biodanza e intenção - Associação Gaúcha de Biodanza

Transcrição

biodanza e intenção - Associação Gaúcha de Biodanza
INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION -IBF
ESCOLA DE BIODANZA SISTEMA ROLANDO TORO
DE BELO HORIZONTE
CURSO DE FORMAÇÃO DE
DOCENTES
BIODANZA E INTENÇÃO
Belo Horizonte, Minas Gerais
2006
Veruska Célia Gontijo Pereira
BIODANZA E INTENÇÃO
Monografia elaborada como requisito à
Titulação como Facilitador junto a
International Biocentric Foundation - IBF
Orientadora: Liliana Santos Viotti
Belo Horizonte
Junho/2006
AGRADECIMENTOS
Ao meu marido e parceiro, Marcelo, pelo apoio, o compartilhamento e a
oportunidade de vivência e construção nas nossas vidas, sobre o tema em
estudo.
Aos meus filhos Bernardo e Rafael pela oportunidade e chamada constante
ao meu crescimento e o aprender a viver.
À minha mãe Maria Aparecida pelas virtudes de força e acolhida que muito
contribuem e me lembram a todo o momento da continuidade da Vida.
À Noeme na sua qualidade de diretora, amiga e conselheira.
À Liliana Viotti, pelas qualidades dedicadas: amorosidade, abertura e
incentivadora das minhas iniciativas e do tema deste trabalho.
A todos meus alunos que especialmente me ajudam a sentir e perceber o
humano, me ajudando a crescer e a viver.
Ao Rolando Toro pela criação e desenvolvimento do sistema Biodanza.
À Vanessa, terapeuta, amiga, encantadora pela sua coerência e integridade
no viver e ao Euder Airon, médico e amigo em momentos muito preciosos.
A vida pela sua afetividade e beleza, pelos seus movimentos e convites.
- iii -
-
SUMÁRIO
A ESCOLHA DO TEMA
..........................................................................
5
APRESENTAÇÃO DO TEMA ........................................................................
7
ABORDAGEM HISTÓRICA ............................................................................
9
OUTRAS VISÕES SOBRE INTENÇÃO ............................................................
14
INTENÇÃO E BIODANZA ..........................................................................
22
Vivência e intenção ...............................................................
22
Consigna e intenção .............................................................
25
Movimento humano na Biodanza e intenção
28
.................
Aspectos fisiológicos na Biodanza e intenção ..................
31
RELATO DE EXPERIÊNCIA S ...........................................................................
38
Processo intenção e Biodanza
na minha experiência pessoal........................... 38
Observações do processo intenção e Biodanza
no grupo regular de trabalho ......................... 39
Observações da aplicabilidade do processo integrado
intenção e Biodanza no grupo regular........... 42
CONCLUSÃO ..................................................................................................
50
REFERÊNCIAS .............................................................................................
52
- iv -
-
A
ESCOLHA DO TEMA
Conheci a Biodanza num momento de muitos questionamentos. Sentia-me
curiosa e desassossegada, atrás de muitas respostas e com muitas pistas do
que poderia vir a ser o caminho de vida que me ajudasse a manter a
identificação comigo mesma. Entregava-me às vivências de “olhos fechados”
com plena confiança na escolha feita até então.
Percebia a partir daí, cada vivência de vida com muito sentido e certeza que
me faziam continuar: é como montar um quebra cabeça de cinco mil peças:
requer paciência, investigação, muita observação e atenção, disponibilidade
para si, às vezes divertido e muitas vezes desafiante.
Com mais clareza, posso dizer que vários ingredientes compuseram minhas
vivências da vida e da Biodanza, dois dos quais quero enfatizar: entrega e
comprometimento, com foco segundo minhas querências, nos meus atos ou
movimentos de vida e de saúde. Esta postura me permitia mais
disponibilidade, atenção e forte vinculação com os verdadeiros princípios de
saúde, bem estar e harmonia.
Percebia, a partir daí que a sabedoria está dentro e não fora e o que
fundamenta o nosso caminhar é a identificação e a preservação da chama do
desejo, o que faz os olhos brilharem, entendendo estes desejos aqueles que
nutrem, potencializam e conectam com a saúde e com o crescimento, enfim
com o ser.
Hoje posso dar um nome a esta força motriz: intenção – que se sustenta
num desejo intenso com a força e a sabedoria infinita de ser.
-5-
O tema Biodanza e intenção já estava escolhido há muito tempo. A pergunta
que ficava: como incluir este conceito na Biodanza, ou melhor, na dança da
vida? É neste contexto que arrisco discutir algumas descobertas e
percepções, experiências vividas com muita amorosidade e crescimento.
-6-
APRESENTAÇÃO
DO TEMA
Na física animista da idade média as almas organizavam o desenvolvimento
e o comportamento autônomo dos organismos e os motivavam por atração.
Assim, uma planta era atraída, a partir do estágio de semente, em direção à
forma da planta madura e assim dava-se forma à matéria da planta em
crescimento e a organizava de acordo com seus próprios fins. “As almas não
estavam fora da natureza” de acordo com Aristóteles e seus sucessores.
(SHELDRAKE, 1991, p. 88).
Na revolução científica do século XVII negaram-se os tradicionais atributos
da vida, a capacidade para o movimento espontâneo e/ou auto-organização.
As “almas” que animavam os corpos físicos de acordo com seus próprios
objetivos foram exorcizadas do mundo da física mecânica.
Com os fundadores da ciência mecanicista as almas foram expulsas da
natureza deixando apenas a matéria passiva em movimento atribuindo a
Deus todos os poderes ativos. O poder produtivo invisível inerente às
formas materiais era mais propriamente divino que físico, mais sobrenatural
que natural.
Quero, inicialmente, trazer como a física transcendeu progressivamente a
teoria mecanicista da natureza e a partir daí contribuições puderam ser
reunidas no sentido de compreendermos o poder divino interno, autoorganização de saúde e evolução inerente a todas as formas universais
presentes e ao próprio universo.
-7-
A partir daí discorreremos sobre: o poder da intenção e do movimento –
força interna motriz de atuação enquanto recurso facilitador de regulação,
preservação e continuidade desta ordem interna de saúde: orgânica,
existencial, individual e coletiva.
A Biodanza - “Dança da vida” - é um sistema de integração humana, de
renovação orgânica, de reeducação afetiva e de reaprendizagem das
funções originárias da vida.
A sua metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio de
recursos como a música, o canto, o movimento, situações de encontro e
comunicação em grupo. “Ela não propõe um modelo de comportamento: dá-se
a permissão para que cada indivíduo entrando em contato consigo mesmo
num processo de integração possa apresentar seu próprio potencial genético
de respostas vitais”. (ARANEDA, 2002, p. 33).
É neste contexto que quero localizar e discorrer sobre:
Consigna e intenção;
Vivência e intenção;
Movimento humano e intenção;
Aspectos fisiológicos e intenção;
Levantando prioritariamente, a seguinte construção enquanto hipótese em
estudo: a vivência em si tem o poder de deflagar intenções de saúde.
-8-
ABORDAGEM
HISTÓRICA
O universo inteiro estava preenchido por forças invisíveis muito mais
extensas do que os corpos materiais entre os quais atuavam. Por intermédio
destas forças, todos os corpos do universo estavam relacionados com todos
os outros corpos e de algum modo eram mantidos em equilíbrio.
Newton tornou possível o cálculo da magnitude das forças gravitacionais,
mas não explicou sua natureza. Acreditava firmemente que a própria
matéria não poderia ser a fonte destas forças a que deu o nome de atração
– atração gravitacional.
“É inconcebível que a matéria bruta inanimada possa sem a mediação de algo mais que
não é matéria operar sobre outra matéria e afetá -la, sem contato mútuo.....” E o
termo usado por ele – “atração” provocou:
“Se Newton não tivesse usado a palavra atração na sua admirável filosofia, todos em
nossa academia teriam aberto seus olhos para a luz; mas infelizmente, ele usou em
Londres uma palavra que em Paris era motivo de riso; e só por isso foi julgad o
adversamente – Voltaire, 1730” ( SHELDRAKE, 1991, p. 89).
Com Einstein esse misterioso poder de atração recebeu uma explicação em
termos de entidade física: campo gravitacional. O campo gravitacional de
Einstein contém a totalidade do mundo físico, ele inclui o espaço e o tempo.
Ele é espaço-tempo e suas propriedades geométricas são a causa dos
fenômenos gravitacionais.
Veio depois com a teoria dos campos, a introdução dos campos
eletromagnéticos. As várias teorias sobre o magnetismo ilustram como os
campos substituíram o entendimento das almas enquanto princípios
organizadores invisíveis.
-9-
Como participantes do processo de evolução do conceito acima, podemos
citar:
“Tales, séc. V a.c. – imãs eram animados, com o poder de movimentar a
matéria – força que se estendia ao redor da pedra – imã. Os imãs tinham
almas” (SHELDRAKE, 1991, p. 90). Surgiu o uso de agulhas magnéticas como
bússolas para navegação. Suspeitava-se que seu magnetismo estava de
alguma forma relacionado com a terra ou com os céus? ! Como se dava?
Perguntavam...
Pelegrinus, século XIII: dissertou sobre os pólos dos imãs fazendo uma
analogia com os meridianos que passam pelos pólos norte e sul da terra.
“Observou que a maneira como os imãs se dispunham e se atraiam, dependia
apenas da posição de seus pólos – “sede do poder magnético”. Mostrou que
pólos opostos se atraiam e polos iguais se repeliam. Descobriu que quando
um imã era dividido, os pedaços tornavam-se novos imãs com novos pólos”
(SHELDRAKE, 1991, p. 91) .
William Gilbert, 1600, fundador da moderna ciência do magnetismo -
a
própria terra era um imã gigantesco. A inclinação da agulha da bússola
mostrava que a influencia magnética vinha da terra e não do céu. Acreditava
que a potência magnética verdadeira da terra estava associada a sua forma
esférica e a sua rotação. “Descreveu cada imã como uma pedra animada, que
é parte e prole querida da mãe animada, a terra – mãe comum de todas as
coisas. Gilbert conjecturava que as forças magnéticas, de alguma maneira,
estavam relacionadas com a gravidade da terra, vendo a ambas como
aspectos da alma da terra” ” (SHELDRAKE, 1991, p. 92) .
- 10 -
”Michael Faraday, século XIX considerava os campos em termos de padrões
de forças considerando duas explicações possíveis para estes campos de
força: estados de um meio material sutil que podemos chamar de éter ou
eram estados do mero espaço. Ele ficou com esta última explicação” ”
(SHELDRAKE, 1991, p. 93) .
Em meados do séc. XIX foi sintetizado o conceito de energia, unificando
todos os conceitos de até então. A formulação de um conceito unificado de
energia permitiu o inter-relacionamento entre todos os tipos de força
observadas, de fluxo, de atividade e potencialidade. A partir daí, permitiuse inter-relações como energia e trabalho mecânico, energia potencial e
efetiva. “Wilheim Ostwald em 1890 alegava que não era a matéria, mas sim a
energia a única substância real na natureza. Alegação vista com suspeita
pela maioria dos físicos’ ” (SHELDRAKE, 1991, p. 94)
Foi Einstein que, no início do século XX, explicou os fenômenos
eletromagnéticos em termos de campos. Em sua teoria da relatividade, o
campo eletro-magnético permeia o espaço, mas é destituído de qualquer
base mecânica. É o meio onde ocorrem processos complexos e; como a
matéria, possui energia e momentum. Pode interagir com a matéria e trocar
com ela energia e momentum. Mas o campo é independente da matéria. Não
é um estado desta, mas do espaço. O campo gravitacional é um continnum de
espaço-tempo curvo nas vizinhanças da matéria e a gravitação é uma
conseqüência da curvatura do campo.
Na teoria quântica, entidades tais como prótons e elétrons são considerados
como pacotes de ondas ou quanta de vibração. Eles existem como vibrações
- 11 -
de campos materiais quânticos, com um tipo de campo para cada tipo de
partícula.
“Esses campos materiais são estados de espaço ou do vácuo. O vácuo não é vazio,
está repleto de energia e sofre flutuações espontâneas que podem criar novos quanta
a partir do nada. O vácuo não é inerte e nem destituído de características, mas é
vivo e vibrante em energia e em vitalidade - Paul Davies 1984”. ” (SHELDRAKE, 1991, p.
94)
O passo final veio, portanto, quando Einstein que por intermédio de sua
equação:
E= mc2
(onde E = energia, m = massa e c = velocidade da luz),
estabeleceu a equivalência entre massa e energia e o fato de que elas podem
se converter uma em outra.
O resultado é que, agora, pensa-se que toda a natureza se constitui de
campos e energia. Desde Decartes até 1927 os físicos viveram sob a ilusão
de que tudo se achava plenamente determinado e conseqüentemente
previsível. Com a teoria quântica e principalmente nos últimos vinte anos
tornou-se reconhecido que o indeterminismo é inerente em sistemas em
todos os níveis de complexidade. Os processos do universo não podem mais
serem modelados em termos da física ao velho estilo. Neste contexto,
sobressai-se a teoria do Caos. Uma espontaneidade inerente à vida foi
novamente reconhecida pela ciência. O futuro é aberto, se modelado
matematicamente, tem de sê-lo em termos de dinâmica caótica. Esse caos,
abertura, espontaneidade e essa liberdade da vida e da natureza fornecem
a matriz da criatividade evolutiva.
Uma das características mais surpreendentes do Universo, revelada pela
Cosmologia moderna, é o fato de que a maior parte da matéria que nele
- 12 -
existe é completamente desconhecida por nós – a chamada matéria escura.
Variam cerca de 90 a 99%. Sabemos sim dos seus efeitos gravitacionais,
mas pouco sobre suas propriedades e constituição. Sheldrake coloca: “é
como se a física tivesse descoberto o inconsciente. Assim como a mente
flutua na superfície do mar dos processos mentais inconscientes, também o
mundo físico conhecido flutua num oceano cósmico de matéria escura”. ”
(SHELDRAKE, 1991, p. 101)
Concluí-se daí que toda vida é evolutiva em si mesma. O cosmos se
assemelha a um grande organismo em desenvolvimento e a criatividade
evolutiva é inerente à própria vida.
- 13 -
OUTRAS
VISÕES SOBRE
INTENÇÃO
O que é intenção? No dicionário encontramos:
“Intenção [ do latim: intentione] :
1.ato de tender, intento, tenção.
2.Vontade, desejo, pensamento
3.Propósito, plano, deliberação:
minha intenção era sair logo que terminasse o trabalho.
4.Na literatura: o conjunto de motivos do autor ao escrever uma obra,
em oposição à obra realizada” ( HOLLANDA, 1985, p. 723).
Este conceito pode ser ampliado, tal como a evolução da física apresentada
anteriormente.
Embora não costumemos nos dar conta, o corpo, ou melhor, o organismo está
constantemente regulando a temperatura, a taxa de batimentos cardíacos,
nossas funções de auto-preservação e outras funções autônomas, ouvindo
suas próprias mensagens internas ou sabedoria. “A menor mudança em
qualquer das funções é registrada, de alguma forma, na consciência de nosso
sistema nervoso”. ” (CHOPRA, 1993, p. 106).
“A consciência é um campo e, enviando uma intenção para o interior deste
campo, muda-se o fluxo de informação biológica. Isto se registra como uma
leve sensação, intuição ou apenas uma maneira silenciosa de saber”. (CHOPRA,
1993, p. 107) .
Quando alguém começa a se afirmar ou ainda centrar-se sobre algum
processo, o resultado deste movimento é abrangente e holístico. O sistema
integrado mente-corpo reage a cada estímulo como reage a um evento
global; isto é, estimular uma célula, é estimular todas. Há um paralelo em
termos quânticos, já que uma reação em qualquer lugar do espaço-tempo,
- 14 -
passado, presente e futuro, causa uma modificação em todo o campo
quântico.
Sheldrake coloca sobre os campos morfogenéticos de natureza evolutiva
com as mesmas propriedades holísticas, invisíveis e de influência dos campos
quânticos da física. Assim, ele diz “quanto maior for a freqüência com que
um padrão de desenvolvimento é repetido, tanto maior será a probabilidade
de que ele venha a ser novamente adotado”. (SHELDRAKE, 1991, p. 115)
A partir daí ele trata do processo de ressonância mórfica:
“existe uma influência do semelhante sobre o semelhante através do espaço -tempo,
não havendo nestes casos interferências pela distância em que estão e nem tempo,
mas uma transf erência de informação. Indivíduos do passado influenciam os campos
mórficos dos indivíduos atuais” ( SHELDRAKE, 1991, p. 116).
Sheldrake nos seus escritos não diz destes processos como um processo de
informação energética, mas de regularidades governadas por hábitos
herdados por ressonância mórfica. Ele acrescenta:
“O organismo em desenvolvimento sintoniza os campos mórficos de sua
espécie e, desse modo, tem a sua disposição uma memória coletiva ou de
grupo onde colhe informações para esse desenvolvimento” (SHELDRAKE, 1991, p.
116).
Até onde esta sintonização de campos mórficos não pode também ser
entendida como um processo intencionado biológico de auto organização
daquele ser enquanto organismo e espécie?
O novo paradigma nos diz que a nossa realidade subjacente, o campo, é
contínua e assim sendo, está igualmente presente em todos os pontos no
- 15 -
espaço-tempo. Nossa consciência e cada intenção dela resultante estão
enredadas nesta continuidade. Isto significa que quando se tem um desejo,
na verdade, está-se enviando uma mensagem que alcança todo o campo, a
menor de suas intenções repercute em todo o universo quântico – o campo
tem o poder organizador de realizar naturalmente qualquer intenção. O
natural é ter todos os desejos satisfeitos considerando um estado de
consciência aberto, claro e receptivo.
“Uma intenção é um sinal enviado por você para o campo e o resultado que
você recebe do campo é a mais alta satisfação que pode ser enviada ao seu
sistema nervoso” (CHOPRA, 1985, p. 121) .
“A nossa intelig ência interior ou sabedoria tem em si, seja expressa na ordem
biológica – ordem material e na ordem energética – não manifesta, inerente e
anterior, o poder de organizar. Pode -se assim dizer que nossas intenções mais
profundas estão centradas no nosso orga nismo. Nossas necessidades mais
fundamentais: amor, compreensão, encorajamento, apoio e outras permeiam nossas
células. Muito dos desejos surgem e se derivam da proposta de nos potencializar e
nos encontrar enquanto ser, enquanto necessidades reais vincul adas ao
desenvolvimento dos nossos potenciais. Muitas vezes nos pegamos correndo atrás do
que o ego deseja, alienando nossas necessidades básicas e vitais” ( C HOPRA, 1985, p.
123).
Talvez a lição mais valiosa seja: a intenção procura naturalmente a sua
realização se deixada por sua conta ou se estamos entregues disponíveis ao
fluxo da vida.
Todas as nossas células buscam realizar-se através da
alegria, beleza, amor, prazer, estima, auto recriação e continuidade.
A atenção e intenção inserem-se no campo da consciência desencadeando a
reação adequada. Exemplo: minha intenção de dormir desencadeia uma
complexa série de processos bioquímicos e neurológicos me permitindo
relaxar e adormecer sob mecanismos naturais e orgânicos. Esta conexão
- 16 -
natural só se faz ao nível da inteligência. A intenção é
basicamente um
desejo e/ou necessidade e o sistema mente-corpo está ajustado para fazer
frente a todas as necessidades/desejos direta e espontaneamente.
Entendendo desejo como igual a de-sejo – aspecto que vem do ser. Tem
presente um refinamento e sintonização com o que vai satisfazer e evoluir
determinada qualificação do ser. Exemplo: tem o desejo de ser acolhido pelo
parceiro. Já necessidade refere-se a um aspecto mais primário, sem o
refinamento e a especificação. Exemplo: tenho necessidade de afeto. O que
estamos tratando é diferente dos desejos compulsivos que a programação
civilizada colaborou por embutir em nós. Assim sendo, a intenção é um
gatilho facilitador para uma transformação. Talvez a grande questão seja
como administrar a intenção: lidar com nossos desejos sem lutar
indevidamente com o meio ambiente, ou seja, considerar o fluxo natural da
vida parece uma questão importante.
Neste contexto, pede-se uma confiança nas nossas habilidades de lidar com
as questões que vierem. Ter uma intenção é significativo para se obter um
resultado.
Deepak
Chopra
traz
algumas
orientações
buscando
sintetizar
o
funcionamento do ato intencionado:
1.“Um resultado é pretendido.
2. A intenção é específica e definida : a pessoa tem CE RTEZA do que deseja
(desejar é um referencial do ser, de auto -organização).
3. A pessoa assume uma postura de não interferência” ( CHOPRA, 1985, p. 133). [Eu
acrescento de disponibilidade, receptividade ou melhor de entrega]
4. “A pessoa tem confiança. Acredita no seu poder pessoal e que os resultados
virão. No entanto, não há ansiedade quanto a este resultado (por exemplo, se
você ficar ansioso para dormir muito provavelmente não vai conseguir).
Preocupação, incerteza e dúvida são os três obstáculos básicos que nos impedem
de fazer uso eficiente do poder contido em cada intenção. A dúvida que vivemos
leva uma intenção de auto derrota que será computada pelo corpo como um
comando para cancelar seu próprio desejo
- 17 -
5. Há um feedback referencial envolvido no processo. Cada intenção realizada nos
ensina como proceder na intenção seguinte. O efeito é auto -reforçado quando o
resultado ocorre, confirma o poder da intenção ao nível da consciência, aumenta a
confiança e torna o sucesso mais forte.
6. Ao final do processo percebe mos que o resultado foi obtido de modo definido e
consciente e que se estende para além do indivíduo até uma realidade mais ampla
(“noção do campo”). O mundo material é uma expressão de uma inteligência não
manifesta e superior que responde aos desejos do homem” (CHOPRA, 1985, p.
133).
Uma descoberta e referência interessante a acrescentar foi a realizada
pela Dra Candice Pert, bióloga molecular e neurocientista, que nos fala de
um segundo sistema nervoso de base química, mais antigo, básico e mais
extenso que o sistema nervoso até então reconhecido (rede de neurônios
dos sistemas nervoso central e periférico).
“Este segundo sistema nervoso é formado por receptores – moléculas sensitivas
localizadas na membrana celular e por ligadores – moléculas que carr egam
informações sendo que cada receptor tem um ligador específico que corresponde a
ele. Quando um ligador se liga ao receptor correspondente produz neste uma
vibração pelo qual a informação trazida pelo ligador é transmitida para dentro da
célula, gerando nesta uma cadeia de reações bioquímicas. Estes processos que
ocorrem a nível celular podem traduzir -se em mudanças de comportamento e de
estados emocionais. Existem vários tipos de ligadores (por exemplo, os
neurotransmissores) mas, 95% deles são peptíde os que ligados aos receptores
correspondentes formam as chamadas moléculas de emoção ou substâncias
informativas, denomina Pert”. ( PILLA, mineo.)
Estes peptídeos se movem através do espaço extracelular do sangue e do
fluido cérebro-espinhal viajando longas distâncias assim como o sistema
endócrino com os hormônios.
Pert considera este sistema integrado como uma rede psicosomática de
informações ocorrendo simultaneamente no cérebro e todo o corpo e na qual
um constante fluxo de informações se move através de células, órgãos e
sistemas. “Esta rede inteligente é o corpo-mente que organiza e dirige
todos
os
sistemas
manifestando-se
em
emoções,
pensamentos
e
comportamentos. A partir daí a neurociência se desenvolveu para a atual
- 18 -
psiconeuroimunologia que percebe o corpo-mente como um todo integrado”
(PILLA, , mineo.) .
Portanto, todas as informações sensoriais que chegam ao nosso corpo são
transmitidas não só através do sistema nervoso cérebro-espinhal mas,
também e, principalmente, através deste segundo sistema nervoso. Estes
processos se dão inicialmente no nível inconsciente e é no nível celular que
as informações serão tratadas permanecendo inconscientes ou ascendendo à
consciência.
“A modificação que o ligador unido ao receptor (molécula da emoção ) gera na
membrana celular poderá facilitar ou bloquear o processo de transmissão, ou seja, a
informação que entra na célula pode ser armazenada e sua transmissão bloqueada
(permanecendo inconsciente) ou facilitada (ascendendo aos níveis conscientes).
Esta decisão dependerá da quantidade e qualidade de receptores existentes em cada
célula, fator que está relacionado as experiências de vida ocorridas desde o
nascimento até o momento presente, bem como, do que está sendo transmitido pelos
ligadores a cada momento.
Pert acrescenta: uma vez que tais mudanças bioquímicas podem manifestar em
emoções, pensamentos e comportamentos, vemos que estes estão intrinsicamente
entrelaçados com as sensações corporais”. ( PERT, 2000, acesso 2005,)
1
Estas descobertas corroboram hipóteses como a de que a comunicação
humana se faz através de pulsos vibratórios regidos pelo principio da
interação – uma vez que, através desta rede , qualquer informação sensorial
que atinja nosso corpo, provocará, através de vibrações (lembremos que é
_____________
1
– Site < www.ikosmos.com/wisdomeditions/essays/goldman01.htm
- 19 -
>
através de vibrações que o receptor transmite para a célula a informação
trazida pelo ligador), alterações celulares que poderão permanecer
inconscientes ou tornar-se conscientes.
É neste contexto que se deve considerar e compreender a atuação da
intenção enquanto linguagem sensorial, de vinculação com o desejo, com o
propósito de auto-organização e manutenção da saúde e da vida.
Intenção é o conteúdo de desejo. É a carga sensorial e energética do
contato, das relações, do movimento.
É o gatilho detonador de um processo que possibilita a movimentação, a
qualificação e a transformação da energia ao qual se propõe. Carrega em si a
intensidade, a força e o poder daquilo que é sentido, pensado e projetado de
uma maneira objetiva e direcionada.
“O trabalho de levar atenção, através da presença da respiração ou do
toque ou do próprio movimento que mobiliza a atenção permite que a
intenção possa atuar num encontro que cura”. (NASCIMENTO , 2003 , p. ?.)
A intenção, em si, é capaz de propiciar uma atenção natural, um estado de
presença, disponibilidade e o acesso a uma sabedoria de qual ação, atitude
se faz necessária a cada momento, definindo-se a relação, a comunicação, o
movimento. Ao intencionar, mobilizamos e disponibilizamos – consciente e
inconscientemente – todo nosso corpo/organismo numa determinada direção.
Pode-se dizer que é a força motriz da atuação, estimulação e facilitação
para transformar e requalificar o que se encontra fora de seu estado
- 20 -
natural de harmonia e saúde na vida. A intenção associada ao movimento e ao
corpo é o estimulo e a facilitação para que este processo aconteça.
As intenções nascem a partir do desejo e do sentimento vivido, a partir
deste desejo do que precisamos e queremos transformar e requalificar
conforme critério de vida e saúde.
Intencionar significa voltar todo nosso desejo e atenção em uma direção e
foco específico, encaminhando um determinado movimento.
A intenção é percebida enquanto linguagem sutil, sensorial e mental, uma
comunicação sutil que visa a transformação daquilo que se pretende. A
efetivação desta transformação se dá pela inteligência e sabedoria do
corpo.
- 21 -
INTENÇÃO
E
BIODANZA
Pretendo neste tópico Intenção e Biodanza, levantar alguns conceitos,
paralelos e associações, possibilidades de integração de conceitos que
convergem para o objetivo de integração, renovação e vinculação do ser com
a vida.
Vivência e intenção
Vivência é uma experiência vivida intensamente por um individuo no tempo
aqui e agora. É a sensação intensa do pulsar da vida em si no agora.
“Porta através da qual penetramos no puro espaço do ser, onde o tempo
deixa de existir e onde somos nós aqui e agora” (ARANEDA, 2002, p. 30)
Algumas características a destacar:
?? A vivência possui intensidade variável conforme o nível de conexão
consigo mesmo, a qualidade do estímulo que a gere e enfim o nível de
entrega e disponibilidade com que estamos.
“À medida que diminui a atividade de controle e vigilância, aumenta a
intensidade da vivência” (ARANEDA, 2002, p. 31) .
?? Possui uma dimensão cenestésica sugerindo ser uma via de acesso ao
inconsciente vital.
?? “....a vivência surge com espontaneidade e frescor, possui a qualidade do
original. A vivência não está sob o controle da consciência, pode ser
“evocada”, mas não dirigida pela vontade” (ARANEDA, 2002, p. 31) .
- 22 -
??
“A vivência constitui-se na experiência original de nós mesmos da nossa
identidade, anterior a qualquer elaboração simbólica ou racional”.
( ARANEDA, 2002, p. 31)
As vivências em Biodanza são integradoras, renovadoras e trazem em si
mesmas, a vinculação com o prazer, o afeto, o auto-regular-se, o ímpeto e a
alegria de viver, o criar e o recriar-se enfim, um convite ao movimento
natural de continuidade da vida.
A vivência desperta, acorda, sensibiliza, evoca necessidades, desejos,
impulsos naturais orgânicos que nutrem a vida, a partir de um processo de
integração da identidade e de expressão das potencialidades genéticas.
Levanto assim a seguinte construção: a vivência em si tem o poder de
deflagrar intenções de saúde.
A vivência, enquanto manifestação do ser que precede a consciência,
podendo esta ser imediata ou vir em outro momento, nos sensibiliza para
intenções de saúde e de auto-organização, bem estar e crescimento.
É uma proposta de reaprendizagem de estar no agora, de validar e se ocupar
do viver o espaço tempo aqui-agora. Vive-se a reaprendizagem da entrega e
a disponibilidade que talvez seja o precioso caminho de vinculação com o ser.
O que meu ser quer em verdade?
Onde quero viver? (meu ninho, meu chão restaurador),
Com quem quero viver? (a qualidade do relacionar nutritivo)
O que quero fazer? (fazer que permita crescimento afetivo).
- 23 -
Permite a nitidez, o movimento, o encaminhamento dos
desejos e
necessidades reais que permitem a integração do ser e do movimento de
vida.
O intencionar nasce de uma dimensão sutil, sensorial e orgânica despertada.
É original ao constituir-se em uma experiência própria – considerando a
sabedoria e inteligência do ser.
Alimentado pelas vivências percebe-se a própria vida ganhando várias
dimensões de presença, novas perspectivas do que vem a ser saúde,
coragem, desejo de realização e potencial criador. Cada intenção trazendo
suas propriedades de sensorialidade, sutileza, organicidade e vinculação à
sabedoria da vida, é auto reforçada à medida que confirmamos na existência
o que assim veio: cenestésico, visceral, sutilizado. Sem perder estas
propriedades, confirma-se a força de confiança e de
realização,
continuidade e presença com que se cria e recria a própria existência.
É a partir da e na vivência, sensória, visceral com suas funções
transformadoras via renovação celular, que somos despertados e iniciados
no processo de com ciência e com presença do movimento saudável da vida.
A vida se confirma, com confiança e credibilidade, a partir da manifestação
e materialização de desejos, interesses, perspectivas, valores, novas formas
de sensibilidade orientadas para a saúde.
A intenção, nascida do ser em busca de satisfação, integração e
desenvolvimento, precisa de entrega, confiança no potencial realizador,
confiança no movimento maior da vida para se fazer enquanto recurso
- 24 -
organizador e facilitador da transformação do que se encontra fora de seu
estado natural de harmonia e saúde.
Consigna e Intenção
Considerando o desenvolvimento de processos de saúde intencionados e a
Biodanza é importante salientar a grande função da Consigna – elemento na
Biodanza, facilitador, significativo e iniciático.
Trazendo alguns conceitos e caracterizações, a consigna é uma explicação e
orientação teórica, operacional, existencial e funcional (para que serve) de
um exercício.
“É o referencial no qual se estabelece a relação entre a estrutura de um
exercício e o seu objetivo” (MOURA ET AL., 1990).
Funciona clareando para o grupo os seus sentimentos e emoções, situando a
pessoa e o grupo no seu instante vivido, no seu momento existencial.
Quando afirmo ser a consigna facilitadora, significativa e iniciática, quero
indicar que ela dá início, colabora na passagem a outro nível de sentir,
perceber, pensar a existência e o gesto de vida. Acrescento também suas
características de ser capaz de dar permissão, incentivar e ampliar o
experenciar a vida em outros níveis ainda não vividos.
- 25 -
Além de revelar o nível de sensibilidade expressado pelo grupo, começa por
despertar níveis de sensibilidade que se efetivam na própria vivência.
Dentre os elementos que constituem uma consigna temos sua abordagem
filosófica - poética que se relaciona com a qualidade existencial do
exercício. Traz o sentido do exercício na sessão e seu significado de vida.
“Descreve a complexidade dos fenômenos do ser e de sua relação como os
outros e com o meio; a complexidade dos fenômenos da natureza, do cosmo,
enfim da vida” – (MOURA ET AL., 1990).
Intensifica a sensibilidade, confere poesia, beleza e naturalidade ao que é
vida, da natureza, da existência humana.
Dito assim permeamos no instante da consigna a personalidade, abrindo,
permitindo e alcançando uma abertura do ser no sentido de deixar ou
abaixar a força de padrões tão arraigados e viciados do pensar, do existir, e
do defender-se de viver, em momentos atuais, talvez, tão desnecessários.
A intenção ou processo de vida intencionado requer uma abertura a outras
janelas do sentir, do perceber, do permitir novas possibilidades do existir,
de início estimulado na consigna ganhando continuidade pelo processo da
vivência na sessão.
A consigna clara e precisa, abre e amplia o conceito de viver, oferecendo os
primeiros subsídios para a formação da consciência que, na sua menor
unidade se manifesta no corpo pela célula (consciência celular), se
- 26 -
processando pela vivência. Este processo de consciência dá ordem, clareza
e foco necessário para a definição de toda intenção.
Entre outros elementos da consigna tem-se ainda a sua fundamentação
científica, que define o objetivo, o para que serve conforme o que se deseja
trabalhar e transformar e a descrição estrutural do exercício que diz
respeito ao como fazer não no sentido de um modelo a ser imitado, mas
como uma orientação, uma proposta de execução. A estrutura do exercício
apresenta o meio mais eficaz de deflagar de uma vivência (com todas suas
características emocionais e orgânicas) conforme as possibilidades de cada
um.
Enfim, a consigna colabora, permite e incentiva uma nova forma de sentir,
perceber, pensar e fazer o gesto que nos vincula a vida. Dá abertura e
confiança ao corpo-mente. “A mente cria o corpo... começa na célula que
recebe o sinal do cérebro” (WHAT THE BLEEP DO WE KNOW, 2005).
- 27 -
Movimento humano na Biodanza e intenção
Os exercícios de Biodanza se constituem de movimentos naturais do ser
humano, são exemplos: o caminhar, o saltar; os gestos relacionados a
socialização, abraçar, dar as mãos; e de gestos arquetípicos, modelos
antigos, eternos e universais de manifestação da vida, ex.; gestos eternos
relacionados ao trabalho, o embalar de um bebê (vida recém nascida), o
parir, entre outros.
“Estes gestos são realizados com músicas que intensificam a cenestesia
estimulada pela categoria motora em ação formando movimentos de dança,
que conforme Rudolf Laban são movimentos de vida” (ARANEDA, 2002, p. 138)
“A seqüência de exercícios em uma sessão de Biodanza segue regras que
tem objetivos precisos, como, por exemplo, o aumento à resistência ao
stress e a estimulação das funções neurovegetativas” (ARANEDA, 2002, p. 138) .
Com vistas a buscar a integração do ser humano e o desenvolvimento de
processos de saúde, a Biodanza propõe recuperar a integração psico física
por meio de uma metodologia que inclui todos os aspectos do movimento
humano, ressaltando a tamanha conexão do movimento com seus aspectos
emocionais e vivenciais.
Rolando Toro definiu o desenvolvimento da motricidade que guarda uma
relação com o nível neurofisiológico e psicológico e com as chamadas
categorias de movimento. Estas retratam o desenvolvimento e o estado que
se apresenta o ser considerando os níveis fisiológico e emocional.
- 28 -
Assim, temos, por exemplo, o ritmo – grau básico de integração motora,
revelador do grau de vitalidade. Está vinculado as nossas funções viscerais e
instintivas. A partir do ritmo, evoluem outras características como sinergia,
a potência, a flexibilidade, a elasticidade, o equilíbrio, a expressividade, a
agilidade, a fluidez, a leveza, a resistência e a coordenação.
Vamos conquistando níveis de integração como o afetivo-motor, o afetivoerótico, a integração ao universo, integração sensitivo-motora, integração
ideo-motora. Enfim, caminhamos do ritmo – referencial instintivo – à graça
do movimento enquanto processo de integração psicofísico e de saúde.
O movimento na Biodanza com suas expressões biológica, afetiva e
existencial nos convida a princípio a uma reeducação do gesto, enquanto
referencial de saúde e integração. Contribui, também, todo o tempo, por
quebrar ou interromper o padrão condicionado e repetitivo de movimento
que traduz qualidades fragmentadas no viver.
Quero acrescentar que o movimento é significativo no sentido de permitir
uma nova localização que dá fluência à proposta afetiva, biológica e
existencial que desejamos. Temos uma nova atitude frente `a vida facilitada
e manifesta via movimento integrado, pleno de
significados naturais,
afetivos e existenciais.
Vejo quanto o resgate do movimento humano enquanto novo gesto integrado
desperta, dá fluxo, continuidade à saúde e à vida.
- 29 -
Ao intencionar voltamos nosso desejo e atenção em uma direção e foco
específico,
encaminhando
um
determinado
movimento:
movimento
energético, físico, biológico – natural, sob a ótica do gesto integrado. O
movimento humano, assim bem colocado, pela Biodanza é um grande
estimulador de uma “nova rota” nos relocalizando, despertando e
reeducando
nossos
gestos,
assim
reforçando
nossos
processos
transformação e integração conforme critério de vida e saúde.
- 30 -
de
Aspectos fisiológicos na Biodanza e intenção
E’ esclarecedor fazer um paralelo do mecanismo fisiológico de autoregulação, integração e saúde que ocorre através da metodologia da
Biodanza e o processo do ato intencionado.
As vivências na Biodanza têm sua atuação fisiológica no sistema límbicohipotalâmico através da suspensão da atividade verbal, do descanso do
sentido visual em contrapartida ao auditivo (percepção musical, poesia...), da
interrupção da motricidade voluntária (os movimentos são lentos e orgânicos
– sem controle do pensar), das funções integradoras, de sensibilidade e
movimentos predominantemente ligados aos impulsos instintivos, afetivos e
emocionais. A sua atuação induz uma diminuição temporária da função do
córtex cerebral gerando uma maior expressão e fortalecimento de
habilidades e qualificações do que nos é original, natural e integrativo
enquanto ser e espécie.
A partir do estímulo e expressão de impulsos límbico-hipotalâmicos vivemos
uma coordenação em equilíbrio do sistema nervoso neurovegetativo que
comanda as funções involuntárias que servem à conservação da vida. Este
sistema se constitui de dois sub sistemas: simpático, função de atividade e
vigília, e parassimpático, função de repouso e sono que agem através de seus
respectivos neurotransmissores em uma ação complementar, alternada e
equilibrada.
É possível estimular cada um dos subsistemas mediante exercícios que ora
reforçam a identidade (simpático) e ora induzem a regressão integradora,
- 31 -
ao Eros indiferenciado, ao transe (parassimpático). É importante destacar
que certos efeitos provocados pelas vivências de Biodanza são análogos
àqueles produzidos pela ação de alguns neurotransmissores e hormônios.
A Biodanza via vivência integradora atua no SIALH – sistema integrativo
adaptativo límbico-hipotalâmico, dito assim, centro das emoções e instintos.
Este, via hipófise, regula todo o organismo através da coordenação de todas
as outras estruturas glandulares. A harmonia dos sistemas simpático e
parassimpático provoca a regulação hormonal (sistema endócrino) como
também estimula o sistema imunológico via homeostase e mensagens
químicas que são enviadas ao cérebro (como por exemplo, a serotonina e a
histamina).
Esta harmonização do SIALH gera o fortalecimento de respostas ao estado
de stress.
Ao regular as funções biológicas, a Biodanza permite a renovação celular e
reparação orgânica, e assim a construção de novos registros que se afirmam
como consciência celular liberando memórias primárias que neste momento
não funcionam mais para aquele ser.
O ato intencionado inicia-se da identificação do insight, assim entendendose, luz do interno ou ainda, comunicação sensorial vinda do ser nascida da
tradução e validação do desejo e movimentos: orgânico, sensorial,
energético e existencial. A partir daí, esta comunicação, uma vez sensorial,
ganha fluxo e movimento de expressão e materialização na existência
através de vias fisiológicas.
- 32 -
Fazendo a interface e interação com o mundo - informações que nos chegam
– temos os órgãos dos sentidos destacando aqui além do sistema nervoso
central e periférico, o segundo sistema nervoso, já mencionado por Pert, de
base química envolvendo todo o corpo desde a pele como envoltório e
interface . Precisamos da informação do externo - outro - que nos desperta
curiosidade, interesse, vinculação com o que é verdadeiro para nós e assim
seguirmos desenvolvendo e qualificando funções, potenciais e aprendizados.
Assim,
neste
primeiro
nível
recebemos
toda
a
possibilidade
de
desenvolvimento e saúde. De acordo com correntes atuais do pensamento
médico, representadas, por exemplo, pelo Dr Euder Airon, a validação do
insight, conforme definido acima, desencadeia o funcionamento da pineal –
glândula que segrega a melatonina – também chamado hormônio da
escuridão. Esta regula os estados de sono e vigília, ou seja, nossos processos
de informação inconsciente e consciente, respectivamente. É produzida a
partir de nosso estado de sono e repouso, momento em que fazemos contato
com nossa luz interna – informações que nascem do ser.
A
hipófise
regula
informações
e
funções
neurológicas,
hormonais,
energéticas e emocionais de toda a rede glandular: tireóide, timo, pâncreas,
supra-renal e gônadas. É no hipotálamo, localizado abaixo da pineal, que se
faz a conexão entre a pineal e hipófise. Temos no hipotálamo a fábrica de
produção de químicos responsáveis pela emoção. Há químicos, por exemplo,
para viver o desejo, a alegria, a raiva combinados em um estado emocional.
Lá estes químicos se transformam em peptídeos, neuropeptídeos e neuro
hormônios. No momento em que vivemos algum estado emocional é fabricado
o peptídeo correspondente sendo liberado pela hipófise na corrente
sangüínea e assim se estende a todo sistema endócrino. Partes do corpo
- 33 -
correspondentes e específicas a esta emoção são estimuladas. “O peptídeo
acopla nas células mudando seu núcleo e sua consciência” – (WHAT THE BLEEP DO
WE KNOW,
2005 ).
Algumas colocações do filme What the bleep do we know?, são
interessantes quando se trata do processo intencionado:
O cientista Daniel Monte 1 coloca:
“.....fundamentalmente contamos uma história para nós mesmos de como o
mundo exterior é ....
....qualquer experiência no mundo exterior é colorida pelas experiências que
já tivemos e por uma resposta emocional àquilo que estamos vivenciando...”
Já Dr Joe Dispenza 2 diz:
“.... se vivemos um sentimento e um pensamento reiterado, a rede neural
conectada, terá sido reforçada em um relacionamento de longo prazo com
todas as outras células definindo como identidade.
_________________
1
. Diretor do programa médico Corpo e Mente da Universidade Thomas Jefferson, físico
com treinamento em psiquiatria e comportamento humano.
2
. Pós graduado em anatomia e fisiologia neuro química, neurofisiologia e genética.
- 34 -
... se interrompemos um pensamento, desconectamos esta rede e se feito
com foco no observador de quem se é, saímos do automático para responder
e reagir...”
É neste instante que recriamos um processo de base fisiológica e química
gerando novas associações neurológicas que se traduzem em novos
conceitos, idéias, pensamentos e vivências da maneira de sentir a vida.
Amplifica-se o processo de presença da própria vida.
Intenções de saúde podem ser formatadas e estas a partir da própria
vivência existencial com a presença do observador ganha confiança para que
o processo intencionado se reforce e continue.
No filme, What the bleep do we know?, o cientista William Tiller 3 coloca:
“... muitas pessoas não afetam a realidade de forma consistente e
substancial porque não acreditam que podem.
Elas escrevem uma intenção
e depois apagam, por que acham que é tolice – não consigo fazer isto –
escrevem de novo e apagam. Isto tem um efeito pequeno pois elas não
acreditam que possam fazer isso”
De acordo com Dr Miceal Ledwith 4:
“... geralmente temos uma névoa de pensamento positivo cobrindo uma
enorme massa de pensamento negativo...”
_________________
3
. Professor emérito de ciência, mate riais e engenharia da Universidade de Stanford.
4
. Ex professor de teologia sistemática da escola Maynooth, Irlanda.
- 35 -
Enfim, Dr Joe Dispenza 2 ressalta:
“... temos que formular o que queremos.... nos concentrar e nos focar
tanto... estar tão consciente...
... todos nós já desejamos muito algo a ponto de perdemos a noção do
tempo... de quem somos...
... estamos tão envolvidos que a experiência que temos é a única coisa real.
..isto é a física quântica em ação
... é o observador em ação
... sua consciência influencia outros ao redor, o futuro.
... você está co-criando o futuro”.
_________________
2
. Pós graduado em anatomia e fisiologia neuro química, neurofisiologia e genética.
- 36 -
Para fins ilustrativos segue um paralelo entre o processo fisiológico da
Biodanza na Figura 1 e o ato intencionado na Figura 2.
Biodanza
Vivência
Reimprinting
Reparentalização
SIALH
Sistema Endócrino
Imunológico
A Fig. 1 mostra o processo fisiológico da Biodanza
Novo Ato intencionado
Ato intencionado
Novo conceito
de viver
Validação/Insight
SIALH
Sistemas
Endócrino
Imunológico
Novas conexões
neurológicas
A Fig. 2 mostra o processo do ato intencionado acompanhado da espiral evolutiva gerada
pelo novo ato intencionado.
- 37 -
RELATO
DE
EXPERIÊNCIAS
Processo intenção e Biodanza na minha experiência pessoal
Quando conheci a Biodanza, o termo intenção já fazia parte da minha vida
há algum tempo, via processo terapêutico e buscado depois de ter
manifestado um quadro de endometriose e endometrite acompanhado
também de muita insatisfação. Lembro-me que nesta época a pergunta que a
todo tempo me acompanhava era: qual o sentido da minha vida?
Sem muito perceber já me lançava com todo o afinco, coragem e muitas
inseguranças ao observar e significar todo o meu movimento e do meu
entorno, aprendendo o estar receptiva, para que algum sentido pudesse
chegar. A sensação vivida era que eu estava participando de um jogo que
demandava aprender o que é atenção, pois cada movimento atento me nutria
de mais atenção e disposição para não perder o foco. Cada peça
movimentada com sentido reforçava o continuar e o movimento seguinte.
Desde esta época foi importante compreender que com todo o desejo,
precisa-se sim largar muitos conceitos, valores, preconceitos
enfim
conteúdos que nublam a força e a disposição do desejo.
Com muitas perguntas cheguei a Biodanza. Cada vivência era representativa
de muita riqueza. Conhecia lugares dentro de mim muitas vezes não
traduzíveis e assim recebidos e outros que, mais adiante, se revelavam com
mais sentido. Percebia que, em algum momento depois, a tecitura ganhava
uma forma mais nítida, porém não pronta, preenchendo-me de sentido da
- 38 -
vida, de maior satisfação, prazer, coerência e identificação. Sentia que uma
nova perspectiva ou conceito de vida, assim bem vivido e funcionante estava
sendo construído. Este processo foi muito facilitado com a Biodanza, que me
alimentou com os seus vários níveis e possibilidades do sentir e entregar, o
que são os afetos, o que significa estar afetiva, o construir a partir das
próprias mãos, creditar/confiar em mim, no outro e principalmente na vida,
ampliando meu universo do existir de inúmeras formas, conforme meus
desejos cada vez mais desimpedidos. Hoje, a Biodanza me permite ampliar,
em níveis cada vez mais sutilizados, espiritualizados e transcendentes, o
funcionamento do viver. A partir desta relação ato intencionado e Biodanza,
vivi e vivo passagens e construções seja no momento de criação como
também no momento de manutenção que significam e engrandecem a vida.
Exemplificando alguns têm-se o encontro com meu marido e parceiro, o
conceber de meus dois filhos, a minha reconstrução profissional e outros,
como: o construir e dissolver meu mioma, o lidar com meus processos
insones e nos últimos anos a experiência de trazer este conceito e força do
ato intencionado ao grupo regular de Biodanza.
- 39 -
Observações do processo intenção e Biodanza no grupo regular de
trabalho
O grupo regular de trabalho se compõe de oito participantes entre mulheres
e homens. Como grupo traz características heterogêneas em termos de
idade, ocupação profissional, interesses iniciais, crenças, entre outras.
Considerando toda a diversidade, percebem-se, também, semelhanças em
relação a comportamentos, histórias pessoais e questões emocionais. Esta
composição torna muito rico o processo de crescimento e construção do
grupo.
Estou salientando o processo de seis pessoas durante um período de
trabalho de um ano.
Inicialmente destaco as primeiras falas dos alunos que hoje compartilham
esta experiência comigo.
Depoimentos do início do trabalho:
“A – larguei (tranquei) a faculdade, não vejo sentido, estou perdida, muitas
dúvidas......
B – estou vendo o tanto que não me priorizei ao longo da vida .... o tanto que
não me permiti sentir.....
C – a fantasia sempre fez parte da minha vida ... o que me dispersa energia,
me dificulta viver satisfação no que é real...
D – medo de exposição ..... abrir para o mundo .... será que estou preparada ?
... na infância éramos muito presos... só brincávamos dentro de casa .....
- 40 -
E – fico buscando .... como funciona a espiritualidade .... sinto ter um lugar
de liderança ... sair dele é como fracassar ... fragilizar ...
F – sinto que tenho o poder de atrair situações contrárias ... me sinto
dividido em dois ... fico pelo bem comum ... não vou lutar porque a situação
não vai mudar ... sinto que preciso me permitir mais, ser mais livre ...”
Falas que se seguiram após um ano de trabalho:
“A - ..hoje percebo o tanto que meu pai me faz falta ... sinto mais receptiva
às suas limitações ...
B – não quero ser a ... que já fui. Não sustento mais o antigo.
C – sinto mais estreiteza com a realidade, ser perder o sonho. Sinto-me
criando, manifestando, expressando mais a realidade a partir do que sinto –
meus afetos. Estou mais objetivo.
D – me sinto mais corajosa. Vou começar meu curso tão sonhado em agosto.
A cobrança não tem o peso que já teve. O recado que me ficou é: mantenha
o foco.
E – sinto que vejo mais a partir das relações em meu entorno. Elas ocupam
um lugar de significância ... de aprendizado. Sinto ainda dificuldade de
expressar para o outro o meu sentimento de amor...
F – sinto mais leve com a Biodanza, as coisas da vida chegam com mais
compreensão. Tenho sentido uma quebra – rachaduras nas vivências das
últimas aulas.”
Desde o inicio, o grupo manifesta nos relatos de intimidade informações e
sinais corporais despertados e estimulados a partir das vivências. Isto é
- 41 -
significativo e positivo demonstrando a reatividade, resposta corporal e
receptividade dos alunos ao estímulo e objetivo pretendido com as vivências.
Os relatos apresentados após um ano, demonstram uma relocalização dos
alunos em relação aos seus processos individuais. É perceptível uma
valorização de si e do caminhar conquistado, maior presença, foco e
objetividade nas falas e acrescento no movimento apresentado nas aulas.
Os interesses iniciais já traduzidos, para alguns, como os desejos
orientadores se apresentam cada vez mais nítidos e desimpedidos, com
fluência na manifestação e concretização. Percebo mudança de valores pró
vida e maior credibilidade no interno. Mostram mais integração, confiança,
leveza e satisfação.
Observações
da
aplicabilidade
do
processo
integrado
intenção
e
Biodanza no grupo regular
Apresento alguns aspectos observados e experenciados no grupo regular em
questão que tem permitido a aplicabilidade integrada dos processos
intenção e Biodanza. Para tanto, alguns aspectos foram experenciados
considerando conceitos já citados anteriormente tais como: consigna,
vivência e movimento humano, acrescentando ainda a integridade da pessoa
facilitador(a).
A integridade da pessoa facilitador(a): quero destacar não só na função
facilitação mas, principalmente, a coerência e integridade com que se vive na
- 42 -
própria vida, os valores, os princípios de saúde e vida. Sempre me
acompanhou a visão de que todos ao meu redor trazem em si uma entidade
de força. Acredito desde a necessária relação de evolução que faço com os
meus genitores até todas que se seguem colaborando com o meu crescer,
que somos todos potentes, capazes e que em algum lugar dentro de nós
vibramos o desejo de ser feliz.
A consigna: trazendo suas dimensões teórica, operacional, existencial e
funcional é reveladora da coerência, do nível de integração e da qualidade
das experiências vivenciadas e apreendidas pelo facilitador.
Em que realmente acreditamos? Quais as bases de construção dos nossos
processos de desvio/caos e retomada de saúde? Como sustento a minha
força de vida? A vida é afetiva conosco. Tudo no universo é funcional no
sentido de nos evoluir, nos localizar, nos trazer presença, nos voltar ao
próprio caminho de saúde. Percebo que vindo anterior em nós, facilitadores,
e permeando toda manifestação verbal que caracteriza uma consigna,
trazemos a força do que é intencionado via o que é necessário trabalhar,
transformar e sensibilizar, ou seja, o objetivo a que se pretende. A pessoa
facilitadora traz o sentido ampliado de vida que é traduzido em sua
expressão corporal-energética e acrescento também na sua postura afetiva
diante do que e como se vivem as situações de vida.
A vivência: a vivência enquanto base metodológica da Biodanza tendo como
fins a integração, renovação e desenvolvimento humano pressupõe a atenção
cuidadosa com a tríade: gesto (movimento pleno de sentido), música
adequada e coerente ao propósito da vivência e a consigna já mencionada
anteriormente nos permitindo o acesso a outro nível do sentir dando
- 43 -
permissão, incentivando e ampliando o experenciar a vida em níveis ainda não
sentidos e vividos, facilitando, assim, a conexão com a emoção que integra a
tríade dita acima.
É importante ter claro para o facilitador o propósito a que se pretende ao
escolher os exercícios, mesmo considerando as características que compõe
a vivência: a subjetividade (são únicas, íntimas e incomparáveis, singulares),
variabilidade de intensidade (são variáveis conforme o nível de entrega), a
espontaneidade (qualidade do original/evocação do ser), temporalidade (é
passageira, se manifesta no presente), entre outras. Este propósito permeia
e se traduz na consigna, na postura do facilitador, no seu movimento e gesto
apresentado “pleno de sentido” e na música escolhida.
Para o aluno esta nitidez facilita o mergulho na sua vida iniciada pela
metodologia vivencial, ampliando seu campo do sentir, observar, perceber-se
na vida.
Percebo com clareza que precisamos todos sermos alimentados destes
aspectos que a vivência nos nutre: confiança, entrega e disponibilidade,
organicidade
anterior
`a
consciência,
espontaneidade,
subjetividade,
emocionalidade, cenestesia, entre outros e a ampliação do ato do observar a
si, ao outro e ao movimento da vida, ato que caracteriza o processo de auto
cura.
Estes aspectos vão nos habilitando a crer na nossa potência de sermos
criadores da existência. O ato intencionado pressupõe que se largue, solte
de conceitos, pré-conceitos, valores, perspectivas que muitas vezes nos
nublam, nos afastam da comunicação mais íntima de si, do orgânico, do que
- 44 -
realmente alimenta de vida e saúde, enfim do desejo real do ser. Neste
sentindo a vivência é conjuntamente eficaz e destaco:
?? A vivência nos permite “tomar tento” e ampliar o ato de viver em
todas
as
dimensões,
entre
elas
orgânica,
corporal,
sensível,
existencial, etc.. A vivência apreendida com a Biodanza é extensiva a
existência com todas suas propriedades enquanto “experiência vivida
com grande intensidade por um individuo no momento presente, que
envolve a cenestesia, as funções vicerais e emocionais” (ARANEDA, 2002,
p. 30).
Trazemos no viver a vivência enquanto método Biodanza assim
reeducado e com repertório para lidar com o viver do dia a dia: um
novo saber viver.
?? A vivência nos revela não só enquanto exercício vivencial em aula mas
como
dito
acima
a vida
em
vivência como
nova
forma
ou
reaprendizagem do viver: abrimo-nos para questões como:
Como nos posturamos com nossos atos, atitudes e percepções na
vida?
O que podemos escolher, construir a partir deles?
O que quero em verdade?
Lembrando e estendendo as questões da Biodanza:
onde quero viver? (meu chão, meu colo, meu ninho);
o que quero fazer? (o que me nutre, me dá prazer, me alimenta de
vida e crescer);
com quem quero viver? (com quem e como construir relações
nutritivas que sentimos crescer afetivamente).
Talvez estas revelações possam ser cada mais permitidas e
estimuladas pelo crescente desejo de evoluir, crescer, ser feliz, amar
- 45 -
e ser amado, continuar, entre outros desejos que é a proposta da vida
em si.
Enquanto alunos, o exercício vivencial, ressaltando na Biodanza e na própria
vida, vai estimulando esta construção ou mesmo reconstrução tão necessária
ao ato intencionado. O ato intencionado nos pede fiança no movimento
construído a partir do interno, a postura do estar disponível receptivo e não
de controle, de identificar quais desejos identificam e reforçam a saúde, o
que é valor na vida, o que é creditar consigo, com o outro, com o movimento
maior da vida. Considerando estes quesitos acima vivenciados o intencionar
neste momento pode ser melhor compreendido, aplicado e desenvolvido
pelos
alunos
sendo
este
também
um
instrumento
de
criação
e
desenvolvimento do movimento de saúde que é natural e inerente à vida.
Alguns trechos do filme what the bleep do we know merecem ser lembrados
quando se trata da Biodanza e seu fundamento vivencial e o processo ato
intencionado.
Falas do Dr. Joe Dispenza 2:
“... quando falo sob desaparecermos quero dizer sair da área do cérebro que
tem a ver com a nossa personalidade, que tem a ver com nossa associação
com pessoas... lugares... com coisas, tempos e eventos.
.. vivendo ilusões... suas almas, sua vontade pode nunca aparecer para que
possam mudar, para que possam vir a crescer e a ser algo mais...
.. se a alma vir a tona, a pessoa passa a perguntar se existe algo além
disso... por que estou aqui? Qual o propósito da vida?
__________________
2
. Pós graduado em anatomia e fisiologia neuro química, neurofisiologia e genética.
- 46 -
... e aí... podem começar a namorar, a relacionar com a percepção de que
estão tendo um colapso nervoso... na verdade o que está acontecendo é que
os seus velhos conceitos de como viam a vida e o mundo estão começando a
desmoronar...
... estamos num território novo de nosso cérebro ... literalmente
reconectando novos conceitos e isto nos muda de dentro para fora..”
Falas do cientista Andrew Newberg 6:
“...o cérebro é capaz de fazer milhões de coisas diferentes. As pessoas
apenas deviam saber como elas são realmente incríveis e como suas mentes
são realmente incríveis...
... e que não somente possuem esta coisa inacreditável dentro de si,... que
pode fazer tantas coisas ... nos ajuda a aprender, a mudar, e a adaptar ...
que pode ajudar a sermos melhores do que somos atualmente e ... pode nos
ajudar a transcender a nós próprios.
... e nós podemos finalmente achar maior significado para nós mesmos no
mundo... existe uma parte espiritual no cérebro”.
O relato de vivências: ou intimidade verbal conduzido pelo facilitador(a)
tem uma função interessante no processo ato intencionado e Biodanza. O
relato de vivência caracteriza-se por ser uma expressão principalmente
verbal do que foi vivenciado, sentido – emoções e sentimentos – na aula
anterior.
__________________
6
. Professor do Departamento de Radiologia e médico nuclear no Hospital da Universidade
da Pensilvânia.
- 47 -
Responder ao conteúdo do relato vivenciado com localização para si da
história, do movimento e todas as falas anteriores observadas, nos
permite dar uma ordem, mesmo com a colocação aberta de questões e
principalmente localizar para o outro – aluno – o seu processo devolvendo
para ele a significância de todo gesto, ato, situação de vida que também
colaboram para ele significar o próprio processo. Aqui é imprescindível
tanto o conteúdo da fala mas a forma em que ela se apresenta. A
comunicação do facilitador vai além do conteúdo de suas palavras,
incluindo seu corpo, sentimento (potencial afetivo) e traz em si o foco e
critério do que é saudável.
Movimento humano: o resgate do movimento humano desenvolvido pela
Biodanza enquanto novo gesto integrado desperta, dá fluxo e continuidade à
saúde e à vida. Encaminhar um determinado movimento sendo ele
energético, físico, biológico-natural sob a ótica do gesto integrado assim
colocado pela Biodanza permite manifestação e efetivação do ato
intencionado.
O caráter integrador do movimento humano desenvolvido pela Biodanza
estimula uma nova rota , nos relocaliza no sentido de reeducar nossos gestos
em prol da saúde e da vida.
O movimento integrado objetivado nos encaminha e nos permite acessar
lugares, vivências, emoções que habitam nosso interno, ou melhor, incluemse também o conteúdo que lá contido precisamos ou desejamos transformar.
A forma (movimento) pode ser uma via de acesso para se alcançar o até
então pretendido e propositado desejo – canal importante no ato
- 48 -
intencionado – abrindo-nos à vivência do mesmo. O acesso ao movimento
integrado, uma reeducação do gesto para a vida vai nos permitindo estar
mais disponíveis e desimpedidos para a realização do intento desejado.
De uma outra forma, a postura de receptividade, entrega, confiança e
abertura afetiva ao propósito a que se deseja é também uma via de acesso
para que naturalmente o movimento se caracterize e se efetive em busca do
que se deseja requalificar conforme critério de saúde e vida.
Observar qual o caminho mais acessível a cada momento, inclusive para
facilitar o processo do grupo-aluno pode colaborar para creditar confiança à
sabedoria divina a qual todos possuímos e acessamos, dar nitidez e sentido
ao processo vivido em desenvolvimento.
- 49 -
CONCLUSÃO
A vivência enquanto manifestação do ser que precede a consciência nos
subsidia de quesitos imprescindíveis ao processo do ato intencionado. Com a
vivência realiza-se a reaprendizagem da entrega e disponibilidade, validando
o estar no aqui-agora; nos desperta e sensibiliza à experienciação integrada
de intenções de saúde, auto organização, bem estar e prazer. Enfim,
impulsos naturais que nos nutrem de saúde e de mais vida. Permite a nitidez,
o movimento reeducado e o encaminhamento dos desejos e necessidades que
geram a integração do ser.
Assim a Biodanza enquanto sistema de integração humana, de reeducação
afetiva, de renovação orgânica e de reaprendizagem das funções originárias
da vida converge assim como o funcionamento do ato intencionado para
objetivos de integração, renovação e vinculação do ser com a vida.
Neste sentido, o mecanismo da intenção pode servir de recurso
fortalecedor e de evolução quando aplicado a partir de experienciação com a
Biodanza e seu fundamento vivencial.
Privilegiar a vivência do processo intencionado vindo anterior à consciência
cognitiva, tal como a Biodanza o permite, com experienciação de processos
existenciais nas suas dimensões energética, sensorial, biológica e natural
proporciona nova visão de si mesmo e da vida.
A partir deste momento podemos melhor traduzir o mecanismo do ato
intencionado. Neste sentido observar o momento que pode ser introduzido o
- 50 -
conceito do ato intencionado e seu funcionamento pode ser interessante.
Por exemplo, para aqueles grupos que já apreendem a partir da metodologia
da vivência na Biodanza o funcionar do viver, a postura receptiva que nos
convida a vida na sua tarefa de continuidade e evolução, sua participação
enquanto auto-curador, protagonista e criador da própria existência, o ato
intencionado pode agir como um instrumento
potencializador e de
fortalecimento para a construção de um caminhar pela vida cada vez mais
integrado, saudável, livre, prazeroso e feliz.
Finalizando, quero ilustrar com as seguintes falas:
Dr Michael Ledwith 4:
“... não há o bom ou mau... existem coisas que eu faço que me evoluem ... e
existem coisas que eu faço e não me evoluem...”
Ramther 5:
“...somos deuses que estamos construindo ... e temos que seguir por este
caminho ... até o dia em que amarmos o intangível assim como amamos os
nossos vícios...”
Joe Dispenza 2:
“...sou muito mais do que penso que sou e posso ser muito mais que isso...”
__________________
4
.Ex professor de teologia sistemática da escola de Maynooth, Irlanda.
5
. Mestra da escola Ramtha de Iluminação Canalizad a por IZ Knight.
2
. Pós graduado em anatomia e fisiologia neuro química, neurofisiologia e genética.
- 51 -
REFERÊNCIAS
1. ARANEDA , Rolando Toro. Biodanza. 1. ed. São Paulo: Olanobrás. Escola
Paulista de Biodanza, 2002. 157p.
2. CHOPRA , Deepak. A realização expontânea do desejo. 1. ed. Rio de
Janeiro: Rocco ltda, 2003. 219p.
3. CHOPRA , Deepak. Corpo sem idade, mente sem fronteiras, 5. ed. Rio
de Janeiro: Rocco ltda, 1993. 394p.
4. HOLLANDA , Aurélio Buarque. Dicionário da língua portuguesa, 1. ed.
Rio de Janeiro: Fronteira, 1985. 3.400 p.
5. MOURA, Maria Betania; TEIXEIRA , Maria Suely Antunes. Introdução a
uma sistematização das consignas em Biodanza. Dezembro, 1990.
122f. monografia (titulação como facilitador de Biodanza), Associação
Latino Americana de Biodanza – ALAB. Fortaleza, Ceará.
6. NASCIMENTO , Maê. Caminhos da energia na prática clínica. in
CONGRESSO
INTERNACIONAL
DE ANÁL ISE BIOENERGÉTICA ,
17., 2003,
Salvador, Bahia.
7. PERT, Candance. Molecules of emotion: why you feel the way you feel.
New York, 2000. Interview with Candance Pert by Caren Goldman.
Disponivel em: < www.ikosmos.com/wisdomeditions/essays/goldman01.htm >.
Acesso em 15 out. 2005.
- 52 -
8. PILLA , Maria Lucia. O corpo – este primitivo. São Paulo. USP-SP,
2002, 6f. mimeografado.
9. SHELDRAKE , Rupert. O renascimento da Natureza. O reflorescimento
da Ciência e de Deus. 1. ed. São Paulo: Cultrix ltda, 1993. 236p.
10. VILLELA , Nereida Fontes. Toque e intenção. Belo Horizonte: Núcleo de
Terapia Corporal ltda, 2004. 3 f. mimeografado.
11. VITHOULKAS , George. Homeopatia, ciência e cura. 1. ed. São Paulo:
Círculo do Livro S.A., 1981, 350p.
12. WHAT
THE BLEEP DO WE KNOW ?,
Direção: Betsy Chasse, Mark Vicente,
Willian Arntz. filme 2005. Produção: Betsy Chasse, Willian Arntz.
Vancouver, Canadá. 1 DVD (108 min.),son., color., legendado. Tradução
de: Guerreiro do Coração.
- 53 -

Documentos relacionados