Livro de Anais - IEAv
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ISSN (Impresso) Anais do Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do Instituto de Estudos Avançados São José dos Campos – SP 2016 Volume 1 – Ago/2015 – Jul/2016 © 2016 Instituto de Estudos Avançados – IEAv Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. A publicação inclui os trabalhos apresentados no I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica (I SICTI) do Instituto de Estudos Avançados, 02 a 04 de Agosto de 2016. Publicado por: Instituto de Estudos Avançados – IEAv Endereço: Trevo Coronel Aviador José Alberto Albano do Amarante, n◦1 - Bairro Putim CEP 12228-001 São José dos Campos - São Paulo - Brasil Tel. (12) 3947-5360/ Fax. (12) 3944-1177 http://portal.ieav.cta.br/ Informações adicionais sobre o IEAv podem ser obtidos com a Assessoria de Comunicação Social – ACS. Tel. (12) 3947-5360, [email protected]. Editores: Dr. Abel Antônio da Silva - ENU Dr. Ademar Muraro Junior - EFA Me. Bruno Ferreira Porto - EAH Dr. Fábio Dondeo Origo - EFO Dr. Felipe Leonardo Lobo Medeiros - EGI Dra. Valeria Serrano Faillace Oliveira Leite - EST Ans.de C&T – Bibliotecária Rosilene Maria de Mendonça - EICT Anais do Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do Instituto de Estudos Avançados. - vol.1 (ago/2015 – jul/2016) - São José dos Campos. IEAv, 2016 Anual ISSN Inclui: Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do Instituto de Estudos Avançados - I SICTI – IEAv/DCTA, 02 a 04 de Agosto de 2016. 1. Iniciação Científica e Tecnológica – Simpósio. 2. Pesquisa Científica. 3. Ciência e Tecnologia. 4. Desenvolvimento Tecnológico. 5. Inovação. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 1-176, 2016 I SICTI 2016 I Simpósio de Iniciação Ciêntífica e Tecnológica do Instituto de Estudos Avançados Anais do Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do Instituto de Estudos Avançados Volume 1 – Ago/2015 – Jul/2016 São José dos Campos – SP 2016 Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 1-176, 2016 Instituto de Estudos Avançados – IEAv Direção Cel Av Roberto da Cunha Follador Diretor do IEAv (EDR) Ten Cel Av Flávio Petersen Junior Vice-Diretor do IEAv (VDR) Dr Osvaldo Catsumi Imamura Chefe da Subdiretoria Técnica (EDT) Maj Eng Nilton de Oliveira Lessa Chefe da Subdiretoria de Administração (EDA) Comissão Organizadora do SCTI Comissão Gestora PIBICTI Dr. Abel Antônio da Silva - ENU Dr. Ademar Muraro Junior (coordenador)- EFA Me. Bruno Ferreira Porto - EAH Dr. Fábio Dondeo Origo - EFO Dr. Felipe Leonardo Lobo Medeiros - EGI Dra. Valeria Serrano Faillace Oliveira Leite - EST Comissão Científica Dr. Abel Antônio da Silva - ENU Dr. Ademar Muraro Junior (coordenador)- EFA Me. Bruno Ferreira Porto - EAH Dr. Fábio Dondeo Origo - EFO Dr. Felipe Leonardo Lobo Medeiros - EGI Dra. Valeria Serrano Faillace Oliveira Leite - EST Realização Apoio Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 1-176, 2016 Anais do Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do Instituto de Estudos Avançados Volume 1 – 2016 SUMÁRIO EDITORIAL 9 I SICTI 11 ALTERAÇÕES DAS CARACTERÍSTICAS DE SUPERFÍCIE DE AÇOS MULTIFÁSICOS TRATADOS TERMICAMENTE A LASER P. C. Lauar, D. Neves, M. S. F. Lima, R. Riva, W. Miyakawa 13 APLICAÇÃO DE MATERIAIS INTELIGENTES NO PROJETO DE ENTRADA DE AR DO DEMONSTRADOR TECNOLÓGICO SCRAMJET 14-X S PARA VOO ATMOSFÉRICO A 30 KM DE ALTITUDE E VELOCIDADE CORRESPONDENTE A NÚMERO DE MACH 7 J. A. C. C. Pinto, I. S. Rêgo, P. G. P. Toro, M. A. S. Minucci, F. J. Costa 19 APLICAÇÃO DE RRT* AO PLANEJAMENTO AUTOMÁTICO DE ROTAS DE NAVEGAÇÃO PARA VANTS L. M. Silva, M. M. De Marchi, F. L. L. Medeiros 24 ARRASTO DE ONDA DO VEÍCULO HIPERSÔNICO 14-X BS NIVELADO A MACH 7 E ALTITUDE DE 30 KM: MODELAGEM PRELIMINAR E. D. C. C. Nascimento, I. S. Rêgo 30 AVALIAÇÃO DA ESPESSURA DA CAMADA A VERDE DE ZIRCÔNIA NO PROCESSO DE DEPOSIÇÃO A LASER J. C. G. Santos, V. Teleginski, J. F. Azevedo, S. A. Silva, G. Vasconcelos 36 AVALIAÇÃO DE PLATAFORMA HÍBRIDA RECONFIGURÁVEL DE PEQUENO PORTE PARA EMPREGO EM VANTs L. H. M. Dias, M. R. C. Aquino, V. C. F. Gomes, F. L. L. Medeiros 41 CARACTERIZAÇÃO DE CHAMAS DE BIOQUEROSENE PARA APLICAÇÕES EM SCRAMJETS L. M. Vialta, D. Carinhana Jr 46 CARACTERIZAÇÃO DE UM MOTOR STIRLING DE PISTÃO LIVRE A. C. Santos, V. S. F. O. Leite CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO AÇO TERMOQUIMICAMENTE A PLASMA E A LASER A. G. S. Gorges, G. Vasconcelos, V. H. B. Scheid, A. J. Abdalla 300M 51 TRATADO 57 CLASSIFICAÇÃO DA VEGETAÇÃO E CAVAS DE AREIA DE IMAGENS OBTIDAS POR VANTS NA REGIÃO DO VALE DO PARAÍBA EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP S. C. Oliveira, J. D. Verona, E. H. Shiguemori 62 COMPORTAMENTO ESPECTRAL DE DISTINTOS ALVOS PERANTE UM SENSOR TERMAL D. M. F. Costa, J.Verona, E. H. Shiguemori 66 Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 1-176, 2016 CORROSÃO TÉRMICA DE CARBONO VÍTREO MONOLÍTICO J. C. Arisseto, F. D. Origo 70 DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTA COMPUTACIONAL UTILIZANDO MÉTODOS DE INCLINAÇÃO LOCAL PARA PROJETO DE VEÍCULOS HIPERSÔNICOS M. M. C. Pellegrini, T. C. Rolim 76 DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS APÓS UMA ONDA DE CHOQUE OBLÍQUA M. V. S. Pereira, P. G. P. Toro, J. H. Fernandez 81 ESTUDO DA EFICIÊNCIA DA IMPLEMENTAÇÃO DE ALGORITMO DE TEMPLATE MATCHING PARA NAVEGAÇÃO AUTÔNOMA DE VANT EM RASPBERRY PI G. A. H. C. C. Lima, E. H. Shiguemori, P. F. F. S. Filho 86 ESTUDO DE TÉCNICAS DE CASAMENTO DE PADRÕES EM IMAGENS OBTIDAS POR VANT EM SISTEMA EMBARCADO G. C. C. Silva, E. H. Shiguemori 89 ESTUDO DE UM SISTEMA DE TELEMETRIA PARA VOO TESTE DE UM “SCRAMJET” ACADÊMICO V. L. Carvalhal, S. Rêgo 94 ESTUDO E ADAPTAÇÃO DE PROBLEMAS E MÉTODOS PARA O PLANEJAMENTO DE ROTA PARA VANT'S CONSIDERANDO A IDENTIFICAÇÃO AUTOMÁTICA DE MARCOS M. M. Roberto, M. J. Pinto, P. F. F. Silva Filho 100 ESTUDO EXPERIMENTAL DAS CONDIÇÕES DE IGNIÇÃO NA INICIAÇÃO DA DETONAÇÃO N. C. Lopes, C. C. B. Katata , C. S. T. Marques 104 HEURÍSTICA BASEADA NO MÉTODO GRASP PARA O PLANEJAMENTO DE ROTAS PARA VANTs L. S. Cordeiro, M. J. Pinto 110 IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE TRAÇADOR DE CURVAS DE HISTERESES MAGNÉTICAS A. A. C Silva, V. M. M Abramo, A. C. C Migliano 116 PLANEJAMENTO DE ROTAS DE NAVEGAÇÃO PARA EXPERIMENTOS DE POUSO AUTÔNOMO COM UM VANT VTOL M. E. L. Honorato, V. C. F. Gomes, L. H. M. Dias, M. R. C. Aquino, F. L. L. Medeiros 120 PROCESSAMENTO DE IMAGENS OBTIDAS POR DRONES UTILIZANDO O SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA SPRING R. R. Bueno, J. D. Verona, E. H. Shiguemori 125 PROCESSAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS À BASE DE FERRITAS J. A. N. Ferreira, M. S. Hieda, E. O. Silva Júnior, J. P. B. Machado, V. L. O. Brito 128 PRODUÇÃO DE SUPERFÍCIES SUPER-HIDROFÓBICAS POR ABLAÇÃO A LASER NA LIGA Ti-6Al-4V I. K. L. Kam, J. J. Neto 131 Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 1-176, 2016 RECOBRIMENTO DE AÇO FERRAMENTA COM CARBETO DE BORO VIA LASER DE CO2 J. F. Azevedo, V. Teleginski, J. C. G. Santos, S. A. Silva, G. Vasconcelos 136 RESINA FURFURÍLICA MICROESTRUTURADA OBTIDA POR TRANSFERÊNCIA DE MICROMOLDE POLIMÉRICO A. Aumiller, F. Dondeo, R. C. Louzada 140 RESISTÊNCIA À CORROSÃO EM AÇOS TEXTURIZADOS A LASER M. F. R. L. Souza, P. M. M. Leite, A. C. O. C. Doria, J. G. A. B. Simões, R. Riva, W. Miyakawa 146 SELEÇÃO PRELIMINAR DE MATERIAIS ESTRUTURAIS E DE PROTEÇÃO TÉRMICA PARA O DEMONSTRADOR TECNOLÓGICO SCRAMJET 14-X S PARA VOO ATMOSFÉRICO A 30 KM DE ALTITUDE E VELOCIDADE CORRESPONDENTE A NÚMERO DE MACH 7 J. E. S. Junior, I. S. Rêgo, P. G. P. Toro, M. A. S. Minucci, F. J. Costa 150 SÍNTESE DE HEXAFERRITA Z-TYPE COM APLICAÇÕES AEROESPACIAIS V. M. M. Abramo, A. A. C. Silva, A. C. C. Migliano 156 TERMOMETRIA EM UMA CHAMA ESTEQUIOMÉTRICA UTILIZANDO A TÉCNICA DE ESPALHAMENTO RAYLEIGH PARA O COMPRIMENTO DE ONDA 355nm C. F. Nunes, L. G. Barreta, D. Carinhana Jr 160 UM ESTUDO NUMÉRICO DO EFEITO NA PRESSÃO SOBRE CORPOS ROMBUDOS EM VELOCIDADE SUPERSÔNICA CAUSADO PELA ADIÇÃO DE ENERGIA NA FORMA PULSADA M. D. Felix, A. C. Fraile Júnior, M. A. P. Rosa 165 UTILIZAÇÃO DE DISPERSÃO DE SUKHAREV NA CONSTRUÇÃO DE ÁRVORES ALEATÓRIAS DE RÁPIDA EXPLORAÇÃO D. M. Adamis, F. L. L. Medeiros 171 Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 1-176, 2016 9 EDITORIAL O Instituto de Estudos Avançados (IEAv), inaugurado há 34 anos, tem como objetivos a pesquisa avançada e estratégica e a formação de recursos humanos qualificados. Dentro desta visão, a iniciação científica e tecnológica é considerada parte integrante das atividades do Instituto. Por meio dela, os alunos têm a oportunidade de entender e praticar o método científico, aperfeiçoar o seu espírito crítico e exercer a sua criatividade, aprender a trabalhar em equipe (aprender a respeitar os seus limites e os das pessoas ao seu redor), além de estimular os alunos de graduação a prosseguirem na carreira científica, ingressando em programas de pós-graduação. Nos primórdios do IEAv, os projetos em desenvolvimento foram contemplados com bolsas custeadas com recursos da própria Instituição, mas ações políticas e econômicas nos anos subsequentes dificultaram a manutenção dos projetos e o incentivo aos trabalhos de iniciação científica. A fim de solucionar este problema, alguns pesquisadores tentaram, individualmente, obter quotas institucionais de bolsas de iniciação científica, sem êxito. Em 2005, com uma participação maciça dos pesquisadores, solicitou-se novamente ao CNPq a concessão de quotas. No ano de 2006, o IEAv foi contemplado com 10 quotas de bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC) e nesses últimos anos houve um aumento progressivo das quotas de bolsas, atingindo desde 2014 um total de 30 bolsas, sendo 04 cotas de bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI). Como parte das avaliações do programa de iniciação científica do CNPq, foi realizado em 2007 o I Seminário de Iniciação Científica do IEAv. Pelo interesse dos pesquisadores da instituição, percebeu-se que a realização deste evento era muito maior do que apenas mobilizar os alunos que possuíam bolsas institucionais de iniciação científica do PIBICCNPq, atraindo alunos de iniciação científica de outros órgãos de fomento ou voluntários e também dos alunos que cursavam a pós-graduação no Instituto. No ano de 2009, o evento passou também a receber as contribuições dos alunos de pós-graduação do Instituto e no primeiro semestre de 2012, com a aprovação da Pós-graduação no IEAv, foi realizado o I SCTI (Simpósio de Ciência, Tecnologia e Inovação do IEAv), englobando os trabalhos dos alunos de todos os programas de iniciação científica e tecnológica e da Pós-graduação do Instituto. O crescente número de trabalhos submetidos, aliado à diferença de nível entre os trabalhos de iniciação e pós-graduação, tornou a logística do evento mais complexa e, a partir deste ano, os eventos serão realizados separadamente para melhor atender aos respectivos objetivos. A realização do SICTI - Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv de 2016, será o início de um evento que gerenciará e organizará este e os próximos trabalhos de todos os programas de iniciação científica e tecnológica do Instituto, mantendo-se os objetivos e responsabilidades dos eventos dos anos anteriores. A Comissão agradece o apoio recebido da Direção do Instituto, das comissões internas e externas envolvidas neste processo, das agências de fomento e empresas que possibilitaram a realização deste I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv. Comissão Organizadora do I SICTI 2016. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 9, 2016 10 11 I SICTI Esta é a primeira edição do Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica (I SICTI) do IEAv, que acontece em São José dos Campos, São Paulo, nos dias 02 a 04 de agosto de 2016. O I SICTI 2016 tem como objetivo apresentar e discutir com a comunidade, os trabalhos desenvolvidos pelos alunos de graduação de diversas universidades junto aos projetos da Instituição. O evento será composto por palestras de curta duração, nas quais serão apresentados os trabalhos de pesquisa científica e tecnológica desenvolvidos pelos alunos durante o ano. Haverá também uma sessão de pôsteres, onde serão expostos estes trabalhos, com o objetivo de uma melhor integração entre os autores e pessoas interessadas nos temas. Os trabalhos deste volume são resultados dos projetos de iniciação científica e iniciação tecnológica e inovação, desenvolvidos por alunos ligados às universidades da região do Vale do Paraíba, sul de Minas Gerais e de outros estados, dentro das áreas de atuação da Instituição: Aerotermodinâmica e Hipersônica, Energia Nuclear, Física Aplicada, Fotônica e Geointeligência. Este volume dos Anais do I SICTI está em formato eletrônico, com distribuição online, disponível na página http://www.ieav.cta.br/eventos/sicti/2016/. Algumas cópias impressas serão confeccionadas e arquivadas em bibliotecas, a fim de manter o mesmo registro do caderno de publicações junto ao Centro Brasileiro do ISSN (CBISSN). Foram publicados 33 trabalhos, sendo 24 do programa PIBIC-PIBITI/CNPq e 9 de outros programas de iniciação científica. Os organizadores esperam que o I SICTI possa oferecer à comunidade científica do IEAv, em especial aos alunos que desenvolvem trabalhos de iniciação científica, um evento agradável, no qual se possa conhecer uma parcela da pesquisa realizada atualmente na Instituição. Comissão Organizadora do I SICTI 2016. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 11, 2016 12 13 ALTERAÇÕES DAS CARACTERÍSTICAS DE SUPERFÍCIE DE AÇOS MULTIFÁSICOS TRATADOS TERMICAMENTE A LASER P.C. Lauar1,2*, D. Neves1, M.S.F. Lima1, R. Riva1, W. Miyakawa1 Projeto: Processamento de materiais a laser 1 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Fotônica, São José dos Campos – SP 2 Universidade Federal de São Paulo, Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Aços avançados de alta resistência, como os aços Dual Phase (DP) e Transformation Induced Plasticity (TRIP) têm sido cada vez mais usados na indústria automobilística, devido às suas propriedades mecânicas e plásticas. Neste trabalho, aços DP600 e TRIP 750 foram tratados termicamente com um laser a fibra de Ytterbium, e as alterações microestruturais e de microdureza nas regiões irradiadas, foram comparativamente avaliadas em relação às não irradiadas. Os resultados mostraram que o aço TRIP apresentou maior susceptibilidade ao tratamento térmico, evidenciado pelas alterações microestruturais mais intensas e pelos valores de microdureza proporcionalmente maiores do que os equivalentes de aço DP, que receberam o mesmo valor de energia específica. Palavras-chave: laser, endurecimento a laser, tratamento térmico, aço automobilístico, aço dual phase 1. Introdução Investimentos em pesquisa e desenvolvimento no setor automobilístico vêm se destacando desde as crises de petróleo, na década de 70, onde a principal motivação era encontrar uma forma para reduzir o consumo de combustível (Gorni, 2008) e, consequentemente, a emissão de CO2. A solução para o problema foi reduzir o peso dos veículos. Com isso, em busca de maior competitividade, além da utilização de outros materiais na composição das peças (como fibras e plásticos), surgiram, no mercado, novos aços, com menores densidades específicas e melhor desempenho. Os tradicionais aços-carbono foram substituídos pelos HSS (High Strength Steel ou aços convencionais de alta resistência) e AHSS (Advanced High Strength Steel ou aços avançados de alta resistência). Nesta última, encontram-se os aços multifásicos, que podem conter duas ou mais fases em sua microestrutura, dependendo dos elementos de liga e do processo envolvido (Nigri 2008). 2.1 Aços Dual Phase (DP) Os aços DP são classificados como AHSS, pois são compostos por uma microestrutura bifásica, onde ilhas de martensita (fase “dura”) estão dispersas em uma matriz ferrítica (fase “macia”) (Tigrinho 2011). Estes aços possuem amplo espectro de resistência mecânica (limite de resistência à tração entre 350 e 1400 MPa) (Marra 2008), boa capacidade de estiramento e ótima absorção ao impacto, maximizando simultaneamente a ductilidade e resistência mecânica, além de serem recicláveis. Atendem, portanto, aos requisitos necessários para o projeto de um veículo moderno, seguro, econômico e sustentável. Para a confecção de automóveis, existem diversas possibilidades para a utilização de aços DP, como: barra de proteção da porta, barra de reforço de teto, travessa de reforço de chassis, entre outros (Marra 2008). Porém, deve-se levar em consideração que quanto maior a resistência de um aço, maior é seu retorno elástico após a conformação (Gorni 2010). Por este motivo, a microestrutura deve ser avaliada e adequada para cada tipo de aplicação. 2.1 Aços Transformation Induced Plasticity Aços que apresentam o efeito TRIP (plasticidade induzida por deformação) possuem em sua microestrutura uma matriz ferrítica, onde outras fases, bainita e austenita retida, estão dispersas (Gorni, 2008). O efeito TRIP ocorre quando a austenita presente nesse aço se transforma em martensita, através de uma deformação aplicada no material (Nigri 2008), seja esta durante qualquer etapa do processamento Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 13-18, 2016 14 (fabricação ou conformação, por exemplo). Como resultado, tem-se um maior alongamento na direção em que a deformação foi aplicada, i.e., a transformação produz um aumento de ductilidade localizada. Esta mudança de fase confere aos aços TRIP uma melhor relação entre a resistência mecânica e ductilidade, quando comparado aos demais AHSS (Gorni, 2008), o que lhe confere uma ótima estampabilidade. Porém, é preciso ressaltar que quanto maior a porcentagem de fase martensítica, maior é a resistência à tração e escoamento do material, e consequentemente, menor sua ductilidade. Desta forma, é importante retardar a transformação da austenita nas etapas de processamento, para que não se comprometa o desempenho e propriedades finais desejadas para a aplicação, como por exemplo, absorção de energia durante um eventual impacto nos automóveis que utilizam aço TRIP (Nigri 2008). Outra forma de manter a estabilidade da austenita é controlar a composição química do aço, ajustando as concentrações de carbono e outros elementos de liga, e também os tamanhos de grãos austeníticos, garantindo ao aço uma alta ductilidade (Tigrinho 2011). 1.3 Tratamento térmico a laser Tratamentos térmicos a laser podem melhorar as propriedades químicas e físicas da área irradiada dos aços, sem alterar as regiões não tratadas (Mohamaddi 2012; Rossini 2015). Estes tratamentos devem ser realizados controlando-se potência, diâmetro do feixe, e velocidade de varredura, entre outros parâmetros, para que se possa avaliar a influência da energia específica na microestrutura (Steen 1991). As reações induzidas pela radiação laser ocorrem fora das condições de equilíbrio térmico. Quando a temperatura atingida pela superfície do metal cai bruscamente, ocorrem transformações de fases, que alteram significativamente a proporção de martensita na superfície, em relação às outras fases. Com isso, aumenta-se também a resistência mecânica do aço, e, por conseguinte, diminui-se sua ductilidade e resistência a fratura. Neste trabalho, aços DP600 e TRIP 750 foram tratados com um laser a fibra de Ytterbium, com o objetivo de avaliar as alterações microestruturais e de microdureza nas regiões irradiadas, comparativamente às não irradiadas. A importância deste trabalho está no fato de que tanto os tratamentos térmicos a laser para alterar e aprimorar, localmente, algumas propriedades químicas e mecânicas de aços avançados e de alta resistência, como as técnicas de caracterização são comumente empregadas nas áreas de pesquisas aeroespaciais e de materiais. Aliase a isso, o fato de que esta capacitação também é totalmente aplicável aos metais aeronáuticos e aeroespaciais. 2. Metodologia Seis chapas de cada tipo de aço (DP600 e TRIP750, ambos produzidos pela USIMINAS), com dimensões de 200,0 mm x 200,0 mm x 1,6 mm, foram tratadas termicamente com o laser a fibra de Ytterbium (IPG, mod. YLR-2000, λ=1.080 μm). No centro de cada chapa, foram feitas varreduras na direção da laminação, com diferentes potências de laser (270 e 330 W), diâmetros de feixe sobre a amostra (6,18 e 5,56 mm) e velocidades de varredura (135 e 164 mm/min). A partir de cada chapa, foram cortados dois corpos de prova (10,0 mm x 10,0 mm x 1,6 mm), que foram embutidos em baquelite, em duplas, uma na posição horizontal e outra na vertical, de forma que se pudesse avaliar suas seções longitudinais e transversais. As duplas foram identificadas de DP1 a DP6, e TRIP1 a TRIP6. Foram, então, lixadas e polidas, até a alumina de 0,3 μm. Em seguida, foram limpas em banho de acetona, no ultrassom, por 5 minutos. Os corpos de prova foram atacados com solução de Nital a 2% (2 ml HNO3 + 98 ml etanol), lavados em água corrente e secados em fluxo de ar à temperatura ambiente. Os corpos de prova de aço TRIP foram, adicionalmente, atacados com a solução de Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 13-18, 2016 15 LePera (15 ml Na2S2O5 a 1% : 15 ml (C6H2(NO2)3OH a 4%). Análises microestruturais foram feitas com um microscópio óptico (Zeiss, mod. AxioImager2m), e as medidas de microdureza Vickers, com o microdurômetro Future Tech, mod. Microhardnes Tester FM700 (carga de 100 gF, por 10 segundos). 3. Resultados e Discussão 3.1 Tratamento térmico a laser A energia específica envolvida na transformação de fase do aço é dada pela equação (1): P dv (1) onde P é potência do laser, d é o diâmetro do feixe de laser e v, a velocidade de varredura. A Tab. 1 apresenta valores de energia específica e larguras da área tratada (AT) e da zona termicamente afetada (ZTA), medidas na superfície longitudinal das amostras (Fig. 1a). Os valores de energia específica somente não foram suficientes para produzir alterações na amostra DP2, enquanto modificações mais intensas foram observadas nas amostras DP5 e TRIP5. Além disso, para cada valor de energia específica, as larguras das regiões tratadas e termicamente afetadas foram sempre maiores para as amostras TRIP, quando comparadas às equivalentes DP. Na Fig. 1a, visualizam-se as regiões formadas pela transformação de fases, devido às variações abruptas de temperatura induzida pelo laser. No aquecimento, à temperaturas acima da de equilíbrio (727°C), a ferrita não é mais estável e parte desta se transforma em austenita. No resfriamento, reações fora do equilíbrio transformam austenita em martensita, que se expandem e tomam formato agulhar (Fig. 1b), aumentando a resistência mecânica dessa região. O tratamento térmico também causa alterações na microestrutura da vizinhança da área tratada com o laser, comumente chamada de zona termicamente afetada, ZTA (Fig. 1c), e cuja microestrutura é diferente da região não tratada (material base, MB, Fig. 1d). Tab.1. Larguras de área tratada (AT) e zona termicamente afetada (ZTA) em função da energia específica. Amostra Energia específica (kJ/cm2) AT (mm) ZTA (mm) DP1 1,94 0,75 0,47 DP2 1,59 - - DP3 2,37 1,26 0,87 DP4 1,94 1,03 0,53 DP5 2,62 1,95 0,88 DP6 2,15 1,54 0,78 TRIP1 1,94 2,41 0,98 TRIP2 1,59 2,36 0,70 TRIP3 2,37 3,56 0,64 TRIP4 1,94 3,12 0,60 TRIP5 2,62 3,74 0,54 TRIP6 2,15 3,15 0,96 A Fig. 2 mostra a microscopia da região de material base do aço TRIP750, onde podemos observar a predominância das fases ferríticas (em azul) e bainíticas (em marrom), um volume considerável de austenita (em branco) e a presença de possíveis fases martensíticas (também em branco). A presença de martensita se dá pelo fato de que, durante a fabricação, alguns grãos de austenita presentes no aço sofrem deformação, transformando-se nesta fase mais dura. Por microscopia ótica, não é possível distinguir a austenita da martensita, pois os detalhes são muito finos (Martins 2015) cabendo a outras técnicas tal identificação. Após o tratamento a laser, assim como para as amostras de aço DP600, são evidentes as diferenças microestruturais entre as regiões analisadas (Fig. 3a). Quando o material é aquecido a temperaturas maiores que a temperatura intercrítica de austenitização do aço (~800°C) (Nascimento Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 13-18, 2016 16 (a) ZTA MB AT MB ZTA (b) proporção de austenita que não se modificou, são expandidas, pelo crescimento de grãos, apresentando um formato acicular ou agulhar. Esta mudança microestrutural pode ser visualizada na Fig. 3b. (AT da amostra TRIP5). (a) MB ZTA AT (c) (b) (d) (c) Fig. 1. Microscopias da amostra DP5: a) visão panorâmica (barra de escala de 2000 μm); e a ampliação das áreas: b) AT; c) ZTA, e d) MB (barra de escala de 50 μm). Fig. 3. Microscopias da amostra TRIP5: a) visão panorâmica (barra de escala de 2000 μm); e a amplificação das áreas: b) AT e c) ZTA (barra de escala de 20 μm). Fig. 2. Microscopia do material base do aço TRIP750 (barra de escala 20 m), destacando suas fases de ferrita (azul), bainita (marrom), austenita e martensíta (branco). 2007), a maior parte da austenita retida (fase macia) é transformada em martensita (fase dura), devido ao resfriamento rápido. Nesta transformação, ilhas de martensita formadas, juntamente com a matriz ferrita-bainita e a Para o aço TRIP, o tratamento térmico, também provocou uma mudança na microestrutura na vizinhança da área tratada (Fig. 3b). De um modo geral, podemos concluir que, quanto maior o aporte térmico, ou seja, quanto maior a energia absorvida, mais significativas são as modificações na região tratada e maior será o calor propagado para fora da área tratada, aumentando, consequentemente, as dimensões das ZTA’s. 3.1 Microdureza Vickers Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 13-18, 2016 17 Como consequência das modificações microestruturais induzidas pelo tratamento a laser, o ensaio de microdureza Vickers revelou nitidamente o aumento das durezas das regiões AT e ZTA, comparativamente ao material base, em ambos os tipos de aço. As durezas médias das regiões não tradadas (material base) para os aços DP600 e TRIP750 foram de 200 e 240 HV, respectivamente, como mostra a Fig. 4. A amostra DP2, que não tinha apresentado variações significativas de microestrutura, também não apresentou variações de dureza ao longo da superfície. Por outro lado, as amostras DP5 e TRIP5, que sofreram as modificações microestruturais mais intensas, tiveram esse fato refletido nos valores de dureza, tanto na área tratada como na ZTA, chegando a durezas superiores a 300 e 540 HV, respectivamente. (a) (b) Fig. 4. curvas representativas de microdureza Vickers versus deslocamento para amostras de aço a) DP e b) TRIP. É interessante notar que o aço TRIP apresentou maior capacidade de sofrer alterações no tratamento térmico a laser. O mesmo valor de energia específica de 1,59 kJ/cm2, que não tinha produzido efeitos na amostra DP2, induziu alterações expressivas de microestrutura e dureza na amostra TRIP2. E, proporcionalmente, o aumento de dureza em relação ao MB foi sempre maior para as amostras TRIP. Isto pode ser explicado pela diferença na composição química dos aços. O aço TRIP possui maior quantidade de elementos de liga, o que influencia não só nas alterações e características das fases presentes no aço, como também na maneira como elas ocorrem (Anazawa 2007). 4. Conclusões Amostras de aços DP600 e TRIP750 foram tratadas termicamente a laser e as alterações microestruturais e de microdureza Vickers foram observadas. O aço TRIP apresentou maior susceptibilidade ao tratamento térmico, evidenciado pelas alterações microestruturais mais intensas e pelos valores de microdureza proporcionalmente maiores do que os equivalentes de aço DP, que receberam o mesmo valor de energia específica. Agradecimentos Ao PIBIC-PIBIT/IEAv-CNPq, pela iniciação científica concedida 145278/2015-8). bolsa de (processo Referências GORNI, A. A. Aços avançados de alta resistência: microestrutura e propriedades mecânicas. Corte e Conformação de Metais, p. 26-57, Dez. 2008. NIGRI, E. Aços usados na indústria automotiva. 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In-process hardening in laser supported incremental sheet metal forming. In: Merklein, M.; Hagenah, H. eds., Material Forming - ESAFORM 2012, PTS 1 & 2, Key Engineering Materials book series, volume 504-506, p. 827-832, 2012. ROSSINI, M.; RUSSO SPENA, P.; et al.. Investigation on dissimilar laser welding of advanced high strength steel sheets for the automotive industry. Materials Science & Engineering, v. A628, p. 288–296, 2015. STEEN, W. M. Laser material processing, Spring-Verlag Ltd., Germany, p.181, 1991. MARTINS, U. M. Estudo do Comportamento Mecânico de Aços TRIP Após Tratamento de Têmpera e Partição. Trabalho de Conclusão de Curso (bacharel em Engenharia Automotiva), Universidade Federal de Santa Catarina. Joinville. 2015. NASCIMENTO, M. V. C. Influência do ciclo térmico de austêmpera no comportamento mecânico do aço alto CSi-Mn-Cr com efeito TRIP. Dissertação (Mestrado em Engenharia Metalúrgica e de Minas), Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2007. ANAZAWA, R. M. Caracterização mecânica e microestrutural de um aço 300M com microestrutura multifásica. 2007, 194p. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, SP, 2007. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 13-18, 2016 19 APLICAÇÃO DE MATERIAIS INTELIGENTES NO PROJETO DE ENTRADA DE AR DO DEMONSTRADOR TECNOLÓGICO SCRAMJET 14-X S PARA VOO ATMOSFÉRICO A 30 KM DE ALTITUDE E VELOCIDADE CORRESPONDENTE A NÚMERO DE MACH 7 J. A. C. C. Pinto1*, I. S. Rêgo2, P. G. P. Toro2, M. A. S. Minucci2, F. J. Costa3 Projeto: PropHiper “Propulsão Hipersônica 14-X”. 1 Escola de Engenharia de Lorena – Departamento de Engenharia de Materiais, Lorena – SP. 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP. 3 Instituto Tecnológico de Aeronáutica – PG-CTE, São José dos Campos – SP. *[email protected] Resumo Veículos hipersônicos aeroespaciais podem operar ao longo de uma ampla faixa de condições de voo. Neste contexto, as entradas de ar de motores scramjet influenciam diretamente no desempenho global do motor. Com o aumento do número de Mach, a incidência da onda de choque oblíqua gerada no bordo de ataque do veículo, ocorre fora da carenagem do motor, fazendo-se necessário um sistema de geometria variável que permita a adaptação do motor scramjet aos diferentes ambientes operacionais enfrentados em seu voo, ou seja, fazer com que o bordo de ataque da carenagem possa recuar ou avançar e atender as condições de incidência da onda de choque oblíqua. Com isso, a alternativa consiste em empregar materiais inteligentes, as chamadas Ligas com Memória de Forma, no sentido de atender a adequação do bordo de ataque da carenagem do motor scramjet conseguindo uma máxima eficiência, sem comprometer a estrutura da carenagem do motor. Palavras-chave: Scramjet, Hipersônica, Ondas de choque, Materiais inteligentes. 1. Introdução No funcionamento ideal do motor scramjet, a onda de choque oblíqua deve incidir no bordo de ataque da carenagem, condição shock-on-lip, fazendo o escoamento (compreendido entre a onda de choque oblíqua e a superfície de deflexão) ser defletido para a câmara de combustão do motor scramjet, para melhor captura do ar atmosférico pelo motor. Mas, com a variação do número de Mach (aceleração ou desaceleração do veículo), a incidência da onda de choque oblíqua acaba atingindo diferentes lugares na carenagem, como é mostrado na Fig. 1, com a variação de número de Mach de 7 a 12. Fig. 1. Incidência da onda de choque oblíqua para números de Mach 7 a12 (Barón 2014). Por esse motivo, é necessário o emprego de materiais inteligentes que permita a adaptação do motor scramjet aos diferentes envelopes de voo, fazendo com que o bordo de ataque da carenagem possa recuar ou avançar e atender à condição de shock-onlip. Essa adaptação seria de grande valor para o funcionamento ideal do motor scramjet. Dessa maneira, o emprego de materiais inteligentes, chamados de Liga de Memória de Forma, o qual tem a capacidade de recuperar sua forma original mesmo após sofrerem deformações elásticas relativamente grandes assim que a carga é removida ou o material é aquecido, através de transformações de fase induzidas no material, retornando a sua forma inicial, proporcionam a incidência correta das ondas de choque no bordo de ataque da carenagem e na entrada da câmara de combustão, isso consequentemente conduz a uma maior eficiência de captura do motor scramjet. 2. Metodologia Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 19-23, 2016 20 2.1 Projeto do Demonstrador Tecnológico 14-X Tendo como base o ponto de projeto do Demonstrador Tecnológico 14-X S, como sendo um voo atmosférico a 30 km de altitude e velocidade correspondente a número de Mach 7, foi feita uma análise teórico-analítica da aerodinâmica que com isso, permitiu conhecer os ângulos das ondas de choque oblíquas em função dos diferentes números de Mach no voo do 14-X S, e consequentemente as coordenadas de incidência da onda de choque na carenagem do motor scramjet, e, por conseguinte, pôdese determinar a variação geométrica necessária que o material deverá sofrer em atenção à incidência das ondas de choque oblíquas no bordo de ataque da carenagem do motor scramjet. Essa variação geométrica será solucionada com a aplicação desses materiais inteligentes com o efeito de memória de forma, que irá atender a adequação do bordo de ataque da carenagem do motor scramjet, sem comprometer os requisitos termoestruturais, sendo capaz de suportar as elevadas temperaturas e pressões dinâmicas durante o voo atmosférico a 30 km de altitude com número de Mach 7-12. 2.2 Materiais Inteligentes Foram feitas pesquisas bibliográficas e análises sobre o funcionamento das ligas de memória de forma, com base nos trabalhos de Hodgson (1990) e Fernandes (2003). Materiais com memória de forma demonstram a habilidade de retornar para um tamanho ou forma previamente definido quando submetidos a um procedimento termomecânico apropriado, ou seja, memória de forma é a capacidade que alguns materiais têm de recuperar sua forma original mesmo após sofrerem deformações relativamente grandes, e assim que a carga é removida ou o material é aquecido, retorna a forma inicial. Essa memória de forma do material que permite voltar ao estado inicial é vista na microestrutura do material, ou seja, através de transformações de fase induzidas, o que provoca a mudança na estrutura cristalina. Baseando-se nos referentes trabalhos Castilho (2011) e Fernandes (2003) pode-se compreender que as ligas com memória de forma apresentam duas fases cristalográficas distintas: a Austenita (A) e a Martensita (Mt). A Austenita é a fase em temperaturas altas e com a estrutura cristalina cúbica, a qual é a fase mãe, e a Martensita é a fase em temperaturas baixas e com a estrutura cristalina monoclínica, que pode ser Martensita twinned (formada somente através da variação da temperatura) e a Martensita detwinned (quando a Martensita é induzida por tensão, ou por tensão e temperatura). Essa transição de fase pode ser feita aplicando carga ou variando a temperatura. O ciclo de resfriamento/aquecimento da liga mostra uma histerese térmica, o qual o material ou o sistema tende a conservar suas propriedades, na ausência de um estímulo que as gerou. Com a variação da temperatura têm-se quatro valores na estrutura da liga: a finalização da transformação martensítica (Mtf), a inicialização da transformação martensítica (Mts), inicialização da transformação austenítica (As) e a finalização da transformação austenítica (Af), originando o efeito memória de forma, como ilustrado na Fig. 2. Fig. 2 Esquema variação da temperatura na transformação fase. Também pode ocorrer a transformação de fase quando se aplica uma carga mecânica no material na fase Martensita twinned (a baixa temperatura), ocorrendo uma deformação e com o aquecimento acima da Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 19-23, 2016 21 temperatura Af (Austenita final), o material recupera sua forma original de fase austenita, como podemos verificar na Fig. 3. comprimento (L), de acordo com a variação do número de Mach (M). Em seguida, com essas variações de comprimento (L) já obtidas, foi encontrada a deformação (ε), e para calcular a deformação foi utilizada a equação: (1) Fig. 3 Esquema de variação de temperatura e aplicação de carga na transformação de fase. Após o entendimento dos materiais com o efeito de memória de forma, foi feita uma análise teórica nos trabalhos de Firstov (2003) e de Hsieh (1998), onde encontrou-se algumas ligas que possuem esse efeito, e após uma revisão bibliográfica das ligas existentes, foram encontradas algumas ligas com o efeito de memória de forma, tais como, a liga Níquel – Titânio (Ni-Ti), a liga Cobre – Zinco – Alumínio (Cu-Zn-Al), a liga Cobre – Alumínio – Níquel (Cu-Al-Ni), a liga Titânio – Níquel – Háfnio (Ti-Ni-Hf) e a liga de Titânio – Níquel – Zircônio (Ti-NiZr). 2.3 Modelagem aero-estrutural Com o auxílio do software HAP (Hypersonic Airbreathing Propulsion), pode-se fazer um estudo aerodinâmico no ponto de projeto, onde foram encontrados os ângulos das ondas de choque com a variação do número de Mach de 7 a 12. Logo após, foi utilizado o software Autodesk Inventor, com os ângulos já encontrados anteriormente, foi possível encontrar o ponto de incidência da onda de choque na carenagem do motor scramjet, do veículo 14-X S, obtendo o comprimento entre os pontos de incidência para os números de Mach em questão. Após esses dados coletados, foi possível fazer uma modelagem para as ligas com o efeito de memória de forma, sendo baseado no trabalho de Anadón (2002), em que esta metodologia foi aplicada posteriormente para a liga. Com esses comprimentos medidos pelo programa Autodesk Inventor, foram encontradas as variações de Com a deformação encontrada, pôde-se encontrar a tensão, conforme equação abaixo: (2) onde, E é o módulo de elasticidade. Logo, para encontrar a força para a deformação da liga, utiliza-se a equação 3: (3) onde, A é a área da carenagem, o qual é correspondente a 1530 mm2. Com a força necessária para causar a deformação do material, de acordo com uma determinada variação do número de Mach, é selecionado o material (na fase martensitadeformada) da carenagem do scramjet. Com isso, ao longo da trajetória de voo, onde ocorrerão variações do número de Mach, a temperatura e pressão podem aumentar ou diminuir fazendo com que o material retorne a sua dimensão inicial (fase austenita), consequentemente fazendo com que as ondas de choque incidam perfeitamente no bordo de ataque. 3. Resultados e Discussão Durante o voo, o veículo hipersônico é exposto a condições severas, com isso a liga que será aplicada na carenagem do motor scramjet deverá apresentar propriedades que atendam a essas condições. Entretanto, após uma revisão bibliográfica de diversas ligas como Níquel – Titânio (Ni-Ti), a liga Cobre – Zinco – Alumínio (Cu-Zn-Al), a liga Cobre – Alumínio – Níquel (Cu-Al-Ni), a liga Titânio – Níquel – Háfnio (Ti-Ni-Hf) e a liga de Titânio – Níquel – Zircônio (Ti-NiZr), a liga que mais se enquadrou e demostrou melhores propriedades foi a Titânio – Níquel – Zircônio (Ti-Ni-Zr), pois possui a maior temperatura de transformação de fase, mostrado na Tab. 1, sendo este um Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 19-23, 2016 22 dos principais requisitos a ser obedecidos devido as elevadas temperaturas enfrentadas durante o voo. Para que ocorra o efeito de memória de forma, o requisito de temperatura pode ser melhorado com a ajuda de um sistema de arrefecimento na carenagem do motor scramjet. Tab. 1 Temperaturas de transformação de fase da liga Ti-Ni-Zr Fase do material Martensita inicial Martensita final Austenita inicial Austenita final Temperatura de transformação (K) 490 410 470 550 Com a análise do sistema de modelagem de Anadón (2002) da liga de memória de forma, foram feitos cálculos e encontradas as tensões e consequentemente a força que será aplicada no material para deformá-lo e utilizá-lo no motor scramjet. Foram calculados de acordo com o número de Mach 7 até 12, onde o último representa o menor comprimento inicial da carenagem, que é igual a 265 mm, sendo esta a dimensão original da carenagem. A Fig.4 mostra as localizações da incidência das ondas de choque na carenagem do motor scramjet, para vários números de Mach enfrentados durante o voo. () encontradas, utilizou-se a equação 3 para encontrar a força a ser aplicada nas ligas, com a área constante da carenagem igual a 1530 mm2. Dessa forma, aplicou-se para a liga Titânio – Níquel – Zircônio (Ti-Ni-Zr) já escolhida anteriormente o processo acima descrito, com o módulo de elasticidade (E) dessa liga, achou-se a tensão (), logo com a tensão () encontrada, utilizou-se a equação 3 para encontrar a força a ser aplicada na liga para deformá-la. Com a carenagem deformada e com a elevação da temperatura, durante o voo, acontecerá o efeito memória de forma resultando na variação do comprimento da carenagem, o qual dará a incidência da onda de choque no bordo de ataque, resultando em uma maior eficiência do motor scramjet. Para liga Ti-Ni-Zr, com módulo de elasticidade (E) igual a 53 GPa, os resultados encontrados nos cálculos para a deformação seguem abaixo. Tab. 2 Variações dos comprimentos da carenagem. Mach L[mm] 5,30 3,98 3,08 2,50 1,82 7-8 7-9 7-10 7-11 7-12 Tab. 3 Variação número de Mach, deformação, tensão e força, considerando Ti-Ni-Zr. Fig.4 Localização das ondas de choque incidindo na carenagem do scramjet. A Tab. 2 mostra as variações dos comprimentos da carenagem de acordo com o programa Autodesk Inventor. Com a variação do número de Mach, a variação do comprimento (L) da carenagem, foram encontradas as deformações (ε) de acordo com a equação 1, a qual irá variar com o número de Mach. Com o módulo de elasticidade (E) de cada liga, achou-se a tensão () através da equação 2. De posse dos valores das tensões Mach 7-8 8-9 9-10 10-11 11-12 0,0188 0,0144 0,0113 0,0093 0,0068 [GPa] 0,999 0,763 0,600 0,492 0,360 F [N] 1,5285x106 1,1677x106 0,9183x106 0,7529x106 0,5508x106 4. Conclusões Com base nos resultados das pesquisas, pode-se chegar à conclusão de que a escolha da liga de memória de forma para a aplicação no projeto de entrada de ar do Demonstrador Tecnológico scramjet 14-X S para voo atmosférico a 30 km de altitude e velocidade correspondente a número de Mach 7 deverá ser muito criteriosa, devido às condições severas a qual será exposta Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 19-23, 2016 23 durante a trajetória do voo. Por isso deve ser levada em conta a temperatura de transformação de fase da liga, suas propriedades físicas e mecânicas, juntamente com um bom sistema de arrefecimento no motor scramjet para poder obter o efeito da liga aplicada, e assim, chegar ao resultado esperado. Consequentemente, a liga que apresenta propriedades para que possa atender melhor as condições de voo e, com isso, após sua aplicação poderá aumentar a eficiência do motor scramjet, sem comprometer a estrutura da carenagem, é a liga Titânio – Níquel – Zircônio (Ti-Ni-Zr), onde diversos testes deverão ser conduzidos para diferentes envelopes de voo para confirmar a eficiência desta liga. HODGSON D. E; WU M. H.; BIERMANN R. J. Shape Memory Alloys, Metals Handbook. Vol. 2. p. 897-902, 1990 HSIEH, S. F., Wu,S. K., A study on ternary Ti-rich TiNiZr Shape Memory Alloys, Institute of Materials Science and Engineering, National Taiwan University, Taipei, Taiwan, Republic of China, 1998. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro, ao Instituto de Estudos Avançados (IEAv) e a Universidade de São Paulo (USP) pela infraestrutura e oportunidade. Referências ANADÓN, J. R. S. Large force shape memory alloy linear actuator, A thesis presented to the Graduate School of The University Of Florida in partial fulfillment of requirements for the degree of Master Of Science, University Of Florida, Florida, 2002. BARÓN, I. F. R. Experimental Investigation of the Scramjet Demonstrator 14-X B with Mach Number of 6 to 12 in the Hypersonic Shock Tunnel. 2014. 148f. Dissertation of Master in Science. Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil. CASTILHO, W. S.; SILVA, E. P. Algumas aplicações das ligas com memória de forma Shape Memory Alloys – SMA, São Paulo-SP, 2011. FERNANDES, F. M. B. Ligas com memória de forma. Departamento de Ciência dos Materiais/ CENIMAT, Universidade Nova de Lisboa, 2003. FIRSTOV, G. S.; VAN HUMBEECK, J., KOVAL, Y.N. High-temperature shape memory alloys Some recent developments, Materials Science and Engineering, 20 June 2003 Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 19-23, 2016 24 APLICAÇÃO DE RRT* AO PLANEJAMENTO AUTOMÁTICO DE ROTAS DE NAVEGAÇÃO PARA VANTS L. M. Silva1*, M. M. De Marchi2, F. L. L. Medeiros2 1 Universidade Federal de São Paulo – Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos - SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geointeligência, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Este trabalho aborda o planejamento automático de rotas de navegação para Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs), com um ambiente de navegação definido por um modelo digital de elevação. Uma rota de navegação é a estrutura através da qual uma trajetória segura e dinamicamente viável é criada por meio das restrições cinemáticas e dinâmicas do VANT. Rotas de navegação podem ser planejadas através da aplicação de métodos de busca em grafos. O objetivo deste trabalho é a aplicação do algoritmo RRT*, no problema de planejamento de rotas mencionado. Rotas planejadas pelo algoritmo RRT* são comparados com uma rota planejada com a aplicação do algoritmo RRT e do algoritmo Dijkstra, considerando amostragens do mesmo ambiente de navegação, representadas por um grafo de visibilidade. Palavras-chave: Árvores aleatórias de rápida exploração, Planejamento automático de rotas, Modelos digitais de elevação. 1. Introdução Um dos principais focos das pesquisas relacionadas a Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) é o aumento de autonomia destes veículos, que consiste na diminuição do grau de dependência do VANT de operadores, transferindo parte do processo de tomada de decisão do operador para o próprio veículo. O cálculo ou planejamento automático de rotas de navegação é essencial para a implementação da maioria das novas capacidades pretendidas com o aumento da autonomia de VANTs. Uma rota de navegação para um VANT é a estrutura através da qual uma trajetória segura e dinamicamente viável é criada por meio das características cinemáticas e dinâmicas do veículo (Medeiros, 2010). Uma rota é transformada em uma trajetória de navegação através da aplicação de métodos de suavização como, por exemplo, as curvas de Dubins e as curvas de hodógrafos de Pitágoras. Rotas de navegação podem ser planejadas através da aplicação de métodos de busca em grafos como, por exemplo, o algoritmo Dijkstra (Dijkstra, 1959). Estes grafos são constituídos por nós, que são posições de navegação obtidas por amostragens das regiões navegáveis de um ambiente de navegação. Grafos de visibilidade, roadmaps e diagramas de Voronoi generalizados são exemplos destes grafos. Árvores aleatórias de rápida exploração (Lavalle, 2006), tradução de Rapidlyexploring Random Trees (RRTs), são métodos que vêm sendo utilizados no planejamento automático de rotas. 2. Metodologia Nesta seção serão apresentados os métodos RRT e RRT*, as estruturas de dados desenvolvidas para o método RRT* e a adaptação deste método para o planejamento de rotas. 2.1 Método RRT Uma RRT é uma combinação de um grafo na forma de uma árvore, com um método simplificado de busca. O algoritmo para o planejamento de rotas através de uma RRT é apresentado na Tab. 1. O nó raiz da árvore é a posição inicial da rota a ser planejada. O funcionamento consiste em expandir a árvore de modo aleatório do nó raiz até que uma de suas ramificações alcance uma posição final. Como cada nó possui informação de seu nó antecessor, a rota é traçada desta posição até a posição de origem e depois invertida. No algoritmo de planejamento de rota utilizando o método RRT: G é o grafo que representa a árvore RRT; qinit é uma posição Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 24-29, 2016 25 que corresponde à raiz da árvore; qrand é uma posição gerada aleatoriamente no espaço C; qnear é o nó da árvore mais próximo da posição qrand; qnew é um novo nó da árvore gerado no segmento de reta que une qnear a qrand, e cuja distância em relação a qnear é igual a Δq; RAND_CONF é uma função que gera aleatoriamente uma posição contida no espaço C, tal que o segmento de reta qnearqnew não deve interceptar qualquer obstáculo contido em C; NEAREST_VERTEX é uma função que retorna o nó qnear mais próximo de qrand; e NEW_CONFIG é uma função que gera qnew seguindo as restrições descritas anteriormente. uma melhoria em relação à RRT. Essa melhoria consiste em buscar, a cada iteração, uma rota de menor extensão entre o novo nó qnew e qinit através da árvore existente. Com isso, há uma maior probabilidade das rotas de navegação, planejadas através de uma RRT*, apresentarem extensão inferior que as rotas planejadas através de uma RRT padrão/clássica (Karaman e Frazzoli, 2011). Tab. 1. Algoritmo RRT para o planejamento de rotas. Etapas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 Descrição inserir a raiz qinit na árvore G s←0 enquanto s = 0 faça qrand ← RAND_CONFIG(C) qnear ← NEAREST_VERTEX(qrand,G) qnew ← NEW_CONF(qnear, ∆q) se qnear qnew não intercepta qualquer obstáculo faça inserir o nó qnew na árvore G inserir a aresta que une qnear a qnew na árvore G antecessor(qnew) ← qnear se ( d qnew , qdest l d e ( qnewqdest não intercepta qualquer obstáculo) ) faça inserir o nó qdest na árvore G inserir a aresta que une qnew a qdest na árvore G antecessor(qdest) ← qnew s←1 q ← qdest enquanto q qinit faça armazenar q na pilha R, que representa a rota planejada q ← antecessor(q) se q = qinit faça armazenar q na pilha R Um exemplo de rota planejada com uma RRT é apresentado na Fig. 1. Nesta figura, as RRTs são apresentadas na cor cinza e os obstáculos à navegação são apresentados na cor preta. 2.1 Método RRT* Em (Karaman e Frazzoli, 2011) foi proposta a RRT*, termo que deve ser pronunciado “RRT estrela”, que apresenta Fig. 1. Exemplo de uma rota de navegação planejada através de uma RRT. Fonte: (Silva, 2015). No método RRT*, cada novo nó qnew tem como antecessor um nó qmin da árvore. Este nó qmin corresponde a um nó dentro de uma região V(qnew,r(nv)) em torno do nó qnew, tal que a extensão da rota do nó raiz qinit até qnew, passando por qmin, é a menor dentre todos os nós pertencentes a V(qnew,r(nv)). Cada nó vj de V(qnew,r(nv)), que possui uma rota até o nó qinit com extensão superior à extensão da rota entre qinit e vj, passando por qnew, tem o seu nó antecessor substituído por qnew. Quando ocorre essa substituição, todos os nós sucessores de vj têm as extensões de suas rotas até qinit atualizadas. Com esse procedimento de atualização, a RRT* procura, a cada iteração, criar ramificações com a menor extensão possível em relação ao nó raiz da árvore. O algoritmo correspondente ao método RRT* é apresentado na Tab. 2. O parâmetro β é uma constante utilizada para definir o raio r(nv) da vizinha do nó qnew. Através de uma análise da equação da Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 24-29, 2016 26 linha 9, pode-se verificar que o valor de r diminui à medida que o número de nós/vértices (nv) da árvore aumenta. Esse fato pode ser observado no gráfico da Fig. 2. A diminuição é mais acentuada no início do processo e vai se tornando menos acentuada com o aumento de nv. O intuito dessa formulação é permitir uma maior atualização de vizinho de qnew no início do processo de construção da árvore. A vizinhança de qnew vai sendo reduzida à medida que a árvore é expandida, isto é, à medida que aumenta a expectativa de que o próximo nó qnew seja criado a uma distância inferior ou igual a ld, que é a condição de parada do algoritmo. Assim, o controle da variação do tamanho da vizinha de qnew é feito através do parâmetro β. Tab. 2. Algoritmo planejamento de rotas. Etapas 1 2 3 4 5 6 7 8 16 9 10 11 12 13 14 15 16 12 r 10 19 6 4 2 0 1 141 281 421 561 701 841 981 1121 1261 1401 1541 1681 1821 1961 número de nós Fig. 2. Variação de r(nv) para β=100. Algumas etapas do algoritmo RRT* são exemplificadas na Fig. 3. A etapa da Fig. 3a corresponde à parcela do algoritmo delimitada pelas linhas 9 e 14. A etapa da Fig. 3b corresponde à parcela do algoritmo delimitada pelas linhas 15 e 22. A etapa da Fig. 3c corresponde à parcela do algoritmo delimitada pelas linhas 23 e 27. A etapa da Fig. 3d é o resultado final das etapas anteriores. 2.2 Ambiente de navegação Neste trabalho, cada espaço C é a representação computacional bidimensional de um ambiente de navegação, que é delimitado por duas posições geográficas: a primeira posição inferior à esquerda (posição delimitadora inicial); e a última posição superior à direita (posição delimitadora final). Foi utilizado um ambiente definido pelo modelo digital de elevação apresentado na Fig. 4, que usa o datum WGS84 (World Geodetic System, o Descrição inserir a raiz qinit na árvore G nv ← 1 s←0 enquanto s = 0 faça qrand ← RAND_CONFIG(C) qnear ← NEAREST_VERTEX(qrand,G) qnew ← NEW_CONF(qnear, ∆q) se q q não intercepta qualquer obstáculo near 14 8 para new faça 17 18 18 RRT* 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 r nv ← log nv nv para cada nó qi da árvore G faça se distância(qi,qnew) r(nv) faça inserir o nó qi na lista V(qnew, r(nv)) de nós vizinhos de qnew inserir o nó qnew na árvore G nv ← nv + 1 qmin ← qnear cmin ← extensão_rota(qinit,qnear) + distância(qnear,qnew) para cada nó vj da lista V(qnew, r(nv)) faça se ((extensão_rota(qinit,vj) + distância(vj,qnew)) < cmin) e ( v j qnew não intercepta qualquer obstáculo) faça cmin ← (extensão_rota(qinit,vj) + distância(vj,qnew)) qmin ← vj inserir a aresta que une qmin a qnew na árvore G antecessor(qnew) ← qmin para cada nó vj da lista V(qnew, r(nv)) faça se ((extensão_rota(qinit,qnew) + distância(qnew,vj)) < (extensão_rota(qinit,vj)) e ( qnewv j não intercepta qualquer obstáculo) faça extensão_rota(qinit,vj) ← (extensão_rota(qinit,qnew) + distância(qnew,vj)) antecessor(vj) ← qnew atualizar as extensões das rotas entre qinit e todos os sucessores de vj se ( d qnew , qdest ld e ( qnewqdest não intercepta qualquer obstáculo) ) faça inserir o nó qdest na árvore G inserir a aresta que une qnew a qdest na árvore G antecessor(qdest) ← qnew s←1 q ← qdest enquanto q qinit faça armazenar q na pilha R, que representa a rota planejada q ← antecessor(q) se q = qinit faça armazenar q na pilha R Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 24-29, 2016 27 Fig. 4. (a) Modelo digital de elevação e (b) ambiente de navegação criado através do modelo de elevação, considerando uma altitude de 1200 metros. Fig. 3. Etapas do algoritmo RRT*: (a) criação da vizinhança de qnew (V(qnew,r(nv))); (b) determinação de qmin; (c) substituição do nó antecessor de vj por qnew, quando a rota entre qinit e vj passando pelo seu antecessor por maior que a rota entre qinit e vj passando por qnew; e (d) árvore atualizada após a inserção de qnew. 1997) como modelo matemático teórico da representação da superfície da Terra. Todos os ambientes de navegação são matrizes binárias, em que as células com valor 1 indicam obstáculos à navegação do veículo. No ambiente de navegação da Fig. 4b, os obstáculos são definidos considerando uma altitude de corte de 1200 m. Isto significa que toda célula do modelo digital de elevação com valor superior ou igual a 1200 m corresponde a uma célula obstáculo do ambiente de navegação. Deste modo, na utilização deste ambiente para o planejamento de rotas para um VANT, a altitude de navegação do VANT pode ser especificada como sendo igual a soma da altitude de corte com uma altura de segurança. Este ambiente de navegação é uma matriz quadrada de ordem 1201. Cada célula corresponde a uma região real com 90 m de largura por 90 m de comprimento. O ambiente de navegação é delimitado pelas posições geográficas lat inf , long inf 22.994583,45.99875 e latsup, long sup 22.000417,45.002917 3. Resultados e Discussão O algoritmo RRT* foi implementado na linguagem de programação C. Um conjunto de experimentos de planejamento de rotas foi realizado com a aplicação dessa implementação do RRT*. Os experimentos foram feitos considerando-se ∆q definido por q plong final long inicial (1) Em que: p 0,1 é uma porcentagem; longinicial e longfinal são, respectivamente, a menor e a maior longitude do ambiente de navegação. Há uma tendência da redução de Δq causar a redução da extensão da rota (Silva, 2015). Alguns resultados da aplicação de RRT* ao planejamento automático de rotas, no ambiente de navegação, descrito na Seção 2.2., são apresentados na Fig. 5. Nesta figura, os obstáculos são representados pelos polígonos na cor preta. A RRT* é apresentada na cor cinza e as rotas indicadas na cor vermelha. As rotas planejadas e apresentadas na Fig. 6 possuem as seguintes extensões, numero de nós e tempo gasto: rota da Fig. 5a com extensão de 274490.46 metros, 286 nós e 19.5 segundos; rota da Fig. 5b com extensão de 237958.67 metros, 175 nós e 13.27 segundos; rota da Fig. 5c com extensão de 227192.63 metros, 41 nós e 20.8 segundos; rota da Fig. 5d com extensão de 225614.28 metros, 18 nós e 86.4 segundos. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 24-29, 2016 28 (a) (b) meio do método RRT*. A diminuição da extensão da rota em relação ao aumento do parâmetro β é mais acentuada nos β próximos a 0 e a variação vai se tornando menos acentuada com o aumento de β. Esse fato pode ser observado no gráfico da Fig. 6. O aumento do parâmetro β aumenta o numero de operações por iteração aumentando o tempo gasto no planejamento da rota. Esse fato pode ser observado no gráfico da Fig. 7. Fig. 6. Extensão da rota, em metros, e o valor do parâmetro β. (c) Fig. 7. Tempo gasto para construir a rota, em segundos, e o valor do parâmetro β. (d) Fig. 5. Rotas planejadas com RRT*, considerando: (a) β = 5 (b) β = 15 (c) β = 30 (d) β = 100. Durante os experimentos manteve-se a mesma sequência de números aleatórios e variou-se o parâmetro β para mostrar seu efeito na extensão da rota construída por Uma maneira de analisar o comprimento de uma rota entre duas posições de um ambiente de navegação é compará-la com o comprimento da rota de menor extensão possível planejada entre as mesmas posições. A rota de menor comprimento possível é denominada solução ótima do problema de planejamento de uma rota entre duas posições de um ambiente de navegação. Um meio de calcular a solução ótima deste problema é a combinação do algoritmo de Dijkstra (Dijkstra, 1959) com grafos de visibilidade (Medeiros, 2012). O algoritmo Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 24-29, 2016 29 de Dijkstra é um método que permite a solução ótima do problema de menor caminho ou rota entre dois nós de um grafo. Um grafo de visibilidade consiste em uma amostragem das regiões navegáveis de um ambiente de navegação. Comparações entre as extensões das rotas planejadas pelos método RRT; RRT simplificada (Silva, 2015); RRT*, com β=30; e Dijkstra/Grafo de visibilidade são apresentadas na Tab. 3. Tab. 3. Sumário dos resultados obtidos. Algorítmo Extensão (m) Tempo (s) RRT RRT (simplificada) RRT* Dijkstra 316775.0 236724.7 227192.6 222818.5 5.66 5.85 20.8 301.7 Comparando as rotas planejadas pelas RRT* com a solução ótima planejada pela combinação Dijkstra/grafo de visibilidade, pode-se perceber que as RRTs são uma interessante alternativa para o problema de replanejamento de rotas quando há alteração do ambiente de navegação, isto é, quando há a necessidade da aquisição de uma nova amostragem das regiões navegáveis do ambiente. Apesar de não garantirem a solução ótima, permitem o planejamento de rotas em tempo expressivamente inferior que o tempo necessário para o planejamento através da fusão Dijkstra/grafo de visibilidade, considerando o custo de construção do grafo de visibilidade. 4. Conclusões Através dos resultados apresentados na Seção 3, verifica-se que é possível planejar rotas de navegação para VANTs através da aplicação de RRT* com extensão inferior que as rotas planejadas através de uma RRT padrão com ambientes de navegação definidos por modelos digitais de elevação. Embora uma RRT* não assegure o planejamento de rotas com a menor extensão possível, ela pode ser utilizada de modo satisfatório para o replanejamento de trajetórias, quando há remodelagem do ambiente de navegação. Assim, pode-se concluir que o objetivo deste trabalho foi alcançado. Como trabalhos futuros, serão utilizados outros ambientes de navegação definidos por diferentes modelos digitais de elevação e por diferentes configurações de altitudes de navegação e de alturas de segurança. Agradecimentos Ao PIBIC/CNPq pela bolsa de IC do aluno Lucas Masiero Silva. Referências DIJKSTRA, E. A note on two problems in connection with graphs. Numerische Mathematik, v. 1, p. 269–271, 1959. KARAMAN, S, FRAZZOLI, E. Samplingbased algorithms for optimal motion planning. The International Journal of Robotics Research, v. 30, n. 7, p. 846-894, 2011. LAVALLE, S. Planning algorithms. New York: Cambridge University Press, 842 p., 2006. MEDEIROS, F. L Planejamento de trajetórias para veículos aéreos não tripulados usando modelagem computacional de ambientes de navegação através de grafos de visibilidade e modelos digitais de elevação. Tese de doutorado do curso de Computação Aplicada do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 238p, 2012. MEDEIROS, F.; SILVA, J. A Dijkstra algorithm for fixed-wing UAV motion planning based on terrain elevation. In: Advances in artificial intelligence. Heidelberg: Springer, 2010. Cap. 5, p. 213222. SILVA, L. M. et al. Planejamento Automático De Rotas De Navegação Para Vants Através De Árvores Aleatórias De Rápida Exploração E Modelos Digitais De Elevação. In: Anais do IV Simpósio de Ciência e Tecnologia do IEAv, v. 4, p. 1823, 2015. UNITED STATES, Department of Defense World Geodetic System 1984. TR8350.2: Its Definition and Relationships With Local Geodetic Systems, 3rd Ed., Jul. 1997. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 24-29, 2016 30 ARRASTO DE ONDA DO VEÍCULO HIPERSÔNICO 14-X BS NIVELADO A MACH 7 E ALTITUDE DE 30 KM: MODELAGEM PRELIMINAR E. D. C. C. Nascimento1, I. S. Rêgo2* Projeto: “Propulsão Hipersônica 14-X” (PropHiper) 1 Universidade Federal do ABC – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplic., Santo André - SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo O Instituto de Estudos Avançados está desenvolvendo um veículo aeroespacial, denominado 14-X BS para estudo e demonstração da tecnologia scramjet de propulsão aspirada hipersônica. Este trabalho versa sobre considerações teóricas para o cálculo da força de arrasto de onda gerada pelo veículo e seu motor. Também é apresentado um algoritmo preliminar para um software capaz de prever, analiticamente, a disposição de ondas de choque/expansão em seu propulsor; as propriedades aerotermodinâmicas entre elas; e, consequentemente, as forças de arrasto de onda geradas. Através deste trabalho, viabiliza-se o aprofundamento do estudo das forças de arrasto de onda atuantes no veículo, colaborando para o refinamento de seu sistema de propulsão. Palavras-chave: 14-X BS, Scramjet, SCTI, Arrasto, Hipersônica, Aerotermodinâmica. 1. Introdução O setor espacial internacional tem apresentado uma crescente tendência ao desenvolvimento de tecnologias de acesso ao espaço e de arquiteturas de missão que sirvam como alternativas mais seguras e mais econômicas do que aquelas fornecidas por foguetes convencionais, como pode-se observar pela ascensão de projetos como o estágio reutilizável do veículo Falcon 9, da empresa SpaceX (SpaceX, 2015), e o protótipo indiano RLV-TD de aeroespaçonave reutilizável (ISRO 2016). Para encontrar este desafio e obter posições de vanguarda tecnológica no setor, a Força Aérea Brasileira, por meio do seu Instituto de Estudos Avançados, tem trabalhado na viabilização de tecnologias que possam ser empregadas em possíveis veículos aeroespaciais reutilizáveis, que utilizem o próprio ar atmosférico como oxidante para impulsionar seus motores e sejam capazes de realizar voos suborbitais hipersônicos. Para tanto, faz-se necessário demonstrar a viabilidade de tais tecnologias, via testes em solo, análises teórico-computacionais e ensaios em voo. Com isto em mente, concebeu-se o projeto do Veículo Hipersônico Aeroespacial 14-X: uma plataforma de demonstração tecnológica, que utiliza motores scramjet como seu sistema propulsivo. (Nascimento 2013). Uma das principais fases deste projeto consiste no desenvolvimento de um modelo de testes, denominado VHA 14-X BS (Fig. 1), com o principal objetivo de estudar e demonstrar - em condições de voo nivelado de cruzeiro - o comportamento do escoamento em função da geometria da aeroespaçonave, incluindo o estudo da geração de ondas de choque/expansão em seu scramjet e a consequente variação de suas propriedades aerotermodinâmicas. Fig. 1. Concepção do VHA 14-X BS, após separação do último estágio. Fonte: (Cardoso 2012). Este modelo do veículo possui dois scramjets em configuração espelhada (Ver Fig. 2) para que o ar escoe paralelamente a sua fuselagem - sem gerar sustentação aerodinâmica - sendo comprimido e aquecido em direção aos combustores pelas ondas de choque geradas nas duas rampas de compressão da entrada de ar e refletidas no bordo de ataque da carenagem. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 30-35, 2016 31 Fig. 2. Esquematização em corte transversal das ondas de choque iniciais e das linhas de corrente no 14-X BS. Fonte: Adaptado de (Cardoso, 2012). Esta geometria, visa obedecer à chamada condição shock-on-lip-on-corner (Cardoso 2012), para evitar a formação de gradientes de pressão adversos que seriam gerados na entrada de ar, caso houvesse reflexão descontrolada destas ondas. O presente trabalho tem como objetivo propor uma modelagem teórico-analítica e computacional preliminar que viabilize a previsão da disposição de ondas de choque/expansão ao longo do scramjet e do leque de expansão da tubeira, assim como o cálculo da força de arrasto de onda gerada pelo modelo 14-X BS, sob condições de voo nivelado de cruzeiro a 30 km de altitude e velocidade correspondente a Mach 7. Através da pesquisa sendo aqui desenvolvida, em conjunto a outros trabalhos em andamento no IEAv, busca-se determinar o arrasto total gerado no 14-X BS, o que permitirá calcular o empuxo necessário ao seu sistema de propulsão, durante voo nivelado de cruzeiro, e refinar o dimensionamento da aeroespaçonave. 2. Metodologia Para a determinação das relações matemáticas obtidas neste estudo, considerou-se um escoamento quasiunimensional isentrópico e compressível (Anderson 2011), por entender que as variações das propriedades aerotermodinâmicas nas direções ortogonais ao escoamento são muito pequenas quando comparadas aos gradientes paralelos a ele. O presente tratamento matemático também considera um escoamento em regime permanente, composto por gás caloricamente perfeito, cuja direção tangencial de sua velocidade é sempre paralela à fuselagem e, concomitantemente, ajustada à deflexão causada por ondas de choque/expansão. Além disso, entende-se também que quaisquer componentes ortogonais de velocidade em relação a sua componente tangencial não geram momentum no escoamento (Anderson 2011). Ademais, sendo o arrasto de onda o objeto deste estudo, o presente trabalho desconsidera efeitos de arrasto de pressão e de arrasto de atrito, eventualmente causados pela formação de camada limite (White 2011). Logo, adotou-se a simplificação de região não-viscosa para todo o escoamento. O tratamento matemático realizado neste estudo reconhece o ganho de entropia pelo escoamento na região interna das ondas de choque/expansão. Contudo, a interação do escoamento com esta região não influencia as relações matemáticas encontradas para correlacionar as propriedades aerotermodinâmicas antes e depois de cada onda (Anderson 2011). Por fim, considera-se que os ângulos entre as rampas do 14-X BS são pequenos suficientes (Cardoso 2012) para não gerar destacamento das ondas de choque/expansão. Portanto, o escoamento flui sobre a geometria do veículo através de uma série de ondas de choque oblíquo e ondas de expansão, em acordo com a “Teoria de Choque-Expansão” para aerofólios supersônicos (Anderson 2011). Salienta-se que esta modelagem preliminar ainda não considera efeitos de adição de calor, causados pela combustão supersônica no scramjet do veículo. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 30-35, 2016 32 A seguir são apresentadas as principais relações matemáticas deduzidas por meio da aplicação de equações de conservação de massa, conservação de quantidade de movimento linear e conservação de energia (Anderson 2011), com base na modelagem teórico-analítica apresentada. 2.1 Relações para Ondas de Choque Oblíqua (Incidente) A Fig. 3 ilustra a ocorrência de uma onda de choque oblíqua incidente. calor específico a pressão constante e o calor específico a volume constante do escoamento. Nota-se que para a obtenção de todos os parâmetros após a onda de choque, basta conhecer o número de Mach inicial, os valores de pressão, densidade e temperatura atmosféricas (que normalmente são tabelados em função da altitude) e a inclinação da rampa, fornecida em projeto. 2.2 Condição para Ondas de Choques Refletidas A Fig. 4 ilustra a ocorrência de uma onda de choque oblíquo refletida. Fig. 3. Esquematização de choque oblíquo incidente. Fonte: O Autor. A variação das propriedades aerotermodinâmicas do escoamento em relação a uma onda de choque oblíqua incidente pode ser obtida pelas Eq. (1) a (5). (1) (2) (3) (4) (5) onde o índice 1 refere-se à região antes da interação com a onda, o índice 2 refere-se à região após interação com a onda, θ é a inclinação da rampa de compressão (e, consequentemente, a direção do escoamento após interação com a onda), β é a inclinação da onda em relação à fuselagem, M é o número Mach do escoamento, p é sua pressão estática, ρ é sua densidade, T é sua temperatura estática e é a razão entre o Fig. 4. Esquematização de onda de choque oblíqua refletida. Fonte: O Autor. A reflexão de uma onda de choque oblíquo em uma parede do veículo pode ser tratada matematicamente de forma análoga à geração de uma nova onda de choque, onde a parede exerça função de rampa de compressão. Para tanto, é necessário estabelecer como condição que o escoamento na região 3 após a interação com a onda refletida - seja paralelo à parede refletora. Com isso, pode-se ignorar a onda incidente, e tratar o problema de forma independente com as Eq. (1) a (5), onde o índice 3 refere-se à região atrás da onda refletida e o índice 2 à região a sua frente. Como a intensidade da onda de choque refletida dependerá apenas de M2 e θ, sua inclinação ∅ será diferente da inclinação inicial β da onda de choque incidente. 2.3 Relações para Ondas de Expansão A Fig. 5 ilustra a ocorrência de uma onda de expansão. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 30-35, 2016 33 Fig. 5. Esquematização de onda de expansão. Fonte: O Autor. Através da Eq. (6), podemos encontrar o número Mach após a onda de expansão, se conhecermos o valor do número Mach M1 de entrada e a inclinação θ da rampa de expansão: (6) onde ν é a Função de Prandlt-Meyer (Anderson, 2011), dada na Eq. (7): (7) Com isso, a variação das demais propriedades aerotermodinâmicas em relação a uma onda de expansão pode ser obtida pelas Eq. (8) a (10). (8) (9) (10) Não obstante, a abertura da onda de expansão, pode ser obtida pela Eq. 11. (11) Nota-se que, apesar de apresentar um mecanismo físico diferente da onda de choque oblíqua, todas as propriedades aerodinâmicas, antes e depois da onda de expansão, também são obtidas automaticamente ao se conhecer M1 e θ, analogamente ao caso da onda de choque. 2.4. Correção para Seção Transversal Variável O número Mach do escoamento varia ao longo do scramjet, quando flui em aerofólios supersônicos de seção transversal com área variável (Anderson, 2011). Por este motivo, é necessário corrigir os valores de M nas equações apresentadas, contabilizando esta variação da velocidade do escoamento para todas as regiões entre ondas de choque/expansão. Para tanto, podemos utilizar a “Relação Área-Mach”, que fornece o número Mach do escoamento, em função da área da seção transversal de um ponto qualquer do scramjet (Anderson, 2011). Esta relação é apresentada na Eq. (12): (12) onde A é a área da seção transversal do ponto no escoamento (onde deseja-se conhecer seu número Mach M) e A* é uma área de seção transversal, onde o escoamento estaria em regime sônico (M=1). 3. Resultados e Discussão Com base nas relações apresentadas na seção 2, iniciou-se o desenvolvimento de um software capaz de calcular em função da geometria do veículo: 1. A ocorrência e disposição de ondas de choque/expansão ao longo de seu scramjet; 2. As principais propriedades aerotermodinâmicas do escoamento entre elas; e 3. A força de arrasto de onda gerada. Pretende-se que o software em questão tenha rápido processamento e interface amigável ao usuário. Sendo assim, exigirá que sejam inseridos apenas o número de Mach do escoamento de entrada e a altitude de voo, calculando o restante automaticamente, como ilustrado na Fig. 6. O software está sendo projetado para que já contenha os dados mais atualizados sobre a geometria do 14-X BS. No entanto, antevendo eventuais alterações de projeto, uma ferramenta para que o usuário tenha a opção de atualizar estes dados a qualquer momento também está sendo desenvolvida, Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 30-35, 2016 34 Fig. 6. Lógica computacional para cálculo de disposição de ondas de choque/expansão, propriedades aerotermodinâmicas e forças de arrasto de onda no 14-X BS. Fonte: O Autor. como ilustrado no losango da Fig. 6. Esta ferramenta também visa permitir a expansão das aplicações deste software para outros modelos do 14-X. Como a modelagem teórico-analítica deste software reside em uma análise fundamentalmente integral, não será possível observar fenômenos de natureza discretizada, como a formação de “geometria virtual” pela interação das partículas do escoamento (Nascimento et al. 2013). Portanto, os resultados a serem apresentados pelo programa deverão ser comparados e complementados pelos previstos em análises, via CFD, já realizadas em outras pesquisas do IEAv. A linguagem de programação a ser usada ainda não foi decidida definitivamente. Contudo, há preferência para codificação em Python, uma vez que se trata de uma linguagem de alto nível, aberta e moderna, que não gerará custos ao IEAv e permitirá relativa integração com eventuais outros softwares, sendo desenvolvidos pelo Instituto. 4. Conclusões Através de uma revisão teórica dos princípios fundamentais da aerotermodinâmica e dos parâmetros do projeto do 14-X BS, foi possível propor uma modelagem teórico-analítica preliminar para viabilizar a previsão da ocorrência e disposição de ondas de choque/expansão ao longo do veículo e sua influência nas principais propriedades aerotermodinâmicas do escoamento. Com isso, também foi possível definir os parâmetros gerais de um software que possibilite a automatização dos cálculos apresentados e viabilize a obtenção da força de arrasto de onda gerada pelo 14-X BS, sob condições de voo nivelado a Mach 7 e altitude de 30 km. O projeto deste software, também possibilita sua adaptação para uso em outros modelos do 14-X e de scramjets. Trabalhos futuros envolvem a modelagem da adição de calor no escoamento via combustão supersônica, o aprofundamento da modelagem da reflexão de ondas, a implementação e testes do software em desenvolvimento e a comparação de resultados com dados obtidos via CFD e via eventuais testes em túnel de choque hipersônico. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 30-35, 2016 35 Embora ainda haja muito a ser feito, os resultados parciais desta pesquisa parecem promissores. Através deste trabalho, um refinamento do projeto do 14-X BS poderá ser realizado, colaborando em nosso entendimento científico do voo hipersônico e aproximando a sociedade brasileira da vanguarda da exploração espacial no mundo. Agradecimentos O presente autor agradece ao Dr. Israel da Silveira Rêgo, servidor do IEAv, pelo exemplar apoio e orientação durante o desenvolvimento dos trabalhos aqui apresentados. Agradece também ao IEAv pela bolsa de estudos e por fornecer a oportunidade de trabalhar em um projeto aeroespacial de ponta e motivador como o 14-X. Referências ANDERSON, J. D. Fundamentals of Aerodynamics. New York: McGraw-Hill, 2011, 1106 p. Fifth Edition. CARDOSO, R. L. Estudo Aerodinâmico e Dimensional para Manufatura do Veículo Hipersônico Aeroespacial 14-X BS. 2012. Trabalho de Graduação. Faculdade de Tecnologia de São José dos Campos, SP - FATEC. INDIA SPACE RESEARCH ORGANIZATION. India’s Reusable Launch Vehicle-Technology Demonstrator (RLV-TD), Successfully Flight Tested. Índia. ISRO. 2016. Disponível em: <http://www.isro.gov.in/update/23-may2016/india%E2%80%99s-reusable-launch-vehicletechnology-demonstrator-rlv-td-successfully.> Acesso em: 20/05/2016. NASCIMENTO, E. D. C. C. et al. Development of a Laser Igniter for the Scramjet Engine of the 14X Hypersonic Aerospacecraft. In: COBEM, 22, 2013, Ribeirão Preto – SP, Anais.. Ribeirão PretoSP: ABCM, ISSN: 2176-5480. p.704-713 SPACEX. Falcon 9 Launch Vehicle: Payload User’s Guide - Revision 2. Califórnia, EUA. SpaceX. 2015. Disponível em: <http://www.spacex.com/sites/spacex/files/falcon_9_ users_guide_rev_2.0.pdf>. Acesso em: 20/05/2016. WHITE, F. M. Mecânica dos Fluidos. Porto Alegre: McGraw-Hill e AMGH Editora Ltda, 2011, 880 p. 6ª ed. Tradução de Mario Moro Fecchio. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 30-35, 2016 36 AVALIAÇÃO DA ESPESSURA DA CAMADA A VERDE DE ZIRCÔNIA NO PROCESSO DE DEPOSIÇÃO A LASER J. C. G. Santos1,3, V. Teleginski1,2, J. F. Azevedo1,3, S.A. Silva1, G. Vasconcelos1,2* Projeto: Processamento de materiais com laser 1 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Fotônica, São José dos Campos – SP 2 Instituto Tecnológico de Aeronáutica – PG-CTE, São José dos Campos – SP 3 Universidade Federal de São Paulo – Engenharia de Materiais, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Nesse trabalho depositou-se zircônia sobre substratos de aço inoxidável, previamente recobertos com NiCrAlY e posteriormente, irradiou-se com um laser de CO2. A espessura da camada verde do pó de zircônia foi avaliada pela técnica de riscamento e por microscopia óptica através da diferença de foco entre as superfícies. O valor da média das medidas de espessura de camada verde depositadas foi da ordem de 150 micrometros, corroborando com resultados da literatura. As técnicas utilizadas para a realização das medidas das espessuras das camadas de zircônia apresentaram resultados similares, indicando reprodutibilidade do processo. A redução da espessura da camada após a irradiação é resultado da sinterização do pó, da redução de poros e da densificação durante o tratamento a laser. controlada pela densidade de potência e pela velocidade de varredura do feixe de laser (Ready 2001). Estes parâmetros também influenciam nas características morfológicas, mecânicas e químicas do material depositado. Para processos de deposição a laser, envolvendo camada a verde do material, as características do material, por exemplo, distribuição granulométrica e formato de partículas são de fundamental importância. Teleginski e colaboradores (Teleginski 2015) mostraram que dependendo da espessura da camada prédepositada, diferentes morfologias de deposição são obtidas, como mostrado na Fig. 1. Palavras-chave: Zircônia, Riscamento, Laser, Espessura, Revestimento. 1. Introdução Por operarem em ambientes agressivos e em elevadas temperaturas e pressões, palhetas de turbinas de aeronaves são revestidas com diversos materiais cerâmicos (Almeida 2006). No entanto, para haver compatibilidade entre o substrato metálico da turbina com a cerâmica, um revestimento de ligação é necessário (Lee 2006). Esse revestimento consiste de uma liga de MCrAlY, onde M representa o metal podendo ser cobalto, níquel ou ambos (Ahmadi-Pidani 2013). O tratamento de superfícies de metais e ligas por lasers baseia-se no aquecimento local da superfície, promovido pela absorção da radiação do feixe, e em seguida, pelo seu rápido resfriamento (Ganeey 2002; Machado 2005; Senthil 1991). Neste processo, a temperatura na superfície do metal pode ser Fig. 1. Influência da espessura da camada a verde na deposição a laser de zircônia. De acordo com Teleginski, pré-deposições finas (<0,35mm), conduzem a formação de revestimentos não homogêneos (Teleginski 2015). Espessuras muito elevadas (> 0,5mm) conduzem ao destacamento do material depositado. Neste contexto, é necessário controlar a espessura da camada verde, prédepositada, para garantir a qualidade do revestimento. Neste projeto, a utilização da técnica de riscamento e de medida por diferença de foco em microscópio óptico, foi utilizada para avaliar as espessuras das Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 36-40, 2016 37 camadas pré-depositadas ou verdes a serem irradiadas. 2. Metodologia depositado, de uma região, expondo-se assim o substrato, em seguida, focalizou-se esta região. Procedeu-se de modo análogo para ajuste da superfície. Utilizou-se pó de zircônia estabilizada com ítria (ZrO2 + 8% Y2O3) com tamanho médio de partícula de 1,60 µm. Sua composição química avaliada por fluorescência de raios X (AMR/DCTA) está indicada na Tab. 1. Para realizar a deposição da camada de zircônia utilizou-se um laser de CO 2 (Synrad – Evolution IEAv – São José dos Campos 125 - 125W) operando em modo contínuo que é caracterizado por comprimento de onda 10,6 µm, distribuição Gaussiana de energia e diâmetro do feixe no ponto focal de 0,2 mm, utilizando parâmetros de velocidade: 600 mm/min, Resolução: 423 ppp (pontos por polegada) e potência 125 W Tab. 1. Composição química do pó de zircônia (%). ZrO2 Y2O HfO SiO Al2O TiO 91,07 6,80 1,67 0,30 0,11 0,05 Utilizou-se uma liga de aço inoxidável AISI 316L como substrato. Amostras de 3mm de espessura, em formato quadrado de 25mm, foram recobertas com pó metálico de NiCrAlY, conforme metodologia publicada em trabalho anterior (Santos 2014). A deposição de NiCrAlY no substrato foi feita de acordo com os parâmetros de trabalho anterior (Santos 2014). A aspersão da camada de zircônia na superfície do substrato foi realizada com uma pistola pneumática. A espessura desta camada a verde foi avaliada utilizando-se a técnica de riscamento (Fig. 2), onde obtém-se a espessura da camada por uma relação trigonométrica. Nesta técnica, utiliza-se uma lâmina (ponta fixa) com ângulo de 60°. A ponta fixa permaneceu em contato com a superfície do substrato, enquanto uma mesa CNC se moveu com a amostra. A técnica de medida por diferença de foco consiste na utilização de um microscópio óptico que seja capaz de focalizar a base do substrato e a superfície da amostra recoberta. Removeu-se parte do revestimento, pré- Fig. 2. Esquemático mostrando a técnica de riscamento para estimar a espessura da camada a verde. A calibração do processo foi realizada com objetos de dimensões conhecidas para obterse o valor em micrometros de cada divisão do tambor micrométrico. Após a calibração do processo, as amostras foram posicionadas no microscópio e focalizou-se a região do ponto de abertura (substrato). Anotou-se o ponto marcado no fuso micrométrico, sendo este o ponto zero. Em seguida, variou-se a profundidade do foco através do fuso micrométrico, focalizando a superfície do pó pré-depositado. Anotou-se o ponto marcado no tambor e assim calculou-se a distância entre os diferentes focos. Conhecendo-se o valor em micrometros entre cada divisão do tambor micrométrico, foi possível realizar a medida da espessura da camada de zircônia. Após realizar as medidas de espessura por técnica de riscamento e técnica de medida por diferença de foco, as amostras foram irradiadas por laser de CO2. Em seguida as amostras foram cortadas e suas secções transversais analisadas via microscopia óptica (Microscópio Zeiss Axio Cam ICc5) Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 36-40, 2016 38 para se obter a espessura da camada de zircônia após a irradiação com o feixe de laser. micrométrico é resultado da diferença entre a marcação no tambor do foco no substrato e a marcação do foco na superfície da peça. 3. Resultados e Discussão Por meio da técnica de riscamento, foi possível realizar as medidas de espessura da camada a verde, utilizando-se as relações trigonométricas indicadas na Fig. 2. A Fig. 3 apresenta uma microscopia óptica (M.O.) com as medidas necessárias para o cálculo da espessura da camada de zircônia. A medida da largura da trilha riscada foi obtida com a utilização de ferramentas do microscópio utilizado. Fig. 4. Micrografia ótica da região riscada. Tab. 2. Resultado de medidas para cada peça analisada. Amostra Espessura Número de divisões (μm) no tambor do fuso (pontos) 1 330 ± 0,5 1805 2 330 ± 0,5 1722 3 347 ± 0,5 1857 4 323 ± 0,5 1779 Fig. 3. Micrografia ótica da região riscada. Utilizando o valor médio da largura da trilha da Fig. 3, calculou-se a espessura, e o valor obtido foi de 152,42 μm. Visto que a espessura está abaixo de 300 μm, classificase essa espessura na região (d) da Fig. 1, como espessura fina. A Fig. 4 apresenta uma M.O. de outra linha de riscamento que resultou em 157,62 μm de espessura. O valor médio das espessuras foi obtido através das amostras referentes às Fig. 3 e 4. A reduzida variação de medidas (Fig. 3 e 4) é um indicador da reprodutibilidade do processo de aspersão com a pistola pneumática. A etapa de calibração das amostras com espessura conhecida é exibida na Tab. 2. O número de divisões no tambor do fuso Utilizando a Tab. 2 calculou-se o valor de cada divisão do tambor micrométrico em micrometros, através da razão entre o número de divisões e a espessura das amostras. Os resultados correspondentes em micrometros para cada divisão do tambor do fuso micrométrico estão apresentados na Tab. 3. Tab. 3. Resultado correspondente micrometros para cada amostra. Amostra 1 2 3 4 em Valor em micrometro para cada divisão do tambor (μm) 5,46 ± 0,5 5,21 ± 0,5 5,35 ± 0,5 5,38 ± 0,5 O valor em micrometros que representa cada divisão do tambor é calculado pela média dos resultados obtidos na Tab. 3. A Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 36-40, 2016 39 média dos valores foi igual a 5,35 μm para cada divisão do tambor. Na Fig. 5.a a focalização foi feita no substrato e na Fig. 5.b, na superfície. A variação de foco entre substrato e superfície resultou em 30 divisões do tambor do fuso micrométrico, que representa 160,50μm. Fig. 6. Micrografia ótica da região transversal da amostra com medida de espessura da camada de zircônia pósirradiação. Fig. 5. Micrografia ótica mostrando o foco no substrato (a) e na superfície do pó prédepositado (b). Os círculos em laranja exibem os focos para cada imagem. A variação de foco entre substrato e superfície resultou em uma medida de 27 divisões do tambor do fuso micrométrico, que representa 144,45 μm. Ao fim das medições, realizou-se a irradiação da amostra com laser de CO2. Utilizou-se velocidade de varredura do laser de 600 mm/min e resolução de 423 ppp. Após a irradiação a amostra foi preparada e sua região transversal foi analisada por M.O. A Figura 6 exibe um exemplo de medida de espessura da camada cerâmica pósirradiação a laser utilizando ferramentas do microscópio. Para obter a espessura média após a irradiação a laser, foram utilizadas outras medidas além da espessura indicada na Fig. 6. Foram 15 medidas ao todo, obtendo-se uma média de 40,540 μm. É possível observar a redução da espessura da camada de zircônia depositada após a irradiação por laser. Essa redução deve-se à sinterização do pó durante a irradiação, o pó é mais densificado e ocorre a redução da quantidade de poros, reduzindo assim a espessura da camada cerâmica. A espessura média a verde (pré-irradiação) medida por riscamento tem valor de 155,02 μm. Já a espessura média a verde medida por variação de foco resultou em 152,47 μm. Considerando que os valores medidos por ambos os métodos citados são próximos, o valor total médio é dado pela média de todos os valores obtidos, sendo a média total igual a 153,74 μm. Para uma espessura média a verde (préirradiação) de 153,74 μm, tem-se uma espessura média de 40,54 μm após a sinterização (pós-irradiação). Observa-se que ocorre uma redução da espessura da camada de pó de 73,6% após a irradiação por laser de CO2. Observa-se algumas trincas como ilustra o circulo amarelo na Figura 6, que são provenientes da elevada compactação durante a sinterização e do rápido resfriamento após a irradiação a laser. 4. Conclusões Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 36-40, 2016 40 As medidas apresentaram valores próximos, tanto para a técnica de riscamento quanto para a técnica de medida por diferença de foco, isso indica a coerência dos valores obtidos. Durante a irradiação ocorreu a redução da espessura da camada cerâmica, pois ocorre a sinterização do pó, que se torna mais densificado e com menor quantidade de poros. A redução da espessura da camada cerâmica é de 73,6%. A espessura de pó depositado se encontra na região d da Fig. 1, sendo classificada como espessura fina que conduz a formação de revestimento não homogêneo, podendo apresentar regiões com falhas de recobrimento e trincas como mostrado na Fig. 6. TBC applications. Surface and Coatings Technology, in press, 2015. SANTOS, J. C. G. et al. Estruturação e deposição de MCrAlY sobre aço inoxidável por métodos a laser. Caderno SCTI 2014, p. 23 – 26, 2014. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq PIBIC, à FAPESP e ao AMR/DCTA. Referências ALMEIDA, D. S. et al. EB-PVD TBCs of zircônia co-doped with yttria and niobia, a microstructural investigation. Surface and Coatings Technology, v.200, n° 8, 2006. LEE, K. N. Protective coatings for gas turbines. In: Gas Turbine Handbook, U.S. Department of Energy, 2006. AHMADI-PIDANI, R. et al. Laser surface modification of plasma sprayed CYSZ thermal barrier coatings. Ceramics International 39 (2013) 2473-2480. GANEEY, R. A. Low-power laser hardening of steels Journal of Materials Processing Technology 121 (2002) 414419. MACHADO, I. F. Technological advances in steels heat treatment, Journal of Materials Processing Technology, 172, (206), 160-173. SENTHIL, J. Effect of laser surface hardening on En (AISI 5135) steel, Journal of Materials Processing Technology V.91, p. 29-36, 1999. READY, J. F. Handbook of Laser Materials Processing; Laser Institute of America; Magnolia Publishing, p.240, USA, 2001. TELEGINSKI et al. Laser irradiation of YSZ on NiCrAlY/ Inconel 718 substrates for Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 36-40, 2016 41 AVALIAÇÃO DE PLATAFORMA HÍBRIDA RECONFIGURÁVEL DE PEQUENO PORTE PARA EMPREGO EM VANTs L. H. M. Dias, 1*, M .R. C. Aquino2**, V. C. F. Gomes2, F. L. L. Medeiros2 1 Universidade Federal de São Paulo – Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos - SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geointeligência, São José dos Campos – SP *[email protected]; **[email protected] Resumo Este trabalho apresenta-se o estudo da comunicação de uma Raspberry PI (RPI) com uma placa FPGA (Field Programmable Gate Array) de baixo custo chamada Logi-pi (LP), a fim de determinar o desempenho dessa plataforma em VANT de pequeno porte no que tange ao envio de dados entre as duas placas. Foram elaborados testes de envio e recebimento de dados com a medição de tempo das ações para averiguar se a velocidade teórica, informada na documentação, é encontrada na execução de aplicações. Os resultados encontrados indicam que dependo da aplicação é totalmente aceitável embarcar uma FPGA em um VANT para a sua automatização. Palavras-chave: FPGA, Logi-Pi, Raspberry Pi, Comunicação. 1. Introdução Atualmente, novas tecnologias têm surgido com o propósito de aumentar a autonomia de VANTs, de modo que parte do processo de tomada de decisão dos operadores de um VANT seja embarcado no veículo. Algumas dessas novas tecnologias, que têm se destacado, são o pouso e decolagem autônomos, a correção de rotas por meio de processamento de imagem e o planejamento de rotas precisas. No desenvolvimento desses algoritmos, técnicas como a fusão de dados, o processamento de imagens e a identificação de padrões são frequentemente utilizadas (Paiva 2016; Campos Filho, 2012). De modo geral, essas técnicas reivindicam processamento intensivo, requerendo amplos recursos computacionais. Em sistemas embarcados de VANTs, em especial os de pequeno porte, há restrições quanto ao embarque de tais recursos, dadas as limitações de peso e consumo energético. Nos últimos anos, um paradigma se destaca no escopo de processamento de alto desempenho: a computação híbrida reconfigurável. Nesse paradigma, são utilizados processadores de propósito geral (CPU) combinados com placas Field Programmable Gate Array (FPGA) para processamento intensivo de dados (Chamberlain 2007). O FPGA pode ter seu comportamento lógico configurado pelo usuário, tornando-se um circuito dedicado para o processamento de um algoritmo. Isso permite que seja possível unir a flexibilidade do desenvolvimento de software com a eficiência do uso de circuitos dedicados, utilizando clocks mais baixos e consequentemente consumindo menos energia que microprocessadores tradicionais. O interesse nesse paradigma para o emprego em VANTs ocorre devido ao barateamento da tecnologia FPGA (encontrada a partir de $79,00), baixo consumo de energia, tamanho reduzido e capacidade de processamento em aplicações críticas. Apesar das potencialidades do uso de FPGAs, tradicionalmente aplicações são executadas em processadores de propósito geral. Dessa forma, para o aproveitamento dessa tecnologia, é necessário que ambos os recursos cooperem no processamento das aplicações. Frequentemente a técnica adotada envolve o processamento das seções não críticas na CPU, enquanto que dados das seções de processamento intenso são enviados para o FPGA (Gomes 2009). Para que esse processo seja vantajoso do ponto de vista de redução do tempo de processamento, é importante que o canal de comunicação entre CPU e FPGA seja eficiente. Caso contrário, o custo da transmissão dos dados torna proibitivo o uso dessa técnica. Assim, conhecer as características do canal de comunicação entre dispositivos é essencial para se verificar a viabilidade do uso integrado Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 41-45, 2016 42 desses recursos. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo avaliar as características do canal de transmissão entre uma Raspberry Pi (RPI) e a placa FPGA Logi-Pi de forma a fornecer um panorama que subsidie a escolha desses recursos para o embarque em VANTs, visando ao processamento em tempo real. Nas próximas seções, serão apresentados os componentes, a metodologia dos testes, os resultados e, por fim, as conclusões do estudo. 2. Metodologia O desenvolvimento deste trabalho dá-se início na escolha dos componentes onde serão executados os testes. A Seção 2.1 descreve os componentes escolhidos, enquanto que a Seção 2.2 descreve os testes realizados. 2.1 Componentes Empregados Primeiramente, necessita-se de dois componentes para a execução dos testes: um minicomputador e uma placa FPGA. Para este trabalho, o minicomputador escolhido foi a Raspberry PI 2 (RPI) por ter baixocusto (±$35), pequeno porte (8,5 centímetros (cm) de comprimento, 5,6 cm de largura e 45 gramas (g)) e capacidade de receber um sistema operacional. Como configuração importante para o projeto, a RPI possui portas GPIO (General Purpose Input/Output) que possibilitam a conexão de periféricos. Seu processador é um ARM7, Quadcore com 900 MHz e possui 1 GB de memória RAM. Foi escolhida a placa FPGA Logi-Pi (LP), por essa placa possuir uma interface com a RPI, ter preço reduzido (±$79) em comparação com outras placas FPGA, e por possuir ampla documentação disponível (VALENTFX, 2015; BUGBLAT, 2015). O FPGA presente nesta placa é o Spartan 6 XC6SLX9, com 9152 células lógicas e 160 portas I/O (DATASHEET, 2016). Além disso, essa placa possui chaves, leds e conexões no padrão Arduino, permitindo a conexão facilitada de sensores externos. Para a realização dos testes, a RPI foi prepara com o Sistema Operacional Raspbian e com as ferramentas e bibliotecas em linguagem C, disponíveis no site da fabricante da LP. Os dispositivos são conectados através da porta GPIO. A Fig. 1 mostra a disposição final da montagem dos dispositivos. Fig. 1. RPI e LP conectadas. A comunicação entre os componentes se dá pelo barramento SPI (Serial Peripheral Interface) Usando aplicações em C ou em outras linguagens é possível configurar aplicações para mandar dados para LOGI-PI. Na documentação da LP, existe uma aplicação chamada wishbone_wrapper que fornece um exemplo do envio e recebimento dos dados. Para a comunicação interna da placa, usa-se o barramento wishbone. A Fig. 2 descreve a arquitetura da comunicação dos dois equipamentos. Fig. 2. Pilha de Comunicação entre RPI e LP. A documentação da LP informa que é possível chegar a uma taxa de transferência de 4 MB/s com um clock estável no barramento SPI de 48 Mhz. 2.2 Testes Para se verificar a velocidade de comunicação real entre as placas foi desenvolvida uma aplicação em C que Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 41-45, 2016 43 calcula o tempo de envio e recebimento de dos dados. Para o desenvolvimento dos testes, foi utilizada, como referência, uma aplicação do projeto logi-pi-wishbone disponível na documentação da LP (FPGALOGI, 2016). Essa aplicação fornece uma aplicação em C e uma descrição de hardware em VHDL (VHSIC Hardware Description Language). Para a realização dos testes, foram incluídos novos registradores na descrição em hardware, alterados os endereços do barramento de comunicação e removidos os recursos não necessários. O funcionamento consiste em: obter o tempo inicial e final do processo de transferência de um pacote de dados; e calcular o tempo decorrido para essa transferência, isto é, a diferença entre o tempo final e o tempo inicial. A biblioteca wishbone_wrapper.h está definida na documentação da LP (FPGA-LOGI, 2016) e possui as rotinas para mandar os dados para LP. Como parâmetro de entrada tem-se o número de bits que serão gravados na placa. Para garantir que os dados enviados fossem os mesmos recebidos, a aplicação executada em CPU enviou uma sequência numérica crescente de forma a ser possível verificar os dados durante o recebimento no FPGA. Para avaliar a comunicação de forma mais ampla foram realizados testes com diferentes tamanhos de vetores, os quais foram repetidos 20 vezes. Para se obter um número mais preciso, a cada vetor enviado, o número foi escrito dez vezes seguidas e o tempo calculado é uma média dessas 10 vezes. O Código 1, apresentado na Tab. 1, mostra a núcleo da aplicação em C. Para automatizar o processo de testes, foi escrito um script bash que realiza a chamada da aplicação passando como parâmetro o tamanho do vetor a ser enviado ou lido do FPGA, esse parâmetro vai de 2 até 2048 em uma progressão aritmética de razão 2. O código VHDL foi sintetizado utilizando o ISE 14.7, e o bitstream foi carregado no FPGA utilizando a ferramenta logi_loader. Tab. 1. Núcleo da aplicação de tomada de tempo. writeVal = (unsigned char *) malloc(sizeof(unsigned short)*bits); for (j=0;j<bits;j++) { writeVal[j] = (unsigned char) j+1;} gettimeofday(&temp1,NULL); for(k=0;k<10; k++){ wishbone_write(writeVal, bits, (int) 0x1000);} gettimeofday(&temp2,NULL); elapsed_u_time = ((temp2.tv_usectemp1.tv_usec)+(temp2.tv_sectemp1.tv_sec)*1000000L)/10; fprintf(log,"%ld,",elapsed_u_time); fprintf(log,"%f,",((float)bits)/(float)elapse d_u_time ); 3. Resultados e Discussão Com a execução dos testes definidos, foram obtidos os tempos de envio/leitura dos dados. Os tempos médios das 20 execuções foram separados e se confeccionou dois gráficos, um de velocidade de escrita e outro de leitura. Eles são apresentados nas Figs. 3 e 4. Fig. 3. Velocidades de escrita. Para uma maior clareza dos gráficos os dados foram suavizados movendo a janela de média em 5 pontos. Foram averiguados que a velocidade máxima foi de 2,4 MB/s e o mínimo de 0,02 MB/s. A velocidade máxima foi 60 % da teórica. O formato da curva segue o padrão da curva de transmissão de dados onde a velocidade aumenta muito em relação ao aumento do tamanho do array de bits e depois a curva tende a uma constante. Em relação às velocidades de leitura a máxima foi de 2,4 MB/s e mínima de 0,04 MB/s. Pode-se notar que as curvas são muito parecidas mostrando que o barramento trabalha na mesma frequência de operação Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 41-45, 2016 44 nos dois sentidos de transmissão. Como no teste de escrita, chegou-se a 60% da velocidade máxima teórica. Fazendo um paralelo com outro trabalho, quando foi estudada a comunicação em uma FPGA de grande aporte (Gomes 2009) pode se dizer que a porcentagem foi considerada boa, pois no trabalho citado foi possível apenas chegar à 5% da velocidade teórica. Fig. 4. Velocidades de leitura. Com esses resultados pode-se dizer que o trabalho de FPGAs depende muito da velocidade de envio/recebimento do dado, além do processamento na mesma. Para ilustrar melhor a viabilidade da execução de um algoritmo em FPGA montou-se a Equação 1 descrita abaixo: TempCPU Tempenvio Tempproc Tempreceb (1) Onde Tempcpu é o tempo de processamento de uma dada aplicação na CPU, Tempenvio/receb é o tempo para enviar/receber o dado na FPGA e Temp proc é o tempo de processamento na FPGA. 4. Conclusões Para se embarcar uma placa FPGA em um VANT é imprescindível a análise de transmissão de dados entre a CPU e a FPGA. Portanto como este trabalho analisou essa velocidade pode-se dizer que os resultados para plataformas hibridas de baixo custo são promissores, mas se ressalva que primeiramente deve-se analisar o algoritmo a ser descrito na FPGA pois para um bom uso da placa, segundo a Eq. (1), o tempo de transmissão mais o tempo de processamento em FPGA deve ser inferior ao tempo em uma CPU comum. Com a tecnologia de VANTs em pleno crescimento pode-se pensar que em um futuro não muito distante será parte de um quadcóptero, por exemplo, uma arquitetura hibrida para missões onde a automaticidade do veículo é essencial. Agradecimentos Agradeço ao CNPq pela bolsa concedida. Aos meus pais pelo apoio e suporte dados até aqui. Referências CHAMBERLAIN, R. D et al. Application development on hybrid systems. ACM/IEEE Conference on Supercomputing, p. 50:1–50:10, 2007. GOMES, V. C. F. et al. Avaliação de abordagens de comunicação com FPGA no supercomputador Cray XD1. Escola Regional de Alto Desempenho/RS, p.157160, 2009. PAIVA, J. P. et al. Uso de Visão Computacional para Controle Autônomo de Câmera Embarcada em Veículo Aéreo não Tripulado. Computer on the Beach. Disponível em <http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/ac otb/article/view/5361/2816>. Acesso em 14 de jan de 2016. CAMPOS FILHO, R. F. Abordagem estocástica com fusão sensorial para mapeamento geográfico utilizando VANTs. Tese defendida em 2012. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3 /3152/tde-04072013-173334/pt-br.php>. Acesso em 14 de jan de 2016. VALENTFX. Logi FPGA Development Boards. Disponível em < http://valentfx.com/fpga-logi-family>. Acesso em 03 jun. 2015. BUGBLAT. PIF - FPGA for the Raspberry Pi and the Raspberry Pi 2. Disponível em <http://www.bugblat.com/products/pif>. Acesso em 03 jun. 2015. DATASHEET. Spartan 6 XC6SLX9 Datasheet. Disponível em <http://www.digikey.com/productdetail/en/XC6SLX9-2CSG225C/122-1744- Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 41-45, 2016 45 ND/2339913?WT.srch=1&mkwid=sJ1ncqs C8&pcrid=62118888861&pkw=_cat%3Aint egrated%20circuits%20ics&pmt=b&pdv=c> Acesso em 14 de jan de 2016. FPGA-LOGI. Documentation logi-pi. Disponível em <https://github.com/fpgalogi/logi-projects.git> Acesso em 14 de jan de 2016. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 41-45, 2016 46 CARACTERIZAÇÃO DE CHAMAS APLICAÇÕES EM SCRAMJETS DE BIOQUEROSENE PARA L. M. Vialta¹, D. Carinhana Jr2* Projeto: Projeto PropHiper 1 Universidade Estadual de Campinas - Departamento de Química, Campinas – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Um dos biocombustíveis mais promissores para uso na indústria aeroespacial é o hidrocarboneto chamado Farnesano, de origem vegetal. Este fato deve ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Em chamas produzidas a partir de hidrocarbonetos de cadeia longa, tal como no caso de Farnesano, há a formação de fuligem, e a análise espectral também é capaz de fornecer dados de temperatura e de velocidade, e outra informação sobre o processo de queima. Neste trabalho, utilizou-se a técnica da Incandescência Induzida por Laser. O objetivo do projeto é, portanto, caracterizar chamas usando Farnesano como combustível, a criação de um banco de dados, assim, para a sua aplicação futura em combustão supersônica nos motores tipo scramjets destinados a acesso de veículos mais fácil para o espaço. Palavras-chave: Espectroscopia, LII, Smoke Point, Bioquerosene. 1. Introdução A busca por fontes alternativas de energia há anos vem se estabelecendo como um dos paradigmas para o desenvolvimento de novas tecnologias. Um dos biocombustíveis mais promissores para uso no setor aeroespacial é o hidrocarboneto de origem vegetal chamado Farnesano, também conhecido como bioquerosene (Santos 2013). Desde meados de 2012, por exemplo, aviões utilizam cerca de 10% desses biocombustíveis em seus tanques, sem que quaisquer alterações no desempenho dos motores tenham sido observadas. O Farnesano, de fórmula molecular C15H32 (Fig. 1), é produzido a partir da hidrogenação do Farneseno, C15H24, composto extraído do mosto formado a partir da fermentação da cana de açúcar. A levedura utilizada no processo foi transformada geneticamente pela empresa Amyris Crystalsev Pesquisa e Desenvolvimento de Biocombustíveis Ltda, situada na cidade de Campinas (AMYRIS 2015). Fig. 1. Fórmula estrutural do farnesano. Uma reação completa de combustão entre um hidrocarboneto e oxigênio, deveria gerar como produtos apenas água e gás carbônico. Entretanto, a combustão realizada na geração de energia para meios de transporte e processos industriais é incompleta. Isso implica na liberação na atmosfera de compostos como óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos parcialmente oxidados e também material particulado, os quais podem ser prejudiciais ao meio ambiente (Almeida 2008). A fuligem é o principal componente do material particulado emitido em uma queima e sua presença na atmosfera é nociva ao meio ambiente e à saúde humana (Barreta 2010). A determinação quantitativa da fuligem vem ganhando importância no cenário científico, podendo ser realizada utilizando, por exemplo, a técnica de Incandescência Induzida por Laser (LII, do inglês Laser Induced Incandescence). Na técnica de Incandescência Induzida por laser, as partículas de fuligem absorvem a radiação de um pulso de laser, durante o qual atingem uma temperatura muito maior que a temperatura da chama, resfriando-se em seguida. Nestas condições, as partículas passam a emitir radiação como um corpo negro. A medida da incandescência em função do tempo corresponde a um típico Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 46-50, 2016 47 processo de excitação seguido por um decaimento do tipo exponencial, que representa, respectivamente, o aquecimento das partículas de fuligem e seu respectivo resfriamento em função do tempo. A partir desta curva é possível obter informações importantes sobre as partículas irradiadas, tais como, fração volumétrica da fuligem e diâmetro das partículas (Tolomelli 2012). 2. Metodologia O procedimento experimental consistiu em duas etapas: determinação dos Smoke Points das chamas das blendas de Farnesano e querosene de aviação (QAV) e aplicação da técnica LII às chamas do bioquerosene. Foram determinados os Smoke Points das chamas de quatro blendas de Farnesano e QAV: Farnesano puro (B100), QAV puro (B00), 10% de Farnesano (B10) e 20% de Farnesano (B20). Para a determinação dos Smoke Points, foi utilizado um queimador padrão com pavio de altura ajustável. O pavio de cada chama foi aceso de modo que a altura da chama fosse de aproximadamente 10 mm. A fim de estabilizar a chama, o queimador permaneceu aceso por cinco minutos. O pavio foi ajustado para que a chama produzisse uma cauda de fumaça visível e, em seguida, foi suavemente reduzido, até que a chama não a produzisse mais. A altura correspondente a esse ponto, chamado de Smoke Point, foi registrada. Para a aplicação da técnica LII foi utilizado um arranjo experimental (Fig. 2) que consistiu no posicionamento do queimador, contendo as blendas como combustível, em frente à fenda de entrada do monocromador, posicionada em um ângulo de 90° com respeito ao feixe do laser incidente. Para focalizar a imagem da chama na fenda, foi utilizada uma lente de quartzo, com distância focal de 10 cm. A lente foi posicionada de tal modo que a proporção entre a imagem e o objeto real fosse de 1:1. A fim de depositar maior quantidade de energia sobre chama, entre o laser e o queimador foi posicionada uma lente, também de quartzo, de 20 cm de distância focal. Para a obtenção do sinal foi utilizado um osciloscópio ligado à fotomultiplicadora e à fonte de trigger, responsável pelo sincronismo do osciloscópio com a irradiação da chama pelo laser. Foram realizadas medidas utilizando dois sinais diferentes de trigger. Primeiramente, o proveniente do laser e em seguida, um fotodiodo, posicionado cerca de 20 cm atrás da chama. Os parâmetros experimentais utilizados durante o experimento estão na Tab. 1. Tab. 1. Parâmetros experimentais utilizados para a aplicação da técnica LII. Parâmetro comprimento de onda offset fendas energia do laser voltagem fotomultiplicadora Tamanho da chama Valor 500 nm e 600 nm 2 100 µm 8 (unidade arbitrária) 850 V 4,0 cm Foi realizado o mapeamento vertical e horizontal da fuligem na chama de farnesano, nos comprimentos de onda de 500 nm e 600 nm. A Fig. 3 mostra todos os pontos analisados. No caso do mapeamento vertical, a varredura da chama foi realizada a cada 0,5 cm de altura, sendo 1,0 cm a primeira posição analisada, considerando a base do pavio do queimador. Já no mapeamento horizontal, foram escolhidos 4 pontos na interface do cone interno, dois pontos na altura de 1,0 cm e dois em 1,5 cm. Nos dois tipos de mapeamento, o osciloscópio foi ajustado para que fornecesse um sinal médio de 100 medidas, com o respectivo valor de desvio padrão. A fim de analisar e comparar a distribuição de fuligem em cada blenda, foi realizado o mapeamento vertical de fuligem em todas as blendas nas alturas de 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 cm. 3. Resultados e Discussão O Smoke Point é definido como sendo a condição de combustão na qual a chama possui uma altura máxima livre de fuligem. Esta altura máxima da chama (quando medida imediatamente antes da chama começar a produzir fuligem) representa o Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 46-50, 2016 48 Smoke Point do combustível testado e pode ser usado com precisão como uma medida relativa da tendência de combustíveis para a produção de fuligem. Um Smoke Point elevado revela um combustível com menor propensão a produção de fuligem. Na Fig. 4 está descrito o conceito do Smoke Point (Santos 2013). Fig. 2. Arranjo experimental utilizado para a detecção do sinal LII. Fig. 3. Região de mapeamento vertical e horizontal da chama de farnesano. Foram analisadas as blendas de Farnesano puro (B100), QAV puro (B00), 10% de Farnesano (B10), 20% de Farnesano (B20). Os resultados estão descritos na Tab. 2 e no gráfico da Fig. 5. Fig. 4. Representação esquemática do conceito de Smoke Point . Tab. 2. Valores de Smoke Point obtidos para as blendas B100, B00, B10 e B20. Blenda B100 B00 B10 B20 Smoke Point 62 25 29 33 Fig. 5. Gráfico do Smoke Point em função da porcentagem de Farnesano adicionado no combustível (QAV). A análise dos valores de Smoke Points obtidos mostra que quanto maior a porcentagem de Farnesano adicionado ao combustível (QAV), maior o Smoke Point da blenda. Assim, chamas contendo menor quantidade de Farnesano são mais fuliginosas, uma vez que uma chama de poucos milímetros já indica grande presença dessas partículas. A técnica de Incandescência Induzida por Laser (LII) pode ser utilizada para quantificar a fuligem emitida em um processo de combustão. A sua principal vantagem consiste no fato de ser um método não intrusivo, não afetando, portanto, as medições por perturbações causadas na chama por equipamentos inseridos para retirar amostras. Essa técnica é baseada na detecção da radiação emitida pelas partículas de fuligem ao serem irradiadas por um laser pulsado com potência alta o suficiente para elevar a temperatura da fuligem à temperatura de vaporização. Nestas condições, a fuligem emite radiação como um corpo negro. O sinal de incandescência é a imagem do aquecimento e respectivo resfriamento da fuligem, mostrado através Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 46-50, 2016 49 de um osciloscópio. A intensidade do sinal é proporcional à fração de volume da fuligem, e o formato da curva de decaimento está relacionado com o tamanho das partículas (Santos 2013). A Fig. 6 mostra uma curva típica obtidas de intensidade em função do tempo para a altura de 2,5 cm, no comprimento de onda de 500 nm. A curva superior refere-se ao sinal LII e a inferior ao sinal de trigger do fotodiodo. Fig. 6. Sinal LII obtido na altura de 2,5 cm da chama de farnesano no comprimento de onda de 500 nm. A partir do valor médio das intensidades em cada ponto da varredura vertical da chama contendo farnesano puro, foi obtido um gráfico para cada comprimento de onda analisado (Fig. 7 e 8). Fig. 7. Gráficos de intensidade versus altura da chama, em 500 nm. Fig. 8. Gráficos de intensidade versus altura da chama, em 600 nm. As partículas de fuligem são formadas em uma faixa de temperatura entre 1300 e 1600 °C. Assim, a região próxima à base da chama, que apresenta menor temperatura, possui menor concentração dessas partículas. À medida que aumenta a altura da chama, a sua temperatura também cresce, fazendo com que seja observada uma concentração maior de fuligem. No entanto, na altura próxima à interface ar/chama, essa temperatura começa a diminuir, devido à troca de calor entre a chama e o ambiente. Isso faz com que a concentração de fuligem decresça novamente. Esse comportamento está descrito no gráfico da Fig. 7, no qual a intensidade do sinal LII aumenta com a altura da chama até chegar a um máximo e, em seguida, decresce à medida que a troca de calor tornase mais intensa. Observando as características da chama (Fig. 3), percebe-se a predominância de uma coloração amarela. A emissão dessa coloração está relacionada à incandescência das partículas de fuligem. A cor amarela está na região de 570 nm do espectro eletromagnético, sendo, portanto, esperado que o sinal LII fosse mais intenso no comprimento de onda de 600 nm, diferente do que foi observado nos experimentos. Esse resultado pode ser explicado pela eficiência de dispersão da grade, dada pelo ângulo de Blaze. A grade utilizada possui a maior eficiência em ângulos correspondentes ao comprimento de onda de 500 nm. Em chamas difusivas, a nucleação e aglomeração ocorrem próximas à base da chama, produzindo, nesta região, partículas de fuligem. Essas partículas são deslocadas por convecção para uma região anelar da chama, onde ocorrem mais transições gás/partícula. Assim, a fuligem próxima à saída do queimador se concentra nas extremidades da chama (Tolomelli 2012). Por esse motivo, para o mapeamento horizontal foram escolhidos pontos na interface do cone interno, e não no seu interior. A diferença significativa observada no mapeamento horizontal na altura de 1,5 cm está relacionada à instabilidade da chama utilizada. Portanto, ao mínimo deslocamento da chama, é detectada uma concentração Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 46-50, 2016 50 Intensidade (mV) diferente de fuligem. Se esse deslocamento ocorre para dentro da região do cone interno, o sinal diminui. Da mesma forma, se o deslocamento ocorre para a região externa, ele aumenta. Por fim, foram analisadas quatro chamas, a de QAV puro, Farnesano puro, QAV+10% farnesano e QAV+20% farnesano. As chamas foram analisadas apenas verticalmente, nas alturas de 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 cm. A Fig. 9 mostra os gráficos sobrepostos de Intensidade X Altura para cada uma das blendas. 36 34 32 30 28 26 24 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 QAV QAV10F QAV20F FARNESANO 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 Altura (cm) Fig 9. Gráfico de Intensidade X Altura para diferentes blendas de querosene e farnesano. A análise da Fig. 9 mostra uma tendência de diminuição da intensidade do sinal LII a medida que aumenta a quantidade de biocombustível adicionado ao querosene. 4. Conclusões Utilizando a técnica de Incandescência Induzida por Laser (LII) foi possível mapear a distribuição de fuligem em uma chama de biocombustível. Foi detectada maior concentração dessas partículas nas regiões de temperaturas mais elevadas da chama, ou seja, em alturas medianas (máximo em 2,5 cm) e fora do seu cone interno. Esses resultados são compatíveis com os mecanismos de formação de fuligem. Além disso, foi comprovada a diminuição da produção de fuligem pela chama com o aumento da porcentagem de farnesano adicionado no combustível. Referências ALMEIDA, J. N. Detecção da presença de fuligem em chamas parcialmente prémisturadas de GLP com oxigênio. 2008. 82f. Dissertação (Mestrado em Aeronáutica, Propulsão e Energia) - Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. AMYRIS. Página Institucional na Internet. Campinas, 2015. Disponível em www.amyris.com/products/jet-fuel/. Acesso em 08/06/2015. BARRETA, L. G., Métodos experimentais de análise aplicados à combustão. São José dos Campos: Papel Brasil, 2010. 314f. TOLOMELLI e TOLOMELLI, Lincoln. Estudo da presença de fuligem em chamas de misturas Diesel/Biodiesel. 2012. 85f. Dissertação (Mestrado em Aeronáutica, Propulsão e Energia) - Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. SANTOS, F. D. T. Laser induced incandescence soot characterization in farnesane-kerosine wick-fed diffusion flame. 2013. 106f. Tese (Doutorado em Aeronáutica, Propulsão e Energia) Engenharia Aeronáutica e Mecânica, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. Agradecimentos Ao CNPq pela bolsa de iniciação científica concedida. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 46-50, 2016 51 CARACTERIZAÇÃO DE UM MOTOR STIRLING DE PISTÃO LIVRE A. C. Santos 1*, V. S. F. O. Leite 2** Projeto: TERRA 1 Universidade Federal de São Paulo- Instituto de Ciência e Tecnologia– SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Suporte Tecnológico, São José dos Campos – SP *[email protected], **[email protected] Resumo Este trabalho se insere no Projeto TERRA, e tem como objetivo relatar a montagem e a colocação em funcionamento de um motor Stirling de pistão livre, doado pela empresa Embrapa, para dessa forma, entender melhor a sua maneira de operação. Para isso, foi realizada uma série de testes com diferentes ajustes de molas, colocação de pesos, adaptações e fabricação de peças para retirada de vazamentos, visando atingir o seu funcionamento de uma forma estável. A caracterização foi realizada com base no modelo de Schmidt adaptado para a máquina em estudo. Os resultados obtidos revelaram os defeitos encontrados que impediam o funcionamento do mesmo e os valores teóricos da pressão, potência e eficiência do motor. Palavras-Chave: Motor Stirling, Pistão livre, Ciclos Térmicos. 1. Introdução O Projeto TERRA (Tecnologia de Reatores Rápidos Avançados) tem como objetivo geral desenvolver tecnologias críticas para a geração de energia elétrica para emprego em ambientes remotos, tais como o espaço e regiões isoladas, utilizando fontes de potência nuclear e conversores termoelétricos de alta eficiência e confiabilidade. Dentre as tecnologias consideradas estratégicas para serem investigadas estão os ciclos térmicos, conversores de energia térmica em energia elétrica, sendo que um destes é o ciclo Stirling. Um motor Stirling é um motor de combustão externa, que usa ar ou outro gás como fluido de trabalho e opera no Ciclo Stirling (Beale 1985), representado pelo diagrama da Fig. 1, o qual é composto por 4 fases, sendo estas, conforme indicado no diagrama: 1-Expansão isotérmica, 2Resfriamento isovolumétrico, 3- Compressão isotérmico, 4- Aquecimento isovolumétrico. Este ciclo possui teoricamente a eficiência do ciclo de Carnot, no entanto o ciclo ideal diverge do real, quando medido por instrumentos (Wikipédia 2015). Fig. 1. Diagrama de pressão x volume do ciclo Stirling. O motor, conforme mostrado na Fig. 2, é composto por um cilindro trocador de calor, um pistão deslocador, um pistão de trabalho, molas, discos de molas que servem de suporte para as molas, limitadores cuja função é prender as molas, um anel e um conjunto de pesos, além de aletas para dissipação de calor. Fig. 2. Componentes de um motor Stirling de pistão livre. Nos motores Stirling de pistão livre, o deslocador e o pistão de trabalho estão alinhados dentro de um único cilindro que é dividido em duas regiões: uma quente e outra fria. No interior desse cilindro contém sempre um gás pressurizado (ar atmosférico, hélio ou hidrogênio) que é chamado de gás de trabalho (Nakajima 1989). A potência é gerada pelo aquecimento e resfriamento Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 51-56, 2016 52 deste gás de trabalho pelo lado externo do cilindro. Esse gás de trabalho é movimentado da parte fria para a parte quente do motor e vice-versa, através do pistão deslocador. Com isso, se obtém acréscimo ou decréscimo da temperatura do gás de trabalho e a mudança na temperatura do gás de trabalho causa uma mudança na pressão do mesmo, que gera força para movimentar o pistão (Barros 2005). Devido a sua elevada capacidade de eficiência e sua simplicidade teórica (Slaby 1989) os motores Stirling de pistão livre são alvos de inúmeras pesquisas, no entanto são poucas as informações sobre o seu funcionamento prático e seu modelo matemático adequado. Sendo assim o objetivo desse trabalho é realizar a montagem das peças de um motor Stirling de pistão livre doado pela empresa Embrapa, colocá-lo em funcionamento e caracterizálo, e dessa forma entender o seu funcionamento. 2. Metodologia 2.1 Montagem e funcionamento Primeiramente realizou-se a montagem conforme o desenho representado pela Fig. 3, e em seguida iniciou-se uma série de testes a fim de colocar em funcionamento o motor. ajustagem das molas, pois são elas que contrabalançam o força exercida pelo gás de trabalho fazendo com que o pistão de trabalho e o deslocador se desloquem para cima e para baixo. As alterações realizadas na montagem de um teste para o outro foram: o ajuste das molas, localizadas nos espaços denominados: mola 1, mola 2, mola 3, mola 4 e alterações nas peças que preenchem o espaço do limitador 2. No espaço do limitador 2 foram utilizados o anel e o conjunto de pesos (Figs. 2 e 3). As molas utilizadas nos experimentos foram as que estão mostradas na Fig. 4 e especificadas na Tab. 1 e os testes realizados foram conforme a Tab. 2. Fig. 4. Molas utilizadas nos experimentos. Na Tab.1 N é o número de espiras, Ø S é o diâmetro da secção do arame da mola, P é o passo, L é o comprimento, K é a constante de rigidez e * indica sem dados. Mola Fig. 3. Montagem do motor original. Para a bancada de testes foi utilizado um termômetro infravermelho digital GM900 BENETECH, o fluido de trabalho utilizado foi o ar atmosférico e a fonte quente, utilizada para aquecer a extremidade inferior do cilindro (região quente) foi um fogão a gás GLP. 2.2 Ajustes de molas Uma etapa importante que possibilitou o início do funcionamento do motor foi a A B C D E F G H I Tab.1. Especificações das molas. N ØS P L K (mm) (mm) (mm) (N/m) 20 0,7 3,2 63 91,71 7 1,3 3,8 26 192,04 8 1,3 3,8 33,5 192,04 10 1,3 8 54 339,43 5 1,3 8 27 339,43 12 0,7 3,8 40 136,23 9 1,3 3,8 53 339,43 12 1,3 3,8 52 308,75 29 0,7 2 59 * O conjunto de pesos é composto por uma peça sextavada de latão e três peças cilíndricas também de latão que podem ser aparafusadas na peça sextavada. Por questão de identificação, na Tab. 2, para o espaço do limitador 2, no teste onde foi usado somente o anel foi colocado P1, quando foi usado Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 51-56, 2016 53 somente o sextavado, foi colocado P2 e onde foi usado o sextavado com os pesos cilíndricos foi colocado P3. Tab. 2. Série de testes realizados. Espaço/testes T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 Mola 1 A I A A F F F F Mola 2 H B B B B D D G Mola 3 G E C E C E H H Mola 4 F - - - - - - - Limitador 2 P3 P1 P2 P2 P2 P2 P3 P3 2.3 Caracterização Para uma avaliação teórica do problema com base na geometria do motor em questão e em alguns parâmetros experimentais de funcionamento do mesmo, foi realizada uma adaptação do modelo matemático de Schmidt de máquina Stirling do tipo Beta, com manivela (Martini 1983), para uma máquina de pistão livre. Foi considerado que um pulso (uma subida e uma descida) do pistão livre é o equivalente a um giro de manivela do modelo Beta. Desta forma utilizando uma planilha Excel foi calculado o volume percorrido pelo pistão de trabalho pela Eq. (1) e pelo pistão deslocador pela Eq. (2) para cada parte do ciclo (0- 360º), o volume do regenerador (na máquina em estudo compreende ao espaço entre o deslocador e o cilindro) e com estes volumes foi possível calcular a pressão para cada parte do ciclo através da Eq. (3). Como o passo foi de 1 grau, foi possível integrar numericamente e encontrar o trabalho disponível por ciclo. Por fim estimou-se a frequência, calculada pela Eq. (4), a potência pela Eq. (5), a relação entre a aceleração do deslocador e pistão de trabalho pela Eq. (6) (Walker 1985) e também foi estimada a eficiência teórica que é dada pela Eq. (7). Tab. 3. Nomenclatura dos simbolos Nomenclatura p Pressão Kpa V(N) Volume total cm³ C(N) Vetor volume frio cm³ H(N) Vetor volume quente cm³ Volume morto do RD regenerador cm³ Volume máximo frio do VK deslocador cm³ VL Volume máximo quente cm³ Volume máximo frio do VP pistão de trabalho cm³ Volume morto associado ao CD espaço frio cm³ Volume morto associado ao HD espaço quente cm³ TC Temperatura na região fria K Temperatura na região TH quente K Temperatura no TR regenerador K F AL M R P W f m K α Ac onde: Ar Mp Md Ângulo de manivela Angulo de fase entre os pistões Massa de ar estimada dentro do cilindro Grau s Grau s Kg J/Kg Constante dos gases = 287 .K Potência W Trabalho J Frequência Hz Massa total dos pistões Kg Soma das constantes de mola N/m Relação entre a aceleração do deslocador e pistão de trabalho Área da secção transversal do cilindro cm² Área da seção transversal da haste do deslocador cm² Massa total do pistão Kg Massa total do deslocador Kg Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 51-56, 2016 54 alterações no motor estão representadas pela Fig. 5. onde TR é dado por: Fig. 5. Motor antes (à esquerda) e depois (à direita). 3. Resultados e Discussão 3.1 Montagem e funcionamento Nos testes realizados com o motor original, com relação ao teste 1 (T1), o mesmo não funcionou e foram detectados vários problemas como descritos a seguir. O deslocador do motor original estava amassado e havia fuga de ar através da solda lateral do mesmo, como também as flanges da camisa e do cilindro estavam empenados o que permitia que o ar escapasse por estes espaço. O cilindro apresentava um abaulamento na base que implicava no travamento do deslocador no cilindro e além disso o deslocador, o pistão de trabalho e o cilindro estavam ovalizados, o que fazia com que o motor travasse em determinados pontos. O deslocador original feito de latão foi substituído por outro com as mesmas dimensões, mas de aço inoxidável, fabricado na oficina do IEAv. O cilindro originalmente feito de lata de conservas também foi substituído por um novo de aço inoxidável e para resolver o problema da fuga de ar foi feito uma junta de vedação de amianto. As Nos testes T2, T3 e T6 o motor também não funcionou. No teste T4 o deslocador subiu fazendo o pistão de trabalho subir, sendo que o mesmo descia lentamente, enquanto o pistão de trabalho ficava 40 segundos parado no topo da camisa e depois também descia lentamente. O motor realizou esses movimentos com a chama alta, e ao abaixar a chama, verificou-se que o mesmo não ocorria. A fim de diminuir tal demora foi fabricada uma fonte fria e esta foi acoplada na região entre as aletas e a camisa (Fig. 6). Esta fonte fria extra consistia em uma bandeja cilíndrica onde era colocado gelo. Repetiu-se o experimento e observouse que o deslocador e o pistão se movimentavam mais rápidos, no entanto o ciclo não continuava. Fig. 6. Motor com a fonte fria acoplada. No teste T5, utilizando a fonte fria o motor começou a funcionar a uma baixa frequência Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 51-56, 2016 55 e foi aumentando até alcançar uma frequência aparentemente constante. No entanto o motor parava quando o gelo da fonte fria derretia. Só como uma experiência, ao inverter as molas do espaço 2 e 3, o mesmo não funcionou. Além disso, notou-se que o método mais adequado para dar a partida no motor era puxar levemente a haste do deslocador para cima e soltá-la. Ao parafusar todo o conjunto de pesos na peça sextavada notou-se a melhora no retorno dos pistões e o aumento da frequência com este aumento de peso, além disso, quando o gelo derreteu, o motor continuou funcionando. Retirou-se então a fonte fria extra e o mesmo continuou a funcionar somente com as aletas. No teste T7 o motor funcionou falhando, mas ao acrescentar os pesos ele funcionou continuamente. quase elíptico, sendo que a pressão máxima atingida ocorre quando o ângulo de manivela (F) é 135º e a pressão mínima ocorre em F = 315º. Fig. 8. Motor sem as aletas. Fig. 9. Diagrama pressão x volume. A aceleração do deslocador é 1,5 vezes maior do que a do pistão, ou seja, a cada pulso do pistão de trabalho o deslocador dá 1,5 pulsos. Fig. 7. Montagem do teste T8. No teste T8 (Fig. 7) a bandeja da fonte fria extra foi retirada e ele funcionou continuamente, só parando quando atingia uma pequena região ainda ovalizada do cilindro. As temperaturas registradas foram: ambiente: 24ºC, base do cilindro: 180ºC, aletas: 60ºC, camisa: 32ºC. Ao apagar o fogo o motor funcionou por 1 minuto e 53 segundos. Por fim retiraram-se as aletas (Fig. 8) e notou-se que o motor funcionou falhando. As temperaturas detectadas foram: Ambiente: 24ºC, base do cilindro: 196ºC, região das aletas: 100ºC, camisa: 40ºC. 3.2. Caracterização A Tab. 4 apresenta os dados obtidos e a Fig. 9 mostra o formato do ciclo, que é 4. Conclusões Foi possível colocar o motor em funcionamento e para isto foi fundamental o ajuste adequado do sistema massa-mola e limitadores, pois a mola é responsável pelo movimento continuo dos pistões, e pelo controle do volume morto (correspondente ao volume não percorrido pelos pistões). Além disso, qualquer vazamento de ar (fluido de trabalho) ou desalinhamento dos pistões implica no não funcionamento do motor. A caracterização das condições de funcionamento do motor revelou uma baixa potência e baixa pressão, bem como uma eficiência mediana, obtida pela Eq. (7). No entanto o modelo matemático empregado não é o modelo exato para motores de pistão livre, dessa forma os resultados encontrados são aproximações para uma primeira analise. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 51-56, 2016 56 Tab. 4. Dados teóricos da Caracterização. M- massa de ar 0,00021 Kg AL ângulo de fase 90 Graus Dcam- Ø da camisa 5,0 cm Ø do deslocador 6,90 cm Ø da haste do deslocador 1,86 cm Ø interno do cilindro 7,2 cm Volume morto quente 45,31 cm³ Curso do deslocador 1,3 cm Volume morto do regenerador 33,65 cm³ Volume morto frio 30,67 cm³ Curso do pistão de trabalho 0,9 cm³ Temperatura na fonte quente 493 k Temperatura no regenerador 399,9 k Temperatura na fonte fria 305 k Volume Máximo vivo quente 35,52 cm³ Volume máximo frio deslocador 32,94 cm³ Volume máximo frio pistão 14,38 cm³ Massa pistão 0,656 kg Massa deslocador 0,304 kg K mola1 136,23 N/m K mola 2 339,43 N/m K mola 3 308,75 N/m Pressão média 140 kPa Pressão máxima 150 kPa Pressão mínima 120 kPa η Carnot 38,14 Frequência do Pistão 5,12 Hz Frequência do deslocador 3,37 Hz Frequência total 4,64 Hz Taxa aceleração: 1,55 W 0,24 J P= f.W 1,11 W Portanto espera-se desenvolver futuramente um modelo matemático para a máquina em estudo e realizar testes de bancada para validação deste modelo. Como uma análise final, os testes mostraram que, a melhor configuração para o bom funcionamento do motor Stirling em questão é a do teste T8 (Fig. 7), sendo este o modelo que será usado para a continuação da caracterização quantitativa (medição agora de todos os parâmetros) do motor Stirling de pistão livre. Agradecimentos Ao Projeto TERRA pela bolsa de iniciação científica (Edital 05/2015), à oficina mecânica e a seção de projetos da Divisão de Suporte Tecnológico (EST) do IEAv pelo apoio técnico e ao Dr Lamartine Nogueira Frutuoso Guimarães pelo apoio. Referências BARROS, R. W. Avaliação Teórica e Experimental do Motor Stirling Modelo Solo 161 Operando com Diferentes Combustíveis. Dissertação (Mestrado em Conversão de Energia) - Instituto de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Itajubá. p.28-29, 2005. BEALE, W. Understanding Stirling Engines. Arlington, Virginia, Volunteers In Technical Assistance, Inc. (vita), 1.p, 1985. MARTINI, W. R. Stirling engine design manual. Honolul, Hawaii, University Press of the Pacific, p.71-74, 1983. NAKAJIMA, N., OGAWA, K., FUJIMASSA, I. Study on microengines: miniaturizing Stirling engines for actuators. Sensors and Actuators. Tokio, v.20, p.75-82, 1989. SLABY, J. G. Free-Piston Stirling Technology for Space Power: NASA Technical Memorandum 101956. International Conference on Space Power sponsored by the International Astronautical Federation Cleveland, Ohio, 12.p, 1989. WALKER, G., SENFT, J.R. Free Piston Stirling Engines: lecture Notes in Engineering. Berlin: Springer-Verlag. p.101-105, 1985. WIKIPÉDIA, Motor Stirling, 23/09/2015. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_Stirlin g>. Acesso em 15/05/2016. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 51-56, 2016 57 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO AÇO 300M TRATADO TERMOQUIMICAMENTE A PLASMA E A LASER K. A. G. S. Gorges1, G. Vasconcelos2, V. H. B. Scheid2, A. J. Abdalla2* Projeto Aplicação dos Tratamentos Termoquímicos a Plasma e a Laser em Aço 300M 1 Escola e Faculdade SENAI “Felix Guisard” SENAI – Taubaté – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Fotônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Este trabalho teve como objetivo comparar os efeitos da aplicação de dois tratamentos termoquímicos de superfície (Plasma e Laser) no aço aeronáutico 300M a fim de melhorar as propriedades contra a fadiga e ao desgaste. Foram avaliadas as alterações nas propriedades de tração e fadiga. No tratamento de carbonetação a laser, foram utilizadas duas velocidades de varredura diferentes, 800 mm/s e 600 mm/s. O outro tratamento utilizado foi a nitretação a plasma. Os resultados das propriedades obtidas após estes tratamentos foram comparados com amostras padrão do aço 300 M sem tratamento de superfície. A partir de ensaios de microdureza, foi observada uma dureza elevada na superfície da amostra tratada a plasma e no aço tratado a laser ocorreu a formação de uma camada de grafita, interessante para reduzir o atrito e melhorar as propriedades tribológicas. Palavras-chave: Nitretação a plasma, Tratamento termoquímico, Caracterização microestrutural, Carbonetação a laser. 1. Introdução O aço 300 M é um aço comercial de baixa liga e ultra-alta resistência, que tem sido empregado em componentes estruturais para veículos aeroespaciais. Este aço foi introduzido como substituto ao aço AISI 4340, melhorando suas características mecânicas realizando apenas pequenas alterações nos teores de liga (Abdalla et al., 2012; Gonçalves, 2007). Comparado ao aço 4340, o aço 300M tem um pequeno aumento no teor de carbono e molibdênio, elevação no teor de silício (1,6%) e a adição de pequeno teor de vanádio. A adição do silício permite ao aço receber tratamento de revenimento em diversas temperaturas sem torná-lo frágil. Neste trabalho, foi aplicado o tratamento térmico de austêmpera que, diferente da têmpera convencional, permite a formação de estrutura bainítica, que tem propriedades de dureza e resistência intermediarias à estrutura martensítica e perlítica (Abdalla et al., 2006). Este processo visa melhorar a tenacidade. Na austêmpera, após a austenitização, o aço é mergulhado em sais fundidos, o que evita formação de ferrita e perlita, induzindo a formação da bainita. A caracterização microestrutural constitui uma parte importante na identificação das fases nestes aços (Silva 2006). Apesar da vasta gama de propriedades mecânicas, os aços em geral são susceptíveis à corrosão. Uma das finalidades desses tratamentos propostos é a proteção contra a corrosão, melhorando também as propriedades tribológicas do aço, viabilizando a melhor compreensão da relação entre microestrutura e propriedades mecânicas, para cada condição estudada (Abdalla et al., 2006b; Santos et al., 2015). 2. Metodologia Neste trabalho, foram utilizadas amostras de aços 300 M laminado, de uso aeronáutico. Este foi fornecido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/DCTA). A composição química do aço foi determinada pelo laboratório de Análises Químicas da Divisão de Materiais do IAE/DCTA, de acordo com as normas ASTM-E-39-84 E ASTM-E-350-87. A Tab. 1 mostra os principais elementos presentes no aço. Os corpos de prova e os ensaios de tração foram realizados segundo a norma ASTM E 8M. Para a carbonetação, foi utilizado um laser de CO2 pulsado, com comprimento de onda de 10,6 µm, potência de saída de 125 W. Inicialmente foi feito uma aspersão inicial Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 57-61, 2016 58 sobre o corpo de prova com grafite e, posteriormente, aplicado irradiação a laser para propiciar a difusão do carbono e a formação da camada endurecida na superfície. Para a aplicação do laser, foi utilizada uma potência de 125 W, uma resolução de 500 PPP (pontos por polegada) e duas velocidades de varredura do laser, 600 e 800 mm/s. Tab. 1 - Composição química do aço 300M Elemento de liga C Si Mn Cr Ni % em massa 0,39 1,78 0,76 0,76 1,69 Elemento de liga Mo Al V Cu Al % em massa 0,40 0,40 0,003 0,14 0,036 Inicialmente, foi feito o tratamento de austêmpera a 300 ºC para a formação da estrutura bainítica. Posteriormente, foi feito o tratamento de nitretação a plasma e carbonetação a laser. Para a nitretação a plasma, foi utilizado um reator convencional de corrente contínua, com uma mistura gasosa contendo 75% de N2 e 25 % de H2, a temperatura de nitretação foi de 500ºC, o material permaneceu na câmara por 3 horas. Foram retiradas e caracterizadas amostras nas seguintes condições: ● Material Base, com estrutura bainítica (B); ● Material Nitretado a Plasma (NP); ● Material com Carbonetação a Laser a 600 mm/s (CL600); ● Material com Carbonetação a Laser a 800 mm/s (CL800). Para a caracterização microestrutural foi utilizada a técnica de microscopia óptica. A dureza da camada e da região endurecida foi analisada com testes de dureza por microindentação. As amostras foram embutidas no laboratório de Metalografia do SENAI 3.01 Felix Guisard, Taubaté, SP. Para o lixamento e polimento das amostras, foi utilizado uma politriz AROTEC Aropol 2V. As amostras foram lixadas e polidas numa sequência granulométrica de #180, #320, #600, e #1200, seguindo a técnica de alterar a direção de lixamento em 90º para garantir uma superfície pré-polimento melhor. Para o polimento, foram usadas pastas de diamante com granulometria de 6 µm e 3 µm, a fim de conseguir uma superfície espelhada para o ataque químico. A revelação microestrutural foi feita utilizando uma solução de Nital 2%, submergindo a amostra por cerca de 6 segundos e lavando em água corrente para encerrar a reação, secando-as com soprador térmico. Após os ataques químicos, as amostras foram levadas ao microscópio óptico onde imagens de sua microestrutura foram capturadas. Os ensaios de microdureza foram feitos da camada mais externa em direção ao centro da amostra, com uma carga de 50 gf. As medidas de dureza encontradas foram comparadas para avaliar a eficiência de cada tratamento superficial realizado. 3. Resultados e Discussão As imagens a seguir foram escolhidas para ilustrar de forma representativa os resultados obtidos em cada tratamento realizado. A imagem da Fig.1 mostra a microestrutura do aço 300M conforme recebido, laminado, atacado com o reagente nital. Notam-se regiões mais escuras formadas por perlita e regiões brancas, relacionadas, principalmente, à estrutura ferrítica. Após a realização da austêmpera, resfriamento isotérmico na temperatura de 300ºC, houve a formação da estrutura bainítica, esta estrutura é mostrada na Fig.2. A estrutura bainítica é formada por agulhas finas que recobrem a maior parte da microestrutura, as regiões brancas, finamente distribuídas podem ser formadas por ferrita ou austenita retida. Para realizar esta diferenciação são necessários outros ataques químicos, além do nital. A microestrutura bainítica eleva significativamente as propriedades mecânicas do aço 300 M. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 57-61, 2016 59 apresentar uma dureza maior, pois foi aquecida e resfriada rapidamente, podendo gerar fases mais duras no aço, como a bainita e a martensita. Esta região ficou com pouco menos que 60 µm de profundidade. 60 µm Fig. 1 – Microscopia óptica: estrutura do aço 300M, como recebido (ferrita e perlita). Fig. 3 – Microscopia óptica, mostrando a formação da camada nitretada a plasma. Fig. 2 – Microscopia óptica, mostrando a microestrutura do aço 300 M bainítico. A Fig. 3 mostra detalhe da borda da amostra do aço 300 M nitretado a plasma. Há a formação de uma pequena camada branca, com cerca de 2,6 µm de espessura na superfície. Esta camada é de elevada dureza e formada por nitretos de ferro. Além da camada branca, há a formação de uma camada de difusão do nitrogênio, abaixo desta, ambas as camadas contribuem para melhorar as propriedades contra o desgaste e a corrosão. A imagem da Fig. 4 mostra a camada resultante do tratamento de superfície a laser na velocidade de 600 mm/s. Há uma camada branca na superfície, formada principalmente por grafite, devido à introdução do carbono na superfície, esta camada tem um pouco menos que 20 µm. Esta camada pode ser vista na Fig. 4 e pode ser útil em um material submetido a desgaste por deslizamento, pois esta pode funcionar como um lubrificante sólido. Logo abaixo desta camada, temos uma região afetada pelo calor do laser, chamada comumente por ZTA (Zona Termicamente Afetada). Esta segunda camada deverá Fig. 4 –Camada formada no tratamento a laser, com velocidade de 600mm/s. A fig. 5 mostra a camada superficial resultante do tratamento a laser na condição de velocidade de 800 mm/s. De forma semelhante ao tratamento realizado na velocidade de 600 mm/s, podemos notar a camada branca formada principalmente por grafite, devido à introdução do carbono na superfície, porém esta apresenta uma camada menor, pouco menos que 12 µm (Fig.5), podendo também ser útil se o material for submetido a desgaste por deslizamento, podendo funcionar como um lubrificante sólido. A camada da ZTA (Zona Termicamente Afetada) ficou com pouco menos que 42 µm de profundidade. Nas Figs. 6, 7 e 8, os gráficos obtidos após os ensaios de microdureza, mostram os efeitos de cada tratamento de superfície Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 57-61, 2016 60 aplicado e as durezas obtidas. A dureza inicial do material base, antes do tratamento térmico para a formação de bainita era de 291 ± 34 HV, este valor se elevou para 555 ± 93 HV, valores compatíveis com a microestrutura bainítica. Notamos que as amostras com tratamento a laser, com as velocidades de varredura de 600 mm/s e 800 mm/s apresentam valores de dureza menores que a obtida no tratamento a plasma. Os valores de dureza obtidos nos tratamentos a laser são semelhantes aos valores observados no aço 300M, com estrutura bainítica, sem quaisquer tratamentos de superfície. Este fato reforça a ideia de que os tratamentos a laser geraram uma camada superficial de grafite, reduzindo sua resistência superficial do material. tratamento realizado a plasma. Estes dados são interessantes, pois mostram que os tratamentos aplicados, além de permitir melhor desempenho nas propriedades tribológicas e de proteção contra a corrosão, não mostram perda nas propriedades mecânicas de tração. Fig. 6 – Gráfico de dureza X distância da superfície - aço com tratamento a plasma. Fig. 7 – Gráfico de dureza X distância da superfície - aço com tratamento a laser (600mm/s). Fig.5 – Microscopia óptica: microestrutura do aço 300 M, após o tratamento de superfície a laser com a velocidade de 600 mm/s, mostrando formação de camada com grafite. A elevação da dureza da camada tratada a plasma se deve a formação de nitretos de ferro. É importante lembrar que os tratamentos termoquímicos, mesmo aqueles que não introduziram grande elevação na dureza, melhoram as propriedades de proteção contra a corrosão e ao desgaste. O gráfico da Fig. 9 mostra as curvas representativas dos resultados obtidos para os ensaios de tração. Nota-se que há uma coincidência das curvas, mostrando que as propriedades como limite de escoamento e limite de resistência permaneceram inalterados. Há apenas uma redução no alongamento, mais notadamente para o Fig. 8 – Gráfico de dureza X distância da superfície - aço com tratamento a laser (800mm/s). 4. Conclusões O tratamento térmico de austêmpera conferiu uma elevação no valor de dureza no aço 300 M de 291 ± 34 HV para 555 ± 93 HV. O tratamento de nitretação a plasma atendeu nossas expectativas gerando uma camada com elevada dureza como pode ser observado nos ensaios de microdureza, cerca de 950 HV. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 57-61, 2016 61 Fig. 9. Gráfico de alongamento X tensão para o aço 300 M, com os tratamento a laser e a plasma utilizados neste trabalho. Os aços submetidos aos tratamentos a laser, a 600 mm/s e a 800 mm/s, apresentaram um comportamento diferente, há uma redução na dureza próximo à superfície, provavelmente devido à formação de uma camada de superfície de grafite, esta camada pode funcionar como um lubrificante sólido, com aplicação favorável para materiais submetidos a desgaste por deslizamento. Os tratamentos termoquímicos aplicados (nitretação a plasma ou carbonetação a laser) não provocaram perda na resistência mecânica do aço 300 M, os níveis de limite de resistência e de escoamento permaneceram em níveis elevados. Motores Foguete para Utilização no Veículo Lançador de Satélites VLS-1, In: 4º COBEF - Congresso Brasileiro de Engenharia de Fabricação, 2007. SANTOS, D., VASCONCELOS, G., ABDALLA, A.J., Lima, M.S.F., NETO, F. SOUZA. Surface Characterization in a 300 M Bainitic Steel Laser Carburizing. Procedia Engineering. , v.114, p.322 - 329, 2015. SILVA, F.; LOPES, N.I.A.; SANTOS, D.B. Microstructural characterization of the C-Mn multiphase high strength cold rolled steel. Materials Characterization, 56, 3-9, 2006. Agradecimentos Os autores agradecem ao IEAv e ao SENAI de Taubaté, pelo suporte técnico e de laboratório e ao CNPq pela bolsa PIBIC. Referências ABDALLA A. J.; VASCONCELOS G.; PORTELA A.G.; CARDOSO A.S.M.; BAPTISTA C.A.R.P., Tratamento de superfície a laser em aços 4340 e 300M, Congresso TTT, 2012. ABDALLA, A. J.; HASHIMOTO T. M.; PEREIRA, M. S.; ANAZAWA, R. M. Formação da fase bainítica em aços de baixo carbono. Revista Brasileira de Vácuo, v. 25, p. 175-181, 2006. ABDALLA, A. J.; SHEID V. H. B. Tratamentos termoquímicos a plasma em aços carbono, Revista Corrosão e Proteção de Materiais, v. 25, p. 92 – 96, 2006. GONÇALVES, A; MOTTA JÚNIOR, A; SAKAI, P. R., A Fabricação de Envelopes Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 57-61, 2016 62 CLASSIFICAÇÃO DA VEGETAÇÃO E CAVAS DE AREIA DE IMAGENS OBTIDAS POR VANTS NA REGIÃO DO VALE DO PARAÍBA EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP S. C. Oliveira1, J. D. Verona1, E. H. Shiguemori2* Projeto: PITER. 1 Faculdade de Tecnologia de Jacareí - Geoprocessamento, Jacareí – SP. 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de GeoInteligência do IEAv, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Este trabalho consiste em empregar técnicas de processamento digital de imagens, disponíveis no programa SPRING, em imagens de alta resolução obtidas por VANTs. O levantamento do uso da terra de uma região se torna imprescindível para podermos compreender os padrões de organização do espaço e da relação do homem nesse contexto, especialmente quando os efeitos do uso desordenado causam prejuízo ao meio ambiente (IBGE 2006). Dessa forma, a necessidade de monitoramento da vegetação ao redor das cavas de areia, justifica o desenvolvimento de novas aplicações em imagens obtidas por VANTs, assim como o processamento dessas imagens para produção de mapas temáticos de uso da terra. Este trabalho está em fase de testes de registro e de empregar as técnicas disponíveis no SPRING. Palavras-chave: Vegetação, Cavas, Areia, Classificação, SPRING. 1. Introdução Com o desenvolvimento deste trabalho objetiva-se realizar a classificação em imagens aéreas de alta resolução, na faixa do visível, obtidas por VANTs, utilizando técnicas de processamento digital de imagens, disponíveis no programa SPRING v.5.3. O SPRING é um SIG (Sistema de Informações Geográficas) gratuito, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos, SP. Possui funções de processamento digital de imagens, análise espacial, modelagem numérica de terreno e consulta de banco de dados espaciais (Câmara 1996). Os estudos realizados com imagens obtidas por VANTs estão ganhando espaço, por fornecer tecnologia de qualidade e de baixo custo em comparação com imagens provenientes de satélites orbitais ou ainda aviões. As modificações na paisagem que ocorrem de forma desornedada podem causar deteriorização e afetar o meio ambiente justificando desse modo que o uso da terra seja monitorado, e os estudos realizados com essas imagens de alta resolução contribuem com as pesquisas ambientais, demonstrando assim sua importância não só ambiental como também social. Um exemplo pode ser apresentado como o monitoramento da vegetação em recuperação ao redor de cavas que muitas vezes são invadidas, e, além de se encontrarem em área de preservação permanente, precisam ser monitoradas por pelo menos quatro anos após a inutilização da exploração da cava de areia, como as encontradas ao redor do Rio Paraíba do Sul. As técnicas de processamento digital de imagens podem ser divididas em três etapas: pré-processamento, realce e classificação. A etapa de pré-processamento inclui técnicas de correção geométrica, registro, entre outras, a etapa de realce reúne vários procedimentos para realçar a imagem, como contraste de histograma, análise de componentes principais, IHS (intensidade, cor e saturação) e por fim a etapa de classificação. As diversas técnicas de classificação de imagens podem ser divididas em classificação supervisionada ou nãosupervisionada, quando se trata da coleta de amostras pelo usuário ou pelo computador, usando estatística, por exemplo, ou ainda podem ser realizadas por pixel ou por regiões. Outras formas de divisão dessas técnicas podem ser consideradas, porém esse Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 62-65, 2016 63 trabalho se concentrará nas descritas acima (Meneses 2012). Para obter um melhor resultado no mapeamento das áreas de interesse para este estudo, serão utilizadas técnicas de classificação por pixel e por regiões. Serão apresentados os resultados e as diferenças entre os classificadores. A qualidade das classificações serão testadas a partir da análise visual e pela tabela de contingência (matriz de confusão). 2. Metodologia Após o georeferenciamento da imagem que trata de relacionar linhas e colunas a coordenadas espaciais denominado de registro no SPRING, serão empregadas as seguintes técnicas de realce de imagem: filtragem, contraste, transformação IHS e Análise de Componentes Principais. Os algoritmos de classificação por pixel que o SPRING disponibiliza e que serão testados são os seguintes: MaxVer, MaxVer - ICM, Distância Euclidiana e Kmedias e os algoritmos por regiões são os denominados Isoseg, Battacharya e Clatex. O primeiro procedimento para realizar uma classificação supervisionada é o treinamento. O treinamento consiste em coleta de amostras de determinada classe pelo usuário. Na classificação não supervisionada a coleta de amostras é feita através de uma imagem onde o histograma é fatiado, por exemplo o kmedia no SPRING dentro da classificação por pixel ou através de uma imagem segmentada, onde a classificação é realizada de forma semiautomática através de uma imagem que rotulada a partir de limites de similaridade e área fornecidos pelo usuário. Pretende-se realizar o trabalho respeitando as seguintes etapas: Aquisição de dados; Seleção da área do estudo; Préprocessamento (Registro de Imagem); Classificação; Pós - classificação; Avaliação da classificação e Mapeamento (Cerqueira 2010). 2.1 Seleção da área de estudo A seleção da área de estudo está sendo definida de acordo com as imagens de VANT que são fornecidas pelo projeto PITER. A área que foi realizado o sobrevoo está situada na região próxima à Universidade do Vale do Paraíba, no Urbanova, em São José dos Campos, SP. Aquisição de Dados Seleção da Área de Estudo Pré Processamento Classificação Pós - Classificação Avaliação da Classificação Mapeamento Fig. 1. Etapas das atividades desenvolvidas. O terceiro sobrevoo disponibilizado foi utilizado, uma vez que a câmera foi posicionada perpendicular a superfície. O primeiro passo foi transformar o vídeo em fotos. A melhor imagem foi selecionada para iniciar os testes, conforme mostra a Fig. 2. Fig. 2. Imagem obtida por VANT. A imagem em JPEG foi reposicionada e exportada para TIFF, formato que o Impima do SPRING necessita para converter em SPG e desta forma poder ser registrada. 2.2 Registro da Imagem É um procedimento disponível no Spring que realiza o Georreferenciamento das imagens, isto é, relaciona a imagem de um determinado local a um sistema de referência. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 62-65, 2016 64 Para realizar o registro na imagem de VANT foi utilizada como referência uma imagem ortorretificada do geoportal do IGC (Instituto Geográfico e Cartográfico), com escala 1:1000, conforme mostra a Fig. 3. apresentou 100% de exatidão do produtor e 100% de exatidão do usuário. MATRIZ DE ERROS DE CLASSIFICAÇÃO Colunas: dados de Referência Água Veget. Solo Soma col. Fig. 3. Imagem ortorretificada usada como referência. 3. Resultados e Discussão A qualidade do registro foi conferida através dos erros nos pontos de teste e erros no ponto de controle. O registro realizado apresentou um erro de 25 pixels de deslocamento, o que, no entanto, não inviabilizou sua importação ao SIG SPRING de modo que foi possível iniciar os testes de classificação de imagem. Porém, esse erro está em função de ter sido usada uma imagem como referência para o registro com pior resolução do que a necessária para esse estudo (fotografia ortoretificada do geoportal do IGC). Inicialmente foi feita uma classificação supervisionada por pixel, onde foram coletados amostras de água, vegetação e solo. O classificador MaxVer foi escolhido para iniciar os testes, e apresentou bons resultados, como pode ser observado na Fig. 4. Conforme observa-se na Fig. 4, o desempenho geral da classificação foi de 99,79 %. As classes que apresentaram maior confusão foram vegetação e água com 0,21%. A Fig. 4 também apresenta os erros de omissão e comissão (erros do produtor e do usuário). A classe água apresentou 99,61% de exatidão do produtor e 100% de exatidão do usuário, a classe vegetação apresentou 100,00 % de exatidão do produtor e 99,43% de exatidão do usuário. A classe solo Água Veget. Solo Absten. 1278 53.56% 5 0.21% 0 0.00% 0 0.00% 865 36.25% 0 0.00% 0 0.00% 0 0.00% 238 9.97% 0 0.00% 0 0.00% 0 0.00% 1283 865 238 0 Soma lin. 1278 870 238 2386 Exatidão do Produtor Exatidão do Usuário Água 99.61% 100.00% Veget. 100.00% 99.43% Solo 100.00% 100.00% Desempenho geral 99.79 % Confusão média 0,21% Abstenção 0.00 % Fig. 4. Matriz de Confusão Após a etapa de classificação realizou-se o mapeamento para as classes temáticas, resultando no mapa apresentado na Fig. 5. LEGENDA: Água Veget. Solo Fig. 5. Mapa de Classe É possível notar que em algumas áreas de sombra nas áreas de floresta, houve confusão com água. 4. Conclusões Foi possível verificar que para melhorar a qualidade do registro das imagens é preciso realizar o mosaico das imagens antes de fazer o georreferenciamento de modo que se tenha um maior número de pontos de controle. O ideal seria realizar um novo sobrevoo sobre a área de estudo, de modo que se garantisse a qualidade geométrica da imagem, permitindo a produção de uma imagem ortorretificada. No entanto, para o objetivo inicial de se testar os classificadores Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 62-65, 2016 65 disponíveis no SPRING, acredita-se que esse não seja um fator limitante. Agradecimentos Ao IEAv e aos colaboradores do projeto PITER. Referências CÂMARA, G. et al. SPRING: Integrating remote sensingand GIS by object-oriented data modelling. São José dos Campos: INPE, May / Jun 1996. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/ spring/portugues>. Acesso em: 15/05/2016. CERQUEIRA, J. A. C.; ALVES, A. O. Classificação de imagens de alta resolução espacial para o mapeamento do tipo de pavimento urbano. In: III SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS GEODÉSICAS E TECNOLOGIA DA GEOINFORMAÇÃO, Recife. Anais...Recife: CTG/UFPE, 2010. p. 000001. Disponível em: <https://www.ufpe.br/cgtg /SIMGEOIII/IIISIMGEO_CD/>. Acesso em: 15/05/2016. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Manual técnico do uso da terra. Manuais técnicos em geociências 2a edição, no. 7. Rio de Janeiro 2006. MENESES, P. R. et al. Introdução ao processamento de Imagens de sensoriamento remoto. Universidade de Brasília / CNPq, 2012. Disponível em:<http://www.cnpq.br/web/guest/ livro-eletronico>. Acesso em: 16/05/2016. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 62-65, 2016 66 COMPORTAMENTO ESPECTRAL DE DISTINTOS ALVOS PERANTE UM SENSOR TERMAL D. M. F. Costa1*, J. Verona1*, E. H. Shiguemori2* Projeto: PITER 1 Faculdade de Tecnologia – Geoprocessamento, Jacareí – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – DCTA, São José dos Campos – SP *[email protected], *[email protected], *[email protected] Resumo Com a crescente aplicação de sensores infravermelhos termais em áreas como, por exemplo, segurança, monitoramento, agricultura, manutenção de edificações e redes elétricas, faz-se necessário o entendimento de comportamentos espectrais. Estes comportamentos são influenciados por varáveis como condições (atmosféricas), propriedades físico-químicas e biológicas dos alvos. Este artigo foi elaborado para evidenciar os resultados parciais do estudo do comportamento termal de distintos alvos, perante um sensor termal imageador, durante um período determinado. Além dos resultados parciais, este também projeta o que é esperado dos resultados finais e etapas para obtê-los. Palavras-chave: Termal, Sensor, Espectrais, Comportamentos. 1. Introdução Os sensores infravermelhos termais têm sido empregados em diversas aplicações do sensoriamento remoto (Coelho 2013). As imagens geradas por estes sensores são de grande importância, pois são obtidas informações em condições diferentes dos sensores comuns, como os ópticos (Paz 2009). Estas imagens têm sido geradas por sensores embarcados em satélites (Cunha 2009) e aeronaves tripuladas (Lucca 2001). Com o avanço da tecnologia, estes sensores tem sido miniaturizados e podem ser embarcados em aeronaves de pequeno porte como os Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) (Simões 2015). O desenvolvimento de aplicações de VANT com o emprego destes sensores possuem desafios, pois as resoluções das imagens geradas são diferentes às imagens de satélites, além disso, é necessário integrar dados do voo dos VANTs com as imagens geradas pelas câmeras De modo geral, este estudo objetiva estudar o comportamento espectral de distintos alvos em uma mesma cena, captadas por um sensor termal. Especificamente, este estudo visa: Demonstrar uma metodologia de caracterização de uma câmera termal; Entender a relação entre sistemas: atmosfera, alvo e sensor termal; Estimar padrões e comportamentos espectrais termais de diferentes alvos em uma mesma cena durante um determinado período de tempo. 1.1 Espectro eletromagnético Conjunto que apresenta os tipos de radiações eletromagnéticas conhecidas pelo homem (Meneses 2012a). Na estrutura do espectro, as radiações são encontradas ordenadas por tamanhos de comprimentos de onda, onde, da esquerda para direita, temos dos menores aos maiores comprimentos na sequência conforme a obra de Ferreira 2006: Raios gama: radiação emitida por materiais radioativos, com alta energia e poder de penetração. Raios X: Com moderado poder de penetração, são gerados pelo freamento de elétrons de grande energia eletromagnética. Raios ultravioletas: Emitidos em grande quantidade pelo Sol e praticamente todos absorvidos pela camada de ozônio, com poder penetrante suficiente para serem nocivos aos serem vivos. Luz visível: Intervalo do espectro apresentando um conjunto de radiações que podem ser detectadas pelo sistema visual humano proporcionando sensações de cores. As cores estão relacionadas com diferentes comprimentos de ondas dentro deste intervalo. Infravermelho: Iniciando os comprimentos mais longos, este grupo de radiação é Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 66-69, 2016 67 particionado em próximo, médio e distante, sendo o primeiro encontrado em fontes convencionais de iluminação e em fluxos solares. Infravermelhos, médio e distante, são radiações eletromagnéticas relacionadas às características termais de corpos, objetos ou substâncias. Micro-ondas: Radiações produzidas por sistemas eletrônicos. Ondas de rádio: Comprimentos maiores que 1 metro. São utilizadas principalmente em telecomunicações. Sabe-se que todo corpo acima do zero absoluto ou zero Kelvin (aproximadamente 273°C) emite radiação eletromagnética (Meneses 2012b), mas não necessariamente em todos os comprimentos (Ferreira 2006a). Maioria dos objetos, substâncias ou corpos, emitem comprimentos de ondas específicos, caracterizados como assinatura espectro eletromagnética (Meneses 20012c). 1.2 Espectro termal Localizado no intervalo de 3 a 15 m no espectro eletromagnético (Ferreira 2006b), este é composto pelo infravermelho médio junto ao infravermelho distante, que são produzidos, principalmente, pelo fluxo radiante de energia emitido por corpos, objetos ou substâncias acima do zero absoluto. Esta emissão ocorre devido ao estado vibracional das moléculas, que libera energia eletromagnética ao se chocarem (Meneses 2012d). 2. Materiais e Métodos Devido ao estudo encontrar-se em fase preliminar (início em abril de 2016), etapas foram adotadas como meio de facilitar a explicação de desenvolvimento do mesmo, sendo sete etapas do início ao fim (término em 2017). Na Fig. 1 é apresentado o fluxograma de desenvolvimento do estudo, sendo que as partes destacadas (mais escuras) são as já realizadas. Entendendo as etapas do fluxograma, descreve-se: Definição de Escopo: Determinação da cena a ser imageada e temporalidade do imageamento. Testes em Laboratório: Objetivando aprendizagem de como operar devidamente o sensor termal imageador para captura de imagens e gravações de vídeos. Fig. 1. Fluxograma de desenvolvimento. Caracterização da Câmera: Consiste na caracterização espectral e radiométrica do sensor imageador (Filho, 2015), sendo feita tanto antes da aquisição das imagens, quanto depois para verificação de possíveis inconsistências. Dividindo-se em caracterização espectral e caracterização radiométrica, estas serão realizadas no Laboratório de Radiometria e Caracterização de Sensores Eletroópticos – LaRaC. Na caracterização espectral será determinada a sensibilidade do sensor à radiação eletromagnética nos diversos comprimentos de onda, utilizando uma fonte de infravermelho termal, um monocromador e um detector de referência. Na radiométrica, será estudada a resposta do sensor em relação à radiação eletromagnética emitida por um corpo negro, de área extensa, de referência. Aquisição de Imagens: Esta etapa consiste na própria coleta de informações com o imageamento pela Tau 640. Tratamento de Informações: Processamento digital das informações adquiridas, desde as caracterizações até o imageamento, através do software Spring desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), para as construções de assinaturas espectrais de diferentes alvos durante o período de coleta. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 66-69, 2016 68 Resultados e Conclusões: Obtenção de resultados após análise das informações adquiridas e devidamente processadas. 2.1. Materiais Para aquisição de imagens, utilizar-se-á uma câmera (Fig. 2) modelo Tau 640: Fig. 2. Modelo de câmera termal. Utilizar-se-á também um conversor Sensoray (Fig. 3), modelo 2253S. Fig. 3. Conversor Sensoray 2253S. 3. Resultados Parciais e Esperados Conforme apresentado no fluxograma de desenvolvimento (Fig. 1), ficou definido que o escopo de imageamento será uma única cena com temporalidade de 24 horas em intervalos de 30 minutos entre as capturas (uma imagem a cada meia hora durante um dia). Testes em laboratório também foram realizados objetivando melhor maneira de operar o sensor. Devido à dificuldade de restrições e ausência de “display” no software da própria fabricante, optou-se por integrar a câmera ao conversor Sensoray, pois o software deste disponibiliza capturas e gravações além de display para nortear os usuários. Na Fig. 4 é apresentado um produto de captura realizada ao integrar o a Tau640 (Fig. 2) junto ao Sensoray 2253S (Fig. 3), na janela do próprio laboratório do projeto, tendo como alvo, a poucos metros de distância, o tronco de uma árvore, um carro de modelo pick-up e, ao fundo, uma rua asfaltada. Fig. 4. Imagem capturada pela câmera disponível no laboratório do Projeto PITER. Espera-se conforme o desenvolvimento deste estudo, demonstrar uma metodologia de caracterização de uma câmera termal, estabelecer relações entre variáveis dos sistemas atmosfera, alvo e sensor termal imageador e, também, estimar padrões e comportamentos espectrais termais de diferentes alvos em uma mesma cena durante ao decorrer de um determinado tempo. 4. Conclusões Ainda nas etapas iniciais, o projeto já está apresentando resultados que possibilitam análises prévias como a integração do sensor ao conversor e o retorno em tons de cinza da Tau640 que, em uma análise preliminar, tons mais claros estão em temperaturas mais elevadas do que tons mais escuros. Estes pequenos resultados norteiam próximas etapas a serem realizadas para obtenção dos objetivos propostos. Espera-se que a conclusão deste projeto possa subsidiar novos trabalhos. Agradecimentos Prezo agradecimentos ao projeto PITER que, além de agregar conhecimentos e oportunidades, além de fornecer devida orientação e disponibilidade de materiais, integra constantemente os participantes a cada reunião. Referências FILHO, G. M. L. Metodologia de caracterização de sistema eletro-óptico Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 66-69, 2016 69 imageador termal para missões de busca e patrulha marítima. 2015. 107f. Dissertação (Mestrado em Ciências e Tecnologias Espaciais) – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. SIMÕES, I. et al. Avaliação do desempenho de classificadores em imagens de Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT). In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, João Pessoa, 2015, Anais XVII... João Pessoa: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2015. p. 611-618. Coelho, A. L. N.; Correa, W. S. C. Temperatura de superfície célsius do sensor TIRS/Landsat-8: Metodologia e aplicações. Revista Geográfica Acadêmica, v.7, n.1, p. 31-45. dez, 2013. MENESES, P. R.; ALMEIDA, T. Introdução ao Processamento de Imagens de Sensoriamento Remoto. Brasília: UnB, 2012. 266 p. CUNHA, J. E. B. L.; RUFINO, I. A. A.; IDEÃO, S. M. A. Determinação da temperatura de superfície na cidade de Campina Grande-PB a partir de imagens do satélite Landsat 5-TM. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, Natal, 2009, Anais XIV... 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Origo²*. 1 Universidade Federal de São Paulo, São José dos Campos– SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Atividades Gerais, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo A corrosão térmica do Carbono Vítreo Monolítico – CVM- acontece devido à reação do material com o oxigênio em elevadas temperaturas num determinado tempo. Para isso, foram estudados a temperatura e tempo ideais de corrosão. Testou-se também a deposição de filme metálico de cobre e titânio sobre a superfície de CVM. Foram depositados filmes metálicos de Ti, de espessura da ordem 220 nm e de Cu com espessura de 300 a 400 nm. O metal a ser depositado deve possuir uma boa interação com o carbono para que consiga aderir ao substrato e sua função neste trabalho foi proteger partes do CVM. Essa proteção metálica ficará intercalada com regiões desprotegidas (sem filme), de modo a formar degraus na superfície das amostras com a corrosão térmica. A ancoragem do filme metálico foi reduzida em altas temperaturas. Dependendo da temperatura e tempo de corrosão térmica, a massa perdida variou entre zero e 77%. Palavras chave: Carbono vítreo, Corrosão, Microestruturas, Rugosidade. 1. Introdução O presente trabalho teve como foco estudar a obtenção de microestruturas de Carbono Vítreo Monolítico – CVM (Jenkins 1976). Trata-se de um material já comercializado, de baixa densidade, condutor de eletricidade, biocompatível, impermeável a gases, com alta inércia química e resistente a altas temperaturas em atmosferas inertes. Suas propriedades elétricas são parecidas com as do grafite e suas propriedades mecânicas são parecidas com as dos vidros borossilicatos (Zarzyck 1991). O CVM é obtido através da adição de um catalisador (Cheng 2010) à resina precursora rica em carbono (fenólica ou furfurílica), para que ocorra a sua polimerização. Em seguida, as amostras são carbonizadas em forno até 1200º C - em atmosfera inerte ou em vácuo - para que haja liberação de água, metano, hidrogênio, CO2, e outros voláteis. Após a carbonização, as amostras encontram-se com uma matriz quase pura de carbono. Com o crescimento mundial da miniaturização de dispositivos, as microestruturas de CVM vêm ganhando interesse nos estudos devido às suas propriedades peculiares. Na literatura, há exemplos de obtenção de microestruturas de CVM usando as técnicas de irradiação a laser, irradiação por íons focalizados e por usinagem mecânica (Youn 1986). O objetivo do projeto foi estudar a obtenção de microestruturas de CVM através da corrosão térmica para aplicação em padrões de rugosidade e microssensores, que são de interesse do IEAv. D. Joseph (Joseph 1983) estudou a oxidação de materiais carbonosos em geral e diz que um fator importante nesse processo é a razão O/H do material. No caso do carbono vítreo, esse material carbonoso já fora carbonizado antes, de forma que o conteúdo de oxigênio e hidrogênio é baixo, muito inferior a 0,5%. Rodriguez (Rodriguez 1974) estudou a oxidação de CVM em atmosfera de O2, entre 750ºC e 850ºC, de CVM carbonizado a 3000ºC. A corrosão do CVM dependeu da sua temperatura de carbonização. A taxa de corrosão do CVM carbonizado a 2000ºC foi 50 vezes maior que a do CVM carbonizado a 3000C, porque aquele apresentava mais contaminantes. Neste trabalho, o CVM foi carbonizado à apenas 1200ºC, e portanto, deve ter mais contaminantes e maior taxa de corrosão que o CVM estudado por Rodriguez. Por isso, estudamos a corrosão em temperaturas menores, entre 600ºC e 700ºC. Rodriguez mostrou também que a taxa de oxidação aumenta com a temperatura de oxidação usada. 2. Metodologia Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 70-75, 2016 71 A corrosão térmica do CVM consistiu em reagi-lo com oxigênio em temperaturas acima de 450º C, que é a temperatura mínima para a corrosão se iniciar. Parte da superfície foi protegida por um filme metálico, para evitar a sua corrosão, e o restante da superfície foi corroída, formando degraus e canaletas entre as duas regiões distintas. Fita adesiva para alto vácuo foi usada para impedir a deposição de filme na área por ela coberta. Em seguida, foi realizada a deposição de um filme metálico sobre toda a superfície do CVM. As fitas adesivas foram removidas após a deposição do filme fino, obtendo-se regiões com e sem filme na superfície. Em seguida, o material foi conduzido a um forno para dar início à corrosão térmica da sua superfície. 2.1 Colagens de fita adesiva Fitas adesivas especiais para uso em vácuo foram coladas paralelamente entre si, sobre a superfície das amostras, de modo a intercalar entre regiões protegidas pela fita e regiões com o CVM exposto, como esquematizado na Fig. 1. depositou sobre o substrato de CVM, formando o filme metálico. Já a técnica ebeam consiste basicamente em direcionar elétrons através de um campo magnético para colidirem com o alvo metálico (titânio) e, consequentemente, evaporá-lo dentro da câmara com vácuo. Esse vapor metálico então se deposita no material estudado, formando um filme fino sobre a superfície do mesmo, com espessura estimada. Em ambos os tipos de deposições citados, as amostras ficaram fixas em porta-amostras na parte superior do equipamento, paralelas ao alvo metálico. Com o filme depositado no CVM, as fitas adesivas foram removidas da superfície, obtendo-se degraus entre a matriz de CVM e o filme metálico (Fig. 2). Durante as deposições, os substratos não foram aquecidos e a temperatura das suas superfícies foi de aproximadamente 50°C, ou seja, próxima da temperatura ambiente. Fita adesiva a) b) Fig. 2. a) Deposição do filme de Ti sobre o CVM com fitas adesivas; b) Degrau de altura h formado após Sputtering com a retirada das fitas adesivas. Fig. 1. Representação da colagem de fitas adesivas no CVM. 2.2 Deposição de filme metálico protetor Deposição de filme fino de titânio via técnica de sputtering (também conhecida como pulverização catódica) ou via Evaporação por elétrons (e- beam), com espessura programada para aproximadamente 100 nm. O material titânio foi escolhido devido sua boa interação com o carbono se comparado aos outros metais. Também foi depositado filme de cobre pela técnica de sputtering, para comparar os dois metais. O equipamento utilizado da marca Edwards, libera íons de argônio, os quais são acelerados em direção ao alvo de titânio transferindo momento para a superfície do alvo e removendo partículas de titânio do mesmo. Parte dessas partículas arrancadas se 2.3 Pesagem das amostras Para se estudar a perda de massa devido a corrosão térmica, as amostras foram pesadas antes e após a corrosão em balança de alta precisão da marca Mettler AT21 Comparator. 2.4 Testes de Corrosão Térmica Os testes de corrosão térmica do CVM com filme fino metálico foram feitos primeiramente num forno de controle manual (com capacidade de atingir até 1100°C), variando-se a cada teste a temperatura máxima atingida pelo forno e o tempo de permanência em temperatura constante. O forno tubular possui uma extremidade aberta, de modo que as peças tivessem o máximo contato com o oxigênio do ar para corroê-las. Em resposta à corrosão por O2, esperava-se que o degrau formado entre regiões com filme e sem filme Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 70-75, 2016 72 depositado aumentasse sua altura h. Futuramente se pretende usar esse princípio para a obtenção de microestruturas na superfície do CVM. No primeiro teste, após as amostras serem pesadas, foi escolhida uma temperatura máxima de 650º C, na qual permaneceram por 17 horas seguidas. Essa temperatura escolhida foi baseada na temperatura mínima de 450º C (Chekanova 1971) em que se inicia a reação do CVM com oxigênio. Com o forno resfriado, as amostras foram retiradas e pesadas novamente. Em um segundo teste, aumentou-se a temperatura máxima para 700º C com permanência nesta por 7 horas. Os testes seguintes foram feitos em forno tubular controlado por computador, a fim de encontrar uma temperatura e tempo ideais para corroer as amostras com melhor controle. As temperaturas máximas escolhidas ficaram entre 600º C e 700º C, com tempos mais curtos de exposição das amostras ao oxigênio, sendo eles 20 minutos, 1 hora, 2 horas, 3 horas e 4 horas em temperatura constante. Algumas das amostras utilizadas para os testes estão na Fig. 3, antes de sofrerem corrosão. 2.7 Testes com filme de Cobre Filme de cobre (para proteger parte da superfície) foi depositado sobre a superfície do CVM seguindo-se os mesmos procedimentos já citados, como a colagem das fitas adesivas, deposição por sputtering, seguida de corrosão e medição de espessura de filme pelo rugosímetro. 3. Resultados e Discussão Os filmes metálicos depositados por sputtering e e-beam sobre o CVM mostraram boa ancoragem à temperatura ambiente, sem evidenciar sinais de delaminação por tensão mecânica nessas condições. Após depositar o filme de Ti por Sputtering sobre o CVM e retirar as fitas adesivas, a amostra foi levada ao rugosímetro, pelo qual percorreu 1 mm de distância entre a região com filme e a região sem filme. O perfil de rugosidade obtido está representado na Fig. 4, cujo eixo y representa a posição da ponta do rugosímetro (mm) e o eixo x mostra a altura do degrau formado (µm). µm L R 1 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2.5 degrau -3 -3.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 mm Fig. 4. Perfil de rugosidade de CVM com Ti via Sputtering. 1 M axim um height Fig. 3. Amostras de CVM selecionadas para testes de corrosão. 2.5 Medição de espessura do filme Para se obter a altura do degrau formado entre o filme fino e o CVM, utilizou-se o Rugosímetro de bancada da marca Taylor Robson PGI 1000. As ranhuras foram feitas perpendiculares à direção em que as fitas adesivas foram colocadas, com a ponta do rugosímetro percorrendo entre 1 e 2 mm da superfície do CVM. 2.6 Análise de Refletância Uma segunda maneira de se estudar a espessura do filme fino de Titânio no CVM foi através de medição de refletância no Espectrofotômetro JASCO, modelo V-570, com esfera integradora. Foram feitas três medições diferentes para cada amostra. M ean height Width 0.259 µm 0.224 µm 0.0478 m m Os vales profundos mostrados representam os poros presentes no CVM. A partir de duas regiões escolhidas consideradas planas, que estão representadas em laranja da Fig. 4, foi obtido um valor de espessura de filme de 224 nm. Outras medidas foram realizadas nas amostras que tiveram filme de titânio depositado via e-beam. O perfil de rugosidade encontrado está na Fig. 5. Neste caso, a altura do degrau formado foi de 121 nm. Além de identificar, através da técnica de rugosidade, o degrau formado entre o CVM e o filme de Ti, estimou-se também a refletância do filme a partir do espectrofotômetro. O resultado de refletância obtido encontra-se na Fig. 6. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 70-75, 2016 73 µm L R 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2.5 -3 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2 mm 1 Fig. 5. Perfil de Rugosidade de CVM com Ti via e-beam. M axim um height 0.151 µm M ean height 0.121 µm Width 0.111 m m calculado foi de 215 nm, que está próximo do valor medido pelo rugosímetro (224 nm). Os primeiros testes de corrosão em forno controlado manualmente, após as amostras ficarem 2000 minutos em contato direto com ar atmosférico em elevadas temperaturas (Fig. 7), resultaram em amostras bastante corroídas, conforme visto na Fig. 8. 30 R Rteor 1ª Rampa de Corrosão Térmica 800 700 20 Temperatura (°C) Refletância (%) 25 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 Comprimento de onda (m) 600 500 400 300 200 100 0 0 500 1000 1500 2000 Fig. 6. Comparação da Refletância teórica com a Refletância experimental x comprimento de onda. Fig. 7. Temperatura x tempo do 1º teste de corrosão. Neste gráfico tem-se comparado a curva de Refletância teórica (vermelha) com a Refletância experimental (preta) das amostras estudadas. A Refletância teórica foi obtida através da relação da Eq. 1, que considera a interferência construtiva – destrutiva da luz nas duas interfaces do filme: Fig. 8. Amostras de CVM após corrosão térmica. Onde A é constante e representa a linha média em relação ao eixo da Refletância (~15%), B também é constante e indica a amplitude da curva (metade da altura entre o ponto máximo e o minímo = ~8,5%), n é o índice de refração do titânio (~ 2,37 para comprimento de onda igual a 500 nm), d é espessura estimada do filme e λ é o comprimento de onda. Os valores das constantes e os demais, ao serem substituídos na Eq.1 através do software Origin, resultaram em uma curva bem próxima à curva de Refletância obtida experimentalmente para o intervalo entre 400 e 1000 nm. O valor de espessura ‘d’ Tempo (min) Tal fato pode ser explicado devido ao longo intervalo de tempo que as peças permaneceram em uma mesma temperatura (~650ºC), favorecendo a corrosão das mesmas pelo O2, com formação de CO2. Com isso, fez-se um segundo teste de corrosão com novas amostras em contato com o ar por aproximadamente 1 hora, conforme Fig. 9. Neste caso, a temperatura máxima atingida também foi de 700ºC, porém as amostras não foram completamente corroídas, já que permaneceram em outros intervalos de tempo em temperaturas constantes. A partir deste teste foi possível calcular as perdas de massa após a corrosão de cada amostra, obtendo-se uma média de perda de aproximadamente 33%. Concluídos os testes em forno manual, avaliou-se as amostras no Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 70-75, 2016 74 forno tubular controlado por computator. O tempo necessário para se atingir a temperatura máxima (600 ou 700º C) foi de 4 horas e mais 4 horas para resfriar até temperatura ambiente (~ 25º C). Os resultados de cada teste de corrosão são mostrados na Tab. 1. 700 2° Rampa de Corrosão Térmica Temperatura (°C) 600 CVM. O cobre foi depositado via Sputtering utilizando-se os mesmos procedimentos citados inicialmente para formar os degraus entre as regiões com e sem fitas adesivas. Neste caso, a espessura escolhida de filme depositado foi de 300 nm. Para confirmar a deposição do filme, a amostra também foi medida no Rugosímetro, cujas espessuras obtidas ficaram entre 300 e 400 nm, conforme Fig. 10. µm 1 0.5 0.4 500 0.3 400 -0.1 0.2 0.1 0 -0.2 -0.3 -0.4 300 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 µm 1 200 Fig. 10. Perfil de rugosidade de CVM com cobre via Sputtering. M axim um depth 0.367 µm M ean depth 0.339 µm Width 0 100 200 300 Tempo (min) 400 500 Fig. 9. Temperatura x tempo do 2º teste de corrosão térmica. Tab. 1. Tempo total na temperatura máxima de corrosão e % de massa perdida. Intervalo na temperatura máxima ᵒ C 2h em 600 3h em 600 4h em 600 20 min em 700 1h em 700 4h em 700 % massa perdida Próxima de zero 5,7% 76,7% 5,4% 6,7% 77,2 % Segundo a Tab. 1, observa-se que o tempo total na temperatura máxima é o principal fator pela corrosão das amostras. Esse fator tem mais efeito que a temperatura máxima da corrosão térmica. No teste de corrosão, se espera que a perda de massa não seja desprezível, nem tão pouco, que a massa perdida muito alta, próxima do valor inicial da amostra. Buscou-se valores de variação de massa no intervalo entre 5% e 10%, de forma que ao tamanho da amostra não seja muito reduzido pela corrosão, mas que haja uma formação de degrau mensurável. Assim sendo, os testes indicam que as melhores condições de se trabalhar com corrosão de CVM seriam 3 horas em 600ºC ou 700ºC em 1 hora, sendo esta preferível, já que exige menor tempo de forno. Por fim, estão sendo feitos testes com deposição de filme fino de Cobre sobre o 273 µm Em seguida, as amostras foram levadas ao forno nas mesmas condições da última corrosão realizada (1 hora em 700º C). Terminada a etapa de corrosão térmica as amostras encontravam-se inteiras, sem trincas, porém com o filme de cobre se “descolando” do substrato. A variação de perda de massa neste teste foi de 3,7%. Nas etapas seguintes serão feitas novas deposições de filmes, variando-se o metal do filme e as condições de corrosão (tempo e temperatura) do forno. Os filmes de Ti e de Cu, depositados com diferentes técnicas de deposição, após o tratamento térmico, delaminaram do substrato de carbono vítreo. Provavelmente, devido aos coeficientes de dilatação térmica diferentes entre o filme metálico e o CVM, houve perda da ancoragem do filme durante o aquecimento no forno. A consequência desse fato é que esses filmes metálicos de Ti e de Cu não exerceram o papel esperado de proteção de parte da superfície à corrosão térmica. O coeficiente de expansão térmica linear do CVM é próximo de 3x10 -6C-1, enquanto os metais tem o coeficiente maior. Já o valor do Ti é 8x10 -6 C-1 e o do Cu é 14x10-6 C-1. O baixo coeficente de expansão do CVM explica a dificuldade de ancoragem de filmes finos sobre ele. Portanto, toda a superfície do CVM foi corroída. 4. Conclusões Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 70-75, 2016 75 O presente estudo permitiu comparar duas técnicas diferentes de deposição de filme fino de titânio sobre a superfície do CVM, via Sputtering e via e-beam, sendo que ambas permitem a deposição de filmes estáveis à temperatura ambiente. Foram depositados filmes com espessuras de algumas centenas de nanômetros. Nos experimentos de corrosão térmica do CVM, observou-se que as amostras quando expostas a temperatura máxima de 600°C por 2 horas praticamente não há corrosão. Por outro lado, quando se aumenta este tempo (4 horas), a perda de massa das amostras chega a 77%. Os testes indicaram que os valores ideais para produzir corrosão moderada do CVM são nas condições de poucas horas em temperaturas entre 600º e 700º C. Por fim, os filmes de Ti e Cu testados não se mantiveram ancorados na superfície do CVM nas altas temperaturas experimentadas, de forma que não foi possível ainda fazer a corrosão seletiva de apenas partes da superfície do CVM. Amorphous Materials. New York, Basel, Cambridge, v. 9, 1991. Agradecimentos Ao IEAv pela oportunidade de desenvolver o projeto; ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica; aos mestres Luiz Lavras pela deposição do filme via e-beam e Sputtering, Rafael Louzada pela deposição via Sputtering e Marcos Valentim pelo polimento de amostras. Referências CHEKANOVA, V. D.; FIALKOV; A. S. RUSS. Chem. Rev, v. 40, p. 413, 1971. JENKINS, G. M.; KAWAMURA, K. Polymeric carbons – carbon fiber, glass and char. Cambridge, New York, Cambridge University Press, 1976. JOSEPH, D.; OBERLIN, A. Carbon, v. 21, n. 6, p. 565-571, 1983. RODRIGUEZ, F.; WALKER, P. L. Reaction of glassy carbon with oxygen. Carbon, v.13, p.7-10, 1975. YOUN, S. W, TAKAHASHI, M.; GOTO, H; MAEDA, R. Microelectronic Engineering 83, p.2482–2492, 2006. ZARZYCKI, J.; CAHN, R. W.; HAASEN, P.; KRAMER, E. J. Eds Weinheim. Materials Science and Technology – a Comprehensive Treatment –Glasses and Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 70-75, 2016 76 DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTA COMPUTACIONAL UTILIZANDO MÉTODOS DE INCLINAÇÃO LOCAL PARA PROJETO DE VEÍCULOS HIPERSÔNICOS M. M. C. Pellegrini1*, T. C. Rolim2 1 Universidade Federal de Itajubá - Departamento de Mecânica, Itajubá – MG 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Recente interesse no desenvolvimento de ferramentas computacionais com o intuito de auxiliar projetos preliminares de veículos hipersônicos deve-se ao alto custo para a realização de testes em condições de um voo hipersônico. O trabalho apresentado é uma alternativa com um custo computacional relativamente baixo, baseada nos métodos de inclinação local de superfície, para análise de veículos em regime hipersônico. Foram desenvolvidos programas para a leitura de geometria de arquivos no formato STL e também para cálculos do coeficiente de pressão através dos métodos Newtoniano e Newtoniano Modificado. Resultados preliminares são mostrados e comparações com a literatura são feitas. As comparações em geral apresentaram boa concordância tanto na leitura da geometria, onde foram utilizados corpos simples como a esfera, a cunha e o cilindro, quanto no cálculo dos coeficientes da força normal e axial para a capsula Apollo em número de Mach 10 e ângulo de ataque nulo. Palavras-chave: Hipersônica, aeroespaciais, Aerodinâmica. Veículos 1. Introdução Com o aumento do número de estudos em torno da aerodinâmica hipersônica, e o alto custo para a realização dos testes em condições de um voo hipersônico, tem-se mostrado necessário o desenvolvimento de ferramentas computacionais que consigam simular tais testes, a fim de auxiliar o desenvolvimento de projetos preliminares de veículos que utilizem dessa tecnologia. De fato, para que todos os efeitos do escoamento hipersônico sejam considerados, como escoamentos reacionais em alta temperatura, interação viscosa, camadas de entropia, entre outros (Anderson 1989), seria necessário um alto custo computacional; contudo, rápidas estimativas de distribuição de pressão podem ser calculadas com boa aproximação utilizando-se os métodos de inclinação local de superfície (Anderson 1989). O objetivo do trabalho que vem sendo desenvolvido é ser uma alternativa com um custo computacional relativamente baixo para análise de veículos hipersônicos utilizando-se dos métodos de inclinação local aplicados em geometria provenientes do CAD. 2. Metodologia A ferramenta foi desenvolvida em duas etapas: 1) interface para a análise da geometria; 2) interface para a análise dos métodos de inclinação local utilizando dos dados obtidos na etapa anterior. 2.1 Análise da geometria Arquivos de geometria do tipo STL (STL(file format)...2016) foram escolhidos para o desenvolvimento da ferramenta. Nesse formato, uma malha triangular não estruturada é utilizada para representar a superfície do sólido, sendo possível escolher o código com que é gravado: ASCII ou binário. Independente da escolha, o programa é capaz de separar as coordenadas de cada vértice do triângulo e as componentes do vetor normal. Para a comodidade do usuário, foi desenvolvida uma interface utilizando a ferramenta GUIDE do MATLAB (MATLAB 2015), vide Fig. 1. Após esse armazenamento, o programa utiliza esses dados para calcular o volume, a área de cada triângulo criado na triangularização STL, área total do corpo, números de vértices e de faces. A geometria importada também pode ser visualizada como mostrado na Fig. 2. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 76-80, 2016 77 Fig. 1. Interface para leitura da geometria. Os métodos de inclinação local de superfície em geral baseiam-se em simplificações do escoamento hipersônico, algumas delas são: considera-se o escoamento não-viscoso e sem reações químicas. Além disso, não há a necessidade de um detalhado cálculo do escoamento ao redor do veículo, a inclinação local da superfície é suficiente para fornecer a distribuição do coeficiente de pressão. Entre esses métodos, podemos citar (Anderson 1989): 1. Newtoniano; 2. Newtoniano Modificado; 3. Correções da Força Centrífuga para a Teoria Newtoniana; 4. Cunha-Tangente e do Cone-Tangente; 5. Choque-Expansão. Fig. 2. Visualização da geometria importada. Exemplo: capsula Apollo. A Fig. 3 mostra a segunda interface criada, onde o usuário pode escolher o método a ser utilizado. Ela permite a entrada das componentes do vetor velocidade de voo, a altitude geopotencial (necessária para o modelo atmosférico adotado) e a área de referência utilizada para adimensionalização dos coeficientes calculados no programa. Utilizando o teorema do divergente, é possível mostrar que o volume do sólido pode ser calculado através da relação: (1) Aproximando o valor da integral por: (2) Onde é o número total de triângulos e sendo e vértices do i-ésimo triângulo, podemos escrever: (3) Fig. 3. Interface para os métodos. (4) (5) é o vetor normal à superfície do i-ésimo triângulo e a área desse triângulo é dada por: (6) Dessa relação é possível obter a área total da superfície através de: (7) 2.2 Análise dos métodos de inclinação local Até o presente momento foram desenvolvidos e testados os métodos do Newtoniano e Newtoniano Modificado, visto que eles são os mais simples e genéricos, servindo como base para outros métodos. 2.2.1 Método Newtoniano Esse método depende exclusivamente do ângulo de deflexão , sendo o coeficiente de pressão calculado através de: (8) Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 76-80, 2016 78 Onde, por definição, o coeficiente de pressão é relacionado com a pressão , velocidade e densidade do escomanto livre através de: (9) é a pressão estática na superfície. O ângulo de deflexão local do escoamento é dado por: (10) 2.2.2 Método Newtoniano Modificado O segundo método estudado foi o Newtoniano Modificado, (11) Sendo é o valor máximo de , que é encontrado no ponto de estagnação, dado por: (12) Sendo o número de Mach durante o voo e a razão entre os calores específicos, considerada como igual a 1,4. 2.2.3 Cálculo da Força Total Com a distribuição do coeficiente de pressão conhecida, é possível calcular a força total sobre o sólido usando da relação: (13) Aproximando o valor da integral por: (14) Onde é o coeficiente de pressão do iésimo triângulo. Com essas informações, é possível calcular os coeficientes da força nos eixos , e , utilizando-se da relação: (15) (16) (17) Onde é uma área de referência e a pressão dinâmica é calculada através da fórmula: (18) 3. Resultados e Discussão 3.1 Teste da leitura da geometria Para testar e auxiliar no desenvolvimento dos programas de leitura da geometria, foram desenhados corpos simples amplamente utilizados e conhecidos na literatura, tais como: esfera, cunha e cilindro. Esses corpos apresentaram bons resultados quando testados nos diversos programas criados. Por se tratarem de geometrias conhecidas, foi possível comparar a área total da superfície e o volume encontrados pelo programa com a área total e o volume calculados analiticamente. E, com isso, calcular o erro porcentual, os valores encontrados estão dispostos na Tab. 1. Tab. 1. Porcentual do erro na leitura da geometria. Erro no Erro na área Geometria volume total Cilindro 1,00% 1,00% Cunha 1,00% 1,00% Esfera 3,71% 0,99% 3.2 Teste dos métodos desenvolvidos Como primícias, escolheu-se a capsula Apollo, vide Fig. 2, num voo a Mach 10, numa altitude de 80 km, para ângulo de ataque nulo ( = 0º), a área de referência 2 é 12 m . A distribuição de , de acordo com o método Newtoniano, está mostrada na Fig. 4. O tempo de cálculo para essa geometria foi em média < 1 s, num processador 2,2 GHz com 8 GB de memória RAM. Numa segunda aplicação, variou-se o ângulo de ataque de -40º a 0º, afim de se estudar os coeficientes de força nos eixos e , os resultados estão dispostos nas Figs. 5 e 6. Comparando com os resultados apresentados por Hirschel e Weiland (Hirschel 2009), obtidos por métodos mais exatos e também incluídos nos gráficos, podemos ver boa concordância entre estes e os resultados obtidos pelo código desenvolvido. Acerca do coeficiente da força axial, Fig. 5, o método Newtoniano Modificado apresentou melhores resultados, nota-se que para mais baixos ângulos de ataque a estimativa de melhora, o desvio Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 76-80, 2016 79 relativo quando comparado aos resultados de Hirschel e Weiland (Hirschel 2009) é menor que 10% quando = 0º e menor que 5% para = -30º. Fig. 4. Distribuição do coeficiente de pressão, , na capsula Apollo, Mach 10 e = 0º (Método Newtoniano). Fig. 5. Variação do coeficiente da força axial em função do ângulo de ataque, para a capsula Apollo. No caso do coeficiente da força normal, o comportamento foi diferente, um desvio maior foi encontrado para AOA = -30º, igual a 35,29%, e o desvio diminui notadamente quando o ângulo de ataque aproxima-se do valor nulo. 4. Conclusões O trabalho apresentado é uma alternativa com um custo computacional relativamente baixo, baseada nos métodos de inclinação local de superfície, para análise de veículos em regime hipersônico. Foram desenvolvidos programas para a leitura de geometria de arquivos no formato STL e também para cálculos do coeficiente de pressão através dos métodos Newtoniano e Newtoniano Modificado. Fig. 6. Variação do coeficiente da força normal em função do ângulo de ataque, para a capsula Apollo. Os testes para os programas de leitura de geometria demonstraram bons resultados para as geometrias escolhidas quando foram comparadas as áreas totais de superfície e os volumes calculados com os resultados analíticos. Apesar dos métodos de inclinação local de superfície não representarem completamente todos os fenômenos relativos à aerodinâmica hipersônica, os resultados das comparações com a literatura mostraram boa concordância. De fato, os desvios observados decorrem das simplificações adotadas. Futuramente, os métodos das correções da Força Centrífuga para a Teoria Newtoniana, da Cunha-Tangente e do Cone-Tangente, além do Choque-Expansão serão implementados. Agradecimentos Agradeço ao CNPq pela bolsa de iniciação científica concedida. Referências ANDERSON, J. D. Hypersonic and High Temperature Gas Dynamics. 2nd. ed. London, UK: McGraw-Hill, 1989. HIRSCHEL, E. H.; WEILAND, C. Selected Aerothermodynamic Design Problems of Hypersonic Flight Vehicles. AIAA Progress in Astronautics and Aeronautics. Reston: AIAA, 2009. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 76-80, 2016 80 MATLAB. Version 8.6.0 (R2015b). Natick: The Math Works Inc., 2015. STL (file format). In: Wikipedia: the free encyclopedia. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/STL_(file_for mat)> Acesso em: 7 jan 2016. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 76-80, 2016 81 DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS APÓS UMA ONDA DE CHOQUE OBLÍQUA M. V. S. Pereira¹*, P. G. P. Toro², J. H. Fernandez¹ Projeto: Projeto PropHiper “Propulsão Hipersônica 14-X” 1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal – RN 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo O objetivo deste trabalho é desenvolver um código computacional, utilizando plataforma Fortran, para determinação das propriedades termodinâmicas após uma onda de choque oblíqua, para, na próxima fase, auxiliar no projeto preliminar, utilizando a metodologia de análise teórico-analítica da aerodinâmica, de um demonstrador tecnológico scramjet em voo atmosférico em velocidade correspondente a número de Mach hipersônico. Palavras-chave: Choque oblíquo, Scramjet, Escoamento hipersônico. 1. Introdução O presente trabalho faz parte da transferência de conhecimentos para Universidades Brasileiras, relacionados à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de sistema de propulsão hipersônica aspirada. A P&D está em andamento na Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica (EAH) do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), com recursos financeiros proveniente do Projeto Estratégico Orçamentário Propulsão Hipersônica 14-X (PropHiper). 1.1 Demonstrador Tecnológico scramjet Centros de Pesquisas estão desenvolvendo veículos aeroespaciais, para atingir velocidades hipersônicas, integrados a sistema de propulsão aspirado baseado na combustão supersônica, “scramjet” (Fig. 1), (Curran 2001; Fry 2004). Um veículo “Scramjet” (Fig. 1) é composto: i) por uma seção de compressão, uma seção de combustão e uma seção de exaustão. Ondas de choque oblíquas planas incidem no bordo de ataque da carenagem, comprimindo o escoamento, e são refletidas, incidindo na entrada da câmara de combustão. Combustível é injetado no escoamento dentro da câmara de combustão do “scramjet”, misturado e queimado com ar atmosférico comprimido e em velocidade supersônica, e produto da combustão, é expelido na seção de expansão, gerando empuxo do veículo. Fig. 1. Seção transversal do demonstrador tecnológico “scramjet”. Atualmente, a análise teórico-analítica, utilizando a teoria simplificada das equações de Navier-Stokes, simulação teóriconumérica, utilizando um código computacional comercial e a investigação experimental em dispositivos laboratoriais hipersônicos, do Laboratório de Aerotermodinâmica e Hipersônica Prof. Henry T. Nagamatsu, são as metodologias aplicadas ao projeto aerodinâmico dos demonstradores scramjets, em desenvolvimento na Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, do IEAv, antes de realizar o voo na atmosférica terrestre do citado demonstrador. Salienta-se que o entendimento dos fenômenos e eventos a serem estudados nas referidas metodologias necessitam obedecer aos princípios fundamentais da física, ou seja, princípio da conservação da massa, princípio da quantidade de movimento linear e princípio da conservação da energia, além dos quais. Navier e Stokes desenvolveram o equacionamento que possibilita quantificar esses princípios fundamentais da física. Assim, as equações de Navier-Stokes (Anderson 2003) são válidas para meio contínuo (altitudes abaixo de 100 km), podendo ser aplicadas para escoamentos: Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 81-85, 2016 82 permanente e/ou transiente; incompressível e/ou compressível; laminar e/ou turbulento; uni, bi e/ou tridimensional; e, ignorando ou não as forças de campo, o aquecimento volumétrico e a difusão de massa. 1.2 Demonstrador Tecnológico scramjet 14-X S O Laboratório de Aerotermodinâmica e Hipersônica Prof. Henry T. Nagamatsu, do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), desenvolve o demonstrador tecnológico scramjet 14-X S (Fig. 2), o qual é parte do esforço continuo do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), de desenvolver um demonstrador de tecnologia, visando exploração aeroespacial com decolagem em aero–espaço-portos de aeronaves/veículos aeroespaciais, utilizando tecnologia “scramjet”, proporcionando sistema de propulsão hipersônica aspirada baseada na combustão supersônica. Veículo aeroespacial integrado a “scramjet” utiliza ondas de choque, geradas durante o vôo hipersônico (de veículos aeroespaciais), para promover a compressão e a desaceleração do ar atmosférico. O ar atmosférico que está compreendido entre as ondas de choque e a superfície (intradorso) do veículo pode ser utilizado em sistema de propulsão hipersônica aspirada baseado na tecnologia scramjet, o qual utiliza um estatoreator (motor aeronáutico aspirado) que não possui partes móveis. Imediatamente antes ou na entrada da câmara de combustão, o combustível é injetado e misturado com oxigênio existente no ar atmosférico. Como a mistura entra na câmara de combustão em velocidade supersônica, o processo de combustão se dá em regime supersônico, denominada de combustão supersônica, consequentemente tecnologia “scramjet”. O produto da combustão é expelido na região de exaustão (expansão). Como o veículo aeroespacial integrado a scramjet não parte com velocidade igual a zero, será necessário o auxílio de um motor foguete para acelerar o 14-X S para as condições pré-estabelecidas (Fig. 3) de operação do estato-reator a combustão supersônica (scramjet), ou seja, posição (altitude, longitude e latitude), velocidade (número de Mach), pressão dinâmica e ângulo de ataque, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara. O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) é uma base de lançamento de satélites da Agência Espacial Brasileira (AEB), localizado na Latitude 2º 18' S Longitude 44º 22' W, na costa norte do Brasil, próximo da cidade de São Luis (capital do Estado do Maranhão). O CLA é operado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). Este centro é a base de lançamento mais próxima do equador, o que proporciona uma vantagem significativa no lançamento de satélites, sendo este também um atributo compartilhado apenas pelo Centro Espacial da Guiana (utilizado pela França), e oferecendo assim vantagens sobre a base de lançamento do Cabo Canaveral (E.U.A). 2. Metodologia de Cálculo O “scramjet”, configuração plana (Fig. 2), em voo atmosférico em velocidade supersônica/ hipersônica a uma dada altitude, estabelece onda de choque oblíqua plana, com aumento das propriedades termodinâmicas, como pressão, temperatura e densidade, que podem ser estimada, pela teoria de onda de choque. Na seção de combustão, combustível é injetado na corrente supersônica de ar atmosférico comprimido na seção de compressão. A teoria de adição de calor de Raleigh pode ser utilizada para determinar as propriedades termodinâmicas e velocidade do escoamento de ar atmosférico na saída da câmara de combustão. Na seção de expansão o ar atmosférico é expandido acelerando-o para número de Mach supersônico/hipersônico, com diminuição das propriedades termodinâmicas citadas anteriormente, calculadas através da Teoria de PrandtlMeyer. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 81-85, 2016 83 1 2 Fig. 2. Demonstrador tecnológico “scramjet” 14-X S 3 4 Fig. 3. Visão artística do 14-X S em trajetória balística. 5 2.1 Propriedades após onda de choque A velocidade do escoamento não perturbado (da atmosfera terrestre) que se aproxima do bordo de ataque do scramjet, com deflexão positiva com ângulo θs, estabelece uma onda de choque incidente oblíqua (Anderson 2003), com ângulo β (Fig. 4), o qual pode ser determinado, pela teoria de onda de choque oblíqua plana, dada por M sen 2 1 in tg s 2cotg 2 M in cos 2 2 (1), onde o subscrito in, indica a condição do escoamento livre antes da onda de choque. Fig. 4. Geometria da onda de choque incidente. Conhecidas as propriedades do escoamento livre, as propriedades termodinâmicas e o número de Mach após onda de choque incidente, (subscrito out), considerando ar como gás perfeito e sem os Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 81-85, 2016 84 efeitos de camada limite, são determinados pelas seguintes equações: p out 2 M sen 1 in 1 pin 2 1 1 M in sen out in 1 M sen 2 2 in 2 in sen 2 M out (4) 2 1 2 M sen 1 in sen s (3) in out Tout p out Tin pin M (2) alinhadas com o escoamento que provocou a onda de choque incidente, portanto escoamento paralelo em relação às placas planas e em relação ao escoamento de origem. As relações de onda de choque oblíqua podem ser utilizadas com ângulo de deflexão igual ao ângulo de deflexão da onda de choque oblíqua incidente que provocou a onda de choque oblíqua refletida (Anderson 2003). 2 1 (5) Observe que o escoamento através de onda de choque incidente oblíqua provoca o aumento da pressão, da temperatura e da massa específica, porém com diminuição do número de Mach. Entretanto, o escoamento permanece supersônico/hipersônico e paralelo sobre a superfície plana (Fig. 4). Escoamento supersônico/hipersônico sobre uma superfície plana (Fig. 5) quando encontra uma deflexão positiva com ângulo θ em relação à placa plana estabelece uma onda de choque (atada na deflexão) com ângulo β, semelhantemente à onda de choque oblíqua incidente (atada no bordo de ataque). Fig. 5. Geometria de onda de choque oblíqua incidente sobre uma superfície plana. Uma onda de choque incidente ao encontrar uma superfície sólida provoca uma reflexão da onda de choque incidente, denominada onda de choque oblíqua refletida (Fig. 6), onde o escoamento, após a onda de choque oblíqua refletida, precisa se ajustar às condições de contorno, que no caso de duas placas planas paralelas e Fig. 6. Geometria de onda de choque oblíqua refletida. Portanto, o mesmo equacionamento da onda de choque oblíqua incidente originada no bordo de ataque, do “scramjet”, pode ser utilizado para a determinação das propriedades termodinâmicas após a onda de choque oblíqua devido ao escoamento sobre uma superfície plana e devido à onda de choque refletida. 2.2 Linguagem FORTRAN Foram feitos códigos computacionais utilizando a plataforma Fortran, para a determinação das propriedades termodinâmicas após onda de choque oblíqua. Utilizando as equações citadas para determinar propriedades como: pressão, temperatura, massa específica e número de Mach. O código computacional contém as fórmulas necessárias para obtenção de tais propriedades, sendo que este, quando compilado e simulado, recebe os dados de entrada por meio de interface com o usuário e o programa retorna os dados de saída (P out, Mout , Tout e ρout). O usuário fornece ao programa os seguintes dados de entrada: ângulo de deflexão (θ), ângulo da onda de choque oblíqua (β), número de Mach do escoamento incidente, pressão, massa específica e temperatura. Foi arbitrado como Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 81-85, 2016 85 dado de entrada o ângulo da onda de choque oblíqua β, para cada estágio. 3. Resultados e Discussão São apresentados os resultados obtidos para o Número de Mach, e as propriedades termodinâmicas como: (temperatura, pressão, e massa especifica). Foram obtidos de acordo com os métodos descritos neste trabalho considerando voo atmosférico em velocidade correspondente a número de Mach 7, a 30 km de altitude de um demonstrador tecnológico “scramjet”, com duas rampas de compressão (com ângulos de 5,5º e 14,5º). Tab. 1- Propriedades termodinâmicas no “scramjet” 14X-S. Pout Mout Tout ρout θ (Pa) (K) (kg/m³) 5.5° 14.5° 2877.66 16763.14 6.02 4.06 296.69 0.03788 568.48 0.11516 4. Conclusões Portanto, pode-se observar que, com o ângulo de deflexão de 14.5º na segunda rampa de compressão, obteve-se um aumento numérico das propriedades termodinâmicas. A obtenção dessas informações se deu por meio da implementação das equações mencionadas neste trabalho em linguagem Fortran. Esses resultados servirão de base para atender as necessidades do Projeto Propulsão Hipersônica 14-X (PropHiper) . Agradecimentos O primeiro autor agradece ao Projeto Propulsão Hipersônica 14-X (PropHiper) pela bolsa de Iniciação Científica e ao CNPq pelo fomento científico. Referências ANDERSON JR., J. D. Modern Compressible Flow: with Historical Perspective. 3rd. ed: McGraw-Hill, 2003. CURRAN, E. T. Scramjet engines: The first forty years. Journal of Propulsion and Power, V. 17, 1138–1148, 2001. FRY, R. S. A. Century of Ramjet Propulsion Technology Evolution. Journal of Propulsion and Power, V. 20, n. 1, p. 27-58, 2004. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 81-85, 2016 86 ESTUDO DA EFICIÊNCIA DA IMPLEMENTAÇÃO DE ALGORITMO DE TEMPLATE MATCHING PARA NAVEGAÇÃO AUTÔNOMA DE VANT EM RASPBERRY PI G. A. H. C. C. Lima1*, E. H. Shiguemori2, Paulo F. F. S. Filho Projeto: PITER – Processamento de Imagens em Tempo Real. 1 Instituto Tecnológico de Aeronáutica – Graduação, São José dos Campos – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geo-inteligência, São José dos Campos - SP *[email protected] Resumo Este artigo compara o desempenho do uso da técnica de template matching com extração de bordas executada por meio de rede neural artificial do tipo MLP – MultiLayer Perceptrons com o intuito de navegação e controle de VANTs – Veículo Aéreo Não Tripulado quando processado por um notebook e quando executado por um Raspberry Pi. Como era de se esperar observou-se que há uma diferença considerável na velocidade de processamento de ambas as máquinas e quantitativamente essa diferença é dada por um tempo relativo de execução aproximadamente 17 vezes maior por parte da Raspberry pi significando a ineficiência por parte do hardware de lidar com a técnica mantendo o tempo de execução suficiente para to em tempo real dos dados. Palavras-chave: VANT, Template matching, Raspberry Pi, Tempo de processamento. 1. Introdução A utilização de visão computacional para navegação e controle (Campoy 2009) de VANTs (Veículo Aéreo Não Tripulado) desperta o interesse de governos e empresas tanto para fins militares, evitando exposição de militares a situações de risco, quanto para fins civis, facilitando troca de mercadorias por via aérea. A técnica de template matching (Santos 2013) consegue, por meio de imagens obtidas por satélites e pelo próprio VANT, adquirir dados de navegação para tais aplicações. Essa técnica processa a imagem coletada pelo VANT comparando-a com uma previamente tratada e georreferenciada (Conte 2009), cada pixel da imagem está associado a uma latitude e longitude, adquirida por meio de satélites. A foto tirada pelo veículo é tratada como uma subimagem da imagem do satélite. Além do tempo computacional para executar todos os passos da correlação entre as imagens, é despendido tempo no pré-processamento da foto tirada pelo veículo não tripulado (Santos 2013). Para que o VANT seja de fato autônomo é necessário que o código de processamento de imagens esteja embarcado no veículo e consiga ser processado em tempo real. Isso gera um problema de compatibilidade entre o hardware e o software (Wolf 1994), afinal, ambos devem funcionar corretamente juntos para garantir coerente performance, preço e resultados. O objetivo desse artigo é comparar a performance do código de template matching (Braga 2016) quando executado em um computador pessoal e quando executado numa Raspberry Pi 2 modelo B V1.1 e, com isso, avaliar se a mesma é suficiente para garantir que o sistema possa ser utilizado em tempo real. 2. Metodologia O código de template matching (Braga 2016) empregado nesse artigo está escrito em linguagem C/C++. Como biblioteca para processamento de imagem é usado o OpenCV 3.1.0 em ambas as máquinas. A imagem da Fig. 1 é utilizada como imagem georreferenciada e para efeitos de simulação, dados de atitude, altitude, latitude e longitude são diretamente acessadas por meio de documentos de texto. Além disso, o percurso planejado pelo VANT é considerado determinado e está também alocado em um documento de texto. A técnica empregada para a detecção de bordas da imagem utiliza uma rede neural Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 86-88, 2016 87 artificial do tipo multi-nível baseada em Perceptrons (MLP) (Osório 2000). Fig. 1. Imagem georreferenciada usada no código estudado. A parte em vermelho representa a trajetória do VANT A comparação de desempenho de cada máquina foi dado pelo tempo médio de processamento de cada imagem durante a análise de cada uma das 1593 imagens. 2.1. Hardware Para realização do experimento foram utilizadas: uma Raspberry Pi 2 modelo B V1.1 com o sistema operacional Raspbian Jessie e um processador quad-core ARM Cortex-A7 de 900 MHz e 1 GigaByte de memória RAM (Random Access Memory); e um notebook DELL Inspiron 5437 com um processador Intel® CoreTM i7 de 1.8 GHz e 8.0 GigaBytes de memória RAM com o sistema operacional Ubuntu 14.04.4. 2.2. Desvio padrão O desvio padrão dos dados adquiridos da simulação é um indicativo dos efeitos que as diferenças nas imagens da trajetória descrita geram no tempo de execução do código, sendo assim calculados por meio da fórmula: Onde é o desvio padrão, é o tempo da execução da i-ésima imagem, é a média de tempo gasto em cada imagem e n é o número de casos a ser analisado, no caso estudado foi 1593. 3. Resultados e Discussão Com os dados obtidos da simulação foi gerada a Tab. 1 que mostra a grande diferença entre o tempo de processamento da imagem pelo Raspberry Pi e pelo computador. Tal diferença já era esperada, afinal, o computador tem uma capacidade de processamento muito superior (14,7 vezes maior) ao da que a Raspberry Pi, e dessa forma, o tempo de processamento da imagem está aquém do ideal para navegação em tempo real. Supondo, por exemplo, um VANT se deslocando com velocidade horizontal de 3 metros por segundo, tem-se que, com o tempo de processamento atual da Raspberry Pi o erro mínimo gerado pelo algoritmo é por volta de 10 metros, afinal, essa é a distância percorrida pelo VANT no período de processamento do código. Percebe-se então que o tempo de processamento da imagem está muito elevado quando embarcado. A performance do código no computador, por outro lado, mostra que o mesmo já está computacionalmente otimizado para a tarefa que executa, sobrando pouca margem para melhorias na eficiência do código por vias computacionais. Mostrando que de fato, pode ser executado em tempo real, porém é necessário que seja executado em uma máquina com maior capacidade de processamento, ou associada a implementações paralelas através de FPGA – Field Programable Gate Array, por exemplo. Tab. 1. Tempo médio de processamento de cada imagem e o desvio padrão calculado pela Eq. 1. Tempo médio (s) Raspberry Pi 3,419 0,002 Computador 0,233 0,006 4. Conclusões A correlação entre software e hardware embarcados é de extrema importância para a realização de qualquer projeto de engenharia. O hardware deve atingir requisitos mínimos de performance, custo e Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 86-88, 2016 88 tamanho quando executada com o software desejado. O uso da Raspberry Pi 2 modelo B V1.1 como hardware embarcado atende a requisitos como baixo custo e tamanho, entretanto, para o código analisado nesse artigo, a capacidade de processamento da mesma se torna insuficiente para suprir as necessidades de ser executado em tempo real, sendo necessário máquinas com maior capacidade de processamento dos dados. Agradecimentos Ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por fornecer suporte financeiro. Ao IEAv – Instituto de Estudos Avançados, por fornecer o material e apoio necessários. Referências BRAGA, J. R. G et al. Image Matching System for UAV Autonomous Navigation Implemented on Portable Hardware, 2016. CAMPOY, P. et al. Computer Vision Onboard UAVs for Civilian Tasks, Journal of Intelligent and Robotic Systems, mar. 2009, p. 54-105 CONTE, G.; DOHERTY, P. Vision-Based Unmanned Aerial Vehicle Navigation Using Geo-Referenced Information, EURASIP Journal on Advances in Signal Processing,v. 2009, n.387308, Abr. 2009. OSÓRIO, F; BITTENCOURT, J.R, Sistemas Inteligentes baseados em Redes Neurais Artificiais aplicadas ao Processamento e Imagens. In: I WORKSHOP DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, 2000. Anais..., jun. 2000. SANTOS, A. L. et al. Controle e navegação de VANTs através de utilização de template matching. In Computer on the beach, 2013, Florianópolis. Anais do Computer on the beach. Itajaí: UNIVALI, 2013.WOLF, W.H. HardwareSoftware Co-Design of Embedded systems,IEEE, 1994. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 86-88, 2016 89 ESTUDO DE TÉCNICAS DE CASAMENTO DE PADRÕES EM IMAGENS OBTIDAS POR VANT EM SISTEMA EMBARCADO G.C.C. Silva¹*, E. H. Shiguemori² Projeto: PITER 1 Universidade Paulista - UNIP , São José dos Campos – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geointeligência, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo A identificação automática de padrões em imagens aéreas tem crescido nos últimos anos. No entanto, não é uma tarefa simples devido a diferentes cenários e adversidades que podem ocorrer durante uma operação. A extração de informações de um local sobrevoado por uma aeronave depende de diversas variáveis, como o momento em que as imagens foram obtidas, os tipos de terrenos existentes, a qualidade da câmera, bem como outros fatores que podem causar variações entre diferentes imagens de um mesmo local. Neste trabalho, são apresentados testes e estudos realizados utilizando técnicas já desenvolvidas no projeto PITER, visando a portabilidade destas técnicas e a embarcação do simulador desenvolvido em hardwares de baixo custo computacional. Palavras-chave: Processamento de imagens, Raspberry, VANT, Casamento de padrão. 1. Introdução O uso de imagens e vídeos digitais tem crescido nos últimos anos em diversas áreas, principalmente, devido ao desenvolvimento tecnológico e computacional, sendo assim necessário o desenvolvimento de técnicas para a extração automática de informações. As imagens aéreas podem ser obtidas de diferentes maneiras como, por exemplo, com o uso de satélites e aeronaves tripuladas e, mais recentemente, utilizando VANTS. Diversas aplicações envolvem o uso de técnicas de Visão Computacional e Processamento de Imagens (Altug et al. 2005) e o uso conjunto destas tecnologias tem disponibilizado uma quantidade maior de informações em aplicações como: segurança, sensoriamento remoto e navegação (Kandhalu 2009; Kim 2007). Diversas variações podem ocorrer na captura de imagens, decorrentes dos tipos de problemas que podem surgir durante suas obtenções, sendo alguns deles; processo de captura, sensor de captura, variações climáticas, ângulos de visada, e condições de iluminação. Com isso, diferentes técnicas de processamento de imagens e visão computacional devem ser empregadas (Gonzalez 2000). Um tema de pesquisa desenvolvido no IEAv é a navegação autônoma de VANT, com base em imagens obtidas por câmeras embarcadas. Uma das abordagens utilizadas no projeto é a utilização de imagens obtidas por VANTs em tempo real, sobrevoando uma área pré-determinada. O objetivo deste trabalho é traduzir, da linguagem Matlab para a linguagem C/C++ com o uso da biblioteca de visão computacional OpenCV (Topal 2010), o algoritmo já implementado que emprega técnicas de processamento de imagens e visão computacional para identificação automática do local sobrevoado, além de realizar testes utilizando computadores de baixo custo, um exemplo é a Raspberry Pi. Foram realizados experimentos considerando, as diferentes funções existentes no programa original, considerando seu tempo de processamento e consumo, que foram comparadas com as funções implementadas m C/C++. São empregadas as técnicas desenvolvidas por Monteiro (2006). Os experimentos foram realizados com o uso de funções isoladas, considerando seus resultados em tempo, que foram executadas em computadores num ambiente de laboratório e utilizando placas de baixo custo, considerando imagens obtidas por VANT e satélites. 2. Metodologia Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 89-93, 2016 90 Para realizações dos testes e experimentos, foi empregado o simulador de voo autônomo baseado em imagens, desenvolvido no projeto PITER. Neste simulador estão implementadas algumas técnicas de processamento de imagens e visão computacional, entre elas, a de casamento de padrões proposta por Monteiro (2006). A abordagem faz a correlação entre as imagens gradiente (complexa) utilizando a propriedade da Transformada de Fourier descrita na Eq.(1) (Monteiro 2006). ^ h(k ) 2 F * (k )G(k ) (1) Além da correlação, no trabalho de Monteiro (2006) determina-se a similaridade entre as imagens que estão armazenadas, com o uso de dois tipos de diferenciação: informação mútua e informação mútua combinada com gradiente. Em primeira instância são eliminadas feições de alta frequência com um filtro gaussiano e, em seguida, é calculada a imagem gradiente complexa cujas componentes, real e imaginária, são as componentes da imagem filtrada nas direções horizontal e vertical. Ao final disso, pontos da imagem são classificados em ordem decrescente de correlação e escolhe-se um determinado número de pontos de maior correlação para se calcular a informação mútua entre as imagens filtradas e a informação mútua modificada nas imagens de gradiente. Com isso se tem três medidas de semelhança entre as imagens com as quais se criou um critério de avaliação. Para avaliar a rota previamente planejada, o simulador utiliza dados de bordas da imagem armazenada e os compara com a imagem obtida na rota de voo. Mais detalhes desta metodologia podem ser encontrados em Monteiro (2006). Durante o processo de desenvolvimento da tradução para a linguagem C/C++, foram realizados testes nas funções existentes, as quais foram separadas considerando as seguintes etapas necessárias para análise e processamento das imagens: aplicação da Transformada de Fourier; aplicação do filtro Gaussiano; cálculo do gradiente; convolução; cálculo da informação mútua; informação mútua combinada e template matching. Estas funções diferem no tempo de processamento e no consumo de memória. Com uso da biblioteca OpenCV e a linguagem C/C++ estas funções foram programadas considerando a metodologia desenvolvida por Monteiro (2006), e testadas em imagens obtidas por satélite da cidade de São José dos Campos (Silva 2015) e do campus da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), obtidas por VANT. As Figs. 1 e 2 mostram as respectivas imagens utilizadas. Destas imagens foram retiradas amostras que são utilizadas para os testes das funções e estão exemplificadas nas Figs. 3, 4, 5 e 6. Fig. 1. São José dos Campos. Após desenvolvidas as funções e as amostras escolhidas, optou-se pelo uso da placa Raspberry da Fig. 7, para a realização da migração e embarcação dos códigos. Esta placa tem um sistema operacional próprio conhecido como raspbian que apresenta arquitetura baseada em Linux. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 89-93, 2016 91 Logo após, as funções desenvolvidas usando a biblioteca OpenCV foram executadas em duas plataformas para comparação de resultados e análise, em um computador pessoal de alto desempenho e em uma raspberry PI 3, durante esta fase foram utilizadas 10 amostras de cada imagem. Os testes previam a análise do tempo de processamento reduzido com a migração da linguagem de programação. Os resultados utilizando o computador pessoal são apresentados na Tab. 1. Fig. 2. UNIVAP. Fig. 5. Amostra SJC. Fig. 3. Amostra UNIVAP. Fig. 6. Amostra SJC. Fig. 4. Amostra UNIVAP. 3. Resultados e Discussão No início do projeto foram determinadas as similaridades entre as linguagens de programação Matlab e C/C++ com a biblioteca OpenCV. Os testes realizados em uma raspberry foram feitos em ambiente laboratorial e os resultados estão apresentados na Tab. 2, onde os resultados obtidos em PC, da Tab. 1, são novamente apresentados permitindo comparar e determinar possíveis otimizações para o algoritmo. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 89-93, 2016 92 Os resultados apontam que a técnica após a tradução obteve ganhos consideráveis na velocidade de processamento, o que possibilita o processamento e a estimação de posição por meio de imagens em tempo real. Fig. 7. Raspberry PI. Tab. 1. Comparação de resultados utilizando PC. Tempo de proc. em Matlab Tempo de proc. em C++ 0,3 s 0,01 s 0,2 s 0,03 s 0,3 s 0,02 s 0,4 s 0,01s 0,1 s 0,03 s 0,2 s 0,04 s Template Matching 0,2 s 0,1 s Total 2s 0,24 s Função Transformada de Fourier Aplicação do Filtro Gaussiano Cálculo do Gradiente Convolução Cálculo da Informação Mútua Informação Mútua Combinada Tab. 2. Comparação de resultados com PC e com Raspberry. Função Tempo de proc. PC Tempo de proc. Raspberry Transformada de Fourier 0,01 s 0,06 s Aplicação do Filtro Gaussiano 0,03 s 0,07 s Cálculo do Gradiente 0,02 s 0,1 s 0,01s 0,05 s 0,03 s 0,04 s 0,04 s 0,2 s 0,1 s 0,24 s 0,42 s 0,92 s Convolução Cálculo da Informação Mútua Informação Mútua Combinada Template Matching Total 4. Conclusões O algoritmo desenvolvido apresentou ganhos em tempo de processamento comparando Matlab com C++, demonstrando assim que a migração do código para C/C++ com a biblioteca OpenCV é uma forma viável e desejável de desenvolvimento. Com o ganho de velocidade no processamento, é possível realizar voos com a estimação de posição em tempo real, em conjunto de placas como a raspberryPI que apresentam bons resultados, tamanho e peso pequenos, com preços baixos de aquisição, possibilitando assim o uso de VANTS de baixo custo neste ímpeto. Para projetos futuros, o algoritmo desenvolvido e testado na raspberry será embarcado na mesma e serão realizados testes em ambiente aberto para coleta de dados e de desempenho. Agradecimentos Gostaria de agradecer ao projeto PITER, pelo espaço, pessoal e instrumentos cedidos e pela paciência; ao Sgt. Ross e ao 1º Ten. Silva Filho, pela ajuda com algoritmo e as bibliotecas utilizadas durante o processo. Referências ALTUG, E.; OSTROWSKI, J. P.; TAYLOR, C. J., Control of a quadrotor helicopter using dual camera visual feedback. The International Journal of Robotics Research. v. 24, n. 5, p. 329-341, 2005. GONZALEZ, R. C.; WOODS, R. E. Processamento de imagens digitais. Editora Edgard Blucher, 2000. KANDHALU, A.; et al.. Real-time video surveillance over IEEE 802.11 Mesh Networks. In: IEEE REAL-TIME AND EMBEDDED TECHNOLOGY AND APPLICATIONS SYMPOSIUM, 15th, 2009, San Francisco. Proceedings... Piscataway: IEEE, 2009. p. 205 – 214. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 89-93, 2016 93 KIM, S. et al. Outdoor navigation of mobile robot using diferential GPS and curb detection. In: IEEE INTERNATIONAL CONFERENCE ON ROBOTICS AND AUTOMATION, 2007. MONTEIRO, M. V. T. et al. Ikonos and video image registration using gradient correlation, mutual information and combined mutual and gradient information. In: SIBGRAPI - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE COMPUTAÇÃO GRÁFICA, Processamento de Imagens e Visão Computacional, , Manaus. Anais..., 2006. SILVA, G. C. C. et al. Análise de desempenho da identificação automática do local sobrevoado por um VANT considerando diferentes cenários de voo. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTIFÍCA E TECNOLÓGICA DO IFSP – CINTEC, 6º , 2015, Itapetininga. Anais... Itapetininga: IFSP, 2015. TOPAL, C.; AKINLAR, C.; GENC, Y. Edge drawing: a heuristic approach to robust real-time edge detection. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON PATTERN RECOGNITION (ICPR), 20th, 2010, Istanbul, Proceedings… Piscataway: IEEE, 2010. p. 2424 – 2427. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 89-93, 2016 94 ESTUDO DE UM SISTEMA DE TELEMETRIA PARA VOO TESTE DE UM “SCRAMJET” ACADÊMICO V. L. Carvalhal, S. Rêgo Projeto: Projeto ProHyper 1 Universidade Braz Cubas, Mogi das Cruzes – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica - Experimental, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo O presente artigo tem como objetivo realizar o estudo prospectivo de um Sistema de Telemetria para o voo teste de um “scramjet” (supersonic combustion ramjet) acadêmico, através do estudo de sistemas de telemetria já usados em veículos hipersônicos, da cronologia de eventos e ações durante o voo atmosférico do “scramjet” e das propriedades físicas a serem mensuradas durante o voo teste. Palavras-chave: Telemetria, Hipersônica. Organização de Defesa, Ciência e Tecnologia Australiana (DSTO). Os veículos estudados por estes programas estão representados nas Fig. 1 até 4. Fig. 1. Carga útil do Hyshot (Hass 2006). “Scramjet”, 1. Introdução O voo de rotina de ônibus espaciais, além dos voos testes de veículos experimentais hipersônicos, provem um aumento no conhecimento e no entendimento das questões envolvendo a hipersônica (Starkey 2015). O sistema de telemetria, o qual possui a importante função de monitorar, em tempo real ou não, as propriedades físicas de interesse para o voo do veículo, enfrenta alguns problemas durante o voo hipersônico na atmosfera, dentre estes podemos citar: o blackout nas transmissões de telemetria (Starkey 2015), o rastreamento do veículo e a influência de severas temperaturas não apenas na operação do sistema de telemetria, mas também na integridade dos materiais do veículo, dentre outros (Hicks 1993). Ao longo dos anos, diferentes países criaram vários programas experimentais de veículos hipersônicos, dentre os quais valem ser citados: o programa Hyshot, realizado pela Universidade de Queensland; o programa Hyper X, efetivado pela NASA; o programa SHEFEX, executado pela DLR (Centro Espacial Alemão) e o programa HIFiRE, empreendido pelo laboratório de pesquisas da força aérea americana e pela Fig. 2. X – 43A configuração do veículo (Marshall 2005). Fig. 3. Carga (Longo 2005). Fig. 4. HIFiRE (Adamczak 2011). Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 94-99, 2016 útil do 1 SHEFEX carga útil 95 A equipe da Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônicado IEAv está desenvolvendo um “scramjet” acadêmico, conforme Fig. 5, o qual tem como objetivo realizar voos testes na atmosfera, a uma altitude de 6,21 km e com uma velocidade correspondente a Mach 4,18, através do uso de Foguetes de Treinamento Intermediário (FTI), onde seu lançamento será realizado do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI). Fig. 5. Esquema do “scramjet” acadêmico (superior) e da integração “scramjet”-FTI (inferior) (Santos 2015). Devido ao FTI ser utilizado pelas equipes operacionais do CLBI para treinamento, o “scramjet” acadêmico será utilizado também para a capacitação do pessoal em todas as áreas de interesse do “scramjet”, como: integração e testes, telemetria, estruturas, materiais, aerotermodinâmica, etc (Santos 2015). Portanto, o objetivo deste artigo é realizar um estudo preliminar de um sistema de telemetria para o “scramjet” acadêmico que está sendo desenvolvido no IEAv. Devido a este “scramjet”acadêmico ser um veículo hipersônico experimental, a telemetria será imprescindível para coleta de dados de voo e seu rastreio. 2. Metodologia Neste trabalho, o estudo de um sistema de telemetria para o “scramjet” acadêmico, foi realizado através de uma revisão bibliográfica, dos sistemas de telemedidas/telecomandos das seguintes missões: Hyshot, Hyper X, SHEFEX e HIFiRE. Também foi realizada uma revisão, a respeito de acelerômetros, transdutores de pressão, ambos do tipo piezoelétrico, e sensores de temperatura para a escolha inicial da instrumentação de voo. 2.1 Estudo de caso: Telemetria das missões Hyshot, X-43, SHEFEX e HIFiRE Na missão realizada pelo Hyshot a instrumentação transportada pela carga útil incluiu: transdutores de pressão, termistores de cerâmica, termopares, acelerômetros, magnetômetros e sensores de horizonte. Quatorze medidas de pressão foram realizadas ao longo do corpo da parede de cada câmara de combustão, treze medições de pressão foram feitas na linha central, começando a partir da entrada do combustor, uma única medida de pressão também foi realizada em cada cunha (rampa) de admissão do combustor e uma medida de temperatura foi feita no lado de trás de cada uma das paredes do corpo do combustor usando um sensor termo resistivo (Hass 2006). O sistema de gerenciamento e o sistema de controle da missão X–43, consistiram de 5 atuadores eletromecânicos controlados por um único atuador controlador eletromagnético, e uma unidade de administração de voo – “Flight Management Unit” (FMU). Os atuadores operam os dois profundores que se movem por inteiros, dois lemes e a porta da carenagem. A FMU integra as funções de navegação, os sensores de controle de voo e o computador da missão em uma única unidade (Marshall 2005). O SHEFEX tem como principal sensor para o controle de altitude um cilindro denominado DMARS-R (estabilizador de plataforma inercial), o qual é um dispositivo inercial, que prevê altitude e posição precisamente, além das acelerações e velocidades que irão fornecer os dados experimentais sobre a dinâmica de voo (Longo 2005). O HIFiRE utilizou um sistema de informática inovador distribuído, que consistiu em 11 nós divididos ao longo de três canais de telemetria. Esses computadores foram projetados pela DSTO que utilizou um Processador de Sinais Digitais de Alta Velocidade –“Digital Signal Process” (DSP) fabricado pela Texas Instruments (Turner 2006). Os 11 nós do Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 94-99, 2016 96 DSP no HIFiRE permitiram 328 sensores solo. O veículo HIFiRE utilizou três canais analógicos para os experimentos de de banda S de telemetria para enviar os escoamento hipersônico, 26 sensores de dados para o solo em uma taxa de cerca de estado do veículo, uma câmera de vídeo e 28 Megabits por segundo (Mbps) cinco fontes de dados digitais que utilizaram (Adamczak 2011). o barramento de dados serial, bem como o Finalmente, a partir das análises dos controle dos sistemas de carga que artigos supracitados sobre sistemas de utilizaram as linhas de I/O (entradas e telemetria usados em “scramjets”, foi saídas) digitais. Além disso, um computador construída a Tab. 1 que reune os sensores, padrão Windows com um fator de forma atuadores, equipamentos de rastreio e IBM 486 PC104, também foi utilizado na energia. Além disso, foi possível montar as carga útil para lidar com a compressão de Tab. 2 e 3 que contém algumas das imagem da câmera de vídeo e para permitir características dos sensores utilizados em uma conexão Ethernet para a carga útil no algumas das missões acima citadas. Tab. 1. Tabela de instrumentação Tab. 2. Tabela de instrumentos da missão X – 43. Tab. 3. Tabela de instrumentos da missão HIFiRE. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 94-99, 2016 97 2.2 Estudo de caso: Cronologia de eventos A missão de um “scramjet” envolve o lançamento via um veículo acelerador capaz de atingir sua velocidade operacional. Para que tal missão seja realizada com sucesso é necessário um sistema de atuação e outro de monitoração implantados no “scramjet”, tais sistemas tem a importante função de realizar correções de voo, iniciar o funcionamento do motor, realizar a separação de cada estágio do veículo da carga útil, realizar o monitoramento das propriedades físicas de interesse para o “scramjet”, em tempo real ou não, etc. A elaboração de uma cronologia dos eventos relativos a missão de um “scramjet” é mandatória, cuja finalidade é responder aos seguintes aspectos: quando cada evento ocorrerá; em qual altitude o veículo se encontrará, ao realizar cada uma das diretrizes da missão; qual sensor iniciará sua operação em cada fase do voo e determinar a operação de cada atuador em cada fase da missão. A cronologia dos eventos da missão Hyshot pode ser observada na Fig. 6. Fig. 6. Perfil nominal da missão Hyshot (Hass 2006) 3. Resultados e Discussão 3.1. Telemetria para o “scramjet” acadêmico: Seleção dos instrumentos Vários critérios de seleção têm sido considerados para seleção do sistema de telemetria/telecomando para a missão do “scramjet” acadêmico, dentre os quais citamos: estudos de caso apresentados acima que apresentam uma diretriz a ser seguida; dimensão do “scramjet” acadêmico que limita o tamanho dos instrumentos de bordo, carga útil máxima do FTI (cerca de 30 kg) que limita o peso dos instrumentos de bordo; e finalmente a missão científica e tecnológica do “scramjet” acadêmico desejada pela coordenadoria da missão (ainda em discussão com o coordenador, Dr. Paulo Toro). Com o intuito de realizar a devida seleção dos instrumentos de medição em voo, é necessário considerar as propriedades termodinâmicas do escoamento no “scramjet” acadêmico, conforme Tab. 4. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 94-99, 2016 98 Tab.4. Propriedades do escoamento para o “scramjet” acadêmico (Santos 2015). Min - Número de Mach. θin - Ângulo da rampa. βout - Ângulo de deflexão da onda de choque. Mout - Número de Mach de Saída. T – Temperatura. p – Pressão. ρ - Massa Específica. a - Velocidade do som. V - Velocidade do escoamento. A partir das pesquisas realizadas sobre acelerômetros, e conforme as condições da missão foi possível realizar uma seleção inicial dos acelerômetros que devem ser utilizados para o voo do “scramjet”. Para medir a aceleração nos três eixos principais do “scramjet”, se faz necessário um acelerômetro de três eixos. Conforme as proposições anteriores o sensor acelerômetro selecionado foi o Triaxial ICP® accelerometer de modelo 339A30 da marca PCB, onde suas características estão na referência (PCB Piezotronics 2016). Conforme a mesma condição de voo apresentada anteriormente, e as pesquisas (PCB Piezotronics 2016; Santos 2015) realizadas sobre transdutores de pressão piezoelétricos, foi possível selecionar os transdutores de pressão, os quais serão utilizados no voo do “scramjet” acadêmico. Levando em consideração as condições de temperatura para operação do sensor, e as pressões sobre o “scramjet”, foi possível selecionar os sensores: ICP® Pressure Sensor, modelo 112A21; e o ICP® Pressure Sensor, modelo 112A22, ambos da marca PCB; cujas características são apresentadas em (PCB Piezotronics 2016). 3.2 Cronologia de eventos para o voo do “scramjet”acadêmico: Definição da missão Igualmente, vários critérios de seleção têm sido considerados para definição da cronologia de eventos para a missão do “scramjet”acadêmico, dentre os quais citamos: Estudos de caso apresentados acima que apresentam uma diretriz a ser seguida; trajetória balística do FTI, como mostra a Fig. 7; tipo do voo teste (cativo ou livre, com ou sem ingestão de combustível) desejado pela coordenadoria da missão. Fig. 7. “Scramjet” acadêmico perfil da missão. 4. Conclusões Um estudo preliminar do sistema de telemetria de um “scramjet” acadêmico está sendo realizado. Inicialmente, a partir de pesquisas (Adamczak 2011; Hass 2006; Hicks 1993; Marshall 2005; Starkey 2015; Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 94-99, 2016 99 Turner 2006) realizadas foi possível compreender o funcionamento de um sistema de telemedidas/ telecomandos, e que o mesmo enfrenta algumas adversidades as quais deverão ser transpostas no futuro. Ainda em conformidade com os casos estudados, desenvolveu–se uma tabela a qual relaciona os instrumentos utilizados nas missões de “scramjet”, com o intuito de identificar quais instrumentos podem ser utilizados para o projeto do sistema de telemetria do “scramjet” acadêmico. Também de acordo com os mesmos casos estudados, foi possível selecionar alguns dos sensores de pressão e aceleração os quais poderão ser usados no voo teste do “scramjet”acadêmico, levando em consideração características como: as faixas de medição dos sensores, o tamanho médio dos dispositivos, e a frequência de medição dos mesmos. Os casos estudados revelaram a necessidade da realização de um cronograma de eventos para o “scramjet” acadêmico, o qual deve ser desenvolvido para saber: quando cada evento ocorrerá; em qual altitude o veículo se encontrará ao realizar cada uma das diretrizes da missão; qual sensor iniciará sua operação em cada fase do voo e determinar a operação de cada atuador em cada fase da missão. Tal cronologia de eventos encontra–se em fase de discussão com a coordenadoria do projeto. MARSHALL, L. A. et al. Chief Engineer’s View of the NASA X -43A “scramjet” Flight Test, NASA, 2005. LONGO, J. M. et al. H. Designing Flight Experiments for Hypersonic Flow Physics, German Aerospace Center (DLR), 2005. PCB PIEZOTRONICS. Disponível em: <https://www.pcb.com>. Acesso em: 6/04/2016 SANTOS, R. O. Projeto Mecânico Preliminar de um “scramjet” de Treinamento via Analises Teórico Analítica. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Industrial Mecânica) – ETEP – Faculdade de Tecnologia de São José dos Campos, 2015. STARKEY, R. P. Hypersonic Vehicle Telemetry Blackout Analysis. Journal of Spacecraft and Rockets, Vol. 52, No. 2, 2015. TURNER, J. SHEFEX – Hypersonic Re – entry Flight Experiment – Vehicle and Subsystem Design, Flight Performance and Prospects, AIAA, 2006. Agradecimentos O primeiro autor gostaria de agradecer a toda a equipe da Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica do IEAv e ao IEAv pela bolsa de iniciação cientifica concedida. Referências ADAMCZAK, D.; KIMMEL, R. L. HIFiRE – 1 Flight Trajectory Estimation and Initial Experimental Results. AIAA, 2011. HASS, N. E.; SMART, M. K.; PAULL, A. Flight Data Analysis of Hyshot 2, AIAA Jounal, Vol. 44, No. 10, 2006. HICKS, J. W. Flight Test of AirbreathingHypersonic Vehicles. NASA, 1993. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 94-99, 2016 100 ESTUDO E ADAPTAÇÃO DE PROBLEMAS E MÉTODOS PARA O PLANEJAMENTO DE ROTA PARA VANT'S CONSIDERANDO A IDENTIFICAÇÃO AUTOMÁTICA DE MARCOS M. M. Roberto1*, M. J. Pinto2, P. F. F. Silva Filho2 Projeto: PITER. 1 Universidade Federal de Ouro Preto - Departamento de Engenharia de Produção, Ouro Preto – MG 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geointeligência, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Este trabalho tem como objetivo definir um método heurístico para otimizar a rota que um VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado) deverá realizar, de seu ponto inicial a um ponto destino, minimizando a distância de seu percurso e maximizando o peso dos marcos (pontos intermediários). Os pesos são identificados previamente de forma automática por algoritmos de processamento de imagens e visão computacional e estão relacionados à facilidade de reconhecimento daquele marco. Por se tratar de um problema multiobjetivo, com resolução complexa, uma abordagem consiste em tratar o problema com somente um dos objetivos e considerar o outro como restrição. Por exemplo, buscase a maximização dos pesos considerando a minimização da distância como restrição do problema. Neste trabalho será apresentado o estudo realizado sobre problemas e metodologias da literatura para buscar alternativas de resolução, mostrando as adaptações que serão necessárias para tratar o problema proposto. Palavras-chave: VANT, Problema de Roteamento, Identificação de Marcos, Método heurístico. 1.Introdução Dentre os diversos desafios enfrentados atualmente para criação de tecnologias cada vez mais inovadoras que possam acompanhar o crescimento da ciência e de suas diversas áreas, está o desenvolvimento de métodos ou modelos que aperfeiçoem e otimizem os processos realizados por elas. E, ao contrário do que muitos imaginam, esses métodos de otimização não estão obrigatoriamente ligados apenas a computadores, mas em praticamente todas as atividades realizadas pelo ser humano. Por exemplo, a construção de uma farmácia deve levar em conta qual o melhor layout para que seus clientes tenham facilidade de locomoção e, ao mesmo tempo, tenham acesso e possam visualizar a maior quantidade de produtos possível; a engenharia de trânsito deve pensar no tempo em que cada semáforo ficará aberto ou fechado de forma a facilitar o fluxo de veículos durante cada horário do dia; ou ainda, a equipe de uma banda musical deverá planejar os locais e datas de seus concertos de forma a haver tempo de locomoção entre as localidades, permitindo tempo de descanso e ensaios entre os compromissos. Assim, como podemos observar, a aplicação de métodos de otimização podem e devem ser aplicados em diversos problemas permitindo a busca de soluções ótimas ou, ao menos, próximas delas. A Pesquisa Operacional (PO) consiste do estudo destes problemas e do desenvolvimento de metodologias para tratálos. Dentre os diversos problemas de PO está o Problema de Roteamento de Veículos (PRV) que, de maneira geral, busca gerar rotas eficientes para uma ou mais entidades de forma a atender um determinado objetivo como, por exemplo, minimizar o custo total da rota. Dentre as diversas aplicações deste problema podemos citar: serviços emergenciais, rotas de aeronaves, etc (Goldbarg 2000). Os problemas de roteamento, em geral, podem ser representados como um problema de grafos onde os pontos são os nós e o arcos representam a ligação entre os pontos cujo custo pode ser representado, por exemplo, pela distância entre os nós. Neste trabalho, nosso interesse consiste de um problema de roteamento específico para Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 100-103, 2016 101 geração de rotas otimizadas para um VANT saindo de um ponto de partida até o destino, passando por pontos intermediários, com a maior eficiência possível. As variáveis que serão consideradas, durante esse processo, serão a distância entre os pontos, a distância total e a somatória dos pesos de cada ponto intermediário. Esses pesos estão relacionados à facilidade de identificação de marcos presentes na região que o VANT irá sobrevoar e são identificados previamente de forma automática por algoritmos de processamento de imagens e visão computacional como as técnicas apresentadas em Silva Filho (2014). Desta forma, quanto maior o peso, maior a facilidade de identificação do marco pelo veículo. Portanto, o problema consistirá na maximização desses pesos e na minimização da distância total. Somado a isso, existe ainda uma restrição que deverá ser considerada: o deslocamento entre dois pontos deverá ter um tempo máximo, de forma que o veículo não se perca durante a rota. Para incluirmos essa restrição será calculada uma distância máxima entre dois pontos consecutivos, utilizando a velocidade do VANT, de forma que o algoritmo aceite que esses pontos façam parte da solução final somente se a distância máxima for atendida. 2. Metodologia A metodologia consistiu em, primeiramente, tratar o problema monoobjetivo, considerando um dos objetivos como restrição do problema. Com isto, foi realizado um estudo de alguns problemas de PO mono-objetivos, alguns específicos de roteamento, que poderiam ser similares ao problema proposto, observando como estes problemas vêm sendo modelados e tratados na literatura. Neste estudo, verificou-se que existem diversas variações e adaptações aplicadas para cada caso, com diferentes variáveis, condições iniciais e objetivos. Em seguida, foram propostas as adaptações necessárias para tratar especificamente o problema proposto. Inicialmente o Problema do Caminho Mínimo (PCM) foi estudado e, a medida que novas características do problema foram sendo observadas, outros 2 problemas foram propostos para serem estudados: o Problema da Mochila (PM) e o Problema do Caixeiro Viajante com Coleta de Prêmios (PCVCP). Dois métodos utilizados para tratar estes problemas foram também estudados e implementados, onde o próximo passo será a inclusão das adaptações necessárias para tratar o problema proposto. 3. Resultados e Discussão No PCM, deseja-se encontrar o menor caminho entre o ponto inicial e o final, passando por pontos intermediários (Goldbarg 2000). O problema proposto pode ser visto como um PCM se considerarmos como objetivo a minimização da distância, entretanto, as demais restrições relacionadas ao peso e ao tempo máximo de deslocamento entre os marcos deveriam ser incluídas. No que se refere a metodologias de resolução para o PCM, o algoritmo Dijkstra (Dijkstra 1959) vem sendo aplicado a bastante tempo para resolução do problema tornando-se bastante consolidado e conhecido. O algoritmo possui características interessantes, que podem ser bastante úteis na procura da menor rota de um ponto inicial ao final. O algoritmo analisa as distâncias de todos os arcos entre os pontos de um grafo e compara cada distância, uma a uma, até encontrar o menor caminho entre o ponto de partida até os outros pontos. O algoritmo Dijkstra foi implementado em C++ e as adaptações que se fizerem necessárias já poderão ser incluídas. Entretanto, pelas características do problema, está sendo considerada também a possibilidade de priorizar a maximização dos pesos e considerar a minimização da distância, também desejável, como uma restrição do problema. Com isto, percebeuse que outros problemas de PO poderiam ser explorados, como o Problema da Mochila. O PM possui o seguinte contexto: dada uma coleção de objetos distintos que possuem valores e pesos inteiros e uma mochila que suporta um peso máximo conhecido, deseja- Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 100-103, 2016 102 se determinar quais objetos serão colocados na mochila para poder levar o maior valor possível sem ultrapassar seu peso máximo (Sniedovich 2000). Como pode-se perceber, o PM possui semelhanças com o problema proposto se considerarmos os objetos como os marcos e o valor destes objetos como o peso dos marcos. No caso, a limitação de quantos objetos (marcos) serão colocados na mochila (farão parte da solução), podemos associar a um total máximo de distância que o VANT pode percorrer (autonomia do veículo). Além disso, será necessário incluir a restrição de tempo máximo de deslocamento entre os marcos. Entretanto, notamos uma importante diferença entre os dois modelos: a ordem dos itens colocados na mochila não é relevante no PM, enquanto a ordem dos pontos na rota definirá a qualidade da solução no problema proposto. Um algoritmo de programação dinâmica apresentado em Carvalho (2016), para resolver o PM, foi implementado em C++, onde agora o será verificada a possibilidade de adaptar o algoritmo para considerar o tempo máximo de deslocamento entre os marcos e a importância do sequenciamento. O PCVCP é associado à um caixeiro que coleta prêmios em cada cidade, até alcançar um prêmio mínimo pré-determinado. O objetivo é encontrar uma solução que minimize as distâncias entre as cidades por onde ele passa, de forma a alcançar, pelo menos, o valor mínimo do prêmio (Chaves 2007). É possível perceber que o problema possui grande semelhança com o problema proposto, pois busca percorrer um grafo procurando o menor caminho possível, coletando prêmios - ou pesos. Porém, por mais que o PCVCP seja semelhante ao nosso problema, eles possuem diferenças que fazem suas metodologias se divergirem. Primeiro, notamos que o ponto final de seu trajeto será o mesmo ponto de onde ele iniciou, ao contrário do nosso problema, onde teremos pontos iniciais e finais distintos. Mas esta adaptação poderá ser realizada sem grandes alterações nos métodos a serem estudados para o PCVCP, onde somente não é necessário considerar o retorno ao ponto inicial. Além disso, no PCVCP busca-se um valor mínimo para os prêmios, ou seja, quando esse valor é atingido, ele deverá começar seu trajeto de retorno. No problema proposto, queremos maximizar o peso dos pontos, ou seja, quanto maior seu valor, menor será a possibilidade do VANT se perder durante o trajeto. Com isto, será necessário um estudo mais aprofundado para moldar a resolução do PCVCP ao nosso problema particular. 4. Conclusões Até o presente momento estudos de problemas semelhantes ao problema proposto e de metodologias de resolução, já consideradas na literatura têm sido realizados, onde as adaptações necessárias ainda estão sendo trabalhadas para buscarmos um modelo ideal para resolução do nosso problema. O problema tem sido tratado somente como mono-objetivo. Entretanto, uma outra possibilidade similar consiste da abordagem citada em Deb (2001) para problemas multiobjetivos, o método -restrito que, da forma como está sendo feito, consiste em considerar somente um dos objetivos e incluir o outro como restrição do problema, mas este fica limitado a um valor específico p, o qual é atualizado iterativamente de forma a gerar os valores da curva de tradeoff. Por exemplo, poderíamos considerar um limite p para a soma dos pesos dos marcos e, a medida que este valor for sendo atualizado, seria possível obter um conjunto de soluções. Nossa expectativa é, ao final destes estudos, propor um método heurístico para colaborar com as pesquisas que buscam apoiar o processo de tomada de decisão relacionada à navegação autônoma de VANTs com o uso de informações extraídas de imagens obtidas durante o percurso. Agradecimentos Ao Projeto PITER, pela bolsa do aluno Mateus Meirelles Roberto, e ao professor Helton Cristiano Gomes, do Departamento de Engenharia de Produção da UFOP (DEPRO), pela colaboração no projeto. Referências Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 100-103, 2016 103 CARVALHO, M. H. Programação Dinâmica: o problema binário da mochila. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=h8Z2U yNNPns>. Acesso em: mai 2016. CHAVES, A. A.; BIAJOLI, F. L.; MINE, O. M.; SOUZA, M. J. F. Metaheurísticas híbridas para resolução do problema do caixeiro viajante com coleta de prêmios. Revista Produção, v.17, n. 2, p. 263-272, 2007. DEB, K. Multi-objective Optimization using Evolutionary Algorithms. Chichester: John Wiley & Sons, 2001, 515p. DIJKSTRA, E. W. A note on two problems in connection with graphs. Numerische Mathematik, v. 1, p. 269–271, 1959. GOLDBARG, M. C.; LUNA, H. P. L. Otimização combinatória e programação linear: Modelos e algoritmos. Rio de Janeiro: Campus, 2000. SILVA FILHO, P. F. F.; RODRIGUES, M.; SAOTOME, O.; SHIGUEMORI, E. H. Fuzzy-Based Automatic Landmark Recognition in Aerial Images Using ORB for Aerial Auto-Localization. In: 10o International Symposium on Visual Computing, Las Vegas, USA, 2014. SNIEDOVICH, M. The Knapsack Problem. University of Melbourne. 2000. Disponível em: < http://www.ifors.ms.unimelb.edu.au/tutorial/ knapsack/>. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 100-103, 2016 104 ESTUDO EXPERIMENTAL DAS INICIAÇÃO DA DETONAÇÃO CONDIÇÕES DE IGNIÇÃO NA N. C. Lopes1*, C. C. B. Katata 2, C. S. T. Marques3 Projeto: Avaliação da Detonação Pulsada por Imagens de Emissão 1 Universidade Federal de São Paulo- Ciência e Tecnologia , São José dos Campos-SP 2 Escola Técnica Professor Everardo Passos – Engenharia Industrial Mecânica, São José dos Campos – SP 3 Instituto de Estudos Avançados – Div. de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo O motor de detonação pulsada (PDE) tem sido proposto como um sistema de propulsão do futuro para voos de alta velocidade e acesso ao espaço. Estudos sobre seu desempenho são de extrema importância. Diferentes tipos de velas de ignição e energias totais de ignição de microssegundos foram aplicados para investigar-se a iniciação da detonação. Além disso, caracterizou-se a liga de tungstênio, que constitui o eletrodo central da vela de ignição BUHW-2 por microscopia eletrônica de varredura com aquisição de espectro de energia dispersiva de raio-X (EDS), para se projetar uma vela de ignição mais adequada para a obtenção de uma detonação ideal. A energia de 65 J de uma ignição de microssegundos iniciou uma detonação marginal, utilizando-se uma vela de ignição de tungstênio. Uma vela de ignição com 70% de W e 30% de Cu deverá possibilitar maior eficiência de ignição e resultar em uma detonação com propagação sustentada. Palavras-chave: PDE, Iniciação da detonação, Emissão luminosa, Microanálise, EDS. 1. Introdução Na detonação, a frente de reação se propaga com velocidades de milhares de m/s e aumento significativo de pressão. A detonação de misturas combustível-ar pode apresentar uma velocidade maior que 1800 m/s, enquanto as de misturas com oxigênio pode resultar em valores maiores que 3000 m/s. Em geral, são observadas pressões de 10 a 60 vezes maiores que a pressão inicial (Wolański 2011). A aplicação da detonação em motores a jato pode resultar em eficiências maiores que 15% do que a dos motores convencionais. Isso se deve à redução do volume específico O motor de detonação pulsada (PDE) tem da mistura explosiva durante a detonação, que proporcionam também um empuxo muito maior. (Wolański 2011). Neste contexto, os motores de detonação pulsada (PDEs) são amplamente considerados como motores aeronáuticos / aeroespaciais do futuro tanto na área militar quanto civil (Panicker 2006). O elevado empuxo e o baixo peso dos PDEs contribuem para uma economia de até 25% de combustível. Além disso, por possuírem baixo custo operacional, reduzida complexidade, atuarem em amplo regime de voo (Mach 0 a 5) e poderem ser acoplados a outros sistemas aeronáuticos são considerados os sistemas propulsivos da próxima geração para aviação (Panicker, 2006). Neste trabalho, investigou-se a influência de diferentes tipos de velas de ignição e diferentes energias totais de ignição, através de medidas de pressão e emissão luminosa na iniciação da detonação. Além disso, realizou-se a caracterização microestrutural da liga de tungstênio da vela de ignição BUHW-2. 2. Metodologia 2.1 Ensaios para detonação O sistema de detonação pulsada é composto por um sistema de ignição, um tubo de detonação sem obstáculo, uma tubeira e uma câmara de testes. Inicialmente, realizou-se vácuo nas câmaras de combustão e de teste, separadas por um diafragma de Mylar aluminizado. Após 2 horas de vácuo, o tubo de detonação foi preenchido com a mistura de H2/ar na condição estequiométrica a uma pressão inicial de 1 atm. A mistura foi homogeneizada por difusão molecular. Um pulso de alta tensão (25 kV) de microssegundos aplicado a Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 104-103, 2016 105 diferentes velas de ignição com energias entre 56 e 65 J iniciam a combustão da mistura. A onda de combustão rompe o diafragma e se propaga até a câmara de testes. O sistema experimental é mostrado na Fig. 1. 1 ftube = 36 mm fnozzle exit = 82.4 mm ftest chamber = 320 mm Fig. 1. Arranjo experimental para aquisição de dados do sistema de detonação pulsada. O pulso de alta tensão que inicia a combustão é sincronizado com o osciloscópio Yokogawa de 500 MHz, a partir de um gerador de atrasos. Os sensores de pressão 603B da Kistler captaram o sinal da onda de combustão, permitindo a obtenção da velocidade de propagação. Para detectar a medida da emissão após o disparo da botoeira, um monocromador de ½ m da Jobin Yvon (Triax 550) analisou a emissão luminosa e uma fotomultiplicadora detectou o sinal para as faixas espectrais referentes ao OH* (306,4 nm) ou a H2O* (651,7 mm). O tempo de emissão das faixas espectrais foi referência para o estudo do tempo de ciclo e para diagnosticar os fatores que influenciam a detonação em um PDE ideal. O tempo de ciclo estudado tem como referência o valor 10,75 ms (Santos, 2013). 2.2 Características das velas de ignição Nos testes de detonação, foram utilizados três tipos de velas de ignição (Fig. 2). A vela de ignição BP5ET com eletrodo de cobreníquel, a vela de ouro-paládio B8EGV ou B11EGV, e a vela de tungstênio BUHW-2, obtendo diferentes resultados de velocidade inicial e de tempo de emissão. 1) 2) 3) Fig. 2. Velas de ignição utilizadas. 1) BP5ET; 2) B8EGV; 3) BUHW-2. A vela BP5ET tem uma descarga semisuperficial que é mais eficiente do que as descargas padrão. Ela possui grau térmico menor do que as outras velas, o que resulta em menor isolação térmica e elétrica. Além Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 104-103, 2016 106 disso, é uma vela de mais fácil desgaste, principalmente para “gaps“ grandes. Já as velas B8EGV e B11EGV de ouro paládio, possuem uma maior condutibilidade frente às outras velas utilizadas e alto grau térmico, que concede a elas uma maior isolação elétrica e resistência à oxidação, porém possui um eletrodo bem mais fino e sua descarga é padrão. A vela BUHW-2 com eletrodo de tungstênio é a mais resistente à oxidação e de maior isolação térmica e elétrica e, ainda possui eletrodo central de maior área e descarga semi-superficial. 2.3 Microanálise da liga de tungstênio da vela BUHW-2 A preparação da amostra seguiu os padrões usuais de metalografia, ou seja, embutimento a quente (150º C) sob pressão de 21 MPa, seguido de lixamento manual na sequência de 600 e 1200. A análise da microestrutura da liga de tungstênio da vela BUHW-2 foi realizada por microscopia eletrônica de varredura utilizando-se o FEG-SEM (“Field Emission Gun - Scanning Electron Microscope”) da marca TESCAN, modelo MIRA3 do LAS/INPE. Os elementos químicos foram determinados através do espectro de energia dispersiva de raios X (EDS) acoplados ao FEG-SEM. Os espectros de EDS e o mapeamento de elementos foram obtidos em duas regiões distintas com campos de visão de 277 µm e 554 µm, respectivamente; áreas significativas considerando-se o tamanho do diâmetro do eletrodo central de tungstênio de 2,65 mm. Os espectros foram determinados para a faixa espectral de energia de raio X, que abrange todos os elementos acima do C (0,277 keV) e o mapeamento foi obtido para os elementos W, Cu, Ni e Fe. 3. Resultados e Discussão 3.1 Iniciação da detonação Antes de iniciar os ensaios de detonação, a fuga de corrente da folga do conector da vela de ignição foi eliminada com a aplicação de uma abraçadeira em aço inox (Fig. 3). Para evitar uma nova fuga de corrente, devido à utilização dessa abraçadeira, foi necessário usar uma isolação de teflon (Fig. 3). Para não haver perda de condutibilidade, realizou-se um acabamento uniforme por lixamento, de modo a manter o mesmo contato inicial. Fig. 3 Abraçadeira acoplada ao conector da vela de ignição com isolação de Teflon. Foram obtidas medidas mais repetitivas dos ensaios de iniciação da detonação, após a aplicação da abraçadeira. Os resultados das medidas de velocidade e de emissão luminosa dos ensaios de detonação com diferentes velas de ignição, energias totais de ignição e tempo de homogeneização são apresentados na Tab. 1. As velas de ignição com menor eficiência foram as com eletrodo central de ouro paládio (B8EGV e B11EGV), que resultaram em velocidades iniciais menores e tempos de emissão maiores. No entanto, poucos experimentos são necessários para a obtenção de resultados válidos, devido a sua alta resistência a oxidação. Por outro lado, foram necessários 10-12 testes para obter 3 resultados considerados válidos com a vela BP5ET, já que elas apresentam grande desgaste com os testes, e por vezes, antes do ensaio. O teste de centelha realizado pela fábrica, não interfere no uso convencional da vela, porém, pode inviabilizar a obtenção dos resultados dos testes de combustão no sistema de detonação pulsada do IEAv. Observou-se também que foram obtidos resultados melhores com uma menor energia (47 J) (Araújo 2014), os quais apresentavam velocidades iniciais maiores e tempos de emissão menores, do que com as energias de 56 J e 65 J (Tab. 1). Isso pode estar relacionado à fuga de corrente pelo corpo da vela, já que é a vela com menor isolação elétrica. Entretanto, verificou-se Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 104-103, 2016 107 também haver um problema na vedação do tubo de detonação. Isso fica claro, ao se observar os resultados à medida que se reduz o tempo de homogeneização (Tab.1). Tab 1. Velocidades iniciais e tempos de emissão para as diferentes condições estudadas. Vela Ignição Gap Energia Total Tempo de Homogeneização Velocidade em P1-P2 Tempo de Emissão mm J min m/s ms 1,65 56 40 588 24,7 B 2,00 56 40 24,5 P 2,00 56 40 636 24,4 5 2,00 64 40 540 34,0 E 2,00 65 40 642 33,4 T 2,00 65 40 623 34,4 B 1,50 65 40 450 >45,0 1 1,50 65 35 527 >45,0 1 1,50 65 30 482 45,0 E 1,50 65 30 564 40,6 G V 1,50 65 30 500 >45,0 1,80 65 30 1008 >45,0 B U 1,80 65 35 878 >45,0 H 1,80 65 30 1094 45,0 W 1,80 65 30 1000 >45,0 1,80 65 35* 1060 >45,0 2 1,80 65 35* 1030 >45,0 *Resultados obtidos após a troca dos anéis de vedação do tubo de detonação. O tempo de 35 minutos é o mínimo necessário para homogeneização, conforme os coeficientes de difusão molecular do hidrogênio e do ar. A vela de ignição de tungstênio, BUHW-2 é a que apresentou os melhores resultados, com velocidades no início do tubo de detonação (sensores de pressão P1-P2) características de uma detonação (≥ 1000 m/s), porém com uma forte desaceleração, o que resulta em tempos de emissão elevados. A forte desaceleração ocorre, pois a reação está no limite de propagação de uma detonação, ou seja, no início há uma detonação no motor, porém que não se mantém até o final do tubo de detonação. Entretanto, é possível que a reação se mantenha com velocidade de detonação em um comprimento menor do motor e, neste caso, haveria uma condição operacional de detonação, mesmo que limítrofe (Virot, 2009). Portanto, para a configuração geométrica do sistema em estudo e ignição de microssegundos de 65 J em vela de ignição de tungstênio, BUHW-2, não há uma condição operacional de um PDE, capaz de gerar empuxo. 3.2 Análise microestrutural da liga de tungstênio As micrografias obtidas através do FEGSEM, como a da Fig. 4, mostram na sua grande maioria (>70%) tamanhos de grãos de 20-40 µm, os quais foram determinados pelo programa IC Measure. A Fig. 5 mostra os espectros de EDS (Fig. 5) obtidos para duas regiões distintas da liga de tungstênio da vela de ignição BUHW-2. Observa-se que a liga de tungstênio é composta por W, Cu, Ni e Fe. As quantidades relativas desses elementos são apresentadas na Tab. 2. Interstício Grãos de W Fig. 4. Micrografia da liga da vela de ignição BUHW-2. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 104-103, 2016 108 Para melhorar os resultados dos testes, será realizada uma adequação da vela de ignição BUHW-2, apresentada na Fig. 2, alongando o comprimento do eletrodo central e do eletrodo terra da vela de ignição, como mostra a Fig. 6. Fig. 6. Desenho técnico da vela de ignição após adequação. Fig. 5. Espectros de EDS da liga de vela de tungstênio BUHW-2. Tab 2. Dados extraídos do espectro de EDS para a liga de tungstênio da vela de ignição BUHW-2. W Ni Cu Fe Wt % 1 88,9 7,7 2,8 0,6 σ1 0,1 0,1 0,1 0 Wt % 2 86,7 9,3 3,3 0,6 σ2 0,2 0,1 0,1 0,1 *Wt% é o peso em massa dos elementos e σ é desvio padrão da determinação. A amostra representa toda liga de tungstênio presente no eletrodo. Os percentuais em peso variam de 86,7-88,9% de W; 7,7-9,3% de Ni; 2,8- 3,3% de Cu e 0,6% de Fe. Esses dados estão apresentados na Tab. 2. No mapeamento de EDS da micrografia da Fig. 4, os grãos (cinza) apresentam apenas W e nos interstícios (preto) foram encontrados os elementos Ni, Cu e Fe. Os resultados obtidos são concordantes com outras ligas de tungstênio semelhantes (Das, 2010), à exceção da composição da liga. Os grãos de W são de tamanhos semelhantes dos que os determinados neste trabalho (2040 µm) e os interstícios são compostos pelos elementos em menores quantidades. 3.3 Adequação da vela de ignição A caracterização microestrutural da liga de liga de tungstênio da vela de ignição BUHW-2 (seção 3.2) permitiu escolher uma liga de tungstênio para garantir condições melhores de ignição. Será aplicada como eletrodo central uma liga com 70% de W e 30% de Cu, que deverá resultar em maior condutibilidade e assim, uma maior eficiência de ignição. Com a prolongação dos eletrodos central e terra, será obtida uma maior área de contato para a descarga elétrica e, consequentemente, um maior tempo de deposição de energia sobre a mistura combustível. Outro fator para uma maior eficiência de ignição será o aumento do “gap” da nova vela de ignição para 3 mm, aumentando assim a liberação de energia da descarga elétrica, o que deverá resultar em uma combustão de maior intensidade, com velocidades inicias maiores e tempos de emissão menores. Espera-se que tais mudanças proporcionem uma melhora nos resultados obtidos, fazendo com que a reação saia do limite de propagação e resulte em uma detonação que se sustente até o final do tubo. 4. Conclusões A influência de diferentes tipos de velas de ignição e diferentes energias totais foi analisada através de medidas de pressão e emissão luminosa, a fim de se obter Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 104-109, 2016 109 condições ideais na iniciação de uma detonação. A vela de tungstênio BUHW-2 proporcionou maior liberação de energia e repetitividade nos ensaios, além de possibilitar uma detonação no limite de propagação, que não se mantém ao final do motor e, consequentemente resulta em um tempo de emissão muito maior que o ideal. A análise obtida no FEG-SEM permitiu qualificar e quantificar os elementos presentes na liga de tungstênio da vela BUHW-2, para assim projetar uma nova vela, garantindo condições de maior eficiência de ignição. Para isso será aplicada uma liga de 70% W e 30% Cu para o eletrodo central e, espera-se assim a obtenção de tempo de ciclo ideal de um PDE. Agradecimentos Ao CNPq pela bolsa de IC (Proc. 101838/2015-8) e pelo apoio financeiro (Proc: 471052/2012-4). Ao IEAv pela bolsa de IC e infraestrutura. Ao LAS-INPE e a técnica Maria Lucia Brison pela análise no FEGSEM. Emissão com Resolução Temporal. In: SIMPÓSIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS, 2, 2013. Anais do II Simpósio de Ciência e Tecnologia do Instituto de Estudos Avançados, São José dos Campos: 2013.p. 212-217. VIROT. F. et al Operating Limit of a Pulsed Detonation Engine. The Marginal Case of Detonation Propagation. In: AIAA AEROSPACE SCIENCES MEETING INCLUDING THE NEW HORIZONS FORUM AND AEROSPACE EXPOSITION, 47, 2009. Proceedings of the 47th AIAA Aerospace Sciences Meeting Including The New Horizons Forum and Aerospace Exposition, Orlando: 2009, p. 1-9. WOLAŃSKI. P. Detonation Engines. Journal of Kones Powertrain and Trasnport, Vol. 18, n.3, p. 515-521, 2011. Referências ARAÚJO, D. J et al Eficiência do Motor de Detonação Pulsada Por Emissão Espontânea. In: SIMPÓSIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS, 3, 2014. Anais do III Simpósio de Ciência e Tecnologia do Instituto de Estudos Avançados, São José dos Campos: 2014.p. 175-179. DAS, J. et al Microstructure and Mechanical Properties of Tungsten Heavy Alloys. Materials Science and Engineering A , Vol. 527, n. 29-30 p. 7841-7847, Nov. 2010. PANICKER, P. K. et al Operational Issues Affecting the Practical Implementation of Pulse Detonation Engines. In: AIAA/AHI SPACE PLANES AND HYPERSONIC SYSTEMS AND TECHNOLOGIES CONFERENCE, 14, 2006. Proceedings of the 14th AIAA/AHI Space Planes and Hypersonic Systems and Technologies Conference, Canberra: 2006. p. 1-18. SANTOS, J. B. R.; MARQUES, C. S. T. Caracterização da Detonação Pulsada por Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 104-109, 2016 110 HEURÍSTICA BASEADA NO MÉTODO PLANEJAMENTO DE ROTAS PARA VANTs GRASP PARA O L. S. Cordeiro1*, M. J. Pinto2** 1 ETEP Faculdades - Centro de Tecnologia e Ciência, São José dos Campos - SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geointeligência, São José dos Campos – SP *[email protected], **[email protected] Resumo Este trabalho propõe uma abordagem heurística, baseada no método GRASP, para tratar o problema de geração de rotas para VANTs em ambientes de navegação contendo obstáculos. Neste problema consideramos que o veículo precisa sair de um ponto inicial e chegar a um ponto destino de forma segura e buscando minimizar a distância total percorrida. O método foi aplicado em um exemplo ilustrativo e o resultado foi comparado ao obtido pelo método Transformada de Distância que foi utilizado em trabalhos anteriores para tratar o problema. Palavras-chave: Problema de roteamento, VANT, GRASP, Transformada de Distância. 1. Introdução Pesquisas relacionadas a Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) tem buscado o aumento da autonomia destes veículos de forma a transferir parte do processo de tomada de decisão do operador para o próprio veículo. O planejamento automático de rotas e trajetórias de navegação busca contribuir para o aumento desta autonomia. Uma rota de navegação para um VANT é transformada em uma trajetória segura e dinamicamente viável através da aplicação de métodos de suavização que se baseiam nas características cinemáticas e dinâmicas do veículo. Neste trabalho, consideramos que o VANT precisa sair de um ponto inicial S e chegar a um ponto de destino G dentro de um ambiente de navegação contendo obstáculos definidos por modelos digitais de elevação, como o ambiente da Fig. 1 onde os obstáculos foram definidos considerando uma altitude de corte de 1.200m. Isto significa que toda célula do modelo digital de elevação com valor superior ou igual a 1.200m corresponde a um obstáculo do ambiente de navegação (Silva 2015). Neste trabalho, consideramos o objetivo de minimizar a distância total percorrida pelo VANT. (a) (b) Fig. 1. (a) Modelo digital de elevação. (b) Ambiente de navegação. O problema de geração de rotas tratado neste trabalho pode ser visto como um dos problemas de Pesquisa Operacional mais estudado na literatura, o problema de roteamento (Goldbarg 2000), onde agora a rota deverá ser planejada considerando os obstáculos do ambiente de navegação. Desta forma, tem-se buscado utilizar metodologias de Pesquisa Operacional para tratar o problema. Neste trabalho, será proposto um método baseado no método GRASP (Feo 1989) e o resultado será comparado com o obtido anteriormente em Cordeiro (2015) através da aplicação do método Transformada de Distância proposto em Zelinsk (1993). A comparação será feita aplicando os métodos a um mesmo ambiente de navegação. 2. Metodologia O método GRASP foi inicialmente descrito por Feo (1989) e consiste de um método de busca adaptativo guloso e aleatório, que visa apresentar diferentes soluções através de um procedimento composto de duas fases onde, na primeira fase constrói-se uma solução inicial míope para o problema em análise a qual, na Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 110-115, 2016 111 segunda fase, é feito um procedimento de melhoria da solução corrente. Na literatura encontram-se vários mecanismos para incluir os elementos na solução obtendo-se, a cada passo, uma solução parcial. No caso de uma função míope, por exemplo, cada candidato é escolhido pela sua contribuição para a solução parcial (também conhecida como função gulosa). Outra forma de escolha dos elementos pode ser feita aleatoriamente a partir de uma Lista Restrita de Candidatos (LRC), gerada de forma míope e dando ao processo uma característica probabilística. No caso da escolha aleatória, Resende (2003) apresentam alguns tipos de procedimentos que podem ser utilizados. A seguir, citamos alguns: - LRC baseada na cardinalidade: o próximo candidato é escolhido de forma aleatória, a partir da lista míope gerada; - LRC baseada em valor: a lista de candidatos é gerada a partir de uma função míope e de uma constante real c, cujo valor se encontra no intervalo 0 e 1 (se c = 0 o processo de seleção é míope; se c = 1 o processo de seleção é totalmente aleatório). Segundo Resende (2003), o valor de c dentro deste intervalo garante uma convergência rápida do algoritmo míope e uma diversidade de soluções; - LRC aleatória e míope: neste processo, metade dos candidatos são escolhidos aleatoriamente e os demais através de um algoritmo míope. Esta fase do processo permite que diferentes soluções sejam geradas a cada iteração GRASP. Mas estas soluções iniciais do GRASP não são necessariamente ótimos locais (Resende 2003). Como consequência, faz-se necessária a aplicação de um procedimento de busca local para tentar melhorar as soluções obtidas na fase construtiva. Esta busca realiza sucessivas trocas da solução corrente, sempre que uma melhor solução é encontrada na vizinhança. O critério de parada pode ser o número máximo de iterações ou o tempo máximo de execução. Para resolver o problema através da metaheurística GRASP, primeiramente gera-se aleatoriamente N posições dentro do espaço navegável do ambiente de navegação, diferentes de S e G. Na Tab. 1 são definidas as demais variáveis do algoritmo. Tab. 1. Definição de variáveis do GRASP. Variáveis Definição L Lista das N possíveis posições do ambiente de navegação; LRC Lista de p posições, escolhidas entre as N do conjunto LRC e que corresponde à Lista Restrita de Candidatos; Tabu Lista com p posições que conterá os pontos da rota que serão considerados tabu, ou seja, que não poderão fazer parte da solução por um número de iterações; R Vetor que conterá, em cada iteração, a rota gerada; R* Vetor que indicará a rota final; C Conterá o valor da distância percorrida, ou seja, representa o valor da função objetivo do problema; it Contador para o número de iterações; it_max Número máximo de iterações; it_max_ig Número máximo de iterações que a solução corrente não sofre alteração. O mecanismo de construção míope da LRC, utilizado neste trabalho, gera a cada iteração um valor aleatório que define o processo de seleção tentando garantir uma diversidade na LRC. No procedimento de melhoria, na segunda fase do GRASP, utilizaremos uma lista Tabu. A seguir é apresentado o pseudocódigo do algoritmo GRASP proposto para a resolução do problema considerando o enfoque descrito anteriormente. Faça: R* = { }; Tabu ={ }, C = 0.0, it = 0; Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 110-115, 2016 112 {Construção da solução inicial e das listas L e LRC} 1. Faça: R = {S} 2. Faça: L = { } e LRC = { }. 3. Gere os N pontos e coloque em L; 4. Escolha, aleatoriamente, p posições dentre as N disponíveis na lista L e coloque-as na lista LRC; 5. Calcule a distância gerada pelo sequenciamento dos elementos do conjunto R com a posição r, r LRC. Considere r_min, a posição que retorna a menor distância; 6. Faça: R = R + {r_min}; LRC = LRC - {r_min} L = L - {r_min}; 7. Determine uma nova posição para ser colocada na lista LRC no lugar de r_min. Para isto, selecione uma posição aleatória s da lista L; 8. Se a última posição da solução R está a uma distância d < K do ponto destino ou permite uma conexão direta com este ponto (uma linha reta), inclua o destino no vetor R, ou seja, faça: R = R + {G}. Senão, retorne ao passo 5; {Busca Tabu} 9. Coloque a t-ésima posição na lista Tabu, onde t é a posição intermediária do vetor R que, ao ser eliminada de R resulta ainda na menor distância percorrida; 10. Insira a s-ésima posição da lista LRC no vetor R na mesma posição de t, onde s é a posição da lista LRC que, se for colocada em R retorna a menor distância percorrida; 11. Determine uma nova posição para ser colocada na lista LRC no lugar de s. Para isto, selecione a primeira posição m da lista L, tal que m LRC, R, Tabu ; {Atualização da Solução} 12. Atualiza a solução final (vetor R* e variável C), se a solução gerada for melhor que a solução armazenada; 13. Faça it = it+1. Se it = it_max, pare o algoritmo e apresente a melhor solução obtida até o momento; 14. Se a solução gerada não foi atualizada por it_max_ig retorne ao passo 1, senão retorne ao passo 9; No passo 5 é preciso verificar se a rota gerada até o momento não ultrapassa nenhum dos obstáculos do ambiente de navegação. Da mesma forma, no passo 9 e no passo 10, as posições t e s serão aquelas que, ao serem retiradas ou incluídas, respectivamente, em S, uma rota factível é mantida, ou seja, nenhum obstáculo é ultrapassado. Os valores de N e K dependerão do ambiente de navegação. 3. Resultados e Discussão Nesta seção, será apresentado um exemplo ilustrativo para mostrar o resultado obtido pelo método proposto. Neste exemplo, considera-se que o ambiente de navegação resultou na área da Fig. 2, onde as células preenchidas representam as regiões que estão ocupadas pelos obstáculos e que correspondem às áreas não navegáveis da região. Fig. 2. Exemplo ilustrativo. Considerando os pontos S e G nas posições ilustradas na Fig. 2, o resultado gerado pelo método proposto está apresentado na Fig. 3, onde o custo da rota, considerando distância euclidiana entre os pontos gerados, foi de 34,31. O resultado será comparado com o resultado obtido pelo método Transformada de Distância. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 110-115, 2016 113 é possível obter um caminho de S a G. Considerando a primeira vizinhança da Fig. 4 e a distância como anteriormente, a Fig. 5 mostra a rota gerada para o exemplo da Fig. 2, onde o custo foi de 29,2. Fig. 3. Rota de navegação gerada. O método Transformada de Distância consiste de um método bastante utilizado na literatura na área de robótica e foi aplicada neste exemplo em Cordeiro (2015). De maneira geral, o método consiste em utilizar uma malha (grid) da área a ser explorada, onde cada célula é identificada como uma região ocupada ou livre (sem obstáculos) para navegação. Definida a grade, o método busca expandir a distância em torno da célula destino (G) como uma onda se propagando em torno dos obstáculos, associando-se valores (v) a cada célula livre a partir da célula G. O primeiro passo consiste em associar à célula destino um valor nulo (vG=0) e às demais células livres valores altos. Em seguida, o valor de cada célula livre i (vi) é atualizado utilizando a Eq. (1). vi = min {vi, (vj + cij)} (1) onde: cij corresponde ao custo de mover da célula i para o vizinho j, j=1,...,T. Para cada célula livre i, o valor de T, que corresponde ao total de vizinhos da célula i, é definido de acordo com o tipo de vizinhança escolhido (veja Fig. 4). i i Fig. 5. Rota de navegação gerada pela TD. O resultado obtido pela TD foi melhor do que o resultado obtido pelo método proposto e, com isto, alterações no método proposto podem ser sugeridas como propostas para trabalhos futuros, visando obter melhores soluções. Uma sugestão seria considerar, no passo 10, outras estratégias para incluir a posição s em S como, por exemplo, s seria incluída na melhor posição de S, ou seja, o vetor S seria varrido e a posição s incluída na posição que retornasse a menor distância e não na mesma posição de t. Além disso, a cada passo que uma solução S é obtida deve-se verificar se não é possível reduzir o tamanho do vetor, ou seja, se alguma ligação intermediária da rota poderia ser eliminada. Caso esta alteração já tivesse sido implementada, uma solução com um custo menor de 30,31 seria obtida (ilustrada na Fig. 6). i Fig. 4. Tipos de vizinhança para a célula i. Dados os valores das células e a posição inicial S, a rota até G é obtida buscando-se sempre pela célula vizinha livre de menor valor v. No caso, a busca é iniciada a partir de S e é finalizada somente quando o ponto destino G é alcançado. Caso não exista célula com valor menor, conclui-se que não Fig. 6. Rota de navegação com alteração. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 110-115, 2016 114 Outra possibilidade para gerar diferentes soluções seria permitir a inclusão de pontos no vetor R que resultem em soluções infactíveis, ou seja, que gerem rotas passando por obstáculos. Isto permitiria uma diversidade na solução. Desta forma, a factibilidade da solução deveria ser verificada no passo 12 do algoritmo e, em caso de infactibilidade pode-se eliminar a solução ou verificar a possibilidade de tornála factível. Estas melhorias serão implementadas e testes serão realizados para verificar a obtenção de soluções melhores. 4. Conclusões Este trabalho apresentou uma proposta para utilizar o método GRASP para tratar o problema de geração de rotas de navegação para VANTs, considerando obstáculos, onde as adaptações necessárias foram citadas. Um exemplo ilustrativo foi utilizado para mostrar a aplicação do método e o resultado comparado com o método Transformada de Distância. Além das propostas de melhorias já citadas na seção anterior, novos testes computacionais serão realizados considerando outros ambientes de navegação e a comparação com outros métodos também poderá ser feita como, por exemplo, com o método RRT (Lavalle 1998), que já está sendo utilizado em outros trabalhos em desenvolvimento pela EGI-A (Silva 2015). Em paralelo a este trabalho também está sendo realizado um estudo sobre o framework em desenvolvimento no Laboratório de Engenharia Virtual (LEV) que possui diferentes meta-heurísticas já implementadas para resolução de problemas de otimização combinatória baseadas em solução única e em população (Da Silva Junior 2013). A dificuldade inicial encontrada está na necessidade de considerar um tamanho variável do vetor solução. Uma possibilidade em estudo consiste em fixar o tamanho do vetor e aumentar este tamanho a cada vez que o framework for utilizado até que uma solução factível seja obtida. Em relação aos obstáculos esta sendo incluída uma penalidade de forma a reduzir o número de conexões passando por obstáculos. Testes computacionais ainda estão sendo realizados para verificar a possibilidade de utilizar o framework para resolução do problema. Agradecimentos Ao PIBIC pela bolsa do aluno Leonardo Santos Cordeiro. Referências CORDEIRO, L. S.; PINTO, M. J.; MEDEIROS, F. L. L. Transformada de Distância aplicada ao planejamento de rotas para VANTs. In: SIMPÓSIO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO DO IEAV (SCTI), IV, 2015, São José dos Campos, Anais... Sao José dos Campos: IEAv, 2015. DA SILVA JUNIOR, C. A.; PASSARO, A.; ABE, N. M. Estudo de frameworks de metaheurísticas. In: SIMPÓSIO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO DO IEAV (SCTI), II, 2013, São José dos Campos, Anais... Sao José dos Campos: IEAv, 2013. FEO, T. A.; RESENDE, M. G. C. A Probabilistic Heuristic for a Computationally Difficult Set Covering Problem, Operations Research Letters, v. 8, p. 67–71, 1989. GOLDBARG, M. C.; LUNA, H. P. L. Otimização combinatória e programação linear: Modelos e algoritmos. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2000. LAVALLE, S. M. Rapidly-exploring random trees: A new tool for path planning. Computer Science Dept., Iowa State University, 1998. RESENDE, M. G. C.; VELARDE, J. L. G. GRASP: Greedy randomized adaptive search procedures, Revista Iberoamericana de Inteligencia Artificial, v. 19, p. 61-76, 2003. SILVA, L. M.; DE MARCHI, M. M.; MEDEIROS, F. L. L. Planejamento automático de rotas de navegação para VANTs através de árvores aleatórias de rápida exploração e modelos digitais de elevação. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PESQUISA OPERACIONAL (SBPO), Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 110-115, 2016 115 XLVII, 2015, Porto de Galinhas. Anais... Rio de Janeiro: SOBRAPO, 2015. ZELINSKY, A.; JARVIS, R. A.; BYRNE, J.C.; YUTA, S. Planning paths of complete coverage of an unstructured environment by a mobile robot. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON ADVANCED ROBOTICS, 13, 1993, Tokyo. Procedings... Piscataway: IEEE, 1993. p. 533-538. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 110-115, 2016 116 IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE TRAÇADOR DE CURVAS DE HISTERESES MAGNÉTICAS A. A. C Silva1, 2*, V. M. M Abramo1, 2*, A. C. C Migliano*1, 2,3 Projeto: Ensaios de Placas Cerâmicas Hexagonais à base de Cobalto com Aplicações em Encapsulamento de Sensores RF e Micro-Ondas. 1 Universidade Braz Cubas– UBC – Mogi das Cruzes - SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Física Aplicada, São José dos Campos – SP 3 Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA – São José dos Campos - SP *[email protected] Resumo Materiais magnéticos são empregados em filtros de Rádio Frequência (RF),núcleos de transformadores, sensores e atuadores. No entanto, suas aplicações dependem de suas propriedades eletromagnéticas, tais como a permeabilidade magnética, permissividade elétrica, etc. Várias técnicas experimentais foram desenvolvidas com o objetivo de extrair as propriedades magnéticas dos materiais, sendo que a mais utilizada é a que emprega o Traçador de Curvas de Histereses (TCH). Esta técnica possibilita medir as induções de saturação (Bs) e remanente (Br) e o campo coercivo (Hc). Desta forma, foi montado um arranjo de TCH que permite excitar amostras toroidais com até 10 A/20 V, variando-se a frequência de excitação da corrente entre 5 e 1000 Hz.Uma interface de controle e automação desses ensaios foi elaborada para extrair parâmetros das curvas de histereses. O sistema foi avaliado com uma amostra de Co xCu(1-x)Fe2O4, comparando-se os resultados obtidos com os medidos num magnetômetro de amostra vibrante. Palavras-chave: Histerese Magnética, Caracterização de Materiais Magnéticos, TCH. 1.Introdução Materiais eletromagnéticos são empregados em filtros de Rádio Frequência (RF), núcleos de transformadores para telecomunicações, sensores, atuadores, etc. A aplicação desses materiais depende de suas propriedades eletromagnéticas, mecânicas ou térmicas. Portanto, o conhecimento de suas propriedades físicas em função da frequência e temperatura torna-se essencial para que se obtenha um material adequado para cada tipo de aplicação (Migliano 1990). O Laboratório de Sistemas Eletromagnéticos (LSE) do IEAv possui infraestrutura capacitada para avaliar as propriedades eletromagnéticas de materiais, em especial as dispersões da permeabilidade e permissividade complexas na faixa DC até 50 GHz. Para baixas frequências, entre 25 Hz e 400 Hz, foi implementado um novo arranjo experimental para medir as curvas de histereses magnéticas de amostras do tipo Epstein (ASTM A343/A343M-14). Com este novo arranjo experimental pode-se avaliar as histereses magnéticas para se definir as perdas magnéticas e avaliar a qualidade do material para aplicações em 60 Hz. Ainda, pode-se definir se o material é um material magneticamente “mole” (soft) ou “duro” (hard) (Ribas, 2012). Neste caso, os materiais de alta permeabilidade são os materiais magneticamente moles (empregados em transformadores, filtros e blindagens) e os materiais magneticamente duros são os ímãs permanentes, possuindo uma área da histerese retangular. Com a disponibilização das novas Tecnologias da Informação (TI) foi possível implementar esta técnica eliminando-se as interferências provocadas por ruídos e imprecisões dos componentes eletrônicos.Uma rotina computacional foi empregada para adquirir, tratar e interpretar os dados obtidos (Lemos 2010; Anazawa 2007; Sinnecker 2000). 2. Metodologia Um Traçador de Curvas de Histerese (TCH) consiste de uma fonte de corrente alternada (AC), que se conecta ao enrolamento primário da amostra, gerando um campo magnético H, sendo proporcional Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 116-119, 2016 117 onde B é a indução magnética, Φ é o fluxo magnético (= H.A), é a permeabilidade magnética do material e A é a área da secção reta em (m²). Usando a Lei de Ampère, temse: , (2) onde N é o número de espiras no enrolamento primário, i é acorrente magnetizante ou de excitação e L é comprimento magnético ou perímetro médio do toróide. Em relação ao circuito acoplado aos terminais do enrolamento secundário, mostrado na Fig. 1, aplica-se a Lei de Faraday na forma integral, cuja tensão no capacitor é proporcional ao tempo de integração da corrente no tempo O circuito do secundário está provido de um circuito responsável por integrar o sinal. Assim, a tensão no capacitor é proporcional ao tempo de integração da corrente: , (3) onde Vc é a tensão no capacitor, C é o valor do capacitor, N é o número de espiras no enrolamento secundário, A é a área da secção transversal da amostra, R2 é o valor do resistor 2 compondo o circuito integrador e B é a indução magnética ou densidade de fluxo. Considerando o esquema elétrico apresentado na Fig. 1, a queda de tensão em R1 corresponde ao sinal obtido no eixo horizontal do osciloscópio, proporcional ao campo magnético H de acordo com (2). A tensão proporcional à indução magnética, de acordo com a Eq. (3), é a responsável pelo sinal do eixo vertical no osciloscópio. no enrolamento secundário. Fig. 1. Arranjo experimental, para a obtenção das curvas de histerese. Observe que nesta configuração foi adotado o circuito integrador RC no enrolamento secundário. 20 Magnetização (emu/g) à corrente de excitação da amostra.Conforme mostra a Fig. 1, no enrolamento secundário conecta-se um circuito integrador (RC), que gera um sinal de indutância magnética. A variação do fluxo magnético Φ (H.A) com a indutância magnética é observada por curvas conforme apresentada na Fig. 2. As Eqs.(1-3) definem os parâmetros práticos do ensaio para serem obtidos, sendo possível gerar um gráfico mostrando a interação entre B (indução magnética) e H (campo magnético). H= Φ/A, (1) ZnNi 10 0 -10 -20 -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 Campo Magnético Aplicado (kG) Fig. 2. Típica curva de histerese magnética de um material magneticamente mole. O material de teste neste experimento foi uma cerâmica de Ni-Zn. Uma rotina computacional escrita em ambiente VEE Pro 9 foi elaborada, permitindo controlar a frequência, tensão e corrente no enrolamento do primário e extrair os sinais dos canais do osciloscópio. Após tratar esses sinais, são gerados gráficos que permitem obter Campo Coercivo (Hc) e Indução Remanente (Br). 2.1 Confecção da Amostra A cerâmica Co0,1Cu0,9Fe2O4 (Ferrita CoCu), utilizada para a obtenção da curva de histerese, foi sintetizada por meio do método cerâmico convencional, ou reação do estado sólido, seguindo as etapas ilustradas na Fig. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 116-119, 2016 118 3. Coercivo Hc e Remanência Mr. Fig. 4. Amostra toroidal obtida, com seus enrolamentos primário e secundário. Fig. 3. Etapas do processo de estado sólido. Na sequência de imagens na linha superior estão: matéria-prima; pesagem; jarro de TEFLON. Na sequência de imagens na linha abaixo: moinho excêntrico; calcinação; prensagem. A sinterização final foi no mesmo forno da calcinação. Inicialmente, para a obtenção dessa ferrita, foi considerada a estequiometria Co xCu(1x) Fe2O4 para x=0,1. A mistura dos óxidos metálicos passou por um processo de moagem via úmida com álcool etílico (C2H6O). Nesta etapa foi usado um moinho excêntrico, jarros de TEFLON e esferas de aço. A duração da moagem foi de 3 horas. Após a moagem, o material foi calcinado numa temperatura de 800ºC por um período de 4 horas. Posteriormente, o material foi compactado em prensa hidráulica uniaxial, realizando pré-prensagem com carga de 800 kg e finalizando com 2500 kg. A peça à verde foi sinterizada a 1200oC por 12 h, submetendo rampas de subida e descida de 5oC/h. A amostra pronta para os ensaios é apresentada na Fig. 4. Suas dimensões e dados dos enrolamentos são apresentados na Tab. 1. 3. Resultados e Discussões Na validação do sistema foi realizado ensaio com amostra cerâmica Co0,1Cu0,9Fe2O4 na forma toroidal, seguindo o padrão de Epstein (raio >> espessura). A curva de histerese medida é apresentada na Fig. 5. De forma detalhada, nas Figs. 6 e 7 são apresentadas a saturação Ms, campo Tab. 1. Dimensões Físicas da Amostra. Material do anel Cobalto-Cobre Diâmetro 34,0 mm Externo Diâmetro 29,0 mm Interno Altura 0,60 mm N° de Espiras no 100 Primário N° de Espiras no 800 Secundário Fig. 5. Curva de histerese da cerâmica Co0,1Cu0,9Fe2O4. 4. Conclusões As características da curva de histerese obtida definem esta cerâmica como um material magneticamente mole, justificando sua aplicação como blindagem eletromagnética. Os dados de M s, Hc e Mr corroboraram os dados obtidos pela técnica do Magnetômetro de Amostra Vibrante: 54 emu/g, 0,12 kgauss e 6 emu/g, respectivamente. Esta discrepância é justificada pela variação da fonte de Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 116-119, 2016 119 excitação empregada. Pretende-se numa próxima etapa desenvolver rotinas estatísticas para agregar à interface. Assim, o sistema poderá tirar uma média de vários ciclos de histereses. Fig. 6. Limite máximo na curva de histerese magnética foi de 67,0 emu/g, aproximadamente. Ammeter-Vltmeter Method and 25-cm Epstein Test Frame, 2014. ANAZAWA R. M. Caracterização Mecânica e Microestrutural de um Aço 300M com Microestrutura Multifásica, 2007, 193p. Tese Doutorado em Engenharia Mecânica – Universidade Estadual Paulista Guaratinguetá. LEMOS L. V. Propriedades Eletromagnéticas de amostras Policristalinas de CoFe2O4 na faixa de RF e Micro-Ondas, 2010, 130p. Dissertação Mestrado em Engenharia Aeronáutica – Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA São José dos Campos São Paulo. MIGLIANO A. C. C. Circuitos magnéticos (apostila), São José dos Campos, 1990, 75p. RIBAS, J. C. L. Modelagem do Fenômeno da Ferroressonância Considerando Histerese: Análise em Subestação de Energia, 2012, 136 p.Dissertação Mestrado em Engenharia Elétrica - Universidade Federal do Paraná – UFPR, Curitiba, Paraná. SINNECKER P. J Materiais Magnéticos Doces e Materiais Ferromagnéticos Amorfos, 2000, 10p. Artigo em livro – Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro. Fig. 7. No centro da histerese, H e M iguais a zero, observa-se Hc de 0,15 kgauss e Mr de 4 emu/g, aproximadamente. Agradecimentos CNPq (PIBIC/IEAv); CNPq (proc. no. 501348/2010-7); COMAER; CAPES/Pró-Estratégia, Proc.no. 23038.007462/2012; CTINFRA2011, Ref.0479/11; FAPESP Proc.01448/2012; CTINFRA2013, Ref.0606/13, MSc Mayara dos Santos Amarante; MSc Glauco Pavanelli Zanella; MSc Rodrigo Gabas Amaro de Lima; MSc Fabio Ruiz Daró; Prof. Dra. Vera Lúcia Othéro de Brito. Referências ASTM A343/A343M-14 Standard Test Method for Alternating-Current Magnetic Properties of Materials at Power Frequencies Using WattmeterAnais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 116-119, 2016 120 PLANEJAMENTO DE ROTAS DE NAVEGAÇÃO PARA EXPERIMENTOS DE POUSO AUTÔNOMO COM UM VANT VTOL M. E. L. Honorato1*, V. C. F. Gomes2**, L. H. M Dias1, M. R. C. Aquino2, F. L. L. Medeiros2 1 Universidade Federal do Estado de São Paulo, São José dos Campos - SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geointeligência, São José dos Campos – SP *[email protected];**[email protected] Resumo Este trabalho se insere no estudo do processo de pouso autônomo de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) do tipo Vertical Take-Off and Landing (VTOL), através do uso de visão computacional para reconhecer um heliponto e corrigir a posição do veículo em relação ao heliponto. Experimentos de navegação autônoma de um VANT VTOL, por uma rota de navegação planejada até um heliponto, são essenciais para a análise da acurácia de sistemas de pouso autônomo baseados em visão computacional. Assim, o objetivo deste trabalho foi o planejamento de rotas de navegação para um VANT VTOL desenvolvido na Divisão de Geointeligência (EGI), considerando um ambiente real de navegação. Palavras-chave: Planejamento de rotas de navegação, VANT, VTOL, Pouso autônomo, Heliponto. 1. Introdução Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) são aeronaves projetadas para operar sem piloto a bordo. Esses veículos podem ser Aeronaves Remotamente Pilotadas (RPA, do inglês Remotely-Piloted Aircraft) ou aeronaves autônomas. No primeiro caso, o piloto controla a aeronave remotamente, enquanto que, no segundo, a aeronave, uma vez programada, não permite intervenções externas até completar seu voo. Diversos motivos têm favorecido a popularização dos VANTs nos últimos anos. Destacam-se o rápido avanço em eletrônica, a miniaturização de tecnologias e a vasta gama de aplicações possíveis para esse tipo de veículo. Entre as principais vantagens de VANTs em relação a aeronaves tripuladas, podemos citar: a realização de tarefas que colocariam em risco a tripulação de aeronaves convencionais e o custo de operação reduzido em relação à operação de uma aeronave convencional na realização de determinadas tarefas. Atualmente, a utilização de VANTs é comum tanto no âmbito civil quanto no meio militar. A autonomia dessas aeronaves está associada à utilização de meios computacionais para a realização de tarefas como navegação, decolagem, pouso, monitoramento, rastreamento, etc (Souza 2014). O pouso autônomo de VANTs que fazem decolagem e pouso na vertical (VTOL, do inglês Vertical Take-Off and Landing) em helipontos consiste em um problema complexo devido à existência de um erro significativo entre a posição real de um heliponto e a posição do mesmo estimada pelo sistema de navegação do VANT, quando esse sistema é baseado na fusão entre dados obtidos por um receptor de Global Positioning System (GPS) e por um Inertial Navigation System (INS). Uma solução para esse problema é a utilização de técnicas de visão computacional (Sanchez-Lopez 2014) para o reconhecimento automático de helipontos através de imagens obtidas por uma câmera instalada no VANT. Essas técnicas permitem a estimação de posição do VANT para correções de voo. Em Honorato et al. (2015) foi montado um VANT do tipo VTOL, apresentado na Fig. 1, para desenvolvimento de pesquisas relacionadas com a tecnologia de pouso autônomo que fazem uso de técnicas de visão computacional (Gautam 2014). Esse VANT VTOL é um quadricóptero com um piloto automático Ardupilot Mega 2.6 (Ardupilot 2014), que permite a navegação autônoma por trajetórias compostas por waypoints (posições geográficas) e o pouso autônomo através de sensores inerciais, um barômetro (estimação de altitude) e um sonar (estimação de altura). Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 120-124, 2016 121 2.1 Modelagem Computacional do Ambiente de Navegação O ambiente de navegação escolhido para o planejamento de rotas de navegação é apresentado na Fig. 2. Fig. 2. Ambiente de navegação escolhido . Fig. 1. VANT VTOL montado em Honorato (2015). O objetivo deste trabalho é o planejamento de rotas de navegação para o VANT VTOL mencionado. Os experimentos permitirão a análise da acurácia das posições geográficas estimadas pelo sistema de navegação do piloto automático Ardupilot Mega, que se baseia na fusão GPS/INS. A análise da acurácia do sistema de navegação do VANT terá significativa relevância para a validação de um sistema de visão computacional para guiamento do pouso de VANTs VTOL, que está sendo desenvolvido na Divisão de Geointeligência (EGI). Entretanto, é importante ser mencionado que a realização desses experimentos não compõe o objetivo deste trabalho. Esses experimentos serão realizados em outro projeto. 2. Metodologia O processo de planejamento de rotas para o VANT VTOL foi dividido em duas principais etapas: a modelagem das regiões navegáveis e obstáculos de um ambiente de navegação através de uma grade binária e a aplicação do método Rapidly-exploring Random Tree (RRT) (Lavalle 2014) ao problema de planejamento de rotas bidimensionais de navegação para o VANT VTOL. Esse ambiente de navegação bidimensional é delimitado pelas coordenadas geográficas listadas na Tab. 1 e corresponde a uma área no Instituto de Estudos Avançados (IEAv). A altura de navegação considerada foi de 4 metros. Tab. 1. Coordenadas do ambiente delimitado para a navegação Latitude Longitude Inferior -23.253037 -45.857658 Superior -23.252400 -45.857000 Grades retangulares binárias de ordem 20x20 foram usadas para modelar as regiões navegáveis e os obstáculos desse ambiente de navegação. Um exemplo de grade é apresentado na Fig. 3. Toda célula da grade com elevação superior a 4 metros é considerada um obstáculo e cada célula obstáculo possui uma envoltória de segurança com largura igual a 2 células. As células obstáculos e as envoltórias de segurança correspondem às células negras e cinzas da grade, respectivamente. O valor dessas células é igual a 1 na grade e representam uma região de aproximadamente 3,5 x 3,4m no terreno. Com o objetivo de garantir a segurança da operação do VANT, foram considerados apenas obstáculos virtuais à navegação do mesmo. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 120-124, 2016 122 posições navegáveis do ambiente de navegação. O nó raiz da árvore é a posição inicial da rota a ser planejada. O funcionamento consiste em expandir a árvore de modo aleatório do nó raiz (qinit) até que uma de suas ramificações (qnew) alcance uma posição final (qdest). Uma vez encontrada a posição final e como cada nó possui informação de seu nó antecessor, a rota é traçada de qdest até qinit e depois invertida. Fig. 3. Exemplo de grade regular binária utilizada para modelar o ambiente de navegação. 2.2 Planejamento de Rotas de Navegação via RRT Uma rota de navegação, entre duas posições (waypoints) qinit e qdest de um ambiente de navegação, é uma sequência de waypoints conectados por segmentos de reta que não interceptam qualquer obstáculo do ambiente de navegação. Uma rota de navegação deve ser convertida em uma trajetória de navegação dinamicamente viável e livre de colisão através da aplicação de métodos de suavização como, por exemplo, as trajetórias de Dubins (Dubins 1957), que mesclam a rota com as características cinemáticas do veículo. O piloto automático do VANT VTOL (Honorato 2015) usado neste trabalho permite a seguinte navegação entre uma rota composta por nw > 2 waypoints: a navegação entre o waypoint wi-1 e o waypoint wi; a detecção do momento em que o VANT alcança o waypoint wi; a parada do VANT em wi; o giro em torno de seu eixo vertical em wi; o alinhamento de sua proa com o segmento de reta entre wi e wi+1; e a navegação para wi+1. Assim, não foi necessária a aplicação do método de suavização de trajetória de Dubins para a conversão de uma rota em uma trajetória de navegação. Como mencionado anteriormente, as rotas de navegação foram planejadas através da aplicação do método RRT. Uma RRT é um grafo na forma de uma árvore em que os nós são amostras, isto é, 3. Resultados e Discussão Neste trabalho foi utilizada a implementação computacional do método RRT desenvolvida em (Masiero 2015). O método RRT foi então aplicado ao planejamento de rotas de navegação, considerando qdest = (latitudedest, longitudedest) = (-23.5264684, -45.8573351). O waypoint qdest é a posição central do heliponto. A coluna esquerda da Fig. 4 apresenta quatro rotas de navegação planejadas através do método RRT e considerando a existência de diferentes tipos de obstáculos. As quatro rotas foram simplificadas através da aplicação de um algoritmo de detecção de colisão por linha de visada e estão apresentadas na coluna direita da Fig. 4. Através dos resultados obtidos pode-se perceber que o método RRT permitiu o planejamento de rotas de navegação livres de situações de colisão com os obstáculos do ambiente de navegação. Os waypoints das rotas de navegação ilustradas na Fig. 4 são apresentados na Tab.2. Tais rotas foram embarcadas manualmente no piloto automático Ardupilot Mega do VANT VTOL através do software Mission Planner. A Fig. 5 apresenta a terceira rota de navegação sendo embarcada no Ardupilot Mega através do software mencionado. Tendo como qinit o ponto ‘H’ (home position) e qdest o ponto ‘8’ apresentado na Fig. 5. A próxima fase deste trabalho será a realização de experimentos de navegação e Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 120-124, 2016 123 de pouso autônomo com as rotas embarcadas no VANT. Rota planejada Rota simplificada foi simplificada por um algoritmo de detecção de colisão por linha de visada. Tab. 2. Wayponts (Wp) obtidos depois da simplificação das rotas planejadas pela RRT. Rota 1 Rota 1 2 3 Rota 2 4 Wp w1=qinit w2 w3 w4=qdest w1=qinit w2 w3 w4 w5 w6 w7=qdest w1=qinit w2 w3 w4 w5 w6 w7 w8 w9=qdest w1=qinit w2 w3 w4 w5 w6 w7 w8=qdest Latitude -23.25300000 -23.25287381 -23.25268349 -23.25264684 -23.25300000 -23.25287815 -23.25269203 -23.25246697 -23.25246232 -23.25246297 -23.25264684 -23.25241000 -23.25289098 -23.25287983 -23.25272452 -23.25246479 -23.25245812 -23.25246117 -23.25246523 -23.25264684 -23.25285000 -23.25300308 -23.25301073 -23.25300793 -23.25243320 -23.25243168 -23.25242790 -23.25264684 Longitude -45.85710000 -45.85759484 -45.85755356 -45.85733515 -45.85740000 -45.85756266 -45.85755951 -45.85752793 -45.85752328 -45.85735340 -45.85733515 -45.85765000 -45.85762785 -45.85706598 -45.85705835 -45.85712850 -45.85715249 -45.85729116 -45.85729634 -45.85733515 -45.85730000 -45.85729837 -45.85728872 -45.85712426 -45.85712732 -45.85713372 -45.85729616 -45.85733515 Rota 3 Rota 4 Fig. 4. Planejamento de quatro rotas de navegação pelo método RRT. 4. Conclusão Este trabalho apresentou o emprego do algoritmo RRT para o planejamento de rotas de navegação para um VANT VTOL, visando à realização futura de experimentos de navegação e pouso autônomos. Foi definido um modelo computacional de um ambiente de navegação para o VANT VTOL, composto por obstáculos virtuais. Foram definidas 4 rotas entre posições de origem arbitrárias e um heliponto. Cada rota Fig. 5. Embarque de uma rota (rota 3) de navegação no Ardupilot Mega via Mission Planner. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 120-124, 2016 124 Verificou-se que e o método Rapidlyexploring Random Tree é eficiente para encontrar uma trajetória entre o ponto de origem e destino evitando obstáculos, mas que é importante o uso de um algoritmo de simplificação, para reduzir o número de waypoints necessários para a realização do trajeto. Agradecimentos Ao PIBIC/CNPq pela bolsa de iniciação científica, e à divisão de Geointeligência do IEAv. approach toward visual autonomous ship board landing of a VTOL UAV. Journal of Intelligent and Robotic Systems, v. 74, p. 113-127, 2014. SOUSA, J. D. de. Modelagem e Identificação de um Veículo Aéreo Não Tripulado do tipo quadrirrotor. 32 f. Trabalho de conclusão de curso – Engenharia Eletrônica, Universidade de Brasília, Brasília. 2014. Referências ARDUPILOT. APM Autopilot Suite. Disponível em: <http://ardupilot.com>. Acesso em: 14 de nov. 2014. DUBINS, L. E. On curves of minimal length with a constraint on average curvature, and with prescribed initial and terminal positions and tangents. American Journal of Mathematics, n. 79, p. 497-516, 1957. GAUTAM, A.; SUJIT, P. B.; SARIPALLI, S. A survey of autonomous landing techniques for UAVs. IEEE International Conference on Unmanned Aircraft Systems (ICUAS), Orlando, USA, pp. 1210-1218, 2014. HONORATO, M. E. L. et al. Montagem de um VANT do tipo VTOL para experimentos de pouso autônomo. In: Simpósio de Ciência, Tecnologia e Inovação do IEAv (SCTI). IV, 2015, São José dos Campos, SP. Anais..., São José dos Campos: IEAv, 2015. p. 102-107. LAVALLE, S. M. Planning algorithms. New York: Cambridge University Press, 2006, 842 p. MASIERO, L. S.; DE MARCHI, M. M.; MEDEIROS, F. L. L. Aplicação de árvores aleatórias de rápida exploração ao planejamento de rotas para VANTS. In: Simpósio De Ciência, Tecnologia e Inovação do IEAv (SCTI). IV, 2015, São José dos Campos, SP. Anais..., São José dos Campos: IEAv, 2015. p. 18-23. OBORNE, M. Mission Planner – Ground Station. Disponível em: <http://planner.ardupilot.com>. Acesso em: 29 nov. 2014. SANCHEZ-LOPEZ, J. L. et al. An Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 120-124, 2016 125 PROCESSAMENTO DE IMAGENS OBTIDAS POR DRONES UTILIZANDO O SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA SPRING R. R. Bueno, J. D. Verona.1, E. H. Shiguemori 2* Projeto: PITER. 1 Faculdade de Tecnologia – Geoprocessamento – Jacareí – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geointeligência, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Esse estudo foi impulsionado pela necessidade de verificar se programas já consolidados no meio acadêmico para o processamento de imagens obtidas por satélites ou aviões poderiam ser utilizados no processamento de imagens áreas obtidas por Veículos aéreos não tripulados (VANTs). Dessa forma, surgiu a iniciativa de utilizar o software acadêmico SPRING, por se tratar de um programa aberto e gratuito que foi desenvolvido pelo governo brasileiro no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Câmara 1996). Constatou-se inicialmente que o SPRING não é indicado para a etapa de pré-processamento relacionada ao mosaico e ortorretificação das imagens, sendo o programa Agisoft escolhido como intermediário em versão demo gratuita, utilizado apenas para georreferencimento. O projeto abrangerá técnicas de pré-processamento, realce e classificação, a fim de determinar as melhores técnicas para mapeamento dos alvos vegetação e asfaltos provenientes de imagens obtidas por VANT´s, escolhidos como prioritários nesse estudo. Palavras-chave: SPRING. VANT, PDI, PITER, 1. Introdução As aplicações de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) se expandem a cada dia e seu uso diversificado se estende desde usos civis aos militares (Cruz 2012). As imagens áreas obtidas por VANT ainda não podem ser comercializadas, mas é um meio financeiramente mais viável de se obter dados aéreos de um determinado local (Longhitano 2010). Uma imagem é cheia de informações preciosas em diversas áreas de aplicações. O processamento de imagens é certamente uma dessas áreas em crescimento, que requer estudos como reconhecimento de áreas, identificação de locais, padrões e objetos, compreensão de imagens, análise estatística, e outros. Todas essas aplicações aliadas ao uso de VANT são cientificamente importantes para novas pesquisas e conhecimentos (Longhitano 2010). Este trabalho tem como objetivo avaliar o desempenho do software SPRING e suas técnicas de classificação em imagens áreas. Envolve a geração de mosaicos, georreferenciamento e aplicação de técnicas de processamento digital de imagens (PDI), e, como definido, o estudo do comportamento espectral da vegetação e asfalto nas imagens obtidas pelo VANT do projeto PITER. 2. Metodologia Após algumas reuniões do projeto PITER no IEAV, um sobrevoo já realizado pelo projeto dentro da área da UNIVAP foi disponibilizado para início dos testes de PDI. A primeira etapa de PDI é a de préprocessamento, que cuida da qualidade geométrica e registro da imagem. Ao iniciar o primeiro teste com o SPRING surgiram complicações, pois o software é próprio para imagens de satélites, de modo que alguns parâmetros de entrada são diferentes em relação às imagens aéreas. Desta forma, optou-se pelo software Agisoft PhotoScan, próprio para processar imagens de VANTs, pois possui algoritmos de reconhecimento de pontos homólogos de uma imagem e realiza o georreferenciamento através da sobreposição. O mosaico é o meio utilizado para visualização do local inteiro do voo. Nesta etapa, as imagens são reorganizadas através de pontos homólogos (pontos onde há sobreposição de um mesmo objeto). A etapa Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 125-127, 2016 126 de georreferenciamento das imagens é feita por esse software a partir das sobreposições. Sendo assim, o SPRING ainda não será usado. Após a obtenção do mosaico, inicia-se a utilização do SPRING. Na classificação e posterior mapeamento serão atribuídas classes aos objetos presentes na imagem, no caso, vegetação e asfalto. Através de testes nos computadores da FATEC Jacareí e IEAV serão determinadas as melhores técnicas de PDI disponíveis no SPRING. A princípio as etapas incluem préprocessamento, realce e classificação. 2.1 Tutorial Agisoft PhotoScan Para realizar o processamento foram realizados os seguintes passos: 1-Workflow- Add photo. Adiciona as fotos; 2-Workflow- Align fotos. O programa alinha as fotos e cria nuvem de pontos. 3-Workflow- Build Dense Cloud. Nesse passo é calculada a profundidade de cada imagem para serem combinadas em uma única nuvem de pontos densa ; 4-Workflow- Build Mesh. Faz a reconstrução da geometria do terreno. 5-Workflow- Build Texture. Agrega textura à imagem, permitindo uma melhor qualidade visual; 6-DEM - Modelo digital de terreno é feito para o modo ortomosaico; 7-Orthomosaic- Gera um ortomosaico. 8- Export- Etapa final onde se exporta o produto gerado no formato desejado: 3. Resultados e Discussão Ao iniciar os testes com o Agisoft logo após algumas etapas do processo de criação do mosaico de um dos voos, verificou-se que os computadores da FATEC não possuem memória suficiente para gerar resultados. Isto acontece pelo fato de as imagens serem muito pesadas e o processamento exigir muito do computador. Para conseguir pelo menos uma parte do mosaico, as melhores imagens do primeiro voo foram visualmente escolhidas, já que, por terem sido tiradas em movimento, muitas delas apresentam arrasto. Após várias tentativas, erros e escolhas de técnicas diferentes, obteve-se dois resultados parciais, uma vez que ambos não apresentam o local inteiro da rota devido os problemas citados, como pode-se observar na Fig. 1. Fig. 1. Produto gerado por teste realizado no Agisoft PhotoScan. Fig. 2. Produto gerado por teste realizado no Agisoft PhotoScan. Conforme citado na metodologia, todos os passos foram realizados em baixa qualidade, pois o programa exige uma quantidade de memoria que o computador não tem, assim, não conseguindo realizar o processo em uma qualidade maior. O produto gerado pelo Agisoft, tanto na opção ortomosaico quanto genérica, possuem distorções e buracos (manchas pretas no meio das imagens), pois as imagens foram tomadas de forma oblíqua, em movimento e em altitudes diferentes. Todos esses fatores dificultam o processo de orientação e ajuste das imagens a partir dos pontos homólogos, pois estes não ficam claros para o software. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 125-127, 2016 127 O próximo passo é iniciar os testes no SPRING, avaliar seu desempenho de classificação com diferentes técnicas e estudar os resultados obtidos, para saber se as distorções e buracos causam muita confusão no software durante a etapa de classificação de vegetação e asfalto. 4. Conclusões O projeto encontra-se nas fases iniciais em que diversas barreiras surgem e suas soluções também. A princípio, os resultados obtidos dos mosaicos são encorajadores, uma vez que outros voos com pontos de controles serão realizados, possibilitando obter resultados melhores. Espera-se assim que seja possível começar a usar o SPRING e determinar as técnicas mais adequadas para classificação de asfalto e vegetação e outros presentes na foto. Com bons frutos, este projeto poderá fornecer subsídios para outros trabalhos, uma vez que determinada a melhor técnica de classificação do SPRING, pode-se pensar em aplicar esta técnica para classificação de outros objetos e aplicações em estudos de redes neurais. Além disso, o projeto também apresentará um mosaico do local sobrevoado, que será utilizado no projeto, para que o drone reconheça pontos de controle automaticamente. DE ALBUQUERQUE, M. P.; DE ALBUQUERQUE, M. P. Processamento de imagens: métodos e análises. Centro Brasileiro de Pesquisas Fısicas MCT, 2000. Disponível em: <http://www.cbpf.br/cat/pdsi/pdf/Processam entoImagens.PDF> Acesso em: 19/10/2015. LONGHITANO, G. A. VANTS para sensoriamento remoto: aplicabilidade na avaliação e monitoramento de impactos ambientais causados por acidentes com cargas perigosas. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.2010. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3 /3138/tde-10012011-105505/pt-br.php> Acesso em 19/10/2015. Agradecimentos Ao projeto PITER e IEAV pela grande oportunidade e aos meus orientadores por todo apoio. Referências CAMARA, G. et al. "SPRING: Integrating remote sensing and GIS by object-oriented data modelling" J Computers & Graphics, 20: (3) 395-403, May-Jun 1996. CRUZ, J. E. C.; GUIMARÃES, L. N. F.; SHIGUEMORI, E. H. Um estudo da detecção automática de campos de futebol de imagens aéreas e orbitais utilizando SVM e descritores HOG. XII Workshop de Computação Aplicada –WORCAP, 2012. Disponível em: < http://mtcm16c.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtcm18@80/2008/03.17.15.17.24/doc/mirror.cg i> Acesso em: 19/10/2015. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 125-127, 2016 128 PROCESSAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS À BASE DE FERRITAS J. A. N. Ferreira2*, M. S. Hieda3, E. O. Silva Júnior4, J. P. B. Machado5, V. L. O. Brito1,3 Projeto: Processamento de Compósitos à base de Ferritas 1 Instituto de Estudos Avançados - Divisão de Física Aplicada, São José dos Campos – SP 2 Universidade Braz Cubas - UBC - Mogi das Cruzes - SP 3 Instituto Tecnológico de Aeronáutica- ITA - São José dos Campos - SP 4 Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP- São José dos Campos- SP 5 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais- INPE- LAS- São José dos Campos- SP *[email protected] Resumo Compósitos metal-ferrita têm potencial de aplicação em sensores de tensão mecânica onde o material transdutor fica sujeito a tensões mecânicas. Além das propriedades magnetostrictivas o material deverá ter propriedades mecânicas adequadas, com isso a tecnologia dos cermets (compósito metalcerâmica) pode contribuir no aumento da resistência mecânica da ferrita. Neste trabalho, atuou-se na produção de ligas metálicas à base de prata para a produção de cermets de ferrita Ni-Co, na análise da interação da fase metálica com a ferrita e na produção de cermets particulados. Os resultados da análise microestrutural mostraram que durante o processo de sinterização a fase metálica migrou para a região central da amostra. A moagem de alta energia, utilizado na produção das ligas metálicas, não apresentou resultados satisfatórios no tamanho de partícula final. Palavras-chave: Ligas Metálicas. Ferrita NiCo, Cermet, 1. Introdução O desenvolvimento de materiais compósitos tem sido fundamental para o avanço tecnológico na área de sensores. O conhecimento preciso das propriedades destes materiais é imprescindível para a identificação do seu potencial de aplicação. Compósitos metal-ferrita possuem propriedades promissoras para aplicação em sensores magnetomecânicos, estes tipos de sensores são embasados nas características da magnetoestricção do material transdutor e nos efeitos magnetoelásticos. Segundo a literatura as ferritas de Ni-Co, possuem efeitos magnetoelásticos adequado para aplicação em sensores magnetomecânicos (Brito 2015). Quando adicionada uma fase metálica na ferrita de cobalto, este material pode obter maior resistência mecânica (McCallum 2001). O conhecimento preciso da interação da fase metálica com a ferrita é essencial, pois na literatura não são relatados muitos trabalhos sobre cermets (cerâmica-metal) para aplicação em sensores. Desta forma estudos têm sido realizados para a produção e avaliação de cermets com potencial de aplicação em sensores magnetomecânicos (Hieda 2015). O objetivo deste trabalho é avançar os estudos iniciados no trabalho de (Hieda 2015), com novas análises em amostras produzidas pela autora, e também a produção de novas amostras de cermets de prata/ligas de prata. 2. Metodologia Foi realizado o preparo metalográfico e a análise de microestrutura da seção transversal das amostras de cermet de ferrita NiCo/Ag produzidas no trabalho de (Hieda 2015). Depois do preparo metalográfico as amostras foram submetidas a análises de Microscopia Ótica (MO) e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). Foram também realizados processo de moagem de alta energia (MAE) em um pó de níquel, buscando diminuir o tamanho de partícula. Este pó de Ni moído seria utilizado posteriormente na confecção da liga AgNi por mechanical alloying, com um pó de Ag com tamanho de partícula médio de 37 µm. Na parte da produção das ligas de Ag, também atuou-se na moagem da liga AgNi produzida por (Hieda 2015), aumentando o tempo de moagem para 10 horas, de forma a Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 128-130, 2016 129 tentar reduzir o tamanho de partícula que no experimento anterior, havia produzido partículas com até 150 µm. Para o estudo da interface da ferrita com a liga AgNi, foram confeccionas amostras sinterizada de ferrita com núcleo dessa liga AgNi. Na parte do processamento de cermets particulados, este projeto atuou produzindo um cermet de ferrita com liga AgCu. Este compósito foi produzido misturando-se o pó de ferrita a um pó de liga AgCu obtida por doação da ESU/IEAv, acompanhado de sinterização e posterior caracterização microestrutural por MEV da amostra sinterizada. 3. Resultados e Discussão Na análise microestrutural da superfície da amostra do cermet de (Hieda 2015), não foi possível observar a presença da prata. Porém, na análise da seção transversal, verificou-se que a maior parte da fase metálica estava concentrada na região central da amostra, Conforme a Fig. 1, é possível observar a diferença de microestrutura entre as bordas da amostra e a região central. Fig. 1. Microestrutura da seção transversal de uma amostra do cermet Ni-Co/Ag, obtida por MEV. Observou-se que o pó de níquel, após a moagem de alta energia, era formado por partículas cerca de 6 µm com aglomerados de até 70µm (Fig. 2). Comparando-se com a imagem do pó de níquel não moído (Hieda 2015), observou-se que a moagem reduziu o tamanho de partícula. Na análise da Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) detectou-se a presença de ferro no pó, o que pode ser resultado de contaminação pelo aço das esferas e do jarro de moagem. Fig. 2. Imagem de MEV do pó de níquel moído por MAE. Com o processo de moagem de alta energia para a liga AgNi produzida no trabalho de (Hieda 2015), não se obteve resultados satisfatórios. Buscava-se reduzir o tamanho de partícula com a moagem, mas foram formados grandes aglomerados, visíveis a olho nu (Fig. 3). Também foi observada a adesão de grande parte do material nas esferas e no jarro. Com base neste resultado, optou-se por prosseguir com o estudo do processamento de cermets utilizando-se pós de ligas AgNi produzidas por terceiros com métodos diferentes do mechanical alloying. Fig. 3.Liga AgNi após MAE. Os resultados aqui apresentados foram obtidos até a data de 20 de maio de 2016. Estão em andamento a caracterização microestrutural dos cermets produzidos com a liga AgNi e do cermet produzido com a liga AgCu. 4. Conclusões Com a análise da seção transversal do cermet de ferrita/Ag observou-se a diferença de concentração da fase metálica entre o interior e a superfície da amostra. Na moagem da liga AgNi, não obteve-se a redução do tamanho de partícula, tornando o Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 128-130, 2016 130 material inadequado para a produção do cermet. Optou-se então por prosseguir o trabalho com ligas AgNi fornecidas por terceiros. Agradecimentos Ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica, ao LAS/INPE, à EFO/IEAv pela disponibilização da infraestrutura, à ESU/IEAv e aos amigos do Grupo de Sistemas Eletromagnéticos do IEAv pelo apoio e dedicação. Referências BRITO, V. L. O; CUNHA, S. A.; ARAÚJO, F. F; MACHADO, J. P. B; SILVA, M. R.; NUNES, C. B. Processing and characterization of a Ni-Co ferrite for sensor applications. Cerâmica. V. 61, n. 359, p.341-349, 2015. McCALLUM, R. W.; DENNIS, K. W.; JILES, D. C.; SNYDER, J. E.; CHEN, T. H. Composite magnetostrictive materials for advanced automotive magnetomechanical sensors. Low Temperature Physics. V. 27, n. 4, p. 266-274, 2001. HIEDA, M. S. Desenvolvimento de cermetes de ferrita Ni-Co aplicáveis em sensores magnetomecânicos. 2015. 102 f. Dissertação de Mestrado em Sensores e Atuadores Espaciais – Instituto Tecnológico da Aeronáutica, São José dos Campos. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 128-130, 2016 131 PRODUÇÃO DE SUPERFÍCIES SUPER-HIDROFÓBICAS POR ABLAÇÃO A LASER NA LIGA Ti-6Al-4V I. K. L. Kam1,2*, J. J. Neto2 Projeto: Processamento de materiais a laser 1 Universidade Federal de São Paulo – Instituto de Ciência e Tecnologia - São José dos Campos – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Fotônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Neste trabalho, foi realizado um estudo sobre a produção de superfícies superhidrofóbicas na liga de titânio Ti6Al4V, a qual está presente em grande parte das estruturas de aeronaves. A obtenção destas superfícies baseou-se em uma técnica de processamento que produz estruturas hierárquicas capazes de alterar o ângulo de contato da água com superfície do material. O processamento das amostras foi feito através de ablação a laser, com um laser de Nd:YAG pulsado (pulsos de nanosegundo) emitindo em 355 nm (Ultravioleta – UV). A estrutura hierárquica foi obtida e se comportou de forma similar ao descrito na literatura, aumentando a hidrofobia com o passar do tempo. Entretanto, neste trabalho, foi observado que ao inserir as superfícies processadas em um ambiente de baixa pressão, esse aumento ocorreu em apenas algumas horas produzindo amostras superhidrofóbicas. Palavras-chave: Hidrofobia, Ablação a laser, Titânio, Superfície 1. Introdução Sabe-se que a água é um dos recursos mais importantes do planeta e sua interação com o ambiente apresenta algumas particularidades na natureza como, por exemplo, a hidrofilia e hidrofobia, ambos presentes em animais e plantas. A partir de estudos realizados na flor de lótus (Neinhuis 1997), descobriu-se que a característica hidrofóbica é baseada em uma estrutura superficial hierárquica composta por padrões nanométricos, micrométricos e amplificada por características químicas da superfície, no caso da flor de lótus, uma camada de cera. O efeito Lótus vem sendo desenvolvido em materiais metálicos e poliméricos através do processamento das micro e nanoestruturas a laser realizadas na superfície destes materiais. Estas superfícies possuem diversas aplicações uma vez que elas são auto-limpantes, podem ser anticorrosivas, anti-congelantes e anti-aderentes. Dessa forma, essas propriedades podem ser utilizadas, por exemplo, em aeronaves que voam em condições extremas de temperatura (-50ºC) e por conta da umidade, pode ocorrer um acúmulo de gelo na asa da aeronave, fazendo com que esta sofra mais turbulências e também uma redução de sustentação da asa. Existem soluções para evitar este acúmulo de gelo, como a que aquece a região onde o gelo está acumulado (anti-ice) e outra que remove o gelo através da expansão de uma borracha inflável no bordo de ataque (de-ice) (Wolfgang 1974; Martin 1992). Estas técnicas são bastante utilizadas atualmente, porém elas são ativas e requerem energia para funcionar. O presente estudo visa produzir e avaliar o caráter hidrofóbico/super-hidrofóbico de superfícies microestruturadas na liga de Ti6Al4V. Como motivação principal está o potencial de obter um método passivo de evitar o acúmulo de água e, portanto, gelo nas superfícies das aeronaves. A técnica de processamento utilizada no presente estudo consiste em modificar a superfície do material, produzindo “pilares” de escala micrométrica em uma área definida. Esses micro-pilares são da ordem de dezenas de micrometros e devido à natureza térmica do processo de ablação, uma parte do material fundido é ejetada, depositada e solidificada nas regiões do entorno (Jagdheesh 2011), formando estruturas ainda menores, da ordem de alguns micrometros. Com isso, forma-se a estrutura hierárquica necessária para a alteração de hidrofobia (Van Duong 2016). Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 131-135, 2016 132 De acordo com a literatura, as amostras processadas, aço inox e outras ligas, apresentam imediatamente após o processo um comportamento hidrofílico, porém, com o tempo (muitos dias), este comportamento altera-se para hidrofóbico simplesmente ao deixar a amostra exposta ao ar (Kietzig 2009; Doogon 2016). Kietzig supõe que seja a uma reação de decomposição de CO2 da atmosfera que acumula carbono apolar na superfície das amostras, já Doogon, em experimentos dedicados a essa investigação, concluiu que o efeito é devido principalmente ao oxigênio, porém esta não é a única causa. 2. Metodologia No presente estudo, foram utilizadas chapas da liga de titânio, Ti6Al4V, cortadas em pequenas amostras de 10 x 10 mm, para o processamento da área desejada. Duas das amostras foram cortadas com dimensões maiores para a montagem de uma carta de processo. Antes do processamento da superfície, todas as amostras passaram por lixamento com de lixas d’ água de carbeto de silício (SiC), variando-se a granulação de 330 gr até 600 gr. Após o lixamento, as amostras foram lavadas em ultrassom, com banho de acetona, por 5 minutos, em seguida, enxaguadas com álcool isopropílico e por fim, secadas com um fluxo de nitrogênio. As amostras foram processadas com um laser de Nd:YAG (Avia-X, Coherent), operando com energia por pulso de 177 J, tempo de pulso de 25 ns, M2 igual a 2 (qualidade do feixe), taxa de repetição de pulso de 1,2 kHz e emitindo em 355 nm (terceiro harmônico). A velocidade de varredura da mesa foi fixada em 3 mm/s para que houvesse sobreposição entre pulsos suficiente para se obter uma linha contínua e com certa profundidade. O feixe foi focalizado através de uma lente planoconvexa (Sílica fundida para ultravioleta – UV, com filme anti-reflexivo para o 355 nm) e distância focal de 150 mm (Fig. 1). A ablação foi realizada utilizando a região de maior brilho do feixe focalizado. O diâmetro do feixe na amostra é de aproximadamente 45 m e o ângulo de incidência utilizado foi de 0º em relação à normal da amostra. Fixados esses parâmetros, foram selecionadas algumas condições para realizar os experimentos. Variou-se o número de varreduras do laser por linha e o espaçamento entre linhas processadas conforme a Tab 1. Tab 1. Condições experimentais. Taxa de repetição de pulso [Hz] Espaço entre linhas [m] Varreduras por linha 1200 70; 90; 110 e 130 1; 3 e 5 Fig. 1. Esquema da bancada utilizada nos experimentos. Primeiramente, a mesa foi deslocada na direção do eixo y para gerar linhas de ablação paralelas sendo, em seguida, deslocada na direção x, para gerar linhas paralelas nessa outra direção, (Fig. 2), produzindo assim uma estrutura quadriculada com os micro-pilares. Fig. 2. Esquema representativo movimento da mesa xy. do Os corpos de prova foram processados com os seguintes métodos: em ar; em baixa pressão; e processados em ar e colocados em câmara de vácuo pós processamento. Duas pressões foram utilizadas em regime de baixa pressão: 10 -3 e 10-5 mbar. Foi utilizada a baixa pressão para estimar possíveis influências dos gases atmosféricos (O2, N2, CO e outros) e umidade na hidrofobicidade. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 131-135, 2016 133 Para a caracterização das amostras, foram utilizados: um microscópio ótico Axio Imager A.2m (Zeiss) que fornece magnificação de 25x até 1600x, uma seringa hipodérmica descartável, de 1 mL de volume e um goniômetro (Ramé-hart, modelo 500F1) para a mensuração de ângulo de contato aparente de uma gota séssil de água deionizada, de 6 L de volume. 3. Resultados e Discussão Inicialmente, o processo de produção de amostras foi realizado de duas maneiras: Processamento em ar e processamento em baixa pressão. A Fig. 3 mostra uma típica estrutura da região processada ao ar ambiente, com distância entre linhas de 90 m. Fig. 4. Amostras logo após o processamento em ar. Finalmente, após um período de aproximadamente três meses, o experimento apresentou uma variação peculiar: o caráter hidrofílico diminuiu (Fig. 5). Observou-se também o fato de que o nível de hidrofobia era diferente para as duas direções de processamento, provavelmente diferenciada pela direção da última varredura. Mais testes deverão ser feitos para confirmar este fato. 150 m Fig. 5. Foto de 3 gotas na amostra exposta ao ar por três meses. Fig. 3. Micrografia da estrutura obtida. É possível observar estruturas rugosas na superfície dos pilares, o que complementa a característica hierárquica de estruturação, conforme mencionado na introdução. Após o processamento a laser ser efetivado, foi observado o comportamento do contato de uma gota de água com as superfícies utilizando a seringa descartável. Analisando o comportamento da gota na amostra logo após processamento em ar, esta apresentou um comportamento hidrofílico, onde a água se espalhou por toda a área processada, conforme Fig. 4. Após alguns dias foram realizadas novas estimativas de ângulo de contato na amostra deixada em ar, e a superfície não demonstrou alteração do seu comportamento, continuando hidrofílico. Aproximadamente um mês após a data de processamento, a resposta da amostra ainda se mostrava a mesma. No caso da amostra processada em vácuo, observou-se que a gota se acomodou na superfície com um ângulo de contato aparentemente elevado, indicando aumento de hidrofobicidade. Ao realizar os experimentos na câmara, uma observação interessante ocorreu. Uma das amostras que já havia recebido processamento em ar foi inserida na câmara para realização de processamento em baixa pressão em outra área, e ao ser retirada da câmara, ambas as áreas processadas exibiram o mesmo comportamento hidrofóbico, ou seja, o efeito do ambiente de baixa pressão ocorre também nas amostras processadas em ar. Realizadas as primeiras observações, devido a facilidade de processar amostras no ar e em seguida inserir a mesma em ambiente de baixa pressão, adotou-se esse método para a produção de novas amostras. O processamento direto em baixa pressão Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 131-135, 2016 134 exige uma câmara de vácuo integrada a uma mesa transladora XY, o que o torna mais complicado. resultados seguem na Tab. 2 abaixo. O erro padrão médio percentual associado aos valores medidos é da ordem de 3%. 3.1 Caracterização do ângulo de contato aparente A caracterização do ângulo de contato aparente foi realizada para uma amostra exposta à baixa pressão com espaçamento de 90 m, para as amostras da carta de processo (baixa pressão) e para o material base (sem processamento a laser) da amostra deixada em ar e da amostra exposta à baixa pressão. A Fig. 6.a mostra a imagem captada pela câmera do goniômetro para uma gota séssil de água, em região não processada (material base) e a Fig. 6.b, em região processada exposta à baixa pressão. Tab. 2. Ângulo de contato medido para as diferentes condições de microestruturação. (a) (b) Fig. 6. Imagens de uma gota séssil de água, captada pela câmera do goniômetro para (a) material base e (b) região processada e submetida à baixa pressão. A parte processada dessa amostra, antes de ir para a câmara, apresentava comportamento similar ao observado na Fig. 4. A análise realizada no goniômetro forneceu um ângulo de contato da gota com o titânio de 87° ± 2,20°, para a área não processada. Na área processada o ângulo medido foi de 155° ± 1,24°. Na literatura, ângulos maiores que 150º identificam o regime de super-hidrofobia (Jagdheesh 2011). Para as amostras expostas à baixa pressão, a mudança do comportamento hidrofílico para super-hidrofóbico ocorre poucas horas após o processamento. Para pressões da ordem de 10-3 mbar, o nível máximo de hidrofobia foi atingido com 12h. Já para pressões da ordem de 10 -5 mbar, essa mudança ocorreu para um tempo médio de 3h. O mesmo experimento foi realizado para a carta de processo descrita na Tab. 1, os Ângulo de contato [°] No de Passagens Espaçamento [m] 1 3 5 70 158,3 153,9 151,7 90 155,5 161,8 150,6 110 158,5 162,8 148,0 130 154,3 161,4 155,3 Observa-se que todas as condições testadas apresentaram super-hidrofobia e não houve grandes variações entre elas, sendo a maior variação de 9%. Não foi possível observar nenhuma tendência nesta carta, que possibilite uma otimização da microestrutura em função da hidrofobia. Será necessário ampliar a carta de processo para identificar as influências do número de passagens e do espaçamento entre linhas. Também foram comparados os resultados do ângulo de contato entre o material base exposto ao ar e o submetido à baixa pressão. A Fig. 7 traz as imagens da gota sobre essas superfícies. (a) (b) Fig. 7. Análise goniométrica do material de base; (a) amostra exposta ao ar; (b) amostra exposta ao ambiente de baixa pressão. Conforme a imagem da Fig. 7a, o ângulo de contato medido, da gota com a superfície da liga de titânio, foi de 67° ± 2,29°; enquanto que o ângulo de contato da amostra exposta ao ambiente de baixa pressão (Fig. 7b) foi de 87° ± 2,20°. Diante disto, ocorreu uma mudança do ângulo de contato da ordem de 20° e apesar deste aumento, o material base ainda é considerado hidrofílico pela literatura (Van Duong 2016), pois está abaixo de 90º. Aparentemente, ocorreu uma alteração promovida pela exposição à baixa pressão também no material base. Entretanto, mais investigações também são necessárias para confirmar esse fato. Por fim, para atingir a Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 131-135, 2016 135 super-hidrofobia a estrutura hierárquica processada na liga de titânio é de extrema importância, uma vez que ela está amplificando esse efeito de hidrofobia causado pela exposição a um ambiente de baixa pressão. 4. Conclusões Com o presente estudo foi possível obter uma superfície super-hidrofóbica na liga de titânio Ti6Al4V para a qual o ambiente de baixa pressão promove uma alteração superficial que amplifica o efeito das estruturas hierárquicas produzidas a laser. Verificou-se ainda que essa exposição à baixa pressão acelera o processo de transformação, sendo que ao ar esta ocorre após muitos dias (>30 dias), enquanto que neste trabalho foi demonstrada a mesma alteração, porém após poucas horas (~3h). O efeito causado pela baixa pressão será alvo de estudo dos próximos trabalhos, uma vez que não foram encontrados trabalhos que tenham utilizado tal artifício, e ainda não se sabe o que de fato é alterado na superfície ao expor a amostra à baixa pressão. VAN DUONG, T. et al. Laser textured superhydrophobic surfaces and their applications for homogeneous spot deposition. Applied Surface Science. v. 365, p. 153–159, Mar. 2016. KIETZIG, A. M. et al. Patterned Superhydrophobic Metallic Surfaces. Langmuir v. 25, p. 4821-4827, Feb. 2009. DOOGON, K. et al. Aging effect on the wettability of stainless steel. Materials Letters v. 170 p. 18–20, Jan. 2016 Agradecimentos Os autores agradecem ao DCTA/IEAv pela oportunidade, ao Laboratório de Plasmas e Processos do ITA (LPP-ITA) pela análise de goniometria e ao CNPq pela bolsa de iniciação científica PIBIC-IEAv. Processo: 145081/2015-0. Referências NEINHUIS, C.; BARTHLOTT, W. Characterization and distribution of waterrepellent, self-cleaning plant surfaces. Annals of Botany. v. 79, p. 667-677, Jan. 1997. PATENT-VERWALTUNGS-G.M.B.H., W., V.; Schmedermann, H. Aircraft deicing. US n US4036457 A. 10 set 1974, 19 jul 1977. MARTIN, C. A.; PUTT, J. C. Advanced Pneumatic Impulse Ice Protection System (PIIP) for Aircraft. Journal of Aircraft. v. 29, p 714-716, Jul. 1992. JAGDHEESH, R. et al. Laser-induced nanoscale superhydrophobic structures on metal surfaces. Langmuir. v. 27, p. 84648469, Mai. 2011. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 131-135, 2016 136 RECOBRIMENTO DE AÇO FERRAMENTA COM CARBETO DE BORO VIA LASER DE CO2 J. F. Azevedo1,2, V. Teleginski2,3, J. C. G. Santos1,2, S. A. Silva2, G. Vasconcelos2,* Projeto: Processamento de materiais com laser. 1 Universidade Federal de São Paulo – Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Fotônica, São José dos Campos – SP 3 Instituto Tecnológico de Aeronáutica – PG-CTE, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Neste trabalho estudou-se o recobrimento de aço ferramenta com carbeto de boro (B4C) com laser de CO2. Variou-se a velocidade de varredura do feixe de laser para inicialmente fixar uma camada de B4C ao substrato, para posteriormente realizar a deposição de novas camadas. A irradiação com velocidades da ordem de 100 mm/s (0,5 J) promoveu aderência do revestimento ao substrato. Na etapa de crescimento de camadas observouse que aumento de espessura seguiu comportamento linear em função do número de camadas irradiadas. Avaliou-se a ocorrência de têmpera superficial no substrato com dureza da ordem de 870 HV e dureza na superfície do revestimento de 1670 HV. Palavras-chave: Carbeto de boro, Laser de CO2, Têmpera, Revestimento. 1. Introdução O tratamento de superfícies de metais e ligas por lasers baseia-se no aquecimento local da superfície, promovido pela absorção da radiação do feixe, e em seguida, pelo seu rápido resfriamento (Ganeev 2002; Machado 2006; Selvan 1999). Nesse processo, a temperatura na superfície do metal, pode ser controlada pela densidade de potência e pela velocidade do feixe. Sólidos ligados covalentemente baseados em boro, carbono ou nitrogênio, dão origem aos materiais mais duros que existem, sendo o B4C (carbeto de boro) o terceiro mais duro, após diamante e nitreto de boro cúbico. O B4C também possui alto ponto de fusão (2350 °C) e alta resistência à ação de agentes químicos (Vasconcelos 2007). A têmpera por lasers, por analogia a outros processos de endurecimento superficial, consiste na formação de uma estrutura austenítica no estágio de aquecimento e sua subsequente transformação martensita no estágio de resfriamento (Ganeev 2002). As principais vantagens da têmpera por lasers são: a seletividade do processo (Vasconcelos 2007); o rápido aquecimento de uma superfície, possibilitando o tratamento de finas camadas e as reduzidas distorções superficiais quando comparado a outros métodos (Vasconcelos 2006). O objetivo do presente trabalho foi estudar revestimento para aço ferramenta com carbeto de boro via laser de CO2, estudar o crescimento de camadas deste revestimento e promover uma têmpera superficial no material 2. Metodologia 2.1 Moagem do B4C Realizou-se a moagem em um moinho planetário (modelo PM 100 CM – Retsch), onde foi adicionado 30 g de pó B4C, 0,15 g de CMC, 100ml de álcool etílico e 6 esferas carbeto de tungstênio (WC) em um jarro também de WC. A moagem foi realizada a 300 RPM por 1 hora. 2.2 Preparação das amostras A dispersão de B4C em álcool etílico moída por 1 hora foi aspergida nas amostras de aço 4340, previamente lixadas com lixa de carbeto de silício de abrasividade número 600 mesh, com auxílio de uma pistola de ar comprimido. As amostras foram secas em estufa a 50°C por 10 minutos. 2.3 Irradiação e caracterização (etapa 1) As amostras foram irradiadas de acordo com a Fig. 1, onde as regiões retangulares indicam a área irradiada. Os demais parâmetros utilizados no laser estão apresentados na Tab. 1. Realizou-se microscopia eletrônica de varredura nas amostras para avaliar a Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 136-139, 2016 137 ocorrência de ligação do revestimento ao substrato. minutos. E realizou-se outra irradiação com os mesmos parâmetros, exceto a velocidade de varredura do feixe que foi de 300 mm/s. Essa etapa foi repetida até que se obtivesse o número de camadas desejadas para cada região apresentada na Tab. 2. Tab. 2. Camadas de B4C irradiadas. Região Nº de camadas 1 2 2 4 3 6 4 8 Fig. 1. Primeiro modelo de irradiação das amostras Tab. 1: Parâmetros utilizados (etapa 1). Parâmetros Potência 125 W Diâmetro do feixe 0,18 mm Taxa de sobreposição 35% de pulsos Velocidade de 100 a 800 mm/s varredura 2.4 Irradiação e caracterização (etapa 2) Em seguida, com os resultados referentes a Etapa anterior, irradiou-se um outro grupo de amostras de aço 4340. Utilizou-se a dispersão de B4C e realizou-se a irradiação de acordo com a Fig. 2. Os parâmetros foram os mesmos da etapa anterior, porém com velocidade de varredura fixada em 100 mm/s. As amostras foram cortadas e embutidas em resina de baquelite para observação das suas secções transversais irradiadas. Fez-se preparação metalográfica nas amostras embutidas, incluindo etapas de lixamento, com lixas de carbeto de silício de abrasividade números 80, 320, 400, 600 e 1.200 mesh e polimento com alumina (1 µm). As amostras foram atacadas quimicamente com nital 2%, para avaliação em microscópio óptico (ZEISS Axioscope A1 Bio). Em seguida realizou-se o ensaio de dureza Vickers com um microdurômetro (Microhardness Tester FM-700 – FutureTech), onde mensurou-se valores de dureza em toda a extensão do substrato. 3. Resultados e Discussões 3.1 Etapa 1 As amostras irradiadas na etapa 1 estão apresentadas na Fig. 3. Fig. 2. Segundo modelo de irradiação das amostras Fig. 3. Amostra irradiada, antes da etapa de limpeza. Após a irradiação do B4C pré-aspergido na amostra, aspergiu-se uma nova camada de B4C, seguindo para estufa em 170 °C por 5 A Fig. 4 apresenta a microscopia eletrônica de varredura da amostra que apresentou Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 136-139, 2016 138 maior aderência substrato. do revestimento ao revestimento em cada região, como mostra a Fig. 6. Fig. 4. Imagem obtida com MEV da região irradiada com velocidade de 100 mm/s. Fig. 6. Microscopia óptica da região transversal de uma amostra com duas camadas. 3.2 Etapa 2 É importante destacar que a primeira camada irradiada é a que promove a adesão do revestimento ao substrato. Nesta etapa, o processo requer mais energia (0,5 J) obtida com menores valores de velocidade de varredura do feixe de laser (100 mm/s). Maiores energias promovem também maior densificação do carbeto de boro na superfície do substrato. Já as camadas subsequentes requerem menores energias (0,06 J) para a adesão à camada anterior (300 mm/s). A Fig. 5 apresenta a amostra irradiada na etapa 2 do procedimento experimental, onde a primeira região apresenta 2 camadas de pó irradiada e a última apresenta 8 camadas, como descrito na Tab. 1. Destacando-se que para todas as etapas foi utilizado pó de B4C moído por 1 hora. Fig. 5. Amostra irradiada na etapa 2. Através da técnica de microscopia óptica foi possível mensurar as espessuras do Os valores de espessura obtidos em função do número de camadas estão dispostos na Fig. 7. Fig. 7. Espessura em função do número de camadas. Observou-se que o aumento da espessura segue comportamento linear, e não houve desplacamento das camadas crescidas de B4C.µ Realizou-se medidas de dureza em toda a extensão da amostra, tanto no substrato, quanto nas regiões recobertas com B4C. Os valores médios obtidos através dessa técnica estão dispostos diagrama apresentado na Fig. 8. O desvio padrão das medidas está em torno de ± 20 HV. A irradiação com o feixe de laser promove na amostra a formação de regiões distintas, conforme apresentado no desenho esquemático da Fig. 8. Nesse esquema, observa-se 5 regiões. Feito a análise de dureza com microdurômetro, obteve-se Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 136-139, 2016 139 próximo à superfície (região 1) 1670 HV, correspondente ao revestimento cerâmico de carbeto de boro. Logo abaixo na região 2, obteve-se dureza de 1250 HV atribuído a possível mistura dos constituintes do revestimento cerâmico ao substrato. A região 3, de dureza 870 HV, corresponde ao tratamento térmico de têmpera superficial, decorrente do rápido aquecimento e resfriamento. Em seguida, nota-se a região 4 com dureza de 530 HV, correspondente a zona termicamente afetada (ZTA). Finalmente, no substrato, obteve-se a mesma dureza que a superfície original antes da irradiação, correspondente a 330 HV. Fig. 8. Desenho esquemático do revestimento e substrato indicando as zonas presentes 4. Conclusões A moagem do B4C realizada por 1 hora gerou visivelmente uma camada homogênea e densa após irradiação com laser. A irradiação com velocidades reduzidas (da ordem de 100 mm/s e 0,5 J de energia) promoveu melhor adesão entre o substrato e o revestimento (primeira camada). Após promover a etapa de adesão entre substrato e o revestimento o processo de crescimento de camadas pôde ser realizado com energias menores, atingidos com velocidades maiores de processo. O aumento da espessura em função do número de camadas apresentou comportamento linear. Com o ensaio de dureza Vickers comprovou-se a ocorrência da tempera superficial do material. Com base nos resultados obtidos, concluise que foi possível atingir o objetivo deste trabalho, sendo eles, recobrir o aço ferramenta com carbeto de boro, realizar o crescimento de camadas B4C e promover a têmpera superficial no material. Agradecimentos Ao CNPq pela bolsa de iniciação cientifica PIBIT, à FAPESP (processo n° 2013/08920-1), ao IEAv pela oportunidade de desenvolver este trabalho, aos colegas de laboratório, à empresa Induscorte S.A pelo processamento das amostras. Referências GANEEV, R. A. Low-power laser hardening of steels Journal of Materials Processing Technology, 121 (2002), p. 414419. MACHADO, I. F. Technological advances in steels heat treatment. Journal of Materials Processing Technology. 172 (2006), p.160-173. SELVAN, J. S.; SUBRAMANIAN, K.; NATH, A. K. Effect of laser surface hardening on Em (AISI 5135) steel. Journal of Materials Processing Technology. 91 (1999), p.29-36. VASCONCELOS, G.; REIS, J. L.; LAVRAS, L. C. M. Tratamento térmico superficial de aço SAE 1045 via laser de CO2 de baixa potência. 17 CBECiMat. Foz do Iguaçu, 2006. VASCONCELOS, G.; REIS, J. L.; SILVA, A. F. Study of the influence of a carbono layer addition in AISI M2 by a CO2 laser radiation. International Conference of Thin Films. San Diego, Ca-USA, 2007. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 136-139, 2016 140 RESINA FURFURÍLICA MICROESTRUTURADA TRANSFERÊNCIA DE MICROMOLDE POLIMÉRICO OBTIDA POR A. Aumiller1*, F. Dondeo2, R. C. Louzada2 1 Universidade Federal de São Paulo – Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – EFO-O, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo São apresentados os resultados da transferência de microestruturas para a resina furfurílica curada, por meio das técnicas de Fotolitografia e Replicação por Molde. No futuro, as estruturas de resina furfurílica serão carbonizadas para se obter Carbono Vítreo Monolítico (CVM) microestruturado. Na fotolitografia, transferiu-se as microestruturas gráficas de uma máscara de exposição para um filme fino de fotorresiste por meio de exposição UV e revelação química. Tirou-se um molde de PDMS (Polidimetil-siloxano) das estruturas desse filme. Verteu-se resina furfurílica não curada no molde. Após a cura, obteve-se microestruturas em resina furfurílica. Já na Replicação por Molde, verteu-se o PDMS diretamente nas microestruturas de interesse. Após curado, obteve-se um molde das microestruturas. Verteu-se resina furfurílica sobre o molde e após a cura, obteve-se as microestruturas em resina furfurílica. Depois da caracterização das amostras e da análise dos dados, notouse uma boa transferência e reprodutibilidade das microestruturas por ambas as técnicas. Palavras-chave: Resina furfurílica, UV, Fotolitografia, PDMS, Micromolde. 1. Introdução Cada vez mais, a miniaturização de componentes tem se tornado um importante fator econômico e determinante para o progresso da ciência e tecnologia. Uma das técnicas mais bem disseminadas de miniaturização de componentes é a Litografia Macia (Xia 1998). Na fotolitografia macia, um molde polimérico orgânico, biocompatível, flexível e reutilizável de PDMS com microestruturas na sua superfície, é utilizado para se obter diversas microestruturas a partir dele. No presente trabalho foram aplicadas as técnicas de Fotolitografia Macia e Replicação por Molde para a obtenção de microestruturas regulares de carbono vítreo para diferentes aplicações (Oliver 1999). O Carbono Vítreo Monolítico (CVM) é um material carbonoso obtido através da carbonização de uma resina termorrígida. No processo de carbonização, ocorre a formação de uma estrutura grafítica, com propriedades mecânicas semelhantes às dos vidros borossilicados e propriedades elétricas similares às do grafite (Zarzycki 1991). Devido à sua resistência química, capacidade de suportar altas temperaturas, pureza e impermeabilidade, o CVM tem sido muito aplicado nos últimos anos na produção de estruturas nano e micrométricas para diferentes aplicações (Oliver 1999). Entre as estruturas de interesse da Divisão de Fotônica do IEAv, citamos a aplicação de padrões de rugosidade com microrranhuras (Damião 2007) para o laboratório de metrologia (EFO-O) e peças que podem integrar o giroscópio a fibra óptica devido à alta resistência térmica resistência ao choque térmico do CVM. Também existem aplicações de estruturas micro e nanométricas para a manufatura de grades de difração (Oliver 1999), micropeneiras (Oliver 1999), biossensores (Schueller 1999), micromoldes de carbono vítreo (Oliver 1999) e microcanais para escoamento de fluidos (Tseng 2014). 2. Metodologia Dois métodos de replicação de microestruturas por litografia macia foram estudados: A replicação por Fotolitografia e a Replicação de Molde. 2.1 Fotolitografia A fotolitografia é um processo onde um polímero fotossensível, fotorresiste, é espalhado uniformemente sobre a superfície Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 140-145, 2016 141 de uma amostra plana na forma de filme fino. Esse filme é exposto à radiação UV por determinado tempo. Entre a fonte de UV e o filme, é colocada a máscara, que tem um desenho bidimensinal, com partes transparentes e partes opacas ao UV. O mesmo desenho da máscara é transferido para o filme de fotorresiste, pois a luz UV passa apenas pelas partes transparentes da máscara, sensibilizando parte do filme de fotorresiste. O fotorresiste da amostra é revelado quimicamente, de forma que a parte sensibilizada ou a parte não sensibilizada são removidas por ataque químico, para dar origem a microestruturas tridimensionais (3D) na superfície do substrato. Com as microestruturas 3D bem definidas no fotorresiste, gera-se um molde 3D negativo dessas estruturas, feito de resina flexível PDMS, o qual servirá por sua vez de molde para outra resina: a resina furfurílica, que é usada para se obter carbono vítreo. A resina furfurílica é vertida sobre o molde flexível de PDMS. Após a sua polimerização, a resina furfurílica enrijecida é removida do molde de PDMS e, posteriormente, pode ser carbonizada em forno até 1000ºC para se obter microestruturas em Carbono Vítreo Monolítico. Essa etapa de carbonização das microestruturas será apresentada num futuro artigo. 2.1.1 Preparação dos substratos No interior da sala limpa, colocaram-se substratos de lâminas de vidro de microscópio na mufla por aproximadamente 10 minutos a uma temperatura de 100º C com o objetivo de reduzir a umidade da superfície e, consequentemente, proporcionar uma melhor adesão do filme fino de fotorresiste à superfície das lâminas de vidro. 2.1.2 Geração de filme fino na superfície Após a preparação das amostras, encaminhou-se as mesmas para o processo de Spinning ou Rotação, empregando o Spin Coater Karls Suss CT62. Inicialmente, o substrato de vidro é colocado concentricamente sobre o O-ring do Spin Coater, de modo a proporcionar uma rotação e espalhamento uniformes do fotorresiste e, consequente, manter uma uniformidade de espessura do filme. Com a amostra fixa, empregou-se uma pipeta graduada de plástico para o gotejamento de fotorresiste AZ 5214E-IR, de modo a cobrir toda a superfície do substrato.Tampou-se o Spin Coater e definiu-se o ciclo de rotação do substrato com os seguintes parâmetros: 5000 rpm durante 30 segundos com uma aceleração de até 1000 rpm/s. Após a rotação, aqueceu-se a amostra, já com o filme fino de fotorresiste no Hot Plate a 100º C por aproximadamente 2 minutos, de modo a realizar a sua pré cura, eliminando os materiais voláteis do filme e aumentando sua adesão à superfície. 2.1.3 Exposição UV Com as amostras prontas e a máscara devidamente limpa, empregou-se a fotoalinhadora KARL SUSS – MJB3 para o processo de exposição do filme fino de fotorresiste à luz UV. Inicialmente, fixou-se a máscara de exposição com a face de Cr voltada para baixo no suporte da fotoalinhadora. Com a máscara fixa, alinhou-se a máscara com a amostra, de modo a deixá-la o mais próxima possível do filme de fotorresiste e a focar a imagem da mesma para não haver distorções na imagem projetada sobre o filme fino de fotorresiste e, consequentemente, não haver distorções nas microestruturas geradas. Após o alinhamento da máscara, definiu-se os parâmetros de exposição para duas amostras distintas: tempo de exposição UV de 23 s, corrente de 137 mA e potência de 7mW e 4mW respectivamente para cada amostra. Durante o procedimento de exposição, os fótons UV emitidos pela lâmpada da fotoalinhadora são direcionados através da máscara, até a superfície do filme fino de fotorresiste. Ao atingirem a máscara, alguns fótons são refletidos pelos padrões metálicos Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 140-145, 2016 142 desenhados na mesma, enquanto outros atravessam a parte transparente da máscara e atingem a superfície do filme, transferindo os padrões existentes nas máscaras para a superfície do filme fino. Nesse experimento, empregou-se a técnica de fotolitografia positiva onde as regiões do fotorresiste expostas à radiação UV tornamse solúveis à solução de revelação e são facilmente removidas pela mesma no processo de revelação. 2.1.4 Revelação Após o processo de exposição UV, encaminhou-se as amostras para a revelação e consequente geração das microestruturas de fotorresiste referentes aos padrões da máscara. Inicialmente, montou-se uma estação de revelação composta por: um béquer com revelador AZ 300 MIF, outro béquer com água deionizada e outros dois béqueres também com água deionizada. A amostra foi colocada com uma pinça sobre um suporte de teflon com haste e foi submergida no béquer com revelador AZ 300 MIF por 45s para o processo de revelação. Durante esse processo, o revelador atua somente nas regiões do fotorresiste expostas à radiação UV, solubilizando-as e consequentemente removendo-as da superfície do substrato, gerando estruturas geométricas 3D definidas pela geometria dos desenhos contidos na máscara usada de exposição. Após a imersão no revelador, colocou-se a amostra, ainda sobre o suporte de teflon, no béquer de água deionizada para iniciar interrupção do processo de revelação desencadeado pelo revelador. Repetiu-se o mesmo processo duas vezes nos béqueres com água deionizada de modo a interromper totalmente o processo de revelação. 2.1.5 Geração do molde de PDMS Após o processo de revelação e obtenção das microestruturas no fotorresiste, iniciouse a geração de um molde negativo de PDMS das mesmas. A princípio, utilizando-se pipetas de plástico, misturou-se a base elastômera de PDMS com o seu agente de cura sob uma proporção de 10:1 (base: agente de cura) em massa. Com uma espátula, misturou-se as substâncias de modo com que a mistura ficasse com cor branca leitosa. Na etapa seguinte, verteu-se a mistura de PDMS lentamente sobre as microestruturas geradas no filme fino de fotorresiste de modo que a mistura preenchesse todas as canaletas existentes nas microestruturas. A amostra foi encaminhada para a mufla por aproximadamente 2 horas a uma temperatura de 65º C para acelerar o seu processo de cura. Após a cura, com o PDMS já curado, porém flexível, empregou-se a ponta de um estilete e uma pinça para cuidadosamente retirar a camada de PDMS vertida sobre as microestruturas. Concluída essa etapa, o molde de PDMS, com estruturas micrométricas, estava pronto para ser caracterizado fisicamente. 2.1.6 Transferência das Microestruturas para a Resina Furfurílica Após a caracterização do molde de PDMS por microscopia e rugosidade, colocou-se o mesmo no fundo de um recipiente plástico com as suas microestruturas, geradas anteriormente, voltadas para cima. Verteu-se uma mistura de resina furfurílica com ácido p-tolueno sulfônico sobre os moldes de PDMS, preenchendo o recipiente de plástico em sua totalidade. Após dois dias, as amostras de resina furfurílica se encontravam totalmente curadas. Assim, as amostras foram retiradas dos respectivos recipientes de plástico e, com a ajuda de uma pinça, foram lentamente separadas dos moldes de PDMS das superfícies de resinas curadas. Após esta etapa, as amostras de resina furfurílica polimerizada estavam prontas para serem carbonizadas e levadas para análise por microscopia ou rugosimetria. 2.2 Replicação por molde Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 140-145, 2016 143 A Replicação por molde se dá por meio da réplica direta das microestruturas desejadas, empregando-se PDMS. Basicamente, verte-se PDMS sobre uma superfície com microestruturas de interesse, que se quer transferir para a resina furfurílica. Após a cura do PDMS, obtém-se um molde negativo flexível em PDMS das microestruturas. Esse molde servirá como base para a replicação dessas microestruturas na resina furfurílica e, posteriormente seria transformada em Carbono Vítreo Monolítico. No experimento realizado, uma grade de difração com ranhuras periódicas com larguras na faixa de 0,5 µm foi empregada como superfície de interesse para gerar-se o molde da mesma. 2.2.1 Geração do molde de PDMS A princípio, utilizando pipetas de plástico, verteu-se a base elastômera de PDMS e o agente de cura do mesmo em um recipiente de plástico, na proporção de 10:1, sobre a balança digital. O processo, em seguida, foi idêntico ao descrito anteriormente na seção 2.1.5. 2.2.2 Transferência das microestruturas do PDMS para a Resina Furfurílica Após a caracterização do molde de PDMS por microscopia ótica, MEV e rugosímetro, colocou-se o mesmo no fundo de um recipiente plástico com as microestruturas geradas anteriormentevoltadas para cima, da mesma forma como descrito na seção 2. O restante do processo seguiu o método descrito na seção 2.1.6. 3. Resultados e Discussão 3.1 Fotolitografia macia Analisou-se as amostras por meio de micrografia ótica. Nas Figs. 1 a 3, observouse, respectivamente três micrografias das estruturas gráficas presentes na máscara comercial, estruturas tridimensionais transferidas para o filme de fotorresiste e microestruturas transferidas para o PDMS. Durante a cura do PDMS em forno, o filme de fotorresiste trincou. Essas trincas foram transferidas para o molde de PDMS juntamente com as estruturas micrométricas da sua superfície. Fig.1. Micrografia da máscara de exposição e suas microestruturas gráficas. Fig.2. Micrografia da estrutura transferida para o filme de fotorresiste. Fig.3. Micrografia da estrutura transferida para o filme flexível de PDMS. Por meio do rugosímetro, obteve-se um modelo em 3D de algumas regiões das estruturas geradas no filme fino de fotorresiste de uma amostra típica. Na Fig. 4 pôde-se observar o modelo das microestruturas transferidas. Uma razão muito empregada no estudo de superfícies e microestruturas é a Razão de Aspecto, que mede a razão entre duas dimensões (altura e largura). Mediu-se as dimensões das canaletas micrométricas obtidas no fotorresiste com um rugosímetro. Na Fig. 5, pode-se observar as razões de aspecto das ranhuras geradas no filme fino de fotorresiste de duas amostras. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 140-145, 2016 144 Pode-se observar na Fig.7, a presença de microestruturas, transferidas da grade de difração, no PDMS. Fig.6. PDMS vertido sobre grade de difração. O colorido da imagem é devido ao fenômeno de difração da luz branca do ambiente. Fig.4. Topografia em 3D de regiões do fotorresiste com microestruturas transferidas: canaletas (superior) e retângulos (inferior). Fig.7. Micrografia ótica do molde de PDMS obtido de uma grade de difração. Já na Fig. 8, pode-se observar por MEV as mesmas no PDMS. Fig.5. Razão de aspecto de duas amostras típicas. 3.2 Replicação de Molde Analisou-se as microestruturas presentes no molde de PDMS e transferidas para a resina furfurílica curada por microscopias ótica e eletrônica de varredura (MEV). Nesse experimento, uma grade de difração com ranhuras micrométricas paralelas foi empregada como base para ser copiada pelo molde de PDMS. Depois, ela foi transferida para a resina furfurílica, como mostrado na Fig. 6. Fig.8. MEV do molde de PDMS obtido de uma grade de difração. A Fig. 9 mostra a difração da luz no molde flexível de PDMS, comprovando que o mesmo replicou a estrutura da grade de difração. Também na Fig. 9 é mostrada a Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 140-145, 2016 145 amostra de resina furfurílica com a réplica da superfície da grade de difração. É possível notar que as ranhuras da sua superfície são responsáveis por produzir difração da luz da mesma forma que a grade de difração original, comprovando a transferência de estrutura micrométrica para a resina furfurílica. O próximo passo deste trabalho consiste na carbonização das peças de resina furfurílica para a obtenção de estruturas micrométricas em CVM. Fig.9. Difração da luz em molde de PDMS (acima) e na superfície da resina furfurílica. 4. Conclusões As estruturas geradas no filme fino de fotorresiste produzido por fotolitografia apresentaram boa reprodutibilidade em relação às estruturas bidimensionais, presentes na máscara comercial. Também mostraram boa regularidade quanto à forma e a continuidade das mesmas. A transferência das microestruturas do fotorresiste para o PDMS mostrou boa reprodutibilidade quanto às estruturas tridimensionais do filme fino de fotorresiste. Apresentou razoável regularidade no que diz respeito à forma e continuidade das mesmas. Trincas apareceram no fotorresiste durante o processo de cura na mufla, o que acabou transferindo a forma das mesmas para o molde de PDMS. O processo de transferência do PDMS para a resina furfurílica também se mostrou eficiente e com boa reprodutibilidade. Agradecimentos Ao IEAv, ao CNPQ, a EFO-S, ao Ten Cel Eng Renato Cunha Rabelo (EFO), a Carla Bordin, ao Dr. Walter ao Mestre Rafael C. Louzada (EFO-S) ao Sgt Ferraz e ao Sgt Franklin pelo apoio. Ao Prof. Dr. Stanislav Moshkalev da Unicamp por nos ceder PDMS para este trabalho. Referências DAMIÃO A. J., DONDEO F., FILOMENA R. - Depósito de Patente PI0705155-7 A2. Processo de fabricação de padrões de rugosidade em carbono vítreo por laser pulsado e o padrão de rugosidade obtido a partir desse processo. 2007. OLIVIER, J. A., SCOTT T., GEORGE M. Fabrication of glassy carbon microstructures by soft lithography – Sensors and Actuators A72. 125 – 139, 1999. SCHUELLER, O. J. A, BRITTAIN, S. T., WHITESIDES, G. M., Sensors and Actuators, A72, p. 125, 1999. XIA, Y., GEORGE M. - SOFT LITHOGRAPHY – Annu. Rev. Mater. Sci. 28: p.153–84, 1998. TSENG, S. F., CHEN, M. F., HSIAO, W. T., HUANG, C. Y., YANG, C. H., CHEN, Y. S.- Laser micromilling of convex microfluidic channels onto glassy carbon for glass molding dies - Opt. And Laser in Eng. 57, p. 58. 2014. ZARZYCKI, J. Materials Science and Technology – A Comprehensive Treatment – Vol. 9 Glasses and Amorphous Materials, ed. R. W. Cahn, P. Haasen and E. J. Kramer, Weinheim, New York, Basel, Cambridge, 1991. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 140-145, 2016 146 RESISTÊNCIA À CORROSÃO EM AÇOS TEXTURIZADOS A LASER M. F. R. L. Souza1,2*, P. M. M. Leite3, A. C. O. C. Doria3, J. G. A. B. Simões2, R. Riva2; W. Miyakawa2 Projeto: Processamento de materiais a laser 1 Universidade Federal de São Paulo – Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Fotônica, São José dos Campos – SP 3 Universidade do Vale do Paraíba, , São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Do ponto de vista eletroquímico, os processos de corrosão e biocorrosão são reações que ocorrem na interface entre a superfície do material e o meio que o envolve. A compreensão dos fenômenos envolvidos nesses processos deve, portanto, estar fundamentada em técnicas de medidas eletroquímicas, que são importantes avaliadores do comportamento dos materiais frente à corrosão em diferentes meios. Dentre elas, podemos citar as curvas de polarização e a espectroscopia de impedância. Foram feitas medidas eletroquímicas em amostras de aço 304, com e sem texturização a laser, utilizou-se solução tampão de fosfato salino (PBS) como eletrólito. A espectroscopia de impedância evidenciou, pelo gráfico de Nyquist, que o aço 304 não texturizado a laser é estável em solução de PBS. Já a curva de polarização de Tafel revelou que a texturização não é um mecanismo adequado para proteger o aço 304 contra a corrosão nessa mesma solução. Palavras-chave: Laser, Aço, Biocorrosão, Eletroquímica 1. Introdução Microorganismos são coadjuvantes de significativa relevância para iniciar, facilitar e intensificar processos de corrosão não só em metais, como também em materiais não metálicos, causando prejuízo em diversos setores da economia. Os avanços em pesquisas de materiais permitiram o desenvolvimento de materiais cada vez mais resistentes, mas o problema com a biocorrosão, continua podendo ser citados, como exemplos, as indústrias petrolíferas, alimentícias, etc (Rovetta 2011). A biocorrosão ocorre, normalmente, devido à formação de biofilmes por microorganismos que se alimentam de matéria orgânica e liberam metabólitos com alto potencial corrosivo. Do ponto de vista eletroquímico, os processos de corrosão e biocorrosão são, na verdade, reações que ocorrem na interface entre a superfície do material e o meio que o envolve. A compreensão dos fenômenos envolvidos nesses processos deve, portanto, estar fundamentada em técnicas de medidas eletroquímicas, que são importantes formas de se avaliar, analiticamente, o comportamento dos materiais frente à corrosão em diferentes meios. Dentre elas podemos citar as curvas de polarização e a espectroscopia de impedância. 1.1 Curvas de polarização O potencial elétrico de um material em contato com um meio depende do meio em si e da natureza do material. No equilíbrio dinâmico do sistema, o potencial do material é chamado de potencial de corrosão e a corrente elétrica associada de corrente de corrosão. Já quando não há equilíbrio, o eletrodo estará polarizado. O esquema de funcionamento da polarização está representado na Fig. 1. No modelo de Tafel, com curva típica representada na Fig. 2, medidas de polarização anódicas e catódicas têm relação com o potencial que pode ser descrita por uma função linear da densidade de corrente: (1) E a b log(i) onde E é o potencial elétrico, i, a densidade de corrente elétrica, e a e b são constantes. A constante a pode reunir temperatura (T), coeficiente de transferência (ß), número de oxidação da espécie eletroativa (n); constante de Faraday (F); densidade de corrente média (i); corrente de corrosão (icor), etc. A constante b é a inclinação da Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 146-149, 2016 147 curva, e caracteriza se um processo é catódico ou anódico. Fig. 1. Esquema de funcionamento de um ensaio de polarização. Para a obtenção de curvas de polarização, conecta-se um metal a uma fonte de corrente ou potencial, sendo este polarizado anódica ou catodicamente. De acordo com seu potencial de corrosão, o registro da corrente elétrica permitirá a determinação eletroquímica da taxa de corrosão, por meio da representação gráfica do potencial do eletrodo em função da intensidade de corrente (E x log (i)). Quando o material não sofre passivação, com o aumento do potencial, obtém-se uma equação logarítmica, representada pelo modelo de Tafel (Fig. 1.), no seu trecho linear (Pinon 2009; Soares 2012). Fig. 2. Curva de Tafel (equipamento). 1.2 Espectroscopia de impedância Dentre as medidas eletroquímicas, a espectroscopia de impedância tem a capacidade de predizer, por exemplo, a maneira que um material metálico se comporta com o tempo, em relação ao processo corrosivo. Para a obtenção da impedância do sistema eletroquímico, aplica-se uma tensão senoidal com uma determinada freqüência. Com a utilização de corrente alternada, o sistema não sai do equilíbrio e a superfície do eletrodo não é alterada, pois a amplitude da onda do potencial é pequena. Assim, podemse detectar valores mínimos de corrente e de resistência de transferência de cargas. O circuito equivalente à reação eletroquímica, com cada elemento do circuito correspondendo a um dos processos eletroquímicos, químicos e físicos, pode ser visto na Fig. 3. (Pinon 2009; Soares 2012). Fig. 3. Esquema de funcionamento de um ensaio de espectroscopia de impedância. A análise da impedância eletroquímica pode ser feita pelo diagrama de Nyquist (Paranhos 2010), em que a parte real da impedância é apresentada no eixo das abscissas e a parte imaginária, no eixo das ordenadas, para diferentes valores de freqüência. Outra análise possível é feita pelo diagrama de Bode, onde o logaritmo do módulo da impedância e o ângulo de fase são representados em função do logaritmo da freqüência. Nesse diagrama, valores de módulo de impedância maiores que 107 e ângulos de fase superiores a 45° são indicativos de boa resistência à corrosão (Soares 2012). Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 146-149, 2016 148 O presente trabalho teve como objetivo obter e analisar dados eletroquímicos de aço 304 texturizado a laser, utilizando, como eletrólito, uma solução tampão de fosfato salino. Posteriormente, pretende-se repetir estas medidas com uma solução de caldo Sabouroud, rica em metabólitos fúngicos, como eletrólito. Pretende-se, com isso, para avaliar analiticamente o processo da biocorrosão influenciada pelo fungo Penicillium candidum. 2. Metodologia 2.1 Texturização a laser Corpos de prova de aço 304 foram lixados, polidos e atacados eletroliticamente. Metade deles foram separados para uso como controles, e a outra metade, texturizados a laser, utilizando um laser de Nd:YAG (Coherent Inc., modelo Corona), emitindo segunda harmônica (532 nm) (Souza 2015). 2.2 Medidas eletroquímicas A espectroscopia de impedância eletroquímica e a curva de polarização potenciodinâmica foram, ambas, feitas utilizando-se um potenciostato (Autolab, Metrohm Autolab B. V.), com intervalo de frequências entre 10-1 Hz e 105 Hz e amplitude de tensão de 10 mV. Utilizou-se a configuração de circuito aberto, e célula com três eletrodos (trabalho, referência e controle de referência), contendo uma solução tampão de fosfato salino (phosphate saline bufferm – PBS solution), com pH 7,4. 3. Resultados e Discussão A Fig. 4. mostra uma típica curva de Nyquist (impedância eletroquímica, simulando um circuito aberto), obtida para o aço 304 controle, com as medidas iniciais (círculos cheios) e após 24 h de exposição à solução de pBS (círculos vazios). Quando construído um diagrama de Nyquist faz-se a extrapolação da parte direita do semicírculo até encontrar o eixo horizontal. O diâmetro do semicírculo é a resistência à transferência de carga (RT), equivalente à resistência de polarização (Rp). Portanto, quanto maior o diâmetro do semicírculo, maior sua resistência à corrosão, e, consequentemente, menor a taxa de corrosão (Ribeiro 2015). As curvas da Fig. 4 possuem praticamente o mesmo diâmetro, sugerindo estabilidade temporal da taxa de corrosão do metal no meio avaliado. Fig. 4. Típica curva de Nyquist de aço 304 controle, de parte imaginária (Z’’) em função da parte real (Z’) da impedância, com a medida inicial (círculos cheios) e após 24 horas (círculos vazios). Na Fig. 5, são apresentadas as curvas típicas de polarização para os corpos de prova de aço 304 não texturizado 43 e texturizado 42. As taxas de corrosão das amostras são diretamente proporcionais à correntes de corrosão (Pinon 2009; Soares 2012; Ribeiro 2015), portanto, a amostra 43 apresenta uma maior taxa quando comparada a amostra 42. Fig. 5. Curva de polarização para os corpos de prova de aço texturizado 42 e não texturizado 43. 4. Conclusões Amostras de aço 304 não texturizadas e texturizada a laser foram analisadas por técnicas eletroquímicas de espectroscopia de Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 146-149, 2016 149 impedância e polarização potenciodinâmica. Os resultados mostraram que o aço 304 sem texturização(controle) já é bastante resistente a corrosão, quando submetido a solução tampão de fosfato salino. Porém, quando analisada a curva de polarização do metal texturizado comparativamente ao controle, inferimos que a texturização não é um tipo de processo adequado para proteger o aço 304 contra a corrosão. Agradecimentos Ao PIBIC-PIBIT/IEAv-CNPq, pela bolsa de iniciação científica concedida (processo número 144995/2015-8). das características de superfície de aço texturizada a laser, Anais do IV Simpósio de Ciência e Tecnologia do IEAv, 03 e 04 de agosto, São José dos Campos, SP, 2015. PARANHOS, R. M. V. Caracterização de fases intermetálicas presentes em aço galvanizado por imersão a quente, com tratamento térmico do revestimento metálico. Tese (Engenharia Química, Universidade Federal de Minas Gerais), Belo Horizonte, 2010, 96p. Referências ROVETTA, S. M.; KHOURI, S.; ABDALLA A. J.; MIYAKAWA W. Avaliação do potencial biocorrosivo do fungo Penicillium candidum por meio de técnicas de microscopias, XV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XI Encontro Latino Americano de PósGraduação–Universidade do Vale do Paraíba, 20 e 21 de outubro, São José dos Campos, SP, 2011. PINON, G.O.; FREITAS, M. B. J. G; PERINI, N.; CORRADINI, P. G. Avaliação da taxa de corrosão eletroquímica do aço aisi 316 l em águas de produção com diferentes teores de cloretos e sulfetos, 49o Encontro Brasileiro de Química, 04 e 08 de outubro, Porto Alegre, RS, 2009. SOARES, B. M. Técnicas analíticas empregadas em estudos de corrosão. CETEA – Informativo, Boletim de Tecnologia e Desenvolvimento de Embalagens, v. 24(3), artigo 3, Jul/Ago/Set 2012. Em: http://www.cetea.ital.sp.gov.br/informativo/ v24n3/v24n2_artigo3.pdf, acesso em 20/05/2016. RIBEIRO, D. V.; SOUZA, C. A. C.; ABRANTES, J. C. C. Use of Electrochemical Impedance Spectroscopy (EIS) to monitoring the corrosion of reinforced concrete. Rev. IBRACON Estrut. Mater. [online]. 2015, v. 8(4), p.529-546, 2015. SOUZA, M. F. R. L.; SIMÕES, J. G. A. B.; RIVA, R.; MIYAKAWA, W. Alterações Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 146-149, 2016 150 SELEÇÃO PRELIMINAR DE MATERIAIS ESTRUTURAIS E DE PROTEÇÃO TÉRMICA PARA O DEMONSTRADOR TECNOLÓGICO SCRAMJET 14-X S PARA VOO ATMOSFÉRICO A 30 KM DE ALTITUDE E VELOCIDADE CORRESPONDENTE A NÚMERO DE MACH 7 J. E. S. Junior 1, I. S. Rêgo2, P. G. P. Toro2, M. A. S. Minucci2, F. J. Costa3 Projeto: PropHiper “Propulsão Hipersônica 14-X”. 1 Escola de Engenharia de Lorena – Departamento de Engenharia de Materiais, Lorena – SP. 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP. 3 Instituto Tecnológico de Aeronáutica – PG-CTE, São José dos Campos – SP. *[email protected] Resumo Veículos hipersônicos aeroespaciais dotados de sistema de propulsão supersônica a ar aspirado enfrentam ambientes extremamente severos durante voo hipersônico em termos de carregamentos térmicos e aerodinâmicos. Desta forma, faz-se necessário o emprego de materiais que atendam aos carregamentos térmicos e aerodinâmicos sem que haja comprometimento da estrutura do veículo, bem como dos sistemas embarcados e da eficiência do motor scramjet. Os requisitos para materiais empregados em veículos aeroespaciais com sistema de propulsão supersônica a ar aspirado incluem capacidade de operar em altas temperaturas (1300 – 2500 K), elevada resistência mecânica em altas temperaturas, elevada tenacidade e baixo peso. Conhecida as características geométricas, o envelope de voo, as premissas do projeto, e a estimativa do aquecimento aerodinâmico de projetos similares ao Demonstrador Tecnológico scramjet 14-X S, pode-se desta forma utilizar metodologias para estabelecer critérios de seleção de materiais, maximizando os efeitos desejados e minimizando as características não atrativas dos materiais em estudo. Palavras-chave: Scramjet, 14-X S, Hipersônica, Sistema de Proteção Térmica. 1. Introdução Demonstrador Tecnológico 14- X é um Veículo Hipersônico Aeroespacial 14-X, VHA 14-X, que utiliza um sistema de propulsão scramjet para realização de voo atmosférico a 30 km de altitude em velocidade correspondente a número de Mach 10. Em março de 2012, a Coordenadoria do projeto 14-X propôs duas versões baseadas no VHA 14-X, o VHA 14X B e VHA 14-X S. O extradorso do VHA 14-X tem configuração waverider, oriunda de escoamento hipersônico sobre um cone, estabelecendo onda de choque oblíqua cônica no bordo de ataque. O extradorso do VHA 14-X B tem configuração cunha plana estabelecendo onda de choque oblíqua plana no bordo de ataque; O VHA 14-X S é a duplicação do VHA 14-X B conectado pelo extradorso (Galvão 2013). Esses veículos hipersônicos aeroespaciais que utilizam motores scramjet enfrentam ambientes extremamente severos durante os voos super/hipersônicos em termos de carregamentos térmicos e aerodinâmicos. Por esse motivo é necessário o emprego de materiais que atendam aos carregamentos térmicos e aerodinâmicos sem que haja o comprometimento da estrutura do veículo, bem como dos sistemas embarcados e da eficiência do motor scramjet (Costa 2011). O desenvolvimento de novos projetos de veículos aeroespaciais está intimamente ligado ao desenvolvimento de novos materiais e aplicação dos materiais já disponíveis. Ao longo da história podemos relatar o emprego de novos materiais, onde se destacam o uso de ligas de Titânio para a aeronave SR-71, superliga de Níquel (Inconel) no projeto X-15, material cerâmico para o Space Shuttle Orbiter e indica a tendência de se utilizar compósito de matriz cerâmica em veículos aeroespaciais hipersônicos, pois esses veículos devem possuir a capacidade de operar em altas temperaturas (1300 – 2500 K), elevada resistência mecânica em altas temperaturas, elevada tenacidade e baixo peso. A Fig. 1 Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 150-155, 2016 151 mostra a resistência específica, o qual é a razão entre a resistência mecânica e a densidade do material, em função da temperatura. Nota-se que os Compósitos de Matriz Cerâmica (CMC), o C/SiC (Carbono com fibra de Carbeto de Silício), CarbonoCarbono Avançado (ACC), e SiC/SiC (Carbeto de Silício com uma matriz de Carbeto de Silício) apresentam elevada resistência operando em elevada temperatura, justificando desta forma o uso destes materiais para veículos hipersônicos aeroespaciais que utilizam a tecnologia scramjet (Glass 2008). Fig. 1. Resistência especifica em função da temperatura para diferentes classes de materiais (Glass 2008). Em projetos de veículos hipersônicos aeroespaciais deve-se levar em consideração também qual será seu gerenciamento térmico, para que este veículo cumpra a missão desejada. Os tipos de gerenciamentos térmicos mais conhecidos são: passivo, semi-passivo e ativo. Dentro do gerenciamento térmico passivo temos normalmente três tipos de estruturas: Insulation (estrutura de isolamento) é uma estrutura isoladora de calor, cujo objetivo é minimizar o calor que atinge a estrutura, fazendo com que ela permaneça fria; Heat sink (estrutura dissipadora de calor), quando o aquecimento da superfície ocorre e parte do calor é irradiada para fora e outra parte de calor é absorvido pela estrutura e se essa estrutura é aquecida por um longo período de tempo o calor absorvido pode ser suficiente para aquecer a estrutura; Hot Structure (estrutura quente), em contraste com uma estrutura de dissipador de calor, as estruturas quentes podem ser usadas para uma carga de calor superior para tempos longos, permitindo que a estrutura atinja condições de estado estacionário. Para o gerenciamento térmico semi-passivo existem duas opções: Se os fluxos de calor elevados persistem por longos períodos deve-se usar um fluido, no qual o calor é transferido através deste fluido para outra região, onde este calor é irradiado para fora da estrutura, ou para fluxos de calor elevado em períodos de tempo relativamente curtos pode-se utilizar ablatores, que consiste em um material no qual o calor é bloqueado por ablação e o ablator é consumido. Já o gerenciamento térmico ativo consiste no arrefecimento por convecção, em que o calor é transferido para o líquido de arrefecimento, o refrigerante aquece e carrega o calor para fora, portanto a estrutura funciona quente, mas é mantida dentro de seus limites de uso de temperatura pelo arrefecimento ativo (Glass 2008). Eles são utilizados de acordo com a finalidade do veículo, levando em consideração a temperatura de trabalho e o tempo de exposição ao ambiente térmico severo. Deve-se também fazer um estudo sobre o sistema de refrigeração dos motores scramjet, dos efeitos da oxidação durante os voos hipersônicos e dos coeficientes de expansão térmica dos materiais que compõe a estrutura para maximizar os efeitos desejados. 2. Metodologia A partir de trabalhos anteriores que determinam as características geométricas, o envelope de voo, as premissas do projeto, e a estimativa do aquecimento aerodinâmico de projetos similares ao Demonstrador Tecnológico scramjet 14-X S, pode-se criar metodologias para estabelecer critérios de seleção de materiais, maximizando os efeitos desejados e minimizando as características não atrativas dos materiais de estudo. De acordo com Harsha (2005) e Glass (2008), a estrutura interna do veículo acompanha um típico layout estrutural aeronáutico, com emprego de ligas metálicas convencionais capazes de suportar os carregamentos aerodinâmicos, receberem a Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 150-155, 2016 152 fixação de outros componentes estruturais e proporcionar volume interno necessário a acomodação dos sistemas embarcados (Costa 2011), além disso, a parte dianteira do veículo deve ser composta por um material de elevada densidade para fins de balanceamento do centro de gravidade suficientemente para produzir características de estabilidade longitudinal próximo ao ponto neutro e de forma atuar no gerenciamento térmico, pois esta região recebe uma alta carga térmica durante o voo (Costa 2011). O revestimento deve ser capaz de distribuir as cargas aerodinâmicas para a estrutura interna e proteger termicamente o veículo face às limitações dos materiais estruturais e requisitos de projeto relacionados aos sistemas embarcados. Ressalta-se que os bordos de ataque do veiculo devem ser confeccionados em Carbono-Carbono por consequência da elevada carga térmica evidenciada nesta região do veículo. O motor scramjet deve ser composto por materiais que trabalhem com a dissipação de calor, podendo ser ativamente refrigerado e fazer uso de Zircônia (ZrO2) para proteção térmica adicional nas paredes do motor, sendo utilizada como um revestimento (Costa 2011). Com base na literatura sobre veículos hipersônicos aeroespaciais, realizou-se uma revisão bibliográfica dos veículos com tecnologia scramjet mais importantes desenvolvidos no cenário internacional, bem como os materiais estruturais e de proteção térmica utilizados nesses veículos. Analisouse as principais características térmicas e mecânicas dos materiais utilizados e selecionou-se alguns materiais para estudo mais aprofundado, neste caso, a superliga de Níquel (Inconel 718). Após essa seleção foi feito um estudo sobre os tipos de gerenciamentos térmicos mais comuns em veículos hipersônicos e qual seria o mais apropriado para o 14-X S. Paralelamente com o estudo dos gerenciamentos térmicos foram feitos estudos sobre os coeficientes de expansão térmica dos materiais selecionados anteriormente. Juntamente com todos esses estudos deve-se fazer um estudo sobre a oxidação dos materiais, para que após isso, seja possível fazer uma matriz de decisão e selecionar os materiais mais apropriados para este projeto. 3. Resultados e Discussão Após os estudos realizados foi possível pré-selecionar alguns materiais que são utilizados como materiais estruturais, tais como as Ligas de Aço Carbono 4130, 4140, 4150 e 4340. Esses aços foram préselecionados para serem utilizados nas longarinas, pois possuem uma boa resistência mecânica, resistência à fratura, elevada resistência à fadiga e também devido a facilidade de encontrá-los no Brasil. Analisando as propriedades de cada liga de aço e levando em consideração os requisitos do projeto é possível perceber que as densidades são bem próximas, porém as propriedades mecânicas são bem distintas. A liga de aço 4340 possui uma maior resistência à tração, maior limite de escoamento e maior dureza, portanto essa liga é a melhor opção para ser utilizada nas longarinas. Alguns Aços Inoxidáveis, como o Aço Inoxidável 301, 304 e 316 foram préselecionados para serem utilizados nas nervuras, devido sua resistência a corrosão e oxidação e também por apresentarem boa resistência mecânica. Também foi necessário fazer uma análise das propriedades mecânicas e térmicas dessas ligas de aço inoxidáveis levando em consideração os requisitos necessários. Essas ligas de aço inoxidável sofrerão um alto carregamento térmico durante o voo, portanto é necessário que apresentem boas propriedades térmicas, boas propriedades mecânicas a altas temperaturas e também uma boa resistência a oxidação e a corrosão. Analisando todas essas informações, a liga de aço inoxidável 304 destaca-se por possuir propriedades térmicas e mecânicas superiores do que as demais ligas, sendo assim a escolhida para ser utilizada nas nervuras. Os materiais pré-selecionados para o motor scramjet são as superligas de Níquel Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 150-155, 2016 153 (Inconel) Nimonic 90, Waspaloy, X-750 e 718, que se destacam pelo emprego na indústria aeroespacial norte-americana. Todos os materiais em questão são endurecidos por precipitação e tem boas propriedades mecânicas a elevadas temperaturas. Porém, somente os materiais X-750 e 718 atendem a todos os requisitos estabelecidos pelo projeto. Com base nas pesquisas bibliográficas feitas sobre os veículos hipersônicos aeroespaciais no cenário internacional, o Inconel (718), destaca-se devido ao seu desempenho quando aplicado nos motores scramjet, conseguindo ter boas propriedades mecânicas a elevadas temperaturas, além de possuir baixa difusividade térmica, resistência ao aquecimento aerodinâmico e resistência a corrosão e oxidação, portanto é o material mais indicado para ser aplicado no motor scramjet. Este material já foi utilizado em projetos importantes como os veículos X-43 e X-51 (Costa 2011), obtendo um resultado muito satisfatório. Um fator importante que se deve levar em consideração durante os voos hipersônicos é a oxidação dos materiais utilizados nos veículos, portanto é necessário utilizar um revestimento para proteção desses materiais contra a oxidação. Materiais cerâmicos são amplamente utilizados como revestimentos de proteção térmica devido a sua excelente resistência ao desgaste e resistência à corrosão em elevadas temperaturas. Na Divisão de Fotônica do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), em São José dos Campos, há um projeto em andamento sobre a Aplicação de Revestimentos de Cerâmicas para proteção térmica e química utilizando lasers. Esta técnica é eficiente quando aplicada para a deposição de pó zircônia sobre substratos de Inconel utilizando feixes de laser de CO2, logo o Inconel 718 utilizado para o motor scramjet deve utilizar este processo de deposição de zircônia na sua superfície para proteção contra a oxidação (Teleginski 2015). A parte dianteira do veículo, bordo de ataque, deve ser composta por um material de elevada densidade para fins de balanceamento do centro de gravidade, portanto o material selecionado foi o Tungstênio Densalloy SD180 por possuir elevada densidade, além da alta dureza, resistência a corrosão e boa resistência a altas temperaturas. Outras propriedades importantes são alta difusividade e condutividade térmica e alto ponto de fusão, sabendo que as condições que o bordo de ataque está sujeito durante o voo são severas, chegando a temperaturas muito elevadas. Para proteção térmica do extradorso e intradorso o material selecionado é o Carbono-Carbono Avançado, um compósito de carbono reforçado com fibras de carbono. Essa escolha foi feita devido às diversas propriedades deste compósito, sendo elas, resistência à fluência, módulos e limites de resistência à tração, que são mantidos até temperaturas acima de 2000 K, valores relativamente altos da tenacidade à fratura, baixos coeficientes de expansão térmica, condutividades térmicas relativamente altas e suscetibilidade relativamente baixa a choques térmicos, visto que o veículo irá operar em um ambiente extremamente severo com temperaturas em torno dos 2000 K. Da mesma forma que é necessário utilizar um revestimento de cerâmica na superfície do Inconel para proteção contra a oxidação, o Carbono-Carbono Avançado também necessita deste revestimento. O processo selecionado para a deposição de cerâmica sobre a superfície do Carbono-Carbono Avançado é um processo que faz a deposição de Carbeto de Silício, aumentando a resistência à oxidação deste compósito. A Tab. 1 mostra as ligas selecionadas com suas respectivas aplicações após analise individual de cada material que deve ser utilizado no projeto. Após a seleção preliminar dos materiais deve-se levar em consideração também o tipo de gerenciamento térmico que deverá ser utilizado para minimizar os efeitos indesejados causados pela elevada temperatura que o veículo ficará exposto. Dentre os tipos de gerenciamentos térmicos, o que melhor se enquadra neste veículo é o Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 150-155, 2016 154 Heat sink (estrutura dissipadora de calor), pois o Demonstrador Tecnológico 14-X S possui estrutura semelhante a do veículo aeroespacial X-15, porém, é necessário utilizar em algumas regiões o gerenciamento térmico ativo devido à alta carga térmica. Esse gerenciamento térmico ativo é normalmente utilizado para fluxos de calor elevados e para períodos de tempo relativamente longos. O arrefecimento é dado por convecção no sistema de propulsão, em que o calor é transferido para o líquido de arrefecimento e o refrigerante aquece, carregando o calor para fora (Fig. 2). A estrutura funciona quente, mas é mantida dentro de seus limites de temperatura de operação. Este tipo de gerenciamento térmico foi utilizado no Space Shutlle Main Engine (Glass 2008). Tab. 1. Ligas Selecionadas respectivas aplicações. Ligas Selecionadas Aço 4340 Aço Inox 304 Inconel 718 Tungstênio SD180 Carbono-Carbono e suas Aplicação Longarinas Nervuras Motor “scramjet” Bordo de Ataque Proteção Térmica Fig. 2. Esquemático sobre o Gerenciamento Térmico Ativo (Glass, 2008). Outro fator importante é utilizar o próprio combustível, neste caso o hidrogênio, como refrigerante, fazendo com que ele percorra a estrutura na direção a favor do escoamento (Fig. 3), onde, sob essas condições a temperatura de injeção será algo em torno de 300 K. Quando utilizado contra o escoamento a temperatura de injeção será em torno de 1000 K. Devido à temperatura de entrada mais elevada, assumida como 1000 K, a estrutura inteira atinge uma temperatura de equilíbrio superior, e os gradientes de temperatura mais baixos, portanto deve-se utilizar o combustível fazendo com que ele percorra a estrutura na direção a favor do escoamento para que a estrutura inteira atinja uma temperatura de equilíbrio menor (Messe 2010). Fig. 3. Refrigerante (hidrogênio) a favor do escoamento (Messe, 2010). 4. Conclusões Com o desenvolvimento de novos veículos aeroespaciais, como os hipersônicos, houve a necessidade da busca por novos materiais, já que o ambiente de voo desses veículos é extremamente severo do ponto de vista mecânico e térmico. A seleção preliminar de materiais estruturais e de proteção térmica para o Demonstrador Tecnológico scramjet 14-X S para voo atmosférico a 30 km de altitude e velocidade correspondente a número de Mach 7, foi realizada baseandose em trabalhos já publicados e também através da busca de novos materiais para suportar as condições de voo. Os materiais selecionados com o auxílio de pesquisas bibliográficas, levando em consideração suas propriedades e as severas condições de voo que esses materiais estarão sujeitos, correspondem com as expectativas esperadas. Porém há a necessidade de depositar materiais cerâmicos na superfície para proteção contra a oxidação. Também com base nas pesquisas realizadas, pode-se concluir que o tipo de gerenciamento térmico que melhor se adéqua ao projeto é o gerenciamento térmico ativo, e que a utilização do hidrogênio como combustível e refrigerante é uma excelente opção como mostra os estudos realizados por Messe (2010). Portanto, com o sucesso da seleção dos materiais estruturais e de proteção térmica do Demonstrador Tecnológico scramjet 14X S será possível o previsto voo atmosférico, colocando o Brasil também Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 150-155, 2016 155 como uma referência na Pesquisa e Desenvolvimento de veículos hipersônicos aeroespaciais. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro, ao Instituto de Estudos Avançados (IEAv) e a Universidade de São Paulo (USP) pela infraestrutura e oportunidade. José dos Campos. Anais do Simpósio de Ciência e Tecnologia do Instituto de Estudos Avançados, São José dos Campos: IEAv, 2015. v. 1. p. 221-226. Referências COSTA, F. J. Projeto Dimensional para Manufatura do Veículo Hipersônico Aeroespacial 14-X. 2011. 79f. Trabalho de Graduação - FATEC de São José dos Campos: Professor Jessen Vidal, 2011. GALVÃO, V. A. B. Análise TeóricoAnalítica da Aerodinâmica do Demonstrador Tecnológico scramjet VHA 14-X B a 30km de Altitude em número de Mach 7. 2013. 52f. Trabalho de Conclusão de Curso – UNIVAP de São José dos Campos, 2013. GLASS, D. E. Ceramic Matrix Composite (CMC) Thermal Protection Systems (TPS) and Hot Structures for Hypersonic Vehicles. NASA Langley Research Center, Hampton, VA 23681, 2008. HARSHA, P. T., KEEL, L. C., CASTROGIOVANNI, E. A. e SHERRILL, R. T. X-43AVehicle Design and Manufacture. In: AIAA/CIRA 13th International Space Planes and Hypersonic Systems and Technologies Conference, 2005 (AIAA 2005-3334), Capua, Italia. Anais… 2005. 9f. MESSE, C.; KLICHE, D.; WALLMERSPERGER, T.; KRÖPLIN, B.; MUNDT, C. Modeling and Simulation of Heat Transfer on Functionally Graded Materials for Hot Structures in Scramjet Engines. University of Stuttgart, Germany; University of the German Federal Armed Forces Munich, Gemany; Technische Universit at Dresden, Germany, 2010. TELEGINSKI, V.; CHAGAS, D. 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Migliano1,2,3 Projeto: Desenvolvimento de Placas Cerâmicas Hexagonais à Base de Cobalto com Aplicação em Encapsulamento de Sensores de RF e Micro-ondas. 1 Universidade Braz Cubas – UBC – Mogi das Cruzes - SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Física Aplicada, São José dos Campos – SP 3 Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA – São José dos Campos - SP [email protected], [email protected], [email protected] Resumo Ferritas hexagonais, também conhecidas como hexaferritas, são cerâmicas de arranjo cristalino complexo, estruturado a partir da sobreposição de formações simétricas hexagonais. Essas cerâmicas eletromagnéticas possuem abundância de aplicações com propósitos comerciais e tecnológicos, tais como em filtros de RF, blindagens, sensores, etc. As hexaferritas têm em sua constituição Ferro, Bário e Cobalto e respondem a sinais de frequências acima de 100 MHz. O método do estado sólido foi empregado na confecção de amostras de Ba2Co2Fe24O41 (Co2Z ou hexaferrita do tipo Z), considerando a moagem dos óxidos metálicos por via úmida e sinterização a 1300oC por 24h. Amostras nos formatos de pastilhas, tubos e placas hexagonais foram obtidas para ensaios da microestrutura, de caracterização eletromagnética e de dureza, respectivamente. Palavras-chave: Cerâmicas magnéticas, Tipo-Z, Hexaferrita, Ferrita de Co-Ba. 1. Introdução O desenvolvimento de novos materiais eletromagnéticos para aplicações em transdutores, sensores, filtros de RF e blindagens, fortalecem e possibilitam o avanço tecnológico nas várias áreas da indústria nacional, principalmente nos setores de telecomunicações, de satélites, aeronáutico e espacial. Em especial, para o setor aeroespacial, a aplicação de materiais em blindagens eletromagnéticas (RADOME), que protegem componentes de telecomunicações (sistemas de antenas e radares) de impactos mecânicos ou de variações bruscas de temperatura, dependem de ensaios de conformidade, segundo normas de compatibilidade e interferência eletromagnéticas (EMC/EMI). Esta nova tecnologia de RADOME, à base de cerâmicas de cobalto, poderá ser empregada em veículos aeroespaciais, e portanto, deverá também ser testada em túnel hipersônico para avaliar sua resistência mecânica. A ferrita Z-Type, constituída de óxidos de Bário, Ferro e Cobalto tem massa específica teórica de 5,4 g/cm3 e massa molar de 2522 g/mol (Zanella 2013). A ferrita tipo-Z possui uma estrutura atômica complexa, similar à do tipo espinélio invertido. Ferritas do tipo Z (Co 2Z) dispõem de uma composição química de Ba2Me2Fe24O41 onde, Me é o cobalto o qual influencia a reorientação magnética dependente da temperatura, passando de cônico para planar e, finalmente, para uniaxial na temperatura de 287oC, aproximadamente. Quanto às propriedades magnéticas da ferrita Co 2Z, sabe-se (Pullar 2013) que ela tem seu eixo de fácil magnetização, em temperatura ambiente, perpendicular ao eixo C. As hexaferritas do tipo-Z são conhecidas por sua dificuldade de obtenção (Pullar, 2012), por geralmente apresentar mais de uma fase no processo final de sua síntese: tipos W(BaCo2-Fe16O27) e Y(Ba2Co2Fe12O2) (Daró 2016). O objetivo deste trabalho foi a síntese de ferritas de Co-Ba, com fase principal do tipo-Z, para análises de microestrutura, caracterizações eletromagnéticas e avaliação das propriedades mecânicas. 2. Materiais e Métodos Para confecção das ferritas do tipo-Z, afim de se definir uma metodologia coerente e específica para síntese de amostras, foram utilizados óxidos de ferro III (Fe2O3), Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 156-159, 2016 157 carbonato de bário (BaCO3) e óxido de cobalto III (Co 2O3). A Fig.1 ilustra as etapas realizadas durante a preparação dos óxidos para a pré-sinterização. A B C D Fig.1. Etapas para pré-sinterização, (a) separação (b) pesagem dos óxidos, (c) moagem e mistura dos óxidos em almofariz, (d) pré-sinterização dos óxidos a 1300 ºC. A estequiometria escolhida para obter as amostras de Ba3Co2Fe24O41 foi baseada no diagrama ternário, para se atingir uma única fase desejada. Desta forma, realizou-se os cálculos e as pesagens dos óxidos. As massas finais foram 22,61 g de Fe2O3, 55,42 g de BaCO3 e 1,95 g de Co2O3, onde foram pesadas em balança semi-analítica, considerando ± 0,05g de incerteza (Zanella 2013). A mistura foi realizada por via úmida, adicionadas água bidestilada e dispersante (Policrianato de Amônia). A mistura foi condicionada em um jarro de nylon com 75 esferas de aço, para homogeneizar em moinho de bolas excêntrico, por 2 horas. A mistura dos pós foi pré-sinterizada a 800ºC em cadinho de alumina por 8 horas, com taxa de aquecimento de 300ºC/hora. O processo de pré-sinterização formou aglomerados de grãos que foram moídos novamente em moinho de bolas excêntrico, via úmida por 1 hora. Em seguida, após secagem em estufa, os grãos foram reduzidos com o auxílio de um almofariz de ágata durante 30 minutos. O material separado foi compactado por uma prensa pneumática sob pressão de 2 toneladas, durante 60 segundos nas faces da amostra. Foi utilizada a técnica de prensagem uniaxial bidirecional. Amostras foram prensadas em formato de placas hexagonais com arestas de 30 mm e espessura de 5 mm. Essas amostras foram produzidas com o objetivo de montar uma superfície de cerâmica homogênea de 150x150 mm2 para testes eletromagnéticos no espaço livre. Amostras de pastilhas com diâmetro de 20 mm e espessura de 1 mm foram prensadas para análises de microestrutura. Amostras tubulares de diâmetro externo de 7 mm, diâmetro interno de 3 mm e altura de 5 mm foram prensadas para ensaios eletromagnéticos. A extração ou ejeção do material compactado da matriz foi considerada uma etapa crítica no processo, por gerar trincas nas amostras à verde e ter que descartar. As amostras foram separadas em três lotes, onde cada lote foi sinterizado à 1300ºC, durante 24 horas para formação de estrutura desejada, o estudo da microestrutura da ferrita possibilitou conhecer melhor sua composição química e definir parâmetros ótimos nos procedimentos aplicados processo de fabricação. Por meio das micrografias obtidas no microscópio eletrônico de varredura (MEV). Foram escolhidas regiões nas ferritas para avaliar a distribuição dos elementos Ba, Co, O e Fe, por meio da Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS). 3. Resultados e Discussão Foram confeccionadas até o presente momento placas hexagonais, conforme apresentadas na Fig.2. Essas amostras estão sendo empregadas para a realização dos ensaios de microestrutura e avaliar a homogeneidade final das amostras: dimensões, densidade, propriedades eletromagnéticas, etc. Fig.2. Placas hexagonais de Co 2Z Observou-se a heterogeneidade do crescimento dos grãos, mostrada na fig.3. Neste ensaio, a amostra foi submetida a tratamentos metalográfico e térmico. Um aspecto comum da hexaferrita são áreas facetadas do contorno, devido à sua estrutura hexagonal. Este fato pode ser Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 156-159, 2016 158 observado na micrografia da fig.4., com o aumento de 1000 vezes do original 100um Fig.3. Heterogeneidade de crescimento de grão para a ferrita, sinterizada em 1300ºC/24h (800x). EDS mostrou a homogeneidade da distribuição dos elementos Ba, Co, O e Fe. Observou-se com a análise de MEV a heterogeneidade no tamanho dos grãos, onde foi possível observar grãos característicos da Tipo-Z, ou seja, grãos facetados e alguns em formato hexagonal. Da mesma forma, foi possível observar as direções de crescimento dos grãos, possibilitando a visualização do empacotamento da estrutura cristalina. A partir dessas análises, conclui-se que será possível a confecção das placas hexagonais, realizando o mesmo procedimento, para testes em túnel hipersônico. (a) (b) (c) (d) (e) (f) 100um Fig.4. Micrografia da amostra sinterizado a 1300 ºC/24h (1000x). Na Fig. 5. é possível verificar que não existem concentrações desses compostos, indicando que o material tem distribuição homogênea desses elementos. Na Tab.1. são apresentados dados de quantificação de cada elemento, apresentados no ensaio de EDS da Fig. 5. A presença de carbono é justificada pelo processo de limpeza da amostra. Os resultados obtidos nestas análises corroboram os valores encontrados na literatura (Pullar 2012). 4. Conclusões Foram confeccionadas amostras de ferritas de Ba-Co, visando a formação de única fase com estequiometria Ba3Co2Fe24O41. As amostras foram prensadas na forma de placa hexagonal para se definir a síntese de amostras maiores, para garantir homogeneidade da microestrutura e precisões mecânica e eletromagnética. Foi garantida boa precisão mecânica, com variação dimensional de 5%. Análise de Fig.1. Imagem de (a) MEV da ferrita e EDS da superfície para os elementos (b) carbono, (c) oxigênio, (d) ferro, (e) bário e (f) cobalto. Tab.1.Quantidade relativa para análise de EDS da Fig. 5. Posteriormente, ensaios de DRX serão realizados para se definir as fases presentes. Também, ensaios de permeabilidade e permissividade complexas serão realizados para serem comparados com os dados da literatura (Zanella 203). Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 156-159, 2016 159 Agradecimentos Ao CNPq pela contemplação da bolsa, ao IEAv por nos fornecer toda a infraestrutura necessária. Ao professor Antônio Carlos da Cunha Migliano por ter cedido o laboratório de Sistemas Eletromagnéticos e pela orientação e dedicação; aos alunos de doutorado Mayara dos Santos Amarante, Glauco Pavanelli Zanella, Rodrigo Gabas Amaro de Lima, por toda a ajuda que nos foi concedida. A pesquisadora Vera Lucia Othero de Brito, por ter cedido o laboratório de Materiais Eletromagnéticos para o desenvolvimento do material utilizado para pesquisa. Referências AMARANTE, M. S. análise microestrutural da difusão dos óxidos de cobre I e II em ferritas de cobre e de cobalto dopadas com cobre. 2014. 125f. Dissertação de Mestrado em Sensores e Atuadores Espaciais – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos DARÓ, F. R. et al. The effect of magnetic domain walls on the complex permeability of bulk Z-type cobalt hexaferrite along both W and Y-phases. Materials Chemistry and Physics, v. 170, p12-23, fev. 2016. PULLAR, R. C. Hexagonal Ferrites: A Review of the Synthesis, Properties and Applications of Hexaferrite Ceramics. Progress in Materials Science Journal, v. 57 p 1191-1334. April 2012. SANTOS, Y. P. Acoplamento Spin-fônon no Ba1.6Sr1.4Co2Fe24O41.2015. 84f. Tese de Mestrado- Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão. ZANELLA, G. P. Síntese de hexaferrita de Co-Ba para aplicações no encapsulamento de sensores e em RADOME na faixa de rf e micro-ondas. 2013. 82f. Tese de Mestrado em Sensores e Atuadores Espaciais Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos campos. ZHANG, H. et al. Microstructure study and hyper frequency electromagnetic characterization of novel hexagonal compounds. Microelectronics Journal, v. 34, n.4, p 281-287, abr. 2003. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 156-159, 2016 160 TERMOMETRIA EM UMA CHAMA ESTEQUIOMÉTRICA UTILIZANDO A TÉCNICA DE ESPALHAMENTO RAYLEIGH PARA O COMPRIMENTO DE ONDA 355nm C. F. Nunes1,2 *, L. G. Barreta2, D. Carinhana Jr 2 Hípervel: Diagnóstico de fuligens aplicado à chamas. 1 Universidade do Vale do Paraíba – FEAU, Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Existem diversas técnicas que utilizam as propriedades da matéria para medir a variação de temperatura. O espalhamento Rayleigh é um fenômeno físico que é muito utilizado para essas medidas. O presente trabalho teve como objetivo a determinação da temperatura de uma chama de GLP/O2/ar no eixo horizontal, a fim de mapeá-las e compará-las com os valores teóricos a partir de um programa computacional GASEQ (Chemical Equilibria in Perfect Gases) versão 0.79. A simulação da chama adiabática permite observar a quantidade de calor perdida em um processo real de combustão, para aplicação em túneis de choque de alta velocidade sejam eles pertencentes á classe supersônica, como também hipersônica. Os valores de temperaturas máximas encontradas foram de 3703,92 K e 2311,89 K. Palavras-chave: Combustão, Temperatura, Espalhamento Rayleigh. 1. Introdução Existem diversas técnicas que utilizam as propriedades da matéria para medir a variação de temperatura, tais como: termoeletricidade, variação da temperatura dependente da resistência elétrica dos condutores, fluorescência. Algumas dessas medidas de temperatura podem ou não permitir o contato direto do meio de interesse com o dispositivo. (Childs 2000). As medidas de temperaturas são fundamentais para processos de combustão, pois permitem um diagnóstico mais eficiente. O espalhamento Rayleigh é um fenômeno físico muito utilizado para medida de temperatura e concentração dos produtos de uma combustão, e que também pode ser usado para medir a densidade. O espalhamento Rayleigh, por não ser um método intrusivo, não causa perturbações em campos de escoamento. Adotando-se pressão constante, a temperatura pode ser derivada da Lei do Gás ideal ou pela largura de linha do espalhamento Doppler (Childs 2000). O espalhamento Rayleigh ocorre devido a oscilação do momento de dipolo induzido pelo campo elétrico da radiação incidente em átomos e moléculas, desde que a espécie espalhadora seja da ordem de dez vezes menor que o comprimento de onda da luz incidida. É necessário, para a determinação da temperatura, saber as concentrações individuais de cada espécie no fluxo. A faixa e exatidão para o espalhamento Rayleigh é de 20 – 2500 ºC. (Childs 2000). Em um processo de espalhamento elástico não há quantidade de troca de energia entre a radiação incidente e as moléculas atingidas ou partículas. Por esta razão, o espalhamento Rayleigh não pode ser usado para determinar concentrações individuais das espécies, mas somente para medir a densidade de todas as espécies juntas. O espalhamento Rayleigh é interessante porque a seção de choque é tipicamente mil vezes maior que a magnitude do espalhamento vibracional Raman. Isto é devido ao fato de que o processo de espalhamento Rayleigh surge da polaridade induzida, que é mais forte que a polaridade induzida derivada, que aumenta para o espalhamento vibracional Raman (Sutton 2005). O sinal espalhado Es é medido em um ponto em temperatura ambiente (Es,ar), e em um ponto (r,z) dentro da chama Es (r,z). Pode-se escrever a equação da seguinte forma (Benhachmi 1983): Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 160-164, 2016 161 d E s (r , z ) d eff ,chama( r , z ) E s ,ar T (r , z ) d Tar d ar (1) A equação (1) descreve o procedimento de calibração para T(r,z) em termos de T ar e também a dependência da seção de choque em relação à temperatura e (dΩ/dσ)eff,chama(r,z) seção de choque efetiva da chama. Para uma mistura estequiométrica, a variação na seção de choque citada é negligenciada, e a seção de choque pode ser assumida constante por toda a chama. Desta forma, reduz-se o procedimento para medir a intensidade espalhada de Rayleigh para cada ponto de interesse relativo ao de referência, ou seja, ar na temperatura ambiente. E então, a temperatura pode ser calculada da equação (2) por: d Es ,ar d eff ,chama T r , z Tar d Es ,chama d ar (2) Sendo que se pode abreviar para: S (T1 ) (3) T2 T1 S (T2 ) onde: seção de choque, S (T1 ) sinal fora da chama, S (T2 ) sinal dentro da chama e T1 temperatura ambiente. O objetivo deste experimento consiste em utilizar um método óptico não-intrusivo para a determinação de temperatura em uma chama pré-misturada. A técnica utilizada foi a RST, do inglês Rayleigh Scattering Thermometry, ou Termometria por Espalhamento Rayleigh, cujo princípio se baseia na luz espalhada pelos gases presentes no escoamento. A fim de determinar a temperatura experimental no eixo horizontal para a chama GLP/O2/ar, para compará-las com os valores teóricos obtidos através do programa GASEQ que simula uma chama adiabática, ou seja, uma chama que não perde calor (sistema ideal) e também com resultados da literatura. 2. Metodologia No experimento as vazões de GLP, oxigênio e ar foram de 130,4 ml/min, 656,68 ml/min e 805,63 ml/min, respectivamente. A leitura da escala dos rotâmetros são unidades arbitrárias (u.a.), que são transformadas em unidades de medida de vazão volumétrica (ml/min) por meio da equação da curva de calibração fornecida por (Silva 2012). A definição de razão de equivalência, para misturas ricas em combustível é (Ф>1), para misturas pobres em combustível (Φ<1) e para misturas estequiométricas (Φ=1) (Turns 2000). Para o presente trabalho, as vazões das chamas de GLP/O2/ar, foram medidas por meio da calibração dos rotâmetros, e a razão de equivalência obtida para determinação quantitativa das misturas, e representados na Tab. 1. A Tab. 1 apresenta ás vazões volumétricas de combustível e oxidante para a chama de GLP utilizadas no presente no trabalho. Tab. 1. Razão de Equivalência para as vazões volumétricas de combustível e oxidante. Vazão GLP Vazão O2 Vazão ar (ml/min ) 130,4 (ml/min ) 656,68 (ml/min ) 805,63 Razão de Equivalência (Ф) 1,0 Para determinação do sinal Rayleigh foi utilizado o seguinte arranjo experimental: um Laser de Nd-YAG, prismas, placa de meia onda, lente de focalização, um queimador tipo Y de chama pré-misturada, lente, polarizador, monocromador, fotomultiplicadora, fonte de tensão e um osciloscópio. A Fig. 1 representa o esquema experimental para detecção do espalhamento Rayleigh. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 160-164, 2016 162 para cada lado, valores estes que não se aproximam da temperatura ambiente 298 K, refletindo assim a interferência da radiação da chama. Fig. 1. Esquema de montagem do experimento de medição de temperatura utilizando a técnica de Espalhamento Rayleigh. O feixe do laser é focalizado por uma lente convergente de distância focal de 1,20 m. A luz espalhada é coletada perpendicularmente à direção de propagação do feixe de incidência por uma de lente de 0,05 m de distância focal. Depois de passar por um polarizador, um monocromador com uma fenda de 50 µm, a luz espalhada é detectada por uma fotomultiplicadora. A fotomultiplicadora é ligada ao sistema de processamento de sinal, ou seja, um osciloscópio Tektronix TDS 2000 B. Um dos canais é utilizado para o sinal de disparo e outro para medir sinal de luz espalhada. As medições foram efetuadas com o polarizador em 90°, onde se tem o máximo de espalhamento, e 0°, no qual o sinal coletado deve ser o mínimo. A diferença entre os dois sinais é o sinal de espalhamento Rayleigh. A fim de mapear as diferentes seções da chama, o queimador foi movido horizontalmente, em diferentes posições, enquanto a altura do feixe do laser permaneceu fixa, segundo a Fig. 1 que mostra o esquema experimental. 3. Resultados e Discussão Os valores de temperatura encontrados para a chama de GLP/O2/ar, mapeada no eixo axial são observados na Tab. 2 e também representados na Fig. 2 desde á interface (chama – ar ambiente) de um lado ao outro, sendo que os valores no ar ambiente próximo da chama têm valores aproximadamente entre (503 K e 871 K) Tab. 2. Chama de GLP/O2/ar - Valores das temperaturas encontradas. Posição (mm) Temperatura (K) 1 503,64 2 1233,91 3 1412,18 4 1485,57 5 1855,91 6 2164,22 7 2316,18 8 3261,35 9 3076,66 10 3373,11 11 3296,59 12 3703,92 13 3350,45 14 3202,23 15 3174,5 16 2918,96 17 3011,21 18 2160,17 19 871,93 Fig. 2. Temperatura da chama de GLP/O2/ar em função da posição. De forma a comparar os resultados de temperaturas experimentais com o teórico oferecido pelo programa GASEQ, simulando uma chama adiabática, ou seja, uma chama que não perde calor (sistema ideal), o resultado experimental obtido para chama de GLP/O2/ar não foi satisfatório comparado ao teórico. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 160-164, 2016 163 da subtração do valor do fundo, medida fora da chama. Fig. 3. Simulação do GASEQ para o (Propano + Oxigênio+ ar). Para a chama de GLP/O2/ar o valor máximo da temperatura experimental encontrado foi de 3703,92 K como pode ser visto na Fig. 2 e a temperatura obtida teoricamente foi de 2902 K como pode ser vista na Fig. 3. A variação de temperatura encontrada entre valor teórico e o valor experimental pode ser atribuído ao sinal de fundo, medida do sinal fora da chama, que se mistura ao sinal ambiente, ao realizar a conta de diferença entre o valor medido ao valor de fundo, acaba interferindo na variação da temperatura. Para comprovar a interferência do sinal de fundo na medida, foi realizado novamente o cálculo da temperatura, desta vez sem realizar a diferença entre valores encontrados dentro da chama com a medida do valor de fundo. Os resultados podem ser observados na Tab. 3 e também representados na Fig. 4. O novo valor de máximo encontrado na temperatura experimental foi de 2311,89 K, como pode ser observada na Tab 3. A variação entre a primeira medida de máxima com a segunda apresenta uma diferença de 1392,03 K, já a diferença entre o novo sinal de máximo experimental em relação ao teórico apresenta uma relação satisfatória em relação à medida anterior. Tab. 3. Chama de GLP/O2/ar - Valores das temperaturas encontradas sem a realização Posição (mm) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Temperatura (K) 364,29 861,28 977,37 1024,59 1257,97 1446,21 1404,08 1537,05 2074,98 1973,39 2135,67 2094,18 2311,89 2123,41 2027,41 2042,64 2027,41 1885,32 1443,78 Fig. 4. Chama de GLP/O2/ar (Temperatura X Posição axial). 4. Conclusões A técnica de espalhamento Rayleigh se mostrou eficiente para a realização de medidas de temperatura, onde os resultados obtidos, comparados com os encontrados na literatura e no GASEQ se mostraram similares. Contudo um fator é determinante para a execução do desta técnica. Este fator é o alinhamento óptico, pois ele é determinante para a realização das medidas, já que o alinhamento influência diretamente na detecção do sinal de espalhamento, Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 160-164, 2016 164 contribuindo para ruídos no sinal adquirido se não for bem calibrado, podendo também resultar em medidas dúbias, como as medidas de fundo encontradas no experimento. O comprimento de onda 355 nm foi fundamental para uma medida mais confiável em relação aos outros comprimentos de ondas, pois ele permitiu uma melhor aquisição de sinal, evitando interferências de outras faixas do visível. Com o mapeamento da chama também é possível detectar os pontos de máxima e de mínima de temperatura na chama, e isso é de grande importância, para uma melhor caracterização de chama. 2000, McGraw-Hill Education; 3 edition, 752p. Agradecimentos Os autores agradecem a bolsa CNPq-PIBIC e a FINEP pelo apoio financeiro no desenvolvimento do projeto HIPERVEL. Referências BENHACHMI, D. et al. Rayleigh Thermometry with Low-Power Laser Sources. In: Thermophysics conference, 1983, Montreal. Journal American Institute of Aeronautics and Astronautics, 1983. CHILDS, P.R.N.; GREENWOOD, J.R.; LONG, C.A. Review of temperature measurement. Thermo-fluid Mechanics Research Centre, v.71, n.8, Maio, 2000. MORLEY, CHRIS. GASEQ Chemical Equilibria in perfect gases version 0.79. Disponível em: <www.gaseq.co.uk/>. Acesso em: 20 jun. 2016. SILVA, L A M R. Medição de temperatura de chama pré-misturada de GLP, Oxigênio e Ar utilizando a técnica de espalhamento Rayleigh a laser. 2012. 112 f. Tese (Mestrado em Engenharia Aeronáutica e Mecânica) – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. SUTTON, G. et al. A Combustion temperature and species standard for the calibration of laser diagnostic techniques. Elsevier Journal of Combust and Flame, v.147, p.39-48, July 2006. TURNS, S. R. An introduction to combustion/ Concepts and ApplicationsAnais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 160-164, 2016 165 UM ESTUDO NUMÉRICO DO EFEITO NA PRESSÃO SOBRE CORPOS ROMBUDOS EM VELOCIDADE SUPERSÔNICA CAUSADO PELA ADIÇÃO DE ENERGIA NA FORMA PULSADA M. D. Felix1*, A. C. Fraile Júnior2, M. A. P. Rosa2. Projeto: Controle de escoamento hipersônico por adição de energia. 1 ETEP Faculdades – Engenharia Aeronáutica, São José dos Campos – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Aerotermodinâmica e Hipersônica, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo Corpos que se movimentam a velocidades acima da velocidade do som estão sujeitos a elevados valores de pressão aumentando sua resistência ao movimento. Este trabalho apresenta um estudo sobre o efeito da pressão sobre corpos rombudos a regime hipersônico por deposição de energia na forma pulsada a montante de ondas de choque. Inicialmente, é verificado o efeito de uma fonte de energia na forma contínua no escoamento e posteriormente a adição de apenas um pulso de energia é estudada. São analisados os efeitos de variação de parâmetros da fonte nas características da onda de choque e na pressão na parede do corpo. Verifica-se que com a presença de um corpo, a fonte de energia é capaz de diminuir a pressão na parede do corpo em comparação com o caso em que não há deposição de energia. Palavras-chave: Escoamento supersônico, Corpo rombudo, Deposição de energia, Análise numérica. 1. Introdução Aeronaves que se movimentam em velocidades superiores à velocidade do som são submetidas a elevados valores de pressão devido à formação de uma onda de choque, o que resulta em maiores valores de coeficiente de arrasto em comparação com veículos com velocidades subsônicas (Anderson 1991). Estudos sobre a diminuição de arrasto em escoamentos supersônicos têm sido desenvolvidos no Instituto de Estudos Avançados IEAv e aplicados nos tópicos: reentrada de veículos aeroespaciais na atmosfera terrestre e a interação de veículos aeroespaciais com escoamentos hipersônicos; propulsão hipersônica aspirada, empregando combustão supersônica; e controle de escoamentos de altas velocidades por adição de energia por laser. Tais estudos são realizados em seu Laboratório de Aerodinâmica e Hipersônica (LAH), Prof. Henry T. Nagamatsu, onde parte deles, são realizados em parceria com laboratórios e universidades internacionais e estes apresentam resultados satisfatórios (Riggins 1999; Toro 1997). Assim como o presente estudo, também são desenvolvidos cálculos numéricos no âmbito do IEAv, no intuito em buscar uma melhor compreensão dos fenômenos envolvidos nos experimentos e promover o planejamento destes com maior eficiência (Fraile 2011). Diminuir o coeficiente de arrasto em um corpo como, por exemplo, uma aeronave que se movimenta em regime supersônico, pode aumentar a eficiência aerodinâmica reduzindo o consumo de combustível e a tração necessária para que a aeronave se mantenha em voo. Uma maneira de diminuir o arrasto é modificando a forma geométrica da onda de choque tornando-a mais fraca. Dentre as técnicas para a diminuição de arrasto, a mais comum é a utilização de estruturas físicas (Marley 2011) à montante do corpo (physical spike). Porém, ao inserir uma barreira física, as perturbações geradas pelo arrasto aerodinâmico resultam em tensões que geram o aquecimento da estrutura e necessitam da implantação de um sistema de resfriamento (Marley 2011; Riggins 1999; Takaki 2002), o que indica que a sua utilização agrega peso e custos elevados. Uma outra forma de modificar a onda de choque é a inserção de uma fonte de energia localizada no escoamento. Quando a energia é colocada a montante do corpo, uma onda de compressão interage com o arco de Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 165-170, 2016 166 choque formado ao redor do corpo. Este estudo, tem como propósito mostrar resultados de análises numéricas sobre a modificação de pressão na parede de corpos em escoamentos de altas velocidades devido à adição de energia na forma pulsada, os cálculos foram baseados na solução numérica das equações de Navier-Stokes por meio do software Fluent® de CFD (Computational Fluid Dynamics). 2. Metodologia O domínio computacional empregado para os cálculos consiste em uma fonte de energia à montante de um corpo rombudo que se desloca a uma velocidade equivalente a número de Mach 4, sendo o corpo do tipo esférico. A fonte de energia é inserida no plano de simetria do corpo e é localizada a uma distancia deste. A Fig. 1 apresenta a geometria dos elementos, porém a solução numérica apresentada neste trabalho explora a propriedade de simetria dos escoamentos, com condições de contorno de simetria na região mediana da figura. Fig. 1. Esquema do domínio físico estudado (Takaki 2002). Neste caso o corpo é um elemento bidimensional de raio R. Além disso a fonte fornece energia ao escoamento de forma gaussiana, depositada na forma contínua ou pulsada através de um recurso do Fluent® denominado User Defined Function, ou apenas UDF (Função Definida pelo Usuário), que consiste em uma rotina que pode ser usada para modificar, por exemplo, as equações resolvidas numericamente pelo Fluent®. No caso deste trabalho, é adicionado um termo fonte à equação de energia com a seguinte forma de distribuição: (1) Sendo: ρ a densidade no escoamento, as dimensões da fonte e a distância do centro da fonte com relação ao ponto (x,y) = (0,0) e: 1, se t p 0, se t p fp t (2) O problema é formulado na forma adimensional, os fatores para a transição para forma dimensional são construídos com base na combinação de grandezas. Para pressão o fator é , para densidade , velocidades , para dimensões lineares l e para o tempo . Então a intensidade da fonte é dada pela equação seguinte: (3) Para o caso onde a adição é continua temos que f p t 1 e Q0 300 , 500 e 1000, para o caso onde a deposição é pulsada temos os tempos de deposição sendo , , , o passo de tempo -8 5,0×10 s e Q0 300 , obtendo-se a pressão (p), ao longo do eixo de simetria e ao longo da parede do corpo em ambos os casos. 2.1 Estudo das malhas Utilizando o software Gambit, criou-se uma malha retangular, onde a dimensão ao longo do eixo de simetria (x) é de 0,05 m, subdividido em 300 elementos, e de 0,02 m na direção radial perpendicular (y) ao eixo de simetria, subdivididos em 120 elementos. Essa região foi posteriormente refinada como é mostrado na Fig. 2, em que para a região circular o raio atribuído é de 0,017 m e, além disso, uma região com raio de 0,005 m em torno do eixo x também é refinada. A malha foi capaz de capturar a variação de propriedades do escoamento tais como Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 165-170, 2016 167 pressão e temperatura, mostrando-se adequada para avaliar o efeito de modificação de pressão na parede do corpo devido à adição de energia sem ser excessivamente refinada de forma a se tornar computacionalmente custosa. Nesta sessão é apresentada uma série de resultados ilustrando os principais efeitos da deposição da fonte na forma contínua. Nas Figs. 3 e 4 podemos observar as propriedades do escoamento quando depositada uma fonte contínua para valores de Q0 = 0, 300, 500 e 1000. 25 Sem fonte Q0 = 300 Q0 = 500 Q0 = 1000 p/pꝏ 20 15 10 5 0 -0,03 -0,02 -0,01 X[m] 2.2 Condições de simulação. As condições de simulação utilizadas no estudo são apresentadas na Tab. 1. O método utilizado no software Fluent® foi: densitybased, axisymmetric, steady (para energia contínua) e unsteady (para energia pulsada), discretização de 2ª ordem e a distribuição dada pela Eq. (1) em que = 0,005 m e = (-0,025;0) m. Tab. 1 - Condições de escoamento. Grandeza Valor Temperatura de escoamento não 166 K perturbado Pressão de escoamento não 1,29×104 N/m² perturbado Número de Mach de escoamento não 4 perturbado Razão de calores 1,4 específicos 3. Resultados e Discussão 3.1 Efeito da deposição de energia na forma contínua. Fig. 3. Distribuição de pressão ao longo do eixo de simetria para os casos sem fonte e com fonte na forma contínua com diversos valores de Q0. Sem fonte Q0 = 300 Q0 = 500 Q0 = 1000 25 20 p/pꝏ Fig. 2. Malha para estudos com a presença do corpo. 15 10 5 0 0 45 θ [ Gráus ] 90 Fig. 4. Distribuição de pressão ao longo da parede do corpo para os casos sem fonte e com fonte na forma contínua com diversos valores de Q0 O choque à montante do corpo, no caso onde não há a adição da fonte ao escoamento, é bastante forte na extremidade frontal do corpo, o que causa elevados valores de pressão. Ao adicionar a fonte, observa-se, na região entre -0,02 m e 0,01 m do domínio, que a onda de choque se torna mais fraca, isto acontece devido à formação de uma região de recirculação formada pela influência da presença da fonte que também é observada por outros autores Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 165-170, 2016 168 3.2 Efeito da deposição de energia na forma pulsada. Nesta sessão, são mostrados resultados referentes aos estudos da deposição da fonte de energia ao escoamento na forma pulsada de um único pulso, mantendo-se constantes a distância entre a fonte e o corpo e a potência da fonte, porém com diferentes períodos de deposição. As Figs. 5 e 6 mostram as propriedades do escoamento quando depositada uma fonte de energia de um único pulso com valor de Q0 = 300 e tempo de deposição igual a 22,85 μs. Quando depositada uma fonte de Q0 = 300 de um pulso de energia, observa-se o comportamento da variação de pressão em determinados instantes de tempo. O pulso percorre a extensão do domínio até cerca de 1,6×10-5 s onde inicia-se a interação com a onda de choque e a formação da região de recirculação. Em 3,0×10-5s, percebe-se que a região de recirculação se move em direção à parede do corpo e nota-se um pico de pressão a 25°. Em 5,0×10-5 s a região de recirculação atinge a parede do corpo e move-se na superfície da parede do corpo em direção a 45°, o pico de pressão tem menor intensidade e move-se juntamente com a região de recirculação que começa a se dissipar gradativamente e a onda de choque começa a retornar a sua forma normal. As Figs. 7 e 8, mostram as propriedades do escoamento quando depositada uma fonte de energia de um único pulso com valor de Q0 = 300. Neste caso, o tempo de deposição é menor que no caso anterior e igual a 11,425 μs. 25 Sem fonte 1,6E-5s 3,0E-5s 5,0E-5s p/pꝏ 20 15 10 5 0 -0,03 -0,025 -0,02 -0,015 -0,01 X[m] Fig. 5. Distribuição de pressão ao longo do eixo de simetria para os casos sem fonte e com fonte de um pulso com valor de Q0 = 300 e tempo de deposição de 22,85 μs em diversos instantes de tempo. Sem fonte 1,6E-5s 3,0E-5s 5,0E-5s 35 30 25 p/pꝏ como Fang (2011), Marley (2011) e Fraile (2011). Assim como discute Fraile (2013), nota-se que, quanto maior a potência da fonte, maior a influência nas características da onda de choque de forma que, além desta perder força, ganha distância com relação a parede do corpo. Há uma grande queda de pressão na maior parte da parede do corpo, no entanto, pode-se observar, que nas regiões próximas a 45°, forma-se um pico de pressão que possui intensidade inversamente proporcional a potência da fonte. 20 15 10 5 0 0 45 θ [ Gráus ] 90 Fig. 6. Distribuição de pressão ao longo da parede do corpo para os casos sem fonte e com fonte de um pulso com valor de Q0 = 300 e tempo de deposição de 22,85 μs em diversos instantes de tempo. Neste caso, as características da interação entre o pulso e a onda de choque possuem algumas similaridades, como por exemplo, a geração da região de recirculação, evidenciada pela região de menor pressão na Fig. 8, e o seu deslocamento ao longo da parede do corpo. No entanto, devido ao menor tempo de deposição, quando comparado com o caso apresentado anteriormente, percebe-se uma menor variação no campo de pressão do escoamento. Os picos de pressão próximos ao ponto de estagnação (x = -0,01 m) e a 23°, possuem menor intensidade, em contrapartida, a pressão cai em uma menor parte da parede do corpo, além disso, a onda Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 165-170, 2016 169 de choque tende a retornar mais rapidamente a sua forma normal. 25 Sem fonte 1,6E-5s 3,0E-5s 5,0E-5s p/pꝏ 20 15 10 possuem valores fixos de potência, sendo este um parâmetro que também altera as características do escoamento. Resultados satisfatórios com relação a redução da pressão ao longo da parede do corpo podem ser obtidos em situações onde o tempo de deposição de energia é mantido em valores próximos ao deste último caso, variando a potência da fonte. 5 0 -0,03 25 -0,025 -0,02 -0,015 -0,01 20 15 10 5 0 -0,03 -0,02 -0,01 X[m] 30 Sem fonte 1,6E-5s 3,0E-5s 5,0E-5s 25 20 p/pꝏ p/pꝏ X[m] Fig. 7. Distribuição de pressão ao longo do eixo de simetria para os casos sem fonte e com fonte de um pulso com valor de Q0 = 300 e tempo de deposição de 11,425 μs em diversos instantes de tempo. Sem fonte 1,6E-5s 3,0E-5s 5,0E-5s Fig. 9. Distribuição de pressão ao longo do eixo de simetria para os casos sem fonte e com fonte de um pulso com valor de Q0 = 300 e tempo de deposição de 9,14 μs em diversos instantes de tempo. 15 10 5 25 0 45 θ [ Gráus ] 20 90 Fig. 8. Distribuição de pressão ao longo da parede do corpo para os casos sem fonte e com fonte de um pulso com valor de Q0 = 300 e tempo de deposição de 11,425 μs em diversos instantes de tempo. As Figs. 9 e 10 mostram a influência do tempo de deposição de energia ao escoamento, onde a fonte deposita energia de um único pulso com valor de Q0 = 300 e tempo de deposição igual a 9,14 μs. Novamente percebe-se uma menor variação no campo de pressão devido ao menor tempo de deposição, a onda de choque possui uma distância da parede ainda menor quando comparado com os casos anteriores, o pico de pressão percorre uma distância menor da parede do corpo. É importante ressaltar que os estudos realizados na deposição da fonte pulsada p/pꝏ 0 Sem fonte 1,6E-5s 3,0E-5s 5,0E-5s 15 10 5 0 0 45 θ [ Gráus ] 90 Fig. 10. Distribuição de pressão ao longo da parede do corpo para os casos sem fonte e com fonte de um pulso com valor de Q0 = 300 e tempo de deposição de 9,14 μs em diversos instantes de tempo. 4. Conclusões Neste estudo, foram apresentados resultados do efeito da deposição de energia ao escoamento de alta velocidade. Após a adição da fonte de energia ao escoamento, a onda de choque gerada pelo corpo é modificada tornando-a mais fraca. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 165-170, 2016 170 Numericamente, quando a fonte e a onda de choque interagem entre si, o pico de pressão na extremidade frontal da superfície do corpo é reduzido de forma significativa como resultado da interação entre as mesmas. É possível observar também que a pressão diminui na maior parte da parede do corpo em comparação com os casos onde não há deposição de energia. O efeito da fonte sobre a pressão na parede do corpo depende da intensidade da fonte de energia depositada. Além disso, quando inserida a fonte na forma pulsada, constatou-se que o tempo de deposição altera as propriedades do escoamento. Agradecimentos Ao CNPq, pelo financiamento de bolsa do programa PIBIC, ao Capitão André Carlos Fraile Júnior pela grande ajuda teórica e intelectual, ao Dr. Maurício Antoniazzi Pinheiro Rosa pela oportunidade e Instituto de Estudos Avançados (IEAv). Referências ANDERSON, J. D. Fundamentals of aerodynamics. Ed. 2. Boston: McGrawHill, 1991. 772 p. ANSYS®. Fluent Student Version. Computational fluid dynamics (CFD) software tool. Version 14: ANSYS, Inc., 2014. FANG, J. et al. Hypersonic wave drag reduction performance of cylinders with repetitive laser energy deposition. Beijing 2010. Disponível em: <http://iopscience.iop.org/article/10.1088/17 42-6596/276/1/012021/pdf> FRAILE JR., André Carlos. Um estudo numérico da redução de arrasto em corpos rombudos por adição de energia em escoamentos de altas velocidades. 2011. 128f. Tese (Mestrado em Física Atômica e Molecular) – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. FRAILE JR., A. C.; ROSA, M. A. P. A Numerical Investigation of Localized and Steady Energy Addition to High Speed Airflows. J. Aerosp. Technol. Manag. v. 5 n. 2, p.169-180. 2013. KANDALA, R; CANDLER, G. V. Numerical Studies of Laser-Induced Energy Deposition for Supersonic Flow Control, AIAA Journal, v. 42, n. 11, p. 2266-2275, 2004. Disponível em: <http://arc.aiaa.org/doi/abs/10.2514/1.6817?j ournalCode=aiaaj>. Acesso em: 17 Set. 2016. MARLEY, C. A numerical study of novel drag reduction techniques for blunt bodies in hypersonic flows. 2011. 35f. Tese (Mestrado) – Missouri University of Science and Technology. RIGGINS, D. W.; NELSON, H. F.; JHONSON, E. Blunt-body wave drag reduction using focused energy deposition. AIAA Journal, v. 37, n. 4, p. 460-467, 1999. Disponível em: <http://arc.aiaa.org/doi/abs/10.2514/6.19981647>. Acesso em: 17 Set. 2016. TAKAKI, R.; LIOU, M-S. Parametric Study of Heat Release Preceding a Blunt body in Hypersonic Flow. AIAA Journal, v. 40, n. 3, 2002, p. 501 – 509, 2002. Disponível em: <http://arc.aiaa.org/doi/abs/10.2514/2.1674 >. Acesso em: 17 Set. 2016. TORO, P. G. P.; MYRABO, L. N.; NAGAMATSU, H. T. Experimental investigation of hypersonic “directed-energy air spike” inlet mach. AIAA Meeting Papers, v. 35, p. 10-20, 1997. Disponível em: < http://arctest.aiaa.org/doi/abs/10.2514/1.2676?journal Code=jsr>. Acesso em: 12 Fev. 2017. ZHELTOVODOV, A. A.; PIMONOV, E. A; KNIGHT, D. D. Energy Deposition Influence on Supersonic Flow Over Axisymmetric Bodies. 45th AIAA Aerospace Sciences Meeting and Exhibit, 2007. Disponível em: <http://arc.aiaa.org/doi/abs/10.2514/6.20071230>. Acesso em: 28 Jan. 2017. Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 165-170, 2016 171 UTILIZAÇÃO DE DISPERSÃO DE SUKHAREV NA CONSTRUÇÃO DE ÁRVORES ALEATÓRIAS DE RÁPIDA EXPLORAÇÃO D. M. Adamis1, F. L. L. Medeiros2* 1 Universidade Federal de São Paulo – Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos – SP 2 Instituto de Estudos Avançados – Divisão de Geointeligência, São José dos Campos – SP *[email protected] Resumo As árvores aleatórias de rápida exploração, tradução de Rapidly-exploring Random Trees (RRTs), são métodos que vem sendo utilizados com êxito no planejamento automático de rotas de navegação para Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) em ambientes de navegação. Uma RRT é uma combinação de um grafo na forma de uma árvore com um método simplificado de busca. Este trabalho tem como objetivo, estudar a construção de uma RRT através da utilização da dispersão de Sukharev. O estudo consiste, então, no desenvolvimento de um algoritmo, denominado RRTSukharev, e na aplicação desse algoritmo ao planejamento bidimensional de rotas para VANTs considerando ambientes de navegação reais e definidos por modelos digitais de elevação. Assim, foram comparadas as rotas planejadas pela RRTSukharev com rotas planejadas por uma RRT clássica, onde a RRT-Sukharev mostra números promissores, ao exibir resultados 15 vezes mais rápidos que a RRT clássica, para os casos de uso considerados neste trabalho. Palavras-chave: RRT, Dispersão Sukharev, Planejamento de Rotas. de 1. Introdução O planejamento automático de rotas de navegação para Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) é um problema abordado em diversas pesquisas visando ao aumento de autonomia desses veículos (Goerzen et al. 2010). Uma rota de navegação para um VANT é a estrutura através da qual uma trajetória segura e dinamicamente viável é criada por meio das características cinemáticas e dinâmicas do VANT. Uma rota é transformada em uma trajetória de navegação através da aplicação de métodos de suavização como, por exemplo, as curvas de Dubins (Dubins 1947) e as curvas de hodógrafos de Pitágoras (Tsourdos 2010). Árvores aleatórias de rápida exploração (Lavalle 2006), tradução de Rapidlyexploring Random Trees (RRTs), são métodos que vêm sendo utilizados com êxito no planejamento automático de rotas para VANTs em ambientes de navegação (Goerzen 2010). Uma RRT é uma combinação de um grafo na forma de uma árvore, com um método simplificado de busca. No trabalho anterior a este (Masiero et al. 2015), foi desenvolvido um algoritmo para o planejamento de rotas através de uma RRT. O nó raiz da árvore ( qinit ) é a posição inicial da rota a ser planejada. O funcionamento consiste em expandir a árvore de modo aleatório a partir do nó raiz até que uma de suas ramificações alcance a posição final ( q dest ) da rota a ser planejada. Como cada nó é uma amostra/posição do ambiente de navegação e possui informação de seu nó antecessor, a rota é traçada da posição q dest até a posição de origem qinit e depois invertida. Um nó-folha ou ramificação q new é um ponto do segmento de reta qnearqrand , tal que: qrand é uma posição gerada como uma amostragem aleatória do ambiente de navegação; qnear é o nó da árvore mais próximo de qrand ; a distância entre qnear e qnew é o valor constante q ; e o segmento de reta qnearqnew é livre de colisão, isto é, não intercepta qualquer obstáculo do ambiente de navegação. É importante ser mencionado que qrand pode ser qualquer posição do ambiente de navegação. Em sequência, uma RRT foi aplicada ao planejamento automático de rotas para VANTs, considerando um ambiente de navegação definido por um modelo digital Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 171-176, 2016 172 de elevação, onde o processo de amostragem para obtenção de qrand se dava pela escolha aleatória de uma posição dentre infinitas posições do ambiente de navegação. 1.1 Justificativa O aumento do valor de q tende a aumentar a área explorada por uma RRT, considerando um mesmo número de amostras, isto é, de nós da RRT. Neste trabalho, considera-se a área explorada como sendo a área da envoltória convexa dos nós de uma RRT, como apresentado na Fig. 1. Assim, outro efeito do aumento de q é a tendência à redução do número de amostras necessárias para explorar uma região do ambiente de navegação. (a) (b) Fig. 1. Exemplo de área explorada por uma RRT: (a) árvore; (b) envoltória convexa dos nós da árvore. Entretanto, isto é apenas uma tendência, pois como descrito anteriormente, a geração é aleatória, o que não garante qualquer padrão de amostragem e, conseqüentemente, de distribuição espacial de uma RRT. Analisando a RRT, percebe-se que um modo de melhorar a distribuição espacial da RRT seria garantir a criação de amostras com um espaçamento mínimo entre si. Assim, este trabalho propõe a utilização de um padrão de distribuição espacial de amostras/nós para uma melhor distribuição espacial de uma RRT. A distribuição abordada neste trabalho baseia-se na dispersão de Sukharev. 1.2. Objetivo Este trabalho de iniciação científica tem como objetivo estudar a construção de uma RRT através da utilização de dispersão de Sukharev. O estudo consiste no desenvolvimento do algoritmo RRTSukharev. O algoritmo RRT-Sukharev foi aplicado ao planejamento bidimensional de rotas para VANTs, considerando ambientes de navegação reais e definidos por modelos digitais de elevação. Este trabalho também tem como objetivo analisar os efeitos desta alteração, comparando as rotas planejadas pela RRT-Sukharev com rotas planejadas por uma RRT clássica. 2. Metodologia Nesta Seção são apresentadas descrições da dispersão de Sukharev e de uma adaptação do algoritmo RRT que utiliza tal dispersão para o planejamento automático de rotas de navegação. 2.1. Dispersão de Sukharev A dispersão de Sukharev é a melhor dispersão espacial possível de um conjunto de amostras em determinado domínio (Sukharev 1971). Considerando o problema de planejamento bidimensional ( nd 2 ) de rotas, a dispersão de Sukharev de um conjunto de na amostras consiste na dispersão obtida com a distribuição espacial destas amostras em uma grade regular, de modo que cada amostra é posição central de uma parcela do ambiente de navegação representada por uma célula da grade. Essa grade é denominada grade de Sukharev. A dispersão de Sukharev é definida por A 1 n1 2na d (1) Em que: A é um conjunto de na amostras; nd é o número de dimensões do domínio do 1 problema; e nan d é o número obrigatório de amostras por cada eixo do domínio do problema; indica a parte inteira do 1 número decimal nan d . Obtendo assim, o número de linhas e de colunas para a matriz quadrada da grade de Sukharev. 1 nd a Quando n não é um número inteiro, então amostras extras são obtidas em posições do Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 171-176, 2016 173 domínio de modo a não alterar a dispersão n1 obtida com as na d amostras do mesmo domínio. Por exemplo, a dispersão de Sukharev de um conjunto de 121 amostras em um domínio bidimensional seria 0.0455. A grade de Sukharev seria composta por 11 linhas e 11 colunas. A dispersão de Sukharev de um conjunto de 124 amostras em um domínio bidimensional também seria 0.0455. Entretanto, três amostras devem ser distribuídas em torno da grade regular de 11 linhas e 11 colunas de modo a não alterar a dispersão. Nesse caso, a grade de Sukharev é composta pela grade com 11 linhas e 11 colunas e pelas três amostras. Enquanto o algoritmo RRT clássico, a cada iteração, expande sua árvore adicionando nós com uma distãncia variando de 0 a q respectivamente, a largura e o comprimento do ambiente de navegação. entre si. O algoritmo RRT-Sukharev difere ao fixar uma distância entre os nós, permitindo uma maior a area de exploração do ambiente de navegação. O algoritmo RRT-Sukharev é apresentado na Tab. 1. As principais diferenças de funcionamento do algoritmo RRT-Sukharev em relação à RRT clássica podem ser resumidas em quatro etapas. A primeira etapa consiste na criação de uma grade de quarta etapa, a criação do nó q new baseia-se no mesmo processo de criação da RRT clássica. Entretanto, é importante ser observado que, no algoritmo RRT-Sukharev, qnear é o mesmo nó da árvore obtido na linha 6 desse algoritmo. Isto implica que, nessa etapa, qnear pode não ser o nó mais 1 nd a Sukharev (S), tal que n é um número inteiro. Inicialmente, cada célula sl s c s da grade possui o valor zero, indicando que a posição central da célula sl s c s ainda não foi inserida como um nó da árvore. Na segunda etapa, a posição qrand é uma posição do ambiente de navegação gerada aleatoriamente, como na RRT clássica. Entretanto, caso qnear e qrand estejam dentro da mesma célula da grade de Sukharev, a utilização de qrand na linha 9 do algoritmo causaria um problema. Assim, uma posição q'rand é usada para o cálculo de q'new . A posição q'rand é criada na direção de qrand e a uma distância de qnear igual a 3y 2n 3x 2n 2 ls 2 cs A terceira etapa do algoritmo consiste no cálculo de q'new . A posição q'new é a posição de intersecção entre o segmento de reta q near q' rand e o retângulo definido pela vizinhança da célula sl c . Nesta etapa, se a s s célula sl s c s é nula, isto é, ainda não explorada, então o nó q new é especificado como sendo a posição central da região do ambiente de navegação representada pela célula sl s c s . Assim, a célula sl s c s recebe o valor 1, indicando que foi percorrida. A quarta etapa só ocorre se sl 's c 's 1 ou se o segmento de reta qnearqnew interceptar algum obstáculo do ambiente de navegação, isto é, alguma célula Bl ,c com valor 1. Na próximo de qrand . 3. Resultados e Discussão Um conjunto de experimentos de planejamento de rotas foi realizado com a RRT-Sukharev, implementada neste trabalho, e com a RRT clássica implementada em (Masiero 2015). Os experimentos foram feitos utilizando os mesmos parâmetros de configuração para ambos os algoritmos, sendo: q p(long final long inicial ) (2) Em que p 0,1 é uma porcentagem, long inicial long final e são, respectivamente, a longitude inicial e a longitude final do ambiente de navegação. , tal que y e x são, Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 171-176, 2016 174 Tab. 1. Algoritmo RRT-Sukharev para o planejamento de rotas. Linha 1 2 3 4 5 6 7 Descrição inserir a raiz qinit na árvore G criar a Grade de Sukharev (S), tal que sl c = 0 para todo 1 ls nl e 1 cs nc sf← 0 enquanto sf = 0 faça qrand← RAND_CONFIG(C) qnear← NEAREST_VERTEX(qrand,G) q’rand← NEW_CONF(qnear, 3y 2nl 2 3x 2nc 2 ) s s s 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 s s s encontrar a célula sl c que representa uma região do ambiente de navegação que contém qnear q’new←intersecção( qnearq'rand ,retângulo(vizinhança( sl c ))) s s s s encontrar a célula sl ' c ' que representa a região do ambiente de navegação que contém q’new encontrado_qnew← 0 se ( sl ' c ' = 0) faça qnew←centro( sl ' c ' ) s s s s s s se não intercepta qualquer obstáculo da grade B faça q q sl ' c ' ← 1 encontrado_qnew← 1 inserir o nó qnew na árvore G antecessor(qnew) ←qnear se encontrado_qnew = 0 qrand← RAND_CONFIG(C) qnew← NEW_CONF(qnear, ∆q) se q q não intercepta qualquer obstáculo da grade B faça inserir o nó qnew na árvore G inserir a aresta que une qnear a qnew na árvore G antecessor(qnew) ←qnear encontrado_qnew← 1 se ((encontrado_qnew = 1) e d qnew , qdest ld e ( qnewqdest não intercepta qualquer obstáculo da grade B)) faça inserir o nó qdest na árvore G inserir a aresta que une qnew a qdest na árvore G antecessor(qdest) ←qnew sf← 1 q ←qdest enquanto q qinit faça armazenar q na pilha R, que representa a rota planejada q ←antecessor(q) se q = qinit faça armazenar q na pilha R near new s near s new Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 171-176, 2016 175 Primeiro, para efeito de comparação em um ambiente controlado, foram realizados 10 testes em um ambiente artificial labiríntico com os dois algoritmos. O labirinto é representado por uma grade binária regular contendo 20 linhas e 20 colunas. Cada célula da grade com valor 1 é um obstáculo à navegação. A grade de Sukharev utilizada possui 10 linhas e 10 colunas. A Fig. 2 apresenta rotas planejadas com as duas RRTs. As células obstáculo são indicadas na cor preta. A Tab. 2 mostra os resultados do primeiro conjunto de experimentos, fazendo um comparativo do tempo médio de planejamento (T) e do número de nós obtidos com a aplicação do algoritmo RRT clássico e com a aplicação do algoritmo RRT-Sukharev. a Tab. 2. Média e desvio padrão dos experimentos com o labirinto. RRT clássica RRT-Sukharev n° nós T (ms) n° nós T (ms) 244 5202,5 37 281 Desv. P. 96,4 Desv. P. 20,12 O segundo conjunto de 10 testes foi realizado com um ambiente de navegação definido por um modelo digital de elevação. O ambiente de navegação é representado por uma grade binária com 1201 linhas e 1201 colunas, e a grade de Sukharev utilizada possui 20 linhas e 20 colunas. A grade binária do ambiente de navegação e a grade Sukharev são apresentadas na Fig. 3. Exemplos de rotas de navegação planejadas pela RRT clássica e pela RRTSukharev são apresentados na Fig. 4, considerando o ambiente de navegação definido pelo modelo digital de elevação. A Tab. 3 mostra uma média dos resultados obtidos com os experimentos comparativos realizados com o modelo digital de elevação 1201x1201, para uma grade Sukharev de ordem 20x20. Através de uma análise dos resultados obtidos, observa-se uma redução significativa do tempo médio (T) de planejamento de uma rota pela RRTSukharev em comparação com o tempo b Fig. 2. Rotas planejadas por uma (a) RRTclássica (5929 nós e T = 3681 ms) e por uma (b) RRT-Sukharev (465 nós e T = 110 ms), considerando o ambiente de naevgação definido por um labirinto. Fig. 3. Modelo digital de elevação subdividido pela grade Sukharev 20x20. Tab. 3. Média e desvio padrão dos experimentos com o modelo digital de elevação. RRT clássica RRT-Sukharev n° nós T (ms) n° nós T (ms) 8989 1444,05 764 656 Desv. P. 292,51 Desv. P. 14,82 Anais do I Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica do IEAv, v. 1, p. 171-176, 2016 176 médio de planejamento pela RRT clássica. Entretanto, é importante ser mencionado que por se tratar de dois métodos estocásticos, essa redução é uma tendência. de planejamento de rotas de navegação em comparação com o tempo médio de planejamento de rotas do algoritmo RRT clássico. De modo mais amplo, a dispersão de Sukharev tem aplicação promissora em outros tipos de RRTs como, por exemplo, a RRT* e a RRT*-Smart. Assim, o uso da dispersão de Sukharev em outros tipos de RRTs precisa ser abordado em futuras pesquisas. Agradecimentos Ao PIBIC/CNPq, pela bolsa concedida e ao IEAv, pela infra-estrutura e apoio acadêmico. a b Fig. 4. Rotas planejadas por uma (a) RRTclássica (13766 nós e T = 23244 ms) e por uma (b) RRT-Sukharev (3534 nós e T = 6755 ms), considerando o ambiente de navegação definido por um modelo digital de elevação. 4. Conclusões Este trabalho apresentou a implementação computacional do algoritmo RRT-Sukharev e sua aplicação a um conjunto de casos de estudo. Através dos resultados obtidos, pôde-se concluir que a utilização de dispersão de Sukharev, no processo de amostragem dos nós da RRT-Sukharev, tende a reduzir significativamente o tempo Referências GOERZEN, C.; KONG, Z.; METTLER, B.A Survey of Motion Planning Algorithms from the Perspective of Autonomous UAV Guidance. Journal of Intelligent and Robotic Systems, v. 57, n. 14, p. 65-100, 2010. DUBINS, L. E. On Curves of minimal length with a constraint on average curvature, and with prescribed initial and terminal positions and tangents. American Journal of Mathematics, n. 79, p. 497-516, 1957. TSOURDOS, A.; WHITE, B.; SHANMUGAVEL, M. 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