II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial

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II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial
II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial
Edição de livros didáticos para educação de jovens e adultos
Márcia Regina Takeuchi1
Pontifícia Universidade Católica – São Paulo
Resumo
Este trabalho é parte integrante da dissertação de mestrado — Análise material de livros
didáticos para educação de jovens e adultos — defendida no Programa de Estudos PósGraduados em Educação: História, Política, Sociedade em 2005. Tiragem, formato,
número de páginas, programação visual, sumário, ilustrações e fotos, manual do
professor, são tomados como dispositivos expressivos de estratégias editoriais e
traduzem, além de suas intenções comerciais e educacionais, leituras do seu público
consumidor (o estudante), suas competências e objetivos educacionais. Esses aspectos são
avaliados em exemplares de livros didáticos de EJA e comparados aos presentes em
livros didáticos destinados à escolarização regular. O estudo conclui que esse material é
em geral simplificação das obras voltadas para a educação regular, não sendo formatado
com base em pressupostos pedagógicos e justificativas teóricas e metodológicas
específicas ao público a que se destina. Tomo como referencial teórico fundamental o
conceito de materialidade de Roger Chartier e apóio-me na tese de doutorado de Kazumi
Munakata para inserir na investigaçao conceitos atinentes aos procedimentos editoriais. O
entendimento de currículo em processo é considerado no trabalho e é tributário de
Gimeno Sacristán.
Palavras-chave
Livro didático; livros didáticos para educação de jovens e adultos; EJA; edição de livros
didáticos.
Circunscrevendo o objeto de análise
Como costuma ocorrer com a maioria das pesquisas, o primeiro passo foi
identificar o que analisar e, depois, como analisar. Encontrar o que analisar foi uma
1
Doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados Educação: História, Cultura, Sociedade da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, <[email protected]>.
dificuldade inicial. Surpreendentemente, constatei carência de livros didáticos específicos
de educação de jovens e adultos (EJA), objeto de meu trabalho. Consultando o catálogo e
sites das grandes editoras do país, verifiquei que praticamente não havia oferta desse tipo
de material – ao menos à mostra, disponibilizados nos espaços de busca mais
corriqueiros. Isso me possibilitou traçar algumas hipóteses sobre as razões da baixa
oferta desse material no mercado, em detrimento da demanda efetiva, considerando-se
que no período havia um contingente significativo de pessoas que potencialmente
poderiam acorrer a esse tipo de formação escolar.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1996,
havia no país 15.560.260 pessoas analfabetas na população de 15 anos de idade ou
mais, perfazendo 14,7% do universo de 107.534.609 pessoas nesta faixa
populacional.2
Uma das razões para a baixa oferta de material por parte das editoras seria a falta
de rentabilidade imediata ou a incerteza quanto ao retorno dos investimentos. Essas
empresas costumam dividir seus esforços entre a produção de livros escolares para a rede
privada e a programação para a rede pública, cujas escolas são atendidas pelo Programa
Nacional de Livro Didático (PNLD). Diante dessa destinação mais “rotineira”,
“tradicional”, a produção de livros para EJA ficaria, quando ela existisse, em segundo
plano na lista de prioridades.
Essa primeira dificuldade – encontrar livros didáticos para EJA – me levou a
circunscrever a análise de livros didáticos de educação de jovens e adultos dentro do
âmbito da produção geral de títulos das editoras e a comparar aspectos da sua edição em
relação a obras da primeira escala de prioridades: livros destinados a escolas privadas e
livros para o PNLD.
A tarefa relativa ao como analisar foi perseguida tomando-se como referencial
teórico os autores que me foram apresentados sobretudo na disciplina “História do livro,
do livro didático e dos impressos pedagógicos” do curso de mestrado do programa
Educação: História, Política, Sociedade. Autores como Roger Chartier (1996; 1998; s.d.),
Robert Darnton (1990), Gimeno Sacristán (1998; 2000; s.d.), Michael Apple (1995)
2
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/eja/legislacao/parecer_11_2000.pdf>
dedicam-se a estudar o livro didático ou material didático impresso, entre outros temas.
Um conceito caro extraído desses dois primeiros autores foi o de materialidade. Abarcar
esse conceito na investigação requer que se considere que os aspectos materiais de que
uma obra didática se compõe (autoria, título, capa, formato, cores, imagens, número de
páginas, tipologia, papel, tiragem) são dispositivos que corporificam estratégias ou táticas
dos agentes que a produzem e que eles, ao mesmo tempo, pressupõem expectativas e
competências do leitor. Essa linha de argumentação é também tributária Michel de
Certeau (2002), que considera como práticas culturais não só a produção do livro, mas
também a leitura e a subseqüente apropriação que o leitor faz da leitura.
[…] neste trabalho considera-se que livro não é apenas um conjunto de idéias,
mas um objeto constituído de dispositivos materiais e que agrega práticas —
ações e relações humanas — tanto em sua produção quanto no uso que dele se
faz. (TAKEUCHI, 2005, p. 75)
Gimeno Sacristán (2000) afirma que a educação deve ser compreendida em três
instâncias, pelo menos: a atividade educacional; o conteúdo; os agentes e outros
elementos que determinam a atividade e o conteúdo. Nesse sentido, os livros didáticos
entram como um elemento que determina a atividade do professor e o conteúdo aplicado
em sala de aula. Dentro do esquema de currículo em processo por ele concebido, o livro
didático seria o currículo planejado conforme ressignificações que os editores fazem
mediante a sua leitura do currículo prescrito conjugada a fatores de natureza diversa,
como a premência de lançamentos, o seu envolvimento com certos grupos de autores, os
limites financeiros [exemplos meus]. Por sua vez, o currículo se realiza na sala de aula,
mediante determinações concernentes a esse âmbito de ação.
No tocante à relativa baixa oferta de títulos didáticos para EJA, também é
importante destacar que ela pode ser resultado da incipiente ação do Estado no
direcionamento de políticas públicas para esse segmento de ensino:
Nosso entendimento é que é esse distanciamento do Estado em relação às ações de
EJA que configura a dispersão de materiais didáticos dedicados a essa modalidade
de ensino: dadas as grandes Editoras comerciais, somente duas delas tinham, na data
da realização deste trabalho, título de EJA; os outros exemplares colhidos na
pesquisa eram publicações resultantes de iniciativas diversas, como ONGs (a de
maior repercussão era a coleção da organização não-governamental Ação Educativa,
inicialmente lançada em parceria com o Inep), associações de professores, Editoras
regionais. (TAKEUCHI, p. 33)
As duas editoras mencionadas foram a Ática e a FTD, e a referida análise material
ocorreu com base em exemplares dessas duas editoras.
Duas editoras apenas
Num primeiro momento, foram identificados vinte e três títulos de livros didáticos
para EJA; cada título composto de um ou mais volumes, dispersos nos mais diversos
formatos, com conteúdos também variados, produzidos em diferentes regiões do país.
(TAKEUCHI, p. 66-68). Além desses títulos,
sem dúvida havia inúmeros outros, os
quais não foram considerados por não terem sido localizados devido à catalogação
limitada nos veículos formais ou mais consagrados, como a que ocorre com os títulos
didáticos do ensino regular. Verificou-se também um grande número de livros ofertados
para o professor, para a sua prática em sala de aula, e não para o aluno usar. Como o
objetivo era a comparação com livros didáticos do ensino regular, esta última modalidade
de material, elaborada apenas para o professor, foi descartada na pesquisa.
Serão considerados nessa categoria os materiais didáticos que se destinam à EJA
e produzidos por Editoras diversas, que se componham pelo menos de livros para
o uso do aluno em sala de aula, e que não sejam simplesmente usados como
suporte da prática pedagógica pelo professor. Por causa do enorme volume de
materiais e pela dispersão, a identificação baseou-se, num primeiro momento, no
material que chegou fisicamente às minhas mãos no momento do
desenvolvimento deste estudo — quer via Editora Ática, quer nas visitas feitas
em escolas. (TAKEUCHI, p.66)
[...]
Reitero que, além desses títulos, deve haver uma infinidade de outros, dada a
configuração pulverizada em que se encontra esse segmento de ensino.
Diferentemente do que se verifica com os materiais didáticos destinados ao
ensino infantil, fundamental e médio, os livros dedicados à EJA são, em sua
grande maioria, resultantes de iniciativas dispersas em entidades nãogovernamentais, grupo de professores, sindicatos, escolas particulares, casas
publicadoras de difusão local. (TAKEUCHI, p. 69)
Contrariamente ao cenário que constitui a produção dos livros didáticos de ensino
regular, notadamente da que visa à participação nos PNLD, na qual ocorre o fenômeno da
concentração de editoras (Ática, Moderna, FTD, Saraiva, Scipione, Brasil, Ibep)3, a
produção e livros de EJA não seguia essa tendência: eles estavam pulverizados por
iniciativas dispersas. Das editoras que habitualmente participam do PNLD, apenas duas
delas contavam com títulos para EJA – como já enunciamos, as editora Ática e FTD.
Após a listagem do material de EJA disponível para consulta, a pesquisadora
checou se as outras Editoras com participação no PNLD tinham títulos para EJA.
A consulta ao catálogo das maiores Editoras comerciais e ao site das livrarias
Cultura e Saraiva entre o ano de 2003 e o mês de junho de 2004 levou a
pesquisadora a reafirmar a constatação de que apenas duas das maiores Editoras
comerciais possuem coleções para EJA: a Ática e a FTD. Se de fato alguma outra
Editora tem obras didáticas de EJA, não fazem sua divulgação em livrarias, nem
expõem seus títulos no site da empresa. (TAKEUCHI, p. 73)
Elementos da análise material
Neste trabalho, a análise se limitará a expor apenas dois dos aspectos que
configuram a materialidade de um livro: o autor e a seleção de conteúdos. A dissertação
contou com o estudo de outros aspectos, como formato, tiragem, acabamento, impressão,
preço, atividades, manual do professor, porém, para as finalidades da comunicação em
que este trabalho será veiculado, bem como considerando o seus limites, julgo bastantes
os aspectos selecionados.
Os livros de EJA escolhidos eram dedicados a cobrir a formação do ensino do
terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Portanto, para a análise comparativa,
foram selecionados livros dos mesmos ciclos do ensino regular.
Autores EJA Ática4
Autor
Título
Carlos Barros e Wilson R. Paulino
•Ciências (PNLD 2005)
Ciências (mercado privado)
EJA – Ciências
Geografia Crítica (PNLD 2005)
Geografia Crítica (mercado privado)
EJA – Geografia
J. William Vesentini e Vânia Vlach
3 Sobre a concentração das editoras nos programas governamentais, ver HÖFLING, Eloisa.de M. Notas
para discussão quanto à implementação de programas de governo: em foco o Programa Nacional do
Livro Didático. Educação & Sociedade, 21 (70): abr. 2000.
4 Ver na parte relativa a fontes, no final do trabalho, a referência completa das obras citadas.
Oscar Guelli
Claudino Piletti e Nelson Piletti
Maria das Graças Vieira e Regina Figueiredo
Eliete Canesi Morino e Rita Brugin de Faria
Matemática: uma aventura do pensamento
(PNLD 2005)
Matemática: uma aventura do pensamento
(mercado privado)
EJA – Matemática
História e Vida Integrada (PNLD 2005)
História e Vida Integrada (mercado privado)
EJA – História
Ler, entender, criar (PNLD 2005)
Ler, entender, criar (mercado privado)
EJA – Língua Portuguesa
Start Up (mercado privado)
EJA – Inglês
Autores EJA FTD
Autor
Título
Eduardo Martins e Demétrio Gowdak
Ciências; novo pensar (PNLD 2005)
Ciências; natureza e vida (mercado privado)
EJA – Ciências; natureza e vida
Geografia (PNLD 2005)
Geografia (mercado privado)
EJA – Geografia
A conquista da Matemática — Nova (PNLD
2005)
A conquista da Matemática — Nova (mercado
privado)
EJA – Matemática
História, sociedade & cidadania (mercado
privado)5
EJA História do Brasil (3º ciclo)
EJA História geral (4º ciclo)
Entre palavras —edição renovada (PNLD 2005)
Entre palavras (mercado privado)
EJA – Entre Palavras
Blow-Up (mercado privado)
EJA – Do It!
Sonia Castellar e Valter Maestro
José Ruy Giovanni, Castrucci e José
Ruy Giovanni Jr.
Alfredo Boulos Jr.
Mauro Ferreira
Dirce Guedes de Azevedo e Ayrton
Gomes
A leitura dos dados das tabelas nos indica que, em ambas as editoras, os autores de
EJA são os mesmos que os de certos materiais dedicados ao ensino regular, segundo a sua
suposta disciplina de atuação. Uma pesquisa um pouco mais detida no catálogo das
editoras ou mesmo o conhecimento prévio de livros didáticos em uso nos informam que
5 Esse autor não consta do Guia do PNLD 2005.
esses autores são, originalmente, detentores de obras didáticas do ensino regular, e não de
EJA.
Ao fazer um levantamento desses autores de obras de EJA, percebemos que eles
constam como autores também em outras versões de coleções — mercado e
MEC. Em alguns casos, ocorrem arranjos, como a supressão de um ou outro
sobrenome na capa, mas, de qualquer forma, a função da autoria é atribuída a
personagens de nomes já consagrados em livros didáticos de ensino regular. E
não a agentes de fato vinculados à prática do ensino de jovens e adultos, como a
especificidade da obra poderia aludir. (TAKEUCHI, p. 76)
[…]
Até aqui o estudo permitiu identificar que os autores de EJA não são
especializados na área e que os projetos não foram concebidos para EJA, mas
adaptados de material preexistente. E, dentro do espectro de intenções dos
editores, sublinho que, com base na análise do material selecionado, não houve a
busca por profissionais ligados à prática educativa a que os livros se
destinam.(TAKEUCHI, p. 81)
Importante notar também que, dadas essas características, trata-se de obras
fundamentalmente projetadas por editores, e não desenvolvidas por iniciativa de autores e
oferecidas aos editores. Acentua-se nesse aspecto a perspectiva assinalada por Gimeno
Sacristán mencionada anteriormente: os editores atuam como agentes nas mediações
entre o currículo prescrito e a sua realização. No caso, tais agentes entenderam que
estudantes de EJA requeriam o mesmo elenco de conteúdos dos estudantes do ensino
regular, porém
em formato e extensão condensados.
A análise do conteúdo das obras selecionadas também implica no entendimento de
que as duas editoras adotaram estratégias de simplificação, tendo como referência o
currículo do ensino regular. A título de exemplificação, segue o sumário de dois livros de
geografia da editora FTD concebidos para a 5a. e 6a. série6 e do volume de EJA, ambos
referidos na tabela anterior.
Sumário Geografia FTD mercado
5ª série
UNIDADE 1 — APRENDENDO CARTOGRAFIA 6
Capítulo 1 — A localização e a orientação 8
Capítulo 2 — As diferentes concepções sobre a Terra 16
Capítulo 3 — mapeando a Terra 30
Projeto 1 45
UNIDADE 2 — PAISAGENS 50
Capítulo 4 — A origem da Terra e das paisagens 52
6 Nomenclatura adotada no período, agora alterada para 6. e 7. ano, respectivamente.
Capítulo 5 — A vida modificando as paisagens 74
Capítulo 6 — As mudanças provocadas pela vida 104
Projeto 2 119
UNIDADE 3 — AS DINÂMICAS DA NATUREZA E A AÇÃO HUMANA: APROPRIAÇÃO DOS
RECURSOS E MUDANÇAS NOS RITMOS 122
Capítulo 7 — A dinâmica da atmosfera 124
Capítulo 8 — A dinâmica da água no planeta Terra 147
Capítulo 9 — A dinâmica do relevo 170
Projeto 3 189
Bibliografia e sugestão de leitura para os alunos 191
Atlas consultados nas pesquisas de mapa 191
6ª série
UNIDADE 1 — PARA ENTENDER O BRASIL 6
Capítulo 1 — A identidade brasileira 8
Capítulo 2 — A construção e a formação do território brasileiro 29
Capítulo 3 — As origens culturais do povo brasileiro 47
Projeto 1 63
UNIDADE 2 — O ESTUDO DO BRASIL E DE SUA POPULAÇÃO PELAS LINGUAGENS
GRÁFICA E CARTOGRÁFICA 66
Capítulo 4 — A localização do Brasil e a cartografia 68
Capítulo 5 — A dinâmica populacional brasileira 83
Capítulo 6 — Migrações 107
Projeto 2 124
UNIDADE 3 — AS REGIÕES BRASILEIRAS 126
Capítulo 7 — A identidade das regiões 128
Capítulo 8 — Amazônia Legal 135
Capítulo 9 — Nordeste 165
Capítulo 10 — Centro-Sul 191
Projeto 3 220
Sumário EJA Geografia FTD
UNIDADE 1 — APRENDENDO CARTOGRAFIA 5
Capítulo 1 — A localização e a orientação 6
Capítulo 2 — As diferentes concepções sobre a Terra 10
Capítulo 3 — Mapeando a Terra 18
UNIDADE 2 — PAISAGENS 50
Capítulo 4 — A origem da Terra e das paisagens 30
Capítulo 5 — A vida modificando as paisagens 43
Capítulo 6 — As mudanças provocadas pela vida 59
UNIDADE 3 — AS DINÂMICAS DA NATUREZA E A AÇÃO HUMANA: APROPRIAÇÃO DOS
RECURSOS E MUDANÇAS NOS RITMOS 68
Capítulo 7 — A dinâmica da atmosfera 70
Capítulo 8 — A dinâmica da água no planeta Terra 84
Capítulo 9 — A dinâmica do relevo 99
UNIDADE 4 — PARA ENTENDER O BRASIL 110
Capítulo 10 — A identidade brasileira 112
Capítulo 11 — A construção e a formação do território brasileiro 123
Capítulo 12 — As origens culturais do povo brasileiro 134
UNIDADE 5 — O ESTUDO DO BRASIL E DE SUA POPULAÇÃO PELAS LINGUAGENS
GRÁFICA E CARTOGRÁFICA 144
Capítulo 13 — A localização do Brasil e a cartografia 146
Capítulo 14 — A dinâmica populacional brasileira 155
Capítulo 15 — Migrações 172
UNIDADE 6 — AS REGIÕES BRASILEIRAS 179
Capítulo 16 — A identidade das regiões 180
Capítulo 17 — Amazônia Legal 183
Capítulo 18 — Nordeste 197
Capítulo 19 — Centro-Sul 209
Bibliografia e sugestões de leitura para os alunos 223
Atlas consultados nas pesquisas de mapa 223
Desses três sumários entendemos que o conteúdo distribuído em dois volumes do
ensino regular (terceiro ciclo) foi condensado num único volume de EJA (também de
terceiro ciclo). E o número de páginas do livro de EJA é exatamente o mesmo que o do
volume da 6a. série: 224 páginas. Isso foi conseguido por meio de cortes e reduções de
textos expositivos, atividades, imagens, tabelas.
É importante reafirmar que estratégias de simplificação de conteúdos foram
percebidas nas obras das duas editoras analisadas. Se observarmos o uso de imagens –
fotografias, esquemas e ilustrações – tabelas e mapas, também identificamos as mesmas
ações: reaproveitamento, redução ou corte, e não desenvolvimento de material específico
para os livros de EJA. Conteúdos que na obra original (de mercado ou PNLD) ocupavam
quatro ou mais páginas, por exemplo, foram enxutos e reproduzidos em passagens mais
breves.
A bateria de atividades também foi simplificada. De modo geral, na versão de EJA
optou-se por suprimir as atividades em grupo, de discussão e estímulo ao
desenvolvimento da competência oral, de partilha de informações baseadas na vivência
cotidiana, além de leituras complementares. No caso de obra de ciências da Ática, por
exemplo, eliminaram-se as atividades experimentais. Curioso é que se priorizaram
atividades “conteudistas”, calcadas no texto, o que contraria a concepção de ensino
preconizada na Proposta Curricular de Educação de Jovens e Adultos (2002), que
persegue a formação cidadã, a ação crítica e cooperativa para a construção do
conhecimento.7
7 PROPOSTA CURRICULAR PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. Brasília: MEC/SEF, 2002. v.3. p. 80-3.
A desarticulação em relação à proposta curricular específica exprime certa
irrelevância que os editores atribuem a esse documento no processo de edição,
contrariamente ao que se nota na produção de material para os PNLD, situação em que os
parâmetros curriculares são ao menos minimamente considerados.
Considerações finais
A exposição que se seguiu indica que os editores analisados conferem ao livros
didáticos de EJA um status de segunda linha. A produção desse material obedece,
portanto, a determinações diversas das dos dois produtos prioritários (livros para o
governo e para o mercado) e é viabilizada conforme a disponibilidade de tempo —
encaixando-se entre as programações principais —, de mão-de-obra e de verba. O
material é, portanto, um produto secundário. Os editores consideram que os
investimentos em livros para EJA sejam pouco atrativos e os relegam a plano secundário.
E, quando o fazem, dedicam menos recursos que os dedicados a seus produtos de
primeira linha. Além disso, não integram às obras as propostas curriculares atinentes a
esse público: o conteúdo, as competências e as habilidades específicas.
A inclusão de material didático dessa modalidade de ensino em programas do tipo
PNLD poderia suscitar mudanças no entendimento constatado e reformatar os conteúdos
de materiais didáticos, impondo uma reconfiguração da estrutura e da capacidade
produtiva das editoras, a exemplo do que os programas regulares, forçosamente ou não,
implicaram.
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