- Confrapar

Transcrição

- Confrapar
ambiente da inovação brasileira
Janeiro 2009
no 55 • Ano XV
IMPULSO ÀS
INOVADORAS
Governo lança programa para alavancar empresas nascentes,
que alia a oferta de recursos à capacitação de empreendedores.
Com R$ 1,3 bilhão, o Prime promete gerar cerca de 5 mil
empreendimentos e impulsionar o sistema de inovação brasileiro
ESPECIAL CRISE
Os efeitos da turbulência
econômica nas MPEs inovadoras
BIOPOLÍMEROS
Tendências e oportunidades de
um mercado calcado em P&D
Locus • Janeiro 2009
3
Índice
ambiente da inovação brasileira
Janeiro 2009 • n o 55 • Ano XV
ISSN 1980-3842
26
A revista Locus é uma publicação
da Associação Nacional de
Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores
Presidente
Guilherme Ary Plonski
Diretoria
Francilene Procópio Garcia, Gisa
Bassalo, Josealdo Tonholo, Silvestre
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Coordenação de Comunicação e Marketing
Márcio Caetano Setúbal Alves
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Produção
Patrocínio
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40
42
44
47
49
Apoio
50
Impressão
Gráfica Brasil Uberlândia
Tiragem
5.000 exemplares
Inovação no DNA
Novo programa da Finep quer incentivar a geração
e o crescimento de empreendimentos inovadores.
Descubra por que o Prime é diferente de todos os
programas de fomento implantados no Brasil.
Conselho editorial
Maurício Guedes – presidente
Carlos Américo Pacheco,
Gina Paladino, Helena Lastres e
Josealdo Tonholo
Coordenação editorial
Débora Horn
Márcio Caetano
Colaboração
Adriane Alice Pereira, Amanda
Miranda, Bruno Moreschi, Caroline
Mazzoneto, Eduardo Kormives,
João Werner Grando, Leo Branco,
Rosalvo Streit Junior e Salis Chagas
Jornalista responsável
Débora Horn – MTb/SC 02714 JP
Direção de arte
Luiz Acácio de Souza
Edição de arte
Rafael Ribeiro
Revisão
Sérgio Ribeiro
Foto da capa
Shutterstock
c apa
E n t r ev is t a
Carlos Eduardo Guillaume, sócio da empresa de capital semente
Confrapar, revela o que atrai os investidores em uma empresa nascente.
E m
movimen t o
Retrospectiva 2008: os resultados do estudo sobre parques tecnológicos,
a compra de uma graduada pela Vale e as principais discussões do último Seminário
Nacional. Para 2009: eventos importantes, editais em aberto e produtos inovadores.
ne g ó c ios
Na onda da sustentabilidade, polímeros verdes ganham espaço no
mercado internacional e garantem lucro a empresas de todos os portes.
I nves t imen t o
Especialistas garantem: a crise não afetará a oferta de venture capital para
financiar MPEs inovadoras. Mas os investidores estão ainda mais seletivos.
I N T E R N A C I O N A L
Sucesso no Brasil, a Semana Global de Empreendedorismo
reuniu 78 países para disseminar o “bota pra fazer”.
su c esso
Os vencedores das etapas regionais do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica
contam como transformaram P&D em diferencial competitivo.
O por t unidade
Integração de software é apontada como grande tendência
do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação.
G E S TÃ O
Em tempos de crise, aumenta a procura por MBAs na área de gestão.
Descubra se a capacitação pode ajudar sua empresa a enfrentar a turbulência.
A poio
Com 200 anos de história, Banco do Brasil está se reinventando
para atender demandas de pequenas empresas inovadoras.
edu c a ç ão
Núcleos de Inovação Tecnológica aumentam em quantidade e qualidade. Agora
falta capacitar profissionais para fazer a interface entre pesquisadores e mercado.
c ria t ividade
Empresa do Pará transforma couro de peixe em calçados e
acessórios cobiçados pelo mundo fashion. Novidade já chegou à França.
Cul t ura
Confira por que o filme Gomorra vem sendo chamado de “Cidade de Deus”
italiano, além das tradicionais dicas de livros, exposições e música.
opinião
Na estréia como articulista da Locus, Mauricio Guedes
conta uma história para inspirar gestores públicos.
carta ao leitor
N
a primeira edição da Locus do ano
passado, registramos neste espaço
nosso desejo de que 2008 fosse um ano repleto de boas histórias para divulgar. E
não foi diferente: tratamos de economia
criativa, da benéfica relação entre grandes
companhias e pequenas empresas inovadoras, dos caminhos da sustentabilidade e
de negócios consolidados e incipientes.
Em cada reportagem, empreendedores,
gestores de incubadoras e parques, pesquisadores, gestores públicos, consultores
e outras tantas fontes nos mostraram que
o empreendedorismo inovador contribui
para a construção de um país mais rico e
menos desigual.
Nesse contexto, 2009 não poderia começar de forma mais animadora. Finalmente
saiu do papel o Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime), da Finep, cuja elaboração acompanhamos de perto ao longo do
ano passado. E, apesar do pleonasmo, não
há palavra que melhor defina o Prime do
que “inovador”. Inova no conceito e na forma de operar. Representa um novo modo
de aplicar os recursos da subvenção econômica, revelando o despertar do governo
para a necessidade de destinar a maior parte desses recursos às empresas nascentes.
Na reportagem que inicia na página 26,
buscamos explicar o funcionamento do
programa e mostrar a enorme expectativa
criada em torno dessa iniciativa.
Há um fator fundamental no Prime que
aumenta nossa confiança em seu sucesso:
o envolvimento das incubadoras de empresas, atuando como operadores descentralizados da Finep. A credibilidade alcançada por essas instituições é mais uma
conquista a ser celebrada pelo movimento. A escolha por parte da Finep revela
que no espectro de entidades de apoio ao
empreendedorismo existentes no Brasil,
as incubadoras se destacam pela experiência na identificação e suporte de em-
presas inovadoras. E o
histórico do movimento nos leva a crer que o
empenho dessas instituições, aliado à capacidade inovadora dos
empreendedores, pode
tornar o Prime um marco no sistema de inovação brasileiro.
Mas como nem tudo
são flores, esta edição
também trata de um
fantasma que vem assombrando mercados
em todo o mundo. Indispensável falar da
crise e de seus possíveis impactos nas micro e pequenas empresas inovadoras. Buscamos informações sobre as tendências do
mercado de venture capital e seed money,
relatadas nas seções Investimentos e Entrevista. Os especialistas consultados são
unânimes em afirmar que, embora a crise
traga aversão a riscos, investidores continuam à caça de bons projetos.
Para finalizar, uma informação importante sobre o futuro da própria Locus.
Após dois anos no cargo, Maurício Guedes
deixa a presidência do Conselho Editorial
da revista, que agora conta com mais dois
integrantes: Jorge Audy, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUC/RS), e Maurício Mendonça, atual
gerente de assuntos regulatórios da Philip
Morris, que dirigiu a unidade de Competitividade Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e foi secretário
de Política Tecnológica Empresarial do
Ministério da Ciência e Tecnologia, entre
outros cargos. Em nosso entendimento, os
novos membros representam bem um dos
principais focos da Locus: a aproximação
entre academia e mercado.
Boa leitura! Feliz 2009!
C onselho E ditorial
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Ilana Lansky
Entrevista
D ébora H orn
A lógica do semeador
F
ormado engenheiro eletricista pela
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Carlos Eduardo Guillaume
deixou uma promissora carreira executiva
na Microsoft para criar uma das maiores
empresas brasileiras da área de capital
semente. A Confrapar foi fundada em 2005
por um grupo de 10 pessoas – alguns eram
seus amigos, outros apenas conhecidos. Em
comum, o fato de todos trabalharem com
tecnologia. “Conversávamos muito sobre
quais tecnologias iriam decolar, quais
empresas seriam um bom investimento e
quem eram os empreendedores nos quais
apostaríamos. Decidimos que era melhor
parar de falar e fazer”, conta Guillaume.
Como os outros nove sócios, ele assinou um
cheque de R$ 50 mil para dar início ao
negócio. Os primeiros anos no novo nicho
mostraram que a formação de uma rede
maior de investidores poderia
potencializar o conhecimento sobre a
indústria e o próprio processo de
investimento. Para atrair novos
sócios, a Confrapar fez dois
aumentos de capital e fundiu-se com
a Estufa Investimentos, co-gestora
do fundo Rotatec, focado em projetos
inovadores no pólo eletroeletrônico
da região de Santa Rita do Sapucaí
(MG). Com a fusão, o volume de
recursos geridos pela Confrapar
passou para cerca de R$ 90 milhões.
Em entrevista à Locus, Guillaume
revela as razões que levam
investidores a alocar recursos em
empresas nascentes e dá dicas sobre
os atributos indispensáveis a
empreendimentos que buscam o seed
capital para sair do papel.
Locus: Como você avalia o mercado de
seed capital brasileiro atualmente?
Quais as principais diferenças
observadas em relação a outros países?
Guillaume: O mercado de seed capital
no Brasil ainda é muito pequeno. São
poucos os gestores de seed capital que
atuam de maneira profissional. O Brasil
se destaca em relação a outros países
por bons e maus motivos. Por um lado,
temos uma cultura bastante empreendedora, em que novas empresas e idéias
surgem a todo momento. Por outro lado,
temos ainda uma taxa de juros bastante
alta, o que não ajuda o investimento no
setor produtivo, pois o capital acaba
sendo atraído para outros tipos de investimento, como a renda fixa. Se as
perspectivas dos analistas para os próximos meses se concretizarem, com taxas
de juros na casa dos 11%, o nível de seed
capital tende a aumentar, pois haverá
uma migração de investimentos.
Locus: O sistema de inovação
brasileiro é favorável ao
desenvolvimento do seed capital?
Guillaume: Vários programas estão favorecendo o desenvolvimento dessa indústria. Vale citar dois exemplos da Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep). Um é o programa Inovar Semente, que investe até 40% em fundos
selecionados de seed capital, e do qual a
Confrapar já participa. Outro é o Prime (Programa Primeira Empresa Inovadora), que irá incentivar empresas
nascentes com recursos da ordem de R$
120 mil por empreendimento.
Locus: Que mecanismos seria
necessário aperfeiçoar para
alavancar investimentos?
Guillaume: Esperávamos mudanças
mais rápidas após a Lei da Inovação,
mas hoje percebemos que o avanço
lento se deve à própria cultura do pesquisador brasileiro. No Brasil ainda dependemos de muitos cases de sucesso,
de cientistas que se tornaram empreendedores, para sensibilizar outros pesquisadores, fazendo com que eles descubram que há a opção de empreender.
Essa mudança de cultura não ocorre de
forma rápida, pois os cientistas, assim
como a maioria dos profissionais, foram formados para ter emprego e não
para serem empreendedores.
Os cientistas, assim como a maioria dos
profissionais, foram formados para ter
emprego e não para serem empreendedores
Locus: O que motiva um investidor a
aplicar recursos em uma empresa
nascente? Que riscos e possibilidades
de retorno costumam ser avaliados?
Guillaume: Os retornos financeiro e
social são os dois principais motivos
para o investidor. A indústria norteamericana apresentou resultados superiores a 37% ao ano para o investidor
na última década. Espera-se retorno financeiro da mesma ordem para o Brasil
nos próximos 10 anos, embora seja
sempre difícil fazer previsões, principalmente pelo fato de termos gestores
inexperientes nesse mercado, o que aumenta a chance de erros. Mas temos o
venture capital crescendo junto com o
país, assim como várias oportunidades
de inovação aguardando recursos. Ou
seja: há uma grande quantidade de projetos represada, que permitirão boa
performance aos fundos de investimento nos próximos anos. Além do aspecto
financeiro, outro motivo gratificante
para se investir no setor é saber que
aquele dinheiro vai criar novas empresas, empregos, arrecadação de impostos
– já que investimos somente em empresas 100% formais – e alavancar novas
tecnologias no Brasil.
Locus: Como a Confrapar tem aferido
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Entrevista
o retorno de seus investimentos?
Guillaume: Alguns fundos da Confrapar estão apenas no início de suas operações e outros em estágio pré-operacional. A empresa fez um investimento
direto – sem usar a estrutura de fundos
– que foi a Via6, uma rede profissional
online (www.via6.com). Quando investimos na empresa, no início de 2007,
ela tinha menos de 30 mil usuários cadastrados. Hoje tem quase 400 mil. Só
saberemos o retorno desse investimento quando a empresa for vendida, mas
está claro que já criamos bastante valor
ao longo do caminho.
Uma equipe fraca ou a falta de um diferencial
na oportunidade apresentada – a ausência de
inovação – são fatais para a ambição de qualquer
empreendedor em conseguir investimento
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Locus • Janeiro 2009
empreendimento nos próximos quatro
ou cinco anos.
Locus: Como os investidores costumam
avaliar a capacidade de uma equipe?
Guillaume: A capacidade de uma equipe para desenvolver e executar um projeto se revela em uma série de fatores,
como um currículo forte na indústria
em que se propõe a atuar, um background de formação interessante e as
experiências que a equipe já teve em
conjunto. Outro fator importante é ver
se eles estão motivados com a oportunidade que estão apresentando ou se
um salário 50% mais alto os faria abandonar a equipe. Tem equipe que você vê
que vai executar o projeto de qualquer
forma, em que os membros já investiram recursos do próprio bolso, o que
mostra o grau de comprometimento de
todos com a proposta.
Locus: Como é formada uma
carteira de investimentos em seed
capital? Qual a origem dos recursos
que são aportados nas empresas?
Guillaume: Os recursos geralmente são
oriundos de fundos de pensão, órgãos
de fomento e investidores-anjos. A
composição da carteira depende muito
do gestor e do setor do fundo, mas geralmente é composta por várias empresas, de setores ou características complementares, visando minimizar o risco
do investimento. No caso da Confrapar,
como investimos apenas em tecnologia,
procuramos diversificar os portfólios
investindo em subsetores diferentes.
Locus: Quais as razões – principais
ou mais recorrentes – que levam
à rejeição de um projeto por parte
do investidor?
Guillaume: No caso das empresas e
projetos que analisamos, uma equipe
fraca ou a falta de um diferencial na
oportunidade apresentada – a ausência
de inovação – são fatais para a ambição
de qualquer empreendedor em conseguir investimento. A Confrapar, por
exemplo, não avalia empresas de uma
pessoa só. Nesses casos, orientamos o
empreendedor a procurar um sócio que
acredite na sua idéia. Ou seja: convença um amigo, parente ou colega de faculdade de que sua idéia é boa e depois
nos procure.
Locus: Qual o perfil de negócio
considerado potencial para
receber seed capital?
Guillaume: Empresas que apresentam
uma equipe forte e motivada, capaz de
transformar a inovação em um elevado
crescimento de receitas e lucros para o
Locus: Muitas vezes, a entrada
de um investidor externo exige
ajustes no modelo de gestão das
empresas e no comportamento do
próprio empreendedor. Como
tornar construtiva – e menos
conflitante – a relação entre
empreendedores e investidores?
Guillaume: Esse é um desafio constante. A falta de maturidade da indústria
de venture capital no Brasil não contribui muito. Temos que ajudar o empreendedor a se sentir confortável antes e
após o investimento. Nesse ponto, a
transparência do investidor e o respeito
pelo empreendedor são fundamentais.
Muitas vezes o empreendedor não compreende como o investidor vai ganhar
dinheiro, desconhece o business.
Locus: Nesse caso, qual o melhor
caminho para o entendimento?
Guillaume: É preciso mostrar ao empreendedor quais são as intenções e expectativas do investidor, apresentando
inclusive os instrumentos jurídicos que
regulamentarão a parceria. Esse processo de preparação demora em média
quatro meses, até que a empresa receba
o investimento e dê início a uma relação que deve durar cerca de quatro
anos. Nosso papel é muito mais informativo nessa hora. Isso por que a desinformação gera uma incerteza ainda
maior na cabeça do empreendedor.
Locus: Qual o papel dos parques
tecnológicos e das incubadoras no
aprimoramento do seed capital?
De que forma podem contribuir
para aproximar empreendedores
e investidores?
Guillaume: Muitas incubadoras e parques já fazem sua parte. Estão modificando seu modelo de negócios para um
estilo menos paternalista, protetor. As
incubadoras perceberam que um dos
seus principais papéis é casar cada empresa com uma alternativa de investimento ou financiamento adequada. O
capital empreendedor é apenas uma
dessas alternativas.
Locus: Quais as perspectivas do
mercado de capital semente brasileiro
frente à crise financeira internacional?
O que os empreendedores podem
esperar para 2009?
Guillaume: Essa crise irá afetar as
empresas já estabelecidas, principalmente as médias e grandes, de uma forma mais contundente. As pequenas
empresas nascentes, principalmente no
As incubadoras perceberam que um de
seus principais papéis é casar cada empresa
com uma alternativa de investimento ou
financiamento adequada
Brasil, estão afastadas do mercado de
capitais e não devem sentir tão fortemente a retração da economia. Então
irão sofrer menos com os efeitos. Muitas empresas de tecnologia até irão se
aproveitar da crise para abrir mercado,
aproveitando oportunidades trazidas
pela turbulência. Um exemplo: a necessidade de reduzir gastos aumentará a
demanda por softwares que gerenciem
custos. A empresa que tiver esse software com o grau de inovação desejado
pelo mercado terá grandes possibilidades de crescimento. Então os empreendedores devem continuar a inovar e tirar as idéias do papel. O impossível é
aquilo que ainda não foi tentado.
Locus: Qual seu conselho para o
empreendedor que precisa de
recursos para executar um projeto
inovador? Onde buscar ajuda? O que
fazer primeiro?
Guillaume: Pesquise e descubra se
seu projeto é de fato inovador. Apaixone-se pelo projeto. Depois busque e
motive uma equipe capaz de executar
essa idéia. Se ela for de fato inovadora e
tiver um alto potencial de crescimento,
busque ajuda de um fundo de capital
empreendedor. Um e-mail conciso e
bem escrito basta para chamar a atenção do investidor.
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Anprotec revela evolução
de parques tecnológicos
Ainda falta muito para que se conheça em profundidade o nível de desenvolvimento e o potencial dos
parques tecnológicos instalados no Brasil. Mas o
primeiro passo já foi dado. Em uma reunião com
parceiros realizada no dia 16 de dezembro de 2008,
a Anprotec lançou o “Portfolio de Parques Tecnológicos no Brasil”, que apresenta dados sobre diversas
experiências nacionais de parques, ampliando o nível de informação sobre o segmento.
No levantamento, foram identificadas 74 iniciativas de parques tecnológicos, distribuídas por todas
as regiões brasileiras, das quais 64 responderam à
pesquisa enviada pela Anprotec, dando origem aos
indicadores. Desses, apenas 25 encontram-se em
plena operação. A maioria ainda está em fase de
projeto ou implantação – o que se explica pelo fato
de 49 parques terem iniciado a partir de 2005 (veja
gráficos). As regiões Sul e Sudeste concentram
grande parte das iniciativas, com 23 e 34 parques,
respectivamente. No Centro-Oeste e no Norte do
Brasil, todos os parques identificados pelo levantamento encontram-se em fase de projeto.
Em todo Brasil, os parques em operação abrigam
520 empresas, que juntas geram receitas da ordem
de R$ 1,7 bilhão por ano. Porém, o faturamento individual de 475 delas não ultrapassa R$ 5 milhões.
“O grande desafio dos parques é ampliar o nível de
faturamento de suas empresas”, afirma o ex-presidente da Anprotec José Eduardo Fiates, que coordenou o estudo. Para consolidar os parques tecnológicos, a Anprotec estima que são necessários cerca de
R$ 4 bilhões em investimentos, dos quais R$ 1,86
bilhão viria do setor público.
Segundo Fiates, os resultados da pesquisa demonstram que o estímulo aos parques pode ser estratégico para o desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil. “É fundamental saber quais são
as prioridades setoriais, tecnológicas e regionais que
o governo precisa estimular. Isso foi feito na França,
na Coréia do Sul, na China e na Índia, tendo os parques como catalizadores desse processo de desenvolvimento”, enfatiza Fiates.
O portfolio traz informações detalhadas sobre os
64 parques que responderam à pesquisa e está disponível no site da Anprotec (www.anprotec.org.br).
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Bayer testa produto da Imuny
Criada em 2003 na Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ, a Petroleum Geoscience
Technology (PGT), especializada em consultoria, análise e interpretação de dados de bacias petrolíferas, foi comprada pela Vale em
novembro de 2008. O negócio, estimado em
R$ 15 milhões, consolida a estratégia da mineradora de produzir gás natural para suprir
suas operações no Brasil e no exterior.
Desde 2007, a PGT prestava serviço à Vale
na identificação de áreas potenciais para a
descoberta de petróleo, tendo assessorado a
gigante na aquisição de nove blocos na 9ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do
Petróleo (ANP). Ao comprar a PGT, a Vale absorveu todo o quadro técnico da empresa,
com cerca de 50 funcionários. De acordo com
a mineradora, os sócios-diretores da PGT permanecerão na empresa, ajudando a conduzir
os processos exploratórios. Com faturamento
estimado em R$10 milhões por ano, a ex-incubada atende petroleiras do Brasil e do exterior. Integram a carteira de clientes as brasileiras Queiroz Galvão e Starfish, a norueguesa
Norse Energy e a colombiana Ecopetrol.
Em dezembro de 2008, a Bayer CropScience, subsidiária da Bayer que atua no setor de ciências agrícolas, começou a testar em suas plantações um produto desenvolvido pela Imuny, empresa de biologia molecular graduada
na Incubadora de Empresas da Unicamp (Incamp), de
Campinas (SP). Estão em teste os kits para diagnóstico
precoce da ferrugem-da-soja, um teste imuno-químico
padrão, desenvolvido para aplicação em laboratório.
A ferrugem-da-soja é causada por um fungo e tem ocasionado prejuízos à produção desde que chegou ao Brasil,
há cerca de sete anos. Até agora, a identificação da ferrugem nas lavouras de soja vem sendo feita pela observação
das folhas com o auxílio de uma lupa. Aplicando-se o teste desenvolvido pela Imuny no monitoramento periódico
da safra, a doença poderá ser detectada em seu estágio
inicial, ainda imperceptível visualmente nas folhas, o que
garantirá uma resposta mais precoce.
O teste consiste em macerar a folha de soja, aplicá-la na
membrana de nitrocelulose e, então, adicionar uma solução do anticorpo específico para o fungo da ferrugem,
que foi desenvolvido pela equipe do Laboratório de Imunologia Aplicada do Instituto de Biologia da Unicamp. Se
os testes forem bem-sucedidos, o produto brasileiro pode
concorrer com o similar importado, cuja aplicação tornou-se inviável no Brasil devido ao alto custo. Confiante
no resultado dos testes, a Imuny já abriu uma spin-off,
denominada RheaBiotech, para aprimoramento e comercialização do novo produto.
DIVULGAÇÃO/embrapa
DIVULGAÇÃO/vale
Vale compra empresa graduada
Planta industrial da Vale:
aquisição da PGT contribuirá
para geração própria de energia
Planta de soja atingida
por ferrugem
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Sem cortes para C&T
O Parque Tecnológico da Fundação Núcleo de Tecnologia
Industrial do Ceará (Nutec) acaba de completar uma década
de atividades. Criado em 1998 para apoiar, acompanhar e
orientar empresas nascentes no desenvolvimento de seus
empreendimentos, o Nutec oferece infra-estrutura tecnológica, com laboratórios acreditados pelo Inmetro, plantas-piloto e equipamentos modernos.
As empresas incubadas no parque participam das fases
fundamentais do processo de incubação – implantação, desenvolvimento, consolidação e graduação – adquirindo competitividade e sustentabilidade nos mercados em que atuam.
A incubadora do Nutec abriga negócios de diversas áreas,
como automoção, química industrial, biotecnologia e tecnologias para construção civil, entre outras. Mais informações
em www.nutec.ce.gov.br.
Após prever corte de R$ 1 bilhão em recursos para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o que inviabilizaria a execução de diversos programas da área – e
principalmente a concessão de bolsas a estudantes e pesquisadores –, o Congresso
Nacional aprovou a projeção orçamentária
do MCT para 2009, de R$ 6,3 bilhões. “O
Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação
para o Desenvolvimento Nacional tem um
conjunto de programas e ações que estão
em andamento, e a questão dos recursos é
central para a execução das metas do
PACT&I”, afirmou o secretário executivo
do MCT, Luiz Antonio Elias Rodrigues.
Aprovado pelo Congresso no último dia
18 de dezembro, o orçamento para 2009
cria uma reserva de R$ 2,5 bilhões, que
será usada pelo Executivo para manter a
previsão orçamentária dos ministérios da
Ciência e Tecnologia (MCT) e da Educação (MEC). O texto prevê gasto total de
R$ 1,658 trilhão, já com o corte de R$ 8,5
bilhões em custeio, aprovado durante a
tramitação da proposta na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO).
DIVULGAÇÃO/Nutec
Parque cearense completa 10 anos
Laboratório
do Nutec:
infra-estrutura
para abrigar
empreendimentos
A partir deste ano, empresas inovadoras paulistas têm mais um motivo para instalarem-se em parques tecnológicos: incentivos fiscais. De acordo com um decreto do governo do estado, assinado no dia 16 de dezembro de 2008,
os empreendimentos instalados no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos poderão utilizar os créditos acumulados do ICMS para investir em suas atividades. O decreto integra o
Pró-Parque, programa que prevê o apoio do governo estadual para
ampliar a infra-estrutura dos parques tecnológicos. “Esse programa
sinaliza São Paulo voltado para o futuro. São cerca de R$ 16 milhões
para estimular sete parques tecnológicos, incubadoras de empresas
e laboratórios de desenvolvimento tecnológico, o que vai facilitar o
investimento e a oferta de emprego”, disse o governador José Serra.
Os parques beneficiados com o programa estão instalados em Piracicaba, São José dos Campos, Sorocaba, São Carlos e Campinas.
Também foi assinado um protocolo de intenções com a prefeitura de
São Paulo, que visa a cooperação para criação, estruturação e imGovernador José Serra assinou
plantação de dois parques tecnológicos na capital paulista.
decreto sobre incentivos fiscais
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Ciete Silvério
Apoio aos parques em SP
shutterstock
Após ser implantado no Paraná e no Distrito Federal, o projeto
Agentes Locais de Inovação (ALI) será levado pelo Sebrae a mais
nove estados brasileiros. Ao todo, serão empregados R$ 27,8 milhões para incentivar a inovação em cerca de 10 mil empreendimentos de Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do
Sul, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Para
isso, devem atuar 204 agentes locais de inovação – pessoas formadas há três anos e capacitadas pelo Sebrae para orientar e propor
soluções inovadores às empresas. Um projeto especial de ALI será
desenvolvido pelo Sebrae na Região Norte, que contará com R$
6,6 milhões, beneficiando cerca de 1.600 empresas.
Mercosul tem fundo
de US$ 100 milhões
para MPEs
Proposto pelo Brasil, o Fundo para
Pequenas e Médias Empresas do
Mercosul foi lançado na última cúpula do bloco, realizada em dezembro de 2008 na Costa de Sauípe (BA).
O fundo contará com US$ 100 milhões, que devem ser utilizados como
garantia em empréstimos concedidos
a pequenas e médias empresas por
bancos públicos e privados de Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai. Os
recursos serão destinados a empresas
que mantêm projetos de integração
produtiva com os países vizinhos.
O Brasil terá 70% de participação
no fundo, contra 27% da Argentina,
2% do Uruguai e 1% do Paraguai,
com possibilidade de contribuições
voluntárias adicionais. Mas o acesso
será igualitário: cada país terá direito
a 25% do montante. Os recursos serão gerenciados por um comitê intergovernamental.
Parque do Rio abrigará multinacionais
As multinacionais Schlumberger e FMC anunciaram neste mês a
instalação de unidades no Parque Tecnológico do Rio, localizado no
campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Juntas,
elas deverão criar cerca de 600 empregos de alta qualificação técnica,
além de gerar oportunidades de transferência de conhecimento com o
meio acadêmico. “A chegada dessas empresas só confirma que a prinInstalação das companhias foi anunciada pelo
cipal vocação da cidade do Rio de Janeiro é ser o celeiro do conheciprefeito Eduardo Paes (centro), ao lado do
reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira (direita), e do
mento brasileiro”, afirmou o prefeito Eduardo Paes ao anunciar a inssecretário municipal de C&T, Rubens Andrade
talação as companhias no Parque.
Especializada na área de petróleo e gás, a Schlumberger, de origem francesa, atua em mais de 80 países e
tem na inovação tecnológica uma de suas principais características. Também atuante no setor de petróleo, a
companhia norte-americana FMC Technologies fabrica equipamentos submarinos para a extração de óleo e
gás em águas profundas.
As multinacionais irão somar-se às 17 empresas já instaladas no Parque Tecnológico do Rio, que até 2017 terá
mais de 120 mil m² de área construída. A estimativa é de que 4 mil pessoas trabalhem em cerca de 220 empresas
sediadas no local.
divulgação
Agentes locais
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M O V I M E N TO
Ascensão feminina foi
destaque em Aracaju
divulgação/anprotec
Reunidas na capital sergipana, cerca de
600 pessoas participaram do XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e
Incubadoras de Empresas, organizado pela
Anprotec em parceria com o Sebrae. Realizado entre os dias 22 e 26 de setembro de
2008, o evento promoveu discussões que
contribuirão para o avanço do empreendedorismo inovador no Brasil. Um dos temas de maior destaque foi a pesquisa Mulheres Empreendedoras: Gênero e Trabalho
nas Incubadoras de Empresas e Parques
Tecnológicos, realizada pela Anprotec em
parceria com a Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (ITCP/UFRJ).
Segundo a pesquisa, 47% das mulheres
que trabalham em parques tecnológicos e
incubadoras exercem cargos de gerência
ou coordenação. “Esse resultado rompe
com o paradigma de que o setor seja tradicionalmente masculino”, afirmou o antropólogo Marcelo Silva Ramos, que organizou a pesquisa. Apesar dos avanços, a
pesquisa revelou que o preconceito à liderança feminina ainda é muito presente nas
instituições, pois 45% das entrevistadas
disseram ter sofrido alguma discriminação devido à idade – a maioria delas tem
entre 25 e 35 anos – ou ao sexo.
Sessão plenária apresentou
os resultados da pesquisa
no Seminário de Aracaju
14
Locus • Janeiro 2009
Nova data a celebrar
Para estimular a criação de empreendimentos inovadores,
incubadoras de 60 países se mobilizaram no último dia 8 de
dezembro para comemorar 1º Dia Global de Incubação de
Empresas. A iniciativa, liderada pela UK Business Incubation, celebrou o papel de entidades dessa natureza na promoção da inovação e do empreendedorismo. No Brasil, diversas
instituições, coordenadas pela Anprotec, realizaram uma série de eventos paralelos, como exposição de casos de sucesso
de empresas incubadas, realização de um dia de visitação às
incubadoras, palestras e workshops, campanhas de mobilização de parcerias com os setores privado e governamental,
além de atividades on-line. Segundo levantamento feito pela
associação, o movimento brasileiro de incubação de empresas
tem crescido a uma taxa expressiva nos últimos 10 anos, alcançando uma média superior a 25%. Atualmente, o país conta com cerca de 400 incubadoras que congregam 6.300 empresas de base tecnológica, responsáveis pela geração de 33
mil postos de trabalho, a maior parte dos quais qualificados.
Inovação e saúde na gôndola
Após lançar os primeiros limpadores de língua no mercado
brasileiro e ser reconhecida pela FDA, a Kolbe, empresa graduada pelo Condomínio de Empreendedores e de Inovações
Tecnológicas (Compete) da Universidade Federal da Bahia,
comemora a parceria com a Ebal – Empresa Baiana de Alimento, conhecida como Cesta do Povo. Controlada pelo governo estadual, a Ebal é a maior rede de abastecimento alimentar do estado, com 279 lojas presentes em 225 municípios
baianos. Com foco na população de baixa renda, a estatal colocou o limpador de línguas à venda em suas lojas, com preço
diferenciado. Segundo a Kolbe,
pesquisas mostram que 70% das
doenças causadas por bactérias se
instalam originalmente na boca, o
que torna a limpeza da língua uma
eficaz medida preventiva.
Limpador de língua da
Kolbe previne doenças
originadas na boca
divulgação
E M
High-Tech
Agenda
Criada pela
Techway, residente
do Centro de
Incubação e
Desenvolvimento
Empresarial de
Manaus (CIDE), a
Pentop permite a
produção de livros
interativos. Utilizando tecnologia semelhante ao
de leitores de código de barras, um sensor lê os
códigos impressos no livro e reproduz os sons
correspondentes, como falas, sons ambientes,
ruídos e músicas, por exemplo. A Pentop
também pode traduzir textos e associar sons às
imagens impressas.
Saiba mais: www.techwaybr.com.br
divulgação
Caneta esperta
ABRIL
17º Venture Forum Finep
Data: 15 de abril de 2009
Local: São Paulo (SP)
Informações: www.finep.gov.br
MAIO
3rd Global Forum on Business Incubation
Data: 11 a 15 de maio de 2009
Local: Brasília (DF)
Informações: www.3rdglobalforum.com
Dados a salvo
Conferência Internacional Ethos 2009 – Empresas e
Responsabilidade Social
Data: 11 a 14 de maio de 2009
Local: São Paulo (SP)
Informações: www.ethos.org.br/Ci2009
shutterstock
Quem trabalha com notebook sabe: ter a
máquina furtada pode representar não apenas
prejuízo financeiro, mas também a perda de
informações importantes ou até sigilosas.
Pensando nisso a FindME, empresa residente
no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas
(Cietec/SP) criou o TCom
Inspice Trace, um rastreador
que permite localizar o
equipamento e apagar os
dados armazenados de
forma remota. Tudo
isso por meio de um
programa instalado em
um diretório oculto do HD.
Saiba mais: www.findeme.com.br
9ª Conferência da Anpei – Associação Nacional de
Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das
Empresas Inovadoras
Data: 8 a 10 de junho
Local: Porto Alegre (RS)
Informações: www.anpei.org.br
26ª Conferência Mundial da International
Association of Science Parks (IASP)
Data: 1° a 4 de junho
Local: Raleigh, Carolina do Norte (EUA)
Informações: www.iasp2009rtp.com
Sem odores
OUTUBRO
divulgação
Para alívio dos profissionais e clientes de
salões de beleza, o mau cheiro gerado por
produtos químicos de coloração e
alisamento capilar está com os dias
contados. A TBN, residente na Arca
Multincubadora, da Universidade
Federal do Mato Grosso, acaba
de lançar um exaustor portátil,
que neutraliza odores e melhora
a qualidade do ar do ambiente,
prevenindo doenças respiratórias.
Saiba mais: www.arcamultincubadora.com.br
JUNHO
XIX Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e
Incubadoras de Empresas
Data: 26 a 30 de outubro
Local: Florianópolis (SC)
Informações: www.seminarionacional.com.br
Locus • Janeiro 2009
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s
shutterstock
N
A nova matéria
R osalvo S treit J unior
Mercado de biopolímeros cresce 30% ao ano e atrai
empreendedores. Mas ainda é preciso convencer o
consumidor a abandonar o barato plástico convencional
S
egunda-feira é dia de compras para
a comerciante Tani Fátima dos Reis,
45 anos. Moradora da pequena cidade
mineira de Guarda-Mor, a 600 quilômetros da capital Belo Horizonte, ela não
começa a semana sem ir ao supermercado. A lista, na maioria dos casos, resumese a frutas, verduras e a alguns produtos
que estejam em falta na casa da família.
“Prefiro comprar aos poucos, uma vez
por semana, pois é mais prático e menos
cansativo”, afirma.
Mas cada vez que ela vai ai supermecado, o porta-malas é ocupado por um material tão consumido quanto as próprias
compras: as famosas sacolas plásticas.
Para Tani, quanto mais, melhor. No supermercado, na padaria, na farmácia ou
em uma locadora de filmes – não importa
o lugar – o mesmo comportamento. “Levo
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Locus • Janeiro 2009
o maior número possível de sacolas plásticas. Preciso delas para usar como embalagem e para colocar o lixo”, justifica.
Atitudes como essa se repetem em milhões de lares do país. Os consumidores
brasileiros podem não saber, mas, juntos,
consomem todos os meses 1,5 bilhão de
sacolas, cuja matéria-prima é plástico-filme, produzido a partir de uma resina chamada pelos especialistas de polietileno de
baixa densidade, originada do petróleo.
Resultado: 210 mil toneladas de plásticofilme são eliminadas todos os anos no
país, contaminando o meio ambiente –
em média, o tempo de decomposição desse material é de 100 anos.
Desde que foi inventado – em 1862 pelo
inglês Alexander Parkes –, o plástico surgiu como alternativa de redução de custos
às indústrias. “A matéria”, como era popu-
Esperança verde
Em junho deste ano, o recorde de preço do barril de petróleo foi manchete em
todos os jornais: US$ 140, o maior já registrado na Bolsa Mercantil de Nova Iorque. Menos de seis meses depois, a crise
financeira mundial contribui para derrubar o valor do barril a US$ 55. Essa instabilidade de preço da matéria-prima
usada para a fabricação do plástico sintético, somada à importância da preservação do meio ambiente, tem estimulado a
propagação de uma inovadora tecnologia, a dos biopolímeros.
A tecnologia não é propriamente nova.
O desenvolvimento dos polímeros verdes, como também são conhecidos, data
do início da década de 1960. “Essa tecnologia voltou a ser discutida recentemente, pois os preços estão mais competitivos e o apelo ecológico cada vez maior”,
explica a pesquisadora do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas de São Paulo Marilda Keico Taciro, que estudou o tema
durante o doutorado.
Produzidos a partir de matéria-prima
renovável, os plásticos verdes despertaram a atenção das indústrias. “Antes, por
causa do preço e da qualidade inferior,
produzir esses plásticos era inviável. Hoje,
a oferta de matéria-prima renovável no
Brasil é infinita, os gastos com esse setor
estão menores e os consumidores exigem
responsabilidade ambiental das empresas”, explica o gerente de propriedade industrial da Braskem, Antônio Morschbacker. A multinacional brasileira é a maior
fabricante de polietileno da América Latina e umas das primeiras a investir nesse
nicho de mercado.
Com investimentos em pesquisa e desenvolvimento da ordem de R$ 5 milhões,
a Braskem anunciou, em 2007, a produção
do primeiro polietileno com certificado
internacional pela Beta Analytic, um dos
principais laboratórios do mundo. A nova
tecnologia, que começou a ser implantada
há três anos, já rendeu reconhecimento –
a Braskem conquistou, no ano passado, o
primeiro lugar no prêmio Bioplastic
Awards, na Alemanha.
Produzido a partir do etanol da canade-açúcar, o polietileno verde da Braskem
é fabricado em escala piloto – 12 toneladas anuais – no Centro de Tecnologia e
Inovação da empresa em Triunfo (RS). A
meta, segundo Morschbacker, é aproveitar todo o potencial do país na oferta de
matéria-prima renovável. “Assim como o
Oriente Médio é referência na produção
de petróleo, o Brasil é símbolo mundial
na produção de álcool extraído da canade-açúcar, potencial que pretendemos explorar”, explica. Morschbacker acrescenta
Morschbacker, da
Braskem: empresa
quer explorar o
potencial do etanol
DIVULGAÇÃO
larmente chamado (nome herdado de
“matéria plástica”), ganhou espaço e virou
vício da sociedade capitalista. Impulsionada pelos preços competitivos do petróleo no início do século, a produção desse
material – “flexível, resistente, à prova
d’água e, principalmente, barato”, conforme divulgava a publicidade – virou mania.
Da comerciante Tani, no interior de Minas
Gerais, às grandes indústrias e multinacionais, os polímeros sintéticos são presença garantida em diversos setores da
economia e tomaram conta do planeta.
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que, em virtude do aumento da procura
pelo álcool, o preço do produto também
subiu e diminuiu a disparidade com o petróleo. Mais um motivo, afirma, para investir nos biopolímeros.
Escala industrial
Fotos: DIVULGAÇÃO
A Braskem programa para 2010 o início
da produção, em escala industrial, do primeiro plástico verde com certificado de
qualidade internacional do mundo. Cien-
Brinquedo e troféu do
GP Brasil de Fórmula‑1,
produzidos com o
plástico verde da Braskem
18
Locus • Janeiro 2009
te que o mercado de biopolímeros cresce,
em média, 30% ao ano, a empresa decidiu
construir uma fábrica capaz de produzir,
anualmente, 200 mil toneladas. “Temos
indicadores que nos garantem o interesse
do mercado pelo nosso produto. Estados
Unidos e Japão, por exemplo, são nossos
principais clientes”, diz Morschbacker.
Para convencer os clientes a comprar a
idéia da Braskem não faltam bons argumentos. “Nosso polietileno é muito versátil e pode ser usado na fabricação de diversos produtos como frascos, sacolas e
brinquedos”. Outro ponto positivo é a facilidade com que os biopolímeros se adaptam às máquinas industriais que trabalham com o plástico convencional. Além
de facilitar a operação, isso exime a empresa de investimentos extras para adaptar o parque.
Enquanto a produção em larga escala
não começa, empresas como a fabricante
de brinquedos Estrela já procuraram a
Braskem para firmar parcerias. Utilizando o plástico verde, a Estrela colocou à
venda, em junho de 2008, 10 mil unidades
do chamado ‘Banco Imobiliário – Sustentável’, renovando um dos jogos mais famosos do país. As peças do brinquedo e o
filme plástico que envolve a embalagem
foram fabricados com a nova resina. Resultado da inserção da Estrela na onda de
sustentabilidade que carrega organizações
de todo o mundo, esse foi o primeiro investimento da empresa nos biopolímeros
e deve gerar novas parcerias.
Para dar ainda mais visibilidade à inovação, a Braskem apostou no poder de
divulgação da Fórmula ‑ 1. O último GP
Brasil, que decidiu a competição no ano
passado, concedeu ao vencedor um troféu confeccionado com o polímero de
origem vegetal, 100% renovável, fato inédito na história da Fórmula ‑ 1. Além da
inovação tecnológica, a peça tinha outro
atrativo: foi desenhada por Oscar Niemeyer, que se inspirou nas colunas do Palácio da Alvorada.
Ao apresentar o troféu à imprensa, o
presidente da Braskem, Bernardo Gradin,
revelou o potencial do mercado. “Clientes
comprometidos com a sustentabilidade
em todo o mundo demandam soluções
tecnológicas e econômicas da indústria
petroquímica. Estivemos na Bio Plastic,
no Japão, e confirmamos esse interesse,
principalmente no mercado asiático. Firmamos parcerias com empresas renomadas, como a indústria de cosméticos Shiseido”, afirmou.
Apenas o começo
Apesar de ser a principal matéria-prima para a fabricação de biopolímeros, o
etanol da cana-de-açúcar não está sozinho. A resina pode ser extraída de outros
materiais – a exigência é que a fonte seja
uma matéria-prima renovável. Essa oferta, somada ao empreendedorismo de alguns empresários, faz com que a lista de
produtos com essa finalidade seja extensa. Vai, por exemplo, da quitosana extraída da carapaça de crustáceos à sacarose
da própria cana. “O mercado para os biopolímeros não pára de crescer no Brasil.
Cabe a cada fabricante encontrar o seu
nicho de mercado e saber explorá-lo”, resume Antônio Morschbacker. Palavras de
um especialista que já foram compreendidas por empresas em diversas regiões
do Brasil e estão se transformando em experiências de sucesso.
Tampas de caneta e de garrafas, copos
plásticos, maçanetas de carros, retrovisores, embalagens de iogurte e chapas para
cartão de crédito, crachás e chaves de hotel. Geralmente, esse tipo de objeto plástico tem origem no petróleo e gera uma série de danos ao meio ambiente quando
descartado. Mas os artigos produzidos
pela empresa paulista PHB Industrial são
diferentes. “Nosso biopolímero é feito a
partir do processo de fermentação da sacarose extraída da cana-de-açúcar – fonte
natural e renovável – e se biodegrada em
ambientes com atividade bacteriana”, or-
gulha-se o diretor executivo da PHB, Sylvio
Ortega Filho.
Localizada em Serrana (SP), a empresa
foi uma das primeiras
do país a investir, desde o início da década
de 90, na fabricação de
biopolímeros. Da planta-piloto à fase industrial, prevista para começar a operar nos
próximos três anos, a PHB utiliza diversas
técnicas de transformação para chegar ao
resultado final, o plástico biodegradável.
Atendendo pelo nome comercial de
Biocycle, o produto da PHB já conquistou
o mercado internacional. Assim como no
caso da gigante Braskem, Japão e Estados
Unidos são os principais clientes. A meta
é produzir até 30 mil toneladas por ano
em 2011 – atualmente, a produção não ultrapassa 60 toneladas anuais.
Apesar de otimista, Ortega aponta dois
fatores que podem prejudicar a expansão
dos negócios para quem pretende investir
no mercado de biopolímeros. Primeiro, o
preço do produto, mais caro que o do
plástico convencional – o quilo do
Biocycle, por exemplo, custa, em média,
US$ 4,4, enquanto o concorrente sintético
é vendido a US$ 1.
O segundo empecilho, segundo o empresário, estaria ligado à falta de consciência ambiental do governo e da população brasileira. “As pessoas ainda não têm
consciência de que comprar um produto
fabricado com biopolímeros é mais saudável ao meio ambiente. Por outro lado, a
carga tributária que pagamos para produzir o plástico verde é a mesma cobrada
das fábricas convencionais. Não recebemos incentivo algum”, reclama.
A pesquisadora Marilda Keico Taciro
concorda com Ortega: “Falta legislação
específica no Brasil para que o brasileiro
possa adotar os biopolímeros em seu diaa-dia”. Mas é otimista em relação ao futu-
Equipamentos
da Quantas
Biotecnologia:
biopolímero extraído
da sacarose
Locus • Janeiro 2009
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e
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s
ro. “Paralelamente ao desenvolvimento de
novas tecnologias, o preço desses novos
produtos irá cair”. Enquanto os biopolímeros não recebem a devida importância
no Brasil, a PHB Industrial segue apostando nesse mercado.
Duplo benefício
A empresa baiana Quantas Biotecnologia S/A encontrou no plástico verde uma
forma de gerar duplo benefício ao meio
ambiente. Além de substituir recursos
não-renováveis na fabricação de plásticos,
faz com que a inevitável extração de petróleo seja mais limpa. A empresa também produz um biopolímero extraído da
fermentação da sacarose da cana-de-açúcar – desta vez com a ação da bactéria
Xanthomonas campestris –, a goma xantana. O nome pode parecer difícil, mas a
aplicação é simples: ela é usada na perfuração de poços, inclusive os de petróleo.
O material substitui os fluidos usados nas
atividades de perfuração que são fabricados com matéria-prima não-renovável e
demoram décadas para se decompor.
Com elevado peso molecular e alta viscosidade, a goma adquire um efeito gel e
torna-se capaz de suspender os resíduos
retirados da rocha enquanto se perfura o
poço. Ou seja: evita o entupimento do
orifício, pois mantém o material retirado
na superfície. Além disso, atua como lubrificante das brocas de perfuração e evita
que elas se rompam. O projeto, desenvolvido em parceria com o Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (Senai) da
Bahia, já foi aprovado pela Petrobras.
“Estamos bastante otimistas. Neste início de ano vamos colocar o produto no
mercado para testes. Em 2010 a meta é
começar a produzir em escala industrial”,
afirma o diretor-presidente da Quantas
Biotecnologia, Edson Buzanelli. Ele afirma que R$ 5 milhões já foram investidos
em pesquisa e desenvolvimento durante a
fase-piloto e semi-industrial e que outros
R$ 20 milhões estão previstos para terminar a construção da fábrica no Pólo Petroquímico de Camaçari (BA). Quando estiver pronta, ela vai ser a primeira do
Hemisfério Sul a produzir goma xantana
em escala industrial, com capacidade instalada de 7 mil toneladas por ano.
Mas a expansão do produto esbarra,
mais uma vez, na questão do preço. Como
também é controlado internacionalmente,
o valor da goma xantana no mercado ainda é elevado, cerca de US$ 10 por quilo.
“Precisamos trabalhar para desenvolver-
As mil e uma utilidades da quitosana
Inovação
Benefícios
Cosméticos inteligentes
Combatem rugas e radicais livres
Quitosana em cápsulas
Captura a gordura dos alimentos, favorecendo o emagrecimento
Quitosana aromatizada
Quando ingerida, funciona como aromatizante natural do corpo
Quitosana + bactéria microcapsulada
Em acidentes com petróleo em alto-mar, a bactéria se alimenta do
combustível e atua na limpeza da área
Produção de etanol com leveduras
imobilizadas em quitosana
Como a levedura se contamina com o álcool que produz, a
quitosana a encapsula e a protege
Bandagens
A quitosana contribui para estancar hemorragias
Membrana e películas de quitosana
Preserva frutas e verduras na pós-colheita. Aumenta o tempo de
prateleira de oito para 18 dias
Fonte: Polymar
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Locus • Janeiro 2009
Fotos: DIVULGAÇÃO
mos mais tecnologia e diminuirmos essas
cifras”, afirma Buzanelli. Mesmo assim, a
Quantas Biotecnologia tem razões para
comemorar. Recentemente, transformouse em uma sociedade anônima para receber como acionista um importante banco
de investimento. Os aportes financeiros
da parceira já garantiram a conclusão da
primeira etapa da fábrica. “Vamos começar a produzir em módulos. Primeiro, iniciaremos uma parceria com a Petrobras
para a perfuração dos poços. Depois, partiremos para desenvolver produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentícios. O último passo é conquistar os mercados da
América Latina”, garante Buzanelli.
Produção e pesquisas
na Polymar: quitina
de crustáceos é
convertida em
biopolímero multiuso
Quitosana
Os crustáceos – caranguejos, lagostas e
camarões – que dão sabor à mesa de milhares de brasileiros todos os dias ganharam uma finalidade bastante curiosa nos
últimos anos. A quitina extraída da carapaça desses invertebrados tem servido,
por meio de uma transformação química
e enzimática, de matéria-prima à produção de quitosana, convertida em um biopolímero multiuso.
No Ceará, a Polymar, empresa graduada no Parque de Desenvolvimento Tecnológico (Padetec), decidiu aliar as condições geográficas do estado – propícias
ao desenvolvimento de crustáceos – ao
crescimento do mercado de biopolímeros. “Como somos os maiores produtores
de camarão do país, por exemplo, e vimos a extensa gama de opções em que a
quitosana pode ser usada, não pensamos
duas vezes. Resolvemos apostar”, conta o
diretor-presidente da Polymar, Alexandre Craveiro.
Ainda em fase-piloto, a expectativa da
Polymar é encontrar parceiros para que o
projeto chegue à fase industrial nos próximos dois anos. Produtos para serem desenvolvidos, garante Craveiro, não faltam.
A lista de pedidos de patentes para serem
registradas pela Polymar já soma 38 projetos. “Nosso objetivo é virar referência
no país”, explica o diretor-presidente.
A Polymar enfrenta o mesmo problema
que as demais fabricantes de biopolímeros: o valor elevado em comparação aos
produtos convencionais. “Já temos preços
competitivos nos ramos alimentício e farmacêutico. O desafio é reduzir os custos
de produção para a quitosana no setor industrial”, explica Craveiro.
Por enquanto, o meio ambiente é o
maior beneficiado pelo plástico verde da
Braskem ou as inovações em biopolímeros da PHB Industrial, da Quantas Biotecnologia S/A e da própria Polymar. Essas
empresas já provaram ter tecnologia, iniciativa e empreendedorismo de sobra para
tornar o Brasil um destaque na área de
biopolímeros. Falta, ainda, a disposição
dos clientes em pagar mais por um produto que não prejudica o ecossistema.
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i nv e s t i m e n t o
A fonte não secou
Apesar do cenário econômico internacional, fundos ainda
têm muito dinheiro para investir em negócios inovadores.
Mas aumentaram as exigências para minimizar riscos
shutterstock
E duardo K ormives
22
Locus • Janeiro 2009
P
rimeiro a boa notícia: a despeito da
turbulência financeira global, a indústria de capital de risco funciona a todo
vapor para financiar ou turbinar o crescimento de empresas inovadoras no país. A
notícia ruim é que a venda de participação
para fundos de private equity ou venture
capital será negociada em termos bem menos favoráveis do que alguns meses atrás,
quando havia fartura de crédito na praça.
O fato é que essa indústria representa
talvez a única janela de negócios num
momento em que a crise tornou o dinheiro dos bancos caro e escasso e simplesmente varreu da lista de opções o lançamento de ações no mercado (IPO, na sigla
em inglês). Estrear na Bolsa de Valores de
São Paulo foi uma grande jogada em 2007.
O número recorde de 64 IPOs realizados
na Bovespa resultou em R$ 55,5 bilhões
captados. Mas lançar mão de tal estratégia
está fora de questão desde o segundo semestre do ano passado.
Na montanha-russa que se transformou
o mercado acionário, a bolsa paulista acumulou perdas de 42,7% entre janeiro e
novembro de 2008. Tanto que apenas quatro empresas – OGX Petróleo e Gás, Le
Lis Blanc, Hypermarcas e Nutriplant – fizeram ofertas primárias de ações nesse
período, o que lhes rendeu R$ 7,5 bilhões.
E uma única, a fábrica de fertilizantes Nutriplant, de Paulínia (SP), inaugurou, em
fevereiro, o Bovespa Mais, novo segmento
voltado a empresas de menor porte.
Os IPOs são a melhor estratégia de saída – desinvestimento, no jargão do mercado – da indústria de capital de risco.
Como observa o economista Robert Binder, da Antera, gestora do fundo de capital semente Criatec, “o private equity trabalha num horizonte com a certeza de
IPO, enquanto que o venture capital, com
50% de chance”. Apesar disso, o cenário
de turbulência das bolsas caiu como uma
luva para o setor.
A explicação mescla três fatores principais. Em primeiro lugar, os investimentos
dos fundos de private equity e venture capital são focados no longo prazo. Segundo: sem os IPOs, as empresas tornaram-se
investimentos mais atraentes e mais aber-
Caixa reforçado
Por último, mas não menos importante,
a indústria de capital de risco dispõe de
um bom caixa para tirar proveito das
oportunidades. Uma pesquisa da KPMG
para o jornal Valor Econômico revelou
que em agosto do ano passado os 38 fun-
DIVULGAÇÃO
tas à entrada de um sócio. “Como havia
farta oferta de recursos, os empresários
começaram a enxergar as suas próprias
empresas com uma idéia errada. Por isso,
ficou mais difícil fechar negócios”, afirma
Luiz Eugênio Figueiredo, presidente da
Associação Brasileira de Private Equity &
Venture Capital (Abvcap).
Para a chefe da unidade de investimentos da Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep), Patrícia Freitas, a crise está trazendo o mercado de volta à realidade. “As
empresas voltaram ao preço normal. Há
um retorno à análise dos fundamentos
para determinar o seu valor”, explica.
dos de private equity ouvidos dispunham
de R$ 8,1 bilhões em capital não-investido. No mesmo mês de 2007, esse montante era de R$ 5,6 bilhões, ou 30,9% menor.
Figueiredo, da Abvcap, descarta um recuo na atuação dos investidores apesar da
turbulência. Não há volta em relação ao
dinheiro em caixa não-investido nem aos
recursos que os investidores se compro-
Figueiredo, da Abvcap:
investidores não irão
recuar por causa da crise
Investidor-anjo
Aplica dinheiro
quando a empresa
não é nada além de
um brilho nos olhos
do empreendedor.
Normalmente
tratam-se de
profissionais bemsucedidos que
resolvem apostar em
bons projetos. shutterstock
Os tipos de investidor
Capital semente
Um grau além do investidor-anjo, são recursos para
uma empresa que já se firmou para iniciar um processo
de crescimento. Normalmente são fundos públicos ou
de entidades sem fins lucrativos, mas também pode
haver dinheiro privado.
Venture Capital (capital de risco)
Recursos mais estruturados, dedicados a comprar
partes ou o controle
de empresas iniciantes
com sólidas perspectivas
de crescimento.
Normalmente são recursos
privados de investidores
institucionais.
Private Equity
Fundos de investimentos
dedicados a comprar
partes de empresas já
estabelecidas, que têm
boas possibilidades de abrir capital ou de serem
vendidas para um investidor estratégico. Normalmente,
são recursos privados de investidores institucionais.
Mezzanine Funds
Dedicados a financiar empresas que pretendem
abrir capital comprando ações e títulos de renda
fixa. Normalmente, são recursos privados de
investidores institucionais.
Locus • Janeiro 2009 23
i nv e s t i m e n t o
IPOs na Bovespa
Ano
Operações
Volume de captação (R$ bilhões)
2004
7
4,5
2005
9
5,4
2006
26
15,4
2007
64
55,5
2008*
4
7,5
*Até novembro
Fontes: Bovespa e Abvcap
Números do setor, em R$ bilhões
Ano
Total de recursos
Capital comprometido
2008
50,6
39,5
2007
26,7
14,7
Ano
Recursos investidos
Recursos não-investidos
2008
31,4
8,1
2007
6,6
5,6
Fonte: pesquisa KPMG para o jornal Valor Econômico
A divisão do capital semente
meteram a colocar nos fundos – R$ 50,6
bilhões em 2008.
Todas essas condições reunidas no mercado brasileiro explicam por que a gestora
americana Advent assumiu o controle da
varejista gaúcha de eletroeletrônicos e
materiais de construção Quero-Quero,
com 170 lojas no Rio Grande Sul e em
Santa Catarina, em setembro, quando a
crise estourou mundo afora. O valor do
negócio, estimado em US$ 300 milhões,
vem a ser o maior investimento de um
fundo de participações no país.
Embora os aportes da indústria de capital de risco signifiquem menos dinheiro
do que se poderia esperar de um IPO, na
avaliação de Patrícia Freitas, da Finep,
para as empresas inovadoras eles representam uma maneira mais segura de se
obter crescimento sustentável.
Em muitos casos, a estréia na bolsas
antecede a profissionalização da gestão,
principal atividade dos fundos, que preparam as empresas para acessarem sozinhas o mercado de capitais. “Muitas empresas acabam pulando a etapa de
crescimento com governança e indo direto para a bolsa”, afirma Patrícia.
Participação por tipo de investidor nos fundos aprovados pela Finep - em %
Finep
72,9
Investidores-anjo
15,7
Outros investidores privados
6,0
Fundos de pensão
5,4
Fonte: GVcepe
Balanço das saídas
Venda das participações via abertura de capital e venda privada - em %
Ano
Venda privada
Abertura de Capital
2003
100
-
2004
63
37
2005
62
38
2006
52
48
2007
63
37
Fonte: Abvcap
24
Locus • Janeiro 2009
Áreas atraentes
E por falar em crescimento, as empresas
inovadoras, as chamadas portadoras de
futuro, saem na frente em relação aos demais setores em busca de capital para alavancá-lo. “As áreas de biotecnologia, mobilidade e segurança têm chamado
atenção. Historicamente, a área de Tecnologia da Informação atrai investimentos e
vai continuar assim”, projeta Eugênio Figueiredo, que, além de presidir a Abvcap,
é sócio da Rio Bravo, gestora de fundos
com R$ 250 milhões em carteira, parte
deles investidos em tecnologia.
Patrícia Freitas, por sua vez, observa que
os fundos de venture capital em operação
no país chegaram a concentrar algo em
torno de 80% de seus investimentos em TI.
Projeções
As boas perspectivas para a indústria de
capital de risco não significam que, no
Brasil, o setor esteja desconectado dos
desdobramentos da crise financeira global. Nos Estados Unidos, epicentro do
abalo, os fundos de venture capital estão
gradativamente fechando as torneiras
para novos aportes.
Um levantamento da Thomson Reuters,
com PricewaterhouseCoopers e a National Venture Capital Association, no terceiro trimestre, mostrou fluxo de US$ 7,1
bilhões para empresas iniciantes (startups), uma queda de 9% em relação ao
mesmo período do ano passado e a primeira desde o último trimestre de 2005.
Além disso, num cenário de instabilidade, apenas seis empresas americanas
apoiadas por fundos de venture capital
iniciaram o processo de abertura de capital, o menor volume em 31 anos. Há um
consenso, no entanto, que o impacto da
crise será menor no
Brasil do que nos outros países.
“Acho que o Brasil
não vai ser atingido
tão fortemente porque
não fizemos nem sombra ao volume de negócios derivativos nos
países desenvolvidos.
A maior parte não estava especulando em
moeda”, avalia Binder.
Figueiredo, presidente da Abvcap, confessa que nem se arrisca mais a responder
sobre quanto tempo
mais a turbulência durará. Mas ressalta que os fundos de venture capital e private equity serão mais ou
menos afetados dependendo do estágio
em que se encontrarem. Aqueles em fase
de captação podem enfrentar dificuldades
com a restrição de crédito internacional e
com a desconfiança dos investidores em
níveis variáveis conforme os seus perfis.
Os fundos em fase de desinvestimento,
avalia ele, serão os mais afetados.
A Abvcap estima que estejam disponíveis cerca de US$ 11 bilhões para investimento nos fundos de participação domésticos e naqueles estrangeiros que destinam
parte das carteiras ao Brasil. Ao todo, segundo a associação, são cerca de US$ 26
bilhões, incluindo recursos já alocados
em empreendimentos, o que representa
um aumento de 56% em relação a 2008.
Para Patrícia Freitas, da Finep, não haverá uma queda na disposição do investidor nacional. Porém, ela se mostra muito
menos confiante em relação ao capital estrangeiro. “Quem tiver de tomar decisão
no Brasil sobre uma boa oportunidade de
investimento vai esperar até o final de
2009. Investimento mesmo, só no primeiro semestre de 2010”. Sinal de que os empreendedores brasileiros ainda vão ouvir
falar muito sobre a crise.
João Luiz Ribeiro/FINEP
Hoje, a fatia abocanhada pelo segmento
situa-se entre 40% e 45%. A diversificação
colocou em evidência áreas como biotecnologia, energias limpas, nanotecnologia e
agronegócio. “Há uma boa chance de se
conseguir recursos. Os fundos de capitalsemente têm bastante dinheiro para investir. Qualquer proposta submetida no nosso
site será examinada. E há uma série de
fundos de venture capital não-afetados
pela crise que também estão com dinheiro”, afirma Robert Binder.
O fundo gerido por ele, o Criatec, conta
com R$ 100 milhões dirigidos a empresas
inovadoras com faturamento anual de até
R$ 6 milhões. O dinheiro deve ser aplicado, no prazo de três anos, em 50 operações. Em um ano, 10 projetos foram aprovados e seis já receberam investimentos.
Estimativas do mercado apontam para
um patrimônio total já comprometido
pela indústria de capital-semente de cerca
de R$ 140 milhões.
Patrícia Freitas, da Finep:
aporte de capital de
risco pode garantir
sustentabilidade às
inovadoras
Locus • Janeiro 2009 25
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c
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shutterstock
e
Inovação no DNA
Finep lança programa para estimular a geração de empreendimentos
inovadores e combater os fatores que reduzem as chances de
crescimento das MPEs. Com R$ 240 milhões para distribuir somente
em 2009, Prime será operado por incubadoras de empresas
D ébora H orn
26
Locus • Janeiro 2009
H
á dois anos, a rotina da pesquisadora Vera Fantinato mudou completamente. Professora aposentada da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), ela
decidiu transformar em negócio o estudo
desenvolvido durante o doutorado no final dos anos 1980. A dedicação à pesquisa,
que pretende colocar no mercado um iogurte capaz de reduzir a incidência de
amigdalite, passou a ser dividida com as
novas atribuições de empreendedora. Da
obtenção da patente à busca por financiamento, Vera deparou-se com um universo
desconhecido. “A parte que se refere à pesquisa sempre foi mais fácil, afinal eu domino o assunto. Mas o processo de abertura e estruturação da empresa representa
um grande desafio, pois tudo é novidade.
Sinto que não tenho todos os subsídios necessários ao gerenciamento do negócio”,
afirma Vera, que abrigou o empreendimento no Centro Incubador de Empresas
Tecnológicas (Cietec), de São Paulo.
Neste ano, Vera e outros tantos empreendedores brasileiros terão a rara oportunidade de receber apoio financeiro para
transformar idéias inovadoras em negócios sustentáveis. Lançado no final de
2008 pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), o Programa Primeira
Empresa Inovadora (Prime) concederá
R$120 mil em recursos não-reembolsáveis
(é isso mesmo: dinheiro dado) a mais de 2
mil empreendimentos de todo o país. E
não pára por aí: as empresas que cumpri-
Foco nas nascentes
Integrando o Plano de Ação 2007-2010
do MCT, o Prime reúne características
que o diferem de outros programas de fomento à inovação implantados no Brasil
nas últimas décadas. Isso por que, conforme a superintendente da área de pequenas
empresas inovadoras da Finep, Gina Paladino, foi elaborado com base na constatação de duas deficiências recorrentes nesse
tipo de empreendimento. “Por um lado,
os empreendedores carecem de conhecimento na área de gestão, essencial para o
bom encaminhamento dos negócios. Por
outro, quando esses empreendedores, geralmente pessoas com formação técnica
de alto nível, participam ativamente da
administração da empresa, encontram dificuldades para se dedicar ao desenvolvimento de projetos inovadores”, explica.
A oportunidade para combater essas
fragilidades veio com o advento da subvenção econômica, em 2004. “A partir
desse mecanismo foi possível elaborar um
programa que prevê a alocação de recursos em um conjunto de competências para
ajudar na gestão dos
empreendimentos nascentes ao mesmo tempo em que garante a
dedicação do empresário ao projeto inovador”, afirma Gina.
Conforme o regulamento do programa, os
R$ 120 mil recebidos
pela empresa na primeira etapa deverão
ser destinados à contratação de recursos
humanos qualificados
e de serviços de consultoria especializada
nas áreas jurídica, financeira e de gestão.
Stúdio código nove/sirlene oliveira
rem os objetivos da etapa inicial receberão mais R$120 mil a juro zero – a serem
pagos em 100 parcelas.
Não é à toa que o Prime tem deixado
em polvorosa empreendedores, investidores e gestores de incubadoras e parques
tecnológicos de todo o país. Segundo especialistas, se tudo correr como o esperado, o programa tem potencial para revolucionar o sistema de inovação brasileiro.
“O Prime deve proporcionar o surgimento de 5,4 mil empresas inovadoras nos
próximos quatro anos. Nesse período, os
recursos totais do programa ultrapassam
R$ 1,3 bilhão. Estamos apostando muito
nesse projeto porque cada empresa beneficiada vai impactar positivamente a cadeia produtiva em que está inserida”, explica o diretor de inovação da Finep,
Eduardo Costa.
A empreendedora Vera: gestão da empresa ainda representa um
grande desafio
Quem pode participar
Empresas nascentes, com no máximo dois anos de existência
– contados a partir da data de lançamento do edital. Caso a
empresa ainda não tenha sido formalizada, no envio da primeira
proposta não é necessário apresentar o registro no Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). O mais importante é
apresentar produtos ou serviços com elevado nível de inovação
e um plano de negócios que indique as reais possibilidades de
crescimento da empresa.
Como participar
No site de cada incubadora-âncora (veja box na pág. 29) estão
disponíveis, além do edital completo, os formulários eletrônicos
para preenchimento. Na primeira fase, deve ser enviada uma
proposta simplificada, contendo uma breve descrição da
empresa, dos produtos, da tecnologia e do mercado em que
pretende atuar. Um plano de negócios mais aprofundado será
elaborado pelas empresas contempladas após a realização do
programa de treinamento previsto no edital.
Principais critérios de seleção
• Grau de inovação do produto/serviço
• Viabilidade e potencial de mercado
• Potencial de retorno econômico-financeiro
• Consistência do plano de negócios
Locus • Janeiro 2009 27
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divulgação/ anprotec
e
radicalmente o seu modo de operar, com
segurança de que os padrões de ética, eficácia e eficiência no uso dos recursos públicos serão atendidos”, afirma o presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski.
joão luiz ribeiro/ finep Operador engajado
Gestores de
incubadoras
reuniram-se com a
Finep para assinatura
dos contratos
Outro diferencial do
Prime está na escolha
de operadores descentralizados para gerenciar tanto os recursos
quanto os resultados
do programa. A experiência das incubadoras
de empresas em prospectar e apoiar empreendimentos inovadores fez com que a Finep elegesse 18 incubadoras-âncora, em nove estados, para
desempenhar essa função na primeira etapa do Prime. “A Finep reconheceu nas incubadoras a combinação de competências
específicas, postura e credibilidade adequadas para que a agência pudesse inovar
As incubadoras-âncora também são
responsáveis pelo lançamento do edital e
pela seleção de projetos que receberão
os recursos. Embora o programa tenha
abrangência nacional, as incubadoras têm
orientado os empreendedores a enviarem
propostas às instituições de seus estados.
Mas nada impede que as âncoras aprovem
projetos de diferentes regiões do país, em
especial as incubadoras temáticas. Na incubadora do Pólo de Biotecnologia do Rio
de Janeiro (BioRio), por exemplo, serão
avaliadas propostas vindas de outros estados, nos quais a instituição já mantém
parcerias. “Embora nosso foco esteja no
Rio de Janeiro, já temos um parceria com
a cidade de Lages, em Santa Catarina, que
deve originar projetos com potencial”, explica a gerente de desenvolvimento de negócios do BioRio, Kátia Aguiar.
Ao todo, cada incubadora-âncora deverá selecionar 120 empreendimentos inovadores para participar do Prime. “O programa não exige que essas empresas
O Kit Prime
O Kit Prime, como foram denominados
pela Finep os itens de apoio, prevê o
pagamento de até dois empreendedores
para a realização de atividades na área
tecnológica. Caso os sócios da empresa não
tenham formação para o desenvolvimento
Item
Apoio ao empreendedor/especialista técnico
Apoio ao controller/gestor de negócios
Apoio a consultorias na área de gestão
Apoio à consultoria de mercado
28
Locus • Janeiro 2009
dessas atividades, o recurso poderá ser
aplicado na contratação de um especialista.
Além disso, deverá ser contratado um
gestor de negócios (controller) para
acompanhar a execução do projeto
apoiado com recursos do programa.
Valor máximo alocado (R$)
40 mil
40 mil
30 mil
30 mil
Distribuição das incubadoras-âncora
RR
CIDE
AP
www.cide.org.br
PAQTEC www.paqtec.org.br
AM
PA
MA
CE
PI
AC
SE
AL
BA
MT
GO
MG
SP
www.fipase.org.br
www.cietec.org.br
www.univap.br/parquetecnologico
www.incamp.unicamp.br
residam na incubadora, mas estamos trabalhando para ampliar nossas instalações
e abrigar parte delas”, afirma Kátia. Atualmente, a incubadora do BioRio abriga 30
empreendimentos. Para atuar como operadora do programa, cada âncora receberá 3% do valor total destinado às empresas. No estado do Rio de Janeiro, as três
incubadoras-âncora selecionadas pela Finep – BioRio, Instituto Gênesis e Incubadora da Coppe/UFRJ – formaram um
consórcio que receberá recursos complementares do Sebrae estadual para desenvolver o programa. “Cada uma dessas in-
CISE www.cise.org.br
ES
Biominas www.biominas.org.br
Fumsoft www.fumsoft.softex.br
Inatel
www.inatel.br
RJ
PR
SC
RS
PUC/Raiar
www.pucrs.br/agt/raiar
FAURGS/CEI www.inf.faurgs.br/cei
CESAR www.cesar.org.br
DF
MS
Fipase
Cietec
FVE/Univap
Incamp
PE
TO
RO
RN
PB
Coppe/UFRJ
www.incubadora.coppe.ufrj.br
Instituto Gênesis www.genesis.puc-rio.br
BioRio
www.biorio.org.br
Celta
www.celta.org.br
Instituto Gene www.institutogene.org.br
cubadoras pretende atender as 120
empresas previstas pelo edital. Se imaginarmos que 10% dessas empresas obtenham sucesso, teremos 36 empreendimentos gerando produtos inovadores,
emprego e renda. É uma grande oportunidade de as incubadoras contribuírem
ainda mais com o desenvolvimento regional”, conclui Kátia.
A descentralização das operações da Finep, ampliando a abrangência dos programas por meio de parceiros nos estados,
está entre as principais recomendações de
um estudo desenvolvido pelo economista
Locus • Janeiro 2009 29
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divulgação
e
Incubadoras-âncora,
como o Cietec
(SP), selecionarão
120 empresas para
participar do Prime
José Mauro de Morais, do Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA),
que avalia os programas desenvolvidos
pela agência. “A Finep precisa descentralizar suas operações, conforme determina
a Lei da Inovação. O fato de haver uma incubadora, com know how na identificação, seleção e apoio a projetos inovadores
dá um perspectiva maior de sucesso para
esse programa”, afirma Morais.
divulgação/ ipea
Atalho para o crescimento
Morais, do IPEA: operadores
descentralizados
aumentam capilaridade
do programa
30
Locus • Janeiro 2009
Para Sérgio Risola, gestor do Centro
Incubador de Empresas Tecnológicas
(Cietec), de São Paulo, o Prime deve abreviar de forma significativa o caminho trilhado por empresas nascentes até chegar
ao mercado. “Nossa experiência mostra
que, após ingressar na incubadora, os
empreendimentos passam cerca de oito
meses aguardando recursos de alguma
fonte – editais da Fapesp, CNPq e Finep,
por exemplo. Ao conceder os R$ 120 mil
logo no início do negócio, o Prime permitirá que o empreendedor estruture a
empresa para uma entrada mais rápida
no mercado”, afirma.
O atalho para o crescimento tem como
fator decisivo a oferta de recursos, já que
as empresas de pequeno porte enfrentam
restrições de acesso a empréstimos concedidos pelo sistema financeiro. De acordo
com o estudo do IPEA, a ausência de ativos para apresentar como garantias, a falta de transparência nos registros contábeis e a inexperiência dos empreendedores
na área de gestão são fatores que impedem o acesso das MPEs às linhas de crédito convencionais. “No caso de empresas
inovadoras, essas dificuldades tendem a
ser mais acentuadas, pois o risco envolvido em um projeto inovador é muito
maior”, explica Morais.
Segundo o gerente executivo da diretoria de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil, Kedson Macedo, são poucas
as instituições financeiras dispostas a correr os riscos inerentes à inovação. “Geralmente, as empresas inovadoras trabalham
com recursos intangíveis, baseadas em
conhecimento e não em bens de produção. A maioria das linhas de financiamento atuais não está adaptada a essa realidade”, diz. O resultado: juros altos, prazos
curtos para pagamento e exigências burocráticas que inviabilizam o obtenção de
recursos para alavancar o negócio. “Por
isso o Prime representa o recurso certo na
hora certa”.
Mas as barreiras não são exclusividade
do mercado privado de crédito. O estudo
do IPEA indica que os programas governamentais de financiamento também exigem informações quantitativas e qualitativas normalmente indisponíveis nas
empresas que desenvolvem projetos de
inovação – dados de produção e vendas,
previsões dos fluxos de caixa e resultados
do negócio, por exemplo. “É preciso adequar a oferta de crédito às características
e necessidades desse público-alvo. No
caso do Prime, a participação das incubadoras contribuirá muito, pois são instituições acostumadas a dar suporte técnico a
empresas na captação de recursos, o que
ajudará a Finep a adaptar o modus operandi do programa”, analisa o gerente da
Unidade de Acesso à Inovação do Sebrae,
Paulo Alvim.
Apontada como um dos principais motivos de fracasso das empresas, a capacidade gerencial dos empreendedores está
no foco do Prime. Antes de assinar o contrato para receber a verba, os empresários
contemplados passarão por um treinamento obrigatório, a fim de ampliar os
conhecimentos sobre gestão e aperfeiçoar
o plano de negócios. “Esse é um diferencial fundamental do Prime em relação a
outros programas: aliar o fomento à capacitação, por meio de um treinamento de
âmbito nacional, direcionado especificamente a esse perfil de empreendedor”,
afirma Gina Paladino, da Finep.
As empresas que obtiverem sucesso nos
12 primeiros meses do programa, alcançando as metas estipuladas no plano de
negócios, poderão candidatar-se, após
um processo de avaliação, a receber um
empréstimo do programa Juro Zero, garantindo mais R$ 120 mil para alavancar
as atividades no segundo ano – esse valor
deverá ser devolvido em cem parcelas. “A
concessão da segunda parcela de recursos
garante continuidade às ações da empresa desenvolvidas com apoio do Prime.
Além disso, esses empreendimentos serão
preparados para receber aporte de venture capital ou seed money no futuro”, explica a superintendente da Finep.
A possibilidade de receber investimentos de um fundo de capital semente dependerá das condições criadas pela empresa para produzir um produto ou
serviço inovador e com viabilidade de
mercado. “O benefício que o Prime traz é
a pré-seleção de projetos, indicando aos
investidores as empresas com potencial
para receber venture capital. Ter participado do programa será uma espécie de
aval”, afirma o economista José Mauro de
Morais, do IPEA.
Após analisar os programas da Finep
voltados a empresas de pequeno porte, o
economista ressalta a necessidade de monitoramento dos empreendimentos bene-
ficiados. “O grande problema que encontramos em nossos estudos é que as
empresas beneficiadas nos últimos anos
pelos mecanismos de subvenção não têm
apresentado seus resultados à sociedade.
Se esses dados existem, estão guardados.
É preciso divulgar o que está acontecendo
com as empresas que são financiadas. Isso
contribui com a análise da eficácia dos
programas”, avalia.
divulgação/anprotec
Ações perenes
Plonski , da Anprotec:
Prime pode
transformar panorama
empresarial brasileiro
Plantando figueiras
Como toda inovação, o Prime ainda
precisa de tempo para ser avaliado de forma mais crítica. Entre as fontes consultadas por Locus, há consenso em relação ao
potencial do programa para alavancar o
empreendedorismo inovador. “É nossa
expectativa, bem como de outros parceiros do movimento, que os resultados do
Prime ajudarão a criar uma massa crítica
de empreendedores que têm a inovação
em seu DNA, capaz de transformar o panorama empresarial brasileiro no médio
prazo”, afirma o presidente da Anprotec,
Guilherme Ary Plonski.
Para o diretor de inovação da Finep,
Eduardo Costa, o programa deve incentivar não apenas potenciais empreendedores recém-formados, mas também profissionais que atuam em empresas e desejam
transformar uma idéia inovadora em um
empreendimento comercial. “O nosso objetivo não é criar, manter e acalentar empresas pequenas. Não queremos criar
bonsais, queremos plantar figueiras”, explica Costa.
Transformar anos de pesquisa em um
produto que beneficie a sociedade é o
grande sonho da Vera Fantinato. Apesar
dos recursos conquistados por ela em outras fontes de fomento, não foi possível
colocar seu empreendimento de biotecnologia para funcionar. Pré-incubada no
Hotel de Projetos do Cietec, a empresa
ainda não tem nome. Mas a esperança
tem: Prime.
Locus • Janeiro 2009 31
i n t e r n a c i o n a l
O mundo bota pra fazer
Evento realizado simultaneamente em 78 países dissemina o movimento
empreendedor em escala global. Em 2008, Brasil foi um dos destaques
C aroline M azzonetto
Fotos: DIVULGAÇÃO
Peça publicitária da
campanha liderada
pelo Instituto
Empreender
Endeavor no Brasil
32
Locus • Janeiro 2009
E
ntre os dias 17 e 23 de novembro do
ano passado o mundo esteve sincronizado em torno de uma causa comum:
promover o empreendedorismo, ensinando e incentivando jovens a investir em
seus projetos e idéias. Foram sete dias de
palestras, seminários, workshops, debates, fóruns, gincanas, competições, jogos
e outras atividades gratuitas acontecendo
ao mesmo tempo em 78 países – a Semana
Global do Empreendedorismo. No Brasil
o evento foi organizado pelo Instituto
Empreender Endeavor e reuniu 1.735 parceiros (entre profissionais, empresas, universidades e instituições) e mais de 1,4
milhão de pessoas em todos os estados, o
que fez da edição a maior do mundo em
número de participantes.
A Semana faz parte de um movimento
surgido na Inglaterra, que pretendia retomar a cultura do empreendedorismo que
conduzira o país à Revolução Industrial
dos séculos XVIII e XIX. Com a adoção de
uma economia mais focada em instituições financeiras, essas idéias haviam sido
abandonadas. Em 2004 o então ministro
da Fazenda britânico, Gordon Brown, lançou a Enterprise Week UK para resgatar o
empreendedorismo que impulsionara o
país nos séculos anteriores.
Com o sucesso do movimento, a Semana britânica se repetiu nos anos seguintes.
Em 2007 os Estados Unidos copiaram a
idéia e organizaram a Entrepreneurship
Week USA. Os dois eventos, somados, envolveram naquele ano 11 mil organizações, responsáveis por nove mil atividades. Surgiu então a idéia de realizar um
movimento mundial e, em novembro do
ano passado, representantes de 30 nações
se reuniram em Londres para discutir a
Semana Global do Empreendedorismo.
O Brasil era um dos participantes. “O
resultado foi surpreendente. A gente realmente não esperava. Tínhamos uma meta
grande, mas nos surpreendemos”, orgulha-se Rodrigo Teles, diretor da Endeavor.
A meta citada por ele era de envolver um
milhão de brasileiros nas atividades da
Semana brasileira – número que atingiu
1,4 milhão de pessoas. Nos outros países,
que realizaram atividades semelhantes, a
mobilização foi menor – o que prova, de
acordo com Teles, que o Brasil é muito
mais empreendedor.
Enquanto que a Enterprise Week UK é
puxada pela campanha nacional Make
Your Mark, aqui a Semana faz parte do
Bota Pra Fazer. Uma das grandes ações
desse movimento é disseminar exemplos
de empreendedores que colocaram suas
idéias em prática e tiveram sucesso. “O
brasileiro precisa muito de exemplos.
Quando mostramos que tem gente botando pra fazer, incentivamos as pessoas a
correrem atrás de seus sonhos”, completa
o diretor da Endeavor.
Com os exemplos de sucesso e as demais atividades, a Semana pretende colocar o empreendedorismo, de uma vez por
todas, na pauta da sociedade. De acordo
com a coordenadora do Programa de Empreendedorismo do Instituto Brasileiro de
Qualidade e Produtividade (IBQP) – que
executa no Brasil o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), a mais completa
pesquisa sobre o tema no mundo –, Simara Greco, qualquer campanha que envolva
um grande número de pessoas, como a
Semana fez, desperta o interesse das pessoas para o empreendedorismo. “Qualquer pessoa que não está envolvida começa a prestar atenção e os que já conhecem
intensificam a valorização do tema”, explica Simara.
Resultados intangíveis
Com o objetivo de disseminar o interesse pelo empreendedorismo, os resultados
do movimento não são medidos em números. Para Simara, a chance de que a Semana renda frutos é grande, principalmente por que muitas das atividades
desenvolvidas estavam relacionadas à disseminação do conhecimento através de
treinamentos e capacitação. “Se sair um
empreendedor de cada evento já vamos
ter uma grande evolução”, completa.
A falta de capacitação, aliás, é um dos
grandes problemas do empreendedorismo
brasileiro. O retrato que o GEM faz daqui
é de um país bastante empreendedor, com
muitas pessoas motivadas, mas pela causa
errada: cerca de 50% delas são movidas
pela necessidade de superar dificuldades
financeiras. Com isso, os empreendedores
brasileiros, em geral, têm pouco conhecimento e habilidade, o que torna seus negócios frágeis em relação aos implantados
em outros países.
As atividades da Semana preenchem,
em parte, essa lacuna. “É preciso manter o
nível de empreendimentos, mas aumentar
a sofisticação, o conhecimento de gestão
dos empreendedores”, acrescenta Simara.
De acordo com o GEM 2007, o país está
entre as 10 nações onde as pessoas mais
abrem novos negócios.
Ainda que haja abertura para novos negócios, o mercado brasileiro impõe dificuldades para os iniciantes. Prova disso é
que a atividade que mais repercutiu na
Semana foi a discussão sobre o ambiente
regulatório nacional e as dificuldades de
se fazer negócio no Brasil. “Seria ideal
que o país fizesse as reformas necessárias
e melhorasse os processos dentro do governo”, explica Teles.
Com o encerramento das Semanas Globais do Empreendedorismo, uma reunião
de avaliação será realizada nos Estados
Unidos para discutir o resultado do evento. Sejam quais forem as conclusões, já
está confirmado: neste ano tem Semana
de novo.
Teles, do Endeavor,
e Simara, do GEM:
eventos como a
Semana impulsionam
o empreendedorismo
Locus • Janeiro 2009
33
s
u
c
e
s
s
o
Grandes inovadoras
Pequenas empresas foram o destaque da 11ª edição do Prêmio
Finep de Inovação, respondendo por 44% das inscrições
Adriane A lice Pereira
fotos: divulgação
Produção na
Pharmakos d’Amazônia
34
Locus • Janeiro 2009
E
m sua 11ª edição, o Prêmio Finep de
Inovação 2008 recebeu um número
recorde de inscrições de pequenas empresas. Foram 140 inscritos na categoria, 55%
a mais do que no ano passado. As pequenas representaram 44% do total de inscrições no Prêmio e mostraram que são inovadoras em sua essência. As cinco
vencedoras das etapas regionais atuam em
setores bastante distintos – de fármacos a
robótica –, mas todas são exemplos que
comprovam o slogan do Prêmio: “Dentro
de cada brasileiro existe um inovador”.
Foi uma inquietação que levou o pesquisador e professor de Farmácia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
Schubert Pinto a abrir a Pharmakos
d’A mazônia, pequena empresa vencedora
do Prêmio Finep de Inovação na Região
Norte. “Sempre me intrigou o fato de que
a grande maioria das pesquisas não ultrapassa as prateleiras das bibliotecas e, conseqüentemente, não chega ao alcance econômico e social”, conta Pinto.
Com esse questionamento, apresentou
um plano de negócios para incubação no
Centro de Incubação e Desenvolvimento
Empresarial (CIDE), de Manaus. “O objetivo da empresa era aproveitar os recursos
bioativos oriundos da floresta amazônica,
transformando-os em produtos inovadores para a beleza, a saúde e o bem-estar.
Gerando emprego e renda para os povos
ribeirinhos, promovendo o desenvolvimento sustentável, economicamente justo
e ecologicamente correto”, destaca o diretor-presidente da empresa.
Evolução inovadora
Com apenas quatro funcionários, a empresa nasceu, em janeiro de 2001, operando com utensílios e recursos improvisados e com uma produção artesanal de 500
unidades diárias. O lançamento do primeiro produto inovador foi em 2002, com
um gel do óleo de copaíba (árvore da região) com ação tópica antiinflamatória.
“Nos anos seguintes fomos pioneiros no
lançamento da primeira parafina bronzeadora com óleo de urucum, seguida de
um sabonete íntimo de crajiru e do Reumatgel, na época apelidado de Salompas
do Amazonas”, enumera Pinto.
Hoje, com 40 colaboradores, a empresa
possui uma linha de 73 produtos entre
xampus, condicionadores, géis, pomadas,
xaropes, óleos, parafinas, sabonetes e
bronzeadores. Todos resultados da inovação. A empresa investe em pesquisa e desenvolvimento tecnológico cerca de 35%
do faturamento bruto. “Conseguimos proporcionar maior valor agregado ao produto e, pelo fato de o retorno ser palpável,
a empresa como um todo consegue visua-
lizar, valorizar e conseqüentemente desejar
participar desse processo”, afirma Pinto.
Para o diretor-presidente da Pharmakos
d’A mazônia, a inovação é fundamental para
a empresa se diferenciar no mercado. “Copiar é permanecer
sempre um passo atrás
do concorrente e inovar é antever e melhorar o processo, contribuindo tanto para o
desenvolvimento pessoal quanto tecnológico e social”, destaca o
pesquisador. A inovação da Pharmakos
também é reconhecida
pelo destaque no Prêmio Finep. Das quatro
edições de que participou, a empresa conquistou três vezes o primeiro lugar regional e uma vez a segunda colocação.
Outra campeã no Prêmio Finep de inovação é a Armtec Tecnologia em Robótica, de Fortaleza (CE). A empresa, criada
em 2004, ganhou o Prêmio 2005 na categoria produto, com o robô SACI, tecnologia de apoio ao combate de incêndios.
Dois anos depois, em 2007, outro produto
da empresa foi eleito o mais inovador do
país – o Sistran, equipamento que simula
o trafégo de veículos para testes de durabilidade de cobertura asfáltica. No mesmo
ano a Armtec venceu a categoria Pequena
Empresa. Feito que repetiu em 2008.
Primeiro empreendimento abrigado na
incubadora da Universidade de Fortaleza
(Unifor), a empresa respira, expira e
transpira inovação. Além de investir 40%
do faturamento e dedicar 83% da equipe à
área de pesquisa e desenvolvimento, 100%
do lucro é aplicado em inovação. “A Armtec está na fase de investir na geração de
Equipamento
desenvolvido pela
Frontalmaq, do
Mato Grosso
novos produtos. Atualmente temos oito
produtos no mercado e 15 em fase de projeto”, explica Roberto Lins de Macêdo,
diretor-executivo de P&D da Armtec.
Capacidade de sonhar
Os investimentos pesados em inovação
exigem que a empresa se estruture em todos os setores, envolvendo profissionais
de diferentes áreas. “Mostramos para toda
a equipe que a empresa como um todo é
responsável pela inovação. Dessa forma,
desenvolvemos o principal valor de uma
empresa inovadora: a capacidade de sonhar e de realizar da sua equipe”, destaca
Macêdo. Nesse ambiente, a Armtec premia as iniciativas inovadoras dos seus colaboradores. Há um programa interno,
chamado Prêmio Inventor Armtec, que
estimula a adoção de práticas para reduzir
custos e aumentar a produtividade. Além
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fotos: divulgação
s
Mato Grosso, a empresa Frontalmaq cresce a índices expressivos graças ao investimento em inovação. Desde a sua fundação, em 2004, a empresa apresenta um
percentual de crescimento de mais de
145% em seu faturamento e de aproximadamente 120% no quadro de funcionários.
“Investindo em pesquisa e valorizando o
pessoal técnico a Frontalmaq apostou na
inovação tecnológica, produzindo máquinas que geram alto impacto na produtividade e rentabilidade na alimentação animal, produzindo ração de elevada
qualidade”, destaca o sócio da empresa,
Beronício Dias.
nononnonn
nonononn
nononon
Diferencial competitivo
Macedo, da Armtec, e o
inovador Sistran (ao lado)
disso, os colaboradores da empresa que
propõem um produto inovador ou que
captam editais de projetos recebem parte
do lucro obtido com a inovação.
Esse modelo de participação, aliado à
estrutura enxuta, mas com grande concentração de capital intelectual, resulta
em um sistema de gestão também inovador. Esse modelo inclui a terceirização da
produção, a parceria com instituições de
pesquisa e universidades e a formação de
uma rede de cooperação bem estruturada.
“Ter um produto inovador não quer dizer
que a empresa seja inovadora. O importante é ter uma gestão inovadora com impacto direto na sua competitividade”, avalia o diretor da Armtec.
Localizada na cidade de Primavera do
Leste, a 230 quilômetros de Cuiabá, no
36
Locus • Janeiro 2009
Incubada na categoria não-residente
(associada) à ARCA Multiincubadora, da
Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT), a Frontalmaq desenvolve máquinas e implementos agrícolas para a
produção de silagem. Diante das necessidades cada vez maiores de eficiência e
sustentabilidade do setor agrícola, a empresa se diferencia no mercado pela oferta
de produtos inovadores. “Entendemos
que inovar é explorar novas idéias, e foi
exatamente isso que fizemos quando decidimos trabalhar e desenvolver os implementos que hoje fabricamos. Os impactos
são revelados pelo incremento nas vendas, no quadro de funcionários, nas margens de lucro e no acesso a novos mercados, entre outros benefícios”, avalia Dias.
O principal produto da empresa é a máquina colhedora de forragem MCF-3000,
um dispositivo inédito em formato de kit,
acoplável em colheitadeiras de grãos de
diversos modelos. A empresa também desenvolve uma plataforma de recolhimento
em linha para milho e sorgo e outra plataforma, duas linhas, para recolhimento de
cana-de-açúcar. Para ampliar a gama de
produtos, a empresa planeja investir ainda mais em inovação. “Consideramos que
as inovações são capazes de gerar vanta-
gens competitivas em médio e longo prazos. Inovar torna-se essencial para a existência e continuidade da nossa empresa”,
ressalta Dias. O primeiro Prêmio Finep é
para a empresa um reconhecimento e um
incentivo para continuar a inovar. “Acreditamos que novas portas se abrirão para
firmarmos parcerias no quesito inovação
tecnológica”, prevê Dias.
Na incubadora
Assim como a Frontalmaq, a ESSS (Engineering Simulation and Scientific
Software), de Florianópolis (SC), venceu
este ano pela primeira vez o Prêmio Finep
de Inovação na Região Sul. Criada em
1995 e incubada do Centro Empresarial
para Laboração de Tecnologias Avançadas
(Celta), a ESSS desenvolve softwares para
simulação computacional de sistemas de
engenharia e atua em diversos setores
como óleo e gás, automotivo, metalurgia e
eletrodomésticos, entre outros.
A tecnologia da ESSS permite que empresas simulem o desempenho de seus
produtos por meio de um software. “As
nossas ferramentas auxiliam empresas
que desenvolvem novos produtos e processos simulando no computador o seu
funcionamento. Dessa forma, as empresas
podem testar virtualmente uma idéia, detectar problemas e efetuar modificações
antes de criar um protótipo físico. Assim,
a tecnologia da ESSS contribui para a economia de recursos e de tempo”, aponta o
presidente Clóvis Maliska Júnior. Um dos
principais clientes da empresa é a Petrobras, que utiliza diversas soluções da
ESSS, entre elas uma voltada a simular a
perfuração e a produção de reservatórios
de petróleo.
Com 100 funcionários, três escritórios
no Brasil e um em Santiago, no Chile, a
empresa exporta para mais de 10 países.
Trabalhando com clientes altamente inovadores e que exigem conhecimentos técnicos avançados, a ESSS mantém o caráter
inovador em todas as atividades cotidianas da empresa. “A inovação é o alimento
da empresa. Vendemos conhecimento,
que irá gerar ganhos e promover a inovação dos nossos clientes”, completa o empreendedor Maliska Júnior.
Maliska Júnior,
empreendedor
da ESSS
Em órbita
Atender a clientes referência em inovação também é a realidade da Orbital Engenharia, de São José dos Campos (SP),
vencedora do Prêmio Finep de Inovação
na Região Sudeste. A empresa desenvolve
produtos e presta serviços para o setor aeroespacial. Entre eles estão geradores fo-
Softwares da ESSS
simulam sistemas
de engenharia
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divulgação
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Geradores fotovoltaicos
produzidos pela Orbital
tovoltaicos para aplicações espaciais, que
geram a energia elétrica necessária para
alimentar os equipamentos e carregar as
baterias a bordo de satélites artificiais.
Os geradores fotovoltaicos convertem
diretamente a radiação solar extraterrestre em energia elétrica. “Os geradores viabilizam a utilização de equipamentos eletrônicos a bordo dos satélites artificiais
por longos períodos de tempo, proporcionando dessa forma uma gama imensa de
aplicações que vão desde a simples retransmissão de dados até complexos sistemas de imageamento ambiental, telecomunicações e de aplicações científicas de
exploração espacial nas mais diversas áreas do conhecimento”, explica Célio Costa
Vaz, diretor de engenharia da Orbital.
Com alto grau inovação tecnológica, a
Orbital contribui para o desenvolvimento
de tecnologias e produtos que estão sendo
utilizados em importantes projetos do governo brasileiro, como são os casos do
Cbers-2B e do foguete de sondagem VSB30. Além disso, a Orbital já exporta sua
tecnologia para uma companhia canadense. “Somos uma das poucas empresas brasileiras que atuam no segmento espacial e
que conquistaram participação, ainda que
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Locus • Janeiro 2009
modesta, no mercado externo desse segmento de elevada competitividade e complexidade tecnológica”, avalia Vaz.
Criada em 2001, esta é a segunda vez
que a empresa vence o Prêmio Finep de
Inovação. Em 2007, ganhou na Região Sudeste na categoria Processo – que em 2008
foi excluída do Prêmio. Essa foi apenas
uma das mudanças feitas pela Finep na
11ª edição da premiação. “Em 2008 lançamos o piloto de um novo Prêmio que não
pretende premiar uma empresa com um
único produto inovador, mas sim uma
empresa inovadora na sua natureza”, afirma Vera Marina da Cruz e Silva, coordenadora nacional do Prêmio Finep.
Na edição de 2008 as vencedoras das
categorias Produto e Grande Empresa foram escolhidas entre as companhias
clientes da Finep. A principal mudança,
no entanto, foi feita nas premiações. A
partir dessa edição as empresas vencedoras regionais e nacionais terão direito a
uma linha pré-aprovada de financiamento. No caso das pequenas empresas, o financiamento é via subvenção econômica
no valor de R$ 500 mil para as vencedoras regionais e mais R$ 500 mil para as
campeãs nacionais.
o p o r t u n i d a d e
Outro perfil de usuário
Especialista alerta para a necessidade de
adaptação dos softwares a diferentes públicos
A
tecnologia da informação devem investir
na criação de equipamentos e sistemas
que acompanhem não apenas o crescimento, mas também o envelhecimento
populacional. O pesquisador sugere a interação de todas as disciplinas relacionadas à computação, denominada por ele de
“convergência de tudo”, tornando a integração dos softwares mais acessível.
Durante a conferência da qual participou Ramamoorthy, profissionais da área
de TI reclamaram da falta de investimentos em tecnologia em todo o mundo. Para
o presidente do Programa Instituto Internacional de Integração de Sistemas, Fuad
Gattaz Sobrinho, os investimentos devem
priorizar recursos humanos para gerar
inovações. “Deve-se investir no que chamamos de protocolos: protocolos de conteúdo, protocolo de comunicação, protocolo de interface e protocolo de sistemas.
Quando se desenvolve um protocolo, o
retorno sobre o investimento é alto”, explica. Segundo Fuad, a integração de software pode ser considerada uma das principais tendências da área de TI.
S alis C hagas
Estimativa de vida em
2020 será de 128 anos:
softwares devem focar
terceira idade
SHUTERSTOCK
tecnologia da informação precisa,
com urgência, de investimentos
para desenvolver softwares voltados a pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Essa é a constatação do presidente honorário da Universidade de Berkeley, na
Califórnia, C. V. Ramamoorthy, que esteve
no Brasil em novembro do ano passado,
participando da 5 a Conferência Internacional de Integração de Sistemas. Segundo
Ramamoorthy, dois terços da população
mundial não têm acesso à tecnologia, pois
os softwares atuais são focados nas pessoas com alto poder aquisitivo.
O currículo de Ramamoorthy lhe confere autoridade para apontar tendências.
Graduado em Física e Tecnologia, Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica e
Ciências da Computação, ele foi um dos
três engenheiros que desenvolveram o
primeiro computador transistorizado da
história – Honeywell (H290). Para Ramamoorthy, hoje a solução é inovar, desenvolvendo softwares que interajam uns
com os outros em diversas áreas, a fim de
atender, por exemplo, as necessidades do
homem no campo, possibilitando que o
agricultor acompanhe, pelo computador,
as diversas etapas da produção. “Isso já
ocorre na China e na Índia, onde a migração do campo para a cidade diminuiu,
mostrando o quanto é válido o processo
de desenvolvimento de softwares destinado a pessoas de baixa renda”, afirmou.
Novas demandas
Ramamoorthy alerta para a expectativa
de vida da população em 2020, estimada
em 128 anos. Segundo ele, as empresas de
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Shutterstock
GEST
Questão de sobrevivência
Crise financeira alavanca procura por MBAs no Brasil.
Especialistas garantem que quem administra melhor tem
mais chances de entender e superar a instabilidade
Por L eo B ranco
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Locus • Janeiro 2009
E
m terra de cego, quem tem um olho é
rei. O ditado serve como analogia
para o fenômeno que atinge escolas de negócios em todo o mundo: a procura por
cursos de pós-graduação em gestão, os
MBAs, aumenta quando os mercados financeiros entram em crise, a exemplo da
mais recente, derivada dos problemas de
crédito no setor imobiliário norte-americano e considerada a pior desde o crash
de 1929. O interesse está na capacitação
profissional como diferencial em um mercado de trabalho mais instável por conta
da escassez de crédito. “As pessoas estão
ávidas por conhecimento e querem estar
próximas umas das outras, aproximar-se
de quem sabe para esclarecer o que está
acontecendo”, diz a coordenadora de cursos de MBA da Fundação Getulio Vargas
(FGV), Ana Lígia Finamor.
Segundo a coordenadora, por conta do
curto espaço de tempo decorrido desde o
começo da crise, cujo ápice foi a queda
generalizada das bolsas de valores durante o mês de outubro, essa demanda extra
por qualificação ainda não pôde ser checada em números, mas sim pela quantidade de telefonemas e pedidos de reserva de
matrícula para os próximos cursos, que
começam em março de 2009.
Opinião semelhante tem o coordenador
de cursos de pós-graduação e gestão da
Faculdade Trevisan, Olavo Henrique Furtado. Para ele, o aumento pelo interesse se
explica pelo apelo psicológico que a turbulência financeira causa em empresários
e gestores, mas a procura por qualificação
ainda ocorre mais lentamente no Brasil
do que em outros países. “A crise aqui não
chegou ao mesmo porte do que chegou
nos Estados Unidos”, explica. Segundo os
dois coordenadores, outra maneira de
avaliar o impacto das turbulências financeiras sobre o mercado de qualificação
profissional são os pedidos para abordar
assuntos que tenham relação com a crise
Foco amplo
Na Trevisan, os tópicos são abordados
de maneira diferenciada em cada curso,
mas não houve uma remodelação dos currículos somente para atender esses conteúdos. “Não é a crise que determina o que
ensinar, mas sim que sociedade você tem
hoje e como você vai se qualificar para
ela. O foco é mais amplo”, afirma Furtado. Segundo o coordenador, a escola tem a
visão de formar recursos humanos preparados não apenas para gerenciar uma crise, mas para sobreviver às mudanças por
que passa a sociedade constantemente.
Mesmo sem um foco específico no gerenciamento da atual crise financeira, quem
está saindo de um MBA neste momento
sente-se mais preparado para planejar as
atividades profissionais. É o caso do engenheiro químico Leonardo Paes Rangel, da
ESSS, empresa que desenvolve softwares e
serviços de alta tecnologia, com sedes em
São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.
Ao longo da carreira, Rangel investiu em
uma formação técnica, o que o levou ao
título de doutor em Engenharia Química
pela Universidade de São Paulo, com especialização na área de combustão. Sua
atuação profissional, no entanto, estava
mais ligada ao gerenciamento de processos do que à sua execução. Faltava-lhe
uma formação nessa área.
Durante o MBA em Gerenciamento de
Projetos, pela FGV, realizado entre 2006 e
2008, Rangel aprendeu a importância da
comunicação constante entre a equipe e
da renegociação de prazos e custos após
cada etapa de execução de um projeto,
para aumentar sua produtividade. A crise
financeira teve um impacto que varia entre 20% a 30% do trabalho da empresa,
que possui forte atuação no setor petrolífero. “Mas a forma como decidimos gerenciar nossos projetos fez com que nossos custos fossem mitigados”, afirma. A
experiência do MBA rendeu ainda uma
promoção a Rangel, de coordenador a gerente de serviços técnicos da ESSS, que
custeou a maior parte do valor do MBA,
orçado em R$ 17 mil.
Divulgação
em sala de aula. “É obrigação da escola.
No curso de Gestão Empresarial, por
exemplo, quem vai trabalhar a parte de finanças já está reservando um trecho da
aula para sair da ementa da disciplina e
conversar sobre a crise com os alunos”,
explica Ana Lígia, da FGV.
Furtado, da Trevisan:
turbulência financeira
tem apelo psicológico
sobre empresários
e gestores
Orientação gratuita
Pensando nos empresários que têm dúvidas sobre as
melhores alternativas para lidar com as conseqüências
mais significativas da crise financeira, entre elas a
redução do crédito e queda das vendas, o núcleo de
Orientação Profissional do Sebrae São Paulo elaborou a
cartilha Como Agir na Crise, disponível para download
no site www.sebraesp.com.br.
Estruturado em capítulos, o material é focado em
micro e pequenas empresas, mas também oferece
dicas para organizações de grande porte. O conteúdo é
atualizado sistematicamente, conforme surgem novas
notícias sobre a crise.
“Das 600 pessoas que atendemos diariamente,
cerca de 70% buscam orientações em dois grandes
processos: vendas e área financeira. De alguma forma,
a crise afetará, se vier de forma mais pesada, essas duas
áreas. Mas não há desespero e sim investigação sobre
aonde as coisas podem chegar”, explica o gerente do
núcleo de Orientação Profissional do Sebrae, Antonio
Carlos de Matos.
Entre as dicas da cartilha está o incentivo a formas
alternativas de financiamento de capital de giro,
uma vez que o crédito está mais escasso nos bancos.
“O próprio fornecedor pode oferecer esse capital,
na medida em que parcela as compras, em lotes
menores, mais freqüentes, com pagamentos mais bem
distribuídos. O cliente também pode ser um ótimo
fornecedor de crédito, na medida em que a empresa
pode melhorar as vendas à vista", explica. Ao final da
cartilha, uma dica serve de estímulo a profissionais e
empresas: “Fique atento às novas oportunidades, elas
sempre surgem em momentos de crise”.
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Parceiro de longa data
Ao completar dois séculos de história, Banco do Brasil consolida-se
entre os principais apoiadores do empreendedorismo inovador no país
E
nquanto as tropas de Napoleão invadiam a Península Ibérica, em 1808, a
Família Real portuguesa fugia para o Brasil, onde viraria de pernas para o ar o cotidiano da então colônia. A fim de legitimar
a fuga e a transferência da capital do império para o Rio de Janeiro, D. João VI estabeleceu uma série de medidas que acabaram por ampliar a autonomia em território
brasileiro. Uma delas foi a criação do Banco do Brasil, que no ano passado comemorou 200 anos, figurando entre as mais fortes marcas da economia brasileira.
Com a experiência de ser a primeira
instituição bancária do país, o BB investe
hoje em empreendedorismo por meio de
várias ações, sendo uma delas o apoio a
Arranjos Produtivos Locais (APLs) – grupo de empresas que compartilha experiências e desenvolve ações conjuntas.
Exemplos de APLs que receberam incentivo do Banco do Brasil são o Porto Digital em Recife (PE), o pólo de Tecnologia
da Informação de Santa Rita do Sapucaí
(MG), o APL de turismo de Florianópolis
(SC) e o de calçados de Franca (SP). “O
banco apóia um conjunto de empresas
para que elas se desenvolvam e façam
crescer a região em que atuam, como um
todo”, explica o gerente de divisão da Diretoria de Micro e Pequenas Empresas do
Banco do Brasil, Jonatas Ramalho.
São 174 APLs em todo o país – sendo
oito deles de tecnologia – que englobam
12 mil empreendimentos. O volume de
crédito concedido pelo BB a essas organizações nos últimos anos já chega a R$ 1,25
bilhão. Para apoiar o empreendedorismo
inovador, o BB assinou, em agosto de
2006, um protocolo de intenções com a
Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
(Anprotec), com o objetivo de desenvolver ações conjuntas em favor das empresas incubadas e facilitar seu acesso ao crédito. De quebra, o protocolo ajuda a
Fatos históricos
1808 – D. João VI assina o Alvará Real, que,
entre outras medidas, cria o Banco
do Brasil.
1829 – Falido, o Banco do Brasil é
liquidado por lei.
1800
1850
1853 – O Banco do Brasil é
recriado, após a fusão entre
o Banco do Comércio do
Rio de Janeiro e um banco
particular fundado dois
anos antes pelo Visconde
de Mauá.
42
Locus • Janeiro 2009
1906 – Início das negociações de ações
ordinárias do BB na Bolsa de
Valores do Rio de Janeiro.
1953 – Criada a carteira de
Comércio Exterior (Cacex).
1900
1969 – Realizado primeiro concurso
aberto também às mulheres.
Lançamento do primeiro
cheque especial do mercado.
1986 – BB deixa de ter autoridade
monetária e passa a competir
no mercado financeiro.
1995 – Reforma estatutária transforma
BB em conglomerado financeiro,
mantendo sua função oficial
de dar suporte às políticas
governamentais, mediante
atendimento prioritário ao setor
exportador, à agricultura e às
micro e pequenas empresas.
1950
2000
2000 – O Banco se prepara para aderir
ao Novo Mercado da Bovespa.
2003 – Sustentabilidade entra na pauta
das decisões estratégicas do BB.
2008 – Banco do Brasil comemora
200 anos.
Tratamento especial
Outro projeto em andamento diz respeito à forma de negociar com as empresas inovadoras. Isso por que trata-se de
empreendimentos diferentes: muitas vezes se resumem a um computador, uma
pessoa extremamente capacitada e uma
boa idéia. Por isso, o financiamento de
uma empresa inovadora é diferente do de
uma tradicional. “Se você consegue olhar
essas empresas de forma diferenciada,
você pode atendê-las melhor”, completa
Ramalho. O plano do banco é desenvolver
uma metodologia de crédito diferenciada
para esse tipo de negócio e que possa ser
disponibilizada em todas as agências.
Quem trata do apoio ao empreendedorismo e à inovação das micro e pequenas
empresas no Banco do Brasil é a Diretoria
de MPE, da qual Ramalho faz parte. Criada em 2004, a diretoria consolida uma
parceria que começou há dois séculos. “A
história do empreendedorismo no Brasil
pode ser contada através da história do
banco”, afirma Glauco Cavalcante Lima,
diretor de estratégia e organização do BB.
Logo que foi criado por D. João VI, o
Banco do Brasil funcionava como autoridade monetária – era o Banco Central da
época. Na primeira fase da instituição,
que vai até 1908, a grande ação do BB foi
ajudar a minimizar o choque econômico
causado pela libertação dos escravos com
a Lei Áurea, de 1888. O banco criou uma
linha de crédito especial, que permitia aos
agroempresários continuarem sua produção utilizando a mão-de-obra assalariada
dos imigrantes.
A partir de 1908, com a consolidação do
banco e do próprio país, ambos se expandiram. A rede de agências se espalhou pelo
interior, em lugares onde a economia brasileira se desenvolvia. A primeira fábrica
de calçados do Rio Grande do Sul, por
exemplo, foi inaugurada em 1906 e quatro
anos depois o BB instalava sua primeira
agência no estado. Em 1936 foi criada a
Carteira de Crédito Agrícola e Industrial,
que financiava a aquisição de maquinário,
custeava safras e entressafras, sementes e
adubos, a melhoria dos rebanhos, além de
matéria-prima e reequipamento industrial. A partir de 1964, o Banco do Brasil
deixou de ser autoridade monetária e entrou no mercado de varejo.
Nos últimos anos, o investimento em
empreendedorismo tem se intensificado.
Exemplo disso foi o Programa Brasil Empreendedor, de 1999, criado pelo governo
federal e cuja operacionalização ficava a
cargo do banco. Foram criadas 51 Salas do
Empreendedor para prestar atendimento
especializado, além da própria rede de
agências, a fim de fortalecer as MPEs e
empresários informais por meio de capacitação gerencial e tecnológica, concessão
de crédito e assessoria técnica.
Para Glauco Cavalcante Lima, o segredo da longevidade do Banco do Brasil é
uma atitude bastante comum entre empresas centenárias: não se abater diante
de dificuldades. “O que o banco tem é a
capacidade de crescer toda vez que está
diante deles”, garante. Boa notícia em
tempos de crise.
Jorge Diehl
estreitar o relacionamento entre banco,
incubadora e empresa incubada. Para isso,
o BB indicou agências de referência para
informar os empreendedores sobre as linhas de financiamento e os aspectos burocráticos do negócio.
Em Brasília, os técnicos do BB também
realizaram ações intensivas de visitas a incubadoras e palestras. Como resultado,
conforme Jonatas Ramalho, cerca de 99%
das empresas incubadas da cidade têm
acesso às linhas de financiamento do banco. Os mesmos encontros aconteceram,
embora de forma menos intensa, em outros estados, e o plano é continuar em
2009 o trabalho iniciado em Brasília.
“Queremos replicar a experiência de modo
que esse protocolo tenha uma efetividade
maior, pois os resultados foram extremamente favoráveis”, afirma Ramalho.
Ramalho, do BB: olhar
diferenciado para
empresas inovadoras
Locus • Janeiro 2009
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Ponte em construção
NITs crescem nas instituições de pesquisa, contribuem
para a transferência de conhecimento e demandam
novo perfil de profissional: o gestor da inovação
Capacitação
promovida pela
Inova, da Unicamp:
necessidade de
formar gestores
44
Locus • Janeiro 2009
U
ma chamada pública da Finep, realizada no último mês de outubro,
atraiu cerca de 160 instituições de ciência
e tecnologia que querem estabelecer ou
consolidar Núcleos de Inovação Tecnológica, os chamados NITs, mecanismos determinados pela Lei da Inovação para
funcionarem como gestores das práticas
inovadoras em universidades e institutos
de pesquisa.
O número, expressivo para o cenário
nacional, ganha mais relevância quando
comparado com o edital anterior de submissão de projetos de NITs. Ainda no
rastro da recém-regulamentada legislação, em 2006 a chamada atendeu apenas
40 projetos. No resultado desta última,
espera-se que pelo menos 100 propostas
sejam contempladas.
O crescimento verificado entre os dois
editais demonstra a disseminação dos
Núcleos de Inovação Tecnológica e, para
além dos números, seus avanços em outros pontos. Em 2006, os R$ 8 milhões
ofertados tiveram como destino quase exclusivamente instituições públicas, principalmente universidades federais.
Em 2008, como explica o chefe do Departamento de Instituições de Pesquisa da
Finep, Edgar Rocca, a chamada passou a
contemplar, além das universidades públicas, as privadas sem fins lucrativos,
sendo que se pretende também apoiar iniciativas de institutos de pesquisa. Além
disso, os recursos, agora no volume de R$
10 milhões, passarão a ser divididos em
Fotos: divulgação
J oão Werner G rando
duas linhas temáticas: uma para NITs
consolidados avançarem em suas atividades e a outra para estruturação de novos
núcleos por meio de redes estaduais e regionais. Do total dos recursos, 30% deve
ser aplicado nas regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste.
Crescimento acelerado
Esse avanço é atribuído, em grande
parte, a projetos de disseminação e organização do setor iniciados logo após a regulamentação da Lei da Inovação. Entre
eles, estão as ações de capacitação de recursos humanos realizadas pelo Fórum
Nacional de Gestores de Inovação e
Transferência de Tecnologia (Fortec) e o
projeto InovaNIT, realizado pela Agência
Inova, que funciona como NIT na Unicamp. Nessa parceria, que teve o apoio da
Finep com R$ 1,15 milhão, são realizados
cursos para capacitar as instituições a
criarem seus núcleos. Os treinamentos
chegaram a todos as regiões do país, tendo atendido, conforme números da InovaNIT, 175 instituições entre agosto de
2007 e setembro de 2008.
O crescimento da representatividade
do Fortec, de acordo com sua coordenadora nacional, Elizabeth Ritter, é demonstrado pelo número de afiliados. Dos
menos de 30, na época de criação do fórum, somam-se agora 134 instituições.
“Da mesma forma, os resultados alcançados pelos NITs têm se ampliado de forma
expressiva. Basta analisar os dados divulgados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Em 2006, o total dos valores auferidos pelas ICTs em royalties, por meio
de contratos de transferência de tecnologia ou de licenciamento de patentes, com
ou sem exclusividade, foram de R$ 810
mil. Em 2007, esses valores chegaram a
quase R$ 5 milhões”.
Para 2009, os cursos do InovaNIT devem passar a ser oferecidos por meio da
tecnologia de ensino a distância. O convê6%
24%
nio com a Finep, com duração de dois
anos, esgotará seu prazo nos próximos
meses, mas há negociações para que seja
prorrogado. “Não há treinamentos semelhantes, por isso, a demanda continua
crescente”, ressalta a gerente do projeto
InovaNIT, Patricia de Toledo.
Como indica Elizabeth, os cursos são
imprescindíveis especialmente tendo em
vista que a falta de recursos humanos capacitados configura-se como principal
desafio na implantação dos NITs. “Além
de serem em número insuficiente no mercado, uma vez que não há formação específica para profissionais especializados
em gestão da inovação, há uma dificuldade de absorção desses profissionais pelas
ICTs. Principalmente nas ICTs públicas,
em que a contratação precisa ser feita por
concurso, e, além disso, precisa haver uma
alocação de vagas específicas para os
NITs. Então, a maioria deles tem desenvolvido suas atividades com pessoal temporário, como bolsistas contratados por
meio de projetos apoiados por agências
de fomento. Aí cria-se um círculo vicioso
na retenção de equipes: depois de qualificados os profissionais, termina a vigência
da bolsa e as ICTs não dispõem de mecanismos para retê-los.”
Elizabeth, do Fortec:
resultados alcançados
pelos NITs são favoráveis
Natureza das instituições com NIT
6%
24%
48%
22%
6%
6%
Fonte: Fortec
6%
24%
24%
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2009
48%
24%
48%
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Royalties gerados pelos NITs
divulgação
Fonte: Fortec, 2008
Patricia, do InovaNIT:
núcleos devem
respeitar diferenças
entre ICT e mercado
A Agência Inova, da Unicamp, foi escolhida para realizar o trabalho de capacitação justamente por ter conseguido superar essas dificuldades e ter se tornado
referência. Criada em 2003, antes da Lei
da Inovação, ela foi estabelecida para consolidar uma política institucional de gestão, proteção e transferência do conhecimento desenvolvida desde 1989.
Atualmente, atividades desse NIT
abrangem desde a gestão da Propriedade
Intelectual até o empreendedorismo tecnológico, por meio, por exemplo, da sua
incubadora Incamp.
Bom exemplo
Outra característica importante é a revisão anual da gestão estratégica da agência, na qual se monitora seu desempenho,
se analisa o ambiente em que atua e se
identificam oportunidades. Esses resultados indicam progressos para a universidade, que concentra 15% da pesquisa do
país e tem o maior número de licenciamentos de tecnologia. Antes da criação da
Inova, a Unicamp possuía seis contratos
de licenciamento vigentes, sendo que depois, até final de 2007, somavam-se 40. As
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patentes depositadas durante todos os
anos pré-agência chegavam a 255, número superado em apenas quatro anos de
atuação da Inova.
Especialistas do setor concordam que o
desempenho positivo desse e de outros
NITs baseia-se em sua capacidade de interagir, ao mesmo tempo, com a instituição
de pesquisa e a iniciativa privada. Cada
um, porém, acha sua maneira para explicar como os núcleos devem fazer a ligação
entre esses dois mundos.
Rocca, da Finep, recorre à metáfora das
antenas. “Os núcleos devem ter o perfil de
aproximar a instituição das empresas. Tem
que ser como uma antena dentro e fora da
instituição. Dentro, captando as potencialidades dos cientistas. E fora buscando saber o que as empresas demandam.”
Na explicação de Patricia, do InovaNIT,
tratam-se de “mundos distintos com objetivos conflitantes”. “Os NITs têm que saber respeitar esses dois mundos. De um
lado há as instituições, que pregam a liberdade de pesquisa, a difusão do conhecimento e resultados em longo prazo. Do
outro, as empresas exigindo sigilo e prazos apertados. Na medida em que se conseguir fazer esses dois mundos convergirem, a sociedade ganha”.
c r i a t i v i d a d e
Moda que vem das águas
Empreendedores do Pará reaproveitam o couro
de peixe para a produção de bolsas, sapatos e
acessórios. Produção sustentável atrai clientes
C
cializou no reaproveitamento da pele do
peixe, em uma viagem à Alemanha. Ao
colocar a empresa à venda, algum tempo
depois, a beleza das peças encantou uma
empreendedora de Belém. “Como estava
aposentada e achei o trabalho maravilhoso, me dispus a fazê-lo em sociedade com
meu filho e minha nora”, relembra Marta
Beatriz Costa e Silva, uma das atuais sócias da marca.
Apesar de o negócio estar em fase de
evolução – conta com poucos funcionários e não possui filial –, a marca de inovação e criatividade indica bons momentos pela frente. Segundo Marta, vendedores
autônomos do Rio de Janeiro, de Brasília,
Presidente Prudente, Goiânia e Macapá já
comercializam suas bolsas, sapatos e aces-
A manda M iranda
Divulgação
ores vibrantes e produtos que chamam a atenção pela beleza e criatividade. A descrição poderia estar presente em qualquer catálogo de moda nacional
ou internacional, mas a inovação de empresários de uma marca de bolsas, sapatos
e acessórios do Pará aliou essas características ao cuidado ambiental, originando
um produto exótico que deixaria qualquer
grande designer ou estilista admirado.
A principal matéria-prima da Fora
d’Água, cujo trabalho é basicamente artesanal, é o couro de peixe. O que seria
lixo orgânico é totalmente reaproveitado,
transformando-se em peça exclusiva, diferenciada e, claro, sem odor. A idéia
virou negócio há cinco anos, quando o
antigo proprietário da empresa se espe-
Fabricação artesanal
dá origem a
peças exclusivas
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FOTOS: Divulgação
Produtos da Fora
d’Água: matéria
orgânica transformada
sórios para o resto do país.
A peculiaridade e o apelo ecológico da
Fora d’Água também levaram o Serviço de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o governo do Pará a incentivarem
os empreendedores a participar de uma
feira na França. “Fizemos, na época, boas
vendas e estamos aguardando retorno dessa visita. No momento, temos uma pequena representação em Lyon”, conta Marta.
A empresa não revela dados sobre faturamento, mas como o trabalho é artesanal
a produção acaba sendo limitada. Isso não
impede que novos funcionários sejam
contratados à medida que os pedidos aumentem. De acordo com a empresária, a
Fora d’Água dispõe inclusive de uma cen-
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tral de cadastros, com nomes de profissionais qualificados que já executaram trabalhos para a marca.
Além da beleza dos produtos, é a preocupação com a sustentabilidade que fascina os apreciadores da Fora d’Água. O couro do peixe é comprado dos pescadores
locais, gerando mais renda para trabalhadores e, em conseqüência, o desenvolvimento regional. Ao invés de lixo, o que se
vê é um catálogo de aguçar o instinto consumista de qualquer um. Tudo ecologicamente correto. “O que é novo e curioso
desperta desejos. Na moda, as coisas não
deixam de ser assim também”, destaca a
empresária, que já contabiliza os lucros de
valorizar a arte e a cultura locais.
CULTURA
r u n o M o r e s c h i
B
Gomorra
C i n e m a
Direção: Matteo Garrone. Ano: 2008. Com Salvatore
Abruzzese, Simone Sacchettino e Salvatore Ruocco.
Aclamado pela
crítica e premiado no Festival
de Cannes, Gomorra já é
chamado de Cidade de Deus
italiano. Em vez da favela
carioca, o foco está na máfia
da organização Camorra, que
mata mais do que qualquer
outra milícia européia –
desde 1992, estima-se que 3,1 mil pessoas já morreram. Numa
fotografia propositadamente suja e edição frenética tal qual o
filme brasileiro de Fernando Meirelles, o diretor Matteo Garrone
mostra como a máfia está intimamente ligada a atividades
tão diversas quanto o controle do lixo e o luxo da indústria da
moda. Quando o filme termina a sensação é de desesperança.
Repare na ótima interpretação dos atores, que criam a aura de
extremo realismo na produção.
E X POSIÇ Ã O
Um mundo a perder
de vista - Guignard
Fundação Iberê Camargo. Avenida Padre Cacique,
2.000. Porto Alegre (RS). De terça a sexta, das 10h
às 19h. Quintas até as 21h. Sábados, domingos
e feriados, das 11h às 19h. Entrada franca.
Gomorra – A
história real de
um jornalista infiltrado na
violenta máfia napolitana
l e i t u r a
Autor: Roberto
Saviano. Editora
Bertrand Brasil.
350 páginas.
O filme Gomorra é
baseado numa obra
literária de mesmo
nome escrita pelo
escritor e jornalista
Roberto Saviano. Por mais de cinco
anos, ele mergulhou nos meandros da
máfia para escrever o livro. A prova de
que o assunto não é brincadeira: até
hoje, Saviano vive sob escolta policial
em local desconhecido. A Camorra
já afirmou mais de uma vez que iria
assassiná-lo antes do fim de 2009.
Nas páginas do livro a descrição
substitui análises profundas que
certamente tirariam o impacto das
denúncias da obra.
De tempos em tempos, artistas antes considerados apenas mais um
nome dentro de um amplo movimento artístico recebem novos
estudos, mostras individuais até que suas características os tornam
pintores cujo trabalho sustenta-se por si só. É o que está acontecendo
com Alberto da Veiga Guignard, o brasileiro que nasceu em Nova
Friburgo e foi estudar em Munique e Florença. Em Porto Alegre,
a Fundação Iberê Camargo faz uma retrospectiva das pinturas de
Guignard com preciosidades como as duas telas Noite de São João,
cedidas pelo Museu da Arte Moderna de Nova Iorque.
Aproveite a visita e veja também na Fundação o trabalho de três artistas contemporâneos gaúchos. As obras de
Elaine Tedesco, Karin Lambrecht e Lucia Koch espalham-se pelo quarto andar e pelas janelas e rampas do local.
Assista Família Soprano. Acaba de ser lançada uma caixa com seis
temporadas da série de TV que conta a história de um mafioso ítaloamericano que tenta se livrar de freqüentes ataques de pânico.
Im p e r a t i v o
Ouça Fleet Foxes. Nos jornais Independent e New York Times, na revista
Rolling Stone, a maioria das listas dos melhores discos de 2008 elegeu, se
não em primeiro, pelo menos entre os 10 melhores, o CD de estréia lançado por
essa banda de Seattle que mistura pop com elementos de jazz.
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Divulgação
Uma história inspiradora
T
Mauricio Guedes*
*Mauricio Guedes é
diretor da Incubadora
de Empresas da
Coppe/UFRJ e do
Parque Tecnológico
da universidade. Atual
vice-presidente da International Association
of Science Parks
(IASP), está deixando a
presidência do Conselho
Editorial da Locus e
passa a colaborar com
a seção Opinião a partir
desta edição.
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oda virada de ano sugere balanços e
reflexões. É difícil lembrar um Ano
Novo mais conturbado e, por isso mesmo,
mais inspirador: crise mundial e com passaporte americano, fraude mundial e também com passaporte americano, velhos
conflitos e novas guerras, novo (e surpreendente) presidente nos Estados Unidos e,
finalmente, o todo-poderoso mercado
voltando a ser questionado e fazendo com
que políticas públicas para dominar suas
forças sejam acionadas em escala global.
Tantos fatos mexem com as cabeças que
tentam pensar e construir o futuro, em
todo o mundo. No Brasil, temos um motivo a mais que torna este momento especialmente importante: acabam de tomar
posse 5.563 novos prefeitos no país, que,
ao lado dos mais de 50 mil vereadores
eleitos em outubro passado, vão conduzir
as cidades onde vivemos pelos próximos
quatro anos.
É curioso o fato de que o desenvolvimento econômico seja um tema tão pouco
debatido nas eleições municipais. Afinal,
é nas cidades que a capacidade empreendedora de uma sociedade se constrói, a
partir das pessoas, do ambiente, da cultura, das políticas públicas, das entidades e
das empresas.
Neste momento, vale a pena relembrar a
história de um prefeito especial. Paulo
Frederico Toledo, falecido precocemente
em 1998, administrou a cidade de Santa
Rita do Sapucaí, no interior de Minas Gerais, em meados da década de 1980. Fui
apresentado ao Paulinho Dentista, como
era conhecido, naquela época. Santa Rita
tinha cerca de 30 mil habitantes e o Vale
da Eletrônica, que hoje conta com mais
de uma centena de empresas do setor,
empregando cerca de 7 mil pessoas , dava
seus primeiros passos.
Foi o próprio Paulinho, com seu jeito de
falar deliciosamente mineiro, que me contou como surgiu a idéia. Ao planejar sua
campanha eleitoral, o grupo que o apoiava
se reuniu – segundo ele em um bar – para
avaliar o que a cidade tinha de especial e
que ainda não havia sido plenamente explorado. Obviamente chegaram à Escola
Técnica de Eletrônica (ETE), criada em
1959 pela lendária Sinhá Moreira, e ao
Instituto Nacional de Telecomunicações
(Inatel), fundado em 1965.
Recém-eleito, cidade pequena, o Paulinho Dentista era assediado por muita
gente que lhe pedia um emprego. A todos,
respondia: “Emprego eu não tenho, mas
se você criar uma empresa de eletrônica, a
prefeitura paga o seu aluguel por dois
anos.” E assim, desse jeito simples, nascia
um projeto que mudaria os rumos da cidade nas década seguintes. Santa Rita encontrava uma importante vocação econômica, colhendo os frutos do sonho de
visionários que criaram naquela pequena
cidade a primeira escola técnica de eletrônica da América Latina.
Reencontrei Paulinho Toledo, não mais
prefeito, mas ainda dentista, em meados
dos anos 90. Não sei como ele soube que
eu, na época presidente da Anprotec, estava na cidade e foi me encontrar no Inatel. Vestindo seu jaleco branco, me contou
que estava fazendo mestrado. Eu perguntei em que área. Ele, surpreso com a pergunta óbvia, respondeu: “Ora, em eletrônica, claro”!
Essa é uma das lições deixadas por Paulinho e que pode servir como inspiração
àqueles que estão assumindo o comando
de nossos municípios. Um prefeito com
capacidade empreendedora, olhar no futuro e pés no chão pode escalar o mundo
acadêmico local para protagonizar uma
história de sucesso que ficará marcada
por transformar o futuro da cidade.

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