A Bienal de Veneza

Transcrição

A Bienal de Veneza
Ricardo Ferreira Filho – RA00031537
Felix Barreira Alvares – RA00017160
Logo da 54˚ Exibição Internacional de Arte da Bienal de Veneza
São Paulo, 24 de junho de 2011 – A 54˚ Exibição Internacional de Arte,
parte da Bienal de Veneza (que teve início no dia 4 de junho e será
encerrada dia 27 de novembro de 2011), recebeu o título ILLUMINAZIONI. A
diretora do evento, Bice Curiger, explica que o título coloca em evidência um
tema já antigo na arte, a luz, e mais especificamente nesse caso, a relação
da luz com Veneza. Um segundo enfoque que a diretora apresenta é o
destaque existente no título (evidenciando a última parte da palavra,
“NAZIONI”), esse recorte faz referência à característica da própria Bienal de
Veneza que é dividida em pavilhões nacionais.
A curadoria apresentada por Bice Curiger, para o pavilhão central da
bienal, levanta algumas questões interessantes que demonstram um
constante pensar da forma como a arte contemporânea se configura. Uma
escolha que surpreendeu, por exemplo, foi a utilização de 3 obras de
Tintoretto1 (A Última Ceia, O Roubo do Cadáver de São Marcos e A Criação
dos Animais). As obras de Tintoretto, apesar de não corresponderem aos
pré-requisitos das obras de arte contemporânea, dentro do cenário de uma
Bienal de Veneza, ganham um novo significado, especialmente quando o
1
O seu verdadeiro nome era Jacopo Comin, também conhecido como Il Furioso, foi um pintor notável
e expoente da escola renascentista veneziana. Famoso por trabalhar com uma estrutura de
composição inovadora, efeitos enfáticos relativos à perspectiva e uma iluminação dramática,
característica da escola de Veneza.
nome da exibição onde estas são apresentadas se chama “ILUMINAÇÃO”. O
que é iluminar se não escolher o que colocar em evidência, determinar o que
fica exposto a luz e o que não fica? Existe inclusive uma aproximação entre
essa indagação e a atividade de um curador.
Esse resgate da obra de Tintoretto, que trouxe o trabalho desse pintor
renascentista de volta a luz, não constitui um atraso, pois não compromete os
avanços materiais alcançados pela arte contemporânea. Se leva em
consideração aqui, uma reflexão sobre o papel dessa arte hoje, a relação que
esta estabelece com as produções da arte contemporânea. O retorno a esse
artista renascentista gera uma discussão sobre como a história do
pensamento da imagem no renascimento ainda pesa sobre as produções que
são realizadas dentro da própria bienal e particularmente sobre as questões
expostas em Veneza, um local que está literalmente associado a essa
história de uma arte que hoje é considerada clássica, mas que já foi
transgressora, como o próprio Tintoretto nos mostra.
A Última Ceia /Tintoretto
“1 - Is the art community a nation?
2 - How many nations are inside you?
3 - Where do you feel at home?
4 - Which language will the future speak?
5 - If Art were a state, what would the constitution say?”
-
Bice Curiger
As questões acima foram apresentadas pela diretora da exibição
internacional a todos os artistas que participaram da Bienal. As respostas
foram anexadas ao catálogo da bienal nas páginas referentes a cada artista.
Em um ambiente extremamente globalizado, que é o da arte
contemporânea, onde artistas de prestigio internacional criam suas obras em
diversos locais do mundo, vivendo em diferentes regiões do planeta durante
cada parte do ano, como trabalhar com essa questão da identidade? Na
Bienal de Veneza alguns dos países responsáveis pelos pavilhões nacionais
já trazem obras de artistas que não são necessariamente membros daquele
país que controla o pavilhão. Outra atitude interessante foi o pedido da
curadora para que artistas que criam, geralmente, obras com grandes
estruturas, pensassem em um espaço onde obras de outros artistas
pudessem ser exibidas dentro de suas próprias obras.
A globalização cria um idéia de aproximação, principalmente pelo avanço
da internet, o que interfere diretamente na noção de fronteira. A
desmistificação de um cenário internacional sem divisões parece necessário,
a bienal anda em um caminho correto quando desmistifica essa unidade
criada em um mundo representacional, como é o caso da internet, e da
própria “nação artística”. No cenário real que é de um mundo dividido e onde
nem todas as nações tem o seu pavilhão na própria bienal, a busca pela
compreensão da complexidade inerente ao cenário artístico e político
contemporâneo, parece um caminho aliado às idéias da 54˚ Exibição
Internacional da Bienal de Veneza. Evitando atalhos que poderiam ser
somente respostas imediatistas e de caráter simplificador.
Apesar de avanços anteriormente citados algo ainda incomoda não só
sobre a Bienal de Veneza, mas sobre a própria arte contemporânea. A
dificuldade de acesso aos matérias que são exibidos nessas bienais pelo
público. O fechamento dessas obras a um público seleto de colecionadores,
e o que é mais estranho, eles tentam recriar a aura da obra, através da
dificuldade que se impõe sobre o acesso aquele material. É inteiramente
compreensível a criação de obras que sejam difíceis de ser acessadas, ou
até mesmo intransponíveis, de um ponto de vista intelectual, mas não
permitir ao público que este o tente parece demasiado. Pensando aqui que a
Bienal de Veneza ocorre em uma determinada nação e em um determinado
local, não permitir que locais que não tem acesso a bienais, vislumbrem essa
produção parece uma medida um tanto quanto imperialista e retrograda.

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