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Gaudí
Página 4:
Vasa Vicens,
Vista da fachada a partir da Calle de Carolines
Design de:
Baseline Co Ltd.
127-129A Nguyen Hue
Fiditourist 3rd Floor
District 1, Ho Chi Minh City
Vietnam
© Confidential Concepts, EUA
© Sirrocco, Londres, Reino Unido
© F. Devos (fotografias) Casa Milà, La Pedrera
(Barcelona). Agradecimentos a Fundació Caixa Catalunya
Tradução: Ana Maria Pires, Cascais
Todos os direitos reservados. Este livro está protegido por
direitos de autor. Nenhuma parte dele pode ser reproduzida,
armazenada por qualquer sistema, ou transmitida por qualquer
forma ou meio, sem a prévia autorização do detentor dos
direitos de autor.
ISBN : 978-1-78042-064-6
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“A ornamentação desempenha um papel essencial, no sentido em que
confere um carácter, sendo no entanto não mais do que a métrica e a
rima na poesia. Um conceito que pode ser expresso de muitas formas,
mas que se torna obscuro e pretensioso quando se pretende introduzir
– esses acessórios pretensiosos que atacam o claro significado do
pensamento.”
– Antoni Gaudí (extracto do Diário 1876-1879)
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Biografia
1852:
Gaudí nasce em 25 de Julho, na cidade de Réus.
1863:
Gaudí inicia a sua formação escolar no Convento de S. Francisco, em Réus.
1868:
Gaudí muda-se para Barcelona, para completar o último ano do ensino secundário no
Instituto Jaume Baulmes.
1869:
Gaudí ingressa na Faculdade de Ciências, na Universidade de Barcelona.
1873:
Gaudí ingressa na Escola de Arquitectura.
1875:
Gaudí é chamado para cumprir o serviço militar.
1876:
Morre o seu irmão mais velho, Francesc e a sua mãe, Antónia.
1878:
Gaudí obtém a qualificação de arquitecto.
1879:
Gaudí adere aos excursionistas. Morre sua irmã Rosa.
1883:
Gaudí inicia os seus trabalhos na Sagrada Família; no ano seguinte é oficialmente nomeado
arquitecto do projecto. Começa a trabalhar na Casa Vicens e desenha El Capricho.
1884:
Gaudí inicia a construção de Las Corts de Sarría, na propriedade de Güell
1886:
Começam os trabalhos no Palácio Güell.
1888:
Exposição Universal em Barcelona, que incluía a exibição de projectos desenhados por
Gaudí. Gaudí começa a construção do Colégio Teresiano. Começa a trabalhar no Palácio
Episcopal, em Astorga e na Casa Botines, em León; projectos que continuam até 1891.
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1891:
Gaudí viaja para Tânger, onde prepara desenhos para uma Missão Franciscana.
1894:
Gaudí submete-se voluntariamente a rigoroso jejum quaresmal e cai à cama.
1895:
Gaudí colabora nas Bodegas Güell com Francesc Berenguer.
1898:
Gaudí dá início à Casa Calvet. Desenvolve o modelo para a Cripta da Colónia Güel.
1899:
Gaudí recebe um prémio do município de Barcelona, atribuído à Casa Calvet.
1900:
Começam os trabalhos no Park Güell.
1903:
Tem início o restauro da Catedral de Mallorca, em Palma de Maiorca.
1905:
Gaudí, o seu pai e sua sobrinha mudam-se para uma casa no Park Güell.
1906:
Morre o pai de Gaudí, Franscesc.
1910:
Primeira exposição de Gaudí no estrangeiro, no Grand Palais em Paris.
1911:
Gaudí contrai brucelose.
1912:
A sobrinha de Gaudí , Rosa Egea i Gaudí , morre.
1925:
É concluída a primeira das Torres dos Apóstolos da Sagrada Família.
1926:
Gaudí é atropelado por um carro eléctrico em 7 de Junho, vindo a morrer três dias mais
tarde, em 10 de Junho.
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A
melhor forma de contar e analisar a vida de
Antoni Gaudí (1852-1926) é através de um
estudo concentrado nas suas obras. Os
edifícios, as plantas e os desenhos atestam a
personalidade de Gaudí, os seus interesses e a sua
notável criatividade, de uma forma que a
investigação feita ao que foi a sua infância, as suas
rotinas diárias e hábitos de trabalho poderão
esclarecer apenas de forma apagada. Para além
disso, Gaudí não foi um pensador académico,
interessado em preservar os seus pensamentos e
ideias para a posteridade, através dos ensinamentos
ou da palavra escrita. Mais do que no âmbito do
trabalho teórico, ele trabalhou na esfera da prática.
Palácio Episcopal de Astorga
Panorâmica geral
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Mesmo que isso não fosse suficiente para
desafiar as tentativas de avaliar a mente deste
inovador arquitecto, a violência da Guerra Civil em
Espanha resultou na destruição de uma grande
parte dos arquivos de Gaudí, o que veio a impedir
uma compreensão mais profunda de Gaudí como
homem, a sua personalidade e a sua forma de
pensar. No dia 29 de Julho do primeiro ano da
Guerra Civil Espanhola, a Sagrada Família foi
assaltada, tendo sido destruídos os documentos,
desenhos e modelos arquitectónicos guardados na
cripta. A não existência de documentação limita a
possibilidade de um estudo de pesquisa biográfica,
encorajando ainda mais as interpretações
especulativas sobre o arquitecto. Nos nossos dias,
Gaudí ganhou um estatuto quase mítico, da mesma
forma que os seus edifícios se tornaram ícones.
Palácio Episcopal de Astorga
Detalhe do pórtico de entrada
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Enquanto a sua obra continua a atrair a
“devoção” de muitos milhares de turistas, a sua vida
inspira reacções diversas. Além do ensaio erudito
de Joan Bassegoda i Nonnel, por exemplo, ou do
recente estudo biográfico de Gijs Van Hensenberg,
a vida de Gaudí fez surgir hagiografias e reflexões
mais imaginativas. Numa vertente diferente, a
afamada Ópera de Barcelona, El Liceu, estreou a
peça de ópera Antoni Gaudí, de Joan Guinjoan, em
2004, tendo sido este processo de celebração
cultural transportado a uma dimensão metafísica,
com a campanha da Associació Pro Beataifició
d’Antoni Gaudí para a sua canonização.
Palácio Episcopal de Astorga
Vista da entrada
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As celebrações e as construções em curso de
Gaudí, o homem, por vários grupos, são um sinal
de como, na nossa época “Pós-Moderna”, o
ascético, inspirado e incansável criador permanece
um tropo-chave de criatividade na imaginação
popular. Gaudí continua a ser uma figura
enigmática e quaisquer tentativas em interpretá-lo
acabam por nos dizer mais sobre quem o
interpreta, como é ilustrado nas citações que se
seguem. Salvador Dalí regista uma conversa tida
com o arquitecto Le Corbusier no seu ensaio “Sobre
a beleza horrível e comestível da arquitectura
moderna”. Dalí afirma, “…que o último grande
génio da arquitectura se chamava Gaudí, nome que
na língua catalã significa “ter prazer”.
Palácio Episcopal de Astorga
Chaminé
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Comenta ele, que a face de Le Corbusier
assinalou a sua discordância, mas Dalí prosseguiu,
argumentando que “o prazer e o desejo (que) são
uma característica do Catolicismo e do Gótico
Mediterrânico” foram “reinventados e levados ao
seu paroxismo por Gaudí”. A noção de Gaudí e da
sua arquitectura, com a qual o Surrealista
confrontou o racional arquitecto Modernista, ilustra
uma característica recorrente na historiografia de
Gaudí, que é a preocupação em isolar Gaudí da
história específica da arquitectura e em representálo como um génio visionário.
Palácio Episcopal de Astorga
Vista geral da fachada
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Além disso, o relato de Dalí pretende colocar
Gaudí numa pré-história do Surrealismo e
identificar Gaudí como um “profeta” ou precursor
da estética e das ideias daquele movimento
Modernista vanguardista. Embora Gaudí, Católico
devoto e arquitecto estudioso, pudesse ter
considerado anátema a maior parte da arte e dos
escritos de Dalí, ele não teria provavelmente
discordado inteiramente dos comentários de Dalí
aqui citados. Note-se no entanto, que identificar
Gaudí como um proto-Surrealista, arrisca o
obscurecimento da posição intelectual de Gaudí,
bem como das suas convicções religiosas
tradicionais. Considerado a partir de um ângulo
historiográfico, a afirmação de Dalí sugere um
pressentimento da atracção persistente de Gaudí no
início do século XXI.
Palácio Episcopal de Astorga
Detalhe de janelas com vitrais
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Poder-se-á argumentar que a frequente
reapropriação e “reinvenção” de estilos passados na
arte, na moda e no design contemporâneos, tem
ajudado a moldar a atracção para as reapropriações
artísticas de Gaudí, aquilo que Dalí designava como
o seu “paroxismo do Gótico”. É da maior
importância salientar, que Le Corbusier não teve, de
forma alguma, um sentimento de antipatia por
Gaudí. Há registos de que ele terá dito, em 1927 “O
que eu vi em Barcelona foi a obra de um homem de
extraordinária força, fé e capacidade técnica…
Gaudí é ‘o’ construtor de 1900, o edificador
profissional em pedra, ferro ou tijolos. A sua glória é
hoje reconhecida no seu próprio país. Gaudí foi um
grande artista. Só perdurarão aqueles que tocam a
sensibilidade do coração dos homens….”
Palácio Episcopal de Astorga
Detalhe da cota de armas na fachada
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Como se tornará aparente, Gaudí teria
provavelmente partilhado mais os sentimentos de Le
Corbusier, do que os de Dalí. O criticismo de Le
Corbusier assinala uma abordagem diferente à
análise da obra de Gaudí. Ela é examinada no
contexto específico da história arquitectural. Ao
longo deste livro, a análise dos edifícios de Gaudí
procura equilibrar a análise arquitectural medida,
evocada por Le Corbusier, com a discussão das
diferentes reacções críticas à obra de Gaudí, tais
como a de Dalí. O fundamento para esta
abordagem é uma compreensão crítica da vida de
Gaudí. Os seus interesses e a sociedade de
Barcelona, que moldou a sua obra sob importantes
formas, necessitam de ser considerados, sendo estes
os assuntos que irão ser aqui tratados.
Palácio Episcopal de Astorga
Vista de trás
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Necessário se torna salientar que, na ausência
de mais informação, são os edifícios que constituem
o melhor testamento ao homem. Embora Gaudí não
tenha nascido em Barcelona, a cidade que
proporcionou uma dinâmica cultural essencial à sua
arquitectura, ele nasceu na Catalunha, na pequena
cidade de Réus. Os biógrafos de Gaudí, induzidos
muitas vezes pelo próprio arquitecto, identificaram
nas experiências da sua infância provinciana as
origens da criatividade, que viria a demonstrar mais
tarde. A convicção de que a arte pode ser um dom
herdado, suporta a afirmação de Gaudí, de que a
sua “qualidade de apreensão espacial” tinha sido
herdada das três gerações de artífices em cobre do
lado paterno da sua família, assim como de um
marinheiro do lado da sua mãe.
Torre de Bellesguard
Vista do lado ocidental
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Haja ou não veracidade na afirmação de
Gaudí, podemos ter a certeza de que a sua vida
de casa foi confortável e estável. O único
acontecimento que ensombrou a sua infância, foi
um período de doença grave. Os efeitos
psicológicos, que isto teve no desenvolvimento das
faculdades imaginativas e convicções espirituais
da pequena criança, são difíceis de avaliar,
embora a sua sobrevivência possa ser lida como
um primeiro sinal de uma forte constituição e
desafiadora determinação. Podemos afirmar com
mais confiança, que este período da vida de
Gaudí lhe apresentou pela primeira vez quatro
factores que seriam fundamentais para a sua
carreira: a arquitectura, especialmente o Gótico;
Torre de Bellesguard
Mosaico de cerâmica no banco da entrada
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