Unidade 3 -26-10-2011 - Nead - UFPR
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Unidade 3 -26-10-2011 - Nead - UFPR
PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Metodologia do Especialização em Educação a Distância Ensino Superior Maria Antonia de Souza Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira Cursos a Distância Especialização em Educação a Distância UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA NA EaD PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Dilma Vana Rousseff MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Zaki Akel Sobrinho Reitor Rogério Andrade Mulinari Vice- Reitor Maria Amélia Sabbag Zainko Pró-Reitora de Graduação - PROGRAD Sérgio Scheer Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação - PRPPG Elenice Mara Matos Novak Pró-Reitora de Extensão e Cultura - PROEC CIPEAD Laryssa Martins Born Pró-Reitora de Gestão de Pessoas - PROGEPE Paulo Roberto Rocha Krüger Pró-Reitor de Administração - PRA Coordenação de Integração de Políticas de Educação a Distância - UFPR Lucia Regina Assumpção Montanhini Pró-Reitora de Planejamento, Orçamento e Finanças - PROPLAN Rita de Cássia Lopes Pró-Reitora de Assuntos Estudantis - PRAE Coordenação de Integração de Políticas de Educação a Distância - CIPEAD Coordenadora EaD - UFPR e UAB Marinelli Joaquim Meier Coordenadora Pedagógica - CIPEAD Coordenador Adjunta UAB Gláucia da Silva Brito Coordenadora de Recursos Tecnológicos Sandramara Scandelari Kusano de Paula Soares Coordenação Glaucia da Silva Brito Coordenação de Tutoria: Vanessa do Rocio Godói Garret Belão Secretario Administrativo José Eduardo Klems Ribeiro Equipe de acompanhamento de Produção de Material Didático Rosangela Luiz da Silva, Inês Azevedo, Ronaldo Raizer Projeto Gráfico e Diagramação Rosangela Luiz da Silva - 1ª Edição Nathália Savione Machado - 2ª Edição Revisão de Linguagem Maria Regina Giesen Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida, gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da UFPR. CIPEAD - (41) 3310.2657 http://www.cipead.ufpr.br e-mail: [email protected] Sumário 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 151 2 QUAL A CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR? ................................................................................ 152 3 O QUE DIZEM OS AUTORES SOBRE A AVALIAÇÃO DO ENSINO- APRENDIZAGEM? ......................................................................................... 163 4 O PLANEJAMENTO ..................................................................................... 182 4.1 A AVALIAÇÃO EM FUNÇÃO DOS OBJETIVOS .................................................... 183 4.2 AVALIAÇÃO COMO DIAGNÓSTICO DO ENSINO-APRENDIZAGEM ....................... 184 4.3 AVALIAÇÃO COMO VALORIZAÇÃO DA POSTURA CRÍTICA .................................. 185 4.4 AVALIAÇÃO COMO INCENTIVO À PRODUÇÃO COLETIVA .................................. 185 4.5 AVALIAÇÃO COMO INCENTIVO À PRODUÇÃO INDIVIDUAL ............................... 186 4.6 REQUISITOS PARA PLANEJAR A AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM ........... 187 4.6.1 Características do processo cognitivo dos alunos .......................................... 187 4.6.2 Definição do instrumento de avaliação ........................................................ 187 4.6.3 Definição dos requisitos mínimos para a atribuição e notas e/ou conceitos ......... 190 4.6.4 Sobre o retorno da avaliação para os alunos ................................................. 192 5 INSTRUMENTOS/TÉCNICAS PARA AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR ............................................................................. 193 5.1 PARTICIPAÇÃO EFETIVA NA AULA ................................................................. 195 5.2 TRABALHOS INDIVIDUAIS E EM GRUPOS: PRINCIPAIS REQUISITOS E DIFERENÇA 198 5.3 SEMINÁRIO .............................................................................................. 201 5.4 O RESUMO DE BIBLIOGRAFIAS, TESES, DISSERTAÇÕES E ARTIGOS .................. 205 5.5 A RESENHA PODE SER UMA TÉCNICA PARA AVALIAÇÃO DO ENSINOAPRENDIZAGEM? .............................................................................................. 108 5.6 FICHAMENTO DE TEXTOS ............................................................................ 211 5.7 TRABALHO DE CAMPO E ESTUDO DE CASO: OS RELATÓRIOS ACADÊMICOS .......... 215 5.8 ARTIGO CIENTÍFICO OU PAPER COMO INSTRUMENTAL DE AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR? .................................................................................... 217 5.9 LEVANTAMENTO DE DADOS BIBLIOGRÁFICOS ................................................. 220 5.10 PROVA .................................................................................................... 222 5.11 OUTRAS TÉCNICAS PARA AVALIAÇÃO .......................................................... 225 5.12 MAIS DO QUE UM CONJUNTO DE TÉCNICAS, O QUE SE ESPERA DO PROCESSO AVALIATIVO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR? ............................................................... 225 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 229 Avaliação na Educação Superior UNIDADE 13 Metodologia do Ensino Superior Avaliação na Educação Superior Na formação de educadores, a produção de conhecimentos é enfatizada como possibilidade de emancipação e autonomia do professor. Emancipação no sentido de que o professor não é apenas um “transmissor de conteúdos”. Ele é quem está em contato com a dinâmica societária, com o movimento das ideias, com a modificação de valores e atitudes. E, autonomia no que se refere aos processos decisórios sobre “o quê” e o “como” trabalhar em sala de aula; autonomia diante das “propostas” curriculares nacionais e estaduais, como ato de decisão sobre o conteúdo e metodologia adequada ao trabalho que se pretende fazer. A dinâmica societária é percebida, pelo professor, no diálogo com o aluno, no contato com os vários meios de comunicação e na sua própria ação cotidiana. O professor necessita de instrumentais teóricos e metodológicos para que possa perceber a dinâmica societária manifesta em cada ação dos alunos, na sua própria ação e na ação dos demais sujeitos sociais. Conforme afirma Bastos (2000, p. 21), “a práxis se constitui pela mediação dos diferentes espaços/tempos de formação na rede de relações tecida durante o contínuo processo de formação docente”. O autor traz o conceito de rede para expressar o espaço que possibilita “(...) entender/estudar o conhecimento produzido no cotidiano pela própria prática social, no imbricamento das relações sociais de seus vários sujeitos, bem como na sua complexidade ou complexificação” (BASTOS, 2000, p. 25). Ultrapassar os limites da sala de aula tem sido um desafio para os professores. A aula como um conjunto de relações é o momento em que os alunos entram em contato com um conhecimento produzido historicamente. É fora do espaço da aula que o aluno tem possibilidade de visualizar novas relações e compreensões acerca do mundo e dos conhecimentos escolares. A criatividade em sala de aula emerge da disposição do professor para um fazer diferente. Por sua vez, um fazer diferente exige a atitude permanente de inquietação diante do mundo. E, exige abertura para o “novo”, algo que pode estar nas perguntas dos alunos, nas interrogações geradas dos textos 151 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior estudados em sala de aula, etc. Compreender a totalidade e a historicidade das relações que permeiam o mundo da escola e o mundo extra-escolar é buscar as múltiplas determinações que envolvem o “ato de ensinar”. Muitas vezes o professor fica restrito ao mundo da instituição educacional e da sala de aula, impossibilitado de observar o horizonte; imerso no ato de repetição, avaliação, rotulação, préconceitos, angústias, etc. que compõe a cultura escolar, ainda nos dias atuais. Neste módulo você terá oportunidade de estudar o ato de ensinar sob a perspectiva da Avaliação do ensino-aprendizagem na Educação Superior. Serão estudados os seguintes temas: Ÿ Qual concepção de avaliação do ensino-aprendizagem para a Educação Superior? ŸO que alguns autores dizem sobre a avaliação do ensino-aprendizagem na Educação Superior? ŸO planejamento da avaliação do ensino-aprendizagem na Educação Superior. ŸInstrumentos e Técnicas para avaliação do ensino-aprendizagem na Educa- ção Superior. Ao longo do curso você terá a indicação de autores e obras que se preocupam com a avaliação do ensino-aprendizagem. Verifique quais obras poderão ser úteis às suas necessidades. Lembre-se de que há uma gama de estudos disponíveis nas bibliotecas digitais de teses e dissertações das universidades brasileiras, bem como inúmeros artigos que podem ser acessados por meio da web. 2 QUAL CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR? No primeiro módulo você Fonte: www.sxc.hu estudou os paradigmas educacionais. A sugestão é que você retome as características de cada paradigma e tente verificar como se distingue o processo de avaliação. 152 Metodologia do Ensino Superior Lembre-se de que a concepção de educação pode ser tradicional, presa às ideias de ensino-aprendizagem como transmissão e verificação de conteúdos. O professor ensina e o aluno aprende. O professor verifica o quanto o aluno aprendeu. Os conteúdos são previamente selecionados por uma equipe técnica, seja no plano do sistema educacional municipal, estadual ou federal. Ou, a concepção de educação pode ser de perspectiva transformadora, em que predomina a relação entre professor e alunos, a dialogicidade no espaço escolar, a seleção de conteúdos efetivada pelos professores, em observância às diretrizes curriculares nacionais e aos aspectos da realidade à qual os alunos pertencem. Recorde-se que a avaliação do ensino-aprendizagem é um dos elementos que compõem a prática pedagógica, juntamente com o conteúdo, as técnicas de ensino, a relação professor-educandos, e o material bibliográfico/didático utilizado. Cada um desses elementos tem um sentido político, portanto, a sua escolha indica uma intencionalidade (que é política) no processo pedagógico. Quando você seleciona os conteúdos está indicando uma intencionalidade ao processo pedagógico e uma marca à prática pedagógica. Os conteúdos podem ser descolados da realidade sociocultural ou podem potencializar relações entre aspectos do mundo da vida e os conhecimentos cientificamente elaborados. Da mesma maneira, quando seleciona as técnicas de ensino e as de avaliação, você está indicando uma intencionalidade que pode ser dialógica ou autoritária. Para a compreensão da formação humana como um processo que objetiva a vida em sociedade e a potencialização do bem comum, que avaliação organizar? Pensar uma prática pedagógica e um processo avaliativo que valorizem a formação humana exige estudo sobre a sociedade e suas características. A formação inicial – Educação Superior – tem deixado a desejar no quesito formação profissional para uma prática emancipadora. Estão aí os processos de formação continuada, importantes, mas que não suprem a defasagem marcante nas universidades, centros universitários e faculdades. Ao lado da formação continuada é importante que a instituição escolar e que o 153 Avaliação na Educação Superior profissional professor estejam dispostos a participar da construção de uma sociedade cada vez mais letrada e questionadora; uma sociedade com indivíduos e coletividades com formação que permitam indagar a própria realidade. Uma prática pedagógica que valoriza o Humano, a liberdade e a possibilidade de convívio social requer a disposição para compreender as desigualdades inerentes ao modo de produção capitalista. A ideia é que o reconhecimento das desigualdades promova o debate sobre a condição humana e valorize perspectivas de modificação da ação humana. Como disse Marx (1978) no 18 Brumário “Os homens fazem a sua história, mas não a fazem como querem, a fazem sob determinadas circunstâncias”. Mas, o próprio Marx disse que é preciso lembrar que as circunstâncias são feitas pelos homens. Em síntese, a prática pedagógica não fica alheia a todas as modificações vividas pela sociedade. Entendida como uma dimensão da prática social, ela é política e, portanto, pode formar os seres mais humanos ou deformá-los. Em momentos ditatoriais, a prática pedagógica nos espaços escolares teve características autoritárias, marcadas pelo poder do professor, do diretor, do supervisor de ensino. Numa escala de hierarquias, embora o professor aparentasse ter poder, ele nada mais era do que um sujeito dominado pelas relações autoritárias predominantes na prática social do país. Os conteúdos e as metodologias de ensino eram planejados pelos técnicos da educação e não diretamente pelos professores. Os educandos encontravam-se em situação de Fonte: www.sxc.hu Fonte: www.google.com obediência, seja em relação ao professor ou ao diretor da escola. 154 Metodologia do Ensino Superior Em tempos de construção democrática, os professores são chamados para participar da elaboração do projeto político pedagógico do curso e da instituição. Na atualidade existem diversos estudos sobre o pesquisador da própria prática. Fala-se em professor reflexivo, professor pesquisador, professor investigador-ativo dentre outras terminologias. O que nos interessa é pensar nas reais possibilidades que o professor possui para organizar o processo avaliativo. Na maioria das vezes o professor está preso à rotina escolar. Esquece-se de que pode ultrapassar os limites da sala de aula e produzir textos sínteses acerca do processo pedagógico. Pensar a prática pedagógica como uma atividade que tem inúmeras faces, que às vezes estão ocultas diante da rotina escolar que fragmenta o tempo, o conteúdo, hierarquiza as relações e tornam homogêneas as relações entre alunos e professores, alunos e comunidade, exposição de problemas “sempre ligados à conduta dos alunos”, entre outros. Gil (2008) ao mencionar que as provas e os exames são os procedimentos mais adotados na avaliação da aprendizagem dos alunos destaca alguns aspectos críticos a ela relacionados. A seguir são citados tais aspectos acrescidos dos nossos comentários. Ÿ“A avaliação é fonte de ansiedade e stress”. O autor comenta que grande parte das avaliações da Educação Superior é realizada em única semana. De fato, o que se constata é que muitas instituições têm as semanas previstas para avaliação bimestral ou semestral. Ÿ“A avaliação conduz a injustiças”. São diversos os exemplos de que a avaliação, do modo como predomina nas instituições educacionais, leva a injustiças. São provas de questões objetivas que confundem os alunos, especialmente quando constituem as pegadinhas. São provas, outras, de questão única ou de várias interrogações dissertativas para o tempo de uma ou duas horas, no máximo. De todo o modo, o que se constata é que avaliação de única questão ou complexa demais para o tempo da aula poderá levar a injustiças e desvios do processo pedagógico crítico que se espera da Educação Superior. 155 Avaliação na Educação Superior Ÿ“Muitas avaliações têm pouco a ver com o que foi ensinado no curso”. Essa é uma prática muito comum na Educação Superior. Às vezes o professor insere na prova um elemento que foi comentado rapidamente na aula. Para esses fatos cabe a seguinte pergunta: o professor sabe para onde caminha com os seus alunos? Qual é a intencionalidade, os objetivos da disciplina? Se a resposta for afirmativa, o professor saberá como organizar instrumentais para avaliar o ensino-aprendizagem. Mas, se a resposta for negativa, é bem provável que o professor apresente na prova questões de resolução impossível para o conteúdo e metodologia adotados em sala de aula. O objetivo da avaliação é punir ou contribuir para que a formação inicial do aluno seja fundamentada teórico-metodologicamente? Ÿ“As avaliações consomem demasiado tempo e energia dos professores e dos alunos”. O consumo de tempo é pensado para o momento de elaboração da prova e para o momento de sua correção. As universidades têm turmas que possuem poucos alunos, isso facilita a dedicação do professor quanto ao planejamento, correção e discussão dos conteúdos presentes na prova. Mas, as universidades também têm cursos com uma quantia numerosa de alunos, esse fato requer dedicação do professor quanto ao planejamento das provas e, especialmente, quanto à correção, de modo que esta não seja superficial e ausente de discussão com os alunos. Ÿ“As provas desestimulam a expressão dos juízos pessoais dos alunos”. Como afirma Gil (2008, p. 242) “É natural que os estudantes estudem pensando nas provas, direcionando-se para aquilo que acreditam ter maior probabilidade de ser solicitado”. E, mais ainda, os alunos geralmente estudam pensando no que pode ser solicitado pelo professor e no que o professor “espera”. Esse é um ponto que o professor pode dedicar atenção. 156 Metodologia do Ensino Superior Lembre-se de quando você foi aluno(a)! Como estudava para as provas? O que mais criticava nos professores? Então pense em como você tem avaliado o processo ensino-aprendizagem e verifique se o que pesa no processo avaliativo é o conhecimento necessário à área do conhecimento ou é a necessidade de obter uma nota ao final do bimestre ou semestre para os alunos. Esse é um exercício muito importante que implica reflexão sobre o planejamento do ensino – em que medida ele está claro para os alunos – e sobre as técnicas de ensino. Será que as técnicas de ensino possibilitam a apropriação dos conhecimentos indicados no planejamento do ensino? O que mais se pode dizer das provas? Segundo Gil (2008), elas contribuem para o encurtamento do período letivo, já que há um momento preparatório anterior e um período de esgotamento pós-prova. Elas incentivam a fraude, uma vez que alguns alunos se preparam para as provas “preparando” as colas. E, de acordo com o autor, “os exames dificultam a prática de uma pedagogia da descoberta”. As provas são preparadas para obtenção de respostas objetivas, de conteúdos bem específicos. Desse modo, os alunos não são estimulados a investigar o assunto presente na área do conhecimento e nem explorar bibliografias que possam trazer outras concepções acerca do assunto estudado. São essas e outras questões que nos remetem à concepção de avaliação do ensino-aprendizagem que se faz necessária à Educação Superior. Inicialmente são mencionados 11 pontos que Gil (2008) destacou como argumentos de que a avaliação pode servir para emancipar. São eles: 1. A avaliação pode ser feita com alto grau de cientificidade. 2. A aprendizagem pode ser mensurada com razoável grau de precisão. 3. O processo de avaliação fornece dados necessários à melhoria da aprendizagem e do ensino. 4. A avaliação inclui muito mais procedimentos além do rotineiro exame escrito. 5. A avaliação envolve todo o processo de aprendizagem. 6. Os professores podem avaliar bem os estudantes. 7. A avaliação constitui traço fundamental e nossa civilização. 157 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior 8. A avaliação favorece a integração dos conhecimentos. 9. A avaliação permite que os estudantes se situem em relação aos outros. 10. A avaliação fornece feedback para o professor. 11. A avaliação serve para avaliar a ação do professor e da própria instituição. O que se pode apreender desses 11 pontos e que é essencial à avaliação na Educação Superior? Destacam-se quatro pontos basilares, segundo o nosso entendimento: 1) A avaliação é o processo necessário para analisar em que medida o ensino está adequado ao que se propõe para o curso ou área do conhecimento com a qual o professor trabalha. Trata-se de um processo que indica em que medida os alunos modificam os comportamentos indicando que os conhecimentos foram aprofundados no processo pedagógico e que o aluno vem adotando uma postura de “estudante”, como aquele que se dedica a compreender os conteúdos para além do que foi ensinado em aula. Como saber se os comportamentos estão sendo modificados? É óbvio que não pode ser meramente por meio da prova. Essa questão nos leva ao segundo ponto essencial da avaliação na Educação Superior. 2) A avaliação pode ser diagnóstica, formativa e somativa. A avaliação diagnóstica é aquela realizada no início ou ao longo do processo pedagógico, sempre com o intuito de verificar o estágio inicial em que os alunos se encontram em relação a determinados conteúdos. Ela indica ao professor quais conteúdos necessitam ser mais trabalhados com os alunos, diante o que eles apresentaram ao resolver exercícios, elaborar textos etc. A avaliação formativa é desenvolvida ao longo do processo letivo (semestre, ano) com o intuito de informar professor e aluno a respeito do que foi possível apreender ao longo do período. Não pode ser feita em único momento, pois ela requer um conjunto de procedimentos que possam demonstrar o que está “apreendido” e o que precisa ser “reforçado” nas aulas. No processo de avaliação formativa o professor é informado sobre os resultados da aprendizagem e com isso pode rever procedimentos metodológicos. O 159 Metodologia do Ensino Superior aluno é informado sobre sua aprendizagem podendo traçar um panorama do que aprendeu e do que exige a sua maior dedicação. A própria avaliação integra o processo pedagógico-formativo. Como diz Mendes (2005): Para construirmos a avaliação formativa o nosso trabalho não pode se reduzir a uma verificação como produto final a aprendizagem, ela precisa acontecer durante todo o processo de ensino-aprendizagem e não somente em dia previamente estabelecidos (MENDES, 2005, p. 177). Segundo essa autora, o professor pode avaliar quando os alunos solicitam ajuda para resolver alguma questão; durante correção de atividades desenvolvidas em aula ou fora dela; através de dificuldades constatadas durante a realização de tarefas; através do uso da experiência dos alunos na explicação de determinados conceitos; através de técnicas de avaliação formais, como é o caso da prova e outros instrumentos (MENDES, 2005, p. 181). E, a avaliação é somativa quando ocorre ao final das unidades de ensino. Ao final do processo pedagógico, do ano letivo, o professor tem um panorama geral da aprendizagem dos alunos por meio dos registros das avaliações realizadas no período. Da mesma forma, o professor pode fazer uso de diferentes técnicas de avaliação, de modo a superar a utilização da prova como instrumental principal do processo avaliativo do ensino-aprendizagem. Veja que a opção por um ou outro processo avaliativo deixará expressa a concepção de educação do professor. Um professor atento aos seus alunos, aos comportamentos deles, dificuldades, facilidades, conflitos internos à sala, etc. terá condições de fazer um processo avaliativo marcado por relações democráticas. Mesmo que o professor solicite um trabalho em grupo, é importante observar a dinâmica da sala de aula e os diferentes jeitos e afinidades dos alunos. Note que a avaliação, mesmo que de diferentes modos, é sempre um indicativo da prática do professor e de sua relação com os alunos. Ela pode ser um meio de medir o autoritarismo do professor ou a postura democrática dele. 3) Existem inúmeros procedimentos para a avaliação do ensino- 160 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior aprendizagem. Entretanto, muitas vezes ou o professor se acomoda nos testes e provas, ou ele desconhece as técnicas das quais pode fazer uso. Diríamos mais ainda, o professor tem condições de criar uma infinidade de técnicas visando a avaliação de alunos com características diversas e sempre tendo em mente os objetivos de aprendizagem. Alguns destes procedimentos você identificará na unidade quatro deste módulo. 4) A avaliação, quando pensada numa escala além de uma sala de aula, serve para analisar a ação do próprio professor. Se em 10 turmas o professor constata que 80% dos alunos estão reprovados ou em processo de recuperação, alguma coisa não está adequada na ação do professor. É momento do professor reavaliar a sua conduta pedagógica e do coordenador do curso dedicar atenção ao respectivo professor. Avaliações que indicam baixo rendimento dos alunos estão a revelar características da instituição e da prática docente. Verifique que o peso maior do baixo rendimento recai sobre a instituição, sobre o planejamento do ensino, sobre o projeto político-pedagógico, sobre a formação docente. Diante disso, é importante que você pense em como a avaliação pode ser adequada aos propósitos emancipatórios que se tem com a Educação Superior. Gil (2008) cita 12 princípios que podem nortear uma avaliação mais eficaz, vamos a eles: 1. A avaliação deve ser entendida como parte integrante do processo de aprendizagem. 2. A avaliação deve ser contínua. 3. Os instrumentos de avaliação devem apresentar validade e precisão. 4. A avaliação deve abranger os diferentes domínios da aprendizagem. 5. A avaliação deve ser integrada. 6. As avaliações devem ser preparadas com razoável antecedência. 7. As provas devem ser múltiplas e diversificadas. 8. Convêm preparar os alunos para as provas. 9. As provas devem ser ministradas sob um clima favorável. 10. As provas devem ser corrigidas com cuidado e devolvidas rapidamente. 161 Metodologia do Ensino Superior 11. O processo deve contar também com a auto-avaliação. 12. O desempenho do professor também deve ser avaliado. Como pode ser uma avaliação que leva em conta tais princípios? Imagine-se professor de qualquer área de conhecimento. Você trabalha uma disciplina que tem determinados conteúdos previstos no planejamento de ensino. Para isso lança mão de diversas técnicas de ensino: exposição oral, trabalho em grupo, seminário, resolução de testes, estudos bibliográficos, etc. Ao longo do semestre você tem que identificar se os alunos estão se apropriando dos conhecimentos necessários. O que você faz, segundo os princípios elencados acima? 1. Elabora diversos exercícios que podem ser desenvolvidos ao longo do semestre. Estabelece dois exercícios para cada unidade. Um deles será computado para a avaliação e o outro não. Os alunos não sabem qual será computado ou não, mas o professor (numa postura democrática) computará para fins de nota aquele exercício em que o aluno saiu-se melhor. Assim, o professor incentiva o aluno, em cada unidade, a fazer o melhor possível para compreender os conteúdos e não meramente para responder aos exercícios. Se a avaliação é contínua, pressupõe-se que a cada unidade ou mesmo aula, o professor tenha algum desafio para os alunos. É importante que os instrumentos utilizados para avaliação estejam fundamentados na fidedignidade e na validade. Como escreve Gil (2008): A fidedignidade refere-se à estabilidade ou ao grau de consistência de seus resultados. Se um teste é aplicado ao mesmo grupo diversas vezes, espera-se que os resultados sejam os mesmos, desde que as características do grupo não se modifiquem. Se toda a vez que o teste for aplicado, garantidas as mesmas condições do grupo, os resultados forem diferentes, não se poderá ter confiança nesse instrumento, porque não haverá consistência nas medidas (GIL, 2008, p. 248). 2. Ao elaborar o processo avaliativo, você o faz com antecedência de modo que possa fazer ajustes caso seja necessário? Tenta integrar o 162 Avaliação na Educação Superior processo avaliativo da disciplina com a qual trabalha com outros professores, de outras áreas? Esse é um procedimento incomum na universidade. Os professores pouco dialogam sobre o conteúdo do processo avaliativo, sendo que muitas disciplinas poderiam ter os conteúdos articulados. Entretanto, a cultura institucionalizada das disciplinas, das “gavetas do conhecimento” ainda tem forte presença na Educação Superior. 3. Se a prova for instrumental de avaliação, é importante que seja diversificada, múltipla e que seja bem preparada e conferida. É comum alunos identificarem erros em provas objetivas e mesmo no enunciado de provas discursivas/dissertativas. São sinais do pouco cuidado do professor ao elaborar a prova! É importante que haja devolução das provas e conferência ou discussão das questões em sala de aula. Esse momento integra o processo pedagógico democrático. Ocorre que alguns professores liberam apenas os gabaritos das provas e nem sequer ouvem as inquietações dos alunos. Essa é uma prática a ser superada, afinal, o aluno é um sujeito que possui determinados conhecimentos e que tem potencial para ampliálos, só que para isso requer a mediação feita pelo professor, entre o conhecimento existente e o conhecimento a ser adquirido. 4. E como conduzir um processo de auto-avaliação? Esse é um processo que exige capacidade de observação da própria conduta. O que e em que medida foi aprendido de fato? Se não foi aprendido, quais são as inquietações, as dúvidas? É importante que a auto-avaliação seja orientada pelo próprio planejamento do ensino, ou seja, diante do plano estabelecido para o semestre ou para o ano, e diante dos conteúdos desenvolvidos em sala, o que se aprendeu? O que não foi apreendido e por que não o foi? São questões que podem nortear um processo avaliativo. Veja, o ponto de partida é o plano estabelecido inicialmente e o conteúdo desenvolvido nas aulas. 163 Fonte: www.sxc.hu Metodologia do Ensino Superior Em síntese, nesta unidade você pode constatar que a avaliação necessária na Educação Superior é aquela que tem caráter emancipatório, crítico, que possibilita aos alunos irem além das decorebas, das colas, dos medos e tensões do professor e do conteúdo trabalhado em aula. Adiante você verificará como alguns autores definem a avaliação e poderá fazer a sua opção teórica conceitual sobre o processo avaliativo na Educação Superior. Lembre-se de que a avaliação pode ser um incentivo à produção individual do aluno ou à produção coletiva. A produção individual é marca do modo de produção capitalista, entretanto, inúmeras experiências coletivas demonstram que o aprendizado é gerado na relação social. Como dizia Paulo Freire “Ninguém aprende sozinho, ninguém ensina sozinho”. Como pode a avaliação ser um incentivo à produção coletiva? Pense nessa questão que você terá oportunidade de discuti-la adiante, em outra unidade. 3 O QUE DIZEM OS AUTORES SOBRE A AVALIAÇÃO DO ENSINOAPRENDIZAGEM? Há uma literatura bastante extensa sobre avaliação educacional e, em especial, sobre a avaliação da aprendizagem. Nos Estados Unidos, desde o início do século XX, ganharam relevância os testes e medidas educacionais. Já na década de 1930, ampliou-se a ideia de mensuração para incluir procedimentos mais abrangentes na avaliação do desempenho dos alunos. Tyler, em 1949, em um trabalho intitulado “Princípios básicos de 164 Avaliação na Educação Superior currículo e ensino”, expressou a concepção de avaliação por objetivos, bastante difundida entre nós, e que consiste em se avaliar o desempenho dos alunos em face dos objetivos esperados (TYLER, 1974). Além de Tyler, outros autores norte-americanos influenciaram a avaliação da aprendizagem no Brasil, como Popham, Bloom, Gronlund e Ausubel. Nos tópicos que seguem, você encontrará uma síntese da aplicação das ideias de Bloom e de Gronlund à avaliação da aprendizagem. Embora uma diversidade de pressupostos seja apontada pelos autores supra mencionados, consoante trabalho elaborado por Sousa (2002, p. 3536), alguns pressupostos da avaliação são aceitos consensualmente: a) a avaliação deve ser contínua; b) a avaliação deve ser compatível com os objetivos propostos; c) a avaliação deve ser ampla; d) deve haver diversidade de formas de proceder à avaliação. Essa tendência reflete os princípios da pedagogia tecnicista, oriundos da teoria geral da administração, que orientaram a política educacional no país após 1964. Nos anos 80 foram realizados novos estudos a respeito da temática, destacando-se as posições de Luckesi (1984), enfatizando a importância do critério; Perrenoud et al (1986), destacando que se a escola praticar uma avaliação normativa estará ajudando a reforçar as desigualdades. Intensas discussões, à luz dos novos paradigmas, forneceram aos educadores novas pistas sobre a finalidade da avaliação, em todos os níveis de ensino. Atualmente, percebe-se uma evolução do conceito de avaliação no discurso dos educadores. Utilizam-se expressões como avaliação formativa, emancipadora, processual, contínua, mediadora, propedêutica, entre outras. O desafio de se encontrar as formas mais adequadas para avaliar a aprendizagem do aluno, de forma a colaborar com a qualidade do ensino e a desenvolver no educando a cidadania, o espírito crítico e a ética, no entanto, continua... Nos tópicos seguintes, você encontrará uma súmula do pensamento de 165 Metodologia do Ensino Superior autores como Luckesi, Gronlund, Bloom e Guerra, cada um deles explicitando sua concepção a respeito da avaliação. Boa reflexão! Fonte: www.sxc.hu A avaliação segundo o professor Cipriano Carlos Luckesi Cipriano Carlos Luckesi, em sua obra “Avaliação da aprendizagem escolar” (LUCKESI, 2005), reúne uma série de artigos publicados sobre avaliação da aprendizagem escolar, a partir de 1978, quando elaborou sua primeira reflexão teórica sobre o tema. Menciona que sua observação sobre a prática da avaliação da aprendizagem lhe permitiu perceber que nossa escola é marcada mais por uma “pedagogia do exame” do que por uma “pedagogia do ensino/aprendizagem”. Alunos, professores, pais, estabelecimentos de ensino e o próprio sistema de ensino têm sua atenção voltada para a promoção, ou não, do estudante de uma série de escolaridade para outra. Os alunos, desde o início do ano letivo, desejam saber como ocorrerá o processo de promoção no final do período escolar; os professores valem-se das provas como instrumento de ameaça e tortura prévia dos estudantes; os pais ficam na expectativa das notas de seus filhos; na escola, deseja-se verificar no todo das notas como estão os alunos; o sistema fica atento aos resultados gerais e às curvas estatísticas. As origens desse processo de avaliação, segundo Luckesi (2005, p. 22- 166 Avaliação na Educação Superior 23), estariam em práticas inscritas nas pedagogias dos séculos XVI e XVII, como a pedagogia jesuítica e a comeniana, ou na cristalização da sociedade burguesa. Dos jesuítas, tem-se que dedicavam atenção especial ao ritual de provas e exames; de Comênius, a visão dos exames como meio de estimular os estudantes ao trabalho intelectual da aprendizagem; e da sociedade burguesa teria vindo o aperfeiçoamento dos mecanismos de controle, vinculados à seletividade escolar e à formação da personalidade dos educandos. Nesse particular, o medo constitui fator importante no processo de controle social. Uma vez internalizado, resulta em um freio às ações supostamente indesejáveis. Dessa “pedagogia do exame”, destaca Luckesi (2005, p. 25-26), resultariam algumas consequências: a) do ponto de vista pedagógico, ela centralizaria a atenção nos exames e não na aprendizagem dos alunos; b) do ponto de vista psicológico, seria útil para desenvolver personalidades submissas, fundamentadas na autocensura; c) do ponto de vista sociológico, colabora para desenvolver processos de seletividade social. ?? SAIBA MAIS Cipriano Carlos Luckesi nasceu em Charqueada, Estado de São Paulo, em 23 de fevereiro de 1943. É bacharel em Teologia (PUCSP), licenciado em Filosofia (UCS), mestre em Ciências Sociais (UFBA) e doutor em Educação: Filosofia e História da Educação (PUCSP). No site www.luckesi.com.br, estão disponíveis os seus artigos sobre educação, avaliação da aprendizagem e outros temas de interesse. Se você quiser aprofundar os tópicos aqui apresentados, não deixe de consultá-lo. Para Luckesi, a definição mais adequada para a atual prática da avaliação educacional escolar, de acordo com o contido nos manuais, é: “avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão” (LUCKESI, 2005, p. 33). 167 Metodologia do Ensino Superior Analisando seus componentes, constatamos que: - a avaliação é um “juízo de valor”, o que significa que, a partir de critérios pré-estabelecidos, se faz uma afirmação a respeito da qualidade de um dado objeto; - esse julgamento é feito com base em caracteres relevantes da realidade, razão pela qual ele não é inteiramente subjetivo, mas emerge de 'sinais' do objeto que fundamenta o juízo de valor; - esse julgamento de valor deverá conduzir a uma tomada de decisão, que significa uma postura de “não-indiferença’’, o que significa obrigatoriamente uma tomada de posição sobre o processo de aprendizagem do aluno. Observa Luckesi que qualquer um desses elementos pode ser perpassado pela posição autoritária, possibilitando o arbitrário da autoridade pedagógica na prática escolar, mas a tomada de decisão é o componente da avaliação que coloca mais poder na mão do professor. Uma vez avaliado, julgado e classificado, o educando fica, segundo Luckesi (2005): [...] para o resto da vida, do ponto de vista do modelo escolar vigente, estigmatizado, pois as anotações e registros permanecerão, em definitivo, nos arquivos e nos históricos escolares, que se transformam em documentos legalmente definidos (LUCKESI, 2005, p. 35). Para romper esse estado de coisas, Luckesi (2005, p. 42) propõe uma avaliação educacional “a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a transformação social e não com a sua conservação”. Outra preocupação de Luckesi é com a visão culposa do erro, que tem conduzido, na prática escolar, às mais variadas formas de castigo por parte do professor, desde as mais visíveis, até as mais sutis. Atualmente, não se castiga mais o aluno fisicamente, mas isso não significa que o castigo desapareceu da escola. Há formas de castigar bastante sutis, por exemplo, quando o professor cria um clima de medo, tensão e ansiedade entre os alunos, fazendo uma pergunta a um deles, passando-a para um segundo, terceiro, quarto, enfim, 168 Avaliação na Educação Superior deixando a classe toda tensa, à espera da sua vez em responder à pergunta. Ao chegar ao aluno que não sabe, muitas vezes ridiculariza-o, ao mesmo tempo em que elogia os que souberam... O erro, contudo, existe quando há um padrão considerado correto. No processo de ensino e aprendizagem, porém: [...] No caso da solução bem ou malsucedida de uma busca, seja ela de investigação científica ou de solução prática de alguma necessidade, o “não-sucesso” é, em primeiro lugar, um indicador de que ainda não se chegou á solução necessária, e, em segundo lugar, a indicação de um modo de “como não se resolver” essa determinada necessidade (LUCKESI, 2005, p. 56). Assim, os erros da aprendizagem que emergem de um padrão de conduta cognitivo ou prático já estabelecido pela ciência ou pela tecnologia, servem de ponto de partida para o avanço, constituindo o passo fundamental para sua superação. ANOTE O anedotário biográfico de Thomas Edison conta que, após muitos experimentos mal-sucedidos na descoberta da lâmpada incandescente, um colaborador quis desistir do empreendimento, ao que Edison observou: “Por que desistir agora, se já sabemos muitos modos de como não fazer uma lâmpada?”. O erro é necessário para o crescimento, e deve ser utilizado como caminho para a aprendizagem. Luckesi (1990, p. 73) destaca que “a avaliação da aprendizagem adquire seu sentido na medida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu consequente projeto de ensino”. A avaliação não possui uma finalidade em si; ela subsidia decisões sobre a aprendizagem dos educandos, tendo em vista garantir a qualidade do resultado que desejamos atingir. Por isso, não pode estar desvinculada de um projeto que a articule. 169 Metodologia do Ensino Superior É preciso lembrar, contudo, que muito do que se faz na escola corresponde à verificação da aprendizagem, e não à avaliação. Verificar, do latim verum facere, significa “fazer verdadeiro”. O processo de verificação se encerra com a obtenção do dado ou da informação que se busca. Já a avaliação, do latim a-valere, quer dizer “dar valor a...”. Assim, explica Luckesi (1990): O ato de avaliar não se encerra na configuração do valor ou qualidade atribuídos ao objeto em questão, exigindo uma tomada de posição favorável ou desfavorável ao objeto de avaliação, com uma conseqüente decisão de ação (LUCKESI, 1990, p. 81). Isto significa que a avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que exige decisão do que fazer ante ou com ele, enquanto que a verificação se contenta com a obtenção da configuração do objeto. Quando avaliamos nossos alunos, diante dos resultados obtidos, teremos que tomar decisões sobre os rumos do desenvolvimento do processo de aprendizagem em relação a eles. Luckesi conclui que “enquanto o planejamento é o ato pelo qual decidimos o que construir, a avaliação é o ato crítico que nos subsidia na verificação de como estamos construindo o nosso projeto” (LUCKESI, 2005, p. 118). O ato de avaliar, por sua constituição mesma, não se destina a um julgamento “definitivo” sobre alguma coisa, pessoa, ou situação, pois que não é um ato seletivo. A avaliação se destina ao diagnóstico e, por isso mesmo, á inclusão: destina-se à melhoria do ciclo de vida. Deste modo, por si, é um ato amoroso. Infelizmente, por nossas experiências históricosociais e pessoais, temos dificuldades em assim compreendê-la e praticála. Mas... fica o convite a todos nós. É uma meta a ser trabalhada, que, com o tempo, se transformará em realidade, por meio de nossa ação. Somos responsáveis por esse processo (LUCKESI, 2005, p. 180). A avaliação segundo Norman Gronlund Norman E. Gronlund foi professor de Psicologia Educacional da Universidade de Illinois, EUA, tendo se dedicado ao estudo da avaliação da 170 Avaliação na Educação Superior aprendizagem na década de 1970. Suas obras alcançaram grande sucesso nos Estados Unidos, sendo que algumas delas foram traduzidas para o português e estão disponíveis no mercado, como: ŸA instrução individualizada na escola ŸO sistema de notas na avaliação do ensino ŸElaboração de testes para o ensino ŸResponsabilidade pelos resultados da aprendizagem ŸA elaboração de testes de aproveitamento escolar. A ênfase de seus estudos se concentra na elaboração de testes de aproveitamento escolar, a respeito dos quais menciona que não deveriam ser aplicados com exclusividade, mas sim auxiliar e reforçar outros aspectos dos programas de aprendizagem. Como você pode ver, Gronlund, embora trate da verificação (medida) da aprendizagem, não descarta a aplicação de outros procedimentos para avaliar a aprendizagem. Os testes, sejam os construídos pelo professor, sejam os padronizados, fazem parte do processo de avaliação dos alunos, mas não devem ser pensados como uma atividade de fim de unidade ou de fim de curso, e sim serem utilizados para a tomada de decisões relativa à melhoria da aprendizagem dos alunos. Dentre as decisões que o professor deve tomar durante o processo de ensino e aprendizagem Gronlund (1974) refere: - Em que extensão os estudantes estão prontos para as experiências de aprendizagem a serem fornecidas? - Até que ponto seria benéfico proporcionar uma revisão geral do material do curso? - Quais estudantes estão tendo sérios problemas de aprendizagem e necessitam de uma instrução individualizada ou de um trabalho especial de recuperação? - Quais estudantes estão avançando tão rapidamente que poderiam se beneficiar com um programa de enriquecimento especial? 171 Metodologia do Ensino Superior O uso de testes, segundo Gronlund (1974), pode ter, também, um efeito imediato e direto na aprendizagem dos alunos: a) melhorando a motivação do estudante, por proporcionar-lhes objetivos a curto prazo e proporcionar-lhes feedback a respeito de seus progressos na aprendizagem; b) aumentando a retenção e a transferência da aprendizagem, uma vez que tendem a dirigir os esforços de aprendizagem dos estudantes em direção aos objetivos que estão sendo avaliados; c) contribuindo para aumentar a autocompreensão, na medida em que ajudam os estudantes a obter insight nas coisas que fazem corretamente, nas concepções inadequadas que necessitam de correção, etc. Gronlund (1974) destaca que os testes podem dirigir ou afastar a atenção dos estudantes dos objetivos do ensino. Assim, para que possam se constituir em uma influência positiva no processo de ensino e aprendizagem, os testes de aproveitamento escolar devem observar alguns princípios: 1. Medir resultados de aprendizagem claramente definidos, em harmonia com os objetivos propostos; 2. Medir uma amostra adequada de resultados de aprendizagem e o conteúdo da matéria incluído nas aulas; 3. Incluir os tipos de itens de testes que são mais adequados para medir os resultados de aprendizagem desejados; 4. Ser planejados para se ajustar aos usos particulares a serem feitos dos resultados; 5. Ser construídos tão fidedignos quanto possível e, em conseqUência, deveriam ser interpretados com cautela; 6. Ser usados para melhorar a aprendizagem do estudante. Para identificar os objetivos que podem ser medidos por um teste, Gronlund sugere a utilização da obra de Benjamin Bloom (BLOOM, 1974), “Taxonomia dos Objetivos Educacionais”, que apresenta um sistema compreensivo de classificação de objetivos dentro de cada um dos três domínios: 172 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior 1) domínio cognitivo, 2) domínio afetivo e 3) domínio psicomotor. O domínio cognitivo diz respeito aos resultados intelectuais a serem avaliados; o domínio afetivo, aos interesses e atitudes; e o domínio psicomotor, às habilidades motoras. Em se tratando de testes de aproveitamento escolar, poderemos nos apoiar apenas no domínio cognitivo da taxonomia, que divide os resultados intelectuais em duas principais classes: Conhecimento e Capacidades e Habilidades Intelectuais. Esse domínio focaliza uma lista de processos mentais, aparentemente completa, que o processo de aprendizagem deve desenvolver no aluno, auxiliando-nos na elaboração de questões que abranjam diversos níveis de complexidade. Sabe-se, por exemplo, que um dos males das provas, sejam escritas ou orais, é enfatizar o nível conhecimento, deixando de lado capacidades e habilidades intelectuais. No quadro a seguir, você pode consultar as duas classes e as seis áreas do domínio cognitivo organizadas por Bloom (1974): TAXONOMIA DOS OBJETIVOS EDUCACIONAIS DOMÍNIO COGNITIVO Conhecimento 1.00 CONHECIMENTO (Evocação do material aprendido anteriormente) 1.10 Conhecimento de específicos 1.11 Conhecimento de terminologia 1.12 Conhecimento de fatos específicos 1.20 Conhecimento de modos e meios de tratar com específicos 1.21 Conhecimento de convenções 1.22 Conhecimento de tendências e sequências 1.23 Conhecimento de classificações e categorias 1.24 Conhecimento de critérios 1.25 Conhecimento de metodologia 1.30 Conhecimento de universais e abstrações num determinado campo 1.31 Conhecimento de princípios e generalizações 1.32 Conhecimento de teorias e estruturas 173 Metodologia do Ensino Superior Capacidades e habilidades intelectuais 2.00 COMPREENSÃO (apreensão do significado do material) 2.10 Translação (conversão de uma forma em outra) 2.20 Interpretação (explanação ou resumo do material) 2.30 Extrapolação (ampliação do significado além dos dados) 3.00 APLICAÇÃO (o uso de informações em situações concretas) 4.00 ANÁLISE (decomposição do material em suas partes) 4.10 Análise de elementos (identificação das partes) 4.20 Análise de relações (identificação de relação) 4.30 Análise de princípios de organização (identificação da maneira pela qual as partes estão organizadas) 5.00 SÍNTESE (a união das partes no todo) 5.10 Produção de uma comunicação singular 5.20 Produção de um plano ou de um conjunto determinado de operações 5.30 Derivação de um conjunto de relações abstratas 6.00 AVALIAÇÃO (Julgamento acerca do valor de uma coisa, com um certo propósito, usando-se critérios definidos) 6.10 Julgamentos em termos de evidência interna 6.20 Julgamentos em termos de critérios externos. FONTE: GRONLUND, 1974. Você pode constatar que as áreas estão organizadas em ordem de complexidade progressiva. Pode perceber, também, que os comportamentos mais complexos englobam os mais simples, nas categorias inferiores. Assim, poderá graduar o nível de complexidade ao elaborar os testes. Desde 1956, a taxonomia dos objetivos educacionais relativa ao domínio cognitivo foi amplamente adotada e usada em diferentes contextos. Esse modelo teórico apresenta, como ponto forte, o fato de que o professor, ao adotar uma relação de perguntas associadas aos níveis da classificação de Bloom, sem dúvida realizará um trabalho melhor quanto à capacitação cognitiva do que aqueles que não a utilizam. Por outro lado, nem todos os problemas e projetos que são realizados no processo de ensino e aprendizagem se associam à taxonomia. Desta forma, boas oportunidades de 174 Avaliação na Educação Superior desenvolver o processo de ensino e aprendizagem poderiam ser afastadas. Em 1999, Lorin Anderson (ANDERSON, 2001), um antigo aluno de Bloom, juntamente com seus colegas, publicaram uma versão revisada da taxonomia de Bloom, tentando corrigir alguns problemas da taxonomia original. Essa versão diferencia o “saber o quê” do “saber como”. O “saber o quê” corresponde à dimensão do Conhecimento, que se divide em quatro categorias: factual, conceitual, procedimental e metacognitiva. O conhecimento factual refere-se aos elementos isolados de informação, como terminologia, conhecimento de detalhes específicos; já o conhecimento conceitual trata de classificações e categorias; o conhecimento procedimental trata do “saber como fazer”, incluindo técnicas e métodos, algoritmos, e o conhecimento sobre quando usar esses procedimentos; e o conhecimento metacognitivo, que se refere ao “refletir sobre o que se sabe”, trata do conhecimento dos processos cognitivos e das informações sobre como trabalhá-los de forma eficaz. A dimensão Processo Cognitivo, que corresponde ao “saber como”, a exemplo da versão original, possui seis capacitações, ordenadas da mais simples à mais complexa: lembrar (reconhecer e recordar), entender (interpretar, exemplificar, classificar, resumir, concluir, comparar e explanar), aplicar (executar, implementar), analisar (diferenciar, organizar, atribuir), avaliar (verificar e criticar) e criar (gerar, planejar, produzir). (ANDERSON, 2001). De acordo com essa taxonomia, cada nível de conhecimento pode corresponder a um nível de processo cognitivo. Assim, o aluno pode lembrar um conhecimento factual ou procedimental, entender o conhecimento metacognitivo, analisar o conhecimento factual, por exemplo. Ao professor caberá propiciar tanto conhecimentos como processos cognitivos que possibilitem ao aluno solucionar problemas. 175 Metodologia do Ensino Superior Exemplos de Processos Cognitivos: Entender = dar um significado ao material ou a experiências educacionais: - parafrasear um parágrafo (interpretar) - agrupar animais consoante a região da qual são nativos (classificar) Avaliar = fazer julgamentos com base em critérios e padrões: - julgar a validade dos argumentos a favor e contra o aborto (criticar) Criar = reunir dados para formar algo novo: - organizar um documento para apresentar de concepções de sustentabilidade A avaliação segundo Pedro Demo Pedro Demo é doutor em Sociologia pela Universidade de Saarbrücken (Alemanha), tendo exercido os cargos de Subsecretário e de Secretário Geral Adjunto do MEC. Também foi Diretor Geral do INEP/MEC (1986-1987). Tem cerca de 30 livros publicados na área educacional. Para Demo, o compromisso essencial da avaliação é “garantir a aprendizagem qualitativa do aluno” (DEMO, 1996, p. 10). A avaliação supõe comparação, o que leva inevitavelmente ao confronto de pessoas, “tendo por referência padrões considerados desejáveis e sobretudo privilegiadamente escassos” (DEMO, 1996, p. 13). Assim, explica, pode-se afirmar que ela é um fenômeno que vem na esteira da desigualdade social. No entanto, é difícil avaliar em uma sociedade tão desigual como a em que vivemos, considerando a diversidade de condições dos nossos alunos: origem socioeconômica, ambiente cultural familiar, saúde e nutrição. Nesse cenário, Demo considera que a avaliação deve cumprir dois objetivos essenciais: a) funcionar como expediente de pesquisa diagnóstica, no sentido de averiguar com a devida profundidade, as condições de desempenho do aluno, indicando problemas e potencialidades, motivações e obstáculos, virtudes e vazios; 176 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior b) servir como instrumento para refazer a rota de inclusão do aluno, garantindo-lhe o direito ao desempenho qualitativo considerado satisfatório, pelo menos. Somente dessa forma será possível equalizar as oportunidades em favor dos excluídos, argumenta. Outro aspecto que ressalta da obra de Demo é a afirmação de que somente pode avaliar quem é avaliado. Não é admissível um avaliador que não se deixe avaliar. Desta forma, a avaliação surge como “componente permanente, intrínseco, estrutural de todo processo comprometido com qualidade” (DEMO, 1996, p. 29) e, nesse passo, a qualidade não é oposta à quantidade, mas apenas diferente dela. Para que se possa melhor compreender o sentido da garantia da qualidade da aprendizagem pelo aluno, é fundamental ressaltar que a qualidade: - é um atributo humano; - envolve elaboração processual permanente; - é conquista humana e, como tal, precisa ser sempre reconquistada; - alimenta-se da utopia da perfeição, da profundidade, da beleza; - não é rotina, repetição, reprodução, cópia, mas criatividade e inovação; - envolve participação democrática e solidária; - não é “mais”, é “melhor'; - implica compromisso humano na humanização da história; - implica a construção de instrumentos e estratégias efetivos para manejo do conhecimento; - é a manifestação política mais profunda e típica da presença humana na história (DEMO, 1996, p. 29-30). Com base nessas considerações, a avaliação supõe a necessidade de uma intervenção adequada, para, em face das condições históricas concretas, 177 Metodologia do Ensino Superior introduzir as mudanças buscadas. A partir daí, os projetos pedagógicos, para preservarem sua qualidade, devem ser reinventados a cada ano, não só porque os seus autores aprendem sempre mais, mas porque já devem ter se desgastado. A avaliação, ligada a processos qualitativos, torna-se uma exigência processual e metodológica na Educação Superior, que deve ser realizada com base em critérios transparentes, éticos, dignos e justos. Pedro Demo ressalta que a avaliação deve estar direcionada à qualidade formal e política do processo educativo escolar. Portanto, deve ser um processo permanente e diário, e não uma intervenção ocasional. Neste sentido, ela começa no primeiro dia do semestre, acompanhando o desempenho do aluno durante sua trajetória. Não faz qualquer sentido descobrir no fim do mês, na prova, que parte da turma não aprendeu bem ou não aprendeu nada. [...] quando falamos de avaliação qualitativa, está em jogo, no lado do professor, o compromisso ético e formal de garantir as condições mais favoráveis possíveis para a boa aprendizagem (DEMO, 1996, p. 42) A avaliação qualitativa refere-se ao aluno poder aprender bem a reconstruir conhecimento, tornando-se um cidadão crítico e participativo. Demo (1996) explica que “aprender bem” tem significação precisa: a) não se restringe a desempenhos quantitativos, ainda que sempre presentes, como presença assídua, memorização etc.; b) inclui qualidade formal, ou seja, a capacidade de reconstruir conhecimento, para dispor do instrumento primordial de intervenção inovadora; c) inclui sobretudo qualidade política, ou seja, a formação da competência humanizadora da história, para que não seja apenas inovadora, mas sobretudo democrática e solidária (DEMO, 1996, p. 43). Aprender bem, desta forma, não significa apenas aprender mais, mas inclui o intervir melhor, conclui. 178 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior A avaliação segundo Miguel Ángel Santos Guerra Miguel Ángel Santos Guerra é catedrático de Didática e Organização Escolar na Universidade de Málaga, Espanha. É autor de numerosos artigos e obras sobre a organização escolar, a avaliação educativa e a formação de professores. Entre suas obras estão: A escola que aprende; Aprender a conviver na escola; No coração da escola - estórias sobre educação; Teoria e prática de avaliação qualitativa das escolas. É interessante conhecer as reflexões de Guerra sobre os processos de avaliação, principalmente em face de sua ampla experiência em todos os níveis do sistema educacional espanhol. Uma das questões sobre a qual ele tem trabalhado ultimamente, diz respeito a saber se as nossas experiências em termos de processos de avaliação influenciam na nossa futura prática avaliativa como professores. Será que aprendemos por meio do que de bom e de mau vivemos quando fomos avaliados? Como se explica que quem sofreu na própria carne os efeitos de avaliações duras, arbitrárias, irracionais, possa repetir os mesmos erros, como se nada tivesse acontecido e, em consequência, nada tivesse aprendido? Todos mencionamos erros graves, injustiças lamentáveis, incoerências e incongruências que sofremos enquanto somos alunos. No entanto, experiências semelhantes vividas não produzem os mesmos efeitos. Alguns aprendem com elas, outros não. “É curioso observar que uma mesma experiência é vivida de maneira diametralmente oposta por umas e por outras pessoas”, menciona Guerra (2009, p. 102). Por exemplo, uma nota negativa abate algumas pessoas, ao passo que estimula outras. Alguns desistem, outros a encaram como desafio... Para que a experiência se converta em sabedoria, Guerra entende que é necessário que sejam observadas certas exigências: a) “Ter a capacidade de analisar os acontecimentos com rigor”. Buscar apreender os significados da experiência, descobrir os fios invisíveis que estão por trás dos bastidores. 179 Metodologia do Ensino Superior b) “Ter a capacidade de analisar criticamente os acontecimentos, compreendendo os significados, as causas e as consequências”. Perceber que a realidade é o resultado de decisões humanas e que sobre ela se pode atuar. c) “Vontade para assimilar na própria história aquilo que se vai descobrindo”. Procurar aprender com as experiências negativas, aproveitando cada momento para uma aprendizagem (GUERRA, 2009, p. 103). Na verdade, essa repetição de erros não ocorre apenas na área educacional. Filhos que sofreram a incompreensão dos pais convertem-se em pais que não fazem nada para compreender os seus próprios filhos... Pacientes que foram maltratados por seus médicos convertem-se em médicos insensíveis... Com tais preocupações, Guerra identificou aspectos comuns vivenciados pelos alunos no processo de avaliação pelo qual passaram: - a dimensão negativa está presente na maioria dos relatos sobre avaliação: a amargura, os abusos de hierarquia, a colocação de rótulos negativos, as ameaças feitas com humor de gosto discutível se destacam; - a presença de sentimentos: a avaliação envolve sentimentos, que marcam a vida de avaliadores e avaliados; - a hegemonia do exame: o exame escrito surge quase com unanimidade, como o principal instrumento de avaliação; - a hierarquização do processo: é o professor quem determina o processo, havendo de um modo geral poucas experiências de participação; - a homogeneização do processo: poucas vezes se atende à diversidade dos alunos, poucas vezes se contextualiza o processo. Essas vivências são marcadas por erros que se evidenciam nos diversos níveis de ensino. Dentre eles, Guerra(2009) destaca: - negação dos princípios da avaliação: em teoria se fala de avaliação contínua, de avaliação contextualizada, de avaliação qualitativa, mas na prática esses princípios são negados; 180 Avaliação na Educação Superior - profecias autorrealizáveis: professores dizem aos alunos que “não dão” para os estudos, que são fracos, que não irão ser aprovados... provocando, como resultado, que os fatos confirmem essas predições; - postura autoritária: os alunos participam fazendo os exames, mas não participam do estabelecimento de critérios, da aplicação dos critérios, da discussão da aplicação de critérios; - incongruências no desenvolvimento do processo: essas incongruências podem ser entre o que o professor diz e o que ele faz, entre o que a teoria propõe e a prática realiza, entre professores que atuam na mesma turma ou na mesma escola; - simplificações alarmantes: o processo de avaliação se resume a uma simples classificação, sem considerar a complexidade em que se desenvolve; - comparações abusivas: as comparações entre os resultados obtidos pelos estudantes podem trazer efeitos negativos para a parte que está no extremo negativo da comparação; - arbitrariedades diversas: se os critérios não são conhecidos e discutidos entre alunos e professores, pode haver a impressão de que a avaliação é uma questão de “sorte”, com a preponderância da arbitrariedade do professor; - passar rasteiras: ocorre quando se pede uma coisa e depois se esquece do que se pediu, estabelece uns requisitos e considera outros, manda estudar uma parte da matéria e faz perguntas sobre outra; - vinganças mesquinhas: na avaliação, o professor exerce poder sobre os alunos, o que os leva a evitarem expressar opinião oposta à do professor, a contrariá-lo, com medo de sofrer represálias; - favoritismo na atribuição de classificações: há professores que agem com parcialidade, em função da condição social dos pais, da simpatia dos alunos, etc.; - atribuição de rótulos: os rótulos colocados nos alunos como “bom aluno”, “aluno brilhante”, “mau aluno”, “aluno desmotivado”... estão relacionados com as profecias autorrealizáveis, já mencionadas; - processos atributivos gratuitos: entre investigar as razões pelas quais o ensino não ocorreu e culpar os alunos pelo fracasso da aprendizagem, é usual que a culpa recaia sobre os alunos: fracos, mal preparados, desmotivados etc. (GUERRA, 2009). 181 Metodologia do Ensino Superior Guerra (2009) nos faz um alerta, ainda, sobre os efeitos secundários que as formas de relacionamento na escola podem causar. Esses efeitos geralmente são mais fortes do que se imagina, pois podem levar o aluno a odiar a aprendizagem em si, ou a atrofiar sua capacidade de pensar, opinar, discordar, inventar ou fazer propostas. É preciso tomar cuidado para que os nossos alunos não sejam atingidos por repercussões do tipo: - desalento perante o fracasso, aliado à atitude negativa do professor em ajudar os alunos em suas dificuldades de aprendizagem; - esquecimento de tudo o que estudaram para fazer o exame; - abandono da escola, diante de opiniões negativas do avaliador; - stress e inquietação, quando tudo depende de um único exame; - destruição do auto-conceito positivo, imaginando que não servem para estudar, que não são capazes, que não valem nada. Só aprende quem quer. O verbo aprender, como o verbo amar, não se pode conjugar no imperativo (GUERRA, 2009, p. 112). 182 Avaliação na Educação Superior 4 O PLANEJAMENTO DA AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM NA Fonte: www.sxc.hu EDUCAÇÃO SUPERIOR “O ato de planejar é um ato decisório político, científico e técnico”, afirma Luckesi (2005, p. 146). É ato político, na medida em que estabelece uma finalidade a ser construída intencionalmente. A decisão aponta a direção em que se irá conduzir a ação. É ato decisório científico porque necessitamos de conhecimentos científicos significativos para atingirmos o objetivo político que nos propusemos. E é um ato decisório técnico porque se refere à construção dos modos operacionais que irão mediar a decisão política e a compreensão científica do processo dessa ação. É no planejamento do ensino que o educador define o caminho que seguirá. Lembrando, apenas, que esse planejamento deverá estar de acordo como as linhas estabelecidas pelo Projeto Pedagógico Institucional e pelo Projeto Pedagógico do Curso em que atua. Assim, no que se refere à avaliação, no plano de disciplina, que traz a previsão das atividades a serem desenvolvidas ao longo do ano ou do semestre letivo, além da identificação da turma, da disciplina e do professor, da definição dos objetivos, do estabelecimento da ementa e dos conteúdos, da bibliografia básica e complementar, das estratégias e dos recursos de ensino, a menção dos critérios e formas de avaliação ocupa papel de destaque. Ao apresentar seu plano, no início das atividades letivas, recomenda-se que o professor apresente aos alunos os critérios de avaliação propostos e com 183 Metodologia do Ensino Superior eles os discuta, para que não paire nenhuma dúvida sobre como será desenvolvido esse processo ao longo dos estudos. A avaliação poderá ocorrer por meio de provas objetivas, provas dissertativas, provas práticas, registro de observações, diário de campo, portfólio, análise de casos e outros instrumentos, desde que estejam coerentes com os objetivos, conteúdos e procedimentos que serão trabalhados. Sabemos que a avaliação no Educação Superior apresenta muita resistência às mudanças. Na maioria dos cursos ainda são utilizados procedimentos e instrumentos que não garantem a efetividade de uma tomada de decisão que conduza à melhoria do processo. No entanto, indissociada da aprendizagem e da qualidade da educação, a avaliação é uma ferramenta indispensável à gestão do processo de educação superior, na construção dos resultados que se planificou atingir. Nos tópicos subsequentes, trataremos de algumas funções da avaliação da aprendizagem. 4.1 AVALIAÇÃO EM FUNÇÃO DOS OBJETIVOS A concepção de avaliação em função dos objetivos tem por finalidade fornecer informações quanto ao desempenho dos alunos em face dos objetivos esperados. Possibilita que se verifique o quanto as experiências de aprendizagem, tal como previstas e executadas, favoreceram o alcance dos resultados desejados. Essa concepção de avaliação foi introduzida por Tyler (1974), segundo o qual consiste em: [...] determinar se os objetivos educacionais estão sendo realmente alcançados pelo programa do currículo e do ensino. No entanto, como os objetivos educacionais são essencialmente mudanças em seres humanos - em outras palavras, como os objetivos visados consistem em produzir certas modificações desejáveis nos padrões de comportamento do estudante - a avaliação é o processo mediante o qual se determina o grau em que essas mudanças do comportamento 184 estão realmente ocorrendo (TYLER, 1974, p.17). PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior A avaliação em função dos objetivos desenvolve-se em etapas: inicialmente, é preciso definir claramente os objetivos comportamentais, descrevendo os comportamentos que representam um bom desempenho em um campo particular. Em seguida, deve-se identificar as diversas maneiras que permitirão obter evidências acerca das mudanças que se produzam nos estudantes. Os instrumentos de avaliação disponíveis devem também ser examinados, para que o professor verifique se eles podem servir ao propósito da avaliação. Por último, as informações obtidas com a aplicação da avaliação devem ser utilizadas para melhoria do currículo, do ensino e da orientação aos alunos. Os estudiosos da avaliação em função dos objetivos destacam que ela deve ser contínua, nas suas formas diagnóstica, formativa e somativa, além de possuir absoluta compatibilidade com os objetivos propostos. A diversidade de formas que devem ser utilizadas é também uma característica desse processo. 4.2 AVALIAÇÃO COMO DIAGNÓSTICO DO ENSINO-APRENDIZAGEM Em princípio, toda avaliação é diagnóstico. No entanto, reserva-se essa expressão para uma análise mais aprofundada do comportamento humano. Assim, a avaliação como diagnóstico visa à caracterização do aluno no que diz respeito a interesses, necessidades, conhecimentos e habilidades e à identificação de causas que dificultam sua aprendizagem. Num processo de avaliação classificatória e burocrática dificilmente se irá encontrar a realização da avaliação como diagnóstico do ensino aprendizagem. É ela, porém, que nos revela o que está acontecendo com cada aluno, possibilitando-nos interferir no processo de ensino e aprendizagem de forma a capacitar o educando a atingir os resultados desejados. Em particular, a avaliação como diagnóstico do ensino aprendizagem visa a identificar o nível de conhecimento do aluno a respeito de um conteúdo, obtendo uma posição preliminar do que será necessário trabalhar com esse aluno antes de tratar do conteúdo programado em si. Você pode, por exemplo, aplicar uma prova destinada a verificar os pontos fortes e fracos do conhecimento ou da habilidade do aluno em relação ao que pretende desenvolver. 185 Metodologia do Ensino Superior 4.3 AVALIAÇÃO COMO VALORIZAÇÃO DA POSTURA CRÍTICA A avaliação deve provocar a crítica, procurando libertar o sujeito de condicionamentos deterministas. O aluno precisa envolver-se em sua própria educação e gerar suas próprias alternativas de ação. É preciso estar interessado em que o aluno aprenda, formando suas convicções afetivas, sociais e políticas, desenvolvendo suas capacidades cognitivas e habilidades psicomotoras e, enfim, orientando seu modo de viver. Respeitar essas convicções, estimular sua exteriorização, dar oportunidade para que ele cresça como cidadão, são condições para o desenvolvimento de uma postura crítica que a avaliação não pode sufocar. Para isso, a aula deverá ser um espaço democrático, dialogal, de diversidade e emancipação, em que o professor reconheça os alunos como sujeitos coletivos e, portanto, políticos. A concepção de relação pedagógica que está aí implícita é a da construção do conhecimento com a participação do aluno. 4.4 AVALIAÇÃO COMO INCENTIVO À PRODUÇÃO COLETIVA A avaliação pode ser um incentivo à produção coletiva. Como você já sabe, não aprendemos nem ensinamos sozinhos. A avaliação, no contexto educacional, é uma troca, uma negociação entre um avaliador e um avaliado, sobre um objeto particular em um determinado ambiente social. Quando se discute avaliação como incentivo à produção coletiva pensa-se em dois aspectos: 1) a produção coletiva de conhecimentos, mediante a utilização de técnicas didáticas e avaliativas que fortaleçam os trabalhos em grupos na sala de aula e fora dela. Severino (1993) discutiu a organização da vida de estudos na universidade e enfatizou a disciplina do estudo. Pensar a produção coletiva como requisito do processo avaliativo requer a retomada dos princípios que norteiam a vida na universidade, particularmente a atitude investigativa. Se é desejado que os alunos tenham uma visão questionadora acerca do mundo, uma das maneiras de fortalecer tal atitude é propiciando momentos de resolução de desafios propostos ao coletivo classe e a grupos na classe. A resolução dos desafios 186 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior realizada em público propiciará novas interrogações e proposições quanto ao tema estudado. O princípio norteador da avaliação como produção coletiva é a dialogicidade e a possibilidade de exercitar o contraditório por meio da participação efetiva. No coletivo há defesas de determinadas ideias, recusas de outras e um processo contínuo de argumentação. 2) a produção coletiva da própria avaliação. Como destaca Kenski (1991): O sistema escolar impõe que a avaliação, em seu sentido burocrático, resulte em um veredicto apresentado sob a forma de nota ou conceito. O sistema escolar autoriza também que o responsável pela determinação desse valor crítico seja o professor (...) que normalmente realiza essa atividade de forma isolada, considerando-a cansativa, aborrecida (KENSKI, 1991, p. 142). Esse comentário crítico da autora vem associado à sua perspectiva quanto à educação e à avaliação. Ela afirma que: Em um projeto de educação transformadora não se pode pensar que essa atividade deva ser efetuada apenas por um dos agentes do processo. É necessário que ambos os sujeitos (professor e aluno) participem de todas as fases do projeto educativo, inclusive da avaliação e da determinação do valor representativo (nota ou conceito) do alcance do aluno na aprendizagem (KENSKI, 1991, p. 142-143). Para a autora, a avaliação deve ser coletiva, especialmente nos momentos finais do período letivo. Ser coletiva implica que professores e alunos podem tomar decisão quanto ao projeto pedagógico do curso e nele o processo avaliativo. Essa é uma prática ainda pouco comum nas escolas brasileiras. 4.5 AVALIAÇÃO COMO INCENTIVO À PRODUÇÃO INDIVIDUAL A avaliação, como estratégia de ensino, tem também a função de incentivar a produção individual dos alunos. À medida que ocorre o reconhecimento do limite e da amplitude de onde se está, provoca-se no aluno uma motivação para o prosseguimento do estudo que está realizando. 187 Metodologia do Ensino Superior A avaliação pode, portanto, ser motivadora, criando o desejo de obter resultados mais satisfatórios, de produzir mais. Para que isso ocorra, contudo, é preciso reconhecer as teorias e as hipóteses formuladas pelos alunos, considerar a diversidade dos alunos, a sua história singular, os erros construtivos que cometem e as possibilidades de aprendizagem que manifestam. 4.6. REQUISITOS PARA PLANEJAR A AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM Para planejar a avaliação do ensino aprendizagem é preciso que sejam observados alguns requisitos. Nos itens abaixo, você conhecerá um pouco mais de cada um desses requisitos. 4.6.1 Características do processo cognitivo dos alunos O processo cognitivo dos alunos refere-se ao conhecimento. Para avaliálo, Bloom (1974) organizou a taxonomia dos objetivos educacionais no domínio cognitivo, que você estudou no capítulo anterior. Para alguns autores, no entanto, não há diferenças de importância entre objetivos cognitivos e afetivos, sendo que a escola deveria estimular pensamentos e sentimentos relativamente aos conteúdos ensinados. Damásio (1996) defende essa integração entre cognição e afetividade, afirmando que existe uma interação profunda entre razão e emoção, cujos poderes se deterioram juntos. 4.6.2 Definição do instrumento de avaliação Usaremos o termo instrumento de avaliação, aqui, compreendendo o conjunto de procedimentos para avaliar e também aquilo que serve para registrar os resultados da aplicação dos procedimentos, que alguns autores denominam técnica. Vale a pena destacar que, ao selecionarmos o instrumento de avaliação que iremos utilizar, devemos ter muito clara a coerência entre princípios, fins e meios do processo educativo, entre o que pretendemos alcançar e as estratégias que nos irão possibilitar esse alcance. 188 Avaliação na Educação Superior Como ressalta Hadji (1994), a “virtude” formativa não está no instrumento, mas no que fazemos dele. Assim, de acordo com Despresbiteris (2007): [...] provas, portfólios, mapas conceituais, análise de casos, entre outros, todos são instrumentos que podem, caso sejam bem pensados e elaborados, fornecer aos educadores em geral e, em particular, aos professores, informações valiosas sobre o processo de ensino e de aprendizagem (DEPRESBITERIS, 2007, p. 96). A utilização de instrumentos diversificados permite ao professor obter um número maior e mais variado de informações sobre o aluno. Por outro lado, o aluno que é avaliado por meio de diversos instrumentos usufrui de um maior número de oportunidades para expressar-se, para desenvolver habilidades de pensar de formas diferentes. Depresbiteris (2007, p. 99) ressalta que, para que um instrumento possa cumprir suas finalidades, deveremos procurar responder às seguintes perguntas, que considera essenciais: 1) Quais são as finalidades pelas quais a avaliação está sendo realizada? 2) O que será avaliado? 3) Quais serão os critérios de avaliação? 4) Qual o tempo de que se dispõe para a avaliação? 5) Como zelar pela qualidade dos instrumentos? 6) Que uso se fará das informações obtidas? A definição do instrumento de avaliação, portanto, é fundamental para uma avaliação comprometida com a qualidade da aprendizagem. Há certas qualidades que devem ser inerentes aos instrumentos de avaliação, em especial no que se refere a provas objetivas, que tratam de medir o conhecimento, sendo a fidedignidade e a validade as mais importantes. A fidedignidade diz respeito à estabilidade ou ao grau de consistência de seus resultados. É a coerência com que um teste mede aquilo que mede. 189 Metodologia do Ensino Superior Os métodos para o cálculo da fidedignidade incluem: - o método do teste-reteste (ou da repetição); - o método das formas paralelas (ou das formas equivalentes); - o método das duas metades equivalentes; - o método da equivalência racional (SOEIRO; AVELINE, 1982). Dentre eles, o mais comumente utilizado e também o mais simples é o método do teste-reteste. De acordo com este método, você deve aplicar o teste duas vezes e confrontar os resultados obtidos nas duas aplicações. Entre a primeira e a segunda aplicação deve haver um intervalo de tempo, não muito curto, nem muito longo. Se um teste é aplicado diversas vezes ao mesmo grupo, espera-se que os resultados sejam os mesmos. Se não forem, não se poderá ter confiança nesse instrumento, porque não haverá consistência nas medidas. Quanto à validade do instrumento, diz respeito à condição de ele medir o que efetivamente se propôs a medir. Assim, uma prova poderá ser fidedigna e não ser válida, se, por exemplo, não avalia o conteúdo que deveria avaliar. Há quatro tipos de validade: - validade de conteúdo; - validade concorrente; - validade preditiva; - validade de construto (SOEIRO; AVELINE, 1982). Há validade de conteúdo quando a prova objetiva está em consonância com os objetivos específicos do plano de ensino desenvolvido pelo professor. Quando um aluno critica uma prova, dizendo que a matéria que caiu “não foi dada em aula”, está se referindo à validade de conteúdo dessa prova. Os outros tipos de validade dependem da aplicação de cálculos estatísticos e, se você tiver interesse, poderá se informar a respeito deles em obras específicas. Para assegurar a validade do instrumento, Gil (2009, p. 249) recomenda que se tomem alguns cuidados como: 190 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior 1) Assegurar-se de que a prova inclua apenas fatores relacionados à matéria correspondente; 2) Formular claramente as instruções para responder às perguntas; 3) Garantir que os instrumentos apresentem um nível de dificuldade apropriado para medir o que efetivamente pretendem medir; 4) Redigir as provas com um vocabulário que esteja ao alcance do estudante; 5) Certificar-se de que o tempo disponível é suficiente para responder a todas as questões. 4.6.3 Definição dos requisitos mínimos para a atribuição de notas e/ou conceitos Uma questão constantemente discutida pelos professores, em se tratando de avaliação, refere-se à necessidade de “quantificá-la”. Alguns professores afirmam que não têm dificuldade em avaliar, mas sim em traduzir o resultado dessa avaliação em uma nota. Gronlund (1974) destaca que o sistema de atribuição de notas está fundamentado no julgamento feito por professores em relação ao desempenho do aluno, não havendo como escapar dele. De forma geral, esse desempenho é resumido num escore final, que pode ser emitido por símbolos diversos, que variam de uma escala numérica (0 a 10 ou 0 a 100), a letras (A, B, C, D e E) ou, ainda, por conceitos que se restringem a categorias do tipo “aprovado” ou “reprovado”, “satisfatório” ou “insatisfatório”. Ainda: o desempenho do aluno pode ser julgado com referência à norma (desempenho da classe), com referência ao critério (padrão de desempenho absoluto) ou em função do potencial de aprendizagem do próprio aluno. De qualquer forma, seja qual for o critério adotado, o aluno fica em desvantagem, pois cabe ao professor estabelecer qual a forma de avaliação será empregada. A avaliação é, para o aluno, a única alternativa para a obtenção da aprovação. Além disso, os critérios de correção de uma prova não são únicos, ainda que estejamos tratando de disciplinas como física ou matemática. Para a mesma 191 Metodologia do Ensino Superior prova, professores diferentes podem atribuir notas diferentes. Isto ocorre porque o resultado de uma correção é fortemente dependente de julgamentos pessoais do professor. Vasconcellos (2003) distingue o que se poderia chamar de avaliação essencial, que é inerente ao processo de ensino e aprendizagem e visa a garantir a efetiva construção do conhecimento, de avaliação formal, que é a exigida pela legislação e acaba imperando na prática escolar. Segundo Vasconcelos (2003): a avaliação “formal tende a fossilizar um determinado momento, enquanto que a essencial está em constante superação, frente ao compromisso do professor e do aluno com o conhecimento, com o crescimento” (VASCONCELLOS, 2003, p. 116). A quantificação da avaliação, por sua complexidade, já que envolve qualidade e quantidade em si mesma, deve se constituir em uma prática aberta, dialogal e aproximativa. Deve-se ter ciência de sua provisoriedade e de sua limitação. É preciso tomar cuidado, também, para não se absolutizar o aspecto quantitativo da avaliação, colocando-o a serviço da qualidade desejada da educação. Por exemplo, quando um estudante tem um desempenho insatisfatório numa prova de uma determinada unidade de ensino e obtém uma nota 2,0 (dois), nós professores lhe aconselhamos estudar um pouco mais e submeter-se a uma nova prova. Então, ele faz isso e, nesta segunda oportunidade, obtém nota 10,0 (dez). Qual será a nota final dele? Certamente será 6,0 (seis), que é a média entre o 2 (dois) inicial e o 10 (dez) final. Mas, por que não 10,0 (dez), se foi essa a qualidade que ele manifestou na segunda oportunidade? Antes, ele não sabia, porém, agora, sabe. Não atribuímos o 10 (dez) a ele, devido ao fato de ter obtido dois antes. Esse 2 (dois) era definitivo, de tal forma que não nos possibilitou atribuir-lhe o 10 (dez), apesar de ter manifestado essa qualidade plenamente satisfatória em sua aprendizagem (LUCKESI, 2000, p. 3). 192 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior 4.6.4 Sobre o retorno da avaliação para os alunos. Para que a avaliação produza efeito positivo no processo educativo, os instrumentos devem ser o mais rapidamente corrigidos e devolvidos aos alunos. Se os resultados forem divulgados apenas no final do mês ou do período, as providências necessárias ao acompanhamento do desenvolvimento do aluno ficarão prejudicadas. Ao fazer o retorno da avaliação para os alunos, a chamada “devolutiva”, o professor não deve se limitar a apresentar os resultados e divulgar as respostas corretas. Deve destacar os aspectos positivos que os alunos obtiveram e solicitar aos alunos uma reflexão crítica sobre a própria produção, levando-os à tomada de consciência de sua situação no processo de aprendizagem (metacognição). A metacognição possibilita aos alunos identificarem suas dificuldades, permitindo-lhes assumir o controle de sua própria aprendizagem. É preciso estimulá-los a essa prática. No momento da “devolutiva”, é importante também garantir ao aluno um espaço para solicitar esclarecimentos sobre a correção feita pelo professor. Os esclarecimentos do professor ao aluno, a respeito dos equívocos/erros cometidos, devem se constituir em oportunidades de reflexão e aprendizagem, além de estimularem o diálogo essencial ao processo democrático. Os alunos deverão perceber que a avaliação é um processo transparente, sem lugar para discursos evasivos. Perceberão também que do erro pode se aprender, uma vez que ele indica um nível de conhecimento condicionado, que pode melhorar ou simplesmente que necessita amadurecer. Somente pode se enganar aquele que tenta expor ideias próprias sobre saberes adquiridos, ou que acredita ter assimilado, ou a partir da informação recebida, destaca Méndez (2007). 193 Metodologia do Ensino Superior Por que penalizar sistematicamente o erro, antes inclusive de averiguar as causas que o provocam? Se o professor analisasse as causas, poderia descobrir que podem ser muitas e diversas, umas que partem da ignorância, outras que partem da independência do pensamento, outras devido a enfoques diferentes ou a fontes de informação não previstas e muitas, provavelmente, à falta de atenção e à incompreensão da informação que ele mesmo transmite (MÉNDEZ, 2007, p. 73). No que diz respeito ao papel da universidade na avaliação dos alunos, cabe à instituição assumir sua responsabilidade quanto ao fracasso ou sucesso dos alunos. A avaliação é uma prática indispensável no nível superior, no qual se espera o domínio de conteúdos e de práticas profissionais necessárias ao ingresso no mercado de trabalho. De um modo geral, os universitários manifestam insatisfação quanto ao modelo tradicional de educação, que exclui o diálogo. A “devolutiva” poderá colaborar para que o aluno compreenda a função da avaliação em seu processo formativo. Cada avaliador se denuncia ao avaliar, pela releitura própria do que vê a partir de suas próprias concepções e do seu grau de saber sobre uma disciplina ou área do conhecimento (HOFFMAN, 1998, p. 14). 5 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS PARA AVALIAÇÃO DO ENSINOAPRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SUPERIOR São inúmeros os instrumentos ou técnicas que os professores podem utilizar para avaliar o ensino-aprendizagem. É importante lembrar que a avaliação é planejada em função do objetivo da aprendizagem e também dos conhecimentos ou do conteúdo que será avaliado. Você verifica em sua prática docente que ora você deseja que o aluno emita um posicionamento fundamentado sobre determinado assunto e ora você quer analisar se ele apreendeu a lógica para resolver determinado exercício. Note que há diferença entre uma avaliação e outra. 194 Avaliação na Educação Superior Por exemplo: você pode solicitar aos alunos para que analisem a conjuntura econômica brasileira no contexto da chamada globalização econômica contemporânea. Imagina-se que você tenha explicado e trabalhado com obras que discutem economia brasileira na atualidade e que agora você quer verificar quais conhecimentos os alunos trazem sobre o assunto. Poderia dizer que nesse caso a avaliação foi planejada em função do objetivo da aprendizagem (analisar) e do conteúdo (conjuntura econômica no contexto da globalização contemporânea). O que se espera do professor é que no momento do planejamento ele próprio verifique o será necessário que os alunos tenham para resolver ou produzir um texto sobre o assunto. O professor verificará em que medida as aulas, as indicações de estudos, os trabalhos realizados, etc. contribuem para o sucesso do aluno. Em outras situações se espera que o aluno domine determinadas técnicas. Como avaliar o domínio de uma técnica? Em alguns casos a observação e uma planilha de itens a serem observados poderá ser útil ao processo de avaliação, muito mais do que uma simples prova objetiva. Em síntese, o que interessa não é o uso da técnica pela técnica. Interessa que as técnicas sejam escolhidas em função dos objetivos, especialmente. Algumas situações que revelam objetivos diferentes: 1. Caracterizar a rocha metamórfica. Pode ser feita por meio de prova objetiva; prova discursiva; com apresentação de uma representação gráfica para que os alunos preencham algumas lacunas; por meio da demonstração ou visualização em laboratório; seminário para caracterização dos tipos de rochas, etc. 2. Explicar a origem da rocha metamórfica. Pode ser feita por meio de trabalho individual com exposição oral; prova discursiva. 3. Você concorda que o Brasil vive um processo democrático e que as relações entre governo e sociedade civil são democráticas? Argumente. Essa é uma questão que pede a argumentação do aluno e para que a questão seja coerente com o processo de avaliação democrático é importante que o professor verifique se diante do trabalho desenvolvido em sala de aula, em trabalhos e bibliografias 195 Metodologia do Ensino Superior sugeridas aos alunos eles têm condições de responder a questão. Para a correção da questão é fundamental ter algumas possibilidades de respostas previstas, de acordo com os referenciais indicados e trabalhados na aula. Caso contrário, o professor poderá cair na tentação de considerar corretas todas as respostas ou de considerar correto somente o que ele pensa sobre o assunto. 4. Resolver uma determinada fórmula. Este é um tipo de questão que requer que o aluno domine um conhecimento técnico e lógico da disciplina. Do mesmo modo, antes de elaborar o exercício é essencial que o professor analise as condições reais que os alunos possuem para a resolução do problema. As questões do processo avaliativo estão (deveriam estar) em estreita relação com os objetivos da aprendizagem e os conteúdos do ensino. Pode se dizer que processo avaliativo será bem sucedido para o aluno, para o professor e para a instituição quando houver um planejamento prévio e perspectiva dialógica entre professor e alunos. Aluno e professor são sujeitos do processo pedagógico. Entretanto, nem sempre o aluno tem a disciplina necessária à vida acadêmica. Essa disciplina ou organização para os estudos decorrerá de uma prática construída institucionalmente, pelo coletivo de professores, pela coordenação pedagógica. Veja algumas técnicas para avaliação. 5.1 PARTICIPAÇÃO EFETIVA NA AULA Trata-se da participação em que o aluno demonstra preparo para a aula. Ele questiona, cita exemplos e relaciona com estudos que fez sobre o assunto em foco. O aluno está na sala de aula como sujeito ativo e não meramente passivo, de corpo presente. Requisitos da participação efetiva - O planejamento do ensino deve estar claro para o aluno e, se possível, organizado por conteúdos ou eixos temáticos a serem vencidos em determinado período. O aluno precisa estar ciente do ponto de partido, da caminhada e do ponto de chegada. 196 Avaliação na Educação Superior - O aluno precisa estar ciente de que a sua participação efetiva na aula será elemento de avaliação bimestral ou semestral. - É importante, no sistema de notas enraizado na instituição educacional brasileira, ter uma pontuação destinada à participação efetiva. O aluno precisa estar ciente do fato. Quesitos a serem avaliados - Qualidade da participação quanto ao conteúdo exposto e às relações estabelecidas com outras áreas, outros conteúdos, aspectos do mundo da vida, etc. - Objetividade da participação, ou seja, é importante que o aluno saiba perguntar objetivamente e saiba comentar os assuntos de modo claro e relacionado com o assunto em foco na aula. Ele precisa estar ciente de que não é qualquer participação que lhe garantirá nota. Tem que demonstrar que está atento aos conteúdos analisados em sala de aula. - Articulação com outros conteúdos/ disciplinas do curso. - Capacidade de interrogar os textos estudados para as aulas. Atribuição de notas - Sugere-se que semestralmente cada aluno tenha uma determinada pontuação para a participação efetiva. A nota entra na composição final da média. Não se trata de nota adicional, mas sim de composição da nota final. Veja que cabe ao professor propor um valor final para a atividade, que poderá ser discutido com os alunos e ser aumentado ou diminuído. A decisão final é sempre do professor, de acordo com os seus critérios de julgamento, entretanto, como você viu em outros momentos deste texto, é importante que o professor se aproxime ao máximo do aluno, que a postura dialógica seja um dos princípios norteadores da avaliação do ensino-aprendizagem. 197 Metodologia do Ensino Superior Como fazer o registro? - O professor pode organizar um quadro com os nomes de todos os alunos. A cada aula registra a participação efetiva dos alunos. Pode ainda criar uma planilha de intervenções na aula, de modo que a cada aula o aluno que se pronunciar, imediatamente, anota a sua intervenção na planilha. São sugestões para intensificar a participação, o registro da participação e consequentemente a organização das ideias antes de expô-las diante do público. - É importante que o professor tenha disciplina e organização para registrar ou possibilitar o registro da participação. Exemplo de registro da participação dos alunos, podendo ser acrescentadas quantas colunas forem necessárias. Importante deixar uma coluna final para registrar a média de participação. No início da disciplina adota-se a anotação da participação que é para criar o hábito da participação efetiva na aula. Por meio da manifestação do aluno, o professor tem condições de verificar em que medida os conteúdos ficam mais ou menos claros. Note que existem alunos que estão muito atentos à aula, porém nunca se manifestam oralmente e em público. E, por outro lado, existem alunos que sempre falam, entretanto, nem sempre há lógica na exposição da ideia. Nesses casos, cabe ao professor verificar com atenção algumas características dos alunos, para assim criar diferentes estratégias de avaliação do ensinoaprendizagem. Quadro de participação dos alunos Alunos 198 Participação 1 Participação 2 Participação 3 Participação 4 Avaliação na Educação Superior Veja que o quadro é apenas uma sugestão para o registro da participação. Se o curso é desenvolvido a distância, todas as intervenções ficam registradas na plataforma do curso. Ou seja, existem diversas maneiras de se fazer o registro da participação. O que importa é incentivar a participação efetiva na aula, num Fonte: www.dnocs.gov.br contexto em que se espera que as relações democráticas sejam ampliadas. 5.2 TRABALHOS INDIVIDUAIS E EM GRUPOS: PRINCIPAIS REQUISITOS E DIFERENÇAS Há uma infinidade de possibilidades de trabalhos que podem ser desenvolvidos individualmente ou em grupos. Chama-se atenção neste item para o exercício da investigação como dimensão educativa/ formativa. O que se espera é que o aluno possa resolver exercícios ou produzir textos mediante organização individual ou coletiva. É uma maneira de exercitar a autonomia nos estudos e a criatividade. O trabalho individual é aquele que requer um dispêndio de energia e um esforço intelectual para a produção de algo que pode ser materializado num texto, projeto, experimento, exposição oral, fórmula, etc. O trabalho em grupo é aquele que exige o esforço cooperativo; colaborativo na execução de uma tarefa. O importante é superar a prática da organização do trabalho coletivo em “pedaços”, que são apresentadas oralmente ou em texto escrito, dispostos em partes que cada um dos componentes do coletivo escreveu. Para superar tal atitude é necessário que o professor esteja atento aos requisitos deste tipo de trabalho. 199 Metodologia do Ensino Superior Requisitos - Explicitação dos objetivos do trabalho. - Indicação da organicidade do grupo, quando for o caso. - Explicitação sobre o que caracteriza um trabalho produzido fora da aula, particularmente o exercício da pesquisa. - Indicação bibliográfica, fórmulas, experimentos, modelos, etc. dependendo da área em que o trabalho é produzido. - Explicitação dos quesitos da avaliação. Os alunos devem estar sempre cientes dos itens que são avaliados em cada tipo de trabalho. - É importante evitar a fragmentação do trabalho, para isso a sugestão é que o professor planeje com os alunos que os componentes que farão a apresentação do trabalho, quando for oral, serão indicados ou sorteados pelo professor. Deste modo, todos criam o hábito de participar efetivamente do trabalho para dominá-lo plenamente. Quesitos a serem avaliados - Conteúdo (conceitos, referenciais teóricos, clareza das ideas, introdução, desenvolvimento e conclusão). - Apresentação do texto escrito ou oralidade (conceitos, exemplos, indicação bibliográfica, clareza e seriedade na apresentação das ideias). - Se o trabalho for apresentado em grupo, será avaliada a articulação entre os componentes do grupo e o domínio do assunto apresentado. Atribuição de notas Existem dois encaminhamentos possíveis. Se o trabalho for somente escrito a nota será a mesma para todos os componentes do grupo. Nesse caso sugere-se que o professor faça uma avaliação do tipo prova (objetiva ou dissertativa) e nela insira uma questão específica do trabalho em grupo. Dessa forma terá condições de constatar quem de fato participou e quem se “encostou” no coletivo. Mas os procedimentos avaliativos devem estar claros desde o início para todos os alunos. 200 Avaliação na Educação Superior Se o trabalho for escrito e apresentado oralmente, sugere-se que o professor faça um quadro com os componentes de cada grupo e com os objetivos que são esperados com o trabalho. À medida que o grupo apresenta o professor faz o registro. Uma sugestão de quadro de registros é: Quadro para avaliação de trabalhos em grupos Alunos Conceitos Fundamentação Articulação Bibliografia Sugere-se que o professor crie quantas colunas julgar necessário para uma avaliação justa e que seja formativa. A nota será finalizada conforme o peso estabelecido para cada quesito. Esses trabalhos podem ter um peso de até 25% da nota semestral, afinal exigem esforço do aluno em demonstrar que se apropriou de fato dos conhecimentos. Para evitar cópias indevidas e encomendas de trabalhos (compra) é imprescindível que o professor organize exposição em sala de aula, seguida de problematização, de modo que tenha mais mecanismos para identificar o domínio do aluno quanto ao que está escrito. Em síntese, os trabalhos individuais e grupais devem ser utilizados no processo avaliativo com o intuito de que os alunos criem ou ampliem os hábitos de pesquisa. Que desenvolvam autonomia na apropriação e produção dos conhecimentos. Nos dias atuais, em todas as áreas do conhecimento, existem periódicos e teses e dissertações disponíveis digitalmente para consulta. Sugere-se que o professor verifique o que há em sua área, para então propor trabalhos aos alunos, objetivando que eles entrem em contato com tal produção e com isso se preparem para a elaboração do trabalho final de curso. Veja que esse tipo de trabalho tem uma função formativa e não meramente de atribuição de notas. 201 Metodologia do Ensino Superior Fonte: www.sxc.hu 5.3 SEMINÁRIO O Seminário é uma atividade didática como já comentada na unidade anterior. A sua característica central é a organização coletiva do trabalho. O seu objetivo central é o aprofundamento de um determinado tema de estudo ou problema. ?? SAIBA MAIS Para maiores detalhes sobre o seminário como atividade didática veja a obra de Antonio Joaquim Severino. Existem diversas edições da obra. (SEVERINO, A.J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 1993. Como ocorre a organização coletiva do trabalho? Geralmente o professor indica um tema ou problema para investigação, acrescido de sugestões bibliográficas. Pede que os alunos se organizem em grupos e estipula um prazo para a elaboração do trabalho, entrega e apresentação em sala de aula. Há um desafio a ser superado nessa organização que é a fragmentação do tema do seminário, em tantas partes quantos forem os participantes. Geralmente é o que ocorre em sala de aula: “cada um apresenta a sua parte” e o seminário perde o sentido. Diante de uma cultura escolar ainda bastante individualizada e fragmentada do ponto de vista dos conteúdos dispostos disciplinarmente, há que se motivar a investigação como técnica rotineira de estudo na academia. Na organização do seminário é fundamental que o professor reserve a cada encontro com os alunos, alguns minutos para relembrar que o seminário pressupõe trabalho coletivo. É fundamental planejar com a classe a organização das apresentações de modo a evitar a fragmentação dos 202 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior conteúdos e o desinteresse dos demais que assistem ao seminário. Como? A sugestão mais pragmática tem sido o acordo entre professor e alunos de que haverá sorteio no momento da apresentação do seminário. O sorteio ocorre no início, durante e ao final da apresentação, de modo que todos devem estar preparados para expor o trabalho na íntegra, comentá-lo e complementar a apresentação do colega quando for o caso. Outra sugestão é que o professor entrega no início do seminário um conjunto de perguntas tanto para o grupo que fará a exposição quanto para a classe. O grupo terá que comentar as perguntas ao final da apresentação. E a classe terá que registrar os comentários individuais para cada pergunta elaborada (e entregue aos alunos) pelo professor. Ao final da apresentação o professor convida um aluno para responder uma das perguntas propostas por ele; convida outro; e outro... Assim, o professor cria a cultura da participação na aula e no seminário, cuja essência como foi dito anteriormente, está no trabalho coletivo. Todo trabalho coletivo é difícil, porém possível de ser bem sucedido quando planejado com antecedência e tendo critérios bem definidos perante todo o grupo. Requisitos do Seminário - Orientação do professor quanto ao tema de estudo e sua contextualização no planejamento (anual ou semestral) da disciplina. - Organização dos grupos de trabalho, que pode ocorrer espontaneamente por escolha dos alunos ou pode ocorrer por indicação do professor. O mais comum tem sido a organização espontânea por parte dos alunos. - Indicação de material bibliográfico: livros, periódicos científicos, teses, dissertações, etc. - Indicação de possíveis lugares para realização de pesquisa sobre o tema: bibliotecas, museus, laboratórios, realização de entrevistas, etc. - O professor indica a norma técnica que deverá orientar a elaboração do texto escrito (diretamente a ABNT ou os cadernos da universidade sobre normas técnicas, que são produzidos com base na ABNT). - Planejamento da apresentação do seminário, lembrando que a apresentação deve sempre ir além do texto escrito e produzir certa 203 Metodologia do Ensino Superior problematização em sala de aula. Para isso, é importante que o próprio professor organize interrogações que estarão presentes no dia do seminário ou solicite ao grupo que leve problematizações a serem postas para a classe. - É importante que o professor tenha sempre o próprio planejamento acerca do tema a ser apresentado em determinada data. Afinal, se um grupo estiver ausente, será o professor que desenvolverá o seminário, deixando, portanto, de atribuir nota ao grupo que deveria fazê-lo. - Todo o processo avaliativo do seminário deverá estar bem claro para os alunos desde o início da preparação dos temas. Sugere-se a entrega de um roteiro para o desenvolvimento do seminário e nele a explicação do processo avaliativo. - A exposição do conteúdo estudado deverá ser planejada com muito cuidado pelo grupo, de modo a demonstrar domínio do conteúdo e articulação interna do grupo. Em síntese, dois requisitos são fundamentais ao seminário: 1) organização coletiva do trabalho. 2) dialogicidade no momento da exposição do seminário. O papel do professor, nesse tipo de atividade didática realizada para fins de avaliação, é central, pois ele dá a direção do trabalho coletivo, de acordo com os propósitos dentro da disciplina. Quesitos a serem avaliados - Conteúdo. Avalia-se em que medida o grupo avançou no debate do tema proposto. Alguns itens que podem ser pontuados para avaliação: 1. O grupo trouxe novas bibliografias? 2. Fez algum trabalho de campo que enriqueceu o seminário? 3. Trouxe notícias atuais? 4. Trouxe contribuições de autores clássicos relacionados ao tema? 5. Apresentou com segurança e clareza as ideias centrais que permeiam o tema do seminário? 6. Apresentou indagações coerentes com a temática e com o estágio 204 Avaliação na Educação Superior atual do conhecimento na referida área? - Articulação interna do grupo. Avalia-se o aspecto da solidariedade entre os membros do grupo, ou seja, em que medida cada um estava disposto e preparado para auxiliar ou complementar a exposição de um colega do grupo. Analisa-se a exposição em suas várias frentes: 1) introdução. 2) Desenvolvimento. 3) Problematização. 4) Considerações Finais. 5) Indicação das referências utilizadas para elaboração do seminário. O professor pode organizar um quadro para explicitar cada quesito da avaliação e o referido quadro deve ser de conhecimento dos alunos, desde o momento inicial da preparação do seminário. Essa é uma atitude que busca o sucesso do aluno e não a sua punição. Quadro – Avaliação do Conteúdo Grupo X – Comentários individualizados que o professor queira adicionar ao quadro. Avaliação do conteúdo Clareza e domínio Problematização do tema Discussão das ideias apresentadas por outros autores Bibliografias acrescidas ao estudo Conceitos centrais inerentes ao tema Articulação entre as ideias dos textos estudados e aspectos cotidianos da vida. 205 Metodologia do Ensino Superior O professor poderá organizar um quadro para a avaliação da articulação interna do grupo. O segredo nesse tipo de avaliação é que o aluno saiba o que será computado para fins da avaliação do ensino-aprendizagem, e que verifique que existem aspectos cognitivos e técnicos que são avaliados. Aspectos conceituais e de argumentação quanto ao conteúdo e aspectos da organização coletiva do trabalho. Por incrível que pareça, ainda nessa década do século XXI, muitos alunos apresentam seminários sem saber o que estão fazendo e sem saber o que o professor está avaliando. Atribuição de notas Nesse tipo de atividade o professor poderá utilizar a criatividade. Poderá fazer uma avaliação centrada no seu poder decisório meramente. Ou, criar um processo no qual todos os alunos (o grupo e os demais) participem expressando faces avaliativas do que foi considerado excelente do que poderia ter sido aprofundado. Cabe ao professor decidir sobre o peso que atribuirá ao seminário dentro de todo o processo avaliativo da disciplina. Se o professor tem a intenção de que a dialogicidade seja o motor de sua disciplina e que a problematização possa aflorar dos alunos, pode ser que o seminário tenha o maior peso no processo avaliativo. Para isso, a organização minuciosa de todo o processo – planejamento, desenvolvimento e síntese – é essencial para o sucesso do ensino-aprendizagem. Pode ser também que o professor decida conjuntamente com os alunos qual o peso que será atribuído ao seminário. Fonte: www.sxc.hu 5.4 O RESUMO DE BIBLIOGRAFIAS, TESES, DISSERTAÇÕES E ARTIGOS 206 Avaliação na Educação Superior O resumo é a apresentação concisa e seletiva das ideias presentes num texto. Como afirma Medeiros (1997, p. 118): “um resumo pode ter variadas formas: apresentar apenas um sumário das idéias do autor, narrar as ideias mais significativas, condensar o conteúdo de tal modo que dispense a leitura do texto original” (MEDEIROS, 1997, p. 118). Requisitos do resumo como técnica de avaliação - Seleção de uma bibliografia para ser estudada. É importante que os alunos saibam da importância/ localização da referida atividade no contexto do planejamento anual ou semestral da disciplina. - Esclarecimento aos alunos a respeito do que seja resumo e qual tipo está sendo solicitado. Geralmente os professores solicitam resumos e parte do pressuposto que todos os alunos sabem o que é. Esse é um equívoco! Afinal, os alunos ainda trazem presente a ideia de que resumo é “recorta e cola”, cabendo ao professor explicitar que existem no mínimo dois tipos de resumo, a saber: Resumo simples, ou seja, a síntese do texto lido, sem a emissão de julgamento crítico por parte do leitor (aquele que faz o resumo). Resumo crítico é uma síntese do texto lido acrescida de apreciação crítica do leitor (aquele que faz o resumo). É importante saber quais são os passos fundamentais para a elaboração de um resumo. Medeiros (1997) indica nove pontos que devem estar destacados num resumo, a saber: 1) O assunto da obra analisada. 2) Objetivo do texto estudado. 3) Articulação das ideias. 4) Conclusões do autor da obra estudada. 5) Ser redigido em linguagem objetiva. 6) Não apresentar juízo crítico. 207 Metodologia do Ensino Superior 7) Se inteligível por si mesmo, dispensando a leitura do original. 8) Evitar repetição inteira de frases do original e respeitar a ordem em que as ideias ou fatos são apresentados. Esses passos precisam ser do conhecimento dos alunos, de modo que eles estejam cientes dos quesitos que integrarão a avaliação do trabalho. É importante que os alunos saibam que todo resumo deve ter introdução que mencione qual obra está sendo resumida, quando foi escrita e quais são os objetivos centrais dela. Na introdução o aluno pode expor sobre como fez a disposição do resumo, se em tópicos, se organizou por capítulos etc. Ele deverá saber que o conteúdo central da obra deve estar presente no resumo, por meio da apresentação das ideias consideradas centrais, imprescindíveis para a compreensão do tema estudado. Devem saber que o resumo tem que ter o desenvolvimento e o fechamento/ considerações finais. Em síntese. Eles devem saber que o resumo é um trabalho de própria autoria e não um boneco construído de recortes e colagens, cuja autoria não se identifica. Para que o resumo atinja os propósitos de contribuição com a apropriação de conhecimentos é importante que seja elaborado mediante a interpretação do texto, que é o momento em que o leitor faz a apreciação crítica do que lê. A interpretação do texto requer a escrita de um trecho, no resumo, que contenha as ideias da obra lida, porém com as palavras do leitor. O autor do resumo, que é o leitor, posiciona diante das ideias do autor da obra resumida, comparando as mesmas com outros estudos e experiências. O leitor apresenta críticas ligadas à coerência interna do texto, como a articulação entre as partes do mesmo. É um trabalho que exige o envolvimento do aluno com o texto lido e ao mesmo tempo um distanciamento no momento da escrita, uma vez que o autor do resumo trará a sua apreciação crítica acerca das ideias expostas no texto e da contribuição delas para a área do conhecimento em questão. 208 Avaliação na Educação Superior Quesitos para avaliação Analisa-se a postura do leitor da obra. Trata-se de um leitor objeto ou de um leitor sujeito? Como explicita Luckesi (2005) em sua obra ’’Fazer universidade: uma proposta metodológica’’: Leitor sujeito é aquele que discute com o autor; que procura interpretar o que lê; que recria o texto e não meramente memoriza aquilo que lê. Leitor objeto é aquele que reproduz trechos da obra lida, sem sequer compreender o que faz e o que lê. Analisa-se o domínio do conteúdo estudado, identificando se o aluno conseguiu problematizar o que leu ou se meramente reproduziu o conteúdo. É importante que o aluno saiba o que será avaliado no trabalho e que ele receba orientações do que caracteriza o resumo. Pode parecer simplório demais, porém não é! Os alunos não sabem o que o professor quer quando solicita um resumo e não o explica. Quando solicitar um resumo para fins de avaliação é importante indicar uma literatura que explique o que é resumo ou mesmo uma literatura que explicite as diretrizes para leitura, análise e interpretação de textos. ?? SAIBA MAIS Conheça as obras abaixo que mostram o que é e como fazer resumos: MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. São Paulo: Atlas, 1997. (Capítulo 7) SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Acadêmico. 19 ed. São Paulo: Cortez, 1993. (Capítulo 3) 5.5 A RESENHA PODE SER UMA TÉCNICA PARA A AVALIAÇÃO DO ENSINOAPRENDIZAGEM? Primeiramente cabe definir o que é resenha. Trata-se de um tipo de trabalho acadêmico que exige a leitura de toda a obra, a busca de informações sobre as credenciais do autor da obra, informações sobre a tendência teórica e o momento histórico em que a obra foi escrita, etc. Para Medeiros (1997, p. 209 Metodologia do Ensino Superior 132), a resenha é: (...) relato minucioso das propriedades de um objeto, ou de suas partes constitutivas; é um tipo de redação técnica que inclui variadas modalidades de textos: descrição, narração e dissertação. Estruturalmente, descreve as propriedades da obra (descrição física da obra), relata as credenciais do autor, resume a obra, apresenta suas conclusões e metodologia empregada, bem como expõe um quadro de referências em que o autor se apoiou (narração) e, finalmente, apresenta uma avaliação da obra e diz a quem a obra se destina (dissertação) (MEDEIROS, 1997, p. 132). Para melhor compreensão do que é a resenha sugere-se que professores e alunos leiam as resenhas publicadas nos jornais de circulação nacional, a exemplo da Folha de São Paulo que publica um Caderno de Resenhas. Ainda, é de fundamental importância que o professor indique aos alunos a consulta a periódicos científicos da área e neles verifique as resenhas apresentadas. O objetivo principal da resenha é exercitar a interpretação e a elaboração de comentários sobre um texto. Espera-se que o autor da resenha domine o assunto resenhado. Quando se trata da graduação, como atividade avaliativa, a resenha é utilizada para que o aluno se familiarize com a análise dos argumentos utilizados para se demonstrar/provar/descrever um determinado tema. Exige leitura rigorosa do texto, investigação sobre o autor da obra resenhada, sobre o período em que a mesma foi escrita. Enfim, antes de elaborar a resenha propriamente dita o aluno deverá ser alertado para a sua atitude de investigação acerca do que está lendo. Requisitos - Conhecimento da obra em sua totalidade. Nesse caso, o professor deve evitar solicitação de resenhas de partes ou capítulos de obras, pois geralmente os alunos adquirem fotocópias e têm dificuldades para visualizar a totalidade do que lêem. - Identificação do autor, tempo em que produziu a obra, tendências teóricas e contexto histórico. Essa contextualização poderá ser objeto de investigação dos alunos ou poderá ser fornecida 210 Metodologia do Ensino Superior pelo professor no momento em que solicita a resenha como documento que será computado para fins de avaliação do período letivo. - Leitura prévia de uma resenha publicada em periódico científico. Ou seja, para que a resenha atenda aos requisitos da avaliação é fundamental que o professor tenha certeza de que os alunos sabem o que é uma resenha. Logo, essa técnica de avaliação poderá somar-se ao levantamento bibliográfico. O professor pode solicitar que os alunos façam levantamentos em revistas da área de modo que eles identifiquem, leiam e compreendam as características da resenha. Feita essa atividade, é possível solicitar a elaboração de uma resenha. E, há que se superar a ideia de que o professor de Metodologia Científica é quem deve dar o embasamento para tais questões. É importante lembrar que a nossa prática produz cultura. Logo, se todos os professores fizerem ao menos uma vez no semestre o exercício de solicitar a leitura e a produção de uma resenha, como requisito de avaliação na disciplina, estará com certeza fortalecendo a cultura da leitura e da produção do texto entre os seus alunos. Quesitos da avaliação - Domínio do conteúdo e interpretação das ideias presentes na obra. - Apresentação dos elementos técnicos da resenha: Ÿcredenciais do autor, Ÿideias centrais, Ÿfundamentos teóricos presentes na obra, Ÿconclusões expostas na obra resenha e comentário (pessoal/crítico) do resenhista. - Redação: observação da coerência e clareza das ideias. Como nas demais técnicas de avaliação do ensino-aprendizagem, os alunos deverão estar cientes de todos os quesitos da avaliação e dos pesos atribuídos a eles, se for o caso. Atribuição de notas A atribuição de notas será feita em função dos quesitos apontados 211 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior anteriormente, cabendo ao professor analisar em que medida os alunos tinham clareza do que é uma resenha e em que medida trouxeram para o texto/resenha tais conhecimentos. Ao fazer esse julgamento, o professor estará repensando a própria prática em sala de aula. Se todos os alunos deixaram alguns quesitos de lado é porque os mesmos não ficaram evidentes para eles. Se a avaliação é processual, ela dá um parâmetro para que o professor retome o conteúdo resenhado e as características da resenha. O professor pode organizar com os alunos um roteiro com as questões que serão avaliadas na resenha. Algo que pode ser feito de modo muito rápido numa aula, de modo que os alunos saibam o que fazer e como fazer. É importante que a resenha e a sua avaliação estejam bem contextualizados no planejamento do ensino (bimestral ou anual). É sabido que o professor de Química, Física, Línguas, etc. tem muitos conhecimentos/ conteúdos específicos a tratar com os seus alunos, entretanto, se o professor deseja ter uma prática democrática e realizar um processo avaliativo democrático é importante que dedique alguns minutos na explicação dos critérios avaliativos da disciplina e de cada técnica utilizada para avaliar se os conteúdos foram apropriados ou não. ?? SAIBA MAIS A resenha deve ser da obra completa e não de partes dela. O aluno precisa ter a visão do TODO da obra. É importante que antes da resenha outras atividades sejam elaboradas em torno da mesma obra resenhada, a exemplo de resumo e fichamento. É fundamental que haja uma discussão prévia do texto em sala de aula, para que os alunos se familiarizem com o conteúdo. 5.6 FICHAMENTO DE TEXTOS É um dos meios de organizar e sistematizar os materiais bibliográficos utilizados no curso. A finalidade pode ser documentação pessoal ou trabalho acadêmico para auxiliar no estudo de textos, a pedido do professor de uma determinada disciplina. O Fichamento pode ser elaborado em fichas ou em arquivos digitais. 212 Metodologia do Ensino Superior ?? SAIBA MAIS Consulte a obra LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1991. As autoras destacam os tipos de fichamento e demais trabalhos acadêmicos. A origem do termo fichamento está ligada ao meio onde era elaborado – fichas de tamanho pequeno, médio e grande. O trabalho do tipo fichamento permite identificar obras, conhecer seu conteúdo, fazer citações (diretas e indiretas) e elaborar críticas. Existem vários tipos de fichamento, a saber: 1) Bibliográfico; 2) Resumo ou Conteúdo; 3) Citações; 4) Esboço. As características centrais deles são: O fichamento do tipo bibliográfico caracteriza-se por apresentar os problemas significativos tratados na obra; as contribuições especiais com relação ao tema estudado; a fonte (teórica, empírica ou documental) dos dados expostos na obra; o método de abordagem do assunto e as considerações ou conclusões presentes na obra fichada. O fichamento do tipo resumo ou conteúdo caracteriza-se por apresentar uma exposição abreviada das ideias do autor, mediante elaboração escrita com as próprias palavras daquele que elabora o fichamento. O exercício aqui é escrever com as próprias palavras o que é central no texto. Pode haver citação direta (reprodução de frases do texto de acordo com as normas técnicas para citação direta) e também citação indireta (de acordo com as normas técnicas). Não é preciso obedecer à estrutura da obra. O leitor pode decidir como organizar o texto/fichamento. O autor do fichamento dá o caminho mais adequado à sua redação, desde que aponte os conceitos centrais da obra. 213 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior ?? SAIBA MAIS Os professores costumam solicitar o tipo de fichamento de conteúdo ou resumo para os seus alunos. Não é necessário que o professor explique todos os tipos de fichamento. É somente imprescindível que o professor explique quais são as características do fichamento que está solicitando, a fim de evitar o “recorta e cola”. E mais, quando o professor deixar de explicitar o que quer com o trabalho, alguns alunos dizem “ah, o professor nem vai ler esse trabalho!”. O fichamento do tipo citação se caracteriza por reprodução fiel de frases ou sentenças consideradas relevantes ao estudo em pauta, particularmente dos conceitos centrais da obra. Para isso deve fazer uso de aspas e indicação da página onde se localiza a frase citada. Pode ainda ser reproduzido um fragmento de parágrafos, obedecendo sempre às normas técnicas. O fichamento do tipo esboço é bem extenso, se comparado com o tipo conteúdo ou resumo. Pode haver citação de trechos da obra lida e comentários do autor que faz o fichamento. É um esboço, algo que traz as ideias centrais do texto e outras acrescidas pelo autor do fichamento. O fichamento é um tipo de documentação pessoal que pode ser solicitado com a finalidade avaliativa desde que a obra seja essencial para o conteúdo em desenvolvimento na disciplina. Com isso, o professor estará diversificando as formas avaliativas e possibilitando que os alunos possam pesquisar mais sobre determinados assuntos, sem aquele “medo” que permeia o dia específico da avaliação. Se o aluno fizer algum tipo de fichamento em todas as disciplinas, ao menos uma vez no período letivo, a leitura e a escrita estarão sendo aprimoradas nesse estágio de formação inicial. Requisitos - Seleção de uma obra ou mais que sejam essenciais à disciplina em ministrada. - Explicação das características do fichamento aos alunos. - Indicação das normas técnicas para elaboração do texto ou do docu- 214 Metodologia do Ensino Superior mento em que elas são expostas (ABNT ou Caderno de Normas da Universidade). - Indicação dos itens que serão avaliados. - O fichamento poderá ser de capítulos ou de obras completas. Cabe ao professor selecionar o texto mais adequado para o conteúdo que está em debate no momento e no contexto do planejamento do ensino. - Sugere-se que no primeiro ano de estudo na universidade os fichamentos sejam elaborados individualmente, de modo que cada aluno possa dedicar atenção na leitura e interpretação da obra. - Para evitar cópias de textos da web é importante que os professores insiram algumas indagações que deverão ser respondidas após a leitura do texto. As indagações devem sugerir o posicionamento do aluno, com a devida argumentação. - Em determinado conteúdo da disciplina sugere-se que sejam selecio-nados diversos textos para serem fichados, o que dificulta a cópia de um aluno para outro também. E, o professor poderá atrelar a nota do fichamento a um trabalho individual em sala de aula. Ou seja, após a entrega do fichamento o professor elabora um exercício, um teste, uma redação etc. (conforme as características de sua disciplina) para ser feito em sala de aula. Os alunos entregam o exercício e este será corrigido juntamente com o fichamento, formando uma nota única. Quesitos da avaliação - Domínio do conteúdo e fidedignidade do texto. - Observância das normas técnicas. - Redação do texto: clareza e articulação entre as ideias. Atribuição de notas A atribuição de notas será feita em conformidade com o peso que o professor atribui a essa atividade. Sugere-se que o professor dê um peso maior aos trabalhos que implicam estudo e produção de texto ou de argumentação por parte dos alunos. Ao contrário do que se valoriza na tendência pedagógica tradicional, a prova objetiva não é mais indicada como aquela que deve ter o maior peso. Se a defesa é por uma Educação Superior 215 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior democrática e consistente teórico-metodologicamente, é necessário que rearranjos sejam feitos no trabalho docente. 5.7 TRABALHO DE CAMPO E ESTUDOS DE CASO: OS RELATÓRIOS Fonte: www.sxc.hu ACADÊMICOS Trabalho de natureza descritiva. Bastante solicitado no Estágio Curricular. Diversas áreas utilizam o relatório como trabalho acadêmico com finalidade de avaliação do ensino-aprendizagem. É o caso de áreas como Agronomia, Engenharias, Tecnológicas, Saúde, etc. Requisitos É fundamental que um relatório técnico apresente uma introdução em que seja relatado o tipo de atividade realizada, os objetivos e os procedimentos utilizados em seu desenvolvimento. É necessário que se apresente itens ou capítulos de natureza descritiva. O fato estudado deve ser descrito de modo qualitativo e quantitativo, ou seja, situar no tempo e no espaço o fenômeno estudado, mediante exposição de dados coletados no local e outros oriundos de pesquisas mais abrangentes. Para contextualizar os dados de modo mais abrangente sugere-se que os professores indiquem aos alunos a consulta a páginas de pesquisa como é o caso de: 216 Metodologia do Ensino Superior IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. http://www.ibge.gov.br IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. http://www.ipardes.gov.br IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. http://www.ipea.gov.br PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. http://www.ibge.gov.br PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. http://www.pnud.org.br É necessário que o autor do relatório apresente considerações finais sobre o fato descrito no relatório e que, ao final, exponha a lista de referências utilizadas. O conteúdo do relatório deverá contemplar os seguintes itens que serão avaliados: Apresentação do tema ou problema estudado; descrição do planejamento adotado no estudo; apresentação das hipóteses (se for o caso); exposição dos conceitos norteadores do estudo ou categorias de análise; descrição dos instrumentos e técnicas de coleta de dados; descrição do lugar e dos sujeitos do estudo (se for o caso); apresentação e interpretação dos resultados; formulação de conclusões, e lista de referências bibliográficas e fontes documentais. A utilização de recursos ilustrativos como figuras, fotos, gráficos enriquece o conteúdo do relatório. Quesitos da avaliação - Domínio do conteúdo. - Utilização das normas técnicas na elaboração do texto. - Fidedignidade das informações teóricas/ conceituais e empíricas. - Enriquecimento do conteúdo do relatório com dados de outras pesquisas nacionais. Ou seja, em que medida o aluno utiliza a criatividade no momento de elaborar um relatório técnico? Por exemplo: existem áreas do conhecimento, como Agronomia entre tantas outras, que têm muitos trabalhos de campo, e deles emergem os relatórios técnicos. A questão é: como aprimorar a produção da escrita e o aprofundamento teórico com esse tipo de trabalho? Um requisito fundamental deste tipo 217 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior de avaliação é que o professor enfatize a atitude de investigação por parte do aluno, incentivando-o na busca de novos referenciais teóricos para análise do fato ou fenômeno estudado em campo. Atribuição de notas A atribuição de notas será de acordo com o objetivo proposto aos alunos no contexto do planejamento de ensino da disciplina. Cabe ao professor definir o processo de atribuição de notas em função dos quesitos essenciais da atividade acadêmica. O professor definirá se o relatório é o documento central do processo avaliativo e qual o peso a ele atribuído. Como em todos os casos, sugere-se que o professor explique as características centrais do relatório, os seus itens obrigatórios, que indique onde encontrar as normas técnicas e revele quais serão os quesitos da avaliação. 5.8 ARTIGO CIENTÍFICO OU PAPER COMO INSTRUMENTAL DE AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR? Segundo Medeiros (1997, p. 178): “o artigo científico trata de problemas científicos, embora de extensão relativamente pequena. Apresenta o resultado de estudos e pesquisas. E, em geral é publicado em revistas, jornais ou outro meio periódico especializado” . Os objetivos dos artigos científicos são: 1) Expor aspectos novos, descobertos mediante estudo ou pesquisa, a respeito de uma questão. 2) Expor de maneira nova uma questão já antiga. 3) Anunciar resultados de uma pesquisa. 4) Desenvolver aspectos secundários de uma questão não abordados em um livro já editado ou que será editado. 5) Abordar assuntos controvertidos. A estrutura do artigo integra os seguintes elementos: 218 Metodologia do Ensino Superior ŸTítulo do artigo, ŸAutor, ŸCredenciais do autor, ŸResumo, ŸPalavras-chave, ŸIntrodução (apresentação da temática, objetivos, metodologia e estruturação do artigo), ŸDesenvolvimento (exposição, explicação e demonstração de i- deias e resultados), ŸConclusão: retomada dos resultados e fechamento do trabalho. E o paper? Trata-se de um trabalho que comunica resultados parciais de pesquisa ou reflexões sobre determinadas temáticas e problemáticas. Por exemplo, um texto elaborado para uma palestra, conferência, etc. pode ser considerado paper, desde que não tenha o seu formato acabado como artigo (que revela resultados inéditos de uma pesquisa, total ou parcialmente). Este tipo de trabalho pode ser solicitado para fins da avaliação do ensino-aprendizagem na graduação? A resposta é positiva, uma vez que o mesmo possibilita o exercício da escrita e a articulação entre ideias de outros autores com as ideias do próprio autor do paper. A sugestão é que ao solicitar esse tipo de trabalho o professor indique no mínimo três textos (artigos, capítulos de livros, Trabalho de Conclusão de Curso, tese, dissertação ou outros) e um tema central para reflexão. O intuito é que o aluno leia os três textos e produza o seu paper, em tamanho máximo de três páginas, já que se trata de uma reflexão primeira sobre o assunto. Requisitos - Indicação de temática de estudo. - Indicação de três textos, no mínimo, que constituem parâmetro para o início e desenrolar do texto do aluno. - Explicação dos quesitos da avaliação. - Explicação dos elementos que compõem o trabalho: introdução, desenvolvimento e conclusão, como o critério central de que os textos básicos sejam lidos para então ocorrer a produção textual – paper. 219 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior - Planejar a organização do trabalho, que poderá ser individual ou em duplas. - É fundamental que o professor apresente aos seus alunos um texto do tipo paper. Para tanto, poderá consultar sites de eventos científicos que divulgam os textos das comunicações orais. Sugere-se, ainda, que o professor possibilite o acesso dos alunos aos trabalhos que ele (professor) apresenta em congressos. Essa é uma prática ainda incipiente na academia, embora anualmente os professores participem de vários eventos da sua área. Trata-se de um tipo de trabalho que poderá ser solicitado aos alunos que estão em fase final dos cursos, por compreender que já possuem domínio de determinados conceitos da área específica em que se encontram. Quesitos da avaliação Dependendo da área em que o professor trabalha, esse tipo de atividade poderá ser o instrumental central de avaliação. Entretanto, é importante que o professor defina quantas atividades no semestre ou no ano o aluno deverá fazer. Existem professores que solicitam essa atividade semanalmente para os alunos. Por um lado, propicia que os alunos desenvolvam a produção escrita. Por outro, acarreta um acúmulo de trabalho para o professor. É importante que o docente faça uma avaliação da medida certa, para os alunos e para ele próprio. A relação número de alunos por sala de aula e quantidade de trabalhos a corrigir e comentar com os alunos é importante, pois com o planejamento adequado evita-se um processo avaliativo injusto. A devolução dos trabalhos para os alunos, com comentários específicos é fundamental para que o aluno demonstre maior desenvolvimento nos textos posteriores. Geralmente, o primeiro texto do aluno deixa bastante a desejar. O comentário do professor, por escrito, ou oralmente será essencial para a mudança de atitude do aluno. 220 Metodologia do Ensino Superior São quesitos desse tipo de avaliação: - Domínio do conteúdo, mediante articulação das próprias ideias com as dos autores/obras indicadas. - Redação clara e concisa. - Observância das normas técnicas. Atribuição de notas A atribuição de notas deverá ser feita mediante os quesitos apontados anteriormente e com prévia explanação deles para os alunos. O professor terá que planejar quais temas solicitará que os alunos desenvolvam, com bibliografias específicas e no contexto do planejamento de ensino proposto aos alunos no início do período letivo. 5.9 LEVANTAMENTO DE DADOS BIBLIOGRÁFICOS Num mundo cada vez mais articulado virtualmente, o levantamento de dados bibliográficos poderá ser feito em bancos de dados disponíveis na web. Desde 2006 todas as universidades que possuem cursos de pósgraduação stricto sensu têm que disponibilizar os trabalhos (teses e dissertações) na Biblioteca Digital. Inúmeras universidades disponibilizam tais trabalhos desde o início da década de 1990. Na graduação ainda é incipiente o número de trabalhos que instiguem os alunos à busca nesses bancos de dados. Porém, a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – apresenta um banco de teses, com os resumos dos trabalhos defendidos em todas as universidades brasileiras. É preciso que os alunos da graduação percorram tais sites, que leiam teses e dissertações, pois isso facilitará a produção do trabalho final de curso e colocará o aluno em contato com o estágio atual do conhecimento na sua área de estudo. Outra fonte importante para levantamentos bibliográficos é o SCIELO – Scientific Eletronic Library Online. O aluno desenvolverá duas habilidades ao 221 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior acessar esse tipo de banco bibliográfico: Primeiro: a habilidade de pesquisa. Segundo: a habilidade de relacionar conhecimentos já produzidos com o que há por pesquisar na área. Requisitos Primeiramente o professor deverá acessar todos os bancos digitais que pretende indicar aos alunos, de modo que possa explicitar o funcionamento dos mesmos para os alunos. Depois, o professor indicará o tema para pesquisa e os lugares que deverão ser acessados. É fundamental caracterizar qual é o tipo de trabalho escrito que deverá ser entregue (relatório, texto, quadros, etc.). Quesitos para avaliação - Efetivação da busca na web. Pode ser organizado individual ou coletivamente. - Relação entre os temas encontrados na pesquisa e os temas indicados pelo professor. - Organização/ redação do texto ou do trabalho solicitado. - Síntese elaborada pelo aluno sobre a atividade desenvolvida. Aqui, é fundamental que o professor solicite ao aluno que faça uma síntese do levantamento de dados. Nessa síntese o aluno comentará os temas mais presentes nas pesquisas, as instituições que mais têm trabalhos com determinada temática, etc. Ou seja, é fundamental que o professor indique o que espera do aluno ao final do levantamento de dados, de modo que o trabalho ultrapasse a dimensão do “recorta e cola” e da descrição pura e simples. Atribuição de notas Está na dependência do peso que esse trabalho terá para o conjunto das atividades planejadas para a disciplina. Sugere-se que nos anos iniciais essa atividade tenha maior peso e que nos anos finais ela seja complementar às outras técnicas avaliativas. Por quê? Justamente é para criar o hábito da consulta nesses bancos digitais, prática a ser desenvolvida logo nos anos 222 Metodologia do Ensino Superior iniciais da universidade. 5.10 PROVAS “O primeiro passo na avaliação da aprendizagem consiste na definição dos objetivos que se pretende alcançar, o que significa que este processo se inicia com o planejamento, bem antes, das próprias aulas em que os conteúdos foram ministrados. Assim, tão logo os objetivos tenham sido definidos, procede-se à determinação da técnica mais adequada” (GIL, 2008, p. 254) ?? SAIBA MAIS Para mais detalhes sobre esse tipo de técnica de avaliação consulte a obra de Antonio Carlos Gil. (GIL, A.C. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2008. Capítulo 14). Todas sabem que a prova pode ser objetiva, dissertativa/discursiva e prática. Constitui uma das maneiras de chegar a uma atribuição de notas aos alunos após um período de aulas. Foi bastante utilizada no contexto da tendência pedagógica tradicional e é frequente em nossos dias, não mais como a única forma de avaliação da aprendizagem. De qualquer maneira é possível assim caracterizar as provas: Prova Dissertativa/ Discursiva O professor solicita que os alunos discorram sobre determinados assuntos ou que façam relações entre um conceito e outro; entre o posicionamento de um e outro autor. Requisito: é que o professor explicite a bibliografia e os temas centrais que poderá integrar esse tipo de avaliação. Que explicite se poderá haver consulta ou não a diferentes materiais bibliográficos. Sugere-se que em provas complexas em que se exige argumentação por parte do aluno, o professor permita o uso dos materiais indicados na aula. Essa postura enfatiza a prática da pesquisa e ameniza a preocupação com estratégias de cola no momento da prova. 223 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior Quesitos avaliados: conteúdo, argumentação, redação e articulação entre as ideias. Atribuição de notas: mediante prévia explanação aos alunos dos itens que serão computados na avaliação e quais serão desconsiderados. Existem professores que preferem que os alunos contextualizem a resposta e a argumentação a uma questão. Existem outros que consideram as respostas objetivas e concisas. Os alunos deverão ser informados acerca da preferência do professor. Provas Objetivas É aquela cuja resposta poderá ser atribuída numa simples sinalização de alternativa ou preenchimento de lacunas. O que parece simples pode ser a forma mais complicada de avaliação na Educação Superior, nível educacional em que se espera que o aluno tenha capacidade de argumentação e de criticidade em relação aos conteúdos. Podem ser questões de certo e errado; múltipla escolha; verdadeiro ou falso. Garantem uma correção rápida, uma vez que a maioria delas segue com gabarito de respostas. Requisitos: objetividade na elaboração da questão. Evitar elaborar questões de tipo “pegadinhas” que pouco contribui para o pensamento autônomo e crítico por parte do aluno. As provas podem ser com consulta ou sem consulta a materiais bibliográficos utilizados em aula. Sugere-se que o professor permita a consulta aos materiais usados na aula, desde que seja de propriedade do aluno ou da biblioteca. Quanto mais complicada for a prova objetiva, maior a importância de possibilitar a consulta, a atitude de pesquisa na sala de aula. Assim, o professor se aproximará de uma tendência pedagógica dialógica. Quesitos da avaliação: domínio do conteúdo. Entretanto, há ressalvas quanto a esse quesito, afinal, uma questão pode gerar diferentes inquietações no aluno e ele não terá espaço para expor as suas interrogações. Na atualidade um dos quesitos utilizados em provas objetivos tem sido o processo de argumentação. O professor solicita ao aluno que assinale a 224 Metodologia do Ensino Superior resposta correta e que justifique ou argumente a sua resposta. Parece ser uma boa alternativa, pois permitirá ao professor identificar os motivos que levaram o aluno ao “erro”. Atribuição de notas: Se a prova é objetiva e não abre espaço para argumentação do aluno, a nota será aquela do acerto ou do erro, previamente definida pelo professor. Se a prova permitir argumentação, o professor terá outros elementos para avaliar, sendo a consistência do argumento o principal deles. Provas Práticas É aquela que avalia o domínio de uma técnica pelo aluno. Requisitos: informação sobre o local onde será realizada a prova e qual o seu propósito. É fundamental que os alunos tenham acesso ao formulário que será utilizado para o registro da avaliação, de modo que ele se prepare para tal. Quesitos avaliados: depende de área para área do conhecimento. Gil (2008) cita um exemplo da Enfermagem. Alguns quesitos, dependendo do objetivo da avaliação poderiam ser: 1) lavou as mãos antes do início da atividade. 2) fez antissepsia do local. 3) separou o material a ser utilizado. E, poderíamos inserir outros quesitos, como relacionamento com outros profissionais da saúde, relacionamento com o paciente etc. O professor organiza um quadro com tais quesitos e o apresenta aos alunos antes da prova prática, indicando bibliografias e outros elementos que podem ser estudados para facilitar a realização da prova prática. Atribuição de notas: cada quesito avaliado terá uma pontuação. Logo após a prova prática os alunos já recebem um retorno da avaliação, de modo que percebam onde ocorreu o “erro” e o “acerto”. 225 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior 5.11 OUTRAS TÉCNICAS PARA AVALIAÇÃO A intenção deste módulo foi de despertar entre os professores da Educação Superior a atitude de criação de diferentes técnicas para a avaliação do ensino-aprendizagem. Existem inúmeras técnicas não mencionadas neste módulo que podem ser encontradas em autores como Mendes (2005) e Gil (2008). ?? SAIBA MAIS Para conhecer mais, consulte a obra de Olenir Maria Mendes (MENDES, O.M. Avaliação Formativa do Ensino Superior: reflexões e alternativas possíveis. In: VEIGA, I.P.A.; NAVES, M.L.P. (Orgs.). Currículo e Avaliação na Educação Superior. Araçatuba: Junqueira e Marin, 2005, p. 175-198). Outras técnicas, segundo Mendes (2005), são: 1. Painel integrado. 2. Observação como instrumento de investigação das características individuais e grupais dos alunos. 3. Diário reflexivo. 4. Auto-avaliação. 5. Portfólio. 6. Trabalho monográfico. 7. Entrevista. 5.12 MAIS DO QUE UM CONJUNTO DE TÉCNICAS, O QUE SE ESPERA DO PROCESSO AVALIATIVO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR? Dentre todas as reflexões apresentadas neste módulo, como você analisa a Educação Superior? O que modificou a sua percepção acerca do trabalho docente e do processo de avaliação do ensino-aprendizagem? O que você pensa em modificar na sua própria prática na Educação Superior? Pense nestas questões pois elas integrarão a atividade final do curso. Especificamente sobre o processo de avaliação do ensino- aprendizagem, a autora Kenski (1991) revela ideias que também nortearam a 226 Metodologia do Ensino Superior produção deste módulo. Veja o que a autora escreveu em 1991: “O processo de avaliação em sua forma final, classificatória, não encerra o processo ensino-aprendizagem. Sua principal função deve ser a de permitir a análise crítica da realidade educacional, seus avanços, a descoberta de problemas novos, de novas necessidades ou de outras dimensões possíveis de serem atingidas. O ato de avaliar é uma fonte de conhecimentos e de novos objetivos a serem alcançados no sentido permanente do processo educativo” (KENSKI, 1991, p. 143). Lembra-se do que você estudou no primeiro módulo? Lembra-se das tendências pedagógicas. Você percebe que a proposição para a avaliação do ensino-aprendizagem proposta nesta unidade tem estreita relação com a tendência pedagógica crítica, problematizadora, dialógica. Após verificar que existem inúmeras técnicas que podem ser utilizadas no processo avaliativo é possível afirmar que se espera, do professor e do aluno, uma mudança paradigmática. De um olhar autoritário para os alunos, de vigilância e de punição, caminha-se para um relacionamento democrático, em que se espera que a avaliação seja composta de momentos que demonstram o que foi apreendido pelo aluno, o que poderá ser apropriado por ele e o que deve ser modificado no processo pedagógico, de modo que a aprendizagem ocorra de forma satisfatória. É fundamental lembrar que a prática democrática tem alguns princípios essenciais como organização, participação e respeito. A técnica somente terá sentido acadêmico e político quando atrelada à mudança na concepção de educação. Que seja uma concepção de educação transformadora, como aquela que objetiva que “gente seja mais gente”, que as pessoas possam saber ir além do que já conhecem. Como escreve Mendes (2005): “(...) novas práticas avaliativas fazem-se necessárias, mesmo que sejam pequenas, paulatinas e que aconteçam, inicialmente, apenas no interior de uma sala de aula. Temos que começar de alguma forma, mas precisamos atingir toda a 226 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior universidade com o passar dos dias” (MENDES, 2005, p. 185). Vale outra referência à autora: “Mudar as concepções e as práticas avaliativas não é deixar de avaliar, nem afrouxar. Ao contrário, é ser mais exigente e avaliar muito mais. Além disso, não podemos mais avaliar apenas o aluno, pois todo o sistema faz parte do processo, inclusive o nosso trabalho como professores. Avaliar a aprendizagem de nossos alunos, por mais complexo que possa parecer, é possível e necessário. Não haverá transformação sem ações concretas, mesmo que pareçam pequenas” (MENDES, 2005, p. 195-196). Dessa forma, é importante pensar que a avaliação requer uma mudança de postura tanto do professor quanto do aluno na universidade. Ao professor cabe o planejamento do processo pedagógico e ao aluno cabe a disciplina e rigor no planejamento do estudo. Entretanto, alguns alunos nem sequer tem ideia do que estudar em determinadas disciplinas, visto que existem professores que deixam de entregar ou disponibilizar o planejamento de ensino para o período letivo. O princípio fundamental para o sucesso do processo avaliativo é a transparência do processo pedagógico. Disciplina e organização são requisitos essenciais para o trabalho docente e para o discente. As técnicas que possibilitam analisar o processo ensino-aprendizagem são diversas e indicam o arcabouço de trabalho que cabe ao professor. Afinal, não é mais possível fazer de conta que o professor ensina, e fingir que o aluno aprende, como muito já se discutiu nos anos de 1980 e 1990. Entende-se que a avaliação do ensino-aprendizagem será também um instrumento de avaliação da própria instituição. E nota alta não significará instituição de excelência e nem vice-versa. O fundamental é que os profissionais oriundos das universidades tenham adquirido os requisitos para serem sujeitos críticos e propositivos frente a uma sociedade tão desigual quanto é a brasileira. 227 Metodologia do Ensino Superior Esse desafio é de todos nós que fazemos a Educação Superior no país. Se a nossa intenção é que a educação seja transformadora, a iniciativa pode ser bem pontual, porém significativa: começar mudando a própria prática na Educação Superior. A intenção é ter anos de experiência repetindo as mesmas coisas na sala de aula? Ou, a intenção é ter anos de experiência criativa em sala de aula? Cada aula representa um desafio quando a dialogicidade é o princípio que a orienta. Cada ano letivo chega com o desafio de fazer a diferença em relação ao período anterior. Que possamos fazer a diferença junto aos nossos alunos, despertando a participação efetiva e abrindo-se para a chegada de novas inquietações! Mesmo tendo que atribuir notas ao final de um processo pedagógico, espera-se que algo de novo possa ser acrescentado aos conhecimentos e saberes dos profissionais da Educação Superior. 228 PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA | UFPR 2009 Avaliação na Educação Superior REFERÊNCIAS ANDERSON, L. W.; KRATHWOHL, D. R. A taxonomy for learning, teaching, and assessing. New York: Longman, 2001. BASTOS, M. M. Espaços de formação do profissional de educação: saberes e movimento em rede. In: GARCIA, R. L. (Org.). Aprendendo com os movimentos sociais. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. BLOOM, B. S. Taxonomia dos objetivos educacionais: o domínio cognitivo. Porto Alegre: Globo, 1974. DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. DEMO, P. Avaliação sob o olhar propedêutico. Campinas: Papirus, 1996. DEPRESBITERIS, L. Instrumentos de avaliação reflexões sobre seu significado. In: MELO, M. M. (Org.). Avaliação na educação. 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