Revista Mensageiro de Fevereiro 2015

Transcrição

Revista Mensageiro de Fevereiro 2015
MENSAGEIRO
DO CORAÇÃO DE JESUS
VOLUNTÁRIOS
VISITAM RECLUSOS
EM CADEIAS DO
PORTO
pág. 4
À CONVERSA
COM...
MIGUEL ARAÚJO
pág. 32
A IGREJA CATÓLICA
E O MATRIMÓNIO
FEV | 2015
MENSAGEIRO
DO CORAÇÃO DE JESUS
Porque devemos
chamar-nos cristãos
Fevereiro 2015
Ano CXL n.º 2
MARCELLO PERA
Director
António Valério, s.j.
Se querem enfrentar os desafios postos às
sociedades livres, os liberais precisam de se
reconhecer culturalmente cristãos – o que não
implica ser cristão crente nem renunciar à laicidade
do Estado. Este é o desafio de Marcello Pera aos
liberais europeus. Será que estes – cristãos ou não –
ainda o podem comprender?
Formato: 14,8x22 cm; Páginas: 246; Preço: 18,00€;
Portugal: 18,90€; Europa: 22,00€; Fora da Europa: 24,50€
(Portes de Correio incluídos nos preços).
Etty Hillesum
Um itinerário espiritual
PAUL LEBEAU, S.J.
A partir de 1941, e até 1943, data da sua deportação
para Auschwitz, onde foi morta, Etty Hillesum
confiou ao seu Diário a intensa transformação
interior que fez dela um caso raro de serenidade
e coragem face à barbárie nazi. Este livro ajuda a
entender o seu caminho interior e a riqueza de uma
personalidade multifacetada e única.
Formato: 14,8x21 cm; Páginas: 286; Preço: 14,00€;
Portugal: 14,90€; Europa: 18,00€; Fora da Europa: 20,50€
(Portes de Correio incluídos nos preços).
Evangelho Diário 2015
Um livro que permite a leitura diária do Evangelho,
seguindo o ritmo do calendário litúrgico. Propõe-se,
para cada dia do ano, a passagem do Evangelho lida
na Eucaristia desse dia, acompanhada de uma breve
meditação/oração. São ainda indicadas as outras
leituras bíblicas proclamadas na Eucaristia, bem
como os santos celebrados ao longo do ano.
Formato: 10,5x14,8 cm; Páginas: 344;
Preço: 3,50€; Portugal: 4,20€; Europa: 6,50€; Fora da
Europa: 8,90€ (Portes de Correio incluídos nos preços).
Pedidos: www.livraria.apostoladodaoracao.pt/; [email protected];
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2 | Mensageiro
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ABERTURA
A LIBERDADE
E O PERDÃO
SUMÁRIO
ABERTURA ........................................................................ 1
A liberdade e o perdão - P. António Valério, s.j.
INTENÇÕES DO PAPA....................................................... 2
António Coelho, s.j.
DESTAQUE ........................................................................ 4
Mensageiros de esperança e confiança
Associação “Foste Visitar-me” em cadeias do Porto
TIRAR A BÍBLIA DA ESTANTE......................................... 7
A Bíblia: a verdade destas histórias
Miguel Gonçalves Ferreira, s.j.
INformar............................................................................ 8
Arte Sacra - Luís Silva Pereira
ANO DA VIDA CONSAGRADA....................................... 10
As Carmelitas Descalças
OPINIÃO........................................................................... 12
Eram muito novos, aqueles dois... - Isabel Figueiredo
DOSSIER........................................................................... 13
A Igreja Católica e o matrimónio
Miguel Almeida, s.j.
VIVER O AO...................................................................... 22
O AO em duas ideias
António Valério, s.j.
REUNIÃO DE GRUPO....................................................... 23
Esquema de reunião de grupo - Manuel Morujão, s.j.
1ª SEXTA-FEIRA............................................................... 24
Rezar com o Papa pelos reclusos - Dário Pedroso, s.j.
NOTÍCIAS ........................................................................ 26
Cláudia Pereira / Elisabete Carvalho
À CONVERSA COM... ..................................................... 32
Miguel Araújo, Cantor, músico e compositor
Fotos
Pág. 5: © “Foste Visitar-Me” – Associação de Visitadores de Reclusos; pág. 8:
“Pietá” – Miguel Ângelo; pág. 28: © Lusa; Arquivos A.O.
P. António Valério, s.j.
No segundo mês do Mensageiro renovado,
temos em destaque as intenções do Papa para
Fevereiro: os jovens reclusos, para que olhem o
futuro com esperança, e os casais separados, para
que encontrem acolhimento na Igreja.
A reportagem deste mês dedica-se ao voluntariado na prisão, dando a perspectiva de quem
acompanha os reclusos e os vai entusiasmando
para uma mudança de vida, depois de cumprida a
pena. Esta reportagem é enriquecida com o testemunho de quem esteve na prisão e decidiu dar um
novo rumo à sua vida. O Dossier trata a questão
dos casais separados e a Igreja, algo muito actual,
em particular por causa da recente Assembleia do
Sínodo dos Bispos. Mais do que indicar soluções –
pois estas virão a seu tempo – pretendemos apresentar o estado actual do tema, para conhecer
mais a fundo a origem destas questões.
A prisão e as famílias em dificuldade: dois temas
para reflectir e rezar. E como a oração não pode
ser desligada da vida, convidamos os nossos leitores a considerarem as suas implicações na vida
pessoal. Muitas vezes, as maiores prisões são as
interiores, as coisas das quais temos dificuldade
em nos libertar; e as dificuldades na família não
existem apenas nos casais que se separam. Os
dons da liberdade e do perdão poderão ajudar-nos a viver bem a Quaresma que está prestes a
iniciar, no nosso coração e nas nossas casas.
INTENÇÕES DO PAPA
POR ANTÓNIO COELHO, S.J.
RECONSTRUIR A VIDA
Quando pensamos na realidade daqueles que
estão presos nas cadeias por esse mundo fora,
várias questões se nos colocam imediatamente.
Uma dessas questões é a prevenção, sobretudo
em relação aos jovens. Porquê há tantos jovens
detidos? O problema tem a ver com a sociedade
que, em tantos casos, os marginaliza ou, pelo
menos, não lhes oferece condições que lhes permitam levar uma vida digna, como sejam tra­
balho e outras muitas.
Vêm depois todas as questões que têm a ver com
a situação nas cadeias, nas quais os presos vivem,
tantas vezes, em condições infra-humanas, sem
o mínimo conforto. Em vez de um tra­balho em
que possam passar o tempo ou até aprender um
ofício, ficam entregues a si próprios e aos seus
problemas. As condições higiénicas são, em muitos casos, deploráveis e o mesmo se diga da alimentação e outros factores que não existem ou
existem insuficientemente.
Por tudo isto, as prisões transformam-se em
lugares de aprendizagem do crime e delinquência dos detidos; sobretudo os mais jovens, porque
mais influenciáveis, tornam-se, por vezes, piores
do que quando entraram.
4 | Mensageiro
INTENÇÃO UNIVERSAL
PARA QUE OS RECLUSOS,
ESPECIALMENTE OS JOVENS, TENHAM A
POSSIBILIDADE DE RECONSTRUIR A SUA
VIDA COM DIGNIDADE
Outro problema muito comum é constituído pela
atitude da sociedade em relação àqueles que saem
das cadeias e não encontram o acolhimento que
lhes permitiria uma reinserção nessas sociedades,
porque ficam com o estigma de ter estado presos,
como se isso constituísse uma «doença incurável».
Neste mês, o chamamento vibrante do Papa
para que os jovens reclusos tenham a possibilidade de refazer uma vida digna, leva-nos a
meditar sobre toda esta dolorosa problemática.
A Igreja tem que mostrar que o Senhor não está
fora das prisões e das celas, mas se encontra dentro
de cada preso: chora com ele, trabalha com ele,
espera com ele, porque o seu amor paternal e
maternal está em toda a parte.
OS CÔNJUGES SEPARADOS
Infelizmente, é cada vez maior o número de
casais que se separam, nalguns casos pouco
tempo depois de estarem juntos. Como sublinha
o Papa na Exortação Apostólica Evangelii gaudium,
«a família atravessa uma crise profunda, como
todas as comunidades e vínculos sociais» (n. 66).
Quais as causas destes divórcios? Não são fáceis
de enumerar e variam de caso para caso. Uma
delas (esta prévia ao casamento) é constituída
pela falta de preparação para o matrimónio. Com
efeito, em muitos casos, aqueles que pretendem
unir as suas vidas não têm ideias muito claras
sobre o casamento, sobre aquilo que são chamados a assumir e as obrigações que isso implica.
O matrimónio é considerado, muitas vezes,
como uma forma de gratificação afectiva que se
pode constituir de qualquer maneira e modificar
segundo a mentalidade de cada um.
Impõe-se, por isso, a necessidade de investir
na preparação para aqueles que querem constituir família, preparação que deve incluir todos
os aspectos que este problema reveste. É, assim,
necessário perguntar-se como melhorar a preparação dos jovens para o matrimónio, a fim de que
descubram a beleza desta união que, fundada no
INTENÇÃO PELA EVANGELIZAÇÃO
PARA QUE OS CASAIS QUE
SE SEPARARAM ENCONTREM
ACOLHIMENTO E APOIO NA
COMUNIDADE CRISTÃ
amor e na responsabilidade, permita superar as
dificuldades.
Mas para além desta preparação, a Igreja é chamada a perguntar-se como ajudar os casais que
se separaram, a fim de que não se sintam excluídos da misericórdia de Deus, do amor fraterno dos
outros irmãos e da solicitude pela sua salvação,
assim como ajudá-los a que não percam a fé e
eduquem os seus filhos na plenitude da experiência cristã.
As comunidades cristãs devem ser lugares de
escuta, de diálogo e de consolação. Que os separados possam encontrar nos seus pastores o apoio
autêntico de pais e guias espirituais que os protejam das ideologias negativas e os ajudem a ser
fortes em Deus e no seu amor.
Fevereiro 2015 | 5
DESTAQUE
Mensageiros
de esperança e confiança
Voluntários visitam reclusos em cadeias do Porto
São voluntários e dedicam parte do seu tempo
livre a visitar reclusos de estabelecimentos prisionais do Porto. Tratam-nos como pessoas e
não como números e transmitem-lhes sobretudo
esperança e confiança.
É esta a missão da “Foste Visitar-me” – Associação de Visitadores de Reclusos, um organismo
ligado à Companhia de Jesus. A presidente da
direcção, Cláudia Assis Teixeira, dá a conhecer
um pouco melhor este projecto, nem sempre bem
compreendido pela sociedade, que não percebe
porque há pessoas que escolhem visitar aqueles
que estão “tão bem” presos.
Em 1991 começaram as visitas aos reclusos
de Santa Cruz do Bispo. Vários passos foram
dados, até que, em 2007, foi constituída a Associação “Foste Visitar-me”. Como se desenrolou
este processo?
A “Foste Visitar-me” foi legalmente constituída
em 2007 mas a sua história é uns anos mais
antiga. Foi o concretizar do sonho de alguns
dos primeiros visitadores, do José Maria Soares Franco e da Ana Azevedo, que começaram
a ser visitadores desafiados pelo Padre Gonçalo
Eiró, s.j., e principalmente do Carlos Coelho, que
durante cinco anos, com o apoio do Padre Vasco
Pinto Magalhães, s.j., visitou sozinho a Cadeia de
Santa Cruz do Bispo. O Padre António Júlio, s.j., a
partir de 2004, sendo director do CREU – Centro
Universitário dos Jesuítas no Porto, deu o empurrão definitivo à sua constituição.
6 | Mensageiro
Ser tratado como pessoa...
Filipe (nome fictício), 31 anos, trabalha como
monitor numa instituição de apoio a jovens em
risco de exclusão social, da qual já precisou para
dar um novo rumo à sua vida.
Já esteve detido e foi nessa ocasião que contactou com os voluntários da Associação “Foste Visitar-me”. «Foram os elementos da associação que
me deram esperança quando a tinha perdido, que
me deram carinho quando precisei dele. Entravam sempre com um sorriso no rosto e logo aí o
dia já era diferente. Aqueles sábados de manhã
eram sempre diferentes de todos os outros dias da
semana. Só o simples facto de eles entrarem e nos
chamarem pelos nossos nomes e não pelos nossos números já era algo que nos fazia sentir como
pessoas normais que éramos e marcava muito a
diferença num local tão frio como era aquele. São
pequenos pormenores a que realmente dávamos
muito valor», explica Filipe.
«Foram pessoas que se cruzaram no meu caminho numa das alturas mais difíceis da minha vida
e, com elas do meu lado, sempre acreditei que tudo
se iria resolver da melhor maneira e que poderia
voltar a ter uma vida normal e melhor, quando
abandonasse o estabelecimento prisional», conta
Filipe, dando um exemplo: os visitadores «nunca se
esqueciam do aniversário de alguém». Era «realmente algo extraordinário, pois alguns de nós não
teríamos outra forma de ter um bolo para comer,
amigos assim para nos cantar os parabéns».
Filipe não coloca de parte a possibilidade de vir a
ser visitador. «Gostaria de fazer aos outros o que
me fizeram a mim, pois sei que são estes gestos de
amizade e fraternidade que podem ajudar as pessoas a mudar radicalmente as suas vidas. Mesmo
já estando em liberdade há sete anos, eles nunca
deixaram de me ligar e acompanhar», adianta.
O vosso trabalho incide nas visitas aos reclusos.
Actualmente, que estabelecimentos prisionais
são abrangidos?
Visitamos o Estabelecimento Prisional do Porto,
em Custóias, os Estabelecimentos Prisionais de
Santa Cruz do Bispo (masculino e feminino) e o
Estabelecimento Prisional anexo à Polícia Judiciária (PJ).
Como orientam a vossa intervenção? O Estabelecimento Prisional indica? Que idades têm os reclusos? Que tipo de crimes cometeram?
O esquema das visitas varia de estabelecimento
para estabelecimento. No estabelecimento feminino temos grande liberdade e podemos ir a todo o
lado, enquanto nos estabelecimentos masculinos
estamos limitados a espaços pré-determinados.
Temos também alguns projectos além da visita
tradicional. Por exemplo, dois clubes de Leitura,
um em Custóias e outro na PJ, o cultivo de uma
horta na Unidade Livre de Droga de Santa Cruz do
Bispo, o convite a pessoas de referência para falarem aos reclusos, jogos de futebol com os jovens
do CREU, etc. Por uma questão de princípio, não
perguntamos qual o crime que os reclusos cometeram, se bem que às vezes eles têm necessidade
de desabafar connosco. Temos, no entanto a
noção que grande percentagem dos crimes praticados pelos reclusos que visitamos está relacionada com a droga. Quanto à idade, falamos com
reclusos que têm desde os 17/18 anos até reclusos
com 70 anos, quase 80.
Clube de Leitura no Estabelecimento
Prisional de Custóias.
Jogo de futebol entre reclusos de Santa Cruz
do Bispo e jovens do CREU.
Que tipo de apoio prestam?
Prestamos essencialmente apoio emocional,
tentando ajudá-los a que o tempo de prisão não
seja um interregno na vida deles, ajudando-os a
fazer a ponte entre duas fases diferentes da sua
vida. Tentando ser mensageiros de esperança e
de confiança, estamos com eles, conversamos,
mostrando que há outros caminhos possíveis.
Tentamos ajudá-los a resolver alguns pequenos
problemas e ajudamo-los a manter a ligação às
famílias.
Quais os requisitos para se ser visitador?
Almoço em Santa Cruz do Bispo no dia do
Voluntariado.
O candidato a visitador tem de ser um adulto,
psicologicamente equilibrado e estruturado, com
Fevereiro 2015 | 7
uma vida espiritual activa, com capacidade de
escuta, que seja capaz de se comprometer, de não
julgar e de calar e cujo objectivo principal, ao querer fazer voluntariado, seja o bem do outro e não
qualquer motivo egoísta.
escolhemos visitar aquelas pessoas que estão tão
bem presas, é estar habituado a pedir apoio para
os nossos projectos e esses apoios serem negados
porque é para os reclusos…
Depois de os reclusos deixarem o estabeleciEste mês, o Papa Francisco pede orações pelos mento prisional, continuam a acompanhá-los?
reclusos, particularmente os jovens, para que
possam reconstruir a vida com dignidade. Esta
Com muitos deles, criamos laços de amizade
é uma intenção que vos anima ainda mais neste muito fortes. Não faria assim qualquer sentido
trabalho?
que estes laços se quebrassem quando eles saem
em liberdade. Claro que a relação continua, acomClaro que ter o nosso trabalho confirmado pelo panhando e tentando ajudar no seu processo de
Papa nos anima, mas também nos responsabi- reintegração. Por exemplo, organizamos jantares
liza para fazermos mais e melhor. Ser voluntá- periódicos onde nos encontramos todos e eles,
rio junto de pessoas reclusas é estar habituado a que estão em fases diferentes da sua reintegranão ser compreendido na nossa escolha, é estar ção, dão força uns aos outros.
habituado a que a sociedade não perceba porque
“Carlos, que fazes tu pelos pobres”?
Esta crítica interior serviu de impulso, há mais de uma década, para o médico
Carlos Alberto da Rocha tomar a decisão de dedicar algum do seu tempo aos
reclusos. Foi como que um aguilhão que o predispôs para esta causa.
“Decidi que gostaria de ser visitador prisional durante uns exercícios espirituais
realizados há cerca de 11 anos. Nesses exercícios, senti que deveria começar
a dedicar algum do tempo da minha vida a pessoas necessitadas. Antes dos
exercícios, muitas vezes me surgia a crítica interior: ‘Carlos, que fazes tu pelos
pobres’? Esse aguilhão interior como que me predispôs para a decisão então
tomada”.
“A grande motivação inicial foi dar resposta a uma exigência de coerência com
a minha fé”, explica o ginecologista e obstetra no Hospital de S. João, casado, de
62 anos, para quem “fé sem obras não chega”. Passados estes 11 anos, Carlos
Alberto da Rocha diz que se tornou visitador “por vontade de Deus”.
Este voluntário gosta de estar com os reclusos, particularmente com os
chamados inimputáveis da Clínica do Estabelecimento Prisional de Santa
Cruz do Bispo. “Eu gosto deles. E eles sabem que eu gosto deles – é isso o mais
importante que lhes dou. E sei que eles gostam de mim, gostam de estar comigo
e isso é o mais importante que me dão”, afirma.
“Compaixão” ou “Esperança” são as palavras que utiliza para sintetizar esta sua
acção de voluntariado. “Na verdade eu sou um prisioneiro a visitar prisioneiros,
esperando na esperança o tempo em que todos nós, os que estamos dentro de
grades e os que estamos fora, seremos enfim libertos para vivermos os novos
céus e a nova terra”, desabafa.
8 | Mensageiro
TIRAR A BÍBLIA DA ESTANTE
A Bíblia: a verdade
destas histórias
Miguel Gonçalves Ferreira, s.j.
Saber se aquilo que a Bíblia diz é verdade é uma
questão essencial! Só assim poderemos decidir
o grau de confiança a atribuir aos seus textos.
Porém, é necessário compreender que não buscamos uma verdade «jornalística» mas sim o desvelar de algo que aconteceu na história humana e
nos torna mais autênticos.
No Antigo e no Novo Testamento há numerosos elementos que nos ligam à história dos
homens: datas, lugares, personagens individuais
ou colecti­vas! No caso de Jesus, podemos afirmar
com certeza histórica que existiu, que Se referiu
a Deus como seu Pai, falando d’Ele com autoridade através de parábolas e realizando sinais e
prodígios, mesmo que isso quebrasse o preceito
do Sábado. Sabemos que Se aproximou dos pecadores e perdoou os pecados em nome próprio. Da
mesma forma Se aproximou dos doentes e marginalizados sem medo da «impureza ritual». Jesus
reuniu uma comunidade de discípulos e enviou-os em missão. Por fim, foi julgado pelas autoridades judaicas, condenado e executado pelas
autoridades romanas. Podemos também afirmar
que os discípulos confessaram a sua ressurreição
e por essa verdade de fé deram a vida.
Então, o essencial daquilo de que a Bíblia fala
acontece na História e no planeta Terra, não numa
fábula imaginária na «terra do nunca»... Contudo,
na Escritura existe também poesia, prosa ou textos apocalípticos que nos falam de uma realidade
sobretudo interior e espiritual, através de lugares
e personagens não históricos, mas sim destinados
a ajudar-nos a crescer espiritualmente, encontrando o nosso lugar na História. Se é essencial
reconhecer a capacidade que a linguagem metafórica tem para nos ajudar a captar as verdades
existenciais, é indispensável uma «arte de interpretar». A recta interpretação da Escritura é uma
necessidade, não uma arbitrariedade.
Fazemos uma interpretação correcta tomando
em conta aquilo que os autores humanos quiseram dizer e aquilo que Deus quer dizer. A tradição católica foi amadurecendo alguns critérios de interpretação que nos ajudam a buscar
o verdadeiro sentido dos textos: prestar atenção
ao conteúdo e unidade de toda a Escritura; ler
a Escritura na tradição viva da Igreja; atender à
coesão das verdades da fé entre si e no projecto
total da Revelação. A verdade da Bíblia é a sua
capacidade de semear e fazer crescer a verdade
na nossa história!
Fevereiro 2015 | 9
ARTE SACRA
Luís Silva Pereira
10 | Mensageiro
INformar
A arte sacra, e não só a de raiz cristã, proporcionou, em todo o mundo e em todos os tempos, as
mais relevantes obras de arte que enobrecem a cultura dos povos. Da arquitectura à escultura, da pintura à literatura, passando pela música, pela dança,
pelo teatro, por uma série de outras artes como a
ourivesaria ou a tecelagem, o mundo está cheio de
objectos estéticos que testemunham as linguagens
que o homem foi inventando para falar de Deus e
com Deus. Podemos afirmar que a arte sacra foi, e
continua a ser, um dos mais decisivos factores do
progresso humano, porque foi dando ao homem
uma nova consciência de si próprio. E isso é que é,
propriamente, em meu entender, cultura.
Não deveríamos confundir arte religiosa com
arte sacra. Em sentido lato, toda a arte é religiosa,
na medida em que procura a beleza ideal e a verdade mais profunda da realidade. A noção de arte
sacra apresenta-se mais restrita, pelo menos no
contexto cristão, pois se considera como tal apenas aquela que está ao serviço da liturgia, isto é,
da oração oficial da Igreja, embora o conceito se
alargue também às obras de arte que se destinam
à devoção particular dos fiéis. O facto, porém, de
estar ao serviço da liturgia não diminui em nada a
sua qualidade estética. Pelo contrário, essa mesma
finalidade exige aos artistas um iniludível apuro.
Para falar com Deus e de Deus, não podemos utilizar senão a nossa melhor linguagem.
A arte sacra tem que ser, antes de mais, arte, isto
é, produção sabedora e intencional de um determinado objecto tendo em vista determinado fim.
Isso implica, da parte do artista, o conhecimento
e o domínio das técnicas que o levarão a fabricar
com perfeição. Essa é a noção básica de arte que
prevalece sensivelmente até ao séc. XV. Durante
muitos séculos, tão artista era quem sabia fazer
bem uma enxada ou um pipo, como aquele que
concebia as linhas de uma catedral e lhes dava
corpo na pedra. Esse sentido original da palavra
ainda hoje permanece na linguagem corrente.
Quando, por exemplo, não conseguimos encontrar
facilmente um trolha ou um picheleiro, dizemos
que há uma enorme falta de artistas.
Mas, para além de ser a produção correcta de um
determinado objecto, a arte sacra tem de obedecer
a outras exigências que não as da perfeição formal, uma vez que tem como função essencial ajudar o homem a melhor compreender a Revelação
e, assim, ajudá-lo a entrar em contacto com Deus,
suscitando estados de oração, de afecto, de louvor,
de súplica, de agradecimento. Tal função implica
sempre fidelidade à Sagrada Escritura, fidelidade
que não é contrária à verosímil interpretação do
artista, mesmo que fuja à letra do texto sagrado.
Lembro o caso da iconografia da Pietá. Os Evan­
gelhos não dizem que Jesus Cristo morto tivesse
sido depositado no colo de sua mãe. Contudo,
verosimilmente, muitos artistas imaginaram que
tal tivesse acontecido, daí resultando inúmeras
obras-primas de arte sacra, desde as Vesperbild
alemãs, à Pietá de Miguel Ângelo. A fidelidade da
arte sacra ao texto fundamentador é, pois, essencial. Tão essencial que, se não o conhecemos, o
sentido da obra escapa-nos. Escapa-nos o sentido
e escapa-nos a sua beleza mais profunda.
Falamos de beleza. A arte é sempre a produção
de uma obra bela. Também a arte sacra o é. Ela
deverá levar-nos a descobrir a beleza divina, tornando-a como que sensivelmente mais visível.
Deverá tocar não apenas a nossa inteligência,
mas também a sensibilidade, as emoções e os
afectos. Aí reside a força persuasiva de toda a arte
e, portanto, também da arte sacra. Por isso ela foi
sempre, e continua a ser, um poderoso veículo de
evangelização. Recentes documentos do magistério eclesiástico mostram que essa faceta pedagógica, mais ou menos explícita, está a ser redescoberta e justamente revalorizada.
Pela sua natureza e funcionalidade, a arte sacra
exige apurado sentido crítico de quem decide aceitar esta ou aquela obra para uso litúrgico, sabendo
bem distinguir o que é conveniente do que não é.
Apenas um exemplo: vi, há tempos, uma simpática
escultura de Jesus Menino saltando ao eixo com
S. João Baptista: duas figuras da Revelação, um episódio verosímil, mas que, em nosso entender, não
se adequa ao culto litúrgico. É, pois, necessário que,
em cada diocese, existam pessoas responsáveis,
cultas e de apurado sentido estético, para decidirem se esta ou aquela obra é ou não apta para o
culto divino, isto é, se é ou não verdadeira arte e
se é ou não verdadeiramente sacra. Não esqueçam,
porém, que a Igreja não tem uma escola artística
exclusivamente sua. Todas as escolas e movimentos artísticos, ao longo da História, deixaram a sua
marca na arte sacra. Das mais realistas às mais
abstractas, todas contribuíram, e continuam a contribuir, admiravelmente, para a revelação da beleza
divina e para a aproximação do homem a Deus. A
arte sacra é uma epifania e uma pedagogia e incontáveis e imprevisíveis são os seus caminhos.
Fevereiro 2015 | 11
ANO DA VIDA CONSAGRADA
AS CARMELITAS DESCALÇAS
AS CARMELITAS DESCALÇAS
SÃO UMA ORDEM DE VIDA
CONTEMPLATIVA E O NOSSO
SERVIÇO À IGREJA É A
ORAÇÃO E A ENTREGA
DE VIDA.
12 | Mensageiro
Oração e Vida fraterna
Oração: «A oração é um trato de amizade,
estando muitas vezes a sós com quem sabemos
que nos ama». Trata-se de uma espiritualidade de
intimidade, de familiaridade com o Senhor, de O
sentir «companheiro nosso», «amigo que nunca
falta». Tudo na oração deve convergir para o
amor: a leitura, a meditação, a acção de graças, os
propósitos para a vida, tudo me deve levar a amar
mais. «Não vos peço agora que penseis n‘Ele, nem
que retireis muitos conceitos, nem façais grandes
e delicadas considerações com o vosso entendimento; não vos peço senão que O olheis… Olhai
que não está à espera de outra coisa, senão que O
olhemos» (Santa Teresa de Jesus).
Além disso, a oração não é para procurar uma
plenitude, um «sentir Deus», um «encontrar-me
a mim mesmo», mas para encontrar-me com
Jesus, simplesmente, e de forma que esse encontro mude de facto a minha vida, a minha relação
com o Senhor e com os irmãos. Diz Santa Teresa:
«Talvez não saibamos o que é amar… porque não
está no maior gosto, mas na maior determinação
de desejar contentar em tudo a Deus».
Vida fraterna: Santa Teresa fala de oração, mas
alerta todos os que querem começar «caminho de
oração» e unir-se a Deus, que precisam de estar
atentos a três coisas muito importantes, sem as
quais o caminho de oração não é autêntico: a) Amor
de uns para com os outros; b) Desprendimento de
todas as coisas; c) Verdadeira humildade.
Amor de uns para com os outros – procurando o verdadeiro bem do irmão e não me procurar a mim
nele.
Desprendimento de todas as coisas – Não deixar que
o meu coração se apegue às coisas, mas permaneça livre para procurar em tudo fazer a vontade
do Senhor, dando-me aos irmãos.
Verdadeira humildade – «Deus é a suma verdade, e
a humildade é andar na verdade» (Santa Teresa
de Jesus)
Só actuando em nós estas três virtudes muito
práticas e concretas podemos fazer com proveito
o caminho de oração.
Silêncio / solidão – Presença de Deus
Presença de Deus: o Senhor não Se encontra
apenas no sacrário, mas encontra-Se também
no nosso coração. Aliás, é essa a razão pela qual
Ele está no sacrário. Como dizia Santa Teresinha:
«Não é para ficar no cibório de ouro que Jesus
desce todos os dias do Céu, mas para encontrar
outro Céu que Lhe é infinitamente mais caro
que o primeiro: o Céu da nossa alma, feita à sua
imagem, o templo vivo da adorável Trindade!...»
Nunca nos deveríamos sentir sós, porque «Ele não
perde o cuidado de nós» (Santa Teresa de Jesus).
Clausura – Espírito apostólico/
missionário
Clausura: Não se trata apenas de «não sair», mas
de «entrar dentro de si» e encontrar-se com o
Senhor presente no nosso coração, descobrindo a
«água viva» da qual Jesus fala à samaritana.
Espírito apostólico/missionário: A nossa vida
de oração tem um objectivo que é, antes de tudo,
eclesial, apostólico e missionário. Santa Teresinha
é Padroeira Universal das Missões, partilhando
este título com S. Francisco Xavier. Este percorreu
milhares de quilómetros. Santa Teresinha nunca
saiu do seu Carmelo. É Padroeira das Missões pelo
seu zelo apostólico, pelo seu amor aos missionários, que brotava antes de mais do amor que ela
cultivava pelas suas Irmãs de Comunidade. Foi
esse amor que transbordou para o mundo.
Silêncio / solidão: é o húmus onde cresce a vida
de união com Deus. Mas não se trata de um silênIsto que aqui deixamos está ao alcance de todos
cio nem de uma solidão «sós», mas habitados por os cristãos e a eles se destina, porque o Carmelo
uma presença, a Presença de Deus. É o lugar do é para a Igreja e só no dar-se a ela e ao mundo
encontro com Jesus.
encontra o seu sentido.
Fevereiro 2015 | 13
OPINIÃO
ERAM MUITO NOVOS,
AQUELES DOIS...
Isabel Figueiredo
Eram muito novos, aqueles dois… Conheceram-se entre as longas férias de Verão e as tardes de
amigos. Apaixonaram-se com a verdade do primeiro amor. Ouviam música de mãos dadas, gostavam da praia em dias de chuva, caminhavam
sem destino pelas ruas. Descobriram a emoção
da proximidade, zangaram-se muitas vezes, par­
tilharam sonhos e segredos.
Namoraram. Muitos anos mais tarde, voltaram
a encontrar-se. Cada um tinha feito o seu caminho e, mesmo separados pelo tempo e pela distância, perceberam como pode ser estruturante
uma relação bem vivida na adolescência. Como
pode ser decisiva a opção de namorar. Como pode
ser radical a partilha da intimidade do que se
pensa, mais do que a partilha da intimidade do
corpo. Porque namorar não é partilhar a mesma
casa, dormir na mesma cama, dividir despesas
ou sentir a satisfação de estar com o outro, todas
as horas de todos os dias… namorar é um tempo
para aprender a amar.
E quando trocaram palavras e sorrisos, já casados
e com filhos, sentiram-se gratos. Porque aquele
namoro lhes deu asas para voar. Foi a expressão
que lhe ocorreu, quando estava a contar esta história a um grupo de adolescentes, os rapazes a lutarem contra as borbulhas e as raparigas preocupadas com os cabelos. Asas para voar. A surpresa da
expressão provocou alguns olhares trocistas. Mas
a história prosseguiu. Fizeram muitas perguntas,
algumas inquietas à procura de caminhos, outras
desafiadoras por pressentir as respostas.
14 | Mensageiro
No fim da tarde, a palavra namoro andava pela
sala, parecia ter vida própria. Precisamos de dar
espaço e tempo aos sentimentos que se definem
em palavras, tantas vezes gastas na banalidade
dos dias. Precisamos de partilhar histórias que
nos falem de vidas reais. Precisamos de acreditar
que o namoro pode ser um tempo extraordinário
e decisivo. Tudo depende daquilo que se quer e
da forma como se vive.
E se é na infância que se definem muitos dos
traços da nossa personalidade, é na adolescência
que se rasgam horizontes e se fazem opções, tantas delas, decisivas para toda a vida. Não podemos ficar satisfeitos com a profusão dos corações
de chocolate que nos enchem os olhos por estes
dias. Precisamos de corações que queiram tudo
para sempre.
PORQUE NAMORAR NÃO É PARTILHAR
A MESMA CASA, DORMIR NA MESMA
CAMA, DIVIDIR DESPESAS OU SENTIR A
SATISFAÇÃO DE ESTAR COM O OUTRO,
TODAS AS HORAS DE TODOS OS
DIAS… NAMORAR É UM TEMPO PARA
APRENDER A AMAR.
A IGREJA CATÓLICA
e o matrimónio
Miguel Almeida, s.j.
MENSAGEIRO | DOSSIER 2
Fevereiro 2015 | 15
A definição clássica de sacramento,
«um sinal exterior de uma graça interior
instituído por Cristo»
Casamento como sacramento
O casamento não foi sempre parte integrante
da lista de sacramentos. Com Alberto Magno e
Tomás de Aquino (séc. XIII) dá-se uma maior
«sistematização» da teologia e o matrimónio
era já então considerado sacramento. Já em
1184, contra os Cátaros, que pregavam a
pecaminosidade do casamento por causa da
inerente prática sexual, o Concílio de Verona
incluía o casamento na lista dos sacramentos,
juntamente com o baptismo, a eucaristia e a
penitência. Em 1274, o Concílio de Leão delibera
sete sacramentos (matrimónio incluído) e, em
1439, o Concílio de Florença afirma que estes sete
sacramentos contêm Graça e conferem Graça a
todos os que os receberem dignamente. Quando
o Concílio de Trento, no séc. XVI, defende, contra
a Reforma Protestante, que o matrimónio é um
sacramento, que contém e confere graça e que
é indissolúvel, apenas reafirma e sistematiza o
que era já a doutrina oficial da Igreja.
16 | Mensageiro
O que significa o casamento
ser um sacramento?
A auto-compreensão e identidade mesma do
Povo de Israel enraíza-se na noção de aliança
entre si e Deus. O profeta Oseias é o primeiro a
referir-se ao matrimónio como sinal desta aliança.
A um primeiro nível, o casamento de Oseias com
Gomer é como qualquer outro casamento. Mas, a
um segundo nível, revela e proclama no mundo
humano a união entre Deus e o seu Povo.
No Novo Testamento, o casamento revela-se,
já não só sinal profético da relação entre Deus e
o seu Povo, mas sacramento representado pela
relação entre Cristo e a sua Igreja. Não só simboliza, não só faz referência, mas realiza, torna presente a Pessoa de Cristo na relação entre marido
e mulher (cf. Ef 5, 31-32). O casamento não é só
amor humano, não é só lei; é também graça e
redenção.
A definição clássica de sacramento, «um sinal
exterior de uma graça interior instituído por
Cristo», pode agora ser mais plenamente entendida. Um sacramento é um gesto simbólico no
qual e através do qual a Igreja, Corpo de Cristo,
revela e celebra, tornando presente, este poder
de Deus a que chamamos graça. Afirmar que o
casamento entre cristãos é um sacramento é,
então, dizer que: a um nível revela e celebra a
íntima união de amor e comunhão de vida entre
um homem e uma mulher e, a outro nível, revela
e celebra a íntima união de amor e comunhão de
vida entre Deus e o seu Povo, entre Cristo e a sua
Igreja. É na comunhão do homem e da mulher que
se casam que se revela a comunhão entre Cristo
e a sua Igreja. Não estranha, por isso, que este
CASAR NA IGREJA É, AFINAL,
MUITO MAIS DO QUE CASAR;
É DIZER AO MUNDO COM A
PRÓPRIA VIDA QUE DEUS NOS AMA
E QUE O SEU REINO ESTÁ
ENTRE NÓS.
amor tenha que ser fecundo na sua natureza. De
facto, o matrimónio cristão não se reduz à celebração do amor entre duas pessoas. É a assunção
do compromisso de construir uma família. E não
estranha, portanto, que seja indissolúvel, já que é
em virtude de ser sacramento – e de representar
a união de Cristo com a Igreja – que esta relação
ganha uma especial indissolubilidade, porque o
amor de Cristo pela Igreja é indissolúvel: nada
nos separará do amor de Cristo, diz S. Paulo (Rm
8, 39). Aliás, não seria possível que um amor a
prazo pudesse simbolizar o amor eterno de Cristo.
Desde o início, o casamento cristão é intencionalmente mais do que comunhão de vida entre
este homem e esta mulher. É, sobretudo, imerecida graça. Desde o início, Cristo está presente e
activo no casamento, modelando-o, agraciando-o,
garantindo-lhe estabilidade. Esta presença da
graça é-lhe estrutural e essencial, algo sem o qual
não seria casamento cristão. É neste sentido que
tal gesto é um sacramento: sinal e causa da presença graciosa de Cristo e do Deus que Ele revela.
Casar na Igreja é, afinal, muito mais do que casar;
é dizer ao mundo com a própria vida que Deus nos
ama e que o seu Reino está entre nós.
Imagem: Quadro de Carlos Araujo - “Jesus vem”
Fevereiro 2015 | 17
Até que a morte
nos separe?
O casamento cristão exprime o amor humano de uma forma
fecunda, fiel e indissolúvel. E, deste modo, é espelho e realização do amor divino. «Unindo o humano e o divino, esse amor
leva os esposos ao livre e recíproco dom de si mesmos, que se
manifesta com a ternura do afecto e com as obras, e penetra
toda a sua vida; e aperfeiçoa-se e aumenta pela sua própria
generosa actuação» (Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, 49).
Mas, se esta é a verdade sobre o matrimónio, a realidade
concreta na vida de alguns casais acaba, infelizmente, por ser
bem diferente. Como sabemos, muitos casamentos atingem
rupturas irremediáveis e divisões sem retorno. O sonho de um
projecto de vida a dois fica, muitas vezes, pelo caminho, causando um sofrimento que arrasta para a história dorida dos
cônjuges toda a família, a começar pelos filhos. E, não raramente, passada a tempestade da separação, muitos dos que se
divorciam acabam por assumir uma nova união.
O que diz, realmente, a Igreja acerca dos casamentos que
se quebram, quando marido e mulher se separam? Em que
circunstâncias deixam de poder aceder aos sacramentos? E
porquê?
A atitude pastoral da Igreja para com as pessoas que se
divorciam e contraem um segundo casamento (civil) tem sido
a de não serem admitidas à comunhão eucarística. Antes de
mais, importa sublinhar que esta prática se aplica somente
às pessoas “recasadas” e não aos separados e/ou divorciados.
A questão levanta-se apenas quando se dá uma nova união
e «entra uma terceira pessoa em cena». A lógica é bastante
transparente: dada a inquestionável doutrina da indissolubilidade do matrimónio, ele nunca se quebra, a não ser com a
morte de um dos cônjuges. Mesmo que marido e mulher se
separem, o matrimónio subsiste. Por isso, embora possam
não conseguir viver uma vida quotidiana em conjunto, não há
motivo para não poderem comungar ou receber a absolvição.
Mas quando se dá uma vivência marital fora do primeiro casamento, a Igreja afirma que estas pessoas deixam de ter acesso
pleno aos sacramentos.
A exortação apostólica Familiaris consortio (FC) dedica um
parágrafo especificamente a esta matéria. Com o Papa João
Paulo II, a linguagem altera-se radicalmente em relação ao
passado. Já não se fala de adultério nem em «situação de
pecado», mas sim em «situação irregular». Ou seja, a situação dos que se «recasam» considera-se ser um estado de vida
18 | Mensageiro
O casamento cristão exprime
o amor humano de uma forma
fecunda, fiel e indissolúvel.
E, deste modo, é espelho e
realização do amor divino.
Divórcio
A Igreja Católica não reconhece
a figura jurídica do divórcio.
Nulidade do matrimónio
Esta nulidade pode ser
reconhecida mediante um
processo jurídico por meio do
qual se declara que, quando
da celebração do matrimónio,
alguma ou algumas das
condições necessárias para a sua
validade estavam ausentes. A
Igreja, portanto, não anula um
matrimónio; reconhece que o
mesmo não chegou a existir.
que contradiz objectivamente a regra da Igreja. E
é por esta razão que as pessoas que vivem nesta
situação não devem comungar eucaristicamente.
O Papa João Paulo II explica a razão: «o seu estado
e condições de vida contradizem objectivamente
aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, signi­
ficada na Eucaristia». E, quanto ao sacramento da
Penitência ou Reconciliação, continua o Papa: «A
reconciliação pelo sacramento da penitência – que
abriria o caminho ao sacramento eucarístico –
pode ser concedida só àqueles que, arrependidos
de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade
a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma
forma de vida não mais em contradição com a
indissolubilidade do matrimónio. Isto tem como
consequência, concretamente, que quando o
homem e a mulher, por motivos sérios – quais,
por exemplo, a educação dos filhos – não se
podem separar, assumem a obrigação de viver
em plena continência, isto é, de abster-se dos
actos próprios dos cônjuges« (FC, 84). Esta é, portanto, a prática da Igreja no que respeita às pessoas recasadas. Como chegamos aqui? Foi sempre assim na Igreja? Porquê esta praxis?
Fevereiro 2015 | 19
Referências
na Escritura
Dos Evangelhos só podemos tirar uma conclusão: Jesus é
claramente contra o divórcio. Os Judeus aceitavam o divórcio, pois Moisés tinha-o permitido. Os Romanos consentiam
o divórcio, também da parte da mulher. Esta atitude de Jesus,
surge, então, como uma novidade. Em S. Marcos (o Evangelho
mais antigo), Jesus é claro e peremptório: «Quem repudiar a
mulher e casar com outra comete adultério contra a primeira.
E se a mulher repudiar o marido e casar com outro, comete
adultério» (Mc 10, 11-12). O Evangelho de S. Lucas segue o de
S. Marcos e o Evangelho de S. João não inclui esta referência.
A questão ficaria resolvida se não houvesse mais nenhuma
alusão a este assunto. Mas, em S. Mateus – e também em
S. Paulo – surgem duas excepções a este ensinamento de Jesus.
Em Mt 5, 32 e Mt 19, 9, Jesus diz a mesma frase que em Marcos,
mas acrescenta: «excepto em caso de porneia». É uma palavra
grega que é traduzida de vários modos, segundo interpretações diversas. O seu significado continua hoje em discussão
(Luís Alonso Schockel). A nota de rodapé de Mt 5, 32 da edição
bíblica da TOB refere que «esta célebre excepção mateana é
provavelmente uma aplicação da parte do evangelista de uma
palavra de Jesus, que proibia todo o repúdio, a uma nova situação (...) A tradição ortodoxa vê neste inciso uma base para constatar, em caso de adultério, que há [causa para] divórcio». Quer
dizer, Mateus, dirigindo-se a uma comunidade judaica, onde o
divórcio era de aceitação comum, introduziu uma excepção.
Do mesmo modo actua S. Paulo, dirigindo-se aos Coríntios,
onde surgiam uniões entre os que se convertiam ao cristianismo e os gentios. O apóstolo afirma mesmo: «Digo eu, não o
Senhor» (1 Cor 12), para permitir que um cristão que se separe
do seu cônjuge não-cristão possa casar-se de novo (certamente, aqui a questão difere da anterior, por se tratar de casamento entre um cristão e um não-cristão, facto não menor já
que, na futura teologia, esta diferença distingue a sacramentalidade da união).
O mais significativo, no entanto, não é a tradução exacta dos
termos; é que Mateus e Paulo, conhecendo perfeitamente o
ensinamento de Jesus, não consideraram que introduzir-lhe
excepções pastorais fosse uma traição ao Senhor. Estas duas
excepções não foram postas de lado. Pelo contrário, são hoje
praticadas na Igreja. Na Igreja Ortodoxa invoca-se a excepção
de Mateus e na Igreja Católica continua a praticar-se a excepção de Paulo no que respeita aos casamentos mistos.
20 | Mensageiro
O Sínodo dos Bispos
“Todos concordam
que a doutrina da
indissolubilidade
do matrimónio é
inquestionável”.
Na Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, ocorrida
em Outubro passado, foi levantada e discutida a questão do
acesso ou não dos recasados aos sacramentos. Como se sabe,
vieram à luz do dia divergências, quer na interpretação dos
dados históricos sobre esta matéria (passado), quer na atitude
possível e adequada a tomar no futuro.
Todos concordam que a doutrina da indissolubilidade do
matrimónio é inquestionável. O que «está em cima da mesa»
é a discussão da possibilidade de uma atitude pastoral que
responda ao sofrimento e anseios de tantos casais recasados
que vivem não só a angústia de não poderem comungar como
também a acrescentada dificuldade de educação dos filhos na fé.
É possível que, nalguns casos concretos, bem determinados, se possa vir a encontrar uma solução pastoral que passe
por readmitir pessoas recasadas à comunhão sacramental? A
doutrina ensina o conteúdo da fé e o direito canónico define
e explicita-o em lei. Mas talvez o critério último da acção da
Igreja pudesse ser uma atitude pastoral de misericórdia que,
sem contrariar a doutrina, pudesse ir mais longe, já que «a
misericórdia triunfa sobre o juízo» (Tg 2, 13). De facto, a fidelidade a Cristo mede-se, não só pelo cumprimento das suas
palavras, mas também (e acima de tudo?) pela adesão à sua
atitude e às suas acções. Esta é a posição da Igreja Ortodoxa
que aplica o princípio da «economia»: este princípio exprime a
concessão e a misericórdia de Deus que, sem negar a doutrina
da indissolubilidade eterna do matrimónio, abre excepção à lei
para aqueles que, nesta matéria, não puderam viver o ideal de
vida proposto por Cristo. O próprio Jesus, perante os fariseus
que acusavam os discípulos, responde-lhes:
«Não lestes o que fez David quando sentiu fome, ele e os que
estavam com ele? Como entrou na casa de Deus e comeu os pães
da proposição que não lhe era permitido comer, nem aos que
estavam com ele, mas somente aos sacerdotes?» (Mt 12, 3-4).
Imagem: The Holy Family - Rafael
Fevereiro 2015 | 21
“Falhar uma relação, um casamento onde,
normalmente, se investe tanto, é um
dos maiores falhanços por que se pode
passar”.
Testemunho:
casados, divorciados, recasados e casados de novo.
A lógica humana não está desenhada para quem falha. Lidamos com muita dificuldade com o erro,
com a derrota, com o pecado. Falhar uma relação, um casamento onde, normalmente, se investe
tanto, é um dos maiores falhanços por que se pode passar. E falar na primeira pessoa de uma história
com estes contornos não é nem fácil, nem agradável, mas pode ser que seja útil...
Esta é a história de dois casamentos feitos com a consciência e a liberdade possíveis para a altura,
que não correram bem e que acabaram em separação. Duas histórias de sofrimento e de pecado de
que ninguém se orgulha, que é difícil lembrar e esquecer.
Mas é também a história de um encontro, inesperado, impossível, que abalroou muros e barreiras
e que provocou um verdadeiro terramoto nas nossas vidas. Um turbilhão que colocou em causa os
valores em que acreditávamos, com que tínhamos sido educados e que eram estruturantes nas nossas vidas. Ficámos sem rede, sem referência, sem rumo, sem parte dos amigos, sem sacramentos...
Mas Deus, que veio para os pecadores, como sempre estava ali disponível e atento, confrontou-nos
com uma pergunta essencial em Mt 12, 32: «... pelo fruto se conhece a árvore». Que fruto produzia a
nossa árvore? A resposta, que não era rápida nem automática, acabou por chegar. E embora sem certezas, pois nunca as há, o tempo fazia acreditar que o fruto era bom. Com o tempo foi-nos chegando
outra interpelação de Deus em Jo 8, 1: «Vai e não tornes a pecar».
Deus manteve-Se essencial durante todo o longo tempo de deserto por que passámos. Enquanto uma
Igreja, ainda demasiado numerosa, apontava e excluía, outra, bem mais à imagem de Jesus, embora
não facilitando, acolhia. E a verdade é que neste tempo torna-se tão fácil desistir e abandonar. Permanecer, sabendo-se colocado à parte, é tantas vezes tão humilhante, tão duro, tão destrutivo. Será
isso que Deus quer da sua Igreja? Seria essa a resposta que Jesus daria? A fonte de algumas destas
regras não será mais o medo que o Amor?
Deus, que é Amor e Graça, deu-nos a oportunidade de voltar a casar pela Igreja. Mas não esqueceremos nunca, como diz S. Paulo, que «quando sou fraco, então, é que sou forte» (2 Cor 12, 10). É assim
que queremos continuar, nesta fraqueza sem certezas mas confiante e totalmente dependente do
seu Amor.
Francisca Assis Teixeira e Rui Marques
22 | Mensageiro
LIVRARIA
Nascemos e jamais morreremos
Neste livro, encontramos a proximidade de uma vida desconcertante que,
muito além do sofrimento, testemunha a paz de uma profunda experiência
de Deus, à qual é impossível ficar indiferente. «Nascemos e jamais
morreremos» conta a história do casal Petrillo, que acompanhou para o Céu
os seus dois primeiros filhos, poucos minutos após o nascimento. Quando
um terceiro bebé, saudável, é gerado, sabe-se que a mãe, Chiara, tem um
cancro, cujos tratamentos adia para não pôr em risco a vida da criança que
estava a ser gerada.
Formato: 14,8x22 cm; Páginas: 176;
Preço: 12,00€; Portugal: 12,70€; Europa: 15,00€; Fora da Europa: 17,40€
(Portes de Correio incluídos nos preços).
A Igreja e a sexualidade
Os capítulos deste livro versam sobre os problemas permanentes
da sexualidade humana: o casamento, as relações pré-conjugais, a
contracepção, o aborto, e também a diferença entre sexos, a castidade
e o pudor. O objectivo da obra é o de proporcionar algumas chaves que
permitam compreender em que medida a palavra da Igreja se enraíza numa
experiência histórica colectiva recheada de atribulações e onde não falta
também a compreensão amiga da condição sexuada da humanidade.
Formato: 12,5x19,5 cm; Páginas: 288;
Preço: 12,00€; Portugal: 12,70€; Europa: 15,00€; Fora da Europa: 17,40€
(Portes de Correio incluídos nos preços).
A Família Cristã
Através desta Exortação apostólica, João Paulo II mostra que a Igreja –
consciente de que o matrimónio e a família são um dos bens mais preciosos
da humanidade – quer fazer ouvir a sua voz e oferecer ajuda a quem,
conhecendo o valor do matrimónio e da família, procura vivê-lo fielmente,
aos que, incertos e ansiosos, andam à procura da verdade e a quem está
impedido de realizar livremente o ideal familiar.
Formato: 13x21 cm; Páginas: 144;
Preço: 5,00€; Portugal: 5,70€; Europa: 8,00€; Fora da Europa: 10,40€
(Portes de Correio incluídos nos preços).
Pedidos: www.livraria.apostoladodaoracao.pt/; [email protected];
Secretariado Nacional do A.O. – Rua S. Barnabé, 32 – 4710-309 Braga
Fevereiro 2015 | 23
VIVER O AO
O AO em duas ideias
António Valério, s.j.
Com uma história de 170 anos, atravessando
circunstâncias muito diferentes, presente em 83
países de culturas e línguas muito diversas, dirigido a todos os cristãos, independentemente da
sua idade, formação ou estrato social, como se
poderia definir o que é o Apostolado da Oração?
Durante o processo de Recriação percebeu-se a
necessidade de explicitar aquilo que é específico
do AO, que faz a diferença em relação a outras
propostas dentro da Igreja, não sendo um movimento eclesial, mas um caminho transversal, proposto a qualquer cristão. E tendo o AO assumido,
ao longo da sua história, uma série de elementos
mais devocionais, herdando uma espiritualidade
própria de um tempo, como se poderia hoje mostrar naquilo que são as suas linhas identitárias?
Após alguns anos de um intenso diálogo, ocorrido um pouco por todo o mundo, chegou-se
àquilo que poderia resumir o que é o AO em duas
ideias-chave:
Disponibilidade apostólica
O AO é um caminho espiritual quotidiano que
leva a uma atitude de disponibilidade apostólica,
isto é, dispor-se interiormente a realizar a vontade de Deus no dia-a-dia. Tem por base uma
relação de intimidade com Jesus Ressuscitado,
24 | Mensageiro
apaixonando-se por Ele e pela sua missão. Esta
intimidade que gera a disponibilidade alimenta-se na oração pessoal, através de um ritmo quotidiano simples, mas profundo.
Uma Rede Mundial de Oração
Sendo o AO o principal destinatário das Intenções que o Santo Padre confia aos cristãos, aquele
apresenta-se como uma Rede Mundial de Oração,
espalhada por todo o mundo, que procura unir a
sua oração a compromissos concretos, na linha
das Intenções. Pode fazer-se parte desta Rede
Mundial de muitos modos, pessoalmente ou em
grupo, em celebrações comunitárias, na internet
e redes sociais digitais, etc.
Estas duas ideias-chave aliam constantemente o
caminho interior com a prática exterior, ou seja,
a oração que leva à intimidade com Jesus leva à
dimensão apostólica da fé, nas circunstâncias de
cada um. Do mesmo modo, o rezar pelas Intenções do Papa deve levar também a um compromisso em cada mês relacionado com o tema das
Intenções, fazendo da oração algo concreto no
dia-a-dia.
O modo de levar à prática estas duas ideias será
o tema dos próximos artigos desta secção.
REUNIÃO DE GRUPO
Esquema de reunião de grupo
Manuel Morujão, s.j.
«Reunir» é um verbo que nem sempre é fácil de
conjugar. É um verbo que nos desafia a:
– ultrapassar as nossas diferenças e a buscar o
que nos une;
– cair na conta de que sem os outros eu não sou o
que devo ser, pois os outros fazem parte de mim;
– criados à imagem de Deus pluralidade de pessoas, Trindade Santíssima, só vivendo a cultivar
uma boa relação com os outros manifesto a imagem de Deus em mim;
– cair na conta de que todos precisamos de
todos: eu preciso dos outros e os outros precisam
de mim.
Oração inicial – Oração do Oferecimento
(com a fórmula tradicional ou com outra)
1.ª Parte
Intenções do Papa para o mês de Fevereiro
oferecer aos casais separados: «Que os casais que
se separaram encontrem acolhimento e apoio na
comunidade cristã». Cristo deu-nos claro exemplo de acolher os que a sociedade marginalizava.
Assim, os cristãos devem actualizar as atitudes
de Jesus de inclusão e acolhimento fraternos.
2.ª Parte
Os grupos do AO são grupos de oração e de acção
Dar algum tempo para partilhar o que os membros do AO poderão fazer na linha das propostas
que o Papa Francisco nos dirige, talvez respondendo às seguintes perguntas:
– Na nossa paróquia ou zona conhecemos
alguém que esteja preso? Se não for fácil que
alguém do grupo visite essa pessoa no estabelecimento prisional, será certamente viável visitar
a sua família.
– Como poderemos ter concretas atitudes de
acolhimento e apoio para com os casais que se
separaram, particularmente os que conhecemos, cumprindo a bem-aventurança de Cristo:
«Felizes os misericordiosos porque alcançarão
misericórdia»?
O Responsável, ou outra pessoa do grupo, poderá
fazer uma apresentação de uma ou das duas
Intenções do Papa Francisco.
A intenção universal fala dos presos: «Que os
reclusos, especialmente os jovens, tenham a possibilidade de reconstruir a sua vida com dignidade». Como sabemos, uma das «obras de miseri3.ª Parte
córdia» recomendadas pela Igreja, concretizando
Assuntos práticos do grupo do AO
os ensinamentos de Jesus, é precisamente «visitar os presos».
Terminar com uma leitura da Palavra de Deus
A Intenção (missionária) pela evangelização (por exemplo, o Evangelho do domingo seguinte à
recorda-nos a compreensão e ajuda que devemos reunião) e com uma oração ou um cântico.
Fevereiro 2015 | 25
1ª SEXTA-FEIRA
Rezar com o Papa
pelos reclusos
Dário Pedroso, s.j.
Expor Jesus Eucaristia na custódia, ou colocar a píxide sobre o altar, começar com
um cântico eucarístico e rezar algumas jaculatórias costumadas. Depois, fazer
silêncio para que cada um se recolha em Jesus e se coloque em seu Coração.
Fazê-lo em silêncio e recolhimento, com paz e serenidade.
1 – Estava «preso» e visitaste-me
O Jesus Eucaristia é o mesmo que disse esta frase (cf. Mt 25, 31-46). É Ele que
está diante de nós e que está presente em muitos milhares de reclusos, em
tantas cadeias e lugares de tormento, de violação de direitos básicos, de falta
de dignidade, de condições, vivendo em violência e solidão, em todo o mundo.
Estar diante de Jesus, pobre e humilde, na Hóstia consagrada, pode ajudar-nos
a pensar que Ele está «preso» por amor, escondido e perseguido, abandonado
e só em milhões de sacrários. Rezar-Lhe pelos reclusos… colocar todos dentro
do seu Coração. (Guardar silêncio orante para dar tempo a esta longa oração).
2 – Cântico eucarístico para avivar a presença e o amor de Jesus
3 – Jesus preso (Mt 26, 36 – 27, 14)
Ler o texto e depois meditar, recordando, em oração e em diálogo com
Jesus, a sua prisão no Jardim das Oliveiras, o beijo de Judas, o traidor, os seus
julgamentos em diversos tribunais, as calúnias, as blasfémias, as mentiras,
as falsas testemunhas, etc. Acompanhar Jesus nessa noite de dor, de opróbrio, de sofrimento, de injúrias… E rezar-Lhe mais uma vez por todos os
reclusos do mundo. (Guardar silêncio orante para dar tempo a esta longa oração).
4 – Oração pelos reclusos
Por todos os que sofrem prisão, sobretudo os que sofrem prisões injustas e vivem em condições infra-humanas… Rezar pelas suas famílias, que
26 | Mensageiro
sofrem as consequências da sua prisão… Rezar para que tenham visitadores que os ajudem e animem… rezar para que tenham meios de cultura
e de trabalho para ocupar o seu tempo… Rezar, sobretudo, para que não
percam a estima pela sua vida e a sua dignidade humana… rezar para que
reconheçam os seus crimes e pecados e se possam emendar… Rezar para
que ao serem libertos encontrem meios para crescer em dignidade, pessoas
e instituições que os ajudem e acolham… (Guardar silêncio orante para dar
tempo a esta longa oração de petição).
5 – Cântico que ajude a interiorizar a caridade e a paz
6 – Pai Nosso…
Unidos a Jesus na Eucaristia, rezar em comunhão de irmãos a oração dos
filhos de Deus, pedindo ao Pai mais justiça, mais estima, mais dignidade
para todos os reclusos. Pai Nosso...
7 – Trazer à memória
Diante de Jesus Eucaristia, trazer à memória a imensidade de sofrimento,
de dor, de privação de milhões de reclusos, sobretudo presos por causas
políticas, que vivem verdadeiros martírios físicos e morais… Lembrar e
rezar por aqueles que foram presos e mortos injustamente, condenados
sem serem culpados… Rezar por aqueles que, desesperando, se suicidam
nas cadeias… Pedir que estes estabelecimentos sejam lugares mais justos,
onde mesmo aqueles que foram presos justamente encontrem amizade e
estima… (Ficar em silêncio orante).
8 – Cântico Eucarístico. Bênção… Bendito seja Deus, etc.
Fevereiro 2015 | 27
NOTÍCIAS
AO É NOTÍCIA
Uma proposta para hoje e para todos
O Apostolado da Oração (AO), Obra da Santa Sé
confiada à Companhia de Jesus, assinalou os seus
170 anos de existência, em Dezembro. A data torna-se particularmente simbólica porque coincide
com o fim de um processo longo e intenso de reflexão sobre a recriação do AO, levado a cabo por indicação do seu responsável internacional, o Padre
Geral da Companhia de Jesus, Adolfo Nicolás.
A recriação tem como objectivos actualizar e
adaptar a proposta apostólica do AO e o modo de a
apresentar, tornando-a mais acessível e atractiva
aos cristãos de hoje, sobretudo às novas gerações.
Este processo permitiu redescobrir o essencial do
Apostolado da Oração, que se exprime na oração
quotidiana, no compromisso eclesial, traduzido
de modo particular na oração pelas Intenções do
Papa, e no compromisso diário com a transformação da realidade vivida, que se deseja cada vez
mais evangelizada.
O AO tornou-se uma proposta de espiritualidade
muito centrada no quotidiano, transversal aos
28 | Mensageiro
vários movimentos apostólicos e aberta a todos
os cristãos.
Em Portugal, o Apostolado da Oração procurou,
desde a primeira hora, acompanhar e contribuir
para a reflexão do AO Internacional, consciente
da necessidade de se renovar para responder aos
desafios do presente e preparar o futuro, indo ao
encontro daquilo que a Igreja e a sociedade precisam, no âmbito da sua missão específica: propor uma espiritualidade simples, fundada sobre
a oração quotidiana que busca desenvolver uma
relação pessoal com Jesus Cristo, capaz de transformar a vida à luz do Evangelho.
Desde logo, foi feita uma grande aposta nos
meios de comunicação digital. Hoje, o AO tem
uma forte presença na rede, por onde passam
milhares de pessoas, sobretudo jovens. O primeiro passo foi dado com toda a segurança e
maior sucesso em 2010, com o «Passo-a-Rezar».
Em 2014, deu-se o reforço em alta no mundo digital com o lançamento da plataforma multicanal
«Click To Pray». As novas formas de comunicar
a fé e a vida de oração do AO têm merecido os
maiores elogios e felicitações por parte de várias
personalidades e estruturas da Igreja.
O processo de recriação motivou ainda a refor-
mulação de toda a linha gráfica e respectivos conteúdos das publicações periódicas do Secretariado
Nacional: Mensageiro, Cruzada, Clarim e Oração e
Vida (Bilhetes Mensais) e a disponibilização, em
versão digital, do Mensageiro e da Cruzada.
Encontro diocesano no Patriarcado de Lisboa
Num dos salões da Igreja do Sagrado Coração
de Jesus, junto ao Marquês, realizou-se, em
Novembro passado, um Encontro para membros do Apostolado da Oração, organizado pela
direcção diocesana. Estiveram presentes cerca
de 50 pessoas.
O Padre Dário Pedroso foi convidado para falar
no Encontro e fez três conferências: sobre o
Advento e a nossa vida de oração, sobre o Caminho do Coração e sobre a Exortação do Papa, o
Sínodo da diocese e a contribuição do Apostolado da Oração. Ao início da tarde rezou-se o
terço em comum, meditado pelo Padre Dário, e o
Encontro terminou com a Eucaristia, às 16 horas,
na igreja paroquial.
Foi bom sentir o entusiasmo de todos, assim
como sentir a preocupação de ainda não terem
um Director Diocesano que substitua o cessante.
A direcção está determinada a dar passos para
conseguir que essa nomeação vá por diante.
Entretanto, pediu ao Padre Dário Pedroso que
agendasse novo encontro para o dia 28 de Março,
no mesmo local.
A equipa diocesana está de parabéns por mais
esta iniciativa. É urgente dinamizar as paróquias
para que o AO se renove e o encontro de Março
tenha muito mais participantes, pensando nas
múltiplas paróquias de mais perto e do grande Patriarcado.
AO de Sesimbra celebra 140 anos
Dando início às comemorações do seu 140° aniversário, o Centro do Apostolado da Oração da
Paróquia de Santiago de Sesimbra, Diocese de
Setúbal, levou a efeito, na tarde de 23 de Novembro – Solenidade de Cristo Rei, um Encontro de
aprofundamento, oração e convívio.
O programa começou com uma intervenção do
Padre José Miguel Joaquim que, referindo o relativismo que avassala o mundo em que vivemos,
destacou de forma eloquente o Amor do Coração
de Jesus pela humanidade, aceitando a ignomínia
da morte na Cruz e fazendo sair do seu lado trespassado sangue e água, como fontes de misericórdia para todos nós.
Lembrou que Sesimbra, agraciada com a aparição na sua praia da veneranda Imagem do Senhor
das Chagas (em 1534), não poderia deixar de prestar culto ao Coração Santíssimo de Jesus, o que
está bem patente nos 140 anos de actividade do
Centro do AO, nos sacrifícios e vida orante dos
seus numerosos membros, que têm dado frutos
nesta paróquia!
Depois, na presença do Senhor Sacramentado,
houve alguns minutos de Adoração em profundo
silêncio, seguindo-se o canto de Vésperas e a Bênção do Santíssimo Sacramento, cerimónia presidida pelo pároco, Padre Manuel Silva.
Apesar da tarde chuvosa e fria, participaram
quase duas centenas de pessoas que cantaram
entusiasticamente «Cristo vence, Cristo reina,
Cristo Impera!».
A festa terminou com um animado convívio no
salão paroquial, onde todos puderam saborear
as iguarias apresentadas, em generosa partilha,
pelos membros deste Centro.
Laura Reis Marques
Fevereiro 2015 | 29
NOTÍCIAS
IGREJA É NOTÍCIA
Papa fala de “doenças” perigosas
para a Cúria e para qualquer cristão
O Papa Francisco discursando à Cúria Romana.
Há 15 doenças e tentações que, no entender do
Papa, constituem «um perigo para todo o cristão e
para cada cúria, comunidade, congregação, paróquia, movimento eclesial». Francisco falou detalhadamente destas doenças no habitual encontro com a Cúria Romana, por altura do Natal, e
explicou que o Espírito Santo «é o único que as
pode curar», é Ele «que sustenta todo o esforço
sincero de purificação e toda a boa vontade de
conversão».
O Santo Padre disse ainda que «a cura é fruto também da consciencialização da doença e da decisão
pessoal e comunitária de se curar, suportando, com
paciência e perseverança, o tratamento».
Chamada a melhorar e a crescer «em comunhão,
santidade e sabedoria, para realizar plenamente
a sua missão», a Cúria Romana está sujeita «às
doenças, ao mau funcionamento». São «doenças
30 | Mensageiro
e tentações que enfraquecem o nosso serviço ao
Senhor», afirmou, elencando 15 doenças curiais,
que acabam por afectar aqueles que pensam mais
em si próprios e em atingir objectivos pessoais do
que no serviço que estão a prestar à Igreja. Mais
do que um «recado» à Cúria, pretendem ser uma
chamada de atenção para todos os que integram
este Corpo que é a Igreja.
O Papa começou por focar a doença de se sentir
«imortal, imune ou mesmo indispensável, descuidando os controles habitualmente necessários.
Uma Cúria que não se auto-critica, não se actualiza, nem procura melhorar é um corpo enfermo».
Francisco criticou também a «actividade excessiva» daqueles que mergulham demasiado no
trabalho: «o tempo do repouso, para quem levou
a cabo a sua missão, é necessário, obrigatório e
deve ser vivido seriamente».
Existe ainda, prosseguiu, a «doença do empe­
der­
ni­
mento mental e espiritual», daqueles que
se escondem «sob os papéis, tornando-se máquinas de práticas e não homens de Deus. É perigoso
perder a sensibilidade humana, necessária para
nos fazer chorar com os que choram e alegrar-nos com os que estão alegres».
O Santo Padre diagnosticou a «planificação excessiva», o «funcionalismo», bem como a «doença da
má coordenação» e referiu-se à «doença dos círculos fechados, onde a pertença ao grupo se torna
mais forte que a pertença ao Corpo e, nalgumas
situações, ao próprio Cristo», começa «com boas
intenções, mas, com o passar do tempo, escraviza
os membros, tornando-se um cancro que ameaça a
harmonia do Corpo e causa um mal imenso».
O «alzheimer espiritual» foi outro sintoma apresentado: «trata-se de um progressivo declínio das
faculdades espirituais, que (...) causa grave deficiência à pessoa, tornando-a incapaz de exercer
qualquer actividade autónoma, vivendo num
estado de absoluta dependência dos seus pontos
de vista frequentemente imaginários».
Existe ainda a «doença da rivalidade e da vanglória» – que «nos leva a ser homens e mulheres
falsos» – e à «esquizofrenia espiritual» – «uma
doença que acomete frequentemente aqueles
que, abandonando o serviço pastoral, se limitam
às questões burocráticas, perdendo assim o contacto com a realidade, com as pessoas concretas».
Por outro lado, as «bisbilhotices», «murmurações» e «críticas» afectam «as pessoas velhacas
que, não tendo a coragem de dizer directamente,
falam pelas costas», enquanto a «doença de divinizar os líderes» é a «daqueles que fazem a corte
aos Superiores, na esperança de obter a sua benevolência. São vítimas do carreirismo e do oportunismo, honram as pessoas e não Deus», declarou.
No seu discurso, Francisco assinalou ainda a
«indiferença para com os outros», a «doença do
acumular» e a «doença da cara fúnebre», das «pessoas rudes e amargas que consideram que, para
se ser sério, é preciso pintar o rosto de melancolia,
de severidade e tratar os outros (…) com rigidez,
dureza e arrogância».
A concluir, identificou a «doença do lucro mundano, dos exibicionismos», a doença daqueles que
«procuram insaciavelmente multiplicar o seu poder
e, para isso, são capazes de caluniar, difamar e desacreditar os outros, inclusive nos jornais e revistas;
naturalmente para se exibir e demonstrar-se mais
capazes do que os outros».
Diálogo inter-religioso é antídoto contra o
fundamentalismo
O diálogo é o «melhor antídoto» contra o fundamentalismo religioso, um «serviço à justiça»
e uma «condição necessária» à paz. Com estas
palavras, o Papa Francisco destaca a importância
do diálogo inter-religioso no cenário de tensão
que se vive no Médio Oriente e que atinge, entre
outros, os cristãos da região.
Numa Carta escrita aos cristãos do Médio Oriente,
nas vésperas do último Natal, em que manifesta
vontade de visitar pessoalmente e confortar estas
populações, o Sumo Pontífice afirma que o diálogo
inter-religioso, baseado numa atitude de abertura, na verdade e no amor, é «o melhor antídoto
contra a tentação do fundamentalismo religioso,
que é uma ameaça para os crentes de todas as
religiões», «um serviço à justiça e uma condição
necessária para a tão desejada paz».
O Santo Padre considera que, vivendo num
ambiente de maioria muçulmana, os cristãos
podem ajudar os seus «concidadãos muçulmanos
a apresentarem, com discernimento, uma imagem mais autêntica do Islão», a demonstrarem
que «o Islão é uma religião de paz e pode conciliar-se com o respeito dos direitos humanos e a
convivência entre todos».
Para o Papa, a situação «dramática» vivida pelos
cristãos iraquianos, pelos yazidis e membros de
outras comunidades religiosas e étnicas «exige
uma tomada de posição clara e corajosa por parte
de todos os responsáveis religiosos que condene,
de modo unânime e sem qualquer ambiguidade,
tais crimes e denuncie a prática de invocar a religião para os justificar».
Embora em número reduzido, os cristãos do Médio
Oriente são «protagonistas» da vida da Igreja e dos
países onde vivem, lembra o Pontífice, asseverando
que «toda a Igreja está solidária» com eles e apoia-os «com grande afecto e estima». «Continuaremos
Fevereiro 2015 | 31
a ajudar-vos com a oração e com os outros meios
à disposição», adiantou ainda na Carta.
Francisco diz continuar a incitar a comunidade
internacional a acorrer às necessidades dos cristãos e de outras minorias que sofrem, «promovendo a paz por meio da negociação e da actividade diplomática, procurando circunscrever
e extinguir o mais depressa possível a violência
que já causou muito dano».
O Papa mostra também a sua alegria com as
«boas relações e a colaboração entre os patriarcas das Igrejas Orientais católicas e ortodoxas»
e «entre os fiéis de diferentes Igrejas», considerando que «os sofrimentos padecidos pelos cristãos prestam uma contribuição inestimável à
causa da unidade».
O Santo Padre espera que esta «prova» que os cristãos do Médio Oriente estão a atravessar, «fortaleça» a sua fé e fidelidade. «Que a palavra de Deus,
os sacramentos, a oração, a fraternidade alimentem
e renovem sem cessar as vossas comunidades».
Esta realidade «constitui um forte apelo à santidade de vida, como o comprovam santos e mártires das mais diversas confissões eclesiais».
Serviço Jesuíta aos Refugiados recebe
prémio de direitos humanos
O Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) em Portugal recebeu, na Assembleia da República, uma
medalha de ouro comemorativa dos 50 anos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O júri do Prémio Direitos Humanos, constituído
no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias decidiu
distinguir o JRS, “uma organização especializada
em migrações que desenvolve uma forte acção
no terreno, na defesa dos direitos e na integração
da população imigrante em situação de grande
vulnerabilidade”, assim como “na promoção do
diálogo em torno da imigração, diversidade e
interculturalidade”.
O director do JRS, André Costa Jorge, lembrou
que a instituição se lançou “na aventura de estar
ao lado dos mais vulneráveis e dos mais pobres”,
acompanhando, servindo e defendendo os refugiados, migrantes e todas as pessoas deslocadas à
força dos países de origem, territórios e famílias.
Fundado em 1980, este organismo da Companhia de Jesus conta com aproximadamente mil e
400 colaboradores e está presente em cerca de 50
países.
D. Manuel Clemente criado cardeal
O Patriarca de Lisboa vai ser criado cardeal
durante o Consistório que se realiza nos dias 14
e 15 deste mês, no Vaticano. Para D. Manuel Clemente, o facto de ser escolhido para cardeal é
uma oportunidade para «colaborar mais directamente» com o Papa.
«Para mim é um gosto colaborar ainda mais
directamente com o Papa Francisco, com cujo
pontificado e pensamento me identifico absolutamente», afirmou o Patriarca de Lisboa, quando
confrontado com a notícia.
O Papa decidiu criar 15 cardeais eleitores,
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provenientes de 14 países, numa lista que, além
do Patriarca de Lisboa, inclui, entre outros, os
prelados de Cabo Verde, Moçambique, Etiópia,
Mianmar, Panamá, Tonga, Tailândia e Vietname,
entre outros.
Este é o segundo consistório do actual pontificado, após a criação de 19 cardeais, entre os quais
16 eleitores, a 22 de Fevereiro de 2014.
Neste momento, há 110 cardeais eleitores,
dos quais menos de metade são da Europa (52),
seguindo-se a América (33 - 17 do Norte e 16 latino-americanos), África (13), Ásia (11) e Oceânia (1).
Sacerdote português declarado «Justo entre as Nações»
O Departamento dos Justos do «Yad Vashem»,
Memorial do Holocausto de Jerusalém, decidiu
atribuir ao sacerdote português Joaquim Carreira,
vice-reitor e reitor do Colégio Pontifício Português
de Roma entre 1940 e 1954, o título de «Justo entre
as Nações».
O Padre Joaquim Carreira nasceu em 1908,
numa aldeia próxima de Fátima, foi ordenado
padre em 1931 e formado na pilotagem de aviões.
Em 1940, já em plena II Guerra Mundial, foi para
Roma, que viria a ser ocupada pelos nazis em
Setembro de 1943.
O sacerdote ofereceu abrigo a várias pessoas
perseguidas pelos nazis. No relatório da actividade do Colégio, escreveu que concedeu «asilo e
hospitalidade no colégio a pessoas que eram perseguidas na base de leis injustas e desumanas».
«Justo entre as Nações» é um título usado pelo
«Yad Vashem» para designar as pessoas que salvaram judeus durante o Holocausto, arriscando
as suas vidas. É a maior distinção concedida por
Israel a pessoas que não professam a fé judaica.
Monsenhor Joaquim Carreira passa a ser o quarto
português a ser declarado «Justo entre as Nações»,
juntando-se a Aristides de Sousa Mendes (cônsul
português em Bordéus); Carlos Sampayo Garrido Museu Yad Vashem
(embaixador de Portugal na Hungria) e José Brito
Mendes (operário português casado com uma de honra, além de verem os nomes inscritos no
francesa e residente em França).
mural do Jardim dos Justos, do Yad Vashem,
Aqueles que são declarados «Justos» são dis- onde uma pequena floresta homenageia também
tinguidos com uma medalha e um certificado os seus nomes.
Quase seis milhões de pessoas com o Papa no Vaticano
Em 2014, quase seis milhões de pessoas estiveram com o Papa Francisco em celebrações e
encontros no Vaticano, revelou a Prefeitura da
Casa Pontifícia. De acordo com este organismo
da Santa Sé, este número, aproximado, refere-se
a 43 audiências semanais de quarta-feira (1,19
milhões de participantes), audiências especiais
(567 mil), celebrações litúrgicas na Basílica e
Praça de S. Pedro (1,1 milhão) e oração do Angelus e Regina Coeli (3,04 milhões).
Além destas presenças, é necessário considerar as cinco viagens internacionais realizadas o
ano passado (Terra Santa, Coreia do Sul, Albânia,
Estrasburgo e Turquia) e as quatro viagens em
Itália.
No ano anterior, mais de 6,5 milhões de pessoas
estiveram com o Papa no Vaticano, desde a sua
eleição em Março.
Cláudia Pereira e Elisabete Carvalho
Fontes: Ecclesia / Renascença / www.vatican.va
Fevereiro 2015 | 33
À CONVERSA COM...
Miguel Araújo
Cantor, músico e compositor. Revelou-se nos “Azeitonas”, banda de rock alternativo que marcou o panorama musical português a partir de 2002, com cinco álbuns
e um DVD. Nove anos depois, estreou-se a solo com o maior sucesso. A banda foi
uma experiência feliz que lhe permitiu atingir a maioridade na música?
A banda continua a ser uma experiência feliz, porque as minhas funções nos Azeitonas mantêm-se inalteradas desde 2002. A minha carreira a solo em nada “beliscou” a minha presença nos Azeitonas.
O trabalho reflecte a sua forma de estar na vida?
Julgo que sim, poderia ser de outra maneira?
Como se define enquanto músico?
A minha música é totalmente anglo-saxónica, vem dos Beatles, do Elvis, etc. Da
apropriação dos blues por parte dos ingleses, da sua introdução na música pop, que
por essa altura (anos 50, 60) foi resgatada duma música mais académica, e ficou na
mão de autodidactas. A música chega até mim por essa via da tradição oral. Mas as
letras são em português, e eu tento, por uma questão quase folclórica, contaminar a
minha música de certos elementos portugueses, mas sempre com a devida distância
de quem não pertence a uma cultura. (A minha cultura, que nasci em 1978, no Porto,
é muito mais americana do que portuguesa. E não fui eu que a decidi assim!)
E enquanto pessoa?
Não tenho hobbies, detesto ar condicionado, detesto água de piscina, adoro água
do mar, gosto muito de música, não gosto de filmes, acho-os aborrecidos e longos.
Gosto do Fernando Pessoa e do Saramago, não como carne mas como peixe, gosto
muito de correr na Avenida do Brasil, no Porto.
Deus existe na sua vida?
Inevitavelmente. Por via da minha circunstância de nascimento, do lugar e tempo
onde nasci e respectiva influência cristã. Nem que eu não quisesse! Mas acontece que
quis, a certa altura da minha vida. Questões existenciais, intelectuais, etc., trouxeram-me até aqui. Vou à missa, ando na catequese, faço exercícios espirituais, tudo isso.
Praticante, sou sem dúvida. Se sou católico, cristão, julgo também que sim mas não
tenho a certeza absoluta. Talvez seja o primeiro dos “não cristãos praticantes”, mas
como Cristo perdoa e inclui, sinto-me sempre muito bem acolhido!
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ACTIVIDADES INACIANAS
Fevereiro / Março
Em Soutelo (Vila Verde): CEC – Casa da Torre
Av. dos Viscondes da Torre, 80 – 4730‑570 SOUTELO – Tel. 253 310 400; Fax: 253 310 401; E‑mail: [email protected]
02-10 Fev. 08 Fev.
05-08 Fev.
11-18 Fev. 12-15 Fev. 13-18 Fev.
19-22 Fev. 20-22 Fev. 26 Fev.-01 Mar.
27 Fev.-01 Mar.
28 Fev.-01 Mar.
05-08 Mar. 05-13 Mar. 08 Mar.
12-15 Mar. 12-15 Mar. 19-22 Mar. 20-22 Mar. 20-22 Mar. 20-22 Mar. 26-29 Mar. 27-30 Mar. 27 Mar.-04 Abr.
Exercícios Espirituais – P. Dário Pedroso
Exercícios Espirituais “Vida corrente” (em colaboração com CVX e ACI)
Exercícios Espirituais – P. Miguel Almeida
Exercícios Espirituais – P. António Vaz Pinto
Exercícios Espirituais Temáticos : “Conhecer” – P. Sérgio Diz Nunes
Exercícios Espirituais – Alzira Fernandes
Exercícios Espirituais “pé-descalço” (Leigos para o Desenvolvimento) – P. José Eduardo Lima [Inscrições no CREU]
Relações Humanas: Comunicação Interpessoal – P. Alberto Brito
Exercícios Espirituais (para CVX) – P. Vasco Pinto de Magalhães [Inscrições no CREU]
“VivàMissa”: Para compreender e poder viver melhor a Missa – P. Gonçalo Eiró
Fim-de-Semana para Noivos – P. Miguel Almeida e grupo de casais
Exercícios Espirituais – P. Miguel Gonçalves Ferreira
Exercícios Espirituais – P. António Costa e Silva
Exercícios Espirituais “Vida corrente” (em colaboração com CVX e ACI)
Exercícios Espirituais – P. Nuno Branco
Exercícios Espirituais “pé-descalço” (para Universitários) – P. Miguel Almeida
Exercícios Espirituais – P. Filipe Martins
Desafio da meia-idade (dos 40 aos 55 anos) – P. Vasco Pinto de Magalhães
Rezar com Daniel Faria e Maria Gabriela Llansol – P. Mário Garcia
Porta estreita (Mt 7, 13): O caminho singular dos místicos-D. António Couto, Emília Providência, Joana Serrano, Patrícia Calvário
Exercícios Espirituais – P. Manuel Morujão
Exercícios Espirituais – P. João Carlos Onofre Pinto
Exercícios Espirituais – P. Gonçalo Eiró
No Porto: CREU – Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola
R. Oliveira Monteiro, 562 – 4050-440 PORTO– Tel.: 226 061 410; E-mail: [email protected]
14 Fev. 05 Mar.
06-07 Mar.
14-15 Mar.
Linha vermelha – Encontro/Bênção dos Namorados
Conversas D’ouro – Encontro com as artes e os artistas
1 Noite & 1 Dia: Onde é que está o mal? Biografia das melhores tentações – P. Miguel Almeida
Relações Humanas – P. Vasco Pinto de Magalhães
Em Coimbra: CUMN – Centro Universitário Manuel da Nóbrega
R. José Falcão, 4 – 3000-233 COIMBRA – Tel. 239 829 712; E-mail: [email protected]
07-14 Fev. 10 Fev. 27 Fev.-01 Mar.
03 Mar.
10 Mar. 15 Mar.
17-19 Mar.
19-22 Mar.
Missões Universitárias (com a Missão País)
Orar, comer e gostar (com Círculo Loyola)
Eneagrama – Clara e João Pedro Tavares
Rezar com os ícones – P. José Carlos Belchior
Orar, comer e gostar (com Círculo Loyola)
Atravessar o deserto: Dia de retiro – P. Miguel Gonçalves Ferreira e Círculo Loyola
Fim-de-Semana para Noivos – P. Nuno Branco e grupo de casais
Exercícios Espirituais “pé-descalço” (em Ourém) – P. António Santana e Margarida Alvim
Em Lisboa: CUPAV – Centro Universitário Padre António Vieira
Estrada da Torre, 26 – 1769-014 LISBOA – Tel. 217 590 516; E‑mail: [email protected]
06-08 Fev. 12-18 Fev. 12-15 Mar.
20-22 Mar. 20-22 Mar. Fim-de-Semana para Noivos – P. Carlos Azevedo Mendes e grupo de casais
Exercícios Espirituais (em Palmela) – P. Carlos Azevedo Mendes
Exercícios Espirituais “pé-descalço” (para Universitários) – P. João Goulão
Nós e Deus – P. Nuno Tovar de Lemos e animadores
CaFé: Curso de Aprofundamento da Fé – P. Carlos Azevedo Mendes e P. João Goulão
NO RODÍZIO – Casa de Exercícios de Santo Inácio
Estrada do Rodízio, 124 – 2705-335 COLARES – Tel. 219 289 020; Fax: 219 289 026; E‑mail: [email protected]
13-17 Fev. 13-20 Fev. 20-22 Fev. 21 Fev. 22 Fev. 06-08 Mar.
07-08 Mar.
12-15 Mar.
12-15 Mar.
12-15 Mar.
26 Mar.-02 Abr. Exercícios Espirituais – P. Mário Garcia
Exercícios Espirituais – P. José Carlos Belchior
Desafio do Meio da Vida – P. Vasco Pinto de Magalhães
Retiro de Quaresma – P. Nuno Tovar de Lemos e P. João Goulão
Retiro de Quaresma – P. Nuno Tovar de Lemos e P. João Goulão
Formação da Consciência – P. Alberto Brito
Fim-de-Semana para Noivos – P. Carlos Azevedo Mendes e grupo de casais
Exercícios Espirituais – P. Alberto Brito
Exercícios Espirituais – P. António Santana
Exercícios Espirituais Temáticos: “Comprometer-se” – P. Sérgio Diz Nunes
Exercícios Espirituais – P. Luís Maria da Providência
Fevereiro 2015 | 35
Queridas famílias, a alegria verdadeira vem da harmonia
profunda entre as pessoas, que todos sentem no coração, e que
nos faz sentir a beleza de estarmos juntos, de nos apoiarmos uns
aos outros no caminho da vida. Mas, na base deste sentimento
de alegria profunda está a presença de Deus, a presença de
Deus na família, está o seu amor acolhedor, misericordioso,
cheio de respeito por todos. E, acima de tudo, um amor paciente.
[...]. Só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se
falta o amor de Deus, a família também perde a harmonia,
prevalecem os individualismos, apaga-se a alegria. Pelo
contrário, a família que vive a alegria da fé, comunica-a
espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento
para toda a sociedade.
PAPA FRANCISCO,
HOMILIA NA JORNADA DA FAMÍLIA
POR OCASIÃO DO ANO DA FÉ
27 DE OUTUBRO DE 2013
36 | Mensageiro

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