CARNAVAL NO RIO O bafo...e tudo com cheiro de Cheetos
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CARNAVAL NO RIO O bafo...e tudo com cheiro de Cheetos
CARNAVAL NO RIO O bafo...e tudo com cheiro de Cheetos requeijão ou churrasco. É véspera de carnaval na verdade - fim de semana antes – e os blocos se esparramam pelas ruas. As pessoas são agora foliões e o trânsito de carros vira um jogo de xadrez do Kasparov. Às três ou quatro horas da tarde, o ar está tão parado, tão imóvel que um mosquito poderia planar como um urubu pelos sopros pífios dos canos de descarga dos ônibus, pelas ondas de som que saem dos carros alegóricos entulhando a Jardim Botânico no Sovaco de Cristo. Na nuca e no sovaco das pessoas que lotam as avenidas e a orla da cidade, litros de suor hão de se misturar com o sal do mar, seja no banho da praia, seja na água que desce do ralo e cai no esgoto e corre pelos canos subterrâneos. Do asfalto sujo e desbotado da serpentina, pende o sol pelos entreprédios de uma Copacabana em trombeta… Trombone, trompete, tubas, sax-alto, sax-barítono, flauta transversa, piano-guitarra, guitarra e bateria são um descarrego cívico organizado de improviso na Praia Vermelha. E esse descarrego é dado aos pulos rítmicos que passa o Instituto dos Cegos, sobe as escadas da UniRio na Urca e de lá grita-cantando as convenções ensaiadas pelos músicos da Faculdade. Daqui a duas, três semanas, aquele mesmo sujeito pintado de vermelho vestido com saia de pano - ou aquele outro de macacão do Batman - vai estar sentado em uma cadeira de camisa social ou em um ônibus às sete da manhã mexendo no celular, vendo alguma coisa no facebook com o vento passando pela janela, passando pela sua cabeça, como numa sala vazia, como pelas árvores num morro… Mas hoje o vento bate no bloco e para. Os ônibus têm que diminuir suas velocidades e o motorista é obrigado a virar o pescoço para o lado: a trocadora dança na sua cadeira por 15 segundos e a pequena multidão goza. Gozo permitido, gozo clandestino - o bloco de rua pode ser um breve, mas também um prolongado orgasmo. A pequena multidão goza. A mesma rua que era vácuo de tranquilidade, insegurança, onde não se pisava à noite nem por um decreto, hoje está promulgado, por breves horas no ano, o convívio de cidadãos de tudo quanto é tipo - e tem muito tipo nesse tipo. Somos todos crianças e todos devemos pular Somos todos crianças e todos devemos brincar.