Relatório de Atividades 2008-2010

Transcrição

Relatório de Atividades 2008-2010
(Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística)
GT LITERATURAS ESTRANGEIRAS
Coordenadora: Giséle Manganelli Fernandes
Vice-coordenador: Bruno Gomide
RELATÓRIO DE ATIVIDADES BIÊNIO 2008-2010
No biênio 2008-2010, o Grupo de Trabalho de Literaturas Estrangeiras realizou três
reuniões e o 3o. Seminário Literaturas Estrangeiras em Diálogo.
As reuniões ocorreram nos dias 10 de novembro de 2008, 30 de março e 19 de
outubro de 2009, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da
Universidade de São Paulo. Nessas reuniões, o grupo discutiu assuntos burocráticos e
também relativos ao projeto de pesquisa biênio intitulado “Pós-colonialismos/Pósnacionalismos”. Houve troca de bibliografia pertinente ao projeto e o grupo propôs um
estudo do Pós-colonial/Pós-nacional com ênfase no nosso ponto de vista de brasileiros.
Houve também discussão a respeito do Congresso da ANPOLL ocorrido em agosto
de 2009, com destaque para o Qualis periódicos.
O GT publicou a coletânea Criação e conflito, resultante do projeto de pesquisa do
biênio anterior.
O 3o. Seminário Literaturas Estrangeiras em Diálogo foi realizado nos dias 10, 11 e
12 de maio na UNESP, Campus de São José do Rio Preto. A programação do evento foi a
seguinte:
3º Seminário de Literaturas Estrangeiras em Diálogo
“Para além dos pós-colonialismos e dos pós-nacionalismos”
10, 11 e 12 de maio de 2010
Local: IBILCE/UNESP – Câmpus de São José do Rio Preto – Auditório B
Programação
Segunda-Feira (10/05/2010)
9h00
“Quando o ‘outro’ é um irmão: considerações sobre a representação contemporânea
do ‘judeu oriental’ na literatura hebraica do século 21”
Profa. Dra. Nancy Rozenchan - USP
“A singularização do conflito árabe-israelense em A mulher foge, de David Grossman”
Profa. Dra. Berta Waldman - USP
“A história de Hirbet Hizha: 60 anos depois (1949 – 2009)”
Prof. Dr. Gabriel Steinberg - USP
“O árabe-israelense na busca de uma nova identidade em Aravim Rokdim, de Sayed
Kashua”
Doutoranda Juliana Portenoy Schlesinger - USP
Segunda-Feira (10/05/2010)
14h00
“A literatura de vanguarda na Rússia e a expansão do império soviético”
Prof. Dr. Mário Ramos Francisco Júnior - USP
“A dissolução da União Soviética e o mercado literário na Rússia”
Mestranda Deise de Oliveira - USP
“Literatura pós-colonial nos Urais”
Doutoranda Denise Sales - USP
“A literatura soviética não russa: Fazil Iskander entre duas culturas”
Mestranda Gabriela Soares da Silva - USP
Segunda-Feira (10/05/2010)
18h00
Lançamento do livro Criação e Conflito
Terça-Feira (11/05/2010)
9h00
“O discurso dialógico de Margaret Atwood em /Negociando com os mortos/”
Profa. Dra. Sigrid Renaux - UFPR/UNIANDRADE
“Em busca de raízes geográficas e espirituais: o sujeito diaspórico no século XXI”
Profa. Dra. Mail Marques de Azevedo - UFPR/UNIANDRADE
“Pós-nacionalismo na história compartilhada de Paradise (1997), de Toni Morrison”
Doutoranda Marcela de Araujo Pinto - UNESP/SJRP
“Pós-nacionalismos: A desestabilização de fronteiras originada pelos latinos nos Estados
Unidos”
Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes - UNESP/SJRP
Terça-Feira (11/05/2010)
14h00
“Hugo Loetscher 1979: além do pós-colonialismo”
Profa. Dra. Celeste Ribeiro de Sousa - USP
“Révolutions: a poética de um eterno exílio? Reflexões sobre Le Clezio”
Profa. Dra. Betina Cunha – UFU
“No Pays d’Acadie: fragmentos de uma nação através da obra de Antonine Maillet”
Prof. Dr. Nelson Luís Ramos – UNESP/SJRP
“A cena das línguas em Amour Bilingue, de Abdelkebir Khatibi: entre a herança da
colonização e paixão pelas línguas”
Profa. Dra. Maria Angélica Deângeli
“O descritivo pictural na obra de Assia Djebar”
Profa. Dra. Norma Wimmer – UNESP/SJRP
Quarta-feira (12/05/2010)
9h00
Discussão teórica do grupo, convidados e ouvintes:
- O estado da arte da problemática
- Sugestões para a reformulação dos textos do ENANPOLL a serem publicados
RESUMOS
3º Seminário de Literaturas Estrangeiras em Diálogo
“Para além dos pós-colonialismos e dos pós-nacionalismos”
Segunda-Feira (10/05/2010)
9h00
“Quando o ‘outro’ é um irmão: considerações sobre a representação contemporânea
do ‘judeu oriental’ na literatura hebraica do século 21”
Profa. Dra. Nancy Rozenchan - USP
O conceito amplo de pós-colonialismo atingiu a cultura israelense com grande atraso.
Quanto tal ocorreu, intelectuais que trataram do assunto conduziram as teorias que
compuseram o pensamento de Saïd e outros para questões locais pontuais, quais sejam
relações judeus/palestinos e relações da maioria judaica ashkenazita [européia] /judeus
procedentes de países de fala árabe ou orientais, os mizrahim. Vivendo, em relação às
classes então dominantes no país, desde a sua chegada na década de 1950, um
relacionamento que pode ser considerado como de colonizado/colonizador, judeus
mizrahim conseguiram se sobrepor, em grande parte, no final do século 20, a esta condição.
Em contraste com décadas anteriores, a literatura hebraica dos últimos anos tem se
enriquecido com um número crescente de obras em que mizrahim de segunda geração
expressam sua situação contemporânea. Por meio de um dos mais destacados romances
deste segmento, Shum gamadim lo iavou, de Sara Shilo [Nenhum duende vai aparecer] Tel
Aviv, Am Oved, 2006, pretendo expor como o relacionamento colonizado/colonizador
deixou as suas marcas nesta parcela da população israelense.
“A singularização do conflito árabe-israelense em A mulher foge, de David Grossman”
Profa. Dra. Berta Waldman - USP
Pretendo apresentar uma leitura do romance de David Grossman Ishá borahat mibessorá (A
mulher foge. Trad. George Schlesinger. São Paulo, Companhia das Letras, 2009), tentando
analisar o modo como o conflito árabe-israelense é nele registrado. Como o texto não é
político, nem filosófico, mas literário, o autor trata do tema através do processo de
singularização, isto é, particularizando o conflito na rede de interação de membros de um
núcleo familiar. O romance se constrói num clima de suspensão: algo vai ocorrer, pode
ocorrer, mas não se sabe quando, como, o quê. A iminência contém ameaça (de guerra, de
atentados) e é essa a atmosfera vivida pelas personagens sediadas em Jerusalém. A família
interage com um motorista árabe israelense e o convívio oscila entre aproximação e
exclusão. O árabe confunde-se com o israelense, porque assimilou a língua e o gosto do
lugar. Essa forma de “colonização” faz que ele seja aceito, mas ela não se mantém estável e
o personagem reage, retomando em alguns momentos o padrão do gosto e da fala árabe.
Além disso, atua nessa relação a diferença de classe social e o desejo do mais forte de
manutenção da ordem vigente. Mas, no nível do discurso, as formas de autoritarismo e de
sobreposição se desfazem, pois o estilo do romance vai privilegiando, cada vez mais, o
discurso indireto livre, em que a voz do “outro” tem lugar, apontando para um horizonte de
solução possível do conflito por essa via.
“A história de Hirbet Hizha: 60 anos depois (1949 – 2009)”
Prof. Dr. Gabriel Steinberg - USP
Após o surgimento do Estado de Israel, os israelenses nativos eram apresentados na
literatura hebraica de então como seres sempre altivos, possuidores de uma auto-estima e de
uma auto-segurança elevadas, portadores de uma nova ideologia. Um dos maiores
representantes da geração de escritores de então é Izhar Smilansky mais conhecido como S.
Izhar (1916 – 2006). As obras dos escritores de sua geração tem como papel central a figura
do herói que tudo sacrifica em prol de seu país. O que se lê na obra de Smilansky não se
prende integralmente a esta concepção, como se pode averiguar no longo conto Sipur
Hirbet Hizha (A história de Hirbet Hizha), escrito em maio de 1949, nos últimos meses da
Guerra da Independência de 1948 e publicado no livro Arbaá Sipurim (1ª edição em 1959,
edição atual de 2006). À época de sua publicação, este conto causou rejeição e surpresa,
tanto pelo tema abordado e enfoque utilizado, diverso dos de seus contemporâneos. Sipur
Hirbet Hizha narra o ataque de um grupo de combatentes judeus a uma aldeia árabe e a
fuga de seus moradores, temática que permaneceu como tabu em Israel até o final da
década de 1980. A revisão do passado e da história, hoje fato corrente na cultura daquele
país, a análise de posições consideradas como colonialistas, conduzem atualmente a um
posicionamento que alguns classificam como pós-colonialista. O longo conto de Izhar,
autor que foi, de certa forma, um pioneiro na exposição de posturas políticas que
contestaram colocações anteriormente tidas como “oficiais”, é um dos mais importantes
textos literários que se prestam à releitura dos relacionamentos inter e intra-populacionais
de Israel.
“O árabe-israelense na busca de uma nova identidade em Aravim Rokdim, de Sayed
Kashua”
Doutoranda Juliana Portenoy Schlesinger – USP
As teorias pós-colonialistas, representadas pelos autores Homi K. Bhabha, Salman Rushdie
e Stuart Hall, ocuparam-se, na última década, em analisar o comportamento de indivíduos
ou grupo de indivíduos que, devido à sua condição minoritária numa determinada nação,
têm que passar por transformações identitárias que os possibilitam integrar-se à realidade
imposta. Eles deixam de ser o que eram e, ao mesmo tempo, não aceitam ser o que essa
sociedade maior havia pré-estabelecido a eles. São seres revolucionários, que
constantemente buscam novas identidades dentro de um contexto de repressão e, ao mesmo
tempo, liberdade. Segundo a leitura a ser exposta, Sayed Kashua, autor israelense de
origem muçulmana, captou esse movimento constante e muitas vezes doloroso da minoria
árabe-israelense no seu primeiro romance escrito em hebraico Aravim Rokdim (2002)
[Árabes dançam]. O protagonista, ser a quem não é dado nem nome nem sobrenome, sai de
sua cidade natal, vilarejo árabe localizado no norte de Israel por um acaso da vida, e passa a
ter contato intenso com a maioria judaica do seu país natal. Esse encontro, apesar de sofrido
e penoso, o transforma constantemente num ser em busca de uma nova possibilidade
identitária.
Segunda-Feira (10/05/2010)
14h00
“A literatura de vanguarda na Rússia e a expansão do império soviético”
Prof. Dr. Mário Ramos Francisco Júnior - USP
Durante as primeiras décadas do século XX surgiam por toda a Europa os
movimentos de vanguarda, no âmbito da literaturas e das outras formas artísticas. No
mesmo período, a Rússia vivia o clima de mudanças político-sociais que culminaria na
Revolução Socialista de 1917. A maioria dos escritores envolvidos com as diferentes
tendências de vanguarda naquele país acabou por engajar-se à revolução que propunha a
utopia da reconstrução da nação sob os moldes do socialismo. No primeiro momento pósrevolução, o engajamento dos artistas deu-se de forma voluntária. Numa fase posterior,
porém, o discurso oficial passou a ser imposto aos escritores e, com o passar do tempo,
viria a gerar o chamado “realismo socialista”, principalmente no período stalinista da União
Soviética.
Dentre os planos de reconstrução nacional havia a proposta de unificação das diversas
repúblicas “satélite” da Rússia sob a bandeira da União Soviética e, em consequência disso,
sob o controle político de Moscou. Nos primeiros anos após a revolução já surge o embrião
deste programa de expansão do império soviético, que irá tomar forma nas mãos de Joseph
Stálin e que se materializará nos cartazes de propaganda política em expressões como
“amizade dos povos” ou “união dos povos”. Esta expansão colocou a cultura russa em
contato com as culturas de repúblicas mais distantes e quase desconhecidas para a maioria
da população russa (com a abrangência de países hoje independentes, como o Cazaquistão,
o Uzbequistão, a Geórgia e tantos outros). Em seus anos iniciais, a política expansionista
despertou grande interesse nos escritores russos, principalmente naqueles que apresentavam
as características de inovação e abertura tão caras aos movimentos de vanguarda. A utopia
de construção da nação socialista desdobrava-se na utopia da integração nacional e com
este espírito a literatura de vanguarda via naquelas culturas distantes (e às vezes vistas
como exóticas) material fértil para a criação literária e para o trabalho com a linguagem. Se
por um lado o império soviético impunha a cultura e a língua russa de forma programática
nos países agregados, por outro lado a poesia lírica de Vladimir Maiakóvski, os épicos
modernos de Velimir Khliébnikov, os poemas experimentais de Aleksei Krutchônikh
traziam para o seio dos movimentos de vanguarda a atmosfera e a linguagem dos povos do
Cáucaso, do oriente próximo e até mesmo deixavam-se influenciar por culturas asiáticas
mais longínquas. O caldeirão cultural adequava-se perfeitamente às estéticas de vanguarda
e a literatura russa refletia, naqueles anos, todo o mosaico de povos que passaria a ser
aspecto fundamental da União Soviética durante a maior parte do século XX.
“A dissolução da União Soviética e o mercado literário na Rússia”
Mestranda Deise de Oliveira - USP
A ascensão de Gorbatchov ao poder marca o começo da desintegração do Estado
soviético e do Partido Comunista. A implementação das duas célebres medidas políticas
– glasnost e perestróica - marcou o começo da democratização das instituições
soviéticas e também do nacionalismo e da xenofobia. Durante o período soviético, o
conceito de nação era muito mais político do que étnico, já que várias etnias eram
consideradas “soviéticas”. Com isso, podemos perceber que o conceito de identidade
nesse período era o seu ponto mais fraco, já que não havia um único conceito de
identidade. Com o fim da URSS, a necessidade de se construir uma identidade
condizente à nova República trouxe algumas divergências sobre o que seria o indivíduo
russo então. Para alguns, o sangue era o único fator classificatório, enquanto para outros
– que eram contra a idéia de construir uma nação somente pela etnia – a idéia de uma
nação rossískaia1, na qual, independentemente da etnia, todos faziam parte de uma
mesma Federação era mais válida, já que dezoito por cento da população era formada de
não-russos. Os russos se identificavam como soviéticos: a etnicidade russa era posta de
escanteio. Tão logo houve a dissolução da URSS, os indivíduos, antes soviéticos,
tiveram de se enxergar como russos de forma repentina2. Os russos não eram mais os
protagonistas do bloco – em busca de uma nova nacionalidade e nação –, mas
coadjuvantes dentro de um novo sistema capitalista. A antiga União dos Escritores não
era mais garantia de conforto para os escritores que produziam obras a favor do Partido.
Será com os ganhadores da premiação Russian Booker Prize que a literatura russa
conseguirá aumentar consideravelmente o número de suas vendas no país. Vladimir
Makanin - vencedor do prêmio de 1993 – afirma em uma entrevista que ele nunca havia
conseguido uma publicação em um jornal e a censura não facilitou a publicação de seus
livros. Após o prêmio, ele viu os seus livros traduzidos em diversos idiomas e
finalmente, ele consegue viver só de literatura.3 Muitos livros estão sendo publicados
com a temática anti-stalinista e sem o medo da censura. Contudo, a censura agora se dá
pela necessidade mercadológica por parte das editoras. Ruben Gallego – em sua obra
Branco sobre o negro - conseguiu escrever suas memórias de infância em um orfanato e
hoje vive de literatura. Na tentativa desenfreada de correr atrás do tempo perdido, a
literatura pós-moderna, como o nome já diz, traz para este tempo uma representação de
um mundo novo. Antes, com o nome de literatura soviética, escritores de nações ligadas
ao bloco galgavam o seu espaço junto ao meio literário russo. Hoje,escritores lutam para
conseguir lutar com o mercado editorial.
1
A semântica de tal palavra não traz a idéia somente da nacionalidade russa, mas também de um sentido político.
Vemos aqui que a idéia bakhtiniana de que as fronteiras são importantes para a constituição de uma dada cultura é
verdadeira, pois é a partir dela que o indivíduo é constituído.
3
FIEDOROV W. G. – “Vladimir Makanin” – South Central Review, vol. 12, 3/4, The Johns Hopkins University Press,
1995.
2
“Literatura pós-colonial nos Urais”
Doutoranda Denise Sales - USP
“Se no exterior entendem literatura pós-colonial como uma obra originária de países
colonizados, em solo russo esse termo adquiriu outro significado. Historiadores e
sociológicos chegaram à conclusão de que a Rússia colonizou a si mesma, conquistou o seu
próprio povo. Assim a literatura pós-colonial é composta de obras sobre a história da
conquista dos territórios que fazem parte da Rússia. É exatamente neste sentido, no modo
como os escritores lançam luz sobre a conquista dos Urais, que se revela a formação de
uma prosa do tipo pós-colonial.” Esta afirmação, feita pela pesquisadora Aliona
Podlesnykh, da Universidade Federal dos Urais, despertou a nossa atenção para a
especificidade do termo “literatura pós-colonial” na Rússia. Investigamos resenhas, críticas
e artigos sobre o tema e relacionamos aspectos recorrentes. A literatura dos Urais, região
geográfica que se estende entre as planícies do Leste Europeu e do Oeste Siberiano,
praticamente de Norte a Sul da Rússia, é uma das mais citadas, sobretudo na voz dos
escritores Dmitri Narkisovitch Mamin-Sibiriak (1852-1912), Pavel Petrovitch Bajov (18791950), and Aleksei Viktorovitch Ivanov (1969). Nesta comunicação, tratamos das
especificidades do conceito de literatura pós-colonial na Rússia, analisando termos
recorrentes em críticas e resenhas, como geopoética, regionalismo e análise espacial, e
voltamos o foco, em especial, para a literatura dos Urais.
“A literatura soviética não russa: Fazil Iskander entre duas culturas”
Mestranda Gabriela Soares da Silva - USP
Esta comunicação tem por objetivo apresentar algumas características da obra de Fazil
Iskander. Será abordada a questão da origem do discurso e da identidade cultural na obra do
escritor, buscando mostrar a justaposição entre o atrasado e o moderno, o periférico e o
centro de poder político-econômico a partir da coexistência de dois mundos: um russosoviético, ao qual o Iskander foi incorporado; e a Abkhazia, o local de origem. A partir
disso, se faz necessária uma reflexão de como essas tensões entre as duas culturas são
congregadas ao texto: na constituição do espaço, na linguagem e também na própria
estrutura narrativa, levando esse conflito não somente para o nível temático, mas também
composicional. Ao mesmo tempo, a utilização da sátira, do fantástico e do grotesco
promovem um afastamento com as formas do realismo socialista, configurando-se numa
recusa da imagem pré-estabelecida do que é a sociedade soviética. Por fim, impõe-se a
questão da formação de várias consciências identitárias ao invés de uma única consciência
predominante e artificial. O retorno freqüente às origens não necessariamente implica numa
afirmação categórica da Abkhazia e a dissociação com a cultura russo-soviética, mas que
ambas as identidades convergem para um universo literário complexo e único excedendo
uma possível dicotomia.
Terça-Feira (11/05/2010)
9h00
“O discurso dialógico de Margaret Atwood em Negociando com os mortos”
Profa. Dra. Sigrid Renaux - UFPR/UNIANDRADE
Partindo de indagações como "para quem se escreve?", "por que se escreve?" e "de onde
surge o ato de escrever?" Margaret Atwood discute, nos seis capítulos que compõem sua
obra não ficcional Negociando com os mortos (2004), questões literárias e culturais
abrangentes, tais como o discurso e a "consciência dupla" dos escritores, o conflito entre
arte, comércio e poder, o triângulo escritor/ livro/ leitor e os caminhos labirínticos da
narrativa. Todas essas questões e relações, polemizadas através de estratégias como a ótica
paródica, a releitura e a reescrita, subvertem e desconstroem, entre outros, os conceitos
fixos de eurocentrismo, de cânone literário e de essencialismo. Assim, aproximam-se as
práticas do pós-modernismo - desenvolvidas por Atwood - com as do pós-colonialismo, ao
ambas desenvolverem novos parâmetros de crítica literária e social, baseados na
relativização e na pluralidade.
“Em busca de raízes geográficas e espirituais: o sujeito diaspórico no século XXI”
Profa. Dra. Mail Marques de Azevedo - UFPR/UNIANDRADE
As palavras proféticas de W.E.B. Du Bois - “O problema do século XX é o problema da
linha da cor” - ressoam ainda mais fortes no século XXI. O lócus do romance de estréia da
anglo-jamaicana Zadie Smith, Dentes brancos (2000), é o mundo multicolorido,
multirracial e plurilingüístico do distrito londrino de Brent. O conto “Ayoluwa, a alegria do
nosso povo”, de Conceição Evaristo, dá vida a uma comunidade negra mítica em que
predominam as mulheres. Contrastes de extensão, de atmosfera e de estilo não escondem o
eixo comum às duas narrativas: o profundo e inquietante sentimento de alienação do sujeito
representado. Este trabalho examina na prosa “sassy” e humorística de Smith, caracteristica de alguns escritores que exploram as relações entre culturas -, e no texto
poético da escritora mineira, o papel da literatura como mediação. O termo designa na
teoria pós-colonial o papel da literatura como comentário ou defesa de um determinado
ponto de vista, bem como de crítica e resistência a problemas decorrentes do processo
colonizador europeu: diáspora, deslocamento, perda de identidade, racismo, opressão
econômica e desvalorização cultural, que atingem particularmente o homem de cor. Caryl
Phillips, escritor diaspórico, engloba todos esses problemas no sentimento de “não
pertença”: “Eu reconheço o lugar, sinto-me em casa, mas não pertenço. Eu sou e não sou
deste lugar”. Em conclusão, espera-se restolhar os caminhos para a sobrevivência,
semeados por duas escritoras tão diferentes, mas tão semelhantes em essência. .
“Pós-nacionalismo na história compartilhada de Paradise (1997), de Toni Morrison”
Doutoranda Marcela de Araujo Pinto – UNESP/SJRP
Em Paradise (1997), a recontextualização, em um cenário norte-americano, de um
incidente pertencente à história oral brasileira, apresenta o conceito de nação a partir de
diferentes categorias baseadas não só em distinções nacionais usualmente consideradas,
como ancestralidade e espaço geográfico e político, mas também em uma ideia de história
compartilhada, desenvolvida pela própria Toni Morrison. O episódio ocorre, no romance,
em razão do encontro e confronto entre diversas personagens envolvidas na busca por
localizar e estabelecer um lar. A grande quantidade de figuras híbridas buscando lugares
para morar em espaços inconstantes, em escopos temporais seculares, são fundamentais
para o processo de reavaliação do conceito histórico de nação. O objetivo deste trabalho é
apresentar como a narrativa de Morrison, em Paradise, elabora, no espaço ficcional, o
conceito de história compartilhada.
“Pós-nacionalismos: A desestabilização de fronteiras originada pelos latinos nos Estados
Unidos”
Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes - UNESP/SJRP
Este estudo discute produções literárias de artistas latinos nos Estados Unidos, com o
objetivo de mostrar como seus trabalhos revelam questionamentos no tocante a problemas
de identidade. Por meio da análise de textos de Alberto Ríos, Esmeralda Santiago e Gloria
Anzaldúa,, verifica-se o quão difícil é para os imigrantes latinos, de forma geral, a tarefa de
romper com as tradições de seus ancestrais. As experimentações artísticas realizadas por
esses escritores mostram o que significa viver em uma mistura de culturas, idéias e valores.
A importância da língua é também debatida, pois a mescla de Inglês e Espanhol, bem como
de prosa e poesia, carrega a luta contra as estruturas estabelecidas e desafia a linha limítrofe
entre gêneros literários. A comparação entre as abordagens empreendidas pelos autores em
foco permite constatar a relevância de suas vozes no contexto da pós-modernidade
americana, colocando em evidência um mundo pós-fronteiras nacionais.
Terça-Feira (11/05/2010)
14h00
“Hugo Loetscher 1979: além do pós-colonialismo”
Profa. Dra. Celeste Ribeiro de Sousa - USP
De fato só em 1986 Homi Bhabha, no âmbito dos pós-colonialismos, relativiza as relações
colonizador/colonizado (The location of culture) e só em 1999 Gayatri Spivak sugere a
desconstrução dessas relações (A critique of postcolonial reason). Em 1979, quando o suíço
Hugo Loetscher publica o romance Wunderwelt. Eine brasilianische Begegnung (Mundo
maravilhoso. Um encontro brasileiro), as posturas de Edward Said ainda empolgam os
estudiosos de literatura (Orientalism - 1978). Porém, analisar a obra de Loetscher à luz
dessas teorias levanta questões acerca da natureza do próprio conceito de pós-colonialismo:
trata-se, no caso, de um suíço que escreve o que se considera uma obra do pós-colonialismo
de língua alemã, embora o romance seja sobre o Brasil, e o que seria pós-colonial no
mundo de idioma alemão, talvez seja neo-colonialismo para os brasileiros.
“Révolutions: a poética de um eterno exílio? Reflexões sobre Le Clezio”
Profa. Dra. Betina Cunha - UFU
Révolutions, obra de Le Clézio escrita em 2003, apresenta uma nova versão da escritura
poética do autor. Compartilhando com seu leitor uma perspectiva memorialística-ficcional
do seu percurso pessoal de escritor - alimentado de aventuras e buscas ancestrais - o autor
revolve sombras, supostas intimidades e lembranças, em um processo contínuo de
deslocamento, presença, ausência e acomodações existenciais. Os vivos e os mortos, os
continentes e ilhas, mares e oceanos, ontem e hoje, noite e dia, transformam-se em material
de um quebra-cabeças enigmático, cuja grande lição é a busca de uma identidade
reconhecida a partir dos acréscimos e lacunas desenhadas pelas heranças multi-étnicas e
renovadas por uma individualidade sempre apaziguada pela lucidez e sensibilidade.
Partindo desses componentes ficcionais, este estudo pretende investigar as questões sócioideológicas-culturais que traduzem o discurso e a dimensão identitária do sujeito-herói,
oriundo deste emaranhado tecido multi referencial e pos-colonialista. Para tanto, serão
utilizadas as indicações teórico-críticas de BABHA, Homi. (O local da cultura); FANON,
Franz (Les damnés de la terre); SAID, Edward (Orientalismos); TODOROV, Tzetan (O
homem desenraizado) dentre outros que pensam as questões cruciais do movimento de
construção das identidades na pós-modernidade.
“No Pays d’Acadie: fragmentos de uma nação através da obra de Antonine Maillet”
Prof. Dr. Nelson Luís Ramos
Colonizada por franceses a quem deve o nome, colonizada em seguida pelos invasores
ingleses, desmantelada, dispersada e reconstruída, a Acádia (Acadie, em francês) sobrevive
e tenta se afirmar. Originalmente estabelecida em parte do território que é hoje a província
canadense de Nova Brunswick, o povo que compreende a Acádia de hoje espalha-se por
outras províncias canadenses, embora se concentrem em sua maioria na terra de origem.
Antonine Maillet, escritora acadiana e de língua francesa, é uma de suas porta-vozes mais
ferrenhas: através de suas obras, ela recupera e reconstrói as tradições, os costumes, a
história de seu povo, com livros que ganharam o mundo, reconhecimento e prêmios. Sua
voz é a voz de um povo separado, sofrido, mas que soube manter sua própria identidade. O
espaço de seus romances é o próprio espaço do país acadiano, com fronteiras facilmente
identificáveis, no seu francês bastante particular, na paisagem típica daquelas localidades,
na convivência com os vizinhos de língua inglesa. O espaço do passado é o espaço do hoje,
cuja memória permanece viva, oferecendo às novas gerações acadianas a identidade real de
uma nação. Através de sua obra literária, procuraremos mostrar como se dá a convivência
com a nova realidade acadiana, produto de colonizações que tanto a marcaram e que a
tornaram singular.
“A cena das línguas em Amour Bilingue, de Abdelkebir Khatibi: entre a herança da
colonização e paixão pelas línguas”
Profa. Dra. Maria Angélica Deângeli
Amour Bilingue (1983/1992), do escritor marroquino, Abdelkebir Khatibi, é um romance
que trata da problemática relação entre as línguas, mais especificamente, no contexto a
partir do qual fala Khatibi, entre o francês e o árabe. Por meio de uma narrativa consagrada
à figura dos duplos: dupla língua, dupla herança histórica e cultural, Khatibi interroga os
limites e os desafios de uma escrita genealogicamente híbrida, fruto de rupturas e de
imposições coloniais, mas também elaborada no rastro de uma paixão incondicional pela
língua, pelo que ele designa conceitualmente como bi-língua. O objetivo desta
comunicação é mostrar como se constrói a cena dos duplos (como cena dedicada à
celebração da bi-língua), que perpassa toda a narrativa, e interrogar, como o faz Khatibi, as
implicações teóricas (e retóricas) de um discurso que implica o próprio e o impróprio, o
estrangeiro e o familiar, o traduzível e o intraduzível da(s) línguas, questionar, enfim, a
história da colonização francesa no Magrebe e a herança de um passado colonial que passa
sobretudo pela história da(s) língua(s).
“O descritivo pictural na obra de Assia Djebar”
Profa. Dra. Norma Wimmer (UNESP/SJRP)
Assia Djebar (1936), romancista argelina, escreve, em língua francesa, uma série de
romances cuja temática remete a sua autobiografia, à história da Argélia e à das mulheres
daquele país. Em seus textos, ela revê as difíceis relações com a França da época da
colonização, isto é, dos anos 1830 até a independência, em 1962. Para fazê-lo, ela escolhe a
língua do dominador, mas ao mesmo tempo, a língua da comunicação com o Ocidente,
transgredindo-a - bem como a forma literária do romance ( ou a do cinema). Ela se
apropria, portanto, daquilo que lhe foi imposto como "a" cultura, para desvendar "sua"
cultura. Neste sentido, Assia Djebar traz, em seus textos, passagens descritivas que
recordam a pintura e a escrita de Delacroix e de Fromentin. O objetivo do trabalho a ser
apresentado será, assim, o de identificar, nos romances de caráter autobiogràfico da autora,
imagens tomadas aos dois pintores franceses.
RELATÓRIO DO EVENTO
O 3o. Seminário de Literaturas Estrangeiras em Diálogo foi realizado no período de
10 a 12 de maio de 2010, no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da
Universidade Estadual Paulista, Câmpus de São José do Rio Preto. O evento recebeu
auxílios da FUNDUNESP, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UNESP, da VUNESP, da
Direção do IBILCE e do Programa de Pós-Graduação em Letras do IBILCE.
O Seminário contou com apresentações de especialistas das áreas de Alemão,
Francês, Hebraico, Inglês e Russo. O público participante foi composto por docentes e
alunos de graduação do IBILCE e de pós-graduação do IBILCE e da FCL/Araraquara.
A mesa composta por docentes da área de Hebraico teve a presença dos seguintes
pesquisadores da Universidade de São Paulo: Profa. Dra. Nancy Rozenchan, Profa. Dra.
Berta Waldman, Prof. Dr. Gabriel Steinberg, Doutoranda Juliana Portenoy Schlesinger.
Em sua apresentação, a Profa. Dra. Nancy Rozenchan partiu do conceito de “judeu
oriental”, que designa os judeus provenientes de países árabes. Hoje os judeus orientais e
seus descendentes constituem praticamente a metade da população de Israel e a produção
literária realizada por eles e sobre eles tornou-se um dos segmentos mais importantes da
Literatura Hebraica contemporânea. Estudos sobre os judeus orientais têm sido produzidos,
em Israel, em várias áreas do saber, a eles remetendo questões a respeito do póscolonialismo, conforme as teorias de Homi Bhabha, Edward Said e Gayatri Spivak. Por
meio da análise do romance Shum gamadim lo iavou[Nenhum duende vai aparecer], de
Sara Shilo, a Professora Nancy apresentou uma leitura da israelidade oriental reproduzida
por escritores contemporâneos que reconstituem/reelaboram a identidade desta grande
parcela da população sufocada pela sua própria história de vida em Israel.
A Professora Berta Waldman discutiu a questão do conflito árabe-isralense a partir
do estudo da obra A mulher foge, de David Grossman. A docente abordou a sua
investigação a respeito dos judeus-árabes, da tradição bíblica, dos termos da aliança com
Deus, do drama de uma região em que os árabes-israelenses não podem contribuir para a
existência da formação do Estado de Israel. Várias identidades culturais estão em jogo no
romance. O texto apresenta a realidade da violência, da explosão, do atentado, da barbárie.
O autor incorpora esse cenário de massacre como o cenário natural do israelense
contemporâneo. O romance encontra-se na área instável do cruzamento entre ficção e
verdade, apresentando múltiplas perspectivas para os fatos. A literatura passa a ser
encarada, assim, como um instrumento que permite diálogos entre os seres humanos, indo
além das diferenças que separam uns e outros. Os múltiplos caminhos do romance são
fundamentais para uma compreensão mais abrangente sobre o conflito árabe-israelense.
O Prof. Dr. Gabriel Steinberg analisou o conto Sipur Hirbet Hizha (“A história de
Hirbet Hizra), de autoria de Izhar Smilsnsky, escrito em maio de 1949 e publicado em
1959. Este conto, segundo o professor, é uma releitura dos relacionamentos intra e extraIsrael, apresentado a partir do ataque de um grupo de combatentes judeus a uma aldeia
árabe e a conseqüente fuga de seus moradores. Atualmente, na cultura israelense, há um
processo de revisão do passado e da história daquele país e posições consideradas
colonialistas estão sendo consideradas, por alguns, pós-colonialistas. O conto de Izhar, que
causou surpresa quando de sua publicação e se presta a uma postura de contestação de
versões antes tidas como oficiais, mostra questões morais que se perpetuam até hoje.
Baseando-se em teorias de Homi Bhabha, Salman Rushdie e Stuat Hall, a
Doutoranda Juliana Portenoy Schlesinger discutiu o romance Aravim Rokdim [Árabes
dançam], publicado em 2002, por Sayed Kashua, autor israelense de origem muçulmana.
Em sua apresentação, a pesquisadora mostra o problema identitário enfrentado pela minoria
árabe-israelense, isso é, pelos árabes nascidos em Israel que passam a ter contato com a
maioria judaica em seu país natal, por meio da trajetória do protagonista do romance.
Verifica-se aqui a idéia de hibridização, de fronteiras, de identidades culturais. Há um
encontro não pacífico do protagonista com a sociedade judaica. Ele tenta insistentemente se
tornar um judeu; não quer ser um árabe dentro daquela sociedade. O romance mostra a
questão de ser árabe-isralense, com um hífen.
A mesa da área de Russo contou com as presenças do Prof. Dr. Mário Ramos
Francisco Júnior, da Doutoranda Denise Sales e das Mestrandas Deise de Oliveira e
Gabriela Soares da Silva, da Universidade de São Paulo.
O Prof. Dr. Mário Ramos Francisco Júnior apresentou sua pesquisa a respeito das
mudanças sociais ocorridas na Rússia, no início do século XX, culminando com a
Revolução Socialista de 1917. A maioria dos escritores envolvidos com a vanguarda
engajou-se na utopia da reconstrução da nação, na união das diversas repúblicas
“satélite”da Rússia, passando pelas utopias da integração nacional e de uma língua comum.
A expansão soviética impunha a língua e a cultura russas aos países agregados, mas a
poesia lírica de Vladimir Maiakóvski, os épicos modernos de Velimir Khliénbikov, os
poemas experimentais de Aleksei Krutchônikh incorporavam a linguagem dos povos do
Cáucaso e de outras regiões, revelando o mosaico de povos que compunha a União
Soviética. Esses autores foram perseguidos pelo regime de Stálin. Hoje há uma retomada
do nacionalismo soviético na literatura russa.
A Mestranda Deise de Oliveira realizou uma explanação sobre o mercado literário
na Rússia contemporânea. Com o desmantelamento da União Soviética, o sonho socialista
tornou-se ultrapassado. Os russos passaram a ser coadjuvantes dentro do sistema capitalista
e não mais o centro de um sistema. A antiga União dos Escritores não mais garantia a
publicação para quem escrevia a favor do Partido. Atualmente, a censura ocorre pela
necessidade mercadológica das editoras. A pesquisadora menciona a obra Branco sobre o
negro, de Ruben Gallego. O autor escreveu suas memórias e hoje vive de literatura. A
literatura pós-moderna traz representações de um mundo novo. O mercado editorial não
está mais dominado pela ideologia, e é um negócio que tende a ser lucrativo.
A Doutoranda Denise Sales explicou que a literatura pós-colonial russa é diferente
da de outros países. Para a pesquisadora Aliona Podlesnykh, “a Rússia colonizou a si
mesma, conquistou o seu próprio povo”. Assim, as obras pós-coloniais são aquelas que
retratam a conquista dos Urais, com destaque para os escritores Dmitri Narkisovitch,
Mamin-Sibiriak, Pavel Bakov e Aleksei Ivanov. Esses autores abordam o geopanorama da
cultura russa, a crueldade dos exércitos czaristas, o esmagamento de pequenas etnias.
A Mestranda Gabriela Soares da Silva apresentou uma comunicação a respeito da
obra de Fazil Iskander, La constellation du Chevraurochs, destacando questões de
identidade (se realmente haveria uma identidade soviética), de linguagem, de utilização do
fantástico, do grotesco, mostrando a justaposição entre o periférico e o centro do poder.
A mesa da área de Inglês contou com a presença das Profas. Dras. Sigrid Renaux
(UFPR/UNIANDRADE), Mail Marques de Azevedo (UFPR/UNIANDRADE), Giséle
Manganelli Fernandes (IBILCE/UNESP) e da Doutoranda Marcela de Araújo Pinto
(IBILCE/UNESP).
A Professora Sigrid Renaux analisou a obra Negociando com os mortos, de
Margaret Atwood, tomando por base teorias de Linda Hutcheon relativas ao pósmodernismo e ao pós-colonialismo. A pesquisadora partiu de indagações como “para quem
se escreve?”, “por que se escreve?”, para mostrar como Atwood faz uma releitura da
situação colonial do Canadá, questionando o cânone literário e as noções de centromargem; afinal, centro é onde a pessoa acontece estar e não um centro hegemônico. Para
Sigrid Renaux, Atwood redimensiona o centro do arcabouço cultural europeu e mostra um
cruzamento cultural por meio da utilização da intertextualidade.
A Profa. Mail Azevedo apresentou um trabalho em que discutiu o romance Dentes
brancos de autoria de Zadie Smith, e o texto “Ayoluwa, a alegria do nosso povo”, de
Conceição Evaristo, em uma investigação comparativa, a fim de mostrar como duas
escritoras tão diferentes são semelhantes, em essência, na tentativa de valorizar um mundo
multicultural. Baseando-se na obra The Empire Writes Back (1989), de Ashcroft, Griffith,
Tiffin, e em textos de Said, Spivak e Bhabha, a docente abordou a maneira como questões
relativas à diáspora, à perda de identidade, à ancestralidade, ao sujeito colonial e póscolonial, ao racismo estão presentes nas produções literárias em apreço.
A Doutoranda Marcela de Araújo Pinto apresentou uma discussão sobre o romance
Paradise, no qual, a autora Toni Morrison re-contextualiza, no cenário americano, um
incidente da história oral brasileira. Nesta obra, Morrison reavalia o conceito de nação e
como a questão de estabelecer um lar é importante para as personagens. A Doutoranda
também explorou a noção de história compartilhada elaborada pela escritora americana.
A Profa. Giséle Manganelli Fernandes abordou os textos When I Was Puerto Rican:
A Memoir, de Esmeralda Santiago, Borderlands/La Frontera: The New Mestiza, de Gloria
Anzaldúa e o poema “Madre Sofia”, de Alberto Rios, para debater como esses escritores
mostram o que significa viver em uma mistura de culturas, idéias e valores. Santiago,
Anzaldúa e Ríos apresentam mundos diferentes em contato, rompendo fronteiras
lingüísticas, culturais e. principalmente, no caso de Anzaldúa, de gêneros literários.
Tomando por base teorias de Hugo Achugar, Néstor Garcia Canclini e Frederick Luis
Aldama, a docente mostrou como a comparação entre as abordagens empreendidas pelos
autores em foco revela a luta contra estruturas pré-estabelecidas, colocando suas vozes no
contexto da pós-modernidade nos Estados Unidos, em um mundo pós-fronteiras nacionais.
A última mesa de apresentações de trabalhos teve a participação da Professora
Doutora Celeste Henriques Marquês Ribeiro de Sousa, da área de alemão da USP, e dos
Professores Doutores Nelson Luis Ramos, Maria Angélica Deângeli e Norma Wimmer, da
área de francês do IBILCE/UNESP.
A Professora Celeste Ribeiro de Sousa examinou o romance Wunderwelt. Eine
brasilianische Begegnung (Mundo maravilhoso. Um encontro brasileiro), de Hugo
Loetscher. Baseando-se em teorias de Homi Bhabha, Gayatri Spivak e Edward Said, a
docente analisou o olhar do escritor suíço sobre o Nordeste brasileiro. A comunicação da
Professora Celeste questionou o conceito de pós-colonialismo no mundo de idioma alemão,
uma vez que isso pode ser considerado neocolonialismo no Brasil.
A Profa. Betina Cunha não pôde comparecer ao evento.
O Professor Nelson Luis Ramos discutiu o projeto literário da canadense Antonine
Maillet, escritora acadiana e de língua francesa, debatendo questões sobre a delimitação do
espaço da Acádia (originalmente estabelecida em New Brunswick), e sobre a maneira como
a autora recupera e reconstrói as tradições, os costumes, a história de seu povo, por meio da
utilização de um francês bastante particular. Maillet debate-se com histórias contraditórias e
mostra as inúmeras disputas na luta contra os ingleses, tentando desembaraçar o fio da
história.
A Professora Maria Angélica Deângeli explanou sua pesquisa a respeito da obra
Amour Bilingue, do escritor marroquino Abdelkebir Khatibi, destacando a problemática
situação dos falantes de línguas francesa e árabe. Revisitando aspectos como a amizade
entre Khatibi e Derrida (que nunca pôde chamar o francês de língua materna), questões
referentes à discussão sobre a língua francesa, sobre o bilingüismo, sobre a dupla herança
cultural, a docente mostra como Khatibi constrói um discurso que coloca em xeque a
história da colonização francesa no Magrebe.
A Professora Norma Wimmer apresentou um trabalho no qual examina a conexão
entre as descrições inseridas nos textos da escritora Assia Djebar, romancista argelina, e as
pinturas de Delacroix e de Frometin. A autora reavalia as tumultuadas relações com a
França na época da colonização e transgride a língua do opressor ao utilizá-la em sua
produção literária. A docente mostra como Djebar desvenda sua cultura em oposição à
cultura do colonizador e identifica imagens tomadas aos pintores franceses, a fim de
repensar a história da Argélia, notadamente, das mulheres argelinas.
No dia 12 de maio, houve uma reunião do Grupo de Trabalho em que se discutiu
solicitações de entrada de novos membros no GT, a distribuição do livro Criação e conflito,
composto por capítulos escritos por membros do GT bem como a programação para o
ENANPOLL 2010.
O Seminário foi bastante produtivo, contribuindo para o fortalecimento do GT e de
seu projeto de pesquisa.
XXV ENANPOLL
Durante o XXV ENANPOLL, o grupo deverá discutir o formato da coletânea do
biênio, por meio da discussão dos textos apresentados no evento, discutir em conjunto a
introdução da coletânea e realizar uma reunião burocrática com vistas à inclusão ou à
exclusão de membros, e outros assuntos relativos a futuras ações do GT.

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