Ponto a ponto - Destino Argentina

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Ponto a ponto - Destino Argentina
OGLOBO
França. Os queijos das trilhas nevadas na região de Savoie
QUINTA-FEIRA 17.1.2013
oglobo.com.br
EUA. A posse de Barack Obama inspira museus em Washington DC
Ponto
a ponto
Dois roteiros revelam as belezas
e a diversidade da Argentina: do cenário
verdejante da Patagônia às paisagens
áridas de Salta e Jujuy, no norte do país
ARGENTINA
24
S
alta, no norte da Argentina,
não está apenas geograficamente afastada de Buenos Aires, e mais ainda de Neuquén.
O espírito do lugar, conectado às tradições andinas e indígenas, é totalmente diverso do clima europeu que
impera na capital do país, proporcionando um roteiro rico em aspectos
culturais, com boa mesa e ótimos vinhos de produção local, tudo isso diante de cenários naturais lindíssimos.
A cidade de Salta, capital da província, é o ponto de partida para se explorar a região, no norte argentino.
Com aproximadamente 500 mil habitantes ela pode ser vista do alto do
Cerro San Bernardo, de onde se descortina um dos panoramas mais belos. Há duas formas de se chegar até
lá: por teleférico, em 10 minutos de viagem, ou subindo a sua escada com
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MICHEL FILHO SALTA
exatos 1.060 degraus, numa prova de
fé e obstinação. Pelo caminho estão as
14 estações da Via Crucis. No topo
uma complexa obra de engenharia faz
caminhos de cascatas e vertedouros
de água “artificial”, segundo o guia,
lembrando que aquela abundância
de água não é natural: o homem resolveu levá-la até lá para embelezar a
obra de aspectos divinos.
E por falar em beleza, Salta significa
a mais bela, em aymará, idioma local
pré-colombiano. Em outra versão, o
nome refere-se ao efeito das chuvas
que desciam das montanhas e, para
se chegar ao povoado, era preciso saltar essas grandes poças de água. Seja
como for, Salta é mesmo bela. Tem
um ar pacato, de cidade que soube
crescer com personalidade e recato.
Mantém o clima de “pueblito” com o
charme de lojas modernas de artesanato colorido e muitas peças em prata, vendidos a bons preços.
Perder-se pelas ruas do centro de
Salta
Cultura tradicional, boa
mesa e lindos cenários
Salta pode ser divertido. Observar cada esquina, o requinte de uma ou outra “tienda”, divertir-se com as lojas
de quinquilharias feitas para turistas,
ou se sentar num café e degustar uma
autêntica empanada. Deixe a vida
passar observando o colorido.
A Igreja de São Francisco, bem no
centro da Praça 9 de julho atesta o estilo colonial da cidade. Ali, todos os
anos, no dia 15 de setembro, milhares
de peregrinos vindos de toda a Argentina, além de Chile e Bolívia, participam da Festa dos Milagres, em devoção a Virgem Santíssima, padroeira
da cidade desde 1692.
A noite revelará um outro lado da
Natureza. Turistas
em Quebrada das
Conchas
teleférico que conduz
ao Cerro San Bernardo
Alto. O bondinho do
Construções coloniais
são a marca do centro
da cidade
Espanha.
FOTOS DE MICHEL FILHO
cidade fortemente religiosa. Agende
no seu hotel uma visita a uma “peña”
onde a mistura de empanadas e folclore será inesquecível. Longe de
tangos e milongas, a música é animada, turistas sobem ao palco e alardeiam sua felicidade em pisadas compassadas no tablado de madeira. É
hora de rir e ser feliz em locais como
a Peña Balderama, há 58 anos ali.
Mas é abandonando o perímetro
urbano que a natureza começa a
mostrar a sua força e seu domínio sobre o homem. O percurso até Cafayate pela rota 68 serpenteia o estrondoso encontro das montanhas e formações geológicas de La Quebrada de
Las Conchas. Placas tectônicas, em
movimentos descontrolados, se chocaram há milhares de anos, empurrando a natureza para fora da crosta
terrestre, produzindo um espetáculo
de cores, formas e sombras. Lindo.
As famosas fendas Gargantas do
Diabo e Anfiteatro foram esculpidas
pela água há milênios e agora são alisadas pelo vento cortante. Dependendo da hora do dia e da posição do
sol, as imponentes rochas mudam de
cor e forma. As mais famosas são
identificadas por placas: Sapo, Frade,
Obelisco. l
A vida volta ao plano terreno na
hora do almoço, que acontece em
La Casa de La Bodega – Wine
Boutique Hotel, com apenas oito
quartos, onde o proprietário e
arquiteto, Mario Kirchuk, recebe
pessoalmente seus hóspedes.
— Tratamos nossos convidados
com a mesma atenção e o carinho
com que elaboramos nossos
vinhos — conta Mario, referindo-se
à pequena produção de sua
bodega que faz vinhos orgânicos a
quase 1.500 metros de altitude: o
clima temperado ajuda na
qualidade do famoso Torrontés,
um branco frutado característico
da Argentina.
La Bodega produz anualmente
60 mil litros de vinho e a casa faz
parte da Cooperativa de Vinhos de
Salta que, junto a outras sete
bodegas estão entrando no
mercado brasileiro com seus
“vinhos de altura”, como são
chamados. Juntas, as oito
bodegas produzem 1,5 milhão de
vinhos por anos.
Em Cafayate, uma praça
quadrada e “decorada” com
pequenos arbustos, típicos de
clima seco e árido, remonta a
imagem das cidades espanholas.
Ao redor da praça circula a vida
do lugar: igreja, pequenos
restaurantes, hospedarias, lojinhas
e sorveterias, que para não fugir
ao tema local servem sorvete de
vinho (melhor ficar com o original
mesmo).
O vinho continua sendo a pauta
das visitas pela cidade. O Museo
de La Vid y El Vino, que mistura
doses exatas de arquitetura
arrojada, criatividade e tecnologia.
O museu é moderno e recria
ambientes que contam a história
da região e a introdução do cultivo
da uva, explicando as condições
especiais do clima e do solo.
Finalizamos sendo apresentados
ao mercado de vinhos saltenhos,
recebendo informações sobre o
futuro da produção. Ao longo do
percurso, um guia virtual aparece
em telões e vai explicando cada
ambiente, como se conversasse
com cada visitante.
Cafayate: terra dos vinho de altura
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BOA VIAGEM
QUINTA-FEIRA 17.1.2013

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