Março/Abril 2014 - Impulso Positivo
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Março/Abril 2014 - Impulso Positivo
Informação para maior impacto social N.20 Março/Abril 2014 O projeto Impulso Positivo é apoiado por: Opinião • Entrevistas • Casos & Testemunhos • Artigos Técnicos • Prémios & Incentivos • Agenda 02 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 ÍNDICE 04 EDITORIAL 26 EXPERIÊNCIAS 10 VIVA VOZ NACIONAIS Entrajuda, Lipor, Cais Recicla, Fruta Feia, Ritz Four Seasons, Moinho, Amb3E, Skeleton Sea, Programa Voices NACIONAL A alma é o segredo do negócio Por Pedro Norton de Matos, Greenfest FÓRUM “Quais os principais desafios que se impõem atualmente em Portugal no que respeita a economia da partilha? Por Maria do Carmo Marques Pinto, SCML; Fernando de Macedo Chaves, BUS; e Eduardo Graça, CASES INTERNACIONAIS Global Sharing Day e Zero Waste Europe 38 PRÉMIOS & INCENTIVOS 44 ARTIGOS TÉCNICOS Consumo Inteligente: a melhor arma contra o desperdício Por Sara Campos, Quercus Desperdício: O Setor Agro-Alimentar e o Consumidor (c) Jorge Sarmento Por Isabel Braga da Cruz, PortugalFoods 14 CAPA ENTREVISTAS Benita Matofska Anupam Mishra 22 NO CENTRO António Costa Pereira, Movimento Zero Desperdício Conferência “O Impacto Social da Reabilitação Urbana” 50 FOTOFILANTROPIA EDITORIAL Hoje separamos o lixo. Acreditamos que pelo menos algum do lixo que separamos será reciclado. Uns, mais que outros, acreditam que estão assim a contribuir para diminuir o impacto no ambiente. Hoje as empresas refletem e atuam sobre o desperdício que geram, procurando que este diminua. Olham para o ciclo de vida do produto de uma forma mais abrangente, da origem das matérias primas e componentes que o integram até ao seu fim de vida. Além do evidente impacto económico na redução do desperdício, sabem hoje que a sociedade (que consome e escolhe a quem compra) valoriza esse tipo de postura nas empresas. Entidades públicas, como por exemplo as autarquias, investem na promoção da educação para a redução de desperdício ou para a sua separação e tratamento. De facto, cada vez mais pessoas e entidades estão despertas para os problemas do desperdício material. Mas não é só este o tema que nos ocupou ao longo da produção dos conteúdos desta edição. A par da preocupação com o desperdício material há cada vez mais a preocupação com o desperdício de sinergias, de competências, de conhecimento, de tempo. Quantos estão no terreno a fazer o mesmo, a cometer os mesmos erros, sem aprendizagem mútua, sem partilha, ...? Tanto que poderia ser evitado, acelerado, melhorado. Partilhar é uma forma simples e inteligente de evitar o desperdício. O nosso saudoso Diogo Vasconcelos sabia bem o significado disto. Aquele que foi um dos mentores na Europa dos nossos dias, no mundo dos nossos dias, da integração da inovação social na definição de inovação adotada pelas União Europeia, não se cansava de dizer – “We are what we share.” “Somos o que partilhamos.” Diogo Vasconcelos, 1968-2011 “Somos o que partilhamos.” Seremos tanto melhores, faremos tanto melhor quanto mais partilharmos, de forma generosa. Vai fazer 3 anos que o Diogo nos deixou. O mundo não parou, o país não parou. São vários os exemplos de iniciativas que apostam na inovação para a redução de desperdício – seja este material ou imaterial. O Diogo quereria ainda mais. Partilhemos. Raquel Campos Franco diretora *Siga-nos em www.impulsopositivo.com facebook.com/impulsopositivo twitter.com/impulsopositivo O projeto impulso positivo é apoiado por: Março / Abril 2014 Administração Raquel Campos Franco | António Gil Machado • Direção Raquel Campos Franco | [email protected] Edição Rita Ribeiro | [email protected] • Colaboradores Leonor Rodrigues | [email protected] Pedro Lopes | [email protected] • Projecto Gráfico Gonçalo Forte(Brandscape Leisure & Lifestyle, Lda) • Design Gráfico tê[email protected] • Impressão Uniarte Gráfica S.A, Rua Pinheiro de Campanhã, 342, 4300-414 Porto Assinaturas Paula Moreira • Propriedade Positivagenda – Edições Periódicas e Multimédia, Lda. • Preço Assinatura anual (6 números): 70€ | Avulso: 12€ Tiragem 5000 exemplares Redação, Administração e Assinaturas PORTO – R. Gonçalo Cristovão nº 185, 6º 4049-012 PORTO Tel 222 085 009 | Fax 222 085 010 • Redação, Administração e Assinaturas Lisboa Av. Fontes Pereira de Melo, nº 6 – 4º andar, 1069-106 Lisboa | Tel. 217 970 029 | Fax. 217 970 030 • Nº Registo ERC 126045 BREVES Fundação Montepio apoio CASA Com área de atuação em Setúbal e Azeitão, o projeto do Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA) apoia, atualmente, cerca de 400 pessoas. “Por acreditar na boa vontade e empenho do grupo de voluntários que integram o projeto”, o CASA é apoiado, desde o primeiro momento, pela Fundação Montepio, que assegurou apoio financeiro, bem como a atribuição de uma viatura, entregue no âmbito do projeto “Frota Solidária”. O CASA tem como missão auxiliar as famílias carenciadas que procuram o centro para apoio alimentar, ajuda nas áreas social e judicial, saúde, ensino, bem como em outras áreas, de acordo com a zona geográfica de atuação; além de encontrar parcerias com entidades que disponibilizem desperdícios criados no âmbito do seu negócio, nomeadamente pastelarias, restaurantes, churrasqueiras/takeaways e hipermercados. Todo o tipo de material que o CASA recebe destina-se a famílias carenciadas e referenciadas, tendo recuperado, no concelho de Setúbal, ao longo dos últimos cinco anos, um valor considerável de desperdícios que de outra forma não seriam aproveitados. Com este projeto as famílias mais necessitadas passaram a aceder, na maioria dos casos, a uma refeição digna, permitindo o acesso a uma quantidade de alimentos que, de outra forma, dificilmente obteriam. Para tal, muito contribuem os hipermercados das zonas de atuação, que disponibilizam bens (alimentares e outros), possibilitando, desta forma, o acesso a produtos para além dos de primeira necessidade. Todo este processo tem permitido às entidades dadoras, do ponto de vista da gestão eficiente de recursos, a otimização dos seus procedimentos internos de distribuição já que, após verificação dos excedentes disponibilizados, implementaram alterações logísticas e tornaram a gestão dos bens alimentares disponíveis para venda muito mais eficiente. 300.000 refeições para quem mais precisa Graças à campanha realizada no fim-desemana de 5 e 6 de abril, o programa de responsabilidade social Missão Sorriso, em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa, conseguiu reunir produtos que representam o equivalente a 300.000 06 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 refeições destinadas a muitas famílias em situação de carência alimentar. Este resultado foi possível graças ao contributo de milhares de portugueses, que responderam positivamente ao apelo da Missão Sorriso e ofereceram produtos como enlatados, leite, açúcar, sal grosso, bolachas, leite em pó, papas lácteas para bebé, safe solúvel, chá, barras energéticas, cereais, arroz e massa, entre outros. A ação de angariação aconteceu em simultâneo nas cerca de 285 lojas do grupo Sonae em todo o país, e contou com o apoio de mais de 3.500 voluntários da Cruz Vermelha Portuguesa, do Continente, do Meu Super e de parceiros. Estes bens angariados irão ser distribuídos por famílias carenciadas identificadas pelas cerca de 100 delegações da Cruz Vermelha em Portugal, mediante as necessidades mais urgentes em cada ponto. Portugal contraria tendência europeia e reduz Ajuda ao Desenvolvimento Portugal tem vindo a diminuir os montantes atribuídos a Ajuda Pública ao Desenvolvimento, sendo mesmo o líder entre o grupo de países do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (CAD / OCDE) que mais diminuíram estes apoios. O alerta foi dado pela Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), que representa a nível nacional e internacional um grupo de 65 ONGD registadas no Ministério dos Negócios Estrangeiros. De acordo com os dados divulgados pela OCDE, a Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) portuguesa registou uma quebra de 20,4 pontos percentuais em 2013, situandose nos 335,6 milhões de euros (0,23% do Rendimento Nacional Bruto), ou seja, menos 87 milhões que em 2012. Por estas contas, só nos últimos dois anos o nosso país reduziu em 144 milhões de euros os fundos para a APD. Um facto “ainda mais preocupante quando sabemos que do montante contabilizado como APD só um quarto é considerado como genuína, ou seja, desligada de outros interesses, que não os da prioridade da luta contra a pobreza e a promoção do desenvolvimento” alerta a ONGD. BREVES BUS leva 75 mil objetos a famílias carenciadas em 8 anos Escolinha do IPO de Lisboa fica mais tecnológica com o apoio da Microsoft A Microsoft Portugal decidiu assinalar o Dia Mundial da Saúde e, nesse âmbito, doou seis tablets Surface à Associação Acreditar para equipar a Escolhinha do IPO de Lisboa. Desenvolvida no âmbito do programa de Responsabilidade Social Corporativa da Microsoft Portugal, esta ação veio reforçar o compromisso da empresa em “colocar a tecnologia ao serviço de todos”. Recorde-se que desde o início do ano passado, a empresa tem vindo a desenvolver um projeto para ajudar as crianças e jovens internados a continuarem ligados às escolas e a poderem prosseguir os seus estudos, mantendo-se em contacto com a comunidade escolar, ao mesmo tempo que lhes proporcionam momentos de lazer. Além da Acreditar, neste âmbito foram já também doados 25 tablets Surface à Associação dos Amigos do Hospital de Santa Maria e de 8 tablets Surface à pediatria do Hospital de Santa Cruz.de Voluntariado no Ensino Secundário. Allianz já doou 1 milhão de euros à UNICEF em Portugal A Allianz Portugal voltou a reforçar a sua parceria com o Comité Português para a Unicef, para que juntas possam combater a exclusão escolar e social através do apoio às crianças que têm dificuldades de acesso à educação. No âmbito deste compromisso conjunto, e desde 1990, a seguradora já doou cerca de um milhão de euros aquela organização das Nações Unidas. O donativo da seguradora resulta da partilha de resultados do seguro de acidentes pessoais para crianças Allianz Proteção Infantil, do qual são retirados 70% do total de vendas realizadas em cada ano. A BUS – Bens de Utilidade Social foi criada por um grupo de pessoas que desejavam apoiar famílias carenciadas e instituições de solidariedade social através de um projeto que se revelasse capaz de responder a uma necessidade real: fornecer bens de utilidade doméstica a famílias e instituições. Ao longo dos seus oito anos de existência, esta entidade fez chegar mais de 75 mil objetos a famílias e instituições carenciadas e a BUS espera que, “com o esforço continuado de todos, seja possível, por muitos anos, contribuir para o combate ao desperdício e levar um pouco de bem-estar a quem mais precisa”. A ação da BUS nasce da convicção de que os bens que para uns são desnecessários e supérfluos podem ter grande utilidade para outros. Assumindo-se a missão de ligar empresas e pessoas, que detêm bens de que não necessitam, a instituições ou famílias que deles necessitam, o modo de funcionamento da BUS é “simples, objetivo e ecológico e permite à associação constituir-se como agente que permite concretizar o desejo de dar, realizando o sonho de quem recebe”. O Montepio apoiou a realização de um filme institucional que permitiu dar a conhecer a BUS e que, através do projeto “Minuto Solidário”, ajudou a promover a associação junto de outros parceiros e da comunidade. “Crescer Fazendo” integra profissionalmente jovens em risco de exclusão A União Meridianos e a Associação Portuguesa para os Direitos das Crianças (CrescerSer) uniram-se para dinamizar uma inovadora rede de colaboração empresarial para a integração de jovens em risco de exclusão. Designada “Crescer Fazendo”, esta iniciativa procura “promover a plena inserção social, educativa e profissional” através da formação em contexto real de trabalho. Pioneiro no nosso país, este projeto está a ser desenvolvido desde junho do ano passado e surgiu da constatação de que “a maioria das empresas tem dificuldade em integrar jovens em risco de exclusão”, nota Ana Nóbrega, responsável pelas relações institucionais da União Meridianos. Assim, o projeto “Crescer Fazendo” procura “facilitar a jovens em risco de exclusão social uma oportunidade profissional, através de bolsas personalizadas, com uma duração mínima de três meses, assentes na formação em contexto real de trabalho e que contam com o acompanhamento de técnicos especialistas em matéria de reinserção social”, sublinha a responsável. Com arranque para maio, quando serão divulgados os nomes das empresas parceiras, o projeto irá atribuir 80 bolsas a jovens entre os 16 e os 24 anos oriundos de contextos sociais desfavorecidos, com escolaridade obrigatória e com dificuldades de acesso ao mercado de trabalho. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 07 BREVES Azeite Solidário ajuda à confeção de refeições em Beja A Cáritas Diocesana de Beja lançou a campanha “Azeite Solidário, Uma Gota de Esperança”, que visa angariar 3.000 litros de azeite para ajudar à confeção de refeições durante um ano no refeitório da instituição. Contando com o apoio de algumas empresas produtoras de azeite da região, a iniciativa tem como objetivo ajudar as “pessoas e famílias em situação de exclusão e vulnerabilidade” que recorrem à cantina social da Cáritas em Beja, afirmou a presidente da entidade, Teresa Chaves. Caso a Cáritas consiga ultrapassar a meta estabelecida, o excedente de azeite será distribuído pelas famílias carenciadas que a instituição apoia todos dos dias. Em 2013 a cantina da Cáritas de Beja serviu mais de 60.000 refeições, das quais apenas 100 financiadas pela Segurança Social. Voluntariado Empresarial cresce em Viana do Castelo O movimento de voluntariado empresarial continua a crescer em Viana do Castelo. Sob o lema “Quem ama cuida”, a autarquia vienense tem em curso um projeto dedicado ao voluntariado empresarial, no âmbito do qual acaba de assinar 111 protocolos com 39 empresas do concelho. Lançado em 2012, este projeto pretende aproximar as competências das empresas locais e as necessidades das instituições particulares de solidariedade social e associações do concelho, através da prestação voluntária de serviços pelas primeiras. E, confirmando o sucesso da iniciativa, o número de entidades parceiras não tem parado de crescer desde o seu lançamento. No primeiro ano, foram 27 as empresas voluntárias, número que cresceu para as 39 em 2014. Cada vez mais portugueses fazem doações com o IRS Nos últimos anos tem vindo a aumentar o número de portugueses que mostram o seu lado solidário aquando da entrega da declaração de IRS, destinando 0,5% deste imposto a instituições sociais, diz a AMI. Só no ano passado, o número de agregados familiares que consignaram esta parcela do imposto para as instituições sociais cresceu 56% em relação a 2012. Assim, só em 2013 um total de 364.000 agregados familiares doaram 9 milhões de euros a entidades de cariz social via IRS. Pelas contas da AMI, se todos os contribuintes optassem por fazer esta consignação, os valores doados poderiam atingir os 58 milhões de euros. O número de instituições autorizadas a receber doações por esta via também não tem parado de aumentar nos últimos anos, evoluindo das 986 registadas em 2012 para as 1.724 autorizadas no ano passado. SCML ajuda jovens e séniores a criar novas oportunidades profissionais Sair da Casca adere à rede Convergences A Sair da Casca acaba de aderir à rede de parceiros da Convergences, a primeira plataforma de reflexão na Europa dedicada ao estabelecimento de novas sinergias entre atores públicos, privados e solidários. Uma plataforma única na União Europeia, a Convergences dedica-se à inovação societal (ambiental e social) e reúne centenas de peritos, empresas, académicos e ONG em torno do princípio de colaboração e co-criação. Fundada em 1194, a Sair da Casca foi a primeira empresa em Portugal (e uma das primeiras também na Europa) na área de consultoria em desenvolvimento sustentável e responsabilidade social. 08 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) lançou o programa “UAW – United at Work” que tem como objetivo ajudar os jovens até 30 anos e séniores (entre os 50 e os 64 anos) qualificados a promover novos negócios sociais e a criar novas oportunidades profissionais. Este projeto de empreendedorismo intergeracional é uma iniciativa do Banco de Inovação Social (BIS) da SCML. O objetivo é encontrar 200 candidatos com perfil empreendedor e proporcionarlhes a oportunidade de criar novos projetos e empresas vocacionados para a área dos negócios sociais, tendo sempre em vista o combate ao desemprego. Puderam candidatar-se jovens com menos de 30 anos, com formação académica superior, e séniores com idades entre os 50 e os 64 anos, qualificados pela experiência profissional. Finda a fase de seleção, que terminou a 27 de abril, serão criadas 12 equipas mistas que possam tirar partido das caraterísticas de ambos os grupos etários, os quais serão constituídos por um mínimo de duas pessoas e um máximo de cinco elementos. Os finalistas selecionados para participar no programa vão aceder a um "catálogo de oportunidades para a inovação social" que contém 60 oportunidades de negócios sociais em áreas em que a SCML e os seus parceiros possuem grande conhecimento e experiência: saúde, ação social, cultura e património. Legião da Boa Vontade apoia 500 famílias em mês de Páscoa Em Abril, o programa “Um Passo em Frente” reforçou o seu apoio às famílias que recorrem à ajuda da Legião da Boa Vontade (LBV). Assim, nesta Páscoa mais de 12 toneladas de alimentos, entre frutas, legumes e não perecíveis, chegaram a cerca de 500 agregados familiares em situação de vulnerabilidade económica em todo o país. Em comunicado, a LBV salientou a “indispensável participação de benfeitores, colaboradores e voluntários do Centro Social da Legião da Boa Vontade” para a realização desta ação. Além de minimizar as carências alimentares daquelas famílias, a LBV irá também lhes proporcionou o acesso a palestras educativas na área da saúde, educação, alimentação e gestão com vista a promover a qualidade de vida das pessoas atendidas pela instituição. VIVA VOZ Pepsi e Cristiano Ronaldo lançam copos solidários para a Casa dos Rapazes Parques Naturais portugueses já receberam 32.000 árvores “solidárias” No âmbito do projeto de reflorestação que a Água Serra da Estrela está a desenvolver em parceria com a IKEA – integrado nas suas estratégias de sustentabilidade e cidadania - foram já plantadas cerca de 32.000 novas árvores no Parque Natural da Serra de Sintra e no Parque Natural da Serra da Estrela, concluindo assim a etapa de 2014. A plantação, assegurada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P. (ICNF), decorreu em várias áreas do Parque Natural da Serra da Estrela, tais como Cortes do Meio, Vale de Amoreira, Videmonte, Folgosinho, entre outras, promovendo a reflorestação nas áreas ambientais mais atingidas pelos incêndios dos últimos anos. As árvores ali plantadas correspondem a espécies selecionadas pelo Parque, como o carvalho-negral, azinheira, medronheiro, cerejeira, pinheironegro e o pinheiro-silvestre, assegurando assim que será mantida a vegetação característica da região. A parceria entre Água Serra da Estrela e a IKEA nasceu em 2011, tendo arrancado com a plantação simbólica de 200 árvores no Parque Natural Sintra-Cascais, por centenas de colaboradores de ambas as empresas. A iniciativa consiste na plantação de uma nova árvore por cada 30 garrafas de água vendidas nas lojas IKEA em Portugal. Em 2013, o número de árvores plantadas correspondeu aos anos de 2011 e 2012. Após terem completado o financiamento do projeto de construção das novas instalações da Casa dos Rapazes, a Pepsi e o Cristiano Ronaldo lançam agora uma coleção de copos solidários que visam dar a conhecer a Casa dos Rapazes. Cada copo inclui um QR Code que remete para uma aplicação daquela instituição, na qual se poderá obter mais informações sobre o seu trabalho, bem como fazer donativos à instituição para ajudar a equipar o novo lar da Casa dos Rapazes. Os copos solidários já estão disponíveis para venda em diversos pontos em todo o país. A Casa dos Rapazes é uma instituição que acolhe, cuida e educa rapazes com idades entre os 6 e os 18 anos cujas famílias não tinham condições para os ter consigo devido a situações de maus-tratos, abusos, negligência ou abandono. 18,7% da população portuguesa “em risco de pobreza” A pobreza tem vindo a aumentar em Portugal e, no final de 2012 a taxa de risco de pobreza aumentou para os 18,7%, afetando quase dois milhões de portugueses de acordo com os dados provisórios sobre o rendimento e condições de vida revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). De acordo com aquele organismo, trata-se do valor mais alto atingido por este indicador desde 2005, quando o risco de pobreza atingia os 19% da população portuguesa. Os mais afetados por esta condição são os menores de 18 anos, as famílias com filhos a seu cargo e os desempregados. Associação de Mulheres contra a violência avança com projeto inédito em Portugal A Associação de Mulheres contra a Violência (AMCV) vai avançar com um novo projeto contra a violência sexual que integra, entre outras iniciativas, a criação do primeiro gabinete de apoio às vítimas de violação em Portugal. Financiado pelo Programa Cidadania Ativa do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA Grants), gerido pela Fundação Calouste Gulbenkian, este é um projeto há muito desejado pela associação, que trabalha há vinte anos na área da violência doméstica e da violência sexual. A decorrer até fevereiro de 2016, o projeto da AMCV engloba a criação de uma rede articulada e integrada, a funcionar na região de Lisboa, a criação de um gabinete especializado para vítimas de violência sexual, a criação de um grupo de autoajuda e a construção de um 'booklet', com informação acessível. Milhas viajadas revertem para solidariedade Só nos últimos dois anos, os viajantes membros do Programa Victoria da TAP já doaram mais de 20 milhões de milhas, contribuindo desta forma para instituições e projetos de intervenção e inclusão social. Através desta opção do Programa Victoria, a TAP promove a solidariedade junto dos seus clientes junto de um conjunto de instituições e projetos selecionados todos os anos pelos “Voluntários com Asas”, o movimento de voluntariado empresarial da companhia aérea portuguesa. As instituições beneficiárias das Milhas Solidária em 2014 também já foram escolhidas. São elas: a Operação Nariz Vermelho, Um Pequeno Gesto, Grupo Dançando com a Diferença e AIDGlobal, que apoiam crianças, jovens e pessoas com deficiência em Portugal e em Moçambique. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 09 VIVA VOZ Viva Voz nacional A alma é o segredo do negócio Por Pedro Norton de Matos Mentor e coorganizador do Greenfest A economia da partilha/economia colaborativa, é indiscutivelmente uma tendência deste século. É o novo futuro. É uma nova forma de participação cívica em que cada cidadão tem um papel transformador. Trata-se fundamentalmente de rentabilizar e utilizar de forma eficiente os diferentes recursos que, por definição, são escassos. A partilha surge, por isso, como lógica económica e racional. Enquanto conceito, tem um alcance tão longo quanto a nossa imaginação e criatividade para aplicá-lo em todos os setores da nossa vida. Partilhamos o nosso tempo, os nossos conhecimentos, as nossas ambições e causas. Partilhamos os próprios bens, as nossas capacidades e o talento. Este regresso às raízes impõese nesta sociedade onde não são as pessoas que possuem as coisas mas sim as coisas que possuem as pessoas. Há alguma dúvida de que os hábitos e formas de consumo estão a ser alterados? Partilhar é a palavra de ordem! Vivemos uma época de consumo exacerbado e muitos artigos têm assumidamente uma vida útil reduzida. Por que não dar-lhes uma “nova” utilidade? O que nos impede verdadeiramente de alargar a serventia desses artigos, partilhando-os? As respostas são simples: É preciso apenas a vontade de querer mudar, de fazer diferente, de contribuir para que se passe da palavra à ação. Sem querer alongar-me em conceitos económicos, que podem desviar a atenção daquilo que é fundamental num tema como este, a verdade é que na economia da partilha as leis da procura e da oferta perdem a rigidez de outros tempos. No interesse das partes, prevalece o “ter acesso” ao que o outro oferece. Na troca comercial, a palavra “troca” acaba por ganhar um novo sentido. Pressupõe uma relação de confiança que a economia tradicional tem tratado de fragilizar. Mais uma vez, a partilha é a palavra de ordem! 10 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 Pedro Norton de Matos VIVA VOZ Partilhar pelo exemplo Um grande exemplo de partilha é precisamente o que todos os anos, desde 2008 a esta parte, acontece no Greenfest, o maior festival de sustentabilidade do país, do qual tenho a enorme honra em ser mentor. Na edição do ano passado, o evento não só deu palco à sustentabilidade no seu sentido lato mas revelou-se essencialmente como um espaço de divulgação e de partilha de melhores práticas a nível nacional e internacional deste movimento emergente. Os conceitos de partilha e de colaboração estiveram transversalmente presentes nos diferentes espaços e ambientes do festival e irão continuar a estar também na edição de 2014. A conferência de abertura do Greenfest em 2013 contou com alguns grandes nomes nesta matéria. A presença da Benita Matofska, repórter premiada da BBC e fundadora da organização “People who Share” trouxe-nos uma visão diferente da partilha, cultivada em mais de 20 anos dedicados ao empreendedorismo social. No caso de Rodrigo Baggio, presidente e fundador do Comité para a Democratização da Informática – CDI, pudemos testemunhar que a inovação e inclusão social podem “marcar pontos” com a utilização das tecnologias de informação e comunicação, em comunidades carenciadas. No plano nacional, Maria do Carmo Marques Pinto, diretora do Banco de Inovação Social e a presidente do GRACE, Paula Guimarães; partilharam também com um auditório completamente cheio o trabalho desenvolvido nas últimas décadas e que tem na base os conceitos de colaboração e partilha. A presença destes e de outros oradores tornou, a meu ver, mais clara esta mensagem de que é possível fazer mais e melhor pelo planeta e pelas pessoas. Sou, acima de tudo, um grande defensor de um modelo de desenvolvimento sustentável. Acredito que através da cidadania ativa todos podemos ser protagonistas e desempenhar um papel transformador numa sociedade mais justa. Soluções procuram-se… E encontram-se! “Partilhamos o nosso tempo, os nossos conhecimentos, as nossas ambições e causas. Partilhamos os próprios bens, as nossas capacidades e o talento. Este regresso às raízes impõe-se nesta sociedade onde não são as pessoas que possuem as coisas mas sim as coisas que possuem as pessoas.” Vislumbro sempre o lado positivo em qualquer que seja a mudança, no entanto sei que existe um longo caminho a percorrer para que a tal sociedade mais justa possa, de facto, ser real. O que me leva a outro tema, sobre o qual não posso deixar de refletir: o desperdício. Todos, sem exceção, temos um papel a desempenhar. Em nossas casas, no nosso local de trabalho, na nossa rua ou cidade. Como é possível que se continue a deitar para o lixo toneladas de produtos frescos ou cozinhados, quando existe um número enorme de famílias que passa fome? Como é possível que se desperdice água sem pensar que em muitos países percorrem-se quilómetros para conseguir ter acesso a um ou dois litros? O desperdício estende-se a tantos setores da sociedade que é inevitável que se criem soluções que ponham termo a este flagelo. É um dos grandes desafios para as comunidades mas as soluções podem ser criadas e replicadas um pouco por toda a parte. Haja vontade e criatividade. Apostar nas sinergias entre serviços organizados e logística apropriada, pode ser o caminho para minorar este profundo desequilíbrio. Felizmente existem vários exemplos de mobilização a este nível. No ramo alimentar, por exemplo, o movimento “Zero Desperdício” ou o projeto “Refood” (ambos parceiros do Greenfest) são a prova viva de que é possível articular vontades, encontrar enquadramento legal e resolver problemas. A alma é o segredo do negócio. E quando todos entendermos o significado desta expressão estaremos a contribuir para um mundo melhor na sua essência. Pedro Norton de Matos é... ... mentor e coorganizador do Greenfest, o maior evento de sustentabilidade de Portugal, e conta com uma vasta experiência nas áreas de gestão, telecomunicações e tecnologias de informação. É o organizador do Fórum Expresso XXI, sócio fundador do Verde Movimento e membro da comissão de remunerações da Brisa. É ainda membro do Advisory board da Fábrica de Startups, administrador/fundador da Associação para Inserção por Centros Digitais de Informação, uma ONG de promoção da inclusão social através da literacia digital. Pedro Norton de Matos desempenha funções na qualidade de consultor estratégico nas áreas de mudança transformacional e coaching e é vogal de direção da European Professional Women's Network (EPWN) Em termos profissionais, Pedro Norton de Matos passou pela Rank Xerox e pela tecnológica Unisys, onde desempenhou funções na área comercial e, posteriormente o cargo de CEO na Unisys Portugal, Espanha e Itália. Ocupou o cargo de Presidente na operadora ONI, foi também administrador não-executivo da Inapa e sócio fundador da MyChange, Gingko e da INCIRCLE, além de membro do Advisory Board da Oracle Ibérica. É licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo Instituto Superior das Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE). março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 11 VIVA VOZ FÓRUM A ECONOMIA DE PARTILHA EM PORTUGAL Numa edição em que abordamos o desperdício nas suas múltiplas facetas e exemplos de como o evitar, o Impulso Positivo quis saber junto de diversas entidades de referência quais os principais desafios que se impõem atualmente em Portugal no que respeita a economia da partilha ou colaborativa. Conheça a s respostas. Eduardo Graça Presidente da direção da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) Propõem-me que escreva acerca da economia da partilha. Nas sociedades contemporâneas, e não somos exceção, fervilham iniciativas, projetos e discursos acerca da necessidade, e urgência, de praticar a partilha. Como aproveitar melhor os recursos, e combater os desperdícios, nas sociedades de consumo. O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica – Evangelli Gaudian -, de novembro de 2013, identifica a raiz do problema a que a economia da partilha pretende dar resposta: “ Os mecanismos da economia atual promovem uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado à desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social”. A densificação da consciência, e percepção política, dos perigos do crescimento das desigualdades sociais, e consequente pobreza, potenciais geradoras de violência, tem vindo a colocar na agenda a economia social, em todas as suas dimensões, na qual enquadro a economia da partilha, ou seja, conceitos, e respetivas práticas, que incorporam dois lemas estruturantes das sociedades do futuro: cooperação e solidariedade. Não creio nem na inevitabilidade da pobreza, nem na perdurabilidade da riqueza. Todos os mundos se cruzam, ora acentuando os fatores de exclusão, extremando-se os campos nos quais se acantonam os seus arautos, ora aproximando-os quando pela ação da natureza, ou do homem, se encontram pobres e ricos fazendo frente aos dramas da condição humana. Só somos verdadeiramente autênticos quando formos capazes de refletir, coletivamente, acerca dos novos caminhos, das novas oportunidades, que em cada época se abrem diante dos nossos olhos. Estaremos então melhor preparados, por entre diferenças e desigualdades, para descobrir as virtualidades de alguns conceitos que asseguram a esperança do sucesso da luta contra as injustiças que se escondem por detrás da pobreza. Não que acreditemos num mundo sem diferenças, e na igualdade como ideal que conduz à felicidade, pois a experiência histórica se encarregou de nos desiludir acerca da bondade absoluta desse caminho. Mas porque acreditamos que é possível lutar, com realismo, pela igualdade de oportunidades, ética na gestão das instituições, em liberdade e com responsabilidade. Sabemos, por experiência própria e alheia, nacional e internacional, que a economia social, e as suas organizações representativas, dispõem de um enorme potencial para contribuir, apoiadas nos seus princípios, tradição e enraizamento na sociedade, para o desenvolvimento da economia, criando emprego e promovendo a coesão e a responsabilidade sociais. A economia social, designação consagrada pela UE, é um sector aberto no qual se discute o próprio conceito, sendo denominado, conforme as escolas de pensamento, os continentes, regiões e países como “economia social”, “economia solidária” ou “terceiro sector”, mantendo, no entanto, em comum um conjunto de princípios distintivos: - Primado da pessoa e do objeto social sobre o capital; - Adesão voluntária e livre; - Controlo democrático pelos seus membros; - Defesa dos princípios de solidariedade e responsabilidade; - Autonomia de gestão e independência face aos interesses públicos; - Afetação dos excedentes a objetivos como o desenvolvimento sustentável, melhoria dos serviços prestados aos próprios membros e ao interesse geral. É no âmbito mais vasto da economia social, suas organizações e princípios, sem desdouro pelas empresas privadas que praticam, de verdade, a responsabilidade social, e cujos modelos de gestão assentam numa filosofia que valoriza a realização pessoal, a promoção do desenvolvimento, a coesão e o bem-estar social, que valorizo a economia da partilha. Como alguém um dia disse num dos fóruns de debate acerca do tema: “ A economia social é uma economia da partilha ”. Na verdade, por questões de origem, de conceptualização e de praxis, as organizações da economia social, em qualquer momento, circunstância e lugar, estão em condições de se assumirem como atores ou participante ativos em projetos e iniciativas de economia da partilha que se projetem em benefício das comunidades e dos cidadãos. Pela parte que nos toca pretendemos tãosomente reafirmar a convicção que a nossa época, portadora de uma crise profunda do sistema económico e financeiro, tendo revelado, de forma brutal, uma crise de consciência e de valores, é também uma época de novas esperanças, e oportunidades. E por isso estamos dando testemunho. 12 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 VIVA VOZ Fernando de Macedo Chaves Presidente da Direção da Associação BUS – Bens de Utilidade Social Quando nos debruçamos sobre o extraordinário desenvolvimento que a economia social tem tido no nosso país nas últimas décadas, não podemos deixar de realizar os problemas que tiveram de ser resolvidos e as dificuldades que foram corajosamente ultrapassadas. De toda essa grande e diversificada experiência podemos e devemos extrair alguns ensinamentos, sem pretensões de exaustivos, que podem ajudar a compreender e vencer parte dos desafios impostos a quem pretender começar agora ou continuar a desenvolver atividades neste já tão importante ramo da economia. A escolha inicial da atividade deve ser criteriosa e sensata de modo a assegurar a sua necessidade e utilidade e o melhor aproveitamento possível dos meios humanos e materiais disponíveis. Será sempre útil uma boa análise de outras atividades semelhantes já existentes com a preocupação de eventuais movimentos associativistas; é que na economia de partilha não existe concorrência e há que optimizar todos os esforços juntando-os sempre que possível. Criar desde logo um sólido ambiente de confiança, incluindo a ideia de continuidade, junto de apoiantes e destinatários, parece ser um dos factores importantes para o sucesso de qualquer iniciativa, especialmente se ela depender da comunidade de Mecenas que é cada vez mais solicitada e está, por isso e não só, cada vez mais seletiva e exaurida. Será altamente recomendável implementar uma boa e bem estruturada política de “fund raising”, para o que existem já competentes e eficazes assessores profissionais, de modo a garantir a sustentabilidade de qualquer projeto. Finalmente, após a cuidadosa adopção de saudáveis e corretos princípios de gestão, resistir, resistir sempre aos mesquinhos e infundados ataques e criticas que sempre serão desencadeados, vindos até do mais ordinário aproveitamento político e ideológico que se tem vindo a verificar contra Instituições altamente meritórias no socorro e solidariedade social, tão necessárias e tantas vezes inexistentes. Vale sempre a pena quando a alma não é pequena!... Maria do Carmo Marques Pinto Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Diretora do Empreendedorismo e Economia Social e Presidente do Conselho Operacional do BIS O principal desafio da economia da partilha em Portugal é saber levar até às últimas consequências, na sociedade portuguesa, a realidade da partilha e da colaboração. Dito por outras palavras, o verdadeiro volt face na economia portuguesa no sentido de um novo modelo de desenvolvimento económico, residirá na capacidade dos seus agentes – institucionais, económicos, sociais, culturais e civis – de encontrarem fórmulas, mecanismos e plataformas de colaboração e partilha dos recursos e ativos que cada um possui para os investirem em respostas inovadoras para as necessidades da sociedade. Hoje, a economia da partilha e da colaboração ainda é vista – e praticada – como uma “saída” da sociedade para a redução drástica das disponibilidades financeiras das pessoas, das famílias e das organizações como consequência da grave crise económica que assolou, em especial, os países europeus. Embora seja uma forma de resposta a curto-prazo, que resolve parte do problema ou necessidade derivada da escassez de recursos disponíveis, a partilha e colaboração podem configurar o novo paradigma de um modelo económico e social mais eficaz e sustentável. O BIS-Banco de Inovação Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa assenta nesse novo modelo de partilha de ativos e colaboração entre Instituições, empresas e entidades da Economia Social e Cidadania, agregando-os numa Plataforma institucional organizada em torno de uma missão e orientada para o desenvolvimento de programas que têm como objetivo investir esses recursos – ativos – na resolução de necessidades, problemas e desafios societais. Desde o apoio ao empreendedorismo social e à criação de empresas sociais inovadoras e sustentáveis, à introdução de novos mecanismos financeiros que investem em soluções inovadoras para as necessidades sociais, passando pelo reconhecimento e valorização da participação cívica até aos programas educativos que introduzem uma cultura de inovação social entre os mais novos, o BIS pratica, promove e desenvolve uma partilha sistemática e focalizada dos recursos e ativos que as 27 Instituições que dele formam parte e as 14 que se lhe associaram no Porto colocaram em conjunto nesta Plataforma informal e colaborativa que é o Banco de Inovação Social. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 13 CAPA Benita Matofska 14 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 CAPA “O problema no Mundo é a escassez de partilha” Uma manhã, Benita Matofska acordou e pensou: “É isso! O problema no mundo é que existe uma escassez de partilha!”. Mas pensou também que é possível dar resposta a esta escassez. Uma das maiores dinamizadoras da economia da partilha no Reino Unido e uma ativista acérrima, em todas as dimensões da sua vida, de partilhar, Benita é fundadora da organização “The People Who Share” e foi a mentora do Global Sharing Day, que em 2013 chegou a 70 milhões de pessoas em 192 países de todo o mundo. A Impulso Positivo entrevistou esta empreendedora social quando esteve em Lisboa, por ocasião do último Greenfest. Entrevista |Texto: Leonor Rodrigues e Rita Ribeiro | Fotos: Greenfest Impulso Positivo (IP): Como e quando teve a ideia de fundar a organização “The People Who Share”? Benita Matofska (BM): A ideia é de 2010. Estava a trabalhar na “Global Entrepreneurship Week” e estava muito interessada na área do empreendedorismo social e na forma como este permite alcançar o bem no mundo, e construir negócios em em torno das pessoas e do planeta. Devido ao meu cargo (Head of Global Enterpreneurship na Entreprise UK), era convidada para todo o tipo de eventos extraordinários e para entregar os mais diversos prémios. Provavelmente, a maior honra que tive durante esse tempo foi ter sido convidada como Counsellor para o Congresso One Young World, um evento que pretende dar uma voz política aos jovens. Todos os participantes da conferência tinha menos de 25 anos, com representação da maior parte dos países do mundo. E eu disse: é uma grande honra. E perguntei: Quem mais convidaram para Counsellor? E a resposta foi Bob Geldof e Desmond Tutu. Foi provavelmente a experiência mais avassaladora e, ao mesmo tempo humilde, da minha vida. IP: E depois? BM: Fui e partilhei uma plataforma com Bob Geldof e Desmond Tutu e foi uma experiência extraordinária. E, nesse momento, ao ouvir estas duas personalidades falar das questões mundiais complexas e do trabalho incrível que ambos têm feito em questões de pobreza e igualdade, prometi que a próxima coisa que faria seria lançar algum tipo de movimento que de alguma forma pudesse também resolver problemas globais mais complexos. Queria dedicar a minha vida a fazer do mundo um lugar melhor. Depois de alguns meses a pensar nisso, a palavra partilha (“sharing”) estava sempre a surgirme. Acordava a meio da noite com essa palavra em mente. E na manhã, continuava lá. Tudo o que fazia, onde quer que fosse e o que quer que pensasse que ia fazer a seguir, só conseguia pensar que tinha que ver com partilha. E uma manhã acordei e pensei: é isso! O problema no mundo é que existe uma escassez de partilha! E quando cheguei a essa conclusão foi muito enriquecedor, porque podemos fazer alguma coisa sobre isto, para dar resposta a esta escassez. Comecei a pensar coisas como: se partilhássemos responsabilidade, não teríamos a destruição planetária que temos; se partilhássemos na nossa comunidade competências e tempo com outras pessoas, conheceríamos os nossos vizinhos e estaríamos a construir comunidades mais fortes e mais unidas. Se partilhássemos recursos de forma equilibrada, estaríamos a “atacar” estas situações reais de termos uma população em crescimento num planeta com recursos finitos. Então, todas a vezes, partilhar é a solução, e essa ideia estava sempre comigo. Mas, fundamentalmente, o que é preciso acontecer é uma mudança de cultura e o que era necessário era uma organização. Então cheguei à conclusão de que não existia uma organização para fazer campanha para a construção de uma economia de partilha. Foi assim que aconteceu. A “The People Who Share” nasceu oficialmente em janeiro de 2011. Muito rapidamente conseguimos ter muitos voluntários e começámos a organizar eventos muito locais, em CAPA que juntávamos as pessoas para esta experiência de partilha. As mudanças culturais acontecem porque as pessoas têm uma experiência positiva e isso leva-as a querer repetir. E por isso, de forma muito suave e local, começámos com esta partilha entre pessoas e cada vez que tínhamos um destes eventos, tínhamos mais pessoas a comparecer. E isso foi realmente o início de todo o movimento. IP: E a sua vida, também mudou? BM: A minha vida mudou por completo. Outro momento determinante para foi quando decidi que queria lançar o National Sharing Day (Dia Nacional da Partilha). Senti, depois de ter a experiência de gerir a Global Entrepreneurship Week, que os benefícios de ter uma campanha de grande impacto público são muito importantes, pois podíamos inspirar as pessoas, de forma muito alargada. Podíamos ter uma semana ou um dia inteiro para celebrar a partilha e fazer com que as pessoas se envolvessem na campanha num dia específico, então pensei: vamos fazer algo chamado o National Sharing Day. E muitos me disseram: Estás louca? Fazer uma campanha nacional, sem dinheiro, com recursos muito limitados – na altura, apenas uma ou duas pessoas estavam a trabalhar comigo. Mas que tínhamos a perder? O que seria o pior que poderia acontecer? Apenas algumas pessoas partilharem? Isso é assim tão terrível? Não tínhamos mesmo nada a perder. Então, organizámos alguns eventos e construímos uma rede com 45 organizações, que realizou atividades em todo o Reino Unido. O que aconteceu foi que no dia, à hora de almoço, estávamos no Twitter de forma global e as pessoas estavam a a “twitar-nos” das Filipinas, da Ucrânia, de todos os cantos do mundo, a dizer que gostariam de ter um Dia Nacional de Partilha. Utilizámos o hash tag “NationalSharingDay”, para que as pessoas vissem imediatamente o que era e não ser um código esquisito, que as pessoas teriam que decifrar. Então, pensámos, vamos ser globais. Assim, em 2012, fizemos o primeiro Global Sharing Day. Construímos uma rede de parcerias globais com 165 parceiros, que alcançaram mais de 60 milhões de pessoas e 147 países e tivemos atividades em todo o mundo. Em 2013 fizemos o segundo Global Sharing Day, já envolvendo mais de 200 organizações parceiras e chegámos a mais de 70 milhões de pessoas em 192 países. E continuamos a ser uma organização sem fins lucrativos, uma empresa social e fundamentalmente gerida por voluntários. Em 2013, tivemos alguns patrocinadores corporativos. Enfim, estes foram alguns momentos chave. IP: Que tipo de eventos podem fazer parte do Global Sharing Day? BM: Por exemplo, no último Global Sharing Day, lançamos o desafio de partilha de comida. Inspirámos as pessoas em todo o mundo a partilhar comida nas suas comunidades e 4,7 milhões de pessoas aceitaram esse desafio. E isso pode ser desde um mega-almoço a um piquenique pequeno. A ideia poderia ser fazer um almoço em comunidade, de forma muito simples, juntar as pessoas, colocar mesas nas ruas. Fiz um na minha rua em Brighton. Descobrimos que temos pessoas a morar na rua há 42 anos, que nunca se tinham reunido com outros vizinhos. A pessoa mais nova tinha sete dias e a mais velha 92 anos. E isso prova que a partilha é intergeracional e pode ser alcançada através de uma ação muito simples, como juntar as pessoas num almoço. 16 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 "Ter uma campanha que pretende aumentar a sensibilização e educação da população para a necessidade da economia da partilha é muito importante. Mas tão importante é ter as ferramentas que tornam essa partilha fácil...A questão é, se não tivermos essas ferramentas práticas, as pessoas vão dizer sim à ideia, mas não necessariamente colocá-la em prática". IP: Explicou antes alguns momentos chave que levaram a fundar a “The People Who Share”. Há outros marcos importantes? BM: Ter uma campanha que pretende aumentar a sensibilização e educação da população para a necessidade da economia da partilha é muito importante. Mas tão importante é ter as ferramentas que tornam essa partilha fácil e percebermos isso foi outro momento chave. A questão é, se não tivermos essas ferramentas práticas, as pessoas vão dizer sim à ideia, mas não necessariamente colocá-la em prática. E assim nasceu o “Compare and Share”. É uma empresa de tecnologia, um negócio social. O que fazemos é construir as ferramentas e a tecnologia para que pessoas e empresas possam partilhar ativos e recursos de forma fácil. Para o consumidor, construímos o compareandshare.com, que é um local online único de comparação de mercado. A visão é colocar todas as empresas com política/negócios de partilha num mesmo local, abrindo para o consumidor o mercado da economia da partilha da mesma forma que o Ebay abriu o mercado de bens segunda mão. Neste momento, temos todas as entidades de partilha de carro no Reino Unido na plataforma, agora estamos a construir a seção para imóveis de alojamento e vamos construir outras categorias, até termos um mercado de comparação online completo da economia de partilha. Outra coisa que fazemos no “Compare and Share” é que construímos tecnologia e licenciamos tecnologia que permita às empresas partilhar ativos. Neste momento, por exemplo, temos um contrato com um grande IPSS do Reino Unido para ligar voluntários que querem partilhar tempo e fazer tarefas para pessoas carenciadas. Há muitas maneiras da tecnologia ser utilizada nesta área. Mas em última análise, os que estão empenhados na sustentabilidade, têm também que fazer um compromisso com a partilha de recursos. CAPA Benita Matofska integrou a conferência de abertura do Greenfest sobre “Economia da Partilha: Oportunidades e Desafios” IP: Quando começou a Economia da Partilha no Reino Unido, como é que foi? Em Portugal ainda não temos esse “hábito”... BM: Em 2011, quando falava da economia de partilha, as pessoas pensavam que estava falar uma língua estrangeira. Não faziam ideia do que é que eu estava a falar. Lembro-me de quando utilizamos o hash tag no “SharingEconomy” no Twitter – fomos os primeiros a fazê-lo. Havia um pequeno nicho de pessoas que percebiam do que se tratava, de que havia um movimento de consumo colaborativo. Havia interesse, mas num setor de nicho. Mas a economia de partilha explodiu nos últimos dois anos e, em especial no último ano, vimos muita atividade nesta área. Uma das tendências e fatores que estão a causar é a tecnologia. A tecnologia permitiu facilitar a partilha de bens e por outro lado temos também a proliferação das redes sociais, em que é normal partilhar o que acontece na nossa vida. Inevitavelmente, essa tendência é um motor enorme para que as pessoas acedam às coisas que precisam em tempo real e quando estão em movimento. E isso é importante para as pessoas. Toda a ideia de acesso on demand para um consumo inteligente é baseada na partilha de recursos, e é o caminho para onde estamos a seguir. E não há volta para trás. A economia da partilha está aqui para ficar e explodiu enormemente nos últimos dois anos. E é fabuloso como está a caminhar para um lugar de primeira linha. IP: Mas quem pode adotar esta postura/políticas? As pessoas, as empresas, ONG’s? BM: Fundamentalmente, a economia da partilha aplicase a todos os segmentos. É para indivíduos, comunidades, empresas, ONG, IPSS, empresas públicas: é multissectorial. O que estamos a falar, fundamentalmente, é fazer o mundo funcionar melhor. Não ter uma situação em que temos recursos desperdiçados e um mundo destruído. Falamos de um sistema, de uma economia em círculo fechado em que não existe desperdício. Tudo é regenerado para um propósito. É disso que se trata na economia de partilha – mas é também sobre uma sociedade saudável e feliz. De ligar as pessoas, de sabermos quem são os nossos vizinhos, onde estão, os seus nomes e estarmos ligadas a elas. As pessoas começam a ligar-se e a reconhecer-se como seres humanos, construímos comunidades sustentáveis. É assim que juntamos as pessoas, através de ações de partilha. IP: Pode dar-nos um exemplo de uma entidade do setor privado que pratica a economia de partilha com sucesso? BM: Existem muitos exemplos de empresas a fazê-lo. No Reino Unido, o retalhista Marks & Spencer, que tem uma iniciativa chamada “shwopping”, e que permite às pessoas devolver roupa à loja para reciclar, que seria deitada fora. No ano março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 17 Benita Matofska e Pedro Norton de Matos durante o Greenfest 2013. passado, reciclaram mais de 2 milhões de peças de roupa. E essa roupa foi toda doada à Oxfam. Outro exemplo é a B&Q (marca parte da King Fisher) que tem uma iniciativa chamada Street Club, que permite às pessoas também partilhar roupas nas suas ruas. O Marriott Hotel Group fez uma parceria com uma empresa chamada LiquidSpace, em que os espaços não utlizados no hotel são arrendados a empreendedores. É extraordinário. As empresas estão a começar a reconhecer que, em última análise, a economia da partilha está a mudar o futuro do negócio. E os negócios não podem estar fora desta economia. Com a tecnologia, as pessoas podem negociar de igual para igual, de pessoa para pessoa. As empresas mais inteligentes estão a reconhecer que precisam de facilitar que essa partilha aconteça. Particularmente no setor automóvel, por exemplo, a BMW, a AVIS, HERTZ, estão todos a entrar no mercado de partilha de carros, porque reconhecem que essa é a tendência. As pessoas estão a utilizar os carros assim – ter acesso ao que necessitam quando necessitam é fulcral. Se estas empresas querem ser rentáveis no futuro, têm que perceber que as formas de mobilidades estão a mudar. IP: Que conselhos daria às pessoas que não aderiram à economia da partilha, mas gostariam de fazê-lo? BM: Envolver-se na economia da partilha é sobre viver de forma inteligente, sobre ser mais inteligente, sobre como utilizamos as coisas que temos, mas que não necessitamos, para conseguirmos as coisas de que necessitamos mais. É sobre fazer mais com menos . Estes são tempos difíceis para muita gente em todo o mundo e este é o momento para sermos mais inteligentes, para todo este movimento de quanto mais partilharmos, mais temos. No último verão, na minha família, fizemos uma troca de casa por duas semanas com uma família italiana. E foi extraordinário. Além do dinheiro que poupámos, quando chegamos lá, tivemos toda a informação fabulosa deixada 18 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 pela família sobre os melhores sítios para levar as crianças, restaurantes, mercados, etc. Além de contribuirmos para a economia local, tivemos umas férias muito mais interessantes, porque vivemos como os locais e experimentámos tudo o que o país tem para oferecer e enquanto turista poderíamos não ter essa vantagem. Quando voltámos a casa, tínhamos comida no frigorífico, uma garrafa de vinho, presentes para as crianças: quanto mais partilhamos, mais temos. É verdade. Para as pessoas que estão nervosas em envolver-se na economia da partilha, é preciso saber que é um modo de vida mais inteligente, de termos as coisas que precisamos. O maior obstáculo que temos que superar é a confiança – para as pessoas partilharem, têm que ter confiança. Confiar nas empresas que fornecem serviços de partilha, nas pessoas com que trocam coisas - a confiança é absolutamente central. As empresas na economia da partilha aprenderam que este aspeto é crítico. É importante ter ratings online para fortalecer essa confiança. O que fazemos no “Compare and Share” é precisamente colocarmos todos estes serviços no mesmo espaço e para que as pessoas saibam onde encontrá-los, para que seja fácil ter acesso. Aliás, a facilidade em fazer é tão importante como a confiança. É sobre tornar fácil, partilhar a experiência,. Para quem ainda não experimentou nenhum serviço de partilha, a primeira sugestão é, por exemplo, a partilha de carro. IP: E que conselho daria às pessoas que já partilham, mas que podem sentir-se desmotivadas devido à falta de aceitação do conceito, por exemplo em Portugal? BM: O que temos que pensar é que o que é pequeno agora, daqui a um ano já não é. Nos últimos dois anos, a economia da partilha cresceu e está agora avaliada em 330 biliões de libras globalmente. Atualmente a economia da partilha no Reino Unido é 1,3% do PIB, mas deverá crescer para 15% nos próximos 5 anos. Veja, por isso, a capacidade de explosão. Pode ser pequeno agora em Portugal, pode ser de nicho, mas não seria por muito tempo. Este é um movimento em que o ritmo, a rapidez, é enorme. Existe atualmente mais de 8.500 plataformas e sites no mundo para partilha de bens e produtos. E por isso é que achámos que era necessário ter um ponto único de comparação. As pessoas começam a ver que há estas iniciativas e isto não vai parar. A outra mensagem é que as pessoas se envolvam no Global Sharing Day: ouvimos no Greenfest lançar-se o repto para que hajam atividades e esforços no país para este dia. Esta será uma oportunidade ótima para que as pessoas se envolvam na partilha, organizem eventos desde almoços, partilha de roupa ou de competências.... Há muita oportunidade para participar e assim que as pessoas começarem a perceber que isto é uma coisa que liga todo o mundo, irá explodir aqui também e o ritmo será extraordinário. IP “Este livro [...] tem condições para se revelar como um instrumento essencial não apenas para todos aqueles que trabalham nas organizações sem fins lucrativos, mas também para um público mais alargado que se revê e se interessa pela missão deste sector.” Emílio Rui Vilar in Prefácio PVP 24 € EN ME___ ND___ AS_ ___CO ______ Contactos: [email protected] m telef.: 222 085 009 PEDIDOS PARA: R. Gonçalo Cristóvão nº 185. 6º | 4049-012 Porto Tel 222 085 009 | Fax 222 085 010 | [email protected] (recortar ou fotocopiar) Nome Morada C. Postal E-mail r Solicito o envio de Nº Contribuinte exemplar(es) do livro Gestão de Organizações Sem Fins Lucrativos - 3ª Edição. r Para o efeito envio cheque/vale nº r Junto envio cópia do comprovativo bancário no valor de € , s/ o , no valor de € , (NIB: 0036 0073 99100069316 21 – Montepio) r Solicito o envio à cobrança. (Acrescem € 4 para despesas de envio e cobrança). ASSINATURA março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 19 CAPA “Temos que perceber o valor da água e não apenas saber o seu preço” Indiano Gandhi, autor, jornalista e ambientalista, Anupam Mishra viaja por aldeias dos diversos estados indianos, descrevendo o valor dos sistemas de captação de água e defendendo a conservação de estruturas tradicionais de água no seu país, como forma de disponibilizar este recurso durante todo o ano nas regiões onde a água é absolutamente escassa. Já conquistou inúmeros prémios pelo seu trabalho e escreveu vários livros sobre esta matéria, tendo uma notoriedade à escala mundial. O Impulso Positivo entrevistou Anupam Mishra, que falou dos problemas na captação, recolha, distribuição e acesso à água, num mundo onde as pessoas nos meios urbanos vão deixando de perceber o valor da água, para apenas quererem saber do seu preço. Impulso Positivo (IP): A água é um dos recursos mais preciosos e está a ficar cada vez mais cara. O Anupam tem vindo a trabalhar há vários anos na gestão de recursos hídricos na Índia e defende que a água deverá ser sempre recolhida com processos tradicionais, uma vez que os avanços tecnológicos apenas ajudam a distribuir água. Pode explicar-nos mais sobre esta visão? Anupam Mishra (AM): Vou continuar sempre a afirmá-lo: a água terá sempre de ser recolhida, chamemos-lhe processo tradicional ou não. E os avanços tecnológicos e equipamentos modernos podem apenas ajudar-nos a distribuir água. Não podemos produzir água, apesar de sabermos a sua fórmula química – o H20. Desde os tempos mais remotos, a água foi-nos sempre dada pela Natureza. E uma vez que não podemos produzir água, não devemos comportarmo-nos como um consumidor. Devíamos até ter uma melhor termo do que recursos hídricos. Se não mudarmos a nossa atitude, enfrentaremos e estamos já a enfrentar problemas de água quer nas areas urbanas quer nas rurais. Todas as nossas grandes cidades como Deli ou Bombaim, e tenho a certeza de que isso acontece também nas principais áreas metropolitanas de Portugal, conseguem o seu fornecimento de água de pontos localizados a centenas de quilómetros. E apesar de terem um bom volume de águas pluviais, algumas vezes este fornecimento de água dista mais de 300 quilómetros. Não podemos esquecer-nos de que estas cidades conseguem a sua água através dos “sistemas tradicionais”, e que são grandes lagos situados em zonas rurais mais remotas. As chuvas das monções enchem esses grandes lagos e, depois, através de grandes sistemas de canalização, a água é trazida a estas grandes cidades. É assim que água se torna cara, mas os governos não colocam os níveis de preços corretos neste bem, ou, caso, contrário, perderiam o voto dos seus cidadãos. Temos duas palavras na linguagem Hindi e tenha certeza que a vossa língua também terá duas palavras semelhantes – uma é preço e a outra é valor. Temos que perceber o valor da água, ou caso contrário e se apenas soubermos o seu preço, não seremos capazes de conservar este recurso. O preço da terra em tais cidades e em geral na áreas urbanas está em picos elevadíssimos. Assim, devagarinho, as reservas de água situadas nas zonas rurais e urbanas estão a desaparecer. Novos projetos imobiliários e especulação de terrenos continuam a eliminar estas reservas e não só não nos preocupamos com isso, porque, de alguma forma, em cada uma destas crises, o Governo, de alguma forma, traz água de alguma área distante para estas cidades, 20 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 Anupam Mishra mas não devíamos esquecer-nos de que não enviámos um SMS ao deus da chuva, para não enviar chuva para estas cidades. Temos um período de quatro meses de monções e agora não temos reservas de água para coletar e conservar a chuva que cai sobre nós. Portanto, vamos descobrir que nas nossas cidades grandes, as suas estradas e aeroportos estão a enfrentar problemas de cheias. Seja Deli, Londres ou Banguecoque – todas as grandes cidades estão a enfrentar cheias durante as chuvas. Outro problema está relacionado com os níveis de água nestas cidades e também nas áreas rurais. Há uma corrida entre os nossos políticos e os lençóis freáticos; não sabemos qual deles atingiu o nível mais baixo. Como disse antes, o mundo inteiro depende do ciclo da água. Esqueçam alguns slogans que prometem que a água do oceano pode ficar sem sal. Temos que nos fiar apenas neste ciclo da água e a melhor forma de a preservarmos é colocarmos a água nas lagos, lagoas e em diferentes áreas. Mais uma vez cobram-nos pelas águas subterrâneas para que as possamos utilizar de forma individual para beber, para uso da agricultura ou para uso industrial. Aqui podemos utilizar qualquer método moderno, até mesmo computadores sofisticados. E por isso é que digo que recolher a água das chuvas não é tradicional, mas sim uma maneira moderna. CAPA Apareceu ainda uma tradução francesa e uma inglesa também. Alguns amigos disseram-nos que uma tradução árabe está a ser preparada por uma ONG que trabalha em Marrocos. Muitas pessoas, aldeias, pequenos grupos e ONGs espalharam esta ideia nas suas regiões. Cerca de 40.000 reservatórios de água foram adicionados desde que começamos este trabalho e deve notar-se que isto acontece quase sem financiamento. Um pequeno apoio é suficiente para adicionar centenas de reservatórios de água todos os anos por causa desses livros. Alguns governos mudaram as suas políticas em relação à água, criaram novos projetos quer para áreas rurais quer urbanas. IP: Pode dar-nos alguns exemplos desses sistemas ancestrais que são mais populares na colheita de água? AM: Como disse mais antes, não chamamos esses sistemas de ancestrais e nem podemos dizer que são populares. São mais práticos e modernos. Dependendo da disponibilidade de espaço, as pessoas preferiram criar reservatórios de água nas suas áreas. Nalgumas partes são novas estruturas, noutras foram renovadas e reparadas estruturas abundantes. Os métodos de armazenamento de água são limitados às áreas desertas. Não podem ser replicadas em outras áreas. O céu, no deserto é muito claro, sem poluição, é livre de poluição automóvel e das chaminés das indústrias. Anupam Mishra IP: O seu trabalho de base é estudar a aprender in loco sobre os métodos ancestrais de recolha de água das chuvas. E além disso, apresentar as suas conclusões às mais diversas organizações, para permitir que este métodos sejam aplicados noutros pontos. Como é que as organizações aceitam estas conclusões? E estão abertas a utilizá-las e promover a sua utilização? AM: Demorámos cerca de 10 anos a perceber os fundamentos básicos da água. A nossa “escola aberta” foi a sociedade, inclusive nas área do Deserto, que recebe a menor quantidade de chuva do país. A chuva média é de 16 cms/ano para o Deserto, mas é uma área muito vasta e em algumas zonas apenas 2 cms são recebidos por ano. A água subterrânea está também a grande profundidade – cerca de 100 metros – e é na sua maioria salina, mas aqui vivem pessoas e pessoas dignas. E lentamente fomos aprendendo com estas pessoas como recolher esta pequena quantidade de chuva, de forma impactante, e também como desenharam o seu estilo de vida com base nesta tradição. Então, depois de quase 10 anos, produzimos dois livros - um para o país e outro para o deserto em 1993 e 1995, respetivamente. Desde então estamos a partilhar esta experiência rica com diversas organizações, governos, indústrias e também com amigos como vocês em Portugal. Não recebemos direitos de autor sobre os nossos livros e documentos, ou fotos. Qualquer pessoa pode utilizá-los. Lançámos sete edições desse livros, mas além disso, diferentes editores comerciais, ONG’s, governos e mesmo pequenas organizações da sociedade civil produziram ou traduziram esses livros para seu próprio uso. Originalmente escritos em Hindi, estes livros estão escritos em 10 línguas diferentes no nosso país. IP: Pensa que as populações mais pobres estão a ser privadas dos seus direitos no que concerne o acesso aos recursos hídricos? AM: Sim, as pessoas estão a ser privadas do seus direitos. Antes eram as pessoas que mandavam nos recursos hídricos. A água nunca esteve nas mãos dos governos. A sociedade e os indivíduos criaram esses recursos e depois usaram-nos com o máximo cuidado depois de os Britânicos terem vindo. Essas regras e relações delicadas foram quebradas. IP: Qual é o papel do trabalho das comunidades em garantir um melhor acesso à água? Ou seja. Como é que as comunidades locais podem trabalhar para impulsionar o uso desse sistemas de recolha de água? AM: O Governo não conseguiu cumprir a sua responsabilidade quer nas áreas urbanas quer nas rurais. Está a começar a iniciar-se, de forma lenta, um processo para devolver esta responsabilidade à sociedade. Encontramos alguns exemplos nas grandes cidades, nas cidades mais pequenas mas também muito desse bom trabalho está a ser feito em áreas rurais onde as comunidades locais perceberam o seu dever de recolher água e partilhar com toda a gente. Algumas entidades de grande dimensão como o Institute of Technology e o Institute of Management e algumas organizações comerciais e industriais começaram também a adotar esses métodos, em parte porque é uma boa prática, mas também porque o fornecimento municipal de água local não é fiável e esses grandes utilizadores com milhares de terão que enfrentar problemas de escassez de água. IP: Por último, acha que as populações urbanas estão conscientes de que a água é um recurso limitado? AM: Temos um épico chamado “Mahabharata”. A personagem principal, um aldeão, diz que sabe o que é a dharma (religião), mas não pode praticá-la; e sabe o que é a adharma ( a negação da religião), mas não pode deixar de praticá-la. Da mesma forma, a maioria da população urbana sabe o valor da água, mas não quer pagar o seu preço. De alguma forma, pensam que o Governo encontrará alguma maneira de satisfazer a sua sede. Aamin: que deus os abençoe! IP NO CENTRO “A sociedade está a acordar para este indigno e surreal desperdício” As palavras são de António Costa Pereira, Presidente da Associação DariAcordar, e mentor e impulsionador do Movimento “Zero Desperdício”, que assinala neste abril dois anos. Além do desperdício material, preocupa-o o desperdício de sinergias, de saber trabalhar em equipa e de parcerias, revelou, em entrevista, ao Impulso Positivo. Impulso Positivo (IP): Quando iniciou esta “cruzada” para combater o desperdício alimentar, além obviamente daquele que foi o obstáculo de base que era o enquadramento legal que impedia a recolha dos alimentos/refeições não consumidos, quais foram os principais obstáculos com que se deparou? António Costa Pereira (ACP): A principal dificuldade foi mesmo a indiferença e a quase total falta de resposta por parte de quem tinha a obrigação de se interessar e responder: justamente quem concorreu e foi eleito para servir e representar os cidadãos. Portugal não era/é o País mais fácil para se exercer uma cidadania independente e apartidária, curiosamente sendo este (e o ano passado), Ano Europeu dos Cidadãos. E afinal, nestes anos todos nunca foi proibido recuperar refeições em perfeitas condições e apenas por falta de informação/interesse público/querer saber se desperdiçaram tantos anos desta verdadeira causa de sinergias e parcerias que é o Movimento Zero Desperdício. IP: O Movimento Zero Desperdício foi lançado e agilizado já em período da chamada crise, durante a qual as situações de pobreza se têm vindo agravar para muitas famílias e as necessidades de bens alimentares também. Nestes dois anos, foram recuperadas mais de 900 mil refeições. Ao longo destes dois anos, sentiram o impacto deste aumento de situações de maior carência? ACP: As várias instituições receptoras que fazem parte do Movimento ZD, têm-nos feito chegar as dificuldades e necessidades por que estão a passar, bem como muitas outras que nos vão contactando – fruto da crise socioeconómica porque estamos a passar. Outro aspeto, tem sido mostrado por parte de quem doa refeições: sentem que estão a contribuir para um bem comum e até hoje não tivemos nenhum deste tipo de parceiros que tenha desistido – antes pelo contrário, pois alguns deles, têm ajudado a trazer mais e mais parceiros a esta causa. Sim, a sociedade em geral sente o impacto que o Movimento Zero Desperdício tem trazido, com as suas várias vantagens sociais, económicas, cívicas e ambientais que acompanham esta atitude. IP: O modelo de envolvimento municipal é também uma das bases do Movimento. Estão nestes dois anos em quatro municípios e em 2014, o objetivo seria alargar esta “rede” a mais concelhos. Quais são os planos ou novidades que podemos esperar nesta área? ACP: O Modelo Municipal tem sido uma das grandes inovações e mais-valias do Movimento, pois é um bom exemplo da nossa concepção de não desperdiçar tudo o que já existe e neste caso, existe o Poder Local com a sua capacidade/responsabilidade de identificar as famílias com necessidades, bem como a de articular com as várias instituições locais (Centros Paroquiais, Misericórdias, IPSSs, etc) que já têm carrinhas e voluntários e que recebem formação específica em Higiene e Segurança Alimentar para entrarem neste processo : nada se desperdiça, neste movimento de sinergias/parcerias. 22 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 António Costa Pereira Desta forma, foi possível começar este movimento num município (Loures) e numa freguesia de Lisboa (Campolide) que rapidamente serviram de exemplo e modelo para outros locais que se foram juntando - Sintra, Cascais e mais 6 freguesias em Lisboa. Justamente com estes exemplos e agora com o Novo Protocolo estabelecido com o município de Lisboa no dia 16 de Abril 2014 (2º aniversário do Movimento ZD) e que pretende tornar Lisboa a Primeira Capital Mundial Zero Desperdício, temos a vontade de “levar esta atitude” a outros locais em Portugal - sendo para isto absolutamente necessário que as diferentes Câmaras Municipais se envolvam e apenas cumpram com as suas capacidades e responsabilidades, ou seja, não depende da Dariacordar, mas somente dos vários representantes municipais e locais que queiram fazer parte desta causa. NO CENTRO IP: O Manual de Réplica está a ser terminado. Quando estará concluído e porque é que decidiram lançá-lo? ACP: Com a ajuda da Fundação Calouste Gulbenkian e a colaboração do Instituto de Empreendedorismo Social, contamos ter o Manual de Réplica pronto dentro de poucas semanas. A ideia-base deste manual, é mostrar o quão simples é este movimento (apenas envolve trabalho), nomeadamente qual o papel de cada interveniente neste processo (Câmaras Municipais/Juntas de Freguesia/Instituições Sociais, etc), as normas de procedimento sobre Higiene e Segurança Alimentar, os exemplos já concretizados nos primeiros municípios aderentes, protocolos já estabelecidos com quem doa excedentes alimentares, etc. Queremos que no futuro, a presença da nossa associação não se torne necessária e que em cada local de Portugal, com as suas especificidades próprias, seja possível replicar os resultados concretos já alcançados nos primeiros municípios aderentes; desta forma, acreditamos que o Manual de Réplica seja um importante instrumento para esta intenção. IP: No vosso filme institucional refere que os PALOP seriam interessantes para aplicar esta ideia. Já existem esforços desenvolvidos neste campo? Como é que poderiam “exportar” o Movimento e para que destinos, numa primeira fase? ACP: Este movimento começou por ser uma ideia portuguesa. Antes de mais, queremos poder replicar esta atitude em outros locais de Portugal, mas naturalmente não podemos desperdiçar a realidade da Diáspora Lusitana, pois a língua tem esta capacidade de juntar povos e neste caso, movimentos cívicos. Neste sentido, a Dariacordar vai participar no II Congresso da Cidadania Lusófona e mostrar aos representantes dos diferentes países da CPLP de que forma o Movimento Zero Desperdício começou e se implementou em Portugal. Curiosamente, a questão da Segurança Alimentar é um dos temas CPLP para o ano de 2014. Neste momento, estamos mais virados para a realidade nacional, mas totalmente disponíveis para “exportar” esta atitude portuguesa – até porque a FAO (organização das Nações Unidas dedicada às questões da Agricultura e da Alimentação) tem acompanhado com toda a atenção o Movimento Zero Desperdício. Também pretendemos que em Portugal seja implementada uma Política Comum Contra o Desperdício e que envolva as áreas da Saúde, Educação, Agricultura, Economia, Turismo, etc. Este tipo de política global, não existe em parte nenhuma do mundo e seria muito interessante que (não desperdiçando o nosso trabalho e resultados já alcançados) Portugal desse o exemplo ao mundo. IP: Como é que comenta a forma como as sociedades atuais lidam com as questões do desperdício? ACP: Se os nosso avós nos vissem a desperdiçar como temos feito, de certeza que nos colocavam de castigo, pois a verdade é que muitos de nós fomos ensinados a não desperdiçar, mas por razões várias, tais como como o consumismo e o não querer saber adormecemos a nossa veia humanista e nosso ser social. Finalmente começa-se a notar que a sociedade em geral está a acordar para este indigno e surreal desperdício que nos atingiu e de que são exemplo a campanha lançada pela FAO o ano passado, a hipótese de 2015 vir a ser Ano Europeu Contra o Desperdício Alimentar, a realização no próximo ano da EXPO Universal em Milão em que o tema é “Como Alimentar o Planeta”, as recentes declarações do Papa Francisco sobre o desperdício alimentar, etc. A preocupação, a procura e o encontrar de soluções para problemas sociais, tornam as pessoas mais felizes e completas enquanto seres sociais que somos – sendo esta uma realidade que posso testemunhar. IP: E em Portugal? Pensa que estes últimos dois anos, e talvez por razões que não são as melhores, tiveram algum impacto na consciencialização das pessoas quanto a desperdício e à necessidade de reutilizar recursos? ACP: Para além de pôr em causa um imenso desperdício e de conseguir criar uma solução global e sistemática para o recuperar, um dos objectivos na Dariacordar era o de colocar este tema no ADN de todos os cidadãos. Neste sentido não nos quisemos ficar por soluções técnicas e resultados de refeições recuperadas, mas também quisemos criar um movimento para as pessoas – e assim num trabalho de parceria com a J. Walter Thompson, criámos e desenvolvemos o Movimento Zero Desperdício, do qual também fez parte o nosso Hino chamado “Acordar” em que participaram pro bono mais de 50 artistas de idades e estilos musicais diferentes. Ao mesmo tempo, quisemos que surgissem outro tipo de iniciativas, com soluções diversas mas, que também contribuíssem para diminuir o desperdício e penso que também nesta matéria os nossos intentos foram alcançados. O Movimento Zero Desperdício representa bem o que deve ser uma PPP: Parcerias Pelas Pessoas. IP IP: Além do Desperdício Alimentar, que outros tipos de desperdício em Portugal o preocupam mais? E como é que pensa que se pode atuar a esse respeito? ACP: Para além dos óbvios desperdícios materiais (vestuário, livros, mobílias, etc), preocupa-me essencialmente o desperdício do saber trabalhar em equipe, das sinergias e parcerias que neste caso, ficaram bem demonstradas no Movimento Zero Desperdício. Muitas valências humanas perdem-se apenas porque ainda não existe em Portugal uma cultura comum e virada para a sociedade civil, estamos pouco organizados nesta matéria. Naturalmente que a questão da Educação/Formação é vital e neste aspecto a Dariacordar tem como objectivo tornar o tema do Desperdício numa matéria curricular nas escolas; contamos começar já no próximo ano letivo, uma experiência educativa com escolas do Ensino Básico do 1o Ciclo, na região de Lisboa em mais um exemplo de sinergias/parcerias entre a Dariacordar, Município de Lisboa e uma empresa parceira do Movimento Zero Desperdício. Ao mesmo tempo, também queremos não desperdiçar todo o know how que as universidades podem dar à nossa causa, e.g., mostrar os vários impactos e resultados sociais/económicos/cívicos/ambientais já alcançados pelo Movimento Zero Desperdício. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 23 NO CENTRO “Se não tivermos em conta as pessoas, promovemos a exclusão social” Responsável pela revitalização de espaços outrora cheios de vida e entretanto depreciados, o movimento da reabilitação urbana acontece com e para as pessoas que ali vivem (ou querem viver). E, se estas não forem tidas em conta, corre-se o risco de promover a exclusão, ao invés da coesão social. Esta foi uma das principais questões abordadas na conferência “O Impacto Social da Reabilitação Urbana”, que o Impulso Positivo coorganizou com a revista Vida Imobiliária no âmbito da Semana da Reabilitação Urbana Lisboa 2014. O evento decorreu no dia 25 de março, no MUDE, em Lisboa e reuniu perto de duas centenas de pessoas. A “Habitação como fator de inclusão social” foi o tema abordado por Miguel Graça, responsável pelo pelouro dos Direitos Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, o qual falou acerca da interligação entre a estratégia de reabilitação urbana levada a cabo pela autarquia e a inclusão social. “Muitas vezes, quando se fala de reabilitação urbana faz-se uma associação imediata aos edifícios; mas há uma grande ligação também às pessoas e que tem de ser tida em conta” em qualquer estratégia, afirmou. Por seu turno, o diretor da direção 24 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 do Desenvolvimento, Intervenção e Proximidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, , Mário Rui André, salientou que nestes processos de urbanização e reabilitação, “se não tivermos em conta as pessoas, acabaremos por promover a exclusão social. Essa é desde sempre a nossa preocupação, e é por isso que para a Santa Casa reabilitar é também requalificar e revitalizar, e isso tem de ser feito sempre de forma a promover a coesão, e não a exclusão social”. Lembrando que um dos grandes objetivos da estratégia de reabilitação NO CENTRO urbana de Lisboa prende-se com o desenvolvimento do programa local de habitação e a melhoria dos direitos sociais, Miguel Graça, da CML, sublinhou que este é um movimento essencial também “para melhorar as condições de habitabilidade enquanto determinante de saúde pública de natureza social e ambiental”. Salientando o papel da reabilitação do património como “catalisador económico e para o bem-estar das populações”, o responsável autárquico salientou ainda a sua importância no que toca “ao reforço da identidade social dos bairros e das suas comunidades”. A importância dos bairros: integrar a vida contemporânea no edificado antigo A arquitetura social, e de que forma este pode ser um novo paradigma na reabilitação urbana, foi outra das temáticas abordadas nesta sessão, desta feita pela mão de Raquel Morais, coordenadora da Associação FAS, que desenvolveu o projeto “Moralá Castelo”. Salientando que “qualquer ação de reabilitação urbana não deve ser iniciada sem antes se identificar a sua pertinência social”, a responsável partilhou a sua experiência na dinamização do bairro do Castelo e Sé, chamando a atenção para a importância fulcral de conseguir “integrar a vida contemporânea no edificado, em comunhão com o antigo”. Tendo em conta que “o estado do edificado não é igual em todos os locais, não podemos a priori colocar tudo no mesmo bolo”, explicou a responsável associativa. Além disso, para poder obter resultados, antes de avançar há que “trabalhar no sentido do envolvimento com a população, tentar perceber quais as necessidades sentidas naquela comunidade”, afirma. O projeto Moralá Castelo “começou com o levantamento de informação sobre o bairro do Castelo: história, geografia, estatísticas” e, a partir daí “foi fundamental a realização de assembleias participativas com a população e de reuniões com as instituições públicas e locais, para perceber se estavam abertas ao tipo de intervenção que propúnhamos”. Entre muitas outras ações, entre dezembro de 2013 e março de 2014 a Associação FAS tem promovido diversas iniciativas para dinamizar a vida do bairro do Castelo e dos seus residentes. O Magusto comunitário, a oficina de arquitetura do 1º ciclo na Escola Básica EB1 Castelo, um de debates no palácio Belmonte e o início dos trabalhos de preparação da Feira do Castelo são alguns exemplos. Um dos próximos passos passa agora pela candidatura da associação ao programa municipal BIP / ZIP. A revitalização que está em curso no Bairro da Mouraria é outro exemplo de como a regeneração urbana pode contribuir para atenuar e resolver problemas de exclusão social. Filipa Bolotinha, da Associação Renovar a Mouraria partilhou o trabalho que a associação tem vindo a desenvolver nos últimos meses com o objetivo de “revitalizar o bairro da Mouraria, que historicamente é mal conotado”. Fazendo um balanço positivo deste processo, a responsável sublinhou que tem havido “um bom casamento entre a obra e as pessoas”, ou seja, “há vontade política da parte do município em fazer as coisas de forma diferente e, por seu lado, a população tem vindo a responder positivamente ao trabalho que é feito para elas”, algo essencial como disse, até porque, “se a população não estiver envolvida e não responder, não faz sentido”. Assim, a par com as obras que têm vindo a ser realizadas no local, a Associação tem desenvolvido e promovido várias iniciativas para “revitalizar a vivência” no bairro, de que são exemplo a abertura de uma cafetaria, aulas de português para estrangeiros, um jornal local gratuito realizado por jornalistas voluntários e membros da comunidade, as visitas cantadas (fruto da associação entre o Museu do Fado e autarquia). Neste processo de “devolução e reintegração” da Mouraria a Lisboa, a solidariedade não foi esquecida. E, um bom exemplo é o da Casa da Mouraria, que foi possível graças ao trabalho de dois anos na angariação de fundos, e que atualmente recebe centenas de pessoas todas as semanas. Políticas urbanísticas do passado resultaram em “ilhas” de exclusão social Profundo conhecedor das estratégias de desenvolvimento urbano e dos programas de realojamento desenvolvidas em Lisboa nas últimas décadas, Fernando Santo, atualmente administrador na Montepio Gestão de Ativos Imobiliários, teceu algumas críticas face às escolhas políticas feitas no passado. “Tratámos bem as pessoas que viviam em barracas e investimos no seu realojamento, mas nesse processo acabámos por abandonar os mais idosos que hoje vivem isolados em apartamentos em prédios de vários andares sem elevador e em muitos dos casos sem as mínimas condições de habitabilidade, com infiltrações, sem casas de banho etc. Isto é uma das consequências da política de congelamento das rendas que vingou durante décadas”, considera. “Seguimos um modelo de desenvolvimento cujas políticas tiveram como resultado uma segmentação da cidade, tendo em conta os terrenos melhor ou pior valorizados, em estratos sociais”, afirmou o ex-Bastonário da Ordem dos Engenheiros e Ex-Secretário de Estado. E, nesse processo “abandonámos as zonas históricas, que é onde agora vivem as pessoas com menos recursos”. Agora que a lei do arrendamento mudou e a da reabilitação também, “não deveríamos ter preconceitos ao abordar a reabilitação urbana. Deixemos de lado as ideias pré-concebidas” diz, defendendo que “temos que dar alguma mobilidade aos investidores para que possam recuperar o património nessas áreas, mas que consigam criar produto imobiliário com rendas acessíveis que levem para lá gente”. E, remata, “a reabilitação urbana permitirá que voltemos ao conceito de bairro, com a coesão social que ele traz, permitindo que coexistam numa mesma área lojas de pequena dimensão vocacionas para serviços de proximidade, edifícios de diferentes usos e também pessoas diferentes, com diferentes graus de rendimento”. Para levar isso a cabo, defende o CEO da Fundação Aga Khan, Karim Merali, “uma das primeiras lições que precisamos de absorver é a de saber e de ter uma ética de parcerias”. O responsável falou do trabalho desenvolvido pela Fundação Aga Khan em diferentes pontos de globo, mas cujo principio base se mantém independentemente do sítio: “temos de envolver a comunidade local”, pois “há certos aspetos relacionados com a confiança e o orgulho das comunidades que têm de estar presentes desde o primeiro momento”. Outro aspeto essencial a ter em conta, alertou Karim Merali, é que “estes projetos têm que ter planeamento para além do óbvio. Como é que vão ser sustentáveis e gerar rendimento depois de concluídos? Como vão ser sustentados, com que dinheiro?” e, para resolver estas questões, advoga, “o importante é que todos os intervenientes trabalhem em conjunto”. IP março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 25 EXPERIÊNCIAS ENTRAJUDA Partilhar para combater a pobreza mas também o desperdício Com a partilha entre os seus valores de base, a Entrajuda tem como missão fazer a ponte entre quem quer dar e quem precisa de receber. A partilha de conhecimentos, de bens não alimentares e de tempo estão no seu ADN, sendo formas cruciais não só para combater a pobreza como o desperdício. O objetivo desta IPSS é criar uma verdadeira cadeia de solidariedade onde voluntários, parceiros e benfeitores unem esforços para melhorarem o funcionamento das instituições de solidariedade social apoiadas, assim permitindo que estas aumentem a sua eficiência de meios e a eficácia dos seus resultados, ajudando mais pessoas. Entre os projetos dinamizados pela Entrajuda vários são aqueles nos quais o combate à pobreza é mais evidentemente associado ao simultâneo combate ao desperdício. Um destes projetos é o Banco de Bens Doados, que faz chegar às instituições apoiadas pela Entrajuda produtos não alimentares doados quer por empresas quer por particulares. Além do seu caráter social – ao distribuir bens em estado novo ou passíveis de reutilização às IPSS -, o programa tem um forte âmbito ambiental, ao “contribuir para o aproveitamento ou correta destruição de bens que deixaram de ter valor nas entidades doadoras e que de, outra forma, seriam desperdiçados com os inerentes custos ambientais”, refere a Entrajuda. Através do Banco de Bens Doados, empresas, cadeias de distribuição ou hotéis poderão encaminhar bens para a Entrajuda que apresentem pequenos defeitos ou que já tenham sido objetivo de usos, mas que, em ambos os caso, se encontrem em perfeitas condições de reutilização, dando-lhes uma nova vida. Já este mês de abril, a Entrajuda lançou, em parceria com a Caritas Portuguesa, a plataforma Dar e Receber.pt, que agrega a Bolsa do Voluntariado e o Banco de Bens e Equipamentos, e que permitirá estabelecer ligação entre quem tem alguma coisa 26 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 para dar – tempo ou bens – e quem precisa de receber. Conforme explica Isabel Jonet, presidente da Entrajuda, um dos objetivos é “ajudar a eliminar o desperdício e a sobreposição de iniciativas, apoiando os mais necessitados, incentivando uma participação da sociedade civil num projeto de solidariedade com recurso a uma plataforma informática e ao Facebook”. Outra resposta da Entrajuda é o Banco de Equipamentos, o qual promove a recuperação de equipamentos elétricos e electrónicos doados também por empresas e particulares, dandolhes nova vida, desde que se encontrem ainda aptos para uma nova reutilização. Além da óbvia inclusão social e do impacto a nível de capacitação das entidades apoiadas, este programa pretende ainda contribuir para a redução dos impactos ambientais provocados por uma incorreta destruição de resíduos e equipamentos elétricos e electrónicos, recuperando e reciclando corretamente equipamentos informáticos. Um outro programa muito dinâmico na limitação do desperdício é o “Restolho”, que a Entrajuda desenvolve em parceria com a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares e que promove a apanha de produtos horto frutícolas que não seriam apanhados e seriam desperdiçados. Mais recentemente, o programa passou pela Golegã, numa parceria com a Agromais. Nesta ação foram apanhados Nabos na Golegã, por voluntários da Escola Profissional de Torres Novas, no âmbito do programa de voluntariado Young Volunteam. Outras ações com a Agromais vão realizar-se até setembro, permitindo entregar legumes frescos a famílias carenciadas apoiadas pelos Bancos Alimentares. Numa outra ação do programa “Restolho” em parceria com a “Parques de Sintra”, foram apanhadas laranjas nos pomares dos Jardins do Palácio de Queluz em fevereiro, envolvendo voluntários da Escola Secundária Miguel Torga, o grupo motard “fogecomelas”, o grupo TU PODES, a Fidelidade e outras pessoas que quiseram associar-se à iniciativa que permitiu entregar fruta fresca a muitas famílias carenciadas apoiadas pelo Banco Alimentar. IP EXPERIÊNCIAS LIPOR Na vanguarda europeia da gestão de resíduos Não só em Portugal, mas também na Europa, a LIPOR tem vindo a consolidar-se como uma das entidades na vanguarda da gestão de resíduos urbanos. E, os frutos da sua estratégia já se fazem colher, com a empresa portuguesa a acumular distinções internacionais. Responsável pela gestão, valorização e tratamento dos resíduos urbanos produzidos pelos municípios de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde, a LIPOR trata anualmente de cerca de 500.000 toneladas de resíduos sólidos produzidos por um milhão de habitantes. No âmbito da sua atividade, a empresa desenvolveu uma estratégia integrada de valorização, tratamento e confinamento dos resíduos urbanos assente em três pilares: valorização multimaterial, valorização orgânica e valorização energética. Os resíduos rejeitados neste processo, bem como os resíduos previamente preparados, são por seu turno encaminhados para um moderno Aterro Sanitário. Mas, o seu contributo para manter o nosso planeta um local mais limpo e saudável não se fica por aqui. “Ciente do seu papel na comunidade onde está inserida, a LIPOR materializa a sua estratégia de sustentabilidade e de responsabilidade social num sólido compromisso com uma gestão ética, social e ambientalmente responsável”, esclarece a empresa no seu site. Ainda recentemente a LIPOR viu a sua estratégia no campo da gestão da qualidade a ser distinguida com a Certificação ISO 9001:2008, cujo âmbito é “gestão de resíduos urbanos e promoção da educação e sensibilização ambiental”. Fonte oficial da empresa explica que “consolidar a diferenciação positiva da LIPOR no que respeita à Gestão da Qualidade, promovendo a melhoria interna dos processos e o reconhecimento externo de que a Organização satisfaz os seus clientes e as exigências legais e regulamentares de forma eficaz e em todas as suas atividades foi, em 2013, o objetivo A Educação Ambiental é uma das preocupações da Lipor. Na foto o projeto de compostagem caseira, Horta da Formiga. do projeto de certificação global ISO9001”. Ao longo dos anos, a LIPOR tem vindo a acumular prémios e distinções que reconhecem a sua estratégia. Entre estes incluiuse uma Menção Honrosa nos Prémios Europeus da Promoção Empresarial, com o projeto “RLAB- Reuse Laboratory”; o Prémio Desenvolvimento Sustentável na edição 2012/2013; o Galardão Acessibilidades na IV Gala da Inclusão, com o projeto R+, ou uma Menção Honrosa nos “Trofeus Luso-Franceses”. Recentemente conquistou também o primeiro lugar na categoria das médias empresas do Setor Público no Prémio Excelência no Trabalho 2013. Já em 2014, a “Estratégia de Sustentabilidade da LIPOR” foi distinguida no prémio EBAE – European Business Awards for the Environment – Prémio de Inovação para a Sustentabilidade (EBAEpis) na categoria Gestão. Um prémio que foi encarado como “o reconhecimento da liderança da LIPOR e que constitui um enorme orgulho para toda a sua equipa”, afirmou na ocasião fonte oficial da empresa. Envolver e sensibilizar a comunidade para a educação ambiental é prioridade A LIPOR é também conhecida por promover o envolvimento da comunidade onde está inserida na causa ambiental, dinamizando regularmente um vasto conjunto de ações multidisciplinares que visam sensibilizar a população para a importância de questões chave como a reciclagem, a racionalização e gestão dos resíduos e a preservação do meio ambiente. É o caso, por exemplo, das ações que está a promover na sua área de influência no âmbito da campanha “Vamos Limpar a Europa”, que terá lugar a 10 de maio, integrada na Semana Europeia da Prevenção de Resíduos. O objetivo é envolver os cidadãos dos seus concelhos de influência para a causa da limpeza e preservação do meio ambiental, consciencializandoos para a quantidade de resíduos que está a ser abandonada na sua área envolvente. Para tal, e em conjunto com alguns parceiros, a LIPOR coordenará algumas ações de limpeza abertas aos habitantes, proporcionando “uma oportunidade única de aumentar a consciencialização do cidadão sobre o problema do lixo e ajudar a mudar os seus comportamentos”. IP março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 27 EXPERIÊNCIAS CAIS RECICLA Oficina criativa para mudar vidas e reduzir desperdício Prestes a completar 3 anos, a iniciativa CAIS Recicla, promovida pela Associação CAIS no âmbito do programa de empregabilidade CAHO, tem o duplo foco de ajudar a reduzir o desperdício e potenciar a capacitação socioprofissional de pessoas que se encontram em situação de pobreza ou exclusão social. A oficina criativa CAIS Recicla foi lançada em maio de 2011, com o apoio da Unicer, apostando no desenvolvimento de produtos de ecodesign através de materiais de desperdícios cedidos por diversas empresas. Este negócio social integrado no Programa de empregabilidade CAHO – Capacitar Hoje promovido pela Associação CAIS visa a capacitação socioprofissional e oportunidade de formação em contexto de trabalho de pessoas que se encontram em situação de pobreza e /ou exclusão social. Assim, procura-se através da produção e comercialização dos seus produtos, formas de sustentabilidade da oficina. O balanço é positivo, conforme revelou Cláudia Fernandes, responsável por este projeto e Coordenadora da CAIS Porto ao Impulso Positivo. “O projeto CAIS Recicla nasceu e tem-se mantido com uma equipa de acompanhamento muito reduzida, mas com muita paixão, dedicação, empenho e até mesmo resiliência”. E acrescenta: “com muito pouco, criamos um valor social e emocional de grandes dimensões, pelo menos dentro das portas desta nossa casa que é a CAIS”. Mas fora de portas este valor também emerge, já que o projeto “muda vidas, estrutura e dá felicidade aos beneficiários que por cá passam”, nota Cláudia Fernandes. Um dos exemplos de mudança é o de “Maria”, que vivia numa casa a cair, 28 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 sem quaisquer condições. “Uma Maria fechada, vazia de participação, que só precisou desta oportunidade para partilhar as suas competências sociais, o seu carinho pelo outro e o profissionalismo. Para viver o seu papel social. Hoje vive numa casa arrendada, paga as suas contas e está a trabalhar. É feliz”, diz a responsável do projeto ao Impulso Positivo. Só em 2013, a CAIS Recicla produziu cerca de 5.000 peças. O foco é na área do estacionário, uma vez que a maior parte dos desperdícios são o papel, o plástico e as lonas, apostando-se no desenvolvimento de notebooks, bookmarks, estojos, capas para pc´s, lápis e pin´s, entre outros produtos que podem ser feitos de acordo com pedidos mais concretos por parte dos clientes, e que podem incluir bijuteria ou candeeiros, entre outros. Mais parceiros rendidos Inicialmente lançada com o apoio da Unicer, que foi a primeira empresa a ceder os seus desperdícios, a CAIS Recicla tem hoje parcerias com outras empresas e organismos, incluindo a Casa da Música, a Fundação de Serralves, a Coats&Clark, a Fundação Manuel António da Mota, a Cerealis, a APAN e o Barclaycard. “Todos se renderam ao projeto no que respeita à cedência de desperdícios” e novos parceiros deverão associarse em breve, já que “neste momento estamos a negociar com a Câmara Municipal do Porto e a Ordem dos Engenheiros, no Porto também, para selecionar e recolher desperdícios úteis à produção de novas peças”. Conforme explicou Cláudia Fernandes, “este ano continuaremos a aumentar a rede de parceiros, fornecedores e clientes”. O objetivo estabelecido passa por trabalhar a marca CAISRecicla, alargar a rede de beneficiários do projeto e abrir uma loja nas instalações do Centro CAIS Porto, onde funcionará a oficina de trabalho, aberta ao público e a venda das peças CAIS Recicla. IP EXPERIÊNCIAS FRUTA FEIA Ver além da aparência Há cerca de seis meses no terreno, a cooperativa Fruta Feia está a crescer em força e já conseguiu evitar que 18 toneladas de frutas e legumes fossem para o lixo apenas por questões de aparência. A ideia de base foi criar um mercado alternativo para estas frutas “feias”. Em entrevista ao Impulso Positivo, Isabel Soares, uma das mentoras do projeto sublinha que os resultados “têm superado largamente as nossas expectativas”, tanto pelo "entusiasmo dos agricultores como pela adesão dos consumidores e ainda pelo desperdício já evitado”. Os números não deixam dúvida. Desde 18 de novembro passado, data de arranque da cooperativa Fruta Feia e abertura da primeira delegação, já são cerca de 320 os consumidores associados e, de acordo com Isabel Soares, cerca de outros 800 estão em lista de espera. E nas primeiras 21 semanas de funcionamento, o desperdício evitado ascende a 18,2 toneladas de frutas e hortícolas. A Cooperativa Fruta Feia surge da necessidade de inverter o desperdício que se gera na normalização de frutas e legumes, a qual nada têm a ver com questões de segurança e qualidade alimentar. O principio de base é combater a ineficiência de mercado que se cria devido a esta normalização, criando um mercado alternativo para as frutas e hortaliças que saem do circuito comercial apenas por serem “feias”. Um mercado que ao mesmo tempo que combate o desperdício alimentar e de recursos utilizados na produção – como a água, as terras cultiváveis, a energia e o tempo de trabalho -, além de gerar valor para os agricultores e consumidores. Evitase assim que alimentos de qualidade sejam devolvidas à terra, apenas por não se enquadrarem nos padrões de normalização. O modelo de funcionamento é muito simples: todas as semanas, num trabalho direto com os produtores, a cooperativa recolhe nas suas hortas e pomares os produtos que estes não conseguem escoar apenas por desadequação ao parâmetros de normalização. Estes produtos servem depois para preparar duas cestas de tamanhos diferentes, com frutas e hortaliças de época, que serão disponibilizadas aos associados da cooperativa. Os consumidores associados pagam anualmente uma cota anual de 5 euros, paga na recolha da primeira cesta. Da parte dos consumidores, é necessário escolher a cesta mais adequada – a pequena com 7 a 5 variedades de produtos num total de 3 a 4 kg e que tem um custo de 3,5€ ou a grande, com 7 a 9 variedades de entre 6 a 8 kg por 7€ - e depois recolhê-la no ponto de entrega predefinido. Para já, a cooperativa conta com dois pontos de entrega, ambos em Lisboa. O primeiro, a funcionar desde novembro de 2013 foi a Casa Independente (no Largo do Intendente Pina Manique) e o segundo, em funcionamento desde 15 de abril, funciona no ateneu Comercial de Lisboa (na Rua das Portas de Santo Antão). As entregas são sempre nos mesmos dias da semana: à segunda feira no primeiro ponto e à terça feira no segundo, entre as 17h e as 21 horas. Com a abertura do segundo ponto de entrega, a cooperativa pretendeu dar resposta a 210 consumidores que estavam em lista de espera, e assim duplicar o desperdício evitado semanalmente, revela Isabel Soares. Mas os planos são ir além de Lisboa. A partir de setembro, “gostávamos de começar a replicar o projeto noutras regiões do país”, revela Isabel Soares ao Impulso Positivo. Isto porque a Fruta Feia é uma “cooperativa e um movimento que almejam alcançar uma escala nacional para dar resposta ao desperdício a que se assiste, em todo o país, devido à aparência”. Recordese que o projeto da cooperativa Fruta Feia mereceu o 2ª prémio no concurso FAZ – Ideias de Origem Portuguesa em 2013, uma iniciativa promovida pela Fundação Gulbenkian em parceria com a COTEC. IP março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 29 EXPERIÊNCIAS RITZ FOUR SEASONS Reduzir desperdício em todas as frentes O compromisso ambiental desta unidade hoteleira de 5 estrelas em Lisboa envolve os vários stakeholders da cadeia de valor. Parte desse compromisso, o programa de gestão e redução do desperdício “confunde-se com a própria história do Hotel" e tem uma abrangência difícil de superar. “Ao nível ambiental, o objectivo é reduzir o impacto da nossa atividade no ambiente”, começa por explicar a direção do Hotel. Para tal, a unidade hoteleira tem um vasto conjunto de programas e procedimentos, contemplando um leque alargado de áreas, numa abrangência difícil de igualar. Parte do compromisso ambiental, o programa de gestão e redução de desperdício é um reflexo dessa abrangência, e “confunde-se com a própria história do hotel”, já que faz parte do seu ADN desde sempre, revela a mesma fonte. Uma das áreas abrangidas pelo programa da gestão de desperdício é a de manutenção de equipamentos e do edifício, na qual existe uma forte aposta em melhorar a eficiência e eficácia energética. A redução de consumos é outra área, com “um esforço constante para reduzir os nossos consumos ao nível do papel, água, gás e eletricidade”, daí decorrendo a implementação de diversas medidas, entre as quais se inclui, por exemplo, o reaproveitamento de vapor em excesso para aquecimento de água sanitária reduzindo o consumo de gás. O tratamento e valorização de resíduos, com diversas iniciativas implementadas, é uma prática do Hotel há já anos e qual esta unidade tem “vindo a alargar, nomeadamente, com a sensibilização que fazemos junto dos nossos colaboradores”, aliás sendo este esforço de envolvimento e mobilização dos colaboradores transversal a todas as facetas do programa ambiental. Além da separação de lixo das diversas origens, a recolha de pilhas, óleos alimentares e de outros consumíveis, no Ritz Four Seasons, por exemplo, todo o material obsoleto como impressoras ou computadores são enviados para as entidades competentes da autarquia e organizações sociais. Desde junho de 2012, o Hotel dinamiza também um projeto de excedentes de produção alimentar, que consiste na recolha diária, por parte de colaboradores voluntários, dos géneros alimentares passíveis de serem doados a instituições sociais. Esta recolha contempla ainda produtos resultantes das auditorias internas efectuadas mensalmente nas áreas de comidas e bebidas. Com este projeto, o Hotel apoiou no primeiro ano, 3 instituições locais 30 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 e cerca de 350 pessoas. Em 2013, a unidade hoteleira consolidou o trabalho realizado neste âmbito, revendo os procedimentos e alargando a recolha a todos os colaboradores do hotel, entre outras medidas, que já permitiram apoiar 5 instituições, e ainda reduzir o volume de lixo orgânico produzido. Também em 2013, e ainda no âmbito do reforço das suas práticas ambientais, o Ritz Four Seasons esteve envolvido em campanhas de recolha de resíduos elétricos e electrónicos e de recolha de medicamentos fora de uso ou de validade. Além disso, o reaproveitamento de artigos descontinuados do hotel – como têxteis ou artigos do lar - e encaminhamento dos mesmos para instituições sociais saiu também reforçado. Em maio do ano passado, foi implementada uma nova medida, passando a encaminhar-se para incineração os sabonetes utilizados pelos hóspedes. “Desde então encaminhámos cerca de 5.500 restos de sabonete que geraram energia”, diz a direção do hotel. Já “no âmbito do programa Greening Meetings, apoiámos clientes a doarem os materiais excedentes dos seus eventos beneficiando 4 instituições sociais”, acrescenta. Para este ano, a nível da gestão de desperdício e além das medidas implementadas, o Ritz Four Seasons vai associar-se à campanha “Papel por Alimentos” em parceria com a Associação de Hotéis de Portugal, a favor do Banco Alimentar Contra a Fome e vai, com base na conclusão do estudo de viabilidade técnica e económica ao nível de consumos e práticas por parte da EDP, implementar medidas corretivas e de melhoria em termos de consumos de energia, água e gás. Alinhado para este ano, está também a recuperação de calor dos chiller`s, um equipamento que permite arrefecer a água das unidades de ar condicionado centrais do hotel. “O calor gerado nesse processo de arrefecimento é reaproveitado para o aquecimento da água dos quartos e da piscina”, explica a direção do hotel. IP EXPERIÊNCIAS MOINHO Roupa velha, papel novo A partir de desperdícios têxteis, a Moinho produz papel 100% algodão utilizando um método de fabrico amigo do ambiente que resulta da reinvenção de um processo tão ancestral quanto artesanal. Sacos, embalagens, papelaria, álbuns e livros são alguns dos produtos que a fábrica localizada em Vouzela produz. A funcionar desde 1993, a Moinho foi adquirida em 2010, sofrendo um reposicionamento que alargou o seu leque de produtos e a gama de papéis, tendo atualmente uma abrangência bastante mais vasta. “Antes de adquirirmos a fábrica, em 2010, os produtos estavam maioritariamente associados às belas-artes, o conceito foi implementado a partir desta data”, revela Rui Silva, CEO da Moinho. E acrescenta “quisemos recuperar processos antigos de fabrico e recriá-los de forma sustentável nos dias de hoje. Percebemos que podíamos oferecer ao mercado algo que ainda não existia num regresso às raízes e, simultaneamente, virando-nos para o futuro através do papel de algodão feito a partir de desperdícios têxteis”. Rui Silva explica ao Impulso Positivo que “ao lançar o negócio focámo-nos essencialmente na recuperação do processo de produção sempre com vista a aumentar a sua capacidade produtiva2, apontando ainda como desafio a “formação de pessoal especializado envolvido no processo”, que considera aliás ser um “desafio contínuo e paralelo ao crescimento da Moinho”. O CEO da Moinho dá ainda nota de que “outro dos nossos desafios permanentes é acrescentar valor à marca através da qualidade do papel e produtos, desde a matéria prima ao design”. O método utilizado permite fabricar grandes quantidades de papel, conservando, no entanto, todas as caraterísticas artesanais do papel de algodão, tais como o grão, a textura e sobretudo a durabilidade. A única matéria-prima é roupa usada ou desperdícios têxteis industriais, que a Moinho recolhe, reaproveitando ainda toda a água que consome durante o processo de fabrico. Uma das soluções da Moinho é por exemplo o papel impregnado de sementes vivas para plantar, de que foi exemplo recente a capa de uma revista de distribuição nacional. A ideia é plantar a capa, ou por exemplo um saco de papel que utilize esse material, após a sua utilização. Papéis aromatizados ou texturados integram também a gama da Moinho, que atualmente produz sacos, embalagens, papéis de embrulho, papelaria e artes – incluindo envelopes, convites, cadernos ou blocos -, ou álbuns e livros. Para ensinar e reviver a história do papel, a Moinho abre regularmente as suas portas para acolher quem deseje visitar a fábrica, especialmente aos mais novos, também com o objetivo de “promover a consciência ambiental divulgando um processo de fabrico ancestral totalmente sustentável com impacto reduzido na pegada de carbono”. A organização de visitas guiadas à fábrica permite, também, revisitar a história e assistir à manufatura deste papel, 2.000 anos depois da sua invenção, com recurso ao mesmo processo de fabrico. De acordo com a Moinho, mais de 2.000 crianças visitam anualmente a fábrica. As perspetivas de crescimento são muito positivas e a aposta tem sido um sucesso. A equipa de colaboradores, que há quatro anos era de apenas dois, está agora em quinze pessoas. E, este ano, sobretudo devido às exportações, o crescimento da Moinho deverá rondar os 30%, revelou Rui Silva, esclarecendo que “temos apostado na internacionalização bem como no reforço do mercado nacional”. Relativamente aos consumidores portuguesas, Rui Silva refere que “são muito sensíveis à nossa política de sustentabilidade e à recuperação de processos ancestrais para a construção do futuro. Nem todo o mercado está sensibilizado para um produto tão específico, mas temos mercado que é fiel às características do nosso papel e produtos”. Acima de tudo, “estamos empenhados em transmitir as características únicas do nosso papel de algodão. O papel de algodão dura pelo menos quinhentos anos e é o que acontece também com as memórias que ficam gravadas e guardadas nos produtos Moinho”. IP março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 31 EXPERIÊNCIAS Amb3E Dar um novo uso aos equipamentos elétricos em fim de vida A Amb3E – Associação Portuguesa de Gestão de Resíduos está apostada em fazer com que os portugueses deem uma nova vida aos seus equipamentos elétricos e eletrónicos usados. Uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como missão a gestão de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE) e de segmentos de pilhas e acumuladores (RPA), contando com 60 empresas associadas e mais de 1.100 aderentes de norte a sul do país. A sensibilização da sociedade civil para a problemática dos REEE e das Pilhas e Acumuladores em fim de vida e para o seu reencaminhamento é uma das grandes bandeiras da atividade da Amb3E, que desde a sua criação tem vindo a desenvolver vários projetos neste âmbito, caso da Escola Electrão, do Projeto POW – Dá o Power, ou ainda recentemente, da participação no roadshow do Projeto 80. Além disso, a associação faz a gestão da rede nacional dos Ponto Electrão, que de norte a sul do país assegura a recolha e o posterior encaminhamento dos REEE e RPA. A educação dos mais jovens para esta causa é uma prioridade, sendo as ações da Amb3E uma constante nas escolas portuguesas. É o caso do jogo “Apanha os REEEs” que a associação promoveu no âmbito da sua participação no roadshow do Projeto 80, que passou por 18 escolas dos distritos de Portugal Continental de 20 de janeiro a 3 de abril. Ao todo, foram 2.880 os alunos que participaram ao longo das 288 horas do jogo “Apanha dos REEs”, promovido pela Amb3E, no qual tiveram oportunidade de apanhar todos os REEE no Ponto Eletrão criado para o efeito. Este último consistia numa máquina árcade, ela própria feita a partir de equipamentos elétricos, em que os jovens tinham que colocar todos os REEE dentro do Ponto Electrão, tendo o cuidado de evitar os outros resíduos, que os fariam perder vidas. “Ao apoiarmos o Projeto 80 queremos promover as iniciativas juvenis na área da sustentabilidade e incutir nos jovens a 32 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 ideia de que eles podem fazer a diferença. Os resultados que alcançamos com as nossas campanhas de sensibilização têm sido extremamente positivos e temos assistido a uma grande adesão por parte dos mais novos. Basta pensar, por exemplo, na Escola Electrão, na qual recolhemos quase 5.000 toneladas de resíduos em quatro anos”, afirma Jorge Vicente, Diretor-Geral da Amb3E. Por isso, acrescenta, “resultados como estes permitemnos concluir que, quando damos aos jovens algum incentivo, conseguimos obter resultados e ideias muito positivas”. Projeto POW – Dá Power ao Electrão Um dos projetos que a Amb3E tem atualmente em curso é o POW – Dá Power ao Electrão, que entrou recentemente na sua terceira fase. Dirigida ao público mais jovem, esta é uma iniciativa que incentiva os portugueses a participar num desafio de vídeos, funcionando como elementos de mudança comportamental a nível ambiental. O objetivo é chamar a atenção para a importância do encaminhamento dos REEE através dos Pontos Electrão, permitindo o seu tratamento e reciclagem. Desenvolvido faseadamente, nas duas primeiras etapas o POW contou com um total de 369 participações, que contabilizaram mais de 52.438 visualizações. A terceira fase do projeto foi lançada no início de abril, e tem como tema “Dá POWer ao Electrão e deposita os teus REEE!”, que tem como embaixador o apresentador Pedro Fernandes. “Para incentivar as pessoas a adotar comportamentos ambientalmente responsáveis, é fundamental informá-las sobre o impacto das suas ações. Por isso mesmo, a Amb3E tem vindo a apostar na sensibilização dos jovens para a importância do correto encaminhamento dos REE. Neste momento, estamos muito satisfeitos pelo sucesso do Projeto POW, não só pelo número de participações que superou as nossas expetativas, mas também pela qualidade dos projetos. Na terceira fase esperamos ter ainda mais vídeos a concurso para que a mensagem chegue ao maior número de pessoas”, disse o Diretor-Geral da Amb3E. IP EXPERIÊNCIAS SKELETON SEA Lixo de praia transformado em arte para manter os oceanos limpos Com cerca de nove anos, o grupo Skeleton Sea foi criado por três surfistas e artistas plásticos que trabalham exclusivamente com destroços, sucatas e qualquer outro lixo encontrado nas praias de todo o mundo. As obras que criam transmitem uma forte mensagem em torno de uma causa comum a todos: “manter os oceanos limpos”. João Parrinha, Luis de Dios e Xandi Kreuzeder são os três elementos fundadores do coletivo de artistas Skeleton Sea e que encontraram na arte uma forma de expressão, mas também um meio para comunicar a importância de respeitarmos os direitos humanos, mas também os da natureza, preservando-a. Foi nas suas viagens e nos intervalos do surf que estes três artistas começaram a resgatar aquilo que consideravam ser objetos “preciosos” encontrados no mar e na praia, mas que para a maioria ra apenas lixo: boias de vidro chinesas muito antigas enroladas em cordas, imensos ossos de baleia e de peixes polidos brilhantemente polidos, artefactos de pesca de todo o género, pedaços de metal e de madeira de antigos barcos, peças de porcelanas, entre muitas outras coisas… Juntar a criatividade e a limpeza das praias, foi a ideia que serviu como semente que viria depois a germinar num projeto artístico que utiliza “estes tesouros do mar, usando-os em esculturas e instalação na costa”, conta o Skeleton Sea na sua página oficial. Ao longo dos anos, o coletivo já foi responsável pela recolha de várias toneladas de resíduos das águas e praias, somando já 20 esculturas no seu portfólio. Depois de alguns anos no estrangeiro, Portugal é agora o porto de abrigo dos Skeleton Sea, que têm quartel-general num ateliê na zona da Ericeira. Bisnau, o novo “golfinho” de Setúbal O lixo recolhido nas praias ganha uma nova vida nas esculturas dos Skeleton Sea. E foi isso mesmo que aconteceu com o Bisnau, um golfinho gigante com cinco metros e que foi esculpido com recurso à enorme quantidade de material poluente que foi recolhido na zona de Setúbal para o efeito, o qual foi utilizado no seu revestimento. Em exposição desde o passado mês de Dezembro junto à marginal de Setúbal, esta é uma das obras mais recentes deste coletivo e foi desenvolvida no âmbito do projeto de responsabilidade social do futuro centro comercial Alegro Setúbal (onde será posteriormente integrada). O Bisnau representa um dos mamíferos mais acarinhados no mundo: o golfinho ou roaz-corvineiro, e que podem ser avistados no rio Sado junto a Setúbal. Como explica o coletivo na sua página oficial, “a preservação da espécie está muito dependente da nossa preocupação em manter os oceanos limos. Várias espécies, entre as quais os golfinhos, morrem com os seus estômagos cheios com os plásticos que poluem os nossos rios e oceanos. Com esta obra de arte, a que chamámos Bisnau num tributo a uma antiga famílias de pescadores de Setúbal, tentámos promover a sensibilização para uma maior consciência ambiental da nossa geração e consequentemente para a geração dos nossos filhos para que possamos viver num mundo melhor, com um maior respeito pela natureza e pela visa em si”. O processo de criação da obra envolveu o trabalho de recolha dos resíduos que foram utilizados na sua construção, este processo aconteceu em outubro de 2013 e contou com a participação de dezenas de voluntários que trabalharam lado a lado com os Skeleton Sea a reunir toneladas de lixo, primeiro no Portinho da Arrábida, depois nas Docas dos Pescadores. “Ficamos sempre surpreendidos, porque olhamos para as praias e parecem-nos limpas, ou relativamente limpas. Mas mesmo nos sítios mais limpos, é impressionante a quantidade de lixo que lá apanhamos”, realça João Parrinha. IP março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 33 EXPERIÊNCIAS CD: www.voicesforinnovation.eu PROJETO VOICES Portugueses querem tratamento do lixo melhor e mais tecnológico Os cidadãos portugueses querem um melhor tratamento do lixo e mais soluções tecnológicas a nível doméstico, de acordo com as conclusões apuradas pelo projeto VOICES no relatório sobre Portugal. Conduzido pela Rede Europeia de Centros e Museus de Ciência (Ecsite), o projeto VOICES (Views, Opinions and Ideas of Citizens in Europe on Science) reuniu a opinião e as sugestões de 1.000 cidadãos europeus, oriundos de 557 municípios de 27 países, no sentido de explorar o conceito do desperdício urbano como um recurso aproveitável. Os resultados desta consulta estão a ser usados pela Comissão Europeia para definir aquelas que serão as prioridades europeias nos próximos anos relativamente à forma como o desperdício urbano é gerido no âmbito do programa de financiamento para a investigação em ciência e tecnologia Horizonte 20 20 20. Neste projeto financiado pela Comissão Europeia, foram recolhidos ao longo de 2013 depoimentos de “pessoas comuns” através de seis focus groups por cada um dos 37 Estados membro, grupos esses divididos por diferentes faixas etárias (18-35 anos, 35-50 anos, mais de 50 anos). Face à sua abrangência, o VOICES representa também o primeiro grande esforço europeu para dar oportunidade aos seus cidadãos de influenciar diretamente as políticas de investigação da União Europeia, que deverá ter em conta aquelas que são as verdadeiras prioridades das pessoas. Transformar lixo em biogás através da utilização de enzimas, comida do tamanho de pílulas e novos tipos de embalagem feitas de materiais comestíveis são algumas das principais ideias sugeridas pelos cidadãos a nível europeu. 34 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 Realizada em território nacional pelo Pavilhão do Conhecimento-Ciência Viva, os portugueses também participaram nesta consulta pública tendo partilhado as suas ideias para uma sociedade sem desperdício. Para Carlos Catalão, da Universidade Nova de Lisboa e coordenador da consulta em Portugal, este foi um passo importante no sentido de “tornar mais democrática a relação da sociedade com a ciência”. De acordo com os resultados apresentados publicamente em Lisboa no final do passado mês de novembro, no que toca à gestão dos resíduos urbanos nosso país a tendência reportada passa sobretudo “por soluções tecnológicas a nível doméstico e não apenas industrial”, explicou aquele responsável à imprensa. Maior aproveitamento do desperdício é objetivo em Portugal As ideias apresentadas pelos portugueses ao projeto VOICES centram-se no melhor aproveitamento do desperdício, tendo sido registados no relatório várias sugestões para o efeito. É o caso, por exemplo, da criação de uma máquina coletiva onde um grupo de pessoas depositaria o lixo para este ser transformado em combustível – o qual seria depois utilizado no abastecimento dos veículos dessa comunidade, por exemplo. Outra sugestão apresentada consiste na criação de um sistema que converte o lixo doméstico em energia para alimentar prédios, casas ou infraestruturas. “Estas ideias vão ser usadas para definir prioridades na investigação europeia”, afirmou Carlos Catalão. IP EXPERIÊNCIAS GLOBAL SHARING DAY Dia para partilhar Em 2013, o segundo ano em que se realizou, o dia global da partilha, numa tradução livre do Global Sharing Day, envolveu mais de 70 milhões de pessoas em 192 países de todo o mundo. Este ano é celebrado a 1 de junho. Portugal ainda não aderiu, mas ficou a promessa de o fazer no último Greenfest. Promovido pela “The People Who Share”, sediada no Reino Unido e criada por Benita Matofska, o Global Sharing Day vai realizar-se este ano, o terceiro em que acontece, no dia 1 de junho. O dia global da partilha assume-se como uma campanha que pretende inspirar as pessoas, de forma alargada, a celebrar a partilha, envolvendo-as através da criação de um dia especifico para o fazer. Através de uma rede de parceiros que se associam em todo mundo, são promvidos eventos localmente e a adesão tem sido massiva. No primeiro ano em que foi realizado (2012), o Global Sharing Day chegou a mais de 60 milhões de pessoas, contando com o envolvimento de 165 parceiros em 147 países. No segundo ano, em 2013, com o tema “Partilha de Comida”, já foram mais de 70 milhões de pessoas alcançadas em 192 países, através de mais de 200 entidades parcerias, e mais de 4 milhões de pessoas partilharam uma refeição nesse dia. Conforme explicou Benita Matofska, a impulsionadora desta iniciativa, ao Impulso Positivo, as iniciativas podem incluir eventos das mais diversas dimensões e naturezas. A exemplo, um almoço de rua, que a própria Benita promoveu na sua comunidade. De forma muito simples, na sua rua, as pessoas colocaram mesas e juntaram-se num almoço de comunidade. O resultado foi surpreendente: “Temos pessoas a morar naquela rua há 42 anos, que nunca se tinham reunido com outros vizinhos. Tínhamos desde um bebé de 7 dias a uma senhora de 92 anos, o que prova que a partilha “é intergeracional” e pode ser alcançada através de “uma ação muito simples, como juntar as pessoas num almoço”. Este ano, o tema é “partilha na vizinhança”. O dia marcado é 1 de junho e o objetivo é juntar as comunidades para partilharem o que têm, demonstrando que a maior parte do que necessitamos pode estar mesmo à nossa porta. Na apresentação do evento de 2014, nota-se que existem diversas maneiras através das quais as pessoas podem ligarse e partilhar no seio das suas comunidades: partilha de ferramentas, de competências locais, vendas de rua, compras coletivas de alimentos ou energia, partilha de sistemas wi-fi, centros comunitários, projetos comunitários de jardinagem, bancos de horas, projetos de partilha de bicicletas ou de boleias de carro. Trocas de roupa, almoços ou picnics, atividades colaborativas de música e artes ou limpeza de parques e jardins também estão na lista de eventos que quem quiser associar-se a este dia poderá organizar. Portugal ainda está de fora dos países que aderiram ao Global Sharing Day, mas o repto para que esta situação se altere foi lançado durante o último Greenfest, em outubro passado. “Ouvimos no Greenfest um pedido para que hajam atividades e esforços no país para este dia (Global Sharing Day). Esta será uma oportunidade ótima para que as pessoas se envolvam na partilha, organizem eventos desde almoços, partilha de roupa ou de competências, entre outras”, referiu Benita Matofska ao Impulso Positivo. E conclui: “há muitas oportunidades para participar na Economia da Partilha e assim que as pessoas começarem a perceber que isto está ligado a uma coisa que liga todo o mundo, irá explodir também em Portugal e o ritmo será extraordinário”. IP março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 35 EXPERIÊNCIAS ZERO WASTE EUROPE Acabar de vez com os resíduos A Zero Waste Europe (ZWE) é uma iniciativa europeia independente que reúne organizações e municípios empenhados em lutar para eliminar, de vez, resíduos na Europa. Parte das organizações internacionais GAIA (Global Alliance for Incinerator Alternatives) e da Zero Waste International Alliance (ZWIA), a Zero Waste Europe considera que a quantidade de resíduos produzidos pelas sociedades atuais é simultaneamente sinal de ineficiência dos sistemas produtivos e da falta de solidariedade para com as gerações futuras. Acima de tudo, o “resíduo zero” (“Zero Waste”), “é uma filosofia, uma estratégia e um conjunto de ferramentas práticas que procuram eliminar os resíduos, e não geri-los”. A ZWE é um movimento que pretende reunir os municípios europeus, ligando organizações internacionais sem-fins lucrativos a grupos Zero Waste locais, com objetivo de reduzir os resíduos até eliminá-los, como forma de melhorar a sustentabilidade, a resiliência económica e a coesão social. Esta filosofia implica redesenhar e gerir produtos e processos para reduzir o volume e a toxicidade de resíduos materiais, conservar e recuperar todos os recursos, sendo contra a incineração ou aterro destes resíduos. Como forma de tornar as sociedades alinhadas com a estratégia de “resíduo zero”, a ZWE defende que é necessário promover a mudança cultural e o envolvimento das comunidades. Na perspetiva da ZWE, “os atuais modelos de produção, consumo e distribuição na Europa baseiam-se no mito de que vivemos num mundo com recursos infinitos”, pelo que é necessário mudar de paradigma, e ir além do “objetivo atual de transformar a Europa numa sociedade de reciclagem. É necessário adoptar a redução do uso de materiais e energia de forma a transformá-la numa sociedade de resíduos zero”, fator para o qual é indispensável “a participação e educação das comunidades”. A alteração das infraestruturas é outro passo necessário para implementar este plano defendido pela ZWE, que defende 36 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 que os sistemas de produção e as infraestruturas de gestão de resíduos na Europa devem ser desenhados para refletir prioridades como a prevenção e separação de resíduos, e a redução de resíduos residuais. Na perspetiva desta organização, um dos principais desafios que se coloca atualmente à Europa passa pela criação de uma economia socialmente inclusiva e resiliente, de baixo carbono e eficiente em termos de recursos, que respeite a diversidade dos ecossistemas e aumente a coesão social. Para tal, é necessária uma estratégia de “resíduo zero”, que, entre outras vantagens, resultará na criação de postos de trabalho adicionais, na redução da dependência europeia das importações, devolução dos nutrientes ao solo, na redução do impacto ambiental associado à gestão de resíduos, na motivação da inovação no design de produtos e no envolvimento dos cidadãos na criação de uma Europa melhor. Desde 2011, que os grupos europeus da ZWE tem vindo a colaborar, de forma voluntária, e a organizar eventos, trabalhando em conjunto com os membros europeus da rede GAIA. Mas até final de 2013, a rede da ZWE esteve a operar de forma informal, sem gerir quaisquer fundos. Em dezembro do ano passado foi formalmente registada e 2014 marca o primeiro ano das operações oficiais desta entidade. Nos próximos anos, o foco da ZWE será a consolidação das ações locais e regionais para o “resíduo zero” na Europa e o alargamento da rede de municípios que aderem a esta filosofia. Para que tal aconteça, a ZWE vai promover o contacto com grupos locais e internacionais para partilhar boas práticas e influenciar a adopção de políticas para criação de mais emprego, menos poluição e mais justiça, bem como para um futuro de baixo carbono e eficiente em termos de recursos. SAIBA COMO VENDER OU ARRENDAR A SUA CASA 15 € Arrendamento Urbano 50 Respostas Essenciais - As respostas às questões mais frequentes apresentadas pela Garrigues Advogados - Inclui o texto completo da Legislação - Os valores de mercado do arrendamento pela Confidencial Imobiliário Visite loja.vidaimobiliaria.com PRÉMIOS & INCENTIVOS em aberto Prémio Gulbenkian recebe candidaturas até 15 de Maio Até 15 de maio estão abertas as nomeações para o Prémio Calouste Gulbenkian 2014 que visa distinguir os melhores trabalhos e projetos realizados em prol da defesa dos valores essenciais da condição humana. As nomeações serão avaliadas por um júri presidido pelo antigo presidente da República Jorge Sampaio, cabendo a decisão final ao Conselho de Administração da Fundação. De periodicidade anual, este prémio tem o valor de 250.000 euros e pode ser atribuído a instituições ou pessoas, portuguesas ou estrangeiras. Uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, este galardão surge em substituição dos cinco prémios Gulbenkian atribuídos entre 2007 e 2011 nas áreas dos Direitos Humanos e Ambiente, Arte, Ciência, Beneficência e Educação. Recorde-se que estes prémios foram criados em 2006 para assinalar o cinquentenário da Fundação e ao longo de cinco anos distinguiram mais de três dezenas de pessoas e instituições. “O Século” lança Prémio João Pereira da Rosa Instituído pela primeira vez em 2014 pela Fundação O Século, como homenagem ao seu patrono, o Prémio João Pereira da Rosa visa distinguir entidades coletivas e individuais que se distingam no decorrer do ano transato pelas suas atividades relevantes no domínio da Solidariedade Social. De regularidade anual, o galardão, cuja fase de candidaturas terminou a 30 de abril, anuncia os vencedores a 20 de Maio na gala da Fundação O Século, no Casino Estoril, coincidindo com o aniversário da instituição. Serão premiadas três categorias: institucional, empresarial e mérito. Green Project Awards – 7ª edição está de volta Até ao próximo dia 30 de maio está a decorrer o período de candidaturas ao Green Project Awards, que nesta sétima edição contempla duas novas categorias (Cidades Sustentáveis e Consumo Sustentável), um ciclo de conferências e a expansão para dois novos países. Poderão concorrer a este prémio empresas, Organizações Não Governamentais (ONG), associações, cooperativas e estabelecimentos de ensino e de investigação, administração pública, administração local e ainda cidadãos em nome individual. Os interessados poderão submeter as suas candidaturas em www. greenprojectawards.pt, sendo que as candidaturas à categoria iniciativa jovem devem ser submetidas no âmbito do Projeto 80. Os vencedores serão anunciados no término do ciclo de conferências GPA 2014, que decorrerá no último trimestre do ano. 38 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 BPI tem um milhão de euros em prémios para o terceiro setor Em 2014, o banco BPI no âmbito da sua Política de Responsabilidade Social volta a consagrar um milhão de euros para premiar projetos e instituições no terceiro sector, através de duas iniciativas distintas no valor de 500.000 euros cada: o Prémio BPI Séniores – cujas candidaturas já estão abertas-, e o Prémio BPI Capacitar – cujas candidaturas abrem a 16 de junho. Cada entidade promotora só poderá candidatar-se a um dos galardões. Nesta fase estão já a decorrer as candidaturas ao Prémio BPI Seniores que destinou meio milhão de euros para apoiar iniciativas que promovam a integração social e o envelhecimento ativo de pessoas com idade superior a 65 anos. Até 18 de maio podem candidatar-se todas as instituições privadas sem fins lucrativos sedeadas em Portugal que apresentem projetos sólidos e inovadores nesta área, sendo que as candidaturas serão depois avaliadas pela sua qualidade técnica e pela sua sustentabilidade. O primeiro prémio irá receber até 200.000 euros e as menções honrosas até 50.000 euros cada. “Sundance Institute Short Film Challenge” procura histórias inspiradoras O Instituto Sundance e a Fundação Bill & Melinda Gates estão à procura de curtas-metragens que deem a conhecer histórias únicas, inspiradoras e otimistas sobre pessoas e projetos que estejam a mudar o mundo. Abertas a propostas de todo o mundo, as candidaturas estão abertas até 1 de julho. Para concorrer, as curtas devem ter entre 3 a 8 minutos e podem ser apresentados em formato documentário, ficção, imaginativa, pouco ortodoxa, desafiante ou simples, podendo ter total liberdade em termos de estrutura. O objetivo deste concurso é “inspirar um debate global à volta de soluções inovadoras que pessoas reais estão a usar para conquistar desafios” como a fome e pobreza, através destas curtas históricas. Nesta primeira edição do “Sundance Institute Short Film Challenge” serão selecionados pelo júri os cinco melhores trabalhos, que serão premiados com 10.000 dólares (cerca de 7.200 euros) cada um. Posteriormente, uma das histórias será produzida por um realizador reconhecido e o selecionado irá ver a sua estreia à edição de 2015 no Festival Sundance, como convidado especial. concursos em www.acreditaportugal.pt . PRÉMIOS & INCENTIVOS já atribuidos Associação Laço atribui bolsas de investigação Microsof distingue professores portugueses A Associação Laço, que opera na área da prevenção e sensibilização para o cancro da mama, já anunciou o nome dos premiados com duas bolsas de investigação no valor de 25.000 euros para o desenvolvimento de projetos na área do cancro da mama metastático, uma mazela “atualmente incurável”. As vencedoras foram Joana Paredes, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), que vai desenvolver um projeto sobre o cancro de mama “Triplo-negativo”; e Diana Gaspar, investigadora do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, que irá desenvolver um projeto na área das metástases do cérebro. Ao todo concorreram a esta bolsa cerca de 30 candidatos, sendo que a escolha do júri recaiu sobre estes dois projetos devido à “sua originalidade e potencial impacto no desenvolvimento de tratamentos inovadores para o cancro da mama metastático, atualmente incurável”, refere fonte oficial. Os portugueses João Cunha e José Marques foram distinguidos entre os mais de 260 professores mais inovadores no mundo no Concurso Mundial de Professores Inovadores da Microsoft 2014, que reconhece os docentes e escolas que estão a liderar a inovação na educação em 97 países. Assim, no evento que este ano decorreu em Barcelona, o professor José Carlos Marques arrecadou o segundo lugar na categoria “Utilização inovadora da tecnologia para a aprendizagem”. O docente de Lisboa é o responsável pelo projeto “Kodu na Sala de Aula”, desenvolvido com crianças com necessidades educativas especiais. Este projeto tem como principais objetivos: desenvolver o pensamento lógico e estimular a criatividade, incentivar o processo de aprendizagem encorajando o desenvolvimento intelectual e conceitos matemáticos, e criar um jogo com base numa história que tenham imaginado. Por seu turno, o professor João Cunha, de Braga, foi distinguido no concurso Learn-a-Thon na categoria “Combate à Pobreza”, graças ao projeto “Hands on Robots” que pretende desenvolver competências de colaboração e pensamento computacional, que arrecadou o 2º lugar da competição. Museu do Caramulo vence Prémio Vivalva O Museu do Caramulo (Tondela) foi distinguido com o Prémio Vilalva, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian pela sétima vez consecutiva, por causa da "relevância, oportunidade e qualidade" do projeto de requalificação. No valor de 50.000 euros, este prémio pretende distinguir anualmente "um contributo importante no domínio da recuperação do património". Com 60 anos de história, o Museu do Caramulo distingue-se pela sua coleção de arte, uma dedicada aos automóveis, motos e bicicletas e outra de brinquedos antigos. Nesta sétima edição do prémio, o júri destacou a "relevância e oportunidade do projeto" de requalificação, do atelier da arquiteta Teresa Nunes da Ponte, e o "criterioso respeito pelo edifício e museografias originais". O júri integrou António Lamas, José Sarmento de Matos, José Pedro Martins Barata, Dalila Rodrigues e Rui Esgaio. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 39 JÁ VIU? SITES United Nations Global Action for Sustainable Consumption and Production Think.Eat.Save A campanha Think.Eat.Save, desenvolvida pela Save Food Initiative, é fruto de uma parceria entre a UNEP, FAO e a Messe Düsseldorf e que conta com o apoio do Desafio Fome Zero da Secretaria Geral das Nações Unidas, o qual procura acrescentar a sua autoridade e dar voz a estes esforços de modo a galvanizar ações globais, regionais e nacionais de forma generalizada, e a catalisar a atenção e a ação de mais setores da sociedade, promovendo a partilha de ideias inspiradoras e de projetos entre os operadores já envolvidos e os novos protagonistas que se poderão juntar a bordo. Disponibiliza online o site Think.Eat.Save, que é um portal concebido para mostrar essas ideias e constituir-se como um ponto de paragem obrigatório para consultar notícias e recursos, e para lançar o apelo para que todos possam tomar medidas sobre esta preocupação global. http://www.thinkeatsave.org/ Esta é a página oficial do programa de ação global para o consumo e produção sustentável de bens promovido pelas Nações Unidas, parte integrando do programa ambiental desta organização. Nela poderão ser consultados inúmeros documentos e atualizações acerca de programa, bem como as últimas notícias sobre o mesmo. Se quer saber quem são os países que mais se estão a destacar nesta área ou aqueles que estão menos avançados consulte esta página, e fique a saber mais sobre a estratégia das Nações Unidas para reduzir o desperdício de recursos na Terra. http://www.unep.org/10yfp/Home/tabid/106212/Default.aspx Global Stewards Criado em 1998, o objetivo da Global Stewards é disponibilizar um vasto manancial de dicas e conselhos para que todos possamos contribuir para um planeta mais saudável. A gestão do site é assegurada por um conjunto de cidadãos sediados em diferentes pontos do globo mas que têm em comum a preocupação com a sustentabilidade do nosso planeta. http://www.globalstewards.org/index.htm United Against Food Waste O United Food Waste foi o primeiro evento na Europa onde toda a cadeia de valor esteve representada. Esta iniciativa é levada a cabo no âmbito da colaboração europeia FUSIONS, que é a maior aliança a nível mundial contra o desperdício alimentar. Ao todo, 21 parceiros de toda a Europa participam na FUSIONS, incluindo entidades como a Feeding the 5000, UN, o Movimento dinamarquês de consumidores Stop Wasting Food e a Communiqué. A SAVE FOOD e a Think.Eat.Save também estão representadas no evento Stop Wasting Food. “Estamos muito orgulhosos de pela primeira vez conseguir reunir tantas forças importantes representativas de toda a cadeia de valor alimentar neste evento único”, afirmou o seu grande dinamizador, Selina Juul, que é também o fundador do movimento dinamarquês Stop Wasting Food. “No futuro, este evento poderá ser facilmente replicado noutros países. E estamos já muito envolvidos em colaborações internacionais – e todos são bem-vindos para nos contactar com vista a cooperações futuras”. www.unitedagainstfoodwaste.com 40 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 Stop food waste – European Commision No seu sítio oficial, a Comissão Europeia dedica uma página à sensibilização contra o desperdício alimentar reunindo um manancial de informação dirigido a todos os cidadãos europeus acerca das ações que podem ter com vista à redução do desperdício de comida, bem como as ações que a própria Comissão tem em curso nesse sentido. Ali podem também ser consultados casos de boas práticas neste campo, bem como informação de caráter prático como legislação em vigor na Europa. São também disponibilizados materiais promocionais e educativos sobre o tema. www.ec.europa.eu/food/foo/sustainability/index_en.htm JÁ VIU? FONTES Waste Management & Research – Volume 32 Issue 4 – Abril 2014 Uma das mais prestigiadas publicações científicas sobre o tema da Gestão de Desperdício, a Waste Management & Research (WM&R) satisfaz a procura crescente de informação com base científica que pode ser utilizada por todos os profissionais da área da gestão de desperdício. A WM&R é uma revista internacional que publica artigos originais de investigação e de revisão bibliográfica relativos quer à teoria, quer à prática da gestão de resíduos. Todos os artigos submetidos a publicação são validados e revistos por um painel internacional de pares, entre investigadores e especialistas de reconhecido renome. Com esta publicação, o grupo editorial visa promover a inovação e providenciar uma ponte entre os estudos académicos e os problemas práticos. A revista pode ser acedida online no site da SAGE Journals, em http://wmr.sagepub.com Waste: a Hanbook for Management (1ª edição) Publicado em 2011 pela Academic Press, este livro dos autores Trevor Letcher e Daniel Vallero fornece uma visão abrangente sobre a realidade do desperdício na nossa sociedade. Ao longo de mais de 500 páginas, a obra examine um vasto leque de fluxos de desperdício, começando nos resíduos que produzimos em nossas casas, passando pelos resíduos industriais e societais. No livro é também abordada a questão sobre os desafios futuros que se colocam aos aterros sanitários e aos incineradores. Abrangendo todos os temas relacionados com os resíduos e desperdícios em apenas um volume, esta obra é uma ferramenta útil para a criação de comparações, de soluções sinérgicas e contribui para uma sociedade mais informada. Complementarmente, oferece também aos leitores um conjunto de sugestões relacionadas com as melhores práticas para fazer uma gestão dos problemas dos resíduos através da reciclagem, inceneração, aterro e outros processos. Global Food Losses and Food Waste Manual para Mudar o Mundo (1ª edição) Realizado no âmbito do Congresso Internacional “Save Food”,que teve lugar na Interpack 2011 (Düsseldorf, Alemanha), este estudo coloca em destaque as perdas ocorridas ao longo de toda a cadeia de produção alimentar, e avalia a sua magnitude. Além disso, identifica as causas dessas perdas e possíveis soluções para as prevenir. Os resultados deste estudo sugerem que quase um terço da comida produzida para o consumo humano se perde ou é desperdiçado a nível global, o que equivale a cerca de 1.3 biliões de toneladas por ano. Inevitavelmente, isto significa que uma enorme parte dos recursos usados na produção alimentar estão a ser desperdiçados em vão, tal como acontece no que toca à emissão de gases de estufa causados pela produção desses bens alimentares que são desperdiçados. Isabel Lopo de Carvalho, João Cotter Salvado e Filipe Santos são os autores do Manual para Transformar o Mundo, publicado em 2013 pelo Instituto de Empreendedorismo Social e da Fundação Calouste Gulbenkian Constituindo-se como um guia para o empreendedor social, através desta obra o leitor é desafiado a repensar a forma como se constroem soluções para problemas negligenciados da sociedade, transformando uma ideia inspiradora numa solução inovadora com elevado impacto social, em apenas dez passos. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 41 JÁ VIU? LEGISLAÇÃO REGIME JURÍDICO DE APOIO AO MOVIMENTO ASSOCIATIVO DESPORTIVO (AÇORES) Decreto Legislativo Regional nº 4/2014/A, DR, Série I, nº 34, de 18 de fevereiro de 2014 Segunda alteração ao Decreto Legislativo Regional n.º 21/2009/A, de 2 de dezembro, alterado pelo Decreto Legislativo Regional n.º 2/2012/A, de 12 de janeiro, que estabelece o regime jurídico de apoio ao movimento associativo desportivo na Região Autónoma dos Açores. PROGRAMA ERASMUS+ EM PORTUGAL SMALL BUSINESS ACT Declaração de Retificação nº 23/2014, DR, Série I, nº 70, de 09 de abril de 2014 Retifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 15/2014, de 24 de fevereiro, da Presidência do Conselho de Ministros, que cria as agências nacionais para a gestão do Programa Erasmus+ em Portugal, publicada em Diário da República, Série I, n.º 38, de 24 de fevereiro de 2014. O documento retifica alguma inexatidões constantes no referido Decreto-Lei. REGIME TEMPORÁRIO PARA A REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS Decreto-Lei nº 53/2014, DR, Série I, nº 69, de 08 de abril de 2014 Entrou em vigor, a 9 de abril de 2014, o Decreto-Lei n.º 53/2014, de 8 de abril, que estabelece um regime excecional e temporário aplicável à reabilitação de edifícios ou de frações, o qual visa agilizar, dinamizar e simplificar os procedimentos administrativos de reabilitação urbana. Estabelece um regime excecional e temporário por sete anos aplicável à reabilitação de edifícios ou de frações, concluídos há pelo menos 30 anos ou localizados em áreas de reabilitação urbana, sempre que se destinem a ser afetos total ou predominantemente ao uso habitacional e desde que a operação urbanística não origine desconformidades, nem agrave as existentes, ou contribua para a melhoria das condições de segurança e salubridade do edifício ou fração. ALTERAÇÃO AO DECRETO-LEI QUE CRIA A FUNDAÇÃO MATA DO BUÇACO Resolução do Conselho de Ministros nº 14/2014, DR, Série I, nº 36, de 20 de fevereiro de 2014 Comete à reunião de coordenação dos assuntos económicos e do investimento a função de Comité de Acompanhamento em Portugal do «Small Business Act», para a Europa. O «Small Business Act» para a Europa é uma iniciativa desenvolvida no âmbito da União Europeia para estabelecer um quadro político abrangente para as PME’s, que promove o empreendedorismo e a definição das políticas públicas com vista a reforçar a competitividade das PME. CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA Aviso nº 35/2014, DR, Série I, nº40, de dia 26 de fevereiro de 2014 Torna público que a República Portuguesa depositou, junto do SecretárioGeral das Nações Unidas, a 24 de setembro de 2013, o seu instrumento de ratificação ao Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança Relativo à Instituição de Um Procedimento de Comunicação, adotado em Nova Iorque em 19 de dezembro de 2011. CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS Aviso nº 36/2014, DR, Série I, nº 40, de dia 26 de fevereiro de 2014 Decreto-Lei nº 58/2014, DR, Série I, nº 74, de 15 de abril de 2014 Procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 120/2009, de 19 de maio, que cria a Fundação Mata do Buçaco, adaptando os respetivos Estatutos à Lei-Quadro das Fundações, aprovada pela Lei n.º 24/2012, de 9 de julho. DOCUMENTOS ESTRUTURANTES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Resolução da Assembleia da República nº 33/2014, DR, Série I, nº 71, de dia 21 de abril de 2014 A Assembleia da República recomenda ao Governo que disponibilize o acesso fácil ao público, nomeadamente no site da Agência Portuguesa do Ambiente, de todos os documentos estruturantes que saíram das conferências das Nações Unidas sobre ambiente e desenvolvimento sobre desenvolvimento sustentável. PROCESSO EXECUTIVO DO SISTEMA DE SOLIDARIEDADE E SEGURANÇA SOCIAL Torna público que a República Portuguesa depositou junto do SecretárioGeral das Nações Unidas, a 27 de janeiro de 2014, o seu instrumento de ratificação à Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados, adotada em Nova Iorque em 20 de dezembro de 2006 ALTO COMISSARIADO PARA AS MIGRAÇÕES, I.P. Decreto-Lei nº 31/2014, DR, Série I, nº 41, de 27 de fevereiro de 2014 Aprova a orgânica do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, I.P (ACIDI), organismo que, em Portugal, tem concretizado a política de integração de imigrantes. PROMOÇÃO DA IGUALDADE SALARIAL ENTRE MULHERES E HOMENS Decreto-Lei nº 63/2014, DR, Série I, nº 81, de 28 de abril de 2014 Resolução do Conselho de Ministros nº 18/2014, DR, Série I, nº 47, de 7 de março de 2014 Procede à sétima alteração ao Decreto-Lei n.º 42/2001, de 9 de fevereiro, que cria as secções de processo executivo do sistema de solidariedade e segurança social, define as regras especiais daquele processo e adequa a organização e a competência dos tribunais administrativos e tributários. Adota medidas tendo em vista a promoção da igualdade salarial entre mulheres e homens, reconhecendo que é necessário intensificar medidas específicas que possam contrariar a tendência histórica de desigualdade salarial penalizadora para as mulheres, tendo em vista alcançar-se uma efetiva igualdade de género. 42 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 JÁ VIU? APROVAÇÃO DA CAMPANHA DE RECOLHA “VAMOS GRAVAR ESTA IDEIA!” Portaria nº 75/2014, DR, Série I, nº 57, de dia 21 de março de 2014 Aprova a Campanha de Recolha «Vamos Gravar Esta Ideia!», com o objetivo de promover a recolha de suportes de informação descartáveis usados, a desenvolver no âmbito de uma parceria estabelecida com diversas entidades disponíveis para colaborar, no âmbito das suas atividades, e que visa oferecer uma resposta de curto prazo de recolha destes suportes informáticos utilizados, com vista ao seu encaminhamento para reciclagem. Pretende-se replicar neste âmbito o sucesso de outras campanhas como o Projeto Limpar Portugal que através da criação de um regime excecional aplicável a ações de voluntariado visou a remoção de resíduos de zonas de deposição indevida o seu encaminhamento para destino adequado. II PLANO NACIONAL DE PREVENÇÃO E COMBATE AO TRÁFICO DE SERES HUMANOS 2014-2017 Declaração de Retificação nº 13/2014, DR, Série I, nº 42, de dia 28 de fevereiro de 2014 Retifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 101/2013, de 31 de dezembro, que aprova o III Plano Nacional de Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres Humanos 2014-2017, publicada no Diário da República n.º 253, 1.ª Série, de 31 de dezembro de 2013. V PLANO NACIONAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E DE GÉNERO Declaração de Retificação nº 12/2014, DR, Série I, nº 42, de dia 28 de fevereiro de 2014 Retifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 102/2013, de 31 de dezembro, que aprova o V Plano Nacional de Prevenção e Combate à Violência Doméstica e de Género 2014-2017, publicada no Diário da República n.º 253, 1.ª Série, de 31 de dezembro de 2013 V PLANO NACIONAL PARA A IGUALDADE, GÉNERO, CIDADANIA E NÃO-DISCRIMINAÇÃO 2014-2017 Declaração de Retificação nº 14/2014 DR, Série I, nº 42, de dia 28 de fevereiro de 2014 Retifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 103/2013, de 31 de dezembro, que aprova o V Plano Nacional para a Igualdade, Género, Cidadania e Não-discriminação 2014-2017, publicada no Diário da República, n.º 253, 1.ª Série, de 31 de dezembro de 2013 NOVA LEI DE BASES DO AMBIENTE Lei nº 19/2014, DR, Série I, nº73, de 14 de abril de 2014 Análise realizada por Vieira de Almeida & Associados A Lei n.º 19/2014, de 14 de abril, define as bases da política de ambiente, revogando a anterior Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º 11/87, de 7 de abril), aprovada há 27 anos. A Nova lei entrou em vigor a 19 de abril. A Nova Lei de Bases do Ambiente caracteriza-se por uma significativa simplificação e sistematização em comparação com a anterior lei, adaptandose à legislação publicada nas últimas décadas e atualizando conceitos, princípios e instrumentos da política de ambiente. Objetivos da política de ambiente: Nos termos da nova lei, a política de ambiente, cuja realização compete ao Estado, visa a efetivação dos direitos ambientais através da promoção do desenvolvimento sustentável, suportada na gestão adequada do ambiente, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade de baixo carbono e uma“economia verde”, racional e eficiente na utilização dos recursos naturais, que assegure o bem-estar e a melhoria progressiva da qualidade de vida dos cidadãos. Princípios materiais de ambiente: A atuação pública em matéria de ambiente está subordinada aos seguintes princípios: (i) Desenvolvimento Sustentável, (ii) Responsabilidade intra e intergeracional, (iii) Prevenção e Precaução, (iv)Poluidor-pagador, (v)Utilizador-pagador, (vi) Responsabilidade, (vii) Recuperação. Direito ao ambiente: A nova lei mantém o princípio geral de que todos têm direito ao ambiente e à qualidade de vida, nos termos constitucional e internacionalmente estabelecidos. O direito ao ambiente é definido como o direito de defesa contra qualquer agressão à esfera constitucional e internacionalmente protegida de cada cidadão, bem como o poder de exigir de entidades públicas e privadas o cumprimento dos deveres e das obrigações, em matéria ambiental, a que se encontram vinculadas nos termos da lei e do direito. Direitos procedimentais em matéria de ambiente: Passar a estabelecer-se, expressamente, que todos os cidadãos gozam dos direitos de intervenção e de participação nos procedimentos administrativos relativos ao ambiente, em especial: (i)Direito de participação dos cidadãos, das associações não-governamentais e dos demais agentes interessados, em matéria de ambiente; (ii) Direito de acesso à informação ambiental detida por entidades públicas. Direitos processuais em matéria de ambiente: Os direitos processuais foram clarificados e sistematizados, sendo reconhecido o direito de todos à tutela plena e efetiva dos seus direitos e interesses legalmente protegidos em matéria de ambiente, que incluem, nomeadamente: (i)Direito de ação para defesa de direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos, assim como o direito de ação pública e de ação popular; (ii)Direito a promover a prevenção, a cessação e a reparação de violações de bens e valores ambientais da forma mais célere possível; (iii) Direito a pedir a cessação imediata da atividade causadora de ameaça ou dano ao ambiente, bem como a reposição da situação anterior e o pagamento da respetiva indemnização. Deveres Ambientais: Os deveres dos cidadãos estão agora autonomizados, estabelecendo-se que o direito ao ambiente está indissociavelmente ligado ao dever de o proteger, de o preservar e de o respeitar, assegurando o desenvolvimento sustentável a longo prazo, nomeadamente para as gerações futuras. É adotado uma definição de cidadania ambiental, definida como o dever de contribuir para a criação de um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado e para a sua proteção e preservação. Âmbito de aplicação da política de ambiente – Componentes ambientais, naturais e humanos: Mantém-se a distinção entre componentes ambientais naturais e humanos, considerados indissociáveis da realização da política de ambiente, tendo sido objeto de reformulação nos seguintes termos: (i) Componentes Ambientais Naturais (Ar, Água, Mar, Biodiversidade, Solo, Subsolo, Paisagem); (ii) Componentes associados a comportamentos humanos (Alterações Climáticas, Resíduos, Ruído, produtos Químicos). Instrumentos da política de ambiente: Os instrumentos da política de ambiente foram revistos, encontrando-se agora organizados em 7 categorias: (i)Informação ambiental (conhecimento e informação disponíveis, monitorização e recolha de dados); (ii) Planeamento (estratégias, programas e planos); (iii) Económicos e financeiros (instrumentos de apoio financeiro, de compensação ambiental, contratuais, de fiscalidade ambiental, de prestações e garantias financeiras e de mercado); (iv) Avaliação ambiental (prévia à aprovação de programas, planos e projetos, públicos ou privados); (v) Autorização ou licenciamento ambiental (atos permissivos prévios a atividades potencialmente ou efetivamente poluidoras ou suscetíveis de afetar significativamente o ambiente ou a saúde humana); (vi)Desempenho ambiental (melhoria contínua do desempenho ambiental, designadamente a pegada ecológica, a rotulagem ecológica, as compras públicas ecológicas e os sistemas de certificação); (vii)Controlo, fiscalização e inspeção (controlo das atividades suscetíveis de ter um impacto negativo no ambiente). AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NESTA SECÇÃO BASEIAM-SE NOS TEXTOS LEGAIS, MAS NÃO DISPENSAM A CONSULTA DOS DIPLOMAS ORIGINAIS. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 43 ARTIGO TÉCNICO Consumo inteligente: A melhor arma contra o desperdício Sara Campos O tema do desperdício não é novo, mas tem ganho ultimamente uma maior expressão, em grande parte devido ao contexto atual. Os momentos de crise obrigam, de facto a repensar e aprimorar estratégias de poupança. Se, à partida, esta última se refere a um plano económico, de contenção de despesas e ginástica orçamental, não deixa de ser também um ponto de partida para pôr em evidência os benefícios que um consumo mais inteligente pode ter ao nível do desejado equilíbrio ambiental. Quando se fala em poupança ou desperdício, enquanto dois vértices entre os quais se move o consumidor moderno com um vasto acesso a bens e serviços, podemos incluir nesse espectro um leque alargado de recursos de consumo diário. Num nível mais primário, água e energia. Mais à frente na cadeia, os bens alimentares, um tema que está no centro das atenções em 2014, considerado pelo Parlamento Europeu como o Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar. Como podemos ser, então, consumidores inteligentes? Seja qual for o bem que vamos consumir, desde a água da torneira à lâmpada da sala, passando por uma peça de fruta, a lógica é muito semelhante. Adequar o consumo às nossas necessidades reais e reutilizar sempre que possível, criando valor em vez de criar resíduos. 44 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 Por Sara Campos, Quercus Sem desperdício à mesa Não é por acaso que o desperdício alimentar tem merecido mais atenção mediática e servido de mote a vários projetos e iniciativas de cariz social e ambiental. Infelizmente, os números são demasiado expressivos para passarem despercebidos. Segundo dados do Parlamento Europeu, todos os anos são produzidas 89 milhões de toneladas de resíduos alimentares nos Estados-Membros, um valor que poderá em 2020 chegar às 126 milhões de toneladas. Estamos, pois, perante um problema ético, social, ambiental e económico. Convém não esquecer que desperdiçar um alimento é sinónimo de desperdiçar também o solo, a energia, a água e os recursos humanos envolvidos na sua produção. Num mundo em que a capacidade agrícola e o consequente acesso à alimentação básica são desiguais, estamos perante um paradoxo, no qual alguns deitam fora o que muitos não conseguem produzir e consumir. Em Portugal, o cenário também não é animador: deitamos para o lixo, todos os anos, 1 milhão de toneladas de alimentos, ou seja, cerca que 17% do que produzimos. Enquanto 360 mil portugueses passam fome, vão para o lixo, diariamente, à volta de 50 mil refeições. Mais ainda, calcula-se que 10% das emissões de gases com efeito de estufa provenham da produção ARTIGO TÉCNICO de alimentos que nunca chegarão a ser consumidos. Estes números estão disponíveis, entre outros, na página na Internet do movimento ‘Zero Desperdício’, uma iniciativa da Associação DARiACORDAR, que tem vindo a desenvolver um esforço muito positivo de voluntariado por forma a combater o problema do desperdício alimentar em Portugal. Esforço esse que já está a dar frutos e a chamar a atenção a nível internacional: ao recolher refeições e bens alimentares em bom estado junto de estabelecimentos como restaurantes, hotéis, cantinas e supermercados, dá-lhes um destino muito mais válido do que o caixote do lixo, oferecendo-os a quem precisa, sem qualquer custo. Estamos a falar de comida que nunca saiu da cozinha, cujo prazo de validade se aproxima do fim ou que não foi exposta nem esteve em contacto com o público. Até agora já foram ‘servidas’, através deste trabalho voluntário, quase 880 mil refeições. Um número que felizmente tem vindo a aumentar todos os dias e o melhor é que todos podemos dar uma ajuda enquanto voluntários. Basta uma visita à página oficial www. zerodesperdicio.pt para saber como. O papão das facturas mensais É um estigma que as persegue, serem o papão que assombra os últimos dias do mês. As faturas domésticas – água, gás, eletricidade – caem-nos na conta, mas será que olhamos verdadeiramente para elas? Quanto daqueles euros na soma final poderiam ter sido evitados? Será que precisamos de gastar tanto para manter o nosso estilo de vida? Estas são algumas perguntas que podem, na verdade, ajudar a desmistificar o estigma do papão. O primeiro passo para restringir os nossos consumos ao realmente necessário é fazer uma espécie de diagnóstico. Para tal, existem já vários simuladores de poupança, como os disponíveis em www.ecocasa.pt, nos quais é possível perceber quão eficientes (ou ineficientes) somos ao nível do consumo de água e dos hábitos de consumo energético, incluindo-se aqui componentes como a substituição da iluminação, a anulação de consumos standby e off-mode, a eficiência dos equipamentos e eletrodomésticos ou ainda a opção por sistemas de produção de energias renováveis. O segundo passo será passar da teoria à prática, ajustando os hábitos de utilização destes recursos no dia-a-dia. Na verdade, é esse o grande desafio. Segundo dados do projeto Ecocasa, da Quercus, uma grande percentagem de famílias adquire, por exemplo, lâmpadas eficientes ou multitomadas com corte de corrente, embora, ao longo da utilização, se ‘esqueça’ de desligar a iluminação quando ela não é necessária ou o interruptor da tomada para anular os consumos standby e offmode. E, se nestes dois exemplos, o valor de compra envolvido não é muito avultado, no caso de um frigorífico ou de uma máquina de lavar de classe A+++ (muito eficiente) o investimento é bastante significativo. Devemos, portanto, rentabilizarmos já que sozinho o eletrodoméstico não consegue fazer o trabalho todo. Assim, cuidados como evitar a abertura desnecessária de portas, no caso do frigorífico, ou fazer lavagens na carga máxima, no caso da máquina, podem parecer insignificantes, mas acabam no seu conjunto por adelgaçar a fatura final. Da cozinha ao escritório, passando ainda pelas zonas de lazer e descanso, acaba por existir sempre algum potencial de poupança. E a verdade é que temos a vida cada vez mais facilitada neste aspeto, graças à preciosa ajuda que nos dá o avanço tecnológico. Veja-se o caso dos televisores com sensores de luminosidade, das iluminação com sensores de presença ou ainda das multi-tomadas com corte de corrente equipadas com comando remoto. No capítulo do consumo de água, o argumento da poupança financeira pode não ser tão forte, é verdade, mas também aqui temos já a tecnologia à disposição. Basta só mesmo tirar o melhor partido de dispositivos como os redutores de caudal, as torneiras com termostato ou os autoclismos com alta eficiência hídrica, não esquecendo que há sempre uma quota parte que tem de ser feita por nós para evitar desperdícios. O aproveitamento de águas pluviais para usos não potáveis, como a rega, lavagens ou descargas de autoclismo é também uma solução cada vez mais ao alcance do consumidor. Aliás, convém não esquecer que uma das grandes aliadas da redução de desperdícios é a reutilização, pela criação de um ciclo (quase) auto-suficiente. Isto é tanto possível com a água como com os resíduos orgânicos, cujo potencial de valorização através da compostagem permite reduzir a quantidade de resíduos no lixo indiferenciado destinados a ir para a aterro ou incineração. Antes pelo contrário, regressam à terra de onde vieram, ao darem origem a composto – um adubo natural. Basicamente, podemos apostar numa redução do desperdício em praticamente todas as vertentes do quotidiano, sendo que em todas elas o ganho ambiental vem de braço dado com uma poupança económica. Alguns números Água - Lavar a loiça na máquina e não manualmente é 92% mais eficiente. - Instalar redutores de caudal nas torneiras e no duche economiza até 40%. - Tomar duche em apenas 5 minutos de torneira fechada gasta menos 80 litros. - Usar a descarga curta do autoclismo é sinônimo de menos 50% de água consumida - Não usar água corrente para lavar as mãos e os dentes poupa 10 litros por dia. Energia - Ao trocar uma lâmpada de halogéneo por uma lâmpada LED pode poupar até 90% - Lavar roupa na máquina a 30ºC em vez de 60ºC reduz o seu consumo até 4 vezes. - Se desligar a TV BOX durante toda a noite economiza 17€ na fatura anual. - Baixar a temperatura do forno de 250ºC para 200ºC resulta num cozinhado 37% mais eficiente. - Ao subir a classe energética do frigorífico de A para A+++, sobe também a eficiência em 40%. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 45 ARTIGO TÉCNICO Desperdício: O Sector Agro-Alimentar e o Consumidor Isabel Braga da Cruz Segundo projeções da FAO, a produção alimentar mundial terá de aumentar em cerca de 60% até 2050, por forma a suprir as necessidades alimentares de uma população em crescimento, que segundo dados das Nações Unidas deve atingir os 9 biliões em 2050. Este aumento da população tem repercussões multidimensionais de eficiência produtiva e até de competição da água, que vão desde a produção primária, passando pelas indústrias transformadoras até aos meios urbanos. Atualmente, verifica-se que mais de um terço da produção alimentar é perdida ou descartada, ou, uma em cada quatro calorias produzidas no sistema agrícola mundial não cumpre o seu propósito “do prado à mesa”, ou melhor, “do prado à boca”. Por definição, o desperdício alimentar refere-se à diminuição de alimentos edíveis desde a produção, pós-colheita, passando pelos vários estágios de processamento alimentar e toda a cadeia de distribuição, até aos momentos de consumo. Verifica-se que este desperdício é muito distinto, nas diferentes regiões do globo, e está intimamente relacionado com o estado de desenvolvimento económico dos países. Nos países mais desenvolvidos, as perdas ocorrem normalmente na segunda fase do processo, i.e. mais perto do consumo, ao passo que nos países menos desenvolvidos as maiores perdas ocorrem nas primeiras fases (produção e colheira). Claramente o desperdício alimentar representa uma perda de oportunidade em termos de segurança alimentar, com um elevado preço ambiental e económico, em que sistemas mais eficientes em termos de redução de desperdício estão associados a maiores ganhos. As preocupações com a redução de desperdício alimentar têm história, em particular em momentos de forte contenção económica, como são exemplo alguns slogans alusivos ao “não 46 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 Por Isabel Braga da Cruz – Knowledge Division – PortugalFoods desperdício”, no pós guerra. Um exemplo disto é o poster “waste not-want not” da primeira guerra mundial – fazendo a apologia à conservação dos alimentos perecíveis por meio de alternativas de conservação e uma boa preparação para o inverno. Nos dias de hoje, e face ao ambiente de forte recessão económica identificase uma mudança de atitude da indústria e dos consumidores. A reação da indústria vai no sentido de otimizar os seus processos, numa perspetiva de reduzir, reutilizar, recuperar e reciclar. Surgem assim mercados secundários para a reutilização de alimentos, que vão desde a reciclagem à valorização destes. O desperdício passa a ser encarado como um subproduto, e então, como uma matéria-prima para outros ciclos produtivos, passando a estágios de valorização, e que podem ter aplicação humana, animal e até energética. Exploram-se assim outros destinos, que passam também por atitudes de responsabilidade social, já que muitos destes alimentos são encaminhados para instituições de caridade por via de doações, entre outros. E estas atitudes são a norma. A um nível mais operacional identificam-se algumas estratégias da indústria para fazer face à redução de desperdício, como a otimização da cadeia de fornecimento, mais curta e muito reativa; inovações ao nível da embalagem para aumento de vida útil dos produtos; reduções no tamanho destas embalagens acompanhadas de ofertas unidose, bem como de mercados secundários. De referir que a “pegada” de desperdício poderá ser uma próxima medida ambiental a ser adotada pela indústria. De facto o tema da sustentabilidade tem estado presente nos últimos anos, assumindo diversos formatos. Em paralelo, o consumidor tenderá a adaptar os seus hábitos ARTIGO TÉCNICO “A um nível mais operacional identificam-se algumas estratégias da indústria para fazer face à redução de desperdício, como a otimização da cadeia de fornecimento, mais curta e muito reativa; inovações ao nível da embalagem para aumento de vida útil dos produtos; reduções no tamanho destas embalagens acompanhadas de ofertas unidose, bem como de mercados secundários. De referir que a “pegada” de desperdício poderá ser uma próxima medida ambiental a ser adotada pela indústria. De facto o tema da sustentabilidade tem estado presente nos últimos anos, assumindo diversos formatos. ” de consumo ao atual contexto económico, assumindo atitudes de maior racionalização, e desta forma a indústria reage com inovações ao nível do tamanho da embalagem, ou até mesmo as embalagens que permitam uma maior extensão do prazo de validade. Outro exemplo é o desenvolvimento de outros produtos que incorporam na sua matriz ingredientes que são subprodutos de outros processos produtivos, sempre num alinhamento de sustentabilidade, para o qual a otimização de desperdício contribui. Num olhar sobre ciência e sobre o output científico sobre o tema do desperdício alimentar, constata-se um crescente número de publicações e patentes (desde 2009) sobre o tema do desperdício, resíduo ou subproduto alimentar, e que se relacionam com tecnologias para produção de biomassa, valorização de subprodutos ou melhorias sanitárias durante o processamento promovendo a redução de desperdício. A PortugalFoods tem tido um papel ativo sobre esta temática, facultando aos seus associados – empresas do setor agroalimentar e entidades do sistema científico - informação sobre os mercados e as reações da indústria mundial sobre o tema. Ainda, a PortugalFoods tem desempenhando um papel ativo na construção de consórcios que envolvem a academia e o tecido produtivo, com objetivo de, sob um formato agregador de projetos de IDT aplicado, trabalhar a vertente da valorização económica dos subprodutos para a indústria, tendo por base a investigação e desenvolvimento. A PortugalFoods acredita que o maior retorno económico está indexado à endogeneização do conhecimento por parte da indústria, sendo esta a missão da PortugalFoods, enquanto promotor da competitividade do setor agroalimentar, pelo aumento do índice tecnológico. “Em paralelo, o consumidor tenderá a adaptar os seus hábitos de consumo ao atual contexto económico, assumindo atitudes de maior racionalização, e desta forma a indústria reage com inovações ao nível do tamanho da embalagem, ou até mesmo as embalagens que permitam uma maior extensão do prazo de validade. Outro exemplo é o desenvolvimento de outros produtos que incorporam na sua matriz ingredientes que são subprodutos de outros processos produtivos, sempre num alinhamento de sustentabilidade, para o qual a otimização de desperdício contribui. ” março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 47 AGENDA 2ª Conferência – Uma Economia Verde num Mundo Azul XI Congresso Nacional das Misericórdias Data: 29 a 31 de maio Local: Évora Hotel, Évora Organização: União das Misericórdias Portuguesas Info: Sob o tema “Economia social – Esperança para os Desafios do Futuro”, o congresso volta a reunir as Santas Casas de Misericórdia de Portugal. www.umpcongresso.com Data: 26 de setembro de 2014 Local: Lisboa Organização: Coorganizada pela Fundação AMI e pela Global Compact Network Portugal (rede portuguesa do United Nations Global Compact) Info: Esta iniciativa enquadra-se nas quatro conferências anuais acerca de cada uma das áreas abordadas pelo UN Global Compact. O primeiro evento aconteceu em 2013 e foi dedicado ao tema do Trabalho, ao passo que este ano o tema é o Ambiente. Em 2015 será abordada a questão dos Direitos Humanos e em 2016 será a vez da Anticorrupção. Em Portugal, a Fundação AMI ofereceu-se para organizar uma conferência por ano sobre cada uma das áreas. 19ª Corrida Terry Fox – Correr é Viver Data: 10 de maio, 11 horas Local: Parque das Nações, Lisboa Info: A Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Sul vai realizar a 19ª edição da Corrida Terry Fox, uma homenagem ao jovem canadiano Terry Fox que, apesar de lhe ter sido diagnosticado um carcinoma ósseo, e motivado pelo sofrimento espalhado ao seu redor, acreditou que era possível lutar contra o cancro. II Fórum Internacional de Jovens Equipas de Futebol – Football For Friendship Data: 23 a 25 de Maio Local: Lisboa Info: Na edição de 2014, o principal evento do projeto FOOTBALL FOR FRIENDSHIP será o II Fórum Internacional de jovens equipas de futebol, que vai decorrer em Lisboa, onde terá lugar a final da Liga dos Campeões e será conduzido pela lenda do futebol, Franz Beckenbauer. Aí, os delegados dos 16 países representados no torneio irão juntar-se para discutir ferramentas eficazes para a promoção dos princípios-chave do projeto. Festa da Solidariedade Conferência Social Inovation: European visions and trends, local action and programs Data: 8 de maio, 15 horas Local: Fórum Eugénio de Almeida, Évora Info: A Fundação Eugénio de Almeida convida Stuart Thomason, Gestor de Programas da Young Foundation (Londres, Reino Unido), um dos mais reputados centros europeus na área da inovação social, a apresentar as principais tendências sobre este tema. 48 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 Data: 6 e 7 de junho Local: Porto Organização: CNIS e UDIPSS-Porto Info: A Festa da Solidariedade celebra este ano a sua oitava edição e inclui o Congresso “Solidariedade: Novos Caminhos, Valores de Sempre”, a decorrer no Auditório Almeida Garrett, no Palácio de Cristal. Neste encontro anual dos representantes de IPSS’s, a primeira parte da programação será marcada pela tradicional chegada da Chama da Solidariedade, que estabelece a ligação entre o último local da Festa, Guarda, e o destino deste ano: o Porto. (c) Jorge Sarmento FOTOFILANTROPIA Esta fotografia foi tirada em Cusco em Janeiro de 2009. Alguns países nunca conheceram nada além de uma crise constante e, nesse prisma, encontram quase sempre as melhores formas de combater o desperdício. Jorge Morais Sarmento 50 | impulso positivo n.20 março/abril 2014 52 | impulso positivo n.20 março/abril 2014