Antonio Castel-Branco

Transcrição

Antonio Castel-Branco
O INDICADOR DE EMISSÕES DE CO2 COMO FERRAMENTA DE PROJECTO DE PLANEAMENTO E DE AFERIÇÃO DE
SUSTENTABILIDADE
Mesones J.1, Castelbranco A.2, Turchanina O.3,
1 Universidade Carlos III de Madrid, Espanha
2 Departamento de Urbanismo, Faculdade de arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal
3 Departamento de Tecnologia da Química dos Combustíveis e do Ambiente, Universidade Técnica Nacional de Donetsk, Ucrânia
•
“A guerra contra a degradação do meio ambiente é a única guerra legítima no
planeta” - S.M. Don Juan Carlos, Rei de Espanha.
•
“A análise do estado da arte, que há muito se vem fazendo, evidencia agora um
inadiável final de ciclo e uma incontornável necessidade de mudar para melhorar,
só possível através de uma acção efectivamente realizadora. Não há mais tempo,
nem espaço, para as abordagens meramente reflexivas, ausentes de soluções
concretas e operativas!” A Mudança do Ciclo um Novo Urbanismo - VIII Congresso
Ibérico de Urbanismo – 2011.
•
“Los urbanistas como es usual entre intelectuales, tratamos a menudo de superar
el miedo y la tristeza de sentirnos atrapados en un callejón sin salida,
convertiendo todo en un permaniente analisis intelectual de conceptos
abstractos, que muchas veces sirve solo para discutir continuamente teorias,
llegando en pocas ocasiones a verdaderas soluciones utiles.” – Javier de
Mesones, 1992, XXVIII Congresso ISoCaRP.
•
A comunicação que se segue vem na sequência destas 3 citações e como resposta
aos apelos que aqui se expressam.
•
Em Espanha e Portugal os urbanistas têm tido um
entendimento insuficiente sobre as questões ambientais
para imporem as respostas de projecto adequadas. Tocam
numa orquestra que parece ter falta de maestro, pois ainda
não perceberam que a eles cabe essa tarefa. Para
comandar esta orquestra são necessárias ferramentas e
esquemas intelectuais que são ensinados de forma
incompleta, fragmentada e difusa.
Portanto o urbanista terá que reivindicar o seu papel
recorrendo às ferramentas e esquemas intelectuais para
criar um acervo cultural que lhe permita assumir por direito
próprio a responsabilidade de dirigir tal orquestra.
Com efeito, para ser urbanista é imprescindível planear o
futuro sustentável, mas para planear o futuro é também
fundamental imaginar e é precisamente esta capacidade
de imaginar o futuro – a capacidade que caracterizar o
urbanista – capacita o profissional para compreender o
novo enquadramento que se exige para configurar uma
biosfera melhor (ou pelo menos igual) que aquela que
herdamos.
A Biosfera 2
Lições & aplicações
Linda Leigh
Dezembro de 2004
Na Biosfera 2, criámos uma
economia baseada na moeda
dos
átomos:
carbono,
nitrogénio e oxigénio. Em vez
de começar o dia com a
leitura do ‘Dow Jones ticker’
ou de ir a minha casa para ir
buscar o ‘The Wall Street
Journal’, dirijo-me ao meu
computador para ver os
gráficos com a actualização
dos níveis de dióxido de
carbono na atmosfera e os
níveis de nitratos de água no
oceano”
Com o intuito de verificar a aplicabilidade de
uma metodologia de contabilização de carbono
que fosse útil ao planeamento e ao território foi
seleccionada uma área de estudo: a Bacia de
Drenagem a Norte de Abrantes (BDNA). tendo-se
também objectivado demonstrar que a divisão
do território deverá assentar numa lógica
holística e não em limites e fronteiras
aleatoriamente definidas. A ideia nasceu de uma
vista aérea sobre o deserto.
Linhas de água no deserto – do céu e
no chão
Bacia de Drenagem a
Norte de Abrantes (BDNA)
think globally act locally
Bacia hidrográfica do Rio
Tejo
Bacia de Drenagem Norte de
Abrantes
O território do concelho em bacias de drenagem
& limites administrativos coincidentes
“A city is an invention for maximizing exchange and minimizing travel” .
Register Richard.
Register R. (2002) Ecocities: Building Cities in Balance with Nature, Berkeley, Hill Books, p.27.
A REALIDADE - Dispersão Urbana de Abrantes
Perímetro urbano
Dispersão urbana
Em 1966, José Daniel Santa Rita escreveu que “Abrantes com as suas ramificações lineares e os
seus núcleos dispersos compromete desde já uma área de cerca 1 100 hectares, alojando apenas
cerca de catorze mil pessoas. Os prejuízos que daí resultam são evidentes: grandes superfícies
completamente retalhadas com modestíssimo proveito, rede viária extensa e de manutenção
custosa, duplicações e insuficiências de equipamento, serviços públicos de rentabilidade
prejudicada” *.
* Fernandes J.de Santa-Rita (1966) Abrantes Cidade, Edição da Câmara Municipal de Abrantes, Abrantes.
Porém com um pequeno esforço de cálculo, ficamos a saber que o Plano de
Urbanização de Abrantes (PUA) tem a capacidade efectiva para acolher mais de 84 940
habitantes. Contudo, a realidade da cidade é outra, uma vez que a população que
residia dentro do perímetro urbano de Abrantes em 2001 era de apenas
18 606 habitantes, prevendo-se os seguintes valores (ver tabela):
Podemos assim deduzir que, na melhor das hipóteses, a população da cidade de
Abrantes será, daqui a 20 anos, de 23 536 habitantes. Ora, se a cidade de Abrantes
tiver efectivamente um crescimento de 4 930 habitantes em 20 anos, parece
desnecessário projectar a cidade na perspectiva de que esta venha a ter uma
capacidade suficiente para alojar mais de 84 940 habitantes.
Projecções populacionais para a cidade de
Abrantes.
Projecção para a
Crescimento entre
10 anos
15 anos
20 anos
Quadro I
20 314 hab.
21 167 hab.
22 019 hab.
3 413 hab.
Quadro II
20 774 hab.
22 306 hab.
23 536 hab.
4 930 hab.
Quadro III
20 253 hab.
21 077 hab.
21 900 hab.
3 294 hab.
cidade
2001 e 2021
Sustentabilidade e Perímetro Urbano
Neste sentido, reduzir o perímetro urbano de Abrantes contribuirá
para a sua sustentabilidade futura.
LOW CARBON CITIES
45th Annual Congress of the
International Society of City and Regional
Planners ISOCARP
“Porto 09 builds upon the results of
ISOCARP’s Congress on urban sprawl
held last year in Dalian, China.
In sustainability terms, the unrestrained,
land consuming patterns of much urban
growth – the manifestations of sprawl
– are the opposite of what we need to
achieve”.
Em contraponto à dispersão urbana,
o Centro histórico de Abrantes apresenta
uma densidade elevada.
A densidade populacional é inversamente proporcional à emissão de
carbono, as cidades com maior densidade consomem menos energia e,
portanto, emitem menos CO2 per capita.
Emissões de CO2 na BDNA
Balanço estimado do total das emissões de CO2 na BDNA
15 555
toneladas de CO2/ano causadas pelos fogos florestais
8 672
toneladas de CO2/ ano devidas à respiração humana
32 859
toneladas de CO2/ano devidas à produção de energia eléctrica
42 417
toneladas de CO2/ano pela utilização de automóveis
4 117
toneladas de CO2/ano pela utilização de gases líquidos
103 620
toneladas de CO2/ano de emissões totais na BDNA
Emissão estimada de CO2 per capita e por ano na BDNA
Exemplo da absorção de CO2 na BDNA
Balanço estimado do total de absorção
de CO2 na BDNA
Deficit na absorção de CO2 em 36 599 toneladas por ano.
103 620 (emissão) – 67 021 (absorção) = 36 599 (deficit) toneladas por ano.
Comparação da metodologia utilizada
Estimativa das emissões per capita por ano na BDNA é de
7,4 toneladas de CO2.
As emissões existentes calculadas no Protocolo de Quioto são “de
84 608 000 toneladas de CO2 para Portugal”, que com uma população de
cerca de 10,6 milhões de habitantes corresponde a uma média de
7,9 toneladas de CO2/ano per capita” *.
A diferença entre estes dois valores (7,4 e 7,9 toneladas de CO2) é de
apenas ~ 6%.
* Documento “Protocolo de Quioto” da Conferência sobre as Mudanças no Clima, Quioto, 1998.
• Dos números apresentados verifica-se - que apesar da BDNA
corresponder a uma área fundamentalmente de florestal e agrícola e, com
uma população de apenas 14 000 habitantes em 5662 hectares
(correspondente a 2,5 habitantes/ha) – um deficit entre a emissão e
absorção de CO2. O que revela a importância de se repensar a forma da
utilização do território.
•
• Em suma, ao longo desta apresentação pretendeu-se contribuir para a
construção de um novo enquadramento intelectual, que assente na
divisão do território em bacias de drenagem (conforme sugerido com a
experiência feita na BDNA), e na contabilização de CO2 como indicador útil
para aferir a sustentabilidade de uma área específica. Sendo que num
futuro próximo o Esquema de Comércio de Emissões (emission trading
scheme) irá sem dúvida ser aplicado ao território na sua totalidade (áreas
urbanas, áreas agrícolas, áreas de floresta) mas o formato deste esquema
deverá inevitavelmente ser inventado e definido por urbanistas.
Encontros & sementes
o Congresso da Transdisciplinaridade
•
Já datava de alguns anos a ideia de reunir as pessoas que, na comunidade
internacional, se reconhecem numa atitude transdisciplinar e o Congresso da Arrábida
de 1994 é herdeiro de tentativas anteriores de aproximação transdisciplinar:
•
Este congresso teve intervenções de Michel Cazenave, Olivier Costa de Beauregard,
Etienne Klein, Javier de Mesones, Gilbert Durand, Costa Lobo,
Lobo Ruth Escobar, MarcWilliams Debono, António Bracinha Vieira, , Raquel Gonçalves, Maurice Couquiaud, Phil
Hawes,
Hawes António Castel-Branco,
Branco Nicoló Dallaporta, Michel Camus, dentre muitos outros.
Na última sessão desse congresso foi discutido um projecto de «Carta da
Transdisciplinaridade» da autoria de Edgar Morin,
Morin Basarab Nicolescu, Lima de Freitas e
Duarte Castel’Branco,
Branco cujo texto traduzido vem ao fim deste trabalho (...)
•
Deste VIII Congresso da AUP ficaram semeadas muitas sementes algumas germinarão
outras serão esquecidas, mas porventura a ideia de que é nececessária a construção de
um novo enquadramento intelectual assente numa visão holística e transdisciplinar
será uma das que perdurarão .

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