Notas de Aula 1 - Centro de Estudos Espaço

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Notas de Aula 1 - Centro de Estudos Espaço
CEUNSP
“Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio” - INSEAD
CURSO: Engenharia de Produção Mecânica, Mecatrônica e Civil
Disciplina: Metodologia da Pesquisa Científica – Prof. Dr. Cláudio S. Sartori
™ OBJETIVOS
(AO TÉRMINO DA DISCIPLINA O ALUNO DEVERÁ SER
CAPAZ DE):
O objetivo principal do curso de
Metodologia Científica é o de proporcionar ao
estudante uma iniciação ao trabalho científico.
Assim, ao final do curso, ele deve estar
apto a confeccionar:
• resumos de textos científicos
• relatórios de trabalhos experimentais
• apresentarem seminários como trabalhos de
graduação e de eventos
• preparar projetos e elaborar textos
científicos com linguagem apropriada.
• preparar pôsteres para exposição em
eventos científicos
• ter noções para publicação de trabalhos
científicos em revistas especializadas
• trabalhos de monografia de final de curso
• ter noções para elaborar dissertações na pós
graduação
™ IMPORTÂNCIA DO CURSO:
Muitos dos cursos compreendidos pela
Engenharia exigem a confecção de relatórios,
monografias e apresentação de seminários. Portanto,
fornecer os princípios do método científico é
essencial para que o aluno possa realizar trabalhos
de qualidade e com rigor científico. Esta
aprendizagem desde o princípio do curso, permitirá
que o aprimoramento no decorrer da graduação.
™
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Introdução
¾
¾
¾
¾
Teoria da Ciência
O conhecimento Científico
Ciência e Método: Uma visão
Histórica
Leis e Teorias
Prática da Pesquisa
-
Leitura, Análise e Interpretação de
Textos
Delimitação da Unidade de Leitura
Análise Textual
Análise Temática
Análise Interpretativa
Problematização
-
Métodos Científicos
Método Indutivo
Método Dedutivo
Método Hipotético-Dedutivo
Método Dialético
-
Fatos, Leis e Teorias.
Teoria e Fatos
Teoria e Leis
-
Hipóteses
Conceitos
Fases de Elaboração
-
Pesquisa
Tipos e Conceitos
Planejamento
Fases e Execução
-
Técnicas de Pesquisa
Documentação
Entrevista
Formulário
-
-
-
-
-
Trabalhos Científicos
Estrutura
Redação
Estilo
Tipos
* Relatório
* Monografia
* Dissertação
* Teses
* Artigos Científicos
Seminário
Estrutura Expositiva
Funcionamento
Preparação
Componentes
Etapas
Características de uma Boa
Apresentação
Defeitos Freqüentemente Observados
O Discurso e Sua Duração
Apresentação de Quadros e Gráficos
Uso de Retroprojetores e Dispositivos
Elaboração de Projetos de
Pesquisa
Resumo
Introdução
Descrição do Projeto
Orçamento
Exeqüibilidade
Cronograma
Considerações Finais
™ METODOLOGIA DE ENSINO
O curso será ministrado através de aulas
expositivas. Alguns tópicos serão abordados na
forma de seminários, para estimular discussões
entre os alunos. Serão propostos trabalhos para
fixar os conceitos estudados. Estes abrangem
resumos de textos científicos ou filosóficos,
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CURSO: Engenharia de Produção Mecânica, Mecatrônica e Civil
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relatórios e roteiros para seminários. O aluno será
estimulado a estudar em livros didáticos de
diferentes autores, de modo a desenvolver uma
mentalidade crítica e assim uma postura própria
sobre o assunto.
™ Bibliografia Básica:
1) A. L. Cervo e P. A. Bervian em
Metodologia Científica, (Prentice Hall, São Paulo,
Brasil, 2002)
2) J. C. Koche em Fundamentos de
Metodologia Científica – Teoria da Ciência e
Iniciação à Pesquisa (Editora Vozes, Petrópolis, RJ,
2002).
3) F. Gewandsznajder em O que é o método
científico (Livraria Pioneira Editora, 1989).
4) E. M. Lakatos, M. Marconi em
Fundamentos da Metodologia Científica (editora
Atlas, São Paulo, 1992).
™ Bibliografia Complementar
1) L. Rampazzo em Metodologia Científica
(Edições Loyola, São Paulo, SP, 2002).
2) A. J. P de Barros, N. A. S. Lehfeld
em Projetos de Pesquisa: propostas metodológicas
(Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2003).
3) A. J. Severino em Metodologia
doTrabalho Científico (Cortez & Moraes, São
Paulo, 1975).
• Avaliação: Prova Bimestral atividade.
A atividade será composta de:
1. Resumo de trabalhos científicos.
2. Seminários.
3. Elaboração de projetos e monografia.
4. Elaboração de Pôsteres e exposição.
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Introdução
A interpretação do mundo em que vive pelo
homem é essencial para garantir sua existência.
Assim, cria intelectualmente representações
significativas para a realidade, que chamamos
conhecimento.
O conhecimento pode ser classificado como
mítico, ordinário, artístico, filosófico, religioso e
científico.
As formas mais presentes que interferem
nas decisões da vida diária do homem são o
conhecimento do senso comum e o científico.
¾
Teoria da Ciência
Têm-se, quatro espécies de considerações
sobre
a
mesma
realidade,
o
homem;
conseqüentemente, o pesquisador está se movendo
dentro de quatro níveis diferentes de conhecimento.
O mesmo pode ser feito com outros objetos de
investigação.
Tem-se, então, conforme o caso:
•
conhecimento empírico
•
conhecimento científico,
•
conhecimento filosófico,
•
conhecimento teológico.
•
•
conhecimento empírico
Conhecimento do Senso Comum
É a forma usual que o homem utiliza para
interpretar a si mesmo, o seu mundo e o universo
como um todo, produzindo interpretações
significativas. Também chamado de conhecimento
ordinário, comum ou empírico.
Ele surge da necessidade resolver
problemas imediatos, que aparecem na vida prática e
decorrem do contato direto com os fatos e
fenômenos que vão acontecendo no dia a dia,
percebidos principalmente pela percepção sensorial.
Exemplos:
Na pré história – homem habitando
cavernas, uso da moeda, remédios caseiros, etc.
Esse conhecimento não é planejado, ele se
desenvolve a medida que a vida acontece, seguindo
a ordem natural dos acontecimentos, sendo
caracterizado de forma espontânea e intuitiva.
¾
O conhecimento Científico
O homem no age diretamente sobre as coisas.
Sempre há um intermediário, um instrumento entre ele e
seus atos. Isto também acontece quando faz ciência,
quando investiga cientificamente. Ora, no é possível fazer
um trabalho científico, sem conhecer os instrumentos. E
estes se constituem de uma série de termos e conceitos que
devem ser claramente distinguidos, de conhecimentos a
respeito das atividades cognoscitivas que nem sempre
entram na constituição da ciência, de processos
metodológicos que devem ser seguidos, a fim de
chegar-se a resultados de cunho científico e,
fmalmente, é preciso imbuir-se de espírito científico.
“Nossas possibilidades de conhecimento são muito e
até, tragicamente, pequenas. Sabemos pouquíssimo, e
aquilo que sabemos sabemo-lo muitas vezes
superfïcialmente, sem grande certeza. A maior parte
de nosso conhecimento somente é provável. Existem
certezas absolutas, incondicionais, mas estas são
raras.*
‘‘ J.M. BOCHENSKI, Diretrizes do pensamento
filosófico, p. 42.
O que é conhecer? É uma relação que
se estabelece entre o sujeito que conhece e o
objeto conhecido. No processo de conhecimento
o sujeito cognoscente se apropria, de certo
modo,
do
objeto
conhecido.
Se a apropriação é física, sensível, por exemplo
a representação de uma onda luminosa, de um
som, o que acarreta uma modificação de um
órgão corporal do sujeito cognoscente, tem.se
um conhecimento sensível. Tal tipo de
conhecimento é encontrado tanto em animais
como
no
homem.
Se a representação não é sensível, o
que ocorre com realidades tais como conceitos,
verdades princípios e leis, tem-se então um
conhecimento
intelectual.
O conhecimento sempre implica uma
dualidade de realidades: de um lado, o sujeito
cognoscente e, de outro, o objeto conhecido,
que está possuído, de certa maneira, pelo
cognoscente. O objeto conhecido pode, às
vezes, fazer parte do sujeito que conhece. Podese conhecer a si mesmo, pode-se conhecer e
pensar os seus pensamentos. Mas nem todo o
conhecimento é pensamento. O pensamento é
conhecimento
intelectual.
Pelo conhecimento o homem penetra as diversas
áreas da realidade para dela tomar posse. Ora, a
própria realidade apresenta níveis e estruturas
diferentes em sua própria constituição. Assim, a
partir de um ente, fato ou fenômeno isolado,
pode-se subir até situá-lo dentro de um contexto
mais complexo, ver seu significado e função,
sua natureza aparente e profunda, sua origem,
sua finalidade, sua subordinação a outros entes,
enfim, sua estrutura fundamen tal com todas as
implicações daí resultantes.
Esta complexidade do real, objeto de
conhecimento, ditará, necessariamente, formas
diferentes de apropriação por parte do sujëito
cognoscente. Estas formas darão os diversos
níveis de conhecimento segundo o grau de
penetração do conhecimento e conseqüente
posse mais ou menos eficaz da realidade,
levando ainda em conta a área ou estrutura
considerada.
Com relaçâo ao homem, por exemplo, pode-se
considerá-lo em seu aspecto externo e aparente
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e dizer uma série de coisas que o bom senso dita ou
que a experiência cotidiana ensinou; pode-se,
também, estudá-lo com espírito mais sério,
investigando experimentalmente as relações
existentes entre certos órgãos e suas funções; podese, ainda, questioná-lo quanto à
sua origem, sua liberdade e destino e, fmalmente,
investigar o que dele foi dito por Deus através dos
profetas e de seu enviado Jesus Cristo.
O conhecimento científico vai além do empírico,
procurando conhecer, além do fenômeno, suas
causas
e
leis.
Para Aristóteles o conhecimento só se dá,
de maneira absoluta, quando sabemos qual a causa
que produziu o fenômeno e o motivo, porque não
pode ser de outro modo; é o saber através da
demonstração*.
A ciência, até a Renascença, era tida como um
sistema de proposições rigorosamente demonstradas,
constantes e gerais que expressam as relações
existentes entre seres, fatos e fenômenos da
experiência.
O conhecimento científico era caracterizado como:
1) certo, porque sabe explicar os motivos de sua
certeza, o que não acontece com o empírico;
2) geral, no sentido de conhecer no real o que há de
mais universal e válido para todos os casos da
mesma espécie. A ciência, partindo do indivíduo
concreto, procura o que nele há de comum com os
demais da mesma espécie;
3) metódico e sistemático, O cientista não ignora
que os seres e fatos estão ligados entre si por certas
relações. O seu objetivo é encontrar e reproduzir
este encadeamento. Alcança-o por meio do
conhecimento ordenado das leis e princípios.
A estas características acrescentam-se outras
propriedades da ciência, como a objetividade, o
desinteresse
e
o
espírito
crítico.
A ciência, assim entendida, é o resultado da
demonstração e da experimentação, só aceitando o
que
foi
provado.
Hoje a concepção de ciência é outra.
A ciência não é considerada como algo pronto,
acabado ou defmitivo. Não é a posse de verdades
imutáveis.
Atualmente, a ciência é entendida como
uma busca constante de explicações e soluções, de
revisão e reavaliação de seus resultados e tem a
consciência clara de sua falibilidade e de seus
limites.
Nesta busca sempre mais rigorosa, pretende
aproximar-se cada vez mais da verdade através de
métodos que proporcionam um controle, uma
sistematização, uma revisão e uma segurança maior
do que possuem outras formas de saber nãocientíficas.
Por ser algo dinãmico, a ciência busca renovar-se e
reavaliar-se
continuamente.
A ciência é um processo de construção.
9 Histórico
do
método
científico
As ciências, no estado em que se encontram
atualmente, são o resultado de tentativas
ocasionais, inicialmente, e de pesquisas cada
vez mais metódicas e científicas nas etapas
posteriores.
A ciência é urna das poucas realidades que
podem ser legadas às gerações seguintes. Os
homens de cada período histórico assimilam os
resultados científicos das gerações anteriores,
desenvolvendo e ampliando alguns aspectos
novos. Do duplo elemento de uma época, o
mutável e o fixo, o ainda não comprovado e o
estabelecido defmitivainente, somente o último
é cumulativo e progressivo.
Os elementos que constituem boa parte da
ciência e que são a parte transitória e efêmera,
como certas hipóteses e teorias, se perdem no
tempo, conservando, quando muito, interesse
histórico.
Cada época elabora suas teorias, segundo o
nível de evolução em que se encontra,
substituindo as antigas, que passam a ser
consideradas como superadas e anacrônicas.
O que permitiu à ciência chegar ao nível atual
foi o núcleo de técnicas de ordem prática, seus
fatos empíricos e leis, que formam o elemento
de continuidade, e que foi sendo aperfeiçoado e
ampliado ao longo da história do homo sapiens.
A ciência, nos moldes em que se apresenta hoje,
é relativamente recente. Só na idade moderna da
História adquiriu o caráter científico que tem
atualmente. Entretanto, desde o início da
humanidade já se encontravam os primeiros
traços rudimentares de conhecimentos e técnicas
que constituiriam a futura ciência.
A revolução científica, propriamente dita,
registra-se nos séculos XVI e XVII, com
Copérnico, Bacon e seu método experimental,
Galileu, Descartes e outros. Não surgiu, porém,
do acaso. Toda descoberta ocasional e empírica
de técnicas e conhecimentos referentes ao
universo, à natureza e ao homem, desde os
antigos babilônios e egípcios, a contribuição do
espírito criador grego sintetizado e ampliado por
Aristóteles, as invenções feitas na época das
conquistas prepararam o surgimento do método
científico e o espírito de objetividade que vai
caracterizar a ciência a partir do século XVI,
ainda de forma vacilante e agora de modo
rigoroso.
Aos poucos o método experimental é
aperfeiçoado e aplicado em novos setores.
Desenvolve-se o estudo da química, da biologia,
surge um conhecimento mais objetivo da
estrutura e funções dos organismos vivos no
século XVIII. Já no século seguinte, verifica-se
uma modificação geral nas atividades
intelectuais e industriais. Surgem novos dados
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relativos à evolução, ao átomo, à luz, à eletricidade,
ao magnetismo, à energia. Enfim no século XX, a
ciência, com seus métodos objetivos e exatos,
desenvolve
pesquisas em todas as frentes do mundo físico e
humano, atingindo um grau de precisão
supreendente não só na área das navegações
espaciais e de transplantes, como nos mais variados
setores
da
realidade.
Essa evolução das ciências tem, sem dúvida, como
mola propulsora os métodos e instrumentos de
investigação aliados ao espírito científico, perspicaz,
rigoroso
e
objetivo.
Este espírito que foi preparado ao longo da História
se impõe agora, de maneira inexorável, a todos
quantos pretendem conservar o legado científico do
passado ou ainda se propõem ampliar suas
fronteiras.
• conhecimento filosófico
O conhecimento filosófico distingue-se do
científico pelo objeto de investigação e pelo método.
O objeto das ciências são os dados próximos,
imediatos, perceptíveis pelos sentidos ou por
instrumentos, pois, sendo de ordem material e física,
são por isso suscetíveis de experimentação (método
científico = experimental). O objeto da filosofia é
constituído de realidades mediatas, não perceptfveis
pelos sentidos e que, por serem de ordem suprasensíveis, ultrapassam a experiência (método
racional).
A ordem natural do procedimento é, sem dúvida,
partir dos dados materiais e sensíveis (ciência) para
se elevar aos dados de ordem metempírica, não
sensíveis, razão última da existência dos entes em
geral (filosofia). Parte-se do concreto material para o
concreto supramaterial, do particular ao universal.
Na acepção clássica, a filosofia era considerada a
ciência das coisas por suas causas supremas.
Modernamente, prefere-se falar em filosofar. O
filosofar é um interrogar, é um contínuo a si e à
realidade. A filosofia não é algo feito, acabado. A
filosofia é uma busca constante do sentido, de
justificação, de possibilidades, de interpretação a
respeito de tudo aquilo que envolve o homem e
sobre o próprio homem em sua existência concreta.
Filosofar é interrogar. A interrogação parte da
curiosidade. Esta é inata. Ela é constantemente
renovada, pois surge quando um fenômeno nos
revela alguma coisa de um objeto e ao mesmo tempo
nos sugere o oculto, o mistério. Este impulsiona o
homem a buscar o desvelamento do mistério. Vê-se,
assim, que a interrogação somente nasce do
mistério, que é o oculto enquanto sugerido.
Jaspers, em sua Introdução à Filosofia, coloca a
essência da filosofia na procura do saber e não em
sua posse’ A filosofia se trai a si mesma e degenera
quando
é
posta
em
fórmulas.
A tarefa fundamental da filosofia resume-se na
reflexão. A experiência fornece uma multidão de
impressões
e
opiniões.
Adquirem-se
conhecimentos científicos e técnicos nas mais
variadas
áreas.
Têm-se
aspirações
e
preocupações as mais diversas. A filosofia
procura refletir sobre este saber, interroga-se
sobre ele, problematiza-o. Filosofar é interrogar
principalmente pelos fatos e problemas que
cercam o homem concreto, inserido em seu
contexto histórico. Este contexto muda através
dos tempos, o que explica o deslocamento de
temas de reflexão filosófica. É claro que alguns
temas perpassam a história como o próprio
homem; qual o sentido do homem e da vida?
Existe ou não existe o absoluto? Há liberdade?
Entretanto, o campo de reflexão se ampliou
muito em nossos dias. Hoje, os filósofos, além
das interrogações metafísicas tradicionais,
formulam novas questões: o homem será
dominado pela técnica? A máquina substituirá o
homem? Também o homem será produzido em
série, em tubos de ensaio? As conquistas
espaciais comprovam o poder ilimitado do
homem? O progresso técnico é um benefício
para a humanidade? Quando chegará a vez do
combate contra a fome e a miséria? O que é
valor, hoje?
A filosofia procura compreender a realidade
em seu contexto mais universal. Não há
soluções definitivas para grande número de
questões. Entretanto, habilita o homem a fazer
uso de suas faculdades para ver melhor o
sentido da vida concreta.
•
conhecimento teológico.
Duas são as atitudes que se podem tomar
diante do mistério.
A primeira é tentar penetrar nele com o
esforço pessoal da inteligência. Mediante a reflexão e
o auxilio de instrumentos, procura-se obter o
procedimento que será científico ou filosófico.
A segunda atitude consistirá em aceitar
explicações de alguém que já tenha desvendado o
mistério e implicará sempre uma atitude de fé diante
de um conhecimento revelado.
Este conhecimento revelado ocorre quando
há algo oculto ou um mistério, alguém que o
manifesta e alguém que pretende conhecê-lo.
Entende-se por mistério tudo o que é oculto
enquanto provoca a curiosidade e leva à busca. O
mistério é o oculto enquanto sugerido. Pode estar
ligado a dados da natureza, da vida futura, da
existência do absoluto, para mencionar apenas alguns
exemplos.
Aquele que manifesta o oculto é o
revelador. Poderá ser o próprio homem ou Deus.
Aquele que recebe a manifestação terá fé humana, se
o revelador for algum homem, e terá fé teológica, se
Deus for o revelador.
A fé teológica sempre está ligada a uma
pessoa que revela a Deus. Para que isto aconteça, é
necessário que tal pessoa que conhece a Deus e que
vive o mistério divino o revele ao homem. Afirmar,
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por exemplo, que tal pessoa é o Cristo, equivale a
explicitar um conhecimento teológico.
O conhecimento revelado — relativo a Deus —
aceito pela fé teológica, constitui o conhecimento
teológico. É aquele conjunto de verdades a que os homens
chegaram, não com o auxfiio de sua inteligência, mas
mediante a aceitação dos dados da revelação divina. Valese de modo especial do argumento de autoridade. São os
conhecimentos adquiridos nos Livros Sagrados e aceitos
racionalmente pelos homens, depois de terem passado pela
crítica histórica mais exigente. O conteúdo da revelação,
feita a crítica dos fatos aí narrados e comprovados pelos
sinais que a acompanham, reveste-se de autenticidade e de
verdade. Passam tais verdades a ser consideradas como
fidedignas, e por isso são aceitas. Isto é feito com base na
lei suprema da inteligência: aceitar a verdade, venha
donde vier, contanto que seja legitimamente adquirida.
¾
Ciência e Método: Uma visão
Histórica
¾ Uma visão histórica
A humanidade presenciou dois
importantes momentos, de orgulho e medo em
nosso século:
1 – Em 1919, a confirmação da Teoria
da Relatividade de Einstein, em Sobral, no
Ceará.
2 – Em 1945, com o lançamento das
bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasáki.
A ciência é ao mesmo tempo, admirada
e temida...
No teste de 1919, porém, as equipes de
observação de um eclipse solar, chefiadas por
Eddington, constataram que os raios luminosos,
vindos de estrelas distantes, ao passarem
próximos ao Sol sofriam um desvio de em
média l,7" em sua trajetória, encurvando-se em
sua direção, tal como havia predito Einstein.
Essa constatação, obtida através do confronto de
sucessivas fotos de estrelas, tiradas durante o
eclipse, era uma prova favorável à teoria do
espaço curvo.
O segundo aconteceu em 1945, no final da
Segunda Guerra Mundial, quando Hiroxima e
Nagasáqui foram destruídas pelas bombas
atômicas. Embora se conhecesse teoricamente o
poder destruidor que teria a liberação da energia
do átomo, ninguém acreditava que o homem
soubesse construir um artefato que pudesse
utilizá-la. A bomba sobre Hiroxima e Nagasáqui
demonstrou que o homem pode com o conhecimento científico conhecer e dominar as forças
da realidade para estabelecer um controle
prático sobre a natureza e sobre o próprio
homem. E, nesse segundo momento, temeu a
humanidade perante o progresso da ciência.
O que é essa ciência que é ao mesmo tempo
admirada e temida, condenada e glorificada, ou
até mesmo transformada em mito?
Km 20 de maio de l9l9. durante um eclipse total do Sol
duas equipes de astrônomos de Greenwich e de Oxford
chefiadas por Eddington, uma em Sobral, no Brasil, e outra
nu Ilha do Príncipe, no Golfo de Guiné, fotografaram
durante cinco minutos, com dezenas de fotos, as estrelas
localizadas [•.uma determinada região do céu. Dois meses
mais tarde, a mesma região dessas estrelas foi visível à noite
e foi fotografada com os mesmos instrumentos, para
confronto. Em 21 de setembro de 1922, na Austrália, foi
feita mais uma observação semelhante, obtendo-se um
desvio de l .74". Esses resultados estavam de acordo com os
cálculos previstos por Einstein que afirmara que um raio
luminoso vindo de uma estrela distante, ao passar próximo
ao Sol sofria um desvio em sua trajetória em função do
encurvamento do espaço ocasionado pela massa solar.
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-
Métodos Científicos
Método Indutivo
Método Dedutivo
Método Hipotético-Dedutivo
Método Dialético
-
Fatos, Leis e Teorias.
Teoria e Fatos
Teoria e Leis
-
Hipóteses
Conceitos
Fases de Elaboração
CIÊNCIA: CONTROLE PRATICO DA
NATUREZA E DOMÍNIO SOBRE OS
HOMENS OU BUSCA DO SABER?
O leigo influenciado principalmente pêlos meios
de comunicação de massa, concebe a ciência como a
fonte miraculosa que resolve todos os problemas que
a humanidade enfrenta, quer sejam teóricos ou
práticos, sem mesmo distinguir o produto científico
do produto técnico.
De fato, uma das preocupações permanentes que
motivam a pesquisa científica é o caráter prático:
conhecer as coisas, os fatos, os acontecimentos e
fenômenos, para incitar e estabelecer uma previsão
do rumo dos acontecimentos que cercam o homem e
controlá-los. Com esse controle pode ele melhorar
sua posição em face ao mundo e criar, através do
uso da tecnologia, condições melhores para a vida
humana.
A ciência é utilizada para satisfazer às
necessidades humanas e como instrumento para
estabelecer um controle prático sobre a natureza.
Somam-se os benefícios auferidos pelo homem em
todos os campos, produzidos pela aplicação prática
da descoberta científica. A eletricidade, a telefonia,
a informática, o rádio, a televisão, a aviação, as
aplicações tecnológicas no campo da medicina, das
engenharias e das viagens espaciais, o uso da
genética na agricultura e na agropecuária e tantos
outros relacionados à psicologia, sociologia, e aos
mais diferentes campos do conhecimento mostram a
evolução crescente do uso do conhecimento
científico na vida diária do homem, a tal ponto que
dificilmente se desvincula a produção do
conhecimento do seu benefício tecnológico e
pragmático. Os próprios cientistas, ao justificarem
seus pedidos de recursos financeiros para custear as
despesas de suas investigações, junto aos grupos de
interesses econômicos e políticos, tendem a dar
demasiada ênfase à relevância dos resultados
práticos auferidos pelas suas pesquisas.
Gradativamente o conhecimento científico toma
conta das decisões e ações do homem a tal ponto
que no fim do segundo e início do terceiro milênio,
vivemos na chamada sociedade do conhecimento. A
riqueza e a força bélica, outrora considerada
elementos chaves e fontes do poder, hoje cedem
seu lugar para o conhecimento. Quem tem
conhecimento tem poder, a força e a riqueza, e o
domínio sobre a natureza e sobre os outros
homens.
Essa ênfase exagerada, porém, no caráter
prático do uso do conhecimento científico pode
proporcionar uma distorção da compreensão do
que sejam ciências, ocultando, principalmente,
os seus principais objetivos. Nagel (In:
Morgenbesser. p.15-16, 1971) é incisivo quando
alerta para o perigo que essa concepção pode
trazer, pois o cientista acaba sendo visto como
aquele homem milagreiro que é capaz de
encontrar soluções infalíveis para qualquer
problema humano ou da natureza.
Essa
compreensão
cientificista
e
reducionista é errônea e limitada. A ciência não
se reduz à atividade de proporcionar o controle
prático sobre os fenômenos da natureza. Esse
poder de controle o homem o consegue por
decorrência das funções e objetivos principais
da atividade científica. A causa principal que
leva o homem a produzir ciência é a tentativa de
elaborar respostas e soluções as suas dúvidas e
problemas e que o levem ã compreensão de si e
do mundo em que vive.
CIÊNCIA
CONCEPÇÕES
E
MÉTODO:
AS
Não existe uma única concepção de ciência.
Podemos dividi-la em períodos históricos cada
um com modelos e paradigmas teóricos
diferentes a respeito da concepção de mundo,
de ciência e de método. Pretende-se, de uma
forma mais simplificada analisar a ciência
grega, que abrange o período que vai do século
VIII aC até o final do século XVI, a ciência
moderna, do século XVII até o início do
século XX. e a ciência contemporânea que
surge no início deste século até nossos dias.
™ Ciência e método: a visão grega
Se erroneamente, a ciência é encarada por
muitos como um fantástico instrumento
miraculoso ou estarrecedor capaz de resolver
todos os problemas da humanidade, na
Antiguidade, na Grécia, a partir do século VIII
aC e alcançando a culminância no século IV aC
conhecida como filosofia da natureza, tinha
como única preocupação a busca do saber, a
compreensão da natureza das coisas e do
homem. O conhecimento científico era
desenvolvido pela filosofia. Não havia a
distinção que hoje se estabelece entre ciência e
filosofia.
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Os pré-socráticos
A filosofia, ao surgir no mundo ocidental com
os filósofos pré-socráticos - Tales de Mileto.
Anaximandro, Pitágoras, Heráclito. Parmênides.
Empédocles, Anaxágoras e Demócrito - iniciou o
estabelecimento
gradual
de
uma
ruptura
epistemológica com a mitologia. Os pré-socráticos
começaram a substituir a concepção de mundo
caótico concebido pela mitologia pela idéia de
cosmos. Na concepção mitológica e antropomórfica,
os fenômenos que aconteciam no mundo ocorriam
de forma caótica, pois eram desencadeados por
forças espirituais e sobrenaturais comandadas pela
vontade arbitraria e imprevisível dos deuses. Na
visão pré-socrática foi inserida a idéia da existência
de uma ordem natural no universo, despida da
influência ou interferência da vontade imprevisível
das divindades. O universo era ordem, era cosmos,
ele estava ordenado por princípios (arché) e leis
fixas e necessárias, inerentes à própria natureza.
Seus fenômenos estavam relacionados a causas e
forças naturais que podiam ser conhecidas e
previstas.
O principal problema abordado pelos présocráticos foi o de responder se, debaixo das
aparências sensíveis e perenes dos fenômenos que
estavam em contínua transformação, existia algum
princípio permanente ou realidade estável, isto é se
havia uma "natureza" uma essência eterna, universal
e imutável que determinava a existência das coisas.
O que são. de que são feitas, coma são feitas e de
onde vêm as coisas que são percebidas. Essas eram
as perguntas que os filósofos pretendiam responder.
()s pré-socráticos distinguiam o que pode ser
percebido pêlos sentidos - os fenômenos, as
aparências imitáveis das coisas, que fundamentam as
opiniões, a dsksa – e o que pode ser percebido pela
inteligência - o ser as essências que definem a
natureza das coisas, seus princípios comuns e
imutáveis, que fundamentam o conhecimento,
ciência, a filosofia.
O procedimento usado pelos filósofos - os que
desejam a sabedoria - é o da especulação racional.
Por julgar que a experiência, que utiliza o
testemunho dos sentidos, é fonte de erros,
preocuparam-se em elaborar teorias racionais.
Segundo eles, os princípios ordenadores da natureza
das coisas, por estarem debaixo das aparências, não
podiam ser percebidos pêlos sentidos, mas apenas
pela inteligência. Cabia à inteligência a tarefa de
elaboração e esclarecimento da possível ordem que
havia por trás da aparente desordem dos fenômenos
sensíveis e perceptíveis.
O corte epistemológico que os filósofos présocráticos começaram a estabelecer, portanto, na
busca de um conhecimento acerca da natureza do
universo, rompeu com o vínculo estabelecido com
as crenças mitológicas e com as opiniões sustentadas
na Ciência dos sentidos. Iniciaram, dessa forma, a
escalada da história ocidental na construção do
conhecimento, que permaneceu por mais de
2000 anos, como uma idade filosófica, racional,
especulativa, de abertura ao inteligível, na
tentativa de uma compreensão racional do
cosmos.
¾
A abordagem platônica.
O outro modelo que se apresenta após os
pré-socráticos é o platônico. Nele o real não
está na empiria, nos fatos e fenômenos
percebidos pelos sentidos. O verdadeiro mundo
platônico é o das idéias, que contém os modelos
e as essências de como aparências devem se
estruturar. Para Platão (429-348/7 aC) a forma,
acessível aos sentidos, apenas nos mostra como
as coisas são, mas não o que elas são.
Os sentidos são apenas a fonte de
opiniões e crenças sobre as aparências do
real. O que nos fornece o que são as coisas, o
seu verdadeiro conhecimento, a ciência, é a
inteligência, o entendimento, que é o
conhecimento
racional
intuitivo,
desenvolvido através da dialética - intuição
dos princípios universais, análise e síntese concebido por Platão como um método
científico racional. A essência do mundo só é
acessível ao entendimento, pois as idéias, os
modelos de todas as coisas, enquanto
entidades reais, eternas, imutáveis, imateriais,
perfeitas e invisíveis, não estão neste nosso
mundo de aparências sensíveis e mutáveis,
mas num mundo superior e eterno. Nesta
interpretação platônica, de desvalorização dos
sentidos, a percepção sensorial apenas tem a
função de confundir, de proporcionar as
"sombras" da realidade, que enganam, ludibriam. Para Platão, o real é o pensado, o
intuído. Nem a imaginação e nem a razão
discursiva, que são os que possibilitam
trabalhar com os conceitos de número e quantidade, nos proporcionam o verdadeiro
conhecimento. Platão destrói o valor da experiência empírica como fonte e critério de
julgamento do conhecimento, da verdade, e
valoriza a intuição racional como mecanismo
para se apropriar da essência do real, do Ser.
¾
Aristóteles: entendimento e experiência
Aristóteles (384-322aC), discípulo de
Platão, em sua Metafísica, é o primeiro a
suprimir o mundo platônico das idéias. Para ele
a ciência é produto de uma elaboração do
entendimento em íntima colaboração com a
experiência sensível. É resultado de uma
abstração indutiva das sensações provenientes
dos sentidos e da iluminação do entendimento
agente que abstrai as particularidades
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individualizadas dessas sensações e constrói a idéia
universal que representa a essência da realidade.
Desde o século IV aC até o século XVII,
predominou essa concepção aristotélica de
demonstração científica, através de um duplo
processo. De acordo com Aristóteles, no primeiro
momento, devia-se iniciar pelo que vinha em
primeiro lugar no conhecimento, que seriam os fatos
percebidos pêlos sentidos e, depois, agrupar as
observações pelo processo de indução, em uma
generalização que proporcionasse a forma universal,
isto é, a substância, a identidade inteligível e real
que permanecia independente das mudanças. O
objetivo desse processo indutivo de abstração e da
ação do entendimento agente iluminado, era o de
definir as formas e efetuar a passagem progressiva
dos dados materiais e mutáveis para os imateriais e
imutáveis. O segundo momento consistia em
demonstrar que os efeitos observados derivavam
dessas definições, isto é de um princípio mais
universal que era sua causa. Nenhum efeito ou
atributo poderia existir se não estivesse ligado a
alguma causa, a alguma substância.
Demonstrava-se a causa de um efeito quando o
efeito pudesse ser predito como um atributo de uma
determinada substância. Para Aristóteles, a ciência
física era uma ciência da natureza.
Physis significava natureza. Physis era o
princípio ativo. a fonte intrínseca natural do
comportamento de cada coisa. A natureza de uma
coisa era a substância que lhe era inerente, o seu
princípio intrínseco que determinava "naturalmente"
o seu comportamento. A natureza essencial de uma
substância era determinada pela sua matéria e forma.
Esse processo indutivo consistia num processo de
abstração a partir dos dados proporcionados pêlos
sentidos.
O método aristotélico consiste em analisar a
realidade através de suas partes e princípios que
podem ser observados, para, em seguida, postular
seus princípios universais, expressos na forma de
juízos, encadeados logicamente entre si. Dessa
forma o modelo aristotélico propõe uma ciência
(episteme) que produz um conhecimento que
pretende ser um fiel espelho da realidade, por estar
sustentado no observável e pelo seu caráter de
necessidade e universalidade. Desenvolve um
conhecimento da essência das coisas e das suas
causas, respondendo as perguntas o que é? e por que
é? A ciência aristotélica manifesta-se com uma
ciência do discurso, qualitativa, que proporciona um
conhecimento universal, estável, certo e necessário,
tal qual propuseram os pré-socráticos. O
conhecimento verdadeiro deve satisfazer os critérios
da justificação lógica: deve ser demonstrado com
argumentos que sustentam a certeza e tornam
evidente a sua aceitação em função da coerência
lógica de suas afirmações com os princípios
universalmente aceitos (verdade sintática).
¾
A Ciência grega – a visão do Universo.
Apesar do corte epistemológico que a
filosofia efetuou com a mitologia, algumas
analogias foram mantidas, principalmente as do
antropomorfismo, que comparava a organização
do universo com a forma humana de
organização.
Prevaleceu, na visão grega de ciência, o
modelo cosmológico de Aristóteles aliado às
concepções da astronomia de Ptolomeu. Esse
universo era geocêntrico, finito, de forma
esférica, limitado às estrelas visíveis e fechado,
com princípios organizadores próprios, tal qual
um organismo vivo, dotado de inteligência
própria.
Aristóteles dividia os seres desse universo em
três grandes planos, de acordo com o nível de
perfeição:
1° - O mundo físico terrestre, o
sublunar, que está no centro do universo,
composto das substâncias físicas imperfeitas,
perecíveis, sujeitas à mudança, ao movimento,
geração e degeneração, divididas em seres vivos
- os vegetais, os animais e o homem - e não
vivos - a matéria e a forma, os quatro
elementos: água, ar. terra e fogo, e os mistos;
2° - O mundo físico celeste, o
supralunar, composto pêlos astros e esferas
celestes perfeitas. Os astros são substâncias
móveis, eternas, incorruptíveis e dotadas de formas vivas, inteligentes e perfeitas, girando em
movimento esférico em tomo da terra;
3° - substância divina supraceleste,
eterna, incorruptível, imóvel, destituída de
matéria e situada fora do universo físico: Deus.
Os gregos viam o mundo dotado de uma ordem
e estrutura natural que governava o cosmos e
que regia todos os acontecimentos, na qual todo
o ser adquiria sentido. A filosofia e à ciência
cabia buscar essa ordem, apreendê-la,
compreendê-la
e
demonstrá-la.
Toda
racionalidade da ciência grega estava sustentada
nessa ideia que interpretava os fatos
particulares, mutáveis e perecíveis, a partir do
sentido que adquiriam como parte de um todo.
de uma essência universal incorruptível e eterna.
Na ciência grega, portanto, não se dá destaque
ao processo de descoberta. Havia um processo
de demonstração, de justificação dos princípios
universais. Conhecimento científico era o
demonstrado como certo e necessário através
dos argumentos lógicos. O valor de uma
explicação estava no seu poder argumentativo
que justificava sua aceitação e plausibilidade.
Aciência grega era uma ciência do discurso, em
que não havia o tratamento do problema que
desencadeia a investigação, e sim a
demonstração da verdade racional no plano
sintático. Sob esse enfoque é que nasceram e se
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forma, se referem a um grande número de fatos), mas na
física, a biologia, a ética, a
estreiteza de uns poucos e obscuros experimentos.
desenvolveram a
aritmética, a metafísica, a estética, a política, a
lógica, a cosmologia, a antropologia, a medicina e
tantas outras ciências.
A filosofia da natureza, ou a ciência grega, chega à
Europa principalmente através dos árabes e dos
cristãos. Estudada pêlos cristãos, é adotada e
ensinada nos conventos e universidades européias.
Proporcionou ao Ocidente, por vários séculos, os
fundamentos de um conhecimento racionai, tido
como certo e seguro.
¾ Ciência e método: a abordagem da
ciência moderna:
¾ Baicon, Galileu e Newton
Esses dois caminhos, o platônico e o
aristotélico, depois de coexistirem por mais de 2000
anos, foram duramente atacados a partir do século
XV e, principalmente, no século XVII, durante o
Renascimento, pela revolução científica moderna,
que introduz a experimentação científica,
modificando radicalmente a compreensão e
concepção teórica de mundo, de ciência, de verdade,
de conhecimento e de método.
O conhecimento produzido segundo o modelo
aristotélico manifestava-se através de proposições de
sujeito-predicado, que expressavam os atributos
qualitativos inebries aos fenômenos observados.
Esta ciência qualitativa, no entanto, era inadequada
por tratar daquelas questões que necessitavam de
uma relação numérica, como, por exemplo a da
velocidade da mudança e do movimento na física.
Segundo Crombie (1985), foi a partir do século XIII,
por influência do uso da matemática, da observação
e da experimentação na tecnologia latente da Idade
Média, que a exigência de métodos precisos de
investigação e explicação no campo das ciências
naturais conduziram a tentativa de uso de métodos
matemáticos experimentais. Essa passagem era uma
mudança da teoria da ciência que culminou com a
revolução científica do século XVI.
Opondo-se à ciência grega e ao dogmatismo
religioso que imperava na época, os renascentistas,
principalmente Galileu (1564-1642) e Bacon (15611626), rejeitaram o modelo aristotélico.
¾
Bacon: indução e empirismo
Conforme Bacon (1979), os preconceitos de
ordem religiosa, filosófica, ou decorrentes das
crenças culturais, deveriam ser abandonados, pois
distorciam e impediam a verdadeira visão do
mundo, que deveria ser resultado da interpretação da
natureza.
Bacon criticou severamente o aristotelismo e o
empirismo ingênuo:
A escola empírica de filosofia engendra opiniões mais
disformes e monstruosas que a sofística ou racional. As suas
teorias não estão baseadas nas noções vulgares (pois estas, ainda
que superficiais, são de qualquer maneira universais e, de alguma
O
empirismo
ingênuo
criticou
principalmente a leviandade com que os
observadores se deixavam levar pelas
impressões dos sentidos e concluíam
generalizações utilizando indevidamente a
indução (indução por enumeração). A
experiência vulgar, segundo ele, conduzia a
enganos.
Após rejeitar tanto o empirismo ingênuo
quanto o velho órganon de Aristóteles, Bacon
propôs a necessidade de se inventar um novo
instrumento, um método de invenção e de
validação que desse maior eficácia à
investigação. Para ele o método silogístico e da
abstração não ofereciam um conhecimento
completo do universo. Para isso seriam
necessárias a observação sistemática e a
experiência dos fenômenos e fatos naturais.
Cabia à experiência confirmar a verdade.
Somente ela seria capaz de proporcionar uma
verdadeira demonstração sobre o que é
verdadeiro ou falso. A autoridade (do
conhecimento religioso e dogmático) podia
fazer crer, porém, não facultava a compreensão
da natureza das coisas em que se acreditava. A
razão (no conhecimento filosófico) poderia
completar a autoridade; não teria, porém,
condições de distinguir entre o verdadeiro e o
falso.
Propôs um método que chamou de
interpretação da natureza, oposto aos outros
que denominou de antecipações da natureza.
Seus passos estão sustentados na crença
vigorosa, que Bacon possuía, de que a natureza
é a grande mestra do homem. Para dominá-la
era necessário obedecê-la. Seu princípio
fundamental afirmava que o homem deveria
libertar seu intelecto dos conceitos (ídolo) que
impediam a correia visão das formas (leis) que
organizavam a natureza. Livre da visão
distorcida da realidade, poderia dedicar-se
exaustiva, metódica e sistematicamente à
observação dos fenômenos. O verdadeiro
caminho era o da indução experimental. Porém,
não a indução pueril, da simples enumeração de
alguns casos observados, mas a indução sistematizada em que "se deve cuidar de um sem
número de coisas que nunca ocorreram a
qualquer mortal (...) procedendo às devidas
rejeições e exclusões e, depois, então, de posse
dos casos negativos necessários, concluir a
respeito dos casos positivos" (p. 69).
Esse método se tomou conhecido como
método cientifico e deveria ser utilizado para se
atingir um conhecimento científico. Para Bacon
(1979) o método científico deveria seguir os
seguintes passos:
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a) experimentação: é a fase em que o cientista
realizaria os experimentos sobre o problema
investigado, para poder observar e registrar
metódica e sistematicamente todas as informações
que pudesse coletar (experimento lucífero);
b) formulação de hipóteses fundamentadas na
análise dos resultados obtidos dos diversos
experimentos, tentando explicar a relação causal dos
fatos entre si;
c) repetição da experimentação por outros
cientistas ou em outros lugares, com a finalidade de
acumular dados que pudessem servir para a
formulação de hipóteses (experimentos frutíferos).
d) repetição do experimento para testarem as
hipóteses, procurando obter novos dados e novas
evidências que as confirmassem;
e) formulação das generalizações e leis: pelas
evidências obtidas, depois de seguir todos os passos
anteriores, o cientista formularia a lei que descobrir,
generalizando suas explicações para todos os
fenômenos da mesma espécie.
Bacon foi o pregador da necessidade do controle
experimental. Ciente das falhas da indução,
procurou acercar-se de cuidados que oferecessem
confiabilidade aos resultados:
Na constituição de axiomas por meio dessa indução, é
necessário que se proceda a um exame ou prova: deve-se verificar
se o axioma que se constitui é adequado e está na exata medida
dos fatos particulares de que foi extraído, se não os excede em
amplitude e latitude, se é confirmado com a designação de novos
fatos particulares que, por seu turno, irão servir como uma
espécie de garantia.
Com esse controle e repetição dos experimentos,
tentava Bacon impedir a formulação de
generalizações que extrapolassem os limites de
validade dos resultados alcançados. Através desse
mecanismo, adotou como critério de verdade a
correspondência dos enunciados com os fatos
(verdade semântica), tentando oferecer à ciência
meios de conhecer os limites de confiabilidade dos
seus resultados. Como diria: “não é de se dar asas ao
intelecto, mas chumbo e peso para que lhe sejam
coibidos o salto e vôo’’.
Esse método, no entanto, não teve o mérito de
atingir os objetivos a que Bacon se propunha. Com
ele Bacon nada produziu. O que chamou de
"experimentos'', destituído da mensuração e controle
quantitativos,
não
passaram
de
meras
"experiências". Bacon não conseguiu dar o salto do
qualitativo para o quantitativo, como fez Galileu,
verdadeiro pai da revolução científica moderna.
No entanto, foi grande a influência do
empirismo e do indutivismo de Bacon sobre a
vulgarização do pensamento científico moderno. E
também não foram poucos os cientistas que
reafirmaram a idéia de que a ciência deveria
fundamentar-se na pura observação dos fatos e não
se deixar levar por hipóteses apriorísticas para
alcançar a “Natividade no conhecimento”. E entre
eles esteve Newton.
¾
Galileu: o experimento e a revolução
cientifica
Galileu, contudo, trilhou um caminho
diferente do de Bacon. Para Galileu, a
explicação deveria ser buscada na leitura do
livro da natureza. A certeza da validação da
aplicação não poderia ser fornecida através da
simples demonstração utilizando experimentos
lógicos (verdade sintática) de acordo com o
modelo aristotélico, mas pelas provas
construídas e elaboradas de forma matemática
com as evidências quantitativas dos fatos
produzidas pela experimentação. O critério da
verdade, para a ciência moderna, passaria a ser o
da correspondência entre o conteúdo dos
enunciados e a evidência dos fatos (verdade
semântica). O método silogístico grego foi
substituído
pelo
método
científicoexperimental. O conhecimento produzido
segundo o modelo aristotélico manifestava-se
através de proposições de sujeito-predicado, que
expressavam os atributos qualitativos inerentes
aos fenômenos conhecidos pela experiência e
percepção sensorial. Esta ciência qualitativa, no
entanto, era inadequada para tratar daquelas
questões que necessitavam de uma relação
numérica, como por exemplo, a da velocidade
da mudança e do movimento na física.
O responsável pela chamada revolução
científica moderna foi Galileu, ao introduzir a
matemática e a geometria como linguagens da
ciência e o teste quantitativo-experimental das
suposições teóricas como o mecanismo
necessário para avaliar a veracidade das
hipóteses e estipular a chamada verdade
científica, mudando radicalmente a forma de
produzir e justificar o conhecimento científico.
Com Galileu se estabelece a nova ruptura
epistemológica que desenvolve a idéia de se
traçar um caminho do fazer científico - método
quantitativo-experimental - desvinculado do
caminho do fazer filosófico – empírico,
especulativo-racional. Foi através da revolução
galileana, como nos demonstra Koyré (1982),
que começa a explosão da ciência moderna,
estabelecendo o corte epistemológico com a
concepção de universo e de conhecimento
aristotélico, e iniciando um novo paradigma que
culminaria com o sucesso da física newtoniana.
Galileu estabelece o diálogo experimental
como o diálogo da razão com a realidade, do
homem com a natureza. Galileu tomou como
pressuposto que os fenômenos da natureza se
comportavam
segundo
princípios
que
estabeleciam relações quantitativas entre eles.
Os movimentos dos corpos eram determinados
por relações quantitativas numericamente
determinadas. A visão de universo de Galileu
era de um mundo aberto, mecânico, unificado,
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determinista, geométrico e quantitativo, contrária
àquela concepção aristotélica de cosmos, ainda
impregnada pêlos resquícios das crenças míticas e
religiosas, que apresentava um mundo qualitativo e
organizado hierarquicamente em um espaço finito e
fechado. Caberia, então, à razão apresentar para essa
natureza,
organizada
geométrica
e
matematicamente, suas perguntas inteligentes,
manifestadas através de hipóteses quantitativas, para
que ela lhe respondesse quando forçada por um
experimento. Na concepção de Galileu, a razão
construiria uma armadilha experimental capaz de
forçar a natureza a fornecer respostas concretas,
mensuráveis quantitativamente. Essas respostas
seriam utilizadas para avaliar a veracidade empírica
do modelo hipotético-quantitativo racionalmente
construído. A realidade poderia como resposta,
através de seus números, dizer um sim ou um não.
Com este procedimento Galileu estabeleceu o
domínio do diálogo científico, o diálogo
experimental, que era o diálogo entre o homem e a
natureza, intermediado pelo pressuposto de que o
real era geométrico e os fenômenos da realidade se
comportavam de acordo com relações e princípios
quantitativos. Ao homem competiria, com sua
razão, teorizar e construir a interpretação
matemática do real e à natureza caberia responder
se concordava ou não com o modelo sugerido. A
scientia, o conhecer se reduzia à forma experimental
de desenvolvê-la, como uma interrogação hipotética
endereçada à natureza a respeito das relações
quantitativas existentes entre as propriedades dos
fenômenos e a análise de suas respostas.
A partir de Galileu, as principais "verdades"
defendidas pela concepção aristotélica de ciência,
principalmente as da física e as da cosmologia,
foram questionadas e rejeitadas. O modelo
cosmológico que afirmava ser o universo eterno,
geocêntrico, fechado na última esfera das estrelas
visíveis a olho nu, finito, dotado de movimentos
circulares, fundamentado em uma física dualista,
uma para explicar os movimentos terrestres - dos
corpos corruptos e imperfeitos - e outra para os
movimentos celestes - dos corpos eternos e perfeitos
-, foi posto em dúvida juntamente com a forma de
produzir e justificar a validade desses
conhecimentos. O significado dos conceitos
fundamentais da física - o de repouso e movimento foram modificados. Nem mesmo o endosso do
cristianismo a essas teorias, impregnadas que foram
pelo dogmatismo e radicalismo religioso e teológico
da época, conseguiu conter a revolução científica
que começava a se instaurar e a destruir as
concepções anteriores. O cosmos grego e o mundo
qualitativo aristotélico, explicado pela analogia do
organismo biológico, foram substituídos por uma
concepção mecanicista e determinista. Copérnico
(1473-1543), Kepler (1571-1630), Galileu (15641642) e Newton (1642-1727) completam um ciclo
que apresenta e consolida essa nova visão de
universo construída pela ciência moderna. Essa
ciência, elaborada por engenheiros e
matemáticos, parte do princípio que o universo
teve um grande engenheiro e arquiteto - Deus que o criou como uma máquina perfeita, dotada
de leis precisas que comandam seus
movimentos, que podem ser descobertas
utilizando-se procedimentos experimentais e
matemáticos.
Convém destacar a distinção que há entre
experiência, no sentido do senso comum e do
empirismo aristotélico e experimento, no
sentido galileano, apresentada por Koyré. A
distinção fundamental que aponta reside no
tratamento teórico que é utilizado no
experimento para conhecer os fatos. O
experimento trabalha com hipóteses, isto é,
com elaboração teórica quantitativa a priori
que orienta a observação e o questionamento
dos fatos. Nesse sentido a ciência é operativa,
com a razão assumindo uma função ativa e não
passiva ou contemplativa perante os fatos. Este
"empirismo" da ciência moderna, que trabalha
com modelos geométricos e hipóteses a priori
que se expressam em conceitos matemáticos
que necessitam de medida e precisão, se
distingue do empirismo do modelo aristotélico
que usa conceitos semiqualitativos e abertos e
daquele da experiência do senso comum que
caracteriza o mundo do mais ou menos. A noção
de experimento pressupõe a aceitação da
geometrização da realidade e, portanto, a sua
abordagem quantitativa. Fazer ciência seria, daí
para frente, estabelecer as relações quantitativas
que poderiam estar presentes por trás dos
fenômenos ou dos fatos e testá-las. O
experimento
pressupunha,
portanto,
pensamento
teórico,
elaborado
aprioristicamente, expresso em linguagem
matemática e acrescido de teste. O "laboratório" que Galileu utilizou para realizar
aprioristicamente o seu experimento, portanto,
foi o seu pensamento.
¾ Newton: o método indutivo e o
surgimento do positivismo
Foi com o surgimento desta ciência que
começou a se concretizar a esperança de que o
homem poderia ter, finalmente, o conhecimento
total e fiel da realidade. Foi com Galileu e,
posteriormente, com Newton e Kant que essa
esperança tomou matéria e forma.
A partir deste momento o homem começa
a trabalhar, tendo como modelo de acesso à
realidade o procedimento do experimento
científico, que estipula critérios para julgar
quando esse acesso é realmente alcançado e
quando não. Isto é, este procedimento estipula
quando o homem acessa plenamente à realidade
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- a tal ponto de dizer e descrever com exatidão
quantitativa como é que ela funciona e como ela se
relaciona: se o acesso é "verdadeiro", ou, quando
não a acessa plenamente, se o acesso fornece uma
imagem "falsa".
Esse procedimento passou a se chamar
método científico e obteve várias interpretações,
principalmente a positivista e empirista, decorrente
da física newtoniana, expressa na obra Philosophiae
Naturalis Principia Mathematica (1687), de
Newton.
A interpretação newtoniana de método
científico, de acordo com Duhem (1914), era
indutivista e positivista, próxima à interpretação de
Bacon. Newton, dando uma interpretação diferente à
de Galileu, se recusava a admitir que trabalhava com
hipóteses apriorísticas. No Scholium generale, que
está no final dos Principia Mathematica, Newton
(1987, p. 705) afirma não aceitar nenhuma hipótese
física que não possa ser extraída da experiência pela
indução. Afirmava que suas leis e teorias eram
tiradas dos fatos, sem interferência da especulação
hipotética. Isto é: em física, toda proposição deveria
ser tirada dos fenômenos pela observação e
generalizada por indução.
Esse seria o método ideal, o experimental,
através do qual se poderia submeter à prova, uma a
uma, as hipóteses científicas. A ciência caberia
aceitar apenas as que evidenciassem a certeza
confirmada pelas provas empíricas produzidas pelo
método experimental. Com esse método estaria se
propondo uma espécie de órganon experimental
pretensamente universal, que substituísse o órganon
aristotélico na lógica.
O modelo popularizado de método científico, o
indutivo-confirmável, sofrendo as influências do
empirismo baconiano e da indução confirmabilista
newtoniana, que foi tomado como padrão e
divulgado entre os diferentes campos das ciências
naturais, principalmente através dos manuais
universitários, se apresentaria, com algumas
pequenas variações, com o seguinte formato:
Método científico indutivo-confirmável
MÉTODO
CIENTÍFICO
INDUTIVOCONFIRMÁVEL
↓
Observação dos elementos que compõem o fenômeno
↓
Análise da relação quantitativa existente entre os
elementos que compõem o fenômeno
↓
Indução de hipóteses quantitativas
↓
Teste experimental das hipóteses para a
verificação confirmabilista
↓
Generalização dos resultados em lei
De acordo com esse modelo, o sujeito do
conhecimento deveria ter a mente limpa, livre de
preconceitos, para que recebesse e se impregnasse
das impressões sensoriais recebidas pêlos canais
da percepção sensorial. As hipóteses seriam
decorrentes do processo indutivo da meticulosa
observação das relações quantitativas existentes
entre os fatos e o conhecimento científico seria
formado pelas certezas comprovadas pelas
evidências experimentais de alguns casos
analisados.
Hypotheses non fingo era a atitude
empirista con-eta. Corno diz Duhem (1993, p.
89), enquanto durasse a experiência, a teoria
deveria permanecer à porta do laboratório,
guardar silêncio e, sem perturbá-lo, deixar o
experimentador face a face com os fatos. Estes
últimos deveriam ser observados sem idéias
preconcebidas, recolhidos com a mesma
imparcialidade minuciosa, quer confirmassem
as previsões da teoria, quer as contradissessem.
O relato que o observador daria de sua
experiência deveria ser um decalque fiel e
escrupulosamente exalo dos fenômenos: não
deveria nem mesmo deixar suspeitar cm qual
sistema o experimentador tivesse confiança,
nem de qual ele desconfiasse.
Para Newton e seus discípulos, tais como
Laplace, Fourier e Ampére, estaria claro que
uma proposição física seria ou uma lei, obtida
pela observação e generalização indutiva, ou um
corolário deduzido matematicamente desse tipo
de lei. Em ambos os casos, as teorias sempre
seriam proposições confiáveis e destituídas de
dúvida ou de arbitrariedade, pois seriam um
decalque fiel e objetivo da realidade.
Em 1632 em Florença, na Itália, foi publicado o
Diálogo sobre os dois maiores sistemas do inundo, de
Galileu. Os conceitos ali emitidos, principalmente o de
movimento e o da geometrização do universo, além de
estabelecer a ruptura com a física aristotélica, serviram para
fundamentar as teorias dos dois maiores físicos que se
seguiram a Galileu: Newton, com suas leis expressas nos
Principias matemáticos da filosofia natural, e Einstein, com
suas teorias sobre a relatividade geral e restrita, modificando
a concepção de espaço e tempo. De acordo com Aristóteles,
os corpos estariam em um estado de repouso natural. O
movimento de um corpo, segundo a física aristotélica, seria
decorrente do impetus, de uma força motora que deveria
estar constantemente impulsionando esse corpo para não
voltar ao seu estado natural de repouso. Galileu modifica
radicalmente essa concepção. Para ele, o movimento
também é um estado natural, estável e permanente tanto
quanto o de repouso, não necessitando da força
impulsionadora constante. O princípio da inércia,
pressuposto por Galileu, afirma que, um corpo abandonado
a si mesmo permanece no estado em que estiver, quer seja
de movimento ou de repouso, enquanto não for submetido ã
ação de uma força exterior qualquer.
Textualmente, nos Principia Mathematica, Newton (1686)
afirma:
La graavcdad hacia el Sol se compone de Ias gravedades
hacia cada una de Ias partículas de] Sol, y sfp.irandose dei
Sol decrece exactamente en razón dei cuadrado de Ias
distancias hasta más alia de Ia orbita de Saturno, como se
evidencia por el reposo de los afelios de los planetas, y hasta
los últimos uleliüs de los cometas, si semejantes afelios
están en reposo. Pêro no he podido todavia deducir a partir
de los fenómenos Ia razón de estas propiedades de Ia
gravedad y yo no imagino hipótesis. Pues, Io que no se
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deduce de los fenómenos, ha de ser Mamado Hipótesis; y Ias
Dante e Tasso. Ainda nesta fase, fez a
hipótesis. bien metafísicas, '"'icn físicas, o de cualidades ocultas,
descoberta da lei dos corpos e enunciou o
o mecânicas, no tienen lugar dentro de Ia Filosofia experimen-'til.
princípio da Inércia. Foi um dos principais
V.n esta filosofia Ias proposiciones se deducen de los fenómenos,
representantes do Renascimento Científico
e se eonvierten eu generales por inducción. Así, Ia
impcnetrabilidad. Ia movilidad, cl ímpetu de los cuerpos e Ias
dos séculos XVI e XVII.
leyes de los in;r. irnicmos e de Ia gravedad. llcgaron a ser
Galileu foi o primeiro a contestar as
esclarecidas (op. Cit.., p. 785).
afirmações
de Aristóteles, que, até aquele
Tem sentido, sob esse prisma, o título dado por Francis Bacon à
momento, havia sido o único a fazer
sua obra Novum Organum (1620) teorizando sobre o modelo
metodológico empirista e indutivista que a ciência deveria ter.
descobertas sobre a física. Neste período ele
Biografias
™ Francis Bacon
Francis Bacon, político, filósofo e ensaísta
inglês, barão Verulam, visconde de St. Albans,
nasceu em Londres, em 22 de janeiro de 1561 e
morreu na mesma cidade em 9 de abril de 1626.
Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida
política, na qual exerceu posições elevadas. Em
1584 foi eleito para a câmara dos comuns.
Sucessivamente, durante o reinado de
Jaime I, desempenhou as funções de procuradorgeral (1607), fiscal-geral (1613), guarda do selo
(1617) e grande chanceler (1618). Neste mesmo ano,
foi nomeado barão de Verulam e em 1621, barão de
St. Albans. Também em 1621, Bacon foi acusado de
corrupção e condenado ao pagamento de pesada
multa e proibido de exercer cargos públicos. Como
filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência
era exaltada como benéfica para o homem. Em suas
investigações, se ocupou especialmente com a
metodologia científica e com o empirismo. É muitas
vezes chamado de fundador da ciência moderna. Sua
principal obra filosófica é o Novum Organum.
Francis Bacon foi um dos mais conhecidos e
influentes rosacruzes e também um alquimista,
tendo ocupado o posto mais elevado da Ordem
Rosacruz, o de Imperator
™ Biografia de Galileu Galilei
Biografia deste importante
cientista dos séculos XVI
e XVI, vida e obras, invenção
do telescópio, estudos e
teorias científicas,
Renascimento Científico.
fez
a
balança
hidrostática,
que,
posteriormente, deu origem ao relógio de
pêndulo. A partir da informação da
construção do primeiro telescópio, na
Holanda, ele construiu a primeira luneta
astronômica e, com ela, pôde observar a
composição estelar da Via Látea, os satélites
de Júpiter, as manchas do Sol e as fases de
Vênus. Esses achados astronômicos foram
relatados ao mundo através do livro Sidereus
Nuntius (Mensageiro das Estrelas), em 1610.
Foi através da observação das fases de
Vênus, que Galileu passou a enxergar
embasamento na visão de Copérnico
(Heliocêntrico – O Sol como centro do
Universo) e não na de Galileu, onde a Terra
era vista como o centro do Universo.
Por sua visão heliocêntrica, o astrônomo
italiano teve que ir a Roma em 1611, pois
estava sendo acusado de herege. Condenado,
foi obrigado a assinar um decreto do Tribunal
da Inquisição, onde declarava que o sistema
heliocêntrico era apenas uma hipótese.
Contudo, em 1632, ele voltou a defender o
sistema heliocêntrico e deu continuidade aos
seus estudos.
Muitas
idéias
fundamentadas
por
Aristóteles foram colocadas em discussão por
indagações de Galilei. Entre elas, a dos
corpos leves e pesados caírem com
velocidades diferentes. Segundo ele, os
corpos leves e pesados caem com a mesma
velocidade.
Em 1642, ele morreu cego e condenado
pela Igreja Católica por suas convicções
científicas. Teve suas obras censuradas e
proibidas. Contudo, uma de suas obras (sobre
mecânica) foi publicada mesmo com a
proibição da Igreja, pois seu local de
publicação foi em zona protestante, onde a
interferência católica não tinha influência
significativa. A mesma instituição que o
condenou o absolveu muito tempo após a sua
morte, em 1983.
Grande físico, matemático e astrônomo,
Galileu Galilei nasceu na Itália no ano de 1564.
Durante sua juventude ele escreveu obras sobre
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™
Biografia
de
Isaac
Nnewton
Cientista e matemático inglês (1642-1727)
Antes da adolescência, Isaac Newton não
conseguia destaque nos estudos, porém adorava ficar
inventando e construindo pequenos objetos, desde
pipas até relógios solares e de água.
Na Universidade de Cambridge existia um
funcionário que era tio de Newton que percebendo
suas tendências conseguiu levá-lo para estudar nessa
Universidade. Newton não foi considerado
excepcionalmente brilhante, durante os anos em que
lá permaneceu, mas mesmo assim desenvolveu um
recurso matemático que ainda leva seu nome: O
binômio de Newton.
Uma epidemia de peste assolava Londres,
na época em que Newton se formou, o que fez
retirar-se para a fazenda da mãe. Foi ali que
observou aquilo que o tornaria famoso: via uma
maçã cair de uma árvore. Esse fenômeno corriqueiro
o levou a pensar que haveria uma força puxando a
fruta para a Terra e que essa mesma força poderia
também estar puxando a Lua, impedido-a de escapar
de sua órbita espaço afora.
Essa teria sido a primeira vez em que se
cogitava que uma mesma lei física (a atração dos
corpos) pudesse se aplicar tanto a objeto terrestres
quanto a corpos celestes. Até então, seguindo o
raciocínio de Aristóteles, achava-se que esses dois
mundos - Terra e céu - tivessem naturezas
completamente diferentes, sendo cada qual regido
por um conjunto específico de leis.
As experiências de Newton com a luz
também possibilitaram descobertas surpreendentes.
A mais famosa delas foi a de que a luz, ao sofrer
refração num prisma de vidro, revelava ser
composta de luzes diferentes de cores, e que essas
cores podiam ser reagrupadas com o auxílio de outro
prisma, reconstituindo a luz branca original. O
fenômeno da refração luminosa, de fato, limitava a
eficiência telescópio da época -, pois as lentes
também causam alguma decomposição luminosa
(isto levou Newton a criar o primeiro telescópio
refletor, o que eliminava esse problema). E um
telescópio refletor, a luz é concentrada por reflexão
num espelho parabólico, e não por refração numa
lente.
Já conhecido pelas suas experiências
ópticas, Newton retornou Cambridge , Onde se
tornaria professor catedrático de Matemática ( um
posto de alto nível ) , com apenas 27 anos. Mais
tarde, foi eleito membro da Royal Sociaty. Nesta
sociedade de estudos científicos, passou a enfrentar
a freqüente inimizade de Robert Hooke. Esse
relacionamento belicoso era agravado pela
extrema suscetibilidade de Newton às críticas. A
maior contenda entre os dois (dentre as muitas
ocorridas ao longo dos anos ) dizia respeito à
natureza da luz : Newton acreditava ser ela
composto por partículas ; Já para Hooke, a luz
era feita de ondas tal como o som. Essa disputa
prosseguiria até muito depois da morte de
ambos - na verdade, ela chegaria até o início do
Século xx.
Em 1687, Newton publicou sua mais importante
obra,
Philosophiae
naturalis
principia
mathematica [Princípios matemático da
filosofia natural - ' filosofia natural ' era a
designação da ciência na época]. Nessa obra, ele
inclui todos os seus conhecimentos científicos.
Ali custam, suas famosas três leis do
movimento, que lhe permitiram formular
matematicamente o valor da força de atração
entre dois corpos quaisquer, em qualquer parte
do planeta.
Se Copérnico costuma ser visto como o
iniciador de um período de progresso intelectual
chamado de Revolução Científica, Newton pode
ser considerado o ápice dessa ascensão. Suas
conclusões explicavam maior números de
fenômenos com o menor número possível de
elementos.
Certa vez, o astrônomo Edmund Halley
(o descobridor do cometa que leva seu nome)
perguntou a Newton como conseguia realizar
tantas descobertas notáveis. Ele respondeu que
as atribuía mais a um esforço contínuo do
pensamento do que à inspiração ou à percepção
súbita. Esse esforço mental, porém, devia deixálo tão consumido que, aos 50 anos de idade,
precisou interromper sua produção por dois
anos, devido a um esgotamento nervoso. Diz-se
que uma vela teria caído sobre um calhamaço de
cálculos desenvolvidos por vários anos. Isso não
o impediu, porém, de retomar seu trabalho, nem
de se tornar membro do Parlamento Inglês ou
ser diretor da Casa da Moeda.
Em 1703, foi eleito presidente da Royal
Society (quando Hooke já estava morto), cargo
para o qual foi reeleito anualmente, enquanto
viveu. Em 1704, publicou Optricks, livro que
versa sobre suas descobertas no campo da
Óptica.
Curiosamente, Newton ficou grisalho
com apenas 30 anos, mas se manteve em
atividade mental por toda a vida. Aos 80 anos,
orgulhava-se de enxergar e ouvir bem e de ainda
possuir todos os dentes!
Tentando avaliar sua carreira científica,
ele disse certa vez: "Tenho a impressão de ter
sido uma criança brincando à beira-mar,
divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais
lisa ou uma concha mais bonita que as outras,
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enquanto que o imenso oceano da verdade continua
misterioso diante de meus olhos".
™ Texto 1 –
O que é nanotecnologia?
Cylon Gonçalves da Silva
Há mais de 2.500 anos, alguns filósofos
gregos se perguntavam se a imensa variedade do
mundo que nos cerca não pode ser reduzida a
componentes mais simples. A própria palavra átomo
vem daquele tempo e significa "indivisível". A
última fração da matéria, segundo esses filósofos o
"tijolo" fundamental de tudo o que existe, não
poderia mais ser dividida em outras partes mais
simples. Podemos fazer uma comparação elementar,
apenas para fins didáticos. Em uma padaria, você
encontra uma grande variedade de pães, bolos,
biscoitos, tortas, todos produzidos a partir de um
pequeno número de ingredientes: farinha, fermento,
manteiga, óleo, açúcar, chocolate etc... Muitas
vezes, os ingredientes de pães diferentes são os
mesmos, apenas mudam suas quantidades relativas e
a forma de preparação. Da mesma maneira, quando
olhamos o mundo a nossa volta, vemos uma
variedade incrível de seres vivos e objetos
inanimados, de um grão de areia a galáxia, de um
vírus a uma baleia. Quantos tipos de "ingredientes"
diferentes são necessários para produzir esse
mundo?
Entre os gregos e a nossa época, muito se
aprendeu sobre o universo. Sabemos, hoje, que o
mundo que nos é familiar é formado por átomos,
não exatamente aqueles imaginados inicialmente,
mas que com eles compartilham o papel de "tijolos"
fundamentais. Aprendemos que, ao contrário do que
diz seu nome, eles são, de fato, divisíveis (mas isto é
uma história para outra ocasião). Os átomos são
formados por um núcleo positivo, onde reside
praticamente toda sua massa, e por elétrons,
negativos, que circulam em torno do núcleo.
Sabemos, também, que ocorrem naturalmente no
universo apenas noventa e dois tipos de átomos
diferentes. Estes tipos podem ser classificados pelo
número de prótons (partículas sub-atômicas de carga
elétrica positiva) contidos em seus núcleos. Sabemos
ainda que esses átomos podem não ser o fim da
história, pois pode haver no universo partículas ou
alguma forma de energia ainda não descobertas - ou
pode ser que nossas teorias sobre o universo
precisem algum dia ser revisadas, se esses novos
"ingredientes" não forem encontrados. Tudo isto é
parte do mundo fascinante da pesquisa científica cada pergunta respondida leva a novas perguntas.
Em ciência, as respostas raramente são definitivas,
mas as perguntas perduram.
A certeza científica de que tudo é feito de
átomos é muito recente. Há apenas cerca de cem
anos, os cientistas obtiveram evidências fortes de
que a velha hipótese atômica, formulada há dois e
meio milênios, corresponde à realidade da
natureza. No decorrer do século XIX, os
químicos foram, aos poucos se convencendo de
que a melhor maneira de explicar
quantitativamente reações químicas é supondo
que essas se dão entre unidades bem definidas
de cada composto. Alguns físicos, já quase no
final do século XIX, formularam uma teoria
"estatística" da matéria, na qual se busca
explicar o comportamento dos corpos com os
quais
lidamos
quotidianamente
pelo
comportamento dessas pequenas unidades
"invisíveis" da matéria, os átomos e as
moléculas (moléculas são átomos do mesmo
tipo ou de tipos diferentes, fortemente ligados
entre si, formando novas entidades, com
propriedades físico-químicas distintas). Essas
teorias foram recebidas, inicialmente, com
grande ceticismo pela própria comunidade
científica. Por que tanta dificuldade para aceitar
uma idéia velha de milênios?
O problema é que átomos são muito
pequenos, medem menos de um centésimo de
bilionésimo de metro, e obedecem a leis físicas
bastante diferentes daquelas com as quais
estamos acostumados no nosso mundo familiar.
O seu tamanho é tal que não podem ser
vistos diretamente. Instrumentos especiais
tiveram de ser desenvolvidos antes que fosse
possível "ver" um átomo. Um dos mais práticos
desses instrumentos, o microscópio de
tunelamento, somente foi inventado na década
de 1980. Seus inventores, Heinrich Rohrer e
Gerd Binnig, dos laboratórios da IBM em
Zürich, Suíça, ganharam o prêmio Nobel por
seus trabalhos. O funcionamento desse
microscópio depende das leis da mecânica
quântica, que governam o comportamento dos
átomos e moléculas. Portanto, a existência de
átomos e as leis da natureza no mundo atômico
tiveram de ser pacientemente descobertas a
partir
de
experimentos
especialmente
concebidos. Este processo levou décadas e
envolveu grandes cientistas.
Instrumentos como o microscópio de
tunelamento e outros estendem nossa "visão" até
tamanhos na faixa de bilionésimo de metro. Um
bilionésimo de metro chama-se "nanômetro", da
mesma forma que um milésimo de metro
chama-se "milímetro". "Nano" é um prefixo que
vem do grego antigo (ainda os gregos!) e
significa "anão". Um bilionésimo de metro é
muito pequeno. Imagine uma praia começando
em Salvador, na Bahia, e indo até Natal, no Rio
Grande do Norte. Pegue um grão de areia nesta
praia. Pois bem, as dimensões desse grão de
areia estão para o comprimento desta praia,
como o nanômetro está para o metro. É algo
muito difícil de imaginar. Mesmo cientistas que
trabalham com átomos todos os dias, precisam
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de toda sua imaginação e muita prática para se
familiarizar com quantidades tão pequenas.
Ainda antes dos cientistas desenvolverem
instrumentos para ver e manipular átomos
individuais, alguns pioneiros mais ousados se
colocavam a pergunta: o que aconteceria se
pudéssemos construir novos materiais, átomo a
átomo, manipulando diretamente os tijolos básicos
da matéria? Um desses pioneiros foi um dos maiores
físicos do século XX: Richard Feynman. Feynman,
desde jovem, era reconhecido como um tipo genial.
Uma de suas invenções foi o primeiro uso
de processadores paralelos do mundo. Em Los
Alamos, na época do desenvolvimento da primeira
bomba nuclear, havia a necessidade de se realizarem
rapidamente cálculos muito complexos. Feynman,
então, teve a idéia de dividir os cálculos em
operações mais simples, que podiam ser realizadas
simultaneamente, e encheu uma sala com jovens
secretárias, cada qual operando uma máquina de
calcular (naquela época não havia computadores,
nem calculadoras eletrônicas, e as contas tinham de
ser feitas à mão, ou com calculadoras mecânicas
limitadas às mais simples operações aritméticas).
Hoje em dia, essa mesma idéia é usada em
computadores
de
alto
desempenho,
com
microprocessadores
substituindo
as
jovens
secretárias! Em 1959, em uma palestra no Instituto
de Tecnologia da Califórnia, Feynman sugeriu que,
em um futuro não muito distante, os engenheiros
poderiam pegar átomos e colocá-los onde bem
entendessem, desde que, é claro, não fossem
violadas as leis da natureza. Com isso, materiais
com propriedades inteiramente novas, poderiam ser
criados. Esta palestra, intitulada "Há muito espaço lá
embaixo" é, hoje, tomada como o ponto inicial da
nanotecnologia. A idéia de Feynman é que não
precisamos aceitar os materiais com que a natureza
nos provê como os únicos possíveis no universo. Da
mesma maneira que a humanidade aprendeu a
manipular o barro para dele fazer tijolos e com esses
construir casas, seria possível, segundo ele,
manipular diretamente os átomos e a partir deles
construir novos materiais que não ocorrem
naturalmente. Um sonho? Talvez, há quarenta anos
atrás. Mas, como o próprio Feynman dizia em sua
conferência, nada, nesse sonho, viola as leis da
natureza e, portanto, é apenas uma questão de
conhecimento e tecnologia para torná-lo realidade.
Hoje, qualquer toca-disco de CD's é uma prova da
verdade do que Feynman dizia. Os materiais
empregados na construção dos lasers desses tocadiscos não ocorrem naturalmente, mas são
fabricados pelo homem, camada atômica sobre
camada atômica.
O objetivo da nanotecnologia, seguindo a proposta
de Feynman, é o de criar novos materiais e
desenvolver novos produtos e processos baseados na
crescente capacidade da tecnologia moderna de ver e
manipular átomos e moléculas. Os países
desenvolvidos investem muito dinheiro na
nanotecnologia. Mais de dois bilhões de dólares
por ano, se somarmos os investimentos dos
Estados Unidos, Japão e União Européia. Países
como Coréia do Sul e Taiwan, que têm sido
muito melhor sucedidos que o Brasil na
utilização de tecnologias modernas para gerar
bons empregos e riquezas para seus cidadãos,
também estão investindo centenas de milhões de
dólares nessa área. Nanotecnologia não é uma
tecnologia específica, mas todo um conjunto de
técnicas, baseadas na Física, na Química, na
Biologia, na ciência e Engenharia de Materiais,
e na Computação, que visam estender a
capacidade humana de manipular a matéria até
os limites do átomo. As aplicações possíveis
incluem:
aumentar
espetacularmente
a
capacidade de armazenamento e processamento
de dados dos computadores; criar novos
mecanismos para entrega de medicamentos,
mais seguros e menos prejudiciais ao paciente
dos que os disponíveis hoje; criar materiais mais
leves e mais resistentes do que metais e
plásticos, para prédios, automóveis, aviões; e
muito mais inovações em desenvolvimento ou
que ainda não foram sequer imaginadas.
Economia de energia, proteção ao meio
ambiente, menor uso de matérias primas
escassas, são possibilidades muito concretas dos
desenvolvimentos em nanotecnologia que estão
ocorrendo hoje e podem ser antevistos.
No Brasil, a nanotecnologia ainda está
começando. Mas, já há resultados importantes.
Por exemplo, um grupo de pesquisadores da
Embrapa, liderados pelo Dr. L. H. Mattoso,
desenvolveu uma "língua eletrônica", um
dispositivo que combina sensores químicos de
espessura nanométrica, com um sofisticado
programa de computador para detectar sabores.
A língua eletrônica da Embrapa, que ganhou
prêmios e está patenteada, é mais sensível do
que a própria língua humana. Ela é um produto
nanotecnológico, pois depende para seu
funcionamento da capacidade dos cientistas de
sintetizar (criar) novos materiais e de organizálos, camada molecular por camada molecular,
em um sensor que reage eletricamente a
diferentes produtos químicos. Você pode
imaginar alguns usos para uma língua
eletrônica? Para saber mais, visite a página
www.cnpdia.embrapa.br. Não é só na Embrapa,
entretanto, que se faz nanotecnologia no Brasil.
O mesmo acontece nas principais
universidades e centros de pesquisa do país.
Aplicações em catálise - isto é, na química e na
petroquímica, em entrega de medicamentos, em
sensores, em materiais magnéticos, em
computação quântica, são alguns exemplos da
nanotecnologia sendo desenvolvida no Brasil. O
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que precisamos agora é aprender a transformar todo
este conhecimento em riquezas para o país.
A nanotecnologia é extremamente importante para o
Brasil, por que a indústria brasileira terá de competir
internacionalmente com novos produtos para que a
economia do país se recupere e retome o
crescimento econômico. Esta competição somente
será bem sucedida com produtos e processos
inovadores, que se comparem aos melhores que a
indústria internacional oferece. Isto significa que o
conteúdo tecnológico dos produtos ofertados pela
indústria brasileira terá de crescer substancialmente
nos próximos anos e que a força de trabalho do país
terá de receber um nível de educação em ciência e
Tecnologia muito mais elevado do que o de hoje.
Este é um grande desafio para todos nós.
Cylon Gonçalves da Silva é físico, ex-diretor do
Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e
idealizador do Centro Nacional de Referência em
Nanotecnologia
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Leitura, Análise e Interpretação de
Textos
-
Delimitação da Unidade de Leitura
Análise Textual
Análise Temática
Análise Interpretativa
Problematização
Síntese pessoal
Fonte: Adaptado de:
http://www.dcc.ufam.edu.br/~elaine/MCCC_04.ppt.
http://www.etfce.br/Pesquisa/dippg/metodologia/Metodolog
ia%20e%20Organiza%E7%E3o%20de%20pesquisa_apostila.pdf.
A. L. Cervo e P. A. Bervian em
Metodologia Científica, (Prentice Hall, São Paulo,
Brasil, 2002)
Introdução:
PROCESSOS DE LEITURA E LEITURA
INFORMATIVA
Os conhecimentos e técnicas que damos a
seguir facilitarão sem dúvida o trabalho da leitura.
Uma biblioteca é como que um manancial
de sabedoria. Nela encontramos todos os tesouros
culturais do passado, os progressos científicos e
tecnológicos do presente e as previsões do futuro.
Para tirar proveito de tais riquezas, o
segredo são as normas e técnicas da leitura
inteligente. Quem não sabe ler cientificamente as
obras escritas tampouco saberá tomar boas
anotações.
Podemos ler com distintas fmalidades:
para nos formar, para nos distrair ou para recolher
informações. Em razão destas formalidades, pode-se
classificar a leitura em três tipos: leitura formativa,
leitura de distração e leitura informativa. Esta última
é feita com vistas à coleta de dados ou informações
que serão utilizados em trabalhos para responder a
questões específicas. Deve- se sempre ter presente o
objetivo da pesquisa, caso contrário a leitura
informativa toma-se distrativa ou passatempo.
Expor-se-ão a seguir as fases características
da leitura informativa. Fases cronológica e lógica ao
mesmo tempo, pois devem suceder-se uma após a
outra e nesta sucessão temporal o pensamento
reflexivo percorre as etapas no termo das quais
surge o conhecimento científico: visão global
(sincrética), visão analítica, visão sintética.
¾
Leitura de Reconhecimento e Pré-Leitura
Deve certificar o pesquisador da existência ou
não das informações que procura, além de
proporcionar-lhe uma visão global das mesmas. São duas,
pois, as finalidades desta leitura: em primeiro lugar,
permitirá ao pesquisador selecionar os documentos
bibliográficos que contêm dados ou informações
suscetíveis de serem aproveitados na solução dos
problemas; em segundo lugar, dará ao pesquisador uma
visão global do assunto focalizado, visão
indeterminada, mas indispensável para poder
progredir no conhecimento.
Faz-se a leitura de reconhecimento ou a
pré-leitura examinando a folha de rosto, os índices, a
bibliografia, as citações ao pé da página, o prefácio, a
introdução e a conclusão. Tratando-se de livros,
percorrem-se o capítulo introdutório e o final; para o
conhecimento de um capítulo estudem-se os
primeiros e o último parágrafo. Tratando-se de
artigos de revistas ou jornais, normalmente a idéia
está contida no título do artigo e das partes. Os
primeiros parágrafos trazem geralmente o conjunto
dos dados mais importantes.
¾
Leitura Seletiva
Localizadas as informações, procede-se à
escolha do melhor de acordo com os propósitos do
trabalho.
Selecionar é eliminar o dispensável para
fixar-se no que realmente é de interesse.
Dá-se o primeiro passo de uma leitura mais
séria, embora não se trate ainda de um estudo
exaustivo e minucioso. Para selecionar os dados e
informações é necessário defmir os critérios. Não
pode haver seleção sem critérios de seleção. Os
critérios da leitura seletiva são os propósitos do
trabalho: as perguntas elaboradas quando se
questionou o assunto ou, em outros termos, os
objetivos intrínsecos do trabalho.
Somente os dados que possam fornecer
alguma luz sobre o problema, constituindo um
elemento de resposta ou de solução, é que serão
selecionados. Pode-se voltar várias vezes a um
mesmo texto com propósitos distintos. São estes que
terminam a importância e a significação dos
materiais.
¾
Leitura
Crítica
ou
Reflexiva
Feita a seleção do material útil para o
trabalho, o pesquisador ingressa no estudo
propriamente dito dos textos, com a finalidade de
saber o que o autor afirma sobre o assunto.
Nesta fase são necessárias as atitudes, como
culto desinteressado da verdade, ausência de
preconceitos. Simultaneamente o pesquisador deve
ter sempre presente diante de sí os problemas que se
dispõe
a
resolver
através
do
estudo.
É uma fase de estudos, isto é, de reflexão
deliberada e consciente (processo de aprendizagem);
de percepção dos significados, o que envolve um
esforço reflexivo que se manifesta através das
operações de análise, comparação, diferenciação,
síntese e julgamento (processo de apreensão); de
apropriação dos dados referentes ao assunto ou
problema
(processo
de
assimilação)
O estudo de um texto passa pelas mesmas
fases do pensamento reflexivo: de uma visão glohal.
passa-se à análise das partes ou elementos
constitutivos para se chegar a urna síntese
integradora.
A leituja crítica supõe a capacidade de
escolher as idéias principais e de diferenciá-las entre
si e das secundárias. A escolha e diferenciação das
idéias se fará atraves das palavras ou expressões que
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as exprimem, passo que condiciona a posterior
classificação das mesmas em função do plano definitivo.
Para se chegar a cinco minutos de síntese,
gastam-se, por vezes, semanas ou meses no esforço de
análise.
Parte-se, portanto, de uma visão global, embora
indeterminada, do texto ou livro para a operação da
análise. Esta envolve os processos de diferenciação ou
busca das idéias diretrizes, das idéias secundárias e seus
detalhes; de compreensão ou atendimento das idéias pelo
interior; de julgamento ou atribuição de valor, utilidade e
importância que possuem. Os critérios de julgamento
serão os propósitos do trabalho: assim, as idéias terão
valor e serão úteis ou imponentes se interessarem à
pesquisa.
A análise dos documentos desdobra-se,
portanto, em certo número de operações muito precisas:
1) identificação e escolha da idéia diretriz e das
idéias secundárias;
2) diferenciação ou comparação das idéias entre
si a fim de determinar a importância relativa de
cada
uma
no
conjunto
das
idéias;
3) compreensão do significado exato dos termos
ou dos conceitos que expressam;
4) julgamento do material, após escolha,
diferenciação e compreensão. Feita a análise e o
julgamento, procede-se à operação de síntese, isto
julgamento dos dados fornecidos pela análise corresponde
a uma é, de integração racional dos dados descobertos
num conjunto organizado decisiva da leitura científica.
Faz-se através da leitura interpretativa. o plano
de assunto.
O pesquisador neste momento está em condições
de aproveitar as conclusões para a aplicação prática.
¾
Leitura Interpretativa
É a última etapa da leitura de um texto e sua
aplicação aos fins parti-provisório, adaptou-se à análise e
à
interpretação
dos
dados,
modificandose através das fases da leitura informativa. Surge,
definitivo, no fim da lei secular da pesquisa.
Partindo-se das intenções do autor e do tema do
texto, procurar-se saber o plano definitivo é o ponto de
chegada
do
processo
reflexivo,
arma
que o autor realmente afirma, quais os dados que oferece e
as informações da doutrina ou teoria que dê resposta a
todos os problemas que as informações transmitem.
Qual o seu problema, suas hipóteses, suas teses,
suas provas, suas fases de elaboração do plano defmitivo,
redação e apresentação, conclusões, dos resultados,
tomem-se em consideração as normas e técnicas, é de
grande importância: o pesquisador não pode deixar de
incorporar no seu trabalho conclusões alheias que não
repousem sobre provas convincentes.
Relacione-se em seguida o que o autor afirma
com
os
problemas
para
os
quais se está procurando uma solução. O julgamento das
idéias
se
fazia
antes em função dos propósitos do autor, agora se faz em
função
dos
propósitos do pesquisador, aplicando-se na solução dos
problemas
formulados
na pesquisa.
Antes, um dado ou informação tinha valor,
utilidade
ou
importância
se concorresse para resolver o problema do autor. Agora,
este
mesmo
dado
terá valor, utilidade ou importância se concorrer para
solucionar
o
problema
do
pesquisador.
Julgue-se, finalmente, o material coletado
verdade,
em
função
do
critério
O pesquisador deve duvidar da realidade de toda e
qualquer
proposição
(dúvida metódica). Uma afirmação sem provas terá
apenas
valor
provisório, servindo como ponto de referência, nunca
como
conclusão,
por maior que seja a autoridade do autor no assunto.
Os maiores obstáculos do estudo e da
aprendizagem dificuldade em encontrar a exata
compreensão dos textos teóricos. É um conflito
que existe entre a fonte (Emissor) e o leitor
(Receptor)
Delimitação da unidade de Leitura:
Considerações iniciais
Primeira abordagem do texto
Objetivo: preparação para a leitura
Inicialmente, pode-se fazer a leitura
seguida e completa da unidade do texto, tendo
assim uma visão panorâmica do todo.
Durante o primeiro contato, procurar:
™ Dados a respeito do autor do texto
™ Vocabulário
™ Fatos históricos
™ Outros autores
™ Outras doutrinas
A análise textual
A análise textual pode-se fazer com as
seguintes etapas:
¾ Estabelecer a unidade de leitura.
¾ Ler o texto completo da unidade de
leitura rapidamente, assinalando na margem as
palavras desconhecidas e pontos que requerem
melhor esclarecimento.
¾ Informar-se melhor sobre o autor do
texto.
¾ Fazer um esquema do texto estudado
(Ver item 4 a seguir).
Para encontrar a idéia principal na
unidade de leitura pode-se, como auxílio, lançar
os seguintes recursos:
1. Organização da Leitura:
1.1 – Antes de ler, pergunte-se
mentalmente o que sabe sobre o assunto.
1.2 – Faça uma primeira leitura rápida
da obra, procurando captar o plano do
texto/artigo/livro.
1.3 – Após a primeira leitura, informese sobre o autor.
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1.4 – Releia reflexivamente.
1.5 – Durante a segunda leitura, resolva as
dúvidas que ressurgirem e prepare fichas com
transcrições dos trechos mais importantes, anotando
também seu esquema e observações pessoais sobre o
que se lê.
1.6 Faça um resumo de cada capítulo que
leu (veja o item 5), relacionando-os entre si.
1.7 – Ao terminar de reler a obra, reveja
suas fichas de anotações e discorra oralmente sobre
a obra, usando suas próprias palavras; pode-se usar
uma gravação.
Delimitar as unidades de leitura de texto,
seguindo o sentido completo dos pensamentos
expressos pelo autor.
2. Analisar a unidade de leitura formulando
a idéia principal em um resumo contido em apenas
uma frase.
3. Recurso de sublinhar o texto: não é
aconselhável sublinhar o texto na primeira leitura;
ter um contato inicial e submetê-lo a um
questionamento é essencial. É aconselhável
sublinhar o texto durante a leitura reflexiva.
4. Esquematização do texto:
4.1 - Fazer uma distribuição gráfica do
assunto, mediante divisões e subdivisões que
representem a sua subordinação hierárquica.
4.2 – Construir o esquema: ou por chaves
de separação ou classificação numérica para as
divisões e subdivisões dos elementos.
4.3 – Manter a todo o momento no
esquema fidelidade ao texto original.
4.4 – Ordenar a estrutura do esquema de
forma lógica e facilmente compreensível.
5. Resumo do Texto:
5.1 – Não comece a resumir antes de
levantar o esquema do texto ou de preparar as
anotações de leitura.
5.2 – Redigir o texto através de frases
breves, objetivas e diretas.
5.3 – Acrescentar ao resumo as referências
bibliográficas.
5.4 – Acrescentar, sempre que necessário,
as observações pessoais ao resumo.
6. Auxílio de: Dicionários, textos de
história, manuais didáticos ou monografias
especializadas, estudiosos e especialistas da área
Com esse procedimento, tem-se as
vantagens da busca de esclarecimentos:
- com a diversificação das atividades, o
estudo fica menos monótono e cansativo.
Evita-se
que
Informações
e
conhecimentos passem despercebidos.
- Com o texto mais claro, a leitura ficará
mais agradável e enriquecedora
A análise textual auxiliada com a
esquematização do texto tem por finalidade
apresentar uma visão de conjunto da unidade e
permitir uma visualização global do texto, além de
dividir a unidade de texto/artigo nos três momentos
redacionais: introdução, desenvolvimento e
conclusão.
A
análise
textual
objetiva
a
compreensão da mensagem global veiculada,
ouvir o autor, apreender, sem intervir nele, o
conteúdo da mensagem, tratando do que fala o
texto, o tema ou assunto como o assunto está
problematizado, e qual dificuldade deve ser
resolvida ou ainda qual o problema a ser
solucionado.
Em suma:
Durante a leitura, você deve:
™
Marcar o texto: faça anotações nas
margens. Invente símbolos para marcar o que
você julga ser importante, que parágrafos
deverão ser relidos depois, o que você não
entendeu, onde você acha que estão as idéias
principais. Isso pode ser feito sublinhando
linhas ou parágrafos, fazendo marcas nas
margens ou anotando suas observações nos
cantos do papel. Se você estiver lendo um livro
da biblioteca, NUNCA faça as marcas no livro,
mas sim em uma folha em branco, anotando o
número da página e o parágrafo a que a nota se
refere.
™ Levantar vocabulário: anote as palavras
que você não entendeu e busque seu significado
no dicionário
Ao terminar esta leitura você deve
buscar informações complementares sobre os
fatos citados no texto, sobre as doutrinas e
linhas de pensamento apresentados e mesmo
sobre o próprio autor. Por fim, faça um esquema
do texto.
Assim, podemos esquematizar esta
primeira etapa da leitura assim: A análise
textual é a leitura que busca:
™ Dar uma visão de conjunto do texto.
™ Permitirem-nos buscar esclarecimentos
sobre o autor, fatos, doutrinas e autores
citados no texto, bem como
vocabulário.
™ Fazer um esquema do texto.
A análise temática
¾
Reler de modo reflexivo o texto da
unidade de leitura, com o propósito de
apreender o conteúdo.
¾
Procure no texto completo as
respostas para perguntas do tipo:
1) De que trata o texto?
2) O que mantém sua unidade global?
¾ Procure encontrar o processo de
raciocínio do autor, mediante um esquema do
plano do texto (podendo ser muito diferente do
obtido na análise textual).
¾ Examine cada elemento do texto e
compare-o com sua estrutura principal: quais
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são os elementos essenciais e quais os secundários
ou complementares.
¾ Estabelecer com segurança o esquema do
pensamento definitivo do autor.
Alguns questionamentos nesse tipo de
análise são úteis:
Como o autor responde ao problema
levantado?
Que posição assume, que idéia defende, o
que quer demonstrar?
Qual a idéia central, proposição
fundamental ou tese e como o autor demonstra a sua
tese?
Como comprova sua posição básica?
Qual foi o seu raciocínio, a sua
argumentação?
Quais
as
idéias
secundárias?
Complementam, mas não são indispensáveis?
É o momento em que vamos nos perguntar
se realmente compreendemos a mensagem do autor
no texto. Aqui devemos recuperar:
™ o tema do texto
™ o problema que o autor se coloca
™ a idéia central e as secundárias do texto
Normalmente isto é feito junto com o
esquema do texto. Nele, você irá indicar cada um
dos itens acima, reconstruindo o raciocínio do autor
do texto; recuperando seu processo lógico.
A análise Interpretativa
Terceira abordagem do texto
Interpretar e se posicionar a respeito das idéias
enunciadas. Ler nas entrelinhas
Dialogar com o autor
Etapas:
Idéias do autor no conjunto da cultura
daquela área
Relação das idéias do autor com as
posições de outros autores que o influenciaram
Pressupostos – nem sempre explícitas no
texto. Associação de idéias – comparação com
idéias temáticas afins.
Juízo crítico
Tomada de posição
Avaliação
Coerência interna
Originalidade,
alcance,
validade
e
contribuição.
É onde você fará a interpretação da mensagem
do autor. Para isso é importante:
™ Situar o texto no contexto da vida e obra do
autor, bem como no contexto de outros textos sobre
aquele assunto.
™ Explicitar os pressupostos dos qual o autor
parte, suas teorias, as correntes de pensamento às
quais ele se filia seus paradigmas, etc.
™ Criticar o texto com relação à sua
coerência, validade, originalidade, profundidade e
alcance.
Você já deve ter percebido que para
fazer uma análise interpretativa do texto você
vai precisar já ter acumulado algumas leituras
anteriores sobre o tema em questão, não é? Pois
é isso mesmo
A problematização
Esta é uma etapa que você só pode
fazer se já tiver um bom acúmulo de leituras
sobre o tema. Conhecendo bem o assunto, tendo
lido já o que outros autores dizem sobre aquilo,
conhecendo as críticas que se fazem àquele
autor e àquelas idéias, você pode começar a
problematizar o texto. Na prática, isso significa
levantar e discutir problemas com relação à
mensagem do autor.
O que provocou o autor para a busca de
uma solução.
Discutir questões implícitas ou
explícitas no texto.
Discussão da problemática fase de
elaboração pessoal ou síntese.
Retomada de pontos abordados em
todas as etapas anteriores.
Síntese pessoal
É a reelaboração pessoal da mensagem.
Desenvolve-se a mensagem mediante a
retomada pessoal do texto e raciocínio
personalizado. Elabora-se um novo texto, com
redação própria, com discussão e reflexão
pessoal.
¾
Exemplo de Ficha de documentação
Temática:
EPISTEMOLOGIA
Conceituação
Segundo Lalande, trata-se de uma filosofia
das ciências, mas de modo especial, enquanto “é
essencialmente o estudo crítico dos princípios,
das hipóteses e dos resultados das diversas
ciência destinado a determinar sua origem
lógica (não psicológica), seu valor e seu alcance
objetivo”. Para Lalande, ela se distingue,
portanto, da teoria do conhecimento, da qual
serve, contudo, como introdução e auxiliar
indispensável.
LALANDE, Voc. Tecn., 293.
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¾
Exemplo de Ficha de documentação
Bibliográfica:
JAPIASSU, Hilton F.
EPISTEMOLOGIA
O mito da neutralidade científica
Rio, Imago, 1975 (Série Logoteca), 188p.
Resenhas: Reflexão I (2): 163-168. abr. 1976.
Revista Brasileira de Filosofia 26 (102): 252-253.
Jun. 1976.
O texto visa fornecer alguns elementos e
instrumentos introdutórios a uma reflexão
aprofundada e crítica sob certos problemas
epistemológicos (p.15) e trata da questão da
objetividade científica, dos pressupostos ideológicos
da ciência, do caráter praxiológico das ciências
humanas, dos fundamentos epistemológicos do
cientificismo, da ética do conhecimento objetivo, do
problema da cientificidade da epistemologia e do
papel educador da inteligência. Embora trate de
capítulos autônomos, todos se inscrevem dentro de
uma problemática fundamental: a de relações entre a
ciência objetiva e alguns de seus pressupostos.
O primeiro capítulo, “Objetividade
cientifica e pressupostos axiológicos” (p. 17-47),
coloca o problema da objetividade da ciência e
levanta os principais pressupostos axiológicos que
subjazem ao processo de constituição e de
desenvolvimento das ciências humanas.
No segundo capítulo “Ciências humanas e
praxiologia” (p. 49-70), é abordado o caráter
intervencionista destas ciências: elas, nas suas
condições concretas de realização, apresentam-se
como técnicas de intervenção na realidade,
participando ao mesmo tempo do descritivo e do
normativo.
No terceiro capítulo “Fundamentos
epistemológicos do cientificismo” (p. 71-96), o
autor
busca
elucidar
os
fundamentos
epistemológicos
responsáveis
pela
atitude
cientificista e mostra como o método experimental,
racional e objetivo, apresentando-se como o único
instrumento particular da razão, assumiu um papel
imperialista, a ponto de identificar-se com a própria
razão.
¾ Exemplo de Ficha de documentação
Biográfica:
JAPIASSU
Hilton Ferreira Japiassu
1934 Licenciou-se em Filosofia pela PUC do Rio
de Janeiro, em 1969; formou-se em Teologia,
pelo Studium Generale Santo Tomás de Aquino,
de São Paulo. Fez o mestrado em Filosofia, na
área de Epistemologia, na Université dês
Sciences Sociales, de Grenoble, na França, em
1970; nessa mesma universidade, doutorou-se
em Filosofia, em 1973. Fez pós-doutorado em
Strasbourg, no período 84/85, também na área
de Epistemologia.
Atualmente é docente em Epistemologia e
de História da Ciências e de Filosofia da
Ciência, da Universidade Federal, do Rio de
Janeiro.
Desenvolve suas pesquisas nas áreas de
epistemologia, investigando as relações entre
Ciência e sociedade, o sentido da
interdisciplinaridade e o estatuto epistemológico
das Ciências Humanas em geral, e da Psicologia
em particular.
Além da tradução de vários textos
filosóficos e da publicação de muitos artigos,
Japiassu já lançou os seguintes livros:
Introdução ao pensamento epistemológico,
1975; O mito da neutralidade científica,
1975,...,.
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¾
Atividades – Fichas de documentação
¾
Texto 2
Ciência em Dia
Visita à futurosa cidade
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Bem-vindo a Sobral, segunda maior cidade
do Ceará, "o lugar onde a luz fez a curva"-dizia a
camiseta envergada por participantes de uma
cerimônia dia 21 passado, pelo centenário do "ano
miraculoso" de Albert Einstein, com discurso de
prefeito e tudo. A orgulhosa sede do Museu do
Eclipse, que celebra o experimento de 29 de maio de
1919 para comprovar o desvio de raios de luz pela
massa portentosa do Sol previsto na Teoria da
Relatividade Geral de 1915.
Entre físicos e astrônomos brasileiros,
Sobral faz as vezes de mito de fundação
experimental. Foi ali que o patriarca Henrique
Morize, do Observatório Nacional (RJ), recebeu
emissários da Meca londrina para testemunhar o
obscurecimento do Sol e uma "revolução da
ciência", como noticiou "The Times" em novembro
de 1919.
No pequeno museu circular, a data da edição do
"Times" está errada. As reproduções de galáxias,
tortas. O monumento a Einstein é pavoroso
Na realidade, foram dois os experimentos
organizados pela Sociedade Real da Inglaterra
durante o eclipse de 1919. Um em Sobral, outro na
ilha de Príncipe (África). Por trás deles estava
Arthur Eddington, um dos primeiros defensores de
Albert Einstein.
Com o escurecimento do céu, daria para
fotografar estrelas distantes em torno da nossa
estrela próxima. Segundo Einstein, aquelas deveriam
aparecer em posição diversa da normal, em virtude
da deflexão de sua luz ao percorrer o espaço
deformado pelo astro maciço (como uma bola de
boliche deforma um colchão). Comparando as
chapas com outras da mesma região estelar no céu
noturno, seria possível detectar e medir a diferença
de
posição.
Deslocaram-se até Sobral dois enviados de
Eddington, Charles Davidson e Andrew Crommelin,
acompanhados de Morize (que comemorou na
cidade suas bodas de prata com Rosa, nascida
Ribeiro Santos). As observações foram feitas em
barracas, num descampado onde se disputavam
corridas de cavalos. Tudo diante da igreja de Nossa
Senhora do Patrocínio, que ainda está lá, azul e
branca como o "céu radiante do Brasil" que
possibilitou a confirmação da previsão relativística.
Palavras de Einstein.
Um dos oradores da solenidade no Salão
Caronte do Centro de Convenções de Sobral, há
pouco mais de uma semana, inflamou-se: seria
Sobral a cidade mais importante do século 20, com a
prova da teoria mais importante da ciência?
Outro preferiu encarar o futuro, saudando o
evento organizado pela Sociedade Brasileira de
Física (SBF) como uma nova era para Sobral,
em que a cidade não seja só o cenário de uma
descoberta.
A visita da SBF constata que pesa mais o lado
cênico ainda. No pequeno museu circular,
ladrilhos alaranjados desenham no chão
flamejantes e tacanhos raios de Sol. A data da
edição do "Times" está errada na identificação.
As reproduções de galáxias nas paredes, tortas.
O monumento a Einstein é pavoroso.
Morize, antes do experimento de 1919, pedira
silêncio à "culta" população, em artigos no
jornal da "futurosa cidade". Disse que rojões
eram coisa de lugares "atrasados". Manipulação
evidente, mas benigna: sua presença ali, com os
ingleses, deixou marca.
Sobral pode hoje imaginar-se, afinal,
iluminada pela ciência. Provincianismo por
provincianismo, é bem melhor que saber-se
apenas a sede do clã Ciro Gomes.
@[email protected]
cienciaemdia.zip.net
Questão 1: A partir do texto 2:
¾ Ler, assinalando na margem as
palavras desconhecidas e pontos que requerem
melhor esclarecimento.
¾ Informar-se melhor sobre o autor do
texto.
¾ Fazer um esquema simples do texto
estudado:
- Fazer uma distribuição gráfica do
assunto, mediante divisões e subdivisões que
representem a sua subordinação hierárquica.
– Construir o esquema: ou por chaves
de separação ou classificação numérica para as
divisões e subdivisões dos elementos.
– Manter a todo o momento no
esquema fidelidade ao texto original.
– Ordenar a estrutura do esquema de
forma lógica e facilmente compreensível.
¾ Elabore agora a ficha de documentação
temática.
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¾
Texto 3
O paradoxo de Fermi (ou onde estão os
extraterrestres?)
MARCELO GLEISER
COLUNISTA DA FOLHA
Enrico Fermi foi um dos grandes físicos do
século 20 e da história. Além de descobrir uma das
propriedades mais importantes da matéria (a de que
partículas como elétrons, prótons e nêutrons, quando
sujeitas a alta pressão, exercem uma força repulsiva
que explica a condutividade térmica de metais e a
estabilidade de estrelas de nêutrons), foi o pioneiro
do estudo de reação nuclear em cadeia, importante
para bombas atômicas e reatores nucleares. Além de
sua legendária rapidez de cálculo e habilidade em
estimar respostas para perguntas aparentemente
absurdas ("Quantos afinadores de piano moram em
São Paulo?", por exemplo), Fermi gostava de criar
paradoxos.
No verão de 1950, ele estava em Los
Alamos, onde a bomba nuclear americana foi
desenvolvida. A revista "New Yorker" tinha
publicado uma charge com um ET roubando todas
as latas de lixo de Nova York, aparentemente
explicando o seu misterioso sumiço. Durante o
almoço, Fermi comentou o assunto. De repente, no
meio da conversa, ele exclamou: "Cadê todo
mundo?". Seus colegas sabiam que Fermi falava dos
ETs. Mesmo que ninguém tenha publicado o que foi
dito, podemos estimar o teor da discussão.
Nossa galáxia tem 100 mil anos-luz de diâmetro e
uma idade aproximada de 10 bilhões de anos.
Vamos supor que a vida só é possível em planetas
como a Terra, girando em torno de estrelas como o
Sol. Foram necessários 5 bilhões de anos para que a
vida inteligente se desenvolvesse aqui na Terra,
metade da idade da galáxia, a segunda metade. É
razoável supor que estrelas como o Sol tenham
surgido também durante os cinco primeiros bilhões
de anos de existência da galáxia. Portanto, deveria
haver várias civilizações inteligentes, muito mais
antigas que a nossa, talvez bilhões de anos mais
antigas. Supondo que existam, imaginemos uma
"apenas" 1 bilhão de anos mais velha. Se os ETs
fossem capazes de viajar à 1/10 da velocidade da
luz, em 1 bilhão de anos já poderiam ter atravessado
a galáxia mil vezes. Ou seja, essa civilização já
poderia ter colonizado a galáxia inteira. Cadê todo
mundo? Esse é o paradoxo de Fermi.
Inúmeras soluções foram propostas ao
longo dos anos. Não tendo espaço para discuti-las
em detalhe (o leitor pode consultar o livro de
Stephen Webb, "Where is Everybody?") , menciono
os
três
tipos
de
solução.
governo americano. Infelizmente, não existem
provas convincentes. Uma idéia curiosa é a de
que vivemos em uma zona de proteção criada
por ETs. "Eles" não querem que saibamos de
sua existência. Esse cenário, embora
interessante,
não
pode
ser
testado.
2) "Eles existem, mas ainda não se
comunicaram conosco". Ou porque os sinais
ainda não chegaram, ou porque ainda não somos
capazes de decodificá-los, ou porque os
alienígenas não querem se comunicar.
3) "Eles não existem". Planetas rochosos com
água são raros, a vida é rara e a vida inteligente
mais ainda, especialmente no mesmo nível
mental e tecnológico alcançado por nós.
A evidência de que dispomos aponta
em uma direção: estamos sozinhos. Felizmente,
ainda não podemos concluir nada com base
nisso. A situação pode mudar a qualquer
momento, com um sinal de rádio, uma visita
com provas. Mas, se estamos sozinhos, temos a
responsabilidade de preservar nosso planeta e a
vida nele. Até estarmos prontos para colonizar a
galáxia.
Marcelo Gleiser é professor de física teórica do
Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor
do livro "O Fim da Terra e do Céu"
Questão 2: A partir do texto 3:
¾ Ler, assinalando na margem as
palavras desconhecidas e pontos que requerem
melhor esclarecimento.
¾ Informar-se melhor sobre o autor do
texto.
¾ Fazer um esquema simples do texto
estudado:
- Fazer uma distribuição gráfica do
assunto, mediante divisões e subdivisões que
representem a sua subordinação hierárquica.
– Construir o esquema: ou por chaves
de separação ou classificação numérica para as
divisões e subdivisões dos elementos.
– Manter a todo o momento no
esquema fidelidade ao texto original.
– Ordenar a estrutura do esquema de
forma lógica e facilmente compreensível.
¾ Elabore agora a ficha de documentação
temática.
1) "Eles estão aqui". A mais popular para os que
acreditam em objetos voadores não-identificados e
em intrigas secretas, especialmente as atribuídas ao
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¾
Texto 4
Katrina e Catarina
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Não pense o leitor que são duas filhas de
Francisca. Quando muito, primas distantes. Melhor
dizendo, primos, porque ambos são nomes
femininos adotados para dois furacões que já
entraram para a história, um deles no Brasil.
Katrina está na memória de todos, após arrasar o sul
dos Estados Unidos há um mês. Foi mencionado
aqui, semana passada, como o início de um vendaval
que poderá, quem sabe, varrer do mapa a política
diversionista de George W. Bush diante da mudança
climática global. Na prática, os governos estaduais
americanos já começaram a fazê-lo, adotando as
suas próprias medidas contra emissões de gases do
efeito estufa.
Enquanto isso, no Senado dos EUA uma
comissão sobre o aquecimento global ouvia
o depoimento de Michael Crichton
Aqui também foi dito que, não havendo no
Brasil furacões, a posição titubeante do governo
tupiniquim é lancetada na esfera pública a golpes de
taxas de desmatamento da Amazônia, nossa maior
contribuição para o aquecimento global. Fica o dito
pelo não-dito, ao menos no que se refere a furacões.
Afinal, aí está o Catarina, ou esteve, para provar que
por aqui também há furacão e mais motivos para se
preocupar com os riscos da mudança climática.
O lembrete foi feito por Carlos Nobre, um
dos autores do artigo aqui mencionado, que havia
saído no periódico científico "Climatic Change". O
artigo defende um compromisso de reduções
voluntárias de desmatamento a ser adotado pelo
Brasil, se nações ricas se dispuserem a pagar por
isso. A proposta não está prevista no Protocolo de
Kyoto, entre outras razões porque o governo deste
país sempre a combateu, muito antes de Lula e FHC.
Nobre, climatologista que em 2006 se
tornará presidente do Programa Internacional
Geosfera-Biosfera (www.igbp.kva.se), alerta que já
não há dúvida na comunidade científica quanto à
identidade do Catarina. A tempestade que fustigou a
costa catarinense em março de 2004 foi de fato o
primeiro ciclone tropical (isto é, furacão) registrado
no hemisfério Sul.
Só se discute, ainda, se ele foi também mais
um sintoma de que a mudança climática global já se
encontra em curso. Afinal, a multiplicação de
eventos climáticos extremos como esse é uma das
conseqüências previstas do aquecimento global.
Mesmo primas distantes, Catarina e Katrina podem
acabar fazendo parte de uma família da pesada.
Na opinião de Nobre, os próximos meses
trarão uma avalanche de artigos científicos
indicando outras assinaturas de uma mudança
climática que transborda os limites de
variabilidade natural do clima. Bingo.
Anteontem, o National Snow and Ice Data
Center (www.nsidc.org) de Boulder, Colorado
(EUA), anunciou que a calota de gelo sobre o
mar no pólo Norte atingiu neste ano um recorde
secular
de
diminuição.
Enquanto isso, no Senado dos EUA uma
comissão sobre o aquecimento global ouvia o
depoimento de uma autoridade contrária à teoria
da mudança climática.
Seu nome: Michael Crichton, um
escritor de best sellers. É de um realismo
fantástico, algo como convocar Paulo Coelho à
CPI do Mensalão para explicar as alquimias de
Marcos Valério.
Marcelo Leite é doutor em ciências sociais pela
Unicamp, autor do livro "O DNA" (Publifolha)
e responsável pelo blog Ciência em Dia (http:/ /
cienciaemdia.zip.net).
E-mail:
[email protected]
Questão 3: A partir do texto 4:
¾ Ler, assinalando na margem as
palavras desconhecidas e pontos que requerem
melhor esclarecimento.
¾ Informar-se melhor sobre o autor do
texto.
¾ Fazer um esquema simples do texto
estudado:
- Fazer uma distribuição gráfica do
assunto, mediante divisões e subdivisões que
representem a sua subordinação hierárquica.
– Construir o esquema: ou por chaves
de separação ou classificação numérica para as
divisões e subdivisões dos elementos.
– Manter a todo o momento no
esquema fidelidade ao texto original.
– Ordenar a estrutura do esquema de
forma lógica e facilmente compreensível.
¾ Elabore agora a ficha de documentação
temática.
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CEUNSP
“Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio” - INSEAD
CURSO: Engenharia de Produção Mecânica, Mecatrônica e Civil
Disciplina: Metodologia da Pesquisa Científica – Prof. Dr. Cláudio S. Sartori
¾
Texto 5
Definindo teoria
MARCELO GLEISER
COLUNISTA DA FOLHA
A palavra "teoria" vem aparecendo bastante
na mídia, em parte devido ao debate entre
criacionismo e ciência. Existem usos diferentes do
termo, que acabam criando confusão. No seu uso
popular, o termo descreve um corpo de idéias ainda
incerto, baseado em especulações não demonstradas.
Teoria, para muitos, significa um corpo de hipóteses
esperando ainda por confirmação. Às vezes, o uso
popular do termo distancia-se ainda mais do
científico, significando idéias que são meio
absurdas, fora da realidade: "Ah, esse cara sempre
foi um inventor de teorias, não sabe do que está
falando", ou "isso aí não passa de uma teoria,
provavelmente é besteira".
O fato de teorias não serem perfeitas é
fundamental para o progresso da ciência.
Caso contrário, não nos restaria nada a
fazer
Teoria em ciência significa algo
completamente diferente. O termo mais apropriado
para uma idéia de caráter especulativo é hipótese, e
não teoria. Uma hipótese é justamente uma
suposição ainda não provada, aceita provisoriamente
como base para investigações futuras. Por exemplo,
a panspermia é uma hipótese que sugere que a vida
na Terra veio de outras partes do cosmo. Não
sabemos se está certa ou errada, mas podemos tentar
comprová-la ou refutá-la. Já uma teoria consiste na
formulação de relações ou princípios descrevendo
fenômenos observados que já foi verificada, ao
menos em parte. Ou seja, uma teoria não é mais uma
mera hipótese, tendo já passado por testes que
confirmam suas premissas.
Quando cientistas falam de uma teoria,
falam de um corpo de idéias aceitas pela
comunidade científica como descrições adequadas
para fenômenos observados. A confirmação é por
meio de observações e experimentos, o que
cientistas chamam de método de validação empírica.
Quanto mais sucesso tem uma teoria, maior o
número de fenômenos que pode descrever.
Quanto mais elegante, mais simples é.
Uma teoria de enorme sucesso em física é a teoria
da gravitação universal de Newton. Ao propor que
objetos com massa exercem uma força de atração
mútua cuja intensidade cai com o inverso do
quadrado da distância entre as massas, Newton e
seus sucessores foram capazes de explicar as órbitas
planetárias em torno do Sol, o fenômeno das marés,
a forma oblata da Terra (achatada nos pólos), o
movimento de projéteis na Terra e no espaço etc.
Quando a Nasa lança um foguete da
Terra ou colide um com um cometa, a teoria
usada no planejamento das missões é a de
Newton. Testes em laboratórios e observações
astronômicas mostram que a teoria funciona
extremamente bem em distâncias que variam de
décimos de milímetros até milhões de trilhões
de quilômetros, a escala em que galáxias
formam aglomerados atraídas por sua gravidade
mútua.
Isso não significa que a teoria (ou
qualquer outra) seja perfeita. Sabemos que ela
deixa de ser válida quando objetos estão muito
próximos de estrelas como o Sol. Correções são
necessárias, no caso fornecidas pela teoria da
relatividade geral de Einstein, que, em 1916,
generalizou
a
teoria
de
Newton.
O fato de teorias não serem perfeitas é
fundamental para o progresso da ciência. Caso
contrário, não nos restaria nada a fazer. E é
justamente aqui o lugar da hipótese em ciência,
tentando, através de idéias ainda não
demonstradas, alavancar o conhecimento,
desenvolver ainda mais nossas teorias. Para
construir a teoria da relatividade, Einstein supôs
que a velocidade da luz é sempre constante e
que a matéria curva o espaço. Quando isso foi
confirmado, a formulação ganhou o título de
teoria. A pesquisa agora gira em torno dos
limites dessa teoria e de como pode ser
melhorada.
Marcelo Gleiser é professor de física teórica do
Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor
do livro "O Fim da Terra e do Céu"
Questão 4: A partir do texto 5:
¾ Ler, assinalando na margem as
palavras desconhecidas e pontos que requerem
melhor esclarecimento.
¾ Informar-se melhor sobre o autor do
texto.
¾ Fazer um esquema simples do texto
estudado:
- Fazer uma distribuição gráfica do
assunto, mediante divisões e subdivisões que
representem a sua subordinação hierárquica.
– Construir o esquema: ou por chaves
de separação ou classificação numérica para as
divisões e subdivisões dos elementos.
– Manter a todo o momento no
esquema fidelidade ao texto original.
– Ordenar a estrutura do esquema de
forma lógica e facilmente compreensível.
¾ Elabore agora a ficha de documentação
temática.
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Questão 5: Elabore agora
documentação biográfica de:
9
9
9
¾
a
ficha
de
Marcelo Gleiser.
Marcelo Leite
Cláudio Sartori (eu)
Observação:
Faça uma pesquisa nos sites de busca, como o
Google, sobre a vida desses autores.
Outra possibilidade é analisá-los pela
Plataforma Lattes.
http://lattes.cnpq.br/index.htm
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/index.jsp
Questão 6: Elabore agora uma ficha de
documentação bibliográfica referente ao texto 1.
¾
Texto 6
O mundo sem mulheres!
(Arnaldo Jabor)
O cara faz um esforço desgraçado para ficar
rico pra quê?
O sujeito quer ficar famoso pra quê?
O indivíduo malha, faz exercícios pra quê?
A verdade é que é a mulher o objetivo do homem.
Tudo que eu quis dizer é que o homem vive em
função de você.
Vivem e pensam em você o dia inteiro, a
vida inteira.
Se você, mulher, não existisse, o mundo
não teria ido pra frente.
Homem algum iria fazer alguma coisa na
vida para impressionar outro homem, para
conquistar sujeito igual a ele, de bigode e tudo.
Um mundo só de homens seria o grande erro da
criação.
Já dizia a velha frase que "atrás de todo
homem bem-sucedido existe uma grande mulher".
O
dito
está
envelhecido. Hoje eu diria que "na frente de todo
homem bem-sucedido existe uma grande mulher".
É você, mulher, quem impulsiona o mundo.
É você quem tem o poder, e não o homem.
É você quem decide a compra do apartamento, a cor
do carro, o filme a ser visto, o local das férias.
Bendita a hora em que você saiu da cozinha e, bemsucedida, ficou na frente de todos os homens.
E, se você que está lendo isto aqui for um homem,
tente imaginar a sua vida sem nenhuma mulher.
Aí na sua casa, onde você trabalha, na rua. Só
homens.
Já pensou?
Um casamento sem noiva?
Um mundo sem sogras?
Enfim, um mundo sem metas.
ALGUNS MOTIVOS PELOS QUAIS OS
HOMENS GOSTAM TANTO DE MULHERES:
1- O cheirinho delas é sempre gostoso, mesmo
que
seja
só
xampu.
2- O jeitinho que elas têm de sempre encontrar o
lugarzinho certo em nosso ombro, nosso peito.
3- A facilidade com a qual cabem em nossos
braços.
4- O jeito que tem de nos beijar e, de repente,
fazer
o
mundo
ficar
perfeito.
5- Como são encantadoras quando comem.
6- Elas levam horas para se vestir, mas no final
vale a pena.
7- Porque estão sempre quentinhas, mesmo que
esteja fazendo trinta graus abaixo de zero lá
fora.
8- Como sempre ficam bonitas, mesmo de jeans
com
camiseta
e
rabo-de-cavalo.
9- Aquele jeitinho sutil de pedir um elogio.
10- Como ficam lindas quando discutem.
11- O modo que tem de sempre encontrar a
nossa mão.
12- O brilho nos olhos quando sorriem.
13- Ouvir a mensagem delas na secretária
eletrônica logo depois de uma briga horrível.
14- O jeito que tem de dizer "Não vamos brigar
mais, não.."
15- A ternura com que nos beijam quando lhes
fazemos uma delicadeza.
16- O modo de nos beijarem quando dizemos
"eu te amo".
17- Pensando bem, só o modo de nos beijarem
já basta.
18- O modo que têm de se atirar em nossos
braços quando choram.
19- O jeito de pedir desculpas por terem
chorado por alguma bobagem.
20- O fato de nos darem um tapa achando que
vai doer.
21- O modo com que pedem perdão quando o
tapa dói mesmo (embora jamais admitamos que
doeu.)
22- O jeitinho de dizerem "estou com
saudades".
23- As saudades que sentimos delas.
24- A maneira que suas lágrimas tem de nos
fazer querer mudar o mundo para que mais nada
lhes cause dor.
Isso NÃO é uma corrente, apenas mande para
todas as mulheres de sua lista, para elas
perceberem o quanto são importantes, e para os
homens, para que eles lembrem o quanto as
mulheres são essenciais !!!
Questão 6: Debata em grupo e elabore uma
análise interpretativa do texto, na forma de um
fichamento. Faça em seguida uma síntese
pessoal também na forma de um fichamento.
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Texto 7
Definindo teoria
MARCELO GLEISER
COLUNISTA DA FOLHA
Sol frio
"Sunshine" é sério, mas tem enredo científico
absurdo
Embalado com minha ida ao cinema para assistir
"Transformers" (coluna de domingo passado),
resolvi continuar a exploração sobre o que anda
ocorrendo com a ciência nas telas com um filme
muito diferente, mas também de ficção científica,
chamado "Sunshine" (a tradução literal seria "Brilho
do Sol").
Realmente, é outra coisa, por completo.
Para começar, o diretor inglês Danny Boyle tem
uma obra bem diferente da de Michael Bay, cria da
MTV que dirigiu, entre outros, "Transformers" e
"Armageddon". Boyle é sério, e o filme é sério.
Mais do que um filme sobre o Sol, é um estudo de o
que ocorre com um grupo de pessoas numa situação
altamente perigosa e épica, onde nossa fragilidade
enquanto seres humanos frente a um universo
indiferente à vida é exposta de forma trágica. Ainda
bem, pois como dizia o escritor italiano Luigi
Pirandello, a ficção tem que ser mais convincente do
que a realidade. E, enquanto enredo científico, o
filme "Sunshine" é totalmente absurdo.
Num futuro não muito distante, o Sol está
morrendo: sua luminosidade, a quantidade de
energia que gera por segundo, está diminuindo,
ameaçando a sobrevivência dos seres humanos e de
toda a vida na Terra. Se nada for feito, nosso planeta
se transformará num mundo gelado e destituído de
vida. Uma missão internacional, Icarus I, foi enviada
em direção ao Sol.
Seu objetivo: detonar uma gigantesca
bomba termonuclear ("maior do que Manhattan") no
interior do Sol para reacendê-lo. Feito quando
usamos um fósforo para reacender a lareira, só que
em escala astrofísica. Icarus I falha misteriosamente
e Icarus II, a missão que vemos no filme com seus
oito tripulantes, é a última esperança da
humanidade. Se eles falharem, nós e tudo o que
construímos irá perecer, esquecido na imensidão do
tempo.
Visualmente, o filme é muito belo. O uso
das imagens solares, revelando a fornalha que é
nosso astro-rei, é inspirado. A influência plástica e
temática da obra prima de Stanley Kubrick, "2001",
é forte e bem óbvia. Alguns clichês diminuem um
pouco o efeito do filme. Não conto para não estragar
a experiência do leitor. Mas como cientista, doeu ver
certas
coisas.
Dessas
eu
posso
tratar.
Começando com a insistência do uso de som no
espaço. Sei que sem som não tem tanta graça, mas
algo deve ser feito para corrigir isso: sem ar, sem
atmosfera, não existe som. Explosões ocorrem em
silêncio, mesmo que catastróficas. Será que o
show de luz não é suficiente para impressionar a
audiência? Mas bem mais séria é a premissa do
filme.
O Sol não irá esfriar. Ao contrário, irá esquentar
gradualmente. O leitor não precisa se preocupar,
pois o processo é muito lento: em um bilhão de
anos, sua luminosidade aumentará em
aproximadamente 10%, com conseqüências
terríveis para a Terra que se transformará numa
bola incandescente, sem atmosfera ou oceanos.
Esse aquecimento é devido ao que ocorre no
centro do Sol: a energia que lhe dá estabilidade
contra sua própria gravidade é gerada através da
fusão de seu elemento mais comum, o
hidrogênio, no elemento químico hélio.
O processo de fusão nuclear necessita de
energias e pressões gigantescas, ocorrendo
apenas quando a temperatura no interior do Sol
atinge 15 milhões de graus. Finalmente, o
hidrogênio acaba e o Sol entra em crise. Mesmo
que o Sol estivesse esfriando, detonar uma
bomba atrapalharia ainda mais, pois diminuiria
a densidade de hidrogênio no seu interior. Mas
como disse semana passada, vale a pena ignorar
(mas não esquecer) isso e ver o filme. Não se
esqueça dos óculos escuros e loção de bronzear!
MARCELO GLEISER é professor de
física teórica no Dartmouth College, em
Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia
do Mundo"
Questão 7: Debata em grupo e elabore uma
análise interpretativa do texto, na forma de um
fichamento. Faça em seguida uma síntese
pessoal também na forma de um fichamento.
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