Entrevista Revista Top Empresarial

Transcrição

Entrevista Revista Top Empresarial
Um uberabense sócio de multinacional
Valério Marega Jr. é um jovem empresário
uberabense de sucesso, que hoje é referência
no mercado financeiro brasileiro. Ele é
acionista de uma multinacional portuguesa na
área de investimentos e gestão de fundos,
focada em crédito privado, private equity,
voltado a pequenas e médias empresas com
receitas de até R$ 100 milhões/ano. A ASK
Financeira é ainda especializada em fusões e
aquisições, captação de capital, gestão de fundos e fundos de crédito ( FIDCs).
Como um dos principais sócios e atuando na unidade brasileira, Marega exerce
com muita competência a função de gestor de fundos de investimentos
estruturados, para pequenas e médias empresas. E nesta atividade, ele viaja por
todo Brasil, boa parte da Europa e claro, América do Norte, realizando contatos
de alto nível e atendendo a clientes dos vários segmentos econômicos.
De funcionário e aprendiz da profissão no início, Marega passou em pouco tempo
a proprietário, fundando em Uberaba a Renda Certa, uma boutique financeira que
tinha como atuação a corretagem de títulos e valores mobiliários, mercados
futuros, renda fixa, com clientes focados no agronegócio, especialmente fazendo
Hedge para commodities como café, soja, gado, entre outros.
Entre uma viagem e outra, Marega concedeu essa entrevista a revista Top
Empresarial.
Top Empresarial - Marega, fale-nos sobre a ASK e qual a sua origem.
Fundada em 2006, por 5 ex-executivos de bancos de investimentos, a ASK tinha
por objetivo atender a demanda de inteligência financeira para as pequenas e
médias empresas portuguesas. A empresa tomou corpo e visibilidade a partir de
2008, onde através de uma oferta privada de ações no mercado português, vendeu
30% do seu capital para mais de 20 famílias portuguesas, sendo essas, as 20
famílias mais importantes de Portugal.
A partir de 2008, a ASK começou a se internacionalizar abrindo escritórios em
São Paulo, Luanda na Angola, recentemente, em Madrid na Espanha e já está em
estudo a abertura de um escritório em Macau na China para 2013.
Hoje, a ASK conta com 55 profissionais e 4 escritórios.
TE - Onde a ASK atua, qual a sua expertise e tipos de clientes?
A ASK tem um portfólio de produtos bem diversificados e fortemente posicionados
como: Corporate Finance (fusões, aquisições, angariação de capital, emissão de
dívida, assessoria financeira, preparação de pequenas e médias empresas para o
mercado de capitais), Asset Management a qual sou o responsável, onde
buscamos rentabilizar nossos cotistas através de estratégias de longo prazo na
aquisição de participações em empresas dos setores de Health Care,
agronegócios, educação a distância e na estruturação de fundos de investimentos
em direitos creditórios (FIDCs). Atualmente, temos no Brasil mais de R$ 250
milhões sob gestão, Wealth Management, onde focamos na gestão de fortunas,
sendo que, essa área é tocada diretamente por sócios baseados em Lisboa com
representação em Genève na Suíça com foco na preservação de patrimônio,
processos sucessórios, diversificação de risco e principalmente, apresentação de
estratégias de investimentos baseadas exclusivamente no perfil do investidor. É
um produto feito sob medida, onde o cliente sempre será atendido por dois
sócios, Real Estate, onde procuramos oportunidades de fornecimento de crédito
para pequenas e médias construtoras, estruturação e gestão de fundos de
investimentos imobiliários, emissão de CRI, CCI. As empresas brasileiras, com a
queda de juros, tendem naturalmente a desfazer de seus ativos imobiliários pois,
o capital ali empregado será muito melhor utilizado na própria empresa do que
mantendo no balanço, essa é uma nova tendência e está só começando no
Brasil.
TE - A ASK chegou ao Brasil, justamente no início do grande ”boom” de
crescimento, que coincidiu com o agravamento da crise europeia. Como a
empresa vê tudo isso e qual cenário ela vislumbra?
O Brasil criou no mês de março, mais de 150 mil empregos, mas temos grandes
projetos com problemas, em contratar pessoas, assim, com a crise europeia a
saida tem sido a importação de mão de obra qualificada. Nós só exportamos 11%
do nosso PIB.
O mundo não deixará de comer, afinal é nessa seara que somos os primeiros em
eficiência produtiva, pois temos ainda 100 milhões de hectares disponíveis, sem
tocarmos em um metro sequer da Amazônia e sem termos de fazer novos
desmatamentos.
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17/12/12
Revista Top Empresarial
desmatamentos.
O Brasil é o país mais ao oeste dos BRICS, o único com jurisdição conhecida,
quem reclama das leis brasileiras é porque nunca tentou fazer negócios na
Rússia, China, Índia ou como em no nosso caso, em Angola. O Brasil está numa
esplêndida situação. A demanda interna atualmente está nos níveis mais altos da
história.
Ou seja, a Europa com muito custo, crescerá de 0 a 0,5% e os EUA 1,5%.
O Brasil é uma economia de 2,5 trilhões de dólares, onde passamos
recentemente o Reino Unido. Temos 200 milhões de habitantes, estamos com full
employment e 65 milhões de pessoas acabaram de ingressar na classe
consumidora, ávidos por carros, geladeiras frost free, TV de plasma, smartphones,
casas, etc.
Somos os Estados Unidos no início do século, em termos de exploração de
recursos naturais, ainda estamos engatinhando na exploração de minério de ferro,
petróleo, etc. Em 2020 seremos o 2º ou 3º maior produtor de petróleo do mundo.
TE – Em sua visão, quais são os maiores entraves para o crescimento brasileiro?
Estima-se que em 2020, 75% da população brasileira estará na classe média, e
isso será uma revolução em termos de investimentos em energia, estradas, portos
e ferrovias. 80% da população brasileira mora a mais de 250 km da costa litorânea
e até hoje não temos navegação de cabotagem. O caminhão é o meio mais
ineficiente de transporte do mundo, e atualmente é a base da nossa economia,
isso precisa mudar já!
Em termos comparativos, um frete de Santos para a China custa U$ 25 por
tonelada em um navio do tipo Panamax (200 mil ton), se tivéssemos porto com
calagem suficiente para os Chinamax (400 mil ton), o custo cairia para U$15 por
tonelada. Do porto de Santos até Sorriso-MT por exemplo, o custo do frete por
tonelada chega a U$ 250, imagine quando houver ferrovia ligando os portos aos
centros produtivos, com o custo caindo para U$70, U$ 80 por tonelada, será uma
revolução de eficiência que suportará qualquer crise.
TE - Marega, vamos agora falar do seu “xodó” a Renda Certa em Uberaba.
Em 2000, fundei a Renda Certa Corretora em Uberaba onde atuava como corretor
de títulos e valores mobiliários, mercados futuros e renda fixa. Ainda nem se falava
em Bovespa naquela época, aliás muitos me chamaram de louco por investir
nesse ramo. Hoje, temos o mercado de capitais mais excitante do mundo.
Em 2005, vendi o meu portfólio para um banco de investimento americano
chamado Bulltick, baseado em Miami. Fui convidado para assumir a mesa de
commodities do banco em São Paulo, função que desenvolvi até meados de 2007
(período que acabou minha quarentena). No final de 2007, eu e meu ex-chefe
ajudamos a fundar e nos associamos à Latour Capital, empresa de investimentos
do Sr. Edgar Safdié (ex Banco Cidade e Banque Safdié em Genève na Suíça) e do
ex-presidente da Merrill Lynch, Sr. Alexandre Koch, onde assumi a posição de
gestor de commodities do fundo proprietário da empresa.
TE – Como a ASK chegou na sua vida empresarial?
No meio de 2008, depois de uma rápida viagem à Suíça, apresentando nossos
produtos ao mercado helvético, notei claramente um maior interesse dos suíços
por produtos financeiros brasileiros, imagine, o dinheiro estava em fuga dos EUA,
de retorno a tranquilidade Suíça e os suíços me pedindo pela primeira vez, em
anos, para falar pausadamente em português porque eles queriam se adaptar à
língua. Aquilo foi claramente um sinal: 50 % do dinheiro disponível para
investimento no mundo está baseado na Suíça e desses, estimava-se que 10%
poderiam mudar de continente, notadamente os países emergentes. Seriam vários
trilhões de dólares que iriam se movimentar nitidamente e logo imaginei que eu
poderia, ao invés de “operar”, oferecer produtos ao mercado. Assim, tomei a
decisão de montar juntamente com meu sócio, colega de Latour, Pedro Martins,
desta vez a Renda Certa Gestora de Recursos Ltda.
O início não foi fácil, porém tivemos o prazer de ter como clientes no nosso
primeiro fundo, o FIDC Agro MS, com rating AA, pela Standard & Poor’s e o grupo
português ASK. Essa relação que começou comercial terminou em casamento.
Somos um grupo onde cultivamos os mesmos valores: o respeito ao capital, a
seriedade e a tradição. Temos hoje os fundos Nutriplant FIDC, FIDC Policard I e
FIDC Policard II, Giroflex FIDC, FIDC Ponte Nova e estamos estruturando o
Mataboi FIDC. Na área de private equity, temos o ASK YSER I FIP do setor
florestal onde tenho o imenso prazer de ter o Eduardo Palmério como parceiro.
TE - Cite algum grande negócio intermediado ou realizado por você, que mereça
destaque nesta sua caminhada, tanto na ASK como na Renda Certa.
Consegui convencer o Sr. Walter Braga, ex-CEO e ex-acionista de referência da
Kroton Educacional (Grupo Colégios Pitágoras) a sair da aposentadoria e virar
nosso sócio na ASK, como executivo, o que pra mim traz bastante alegria por ter
uma pessoa de ótimo caráter, reputação excepcional e espírito elevado na
empresa. Além de sócio, ele é ainda um mentor e o melhor de tudo, um grande
amigo!
Tive o prazer de conhecer o Armínio Fraga, em 2005 intermediei a venda de parte
do capital da empresa uberlandense Policard para o Gávea Fundo de
Investimento. Armínio é sem dúvida, o maior financista brasileiro.
Ajudamos o Frigorífico Mataboi na reestruturação do passivo não sujeito a
recuperação judicial.
Lançamos com sucesso no ano passado, um fundo para o plantio de Pinus com o
viés de resinagem e captamos com esta ação R$ 200 milhões.
Vendemos parte significativa do capital do grupo de educação a distância
POSEAD ao grupo editorial português Leya. Temos alguns negócios relevantes no
forno, mas por enquanto isso é segredo. (risos)
TE- Nas suas andanças você teve a oportunidade de conhecer alguns pesos
pesados da nossa economia. Cite alguns deles.
O maior empreendedor do Brasil, Eike Batista, estive duas vezes com ele e sem a
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O maior empreendedor do Brasil, Eike Batista, estive duas vezes com ele e sem a
menor dúvida, ele será o homem mais rico do mundo em 20 anos, estive com o
Sr. André Esteves, CEO do BTG Pactual (na minha opinião), o maior banqueiro de
todos os tempos. Entrou no banco como chefe de TI e hoje é o que é. Tenho tido
muitos encontros com uberabenses, amigos antigos que hoje estão em grandes
posições aqui em SP e no mundo, como por exemplo, Guilherme Perondi, CEO
da seguradora Euler Hermes ligada a Allianz alemã, Antonio Neto, diretor do
HSBC, José Humberto Prata, diretor da Brasil Agro, empresa listada na Bovespa,
Roberto Abdala diretor da Odebrecht, Mário Della Libera, diretor de importante
empresa do setor moveleiro para lojas, Flávio Borges diretor da construtora CCR,
Rodrigo Caiado diretor da Policard, inúmeros advogados uberabenses renomados
na praça paulista, como José Mauricio Abreu, Marcelo Guaritá, Manoel Borges,
Luis Celso do Pinheiro Neto, dentre vários. O melhor de tudo é quando achamos
um tempo de organizarmos um encontro, parece que estamos todos em Uberaba.
TE – E como é a sua rotina no cargo de alto executivo de uma multinacional?
Nada de alto executivo, altos executivos só dão despesas altas para as
empresas, aliás, mais da metade dos altos executivos/CEOs que estão por aí,
nem deveriam estar sentados nesta posição, só voam de primeira classe, usam
ternos de US$ 5 mil, só andam com motorista e com uma secretária a tiracolo,
isso tudo é pago pelos pequenos acionistas que compram suas ações,
humildemente sentados em suas casas com o Home Broker aberto. Portanto, um
pequeno acionista antes de comprar ações de uma empresa, deveria ligar nela e
perguntar quanto ganha um cidadão desse, ele ficará espantado.
Sou um pequeno acionista do grupo e tive o privilégio de ser acolhido como único
sócio com idade abaixo dos 40. Dentre meus sócios, tenho o Sr. Henrique
Granadeiro, chairman da Portugal Telecom, Sr. Manuel Alfredo de Mello dono dos
azeites Andorinha, Família Pinto Basto com negócios desde 1771 na área
marítima, Família Carvalho, ex-donos da cervejaria Sagres, o instituto ISQ de
verificação de qualidade (700 engenheiros que prestam serviços como ISO).
A minha experiência com a comunidade portuguesa tem sido de aprendizado e
respeito. Tenho um imenso respeito por esse povo. Sem contar a enologia e a
gastronomia. A dieta mediterrânea tem seu valor e temos muito que aprender com
o povo português em termos de família, educação e respeito.
TE - Qual sua relação afetiva com Uberaba e a importância da sua família neste
contexto?
Brinco em São Paulo que Uberaba é a capital da América Latina em termos de
radar, quando se vem dos Estados Unidos ou Europa para São Paulo, no avião,
só aparece no radar (GPS do avião nas poltronas) o nome Uberaba. Ribeirão Preto
e Uberlândia ficam de fora e brinco com meus colegas que somos mais
importantes, por isso só dá Uberaba no radar. Brincadeiras a parte, em São Paulo
tudo que distancia mais de 150 km é longe para o paulistano, se não tem linha
aérea regular o pessoal já torce o nariz para visitar clientes e isso não se nota em
Uberaba. É um povo guerreiro, tradicional, com raízes fortes, quase colonizaram o
Tocantins, Pará, sem dizer Araçatuba.
Uberaba é a minha base de tudo, onde estão meus amigos de infância, onde
estão meus irmãos e, principalmente, onde estão meus pais, que me
proporcionaram absolutamente tudo o que sei hoje.
Se não fosse o comércio de peças do meu pai ali na Av. Marcus Cherém, onde
trabalhei desde os meus doze anos (com carteira assinada), atendendo o balcão,
limpando prateleiras, indo fazer o serviço de banco, iniciando o relacionamento
com fornecedores, cobradores, funcionários, eu não teria ido muito longe nesse
ramo. Consegui mesclar a simplicidade de um comércio varejista com a
sofisticação de um derivativo depois de muitos anos.
Enfim, o Valério Marega pai, é um visionário, sem dúvidas! Ele sim, foi um
empreendedor, aliás, é até hoje. Pessoa humilde, inteligentíssima, inquieto,
facilmente capaz de começar tudo de novo, já na casa dos 60 anos. A meus pais,
devo tudo e serei eternamente um devedor.
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