INTÉRPRETES, INTERMEDIÁRIOS, E FUNCIONÁRIOS AFRICANOS
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INTÉRPRETES, INTERMEDIÁRIOS, E FUNCIONÁRIOS AFRICANOS
COLÓQUIO INTERNACIONAL CONHECIMENTO E CIÊNCIA COLONIAL Lisboa, 26-29 de novembro de 2013 INTÉRPRETES, INTERMEDIÁRIOS, E FUNCIONÁRIOS AFRICANOS: ELEMENTOS DE RESISTÊNCIA E DE CONSTRUÇÃO DE MOÇAMBIQUE COLONIAL Vitor Luís Gaspar Rodrigues Centro de História, IICT [email protected] Luís Frederico Dias Antunes Centro de História, IICT [email protected] Resumo Por mais paradoxal que possa parecer, no segundo quartel do século XX, passados mais de cinco séculos do início da expansão portuguesa, o governo e a administração colonial portuguesa não só não haviam ainda conseguido fazer o reconhecimento de grande parte do território moçambicano sob seu domínio político, como também se aplicavam ao máximo por compreender as culturas, as línguas, as regras sociais das diversas sociedades e as «tradições» das populações afro-orientais. Assim, se é difícil poder afirmar-se que o império português em África tenha sido, antes do mais, um «império da informação», tal como Christopher Bayly procurou comprovar, no caso do congénere inglês na Índia, parece evidente que o domínio da informação e o conhecimento dos povos e das línguas africanas desempenharam uma papel importante no processo de implantação do poder político, social e militar em Moçambique, no dealbar do século XX. Assim, para que nos finais da década de 1930 a administração ultramarina pudesse comunicar com as elites e as sociedades tradicionais de Moçambique, mais do que contar com a experiência de alguns poucos europeus que conheciam a história da sua presença na colónia e estavam informados sobre os sistemas costumeiros indígenas, teria de confiar, sobretudo, na sabedoria dos intérpretes africanos, que conheciam bem as línguas locais e a língua portuguesa, e na influência de conselheiros (xingore) e secretários (uranda), indivíduos de grande autoridade e crédito junto dos «mambos» e «muenes» e demais régulos de prestígio, bem como, do conselho de anciãos. A comunicação que agora apresentamos, tendo como objecto de estudo as respostas ao «Inquérito Etnográfico de 1936», procura analisar não só a acção dos funcionários da administração local portuguesa em Moçambique, mas também a sua inter-relação com os intérpretes neste processo, procurando entender a especificidade do estatuto destes e a sua influência na sociedade africana. Palavras-Chave: Escravidão, escravatura, Moçambique, intérpretes, inquéritos administração colonial portuguesa, autoridades tradicionais, Xingore, Uranda etnográficos, Vitor Luís Pinto Gaspar da Conceição Rodrigues – Doutor em História Moderna pela Universidade dos Açores, é, atualmente, Investigador Auxiliar com Agregação do Instituto de Investigação Científica Tropical, onde exerce o cargo de Diretor do Centro de História e, desde Junho de 2011, as funções de Presidente do Conselho Científico. Especialista em História Militar do Império Português (séculos XVI e XVII) e em questões relacionadas com a Escravatura e Escravidão em África, publicou nessas áreas vários livros e artigos científicos. Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa Centro de História do Instituto de Investigação Científica Tropical