemas ambientais, terão obrigatoriamente de integrar medidas de eficiência energética, pois estas têm um impacto directo nas
reduções de emissões de GEE e por conseguinte, sobre as Alterações Climáticas.
3.2. Sustentabilidade em Portugal
A adopção nacional de uma lógica de Desenvolvimento Sustentável tem vindo progressivamente a aparecer no contexto político, social e económico,
no seguimento de compromissos internacionais assumidos por Portugal, iniciada com a Cimeira da Terra (1992) e confirmada mais recentemente na
Cimeira das Nações Unidas de 2005, onde os líderes mundiais enfatizaram a necessidade de criar políticas e estratégias nacionais para alcançar o
desenvolvimento sustentável (ENDS, 2007).
Na sequência da preparação da Cimeira Mundial de Joanesburgo, Portugal elabora através do Instituto do Ambiente, um documento intitulado
Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável, que serviu de base para o Plano Nacional para o Desenvolvimento Sustentável, para o
período 2005-2015, juntamente com o processo de elaboração de um Plano de Implementação da ENDS (PIENDS).
A preocupação nas estratégias nacionais, com a sustentabilidade no meio edificado e da construção sustentável, começam a estar progressivamente
presentes, em termos conceptuais, nos vários intervenientes, embora se verifique que existe pouco conhecimento em relação à sua aplicação à escala
nacional, nomeadamente em relação à sua efectiva implementação e resultados obtidos.
Neste contexto, algumas cidades portuguesas aderiram à iniciativa Pacto dos Autarcas, lançada pela Comissão Europeia durante a realização da
European Union Sustainable Energy Week 2009, na redução das suas emissões de CO2 através de acções de procura de eficiência energética e da
promoção de energias renováveis.
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Trata-se de um documento dirigido a projectos e resultados mensuráveis, comprometendo as cidades aderentes a reduzir as suas emissões em mais de
20% até 2020 e sendo anualmente avaliadas, através de relatórios periódicos, sujeitos ao controlo por parte da Comissão Europeia ou de entidades
independentes.
Em Portugal, evidenciam-se vários problemas de sustentabilidade ambiental, dos quais se destacam os seguintes:
• O Relatório do Estado do Ambiente 2007- Portugal (REA, 2008), refere o aumento significativo das emissões nacionais de GEE, foram cerca de
39% acima dos valores de 1990, afastando-se dos 27% da meta estabelecida para o período de 2008-2012 no âmbito do Protocolo de Quioto, pelo que
actualmente são necessárias medidas para a redução de emissões. O aumento das emissões de GEE deve-se ao facto do perfil energético do país estar
fortemente dependente dos combustíveis fósseis, especialmente na produção de electricidade.
Contudo, tem-se verificado alguma melhoria no perfil das emissões, explicado pela introdução do gás natural, considerado um combustível “mais
limpo” (REA, 2008; INE, 2009).
• Nos últimos anos, as despesas municipais para a gestão dos resíduos, continuou a absorver a maior parte dos encargos dos Municípios em matéria de
protecção ambiental. Por outro lado, o depósito em aterro continua a ser o principal destino dos resíduos urbanos (INE, 2008).
• Portugal continua a depender energeticamente dos combustíveis fósseis não renováveis, (dependência exterior estimada em cerca de 85% da energia
primária), subestimando a eficiência energética associada a energias mais limpas e renováveis, como a solar térmica e a fotovoltaica, que
contribuiriam para a redução de emissões e para um modelo energético sustentável (INE, 2009).
A análise sintética da situação portuguesa para a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS, 2015) conclui que o crescimento
sustentável é determinante para o desenvolvimento sustentável; que para oferecer aos cidadãos uma melhor qualidade de vida é necessária a aposta na
resolução dos problemas ambientais; é imperativo o esforço de viabilizar a sustentabilidade entendendo-a como uma oportunidade de crescimento
suportado em actividades geradoras de emprego e inovação (ENDS, 2007).
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3.3. Sustentabilidade e Edificado
3.3.1. Impactos Ambientais dos Edifícios
A história do ser humano demonstrou a capacidade de produzir transformações no meio ambiente de forma a satisfazer as suas necessidades vitais,
contribuindo para uma mudança irreversível do mesmo. Este avanço na história do desenvolvimento humano tem permitido a multiplicação
descontrolada do consumo per capita de energia e de recursos naturais, face às necessidades básicas do ser humano para a sua subsistência.
Segundo o relatório Previsões Demográficas Mundiais 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU), prevê que a população mundial passe de 2.5
mil milhões de habitantes a 6.7 mil milhões, estimando um crescimento de 9.2 mil milhões de habitantes até 2050. Ao mesmo tempo, prevê um
crescimento da população em áreas urbanas, de 3.3 mil milhões em 2007 a 6.4 mil milhões em 2050 (UNITED NATIONS, 2008).
Por outro lado, o Produto Interno Bruto mundial (PIB) aumentou, o que permitiu que o mundo pudesse não só manter o crescimento populacional
como também permitiu fazê-lo a níveis consideravelmente superiores. Destes dados, pode-se antever que a par desta evolução demográfica e
económica, encontra-se associada uma forte urbanização concentrada nas cidades, o que intensificará a pressão sobre o meio ambiente no que respeita
à poluição, o esgotamento de recursos, exclusão social, etc.
Dentro das actividades humanas, o sector da construção é o maior consumidor (juntamente com a indústria associada) de recursos naturais, gerando ao
mesmo tempo grandes quantidades de resíduos. Os impactos ambientais dos edifícios reflectem-se ao longo do seu ciclo de vida, desde a concepção e
operação até à demolição ou desconstrução (PINHEIRO, 2006). Na fase de construção os impactos reflectem-se com a alteração do uso do solo, o
consumo de matérias primas, o uso de água e energia, a produção de resíduos e alterações nos ambientes natural e construído.
No entanto, o principal impacto ambiental dos edifícios tem lugar durante a sua operação ou exploração, ao longo dos anos, sobretudo em termos de
consumo energético. No meio edificado os impactos mais relevantes dizem respeito ao consumo de água, de energia, de materiais e na produção de
resíduos e efluentes. Em Portugal, a operação dos edifícios, segundo dados do balanço energético nacional, corresponde a 31% do consumo final de
energia, sendo 13% dos edifícios de serviços e os restantes 18% dos edifícios residenciais (DGEG, 1990-2007).
No que diz respeito à água, do total da distribuição, o sector residencial foi o principal consumidor, utilizando 73.6% da água distribuída. No que se
refere à produção de águas residuais as habitações, destacadamente, são os principais geradores de efluentes líquidos (INE, 2009), exigindo tratamento
adequado, obrigando a dispor de ETAR’s que consumem energia e reagentes.
De uma forma geral, pode-se a afirmar que a forma tradicional de construir contribui para a destruição do meio ambiente, tornando-se premente a
implementação de soluções sustentáveis, reduzindo os impactos em cada fase do projecto de construção, relevando as soluções a adoptar na fase de
operação ou utilização do edifício.
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3.3.2. Princípios de Sustentabilidade para os Edifícios de Habitação
Entre os factores de degradação do ambiente é importante salientar o desempenho dos edifícios face ao aumento crescente dos consumos energéticos e
respectivas emissões de gases com efeito de estufa, bem como do consumo de água e produção de resíduos. Numa sociedade contemporânea
consumista, em que as pessoas passam em média 80 a 90% do seu tempo dentro dos edifícios, exigindo-lhes elevados níveis de conforto, torna-se
imprescindível o desenvolvimento de formas de habitar mais sustentáveis, de acordo com os seguintes princípios de optimização dos recursos
ambientais:
a) Ideia integradora e completa de sustentabilidade
Num primeiro plano, é necessário perceber que os princípios de sustentabilidade para a habitação implicam uma visão integrada do ponto de vista
ambiental, funcional, paisagística, social e cultural. Embora se esteja ainda numa fase de proliferação de grandes listagens de aspectos a considerar
para a melhoria da sustentabilidade residencial, no entanto, começa a ser urgente definir prioridades e objectivos face ao processo construtivo, e que a
sua caracterização específica constitua um elemento insubstituível da sua sustentabilidade.
b) Correcta integração no ambiente físico
Para avançar nesta matéria há que tentar a redução das influências ambientalmente negativas das cidades e, para o fazer, há que privilegiar
intervenções integradas e consistentes, designadamente, nos seguintes aspectos: no que se refere ao espaço urbano existente, é necessário, por um
lado, reduzir a fragmentação e consolidar as malhas urbanas, por outro lado, será necessário apostar na reabilitação do património construído,
requalificando, restaurando e até mesmo substituindo edifícios. O novo espaço urbano, deverá ser precedido por um planeamento integrador de forma
a estruturar o espaço como um todo, tendo em conta a disposição dos edifícios e espaços públicos, o conforto térmico e acústico, considerar a
reutilização dos materiais, favorecendo aqueles que sejam mais amigos do ambiente.
c) Gestão eficiente da Água e Energia
A gestão do ciclo de água e a protecção dos recursos hídricos deve preconizar o aumento de zonas verdes, permeáveis, que contribuem para a
infiltração e retenção natural das águas superficiais; criar mecanismos para reduzir o consumo e desperdício de água potável através de equipamentos
mais eficientes e acções da sensibilização dos consumidores; separar ao nível do sistema de drenagem as águas residuais de forma a tornar mais eficaz
o tratamento das mesmas; possibilitar a recolha das águas pluviais em depósitos nos edifícios para a sua reutilização (SILVA AFONSO et al, 2008).
No que se refere à energia, qualquer medida que tenha como objectivo poupar energia, que supõe, ao mesmo tempo, uma redução dos impactos
ambientais, deverá ter em consideração duas perspectivas: a redução das necessidades de consumo, obtida, na prática, pela conjugação de vários
factores tais como, construir com elevada massa térmica, assegurar o isolamento térmico, maximizar a exposição solar para ganhos térmicos, aumentar
o desempenho energético de equipamentos e utilizar sistemas integrados de gestão de consumos; e numa outra perspectiva, será necessário assegurar o
recurso a fontes de energia renováveis, passivas ou activas, através da correcta orientação dos edifícios de modo a beneficiar dos ganhos solares, da
iluminação, da ventilação natural e sobretudo através da integração de sistemas de produção de energia a partir de fontes renováveis.
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d) Gestão de Resíduos e Materiais
O sector da construção é responsável por uma percentagem elevada do consumo de recursos naturais extraídos do Planeta e as grandes quantidades de
resíduos que se produzem advêm deste sector. No sentido de reduzir estes impactos podem ser consideradas algumas estratégias: a gestão dos
materiais deverá potenciar a reutilização e reciclagem, minimizar a quantidade de materiais que libertem substâncias químicas perigosas, incorporar
materiais locais para minimizar o custo ambiental dos transportes, incrementar a vida útil dos materiais fomentando o aumento da qualidade. O
controlo da geração dos resíduos resulta da diminuição dos resíduos inertes mediante a redução na sua origem e fomento da reciclagem, a adaptação
de critérios de projecto que facilitem a desmontagem e separação selectiva dos resíduos durante os processos de reabilitação ou demolição.
e) Condições de conforto e saúde
A habitação deve contribuir para aumentar a qualidade de vida dos utilizadores através da disponibilização de condições de conforto, da qualidade do
ar interior e da minimização do consumo de recursos não renováveis. A habitação deve assegurar que não existam factores de risco para a saúde dos
moradores, nomeadamente, a utilização de materiais com baixas emissões tóxicas, a disponibilização e controlo da luz natural e da insolação no
interior (contribuindo para a satisfação das condições essenciais do habitat humano), a diminuição de ruídos e odores e a optimização dos aparelhos de
ventilação. A habitação deve ser termicamente equilibrada através de uma construção bem isolada, favorecida por uma ventilação que harmonize a
temperatura, a humidade e os odores.
Estes princípios devem ser alcançados com um consumo mínimo de recursos não renováveis. É evidente que a escala das necessidades aumentou de
forma quase incontrolável, mas é importante ter-se presente que os recursos naturais são finitos e que para garantir o seu abastecimento, hoje e no
futuro, deve-se estimular a poupança de recursos através, por exemplo, da reciclagem e do reaproveitamento de materiais.
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3.3.3. Factores associados aos edifícios
A disponibilidade de energia barata teve também um profundo impacto na construção e no ambiente construído, fez com que se passasse de uma
arquitectura adequada ao clima para um clima fabricado para a arquitectura, utilizando energia à custa da degradação do ambiente exterior.
O processo lógico para o caminho da eficiência energética é trabalhar com as forças da natureza e não contra elas, aproveitando as suas
potencialidades para criar condições de vida adequadas. Os edifícios residenciais serão energeticamente eficientes quando implantados de modo a que
aproveitem os recursos naturais locais, favorecendo o conforto e bem-estar dos ocupantes.
A implantação dos edifícios determina a relação da habitação com as condições climáticas. As condições macro-climáticas são consequência da
latitude de uma região determinada. Os dados mais importantes que as definem são a temperatura, a variabilidade pluviométrica, a radiação solar
incidente, a direcção do vento e a sua velocidade média. As condições micro-climáticas são consequência da existência de acidentes geográficos locais
que podem modificar as anteriores condições de forma significativa. Pode-se considerar a :
a) pendente do terreno, pois determina uma orientação predominante da habitação.
b) existência próxima de elevações, que podem funcionar como barreira frente ao vento ou à radiação solar.
c) existência de linhas de água, que reduzem as variações bruscas de temperatura e incrementam a humidade ambiente.
d) existência de zonas arborizadas próximas.
e) existência de edifícios.
Para a limitação do consumo energético o RCCTE (2006) – Regulamento das Características Térmicas dos Edifícios, propõe uma classificação em três
zonas climáticas de Inverno (I1, I2, I3) e em três zonas climáticas de Verão (V1, V2, V3), com base nas severidades climáticas. Para o seu cálculo
devem ser tidas em conta o número de graus-dias de aquecimento, a duração da estação de aquecimento e a radiação solar do local.
Forma e Orientação
A forma e a orientação solar têm um forte impacto na eficiência energética do edifício, determinados pela:
a) superfície de contacto: entre o construído e o exterior: o qual influencia as perdas ou os ganhos térmicos. A necessidade de aquecer uma habitação
no Inverno advém do calor gerado no seu interior ser continuamente transmitido para o exterior através das paredes, janelas, telhados, pavimentos,
etc., ou seja, através da superfície de contacto com o exterior. Assim quanto maior for esta superfície que envolve o volume aquecido, maior será a
transferência de calor. Para ser eficiente do ponto de vista energético, o edifício deve ter um factor forma, ou uma relação superfície/volume baixa.
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a) captação solar: Normalmente interessa captar toda e qualquer energia solar disponível, sendo esta uma fonte de climatização no Inverno, reduzida
de Verão com a utilização de sombreamentos e outras técnicas para evitar a radiação. A orientação a Sul favorece a captação da energia solar
passivamente. A junção de uma forma compacta, evitando as perdas de calor, associada a uma boa orientação solar garantem ganhos solares
suficientes para minimizar o consumo energético nas estações mais frias, determinando o grau de conforto oferecido aos ocupantes. Contudo, é
necessário ter em conta os valores máximos de radiação para os dois cenários presentes no país (Verão e Inverno) e obter o melhor compromisso
possível de modo a conseguir um equilíbrio de eficiência de energia solar. Regra geral, é preferível que a exposição solar das superfícies Este e
Oeste seja reduzida. Estas duas orientações são difíceis de valorizar, principalmente durante o Verão, onde a entrada de radiação é difícil de
controlar, uma vez que é quase perpendicularmente às janelas. Para combater a influência do frio de Inverno, é aconselhável reduzir as paredes e
janelas orientadas a Norte e aumentar as que estão orientadas a Sul, pois oferecem ganhos térmicos no Inverno e são mais fáceis de proteger da luz
do Sol no Verão. Esta duplicidade de cenários, protecção no Verão e potenciador de aquecimento no Inverno é actualmente possível usando
sistemas de sombreamento, exercendo um papel fundamental ao nível da eficiência energética de um edifício.
Movimentos do Ar, Vento
Os movimentos do ar influenciam o comportamento do edifício pela capacidade deste criar uma estratificação de camadas, que situa as mais frescas
(as mais pesadas) na parte inferior. Se se forçar o movimento do ar, o seu percurso pelo interior da habitação servirá para refrescar o espaço interior e
melhorar a qualidade do ar interior.
Em relação à resistência, que o edifício pode oferecer frente ao vento, tendo em conta as direcções dos ventos predominantes, tanto de Inverno como
de Verão é possível encontrar uma solução que minimize as infiltrações de Inverno e se incremente a ventilação no Verão.
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3.3.4. Factores associados à envolvente térmica dos edifícios
Entre os diversos factores que afectam o comportamento térmico dos edifícios, destacam-se sobretudo, os materiais e os sistemas construtivos
utilizados na definição da envolvente, enquanto influência directa nas condições de conforto no interior. Na essência, a qualidade de um edifício
depende das características dos elementos que fazem a fronteira entre a casa e o ambiente exterior, ou seja, da capacidade adequada para acumular,
absorver ou evitar ganhos e perdas de calor no Verão e no Inverno.
As características principais a ter em conta, no que diz respeito aos ganhos de energia, são a inércia térmica dos elementos construtivos e o seu poder
isolante, as correcções das pontes térmicas, a dimensão dos vãos envidraçados bem como a sua orientação e a ventilação da fracção. Todos estes são
factores que afectam o comportamento térmico dos edifícios.
Inércia Térmica
A inércia térmica interior de uma fracção é função da capacidade térmica (ou da capacidade de armazenamento e de restituição de calor) que os locais
apresentam. Depende da massa superficial útil por unidade de área de cada um dos elementos de construção, pelo que elementos com maior massa
contribuem para uma maior inércia térmica.
Isolamento Térmico
O isolamento térmico de edifícios é fundamental para garantir o conforto térmico nas habitações e para as tornar mais eficiente em termos energéticos.
O isolamento térmico oferece resistência à passagem dos fluxos de calor através da envolvente do edifício ou fracção, contribuindo a sua correcta
aplicação para o melhor desempenho térmico do edifício ou fracção tanto no Inverno como no Verão.
Deve ter-se em atenção a eliminação das pontes térmicas do edifício para que não ocorram perdas de calor e condensações nestas descontinuidades.
Assim, quanto à colocação do isolamento o mais aconselhável é colocá-lo na face exterior da massa térmica, ou seja, pelo exterior dos elementos
construtivos, de forma a aumentar a inércia térmica.
Para além do aumento do nível de conforto interior, a aplicação de isolamentos térmicos nos edifícios permite uma redução do consumo de energia e
dos respectivos custos associados a equipamentos de aquecimento/arrefecimento, e aumentam a durabilidade do edificado.
Envidraçados
Do ponto de vista energético, os vãos envidraçados contribuem, de acordo com a sua área e orientação, para as perdas e ganhos de calor. As maiores
áreas envidraçadas devem estar localizadas nas fachadas com orientação a Sul, desde que sombreadas correctamente para evitar o sobreaquecimento
dos espaços interiores na estação de arrefecimento. O desempenho térmico dos vidros (com bom isolamento térmico), a qualidade das caixilharias e o
sombreamento pelo exterior são factores que, quando conjugados, contribuem para o conforto térmico dos espaços interiores.
Ventilação
A ventilação contribui para a qualidade do ar interior e do conforto térmico dos edifícios através da renovação de ar, que quando obtida através de
medidas passivas, concorre também para a diminuição das necessidades energéticas.
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3.3.5. Factores associados aos sistemas e instalações
O consumo de energia no sector dos edifícios representa uma parte considerável do consumo energético total em Portugal.
A redução dos custos associados ao consumo de energia resulta em grande medida da utilização mais racional e eficiente dos sistemas e instalações
consumidoras de energia. Torna-se assim necessário apresentar e caracterizar as utilizações energéticas existentes nos edifícios associados aos
sistemas e instalações de climatização do espaço (aquecimento e arrefecimento), ao aquecimento de águas quentes sanitárias (AQS) e à iluminação.
Climatização
Os sistemas de aquecimento e arrefecimento desempenham um papel fundamental nos edifícios, pelo forte impacto no conforto térmico dos seus
ocupantes. Por outro lado, são responsáveis por uma parte significativa da factura energética e consequentemente pelas emissões de gases poluentes.
Pode-se considerar que a eficiência energética de um sistema de aquecimento e/ou de arrefecimento de um edifício atinge o nível mais elevado, quanto
menor for o consumo de energia mantendo as condições de conforto térmico.
A climatização é a categoria de usos de energia com maior crescimento, dada a conhecida situação de desconforto térmico existente em grande parte
dos edifícios em Portugal (PINA DOS SANTOS e MATIAS, 2006). Ao nível habitacional têm-se vindo a reduzir as espessuras das paredes e dos
pavimentos, aumentando a permeabilidade ao calor e a consequente perda do mesmo durante os meses frios de Inverno, produzindo o mesmo
intercâmbio de calor nos meses mais quentes, mas em sentido contrário, sobreaquecendo as habitações. Esta maior permeabilidade – através do
telhado, das paredes, pavimentos e envidraçados, terá tendência para ser compensada por gastos excessivos de energia térmica no interior da
habitação.
Em Portugal, a climatização representa 25% dos consumos de energia dos edifícios, sendo que o aquecimento dos espaços no sector residencial
representa cerca de 2-3% do consumo total de energia em Portugal (GONÇALVES et al., 2001). O tipo de climatização mais generalizado no nosso
país é o aquecimento, contudo, o arrefecimento ambiente (por ar condicionado) tem vindo a ter uma taxa de penetração crescente nos últimos anos, o
que levou a União Europeia a desenvolver uma Directiva no sentido de estabelecer níveis mínimos de eficiência energética para estes sistemas
(DGGE, 2004).
O aumento da utilização de equipamentos para arrefecimento do espaço interior no nosso país deve-se ao aumento do poder de compra que se
repercute na crescente tendência de melhoria de condições de conforto, tornando-se um factor preocupante, em termos ambientais, devido ao grande
aumento de consumo energético, contribuindo para o aumento exponencial das emissões de CO2 e o consequente aquecimento global. Em termos
energéticos, a solução óptima seria aquela em que os edifícios fossem construídos para que a utilização de sistemas activos de climatização fosse
reduzida ao mínimo, apenas reservados para as necessidades especiais de climas severos, e não para melhorar os efeitos de uma fraco desempenho
térmico dos edifícios. A selecção do equipamento a instalar deverá considerar: a potência adequada (tendo em conta os níveis de calor de que a
habitação necessita efectivamente, sendo esta uma medida importante de eficiência energética); a dimensão da tipologia; o clima da região; o tipo de
construção e o número de pessoas a que se destina. Na realidade, um sistema de aquecimento superior ao necessário pode apresentar uma eficiência
mais baixa do que o previsto, e portanto, uma menor economia energética.
Outro factor importante do sistema de aquecimento, diz respeito à regulação dos equipamentos de aquecimento, pois esta permite manter a
temperatura de um compartimento estável, independentemente das condições atmosféricas exteriores, permitindo a regulação correcta e separada da
temperatura em cada um dos compartimentos em função da sua utilização.
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Águas Quentes Sanitárias (AQS)
Numa habitação, o aquecimento de águas tem vindo a ser maioritariamente produzido através de esquentadores a gás ou termoacumuladores
eléctricos, mas quando existem unidades de aquecimento central, é habitual que elas também produzam águas quentes sanitárias.
Recentes trabalhos realizados permitiram mostrar que em Portugal o aquecimento de águas, através de colectores solares, é uma forma de
aproveitamento de energia gratuita, um recurso energético de grande abundância – o Sol – entre os maiores a nível europeu. Em reuniões promovidas
pelo Fórum de “Energias Renováveis em Portugal” concluiu-se que as principais barreiras ao desenvolvimento de colectores solares térmicos são a
existência de um elevado investimento inicial, a falta de conhecimento por parte dos consumidores portugueses e constrangimentos a nível da
construção e promotores dos edifícios.
Um sistema de energia solar devidamente dimensionado e colocado por mão-de-obra qualificada e certificada, pode conduzir a uma poupança de 70%
dos custos em energia necessários para a produção de água quente para uso doméstico (TIRONE, 2007).
Para retirar o maior partido, em termos de eficiência, dos sistemas solares para aquecimento de águas é importante o seu correcto dimensionamento de
forma a preencher as necessidades com a energia solar disponível no Verão, sendo necessário, sistemas de apoio convencionais no Inverno. A
orientação a Sul, o isolamento das tubagens de fornecimento de água e o acesso para a manutenção e limpeza dos painéis, revelam-se igualmente
prioritários para a sua maior eficiência.
No que se refere aos sistemas de aquecimento de águas quentes sanitárias convencionais, é necessário saber qual o tipo de energia disponível na
habitação, reflectindo sobre a sua eficiência e a sua utilização.
Iluminação
A iluminação no sector residencial pode atingir os 25% do consumo de energia, tornando-se um factor chave para a eficiência energética dos edifícios.
Para uma correcta iluminação do espaço, é necessário ter em conta as características da divisão, as tarefas que lhe estão destinadas e as fontes de luz
disponíveis. Tal é conseguido com a Luz, que pode ser fornecida de forma natural (luz solar), de forma artificial (lâmpadas) ou pela conjugação de
ambas.
É importante não só tornar o sistema de iluminação mais eficiente, mas também proporcionar um menor valor da factura de electricidade consumida
pelo sistema, ao mesmo tempo que se melhora a qualidade da habitação. Foram realizados estudos segundo os quais se pode obter 35% de poupança
de energia, com um período de retorno de apenas 4.7 anos através da substituição de lâmpadas correntes (AUDIN et al., 1997). A iluminação deve ser
executada de forma quantitativa, determinada pela quantidade de iluminação necessária para cumprir as tarefas requeridas, e de forma qualitativa
relacionada com o conforto visual.
No sector residencial a iluminação natural é a melhor opção com vista à redução dos consumos energéticos dos edifícios, uma vez que reduz custos de
operação, além de oferecer melhores condições de luminosidade. Contudo, a iluminação natural não pode satisfazer todas as necessidades de
iluminação, devido à sua inexistência durante a noite e outros factores associados às condições climáticas, mas pode reduzir substancialmente os
consumos energéticos subjacentes à iluminação artificial.
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A iluminação artificial, no sector residencial é fornecida pela utilização de lâmpadas – aparelhos que transformam a energia eléctrica em radiação,
onde parte da radiação é luz.
Dependendo da forma como produzem a luz, existem dois tipos principais de lâmpadas no sector residencial: incandescentes e fluorescentes. As
lâmpadas incandescentes, muito pouco eficientes, evoluíram para as de halogéneo, com uma eficiência ligeiramente superior, com índices de
restituição da cor elevados, próximos da luz natural (DGGE, 2004). É sabido que as lâmpadas incandescentes são muito menos eficientes do que as
fluorescentes e sofrem de um curto período de vida útil. Neste contexto, pode-se perceber que um dos objectivos estratégicos para a eficiência
energética, seria eliminar a iluminação incandescente a favor de uma maior conservação da energia. Um sistema de iluminação de baixa eficiência
energética, como lâmpadas incandescentes, converte apenas em iluminação cerca de 5% da energia utilizada (DGGE, 2004), sendo a restante
convertida em calor.
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3.4. Ferramentas de avaliação da sustentabilidade
A sustentabilidade deve ser avaliada na vertente ambiental, social e económica. Os métodos de avaliação da sustentabilidade da construção têm como
objectivo fundamental contribuir para o reconhecimento da construção sustentável e contribuir para o alcance dos seus objectivos. Todavia, a maior
parte das ferramentas de avaliação da sustentabilidade de edifícios foram desenvolvidas reflectindo a realidade local, regional ou nacional da sua
origem, sendo difícil a sua aplicabilidade a uma outra realidade, devido às diferenças nas condições climáticas, geográficas, práticas construtivas,
materiais disponíveis, poder económico e tradições sócio-culturais. Neste contexto, o presente trabalho baseia-se em termos de avaliação do seu
objecto de estudo num método de avaliação aplicado à realidade nacional.
A nível nacional, no ano 2000, foi desenvolvido pelo Professor Manuel Duarte Pinheiro, do Instituto Superior Técnico (IST), um sistema de apoio e
avaliação da construção sustentável e do ambiente construído, com destaque para os edifícios e empreendimentos. Foi a primeira ferramenta
portuguesa de avaliação de edifícios. Este sistema designa-se por LiderA, pretendendo a procura da sustentabilidade na construção nacional
(PINHEIRO et al., 2009). O LiderA (marca portuguesa registada) é constituído por critérios de avaliação da sustentabilidade, através do qual se pode
reconhecer ou certificar projectos de diferentes finalidades. Os princípios (Tabela 1) do sistema LiderA constituíram a base para o desenvolvimento
deste trabalho.
Tabela 1 – Princípios de sustentabilidade - sistema LiderA
Integração
Local
Recursos
Cargas
Ambientais
Conforto
Ambiental
Vivência
socioeconómica
Gestão
Ambiental e
Inovação
Solo
Energia
Efluentes
Qualidade do Ar
Acesso para
todos
Gestão
ambiental
Ecossistemas
Naturais
Água
Emissões
Atmosféricas
Conforto
Térmico
Custos no ciclo
de vida
Inovação
Paisagem
Materiais
Resíduos
Iluminação e
Acústica
Diversidade
Económica
Produção
Alimentar
Ruído Exterior
Poluição iluminotérmica
Sustentabilidade
Amenidades e
Interacção social
Participação e
controlo
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O sistema LiderA actua sobre 6 vertentes, que se subdividem em 21 áreas e 43 critérios: A integração local; recursos; cargas ambientais; conforto
ambiental; vivência sócio-económica e gestão ambiental e inovação, são as vertentes enunciadas por este sistema.
A vertente Integração Local divide-se nas seguintes áreas e critérios:
• Solo, que considera os seguintes critérios de avaliação:
Valorização Territorial: aposta em construir em áreas degradadas ou abandonadas (já intervencionadas); construir em zonas infra-estruturadas de
redes de esgotos e água; respeitar e salvaguardar as condicionantes e as áreas sensíveis (PDM);
Optimização Ambiental da Implantação: reduzir a área de implantação do edifício e zonas afins.
• Ecossistemas Naturais,
Valorização Ecológica: o desenvolvimento deve potenciar o valor ecológico do local: deve-se tentar manter, no local, todas as espécies fauna e flora
(em especial as endémicas), procurando ainda aumentar a biodiversidade e/ou a área ecológica presente;
Interligação de habitats: evitar a existência de barreiras/obstáculos físicos entre habitats ou no mesmo habitat. Promover a continuidade da estrutura
verde nas zonas envolventes: coberturas, fachadas verdes, arborização nas ruas, zonas verdes de modo a favorecer a interligação de habitats.
• Paisagem,
Integração paisagística local: algumas medidas possíveis de integração na bacia visual da zona: a utilização de uma palete de cores dentro das
existentes no local, utilização de materiais de acordo com os tipicamente utilizados na circundante e a inserção visual na circundante;
Protecção e Valorização do Património: assegurar condições de conservação, sempre que tenha interesse patrimonial e o seu estado o permitir. No
caso de necessitar de intervenção proceder à sua efectivação de forma adequada, em termos de reabilitação e de restauro.
A vertente Recursos divide-se em:
• Energia,
Certificação Energética: cumprir a lei em vigor da Certificação Energética, preferencialmente com classes de melhor nível;
Desempenho Passivo: diminuição das necessidades nominais de energia, por intervenção de práticas de desenho passivo; isolamento térmico
adequado na cobertura; melhoria no isolamento térmico das paredes; factor de forma adequado; sombreamento, sem distinção entre interior ou
exterior; fenestração adequada, área de envidraçados para o exterior; ventilação; orientação a sul. Nos espaços exteriores criar condições de ventilação
e protecção passiva adequadas;
Intensidade em carbono (eficiência dos equipamentos): Potenciar a redução das emissões de gases com efeito de estufa. Seleccionar o número de
equipamentos (electrodomésticos, lâmpadas...) existentes, com boa classificação de eficiência energética, bem como aumentar a percentagem de
energia renovável que é produzida e utilizada no edifício.
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• Água,
Consumo de água potável: reduzir o consumo de água primária proveniente da rede de abastecimento público. Tipo de equipamentos eficientes a
utilizar: uso de torneiras com redutor; uso de torneiras com sensores; autoclismo de dupla descarga ou sistema sanitário "waterless"; utilização de
águas pluviais para consumo secundário; sistemas de monitorização, além dos contadores de água e acessíveis aos utilizadores. Reduzir as
necessidades de água no espaço exterior;
Gestão das águas locais: algumas medidas possíveis envolvem a elaboração de planos de captação e protecção dos aquíferos locais; tipo de rega
efectuada; retenção, tratamento e descarga de águas de escorrência no local; tipos de retenção e tratamento local como lagos de sedimentação, piscinas
de retenção, bacias de infiltração, cursos de drenagem, filtros (biológicos); tomar medidas, no local, para reduzir a percentagem de escorrência anual
de águas pluviais em parques de estacionamento, superfícies impermeabilizadas e telhados e coberturas; minimização da descarga de efluentes; tipo
de vegetação utilizada nas áreas ajardinadas, por forma a reduzir as necessidades de água e de utilização de químicos (evitando a contaminação das
águas locais) e aumentar os níveis de infiltração;
• Materiais,
Durabilidade: projectar utilizando materiais duráveis de modo a aumentar a sua vida útil, bem como potenciar a sua conservação e manutenção;
Materiais locais: utilização de materiais produzidos a menos de 100 km (superior a 50%), privilegiando a economia local;
Materiais de baixo impacto: utilização de materiais certificados ambientalmente, reciclados e/ou renováveis e de baixo impacto, sendo que se devem
evitar (por serem perigosos) materiais que contenham os compostos nocivos como o chumbo, amianto, arsénico, cádmio, mercúrio, sulfato, benzeno,
solventes clorados, formaldeído, crómio, resinas fenólicas, entre outros;
• Produção Alimentar,
Produção local de alimentos: produzir alimentos vegetais e/ou animais em áreas pertencentes à envolvente do edifício ou no próprio edifício
(cobertura, varandas, entre outros).
A vertente relativa a Cargas Ambientais divide-se em:
• Efluentes,
Tipo de tratamento das águas residuais: no que respeita ao tratamento dos efluentes, deve verificar-se se o edifício ou empreendimento está ou não
ligado ao sistema municipal de tratamento, já que todas as águas devem ser tratadas no local (total ou parcialmente), sendo que o nível será sempre o
mínimo exigível consoante a sua reutilização;
Caudal de reutilização de águas usadas: utilização de água reutilizada para rega de zonas verdes sem contacto humano e reutilização das águas
cinzentas (50 %);
• Emissões Atmosféricas,
Partículas e/ou Substâncias com potencial acidificante: possíveis medidas para a redução de emissões de SO2, NOx e partículas; eliminação ou
diminuição dos equipamentos que funcionem com combustão, minimização de transportes, entre outras;
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• Resíduos,
Produção de resíduos: reduções na produção de resíduos sólidos urbanos (na ordem dos 50 %), incluindo a compostagem de resíduos orgânicos;
Gestão de resíduos perigosos: estimular intervenções com vista à gestão da produção de resíduos e minimização da utilização de produtos nocivos
contribuindo para a existência de locais para a arrumação segura e adequada das embalagens de limpeza e manutenção, existência de ecopontos, entre
outras medidas. Deve-se promover a existência de um plano de gestão e monitorização de resíduos perigosos;
Reciclagem de resíduos: valorização dos resíduos produzidos durante as várias fases, com destaque para a fase de operação (> 50 %);
• Ruído Exterior, necessário promover o controlo das fontes de ruído para o exterior, mantendo níveis ambientalmente aceitáveis.
• Efeitos térmicos (ilha de calor) e luminosos: possíveis boas práticas a implementar envolvem a colocação de sombras sobre as áreas impermeáveis
ou escuras, a utilização de cores claras no exterior do edifício (fachadas, coberturas), utilização de vegetação sobre as coberturas, minimização das
superfícies impermeáveis (vias, passeios e parques de estacionamento, existência de estacionamento subterrâneo), utilização de vegetação nas áreas
exteriores, superfícies com água, quantificação da intensidade de iluminação das diferentes zonas e aplicações.
O Conforto Ambiental como vertente divide-se em:
• Qualidade do Ar,
Níveis de qualidade do ar : taxa de ventilação natural deve ser ajustada à actividade presente no local; reduzir ou eliminar potenciais emissões de
contaminantes do ambiente interior como microrganismos nas cozinhas, amianto, fungos e bolores, fumo do tabaco, pesticidas e chumbo. Evitar
materiais aplicados que possuam COV’s, existência de um plano de monitorização de controlo de COV’s. Nos espaços exteriores nas zonas de maior
utilização, assegurar a criação de condições (vegetação, etc.) para melhorar a qualidade do ar;
• Conforto Térmico, atingir os níveis de conforto térmico estabelecidos: humidade (35% a 60%), temperatura (18º a 26º, adaptando o nível mínimo de
18º no inverno e o nível máximo de 26º no Verão, ou seja: devendo a sua variação sazonal corresponder à variação sazonal da temperatura do ar
exterior), velocidade do ar (Inverno ≤ 0,2 m/s e no Verão ≤ 0,5 m/s);
• Iluminação e Acústica,
Níveis de iluminação: níveis de iluminação de acordo com os definidos pelo CIBSE, para as diferentes áreas e segundo a actividade desenvolvida;
Isolamento acústico/Níveis sonoros: atenuar os níveis de ruído, de modo a que se aproxime e até seja inferior a 35dB no interior dos edifícios, durante
as 24 horas do dia. No exterior atenuar os níveis de ruído de forma ajustada às actividades e espécies naturais presentes.
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A Vivência sócio-económica divide-se em:
• Acesso para todos,
Acesso a transportes públicos: implementar transportes públicos; existência de um meio de transporte a 500m ou 2 meios a 1 km; Mobilidade de baixo
impacto: percursos pedonais, ciclo vias, estacionamentos próprios para veículos de baixo impacto, reservado a bicicletas ou a poolshare, carros
híbridos ou de combustíveis ecológicos (eléctricos, biodiesel, hidrogénio, etc);
Acesso para todos - Soluções inclusivas: verificar a acessibilidade às diferentes áreas do interior da habitação, acessibilidade às diferentes áreas
interiores comuns do edifício e o acesso para todos no espaço exterior;
• Custos no ciclo de vida ,
Custos no ciclo de vida: implementar a escolha de equipamentos e soluções eficientes, de baixo custo, que possuem eficiência energética; avaliar
custos e periodicidade da manutenção;
• Diversidade Económica,
Flexibilidade / Adaptabilidade de usos: possíveis práticas envolvem a existência de diferentes tipologias habitacionais; adaptações de áreas com
paredes de separação de divisões interiores facilmente amovíveis; acessibilidade simplificada às tubagens de água e aos seus mecanismos de controlo;
tubagens exteriores ou introduzidas em tectos falsos, concentração de tubagens, pré-instalação para climatização, pré-instalação para equipamentos
electrónicos nas áreas principais, pré-instalação de elevadores. Nos espaços exteriores assegurar que os mesmos são flexíveis e evolutivos;
• Amenidades e Interacção Social,
Amenidades locais: existência de amenidades naturais (rio, bosque), humanas como lojas, serviços públicos, alimentação e correios a 500m.
Proximidade a cinco das seguintes amenidades a 1000 m: posto dos correios, banco, farmácia, escola, centro de saúde, centro de lazer, centro
comunitário, jardim para crianças;
• Participação e Controlo,
Capacidade de controlo: possíveis intervenções como providenciar vários níveis de controlo sobre os factores temperatura, humidade, ventilação,
iluminação, sombreamento, entre outros, para os ocupantes e utilizadores dos espaços;
Condições de participação e governança: promover na fase inicial do plano estratégico uma troca alargada de informação entre os responsáveis pelo
projecto e os eventuais utilizadores do espaço. Promover reuniões periódicas em cada fase do projecto, onde os possíveis utilizadores estejam
representados por uma população diversificada (idade, nível de instrução, condição económica). Definir uma equipa de projecto organizada
hierarquicamente com funções bem definidas e estipuladas para cada um dos seus membros. As decisões tomadas pela equipa de projecto devem ser
sempre divulgadas à população local antes de se iniciar qualquer intervenção no espaço público;
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Controlo dos Riscos Naturais – Segurança (Safety): implementação de estruturas de protecção e resistentes a sismos, ventos fortes, cheias e outros
riscos naturais nos locais com médio ou elevado grau de perigo para o utente. Por exemplo implementação de bons revestimentos no exterior do
edifício e que sejam resistentes às condições climatéricas extremas, incorporação de vidros temperados nos edifícios ou no mobiliário urbano que se
encontra parcialmente ou totalmente exposto ao clima ou com grande afluência ou passagem de pessoas, utilização de árvores com raízes médias a
profundas junto a áreas sujeitas às intempéries e guardas corpos adequados nas áreas com algum grau de perigo (escadas, zonas inclinadas, etc.) ou
com grande afluência ou passagem de pessoas, implementação de medidas de redução de velocidade dos automóveis nas vias junto às áreas de acesso
ao edifício com grande afluência ou passagem de pessoas. Soluções exteriores adaptadas à protecção destes riscos;
Controlo das Ameaças Humanas - Controlo de Criminalidade - (Security): envolve o controlo dos riscos associados a actividades que utilizem
substâncias perigosas. Existência de espaços bem iluminados, vigiados e com campo de visão aberto, edifícios com fachada e acesso principal inserido
na frente/rua, estabelecimento de horário de abertura e encerramento em áreas cuja segurança ou criminalidade seja difícil de controlar, como pátios
interiores.
Finalmente, a vertente Gestão Ambiental e Inovação divide-se em:
• Gestão Ambiental,
Condições de utilização ambiental: possíveis intervenções a executar para fomentar a área de acessibilidade à informação ambiental, disponibilizar
informações via manual de utilizador, plantas de instalações eléctricas, canalizações, arquitectónicas, informação sobre utilização e manutenção de
equipamentos, estrutura, materiais, entre outras. Informação sobre monitorizações e desempenho, entre outras;
Sistema de gestão ambiental: implementar componentes ou um sistema de gestão ambiental e proceder mesmo à sua certificação pelo EMAS ou ISO
14001 ou 14001+;
• Inovação,
Inovação de práticas, soluções ou integrações: verificar-se a existência de um elemento inovador em, pelo menos, 2 das seguintes vertentes (local e
integração, recursos, cargas e ambiente interior).
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3.5. Medidas de Sustentabilidade
3.5.1. Aplicação das energias renováveis na construção
Energias Renováveis
Entende-se por fonte de energia renovável aquelas para as quais não é possível estabelecer um fim temporal para a sua utilização. É o caso da energia
produzida a partir da energia solar, eólica, das marés ou dos cursos de água. As energias renováveis são virtualmente inesgotáveis, mas limitadas em
termos da quantidade de energia que é possível extrair em cada momento.
As principais vantagens resultantes da sua utilização consistem no facto de não serem poluentes e poderem ser exploradas localmente. A utilização da
maior parte das energias renováveis não conduz à emissão de gases com efeito de estufa. A única excepção é a biomassa, uma vez que há queima de
resíduos orgânicos para obter energia.
A exploração local das energias renováveis contribui para reduzir a necessidade de importação de energia, ou seja, atenua a dependência energética
relativamente aos países produtores de petróleo e gás natural.
As fontes de energia renováveis ainda são pouco utilizadas devido aos custos de instalação, à inexistência de tecnologias e redes de distribuição
experimentadas e, em geral, ao desconhecimento e falta de sensibilização para o assunto por parte dos consumidores e dos municípios.
Ao ritmo que cresce o consumo dos combustíveis fósseis, e tendo em conta que se prevê um aumento ainda maior a curto/médio prazo, colocam-se
dois importantes problemas: 1) questões de ordem ambiental e 2) o facto dos recursos energéticos fósseis serem finitos, ou seja, esgotáveis. As fontes
de energia renováveis surgem como uma alternativa ou complemento às convencionais. Num país como Portugal, que não dispõe de recursos
energéticos fósseis, o aproveitamento das fontes de energia renováveis deve ser um dos objectivos primordiais da política energética nacional.
Energia Solar
Aproveitar a energia solar significa utilizá-la directamente para uma função, como seja aquecer um fluído (sistemas solares térmicos), promover a sua
adequada utilização num edifício (sistemas solares passivos) ou produzir energia eléctrica (sistemas fotovoltaicos).
Portugal, a nível europeu, é dos países que tem mais horas de sol por ano: entre 2 200 a 3 000. Perante este cenário, seria natural que fosse também um
dos maiores consumidores de energia solar. Existem cerca de 220 000 m2 de painéis solares instalados, o que é muito pouco comparativamente com a
Grécia, que tem 2,6 milhões m2, e a mesma exposição solar.
O Sol, não só é uma fonte de energia inesgotável, como também permite obter uma energia limpa e gratuita (após a instalação das unidades de
captação e armazenamento). Embora sejam necessários sistemas auxiliares, que não utilizam energia renovável, o nível de poluição é muito reduzido.
Por outro lado, os sistemas de aproveitamento de energia solar são os mais acessíveis, sob o ponto de vista económico do consumidor.
• Sistemas solares térmicos
O aquecimento de um fluído, líquido ou gasoso, em colectores solares, é a utilização mais frequente da energia solar. O aquecimento de água por esta
via é hoje uma tecnologia fiável e economicamente competitiva em muitas circunstâncias. No nosso país as aplicações mais correntes verificam-se no
sector doméstico, para produção de águas quentes sanitárias e, em alguns casos, para aquecimento ambiente. Além do sector doméstico, existem
também aplicações de grandes dimensões, nomeadamente em piscinas, recintos gimnodesportivos, hotéis e hospitais.
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Também o sector industrial é susceptível de utilizar sistemas solares térmicos, quer para as aplicações acima mencionadas, quer quando há
necessidade de água quente a baixa ou média temperatura, no processo produtivo. Este tipo de sistemas capta, armazena e usa directamente a energia
solar que neles incide.
Os edifícios constituem um bom exemplo de sistemas solares passivos. Um edifício de habitação pode ser concebido e construído de tal forma que o
seu conforto, a nível térmico, no Inverno e no Verão, seja mantido com recurso reduzido a energias convencionais (como a electricidade ou o gás),
com importantes benefícios económicos e de habitabilidade. Para isso, existe um grande número de intervenções ao nível das tecnologias passivas,
desde as mais elementares, como sejam o isolamento do edifício e uma orientação e exposição solar adequadas às condições climáticas, a outras mais
elaboradas, respeitantes à concepção do edifício e aos materiais utilizados.
Em muitas dessas intervenções o sobrecusto relativamente a uma construção sem preocupações energéticas é mínimo. Em situações em que esse
sobrecusto é maior, ele é facilmente recuperado em economia de energia e em ganhos de conforto.
• Sistemas Fotovoltaicos
A energia solar pode ser directamente convertida em energia eléctrica por intermédio das células fotovoltaicas. As primeiras aplicações destes sistemas
verificaram-se na alimentação permanente de energia a equipamentos instalados em satélites espaciais.
Em Portugal, temos já algumas aplicações interessantes da energia solar fotovoltaica, nomeadamente no fornecimento das necessidades básicas de
energia eléctrica a habitações distantes da rede pública de distribuição, na sinalização marítima (bóias e faróis), em passagens de nível ferroviárias e
nas telecomunicações (retransmissores de televisão e sistemas de SOS instalados nas auto-estradas e estradas nacionais).
Refira-se que existem ainda outras aplicações em que a energia solar fotovoltaica pode ser utilizada com benefício, como por exemplo na irrigação
agrícola, onde há uma relação directa entre as necessidades de água e a disponibilidade de energia solar.
A integração de sistemas fotovoltaicos em edifícios, nas suas fachadas e telhados, para fornecimento de energia à rede eléctrica, são ainda outra
possibilidade de aproveitamento deste tipo de energia (por exemplo, em países como a Alemanha e a Holanda esta possibilidade é cada vez mais uma
realidade).
• Energia Eólica
O vento tem origem nas diferenças de pressão causadas pelo aquecimento diferencial da superfície terrestre, sendo influenciado por efeitos locais,
como a orografia e a rugosidade do solo.
Há centenas de anos que a humanidade tenta utilizar a energia do vento. Pequenos moinhos têm servido para tarefas tão diversas como a moagem de
cereais, bombear água e, mais recentemente, accionar turbinas para produzir electricidade.
Existem, basicamente, dois tipos de turbinas eólicas modernas: os sistemas de eixo horizontal, os mais conhecidos que consistem numa estrutura
sólida elevada, tipo torre, com duas ou três pás aerodinâmicas que podem ser orientadas de acordo com a direcção do vento; os sistemas de eixo
vertical, menos comuns, mas que apresentam a vantagem de captarem vento de qualquer direcção.
Apesar de não ser um dos países mais ventosos da Europa, Portugal tem condições bastante mais favoráveis ao aproveitamento da energia eólica do
que, por exemplo, algumas zonas da Alemanha, onde os projectos se implementam a um ritmo impressionante. Os arquipélagos da Madeira e dos
Açores constituem zonas de território nacional onde o potencial eólico é muito elevado.
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Ainda que Portugal esteja já bem posicionado relativamente a outros países, e de as perspectivas actuais apontarem para um crescimento acentuado
neste sector, está ainda muito aquém do seu potencial eólico. Este corresponde a mais de 3 500 MW quando, actualmente, apenas se encontram
instalados cerca de 200 MW.
Os locais com regime de vento favorável encontram-se em montanhas e em zonas remotas. Daí que coincidam, em geral com zonas servidas por redes
eléctricas antigas e com fraca capacidade, dificultando o escoamento da energia produzida. As soluções imediatas para o problema passam pela
construção de linhas muito extensas, cujos custos tornam os projectos pouco atractivos.
De referir também, que existem implicações a nível ambiental que põem em causa a viabilização de alguns projectos, tais como o ruído, o impacto
visual e a influência na avifauna. Por estas razões, em grande parte dos casos, é exigido ao promotor de um parque eólico a realização de um estudo de
incidências ambientais, cujo grau de profundidade depende da sensibilidade do local.
Além dos parques eólicos, os aerogeradores existentes em Portugal encontram-se em pequenos sistemas autónomos de produção de energia eléctrica.
Estes estão, normalmente, integrados com sistemas fotovoltaicos para fornecer electricidade a habitações, a sistemas de telecomunicações e a sistemas
de bombagem de água que se encontrem afastados da rede pública.
No Alentejo, no concelho de Ourique, foram electrificadas cinco aldeias, que contam com uma mini-rede de distribuição alimentada por um sistema
autónomo de produção de energia eléctrica, o qual é composto por um pequeno grupo de aerogeradores, associado a uma pequena central de painéis
fotovoltaicos. Esta rede abrange cerca de 60 habitações.
Uma outra possibilidade de aproveitamento da energia eólica consiste nos parques offshore, instalados ao largo da costa marítima, de modo a tirar
partido dos ventos fortes que caracterizam esta zona. Infelizmente, embora Portugal tenha uma ampla costa marítima, não reúne as melhores condições
para este tipo de parque eólico, já que o mar é muito profundo a poucos metros da costa, o que dificultaria a implementação dos parques.
• Biomassa
Esta é uma designação genérica que engloba o aproveitamento energético da matéria orgânica, ou seja, dos resíduos provenientes da limpeza das
florestas, da agricultura e dos combustíveis resultantes da sua transformação. A energia pode ser obtida através da combustão directa dos materiais ou
duma transformação química ou biológica, de forma a aumentar o poder energético do biocombustível.
Existem vários aproveitamentos, dos quais se salientam a combustão directa, o biogás, e os biocombustíveis:
- Combustão directa:
A queima de resíduos florestais e agrícolas produz vapor de água. Este, por sua vez, é canalizado para uma turbina com o objectivo final de produzir
electricidade (p. ex., Central térmica de Mortágua).
- Biogás:
O biogás é um gás combustível, constituído em média por 60% de metano e 40% de CO2, que é produzido através de um processo denominado
digestão anaeróbia dos resíduos orgânicos. As áreas potenciais principais de produção de biogás são as do sector agro-pecuário, da indústria agroalimentar, das ETAR s municipais e dos resíduos sólidos urbanos (RSU) e a sua queima pode ser feita em pequenas instalações, para produzir energia
eléctrica.
Uma vantagem resultante da combustão do biogás é a possibilidade de eliminar o metano, que é um dos gases que contribui para o efeito de estufa.
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- Biocombustiveis
Englobam-se aqui os ésteres metílicos (biodiesel) e os álcoois. Através da transformação de certos óleos vegetais, como o de girassol, colza, milho,
palma ou amendoim obtém-se um biodiesel que pode ser misturado com o gasóleo e alimentar motores deste tipo. Outra fonte de matéria-prima é a
recuperação dos óleos usados em frituras (restauração, cantinas), mediante uma recolha selectiva. Estes óleos podem ser facilmente transformados em
biocombustível, tendo como vantagem acrescida a eliminação de uma fonte de poluição.
Nos casos mais comuns e nos projectos-piloto desenvolvidos em Portugal (p. ex., autocarros em Évora e Lisboa) tem-se substituído 5% do gasóleo por
estes ésteres, sem que os motores percam eficiência. Mas os estudos efectuados revelam que é possível substituir até cerca de 30% do gasóleo. O
mesmo tipo de substituição pode ser efectuada na gasolina, mas em menor escala (apenas 5% a 10%) e usando álcoois em vez de ésteres.
Actualmente, o custo final do litro de biodiesel é muito elevado porque:
• a produção nacional de girassol e de colza não é suficiente;
• a produtividade agrícola é muito baixa, devido aos processos de cultivo e ao tipo de solos;
• o custo da recolha e do transporte da matéria-prima é elevado, etc.
• Energia Geotérmica
Caracteriza-se por ser a energia térmica proveniente do interior da Terra. Os vulcões, as fontes termais e as fumarolas (por ex. nos Açores) são
manifestações conhecidas desta fonte de energia. Actualmente, é utilizada em estações termais para fins medicinais e de lazer, mas também pode ser
utilizada no aquecimento ambiente e de águas sanitárias, bem como, estufas e instalações industriais.
Numa central de energia geotérmica, tira-se partido do calor existente nas camadas interiores da Terra, para produzir o vapor que vai accionar a
turbina. Na prática, são criados canais suficientemente profundos para aproveitar o aumento da temperatura, e injecta-se-lhes água. Esta, por sua vez,
transforma-se em vapor (que é submetido a um processo de purificação antes de ser utilizado) e volta à superfície, onde é canalizada para a turbina.
Em Portugal, existem alguns exemplos de aproveitamento deste tipo de energia. É o caso da central geotérmica da Ribeira Grande, no arquipélago dos
Açores, que produz energia eléctrica com potencial para garantir, na sua fase final, o fornecimento de 50 a 60% das necessidades de energia eléctrica
da ilha de São Miguel (actualmente já assegura cerca de 29%).
As principais vantagens desta fonte de energia são o facto de não ser poluente e das centrais não necessitarem de muito espaço, de forma que o
impacto ambiental é bastante reduzido. Ainda que apresente também alguns inconvenientes, como por exemplo, o facto de não existirem muitos locais
onde seja viável a instalação de uma central geotérmica, dado que é necessário um determinado tipo de solo, bem como a disponibilidade de
temperatura elevada no local até onde seja possível perfurar, ao perfurar as camadas mais profundas, é possível que sejam libertados gases e minerais
perigosos, o que pode pôr em causa a segurança das pessoas que vivem e trabalham perto desse local.
Há ainda a realçar outras aplicações que usam a geotermia de baixa entalpia e que pode ter implicações interessantes em termos da eficiência
energética nos edifícios, veja-se o caso do edifício solar XXI (LNEG, Lisboa).
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• Energia Hídrica
O aproveitamento dos cursos de água, para a produção de energia eléctrica, é o melhor exemplo de sucesso de utilização de energias renováveis em
Portugal. No decorrer do século XX, a produção de hidroelectricidade foi efectuada principalmente através da construção de barragens de grande ou
média capacidade. O princípio de funcionamento destas centrais é muito simples. Consiste em converter a energia mecânica existente num curso de
água, como um rio, em energia eléctrica, que pode ser transportada em grandes distâncias e finalmente usada em nossas casas. Para aumentar o
potencial do curso de água, constroem-se barragens, cujo propósito é reter a maior quantidade de água possível e criar um desnível acentuado.
Recentemente, a energia da água tem sido aproveitada por mini-hídricas. Estas são pequenos açudes ou barragens, que desviam uma parte do caudal
do rio devolvendo-o num local desnivelado (onde estão instaladas turbinas), e produzindo, assim, electricidade.
Actualmente, uma parte significativa da energia eléctrica consumida em Portugal tem origem hídrica. No entanto, é preciso não esquecer que a
produção deste tipo de energia está directamente dependente da chuva. Quando a precipitação é mais abundante, a contribuição destas centrais atinge
os 40%. Pelo contrário, nos anos mais secos, apenas 20% da energia total consumida provém dos recursos hídricos.
• Energia dos Oceanos
O potencial de energia das marés e das ondas aguarda por avanços técnicos e tecnológicos que permitam uma maior aplicação. Ambas podem ser
convertidas em energia eléctrica, usando diferentes tecnologias.
As zonas costeiras portuguesas (em especial a costa ocidental do continente e as ilhas dos Açores) têm condições naturais muito favoráveis para o
aproveitamento da energia das ondas. Infelizmente, as tecnologias de conversão desta energia estão ainda em fase de desenvolvimento. Apesar deste
facto, Portugal é um dos países pioneiros, com duas centrais de aproveitamento da energia das ondas, uma delas na ilha do Pico (junto à costa) e a
outra em Castelo de Neiva (no mar).
Numa central de aproveitamento da energia das ondas, tira-se partido do movimento oscilatório das mesmas. Tal é conseguido criando câmaras ou
colunas em zonas costeiras. Essas câmaras estão, parcialmente, cheias de água, e têm um canal aberto para o exterior por onde entra e sai ar. Quando a
onda se aproxima, a água que está dentro da câmara sobe, empurrando o ar para fora, através do canal. Quando a onda desce, dá-se o movimento
contrário. No canal de comunicação de entrada e saída do ar existe uma turbina que se move, consoante o movimento do ar na câmara. Tal como nos
outros casos, a turbina está ligada ao gerador eléctrico, produzindo electricidade.
Outra forma de aproveitar a energia dos oceanos é tirando partido do movimento constante das marés. As centrais de aproveitamento da energia das
marés funcionam de forma semelhante às barragens hidroeléctricas. Quando a maré entra ou sai da foz do rio, a água passa através de túneis abertos na
barragem. As turbinas, colocadas nesses túneis, movimentam-se consoante as idas e vindas das marés. Refira-se que, ao largo de Viana do Castelo,
existe uma barragem que aproveita a energia das marés.
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3.5.2. Melhoria da qualidade do ar interior
A sustentabilidade e o conforto das construções
Adoptar estratégias de construção que garantam a Qualidade do Ambiente Interior é uma forma de minimizar os impactos sócio-ambientais e
maximizar o desempenho económico dos edifícios. É durante a fase de projecto que os conceitos de sustentabilidade dos edifícios devem ser
aplicados, através da implementação de uma estratégia combinada que permita melhorar o conforto global e o comportamento energético, ao mesmo
tempo que o impacto ambiental é reduzido, através de uma selecção acertada dos materiais, das tecnologias e dos métodos de construção a serem
utilizados.
A forma e configuração dos edifícios são o resultado de um processo complexo, em que devem ser considerados factores funcionais, técnicos e
estéticos. A exposição solar e os ventos, a protecção conferida pela envolvente, a qualidade do ar e o nível sonoro do local de implantação vão afectar
a relação entre o edifício e o ambiente que o envolve, influenciando a forma do edifício. As exigências de aquecimento e arrefecimento, a iluminação,
a qualidade do ar e o isolamento acústico, devem ser consideradas pelos Arquitectos e Engenheiros logo na fase inicial do projecto de modo a serem
asseguradas as condições de conforto nos edifícios, ou seja garantir a Qualidade do Ambiente Interior e a sua sustentabilidade.
Para atingir este objectivo é necessário utilizar materiais e produtos pouco poluentes (para minimizar a libertação de compostos orgânicos voláteis,
COV s, e outros poluentes), aplicar métodos e técnicas que permitam reutilizar os componentes do edifício ou a utilização de materiais reciclados e
recicláveis, minimizar a aplicação de materiais ou componentes baseados em recursos materiais escassos, seleccionar materiais que conjuguem a
durabilidade e a baixa energia incorporada, e projectar, planear e pensar o edifício para a sua demolição e para a reutilização dos materiais e ainda
minimizar os custos de operação e manutenção dos edifícios, nomeadamente os consumos energéticos para aquecimento, arrefecimento e para águas
quentes sanitárias.
Para garantir um bom comportamento térmico e acústico, condições de iluminação natural suficientes e assegurar a qualidade do ar interior dos
edifícios é necessário optimizar a envolvente do edifício, melhorando o isolamento térmico e acústico, as características dos vãos envidraçados e dos
sistemas de sombreamento, bem como optimizar as técnicas de iluminação e ventilação naturais.
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As soluções adoptadas nos edifícios, geralmente, optimizam apenas uma das exigências de conforto. Em muitos casos, as melhores soluções para
cumprir as diferentes exigências de conforto não são compatíveis, em especial no que se refere a estratégias de ventilação e de iluminação natural e ao
desempenho acústico e térmico. Por exemplo, o tipo de janela usado pode ter uma influência forte e oposta no desempenho térmico e acústico do
edifício, para não se referir a sua intervenção na qualidade do ar interior. As soluções adoptadas nos edifícios são apenas compatíveis com uma ou
duas das exigências necessárias e não respeitam as restantes (por exemplo, a estanquidade das caixilharias é boa para o desempenho térmico e
acústico, mas não para a ventilação natural e não interfere com a iluminação natural). É assim necessário efectuar uma análise integrada para assegurar
o melhor comportamento global da fracção ou edifício
A optimização das condições globais de conforto consistem na análise e no controle dos parâmetros principais que afectam a Qualidade do Ambiente
Interior, relativos ao nível de isolamento térmico, ao nível de isolamento acústico, aos níveis da iluminação natural, o número de renovações de ar por
a hora e à percentagem de pessoas descontentes com a qualidade do ar interior, considerando os factores que têm maior influência no comportamento
dos edifícios.
Para cumprir este objectivo é necessário prever o comportamento higrotérmico, acústico, as condições de iluminação e potencialidades de ventilação
natural e a qualidade do ar interior dos edifícios, na fase de projecto, de modo a ser possível tomar as opções mais correctas em relação à geometria,
organização dos espaços, fenestração, escolha das soluções construtivas e selecção de materiais, de forma a reduzir os custos energéticos, garantir a
sustentabilidade das construções e, ao mesmo tempo, melhorar as condições globais de conforto dos ocupantes.
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3.5.3. Melhoria no conforto termo-acústico
Selecção de materiais
A escolha dos materiais a utilizar num contexto de construção sustentável não deve ser feita casuisticamente e dispensando uma abordagem global de
todos os impactos ambientais causados pelo material. De facto, não é possível saber-se à partida se o material betão é mais amigo do ambiente do que
o aço. Se o primeiro utiliza materiais locais, e pode utilizar vários resíduos industriais produz no entanto uma elevada quantidade de dióxido de
carbono. Já o segundo, apresenta a vantagem de poder ser reciclado tal como o alumínio. No entanto, a sua produção envolve elevado consumo
energético e é susceptível à degradação por corrosão.
A metodologia baseada em análise do ciclo de vida (ACV) ou Life Cycle Assesment (LCA) foi primeiro utilizada nos Estados Unidos em 1990 e é
definida como o processo de avaliação dos impactos que um determinado material ou produto tem no ambiente ao longo do seu ciclo de vida. Esta
metodologia tem vindo a ser utilizada por diversos autores (MATEUS et al., 2006) para a selecção de materiais de construção.
Um dos programas destinados à tomada de decisão quanto à sustentabilidade de materiais de construção é o programa BEES (Building for
environmental and economic sustainability) produzido pela U.S. Environmental Protection Agency. O programa BEES apresenta as seguintes
categorias de impacto:
> Potencial de aquecimento global
> Potencial de acidificação
> Potencial de eutrofização
> Consumo de combustíveis fósseis
> Qualidade do ar
> Alteração de habitat
> Consumo de água
> Poluição do ar
> Saúde pública
> Potencial de formação de smog
> Potencial de degradação da camada de ozono
> Toxicidade ecológica
Sendo o desempenho medido em unidades mensuráveis, como unidades de dióxido de carbono para o impacto de aquecimento global, o programa
apresenta no entanto uma limitação decorrente das bases de dados utilizarem valores relativos a produtos produzidos nos EUA, pelo que tal ferramenta
é recomendável somente para o plano experimental e educacional. Há tentativas, incluindo em Portugal, para a adaptação desta metodologia à
realidade nacional.
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Estes programas procedem ao cálculo, emitindo gráficos representativos das quantidades de produtos nocivos enviados ao ambiente pela realização da
dita estrutura. Ao analisar os gráficos, o utilizador poderá tirar conclusões acerca de qual será a estrutura mais “amiga” do meio ambiente. Finalmente,
é preciso ainda ter em conta que as metodologias de análise de ciclo de vida não são muito objectivas e padecem de bastantes incertezas.
De facto não é possível saber se a emissão de 1 tonelada de dióxido de enxofre é mais poluente que a emissão de 3 toneladas de dióxido de carbono,
ou se a poluição da água tem mais valor que a poluição do ar, ou mesmo se é possível quantificar qual é mais poluente, a electricidade produzida por
uma central termoeléctrica ou por uma central nuclear. A aplicação generalizada de análises de ciclos de vida ao sector da construção, no caso
particular dos materiais de construção, pressupõe antes de tudo a existência de levantamentos exaustivos sobre os impactos ambientais desses
materiais ao longo da sua vida útil, algo que dificilmente pode ser extrapolado a partir de estudos realizados noutros países, devido a diferenças óbvias
que se prendem com diferentes contextos tecnológicos e económicos.
A exploração de novas tecnologias com o intuito de harmonizar a indústria da construção com os desígnios do desenvolvimento sustentável, colmatará
a carência tecnológica de que padece o sector que, nos dias de hoje, apresenta uma significativa responsabilidade quanto à degradação do meio
ambiente.
A tecnologia de pesquisa e desenvolvimento de materiais inovadores a aplicar é também vital para a construção sustentável, pelo que tem havido
aposta da indústria da construção no progresso da qualidade dos produtos e processos.
As modernas apostas em edifícios eco-eficientes conjugam as melhores soluções dos métodos de construção convencionais com a emergente
abordagem eficiente, através de técnicas de construção sustentável que salvaguardam uma resposta eficaz quanto à questão do impacto ambiental e do
consumo de recursos. Para tal, tem-se em conta o ciclo de vida do edifício e dos seus componentes constituintes, invocando também os recursos
renováveis para sistemas de energia, reutilização e reciclagem de água e materiais, assim como sistemas passivos de aquecimento, arrefecimento e
ventilação.
Cresce a necessidade duma mudança das técnicas de construção de forma a que sejam satisfeitos os requisitos duma construção sustentável. Na
resolução da complexidade do problema, exige-se uma evolução sistemática que tenha em conta as restrições regulamentares, o atraso na inovação e
na mão-de-obra qualificada e na própria integração dos sistemas construtivos.
Os processos de reutilização e reciclagem dos materiais existentes ao invés da aplicação de novos, conduz a uma efectiva conservação dos recursos
naturais, na redução da energia incorporada, assim como acarreta benefícios económicos tangíveis. Contudo, estes processos estão associados a
inevitáveis questões técnicas relacionadas com a especificação, localização e aquisição dos materiais. Neste contexto, a análise do ciclo de vida (ACV)
de materiais e processos são particularmente relevantes e reveladores.
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O ciclo de vida de um produto engloba a sua extracção, aplicação, utilização e manutenção, reparação e renovação, assim como a
extracção/demolição, reciclagem e/ou alienação. Assim, cabe à equipa de projecto a adopção de uma linha estratégica na selecção de materiais,
avaliando as implicações de todas estas fases :
• energia incorporada no material;
• risco de impacto ambiental – toxicidade para seres humanos e ecossistemas;
• risco de esgotamento de recursos;
• potencial de reciclagem, reutilização e/ou reintegração ecológica;
• custos económicos associados.
Respeitando estes tópicos, deve-se dar preferência a produtos locais, que propiciem menores custos e energia incorporada devido ao transporte, à
utilização de materiais de grande durabilidade, já que uma maior quantidade de energia incorporada poderá ser amortizada por um maior tempo de
utilização e à utilização de materiais ou sistemas construtivos de massa baixa, valorizando a “construção leve” (em geral, quanto menor a massa de um
edifício, menor a energia incorporada). Contudo, há que ter em conta que, entre outros exemplos, que da utilização de um material com baixa energia
incorporada mas com mau comportamento como isolante térmico, poderá comprometer o comportamento térmico do sistema construtivo em que se
insere, e os objectivos do projecto.
Importa assim, ao longo das várias fases do ciclo de vida dos edifícios, aplicar de forma integrada os requisitos dos instrumentos regulamentares,
potenciando a eficiência energética dos edifícios sem esquecer a salvaguarda das questões ambientais. Um aspecto fundamental nessa contribuição
consiste na minimização de Resíduos de Construção e Demolição (RCD), reduzindo a sua deposição final, estabelecendo um fluxo de materiais
sustentáveis dentro do sector da construção, visando a utilização de materiais reciclados. Convém sublinhar que os RCD representam 1/3 dos resíduos
produzidos no espaço europeu. Dados do IST – Instituto Superior Técnico, estimam que durante o ano de 2004, 95% dos RCD produzidos foram
depositados em aterro, muitos, de certo, com grande potencial de reaproveitamento. A título de exemplo, a taxa média de reciclagem de RCD na
Europa é de 50%, enquanto que na Dinamarca é de cerca de 89%.
Apesar da maioria dos poluentes ter origem em actividades humanas e no funcionamento de equipamentos exteriores ou interiores, a qualidade do ar
interior pode ser preocupante e significativamente fraca devido à emissão gasosa e de partículas sólidas por parte de materiais, produtos e
componentes presentes num edifício. Da exposição a estes poluentes interiores resultam diversos e sérios riscos para a saúde dos ocupantes, mesmo
que a longo prazo.
Importa então analisar a toxicidade destes elementos a par de uma análise da capacidade dos sistemas de ventilação e filtragem (diluição ou remoção
de poluentes) para que seja assegurada a qualidade do ar interior. Entre os mais vulgares e perigosos, utilizados ou presentes na construção, constam:
• (Hidro)Clorofluorcarboneto (CFC/HCFC): fluído incombustível e incolor à temperatura ambiente, presente frequentemente em isolamentos e
sistemas de ar condicionado;
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• Compostos Orgânicos Voláteis (COV): presentes em pinturas, revestimentos, isolamentos e compósitos de madeira (p.ex., formaldeído);
• Substâncias persistentes, bioacumulativas e tóxicas (PBT): mercúrio, chumbo, cádmio que se encontram em tintas e acessórios de redes hidráulicas
de edifícios antigos; assim como o CCA (Crómio-Cobre-Arsénio), uma substância utilizada para tratamento de madeiras, conferindo maior
durabilidade;
• Amianto/Asbesto: substância utilizada no fabrico de materiais e tecidos incombustíveis, em fibrocimentos, isolantes e colas.
Sistemas Construtivos
Foram já referidos alguns materiais, pelo que é tarefa primordial impor a presença dos que representam melhor comportamento ambiental, seja pela
menor emissão de GEE, pelo seu melhor comportamento como resíduo e/ou pelo seu menor consumo energético.
Os materiais e sistemas construtivos interagem decidida e solidariamente no conforto e qualidade ambiental das habitações, pelo que no processo de
execução de uma construção, se devem enumerar os aspectos a ter em conta, no sentido de reduzir custos energéticos e ambientais.
Os custos ambientais serão ainda menores se forem contemplados elementos construtivos de fácil manuseio e transporte, e cuja manutenção não exija
operações de grande envergadura, seja pela sua qualidade (durabilidade implícita) ou seja pela sua acessibilidade, permitindo revisões periódicas de
controlo de qualidade, prevenindo deteriorações consideráveis e reparações dispendiosas.
A flexibilidade no uso dos espaços – de forma a poderem albergar diferentes ocupações ao longo da vida útil do edifício – deverá ser contemplada
através das técnicas e sistemas construtivos utilizados, sem que se coloque em causa a estabilidade estrutural original aquando dessas modificações.
Quando, em construção de raiz, são tidas em consideração estas questões na fase de projecto, está a contribuir-se para a racionalização, optimização do
edifício assim como para a minimização dos custos energéticos e ambientais.
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Construção em Madeira
Quando se trata de construir de forma sustentável e ecologicamente correcta, a atenção volta-se também para as construções em madeira (fig.11), pois
o material é regenerável, podendo ser considerado uma forma de aproveitamento dos subprodutos da madeira na preservação da paisagem.
A madeira é um material orgânico com boas características térmicas e um excelente desempenho na relação peso próprio e resistência. Foram
desenvolvidas novas formas de construção, assim como novos materiais à base de madeira com surpreendentes propriedades, como laminados,
estruturas lameladas, aglomerados de partículas de madeira (OSB), ou madeira maciça homogeneizada artificialmente e moldada a quente.
O futuro da humanidade está a ser posto em causa devido às alterações climáticas, sendo as emissões de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, as
principais responsáveis
A madeira é o único material que possui um saldo de carbono positivo, pois durante a sua produção, as árvores retiram dióxido de carbono da
atmosfera e são ainda responsáveis pela produção de oxigénio. Segundo o Canadian Wood Council, quando comparada com o uso de betão, a
construção em madeira produz menos 47% de poluição do ar; produz 23% menos de resíduos sólidos; requer 57% menos energia de produção.
A madeira é um dos materiais mais versáteis, mais renováveis, e mais recicláveis do mundo. Após centenas de anos de uso, a madeira pode ser
reaproveitada para outros fins como se fosse nova. Se as suas dimensões ou formas não permitirem a sua reutilização, pode ser totalmente reciclada e
ser usada na vasta indústria de derivados de madeira. (ex: aglomerados, MDF, OSB, etc). O que é fundamental é haver uma gestão sustentável da
floresta fornecedora de madeira.
Figura 11 – Casa construída em madeira, (publicação de Lacecal)
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Construção em Terra
Estima-se que 75% dos edifícios a nível mundial, são construídos em sistemas de terra, ou seja elaborados com materiais naturais sem grande
transformação. São importantes também pelo facto de fazerem parte integrante de muitos centros urbanos. Actualmente percebe-se que as técnicas
tradicionais de construção, são sistemas capazes de responder às necessidades energéticas e de conforto das populações. Os países Europeus
empenhados em minimizar o efeito de estufa, envolvem-se desde há algum tempo, numa busca de alternativas mais ecológicas.
A terra é o material mais disponível, acessível e económico no planeta, sendo qualidades que importam tanto a países em vias de desenvolvimento,
como a países desenvolvidos, já que responde às incertezas das necessidades energéticas do planeta e do seu meio ambiente. Existem várias técnicas
de construção em terra como a taipa, BTC (blocos de terra compactada), adobe, entre outras.
A Taipa é muito usada na zona sul de Portugal; é um sistema um pouco mais dispendioso do que os restantes, devido ao seu tempo de execução e
mão de obra necessária. É executada por camadas, usando um martelo compressor ou pilão e cofragens laterais para a compactação das terras (fig.12).
Em termos estruturais o sistema comporta-se bem, desde que devidamente contraventado com mourões e estruturas de madeira.
O BTC consiste em blocos constituídos por areia, terra, argila, e 5% de cimento ou de cal compactados manualmente (alavanca mecânica) ou por
máquina eléctrica ou diesel. O cimento endurece mais rapidamente, o que se traduz numa economia de tempo em obra. A mais valia deste processo, é
poder configurar os blocos com formas de encaixe, poupando mão de obra e material na sua colocação. Em termos estruturais as paredes podem ser
armadas verticalmente, por exemplo com bambu, madeira, ou material semelhante uniformizando a parede. Os cantos deverão ser reforçados sempre
com madeira.
O Adobe aparece em blocos de terra de argila, palha, areia e água, sem matéria orgânica. A secagem dos tijolos é feita ao ar livre (fig.13). A palha
usa-se para melhorar a estrutura do tijolo, dando-lhe uma maior resistência à tracção. Um tijolo com a dimensão de 40 x 20 x 15 cm, pode pesar
aproximadamente 16 kg. Estas paredes podem ser auto-portantes trabalhando muito bem à compressão. Os cantos do edifício serão reforçados com
mourões, madeira e arame farpado.
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A construção em terra está em crescente divulgação e expansão na Europa. Portugal tem já muitos exemplos deste tipo de construção. Verifica-se que
é uma solução viável, ecológica e económica que apresenta resultados surpreendentes. A fusão entre as técnicas tradicionais e convencionais
adaptadas aos padrões de qualidade e de conforto actuais, estão na base do sucesso deste tipo de técnica, com margem de expansão e crescimento num
modelo de crescimento sustentável e amigo do ambiente.
Figura 12 – Execução da taipa de pilão
Figura 13 - Adobe. Confecção e assentamento
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3.5.4. Redução do consumo de água
Mudar os hábitos de consumo de água e instalar torneiras, chuveiros e autoclismos mais eficientes permite poupar, por família, até 300 mil litros de
água por ano.
A água: um elemento essencial, responsabilidade de todos
A 22 de Março de 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o “Dia Mundial da Água”, publicando um documento intitulado
“Declaração Universal dos Direitos da Água”:
“A água faz parte do património do planeta. Cada continente, cada povo, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos
de todos.
A água é a condição essencial de vida de todo o ser vegetal, animal ou humano.
Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser utilizada com
racionalidade, preocupação e parcimónia.
O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e dos seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando
normalmente, para garantir a continuidade da vida sobre a Terra.
A sua protecção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do Homem para as gerações presentes e futuras.
A água não é uma doação gratuita da natureza, tem um valor económico: é preciso saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito
bem escassear em qualquer região do mundo.
A sua utilização deve ser feita com critério, para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração de qualidade das reservas
actualmente disponíveis.”
Porquê minimizar e optimizar o consumo de água em casa?
Em meio urbano, o consumo de água é distribuído da seguinte forma:
• 41% para o funcionamento das casas de banho (28% autoclismo)
• 37% para a higiene pessoal
• 6% para a lavagem da loiça e preparação de alimentos
• 5% para beber
• 4% para a lavagem da roupa
• 3% para limpezas domésticas
• 3% para rega
• 1% para a lavagem dos automóveis
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Poupar água nas descargas de autoclismo
Num agregado familiar de três pessoas, com uma frequência média diária de utilização do autoclismo de quatro descargas por habitante, o autoclismo
é responsável pelo consumo de 124 litros de água por dia. O consumo de água nos autoclismos deriva das descargas associadas às necessidades
fisiológicas mas também de fugas ou de uma utilização inadequada da sanita (para rejeição de lixos).
Em cada descarga de autoclismo, gastam-se 7 a 15 litros de água, por isso, este deve ser usado apenas quando for necessário. Não transforme a sanita
em recipiente de lixos, deposite-os num caixote apropriado.
A colocação de um regulador de nível/descarga (no mínimo) ou de uma garrafa cheia de água no interior do autoclismo, permite poupar muita água
em cada utilização.
A detenção atempada de fugas no autoclismo evita o desperdício de até 400 litros de água por dia.
Se optar pela substituição do autoclismo convencional por um autoclismo com sistema de dupla descarga, o consumo de água é reduzido para 3 a 6
litros por cada descarga, com uma redução efectiva de consumo de água até 60%, face aos autoclismos convencionais.
Existem no mercado tecnologias ainda mais sustentáveis, como as sanitas sem consumo de água. Esta tecnologia não é adequada para zonas urbanas,
mas são aplicáveis e eficientes em casas isoladas e zonas rurais. O mecanismo de limpeza pode ser feito por compostagem, incineração, vácuo ou
adição de químico. Esta solução é muito vantajosa em termos de impacto do ambiente, mas as condições de operação e manutenção são determinantes
para evitar riscos para a saúde pública.
Poupar água nos chuveiros
Tomar duches em vez dos banhos de imersão. Um banho de imersão consome cerca de 200 litros, três a quatro vezes mais do que um duche. Os
chuveiros tradicionais têm um consumo de água, em média, de 13 litros por minuto, sendo variável conforme o tipo de sistema de aquecimento de
água. Os consumos de água na utilização de chuveiros podem ser reduzidos pela instalação de redutores de caudal ou pela substituição do
equipamento. Um chuveiro de baixo caudal tem um consumo de cerca de 7 litros por cada minuto de utilização (reduz o consumo de água em cerca de
40%), diminui as descargas de águas residuais e o consumo de energia associado ao aquecimento de água.
A instalação de arejadores, redutores de pressão (anilha ou válvula) ou válvulas de seccionamento nas torneiras de duche existentes também reduzem
entre 25 a 50% o consumo de água. As torneiras misturadoras, monocomando ou termoestáticas nos chuveiros ,permitem diminuir o consumo de água
em cada utilização porque reduzem o desperdício até obter a temperatura desejada da água.
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Poupar água nas torneiras
Existem, no mínimo, 3 a 5 torneiras distribuídas pela cozinha e casas de banho de uma habitação. O consumo associado às torneiras depende do seu
caudal, a duração da utilização e o número de utilizações por dia. A redução do consumo de água nas torneiras permite diminuir as descargas de águas
residuais e o consumo de energia resultante do aquecimento da água.
As fugas de água das torneiras são também um importante contributo para a factura da água. Uma torneira a pingar "gota-a-gota“ desperdiça cerca de
46 litros de água por dia.
A substituição de uma torneira convencional com um caudal médio de 6 litros por minuto por outra mais económica com 3 litros por minuto permite
reduzir o consumo de água para metade. As torneiras misturadoras ou de mono-comando são uma boa opção para poupar água, em detrimento das
torneiras normais.
No mercado, existem ainda dispositivos eficientes (e económicos) para reduzir o consumo de água em torneiras existentes, como por exemplo,
torneiras com maior ângulo de dispersão do manípulo, redutores de caudal, pulverizadores, arejadores, fechos automáticos ou torneiras com comando
electrónico.
3.5.5. Redução e reciclagem de resíduos
Os resíduos líquidos, sólidos e gasosos podem ser gerados durante o fabrico de diversos produtos. Os principais problemas ambientais causados pelos
resíduos são as perdas de materiais e energia no processo produtivo. A minimização de resíduos envolve qualquer técnica, processo ou actividade que
permite evitar, eliminar ou reduzir o resíduo na sua fonte, reutilizar ou reciclar os resíduos para vários propósitos.
O tratamento de resíduos industriais tem sido visto como processo final, oferecendo pequena oportunidade de recuperar o material residual. Em
situações mais agravantes técnicas de "fim-de-curso", onde não se elimina o resíduo mas simplesmente o transfere de um lugar para outro, tem vindo
a ser utilizada por diversas indústrias. Assim, tem-se apenas a transferência dos resíduos no meio ambiente (ar, água, terra), sem a sua real eliminação.
A menos que sejam impostas restrições a essa prática, os resíduos e seus custos de tratamento irão aumentar continuamente ao longo do tempo.
A minimização de resíduos deve ser vista como um conceito que auxilia as empresas a adequarem-se às exigências ambientais e a reduzir os seus
custos operacionais.
Os programas de recuperação de energia permitem a redução da poluição e a redução de geração de resíduos. A redução no consumo de energia reduz
a quantidade de combustível fóssil queimado e consequentemente reduz a poluição atmosférica. Através dos projectos de minimização de resíduos
tem-se conseguido minimizar o uso dos recursos, logo a sua implementação, pode resultar no uso mais eficiente da energia, com menores gastos.
Hierarquia de práticas geradoras de resíduos
A Inglaterra estabeleceu uma hierarquia de opções para o gerador de resíduos. Esta hierarquia indica uma escala de prioridades na escolha das opções
de criação de resíduos. A tabela 2 indica a hierarquia que deve ser adoptada nas práticas de criação de resíduos.
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Benefícios da minimização de resíduos a nível industrial
A minimização de resíduos pode gerar benefícios:
1) De cumprimento das exigências legais;
2) Gerando oportunidades para as empresas melhorarem o seu desempenho económico e ambiental através das seguintes acções:
• Reduzir a dependência com os fornecedores de matéria-prima;
• Aumentar a eficiência da operação e reduzir custos de produção.
A minimização de resíduos apresenta benefícios económicos e ambientais:
Benefícios económicos:
• Redução de custos no manuseamento, pré-tratamento e transporte de resíduos depositados fora da empresa;
• Redução de espaço de armazenamento de resíduos, criando portanto maior espaço para operações produtivas;
• Redução de custos administrativos associados à disposição dos resíduos;
• Redução de custos de produção, incluindo redução de matéria-prima, energia e exigências de utilidades e;
• Melhoria da eficiência operacional.
Benefícios ambientais:
• Minimização do impacto ambiental associado à geração de resíduos;
• Atendimento às exigências legais municipais, estaduais e nacionais;
• Conservação de recursos naturais e;
• Melhoria da imagem da empresa perante os accionistas, os empregados e a comunidade.
Tabela 2 – Hierarquia das medidas a serem implementadas na minimização de resíduos
Eliminação
Redução na fonte
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Completa eliminação de resíduos
Maior
P
Evitar, reduzir ou eliminar o resíduo, geralmente dentro da unidade de produção, através de mudanças no
processo ou nos procedimentos industriais
Reciclagem
É o uso, reutilização e reciclagem de resíduos para propósitos originais ou outros propósitos. A utilização de
matéria-prima noutro processo, na recuperação de materiais ou na produção de energia
Tratamento
A destruição, desinfecção e neutralização dos resíduos em substâncias menos nocivas
Deposição
A liberação de resíduos no ar, água ou solo em formas apropriadas de controle, ou seja, formas seguras para
diminuir sua periculosidade. A disposição segura do resíduo no solo envolve a redução de volume, o
encapsulamento e técnicas de monitorização.
R
I
O
R
I
D
A
D
E
Menor
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Figura 14 – Técnicas de minimização de resíduos
Técnicas de minimização de resíduos
A técnica de minimização de resíduos divide-se em duas categorias que envolvem a reciclagem e a redução na fonte (fig. 14).
Redução de resíduos na fonte
As boas práticas operacionais, adequada limpeza, medidas técnicas e manutenção que envolvem melhorias operacionais ou mudanças administrativas
podem frequentemente ser implantadas, reduzindo custos sem implicar investimentos significativos.
Incluem-se neste caso:
• Implementação das técnicas de controle de qualidade;
• Auditorias regulares do material comprado e utilizado;
• Não comprar em quantidade excessiva;
• Manutenção preventiva regular;
• Segregação das linhas de resíduos para evitar mistura de materiais perigosos com os que não oferecem risco, facilitando a recuperação;
• Redução do volume de resíduos por filtração, processos de membranas, vaporização, secagem e compactação;
• Melhorias na escala de manutenção e procedimentos para aumentar a eficiência;
• Reavaliação das características do tempo de vida de materiais, evitando despejo dos materiais que possuem longo tempo de vida útil;
• Introdução de um programa de treino e motivação dos funcionários para a minimização de resíduos e;
• Recolha dos materiais dos vazamentos para reutilização.
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Reciclagem
A reciclagem de resíduos materiais para reutilização e uso pode constituir uma alternativa de redução efectiva de custo para o tratamento e disposição
dos resíduos em muitas circunstâncias. No entanto, deve-se lembrar que a técnica de redução na fonte ainda é preferida, uma vez que os resíduos
representam perda de matéria prima, produtos intermediários e finais, requerendo tempo e dinheiro para a sua recuperação e/ou tratamento.
O sucesso da reciclagem depende da habilidade de reutilização do resíduo no processo de origem como substituto de algum material, da habilidade de
utilização como matéria prima interna ou externa e da habilidade de segregar materiais recuperáveis e valiosos.
Na concepção empresarial, a reciclagem é a revalorização dos lixos domésticos e industriais, mediante uma série de operações, que permitem que os
materiais sejam reaproveitados como matéria prima para a fabricação de outros produtos.
É uma actividade moderna aliada à consciência ecológica, ao desenvolvimento económico e tecnológico.
Para garantir a sustentação económica da reciclagem, deve-se levar em consideração:
• O custo de separação, recolha, transporte, armazenamento e preparação do resíduo antes do processamento;
• A quantidade de material disponível e as condições de limpeza;
• A proximidade da fonte geradora com o local onde será reciclado o material;
• O custo do processamento do produto;
• As características e aplicações do produto resultante e;
• A procura do mercado para o material reciclado.
Em síntese:
Durante os últimos anos as indústrias consciencializaram-se para as questões relativas ao meio ambiente.
Técnicas de “fim-de-curso” ou tecnologias ambientais convencionais trabalham principalmente no tratamento de resíduos e emissões gerados no
processo produtivo. As questões ambientais eram vistas apenas como custo adicional para a empresa.
Porém, com a globalização e um mercado cada vez mais competitivo, as indústrias tiveram que se adaptar às novas tecnologias e às exigências
comerciais e ambientais. A responsabilidade empresarial quanto ao meio ambiente deixa de ter apenas característica compulsória para se transformar
numa atitude voluntária.
O sector empresarial percebeu a importância em produzir de modo “ambientalmente correcto”, não só por exigências legais mas sobretudo por
questões económicas e fortalecimento da imagem da empresa frente à comunidade e autoridades ambientais.
A mudança nos paradigmas ambientais induzem as empresas a voltarem-se para a origem de seus problemas, procurando modificações no processo
produtivo, substituindo os tratamentos convencionais de fim de curso.
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Reabilitação Estrutural e da Envolvente
Conforto Térmico
Soluções
construtivas
sustentáveis
Integração das Energias Renováveis
Acessibilidades
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4. Soluções construtivas sustentáveis
Materiais e sistemas construtivos interagem no conforto e qualidade ambiental das habitações, pelo que se deve ter em conta alguns aspectos no
processo de execução de uma construção, no sentido de reduzir custos energéticos e ambientais (RIBAS, 2010).
Seria recomendável padronizar e industrializar elementos e processos construtivos na procura de uma melhoria da qualidade dos produtos,
optimização dos custos de execução e possibilitar a reutilização dos materiais aplicados no final da vida útil da habitação.
Os custos ambientais serão ainda menores se forem contemplados elementos construtivos de fácil manuseio e transporte, e cuja manutenção não exija
operações de grande envergadura, seja pela sua qualidade (durabilidade implícita) ou seja pela sua acessibilidade, permitindo revisões periódicas de
controlo de qualidade, prevenindo deteriorações consideráveis e reparações dispendiosas.
A flexibilidade no uso dos espaços – de forma a poderem albergar diferentes ocupações ao longo da vida útil – deve ser contemplada através das
técnicas e sistemas construtivos utilizados, sem que se coloque em causa a estabilidade estrutural original. Quando na construção são tidas em
consideração estas questões no projecto de um edifício está a contribuir-se para a sua racionalização e optimização em simultâneo com a minimização
dos custos energéticos e ambientais.
Num edifício pré-existente a reabilitar, com condições construtivas pertencentes a outra época que não respondem às exigências funcionais actuais, há
que planear as intervenções no sentido da melhoria do comportamento global.
Neste capítulo, abordam-se algumas soluções construtivas sustentáveis aplicáveis à reabilitação estrutural e das envolventes, ao conforto térmico e
acústico, à integração das energias renováveis e às acessibilidades do edifício. Elegeram-se estas questões, em particular, pois abrangem os critérios
funcionais definidos no plano de trabalho como estruturantes para definir as soluções arquitectónicas de intervenção, a saber:
- Conforto térmico e acústico;
- Mobilidade e Acessibilidade;
- Segurança;
- Valorização arquitectónica;
- Sustentabilidade da Construção.
Soluções Construtivas Sustentáveis
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4.1. Reabilitação Estrutural e da Envolvente
4.1.1. Reabilitação da cobertura
As coberturas são consideradas como “a quinta fachada” já que abrangem uma amplitude de opções similares quanto à correspondência entre as
estratégias passivas de captação energética e as diversas disposições construtivas admitidas na prática convencional.
Um telhado convencional é formado pelo suporte estrutural e uma série de camadas contíguas em contacto que pretende proteger o edifício da
intempérie e contribuir para o isolamento térmico e acústico. Reconhecida a eficácia destas funções sempre que a execução for correcta, apresenta-se
aqui uma solução, coberturas ajardinadas, que do ponto de vista da sustentabilidade se reconhece trazer benefícios para a minimização de impactos
dos agrupamentos urbanos.
Coberturas ajardinadas
Soluções de coberturas “verdes” ajardinadas têm sido uma aposta cada vez maior por parte de empreiteiros e projectistas preocupados com as questões
da construção sustentável. Análises de Custo de Ciclo de Vida (CCV) revelam que o custo destas soluções se aproxima das soluções de cobertura
tradicionais, proporcionando melhorias ambientais e económicas, numa perspectiva dos utilizadores.
São soluções que beneficiam a qualidade dos edifícios devido a:
• melhorarem a eficiência na retenção da água;
• contribuírem para a optimização ambiental – através criação de monoclima beneficiador da qualidade e temperatura do ar, da absorção dos GEE e
demais gases poluidores, da redução do efeito “ilha de calor” principal causador da produção de ozono;
• constituírem habitats para animais e plantas;
• apresentarem excelente comportamento mecânico – protege a cobertura de danos e das radiações ultra-violeta (aumentando assim o ciclo de vida da
solução), aumenta a capacidade de isolamento térmico de redução dos sons por via aérea.
A funcionalidade da solução de cobertura será inerente ao projecto e finalidade da mesma. Às questões de estética estão inerentes diferenças na
espessura da vegetação, o programa de manutenção e o custo total das soluções adoptadas.
Também a localização destas coberturas num edifício têm um papel importante: a altura acima do solo, a sua exposição às intempéries, a orientação
solar e o sombreamento da cobertura nas várias fases do dia, juntamente com o clima da região e o possível microclima instalado na cobertura, são
determinantes na maximização da eficiência destas soluções.
As novas técnicas reconhecem dois tipos principais de classificação (tabela 3):
As coberturas ajardinadas intensivas são semelhantes aos antigos jardins de cobertura, onde se espera que as pessoas utilizem essa área ajardinada
como um jardim convencional, e como tal seja intensiva a sua manutenção, com necessidade de um sistema de irrigação artificial. A profundidade do
perfil de solo ou da camada de substrato é de, pelo menos 15cm mas, utilizam-se actualmente substratos mais leves, de modo a minimizar a carga
sobre a estrutura do edifício.
As coberturas ajardinadas extensivas são uma solução usada para reduzir as operações de manutenção ao mínimo, cujo tratamento (usualmente
irrigação natural) é efectuado em toda a área. Assentes em diminutas espessuras de solo ou substrato (entre 2 a 15cm) representam soluções leves e
com implicações estruturais mínimas para o edifício.
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Desvantagens
Vantagens
Tabela 3 - Vantagens e desvantagens de cada um dos tipos de coberturas ajardinadas
Intensivas
Extensivas
• grande diversidade de plantas e habitats
• boas propriedades de isolamento
• são usualmente acessíveis, o que confere versatilidade à utilização do
telhado (recreio, cultivos, espaço open-air)
• maior eficiência energética e maior capacidade de retenção de águas
pluviais
• maior tempo de vida útil dos componentes (membrana, camada
drenante, isolamentos)
• maior leveza do peso estrutural
• aplicável a grande áreas de cobertura desnecessários sistemas de
irrigação e drenagem especiais
• aplicável a coberturas inclinadas
• solução relativamente barata: reduzida manutenção(vegetação cresce
espontaneamente) e longo tempo de vida útil
• maiores custos de investimento e manutenção
• maior complexidade dos sistemas e maior peso estrutural das soluções
• geralmente inacessível para qualquer utilização
• limitação na escolha de vegetação
• menor eficiência energética e menor capacidade de retenção de
águas pluviais
• necessidades do consumo de água, equipamentos e energia para os
sistemas de irrigação e drenagem
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4.1.2. Reabilitação de fachadas
Sistema de isolamento
Os sistemas de isolamento térmico pelo exterior de aplicação corrente em Portugal dividem-se de forma simplificada em sistemas de isolamento pelo
exterior (ETICS) e sistemas de fachada ventilada. Ao mesmo tempo que se reconhecem grandes vantagens deste tipo de soluções – reabilitação
térmica pelo aumento do nível de isolamento térmico e minimização do risco de ocorrência de condensações superficiais interiores – é também
reconhecido o seu custo elevado.
Nestes sistemas não tradicionais é essencial o tratamento, habitualmente descurado, de pontos singulares (ângulos, remates, ligações, etc.). Neste
sentido e como factores indispensáveis para uma qualidade de execução do sistema e bons resultados finais, nunca será demais insistir na necessária
experiência e conhecimento de técnicos e aplicadores envolvidos.
Nos sistemas do tipo ETICS (Figura 15) a camada de isolamento é geralmente efectuada com placas de poliestireno expandido (EPS), embora hoje
em dia se possa considerar a utilização de materiais de isolamento naturais que podem dar um valor acrescido ao sistema do ponto de vista da
sustentabilidade. Na tabela 4 mostram-se exemplos destes materiais de isolamento e suas aplicações em fachadas e em outros elementos de construção
que a seguir se referem neste capítulo.
Figura 15 – Representação esquemática de um sistema ETICS
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Tabela 4 – Síntese de aplicação de alguns materiais ecológicos de isolamento por elemento de construção
Elemento
Construtivo
coberturas
Materiais Isolantes
pela sua resistência ao choque, ao vento e à humidade:
─ painéis de fibras brandas de madeira
─ painéis de aglomerado de cortiça
vigas
entre vigas pode-se usar materiais flexíveis, de instalação simples (sob pressão):
─ produtos à base de celulose, linho, lã, cânhamo ou algodão.
fachadas
─ painéis de aglomerado de cortiça
─ painéis de fibras brandas de madeira (como segunda fachada, à qual se podem
conjugar produtos à base de celulose)
─ isolantes minerais (lã de vidro, lã de rocha,…)
─ vidro celular
divisórias
─ painéis de fibras brandas de madeira
─ celulose, cânhamo e lã ou materiais similares (com certas limitações)
tectos e solos
Exemplos
materiais a granel, também aplicáveis no aligeiramento de betão:
─ granulado de cortiça
─ argila expandida
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Fachada Ventilada
Em Portugal, à semelhança de outros países europeus, os sistemas do tipo ETICS têm tido uma preferência significativa em intervenções de
reabilitação da envolvente opaca exterior vertical (empenas e fachadas). Similarmente, também as soluções de fachada ventilada (fig.16) se têm
associado a uma imagem de qualidade e prestígio pelas suas aplicações em intervenções de reabilitação, sobretudo em fachadas ou empenas com
graves problemas de degradação. Estes sistemas de parede ventilada resultam da procura de soluções de envolventes verticais cada vez menos
espessas (por conseguinte mais leves) compostas por uma série de camadas com funções específicas.
É uma solução caracterizada por revestimento exterior descontínuo, fixado mecanicamente a uma estrutura independente (pontual ou linear) de
suporte à qual se fixa (por colagem ou fixação mecânica) um isolante térmico, com existência de um espaço de ar ventilado entre ambos, contribuindo
para a remoção da humidade existente nesse local, permitindo a utilização de isolantes naturais (e.g. cortiça e fibra de coco) que geralmente não são
utilizados correntemente nas soluções de isolamento da envolvente exterior. O revestimento descontínuo actua como uma barreira que protege o
isolamento contra as intempéries (vento, radiação solar, água, etc.) salvaguardando a durabilidade do isolante e da própria solução.
Figura 16 – Representação esquemática de uma fachada ventilada
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Paredes de trombe
As paredes de trombe funcionam como radiadores gratuitos no Inverno. Têm a capacidade de acumular o calor durante o dia e transmitir de noite o
calor acumulado para o interior dos espaços. As paredes de trombe não necessitam de manutenção e funcionam como radiadores, aquecendo os
espaços em que se encontram, sempre que haja sol no Inverno.
As paredes de trombe (fig. 17) têm a capacidade de acumular o calor dos raios solares durante os dias de Inverno com céu limpo, que são os dias mais
frios, e transmitir de noite o calor acumulado para o interior dos espaços, o que é particularmente positivo no contexto climático Mediterrânico.
A parede de trombe é composta por um vão envidraçado com vidro duplo orientado a Sul, por uma caixa-de-ar com, aproximadamente 20 mm e por
uma parede que, na face exterior, é pintada com uma cor muito escura que potencie a absorção dos raios solares e, na face interior, estucada e pintada,
ficando com um aspecto idêntico a qualquer outra parede na habitação. Quando os raios solares de Inverno atravessam o vão envidraçado da paredes
de trombe acontece o fenómeno denominado de “Efeito de Estufa”, em que o calor do sol se acumula na caixa-de-ar. O calor que se acumula neste
espaço vai progressivamente aquecendo a parede, penetrando depois de algumas horas até à face interior. O calor que é libertado para o interior da
habitação pela parede de trombe, aumenta o conforto no Inverno e reduz, consideravelmente, a necessidade de aquecimento.
A integração na Arquitectura é relativamente simples. Vista pelo lado exterior, aparenta ser uma janela e, pelo interior, assemelha-se a uma parede
comum. São colocadas nos alçados orientados a Sul, nos espaços em que se pretende receber ganhos solares indirectos durante os meses frios do ano,
aproveitando, durante a noite, o calor que acumularam durante o dia. Esta medida contribui para aumentar o conforto térmico e para reduzir as
necessidades energéticas dos edifícios habitacionais com alçados orientados a Sul.
As paredes de trombe são sempre orientadas a Sul, porque apenas nesta posição é possível captar a maior intensidade da radiação solar (período entre
o final da manhã e o início da tarde). Esta orientação favorece a baixa altitude solar (Inverno), sem prejudicar o conforto com ganhos indirectos
excessivos durante o Verão.
Figura 17 – Parede de trombe
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Algumas soluções construtivas para fachadas (RIBAS, 2010):
1 – reboco de argamassa de cal (1,5 cm)
2 – tijolo cerâmico de furação horizontal (1,5cm)
3 – caixa de ar (4cm)
4 – juntas de assentamento – argamassa cimento
5 – isolamento térmico – aglomerado de cortiça (4cm)
6 – tijolo cerâmico de furação horizontal (11cm)
Figura 18 – Solução de parede dupla adoptada considerando aspectos de sustentabilidade ambiental
1 – tijolo cerâmico maciço (7cm)
2– argila expandida 8-16mm (4cm)
3 – bloco de betão celular autoclavado (20cm)
4 – placa de gesso laminado (1cm)
Figura 19 – Solução de parede dupla adoptada considerando aspectos de sustentabilidade ambiental
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1 – revestimento em pedra natural (4cm)
2 – espaço ventilado / estrutura de fixação (3cm)
3 – isolamento térmico – painéis lã mineral (6cm)
4 – estrutura existente – blocos de adobe (20cm)
5 – reboco de argamassa de cal (1,5cm)
Figura 20 – Solução de parede dupla adoptada considerando aspectos de sustentabilidade ambiental
1 – revestimento de placas cerâmicas (2cm)
2 – espaço ventilado / estrutura de fixação (3cm)
3 – isolamento aglomerado cortiça (2cm)
4 – tijolo térmico furação vertical (24cm)
5 – estuque de gesso (1cm)
Figura 21 – Solução de ETICS adoptada considerando aspectos de sustentabilidade ambiental
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1 – tijolo cerâmico maciço (7cm)
2 – caixa de ar (3cm)
3 – isolamento térmico – painéis de cânhamo (5cm)
4 – tijolo cerâmico de furação horizontal (11cm)
5 – reboco de argamassa de cal (2cm)
Figura 22 – Solução de parede dupla adoptada considerando aspectos de sustentabilidade ambiental
1 - reboco de argamassa de cal (1+1cm)
2 – malha de fibra de vidro
3 – isolamento painéis vidro celular (2cm)
4 – tijolo térmico furação vertical (24cm)
5 – estuque de cal (1cm)
Figura 23 – Solução de ETICS adoptada considerando aspectos de sustentabilidade ambiental
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Parede com estrutura metálica leve
A procura de tecnologias construtivas mais sustentáveis tem levado ao aparecimento de soluções mais leves e com maior grau de industrialização (pré
fabrico). As soluções construtivas com estrutura de perfis metálicos, obtidos por moldagem a frio de chapa galvanizada de aço de pequena espessura,
constituem um dos caminhos seguidos (Fig. 24 e 25).
Esta tecnologia apresenta, relativamente à tecnologia convencional, maior grau de industrialização do processo construtivo, pelo que está associada à
utilização mais racional de recursos – materiais e mão-de-obra. A sua baixa massa, torna-a adequada a locais em que a distância de transporte dos
materiais e componentes de construção é elevada.
Esta tecnologia, por integrar espessas camadas isolantes, contribui para a redução das perdas e ganhos de calor. No entanto, a sua baixa inércia térmica
deverá ser compensada, em locais com grandes amplitudes térmicas e sistemas intermitentes de condicionamento da temperatura do ar, pela integração
de outros elementos construtivos – por exemplo pavimentos – de elevada massa.
Esta é uma tecnologia relativamente recente em Portugal, existindo ainda carências ao nível de mão-de-obra especializada. No final da sua vida útil,
devido ao facto das ligações entre os diversos componentes serem mecânicas, o processo de desconstrução é simples e o potencial de reutilização
elevado.
Figura 24 - Parede com estrutura em perfis leves de aço
Soluções Construtivas Sustentáveis
Figura 25 – Aspecto interior e exterior de uma parede com estrutura de
perfis metálicos leves, em fase de construção, antes da colocação da lã
de rocha e da execução do revestimento interior; fixação do EPS às
placas OSB no exterior
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4.1.3. Caixilharias e Envidraçados
De entre os materiais mais utilizados no fabrico de caixilharias (Tabela 5) dos vãos envidraçados temos:
• Madeira – de utilização mais vanguardista, tem vindo a ser substituída pelo alumínio e pelo PVC, não só devido ao seu custo elevado em relação
aos mesmos, mas também pelo mau desempenho muitas vezes registado (devido à sensibilidade climatérica, são comuns contracções, dilatações e
empenos) que leva a elevados custos de manutenção ou à própria substituição; é contudo, um bom isolante térmico e acústico e aquela que apresenta
melhores índices de sustentabilidade se for proveniente de floresta certificadas em termos de gestão sustentável;
• Alumínio – material que enquanto aplicação como caixilharia dispensa manutenção regular, pela sua resistência (por exemplo, à corrosão) e
durabilidade; adapta-se com facilidade a diversos estilos arquitectónicos pela vasta gama de cores e acabamentos, e tem tido evoluções interessantes
em termos da capacidade de isolamento térmico e acústico (caixilharias de ruptura térmica);
• PVC – apresenta boas características isolantes, térmicas e acústicas e de resistência; ao nível estético permite acabamentos diversos e tem a
desvantagem de ser proveniente de uma fonte não renovável.
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Tabela 5 - Comparação das propriedades de materiais convencionais para caixilharia
Madeira
Durabilidade
Extracção
Emissão de gases
Resistência a agentes
biológicos
Relação da energia
incorporada
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Alumínio
tempo indefinido
entre 50 a 100 anos, sempre
dependente da utilização
tempo útil não conhecido totalmente, pela
constante evolução
actividade penosa se não feita de
forma racional e programada
material derivado do petróleo, cuja
extracção pode ser bastante gravosa
para o ambiente
material muito penalizador para o ambiente
(diversas fases e transporte desde a extracção
da bauxite até à transformação final
sem emissão de gases tóxicos
potenciais emissores de formaldeído
vulnerável à decomposição
biológica
resistente à decomposição biológica
resistente à decomposição biológica
material biodegradável
não biodegradável (mais de 100 anos
até à sua decomposição no ambiente)
não biodegradável (mais de 500 anos até à sua
decomposição no ambiente)
material reciclável para dar
origem a outros produtos à base
de madeira
reciclável por se tratar de um
termoplástico (passível de ser moldado
e fundido diversas vezes)
material totalmente reciclável
Degradação
Reciclagem
PVC
1
6
126
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Na Figura 26 e 27 está esquematizada a energia dissipada por elemento de fachada, onde é visível que o sistema envidraçado/caixilharia e caixas de
estores são as zonas de maior dissipação. A qualidade da caixilharia é, juntamente com o próprio vidro, importante na perda de energia.
Figura 26 – Termografia de fachada convencional
O aumento da estanquidade que se tem vindo a evidenciar nos elementos de caixilharia revela-se uma vantagem na redução das pontes térmicas, no
entanto, conduz à falta de ventilação natural. Desta limitação, passível de originar problemas de condensações e ao aparecimento de fungos e bolores,
surgiram no mercado caixilharias ventiladas que permitem, sem intervenção dos ocupantes, ventilar adequadamente os espaços ao mesmo tempo que
protegem os edifícios do ruído exterior e minimizam as trocas de calor com o exterior.
Figura 27 – Perdas de energia pela envolvente
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4.1.4. Acabamentos
Desenvolveram-se muitos produtos com a tónica no serem práticos, baratos, de fácil aplicação mas sem, contudo, se ter em conta as consequências
para a saúde humana e contaminação ambiental assim como os potenciais de reciclagem.
O resultado é dramático: conhecem-se já mais de 50.000 substâncias tóxicas usadas na construção e decoração dos edifícios, na sua maioria presentes
em tintas, vernizes, fungicidas e insecticidas (produtos utilizados ao longo das últimas décadas e que todavia continuam a ser comercializados apesar
do conhecimento dos efeitos nocivos dos seus componentes). Têm contudo surgido no mercado produtos que procuram combater estas desvantagens:
Tintas e Vernizes Naturais
Na década de 70, principalmente quando ficaram conhecidos os problemas causados pelo uso de tintas com componentes nocivos , foram formadas as
primeiras empresas especializadas no fabrico de pinturas naturais, com o principal objectivo de oferecer uma alternativa aos produtos convencionais,
substituindo a química nociva pela denominada química suave (cuja base são as matérias primas naturais de origem vegetal e mineral).
Para acentuar essa diferença, estabeleceu-se que:
• o fabricante das tintas naturais declara toda a composição em cada um dos seus produtos, concedendo ao consumidor o direito de saber o que está a
utilizar, evitando indirectamente problemas de alergias ou outros;
• o fabrico destes produtos respeita totalmente o meio ambiente, tanto no processo de produção como na reciclagem de matérias primas e embalagens;
• as tintas naturais não contêm qualquer tipo de substâncias nocivas nem libertam gases tóxicos, quer seja na sua produção, aplicação ou na posterior
reciclagem;
• as tintas naturais seguem os princípios da construção sustentável: são permeáveis ao vapor de água, são bons reguladores da humidade e as
superfícies tratadas não são electrostaticamente carregadas.
Quanto à pigmentação, as tintas naturais têm origem vegetal ou mineral. A pintura convencional continua a empregar componentes nocivos,
principalmente metais pesados: cádmio, chumbo, compostos de níquel, etc. As tintas e vernizes naturais oferecem actualmente uma gama de produtos
abrangente quanto ao tratamento de superfícies – fungicidas e insecticidas naturais, conservadores de madeira, paredes interiores e exteriores, etc. –
com qualidades técnicas igualáveis ou mesmo superiores relativamente às tintas e vernizes convencionais.
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4.2. Conforto térmico
4.2.1. Reabilitação térmica de Paredes Exteriores
O aumento de isolamento térmico nas fachadas dos edifícios representa uma das medidas mais simples para responder às crescentes exigências de
conforto térmico, que estão intimamente associadas às preocupações com o consumo de energia e protecção ambiental.
Isolar termicamente a envolvente dos edifícios, permite minimizar as trocas de calor com o exterior e, consequentemente reduzir as necessidades de
aquecimento/arrefecimento, e permite diminuir os riscos de ocorrência de condensações quando adequadamente ventilada.
Nesta secção descrevem-se intervenções em fachadas com critérios de eficiência energética, classificados em três áreas conforme a disposição do
isolamento térmico:
• pelo exterior;
• pelo interior;
• por injecção em caixa-de-ar (limitado ao caso de paredes duplas);
O reforço do isolamento na fachada admite vários tipos de soluções, mas dependem fortemente das condicionantes do existente, devem ser analisadas
caso a caso, de modo que os benefícios ao nível da redução dos consumos de energia, do conforto térmico e da qualidade do ambiente interior, sejam
enquadráveis da melhor forma com as principais características construtivas e arquitectónicas de cada edifício.
Soluções de isolamento térmico pelo Exterior
Têm sido desenvolvidos diversos sistemas de isolamento térmico de fachadas pelo exterior que são de utilização corrente, quer em novas construções
quer na reabilitação de edifícios, cuja envolvente vertical apresente índices de isolamento térmico baixos, infiltrações ou aspecto degradado. Estes
sistemas constituem uma óptima solução, tanto do ponto de vista energético como do ponto de vista construtivo. A aplicação do isolamento térmico
pelo exterior, quando esta solução é possível, apresenta sempre vantagens relativamente à aplicação pelo interior, nomeadamente no que diz respeito à
eliminação das pontes térmicas e à preservação da inércia térmica interior do edifício para funcionar como acumulador térmico.
De um modo geral, os sistemas de isolamento pelo exterior são constituídos por uma camada de isolamento térmico aplicada sobre o suporte e um
revestimento exterior para protecção das solicitações climáticas e mecânicas.
A intervenção pelo exterior do paramento de suporte apresenta as seguintes particularidades:
• Em todos os casos, a obra de reabilitação executa-se com a mínima interferência para os utentes dos edifícios;
• Instalado o isolamento sobre as fachadas, não reduz a superfície útil da habitação;
• Redução das pontes térmicas, de modo a evitar a falta de conforto e, sobretudo, o risco de formação de condensações superficiais.
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Este aspecto torna-se bastante importante no caso de fachadas, pelo maior número de possibilidades de se produzir pontes térmicas, nomeadamente
nos encontros com a estrutura (pilares, vigas, frentes de laje) e formação de vãos (caixas de estore, padieiras);
• Aumento da inércia térmica interior dos edifícios, dado que a maior parte da massa das paredes se encontra pelo interior da camada de isolamento
térmico. Este facto traduz-se na melhoria do conforto térmico de Inverno, por aumento dos ganhos solares úteis, e também de Verão devido à
capacidade de regulação da temperatura interior. Torna-se especialmente conveniente isolar pelo exterior quando a habitação ou o edifício são de
ocupação permanente;
• Economia de energia devido à redução das necessidades de aquecimento e de arrefecimento do ambiente interior;
• Aumento da protecção conferida ao tosco das paredes face às solicitações dos agentes atmosféricos (choque térmico, água líquida, radiação solar,
etc.);
• Grande variedade de soluções de acabamento;
• No caso de edifícios com um grau de protecção como parte do património classificado, será muito difícil, ou inclusive impossível, intervir pelo
exterior, dada a alteração das fachadas.
Os diferentes sistemas de reabilitação existentes requerem assessoria de empresas fabricantes e instaladores especializados, de forma a garantir a
compatibilidade de todos os produtos integrantes do sistema. Dado o marco legislativo – Directiva de Produtos de Construção, começam-se a emitir
normas harmonizadas e exigências essenciais aos isolamentos térmicos e sistemas construtivos.
Pode-se classificar os sistemas de isolamento de fachadas pelo exterior em três grandes famílias:
1) Revestimentos descontínuos fixados ao suporte através de uma estrutura intermédia – fachadas ventiladas, com interposição de um isolante térmico
no espaço de ar;
2) Componentes prefabricados constituídos por um isolamento e um paramento, fixados directamente ao suporte;
3) Sistemas compósitos - rebocos armados directamente aplicados sobre o isolamento térmico – ETICS (External Thermal Insulation Composite
Systems with rendering).
1) Revestimentos descontínuos fixados ao suporte através de uma estrutura intermédia – fachadas ventiladas, com interposição de um isolante térmico
no espaço de ar
Este sistema consiste na aplicação de um isolamento térmico (lã de vidro ou lã de rocha) pela superfície exterior do suporte, e de uma protecção
formada, normalmente, por uma lâmina ligeira externa, fixada à parede através de uma estrutura secundária, separando ambos materiais por uma
caixa-de-ar (Figura 28). O revestimento exterior pode ser contínuo ou descontínuo, e o isolamento térmico encontra-se instalado entre a parede e o
revestimento, protegido da acção da chuva, deixando um espaço de ar, onde este circula por convecção.
Soluções Construtivas Sustentáveis
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Figura 28 - Esquema de revestimento independente descontínuo com interposição de um isolante térmico na caixa de ar
Existe uma variedade de sistemas para construir fachadas ventiladas. Estas podem ser parcialmente ventiladas, podem estar constituídas por uma única
lâmina de ar (com aberturas na parte inferior e superior) ou podem dispor de aberturas na sua superfície (sistemas com junta aberta). Os suportes
variam na sua forma e disposição segundo o sistema e fabricante. Existem perfis de alumínio ou de aço, em forma de “U”, ou em forma de “H” ou
perfis tubulares. Os elementos de protecção podem ser elementos pré-fabricados cerâmicos, de vidro, metálicos, ou compósitos, em grande variedade
de acabamentos, texturas e cores. Qualquer parede de fachada pode ser utilizada como suporte de uma fachada ventilada.
2) Componentes prefabricados constituídos por um isolamento e um paramento, fixados directamente ao suporte
Os sistemas de isolamento térmico por componentes descontínuos prefabricados (vêtures) são obtidos a partir de elementos previamente produzidos
em fábrica, constituídos por um material isolante em placa revestido exteriormente por uma película de natureza metálica, mineral ou orgânica. Esses
elementos chegam à obra prontos a aplicar, sendo a sua fixação efectuada directamente aos suportes por meios mecânicos (Figura 29 e 30).
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Soluções Construtivas Sustentáveis
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Em virtude do isolamento e do revestimento serem prefabricados, a aplicação em obra destes sistemas é feita numa operação única, dispensando as
fases sucessivas inerentes às outras técnicas de isolamento térmico pelo exterior das fachadas. Caracteriza-se por um sistema industrializado baseado
essencialmente em processos organizados de natureza repetitiva, totalmente mecanizados, mas que apresentam, no entanto, algumas dificuldades de
adaptação a pontos singulares das fachadas, como por exemplo o caso dos vãos, que obrigam a cortes dos elementos em obra, conveniente dificuldade
de tratamento das zonas cortadas.
Os dispositivos de fixação do sistema ao suporte devem atravessar toda a espessura do conjunto (revestimento – isolamento) para o manterem
solidário. Sendo um sistema que não comporta caixa-de-ar ventilada entre o revestimento e o isolamento, compete ao isolamento, para além das
funções térmicas, servir de suporte ao revestimento e a participar na estanquidade do conjunto. Deste facto, o isolamento terá que possuir as
necessárias características mecânicas e de comportamento sob a acção da água.
Para além do problema de adaptação aos pontos singulares dos suportes, na concepção deste sistema devem também ser resolvidos correctamente dois
outros aspectos: a configuração das juntas entre elementos e limitar o risco de condensações no interior do isolante.
Ao nível das juntas devem ser adoptadas disposições que as tornem suficientemente estanques e que permitam uma certa movimentação entre
elementos, devido a ajustes de posição ou a variações dimensionais por acção da temperatura. As juntas horizontais são, em geral, de recobrimento, e
portanto estanques à água. As juntas verticais são concebidas de modo a que a água da chuva que as atinge ou a humidade de condensação sejam por
elas conduzidas para o exterior.
Figura 29 - Tipo de revestimentos pré-fabricados com isolante
Soluções Construtivas Sustentáveis
Figura 30 - Esquema de componentes pré-fabricados
fixados directamente no suporte
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3) Sistemas compósitos - rebocos armados directamente aplicados sobre o isolamento térmico – ETICS
O sistema ETICS designa os sistemas compostos por isolamento térmico pré-fabricado aplicado sobre um suporte e revestido por um reboco armado
realizado em uma ou várias camadas, que asseguram a impermeabilidade e a integridade do isolamento contra os choques. Refira-se que, para além de
este sistema ter sido desenvolvido para evitar transferências de calor para um exterior frio, também funciona adequadamente para evitar transferências
de calor a partir de um exterior demasiado quente, funcionando em suma, como uma barreira às transferências de calor.
Os sistemas ETICS mais frequentes no mercado são constituídos por placas de poliestireno expandido (EPS) revestidas com um reboco delgado,
aplicado em várias camadas, armado com uma ou várias redes de fibra de vidro (Figura 31 e 32). Como acabamento é utilizado, geralmente, um
revestimento plástico espesso (RPE). As placas de isolante são fixadas ao suporte exclusivamente por colagem. A camada de base do revestimento é
aplicada em duas demãos entre as quais é inserida a armadura, destinada a reduzir a fissuração e a melhorar a resistência aos choques.
Figura 31 - Sistema de isolamento térmico exterior
Figura 32 - Composição do sistema de isolamento exterior
Neste sistema, o reboco acaba por desempenhar também um papel estrutural pois, ao contrário da aplicação tradicional, assenta sobre uma superfície
com baixa compacidade e elástica. Daí que tenha de ter a tenacidade suficiente para proteger o isolamento contra as acções do exterior, assegurando a
estanquidade do paramento. Para assumir este papel, o reboco tem de ter boa aderência ao isolamento, tem de ser hidrófugo e tem de estar armado,
pois é a armadura que lhe vai conferir a resistência e assegurar a integridade do sistema. Refira-se que a espessura normal deste reboco se encontra
entre os 5 e 7 mm, de modo a diminuir as tensões originadas pela retracção plástica das argamassas.
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Quando do projecto de reabilitação, deve-se tomar especial atenção aos encontros com a cobertura, as varandas, os vãos exteriores (janelas e portas),
assim como qualquer heterogeneidade que contenha a fachada. Este sistema torna-se bastante vulnerável a ser danificado, sobretudo na zona mais
baixa do edifício, por isso deve ser protegido com um lambrim de material mais resistente às acções mecânicas a que possa estar sujeito (figura 33).
Figura 33 - Aplicação de um material mais resistente na base do edifício
Existem dois subtipos de ETICS, que se distinguem pela espessura do revestimento aplicado:
• Nos sistemas de isolamento térmico por revestimento espesso (figura 34), utilizam-se quase sempre placas de poliestireno expandido moldado (EPS)
colado ao suporte e um revestimento de ligantes hidráulicos armados com rede metálica, sobre o qual poderá ser aplicado um revestimento delgado de
massas plásticas ou uma tinta. As placas de isolamento deverão ter ranhuras na face a revestir a fim de melhorar a aderência do revestimento. A
armadura do revestimento, em geral de aço galvanizado, deverá ter ligações pontuais de natureza mecânica ao suporte com grampos ou cavilhas.
• Nos sistemas de isolamento térmico por revestimento delgado sobre isolante (figura 35), que é mais usual que a anterior, utilizam-se placas
geralmente de poliestireno expandido moldado (EPS) colado ao suporte e um revestimento de ligante sintético ou misto, armado com uma rede
flexível (quase sempre em fibra de vidro) protegida contra o ataque dos alcalis do cimento. A camada de base do revestimento é aplicada em duas
demãos entre as quais é inserida a armadura, destinada a reduzir a fissuração e a melhorar a resistência aos choques. A espessura total do revestimento
(camada de base e camada de acabamento) sobre o isolante é inferior a 7 mm.
Soluções Construtivas Sustentáveis
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4.2.2. Soluções de isolamento térmico pelo Interior
A reabilitação térmica da fachada pelo interior pode ser recomendada especialmente, nos seguintes casos: durante a realização de trabalhos no interior
do edifício (pavimentos, reorganização de espaços, janelas, etc.); quando não se considere modificar o aspecto exterior do edifício; sempre que
compense a perda de espaço útil com as poupanças energéticas e benefícios ambientais que pressupõe a intervenção.
O reforço térmico pelo lado interior deve tomar em consideração os encontros com os vãos (janelas e portas), assim como a resolução das pontes
térmicas.
Para esta medida de reabilitação pela face interior do edifício, constituem soluções aplicáveis em superfície corrente os painéis isolantes prefabricados,
fixados contra a parede a reabilitar ou a execução de uma contra-fachada dessa parede. Em relação aos painéis isolantes prefabricados (figura 34), a
solução recorre a painéis com a altura do andar que associam um paramento de gesso cartonado e uma placa de isolamento térmico de poliestireno
expandido moldado (EPS) ou extrudido (XPS), coladas no tardoz das placas do paramento. Os painéis em questão podem ser colados directamente
contra o paramento interior a reabilitar ou ser-lhe fixados através de uma estrutura de apoio, que define uma caixa-de-ar intermédia.
Figura 34 - Sistema de isolamento térmico por revestimento espesso
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Figura 35 - Sistema de isolamento térmico por revestimento delgado
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No segundo tipo de soluções, baseada na execução de uma contra-fachada no lado interior da parede a reabilitar (figura 36-38), recorre da
incorporação de um isolante térmico entre a parede exterior e uma contra-fachada. Duas soluções têm sido usadas na sua concretização,
nomeadamente um pano de alvenaria leve (contra-fachada de alvenaria) ou um forro de gesso cartonado com a respectiva estrutura de apoio fixada à
parede, em que o isolamento é aplicado desligado da placa de gesso cartonado (contra-fachada de gesso cartonado).
Figura 36 - Reabilitação pelo lado interior
contra-fachada (alvenaria)
Figura 37 - Reabilitação pelo lado interior
(gesso cartonado)
Figura 38 - Reabilitação pelo lado interior
(painéis isolantes pré-fabricados)
Solução por injecção de isolamento na caixa-de-ar de paredes dupla
O reforço de isolamento térmico das paredes duplas por preenchimento da caixa-de-ar permite manter o aspecto exterior e interior das mesmas e
reduzir ao mínimo as operações de reposição dos respectivos paramentos, que ficam limitadas à vedação dos furos de injecção. A injecção de
isolamento na caixa-de-ar torna-se uma solução, sempre que esta (caixa-de-ar) seja acessível e cumpra com uma série de requisitos que possibilitem
uma intervenção segura.
Este tipo de solução apenas deverá ser equacionada quando afastadas as outras medidas de reabilitação, pois apresenta algumas limitações
importantes, nomeadamente na sua execução, devido à dificuldade em preencher o isolamento térmico na caixa-de-ar, seja por ter uma espessura
pequena ou apresentar-se parcialmente preenchida com argamassa ou detritos, que em qualquer dos casos pode dificultar a aplicação homogénea. Por
outro lado, a pressão da injecção deve ser controlada para evitar a ocorrência de deformações na parede e garantir o completo preenchimento da caixade-ar. Considerando as características hidrófilas dos isolantes, há que prestar a devida atenção ao estado de conservação do paramento exterior,
tratando de impedir o contacto do isolante com a humidade, a fim de não afectar a sua condutibilidade térmica. Os isolantes não devem ser
susceptíveis a assentamentos ao longo do tempo, nem ser sensíveis a sofrer alterações.
Soluções Construtivas Sustentáveis
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A fim de evitar pontes térmicas, o isolamento tem de preencher totalmente a caixa-de-ar. O Guia Técnico da Reabilitação (PAIVA, AGUIAR,
PINHO, 2006), chama a atenção para o deficiente comportamento da espuma de ureia-formaldeído, do ponto de vista higroscópico, da estabilidade
dimensional, e da estabilidade química, e alerta para os problemas que daí podem advir, inclusive para a saúde dos ocupantes, dado libertar uma
substância nociva.
4.2.3. Reabilitação térmica dos Pavimentos
Os pavimentos a reabilitar termicamente podem localizar-se sobre espaços exteriores, sobre espaços interiores não aquecidos, nomeadamente
garagens, arrecadações, armazéns, varandas, ou marquises fechadas, sobre espaços não aquecidos e não ventilados, como caixas-de-ar sobre o terreno,
ou podem ser pisos térreos. Tal como os restantes elementos opacos da envolvente, têm de respeitar os coeficientes de transmissão térmica superficiais
máximos admissíveis expressos no quadro IX.1 do Anexo IX do RCCTE. Têm de ser verificadas também as perdas pelas zonas do vigamento, se
existir, não podendo o valor máximo de U exceder o máximo do referido quadro, nem ser superior ao dobro dos elementos homólogos. Isso significa
que, não apenas os pavimentos dos edifícios a reabilitar têm de ser alvo de medidas que promovam a melhoria do seu desempenho térmico para níveis
regulamentares, como a solução a promover tem de enquadrar também a zona das vigas. Para pavimentos térreos em contacto com o terreno, são
contabilizadas perdas térmicas lineares perimetrais.
O facto de um pavimento estar em contacto com um espaço interior não aquecido, pode proporcionar ganhos térmicos, mas não o isenta da
necessidade de reabilitação térmica. O reforço do isolamento térmico de pavimentos pode fazer-se mediante três opções distintas, que se caracterizam
pela localização do material isolante a aplicar:
• Isolamento térmico aplicado na face inferior; (figura 39 e 40)
• Isolamento térmico intermédio (limitado ao caso de pavimentos com vazios); (figura 41 e 42)
• Isolamento térmico aplicado na face superior. (figura 43)
A publicação ITE 50 do LNEC (PINA DOS SANTOS e MATIAS, 2006) apresenta entre as páginas II.27 e II.57, um conjunto diversificado de
soluções, com diversos tipos de materiais isolantes, espessuras, e localização do material. Desde que o espaço subjacente ao pavimento seja acessível,
as soluções de isolamento térmico inferior são claramente preferíveis, porque para além de ser mais eficiente do ponto de vista térmico, são também de
mais fácil e rápida aplicação e também de menor custo. Por outro lado, há que ter em atenção que as soluções de isolamento térmico superior, além de
serem menos eficientes, reduzem o pé-direito do espaço habitável. De notar, que também na aplicação do isolamento térmico inferior também terá que
se verificar se não haverá nenhum condicionalismo devido à redução do pé-direito do espaço subjacente.
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Figura 39 - Pavimento sobre espaço exterior – isolamento
térmico inferior
Figura 41 - Reabilitação de Pavimento
Isolamento térmico intermédio
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Figura 40 - Esquema isolamento térmico inferior em pavimento sobre espaço exterior
Figura 42
Esquema – isolamento térmico intermédio
Figura 43
Esquema – isolamento térmico face superior
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4.2.4. Reabilitação térmica das Coberturas
A cobertura é a parte dos edifícios sujeita a maiores flutuações térmicas. Está por isso entre os elementos da envolvente que mais condicionam o
desempenho térmico dos edifícios.
Enquanto no Verão é necessário evitar o sobreaquecimento das coberturas e a transmissão de calor ao interior, no Inverno é necessário evitar as fugas
de calor para o exterior. Assim, o isolamento térmico de uma cobertura é considerada uma intervenção de eficiência energética prioritária, face aos
benefícios imediatos em termos da diminuição das necessidades energéticas, e por se tratar de uma medida simples e menos dispendiosa. As
coberturas podem ser inclinadas ou horizontais. Qualquer que seja o seu tipo, é possível encontrar soluções de reabilitação térmica.
1) Coberturas Inclinadas
O reforço do isolamento térmico deste tipo de coberturas pode fazer-se segundo quatro opções possíveis, caracterizadas segundo a posição do
isolamento:
• Isolamento aplicado na face superior da esteira do tecto (figura 44);
• Isolamento aplicado na face inferior da esteira do tecto;
• Isolamento aplicado nas vertentes da cobertura, em posição superior (figura 45);
• Isolamento aplicado nas vertentes da cobertura, em posição inferior.
Estas soluções são apresentadas no ITE 50 do LNEC, entre as páginas II.54 e II.97. A solução mais económica será aplicar o material isolante sobre a
esteira horizontal, por ser de mais fácil execução e possibilitar a maximização do aproveitamento do material. Se o desvão for acessível convém
protegê-lo com uma betonilha. Dado que o desvão não necessita de ser aquecido na estação quente, esta é a solução que possibilita também maior
economia energética.
Figura 44 - Esquema isolamento térmico na esteira do tecto
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A aplicação do isolamento térmico, na face inferior da esteira, apresenta a desvantagem de não proteger a estrutura contra as variações térmicas, bem
como favorecer as condensações internas. As soluções de aplicação do material isolante nas vertentes, devem ser reservadas aos casos em que o
desvão seja habitável. Nessas condições, quando o isolante é aplicado imediatamente sob o revestimento da cobertura, há que prevenir a penetração da
água da chuva através das juntas entre telhas. Para isso deve proteger-se superiormente o isolante com uma membrana pára-vapor, a qual impeça a
passagem da água no estado líquido, mas não provoque condensações internas.
Figura 45 - Esquema isolamento térmico ao longo das vertentes
2) Coberturas Planas
O reforço do isolamento térmico deste tipo de coberturas pode ser conseguido através de três opções possíveis, que se distinguem segundo um critério
semelhante ao adoptado nos casos anteriores:
• Isolamento térmico superior;
• Isolamento térmico intermédio;
• Isolamento térmico inferior;
O ITE 50 apresenta dados sobre este tipo de coberturas entre as páginas II.58 e II.73. A solução mais prática é aplicar o isolamento térmico na face
superior da cobertura, acima da camada de forma, sob ou sobre a impermeabilização, funcionando no primeiro caso como suporte e no segundo caso
como protecção térmica da impermeabilização (figura 46 e 47). A segunda opção tem claras vantagens porque permite manter a cobertura existente
(caso esteja em bom estado) e permite aumentar a vida útil da impermeabilização ao protegê-la de amplitudes térmicas significativas e, eventualmente,
da acção directa do Sol e da radiação ultra-violeta. Além disso em obras de reabilitação térmica de coberturas horizontais cuja impermeabilização se
encontre em bom estado, a localização de isolante térmico sobre a impermeabilização dispensa que esta tenha de ser refeita, o que não acontece
obviamente com a primeira solução.
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A sua aplicação deve fazer-se sobre uma camada de dessolidarização, a qual pode ser constituída por uma manta geotêxtil. Como material isolante
pode utilizar-se placas de poliestireno expandido extrudido (XPS), sobre as quais deve ser aplicada uma protecção pesada, a fim de impedir que estas
se desloquem sob o efeito da acção do vento, bem como para as proteger da incidência directa da radiação solar.
A aplicação de um revestimento isolante térmico na face interior da cobertura, nos casos em que esta é caracterizada por uma laje, apenas é aceitável
quando integrada num tecto falso desligada da esteira e, mesmo assim, tem o inconveniente de não proteger termicamente a estrutura. A directa
aplicação desse isolante contra o paramento inferior da laje é totalmente desaconselhável porque também contribui para agravar as deformações de
origem térmica desta. Assim esta solução só deverá ser utilizada em situações em que seja impossível reparar a cobertura pelo exterior ou onde haja
vantagens de aquecer rapidamente os espaços.
Figura 46 - Esquema reforço isolamento térmico inferior –
cobertura plana
Figura 47 - Esquema reforço isolamento térmico superior –
cobertura plana
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As soluções em que o isolamento térmico se localiza em posição intermédia, entre a esteira horizontal e a camada de forma, embora possíveis, exigem
o prévio levantamento da camada de forma existente e requerem especiais cuidados de concepção e de execução para evitar que ocorram fenómenos
de choque térmico nas camadas sobrejacentes ao isolante térmico e as concomitantes fendilhação e degradação dos respectivos materiais. Esta opção
do isolamento térmico em posição intermédia constitui uma solução remota em reabilitação, dado aos custos a que estão associados o levantamento da
camada de forma, além dos inconvenientes acima mencionados.
4.2.5. Reabilitação térmica dos Vãos Envidraçados
Os vãos envidraçados têm uma significativa influência no balanço energético dos edifícios, podendo as perdas térmicas nos edifícios de habitação
oscilar de 35 a 40% na estação fria.
Janelas e portas com vidros simples, ou com vidros duplos, sem corte térmico, podem provocar descidas substanciais na temperatura interior durante a
estação fria, provocando situações de desconforto. Por isso a reabilitação de janelas e portas é essencial, podendo ser um factor decisivo para que
sejam assegurados os requisitos de eficiência energética exigidos no novo RCCTE.
Neste contexto interessa promover algumas medidas, as quais consistem essencialmente em:
• controlar as infiltrações de ar não desejadas através das juntas da caixilharia, por forma a melhorar o seu desempenho durante a estação fria,
reduzindo as perdas de calor no interior e minimizando os problemas de desconforto devido à permeabilidade da envolvente;
• reforçar a protecção contra o excesso de radiação solar pelos envidraçados durante a estação quente, controlando os ganhos térmicos mediante a
limitação da entrada de radiação solar através de dispositivos de protecção; minimizar o efeito das pontes térmicas que se estabelecem através dos aros
e dos próprios envidraçados, reduzindo as trocas de calor associadas às amplitudes térmicas entre o interior e o exterior.
Para isso têm de ser adoptadas soluções compatíveis com as necessidades e com o grau de eficiência desejado. Há portanto que verificar se a
caixilharia se encontra degradada a tal ponto que o seu reaproveitamento não seja viável, do ponto de vista construtivo e económico.
Convirá ter presente que proceder à sua substituição integral no contexto de uma reabilitação, é sempre uma solução dispendiosa. Assim, o reforço do
isolamento térmico de vãos envidraçados pode ser obtido através das seguintes medidas:
• Substituição dos elementos por outros com desempenho térmico melhorado, nomeadamente caixilharia com corte térmico e vidro duplo;
• Utilização de envidraçados com elevado desempenho térmico, nomeadamente vidros duplos com isolamento térmico reforçado através do
recobrimento com uma camada de baixa emissividade. O Manual do Vidro, da Saint Gobain, mostra que, mesmo para vidros duplos, o coeficiente de
transmissão térmica pode variar entre U = 2,9 W/m2.ºC para vidro tradicional de 4 + 4 mm, e U = 1,1 W/m2.ºC para vidro duplo de isolamento
térmico, com a mesma espessura. A pior das conjugações de vidros duplos, ainda assim, melhora em muito as performances térmicas do melhor dos
vidros simples: para estes é difícil obter transmissões térmicas U abaixo de 5,8 W/m2.ºC.
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Figura 48
Duplicação da caixilharia com inclusão de sombreamento
Figura 49
Pormenor de caixilharia como solução para substituição ou duplicação de vãos envidraçados
• Criação de janelas duplas, mediante a incorporação de um segundo caixilho (fig. 48). As perdas térmicas de Inverno e os ganhos solares de Verão
são melhorados. Esta solução é aconselhada sobretudo para climas muito frios ou muito quentes. Tem a desvantagem de piorar a transmissibilidade
luminosa.
• Substituição de vidros simples por vidros duplos. Há que verificar no entanto se a caixilharia se adequa a esta solução.
• Substituição do material vedante das juntas da caixilharia, das juntas móveis, ou das juntas do vidro/caixilho (fig. 49). Trata-se de uma operação de
reduzido custo, com grande eficácia na redução das infiltrações de ar não controladas.
No âmbito da reabilitação dos vãos envidraçados há ainda que reduzir o coeficiente de transmissão térmica das caixas de estore. As caixas de estores
são pontes térmicas planas que têm de verificar as mesmas condições de vigas e pilares. Para construções novas ou reabilitações profundas de paredes,
podem aplicar-se caixas de estore pré-fabricadas em betão ou em material cerâmico, devidamente isoladas, ou caixas compostas inteiramente por
material isolante. Para reabilitação do existente, pode ser aplicado no interior das caixas um revestimento em poliestireno moldado ou em lã de rocha.
Na reabilitação de envidraçados merece especial atenção o controlo de ganhos solares durante a estação de arrefecimento, particularmente em regiões
com estações quentes e longas, como acontece na generalidade do território continental português. Este controlo assume grande importância para
minimizar o sobreaquecimento dos espaços interiores e reduzir ou eliminar a necessidade de dispositivos de arrefecimento mecânico. O controlo dos
ganhos solares pode fazer-se essencialmente por três vias:
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Gestão da área de envidraçados:
Quanto maior for a área de envidraçados, maiores serão os ganhos solares. No Inverno este factor beneficia a iluminação natural e o aproveitamento
da radiação solar térmica, mas durante o Verão acarreta excesso de ganhos solares. Na figura 50 pode-se verificar a reabilitação de um edifício
plurifamiliar que reduz e reorienta a área de envidraçado, de forma a minimizar os ganhos no Verão e minimizar as perdas de Inverno. A arquitectura
bioclimática procura adoptar soluções de aquecimento passivo na estação fria, em que o edifício funciona como um colector solar que capta, armazena
e distribui calor pelos compartimentos (figura 51). Isto pode ser realizado através da transformação de varandas em “marquises”, ou do aumento da
área de envidraçados dos vãos orientados a Sul. A inércia dos elementos que compõem o edifício possibilita que funcionem como acumuladores
térmicos que absorvem calor durante o dia, e o libertam à noite.
Todavia há que ter em conta, que estas medidas têm inconvenientes na estação quente. Quando a área de envidraçados é superior a 15% da área dos
compartimentos, pode originar excessivo aquecimento no interior dos edifícios nesta estação. Daí que seja necessário criar também um sistema de
arrefecimento passivo que promova o sombreamento, e a ventilação natural.
Figura 50
Caixilharias de alto desempenho térmico “Eco-Eficientes” com
acumuladores de calor (Hortaleza – Madrid)
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Figura 51
Reabilitação dos bairros - reorientação das janelas a sul
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Aplicação de envidraçados de baixa emissividade:
As necessidades de isolamento térmico podem ser satisfeitas através da utilização de vidros duplos. Todavia, no que confere ao controlo dos ganhos
solares, esta medida por si só, não constitui solução, sendo necessário utilizar vidros de “controlo solar”, com baixo factor solar, como os vidros
coloridos ou vidros reflectantes de cor escura (figura 52 e 53). Estes envidraçados têm também transmitâncias luminosas muito baixas, o que diminui a
iluminação natural, factor que acarreta outros problemas com consequências no desempenho energético dos edifícios.
A compatibilização do isolamento térmico com o controlo dos ganhos solares, sem pôr em causa a iluminação natural, só pode ser conseguida de
forma eficaz com a utilização de envidraçados de elevado desempenho, com revestimentos de baixa emissividade ou através da combinação de
envidraçados de bom desempenho térmico, com dispositivos exteriores de protecção solar.
Figura 52– Película Solar – rejeita 35% da energia solar
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Figura 53 – Vidro de baixa emissividade – Reabilitação e
ampliação do Aeroporto Santos Dumont, Brasil
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Utilização de dispositivos de sombreamento eficazes, preferencialmente pelo exterior:
O objectivo da aplicação de dispositivos de sombreamento consiste em controlar a radiação solar directa, de forma a assegurar condições razoáveis de
conforto. O tipo e o grau de sombreamento a assegurar, depende de vários factores, entre os quais a orientação e a geometria dos vãos a sombrear.
Existem vários tipos de dispositivos de sombreamento, os quais podem ser aplicados pelo interior ou pelo exterior (figura 54 e 55). Os mais eficazes
na redução dos ganhos solares são os exteriores. Os dispositivos interiores são de reduzida eficácia, e podem desempenhar sobretudo a função de
protecção complementar dos dispositivos exteriores, bem como de controlo de admissão de luz natural e de privacidade.
Figura 54 – Sistema de sombreamento, lâminas de estores orientáveis, possibilidade de regular a luz interior sem oclusão total
Figura 55 – Lâminas orientáveis aplicadas pelo exterior
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4.3. Integração das energias renováveis
4.3.1. Edifícios de Emissão Zero
Com os novos regulamentos energéticos, emergiu um conjunto de exigências para os novos edifícios, entre as quais se deve salientar a obrigatoriedade
da utilização de colectores solares para aquecimento de águas quentes, que constituiu um marco de referência histórico. Desde 2006 que é obrigatório
que todos os novos edifícios a licenciar, tenham um sistema solar de aquecimento de águas quentes, excepto em casos em que tal é impossível.
Não sendo uma situação obrigatória, a utilização de painéis fotovoltaicos começa a ser uma prática cada vez mais visível no nosso país. A par das
medidas de eficiência energética, pode-se verificar uma gradual integração de energias renováveis para a produção de energia térmica e eléctrica nos
edifícios. Este caminho conduz num futuro próximo a conceber edifícios de “balanço energético quase nulo”, patente na revisão da Directiva do
Desempenho Energético dos Edifícios.
O conceito de edifício de emissão zero (do inglês zero emission building – ZEB) traduz-se numa construção com reduzidas necessidades de energia
através de ganhos eficientes pela sua arquitectura, pelo que o balanço dessas necessidades poderá ser suportado pelas tecnologias renováveis (Figura
56). Uma vez que os objectivos na concepção destes edifícios são cruciais na forma de se atingir a sustentabilidade do ambiente construído, a
definição dos ZEB é crucial para se perceber a interacção entre uma arquitectura eficiente e a utilização de energias renováveis.
Várias tecnologias de fornecimento de energia renovável podem estar associadas aos ZEB, desde a fotovoltaica, eólica, hidroeléctrica,
biocombustíveis, entre outras e todas elas serão favoravelmente melhores do que as fontes convencionais de energia, tais como o carvão e o gás
natural. Ainda assim, é possível desenvolver um ranking da aplicabilidade das fontes de energia renovável no contexto dos ZEB, tendo em conta as
tecnologias que:
• Tendem a minorar o impacto ambiental, privilegiando a eficiência energética por intermédio de estratégias de design e redução de transporte;
• Poderão ser tão duráveis quanto o período de vida do edifício;
• Sejam de larga aplicabilidade e tenham potencial de repercussão para futuros ZEB.
Uma boa definição de Edifício Emissão Zero deverá encorajar em primeira instância a eficiência energética e posteriormente fazer uso das tecnologias
existentes, in situ. Estas medidas de eficiência energética acompanham geralmente o ciclo de vida do edifício (entre as medidas mais eficientes
constam o aquecimento solar passivo e a iluminação natural), sendo no entanto necessário verificar a durabilidade e persistência das mesmas, para
assegurar a salvaguarda de energia, pois é sempre mais fácil poupar energia do que produzi-la.
A energia eólica aplicável à escala dos edifícios será sempre de aplicabilidade limitada estruturalmente, devido ao ruído e sobretudo devido aos
padrões do fluxo de ar. Como tal, a energia proveniente do vento será na sua generalidade à escala superior à do edifício. Outras fontes de energia
renovável tais como biomassa, etanol ou biodiesel podem ser importadas para processamento local (no edifício).
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Figura 56 – Conjunto de soluções a adoptar no sentido de se atingirem os ZEB
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4.3.2. Conceitos Bioclimáticos e de Design Passivo
A “Arquitectura Bioclimática” ou “Arquitectura Solar Passiva” pode ser definida como uma arquitectura que, na sua concepção, aborda o clima local
como uma variável importante no processo de concepção. Assim, mais importante que a denominação, são os princípios e conceitos fundamentais que
visam compreender quais as variáveis climáticas existentes no local (sol, vento, água) e como essas variáveis podem interagir com o edifício de forma
positiva e propiciar as condições de conforto térmico adequadas a cada espaço.
Se, com a sua ascensão, os primeiros projectos estavam associados exclusivamente às poupanças de energia, actualmente o conceito evoluiu para a
compreensão de um processo activo, onde as questões de poupança energética são mais um factor a ter em conta. A adequação ambiental deverá assim
ser tomada como um sistema mais amplo, inter-agente com o meio ambiente não só focado na factura energética, mas abordando também factores
estéticos e funcionais.
Do ambiente construído, projectado e avaliado, existem actualmente exemplos suficientes capazes de traduzir a qualidade ambiental de edifícios
construídos com base nos princípios básicos de “construção com o clima”, demonstrando de igual modo a sua viabilidade económica. Diferentes
estudos avaliam uma capacidade de economia da factura energética na ordem dos 70% aquando de soluções arquitectónicas pensadas numa lógica de
adaptação e adequação ao clima, quando comparadas com os procedimentos convencionais da construção tradicional.
No Inverno, havendo três zonas climáticas definidas para Portugal Continental (I1, I2, I3) interessa como estratégia principal, isolar a envolvente dos
edifícios, salvaguardar excessos de infiltrações de ar frio exterior e promover os ganhos solares. Estas estratégias terão maior preponderância em zonas
climáticas I3.
No Verão, as três zonas climáticas (V1, V2, V3) também apresentam características comuns, ainda que com severidades distintas, onde as estratégias a
implementar passam principalmente pela restrição dos ganhos solares e a promoção da ventilação natural.
Uma estratégia comum às estações de aquecimento e arrefecimento é a adopção de soluções construtivas de inércia elevada, no sentido de se
estabilizar a temperatura interior e, portanto, se minimizem situações de sobreaquecimento no Verão e para um correcto aproveitamento dos ganhos
solares no Inverno.
Além das referidas, são sugeridas e sintetizadas na Tabela 6 e Tabela 7, as demais estratégias específicas e complementares, contributivas para a
melhoria do desempenho global dos edifícios, passíveis de serem implementadas em edifícios das diferentes regiões de Portugal.
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Tabela 6 – Síntese das estratégias passivas relativas às necessidades de aquecimento
Inverno – Estação de Aquecimento
Estratégias Bioclimáticas
Sistemas Passivos
Ganho directo
• promove o aquecimento rápido do espaço (vãos envidraçados preferencialmente expostos ao
quadrante Sul)
Ganho indirecto
• absorção de energia solar durante o dia (através da parede estrutural), com efeito no período
nocturno (e.g. Paredes de Trombe).
Promover ganhos
solares
Ganho isolado
• ganhos desfasados através de estufas (comportamento similar ao das Paredes de Trombe), embora
com a necessidade de desactivação na estação quente.
• ganhos separados através de colectores de ar e introdução de ar quente (pré-aquecimento do ar
exterior) em espaços com necessidade de renovação do ar.
• paredes pesadas com isolamento pelo exterior estratégia de maior importância nas zonas do
interior continental devido às elevadas amplitudes térmicas.
Promover inércia forte
• isolamento adequado da envolvente.
Restringir perdas por
condução
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Tabela 7 – Síntese das estratégias passivas relativas às necessidades de arrefecimento
Verão – Estação de Arrefecimento
Sistemas Passivos
Restringir ganhos
solares
• sombreamento de envidraçados ou utilização de vidros reflectantes associados a sistemas de
sombreamento interior.
Estratégias Bioclimáticas
• ventilação natural do interior por diferenças de pressão e temperatura interior – exterior, ou por
acção directa do vento.
Promover soluções
de arrefecimento
natural
• arrefecimento por contacto directo (através do pavimento, paredes ou mesmo cobertura) ou
indirecto como solo; sistemas que dependem da dimensão das condutas e da profundidade a que se
encontram (temperatura a que se encontra o solo).
• arrefecimento evaporativo (mudança de fase da água - e.g. presente em fontes ou espelhos de água)
e radioactivo (através dos elementos da envolvente exterior).
• paredes pesadas com isolamento pelo exterior – estratégia de maior importância nas zonas do
interior continental devido às elevadas amplitudes térmicas.
Promover inércia
forte
• isolamento adequado da envolvente
Restringir perdas por
condução
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4.3.3. Tecnologias de Energia Renovável
A micro-geração consiste na produção descentralizada de energia em pequenas potências. A produção energética incorpora as componentes de calor e
electricidade, com emissões de carbono neutras ou baixas, em pequena escala, numa lógica de satisfação do auto-consumo. A necessidade de redução
das emissões no campo da produção de electricidade, os recentes desenvolvimentos no domínio da micro-geração e a reestruturação do negócio da
electricidade são os principais factores responsáveis pelo crescente interesse do uso da micro-geração.
Em Portugal, foi recentemente aprovado um decreto-lei que facilita o acesso dos consumidores à tecnologia supracitada. Assim, sob as regras
definidas no Decreto-Lei nº 363/2007, publicado a 2 de Novembro, que institui o regime das “Renováveis na Hora”, um consumidor doméstico de
electricidade poderá tornar-se, ele próprio, produtor de electricidade.
A designada micro-geração ou micro-produção pode traduzir-se numa significativa limitação nas emissões de CO2, não só através de uma maior
utilização das energias renováveis, mas também pelo aproveitamento dos excessos de calor provenientes da geração de electricidade ou combustível
renovável, e pela diminuição das perdas na transmissão de energia eléctrica e sistema de distribuição.
São praticados o regime geral e o regime bonificado. O primeiro aplica-se à generalidade das instalações, ao passo que o segundo se aplica apenas às
fontes renováveis de energia, cujo acesso é condicionado à existência, no local de consumo, de colectores solares térmicos para aquecimento de AQS
com um mínimo de 2 m2 de área de colectores (no caso de produtores individuais) e da realização de auditoria energética e respectivas medidas (no
caso de condomínios). Este regime permite que os particulares possam instalar sistemas de produção de electricidade a partir de fontes de energia
renovável, usando a electricidade produzida para seu auto-consumo e vendendo o excedente para a Rede Eléctrica de Serviço Público.
Podem ser instalações solares fotovoltaicas (Figura 57), eólicas, hídricas, caldeiras a biomassa (com cogeração, ou seja, produção simultânea de calor
e electricidade), pilhas de combustível com base em hidrogénio (desde que este seja produzido através de fontes renováveis) ou combinações das
mesmas fontes. Como principais barreiras e entre as principais preocupações dos consumidores na aposta da micro-geração estão a legislação, o alto
investimento inicial e respectivamente o nível de responsabilidade do consumidor.
Figura 57– Esquema de uma unidade de produção de energia num sistema fotovoltaico
Soluções Construtivas Sustentáveis
105
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4.4. Acessibilidades
A promoção da acessibilidade na via pública e nos edifícios constitui um elemento fundamental para a qualidade de vida de todos os cidadãos, sendo
sentida de forma mais acentuada por aqueles que têm limitações de mobilidade. A acessibilidade tem vantagens para todos os cidadãos, para a
comunidade e para o Estado, visto que: permite o exercício pleno da cidadania e participação activa nos diversos domínios de actividade da sociedade;
assegura ao maior número possível de cidadãos a possibilidade de viverem integrados na sua comunidade em situações de igualdade de oportunidades;
contribui para que os espaços e serviços oferecerem condições de segurança e conforto; e assegura com menores encargos uma vida mais autónoma e
independente a todos os cidadãos.
O Estado, prosseguindo a sua incumbência de promoção de bem estar e qualidade de vida da população e a igualdade entre todos, através do DecretoLei nº 163/2006, de 8 de Agosto, define aquelas que são as condições de acessibilidade (materializadas através de normas técnicas) a satisfazer no
projecto e na construção de espaços públicos, nos equipamentos colectivos e em edifícios públicos, bem como em edifícios destinados à habitação.
A acessibilidade é a diferença que permite que uma rua, uma praceta, um edifício, um hotel ou um restaurante, recebam pessoas com mobilidade
condicionada. A construção não deve ter interferências de elementos que dificultem o acesso de pessoas de mobilidade condicionada em segurança,
nomeadamente degraus, rampas inclinadas espaços diminutos e pouca visibilidade.
Design Inclusivo
Em diversos momentos da nossa vida, todos nós experimentamos dificuldades nos espaços em que vivemos ou com os produtos que usamos. Estas
dificuldades resultam de situações de inadaptação das características do meio construído face às nossas necessidades.
É possível conceber e produzir produtos, serviços ou ambientes adequados a esta diversidade humana, incluindo crianças, adultos mais velhos, pessoas
com deficiência, pessoas doentes ou feridas, ou, simplesmente, pessoas colocadas em desvantagem pelas circunstâncias. Esta abordagem é designada
“Design Inclusivo”.
O Design Inclusivo pode ser definido como desenvolvimento de produtos e ambientes, que permitam a utilização por pessoas de todas as capacidades.
Tem como principal objectivo contribuir, através da construção do meio, para a não descriminação e inclusão social de todas as pessoas.
O Design Inclusivo é por vezes confundido com o desenvolvimento de soluções específicas para pessoas com deficiência, mas este não é, de todo, o
seu objectivo. O envolvimento de pessoas com deficiência é encarado como uma forma de garantir a adequação para aqueles que, eventualmente,
terão mais dificuldades de utilização, assegurando, desta forma, a usabilidade a uma faixa de população mais alargada.
Desta forma, é claro que os destinatários de soluções mais inclusivas, são todos os cidadãos e não apenas aqueles que apresentam maiores dificuldades
de interacção com o meio.
Contudo, são estes que se encontram em pior situação, que maiores benefícios sentirão pela sua implementação, passando a estar integrados em
igualdade de direitos com todos os outros.
106
Soluções Construtivas Sustentáveis
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Princípios do Desenho Universal
São sete os princípios que caracterizam o Desenho Universal :
Primeiro - Equiparação nas possibilidades de uso dos usuários
O "design" é útil e comercializável às pessoas com habilidades diferenciadas.
Segundo - Flexibilidade no uso
O "design" atende uma ampla gama de indivíduos, preferências e habilidades.
Terceiro - Uso simples e intuitivo
O uso do "design" é facilmente compreendido, independentemente da experiência do utilizador, do nível de formação, conhecimento do idioma ou de
sua capacidade de concentração.
Quarto - Captação de informação
O "design" comunica eficazmente com o utilizador as informações necessárias, independentes das suas condições ambientais ou da sua capacidade
sensorial.
Quinto - Tolerância para o erro
O "design" minimiza o risco e as consequências adversas de acções involuntárias ou imprevistas.
Sexto - Mínimo esforço físico
O "design" pode ser utilizado de forma eficiente e confortável, com um mínimo de esforço.
Sétimo - Dimensão e espaço para uso e inteiração
O "design" oferece espaços e dimensões apropriados para interacção, alcance, manipulação e uso, independente do tamanho, postura ou mobilidade do
utilizador.
Pessoas de Mobilidade Condicionada e as Barreiras arquitectónicas
Consideram-se pessoas de mobilidade condicionada todas as que em algum momento da sua vida passam por dificuldades de mobilidade quando
interagem com o meio que os rodeia. São exemplo as pessoas idosas, as grávidas, as pessoas obesas, as pessoas acidentadas, as pessoas com diferentes
graus de limitações visuais, motoras ou auditivas, pessoas com deficiência, pessoas que transportam volumes, adultos com crianças ao colo, crianças
que transportam trolleys, etc.
As barreiras arquitectónicas encontram-se na via pública (prumos de sinalética, mobiliário urbano desadequado ao local, implantação de equipamentos
invadindo o canal de circulação, etc.), nos espaços públicos, nos edifícios de equipamentos, nos acessos aos edifícios públicos ou privados, e no
interior desses edifícios.
Soluções Construtivas Sustentáveis
107
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Para algumas pessoas assume-se apenas como um pormenor sem consequências, para a maioria é a diferença que permite a participação, o acesso, a
inclusão nas diversas formas de actividades que constituem a sociedade portuguesa.
Todo o trajecto de pedestres, desde o passeio público até a edificação, deve ser feito através de uma faixa de circulação contínua, livre e desimpedida,
com piso antiderrapante e com largura mínima de 90 cm.
Caso seja necessário prever o uso de rampas, não devem ter mais que 8% de declive, sendo preferível uma rampa com comprimento maior e declive
menor. O nível de acesso da rampa à residência deve estar situado em qualquer cota entre o ponto mais baixo e o mais alto da testada do lote. Da
mesma forma, a acomodação e a declive da rampa deverão ser solucionadas internamente ao lote, até atingir o acesso à residência (fig. 58 e 59).
Logradouro
Rampa com
inclinação até 8%
Passeio
Figura 58- Barreiras Arquitectónicas
108
Figura 59- Acesso seguro a um edifício através de rampas com corrimãos e guarda-corpos
Soluções Construtivas Sustentáveis
Representações
Arquitectónicas
Arquitectura Sustentável
Soluções Tipo para os Edifícios-alvo
109
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5. Representações Arquitectónicas
5.1. Propostas para uma arquitectura sustentável
O termo “Arquitectura Sustentável” foi a designação encontrada para descrever o movimento associado ao desenho arquitectónico ambientalmente
consciente. Diversos significados e vertentes lhe são associados, o que contribui para criar alguma confusão entre aqueles que pouco conhecem do
assunto, e que resulta também da pouca clarificação destes mesmos conceitos.
A sustentabilidade, tronco global de uma temática em constante desenvolvimento, decompõe-se em diversos ramos, que partilham um objectivo
comum: “Sustentabilidade é a tentativa de conseguir os melhores resultados para o ambiente humano e natural, tanto actualmente como para o futuro
indefinido. Uma das melhores definições foi por Brundtland, que definiu o desenvolvimento sustentável como o crescimento que «satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades». Relaciona-se com a
continuidade dos aspectos económicos, sociais, institucionais e ambientais da sociedade humana, assim como do ambiente não humano”.
A sustentabilidade surge como uma forma de configurar a civilização e as actividades humanas, para que os membros da sociedade e a sua economia
possam encontrar as suas necessidades e expressar o seu potencial, e ao mesmo tempo preservando a biodiversidade e os ecossistemas naturais. O
objectivo é proporcionar às gerações futuras todo o capital natural que se herdou, nas condições mais próximas das originais quanto possível. Inerente
também à definição desta temática, encontra-se a alteração do conceito de riqueza; este passa a incluir e a focar-se no capital natural já referido. A
riqueza passa a estar definida na conservação da água potável e da camada de ozono, mares despoluídos, terras férteis e abundância e diversidade de
espécies. Simultaneamente, a sustentabilidade planeia e age, com o objectivo de manter estes ideais a longo prazo.
No entanto, a visão sustentável não é um pensamento recente. É apenas um reencontro com uma série de princípios, que tinham vindo a ser postos de
lado, desde que as consequências de uma incorrecta aplicação dos resultados da revolução industrial, permitiram colocar o ênfase na quantidade e
intensidade, e não na qualidade. É possível identificar fases de como a evolução da construção sustentável tem procurado a sua direcção nos últimos
30 anos. O foco de preocupação tem-se alterado de acordo com os desenvolvimentos mundiais relacionados com os problemas ambientais.
A conclusão lógica resulta no incorporar a temática da sustentabilidade na Arquitectura, dando origem assim à arquitectura e à construção sustentável.
Esta partilha dos objectivos daquele tronco comum, adaptando-os à especificidade dos seus instrumentos. A arquitectura sustentável é definida como o
resultado da “aplicação dos princípios de desenvolvimento sustentável ao ciclo global da construção, desde a extracção e beneficiação de matérias
primas, passando pelo planeamento, projecto e construção de edifícios e infra-estruturas, até à sua desconstrução final e gestão dos resíduos dela
resultantes.
Representações Arquitectónicas
111
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Principais objectivos e critérios técnicos da Reabilitação
A melhor forma de preservar os edifícios é mantê-los em uso, através da:
• Manutenção (Conservação), intervenção periódica destinada à prevenção ou à correcção de pequenas degradações das construções para que estas
atinjam o seu tempo de vida útil, sem perda de desempenho.
• Beneficiação (Reforço), reabilitação destinada a proporcionar desempenho superior ao Inicial.
• Requalificação - Avaliação ou intervenção destinada a proporcionar um desempenho adequado, em consequência de redefinição de funções, de
exigências funcionais, de utilização ou de ocupação.
Em edifícios com valor patrimonial, a reabilitação deve ser entendida como um acto, ou um processo, de possibilitar um uso eficiente e compatível
através de reparações e alterações, preservando, ao mesmo tempo, os elementos ou características que transmitem os seus valores, histórico, cultural e
arquitectónico.
Níveis de Reabilitação
Cada intervenção de reabilitação de um edifício pode ser caracterizada pelo conjunto de três atributos: âmbito, natureza e grau de profundidade. Por
âmbito entende-se o campo de acção a que a intervenção se vai realizar (quarteirão, edifício, fachadas), a natureza ou carácter da intervenção diz
respeito aos objectivos essenciais a que se propõe (estética, construtiva, estrutural, energética). Finalmente, consoante o promotor, a intervenção pode
atingir graus de profundidade ou extensões variáveis (ligeira, média, profunda e excepcional).
Poder-se-ão considerar quatro níveis de reabilitação (AGUIAR et. al, 2006):
• Reabilitação Ligeira – compreende basicamente pequenas reparações das instalações e equipamentos.
• Reabilitação Média – já compreende, além do anterior, uma intervenção mais significativa (por exemplo de natureza construtiva a
reparação/substituição de caixilharias, do telhado; de natureza estrutural o reforço de elementos estruturais, etc.)
• Reabilitação Profunda – para além dos trabalhos descritos anteriormente, a natureza desta intervenção justifica-se em vários pontos, seja ela
construtiva, energética ou estrutural.
Compreendem naturalmente a necessidade de alteração de organização e distribuição dos espaços, a criação de instalações sanitárias, reconstruções
significativas, resolução de problemas estruturais, etc.
• Reabilitação Excepcional – compreende uma operação de natureza absolutamente notável, com um grau de desenvolvimento muito profundo, que
em alguns casos obriga à total reconstrução do edifício.
112
Representações Arquitectónicas
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Reabilitação em Portugal
Nas últimas décadas, a reabilitação dos edifícios em Portugal foi sempre uma actividade negligenciada dentro do sector da construção. Esta situação
provém de uma legislação generalista nem sempre cumprida, de ineficientes políticas de arrendamento/manutenção e de uma cultura reactiva dos
vários intervenientes.
Estes aspectos, a que acrescem as deficiências durante a concretização dos empreendimentos, agravaram o estado de conservação dos edifícios e
deram origem a inúmeras anomalias, muitas delas conduzindo à falta de condições de higiene, segurança e de conforto. Na Figura 60 estão indicadas
as incidências das causas das anomalias em edifícios, com destaque para os erros de projecto, responsáveis por cerca de 40% do total das mesmas.
Figura 60 - Causas das Anomalias em Edifícios
Fonte: (PAIVA, 2002)
Representações Arquitectónicas
113
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Neste contexto, o património construído apresenta estados de degradação preocupantes, quer ao nível dos edifícios mais antigos, construídos até 1955,
onde não existem as condições mínimas de habitabilidade e de segurança, quer ao nível dos mais recentes, de estrutura de betão, em que é notório o
envelhecimento precoce e acelerado dos seus elementos. Em ambos os casos as anomalias construtivas e funcionais existentes afectam as exigências
dos utentes e originam a redução da vida útil dos edifícios.
O sector da reabilitação em Portugal apresenta, dentro dos países da União Europeia, a percentagem mais baixa de investimento. De acordo com
estimativas publicadas, a actividade de reabilitação de edifícios representa na Europa, em média, cerca de 45% do volume total de investimento na
Construção, enquanto as mais recentes estimativas apontam para um valor a rondar os 23% para o caso português (Euroconstruct – Portugal).
Contudo, das Estatísticas da Construção e Habitação de 2008 (INE, 2009), verifica-se que, do total de edifícios concluídos em 2008 (53 600), 20,1%
das obras dizem respeito à reabilitação do edificado, sendo que a maior parte destes (cerca de 66,3%) correspondem a obras de ampliação. As obras de
reabilitação, propriamente ditas, no edificado, correspondem à mais pequena fatia das obras, com um peso de 14,5% face ao total.
Os mesmos dados estimados da construção e habitação do INE, registam que a reabilitação tem incidido mais nas moradias do que nos edifícios de
apartamentos, sendo que cerca de 92,1% dos edifícios alvo de reabilitação correspondem a moradias.
Estes dados revelam que em Portugal existem ainda grandes dificuldades e barreiras da consolidação, das práticas da reabilitação e conservação do
edificado, sobretudo no que se refere a edifícios multifamiliares. Pressupõe-se no entanto, que as taxas de crescimento da actividade de reabilitação e
recuperação tenderão a intensificar-se, à semelhança do que se passa nos outros países europeus, devido particularmente, à necessidade de uma
intervenção urgente nos edifícios existentes, à nova legislação sobre exigências de conforto térmico e acústico, bem como a alguns benefícios fiscais e
financeiros de apoio à conservação de edifícios.
114
Representações Arquitectónicas
5.2. Soluções Tipo para os Edifícios-alvo
Edifício Q09_12 – Rua 5 de Outubro
Edifício Q09_20 – Rua 5 de Outubro
Edifício Q06_12 – Rua Luís de Camões
Edifício Q04_13 – Rua Luís de Camões
115
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5.2.1. Edifício Q09_12
Habitação localizada na rua 5 de Outubro.
Edifício com rés do chão mais dois pisos.
Principais desafios a resolver:
 Acessibilidades;
 Manter a fachada original do edifício;
 Utilizar sistemas construtivos tradicionais.
Representações Arquitectónicas
117
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EXISTENTE
Planta de Rés-do-chão
Representações Arquitectónicas
Planta de Piso 1
Planta de Piso 2
119
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Alçado Principal
120
Representações Arquitectónicas
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Corte Longitudinal
Corte Transversal
Representações Arquitectónicas
121
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Memória Descritiva e Justificativa
Localização
O edifício alvo escolhido, de nomenclatura Q09_12, localiza-se na Rua 5 de Outubro, no centro de Águeda.
Descrição
O edifício existente, apresenta uma fachada de relevante interesse local, razão pela qual foi seleccionado. No seu todo encontra-se num elevado estado
de degradação, pelo que terá de sofrer uma reabilitação profunda, de forma a solucionar problemas não só espaciais, mas também estruturais.
Este edifício é constituído por três pisos, estando instalado num lote estreito e comprido, o que pode representar uma oportunidade de valorização para
o proprietário.
Proposta de Intervenção
O programa funcional do existente foi adaptado ao cumprimento da actual legislação. Devido ao seu elevado estado de degradação, o edifício, irá
sofrer uma reabilitação profunda, isto é, sofrerá uma reabilitação desde a estrutura até à sua organização espacial.
Os principais focos de reabilitação apontaram essencialmente para soluções de acessibilidades e de carácter estrutural, tendo como principal intuito o
de poder adaptar edifícios antigos à realidade actual. A abordagem de intervenção teve em conta as várias áreas intrínsecas à sustentabilidade tais
como a energia, água, materiais, sistemas construtivos e acessibilidades.
Em termos da energia não existe elemento algum no edifício existente com captação e utilização da luz solar. A solução proposta apresenta também a
colocação de painéis fotovoltaicos na zona ajardinada (Fig. 62) para geração de energia. Para um maior aproveitamento da luz solar enquanto produtor
de calor e energia é proposto para a cobertura a utilização de um revestimento (ou telha) cerâmico com aplicação fotovoltaica, sendo um produto de
fabrico local (Fig. 63).
Nas questões ligadas ao uso sustentável da água também não estão patentes no edifício existente. Para poder contornar este problema a solução passa
por inserir medidas simples de eficiência hídrica tais como, optar pela substituição dos dispositivos existentes incluindo redutores de caudal. A
ocorrência de intempéries com chuvas consideráveis necessita de atenção, sendo uma das soluções passivas o reaproveitar essas águas de forma a
canalizá-las, servindo mais tarde, por exemplo para a rega, na utilização nas descargas da sanita, para lavagens, entre outras aplicações. Assim não só
se pode reduzir um problema de causa natural, como se pode tirar partido dele, em termos de poupança de um recurso.
Na selecção dos materiais devem ser tidos em conta a selecção de materiais locais e a recuperação dos existentes quando possível. Assim, optou-se por
colocar madeira nos pavimentos das áreas secas, como os quartos, corredores e sala, e pavimento cerâmico nas zonas húmidas, por exemplo, nas
instalações sanitárias, cozinha, arrumos.
Visto os elementos de partição interior serem em tabique, ir-se-á propor um sistema construtivo que possibilite a sua recuperação ou que seja
compatível. Assim no que não for possível recuperar, pode-se tentar aplicar uma solução estrutural como a dos perfis metálicos leves descritos no
capítulo anterior (fig. 24 e 25). Sugere-se que nos materiais de isolamento que fazem parte desta solução se utilizem materiais naturais como os
explicitados na tabela 4.
122
Representações Arquitectónicas
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
O edifício actual não possui quaisquer elementos que contemplem a questão das acessibilidades, passando a apresentar na proposta a presença de um
elevador bem como a de uma rampa de acesso no rés-do-chão que vai facilitar o desvão dos degraus de entrada na habitação
Em relação à tipologia do edifício, no rés-do-chão, com entrada independente, desenvolve-se uma zona de comércio, uma área comum, a cozinha, a
sala de estar e uma instalação sanitária, desde a cota de soleira até à área de estar existe um desnível que será vencido com uma rampa. No piso 1,
desenvolve-se a zona mais intima, quartos e instalação sanitária. No piso 2, um quarto com zona de lazer e uma casa de banho. Este piso, que já
existia, encontrava-se subaproveitado, de forma a tirar o melhor partido do edifício, este piso recua de modo a ganhar um pé direito regulamentar e ao
mesmo tempo não alterar a traça da fachada. A cobertura da sala de estar desenvolve-se em cobertura ajardinada (fig.61).
Visto o edifício estar implantado com uma exposição solar adequada (Sul-Norte), ir-se-á tirar partido dela.
O projecto de arquitectura aqui desenvolvido, pretende ser uma ferramenta útil que passa por servir de exemplo para outros edifícios da mesma
tipologia existentes na cidade.
O recurso às energias alternativas permite tirar partido de um bem comum de uma forma inteligente na redução dos gastos energéticos e económicos.
Representações Arquitectónicas
123
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PROPOSTA
Figura 61 - Cobertura ajardinada
Planta de Rés-do-chão
124
Planta do piso 1
Representações Arquitectónicas
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Figura 62 - Painéis Fotovoltaicos
Planta do piso 2
Representações Arquitectónicas
Planta de cobertura
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Figura 63 - Revestimento Cerâmico com
aplicação fotovoltaica
Corte Longitudinal
Alçado Frontal
126
Representações Arquitectónicas
5.2.2. Edifício Q09_20
Habitação localizada na rua 5 de Outubro.
Edifício com rés do chão mais dois pisos.
Principais desafios a resolver:
 Acessibilidades;
 Comprimento do lote;
 Nova construção para valorização do lote;
 Utilizar materiais locais.
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EXISTENTE
Planta de Rés-do-chão
Planta do piso 1
Planta do piso 2
Representações Arquitectónicas
129
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Planta do piso 3
Planta de cobertura
130
Representações Arquitectónicas
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Corte Longitudinal
Corte Transversal
Representações Arquitectónicas
Alçado Principal
Alçado Posterior
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Memória Descritiva e Justificativa
Localização
Como o edifício anterior, também este se encontra na Rua 5 de Outubro, na margem do Rio.
Descrição
O edifício em estudo pretende ser um exemplo para edifícios implantados em lotes que apresentam uma morfologia bastante interessante. Este edifício
está implantado num lote de grande escala, apresenta duas frentes, uma para a Rua 5 de Outubro e a outra estabelece uma relação com o jardim Alta
Vila.
O edifício encontra-se num estado razoável devido a intervenções pontuais por parte do proprietário para a sua conservação. A intervenção necessária,
será mais de carácter espacial com a sugestão de aplicação de soluções que reforcem a tónica da sustentabilidade como factor de atracção e de
poupança de recursos.
O edifício desenvolve-se em quatro pisos, rés-do-chão mais três pisos. No logradouro, existe uma antiga adega e nele desenvolvia-se uma pequena
quinta (lojas de animais) e uma área de utilidade agrícola.
Proposta de Intervenção
O objecto de intervenção prende-se com a reabilitação do edifício principal e com a possibilidade de subdivisão do lote (devido às suas dimensões e
pelo facto de apresentar duas frentes para as ruas), uma situação vantajosa para o empreendedor da reabilitação.
Trata-se de um lote ainda bastante apelativo para recorrer a soluções energéticas alternativas.
O edifício escolhido, como já foi referido, encontra-se implantado num lote de duas frentes.
Sugerem-se intervenções mais de carácter espacial, sendo a barreira arquitectónica das acessibilidades um outro desafio que se tenta ultrapassar.
O edifício tem como público alvo, por exemplo um casal jovem para o edifício novo e o edifício existente para um casal de idosos, dada a intervenção
ter tido preocupações com a mobilidade interna.
O edifício existente, desenvolve-se em quatro pisos, rés-do-chão mais três pisos.
No rés-do-chão desenvolve-se uma área de convívio, que estabelece ligação com a adega. No piso 1, as zonas mais comuns, cozinha, com acesso
directo ao logradouro, a sala, dois quartos e uma instalação sanitária comum. No piso 2, mais dois quartos, uma instalação sanitária, um escritório e
uma pequena sala de estar. No piso 3, um piso que inicialmente não tinha grande aproveitamento, transformou-se agora numa agradável zona de
trabalho.
O acesso vertical é efectuado através de uma escadaria e por um elevador que permite vencer esta barreira arquitectónica.
Representações Arquitectónicas
133
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
As fachadas do edifício não sofreram qualquer tipo de alteração, o que permite manter o interesse arquitectónico do edificado. Este sofrerá apenas
melhorias de requalificação, para um melhor conforto térmico e acústico, como é o caso da melhoria das caixilharias de corte térmico e envidraçados
adequados.
Este lote tem uma mais valia que possibilita a atractividade por parte do utilizador, apresenta um logradouro onde se pode tirar partido no que
concerne às energias alternativas. Sugere-se um sistema de geração fotovoltaica com movimento (sistema Tracker) (fig. 65).
Devido à abundância de águas (chuvas e minas existentes no terreno), este logradouro permite a colocação de uma bacia de retenção de água dando
um novo uso conjugado com a colocação no piso da adega (cave) de uma casa de máquinas que faça o tratamento das águas para rega do jardim, para
a utilização nas descargas das sanitas ou para lavagens. Com a adaptação destas medidas, pretende-se que haja uma redução do consumo de água da
rede pública (fig. 64 e 69).
Este logradouro permite ainda a criação de uma horta caseira (produção alimentar local) (fig.67).
Na parte posterior do lote, onde existe a possibilidade da criação de um novo edifício de raiz, podem ser tomadas todas as medidas possíveis
relacionadas com uma construção sustentável, desde a utilização de materiais sustentáveis à aplicação de soluções passivas (fig.68).
Para além deste edifício se poder tornar num edifício bastante eficiente, através da sua construção, poderá ainda utilizar o novo logradouro para seu
benefício.
A escolha deste edifício para caso de estudo, marcou um objectivo, que seria a valorização do lote através da reutilização da outra frente do lote. Para
além deste objectivo, mais uma vez pretende-se que as soluções adaptadas possam servir de exemplo para outros edifícios.
A utilização de materiais locais e a colocação de materiais ecológicos e permeáveis é fortemente aconselhada (fig. 66).
Na criação do edifício novo, existe a possibilidade de utilizar materiais provenientes da reabilitação do edifício existente, tendo deste modo um
impacto bastante positivo na baixa produção de resíduos, o que reduz o consumo de matérias-primas e as cargas ambientais.
134
Representações Arquitectónicas
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PROPOSTA 1
Planta de Rés-do-chão
Figura 64 - Reciclagem e tratamento das águas pluviais
Planta do piso 1
Planta do piso 2
Representações Arquitectónicas
135
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Planta do piso 3
Figura 65 - Mini geração de energia
Figura 66 - Pisos permeáveis
Planta de cobertura
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Representações Arquitectónicas
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PROPOSTA 2
Planta de Rés-do-chão
Figura 67 – Horta local
Planta do piso 1
Planta do piso 2
Representações Arquitectónicas
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Planta de Piso 3
Figura 68 – geração de energia
Figura 69 - Piscina biológica
Planta de cobertura
138
Representações Arquitectónicas
5.2.3. Edifício Q06_12
Habitação localizada na rua Luís de Camões.
Edifício constituído pelo rés-do-chão (piso 0), mais
três pisos.
Principais desafios a resolver:
- Mina;
- Localização estratégica.
139
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Memória Descritiva e Justificativa
Objectivo de Intervenção
O objectivo da intervenção visa a reabilitação de um edifício que se encontra em elevado estado de degradação e desajustado às novas funções. É
também um edifício sem particular interesse ou relevância arquitectónica, para além do enquadramento histórico na Praça da República.
Após diversos contactos entre o proprietário e o autor do projecto de arquitectura, ficaram definidos critérios generalizados de abordagem ao projecto
do edifício no que se refere aos aspectos funcionais, orgânica, linguagem e volumetria.
O projecto agora apresentado, reinterpreta os conceitos então determinados e propõe um edifício de grande clareza construtiva, formal e funcional sem
descurar a envolvente e os elementos mais fortes e marcantes nele presentes.
Orgânica Exterior
A fachada será reinterpretada para melhorar as condições de salubridade do seu interior, mantendo uma linguagem de vãos que caracteriza o edifício e
que o enquadra na Praça da República.
Os vãos do piso 3 sofrerão um realinhamento para melhor servir o interior e valorizar o exterior, da mesma forma que os dois vãos centrais do piso 1,
serão rasgados até ao pavimento do piso à semelhança de todos os outros existentes na fachada do edifício.
Os vãos que se encontram no enquadramento vertical da entrada do edifício, nos pisos 1 e 2, vão servir as varandas recuadas dos respectivos pisos,
mantendo o mesmo aspecto formal dos restantes mas sem vidro, ajudando também desta forma a marcar e identificar a entrada do edifício.
Programa e orgânica interior
O interior será todo reestruturado de forma a melhor articular o novo programa, procurando tirar também partido da luz natural e melhorar as
acessibilidades. O programa articula-se em 5 pisos sendo um deles abaixo da cota de soleira, compreendendo no piso 0 (R/C), um espaço destinado a
comércio com aproveitamento do piso -1 (cave) para apoio ao mesmo. No piso 1 dois espaços destinados a serviços, no piso 2 dois espaços destinados
a serviços e acesso a uma habitação tipo T1 que se desenvolve no piso 3.
Piso 0 é destinado a comércio. O acesso será independente e efectuado pela Praça da República. Neste espaço a orgânica mantêm-se, sofrendo
pequenos apontamentos a fim de melhorar as condições do espaço, tais como a introdução de um equipamento sanitário com lavabo independente e o
redimensionamento das escadas, que dão acesso ao piso de cave. Esta servirá apenas de apoio ao comércio, visto possuir um pé - direito reduzido que
não será alterado por condicionantes técnicas e também económicas.
É também através do piso 0, pela Praça da República que se efectuará a única acessibilidade aos pisos superiores. Esta é servida por uma caixa de
escadas e por um ascensor vertical a desembocar no piso 2 com paragem no piso 1.
Piso 1, como já referido anteriormente, estarão instalados dois espaços destinados a serviços, servidos por um espaço comum. Cada um destes espaços
possui uma instalação sanitária, sendo que o espaço situado a sul terá uma varanda e o situado a norte, um pátio exterior.
Representações Arquitectónicas
141
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Piso 2, com a mesma orientação do piso inferior, estão igualmente dois espaços destinados a serviços, com a particularidade de também se encontrar
um acesso a uma habitação tipo T1 que se desenvolve no piso 3. O espaço de serviços situado a norte, neste caso tem área inferior à do piso 1 e possui
uma pequena varanda em vez do pátio.
Piso 3, está dimensionada uma habitação tipo T1 Duplex, com entrada pelo piso 2.
Esta é composta por, quarto, sala, cozinha e uma casa de banho.
A sala tem importância nuclear, partir da qual é feita toda a distribuição aos restantes compartimentos e a duas varandas orientadas a Sul.
A casa de banho é dotada de luz natural, efectuada através de uma abertura zenital.
A cozinha é apoiada por um terraço, orientado a Este.
Síntese de revestimentos
• Pavimentos
R/C, cave e espaços comuns em todos os pisos, será aplicada placagem em pedra natural ou em alternativa um ceramizado.
Espaços destinados a serviços serão aplicados parquetone em sucupira.
Espaço destinado à habitação, parquetone em sucupira,
Instalações sanitárias e cozinha, placagem em pedra ou ceramizado.
Varandas e terraço, deck de madeira.
• Paredes interiores
Ceramizados em todas as zonas sanitárias e cozinha da habitação, as restantes paredes estanhadas e pintadas de branco.
Pontualmente surgirão apainelados de madeira.
• Tectos
Salvo raras excepções, serão falsos em gesso cartonado, preparado e pintado de branco. Na cave será areado sob a laje de tecto e pintado de branco.
• Portas interiores
Madeira de sucupira
• Paredes exteriores
Rebocadas com acabamento a areado fino pintado a branco. Nas paredes recuadas, da fachada orientada a sul, serão aplicados laminados no sentido
horizontal, em madeira tipo quebra sol.
• Portas e janelas exteriores
Executadas em alumínio com vidro duplo.
• Coberturas
Executadas em zinco pelo sistema camarinha e godo lavado.
142
Representações Arquitectónicas
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Ventilações
A ventilação dos espaços será feita de forma natural em todos os compartimentos com aberturas para o exterior e de forma mecânica em espaços
encerrados como se verifica em algumas instalações sanitárias.
Infra-estruturas
O projecto procura adaptar-se às condições das infra-estruturas existentes, respondendo às necessidades com a adequabilidade técnica exigida para o
efeito.
Nota: O edifício em causa foi desenvolvido pelo arquitecto João Pedro Domingues, que gentilmente cedeu o projecto para ser enquadrado neste
trabalho. O projecto elaborado integra algumas soluções interessantes e facilmente pode incorporar mais qualquer das outras soluções sustentáveis
descritas no capitulo anterior.
Representações Arquitectónicas
143
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PROPOSTA
Planta do piso -1
144
Representações Arquitectónicas
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Planta do piso 0
Representações Arquitectónicas
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Planta do piso 1
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Representações Arquitectónicas
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Planta do piso 2
Representações Arquitectónicas
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Planta do piso 3
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Representações Arquitectónicas
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Planta de cobertura
Representações Arquitectónicas
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Corte A
150
Corte B
Representações Arquitectónicas
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Corte C
Representações Arquitectónicas
151
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Alçado Principal
152
Representações Arquitectónicas
5.2.4. Edifício Q04_13
Habitação localizada na rua Luís de Camões.
Edifício com rés do chão mais dois pisos.
Principais desafios:
-Acessibilidades;
- Tipologia;
- Resolução de problemas construtivos
153
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EXISTENTE
Planta de rés-do-chão
Representações Arquitectónicas
Planta de 1º Piso
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Planta de 2º Piso
156
Planta de 3º Piso
Representações Arquitectónicas
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Planta de Cobertura
Representações Arquitectónicas
Alçado Principal
157
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Corte AA’
158
Representações Arquitectónicas
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Corte BB’
Representações Arquitectónicas
Corte CC’
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Memória Descritiva e Justificativa
Localização:
O edifício seleccionado localiza-se na Rua Luís de Camões e foi um dos casos escolhidos devido aos deafios que apresenta nomeadamente a
dificuldade de acesso e a largura de lote.
Descrição:
O edifício de lote estreito (2,50m de frente) e de acesso difícil, desenvolve-se em rés-do-chão, mais três pisos.
Encontra-se em avançado mau estado de conservação, sendo necessário intervir mesmo ao nível do sistema construtivo.
O sistema construtivo existente é a taipa, isto é, madeira mais adobe, as lajes são em madeira.
Proposta de intervenção:
Recuperação de um edifício de habitação unifamiliar, com preferência de destino para um casal jovem com possibilidade de comércio no rés-do-chão.
A proposta de recuperação assenta essencialmente na articulação dos espaços existentes, tornando-os mais acessíveis.
A reorganização dos espaços foram pensados para se dispor de espaços amplos, dentro do possível, funcionais, interligados, possibilitando uma
melhor qualidade de vida a quem usufrui o edifício.
As características acidentadas do terreno, impedem uma acessibilidade perfeita, o facto da tipologia existente desenvolver um comércio no rés-dochão impossibilita uma entrada directa no edifício de habitação propriamente dito, o que implica ter que se ultrapassar o obstáculo da escadaria
existente lateralmente e que faz o acesso tradicional à entrada na habitação.
A localização do edifício não é muito favorável, para que seja escolhida como casa de eleição, pois encontra-se num lote bastante estreito de frente
para a rua Luís de Camões. Deste modo, uma das maneiras de tornar o edifício mais apelativo, até mesmo para casais novos, com vontade de voltarem
à baixa da cidade, foi levar o jardim para dentro de casa. Assim sendo, o pequeno corredor que fazia a entrada da casa, torna-se agora num agradável
jardim. A parede de suporte de terras transforma-se agora num painel vegetal vertical (fig. 72), reforçando a ideia de jardim, e ao mesmo tempo, é um
local onde se pode utilizar na rega as águas reaproveitadas (fig.70). A espécie de plantas utilizadas nos painéis verticais, é de fácil manutenção como
as usadas em coberturas ajardinadas.
Trata-se de uma intervenção com bastantes desafios não só pela acessibilidade mas também pelos sistemas construtivos existentes, o mau estado de
conservação dos edifícios adjacentes, entre outros.
A recuperação do edifício para além de sofrer uma uniformização no pé direito dos diferentes pisos e uma reorganização espacial mais aceitável,
dentro da área permitida, o sistema construtivo adaptado, poderá ser o mesmo, tornando a intervenção mais sustentável.
Representações Arquitectónicas
161
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
As madeiras existentes poderão ser reaproveitadas e as paredes meeiras terão de sofrer uma intervenção mais cuidadosa, pois um dos principais
desafios passa por não perder área interior. Poderá ter que envolver a sua reconstrução faseada por substituição parcial da existente. A construção
metálica apresentada no capítulo anterior pode ser uma das soluções mas, a solução final dependerá de uma análise mais cuidada dos estado destas
paredes de suporte.
O projecto foi pensado no sentido de vencer as dificuldades de mobilidade interior tendo, assim, sido sugerida uma plataforma elevatória no interior da
habitação, alimentada por energia renovável.
Para além de toda a reorganização espacial, tentou-se tirar o máximo partido da luz directa e da ventilação natural.
Para um resultado satisfatório na área da sustentabilidade, é fundamental apresentar uma especial atenção às envolventes exteriores, pois um edifício
mal isolado acarreta maiores custos relacionados com o consumo energético. Por esta razão é essencial diminuir as perdas e os ganhos de calor
utilizando técnicas de isolamento adequadas nos edifícios, como os sugeridos no capitulo anterior.
Também os vidros e janelas são um ponto a ter em conta, as superfícies vidradas desempenham um papel muito importante no domínio da eficiência
térmica do edifício. O uso de janelas eco-eficientes é uma solução interessante existente no mercado (CARDOSO, 2008).
As caixilharias das janelas desempenham um papel chave na dissipação do calor. As caixilharias com corte térmico são as que apresentam melhores
resultados em termos de características térmicas (fig. 71).
A cor utilizada nas fachadas e coberturas também influenciam o conforto térmico. Uma superfície lisa de cor preta absorve cerca de 90% da radiação
solar incidente, ao passo que uma superfície branca reflecte 80% de radiação.
Explorou-se também outros meios para assegurar a sustentabilidade do edifício como, por exemplo, nas instalações sanitárias, com a escolha de
torneiras economizadoras, válvulas de descarga de fluxo duplo ou, na iluminação, com o recurso a lâmpadas economizadoras, iluminação por leds
(factor relevante para a indústria local). O piso térreo apresenta um compartimento recuado que servirá para a colocação das máquinas para a recolha e
tratamento das águas.
Por fim, mas também de grande importância, sugere-se utilizar a energia solar, através de painéis fotovoltaicos ou a colocação de painéis solares
térmicos nas coberturas, permitindo garantir a produção de energia.
Como já foi referido anteriormente a colocação de reservatórios subterrâneos, permite a captação das águas pluviais, filtrando-as e reutilizando-as na
rega (fig.70).
A proposta agarra o desafio de reconstruir um edifício existente, com poucas condições habitacionais e de acesso, transformando-o num espaço
sustentável, dotado de espaços funcionais e atractivos para melhor servir o futuro utilizador.
162
Representações Arquitectónicas
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PROPOSTA 1
Figura 70 - Reciclagem das águas
Planta de rés-do-chão
Representações Arquitectónicas
Planta de 1º Piso
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Planta de 2º Piso
164
Planta de 3º Piso
Representações Arquitectónicas
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Figura 71 – caixilharias de corte térmico
Planta de Cobertura
Representações Arquitectónicas
Alçado Principal
165
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Corte AA’
166
Representações Arquitectónicas
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
PROPOSTA 2
Figura 72 - Painéis vegetais
Planta de rés-do-chão
Representações Arquitectónicas
Planta de 1º piso
167
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Figura 73 - Mini hortas
Planta de 2º Piso
168
Planta de 3º piso
Representações Arquitectónicas
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Planta de Cobertura
Representações Arquitectónicas
Alçado Principal
169
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Corte AA’
170
Representações Arquitectónicas
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
5.3. Conclusão
• Pretende-se com estes 4 exemplos ao nível de intervenções arquitectónicas constituir ou agrupar sugestões que possam ser úteis para uma
reabilitação sustentável de um centro urbano, conferindo-lhe uma atractividade futura para diferentes grupos etários com diferentes condições de
mobilidade.
• Pretende-se também que o próprio município fique com um conjunto de indicações úteis para a avaliação dos projectos de reabilitação que lhe
sejam entregues.
• Deve o município incentivar que os projectos sejam sujeitos à análise por ferramentas de avaliação da sustentabilidade da construção, existindo
diversos sistemas já no mercado nacional.
• Complementa-se, no próximo capítulo, este estudo de soluções com considerações sobre a sustentabilidade do centro urbano numa óptica de
valorização e de aumento da sua atractividade. Considera-se em particular a acessibilidade conexa com o edificado.
Representações Arquitectónicas
171
Valorização do
centro urbano do
futuro
173
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
6. Valorização do centro urbano (Fase 4)
No presente capítulo pretende-se analisar de uma forma qualitativa o estado da sustentabilidade do centro urbano de Águeda e propor soluções de
melhoria do desempenho enquanto cidade, de acordo com uma perspectiva sustentável. O objectivo deste caso de estudo é sugerir um conjunto de
soluções que permitam tornar a cidade de Águeda numa cidade sustentável e atraente.
O centro de Águeda está a assistir, como outros, a um crescente processo de abandono e é objectivo da Câmara Municipal de Águeda, tornar o centro
urbano mais atraente para os residentes e para os visitantes. No âmbito desta problemática, conscientes da necessidade de inovar, de adequar os
espaços da cidade a novas necessidades das populações locais, criou-se o projecto “Centro Urbano do Futuro”, que pretende essencialmente “…
garantir a qualidade dos espaços urbanos para que estes consigam reter e captar capital humano e capital económico.”.
O grau de atractividade de um concelho e de qualidade urbana, comparativamente aos concelhos limítrofes está directamente relacionado com a
quantidade e qualidade de serviços, comércio, equipamentos de apoio à população e à família, dos espaços construídos e não construídos (espaços
verdes e/ou lúdicos) oferecidos, estes últimos associados à imagem e qualidade urbana, e à quantidade e tipo de oferta de emprego. São ainda
elementos fundamentais desta problemática, o preço do solo da habitação e as suas características específicas que o diferenciam de concelho para
concelho (CMA, 2007). Segundo este campo de acção pode referir-se alguns pontos desta quarta fase do projecto “Centro Urbano do Futuro –
desenvolvimento de novos modelos construtivos” onde se pretende, para além do seu principal objectivo, discutir a valorização do centro urbano de
Águeda através da criação de um conjunto de recomendações sustentáveis de revitalização do mesmo com integração das actividades sociais e
económicas da região.
Pretende-se a seguir apresentar de forma esquemática algumas intervenções ou oportunidades de melhoria orientadas pelas vertentes e critérios do
sistema de avaliação de sustentabilidade da construção LiderA, tendo sido efeito um trabalho de adaptação à escala urbanística. Este trabalho resultou
numa tese de mestrado (LOPES, 2010) que será também disponibilizada ao município em conjunto com este relatório.
6.1. Caracterização do Município de Águeda
A cidade de Águeda situa-se junto ao rio Águeda e pertence ao distrito de Aveiro. Em termos geográficos, o concelho, situa-se na bacia hidrográfica
do Rio Vouga, estando delimitado a Norte pelo referido rio, a Sul pelo Rio Cértima, a Nascente pela Serra do Caramulo e a Poente pelas terras baixas
da Ria de Aveiro. Apresenta uma área total de 335,3 km2 e divide-se em vinte freguesias (CMA). Em 2008 residiam no concelho de Águeda 49.857
habitantes, o que corresponde a uma densidade populacional de 148,7 habitantes/km2. Segundo o Censos em 2001, na freguesia de Águeda (onde se
considera o centro da cidade) residiam 11.357 habitantes (ES-Águeda21, 2010).
O clima da região é classificado como mediterrânico de influência oceânica, com verões quentes e secos (Julho e Agosto) e Invernos moderados. Em
termos de precipitação o clima do concelho pode ser classificado de moderadamente húmido, pois atinge um valor de quantidade total médio anual de
1200 a 2000 mm.
Valorização do Centro Urbano
175
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Nas últimas décadas, Águeda sofreu, à semelhança do resto do país, uma elevada pressão urbanística. De 1991 a 2001 o número de alojamentos
aumentou 27%. Em termos quantitativos verifica-se que em 2001 o parque habitacional não apresentava carências, apresentando mesmo um “excesso”
de 1802 alojamentos. O rápido crescimento verificado, associado a um significativo grau de dispersão das construções, gerou problemas urbanísticos e
ambientais, conduzindo por vezes a uma perda de qualidade dos espaços urbanos.
Águeda é um dos municípios mais industrializados do país. No entanto, existe uma grande diversidade geográfica, urbana, social, natural, cultural e
patrimonial que marcam o seu extenso território (ES-Águeda21, 2010).
O Plano Director Municipal (PDM) do concelho de Águeda entrou em vigor a 16 de Janeiro de 1995, tendo sido posteriormente elaborados quatro
Planos de Pormenor (CMA, 2007). A revisão em curso do PDM pretende redefinir estratégias de desenvolvimento de acordo com o Plano Estratégico
do Concelho e preconiza a integração com outros planos e instrumentos, como a Carta do Ruído, a Carta Educativa, os planos florestais, os planos
nacional, regional e intermunicipal de ordenamento do território, o plano de gestão dos recursos hídricos ou o plano da Rede Natura 2000 (ESÁgueda21, 2010).
Águeda 21 – Agenda 21 local de Águeda
A Agenda 21 Local de Águeda é uma iniciativa promovida pela Câmara Municipal para fazer do concelho um exemplo a nível ambiental, social e
económico, construindo um município mais justo, com uma melhor qualidade de vida para todos e que assume as suas responsabilidades pelo
ambiente global. Este processo teve início em Novembro de 2008 com a adesão do município de Águeda aos Compromissos de Aalborg após
aprovação por unanimidade na Assembleia Municipal de Águeda (ES-Águeda21, 2010). A Águeda 21 tem como objectivo implementar algo de novo
ao município, envolvendo os aguedenses num processo cíclico de melhoria contínua que passa por fases consecutivas de planeamento,
implementação, avaliação e revisão de medidas em direcção à sustentabilidade. Realizou-se através dos Grupos de Trabalho Temáticos o Estado de
Sustentabilidade de Águeda 2010, de acordo com os dez Compromissos de Aalborg, onde se caracteriza o estado da sustentabilidade local através
das seguintes situações do município: Governação; Gestão local para a sustentabilidade; Bens comuns naturais; Consumo responsável e opções de
estilo de vida; Planeamento e desenho urbano; Melhor mobilidade, menos tráfego; Acção local para a saúde; Economia local e dinâmica sustentável;
Equidade e justiça social e do local para o global (ES-Águeda21, 2010).
176
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
6.2. Propostas de melhoria
As propostas de melhoria sugeridas neste ponto são de carácter abrangente, pretendendo desta forma que a sua aplicação possa ser realizada em todo o
Concelho ou em determinados locais que as possam necessitar.
As soluções sugeridas, que aparecem nas Tabelas que se seguem, são acompanhadas da informação sobre o impacto que estas pretendem causar com a
sua aplicação (LOPES, 2010).
Tabela 8 -Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área do Solo
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DO SOLO
Área
Critério/
Indicador
NÃO FORAM
IDENTIFICADAS
ACÇÕES EM CURSO
SOLO
VALORIZAÇÃO
TERRITORIAL
Acções em curso no
município
OPTIMIZAÇÃO
AMBIENTAL
Valorização do Centro Urbano
• revisão do PDM;
recuperação do
• edificado público;
Propostas de melhoria
impacto esperado
A. Levantamento dos solos existentes com identificação do tipo, grau
de fertilidade e vulnerabilidade dos mesmos (realização de um
mapa do concelho com identificação de zonas sensíveis, com
os graus de fertilidade e de zonas degradadas);
B. Adequar as construções ao tipo de solo existente (capacidade de
carga do solo e capacidade de fertilidade natural);
C. Evitar a construção/impermeabilização em solos com elevada
fertilidade. Procurar construir em solos com menor poder de
fertilização;
D. Restauração de solos danificados ou contaminados;
• Reduzir os impactos
negativos no solo;
• Valorizar as características
ambientais globais;
A. Privilegiar as reabilitações de edifícios privados no centro da
cidade;
B. Incentivar projectos que tenham em conta a maior percentagem
possível de terreno permeável;
• Minimizar a nova
construção;
• Minimizar a
impermeabilização do solo;
177
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 9 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área dos Ecossistemas Naturais
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DOS ECOSSISTEMAS NATURAIS
Área
Critério/
Indicador
ECOSSISTEMAS NATURAIS
VALORIZAÇÃO
ECOLÓGICA
178
INTERLIGAÇÃO
DE HABITAT
Acções em curso no
município
• realização de
acções de
sensibilização para a
conservação da
biodiversidade e
preservação dos
espaços verdes;
NÃO FORAM
IDENTIFICADAS
ACÇÕES EM CURSO
Propostas de melhoria
impacto esperado
A. A vegetação proposta para os espaços verdes deve potenciar a
biodiversidade, nomeadamente através do fornecimento de
habitat e alimento para a fauna (autóctone) ;
B. Interditar a utilização de espécies consideradas invasoras ;
C. Colocação de ninhos nos espécimes arbóreos ;
D. Em zonas com ecossistemas frágeis (zonas húmidas) devem
realizar-se passadiços, sendo que o espaçamento entre as
tábuas deve permitir a passagem de água e luz. A madeira
constituinte deve ser não tratada ;
• Protecção das áreas verdes
dentro da cidade e o bemestar das espécies que foram
prejudicadas na decorrência
do crescimento acelerado e
descontrolado.
• Possibilidade de minimizar
a destruição da
biodiversidade e das zonas
naturais, preservar ambientes
locais e evitar a
fragmentação ecológica.
A. Promover a heterogeneidade e conectividade da paisagem através
da criação de uma diversidade de parcelas e corredores
ecológicos;
B. Arborização das ruas (com espécies adequadas aos objectivos
pretendidos e ao local);
C. Incentivar a comunidade a não colocar vedações físicas entre
lotes. Trocar por vedações de vegetação apropriadas;
• Estas propostas de
melhoria permitem criar
mais espaços verdes e
garantir a sua ligação,
fomentando a interligação de
habitas através da
eliminação de “obstáculos”.
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 10 -Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área da Paisagem e do Património
Área
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DA PAISAGEM E PATRIMÓNIO
Acções em curso no
Critério/
município
Propostas de melhoria
impacto esperado
Indicador
PAISAGEM E PATRIMÓNIO
INTEGRAÇÃO
PAISAGÍSTICA
LOCAL
• elaboração do
estudo da Rede
Natura 2000;
• reflorestação com
espécies autóctones
(margens do rio
Águeda);
• requalificação de
elementos
patrimoniais;
• reabilitação da
margem norte do rio
Águeda e do Parque
PROTECÇÃO E
Ribeirinho (sul);
VALORIZAÇÃO
• lançamento de
DO
programa de
PATRIMÓNIO
incentivo à
requalificação
urbana;
• reabilitação urbana
da cidade;
Valorização do Centro Urbano
A. Na reabilitação de edifícios, incentivar para a valorização da
paisagem construída (seja ela natural ou tradicional), como por
exemplo a preservação das fachadas;
B. Garantir que as novas construções respeitam a linha arquitectónica
das existentes, ou que possam estar em “simbiose” com a
paisagem natural;
C. Exigir projectos que estejam adaptados à geomorfologia do local,
evitando movimentos de terra que alterem as características da
paisagem;
D. Determinar a palete de cores possíveis de se utilizar em
determinado local, de forma a preservar a paisagem natural ou
construída (antiga);
E. Exigir para cada intervenção um estudo de integração paisagística;
• Preservação da paisagem
urbana, seja ela, ainda,
natural ou de carácter
histórico (construída);
• Criar simbiose entre o meio
natural e as construções
humanas;
A. Identificar edifícios, locais e outras infra-estruturas que
caracterizem de alguma forma a história da cidade e dos seus
ancestrais;
B. Criar aspectos legais locais que induzam à preservação e
conservação do património da cidade;
C. Reabilitar e realizar manutenções dos elementos dispostos
anteriormente;
D. Exigir soluções arquitectónicas que contenham uma relação com o
património envolvente;
• Todas as medidas propostas
pretendem preservar e
valorizar o património
natural e o património
construído da cidade,
salvaguardando a história e
origem da cidade de Águeda,
impedindo a sua
descaracterização.
179
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 11 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área da Energia
Área
Critério/
Indicador
CERTIFICAÇÃO
ENERGÉTICA
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DA ENERGIA
Acções em curso no município
Propostas de melhoria
• redução nas taxas municipais às empresas A. Incentivo relativo aos licenciamentos de projectos que
com edifícios certificados com classe A ou
integrem predominantemente soluções passivas;
A+ (Parques
B. Requalificação das envolventes com soluções passivas de
• empresariais de génese municipal);
reabilitação;
• implementação da certificação energética
dos edifícios municipais;
ENERGIA
DESENHO
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES EM
URBANO PASSIVO CURSO
EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA
PRODUÇÃO DE ENERGIA
• elaboração da matriz energética municipal; A. Instalação de campos de painéis fotovoltaicos para
• contabilização e controlo do consumo de
alimentação de determinadas actividades consumidoras
combustíveis fósseis da frota municipal;
de energia eléctrica (iluminação, sinalização, rega de
• racionalização dos consumos energéticos
jardins, etc);
nos edifícios e nas instalações municipais; B. Instalação de micro-turbinas eólicas;
• instalação de nove unidades de
microgeração com recurso à tecnologia
fotovoltaica em edifícios municipais;
• projecto 1000 telhados solares;
projecto piloto de eficiência-energética;
• projecto Lighting Living Lab (eficiência
energética na iluminação pública);
• elaboração de estudos para o uso de
tecnologia LED na iluminação pública e
instalação em duas vias municipais;
• sistema de gestão da rede de iluminação;
180
A. Realizar projectos de sombreamento com a arborização de
ruas;
ILUMINAÇÃO
A. Promover um ponto de equilíbrio entre os níveis de
iluminação necessários e o máximo de economia
(ILUPub);
B. Iluminação pública alimentada por energias renováveis;
C. Utilizar sistemas de iluminação que reflictam para baixo a
sua luz, os raios luminosos emitidos não deverão
ultrapassar os 70 o em relação à vertical;
D. Evitar fontes de iluminação para céu aberto;
impacto esperado
• Redução da necessidade de
aplicação de soluções activas que
poderão ser mais onerosas;
Contribuição para o conforto
térmico e ambiental dos espaços
públicos;
• As medidas sugeridas pretendem
reduzir o consumo de energia
eléctrica da rede pública. O que
implica a redução do consumo de
combustíveis fósseis e a
diminuição da poluição
atmosférica;
• Redução do consumo energético;
Redução das emissões de CO2;
• Tornar o sistema público de
iluminação eficiente e sobretudo
auto-suficiente;
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 11 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área da Energia
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DA ENERGIA
Área
Critério/
Indicador
Acções em curso no município
Propostas de melhoria
ILUMINAÇÃO
F. Estudar a viabilidade de desligar a iluminação (ou reduzir
substancialmente a sua intensidade) de monumentos
os estruturas sem actividade nocturna;
G. Estudar a viabilidade de desligar os anúncios luminosos a
partir de determinada hora;
impacto esperado
• Redução do consumo
energético;
Redução das emissões de CO2;
• Tornar o sistema público de
iluminação eficiente e sobretudo
auto-suficiente;
ENERGIA
SINALIZAÇÃO SEMAFÓRICA
EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES EM
CURSO
• aquisição de híbridos para a frota
municipal;
Valorização do Centro Urbano
A. Substituição das lâmpadas dos semáforos por LEDs
(SEMALEDs);
B. Implementar um sistema de gestão que permita obter o
consumo médio por semáforo, de modo a poder
avaliar a eficiência energética dos novos sistemas;
C. Incorporação de sistemas para invisuais;
TRANSPORTES
A. Planeamento de estações de recarga de baterias para
carros eléctricos;
B. Estacionamentos sem tarifa e com lugares preferenciais
para veículos eléctricos;
C. A frota de autocarros eléctricos deve ser composta por
mini-autocarros eléctricos também;
• Tornar os sistemas de
sinalização eficientes, do ponto
de vista do consumo de energia;
• Com a proposta C, pretende-se
tornar Águeda, uma cidade
inclusiva;
• As propostas A e B pretendem
incentivar a aquisição de viaturas
eléctricas;
• A proposta C pretende tornar a
frota urbana sustentável e com os
mini-autocarros fomentar a
acessibilidade e mobilidade para
todos em todos os lugares da
cidade;
181
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Redução do consumo de energia num centro urbano
Seguindo a estrutura dos planos e estratégias realizados para Portugal, pode pensar-se na redução do consumo energético partindo dos edifícios, no
entanto é necessário pensar à escala urbana, ou seja, o que é que os municípios poderão implementar para satisfazer as suas necessidades energéticas.
As cidades que implementem planos de energia sustentável e planos de acção climáticos reduzem a sua vulnerabilidade em relação à escassez de
energia e no que concerne às flutuações dos preços internacionais (UNEP, et al., 2009). Poderá não existir um guião específico, que estipule um plano
de redução energético que seja universal para todas as cidades, pois cada cidade é diferente, com diferentes necessidades e diferentes recursos.
A implementação de um plano de acção para a energia é importante que consiga motivar os trabalhadores da cidade, os cidadãos, o comércio e a
indústria. Os elementos chave para alcançar um sistema sustentável são (UNEP, et al., 2009):
• Consistente: as acções de curto prazo têm de ser compatíveis com os objectivos de longo prazo e a viabilidade do sistema;
• Renovável: o sistema tem de depender de recursos renováveis e operar utilizando tecnologias amigas do ambiente;
• Diverso: quanto mais diversificado for o sistema, maior será a sua adaptabilidade às mudanças de necessidade;
• Interdependente: cada elemento do sistema é interdependente, quanto melhor for a interligação entre os elementos, mais forte será o sistema.
Existem medidas legais que as autarquias poderão valorizar aquando do licenciamento de projectos de edifícios e infra-estruturas. Os projectos que
contemplem determinados princípios da sustentabilidade, deverão de alguma forma ser reconhecidos e valorizados.
Ao intervir à escala urbana, após tentar maximizar a eficiência energética de todos os elementos integrantes de uma cidade, seria de pensar na sua
auto-suficiência energética, em prol da independência de energias não-renováveis. Uma cidade convencional emite uma quantidade alarmante de
toneladas de CO2 por ano devido ao factor da energia convencional, no entanto a geração de energia limpa poderá contribuir para o desempenho
sustentável das cidades do futuro, podendo atingir a meta futurista de cidades com zero emissões.
Uma cidade para produzir energia suficiente para abastecer os seus elementos constituintes deve ter um circuito cuidado para a sua energia, de modo a
gerar, armazenar e consumir moderadamente. Neste contexto, a realização de uma matriz energética sustentável, pode permitir o desenvolvimento de
cidades que necessitem de menos energia para operar, do que as tradicionais, e que desperdicem muito menos recursos (Masdar).
Desempenho Passivo
Outro critério de avaliação da sustentabilidade é o desempenho passivo, uma vez que as soluções passivas podem ser a componente chave para a
redução das necessidades de consumo de energia (PINHEIRO et al., 2009). A ideia de que, a arquitectura bioclimática aliada às técnicas de design
passivo em edifícios, é uma óptima solução para a eficiência energética, já é um facto. No entanto, no que concerne ao espaço urbano, nesta etapa
avançada de urbanização, inúmeras oportunidades já foram perdidas. O carecido ordenamento do território urbano pode ter exacerbado o efeito de ilha
de calor que se sente em algumas grandes e médias cidades do mundo (GOEHRING, 2009). Embora o principal motivo deste capítulo seja a redução
do consumo de energia num centro urbano, considerou-se interessante o potencial da redução do consumo energético dos edifícios, partindo de uma
maior escala, ou seja, iniciando as estratégias de redução energética à escala urbana.
182
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Consoante os problemas climáticos de uma cidade é possível integrar mecanismos de design passivo urbano que possibilitem a diminuição do
consumo de energia dos edifícios devido às necessidades de aquecimento ou de arrefecimento (TAYLOR et al., 2008).
No contexto de Portugal, existem cidades mais quentes e cidades mais frias. É evidente que zonas climáticas diferentes, exigem estratégias passivas
adequadas e distintas, que permitem regular as temperaturas exteriores, promovendo a redução da energia consumida pelos edifícios para o seu
aquecimento ou arrefecimento.
Por exemplo, numa cidade de Espanha (Granada), onde temperaturas elevadas se fazem sentir, investiu-se numa técnica de sombreamento exterior que
abriga ruas e pátios dos raios solares (fig. 74), permitindo a circulação de brisas mais frescas, fornecendo o conforto térmico necessário para os
pedestres e trabalhadores locais (TAYLOR et al., 2008).
Figura 74 - Sombreamento exterior
nas ruas de Granada (Taylor, et al., 2008)
Figura 75 - “Guarda-sol” gigante aberto
durante o dia (Meinhold, 2009)
Figura 76 - “Guarda-sol” gigante fechado
durante a noite (Meinhold, 2009)
Exemplos mais mediáticos, já com projectos desenvolvidos, são os mecanismos passivos utilizados na cidade de Masdar, nos Emirados Árabes
Unidos. Nesta cidade existem alguns mecanismos que poderão ser aplicáveis a cidades com os mesmo problema de elevadas temperaturas (Masdar).
Nas figuras 75 e 76 está ilustrado o mecanismo de “guarda-sol gigante”, que estará aberto durante o dia e fechado no período nocturno, para promover
o conforto exterior da população que se serve do espaço público da cidade de Masdar.
Valorização do Centro Urbano
183
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Figura 77 - Candeeiro de rua com
painel giratório (Caroço, 2007)
Figura 78 - Candeeiro de rua alimentado
energia eólica e solar (MKTI, 2008)
Figura 79 - Candeeiro Philips durante o dia (Philips, 2010)
Figura 80 - Candeeiro Philips) durante a noite (Philips, 2010)
Uma solução pode integrar vários objectivos da sustentabilidade relativamente aos aspectos do seu ciclo de vida e também no que respeita ao seu
custo (nas várias fases do seu ciclo de vida). Se um dado produto tiver um custo elevado inicialmente, mas consoante as funções que desempenha e a
sua eficiência de utilização, esse custo for compensado, pode tornar-se numa “aquisição verde”. Como por exemplo a “Árvore Solar” (Figura 100).
Este é um produto desenvolvido com base em conceitos de consumo consciente e biónica. A sua estrutura e envolvente são constituídas por alumínio
reciclado (passível de reciclagem), e ainda contem células fotovoltaicas e tecnologia LED (utilização de materiais atóxicos e com baixas emissões).
Este é um produto que foi desenvolvido para integrar o mobiliário urbano e a vegetação local, servindo como iluminação pública durante o período
nocturno e como elemento de sombreamento durante o período diurno (ESDI, et al., 2009).
184
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 12 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área da Água
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DA ÁGUA
Área
Critério/
Indicador
ÁGUA
CONSUMO DE
ÁGUA POTÁVEL
GESTÃO DAS
ÁGUAS LOCAIS
Valorização do Centro Urbano
Acções em curso no município
• criação de um sistema secundário de rega
a partir das águas pluviais (nos parques
empresariais de génese municipal);
• colocação de reguladores de caudal nas
saídas de rega pública;
ajuste dos períodos de rega dos espaços
verdes;
• plantação de espécies vegetais com
menores requisitos hídricos nos jardins e
espaços públicos;
• construção de um sistema de rega, no
centro da cidade, abastecido por água de
origem superficial e destinado à rega e ao
combate a incêndios;
• monitorização da qualidade da água para
fins balneares, dos principais cursos de
água do Concelho;
• aproveitamento energético dos recursos
hídricos do município;
• realização de acções de sensibilização
para o uso eficiente da água;
• projecto “Eficiência Hídrica em Edifícios
e Espaços Públicos”;
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES EM
CURSO
Propostas de melhoria
impacto esperado
A. Reutilização das águas residuais para actividades de • Redução do consumo da água da
limpeza dos espaços públicos e para rega dos jardins rede pública por parte da Câmara
municipais;
e por parte dos seus munícipes;
B. Manutenção das infra-estruturas de abastecimento e
distribuição de água;
C. Incentivar a comunidade a colocar reguladores de caudais
nas saídas de água doméstica, através de
sensibilizações e incentivos financeiros;
D. Elaborar um manual para distribuição à população, onde
constem as espécies de flora autóctones ou que tenham
menos necessidades hídricas, por forma a esclarecer o
público da importância deste factor no que concerne ao
consumo de água pela actividade de rega;
A. Implementação de sistemas de recolha de águas pluviais nas
áreas impermeabilizadas, promovendo o seu tratamento
antes da sua descarga;
B. Adopção de dispositivos/mecanismos que promovam a
infiltração das águas pluviais em espaços verdes ou
espaços abertos;
C. Colocar pavimentos permeáveis em ruas pedonais ou com
tráfego reduzido;
Diminuir as escorrências
superficiais;
Diminuir a probabilidade de
cheias;
Aumento da recarga dos
aquíferos;
Redução da poluição das águas
subterrâneas ou superficiais;
185
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 12 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área da Água
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DA ÁGUA
ÁGUA
Área
Critério/
Indicador
Acções em curso no município
Propostas de melhoria
impacto esperado
D. Incentivar a colocação de coberturas ajardinadas,
iniciando a sua implementação nos edifícios
públicos;
E. Criar zonas “lagunares” que permitam armazenar a
água resultante do escoamento superficial. Estas
zonas poderão ser também áreas bio-retentoras;
GESTÃO DAS
ÁGUAS LOCAIS
Tabela 13 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área dos Materiais
MATERIAIS
Área
186
Critério/
Indicador
MATERIAIS
SUSTENTÁVEIS
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DOS MATERIAIS
Acções em curso no município
Propostas de melhoria
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES
EM CURSO
A. Elaborar lista das empresas de produtos existentes
no Concelho, promovendo os produtos
considerados sustentáveis;
B. Incentivar a população para a utilização de materiais
sustentáveis provenientes das empresas locais;
C. Incentivar a instalação de empresas no Concelho
que tenham projectos de produção de produtos
segundo as leis da sustentabilidade;
D. Diminuir o custo de licenças para projectos de
construção que integrem uma determinada
percentagem de materiais sustentáveis e locais;
E. Realizar pavimentos, calçadas e espaços públicos
com materiais ecológicos e permeáveis;
impacto esperado
• Produção e utilização de
materiais sustentáveis;
• Promoção do comércio
local;
• Minimização dos impactos
ambientais;
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 14 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área da Produção Alimentar
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DOS ALIMENTARES
ALIMENTARES
Área
Critério/
Indicador
Acções em curso no município
Propostas de melhoria
• parceria com o CENSI para a produção A. Construção de um horto municipal de formação sobre
biológica,
junto
de
públicos
agricultura biológica e de boas práticas;
desfavorecidos, e cedência de um espaço B. Incentivar a agricultura biológica, cedendo espaços
no
Mercado
Municipal para
a
públicos abandonados;
comercialização de produtos biológicos;
C. Realizar estudo que permita o cultivo adequado de plantas
medicinais e seus derivados para a comunidade;
D. Na comercialização de alimentos biológicos locais no
Mercado Municipal, promover preços competitivos
com produtos “exteriores”;
PRODUÇÃO
LOCAL DE
ALIMENTOS
impacto esperado
• Dinamização dos terrenos
abandonados,
evitando
fenómenos de erosão;
• Dinâmica económica dos mais
desfavorecidos,
incluindo
inclusão social;
• Produção de alimentos
saudáveis,
existência
de
segurança alimentar;
• Produção de alimentos locais;
• Criação de mais espaços verdes
que permitem atenuar as
emissões de gases;
• Geração de emprego de baixo
investimento;
Tabela 15 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área dos Efluentes
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DOS EFLUENTES
EFLUENTES
Área
Critério/
Indicador
TIPO DE
TRATAMENTO
DAS ÁGUAS
RESIDUAIS
CAUDAL DE
REUTILIZAÇÃO
DE ÁGUAS
USADAS
Valorização do Centro Urbano
Acções em curso no município
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES EM
CURSO
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES EM
CURSO
Propostas de melhoria
impacto esperado
A. Criar centrais locais, de pequenas dimensões e de baixo
custo de construção, que recorram a sistemas
biológicos/sustentáveis de tratamento de águas
residuais (centrais destinadas ao tratamento de águas
residuais para posterior utilização no local);
• As soluções sustentáveis para o
tratamento de águas residuais
diminuem
os
impactos
ambientais, nomeadamente a
poluição da água;
A. Realizar estudo de viabilidade económica para o • Redução no consumo da água
aproveitamento das águas residuais tratadas, por da rede pública;
forma a utilizá-las em actividades públicas menos
nobres, (exemplos: rega de jardins; limpeza de
espaços públicos; agricultura urbana; rede de
incêndio; mercados municipais);
187
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 16 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área dos Resíduos
Área
Critério/
Indicador
PRODUÇÃO DE
RESÍDUOS
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES
EM CURSO
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES
EM CURSO
RESÍDUOS
GESTÃO DE
RESÍDUOS
PERIGOSOS
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DOS RESÍDUOS
Acções em curso no município
Propostas de melhoria
RECICLAGEM
DE RESÍDUOS
188
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES
EM CURSO
impacto esperado
A. Incentivar as empresas a implementar estratégias de
redução da produção de resíduos, partindo do
modo como os produtos são concebidos;
B. Incentivar empresas que produzam materiais
reciclados e reutilizáveis;
A. Verificar a necessidade de colocação de: Pontos
Electrão; Oleões; Pilhões e contentores para
lâmpadas usadas;
B. Na limpeza pública utilizar produtos que não
possuam elementos considerados perigosos;
A. Elaborar um plano de gestão de resíduos para
alcançar uma cidade “Zero-Waste”;
B. Adequar o número de ecopontos com a necessidade
da comunidade, para evitar o excesso de
deposição num ecoponto;
C. Implementar o método de recolha selectiva porta-aporta onde se considere que a percentagem de
reciclagem é menor;
D. Implementar um sistema de recolha selectiva ao
domicílio por telefone (nomeadamente para
servir pessoas portadoras de necessidades
especiais, restaurantes, serviços, comércio e
indústrias);
E. Distribuição de compostores para residentes, por
parte da autarquia;
F. Estudar a viabilidade económica de realizar a
valorização energética dos resíduos que não
podem ir para as centrais de reciclagem;
• Diminuir a produção de
resíduos na origem dos
produtos;
• Diminuir o consumo de
matérias-primas;
• Diminuir a probabilidade de
contaminações
ambientais
por parte de produtos
perigosos;
•
Todas
as
propostas
sugeridas têm como principal
objectivo
aumentar
a
reciclagem de resíduos;
• Diminuir o consumo de
matérias-primas;
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 17 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área da Qualidade do Ar
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DA QUALIDADE DO AR
QUALIDADE DO AR
Área
Critério/
Indicador
Acções em curso no município
Propostas de melhoria
impacto esperado
• Acções de sensibilização para a melhoria da A. Colocação de uma estação permanente de • Controlar a qualidade do ar na
qualidade do ar;
medição dos níveis de qualidade do ar, para cidade de Águeda. Através dos
se proceder à monitorização;
resultados estudar estratégias
específicas de melhoria da
qualidade do ar;
NÍVEIS DE
QUALIDADE DO
AR
TRANSPORTE
• Promoção do uso do transporte público;
aquisição de um veículo eléctrico para serviço
urbano substituindo os tradicionais que faziam
serviço externo nos centros urbanos de Águeda;
OUTRAS MEDIDAS SUGERIDAS CONTEMPLAM OS
• Disponibilização de áreas de estacionamento à
OBJECTIVOS DESTE CRITÉRIO
entrada da cidade para evitar a entrada do
veículo na cidade (gratuito);
Tabela 18 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área da Iluminação e Acústica
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DA ILUMINAÇÃO E ACÚSTICA
ILUMINAÇÃO E ACÚSTICA
Área
Critério/
Indicador
NÍVEIS
SONOROS
Valorização do Centro Urbano
Acções em curso no município
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES EM CURSO
Propostas de melhoria
impacto esperado
A. Criar espaços públicos de lazer afastados de
locais com tráfego elevado;
B. Realizar estudo dos níveis sonoros no centro da
cidade, junto a espaços habitáveis, de modo a
determinar a necessidade de barreiras
acústicas;
C. Na necessidade de implementar barreiras
acústicas, devem utilizar-se as de carácter
sustentável/ecológicas;
D. Criar um sistema de informação e monitorização
do ambiente urbano (serviço inovador de
informação ao público);
• Melhorar a qualidade de vida
da população
• Com a proposta C para além
de se pretender minimizar a
poluição sonora, pretende-se
que as barreiras não se tornem
num “obstáculo” para a
paisagem urbanística.
• A proposta D considera a
existência da monitorização dos
níveis de ruído e o acesso do
público à informação.
189
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 19 - Levantamento das acções em curso e propostas de melhoria na área do Acesso para todos
ACESSO PARA TODOS
Área
Critério/
Indicador
ACÇÕES EM CURSO E PROPOSTAS DE MELHORIA NA ÁREA DO ACESSO PARA TODOS
Acções em curso no município
Propostas de melhoria
ACESSO AOS
TRANSPORTES
PÚBLICOS
MOBILIDADE
DE BAIXO
IMPACTO
SOLUÇÕES
INLCUSIVAS
190
A. Fazer com que o serviço de transporte público tenha
o alcance necessário e que cumpra com as
exigências de mobilidade da comunidade
(frequência, estações, destinos com mais
demanda);
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES B. Criar um sistema de transporte público que possa
EM CURSO
oferecer diversidade, possibilitar a deslocação
da população na cidade de Águeda sem utilizar
o automóvel;
C. As tarifas de circulação devem ter um valor tal, que
possibilite a todos os estratos sociais utilizar o
sistema de transporte público;
• Execução do projecto das ciclo vias; A. Melhorar os circuitos pedestres que não permitam a
• Aquisição de autocarros híbridos;
circulação confortável e segura da população
• Bicicletas eléctricas de aluguer;
(iluminação, sinalização);
B. Desenvolver um estudo para a instalação da
Shweeb, como um meio de mobilidade dos
jovens no centro urbano e atracção turística;
C. Desenvolver um estudo para a instalação de um
sistema de Transporte Público Individualizado;
NÃO FORAM IDENTIFICADAS ACÇÕES
EM CURSO
impacto esperado
• Garantir o acesso aos
transportes públicos para
todos;
• Diminuição da poluição
atmosférica;
• A proposta C permite
combater todos os problemas
de
mobilidade
e
acessibilidade existentes na
cidade
de
Águeda
(nomeadamente a topografia
“acidentada”
do
centro
urbano);
A. Eliminar barreiras que condicionam o acesso para • Tornar Águeda numa
todos em edifícios e espaços exteriores;
cidade inclusiva para todos;
B. Prover a cidade de todo o tipo de soluções
inclusivas de acesso para todos, nomeadamente
para pessoas portadoras de necessidades
especiais;
C. Renovar os transportes públicos que não possuam
soluções inclusivas;
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 20 - Propostas que conduzem à melhoria da qualidade do ar urbano (DGA, 2000; DCEA-FCT/UNL, et al., 2006; CCDRn, et al., 2007)
PROPOSTAS PARA REDUÇÃO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NUMA CIDADE
Transporte
Valorização do Centro Urbano
• Introdução de veículos de baixa emissividade nos transportes colectivos e de mercadorias;
• Incentivo à deslocação em transportes colectivos;
• Partilha de automóveis (car sharing);
• Renovação das frotas de táxis e de veículos de recolha de resíduos sólidos urbanos;
• Diminuição da percentagem de veículos pesados de mercadorias em circulação;
• Construção de parques de estacionamento periféricos e aumento do preço dos mesmo no interior das cidades (caso estas
• Ofereçam um sistema de transportes públicos);
• Reforço da fiscalização do estacionamento nas cidades;
• Implementação de zonas de emissões reduzidas (taxação da circulação de veículos antigos com motores a diesel);
• Implementação de zonas de circulação taxadas (aplicação de taxas de circulação aos veículos individuais de não residentes);
• Portagens diferenciadas (incentivo à partilha de automóvel);
• Sistema de placas de matrícula alternadas (veículos individuais) para permitir o acesso aos centros urbanos;
• Vias de alta ocupação (vias destinadas a veículos com um determinado número de ocupantes);
• Corte de ruas ao trânsito (minorar poluição atmosférica em algumas zonas citadinas);
• Introdução de postos de abastecimento públicos de gás natural (incentivar a diminuição da emissão de material particulado pelos transportes);
• Reduzir a intensidade energética na condução de automóveis particulares (condução económica);
• Reestruturação de sistemas tarifários integrando diferentes operadores de transporte;
• Redução dos dias de serviços dos táxis;
• Reconversão para GPL ou GN de alguns transportes públicos;
• Desincentivo fiscal à aquisição de veículos com emissões significativas;
• Proporcionar acesso preferencial a ocupação de várias pistas de alta velocidade para veículos híbridos, transporte público e carros de aluguer;
• Incentivar a utilização de veículos eléctricos ou híbridos na circulação citadina;
• Ordenar a cidade por forma a que a população não necessite de percorrer longas distâncias para aceder aos serviços, comércio e trabalho;
• Criar parcerias com empresas locais para as ajudar a estabelecer planos de deslocação entre a casa e o trabalho e encontrar alternativas para o
transporte de mercadorias;
• Investir nos transportes públicos por forma a garantir a respectiva qualidade, frequência, fiabilidade, pontualidade, segurança e características não
poluentes a um preço acessível;
• Criar plataformas intermédias onde os passageiros possam fácil e rapidamente proceder a transferências entre os diferentes modos de transporte;
• Promover os transportes públicos através da criação de faixas para autocarros, da concessão de prioridade nos semáforos
• Acesso a áreas em que a circulação de automóveis esteja limita;
• Garantir que os peões e os ciclistas possam circular livremente na cidade, criando zonas livres de circulação de veículos, passadeiras seguras, ciclo
vias e estruturas de estacionamento para bicicletas.
191
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 20 - Propostas benéficas que conduzem à melhoria da qualidade do ar urbano (DGA, 2000; DCEA-FCT/UNL, et al., 2006; CCDRn, et al., 2007)
Arborização Urbana
PROPOSTAS PARA REDUÇÃO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NUMA CIDADE
• A arborização urbana é uma medida que permite controlar a poluição atmosférica, deste modo deve promover-se a sua execução;
• A existência de árvores em espaços urbanos permite a absorção de dióxido de carbono;
realizar planeamentos de arborização urbana, de modo a colocar adequadamente o tipo de árvore em diferentes situações urbanas;
• Implementação das árvores artificiais (ainda protótipos), com 12 metros de altura, concebidas para captarem maiores quantidades de
CO2.
• Colocar nas cidades, em locais estratégicos, estações de monitorização da qualidade do ar;
Monitorização dos • Verificar quais os principais poluentes e reformular planos e programas de melhoria que em conjunto com os limites legislativos,
níveis de qualidade do combatam essa poluição.
ar
Outras
192
• Criação ou revisão de normas de emissão para aglomerados industriais e de actividades empresariais nos centros urbanos;
• Aumento da frequência ou implementação do varrimento e lavagem das ruas (reduz a concentração de particulas no ambiente
urbano);
• Medidas ao nível da sensibilização/recomendações (modificar maus hábitos da população);
• Realizar campanhas de informação e sensibilização destinadas a encorajar os cidadãos e as empresas a reduzir a utilização de
automóveis;
• Armazenar no solo as quantidades de CO2 produzidas, Captação e Armazenamento de CO2.
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 21 - Sustentabilidade dos níveis de iluminação e eficiência energética dos sistemas (Amorim, 2009; TECit, 2010)
NOVAS TECNOLOGIAS PARA ILUMINAÇÃO PÚBLICA
Tecnologias
Regulação de Fluxo
Centralizada
Pontos Negativos
• Custos elevados, quer na fase inicial quer durante a
operação;
• Difícil optimização da corrente do circuito à
potência do regulador;
• Obriga a circuitos com o mesma tecnologia de
Lâmpadas;
• Necessita de uma vigilância qualificada permanente;
• Não elimina as perdas do equipamento eléctrico da
luminária;
• Dificuldades acrescidas com as quedas de tensão na
parte final do circuito e ciclo de vida da lâmpada.
Pontos Positivos
• Estabilização de tensão;
• Aumento da vida útil média das lâmpadas;
• Não necessita da substituição da luminária;
• Ideal para redes existentes independentes (ex.:
nós rodoviários).
• Custos.
• Lâmpadas de elevada eficácia luminosa;
maior duração;
• Luminárias mais eficientes;
• Reflectores segmentados;
• Índice de protecção IP66.
Exemplo
Figura 60 I Regulador de Fluxo Centralizado
Nova Tecnologia de Vapor
de Sódio
Figura 61-Nova tecnologia de vapor de sódio
Balastros electrónicos de
duplo nível
Tecnologia LED
• Custos;
• Temperatura de funcionamento ;
• Equipamento electrónico;
• Incerteza na fiabilidade/durabilidade quando exposto
à intempérie.
• Baixo consumo;
• Absorve as variações de tensão da rede (entre
190V e 253V);
• Aumentam a vida útil da lâmpada;
• Permitem reduzir a potência (40%);
• Elevado factor de potência;
Figura 62 I Blastros electrónicos
• Substitui o arrancador e condensador.
• Custos pouco atractivos;
• Reduções de consumo energético significativas;
• Pouca oferta, em especial nas luminárias de maior • Elevado índice de restituição de cor;
potência;
• Menor atracção dos insectos;
• Incerteza na fiabilidade/durabilidade quando exposta • Menor envelhecimento;
à intempérie;
• flexibilidade na temperatura de cor;
• Distribuição da luz e uniformidade de brilho ainda • Atinge o brilho normal rapidamente;
não totalmente optimizados;
• Robustez não afectada pelas vibrações
• Custos de manutenção ainda pouco quantificados.
Figura 63-Tecnologia LED aplicada ao espaço
urbano
Valorização do Centro Urbano
193
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 21 - Sustentabilidade dos níveis de iluminação e eficiência energética dos sistemas (Amorim, 2009; TECit, 2010)
Tecnologias
Gestão Inteligente e
Individualizada da
Iluminação
NOVAS TECNOLOGIAS PARA ILUMINAÇÃO PÚBLICA
Pontos Negativos
Pontos Positivos
• Custo de aquisição do sistema.
• Permite controlo ponto a ponto do sistema de
iluminação pública;
• Permite através de um sistema central, perceber o
estado actual e o histórico de cada local assim
como a actuação na iluminação;
• Permite reduzir o consumo energético e
consequentemente as emissões de CO2;
• Caso não haja movimento de viaturas numa via
de circulação, este sistema evita o consumo de
energia, reduzindo a percentagem de iluminação;
• Controlo horário e/ou por luminosidade;
pré-definição da luminosidade de acordo com a
utilização da zona;
• Regulação de intensidade de controlo por
detecção de movimento.
Exemplo
Figura 64 I Exemplo do aparelho instalado
em cada poste
194
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 22 - Alguns exemplos de barreiras acústicas ecológicas (IEES, 2007; Kohlhauer)
BREVE DESCRIÇÃO DE BARREIRAS ACÚSTICAS SUSTENTÁVEIS
Breve descrição
Tipos
Barreiras
Acústicas
Ecológicas
Exemplo
Barreiras acústicas fabricadas a partir de madeira seleccionada, proveniente de
florestas sustentáveis, fabricadas respeitando todas as normas internacionais de
segurança e protecção do ambiente.
Figura 65 I Exemplo duma barreira acústica ecológica
Barreiras
acústicas cobertas
com vegetação
autóctone
As barreiras acústicas envoltas com vegetação autóctone permitem não só
atenuar mais o ruído, como também possibilitam a redução de emissões de CO2.
O tipo de vegetação deve ser adequado ao clima local.
Figura 66 I Exemplo barreira acústica envolta com vegetação
Barreiras
acústicas
“verdes”
Este tipo de barreiras absorvem o som de uma forma eficaz e a sua forma
estética e “verde” é atraente ao observador. A vegetação para além de
desempenhar um papel atenuante no que concerne aos níveis acústicos, ainda
executa a função redutora de emissões de CO2 para o ambiente. Estas barreiras
são executadas com materiais leves, sustentáveis e 100% recicláveis.
Figura 67 I Exemplo duma barreira acústica “verde”
Paisagem como
barreira acústica
Aquando do projecto duma via, caso seja possível, pode contabilizar-se mais
espaço junto às laterais das vias de circulação. Este espaço ao ser preenchido
com vegetação, forma uma barreira acústica. Este tipo de barreira ecológica
promove a atenção do ruído, promove a biodiversidade e combate a poluição
ambiental.
Figura 68 I Exemplo em Breda West (Holanda)
Valorização do Centro Urbano
195
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 23 - Soluções de transportes públicos urbanos sustentáveis
TRANSPORTES PÚBLICOS URBANOS SUSTENTÁVEIS
Tipos de Transporte
Principais Características
NOVAS OPORTUNIDADES MAS CONVENCIONAIS
Autocarros Eléctricos
Mini-autocarros
Eléctricos
Aluguer Automóveis
Eléctricos
Os autocarros eléctricos constituem uma solução sustentável pelo facto da sua fonte de energia ser a energia eléctrica, ou seja, uma energia considerada
“limpa”. Estes autocarros permitem a redução de emissões de agentes patogénicos para a atmosfera, aumentam a eficiência do consumo energético,
reduzem o ruído de tráfego e ainda permitem a redução dos custos nas fases de manutenção . Este meio de transporte é uma boa solução ambiental mas o
seu custo de aquisição pode não ser competitivo com os seus benefícios.
Os miniautocarros têm as mesmas vantagens ambientais e funcionais de um autocarro eléctrico, excepto a sua capacidade. Contudo estes miniautocarros
são os mais indicados para efectuarem percursos dentro dos centros urbanos, como por exemplo nos centros históricos, que na maioria dos casos,
possuem ruas muito estreitas onde a acessibilidade dos transportes públicos é impossível. Assim este tipo de transporte permite: conservar os centros
históricos; promover as acessibilidades; combater a exclusão social; a circulação em vias estreitas .
O carro eléctrico permite diminuir os problemas ambientais, através da sua minimização sonora e das suas emissões, mas não resolve o problema dos
congestionamentos e acidentes. O sucesso do automóvel eléctrico deve-se, ao desenvolvimento de novas tecnologias em relação ao funcionamento por
baterias, que demoram menos tempo a carregar e possuem maior vida útil . Este sistema de aluguer permite que uma viatura circule lotada, com pessoas
com o mesmo destino (como por exemplo emprego), permitindo a redução do uso dos automóveis.
A bicicleta é um transporte individual utilizado em algumas cidades do mundo como um transporte do quotidiano. Este tipo de transporte possui
algumas desvantagens de utilização como é o caso de não proporcionar conforto em épocas de baixas temperaturas e períodos muito pluviosos.
A deslocação em bicicleta ou modo pedonal em substituição do veículo automóvel gera economias e benefícios consideráveis, tanto para o indivíduo
Bicicletas/ Modo Pedonal como para a colectividade urbana. Estimam-se reduções de cerca de 5 a 22 cêntimos por 1,61 km (uma milha) resultantes de custos relacionados com a
diminuição da poluição ambiental, gasto de combustível e congestionamentos urbanos . Para promover a utilização de bicicletas ou do modo pedonal, é
necessário erguer infra-estruturas que permitam a sua circulação (como ciclovias, postos de estacionamento adequados e vias pedestres).
Bicicletas Eléctricas
Shweeb
Eco-Bicicleta
196
A bicicleta eléctrica também é um boa solução de transporte sustentável, de curta distância. Esta bicicleta, na sua parte mecânica é em tudo semelhante a
uma bicicleta convencional, apenas está composta por um motor que funciona através de energia eléctrica.
INOVAÇÕES
Bicicleta que proporciona a mesma flexibilidade e conforto de um automóvel, mas sem as suas consequências financeiras e ambientais. A shweeb foi
concebida como uma solução de transporte individual, para curtos percursos, tais com os de um centro-urbano.
O conceito deste tipo de transporte sustentável mantém os benefícios dos custos reduzidos e do conforto proporcionado pelos transportes públicos, mas
oferece um espaço pessoal e a flexibilidade de um transporte pessoal, apesar de ser um transporte público. Este tipo de transporte possui uma postura
aerodinâmica e suspenso de forma segura através de um monorail, movido pela motorização humana. O utente e a sua bagagem são acomodados num
assento confortável, num espaço com uma vista panorâmica de 360o .
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Tabela 23 - Soluções de transportes públicos urbanos sustentáveis
TRANSPORTES PÚBLICOS URBANOS SUSTENTÁVEIS
Tipos de Transporte
PRT
(Personal Rapid
Transit)
Dual-mode
Valorização do Centro Urbano
Principais Características
INOVAÇÕES
O transporte público individual (TPI) poderá ser a melhor solução de combate aos fundamentais problemas da sociedade moderna numa
área urbana . O conceito do PRT, possui características de um transporte individual e ao mesmo tempo, é um serviço de transporte
público que pode recorrer às energias renováveis como fonte de alimentação .
Este transporte público individual permite: veículos totalmente automatizados, sem condutor humano; sistema que possui veículos
ligados às próprias vias; veículos que têm capacidade até quatro pessoas (os passageiros viajam juntos voluntariamente); vias que
podem ser elevadas, subterrâneas ou ao nível das vias existentes; veículos que podem percorrer toda a rede e parar em qualquer estação,
as quais se situam à parte da linha principal; permite realizar a viagem desejada (desde a origem ao destino) sem paragens
intermediárias; pode estar disponível por demanda, segundo o desejo do usuário, ou em horários fixos como um transporte público
convencional .
O sistema de veículos Dual-mode permite o uso dos veículos como o PRT e as viaturas convencionais, mas é um sistema onde os
veículos poderão sair das vias próprias do sistema, ou seja, os veículos podem ser privados e podem circular nas vias ordinárias. Estes
poderão possuir condução automatizada, se circularem nas suas próprias vias, mas também poderão ser manuais.
Este sistema é rentável se forem erguidas infra-estruturas com vias próprias, onde os veículos circulam livres dos problemas de
congestionamento .
197
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Relativamente à Mobilidade de Baixo impacto, a proposta pretende dinamizar um meio de transporte de carácter lúdico, mas com valor para a
mobilidade da cidade, promovendo o trabalho e a economia locais, visto Águeda ser considerada a capital da bicicleta. Esta proposta ainda se pode
tornar uma mais valia para a atracção turística da cidade.
Relativamente à implementação de um sistema PRT (fig. 102), para além de se tornar numa possível atracção turística, ainda permite combater o
problema da diferença de cotas existentes no centro urbano, onde crianças e idosos sentem imensa dificuldade para se deslocar (por exemplo a
deslocação entre a baixa da cidade, junto ao Rio Águeda, até à Casa do Adro ou mesmo até à Câmara Municipal).
No âmbito do cumprimento do critério Soluções Inclusivas, a proposta é que se verifiquem os acessos a passeios, a passadeiras, a edifícios públicos,
a locais de interesse cultural, religioso e turístico, entre outros. Estes locais devem estar providos de rampas, sistemas de transporte para cadeiras de
rodas, elevadores entre outros mecanismos inclusivos.
Figura 102 - PRT ( Personal Rapid Transit )
198
Valorização do Centro Urbano do Futuro
Bibliografia
199
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
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Fevereiro 2010)
202
Bibliografia
ANEXOS
Anexo I – Modelo de Inquérito
Anexo I I – Guia Prático para a Construção e Reabilitação Sustentável
203
Anexo I – Modelo de Inquérito
205
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Modelo de Inquérito
INQUÉRITO AOS MORADORES
Edifício Nº
Rua Luís de Camões
Rua 5 de Outubro
UTILIZAÇÃO
Ano de construção: __________
Idade do edifício: __________ Quantos anos de utilização: ___________
Última intervenção
Data: ___________ Tipo: _______________________________________
Primeiro Utilizador
Sim
Não
Faixa Etária dos Utilizadores
Idosa
Adulta
Nº de pisos: ________
(Nº pisos abaixo do solo: ________)
Utilização do R/C
Logradouro Sim
Não
Anexo I
Habitação
Do próprio
Arrendada
Habitação
Comércio / Serviço
Outro
Utilização: ________________________________
207
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
IMPLANTAÇÃO
Isolado
Implantação do Edifício
Banda
[Extremo
Meio
]
Gaveto
Orientação das Fachadas:
Principal:
N
Posterior: N
Lateral Dir.: N
Lateral Esq.: N
S
S
S
S
E
E
E
E
O
O
O
O
COBERTURA
Cobertura
Inclinada
Quantas águas?__________
Plana
Acessível
Não Acessível
Material na Cobertura
Telha de barro
Telha de cimento
Fibrocimento
Chapa metálica
Outro
208
Anexo I
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
ACESSIBILIDADES
Rampa de Acesso à Entrada Principal
Sim
Não
Elevador
Caixa de Escada
Outro
Condições de Acesso
Acesso ao Elevador
Fácil
Difícil
Largura Adequada a Cadeira de Rodas
Sim
Não
EXTERIOR DO EDIFÍCIO
Revestimento Exterior
Patologias Visíveis
Pintura
Placagem
Cerâmico
Outro
Fissuras
Tinta descascada
Outros
Queda do revestimento
Manchas, bolores, fungos
Nada a assinalar
Varandas
Janelas
Anexo I
Vidro Simples
Vidro Duplo
Caixilharias
Alumínio
Madeira
PVC
Outro
Sim
Não
AVALIAÇÃO GERAL: ______
Madeira
Guarda-corpos Metálico
Alvenaria
[1-Bom, 2-Razoável, 3-Mau, 4-Ruína]
209
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
INTERIOR DO EDIFÍCIO
Revestimento Tecto
Patologias Visíveis
Pintura
Placagem
Cerâmico
Outro
Pavimentos
Fissuras
Tinta descascada
Outros
Tijoleira
Soalho
Outro
Queda do revestimento
Manchas, bolores, fungos
Nada a assinalar
AVALIAÇÃO GERAL: ______
[1-Bom, 2-Razoável, 3-Mau, 4-Ruína]
CONDIÇÕES TÉRMICAS / ACÚSTICAS
Conforto Térmico
quente
Verão
neutro
frio
210
Conforto Acústico
quente
Inverno
neutro
Ruídos Aéreos
Exterior
Habitação Contígua
Zona de Circulação Comum
Ruídos de Percurssão
Exterior
Habitação Contígua
Zona de Circulação Comum
frio
Anexo I
Anexo II - Guia Prático para a Construção e Reabilitação Sustentável
211
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Guia prático para uma construção e reabilitação sustentável
Hoje os edifícios são os principais responsáveis pelos impactos causados à natureza, pois consomem mais da metade de toda a energia usada nos
países desenvolvidos e produzem mais da metade de todos os gases que vêm modificando o clima.
O projecto de arquitectura sustentável contesta a ideia do edifício como obra de arte e compreende-o como parte do habitat vivo, estreitamente
ligado ao sítio, à sociedade, ao clima, à região e ao planeta. Compromete-se a difundir maneiras de construir com menor impacto ambiental,
ganhos sociais e económicos.
A elaboração de um projecto de arquitectura na procura de uma maior sustentabilidade deve considerar todo o ciclo de vida da edificação,
incluindo o seu uso, manutenção e sua reciclagem ou demolição. O caminho para a sustentabilidade não é único e muito menos possui receitas, e sim
depende do conhecimento e da criatividade de cada parte envolvida.
Alguns conceitos básicos devem nortear a elaboração de um projecto de arquitectura na procura da sustentabilidade. São eles:
1. A sustentabilidade não é um objectivo a ser alcançado, não é uma situação estanque, mas sim um processo, um caminho a ser seguido. Advém dai
que a expressão correcta a ser utilizada deve ser a de um projecto «mais» sustentável. Todo o trabalho nesta área é feito a partir de intenções, que são
renovadas continuamente e progressivamente. Intenções estas genuínas, que devem estar verdadeiramente comprometidas com os valores do cliente, e
entender que o projecto é o exercício de intenções e decisões.
2. A sustentabilidade baseia-se em três domínios: o ambiental, o económico e o social, tendo que os manter em equilíbrio. Como estes aspectos
representam variáveis independentes, as escolhas resultantes serão diferentes em cada situação apresentada. Não existe, portanto, uma receita nem
cálculo absoluto que determine o que deve ser feito ou não para que um projecto caminhe numa direcção de maior sustentabilidade, sendo a proposta
de cada projecto fruto de escolhas especificas, únicas e originais.
3. A procura do caminho de maior sustentabilidade cabe a todos os envolvidos no projecto e execução do ambiente edificado. É um trabalho colectivo
onde todos devem fazer a sua parte e ao mesmo tempo incentivar os demais a fazê-lo. As decisões devem ser uma acção orquestrada com os demais
projectistas, consultores, fornecedores e utilizadores, na medida em que a influência desta escolha pode condicionar acções a serem desenvolvidas
pelos demais.
Este guia pretende ser uma orientação simplificada quer para os gabinetes de arquitectura e engenharia que tenham intenção de adoptar a
sustentabilidade como um critério de projecto, quer para os técnicos municipais que avaliam os referidos projectos.
Anexo II
213
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Elaborar um projecto de arquitectura com melhor desempenho ambiental é projectar tendo em conta a natureza da envolvente, o uso eficiente da
energia, da água, de materiais certificados e renováveis, qualidade ambiental interna e externa dos edifícios, utilização consciente dos equipamentos e
do edifício pelos utilizadores. Veja-se algumas regras básicas:
Uso Eficiente da Energia
1.Especificação de equipamentos com menor consumo e melhor eficiência possível na utilização do gás natural para todos os fins;
2. Automatização de transporte vertical com optimização de carga e menor consumo energético possível;
3. Iluminação de baixo consumo energético em todo o edifício nas áreas comuns de uso continuo e iluminação «incandescente» com accionadores por
sensor de presença nas áreas de uso esporádico ou intermitente. Este principio, com maior tolerância, também é válido para as unidades privadas;
4. Planeamento do consumo energético e utilização de equipamentos para gerar energia em períodos de pico;
5. Melhor aproveitamento possível da iluminação natural, tendo em conta a necessidade do seu controlo;
6. Melhor condição de conforto térmico evitando a incidência da radiação solar directa através da adopção de soluções arquitectónicas;
7. Implementação e optimização de ventilação natural;
8. Adopção preferencial de acabamentos claros nas áreas de grande incidência de luz solar;
9. Tratamento das coberturas do edifício analisando a possibilidade de implementação de áreas verdes ou, caso esta solução não seja possível, utilizar
pinturas reflectivas para diminuir a absorção de calor para o edifício;
10. Uso de soluções alternativas de produção de energia como a eólica ou a solar, de acordo com as condições locais.
Uso Eficiente da Água
1. Captação, armazenamento e tratamento de águas pluviais para reutilização na irrigação, limpeza, refrigeração, sistema de combate a incêndio e
outros usos permitidos para a água não potável;
2. Utilização de sanitas acopladas e válvulas especiais com o fluxo opcional por descarga, ou de sistema a vácuo;
3. Reaproveitamento das águas, com tratamento local, para utilização sanitária;
4. Utilização de torneiras com redutor de caudal, accionamento electrónico ou temporizador por pressão.
Uso de Materiais Certificados e Renováveis
1. Maximização na especificação de materiais sustentáveis conseguindo o maior volume possível de utilização de materiais certificados, de uso
sustentável e recicláveis;
2. Planeamento para maior durabilidade possível nas especificações visando alta performance e durabilidade;
3. Utilização de materiais cujos processos de extracção de matérias primas, produção, armazenamento e transporte causam menor índice de impactos
ao meio ambiente.
214
Anexo II
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Qualidade Ambiental Interna e Externa
1. Projectar utilizando técnicas que permitam uma construção mais económica, menos poluente e que tenham impactos menos agressivos para o meio
ambiente;
2. Evitar ao máximo a impermeabilização do solo;
3. Evitar danos à fauna, flora, ecossistemas locais e ao meio ambiente;
4. Planear toda a obra e futura operação do edifício procurando minimizar a geração de lixo e resíduos;
5. Evitar todo e qualquer tipo de contaminação, degradação e poluição de qualquer natureza, visual, sonora, luminosa, etc.;
6. Promover a segurança interna e externa do edifício e seus utilizadores;
7. Implantação e optimização de todos os recursos para a correcta recolha selectiva do lixo visando a reciclagem de materiais e a menor geração de
resíduos descartáveis;
8. Evitar grandes movimentos de terra, preservando sempre que possível o relevo original do terreno;
9. Elaborar um plano eficiente de drenagem do solo durante e após a execução das obras, evitando-se danos como a erosão ou o rebaixamento do
lençol freático.
Utilização consciente dos equipamentos e do edifício pelo utilizador
1. O arquitecto deve procurar elaborar o projecto sempre com o apoio de quem irá construir o edifício, criando espaços e sistemas racionalizados, de
baixo custo operacional e com mínimo impacto ambiental. Quando se entrega uma obra, não importa a escala, esta deveria ser acompanhada de
Manual de Operação, Gestão e Manutenção;
2. Orientar a criação e promover o curso de gestor ambiental do edifício;
3. Apoiar todo o corpo de trabalhadores com formação adequada na área da educação, desenvolvimento intelectual e criatividade;
4. Difusão para o corpo de trabalhadores e todos os utilizadores do edifício dos princípios de sustentabilidade e conservação do meio ambiente.
Soluções que permitam flexibilidade e durabilidade
1. Adoptar soluções construtivas que permitam maior flexibilidade na construção, permitindo a fácil adaptação às mudanças de uso do ambiente ou do
utilizador, no decorrer do tempo, evitando reformas que causem grande impacto ambiental pela produção de resíduos;
2. Adopção de materiais que sejam duráveis não somente pelas suas características técnicas, mas também em função do seu desempenho e
comportamento ao longo do tempo resultando em longevidade para o edifício.
Anexo II
215
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
Quais as vantagens de um projecto Sustentável?
O projecto sustentável, por ser interdisciplinar e ter premissas mais abrangentes, garante maior cuidado com as soluções propostas, tanto do ponto
de vista ambiental quanto dos aspectos sociais, culturais e económicos.
O resultado final dessa nova arquitectura ecológica, verde e sustentável, proporciona grande vantagem para os seus consumidores. Quem não quer
ter uma casa saudável, clara, termicamente confortável e que gaste menos água e energia?
A casa ecológica, além de beneficiar o meio ambiente, garante o bem estar de seu utilizador (tem vantagens para a saúde, económicas e
ambientais).
Já a prática da arquitectura sustentável em empreendimentos imobiliários pode ser ainda mais vantajosa, uma oportunidade que não pode ser
desperdiçada. Esse nicho de mercado é hoje um diferencial, mas no futuro transformar-se-á num requisito, pois está dentro da necessidade urgente de
melhores indicativos de qualidade de vida.
Os principais benefícios são:
-redução dos custos de investimento e de operação;
- imagem, diferenciação e valorização do produto;
-redução dos riscos;
- mais produtividade e saúde do utilizador;
-novas oportunidades de negócios.
Uma Construção Sustentável é mais cara?
A adopção de soluções ambientalmente sustentáveis na construção podem não implicar um aumento de preço, principalmente quando adoptadas
durante as fases de concepção do projecto. Em alguns casos, podem até reduzir custos. Ainda que o preço de implementação de alguns sistemas
ambientalmente sustentáveis num edifício verde gere um custo cerca de 5% maior do que um edifício convencional, a sua utilização pode
representar uma economia de 30% de recursos, durante o uso e ocupação do imóvel.
A intenção deste guia é apenas a de levantar algumas questões que conduzam a uma reflexão sobre as boas práticas, pretendendo-se com a tabela
seguinte elencar algumas considerações relevantes, que devem ser colocadas no momento de execução ou de avaliação de projectos:
216
Anexo II
Centro Urbano do Futuro - Parcerias para a Regeneração Urbana
INTEGRAÇÃO PAISAGISTA E ECOSSISTÉMICA
QUALIDADE DOS ESPAÇOS
Que tipo de solo para construir, (fértil ou não, como o valorizar)?
O solo está infra-estruturado?
Que tipo de vegetação propõe para os espaços verdes? Potenciam a
biodiversidade? Promove a heterogeneidade entre habitats?
Valorizou-se a paisagem construída?
Considerou-se a interligação dos habitats?
Pensou numa estratégia para a melhoria da qualidade do ar?
Que sistemas passivos e sistemas construtivos considerou?
O que fez para minimizar a poluição sonora?
Utilizou materiais que não emitem substâncias poluentes para o
ambiente interior?
MOBILIDADE E FLEXIBILIDADE DE USOS
RECURSOS NATURAIS
Quais as soluções passivas que elegeu?
Pensou na eficiência energética? Pensou em fontes de energia renováveis?
Como contribui para a eficiência hídrica?
Como seleccionou os materiais para a construção? Recorreu a materiais de
baixo impacte ambiental?
Considerou a aplicação de materiais renováveis, recicláveis, reciclados?
Reutilizou materiais?
Quais as boas práticas que assumiu no desenvolvimento ou na economia
local?
IMPACTES AMBIENTAIS
Existe reaproveitamento de águas residuais e pluviais?
Considerou a reciclagem dos resíduos domésticos?
Considerou a separação selectiva, reaproveitamento e reutilização de
resíduos?
Considerou sistemas eficientes com capacidade de auto controlo pelos
utilizadores?
Que inovações inseriu para minimização de poluição luminosa e
ambiental?
Que medidas ao nível do conforto acústico?
Anexo II
A mobilidade interna e externa foi considerada no projecto?
Acabou com as barreiras arquitectónicas?
Pensou em edifícios de uso misto ou adaptável?
Pensou na reutilização do edifício para novas funções?
Pensou na segurança dos utentes?
GESTÃO AMBIENTAL
É dado conhecimento ao utilizador das normas, instruções de
utilização dos equipamentos que são usados?
O projecto considera sistemas de divulgação de boas práticas
ambientais?
Utilizou alguma ferramenta de avaliação da sustentabilidade durante
a fase de projecto?
Utilizou alguma ferramenta de avaliação da sustentabilidade durante
a fase de construção?
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