paulocoelhoéumdosmaisdecem alunosjáformadospelom

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paulocoelhoéumdosmaisdecem alunosjáformadospelom
PAULOCOELHOÉUMDOSMAISDECEM
ALUNOSJÁFORMADOSPELOM-ITIEAQUEM
SEABRIRAMPORTAS‘DEOUTROMUNDO’
3 de Agosto de 2014
ZONA VIP | FACTOS
Uma ‘aventura’
chamada
M-ITI
Em Julho de 2009 nascia o Madeira
Interactive Technologies Institute,
mais conhecido como M-ITI. Cinco
anos depois, Nuno Nunes, presidente
do Instituto, diz que a aposta está já
mais do que ganha e o futuro mostra-se risonho TEXTO ANALUÍSACORREIA
FOTOSJOANASOUSA/ASPRESS
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MAIS DE 3 A 9 DE AGOSTO DE 2014
ENTRAR NAS INSTALAÇÕES do Madeira Interactive Technologies Institute (M-ITI) é entrar num admirável mundo novo. A expressão pode remeter
para o livro de Aldous Huxley, mas inevitavelmente é a única ideia que vem à mente de quem
ali entra pela primeira vez. O espaço no Madeira
Tecnopólo é amplo, cheio de luz, com salas envidraçadas e frases motivadoras nas paredes. À saída do elevador um painel de chegadas como
aqueles que podemos ver no aeroporto, dá-nos
as boas vindas. Chegamos a um instituto que
nada tem de semelhante com qualquer outro espaço na Madeira e disso temos a certeza, mesmo
antes de nos sentarmos para falar com alguns
responsáveis, mesmo antes de sabermos mais sobre os projectos que tem sido desenvolvidos ali
ou a partir dali.
O M-ITI é a ‘menina dos olhos’ de Nuno Nunes. O engenheiro informático formado no primeiro ano dessa licenciatura no Instituto Superior Técnico e doutorado pela Universidade
College de Londres, admite com alguma modéstia, que foi um dos primeiros e principais impulsionadores do projecto, mas faz questão de afirmar que hoje “o M-ITI tem muito mais do que o
Nuno”. O instituto que foi criado em 2009 na
base de uma parceria entre a Universidade da
Madeira, o Madeira Tecnopólo e a Universidade
de Carnegie Mellon (Estados Unidos da América), e que foi a primeira iniciativa de institucionalização do programa de parceria Carnegie
Mellon - CMU/Portugal além do acordo assinado em 2007, vive hoje de uma comunidade composta por mais de 150 pessoas entre alunos e
professores.
É certo que houve resistências, ainda hoje há,
admite o presidente do M-ITI, sobretudo ao nível da própria Universidade da Madeira, embora nos estatutos criados há uns anos havia o propósito de criar quatro institutos deste tipo.
“Criou-se um (com alguns problemas, mesmo
internamente, nunca escondi isso…), mas acho
que deveria ter criado mais, porque [a Universidade] precisava e precisa de um grande impulso
na área da investigação, porque precisa de dar
esperança a uma geração de jovens, e essa esperança acontece por via das oportunidades que
se criam quando se associa a investigação às empresas, não só na formação de jovens que depois
vão para os melhores sítios do mundo, mas acima de tudo porque esta actividade cria oportunidades para estas pessoas que estão cá e querem ficar cá”.
Resistências à parte, o instituto foi criado,
AUniversidadedaMadeira
“precisavaeprecisadeumgrande
impulsonaáreadainvestigação,
porqueprecisadedaresperança
aumageraçãodejovens”
apresentou-se e continua a ser inovador, não só
nas áreas de estudo/investigação, mas na forma
como tem aproveitado parcerias nacionais e internacionais, como tem apostado na formação
dos alunos e como tem trazido para a Madeira
alunos e professores estrangeiros, ao mesmo
tempo que faz questão de ‘enviar’ para o exterior, os alunos da Região para adquirirem novas
e mais experiências.
As apostas podem parecer arriscadas, mas
têm compensado. Com mais de uma centena de
pessoas formadas, algumas a trabalhar em empresas que são consideradas as melhores do
mundo, caso a Apple, da Google ou do eBay, o
trabalho desenvolvido pelo M-ITI é já reconhecido um pouco por todo o mundo, já foi atingida
a sustentabilidade financeira e a viabilidade
económica, “e agora é preciso continuar, mas
sempre na mesma trajectória”.
Nuno Nunes, que cedo na sua carreira na Universidade da Madeira assumiu o cargo de vicereitor e que foi também responsável pelo Departamento de Matemática e Engenharia daquela instituição, nunca baixou os braços aos
desafios. “Tive a sorte de ter sido ‘atirado às feras’ relativamente cedo na minha carreira e isso
criou um calo de alguma experiência de gestão
que de outra maneira não teria”. E foram vários
os desafios que surgiram. Não só as tais resistências e ‘invejas’, como também o ‘choque cultural’ que foi notório entre as pessoas que vieram de fora para trabalhar no M-ITI e aquelas
que já estavam na Madeira. Mesmo depois de
criado, quando a crise financeira atacou em força, Nuno Nunes perdeu seis professores/investigadores quase de uma assentada só. Felizmente, as bases estavam bem montadas e assentes
numa valiosa parceria com a Universidade de
Carnegie Mellon, com a qual já se havia lançado
o mestrado em Interacção Humano-Computador, e com o comboio em marcha, não foi possível travar o andamento.
Hoje em dia, com uma oferta em 2014/15 que
inclui dois programas de mestrado, uma pósgraduação e três doutoramentos (vide destaque), Nuno Nunes considera que o M-ITI “está
a fazer um bom trabalho” e acrescenta: “somos
uma das duas unidades sedeadas na Madeira
que passou à segunda fase de avaliação da FCT e
acho que as pessoas têm consciência de que nós
servimos, sempre que há problema tentamos
dar resposta e que procuramos fazer um trabalho que é entregue de volta às pessoas. Estamos
a formar bem uma geração de jovens, a maior
parte deles daqui da Madeira, dando-lhes uma
oportunidade internacional que nunca teriam.
Acho que isso é reconhecido.”
E a aposta futura passa por oferecer outros
programas de doutoramentos em parceria com
outras universidades/institutos nacionais ou
O QUE O M-ITI OFERECE?
MESTRADOS
MESTRADO PROFISSIONAL EM
INTERACÇÃO HUMANO-COMPUTADOR
Este programa foi criado através de uma parceria
entre o HCII (Human-Computer Interaction
Institute) da Universidade de Carnegie Mellon nos
Estados Unidos e o M-ITI (Madeira Interactive
Technologies Institute) da Universidade da
Madeira, em regime de grau duplo. Ou seja, no
final do curso os alunos recebem dois diplomas,
um de cada uma das universidade parceiras. O
programa recebe alunos de todas as áreas
científicas, integrando uma filosofia
interdisciplinar entre o design, as ciências
informáticas e as ciências humanas, no intuito de
compreender como as pessoas se relacionam
com a tecnologia para melhorar/facilitar esta
interacção. Os estudantes vêm de todo o mundo
e com formações de base muito diversas, desde
comunicação, ciências empresariais ou até
medicina. O denominador comum é o gosto pela
tecnologia.
As candidaturas devem ser feitas até 31 de
Janeiro de 2015.
MESTRADO EM ENGENHARIA
INFORMÁTICA
Este é um programa de mestrado com a duração
de dois anos, acreditado pela Ordem dos
Engenheiros, em que os alunos desenvolvem o
seu trabalho no M-ITI, num ambiente
multidisciplinar e multicultural, onde a maioria
das aulas são ministradas em inglês.
Regularmente são realizadas palestras com
professores convidados oriundos das melhores
universidades e empresas a nível mundial. Os
alunos do MEI são incentivados a participar no
programa Erasmus, para intercâmbio em outras
universidades europeias.
Este programa recebe alunos de engenharia
informática/sistemas computacionais.
As candidaturas devem ser feitas até 12 de
Setembro de 2014.
PÓS-GRADUAÇÃO EM ASPECTOS
HUMANOS DA TECNOLOGIA
Este programa de pós-graduação em aspectos
humanos da tecnologia tem a duração de um ano
lectivo, onde os alunos têm oportunidade de ter
aulas com professores de todo o mundo e de
trabalhar em equipas multidisciplinares e
multiculturais. A pós-graduação torna-se
pessoalmente muito enriquecedora pela
diversidade de saberes que são adquiridos pelos
estudantes, oriundos de área diversas como
sejam o design, arte, comunicação ou relações
empresariais. A pós-graduação aborda as áreas
de interacção humano-computador, psicologia,
design, programação e permite aos alunos
seleccionar as áreas onde querem aperfeiçoar as
suas competências, como sejam design de
interacção, desenho de jogos, animação
multimédia ou psicologia.
As candidaturas devem ser feitas até 22 de
Agosto de 2014.
APRÓPRIAARQUITECTURA e design de interiores do espaço é inovadora
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ZONA VIP | FACTOS
O QUE O M-ITI OFERECE?
DOUTORAMENTOS
MEDIADIGITAIS
Este é um programa de especialização em Media
Digitais, feito em consórcio entre a FCT/UNL
(Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade Nova de Lisboa), a FEUP (Faculdade
de Engenharia da Universidade do Porto e a
Universidade do Texas em Austin, nos Estados
Unidos. Este curso permite que os alunos,
obtenham um diploma de doutoramento numa das
universidades portuguesas envolvidas ou que
integrem os programas em ambas as universidades
portuguesas e a Universidade do Texas, obtendo
assim um duplo título acreditado pelas mesmas.
Além das universidades envolvidas, existem ainda
uma série de institutos associados a esta área de
investigação, que poderão receber os alunos, ao
longo do programa, permitindo alargar o leque de
opções para os estudantes, nas áreas de
investigação e especialização envolvidas.
O currículo multidisciplinar deste programa junta
estudantes de diversos backgrounds para aprender
sobre design de interacção, visualização de
informação, jogos digitais, mobile computing,
documentários web, jornalismo online, informática
para a saúde e outras tecnologias emergentes.
As candidaturas devem ser feitas até 8 de Agosto
na Universidade do Porto e até 31 de Agosto na
UNL.
NUNONUNESFOI OIMPULSIONADOR. Mas agora diz que hoje, “o M-ITI tem muito mais do que o Nuno”
OM-ITItempostoaMadeirano
mapa,comumafamaquetem
atravessadofronteiraseum
reconhecimentovisívelporexemplo
aoníveldos financiamentos
mesmo outros mestrados. “Acho que era fundamental abrirmos um segundo mestrado na área
dos media digitais, precisamente para dar um
seguimento de carreira aqui às pessoas que estão cá e depois alimentar os programas de doutoramento. Fizemos uma proposta no ano passado e a UMa rejeitou e vamos tentar outra vez e
ver se passar”, diz Nuno Nunes.
Cinco anos depois do começo desta aventura
que tem sido a da criação de um instituto totalmente inovadora na Madeira, é inegável que o
M-ITI tem posto a Madeira no mapa, com uma
fama que tem atravessado fronteiras e um reconhecimento que é visível por exemplo ao nível
de programas de financiamentos. Por exemplo,
em Fevereiro último, o M-ITI foi um de 11 institutos e universidades de regiões menos desenvolvidas na Europa que foi contemplado com
uma verba de 2,4 milhões de euros, um financiamento da UE para reforçar a capacidade de investigação mediante a nomeação das primeiras
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‘Cátedras do Espaço Europeu da Investigação’.
Actualmente o M-ITI tem uma ‘short list’ de
três pessoas para essa cátedra, “qualquer uma
delas muito boa” e que, de certeza, vai atrair
muita gente ao instituto.
Nuno Nunes adianta ainda que está agora ser
preparada uma candidatura a um programa
novo que o Horizonte 2020 que passa por fazer
uma equipa entre uma instituição de referência
e instituição de uma região mais periférica. “Estamos a trabalhar com a universidade College
de Londres numa proposta que será terminada
durante este mês de Agosto. Se for bem sucedida pode significar 20 milhões de euros de financiamento para os próximos 5 anos e estamos a
falar numa candidatura com uma das universidades top 5 da Europa. Já temos uma ligação
com universidade americana e seria importante
se pudéssemos ter esta ligação no espaço europeu, com uma cidade que está a 3h30 de ligação
directa de avião…” diz o responsável.
Mesmo ao nível do impacto económico, Nuno
Nunes estima que o impacto do M-ITI ronda os
10 milhões de euros em investimento que se
atraiu para a Região. Se o Governo atribuiu em
bolsas um valor que não chega a 2 milhões de
euros, “em termos de retorno, o MITI significa
4,4 vezes mais de investimento na Região do que
o investimento feito aqui”. As contas e os resultados práticos em termos de alunos formados e
de formandos ditam assim que “o modelo devia
ser seguido e alargado”, defende o presidente do
instituto.
SISTEMASCIBER-FÍSICOS
INTERACTIVOSEMREDE
Esta é uma especialização em Sistemas CiberFísicos Interactivos em Rede proposto pelo IST
(Instituto Superior Técnico) da Universidade de
Lisboa, em colaboração com a Universidade de
Carnegie Mellon (CMU), em Pittsburgh, nos
Estados Unidos. Os alunos podem candidatar-se
apenas a um doutoramento da Universidade de
Lisboa (UL) ou a um diploma de grau duplo da UL e
da CMU. Para integrar o programa NETSyS os
alunos têm de se inscrever, no IST, num dos
seguintes doutoramentos: Engenharia Electrónica e
de Computadores ou Engenharia .O programa tem a
duração de 4 anos, em que o 1º ano é para a
componente curricular no IST e os outros 3 anos
dedicados à componente de investigação.
As candidaturas serão abertas em breve.
ENGENHARIAINFORMÁTICA
Este programa de doutoramento é uma
especialização em Engenharia Informática da
Universidade da Madeira. Os alunos co-orientados
pelos professores do M-ITI Madeira Interactive
Technologies Institute poderão usufruir dos nossos
equipamentos e instalações, para além de serem
incluídos num ambiente de investigação
multidisciplinar e multicultural.
Este programa está dirigido para alunos com grau
de mestre (2º ciclo ou pré-Bolonha) ou,
excepcionalmente com o grau de licenciado, da área
científica de ciências informáticas, engenharia de
computadores ou informática. Para o ramo de
Interacção Humano-Computador são também
aceites candidatos das ciências sociais, arte,
design, psicologia, humanidades e áreas afins.
As candidaturas devem ser feitas até 30 de Agosto.
ZONA VIP | FACTOS
PAULOCOELHO fez o
mestrado em Interacção
Humano-Computador.
Em 2012 mudou-se
para a Califórnia e
desde o ano passado
trabalha na Google
Um
madeirense
“na melhor empresa do mundo”
Paulo Coelho é um dos madeirenses que passou pelo M-ITI, no mestrado em interacção Humano-Computador.
Hoje está na Google, uma porta que se abriu muito porcausa das oportunidades proporcionadas
pelo instituto sedeado na Região. TEXTO ANALUÍSACORREIAFOTOSDR
PAULOCOELHOTEMAGORA27ANOSe trabalha naquela que considera ser “a melhor empresa do Mundo”, a Google.
Mas a vida de Paulo não começou nos Estado Unidos, onde reside há cerca de dois anos. Paulo nasceu
na Madeira e desde pequeno que gosta de mexer em
computadores. Quando terminou o ensino secundário não teve dúvidas e escolheu a licenciatura em
Engenharia Informática na Universidade da Madeira e prossegui logo de seguida para o Mestrado na
mesma área e na mesma universidade.
Era ainda aluno do Mestrado em Engenharia Informática quando concorreu ao Mestrado Profissional em Interacção Humano Computador, ministrado numa parceria entre a Universidade da Madeira
e a Universidade de Carnegie Mellon nos Estados
Unidos. Foi por causa deste mestrado que, entre
2010 e 2011 o Paulo, estudou durante um semestre
em Pittsburgh e os outros dois na Madeira.
Depois dessa experiência, nas férias de Verão, o
madeirense aproveitou para fazer um estágio na Califórnia, na VMware (empresa muito conhecida por
desenvolver software que permite dividir os recursos físicos de servidores, aumentando assim a eficiência de grandes ‘datacenters’, explica). O estágio
correu tão bem que a empresa fez logo uma proposta de trabalho. Em 2012 o Paulo mudou-se então
para a Califórnia e começou a viver o sonho americano. Mas foi no ano passado que o sonho ganhou
ainda maiores dimensões, quando foi contactado
pela Google para uma entrevista. Hoje trabalha nas
centrais da Google, em Mountain View na Califórnia, na equipa de design do Android como ‘User Experience Prototyper’ e não trocaria essa experiência
por nada. A verdade é que Paulo não pensa regressar à Madeira, pelo menos enquanto não houver
grandes mudanças na Região, mas fica eternamente
grato às oportunidades que surgiram a partir do momento em que se inscreveu no M-ITI.
Sempre se interessou pela informática e novas
tecnologias ou foi algo que surgiu aos poucos? Eu
interesso-me por tudo o que seja mecânico ou elec-
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ZONA VIP | FACTOS
outros países e ter contacto com outras experiências, pessoas e empresas.
Como ex-aluno, quais as mais-valias do M-ITI
para outros jovens? Eu diria que a mais-valia que o
M-ITI oferece é oportunidade para crescer fora do
ciclo normal de estudos e fora da Madeira. A Madeira é excelente para muitas coisas, mas para crescer
nas áreas de Informática ou Design, é imprescindível sair da Madeira e ter contacto com pessoas e empresas que trabalham ou são ‘experts’ na área.
É fundamental para a Madeira ter institutos
como o M-ITI para se fazer notar no resto do
mundo? Eu acho que está na altura de valorizar
mais as pessoas que vivem na ilha e não tanto as pessoas que queremos que visitem a ilha (turismo). Eu
acho que a Madeira tem pessoas que se tentassem
aventurar e seguir os seus sonhos, ficariam positivamente surpreendidas. O M-ITI é um instituto que
muito ajuda neste âmbito, mas a iniciativa tem de
começar nos estudantes.
trónico. Quando era pequeno, a minha parte preferida depois de receber um brinquedo novo, era desmanchar para ver como funcionava e depois (tentar)
por tudo de volta como estava. Quando tinha 5 anos
tive o meu primeiro computador. Antes de entrar
para o secundário já sabia programar por iniciativa
própria. Numa outra vertente, era fascinante ver
como estas invenções tinham o potencial de melhorar a vida das pessoas: tinham um enorme impacto.
Quando estava a tirar o mestrado em Engenharia Informática na UMa, já tinha algum objectivo
delineado em termos de futuro e de profissão? Eu
sabia que não queria ficar na Madeira, e que os Estados Unidos eram o caso ideal, a Google nesta altura
estava tão longe que nem era uma possibilidade que
estava a considerar. Sempre que tomava decisões
durante os meus estudos eu tentava fazer escolhas e
interpretações que apontassem o meu “barco” para
o caso ideal. Se não fosse a América, seria qualquer
coisa conceptualmente perto. Quando digo interpretações falo de, por exemplo, o conteúdo das cadeiras. Eu tentava ficar dentro do tema, mas se me
interessava mais por uma área ou tinha uma opinião
muito diferente da que era leccionada - algumas vezes pelo custo de uma nota mais baixa - tentava estudar o que me interessava.
Porquê se candidatou ao M-ITI? O M-ITI é o
departamento da UMa que facilitou a candidatura
ao MHCI (masters in human computer interaction
- mestrado em interacção humano computador). Já
quando estava a tirar o ‘bachelor’ em Informática
sentia que o curso estava de alguma forma incompleto. Já no início do mestrado em informática, vi o
MHCI como uma oportunidade para complementar o conhecimento que já tinha. Além do mais,
combinar informática e design para mim fazia mui-
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to sentido porque se algo funciona bem, mas é preciso ler mais de 100 páginas de texto, e fazer cursos,
para mim é software inútil.
O MHCI combina informática, design e psicologia. Nós fazemos software para pessoas, faz sentido
que saibamos tanto sobre computadores como sobre as pessoas e a forma como o nosso cognitivo funciona.
Acha que se não tivesse se candidatado ao MITI teria tido oportunidades semelhantes à que
teve ao frequentar este instituto? Eu acho que o
M-ITI apareceu na hora certa, no sítio certo e representa uma das partes cruciais para o meu sucesso.
Os elos que o M-ITI criou com grandes universidades a nível mundial, permite que estudantes portugueses e não portugueses possam aventurar-se em
Como é que tem sido a experiência na Google?
Acha que a ideia que os’outsiders’ têm de que é
uma das melhores empresas do mundo actual é
uma ideia real? Eu diria que a minha experiência
na Google é difícil de por em palavras. Eu sintome valorizado, parte da equipa e a minha voz é ouvida. A empresa preocupa-se com o meu crescimento pessoal e profissional. Tem horários flexíveis e proporciona ferramentas apropriadas para
o trabalho e para o meu conforto. O trabalho que
faço (Android Auto ou Android em geral) tem impacto mundial e tenho a oportunidade de usar telemóveis (e outros brinquedos) meses antes de alguém fora da Google saber que existe. Temos cerveja de pressão no escritório, festas todas as semanas e comida de graça para as 3 refeições. Existem
também outros benefícios ao nível de saúde e descontos por todo o lado. Embora a Google também
pague bem os funcionários, eu acho que a Google
paga sobretudo em ‘Motivação’ e ‘Valorização’. É
verdade que em certas alturas faço longas horas e
fins-de-semana, mas não tenho problema nenhum em fazer isso. Em suma, sim a Google é, na
minha opinião, a melhor empresa do mundo, e
não faço planos para sair tão cedo…
Pensa regressar a Portugal e à Madeira um
dia? A Madeira tem muitos problemas que eu não
ajudei a criar e não quero ajudar a resolver, pelo
menos até haver uma grande reforma. O sistema
político está completamente estragado, pagam-se
por exemplo para festas de grande escala quando
não há dinheiro para os essenciais. O sistema judicial também não funciona, é extremamente lento
e, por experiência própria, muitas vezes injusto.
Pior ainda o sistema político parece que anda de
mão dada com o sistema judicial, uma mão limpa a
outra. O resultado é um ambiente pesado, de desânimo e de revolta. Apenas vou à Madeira para visitar família, o que não faço há quase dois anos. Mas
farei para breve.

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