XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM B (Mc 10,2-18)
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XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM B (Mc 10,2-18)
XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM B (Mc 10,2-18) O REPÚDIO DA MULHER (Pe. Ignácio, dos Padres Escolápios) FARISEUS: Sabemos que os fariseus foram em grande parte inimigos de Jesus. Unidas ao seu nome ressoam as palavras de repúdio de Jesus: Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas porque fechais o Reino dos céus na frente dos homens! Pois vós não entrais, nem deixais entrar aos que o desejam! (Mt 23, 13). Vamos estudá-los do o ponto de vista de Jesus, que é a palavra da verdade transcendente. Jesus une escribas e fariseus num mesmo molde, já que os segundos eram discípulos dos primeiros.(Mt 5,20) e frequentemente atuavam juntos (Mt 15, 20 s). Jesus descobre neles uma falsa moral(Mt 5,20) que chama de hipocrisia (Mt 23, 13) porque só tem como norma os atos externos com a finalidade de serem louvados(Mt 23,5). Eles se apoderaram da Lei e de sua interpretação (Mt 23,2), nem sempre mal interpretada, mas dando mais peso às suas tradições (Mt 15,6). Contrários à figura de Jesus em quem não acreditavam(Jo 7, 48) de modo a impedir por escândalo(Mt 15, 12) a fé dos pequenos do povo o Ham haaretz (Mt 18,6) de forma que, por não querer ver, se tornaram cegos, guias de cegos( Mt 15,14). Foram cegos quando não viram em João o enviado de Deus (Mt 21,32)e que em Jesus, apesar de seus milagres ou sinais só viram um demente, um possuído, segundo o pensar da época( Jo 10,20). Descobertos em sua impostura e falsa santidade por Jesus, sendo semelhantes aos sepulcros (Mt 23,27) e por isso reprovados e recriminados(Mt 23, 23-24), maquinaram a vingança junto com os saduceus(Mt 26,57) e no grande conselho ou Sinédrio, tramaram a morte de Jesus ( Mt 26, 59). O retrato que acabamos de desenhar está em todos os evangelhos de modo semelhante, o que serve para demostrar a autenticidade dos relatos evangélicos. A PERGUNTA: É lícito, ou moralmente válido, um marido repudiar sua esposa? Mateus acrescenta um inciso a esta pergunta, de suma importância: por qualquer motivo, causa ou acusação, que são as acepções da palavra Aitia. Era uma armadilha, mais do que uma pergunta sincera na boca de um discípulo, que carece de critérios para julgar uma situação, ou não entendeu a exposição do mestre. Era um problema discutido: Os três grandes mestres ou rabis não discutiam a licitude do divórcio, mas a razão ou motivo do mesmo. Desde o mais restrito, Shammai que só admitia o divórcio em caso de adultério, Hillel que admitia o repúdio por falhas no cozimento dos alimentos, queimados ou salgados demais, até Akiba que permitia a separação por ser a mulher velha e encontrar uma outra mais formosa. É lógico que o adultério não podia ser provado, pois do contrário a mulher seria lapidada. No caso de suspeita, segundo Num 5,1224 a mulher era submetida ao rito de beber as águas amargas. Era neste caso que o marido podia dar o libelo de divórcio, em público, ou como no caso de José com Maria em privado, que Shammai chama de libelo de divórcio antigo(Mishna, Git 8,4). No libelo público a parte essencial é: "ficas livre para te casar com qualquer homem". O libelo público deve ser firmado por duas testemunhas e entregue nas mãos da divorciada. No antigo, sempre que fique a sós com ela após ter escrito o libelo. A principal razão contra o divórcio era o pagamento da Ketubá, ou dote por ser rejeitada, correspondente em geral a duzentos denários ou dias de trabalho, suficiente para um ano de vida independente. A RESPOSTA: Que vos ordenou Moisés? Jesus não responde diretamente, mas leva os interrogantes a dar uma resposta segundo a sua própria interpretação dos fatos. Daí o apelativo VÓS. Eles devem ser os que respondem, uma vez discernidas as palavras e interpretadas as circunstâncias. E os fariseus respondem dizendo que Moisés permitiu, deu licença, para escrever um libelo de divórcio e então repudiar a mulher( Dt 24,1). Não é uma ordem, mas uma licença; e Moisés exige um mandato: sem libelo não há divórcio. Existem pois limites e a lei não é totalmente permissiva. UM MAIOR APROFUNDAMENTO: Jesus explica então as causas que motivaram Moisés a permitir semelhante licença e encontra unicamente uma: a visão estreita da mente dos judeus na época do legislador, a esklerocardia, traduzida geralmente por dureza de coração e pertinácia. O que significa que, como os judeus da época não podiam entender não ser possível repudiar sua mulher, Moisés permitiu o divórcio; mas com a condição prévia de encontrar uma conduta indecente ou reprovável na mulher, que o texto dos setenta traduz por Askhemon Pragma. Isto deu lugar à relaxação na interpretação nos tempos de Jesus. Em Mateus, no lugar paralelo, parece que este interpretou a "conduta sexualmente reprovável" com a palavra porneia (ver Mt 5,32 e 19, 9), traduzida por fornicação ou relação sexual com uma prostituta (porné em grego), que por extensão e figurativamente se estendia à idolatria. Assim, Jesus afirma que, segundo Moisés, o libelo de repúdio só poderia ser dado quando a mulher se prostituisse, caso que as bíblias evangélicas traduzem por adultério e que poderíamos definir como conduta sexual imprópria, pois isto acarretaria também uma impureza legal que a tornava intocável. Pois a fornicação é uma infâmia que profana a terra de Israel(Lev18, 22-28).e a mulher repudiada era considerada contaminada para seu anterior marido ( Dt 24, 4).A lei Julia romana obriga ao repúdio da esposa adúltera. NO INÍCIO: Jesus faz uma distinção entre a lei de Moisés e a lei divina, esta conhecida no Gênese, onde se podia ler que Deus os criou macho e fêmea (1,27) para depois acrescentar: por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e serão os dois numa única carne.( eis sarka mian)(2,24). esta é a base para Jesus argumentar sobre a vontade de Deus que quer fazer no matrimônio de dois uma só carne, um único ser de dois, entre um homem e uma mulher e portanto a separação não é possível. Termina afirmando que o que Deus uniu o homem não pode separar. O matrimônio tem uma origem divina e portanto no NT, restituído a sua antiga vivência; ele é sacramento (mistérion)como afirma Paulo em Ef 5, 30-33. POSTERIOR EXPLICAÇÃO: Em casa, Jesus explica a seus discípulos a situação. Não é possível repudiar um esposo a sua mulher ou uma esposa o seu marido, pois do novo casamento se deduz adultério contra os antigos parceiros. O adúltero não é só a mulher mas o marido também, coisa inaudita entre os judeus. Deduz-se desta lição de Jesus que no matrimônio homem e mulher têm os mesmos deveres, e que o matrimônio foi planejado por Deus como único e indivisível. AS CRIANÇAS: Segundo Lucas eram infantes(bréfe). É um contraste interessante ver como os discípulos que acabavam de receber uma lição de quem era o maior no Reino(Mc 9,35-37), agora desprezam as crianças, que eram paradigma de tal ensinamento. A imposição das mãos era um dever antes do sacrifício de um animal pelos pecados, transferindo os mesmos a ele(Lev 4,13-21 e 16,21), um gesto para curar(Mc 6,5), ou para transmitir um poder (Num 8,10), ou uma consagração(Num 8,12). Como no caso de 9, 35 eram crianças muito pequenas e devemos acreditar que eram as mães que as levaram a Jesus. Toda a realidade descrita pelo evangelista relembra a cena de Jacó com os filhos de José (Gen 48,1-18). Primeiramente Jacó os toma como próprios filhos e logo os abençoa. Jesus toma as crianças como se fossem seus próprios discípulos e as abençoa, dizendo que é próprio do Reino ter semelhantes súditos, e que todo aquele que deseja entrar no Reino terá que se tornar semelhante a uma dessas crianças que em seu seio Jesus acolheu. Evidentemente não é a fragilidade física o termo de comparação, mas a fragilidade espiritual, a sua insignificância e total dependência, que excitam a misericórdia do Pai porque este é quem finalmente entrega os discípulos a seu Filho( Lc 10, 21-22 e Jo 6, 37). A este pequeno rebanho foi dado o Reino, por agrado do Pai( Lc 12, 12). PISTAS: 1)Às vezes nos identificamos com os fariseus: criticamos a Igreja atual, fazendo da crítica uma Teologia totalizante, para optar por uma Igreja modelada e conforme à maioria, optando por uma verdade consensuada, como se estivéssemos num parlamento escolhido por votos populares. Nos novos fariseus a Torá e a Mishná(tradição) são substituídas por uma maioria totalmente manipulada pelos sofismas de liberdade e igualdade, como normas supremas e evangélicas, esquecendo-nos do que o Papa chamava de estrutura moral da liberdade.2) Acredito em Jesus, mas não posso acreditar na Igreja. E até seus santos são vituperados porque não se entende a cruz nos tempos modernos de hedonismo e prazer sem limites. E assim nos afastamos da fonte de santidade e da doutrina da cruz, essenciais para seguir o Cristo(Mt 10,38). Sem sacrifício não pode existir verdadeiro amor, dizia S. Genoveva Torres, a santa aleijada desde os quinze anos.3) No matrimônio atual pretende-se viver o prazer como fim supremo e último. A procriação está subordinada a circunstâncias econômicas, sociais e hedonísticas de tal maneira que praticamente resulta em um acidente na união sexual, da maneira como acontece com uma amante. Por isso se pretende igualar uniões homossexuais às heterossexuais. Que diria Jesus aos jovens que hoje querem se unir e não casar? 4) Dedicação, entrega, sacrifício, responsabilidade são palavras tabu. Por isso o amor some quando a paixão declina. 5) Os povos envelhecem porque negamos o direito à vida aos novos seres e em forma de fetos até os suprimimos já que um filho é um castigo e não uma benção divina. 46O reino deve ser aceito e recebido como uma criança aceita sua vida: confiamos na bondade do Pai e como seres indefesos, a ele entregamos nosso presente e dele esperamos nosso futuro. Como crianças esperamos ser perdoados porque nossa fragilidade supera nossos desejos de boa vontade. EXEMPLO: Falamos de sacrifício. Salvo DÁcquisto era um carabineiro recém elevado à suboficial em Torrimpietra, vila rural a 30 Km de Roma. Perto estava o quartel alemão. No dia 8 de setembro de 1943, ao manipular uma caixa de munição, uma granada de mão explodiu matando um soldado alemão e ferindo outros dois. Os alemães atribuíram o fato, completamente fortuito, a um atentado dos partisanos . No dia seguinte, o comandante alemão, ao não encontrar o culpável, escolheu 22 reféns para serem fuzilados como represálias. Salvo quis em vão explicar que tudo era um acidente; mas sem ouvir qualquer desculpa, os levaram num caminhão para a torre de Paidoro, perto da vila e obrigaram-nos a cavar as fossas correspondentes. Neste momento o jovem suboficial italiano se apresentou como responsável e pediu que os reféns fossem liberados. O comandante alemão aceitou a troca e poucos minutos depois Salvo foi o único fuzilado. Ele era inocente e deu sua vida para salvar 22 vidas inocentes. Hoje Salvo está em processo de beatificação. Este exemplo deve ser conhecido pelas mães que não hesitam em sacrificar seus fetos para salvar sua prosperidade. São como o comandante alemão cuja conduta sem dúvida reprovam sem paliativos.