Baixar este arquivo PDF

Transcrição

Baixar este arquivo PDF
SISTEMA REPRODUTIVO E CARACTERÍSTICAS FLORAIS DE
PROSOPIS AFFINIS SPRENG. (FABACEAE)(1)
Camila Carvalho de Gusmão Lôbo(2), Rubem Samuel de Ávila Jr(3), Valdir Marcos
Stefenon(4)
(1) Trabalho
executado com recursos do Edital Universal/CNPq 2012 e Fapergs/Capes 14/2013.
Universidade Federal do Pampa; São Gabriel, Rio Grande do Sul; [email protected]
(3) Professor; Universidade Federal do Pampa; São Gabriel, Rio Grande do Sul; [email protected]
(4) Orientador; Universidade Federal do Pampa, Campus São Gabriel; [email protected]
(2) Bolsista;
RESUMO: o Pampa, já degradado, inclui Mimosoideae-Fabaceae como uma subfamília representativa das formações
Savana-Parques. Dessa maneira, este trabalho foca na biologia floral e diferenciação entre flores de Prosopis affinis ao
longo da inflorescência. Para isso, razão pólen/óvulo e variações morfológicas entre flores de base, meio e de ápice em
inflorescências coletadas em São Vicente do Sul Cacequi e Quaraí no RS foram investigadas. Biologia floral foi
investigada com índice de polinização cruzada (OCI), razão semente/óvulo e número de flores por inflorescência.
Inflorescências apresentam 117.13 flores amarelas e tubulares, incluindo flores basais com menos tendência a
autopolinização. Razão semente/óvulo (0,503) foi similar a espécies de polinização cruzada, apesar do OCI indicar
autogamia facultativa, apontando flexibilidade reprodutiva. Houve redução geral em flores basais sem diferenciação
reprodutiva. Esta estratégia contribui para o aumento da frequência de visitantes florais e a flexibilidade reprodutiva
facilita estabelecimento de indivíduos em ambientes fragmentados como o Pampa
Palavras-Chave: Pampa, Inhanduvá, Autogamia
INTRODUÇÃO
O bioma Pampa brasileiro compreende 62.2% do Rio Grande do Sul e apresenta cerca de 2,200 espécies
campestres, 250 com risco de extinção (SILVA & PERELLÓ, 2010). As famílias mais abundantes são Asteraceae,
Poaceae, Fabaceae e Cyperaceae (BOLDRINI et al, 1998). Fabaceae apresenta diversidade de arquiteturas florais,
ontogenias e sistemas sexuais (TUCKER, 2003), e maximiza a produção de pólen e néctar para atração de
polinizadores (ARROYO, 1981), aumentando taxas de geitonogamia e autogamia, o que é prejudicial a espécies auto
incompatíveis (ARROYO, 1976).
Prosopis sp. apresenta 44 espécies na Ásia, África e América (RIBASKY et al., 2009). P. affinis é vulnerável no
Rio Grande do Sul (FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RIO GRANDE DO SUL, 2014), mas pouco se sabe da ecologia
floral, exceto polinização por abelhas (GALERA, 2000). Porém, isolamento geográfico seleciona espécies flexíveis
reprodutivamente, algo importante em ambientes fragmentados, permitindo independência de polinizadores (LEVIN,
1972). Assim, esse estudo investiga a biologia floral e diferenciação de flores de P. affinis ao longo da inflorescência no
Pampa brasileiro.
METODOLOGIA
Inflorescências foram coletadas em três populações: Cabanha do Loreto em São Vicente do Sul (SV), Fazenda
Santa Fé em Cacequi (Cac) e Fazenda do Jarau Velho em Quaraí (Qua) em savanas-estépicas em áreas sedimentares
(MARCHIORI & ALVES, 2011) com clima Cfa (KÖPPEN, 1931) no Pampa, preservados em álcool 70%. Em SV ocorrem
44 indivíduos, enquanto as demais contêm mais indivíduos isolados próximos a pecuária ou lavoura de soja e/ou arroz.
Material vegetal foi herborizado segundo Fidalgo e Bononi (1989) e depositado no Herbário Bruno Edgar Irgang
(UNIPAMPA/SG) sob os registros: N°670 (Qua), N°729, N°745 (SV) e N°731 (Cac).
A variação morfológica se avaliou por morfometria comparada do cálice, corola, androceu e gineceu com
estereomicroscópio escalonado (n=30 para cada população e posição da flor). Número de flores por inflorescência
(n=22), razão pólen/óvulo (CRUDEN, 1977; n>12 para cada área floral e local), índice de polinização cruzada (OCI;
CRUDEN, 1977) para estimar o sistema reprodutivo e sucesso reprodutivo conjuntamente com a razão semente/óvulo
(WIENS et al., 1987; n=60). Para testar diferença de médias foi utilizado teste de Kruskall-Wallis (α = 0.05; Bioestat 5.0).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os racemos têm 117.13±29.50 flores amarelas e tubulares, incluindo algumas com gineceu maior ou igual as
anteras, principalmente as basais, apontando uma diferenciação inicial que aumenta polinização cruzada e a redução
nas flores basais é o início de especialização morfológica, sem impacto reprodutivo. Isto indica uma menor tendência a
autopolinização nestas flores diferenciadas não-relacionada a posições florais. Razão Semente/óvulo (0.503±0.189)
indica porcentagem de aborto média e similar a espécies perenes e com polinização cruzada (WIENS, 1984), como o
gênero Prosopis (ARROYO, 1976). Abelhas são o principal visitante florais de P. affinis no Uruguai (Galera, 2000),
esperado também para o Pampa, uma vez que flor é melitófila (FAEGRI & PIJL, 1979).
O OCI obtido (2) aponta sistema reprodutivo autógamo facultativo (CRUDEN, 1977) e razão P/O não diferiu
estatisticamente entre as posições florais, refutando a hipótese de diferenciação reprodutiva ao longo da inflorescência.
Razão P/O média (429.53±197.6) indica sistema intermediário entre autogamia e xenogamia facultativas, como P.
glandulosa Var. torreyana (GOLUBOV et al. 1999) e de espécies de ambientes perturbados (CRUDEN, 1977), como os
Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
remanescentes de Prosopis sp. no Rio Grande do Sul (ROESCH et al., 2009), sugerindo autocompatibilidade floral.
Flores basais tiveram redução nas medidas apontando tendência a redução sem diferenciação reprodutiva (Figura 1).
De acordo com Diggle (2003), 81% das modificações florais são relacionadas as posições na inflorescência, incluindo
baixa produção de sementes, tamanho do gineceu e alocação de nutrientes em partes distais, mas cada espécie se
especializa de acordo com as pressões seletivas que recebe e adaptações das quais é capaz (DIGGLE, 2003).
Figura 1 – Representação escalonada das flores de base, meio e ápice de Prosopis affinis
CONCLUSÕES
Em Prosopis affinis, não há padrão de especialização reprodutivo relacionado a posição da flor na
inflorescência apesar de haver flores com menor possibilidade de autopolinização espontânea e flores basais reduzidas.
A flexibilidade reprodutiva da espécie facilita a colonização de novos ambientes fragmentados próximos a
rebanhos e lavouras como os remanescentes de Prosopis sp. no Pampa Brasileiro.
REFERÊNCIAS
ARROYO, M. T. K. Geitonogamy in animal pollinated tropical angiosperms: a stimulus for the evolution of selfincompatibility. Taxon, 25, 543-548, 1976.
ARROYO, M. T. K. Breeding systems and pollination biology in Leguminosae, 723-769. In: Polhill, RM, Raven, PH.
(Eds.). Advances in Legume Systematics. Royal Botanic Gardens, Kew, UK. 1981.
BOLDRINI, I. I.; MIOTTO, S. T. S.; LONGHI-WAGNER, H. M.; PILLAR, V. D.; MARZALL, K. Aspectos florísticos e
ecológicos da vegetação campestre do Morro da Polícia, Porto Alegre, RS, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 12, 89-10,
1998.
CRUDEN, R. W. Pollen-ovule ratios: a conservative indicator of breeding systems in flowering plants. Evolution, 31, 3246, 1977.
DIGGLE, P. K. Architectural effects on floral form and function: a review. In: STUESSY, T.; HORANDL, E.; MAYER, V.
(eds.). Deep morphology: toward a renaissance of morphology in plant systematics. Koeltz: Konigstein, 2003.
FAEGRI, K.; PIJL, V. D. L. Principles of pollination ecology. Pergamon Press, 244 pp. Oxford, 1979.
FIDALGO, O. & BONONI, V. L. R. Técnica de coleta, preservação e herborização de material botânico. (Série
Documentos). 62p. São Paulo, 1989.
FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RIO GRANDE DO SUL. Anexo I taxons da flora nativa do estado Rio Grande do
Sul ameacadas de extinção. Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 2014.
GALERA, F. Los algarrobos: las especies del género Prosopis (algarrobos) de América Latina con especial
énfasis en aquellas de interés económico. 269 pp.Córdoba: UNC-Secretaría de Ciencia y Tecnología, 2000.
GOLUBOV, J.; EGUIARTE, L. E.; MANDUJANO, M. C.; LOPEZ-PORTILLO, J.; MONTANA, C. Why be a honeyless
honey mesquite? Reproduction and mating system of nectarful and nectarless individuals. American Journal of
Botany, 86 (7), 955–963, 1999.
KÖPPEN, W. Climatologia. México, Fundo de Cultura Econômica, 1931.
LEVIN, D. A. Competition for pollinator service: a stimulus for the evolution of autogamy. Evolution 26, 668–674, 1972.
MARCHIORI, JNC, ALVES, F. DA S. O Inhanduvá (Prosopis affinis Spreng.) no Rio Grande do Sul. 8 - Aspectos
fitogeográficos. Balduinia (UFSM), 29, 13-20, 2011.
PASIECZNIK, NM, FELKER, P, HARRIS, PJC, et al. The Prosopis juliflora - Prosopis pallida Complex: A
Monograph. 172 p. HDRA, Coventry. UK, 2001.
RIBASKY, J, DRUMOND, MA, OLIVEIRA, VR, et al. Algaroba (Prosopis juliflora): Árvore de uso múltiplo para a região
Semiárida Brasileira. Colombo, 240, 2009.
ROESCH, L. F. W.; VIEIRA, F. C. B.; PEREIRA, V. A., et al. The Brazilian Pampa: A Fragile Biome. Diversity, 1, 182198, 2009.
SILVA, J. G., PERELLÓ, L. F. C. Conservação de espécies ameaçadas do Rio Grande do Sul através de seu uso no
paisagismo. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, 5, 25-45, 2010.
STEPHENSON, A. G. Flower and fruit abortion: proximate causes and ultimate functions. Annual Review of Ecology
Systematics, 12, 253-279, 1981.
TUCKER, S. C. Floral development in legumes. Plant Physiology 131, 911-926, 2003.
WIENS, D. Ovule survivorship, brood size, life history, breeding systems, and reproductive success in plants. Oecologia,
64, 47–53, 1984.
WIENS, D, CALVIN, CL, WILSON, CA, DAVERN, CI, FRANK, D, SEAVEY, SR. Reproductive success, spontaneous
embryo abortion, and genetic load in flowering plants. Oecologia, 71, 501–509, 1987.
Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa

Documentos relacionados