O DISCRETO CHARME (HIPÓCRITA) DA BURGUESIA EM “AMAR

Transcrição

O DISCRETO CHARME (HIPÓCRITA) DA BURGUESIA EM “AMAR
O DISCRETO CHARME (HIPÓCRITA) DA BURGUESIA EM “AMAR, VERBO
INTRANSITIVO”, DE MÁRIO DE ANDRADE
Abigail Ribeiro Gomes *
Este trabalho se propõe a cotejar a concepção de burguesia apresentada por
Karl Marx e Friedrich Engels em Manifesto do Partido Comunista com a imagem da
burguesia paulistana apresentada por Mário de Andrade em Amar, verbo
intransitivo.
Para a realização de tal propósito, apresentaremos Mário de Andrade e seu
contexto de produção, as relações entre Literatura e Ciências Sociais para, enfim,
propormos nossas considerações a respeito da aplicação da teoria marxiana no
texto marioandradino.
Assumindo as palavras de Ezra Pound, de que o “poeta é antena da raça”,
podemos observar em expressões literárias a presença do autor e do contexto de
produção da obra, não somente pelo enquadramento da obra nas tendências
estéticas e temáticas do período de produção, mas pela inserção de elementos reais
na obra literária – via de regra ficcional. Por isso, iniciamos nossas colocações
considerando a relação estabelecida entre um artista e seu contexto de produção.
Para melhor compreensão dessa questão, convocamos o livro A sociedade dos
indivíduos, em que Norbert Elias fez as seguintes considerações:
Mas, embora esse contexto funcional tenha suas leis próprias, das quais
dependem, em última instância, todas as metas dos indivíduos e todas as
decisões computadas nas cédulas eleitorais, embora sua estrutura não seja
uma criação de indivíduos particulares, ou sequer de muitos indivíduos,
tampouco ele é algo que exista fora dos indivíduos. Todas essas funções
interdependentes (...) são funções que uma pessoa exerce para outras, um
indivíduo para outros indivíduos. Mas cada uma dessas funções está
relacionada com terceiros; depende das funções deles tanto quanto estes
dependem dela. Em virtude dessa inerradicável interdependência das
funções individuais, os atos de muitos indivíduos distintos, especialmente
numa sociedade tão complexa quanto a nossa, precisam vincular-se
8
ininterruptamente, formando longas cadeias de atos, para que as ações de
cada indivíduo cumpram suas finalidades. (ELIAS, 1994: 23).
Considerando que o escritor produz para o público leitor e nesta produção
divulga suas idéias a respeito de seu contexto e as partilha com o mesmo, podemos
perceber que o papel do indivíduo escritor tem relevância dentro do contexto em
que vive e que interpreta.
Entretanto, esta interpretação, feita pelo escritor em uma obra literária,
atinge
esferas
que estão distantes de outros modos de transmissão de
conhecimento e de representação. De acordo com Alfredo Bosi, o surgimento da
linguagem verbal representou um ganho significativo para “recortar, transpor e
socializar as percepções e os sentimentos que o homem é capaz de experimentar”
(BOSI, 2000: 28). Para ele, a utilização da linguagem poética não pode ser
comparada com a transmissão de uma mensagem por
meio de “ícones
aglomerados”. Ainda utilizando suas palavras, “o modo encadeado de dizer a
experiência renunciou, por certo, àquela fixidez, àquela simultaneidade, àquela
forma dada - imediatamente do modo figural de concebê-la” (idem: 30).
A transcendência apresentada por Bosi ganha importância a partir do
momento em que o escritor, ao produzir e lançar a público sua obra, assume seu
papel social incisivamente. Corroborando com as palavras de Elias e Bosi,
consideramos as palavras de Antonio Cândido, quando este afirmou que,
O escritor, numa determinada sociedade, é não apenas o indivíduo capaz de
exprimir a sua originalidade, (que o delimita e especifica entre todos), mas
alguém desempenhando um papel social, ocupando uma posição relativa ao
seu grupo profissional e correspondendo a certas expectativas dos leitores
ou auditores. A matéria e a forma da sua obra dependerão em parte da
tensão
entre
as
veleidades
profundas
e
a
consonância
ao
meio,
caracterizando um diálogo mais ou menos vivo entre criador e público
(CANDIDO, 1973: 74).
O diálogo travado entre escritor e público, conforme já tratamos, contém,
consciente ou inconscientemente, questões pertinentes ao contexto social em que
ambos estão inseridos e do qual fazem parte. Desta forma, as palavras de Fredric
Jameson, quando tratou a respeito do Inconsciente Político, são esclarecedoras e
podem contribuir para elucidação do assunto. De acordo com o autor, é
9
Quando detectamos os traços dessa narrativa ininterrupta, quando trazemos
para a superfície do texto a realidade reprimida e oculta dessa história
fundamental, que a doutrina de um inconsciente político encontra sua
função e sua necessidade.(JAMESON, 1992: 18).
Indo além das palavras de Jameson, Raymond Williams afirmou que “a arte
não reflete a realidade social, a superestrutura não reflete a base, diretamente: a
cultura é uma mediação da sociedade” (WILLIAMS, 1979: 102). Assim sendo, o
autor, como produtor da obra de arte, exerce o papel de mediador nessa relação, a
partir do momento em que seu diálogo com o público se dá num jogo de coleta de
dados a serem expostos na obra e de oferta de informações capazes de reafirmar
ou de questionar a realidade em que ambos estão inseridos.
Para que este trabalho se desenvolva de acordo com o exposto acima, é
preciso fazer uma apresentação de Mário de Andrade, para melhor compreensão do
processo de construção da estética do artista. Segundo Telê Ancona Lopez,
Mário de Andrade foi bem mais que um homem de sete instrumentos. É
considerado, hoje, uma espécie de pai da moderna cultura brasileira. Foi
poeta, escreveu romance - entre eles Macunaíma -, militou na imprensa
como crítico e como cronista. Projetou-se como musicólogo, historiador das
artes plásticas e da arquitetura; como correspondente fecundo em contato
com os nomes mais significativos do campo cultural de sua época,
pesquisador do folclore e professor no Conservatório de São Paulo e na
Universidade do Distrito Federal; como fotógrafo, colecionador de arte e
dono de uma especialíssima biblioteca. Intelectual voltado para projetos
culturais renovadores, dirigiu o Departamento de Cultura da Cidade de São
Paulo e desenvolveu o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Figura de proa no Modernismo dos anos 20 revolucionou a linguagem
literária, venceu a estratégia de um programa, tornando-se o artista
moderno nas interrogações constantes sobre o sentido de seu tempo e de
sua criação. (LOPEZ, 2000:13)
Mário de Andrade estava inserido num contexto histórico-artístico muito
peculiar. Segundo Eric Hobsbawn (1995), o mundo vivia o período pós I Guerra
Mundial, quando a crise econômica levou a sociedade liberal a um colapso. No
mesmo período, conforme tratou Lincoln de Abreu Penna (1999), houve o momento
10
de explosão da industrialização brasileira, provocado pela crise do ciclo do café, que
atraiu trabalhadores rurais, ex-escravos e imigrantes para as cidades. Desta
maneira, as manifestações artísticas passaram a incorporar as questões e a
temática deste contexto. No campo artístico, ocorria no mundo uma mudança de
referencial que refletia o contexto histórico de modo peculiar. Conforme escreveu
Arnold Hauser, a arte no início do século XX,
é a primeira a renunciar toda ilusão de realidade por princípio e a expressar
sua visão geral da vida através da deformação deliberada de objetos
naturais. O cubismo, o construtivismo, o futurismo, o expressionismo, o
dadaísmo
e
o
surrealismo
afastam-se
com
igual
determinação
do
impressionismo, vinculado à natureza e ratificador da realidade. [...] A
intenção é escrever, pintar e compor com base no intelecto, não nas
emoções. (HAUSER, 1998: 960-961)
Como integrante do movimento modernista, Mário de Andrade sentia a
necessidade de conhecer o Brasil e seu povo de modo que estivessem
indubitavelmente contidos em sua obra. O próprio Mário, referindo-se ao
movimento em questão, afirmou o seguinte:
Manifestado especialmente pela arte, mas manchando também com
violência os costumes sociais e políticos, o movimento modernista foi o
prenunciador, o preparador e por muitas partes o criador de um estado de
espírito nacional. A transformação do mundo com o enfraquecimento
gradativo dos grandes impérios, com a prática européia de novos ideais
políticos,
a
rapidez
dos
transportes
e
mil
e
uma
outras
causas
internacionais, bem como o desenvolvimento da consciência americana e
brasileira, os progressos internos da técnica e da educação, impunham a
criação de um espírito novo e exigiam a reverificação e mesmo a
remodelação da Inteligência nacional. Isto foi o movimento modernista, de
que a Semana de Arte Moderna ficou sendo o brado coletivo principal.
(ANDRADE, 1978: 231)
Feitas estas apresentações iniciais, partiremos para uma visão geral a
respeito da obra escolhida para análise – Amar, verbo intransitivo. Usando as
palavras de Telê Porto Ancona Lopez,
11
Amar, verbo intransitivo conta uma lição de amar ou a iniciação amorosa do
adolescente Carlos, da burguesia paulistana de novos-ricos, apresentada
como burguesia industrial urbana, tipicamente brasileira. A professora de
amor – contratada para instrutora de sexo pelo pai do rapaz, Sousa Costa,
em combinação que, para ele, excluía a participação de Laura, a esposa – é
Fräulein Elza, governanta alemã, também professora de línguas e piano na
família. (LOPEZ, 2002: 9).
Podemos observar na estruturação do romance a presença de personagens
que deixam claro como se concretizavam as relações sociais da narrativa. Além das
personagens mencionadas na citação acima, há também as irmãs de Carlos - Maria
Luísa, Laurita e Aldinha -, o jardineiro Tanaka e a criada Marina. Esses elementos
têm importância, pois, por sua presença e papel desempenhado na narrativa,
podemos observar a atuação dos elementos burgueses no desenrolar da história.
Entretanto, para nossos propósitos neste momento, o foco de atenção ficará mais
detido a Sousa Costa, dona Laura, Carlos e Fräulein. Esta escolha se deu porque
Sousa Costa e dona Laura são os principais representantes da burguesia na
narrativa; Carlos é a personagem que transita da situação de domínio dos pais para
a
adoção
da
mesma
postura
desses;
Fräulein
representa,
nas
relações
estabelecidas no núcleo da casa, o contraponto proletário para a atuação da
burguesia.
Uma questão muito peculiar da obra refere-se ao narrador, cujo papel é de
extrema importância para a organização da narrativa. Esse narrador posiciona-se
declaradamente no papel de escritor, como se o próprio Mário de Andrade fizesse
parte de sua narrativa de modo a intensificar a participação do indivíduo social na
construção de uma narrativa ficcional. Desta forma, em sendo indivíduo social, o
escritor-narrador transporta para a obra a realidade que se apresenta diante de si,
conforme foi postulado pelos autores já mencionados neste trabalho. De maneira
mais clara, podemos observar esta colocação na seguinte passagem da obra:
Um dia, era uma quarta-feira, Fräulein apareceu diante de mim e se contou.
O que disse aqui está com poucas vírgulas, vernaculização acomodatícia e
ortografia. Os personagens, é possível que uma disposição particular e
momentânea
do
meu
espírito
tenha
aceitado
as
somas
por
eles
apresentadas, essa toda a minha falta. Porém, asseguro serem criaturas já
feitas e que se moveram sem mim. São os personagens que escolhem os
seus autores e não estes que constroem as suas heroínas. Virgulam-nas
12
apenas, pra que os homens possam ter delas conhecimento suficiente.
(ANDRADE, 2002: 79)
Desta passagem podemos depreender que, assim como a “heroína” se
apresentou diante dos olhos do narrador, as demais personagens que com a
heroína se relacionam e formam sua rede de relações de interdependência, foram
“impostas” ao escritor-narrador pela realidade que diante dele se apresentava.
Conforme apresentado anteriormente, para a compreensão do papel da
burguesia em Amar, verbo intransitivo, utilizaremos as colocações de Karl Marx e
Friedrich Engels em Manifesto do Partido Comunista. Marco Aurélio Nogueira tratou
sinteticamente sobre a motivação e produção do Manifesto:
A liga dos Comunistas (Bund der Kommunisten) realizou seu segundo
congresso em Londres, de 29 de novembro a 8 de dezembro de 1847. Nele,
após demorada discussão, foram aprovados seus estatutos definitivos,
fixada sua orientação geral e dois jovens revolucionários alemães receberam
a incumbência de redigir o programa político da organização. Quase três
meses depois, em fevereiro de 1848, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich
Engels (1820-1895) entregavam o Manifesto do Partido Comunista ao
Comitê Central da Liga em Londres. Abria-se uma nova fase na história do
movimento operário e do socialismo. (NOGUEIRA, 1988: 9)
No Manifesto, Marx e Engels expuseram de maneira concisa a teoria da luta
de classes como característica principal da história dos povos e o papel que cada
classe desempenha nessa luta. Como as duas principais antagonistas da luta no
período de produção do texto, os autores apresentaram a burguesia e o
proletariado, caracterizando cada uma das classes de maneira modelar e conceitual
– como referencial a ser utilizado e verificado em análises de conjunturas.
Com mencionado anteriormente, nosso foco de atenção é a caracterização
da burguesia em ambas as obras. De acordo Engels, em nota constante da edição
inglesa de 1888, a burguesia é “a classe dos capitalistas modernos, que são
proprietários dos meios de produção social e empregam trabalho assalariado” (in:
MARX & ENGELS, 1988: 66). A família Sousa Costa pode ser enquadrada na
definição acima, observando-se a seguinte descrição:
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Sousa Costa usava bigodes onde a brilhantina indiscreta suava negrores
nítidos. Aliás todo ele era um cuité de brilhantinas simbólicas, uma graxa,
mônada sensitiva e cuidadoso de sua pessoa. Não esquecia nunca o cheiro
no lenço. Vinha de portugueses. Perfeitamente. E de Camões herdara ser
femeeiro irredutível. Em tempos de calorão surgiam nos cabelos negros de
dona Laura umas ondulações suspeitas. Usava penteadores e vestidos de
seda muito largos. Apenas um gesto e aqueles panos e rendas e vidrilhos
despencavam pra uma banda afligindo a gente. Meia malacabada. Era maior
que o marido, era. Lhe permitira aumentar as fábricas de tecidos no Brás e
se dedicar por desfastio à criação do gado caracu. (ANDRADE, 2002: 55).
Destacamos a questão explicitamente capitalista da citação acima. O
elemento definidor do casal Sousa Costa como membros da burguesia está
relacionado com a parceria de ambos com o objetivo de ampliar sua participação na
indústria e manter seu vínculo com atividades rurais. Assim, os meios de produção
característicos do Brasil à época – atividade rural e indústria – são de posse do
casal. Essa dupla característica – de rural e urbano - foi muito comum na burguesia
brasileira da época.1
Feito o enquadramento das personagens na definição de burguesia proposta
por Marx e Engels, vejamos que outros aspectos da teoria marxiana podem ser
observados na narrativa marioandradina.
Os autores do Manifesto apresentaram uma colocação abrangente a respeito
de como a burguesia conduz suas relações sociais. Nas palavras de Marx e Engels,
Onde quer que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as
relações
feudais,
patriarcais,
idílicas.
Dilacerou
impiedosamente
os
variegados laços feudais que ligavam o ser humano a seus superiores
naturais, e não deixou subsistir entre homem e homem outro vínculo que
não o interesse nu e cru, o insensível ‘pagamento em dinheiro’. Afogou nas
águas gélidas do cálculo egoísta os sagrados frêmitos da exaltação religiosa,
do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês. Fez da
dignidade pessoal um simples valor de troca e no lugar das inúmeras
liberdades já reconhecidas e duramente conquistadas colocou unicamente a
liberdade de comércio sem escrúpulos. Numa palavra, no lugar da
1
Para melhor observar a caracterização específica da burguesia brasileira, ver CARONE, Edgar. A
República Velha: instituições e classes sociais. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972.
14
exploração mascarada por ilusões políticas e religiosas colocou a exploração
aberta, despudorada, direta e árida. (MARX & ENGELS, 1988: 69).
Para observarmos algumas das colocações marxianas, tomemos um trecho
de Amar:
Viu o filho chorando e teve amor, consolou. Felizmente ele estava ali pra
acabar com aquilo. Porém que tivesse cuidado pra outra: não tem tantas
mulheres sem perigo por aí, não o obrigasse mais a gastar dinheiro com
essas coisas. Carlos tira a cara das mãos, quer ver se o dinheiro é verdade.
– Ela não recebeu dinheiro!
– Ah?! então você pensa que ela partia assim, sem nada, não é!...
(ANDRADE, 2002: 135)
Podemos observar no excerto acima que a postura do burguês Sousa Costa
diante do que lhe parecia um problema – o envolvimento amoroso de seu filho com
a governanta – foi a de utilizar o capital como solução e abolição da presença da
mulher no convívio com seu filho. Desta forma, a relação pessoal transformou-se,
conforme postularam Marx e Engels, numa relação monetária, em que a dignidade
humana foi trocada por dinheiro sem vacilos.
Outra questão constante das palavras de Marx e Engels colocadas acima foi
a religiosidade. Esta tornou-se, para a burguesia, elemento de prestígio para
ascendência entre os pares, ou seja, meio de obter vantagem, inclusive financeira.
Podemos observar esse tipo de postura na seguinte passagem de Amar:
Quando Carlos nasceu batizaram-no, pois não. As meninas iam nas missas
de domingo, se era manhã de sol, o passeio até fazia bem... Com nove anos
mais ou menos recebiam a primeira comunhão. Dona Laura mandava lhes
ensinar o catecismo por uma parenta pobre, muito religiosa, coitada!
catequista em Santa Cecília. Dona Laura usava uma cruz de brilhantes que o
marido dera pra ela no primeiro aniversário de casamento. Era uma família
católica. Nas festas principais da casa vinha Monsenhor. (idem: 55)
A presença da diferença social e da ostentação na passagem acima deixa
claro que a caracterização de Marx e Engels pode ser aplicada ao caso de Amar. A
instrução religiosa feita por uma parenta menos abastada e a utilização do crucifixo
15
de brilhantes por parte da mãe da família denota que a valorização despretensiosa
da religiosidade foi substituída pela utilização da religião como elemento distintivo
de classe social e atribuidor de prestígio.
A questão da polidez também mencionada pelos autores do Manifesto pode
ser observada em passagem do texto de Mário de Andrade.
Fräulein se sentiu logo perfeitamente bem dentro daquela família imóvel
mas feliz. Apenas a saúde de Maria Luísa perturbava um tanto o cansaço de
dona Laura e a calma prudencial de Sousa Costa. Servia de assunto possível
nos dias em que, depois da janta, Sousa Costa queimava o charuto no hol,
como que tradicionalmente revivendo a cerimônia tupi. Depois se escovava,
pigarreando circunspecto. Vinha dar o beijo na mulher. (idem: 59).
Observemos que a polidez existente na família, principalmente por parte do
patriarca, caracteriza-se pela superficialidade, ironizada por Mário de Andrade na
passagem acima. A atitude polida com relação à esposa, especificamente, feita de
maneira a manter aparências, denota a perda de importância da relação pessoal
afetuosa e a substituição da relação pautada na obtenção de vantagens sociais – de
classe. Isso fica claro também na citação feita quando da caracterização da
burguesia na obra de Mário de Andrade.
Ainda a respeito da relação familiar, até mais especificamente, tomemos por
base as palavras de Marx e Engels:
A fraseologia burguesa sobre a família e a educação, sobre os afetuosos
vínculos entre criança e pais, torna-se tanto mais repugnante quanto mais a
grande indústria rompe todos os laços familiares dos proletários e
transforma suas crianças em simples artigos de comércio e em simples
instrumentos de trabalho. (MARX & ENGELS, 1988: 84).
As observações marxianas podem ser encontradas em diversas passagens
de Amar, inclusive em algumas já citadas. Porém, há duas que deixam claro esse
posicionamento. A primeira é a seguinte:
– Minhas filhas já falam o alemão muito direitinho. Ontem entrei na Lirial
com Maria Luísa... pois imagine que ela falou em alemão com a caixeirinha!
Achei uma graça nela!... Fräulein é muito instruída, lê tanto! Gosta muito de
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Wagner, você foi no Tristão e Isolda? que coisa linda. Gostei muito.
Também: quatrocentos mil réis por mês!
E continuava falando que Felisberto não se importava de gastar, contanto
que os meninos aprendessem, etc. (ANDRADE, 2002: 61)
A exibição feita pela menina Maria Luísa do que havia aprendido em suas
aulas de alemão e a menção ao gasto proveniente dessas aulas são fatos que
demonstram o quanto a educação dos filhos é utilizada como moeda de troca – de
prestígio, que pode se revertido em capital com facilidade – no estabelecimento de
relações sociais intra-classe e até mesmo para obtenção de ascendência a classes
economicamente inferiores.
A outra passagem, ainda mais clara com relação à utilização da família como
moeda de troca é a seguinte:
Sousa Costa queria muito bem ao filho é indiscutível, porém isso de amores
escandalosos dentro da própria casa dele lhe repugnava bastante. Não é que
repugnasse propriamente... fazia irritação. Está certo: irritava Sousa Costa.
O filho era dele, lhe pertencia. Que se entregasse a uma outra e ele
sabendo, teve ciúmes, confesso. Se sente como que comeado! Tal era a
sensação inexplicável de Sousa Costa pai. (idem: 132)
A menção da posse do filho pelo pai e a aversão ao que o pai considerava
“amores escandalosos” evidencia a questão da família como moeda de troca. A
aprovação de uma relação amorosa do filho – aceita somente se for com alguém da
mesma classe social – também estava condicionada à permissão do pai, seu dono.
A posse do filho, como se este fosse um de seus bens, demonstra o quanto a
postura burguesa está impregnada da sensação de posse, proveniente do capital 2.
De maneira mais direta, Marx e Engels trataram da questão da mulher nas
relações burguesas.
O burguês vê na própria esposa um simples instrumento de produção. Ouve
dizer que os instrumentos de produção devem ser explorados em comum e
2
Posteriormente, Robert Kurz denominou o capitalismo como sociedade produtora de
mercadorias. Nesta análise, mercadoria é tudo aquilo produzido para o mercado, incluindo aí os
seres humanos. Homens serão considerados úteis quando são capazes de servir ao mercado.
Obviamente, desta concepção podemos abstrair a idéia de “fetichização da mercadoria”. Ver:
KURZ, Robert. O colapso da modernização. 5. ed. São Paulo, Paz e Terra, 1999.
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só pode naturalmente pensar que o mesmo uso em comum atingirá também
as mulheres. (...) Nossos burgueses, não satisfeitos em ter à sua disposição
as mulheres e as filhas de seus proletários, pra não falar da prostituição
oficial, têm o maior prazer em seduzir mutuamente suas recíprocas esposas.
O casamento burguês é, na realidade, a comunidade das mulheres casadas.
Portanto, no máximo seria possível censurar os comunistas por desejarem
substituir uma comunidade das mulheres hipocritamente dissimulada por
outra comunidade franca e oficial. De resto, é evidente que com a abolição
das atuais relações de produção desaparecerá também a comunidade das
mulheres que deriva dessas relações, ou seja, a prostituição oficial e nãooficial. (MARX & ENGELS, 1988: 84).
No texto de Mário de Andrade, podemos observar como o burguês
representado por Sousa Costa mantinha sua relação com a esposa. Vejamos a
seguinte passagem:
Nas noites espaçadas em que Sousa Costa se aproximava da mulher, ele
tomava sempre o cuidado de não mostrar jeitos e sabenças adquiridos lá em
baixo no vale. No vale do Anhangabaú? É. Dona Laura comprazia com prazer
o marido. Com prazer? Cansada. Entre ambos se firmara tacitamente e bem
cedo uma convenção honesta: nunca jamais ele trouxera do vale um fio
louro no paletó nem aromas que já não fossem pessoais. Ou então aromas
cívicos. Dona Laura por sua vez fingia ignorar as navegações de Pedro
Álvares Cabral. Convenção honesta se quiserem... Não seria talvez a
precisão interior de sossego?... Parece que sim. Afirmo que não. Ah!
Ninguém o saberá jamais!...
E quem diria que Sousa Costa não era bom marido? era sim. Fora tão nu de
preconceitos até casar sem por reparo nas ondas suspeitas dos cabelos da
noiva. E bem me lembro que ficaram noivos em tempo de calorão... Dona
Laura retribuía a confiança do marido, esquecendo por sua vez que bigodes
abastosos e brilhantinados são suspeitos também. Sentia agora eles
trepadeirando pelo braço gelatinoso dela e, meia dormindo, se ajeitando:
– Vendeu o touro?
– Resolvi não vender. É muito bom reprodutor.
Dormiam. (ANDRADE, 2002: 55)
18
Na citação acima, podemos observar a presença de alguns elementos
mencionados no texto do Manifesto. O primeiro deles é a interferência da
prostituição na relação estabelecida entre o casal burguês, isto é, a tolerância por
parte da mulher à relação extraconjugal do marido e a própria entrega da esposa
sem que houvesse real interesse. Da mesma forma, podemos observar a
desvalorização da mulher por parte de Sousa Costa, que não se preocupava em
esconder completamente da mulher suas relações fora do casamento – ela só se
manifestaria se houvesse uma prova contundente dessas relações.
Outro aspecto presente na passagem acima relacionado às palavras de Marx
e Engels é o diálogo explicitamente capitalista entre marido e mulher. No momento
em que o marido se aproximava da mulher, provavelmente buscando o ato sexual,
ela propôs o assunto comercial, demonstrando o quanto a relação estava
impregnada com a questão capitalista.
Vemos,
desta forma,
que a família tem um papel importante na
caracterização da burguesia e nas relações sociais por esta estabelecidas, como
transmissora da ideologia burguesa. Nas palavras de Marx e Engels, “A família
plenamente desenvolvida existe apenas para a burguesia” (idem: 83). Podemos
observar essa colocação na seguinte passagem de Amar:
Quanto à tona da vida, já se conhece bem a fotografia: a mãe está sentada
com a família menorzinha no colo. O pai de pé descansa protetoramente no
ombro dela a mão honrada. Em torno se arranjaram os barrigudinhos. A
disposição pode variar, mas o conceito continua o mesmo. (ANDRADE,
2002: 53).
Observamos nas colocações de Marx e Engels, assim como na descrição de
Mário de Andrade, que o papel da família para a burguesia tem função ilustrativa,
de aparência, como um elemento capaz de ratificar a credibilidade necessária para
o estabelecimento de relações capitalistas.
Essa concepção da burguesia se transmite e multiplica justamente através
da família. Podemos observar, em Amar, passagens referentes a Carlos que deixam
clara esta questão. O rapaz, inicialmente envolvido por uma emoção verdadeira em
sua relação com a governanta Fräulein, viveu, diante da necessidade de
rompimento, uma mudança significativa de postura, o que demonstra como a
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cosmovisão burguesa o impregnou. Inicialmente, apresentamos a seguinte
passagem:
E ele sentiu sem se confessar a si mesmo, que chegara o momento de
principiar esquecendo. Meteu-se na manhã, procurou companheiro de
esporte foram treinar futebol. Na avenida Higienópolis o telefonema avisou
que ele almoçava com o Roberto. Mais um companheiro se juntara a eles.
Passaram a tarde no cinema. Carlos fumou, pagou o chope, sorriu. Quase
riu. De sopetão, falou alto. Os amigos namoravam. Carlos por dentro se riu
dos platônicos tolos! grelar assim e mais nada!... tolos. Carlos não
namorará. (idem: 145)
Na passagem acima, vemos o momento em que Carlos, diante da imperiosa
necessidade de se acostumar com a nova realidade, sem Fräulein, tomou a decisão
de esquecê-la. Para tanto, iniciou uma série de atitudes caracteristicamente
relacionadas à posse de capital: treinar futebol – e não jogar na rua, característico
das classes inferiores – almoçar fora de casa, passar a tarde no cinema, fumar,
pagar o chope e, principalmente, evitar relações em que o sentimento pese mais
que a questão monetária – ele não namorará. Esse início de mudança de
comportamento – uma adequação aos padrões da burguesia – teve sua conclusão
em uma das últimas passagens do livro de Mário de Andrade. Ei-la:
Ela arranjava de novo a... alguém lhe chamou os olhos, conhecido, Carlos?
era Carlos com as irmãs na fiat. Instintivamente ela atirou uma serpentina.
A fita rebentou.
Deu um gritinho horrorizada, acertara na testa dele, podia tê-lo ferido...
Carlos olhou. Mandou-lhe um gesto rápido de cabeça, quase saudação. E
continuou brincando com a holandesa. Fräulein se doeu, tomou com o baque
seco nas entranhas. O deus soltou um gemido que nem urro. Esses deuses
do norte são muito cheios de exageros. Carlos não fez por mal! foi mostrar
que reconhecia e machucou. Fräulein virando o rosto pra trás, seguiu-o com
os olhos, quase amorosa mas já porém reposta no domínio de si mesma.
Estava muito direito assim! E se venceu completamente com o raciocínio,
numa espécie de felicidade. Estava muito certo assim. Ele amaria muito
aquela moça. Era bonita. Rica, se via. Carlos casaria bem, na mesma classe.
(...) O mundo é tal como é. A gente deve aceitar sem revolta. Carlos casará
rico. Perfeitamente. (idem: 147)
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Na passagem acima, podemos perceber a concretização da mudança de
Carlos, tomando consciência do papel de burguês, herança de seus pais. Como se a
alteração de comportamento por parte da personagem representasse o recomeço
da história, uma perpetuação da classe burguesa; como se Carlos fosse repetir os
feitos de seu pai.
Nessa mesma passagem podemos ver como se processa a relação da
burguesia com a classe antagônica – o proletariado. Embora o proletariado não seja
o tema deste trabalho, cremos que algumas considerações de como se dá seu
posicionamento com relação à burguesia são importantes para melhor compreensão
da classe de nosso interesse aqui.
A personagem Fräulein é a principal representante da classe proletária na
obra de Mário de Andrade. Algumas das passagens relativas a ela evidenciam a
diferença de postura e, principalmente, a valorização de outros aspectos que não
sejam os monetários. A citação acima é uma dessas passagens, isto é, quando
podemos ver que a relação de Fräulein com Carlos, para ela, não se limitou à
relação monetária e que, apesar do tempo corrido, o sentimento permanecia vivo
dentro dela – diferente do que ocorreu com Carlos.
Marx e Engels referiram-se a essa questão na seguinte passagem do
Manifesto: “homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestres e
companheiros, numa palavra, opressores e oprimidos, sempre estiveram em
constante oposição uns aos outros, envolvidos numa luta ininterrupta, ora
disfarçada, ora aberta” (MARX & ENGELS, 1988: 66).
Outra passagem de Amar que deixa evidente como a burguesia conduz suas
relações sociais, de maneira opressora e depreciativa, é a que trata da descoberta
de dona Laura do real motivo da presença de Fräulein na casa, na explicação dada
por Sousa Costa. Ei-la:
– Queira desculpar, Fräulein. Vivo tão atribulado com os meus negócios!
Demais: isso é uma coisa de tão pouca importância!... Laura, Fräulein tem o
meu consentimento. Você sabe: hoje esses mocinhos... é tão
perigoso!
Podem cair nas mãos de alguma exploradora! A cidade... é uma invasão de
aventureiras agora! Como nunca teve!. COMO NUNCA TEVE, Laura... Depois
isso de principiar... é tão perigoso! Você compreende: uma pessoa especial
evita muitas coisas. E viciadas! Não é só bebida não! Hoje não tem mulher-
21
da-vida que não seja eterômana, usam morfina... E os moços imitam!
Depois as doenças!... Você vive na sua casa, não sabe... é um horror! Em
pouco tempo Carlos estava sifilítico e outras coisas horríveis, um perdido! É
o que te digo, Laura, um perdido! Você compreende... meu dever é salvar o
nosso filho... Por isso! Fräulein prepara o rapaz. E evitamos quem sabe? até
um desastre!... UM DESASTRE!
Repetia o ‘desastre’ satisfeito por ter chegado ao fim da explicação (...) Só
uma coisa julgara perceber naquele ingranzéu, e, engraçado! Justamente o
que Sousa Costa pensava, mas não tivera a intenção de falar: pagavam só
pra que ela se sujeitasse às primeiras fomes amorosas do rapaz. (ANDRADE,
2002: 77).
A passagem – longa, sabemos – denota como Sousa Costa via o papel de
Fräulein naquela questão, em princípio familiar. A explicação vaga, repleta de
reticências, é usada como recurso de confusão do ouvinte – no caso dona Laura e a
própria Fräulein
– como persuasivo para justificar com razões morais a
subordinação de Fräulein. A evidência do papel da governanta na iniciação sexual
de Carlos, dissolvida na fala de Sousa Costa e esclarecida na intervenção do
narrador, consolida-se como um modelo dentro do qual a burguesia se impõe
diante das demais classes, neste caso do proletariado. Encerrando o parágrafo com
as palavras de Marx e Engels, “Tudo o que é sólido e estável se volatiliza, tudo o
que é sagrado é profano, e os homens são finalmente obrigados a encarar com
sobriedade e sem ilusões sua posição na vida, suas relações recíprocas” (MARX &
ENGELS, 1988: 69).
Como último ponto a ser considerado neste trabalho, trazemos a questão da
relação que a burguesia estabelece com o tempo, isto é, com as formas de
legitimação e de consolidação de sua ascendência social diante das demais classes
sociais. Para Marx e Engels, “na sociedade burguesa o passado domina o presente
(...) Na sociedade burguesa o capital é independente e pessoal, enquanto o
indivíduo ativo é dependente e impessoal.” (idem, p. 81). Para a família Sousa
Costa, de Mário de Andrade, o interesse se expressou da seguinte maneira:
Mas que bem importa isso à família Sousa Costa? Não importa nada, nem
dona Laura tem que ver com os futuros da pátria, francamente. Só o
presente é realidade. Qual será o futuro? Paradigma de conjugação seguirá?
Ou irregular? Ou não tem futuro, e família e pátria são defectivas?...
Ninguém o saberá jamais... (ANDRADE, 2002: 100).
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A teorização social de Marx e Engels e a exemplificação de Mário de Andrade
resumem as colocações anteriores ao evidenciarem que o referencial da burguesia
não se estabelece em relações pessoais ou projeções, ou seja, o burguês não se
preocupa com o que se sente ou como serão as coisas adiante; para ele o presente
não antecipa o futuro, mas reflete o passado e, por isso, não há razão para se
preocupar em cultivar as relações pessoais e sociais e perspectivas de futuro.
O capital, independente e pessoal, e o que ele pode oferecer no momento: eis o
que interessa à burguesia.
Após todas as colocações feitas neste trabalho, podemos observar que as
colocações feitas por Marx e Engels no Manifesto, apesar de amplas e conceituais –
talvez exatamente por isso – são aplicáveis para analisar a realidade dos anos 20
em plena São Paulo. E, sendo Mário de Andrade um leitor constante do que se
publicava na Europa – lembremos que Mário falava inglês e alemão, além de
considerar que a melhor viagem é feita através dos livros – provavelmente as
idéias do Manifesto chegaram até ele e o influenciaram em sua produção. Desta
forma, podemos cogitar que o Manifesto tenha exercido um papel elucidativo para
que o artista pudesse ler seu contexto e servir de mediador entre a realidade e a
obra de arte por ele produzida.
Este trabalho não se pretende fechado; ao contrário, ele é UM primeiro
momento de considerações acerca de relações sociais e de classe presentes na obra
de Mário de Andrade que, futuramente, será revisitado e expandido.
BIBLIOGRAFIA
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Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis: Vozes, 1988.
PENNA, Lincoln de Abreu. República Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1999.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
RESUMO: O propósito é refletir sobre considerações feitas por Karl Marx e Friedrich
Engels no Manifesto do Partido Comunista acerca da imagem da burguesia. Para
tanto, são utilizadas as caracterizações e ações desenvolvidas pelas personagens
do romance Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade. Pode-se observar que a
caracterização universalista da burguesia feita por Marx e Engels consubstancia-se
como
parâmetro
importante
para
a
compreensão
da
burguesia
na
obra
marioandradina e, conseqüentemente, para uma melhor compreensão do papel da
referida classe social no contexto de produção do romance.
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PALAVRAS-CHAVES: Amar, verbo intransitivo; Manifesto do Partido Comunista;
Burguesia.
* Abigail Ribeiro Gomes. Mestranda de Ciências Sociais – CPDA / UFRuralRJ.
[email protected]
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