Programa - Companhia Nacional de Bailado

Transcrição

Programa - Companhia Nacional de Bailado
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Carlotta Grisi in Giselle
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Giselle
ou Les Wilis
Teatro Nacional de São Carlos
Maio 2002
8, 9, 10, 11, 15, 16 e 17 às 21h30.
12 e 18 às 16h00.
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© Eduardo Saraiva
Teatro Nacional de São Carlos
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Desde a sua fundação, a Companhia Nacional de Bailado é, reconhecidamente, a mais
importante instituição portuguesa na área da Dança.
No contexto das programações artísticas nacionais a CNB assume-se com a maior relevância,
porquanto tem correspondido tanto às exigências de repertórios tradicionais – na reposição de
alguns clássicos – como à criação de novas coreografias contemporâneas. Entendemos, por isso,
que ao reiterar a nossa condição de mecenas exclusivo da Companhia Nacional de Bailado
prestamos um Vivo agradecimento ao empenho e superior profissionalismo destes artistas.
Os nossos desejos têm sempre a dimensão daquilo em que acreditamos. E acreditamos que parte
do nosso processo de evolução empresarial é permitirmo-nos crescer no sentido de aumentar a
prosperidade cultural no nosso país.
A EDP – Electricidade de Portugal felicita a Companhia de Bailado pelo seu 25º aniversário e
enfatiza o momento, como corolário de um exercício votado a alcançar uma posição indelével na
cultura e nas artes em Portugal. Congratulamo-nos, uma vez mais, de podermos associar o
nosso nome a tão elevado desígnio.
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© Inês Gonçalves
Estúdio 1 da CNB
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CNB - 25 Anos
Armando Jorge
Artistas da CNB
Ao longo de 25 anos, a Companhia Nacional de Bailado surge no contexto
cultural português com uma identidade própria, procurando igualmente
projectar-se no contexto da produção artística internacional.
Fundada em 22 de Junho de 1977, por despacho de David Mourão Ferreira,
então Secretário de Estado da Cultura, foi com Vera Varela Cid,
Luna Andermatt, Pedro Risques Pereira e Armando Jorge que a CNB surge
no panorama artístico português, como um projecto de carácter experimental,
mas consistente, e que se adivinhava com um futuro promissor.
Foyer Teatro Nacional de São Carlos
© Rodrigo César
Assim, e pela mão da Companhia, o nosso país conhece hoje a primeira
realização nacional de produções integrais como O Lago dos Cisnes,
La Sylphide, Coppélia, Raymonda, Festival das Flores e Romeu e Julieta,
bem como a recuperação de outras criações como Giselle, Les Sylphides,
Petruchka, entre outros.
Artistas da CNB
Apresentando-se pela primeira vez a 5 de Dezembro de 1977, no Teatro Rivoli
no Porto, a Companhia dá desde logo início à realização de digressões por todo
o país, concretizando uma acção descentralizadora da oferta cultural,
com um programa que incluía O Lago dos Cisnes (pas-de-deux do II acto),
O Canto de Amor e de Morte, O Quebra-Nozes e Suite Medieval.
Instalada no Teatro Nacional de São Carlos, no ano de 1978, Armando Jorge
é designado seu Director Artístico, cargo que acumula com outras funções
como mestre de bailado, coreógrafo, cenógrafo e figurinista.
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© Rodrigo César
Alunos do Centro de Formação de Bailarinos
A Sagração da Primavera
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© Rodrigo César
© Rodrigo César
© Rodrigo César
Giselle, 1987
Giselle, 1987
O elenco residente, constituído por um corpo de baile bem consolidado
e um grupo de primeiras figuras que se começa a distinguir, nomeadamente
Luísa Taveira, Guilherme Dias, Maria José Branco, Miguel Lyzarro,
Cristina Maciel, Pedro Romeiras, Isabel Fernandes, e Alfredo Gesta,
levou a CNB à apresentação do seu repertório em lugares como França,
Espanha, Suíça, República Popular da China, Brasil, Bermudas, Holanda
e Alemanha, anunciando todo um processo adequado a desenhar e a definir
o papel próprio de uma companhia, no âmbito da oferta cultural, destinada
ao público português e além fronteiras.
Associada a diversos projectos pedagógicos e a inúmeros programas
de divulgação realizados pelo país, a Companhia Nacional de Bailado criou
em 1981, um Centro de Formação de bailarinos em idade escolar, que manteve
a sua actividade até 1995. Contou para tal, com a colaboração de importantes
professores como Maria Luisa Carles, actualmente Directora de Produção
desta Companhia, Bárbara Gray e Violette Quenolle, hoje Professora Emérita
da Companhia e Conselheira Pedagógica da CNB.
© Rodrigo César
As Troianas
Firmando-se no desenvolvimento de uma Companhia tecnicamente versátil
e capaz de dar resposta a um repertório diversificado, a CNB aposta no que
há de mais representativo no património coreográfico dos séculos XIX e XX,
que inclui obras de Bournonville, Petipa, Fokine, Skibine, Balanchine, Lifar,
Lichine, Limon, e dos coreógrafos portugueses como Fernando Lima,
Carlos Trincheiras, Armando Jorge, e Olga Roriz, "(...) proporcionando
ao público uma visão global do património artístico universal que é a arte
do bailado, como também para a mais gratificante realização dos artistas
pela versatilidade em que podem conhecer-se."
Sob proposta de Rogério de Freitas, então Director-Geral e posterior
Superintendente da Companhia, no ano de 1982 a CNB instala-se
definitivamente no antigo Real Gymnásio Clube de Lisboa, hoje o nº 20
da Rua Vitor Cordon. No ano de 1985 é integrada no Teatro Nacional
de São Carlos onde permanece até 1992, ano em que se desvincula deste
Teatro recuperando a sua autonomia, aguardando a publicação da respectiva
lei orgânica.
A apresentação de espectáculos fora do país, não descurou a sua actividade
fundamental de montagem e apresentação regular de novas produções
em Portugal, bem como a realização dos Estúdios Coreográficos, que, de dois
em dois anos, a CNB organiza com o objectivo de revelar jovens coreógrafos.
© Rodrigo César
Assinatura do Protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa
Nos anos que se seguem a CNB apresenta obras como D. Quixote,
Carmina Burana (de Armando Jorge), A Sagração da Primavera (com uma
coreografia de Carlos Trincheiras e posteriormente na versão original
de Nijinski), A Mesa Verde, As Troianas (de Olga Roriz), Rhyme nor Reason,
Prelúdios, Choreographic Offering, Serenade, Apollo, Tema e Variações,
Agon, entre outras.
A Mesa Verde
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Ensaio
Acreditando no corpo de bailarinos residente e apostando no seu crescimento
técnico e artístico, Armando Jorge, não negligenciou todos os outros sectores
indispensáveis ao normal funcionamento da Companhia. Ao fim de 17 anos,
Armando Jorge deixa a Companhia que havia ajudado a criar.
Isabel Santa Rosa
© Rodrigo César
© Inês Gonçalves
As Bodas
Em 1994 é criado o Instituto Português do Bailado e da Dança, associação
cultural sem fins lucrativos que passa a tutelar a CNB e Isabel Santa Rosa
assume o cargo de Directora Artística até ao ano de 1996.
Sob a sua direcção a Companhia Nacional de Bailado estreia As Bodas
e a A Sagração da Primavera na versão original de Nijinski, produção
que apresentou no âmbito da Lisboa-94, Capital Europeia da Cultura.
Luísa Taveira
Jorge Salavisa
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Com o objectivo de reorganizar a Companhia, em Junho 1996, Jorge Salavisa
é nomeado assessor de Rui Vieira Nery, então Secretário de Estado da Cultura.
Em Setembro desse ano, Jorge Salavisa assume o cargo de Presidente
do Instituto Português do Bailado e da Dança e a 18 de Setembro de 1997
é finalmente publicada uma lei orgânica reguladora da CNB.
© Rodrigo César
No ano de 1998 Jorge Salavisa toma posse como Director da Companhia Nacional
de Bailado secundado por Luísa Taveira, ex-bailarina principal, como Directora
Artística Adjunta e Carlos Vargas como Subdirector, responsável pela gestão
administrativa financeira e logística da Companhia.
© Daniel Blaufuks
In The Midle Somewhat Elevated
Com um novo dinamismo e perante a necessidade de reestruturação, Jorge Salavisa
tem para a CNB objectivos muito concretos que se propõem renovar o elenco
artístico; produzir obras de coreógrafos de referência no panorama da dança
contemporânea como por exemplo Artifact II, In The Midle Somewhat Elevated
de William Forsythe, The Lisbon Piece de Anne Teresa De Keersmaeker (em estreia
absoluta) retomar a apresentação de espectáculos por Lisboa e pelo país, actuando
por vezes em pavilhões gimnodesportivos e em palcos pré-fabricados; garantir
a produção artística e a itinerância, com o apoio das autarquias e tendo a EDP como
mecenas exclusivo desde 1998; retomar a programação de Estúdios Coreográficos
e seleccionar coreógrafos Portugueses para integrar obras suas no repertório da CNB.
Destaca-se naturalmente o trabalho de Rui Lopes Graça.
Atendendo a que a CNB "(...) tem como objectivo a promoção e divulgação
de iniciativas de formação, edição, animação, investigação e comunicação tendentes
à difusão do gosto pela dança (...)" , desde 1997, e com o intuito de renovar a sua
imagem, a CNB tem convidado, em cada temporada, um fotógrafo português,
dotando a Companhia de um espólio de fotografias que inclui nomes como
Eduardo Gageiro, Eduardo Saraiva, Rodrigo César, Inês Gonçalves, Sara Anahory,
Daniel Blaufuks, António Júlio Duarte e Augusto Alves da Silva.
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© Rodrigo César
A CNB, tem colaborado, regularmente com diversas entidades musicais
como a Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Metropolitana de Lisboa,
Orquestra Nacional do Porto, Círculo Musical Português, Quarteto de Pianos
de Amesterdão, bem como a participação de músicos solistas e maestros
portugueses.
www.gert.weigelt.de
Quarteto de Pianos de Amesterdão
Em 2001, Jorge Salavisa cessa as suas funções na Companhia Nacional
de Bailado, Mark Jonkers assume em Janeiro o cargo de Director Artístico
e em Maio do mesmo ano, Ana Pereira Caldas é nomeada Directora da CNB,
pelo então ministro da cultura José Sasportes.
© Roberto Giostra
Marc Jonkers
Ana Pereira Caldas
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"Em resumo, são estas, hoje, as vertentes essenciais da actividade da CNB:
assegurar a apresentação de bailados do repertório clássico, embora com novas
leituras e assumindo mesmo uma outra estética, talvez menos conforme
com cânones mais conservadores; assegurar a apresentação de obras
contemporâneas de repertório e de obras originais especialmente criadas para
a Companhia; desenvolver e consolidar a CNB, com base na inequívoca
qualidade internacional do seu corpo artístico; assegurar o acesso de jovens
bailarinos portugueses às actividades da Companhia, através de programas
de estágio; fazer encomendas a jovens coreógrafos portugueses e estrangeiros
e consolidá-los como coreógrafos residentes da Companhia; assegurar
a participação de orquestras portugueses nos espectáculos da CNB, bem como
de jovens maestros portugueses; assegurar a apresentação de obras
de compositores; consolidar apresentação itinerante e regular da CNB
por todo o país e desenvolver a sua internacionalização."
© Rodrigo César
© António Júlio Duarte
Romeu e Julieta
Finalmente, e apesar das várias conjunturas por que passou, adaptando-se
aos momentos diversos contextos sociais e políticos, a Companhia Nacional
de Bailado cumpre, ao fim de 25 anos, o objectivo a que se propôs enquanto
projecto cultural, activo, dotado de uma identidade própria e que se tem
afirmado vivo e criativo no panorama artístico e cultural do nosso país.
Ao longo dos 25 anos da sua existência, a Companhia Nacional de Bailado
tem-se adaptado aos diversos contextos sociais que atravessam a sociedade
portuguesa nos últimos anos, consolidando-se como um projecto actual do país,
dotado de uma identidade própria na divulgação da dança em todo o território
nacional.
Susana de Jesus Santos
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© Eduardo Saraiva
Estúdio 1 da CNB
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Marc Jonkers
Bailarinos princvipais
Solistas
Corifeus
Corpo de Baile
Estagiárias
Director Artístico
Inês Amaral, Adeline Charpentier, Ana
Lacerda, Cristina Maciel*, Filomena Pinto,
Filipa Rola, Daniela Severian, Didier
Chazeau, Alexandre Fernandes, Mário
Franco, Alistair Main, Danillo Mazzotta,
Carlos Pinillos
Fátima Brito, Isabel Galriça, Mariana Paz,
Luís d’Albergaria, Fernando Duarte,
Rui Lopes Graça, Filipe Portugal,
Brent Williamson
Catarina Lourenço, Guiomar Machado,
Maria João Pinto, Paulina Santos,
Rui Alexandre, David Fielding,
Armando Maciel
Annabel Barnes, Marina Figueiredo,
Isabel Frederico, Cristina de Jesus*,
Etelvina Loureiro, Elsa Madeira,
Helena Marques, Susana Matos,
Solange Melo, Victoria Monge, Maria Paiva,
Carla Pereira, Margarida Pimenta,
Laura Pinto*, Andreia Pinho, Sílvia Santos,
Leonor Távora, Henriett Ventura,
Alba Tapia, Eva van Duin, Anne De Voss,
Chairmaime du Mont, Clare Figgins,
Marco Arantes*, Xavier Carmo,
Erik Constantin, Nuno Fernandes,
Frederico Gameiro, Filipe Macedo,
Pedro Mascarenhas, José Carlos Oliveira,
João Carlos Petrucci, João Pinto,
Álvaro Santos, Jon Ugarriza, Freek Damen
Sara Anjo, Catarina Grilo, Irina de Oliveira
Ana Pereira Caldas
Carlos Vargas
Mestres de Bailado
Ensaiadores
Professora Emérita
Directora
Subdirector
Maria Palmeirim, João Miranda
Maria José Branco, Isabel Fernandes,
Kimberley Ribeiro
Violette Quenolle
e Conselheira Pedagógica
Pianista Acompanhadora
Ana Paula Ferreira
e Assistente Musical
Pianista
Imelda Cartwright
Director Técnico
João Paulo Xavier
Henrique Andrade
Maria Luisa Carles
Margarida Mendes
Carla Almeida
Wanda França
Director de Cena
Directora de Produção
Coordenadora Executiva
Assistente da Direcção de Produção
Assistente da Direcção Técnica
e Contra-Regra
Chefe Maquinista
Maquinista
Chefe de Iluminação
Técnico Assistente de Iluminação
Técnico de Som e Video
Zeladora do Guarda-Roupa
Mestra de Guarda-Roupa
Costureira
Encarregado Geral
Osteopata
Massagista
Coordenador Administrativo
Assistente Administrativa
Assistente Administrativa especialista
Secretária da Direcção
Motorista
Joaquim Maia
Alves Forte
Vítor José
Pedro Mendes
Helder Gomes
Maria José Pardal
Adelaide Marinho
Adelaide Pedro Paulo
Manuel Carvalho
José Campos, Acácia Coyac
Vitor Passarinho
António Ferreira
Fátima Ramos
Isabel Ricarte
Lurdes Almeida
João Alegria
* Desempenha outras funções na CNB
Comissão de Fiscalização
Assessora da Direcção
Assessora Jurídica
Fernanda Carvalho
Leonor Pinto Ribeiro
Presidente
Vogal ROC
Vogal
Adelaide Rocha
Xavier Ferreira
Carlos Moura Carvalho
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CABE-ME HOJE O GRATO PRIVILÉGIO
E A HONRA DE REPRESENTAR
A CNB NAS COMEMORAÇÕES DOS
SEUS 25 ANOS.
Antes da minha nomeação como Directora
da CNB, em Maio de 2001, muitos foram
os que, com o seu amor, trabalho e dedicação,
tornaram possíveis os 25 anos que agora
comemoramos.
Cabe-lhes a eles, por inteiro, a maior parte
do mérito da vida da CNB.
É para eles hoje o vosso aplauso.
Muitos, ao longo destes 25 anos foram
ultrapassando problemas, acumulando
sucessos, vivendo também algumas desilusões,
mas cumprindo sempre um serviço público
de que a Companhia Nacional de Bailado foi
incumbida: divulgar a Dança em todo
o território nacional, representando Portugal
no estrangeiro, servindo o público
e progressivamente estimulando e acolhendo
gerações de bailarinos portugueses.
E foi esse espírito e essa imensa vitalidade que
vim encontrar nesta Companhia. Por isso,
e para todos os obreiros desta instituição - aos
Directores, aos Mestres, aos Ensaiadores,
aos Bailarinos, aos Técnicos e aos
Administrativos, que trabalham ou
trabalharam na CNB a minha profunda
admiração, e o meu obrigado.
Resta-me garantir que tudo farei para que
a CNB continue a ser uma realidade
incontornável no panorama artístico
português.
Para tanto basta que o público nos acarinhe,
e a tutela saiba entender as reais
especificidades da Dança, uma vez que com
ela trabalharemos com entusiasmo e dedicação
na definição e busca das melhores soluções,
para a continuidade da força, da vitalidade
e da missão atribuída à CNB.
Ana Pereira Caldas
Directora
Abril 2002
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© Eduardo Gageiro
© Rodrigo César
Romeu e Julieta
Cantoluso
A CRIAÇÃO DA COMPANHIA
NACIONAL DE BAILADO EM 1977
TEM UM SIGNIFICADO MUITO
ESPECIAL NA HISTÓRIA
DAS POLÍTICAS CULTURAIS
PORTUGUESAS APÓS O 25 DE ABRIL.
Em primeiro lugar, porque correspondia a um
sonho velho de décadas do nosso meio
artístico, que era o de dotar Portugal de uma
companhia capaz de apresentar ao público de
todo o País, de uma forma regular e
continuada, o património da grande tradição
coreográfica clássica e romântica e de se abrir
ao mesmo tempo às novas linguagens da
Dança do nosso tempo.
Depois, porque, com a excepção do arranque
do Teatro Nacional de São João, no Porto, em
1995/96, a CNB constitui a única grande
instituição pública no domínio das Artes do
Espectáculo criada de raiz pelo regime
democrático, já que no caso das orquestras ou
dos restantes Teatros Nacionais se verificaram
sobretudo mudanças de nome e de modelos
orgânicos em realidades artísticas já
existentes. É bom, por isso, ver uma iniciativa
de semelhante relevo associada a um grande
nome da criação artística e literária
portuguesa como o do poeta David Mourão
Ferreira, que era à data da criação da
companhia o Secretário de Estado da Cultura
do governo de Mário Soares, e que foi então o
grande promotor do projecto.
Poucas foram, por outro lado, as grandes
instituições culturais portuguesas que tanto
e tão depressa se legitimaram junto do público
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como a CNB. Sob a direcção de Armando
Jorge, que depressa emergiu da direcção
colectiva inicial como o grande mentor
individual da companhia, a CNB conquistou
e fixou milhares e milhares de novos
espectadores para a Dança em todo o País,
esgotando sistematicamente as lotações dos
seus espectáculos onde quer que se
apresentasse. Nesse sentido, é lícito dizer-se
que mesmo os sectores de vanguarda da
chamada Nova Dança portuguesa, que nesse
mesmo período despontavam com uma
energia notável, e que, muito
compreensivelmente, se não reviam na
orientação estética da companhia, vieram a
beneficiar do trabalho intenso de
sensibilização para a Dança que a nova
instituição para a Dança ía desenvolvendo à
escala nacional com um sucesso assinalável,
em paralelo com a acção igualmente decisiva
do Ballet Gulbenkian no seu âmbito específico
de repertório e de orientação artística. E pela
primeira vez o público em geral se habituou a
reconhecer e a aplaudir com um carinho, num
repertório extremamente apelativo para uma
faixa potencial muito ampla de espectadores,
bailarinos clássicos portugueses de excelente
nível como uma Maria José Branco e um
Miguel Lyzarro, uma Luísa Taveira, uma
Cristina Maciel, um Guilherme Dias. A CNB
atravessou depois um período difícil no início
dos anos 90. Apesar de ser um organismo
público, a sua gestão foi subitamente confiada
a um instituto de natureza jurídica privada,
sofreu cortes orçamentais gravíssimos que
inviabilizaram em grande parte a sua
actividade artística, e os seus bailarinos
ficaram sujeitos a um regime de contratação
© Rodrigo César
© Rodrigo César
Artifact II
The Lisbon Piece
de permanente instabilidade, tudo isto
contribuindo para um ambiente geral
de desalento que ameaçava degradar
irremediavelmente o seu projecto artístico.
Entre 1995 e 1997, no meu período
de passagem episódica pelas funções
de Secretário de Estado da Cultura, tive
o gosto de, sucessivamente, poder nomear
Jorge Salavisa para responsável artístico
da companhia, num primeiro momento ainda
com um estatuto provisório de meu Assessor,
regularizar a situação contratual
dos bailarinos, e por último redigir e fazer
aprovar a nova lei orgânica da CNB,
que a confirmou inequivocamente como
instituto estatal vocacionado para uma missão
de serviço público artístico. A acção
de Jorge Salavisa à frente da companhia,
de cuja nova orgânica veio a ser o primeiro
Director-Geral, secundado por Luísa Taveira
como Directora Artística e por Carlos Vargas
como Subdirector-Geral responsável por toda
a gestão administrativa, financeira e logística,
foi verdadeiramente extraordinária,
correspondendo de certo modo, a uma
segunda fundação. A CNB ganhou uma nova
dinâmica, renovou os seus quadros artísticos
com jovens bailarinos dotadíssimos que logo
se destacaram nos elencos, como uma
Alina Lagoas, um Bruno Roque, ou um
Fernando Duarte, associou-se a grandes
nomes da criação coreográfica internacional
como William Forsythe ou Anne Teresa
De Keersmaeker, revelou novos coreógrafos
como David Fielding ou Rui Lopes Graça,
e retomou com uma intensidade nunca vista
o seu programa de itinerância pelo País,
actuando muitas vezes em ginásios ou em
palcos pré-fabricados, sempre com uma
capacidade espantosa de captação de novos
públicos. (...) Penso que neste é de elementar
justiça salientar o apoio mecenático
inteligente e plurifacetado que a EDP tem
vindo a prestar à companhia, contribuindo
decisivamente para o sucesso da sua acção.
Por minha parte continuo profundamente
associado à CNB por laços que são antes
de mais os de uma rede de afectos múltiplos
mas também de envolvimento profissional
e artístico directo, já que tive ocasião, nestes
últimos anos, de colaborar na produção
da banda sonora de dois dos seus novos
bailados, o Cantoluso, com a co-autoria
musical de Carlos Martins e a coreografia
de Armando Maciel, David Fielding
e Rui Lopes Graça, e a Savalliana, em que
revisitei com este último o universo musical
fascinante de Jordi Savall. (...)
Rui Vieira Nery
Universidade de Évora
(Excertos do Prefácio ao livro CNB- 25 anos da autoria de Susana de Jesus
Santos, publicado em Novembro de 2001)
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© Rodrigo César
IMAGENS.
DO PALCO E DA VIDA.
I.
Entrar na estação do Metro. Por entre a dispersão de quem vem e quem vai.
Descer os lanços das escadas até à gare. De súbito, fixar o olhar num cartaz.
A imagem de uma bailarina de rosto sereno que eleva uma perna sobre a barra - o pé aí repousado - em alongamento. Tudo em tons de azul.
© Rodrigo César
Na fotografia, tirada numa sala de ensaios, há ainda uma janela e luz que
entra. Ali, no túnel. Por instantes ficar apenas a olhar o cartaz. Depois seguir
viagem com os sentidos mais despertos. E com a imagem de uma bailarina
na memória.
II.
As pessoas que habitam aquele lugar singular feito de tudo isto - a CNB.
Imagens que surgem nos programas dos espectáculos da CNB e que revelam
um pouco da vida que existe para lá do Nº 20 da Rua Vítor Cordon, do que está
antes do palco.
© Rodrigo César
Intacto (Ensaio)
Savalliana
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Há outras imagens com essa capacidade de cativar e que nos acompanham
a partir daí. Como as fotografias a preto e branco de Inês Gonçalves,
as matizadas imagens de Daniel Blaufuks, os registos de Rodrigo César.
Nelas se encontram os movimentos dos corpos e o espaço dos ensaios. Rostos,
gestos, instantes, detalhes. Pausas. A luz, a respiração, a leveza, os cheiros
e os sons.
III.
No palco. Uma história por contar. Sentimentos e emoções partilhadas. Ir ver
a CNB como quem vai ao encontro de uma amizade. Que vamos conhecendo
melhor e nos surpreende ainda assim. Pela intensidade e entrega de quem
dança coreografias como The Lisbon Piece de Anne Teresa De Keersmaeker,
In The Middle Somewhat Elevated de William Forsythe e Savalliana
de Rui Lopes Graça. Pela versatilidade de habitar lugares tão distantes
e evocar sentimentos e afectos tão diversos como os daquelas obras.
Uma boa companhia, a Companhia.
© Rodrigo César
IV.
Distraído. Com um olhar assim, ir ver as apresentações da CNB. Deste modo,
mais disponível para a descoberta, para o inesperado, para as manifestações
subtis. Tudo em aberto para dar lugar ao novo gesto. Um olhar aberto.
Savalliana, Teatro Camões, Abril 2000. Em dado momento notar que
o olhar se distanciou do centro do palco para as laterais do cenário, despojadas
das telas negras de entrada. E aí observar um grupo de bailarinas que
preparam a entrada. Primeiro a cumplicidade dos seus olhares e depois
a concentração. O instante preciso. E num movimento determinado e elegante,
avançam em simultâneo para o palco, os corpos entrando na luz.
The Lisbon Piece
V.
Regressar. Entrar na estação do Metro. Descer os lanços das escadas até
à gare. De súbito, fixar o olhar num gesto. A carruagem que abre as portas.
E uma rapariga sai, avança num movimento determinado e elegante do corpo.
Como se procurasse a luz.
Por instantes ficar apenas a olhar. Depois seguir viagem com os sentidos mais
despertos. E com o movimento de uma rapariga na memória.
José Paulo Marques
Março de 2002
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FOI COM MUITA SATISFAÇÃO QUE
OS RESPONSÁVEIS PELOS DESTINOS
DO BALLET GULBENKIAN VIRAM
NASCER EM 1977 A COMPANHIA
NACIONAL DE BAILADO. Com efeito,
desde a sua criação em 1965 e até então,
o Ballet Gulbenkian vira-se moralmente
forçado a conciliar o repertório
contemporâneo com o clássico, muito embora
não dispusesse dos meios ideais para
apresentar este último. (Havia então
em Portugal apenas uma outra companhia
de bailado, o Verde Gaio, que quase
se restringia exclusivamente à dança de raiz
folclórica e à colaboração em espectáculos
de ópera).
Foi assim que o Ballet Gulbenkian dançou:
Carnaval, As Sílfides, Giselle, 2º acto
de O Lago dos Cisnes, As Bodas de Aurora,
Quebra-Nozes e Petruchka, além de versões
reduzidas de Coppélia e La File Mal Gardée.
Deste modo se exerceu uma acção divulgadora
do repertório tradicional, tornando-o acessível
a vastos sectores do público português
que de outro modo só de longe em longe,
ou mesmo nunca, teria oportunidade
de o apreciar ao vivo.
Com a criação da Companhia Nacional
de Bailado, o Ballet Gulbenkian pôde
finalmente passar a concentrar-se com
coerência e pleno proveito na dança
contemporânea, para a qual se encontrava
mais especificamente vocacionado, tanto pela
sua dimensão como pelas características
dos seus bailarinos.
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Em jeito de parêntesis vem a propósito
recordar que a Fundação Gulbenkian
deu indirectamente uma contribuição
para a CNB durante a primeira fase
da sua existência. Do Ballet Gulbenkian
saíram para a CNB: Armando Jorge, que viria
a ser o primeiro director artístico desta
última, e ainda os dois bailarinos solistas
Maria José Branco e Miguel Lyzarro.
Na CNB ingressaram também cinco jovens
bailarinos que tinham acabado de beneficiar
de bolsas de estudo da Fundação Gulbenkian
para aperfeiçoamento artístico
na Grã- Bretanha e em França (Luisa Taveira,
Cristina Maciel, Laura Pinto, Alfredo Gesta
e Guilherme Dias) e ainda um outro formado
nos Cursos anexos ao Ballet Gulbenkian
(Pedro Romeiras).
Hoje, decorridos os seus primeiros 25 anos
de vida, é altamente gratificante olhar a obra
realizada pela CNB. Apesar de alguns
sobressaltos sofridos por circunstâncias
de ordem institucional, a Companhia
tem mantido sempre, de um modo geral,
uma alta qualidade artística e uma acerta
da escolha de repertório. O público português
passou a poder (re)ver periodicamente,
e em versões fidedignas, os bailados do grande
repertório clássico-romântico. Outro facto
de suma importância foi a incorporação
de algumas obras bem representativas
do repertório Balanchine (o que pela primeira
vez se verificou com uma companhia
portuguesa).
Simultaneamente, a CNB tem-se aberto com
êxito do repertório contemporâneo.
Particularmente oportuna se revelou,
neste campo, a opção por coreógrafos que,
de modo habitual ou só pontualmente (casos,
respectivamente, de William Forsythe
e Anne Teresa De Keersrmaeker), cultivam
estéticas de contemporaneidade com base
nos desenvolvimentos entretanto processados
a partir da técnica académico-clássica.
Nota alta merece ainda o trabalho sistemático
de formação de jovens bailarinos empreendido
pela CNB, bem como o encorajamento dado
à revelação e afirmação de novos talentos
coreográficos surgidos de entre bailarinos
portugueses ou residentes em Portugal.
Com a CNB, Portugal passou finalmente a ter
a sua grande companhia clássica de dança
do tipo que é normal haver em qualquer país
do mundo ocidental culturalmente evoluído.
Por tudo isto, parabéns CNB!
© Eduardo Saraiva
Petruchka
© Rodrigo César
Assim como foi importante a montagem
das versões originais reconstruídas
de duas obras paradigmáticas do início
do modernismo: A Sagração da Primavera
de Vaslav Nijinsky e As Bodas
de Bronislava Nijinska.
Carlos de Pontes Leça
Director Adjunto do Serviço de Música
Fundação Calouste Gulbenkian
Abril 2002
A Sagração da Primavera
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© Rodrigo César
Giselle
BAILADO DE PANTOMIMA EM DOIS ACTOS
DE THÉOPHILE GAUTIER E VERNOY DE ST. GEORGES
Coreografia
Música
Cenário e Figurinos
Desenho de Luz
Mestre Responsável pelo Bailado
Ensaiadores
Georges Garcia segundo Marius Petipa, Jean Coralli e Jules Perrot
Adolphe Adam
António Lagarto
João Paulo Xavier
Maria Palmeirim
Kimberley Ribeiro
Isabel Fernandes
Produção Musical
Círculo Musical Português
Orquestra Sinfónica de Lisboa
Direcção Musical
James Tuggle
Para a Produção de Giselle
Colaboração para Figurinos
Assistente de Cenografia
Maria Helena Redondo
Pedro Silva
Execução do Guarda-Roupa
Costureiras
Oficina CNB
Alexandrina Conde
Ricardo Miranda
Antónia Costa
Rui Lopes
Helena Freitas
Catarina Varatojo
Paula Marinho
Opera Scene Europa
Conceição Miranda
João Barros
Irene Borginho
Execução de Adereços
Helder Ferreira
Fernanda Campos
Execução de Chapéus
Cláudia Ribeiro
Celeste Santos
Marian de Graeff
Esmeralda Sousa
Catarina Varatojo
Helena Martins de Sousa
Assistente de Figurinos
Execução de Cenário
Pintura de Linóleo
Execução de Cabeleiras
Execução de Jóias (II Acto)
Auxiliar de Guarda-Roupa e Costura
Costureira Assitente
Carla Cruz
Juracy Bastos
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Giselle
© Rodrigo César
sinopse
PRIMEIRO ACTO
A cena tem lugar em frente à casa de Giselle,
numa aldeia junto ao Reno.
Giselle é uma camponesa de compleição frágil
que tem duas paixões na vida, uma é dançar
e a outra é o seu vizinho Loys. Giselle ignora,
no entanto, que Loys é na verdade o Duque
da Silésia de nome Albrecht, e juntos dançam
e trocam palavras de amor. Não se apercebem
que estão a ser constantemente vigiados
por Hilarion, um caçador que ama Giselle mas
que é por esta repudiado.
© Rodrigo César
Giselle (Ensaio)
Na aldeia festeja-se entretanto o final
da estação das vindimas onde todos dançam
alegremente, incluindo Giselle e Albrecht.
Berta, mãe de Giselle, lembra a filha que
dançar excessivamente só lhe trará fadiga,
e conta a história das wilis, espíritos
de raparigas que morreram solteiras e que,
na escuridão da noite, se vingam dos seus
amados fazendo-os dançar até à morte.
Mas Giselle não toma muita atenção
à advertência da mãe e continua a dançar.
Ao ouvirem-se as trompas que anunciam
a chegada dos caçadores, Hilarion repara
que Albrecht e o seu escudeiro se escondem
na cabana de Loys, facto que ele estranha.
Vem mais tarde a descobrir, precisamente
dentro da cabana (e que virá de resto a ser
o seu trunfo para desmascarar Albrecht),
uma espada com características tais que só pode
pertencer a um homem de elevada condição.
Giselle (Ensaio)
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Ao terminarem uma caçada, o Duque da
Curlândia, a sua filha Batilde e a respectiva
Esta fica impressionada com a beleza
de Batilde que por sua vez lhe oferece
um colar. Os camponeses continuam
a dançar, Giselle é coroada rainha
das vindimas e é no auge destes festejos
que Hilarion desmascara Albrecht,
revelando a sua verdadeira identidade.
Albrecht ajoelha-se perante Batilde
de quem na realidade está noivo e beija-lhe as mãos.
Giselle fica destroçada e desmaia.
Ao despertar e perante tal infelicidade,
perde a razão e dança tragicamente,
acabando por morrer.
© Rodrigo César
da sua amada. Giselle, agora uma wili,
levanta-se do túmulo e dança com
Albrecht, deixando-o completamente
enfeitiçado.
Cresce a intensidade dramática. O jovem
tenta resistir à exaustão e Giselle apela
a Myrta que poupe o seu amado a tão
terrível destino. Em vão porém...
Giselle continua a dançar com Albrecht
até que o romper da madrugada faz
desvanecer o encanto das noivas mortas,
salvação de Albrecht.
Giselle retorna à sua tumba e lança um
último adeus ao seu amado.
Giselle (Ensaio)
© Rodrigo César
comitiva visitam a aldeia onde
vive Giselle.
SEGUNDO ACTO
A cena tem lugar na floresta, no reino
das wilis.
Hilarion encontra-se aos pés do túmulo
de Giselle, amargurado e arrependido.
À meia noite aparece Myrta, rainha
das wilis, acompanhada por outras wilis,
e juntas executam uma dança
de acolhimento à recém-falecida, Giselle.
Hilarion sucumbe ao feitiço destas
sedutoras e perigosas criaturas, e estas
arrastam-no para uma dança mortal.
Surge Albrecht, com um ramo de lírios
brancos, que deposita aos pés do corpo
Giselle (Ensaio)
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Giselle
ou Les Wilis
© Eduardo Saraiva
Bailado em 2 actos
Estreia Absoluta
Paris, Teatro da Academia Real de Música,
28 de Junho de 1841
Estreia em Portugal
Lisboa, Teatro Nacional de São Carlos, 1843
Estreia no Grupo Gulbenkian de Bailado
Lisboa, Cinema Tivoli,
14 de Janeiro de 1967
Estreia na Companhia Nacional de Bailado
Giselle, 1987
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Lisboa, Teatro Nacional de São Carlos ,
15 de Outubro de 1987
O Tempo 1
Suspenso
Giselle
ou Les Wilis
O Romantismo é uma provocação e os seus
homens dados a estados de espírito.
Individualizado e ressentido da realidade
exterior, o homem romântico afirma-se pela
criação de um mundo em suspensão. Para ele
o tempo existe – mas parado, não se
sucedendo. É a cristalização da ocorrência
feita ideal romântico. A atracção e o fascínio
concorrem na sua imaginação, despoletando
impasses e quedações. E se a sua acção não
é senão errância, o seu universo
... n’est qu’ ordre et beauté,
luxe, calme et volupté !
Será pelo outro lado da paixão - o tempo - que
o romântico, esse evadido da História,
é conduzido ao suicídio, à pobreza ou à Grécia.
E assim se resolvem!
Não foi sem alguma inquietação e total
estupefacção que pela primeira vez encarei
a possibilidade de um homem ter como
anátema o dançar até morrer. Antes direi
perecer e não até morrer, já que de coisa
romântica se trata, acontecendo o caso na
história de Giselle.
Emergindo das proximidades germânicas
e anglo-saxónicas, em cujos abismos habitava,
surge toda uma população de seres dançantes,
natureza feminina e sexualidade
potencialmente desvirtuada, ao serviço da
ideia fantástica que é o momento, inteiro
e temporal, do humano e do divino
a nivelarem-se no amor sem medida.
São as sílfides ou as wilis, os gnomos e os elfos,
as náiades, as ondinas e as salamandras,
os duendes e as péris..., invadindo Paris
e a fantasia dos mestres de bailado.
Na representação do romantismo, os seus
autores não hesitam em ultrapassar
a mitificação da mulher, inerente a qualquer
ideal de cavalaria: de natureza aparacional
(veja-se a Sílfide ao insinuar-se junto da lareira
ou a Giselle elevando-se da campa), ela fica
agora descarnada de todos os seus atributos
humanos. A ânsia e o ocidental gozo
comprazem-se na contemplação desse farrapo-de-além em suspenso – infinitamente belo,
infinitamente terrífico.
E predisposta à glorificação, a mulher assume-se etereamente, não se opondo ao vazio
biológico da sua nova imagem. A Taglioni,
por exemplo, esfumava a sua corporeidade
vestindo-se de musselina branca, dentro
e fora do palco.
Por sua vez, os protagonistas destas cruzadas
para o abismo desta infinita felicidade
dispõem-se à união contra-natura que é a
do ser humano com o semi-divino. No entanto,
reconhecendo-se como heróis, actuam em
condição que nunca será própria de deuses –
o heroísmo.
Apesar da quase religiosa bofetada que os
românticos pretendem desferir ao sofrimento
e à morte, não os contemplando na sua fixação
do universo, será por aí que os iremos recolher.
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Mortal ou indiferentemente, James
e Albrecht, depois da sua aventura em
La Sylphide e Giselle, jazem por terra. Nem
o vaticínio quiromante, nem o exorcismo
da cruz, os impediram de soçobrar na paixão
desenfreada. Não será ultrajante pensar que,
na sua alada errância, o tema romântico
se desenvolva em um ciclo representado
coreograficamente pelos bailados La Sylphide,
Giselle e Les Sylphides.
Se La Sylphide, em 1832, estabelece
a estrutura paradigmática de um enredo
dançado a almejar o espírito romântico
(todas as produções do bailado romântico
que se lhe seguiram favorecem o envolvimento
e confronto entre um homem e um ser
sobrenatural feminino, v. G. La Péri, Ondine,
Éoline e mesmo O Lago dos Cisnes), Giselle
ou Les Wilis, em 1841, explicita – clara
e concludentemente – o dilema em que vive
o romântico: o objecto do seu desejo ora está
reduzido à dimensão humana (1º acto), ora se
evola no real (2º acto). Em La Sylphide,
o mesmo objecto era exibido ao nível do sonho
desde o início do bailado.
Situação que o neo-romantismo
de Les Sylphides, em 1909, e ainda em Paris,
viria finalmente a contornar: tão-só poeta,
esse o humaníssimo herói que, já sem profissão
de príncipe ou rico herdeiro, acabará por
resgatar o romantismo, ilibando-o de qualquer
culpa e conduzindo-o ao seu domínio
de redenção, a Poesia.
Tempo suspenso, Les Sylphides é apenas
sonho, exclusivo e onírico produto das visões
e íntimos devaneios do poeta.
Numa época de benefício para a ideia
e pretérito para o sonho, a concepção
de Les Sylphides dificilmente se poderia
imaginar. Da facto, durante as românticas
décadas de 30 e 40, a relevância do sonho era
aferida pelo seu estravasamento no quotidiano
e contributo para o real fantástico.
Não só por si próprios, mas também pela
novidade do seu tratamento (v. g. o vaporoso
figurino de Eugène Lami a substituir as
túnicas de cintura alta do tempo do Império,
a observância de um intervalo entre o 1º e o 2º
actos ou a execução de passos sur les pointes),
os temas apresentados no que ficaria
conhecido por ballet branco viriam a ser
confirmados nas várias capitais europeias
e a despertar para o triunfo durante o segundo
quartel do século passado. Em Lisboa, Giselle
ou Les Wilis, ponto culminante
da representação romântica na dança teatral,
só seria consagrado no início da década de 70.
Ramalho Ortigão dizia e escrevia, em 1891,
no álbum de seu filho, que o acaso fizera dele
um crítico. Fora um desvio de inclinação
a que se conservara fiel. O seu fundo era
o de poeta lírico.
O príncipe das Farpas que ficara para todo
o sempre – intimamente o reconhecia – um
tanto frade, um tanto soldado; a quem,
de pequeno, lhe ficaram indestrutíveis gostos
de ordem, de disciplina, de solidão, assistiu,
no dia 8 de dezembro de 1870, a uma récita
em São Carlos onde se cantou a Sonâmbula
e dançou a Giselle "no meio de grandes
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Giselle, 1987
e repetidos aplausos". E tanto admirou o baile
que não pôde "deixar de referir aos leitores
o assunto dele". Os leitores eram os do jornal
O Progresso do Porto.
Numa síntese de impressionante economia,
Ramalho resume o primeiro acto do bailado
a duas frases: "Gisela é uma noiva. A falsa
notícia do seu amor traído produz-lhe
a loucura e a morte."
O segundo acto, porém, será objecto de uma
narrativa onde predominam o enleio
e a divagação.
Les Sylphides
Giselle, amortalhada com um "prestígio
de amor e morte" comparado ao de Ofélia,
é sepultada "o meio de uma dessas paisagens"
em que sombras, arvoredos, rouxinóis
cantando languidamente e luar nas cascatas
e lagos se casam com o vago, impalpável
e feérico das febris concepções de Heine, Poe
e Baudelaire. A lua surge de entre "o silêncio
estático das trevas" e "na orla escura
e vaporosa das montanhas como um crescente
rutilo de opala por cima do turbante
muçulmano de um guerreiro negro."
Depois dos fogos-fátuos são as wilis, "filhas
da noite", que nessa "hora de solidão
e tristeza" se levantam "de entre a espessura
dos mirtos" e começam as suas danças,
"ora voluptuosas e dolentes, ora amantes
e cândidas, umas vezes ternas e brandas,
outras vezes vertiginosas e febris como a série
das iluminuras dos textos sobrenaturais
de Dante Alighieri desenhados pelo lápis
infinitamente imaginoso de Gustave Doré."
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A superfície das águas desprende "vapores
diáfanos, luminosos, deslumbrantes ";
as estrelas deixam cair electricidade e luz em
jorros "inundantes", enquanto as fontes são
lágrimas que cantam, o orvalho pérolas que
suspiram, os cedros e as murtas misteriosas
harpa gemendo e os rosais em flor estão
espalhadas "flautas invisíveis" que soluçam.
"Gisela é evocada do seu túmulo por meio
de um ramo encantado", surgindo "dentre
os goivos que a cobriam, bella e bianco vestita
como a musa da Divina Comédia". Deixando
cair o largo véu que a envolvia , "é outra
vez a vida, a vida dos sonhos, a vida em plena
posse do que ela tem de mais inefável
- o paraíso da esperança na sua imagem mais
querida!".
Giselle é agora uma wili entregando-se "à voz
omnipotente da fantasia" e a "energia da sua
nova existência" vibra-lhe as "asas que lhe
nasceram nos ombros".
Surge, no entanto, o elemento humano,
só, triste, alheado e saudoso, o herói, o noivo
que vem, "pelo silêncio da noite, depor-lhe
uma coroa na sua campa. Ela, que anda então
erradia e solta nos ares, (...) lança-lhes flores
baloiçada na extremidade dos ramos
das árvores como os antigos túmulos
egípcios”. "Por fim, poisa no chão, toca
a terra em que ele caminha; foge-lhe primeiro,
evita-o, esquiva-se como se não pudesse sem
quebra do encanto sujeitar a sua essência
etérea ao contacto impuro dos entes vivos.
Finalmente cede ao amor, ao amor que
a deprime ou que a exalta, como que
nivelando tudo, humanizando o que é divino
ou tornando divino o que é humano: Deixa-se
prender nos êxtases do esposo (...) e segura-o
nesse abismo da infinita felicidade pela força
divina das suas asas". "Mas os sonhos não
duram sempre.". E é a vez da realidade.
Um "debrum azul" ilumina os "píncaros
dos montes" e a estrela da manhã surge."
é a hora de recolherem os mortos aos seus
túmulos e de se erguerem os vivos daqueles
em que jazem ." Giselle, afundando-se na sua
campa, "à proporção que o dia aparece
desaparece ela." Ao noivo nada mais resta
senão cair morto de saudades e de amor."
E, fazendo recuar a lembrança, lá encontrarei,
a nítida, a visão de uma manifestação
primordial – a Dança.
Ângulo de tule, evolutivo, intangível, branco
hierático; dançar até ao fim, penalidade
e maldição anunciada pela idealização
do que já foi mulher agora nada mais senão
fantasma e wili, pura, adejante e fria – Mirta,
morta-viva; e o condenado estonteando-se
no amor inacessível...
Porém, contundente, a realidade!
O dealbar do dia, reprovando o sonho
e anulando o seu mortal desfecho, desperta
o herói para os escaninhos da solidão enquanto
a cortina da memória, pesada e inexorável,
sobre ele se abate.
Giselle, para além de constituir exemplo
acabado da expressão romântica na arte
coreográfica, apresenta-se, também, como caso
ímpar de performance de grupo, tendo
em conta o tempo que levou a ser concebido
e posto em execução.
Assim como o célebre tenor Adolphe Nourrit
havia recorrido ao conto de Charles Nodier,
Trilby ou Le Lutin d’Argail, para compor
o argumento do histórico e revolucionário
La Sylphide, Gautier deixou-se impressionar
pela leitura do livro de Heinrich Heine,
De l’Allemagne.
Heine faz referência à lenda das wilis, seres
que, segundo uma tradição eslava,
são donzelas noivas que morreram antes
do dia do casamento e que, não podendo
repousar em paz nos seus túmulos,
à meia-noite se levantam e juntam em bandos
pelas estradas. E mantendo, ainda, a paixão
que não satisfizeram em vida – a dança –
"ai do jovem que as encontrar, pois que será
obrigado a dançar até cair morto".
Gautier, imaginando o belo bailado que o tema
poderia proporcionar, decide-se a engendrar
uma história que lhe assegure a morte da
heroína no final do 1º acto, para que no 2º acto
possa surgir como wili. Inspirada em Victor
Hugo (Fantômes /Les Orientales), a acção
decorreria num belo salão de festas. Pela
madrugada, Mirta tocaria, com a sua mão
de gelo, o coração de Giselle, já excitada pelo
chão que a rainha das wilis, previamente,
encantara com a sua varinha de condão.
Não satisfeito com esta concepção, Gautier
encontra-se com Vernoy de Saint-Georges,
o qual, adaptando a ideia daquele, em três
dias escreve e faz aceitar o argumento
definitivo de Giselle, apresentando-a, primeiro,
como a camponesa duma aldeia
no vale do Reno, depois, como wili.
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© Inês Gonçalves
E no fim da semana, Adolphe Adam
improvisara a música que o tornaria célebre
(utilizando o princípio de leitmotiv,
toda a partitura obedece a quatro temas:
dos vindimadores, da cena de amor, das wilis
e da caça); os cenários de Ciceri, famoso pelas
suas reproduções de paisagens, estavam quase
prontos; Coralli punha a obra em ensaios
e Perrot, marido e professor de Grisi,
compunha todos os passos a executar por sua
mulher na figura de Giselle.
Como exemplo oposto, em tempo
de maturação, refira-se Les Sylphides que,
até ser apresentado como tal (Paris, Junho
de 1909), foi objecto de várias concepções,
tendo a sua primeira apresentação
(Chopiniana) ocorrido em Março de 1908.
Neste caso, só o Nocturno e a Mazurca
representavam cenas tão diversas quanto
o são o próprio Chopin entregue
à composição no interior de um mosteiro
abandonado e um casamento de uma jovem
com um velho na Polónia.
Em Portugal, Giselle foi apresentado
pela primeira vez, numa versão de Gustave
Carey, em Novembro de 1843 no Teatro
Nacional de São Carlos. Dançou a americana
Augusta Mabille, a primeira bailarina
da Opéra. A estreia foi tempestuosa devido
a uma pateada organizada por artistas
despedidos e a recepção ao bailado
caracterizada por relativa e generalizada
indiferença.
Na maior parte das cerca de vinte
representações de Giselle o que se deram
nesta altura, apenas o 2º acto era executado.
Esta obra voltou a ser dançada, desta vez
com êxito imediato, e igualmente
em São Carlos, em 1870, pela companhia
austríaca de Katti Lanner.
Verificar-se-ia um interregno de quase oitenta
anos, antes da apresentação seguinte
do mesmo bailado em Lisboa, o que sucedeu
com os Grands Ballets de Monte Carlo,
em 1947, após o que não mais deixaria
de ser incluído no repertório de grande parte
das companhias que, desde o pós-guerra,
nos vieram visitando. A primeira produção
portuguesa de Giselle deve-se ao Grupo
Gulbenkian de Bailado que a apresentou
na temporada de 1966/67, sob a direcção
de Walter Gore, no Cinema Tivoli em Lisboa.
Por fim, quase cento e trinta anos depois
da sua estreia absoluta, Giselle foi objecto
de uma produção nacional (Grupo Gulbenkian
de Bailado) em que o desempenho
das principais personagens era confiado
a intérpretes portugueses. Tal aconteceu
a 18 de Julho de 1970 no Teatro-Cine
da Covilhã. O bailado, remontado
por Anton Dolin, exibia uma distribuição
onde se incluía Isabel Santa Rosa (Giselle),
Armando Jorge (Albrecht), Ulrica Caldas
(Myrtha) e Carlos Trincheiras (Hilarion).
Miguel Lyzarro
1
In Revista São Carlos, nº 5, Jul/ Out 1987.
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Giselle
A história de um bailado
Gautier inspirou-se numa obra de Heinrich
Heine, o livro De l’Allemagne, mais
exactamente num passo em que ele falava
de vilas, espíritos de raparigas que morreram
solteiras e que, apesar de possuírem enorme
beleza, eram na verdade vampiros
que surgiam na escuridão da noite para
se vingarem dos seus amados, fazendo-os
dançar até à morte. Com a ajuda do escritor
e dramaturgo Jules Henri Vernoys de Saint
Georges e em apenas três dias, o libreto e a sua
adaptação ao palco estavam concluídos.
O grande desejo de Gautier era que Carlotta
Grisi interpretasse o papel de Giselle, e para
isso abordou Jules Perrot, seu professor
e “marido” (não há indícios de uma certidão
de casamento) que gostou da ideia
e de imediato contactou o compositor
Adolphe Adam. O director da Ópera de Paris,
Léon Pillet, ao tomar conhecimento desta ideia
e ao ler o libreto, aprovou a sua produção.
Adam interrompeu o trabalho que tinha
em mãos na altura, o bailado La Jolie
Fille de Gand, também a ser criado para
Grisi (que não estava porém muito
entusiasmada com a obra), e em três semanas
apenas estava concluída a partitura completa
para o bailado Giselle.
A coreografia foi encomendada a Jean Coralli,
mestre de bailado da Ópera de Paris, mas da
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© Eduardo Saraiva
O enredo do bailado Giselle foi concebido
pelo poeta e crítico francês Théophile Gautier,
em honra da bailarina Carlotta Grisi,
por quem ele tinha uma enorme adoração
e admiração, como pessoa e como artista.
Giselle, 1987
sua criação foram apenas as danças
de conjuntos e o pas-de-dix do primeiro acto
(coreografado à última hora e com música
de Frédéric Burgmüller). Todas as danças
da personagem de Giselle bem como a cena
da loucura e a dança de Hilarion com as wilis
foram coreografadas por Jules Perrot.
Ele conseguiu transmitir o dramatismo
das cenas através dos passos da coreografia,
ao contrário do que se fazia até então, que era
utilizar a mímica para tal efeito.
Apesar de tudo isto, nunca lhe foi reconhecido
verdadeiro crédito: não foi pago pelo seu
trabalho, e o seu nome nunca constou
nos programas. Circulavam rumores de que
Perrot aceitou esta situação placidamente
pois tinha esperanças de ser convidado para
o cargo de mestre de bailado na Ópera.
Giselle ou Les Wilis estreou na Ópera de Paris,
na 2ª feira de 28 de Maio de 1841, e foi um
verdadeiro sucesso a todos os níveis.
Os papéis principais foram dançados
por Carlotta Grisi (Giselle), Lucien Petipa
(Loys/Albrecht) e Adêle Dumilâtre (Myrta) .
A produção original consistia de 45 minutos
de cenas de mímica e de 60 minutos de dança,
facto que foi dramaticamente alterado
posteriormente. Foram cortadas muitas cenas
desta primeira versão do bailado, como
por exemplo uma em que Giselle revela a Loys
o seu sonho, no qual ele estava apaixonado
por uma dama da nobreza, e uma outra em
que Batilde reaparece no final do bailado para
recuperar o seu amado Albrecht. Também
o solo de Giselle do primeiro acto era muito
diferente, pois as sapatilhas das bailarinas
da época eram feitas de um material como
o cetim, muito fino e pouco resistente, sem
nenhum artifício especial para apoiar o pé.
O bailado foi remontado noutras cidades,
nomeadamente em Londres, São Petersburgo
e Viena em 1842, em Berlim e Milão em 1843
(em Milão a versão era composta por 5 actos,
com música e coreografias extra, de G. Bagetti
e A. Cortesi, respectivamente) e em Boston
em 1846.
Em 1850, em São Petersburgo, Jules Perrot
e Marius Petipa iniciaram um trabalho
de revisão e remontagem da coreografia,
do cenário e da música, processo que durou
alguns anos e cujo resultado final é hoje
considerado o que mais influência teve
em posteriores produções.
Fátima Brito
Giselle (Ensaio)
© Rodrigo César
© Rodrigo César
Impossível teria sido nessa altura a bailarina
executar os famosos hops da variação dos
tempos de hoje. Curiosamente, alguns
pormenores da primeira produção que haviam
sido cortados, foram recuperados para assim
manter o interesse histórico, um exemplo disso
é a cena de mímica em que Berta
(mãe de Giselle), conta a história das wilis
a Giselle e aos aldeões e adverte a filha para
o perigo da sua obsessão pela dança.
Giselle (Ensaio)
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Isabel Fernandes e Guilherme Dias
PARA QUEM VEIO DE LOURENÇO
MARQUES, SE INICIOU NO GRUPO
DE BAILADO VERDE GAIO e a quem
foi dito, ainda em Moçambique que
o pas-de-deux dos camponeses de Giselle,
nesta versão Pas-de-Dix, seria o limite
a atingir, integrar a CNB à data da sua
formação, com ela e nela crescer, era já
a minha lança de África na Europa.
Era bailarina e esse tinha sido o meu
grande sonho.
Por isso, quando Giselle, sempre nos planos
de Armando Jorge para a nossa Companhia,
finalmente se concretizou, constituiu
o culminar da minha carreira.
É curioso que só agora ao tentar analisar
o bailado me aperceba da clareza do seu final.
Ela diz tudo. Albrecht só na floresta –
os dois mundos de Giselle e do seu amor.
Se Albrecht ama ou não Giselle, se vai
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depositar flores no seu túmulo por amor
ou tão só remorso, é irrelevante.
Esta é a história da perda da inocência
de uma rapariguinha simples e ingénua,
profundamente vulnerável, a quem o choque
da traição ceifa a vida e da sublimação
do seu amor pelo perdão.
Na minha estreia, durante todo o espectáculo
senti a Companhia como um todo. Tanto em
cena, como nos bastidores todos me fizeram
sentir a sua Giselle. Do mesmo modo posso
dizer que todos eles fazem parte da minha
criação de Giselle.
Celebrando o 25º aniversário da CNB com
Giselle tenho a certeza de que a Ana,
a Daniela e a Adeline serão as nossas
e também as vossas Giselles.
Isabel Fernandes
Abril 2002
GISELLE, UM FATUM FEITO
MULHER E NUM CONCEITO
QUE É ETERNO E QUE NOS
ACOMPANHA DESDE SEMPRE.
A minha experiência neste bailado
foi bastante marcante já que tive
oportunidade de interpretar duas
personagens, Albrecht e Hilarião.
maravilhosa e estado de alma em ensaios
e em espectáculos, experiência essa
que eu espero que estes novos intérpretes
venham a ter.
Giselle é um bailado de morte que
é ainda mais acentuada pela vida do dia
a dia de uma pequena aldeia onde não há
grandes acontecimentos mas sim
pequenas alegrias.
No papel de Albrecht, há possibilidade
de explorar um lirismo dentro do bailado
que a meu ver iguala o lirismo de Giselle
(trata-se de uma excepção em bailados
de repertório do século XIX e princípios
do século. XX). Hilarião é uma
personagem magnífica que merece todo
o perdão do mundo. O seu erro foi amar
brutalmente e defender esse amor de um
intruso (e quem não o faria!).
Só assim este tipo de bailado conseguirá
sobreviver, e eu acredito que assim será.
Esta versão é das mais inteligentes
musicalmente, na qual todas
as prersonagens – e mesmo o corpo
de baile – têm uma importância teatral
fora do comum.
Giselle é um bailado complexo uma vez
que existem três personagens
condenadas à partida: uma pela sua
inocência, outra pela sua ligeireza que
é inerente ao seu estatuto social outra
condenada pelo seu ciúme que é
certamente o mais desculpável,
e o que transforma esta trama numa
tragédia do irreal.
Esta produção da CNB montada
por Georges Garcia foi uma experiência
Um pequeno apontamento: no dia
da minha estreia em Albrecht, o meu
Director Artístico à época, Armando
Jorge, veio ter comigo e disse :
- Veja lá o que vai fazer! Você é
o segundo Albrecht português, a seguir
a mim! (como quem diz Veja lá
a responsabilidade...).
Devo acrescentar para a história
que Armando Jorge foi o primeiro
Albrecht português numa produção
de Giselle montada na Fundação
Calouste Gulbenkian.
Guilhermes Dias
Abril 2002
Isabel Fernandes e Guilherme Dias
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Paola Cantalupo e Peter Lewton-Brain
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DANÇAR O BAILADO GISELLE
FOI PARA NÓS UM DOS PONTOS MAIS
ALTOS DA NOSSA CARREIRA,
NOS 4 ANOS DA NOSSA PERMANÊNCIA
NA COMPANHIA NACIONAL
DE BAILADO, SOB A DIRECÇÃO
DE ARMANDO JORGE.
Os desafios técnicos e artísticos da versão
de Georges Garcia, cuidadosamente estudados
e repletos de profundidade, conseguiram
que o presente se fundisse com o passado,
oferecendo-nos assim, a nós bailarinos,
uma experiência única dentro da verdade
universal do bailado. Todos os elementos são
indefiníveis e transcendem tempo e espaço,
tornando o bailado a forma de arte tão
fascinante como a conhecemos.
Tem sido nosso privilégio dançar
o pas-de-deux do II acto desta excelente obra
em muitos teatros do mundo, de Praga
a Tóquio, Tel-Aviv a Monte Carlo e na Ópera
de Paris. Connosco ficou não só a essência
da versão de Georges Garcia, como também
todo o trabalho do guarda-roupa
da Companhia Nacional de Bailado,
que artisticamente concebeu os fatos
que sempre nos acompanham.
Consideramos uma honra o facto de podermos
partilhar com outros esta dádiva
que adquirimos em Lisboa, no ano de 1986.
Paola Cantalupo e Peter Lewton-Brain
Abril 2002
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I Acto
António Lagarto – Cenário para a nova produção de Giselle na CNB em 2002
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II Acto
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© Rodrigo César
Georges Garcia
Natural de Camagüey formou-se
sob a orientação de Fernando e Alicia
Alonso, no Ballet Nacional de Cuba.
A diversidade do repertório
da companhia de Havana e o contacto
com mestres russos estão na base
do seu trabalho na área do bailado
clássico, designadamente
na sua preparação pedagógica na linha
das escolas do Bolchoi e do Kirov.
Estudou igualmente arte dramática
e técnicas de cena.
Em 1964 coreografou Majísimo
(Massenet), o seu primeiro bailado
para o Ballet Nacional de Cuba, o qual
ainda se mantém em repertório nesta
e noutras companhias. No ano seguinte
cria Amazónia (Reingold Glière)
e algumas danças para ópera.
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Radicado na Europa desde 1966,
fez parte do elenco do Ballet da Ópera
de Marselha e foi primeiro bailarino
da Ópera de Lyon. Trabalhou,
sucessivamente, como bailarino
principal, mestre de bailado e coreógrafo
no Ballet da Valónia, no qual, para além
de Noite de Walpurgis – da ópera
Fausto, de Gounod, coreografou
Sinfonia nº 39 (Mozart) e Tanagras
(Bernier) e remontou As Sílfides
e A Bela Adormecida.
Como mestre de bailado e coreógrafo
colaborou com o Ballet do Teatro
La Fenice, o Novo Ballet da Ópera
de Marselha e o Ballet Gulbenkian,
para o qual coreografou Três Movimentos
(Stravinsky), Duo (Benedetto Marcello)
e Variações Sinfónicas (César Franck),
além das remontagens de Majísimo
e do Grand Pas-de-Quatre (Cesare Pugni).
Em 1973 remontou o bailado Giselle
para a Companhia da Gulbenkian, tendo,
posteriormente, recriado a mesma obra
para o Ballet do Teatro Municipal do Rio
de Janeiro, o Ballet National de Marselha
(sob a direcção de Roland Petit) e para a
Companhia Nacional de Bailado, em 1987.
Em 1976 foi convidado pela Fundação
de Teatros do Rio de Janeiro para
reorganizar e dirigir o Ballet do Teatro
Municipal, companhia onde, depois,
viria a montar O Lago dos Cisnes,
Paquita, Grand Pas-de-Quatre
e Variações Sinfónicas.
Como Professor Convidado
tem leccionado nos cursos do Banff
Center (Canadá), no Festival
Internazionale della Danza (Veneza –
Itália) e no Festival Internazionale
del Balleto (Nervi – Itália).
Em 1979 foi Mestre de Bailado do Ballet
Théatre Français de Nancy e do Ballet
Nacional de Marselha e, posteriormente,
professor e coreógrafo convidado
do Ballet Real do Winnipeg, do Balletto
do Teatro Alla Scala, de Milão,
do Aterballetto (Reggio Emila),
do Balleto del Teatro di San Carlo,
de Napoles, do Ballet Gulbenkian,
da Companhia Nacional de Bailado
e do Boston Ballet, onde permaneceu
duas temporadas.
Actualmente é professor na Escola
de Dança do Conservatório Nacional,
onde, desde 1991, coordena a área
de técnica de dança clássica.
Para os alunos da escola lisboeta
remontou uma versão de La Fille Mal
Gardée que, posteriormente,
entrou no reportório da Companhia
Nacional de Bailado.
Recentemente tem vindo a colaborar,
com regularidade com o Ballet
Gulbenkian e a Companhia Nacional
de Bailado, de Lisboa, o Ballet
da Ópera de Lyon e os Ballets
de Monte-Carlo.
Adolphe Adam
Adolphe Adam nasceu em Paris a 24 de Julho
de 1803. O seu pai, professor de música
no Conservatório fez tudo o que pode
para que Adolphe não iniciasse uma carreira
musical, mas os seus esforços foram em vão.
Em 1821 Adolphe Adam entrou
no Conservatório de Paris, estudando órgão
e harmónio, com Benoist e mais tarde
com Boïeldieu. Um amigo de seu pai,
Ferdinand Hérold (compositor do bailado
La Fille Mal Gardée) encorajou-o a compôr,
especialmente para o teatro.
Aos 22 anos, Adam ajudou Boïeldieu
na orquestração da sua ópera La Dame
Blanche, e ele próprio transcreveu-a
para piano o que lhe permitiu vendê-la mais
facilmente. Com o dinheiro que fez com
este negócio, Adolphe Adam viajou por outros
países da Europa, Bélgica, Holanda,
Alemanha e Suíça, e nas suas viagens
conheceu Eugéne Scribe, com quem viria
a trabalhar em inúmeras óperas nos 30 anos
que se seguiram. Em 1830 Adolphe Adam
tinha já escrito 28 obras para teatro, incluindo
algumas danças e a sua primeira obra
dramática, a opereta em 1 acto,
Pierre et Catherine. A sua primeira ópera em 3
actos, Danilowa, obteve sucesso neste mesmo
ano, mas os últimos espectáculos foram
cancelados por causa da Revolução de Julho.
No entanto, ainda nesse ano Adolphe Adam
escreveu, em colaboração com Casmir Gide,
o seu primeiro bailado Chatte Blanche.
Fausto foi a sua primeira composição a solo
para bailado, em 1833, para o coreógrafo
André Deshayes, em Londres, a que se seguiu
La Fille du Danube, em 1836, para a bailarina
Marie Taglioni e para a Ópera de Paris. A sua
obra seguinte foi o trabalho que mais fama
lhe trouxe, o bailado Giselle, encomendado
pelo professor e coreógrafo francês Jules Perrot.
Esta obra, concluída em três semanas, tinha
como característica notável a introdução
de leitmotifs, motivos musicais associados
a diferentes personagens do bailado,
que permitiam assim a sua identificação
no decorrer da acção.
Foi pouco tempo após o sucesso de Giselle
que Adolphe Adam começou a ter problemas
com o novo director da Ópera de Paris,
o que o levou a demitir-se e a abrir o seu
próprio teatro, em 1847, o Théâtre National
em Paris, criado para formar jovens talentos.
Devido à Revolução, este projecto
só funcionou durante um ano, deixando
Adolphe Adam com dívidas enormes
e obrigando-o a retornar à profissão
de jornalista, para conseguir ganhar
algum dinheiro.
Em 1849 Adolphe Adam aceitou o cargo
de professor de Composição no Conservatório,
cargo que manteve até ao fim da vida.
Continuou a compor, sendo de destaque
o bailado O Corsário, que estreou em 1856.
Adolphe Adam faleceu em Paris, a 3 de Maio
de 1856, tendo escrito 40 óperas, 14 bailados
e um grande número de operetas e vaudevilles.
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© Rodrigo César
António Lagarto
Cenógrafo, figurinista e artista plástico.
Licenciado em escultura pela St.Martin's
School of Art, frequentou a Faculdade
de Arquitectura de Lisboa e é mestre
em Environmental Media pelo Royal College
of Art de Londres.
No âmbito do Porto 2001– Capital Europeia
da Cultura, António Lagarto criou o cenário
e figurinos para a ópera The Turn of The
Screw de Benjamin Britten, com encenação
de Ricardo Pais, no Teatro Nacional
de São João.
Em 2000, e ainda com encenação
de Ricardo Pais, criou os cenários e figurinos
para Madame de Maria Velho da Costa,
com Eunice Muñoz e Eva Wilma.
Iniciou a sua carreira com manifestações
de performance art e instalações,
apresentadas em exposições individuais
e colectivas em Lisboa, Londres, Florença,
Mântua, Nova Iorque e Porto. Participou
nas exposições Bienal ExperimentaDesign 99
(Lisboa), Perspectiva: Alternativa Zero
(Fundação de Serralves – Porto 1997),
e Design-Lisboa 94 (Centro Cultural
de Belém).
A exposição individual Situ-Acções,
foi apresentada nos Arcos de Miragaia
e Capela de Serralves (Porto - 1999/2000),
no âmbito do Festival PoNTI'99,
em co-produção do Teatro Nacional S. João
com o Museu Serralves.
Figurinos de António Lagarto, 2002
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Participou com uma selecção de fotografias
e a instalação Escada para o Paraíso
na exposição 2001- Odisseia no Tempo,
organizada pela Galeria Luís Serpa
e apresentada na Sala do Veado da Faculdade
de Ciências de Lisboa.
O seu primeiro trabalho para teatro
(em colaboração com o arquitecto inglês
Nigel Coates) foi o espaço cénico de Ninguém Frei Luís de Sousa, encenado por Ricardo Pais
(Teatro da Trindade – Lisboa 1978).
Desde então tem concebido cenários
e figurinos para teatro, ópera, dança,
e cinema, apresentados em Lisboa
(Teatro Nacional D. Maria II, Ballet
Gulbenkian, Festival Mergulho no Futuro EXPO98, LISBOA 94, Encontros ACARTE
1987); Porto; Londres (London Contemporary
Dance Theatre – Sadler's Wells); Festival
de Edimburgo 1988 (Traverse Theatre);
Paris (Théâtre National de la Colline, MC93
de Bobigny, Opéra Garnier e Opéra
de la Bastille); Madrid (Teatro Maria
Guerrero e La Comédia); Genève (La Comédie);
Ópera de Turim; São Paulo (Teatro SESC)
e Estrasburgo (Pôle Sud).
Trabalhou com os encenadores Ricardo Pais,
Jorge Lavelli, Alain Ollivier, Jenny Killick,
Maria Emília Correia e Nuno Carinhas;
e com os coreógrafos Robert Cohan,
Vasco Wellenkamp, Olga Roriz,
Ted Brandsen, e Paulo Ribeiro.
Foi director do Festival Internacional
de Teatro – FIT (Lisboa), de 1990 a 1995,
e subdirector do Teatro Nacional D. Maria II,
de 1989 a 1993.
A Viúva Alegre de Franz Léhar, com cenários
seus, na encenação de Jorge Lavelli,
direcção musical de Armin Jordan,
com Karita Mattila, foi transmitida
em directo do Palais Garnier, pelo Canal Arte
(31.12.1997).
Recebeu vários prémios quer como cenógrafo,
quer como figurinista: Associação Portuguesa
de Críticos de Teatro 1987, por Anatol; Garrett
1987 e 1989, por Anatol e Fausto. Fernando.
Fragmentos., respectivamente; Se7e de Ouro
1989, por Fausto. Fernando. Fragmentos.,
entre outros.
Albrecht
Concebeu a arquitectura de interior
para boutiques em Lisboa (Atalaia 31)
e em Londres para o designer de moda
Nova Iorquino Willi Smith (Neal Street
e St.Christopher's Place).
Para a Companhia Nacional de Bailado
concebeu os cenários e figurinos do bailado
A Bela Adormecida de Marius Petipa
com coreografia adicional de Ted Brandson
e música de Piotr IIitcht Tchaikovsky.
Em Dezembro de 2001, António Lagarto criou
os figurinos para a nova produção da
Companhia Nacional de Bailado de Romeu e
Julieta com coreografia de John Cranko.
Giselle
Figurinos de Lucien Petipa, 1841
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© Pedro Lobo
João Paulo Xavier
João Paulo Xavier é Director Técnico da
Companhia Nacional de Bailado.
Foi Director Técnico do Festival PoNTI /
TNSJ, entre 1999 e 2001. Exerceu as mesmas
funções nos festivais Danças na Cidade e
Mergulho no Futuro / Expo 98.
Realizou a pedido do Porto 2001 um estudo
e avaliação das principais salas de espectáculo
da cidade do Porto. Coordenou a recuperação
do Teatro Viriato e do Auditório Carlos Paredes.
Como desenhador de luz, trabalhou
com Ricardo Pais, Gastão Cruz, António Pires,
António Feio, Mari Emília Correia,
José Pedro Gomes, João Lagarto,
Nuno Carinhas, Paulo Filipe Monteiro,
Nuno Vieira de Almeida, entre outros.
Para dança criou desenhos de luz para
os coreógrafos Vera Mantero, Francisco
Camacho, Paulo Ribeiro, João Fiadeiro
e Madalena Victorino, entre outros.
Desde 1989 que desenvolve co-autorias nas áreas
das artes plásticas e vídeo-arte.
Integra como Director-Técnico a equipa
da Cultural Kids - Programas Culturais
dos 0 aos 16 anos.
Para a Companhia Nacional de Bailado, criou
o desenho de luz do bailado Romeu e Julieta em
Dezembro de 2001.
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James Tuggle
James Tuggle nasceu em Portland, Oregon,
em 1952. Foi em Los Angeles que iniciou
os seus estudos como maestro ( 1972-1976)
com o mestre Fritz Zweig, seguindo depois
para o Mozarteum, em Salzburg, continuando
os seus estudos com Otmar Suitner. Em 1980
Tuggle fez parte da Siena master class
de Franco Ferrarra e no ano seguinte
participou no curso de maestros na Fundação
Holandesa de Radiodifusão, sob direcção
de Neeme Järvi.
Em 1988, em Bona, James Tuggle conheceu
o coreógrafo Yuri Vamos com quem mais
tarde trabalhou (1991-1993), em Basileia.
Foi precisamente após uma estreia de sucesso
com a Ópera de Viena que foi convidado
para exercer o cargo de Maestro Principal,
Assistente Musical para o bailado e Maestro
de ópera. Durante a sua permanência
neste teatro e nos 4 anos seguintes,
James Tuggle dirigiu também espectáculos na
Ópera Cómica de Berlim e na Ópera de Roma.
De 1974 a 1976 James Tuggle foi maestro
da Ópera de São Diego e as três temporadas
seguintes trabalhou como maestro assistente
no festival da Ópera de Seattle,
para a produção de O Anel dos Nibelungos.
Em 2001 trabalhou com o American Ballet
Theatre, durante a sua temporada
no Metropolitan Opera House,
em Nova Iorque.
Já na Europa, em 1980, James Tuggle
colaborou com Jesus Lopez Cobos,
como assistente, na Ópera de Berlim
e na Royal Ópera de Londres, em Covent
Garden. Após a sua estreia em 1982 na Ópera
de Berlim, foi convidado para o cargo
de maestro residente, cargo que ele manteve
até 1984.
Nesse mesmo ano James Tuggle tornou-se
Director Musical do Ballet de Estugarda,
cargo que lhe deu a oportunidade de iniciar
um contacto maior com outras orquestras
de nível internacional.
Paralelamente e desde 1981 James Tuggle
tem também participado em concertos
em vários países da Europa. O seu repertório
inclui a maior parte das obras sinfónicas
e operáticas, e é especialmente notório
o seu desempenho em obras germânicas
do final do século XIX.
Actualmente e desde 1997 que James Tuggle
exerce as funções de Director musical
do Bailado em Estugarda, onde também
dirige espectáculos de ópera.
James Tuggle dirige Romeu e Julieta com
regularidade para o Ballet de Estugarda.
Para a Companhia Nacional de Bailado,
James Tuggle dirigiu Romeu e Julieta
em Dezembro de 2001 no Centro Cultural
de Belém.
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Círculo
Musical Portugês
O Círculo Musical Portugês é uma Associação
sem fins lucrativos, criada com o objectivo
de desenvolver as mais variadas acções
no campo da promoção da música erudita.
Organização de concertos, conferências, ciclos,
festivais de música, intercâmbio e estágios
com jovens músicos, etc., são algumas
das acções que o Círculo Musical Português
tem levado a efeito.
A Orquestra Sinfónica Juvenil
é o agrupamento mais mediático de entre
os que o Círculo promove. Trata-se da única
orquestra sinfónica de jovens
com funcionamento permanente existente
no país, que, desde a sua fundação, há 29 anos,
se apresentou, já, em centenas de concertos
por todo o país e estrangeiro.
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Para além da "Sinfónica Juvenil" o Círculo
Musical Português tutela a orquestra
de câmara "Camerata", a Orquestra Sinfónica
de Lisboa e variados agrupamentos de câmara
com os quais desenvolve uma intensa
actividade na programação de concertos.
No ano passado, o Círculo Musical Português
encetou uma colaboração com a Companhia
Nacional de Bailado, organizando a orquestra
que acompanhou o bailado Romeu e Julieta,
de Prokofiev, em vários espectáculos
no Centro Cultural de Belém.
Colaboração que agora continua,
com a participação da Orquestra Sinfónica
de Lisboa nesta produção da Giselle,
no Teatro Nacional de São Carlos.
© Augusto Alves da Silva, 2000
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© Eduardo Saraiva
Adeline Charpentier
De nacionalidade francesa, Adeline Charpentier
mostrou desde cedo um grande interesse
pela dança, passando grande parte dos seus
tempos de infância saltando e rodopiando
pela casa fora, ao som da música clássica
que o seu pai frequentemente ouvia.
Entrou para o Conservatório de Tours
aos 9 anos de idade, onde estudou
com Alain Davesne, da Ópera de Paris,
e onde ganhou um 1º Prémio, aos 15 anos.
Integrou o Ballet Théatre Français de Nancy
em 1978, sob a direcção de Jean Albert Cartier
e Hélène Trailine. Atingiu o grau de bailarina
Solista após 3 anos de permanência nesta
companhia e foi promovida a bailarina
Principal após ter dançado o papel
de “ballerina”, no bailado Petrushka, ao lado
de Rudolf Nureyev. Dançou vários bailados
do repertório desta companhia: A Sonâmbula
(Balanchine), Grand Pas Classique (Aubert),
Dessin pour Six (John Taras), Suite en Blanc,
Phèdre (Lifar), Otelo (Butler), entre outros.
Trabalhou com vários coreógrafos como
John Neumeier, Louis Falco, Viola Farber,
John Taras, Roland Petit, Serge Golovine,
Lorca Massine, John Cranko, Dirk Sanders,
Bertrand Date, Peter vanDick,
Janine Charrat, Serge Lifar, Jiri Kilian,
Nils Christie e Hans van Manen.
Teve como partenères bailarinos famosos como
Rudolf Nureyev (Apollo e Petrushka), Rudy
Brians (Les Biches), Denis Ganio
(Suite en Blanc) e Patrick Armand (Paquita).
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Em 1988, juntamente com o bailarino e seu
marido Didier Chazeau, e o filho de 2 anos,
veio para Portugal e integrou a Companhia
Nacional de Bailado, sob direcção
de Armando Jorge, como bailarina Principal.
Desde a sua chegada a esta companhia
Adeline tem vindo a interpretar grande parte
dos papéis principais do reportório
da companhia: Sonho de uma Noite de Verão,
O Pássaro de Fogo, La Sylphide,
Les Sylphides, O Lago dos Cisnes, Petrushka,
O Quebra Nozes, Dom Quixote, Coppélia,
La Fille Mal Gardée, Giselle,
A Bela Adormecida, Cinderela, Raymonda,
La Bayadére, Serenade, Tema e Variações,
Napoli, Concerto de Macmillan,
Quatro Temperamentos, Carmina Burana,
Quatro Canções para Coro Feminino, Diálogos,
Aract, e também obras de David Fielding
(Fratres, Bomtempo e Present Tense).
De carácter calmo e refinado, porém forte
e decisivo, Adeline Charpentier
é por excelência uma bailarina clássica
e revela que as personagens que mais gostou
de interpretar foram as de Giselle
e Odete/Odile, respectivamente dos bailados
Giselle e O Lago dos Cisnes.
Em 1994 Adeline teve o seu segundo filho.
Além de dedicar bastante tempo à família
e ao bailado, Adeline encontra sempre uns
momentos para se dedicar às artes plásticas.
© Rodrigo César
Ana Lacerda
Natural de Lisboa, nasceu em 1972. A desejo
de sua mãe, aos 5 anos de idade, Ana começou
a fazer ballet na escola que frequentava,
mas preferia a brincadeiras do recreio
à rigorosa disciplina das aulas de bailado.
Foi só mais tarde, curiosamente, que esta
arte lhe despertou interesse, precisamente
quando foi ver um espectáculo
da Companhia Nacional de Bailado,
A Sagração da Primavera de Carlos
Trincheiras. Inscreveu-se então no Centro
de Formação Profissional da Companhia
Nacional de Bailado onde verdadeiramente
iniciou os seus estudos de dança, tendo em
1988 integrado o elenco da Companhia.
carácter clássico como moderno. Fazem parte
do seu reportório como bailarina Solista
e Principal importantes obras como La Fille
Mal Gardée, A Sagração da Primavera,
Festival das Flores, Sonho de Uma Noite
de Verão, O Quebra Nozes, Concerto
(MacMillan), D. Quixote, A Bela Adormecida,
Coppélia, Giselle, Cinderela,
Romeu e Julieta,Tema e Variações,
Quatro Temperamentos, Agon, Apollo,
Serenade, bem como obras de William
Forsythe como Artifact II e In The Middle
Somewhat Elevated, este último tendo-lhe
merecido uma nomeação para os Prémios
Bordalo, no ano 2000.
Ana Lacerda aponta como principais mestres
para a sua formação Violette Quenolle,
Vladimir Petrunine, Eric e Maya Volodine,
Georges Garcia, Armando Jorge e Lynn Wallis.
Trabalhou também com David Fielding
(Bomtempo, Present Tense) e com Rui Lopes
Graça (DeSete, Llanto, Intacto, Dançares
e Savalliana).
Ana foi promovida a bailarina Principal
em 1995, tendo dançado a maior parte
do reportório apresentado pela Companhia
Nacional de Bailado. A sua versatilidade
artística mereceu-lhe menções de destaque
pelas suas interpretações de papéis tanto de
Paralelamente à dança, Ana Lacerda
é frequentemente convidada para trabalhos
fotográficos como modelo, e a sua outra
paixão além da dança é o mundo da pintura
e do desenho a que se dedica sempre que
tem uma oportunidade.
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© Rodrigo César
Daniela Severian
Daniela Severian nasceu em São Paulo, Brasil.
Iniciou os seus estudos de dança aos 4 anos
de idade sob nomes notáveis como Camilla
Pupa, Jane Blauth, Tatiana Leskova,
entre outros. Continuou os seus estudos
na Escola Municipal de Bailados de São Paulo
e ainda com alguns nomes da Escola Cubana
de Ballet como Ofélia González, Niurka
Naranjo e Laura Alonso.
Daniela ganhou seis primeiros prémios nos mais
importantes concursos de dança do Brasil
e ainda o Troféu Revelação do Festival
de Dança de Joinville (Santa Catarina),
em 1990, e o prémio de Melhor Bailarina
Clássica no Concurso de Dança e Coreografia,
CBDD (Concurso Brasileiro de Dança) em 1990
no Rio de Janeiro. Conseguiu a Medalha
de Bronze no primeiro Concurso Internacional
de Bailado de Kwanju, na Coreia, e a medalha
de Ouro no Sétimo Concurso de Dança
de Paris, França.
Foi partner de Fernando Bujones em 1993,
e de Carlos Acosta em 1999. Como bailarina
solista, em 1993, trabalhou na companhia
Fernando Bujones, Brasil, e como bailarina
principal fez parte dos elencos das companhias
alemãs Ballet da Ópera de Wiesbaden (1994
a 2001) e Ballet da Ópera de Essen
(1999 a 2000).
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A sua participação em importantes Noites
de Gala como bailarina convidada é vasta
e extende-se a muitos países, como
por exemplo a Ucrânia, Espanha, Brasil,
França, Itália, Estados Unidos da América,
Bulgária, Alemanha e a Escócia.
Fazem parte do seu reportório, além
de outras, as seguintes obras: Dom Quixote,
Paquita, O Corsário (Petipa), Diana e Acteon
(Vaganova), Giselle (Coralli/Perrot), Coppélia
(Alicia Alonso), Who Cares, Apollo,
Tema e Variações (Balanchine), Notre Dame
de Paris (Roland Petit), Ètudes (H.Lander),
Sonho de Uma Noite de Verão, La Fille Mal
Gardée (H. Spoerli), As Três Irmãs (V. Panov),
As Long As You Lust, Lichgebet (D. Simkin),
Bang on a Can ( Atem J. Southerland),
Muié Rendeira (Dalal Achcar),
O Quebra Nozes, Romeu e Julieta,
Gaité Parisienne, Je ne Regrette Rien
e Carmen (Ben van Cauwenberg).
Em 2001, Daniela ingressou na Companhia
Nacional de Bailado como bailarina Principal
e nesse mesmo ano interpretou o papel
de Julieta no bailado Romeu e Julieta, versão
de John Cranko, numa nova produção estreada
pela companhia em Dezembro de 2001.
© Rodrigo César
Fernando Duarte
Natural de Lisboa, Fernando Duarte nasceu
no ano de 1979. A sua mãe fazia-o acompanhar
o seu irmão mais velho (que tinha problemas
nos joelhos) às aulas de bailado,
mas curiosamente foi ele quem enveredou
pela carreira. Ingressou mais tarde
na Academia de Dança Contemporânea
de Setúbal, onde estudou sob orientação
dos professores Maria Bessa e António
Rodrigues, diplomando-se em Junho de 1996.
Durante a temporada de 1995/96 estagiou
na CêDêCê – Companhia de Dança
Contemporânea, onde dançou a maioria
do seu repertório.
Ingressou no Corpo de Baile da Companhia
Nacional de Bailado em Setembro de 1996,
sendo promovido a bailarino Corifeu
em Janeiro de 1998 e a bailarino Solista
em Janeiro de 1999. Fernando tem dançado
em todos os espectáculos da companhia,
seja em território nacional ou estrangeiro,
e tem tido a oportunidade de trabalhar
com mestres como Vladimir Petrunine,
Georges Garcia, Ivan Kramer,
Michael Corder, Mark Silver, Patricia Neary,
Lindsay Fischer, entre outros.
Do seu repertório destacam-se as
interpretações de personagens principais
nos bailados Cinderela, A Bela Adormecida,
Coppélia, Raymonda (III acto), Cantoluso,
Llanto, em obras de Balanchine como Agon,
Serenade, Apollo e também In The Middle
Somewhat Elevated, de Forsythe.
Fez também parte de todas as criações
contemporâneas para a CNB de Ted Bransen,
Kevin O’Day, David Fielding, Rui Lopes
Graça, Armando Maciel e Filipe Portugal.
Recentemente estreou-se no papel
de Romeu em Romeu e Julieta, na versão
coreográfica de John Cranko.
Paralelamente à carreira de bailarino,
Fernando Duarte apresentou-se
como coreógrafo nos Estúdios Coreográficos
da CNB em 1999 e 2001, com os bailados
Limite e (A)variando, respectivamente.
Foi também co-autor do Programa I de 2001
– Abril Águas Mil, da Companhia Dançarte.
Fernando Duarte sabia desde muito novo que
queria ser artista. Apesar do seu talento como
bailarino, Fernando espera um dia mais tarde
poder dedicar uma maior parte do seu tempo à
música, pela qual tem um grande fascínio.
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© Rodrigo César
Alistair Main
De nacionalidade britânica, Alistair Main
nasceu em 1970, em Telford, Reino Unido.
Iniciou os seus estudos de dança aos dez anos
de idade, na Royal Ballet School. Oito anos
mais tarde e tendo completado o curso deste
estabelecimento de ensino, deu início
à sua carreira profissional integrando
o London City Ballet (1989). No ano seguinte,
veio para Portugal onde passou a fazer parte
do elenco da Companhia Nacional de Bailado,
sob a direcção artística de Armando Jorge.
Tem, desde então, trabalhado com professores
como Lynn Wallis, Georges Garcia,
Vladimir Petrunin, Violette Quenolle,
Lindsay Fischer e Patricia Neary.
Promovido a bailarino principal em 1995,
a sua actuação na CNB inclui a interpretação
dos principais papéis de bailado do reportório
clássico como Coppélia, La Fille Mal Gardée,
O Quebra-Nozes, Les Sylphides,
Festival das Flores, Napoli, Apollo,
Tema e Variações, Serenade,
Os Quatro Temperamentos, Concerto
de Macmillan, Sonho de uma Noite de Verão,
Dom Quixote (Espada), Romeu e Julieta
(Tibaldo), Carmina Burana, entre outros.
Alistair Main, para quem Portugal faz já
parte da sua vida, tem uma filha nascida em
Lisboa no ano de 1998, com quem passa
a maior parte do tempo após o seu dia de
trabalho. Alistair Main tem também uma
outra paixão: carros de corrida.
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© Rodrigo César
Carlos Pinillos
De nacionalidade espanhola, Carlos Pinillos
nasceu em Novembro de 1977 e realizou
os seus estudos de dança no Centro de Dança
Victor Ullate, de 1984 a 1994. Trabalhou
com mestres como Carmina Ocaña,
Irena Milovan, Karemia Moreno,
Menia Martinez, Aurora Bosch, José Parés,
Lola de Avila, William Burmann,
Hanneker Berlangue, Lázaro Carreño,
Attilio Labis, Alain Baldini, Kevin McKenzie,
Lupe Serrano.
Carlos obteve a Medalha de Ouro e Prémio
Especial do Júri no 3º Concurso Internacional
de Dança de Viena e foi finalista no Concurso
Internacional de Dança de Paris 2000.
A sua carreira profissional teve início em 1995,
no Ballet de Victor Ullate, onde ascendeu
a bailarino Solista Principal em 1997
e a Primeiro bailarino em 2000.
Constam do seu reportório importantes obras
como Les Sylphides (M. Fokine), Giselle
(Coralli, Perrot), Dom Quixote
(Petipa, Ullate), Paquita (Petipa),
Diana y Acteon (Vaganova), Llamas de Paris
(Asafiev), Grosse Fugue, In the Future
(Van Mannen), Saeta, Le Boeuf sur le Toite
(Van Hoecke) e Romeu e Julieta, Arraigo,
Arrayan Daraxa, Ven que te tiente,
Jaleos, Simun, Tras el Espejo (Ullate).
Carlos Pinillos ingressou na Companhia
Nacional de Bailado, sob direcção
de Marc Jonkers, no ano de 200,
como bailarino Principal e tem vindo
a dançar algumas obras do reportório
da mesma como por exemplo
Tema e Variações, Apollo (Balanchine),
Romeu e Julieta (Cranko)
e A Cloud in Trousers (O’Day).
| 59 |
© Rodrigo César
Filipe Portugal
Natural de Lisboa, Filipe Portugal nasceu
em 1978.
Iniciou os seus estudos de dança na Escola
de Dança do Conservat¢rio Nacional, obtendo
o seu diploma em Julho de 1996.
Em Setembro do mesmo ano foi convidado
a integrar o elenco da Companhia Nacional
de Bailado, sob direcção de Jorge Salavisa.
Em Janeiro de 1999 foi promovido a bailarino
Solista.
Desde então tem vindo a trabalhar
com os professores Georges Garcia,
Vladimir Petrunine, Patrícia Neary,
Glen Tuggle, Ivan Kramer, Jan Linkens,
Mark Silver, Isabelle Fokine, Elisabeth Corbet,
Ivan Alonso, entre outros e com os coreógrafos
Anne Teresa De Kearsmaeker, Michael Corder,
Ted Brandsen, Rui Lopes Graça,
David Fielding e Armando Maciel.
| 60 |
No seu repertório destacam-se
as interpretações dos bailados:
A Bela Adormecida, Cinderela,
Romeu e Julieta, Coppélia, Raymonda, Agon,
Serenade, Tema e Variações, A Sagração
da Primavera, assim como em bailados
contemporâneos de Anne Teresa
De Kearsmaeker (The Lisbon Piece),
William Forsythe (In The Middle Somewhat
Elevated), Rui Lopes Graça (DeSete, Cantoluso,
Llanto, Dançares, Intacto, Savalliana),
David Fielding (Fratres, Cantoluso, Bomtempo,
Present Tense), Armando Maciel (Cantoluso),
Kevin O’Day (Aract) e Jan Linkens
(Bruicheath).
Em Fevereiro de 2001 participa no Estúdio
Coreográfico 2001 com a sua primeira
experiência coreográfica intitulada Anfractus
que passa a fazer parte do repertório
da Companhia Nacional de Bailado
sob a direcção artística de Marc Jonkers.
Inês Amaral
Adeline Charpentier
Ana Lacerda
Daniela Severian
Filipa Rola
Carlos Pinillos
Didier Chazeau
Alexandre Fernandes
Mário Franco
Alistair Main
Filipe Portugal
Danillo Mazzotta
Mariana Paz
Fernando Duarte
Filomena Pinto
| 61 |
Isabel Galriça
Brent Williamson
Luís d’Albergaria
Paulina Santos
Rui Lopes Graça
Catarina Lourenço
Guiomar Machado
Maria João Pinto
Fátima Brito
Rui Alexandre
David Fielding
Armando Maciel
Anne De Voss
Annabel Barnes
Alba Tapia
| 62 |
Sílvia Santos
Henriett Ventura
Xavier Carmo
Leonor Távora
Nuno Fernandes
José Carlos Oliveira
Filipe Macedo
Victória Monge
Pedro Mascarenhas
Frederico Gameiro
João Carlos Petrucci
Jon Ugarriza
João Pinto
Álvaro Santos
Eva van Duin
| 63 |
Marina Figueiredo
Andreia Pinho
Isabel Frederico
Eric Constantin
Etelvina Loureiro
Elsa Madeira
Helena Marques
Susana Matos
Solange Melo
Maria Paiva
Carla Pereira
Margarida Pimenta
Catarina Grilo
Irina de Oliveira
Sara Anjos
| 64 |
João Miranda
Maria Palmeirim
Maria José Branco
Kimberley Ribeiro
Isabel Fernandes
Violette Quenolle
Cristina Maciel
Ana Paula Ferreira
Imelda Cartwright
| 65 |
Ana Pereira Caldas
© Roberto Giostra
Directora
Ana Pereira Caldas nasceu em Lisboa
e iniciou os seus estudos de dança com
Wanda Ribeiro da Silva tendo sido mais
tarde sua assistente nos cursos de dança
da Fundação Calouste Gulbenkian.
Entre 1965 e 1972 frequentou diversos cursos
internacionais de dança e música tendo
trabalhado com os seguintes formadores:
Traude Schrattenecker, Barbara Haselbach,
Jos Wuetach, Dr. Regner, Wanda Ribeiro
da Silva e Maria de Lurdes Martins.
Em 1973 foi bolseira da Fundação Calouste
Gulbenkian tendo trabalhado em Londres
com os professores Madeleine Sharp,
Ruth French, Maureen Bowen,
Alicia Markova, Joan Lawson e Ninette
de Valois. Nesse mesmo ano foi convidada
para assistente da Professora Julia Cross
na Escola de Dança do Conservatório
Nacional. Foi ainda bolseira
do British Council tendo frequentado,
em 1983, o curso da Imperial Society
of Teachers of Dance.
Em 1976 foi eleita membro do Conselho
Directivo da Escola de Dança
do Conservatório Nacional e, em 1977,
foi nomeada pelo Ministro da Educação
membro da Comissão de Reestruturação
do Conservatório Nacional conjuntamente
| 66 |
com António Reis, João Benard da Costa,
Carlos Porto, Augusto Boal, Elisa Lamas,
Jorge Moyano e Elisa Worm entre outros.
Em 1985 foi eleita, e posteriormente nomeada,
Presidente da Comissão Instaladora da Escola
de Dança do Conservatório Nacional tendo
tido um papel preponderante na reconversão
da Escola de Dança do Conservatório
Nacional em escola de formação de bailarinos
profissionais com ensino integrado (projecto
educativo único no país), assim como
na atribuição do diploma de bailarino
com equivalência ao 12º ano. Muitos alunos
formados pela Escola de Dança
do Conservatório Nacional, durante
o seu mandato, integram hoje a Companhia
Nacional de Bailado assim como vários outros
grupos e Companhias de dança nacionais
e internacionais.
Proferiu várias comunicações sobre ensino
artístico e o ensino vocacional da dança
e escreveu diversos artigos na imprensa
sobre estes temas.
Em 1995, foi também eleita Presidente
da Comissão Coordenadora da Reconversão
do Conservatório Nacional, cargo que
desempenhou até ser nomeada, em 2 Maio
de 2001, Directora da Companhia Nacional
de Bailado.
Marc Jonkers
www.gert.weigelt.de
Director artístico
Após ter completado os estudos gerais,
Marc Jonkers (natural de Tilburg,
na Holanda) foi professor, antes de iniciar os
seus estudos como actor e director de teatro,
em Utrecht. Terminados os estudos
em Utrecht, enveredou pela dança,
que aprofundou em Haia, com Anne
Walsemann, a qual exerceu um papel decisivo
na sua carreira profissional, e em Nova Iorque,
onde recebeu ensinamentos da técnica
de Martha Graham, e sucessivamente
de Cunningham, Limon e bailado clássico.
De regresso à Holanda, integrou a nova
companhia experimental de Anne Walsemann.
Dada a insipiente formação e apresentação
de dança contemporânea no seu país, decidiu
criar uma escola particular em Utrecht.
No mesmo ano (1978), fundou nessa cidade
o primeiro festival europeu exclusivamente
dedicado à dança contemporânea, conhecido
pelo nome de Springdance. Assim se iniciou
um período de mais de vinte e cinco anos
em que foi director de festivais. Em 1984
integrou o prestigioso Festival da Holanda,
em Amesterdão.
Quando o Nederlands Dans Theater se fixou
em Haia, em Setembro de 1997, Marc Jonkers
foi convidado por Carl Birnie e Jiri Kylian
para fundar um festival semestral: estava
criado o Festival Holandês de Dança de Haia.
À frente de ambos os festivais, Marc Jonkers
descobriu novas revelações no mundo
da dança, e realizou produções e co-produções
com conceituadas companhias de dança,
e bailarinos e coreógrafos de renome.
Para além de ter colaborado com inúmeros
coreógrafos na Holanda, como Jiri Kylian,
Hans van Manen, Krisztina de Chatel,
Paul Selwyn Norton, Ton Simons,
Itzik Gallili, Ted Brandsen, Krysztof Pastor,
Hans Tuerlings, Arthur Rosenfeld
e Martino Müller, com ele colaboraram
igualmente William Forsythe (Frankfurt
Ballet), Anne Teresa De Keersmaeker (Rosas),
Pina Bausch (Tanztheater Wuppertal),
Ohad Naharin (Batsheva Dance Company),
Mats Ek (Cullberg Ballet),
Mikhael Baryshnikov (White Oak
Dance Company), Bill T. Jones
e Arnie Zane, François Raffinot,
Michael Clark, Stephen Petronio,
Philippe Découflé, e ainda as companhias
New York City Ballet, School of American
Ballet, Academia Vaganova (Escola de Kirov)
e Folkwang Schule. Em 1994 interrompeu
por algum tempo a sua participação
em festivais, para assumir plenamente
o cargo de director do Teatro-Dança
da Ópera Cómica de Berlim.
Trabalhando em conjunto com o seu associado
Jan Linkens como director artístico,
reconstituiu a companhia com base
no potencial dos bailarinos, tornando-a numa
companhia de dança aberta às tendências
inovadoras. Seguiram-se inúmeros convites
para apresentações da companhia na Europa
e em Israel. Marc Jonkers formulou uma nova
estrutura para o cenário da dança em Berlim,
considerada ainda como a mais completa.
Em Berlim cooperou vigorosamente
com o Teatro Hebbel e o seu director
Nele Hertling na apresentação de criações
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de uma jovem geração de coreógrafos
detentores de certo renome internacional,
como Cesc Gelabert,
Amanda Miller, Juan Carlos Garcia,
Vicente Saez e Samuel Wuersten.
Marc Jonkers logrou reunir a participação
dos três teatros de ópera no Festival
Internacional de Dança anual, Dança
em Agosto. Em 1996 retomou
a direcção de festivais, ao ser convidado
para director artístico do 8º Festival
Internacional de Dança de Northrhine –
Westfalia (ITF/NRW). Nas duas realizações
a nível mundial, que dirigiu (Faces of Dance
em 1998 e Millennium Moves em 2000) realçou
a importância de construir um reportório –
tradição em dança contemporânea, a ligação,
na arte da dança, entre tradição e inovação, e a
futura relevância artística da dança proveniente
dos continente asiático e africano. Convidou
entre outras, a Companhia de Twyle Tharp,
Stephen Petronio, a Companhia
de Gideon Obarzanek, Chunky Move,
da Austrália, as Companhias sul-africanas
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Moving into Dance e The Floating Outfit
Project, Irene Hultman, Sacha Waltz,
Henrietta Horn, Jo Fabian, Nigel Charnock,
Guangdong Modern Dance Company,
da República Popular da China,
Danza Contemporânea de Cuba,
Jan Lauwers`Needcompany (Bélgica),
Kevin O`Day e a quinquagenária Limon
Dance Company, de Nova Iorque.
Em 1997 foi eleito presidente europeu da World
Dance Alliance, a única para a dança,
mundialmente abrangente. Em 1998 fundou
uma associação de directores de teatro
para bailado e dança, a Liga Alemã
de Directores de Companhias e Teatros
de Dança (BBTK), que constituiu uma
plataforma federal para a dança nos teatros
municipais e estaduais na Alemanha.
Marc Jonkers é Director Artístico
da Companhia Nacional de Bailado
desde Janeiro de 2001.
Próximos Espectáculos
The Lisbon Piece
Maio 2002
Paris, Théâtre de La Ville
21, 22, 23, 24 e 25 às 2030
Giselle
Junho 2002
Funchal, Centro de Congressos do Casino da Madeira
1 e 2 às 21h30
Tema e Variações
e The lisbon Piece
Junho 2002
Lisboa, Teatro Camões
15, 16, 22, 23, 29 e 30 às 16h00 e às 19h30
Giselle
Julho 2002
Tavira, Pavilhão Dr. Eduardo Mansinho
12, 13 e 14 às 21h30
Romeu e Julieta
Julho 2002
Noites de Bailado
Sintra, Centro Cultural Olga de Cadaval
26 e 27 às 21h30 e 28 às 16h00
www.cnb.pt
[email protected]
| 69 |
| 70 |
| 71 |
© Paulo Catrica
Agradecimentos
Coordenação editorial
Selecção de textos
Arquivo fotográfico
Design
Tiragem
Contactos
Preço de venda ao público
| 72 |
Teatro Nacional de São Carlos
Cristina Jesus Santos
Fátima Brito
Marco Arantes
Ricardo Mealha/Ana Cunha design
1.500 ex.
Companhia Nacional de Bailado
Rua Vítor Cordon, 20 - 1200 Lisboa
Telef.: 21 347 40 48
Fax: 21 342 57 90
www.cnb.pt
[email protected]
€ 7,00

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