RedLizzard

Transcrição

RedLizzard
Edit#
MöndoBrutal #03
03
Info e coisas..:
Cada banda, cada entrevista, resposta, frase ou palavra
que temos nesta terceira edição só prova a qualidade e o
empenho das propostas que teimam em emergir do nosso
underground. Tanto temos o experimentalismo dos Moe’s
Implosion, que quase ameaçam abandonar o rock em futuros
devaneios, mas decerto sem comprometer a qualidade da
boa música que têm vindo a esculpir, como temos uns Spiritual Way que são capazes de sacrificar tudo o que podem pelo
eterno rock n’ roll. Há ainda a honestidade e frontalidade
dos Artigo 19, onde a mensagem da humildade aliada a uma
forte convicção estão bem intrincadas, e os Black Bombaim,
como representantes dos defensores da eterna chama negra - o rock que desce aos confins do psicadelismo e faz um
pacto com o anjo caído na sua volta, acabando a beber da
aridez do southern rock, tudo de forma exímia.
Quanto à capa, temos os PhaZer. Que dizer dos PhaZer?
Quando tanta coisa parece injusta em relação a como a arte
deveria ou poderia vingar, os lisboetas surgem como o exemplo de um grupo que, sem a visibilidade do mainstream,
aos poucos e poucos vai ganhando terreno, não só dentro
de portas, mas também a nível internacional. Rock não só
com nervo, mas também com aquela pontinha de sorte que
tanto merecem aqueles que arriscam no jogo tendo apenas
presente na memória as imortais palavras do Lemmy “..gambling’s for fools/ but that’s the way i like it baby/ I ain’t
gonna live forever“.
Em suma, tudo bem espremido, temos mais uma forte dose
de exemplos de como o DIY está vivo e recomenda-se.
Não esquecer também as nossas rúbricas e o bom conteúdo
que desta vez elas compõem, com um interessante insight
sobre a contagiante “Deep down inside“ dos RedLizzard, e
com o revisitar de mais uma história, sendo que desta vez
resgatámos os rockers Lulu Blind.
Seleccionem o vosso veneno de eleição, encontrem uma
posição favorável, ao som de uma boa banda sonora e entrem em mais esta viagem connosco.
Rock n’ roll!
MÖNDOBRUTAL webzine
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A Seita:
KaapaSessentainove (coisas variadas/ entrevistas)
Maltês (design)
Rui LX (tmbm design)
Cátia Panda (recolha de info/ an.discos)
Girh (revisão textos/ entrevistas)
Lagartixa (an.discos)
Hugo Cebolo (for.d’arquivo/ linhas c. q. s. t. a malha)
índice
02 - Editorial
03 - Notícias
04 - Fora do Arquivo: Lulu Blind
06 - Moe’s Implosion
10 - Artigo 19
14 - PhaZer
18 - Spiritual Way
22 - Black Bombaim
26 - A.l.c.q.s.t.M.: “Deep down
inside” dos RedLizzard
28 - Análises a discos
2
30 - Videoclube
pag.14
Not]cias ..................
Pitch Black procuram baterista
Os Pitch Black estão neste momento à procura
de baterista. Alguns dos requisitos apontados pela
banda são o “domínio em pedal duplo, boa técnica,
rapidez, groove“ e a “capacidade para a interpretação de todos os temas dos dois álbuns da banda“.
Para mais informações, podem seguir o link para
consultar o mural da banda:
Code of hypocrisy estreiam com
Tomas Skogsberg
Os açorianos Code of hypocrisy, verão o seu EP
de estreia, Towards Sheol, ser alvo de misturas nas
mãos do produtor sueco, que já trabalhou com bandas como Katatonia, Tiamat ou Hellacopters. Tomas
Skogsberg irá pegar nos quatro temas que compõe
o registo da banda de death/groove metal em Abril,
e as misturas serão feitas nos seu Sunlight Studio,
em Estocolmo.
Us & Them, com classe
http://www.facebook.com/PitchBlackThrash?sk=wall
Do M.A.R. nasce uma nova editora
O colectivo de músicos M.A.R. irá converter-se numa
editora. Após ter produzido bastante música nos
últimos quatro anos, contando no seu currículo com,
por exemplo, discos dos Quarto Fantasma e MulherHomem, a editora será ‘lançada’ em dois eventos a
realizar em Lisboa(Music Box) e no Porto(Plano B)
nos dias 1 e 10 de Março, respectivamente.
Os gaienses Us&Them estão de volta com o sucessor do seu registo de 2010, Highway 19. O novo
trabalho chama-se Jack class, é constituído por cinco
temas que revisitam o rock com atitude e está a
ser disponibilizado pela banda de forma gratuita no
seguinte link:
http://www.usnthem.net/media/jackclass.zip
Ashes abrem o estranho apetite dos fãs
Um novo império de tons familiares
Chama-se Ecila e está quase a ver a luz do dia. O
novo trabalho dos Ashes é, segundo os mesmos, baseado no livro Alice no país das maravilhas de Lewis
Carrol. Para já dão-nos a provar do tentador veneno
com o tema “The kind of strange“. Isto e mais no
site da banda:
http://ashesrain.tk/
Urban War ascendem
Os portuenses Urban War assinaram recentemente
pela Raising Legends Records - a editora que mais
tem dado nas vistas no panorama de peso nacional
nos últimos tempos - juntando-se assim a um catálogo que conta com nomes como Holocausto Canibal,
We are the damned, Drop D ou BlackSunRise. Neste
momento a banda encontra-se a finalizar gravações
nos Soundvision Studios daquele que será o seu
primeiro registo a sair pela editora.
Os Damn Empire são um novo colectivo que reúne
membros de Men Eater, Vicious Five, Born a Lion
e These arms are snakes. Encontram-se presentemente em gravações e é possível aguçar um pouco a
curiosidade acerca do possível resultado com alguns
teasers ‘making of’ que o grupo vai disponibilizando,
como por exemplo o do link que se segue:
http://vimeo.com/36378391
Fina Flor do Entulho com nova carnificina
Depois de em Janeiro
deste ano os Fina Flor do
Entulho se terem saído
com Ao vivo Hard Club,
registo ao vivo gravado
na nova reincarnação do
mítico bar do Porto, a
banda da mesma cidade
apresenta-se agora com
as suas músicas no formato imponente do seu novo EP Carne de Deus, lançado no passado dia 18 de Fevereiro no café-teatro
Tui, na Galiza.
http://finaflordoentulho.bandcamp.com/album/carne-de-deus
3
F#ra do Arquivo
LULU BLIND
Foram o que mais próximo tivémos de um caso
de invasão do mainstream musical nacional
por parte de uma banda que desde o início
se orgulhou de remar contra todas as marés.
Saídos de Benfica, tinham como destino voos
mais altos e, com a devida dose de insistência,
chegaram a ter uns quantos.
Os Lulu Blind formaram-se em 1991 a partir das
cinzas dos Amen Sacristi (banda com origem na
cena punk portuguesa, mas rebelde até em relação
aos padrões ditados pela mesma), e na altura
somavam Pedro Vargues(baixo), Filete(voz) e Tó
Trips(guitarra), aos quais se juntou o baterista
Anselmo. Com um passado também ligado à banda
punk Deportados (anteriormente conhecidos como
Grito Final) e de uma presença e estilo marcantes,
Filete puxou pela creatividade “marada” do então
novo colectivo, e o resultado começava a ser o de
um rock sujo, mergulhado no descontentamento
melancólico que despontava no início dos anos 90,
mas, de forma algo bizarra, com muito divertimento à mistura. O cocktail resultaria em algo como
um rock delirante e alucinado, ao qual fizeram
juz nomes de alguns dos primeiros temas, como
“Drogadicto del Rock’n’Roll”, “Feedback Rap” ou
“Kiss Madonna”. Apesar do papel fulcral na génese
desta nova aventura dos lisboetas, Filete acabaria
por abandonar a banda devido à sua insuspeita
e surpreendente ida para os Estados Unidos ao
serviço da Armada Portuguesa. Os restantes elementos resistiram e, sem comprometer o espírito
da banda, integraram Carlos Luz como novo vocalista e com essa mesma formação chegaram
a ter duas incursões em estúdio para gravação
das músicas que tinham então compostas, com a
colaboração de Zé Pedro(Xutos e Pontapés) e Zé
Vasco na produção. Na segunda das duas incursões
chegaram a gravar treze temas, na esperança de
atingir o necessário para a gravação de um ál-
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bum, mas nenhuma das grandes
editoras mostrou interesse na
banda e, como a banda também
não tinha fé nos ideais das editoras independentes(demasiado
acomodadas ao seu público underground, segundo os músicos
deixavam perceber), por momentos os Lulu Blind viram então os
seus planos cair por terra. Mesmo
assim, com algumas facilidades a
nível de marketing/comunicação
que já datavam dos dias dos
Amen Sacristi, a banda conseguiu
gravar um videoclip para o tema
“Rita hot pussy” e viu o mesmo
ser passado em doses industriais
na RTP, chegando mesmo a ser
muito bem classificado no programa Viva o vídeo, e este chegou
mesmo a ser um feito assinalável, o de uma banda
portuguesa sem discos gravados conseguir uma
abertura para a popularidade através de um videoclip. O problema residia no facto de que, dado que
o eventual público não conhecia mais nenhum tema
da banda, estariam todos à espera de ouvir um
set constituído por músicas semelhantes, quando
a banda tinha em si um desejo de experimentação
assinalável, dentro do género rock, chegando a
receber influências tanto de Sonic Youth, como de
Jimi Hendrix, sem esquecer a vaga de grunge que
já começava a insuflar o underground nacional. No
entanto, como não podia deixar de ser, foi mesmo
“Rita hot pussy” que escolheram, quando chegou a
oportunidade de gravar um single, pela Moneyland
Records (que originalmente não passava de uma
editora “imaginária”), em 1992. No ano seguinte
viram mais uma das suas músicas (“Go and die”)
editada, desta vez na compilação Johnny Guitar
lançada pela EMI-Valentim de Carvalho. Em 1994 a
banda volta a recorrer aos préstimos de Zé Pedro, a
par de Zé Motor, para a produção daquele que seria
o seu primeiro álbum (Dread, editado pela El Tatu)
e passaram o resto do ano a acompanhar os Xutos
e Pontapés, fazendo
a primeira parte dos
seus concertos.
No ano seguinte
voltariam a visitar a
compilação Johnny
Guitar, desta vez na
sua versão ao vivo
- Johnny Guitar: Ao
vivo em 1994, pela
Johnny Records com o tema “Peggy
Boo”.
Em 1996 os Lulu
Blind editam através
da Música Alternativa
o seu segundo
álbum, Blast!,
produzido pelos
Moshers do
Universo. Por
esta altura a
banda, já com
dois registos
‘longa duração’
bastante crus
e agressivos, e
uma modesta
legião de fãs,
acabaria por
se ausentar do
panorama musical para o que os
próprios designaram como uma
“renovação na
formação da banda”. Esse afastamento no entanto
não impediu que
o nome da banda fosse relembrado uma e outra
vez, com presença em compilações como 100%
Antena 3 (1996), Promusica #17 (1998), ou Press
on 04 (2000). Em 1999 a banda chegou mesmo a
atender ao chamamento para participar na compilação de tributo aos Xutos e Pontapés XX anos XX
bandas, com uma versão para “Quero mais”.
Em 2001 finalmente regressariam em nome próprio
com Foge de ti, o seu terceiro registo de originais
- o primeiro cantado integralmente em português
e a contar com Tó Trips a assumir a posição de
vocalista, somandoa assim à sua já
reconhecida figura
de guitarrista e líder
da banda. Pedro
Vargues mantinhase, juntamente com
Trips, como o outro
membro sobrevivente da formação
original, contando a
banda por esta altura com as adições
de Ritchie(Kick out
the Jams) na
segunda guitarra e Samuel Palitos(Censurados, Sitiados,
Rádio Macau...) na posição de baterista. Com
este regresso de ‘cara lavada’ os Lulu Blind
atacavam o cenário musical português com a
mesma dose de energia, mas com uma proposta bastante diferente no que diz respeito aos
pormenores da sua sonoridade. A causticidade
dos primeiros experimentalismos punk-rock/
grunge davam lugar a um rock enérgicomelancólico na mesma veia de uns Smashing
Pumpkins, e com intenções quase épicas em
alguns dos novos temas, donde se destacou o
single “Atirar-te ao ar”, que teve direito a videoclip e rodagem de destaque em programas de
televisão como o Top +. Outra característica
que a banda trazia com o seu regresso era a
voz característica de Tó Trips, que se apresen-
tava diferente de tudo o que se tinha ouvido no
panorama musical nacional até então, e que se
mantém até hoje como uma das vias possíveis (e
surpreendentemente não aproveitada) de explorar
o sempre difícil ‘cantar em português’.
A atitude dos Lulu Blind com este regresso era algo
mais madura, mas mesmo assim ‘políticamente incorrecta’, se não o fosse pelos testemunhos dos elementos da banda, era-o pelas palavras que emitia
a voz do seu líder em cada uma das músicas. Mas
a experiência de gravar em português não vingou
da mesma forma que a banda esperava, e com um
mote que desde o início se lia como “Os Lulu Blind
não querem ser underground; pequenos sim, mas
só enquanto o forem” - como chegou a escrever
Pedro Brinca -, a banda acabaria por se remeter
a um hiato e consequentemente à dissipação da
formação.
De entre os elementos que mais se destacaram
dentro da banda, o exemplo mais visível de continuidade no caminho da música - mesmo que num
estilo bastante desmarcado do que aqui falamos
- é o do indiscutível homem do leme do grupo, Tó
Trips, que viria a formar os Dead Combo e a tornar-se, juntamente com Pedro V. Gonçalves, parte
do duo instrumental mais bem sucedido da música
nacional, e onde, se escutarmos com atenção,
ainda poderemos sentir um pouco da inquietude
que um dia o guitarrista não hesitou em comungar
com electricidade e ferocidade.
..
MB
http://www.myspace.com/lulublind
http://underrrreview.blogspot.com/2009/05/lulu-blind.html
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Moe's Implosion
Enquanto foram desenvolvendo a relação
de amizade entre os cinco, que consequentemente levou à criação da banda,
tanto trocavam discos entre vocês, como
jogos, segundo é dado a perceber num
dos vídeos das LPS*. Já vos passou pela
cabeça se em vez de se virarem para os
instrumentos se virassem para o código
e modelação 3D, e se em vez de uma
banda viessem a criar uma empresa de
criação de jogos?
Epá, isso não nos passou pela cabeça mas gostamos imenso do Super Mario e do Crash Bandicoot.
Não seria nada mau se um dia tivéssemos oportunidade de fazer a banda sonora de algum desses
jogos.
No vosso álbum Light Pollution optaram
por uma abordagem menos directa, mas
não menos intensa em relação ao vosso
EP de estreia. O que vos levou a optar
por esse caminho?
O desejo de fazer algo diferente do que já tínhamos
feito anteriormente, com mais tempo para estruturar os temas e não apenas debitar os primeiros
riffs e melodias que nos vinham à cabeça.
Principalmente neste trabalho nota-se
uma boa entrega à parte dos sons mais
sintetizados, mas nem por isso deixam
que eles moldem a forma como os temas saem, ou chegaram mesmo a levar
a experimentação a esse ponto? É uma
componente forte na banda, essa, neste
momento?
Os sintetizadores que estão no álbum, na sua
*Light Pollution Sessions
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Tendo ganho lance com um EP onde exploraram as suas influências mais rockeiras
e directas, os montijenses Moe’s Implosion viram agora chegar a altura de esticar um pouco mais a corda e, com o entusiasmante Light Pollution, por pouco não
abandonaram de vez a grande àrea do rock. No entanto planos para a exploração
de géneros mais electrónicos, assim como a abertura para propostas de composição de bandas sonoras de videojogos podem estar à espreita...
grande maioria, foram arranjos que surgiram
depois dos temas estarem quase terminados.
O Sancho, que é o responsável pela parte mais
sintetizada da banda, ele optou por colocar faixas
de sintetizadores nos nossos temas à medida que
ia aprendendo a trabalhar com esse equipamento.
De certa forma, os sintetizadores acabaram por se
tornar mais num instrumento do que apenas um
utensílio para arranjos, houve alturas nos ensaios
em que as faixas de sintetizadores deram origem
a linhas de saxofone. Talvez num próximo trabalho
os sintetizadores sejam o principal meio de composição em Moe’s Implosion, mas isso nunca se
saberá ao certo até começarmos a compor novos
temas. Quem sabe se não viramos uma banda de
synth-pop-doom no próximo álbum?
Quase podemos adivinhar Rage Against
The Machine, Faith no more, Glassjaw e
At The Drive-In como algumas das possíveis influências da banda. No entanto
quando envergam um pouco mais de
experimentação inter-géneros lembramnos quase automaticamente ora Zen (nos
compassos mais funk), ora Primitive
Reason (não só, mas principalmente pela
adição do saxofone em algumas músicas). Pode-se dizer que são influências,
ou é mais algo inevitável soar a alguém
que tanto trilhou no sentido de uma determinada forma de explorar a música?
Somos uma banda que tem duas guitarras, um
baixo, uma bateria, usa sintetizadores e quase
todos cantam, é uma formação típica de rock. À
partida sabe-se mais ou menos ao que pode soar.
As bandas mencionada são-nos todas conhecidas
e algumas até apreciamos bastante. Mas o nosso
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pensamento nunca foi de querer soar ou parecer
a alguém. Os vários artistas que nós admiramos
sempre foram conhecidos por fazerem música à
sua imagem, com uma linguagem muito própria, e
é exactamente isso que nós queremos fazer e ser
como banda. É também nesse sentido que vamos
tentar trabalhar, para conseguir criar uma identidade muito definida como banda. Vemo-nos como
um conjunto de músicos que cria a sua própria
música e não como uma típica banda que se associa a um género de música e tem receio de sair
desse registo.
O Light Pollution é
um álbum conceptual, cujo as letras e a
própria música gravitam à volta da história
de uma personagem
que, inclusive, testemunha alguns deja
vus. Podem-nos introduzir um pouco mais
no contexto do que
acontece na história?
O conceito do disco baseia-se num personagem
que, ao longo de vários
períodos da vida tem
contacto com situações
do futuro ou com vivências passadas, fictícias ou
não, através de visões e
de deja vus. Basicamente,
o álbum começa com o
nascimento do protagonista da nossa história e
acaba num ponto da sua
vida em que, após tantas
visões, deja vus e outros
fenómenos, este já não
consegue diferenciar o
que era realmente verdadeiro e o que apenas era
produto da sua mente. Élhe dada a oportunidade
de voltar ao príncipio da
vida e, desta vez, tentar
conseguir separar tudo
o que se passa na sua
mente daquilo que realmente lhe acontece na
vida [real]. E achámos
isto interessante porque,
após a audição do disco,
o ouvinte pode escolher
ouvi-lo outra vez, e, de
certa forma, tentar também perceber melhor os
temas e as músicas.
Até que ponto as
Light Pollution Sessions foram acompanhadas pelos
seguidores da banda, e quais têm sido os
comentários que têm recebido quanto a
essa iniciativa?
Quando decidimos fazer o Light Pollution Sessions
achámos que seria uma mais-valia para todas as
pessoas que nos quisessem conhecer via internet.
É uma espécie de ensaio de portas abertas onde
apresentamos o nosso álbum num registo ao vivo.
É uma ideia que se vê muito frequentemente lá
fora mas que achamos ainda pouco explorada
em Portugal. Os comentários têm sido bastante
positivos, esperamos que a longo
prazo contribua
de forma positiva
para a promoção
da banda.
Têm deixado
novos elementos alimentar
a produtividade e a diversidade do
alinhamento
da banda, algo
que em álbum
funciona de
forma surpreendente,
no entanto é
sempre mais
complicado
transportar
essa união pelas mais diversas questões
- que podem envolver agendas, por exemplo - para vários palcos. Como têm
contornado essa questão?
Estar numa banda enquanto estamos a estudar
implica muito mais esforço do que as pessoas
julgam. Por trás dos concertos e CD’s estão muitas horas de ensaio e de viagem, que acabam por
fazer falta quando precisamos de mais tempo para
os estudos. Mas nada como tentar ser organizado
e flexível ao máximo para se conseguir conjugar
os ensaios com os estudos e tempos livres. Em
suma, quem corre por gosto, não cansa!
Em concerto as músicas tendem a sair de
forma mais enérgica e explosiva, ou têmse controlado um pouco principalmente
pela tonalidade menos directa deste último conjunto de temas?
Não, de todo. A energia está lá sempre, quer seja
nos temas mais antigos ou nos mais recentes.
Acima de tudo nós divertimo-nos imenso a tocar
ao vivo e isso reflecte-se na intensidade com que
interpretamos as músicas.
Não quiseram repetir a formula do EP e
decidiram avançar logo para um álbum
onde realmente têm mais espaço para
explorar ainda mais ideias. Concedem a
hipótese de voltar a gravar um EP num
futuro próximo ou mais depressa passar
o para o mítico conceito do álbum duplo?
Depois de gravar o EP sentimos que haviam coisas
que ficaram por explorar, coisas que por uma
questão de tempo e dinheiro não conseguimos
fazer. Decidimos, à partida, que isso seria um
ponto-chave para se trabalhar no próximo trabalho. Do mesmo modo, queríamos fazer um álbum
porque a experiência de o compor e de gravar seria, certamente, diferente. Gostamos de desafios
e, por isso, gravar um álbum depois de um EP fez
todo o sentido.
Quanto a gravar um álbum duplo, teríamos que
ter material para o fazer. É preciso muito tempo
de estúdio e, nos próximos tempos, é capaz de
ser complicado. Mas quem sabe?
Nada é impossivel.
..
MB
http://www.facebook.com/moesimplosion
http://www.myspace.com/moesimplosion
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Artigo 19
De um grupo que começou quase como brincadeira em formato acústico até ao ponto em que
se converteram numa banda a sério, os Artigo 19 têm-se revelado uma das propostas mais
interessantes do hardcore da zona do Porto. Com boa disposição, humildade, seriedade q/b e
sempre sem esquecer que a palavra é um veículo para mudar mentalidades... ‘tomem lá que foi
o vosso pai que mandou!‘
Recorrer ao Artigo 19 (impossibilioda
de ‘Suspensão do exercício de direitos’
por parte dos órgãos de soberania) é a
bem dizer outra forma de gritar ‘Pára!’
ou reclamar pelos direitos que são devidos a cada um de nós. Como vos surgiu
a ideia: algum episódio que envolvesse
órgãos jurídicos ou algo assim do género?
Na verdade não tem nada a ver com esse Artigo
19, hehe. Quando pensámos no nome para a banda, queríamos algo que tivesse a ver com liberdade de expressão, visto que a música envolve
esse direito. Procuramos então na Declaração
Universal dos Direitos Humanos. O Artigo 19, diz
que todo o individuo deve ter direito à liberdade
de expressão/opinião e assim ficou o nome da
banda.
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No passado ainda chegaram a ter alguns
originais registados em formato acústico.
Foi apenas uma fase, envolveu algum
tipo de privação (de instrumentos, por
exemplo) ou era apenas uma experiência
que quiseram levar a cabo?
Tudo começou como uma “brincadeira”. Fizemos
as músicas nas acústicas e gravámos com um micro ligado ao pc, que era o material que tínhamos.
Nem imaginámos ter a aceitação que tivémos. Foi
tudo inesperado. Mais tarde, sentimos-nos motivados para construir algo mais sólido, investir em
material e procurar um baterista.
Através de descrições que fazem das
características que vos motivam - “humildade, dedicação e paixão” -, e de frases
como “Juntos caminhamos, unidos so-
mos fortes!” mais uma vez nos
vem à cabeça a imagem d’o
grupo super-unido e coeso’. Em
alguns outros géneros não se
ouve muito disto; acham que
no punk, talvez pela base centrada em ideais muito específicos, vive-se mais esse espírito
de banda unida e practicamente inseparável?
Pensamos e acreditamos que sim. De
outra maneira a paixão que temos
pela música que fazemos, ouvimos e
vivemos, não faria sentido. Cada estilo
tem as suas partes boas e más mas
não encontro outro onde as pessoas
sejam tão humildes; a entreajuda está
sempre presente desde o pessoal que
já anda por cá há muitos anos até aos
mais novos.
desse álbum termos andado meio perdidos. Existiram muitas mudanças na banda, passamos do
acústico para a distorção, entrada/saída de membros, o estilo mudou bastante desde a entrada do
Zé para a bateria. O Zé trouxe-nos novas ideias,
ficámos mais coesos como banda, e finalmente
conseguímos encontrar o nosso som.
No “Enfrenta a realidade” têm participações de Kisto(Dokuga) e Zyon(Motim)
a debitar no microfone. É um featuring
que visa apenas dar à música aquilo que
ela pedia, ou é também uma forma de
manter e fomentar a união inter-bandas?
Foi um pouco de ambos. Os Motim são uma banda
com quem nos damos muito bem. É tudo pessoal
humilde e já tínhamos falado que gostávamos que
o Zyon participasse numa música, tal como o Kisto.
Além disso, achamos que as suas vozes iriam dar
outra cara à música e o resultado agradou-nos
bastante.
O vosso núcleo duro é sem
dúvida o punk hardcore. Que
bandas vos inspiraram na fase
inicial? Já agora que referências no género encontram a
nível nacional, mesmo entre as
mais recentes?
Em termos de inspiração sempre a
encontrámos no tipo de som que
ouvimos. Desde a sonoridade, letras,
filosofia, etc. As bandas que mais nos
inspiram/inspiraram de alguma forma
são: Proudz, Ignite, Dropkick Murphys,
Pennywise. A nível nacional: Mordaça,
Last Hope, For the Glory, Saida de
Emergência.
Basta passear por alguns espaços virtuais dedicados ao underground para
nos cruzarmos com pelo menos um ou
dois cartazes onde os Artigo 19 figuram.
Têm-se esforçado para manter a banda
activa e a rolar, contando sempre com os
vossos pares?
Sim, com altos e baixos como qualquer banda temos tentado sempre focar-nos em marcar concertos, lançar material novo, estar no activo. Contando
sempre com a amizade, ajuda e partilha de muitas
bandas com quem tivémos/temos o prazer de
conhecer e o pessoal que aparece nos concertos e
que nos dá força para seguir em frente.
Segundo vocês mesmos Sangue Suor e
Dedicação “traçou um novo começo na
história da banda”. Podem explicar um
pouco melhor o que pretendem transmitir com esta afirmação?
Esta afirmação deve-se ao facto de até à gravação
7
Muitas mensagens de incitação à revolta
e à acção espalhadas um pouco por todo
este trabalho, e não só. Acreditam que
estamos a viver tempos que clamam por
uma revolução, por exemplo?
Pode parecer cliché mas acreditamos que a verdadeira revolução está na nossa mentalidade. Cada
vez mais o “eu” se sobrepõe ao “nós” e o que nos
move é tentar, com a nossa música,
reverter esse modo de pensar.
É preciso alguma coragem para
transportar este tipo de música
para a rua (como chegaram a
fazer na avenida de Sta Catarina, no Porto) num formato tão
‘vulnerável’ como o acústico. O
que vos desafiou a fazê-lo?
Coragem tem o pessoal que toca
na rua dia-a-dia para tentar ganhar
algum dinheiro para colocar a comida
na mesa. A esses sim, é de dar valor.
A principal razão esteve relacionada
com o facto de, nessa mesma tarde,
estar a decorrer uma manifestação e
achámos que era uma boa maneira
de contribuir.
Quão difícil pode ser para uma
banda de punk hardcore nacional o processo para conseguir gravar um álbum?
É bastante díficil. Principalmente quando
tentas fazer um trabalho com melhor qualidade a nível de estúdio. Foi o que tentámos
fazer no SSD. Desde a gravação até à parte
física do álbum sai tudo do nosso bolso e é
esta a realidade para praticamente a maioria das bandas do género. Contudo, no final,
é com orgulho que vemos o fruto de todo
esse esforço. Vês que tens um trabalho teu
cá fora e que não tiveste de pedir favores,
nem andar a lamber as botas a ninguém,
para o conseguir. Brevemente vamos voltar a
estúdio para gravar um split com os nossos
amigos brasucas Like A Texas Murder.
E já agora... “Toma lá que foi o teu
pai que mandou..” (*logo no início
do tema “Punk hardcore”) de onde
foi que surgiu esta frase? É alguma
private joke?
Boa pergunta, hehe! Costumamos dizer essa
frase várias vezes. É como dizeres algo do
tipo: “dá-lhe brita” ou “dá-lhe gás”. E como o
Zé dizia isso muitas vezes antes de começar
essa música, ele mesmo gravou essa frase
(com efeito na voz, hehe) e assim ficou.
..
MB
http://pt-br.facebook.com/Artigo19
http://www.myspace.com/artigo19
PhaZer
Nem todas as jovens bandas portuguesas desfrutam do mesmo factor de sorte
que os lisboetas PhaZer. A banda de
rock - que sabe manter os horizontes
bem abertos - já viu (e vê) a sua música
ser alvo de atenção além fronteiras,
chegando a ser rotulada como uma das
referências daquilo que poderá ser visto
como o futuro do rock português e até
já inclui no seu currículo a participação
na banda sonora de um videojogo lançado pela Play Publishing (e não só).
Mas, com tanta dificuldade que uma
banda encontra em se destacar nos dias
que correm, será que podemos confiar
que foi tudo apenas uma questão de
sorte? Nas próximas linhas, respondidas
de forma bem clara e directa pelo vocalista Paulo Miranda, ficamos a saber as
respostas às questões mais pertinentes
sobre um grupo que, por aquilo que tem
alcançado, se tem vindo a tornar num
exemplo inspirador.
14
Começaram como uma banda de covers
e só por acaso descobriram que eram
capazes de fazer originais tão ou mais
entusiasmantes do que as músicas que
potenciaram a vossa união. Quando olham para trás como vêm essa feliz coincidência?
Bom, a banda de covers nunca chegou a ver a luz
do dia, embora tivesse sido essa a intenção original. Acho que acabou por ser o meio de nos conhecermos musicalmente e encontrar aquele objectivo comum em todos nós de fazer exactamente
aquilo que realmente queríamos fazer, que era
fazer parte de uma banda rock de originais.
Estavam à espera que o vosso primeiro
EP Revelations, de 2006, vos trouxesse o
reconhecimento que hoje têm no circuito
rock underground português?
Acho que o EP Revelations cumpriu exactamente
o propósito que tinha, que era apresentar-nos ao
mundo, como um cartão de visita. Não deixa de
ser um disco ingénuo, pois éramos completamente
inexperientes, ainda nos estávamos a encontrar
musicalmente e o mais importante de tudo foi que
aprendemos do zero todo o processo de ser e gerir
uma banda de rock, gravar um disco, ir para a
estrada, etc.. Acabou por ser um disco que superou as nossas expectativas por tudo, e sobretudo
pela dificuldade de uma nova banda sem recursos
aparecer aí e tentar furar pelos media e pela estrada. Felizmente correu muito bem e conseguímos
uma boa reacção mesmo [a nível] internacional, da
imprensa e do público ao disco. O nosso primeiro
álbum Kismet é o resultado de tudo o que EP
Revelations significou para nós.
Vocês próprios já afirmaram que se identificam principalmente com o rock, mas
que não se limitam apenas a este ou
outro qualquer género musical. Por que
géneros vos falta explorar ainda? Têm
alguma nova composição/experiência
musical inter-géneros guardada na manga neste momento por exemplo?
Sim é verdade, temos um prazer especial em não
nos fecharmos numa única fórmula (mesmo que
seja a nossa fórmula) ou género musical. O Rock
é assumido como a nossa base de vida musical,
sem ela não respirávamos. E o resto do “Frankenstein” que vamos construindo, gostamos de ir
buscar diferentes linguagens aqui e ali. É uma
forma de cada música tornar-se mais interessante
para nós. No Kismet, explorámos uma veia mais
Southern. Ultimamente estamos virados para uns
sons mais directos e pesados e com algum stonner pelo caminho, mas ainda existem outras ideias
diferentes na gaveta, vamos ver o que sairá.
Algumas das vossas músicas integram a
banda sonora do Jogo Trucker 2 da companhia de jogos polaca Play Publishing.
Como surgiu, e de que forma exploraram
essa oportunidade.
Nós publicámos uma demo do EP Revelations
no Jamendo, e foi aí que a Play nos encontrou e
convidou-nos a figurarmos como banda sonora
do Jogo. Temos tido boas experiências no campo
do Jogos de computador e Desportos Radicais.
Aparentemente, o nosso som tem sido bastante
requisitado para Jogos e filmes de desportos
radicais, o que é óptimo para nós… pois na banda
gostamos de ambos, uns mais que outros, aliás a
letra da música “Love Kills” (do EP Revelations) foi
inspirada no argumento do jogo Max Paine 2.
Serem descritos como a “grande promessa do rock português” em algumas publicações estrangeiras é algo que dá que
pensar. Como reagem a reacções deste
género? Acreditam que é um título que
têm que agarrar sem hesitar, ou levam
as coisas com humildade q/b?
Por um lado é excelente recebermos tamanho
título, por outro aumenta a responsabilidade da
confirmação esperada. É sempre bom, recebermos
críticas destas, pois, acaba por ser um reconhecimento do trabalho que fazemos e acredito
que agora e no futuro saberemos sempre receber
tanto as boas como as más críticas. Mas a responsabilidade ou pressão de títulos não tem grande
impacto na banda, gostamos de ser reconhecidos,
mas o mais importante é estarmos satisfeitos com
a música que fazermos e irmos ao encontro da
expectativa dos nossos fãs quer em disco quer ao
vivo. É isso que nos dá maior alento.
Para a gravação do vosso primeiro álbum
Kismet recorreram ao produtor Fernando
Matias (produtor com créditos em discos
de Moonspell, F.E.V.E.R., Bizarra Locomotiva, Linda Martini...) para vos auxiliar
na tarefa. Que tal foi a experiência, e em
que medida ele vos ajudou a alcançar os
resultados que pretendiam?
Já tínhamos a referência do trabalho do Fernando
há algum tempo, inclusive o nome dele esteve em
consideração para a masterização do EP Revelations
acabando por não ter sido a opção na altura. No
entanto para o nosso primeiro álbum quisémos a
participação de um “produtor” que nos garantisse
um bom disco, de alguém fora da banda que ouvisse as nossas músicas com sentido critico e nos
ajudasse a melhorá-las. E foi essa expectativa que
tínhamos ao trabalhar com ele, e gostamos muito
do resultado final. Acredito que este disco sem o
Fernando, seria um disco diferente. Como já tinha
dito em anteriores entrevistas, o Fernando no Kismet foi o nosso 5º Beatle, neste caso o nosso 5º
PhaZer! Não foi apenas o produtor do Kismet, mas
tornou-se um forte amigo da banda.
Ao longo de várias das vossas músicas
somos percorridos por associações a
bandas como Alice in Chains, Soil, Faith
no more, The Cult ou até Mötley Crüe.
Que bandas ou artistas portugueses, se
tal se aplica, chegam a ter também alguma influência sobre o som dos PhaZer?
Algumas dessas são influências assumidas na
banda tal como Faith No More ou The Cult, mas
é normal que muita gente reconheça diferentes
influências nas nossas músicas, pois não estamos
a inventar um novo estilo musical, nós assumimonos como crossover. Já constatámos muitas vezes,
que numa única música, as opiniões sobre ao
que soa nunca são consensuais, mesmo entre a
banda… eu gosto disso (risos). As nossas influências são maioritariamente anglo-saxónicas e não
temos dentro da banda influências portuguesas.
Como surgiu a ideia para o videoclip de
“Wake me”? E já agora que tal foi a experiência de o fazer?
Este foi um projecto de final de curso de cinema e
após uma tentativa falhada nos estúdios da Universidade Lusófona, acabámos por improvisar e
assumímos uma ideia de vídeo clip muito simples
e sem grandes expectativas e pretensiosismos,
que foi, fazer um vídeo clip com 0€ de orçamento
numa única tarde. Acabou por ser uma experiência praticamente nova para nós, mas muito divertida e uma tarde muito bem passada entre a
equipa de produção e a banda.
Disponibilização gratuita do single “Wake
me” para download, videoclip no youtube,
site com apresentação muito profissional...
acreditam que cada vez mais é incontornável
a importância deste tipo de media na promoção de uma banda? Até que ponto acham
que vai a necessidade deste tipo de promoção e começa a de dar um bom concerto
de rock’n’roll?
16
Sem dúvida, hoje em dia as ferramentas web que
temos à disposição, são excelentes meios para
divulgarmos e promover o nosso trabalho e acima
de tudo gratuítas. Conseguimos regularmente
comunicar com fãs nos Estados Unidos ou na Índia
e eles conseguem ter acesso imediato aos nossos
conteúdos e comunicar em tempo real connosco.
É fantástico. Diria que estes meios são actualmente imprescindíveis para levar a nossa música
a mais gente. Em relação aos concertos, também
nos ajudam a promovê-los, a partilhar imagens
e vídeos de concertos e assim envolver cada vez
mais os nossos fãs.
Que tipo de memórias guardaram da tour
de 2 anos que fizeram a tocar em alguns
dos principais pontos de encontro de
rock/metal espalhados pelo país?
Bom… 2 anos de memórias numa única resposta!
Seria uma resposta muita longa (risos). De forma
resumida, a tour do Revelations foi muito importante para todos nós, pois passámos por muito
e, felizmente, nunca aconteceu nenhuma história
triste ou trágica, não tivémos acidentes, nem
fomos enganados, nem os clichés desentendimentos da banda, etc. Mas de todos os concertos
até agora dados, recordo especialmente o nosso
primeiro concerto no Santiago Alquimista em
Lisboa onde tocámos para meia dúzia de amigos,
passando pelo Festival de Vagos em 2006 – nunca
nos iremos esquecer do pessoal de Vagos e Aveiro
- e depois passados alguns anos, tocarmos no
Hard Rock Café em Lisboa que estava cheio, assim
como no Hard Club no Porto, no Coliseu de Lisboa
como banda suporte de Cheap Trick e também
na Concentração Motard de Faro deste ano, são
concertos todos diferentes mas que nos marcaram
para sempre.
..
MB
PASSATEMPO
Os Phazer têm duas cópias
do seu álbum Kismet para
ofercer aos leitores
da MöndoBrutal!
2.
CDs
Para se habilitarem a este
prémio só têm de escolher, de entre
as respostas dadas aquela que
consideram a melhor frase (não a
resposta completa) dita por Paulo
Miranda, durante a entrevista acerca
da sua banda.
De entre as que nos forem
enviadas, aquelas que nos parecerem
as melhores/mais interessantes irão
ditar cada um dos vencedores que
receberá o CD dos Phazer em sua
casa.
Para isso não se esqueçam então de
adicionar o nome e morada ao
mail que nos enviarem.
Não percam mais tempo e
enviem as vossas respostas
para:
Cameraman Metálico
[email protected]
http://www.gophazer.com/
http://www.facebook.com/gophazer
Spiritu
piritual
al Way
Antes de mais, que tal tem sido a
reacção das pessoas que têm tido contacto com o vosso EP homónimo de
2009/10?
Tem sido excelente, superou as expectativas. E
a prova disso foram as 4 edições (100 unidades
cada) que fizemos e que das quais já só restam 4
EPs... Felizmente surgiram muitas datas ‘live’ que
também ajudaram à divulgação do mesmo.
O que vos levou, depois do fim dos The
Blizzard a se juntarem de novo(os três
elementos restantes) e formar uma nova
banda, em vez de seguir pelo trilho que
já haviam iniciado com a banda anterior?
Os Blizzard (1997/2002) foi a 1ª banda que
tivémos e como tal marcou-nos muito... Muitos
momentos mágicos foram vividos nessa época;
é a magia dos 15 anos... Em 2008 o Bruno Martins (Às de Espadas) andava a fazer umas ‘jam
sessions’ com 2 amigos, Rato no baixo e Pedro
Domingues na bateria. O Rato não tinha muito
tempo para a coisa e foi então que o Ricardo Neto
18
(Às de Paus) assumiu o lugar no Baixo, aqui nascem os Spiritual Way, ainda a brincar e a explorar
sonoridades sem um trilho muito definido. O Pedro
porque morava longe acaba por se afastar, e claro
quem melhor que Jorge Correia (Às de Copas)
para assumir a Bateria...E assim o velho trio pilar
de Blizzard volta a estar junto. Assim nasce um
‘power trio’ de puro rock’&’roll... Os Blizzard eram
bem mais metal na onda de new wave of british
heavy metal...
Com os dois primeiros concertos de Spiritual Way
surge a necessidade de uma 2ª guitarra que pudesse abrilhantar a coisa nada melhor que o puto
Ricardo Baptista (Ás de Ouros), que com o tempo
se tornou um membro fundamental na sonoridade
de S.W.
Em “Twin city”, por exemplo, experimentam tanto quanto podem; desde o
ritmo inspirado em algum blues, até uns
falsetes muito à Prince, passando por
algo parecido com spoken word. Acham
que o rock hoje em dia está muito es-
Partindo da new wave of british
heavy metal para ir de encontro a
uma paixão pelo rock sem preconceitos nem limitações. Transpirando
atitude DIY por todos os poros e
teorizando sobre o “fim do mundo”.
Assim são os lisboetas Spiritual
Way. Subam a bordo e acompanhem a descrição daquele que tem
sido o andamento dos quatro ases.
As principais dificuldades são sem dúvida os custos dessas “brincadeiras” mas como quem corre
por gosto não cansa… Embora muitas das vezes
o ‘cachet’ não chegue para pagar as despesas na
sua totalidade.
Quanto às principais motivações, achamos ser a
melhor forma de divulgação de uma banda... Ao
vivo é que se vê o potencial real de uma banda...
E os S.W. são sem dúvida uma banda de palco.
A estrada e convívio proveniente da mesma é algo
que nos inspira e motiva a continuar...
Numa reportagem da nemesistv.com referente ao concerto que deram em suporte aos Iberia e Fantasy Opus, lê-se que
começaram o concerto “de forma tímida”
mas que foram “gradualmente e energicamente soltando as notas” e acabaram “ mostrando à vontade, confiança e
boa disposição”. Acham que esta é uma
descrição exemplar do que podemos esperar de um dos vossos concertos, ou foi
uma ocasião especial?
Abrir para uma banda que anda na luta desde os
anos 80 (os grandes Ibéria) é no mínimo uma
responsabilidade acrescida e uma Honra... E como
é obvio acusamos essa pressão no início, mas sim
acho que “à vontade, confiança e boa disposição”
será uma boa forma de descrever as actuações
de S.W. Felizmente o público foi correspondendo
e fomos “gradualmente e energicamente soltando
as notas”... Na sua maioria os concertos de S.W.
são uma grande festa com amigos, fãs, família,
cerveja e muita diversão à mistura...
tereostipado e tem medo de arriscar ou
se divertir, ao contrário do que vocês
parecem fazer?
Sim, com o passar dos anos o rock tornou-se em
algo muito estereotipado, sem graça, careta, sem
sal... Perdeu a loucura e a diversão... Nos S.W.
não nos preocupamos com rótulos ou estereótipos, tocamos o que queremos sem a preocupação
que digam ...”epá isto já não é rock”... ou ...”que
falsete mais gay”, a nós soa-nos bem fixolas e
além disso o Prince é um excelente artista, músico
e performer, se soa a Prince então é um elogio
seja ele do rock ou não. O que queremos é que se
divirtam ao som de S.W.
São de Lisboa, mas não se censuram a
extrapolar as eventuais dificuldades para
tocar em cidades como Viseu ou Porto.
Quais diriam que são as principais de
entre essas dificuldades resultantes da
deslocação e quais as principais motivações que vos levam a fazê-lo na mesma?
Há um pouco de hard rock e até sleaze
rock à 80’s na “Rock’n’Roll tonight”. Já
alguma vez vos passou pela cabeça se
uma banda como os Spiritual Way seria
mais bem enquadrada/aproveitada nessa década? Acham que um renascimento
desse entusiasmo pelo rock português
que se faz hoje faria bem à cena musical portuguesa, ou acham que já não há
solução para a cena?
A sonoridade dos S.W. é sem dúvida muito inspirada nos 70’s e 80’s, mas não achamos que seria melhor enquadrada/aproveitada nessa época,
até porque o verdadeiro espírito do rock’&’roll é
intemporal... Agora é obvio que esses foram os
anos dourados do hard e sleaze rock...
Todas as cenas têm uma solução. Se fazes aquilo
que sentes e acreditas não importa a época...
Em portugal sempre rendeu mais ser ouvinte que
músico mas isso é uma desvalorização que damos
sempre aos nossos artistas. Privilegiando sempre
o artista estrangeiro...
Uma das coisas que escreveram no
vosso myspace é “Record label: abertos a propostas, até lá Do It Yourself”.
19
puseram para a sua música?
Confesso que adorei esta questão. As teorias
que os S.W. já transpuseram para a sua
música? A que mais se destaca é do fim do
mundo (“End of Times” no 1ºEP), pois não deixa
de ser uma teoria até que se concretize... mas
temos outras por exemplo “a arte de lutar sem
lutar” ( teoria desenvolvida por Bruce Lee num
dos seus textos) um tema que não foi ainda gravado mas que já foi tocado ao vivo. E também
um pouco de teorias da conspiração, e da forma
como o sistema está viciado...
O que vos faz acreditar que “it’s the
End of Times”? Já aora, de qualquer
forma vocês pensam ignorar ‘o fim’
com o plano de lançar um próximo EP
para breve, certo?
Lá está, é uma teoria... Até porque acreditamos ser o fim de uma era/época/império/etc...
e não o fim do mundo. Sim o 2º EP de S.W.
está gravado e está aí mesmo a sair, dia 4 de
Dezembro* será o Lançamento oficial num
concerto na Casa de Lafões em Lisboa. A New
Chapter é o nome do novo EP e trás 6 temas
de puro metal’&’roll, sem truques nem malabarismos…
Acreditam
que esse(DIY) é o caminho a seguir de
agora em diante para a maior parte das
bandas que, como vocês, aparece e faz
música apenas por amor à música e pela
diversão que daí tiram?
Sim sem dúvida. As editoras hoje em dia
procuram um produto já feito, pronto a ser comercializado... já ninguém arrisca neste ou naquele
artista...
O DIY é sem dúvida o futuro. E
em certa parte até é mais gratificante, apesar de exigir muito
mais dos músicos; torna a coisa
mais real, mais nossa, é tudo
feito à nossa maneira. Acima de
tudo como referes na pergunta
“música apenas por amor à música e pela diversão que daí tiram”
é o caminho dos S.W.
O que não impede de futuramente termos uma ‘Record
Label’...desde que a motivação se
mantenha a mesma!
A mensagem em “Rock’n’Roll tonight”
não podia ser mais clara. Mesmo assim,
teriam mais alguma coisa a acrescentar
para alguém que não vos compreenda e
esteja do lado de lá?
What you see is what you get! E para quem não
entende Inglês. Não vamos mudar - não gosta
não come. Não damos importância à fama/dinheiro. Não critiques tanto; faz tu mesmo, sê tu
mesmo, acredita no que fazes se isso te dá prazer…
..
MB
Entre as influências extramúsica que referem num
site encontra-se uma incumum: teorias. Quais diriam
que são as teorias que
os Spiritual way já transhttp://www.spiritual-way.com/
20
http://www.facebook.com/SpiritualWay
* o novo EP dos Spiritual Way já por aí anda; é visitar o site da banda!
Black
Bombaim
Com o coração da cena de Barcelos mesmo ali ao lado do deserto americano, os Black
Bombaim beberam do que melhor havia da era psicadélica do rock e não só, para destilar
riffs e ritmos alucinantes e envolventes que até já os levaram a estar lado a lado com
alguns dos seus nomes de referência. É de ter respeito. Aí estão eles:
22
É inevitável começar pelo óbvio: vocês
têm feito a camada jovem (e quem sabe
outras também) mexer em Barcelos, e
como vem descrito na vossa biografia em
plataformas virtuais, têm feito mais pela
cidade nos últimos anos do que o Galo de
Barcelos em décadas. O que sentem face
a este tipo de declarações?
Apesar dessas declarações nos fazerem sentir imensamente orgulhosos, acho que é de uma forma
muito natural que estas coisas acontecem numa
cidade como Barcelos. Desde sempre nos habituámos a interagir com várias bandas, desde quando
a banda se formou, víamos bandas a tocar pela
cidade e pelo resto do país, e isso deu-nos força
de vontade para fazer o mesmo. De certa forma,
acho que estamos a fazer inconscientemente pelas bandas mais jovens aquilo que bandas como
Astonishing Urbana Fall, Kafka ou Green Machine
fizeram connosco.
Ao ler sobre a banda chega-nos a referência aos The Stooges, mas com Ron
Asheton puxado para o primeiro plano,
face ao icónico Iggy Pop. Tudo isto enquanto vocês próprios deixam de lado a
opção de incluir um vocalista. Na vossa
opinião o que é que uma banda tem a
ganhar quando não há esse compromisso
entre a voz e o instrumental? Qual é o
limite da exploração neste caso, e em
que pontos podem começar a surgir, se é
que as há, falhas?
Quando não há um compromisso inicial e uma
preocupação por incluir voz nas composições, os
instrumentos têm que compensar essa “lacuna”,
e essa liberdade para ocupar esses espaços, além
de nos fazer evoluir como músicos, também nos
impulsiona na procura de novas formas de captar a atenção de quem ouve a música. Claro que
como somos apenas três elementos, cada um
com o seu instrumento, isto chega a um ponto em
que se pode tornar aborrecido, por isso, estamos sempre à procura de novas maneiras de nos
reinventarmos e fazer um som “fresco”, ainda que
inspirado no antigo e bolorento rock psicadélico de
outrora.
Num power-trio, principalmente quando
cada elemento é um músico dedicado ao
seu instrumento, tudo flui de uma forma
surpreendente e as coisas correm da
melhor maneira - essa é a ideia que costuma passar para o lado de cá. É mesmo
assim?
Quando muitas das composições partem do improviso, há sempre um risco que as coisas não
corram da melhor maneira. Mas como nos conhecemos há imenso tempo e crescemos a ouvir
a mesma música, há um ponto de equilíbrio, e
esse risco que corremos, tanto a compor, como a
gravar ou a tocar ao vivo, é sempre um risco mais
ou menos controlado e tentamos sempre arranjar
terreno seguro nas improvisações, de forma a que
a coisa flua da melhor forma possível.
Lançaram em 2010 o Saturdays and
Space Travels, que basicamente consiste
em duas grandes improvisações - parte
1 e parte 2 - que se estendem e juntas completam qualquer coisa como 40
minutos; essa é a maior prova de que
estão de costas totalmente viradas para
qualquer ponta de mainstream. Ainda se
fazem álbums assim?
Sim, ainda há bastantes bandas que operam
dessa maneira e gravam álbuns assim, mas como
vocês próprios dizem, é uma forma de virar as
completamente as costas ao mainstream, e essas
bandas não chegam onde poderiam chegar. Isto
não nos preocupa muito, pois o que queremos
fazer é rock n’ roll do mais puro, e se isso para
nós significa tocar non-stop durante 20 minutos
de cada lado de um disco, que assim seja.
A improvisação realmente era uma das
imagens de marca da música do final
dos anos 60 e durante a maior parte
dos anos 70. Até que ponto a influência
de grupos dessa época entra na vossa
música e a partir de onde abrem margem
para a influência proveniente de novos
nomes? Podiam dar alguns exemplos de
quem mais vos influenciou/influencia
como banda?
Somos fãs incondicionais do rock psicadélico dos
anos 60 e 70, que nos influenciaram profundamente. Grupos míticos como Led Zeppelin, Black
Sabbath e o grande Jimi Hendrix desbravaram
caminho para imensas bandas, e nós não somos
excepção. Depois claro, há imensos grupos não
tão maioritariamente conhecidos como Sir Lord
Baltimore, Hawkwind, Ash Ra Tempel, Amon Duul
II, entre muitos outros, que foram fulcrais para
praticarmos o nosso som. A lista é infindável.
Ainda assim, há qualquer coisa de stoner
rock (tanto pelo groove, como pela carga
hipnótica) nas vossas músicas. Acham
que se não tivesse havido este acréscimo repentino de atenção virada para
este género musical nos últimos anos
os Black Bombaim estariam aí a revirar
palco atrás de palco?
Talvez se não existisse esse hype, nem os Black
Bombaim existiam. Foi também com esse acréscimo de atenção que começámos a ouvir cada vez
mais bandas desse “stoner rock” e nos apaixonámos pelo movimento. Uma dessas bandas foi
23
Karma To Burn, que em Barcelos sempre teve um
número de seguidores brutal, e que amigos nossos mais velhos nos deram a conhecer, já depois
deles acabarem, e que nos impulsionou também
para desistir de uma procura inicial por um vocalista. Uns anos passados, tivémos o orgulho de
partilhar o palco com eles, no Porto.
A vossa prestação no que toca à música ao vivo transparece uma entrega à
música que se assemelha a um estado
de transe. Não seria errado pensar que
algumas substâncias podem não estar
muito longe do mundo dos Black Bombaim, ou a música é o suficiente para
vocês atingirem esse clímax?
Sendo politicamente correcto, é possível chegar a
esse clímax sem a ajuda de substâncias, mas nós
não somos santinhos nenhuns e acreditamos que
a experiência é diferente quando se está noutro
estado. Mas como disse o Al Cisneros (Sleep,
Om), a influência das drogas na música psicadélica está mais presente quando se a ouve, e não
tanto quando propriamennte se toca.
Neste tempo em que a fasquia a nível de
creatividade na música portuguesa está
em alta, mas a produtividade também,
as editoras independentes têm um papel
que cada vez menos podemos ignorar.
Vocês têm estado associados à Lovers &
Lollypops; o que a editora tem feito pelos
Black Bombaim?
A Lovers & Lollypops, para nós, mais do que uma
editora, é uma família. Conhecemos-nos todos
muito bem e somos todos amigos, o que torna o
processo muito mais fácil para nós. Não há planos futuros nem contractos que sejam assinados
numa situação que não seja um jantar bem regado ou uma noite de copos. Quando temos todos
o mesmo objectivo e pensamos de igual forma, as
ideias surgem naturalmente e o trabalho é melhor
feito. Nesse sentido, e como a Lovers & Lollypops
tem feito com as suas bandas, editamos discos e
temos tocado muito graças à editora, assim como
é parte fundamental no surgimento de novas
ideias e caminhos que podemos seguir. Trabalhar
com a L&L é extremamente produtivo nesse sentido.
O Saturdays and Space Travels ainda tem
muito para dar, mas de qualquer forma
já começaram a trabalhar em novo material, certo?
Temos um disco novo quase concluído, que deverá
estar cá fora em Abril, um projecto ambicioso,
mas do qual estamos bastante orgulhosos. Um
vinil duplo, com imensos convidados nacionais e
internacionais, como o Steeve Mackay dos Stooges, o Isaiah dos Earthless, ou o grande Adolfo
Luxúria Canibal entre muitos outros. Será um
disco diferente do Saturdays..., e estamos ansiosíssimos para o ter cá fora.
..
MB
http://www.myspace.com/blackbombaim
24
http://www.facebook.com/blackbombaim
As linhas com_
que se cosem a
[“Deep down inside”, dos RedLizzard]
MALHA
‘Deep down inside’, dos RedLizzard,
é um daqueles temas que nos transporta para um tempo em que o rock
era usado para criar hinos, banhado
de um espírito bastante garage - tanto
Danzig como Billy Idol vêm à memória
quando escutamos o tema - mas com
um input muito actual em termos de
som, tornando-o um tema muito forte
de entre as músicas que vão surgindo
abaixo da superfície do mundo musical
que habitamos, dentro de portas.
Gonçalo F. Santos
A força do tema é em boa medida justificada
pela letra, que no refrão carrega os versos ‘cuts
like a knife/deep down inside/takes everything
you love’, sendo que a mesma foi escrita “numa
altura em que [Elvis - guitarrista da banda] passava por um mau bocado da vida dele. Na altura
ele acompanhava uma pessoa muito próxima
num processo de recuperação de toxicodependência” descreve Patrick, que completa a dupla de
guitarristas dos RedLizzard, “e isso é perceptível
na letra e na própria música. É uma letra de interpretação simples, fala principalmente do mal
que a toxicodependência provoca a todos os que
se envolvem ou que acabam envolvidos…”
Apesar de ser um assunto sempre complexo, o
do envolvimento com substâncias ilícitas, simples e directo são adjectivos que que Patrick recupera quando descreve o tema e a forma como
este se projecta nos membros da banda, referindo que este é um daqueles que lhe “transmite
energia pura. Principalmente quando o tocamos
ao vivo porque acaba por ser um tema contagiante a que o público adere rapidamente”. Tal
é a forma como o público dos RedLizzard adere ao tema que chega mesmo a ser um
pouco frustrante quando a banda o omite do
alinhamento de um espectáculo. “Sim existe um
núcleo dentro do grupo de fãs de RedLizzard que
nos está sempre a pedir o tema. Inclusive houve
alguns a ficarem tristes, por não o termos incluído no set que tocámos com Bon Jovi, e agora
por não o termos incluído no set acústico que
temos estado a fazer pelas Fnacs. Sabemos que
é um dos temas preferidos de um número considerável de fãs.”
A raíz dessa forma de actuar da música sobre o
público (e até mesmo sobre os membros da banda) é completamente perceptível, principalmente
pelo groove da mesma, e algo que, sempre que
está presente na parte mais punk, de entre as
duas em que dividem os seus espectáculos - “o
espectáculo [..] tem um momento mais hard
rock e outro mais punk” - se pode ‘culpar’ a
quem esteve por detrás da composição. O guitarrista ilumina-nos quanto a esse cenário: “Este
tema foi originalmente composto pelo Elvis,
depois foi arranjado por mim e por ele”, refere,
“na altura sentámo-nos os dois no pequeno estúdio que ele tinha e começámos a fazer alguns
dos arranjos que ainda hoje existem no tema.
http://www.myspace.com/redlizzardband
26
http://pt-br.facebook.com/pages/RedLizzard/21189516432
Da minha parte na altura procurei puxar
algumas das ideias para as referências que
tinha, mais alternativas. O que fez crescer o
tema, que já tinha uma forte linha rítmica,
uma excelente linha de voz e o solo era
muito bom... Mas faltava algo nas guitarras que as fizesse saltar mais e ainda antes
de ser apresentada à banda, o Elvis fez uns
arranjos na estrutura da música tornandoa mais num formato de canção. Mais tarde
quando apresentámos a música ao resto
da banda, ela cresceu com os inputs dos
restantes elementos. Principalmente pelo
facto das linhas de bateria serem diferentes
do que estava desenhado. Trabalhámos
bastante a parte dos backing vocals e todas
as linhas vocais do Mauro.”
Quanto à nossa associação do tema com
essa fase mais garage rock Patrick não
discorda, mas completa o quadro: “sim
penso, que claramente há momentos que
se nota esse tipo de influências, apesar de
não serem nossas referências. Na altura
passavam mais por Danko Jones, Velvet
Revolver, Iron Maiden, Janes Addiction, etc.
Isto apesar de termos grandes influências
de outras coisas mais classic rock como
Bon Jovi, Whitesnake, AC/DC, Led Zeppelin,
Deep Purple, Def Leppard... Enfim, de tudo
um pouco, mas talvez estas últimas sejam
as mais comuns a todos os elementos da
banda.”
De qualquer forma, apesar de todos estes
nomes levantarem uma mistura um pouco
complexa, há que entender que o importante é a simplicidade capaz de ser traçada
e encontrada como ponto comum entre
cada um deles e que a banda adoptou para
a sua própria fórmula e que fez como que o
tema se tornasse “definitivamente um dos
momentos altos do espectáculo” da banda.
Para concluir Patrick exclarece que “passa
principalmente por ser uma característica
nossa o simplificar ao máximo as nossas
músicas, por isso o nome do EP In your face
simples e directo... como quem diz “Isto
somos nós - os RedLizzard”!”
Agora, como o próprio membro da dupla de
guitarristas diz, e bem, “acho que já dissémos tudo sobre o tema, agora é ouvi-lo!”
..
MB
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Yoshi, o puto dragão Volume 1 [EP] (2011)
A diferença traduz-se mais vezes
num afastamento do que numa
aproximação e consequente consensualidade.. é portanto, num
misto de entusiasmo e uma certa
angústia que é feita esta enésima
escuta de ‘volume 1’ dos Yoshi, o
puto dragão; devido a várias das
características que marcam este
projecto - sendo a indumentária a
resgatar algo do imaginário das artes marciais no tempo em que ainda havia samurais, e a inspiração
na BD japonesa as que mais se
destacam - aos olhos da maioria a
banda pode chegar como apenas
uma mera curiosidade, quando na
verdade esconde por baixo da superfície um potencial fora do normal
para a construção de temas que
exploram practicamente tudo desde
a música tradicional japonesa ao
deathcore - em “Buried under chinatown” e “Delaforce” por exemplo
-, passando por momentos de puro
rock viciante ou até mesmo pelo
típico power-pop tão característico
das bandas sonoras dos animées “Takare”. A mistura é de tal forma
imensa, quase como se os Mindless Self Indulgence se lembrassem de fazer um álbum conceptual
inspirado nos manga japoneses (e
cantado em quatro línguas diferentes - inglês, japonês, português
e francês), que por alguma razão
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só podemos olhar para a estratégia
da banda em lançar o álbum como
banda sonora da BD que o acompanha nesta edição como a única
solução possível, se quizermos ser
razoáveis, visto que será a melhor
forma de eventualmente habituar
o ouvido de quem possa estar mais
desprevenido para esta dose sónica. Há momentos em que a música
chega a alcançar níveis de intensidade surpreendentes, com alguns
apontamentos de orquestração em
tom oriental absurdos, banhados de
uma carga de sedução justificada já
quase só pela voz de Mónica Martins que, principalmente no tema
“Hikikomori” (que tem um toquesinho apaixonante de Guano Apes),
usa a sua voz como um instrumento capaz de transportar melancolia
para dentro de um cenário já feito
de destroços daquilo que eram os
muros erguidos pelos preconceitos
musicais que um qualquer adepto
da evolução da costela agressiva do
rock poderia opor a esta colecção
de temas. Como é cantado e bem
no último tema - adequadamente
intitulado “Genérico” - “esta história
nunca foi contada”. É então altura
de entregar os ouvidos aos Yoshi e
ouvir o que o puto dragão tem para
nos revelar, pois decerto o desfecho
será marcante.
nacional) tem a dever a instrumentais
complexos que não viram a cara ao
groove. Guitarra e baixo bem fortes,
coezos e audazes acompanhados por
ritmos de bateria que não vêm um
limite para a inspiração de arranjar sempre uma linha ou um break
viciante que encaixe na parte certa
de forma a tornar cada momento de
uma música em algo delicioso - indesmentível no tema superior que é “Autopsy headcrush”. Devido à primeira
impressão deixada pelo (ainda) insistente ‘preconceito’ de ouvir um álbum
sem vozes, este registo torna-se um
exemplo claro de um álbum que não
é - nem seria, decerto, suposto que
fosse - fácil, nem à primeira, nem à
segunda. Mas é tudo uma questão
de nos entregarmos ao groove e ao
eterno poder do riff e nos deixarmos
levar pela onda envolvente de um
tema como o tema título “Winds of
revenge”, ou mesmo pela odisseia sonora que é de “Like crows, they drop”.
Mesmo fãs de Mastodon ou Black Sabbath que saibam fazer mais do que
pregar os olhos nas letras vão saber
dar o devido valor a este trio depois
de uma escutadela!
Blue trash can - Who
Keeps The Silence, Keeps
The Lie! [EP]
(2010)
Aspen - Winds of revenge
(2011)
Com raiz na no subgénero que se
emancipou algures entre as premonições dos Neurosis e a concretização de uns Cult of Luna, os Aspen
lembram-nos o quanto esta mais
recente lufada de música pesada da
última década (mesmo em território
É num tom festivo e practicamente
powerpop que os Blue Trash Can nos
abrem as portas através da escuta
deste seu segundo EP, logo aos
primeiros segundos de “SSS (Slightly
Small & Stupid)”, para logo se metamorfosearem e assinar um registo
nítidamente a apontar para o grunge e
para o rock mais alternativo. O registo
da voz de ... chega mesmo por vezes
a fazer lembrar ora, Mike Patton, ora
Maynard James Keenan, mas, por
mais curioso que possa parecer, a
maior parte do tempo lembra-nos um
feeling muito rockabilly que insiste
na comparação com uns Volbeat. Mas
é inquieta esta escuta, pois essa associação é redutora quanto ao potencial que a banda demonstra ao longo
destas cinco faixas, reclamando algo
de seu em “Still Searchin”, ou em
“Primordial Touch”, músicas que, mais
do que outra coisa qualquer, vingam
muito bem graças a refrões fortes,
alicerçados em riffs firmes e que conseguem mesmo assim ser melódicos
e orelhudos - com airplay sufuciente
correm até o risco de se tornar viciantes! “They scream in silence” acentua a veia grunge e lembra-nos que
não podemos ignorar algo de Pearl
Jam a sair pelos poros destas composições, e chega a ser a música mais
caustica de entre o conjunto, com
riffs menos melódicos mas não menos
sedutores, graças ao groove. Pelo
meio “Paper planes”, a fazer lembrar a
última fase de uns Incubus, relembra
que algum airplay por rádios nacionais
podia fazer algo de bom pelos Blue
Trash Can, e talvez até pelos ouvintes.
próprios rapazes, esta demo dos Local Trap é mais uma prova de que o
espírito DIY está de boa saúde, tal
é a relativa qualidade/equilíbrio que
conseguiram extrair neste conjunto
de três temas onde desbravam um
punk rock de espírito bem hardcore,
com espaço para misturar tonalidades
ainda mais desafiadoras de gavidade
que, mais do que metal chegam
mesmo a imprimir algo de negro no
universo da banda de Gaia. Curioso
ver como do primeiro para o último
tema o tempo de duração dos mesmos vai aumentando (sendo que o
primeiro não chega a atingir a meta
dos 2 minutos) ao passo que já na
recta final de “L.I.F.E.” a velocidade
vai consideravelmente diminuíndo. É
quase uma metáfora para o que foi
a exploração creativa dos Black Flag,
mas que rasga laços com quaisquer
comparação ao som de uma voz que
transpira raiva e acusa com autoridade sónica capaz de surpreender.
Pussy hole treatment
- Destroy everything
now[EP] (2010)
Local Trap - Demo (2011)
pergunta: como é possível uma
jarda sónica de 11:30 minutos soar
como tendo o mesmo efeito de uma
de 45? 11:30 é o tempo de duração
deste conjunto de 6 temas que
constitui a estreia dos Pussy hole
treatment, e para dizer a verdade
este conjunto de seis temas enraizados no punk mais hardcore e
desgarrado - começando na inspiração sacada a uns Discharge,
mas com vários apontamentos
da nova onda de hardcore mais
encorpado, já na ressaca da onda
que foi a do metalcore, lembrando
por vezes nomes como Burnt by
the sun(como no tema “No tomorrow”). Com voz sempre em riste,
naquele tom rouco de quem canta
até que a voz lhe falhe - o que fica
mesmo a matar neste tipo de registos, diga-se - o punk thrashado
dos PHT viaja por quase tudo um
pouco dentro do universo punk e
não só; desde o crust no início de
“Think of yourself” até ao hardcore
mais puro de “Superiority talk”,
sem esquecer o já mencionado
metalcore de inspiração sueca, não
estivéssemos nós a falar de uma
banda de crossover. O mais estranho chega mesmo a ser o facto de
como com uns quantos leads de
guitarra à Iron Maiden(!) pelo meio
de algumas destas malhas os PHT
nos conseguem relembrar que até a
NWOBHM teve a sua génese na velocidade e rebeldia descoberta pelo
punk.. Sem espinhas, nem gordura
a mais; exactamente a dose certa
para nos tentar a clicar em replay.
..
MB
Ok, vamos por partes. Primeiro é
preciso tentar responder a uma
Gravada no local de ensaio dos
Identificas-te
com a MöndoBrutal?
A tua banda
gravou 1a demo/cd/ep?
Comunica connosco e dá-nos a conhecer :
[email protected]
Videoclube
5ZT4K5EjE
http://www.youtube.com/watch?v=j0
http://www.youtube.com/watch?v=RpWmfuRVpL0
BLUE TRASH CAN - “Primordial
DEVIL IN ME - “Only
30
touch”
god can judge me”
(clica e vê)
GAZUA - “Preocupa-te”
ATENTADO - “Corrosive”
http://www.youtube.com/watch?v=-ymVkv20oL8
S03E
http://www.youtube.com/watch?v=XiAPB82
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