“bens privados” pelo setor público
Transcrição
“bens privados” pelo setor público
8º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) Área Temática 08: Política e Economia. Competição eleitoral e a provisão de “bens privados” pelo setor público subnacional. Italo Fittipaldi / UFPE 1 (VERSÃO PRELIMINAR) Gramado/RS, agosto de 2012. 1 Doutorando de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 2 Competição eleitoral e a provisão de “bens privados” pelo setor público subnacional. Resumo A conexão entre processo eleitoral e execução orçamentária constituiu-se em agenda de pesquisa consolidada na Ciência Política, composta por variados estudos acerca dessa relação causal. Todavia, o nível de agregação da variável dependente de parte dos trabalhos referenciados dificulta a identificação das relações de poder entre grupos societais e o Estado, sob a égide da competição política subjacente nos ciclos eleitorais. Por sua vez, desconsiderar, como variável explicativa, o diferencial institucional (majoritário e proporcional) do processo eleitoral inviabiliza a identificação de possíveis efeitos derivados da dinâmica própria dessas escolhas coletivas. Assim, em que medida a disputa pelo voto impacta a alocação de policies às clientelas específicas pelo setor público, no nível subnacional? Ou ainda, as restrições institucionais inibidoras da ilusão fiscal que expande o governo no tempo são suficientes para constrangem a magnitude da oferta de bens privados pelas administrações públicas estaduais? Visando responder essas questões o presente trabalho utilizou a despesa com salários e encargos no serviço público estadual brasileiro, no período de 1995 a 2010, como proxy para o fornecimento de “bens privados”, mensurando o efeito da competição eleitoral sobre a oferta desse tipo de bem. Os resultados encontrados sugerem a incapacidade do arranjo institucional, como prescrito no modelo do leviatã, de conter a expansão da burocracia pública. 1. Introdução. A conexão entre gastos públicos e processos eleitorais já adquiriu o caráter de canonicidade na ciência política onde, ciclos eleitorais, ideologia partidária, fragmentação do voto, tamanho da coalizão vencedora, dentre outros, compreendem uma prolixa literatura sobre o tema. Todavia, o nível de agregação da variável dependente de parte dos trabalhos referenciados – i.e. gasto público total – dificulta a identificação das relações de poder entre grupos societais e o Estado, sob a égide da competição política subjacente nos ciclos eleitorais. A abordagem das relações causais considerando certo nível de desagregação do gasto público, e.g, em funções do Estado ou classificações orçamentárias, como despesa de custeio, investimento, etc. embora se constituam avanço analítico para explicar as relações entre voto e gasto, ainda pouco esclarece acerca do conflito (re)distributivo entre segmentos societais exclusivos. Afinal, em que medida a competição eleitoral impacta a alocação de policies a clientelas específicas, a exemplo da burocracia pública? Ou ainda, as restrições institucionais inibidoras da ilusão fiscal que expande o governo no tempo são suficientes para constrangem a magnitude da oferta de bens privados pelas administrações públicas estaduais? 3 Visando responder essas questões, contribuindo assim para o aperfeiçoamento metodológico da literatura de ciência política brasileira sobre o tema 2, o presente trabalho buscou evidências empíricas do impacto do grau de acirramento na disputa eleitoral para os governos estaduais e para as assembléias legislativas sobre a dimensão orçamentária da burocracia pública regional. Admitindo como premissa a existência de ilusão fiscal, foram formuladas hipóteses conflitavas com a lógica prescrita pelo modelo do leviatã, para, por contraste, testar a adequação analítica dessa abordagem ao nível subnacional brasileiro. Objetivou-se explicar as relações entre o comportamento maximizador das burocracias estaduais, as escolhas coletivas, e da natureza distintiva do sistema eleitoral, sob a existência de um arcabouço institucional da regulamentação orçamentária – a exemplo da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Os resultados encontrados sugerem que, ao menos para o corte longitudinal adotado no estudo e para as variáveis selecionadas, as limitações impostas ao “leviatã” são ineficazes para a contenção de seu crescimento via expansão da oferta de bem privado às suas burocracias. Por sua vez, a estratégia empírica do trabalho consistiu em debruçar-se sobre a despesa com salários e encargos dos governos estaduais brasileiros e do Distrito Federal, no período de 1995 a 2010, a partir de dados em painel balanceado, perfazendo um total de 432 observações (T=16 e N=27). Obviamente, os modelos estatísticos adotados obedeceram a um padrão condizente com o perfil da distribuição dos dados e configuração de sua variância, considerando-se como referência para o teste das hipóteses de trabalho o modelo de regressão com o maior grau de ajuste dentre aqueles realizados. No mais, este artigo foi dividido em sete seções, incluindo esta introdução. Na seção 2 apresenta-se o legado analítico niskaneano para uma teoria da burocracia pública e sua relação com o gasto governamental. Nesta seção destaca-se ainda a categorização da despesa com a folha de pessoal do serviço público como produção de bem privado e o papel do voto como instrumento de revelação das preferências relativas do eleitor por policies, em conformidade com a natureza do processo eleitoral. Por seu turno, na seção 3 apresenta-se um panorama da evolução temporal da despesa com salários e encargos nos governos regionais e sua configuração interestadual. Já na seção 2 A literatura internacional apresenta alguns trabalhos referenciados sobre a abordagem da oferta de bens públicos e/ou privados em determinados mercados eleitorais. Cf. WANTCHEKON (2003) e DIXIT e LONDREGAN (1996). 4 4 detalha-se a estratégia empírica emprega no trabalho, com os seus resultados exibidos na seção 5. Na seção seguinte confrontam-se os resultados encontrados com as hipóteses de trabalho, e finalmente, na seção 7, são apresentadas as considerações finais do estudo. 2. Burocracia expansionista, preferências por políticas e as configurações do gasto público. O crescimento das burocracias públicas, e sua conexão com a teoria do gasto governamental, tem sido objeto de investigação sistemática nas ciências sociais, em boa medida, resultado da influência dos clássicos trabalhos de Wickell [1958 (1896)], Lindhal (1919), Musgrave (1959), Buchanan e Tullock (1962). Incorporando o legado epistemológico da ação de indivíduos racionais e maximizadores de sua função utilidade, herdado de Hobbes e Espinosa, no campo da filosofia política, e de Madison e Tocqueville, originário de uma proto-ciência da política, essa tradição de pesquisa visa explicar o crescimento da despesa pública mediante a expansão da estrutura organizacional do setor estatal a partir de processos decisórios em ambientes de nãomercado (cf. MUELLER, 2009). Todavia, foi apenas com Niskanen (1971), e sua inovação metodológica de restringir o foco de análise ao orçamento das agências governamentais, em vez de conectá-lo a definições de burocracia e perfis intra-organizacionais, que as bases para a formulação de uma teoria positiva da dinâmica burocrática do setor público fincou raízes. Essa estratégia analítica possibilitou desenvolver abordagens sobre a relação entre as agências governamentais e seu ambiente externo, lócus de definição de seu volume orçamentário e onde é arbitrada a repartição dos recursos públicos 3. Apesar de haver reformulado alguns pressupostos de sua abordagem inicial, o ponto fulcral do estudo foi mantido por Niskanen (1994, 1991), onde o nexo causal do crescimento do gasto público deriva do comportamento maximizador da burocracia estatal. Assim, “apesar dessas transformações o trabalho de Niskanen teve profundo impacto na trajetória da teoria burocrática. Enquanto anteriormente a inclinação natural era ver a burocracia como uma organização complexa sujeita a um conjunto emaranhando de autoridades, eleitores e pressões, os teóricos no mundo pós-Niskanen tem sido inclinados a ver a burocracia como ele a viu, um órgão unitário orientado por 3 Nesse aspecto o trabalho de Niskanen constituiu um avanço ao estdu de Downs (1967)sobre burocracia, que que este autor centrou o foco de sua análise na dinâmica interna das agências de governo. 5 um objetivo único – e deslocando sua atenção da estrutura burocrática para sua relação [grifo nosso] com o legislativo”. (cf. MOE, 1997, p: 461-462). Ou seja, se por um lado a abordagem niskaneana encontrou no orçamento o lócus de materialização das escolhas alocativas, por outro, destacou a conexão entre a burocracia e a representação eleitoral dos cidadãos, incorporando à teoria a dimensão eleitoral do sistema político. No vácuo do desenvolvimento analítico dos estudos acerca da burocracia pública Brennan e Buchanan (1980) formularam uma explicação para o seu crescimento, e por extensão do aparato estatal, centrada na relação entre o aumento da oferta de bens público e a expansão da receita pública. Tal abordagem reproduz mutatis mutantis, a concepção de que a oferta gera sua própria demanda, como estabelecida pela Lei de Say, implicando no crescimento da burocracia estatal em razão da expansão dos bens e serviços públicos fornecidos aos cidadãos (oferta), cujo financiamento adicional será extraído dos próprios consumidores (demanda). O consumidor-eleitor, em decorrência da configuração da estrutura tributária, não vislumbra o custo marginal que lhe é imputado por esta oferta ampliada de políticas públicas, ignorando o peso fiscal da escolha por mais gastos. Essa “ilusão fiscal”, portanto, desencadeia expansões recorrentes do setor público e apenas com a adoção de restrições constitucionais (institucionais) seria possível “acorrentar” o leviatã estatal 4. Em estudo empírico realizado por Campbell (1994) a dinâmica do modelo do leviatã e o efeito limitador das regras constitucionais sobre o escopo estatal encontrou evidências em governos estaduais da costa leste dos E.U.A 5. Em período mais recente Mueller e Stratmann (2002) através de uma análise em perspectiva comparada destacaram a evidências de que a estrutura federativa de alguns países mantém uma relação inversa com o tamanho de seus governos. Outros estudos, como Alesina et. al. (1999) e de Hallerberg e Marier (2004), também destacam o papel regulador desempenhado por mecanismos institucionais sobre o processo de alocação de recursos públicos. Mesmo Nordhaus (1975), embora não tenha ancorado explicitamente sua análise no modelo do leviatã, incorporou sua premissa básica (ignorância do eleitor) na ausência de controles institucionais, e o conseguinte custo marginal de uma despesa 4 De fato, a concepção analítica da ilusão fiscal foi concebida inicialmente pelo economista italiano Amilcare Puviano, com a publicação em 1903 do livro Teoria della Illusione Finanziaria e desenvolvida. Posteriormente, trabalhos da tradição de pesquisa ligada à Public Choice desenvolveram modelos analíticos e abordagens empíricas acerca de tal fenômeno, destecando o papel do arranjo institucional para conter a crescimento do setor público. 5 O estado de New Hampshire introduziu regras constitucionais de limitações da carga tributária reduzindo a oferta de bens público, e por extenção o tamano do aparato estatal, vis-à-vis a de estados vizinhos. 6 ampliada, ao assumir que a ação oportunista dos governos para vencer eleições produz viés inflacionário. Essas abordagens derivadas do modelo do leviatã, e herdeiras do legado analítico niskaneano, caracterizam-se por centralizar o mecanismo causal da expansão do gasto público na definição da oferta de política pela burocracia estatal, desconsiderando, na decisão por despesas maiores, as conexões desta com as preferências alocativas do eleitor mediano. Ao abarcar a dimensão da demanda por políticas públicas tais modelos, em boa medida, restringem a análise às relações desenvolvidas no interior do “triângulo de ferro”, passando ao largo dos possíveis vínculos entre a dinâmica do sistema eleitoral, delineada por suas regras, e a (re)distribuição de bens públicos. Mesmo admitindo-se que as demandas por políticas não venham a ser atendidas pelos eleitos e sua burocracia, haja vista certo grau de discricionariedade dos agentes públicos em defini-las, ignorar em boa medida as “alianças pró-gasto” estabelecidas em campanha compromete a permanência no poder, no tempo. Essas teorias tipo “supply-side” negligenciam as pressões de demanda que deságuam na competição pelo voto para a configuração da provisão de bens pelo setor público, gerando fragilidade explicativa do nexo causal entre crescimento da burocracia e o gasto. Contemplar o conflito de interesse subsumido no processo eleitoral e sua conexão com reivindicações redistributivas da burocracia, incorporando à análise as regras de votação e a competição entre candidatos aos cargos eletivos, portanto, constitui um esforço metodológico para aperfeiçoar a explicação da dinâmica definidora das conformações (re)distributivas dos recursos públicos. As resoluções de conflitos de interesse, como enfatizaram Persson e Tabellini (2002), também refletem poder político, e a transformação desse poder em execução orçamentária constitui a medida de sua afirmação. Destarte, qual o efeito do conflito de interesses resultante da simultaneidade da disputa por redistribuição de policies entre burocratas, eleitores e a de candidatos, empreendida em um ambiente de regulamentação orçamentária, sobre o Estado em ação? O impacto expansionista sobre o gasto público do auto-interesse da burocracia manifesta-se materialmente na dimensão da folha de pessoal do serviço civil. Assim, se faz necessária estabelecer uma demarcação conceitual acerca da natureza dos bens ofertados pelo setor público, distinguindo-os entre aqueles considerados públicos daqueles que se classificam em outra categoria. Ou seja, uma etapa necessária na 7 abordagem empírica consiste na categorização da despesa com salários e encargos do funcionalismo público. 2.3 Despesa de pessoal: bem de clube ou bem privado? Em linhas gerais, a distinção entre bens públicos, em sua forma pura, e bens privados, consiste na tríade indivisibilidade, não-exclusão e não-rivalidade, da qual o primeiro é constituído, mas não estão presentes no segundo. Gradações e configurações ente a forma pura de bem público e bem privado foi objeto de abordagens teóricas e empíricas, a exemplo de Olson [1999 (1965)], Hardin (1982), Hampton (1987), Ostrom (1990), dentre outros, com a teoria dos clubes podendo ser inseridas entre esses esforços analíticos. Assim, a categorização de bens de clube, parte integrante da teoria do bem público “misto”, consiste de um caso intermediário entre os bens públicos puros e os bens privados, tendo como diferencial constitutivo entre eles a exclusão de seu consumo. Enquanto o bem público caracteriza-se pela impossibilidade de excluir consumidores de desfrutar do seu uso, o bem de clube é passivo de exclusão, pois há a possibilidade de indivíduos serem alijados de seu consumo, mesmo integrando o clube a que se destina a provisão desse bem. Por seu turno, o bem de clube, assim como o bem privado, possui acesso restrito ao seu consumo, porém, diferentemente deste último, mantém a característica de nãorivalidade. Ou seja, seu consumo por um indivíduo não reduz o consumo de outrem. A folha de pagamento dos servidores públicos seria categorizada, como defendeu Desposito (2006), como bem de clube. Entretanto, a existência de regras de controle orçamentário que recaem inclusive sobre o pagamento de salários e encargos do funcionalismo faz com que a expansão do consumo desse bem (folha de pessoal) restrinja o acesso de outros consumidores, aproximando-o da característica de rivalidade do bem privado. Destarte, neste trabalho, a despesa de pessoal é categorizada como bem privado 6. 6 Para uma exposição detalhada acerda das características entre bens públicos puros, mistos e bens privados cf. VARIAN (2000) e ORENSTEIN (1998). Para detalhes sobre a teoria dos clubes cf. BUCHANAN (1965). 8 2.4 O voto, a “micropolítica” e as (re)distribuições alocativas. Sob uma perspectiva schumpeteriana, os ciclos eleitorais se constituem em mecanismos de resolução temporária de conflitos em sociedades complexas. As diferentes pressões de grupos sociais sobre a configuração da oferta de bens e serviços pelo setor público encontram no mecanismo eleitoral um processo de arbitragem redistributivo, cuja seqüencialidade dá-lhe um caráter dinâmico. Embora não se constitua no único instrumento de regulação da repartição dos recursos públicos no tempo, a interação entre as preferências alocativas de segmentos sociais e a conformidade dos gastos de governo culminam quando da realização desse processo de escolha coletiva. Isto, por seu turno, o transforma, e a disputa subjacente à sua realização, em vetor de delimitação dos grupos “ganhadores” e “perdedores” no processo alocativo, redefinindo em favor dos primeiros o perfil da despesa pública. Não há como ignorar, portanto, o efeito da competição entre os candidatos por votos sobre o conjunto da provisão de bens pelo setor público, haja vista que “a maneira pela qual as autoridades políticas reagem às demandas ou prioridades econômicas dos eleitores, definem a “oferta” [grifo no original] de resultados econômicos” (cf. HIBBS, 1982, p: 427). Seja ancorado no conceito de expectativas adaptativas (e.g. NORDHAUS, 1975), na concepção das expectativas racionais (e.g. TUFTE 1978), ou ainda na ocorrência de gaps informações acerca do desempenho do grupo governante, como em Rogoff e Silbert (1988), a conexão entre processos eleitorais e a decisão sobre o gasto público se constitui importante procedimento de aferição das relações de poder e da amplitude redistributiva resultante do conflito por recursos. Assim, a distribuição de votos entre as diferentes candidaturas reflete, em boa medida, a manifestação das demandas do eleitor pela provisão de bens gerados pelo Estado, transformando a “negociação” no mercado eleitoral entre eleitor e candidato em pressão alocativa sobre as despesas públicas. Como a relação eleitor-candidato não está circunscrita aos cargos para o Executivo estadual, antes se amplia na direção do embate por cadeiras nos parlamentos regionais incorporando a natureza deste processo eletivo à estratégia de revelação de suas preferências por policies (cf. DESPOSATO, 2006, 2001). Ou seja, a análise do gasto público com clientelas específicas não pode prescindir de considerar a natureza do processo eleitoral (majoritário ou proporcional), tratando-a desagregadamente como 9 variáveis explicativas, pois a “micropolitica” constitutiva da competição proporcional pode ter efeitos distinto da macropolitica (competição majoritária) sobre a oferta de bem privado. O mecanismo de captação de votos nas eleições proporcionais possibilita a constituição de uma relação eleitor-candidato que transcende a estrutura partidária, fortalecendo estratégias personalistas e atomizadas (micro) para a revelação das demandas do eleitor, ao longo do processo eleitoral, acerca de que bens desejam que fossem ofertados pelo setor público. 2.4.1 Definindo as hipóteses. Como recurso metodológico na busca de evidências empíricas do modelo do leviatã, como definido por Brennan e Buchanan (op.cit.), à dinâmica de gasto dos estados brasileiros, optou-se pela formulação de hipóteses de trabalho contrárias às relações de causalidade derivada daquela abordagem teórica, considerando a vigência de regras de controle orçamentário. Assim, incorporou-se à análise a existência de ilusão fiscal e admitindo como premissa sua diluição com os mecanismos restritivos sobre a despesa pública (conforme prescrito por Brennan e Buchanan). As hipóteses formuladas, portanto, consistiram em uma derivação oposta daquelas que seriam afirmações extraídas da lógica do modelo analítico em teste, estabelecido-as como se segue: 𝐻𝐻1 = A natureza distintiva da competição eleitoral, por sua vez, produz efeitos diferenciados sobre a trajetória temporal da produção de bem privado pelos governos estaduais, no tempo. 𝐻𝐻2 = A micropolítica, subsumida no grau de concorrência de candidaturas em uma competição eleitoral proporcional, mesmo com a existência de regras de regulação do orçamento público, apresenta uma relação causal positiva sobre a dimensão orçamentária do bem privado folha de pessoal. A confirmação dessas assertivas pelos modelos estatísticos empregados desabilita explicações ancoradas na construção analítica do modelo do leviatã sobre a maximização da ação auto-interessada das burocracias estaduais, haja vista que de acordo com aquela abordagem o leviatã apenas seria domado mediante regras estabelecidas para limitação de se crescimento temporal. Diferentemente, a rejeição dessas hipóteses de trabalho formuladas implica na adequabilidade do modelo do leviatã para o comportamento regrado das burocracias estaduais, e por extensão do gasto público desses entes federados. Nas linhas que se seguem buscou-se elaborar um 10 desenho de pesquisa que viabilizasse a verificação empírica das questões objeto deste trabalho. 3. O padrão alocativo da despesa de pessoal. Nas duas últimas décadas as relações federativas no Brasil processaram-se sob uma singular simultaneidade de estabilidade macroeconômica, descentralização de políticas públicas, e regularidade dos ciclos eleitorais. Apesar de certo grau de reconcentração ocorrida em meados da década de 1990, como bem destacou Tavares (2005), o federalismo brasileiro ainda caracteriza-se por forte descentralização decisória (cf. RODDEN, 2006). A entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), impactando o processo de alocação de recursos na esfera subnacional, impôs limitações ao ímpeto discricionário sobre a despesa pública, mas, ainda assim, estados e municípios desfrutam de uma expressiva capacidade de escolha acerca de suas políticas 7. O ambiente de estabilidade macroeconômica possibilitou a configuração de processos de tomada de decisão sobre o gasto ancorado em cálculos estratégicos mais preciso (menos incerto) acerca do horizonte temporal e da efetiva disponibilidade de recursos para execução das preferências alocativas prevalentes. Com maior margem de manobra operacional na utilização dos recursos e relativa capacidade discricionária, os decisores públicos encontram seu risco gerencial não mais na dinâmica instável dos agregados macroeconômicos, mas no descompasso entre o relativo ordenamento das contas públicas e a possibilidade de exclusão do poder via processo eleitoral. Esse padrão singular do federalismo no Brasil em tempos recentes fortaleceu a conexão entre as decisões de políticas das esferas de governo subnacionais e as clientelas específicas do contingente de eleitores, onde, a adequação entre oferta e a demanda manifesta por políticas arbitra o ritmo de rotatividade no poder. Em outros termos, a capacidade decisória restaurada, associada à estabilidade econômica e à regularidade dos ciclos eleitorais, parece ter possibilitado configurações variáveis, porém expansionistas no tempo, para a produção de bens privados. A trajetória crescente da folha salarial do funcionalismo público, seja como resultado do aumento no número de servidores e/ou decorrente de reajustes salariais, parece ser resultado desta dinâmica. 7 Para uma exposição acerca dos objetivos de ordenamento fiscal subsumido na LRF cf. LEITE(2011). Já para os efeitos da LRF sobre a condução das finanças públicas estaduais cf. GAMA-NETO (2010), e sobre o nível de descentralização da federação brasileira cf. BOADWAY e SHAH (2009). 11 Destarte, observou-se que a evolução da despesa com servidores públicos estadual registrou uma expansão significativa na última década. A mediana do gasto agregada com a folha de pagamento de seus servidores ativos, quando se compara a observada no ano de 2010 com a registrada em 1995, apresentou um crescimento percentual de 182,1%, em termos reais, significando uma expansão real média anual em torno de 12% ao longo dessa série histórica (cf. Gráfico 3.1). Contudo, o crescimento absoluto do gasto com pessoal não foi um movimento federativamente uniforme, apresentando graus de expansão e variabilidade diversos, para além das capacidades econômicas das unidades da federação. Com os dados desagregados observou-se que, a exceção do DF, RJ, AP, PI, RS e SC, os demais governos estaduais (77,8%) no mínimo dobraram a despesa com salários e encargos no ano de 2010 em relação ao ano de 1995 (cf. Gráfico 3.2), sob uma variabilidade decisória que gerou oscilações entre 12% a 36% na dimensão absoluta da folha de pessoal (cf. Gráfico 3.3). Essa assimetria expansionista, por sua vez, possibilitou uma redução no diferencial das dimensões da despesa de pessoal entre máquinas administrativas de tamanhos distintos, em patamar superior à convergência de renda observada entre os estados brasileiros em igual período 8. Utilizando o coeficiente Gini para mensurar a desigualdade do gasto com pessoal para anos selecionados, vis-à-vis a assimetria do produto interno bruto entre os estados, observou-se uma trajetória descendente na desigualdade entre as folhas de pessoal estaduais, porém, de perfil menos contínuo que a redução nas desigualdades regionais. O coeficiente Gini do gasto com os salários do funcionalismo caiu 8,6%, passando de 0,549 em 1995 para 0,499 em 2010, ao passo que no mesmo período a desigualdade de produto interno bruto interestadual reduziu-se 5%, porém em patamares bem mais elevados (o coeficiente Gini caindo de 0,667 para 0,633). Não deixa de chamar atenção o fato de que a desigualdade do gasto com pessoal ter se mantido inferior a desigualdade de renda entre os estados brasileiros, apesar da existência de máquinas administrativas de dimensões tão diferenciadas como, e.g., São Paulo e Alagoas (cf. Gráfico 3.4). Essa “convergência” de gasto com servidores públicos, por tanto, parece afastarse de abordagens estruturalistas dos determinantes da despesa estatal, herdeiras do legado da clássica Lei de Wagner (cf. HENREKSON, 1994), e aproximar-se de 8 Não se constitui escopo deste trabalho uma digressão sobre a efetiva convergência de renda entre os estados e regiões brasilieros em anos recentes. Sobre este tema cf. RANDS(2011); PESSOA (2001) AZZIONI (2000). 12 explicações substancialmente políticas e de curto prazo para a produção de bens privados pelo setor governamental. Todavia, o grau de padronização institucional do processo de decisão coletiva no Brasil, subsumido no mecanismo de resolução temporária de conflitos – i.e. ciclos eleitorais – limita as explicações da dinâmica da produção de bens privados pelas administrações públicas estaduais, ao ignorar os microfundamentos do processo eleitoral, a exemplo da natureza do sistema de votação. Assim, nas linhas que se seguem buscaram-se algumas evidências empíricas dos efeitos da micropolítica, manifesta na competição eleitoral subsumida no sistema de votação (majoritário ou proporcional), sobre o perfil alocativa de bens de natureza excludente, pelo setor público subnacional. Em milhões de R$ de 2010 Gráfico 3.1 Evolução da Mediana da Produção Agregada de Bens Privados (Folha de Pessoal) pelos Governos Estaduais. 5.000 4.500 4.000 3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da Secretaria do Tesouro Nacional. Gráfico 3.2 Quociente de Expansão da Produção de Bem Privado (folha de pessoal) por UF. Período 2010/1995. 7,4 RR CE PB TO AM GO BA MG SE PE MT RN MS AL MA ES PA RO AC PR SP SC RS PI AP RJ DF 4,2 3,7 3,5 3,1 3,0 3,0 2,9 2,7 2,7 2,6 2,6 2,4 2,4 2,4 2,3 2,2 2,2 2,1 2,1 2,0 1,7 1,7 1,6 1,4 1,2 1,1 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da STN. 5,0 6,0 7,0 8,0 13 Gráfico 3.3 Coeficiente de Variação da Produção de Bem Privado (folha de pessoal) por UF. Período: 1995 a 2010. 40,0 36,4 35,0 29,0 30,0 24,0 25,0 % 25,3 22,3 19,3 20,0 16,0 15,0 13,6 14,0 15,8 25,0 24,3 19,1 18,4 18,0 17,6 15,5 15,1 22,2 21,5 21,1 20,6 16,4 15,1 15,6 12,0 12,4 10,0 5,0 0,0 AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da STN. Gráfico 3.4 Trajetória da Desigualdade na Produção de Bem Privado e no PIB das UF. 0,800 Coeficiente Gini 0,700 0,600 0,500 0,400 0,300 0,200 0,100 0,000 1995 1998 2000 2002 Bem Privado (Folha de Pessoal) 2006 2010 PIB Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da STN e IBGE. 4. A abordagem empírica e suas especificações. O conjunto de variáveis selecionadas para a busca de evidências empíricas do argumento em que se ancora o trabalho foi disposta em uma estrutura de dados de painel balanceado, abarcando os 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal, com corte longitudinal entre os anos de 1995 a 2010. Assim, originalmente, o painel de dados contemplou 432 observações, apresentando uma estrutura geral para os modelos empíricos, definida como: 14 𝑌𝑌𝑖𝑖𝑖𝑖 = 𝜋𝜋𝑖𝑖 + 𝑋𝑋′𝑖𝑖𝑖𝑖 𝛽𝛽 + 𝜀𝜀𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑖𝑖 = 1, 2, 3, … . . 𝑁𝑁 𝑒𝑒 𝑖𝑖 = 1, 2, 3, … . . 𝑇𝑇 (4.1) Com 𝜋𝜋𝑖𝑖 correspondendo aos efeitos aleatórios ou fixos do modelo de regressão do painel de dados, 𝑋𝑋′𝑖𝑖𝑖𝑖 sendo um vetor 1 x K da matriz de covariáveis, 𝛽𝛽 um vetor K x 1 dos parâmetros a serem estimados e ε𝑖𝑖𝑖𝑖 consiste no erro idiossincrático. A configuração das variáveis utilizadas, bem como a morfologia dos modelos estimados, buscou-se pautar pelo “princípio de Ockham” com o objetivo de evitar possíveis resultados de ajustamento “inflado” dos modelos pela quantidade de variáveis inclusas nas regressões. 4.1 Variável dependente Os primeiros passos na construção do modelo empírico foram i) delimitar conceitualmente e ii) parametrizar a variável dependente, a saber, a produção de bens privados. Utilizou como proxy para o explanadum o gasto público, em termos reais, com salários e encargos dos servidores ativos das administrações estaduais e mais a do Distrito Federal, haja vista que esta despesa pública é voltada para uma clientela específica, reduzida em relação a população total, e dotada de custos de execução difuso entre o contingente de contribuintes/eleitores. Assim, a folha de pessoal (i.e. gasto com salários e encargos), entende-se, se enquadra na categoria de bem privados, como estabelecida por Chhibber e Noorunddin (2004); já que “líderes [políticos] podem investir recursos na produção de bens públicos ou na produção de benefícios privados para seus partidários”, visando à permanência no poder (MESQUITA et. al. 2001: p.61). Estabelecida a proxy a ser utilizada na categorização de bens privados passou-se para a sua parametrização. A literatura é pródiga em estabelecer procedimentos para mensurar o gasto governamental, sendo a participação relativa desses no produto interno bruto (PIB) ou a proporção de um determinado tipo de despesa sobre o gasto total, as práticas metodológicas mais recorrentes para este fim, como bem destacou Sátyro (2006). Todavia, a adoção desta estratégia de medida encontra sua fragilidade operacional na possibilidade, não remota, de expansões relativas do gasto em razão de redução do PIB e/ou de corte de despesas que atinjam o montante total do dispêndio, mas que mantenha inalterada a magnitude de gastos específicos. Com isso, o objetivo de captar a “expansão” ou a “variabilidade” da política pública, como resultado da ação concreta de 15 stakeholders, torna-se inócuo. Destarte, por adequação conceitual, optou-se por mensurar a oferta (produção) de bens privados pela sua dimensão efetivamente observável, ou seja, mediante a utilização dos valores monetários reais absolutos do gasto público com salários e encargos ao longo da série histórica selecionada. 4.2 Variáveis independentes Para a escolha dos regressores buscou-se mensurar o impacto da disputa eleitoral em função da natureza do pleito sobre a provisão do bem privado folha de pessoal. Assim, procedeu-se uma desagregação do ciclo eleitoral entre processo eleitoral majoritário e o proporcional, com vistas a captar os possíveis efeitos de suas dinâmicas distintivas. Para o primeiro, utilizou-se competição eleitoral majoritária, medida pelo quociente da relação entre o número de votos do candidato primeiro colocado e o número de votos do segundo, no primeiro turno das eleições para governador. Já para a variável denominada de competição eleitoral proporcional, foi estabelecida como métrica o quociente da relação número de candidatos/cadeiras nas assembléias legislativas (e distrital); medida esta ainda subutilizada em trabalhos empíricos. Recorreu-se, por sua vez, a inclusão de variáveis de controle nos modelos de regressão visando maior consistência na identificação das relações causais. A escolha recaiu sobre as variáveis desenvolvimento econômico e repartição federativa de rendas, onde, no caso da primeira, sua unidade de medida foi o produto interno bruto per capita (PIB per capita) das unidades da federação (UFs), e na segunda, o Fundo de Participação dos Estados (FPE) 9. Com isso, objetivou-se levar em consideração o efeito das disparidades regionais sobre a magnitude da oferta de bens privados, bem como mitigar o efeito de possíveis problemas de receita própria dos estados mediante a estrutura de transferência de recursos intergovernamental. Além disso, a introdução do fluxo de transferência de rendas da União aos estados via FPE, dada a sua natureza 9 A utilização do PIB per capita como indicador de desenvolvimento econômico encontra longa tradição na literatura, embora pesquisadores da área da Economia do Bem-Estar critiquem sua utilização. Esses críticos entendem que esse indicador reflete apenas o comportamento monetário do produto, negligenciado indicadores mais específicos para a mensuração do desenvolvimento como qualidade de vida e educação formal da população (cf. RAVALLION, 1994; SEN, 1992 [2001]). Todavia, estudos na área de Economia Regional, também denominada de Economia Espacial, ainda reconhecem a validade da utilização do PIB per capita como indicador adequado para mensuração do desenvolvimento regional (cf. FUJITA, KRUGMAN e VENABLES, 1999 [2002]; SIMÕES, 2005). 16 constitutiva, viabilizou a incorporação de uma variável na construção dos modelos que abarca, também, a dimensão demográfica. Todas as variáveis monetárias inseridas nos modelos de regressão, por sua vez, foram transformadas em valores constantes, a preços de 2010, visando eliminar os efeitos das desvalorizações decorrentes do processo inflacionário e captar a sua efetiva variabilidade no tempo. Assim, estabelecida a morfologia das variáveis selecionadas, esperou-se encontrar a causalidade entre elas como definida na Tabela 3.1, abaixo: Tabela 4.1 Relação Causal Esperada entre as Variáveis. Variáveis Produção(oferta) de bens privado Proxy Relação Esperada Folha de pagamento do servidores públicos ativos das administrações estaduais. Variável dependente Competição eleitoral majoritária Quociente da relação entre o número de votos do primeiro colocado no primeiro turno e número de votos do candidato em segundo lugar. - Competição eleitoral proporcional Quociente do número de candidatos/cadeiras no parlamento estadual. + Ln do Fundo de Participação dos Estados (FPE). + Ln do PIB per capita - Repartição federativa de rendas Desenvolvimento econômico Fonte: Elaborado pelo autor. 4.3 A estratégia de mensuração. Os resultados dos testes de hipóteses para o painel de dados indicam que a presença do efeito de multicolinearidade não se constitui problema para a estimação do modelo, haja vista o fator de inflação da variância (VIF) ser inferior a 10. Porém, foi detectada a existência de heterocedasticidade e de autocorrelação de primeira ordem, ao 17 nível de significância estatística de 1%, conforme exposto na Tabela 4.3. Na seqüência, realizou-se o teste de Hausman (1978) para definir a melhor especificação do modelo, dentre a opção de efeitos fixos e aleatórios, cujo resultado exibiu um 𝑋𝑋 2 = 1.30 , resultando em 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 > 𝑋𝑋 2 = 0.8606 ; ou seja, como o valor do 𝑋𝑋 2 tabulado é inferir ao valor do obtido no teste de Hausman, ao nível de 5%, a hipótese nula de inexistência de diferença sistemática entre efeitos aleatórios e fixos é rejeitada, sugerindo a utilização desses últimos para a estimação de parâmetros consistentes e nãoviesados. Contudo, o resultado do teste de Hausman não permitiu rejeitar a hipótese nula ao nível de 10%, procedendo-se, assim, o teste do Multiplicador Lagrange (LM) de Breusch-Pagan para a observação de homocedasticidade no termo de erro do estimador de efeito aleatório. O resultado desse teste apresentou um 𝑋𝑋 2 = 2289,43 (𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 > 𝑋𝑋 ↑2 = 0.000), rejeitando-se, portanto, a hipótese nula de homocedasticidade no termo de erro, ao nível de 1% para os modelos de efeito aleatório (pressuposto primário para esse tipo de modelagem estatística), ratificando a opção por efeitos fixos. A presença de heterocedasticidade e autocorrelação no painel de dados implica em considerar esses fatores quando da estimação dos coeficientes de regressão, e prevalecendo a estratégia de utilização de modelo de efeitos fixos, a estimação via (4.1) implica que: 𝐸𝐸(𝑌𝑌𝑖𝑖𝑖𝑖 |𝜋𝜋𝑖𝑖 , 𝑋𝑋𝑖𝑖𝑖𝑖 ) = 𝜋𝜋𝑖𝑖 + 𝑋𝑋′𝑖𝑖𝑖𝑖 𝛽𝛽 (4.2) 𝐸𝐸(𝜀𝜀𝑖𝑖𝑖𝑖 |𝜋𝜋𝑖𝑖 , 𝑋𝑋𝑖𝑖𝑖𝑖 ) = 0 (4.3) Assumindo que: Então, com base em (4.3) acima: 𝛽𝛽 ∂Ε (𝑌𝑌 𝑖𝑖𝑖𝑖 |𝜋𝜋 𝑖𝑖 ,𝑋𝑋 𝑖𝑖𝑖𝑖 ) 𝜕𝜕 𝑋𝑋 𝑗𝑗 ,𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑗𝑗 = (4.4) Todavia, um dos objetivos da pesquisa consistiu em mensurar o impacto da competição política juntamente com o legado prévio da política de remuneração dos servidores. Por tratar-se de uma política pública sujeita à regulamentação estrita a 18 decisão do nível de oferta desse bem não é estabelecida sem ter sido considerada a magnitude de sua produção no período de tempo anterior. Ou seja, a execução passada da despesa com salários e encargos impacta em alguma maneira a decisão corrente sobre o seu nível de ofertada, no tocante à sua expansão 10. Assim, tornou-se necessária a estimação de um modelo de painel dinâmico, voltando para captar essa conjugação de variável temporal com variáveis de competição pelo voto do eleitor. Para tanto, foi necessária proceder a uma redefinição do modelo da equação (4.1), passando o mesmo a ser definido como: 𝑦𝑦𝑖𝑖𝑖𝑖 = 𝜋𝜋𝜋𝜋𝑖𝑖,𝑡𝑡−1 + 𝑥𝑥′𝑖𝑖𝑖𝑖 𝛽𝛽 + 𝜀𝜀𝑖𝑖𝑖𝑖 𝜀𝜀𝑖𝑖𝑖𝑖 = 𝜇𝜇𝑖𝑖 + 𝑣𝑣𝑖𝑖𝑖𝑖 (4.5) com, 𝐸𝐸[𝜇𝜇𝑖𝑖 ] = 𝐸𝐸[𝑣𝑣𝑖𝑖 ] = 𝐸𝐸[𝜇𝜇𝑖𝑖 𝑣𝑣𝑖𝑖𝑖𝑖 ] = 0 Assim, para eliminar os efeitos fixos presentes em (4.5), procedeu-se como segue: 𝑦𝑦𝑖𝑖𝑖𝑖 − 𝑦𝑦𝑖𝑖,𝑡𝑡−1 = 𝜋𝜋�𝑦𝑦𝑖𝑖,𝑡𝑡−1 − 𝑦𝑦𝑖𝑖,𝑡𝑡−2 � + �𝑥𝑥 ′ 𝑖𝑖,𝑡𝑡 − 𝑥𝑥 ′ 𝑖𝑖,𝑡𝑡−1 �𝛽𝛽 + 𝜀𝜀𝑖𝑖𝑖𝑖 − 𝜀𝜀𝑖𝑖,𝑡𝑡−1 (4.6) Podendo (4.6) ser reescrita como: Δ𝑦𝑦𝑖𝑖𝑖𝑖 = 𝜋𝜋Δ𝑦𝑦𝑖𝑖,𝑡𝑡−1 + Δ𝑥𝑥′𝑖𝑖𝑖𝑖 𝛽𝛽 + Δ𝑣𝑣𝑖𝑖𝑖𝑖 (4.7) Como a variável dependente da equação (4.6) apresenta um componente endógeno, já que 𝑦𝑦𝑖𝑖,𝑡𝑡−1 é correlacionada com 𝑣𝑣𝑖𝑖,𝑡𝑡−1 , recorreu-se a utilização de variáveis instrumentais (VI), através da inserção de lags da variável dependente defasada no modelo de estimação, em dois estágios, para eliminar essa correspondência. É importante mencionar, contudo, que a fragilidade explicativa das estimações mencionadas acima consiste na possibilidade em ter uma variável de indicação significativa decorrente de um viés do modelo por omissão de variáveis relevantes, as quais poderiam alterar a morfologia da relação causal desde que estivessem inseridas na estimação. 10 Para uma abordagem do legado prévio da política pública (policy feedback) e seus efeitos sobre o processo decisório corrente cf. SÁTYRO (2008); ARRETCHE (2002); WILDAVSKY (1992); SCKOPOL e AMENTA (1986). 19 5. Os resultados. Destarte, com base nos testes realizados, os modelos empíricos para a identificação da relação causal entre competição eleitoral e provisão de bens privados foram dispostos na Tabela 5.2, a seguir, juntamente com as medições de robustez de cada modelo testado. Tabela 5.1 Estatísticas Descritivas das Variáveis Selecionadas. Variáveis N. de Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Bem Privado (Ln Folha de Pessoal) 432 21.76 1.04 18.60 24.56 Competição Eleitoral Majoritária 432 1.72 0.99 1.01 7.96 Competição Eleitoral Proporcional 432 10.10 4.45 3.97 26.88 Repartição de Rendas (Ln FPE) 432 20.58 0.69 18.76 22.25 Desenv. Econômico (Ln PIB per capita) 432 2.27 0.56 0.89 3.99 Fonte: Elaborado pelo autor. Tabela 5.2 Testes de Verificação de Multicolinearidade, Heterocedasticidade e Autocorrelação no Painel de Dados. Testes Multicolinearidade* Heterocedasticidade** VIF (Médio) LM Breusch-Pagan 1.67 21.11 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 > 𝑋𝑋 2 0.000 Autocorrelação*** Arellano-Bonder AR(1) 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 > 𝑧𝑧 -3.129 0.002 Fonte: Elaborado pelo autor. Nota: * 𝐻𝐻0 = 𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉 > 10 ; ** 𝐻𝐻0 = Os distúrbios não são heterocedásticos; *** 𝐻𝐻0 = Não existe autocorrelação de primeira ordem. A relação causal mapeada neste trabalho foi submetida a quatro modelos de regressão com vistas à observância, e consistência, de regularidades empíricas do efeito da disputa pelo voto sobre o explanandum. Na coluna [1] da Tabela 5.3 foram exibidos os resultados gerados através do modelo de estimação de Efeito Fixo (EF) com autocorrelação serial de primeira ordem – AR(1). A utilização deste modelo objetivou 20 eliminar os efeitos de heterocedasticidade individual e de correlação dos termos de erro, anteriormente detectados. Assim, seguindo este mesmo diapasão metodológico para as demais estimações, foram discriminados na coluna [2] e na coluna [3] os resultados das regressões com o estimador Prais-Winsten com AR(1) e sem a utilização da variável dependente defasada entre os regressores, e o estimador Paris-Winsten com lag(1) e sem autocorrelação, respectivamente. Por fim, na coluna [4] expuseram-se os resultados obtidos a partir da utilização do estimador através do Sistema do Método dos Momentos Generalizados (GMM) 11. Em todas as estimações efetuadas o grau de competição nas eleições majoritárias para o Executivo estadual apresentou-se estatisticamente significante, com o sentido da relação causal (sinal do regressor) sendo o esperado, porém, com níveis de consistência estatísticos variados. Por seu turno, a concorrência por uma cadeira no parlamento das unidades da federação também se mostrou significante ao nível de 1% e com o efeito previsto sobre o explanandum, nos modelos da coluna [1] e [4]. Por outro lado, esta variável não se mostrou estatisticamente significante no modelo da coluna [2], mas atingiu significância, ao nível de 5%, mediante a utilização do estimador Prais-Winsten com efeito fixo, variável dependente defasa e sem autocorrelação (cf. coluna [3]); porém, o sinal da relação causal não foi o esperado, tendo sido invertido do observado na regressão do modelo da coluna [1], embora dotado de menor robustez estatística. Destacou-se, contudo, a consistência do modelo do estimador Blundell/Bond (coluna [4]). Todas as variáveis inclusas na regressão, ao contrário do verificado nos demais estimadores, mostraram-se estatisticamente significante ao nível de 1%, inclusive as variáveis defasadas (L.1, L.2 e L.3). Os testes estatísticos para a verificação da inexistência de autocorrelação serial de segunda ordem (𝑀𝑀2 ), bem como para a observância da adequação dos instrumentos utilizados na estimação, mostraram-se, ambos, estatisticamente robusto 12, apontando para o bom ajustamento desse modelo. Ademais, a estimação via o Método do Momento Generalizado (GMM), processou-se com um número menor de observações que a dos outros modelos de regressão, 11 A utilização do sistema GMM pressupõe a existência de processo estocástico estacionário nas séries utilizadas no modelo, onde é fortemente correlacionado com sua diferença (𝐻𝐻0 : 𝛽𝛽𝑖𝑖 = 0 ∀ 𝑖𝑖), enquanto a hipótese alternativa admite a existência de raiz unitária em algumas séries. Destarte, procedeu-se a verificação da existência de raiz unitária para dados de painel através do teste ADF (Dickey-Fuller Aumentado) e o teste desenvolvido por Kwiatkowski,Phillips,Schimidt e Shin (1992) – (denominado deteste KPSS), onde foi corroborada a existência de estacionaridade na série. Os resultados desses testes foram expostos no Anexo deste trabalho. 12 A hipótese nula da inexistência de autocorrelação de segunda ordem e adequação dos instrumentos foi acatada mediante a realização dos testes Arellano/Bonder e de Sargan, respectivamente. 21 consubstanciando, em certa medida, seu bom ajustamento. A sua consistência parece sugerir que a estimação com a variável dependente em primeira diferença, para a abordagem aqui desenvolvida, é mais adequada que utilizá-la em nível, como nos modelos das colunas [1] a [3]. Por seu turno, a variável repartição federativa de rendas e a variável desenvolvimento econômico, apresentaram significância estatística, ao nível de 1%, em todos os modelos da Tabela 5.4. O sentido da relação causal da repartição federativa de rendas foi positivo em todos os modelos, comportando-se como o esperado, ao passo que a variável desenvolvimento econômico apresentou sinal negativo no resultado do estimador GMM (coluna [4]), diferentemente dos demais, porém, em conformidade com o esperado. Assim, dada à robustez do modelo Blundell/Bond, a identificação de uma relação funcional inversa entre desenvolvimento econômico e a dimensão do gasto com salários do funcionalismo público estadual, sugere que esta relação causal seja, de fato, a mais condizente com a realidade do impacto desta variável sobre o explanandum. Em todo caso, ficou evidenciada a adequação da escolha de repartição federativa de rendas (tendo como proxy o FPE) e de desenvolvimento econômico (referenciada pelo PIB per capita) como variáveis de controle, haja vista o comportamento esperado para ambas e o nível significância obtido no modelo de regressão com o melhor ajustamento estatístico. 22 Tabela 5.3 Competição Eleitoral e a Produção de Bens Privados pelos Governos Subnacionais. (Variável dependente: Ln da Folha de Pessoal) Variáveis / Modelos [1] [2] [3] [4] -0.0241* -0,0258* -0.0408*** -0.0374*** (0.0134) (0.0147) (0.0129) (0.0077) 0.0289*** -0.0128 -0.0247** 0.0437*** (0.0081) (0.0114) (0.0108) (0.0038) 0.2099*** 0.4091*** 0.4601*** 0.0781*** (0.0575) (0.1000) (0.0867) (0.0105) 0.7556*** 0.7114*** 0.7381*** -0.1788*** (0.1178) (0.1310) (0.1061) (0.0477) L.1 - - 0.4107*** (0.1060) -0.1837*** (0.0117) L.2 - - - -0.3282*** (0.0103) L.3 - - - -0.1035*** (0.0128) 15.4778*** (0.3731) 11.1344*** (2.0355) 9.9739 (0.7210) -2.5471*** (0.5812) Omitido. Omitido. Omitido. Não. 405 0.27 0.33 0.36 34.27 0.000 0.66 0.95 - 432 0.98 16892.24 0.000 0.41 - 405 0.95 1.34e+06 0.000 - 324 - Comp. Eleitoral (majoritária) Comp. Eleitoral (proporcional) Repart. de Rendas Federativas Desen. Econômico Constante Efeito Fixo para os estados Observações 𝑅𝑅 2 𝑅𝑅 2 (within) 𝑅𝑅 2 (between) 𝑅𝑅 2 (overall) F 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 > 𝐹𝐹 Wald 𝜒𝜒 2 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 > 𝜒𝜒 2 Rho(ar) Rho(fov) Teste de autocorrelação (𝑀𝑀2 ) 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 > 𝑧𝑧 Teste de Sargan 𝜒𝜒 2 𝑃𝑃𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 > 𝜒𝜒 2 3316.69 0.000 -2.952 0.7678 24.113 0.9878 Fonte: Elaborado pelo autor. * p < 10%, **p < 5%, ***p < 1% e o erro padrão entre parênteses. Nota: [1] Estimador de Efeito Fixo (within), com autocorrelação AR(1); [2] Mínimos Quadrados Generalizados Factível (FGLS) com estimador Prais-Winsten, com efeito fixo, sem lags, e com autocorrelação AR(1); [4] Mínimos Quadrados Generalizados Factível (FGLS) com estimador Prais-Winsten, com efeito fixo, lag(1), e sem autocorrelação; [4] Estimador de Sistema GMM de Painel Dinâmico (Blundell/Bond) em dois estágios. Em todos os modelos as variáveis expressas em valores monetários foram inclusas em logaritmo natural. 23 6. As hipóteses e as evidências. Os resultados gerados a partir do modelo de painel dinâmico (Blundell/Bond) sugerem a confirmação das hipóteses de trabalho, implicando na negação dos efeitos restritivos de arranjos institucionais, previstos pelo modelo do leviatã, para a contenção do crescimento estatal em geral e da burocracia pública em particular. A disputa eleitoral, quando desagregada em função da natureza do sistema de votação, apresentou efeitos distintos entre a regra majoritária e a proporcional (sinais contrários). Embora a competição eleitoral para o cargo de governador tenha impacto negativo sobre a evolução da folha de pessoal, juntamente com as defasagens temporais da despesa com salários e encargos – como pelo referencial teórico em teste -, a disputa proporcional, entretanto, produziu um efeito expansionista na oferta desse bem privado, confirmando hipótese 𝐻𝐻1 . A ocorrência de efeitos diferenciados decorrentes da natureza da votação possibilita questionar a efetividade dos instrumentos de contenção da oferta de bem privado para as burocracias estaduais, haja vista que o impacto expansionista sobre a folha pessoal via ciclo eleitoral, ocorreu mesmo sob a vigência de estritas regulamentações orçamentárias, i.e. a LRF. Se a competição majoritária contribuiu para redução da despesa de pessoal, por sua vez, o embate proporcional, e a micropolítica que lhe é característica, opera gerando pressões expansionistas sobre aquele gasto, sugerindo a confirmação da hipótese 𝐻𝐻2 . Esses resultados parecem dar conta de que a ilusão fiscal per se não se constitui no leitmotiv para o crescimento do total dos gastos públicos nem de despesas para clientelas específicas. As demandas reveladas pelo eleitorado, subsumidas da distribuição de votos entre os candidatos, em especial nas eleições proporcionais, parecem mais expressivas na definição da conformação da oferta de bens pelo setor público estadual do que a baixa percepção do contribuinte acerca da estrutura tributária e de seu custo marginal. A capacidade das eleições proporcionais de contornar os controles de execução orçamentária impactando positivamente a despesa de pessoal, em magnitude superior ao efeito reducionista da disputa majoritária 13, sugere que o conflito redistributivo desempenha o papel impulsionador sobre o gasto público. Ademais, a existência de regras de execução orçamentária per se não dão conta do arrefecimento do 13 O leitor observe que o coeficiente da competição proporcional é ligeiramente suprior ao coeficiente da competição majoritária. 24 conflito redistributivo por recursos públicos e sua influência sobre a configuração da despesa. O mercado eleitoral nos estados, portanto, parece operar guiado pela lógica da prática de pork barrel, onde o comportamento de maximização de utilidades do eleitor, acompanhado da capacidade de articulação de segmentos específicos, pressiona pelo direcionamento da provisão de bens. Os resultados obtidos parecem ajustar-se a concepção de Persson e Tabellini de que “o poder político [capacidade de articulação] é particularmente importante quando se trata de política de interesse especial: concentração de benefícios e dispersão de custos gera incentivos muito desiguais na tentativa de influenciar as políticas públicas” (op.cit., p: 1554). Mais adiante destacaram ainda que “os grupos mais beneficiados por políticas públicas têm forte incentivos a se organizarem e constituírem poder político à custa de todos os outros. Isso altera os incentivos dos decisores públicos conduzindo a um equilíbrio distorcido de resultados, incluindo reconfigurações alocativas [grifo nosso] ou grandes gastos governamentais”. (ibid.). Ao se voltar a análise para o comportamento maximizador do eleitor, atuando no mercado eleitoral com vistas à consolidação de suas preferências alocativas, tornou-se possível deslocar da oferta para a demanda por políticas o ponto nevrálgico da conformação da despesa pública. Assim, mediante a observação dos efeitos da competição eleitoral – e a dinâmica da micropolitica – sobre o dispêndio estatal, encontrou-se alguma evidência empírica da limitação argumentativa do modelo do leviatã, sem a necessidade de aferir a efetiva ocorrência da ilusão fiscal. Ao contrário, mesmo considerando sua existência, a utilização de fatores explicativos meramente políticos parece desarticular o resultado analítico da suficiência do arranjo institucional para a restrição do gasto público. 7. Considerações finais. Este trabalho buscou encontrar evidências empíricas da insuficiência de arranjos institucionais para a geração de efeitos reducionista sobre o gasto público, como preconizado pelo modelo do leviatã, mediante a oferta de bem privado à burocracia governamental dos estados brasileiros. Recorrendo à utilização de dados de painel balanceado foi possível detectar, via o Método dos Momentos Generalizados (GMM), a 25 existência de efeitos causais diferenciados entre a competição eleitoral majoritária e a proporcional, sobre a despesa com salários e encargos das administrações estaduais – categorizada aqui como bem privado. O impacto positivo da disputa proporcional sobre a folha de pessoal, mesmo sob a existência de instrumentos restritivos para este tipo de despesa, parece sugerir que mecanismos de limitação da “voracidade perdulária” do leviatã, por si só, mostram-se ineficazes diante da conformação do mercado eleitoral. A revelação das demandas alocativas do eleitor aos candidatos, consubstanciada na competição pelo voto, produzem alianças pró-gasto que perpassam os controles de execução orçamentária. Pesquisas adicionais, contudo, necessitam ser elaboradas para abarcar variáveis que nesta etapa deste trabalho foram negligenciadas. O refinamento analítico, portanto, deve ser continuado com vistas novos testes empíricos. Referências Bibliografia: ALESINA, Alberto; HAUSMANN, Ricardo; HOMMES, Rudolf; STEIN, Ernesto (1999). “Budget institutions and fiscal performance in Latin America.” Journal of Development Economics, v. 59, pp. 253-273. AZZONI, C. R. (2000). “Geografia e convergência de renda entre os estados brasileiros”. In: Henriques R. (org.) Desigualdade e Pobreza. Rio de Janeiro: IPEA. ARRECTHE, Marta (2002). “Federalismo e relações intergovernamentais no Brasil: a reforma de programas sociais”. Dados – Revista de Ciências Sociais, vol. 45, nº 3, pp. 431-458. BARROS, Alexandre R. (2011). Desigualdades regionais no Brasil: natureza, causas, origens e soluções. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier-Campus. BOADWAY, Robin e SHAH, Anwar (2009). Fiscal Federalism: principles and practices of multioder governance. Cambridge: Cambridge University Press. BRENNAN, Geoffrey e BUCHANAN James M. (1980). The power to tax analytical: foundations of a fiscal constitution. New York: Cambridge University Press. BUCHANAN, James M. (1965). “An Economics Theory of Clubs”. Economica, New Series, vol. 32, issue 125, pp. 1-14. BUCHANAN, James M. e TULLOCK, Gordon (1962). The Calculus of Consent: logical foundations of constitutions democracy. The University of Michigan Press: Ann Arbor. 26 CAMPBELL, Colin D. (1994). “New Hampshire´s Tax-Basis Limits: An Example of the Leviathan Model”. Public Choice Review, 78, pp. 129-144. CHHIBBER, Pradeep e NOORUDDIN, Irfan (2004). “Do party systems count? The number of party and government performance in the Indian states.” Comparative Political Studies, vol. 37(2), pp. 152-187. DESPOSATO, Scott W. (2006). Preferências dos Eleitores e Incentivos dos Legisladores em Ambientes Eleitorais Diversos: O Caso dos Estados Brasileiros. In: Souza, C. e Neto, P. F. D. (orgs.) Governo, políticas públicas e elites políticas nos estados brasileiros. Rio de Janeiro: Revan, pp. 229-245. __________.(2001). Institutional Theories, Societal Realities, and Party Politics in Brazil. Ph.D. Thesis, University of California, Los Angeles. DIXIT Avinash. e LODREGAN, John. (1996). “The Determinants of Success of Special Interests in Redistributive Politics”. Journal of Politics, vol. 58, issue 4, pp. 1132-1155. DOWNS, Anthony (1967). Inside Bureaucracy. Boston: Little, Brown. FUGITA, M.; KRUGMAN, P.; VENABLES, A. [1999 (2002)] Economia especial: urbanização, prosperidade econômica e desenvolvimento humano no mundo. São Paulo: Ed. Futura. GAMA-NETO, Ricardo Borges (2010). “Análise do Impacto da Lei de Responsabilidade Fiscal nas Políticas Públicas dos Estados Brasileiros”. 7º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política, Recife. HALLERBERG, M. e MARIER, P. (2004). “Executive authority, the personal vote, and budget discipline in Latin America and Caribbean countries.” American Journal of Political Science, vol. 48, pp. 571-587. HAMPTON, J (1987). “Free Rider Problems in the Production of Collective Goods”. Economics and Philosophy, vol. 3, pp. 245-273. HARDIN, Russell (1982). Collective Action. Baltimore: The University John Hopkins Press. HAUSMAN, J. (1978). “Specification Testes in Econometrics”, Econometrica, 46, p.1251-1271. HENREKSON, Magnus (1993). “Wagner´s Law: a relationship spurious?” Public Finance / Finances Publique, 48(2), pp. 406-415. HIBBS, Douglas A. (1982). “On the Demand for Economic Outcome: Macroeconomic Performance and Mass Political Support in the United States, Great Britain, and Germany”. The Journal of Politics, vol. 4, nº 2, pp. 426-462. 27 KWIATKOWSKI, D.; PHILLIPS, P.C.B., SCHIMIDT, P. e SHIN, Y. (1992). “Testing the null hypothesis of stationarity against the alternative of a unit root”. Journal of Economics, 54, pp. 159-178. LEITE, C. K. da Silva (2011). “Federalismo, processo decisório e ordenamento fiscal”. Brasília: IPEA, Texto para Discussão nº 1593. LINDHAL, Erik [1967 (1919)]. “Just Taxation – A Positive Solution”. In: Musgrave R. e Peacok, A. (eds.), Classics in the Theory of Public Finance. New York: MacMillan, pp. 168-176. MESQUITA, B.B.; MORROW, J.D.; SIVERSON, R.; ALASTAIR, S. (2001). “Political competition and economic growth.” Journal of Democracy, vol. 12, nº 1, pp. 58-72. MOE, Terry (1997). “The positive theory of public bureaucracy”. In: Mueller, Dennis C. Perspective of Public Choice: a handbook. Cambridge. Cambridge University Press. pp. 455-480. MUELLER, Dennis (2009). “Public Choice: a survey”. In Buchanan, J. e Tollison, R.D. (eds.) The Theory of Public Choice – II. Ann Arbor: University of Michigan. pp: 23-67. MUELLER , Dennis C. e STRATMANN, Thomas (2002). “The Economic Effect of Voter Participation”. Journal Public Economics, vol. 87(9-10), pp. 2129-2155. PERSSON, Torsten e TABELLINI, Guido. (2002). “Political Economics and Public Finance”. In: Auerbach, A.J. e Fedelstein, M. Handbook of Public Economics, vol. 3, pp: 1549-1659. NISKANEN, William A. Jr. (1994). “A Reassessment”. In: Niskanen W.A. (ed.), Bureaucracy and Public Economics, Aldershot, UK, pp. 269-283. __________(1991). “A Reflections on Bureaucracy and Representative Government”. In: Blais, André e Dion, Stéphane (eds.) The Budget-Maximizing Bureaucrat. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press. pp. 13-32. __________(1971). Bureaucracy and Representative Government. Chicago: AldineAtherton. NORDHAUS, William D. (1975). “The Political Business Cycle.” In: Review of Economy Studies, nº 42, pp. 169-190. OLSON, Mancur Jr. (1999). A Lógica da Ação Coletiva. São Paulo, Editora Edusp. ORENSTEIN, Luiz (1998). A Estratégia da Ação Coletiva. Rio de Janeiro, Editora Revan. OSTROM, Elinor (1990). Governing the Commons: The Evolution of Institutions for Collective Action. Cambridge. The Cambridge University Press. 28 PESSOA, Samuel (2001). Existe um problema de desigualdade regional no Brasil? Encontro Nacional de Economia, Salvador/BA. PUVIANI, Amilcare [1973 (1903)]. Teoria della illusion finanziaria. Classici dell´economia politica. Milano: ISEDI. RAVALLION, Martin (1994). Poverty Comparisons. Chur, Switzerland: Harwood Academic Press. RODDEN, (2006). The Hamilton´s Paradox: the promise and peril of fiscal federalism. Cambridge: Cambridge University Press. SÁTYRO, N. G. D. (2008). Política e instituições e a dinâmica das políticas sociais nos estados brasileiros: uma análise após a redemocratização. Tese de doutorado, IUPERJ, Rio de Janeiro. SOUZA, Saulo Santos de (2008). A Fria Austeridade das Regras Fiscais Resiste ao Calor das Urnas? Oportunismo fiscal e contabilidade criativa nos estados brasileiros. Tese de Doutorado, PPGCP/UFPE, Recife. ________ (2006). Políticas nos estados brasileiros e gastos sociais: uma análise de série temporal com corte transversal – 1987 a 2002. In: SOUZA, C. e NETO, P. F. D. (orgs.) Governo, políticas públicas e elites políticas nos estados brasileiros. Rio de Janeiro: Revan, pp. 57-90. SEN, Amartya [1992 (2001)]. Desigualdade reexaminada. Rio de Janeiro: Ed. Record. SKOCPOL, T. e AMENTA, E. (1986). “State and Social Policies.” Annual Review of Sociology, 12, pp. 131-157. SIMÕES, Rodrigo (2005). Métodos de análise regional e urbana: diagnóstico aplicado ao planejamento. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar. Textos para Discussão nº. 259. WANTCHEKON, Leonard (2003). “Clientelism and Voting Bahavior: Evidence from a Field Experiment in Benin”. World Politics, 55 (3), pp. 399-422. TAVARES, Maria H. (2005). “Recentralizando a federação?” Revista de Sociologia e Política, nº 24, pp. 29-40. TUFTE, Edward (1978). Political control of the economy. Princeton/NJ: Princeton University Press. VARIAN, Hal R. (2000). Microeconomia: princípios básicos. Rio de janeiro. Editora Campus. WILDAVSKY, A. (1992). The new politics of the budgetary process. Boston: Little, Brown. 2nd ed. WICKSELL, Knut [1958 (1896)]. “A New Principle of Just Taxation”. In Musgrave R. & Peacock A. (orgs.), Classics in the Theory of Public Finance, London, Macmillan. 29 ANEXO Teste ADF de Raiz Unitária Tabela Anexa 1A. Variável Defasagem Estatística t p-valor Valor crítico 10% 5% 1% Ln Folha de Pessoal 1 -4.720 0.000 -2.570 -2.872 -3.446 Comp. Majoritária 1 -9.570 0.000 -2.570 -2.872 -3.446 Comp. Proporcional 1 -4.835 0.000 -2.570 -2.872 -3.446 Ln FPE 1 -4.815 0.000 -2.570 -2.872 -3.446 Ln PIB per capita 1 -4.870 0.000 -2.570 -2.872 -3.446 Fonte: Elaborado pelo autor. Nota: H0: ρ > 0 (existência de raiz unitária na série) foi rejeitada ao nível de significância de 1%. Teste processado com a constante e sem tendência na equação. Teste KPSS de Raiz Unitária Tabela Anexa 1B. Variável Estatística LM 1% Valor crítico 5% 10% Ln Folha de Pessoal 0.118 0.216 0.146 0.119 Comp. Majoritária 0.054 0.216 0.146 0.119 Comp. Proporcional 0.114 0.216 0.146 0.119 Ln FPE 0.115 0.216 0.146 0.119 Ln PIB per capita 0.111 0.216 0.146 0.119 Fonte: Elaborado pelo autor. Nota: H0: ρ < 0 (a série é estacionária) não foi rejeitada no nível de significância em negrito.