matriz de santo antônio de itatiaia, mg: história e estado de

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matriz de santo antônio de itatiaia, mg: história e estado de
MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO DE ITATIAIA, MG: HISTÓRIA E
ESTADO DE CONSERVAÇÃO.
Gutvilen, Alexandre (1); Silva, Fernanda (2); Pedrosa, Joicidele(3); Isenchmid,
Julia(4); Paiva, Tatiana (5).
1. Instituto Federal de Minas Gerais, IFMG.
Graduação em Tecnologia de Conservação e Restauro de Bens Imóveis.
[email protected]
2. Instituto Federal de Minas Gerais, IFMG.
Graduação em Tecnologia de Conservação e Restauro de Bens Imóveis.
[email protected]
3. Instituto Federal de Minas Gerais, IFMG.
Graduação em Tecnologia de Conservação e Restauro de Bens Imóveis.
[email protected]
4. Instituto Federal de Minas Gerais, IFMG.
Graduação em Tecnologia de Conservação e Restauro de Bens Imóveis.
[email protected]
5. Instituto Federal de Minas Gerais, IFMG.
Graduação em Tecnologia de Conservação e Restauro de Bens Imóveis.
[email protected]
RESUMO
Este artigo pretende registrar a história da Igreja Matriz de Santo Antônio de Itatiaia, distrito de Ouro
Branco, Minas Gerais. Há pouco material publicado sobre essa que é uma das primeiras igrejas do
estado e que remete ao começo do século XVIII.
Palavras-Chave: Matriz, Patrimônio, Conservação.
INTRODUÇÃO
“São muitos anos de história. Pedra sobre pedra, lavra e entalhe, prata e
douramento. Uma herança a
responsabilidade
nossa
que
nossos
transmitir
esta
avós
nos
herança
legaram. É
a
nossos
filhos”.(CDI/IPHAN-BH, 2014).
Esta frase, que aparece em uma reportagem de jornal, quando noticiava a restauração da
Igreja Matriz de Itatiaia, distrito de Ouro Branco, retrata o desejo de passar a diante a
história de uma igreja tão importante para Minas Gerais. Neste artigo, procuraremos tratar
dessa herança, que é uma das joias do estado, explorando seus aspectos construtivos e
arquitetônicos bem como o histórico das intervenções.
Encontrados no acervo do IPHAN de Belo Horizonte, são analisados os seguintes
documentos: Inventário de 1814, feito pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. Cartas
dos anos de 1949,1951 e 1952 entre o chefe do 3º distrito do DPHAN, Sylvio de
Vasconcellos, e o Diretor Geral, Rodrigo Melo Franco de Andrade. O levantamento
cadastral, realizado pelo Instituto Pró-Memória, junto ao Ministério da Educação e Cultura e
Secretaria da Cultura, em 1983, que impulsiona o processo de tombamento e restauração e,
faz um levantamento vasto dos documentos da igreja desde 1714, passando pelos livros
das irmandades, livro de notas e visitas, termo de visitas canônicas e paroquiais, etc. Além
da restauração realizada pelo IPHAN, em 1983. O inventário de bens móveis e integrados,
do Pró-Memória, de 1989, e outros documentos mais recentes entre 1991 e 2014, que dão
um panorama do estado atual da edificação.
ITATIAIA: DO POVOADO AO DISTRITO DE OURO BRANCO
Itatiaia, que hoje é distrito de Ouro Branco, certamente tem sua origem ainda no final do
século XVII, uma vez que já, em 1712, há o primeiro registro de batismo na atual igreja de
Santo Antônio, matriz do distrito. Sua origem está ligada, portanto, aos primeiros registros
de ocupação do território mineiro, embora, os documentos apresentados aqui, digam pouco
sobre a vida da comunidade. Para chegar a Vila Rica, uma das principais opções de trajeto
de paulistas e cariocas passava por Itatiaia.
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A HISTÓRIA DAS INTERVENÇÕES NA EDIFICAÇÃO
As datas apresentadas no texto foram retiradas do levantamento cadastral feito em 1983
pelo Instituto Pró-Memória, baseado na documentação do Arquivo Eclesiástico da
Arquidiocese de Mariana. Foi realizado um levantamento de toda documentação encontrada
da Igreja.
A história da edificação tem dois momentos construtivos. O primeiro, da capela primitiva, de
pau-a-pique, ainda existente, data de 1714. E o segundo refere-se a construção da nave,
em pedra que teve início em 1741 com os pedidos de construção pelos cônegos do Rio de
Janeiro, em visita à igreja, mas que se estende até o começo do século XIX com a
construção em condições de uso, embora não finalizado. (Livro da Irmandade / CDI IPHANBH, 2014).
A capela primitiva, data de 1714 em função do primeiro registro de batismo realizado na
igreja. Em 20 de agosto daquele ano. Mas pode ter sua origem no final do século XVII,
tomando relevância no começo do século seguinte, quando realizava batizados. A presença
da pia batismal evidencia um fato: a igreja tinha importância e procura. Do contrário, os
batizados poderiam ser realizados em Ouro Branco ou Ouro Preto. Importância que se
confirma, por documento de 1733, quando por ocasião da visita canônica do Doutor Manoel
da Roza Coutinho, é descrita a capela primitiva com a presença de 5 altares além de
quantidade vasta de alfaias e prataria. Em 1752 a Paróquia eleva-se à colativa, reforçando
sua importância na região.
A capela primitiva nos remete a arquitetura religiosa do Vale do Piranga, recebendo forte
influência no partido, com a presença das tribunas e em que os corredores laterais tornamse capela do santíssimo e sacristia. Como descreve a arquiteta Delmarí Ângela Ribeiro:
Como é típico das construções religiosas, desde o setecentos no Vale do
Piranga, seu partido é retangular e não apresenta torres. A nave central se
articula com a capela-mor pelo arco-cruzeiro e duas naves laterais onde se
sobrepõem as tribunas. A capela-mor é ladeada pela Capela do Santíssimo
e Sacristia. O frontispício apresenta composição tradicional com portada
principal sobreposta por duas janelas rasgadas na altura do coro e duas
janelas sineiras nas tribunas.(RIBEIRO, 2011).
Certamente os construtores da capela primitiva estão seguindo como parâmetros as capelas
da região do Vale do Piranga. Mas, é com os pedidos de uma nova igreja que podemos
concluir mais a respeito desse volume da igreja.
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Com a visita de Antônio Pereira Cunha em 1741, que “ordena a construção de uma nova
igreja” é que indícios são dados sobre a capela primitiva. Os desejos de uma nova igreja na
região são estimulados pelo estado de degradação desta capela. Nesta mesma visita o
cônego ainda aclama às irmandades da região: “(...) esperamos que as irm.des desta fregs.a
concorrão com o que poderem p.a que nella com mais decência possão ter colocadas as
imagens dos stos que são de sua devoção.” Assim, atendendo, coube às Irmandades do
Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito, a
encomenda.(CHUVA 1986 apud CDI/IPHAN-BH, 2015).
Em 1742, numa visita pastoral, João da Cruz reforça a necessidade de se construir uma
nova igreja, e em 1744, alega que “Itatiaia encontra-se sem igreja capaz”. Já em 1761, D.
José dos Santos diz em carta:
como achey a Capella Mor com as paredes arruínadas e também a da
do.
Sachrstia, mando ao R.
co
Par. recorra ao mesmo Sn. r. para que por Sua
Real Grandeza queira reedificar a dta. Capella Mor e Sacristia de pedra
visto ser de madra e barro a que se acha arruínada, ou (ilegível) dar hua
ajuda de custo para o mesmo reedificil de que tanto se caresse(...). (Livro
de Tombo, nº36.folha86. 1986 apud CDI/IPHAN-BH, 2014).
Os documentos mostram que a capela primitiva passava por momento difícil em que o
processo de ruína impulsionava o desejo pela reconstrução completa da igreja, colocando
essa volume a baixo para dar lugar a construção da igreja toda em pedra, como tornou-se
comum na segunda metade do século XVIII, nessa região de Minas Gerais.
O curioso é que mesmo com tantos pedidos a capela primitiva não foi demolida, mas
recuperada e incorporada na nova igreja. Em 1732, por exemplo, a Irmandade do Rosário
dos Pretos anota “pello que se dispendêo com a tinta para a capella.”. Em 22 de abril de
1744, uma visita pastoral registra que:
to
a
Nam com pequeno sentim ., achei esta freg. sem igreja capas pela
(ilegível) e pouco zello dos seus fregueses, pois o que esta principiado
senão augmentada, caem (ilegível) que se fazem os officios Divinos nam
está com a decencia neces.
ra
, pelo que exhorto, e mando aos fregueses
desta freguesia cuidem em acabar a Igreja no terno de quatro meses, ao
menos, a Capella Mor, para que nella esteja com mais decência o S.
to,
Sacram.
do
enão o fazendo no dito tempo o R.
ro
Vig
mo.
comsumirá o
Sacramento, e em quanto não houver lugar com mais decencia o nam terá
no Sacrario, o que o (ilegível) de baixo da pena de Suspensam ipso facto.
(Livro da Irmandade, 1730/1791. 3fls. dat. transcrição. Folha 33,
CDI/IPHAN-BH, 2014).
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A necessidade era urgente e, nesse caso, não poderia esperar a construção da nova igreja,
como aponta registro de visita paroquial. O estado de ruínas da capela primitiva trouxe a
ordem da proibição de uso do sacrário, e consequentemente da hóstia consagrada.
Em 1800, a Irmandade do Santíssimo Sacramento paga por um conserto no telhado da
capela-mor. E em 1824 um documento do livro de notas da igreja fala da “capela de
madeira, reedificada de novo, toda forrada, e pintada e campada”. Mas pela proximidade da
data do telhado, recém feito, acreditamos que trata-se, aqui, de obras de reparação,
provavelmente na argamassa de cobertura, dando um aspecto novo a porção primitiva da
igreja.
A partir de 1785, os documentos das irmandades apontam compras para as obras da nova
igreja. As datas alcançam 1800, com a caiação da igreja. A criação do Inventário feito pela
Irmandade do Santíssimo Sacramento, em 1814 pode apontar para um funcionamento ativo
no começo do século XIX, uma vez que representavam, (os inventários), uma maneira de se
registrar os bens e o acervo material, de 31 objetos de prata, 25 ornamentos e 18 imagens.
Igreja nova, em pedra, compondo a nave, e capela primitiva compondo a capela-mor. É
possível ver claramente que Trata-se de dois momentos diferentes, uma vez que os dois
volumes pouco conversam arquitetonicamente. Um, mais antigo, de pau-a-pique com
estrutura em madeira evidente, influenciado pela arquitetura do Vale do Piranga. Outro mais
recente, de fins do século XVIII e começo do XIX, seguindo os ritmos da Serra de Ouro
Preto.
O SÉCULO XX
Em uma lista enviada por Sylvio de Vasconcellos em 10 de novembro de 1949 à Rodrigo
Melo Franco de Andrade, são sugeridos alguns exemplares da arquitetura mineira para o
livro de tombo “porque assim ficaremos a salvo de dificuldades futuras frente aos possível
danos que venha/s a sofrer”. (CDI/IPHAN-BH, 2015). Nesta lista, destaque para a Matriz de
Itatiaia e de Cachoeira do Campo que, “merecem sua inscrição imediatamente”. Oito dias
depois vem a resposta, dando início ao processo de tombamento.
Em 1952, contudo, antes que se concretizasse o tombamento, uma tempestade derruba o
telhado da nave, como descreve, em carta de Pe. Marcelino Braglia ao presidente Getúlio
Vargas,
Em 5 de janeiro de 1952. (...)Há cinco anos que pedi ao Patrimônio Artístico
Histórico Nacional mandar consertar e restaurar a Igreja Matriz de S.Antônio
de Itatiaia que atendendo ao meu pedido enviou técnicos para examina7º SEMINÁRIO MESTRES E CONSELHEIROS: AGENTES MULTIPLICADORES DO PATRIMÔNIO
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la.(...)Como, porém, demorou-se em atacar o serviço fizeram-se os maiores
sacrifícios para ela não cair. Não se pode fazer mais devido a população do
lugar ser pequena e paupérrima. (...) Há poucos dias soube, sem sua
grande surpresa, porém, que não resistindo a um forte temporal ruiu
fragorosamente uma grande parte do telhado da frente e tanto o trono como
sua capela mor estão em péssimas condições. É a Igreja mais antiga do
município de Ouro Preto. Todos os que conhecem sua história e apreciam
seu valor artístico, são unanimes em dizer que ela bem merece os cuidados
todos do poder civil como eclesiástico, e, que seria um crime abandona-la a
fúria do tempo.( Carta do Padre Marcelino Braglia, encaminhada ao
presidente Getúlio Vargas em 5 de janeiro de 1952. CDI/IPHAN-BH, 2015).
Na carta, o padre deixa claro o seu laço afetivo com a Igreja. E diz que o estado de
degradação avança na medida em que os reparos não são ofertados pelo Estado. Também
aponta a população como uma comunidade muito pobre que não pode fazer muito para a
melhoria da igreja. A carta é encaminhada por Sylvio de Vasconcellos, junto ao
levantamento fotográfico da igreja e, em 8 meses as obras de reparo tiveram início.
Curioso notar que os reparos do telhado da nave em 1952 são orçados e aparecem em
recibos de compra de material e pagamento dos serviços de execução. Mas, em 1983, na
primeira grande restauração da igreja, o telhado já está em ruina novamente, uma vez que é
todo refeito. Essa observação é importante porque aponta um problema estrutural grave no
telhado, visto que recorrentemente passa por reformas.
PÓS TOMBAMENTO
Aqui, serão analisados os projetos de restauração. Sobretudo, o projeto de 1983, quando a
Matriz é tombada e restaurada. Outros projetos mais recentes nos ajudam a compreender o
estado de conservação atual da Matriz e nos trazem os diagnósticos, que mostram, por
exemplo, as origens dos problemas na cobertura da nave.
O Diretor da 7ª DR – SEC/Pró Memória, no dia 21 de junho de 1983, escreveu ao Exmo. Sr
Coordenador do PCH, que teria verificado pessoalmente o lamentável estado de
conservação da Igreja e foi entendido a extrema necessidade da intervenção imediata. A
partir dessa vistoria são iniciados os trabalhos de restauração e tombamento da igreja.
Destaque para a Capela-Mor, que além da cobertura, teve seu sistema construtivo
parcialmente refeito. Dessa vez com tijolo queimado, no lugar do pau-a-pique. O diagnóstico
levantado nesse projeto verificou que existia uma sobrecarga do telhado que junto ao
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desnível do terreno “empurra” a parede da fachada lateral direita da nave, causando danos
da vedação e cobertura.
A parede da nave na lateral direita, apresenta pequeno desaprumo devido
talvez à um assentamento do terreno. Mas aparenta estar estabilizada sem
nenhum comprometimento quanto a estrutura. Isto, porém, parece ser a
causa
do
rompimento
da
sambladura
da
linha
do
frechal
com
desmoronamento de parte do telhado e da trinca existente na parede do
frontispício. A cobertura está bastante deteriorada principalmente na nave,
onde está 30% arruinada. Este fato aconteceu em 22 de janeiro de 1980
devido ao rompimento da sambladura entre a linha e o frechal.
Anteriormente este trecho já havia desabado conforme informações dos
moradores. Nas tesouras restantes, as linhas estão desarticuladas do
frechal devido talvez ao desaprumo da parede lateral direita. A alvenaria da
capela-mor e corredores laterais era em pau-a-pique com a estrutura
aparente. Mas devido ao estado avançado de deterioração que as paredes
externas se encontravam, estas foram substituídas por alvenaria de tijolo
mantendo, porém a estrutura aparente. Quando este serviço foi executado,
foram entaipados vãos de porta e janela na lateral esquerda e criados
chanfros na parede posterior. As paredes internas da capela-mor mantem
ainda o pau-a-pique original. (Projeto de Conservação e restauração da
Matriz de Santo Antônio de Itatiaia, 1983. apud CDI/IPHAN-BH,
2015).
Infelizmente o projeto não descreve detalhadamente a ação de recuperação, mas é possível
que não se tenha feito uma amarração do telhado adequadamente, ou tenham acreditado
que apesar dos danos, o fato da estrutura não ter sido comprometida pouparia a amarração.
Isso porque o problema do telhado volta, logo após a restauração.
Em 1984 o tombamento em nível federal é homologado, como aponta o comunicado oficial
de tombamento em 23 de março daquele ano.
Tenho a satisfação de levar ao conhecimento da Exa. o tombamento
definitivo da Igreja de Santo Antônio de Itatiaia, bem como todo o acervo
móvel nela existente, situada no município de Ouro Branco –Minas Gerais,
ocorrido com a homologação da Exma. Sra. Ministra da Educação e
Cultura, Profa. Esther de Figueiredo Ferraz, em 14 de setembro de 1983,
em conformidade com o disposto no artigo 1º da Lei 6.292 de 15 de
dezembro de 1975. (CDI/IPHAN-BH, 2015).
Dando um salto no tempo, por falta de documentação encontrada, no dia 02 de abril de
1991, mais uma vez, informações sobre o estado de conservação da igreja e da
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indisponibilidade de recursos e emergência de realizações das obras, são explorados em
cartas. Pedidos para que a prefeitura forneça os recursos necessários para a execução de
obras de pequena complexidade como reparo do telhado, cobertura da Capela Mor,
instalação do sino da torre direita, troca de fechadura da porta lateral e instalação do
pináculo da torre esquerda são feitos pelo Dr. Sílvio José Mapa.
Em ofício do gabinete 13º IPHAN de 1998, foi encaminhado as Brochuras do
Inventário de Bens Móveis e Integrados. Percebe-se no documento uma preocupação
quanto à segurança na divulgação das informações contidas neste inventário. Isso deve-se
ao fato, de que, em 1996, foram roubadas 19 imagens, das quais apenas a imagem de São
João Batista Menino foi recuperada e restaurada, em 2011. Esse roubo que até hoje é
lembrado com muita tristeza pelos moradores de Itatiaia ainda causa preocupação pois
desde então o acesso à igreja é restrito bem como é restrita a autorização para fotografar
seu interior.
Outras restaurações são executadas nos anos de 1996, 1999, 2001 e 2003 em caráter de
urgência, por conta da infiltração no interior da igreja, rachaduras nas laterais do
monumento, deslocamento de telhas e problemas no telhado da nave.
Em 2003 o IPHAN comunicou a avaliação e acompanhamento dos serviços como:
demolição do reboco, reparo do telhado, revisão geral do telhado, tratamento das madeiras,
pintura externa com PVA – LATEX e limpeza dos forros. O encaminhamento dos projetos
complementares de iluminação e instalações elétricas, tubulação para som, sistema de
proteção contra descargas atmosféricas foram encaminhados em 2005, para análise e
aprovação, tendo os projetos assinados por Luis Fernando Rispolli Alves. Os mesmos
projetos foram aprovados no dia 26 de agosto de 2005 e executados em 2007.
Desde de 4 de novembro de 2014 a igreja passa por mais uma restauração, sobretudo dos
bens móveis. Estão sendo restaurados os retábulos, arco cruzeiro, imagens e taboado.
Esta tem o patrocínio do Governo de Minas e do BNDES, tendo os recursos através da Lei
Federal de Incentivo à Cultura.
DA ICONOGRAFIA ÀS INTERPRETAÇÕES E DATAÇÕES
A iconografia da igreja passa por dois momentos de criação. Um no final do século XVIII, e
outro provavelmente do começo do século XX. Apenas o primeiro aparece nos documentos
do IPHAN, por meio dos registros de pagamento aos artistas pelas irmandades. O segundo,
que apresenta um artista popular no frontão, e possivelmente também na feitura dos púlpitos
de pedra sabão, são posteriores, provavelmente do começo do século XX.
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Muitos elementos não aparecem na documentação quanto a sua criação, como os sinos,
cruzeiro, pias de água benta, púlpitos de pedra e as duas fases da portada.
O medalhão central de pedra encimando a porta da igreja apresenta ornamentos em C e
rocalhas, características do rococó, provavelmente esculpidas por volta de 1780. No centro,
se encontra esculpido um cordão de três nós mostrando que a igreja pertence a uma ordem
franciscana, lírios e um livro indicando a devoção a Santo Antônio e o Ostensório por se
tratar de uma Igreja matriz. Nas laterais do medalhão foram acrescentadas, na segunda fase
iconográfica, mais duas imagens também esculpidas em pedra. Um cajado, duas chaves e
uma mitra. Símbolos que fazem alusão a São Pedro, nova invocação, do século XIX, nessa
região.
Em 1792, começam os trabalhos artísticos da igreja com Serafim Gonçalves do Espírito
Santo, na feitura dos púlpitos. Esses em madeira. Ainda neste ano, Manoel Ribeiro Roza
inicia a pintura e douramento de toda igreja, e Lourenço Rodrigues Souza talha o altar de
N.S. Rosário.
Manoel Ribeiro Roza foi um artista de grande valor na região e sua participação na pintura e
douramento de toda a matriz indica o grande destaque que se pretendia dar à igreja naquele
momento. A restauração que iniciou em 2014 podem trazer por meio das prospecções
algum indício de sua obra, que já não se encontra evidente.
Em 1814 a igreja registra no inventário da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 18
imagens talhadas. Dez anos depois, em 1824 os registros apontam para os cinco retábulos
prontos, e pia batismal com a pequena grade, que ainda estão lá.
O retábulo do altar mor apresenta características do rococó e a sua devoção é ao Santo
Antônio, santo franciscano e junino. Imagem provavelmente do século XIX que veio a
substituir a antiga imagem roubada em 1996. Abaixo do trono se encontram as imagens de
São Sebastião, no lado evangelho e, no lado epistola, Nossa Senhora da Conceição. Ambas
do século XIX. Nos nichos laterais, aparece, no lado evangelho São Joaquim e no lado da
epístola Santa Barbara, padroeira dos mineiros, também do século XVIII.
Os retábulos colaterais apresentam características populares do século XIX. O retábulo do
lado evangelho é dedicado a Nossa Senhora da Piedade, imagem também do século XIX e
do lado epistola ao Nosso Senhor dos Passos. Neste altar também se encontra a imagem
de São Domingues de Gusmão do século XVIII.
Os retábulos laterais apresentam características eruditas e estilo rococó. O lado do
evangelho é dedicado a Nossa Senhora do Rosário, entalhado por Lourenço Rodrigues
Souza entre 1789- 1793. A imagem é provavelmente do século XIX. O retábulo lateral do
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lado epistola é atribuído a Francisco Vieira Sevas, entalhado no final do século XVIII com
características próprias de Servas como a utilização de coroamentos em Arbaleta, sanefas,
volutas laterais impulsionando pra frente e rocalhas flamejantes. Este retábulo é dedicado a
Sant’Anna Mestra, imagem do século XVIII. Logo abaixo de Sant’Anna se encontra São
João menino, imagem do século XVIII, com suas vestes em couro de cordeiro e estandarte.
Na pintura, a igreja não possui um acervo aparente. Somente na sacristia há uma pintura no
forro com elementos em C e uma flor nas cores ocre e cinza. No centro há uma Tarja oval
delimitada por frisos curvos também em cinza ocre e rosa. No centro da tarja há duas
figuras de anjos. Trata-se de uma pintura a têmpora - técnica que deixa a pintura com
aparência aquarelada - datada do século XIX, tosca e de característica bem popular.
DESCRIÇÃO ARQUITETÔNICA: DO TRAÇO À OBRA. UMA LEITURA DO
PARTIDO DA MATRIZ.
Como já mencionado, a Igreja apresenta duas etapas distintas de construção no final do
século XVIII e princípio do século XIX.
A fachada frontal é formada por embasamento de pedra em quartzo, com socos
retangulares nas bases das quatro pilastras que delimitam a fachada frontal. Apresenta
porta de duas folhas central almofadadas com bandeira fixa sobreposta por arco de pedra e
verga curva com moldura do tipo canga de boi encimada por sobrevergas em dois “C”s,
terminados em volutas, centrados por uma concha dentro de uma plumagem estilizada com
curvas recortadas.
Acima da sobreverga está o medalhão de pedra com duas fases de realização (século XVIII
e XIX). O medalhão é ladeado por duas portas balcão de madeira em duas folhas e peitoril
de balaustrada de madeira com sobrevergas trabalhadas em curvas, contracurvas e
conchas.
O entablamento é feito pela cimalha em pedra, sendo todos esses elementos de quartzo.
Após a cimalha, o frontão ondulado aberto emoldurado em curvas e contracurvas é
ornamentado por óculo central em pedra e, acima desse, pequeno nicho, sendo seu
coroamento feito por acrotério ornamentado por concha ladeada por curvas e contracurvas,
anjos e cruz de pedra. As torres sineiras ladeiam o frontão, sendo sua cobertura em cúpula
de pequenas proporções e coruchéu em cada extremidade. A torre da lateral esquerda não
possui sino, presente apenas na lateral direita.
As fachadas laterais são divididas por dois tipos construtivos. Na nave a alvenaria é de
pedra e, na capela-mor, a alvenaria é de tijolo maciço com estrutura de madeira aparente. O
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volume da nave possui altura mais elevada em relação a capela-mor, onde se encontram os
corredores laterais no nível térreo e a tribuna e corredores no nível superior. Nessa porção,
os pilares possuem soco simples e o entablamento é feito por cimalha.
As fachadas laterais são simétricas em relação à capela-mor e nave, com exceção de um
marco de uma porta “cega” existente na fachada lateral direita na nave. As fachadas laterais
da capela-mor são pouco recuadas em relação a nave, estando praticamente alinhadas e
possuem dois óculos ovais protegidos por gradil de ferro na nave e um óculo circular
envidraçado na capela-mor. A porta de acesso aos corredores laterais da capela-mor são de
madeira e possui verga reta e uma folhas simples assim como a janela. A fachada posterior
apresenta fachada cega, sem nenhuma abertura. A estrutura de madeira é aparente. O
embasamento, possivelmente em taipa de pilão, é bem marcado, assim como nas fachadas
laterais onde a alvenaria é de tijolos maciços.
A cobertura da igreja é em telhado de duas águas na nave e na capela mor. O volume
lateral da capela-mor possui telhado em uma água seguindo a inclinação do telhado da
capela-mor. O telhado é em telha cerâmica do tipo calha e bica. Na cobertura da nave há
pináculos na extremidade dos fundos. O arremate entre a alvenaria e telhado na parte da
nave é feito por cimalha e na parte mais antiga da capela na porção lateral por cachorro e
guarda-pó.
A planta da igreja é composta de nave, capela-mor, corredores laterais, coro, torres laterais,
galerias laterais superiores, sacristia e tribunas no corpo da capela-mor. Além disso, há o
altar-mor, o arco cruzeiro, dois altares colaterais, dois altares laterais, dois púlpitos, pia
batismal e pia de água benta.
A grade de separação nave é de balaustrada reta com laterais em duas secções separadas
por pilaretes se secção quadrada, montantes e peitoril retos com frisos. Sua parte da frente
divide-se em duas partes sem cancela e seus balaústres são torneados.
O arco cruzeiro é revestido de madeira com perda da policromia, apresenta embasamento
em molduras com painéis e centro liso sendo seu fuste reto com bordas molduradas e
centro almofadado. Seu entablamento é emoldurado e a cimalha é larga e o arco pleno
possui bordas molduradas.
O acesso a igreja é feito pela porta central situada na fachada frontal ou pela porta existente
nas fachadas laterais que dão acessos aos corredores laterais que ladeiam a capela-mor.
As aberturas para ventilação e iluminação da igreja estão situada no nível do coro. Na nave
se abrem quatro óculos protegidos por gradil e na capela-mor há também um óculo circular
envidraçado em cada lateral. As fachadas laterais possuem porta em madeira assim como
janela de uma folha simples. O acesso ao coro e a tribuna são feitos por escada de madeira,
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já o acesso lateral a cada púlpito é feito por escada de pedra através de portas existentes
em cada lado da nave. O acesso as torres sineiras é feito através de alçapões.
A alvenaria da capela-mor e corredores laterais era em pau-a-pique de estrutura aparente.
Devido ao estado avançado de deterioração que as paredes externas se encontravam,
foram substituídas por alvenaria de tijolos maciços mantendo a estrutura de madeira
aparente. Foram entaipados os vãos de porta e janela lateral esquerda e criados chanfros
na parede posterior. As paredes internas da capela-mor e as paredes dos fundos mantém
ainda o pau-a-pique original. O revestimento é feito em argamassa de terra, areia e cal, bem
como a pintura a base de cal.
O piso da nave e capela-mor é em tabuado corrido sobre barrotes de madeira, assim como
da sacristia, coro e dos corredores laterais superiores. Os corredores laterais da capela-mor
no nível térreo são em piso cerâmico de tijolo de barro. No corredor lateral esquerdo, entre a
porta externa entaipada e a porta de acesso à capela-mor, o piso foi cimentado e riscado de
forma quadrangular imitando o tijolo de barro do restante do cômodo. O batistério possui
piso de pedra.
O forro da nave, assim como o forro da capela-mor e coro é de madeira de tabuado liso
abobadado pintado na cor branca. O entablamento do forro é feito por cimalha de madeira
também na cor branca. O forro da sacristia é plano de tabuado liso e possui pintura. Os
corredores laterais superiores e a tribuna não possuem forro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo a Conservação e Restauro como fio condutor, o trabalho propôs registrar um pouco
da história da matriz que é certamente uma das igrejas de mais prestigio em Minas Gerais,
por ser uma das mais antigas obras da arquitetura religiosa na região. A celebração de
batizados desde o começo do século XVIII e a participação de artistas importantes na
construção da nave são indícios disso. A preocupação com a preservação, conservação e
restauro da igreja, sempre que necessário, foram medidas de grande valor para a
salvaguarda deste bem.
REFERÊNCIAS
CDI- Centro de Documentação e Informação. IPHAN, Belo Horizonte, 2015. Consulta ao
acervo.
7º SEMINÁRIO MESTRES E CONSELHEIROS: AGENTES MULTIPLICADORES DO PATRIMÔNIO
Belo Horizonte, de 10 a 12 de junho de 2015
ISSN 2176-2783

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