degustação - Casa dos Espíritos

Transcrição

degustação - Casa dos Espíritos
O S
––––
NEPHILINS
A
O R I G E M
R O B S O N
p e l o
e s p í r i t o
 N G E L O
I N Á C I O
P I N H E I R O
sumário
Prefácio
pelo espírito Ângelo Inácio, viii
As sete castas dos degredados annunakis, xiv
1
Em eras mais remotas, 18
2
Guerra no céu
pedido de socorro vindo do espaço, 66
3
Nascimento de uma raça, 120
4
Relato das crônicas da Terra — os construtores, 194
5
Memórias de Enlil, o annunaki filho de Anu, 248
6
O despertar do espectro, 296
7
Viagem ao desconhecido, 372
Referências bibliográficas, 476
1
Em eras
mais
remotas
19
U
m abalo estrutural, de grandes proporções, ocorreu naquele instante. Se houvesse qualquer ser vivo consciente naquele
sistema, certamente teria sentido uma onda de choque
inenarrável, uma vertigem seguida de uma intrusão
mental e emocional de dimensões aterradoras. Tratava-se de uma energia consciencial intrusa; aliás, eram milhões de consciências desajustadas, cuja vibração chegava como um raio através do espaço e atingiria toda a
população que ali habitasse.
A viagem pelo hiperespaço terminara. Num átimo,
rompera-se a membrana sutil que colocava fim ao salto quântico entre dimensões. Sem ele, a viagem teria durado quase uma eternidade. Com o salto dimensional,
todo o percurso durara apenas alguns segundos, desde
o momento em que se atiraram para dentro da fornalha
energética, das trilhas de energia que rasgavam o universo e as dimensões, cuja autoria ninguém saberia dizer,
nem mesmo se ali estavam desde o começo da criação.
O delicado tecido entre dimensões foi rompido
quando centenas, quem sabe milhares de naves se materializaram nas franjas do Sistema Solar, tendo atravessa-
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do as trilhas energéticas que cruzavam o espaço sideral.
Mais tarde, cerca de 470 mil anos depois, elas seriam batizadas de buracos de verme ou buracos de minhoca.
Um, dois, dez, mil; uma quantidade incrível de comboios estruturados na matéria etérica rasgou a membrana psíquica que separa o universo paralelo do mundo
visível e material. O abalo provocou uma onda de choque gravitacional, que se fez sentir em todo o sistema,
assemelhando-se às emissões do vento solar, as quais
varriam de tempos em tempos a aura magnética dos planetas. No momento em que as naves etéricas se condensaram num tipo de aparição e existência quase material,
ocorreu o motim. Ali mesmo, antes de chegarem ao terceiro mundo do sistema, bem antes de se aproximarem
do mais gigante dos mundos, a rebelião aconteceu, patrocinada pelas forças da insensatez, do orgulho e do
poder desmedido. E novamente as legiões do Sheol, os
filhos de Nibiru se rebelaram, embora já estivessem inexoravelmente imersos na realidade daqueles orbes e não
mais pudessem regressar à casa do pai, à morada dos semideuses, ao paraíso entre as estrelas. Estavam cativos,
indefinidamente, da força gravitacional que os agrilhoava aos seus destinos, nos milênios quase sem fim que os
aguardavam no mundo-prisão. Não conseguiriam, por
força própria, romper a membrana espacial e dar o salto
quântico em direção ao infinito, a outros sistemas siderais. As forças da escuridão estavam circunscritas àquele
recanto obscuro da Via Láctea em caráter definitivo, ou
ao menos até que o poder superior que governava o universo lhes determinasse uma nova morada. Ou, então,
que essas forças se regenerassem, reparassem o caos e
retornassem à ordem universal.
O ser inumano se ergueu, espreguiçando-se
acima de seu trono de ouro. Esse era um elemento preciosíssimo, e dele dependia para levar a cabo sua técnica de comunicação, além de ser um poderoso meio de
transmitir energias tanto elétrica quanto gerada por processos atômicos. A arca onde se encontrava não era tão
grande assim, e tinha mesmo uma aparência inocente,
como se fosse um brinquedo de criança. Tal aspecto era
proposital; tinha por objetivo evitar que possíveis e prováveis inimigos descobrissem seu arsenal, escondido
com relativa segurança no interior da misteriosa arca,
sobre a qual se assentava com grande orgulho. No entanto, a mesma arca ou esquife de ouro também constituía sua prisão temporária.
O crânio ovalado parecia ocultar os poderes de uma
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inteligência portentosa, mas também era um artefato
elaborado com a finalidade de que ninguém lhe pudesse
conhecer os pensamentos que irradiavam da mente perversa. Era possível imaginar que ali, no cérebro da estranha criatura, estivessem sendo engendrados pensamentos e conceitos os mais abstratos, detentores de uma
sapiência quase infinita. Era um querubim ungido, um
cherub, uma casta cujos integrantes eram dominadores
implacáveis. Sua aparência quase angelical era produto
da evolução de sua raça, o Homo capensis, conforme se denominava a espécie em seu mundo.
Estava concentrado, naquele momento, o ser divino. Sobre sua arca, irradiava-se uma luz dourada, que
o envolvia em luminosidade quase mística, lembrando
asas. Na verdade, eram vibrações magnéticas, que formavam um potente campo de forças em torno da medonha criatura, que se autointitulava deus, por ser o primeiro de sua raça a conseguir se libertar dos conceitos
castradores, conforme acreditava, da ética que regia os
seres de seu sistema. O campo de forças fazia com que,
no interior da urna, a atmosfera fosse sempre agradável, segundo os parâmetros daquele ser sem par naquele
mundo. O local onde se assentava a criatura era muito
mais aconchegante do que qualquer outro lugar do pla-
neta. Simplesmente deixava-o suspenso sobre campos
flutuantes de antigravidade. Isso lhe causava uma sensação das mais agradáveis. Era um gigante, com mais
de 3m de altura, alto até mesmo para os padrões de seu
povo. Outras castas da mesma espécie apresentavam estatura menor. O traje que vestia não era muito vistoso,
contudo era elaborado a partir de material desconhecido
da maioria, o qual acentuava as energias psíquicas do estranho ser inumano.
Os dons paranormais, comuns a uma parcela de sua
gente, deviam-se ao desenvolvimento de um segundo cérebro, que ficava na base do crânio. Porém, o formato cônico que esse órgão adquirira não era natural. Fora um
experimento necessário, visando dotá-los de equipamento que erguia um campo protetor conta investidas mentais e forças paranormais ou psi.
Sofria, a horrenda criatura, de profundo complexo de
culpa. Mesmo disfarçando esse sentimento, quase se aniquilara psiquicamente ante a enormidade da culpa que,
de tempos em tempos, ameaçava vir à tona. Trazia a alma
marcada e maculada indelevelmente por ter sido o autor
de inúmeros crimes contra humanidades inteiras, em diversos quadrantes do espaço. Avançando-se mais de 440
mil anos no futuro, a partir dessa época, […].
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5
Memórias
de Enlil, o
“annunaki”
filho de
Anu
249
E
ste relato está gravado em nossos bancos de memória, mas também em
milhares de pedras, tabuletas e placas de ar-
gila deste mundo. Que saibam as futuras gerações que
eu, Enlil, sou o emissário dos deuses, dos senhores do
conhecimento e da sabedoria. Fui declarado Yaveh, um
deus, aquele que sou o que sou. Depois de mim, meu filho, e depois dele, outros filhos do meu povo.
Vivemos uma vida cheia de contradições. Embora
nosso título de deuses, somos apenas homens de Nibiru, da espécie Homo capensis, degredados das estrelas para este miserável mundo de Tiamat.
Criamos os homens à nossa imagem e semelhança. Conseguem pensar, raciocinar e agora nos veneram, estes seres a quem repugno. Ao mesmo tempo, os
transformamos em deuses, em heróis, em uma contradição evolutiva e um paradoxo da ciência como nunca
conhecemos. Embora não lhes reconheçamos nenhum
direito, eles o conquistaram. Enki, meu irmão, ama
esses seres ao absurdo. Em vez de torná-los simplesmente deuses ou heróis, ele se fez homem para viver a
vida deles. Traiu nosso legado mais precioso. Em nossa
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comunidade de deuses, a posição social de humana corresponde à de escravo. Não exatamente de animal, pois
que conseguimos com aqueles o prodígio de nossa civilização: os homens raciocinam e são capazes de aprender e ensinar. Multiplicam-se como nenhuma outra espécie, e desenvolveram algo incomum a outras espécies
do seu mundo: sentimentos e emoções.
Eles não têm o direito de manifestar suas opiniões
sobre nosso sistema de governo; devem restringir-se ao
papel de escravos, seja nas minas de ouro, seja para
auxiliar nos nossos projetos. Mas aprendem rápido.
Estão erguendo sua própria civilização — fazem cálculos, conseguem estudar as estrelas e, além do mais, estão se organizando como os deuses, apoiados por Enki
e seus amigos que desonram a casta dos eloins, os criadores de vida. Agora, embora inferiores aos deuses, não
podemos mais viver sem eles. Dependemos dos homens
para arar a terra, semear, colher, atender nossas necessidades e nos servir. Que grande ironia! O novo ser,
inferior, domina-nos a ponto de precisarmos dele em
tudo. Sei que, em breve, nós, os seus deuses, seremos
banidos de suas vidas e esquecidos na poeira do tempo.
Eu sou Enlil, o filho de Anu, de Nibiru.
Os amigos Enki e Sal-ali-naan sobrevoaram a
cidade reconstruída após os eventos catastróficos patrocinados pelo irmão de Enki, o semideus Enlil. Abaixo deles, a cidade prosperava com seus palácios e jardins
suspensos, primorosamente reconstruídos, mais de mil
anos depois dos eventos que determinaram o fim de um
ciclo. Nesse ínterim, o homem, produto da técnica genética annunaki, fora enviado para o planeta original dos
exilados, a fim de lá ser aperfeiçoado e retornar ao mundo, depois de uma era glacial, em que geleiras cobriram
o planeta e as naves se refugiaram no espaço. Tudo foi
então reerguido, e uma nova civilização veio a florescer
no mundo novo, com uma nova ordem de coisas. A cidade era um monumento à parte, e estava cheia de vida.
Quando Enki e Sal-ali-naan desceram num aeroporto pequeno, reservado à casta dominante, foram recepcionados por Enlil.
— Tente ignorar as palavras às vezes rudes de meu
irmão, preciosa dama.
— Não se preocupe, Enki; saberei me portar. Afinal,
convivi por muito tempo com especialistas em psicologia de outros povos. Quando me formei e fui admitida
para navegar pelo espaço, fiz um estágio de 20 anos com
personalidades das mais sombrias e discordantes possí-
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veis, em quatro mundos-prisão. Creio estar preparada.
A mulher das estrelas tinha uma estatura baixa para
os padrões annunakis: aproximadamente 1,60m. Cabeça muito maior do que a dos degredados, olhos vivos e
grandes. Vestia um tecido cinza quase prateado, forma
de se preservar da agressividade da atmosfera, que, para
sua raça, representava algo perigoso.
Enlil recebeu os dois de maneira muito especial.
Portava-se como um deus e era servido dessa forma até
por outros annunakis. Da espécie Homo capensis, não admitia que outras espécies pudessem ser comparadas
consigo e os seus. Na verdade, acentuara tal comportamento após a vinda para Tiamat. Ao que se podia notar,
de tempos em tempos pensamentos intrusos assaltavam
sua mente, e sentia-se à beira da loucura. Nesses momentos, isolava-se em seu palácio nas cercanias de Eridu. Assim que os violentos dominadores, os dragões,
foram definitivamente banidos e aprisionados no planeta, começaram as vozes em sua cabeça. Eram chamados
muito claros, e ele começou, então, a desenvolver certo
tipo de sentimento em relação à nova humanidade que
florescia ali, no novo mundo. Até onde isso o levaria,
ninguém saberia responder.
Enki tentava a todo custo reverter os estragos cau-
sados pelas atitudes do irmão. Visivelmente, porém, um
fosso se abrira entre os dois. E a distância entre ambos
parecia cada vez maior e mais perigosa.
Enlil intitulava-se o deus-sol e fez com que várias
inscrições ostentassem seu símbolo pessoal, que era
de grande significância para a comunidade dos filhos
das estrelas.
— Seja bem-vinda, dama do espaço! — saudou Sal-ali-naan, que chegava de braços dados a seu irmão.
Quase ignorando Enki, tomou a mão da visitante de um
dos mundos da imensidade, um planeta rochoso que ficava a mais de 25 anos-luz de Tiamat. Olhando Enki de
modo a dar a entender que sabia o que se passava, ela
prosseguiu a caminhada rumo ao interior do palácio,
construído primorosamente na matéria de Tiamat.
Enki fez questão de acentuar o motivo da visita de
Sal-ali-naan.
— Nossa convidada, meu irmão das estrelas, não
tem mais muito tempo para ficar em Tiamat. Visitamos
um dos campos de trabalho onde nossos técnicos erguem um dos preciosos condensadores energéticos situados nos pontos de intercessão de forças magnéticas
do planeta.
— Isso mesmo, nobre Enlil. Preciso aproveitar a
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porta de aproximação para o salto pelas trilhas energéticas. Tiamat se aproxima do ponto onde a partida das naves é mais favorável.
— Senhora, espero que tenha tempo suficiente
para apreciar as belezas de Eridu, a capital dos deuses
annunakis.
— Como gostaria, nobre Enlil, mas situações urgentes me aguardam entre meu povo. Asseguro que me
programarei para retornar antes de terminarem os dois
próximos milênios do tempo deste mundo. Em uma
próxima ocasião, ficarei como sua convidada.
— Que pena, senhora. Bem, dois milênios é pouco
tempo comparado a um shar do nosso planeta, que equivale a 3,6 mil anos-Tiamat. Saberei compreender.
Sem interromper a fala de Enlil, mas assim mesmo
apressando seu interlocutor, falou a que viera:
— Fui convidada pelo sábio Enki a conhecer a obra-prima de sua ciência, nobre deus. Enki não se fartou de
enumerar suas qualidades como o maior responsável
pelo desenvolvimento dos primatas, junto com sua irmã
e conselheira.
Enlil não gostou de maneira alguma da bajulação,
mas resolveu aquietar-se, pois de alguma maneira se
sentia o rei daquele lugar. Enki compreendeu a inter-
venção de Sal-ali-naan e ficou mais quieto, observando.
Sabia da situação espiritual do irmão e podia sentir, em
certos momentos, como era dirigido por uma consciência perigosa, num franco processo de intrusão psíquica.
Adentraram um recinto iluminado por um dispositivo central, que irradiava uma luz semelhante à do luar.
Figuras de animais do novo mundo, esculpidas de maneira primorosa, falavam do bom gosto estético, ainda
que excêntrico, dos habitantes do lugar. Belíssimas cortinas, penduradas do teto ao chão, mostravam as habilidades desenvolvidas pelos novos homens e suas mulheres. Enlil assentou-se numa espécie de trono, uma
poltrona talhada em madeira especial e trabalhada em
ouro, trazido das minas do continente negro. Enki e Sal-ali-naan assentaram-se em outras cadeiras mais simples, porém esculpidas com bom gosto. Um ser feminino entrou no ambiente para servir-lhes uma bebida de
acordo com o gosto dos annunakis. Era um belo exemplar, cujos traços fisionômicos guardavam semelhança
com os dos annunakis, mas, observando-se melhor, claramente não pertencia à mesma raça. De todo modo, o
que isso importava, naquele momento? Aquela era uma
época em que os filhos das estrelas conviviam de perto
com os filhos dos homens.
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Enlil deu ordem para que se trouxesse um espécime dos novos homens, a fim de que Sal-ali-naan conhecesse o padrão a que chegaram com sua técnica de
engenharia genética.
Enquanto isso, ela mirava os jardins ao redor, pela
abertura localizada em uma das paredes do palácio. Animais estranhos conviviam na área externa. Alguns eram
aberrações da natureza: em parte primatas, em parte quadrúpedes; outros pareciam o cruzamento de raças animais diferentes. Era um tipo de museu a céu aberto a
atestar as bizarrices a que chegaram os annunakis antes de
conseguirem desenvolver o ser que lhe seria apresentado.
Logo chegou um dos novos seres, a que deram o
nome de Homem. Tinha os olhos negros e menos pelos
no corpo que os primatas, estando mais concentrados
na cabeça, no peito e nas pernas. Já não parecia animal.
Havia um brilho diferente nos olhos da criatura.
— Venha, homem. Você sabe que foi preparado para
sua tarefa de nos servir, desde sua criação. Além disso,
foram-lhe concedidos alguns privilégios devido a pedidos de nosso irmão Enki.
O homem realmente parecia compreender o que lhe
falava o semideus Enlil. Aproximou-se de Sal-ali-naan;
olhava interessado para a mulher, notando […].