COnDICIOnAnTES DO TRAnSPORTE E DO AbATE nO pH

Transcrição

COnDICIOnAnTES DO TRAnSPORTE E DO AbATE nO pH
Ano 6 - Nº 22 - 5,00€
julho | agosto | setembro 2016 (trimestral)
Diretor: Nuno Marques
A REVISTA DA AGROPECUÁRIA
www.revista-ruminantes.com
Utilização
de beterraba
forrageira
em vacas leiteiras
Condicionantes
do transporte
e do abate no pH
da carne de bovino
Avaliação de indicadores
de sistemas voluntários
de ordenha
EDITORIAL
edição nº22
Julho | Agosto | Setembro 2016
Rendimento Social de
Inserção para o leite?
Pagar para produzir menos, eis a ideia de alguns líderes europeus para
resolver o problema do baixo preço do leite aos produtores.
É-me difícil entender esta decisão depois de ter passado os últimos anos a ler
e a ouvir que a população vai crescer e que por isso é preciso produzir mais e
mais. Cá, quem manda alinha pela mesma estratégia, pôr Portugal a produzir
menos leite. E com mensagens tão díspares, não há agricultor que consiga
gerir bem o seu negócio.
Enquanto a Europa pensa em produzir menos, há quem decida produzir
diferenciadamente, com benefício para toda a fileira do leite, incluindo os
produtores. É o caso da Bel, nos Açores, que acaba de lançar no mercado o
primeiro leite de pastagem, verdadeiramente diferente no sabor e no conceito
de produção, e com um preço aos produtores certificados cerca de 10%
superior ao do leite convencional.
Devemos tentar resolver os nossos problemas começando por aquilo que
temos à mão. Pedir à Europa para resolvê-los pode ser sinónimo de ter que
esperar muito tempo para obter uma solução que pode não servir a longo
prazo. Produzir menos leite representa, seguramente, diminuir estruturas na
produção leiteira e pode significar não voltar a conseguir aumentá-las num
futuro próximo, pois temos visto quantos produtores verdadeiramente novos
aparecem neste negócio.
Tendo as explorações leiteiras um passado e um presente difíceis, e um futuro
muito pouco risonho — as previsões valem o que valem mas apontam para
um preço baixo do leite até meados de 2017 e para uma subida dos preços
das matérias primas —, não seria possível fazer mais com a “prata da casa”?
No projeto Leite de Vacas Felizes, da Bel, vêem-se aspetos importantes. Os
produtores e a indústria acreditam no trabalho que está a ser feito e no seu
sucesso; a grande distribuição “deu a mão” e o leite está por todo o sitio; e
espero que os consumidores portugueses adiram a este leite nacional.
Consumimos produtos de valor acrescentado que vêm de fora, porque será
que não os produzimos cá dentro? Compramos cerca de 30% de produtos
lácteos no estrangeiro, não seria possível diminuir esse valor?
Porque não mudamos as coisas? Será que a indústria portuguesa não
consegue criar mais produtos inovadores e/ou “pôr” mais marketing nos
produtos que já tem? Não consegue desenvolver nichos de mercado, como
seja o leite do dia? Entendo que a grande distribuição poderá estar disponível
para se envolver na distribuição de produtos nacionais, porque acabou de o
fazer com o leite de pastagem, e sem ela a indústria dificilmente terá sucesso
no lançamento de campanhas.
Os produtores fazem cada vez melhor o seu trabalho na exploração, mas
não se podem esquecer que a maior indústria de lacticínios do país é deles,
e que não se devem alhear desta fortíssima “arma” que têm. Assim como se
manifestam, e bem, junto dos hipermercados, também devem juntar-se para
ajudar a melhorar o que é seu.
Nuno Marques
Diretor
Nuno Marques
| [email protected]
Colaboraram nesta edição
Ana Fortunato; Ana Torres; António Cannas; António Carreira
Campos; António Martins; António Moitinho; Armindo Martins
Blanco-Penedo; Camila Marques; Cantalapiedra; Carlos
Vouzela; Cristina Nunes; Deolinda Silva; Eugénia Morgado;
Eugénio Tabanez; Fernanda Brito; Francisco Marques; George
Stilwell; Helena Tabanez; Henrique Carvalho; Ilídio Martins;
João Mateus; João Santos; Joaquim Cerqueira; Joaquim
Martins; José Caiado; José Nuno Costa; José Pedro Araújo;
Mário Quaresma; Marta Cruz; Martin Dekker; Nuno Castela;
Paulo Costa e Sousa; Pedro Castelo; Pedro Pedrosa; Rodrigo
Gonçalves; Rui Sousa; Rui Sousa Pereira; Simão Rocha; Teresa
Moreira.
Publicidade e assinaturas
Nuno Marques
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Alguns autores nesta edição ainda não adotaram o novo
acordo ortográfico.
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www.revista-ruminantes.com
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ruminantes julho . agosto . setembro 2016 3
Índice
Alimentação
24 Stress térmico e reprodução
30 Butirato de sódio para ter as suas vitelas
preparadas para um bom arranque
34 Stress por calor em bovinos de carne
44 Em busca do teor correto de amido
ATUALIDADES
08 O primeiro leite de pastagem
ECONOMIA
38 Observatório de matérias primas
40 Observatório do leite
42 Índice VL e Índice VL erva
52
forragens
Avaliação de indicadores de sistemas voluntários
de ordenha em vacas leiteiras
Se está a pensar investir em sistemas de ordenha robotizada, fique a conhecer
alguns resultados que pode esperar para desta forma implementar decisões
adequadas de gestão.
10 Depender menos de fontes
exteriores à exploração produzindo
luzerna em rolos
14 Interpretação de um boletim de
análise a uma silagem de erva
22 Forragens de qualidade um
alimento essencial
Produção
28 Queijos Fortunato “Melhor dos
melhores”
46 Desmistificando a ordenha
robotizada em vacas leiteiras
produto
16
58
Utilização de beterraba
forrageira em vacas
leiteiras
Condicionantes do
transporte e do abate no
pH da carne de bovino
A beterraba forrageira é um excelente
alimento energético que permite reduzir
a quantidade de concentrado na ração
total dos animais, e apresenta um custo
de UFL/ha bastante competitivo quando
comparado com outras forragens.
A obtenção de carne de elevada
qualidade é o propósito da cadeia
de produção. Para isso, é essencial
garantir que os animais recebem as
melhores condições possíveis durante
a fase final do processo de produção.
66 Sala de ordenha, o coração de
uma exploração leiteira
68 Automatização da exploração
com o Lely Astronaut A3
72 Kuhn SPW 22, uma solução
para grandes desafios
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
50 Defender o bem-estar animal na
minha exploração faz sentido
económico
56 Mamites por Streptococcus uberis,
pontos chave onde atuar no período
de secagem
62 Vacinação contra mastites
boletim de assinatura
1 ano, 4 exemplares
dados pessoais
Portugal: 20,00 €
Nome.............................................................................................................................................................................................
Europa: 60,00 €
Morada..........................................................................................................................................................................................
Pagamento
• Por transferência bancária:
NIB: 0032 0111 0020 0552 3997 7
Enviar comprovativo para o email
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Revista Ruminantes - Rua Alexandre Herculano, nº 21, 5º Dto, 2780-051 Oeiras.
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 5
atualidades
Selecionar
geneticamente
Vacas mais
eficientes
Alltech adquiriu a Keenan,
empresa líder em soluções
agropecuárias na Irlanda!
A Alltech anunciou recentemente
a aquisição da empresa irlandesa
Keenan, líder em soluções
agropecuárias. Esta é a 14ª
aquisição global da empresa
desde 2011. Seguindo o mesmo
ramo de atuação da Alltech,
a Keenan oferece soluções
abrangentes para agropecuária e
nutrição animal, trabalhando na
inovação de produtos a partir da
combinação de fatores como a
tecnologia, pesquisa e fabricação
de maquinaria.
“Sendo irlandês, é com grande
prazer que recebo a Keenan
na nossa família, uma vez que
juntos podemos proporcionar
maior valor aos clientes do sector
agropecuário, através da oferta de
uma maior variedade de soluções
tecnológicas. Trata-se da
combinação de duas empresas
com um posicionamento
internacional nos negócios”,
declarou o fundador e presidente
da Alltech, Dr. Lyons. “A primazia
da Alltech na ciência e o poder
de manufatura e know-how
tecnológico da Keenan culminam
numa fórmula de sucesso para
a promoção da maior eficiência
na agropecuária e maior
rentabilidade para os clientes do
sector”, complementou Dr. Lyons.
A sede da Keenan permanecerá
em Borris, Co. Carlow, Irlanda.
Ao todo, a empresa emprega
cerca de 300 pessoas na Irlanda
e aproximadamente 5.000
mundialmente. A aquisição
tem como objetivo identificar
oportunidades de crescimento.
Estas oportunidades podem
incluir tecnologias e programas
nutricionais voltados para a
promoção da eficiência alimentar
e da saúde dos animais, assim
como para a formulação
avançada de rações.
“A Kennan une-se à Alltech
num grande momento”, disse
o CEO da Alltech, Alric Blake.
“Estamos à procura de vias que
permitam uma melhor oferta
da Alltech aos agricultores e ao
sector pecuário, possibilitando
o fornecimento de soluções
nutricionais para aqueles que
beneficiam diretamente do seu
uso, seja na produção animal ou
agrícola. A ciência e a tecnologia
estão à frente de tudo o que
fazemos. Nesta nova jornada
ao lado da Keenan reforçamos
ainda mais a nossa capacidade
de fornecimento de soluções
nutricionais no campo”, finaliza
Blake.
MAIS INFORMAÇÃO
www.alltech.com/portugal
Ou contacte a Alltech através do
219 605 510
6 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
A Holanda é o segundo país a adicionar a
eficiência alimentar ao portfólio de índices
genéticos para avaliação de touros leiteiros.
Através deste índice é possível saber qual
a necessidade energética de produção e
manutenção dos touros e da sua prole,
podendo assim selecionar animais mais
eficientes.
O Professor Roel Veerkamp e a sua equipa
da Universidade de Wageningen iniciaram
um programa de investigação para tentar
responder à crescente necessidade de
uma produção leiteira mais sustentável e
economicamente viável. Uma das grandes
barreiras a esta medição estava no facto
de ser mais moroso e custoso medir a
eficiência alimentar nas explorações,
ao contrário de outros índices como
a produção de leite. Este indicador e
outros como a composição de leite ou a
conformação corporal sempre tiveram uma
maior acessibilidade, sendo assim mais
utilizados nos programas genéticos.
Nos últimos anos a quantidade e a
qualidade das medidas da função
metabólica, como o índice de eficiência
alimentar, têm melhorado bastante,
permitindo assim que este tipo de indicador
possa começar a ser utilizado na avaliação
do potencial genético. Em 2009 a equipa
de investigação da Universidade de
Wageningen efetuou um estudo piloto para
demonstrar que havia valor em selecionar
animais para estas características.
Os resultados do estudo piloto foram
bastante positivos, dando origem ao
projeto global “Global Dry Matter Initiative”.
O principal objetivo do projeto é a recolha
global de informação genética quanto à
eficiência alimentar em vacas leiteiras,
contando com países como o Canadá, a
Dinamarca, a Alemanha, os Estados Unidos
e a Austrália.
O aumento de disponibilidade de
informação vinda dos diferentes parceiros
do “Global Dry Matter Initiative”, permitirá
selecionar animais mais eficientes a
nível alimentar para uma futura produção
leiteira economicamente viável e mais
sustentável.
atualidades
Empresas
premiadas
pelo elevado
nível de bem-estar animal
No passado dia 28 de junho,
tiveram lugar em Berlim os
prémios de bem-estar animal
da Compassion in World
Farming (CIWF), premiando
41 empresas do sector
agroalimentar e beneficiando
mais de 85,5 milhões de
animais de produção.
A CIWF é uma organização
não governamental
reconhecida como líder
internacional em bemestar animal. Foi fundada
em 1967 por Peter Roberts,
um produtor de leite
inglês que estava cada
vez mais preocupado
com a industrialização
da produção animal.
Hoje em dia, a CIWF
efetua campanhas para
encorajar os legisladores
a implementar legislação
efetiva para o bemestar animal e também
campanhas que eduquem
os consumidores sobre a
importância e o impacto
de diferentes problemas
no bem-estar animal dos
animais de produção.
Um dos programas
estratégicos da CIWF é o
programa de envolvimento
com as empresas do
sector agroalimentar. Este
programa foi fundado há
oito anos e tem como
objetivo principal colocar
o bem-estar animal no
coração da indústria
agroalimentar através de
um envolvimento positivo.
Ao trabalhar em conjunto
com o sector agroalimentar,
esta equipa pretende
elevar os padrões de bemestar animal dos animais
na cadeia de fornecimento,
desde os produtores até
aos supermercados ou
retalhistas.
Os prémios de bem-estar
animal, que este ano
tiveram lugar em Berlim,
são o culminar desta
relação positiva com a
indústria, pretendendo
assim reconhecer aquelas
empresas que já possuem
ou que se comprometerem
em 5 anos a possuir um
nível mais elevado de
bem-estar animal, nos seus
produtos.
Este ano a CIWF atribuiu
o primeiro prémio a uma
empresa Portuguesa: a Bel
Portugal.
Para MAIS INFORMAÇÃO
Pode consultar o site da equipa do sector agroalimentar da CIWF:
www.compassioninfoodbusiness.com e ler mais sobre o prémio da Bel nesta
edição da Ruminantes.
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ruminantes julho . agosto . setembro 2016
7 15:18
atualidades
O primeiro Leite
de Pastagem
com um prémio de mais 10% no preço ao produtor
tendência vai para leites mais ricos como
o leite gordo com sabor, de animais
cujo bem-estar animal é garantido, com
transparência da cadeia produtiva, e não
para os produtos de baixo preço” diz Ana
Cláudia Sá.
Bel Portugal
Na conjuntura económica atual, a Bel
Portugal (empresa líder do mercado
de queijo, que detém as duas maiores
marcas nacionais - Limiano e Terra
Nostra) mostra-se positiva em relação ao
futuro do sector leiteiro, apostando numa
nova marca cujo leite vem exclusivamente
de vacas com acesso à pastagem o ano
inteiro.
Os últimos anos e os que aí vêm não
auguram um cenário positivo para o
sector leiteiro tanto a nível nacional, como
a nível europeu e até a nível mundial. O
fim das quotas na Comunidade Europeia
levou ao aumento da produção de
leite, que em conjunto com o aumento
da produção nos Estados Unidos
da América e com a diminuição do
Dados do programa
Neste programa estão atualmente
34 produtores certificados com uma
produção atual de 60.000 litros
dia (27 milhões de litros de leite
anual), a “linha fabrico”, totalmente
independente, tem uma capacidade
anual de 35 milhões de litros.
8 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
consumo e exportação para países
como a China, levaram a um aumento
do stock de laticínios no mundo e a uma
crise no preço do leite, que se deverá
manter até meados de 2017. “Os preços
atuais põem em risco a rentabilidade
da produção leiteira, estamos no limiar
da sustentabilidade do sector leiteiro,
temos que começar a criar valor” referiu
Ana Cláudia Sá, diretora-geral da Bel em
Portugal.
O segredo está na diferenciação. Em
países como Inglaterra, Itália (onde
o preço por litro de leite ronda 1 euro
por litro) e França (onde o preço por
litro de leite ronda os 82 cêntimos), a
percentagem de leite diferenciado é muito
maior quando comparada com a nacional
que é apenas de 20%. Em Portugal o
preço médio do leite ao consumidor é um
dos mais baixos da Europa, sendo que
em 2015 foi de 60 cêntimos por litro e
nos primeiros 3 meses de 2016 foi de 50
cêntimos por litro.
“A tendência do consumidor é cada vez
mais para propostas de produtos naturais,
orgânicos, e no norte da Europa a
A Bel Portugal acredita na diferenciação
e na valorização do produto, estando
a investir 10 milhões de euros até
2018 no “melhor leite do mundo que é
produzido nos Açores e é o início de uma
nova era no sector leiteiro em Portugal.
É uma nova categoria de leite, não é
apenas mais uma linha de produção. Os
consumidores vão ter a possibilidade de
beber leite de pastagem e experimentar
a diferença em relação ao “leite
convencional”, referiu Ana Cláudia Sá.
A essência do Leite de
Pastagem está assente
em cinco pilares
Pastagem, pastoreio de erva fresca
365 dias por ano; bem-estar animal,
implementação de boas práticas
em que os animais têm garantido
o acesso a pastagem e água fresca
365 dias por ano; qualidade e
segurança alimentar a recolha do
leite é efetuada apenas de produtores
certificados, e o leite é recolhido a frio
e embalado em 24 horas, algo que
não é comum neste sector, onde o
normal são 48 a 72 horas; produção
sustentável; e eficiência
económica na gestão da exploração. Para
garantir uma estrutura sólida e inovadora,
o programa está sempre em melhoria
constante, contando com protocolos de
desenvolvimento estabelecidos com
diferentes identidades especialistas nas
diversas etapas do processo.
atualidades
O acesso à pastagem é o maior
eixo de diferenciação, não só a
nível nutricional, como também
a nível do bem-estar animal e da
sustentabilidade da produção. O
acesso à pastagem aumenta o
valor nutritivo do leite, melhorando
a composição da fração lipídica.
A quantidade de Ácidos Gordos
Polinsaturados (ómega 3,
ómega 6 e CLA) é maior no leite
de pastagem do que no leite
“convencional”, referiu José António
Teixeira, professor na Universidade
do Minho. Ao providenciar acesso
à pastagem, os animais têm
também uma oportunidade única
de expressar o seu comportamento
natural, fator essencial ao bemestar de qualquer vaca leiteira.
Finalmente, uma produção baseada
em pastagem é sempre mais
sustentável, porque permite aos
animais consumirem culturas que
não poderiam ser consumidas pelo
ser humano (ao contrário de por
exemplo milho, ou soja) e o retorno
de matérias essenciais a “uma boa
saúde do solo” como o dióxido de
carbono, é feito de uma forma mais
direta, uma vez que os animais se
encontram no pasto.
O Leite de Pastagem será vendido
no mercado com uma embalagem
muito “láctea”, moderna e natural,
com uma tampa de origem
biológica. Esta embalagem pretende
espelhar o produto diferenciado
que se encontra no seu interior, cujo
preço de referência ao consumidor
será de 77 cêntimos, e o preço ao
produtor será 10% superior ao preço
médio do mercado. Na situação
atual em que o valor do leite caiu
8 cêntimos em dois anos (36
cêntimos por litro em 2014 para
cerca de 28 cêntimos em 2016) este
tipo de projeto é muito importante
para o presente e futuro dos
produtores, pois representa um valor
superior para o leite que produzem
e permite-lhes ver um futuro mais
risonho que até à data tinha sido
difícil de visualizar.
TERRA NOSTRA, o Bem,
bem feito
O programa, a decorrer há cerca de ano e meio, já foi
premiado com uma menção honrosa pela Compassion
in World Farming (CIWF). A CIWF é uma organização não
governamental reconhecida como líder internacional em
bem-estar animal de animais de produção. A menção honrosa
Vaca de Ouro da CIWF, reconhece empresas do sector leiteiro
que se comprometeram em 5 anos a utilizar um sistema de
produção de leite com um nível de bem-estar animal elevado.
A Bel Portugal foi premiada este ano por cumprir os requisitos,
nomeadamente: acesso à pastagem e a monitorização e
redução de problemas de saúde com um grande impacto no
bem-estar animal das vacas leiteiras, como a claudicação e as
mastites.
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encomendaste
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ruminantes julho . agosto . setembro 2016 9
Forragens
Depender menos de fontes exteriores
à exploração produzindo
Luzerna em rolos
Entrevista a Rui Sousa Pereira
por ruminantes
A exploração de António
Sousa Pereira está localizada
em Viatodos, concelho de
Barcelos e é gerida pelo seu
filho, Rui Sousa, que tem
a responsabilidade de dar
seguimento a este negócio de
família.
“A ideia de fazer luzerna na
nossa exploração apareceu
quando a soja estava muito
cara, e entendemos que
seria uma oportunidade
para rentabilizar o negócio
da produção leite. Tínhamos
área disponível e caso
conseguíssemos ter boas
produções de luzerna por
hectare poderíamos baixar os
custos de produção do litro de
leite”, contou-nos Rui Sousa.
Fazem luzerna há 2 anos e
esperam que dure 5 a 6 anos.
Atualmente a cultura ocupa
uma área de 3,5 hectares
(ha) que é utilizada para
alimentar as vacas de leite.
“Antes de avançar para a
luzerna analisei os solos, uma
vez que é muito importante
conhecer o perfil do solo
antes de arrancar. No meu
caso os terrenos são arejados
(não encharcam) e o pH está
nos 6,1. Isto obrigou-me a
fazer uma correção do solo
10 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
com calcário na altura da
sementeira, que repito todos
os anos quando me é mais
oportuno, pois o pH ideal está
nos 6,5 ou mais”, disse Rui
Sousa.
a 30 kg por hectare. Ao
contrário do que já vi noutros
sítios, não associei qualquer
cereal (azevém ou aveia) à
sementeira para evitar as
infestantes, apenas luzerna.
Quando começa a cortar a
Luzerna?
Varia de ano para ano. Este
ano, por exemplo, comecei em
janeiro. Mas eu diria que entre
março e outubro se pode
cortar sem problema. O ano
passado fiz oito cortes.
Quando semeou?
Semeei em abril, penso que
seja a melhor altura para
o fazer. A temperatura
é boa, posso regar se for
necessário, embora não
tenha regado, nesse mês
tenho mais tempo disponível
para estar atento. No ano da
sementeira ainda fiz quatro
cortes.
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Forragens
Que técnica de sementeira
utilizou?
Comecei por espalhar o
chorume e lavrar, depois
preparei a terra como se
fosse fazer milho mas semeei
luzerna. A sementeira foi
realizada com o semeador que
utilizo para o azevém e que já
tem o rolo “incorporado”.
Como são as necessidades de
água da luzerna?
Normalmente só rego uma
vez entre dois cortes, no
quarto ou quinto dia após o
corte. Pontualmente faço uma
segunda rega entre cortes, mas
existem zonas das parcelas
onde rego muito pouco.
Quantos cortes faz por ano?
Como avalia se está na altura
de fazer o corte?
Faço entre cinco e oito cortes,
os de maior quantidade de
matéria verde e qualidade
nutricional são os de julho e
agosto. Corto imediatamente
antes da floração e quando a
luzerna está com 35-40 cm de
altura.
tabela 1
Arraçoamento para 66 vacas e produção de 31 litros/vaca/dia, com e sem luzerna. Simulação efetuada pela Cooperativa
Agrícola de Barcelos para a exploração de Rui Sousa.
31 litros/vaca/dia
Com Luzerna
Preço/kg (€)
kg/vaca
Total/Vaca (€)
Preço/kg (€)
kg/vaca
Total/Vaca (€)
Silagem de Milho
0,050
40,0
2,0000
0,050
40,0
2,00000
Feno
0,100
1,8
0,1800
0,100
1,6
0,16000
Silagem de Luzerna
0,021
0,0
0,0000
0,021
4,0
0,08400
Pastone
0,190
3,0
0,5700
0,190
3,0
0,57000
0,3527
6,5
2,2926
0,3527
6,0
Mistura 0197
Total/vaca
Nº de vacas
Poupança com luzerna/vaca
2,11620
5,0426
4,9302
66
0,1124
Poupança por dia/exploração
7,42
Poupança por mês/exploração
222,45
Poupança por ano/exploração
2669,44
tabela 2
Arraçoamento para 66 vacas e produção de 23 litros/vaca/dia, com e sem luzerna. Simulação efetuada pela Cooperativa
Agrícola de Barcelos para a exploração de Rui Sousa.
23 litros/vaca/dia
Sem Luzerna
Com Luzerna
Preço/kg (€)
kg/vaca
Total/Vaca (€)
Preço/kg (€)
kg/vaca
Total/Vaca (€)
Silagem de Milho
0,050
40,0
2,0000
0,050
40,0
2,0000
Feno
0,100
1,0
0,1000
0,100
0,7
0,0700
Silagem de Luzerna
0,021
0,0
0,0000
0,021
4,0
0,0840
0,190
3,0
0,5700
0,190
3,0
0,5700
0,3527
4,5
1,5872
0,3527
4,0
1,4108
Pastone
Mistura 0197
Em que período do dia corta a
luzerna?
Sempre que o tempo me deixa,
corto perto da hora do almoço.
Nos meses de julho e agosto,
corto e junto ao meio dia e
ainda nessa tarde, mesmo ao
final do dia, enrolo (com rolos
Sem Luzerna
Total/vaca
Nº de vacas
4,2572
4,1348
66
Poupança com luzerna/vaca
0,1224
Poupança por dia/exploração
8,08
Poupança por mês/exploração
242,25
Poupança por ano/exploração
2907,04
Dados gerais da exploração
Área: 26 hectares de regadio
Vacas em produção: 66
Total efetivo: 160 (com engorda até aos 12 meses).
Alimentação: Luzerna, silagem de erva (apenas na recria),
silagem de milho, feno de erva, milho pastone e ração.
LUZERNA
ALGUNS DADOS IMPORTANTES
MS/ano/ha: 15 a 18 ton
SOLO necessário: bem estruturado; arejado e não
asfixiante; pH ideal 6,5 ou mais; pH abaixo de 5,5 torna-se
um fator limitante.
Inoculação de semente: terrenos onde não se cultiva
luzerna há 10 anos; terrenos com pH abaixo de 6,5.
12 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Forragens
de plástico). Nos meses em
que o tempo não me permite
fazer isto, corto e junto (no final
do dia) no mesmo dia e enrolo
passado 24 horas. Até agora
ainda não senti necessidade de
utilizar inoculantes.
Quantas toneladas produz por
hectare?
Cerca de 48 toneladas (ton) de
matéria verde, ou seja cerca de
12 ton de Matéria Seca (MS) por
ano e hectare.
Na foto
Ana Torres, Rui Sousa e
Eugénia Morgado.
Qual é o valor analítico
médio da luzerna em rolos?
Qual o custo por tonelada?
Em relação às amostras que
tenho analisado os valores
médios são: Matéria Seca (MS)
- 24.5%; NDF - 36.7% na MS;
Proteína Bruta - 22.23% na MS.
O custo médio está nos 21€
por tonelada (0,021 euros/kg).
Como chegou à conclusão
que vale apena produzir
luzerna? Quanto poupou
com a utilização dos rolos de
luzerna?
No que diz respeito à
poupança conseguida com a
entrada da luzerna no regime
alimentar das vacas leiteiras,
não foi possível quantificar ao
pormenor esse ganho, pois ao
mesmo tempo que entrou a
luzerna aconteceram outras
mudanças como entrada e
saída de dreches, introdução
do milho pastone, alterou-se
a quantidade de silagem de
milho, entre outras.
Quantifico a poupança com
“vêm menos 6 toneladas
de ração por mês”! Mas
esta poupança, não é só
pela entrada de luzerna,
mas também pela entrada
do pastone, e por causa da
limitação de contrato de
entrega de leite que obrigou a
baixar o regime alimentar de
31 para 23 litros.
PLANO ALIMENTAR
das VACAS EM
PRODUÇÃO
O plano alimentar da
exploração é realizado
por Eugénia Morgado,
da Cooperativa Agrícola
de Barcelos, que simulou
para a Ruminantes os
regimes alimentares para
31l (tabela 1) e 23l (tabela
2) (com e sem luzerna),
onde são assinaladas
poupanças anuais de
2670 € e de 2907 €,
respetivamente.
Tendo em conta a
quantidade de luzerna
disponível na exploração
e para conseguir
oferecer luzerna às
vacas durante todo o
ano, só se considerou a
possibilidade de utilizar
4 kg/vaca/dia. Caso
se pudesse utilizar
uma quantidade maior
de luzerna por vaca, a
poupança seria ainda
mais visível.
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 13
Forragens
Interpretação de um Boletim de
Análise a uma Silagem de Erva
As análises laboratoriais são hoje absolutamente necessárias e decisivas para conhecer
e aproveitar todo o valor nutricional contido nas forragens disponíveis numa exploração
pecuária. Por este “valor nutricional” entende-se o conjunto de nutrientes que através do
metabolismo, o animal aproveita e transforma para produzir leite e carne.
POR José Caiado, DVM
Apenas um rigoroso
conhecimento da valia nutricional
de todos os alimentos contidos
na dieta permite a sua melhor
otimização técnica e económica,
algo que neste preciso
momento é indispensável à
sustentabilidade e à viabilidade
económica do negócio do
leite. Se as matérias-primas e
os alimentos compostos têm
um valor nutricional facilmente
controlável e até expectável, já
o mesmo não acontece com
as forragens; apenas a regular
informação laboratorial nos pode
ajudar a utilizá-las da melhor
forma. Neste aspeto, um grande
desafio se coloca aos laboratórios
independentes de análises
de forragens em Portugal.
Precisamos de laboratórios
que forneçam um serviço de
análise rápido, fiável, preciso e
com a informação nutricional tão
completa quanto necessária a um
total conhecimento das forragens
mais usadas nas explorações do
nosso país.
Os produtores e os técnicos
especialistas em nutrição
necessitam de uma autêntica
“TAC” às forragens para que cada
um cumpra profissionalmente
a sua parte. Os nutricionistas
necessitam de informação
rigorosa para fazerem planos
de alimentação baseados
em arraçoamentos corretos e
competitivos. Os produtores
pecuários precisam de conhecer
bem o significado da informação
contida num boletim de análise
para que tenham uma correta
noção do valor das forragens
por si produzidas, das eventuais
limitações de qualidade
existentes, para estabelecer
objetivos de melhoria futura
da sua produção forrageira
e, também, poderem melhor
negociar a compra e venda de
forragens com base no seu real
valor económico.
Adiante vamos rever ou
esclarecer o significado da
terminologia utilizada pelo ALIPLaboratório parceiro do CNF- para
indicar os resultados analíticos
encontrados nas amostras de
silagens de erva submetidas ao
Concurso Nacional de Forragens2016 e que ao mesmo tempo
constituem o conjunto de
análises mais correntemente
realizadas. Este ano acrescentase ao conjunto de paramêtros
analisados em 2015, dois novos,
a saber: a Proteína Solúvel e o
Azoto Amoniacal. Para cada
resultado analítico indicaremos
um Valor Alvo (VA) orientativo
para as silagens de erva
compostas maioritariamente por
gramíneas.
do azoto (N) orgânico do alimento,
determinado em laboratório. Em
geral, assume-se que em média
as proteínas têm 16% de N, pelo
que o teor em proteína Bruta (PB)
é calculado multiplicando o teor
em N pelo fator de conversão de
6,25 (1/16 = 6,25). Assim, a fração PB
compreende proteína verdadeira (a
que é composta por aminoácidos)
e o azoto não proteico (NNP) (por
exemplo, a ureia e o amoníaco). Os
ruminantes, graças à população
microbiana do retículo-rúmen,
são capazes de utilizar o NNP
sintetizando a chamada “proteína
microbiana” (e verdadeira) que
depois é absorvida no intestino,
assimilada para o crescimento e
indispensável à produção do leite.
VA=16-21%
HUMIDADE
Trata-se daquela fração da proteina
bruta que é rapidamente solúvel
no meio aquoso do rúmen. É
composta por certas proteínas e
pelo chamado azoto não proteico (a
ureia e o azoto amoniacal) que são
muito rapidamente degradadas no
rúmen. É utilizada (e fundamental)
na síntese da chamada proteína
microbiana que é precursora da
produção da proteína do leite. A
quantidade de proteína solúvel
tem uma relação direta com o teor
de humidade das forragens, razão
pela qual as silagens têm sempre
mais PS que os fenos da mesma
espécie forrageira. Como regra
geral quanto mais humidade, mais
proteína solúvel. VA= Pela razões
atrás apontadas os valores podem
enquadrar-se num amplo espectro
entre 20 e 75% da proteína bruta.
É a % de água contida numa
amostra de forragem
MATÉRIA-SECA (MS)
A MS é igual a 100% - % de
humidade contida na amostra. Por
MS entende-se tudo aquilo que a
amostra contém depois de excluir
a água. Na prática inclui a “proteína”,
a fibra, a gordura, os minerais, a
energia, etc. Para satisfazer as
suas necessidades nutricionais,
um animal terá que ingerir uma
maior quantidade de alimento
se este possuir uma menor
quantidade de MS, ou seja, se este
for mais húmido do que ingeriria
se o alimento fosse mais seco.
Conhecer com rigor e ao longo
do tempo a MS de uma silagem
de erva é o mais básico de toda
informação necessária sobre os
seus nutrientes. VA=30-50%
PROTEÍNA BRUTA (PB)
A proteína bruta é calculada a partir
14 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
PROTEÍNA SOLÚVEL
AZOTO AMONIACAL
Expressa, em % da PB, a quantidade
de amoníaco produzida pela
degradação da proteína. Acaba
por ser um elemento avaliador da
conservação da forragem e da
sua qualidade. O amoníaco não
é uma proteína. Contudo contém
azoto que poderá ser utilizado pela
população microbiana presente
no rúmen para sintetizar proteína
microbiana. Aparece muitas vezes
classificado como “azoto não
proteico” (NPN). VA= < 8 (% PB).
FIBRA BRUTA (FB)
É o método histórico usado
na determinação da “fibra”.
Contudo, a sua determinação não
assegura a recuperação de toda a
hemicelulose e lenhina existente
nas forragens, pelo que não é hoje
o método de eleição adequado
para avaliar o teor em constituintes
da parede celular das forragens.
No entanto, ainda é usado na
medição legal da fibra nos cereais
e alimento compostos (etiquetas).
Para a determinação da fibra nas
forragens usam-se hoje dois
parâmetros sempre presentes nos
boletins de análise, a saber: a Fibra
Detergente Neutro (vulgarmente
designada pela abreviação da sua
expressão inglesa como NDF), e
a Fibra Detergente Ácido (idem
como ADF).
NDF
A Fibra do Detergente Neutro
compreende os constituintes da
parede celular vegetal (excluindo
as pectinas), maioritariamente
a hemicelulose, a celulose e a
lenhina. São eles que dão a rigidez
à planta para se manter erguida, e
está para esta como o esqueleto
para os animais. Constitui a
parte fibrosa e de volume da
silagem de erva, e aliada ao
tamanho de partícula, tem uma
influência decisiva na ingestão
desta (geralmente quanto maior
o seu valor e estrutura, menor a
capacidade de ingestão do animal).
Um teor em NDF elevado é um
sério fator limitante à alta produção
Forragens
de leite e por isso se pretende que
na silagem de erva nunca exceda
os 50% e se aproxime antes o
mais possível dos 40% da MS. VA=
42-50%.
ADF
A Fibra do Detergente Ácido
corresponde aos constituintes da
parede celular com exceção da
hemicelulose. A digestibilidade da
celulose varia em função do teor
de lenhina. Quanto maior for o teor
em lenhina da forragem menor
é a sua digestibilidade geral bem
como a energia disponibilizada ao
animal. VA = 24-29%
Gordura Bruta (GB)
Engloba todos os constituintes
solúveis em solvente orgânico
(usualmente éter de petróleo).
Assim, como o nome indica
(Gordura Bruta), não compreende
apenas compostos lipídicos,
sendo que nas forragens pode ser
sobrestimada pela presença de
pigmentos. VA= 3-5%.
Cinzas Totais (CT)
expressam o conteúdo inorgânico
total da forragem. A amostra é
pesada e incinerada em mufla até
ficar apenas o resíduo inorgânico.
Este parâmetro não serve a
formulação mineral, mas dá outras
indicações importantes. Por
exemplo, cinzas elevadas podem
significar muita “terra” na silagem
de erva recolhida no campo. Para
além de implicar uma diminuição
da sua energia, aumenta os riscos
de contaminação por esporos dos
chamados “clostrídios”, uma família
de bactérias muito presente nos
solos e que acarreta dois perigos:
a produção de ácido butírico que
retira palatabilidade à silagem e
os riscos de animais mortos por
enterotoxémia, risco que existe
mesmo em animais vacinados.
VA= 9-12%.
Digestibilidade
Verdadeira In Vitro
da MS
É determinada incubando o
alimento seco e moído com
inóculo de rúmen (recolhido de
animais fistulados no rúmen)
e meio nutritivo tamponizado
para manutenção do pH e
para fornecer nutrientes aos
microrganismos do rúmen.
Esta medida consiste numa
avaliação biológica da qualidade
da forragem. As silagens de erva
apresentam grande variação
da digestibilidade da fibra dada
a diversidade de gramíneas
utilizadas e o diferente estádio de
maturidade.
Embora a análise da
digestibilidade seja crucial
para uma rigorosa valorização
energética das forragens, esta
não é, ainda, realizada por rotina
em Portugal. Adicionalmente, a
digestibilidade in vitro participa na
determinação do Valor Relativo
de uma Forragem, informação útil
quando se pretende encontrar o
valor correto para a sua transação
comercial.
Há muitos anos que nos EUA
se aponta nas silagens de erva
para um requisito designado
pela regra do “20 – 30 – 40”,
querendo com isso indicar que
se deve lutar por conseguir
produzir uma silagem de erva
com 20% PB, 30% ADF e 40%
NDF. Aproximar a qualidade
nutricional das silagens de erva
em Portugal, tanto quanto seja
possível, desta sequência 2030-40 é um grande desafio para
todos quantos estão envolvidos
na sua produção e utilização,
mas também nos ilustra bem
a margem de progressão a
que ainda podemos aspirar
para manter a sustentabilidade
daquela que até hoje tem sido a
muito bem-sucedida produção
leiteira nacional.
O aprofundamento analítico da
qualidade das forragens pela
introdução de novos parâmetros
de análise no Concurso de 2016
procura fazer a apologia da
necessidade de possuir análises
tão completas quanto possível
seguindo as melhores práticas
internacionais.
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 15
ALIMENTAÇÃO
pedro castelo
Engº agrónomo, reagro sa.
[email protected]
Utilização de
Beterraba Forrageira
em Vacas Leiteiras
Em Portugal enfrentamos uma crise sentida a variadíssimos níveis e o sector do
leite não foge à regra, sendo talvez um dos que merece maior atenção. Assim, cabenos apresentar soluções e alternativas de forma a minimizar o impacto negativo que
atravessamos, devido ao preço pago pelo leite aos produtores e à imposição de redução
na quantidade de leite entregue.
Vantagens
Neste artigo iremos descrever
uma alternativa de forragem
que pode ser interessante
na alimentação de vacas
leiteiras – Beterraba Forrageira.
Cientificamente conhecida
por Beta Vulgaris L., entra
no grupo das culturas que
em Portugal não têm grande
notoriedade mas que em
França no início do século
XX teve um crescimento
acentuado (quase um milhão
de hectares em 1938, Donaty,
1987).
Originária da Europa Central
e da família Chenopodiaceae
caracteriza-se por ser um
alimento apropriado ao
arraçoamento de vários
animais, especialmente de
ruminantes. Sob o ponto de
vista do agricultor, a cultura da
beterraba forrageira, embora
exija algum conhecimento,
apresenta inúmeras vantagens,
tais como:
1. Rendimentos elevados e
regulares, ou seja, produções
entre 80 e 120 toneladas
(ton) por hectare e,
consequentemente, 15 a 20
ton de matéria seca (MS);
2.Relativa resistência da
cultura a más condições
climatéricas em relação a
outras culturas forrageiras;
3.Adaptação a vários climas;
4.Possibilidade de total
mecanização.
A beterraba forrageira é
um alimento de grande
apetência e com vantagens
comprovadas na sua
associação com silagem de
erva e feno (Vérité, 1970; De
Brabander et al 1976; Jans,
1983) e com silagem de milho
(Hoden et al, 1988).
Valor energético: a
digestibilidade é muito
elevada, 87 a 90% em ovelhas
(Demarquilly, 1972), resultando
num valor energético
elevado – 1,12 UFL/kg MS.
Esta digestibilidade é apenas
afetada ligeiramente se
os animais ingerirem uma
quantidade de matéria seca
de beterraba superior a 0,5%
do seu peso vivo. Caso o
valor de cinzas da beterraba
16 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
seja superior ao da tabela 1,
será conveniente diminuir o
seu valor energético.
Valor azotado: A
degradabilidade teórica do
azoto é bastante elevada,
apesar de ainda não ser
conhecida exatamente o valor,
considera-se 0,87 no sistema
PDI, ou seja 9 a 11 g de PDIA/
kg de MS.
Digestão: Devido ao seu
elevado valor em glúcidos
rápidos (rapidamente
fermentescíveis), às paredes
tabela 1
Valor alimentar (por kg de matéria
seca) da beterraba forrageira.
Beterraba forrageira rica em MS
Matéria Seca (%)
19
UFL/ kg MS
1,12
UFV / kg MS
1,14
Proteína Bruta g/ kg MS
90
PDIN g/ kg MS
53
PDIE g/ kg MS
88
PDIA g/ kg MS
10
Cinzas (%)
4,4
vegetais de digestão lenta
e ao baixo teor em MAT
(matéria azotada total)
e cinzas, a ingestão de
beterraba conduz a uma
diminuição da atividade
celulolítica no rúmen,
resultando num abaixamento
do pH ruminal quando a
ingestão desta ultrapassa
0,8 % do peso vivo do animal
(Vérité et Journet, 1973).
Portanto, uma má utilização
desta pode dar origem a
problemas digestivos e
metabólicos.
Conservação
Relativamente à
conservação, a beterraba
forrageira pode ser
armazenada em fresco
no silo. Sem nenhuma
fermentação, as radículas
para alimentação animal
podem ser conservadas
durante 4 a 5 meses de
inverno. Deste modo as
beterrabas sãs podem
ser conservadas muito
ALIMENTAÇÃO
Distribuição
Altura máxima 1,8 m
figura 1
Condicionamento no silo.
No que diz respeito à
distribuição, pensamos
que deve ser fornecido
juntamente com as forragens
e concentrado no unifeed
devido às suas características
nutricionais. Jamais deverá
ser distribuído como forragem
única, pois o seu efeito sobre
as performances de produção
apenas se evidencia quando
a beterraba é associada a
outras forragens pobres
Largura máxima 3 a 4 m
em energia. Teoricamente,
pode-se incorporar até 5 kg
de MS de beterraba forrageira
por dia e animal para o caso
de uma ração de vacas
leiteiras, mas esta deve ser
feita gradualmente (1 kg de
MS por semana) e tendo em
conta um critério nutricional
adequado para evitar riscos
de acidose. Ainda sobre a
distribuição deste tipo de
alimento, é conveniente
que esta esteja limpa (sem
a presença de terra e de
pedras) para preservação do
alimento e da saúde animal.
Para que isto seja possível
é fundamental realizar a
colheita em condições secas,
armazenar as beterrabas
num silo plano (de cimento
preferencialmente) e limpo e,
ainda, caso seja necessário,
devem ser lavadas antes da
distribuição.
ALIMENTAÇÃO À BASE DE BETERRABA FORRAGEIRA
Três arroçoamentos possíveis
facilmente, no entanto é
conveniente evitar conservar
radículas que não estejam
em bom estado, isto é, com
fissuras (adquiridas durante
a colheita) ou que tenham
sofrido geadas. Após a
colheita, para assegurar
uma boa conservação
no silo, deve-se evitar o
aquecimento e proporcionar
uma boa ventilação para
que haja libertação de calor
e humidade. Assim, existem
alguns aspetos importantes
(figura 1):
a) o silo deverá ser de
cimento, de preferência estar
no exterior e não deverá
exceder os 3 a 4 metros
de largura e 1,8 metros de
altura; b) as beterrabas não
devem estar cobertas antes
das primeiras geadas para
favorecer uma boa ventilação
no início do stock; c) privilegiar
um silo longo e estreito.
Esta forragem, além de todas as vantagens descritas anteriormente
permite reduzir o aporte de concentrado na ração total dos animais.
De seguida iremos apresentar três arraçoamentos possíveis com
diferentes tipos de forragem (A – Silagem de milho; B – Silagem de
milho + beterraba forrageira; C – Silagem de milho + fenosilagem
+ beterraba forrageira) adequados para vacas em lote único com
uma produção média de 31 litros, considerando que 40% são
primíparas e o lote tem 180 dias médios de lactação.
Preços
forragens e matérias-primas,
considerámos preços atuais
de mercado.
De acordo com o nosso
caderno de encargos para o
objetivo de produção definido
fizemos os três arraçoamentos
(tabela 2). Numa primeira
fase podemos afirmar que
é possível obter o mesmo
No que diz respeito às
forragens considerámos
valores que facilmente
encontramos em Portugal
e o alimento concentrado
para cada arraçoamento
foi desenhado em função
das forragens disponíveis.
Em relação aos preços das
nível nutricional a um menor
custo com a presença de
três forragens (arraçoamento
C - Silagem de milho +
fenosilagem + beterraba
forrageira - 4,20 €/vaca/
dia) quando comparada com
silagem de milho e beterraba
forrageira (4,22 €/vaca/dia)
ou apenas com silagem de
tabela 2
Arraçoamentos com diferentes tipos de forragem.
A - Silagem de milho
Custo por Animal/Dia= 4,32 €
(85 €/ton MB)
(201 €/ton MS)
Quantidade Distribuida
Preço
(€/ton)
Matéria-Prima
Kg
Características Nutricionais (/Kg MS)
MS
UFL
10,18
31,00
0,90
MB
MS
32,83
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
P
g
52,00
66,00
18,00
2,20
1,80
Silagem de Milho MS31 PB7 AMD31
40,00
Palha de Cevada
100,00
1,90
1,71
90,00
0,44
24,00
46,00
12,00
3,50
1,00
Massa Cerveja
40,00
7,00
1,89
27,00
0,92
208,43
188,20
135,39
3,15
5,84
Alimento concentrado - Farinha
Total
288,15
8,79
7,72
87,84
1,08
187,14
154,67
102,66
15,50
6,56
-
50,52
21,50
42,56
0,93
112,06
107,00
58,25
7,17
3,80
MB – Matéria Bruta; MS – Matéria seca; UFL – Unidade de expressão do valor energético dos alimentos (Unité Forragère Lait). 1 UFL = 1700 Kcal.;
Ca – Cálcio; P – Fósforo
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 17
ALIMENTAÇÃO
B - Silagem de milho + beterraba forrageira
Custo por Animal/Dia= 4,22 €
(74 €/ton MB)
(196 €/ton MS)
Quantidade Distribuida
Preço
(€/ton)
Matéria-Prima
Kg
MB
MS
Características Nutricionais (/Kg MS)
MS
UFL
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
P
g
52,00
66,00
18,00
2,20
1,80
Silagem de Milho MS31 PB7 AMD31
40,00
30,46
9,44
31,00
0,90
Palha de Cevada
100,00
2,00
1,80
90,00
0,44
24,00
46,00
12,00
3,50
1,00
Massa Cerveja
40,00
7,00
1,89
27,00
0,92
208,43
188,20
135,39
3,15
5,84
Silagem Forrageira 19MS
25,00
10,00
1,90
19,00
1,12
53,00
88,00
10,00
2,50
1,50
Alimento concentrado - Farinha
311,42
7,31
6,47
88,49
1,06
209,80
165,71
117,36
17,43
7,58
-
56,77
21,50
37,88
0,93
110,96
107,00
56,99
7,00
3,80
P
Total
C - Silagem de milho + fenosilagem + beterraba forrageira
Custo por Animal/Dia= 4,20 €
(81 €/ton MB)
(195 €/ton MS)
Quantidade Distribuida
Preço
(€/ton)
Matéria-Prima
Kg
MB
MS
Características Nutricionais (/Kg MS)
MS
UFL
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
g
Silagem de Milho MS31 PB7 AMD31
40,00
21,00
6,51
31,00
0,90
52,00
66,00
18,00
2,20
1,80
Fenosilagem 41MS 13PB
60,00
5,00
2,06
41,10
0,87
101,95
80,63
24,73
4,60
2,30
Palha de Cevada
100,00
1,80
1,61
90,00
0,44
24,00
46,00
12,00
3,50
1,00
Massa Cerveja
40,00
7,00
1,89
27,00
0,92
208,43
188,20
135,39
3,15
5,84
Silagem Forrageira 19MS
25,00
8,00
1,52
19,00
1,12
53,00
88,00
10,00
2,50
1,50
Alimento concentrado - Farinha
266,27
8,97
7,91
88,18
1,04
170,19
144,26
95,67
14,07
6,36
-
51,77
21,50
43,01
0,93
111,92
107,00
56,53
7,00
3,80
Total
milho (4,32 €/vaca/dia). Esta
pequena variação conduz
a uma diferença entre o
arraçoamento menos e o mais
dispendioso de 360 € por
cada 100 vacas em lactação.
Proteína
Relativamente à proteína
(tabela 3) verificamos que
no arraçoamento C (com
silagem de milho, fenosilagem
e beterraba forrageira), a
quantidade de proteína
digestível por dia e por vaca
em kg [PDD = MAT (%) x DT
(%) x MSI (kg)] é superior,
quando comparada com os
outros arraçoamentos. Para
otimizar o funcionamento
do rúmen e a produção de
proteínas microbianas, os
microrganismos ruminais
necessitam de energia
fermentescível e de proteína
degradável. A proteína bruta
(PB) representa a matéria
azotada total enquanto a
DT representa a proporção
de matéria azotada total
degradada no rúmen
que contribuirá para a
proteossíntese microbiana
depois da degradação em
amoníaco. A produção
de proteínas microbianas
no rúmen (PDIM) poderá
ser limitada pela energia
fermentescível (PDIME) ou
pela proteína degradável
(PDIMN). Assim, em termos
teóricos, o arraçoamento C
permite produzir mais proteína
digestível, como podemos
observar na tabela 3.
tabela 3
Balanço azotado dos arraçoamentos.
Balanço Azotado
PL por PDIN
PL por PDIE
Arraçoamento
Unidade
A
B
C
Litros
42,73
42,22
42,69
Litros
40,39
40,39
40,39
PDIN
g/Kg MS
112,06
110,96
111,99
PDIE
g/Kg MS
107,00
107,00
107,00
PDIA
g/Kg MS
58,25
56,99
56,53
% MS
15,60
15,60
15,60
%
63,90
64,05
65,55
LYSDI/PDIE
% PDIE
6,48
6,50
6,39
Energia
METDI/PDIE
% PDIE
1,79
1,78
1,83
No que concerne à energia,
todos os arraçoamentos têm
o mesmo nível energético e
permitem produzir a mesma
quantidade de leite por
vaca e por dia (tabela 4). No
entanto, em relação ao valor
amido + açúcar e glúcidos
rápidos (este último permite
avaliar a proporção de energia
rapidamente fermentescível no
Proteina Digestível por Dia
Kg/dia
2,14
2,15
2,20
18 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Proteina Bruta
DT
rúmen necessária à população
microbiana), os arraçoamentos
B e C apresentam valores
mais adequados às vacas
que se encontram em início
e meio de lactação (figura
2) e, assim, não penalizam a
curva de lactação dos animais
resultando num aumento de
produção durante a lactação.
No caso dos glúcidos rápidos,
quando este valor é deficitário
existe uma baixa eficácia
leiteira e uma baixa atividade
ruminal. Já quando estes
valores estão em excesso
ALIMENTAÇÃO
figura 2
Recomendações do valor de Glúcidos Rápidos em rações à
base de silagem de milho.
17
tabela 4
Balanço energético dos arraçoamentos.
20
Balanço Energético
Arraçoamento
Unidade
A
B
C
Litros
34,43
34,43
34,43
UFL/Kg MS
0,93
0,93
0,93
Amido + Açúcar
% MS
27,00
30,71
30,12
Glúcidos Rápidos
% MS
15,55
18,89
17,34
17
GTD
% MS
50,85
52,10
51,34
Falta de eficácia leiteira
Risco de acidose
Matéria Gorda Bruta
% MS
3,87
3,44
3,50
Baixa atividade ruminal
Diminuição do TB do leite
PL por UFL
UFL
Carência
Excesso
Vacas em inicio e meio de lactação
14
Carência
Excesso
tabela 5
Balanço de fibrosidade dos arraçoamentos.
Vacas em fim de lactação
Balanço Fibrosidade
haverá o risco de acidose
e consequentemente da
diminuição do teor butiroso
(TB) do leite.
Fibrosidade
No que diz respeito à
fibrosidade (tabela 5), os
arraçoamentos apresentam
valores bastante aceitáveis
de forma a não haver
problemas digestivos.
Análise económica
Finalmente, uma análise
económica torna-se
imprescindível para
comparar a importância da
utilização desta forragem
na alimentação de vacas
leiteiras. Através da
observação da tabela 6
podemos concluir que
os arraçoamentos com
beterraba forrageira (B e C)
a 25 €/ton permitem obter
um resultado económico
vantajoso de, pelo menos,
4 e 7 €/1000 litros, B e C
respetivamente. No entanto,
neste benefício está a
ser considerado apenas
a diferença de preço de
cada arraçoamento para
a mesma produção, mas
como vimos anteriormente
em termos energéticos,
mais precisamente amido
+ açúcar e glúcidos rápidos,
os lotes com beterraba
forrageira permitem um
melhor início de produção
e, consequentemente,
maior quantidade de
leite produzida durante a
lactação.
Resumindo, a beterraba
forrageira permite limitar
a compra de concentrado
e, ainda, reduzir o custo
alimentar por litro de leite
produzido. Além deste
benefício, as beterrabas
modificam a composição
da mistura dos ácidos
gordos voláteis produzidos
ao nível do rúmen. A
contribuição da sacarose
diminui a produção de
ácido acético, beneficiando
a produção de ácido
butírico (Demarquilly, 1972).
Isto explica os resultados
obtidos em seis ensaios do
INRA (Institut National de la
Recherche Agronomique)
sobre os efeitos do aporte
de 2 a 4 kg (3 em média)
de MS de beterraba por
dia e uma diminuição
média correspondente de
1,7 kg de MS de alimento
concentrado. Como
resultado, houve uma
melhoria da qualidade
do leite mantendo-se a
produção: aumento do teor
butiroso do leite (TB) em 1,1
g/kg e do teor proteico (TP)
em 0,85 g/kg.
20 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Arraçoamento
Unidade
A
B
C
Fibra Bruta
% MS
18,75
17,96
18,11
NDF
% MS
40,64
38,12
38,34
ADF
% MS
21,18
20,37
20,40
ADL
IF
% MS
2,33
2,38
2,37
min / kg MS
35,00
35,00
35,00
tabela 6
Análise económica.
Análise económica
Arraçoamento
Unidade
A
B
C
Custo Total
€/animal
4,32
4,22
4,20
Custo Total/1000 L
€/1000 L
137,24
133,20
130,33
Custo Concentrado
€/animal
2,81
2,56
2,67
Custo Concentrado/1000 L
€/1000 L
89,45
80,60
82,90
Margem Bruta/dia
€/animal
4,49
4,66
4,82
Margem Bruta/1000 L
€/1000 L
142,76
146,80
149,67
Conclusão
A beterraba forrageira é um excelente alimento energético
para vacas leiteiras. O custo de UFL/ha é bastante competitivo
quando comparado com outras forragens. Além das vantagens
descritas anteriormente, a beterraba forrageira permite aumentar
a autonomia dos produtores, manter o perfil nutricional dos
arraçoamentos com vantagens técnico-económicas consumindo
menos concentrado e, ainda, melhorar a qualidade do produto
obtido (Demond, 1985).
Referências bibliográficas
Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas o autor disponibiliza
bastando enviar um email.
As soluções Alltech® Crop Science estão
concebidas para promover, de forma natural,
um desenvolvimento eficiente da planta e agilizar
os seus processos metabólicos, levando a:
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forragens
Forragens de qualidade
Um alimento essencial
Martin Dekker, responsável de Exportação da Barenbrug, esteve em Portugal a convite
da Lusosem, representante da marca no nosso país, onde visitou várias explorações.
A Ruminantes aproveitou para saber como a Barenbrug vê o futuro do mercado das
forragens.
POR ruminantes
de fibra e proteína. O conceito consiste
na utilização de variedades melhoradas
de festucas, assegurando uma atividade
ótima do rúmen das vacas. Por outro lado,
o seu elevado valor nutricional, assegura
a produção de leite rico em gordura e
proteínas.
Ruminantes - Como antevê a evolução do
mercado das forragens no Sul da Europa?
Martin Dekker – Os agricultores estão cada
vez mais cientes de que uma alimentação
animal à base de forragens de gramíneas
e leguminosas desempenha um papel
cada vez mais importante na produção de
leite e de carne. Para expressar todo o seu
potencial produtivo, o efetivo pecuário deve
ser alimentado com programas nutricionais,
onde as forragens de qualidade são uma
componente fundamental. As gramíneas
e as leguminosas são uma excelente
fonte de proteína, tanto do ponto de vista
quantitativo como qualitativo. O agricultor
pode aumentar os rendimentos obtidos
investindo na produção de proteína na sua
própria exploração, recorrendo a sementes
de elevada qualidade. Considero por isso,
que a produção de forragens vai continuar a
aumentar, sendo um fator chave o recurso a
variedades de elevada qualidade.
FIGURA 1
Martin Dekker a inspecionar o
corte da forragem.
O que prevê de inovação nesta área?
Para além do aumento da utilização
de variedades de espécies anuais,
consideramos que a procura de misturas
de forragens contendo festuca tende a
aumentar. A Barenbrug desenvolveu o
NutriFibre, um programa especialmente
dedicado aos produtores de leite e carne,
no qual as misturas foram selecionadas
com base nas necessidades do mercado
do Sul da Europa. Este programa está
disponível também em Portugal. São
variedades resistentes ao calor e à seca,
graças ao seu sistema radicular volumoso
e profundo. O NutriFibre é uma excelente
combinação para obter um elevado teor
22 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
A crise do leite na Europa favorece a
utilização de forragens?
Na atual conjuntura de preços baixos do
leite, a produção de forragem de elevada
qualidade vai ao encontro da necessidade
de reduzir custos na exploração.
A utilização de variedades de genética
superior é um fator chave para um bom
rendimento na exploração. Vários estudos
demonstram que os agricultores que
utilizam maior teor de forragens na ração
diária têm um menor custo de produção
por litro de leite. Em situações de crise o
agricultor tende a retrair-se, comprando
o mais barato, no entanto, investir em
forragens de qualidade compensará a longo
prazo. Utilizando boas variedades facilmente
obtemos uma mais-valia de 100€/hectare.
Considera que as regras do Greening
podem ter um impacto positivo no
crescimento do mercado das forragens?
As regras do Greening exigem que os
agricultores instalem culturas forrageiras
ou leguminosas num mínimo de 5% a 10%
da área útil da exploração. É por isso
provável que esta exigência contribua para o
aumento da procura de sementes
forrageiras certificadas, embora seja difícil
prever até que ponto, pois o agricultor
também pode optar por outras culturas.
Porque razão as culturas forrageiras são
uma opção para o agricultor?
Além das vantagens já enumeradas, é
preciso dizer que as forragens são a melhor
opção do ponto de vista da saúde animal
forragens
FIGURA 2
Azevém cortado no solo.
e da produtividade. Vacas
saudáveis produzem mais
leite e reduzem os gastos
com veterinários. No campo,
variedades forrageiras de
qualidade proporcionam um
excelente teor de matéria
seca e um ótimo rendimento
em proteína. Além do mais,
as forragens são fáceis de
cortar e de ensilar.
Além de uma boa genética,
quais as práticas mais
relevantes para obter uma
forragem de qualidade?
A boa gestão e maneio
da cultura permite tirar
o máximo potencial das
sementes
utilizadas. É fundamental
preparar o solo de forma
adequada e aplicar azoto,
potássio e fósforo em
quantidades suficientes. A
gestão da cultura durante
a fase de desenvolvimento,
a altura e épocas de corte/
pastoreio e as técnicas
de preparação do silo são
alguns dos fatores críticos
para a produtividade e
qualidade da forragem.
As variedades e misturas
Barenbrug estão bem
adaptadas aos solos e clima
de Portugal?
Enquanto obtentor de
sementes, a Barenbrug
busca constantemente
inovação que gere valor
acrescentado ao agricultor.
Possuímos 15 polos de I&D,
abarcando as principais
regiões edafoclimáticas
do planeta. Esta estratégia
tem como resultado o
desenvolvimento de produtos
inovadores e adaptados
a cada região. Todas as
variedades Barenbrug
vendidas em Portugal são
previamente testadas em
ensaios realizados no país e os
resultados são mostrados aos
agricultores através de field
tours que organizamos em
parceria com a Lusosem.
Qual a ambição da Barenbrug
no mercado português?
A Barenbrug está empenhada
em ajudar o agricultor a
aumentar a produtividade
e a qualidade da forragem.
Através de um vasto portfólio
de sementes de qualidade,
misturas de sementes e
de tecnologia inovadora
trabalhamos diariamente
para tornar a produção de
gramíneas e leguminosas
forrageiras economicamente
atrativa e sustentável. As
nossas equipas, tal como
a Lusosem em Portugal,
promovem a introdução de
novas variedades e tecnologias
e prestam formação, apoio
técnico e comercial aos
distribuidores. Por último,
mas de grande importância, a
Lusosem inspira a Barenbrug
a desenvolver novas soluções
adaptadas aos agricultores
portugueses.
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 23
Alimentação
Rui Sousa
médico veterinário, gestor produto Techmix para Portugal
[email protected]
Stress térmico
e Reprodução
Reidratação e recuperação fisiológica como estratégia de mitigação dos
efeitos do stress térmico
O stress térmico ocorre
quando a capacidade
de dissipação de calor é
excedida pelo conjunto
do calor gerado por
mecanismos metabólicos
internos e calor proveniente
de fontes ambientais.
A humidade também
é um fator contribuinte
importante, sendo o Índice
de Temperatura e Humidade
(ITH) tido como método
principal de medida do
stress térmico.
O impacto económico do
stress térmico na produção
animal é gigantesco. Só nos
EUA estima-se uma perda
anual de mil milhões de
dólares na produção de leite.
Associado às alterações
climáticas que prevêem
um aumento significativo
das temperaturas e dos
fenómenos extremos, tornase imperativo um olhar
atento para este problema.
A vaca leiteira afetada pelo
calor inicia uma série de
respostas comportamentais
e fisiológicas que a ajudam
a arrefecer e a mitigar os
seus efeitos negativos.
Uma das mais importantes
é a diminuição da ingestão
de matéria seca, que
pode levar a um balanço
energético negativo com
consequências nefastas
para o animal. (ver figura 1)
Figura 1
Sequência de efeitos relacionados com o stress térmico.
Diminuição de
estradiol
Diminuição de
GnRH e LH
Balanço
energético
negativo
Redução
da ingestão
matéria seca
• Reduzida expressão do cio
• Pobre qualidade oócito
Perdas embrionárias
Infertilidade
Ambiente uterino
comprometido
Stress Térmico
Consequências reprodutivas
A performance reprodutiva
da vaca leiteira diminui
durante o período de stress
térmico por 3 mecanismos
principais:
1. Redução da intensidade
24 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
do cio - A redução da
expressão do cio envolve
a redução de atividade de
monta (50%) e um menor
período de cio. Pode estar
relacionada com a menor
produção de hormonas (LH
e estradiol) e uma redução
de atividade física como
forma de limitar o aumento
de temperatura. As falhas
na deteção do cio podem
Alimentação
chegar aos 80%.
2.Redução da taxa de
fertilização - A redução
da taxa de fertilização
deve-se ao facto de o(s)
oócito(s) que iniciarem
o seu desenvolvimento
durante um período
em que a vaca esteja
a sofrer os efeitos do
stress térmico terem uma
fertilidade reduzida 90 a
110 dias mais tarde quando
estiverem prontos para a
ovulação (outono/início
do inverno). Os efeitos
prejudiciais do stress
térmico na reprodução
não acontecem apenas
no momento em que esse
stress ocorre, prolongamse por vários meses.
3.Comprometimento
da sobrevivência do
embrião - O embrião
no seu estado inicial é
termossensível, no entanto
adquire resistência a partir
dos cinco dias de idade
(estado de mórula). Apesar
disso podem ocorrer
mortes embrionárias
mais tarde, relacionadas
com menor fluxo
sanguíneo uterino e menor
produção e circulação de
hormonas indispensáveis
ao desenvolvimento
embrionário.
O défice nutricional contribui
para um anestro pós-parto
mais prolongado. Existe
uma relação inversa entre
o balanço energético e o
momento em que a atividade
ovárica pós-parto é reatada
Existem também
consequências imunitárias
devido ao stress térmico. A
incidência de problemas de
saúde como mastites, retenção
placentária, metrite ou cetose
aumenta significativamente,
podendo estar relacionada com o
défice energético durante as fases
de stress térmico. Estas doenças
têm um impacto muito negativo
na reprodução.
Figura 1
Vaca com stress
térmico.
Durante o Stress Térmico
Arrefeça as suas vacas
de dentro para fora
Apresentando soluções, oferecendo resultados
•
•
•
Suporta a saúde e função reprodutiva
Mantém a ingestão de água e alimento
Apoia a produção de leite
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ruminantes julho . agosto . setembro 2016 25
Alimentação
Bovine Bluelite (BBL)
Figura 2
Vaca com stress térmico.
Arrefecer as
vacas de dentro
para fora
A presença de sistemas de controlo ambiental
é essencial para reduzir a magnitude dos efeitos
do stress térmico. A presença de sombras e
água fresca e limpa disponível é obrigatória.
O arrefecimento com sistemas mistos de
ventilação e aspersores permitem uma melhor
dissipação do calor levando a um abaixamento
da temperatura dos animais. No entanto, estes
sistemas sozinhos não são suficientes e existe
ainda uma grande variedade de ferramentas
que permitem mitigar os efeitos do stress
térmico.
Deve-se encorajar a ingestão de matéria seca,
de forma a manter o balanço energético e a
atingir os níveis adequados do pH ruminal.
O que não deve ser deixado de lado é a
hidratação. Deve ser fornecida água limpa e
em abundância. Durante períodos de stress
térmico uma vaca pode ingerir mais de 100
litros de água por dia. A hidratação apropriada
sustenta a saúde celular que é necessária para
manter a saúde animal e a reprodução. Outro
parâmetro importante é o reequilíbrio eletrolítico.
Deve-se ter em conta as perdas de potássio,
sódio e magnésio dado serem importantes
na regulação hídrica. Alguns elementos
como a betaína e a niacina, demonstram ter a
capacidade de diminuir a temperatura corporal
e devem ser tidos em conta. A betaína é um
osmólito chave, que promove a integridade
celular e o correto balanço de fluídos.
26 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
A Techmix, líder no desenvolvimento
de produtos de reidratação animal,
desenvolveu uma solução nutricional
para os momentos de stress térmico, o
Bovine Bluelite (BBL). Constitui uma fonte
palatável de energia e eletrólitos que
fornece o correto reforço nutricional no
momento adequado. Promove reidratação,
reforça a saúde hídrica celular, mantém
o balanço eletrolítico e apoia a saúde
reprodutiva das vacas sob os efeitos do
stress térmico. Durante o Verão de 2015,
foram efetuados ensaios de campo em
duas explorações leiteiras em Espanha.
O objetivo era documentar os efeitos do
BBL em vacas em lactação sob o efeito de
stress térmico durante um período extenso
de tempo (60 dias, com um ITH máximo
médio de 79,1). Em cada exploração foi
criado um grupo controlo (sem BBL) e um
grupo com BBL, os dois com as mesmas
condições nos estábulos. A análise dos
resultados mostrou marcadas melhorias
na produção de leite (+1,4-1,7 kg/dia) e
na taxa de prenhez (+2,8-3,1), tendo sido
também registado uma diminuição de
8 a 10 em dias em aberto. Utilizando
uma análise económica baseada na
Universidade de Wisconsin Madison, o
valor económico da melhoria na taxa de
prenhez observada varia entre 70 a 83
€/vaca/ano, o que reflete um retorno do
investimento muito elevado.
Conclusões
Os principais componentes funcionais
no Bovine Bluelite foram especificamente
adicionados para responderem aos
desafios fisiológicos que o corpo da vaca
enfrenta durante os efeitos do stress
térmico. Os sistemas de controlo ambiental
da temperatura são uma importante ajuda
durante os períodos de stress térmico,
mas apenas as soluções nutricionais
como o BBL podem rápida e efetivamente
responder às necessidades fisiológicas da
vaca. BBL é exatamente o tipo de nutrição
que a vaca sob stress térmico necessita,
administrada no momento certo.
Referências bibliográficas
Não foram incluídas por uma questão de espaço
editorial, mas o autor disponibiliza bastando enviar
um email.
Melhorar
o balanço
energético
negativo
pós-parto,
reduzindo a
produção de
leite
No dia 1 de junho o Doutor Pierre Lacasse
apresentou no Simpósio Global de
Ruminantes da Phileo, uma solução
alternativa para o problema do balanço
energético negativo no pós-parto em
vacas leiteiras. A grande mobilização
de energia no começo da lactação leva
a uma grande mobilização de reservas
corporais (cálcio e fósforo, por exemplo)
e pode dar origem a um balanço
energético negativo, levando a que os
animais se tornem mais suscetíveis a
doenças como a cetose ou a lipidose
hepática ou até mesmo a mastites. Pierre
Lacasse e os seus colegas do Centro
de Investigação e Desenvolvimento
Sherbrook, no Quebec, estudaram a
hipótese de reduzir a produção de leite
na primeira semana pós-parto para que
a mobilização energética fosse mais
gradual. Inicialmente experimentaram
reduzir o número de ordenhas nos
primeiros 5 dias após o parto para apenas
uma, mas isso fez com que estas vacas
nunca conseguissem recuperar a curva
de lactação normal, quando comparadas
com vacas que foram sempre ordenhadas
duas vezes desde o primeiro dia de
lactação. A segunda experiência baseouse em manter o número de ordenhas
desde o início (2 ordenhas por dia), mas
reduzir o leite ordenhado nos primeiros
cinco dias pós-parto para um terço do
normal. Estas vacas, quando comparadas
com vacas cujo leite tinha sido retirado
na totalidade desde o dia do parto,
revelaram melhores perfis metabólicos
e imunitários e foram capazes de exibir
uma curva semelhante de produção,
não prejudicando assim a produção total
de leite. Uma vez que a redução de leite
ordenhado é efetuada numa altura em
que o colostro é produzido, esta não
prejudica significativamente o produtor
a nível financeiro, sendo mais uma
questão de mudança de maneio nos dias
imediatamente após o parto.
Produção
QUEIJOS FORTUNATO
“MELHOR DOS MELHORES”
Entrevista a Henrique Carvalho e Ana Fortunato (sócios gerentes).
por ruminantes
Em Tolosa, freguesia do
concelho de Nisa, distrito de
Portalegre, encontramos a
queijaria Queijos Fortunato, um
negócio familiar que remonta
a várias gerações. Situada
num dos maiores núcleos de
produção queijeira nacional, tem
primado pelos seus produtos
de qualidade, já várias vezes
premiados. Recentemente, no 6º
Concurso Nacional de Queijos
Tradicionais Portugueses, viu
mais uma vez reconhecido o
seu mérito, com a atribuição do
prémio ‘Melhor dos Melhores’
ao seu Queijo Curado de
Cabra, o qual também recebeu
a medalha de Ouro, e com a
atribuição da medalha de Prata
ao Queijo Curado de Ovelha.
A Ruminantes foi conhecer
o que de bom se faz neste
empreendimento que, para
além da queijaria, possui ainda
os seus próprios efetivos de
ovinos e caprinos, os quais
produzem a totalidade do leite
utilizado no fabrico de vários
produtos.
Como é que este
empreendimento começou?
A queijaria foi o primeiro
empreendimento, há cerca de
30 anos, e tem-se mantido um
negócio familiar até hoje.
A exploração de ovinos
surgiu há 20 anos, não por
necessidade de leite, que na
altura era abundante, mas por
gosto pessoal por parte do meu
sogro. O rebanho tem vindo a
ser melhorado, nomeadamente
em termos de raças utilizadas.
Atualmente trabalhamos
com três raças: Merina, Saloia,
introduzida em 2003 e Lacaune,
introduzida em 2012, com o
objetivo de melhorar a qualidade
final do leite. A tendência no
futuro será a substituição das
Saloias, para as quais é já difícil
encontrar reprodutores, por
animais da raça Lacaune.
A introdução de caprinos deu-se
em 2005, com a necessidade
de leite de cabra por parte da
queijaria face à grande escassez
de explorações de cabras
28 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
leiteiras na zona. Na altura
produzíamos o denominado
‘Queijo Mestiço de Tolosa’, um
IGP. Decidimos então investir
numa exploração de leite
de cabra, em paralelo com a
continuidade da exploração
de ovinos. Adquirimos 200
animais em Espanha, na altura,
e desde então temos continuado
a adquirir reprodutores de
outros criadores, sempre de raça
Murciana, a qual nos dá boas
garantias de relação positiva
entre quantidade e qualidade
do leite em termos de gordura e
proteína.
Acabam no fundo por ser três
empreendimentos distintos:
o de ovinos, o de caprinos e a
queijaria.
Quais os diferentes tipos de
queijo que fabricam?
Temos essencialmente três tipos
de queijo: de cabra, de ovelha e
de mistura. Os nossos produtos
incluem o queijo curado, queijo
fresco, requeijão e o atabefe,
obtido pela pasteurização do
soro de leite, e conhecido por
alguns clientes como ‘leite
gordo’.
A oferta dos diferentes produtos
é constante todo o ano?
Sim. Assegurar essa oferta
constante foi uma das razões
pelas quais optámos pela
introdução, há cerca de sete
anos, da técnica de inseminação
artificial nas ovelhas devido
à escassez de reprodutores
de raça Saloia. Nas cabras,
fazemos lotes de animais a ser
cobertos a cada dois meses
para assegurarmos uma
produção de leite constante ao
longo do ano.
Considerando os queijos de
ovelha e cabra, quais se têm
destacado em termos de
vendas?
Ambos vendem bem, mas o
queijo de cabra tem vendido
melhor. Achamos que tal
se possa dever à acrescida
visibilidade que ganhou com os
recentes prémios, bem como ao
facto de ter menos gordura, o que
parece ser uma preocupação dos
consumidores, especialmente
nesta altura do verão.
O modo de produção tem-se
mantido constante ao longo
dos anos ou sofreu algumas
alterações?
Essencialmente sim, temse mantido constante, e as
alterações que introduzimos
prendem-se com imposições de
legislação, como as câmaras para
um maior controlo de temperatura
e humidade e a proibição de
utilização de madeiras.
Qual é o plano alimentar dos
rebanhos?
Decidimos optar, desde 2014,
pela utilização dos sistemas
Caprikomplet e Ovikomplet, da
Nanta, os quais nos permitem
assegurar a homogeneidade dos
teores de proteína e gordura do
leite ao longo do ano. Antes disso
utilizávamos o sistema unifeed,
mas estávamos dependentes
das grandes oscilações das
matérias-primas ao longo do ano,
não possuíamos condições de
armazenamento ideais e o custo
de armazenamento durante os
meses de verão era bastante
elevado, e cerca de 1/3 do
produto acabava por se estragar.
O custo com a alimentação é
para nós mais baixo agora em
Produção
preocupação e cuidados com o produto são
maiores, assegurando a manutenção das
suas características de qualidade até chegar
ao consumidor final.
cerca de 30% com o alimento composto em
comparação com o unifeed.
Para onde vendem? Qual a vossa rede de
distribuição?
A venda é feita principalmente no distrito
de Portalegre, no qual a procura tem até
ultrapassado a oferta. Os prémios que
ganhámos recentemente têm-se refletido numa
maior procura por parte dos grandes centros
urbanos, como Lisboa, Coimbra e Porto, para os
quais, num futuro próximo, estamos a pensar
alargar a nossa rede de vendas.
Trabalhamos com uma transportadora,
que por exemplo para alguns clientes que
já possuímos em Lisboa, distribui a cada
quinzena. Por outro lado, temos uma grande
quantidade de clientes que se deslocam
diretamente à nossa queijaria, e não temos
revendedores.
Como tentam chegar a novos clientes e
mercados?
Já pertencemos a outra geração por isso
tentamos a expansão por outros meios,
por exemplo através das redes sociais, tão
difundidas hoje em dia.
Não almejamos chegar a grandes superfícies
comerciais, como os hipermercados,
preferimos locais de menores dimensões,
como os supermercados e algumas
pequenas lojas, nos quais sentimos que a
Ganharam recentemente três prémios no 6º
Concurso Nacional de Queijos Tradicionais
Portugueses. O que diferencia os vossos
queijos no mercado?
Começará inicialmente pela questão
da qualidade da matéria-prima, a qual
consideramos ser multifatorial, tendo em
conta fatores genéticos, alimentares e
de maneio dos animais. A outra questão
será o conhecimento e técnica de fabrico
transmitidos ao longo de três gerações, e que
estão constantemente a ser melhorados.
É isso que ambicionamos com os nossos
produtos: ter uma boa matéria-prima, o leite,
sempre fresco já que o queijo é feito a partir
das ordenhas do dia, tirando vantagem da
proximidade da queijaria e da exploração.
E depois temos a relação muito boa que
a minha mulher, a Ana Fortunato, bem
como a sua mãe, têm com o produto, são
essencialmente elas que fabricam os queijos,
seguindo a tradição de várias gerações.
Quais são os objetivos para o futuro?
O nosso objetivo para o futuro é
essencialmente tentar chegar a novos
mercados, mantendo sempre os elevados
padrões de qualidade pelos quais nos
regemos, dando a conhecer o nosso produto
a mais pessoas.
Assegurar a qualidade do leite está sempre
no topo da nossa lista de prioridades,
nomeadamente o melhoramento constante
em termos de gordura e proteína, o que tem
grande importância na queijaria. No que toca
à composição do leite de cabra, almejamos
chegar a teores de 4% de proteína bruta
e 9.5% de extrato seco. Outro dos nossos
grandes objetivos para o efetivo caprino é
o melhoramento da conformação do úbere,
para nos ajudar a tirar ainda melhor partido
da raça.
Dados Técnicos da
Exploração “Vale
das Sebes”
Área da exploração: 110 hectares
(3 para o efetivo caprino e 107 para o
efetivo ovino)
Alimentação dos animais: Utilização
exclusiva de alimento composto
durante todo ano.
Número de empregados: 7 (2 na
exploração de caprinos, 2 na exploração
de ovinos e 3 na queijaria), para além de
4 elementos de mão-de-obra familiar.
Raças utilizadas
• Ovinos: Merina, Saloia e Lacaune
• Caprinos: Murciana
Efetivo total
• Ovinos: 632
• Caprinos: 527
Número de animais em ordenha
• Ovinos: 205
• Caprinos: 333
Número de ordenhas diárias
2 nas cabras e nas ovelhas.
Pequena descrição das salas de ordenha
Ambas as salas utilizam o sistema de
saída rápida, com 24 pontos de ordenha
na sala das cabras e 18 na sala das
ovelhas.
Produção leiteira diária por lote
Ovinos
• Paridas em novembro - 0,6 l/ovelha/dia
• Paridas em janeiro - 1,1 l/ovelha/dia
• Paridas em março - 1,3 l/ovelha/dia
Caprinos
• 1ª barriga: 2,5 l/cabra/dia
• Paridas em fevereiro: 2,7 l/cabra/dia
• Paridas em abril: 2,2 l/cabra/dia
• Paridas em setembro: 1,5 l/cabra/dia
Produção leiteira total anual por animal
• Ovelha: 231 litros/animal em 2015,
num efetivo de 406 adultas
• Cabra: 654,89 litros/animal em 2015,
num efetivo de 374 adultas
Leites
• Ovelha: GB(%): 8,43 | PB (%): 4,99
Extrato seco (%): 10,41
• Cabra: GB (%): 6,06 | PB (%): 3,79
Extrato seco (%): 9,30
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 29
Alimentação
Butirato de sódio
para ter as suas vitelas preparadas
para um bom arranque
por Departamento de Ruminantes da Nutriad
A rentabilidade de várias explorações
leiteiras foi colocada sob pressão nos
últimos anos devido aos baixos preços
do leite e ao aumento dos custos com a
alimentação. O custo de criar uma vitela
e da recria uma novilha até ao primeiro
parto pesa muito numa exploração. Este
custo foi estimado ser próximo ou igual
à rentabilidade que uma vaca de alta
produção pode gerar durante as duas
primeiras lactações (UE: 60-90€/mês,
EUA: 70-110$/mês). Tendo em conta que o
número médio de lactações por vaca está
agora abaixo das 2,5 para a maioria das
explorações modernas, uma cria/recria
de sucesso de vitelas saudáveis para
substituição tornou-se um fator crucial.
O estado de saúde e o
progresso do crescimento
de um vitelo durante os
primeiros 3 meses têm
uma enorme influência na
longevidade da performance
e portanto no retorno sobre
o investimento. Quando os
problemas de saúde podem
ser evitados neste período
crítico, isto resultará em
menos perdas de vitelos,
melhor taxa de crescimento,
primeiro parto mais cedo e
melhores produções de leite,
melhorando as condições
das explorações, tornando-as
economicamente mais viáveis.
Desde a proibição do uso de
antibióticos promotores de
crescimento (APC) na EU, os
ácidos orgânicos receberam
considerável atenção como
possíveis alternativas em
leites de substituição e
no leite inteiro. Além das
funções conservantes e
bacteriostáticas, reduzindo
o pH do leite inteiro ou do
leite de substituição, alguns
destes ácidos orgânicos,
e em particular o ácido
butírico, mostraram efeitos
fisiológicos benéficos
adicionais na saúde
intestinal.
tabela 1
O efeito do butirato de sódio
(0.3%) em leite de substituição
e em mistura starter no peso
corporal, estado de saúde e
desenvolvimento do retículorúmen e da parede do rúmen das
vitelas (Gorka et al., 2009).
30 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Ácido butírico para um
ÓTIMO desenvolvimento
do trato intestinal
No vitelo pré-ruminante,
o alimento líquido
(colostro, leite ou leite de
substituição) é a mais
importante fonte de
nutrientes. O alimento
líquido ultrapassa o reticulorúmen e entra no abomaso
e no intestino delgado,
os principais locais de
digestão. Em comparação
com o leite, o leite de
substituição estimula
menos o desenvolvimento
do abomaso e do intestino
delgado, devido à potencial
presença de fatores
antinutricionais e à falta
de substância bioativas
normalmente presentes
no colostro e no leite (p.ex.
hormonas e fatores de
crescimento), resultando
numa desaceleração do
desenvolvimento intestinal.
A suplementação com butirato
no leite de substituição
reverteu estes efeitos
negativos (Gorka et al., 2009).
Foi também demonstrado que
o butirato aumenta a secreção
de enzimas digestivas e é
absorvido na porção anterior
do intestino delgado em várias
ocasiões.
O desenvolvimento
do rúmen é um fator
determinante para o início
da ingestão de alimentos
sólidos e para a futura
performance dos bovinos.
Um desenvolvimento precoce
e completo da parede do
rúmen e das suas papilas é
necessário para aumentar
a capacidade deste órgão
de absorver substratos
energéticos produzidos no
rúmen, e permite uma ótima
performance.
Controlo
Butirato
de sódio
5 dias de vida
45,3
47,7
NS
12 dias de vida
42,2
47,9
p < 0,10
Peso corporal (Kg)
19 dias de vida
42,8
47,9
p < 0,10
45,6
49,7
p < 0,05
0,3
2
p < 0,10
Dias
26 dias de vida
Ganho médio diário
de peso
Dias com diarreia
Condição corporal
(escala de 1 (mau) a 5
(muito bom))
1,57
0,14
p = 0,03
4,84
4,94
p = 0,10
49,8
p < 0,01
% dos 4 compartimentos
gástricos
Retículo-rúmen
42,6
µm
Comprimento das
papilas
Diâmetro das papilas
314
516
p < 0,01
150
228
p < 0,01
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ADIMIX PRO
Apoio eficaz para vitelos
Impulso
na Ruminação
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ADIMIX PRO é um eficaz bio regulador especialmente desenhado para apoiar
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A sua composição inovadora é o resultado de vastos ensaios in vivo e in vitro.
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Alimentação
Os produtos obtidos da fermentação no rúmen, como os ácidos
gordos voláteis (p.ex. ácido butírico e ácido propiónico), são
os principais estimulantes do desenvolvimento do epitélio do
rúmen. A suplementação com butirato demonstrou estimular
o desenvolvimento das papilas do rúmen, sendo que este é a
fonte preferencial de energia para as células do epitélio ruminal.
(tabela 1)
FIGURA 1 (a, b)
Performance e estado de saúde das vitelas de reposição com ou sem butirato
de sódio. Respetivamente, Ganho Médio Diário (GMD) com intervalo de 14 dias
(a) e estado de saúde das vitelas (b).
a) GMD das vitelas Holstein alimentadas com leite inteiro
pasteurizado com ou sem 0.2% butirato de sódio (Adimix Pro)
1,100
Controlo
1,000
Adimix Pro
Butirato de sódio como
promotor de saúde e de
crescimento
Os efeitos estimulantes
do butirato de sódio tanto
nos vitelos pré-ruminantes
como nos ruminantes, não
só resultam na melhoria
da performance (maior
disponibilidade de nutrientes),
mas também na melhoria
do estado de saúde;
duas situações que são
rotineiramente observadas em
vitelos que recebem dietas
suplementadas com butirato.
O efeito positivo do butirato
no crescimento e no índice
de conversão surge de forma
muito óbvia nas primeiras
semanas de vida quando
os vitelos são alimentados
com leite de substituição,
mas parece prolongar os
efeitos nas fases seguintes
do crescimento da novilha
(e potencialmente na vida
produtiva da vaca).
Nos vitelos recém-nascidos, o
efeito da suplementação com
butirato de sódio, tanto no leite
de substituição como na ração
starter, reduz episódios de
diarreia e conduz a um estado
de saúde melhorado nas
primeiras semanas de vida. A
adição de butirato de sódio
estimulou o desenvolvimento
do rúmen: a proporção do
peso do rúmen aumentou
tal como o comprimento
e diâmetro das papilas do
rúmen, aumentando assim a
superfície de absorção ruminal
(Gorka et al., 2009).
Um ensaio numa vacaria
moderna na Hungria em 2010
demonstrou que a melhoria na
saúde observada em vitelas
com butirato de sódio no leite
de substituição pode também
ser obtida com o leite inteiro.
Como se pode observar na
figura 1, as diferenças em
ganho de peso e estado de
Melhorando a
homogeneidade do efetivo
Para fins de maneio e subsequentes objetivos de reprodução,
a homogeneidade dos grupos de vitelos ao desmame é um
parâmetro importante. A variabilidade no peso vivo entre vitelos no
ensaio húngaro, como mencionado acima, foi similar em ambos
os grupos controlo e 0,2% butirato de sódio durante as primeiras
6 semanas do ensaio. Contudo, daí em diante a variabilidade
no peso vivo no grupo controlo mostrou um aumento numérico
até 13%, enquanto a variabilidade no grupo tratado com butirato
de sódio mostrou uma diminuição numérica até cerca de 7%. A
suplementação com butirato de sódio conduziu a um grupo mais
homogéneo, com ainda menos vitelos de baixo peso.
GMD, g
0,900
0,800
0,700
0,600
0,500
0,400
0,300
11 set
11 out
25 out
10 nov
23 nov
Período (2 semanas de intervalo desde a nascença)
b) Estado de saúde das vitelas Holstein alimentadas com leite
inteiro pasteurizado com ou sem 0.2% butirato (Adimix Pro)
12
11
10
9
8
6
5
4
3
2
0
Dias de tratamentos médicos
saúde foram significativas
entre o grupo controlo e o
grupo que recebeu butirato
de sódio (p<0,05). O peso
vivo aos 90 dias de idade
foi 3,6 kg superior no grupo
que recebeu o butirato
de sódio (103,7 e 104,1 kg,
respetivamente) (figura
Vitelos tratados (n)
1a). Comparando com o
grupo controlo, os dias
com tratamento médico e o
número de vitelos tratados
para distúrbios digestivos ou
respiratórios diminuíram para
menos de 50% no grupo com
butirato de sódio (fig.1b).
Conclusão
Em suma, os estudos mostraram repetida e
consistentemente que o butirato de sódio é um aditivo de
valor para o leite inteiro, para o leite de substituição e/ou
para a ração starter para manter as vitelas de substituição
saudáveis e para melhorar a sua performance e
homogeneidade. O nível geral de melhoria da performance
que pode ser esperado a uma dose de 0,2% a 0,3% (da MS)
de butirato de sódio é na ordem dos 5%, providenciando
uma base para uma vida com um início mais precoce, mais
duradoura e mais produtiva da vaca leiteira.
Referências bibliográficas
Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas é
disponibilizada bastando enviar um email para [email protected].
32 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
ALIMENTAÇÃO
Stress por calor
em bovinos de carne
Durante a adaptação e em períodos de stress por calor, Levucell®SC melhora o
pH do rúmen e o crescimento dos novilhos com dietas ricas em amido.
por departamento da Lallemand
CONTEXTO
OBJETIVO
O stress por calor é
uma problemática muito
presente nos ruminantes
produtores de leite, contudo
nos bovinos destinados
à produção de carne
os efeitos são menos
visíveis, pelo que se dá
menos importância a esta
problemática. Ainda assim,
as perdas por stress de
calor em bovinos de carne
podem alcançar os 10 kg/
animal/ano.
Depois do desmame, os
vitelos são transportados
numa longa viagem até
explorações onde vão ser
engordados. Esta longa
viagem, em conjunto com
a alterações na dieta e
a momentos em que a
temperatura e a humidade
são elevadas (THI elevado),
tem um impacto direto na
saúde do animal e nos
resultados zootécnicos
(problemas respiratórios,
baixa ingestão, entre outros).
Em Itália, este tipo de
animais provêm de vários
países da Europa e são
alimentados com dietas
com níveis elevados de
amido, para obter carcaças
específicas (jovens, rosadas
com uma quantidade
de gordura limitada). A
adaptação à nova dieta fazse normalmente de forma
rápida, em explorações de
grandes dimensões e pode
dar lugar a stress no rúmen.
Avaliar o impacto de LEVUCELL® SC em período stressante: a
adaptação alimentar dos novilhos e o stress por calor.
Composição da dieta (% MS)
MATERIAL E MÉTODOS
FND
28 %
Local: Exploração Isola della Torre, Itália
PB
13,2 %
Amido
39,4 %
Ano: 2015
Duração: 102 dias
FND - Fibra Neutro Detergente
PB- Proteina Bruta
Animais: 54 Vitelos Charoleses de 420kg a 530kg.
Dietas: Silagem de milho 45%, palha 3%, polpa de beterraba 11%, milho grão húmido
(pastone) 16%, milho moído 6,5%, sêmea de trigo 5%, 25% Proteína bruta, complementos
(incluído mineral) 13,5%.
Tratamentos:
1 - Controlo.
2 - Levucell®SC TITAN: 8*109 Unidades Formadoras de Colónias (UFC)/animal/dia
(equivalente a 0,8g/animal/dia).
Parâmetros: Peso vivo aos 0, 26, 62, 102 dias. pH do rúmen com bolus Smaxtec® em 3
animais/tratamento.
LEVUCELL® SC MELHORA O Ganho Médio Diário EM 10%.
Gráfico 1
Diferença do Ganho Média Diário (GMD) entre o grupo controlo e o grupo que recebeu LEVUCELL® SC.
2,3
+17%
+8%
+5%
GMD (kg/d)
2,01
1,9
1,7
2,10
2,08
2,1
2,0
1,8
+10%
2,19
2,2
2,00
1,90
1,85
LEVUCELL® SC permite
uma melhor adaptação
tendo como resultado
um melhor crescimento
global.
1,71
1,6
1,5
34 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Periodo 1
(0-26d)
Periodo 2
(26-62d)
Periodo 3
(62-102d)
Periodo 3
(62-102d)
Controlo
LEVUCELL® SC
- RCS Lallemand 405 720 194 - LSC_ADhp210x297_Port_092015
Não perca
nem um grama
LEVUCELL® SC
valoriza o seu alimento e o rendimento da
sua exploração
LEVUCELL® SC, Saccharomyces cerevisiae CNCM I-1077 :
• Aumenta o Crescimento: + 100* a 200* g/animal/dia
• Melhora o Índice de Conversão: + 4 a 6% mais peso por
kg de alimento ingerido
• Optimiza o pH do rumen (menos acidose) e melhora a
digestibilidade da fibra
* Meta-análisis ADSA,USA, 2009 demonstrado com a estirpe I-1077.
Levedura específica para ruminantes
* Autorizado na União Europeia em bovinos destinados à produção de leite e de carne, ovelhas e cabras de leite, cordeiros e cavalos (E1711/4a1711/4b1711).
www.lallemandanimalnutrition.com
Distribuido por :
Tel: +351 243 329 050 - Fax: +351 243 329 055
ALIMENTAÇÃO
LEVUCELL® SC AUMENTA O pH DO RÚMEN …
THI máximo
THI médio
Gráfico 2
pH ruminal em THI máximo, médio e mínimo.
No 3º período (62-102 dias)
com um elevado índice de
temperatura e humidade (THI
elevado, stress por calor), o
efeito de LEVUCELL® SC é
ainda maior: +0,55pt de pH no
rúmen (p<0,01).
90
40
pH Rúmen
ph Rúmen
6,4
Controlo
6,2
LEVUCELL® SC
6,0
5,8
5,6
Tabela 1
Diferença de retorno económico entre o grupo
control e o grupo com LEVUCELL® SC
CONTROLO
LEVUCELL® Sc
1,90
2,10
Rendimento carcaça: 60%,
Preço vivo: 1,92 €/kg de carcaça
Custo de Levucell®SC: 0,05 €/a/d.
50
6,6
Levucell® SC é um bom
produto durante o maneio da
alimentação em adaptação e nos
períodos de stress por calor. Com
um pH mais elevado no rúmen,
LEVUCELL® SC permite um
melhor crescimento e benefício
(tabela 1). Esta prova abre novas
portas para os indicadores
práticos de eficiência ruminal nas
explorações.
3,65 €
60
6,8
LEVUCELL® SC
AUMENTA O VOLUME
DE NEGÓCIO COM UM
ELEVADO RETORNO
SOBRE O INVESTIMENTO
Benefício líquido
70
Gráfico 3
Diferenças no pH ruminal ente animais do grupo controlo e animais que consumiram LEVUCELL® SC
A laminite nos cornos é um
bom indicador da eficiência do
rúmen. Esta inflamação é devida
à libertação da histamina no
rúmen e nos vasos sanguíneos.
Volume de negócio
(€/a/d)
80
30
… COM
CONSEQUÊNCIAS
POSITIVAS NOS
INDICADORES
PRÁTICOS
GMD (kg/d)
THI minimo
100
Índice de Temperatura
e Humidade (THI)
LEVUCELL®SC aumenta o pH
do rúmen em +0,.37pt (p<0,01)
e reduz o tempo com pH<5,6
(3 horas para o Controlo versus
1 hora para LEVUCELL® SC;
p<0,01) (Gráfico 3).
4,03 €
+0,38 €/a/d
5,4
1
6
11
16
21
26
31
36
41
46
51
61
66
71
76
81
86
91
96
101
pH Rúmen
TECADI NA FÁBRICA DE LEVEDURAS
DA LALLEMAND - Probióticos no
combate ao Stress por Calor
A Tecadi promoveu, em conjunto com a
Lallemand, uma reunião técnica na fábrica
de leveduras da Lallemand em Setúbal.
Depois de uma primeira edição realizada
há um ano que suscitou muito interesse
e curiosidade por parte dos participantes,
realizou-se a 2ª edição em abril passado,
centrada no tema “Stress por Calor”. Esta
visita tinha como tema a minimização do
impacto que as altas temperaturas e os dias
mais longos têm nos animais, apresentando
ferramentas que permitem uma melhoria do
conforto e bem-estar animal, com resultados
positivos nos parâmetros zootécnicos.
Nesta edição estiveram reunidos cerca de
25 participantes, clientes da Tecadi.
Realizaram-se comunicações sobre o efeito
do “Stress por Calor em bovinos e em
suínos”, apresentadas por Manuel Ortigão
(Tecadi) e Fernando Bravo de Laguna
36 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
(Lallemand). Paula Soler e Marta Revuelta
(Lallemand), apresentaram “Soluções para
combater o stress por calor” em bovinos e
suínos com o Levucell SC e Levucell SB.
A última comunicação, a cargo de David
Saornil (Lallemand) focou-se no tema
“Antioxidantes, ferramenta essencial
para combater o stress oxidativo”. A título
meramente exemplificativo do que é
produzir leveduras da Lallemand para a
nutrição animal, a reunião incluiu uma visita
à fábrica, única no país a produzir fermentos
e leveduras para panificação, em que se
visualizou todo o processo de produção
a partir de uma cultura pura da estirpe
Saccharomyces cerevisiae. Finalizouse a reunião com uma prova de vinhos
produzidos com as leveduras da Lallemand,
seguida por um almoço para partilha de
conhecimentos e experiências.
economia
Quando tudo parecia encaminhado para um
período longo de preços baixos, eis que...
observatório
das matérias primas
Por João Santos
farinha de soja 44 chegou a
vender-se a pouco mais de 260
euros durante esse período. No
entanto, atendendo à colheita
recorde que se esperava na
Argentina, a expetativa geral era
que o mercado ainda poderia
descer. Devido a esta expetativa,
os fundos estavam com posições
muito curtas, tal como muitas
casas comerciais. Por outro lado,
a instabilidade política no Brasil
fez com que os agricultores
esperassem para vender na
expetativa da desvalorização
do Real com a impugnação,
mas o Real valorizou-se e os
agricultores não venderam,
porque receberiam em Reais, logo
iriam receber menos pela sua
soja. Pela mesma altura, na bacia
de produção de soja da Argentina
não parava de chover, e o que
parecia ser uma colheita recorde
de 62 milhões de toneladas
(M ton.) acabou por ficar nas 57
M ton. No Brasil, a colheita que
esperava superar 100 M ton.
acabou por ser de 97 milhões,
o que em si é um recorde. Se a
isto somarmos um aumento do
consumo da China de 80 para
83 M ton. (relatório USDA, de 10
As previsões para o ano de
colheita 2016/17 do relatório
de Procura&Oferta do
Departamento de Agricultura
Norte Americano (USDA), de 10
de maio têm vindo a influenciar
o mercado e os fundos, levando
a aumento dos preços para
valores que já não se viam há
três ou quatro anos. Por um
lado, as chuvas intensas que
assolaram a Argentina na altura
da colheita da soja, e a seca que
se fez sentir no Brasil quando os
agricultores se preparavam para
semear o milho (Safrinha), por
um lado o aumento do consumo
de soja na China em 2015/16 e
as previsões de aumento em
mais de 5 milhões de toneladas
em 2016/17 foram os principais
fatores que determinaram o
volta-face.
Proteínas
Entre o final de fevereiro e o
início de março, os futuros da
farinha de soja desceram aos
260 dólares, um valor como
há muito não se via. Se o Euro
já tinha estado mais alto e os
prémios mais baixos, a verdade
é que no Porto de Lisboa a
CoLheitas mundiais
milhões de tm
14/15
15/16
16/17
319,0
313,3
323,7
77,6
72,3
66,3
24 %
23 %
20%
1.008,8
966,4
1011,8
208,2
206,5
205,1
21 %
22 %
22 %
SOJA
Produção mundial
Stocks finais
MILHO
Produção mundial
Stocks finais
Fonte: USDA s&d Dez reporte
38 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
maio) e uma previsão da procura
para o ano 2016/17 na ordem das
87 M ton., o stock final mundial
em 2015/16 baixaria das 80 M
ton. Baseado nesta previsão,
o stock mundial em fevereiro
estaria nas 72 M ton, e no final
de 2016/2017 situar-se-ia nas 66
M ton.
Assim sendo, deixaria de haver
espaço para as coisas poderem
correr mal na colheita de 2016/17
nos EUA e passaríamos a estar
dependentes do rendimento por
acre ser de 45 ou 48 bushels e
de a área semeada ser superior à
agora assumida, ou não.
Em junho, o preço da farinha
de soja rondava 400 euros em
Lisboa, mas até onde pode ir?
No curto/médio prazo a resposta
dependerá de vários fatores:
1. Os agricultores americanos
terem semeado mais soja
do que a assumida até agora
(82,7 mil acres)
2.O rendimento ficar por 46,7
bushels, como o até agora
assumido pelo USDA, ou
de mais 48 como no ano
passado. A área semeada
será conhecida no relatório
que o USDA publicou
dia 30 de junho (Planted
Acreage), e a resposta sobre o
rendimento está relacionada
com o weather market, tendo
por corolário os relatórios
de S&D do USDA, de 10 de
agosto.
3.A China manter o aumento
da procura. Sobre este ponto,
o que podemos dizer é que
hoje os suinicultores chineses
estão com margens muito
boas e os avicultores estão
com margens positivas.
Ainda há muitas “bolas no ar” e
os fundos, que ao longo desta
subida de futuros acumularam
muitos contratos (em fevereiro
os fundos tinham mais de 200
mil contratos curtos de soja
e agora estão mais de 200
mil contratos de soja largos),
não parece que vão largar as
posições largas até que estes 3
pontos não estejam claros.
A farinha de colza e o bagaço
de girassol acompanharam a
subida de preço da soja mas em
menor dimensão. Em termos de
€ por ponto de proteína, ficaram
mais competitivas, e atendendo
a que se esperam colheitas
normais ou ligeiramente acima
para estas duas culturas,
enquanto a soja estiver ao
preço atual, é de esperar que se
mantenham competitivas em
relação ao preço da farinha de
soja.
Cereais
À semelhança da soja em
fevereiro/março, os futuros
do milho atingiram o seu valor
mais baixo de há vários anos,
chegando a transacionar-se
em Lisboa por pouco mais de
160 euros. A história do milho
é semelhante à da soja, no
entanto, neste caso o mais
relevante é o impacto que a falta
de chuva teve no período da
sementeira da Safrinha, e que
atualmente se estima numa
perda de 6 milhões de toneladas.
Por outro lado, quando o
agricultor americano começou
a semear a sua cultura de verão,
entre o final de abril e o início de
maio, assistiu à subida da soja
Evolução do preço de matérias primas
2011
Preços médios semanais no porto de Lisboa de 2011 a 2016
milho
2012
2013
2014
bagaço soja 44
2015
2016
€/ton
600
€/ton
310
550
290
500
270
450
250
400
230
350
210
5 a 9 Dez
19 a 23 Dez
7 a 11 Nov
21 a 25 Nov
10 a 14 Out
24 a 28 Out
26 a 30 Set
29 a 2 Set
12 a 16 Set
1 a 5 Ago
15 a 19 Ago
4 a 8 Jul
18 a 22 Jul
6 a 10 Jun
20 a 24 Jun
9 a 13 Maio
23 a 27 Maio
11 a 15 Abr
25 a 29 Abr
28 a 1 Abr
12 a 16 Mar
13 a 17 Fev
27 a 2 Mar
30 a 3 Fev
5 a 9 Dez
19 a 23 Dez
7 a 11 Nov
21 a 25 Nov
10 a 14 Out
24 a 28 Out
26 a 30 Set
29 a 2 Set
12 a 16 Set
1 a 5 Ago
15 a 19 Ago
4 a 8 Jul
18 a 22 Jul
6 a 10 Jun
20 a 24 Jun
9 a 13 Maio
23 a 27 Maio
11 a 15 Abr
25 a 29 Abr
28 a 1 Abr
12 a 16 Mar
13 a 17 Fev
27 a 2 Mar
30 a 3 Fev
2 a 6 Jan
250
200
16 a 20 Jan
170
150
2 a 6 Jan
190
16 a 20 Jan
300
em Chicago (que percentualmente
foi superior à do milho) e pode ter
decidido, à ultima hora, semear mais
soja em detrimento do milho. Assim, se
a área semeada de milho nos Estados
Unidos for inferior à atualmente
esperada pelo USDA terá como
repercussão um efeito altista. E como
se prevê um aumento do consumo
de soja, o mesmo é esperado para
o milho: um aumento do consumo
mundial, de 2015/16 para 2016/17, de
45 milhões de toneladas. Aumento
este que será acompanhado pelo
incremento da produção de milho no
Mar Negro e dos grandes produtores
mundiais dos EUA, do Brasil e da
Argentina. Desta forma, acabaremos
com um nível de stock mundial muito
equivalente ao atual, em 2016/17. O
que são boas noticias, embora hoje o
preço do milho em Lisboa esteja bem
acima dos 190 euros/tm.
Para concluir, não faço a mais pequena
ideia de qual será a direção do Euro,
os stocks mundiais nos cereais estão
bem, mas ainda há incertezas sobre
o tamanho da colheita do milho, em
particular nos Estados Unidos, e na
soja é necessário que tudo corra bem
na colheita dos Estados Unidos, para
que o preço se ajuste em baixa.
Assim, o preço da soja nos 260 euros
e do trigo e milho nos 160 euros, em
Lisboa, são “coisa do passado” e de
momento não parece que possamos
voltar a esses valores nos próximos
6-9 meses. No entanto nunca se sabe,
e assim, para quem não aproveitou e
fechou algumas compras de matérias
primas quando estas estiveram nos
mínimos, a recomendação continua a
ser a de manter sempre uma estrutura
de custos competitiva e ponderar
o racional/oportunidade de fechar
margem contra as vendas (a preço fixo)
do respetivo produto final.
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 39
economia
observatório
do Leite
Por Inês Ajuda
Fontes: Rabobank, LTO, USDA
40 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
baixos tem vindo a ser o mais
longo que o sector presenciou
desde 2008.
No período 2008-09, os
preços mantiveram-se a níveis
baixos durante 13 meses e em
2012, quando voltaram atingir
valores baixos, estes apenas
demoraram 4 meses a voltar
a subir. Neste momento os
preços já se mantêm baixos há
21 meses (gráfico 1).
Apesar deste cenário ainda
algo pessimista, os gigantes
mundiais do sector leiteiro
olham para a descida de
produção de leite com um
olhar de esperança e como
um indicativo de que o
mercado leiteiro irá melhorar
no próximo ano.
da Rússia à importação
de produtos lácteos que
originalmente era apenas válido
até agosto deste ano. Apesar
de ainda não ter sido aprovado,
de acordo com o Primeiro
Ministro Dmitry Medvedev, o
embargo deve prolongar-se
pelo menos até ao final de 2017,
tendo sido uma proposta já
entregue ao Presidente Vladimir
Putin. Apesar de haver alguma
resistência por parte da UE à
continuação das sanções contra
a Rússia, foi reportado que os
líderes mundiais não irão acabar
com as sanções enquanto os
acordos de paz com a Ucrânia
não estiverem completamente
resolvidos.
O atual período de preços
Gráfico 1
Preços do leite na União Europeia desde maio 2009 até maio 2016.
6,000
1,400
5,000
1,200
1,000
4,000
800
3,000
600
2,000
400
1,000
200
-
Manteiga
Leite em pó desnatado (LPD)
Emmental
Soro de leite coalhado (SLC)
Mai 16
Nov 15
Mai 15
Mai 14
Nov 14
Nov 13
Mai 13
Nov 12
Nov 11
Mai 12
Mai 11
Mai 10
Nov 10
Nov 09
Mai 09
€/tonelada (manteiga, LDP e Emmental
Nos Estados Unidos é ainda
esperada uma maior subida da
produção de leite este ano do
que a prevista anteriormente.
No último relatório de
estimativas de oferta e
procura globais (maio 2016) o
Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos
(USDA) reviu a sua previsão
adicionando 264 milhões de
litros de leite extra (aumento
de 0.3%) à previsão anterior.
A nova previsão indica um
aumento de 1659 milhões de
litros de leite em relação ao
ano passado. O aumento da
quantidade de leite previsto
até ao final do ano deve-se
a um aumento do número
de vacas leiteiras e a uma
melhoria da sua produção.
As importações da China
continuam a prejudicar a
Nova Zelândia devido a uma
diminuição da importação de
leite em pó (menos 14% — 300
toneladas para o leite inteiro,
e menos 10% — 180 toneladas
para o leite desnatado). A
importação de leite fluído
(maioritariamente leite ultra
pasteurizado) subiu 41 % (250
toneladas de leite), fazendo
com que o impacto na União
Europeia (UE) não fosse tão
grande.
Prevê-se agora o
prolongamento do embargo
€/tonelada de SLC
A Fonterra (cooperativa
de produtores de leite
neozelandeses) anunciou
no passado mês de maio
um aumento de 8% ($0.35)
no preço por quilo de leite
para a época 2016/17 que se
iniciou no mês de junho. Este
aumento de preço deve-se a
um adiantamento de dinheiro
aos produtores para facilitar o
equilíbrio das suas contas. A
Fonterra comunicou que só
foi capaz de aumentar o preço
pago ao produtor graças a um
balanço de contas bastante
sólido e equilibrado. Este
aumento também teve em
vista a previsão da cooperativa
de um aumento de preços no
início do próximo ano, graças à
diminuição de produção que já
se faz sentir nas outras regiões
do globo.
A Comissão Europeia reportou
no passado mês de junho
uma diminuição da produção
para as principais regiões
leiteiras europeias. Esta
diminuição, apesar de “tímida”
(menos 0,4% do que em
2015), representa 350 milhões
de litros de leite até ao final
de 2016. Em países como a
Holanda, a Itália e a Dinamarca,
não se esperam diminuições
em relação ao ano passado,
devido a uma diminuição do
número de animais refugados.
economia
preço do leite
standardizado (1)
países
leite à produção
Preços médios mensais em 2015/2016
meses
eur/kg
teor médio
de matéria
gorda (%)
teor proteico
(%)
companhia
preço do leite
(€/100kg)
abril 2016
média dos
ultimos 12
meses (4)
alemanha
Alois Müller
24,64
26,91
Contin.
Açores
Contin.
Açores
Contin.
Dinamarca
Arla Foods
26,79
28,50
ABRIL
0,334
0,306
3,68
3,59
3,24
3,21
Danone
31,12
32,83
maio
0,283
0,306
3,65
3,65
3,21
3,18
Lactalis (Pays de la Loire)
28,03
30,57
junho
0,280
0,305
3,61
3,66
3,26
3,12
Sodiaal
29,93
32,43
julho
0,277
0,289
3,62
3,63
3,17
3,04
Dairy Crest (Davidstow)
23,49
32,29
AGOSTO
0,278
0,290
3,67
3,65
3,16
3,05
Glanbia
22,01
24,76
SETEMBRO
0,281
0,297
3,75
3,78
3,23
3,14
Kerry
23,89
26,73
OUTUBRO
0,283
0,294
3,80
3,89
3,26
3,25
Granarolo (North)
36,35
38,12
NOVEMBRO
0,283
0,293
3,85
3,92
3,26
3,24
DOC Cheese
23,34
25,09
DEZEMBRO
0,282
0,297
3,84
3,92
3,24
3,24
FrieslandCampina
26,27
28,54
JANEIRO
0,283
0,293
3,82
3,88
3,21
3,20
fevereiro
0,277
0,285
3,82
3,70
3,21
3,17
março
0,279
0,281
3,84
3,70
3,24
3,20
abril
0,281
0,278
3,74
3,73
3,21
3,22
França
Inglaterra
Irlanda
Itália
Holanda
Preço médio leite
N. Zelândia
EUA
26,29
29,15
Fonterra
20,32
20,14
EUA (3)
30,55
34,61
(2)
2015
2016
Fonte: LTO
(1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2%
de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética • (3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina
e contagem de células somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente
Açores
Fonte: SIMA
Gabinete de Planeamento e Políticas
PROTEÍNA BRUTA É COISA DOS ANOS 80.
A ciência e a tecnologia mudaram adaptando-se aos novos tempos.
E a sua forma de formular, também se adaptou?
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ruminantes julho . agosto . setembro 2016 41
economia
ÍNDICE VL e ÍNDICE VL-erva
“MAIS UM TRIMESTRE E O FUTURO DA PRODUÇÃO DE LEITE
NO CONTINENTE PORTUGUÊS CONTINUA EM RISCO”
Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco
Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores/CITA-A
Nuno Marques, revista Ruminantes
Analisamos neste número da Ruminantes
os Índices VL e VL - ERVA para o trimestre
de fevereiro a abril de 2016. De acordo com
os dados do SIMA-GPP (2016) durante
o período em análise o preço médio do
leite pago aos produtores individuais do
continente situou-se entre 0,277 €/kg
em fevereiro e 0,281 €/kg em abril (+1,4%),
enquanto que o preço médio do leite
pago aos produtores individuais da Região
Autónoma dos Açores variou entre 0,285 €/
kg em fevereiro e 0,278 €/kg em abril (-2,5%).
De acordo com dados do MMO (2016), a
média de preços do leite pago ao produtor
no período de fevereiro a abril de 2016
continuou a ser inferior em Portugal (0,280
€/kg) quando comparado com a média
europeia (UE28) (0,284 €/kg).
Os preços médios das principais matériasprimas que entram na formulação dos
alimentos compostos utilizados neste
trabalho sofreram um aumento durante o
trimestre. Esta situação traduziu-se numa
variação dos preços dos regimes alimentares
de +5,2% no continente e de +4,5% na Região
Autónoma dos Açores.
A evolução do preço do leite e dos custos
da alimentação refletiu-se no Índice VL e no
Índice VL - ERVA que em abril de 2016 foi,
respetivamente, de 1,587 e de 2,105. De referir
que em abril de 2015 o Índice VL havia sido
de 1,787 e o Índice VL - ERVA de 2,252.
Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo)
indica forte ameaça para a rentabilidade da
exploração leiteira, um índice entre 1,5 e 2
(valor moderado) indica que a produção de
leite é um negócio economicamente viável
e um índice maior do que 2 (valor elevado)
indica que estamos perante uma situação
muito favorável para o sucesso económico
da exploração (Schröer-Merker et al., 2012).
Durante o trimestre em análise, o Índice VL
atingiu o valor mínimo de 1,587 em abril pelo
que se pode concluir que os produtores
de leite do continente se encontram num
momento difícil, muito próximo do limiar
da rentabilidade da exploração. A situação
tenderá a agravar-se se o preço das matérias
primas continuar a aumentar.
É de igual forma importante referir que
o Índice VL-ERVA reflete uma realidade
mais adequada à ilha de S. Miguel, onde,
independentemente de a produção de leite
ser maior (cerca de 60% da produção leiteira
dos Açores), os preços pagos ao produtor
são mais elevados do que nas restantes
ilhas do Arquipélago, fruto da existência
de concorrência entre as várias fábricas de
transformação. No futuro, a valorização da
qualidade de leite produzido em pastagem
iniciada por apenas uma fábrica de
transformação na ilha de S. Miguel poderá
repercutir-se no aumento do preço do leite
ao produtor, o que na realidade não se
aplicará às restantes 8 ilhas dos Açores. No
entanto, é de louvar esta iniciativa, esperando
que a mesma seja seguida por outras
fábricas ou cooperativas que incorporem
esta mais valia nos preços do leite e dos
seus derivados.
Evolução do
Índice VL e Índive VL-erva
de abril de 2015 a abril de 2016
Os valores são influenciados pela variação
mensal do preço do leite pago ao produtor
individual do continente (Índice VL) e da
Região Autónoma dos Açores (Índice
VL - ERVA) e pelas variações mensais do
preços de 5 matérias-primas utilizadas na
formulação do concentrado e dos outros
alimentos que integram o regime alimentar
da vaca leiteira tipo.
últimos 13
Meses
Índice
VL
Índice
VL ERVA
abril
1,787
2,252
2015
2016
Maio
1,540
2,285
Junho
1,515
2,272
Julho
1,454
2,098
agosto
1,491
2,099
setembro
1,519
2,168
outubro
1,586
2,206
Novembro
1,565
2,130
Dezembro
1,605
2,227
Janeiro
1,611
2,198
Fevereiro
1,612
2,081
março
1,608
1,813
abril
1,587
2,105
Evolução do Índice VL
DE JULHO DE 2012
A ABRIL DE 2016
O Índice VL é influenciado pela
variação mensal do preço do leite
pago ao produtor no continente e
pelas variações mensais dos preços
dos alimentos que constituem o
regime alimentar da vaca leiteira tipo
(concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de
milho 33 kg/dia; palha de cevada 2
kg/dia).
Valores do Índice VL
2,0
1,5
1,0
julho 2012
Valor do Índice VL
42 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Limiar de rentabilidade
janeiro 2016
Negócio saudável
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
economia
Evolução do Índice VL-erva
DE JULHO DE 2013
A ABRIL DE 2016
O Índice VL – ERVA é influenciado pela
variação mensal do preço do leite pago
ao produtor na Região Autónoma dos
Açores e pelas variações mensais dos
preços dos alimentos que constituem
o regime alimentar da vaca leiteira tipo
(primavera/verão 60 kg/dia de pastagem
verde, 10 kg/dia de silagem de erva e
de milho, 5,6 kg/dia de concentrado;
outono/inverno 47 kg/dia de pastagem
verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de
milho, 6,7 kg/dia de concentrado).
O Índice VL-ERVA reflete uma realidade mais
adequada à ilha de S. Miguel.
notas:
• Relativamente ao mês de abril de
2015, em abril de 2016 o preço do leite
pago aos produtores do continente
foi inferior em 5,3 cêntimos/kg e aos
produtores dos Açores foi inferior em
2,8 cêntimos/kg;
• Durante o trimestre, a evolução do
preço das principais matérias-primas
que entram na formulação dos
Valores do Índice VL Erva
3,0
2,0
1,5
1,0
julho 2013
janeiro 2016
Valor do Índice VL - erva
Negócio saudável
alimentos compostos contribuiu para
o aumento do preço dos regimes
alimentares formulados para o cálculo
do Índice VL (+5,2%) e Índice VL –
ERVA (+4,5%);
• No trimestre em análise os preços
dos alimentos forrageiros utilizados
na formulação do regime alimentar
não apresentaram diferenças
representativas relativamente ao
Limiar de rentabilidade
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
trimestre anterior;
• A tendência de decida do Índice VL –
ERVA, iniciada em dezembro de 2015,
foi invertida pela inclusão de maior
quantidade de pastagem no regime
alimentar das vacas a partir de abril;
• Os 3 aspetos anteriores refletemse no Índice VL e no Índice VLERVA que em abril de 2016 foram,
respetivamente, de 1,587 e 2,105.
Referências
Bibliográfia:
Não foram incluídas por uma
questão de espaço editorial,
mas os autores disponibilizam
bastando enviar um email para
[email protected].
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 43
ALIMENTAÇÃO
Em busca do teor
correto de amido
O amido é um nutriente sem necessidade nutricional estabelecida, mas é
preciso evitar os extremos.
Para que a microflora ruminal se
multiplique e prospere é necessário um
substrato energético constituído por
hidratos de carbono fermentescíveis
como os amidos, açúcares, fibra solúvel,
NDF digestivel etc.
Embora o amido por si só não seja
um nutriente com uma necessidade
rigorosamente estabelecida, Charles
Sniffen (2013) sugere que os seguintes
níveis (em percentagem da matéria seca)
devem ser aceites na formulação de
rações para vacas leiteiras:
• Últimos 15-20 dias antes do parto:
16-18%;
• De 0 a 21 dias de lactação: 25%;
• De 21 a 150 dias de lactação: 25-30%;
• Depois de 150 dias em lactação: 18-22%.
Imagem 1
A substituição de parte do amido
por forragens geralmente não
mantém a produção de leite se
a ingestão de energia diminuir.
Recomenda-se portanto, a inclusão
de uma fonte de açúcares, forragens
de boa qualidade e outras fontes
de fibra.
Ferrarretto e Shaver, da Universidade
de Wisconsin, publicaram em 2014 os
resultados de uma meta-análise que
compreendia 414 dietas com diferentes
percentagens de amido, provenientes de
100 artigos diferentes publicados entre
os anos de 2000 e 2011. As categorias
de amido foram as seguintes: muito
44 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
baixo (<18%), médio (24-27%), médio
alto (27-30%), alto (30-33%) e muito alto
(>33%).
Verificaram-se níveis de ingestão de
matéria seca inferiores nos grupos que
consumiam dietas com teor de amido
muito baixo e muito alto. A produção e
a percentagem de proteína no leite não
foram influenciados pelos diferentes
teores de amido, mas a produção de leite
corregido para a gordura (fat corrected
milk) e a percentagem de gordura no
leite foram inferiores nos grupos que
recebiam dietas com alto teor de amido.
Desta análise concluiu-se ser necessário
evitar os extremos em teores de amido
nas dietas.
Fazer uma substituição de parte de
amido com forragens não sustenta
a produção de leite se a ingestão
de energia total diminuir, portanto é
necessário usar forragens de altíssima
qualidade, com uma boa fração de NDF
digestível.
É recomendada a inclusão de 2,5 a 5%
de açúcares na dieta (atingindo um nível
de açúcares totais de aproximadamente
5-8% da matéria seca). A inclusão
de açúcares causa ótimas respostas
produtivas, tende a aumentar o pH
ruminal - que se mantém por mais
tempo em valores superiores a 5,6 - e
favorece uma colonização bacteriana
mais seletiva no rúmen originando uma
melhor digestão da fração de NDF.
Na circunstância referida as dietas
devem ser balanceadas com níveis de
amido iguais ou inferiores a 25% da M.S.
Outra recomendação é a de usar outras
fontes de fibras solúveis ou muito
fermentescíveis como é o caso da casca
de soja, da polpa de beterraba, do farelo
de trigo, etc.
Nota
Artigo original: Rick Grant, “Low starch diets: current
research and recommendations” (2015).
Traduzido e adaptado da revista italiana “Professione
Allevatore, número 15, outubro de 2015.
atualidades
Uso responsável
de antibióticos na
produção leiteira
No passado dia 14 de abril
no Institute of Child Health
na University College de
Londres, a Aliance to Save our
Antibiotics em conjunto com a
Medact juntaram especialistas
de diferentes áreas para
discutir a problemática
do uso de antibióticos na
produção animal com o título:
“Antibiotics and Farming:
Prescriptions for change” (Os
antibióticos e a produção
animal: uma prescrição para a
mudança).
A crescente consciencialização
dos consumidores quanto
à resistência bacteriana a
antibióticos e o aumento
dos estudos que apontam
para que as causas mais
prováveis sejam o mau
uso de antibióticos tanto
nos humanos como nos
animais de produção, levam
a que várias entidades que
lidam com prescrição de
medicamentos para humanos
e animas de produção
comecem a formular planos
de ação para uma correta
administração de antibióticos.
Um desses casos é a clínica
de animais de produção
Langford da Universidade de
Bristol. Nesta clínica, está em
vigor desde 2012 um plano
de ação para um uso mais
responsável dos antibióticos
nas explorações leiteiras. Este
plano envolve vários passos
que vão desde a educação
e treino dos veterinários
(responsáveis pela prescrição
e por vezes administração dos
medicamentos) e produtores
(geralmente os responsáveis
pela administração correta e
continuação do tratamento),
até a um registo melhorado
e mais preciso dos
tratamentos efetuados.
Uma das grandes ações
deste plano foi a diminuição
não só dos antibióticos em
geral, mas dos antibióticos
classificados como
criticamente importantes
pela Organização Mundial
de Saúde, tais com as
Cefalosporinas de terceira
e quarta geração, as
Fluoroquinolonas e os
Macrólidos. Foram também
abordados problemas
como a decisão de utilizar
antibióticos como primeiro
tratamento a efetuar. Para
este fim foi implementada
uma chave de decisão que
ajuda o veterinário a tomar
uma decisão mais objetiva
quanto à imediata utilização
e continuação da utilização
de um determinado
antibiótico num tratamento.
Outra aposta da clínica foi
numa maior prevenção de
doenças diminuindo os
tratamentos reativos.
Os primeiros anos em
que o plano de ação
esteve em vigor revelaram
uma redução do uso de
antibióticos criticamente
importantes em
tratamentos intramamários
(100 % na secagem e
100 % em vacas em fase
produtiva) e uma melhoria
geral da saúde dos animais
assistidos pelos veterinários
da clínica, levando a uma
redução da incidência de
doenças que requerem a
utilização de antibióticos.
Para saber mais sobre a conferência ou esta
apresentação em concreto
Pode consultar o site www.medact.org/climate-ecology/food/farmingand-antibiotics/alliance-save-antibiotics-medact-conference-2016/
Aumente até aos 6% de açúcares
na matéria seca da dieta e
aumente a produção das suas vacas!
Melhora o rendimento
Aumenta a produção
Melhora a qualidade do leite
Redução do pó
e da escolha dos
animais nos
comedouros
Diminuição
do risco
de acidose
ruminal
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Aumento
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ruminantes julho . agosto . setembro 2016 45
Produção
DESMISTIFICANDO A
ORDENHA ROBOTIZADA
EM VACAS CRUZADAS
por ruminantes
Localizada em Cantanhede,
Coimbra, a Agro-TabanezProdução de Leite Lda., gerida
por Eugénio e Helena Tabanez,
é um dos casos de sucesso do
programa ProCROSS, tirando
partido das vantagens do vigor
híbrido. Estendendo-se por
uma área de 35 hectares, entre
terrenos próprios e alugados
para a produção de forragens de
erva e milho, a exploração conta
ainda com um empregado a
tempo inteiro, para além dos dois
sócios-gerentes.
O efetivo leiteiro é constituído
por 200 cabeças, com
atualmente 95 vacas em
produção e 15 secas, para além
de 30 novilhas gestantes. O
objetivo até ao final do ano
será chegar às 120 vacas em
produção, o que lhes permitirá
tirar pleno partido da capacidade
de ordenha dos robots que
utilizam. O leite produzido é
recolhido pela Lacticoop - União
de Cooperativas de entre Douro
e Mondego.
Este é um empreendimento
a tempo inteiro, ao qual
dedicam nunca menos de
10 horas diárias, tempo um
pouco reduzido aos fins-desemana e feriados, nos quais
não se privam de uma maior
flexibilidade de horários. Apesar
do intenso trabalho, o contacto
constante com os animais é
também uma fonte de prazer
para os dois gerentes e, dizem,
uma relação recíproca, na qual
os investimentos e cuidados
com os animais se traduzem
46 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
numa boa produção leiteira,
tendo sempre em conta a
otimização do bem-estar e
tranquilidade do seu efetivo. A
qualidade e exigência são dois
dos principais pilares do negócio,
e uma das razões pelas quais
decidiram optar por um sistema
de ordenha robotizada, contando
atualmente com dois robots.
A noção vigente que os
sistemas de ordenha
robotizada podem não ser
os mais adequados para
vacas cruzadas não demoveu
Eugénio e Helena Tabanez
de investirem no vigor híbrido.
Numa tentativa de perceber se
de facto estes dois fatores são
incompatíveis, a Ruminantes
deslocou-se à Agro-Tabanez,
onde foi recebida por ambos.
Há quanto tempo decidiram
investir no vigor híbrido?
Enveredámos por este
caminho em 2013, mas na
altura apenas o aplicámos
nas vacas com problemas,
numa tentativa de as
recuperar e evitar o seu
refugo precoce. Esse primeiro
investimento causou-nos
algum arrependimento, porque
gastámos uma quantia
considerável de dinheiro
em doses de sémen sem
resultados positivos, com
esses animais acabando
mesmo por ser refugados.
Apesar desse facto, em 2014
decidimos tentar novamente,
desta vez em todo o efetivo
e com resultados bastante
satisfatórios.
Produção
Porque é que as vossas vacas
apresentavam problemas?
Estávamos perante um conjunto
de problemas reprodutivos,
como patologia pós-parto,
ineficiência na inseminação
e presença de neosporose
na exploração, a qual ainda
estamos a tentar erradicar.
Depois temos a questão da
raça Holstein a qual, apesar
da boa produção leiteira,
parece estar cada vez mais
fragilizada em termos de
fertilidade. Ao ler sobre os touros
apercebemo-nos que o nível de
consanguinidade na raça é já
muito grande, o que vai afetar
negativamente a fertilidade.
Durante muito tempo, não se
olhou a esse pormenor no sector
e agora estamos a pagar isso
caro.
Que diferenças encontram nos
animais cruzados?
Os animais cruzados agradamnos em tudo, desde a imagem
geral, conformação da
carcaça, robustez, resistência e
vivacidade, o que também se
verifica nos vitelos. Em termos
produtivos, o pico da lactação
pode não ser tão alto mas, ao
longo dos 305 dias, a produção
acaba por ser idêntica à das
Holstein.
São animais dóceis, apesar de
mais agitados, e obviamente não
descuramos as corretas práticas
de abordagem e maneio. Apesar
de se movimentarem mais
do que as Holstein, passando
menos tempo deitadas, não
sentimos que as cruzadas
ingiram maior quantidade de
alimento.
Desde quando adotaram o
sistema robotizado de ordenha?
Em janeiro de 2011. Não
tivemos receio que as cruzadas
não se adaptassem ao robot
quando decidimos investir
no ProCROSS. De facto,
considerámos que este sistema
de ordenha até seria apropriado
para as vacas cruzadas, já que
a conformação do úbere é
mais adequada ao robot e mais
uniforme do que nas Holstein,
nas quais notávamos que,
após duas ou três lactações, os
úberes ficavam mais descaídos,
e os tetos por vezes mais juntos.
Como se comportam os
animais cruzados no robot?
Todas as nossas vacas se
deslocam bem ao robot
apesar de algumas, devido
à maior vivacidade que as
caracteriza, também estarem
mais agitadas no robot. Isso
não é impedimento, no entanto,
para que sejam corretamente
ordenhadas. Não temos
nenhuma vaca que não seja
ordenhada no robot.
As vacas grávidas, por norma,
deixam de ir ao robot. Isso
também acontece com estes
animais?
Não, mesmo essas vão
voluntariamente, é muito raro
termos de incentivar uma vaca
a ir ao robot. Esse fenómeno é
mais comum próximo do fim
da lactação, mas nem nesses
casos isso se verifica nos
nossos animais.
Qual a média de produção
diária por vaca?
Neste momento estamos com
31-33 litros.
Notam diferenças em termos
de qualidade do leite?
Sim, notamos. As cruzadas
raramente apresentam níveis
preocupantes de células
somáticas, os quais nunca
se estendem para além das
200.000 a 500.000 cél/
ml, enquanto nas Holstein
chegávamos a ter valores
rondando 1 milhão cél/ml. Os
teores de gordura e proteína
são também ligeiramente mais
elevados nas cruzadas.
Os dados técnicos destes
animais são iguais aos dos
Holstein? Por exemplo no que
toca ao número de ordenhas
diárias?
A média são três ordenhas
diárias, mas temos altas
produtoras que se deslocam
cinco e até seis vezes por dia ao
robot, o qual faz a própria gestão
do intervalo entre ordenhas e do
48 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
número de ordenhas diárias de
cada vaca.
Que percentagem do efetivo
tem vigor híbrido?
Rondará os 20-22% nas
produtoras, mas queremos
chegar aos 40% até ao final
do ano. A grande maioria das
novilhas que estão para parir já
são cruzadas. Como estamos
a renovar o efetivo, vendemos
Holstein e compramos novilhas
cruzadas, mantendo no
entanto alguns animais puros
para renovar o cruzamento
ProCROSS.
Existem diferenças nos animais
cruzados em termos de saúde
animal?
Sim, com o mesmo maneio
temos muito menos problemas
de saúde nos animais, e a
necessidade de intervenções
medicamentosas como
suplementação com vitaminas
e cálcio no pós-parto também
diminuiu substancialmente. Em
termos de fertilidade, notamos
que as cruzadas pegam muito
melhor, e facilmente atingem
intervalos entre partos de 365
dias.
A boa conformação dos animais
com carne, dá-nos também um
maior retorno se tivermos de
os refugar, ao contrário do que
acontecia com os Holstein.
Notam alguma diferença entre
os vitelos puros e cruzados?
Os vitelos machos Holstein
rendem-nos 40-50 euros
com uma a duas semanas de
idade. Já os cruzados rendem
no mínimo 100-150 euros,
sendo vendidos com mais
facilidade, até porque a procura
por estes animais é maior. Já
temos vendido vitelos cruzados
ao segundo dia de vida, mas
só os vêm buscar por volta
dos 10 dias, somos nós que
fazemos o encolostramento e a
alimentação até essa altura.
Que indicadores utilizam para
gerir a exploração?
Olhamos sempre para
o alimento que fica na
manjedoura, se os animais
ingerirem a quantidade que
lhes foi fornecida é porque
está tudo bem. Durante o dia
temos o cuidado de observar as
vacas que estão a comer, a ser
ordenhadas, a ruminar. Também
prestamos atenção aos alertas
do sistema. No fundo, as nossas
maiores preocupações são a
saúde do úbere, a alimentação,
problemas na ruminação e se
houve desvio de leite por parte
do sistema do robot.
Recomendariam tecnicamente
este modelo para a produção de
leite na região?
Fazendo um balanço geral,
consideramos este modelo
é muito bom mas que deve
ser algo ponderado por cada
produtor, tendo em conta
as características da sua
exploração.
Consideram que as expetativas
foram cumpridas?
Sim, tanto nos robots como no
sistema ProCROSS. O único
inconveniente é o investimento
inicial, muito pesado. Foi algo
cuidadosamente ponderado
e que na altura era viável
mas hoje, na atual conjetura,
complicou-se mais e obriga
portanto a uma gestão mais
apertada.
Dados
reprodutivos
Vacas Holstein Puras
67 Animais:
- Idade (anos) 4,3
- Lactações 2,5
- Dias em aberto 217
- I. Partos 497 - Dias no leite 207
- Média produção 32,9 Kgs
- SCC 319000
Grupo Vacas ProCROSS
20 Animais:
- Idade (anos) 3,5
- Lactações 2,1
- Dias em aberto 148
- I. Partos 428
- Dias no leite 202
- Média produção 32,2 Kgs
- SCC 149000
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
ruminantes saudáveis
George Stilwell
Clínica das Espécies Pecuárias
Faculdade de Medicina Veterinária –
Universidade de Lisboa
[email protected]
Defender o bem-estar animal
na minha exploração
faz sentido económico
Após a Segunda Grande Guerra
(1939-1945) ocorreu na Europa uma
necessidade extraordinária de alimento
para garantir a sobrevivência de uma
população social e economicamente
devastada. Até este momento
a produção animal dependia de
pequenas explorações mistas, geridas
por membros da mesma família,
com animais mantidos em regime
extensivo, com baixa necessidade de
recursos externos e cujos produtos
se destinavam ao consumo local ou
regional. Mas a partir dos anos 60
um novo tipo de produção surgiu – o
regime intensivo com grande densidade
animal, pouca mão-de-obra e baseado
num avanço tecnológico e científico
sem precedentes.
Assim, a economia da produção animal
alterou-se completamente. Por exemplo,
a genética e a nutrição garantiram altas
performances individuais. Por exemplo,
antes da Guerra um frango demorava
12 semanas a atingir 1,8 kg enquanto
atualmente o faz em 5 semanas.
Ao mesmo tempo, a maquinaria, as
infraestruturas e a enorme densidade
animal conseguida, permitiu que menos
pessoas se tivessem de dedicar à
produção animal. Poucos agricultores
podiam agora alimentar uma população
que passou a ser essencialmente
urbana. Mais um exemplo – nos anos
40 um agricultor alimentava, em média,
19 pessoas enquanto que atualmente
um produtor alimenta, em média, 155
pessoas.
No entanto, estas transformações não
foram totalmente pacíficas e geraram
na sociedade uma preocupação nova
– a forma como os animais eram
explorados ou tratados. Os olhos da
opinião pública mundial viraram-se para
os sistemas intensivos provavelmente
após a publicação de um livro com
o título “Máquinas animais: a nova
indústria das fábricas-quintas” (Ruth
Harrison, 1966). Talvez pela primeira
vez na história da humanidade os
paradigmas da produção animal e a
forma com estes podiam afetar o bemestar animal, foram escrutinados.
novo desafio
à produção
Com o tempo, os consumidores
aperceberam-se de alguns dos efeitos
negativos da agricultura intensiva e
tornaram-se mais informados, sensíveis
e críticos. Três razões principais
concorreram para isso: a ideia de que
a estabulação permanente de grande
número de animais não é natural; uma
população maioritariamente urbana
com poucos conhecimentos do que
realmente se passa no “campo”; e uma
comunicação social (e redes sociais)
que humanizaram os animais de
produção. Adicionalmente os retalhistas
alteraram as suas exigências de forma
a contentar um público mais informado.
Em suma, todas estas mudanças
desencadearam uma nova visão da
sociedade e lançaram um novo desafio
à produção – cuidar do bem-estar dos
seus animais.
50 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
futuro da
pecuária
Entretanto outros fatores entraram na
equação, influenciando o futuro da
pecuária. Previsões da Organização
das Nações Unidas para a Alimentação
e a Agricultura (FAO) sugerem que as
necessidades de produção de carne e
leite dupliquem até 2050. Por outro lado,
o impacto da agricultura sobre o ambiente
atingiu proporções enormes (consumo,
poluição e eutrofização da água,
degradação dos solos, deflorestação,
emissão de gases de efeito estufa…),
especialmente graves nalgumas zonas,
levando muitos consumidores a procurar
produtos orgânicos/biológicos que
prometem ter menor impacto sobre a
saúde do planeta.
Neste cenário de maiores
necessidades de produção
associadas a maiores
exigências dos consumidores
(incluindo preços baixos),
onde cabe o bem-estar
animal? Será compatível
o sucesso económico da
exploração com a proteção
das condições de vida dos
seus animais?
A resposta é clara e tem
sido suportada pelas
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
evidências científicas –
apenas a produção que
garanta o bem-estar e
conforto dos seus animais
terá hipótese de sobreviver.
Vejamos alguns exemplos
dessas evidências.
Garantia de mercado
Uma proporção cada vez maior de
consumidores dos países desenvolvidos
procura alimentos que satisfaçam os seus
principais requisitos que são – saúde e
segurança + ética na produção. Produtores
que não sejam capazes de oferecer isto
ou que não sejam transparentes na forma
como produzem, terão dificuldade em
manter-se no mercado. Por outro lado,
se as produções só forem mantidas com
a ajuda de substâncias químicas (e.g.
promotores de crescimento, antibióticos,
hormonas, etc.), os consumidores irão
procurar alternativas mais seguras.
Garantia de rendimento
Para demonstrar a correlação entre
bem-estar e rendimento na produção irei
basear-me no conceito das 5 Liberdades
que muitas vezes é utilizado para avaliar
e garantir o bem-estar nas explorações de
pecuária.
Livre de fome e sede
É óbvio que nenhuma exploração
terá sucesso quando os seus animais
passam fome ou sede. No entanto,
a desnutrição é muitas vezes uma
realidade menosprezada. Ou seja, na
ânsia de grandes produções acabamos
por fornecer uma alimentação
desequilibrada que até pode mostrar
um retorno inicial interessante, mas
que acaba por causar danos a longo
prazo, diminuindo por exemplo a
longevidade do animal ou causando
doenças subclínicas. O exemplo típico
disto é a redução da concentração de
forragens, e especialmente de fibra
efetiva, na alimentação das vacas
leiteiras. Um estudo (Lindström e outros,
2001) demonstrou que a atividade oral
(apreender alimento, mastigar e depois
ruminar) estava associado a aumentos
de produções e saúde porque se atingem
maiores níveis de ocitocina e menores
níveis de cortisol. Muitos outros estudos
científicos têm demonstrado maior saúde
gastrointestinal quando dieta contém
altos níveis de fibra.
Livre de doenças e lesões
Também estes fatores estão intimamente
correlacionados com maiores
produções e com produtos de melhor
qualidade. Por exemplo, no caso das
mastites a evidência da correlação
é imediata. Mas o que muitas vezes
não nos apercebemos é que mesmo
doenças subclínicas têm um impacto
enorme no rendimento do animal e na
qualidade do seu produto. Por exemplo,
a doença respiratória subclínica em
vitelos de engorda, que é normalmente
insuficientemente tratada, leva a uma
redução no ganho de peso diário mas
também na qualidade da carcaça. Por
outro lado o constante uso de fármacos
para compensar más práticas e numa
tentativa desesperada de manter a
saúde dos animais, leva a alimentos
menos seguros e a um aumento das
resistências a antimicrobianos, que muito
preocupa a sociedade atual. Assim, a
prevenção e o tratamento imediato não
só previne problemas de bem-estar, mas
garante muito melhor rendimento para o
produtor.
Livre de stress, medo e
ansiedade
Estas situações, especialmente nas
suas formas crónicas, têm um enorme
impacto sobre o sistema imunitário
e sobre a reprodução dos nossos
animais. As más relações humanoanimal são uma das causas mais
frequentes dos estados mentais que se
incluem neste grupo. Muitos estudos
mostram que boas práticas de maneio
correspondem a maiores produções
de leite, a crescimento mais rápido, a
maiores índices de fertilidade e a leite
e carcaças de melhor qualidade. Foi
também demonstrado no Brasil que
providenciar formação em bem-estar/
comportamento aos tratadores das
explorações de engorda conduz a menos
problemas no carregamento, transporte e
descarregamento de novilhos reduzindo
o tempo, a mão-de-obra e as rejeições
parciais de carcaças (Paranhos da Costa
e outros, 2012). Outro estudo (Lensik
e outros, 2001) mostrou que bovinos
lidados de forma positiva quando eram
pequenos correspondem a novilhos com
menor frequência cardíaca, menores
níveis de cortisol e mais fáceis de lidar
quando transportados para o matadouro.
Livre de dor e desconforto
No caso da dor a evidência é
extensíssima e irrefutável. Em estudos
por nós conduzidos (Stilwell e outros,
2008 e 2014) foi demonstrado que dar
analgésicos a novilhas após o parto, a
novilhos após castração e a vacas leiteiras
após o tratamento de úlceras da sola,
corresponde a maior ingestão de alimento
e a maiores produções de leite.
Livre para satisfazer necessidades
comportamentais – a correlação entre a
liberdade para expressar comportamentos
naturais e uma melhor performance é
talvez a menos clara. O que não quer dizer
que não exista. Por exemplo, um trabalho
conduzido em Espanha com borregos
de engorda intensiva, mostrou que o
enriquecimento ambiental dos parques,
colocando plataformas altas, rampas e
outros dispositivos de madeira e ainda
camas de palha, correspondeu a maiores
ganhos médios, carcaças mais pesadas
e de melhor qualidade (Aguayo-Ulloa e
outros, 2014)
Garantia de satisfação
Somando a estas razões essencialmente
económicas, vem uma que é muitas
vezes descurada – sentir-se bem com o
que se faz. Nas explorações com práticas
amigas dos animais, em que o seu
conforto e bem-estar é uma preocupação
natural, os tratadores são mais atentos,
mais sensíveis e mais rápidos a atuar no
sentido de resolver problemas de saúde
dos animais a seu cargo. Ou seja, são
trabalhadores mais eficazes e rentáveis,
os animais mais saudáveis e a conta da
farmácia menor.
Está, portanto, suficientemente
demonstrado que um fraco bem-estar
conduz a performances mais baixas
ou então obriga à utilização frequente
de outros meios (e.g. antimicrobianos)
para garantir a saúde e funcionamento
adequado dos animais. Isto irá afetar a
qualidade, segurança e aceitação final do
produto. Ou seja, uma exploração onde
a defesa do bem-estar animal não é
promovida, o sucesso económico é muito
difícil. Sem exceção.
Referências bibliográficas
Não foram incluídas por uma questão
de espaço editorial, mas o autor
disponibiliza bastando enviar um email
para [email protected].
Nota
O autor escreveu este artigo segundo o
Antigo Acordo Ortográfico.
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 51
Saúde e bem-estar animal
Joaquim L. Cerqueira 1, 5
Avaliação de
indicadores
de sistemas
voluntários
de ordenha em vacas leiteiras
Introdução
Pedro Pedrosa 1
José Pedro Araújo 1, 2
Blanco-Penedo, I 3
Cantalapiedra, J 4
Escola Superior
Agrária do Instituto
Politécnico de
Viana do Castelo,
Refóios do Lima,
4990-706 Ponte de
Lima, Portugal. Email:
[email protected]
1
Segundo Hogeveen et al. (2004) as principais
motivações para a aquisição de sistemas
de ordenha robotizada em detrimento da
ordenha convencional devem-se aos seguintes
fatores: redução da mão-de-obra, melhoria
na flexibilidade de horário, maior número
de ordenhas por animal/dia (> 2 ordenhas),
substituição do operador de ordenha e a
necessidade de remodelação do sistema de
ordenha. Os sistemas voluntários de ordenha
possibilitam que as vacas sejam ordenhadas
sem a intervenção humana, através de um
robot. Permitem aumentar a frequência de
ordenha, que afeta positivamente a produção
de leite e poderão ser benéficas para os
animais, pois o elevado potencial produtivo
da vaca leiteira moderna não se coaduna com
a ordenha tradicional, realizada duas vezes
ao dia. O acréscimo da produção de leite
2
Centro de
Investigação de
Montanha (CIMO) –
ESA-IPVC, Portugal
3
Subprograma
Bienestar Animal,
IRTA, Monells, Girona,
España
4
Servicio de
Ganadería de Lugo.
Xunta de Galicia,
España
5
Centro de Ciência
Animal e Veterinária
(CECAV) - UTAD,
Portugal
52 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
associado à instalação da ordenha robotizada
poderá resultar num suplemento entre 5 a 20%
por vaca. Os aspetos de bem-estar animal
prendem-se sobretudo com a alimentação,
interação social, desenho das instalações e
tráfego dos animais.
A implementação de ordenhas robotizadas nas
explorações teve um impacto importante para os
produtores, na forma como se relacionam com as
suas vacas, reduzindo o tempo de contacto físico
entre os operadores e os animais na sala de
ordenha, enquanto fez aumentar potencialmente
os períodos de tempo que os técnicos
dispensam na análise de indicadores e relatórios
fornecidos pelo equipamento (Owen, 2003).
Este tipo de sistemas permite analisar alguns
aspetos da saúde da vaca que seriam realizados
IMAGEM 1
Exploração de vacas leiteiras com sistema de ordenha robotizada.
Saúde e bem-estar animal
durante a rotina de ordenha,
gerando um conjunto de
dados relativos a cada animal
de forma individual ou em
grupo. Neste sentido, a
progressiva modernização
a que as explorações
leiteiras foram sujeitas,
conduziu a modificações
ao nível do maneio e da
gestão dos efetivos, quando
comparados com os sistemas
convencionais de produção.
As ordenhas robotizadas
de tráfego livre possibilitam
maior liberdade de escolha
dos animais quanto aos seus
ritmos diários, repercutindose no seu comportamento e
bem-estar animal (Wiktorsson
e Sorensen, 2004). A
ordenha robotizada permite
controlar a frequência de
ordenha diária de cada vaca,
ajustando-se em cada fase
da lactação ao seu nível
produtivo, sem acarretar
custos adicionais. A produção
de leite, a frequência e o
intervalo entre ordenhas, são
apenas alguns parâmetros
passíveis de monitorização
na ordenha robotizada, sendo
igualmente importantes para
alcançar o desempenho
produtivo ideal em cada vaca
(Gygax et al., 2007).
A ordenha robotizada
possibilita o registo do peso
corporal individual dos
animais de forma repetida
(a cada ordenha), permitindo
identificar problemas, que
doutra forma provocariam
perdas económicas
avultadas, devido à redução
da produção de leite
e à perda de condição
corporal dos animais. Por
isso a administração de
concentrado na ordenha
robotizada revela múltiplos
benefícios, incluindo a
oportunidade para o produtor
suplementar as vacas
individualmente de acordo
com o seu nível produtivo. E
como as vacas respondem
a estratégias individuais de
alimentação, o ajuste da
dieta individual melhora a
produção de leite.
Na União Europeia, o
projeto Welfare Quality
(2004 a 2009) demonstrou
que os consumidores
estão preocupados com
o bem-estar dos animais
de produção e que o valor
não económico da saúde
animal deve ser levado em
consideração, visto que se
encontra associado a um
crescente interesse dos
consumidores em aspetos
sociais, éticos e de bemestar animal para a obtenção
de produtos de qualidade
(Hietala et al., 2014).
O principal objetivo do
presente trabalho consistiu
na avaliação de alguns
indicadores produtivos em
três explorações leiteiras com
ordenha robotizada.
PRINCIPAIS
RESULTADOS
Recolheram-se 100.431
registos de ordenhas de
3 explorações, com um
total de 330 vacas em
lactação, durante um período
experimental de um ano (maio
de 2014 a abril de 2015). A
análise estatística foi realizada
através dos programas Excel
2010 (Microsoft) e SPSS para
Windows versão 22 (SPSS.
Inc.).
QUADRO 1
Efeito do número lactações no peso vivo das vacas.
Número
LACTAÇÃO
N
Média (kg) ± DP
1
32825
563,0 a ± 72,3
2e3
54558
638,3 b ± 70
≥4
13048
666,4 c ± 58,3
500
Significância:
Total
40
Número
LACTAÇÃO
8,8
100431
617,3 ± 79,9
892
13,0
344
Máximo
(kg)
1
32825
33,5 a ± 7,8
2
63
23,4
2e3
54558
37,7 b ± 10,7
3
74
28,6
≥4
13048
41,1 c ± 10,2
2
72
24,9
74
27,6
Significância:
Total
CV (%)
p < 0,05
100431
36,8 ± 10,1
2
Nas componentes analisadas valores de letra distinta (a≠b≠c) são significativamente diferentes
Abreviaturas: N - número de amostras; DP - desvio padrão e CV - coeficiente de variação.
Observaram-se diferenças
significativas (P<0,05) entre
explorações para a produção
média diária de leite. A
exploração 1 apresentou uma
produção superior (40,8 Kg/
dia) relativamente às restantes.
Constatou-se também um
efeito da exploração no número
de ordenhas diárias, com
diferenças (P<0,05), entre todas
15
10
a b c
3,7 3,0 3,3
Exploração 2
11,1
844
Mínimo
(kg)
20
Exploração 1
12,8
Média (kg/dia)
± DP
25
Produção diária (kg)
865
892
N
30
0
344
398
QUADRO 2
Efeito do número de lactações na produção diária de leite (kg/dia).
c
34,6
5
CV (%)
Nas componentes analisadas valores de letra distinta (a≠b≠c) são significativamente diferentes
Abreviaturas: N - número de amostras; DP - desvio padrão e CV - coeficiente de variação.
a
b
40,8
39,8
35
Máximo
(kg)
p < 0,05
FIGURA 1
Efeito da exploração na produção de leite e número de ordenhas diárias. Nas
componentes analisadas, valores de letra distinta (a≠b≠c) são significativamente
diferentes.
45
Mínimo
(kg)
Número ordenhas
as explorações. A exploração 1
revelou o número mais elevado
de ordenhas/dia (3,7) e a
exploração 2 o valor inferior (3,0
ordenhas/dia). Verificou-se que
a exploração que apresentou
a maior média de ordenhas/
vaca/dia, foi também a que a
presentou o maior número de
litros/vaca/dia ( Figura 1).
Constatou-se um efeito
significativo (p<0,05) do
número de lactação no peso
vivo das vacas, entre todas
as lactações. As vacas de
primeira lactação revelaram
menor peso (563 kg), a
contrastar com os animais
com quatro ou mais lactações
(666,4 kg) (Quadro 1).
Observaram-se diferenças
significativas (p<0,05)
entre lactações na
produção diária de leite.
Os animais mais jovens
apresentaram resultados
produtivos inferiores (33,5
kg) comparativamente aos
animais com maior número de
lactações (41,1 kg) (Quadro 2).
Encontraram-se diferenças
Exploração 3
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 53
Saúde e bem-estar animal
FIGURA 2
Efeito da fase de lactação na produção diária de leite. Nas componentes
analisadas, valores de letra distinta (a≠b≠c) são significativamente diferentes.
50
45
a
40,2
b
43,4
a
40,2
40
c
31,8
Produção diária (kg)
35
30
25
20
15
10
5
0
significativas (P<0,05) da
segunda fase de lactação (61
a 120 dias) comparativamente
às restantes fases, tendo
evidenciado o valor mais
elevado (43,4 kg/dia) sendo a
quarta fase de lactação a que
revelou o valor mais baixo (31,8
kg/dia) (Figura 2).
Também foi possível verificar
um efeito da exploração na
ingestão de concentrado e na
quantidade ingerida por cada
100 kg de leite (Quadro 3),
com diferenças significativas
(p<0,05) entre todas as
explorações. Constatou-se que
na exploração 1 a ingestão de
concentrado por vaca por dia é
superior (5,5 kg) relativamente
Ingestão de
concentrado
VACA/DIA
Concentrado por
cada 100 Kg de
leite
Exploração
IMAGEM 2
Vaca em processo de ordenha
robotizada na fase de ejeção do leite.
à exploração 3 que apresenta
o valor mais baixo (4,9 kg).
No entanto, a quantidade de
concentrado ingerido por cada
100 kg de leite produzido foi
superior na exploração 3 (14,1
kg), sendo a exploração com
menor eficiência produtiva,
tendo em conta o preço mais
elevado deste componente
na alimentação de vacas
leiteiras comparativamente
aos restantes, que são
normalmente a silagem de
milho e a palha.
N
Média (kg) ± DP
1
24336
5,5 ± 1,9
2
13192
5,3 ± 2,2
3
62903
4,9 ± 2,1
Conclusões
Os sistemas de ordenha
robotizada contribuem para
o aumento da produção
leiteira, através de um maior
número de ordenhas diárias,
tornando esta atividade mais
sustentável. Simultaneamente
proporcionam maior
comodidade ao produtor,
na perspetiva da diminuição
considerável de mão-de-obra
nas ordenhas e na flexibilidade
de horários. Os sistemas de
informação (novas tecnologias)
permitem o armazenamento
de dados individuais de cada
animal, para posterior análise
e interpretação de indicadores.
Neste estudo a produção
diária de leite por exploração
oscilou entre 34,6 e 40,8
Mínimo (kg)
Máximo (kg)
a
b
0
12
121 - 180
≥ 181
34,5
Agradecimentos
41,5
Aos produtores de leite com ordenha
robotizada que participaram neste
estudo e que permitiram a recolha de
dados dos sistemas robotizados de
ordenha e ao projeto do CECAV com a
referência UID/CVT/00772/2013 para
o triénio 2015-2017
p < 0,05
Total
100431
5,1±2,1
1
24336
2
3
0
12
13,6 a ± 4,6
2
140
33,8
13192
13,2 b ± 4,3
2
92
32,6
62903
14,1 c ± 4,9
3
117
34,8
140
34,5
Significância:
41,2
p < 0,05
100431
13,9 ± 4,8
2
Nas componentes analisadas valores de letra distinta (a≠b≠c) são significativamente diferentes
Abreviaturas: N - número de amostras; DP - desvio padrão e CV - coeficiente de variação.
54 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
kg, o peso vivo dos animais
evidenciou uma tendência
crescente (1ª lactação – 563,0
kg vs ≥4ª lactação – 666,4
kg), foi na 2ª fase de lactação
que se observou superior
produção de leite (43,4 kg/
vaca/dia) e a administração de
concentrado registou um valor
médio diário de 5,1 kg/vaca.
Pensámos que seja do máximo
interesse para os produtores
ter conhecimento desses
resultados para implementar
decisões de gestão adequadas.
Essa informação permitirá
controlar a produção e tornála mais eficiente, através da
reprogramação do sistema
robotizado de ordenha,
nomeadamente na frequência
de ordenhas, na distribuição do
concentrado e no tráfego dos
animais.
CV (%)
42,9
c
Significância:
Total
61 - 120
Fase de Lactação (dias)
QUADRO 3
Efeito da exploração na ingestão de concentrado no sistema voluntário
de ordenha.
Parâmetro
≥ 60
Referências bibliográficas
Não foram incluídas por uma questão
de espaço editorial, mas os autores
disponibilizam bastando enviar um
email para [email protected].
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
Simão Rocha
MAMITES POR
Streptococcus uberis
Médico Veterinário, NePhar Farma
[email protected]
PONTOS CHAVE ONDE ATUAR
NO PERÍODO DE SECAGEM
A incidência de mamites por Streptococcus
uberis nos últimos anos tem vindo a
aumentar de forma exponencial, sendo
neste momento, juntamente com os
coliformes, um dos agentes causadores de
mamites mais comuns em Portugal e no
mundo inteiro. Em 2014, segundo dados da
Segalab, quase um quinto dos isolamentos
efetuados identificou este agente como
causador de mamites.
O agente
O agente possui uma série de características
que o tornam único, sendo que o facto de
possuir mais de 600 estirpes identificadas
até aos dias de hoje, o torna de difícil
eliminação da exploração, já que todas estas
estirpes possuem características diferentes.
As diferentes características tornam as
estirpes mais ou menos virulentas, podendo
haver na mesma exploração várias estirpes,
capazes de causar diferentes tipos de
mamite, com tempos de duração diferentes
e, consequentemente, diferentes taxas de
cura.
Pelas razões nomeadas anteriormente,
existem animais que respondem a um
tipo de tratamento e outros, também com
identificação positiva do mesmo agente, não
responderem a esse mesmo tratamento.
Esta é uma das grandes dificuldades
que encontrámos numa exploração com
Streptococcus uberis, a variabilidade
na eficácia dos tratamentos efetuados,
havendo um grande número de infeções
que evoluem para a cronicidade, exatamente
devido a esta dificuldade em tratar.
Além da sua heterogeneidade, também
as suas propriedades morfológicas
tornam o Streptococcus uberis um agente
com alta capacidade de adaptação ao
seu hospedeiro: a sua cápsula de ácido
hialurónico, que o torna de difícil eliminação
pelas células de defesa do organismo, mas
também pela sua capacidade de produzir
biofilmes, que torna a estirpe capaz de
os produzir mais virulenta e causadora
de infeção. Depois, seja pela sua alta
capacidade de adesão às células, seja
pela sua alta velocidade de crescimento,
rapidamente invadem o epitélio da glândula
mamária, criando uma infeção que resulta
em mamite.
Modo de transmissão
Este agente, é classificado como
ambiental, estando presente um pouco
por toda a exploração e sendo transmitido
principalmente através das fezes, mas
também através das camas onde os
animais se deitam, da língua dos animais,
que ao se lamberem transmitem facilmente
o agente entre eles, ou mesmo através
de vetores, como mosquitos ou moscas.
O Streptococcus uberis possui também
características de agente contagioso,
podendo inclusivamente, ser transmitido
através da máquina de ordenha, tornando
a ordenha um ponto fulcral de atuação, de
modo a prevenir a passagem do agente
entre animais.
A infeção e o período de
secagem
Sabe-se que cerca de 56% das infeções
IMAGEM 1 a 2
Exemplos de mau maneio ambiental a nível
de camas e parque de vacas secas que
contribuem para o aumento de prevalência
de S. uberis.
56 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
por Streptococcus uberis acontece na
secagem, e principalmente no seu início
(maioritariamente em animais jovens), o
que torna este período fundamental para
prevenir o seu aparecimento ou então para
curar infeções pré-existentes. Na secagem
acontecem uma série de eventos como
o aumento do número de bactérias nos
tetos devido à falta de ordenha, variações
no canal do teto (e a capacidade, ou não,
que o animal tem de produzir o rolhão de
queratina natural, que vai levar ao fecho
temporário do canal e consequente entrada
de microrganismos) e as variações inerentes
aos mecanismos de defesa da própria
glândula mamária, que vão estar diminuídos
neste período
Pontos chave onde atuar
Assim, os pontos chave onde nos devemos
concentrar no período de secagem são:
maneio ambiental, maneio nutricional e
maneio terapêutico.
Quanto ao maneio ambiental, a limpeza
é fundamental num estábulo acometido
por este problema. Seja ele nos cubículos
(a utilização de areia para as camas, ou a
colocação regular de cal, já que o agente
não resiste em ambientes alcalinos), seja
nas camas da maternidade (sendo que até
o tamanho da palha usada nas camas pode
ser determinante, devendo optar-se por
palha de tamanho mais grosseiro) ou nos
parques de vacas secas (com precauções
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
especiais no inverno e épocas chuvosas,
já que a humidade excessiva potencia a
transmissão do agente).
Também se deve evitar o excesso de
animais e ter uma ventilação adequada.
Obviamente que todas estas medidas
contribuem também para o bem-estar
animal, o que vai melhorar o rendimento
dos animais, além de estes serem mais
resistentes a outros tipos de patologias.
No caso do maneio nutricional, devemos
fornecer aos animais uma dieta adequada
a este período, de modo a evitar os tão
famigerados problemas pós-parto, como as
hipocalcémias, as cetoses ou as acidoses,
que trazem consequências nefastas para
a saúde animal e consequentes perdas
financeiras.
Importante é também a suplementação
vitamínica, especialmente com Vitamina
E, Selénio e oligoelementos (Cobre, Zinco,
Ferro), que vão levar à estimulação do
sistema imunitário do animal, que é muito
importante é para assegurar o combate às
infeções que podem vir a ocorrer.
Os objetivos para o terceiro e último ponto
são o de usar um antibiótico intramamário
específico para a secagem, selante de tetos
e um antibiótico injetável que complemente
a bisnaga usada e possa dar uma ajuda
extra, seja na prevenção do aparecimento
de novas infeções no período seco ou no
tratamento de infeções presentes na altura
da secagem.
Quase tão importante como a escolha do
antibiótico intramamário, são os cuidados
a ter com a sua aplicação. Uma correta
aplicação da bisnaga de secagem minimiza
uma possível introdução de microrganismos
no teto, e consequentemente no úbere. Uma
correta limpeza dos tetos antes da aplicação,
o uso de pós-dip e manter a vaca de pé pelo
menos uma hora após aplicação da bisnaga,
são procedimentos fundamentais para que
IMAGEM 3
Exemplo de estábulo com má ventilação.
isso seja conseguido.
As vantagens da utilização de selante
interno são amplamente conhecidas e
comprovadas, podendo reduzir a taxa de
novas infeções em mais de 25%. Também
a sua correta aplicação é fundamental,
sendo o procedimento de limpeza
semelhante ao do antibiótico.
Uma situação a ter conta é a sua
utilização em novilhas, principalmente em
explorações onde a taxa de mamites seja
particularmente alta em vacas primíparas.
Deste modo, estamos a proteger estes
animais de novas infeções que poderiam
ocorrer nos últimos meses de gestação,
levando a que o animal fosse parir já com
mamite.
Em relação ao antibiótico injetável, os prós
superam os contras da sua utilização,
especialmente nos casos em que os
animais chegam ao período de secagem
com infeção.
O aumento do custo de tratamento
e possível aumento do intervalo de
segurança (nestes casos deve sempre
fazer-se teste de pesquisa de inibidores
no leite antes de começar a aproveitar
o mesmo) são as desvantagens deste
tipo de tratamento, ultrapassadas pelas
vantagens neste tipo de infeções,
sobretudo devido à redução nas
contagens de células somáticas, e à maior
proteção dada aos animais, principalmente
àqueles que secaram com mamite.
Neste âmbito, os macrólidos são um
dos grupos de antibióticos de eleição
para utilizar neste tipo de tratamentos, já
que apresentam uma excelente difusão
na glândula mamária e um tempo de
atuação prolongado, principalmente os
de ação longa, como a Tilmicosina. Estas
características associadas a propriedades
anti-inflamatórias que os mesmos
apresentam, trazem grandes vantagens à
sua utilização, nomeadamente a redução
das CCS, conforme anteriormente falado.
Assim, seja como preventivo ao
aparecimento de novas infeções, seja como
tratamento de infeções pré-existentes, esta
é uma arma que pode e deve ser utilizada
para melhorarmos a eficácia no tratamento
para este tipo de mamites.
Como conclusão, este é um problema
multifatorial e daí necessitarmos de uma
abordagem multifatorial. Ou seja, as causas
para o problema são várias, e precisamos de
intervir em todas elas, pois se não atuarmos
a todos os níveis, o problema vai manter-se
na exploração, levando a maiores perdas
e a um aumento do refugo de animais
infetados.
Só uma atuação cuidada a todos os níveis,
pode levar a uma diminuição da incidência
deste tipo de mamites e consequente
melhoria da qualidade do leite.
Referências bibliográficas
Não foram incluídas por uma questão
de espaço editorial, mas o autor
disponibiliza bastando enviar um email.
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 57
Saúde e Bem-estar Animal
Cristina Antunes1, 2
Condicionantes
do transporte e
do abate no pH da
carne de bovino
josé Nuno Costa1
Mário Quaresma1
aspetos a considerar
Faculdade de
Medicina Veterinária,
Universidade de
Lisboa
1
2
Instituto Superior
de Agronomia,
Universidade de
Lisboa
Introdução
A obtenção de carne de elevada qualidade
é o objetivo principal da cadeia de produção.
Contudo, não basta possuir a melhor genética,
propiciar as melhores condições para o
crescimento e acabamento dos animais, ter um
bom maneio alimentar, é também essencial
garantir que os animais recebem as melhores
condições possíveis durante a fase final do
processo de produção, ou seja, durante o
transporte para o matadouro e durante o
período de espera na abegoaria.
pH
O pH da carne é um parâmetro essencial
à obtenção de carne de qualidade. Este
parâmetro está dependente das reservas de
glicogénio presentes no músculo antes do
abate (Lensink et al., 2001). Após o abate do
animal, o glicogénio muscular é gradualmente
convertido em ácido láctico. Por sua vez, a
58 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
acumulação de ácido láctico é responsável pelo
decréscimo do pH da carne, que interfere com
um conjunto de propriedades da carne que são
de importância fulcral para os consumidores,
nomeadamente a cor, a tenrura e a suculência.
Um pH baixo (<5,80) diminui a proliferação de
bactérias na carcaça, estendendo por isso o seu
tempo de comercialização.
Reservas de Glicogénio
As reservas de glicogénio muscular pré-abate
diminuem devido ao stress a que o animal é
sujeito e em resultado de atividade muscular
intensa, levando a uma forte estimulação do
sistema nervoso simpático, que liberta adrenalina
que é responsável por aumentar o batimento
cardíaco e estimular a depleção das reservas
de glicogénio no músculo (Lensink et al., 2001).
Assim, sempre que ocorre uma diminuição do
teor de glicogénio pré-abate, a produção de
ácido láctico após o abate é escassa, e o pH
da carne permanece elevado (pH≥5.8) (Węglarz,
Saúde e Bem-estar Animal
2011; Marenčić et al., 2012). Quando tal
acontece, a carne fica escura, seca e firme,
conhecida no mercado por carne DFD
(Dark, Firm and Dry). A carne DFD é sujeita
a depreciação comercial, uma vez que não
oferece as características mais apreciadas
pelo consumidor e é mais suscetível a
deterioração bacteriana (Silva et al., 1999).
Pelo exposto, a intensidade de stress a
que os animais foram sujeitos durante o
transporte, o período de tempo despendido
no transporte, as condições de abegoaria,
o tempo de espera na abegoaria, a mistura
de animais de diferentes proveniências
são, apenas alguns dos fatores que podem
influenciar a intensidade de stress a que
estes animais são sujeitos no período
pré-abate.
Parâmetros
do estudo
Este estudo foi realizado utilizando
vitelos da raça Holstein-Frísia (218
animais) e vitelos cruzados de raças de
carne (335 animais), contabilizando 394
machos e 159 fêmeas, perfazendo um
total de 553 animais.
O transporte dos animais para o
matadouro ocorreu de duas formas:
forma direta, ou seja diretamente da
exploração para o matadouro (360
animais) ou forma indireta, que implica
paragens para carregar animais de
outras explorações (173 animais). Após
a chegada ao matadouro, 169 animais
foram encaminhados diretamente para
o abate (Abate direto), os restantes 384
animais seguiram para a abegoaria, onde
permaneceram até serem encaminhados
para o abate (Abate indireto).
Em cada animal, a medição de pH
foi realizada em dois músculos
considerados representativos da
carcaça, nomeadamente ao nível
dorsal (Longissimus thoracis) e na
perna (Semitendinosus), perfazendo
um total de 1106 medições de pH. Por
motivo de simplificação, os valores de
pH apresentados neste documento
representam a média aritmética dos
valores de pH medidos nos dois
músculos.
Resultados e
discussão
Efeito do transporte
O transporte indireto está associado a
um pH da carne significativamente mais
elevado (5,78) comparativamente ao
transporte direto (5,68). Tal facto deve-se
ao transporte indireto estar associado a
um maior período de exposição a fatores
de stress .
A distância do transporte, isto é, o
número de quilómetros que o veículo
realiza até ao matadouro influência de
forma significativa o pH da carne. O
estudo permitiu verificar que distâncias
de transporte até aos 100 km não
representavam um efeito significativo
sobre o pH da carne (pH médio de 5,67),
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ruminantes julho . agosto . setembro 2016 59
Saúde e Bem-estar Animal
IMAGEM 1
Escala de avaliação da cor da carne de
bovino (1C - carne de cor clara; 5 - carne de
cor escura - DFD). Adaptado de Australian
Meat Processor Corporation.
consumo de glicogénio intermédio, o
que pressupõe:
1. adaptação do animal aos fatores que
condicionam o stress;
2.distâncias maiores são normalmente
realizadas por estradas menos
sinuosas o que permite reduzir
a intensidade das contrações
musculares e dos fatores que originam
o stress.
enquanto distâncias entre os 101-120 km
exerciam um efeito significativo sobre o
pH da carne, levando ao seu aumento
(5,81). Contudo, distâncias de transporte
superiores aos 120 km resultaram num
pH intermédio (5,71) ao encontrado em
distâncias até aos 100 e entre os 101
e os 120 km. O efeito da distância de
transporte parece indicar que distâncias
até aos 100 km não resultam num
período ou numa intensidade de stress
suficiente para influenciar as reservas
musculares de glicogénio, mas quando
a distância se encontra entre os 101 e os
120 km, o stress a que os animais são
sujeitos já condiciona o consumo das
reservas de glicogénio presentes ao nível
muscular com o consequente aumento
do pH da carne.
O tempo de transporte é uma variável
resultante do tipo de percurso, do tipo de
transporte e da distância do transporte,
pelo que também ela influência o pH da
carne. Transportes com duração igual ou
inferior a 60 minutos não influenciam o
pH da carne (5,69), enquanto transportes
com um intervalo entre 61 e 90 minutos
influenciam negativamente o pH da
carne (5,83), mas o mesmo não se
verifica em viagens com maior duração
(91-180 minutos), onde o pH apresentou
um valor médio de 5,71.
O estudo permitiu verificar que
distâncias menores (≤100 km) e
tempos de viagem menores (≤60
minutos) não influenciaram o pH da
carne. Distâncias entre os 101-120 km
ou tempos de viagem entre os 61 e os
90 minutos induziram um significativo
aumento do pH da carne. Contudo,
distâncias superiores a 120 km ou
percursos de duração superiores a
90 minutos resultavam em valores
de pH intermédios, sugerindo que um
Efeito do abate
Em análise estão os abates diretos (em
que os animais chegam ao matadouro
e seguem para a linha de abate após
2-4 horas de permanência na abegoaria)
e os abates indiretos (onde os animais
ficam retidos na abegoaria, durante um
período de tempo variável, superior a
12 horas, antes de entrarem na linha de
abate). O estudo observou que os animais
submetidos a abate direto apresentavam
um valor de pH significativamente mais
baixo (5,62) e, portanto, mais favorável
à qualidade da carne, que os animais
submetidos a abate indireto (5,73).
A explicação para este facto centra-se
muito provavelmente no ambiente da
abegoaria, isto é, o confinamento dos
animais muitas vezes associado à mistura
de animais provenientes de diferentes
explorações, a uma elevada densidade
animal ou ao ruído são fatores de stress
que levam a valores de pH superiores.
Outro fator em análise neste estudo foi
o tempo de permanência na abegoaria.
O estudo revelou que os animais que
permaneceram mais tempo na abegoaria
apresentaram valores de pH superiores,
sendo que os valores mais elevados de
pH foram observados nos animais que
permaneceram na abegoaria durante um
período de tempo igual ou superior a 17
horas. A exposição continuada a fatores
de stress provoca o esgotamento das
reservas energéticas (glicogénio) ao nível
muscular e consequente aumento do pH
da carne.
Conclusão
O transporte dos animais para o
matadouro não deve ser considerado
pelos produtores como um assunto de
menor importância, uma vez que pode
influenciar negativamente a qualidade
da carne, o valor final da carcaça e,
por consequência, a rentabilidade do
produtor. O estudo permite ainda sugerir
que o percurso entre a exploração e o
matadouro deve ser selecionado por forma
a beneficiar trajetos menos sinuosos.
Sempre que não seja possível evitar
trajetos demorados e percursos sinuosos
é aconselhável escolher a modalidade de
abate direto, ou em alternativa organizar
o transporte dos animais para que eles
permaneçam pouco tempo na abegoaria,
para evitar o efeito do stress durante o
período de espera na mesma.
Nota
O autor escreveu este artigo segundo o
Antigo Acordo Ortográfico.
Referências bibliográficas
“A exposição
continuada
a fatores de
stress provoca
o esgotamento
das reservas
energéticas
(glicogénio) ao
nível muscular
e consequente
aumento do pH
da carne.”
60 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Costa, J. N. S. M. L. 2013. Impacto do Transporte e do
Tempo de Abegoaria no pH das Carcaças de Vitela,
em Condições Comerciais. Faculdade de Medicina
Veterinária, Universidade de Lisboa.
Lensink, B. J., X. Fernandez, G. Cozzi, L. Florand, and
I. Veissier. 2001. The influence of farmers ’ behavior
on calves ’ reactions to transport and quality of veal
meat. J. Anim. Sci.
Marenčić, D., A. Ivanković, V. Pintić, N. Kelava, and
T. Jakopović. 2012. Effect of the transport duration
time and season on some physicochemical
properties of beef meat. Arch. Tierzucht 55:123–131.
Silva, J. A., L. Patarata, and C. Martins. 1999. Influence
of ultimate pH on bovine meat tenderness during
ageing. Meat Sci. 52:453–459.
Węglarz, A. 2011. Effect of pre-slaughter housing of
different cattle categories on beef quality. Anim. Sci.
Pap. Reports 29:43–52.
* Andrew Bradley et al. An investigation of the efficacy of a polyvalent mastitis vaccine using different vaccination
regimens under field conditions in the United Kingdom. J. Dairy Sci. 2015; 98: 1706–1720
SOLICITE AO SEU MÉDICO VETERINÁRIO INFORMAÇÃO
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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
vacinação
contra mastites
Publireportagem
INTRODUÇÃO
A mastite é uma das doenças
mais frequentes e dispendiosas
nas explorações leiteiras, sendo
o seu controlo uma das maiores
lutas para os produtores, existindo
hoje em dia um grande número
de explorações a sofrerem níveis
inaceitáveis desta doença. A base
de um programa de saúde do
úbere assenta em 4 pilares base:
ambiente, máquina de ordenha,
rotina de ordenha e animal. Várias
estratégias de prevenção são
implementadas para minimizar a
incidência das mastites clínicas e
subclínicas, incluindo otimização
da rotina de ordenha, maximização
da higiene do úbere, terapias
com antibióticos no período de
secagem, segregação e refugo das
vacas crónicas, etc. (Schukken Y. et
al., 2014)
A vacinação contra mastites
pode ser uma ferramenta útil
nos programas de controlo
de qualidade de leite. Estudos
recentes em situações de campo
(Bradley A.J. et al., 2015; Schukken
Y. et al., 2014) comprovam que
a utilização de uma vacina
contra agentes de mastites (S.
aureus, SCN, E. coli e coliformes)
em combinação com os
procedimentos acima descritos,
resulta numa diminuição de
55% na prevalência de infeções
por S. aureus, diminuição da
severidade e refugo (26% para
18%) por mastites tóxicas, 6% de
aumento na produção de leite,
5% de aumento nos sólidos totais
e um retorno económico do
investimento de 2,6€ por cada 1€
investido (com base apenas numa
maior produção de leite das vacas
vacinadas).
A HIPRA comercializa no nosso país desde 2009, uma vacina
para mastites. Vários testemunhos de médicos veterinários e
produtores confirmam os resultados positivos decorrentes da
sua utilização nas suas explorações.
Fonte: David Rodrigues
Equipa de Gestão da Exploração Leiteira da AJAM/CJA (ilha S. Miguel)
“Desde que iniciámos a vacinação para mastites na exploração da AJAM/CJA ganhámos o
equivalente a um mês de produção de leite em relação ao ano anterior. A utilização de uma vacina
contra S. aureus, SCN, E. coli e coliformes nas nossas vacas possibilitou um aumento significativo
da produção de leite devido à diminuição da contagem de células somáticas e menor numero de
casos de mastites clínicas”.
62 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Equipa de Médicos
Veterinários da
PROLEITE (Oliveira
de Azeméis)
“Nas explorações onde se
revelou pertinente a utilização
da vacina Startvac, têm-se
obtido resultados positivos,
quer pela diminuição de novas
infeções, severidade dos casos
e C.C.S., quer pela redução do
uso de antibióticos, custos
com tratamentos e refugo de
animais.”
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
Fonte: Unicol
Equipa de Médicos Veterinários da UNICOL (ilha Terceira)
“Enquanto médicos veterinários, encaramos a vacinação contra as mamites como mais
uma ferramenta a incluir num programa mais vasto de controlo da qualidade do leite. O
programa vacinal tem sido recomendado em todos os casos em que pretendemos uma
recuperação rápida do efetivo, após correção dos defeitos encontrados no equipamento,
rotina de ordenha ou ambiente em que a vaca vive. Na prática verifica-se que a vacina
induz uma elevada proteção contra o Staph. aureus e uma redução do número e
severidade dos casos clínicos de mamite.”
Jorge Toledo Ávila
(ilha Terceira)
JOÃO Coelho Pires
(ilha Terceira)
“O maior impacto que verifiquei após o
inicio da vacinação contra mastites é a
redução do número de casos clínicos
por mês e a diminuição do consumo de
antibióticos para o tratamento de mastites.”
“Desde que vacinei em fevereiro não
utilizei mais nenhum antibiótico para
tratar mamites.”
Teresa Moreira
(Leicar)
“A minha experiência ao longo dos
últimos cinco anos de utilização da
vacina é superpositiva, sempre que
existe uma identificação prévia das
bactérias causadoras de mastites para
as quais a vacina está indicada. Através
da análise dos registos e feedback
dos produtores, as vantagens mais
evidentes associadas à utilização da
vacina são: diminuição do consumo
de antibióticos (menor custo),
melhor resposta aos tratamentos
efetuados, diminuição da incidência
de mastites clínicas e subclínicas e
consequentemente da contagem
das células somáticas (CCS). A
implementação de um protocolo de
vacinação contra mastites, deve ser
ponderada num programa de qualidade
de leite que se pretenda eficaz.”
João Luciano Aguiar
(Balazar)
Luís Pinho (SVA)
Fernanda Assunção (Trofa)
A vacina Startvac é uma
ferramenta importante para
atingir mais depressa os
objetivos num programa
de controlo de mastites
contagiosas por S. aureus, e,
simultaneamente minimizar
os sinais clínicos das mastites
coliformes. O trabalho conjunto
com os produtores que usam
a vacina desde há alguns
anos, tem demonstrado esta
constância de resultados.
Ajudou muito a reduzir os sinais clínicos das mamites e
tornaram-se mais fáceis de tratar. Uso há quase 4 anos
também para o controlo das mastites contagiosas por
(S.) aureus.
António Gomes de Oliveira (Barcelos)
“Utilizo a vacina contra agentes
de mastites desde 2012. Desde aí
comecei a notar que as mastites
ficaram mais fáceis de tratar. Outro
aspeto importante é que não posso
atrasar a vacinação, da última vez que
isso aconteceu, o número de mastites
aumentou e gastei muito dinheiro nos
tratamentos.”
Desde há 3 anos que uso a Startvac e resolveu bem o
problema das mamites (coliformes) ambientais e é para
manter.
Para mais informação
Deolinda Silva
Tel. (351) 915 052 335
E-mail: [email protected]
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 63
Monobox GEA
Um só movimento para uma ordenha perfeita
O Monobox apenas necessita de uma colocação para poder realizar toda a
sequência de passos de uma boa rotina de ordenha.
Num único movimento coloca, estimula, limpa, tira os primeiros jactos de
leite, ordenha e aplica o post-dip directamente nos tectos
Os 6 passos da rotina de ordenha automática Monobox
1. Colocação e estimulação
Logos após à colocação da tetina começa o processo de estimulação
mecânico que prepara o ubre para uma ordenha rápida e com elevados
fluxos de leite
A estimulação mecânica da GEA reduz as curvas bimodais, desta forma é
encurtado o tempo de ordenha e aumenta a produção de leite por animal.
2. Ordenha limpa
É feita a limpeza dos tetos seguida de uma secagem, posteriormente são
retirados os primeiros jactos de leite
O que diferencia o sistema Monobox da GEA de outras máquinas é que
desta forma não são necessárias escovas ou qualquer outro equipamento
mecânico que possa provocar uma qualquer contaminação dos tetos.
Ao realizarmos uma limpeza regular e constante evitamos ordenhar tetos
sujos ou molhados.
3. Medição e análise do leite
Um conjunto de sensores analisa por teto a temperatura, a cor e a
condutividade eléctrica do leite dos primeiros jactos para detectar anomalias
ou mamites.
De seguida são monitorizados os fluxos de leite e tempos de ordenha de cada
teto enquanto se mede o volume de leite produzido. A informação detalha é
disponibilizada ao produtor de forma a permitir realizar os ajustes necessários.
4. Ordenha completa, rápida e confortável
A ordenha em linha baixa permite trabalhar com baixos níveis de vácuo o
que nos dá a garantia de uma ordenha rápida e suave dos tetos.
A linha baixa proporciona estabilidade de vácuo e melhores condições para
os tetos, coisa que as linhas altas não permitem. Este facto influência de
forma positiva a qualidade final do leite ordenhado.
5. Posicionamiento
Um braço de ordenha leve e suspenso adapta-se de maneira natural aos
movimentos da vaca. Isto evita maus posicionamentos do jogo de ordenha,
quedas dos casquilhos, forças negativas e respiros nas tetinas.
Caso uma tetina caia, jamais esta poderá tocar o chão até que volte a ser
colocada, nem o jogo de ordenha perde o bom posicionamento
O curto comprimento das mangueiras de leite proporciona estabilidade e evita
flutuações de vácuo.
6. Post Dip e retirada automática
Uma vez terminada a ordenha e antes de retirar a tetina, é aplicado
directamente em cada teto o produto desinfectante e cosmético.
Esta forma de aplicação tão directa permite uma cobertura perfeita e de
forma homogénea em todo o teto e uma hidratação mais eficaz..
Qualidade, Produtividade
e Flexibilidade. Tudo em um!
Módulo profissional de ordenha
automática proporciona o máximo
rendimento e excelente saúde do
rebanho.
O novo módulo GEA Monobox herda as vantagens do célebre módulo de
ordenha DairyProQ para uma produção de leite de qualidade superior.
Toda a rotina de ordenha é realizada dentro de uma só tetina, o que
assegura uma ordenha com uma higiene impecável, uma melhor saúde do
rebanho e um leite de qualidade premium.
GEA Monobox ordenha as suas vacas no momento oportuno e com
uma eficiência única.
Produto
Sala de ordenha
O coração de uma exploração leiteira
Entrevista a António Carreira Campos
por ruminantes
onde nasceu, que se inspirou
para a escolha do atual modelo
de construção, depois de visitar
diversas explorações leiteiras.
Foi na sua exploração, em
Gondifelos, que António
Carreira Campos recebeu a
Ruminantes, revelando um
pouco acerca da sua realidade
enquanto produtor de leite, com
especial enfoque no sistema de
gestão da sala de ordenha e na
informação gerada pelos dados
aí recolhidos.
Maximizar a eficácia da ordenha
e adequá-la à dimensão do
efetivo tem sido o principal
objetivo de António Carreira
Campos, produtor da zona de
Famalicão. É com esse objetivo
que tem vindo a modernizar
a exploração de família e que,
há cinco anos, decidiu investir
numa sala de ordenha paralela
com tecnologia de recolha de
dados incorporada (imagem 1).
A exploração de António
Carreira Campos situa-se em
Gondifelos, Famalicão. Possui
um efetivo de 230 animais,
dos quais 78 estão atualmente
em produção, sendo a recria
de vitelos outra das vertentes
do seu negócio. Nos cerca de
23 hectares que cultiva, almeja
melhorar a produção de silagem
Imagem 1
Sala de ordenha paralela com
tecnologia de recolha de dados
incorporada.
de erva e também introduzir
novas forragens, de luzerna ou
outras leguminosas, em busca
de boas fontes proteicas.
A maximização da produção
de alimentos de qualidade é,
para este produtor, o grande
desafio a par da luta constante
da redução de custos nos
diversos fatores de produção.
Na exploração em si, o maior
motivo de orgulho é o estábulo,
idealizado pelo próprio depois
de cuidada investigação
(imagem 2). Foi no Canadá, país
66 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
O que é um dia típico para si?
A primeira tarefa que realizo
de manhã, é a alimentação dos
animais. Faço duas ordenhas
por dia, uma de manhã e outra
à tarde, após as quais analiso
os dados do sistema.. Ao
visualizar o volume de sessão
da ordenha tenho especial
interesse em confirmar que
está tudo bem, que não existem
vacas-problema com doenças
como mastites, por exemplo.
Gosto igualmente de olhar
para os animais, para ver se se
encontram bem.
Qual considera ser a
importância da sala de ordenha
numa exploração?
A sala de ordenha é talvez a
coisa mais importante numa
exploração leiteira, o coração
da exploração, Foi por esta
razão que optei por investir
numa ordenha mais adequada
à dimensão do meu efetivo,
privilegiando o conforto dos
animais e a qualidade e eficácia
do processo. Asseguro a
eficácia da ordenha através da
estimulação das vacas, sabendo
que elas se sentem confortáveis
com o sistema e vêm
tranquilamente à ordenha, o que
propicia a libertação do leite.
Quando investiu pela última vez
numa sala de ordenha?
Investi há 5 anos nesta sala. É
uma GEA paralela, 8x8, com toda
a tecnologia de recolha de dados
incorporada. Tenho um sistema
de tetinas IQ de quatro vias,
reduzindo assim o desperdício
de vácuo e assegurando que
não há mistura de leite dos
vários quartos, minimizando
a contaminação em caso de
infeção intramamária.
Porque optou por esta sala e por
esta marca?
Optei por esta sala devido à
confiança e fiabilidade que
associo à marca GEA, a qual
prima também pela qualidade
dos materiais fornecidos e pela
assistência prestada. O facto de
ser uma sala paralela aumenta
a eficiência de todo o processo
de ordenha, permitindo uma
excelente visualização da vaca,
facilitando não só a ordenha, bem
como uma limpeza e desinfeção
adequadas.. Com este sistema
apenas é necessária uma pessoa
na sala, que consegue completar
a ordenha em cerca de uma
hora e meia. A necessidade que
tinha de possuir registos mais
completos também me ajudou a
optar por esta sala.
Que dados recolhe a “sala” e
como os gere?
A quantidade de dados gerada
é muito vasta. Tenho especial
interesse em monitorizar de perto
os dados reprodutivos, gerados
pelo componente intitulado
‘visualização da reprodução’, o
qual considero ser a grande maisvalia do sistema (imagem 3). Os
alertas do sistema relacionados
Produto
Dados da exploração
Localização: Gondifelos
Área da exploração: 23 ha
Culturas: Milho e consociação de
gramíneas e leguminosas
Efetivo total: 230 cabeças
Nº animais em produção: 78
Nº animais com aptidão leiteira: 90
Mão de obra: 2 pessoas
Produção de leite em 2015: 858 000 l
Gordura Bruta: 3,7%
Proteina Bruta: 3,2%
CCS: 160 000 cél/ml
Imagem 2
Estábulo da exploração
idealizado por António Carreira
Campos.
com a deteção de cios, como
o aumento de atividade (cujos
registos são descarregados do
podómetro) e a condutividade
eléctrica do leite, constituem
um grande contributo para
a gestão reprodutiva. Ao
manusear o sistema, e
introduzindo o número da
vaca, posso avaliar os níveis
de atividade nas 24 horas
anteriores. Existem padrões
definidos e personalizados
para a exploração, que nos
permitem perceber quando é
que o aumento da atividade
das vacas é considerado
elevado, e compatível com
o cio. Isto permite aumentar
a eficácia da inseminação, e
insemino as vacas passadas
12 a 18 horas desta deteção de
cios. Vale a pena referir que
cerca de 50 a 60% dos cios
são detetados durante a noite,
o que reflete a utilidade do
sistema.
Além disso, todos os dias
verifico o número de animais
registados, hora de começo e
duração da sessão, número
de vacas ordenhadas por
hora, tempo médio por série,
produção total de leite, tempo
de carregamento médio e o
tempo médio no último coletor.
Se fosse hoje, voltaria a
comprar a mesma sala?
Sem dúvida.
Faz benchmarking com outras
explorações?
Sim, indiretamente através
do apoio técnico que é dado
pelo nutricionista, que nos dá
indicadores de várias custos de
alimentação, enquadrados na
nossa região, obtidos de outras
explorações leiteiras.
Também faço parte de uma
Associação Europeia de
Produtores de Leite, que
compara custos de produção,
entre produtores nacionais e
produtores europeus.
Tenho especial atenção
aos índices produtivos
(teor butiroso, teor proteico,
células somáticas, ureia,
etc...) e reprodutivos (intervalo
entre partos, média de dias
em aberto, intervalo partofecundação, dias em lactação,
etc...) e ao custo diário de
alimentação por vaca, tendo
em conta o leite produzido.
O custo alimentar atual varia
entre os 4,5 e os 5 euros/vaca/
dia.
alimentar são silagem de erva,
silagem de milho, mistura e
palha. A silagem de milho
fornecida é relativamente
constante ao longo do ano, o
resto depende do custo das
matérias-primas da mistura,
as quais atualmente até reduzi,
em detrimento da introdução
de mais silagem de milho. O
normal é uma proporção de 30
kg de silagem de milho, 10 kg
de mistura e 2,2 kg de palha
picada, a qual compro. Estou
agora com 37 kg de silagem de
milho, 9,5 kg de mistura e 1,8 kg
de palha picada.
Tem objetivos anuais
definidos? Como os
estabelece e com quem
partilha essa tarefa?
Tenho por hábito reunirme com o nutricionista
encarregue do meu efetivo, o
qual faz parte de uma equipa
multidisciplinar com apoio
veterinário, apesar de eu
também ter um veterinário
responsável unicamente pela
parte clínica. Um dos nossos
desafios é a minimização dos
custos com a alimentação e
estamos a procurar melhorias
constantes em termos
produtivos e reprodutivos.
Como gostaria de ser
conhecido enquanto
produtor de leite?
Como um produtor cuja
exploração é eficiente do
ponto de vista produtivo,
que prima pelo bem-estar e
saúde dos seus animais, bem
como pela preservação do
ambiente.
Imagem 3
Dairy Plan: Visualização
da reprodução.
Qual o sistema alimentar que
utiliza?
As bases da formulação
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 67
Produto
Automatização da
exploração COM O
LELY ASTRONAUT A3
Imagem 1
Joaquim Martins.
A Sociedade Agro-Pecuária Miranda & Martins, exploração leiteira localizada em
Courel, Barcelos, é uma entre os poucos milhares de vacarias que restam em Portugal.
Numa atividade que continua a enfrentar desafios diários para sobreviver, procura dar
continuidade a um empreendimento de produção leiteira iniciado por Joaquim Martins
e sua família, há algumas décadas atrás.
POR RUMINANTES
Em 2000, aproveitando as condições propícias do mercado,
a família cria uma empresa de prestação de serviços, a
Maquicourel, que possui atualmente um parque com algumas
dezenas de máquinas agrícolas onde se incluem 8 tratores,
6 automotrizes e alfaias, utilizados na prestação de serviços
na área agrícola e pecuária a mais de 100 clientes nas regiões
norte e centro do país. Numa área de 28 hectares, e entre terras
próprias e alugadas na região, produzem também forragens
destinadas à alimentação dos animais.
Apesar de remontar a 1986, a exploração ganhou o atual nome
em 2005, fruto do desejo dos filhos do fundador, Ilídio, António
e Armindo Martins, de darem continuidade ao empreendimento
familiar. Três anos mais tarde, conjugando a necessidade de
renovar o seu sistema de ordenha em espinha de 2x6, já em fim
68 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
de vida, e de reduzir e flexibilizar a mão-de-obra da exploração,
decidiram investir no primeiro robot de ordenha. Assim, em
2008, e com um efetivo de 60 animais, adquiriram o robot
Lely Astronaut A3 com o qual, além de terem colmatado as
necessidades antes mencionadas, conseguiram aumentar a
produção média por animal em cerca de 2 litros, mantendo
inalterados outros fatores da exploração.
Para os irmãos a escolha do equipamento da Lely foi fácil
devido ao bom feedback por parte de outros produtores de leite,
nomeadamente em França, os quais estavam bastante satisfeitos
com os seus equipamentos. Para além disso, eram também
os robots desta marca que aparentavam estar mais difundidos
aquando das suas visitas a outros países, e o grau de satisfação
dos produtores que os utilizavam era mais do que evidente.
Em 2016
e com 70
Lely Astronaut
vendidos
na região!
! OBRIGADO PELA VOSSA
CONFIANÇA NA LELY !
Com mais 6 instalações a decorrer ao longo
deste ano, o nosso Sistema Robotizado lely
Astronaut está a ordenhar mais de 4.000
vacas nas diferentes explorações.
Lely Center São Félix da Marinha
916 454 404 / 915 796 600
EVOLUA.
www.lely.com
innovators in agriculture
Produto
Em 2015, com o crescimento do número
de animais em produção, já com 70-75
animais em ordenha, decidiram adquirir
um segundo robot, desta vez um Lely
Astronaut A3 reacondicionado com
Garantia Taurus. O facto de terem optado
por adquirir um robot usado prende-se
com a forte confiança na marca Lely e
nos seus equipamentos, nas palavras
dos próprios:
“A robustez e qualidade de um
equipamento reflete-se no dinamismo
e força do seu mercado de usados e,
no caso da Lely, isto é assegurado pela
Garantia Taurus, que nos dá a segurança
de comprar um equipamento em perfeito
funcionamento e com um ano de
garantia. Ao fim de oito anos a trabalhar
com o primeiro robot já conhecíamos
bem a sua capacidade e isso,
conjugado com o elevado valor destes
equipamentos mesmo em segunda mão,
dá-nos mais segurança para o futuro.
Outro aspeto importante é a poupança
que sentimos em gastos com água,
eletricidade e manutenção. Os custos
de manutenção do equipamento, por
exemplo, têm sido constantes ao longo
do tempo, o que nos permite saber com o
que contamos e evitar surpresas”.
A introdução do novo robot deu-se
em paralelo com a renovação de
parte da exploração, a qual levou a
um melhoramento das condições de
bem-estar do seu efetivo, como se sabe
indissociáveis do aproveitamento do
potencial produtivo dos animais. Assim,
conseguiram aumentar a capacidade de
crescimento até aos 120-130 animais em
produção. O aumento de espaço facilita
o tráfego livre dos animais, bem como
o acesso de vacas jovens e vacas mais
débeis aos robots, localizados no mesmo
parque de produção. O efeito positivo
e sinérgico de todas estas alterações
fez-se sentir ao nível da produção,
que aumentou de forma sustentável
numa média de 2 a 3 litros por animal,
atingindo-se facilmente 3 ordenhas
diárias. Atualmente com 90 animais
em lactação, registam valores médios
de produção de 33-34 litros diários por
animal, constantes ao longo do ano.
Desde 2005, com a criação da
sociedade agropecuária, frisam que
todos os investimentos feitos foram
exclusivamente com recurso a capitais
próprios, já que existiam alguns entraves
para o acesso a fundos de apoio
comunitário. Isto implica obviamente
uma gestão económica exigente, e dois
dos principais objetivos almejados foram
sempre a maximização da eficiência dos
investimentos e a rentabilização dos
recursos disponíveis, sempre integradas
na conjuntura volátil do sector.
De facto, não escapam aos tempos
desafiantes para o sector leiteiro nacional
e, tal como acontece com todos os
produtores, o principal fator limitante
Imagem 2
Ilídio, António e Armindo Martins.
é a rentabilidade do negócio, fruto do
baixo preço do leite e das limitações à
produção. A totalidade do leite produzido
na exploração é vendido à AGROS
através da Cooperativa Agrícola de
Barcelos, a qual também lhes presta
outros serviços de apoio. Quanto ao
futuro, sentem-se otimistas com a
capacidade de crescimento em 25-40%
em termos de volume de faturação, sem
novos investimentos, trazendo alguma
segurança em termos de margem de
progressão.
Para estes produtores, ao revisitar
o passado, o balanço é bastante
satisfatório. Terminam o seu relato em
nota positiva, algo que muitas vezes nos
falta em notícias do sector:
“A automatização da exploração permitiu
atingir os objetivos estratégicos que
tínhamos definido: reduzir a mão-deobra e ter uma ordenha de qualidade
sempre garantida, para além de outras
ferramentas de gestão cada vez mais
essenciais na produção de leite. Isto
permitiu-nos libertar tempo para nos
dedicarmos a outras atividades, e ajudarnos-á a fazer frente a um presente
desafiante e a um futuro incerto, mas
com esperança e confiança.”
EQUIPAMENTOS
LELY E GARANTIA
TAURUS
A Lely, empresa holandesa, é líder
de mercado de ordenha robotizada.
O constante aperfeiçoamento dos
seus robots da linha Astronaut, com
o lançamento de novos modelos
e a maximização da vida útil dos
modelos já existentes, abriu portas
para o mercado de equipamentos
usados. De forma a manter a
qualidade pela qual cita reger-se, a
Lely criou a Garantia Taurus, a qual
assegura que os equipamentos
usados passíveis de ser adquiridos
foram cuidadosamente limpos,
inspecionados e renovados,
podendo ser adaptados às
necessidades do novo comprador.
Para além do menor preço, estes
equipamentos possuem garantia
de 1 ano após a compra.
70 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
novidades de produto
Fendt 1050 Vario
Tanto músculo como
cérebro
Qualquer conversa sobre o novo modelo de alta potência da
marca alemã começa pelos 500 cv fornecidos pelo motor. Mas
atenção, ele é muito mais do que força e peso bruto.
A ideia base do Conceito Fendt iD é rentabilizar ao máximo
o motor do 1050 Vario a baixos regimes. Ou seja, conseguir
o máximo binário para o mínimo consumo específico de
combustível, que se traduz em elevadas potências a velocidades
baixas. Para este objetivo contribuem todos os componentes do
trator. Motor, sistema de refrigeração, transmissão e hidráulicos
foram desenhados para o melhor desempenho possível.
Veja mais informação
Na revista abolsamia nº 101
https://issuu.com/abolsamia/docs/abolsamia101/70
Citerneo
Independentes e fechadas, as cisternas flexíveis Citerneo
oferecem volumes de armazenamento de 1 a 1700 m3, para
armazenar estrume, ou outros líquidos (fertilizantes, água, entre
outros). Instalam-se num dia e duram mais de 20 anos. Para
instalar uma cisterna flexível são necessários apenas trabalhos
de terraplanagem mínimos, basta uma superfície plana ou em
ponta de diamante com uma pendente de 2% coberta com uma
cama de areia ou um geotêxtil conveniente. Estas cisternas
oferecem a vantagem considerável de manter os odores dos
líquidos armazenados e têm um armazenamento que protege
da chuva, não sendo por isso necessário sobre dimensionar para
as águas pluviais, como acontece com as de céu aberto.
ruminantes julho . agosto . setembro 2016 71
Produto
Kuhn SPW 22, de 2 sem-fins verticais
Uma solução para
grandes desafios
A necessidade de aumentar a capacidade de mistura na alimentação das vacas e conseguir
um alimento homogéneo e de elevada qualidade, levou a que Luís e Nuno Castela, da
Sociedade Agropecuária Casa Castela, concelho de Trofa, tivessem decido investir num
novo unifeed automotriz. A escolha recaiu no modelo SPW 22 da Kuhn, com 2 sem-fins
verticais, que veio substituir o SP 14, também da Kuhn. A Revista Ruminantes veio assistir à
entrega da máquina e saber o porquê desta escolha.
por ruminantes
Dados da exploração
Localização: Paradela, concelho
de Trofa
Atividade principal: Produção
de leite
Área total: 65 hectares,
dispersos
Culturas: milho, azevém e
luzerna, em rotação
Efetivo total: 300
Vacas em produção: 118
Produção média de leite/ vaca/
dia: 27 litros
Teor butiroso: 3,67%
Teor proteico: 3,08%
Que razões levaram a este
investimento?
Nuno Castela (NC) – O modelo que
tínhamos (Kuhn SP 14) já estava a
tornar-se pequeno para a dimensão
da exploração, precisávamos
de aumentar a capacidade de
produção de alimento, mas
também a rapidez de execução da
mistura. Optámos por isso por um
modelo maior e com tecnologia
mais recente, e a nossa escolha
voltou a cair na marca Kuhn por
lhe reconhecermos qualidade e
estarmos familiarizados com o
sistema. Outra razão que nos levou
a optar pela marca foi a assistência
do representante local, a Reptractor,
que é rápida e eficaz, o que é de
extrema importância neste tipo de
máquinas.
72 julho . agosto . setembro 2016 Ruminantes
Na foto da
esquerda para a
direita
Manuel Ribeiro,
Nuno Castela, Simão
Campos, Luís Castela,
Romain Grelard,
Rodrigo Gonçalves,
Manuel Baioneta,
Avelino Ribeiro.
Que vantagens espera obter?
NC - Maior quantidade de
alimento misturado de cada
vez. Como trabalho com
grandes quantidades de
forragens em verde, o tamanho
do unifeed é importante. Por
outro lado, com este motor de
200 cv na cabeça de recolha
vai ser mais fácil e perfeito
o carregamento da cuba e o
corte das forragens no silo.
Pelo que vi, a mistura resulta
muito mais homogénea e
perfeita.
Que ingredientes utiliza na
alimentação?
NC - Silagem de erva e de
milho, luzerna em verde e
mistura de matérias primas.
Produto
Quais são as principais diferenças entre o
modelo Kuhn SPW 22 e aquele que existia
na exploração (Kuhn SP 14)?
Rodrigo Gonçalves, responsável da
assistência pós-venda da Kuhn (RG) – As
diferenças estão na capacidade de carga
(respetivamente 22 e 14 m3); velocidade de
mistura; a precisão do corte (o novo modelo
não destrói as fibras); a potência na cabeça
de recolha, que passa de 90 cv para 200
cv; a largura do tapete de carregamento
que aumenta de 650 mm para 800 mm,
tornando o carregamento da cuba muito
mais rápido; o motor, fase TIER IIIB em
vez d II, é limpo automaticamente sempre
que se passa da posição de carregar para
descarregar por inversão do sentido do
movimento da ventoinha, que “sopra” assim
toda a poeira acumulada.
A homogeneidade do produto é muito maior,
este modelo tem dois sem-fins verticais
que levam a um movimento do alimento de
baixo para cima e em oito, enquanto o outro
era na horizontal. A nível de programação
é totalmente diferente e com muito mais
capacidades (pode programar por animal,
pelo efetivo todo; para os diferentes lotes
de produção...) sendo mais fácil de utilizar
porque o ecrã é táctil. Outra grande diferença
está no eixo direcional traseiro que tem
dois modos de condução, um para reduzir
o raio de viragem e outro tipo “caranguejo”,
em que os eixos viram em simultâneo
para o mesmo lado permitindo com muita
facilidade aproximar melhor das laterais do
silo.
Como explica o facto de esta máquina ter
tração traseira?
RG – O motor da máquina está na
retaguarda o que leva a que 67% do peso
esteja assente no eixo traseiro. É por isto que
a Kuhn afirma que esta máquina vai onde
os outros modelos vão, sem necessitar de
tração total. A localização traseira do motor
e a tração simples proporcionam maior
velocidade e conforto (o operador tem um
ambiente mais silencioso).
Principais caraterísticas SPW 22
Capacidade (m3)
22
Tipo de sem-fim
Verticais
Número de sem-fins
2
Tipo de distribuição
À dta. e à esq. (tapete de
distribuição transversal)
Tipo de suspensão
Suspensão frontal e traseira
Largura total (m)
2,5
Altura total (m)
3,06
Peso (kg)
14,700
Altura máx. de
desensilar (m)
6
Velocidade (km/h)
De 0 a 25
Tipo de transmissão
Hidrostática com duas
posições nas rodas traseiras
Potência motora (kW)
181
Potência motor (CV)
247
O modelo SPW 22
Os SPW da KUHN foram concebidos tendo em conta um conjunto de considerações
nutricionais de que os animais necessitam: respeito dos índices de fibrosidade,
homogeneidade da mistura, qualidade da distribuição.
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