33. Memorial do Cemitério de Ricardo de Albuquerque

Transcrição

33. Memorial do Cemitério de Ricardo de Albuquerque
MEMORIAL DO CEMITÉRIO DE RICARDO
DE ALBUQUERQUE
Apresentação
Na manhã do dia 11 de dezembro de 2011 foi inaugurado um memorial aos mortos e desaparecidos
políticos no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, localizado na Estrada Marechal Alencastro, 1743, no
bairro Ricardo de Albuquerque, zona norte carioca.
O memorial, idealizado pelo Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro [GTNM/RJ] e concebido por
arquitetos da RioUrbe1, é composto por 14 totens espelhados que levam os nomes dos 14 militantes políticos
assassinados e enterrados em uma vala clandestina neste cemitério, bem como um grande túmulo em
granito, que abriga suas ossadas em caixas. Ademais, na entrada do cemitério consta um marco indicativo da
existência e localização do memorial no qual se lê o seguinte texto:
“Neste cemitério, o Grupo Tortura Nunca
Mais/RJ localizou o destino de mais de 2.000
brasileiros
sepultados
como
indigentes
entre os anos de 1970 e 1974. Dentre eles,
quatorze militantes políticos assassinados
por se oporem à ditadura civil-militar
imposta ao povo brasileiro em 1964.”
O processo que resulta na construção deste memorial2
remonta a maio de 1991, quando o GTNM/RJ iniciou
pesquisas no Instituto Médico Legal [IML], no Instituto de
Criminalística Carlos Éboli e na Santa Casa de Misericórdia.
Como resultado, encontraram documentos que apontavam
que, do final dos anos 60 e durante toda década de 70, três
cemitérios cariocas [Ricardo Albuquerque, entre 1971 e
janeiro de 1974, Cacuia e Santa Cruz] receberam corpos que foram enterrados como indigentes. A pesquisa
ainda apontava que pelo menos 14 daqueles eram de militantes políticos, tendo sido depositados em uma
vala clandestina no cemitério de Ricardo de Albuquerque. A localização da vala foi
descoberta através de informações obtidas com antigos coveiros do cemitério.
Em setembro de 1991 foi iniciado o trabalho de abertura da vala, a qual continha
1 Empresa municipal de urbanização do Rio de Janeiro.
2 Os trabalhos de pesquisa que visam esclarecer os casos de mortes e desaparecimentos
forçados de pessoas por motivos políticos durante o período da ditadura civil-militar já vem
sendo realizados desde meados da década de 1980 pela Comissão de Familiares de Mortos
e Desaparecidos Políticos de São Paulo e pelo Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro.
em torno de 2100 ossadas. Uma parte destas foi deslocada
para o IML de Campo Grande e posteriormente transferidas
para o Hospital Federal de Bonsucesso, local adequado para
a catalogação dos ossos do crânio e arcadas dentárias. Sob
a responsabilidade de 2 médicos legistas indicados pelo
Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro
[CREMERJ] e de uma antropóloga da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro [UERJ], o trabalho de exumação foi executado
sob a supervisão da Equipe Argentina de Antropologia Forense
[EAAF]3 e prosseguiu até março de 1993. Segundo parecer da
EAAF, “a tarefa de encontrar 14 ossadas entre cerca de 2.000
era sem dúvida muito complexa, estando todas misturadas e
em péssimas condições”4, portanto, praticamente impossível
naquele momento a missão de identificação dos militantes.
À época, as ossadas retiradas foram catalogadas, separadas e
armazenadas no Hospital Federal de Bonsucesso.
No dia 02 de novembro de 2012 foi realizado o Ato
Ecumênico e Inter-Religioso em Memória dos Mortos e
Desaparecidos no Memorial do Cemitério de Ricardo de
Albuquerque, evento promovido pela KOINONIA Presença
Ecumênica e Serviço, GTNM/RJ, ISER, bem como por outros
grupos e entidades.
Em 02 de novembro de 2014 ocorreu outro ato ecumênico no memorial.
Trechos de depoimentos
Victória Grabois5
“A criação do memorial foi uma forma simbólica de homenagear aqueles que lutaram contra o regime
militar fascista. Foi uma ação muito importante, porque para as famílias das vítimas representou o
cumprimento de um ritual de velar e enterrar seus entes queridos.”
Cecília Coimbra6
“O seu pai teve uma ajuda muito grande... Não sei se o teu pai contou como foi a nossa entrada no IML
3 Por conta deste trabalho, a equipe da EEAF, composta por Luiz Fondebrider, Mercedes Doretti e Silvana Turner, esteve
presente em duas ocasiões no Rio de Janeiro.
4 http://testes.ideiatrip.com.br/gtnm/jornal/gtnm_78/projeto_memoria.html
5 Victória Lavínia Grabois Olímpio é presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro [GTNM/RJ] e familiar de
desaparecidos políticos. Esta declaração foi dada na ocasião de inauguração do memorial e esta disponível em reportagem
no portal da Adital. Conferir em <http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=63503>.
6 Cecília Maria Bouças Coimbra é psicóloga, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade
Federal Fluminense e vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro [GTNM/RJ]. Este depoimento
consta como entrevista concedida na dissertação de mestrado intitulada A patrimonialização e a musealização de
lugares de memória da ditadura de 1964 - o Memorial da Resistência de SP, apresentada em agosto de 2012 por Carlos
Beltrão do Valle no Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro [UNIRIO]. Carlos é sobrinho de Ramires Maranhão do Valle, militante político à época da ditadura e integrante
da lista dos 14 corpos enterrados como indigente no cemitério de Ricardo de Albuquerque.
[...]. Foi uma coisa impressionante! [...] A gente conseguiu
autorização do governo do estado, que era o Nilo Batista [vice
em exercício]... nós entramos no IML pra fazer a pesquisa
sobre os desparecidos políticos, porque o teu pai já tinha
falado pra gente, e outras pessoas, que tinha um cemitério
que tinha uma vala clandestina em Ricardo de Albuquerque,
na periferia. E nós fomos conversar com o Nilo Batista, que
falou que pra isso tínhamos que ter documentação, aí deu
a autorização, e foi uma barra pesada porque atenderam
a gente com o revólver em cima da mesa [os funcionários
do IML]. Porque eles achavam que a gente tava fazendo
isso mesmo, que estávamos pegando a documentação dos
médicos legistas. E pegamos mesmo. E entramos com um
processo no Conselho de Medicina contra eles, pedindo
esclarecimentos sobre aquelas mortes. Porque “morto em
tiroteio” e as fotos com torturas... Então fomos autorizados,
fomos lá. Lembro que chegamos com a imprensa num final
de tarde, aí abrimos os livros. Aí o Romildo, do meu lado,
vira e diz: “Abre aí!”. [...] Como [o IML] é ligado ao governo
do estado, o Nilo ligou e botou um rapaz que tinha estudado
comigo na FNFi, e ele, funcionário do estado, foi deslocado
pra lá pra nos ajudar. E aí eu sei que a gente, em outubro
de 73, que foi a morte do seu tio, não me lembro o dia [27],
sei que o Romildo: “Abre aí!”. Fomos abrindo, mostrando
pra imprensa, a entrada e saída dos livros que a gente ia
pesquisar, e aí abrimos em outubro de 73, aí nós vimos:
um homem desconhecido, um homem desconhecido,
um homem desconhecido e uma mulher (Ranúsia Alves
Rodrigues)... [...] Aí a gente olhou de onde veio: uma praça
em Jacarepaguá [Praça Sentinela] [...]. Aí o Romildo: “São
Inauguração do Memorial do Cemitério de Ricardo de
Albuquerque. Foto: Tiago Régis
eles! Cecília, encontrei meu irmão! São eles!”. Eu disse:
“Calma, Romildo, vamos pro cemitério de Ricardo de
Albuquerque, Romildo, calma”. Eu fico arrepiada quando me
lembro disso. Eu digo: “Calma, a imprensa tá aí, e a gente não sabe, vamos voltar amanhã de manhã pra cá”.
Não falamos nada! Imagina o seu pai se segurando diante da imprensa e dando declaração e não falando
nada. No dia seguinte, fomos pra lá... Os quatro estavam lá, os quatro que a gente encontrou. Vitorino Alves
Moitinho, Ramires, o terceiro nome não me lembro [Almir] e a Ranúsia. Os quatro enterrados em Ricardo
de Albuquerque. E aí começamos a pesquisar fotografias... porque a gente sabia que tinha no Carlos Éboli
perícia do local. Aí a gente começou a pegar todos esses que a gente sabia, a gente fez todo um trabalho,
seu pai nos ajudou muito nisso, de levantar, tanto quem tinha sido desaparecido como morto, cujos os
restos mortais não tinham sido entregues à família. Aí fizemos todo um levantamento. Ano tal, mês tal, dia,
ou período, se a gente não soubesse o dia exato da morte... Aí em cima desse levantamento, nós fomos
primeiro para os livros de entrada e saída, que é o mesmo. Um livro enorme... e depois pedi as fotos. Seu pai
reconheceu o seu tio, carbonizado. [...] A Ranúsia confirmava inclusive a roupa dela... A Ranúsia está inteira,
só os outros três [carbonizados], o Almir Custódio de Lima. E aí, em cima disso, a gente foi pegando... fomos
identificando etc. E depois, com essa documentação, quando envolvia médico legista, a gente encaminhou
paro Conselho Regional de Medicina, pedimos investigações. E aí conseguimos contatos com o pessoal dos
Estados Unidos, que indicou um grupo de pesquisa de identificação – Equipe Argentina de Antropologia
Forense. Eles vieram aqui e ensinaram a gente como fazer exumações. Conseguimos uma antropóloga da
UERJ [Universidade Estadual do Rio de Janeiro], e dois médicos que peitaram fazer isso, foram ameaçados.
Um de Barra do Piraí e uma moça de Macaé. Eles vinham pra cá, o Nilo Batista inclusive pagava a passagem,
porque a gente não tinha um tostão. Eles não ganhavam nada, e ensinaram eles a fazer a exumação. A
equipe ficou aqui uma semana pra mostrar... Só que aqueles ossos estavam todos misturados. É diferente
de Perus [distrito na zona noroeste da cidade de São Paulo]. No cemitério de Perus, estavam condicionados
em sacos, separados. Aqui não, como as ossadas tinham vindo de um ossário geral, abriu-se essa vala – que
a gente diz que é clandestina porque ela não consta. A gente para descobrir essa vala, eu, Romildo, Morais
e Cléia fomos... Eu e Romildo fomos, ele era irmão e eu era “mulher” de Romildo. Falamos que estávamos
procurando um irmão que tinha vindo do nordeste naquela época e que nunca mais... que a gente achava
que poderia ter sido enterrado como indigente e tal... Contamos o maior papo-furado. Eu lembro que entrei
no cemitério a primeira vez e falei: “Romildo, nós vamos botar pra “foder” aqui! Vamos trazer a imprensa
pra cá!”. E aí fomos conversar com o coveiro mais antigo... Foi um trabalho de detetive que a gente fez. E aí
conseguimos com o coveiro mais antigo: “Mas tem uma vala, os ossos foram retirados do ossário geral no
ano tal... Não lembro mais, está registrado”. E foi aberta uma vala. Aí pedimos pra ele ir lá, só que tinham
gavetas em cima! Os caras tinham colocado gavetas em cima da vala. Aí quando a gente conseguiu, via Nilo
Batista, que a vala fosse aberta, a Santa Casa ficou “puta”. Porque eles tiveram que tirar aquelas gavetas –
pedir autorização das famílias, mostrando que aquela vala era clandestina mesmo. [...] Eu lembro que um
dos funcionários da Santa Casa: “Que pena que não tinha crematório naquela época”... A gente ouviu. Aí o
Marcello Alencar, que era governador na época, foi pra lá, tirar os louros, os dividendos políticos dele... Eu sei
que a gente acabou, em cima da pesquisa que a gente fez no IML, é que a gente descobriu a vala de Ricardo
de Albuquerque. Aí a gente descobriu que Ricardo de Albuquerque tinha o documento: quatorze militantes
políticos enterrados como indigentes ali, sendo que dois deles eram desaparecidos, o Vitorino e o Ramires.
[...] Cerca de 2100 ossadas. [...] Aí a gente retirou essas ossadas todas, passamos pela delegacia, tivemos que
registrar tudo. E levamos para o Hospital Geral de Bonsucesso. O pessoal do CREMERJ era muito aliado nosso,
na época... PCB, um pessoal muito aliado nosso, e eles conseguiram com um diretor do hospital, um antigo
necrotério, que não era mais usado. E colocamos lá as ossadas pra poder trabalhar lá com a equipe argentina
de antropologia forense. E aí eles começaram a iniciar os trabalhos, o pessoal continuou trabalhando... meses
depois eles voltaram e disseram: “Não tem condições, nem com exame de DNA tem condições porque são
mais de 2.100 ossadas”. A gente tirou parte, talvez um terço... e esses ossos estão ainda hoje no Hospital
Geral de Bonsucesso. [...] Esperando que a gente tenha direito pra botar... A gente abriu um processo junto
ao Ministério Público, que a Santa Casa de Misericórdia não queria que a gente fizesse nada ali. A gente teve
que entrar com um processo, teu pai inclusive foi com a gente lá. Pedimos ao Eliomar uma coisa bem simples,
pra condicionar todos aqueles ossos e preservar a vala, aquele local ali, pra que nada fosse construído em
cima, como estava antes e como uma lembrança dos mais de dois mil indigentes, sendo que quatorze deles
são presos políticos: botar uma plaquinha lá, não sei o que...”
Inauguração do Memorial do Cemitério de Ricardo de Albuquerque. Foto: Tiago Régis
Biografias7
Almir Custódio De Lima | PCBR [1950 – 1973]
Nasceu no dia 24 de maio de 1950, em Recife, Pernambuco, filho de João Custódio de Lima e
Maria de Lourdes Custódio de Lima. Estudante secundarista da Escola Técnica Federal de Pernambuco. No Rio de Janeiro trabalhou como operário metalúrgico da ALUFERCO.
O documento de informação do Ministério da Aeronáutica de 22 de novembro de 1973, de n°
575, encontrado no arquivo do antigo DOPS/SP, diz: “Dia 27 de outubro de 1973, em tiroteio com
elementos dos órgãos de segurança da Guanabara, foram mortos os seguintes militantes do PCBR: Ranúsia Alves
Rodrigues, Ramirez Maranhão do Vale, Almir Custódio de Lima e Vitorino Alves Moitinho.” Esse documento desmente, portanto, a versão oficial daquela época de que haviam sido encontrados num carro em chamas, provavelmente
como resultado de briga entre quadrilhas, permitindo identificar dois desaparecidos Ramirez e Vitorino.
O corpo de Almir entrou no IML/RJ com a Guia n° 17 do DOPS como desconhecido, carbonizado, sendo necropsiado
pelos Drs. Hélder Machado Paupério e Roberto Blanco dos Santos, em 28 de outubro de 1973. O óbito de Almir, de
n° 17.412, é de um homem desconhecido, tendo como causa mortis carbonização, sendo declarante José Severino
Teixeira. Almir foi enterrado como indigente no Cemitério Ricardo de Albuquerque, em 31 de dezembro de 1973,
na sepultura n° 29.230, quadra 23.
Em 02 de abril de 1979, seus restos mortais foram para um ossário geral e, em 1980/81, foram colocados em uma
vala clandestina nesse Cemitério.
7 Estas biografias constam no sítio eletrônico do GTNM/RJ. Disponível em <http://testes.ideiatrip.com.br/gtnm/jornal/
gtnm_78/projeto_memoria.html>
Getulio D’Oliveira Cabral | PCBR [1942 – 1972]
Nasceu em 4 de abril de 1942, em Espera Feliz, Minas Gerais. Filho de Manoel D’Oliveira e Lindrosina
Cabral de Souza. Casou-se com Maria de Lourdes, com quem teve dois filhos. Ainda muito jovem
iniciou sua militância na União da Juventude Comunista. Mais tarde incorporou-se ao Centro PróMelhoramentos de Caxias, filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos onde participou das lutas de sua
categoria profissional e foi escriturário da Fábrica Nacional de Motores (FNM). Dirigente regional do
PCB e, posteriormente, dirigente nacional do PCBR.
Morto sob torturas no dia 29 de dezembro de 1972, aos 31 anos, no Doi-Codi/RJ. Os Relatórios dos Ministérios da
Marinha e da Aeronáutica dizem que “faleceu dia 29 de dezembro de 1972, no Rio de Janeiro em tiroteio com agentes de segurança...” O relatório da Anistia Internacional diz que ele foi morto e colocado em um carro incendiado
– sendo seu corpo parcialmente carbonizado.
O corpo de Getúlio entrou no IML, em 30 de dezembro de 1972, pela Guia n° 11 do DOPS/RJ. Seu óbito, de n°
132.011, firmado pelo Dr. Roberto Blanco dos Santos, teve como declarante José Severino Teixeira. No verso desse
documento, manuscrita, há a seguinte frase: “Inimigo da Pátria (Terrorista)”. Foi enterrado como indigente, apesar
de estar com seu nome completo, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, em 06 de fevereiro de 1973, na cova
22.702, quadra 21. Em 20 de março de 1978 seus restos mortais foram transferidos para o ossário geral e, em
1980/1981, para uma vala clandestina, junto com mais de 2.000 ossadas de indigentes.
José Bartolomeu Rodrigues De Souza | PCBR [1949 – 1972]
Estudante secundarista, natural de Pernambuco, filho de José da Costa Lima e Nilsa de Souza Lima.
Morto sob torturas no Doi-Codi/RJ em 29 de dezembro de 1972, aos 23 anos. O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que, “no dia 29 de dezembro de 1972, no Grajaú/RJ, no interior de um
fusca roubado, ao ser abordado pelas equipes de segurança, travou intenso tiroteio, resultando em
sua morte.”
Seu corpo entrou no IML/RJ, em 30 de dezembro de 1972, com a Guia n° 13 do DOPS/RJ e a certidão
de óbito, de n° 131.986, foi registrada como de um desconhecido, sendo firmada pelo Dr. Roberto Blanco dos Santos, tendo como declarante José Severino Teixeira. No verso desse documento, há uma frase manuscrita: “Inimigo
da Pátria (Terrorista)”.
Há também laudo (Ocorrência n° 988/72) e fotos de perícia de local (n° 7645/72) encontrados no Instituto de Criminalística Carlos Éboli/RJ. As fotos mostram o corpo de José Bartolomeu totalmente carbonizado dentro do Volkswagen incendiado, placa GB/EB-3890.
Foi enterrado como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ), em 06 de fevereiro de 1973, na cova
n° 22.704, quadra 21. Em 20 de março de 1978, seus restos mortais foram transferidos para o ossário geral e, em
1980/1981, foram para a vala clandestina, junto com cerca de 2.000 ossadas de indigentes.
José Gomes Teixeira | MR8 [1941 – 1971]
Casado, teve cinco filhos. Ex-marítimo e funcionário da Prefeitura de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro.
Foi preso em 11 de junho de 1971, pelo CISA, onde foi torturado e visto pelo seu cunhado, Rubens Luiz da Silva, em
15 de junho, quando, ainda preso, foi levado à sua casa.
Morto aos 30 anos de idade no Rio de Janeiro, em 23 de junho de 1971, às 08h horas, no Depósito de Presos da
Base Aérea do Galeão. Deu entrada no IML com a Guia n° 109, da 37ª D.P. O exame necroscópico foi assinado pelos
Drs. Olympio Pereira da Silva e Ivan Nogueira Bastos que confirmam a falsa versão da repressão de suicídio por enforcamento.
Foram encontrados laudo (Ocorrência n° 461/71) e fotos de perícia de local (ICE n° 3.156/71) no Instituto Carlos
Éboli/RJ que mostram José enforcado em um lençol em sua cela. No arquivo do DOPS/RJ, consta o documento do
CISA de n° 407, de 02 de julho de 1971, com um longo depoimento de José, logo após sua prisão. Em nota oficial dos
órgãos de segurança, datada de 23 de junho de 1971, é informada a morte de José Gomes por suicídio.
A Certidão de óbito de n° 739 teve como declarante José Severino Teixeira e, apesar de nome e endereço completos,
José Gomes foi enterrado como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ), em 23 de junho de 1971, na
cova 21.112, quadra 16. Em 15 de julho de 1976, seus restos mortais foram transferidos para o ossário geral e, em
1980/1981, foram para a vala clandestina descoberta em Ricardo de Albuquerque.
José Raimundo da Costa | VPR [1938 – 1971]
Ex-sargento da Marinha participou junto com Carlos Lamarca e outros da Guerrilha no Vale do Ribeira (SP). José Raimundo era perseguido, não só por ser dirigente da VPR, como também por sua
participação no movimento dos marinheiros em 1964.
Morto aos 32 anos de idade, no Rio de Janeiro, em 05 de agosto de 1971, após ter sido preso e torturado no Doi-Codi/RJ. Respondeu a alguns processos e estava com prisão preventiva decretada pela
2ª Auditoria da 2ª Região Militar.
Seu corpo foi encontrado em terreno baldio na Rua Otacílio Nunes, em frente ao n° 80, no Bairro de Pilares (RJ).
Preso em São Paulo e trazido para o Rio de Janeiro e, embora estivesse usando o nome de Odwaldo Clóvis da Silva, o CIE informou ao DOPS/RJ que se tratava de José Raimundo da Costa. Em documento do arquivo do DOPS/
RJ, o Comissário Jayme Nascimento, do citado órgão informou que às “07h pelo telefone, o Cel. Sotero, Oficial de
Permanência do CIE, comunicou que, em uma travessa próxima à Rua Otacílio Nunes, em Pilares, havia sido morto
um elemento subversivo de nome José Raimundo da Costa, quando reagiu à prisão numa diligência efetuada por
elementos pertencentes ao Serviço de Segurança do Exército.”
Inês Etienne Romeu, em seu Relatório sobre sua prisão na “Casa da Morte”, em Petrópolis, afirma que, em 04 de
agosto de 1971, ouviu o torturador Laurindo informar aos torturadores, Dr. Bruno e Dr. César, que José Raimundo
havia sido preso numa barreira. Posteriormente, outro torturador, Dr. Pepe, lhe disse que José Raimundo foi morto
vinte e quatro horas após sua prisão, num “teatrinho” montado numa rua do Rio de Janeiro.
O corpo de José Raimundo entrou no IML/RJ no mesmo dia de sua morte, pela Guia n° 59, da 24ª D.P., com o nome
de Odwaldo Clóvis da Silva, sendo necropsiado pelos Drs. Hygino de Carvalho Hércules e Ivan Nogueira Bastos, que
confirmam a falsa versão oficial da repressão de que foi morto em tiroteio. Foram, ainda, encontrados laudo (Ocorrência n° 596/71) e fotos de perícia do local (ICE n° 3.916/71).
Apesar de ser identificado, José Raimundo foi enterrado como indigente no Cemitério de Ricardo Albuquerque (RJ),
em 09 de setembro de 1971, na cova 23.538, quadra 16. No livro de saída de indigentes do IML, ao lado de seu
nome, está manuscrita a palavra: “Subversivo”.
Em 01 de outubro de 1979 seus restos mortais foram transferidos para um ossário geral e, em 1980/1981, foram
levados para a vala clandestina.
José Silton Pinheiro | PCBR [1948 – 1972]
Nasceu em 31 de maio de 1948, no Rio Grande do Norte, filho de Milton Gomes Pinheiro e Severina
Gomes Pinheiro. Foi morto aos 24 anos no Doi-Codi/RJ. Seu corpo foi carbonizado dentro de um
Volkswagen, na Rua Grajaú, n° 321 (RJ), após ter sido preso e torturado. A repressão montou um
“teatrinho” para justificar a versão de morte em tiroteio ao reagir à prisão. O corpo de José Silton
entrou no IML/RJ como desconhecido, em 30 de dezembro de 1972, com a guia n° 12 do DOPS.
Na certidão de óbito de n° 131.985 é dado como desconhecido, assinando como declarante José Severino Teixeira e firmada pelo Dr. Roberto Blanco dos Santos. No verso de seu óbito há a seguinte frase manuscrita:
“Inimigo da Pátria (Terrorista)”.
Há ainda laudo (Ocorrência n° 988/72) e fotos de perícia de local (n° 7645/72) encontrados no Instituto Criminal
Carlos Éboli/RJ. As fotos mostram o corpo de José Silton totalmente carbonizado, dentro do Volkswagen incendiado,
placa GB/EB-3890.
O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que “No dia 29 de dezembro de 1972, estando em Volkswagen no
Grajaú/RJ com seu grupo de terroristas, ao ser abordado pelas equipes de agentes de segurança, abriu fogo, originando-se intenso tiroteio, tendo o carro se incendiado e o nominado falecido no local.
Foi enterrado em 06 de fevereiro de 1973, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ), na cova n° 22.706, quadra
21. Em 20 de março de 1978, seus restos mortais foram transferidos para um ossário geral e, em 1980/1981, foram
para uma vala clandestina, junto com cerca de 2.000 ossadas de indigentes.
Lourdes Maria Wanderley Pontes | PCBR [1943 – 1972]
Nasceu em Olinda, Pernambuco, em 31 de março de 1943, filha de Antonio Araújo Neves e Tereza
Wanderley Neves. Estudou o primário e o ginásio em Recife, não chegando a concluir seus estudos
por seu envolvimento político a partir de 1968. Em 23 de fevereiro de 1969, casou-se com Paulo Pontes. Devido à repressão política, mudou-se para Natal, RN, ali vivendo por algum tempo. Novamente
perseguidos, em fevereiro de 1970, foram para Salvador, Bahia. No mesmo ano, Paulo foi preso e
Lourdes mudou-se para o Rio de Janeiro.
Morta aos 30 anos de idade, no Rio de Janeiro, em circunstâncias ainda não esclarecidas, em 29 de dezembro de
1972, junto com Valdir Sales Saboya. Segundo a repressão, teriam sido mortos no “aparelho” da Rua Sargento Valder
Xavier de Lima, n° 12, fundos.
O corpo de Lourdes entrou no IML como Luciana Ribeiro de Almeida, pela Guia n° 08 do DOPS. Sua necrópsia foi feita, em 30 de dezembro de 1972, pelos Drs. Roberto Blanco dos Santos e Hélder Machado Paupério que confirmam
a versão oficial de morte em tiroteio. Seu óbito, de n° 142960, em nome de Luciana Ribeiro de Almeida, tem como
declarante José Severino Teixeira.
Laudo (ocorrência n° 986/72) e fotos de perícia de local (ICE n° 7643/72) mostram Lourdes nas dependências da
casa à Rua Valder Xavier de Lima. Interessante notar que, em algumas fotos, Lourdes está de relógio de pulso e em
outras não.
Foi enterrada como indigente no Cemitério Ricardo de Albuquerque (RJ), em 26 de fevereiro de 1973, na cova
n° 22.824, quadra 21. Em 10 de abril de 1978, seus restos mortais foram levados para um ossário geral e, em
1980/1981, para uma vala clandestina, junto com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.
Luiz Guilhardini | PCdoB [1920 – 1973]
Nasceu em 1920, na cidade de Santos, São Paulo. Operário naval, ferreiro e, posteriormente, jornalista. Casado, tinha um filho adotivo, Gino, muito querido por ele.
Em 1945, ainda na cidade de Santos, entrou para o Partido Comunista do Brasil (PCB) e atuava junto
aos portuários. No ano de 1953 mudou-se para o Rio de Janeiro, tornando-se membro do Comitê
Regional dos Marítimos. Foi um dos reorganizadores do PC do B, após as divergências com o PCB e,
em 1962, ingressou no Comitê Central.
Foi morto aos 53 anos de idade no Rio de Janeiro, logo após a sua prisão. Seu cadáver foi encontrado na Rua Girapimirim com Turvânia (RJ). Sua esposa, Orandina Guilhardini, narra que, em 04 de janeiro de 1973, sua casa à Rua
Guararema n° 62 (RJ) foi invadida por treze homens armados e que ali mesmo começaram as torturas. Ela, seu
filho de 8 anos e Luiz Guilhardini foram colocados em cômodos separados e espancados. Levados encapuzados em
viaturas diferentes para um local que se presume fosse o Doi-Codi/RJ. Seu filho assistiu ao pai sendo torturado, ao
mesmo tempo em que também sofria sevícias.
No mesmo dia, Orandina e seu filho foram levados para um quartel do Exército, que supõe-se ficasse em São Cristóvão. Ali permaneceram três dias em uma cela exposta ao sol, o que provocou desidratação na criança. Esta foi levada
para o antigo SAM (Serviço de Assistência ao Menor), no bairro de Quintino. Orandina era interrogada diariamente
e, cerca de nove dias depois de sua prisão, soube por um dos torturadores que Luiz Guilhardini estava morto. “Seu
homem bancou o durão e foi pro inferno e você também está a caminho para lhe fazer companhia”, lhe foi dito em
um dos interrogatórios.
Somente foi liberada três meses depois, quando conseguiu encontrar seu filho. O corpo de Guilhardini entrou no
IML em 05 de janeiro de 1973, pela Guia n° 14 do Dops, como desconhecido, descrito apenas como “morto quando
reagiu às Forças de Segurança”. Sua necrópsia, realizada no mesmo dia como desconhecido, é firmada pelos Drs.
Salim Raphael Balassiano e Rubens Pedro Macuco Janini que confirmam a falsa versão de morte em tiroteio, apesar
de descreverem que “o membro superior direito exibe sinais de lesões violentas”. A certidão de óbito n° 17.117,
estranhamente coloca sua morte em 01 de janeiro de 1973 e é assinada pelo 2° legista Rubens Pedro Macuco Janini
e não pelo 1° legista, como ocorre normalmente. Tem como declarante José Severino Teixeira.
Seu corpo foi reconhecido oficialmente, no mesmo dia, pelo Serviço de Identificação do Instituto Félix Pacheco/RJ e,
no dia seguinte, foi enterrado com seu próprio nome, como indigente, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ)
na cova 22.708, quadra 21. Em 20 de março de 1978, seus restos mortais foram transferidos para um ossário geral
e, em 1980/81, enterrados numa vala clandestina com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.
Mario De Souza Prata | MR8 [1945 – 1971]
Estudante de Engenharia na UFRJ, natural do Rio de Janeiro. Morto aos 26 anos de idade, no Rio de
Janeiro, em 2 de abril de 1971, baleado à Rua Niquelândia, n° 23, bairro de Campo Grande (RJ), onde
ficou ferida Marilene Vilas Boas Pinto.
O corpo de Mário entrou no IML/RJ em 03 de abril de 1971, pela Guia n° 70, da 35ª D.P., “como desconhecido, morto em tiroteio com as forças de segurança, às 20:45 horas do dia 02 de abril de 1971.”
Sua identificação foi feita em 06 de abril pelo Instituto Pereira Faustino da Secretaria de Segurança
Pública e, assim mesmo, em sua certidão de óbito consta como desconhecido. Foi firmado pelo Dr. José Guilherme
Figueiredo, tendo como declarante José Severino Teixeira.
Foi enterrado como indigente, em 23 de abril de 1971, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na cova n° 20.608,
quadra 16. Entretanto, desde sua entrada no IML/RJ, já se sabia de quem se tratava, pois ao lado do n° de sua Guia
como desconhecido está a marca “sub”. Não se tem a data de quando seus restos mortais foram para o ossário geral,
mas presume-se que estejam na vala clandestina, junto com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.
Em 26 de agosto de 2004, a Comissão Especial da Lei 9140/95 reconheceu a responsabilidade da União no seu assassinato: Processos nºs. 081/02 e 048/96.
Merival Araújo | ALN [1949 – 1973]
Nasceu no Mato Grosso, em 04 de janeiro de 1949, filho de Domingos de Araújo e Mery Menezes.
Estudante, foi preso no dia 7 de maio de 1973, em um apartamento em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, por agentes do Doi-Codi/RJ, onde foi torturado até a morte.
A prisão de Merival pode ser testemunhada pelos moradores do prédio, contrariando a versão oficial, que repete a farsa da morte em tiroteio ao tentar fugir à prisão. Foi morto aos 24 anos de idade,
no dia 14 de maio de 1973. Seu corpo foi encontrado na Praça Tabatinga, n° 4281, próximo a um
poste da Light (RJ) e deu entrada no IML/RJ pela guia N°16 do DOPS/RJ, como desconhecido.
É identificado pelo Instituto Félix Pacheco, logo após o exame necroscópio realizado pelos drs. Roberto Blanco dos
Santos e Hélder Machado Paupério que descrevem algumas escoriações em seu corpo: no abdômem, no membro
superior esquerdo (face posterior do cotovelo e dorsal da mão) e membro inferior esquerdo (joelhos). Entretanto,
apesar disso, confirmam a versão oficial. O laudo, ao descrever as vestes de Merival, observa que: “trajava calça de
tergal cinza-azulada, trazendo preso ao cós um cordão à guisa de cinto...”. As fotos de perícia de local mostram claras
marcas de torturas. Em algumas partes chegam a faltar pedaços, como nos braços e pernas. Essas violências não são
descritas na necrópsia.
Seu atestado de óbito de n° 133.270 teve como declarante José Severino Teixeira e informa que foi sepultado como
indigente, em 24 de maio de 1973, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na cova N° 23.274, quadra 21. Em 28
de junho de 1978, seus restos mortais foram para um ossário geral e, em 1980/1981, para uma vala clandestina
junto com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.
Ramires Maranhão Do Valle | PCBR [1950 – 1973]
Nasceu em 02 de novembro de1950, em Recife, Pernambuco, filho de Francisco Clóvis Marques do
Valle e Agrícola Maranhão do Valle. Desaparecido desde 1973, quando tinha 23 anos de idade. Estudante secundarista militou no movimento estudantil pernambucano a partir de 1967.
Em novembro de 1973, seu pai recebeu um telefonema do Rio informando a morte de Ramires
durante metralhamento e explosão de um carro no subúrbio de Jacarepaguá, em 27 de outubro de
1973. Seria um dos quatro ocupantes do carro incendiado. Em matéria publicada em 28 de janeiro
de 1979, pelo jornal “Folha de São Paulo”, um general com responsabilidade dentro do aparato repressivo admitia
a morte de Ramires e de outras 11 pessoas desaparecidas.
No Relatório do Ministério do Exército consta que, “em 23 de outubro de 1973, foi morto juntamente com mais dois
companheiros em tiroteio com as forças de segurança, no Rio de Janeiro”. No Relatório do Ministério da Marinha
consta que “teria morrido juntamente com outros subversivos, durante operação não definida.”
Ramires Maranhão do Vale deu entrada no IML/RJ como desconhecido carbonizado, em 27 de outubro de 1973, vindo da Praça Sentinela, em Jacarepaguá (RJ), com a guia n° 18 do DOPS/RJ. Saiu como indigente, em 27 de dezembro
de 1973, sendo enterrado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na sepultura n° 29.370, quadra 23.
Em 1980, seus restos mortais foram colocados em uma vala clandestina nesse Cemitério.
Ranúsia Alves Rodrigues | PCBR [1945 – 1973]
Nasceu em Garanhuns, Pernambuco, filha de Moisés Rodrigues Vilela e Áurea Alves Siqueira. Já na
clandestinidade, teve uma filha, Vanúsia, que mora em Recife. Estudante de enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco foi presa em Ibiúna/SP, quando participava do XXX Congresso da UNE,
em 1968, e expulsa da Escola pelo Decreto 477/69.
Assassinada em 28 de outubro de 1973, a única militante daquele episódio que não foi carbonizada
na Praça Sentinela, em Jacarepaguá (RJ). O I Exército reconheceu sua morte, mas foi enterrada como indigente e
negaram a certidão de óbito à família. Pela informação n° 2805, do I Exército, de 29 de outubro de 1973, encontrada
no Arquivo do DOPS/RJ, Ranúsia foi presa na manhã do dia 27 de outubro de 1973. Desde o dia 8, ela e seus três
companheiros estavam sendo seguidos. Contém, inclusive, depoimento de Ranúsia na prisão. O documento fala
da farta documentação encontrada com Ranúsia e da morte dos quatro militantes citando seus nomes completos.
O corpo de Ranúsia entrou no IML/RJ pela guia n° 20 do DOPS e a necropsia, feita pelos Drs. Hélder Machado Paupério e Roberto Blanco dos Santos, confirma a versão oficial da repressão de que foi morta em tiroteio ao reagir à
prisão. Na certidão de óbito de n° 17.414 está como desconhecida, tendo como declarante José Severino Teixeira.
Laudo e fotos de perícia de local (Ocorrência n° 947/73 e ICE n° 6995/73) mostram Ranúsia metralhada, tendo ao
fundo o Volkswagen incendiado, onde estavam carbonizados Ramires, Vitorino e Almir.
Foi enterrada como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ), em 31 de dezembro de 73, na cova n°
22.706, quadra 21. Em 02 de abril de 1979 seus restos mortais foram para um ossário geral e, em 1980/1981 para
uma vala clandestina com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.
Vitorino Alves Moitinho | PCBR [1949 – 1973]
Nasceu em 3 de janeiro de 1949, na Bahia, filho de Isaú Lopes Moitinho e Yolinda Alves Moitinho. Desaparecido
desde 1973, aos 24 anos de idade. Estudante trabalhou como bancário e operário. Respondeu a alguns processos
de natureza política.
Era um dos quatro ocupantes do carro incendiado em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, por agentes do Doi/Codi-RJ,
conforme descrito na nota referente à morte de Ranúsia Alves. O cadáver de Vitorino Alves Moitinho deu entrada
no IML/RJ como desconhecido carbonizado, em 27 de outubro de 1973, vindo da Praça Sentinela, em Jacarepaguá,
com a guia n° 19 do DOPS/RJ.
O Relatório do Ministério da Marinha diz que “teria morrido juntamente com outros subversivos, durante operação não definida.” Não há confirmação de sua morte no Relatório do Ministério do Exército, mas o da Aeronáutica,
afirma que Vitorino foi “morto em 27 de outubro de 1973, num carro, em Jacarepaguá, juntamente com outros três
militantes do PCBR.”
Wilton Ferreira | VAR-PALMARES [? – 1972]
Nasceu no Rio de Janeiro e foi morto no dia 29 de março de 1972, na mesma cidade.
O corpo de Wilton entrou no IML/RJ, como desconhecido, pela Guia n° 04 do DOPS, em 30 de março de 1972 e,
segundo versão oficial, metralhado em sua casa à Rua Silva Vale, n° 55, Bairro de Cavalcante (RJ), em 29 de março de
1972. O óbito de n° 16.686 é dado como desconhecido, tendo sido firmado pelo Dr. Valdecir Tagliari, que confirmou
a versão oficial e teve como declarante José Severino Teixeira.
No jornal “Correio da Manhã” de 06 de abril de 1972, na matéria “Terroristas morrem em Tiroteio: Quintino”, há
um trecho que informa: “A ação prosseguiu em diversos bairros da Guanabara, sendo localizada em Cavalcanti, à
Rua Silva Vale, n° 55, uma oficina mecânica da VAR-Palmares, onde morreu, reagindo à prisão, outro terrorista, cuja
identidade está ainda em exame” (sic). Entretanto, o documento datado de 30 de março de 1972 identifica, pelo Instituto Félix Pacheco, o corpo chegado ao IML, como Wilton Ferreira, apesar de ter sido enterrado como desconhecido, quase três meses depois. Fotos de perícia de local (n° 1883/72) realizadas pelo ICE mostram Wilton baleado.
Enterrado como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ), em 27 de junho de 1972 (quase três meses
após sua morte), na cova n° 24.604, quadra 19. Em 06 de janeiro de 1978 seus restos mortais foram para um ossário
geral e, em 1980/1981, para uma vala clandestina, com cerca de 2.000 ossadas de outros indigentes.
Vídeos
Inauguração do Memorial do Cemitério de Ricardo de Albuquerque 2
<https://www.youtube.com/watch?v=OcmNCoOwwRY>
Inauguração do Memorial do Cemitério de Ricardo de Albuquerque - Grupo Tortura Nunca Mais – RJ
<https://www.youtube.com/watch?v=ltYseGIU_zY>
Inauguração do Memorial do Cemitério de Ricardo de Albuquerque 7
<https://www.youtube.com/watch?v=DYLMLl9-Jxw>
Bibliografia consultada e indicada
Algumas Memórias Brasileiras: Cemitério de Ricardo de Albuquerque, Mortos e Desaparecidos Políticos
enterrados como indigentes
<http://www.torturanuncamais-rj.org.br/jornal/gtnm_76/cemiterio.html>
Ato Ecumênico e Inter-Religioso em Memória dos Mortos e Desaparecidos
<http://www.koinonia.org.br/comunicacao-noticias-detalhes.asp?cod=2001>
COSTA, Romulo de Oliveira. Práticas Culturais e a Urbe Carioca: a análise do
Memorial das Vítimas da Ditadura Militar no Cemitério de Ricardo de Albuquerque – Rio de Janeiro/
RJ. <http://www.simpurb2013.com.br/wp-content/uploads/2013/11/GT11_1503_Romulo.pdf>
GTNM inaugura Memorial para presos políticos assassinados durante a ditadura
<http://rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=973%3Agtnm-inauguramemorial-para-presos-pol%C3%ADticos-assassinados-durante-a-ditadura&Itemid=237>
História da vala clandestina do Cemitério de Ricardo de Albuquerque
<http://testes.ideiatrip.com.br/gtnm/jornal/gtnm_78/projeto_memoria.html>
Inauguração do Memorial no Cemitério de Ricardo de Albuquerque
<http://coletivorj.blogspot.com.br/2011/12/inauguracao-do-memorial-no-cemiterio-de.html>
Os Museus da Resistência
<http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=994>
VALLE, Carlos Beltrão do. A patrimonialização e a musealização de lugares de memória da ditadura de
1964 – O Memorial da Resistência de São Paulo / Carlos Beltrão do Valle, 2012.
439f.
14 militantes executados pelo regime militar são homenageados com memorial no Rio de Janeiro
<http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=63503>
Documento produzido em novembro de 2014 pelo pesquisador Tiago Régis.
Rua do Russel, 76, 5º Andar, Glória, Rio de Janeiro
[email protected]

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