A AVÓ

Transcrição

A AVÓ
A AVÓ – peça em dois actos
de:
Frederico Rogeiro
Pela Trupe de Teatro Os Quatro e o Burro
encenação: Álvaro Santos Gomes
elenco
Maria Albertina..........................................................a avó
Álvaro Santos Gomes.............................................o genro
Cláudia Luís..............................................................a filha
Andreia Serafim....................................................... a neta
Manuela Castilho..........................primeira coscuvilheira
Justa Martins..................................segunda coscuvilheira
Armando Valle-Quaresma............................ o camponês
Adolfo Costa.........................................................o caixeiro
Marco Raposo.....................................................o operário
João Tralha...........................................................o bêbado
Frederico Rogeiro............................................... o médico
Frederico Ferreira..........................................o charlatão
Rui Carvalho...................................o assistente do médico
Fernando Castilho........................................ o maldizente
A AVÓ
PELA TRUPE DE TEATRO OS QUATRO E O BURRO
Uma comédia de Alenquer!
participações especiais
Graça Silva............................................... a apresentadora
Simão Ferreira...................................................... Damião
temas musicais.............................. maestro
Paulo Santana
vídeo.............................................. Pedro Ferreira (Tino)
luz e som......................Carlos Vicente, Pedro Carvalho
NO TEATRO ANA PEREIRA • LIGA DOS AMIGOS DE ALENQUER
ESPECTÁCULOS: MAIO 16, 23, 29 | JUNHO 5, 6, 12, 13, 19, 20 | 21H30
BILHETES: LIGA DOS AMIGOS DE ALENQUER | RESERVAS: 263 732 994
agradecimentos
Eduardo Silva, Filipe Soares Rogeiro, Pedro Ferreira,
Taberna Chapéu Alto, Rancho Folclórico
de Alenquer, Choose Clothing,
Café Bijú, Tabacaria ‘A Nau’
APOIOS:
TABACARIA
RANCHO FOLCLÓRICO
DE ALENQUER
A NAU
O
UVIMOS, LEMOS E DIZEMOS SEMPRE
com naturalidade que a nossa terra é a
nossa mãe. De tal forma que é dela que nos
dizemos naturais, como já os antigos gregos
se diziam saídos da própria terra, para
explicar a sua origem genealógica. Isto em nada pretende
ofender a pessoa da nossa mãe, apenas nos diz que somos
gerados por alguém mas também por um lugar, a que
podemos ainda juntar uma época. E quando a nossa terra
já produziu dezenas de gerações antes de nós, quando tem
para nos contar histórias de tempos remotos, podemos
vê-la também como avó, em consideração à sua respeitável idade.
Chamar mãe ou avó à nossa terra é personificá-la, é
atribuir-lhe – como a um objecto, a uma qualidade, ou
uma ideia – uma figura de carne e osso; um corpo, uma
personalidade e um espírito. Para o teatro é tentador
concretizar esta associação e foi isso mesmo que, ainda há
bem pouco tempo, fez Maria Manuela Castilho na peça de
Simão Biernat «Criou-me Portugal na verde e cara pátria
minha, Alenquer». Uma terra que era então uma prostituta gasta e envelhecida, contando a história dos seus
vários amantes, que sucessivamente a conquistavam e
deixavam.
A avó que agora se apresenta não tem aquela malfadada profissão, sendo pelo contrário admirada pela sociedade, mas partilha com aquela personagem algumas
preocupações de saúde, que a idade e os hábitos modernos
lentamente acumularam. Doenças que, na medida em que
são males humanos, são também males personificados que
existem na realidade representada pela avó: os subúrbios
que a envolvem e a metrópole que os instiga.
Centros urbanos vazios e degradados, onde o pequeno
comércio agoniza, abandonados pelos habitantes e pelo
grande comércio dos subúrbios. Se as novas urbanizações
têm um tecido social fraco e uma cultura inexistente, as
velhas ruas e praças passam a não ter melhor sorte. Os
subúrbios são a arterosclerose do nosso território, que
silenciosamente lhe tiram o fôlego e lhe consomem as
forças, que assim desmembradas nos deixam mais sujeitos
ao magnetismo definitivo das grandes metrópoles.
Doenças misteriosas para o povo, que no entanto lhes
sente as consequências – para quem trabalha na agricultura, na indústria e no comércio, também aqui personificados, e até para quem não trabalha e vive da boa vontade
vizinha.
Doenças desconhecidas da própria família, que deve
cuidar da avó mas hesita sobre como fazê-lo. A filha,
de coração dedicado, é aqui a câmara, sempre zelosa do
interesse comum. O genro, o político que, não desejando
o mal alheio, é tentado a preferir o próprio bem, mais
ainda quando interesses pouco escrupulosos lhe falam ao
ouvido. A neta, a quem este sentido prático não esmoreceu
a moralidade que se aprende na infância, representa a
juventude, generosa e convicta como só ela pode ser.
Doenças conhecidas sim da ciência, mas olhadas de
perspectivas diferentes: a de quem quer curar e a de quem
quer aproveitar a enfermidade para seu benefício.
Em cenários bem conhecidos de todos os netos desta
avó, o enredo está recheado de referências à história, a
tradições e a nomes não menos familiares. Num tom
simples e bem-disposto, com apontamentos de comédia,
há ainda espaço para cantar alguns dos grandes símbolos
da cultura local.