A Cianotipia do ponto de vista da química
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A Cianotipia do ponto de vista da química
A Cianotipia do ponto de vista da química A cianotipia (cyanotype) é um processo de impressão fotográfico em papel ou em tecido que produz imagens em tons de azul (do grego cyanos, azul escuro). Ao contrário da fotografia a preto e branco que tem por base a química dos sais de prata, a cianotipia assenta na redução fotoquímica dos sais de citrato de ferro (III) e é uma técnica usada essencialmente para produzir cópias em papel ou em outros suportes e não negativos. Este processo de impressão fotográfico foi concebido pelo cientista e astrónomo Inglês, Sir John Frederick William Herschel, em 1842[1]. Na base da impressão da cor azul, conhecido como “blue print”, está a formação sobre a folha de papel de um precipitado insolúvel de “azul-daprússia”. Do ponto de vista químico, o “azul-da-prússia” é o hexacianoferrato(II) de ferro(III), cuja fórmula química é Fe4[Fe(CN)6]3. Este pigmento azul característico da cianotipia foi descoberto acidentalmente em Berlim no ano de 1704 pelo químico e pintor Heinrich Diesbach. Ao longo dos tempos ficou conhecido por diversos nomes, nomeadamente ferrocianeto de ferro (III), ferrocianeto férrico, e hexacianoferrato férrico. A nível molecular existem diferentes “azul-da-prússia”, cujas fórmulas variam de KFe[Fe(CN)6].5H2O (conhecido como “azul-da-prússia solúvel”) até Fe4[Fe(CN)6]3.15H2O (conhecido como “azul-da-prússia insolúvel”). Todos têm em comum a sua estrutura cristalina cúbica característica que pode acomodar no seu interior diferente número de moléculas de água e de iões metálicos. Para realizar esta técnica são necessárias duas soluções de ferro, no estado de oxidação +3, e uma fonte de radiação ultravioleta (a luz solar é suficiente, mas pode ser usada uma lâmpada ultravioleta). Na formulação original de Sir John Herschel, utiliza-se o citrato de amónio e ferro (III) e o hexacianoferrato(III) de potássio. O citrato de amónio e ferro (III) é também conhecido por citrato férrico amoniacal, cuja fórmula química é C6H8O7.x Fe3+.y NH3 e o hexacianoferrato(III) de potássio é também conhecido por ferricianeto de potássio, cuja fórmula química é K3[Fe(CN)6]). Em alternativa ao citrato de amónio e ferro (III), Mike Ware[2] propôs a utilização do tris(oxalato)ferrato(III) de amónio (III) trihidratado (conhecido também por oxalato férrico de amónio, cuja fórmula química é (NH4)3[Fe(C2O4)3].3H2O ). Esta variante é conhecida como “novo processo de cianotipia” [2]. Para fazer uma imagem pelo processo de cianotipia, prepara-se o papel com uma mistura em partes iguais das duas soluções de ferro e deixa-se secar ao abrigo da luz. Entretanto, produzem-se os cianotipos a partir de negativos comuns ou de desenhos ou reproduções em materiais transparentes ou translúcidos. A impressão é feita por contacto, numa prensa, colocando-se o cianotipo sobre o papel e expondo o conjunto à radiação ultravioleta (luz solar ou a uma potente lâmpada ultravioleta). O original atua como um negativo, onde os elementos escuros aparecem claros e os claros aparecem escuros. Nesta fase, dá-se a redução fotoquímica do oxalato ou do citrato de ferro (III) para formar o ferro (II), de acordo com a seguinte reação fotoquímica, representativa do novo processo de cianotipia, em que se usa o tris(oxalato)ferrato(III) de amónio[3,4]: 2 [Fe(C2O4)3]3− + hν → 2 Fe2+ + 2 CO2(g) + 5 C2O4 2− Na presença do hexacianoferrato(III) de potássio, os catiões de Fe(II) formados, reagem de acordo com a seguinte reação de oxidação-redução: [Fe(CN)6] 3− + Fe2+ → [Fe(CN)6] 4− + Fe3+ E finalmente dá-se a precipitação do azul-da-prússia, segundo a seguinte reacção química: 3 [Fe(CN)6] 4− + 4 Fe3+ → Fe4[Fe(CN)6]3 Bibliografia [1] – http://www.mikeware.co.uk/mikeware/Traditional_Cyanotype.html [2] – http://www.mikeware.co.uk/mikeware/New_Cyanotype_Process.html [3] – Mike Ware, Prussian Blue: Artists' Pigment and Chemists' Sponge, J. Chem. Educ., 2008, 85 (5), 612 – 621. [4] – Mike Ware, 'The Enduring Image', Chemistry World, 2007, 4 (8), 62 – 65. Carlos Rocha Gomes Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto [email protected]