Em casa de Mónica Penaguião

Transcrição

Em casa de Mónica Penaguião
Em casa de Mónica Penaguião
Jogos
de cor
e de luz
Optou por dar um fundo branco à casa toda, criando a ilusão
de que o espaço é maior do que na realidade. Depois,
a decoradora polvilhou-a de cor. Texto de Maria Antónia
Ascensão Fotografia de Enric Vives-Rubio
22 • 3 Junho 2007 • Pública
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Xxxxxx xxx xx xx xxxxxxx xx xxx xx xx
xx xxxx xx xxx xxx xxx xx xx xx xx xx xxxxx
xxx.
Xxxxxx xxx xxx xxx xxx xxxxx xxxxxxx
Num dos cantos
da sala de estar
um aparador
Paul Smith
Xxxxxxxxxx
Xxxxxx xxx xxx xxx xxx xxxxx xxxxxxx.
Xxxxxx xxx xx xx xxxxxxx xx xxx xx xx xx
xxxx xx xxx xxx xxx xx xx xx xx xxxxx xxx.
A
G
osta de ambiente
simples e descontraídos. Assume-se
como uma pessoa
bem-disposta, e de
bem com a vida.
Se esta atitude se
reflecte nas casas
que constrói para
os outros, mais
Na área destinada
à televisão e
à lareira, dois
cadeirões Pucci
visível é na sua.
A casa de Mónica Penaguião é um apartamento no centro de Lisboa. Um sétimo andar
cheio de luz directa, que entra pelas enormes
janelas da sala e da zona de comer. Mas para
chegar lá dentro, é preciso atravessar uma
porta que revela de imediato que esta casa
é habitada por alguém que gosta de cor e de
humor: o exterior da porta está forrada com
papel reproduzindo uma cena romântica
(senhoras de saia de balão, homens de cartola
e carruagens) da colecção “Home” de Ralph
Laurent.
Transposta a primeira barreira, de cor,
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A
co
d
co
A única parede
com cor na sala
de estar e o sofá
cor de beringela
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uma surpresa. A decoradora deu a toda a
casa um fundo branco para criar uma ilusão:
a casa parece ter mais dimensão do que na
verdade tem. Está aproveitado ao milímetro e
trabalhado com jogos de luz e cor que tiram o
máximo partido da casa.
A sala, por exemplo, divide-se em duas zonas
de estar e uma terceira, reservada às refeições.
Nestas áreas, encontramos apenas uma parede
com cor – riscas poderosas em vermelho e amarelo que brincam com o sofá desenhado pela
própria numa cor de beringela. “Nunca ponho
muita cor nos meus trabalhos, apenas o suficiente para dar uma referência à casa”, explica
Mónica Penaguião.
“Conjuguei o beringela com o encarnado
e um dourado. Faço estas misturas que não
parecem lógicas mas que pegam.” Além das
misturas de cor, outra das suas “assinaturas” é
usar peças de arte. Prefere também aqui peças
contrastantes: “Parece que os quadros não têm
nada a ver [com aquele espaço], mas têm e é
assim que se consegue uma harmonia”.
Quando recebe uma casa para decorar — a
sua não foi excepção a este método —, Mónica
subdivide os espaços e organiza-os de forma a
tornar a casa funcional. “Sou sempre eu que
escolho as cores”, explica, sublinhando que
nem toda a gente tem o dom necessário para
Na zona de
refeições um
candeeiro de
Marcel Wanders
Na cozinha a
decoradora optou
pelo cinzento e
pelo aço
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“Gosto de desenhar
tudo, móveis, tapetes, e
de misturar [as minhas
peças] com as de
outros designers”
perceber as cores e saber “brincar” com elas.
“Eu tenho”. Depois da divisão do espaço, da
escolha das cores, da criação de “arrumos” e
da selecção das zonas de luz, a casa está pronta
para a segunda fase do trabalho da decoradora:
a criação de uma ideia de conforto adequada a
cada cliente, ou seja aos que a vão habitar.
Mónica Penaguião, 40 anos, trabalha há
20 em decoração. Estudou Artes e Cerâmica
na Escola António Arroio e especializou-se
em design de Interiores, design industrial
e design visual no IADE — Instituto de Artes
Visuais, Design e Marketing. No ano passado
regressou à universidade, desta feita à University of the Arts London — Central Saint Martin,
onde frequentou o curso de desenho e pitura
em têxteis.
Pouco tempo depois de ter começado a trabalhar abriu uma loja de decoração, a Poeira.
Para além de vender marcas e designers conceituados (caso das marcas Capellini, Vitra,
Edra, Designers Guilt e dos designers Kenzo
e Ralph Laurent, entre outros), Mónica Penaguião desenvolveu a sua linha de sofás, aparadores, mesas, cadeiras, camas e candeeiros.
A loja tem uma filial no Rio de Janeiro. Este
passo para o estrangeiro deveu-se muito ao
facto do seu marido ter ali uma empresa, o que
faz com a decoradora divida a sua vida entre
Portugal e o Brasil.
O seu trabalho centra-se sobretudo em casas
particulares. Mas já trabalhou espaços públicos, como o Club Med da Balaia, por exemplo.
Decorou os camarins de Mick jagger e restantes
Rolling Stones quando estes realizaram uma
digressão pela América Latina.
“Gosto de desenhar de tudo, móveis, tapetes, e de misturar [as minhas peças] com peças
de outros designers”, diz. “Muitas das coisas
aqui de casa são desenhadas por mim: os tapetes, os sofás, a mesa, as estantes, tudo é desenhado e recriado por mim e depois misturado
com marcas e designers conceituados mundialmente. É este tipo de coisas que personaliza e
torna as casas diferentes.”
A cozinha é outro exemplo desta sua forma
de trabalhar. É o espaço da casa onde não usou
branco. As paredes, cinza, foram trabalhadas
para terem um ar inacabado. A pedra mármore
das bancadas é escura e o mobiliário escolhido
em aço. Uma pequena mesa amarela destinguese neste cenário quase monocromático — há
outra zona que capta o olhar, duas prateleiras
repletas de louça Missioni pintada com motivos
florais. Um material nobre, a porcelana pintada
de cores fortes, dentro do cenário “rugoso” da
cozinha.
Não gosta de casas de catálogo porque são
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imutáveis. Precisa de estar constantemente
a fazer alterações. “Em casa estou sempre
a mudar. No quarto dos meus filhos, no meu,
estou sempre a inventar. Isto é um bichinho
que já nasceu dentro de mim. Quando vou passar um fim-de-semana a casa de amigos, muitas
das vezes acabo por lhes mudar a casa. Se vou a
casa da minha mãe mudo-lhe tudo, estou sempre em produção.”
Neste momento Mónica Penaguião está a
ultimar um livro. Trata-se de um olhar sobre a
cidade de Lisboa, interiores e exteriores. “Gostava de ajudar na recuperação da cidade. Gosto
de tudo o que é esteticamente bonito, por isso
é que tenho um choque com este país que é
esteticamente feio. Temos a parte histórica que
é linda, mas o que é novo é mal feito e é feio. Há
poucas referências de prédios novos e bonitos,
o que não se percebe pois temos tudo: bons
arquitectos e excelentes designers. Mas quem
reina tem mau gosto”. a
O quarto principal
surge duplicado
no espelho de um
armário
Contactos
Loja de Lisboa: 21 3954229
www.poeiraonline.com
Pormenor da
casa de banho do
quarto principal
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