biodanza e intenção - Associação Gaúcha de Biodanza
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biodanza e intenção - Associação Gaúcha de Biodanza
INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION -IBF ESCOLA DE BIODANZA SISTEMA ROLANDO TORO DE BELO HORIZONTE CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES BIODANZA E INTENÇÃO Belo Horizonte, Minas Gerais 2006 Veruska Célia Gontijo Pereira BIODANZA E INTENÇÃO Monografia elaborada como requisito à Titulação como Facilitador junto a International Biocentric Foundation - IBF Orientadora: Liliana Santos Viotti Belo Horizonte Junho/2006 AGRADECIMENTOS Ao meu marido e parceiro, Marcelo, pelo apoio, o compartilhamento e a oportunidade de vivência e construção nas nossas vidas, sobre o tema em estudo. Aos meus filhos Bernardo e Rafael pela oportunidade e chamada constante ao meu crescimento e o aprender a viver. À minha mãe Maria Aparecida pelas virtudes de força e acolhida que muito contribuem e me lembram a todo o momento da continuidade da Vida. À Noeme na sua qualidade de diretora, amiga e conselheira. À Liliana Viotti, pelas qualidades dedicadas: amorosidade, abertura e incentivadora das minhas iniciativas e do tema deste trabalho. A todos meus alunos que especialmente me ajudam a sentir e perceber o humano, me ajudando a crescer e a viver. Ao Rolando Toro pela criação e desenvolvimento do sistema Biodanza. À Vanessa, terapeuta, amiga, encantadora pela sua coerência e integridade no viver e ao Euder Airon, médico e amigo em momentos muito preciosos. A vida pela sua afetividade e beleza, pelos seus movimentos e convites. - iii - - SUMÁRIO A ESCOLHA DO TEMA .......................................................................... 5 APRESENTAÇÃO DO TEMA ........................................................................ 7 ABORDAGEM HISTÓRICA ............................................................................ 9 OUTRAS VISÕES SOBRE INTENÇÃO ............................................................ 14 INTENÇÃO E BIODANZA .......................................................................... 22 Vivência e intenção ............................................................... 22 Consigna e intenção ............................................................. 25 Movimento humano na Biodanza e intenção 28 ................. Aspectos fisiológicos na Biodanza e intenção .................. 31 RELATO DE EXPERIÊNCIA S ........................................................................... 38 Processo intenção e Biodanza na minha experiência pessoal........................... 38 Observações do processo intenção e Biodanza no grupo regular de trabalho ......................... 39 Observações da aplicabilidade do processo integrado intenção e Biodanza no grupo regular........... 42 CONCLUSÃO .................................................................................................. 50 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 52 - iv - - A ESCOLHA DO TEMA Conheci a Biodanza num momento de muitos questionamentos. Sentia-me curiosa e desassossegada, atrás de muitas respostas e com muitas pistas do que poderia vir a ser o caminho de vida que me ajudasse a manter a identificação comigo mesma. Entregava-me às vivências de “olhos fechados” com plena confiança na escolha feita até então. Percebia a partir daí, cada vivência de vida com muito sentido e certeza que me faziam continuar: é como montar um quebra cabeça de cinco mil peças: requer paciência, investigação, muita observação e atenção, disponibilidade para si, às vezes divertido e muitas vezes desafiante. Com mais clareza, posso dizer que vários ingredientes compuseram minhas vivências da vida e da Biodanza, dois dos quais quero enfatizar: entrega e comprometimento, com foco segundo minhas querências, nos meus atos ou movimentos de vida e de saúde. Esta postura me permitia mais disponibilidade, atenção e forte vinculação com os verdadeiros princípios de saúde, bem estar e harmonia. Percebia, a partir daí que a sabedoria está dentro e não fora e o que fundamenta o nosso caminhar é a identificação e a preservação da chama do desejo, o que faz os olhos brilharem, entendendo estes desejos aqueles que nutrem, potencializam e conectam com a saúde e com o crescimento, enfim com o ser. Hoje posso dar um nome a esta força motriz: intenção – que se sustenta num desejo intenso com a força e a sabedoria infinita de ser. -5- O tema Biodanza e intenção já estava escolhido há muito tempo. A pergunta que ficava: como incluir este conceito na Biodanza, ou melhor, na dança da vida? É neste contexto que arrisco discutir algumas descobertas e percepções, experiências vividas com muita amorosidade e crescimento. -6- APRESENTAÇÃO DO TEMA Na física animista da idade média as almas organizavam o desenvolvimento e o comportamento autônomo dos organismos e os motivavam por atração. Assim, uma planta era atraída, a partir do estágio de semente, em direção à forma da planta madura e assim dava-se forma à matéria da planta em crescimento e a organizava de acordo com seus próprios fins. “As almas não estavam fora da natureza” de acordo com Aristóteles e seus sucessores. (SHELDRAKE, 1991, p. 88). Na revolução científica do século XVII negaram-se os tradicionais atributos da vida, a capacidade para o movimento espontâneo e/ou auto-organização. As “almas” que animavam os corpos físicos de acordo com seus próprios objetivos foram exorcizadas do mundo da física mecânica. Com os fundadores da ciência mecanicista as almas foram expulsas da natureza deixando apenas a matéria passiva em movimento atribuindo a Deus todos os poderes ativos. O poder produtivo invisível inerente às formas materiais era mais propriamente divino que físico, mais sobrenatural que natural. Quero, inicialmente, trazer como a física transcendeu progressivamente a teoria mecanicista da natureza e a partir daí contribuições puderam ser reunidas no sentido de compreendermos o poder divino interno, autoorganização de saúde e evolução inerente a todas as formas universais presentes e ao próprio universo. -7- A partir daí discorreremos sobre: o poder da intenção e do movimento – força interna motriz de atuação enquanto recurso facilitador de regulação, preservação e continuidade desta ordem interna de saúde: orgânica, existencial, individual e coletiva. A Biodanza - “Dança da vida” - é um sistema de integração humana, de renovação orgânica, de reeducação afetiva e de reaprendizagem das funções originárias da vida. A sua metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio de recursos como a música, o canto, o movimento, situações de encontro e comunicação em grupo. “Ela não propõe um modelo de comportamento: dá-se a permissão para que cada indivíduo entrando em contato consigo mesmo num processo de integração possa apresentar seu próprio potencial genético de respostas vitais”. (ARANEDA, 2002, p. 33). É neste contexto que quero localizar e discorrer sobre: Consigna e intenção; Vivência e intenção; Movimento humano e intenção; Aspectos fisiológicos e intenção; Levantando prioritariamente, a seguinte construção enquanto hipótese em estudo: a vivência em si tem o poder de deflagar intenções de saúde. -8- ABORDAGEM HISTÓRICA O universo inteiro estava preenchido por forças invisíveis muito mais extensas do que os corpos materiais entre os quais atuavam. Por intermédio destas forças, todos os corpos do universo estavam relacionados com todos os outros corpos e de algum modo eram mantidos em equilíbrio. Newton tornou possível o cálculo da magnitude das forças gravitacionais, mas não explicou sua natureza. Acreditava firmemente que a própria matéria não poderia ser a fonte destas forças a que deu o nome de atração – atração gravitacional. “É inconcebível que a matéria bruta inanimada possa sem a mediação de algo mais que não é matéria operar sobre outra matéria e afetá -la, sem contato mútuo.....” E o termo usado por ele – “atração” provocou: “Se Newton não tivesse usado a palavra atração na sua admirável filosofia, todos em nossa academia teriam aberto seus olhos para a luz; mas infelizmente, ele usou em Londres uma palavra que em Paris era motivo de riso; e só por isso foi julgad o adversamente – Voltaire, 1730” ( SHELDRAKE, 1991, p. 89). Com Einstein esse misterioso poder de atração recebeu uma explicação em termos de entidade física: campo gravitacional. O campo gravitacional de Einstein contém a totalidade do mundo físico, ele inclui o espaço e o tempo. Ele é espaço-tempo e suas propriedades geométricas são a causa dos fenômenos gravitacionais. Veio depois com a teoria dos campos, a introdução dos campos eletromagnéticos. As várias teorias sobre o magnetismo ilustram como os campos substituíram o entendimento das almas enquanto princípios organizadores invisíveis. -9- Como participantes do processo de evolução do conceito acima, podemos citar: “Tales, séc. V a.c. – imãs eram animados, com o poder de movimentar a matéria – força que se estendia ao redor da pedra – imã. Os imãs tinham almas” (SHELDRAKE, 1991, p. 90). Surgiu o uso de agulhas magnéticas como bússolas para navegação. Suspeitava-se que seu magnetismo estava de alguma forma relacionado com a terra ou com os céus? ! Como se dava? Perguntavam... Pelegrinus, século XIII: dissertou sobre os pólos dos imãs fazendo uma analogia com os meridianos que passam pelos pólos norte e sul da terra. “Observou que a maneira como os imãs se dispunham e se atraiam, dependia apenas da posição de seus pólos – “sede do poder magnético”. Mostrou que pólos opostos se atraiam e polos iguais se repeliam. Descobriu que quando um imã era dividido, os pedaços tornavam-se novos imãs com novos pólos” (SHELDRAKE, 1991, p. 91) . William Gilbert, 1600, fundador da moderna ciência do magnetismo - a própria terra era um imã gigantesco. A inclinação da agulha da bússola mostrava que a influencia magnética vinha da terra e não do céu. Acreditava que a potência magnética verdadeira da terra estava associada a sua forma esférica e a sua rotação. “Descreveu cada imã como uma pedra animada, que é parte e prole querida da mãe animada, a terra – mãe comum de todas as coisas. Gilbert conjecturava que as forças magnéticas, de alguma maneira, estavam relacionadas com a gravidade da terra, vendo a ambas como aspectos da alma da terra” ” (SHELDRAKE, 1991, p. 92) . - 10 - ”Michael Faraday, século XIX considerava os campos em termos de padrões de forças considerando duas explicações possíveis para estes campos de força: estados de um meio material sutil que podemos chamar de éter ou eram estados do mero espaço. Ele ficou com esta última explicação” ” (SHELDRAKE, 1991, p. 93) . Em meados do séc. XIX foi sintetizado o conceito de energia, unificando todos os conceitos de até então. A formulação de um conceito unificado de energia permitiu o inter-relacionamento entre todos os tipos de força observadas, de fluxo, de atividade e potencialidade. A partir daí, permitiuse inter-relações como energia e trabalho mecânico, energia potencial e efetiva. “Wilheim Ostwald em 1890 alegava que não era a matéria, mas sim a energia a única substância real na natureza. Alegação vista com suspeita pela maioria dos físicos’ ” (SHELDRAKE, 1991, p. 94) Foi Einstein que, no início do século XX, explicou os fenômenos eletromagnéticos em termos de campos. Em sua teoria da relatividade, o campo eletro-magnético permeia o espaço, mas é destituído de qualquer base mecânica. É o meio onde ocorrem processos complexos e; como a matéria, possui energia e momentum. Pode interagir com a matéria e trocar com ela energia e momentum. Mas o campo é independente da matéria. Não é um estado desta, mas do espaço. O campo gravitacional é um continnum de espaço-tempo curvo nas vizinhanças da matéria e a gravitação é uma conseqüência da curvatura do campo. Na teoria quântica, entidades tais como prótons e elétrons são considerados como pacotes de ondas ou quanta de vibração. Eles existem como vibrações - 11 - de campos materiais quânticos, com um tipo de campo para cada tipo de partícula. “Esses campos materiais são estados de espaço ou do vácuo. O vácuo não é vazio, está repleto de energia e sofre flutuações espontâneas que podem criar novos quanta a partir do nada. O vácuo não é inerte e nem destituído de características, mas é vivo e vibrante em energia e em vitalidade - Paul Davies 1984”. ” (SHELDRAKE, 1991, p. 94) O passo final veio, portanto, quando Einstein que por intermédio de sua equação: E= mc2 (onde E = energia, m = massa e c = velocidade da luz), estabeleceu a equivalência entre massa e energia e o fato de que elas podem se converter uma em outra. O resultado é que, agora, pensa-se que toda a natureza se constitui de campos e energia. Desde Decartes até 1927 os físicos viveram sob a ilusão de que tudo se achava plenamente determinado e conseqüentemente previsível. Com a teoria quântica e principalmente nos últimos vinte anos tornou-se reconhecido que o indeterminismo é inerente em sistemas em todos os níveis de complexidade. Os processos do universo não podem mais serem modelados em termos da física ao velho estilo. Neste contexto, sobressai-se a teoria do Caos. Uma espontaneidade inerente à vida foi novamente reconhecida pela ciência. O futuro é aberto, se modelado matematicamente, tem de sê-lo em termos de dinâmica caótica. Esse caos, abertura, espontaneidade e essa liberdade da vida e da natureza fornecem a matriz da criatividade evolutiva. Uma das características mais surpreendentes do Universo, revelada pela Cosmologia moderna, é o fato de que a maior parte da matéria que nele - 12 - existe é completamente desconhecida por nós – a chamada matéria escura. Variam cerca de 90 a 99%. Sabemos sim dos seus efeitos gravitacionais, mas pouco sobre suas propriedades e constituição. Sheldrake coloca: “é como se a física tivesse descoberto o inconsciente. Assim como a mente flutua na superfície do mar dos processos mentais inconscientes, também o mundo físico conhecido flutua num oceano cósmico de matéria escura”. ” (SHELDRAKE, 1991, p. 101) Concluí-se daí que toda vida é evolutiva em si mesma. O cosmos se assemelha a um grande organismo em desenvolvimento e a criatividade evolutiva é inerente à própria vida. - 13 - OUTRAS VISÕES SOBRE INTENÇÃO O que é intenção? No dicionário encontramos: “Intenção [ do latim: intentione] : 1.ato de tender, intento, tenção. 2.Vontade, desejo, pensamento 3.Propósito, plano, deliberação: minha intenção era sair logo que terminasse o trabalho. 4.Na literatura: o conjunto de motivos do autor ao escrever uma obra, em oposição à obra realizada” ( HOLLANDA, 1985, p. 723). Este conceito pode ser ampliado, tal como a evolução da física apresentada anteriormente. Embora não costumemos nos dar conta, o corpo, ou melhor, o organismo está constantemente regulando a temperatura, a taxa de batimentos cardíacos, nossas funções de auto-preservação e outras funções autônomas, ouvindo suas próprias mensagens internas ou sabedoria. “A menor mudança em qualquer das funções é registrada, de alguma forma, na consciência de nosso sistema nervoso”. ” (CHOPRA, 1993, p. 106). “A consciência é um campo e, enviando uma intenção para o interior deste campo, muda-se o fluxo de informação biológica. Isto se registra como uma leve sensação, intuição ou apenas uma maneira silenciosa de saber”. (CHOPRA, 1993, p. 107) . Quando alguém começa a se afirmar ou ainda centrar-se sobre algum processo, o resultado deste movimento é abrangente e holístico. O sistema integrado mente-corpo reage a cada estímulo como reage a um evento global; isto é, estimular uma célula, é estimular todas. Há um paralelo em termos quânticos, já que uma reação em qualquer lugar do espaço-tempo, - 14 - passado, presente e futuro, causa uma modificação em todo o campo quântico. Sheldrake coloca sobre os campos morfogenéticos de natureza evolutiva com as mesmas propriedades holísticas, invisíveis e de influência dos campos quânticos da física. Assim, ele diz “quanto maior for a freqüência com que um padrão de desenvolvimento é repetido, tanto maior será a probabilidade de que ele venha a ser novamente adotado”. (SHELDRAKE, 1991, p. 115) A partir daí ele trata do processo de ressonância mórfica: “existe uma influência do semelhante sobre o semelhante através do espaço -tempo, não havendo nestes casos interferências pela distância em que estão e nem tempo, mas uma transf erência de informação. Indivíduos do passado influenciam os campos mórficos dos indivíduos atuais” ( SHELDRAKE, 1991, p. 116). Sheldrake nos seus escritos não diz destes processos como um processo de informação energética, mas de regularidades governadas por hábitos herdados por ressonância mórfica. Ele acrescenta: “O organismo em desenvolvimento sintoniza os campos mórficos de sua espécie e, desse modo, tem a sua disposição uma memória coletiva ou de grupo onde colhe informações para esse desenvolvimento” (SHELDRAKE, 1991, p. 116). Até onde esta sintonização de campos mórficos não pode também ser entendida como um processo intencionado biológico de auto organização daquele ser enquanto organismo e espécie? O novo paradigma nos diz que a nossa realidade subjacente, o campo, é contínua e assim sendo, está igualmente presente em todos os pontos no - 15 - espaço-tempo. Nossa consciência e cada intenção dela resultante estão enredadas nesta continuidade. Isto significa que quando se tem um desejo, na verdade, está-se enviando uma mensagem que alcança todo o campo, a menor de suas intenções repercute em todo o universo quântico – o campo tem o poder organizador de realizar naturalmente qualquer intenção. O natural é ter todos os desejos satisfeitos considerando um estado de consciência aberto, claro e receptivo. “Uma intenção é um sinal enviado por você para o campo e o resultado que você recebe do campo é a mais alta satisfação que pode ser enviada ao seu sistema nervoso” (CHOPRA, 1985, p. 121) . “A nossa intelig ência interior ou sabedoria tem em si, seja expressa na ordem biológica – ordem material e na ordem energética – não manifesta, inerente e anterior, o poder de organizar. Pode -se assim dizer que nossas intenções mais profundas estão centradas no nosso orga nismo. Nossas necessidades mais fundamentais: amor, compreensão, encorajamento, apoio e outras permeiam nossas células. Muito dos desejos surgem e se derivam da proposta de nos potencializar e nos encontrar enquanto ser, enquanto necessidades reais vincul adas ao desenvolvimento dos nossos potenciais. Muitas vezes nos pegamos correndo atrás do que o ego deseja, alienando nossas necessidades básicas e vitais” ( C HOPRA, 1985, p. 123). Talvez a lição mais valiosa seja: a intenção procura naturalmente a sua realização se deixada por sua conta ou se estamos entregues disponíveis ao fluxo da vida. Todas as nossas células buscam realizar-se através da alegria, beleza, amor, prazer, estima, auto recriação e continuidade. A atenção e intenção inserem-se no campo da consciência desencadeando a reação adequada. Exemplo: minha intenção de dormir desencadeia uma complexa série de processos bioquímicos e neurológicos me permitindo relaxar e adormecer sob mecanismos naturais e orgânicos. Esta conexão - 16 - natural só se faz ao nível da inteligência. A intenção é basicamente um desejo e/ou necessidade e o sistema mente-corpo está ajustado para fazer frente a todas as necessidades/desejos direta e espontaneamente. Entendendo desejo como igual a de-sejo – aspecto que vem do ser. Tem presente um refinamento e sintonização com o que vai satisfazer e evoluir determinada qualificação do ser. Exemplo: tem o desejo de ser acolhido pelo parceiro. Já necessidade refere-se a um aspecto mais primário, sem o refinamento e a especificação. Exemplo: tenho necessidade de afeto. O que estamos tratando é diferente dos desejos compulsivos que a programação civilizada colaborou por embutir em nós. Assim sendo, a intenção é um gatilho facilitador para uma transformação. Talvez a grande questão seja como administrar a intenção: lidar com nossos desejos sem lutar indevidamente com o meio ambiente, ou seja, considerar o fluxo natural da vida parece uma questão importante. Neste contexto, pede-se uma confiança nas nossas habilidades de lidar com as questões que vierem. Ter uma intenção é significativo para se obter um resultado. Deepak Chopra traz algumas orientações buscando sintetizar o funcionamento do ato intencionado: 1.“Um resultado é pretendido. 2. A intenção é específica e definida : a pessoa tem CE RTEZA do que deseja (desejar é um referencial do ser, de auto -organização). 3. A pessoa assume uma postura de não interferência” ( CHOPRA, 1985, p. 133). [Eu acrescento de disponibilidade, receptividade ou melhor de entrega] 4. “A pessoa tem confiança. Acredita no seu poder pessoal e que os resultados virão. No entanto, não há ansiedade quanto a este resultado (por exemplo, se você ficar ansioso para dormir muito provavelmente não vai conseguir). Preocupação, incerteza e dúvida são os três obstáculos básicos que nos impedem de fazer uso eficiente do poder contido em cada intenção. A dúvida que vivemos leva uma intenção de auto derrota que será computada pelo corpo como um comando para cancelar seu próprio desejo - 17 - 5. Há um feedback referencial envolvido no processo. Cada intenção realizada nos ensina como proceder na intenção seguinte. O efeito é auto -reforçado quando o resultado ocorre, confirma o poder da intenção ao nível da consciência, aumenta a confiança e torna o sucesso mais forte. 6. Ao final do processo percebe mos que o resultado foi obtido de modo definido e consciente e que se estende para além do indivíduo até uma realidade mais ampla (“noção do campo”). O mundo material é uma expressão de uma inteligência não manifesta e superior que responde aos desejos do homem” (CHOPRA, 1985, p. 133). Uma descoberta e referência interessante a acrescentar foi a realizada pela Dra Candice Pert, bióloga molecular e neurocientista, que nos fala de um segundo sistema nervoso de base química, mais antigo, básico e mais extenso que o sistema nervoso até então reconhecido (rede de neurônios dos sistemas nervoso central e periférico). “Este segundo sistema nervoso é formado por receptores – moléculas sensitivas localizadas na membrana celular e por ligadores – moléculas que carr egam informações sendo que cada receptor tem um ligador específico que corresponde a ele. Quando um ligador se liga ao receptor correspondente produz neste uma vibração pelo qual a informação trazida pelo ligador é transmitida para dentro da célula, gerando nesta uma cadeia de reações bioquímicas. Estes processos que ocorrem a nível celular podem traduzir -se em mudanças de comportamento e de estados emocionais. Existem vários tipos de ligadores (por exemplo, os neurotransmissores) mas, 95% deles são peptíde os que ligados aos receptores correspondentes formam as chamadas moléculas de emoção ou substâncias informativas, denomina Pert”. ( PILLA, mineo.) Estes peptídeos se movem através do espaço extracelular do sangue e do fluido cérebro-espinhal viajando longas distâncias assim como o sistema endócrino com os hormônios. Pert considera este sistema integrado como uma rede psicosomática de informações ocorrendo simultaneamente no cérebro e todo o corpo e na qual um constante fluxo de informações se move através de células, órgãos e sistemas. “Esta rede inteligente é o corpo-mente que organiza e dirige todos os sistemas manifestando-se em emoções, pensamentos e comportamentos. A partir daí a neurociência se desenvolveu para a atual - 18 - psiconeuroimunologia que percebe o corpo-mente como um todo integrado” (PILLA, , mineo.) . Portanto, todas as informações sensoriais que chegam ao nosso corpo são transmitidas não só através do sistema nervoso cérebro-espinhal mas, também e, principalmente, através deste segundo sistema nervoso. Estes processos se dão inicialmente no nível inconsciente e é no nível celular que as informações serão tratadas permanecendo inconscientes ou ascendendo à consciência. “A modificação que o ligador unido ao receptor (molécula da emoção ) gera na membrana celular poderá facilitar ou bloquear o processo de transmissão, ou seja, a informação que entra na célula pode ser armazenada e sua transmissão bloqueada (permanecendo inconsciente) ou facilitada (ascendendo aos níveis conscientes). Esta decisão dependerá da quantidade e qualidade de receptores existentes em cada célula, fator que está relacionado as experiências de vida ocorridas desde o nascimento até o momento presente, bem como, do que está sendo transmitido pelos ligadores a cada momento. Pert acrescenta: uma vez que tais mudanças bioquímicas podem manifestar em emoções, pensamentos e comportamentos, vemos que estes estão intrinsicamente entrelaçados com as sensações corporais”. ( PERT, 2000, acesso 2005,) 1 Estas descobertas corroboram hipóteses como a de que a comunicação humana se faz através de pulsos vibratórios regidos pelo principio da interação – uma vez que, através desta rede , qualquer informação sensorial que atinja nosso corpo, provocará, através de vibrações (lembremos que é _____________ 1 – Site < www.ikosmos.com/wisdomeditions/essays/goldman01.htm - 19 - > através de vibrações que o receptor transmite para a célula a informação trazida pelo ligador), alterações celulares que poderão permanecer inconscientes ou tornar-se conscientes. É neste contexto que se deve considerar e compreender a atuação da intenção enquanto linguagem sensorial, de vinculação com o desejo, com o propósito de auto-organização e manutenção da saúde e da vida. Intenção é o conteúdo de desejo. É a carga sensorial e energética do contato, das relações, do movimento. É o gatilho detonador de um processo que possibilita a movimentação, a qualificação e a transformação da energia ao qual se propõe. Carrega em si a intensidade, a força e o poder daquilo que é sentido, pensado e projetado de uma maneira objetiva e direcionada. “O trabalho de levar atenção, através da presença da respiração ou do toque ou do próprio movimento que mobiliza a atenção permite que a intenção possa atuar num encontro que cura”. (NASCIMENTO , 2003 , p. ?.) A intenção, em si, é capaz de propiciar uma atenção natural, um estado de presença, disponibilidade e o acesso a uma sabedoria de qual ação, atitude se faz necessária a cada momento, definindo-se a relação, a comunicação, o movimento. Ao intencionar, mobilizamos e disponibilizamos – consciente e inconscientemente – todo nosso corpo/organismo numa determinada direção. Pode-se dizer que é a força motriz da atuação, estimulação e facilitação para transformar e requalificar o que se encontra fora de seu estado - 20 - natural de harmonia e saúde na vida. A intenção associada ao movimento e ao corpo é o estimulo e a facilitação para que este processo aconteça. As intenções nascem a partir do desejo e do sentimento vivido, a partir deste desejo do que precisamos e queremos transformar e requalificar conforme critério de vida e saúde. Intencionar significa voltar todo nosso desejo e atenção em uma direção e foco específico, encaminhando um determinado movimento. A intenção é percebida enquanto linguagem sutil, sensorial e mental, uma comunicação sutil que visa a transformação daquilo que se pretende. A efetivação desta transformação se dá pela inteligência e sabedoria do corpo. - 21 - INTENÇÃO E BIODANZA Pretendo neste tópico Intenção e Biodanza, levantar alguns conceitos, paralelos e associações, possibilidades de integração de conceitos que convergem para o objetivo de integração, renovação e vinculação do ser com a vida. Vivência e intenção Vivência é uma experiência vivida intensamente por um individuo no tempo aqui e agora. É a sensação intensa do pulsar da vida em si no agora. “Porta através da qual penetramos no puro espaço do ser, onde o tempo deixa de existir e onde somos nós aqui e agora” (ARANEDA, 2002, p. 30) Algumas características a destacar: ?? A vivência possui intensidade variável conforme o nível de conexão consigo mesmo, a qualidade do estímulo que a gere e enfim o nível de entrega e disponibilidade com que estamos. “À medida que diminui a atividade de controle e vigilância, aumenta a intensidade da vivência” (ARANEDA, 2002, p. 31) . ?? Possui uma dimensão cenestésica sugerindo ser uma via de acesso ao inconsciente vital. ?? “....a vivência surge com espontaneidade e frescor, possui a qualidade do original. A vivência não está sob o controle da consciência, pode ser “evocada”, mas não dirigida pela vontade” (ARANEDA, 2002, p. 31) . - 22 - ?? “A vivência constitui-se na experiência original de nós mesmos da nossa identidade, anterior a qualquer elaboração simbólica ou racional”. ( ARANEDA, 2002, p. 31) As vivências em Biodanza são integradoras, renovadoras e trazem em si mesmas, a vinculação com o prazer, o afeto, o auto-regular-se, o ímpeto e a alegria de viver, o criar e o recriar-se enfim, um convite ao movimento natural de continuidade da vida. A vivência desperta, acorda, sensibiliza, evoca necessidades, desejos, impulsos naturais orgânicos que nutrem a vida, a partir de um processo de integração da identidade e de expressão das potencialidades genéticas. Levanto assim a seguinte construção: a vivência em si tem o poder de deflagrar intenções de saúde. A vivência, enquanto manifestação do ser que precede a consciência, podendo esta ser imediata ou vir em outro momento, nos sensibiliza para intenções de saúde e de auto-organização, bem estar e crescimento. É uma proposta de reaprendizagem de estar no agora, de validar e se ocupar do viver o espaço tempo aqui-agora. Vive-se a reaprendizagem da entrega e a disponibilidade que talvez seja o precioso caminho de vinculação com o ser. O que meu ser quer em verdade? Onde quero viver? (meu ninho, meu chão restaurador), Com quem quero viver? (a qualidade do relacionar nutritivo) O que quero fazer? (fazer que permita crescimento afetivo). - 23 - Permite a nitidez, o movimento, o encaminhamento dos desejos e necessidades reais que permitem a integração do ser e do movimento de vida. O intencionar nasce de uma dimensão sutil, sensorial e orgânica despertada. É original ao constituir-se em uma experiência própria – considerando a sabedoria e inteligência do ser. Alimentado pelas vivências percebe-se a própria vida ganhando várias dimensões de presença, novas perspectivas do que vem a ser saúde, coragem, desejo de realização e potencial criador. Cada intenção trazendo suas propriedades de sensorialidade, sutileza, organicidade e vinculação à sabedoria da vida, é auto reforçada à medida que confirmamos na existência o que assim veio: cenestésico, visceral, sutilizado. Sem perder estas propriedades, confirma-se a força de confiança e de realização, continuidade e presença com que se cria e recria a própria existência. É a partir da e na vivência, sensória, visceral com suas funções transformadoras via renovação celular, que somos despertados e iniciados no processo de com ciência e com presença do movimento saudável da vida. A vida se confirma, com confiança e credibilidade, a partir da manifestação e materialização de desejos, interesses, perspectivas, valores, novas formas de sensibilidade orientadas para a saúde. A intenção, nascida do ser em busca de satisfação, integração e desenvolvimento, precisa de entrega, confiança no potencial realizador, confiança no movimento maior da vida para se fazer enquanto recurso - 24 - organizador e facilitador da transformação do que se encontra fora de seu estado natural de harmonia e saúde. Consigna e Intenção Considerando o desenvolvimento de processos de saúde intencionados e a Biodanza é importante salientar a grande função da Consigna – elemento na Biodanza, facilitador, significativo e iniciático. Trazendo alguns conceitos e caracterizações, a consigna é uma explicação e orientação teórica, operacional, existencial e funcional (para que serve) de um exercício. “É o referencial no qual se estabelece a relação entre a estrutura de um exercício e o seu objetivo” (MOURA ET AL., 1990). Funciona clareando para o grupo os seus sentimentos e emoções, situando a pessoa e o grupo no seu instante vivido, no seu momento existencial. Quando afirmo ser a consigna facilitadora, significativa e iniciática, quero indicar que ela dá início, colabora na passagem a outro nível de sentir, perceber, pensar a existência e o gesto de vida. Acrescento também suas características de ser capaz de dar permissão, incentivar e ampliar o experenciar a vida em outros níveis ainda não vividos. - 25 - Além de revelar o nível de sensibilidade expressado pelo grupo, começa por despertar níveis de sensibilidade que se efetivam na própria vivência. Dentre os elementos que constituem uma consigna temos sua abordagem filosófica - poética que se relaciona com a qualidade existencial do exercício. Traz o sentido do exercício na sessão e seu significado de vida. “Descreve a complexidade dos fenômenos do ser e de sua relação como os outros e com o meio; a complexidade dos fenômenos da natureza, do cosmo, enfim da vida” – (MOURA ET AL., 1990). Intensifica a sensibilidade, confere poesia, beleza e naturalidade ao que é vida, da natureza, da existência humana. Dito assim permeamos no instante da consigna a personalidade, abrindo, permitindo e alcançando uma abertura do ser no sentido de deixar ou abaixar a força de padrões tão arraigados e viciados do pensar, do existir, e do defender-se de viver, em momentos atuais, talvez, tão desnecessários. A intenção ou processo de vida intencionado requer uma abertura a outras janelas do sentir, do perceber, do permitir novas possibilidades do existir, de início estimulado na consigna ganhando continuidade pelo processo da vivência na sessão. A consigna clara e precisa, abre e amplia o conceito de viver, oferecendo os primeiros subsídios para a formação da consciência que, na sua menor unidade se manifesta no corpo pela célula (consciência celular), se - 26 - processando pela vivência. Este processo de consciência dá ordem, clareza e foco necessário para a definição de toda intenção. Entre outros elementos da consigna tem-se ainda a sua fundamentação científica, que define o objetivo, o para que serve conforme o que se deseja trabalhar e transformar e a descrição estrutural do exercício que diz respeito ao como fazer não no sentido de um modelo a ser imitado, mas como uma orientação, uma proposta de execução. A estrutura do exercício apresenta o meio mais eficaz de deflagar de uma vivência (com todas suas características emocionais e orgânicas) conforme as possibilidades de cada um. Enfim, a consigna colabora, permite e incentiva uma nova forma de sentir, perceber, pensar e fazer o gesto que nos vincula a vida. Dá abertura e confiança ao corpo-mente. “A mente cria o corpo... começa na célula que recebe o sinal do cérebro” (WHAT THE BLEEP DO WE KNOW, 2005). - 27 - Movimento humano na Biodanza e intenção Os exercícios de Biodanza se constituem de movimentos naturais do ser humano, são exemplos: o caminhar, o saltar; os gestos relacionados a socialização, abraçar, dar as mãos; e de gestos arquetípicos, modelos antigos, eternos e universais de manifestação da vida, ex.; gestos eternos relacionados ao trabalho, o embalar de um bebê (vida recém nascida), o parir, entre outros. “Estes gestos são realizados com músicas que intensificam a cenestesia estimulada pela categoria motora em ação formando movimentos de dança, que conforme Rudolf Laban são movimentos de vida” (ARANEDA, 2002, p. 138) “A seqüência de exercícios em uma sessão de Biodanza segue regras que tem objetivos precisos, como, por exemplo, o aumento à resistência ao stress e a estimulação das funções neurovegetativas” (ARANEDA, 2002, p. 138) . Com vistas a buscar a integração do ser humano e o desenvolvimento de processos de saúde, a Biodanza propõe recuperar a integração psico física por meio de uma metodologia que inclui todos os aspectos do movimento humano, ressaltando a tamanha conexão do movimento com seus aspectos emocionais e vivenciais. Rolando Toro definiu o desenvolvimento da motricidade que guarda uma relação com o nível neurofisiológico e psicológico e com as chamadas categorias de movimento. Estas retratam o desenvolvimento e o estado que se apresenta o ser considerando os níveis fisiológico e emocional. - 28 - Assim, temos, por exemplo, o ritmo – grau básico de integração motora, revelador do grau de vitalidade. Está vinculado as nossas funções viscerais e instintivas. A partir do ritmo, evoluem outras características como sinergia, a potência, a flexibilidade, a elasticidade, o equilíbrio, a expressividade, a agilidade, a fluidez, a leveza, a resistência e a coordenação. Vamos conquistando níveis de integração como o afetivo-motor, o afetivoerótico, a integração ao universo, integração sensitivo-motora, integração ideo-motora. Enfim, caminhamos do ritmo – referencial instintivo – à graça do movimento enquanto processo de integração psicofísico e de saúde. O movimento na Biodanza com suas expressões biológica, afetiva e existencial nos convida a princípio a uma reeducação do gesto, enquanto referencial de saúde e integração. Contribui, também, todo o tempo, por quebrar ou interromper o padrão condicionado e repetitivo de movimento que traduz qualidades fragmentadas no viver. Quero acrescentar que o movimento é significativo no sentido de permitir uma nova localização que dá fluência à proposta afetiva, biológica e existencial que desejamos. Temos uma nova atitude frente `a vida facilitada e manifesta via movimento integrado, pleno de significados naturais, afetivos e existenciais. Vejo quanto o resgate do movimento humano enquanto novo gesto integrado desperta, dá fluxo, continuidade à saúde e à vida. - 29 - Ao intencionar voltamos nosso desejo e atenção em uma direção e foco específico, encaminhando um determinado movimento: movimento energético, físico, biológico – natural, sob a ótica do gesto integrado. O movimento humano, assim bem colocado, pela Biodanza é um grande estimulador de uma “nova rota” nos relocalizando, despertando e reeducando nossos gestos, assim reforçando nossos processos transformação e integração conforme critério de vida e saúde. - 30 - de Aspectos fisiológicos na Biodanza e intenção E’ esclarecedor fazer um paralelo do mecanismo fisiológico de autoregulação, integração e saúde que ocorre através da metodologia da Biodanza e o processo do ato intencionado. As vivências na Biodanza têm sua atuação fisiológica no sistema límbicohipotalâmico através da suspensão da atividade verbal, do descanso do sentido visual em contrapartida ao auditivo (percepção musical, poesia...), da interrupção da motricidade voluntária (os movimentos são lentos e orgânicos – sem controle do pensar), das funções integradoras, de sensibilidade e movimentos predominantemente ligados aos impulsos instintivos, afetivos e emocionais. A sua atuação induz uma diminuição temporária da função do córtex cerebral gerando uma maior expressão e fortalecimento de habilidades e qualificações do que nos é original, natural e integrativo enquanto ser e espécie. A partir do estímulo e expressão de impulsos límbico-hipotalâmicos vivemos uma coordenação em equilíbrio do sistema nervoso neurovegetativo que comanda as funções involuntárias que servem à conservação da vida. Este sistema se constitui de dois sub sistemas: simpático, função de atividade e vigília, e parassimpático, função de repouso e sono que agem através de seus respectivos neurotransmissores em uma ação complementar, alternada e equilibrada. É possível estimular cada um dos subsistemas mediante exercícios que ora reforçam a identidade (simpático) e ora induzem a regressão integradora, - 31 - ao Eros indiferenciado, ao transe (parassimpático). É importante destacar que certos efeitos provocados pelas vivências de Biodanza são análogos àqueles produzidos pela ação de alguns neurotransmissores e hormônios. A Biodanza via vivência integradora atua no SIALH – sistema integrativo adaptativo límbico-hipotalâmico, dito assim, centro das emoções e instintos. Este, via hipófise, regula todo o organismo através da coordenação de todas as outras estruturas glandulares. A harmonia dos sistemas simpático e parassimpático provoca a regulação hormonal (sistema endócrino) como também estimula o sistema imunológico via homeostase e mensagens químicas que são enviadas ao cérebro (como por exemplo, a serotonina e a histamina). Esta harmonização do SIALH gera o fortalecimento de respostas ao estado de stress. Ao regular as funções biológicas, a Biodanza permite a renovação celular e reparação orgânica, e assim a construção de novos registros que se afirmam como consciência celular liberando memórias primárias que neste momento não funcionam mais para aquele ser. O ato intencionado inicia-se da identificação do insight, assim entendendose, luz do interno ou ainda, comunicação sensorial vinda do ser nascida da tradução e validação do desejo e movimentos: orgânico, sensorial, energético e existencial. A partir daí, esta comunicação, uma vez sensorial, ganha fluxo e movimento de expressão e materialização na existência através de vias fisiológicas. - 32 - Fazendo a interface e interação com o mundo - informações que nos chegam – temos os órgãos dos sentidos destacando aqui além do sistema nervoso central e periférico, o segundo sistema nervoso, já mencionado por Pert, de base química envolvendo todo o corpo desde a pele como envoltório e interface . Precisamos da informação do externo - outro - que nos desperta curiosidade, interesse, vinculação com o que é verdadeiro para nós e assim seguirmos desenvolvendo e qualificando funções, potenciais e aprendizados. Assim, neste primeiro nível recebemos toda a possibilidade de desenvolvimento e saúde. De acordo com correntes atuais do pensamento médico, representadas, por exemplo, pelo Dr Euder Airon, a validação do insight, conforme definido acima, desencadeia o funcionamento da pineal – glândula que segrega a melatonina – também chamado hormônio da escuridão. Esta regula os estados de sono e vigília, ou seja, nossos processos de informação inconsciente e consciente, respectivamente. É produzida a partir de nosso estado de sono e repouso, momento em que fazemos contato com nossa luz interna – informações que nascem do ser. A hipófise regula informações e funções neurológicas, hormonais, energéticas e emocionais de toda a rede glandular: tireóide, timo, pâncreas, supra-renal e gônadas. É no hipotálamo, localizado abaixo da pineal, que se faz a conexão entre a pineal e hipófise. Temos no hipotálamo a fábrica de produção de químicos responsáveis pela emoção. Há químicos, por exemplo, para viver o desejo, a alegria, a raiva combinados em um estado emocional. Lá estes químicos se transformam em peptídeos, neuropeptídeos e neuro hormônios. No momento em que vivemos algum estado emocional é fabricado o peptídeo correspondente sendo liberado pela hipófise na corrente sangüínea e assim se estende a todo sistema endócrino. Partes do corpo - 33 - correspondentes e específicas a esta emoção são estimuladas. “O peptídeo acopla nas células mudando seu núcleo e sua consciência” – (WHAT THE BLEEP DO WE KNOW, 2005 ). Algumas colocações do filme What the bleep do we know?, são interessantes quando se trata do processo intencionado: O cientista Daniel Monte 1 coloca: “.....fundamentalmente contamos uma história para nós mesmos de como o mundo exterior é .... ....qualquer experiência no mundo exterior é colorida pelas experiências que já tivemos e por uma resposta emocional àquilo que estamos vivenciando...” Já Dr Joe Dispenza 2 diz: “.... se vivemos um sentimento e um pensamento reiterado, a rede neural conectada, terá sido reforçada em um relacionamento de longo prazo com todas as outras células definindo como identidade. _________________ 1 . Diretor do programa médico Corpo e Mente da Universidade Thomas Jefferson, físico com treinamento em psiquiatria e comportamento humano. 2 . Pós graduado em anatomia e fisiologia neuro química, neurofisiologia e genética. - 34 - ... se interrompemos um pensamento, desconectamos esta rede e se feito com foco no observador de quem se é, saímos do automático para responder e reagir...” É neste instante que recriamos um processo de base fisiológica e química gerando novas associações neurológicas que se traduzem em novos conceitos, idéias, pensamentos e vivências da maneira de sentir a vida. Amplifica-se o processo de presença da própria vida. Intenções de saúde podem ser formatadas e estas a partir da própria vivência existencial com a presença do observador ganha confiança para que o processo intencionado se reforce e continue. No filme, What the bleep do we know?, o cientista William Tiller 3 coloca: “... muitas pessoas não afetam a realidade de forma consistente e substancial porque não acreditam que podem. Elas escrevem uma intenção e depois apagam, por que acham que é tolice – não consigo fazer isto – escrevem de novo e apagam. Isto tem um efeito pequeno pois elas não acreditam que possam fazer isso” De acordo com Dr Miceal Ledwith 4: “... geralmente temos uma névoa de pensamento positivo cobrindo uma enorme massa de pensamento negativo...” _________________ 3 . Professor emérito de ciência, mate riais e engenharia da Universidade de Stanford. 4 . Ex professor de teologia sistemática da escola Maynooth, Irlanda. - 35 - Enfim, Dr Joe Dispenza 2 ressalta: “... temos que formular o que queremos.... nos concentrar e nos focar tanto... estar tão consciente... ... todos nós já desejamos muito algo a ponto de perdemos a noção do tempo... de quem somos... ... estamos tão envolvidos que a experiência que temos é a única coisa real. ..isto é a física quântica em ação ... é o observador em ação ... sua consciência influencia outros ao redor, o futuro. ... você está co-criando o futuro”. _________________ 2 . Pós graduado em anatomia e fisiologia neuro química, neurofisiologia e genética. - 36 - Para fins ilustrativos segue um paralelo entre o processo fisiológico da Biodanza na Figura 1 e o ato intencionado na Figura 2. Biodanza Vivência Reimprinting Reparentalização SIALH Sistema Endócrino Imunológico A Fig. 1 mostra o processo fisiológico da Biodanza Novo Ato intencionado Ato intencionado Novo conceito de viver Validação/Insight SIALH Sistemas Endócrino Imunológico Novas conexões neurológicas A Fig. 2 mostra o processo do ato intencionado acompanhado da espiral evolutiva gerada pelo novo ato intencionado. - 37 - RELATO DE EXPERIÊNCIAS Processo intenção e Biodanza na minha experiência pessoal Quando conheci a Biodanza, o termo intenção já fazia parte da minha vida há algum tempo, via processo terapêutico e buscado depois de ter manifestado um quadro de endometriose e endometrite acompanhado também de muita insatisfação. Lembro-me que nesta época a pergunta que a todo tempo me acompanhava era: qual o sentido da minha vida? Sem muito perceber já me lançava com todo o afinco, coragem e muitas inseguranças ao observar e significar todo o meu movimento e do meu entorno, aprendendo o estar receptiva, para que algum sentido pudesse chegar. A sensação vivida era que eu estava participando de um jogo que demandava aprender o que é atenção, pois cada movimento atento me nutria de mais atenção e disposição para não perder o foco. Cada peça movimentada com sentido reforçava o continuar e o movimento seguinte. Desde esta época foi importante compreender que com todo o desejo, precisa-se sim largar muitos conceitos, valores, preconceitos enfim conteúdos que nublam a força e a disposição do desejo. Com muitas perguntas cheguei a Biodanza. Cada vivência era representativa de muita riqueza. Conhecia lugares dentro de mim muitas vezes não traduzíveis e assim recebidos e outros que, mais adiante, se revelavam com mais sentido. Percebia que, em algum momento depois, a tecitura ganhava uma forma mais nítida, porém não pronta, preenchendo-me de sentido da - 38 - vida, de maior satisfação, prazer, coerência e identificação. Sentia que uma nova perspectiva ou conceito de vida, assim bem vivido e funcionante estava sendo construído. Este processo foi muito facilitado com a Biodanza, que me alimentou com os seus vários níveis e possibilidades do sentir e entregar, o que são os afetos, o que significa estar afetiva, o construir a partir das próprias mãos, creditar/confiar em mim, no outro e principalmente na vida, ampliando meu universo do existir de inúmeras formas, conforme meus desejos cada vez mais desimpedidos. Hoje, a Biodanza me permite ampliar, em níveis cada vez mais sutilizados, espiritualizados e transcendentes, o funcionamento do viver. A partir desta relação ato intencionado e Biodanza, vivi e vivo passagens e construções seja no momento de criação como também no momento de manutenção que significam e engrandecem a vida. Exemplificando alguns têm-se o encontro com meu marido e parceiro, o conceber de meus dois filhos, a minha reconstrução profissional e outros, como: o construir e dissolver meu mioma, o lidar com meus processos insones e nos últimos anos a experiência de trazer este conceito e força do ato intencionado ao grupo regular de Biodanza. - 39 - Observações do processo intenção e Biodanza no grupo regular de trabalho O grupo regular de trabalho se compõe de oito participantes entre mulheres e homens. Como grupo traz características heterogêneas em termos de idade, ocupação profissional, interesses iniciais, crenças, entre outras. Considerando toda a diversidade, percebem-se, também, semelhanças em relação a comportamentos, histórias pessoais e questões emocionais. Esta composição torna muito rico o processo de crescimento e construção do grupo. Estou salientando o processo de seis pessoas durante um período de trabalho de um ano. Inicialmente destaco as primeiras falas dos alunos que hoje compartilham esta experiência comigo. Depoimentos do início do trabalho: “A – larguei (tranquei) a faculdade, não vejo sentido, estou perdida, muitas dúvidas...... B – estou vendo o tanto que não me priorizei ao longo da vida .... o tanto que não me permiti sentir..... C – a fantasia sempre fez parte da minha vida ... o que me dispersa energia, me dificulta viver satisfação no que é real... D – medo de exposição ..... abrir para o mundo .... será que estou preparada ? ... na infância éramos muito presos... só brincávamos dentro de casa ..... - 40 - E – fico buscando .... como funciona a espiritualidade .... sinto ter um lugar de liderança ... sair dele é como fracassar ... fragilizar ... F – sinto que tenho o poder de atrair situações contrárias ... me sinto dividido em dois ... fico pelo bem comum ... não vou lutar porque a situação não vai mudar ... sinto que preciso me permitir mais, ser mais livre ...” Falas que se seguiram após um ano de trabalho: “A - ..hoje percebo o tanto que meu pai me faz falta ... sinto mais receptiva às suas limitações ... B – não quero ser a ... que já fui. Não sustento mais o antigo. C – sinto mais estreiteza com a realidade, ser perder o sonho. Sinto-me criando, manifestando, expressando mais a realidade a partir do que sinto – meus afetos. Estou mais objetivo. D – me sinto mais corajosa. Vou começar meu curso tão sonhado em agosto. A cobrança não tem o peso que já teve. O recado que me ficou é: mantenha o foco. E – sinto que vejo mais a partir das relações em meu entorno. Elas ocupam um lugar de significância ... de aprendizado. Sinto ainda dificuldade de expressar para o outro o meu sentimento de amor... F – sinto mais leve com a Biodanza, as coisas da vida chegam com mais compreensão. Tenho sentido uma quebra – rachaduras nas vivências das últimas aulas.” Desde o inicio, o grupo manifesta nos relatos de intimidade informações e sinais corporais despertados e estimulados a partir das vivências. Isto é - 41 - significativo e positivo demonstrando a reatividade, resposta corporal e receptividade dos alunos ao estímulo e objetivo pretendido com as vivências. Os relatos apresentados após um ano, demonstram uma relocalização dos alunos em relação aos seus processos individuais. É perceptível uma valorização de si e do caminhar conquistado, maior presença, foco e objetividade nas falas e acrescento no movimento apresentado nas aulas. Os interesses iniciais já traduzidos, para alguns, como os desejos orientadores se apresentam cada vez mais nítidos e desimpedidos, com fluência na manifestação e concretização. Percebo mudança de valores pró vida e maior credibilidade no interno. Mostram mais integração, confiança, leveza e satisfação. Observações da aplicabilidade do processo integrado intenção e Biodanza no grupo regular Apresento alguns aspectos observados e experenciados no grupo regular em questão que tem permitido a aplicabilidade integrada dos processos intenção e Biodanza. Para tanto, alguns aspectos foram experenciados considerando conceitos já citados anteriormente tais como: consigna, vivência e movimento humano, acrescentando ainda a integridade da pessoa facilitador(a). A integridade da pessoa facilitador(a): quero destacar não só na função facilitação mas, principalmente, a coerência e integridade com que se vive na - 42 - própria vida, os valores, os princípios de saúde e vida. Sempre me acompanhou a visão de que todos ao meu redor trazem em si uma entidade de força. Acredito desde a necessária relação de evolução que faço com os meus genitores até todas que se seguem colaborando com o meu crescer, que somos todos potentes, capazes e que em algum lugar dentro de nós vibramos o desejo de ser feliz. A consigna: trazendo suas dimensões teórica, operacional, existencial e funcional é reveladora da coerência, do nível de integração e da qualidade das experiências vivenciadas e apreendidas pelo facilitador. Em que realmente acreditamos? Quais as bases de construção dos nossos processos de desvio/caos e retomada de saúde? Como sustento a minha força de vida? A vida é afetiva conosco. Tudo no universo é funcional no sentido de nos evoluir, nos localizar, nos trazer presença, nos voltar ao próprio caminho de saúde. Percebo que vindo anterior em nós, facilitadores, e permeando toda manifestação verbal que caracteriza uma consigna, trazemos a força do que é intencionado via o que é necessário trabalhar, transformar e sensibilizar, ou seja, o objetivo a que se pretende. A pessoa facilitadora traz o sentido ampliado de vida que é traduzido em sua expressão corporal-energética e acrescento também na sua postura afetiva diante do que e como se vivem as situações de vida. A vivência: a vivência enquanto base metodológica da Biodanza tendo como fins a integração, renovação e desenvolvimento humano pressupõe a atenção cuidadosa com a tríade: gesto (movimento pleno de sentido), música adequada e coerente ao propósito da vivência e a consigna já mencionada anteriormente nos permitindo o acesso a outro nível do sentir dando - 43 - permissão, incentivando e ampliando o experenciar a vida em níveis ainda não sentidos e vividos, facilitando, assim, a conexão com a emoção que integra a tríade dita acima. É importante ter claro para o facilitador o propósito a que se pretende ao escolher os exercícios, mesmo considerando as características que compõe a vivência: a subjetividade (são únicas, íntimas e incomparáveis, singulares), variabilidade de intensidade (são variáveis conforme o nível de entrega), a espontaneidade (qualidade do original/evocação do ser), temporalidade (é passageira, se manifesta no presente), entre outras. Este propósito permeia e se traduz na consigna, na postura do facilitador, no seu movimento e gesto apresentado “pleno de sentido” e na música escolhida. Para o aluno esta nitidez facilita o mergulho na sua vida iniciada pela metodologia vivencial, ampliando seu campo do sentir, observar, perceber-se na vida. Percebo com clareza que precisamos todos sermos alimentados destes aspectos que a vivência nos nutre: confiança, entrega e disponibilidade, organicidade anterior `a consciência, espontaneidade, subjetividade, emocionalidade, cenestesia, entre outros e a ampliação do ato do observar a si, ao outro e ao movimento da vida, ato que caracteriza o processo de auto cura. Estes aspectos vão nos habilitando a crer na nossa potência de sermos criadores da existência. O ato intencionado pressupõe que se largue, solte de conceitos, pré-conceitos, valores, perspectivas que muitas vezes nos nublam, nos afastam da comunicação mais íntima de si, do orgânico, do que - 44 - realmente alimenta de vida e saúde, enfim do desejo real do ser. Neste sentindo a vivência é conjuntamente eficaz e destaco: ?? A vivência nos permite “tomar tento” e ampliar o ato de viver em todas as dimensões, entre elas orgânica, corporal, sensível, existencial, etc.. A vivência apreendida com a Biodanza é extensiva a existência com todas suas propriedades enquanto “experiência vivida com grande intensidade por um individuo no momento presente, que envolve a cenestesia, as funções vicerais e emocionais” (ARANEDA, 2002, p. 30). Trazemos no viver a vivência enquanto método Biodanza assim reeducado e com repertório para lidar com o viver do dia a dia: um novo saber viver. ?? A vivência nos revela não só enquanto exercício vivencial em aula mas como dito acima a vida em vivência como nova forma ou reaprendizagem do viver: abrimo-nos para questões como: Como nos posturamos com nossos atos, atitudes e percepções na vida? O que podemos escolher, construir a partir deles? O que quero em verdade? Lembrando e estendendo as questões da Biodanza: onde quero viver? (meu chão, meu colo, meu ninho); o que quero fazer? (o que me nutre, me dá prazer, me alimenta de vida e crescer); com quem quero viver? (com quem e como construir relações nutritivas que sentimos crescer afetivamente). Talvez estas revelações possam ser cada mais permitidas e estimuladas pelo crescente desejo de evoluir, crescer, ser feliz, amar - 45 - e ser amado, continuar, entre outros desejos que é a proposta da vida em si. Enquanto alunos, o exercício vivencial, ressaltando na Biodanza e na própria vida, vai estimulando esta construção ou mesmo reconstrução tão necessária ao ato intencionado. O ato intencionado nos pede fiança no movimento construído a partir do interno, a postura do estar disponível receptivo e não de controle, de identificar quais desejos identificam e reforçam a saúde, o que é valor na vida, o que é creditar consigo, com o outro, com o movimento maior da vida. Considerando estes quesitos acima vivenciados o intencionar neste momento pode ser melhor compreendido, aplicado e desenvolvido pelos alunos sendo este também um instrumento de criação e desenvolvimento do movimento de saúde que é natural e inerente à vida. Alguns trechos do filme what the bleep do we know merecem ser lembrados quando se trata da Biodanza e seu fundamento vivencial e o processo ato intencionado. Falas do Dr. Joe Dispenza 2: “... quando falo sob desaparecermos quero dizer sair da área do cérebro que tem a ver com a nossa personalidade, que tem a ver com nossa associação com pessoas... lugares... com coisas, tempos e eventos. .. vivendo ilusões... suas almas, sua vontade pode nunca aparecer para que possam mudar, para que possam vir a crescer e a ser algo mais... .. se a alma vir a tona, a pessoa passa a perguntar se existe algo além disso... por que estou aqui? Qual o propósito da vida? __________________ 2 . Pós graduado em anatomia e fisiologia neuro química, neurofisiologia e genética. - 46 - ... e aí... podem começar a namorar, a relacionar com a percepção de que estão tendo um colapso nervoso... na verdade o que está acontecendo é que os seus velhos conceitos de como viam a vida e o mundo estão começando a desmoronar... ... estamos num território novo de nosso cérebro ... literalmente reconectando novos conceitos e isto nos muda de dentro para fora..” Falas do cientista Andrew Newberg 6: “...o cérebro é capaz de fazer milhões de coisas diferentes. As pessoas apenas deviam saber como elas são realmente incríveis e como suas mentes são realmente incríveis... ... e que não somente possuem esta coisa inacreditável dentro de si,... que pode fazer tantas coisas ... nos ajuda a aprender, a mudar, e a adaptar ... que pode ajudar a sermos melhores do que somos atualmente e ... pode nos ajudar a transcender a nós próprios. ... e nós podemos finalmente achar maior significado para nós mesmos no mundo... existe uma parte espiritual no cérebro”. O relato de vivências: ou intimidade verbal conduzido pelo facilitador(a) tem uma função interessante no processo ato intencionado e Biodanza. O relato de vivência caracteriza-se por ser uma expressão principalmente verbal do que foi vivenciado, sentido – emoções e sentimentos – na aula anterior. __________________ 6 . Professor do Departamento de Radiologia e médico nuclear no Hospital da Universidade da Pensilvânia. - 47 - Responder ao conteúdo do relato vivenciado com localização para si da história, do movimento e todas as falas anteriores observadas, nos permite dar uma ordem, mesmo com a colocação aberta de questões e principalmente localizar para o outro – aluno – o seu processo devolvendo para ele a significância de todo gesto, ato, situação de vida que também colaboram para ele significar o próprio processo. Aqui é imprescindível tanto o conteúdo da fala mas a forma em que ela se apresenta. A comunicação do facilitador vai além do conteúdo de suas palavras, incluindo seu corpo, sentimento (potencial afetivo) e traz em si o foco e critério do que é saudável. Movimento humano: o resgate do movimento humano desenvolvido pela Biodanza enquanto novo gesto integrado desperta, dá fluxo e continuidade à saúde e à vida. Encaminhar um determinado movimento sendo ele energético, físico, biológico-natural sob a ótica do gesto integrado assim colocado pela Biodanza permite manifestação e efetivação do ato intencionado. O caráter integrador do movimento humano desenvolvido pela Biodanza estimula uma nova rota , nos relocaliza no sentido de reeducar nossos gestos em prol da saúde e da vida. O movimento integrado objetivado nos encaminha e nos permite acessar lugares, vivências, emoções que habitam nosso interno, ou melhor, incluemse também o conteúdo que lá contido precisamos ou desejamos transformar. A forma (movimento) pode ser uma via de acesso para se alcançar o até então pretendido e propositado desejo – canal importante no ato - 48 - intencionado – abrindo-nos à vivência do mesmo. O acesso ao movimento integrado, uma reeducação do gesto para a vida vai nos permitindo estar mais disponíveis e desimpedidos para a realização do intento desejado. De uma outra forma, a postura de receptividade, entrega, confiança e abertura afetiva ao propósito a que se deseja é também uma via de acesso para que naturalmente o movimento se caracterize e se efetive em busca do que se deseja requalificar conforme critério de saúde e vida. Observar qual o caminho mais acessível a cada momento, inclusive para facilitar o processo do grupo-aluno pode colaborar para creditar confiança à sabedoria divina a qual todos possuímos e acessamos, dar nitidez e sentido ao processo vivido em desenvolvimento. - 49 - CONCLUSÃO A vivência enquanto manifestação do ser que precede a consciência nos subsidia de quesitos imprescindíveis ao processo do ato intencionado. Com a vivência realiza-se a reaprendizagem da entrega e disponibilidade, validando o estar no aqui-agora; nos desperta e sensibiliza à experienciação integrada de intenções de saúde, auto organização, bem estar e prazer. Enfim, impulsos naturais que nos nutrem de saúde e de mais vida. Permite a nitidez, o movimento reeducado e o encaminhamento dos desejos e necessidades que geram a integração do ser. Assim a Biodanza enquanto sistema de integração humana, de reeducação afetiva, de renovação orgânica e de reaprendizagem das funções originárias da vida converge assim como o funcionamento do ato intencionado para objetivos de integração, renovação e vinculação do ser com a vida. Neste sentido, o mecanismo da intenção pode servir de recurso fortalecedor e de evolução quando aplicado a partir de experienciação com a Biodanza e seu fundamento vivencial. Privilegiar a vivência do processo intencionado vindo anterior à consciência cognitiva, tal como a Biodanza o permite, com experienciação de processos existenciais nas suas dimensões energética, sensorial, biológica e natural proporciona nova visão de si mesmo e da vida. A partir deste momento podemos melhor traduzir o mecanismo do ato intencionado. Neste sentido observar o momento que pode ser introduzido o - 50 - conceito do ato intencionado e seu funcionamento pode ser interessante. Por exemplo, para aqueles grupos que já apreendem a partir da metodologia da vivência na Biodanza o funcionar do viver, a postura receptiva que nos convida a vida na sua tarefa de continuidade e evolução, sua participação enquanto auto-curador, protagonista e criador da própria existência, o ato intencionado pode agir como um instrumento potencializador e de fortalecimento para a construção de um caminhar pela vida cada vez mais integrado, saudável, livre, prazeroso e feliz. Finalizando, quero ilustrar com as seguintes falas: Dr Michael Ledwith 4: “... não há o bom ou mau... existem coisas que eu faço que me evoluem ... e existem coisas que eu faço e não me evoluem...” Ramther 5: “...somos deuses que estamos construindo ... e temos que seguir por este caminho ... até o dia em que amarmos o intangível assim como amamos os nossos vícios...” Joe Dispenza 2: “...sou muito mais do que penso que sou e posso ser muito mais que isso...” __________________ 4 .Ex professor de teologia sistemática da escola de Maynooth, Irlanda. 5 . Mestra da escola Ramtha de Iluminação Canalizad a por IZ Knight. 2 . Pós graduado em anatomia e fisiologia neuro química, neurofisiologia e genética. - 51 - REFERÊNCIAS 1. ARANEDA , Rolando Toro. Biodanza. 1. ed. São Paulo: Olanobrás. Escola Paulista de Biodanza, 2002. 157p. 2. CHOPRA , Deepak. A realização expontânea do desejo. 1. ed. Rio de Janeiro: Rocco ltda, 2003. 219p. 3. CHOPRA , Deepak. Corpo sem idade, mente sem fronteiras, 5. ed. Rio de Janeiro: Rocco ltda, 1993. 394p. 4. HOLLANDA , Aurélio Buarque. Dicionário da língua portuguesa, 1. ed. Rio de Janeiro: Fronteira, 1985. 3.400 p. 5. MOURA, Maria Betania; TEIXEIRA , Maria Suely Antunes. Introdução a uma sistematização das consignas em Biodanza. Dezembro, 1990. 122f. monografia (titulação como facilitador de Biodanza), Associação Latino Americana de Biodanza – ALAB. Fortaleza, Ceará. 6. NASCIMENTO , Maê. Caminhos da energia na prática clínica. in CONGRESSO INTERNACIONAL DE ANÁL ISE BIOENERGÉTICA , 17., 2003, Salvador, Bahia. 7. PERT, Candance. Molecules of emotion: why you feel the way you feel. New York, 2000. Interview with Candance Pert by Caren Goldman. Disponivel em: < www.ikosmos.com/wisdomeditions/essays/goldman01.htm >. Acesso em 15 out. 2005. - 52 - 8. PILLA , Maria Lucia. O corpo – este primitivo. São Paulo. USP-SP, 2002, 6f. mimeografado. 9. SHELDRAKE , Rupert. O renascimento da Natureza. 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