3) A construção da caixa de ressonância. - Barros Filho

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3) A construção da caixa de ressonância. - Barros Filho
A Construção da caixa de ressonância
Jomar Barros Filho
luthier
www.barrosfilho.com
O corpo da guitarra acústica é formado por dois tampos de madeira. Em geral, a maioria das
guitarras comerciais utilizam madeira compensada.
É comum o uso de compensados de 3mm de espessura. Esses são formados por um conjunto
de lâminas de madeiras que são coladas umas as outras, onde os veios das primeira lâmina formam
90 graus com os veios da próxima lâmina. Por esse processo, obtém-se chapas de dimensões 1,60m
x 2,20m x 3mm, por exemplo. Para se ter uma idéia, com apenas uma chapa dessas é possível se
obter 12 tampos e seis laterais.
Fig 1: Chapa de compensado
O problema é que, com o passar do tempo a cola que mantém as lâminas que formam o
compensado unidas vão perdendo as suas características. Quando a cola fica velha surgem micro
fissuras em sua estrutura. Essas podem começar a soltar as lâminas em alguns pontos
comprometendo a estrutura da caixa de ressonância do instrumento.
Fig 2: Micro fissuras em um tampo de compensado
Outro problema está diretamente ligado a forma da caixa de ressonância. Por mais que se
tente envergar os tampos de compensado, mesmo a quente, não se consegue deixa-lo exatamente
com a forma de um arco aproximando-se do formato do tampo de um violino. O formato do tampo
do violino, possibilita a obtenção de um som mais equilibrado com melhor resposta de freqüência.
Benedetto (1994) afirma que este formato produz um tampo muito mais flexível, melhorando a
resposta do instrumento. A guitarra fica mais ergonômica acomodando-se ao corpo do guitarrista,
evitando LER (Lesão por Esforço Repetitivo) no braço e ombro direitos (guitarrista destro). A
estrutura em arco distribui melhor as forças internas e, finalmente, consegue-se um design muito
mais elegante.
Fig 3: Aspecto interno do tampo
Fig 4: Aspecto externo do tampo
Buscando essa forma, a guitarra acústica archtop utiliza técnicas de construção do violino.
Para isso, não se pode usar compensado. É preciso utilizar madeira maciça permitindo que se possa
escavar os tampos. Exemplos deste tipo de guitarra são as feitas pelos luthiers Benedetto e
Buscarino.
Desta forma, um tampo é obtido a partir de duas pranchas de madeira de aproximadamente
55cm de comprimento, 23cm de largura e uma polegada de espessura. Após a junção dessas duas
peças, ajustando-as e colando-as formando uma só peca de 46cm de largura. Obtém-se o formato
característico do tampo da archtop escavando-a. Isso é feito com vários tipos de formão e com o
auxílio das curvas de nível. Essas são desenhadas na madeira e informam exatamente aonde e o
quanto deve ser escavado. Para o tampo superior deve-se utilizar uma madeira de baixa densidade,
pois é essencial obter grande vibração (por exemplo, pinheiro do paraná). Já para o tampo inferior,
deve-se usar uma madeira de média densidade (por exemplo, imbuia, mogno ou freijó).
Fig 5: Gabarito das curvas de nível
Obtido os tampos e cortado os buracos em formato de “f” no tampo superior, esses são
colados nas laterais. É através desses buracos que o ar que está dentro da caixa de ressonância irá se
comunicar com o ar exterior. As laterais são formadas por duas lâminas de madeira com
aproximadamente 85cm de comprimento, 3 polegadas de largura e 2mm de espessura. Essa
espessura é importante para que se consiga envergar as lâminas de maneira que se ajustem de forma
perfeita na fôrma. Isso é feito pressionando-se a lâmina à um ferro quente. É um trabalho demorado
que exige grande paciência e determinação. Caso contrário, é comum perder as lâminas ao forçá-la
demais. Obtém-se trincas, também conhecidas como “Crack”.
Referências:
BENEDETTO, R. Making an archtop guitar: the definitive work on the design and construction
of on acoustic archtop guitar. Anaheim Hill, Centerstream Publishing: 1994

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