Controle integrado das principais parasitoses de bovinos
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Controle integrado das principais parasitoses de bovinos
XIII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Latino-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004. CONTROLE INTEGRADO DAS PRINCIPAIS PARASITOSES DE BOVINOS Antonio Pereira de Souza1 1 Professor – Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC – Centro de Ciências Agroveterinárias-CAV – Av. Luiz de Camões, 2090 – CX.P. 281 – CEP 88520-000 – Lages-SC – E-mail: [email protected] ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS O Brasil com toda sua dimensão, naturalmente possui uma diversidade muito grande de clima, sistemas de criação de bovinos, raças, manejo, tipos de pastagens e por estas razões, distintos modelos epidemiológicos dos parasitos. No presente trabalho será dado ênfase à experiência Catarinense em controle integrado das principais parasitoses dos bovinos. Segundo dados do Instituto CEPA/SC (2000) a produção nacional de carne bovina em 1998 foi de 6,16 milhões de toneladas, destas, 2% foram atribuídas ao estado de Santa Catarina (SC), quantidade insuficiente para o consumo interno. O rebanho bovino neste Estado se estabilizou há vários anos entre 2,7 e 3,1 milhões de cabeças. A produtividade foi baixa (desfrute de 12% no rebanho geral e 18% a 20% no efetivo especializado). Os fatores mais importantes na redução dos índices de produção do rebanho bovino do Estado são a flutuação estacional na produção de pastagens e as enfermidades parasitárias, entre elas destacam-se as causadas pelo Boophilus microplus, pelas larvas de Dermatobia hominis, pela Haematobia irritans e pelos helmintos gastrintestinais. Estes dois fatores combinados proporcionam baixa conversão alimentar, crescimento retardado e menor ganho de peso. Durante o inverno, as perdas podem atingir de 15 a 20% do peso corporal, com freqüente mortalidade de animais jovens e índice de fertilidade em torno de 50% (ACARESC, 1977). Apesar dos avanços tecnológicos em melhoria de campo nativo, cultivo de pastagens, com introdução de novas cultivares e de formas de controle das parasitoses, em muitas regiões brasileiras não houve a devida adoção dessas tecnologias, por parte de muitos produtores, continuando com baixa produtividade. Esquemas de controle das parasitoses, com base em estudos epidemiológicos, visando à redução da contaminação das pastagens e como objetivo secundário o tratamento terapêutico, têm sido amplamente estudados em todo o mundo. Entre os estudos sobre a epidemiologia do B. microplus, realizados no Brasil estão os de Brum et al. (1987); Arteche e Laranja, (1979); Magalhães (1989); Furlong (1998); Kasai et al. (2000); Santarém e Sartor (2003). No Planalto Catarinense em 1979 foram iniciados trabalhos que possibilitaram uma série de conhecimentos sobre a biologia do B. microplus. Os estudos da fase de vida livre demonstraram que os ovos provenientes de teleóginas expostas no meio ambiente, de abril até agosto, foram sempre inférteis. Todavia, Paloschi e Beck (1989a) verificaram postura fértil durante todo ano no Vale do Itajaí, SC. Outro fator epidemiologicamente importante foi à constatação de que em janeiro e fevereiro ocorreu uma concentração de eclosão de larvas, na região do Planalto Catarinense, aumentado a possibilidade de infestação nos bovinos nessa época (SOUZA et al. 1988a). Fato comprovado quando Souza et al. (1988b) estudaram a variação sazonal. O desenvolvimento do B. microplus no meio ambiente, assim como a maioria dos parasitos, depende principalmente das condições climáticas. De uma maneira geral as temperaturas baixas prolongam esses períodos, enquanto que em torno de 27oC os favorecem, todavia, temperaturas altas determinam uma menor longevidade. Embora a longevidade das larvas no Planalto Catarinense seja considerada alta, ela não está diretamente relacionada com a capacidade infestante. Souza et al. (1993) demonstraram que nas épocas mais quentes a descontaminação dos pastos por larvas de B. microplus é mais rápida, como pode ser observado na Figura 1. 140 Ano 1 120 Ano 2 Dias 100 80 60 40 20 0 O u tu b ro D e z e m b ro F e ve re iro M eses Figura 1. Período para descontaminação das pastagens por larvas de Boophilus microplus com início da avaliação em outubro, dezembro e fevereiro, no Planalto Catarinense. Pode-se afirmar que nesta região, durante as épocas de esse período seja menor, pois as larvas infestantes no ambiente, não maior calor, são necessários em média 70 dias de descanso das pas- se alimentam e a velocidade com que ocorrem suas eações metabóli- tagens para provocar uma diminuição substancial da população das cas, com diminuição das reservas nuricionais, está diretamente rela- larvas no meio ambiente e auxiliar no controle do B. microplus. Pro- cionada às temperaturas. vavelmente em regiões com temperaturas médias mensais mais altas, 72 Rev. Bras. Parasitol.Vet., v.13, suplemento 1, 2004 XIII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Latino-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004. 350 300 Lages Itajaí Número 250 200 150 100 50 0 D J F M A M J J A S O N Meses Figura 2. Variação sazonal do Boophilus microplus no Planalto Catarinense e no Vale do Itajaí, SC Adaptado de Souza et al. (1988b) e Paloschi e Beck (1989b). Observa-se no Vale do Itajaí uma maior população de B. microplus durante praticamente todo o ano, quando comparado com a do Planalto Catarinense (Figura 2), o que confirma a simulação feita por Honer et al. (1993) que aferiu o índice de favorabilidade para o desenvolvimento deste carrapato de 28 para Lages e 56 para Itajaí, SC. A Dermatobia hominis é um ectoparasito encontrado no Continente Americano, desde o Sul do México ao Norte da Argentina, ocorrendo com maior intensidade em regiões de matas e bosques e em altitudes entre 300m e 1500m. O período parasitário em bovinos é normalmente de 40 dias, todavia, pode se prolongar por até 120 dias. O período pupal é de aproximadamente um mês, podendo se prolongar dependendo das condições climáticas, antes de emergirem as moscas adultas. A flutuação populacional deste ectoparasito em bovinos nos municípios de Lages e Itajaí pode ser observada na Figura 3. 120 100 Lages 80 It a ja í 60 40 20 0 J F M A M J J A S O N D Figura 3. Flutuação populacional da Dermatobia hominis em bovinos no município de Lages e Itajaí, SC. Adaptado de Bellato et al. (1986) e Paloschi e Beck (1989c). Pode-se verificar que no município de Lages e Itajaí, mesma época. As diferenças na intensidade de parasitismo verifi- durante todo o ano, foram detectadas larvas de D. hominis no cada pelos autores pode estar relacionado com as populações de corpo dos animais, todavia, em Lages as infestações foram maio- D. hominis e de vetores, condições climáticas, altitude, raça e res que no município de Itajaí. Verifica-se uma maior infestação pelagem dos animais. no mês de dezembro no município de Lages. Maior parasitismo de Com relação a H. irritans, as maiores infestações no Planalto bovinos pelo berne também foi observado por Maia e Guimarães Catarinense, ocorreram de novembro a abril, sendo que o número médio (1985), Oliveira (1985) durante o verão e Brito e Moya Borja de moscas não ultrapassou a 115,25. A flutuação sazonal pode ser ob- (2000) observaram um maior percentual de peles lesionadas nessa servada na Figura 4. Rev. Bras. Parasitol.Vet., v.13, suplemento 1, 2004 73 XIII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Latino-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004. 140 25 H. irritans UR Tº m édia 120 15 80 60 10 Temperatura (ºC) Nº de H. irritans (média) e UR (%) 20 100 40 5 20 0 01 /0 2/ 10 01 /0 3/ 01 06 /0 4/ 26 01 /0 5/ 30 01 /0 6/ 11 01 /0 8/ 09 01 /0 9/ 14 01 /1 0/ 01 10 /1 1/ 16 01 /1 2/ 21 01 /1 2/ 19 01 /0 1/ 16 02 /0 2/ 16 02 /0 3/ 14 02 /0 4/ 02 11 /0 5/ 29 02 /0 6/ 30 02 /0 7/ 08 02 /0 9/ 14 02 /1 0/ 15 02 /1 1/ 02 14 /1 2/ 18 02 /0 1/ 15 03 /0 2/ 15 03 /0 3/ 12 03 /0 4/ 03 0 Da ta F ig u ra 4 . N ú m ero m éd io d e H . irrita n s, tem p eratu ra, u m id ad e re lat iva d o ar, no temperatura, p erío d o dumidade e fe vere iro dodar, e no 2 0período 0 1 a deabr il d e de22001 0 0 3 ,a abril no deP 2003, la na lto Figura4. número médio de H. irritans, relativa fevereiro no planalto CatariC atarine n se Resultados semelhantes foram observados por Alves-Branco et al. (1997) e Martins (2002), no Rio Grande do Sul. Todavia, Barros (2001) observou que na região do Pantanal, Mato Grosso do Sul, a população de H. irritans, geralmente aumenta na primavera. Lima et al. (2003) demostraram que em Araçatuba, São Paulo, a presença de H. irritans ocorre em todas as estações do ano, com dois picos, na primavera e outono. Essas diferenças podem ser explicadas principalmente pelas diferentes condições climáticas, raça dos animais e quantidade de predadores existente nas regiões. Entre os gêneros de helmintos de bovinos do Planalto Catarinense, destacam-se os de localização gastrintestinal: Ostertagia, Trichostrongylus, Haemonchus, Cooperia e Oesophagostomum e pulmonar: Dictyocaulus. Estudos sobre o desenvolvimento da fase de vida livre dos helmintos gastrintestinais na região dos Campos de Lages, SC foram realizados por Ramos et al. (1993) quando observaram o desenvolvi- mento da fase de vida livre de nematóides, parasitos de bovinos em pastagens naturais. Constataram que a sobrevivência de larvas no pasto na maioria das coletas foi de 100 a 210 dias e que a falta de umidade condicionou a migração das larvas para o solo. Verificaram ainda que geralmente na primavera, a sobrevivência foi abaixo de 60 dias. Considerando que na longevidade das larvas não está incluído o período para o desenvolvimento embrionário e das larvas até LIII, e que larvas envelhecidas perdem a capacidade de infectar os hospedeiros, Souza et al. (2000) utilizando como modelo, ovinos, estudaram o período para descontaminação das pastagens, por larvas de helmintos gastrintestinais. Verificaram que o período mínimo e máximo para evolução dos ovos foram de 2,5 dias no verão e de 22 dias no inverno. Para ocorrer uma redução apreciável do número de larvas nas pastagens para a maioria dos gêneros, foram necessários 42 a 56 dias na primavera, 70 a 84 dias no verão, 112 a 126 dias no outono e 98 a 112 dias no inverno, como pode ser observado na Figura 5. 120 100 Ano 1 Ano 2 Dias 80 60 40 20 0 P rim a v e ra Ve rã o Ou to n o In v e rn o E s ta ç õ e s Figura 5. Período para descontaminação dos pastos por larvas de nematóides gastrintestinais de ovinos, nas quatro estações do ano no Planalto Catarinense. 74 Rev. Bras. Parasitol.Vet., v.13, suplemento 1, 2004 XIII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Latino-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004. 4000 Trichost. Oestertagia Número 3000 Formas Imaturas 2000 1000 0 J J A S O N D J F M A M Meses Figura 6. Flutuação estacional de Trichostrongylus, Ostertagia e formas imaturas em bovinos de corte no Planalto Catarinense. Adaptado de Ramos e Paloschi (1986) A epidemiologia dos helmintos gastrintestinais e pulmonares em bovinos no Planalto Catarinense foi estudada por Ramos e Paloschi (1986) e os resultados podem ser observados nas Figuras 6 a 8. 8000 Haemonchus 7000 Cooperia Número 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 J J A S O N D J F M A M Meses Figura 7. Flutuação estacional de Haemonchus e Cooperia em bovinos de corte no Planalto Catarinense. Adaptado de Ramos e Paloschi (1986) 100 Número 80 Oesophagost. Dictyocaulus 60 40 20 0 J J A S O N D J F M A M Meses Figura 8. Flutuação estacional de Oesophagostomum e Dictyocaulus em bovinos de corte no Planalto Catarinense. Adaptado de Ramos e Paloschi (1986) Rev. Bras. Parasitol.Vet., v.13, suplemento 1, 2004 75 XIII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Latino-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004. Os autores observaram a predominância do parasitismo por Trichostrongylus e Ostertagia no inverno e início de primavera, por Haemonchus e Cooperia em meados da primavera a meados do verão, por Oesophagostomum e Dictyocaulus no outono e inverno. Entre aos anos de 1970 ao final dos anos 80 vários trabalhos foram realizados com vista à estudos epidemiológicos das helmintoses dos bovinos com resultados extremamente importantes para se estabelecer programas de controle. Entre eles estão os de Guimarães (1972); Melo e Bianchin (1977); Catto (1981); Furlong et al. (1985); Lima (1989). Mais recentemente, Pimentel Neto e Fonseca (2002) verificaram que no Rio de Janeiro as populações de H. placei, Cooperia spp e O. radiatum tiveram as maiores prevalências durante as estações de outono e primavera. Os animais em regime de pastoreio permanente tiveram cargas cumulativas de H. placei, obtidas em março/abril, atingiram seu ápice em maio, com decréscimo da população no período seco e novo ápice em outubro/dezembro. CONTROLE INTEGRADO DAS PRINCIPAIS PARASITOSES O controle integrado das parasitoses consiste em utilizar associação de medidas tais como: • Uso de medicamentos. • Tratamentos curativos. • Tratamentos táticos. • Contagem de ovos por grama de fezes (OPG) e percentagem larval. • Manejo. • Controle biológico. • Tratamentos estratégicos. USO DE MEDICAMENTOS Os medicamentos recomendados para o controle das parasitoses, além de eficazes, devem ser econômicos e de baixa toxicidade para os animais. Deve-se conhecer o mecanismo de ação, o efeito residual e o grupo químico a que pertence, uma vez que o parasito quando se torna resistente a um medicamento de um determinado grupo, será resistente em maior ou menor grau a outro do mesmo grupo. Todos os medicamentos devem ser utilizados na dose correta e é indispensável à realização de testes periódicos para verificação da eficácia na redução da eliminação de OPG, sete a dez dias após o tratamento ou testes “in vitro” para avaliar a eficácia de carrapaticidas. Deve-se salientar que o controle baseado exclusivamente no uso de produtos químicos não é sustentável em médio e longo prazo, devido o desenvolvimento de resistência aos compostos por parte dos parasitos e de custos diretos e indiretos para sínteses de novas moléculas. Freqüentemente, os critérios utilizados pelos proprietários para o uso de medicamentos são baseados nas propagandas e nos preços, com isso o rodízio de princípios ativos é aleatório e as vezes são utilizados com intervalos muito curtos, o que tem contribuído para o aparecimento de resistência. TRATAMENTOS CURATIVOS São práticas utilizadas por alguns criadores, que consistem em tratar somente os animais que apresentam sintomas, ou seja, os mais susceptíveis às parasitoses. Considerando que “a maioria dos parasitos está em uma minoria dos animais”, esta prática antes combatida, hoje está sendo bem aceita, pois apresenta a vantagem de que os parasitos que não tiveram contato com o medicamento servem como população de refugio, para cruzamentos com as que tiveram contato e sobreviveram, retardando o aparecimento de resistência. Todavia, deve-se considerar que nos animais com endoparasitos existe a dificuldade do diagnóstico preciso, clínico ou laboratorial, para determinar o limite econômico para o tratamento. Possivelmente, poucos animais com helmintoses crônicas poderão apresentar uma pequena redução no ganho de peso, no entanto, dado ao grande aumento do número de casos de resistência aos parasiticidas, muitas vezes múltipla, e a dificuldade de sintetizar novas moléculas, torna-se necessário uma mudança radical de conceitos e adoção de medidas que possibilitem prolongar a vida útil dos medicamentos parasiticidas que ainda apresentam eficácia. Souza et al. (2003) verificaram que o “Tratamento Dirigido” para apenas 30% dos animais mais parasitados, que apresentaram média superior a 200 H. irritans, apresentou uma eficácia de 89,35%. Este resultado somou-se ao fato de que algumas moscas que estavam nos animais menos parasitados terem passado para os mais susceptíveis, quando o inseticida ainda estava ativo. Este método apresenta a vantagem de que o percentual que não teve contato com o inseticida 76 servirá como população de refugio, para cruzamentos entre si e com as que tiveram contato e sobreviveram, retardando o aparecimento de resistência. Provavelmente este método possa ser utilizado também contra B. microplus. O entendimento da dinâmica populacional, tanto de endo como de ectoparasitos ressalta o fato de que os animais mais suscetíveis são os responsáveis pelo aumento da contaminação do ambiente pelos parasitos. Por esta razão qualquer estratégia ou combinação destas, deve levar em consideração a seleção de animais resistentes ou tolerantes, para diminuir a dependência do uso de antiparasitários. TRATAMENTOS TÁTICOS Tratamentos táticos, recomendados em épocas bem definidas como na compra de animais e antes de colocar os animais em pastagens descontaminadas, devem ser repensados, uma vez que os animais levariam para essas propriedades ou para as invernadas apenas os parasitos que sobreviveram ao tratamento e portanto, resistentes. Recomenda-se tratamento tático antes de colocar os animais em pastagens cultivadas anualmente em rodízio com agricultura; no dia do parto, no caso das helmintoses, pois durante o período periparto ocorre um aumento do número de ovos eliminados nas fezes, aumentando a contaminação das pastagens; quando se utiliza de sistema de rodízio de pastagens, desde que os tratamentos não coincidam com a chegada dos animais no mesmo piquete. CONTAGEM DE OVOS POR GRAMA DE FEZES (OPG) E PERCENTAGEM LARVAL O diagnóstico das helmintoses pela técnica Mc Master é o mais utilizado, todavia, apresenta uma variação dos resultados do OPG relativamente alta, principalmente em fezes de bovinos, o que torna necessário uma interpretação associada ao estado clínico do rebanho. Nicolau et al. (2002) demonstraram que em machos inteiros da raça Nelore as contagens de OPG ajustaram-se ao modelo de distribuição binomial negativa e não evidenciaram associação entre o ganho de peso e a contagem de OPG. O cultivo de larvas para a identificação genérica dos parasitos, permite um melhor diagnóstico para a detecção de eficácia ou resistência aos antihelmínticos e a indicação do anti-helmíntico mais eficaz para cada situação. No entanto tem que ser considerado o fato de que alguns gêneros requerem diferentes temperaturas para expressar o seu melhor desenvolvimento. Assim por exemplo, o Haemonchus spp., requer como temperatura ideal 27 ºC enquanto que para o da Ostertagia spp. é 23 ºC. Apesar disso são excelentes alternativas para a melhoria do diagnóstico e consequentemente dos métodos de controle. Lamentavelmente nem todos os veterinários ou produtores rurais podem contar com apoio laboratorial em virtude da inexistência de laboratórios próximos das propriedades. MANEJO O manejo como medida auxiliar no controle das parasitoses, inclui o pastejo alternado de espécies animais diferentes. Todavia, nem todas as propriedades trabalham com número de espécies suficientes para um manejo econômico nesse sentido. Diferimento de pastagens e rotação de piquetes por um período de 70 dias, em épocas de maior calor, provoca importante descontaminação dos pastos. A lotação interfere na intensidade de parasitos, pois, quanto mais alta, maior é a probabilidade do parasito encontrar o hospedeiro. Em situações com lotação alta, que ocorre normalmente em áreas de melhoramento de campo nativo e pastagens cultivadas, com boa oferta de alimentos, recomenda-se aumentar o monitoramento das parasitoses através de um diagnóstico efetivo. CONTROLE BIOLÓGICO É um método utilizado para diminuir a população de uma determinada espécie de parasito, através de antagonistas naturais. Sabe-se que na natureza existem muitas espécies de aves, artrópodes, fungos e bactérias, que de uma forma direta ou indireta podem interferir em uma ou algumas populações de parasitos. Algumas dessas espécies não têm sofrido interferência do homem para maximizar o efeito do controle biológico. Outras, no entanto, podem ser reproduzidas em laboratório e distribuídas na natureza ou administradas aos animais, com o propósito de melhorar o controle. Recentemente Araujo et al. (2004) avaliaram o efeito da administração oral duas vezes por semana, de “pellets” do fungo Monacrosporium thaumasium Rev. Bras. Parasitol.Vet., v.13, suplemento 1, 2004 XIII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Latino-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004. para o controle de nematóides de bovinos e concluíram que esta prática tornou os tratamentos anti-helmínticos desnecessários. TRATAMENTOS ESTRATÉGICOS Consistem na recomendação de tratamentos, antes do aparecimento do pico do parasitismo, provocando descontaminação das pastagens pelas larvas e como conseqüência, os animais não receberão altas cargas parasitárias nas épocas de maior favorabilidade para o desenvolvimento do parasito. Quando o objetivo é o controle das helmintoses, na região Sul do País, é necessário eleger um ou dois gêneros para a realização de tratamentos estratégicos, pois, geralmente as infecções são mistas. Por estes motivos Souza et al. (1999) desenvolveram pesquisa sobre o controle estratégico do B. microplus com uso de doramectina e o efeito sobre a dinâmica populacional de D. hominis e de helmintos gastrintestinais, tendo como princípio, evitar a contaminação do meio ambiente por larvas de helmintos e carrapato, durante 70 dias, a partir de 15 de janeiro. Neste experimento foram utilizados 30 novilhos mestiços para corte, com aproximadamente um ano de idade e distribuídos eqüitativamente em três invernadas, sendo substituídos anualmente. Os animais da invernada “A” receberam tratamento carrapaticida/bernicida quando em um lado do corpo, a infestação média por B. microplus, encontrava-se igual ou acima de 20 fêmeas com tamanho superior a quatro milímetros e em torno de 10 nódulos de D. hominis. Foram tratados com anti-helmínticos quando a contagem média de ovos por grama de fezes (OPG) estava igual ou acima de 250. Os animais da invernada “B” foram tratados duas vezes com doramectina, 0,2mg/kg de peso vivo por via subcutânea, em meados de janeiro e 35 dias após. Os bovinos da invernada “A” necessitaram em torno de quatro tratamentos carrapaticidas/bernicidas por ano para controlar o B. microplus e D. hominis e de três aplicações de anti-helmínticos para controlar as helmintoses nos níveis técnicos estabelecidos. Nos bovinos da invernada “B” as medicações controlaram parcialmente a população de B. microplus principalmente durante o segundo e terceiro ano do experimento, ocorrendo apenas quatro picos de infestação acima dos índices técnicos. O número de nódulos de D. hominis manteve-se durante os três anos abaixo dos índices técnicos por aproximadamente 10 meses em cada ano. O OPG apresentou um contínuo declínio do início até o último ano, apresentando apenas um pico acima de 250, no início do terceiro ano do experimento. Nas Figuras 9 a 11 está registrado o efeito do tratamento estratégico no controle de B. microplus, D. hominis e helmintos gastrintestinais, comparadas ao controle técnico. Nº de teleóginas 180 Técnico 160 Estratégico 140 120 100 80 60 40 20 0 J F M A M J J J A S O N D J F M A M J J J A S O N D J F M A M M J J A S O N D 95 94 96 M ês/ano Figura 9. Efeito do tratamento estratégico com doramectina e técnico com flumetrina e triclorfon, sobre o Boophilus microplus, realizados quando a média de teleóginas em um lado do corpo dos bovinos estava igual ou superior a 20, nos Campos de Lages, SC. 30 Nº de nódulos Técnico Estratégico 25 20 15 10 5 0 J F MA M J J J A S O N D J F MA M J J J A S O N D J F M A M M J J A S O N D Mês/ano Figura 10. Efeito do controle estratégico com uso de doramectina eotécnico com flumetrina mais triclorfon sobre o número de nódulos de dermatobia hominis em bovinos, nod Campos de Lages, SC. Rev. Bras. Parasitol.Vet., v.13, suplemento 1, 2004 77 XIII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Latino-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004. 450 Técnico Estratégico 400 350 300 Nº OPG 250 200 150 100 50 0 J F M A M J J J A S O N D J F M A M J J J A S O N D J F M A M M J J A S O N D Mês/ ano Figura 11. Efeito do Controle estratégico de Boophilus microplus com o uso de doramectina e técnico com levamisole sobre o número de ovos de helmintos por grama de fezes de bovinos, nos Campos de Lages, SC. Este método pode ser adaptado com o uso de outros endectocidas ou mesmo outro anti-helmíntico mais carrapaticida/bernicida, bastando para isto modificar os intervalos das medicações de acordo com o efeito residual de cada medicamento, de maneira a não permitir recontaminação do ambiente pelos parasitos por um período mínimo de 70 dias, de janeiro à abril. Acredita-se que este esquema de tratamento possa ser usado em todas as regiões e é muito provável que naquelas com clima mais quente o período de descontaminação das pastagens seja menor. Esta tecnologia não invalida as recomendações estratégicas, nas regiões onde foram realizados estudos de epidemiologia e controle. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES-BRANCO, F.P.J.; PINHEIRO, A.C.; SAPPER, M.F.M. Epidemiologia da Haematobia irritans na região da Campanha do RS. Dados Preliminares. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, Itapema, v. 6, n.2, p. 46, 1997. Suplemento 1. ASSOCIAÇÃO DE CRÉDITO E ASSISTÊNCIA RURAL DE SANTA CATARINA- ACARESC. Bovinocultura de Santa Catarina: diagnóstico e proposições. Florianópolis, p. 94-96, 1977. ARAUJO, J.V.; GIMARÃES, M.P.; CAMPOS, A.K. Controle de nematóides gastrintestinais de bovinos com pellets do fungo Monacrosporium thaumasium. Ciência Rural, v.34, n2, p.457-463, 2004. ARTECHE, C.C.P.; LARANJA, R.J. 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