A Bíblia por fora
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A Bíblia por fora
PASCOM Pastoral da Comunicação Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Tarabai/SP www.iparoquia.com/nsaparecida - [email protected] A Bíblia por fora Artigo de: Valdir Cardoso (Manguinha) A Bíblia para quem a vê de fora, parece um livro como os demais. Porém, a “Bíblia Sagrada” ou “Sagradas Escrituras”, como aparece no frontispício, refere-se a uma biblioteca. O termo bíblia significa “os livros”, pois advém do termo grego bíblion (livro). Na Bíblia contém vários escritos autônomos, contendo em cada livro sua própria história que deve ser lida segundo o seu contexto histórico, gênero literário, intenção do autor, etc. A Bíblia pode e dever ser considerada na sua unidade para compreender o sentido e a razão pela qual é assumida pelos grupos religiosos. A Bíblia contém duas grandes partes. A primeira é chamada de Antigo Testamento, enquanto que a outra parte é titulada como Novo Testamento. Essa divisão é feita nas Bíblias de edição católica e protestante. Na Bíblia de edição judaica não há essa divisão, pois não se encontra a parte do Novo Testamento, ou seja, na edição judaica o Antigo Testamento é apenas Bíblia. Testamento significa uma “aliança atestada” entre Deus e o povo (berît). Para os judeus, a Aliança entre Deus e o povo foi selada por intermédio de Moisés e outras por intermédio de Abraão e Noé. Para os cristãos, essa Aliança foi renovada plenamente em Jesus Cristo (Novo Testamento). O Judaísmo não reconhece essa Aliança; por isso, não aceita os escritos do Novo Testamento. Antes de Jesus existiam duas versões da Bíblia no Antigo Testamento: a original em hebraico e a tradução grega, para os judeus de língua grega. A tradução grega incluía alguns livros a mais que o original hebraico. A Bíblia hebraica é o conjunto dos livros bíblicos escritos em hebraico. Os livros são organizados em três categorias: Torá, a lei (de Moisés) que são os livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio; Nebiîm, os Profetas anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis e os posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias; e os Ketubiîm, os Escritos que são: Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas. A Bíblia grega ou Septuaginta (abrev. LXX) é a tradução da Bíblia hebraica para o grego, efetuada nos séculos III-I a.C. Contém sete livros a mais que a Bíblia hebraica que eram lidos pelos judeus de língua grega. Com a conquista do Império Persa por Alexandre Magno, os judeus da “diáspora” e da Palestina passaram a falar o grego. No século III a.C., os judeus de Alexandria, começaram a traduzir a Bíblia para a língua grega. A lenda atribui a tradução a setenta sábios. Os sete livros são: Judite, Tobias, Eclesiástico, Sabedoria, 1 e 2 Macabeus e Baruc. Há também trechos nos livros de Daniel e de Ester. Esses sete livros e os trechos são chamados de livros deuterocanônicos, ou seja, canonizados num segundo momento. Os protestantes os chamam de apócrifos que significa escondido, oculto. Para os católicos, os apócrifos são os livros que não foram aceitos pela Igreja primitiva como livros inspirados por Deus. Exemplo: Evangelho de Tomé, Evangelho de Maria, etc. Os livros que os católicos consideram apócrifos, os protestantes chamam de pseudepígrafos, pois julgam que esses livros são inautênticos e a autoria não podem ser comprovadas. A Bíblia hebraica tem 39 livros e a Bíblia de tradução grega tem 46 livros. Os protestantes adotaram a maneira judaica quanto ao conteúdo do Antigo Testamento, contando 39 livros e mais 27 do novo Testamento. A Bíblia católica tem 73 livros (46 livros da grega mais os 27 do Novo Testamento). A opção católica se justifica porque os sete livros a mais faziam parte da Bíblia dos primeiros cristãos. Os livros da Bíblia são subdivididos em capítulos e versículos. A divisão em capítulo foi feita na Idade Média e a divisão dos versículos no início da Modernidade. As divisões não correspondem sempre ao sentido do texto e pode até ter diferença de uma edição para outra. Por isso, encontramos às vezes uma diferença nas Bíblias quando estudamos. Essa diferença é mais perceptível nas numerações dos Salmos de uma tradução para outra. As maiorias das pessoas não conhecem a Bíblia na língua original, apenas as traduções, pois essas línguas já não são usadas corriqueiramente. Mas, para estudá-la cientificamente é necessário conhecê-la no texto original. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico. Porém, alguns capítulos de Daniel (Dn 2, 4b- 7, 28) e alguns documentos citados em Esdras (Esd 4,8 – 6, 18; 7, 12-26), contam em idioma aramaico, língua irmã do hebraico e administrativa do Império Persa. Na Idade Média, a Bíblia foi copiada e revisada por especialistas, chamados “massoretas” (masorá = tradição), que hoje é usado nas sinagogas e estudos bíblicos. O Novo Testamento foi escrito no grego popular, o koiné (comum), que sofreu influências do aramaico, hebraico e de outras línguas semíticas. Por isso, o grego tem várias expressões semíticas. Exemplo: carne do hebraico basar significa pessoa humana ou prole, traduzido por algumas vezes por paixões corporais, sexuais, etc. A Vulgata é a versão latina da Bíblia elaborada por São Jerônimo, no século IV, a pedido do Papa Damaso. São Jerônimo realizou a tradução integral em latim, a língua do povo comum: a Vulgata (de vulgus, “povão”). Essa tradução foi aceita como tradução oficial da Igreja ocidental, oficializada pelo Concílio de Trento (1545–63). Depois do Concílio Vaticano II (1962-65), a Igreja Católica publicou a Nova Vulgata que corrige muitas vezes o texto traduzido por São Jerônimo, de acordo com os recentes estudos críticos. O texto oficial hoje é a Nova Vulgata. As primeiras traduções em línguas modernas surgiram após o movimento da Reforma na Igreja. Calvino, Lutero e os anglicanos ofereceram a Bíblia na língua do povo, ou seja, alemão, inglês, francês, etc. Na atualidade, as Bíblias católicas são traduzidas a partir dos originais hebraicos e gregos. A tradução bíblica feita pelos padres dominicanos em Jerusalém na École Biblique (Bíblia de Jerusalém) é bem aceita nas outras Igrejas cristãs devido ao caráter científico de suas notas e recursos e a fidelidade aos textos originais. Hoje surgem várias traduções em linguagem cotidiana ou popular. Porém, a simplificação lingüística, às vezes, empobrece a tradução. Na hora do estudo aprofundado, estas traduções apresentam o inconveniente de não deixar transparecer a estrutura e o colorido da língua original, escondendo particularidades interessantes, como jogos de palavras, os efeitos retóricos do texto original, etc. As Bíblias católicas contêm introduções e notas. As Bíblias protestantes não têm notas e introduções, ou quando se encontra é de tamanho bem mais restrito. As introduções e notas não são essenciais por não fazerem parte do texto bíblico. A Igreja utiliza no intento de garantir que as pessoas sem formação teológica encontrem na própria edição da Bíblia uma orientação para a leitura e interpretação, contrariamente à livre explicação urgida pelos protestantes. As notas e introduções são de ordem literária e histórica, tornando-se assim, interessante para os não-católicos. Além das notas e introduções, há obras que explicam a Bíblia passo a passo, chamadas de comentários ou glosas. Esses são preparados por estudiosos honestos que nos faz evitar os nossos próprios preconceitos e interpretações incontroladas. Exemplo: a “besta” do Apocalipse com o Papa, que na verdade pode ser uma referência ao imperador romano ou o termo “carne” com sexo, pois retrata sobre a condição humana. Os preconceitos e interpretações incontroladas desviamnos daquilo que a Bíblia quer nos expressar. Referência: KONINGS, Johan. A Bíblia por fora. In: A Bíblia nas suas origens e hoje. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. Pp. 11- 25.