OGLOBO
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Irineu Marinho (1876-1925) Gucci DA VINCI DÁ A VOLTA POR CIMA LEO MARTINS Sob o comando do empresário Daniel Louzada, a tradicional livraria carioca reabre suas portas totalmente renovada. DIVULGAÇÃO/SERGIO COIMBRA A NOVA MODA ITALIANA Documentários sobre escritores e movimentos literários se destacam na programação do Festival É Tudo Verdade, que começa na sexta. ELA GOURMET FELIPE BRONZE BRINCANDO COM FOGO O chef, que vai abrir o Oro no Leblon, quer dar um tempo na pirotecnia e aposta na comida feita na brasa. ESCÂNDALOS EM SÉRIE Olimpíadas abrem 11 mil vagas Moro liga Lava-Jato a mensalão e Celso Daniel _ A empresa de recrutamento contratada pelo Comitê Rio 2016 tem 11 mil vagas abertas. São contratos temporários, com carteira assinada, que não exigem experiência. Os salários vão de R$ 1 mil a R$ 6 mil, para trabalhar no Comitê Organizador e nos fornecedores do evento. PÁGINA 27 Silvinho, ex-secretário do PT, recebeu R$ 1 milhão de empreiteiras Ex-tesoureiro do PT condenado no mensalão, Delúbio Soares foi levado para depor; PT acusa o juiz de extrapolar suas funções, mas petistas admitem temer o que o ex-secretário do partido possa falar Alívio do exterior Balança registra saldo recorde A operação Carbono 14, 27ª fase da Lava-Jato, ligou o escândalo de corrupção na Petrobras ao mensalão do PT e também ao assassinato do prefeito petista Celso Daniel, em 2002. Condenado no mensalão, o ex-secretário do PT Sílvio Pereira foi preso. Segundo a PF, ele recebeu, de 2009 a 2012, R$ 1,1 milhão de empreiteiras. Também foi preso o dono do jornal “Diário do Grande ABC”, Ronan Maria Pinto, que recebeu, em 2004, R$ 6 milhões do PT, dinheiro de empréstimo obtido pelo partido junto ao Banco Schahin em troca de contrato com a Petrobras. O juiz Sérgio Moro disse considerar “possível” que “esse esquema” tenha relação com o assassinato de Celso Daniel. O PT acusou Moro de extrapolar sua competência. Nos bastidores, o partido teme o que Silvinho possa falar. PÁGINAS 3 a 5 A balança comercial teve saldo de US$ 4,43 bilhões, no melhor março em 28 anos. Com o dólar alto e a recessão, as importações caíram 30%. As exportações cresceram, mas foram afetadas pelos preços baixos. PÁGINA 22 Epidemia Mundo tem 641 milhões de obesos Análise de estudos de 200 nações entre 1975 e 2014 mostra que o mundo tem mais gente obesa que abaixo do peso, mas desnutrição ainda preocupa. PÁGINA 30 Execução a sangue-frio Morte de palestino divide Israel MERVAL PEREIRA As profundezas da lama petista. PÁGINA 4 Entreouvido na grande tela (2) Tema único. A presidente volta a discursar no Planalto contra o processo Ela só fala no impeachment Há 15 dias, a presidente faz do Palácio do Planalto o bunker de sua luta contra o impeachment. Ela convocou aliados e fez cinco atos no período, com MÍRIAM LEITÃO A conexão de três escândalos. PÁGINA 22 ataques ao Judiciário e ao Legislativo, comparações com o golpe de 1964 e convocações à resistência contra a aprovação do impedimento. PÁGINA 6 JORGE BASTOS MORENO O Brasil sobreviverá a isso? PÁGINA 3 ANCELMO GOIS Aliado de Cunha fica com Dilma. PÁGINA 14 CHICO — Quem sai na chuva é pra se molhar, mas com Teori, safaste-te! PP desviou R$ 357 milhões, diz MP O PP, cortejado pelo Planalto, é acusado pela Lava-Jato de desviar pelo menos R$ 357 milhões da Petrobras. PÁGINA 8 LUIZ ANTÔNIO NOVAES O Juízo Final dos petistas. PÁGINA 2 668 1.091 Atos de corrupção atribuídos ao PP Casos de lavagem de dinheiro pelo partido ANA MARIA MACHADO Governo age para inglês ver. PÁGINA 18 GABRIEL DE PAIVA Taxistas protestam, mas Rio é que sofre ADRIANA CARRANCA Violência mata mais do que uso de drogas. PÁGINA 29 Campeonato Carioca O maior desafio de Fla x Botafogo O charme do clássico estadual, hoje, em Juiz de Fora, enfrenta a difícil concorrência de Barcelona x Real Madrid, que terá transmissão de TV no mesmo horário. PÁGINAS 33 e 34 CARLOS EDUARDO MANSUR Seleção precisa de jogo coletivo. Não de heróis e vilões. PÁGINA 32 oglobo.com.br LETRAS E VERSOS EM TELA GRANDE A top Toni Garrn mostra a atual coleção da grife que, renovada, é a mais desejada do momento. SEGUNDO CADERNO RIO DE JANEIRO SEGUNDO CADERNO RICARDO ABRAHAO + PROSA A execução de um agressor palestino inconsciente na Cisjordânia por um soldado israelense, captada em vídeo, acirrou os ânimos no país entre apoiadores e críticos. PÁGINA 28 (1904-2003) Roberto Marinho GIVALDO BARBOSA SÁBADO, 2 DE ABRIL DE 2016 ANO XCI - Nº 30.189 OGLOBO Sufoco. Sem ter como chegar de carro ao Aeroporto Santos Dumont, passageiros seguem a pé pelo Aterro, com as malas, para não perder voos 2ª Edição - Preço deste exemplar no Estado do Rio de Janeiro R$ 4,00 - Circulam com esta edição: Segundo Caderno e Ela Um protesto de taxistas contra o Uber, que bloqueou vias importantes, parou o Rio. Como a prefeitura e PMs demoraram a agir, várias pessoas tiveram dificuldades de manhã para chegar ao trabalho, a aeroportos e a hospitais. Áudios divulgados um dia antes revelaram que o objetivo dos manifestantes era provocar caos. O prefeito Eduardo Paes ameaçou cassar autonomias, mas desistiu. PÁGINAS 11 e 12 2 l O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 Página 2 IMPEACHMENT A Lava-Jato detectou outro acordão no Congresso: dar a ex-presidentes foro privilegiado — e assim proteger Dilma, e até Temer, da “República de Curitiba”. Dias antes de sair, FH sancionou lei parecida, com apoio do PT. Durou três anos, até o STF dizer que era inconstitucional. Yellow submarine O petrolão não fechou a torneira para a Odebrecht. Ela recebeu R$ 3,5 bi da Defesa para erguer uma base e um estaleiro em Itaguaí (RJ), onde serão construídos submarinos (um nuclear). R$ 2,5 bi saíram após a Lava-Jato. O pai do PAC Lula continua no banco de reservas, mas o dinheiro para ele atuar no Congresso já está disponível. Defensor das pedaladas, Nelson Barbosa liberou R$ 2,1 bi para o PAC, agora na Casa Civil. Moeda de troca No toma-lá-dá-cá mais irônico da semana, o comando da Casa da Moeda foi dado para a ala paulista do PTB envolvida no desvio da merenda escolar. Amado mestre Celso Bandeira de Mello, o jurista número um contra o impeachment, orientou a tese de doutorado de Temer, na PUC-SP, em 74. Mas sua filha gosta Luciana Temer, filha do vice, deixou o PMDB no momento em que o partido abandonou Dilma. Traiu o pai para continuar secretária de Ação Social de Haddad. SEM CRISE [email protected] Futuro do pretérito Dupla jornada LUIZ ANTÔNIO NOVAES CONEXÃO SÃO PAULO COM MARA BERGAMASCHI O JUÍZO FINAL ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO Na dura campanha da reeleição em 2006, Lula, arranhado pelo mensalão, perseguiu seu segundo mandato com tal pragmatismo que subiu ao palanque em Belém beijando a mão de Jader Barbalho (PMDB), político que arrastava consigo, desde os anos 80, processos e denúncias de corrupção. Dez anos e muitos governos do PT depois, Lula, agora com a reputação bem mais abalada pela Lava-Jato, procurou a ajuda do senador, já denunciado ao STF pela mesma operação, novamente em busca da quase perdida hegemonia política. Após o abandono de Dilma pelo PMDB, Lula foi, na quarta-feira, até Jader. Na verdade, bateu à sua porta. Na casa do senador em Brasília começaram as negociações pesadas para tentar barrar, voto a voto, o impeachment. Eduardo Cunha, que atrasa o quanto pode a sua própria cassação, conseguiu acelerar ao máximo a da presidente. A ideia do governo é erguer, a partir de dissidências e legendas nanicas, um “Centrinho” — dada a pequenez nha divisória válida para o governo — que separa assim o bem do mal. O milenarismo petista — que depende da crença de artistas, intelectuais e movimentos sociais — declara guerra santa contra Michel Temer e Cunha, rompidos com Dilma, mas não contra Jader e Renan Calheiros — apesar de serem do mesmo PMDB e estarem todos citados ou envolvidos na Lava-Jato. E aposta mais uma vez no medo, agora por meio do slogan “Não vai ter golpe!”. Uma retórica marqueteira feita sob medida para mobilizar e manipular a esquerda, principalmente a juventude, com o fantasma da ditadura militar. Assombração por assombração, a Lava-Jato, que parecia estar no limbo após o ministro Teori parar o juiz Sérgio Moro, reapareceu ontem com a Operação Carbono 13, ops, 14, trazendo tudo junto e misturado: o ABC de Lula, o financiamento primitivo do PT, o mensalão e Marcos Valério, Silvinho Land Rover, Delúbio Soares, o compadre Bumlai, o petrolão, o empresário acusado de chantagear Lula e, no centro da sala, o cadáver insepulto de Celso Daniel, prefeito petista de Santo André assassinado em janeiro de 2002, quando coordenava a campanha de Lula. Haja Juízo Final. Positivo e operante. A hora do adeus a Dilma dos envolvidos. Se der certo, o “varejão” que lembra a era Sarney servirá para o PT manter o poder, mas dificilmente a governabilidade. O balcão de negócios movido a cargos — no mensalão e no petrolão foi também a cash —, está a pleno vapor e não conhece limites. Não só Jader, cujo primogênito é ministro de Dilma, poderá ampliar seu feudo na Esplanada, mas também o PP de Maluf, a quem foi oferecida a Saúde ou a Educação, o PR, com Minas e Energia, além dos inexpressivos PTN e PHS — o baixo clero do baixo clero que jamais imaginou chegar lá. Estar do “outro lado” é a única liREPRODUÇÃO/BLOG DO PLANALTO Caros colegas Wadih Damous, suplente que virou deputado graças a Lula, insiste em colocar a prêmio a sua carteirinha da OAB, cuja seccional do Rio já presidiu. Esta semana, à frente do inédito piquete no Salão Verde que tentou impedir a entidade de protocolar novo pedido de impeachment, insinuou que o Conselho da Ordem é mais do que “golpista”. “Antes de falar de corrupção e transparência, que tornem públicos suas contas e os gastos de milhões de reais nas eleições das seccionais,” acusou, na Mídia Ninja. Há dez dias, havia xingado os conselheiros de “caciquinhos paroquiais” e depois pediu desculpas. Maricá. Minha Casa Minha Vida Maricá no impeachment Fabiano Horta (PT-RJ), o titular do mandato de Damous, tem sua base eleitoral em Maricá e ganhou, para sair de Brasília, ao menos duas coisas: uma secretaria na prefeitura de Eduardo Paes (aquele que “adora” Maricá) e o direito de manter R$ 10 milhões em emendas — ele reassumiu por alguns dias, em outubro, só para apresentá-las. Horta gostaria de ser prefeito de Maricá — posto cogitado também para Lurian, a filha de Lula, que mora... lá mesmo. Guilherme Boulos, o chefe do MTST que roda o país prometendo o inferno em caso de impeachment, é também bolsista do MEC. Recebeu auxílio financeiro, segundo o Siafi, de R$ 24 mil nos últimos 16 meses. E mais R$ 3,8 mil em diárias e passagens da Presidência da República e da Cultura. Na moita A Presidência da República e os ministérios de Saúde, Cultura, Transportes, Combate à Fome e Agricultura retiveram cerca de R$ 18 mil em impostos sobre notas fiscais emitidas pela Gamecorp. A empresa de Lulinha e Fernando Kalil recebeu do governo Dilma ao menos R$ 187 mil. Não se sabe exatamente quais serviços prestou, pois os pagamentos são indiretos — relacionados a agências de publicidade. Nada original Sondado para a Fazenda no pós-Dilma, Henrique Meirelles vive situação semelhante à de 2002, quando deixou o Banco de Boston e virou presidente do BC de Lula. Agora, comanda o Banco Original, ligado aos donos do frigorífico JBS. Contra o tempo Dilma tem de ficar de olho na PGR. Já envolvida na delação de Delcídio e no inquérito do casal Santana, também é acusada por Janot na nomeação de Lula. ELEIÇÕES 2016 Brasil não é Itália O ex-tucano Andrea Matarazzo, agora no PSD de Kassab, ainda é tão desconhecido em SP que, em pesquisas, a maioria acha que seu italianíssimo nome é de mulher. oglobo.com.br As mais vistas no site O GLOBO Por dentro _ _ Brasil Comissão do impeachment ouvirá juristas e ministro da Fazenda Lauro Jardim Dilma: “Dentro de 90 dias talvez eu não esteja mais aqui” Rio Morte de Ryan pode ter sido vingança na guerra do tráfico de drogas Vídeo Imagens mostram momento em que carro capota dentro de túnel no Rio FE RNANDO LEMOS ARQUIVO PESSOAL Patrícia Kogut Declaração de Munik gera barulho, e internautas acusam participante de racismo Estreia. Padilha em Los Angeles: cineasta é o novo colunista do GLOBO Padilha aos domingos D iretor dos filmes “Tropa de elite”, “Ônibus 174” e “RoboCop” e da recente série “Narcos” — um relato histórico do tráfico de drogas e do traficante Pablo Escobar —, o cineasta JOSÉ PADILHA emprestará seu conhecido talento para as telas a um novo projeto. Amanhã, Padilha estreia coluna no GLOBO, na editoria País. Diretamente de Los Angeles, nos Estados Unidos, cidade que escolheu para morar após episódios de violência vividos no Rio, o cineasta usará as palavras para abordar o cotidiano, tendo como inspiração a realidade, que marca a maior parte de seus trabalhos. Da política à cultura, do Rio ao modo de fazer cinema nos Estados Unidos, Padilha promete um passeio por vários temas. — Apesar de estar difícil escrever sobre qualquer coisa que não seja a crise ética e econômica que assola o país, prometo que, passando esta tempestade, e se Deus quiser vai passar, abordarei outros assuntos como o cinema, a TV americana, o futuro da indústria audiovisual e, é claro, o Rio de Janeiro — adianta o diretor. Padilha escreverá uma vez por mês, sempre aos domingos. Loterias DUPLA SENA O leitor deve checar os resultados em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados. 1º l Clandestino. Funcionário usando uniforme da prefeitura trabalha em um lixão em plena Área de Proteção Ambiental, na Praia Grande, em Arraial do Cabo As mais compartilhadas _ 1 Dilma: “Dentro de 90 dias talvez eu não esteja mais aqui” 2 Chamar impeachment de golpe é reconhecer a culpa, diz ex-ministro do Supremo LOTOFÁCIL 1.477 12 l 19 l 23 l 28 l 40 l 46 l 2º 01 l 22 l 24 l 27 l 36 l 43 l 3 Irmão de homem-bomba de Bruxelas vem ao Rio para Jogos Olímpicos 4 Marco Aurélio: “Impeachment não vai resolver a crise” 1.343 02 l 04 l 05 l 09 l 10 l 11 l 13 l 14 l 15 l 16 l 17 l 19 l 21 l 23 l 24 l 5 ‘Impeachment é o remédio jurídico da nossa democracia’, diz presidente da OAB QUINA 4.048 15 l 22 l 32 l 49 l 58 l Sábado 2 .4 .2016 2ª Edição O GLOBO País l 3 LAVA-JATO Escândalos interligados _ Operação Carbono 14 liga corrupção na Petrobras a mensalão e ainda envolve caso Celso Daniel CLEIDE CARVALHO, THIAGO HERDY E TIAGO DANTAS [email protected] A 27ª fase da Operação LavaJato deflagrada ontem ressuscitou velhos fantasmas do PT, associando os métodos de corrupção do mensalão ao esquema de desvios na Petrobras. Batizada de “Carbono 14” — em referência ao elemento químico usado pela ciência para datar fósseis —, a investigação busca esclarecer por que o dono do jornal “Diário do Grande ABC”, Ronan Maria Pinto recebeu, em 2004, R$ 6 milhões do PT, dinheiro oriundo de propina obtida pelo partido junto ao Grupo Schahin. O dinheiro foi recebido por meio de um empréstimo fraudulento com o Banco Schahin — mesmo método usado no escândalo do mensalão com o BMG e o Banco Rural. Ontem foram presos Ronan Maria Pinto e o ex-secretário nacional do PT Sílvio Pereira, que teria participado da negociação do pagamento para o empresário do ABC paulista. Em despacho, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, admitiu ainda relação do esquema com a morte do ex-prefeito petista de Santo André Celso Daniel: “É possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave”. Embora a Lava-Jato não tenha trazido fatos novos relacionados à investigação da morte de Celso Daniel — que a Polícia Civil de São Paulo concluiu se tratar de crime comum —, no processo foram anexados depoimentos do operador do mensalão Marcos Valério e de um irmão do ex-prefeito petista, Bruno Daniel, que associam a morte do prefeito à descoberta de esquema de corrupção na prefeitura de Santo André. Em depoimento de 2012, Valério disse ter tido conhecimento do pagamento a Ronan Pinto como forma de evitar que ele continuasse a chantagear Gilberto Carvalho, José Dirceu e até o ex-presidente Lula. Embora tenha dito que não soubesse o motivo da chantagem, Valério afirmou que Ronan mencionou haver relação entre a morte de Celso Daniel e a corrupção na prefeitura petista. Agora, quatro anos depois, a Lava-Jato conseguiu confirmar, por meio de quebras de sigilos bancários e depoimentos de testemunhas, que Ronan de fato recebeu o pagamento mencionado por Valério. O dinheiro é parte de um empréstimo fictício celebrado entre o Banco Schahin e o pecuarista José Carlos Bumlai, em 2004, no valor de R$ 12 milhões, a pedido do PT. A força-tarefa descobriu que os R$ 6 milhões passaram por três intermediários antes de chegar a Ronan Pinto, que na época era empresário de ônibus em Santo André: por Bumlai, pelo grupo -SÃO PAULO- E A Remar fez um contrato de empréstimo com a Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto, de R$ 6 milhões E EXPRESSO SANTO ANDRÉ REMAR AGENCIAMENTO E ASSESSORIA GRUPO BERTIN FORNECEDORAS DA INTERBUS $ $ Bumlai repassa o dinheiro para a Bertin Ltda, do Grupo Bertin José Carlos Bumlai E 2004, Em 2004 a pedido did d de D Delúbio lúbi Soares, tesoureiro do PT, o pecuarista tomou empréstimo de R$ 12 milhões no Banco Schahin para o partido. A dívida foi quitada apenas em 2009, fraudulentamente, quando a Schahin fechou contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras A S2, de Valério, faz contrato de empréstimo para a Remar, de R$ 6 milhões $ AÇÕES DO “DIÁRIO DO GRANDE ABC” Remar paga R$ 210 mil por ações do “Diário do Grande ABC” para Ronan A Bertin repassa R$ 6 milhões para a Remar Agenciamento e Assessoria E Ronan Maria Pinto Dono de empresas de ônibus no ABC paulista foi sócio de Sérgio Gomes da Silva, o Sombra Marcos Valério Participou de reunião com Ronan Maria Pinto, no qual o empresário pediu R$ 6 milhões para comprar 50% do jornal “Diário do Grande ABC”, que veiculava notícias que o ligavam à morte de Celso Daniel Sombra é apontado como mandante do assassinato de Celso Daniel O CASO CELSO DANIEL Após 14 anos, o assassinato do ex-prefeito de Santo André continua indecifrado. O processo contra Sombra foi anulado no STF em 2014 e voltou à fase de instrução 20 de janeiro de 2002 O prefeito de Santo André, Celso Daniel, é encontrado morto atingido por oito tiros em Juquitiba, na Região Metropolitana de São Paulo. Daniel fora sequestrado dois dias antes, quando voltava de um jantar com o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra Maio de 2002 Ao MP, João Francisco Daniel, irmão de Celso, diz que ouviu de Míriam Belchior, sua ex-cunhada, e de Gilberto Carvalho, ex-secretário da prefeitura de Santo André, que havia um esquema de desvio de dinheiro no município para abastecer o caixa do PT JORGE BASTOS MORENO O PAÍS SOBREVIVERÁ A ISSO? H A Remar transfere R$ 2,9 milhões para a Expresso Santo André e faz pagamentos de R$ 2,5 milhões para duas fornecedoras da Interbus, controlada pelo filho de Ronan PAGAMENTO A RONAN PASSOU POR 3 INTERMEDIÁRIOS Bumlai pega empréstimo de R$ 12,1 milhões no Banco Schahin Coluna do Moreno á, no momento, apenas dois cenários políticos: Dilma fica e rearruma o governo, sem o PMDB, ou Temer assume com um governo novo, sem o PT. Sem entrar no mérito das reações das ruas, que, em último caso, sustentarão ou não cada uma dessas hipóteses, fiquemos apenas com a curta análise da geografia do poder. Dilma, no momento, está desalojando do governo todo o pessoal de Temer. Se pudesse, desalojaria o próprio vice-presidente. O CAMINHO DO DINHEIRO BANCO SCHAHIN Ficando, teremos um clima beligerante de quase três anos entre a presidente da República e seu vice. O país sobreviverá a isso? No caso da ascensão de Temer, o tamanho do seu mandato será insuficiente para desmontar a máquina petista, que toma conta do Estado há quase 15 anos. “Mais difícil do que matar o monstro é remover seus escombros”, dizia Ulysses, ao fim de uma ditadura militar de 20 anos. O país sobreviverá a isso? São perguntas, por enquanto, sem respostas. Agosto de 2002 O MP denuncia seis pessoas acusadas de cometer o assassinato. O grupo teria sequestrado o prefeito por acaso depois de perder de vista um comerciante que seria o alvo do crime Dezembro de 2003 O MP faz um aditamento à denúncia e aponta que o crime foi encomendado por Sombra porque Daniel queria pôr fim a um esquema de arrecadação de propina na prefeitura comandado pelo empresário. Sombra tem a prisão preventiva decretada e fica na cadeia até julho de 2004, quando consegue um habeas corpus no STF Sete mortes Dionísio de Aquino Severo, que segundo o MP teria sido contratado por Sombra para cometer o crime, foi morto em abril de 2002, antes de depor sobre o caso. Sérgio “Orelha”, que abrigou Dionísio nos dias subsequentes à morte de Daniel, foi metralhado em sua casa em novembro de 2002. O investigador de polícia Otávio Mercier, que havia feito ligações para Dionísio na véspera do sequestro, também foi morto. Em dezembro de 2003, o agente funerário Iran Moraes Redua, o primeiro a identificar o corpo de Daniel, foi assassinado com dois tiros. O garçom Antonio de Oliveira, que serviu o prefeito no jantar com Sombra no dia 18 de janeiro de 2002, morreu, em fevereiro de 2003, ao bater sua moto contra um poste após ser perseguido por dois homens. A única testemunha que viu a morte do garçom, Paulo Henrique Brito, foi assassinada, 20 dias depois, com um tiro nas costas. O médico legista Carlos Alberto Delmonte Printes, que constatou indícios de tortura no corpo de Daniel, suicidou-se com ingestão de medicamentos em 2006 Novembro de 2010 Primeiro dos acusados a ser julgado, Marcos Roberto Bispo dos Santos é condenado a 18 anos de prisão. Outros cinco réus são condenados, em seguida Bertin e por uma empresa chamada Remar Agenciamento. Os R$ 12 milhões obtidos por Bumlai para o PT nunca foram pagos — o empréstimo foi oficialmente considerado quitado em 2009, quando empresas do Grupo Schahin fecharam contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras para construção da sonda Vitória 10000. Em depoimento, Bumlai e integrantes do Grupo Schahin admitiram ter acertado com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto o esquecimento da dívida mediante a assinatura do contrato. Os R$ 6 milhões restantes do empréstimo teriam sido usados para pagar dívidas de campanha do PT para a prefeitura de Campinas, em 2004. — Há peculiaridades nessa fase, que envolve uma tipologia semelhante à encontrada no mensalão, pelo uso de uma instituição financeira, um empréstimo fraudulento. Enquanto no mensalão o pagamento desses empréstimos fraudulentos era feito mediante favores do governo federal, inclusive com edição de decretos e medidas que favoreciam as instituições financeiras, no caso presente, o favorecimento, o favor para o pagamento desse empréstimo, foi a utilização de um contrato bilionário com a Petrobras — explicou Diogo Castor de Mattos, procurador do MPF, um dos responsáveis pela investigação que apura crimes de extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva, e lavagem de dinheiro. RONAN E ALTMAN REBATEM ACUSAÇÕES O procurador afirmou não haver, até agora, provas que liguem o pagamento de R$ 6 milhões a Ronan Pinto ao assassinato de Celso Daniel. — Tudo é conjectura, nada é comprovado. Por ora, todas as hipóteses permanecem em aberto — afirmou. Nesta 27ª fase, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Ronan Pinto e a Sílvio Pereira na capital paulista e no interior de São Paulo. Apontado como interlocutor do PT junto a Ronan Pinto, o jornalista do site “Opera Mundi”, Breno Altman, foi conduzido coercivamente para prestar depoimento à PF. O mesmo ocorreu com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, dirigente que teria participado de reuniões no Banco Schahin como representante do partido. Em nota divulgada ontem, a defesa de Ronan disse que ele “reafirmará não ter relação com os fatos mencionados e estar sendo vítima de uma situação que poderá ser esclarecida de uma vez por todas”. Em sua página em uma rede social, Breno Altman afirmou que a Lava-Jato “faz da intimidação, do espetáculo e do arbítrio suas principais ferramentas de intervenção”. No texto, ele escreveu não ter sido apresentada, durante o interrogatório, “prova ou indício” do seu envolvimento no caso investigado. l Porta-voz Ficha suja Efeito colateral Sonho de consumo A coluna fala com a autoridade de crítica contumaz do antigo isolamento do ministro Edinho Silva, nestes 15 meses do segundo governo. Pois não é que, com a crise, as coisas mudaram? Atualmente, enquanto Jaques Wagner e Berzoini batem cabeças, a voz mais firme, corajosa e até ousada do governo tem vindo da boca de Edinho. Há outros exemplos estarrecedores. Luiz Otávio, indicado de Jader para a agência dos Portos, é aquele que, indicado para o TCU, teve do referido tribunal uma reação inédita: ameaça de greve, caso seu nome fosse aprovado pelo Senado. Por absoluta e total improbidade administrativa e moral para o serviço público. Rodrigo Janot, que retirou um câncer de pele na quarta-feira, quando soube que teria que passar por uma cirurgia exigiu acompanhamento de um médico da Procuradoria-Geral com uma missão especial. Para se, como acontece com alguns pacientes pós-cirúrgicos, começasse a revelar segredos da República, o médico retirar do quarto as testemunhas. Virou deboche Elogios inúteis Boa foi a de Ciro Nogueira, quando Wagner ofereceu o Ministério da Saúde ao PP: — Só se o sr. me mostrar a lista de votos para derrotar o impeachment. Não quero ficar nesse senta-levanta. Nelson Barbosa saiu-se até bem na defesa das pedaladas da Dilma. Foi elogiado pelos governistas e até pela oposição, no final da audiência na comissão do impeachment. Mas o ministro enxugou gelo. Mesmo quem não sabe o que é pedalada fiscal já formou opinião sobre o assunto e não mudou de posição por causa das explicações de Barbosa. Mais do que a força-tarefa da Lava-Jato, o que a Odebrecht mira, com sua oferta de “colaboração definitiva”, é um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União. É ela que permitiria à empreiteira manter abertas as portas para obras no setor público, sinalização considerada essencial até para a sustentabilidade de suas operações no exterior. Não que a Odebrecht tenha perdido interesse num acordo com os procuradores em Curitiba. É que ali a negociação é bem mais dura do que com o governo federal. O sonho de consumo das empreiteiras encrencadas na Lava-Jato é um projeto de lei que simplesmente extinga a punibilidade dos executivos de empresas que firmarem acordos de leniência. Mas faltam patrocinadores. Dúvida Por falar em Berzoini, vejam a celeridade da busca de voto a qualquer preço. Ao indicar Jehovah de Araújo Silva Junior para a Casa da Moeda, o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) procurou o ministro em busca de orientações sobre o cargo. E Berzoini: — Não precisa conhecer nada. Basta atuar com eficiência. Sem dizer se essa eficiência era para o bem ou para o mal. ‘Meus sais!!!’ Valdemar Costa Neto quase corta os pulsos, digo tornozeleiras, quando soube que Kátia Abreu disse ter sido convidada para ir para o PR. Desmentiu na hora. oglobo.globo.com/pais/moreno l O GLOBO 4 l País l LAVA-JATO [email protected] MERVAL PEREIRA | Sábado 2 .4 .2016 _ RODOLFO BUHRER / LA IMAGEM / FOTOARENA | O submundo do crime Mensalão e petrolão, escândalos de corrupção que deixaram marcas indeléveis na História do Brasil e do partido que se propunha a mudar a maneira de fazer política no país, são consequências quase que obrigatórias da atuação no submundo do crime que sustentou a chegada do PT ao comando do governo federal. N ão é à toa que figuras como o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário-geral do PT Silvinho Pereira, condenados no mensalão, aparecem novamente na fase atual da Lava-Jato, que, batizada de Carbono 14, exuma fatos da pré-história petista rumo ao poder. À linguagem chula do chefão, soma-se agora uma série de suspeitas de ações criminosas: assassinatos em série, chantagens, ameaças de todo o tipo, incêndio possivelmente criminoso, propina da máfia dos transportes públicos e do recolhimento de lixo em cidades dirigidas pelo PT. O estereótipo do sindicalismo criminoso, tornado famoso pelos relatos cinematográficos de Hollywood, está na raiz da ascensão política do PT e, tal qual um novo rico que quer esconder seu passado, ou comprar título de nobreza, também os petistas gostariam de sepultar o passado para assumir postura de grandes líderes políticos. A maioria conseguiu mudar a aparência às custas de bem cortados ternos Armani, ou do nacional Ricardo Almeida, e manteve a pose até quando conseguiu, mas o espírito continua o mesmo. Espectros do passado teimam em persegui-los: o cadáver insepulto do ex-prefeito de Santo André cisma de confrontálos; os companheiros que, pelos relatos da família e que agora passam a ser investigados pela Operação Lava-Jato, desviaram-se do caminho vislumbrado por Daniel e acabaram por se livrar dele da maneira mais brutal. A Operação Carbono 14, desdobramento 27 da Lava-Jato, deflagrada ontem, aprofunda a investigação sobre lavagem do dinheiro de empréstimo do Banco Schahin para o PT, que teria sido pago com contratos da Petrobras, tendo como intermediário o amigo de Lula José Carlos Bumlai. Quem ligou as pontas entre o empréstimo fraudulento e o crime de Santo André foi a ex-contadora do doleiro Alberto Yousseff. Meire Poza entregou à Polícia Federal documentos que provam que pelo menos metade do empréstimo, cerca de R$ 6 milhões, tiveram como destinatário final o empresário Ronan U Maria Pinto, preso ontem pela Lava-Jato. Os pontos-chave (Coincidentemente, o escritório de Meire Poza foi incendiado onNão é à toa que figuras tem, em mais um tocomo Delúbio Soares e que mafioso nessa traSilvinho Pereira aparecem ma escabrosa). agora na Lava-Jato Segundo relato do empresário Marcos Valério, foi o pagamento Espectros do passado de uma chantagem do teimam em perseguir o PT, empresário do ABC como o cadáver insepulto contra os ex-ministros de Celso Daniel Gilberto Carvalho, José Dirceu e também contra Lula, para não contar a verdadeira históFantasmas do mensalão e ria do assassinato de do petrolão mostram a Celso Daniel. continuidade delitiva dessa O blogueiro chapaorganização criminosa branca Breno Altman, que escreve no blog 247 e dirige o Opera Mundi, foi levado coercitivamente para depor, pois aparece novamente em esquemas criminosos, como a ligação de José Dirceu com doleiros e assemelhados. O documento que Meire apresentou à Polícia Federal foi lhe dado pelo doleiro Enivaldo Quadrado, braço direito de Youssef, condenado no mensalão. Cuja multa na ocasião foi paga pelo PT, através de Altman. O ex-secretário-geral do PT Silvinho Pereira (ou Silvinho Land Rover, devido a um carro que recebeu de presente no mensalão) recebia uma mesada para ficar calado, pois é dado a remorsos que precisam ser muito bem remunerados para não se tornarem delações premiadas. Na época do mensalão, ele se dispôs a depor para O GLOBO, mas acabou arrependendo-se, num surto psicótico em que quebrou todo o seu apartamento e se disse ameaçado de morte. Diante do fato de que nada menos que nove mortos já surgiram no rastro do assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, seu temor não deve ser sem motivo. Também o delator Paulo Roberto Costa declarou-se com medo de ser morto, alegando justamente o caso Celso Daniel. A Operação Lava-Jato chega, portanto, às profundezas da lama petista. Os fantasmas do mensalão unem-se à atualidade do petrolão para mostrar a continuidade delitiva dessa organização criminosa — já oficialmente assim identificada — que tomou conta do governo brasileiro, de acordo com a Lava-Jato. l 1 2 3 Sílvio Pereira. Investigadores suspeitam que afastamento do PT foi apenas no papel, pois ele teria continuado a receber propina para não contar o que sabia Silvinho recebeu R$ 1,1 milhão de empresas investigadas Cúpula do PT teme depoimento do ex-secretário geral do partido CLEIDE CARVALHO, SÉRGIO ROXO, THIAGO HERDY E TIAGO DANTAS [email protected] -CURITIBA E SÃO PAULO- Retirado do ostracismo e preso ontem na 27ª fase da Lava-Jato, Sílvio Pereira, ex-secretário geral do PT e braço-direito do ex-ministro José Dirceu, não aceitou apenas uma Land Rover “de presente” da empresa GDK, fornecedora da Petrobras, como foi revelado na época do mensalão. As investigações da Polícia Federal mostram que Silvinho, como é conhecido, recebeu R$ 1,1 milhão de empreiteiras ou operadores de propina no esquema da Petrobras entre 2009 e 2012. A prisão de ontem deixou a cúpula do PT em alerta, porque o histórico do ex-dirigente mostra que ele não reage bem sob pressão. Em 2006, em entrevista ao GLOBO, Silvinho revelou detalhes sobre o funcionamento do mensalão, disse que o plano do operador Marcos Valério era arrecadar R$ 1 bilhão com negócios que envolviam pendências do governo e falou sobre o envolvimento da cúpula partidária nas irregularidades. Ao final da entrevista, arrependeuse do que havia falado e quebrou objetos em seu apartamento. A avaliação na cúpula petista é que qualquer menção a Lula que possa ser feita agora por Silvinho vai contribuir para desgastar a imagem do ex-presidente. Logo depois que veio à tona a história do Land Rover, em 2005, Silvinho se desfiliou do PT. Mas os investigadores da Lava-Jato suspeitam que o afastamento ficou apenas no papel, porque ele continuou a receber propina para não contar o que sabia. Em janeiro passado, o lobista Fernando Moura afirmou aos investigadores que Silvinho era beneficiário de um “cala-boca” mensal de R$ 50 mil. Levantamento feito pela força-tarefa da Lava-Jato mostra que os pagamentos ao ex-petista foram feitos por meio de duas empresas das quais ele foi sócio, a DNP Eventos e a Central de Eventos e Produções. A quebra do sigilo bancário indica que a OAS pagou à DNP R$ 486,1 mil entre 2009 e 2011. Em 2011, a UTC Engenharia, do empresário Ricardo Pessoa, um dos delatores da Lava-Jato, repassou R$ 22,5 mil para a empresa. O delator Júlio Camargo pagou R$ 12,3 mil à DNP em 2012. A Projetec, do também delator e empresário Augusto Mendonça Neto, fez depósitos, em 2010, num total de R$ 154 mil. Outros R$ 50 mil foram pagos em 2009 à Central de Eventos pela empresa SP Terraplanagem, uma das empresas de fachada controladas por Adir Assad, condenado na Lava-Jato. O Ministério Público Federal também identificou pagamentos de R$ 400,4 mil da TGS Consultoria, outra empresa que movimentou propina, para a Central de Eventos, em- U ‘DIÁRIO DO GRANDE ABC’ RONAN COMPROU JORNAL APÓS ASSASSINATO Fundado em 1958 e atualmente com tiragem de 30 mil exemplares, o “Diário do Grande ABC” foi administrado por Fausto Polesi e Maury Dotto até 2004, quando Ronan Maria Pinto adquiriu 40% das ações (já possuía 20% desde 2001). A compra foi indireta: Maury Dotto adquiriu as cotas de Polesi e as vendeu no mesmo dia para Ronan. O Ministério Público Federal afirma que parte do dinheiro dessa transação veio de um empréstimo contraído por José Carlos Bumlai junto ao Banco Schahin a pedido do PT. Só a partir desse momento Ronan passou a exercer poder sobre as decisões editoriais e comerciais. O Ministério Público liga a aquisição à morte de Celso Daniel. Ronan estava envolvido num esquema de corrupção durante a gestão do prefeito. Ontem, policiais ficaram seis horas fazendo apreensões no escritório de Ronan. A redação trabalhou normalmente. presa de Júlio César dos Santos, amigo e sócio do ex-ministro José Dirceu, para a DNP. Júlio César chegou a ser preso e responde ação no âmbito da Lava-Jato por lavagem de dinheiro e associação criminosa. No despacho em que decretou a prisão temporária de Silvinho, o juiz Sérgio Moro afirma que as duas empresas do ex-secretário do PT não aparentam ter estrutura compatível com os valores recebidos. No endereço da DNP, existe apenas um restaurante pequeno. O endereço da Central de Eventos não foi localizado. O ex-dirigente petista foi preso na casa onde vive em um condomínio fechado em Carapicuíba, na Região Metropolitana de São Paulo. O imóvel foi comprado em 2010 por R$ 600 mil. Desde que seu nome surgiu na Lava-Jato, Silvinho tem tentando submergir, como fez na época do mensalão. No segundo semestre do ano passado, ele fechou o restaurante que tinha em Osasco, também na Grande São Paulo, e encerrou as atividades da DNP. O responsável pela defesa de Sílvio Pereira não foi localizado. O advogado que o defendeu no mensalão informou que não trabalha mais para o ex-dirigente petista. l NA WEB glo.bo/1qmVehq Silvinho Land Rover: de réu do mensalão a preso da Lava-Jato Contrato de gaveta liga Valério à Lava-Jato Ronan Maria Pinto teria tentado receber dinheiro do PT via empresa de operador -CURITIBA E SÃO PAULO- Condenado a 37 anos de prisão no escândalo do mensalão e cumprindo pena em presídio de Minas Gerais, o operador Marcos Valério pode ser novamente denunciado por lavagem de dinheiro em função das investigações da 27ª fase da Lava-Jato. Uma de suas empresas, a 2S Participações, celebrou um contrato de gaveta com uma empresa de Ronan Maria Pinto, como forma de garantir que o empresário recebesse cerca de R$ 6 milhões do PT. A empresa de Valério acabou não sendo usada para operaci- onalizar o pagamento — em seu lugar, foi usado um esquema montado por José Carlos Bumlai, pecuarista e empresário de confiança do ex-presidente Lula. Ainda assim, os procuradores entendem que, ao emprestar o nome de sua empresa para tentar resolver o problema, Valério também deve ser investigado. Um depoimento prestado pelo operador à ProcuradoriaGeral da República (PGR) em 2012 foi utilizado pelos procuradores para embasar parte da operação de ontem. Na tentativa de delação premiada, Valério contou à PGR que o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira o procurou em 2004 pedindo ajuda, porque Lula e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho estariam sendo chantageados por Ronan Maria Pinto. Ainda segundo ele, o empresário do ABC teria pedido R$ 6 milhões para comprar um jornal. O valor acabaria sendo obtido por Bumlai junto ao Banco Schahin como contribuição ao PT e repassado a Ronan Maria Pinto. Valério não foi ouvido pela força-tarefa da Lava-Jato, segundo o MPF. Caso os procuradores queiram usar os fatos narrados por ele na denúncia, terão que marcar um novo depoimento. Na avaliação de Diogo Castor e Paulo Galvão, outros depoimentos já confirmam as informações prestadas por Marcos Valério. — Não sabemos ainda se iremos ouvi-lo de novo. O depoimento é público, e ele nos ajuda a ter uma ideia das cir- cunstâncias em que o empréstimo foi feito. Mas, para uma eventual denúncia, não precisamos saber necessariamente qual foi a circunstância (dos pagamentos), desde que consigamos comprovar que a operação foi ilegal — disse o procurador Galvão. Além de denunciar a operação para Ronan Maria Pinto, no depoimento de 2012 Valério disse ter sido ameaçado de morte por Paulo Okamotto, braço-direito de Lula, para não contar o que sabia sobre o mensalão. Disse também ter falado pessoalmente com Lula, em reunião no Palácio do Planalto, sobre os empréstimos fictícios contraídos por sua empresa para abastecer o mensalão. Okamotto e Lula negaram as acusações. l l País l Sábado 2 .4 .2016 2ª Edição O GLOBO l 5 LAVA-JATO _ PT diz que Moro age à revelia da lei e extrapola competência Oposição avalia que nova fase da operação reforça impeachment -BRASÍLIA E SÃO PAULO- Em reação à 27ª fase da Lava-Jato, o vice-líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), disse ontem que o juiz Sérgio Moro e os investigadores da Lava-Jato “extrapolam suas competências, agem à revelia da lei” e “como se fossem juízes e promotores criminais do estado de São Paulo”. O petista criticou o que considera uma tentativa de vincular as investigações à morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) e interferir no processo político. Depois de uma semana com notícias favoráveis ao PT e ao governo, a 27ª fase da Lava-Jato, batizada de Carbono 14, caiu como uma ducha de água fria na cúpula da legenda. Os petistas acreditam que Moro novamente agiu politicamente ao deflagrar a operação. — O Sérgio Moro puxou a Carbono 14 porque está semana estava boa para nós. Ele não tem limites. Pega uma coisa que estava na gaveta e vai soltando aos poucos, de pedacinho em pedacinho — afirmou um petista próximo ao ex-presidente Lula. O objetivo, na avaliação dos aliados de Lula, é buscar uma declaração de Sílvio Pereira sobre o pecuarista e José Carlos Bumlai, amigo de Lula. O nome Carbono 14 (em referência a procedimentos utilizados pela ciência para a datação de itens e a investigação de fatos antigos), mostraria, segundo integrantes da cúpula do PT, que o objetivo é apenas requentar episódios do passado. Na avaliação dos petistas próximos a Lula, uma conjunção de fatores tinha permitido ao governo respirar, nos últimos dias. Entre os pontos citados estão a decisão da presidente Dilma Rousseff de adotar um tom mais agressivo na batalha contra o impeachment, a forma como o PMDB anunciou o desembarque do governo e a enquadrada dada pelo novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, na Polícia Federal. Tudo isso agora está ameaçado com a nova fase da Lava-Jato, que trará ao noticiário assuntos incômodos para o partido, como a morte de Celso Daniel. — O episódio da morte de Celso Daniel foi objeto de inúmeras manifestações na esfera criminal em São paulo, já existem pessoas cumprindo pena por isso. Tentar reascender isso no imaginário da opinião pública, tentar fazer um vínculo sobre a investigação da Lava-Jato na Petrobras com esse episódio é algo absolutamente artificial, algo absolutamente incompreensível — disse Pimenta. — O Moro não é juiz criminal de São Paulo, os investigadores da Lava-Jato não são investigadores que atuam em todo o Brasil e não são da esfera criminal. Se houve uma assassinato, ele já foi esclarecido. Não tem nada a ver com a Lava-Jato. Tentar fazer esse vínculo é tentar semear na opinião pública mais elementos de instabilidade, de caos social, de ódio, é isto que está se produzindo. Pimenta disse estranhar que, a cada vez que se faz um ato favorável ao governo, “imediatamente surge mais um fato para criar esse ambiente de espetáculo”. Para ele, a investigação sobre Celso Daniel não se justificam no âmbito da Lava-Jato. Integrantes da cúpula do PT e representantes do Planalto mostraram preocupação com o impacto da nova fase da operação. A avaliação é que a Carbono 14 atinja diretamente pessoas que foram ligadas ao PT e trazem à tona episódios traumáticos, como a morte de Celso Daniel. Lula e Dilma continuam promovendo o troca-troca em cargos de segundo escalão. Mas as maiores trocas, segundo um interlocutor do governo, entraram em compasso de espera até a próxima semana, esperando “decantar” os desdobramentos da Lava-Jato, inclusive junto aos partidos da base que negociam cargos. Lula deve voltar a Brasília no início da próxima semana. Segundo um petista, há “muita preocupação” com essa ação da PF. Dilma pretendia ter ontem uma definição sobre os ministérios do PMDB. Mas o movimento foi adiado. A tendência é a petista manter titulares como Helder Barbalho (Portos), em deferência ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que se reuniu com Lula na quartafeira. A oposição avalia que a nova fase reforça ainda mais o processo de impeachment de Dilma, pois agrega ao rol de suspeitas envolvendo o petrolão um novo componente, o criminal. Segundo os líderes oposicionistas, as investigações trazem à tona um crime que nunca foi elucidado e sobre o qual pairam suspeitas, o de Celso Daniel. — Além da esfera de crimes de corrupção temos agora a de crime de morte. Esse caso assusta não apenas o país, mas o Congresso Nacional que vai votar o impeachment da presidente. Assusta e motiva ainda mais os que vão votar pelo impeachment da presidente — afirmou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy, acrescentando: — A Lava-Jato começa a elucidar os motivos do crime e certamente vai chegar nos mandantes. l Depois de uma semana positiva ao PT, nova fase da Lava-Jato preocupa a cúpula do partido Análise É a Lava-Jato, estúpido! ALAN GRIPP [email protected] N o mundo político, a semana começou com a extrema unção do governo Dilma, após o desembarque festivo do PMDB. Entre quarta e quinta, o PT comemorou alguma recuperação, com o aparente sucesso de um jogo duplo: de um lado a mobilização pública da “esquerda” contra o “golpe”, de outro o assédio a partidos de “direita” em troca de votos contra o afastamento. A sexta-feira, como de hábito, começou com ela, a Lava-Jato, na rua. Ainda é cedo para avaliar o alcance da 27ª fase, batizada de “Carbono 14”, mas é certo que devolve a batalha do impeachment ao mar de incertezas que caracteriza a política brasileira nos últimos dois anos. A PF prendeu dois personagens que causam arrepios ao PT e remontam a dois episódios que o partido gostaria de esquecer: o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, e o mensalão. Sílvio Pereira, ou Silvinho Land Rover, caiu com o partido no mensalão, fez um acordo com a Justiça no mundo pré-delação, recolheu os trapos e sumiu. É tido como um guardião de segredos preciosos desse período e, por isso, sua vida de ermitão era motivo de alívio para os ex-companheiros. Em 2006, Silvinho começou a contar parte desses segredos em entrevista ao GLOBO, mas desistiu no meio do caminho e teve um acesso de fúria ao ouvir da repórter que não poderia voltar atrás da publicação. Disse que corria “risco de vida”, ameaçou se matar e destruiu parte do apartamento. Já o empresário Ronan Maria Pinto chantageava o expresidente Lula e outros petistas para não revelar detalhes da morte de Celso Daniel, segundo disse o operador do mensalão Marcos Valério em depoimento em 2012. Com o tempo a história caiu no esquecimento, mas foi ressuscitada após outro depoimento, neste ano, de José Carlos Bumlai, o pecuarista amigo de Lula. Contou Bumlai que deu R$ 6 milhões a Ronan a pedido do PT. O dinheiro foi viabilizado pelo banco Schahin, que, em troca, ganhou um contrato bilionário com a Petrobras. Além das histórias cabeludas que possam surgir a partir daí, a “Carbono 14” reforça a conexão entre esses escândalos e serve para lembrar que o mundo político — não só o governo e o PT, digase — continua refém da Lava-Jato, que, apesar de suas trapalhadas, é atualmente a mais poderosa das instituições brasileiras. 6 l O GLOBO l País l Sábado 2 .4 .2016 A BATALHA DO IMPEACHMENT Palácio do Planalto, a trincheira de Dilma _ Em 15 dias, presidente fez 5 atos oficiais, sem risco de hostilidade, para se defender do afastamento e acusar opositores NA SEDE DO GOVERNO: A DEFESA DO MANDATO 17 DE MARÇO, QUINTA-FEIRA 22 DE MARÇO, TERÇA-FEIRA CONDENAR ALGUÉM POR UM CRIME QUE NÃO PRATICOU É A MAIOR VIOLÊNCIA QUE SE PODE COMETER CONTRA QUALQUER PESSOA. É UMA INJUSTIÇA BRUTAL. É UMA ILEGALIDADE. JÁ FUI VÍTIMA DESTA INJUSTIÇA UMA VEZ, DURANTE A DITADURA, E LUTAREI PARA NÃO SER VÍTIMA DE NOVO CONVULSIONAR A SOCIEDADE BRASILEIRA EM CIMA DA INVERDADE, DE MÉTODOS ESCUSOS, DE PRÁTICAS CRITICADAS, VIOLA PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS, VIOLA O DIREITO DO CIDADÃO E ABRE PRECEDENTES GRAVÍSSIMOS. OS GOLPES COMEÇAM ASSIM PRESIDENTE ATACA O JUIZ SÉRGIO MORO EM SOLENIDADE DE POSSE DE LULA COMO MINISTRO. DILMA FICA INDIGNADA COM A DIVULGAÇÃO DE GRAMPOS. NO MESMO DIA, A POSSE É SUSPENSA 30 DE MARÇO, QUARTA-FEIRA IMPEACHMENT SEM CRIME DE RESPONSABILIDA DE É O QUÊ? É GOLPE! EM ATO COM JURISTAS, PRESIDENTE DIZ QUE NÃO RENUNCIA EM "HIPÓTESE ALGUMA". ELA ACUSA AINDA A EXISTÊNCIA DE UMA RUPTURA INSTITUCIONAL NÓS TIVEMOS GOLPES DE ESTADO MILITARES EM NOSSA HISTÓRIA. EM UM SISTEMA DEMOCRÁTICO, ESSES GOLPES MUDAM DE FORMA. CADA REGIME TEM SEU TIPO DE GOLPE. A CONSTITUIÇÃO GARANTE DIREITOS, E EM UM GOLPE VOCÊ SUBVERTE ESSES DIREITOS E PERVERTE A ORDEM DEMOCRÁTICA. E ISSO É PERIGOSO. SEM BASE LEGAL, ESSE PROCESSO É UM GOLPE CONTRA A DEMOCRACIA DILMA,AO DAR ENTREVISTA AOS JORNAIS ESTRANGEIROS “EL PAÍS” (ESPANHA), “THE GUARDIAN” (INGLATERRA), “THE NEW YORK TIMES” (ESTADOS UNIDOS), “LE MONDE” (FRANÇA) E “PÁGINA 12” (ARGENTINA) 01 DE ABRIL, SEXTA-FEIRA ESSE POVO QUE TÁ NAS RUAS, PRESIDENTA, NÃO QUER O AJUSTE FISCAL. QUER QUE O ANDAR DE CIMA PAGUE A CONTA DA CRISE, E NÃO OS TRABALHADORES. VAI TER LUTA, VAI TER RESISTÊNCIA. NÃO PASSARÃO COM ESSE GOLPE DE ARAQUE NO BRASIL! NÓS NÃO DEFENDEMOS A VIOLÊNCIA. ELES DEFENDEM. ELES EXERCEM A VIOLÊNCIA. NÓS, NÃO! O GOVERNO TRANSFORMOU FASE DO PROGRAMA MINHA ATO POLÍTICO. GUILHERME SEM-TETO, FALA EM 24 DE MARÇO, QUINTA-FEIRA VAMOS OCUPAR AS PROPRIEDADES DELES (PARLAMENTARES DA "BANCADA DA BALA"), AS CASAS DELES NO CAMPO! É A CONTAG E OS MOVIMENTOS SOCIAIS QUE VÃO FAZER ISSO. VAMOS OCUPAR OS GABINETES, MAS TAMBÉM AS FAZENDAS DELES! O LANÇAMENTO DA TERCEIRA CASA MINHA VIDA EM MAIS UM BOULOS,LÍDER DO MOVIMENTO “GOLPE” E “FASCISMO”. 31 DE MARÇO, QUINTA-FEIRA OUTRO DIA, UMA PESSOA ME DISSE QUE ISSO PARECE MUITO COM O NAZISMO. PRIMEIRO VOCÊ BOTA UMA ESTRELA NO PEITO E DIZ: É JUDEU. DEPOIS VOCÊ BOTA NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO. ESSA INTOLERÂNCIA NÃO PODE OCORRER DILMA SOBE O TOM NO DISCURSO PARA ARTISTAS E INTELECTUAIS CONTRA O IMPEACHMENT. ELA CRITICA A PEDIATRA GAÚCHA QUE RECUSOU-SE A CONTINUAR A ATENDER UMA CRIANÇA PORQUE SUA MÃE É PETISTA EDUARDO BARRETTO [email protected] -BRASÍLIA- A presidente da República, Dilma Rous- seff, transformou o Palácio do Planalto em uma trincheira na sua luta contra o impeachment. Desde a posse frustrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil — impedida por liminar do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal —, o Palácio passou a receber juristas, artistas e integrantes de movimentos sociais para eventos em que Dilma combate o que considera a gestação de um golpe. Em pouco mais de 15 dias, cinco atos, todos em um ambiente sem nenhum risco de hostilidade, abrigaram ataques ao Judiciário e ao Legislativo, comparações do momento político atual com o período que antecedeu a ditadura de 1964 e convocações à resistência contra a aprovação do impedimento pelo Congresso. Ontem, com o principal auditório do Palácio lotado, Dilma fez a terceira cerimônia consecutiva esta semana, todas defendendo seu mandato. Ela assinou atos de desapropriação de terras para a reforma agrária e povos quilombolas, além de decretos para ações contra o racismo. No discurso, disse que o país tem a democracia ameaçada e afirmou que “eles”, ao se referir a seus opositores, são violentos, ao contrário dos simpatizantes do governo. DILMA, NO TERCEIRO DIA CONSECUTIVO DE CERIMÔNIA ABERTA NO PLANALTO - O QUE ACONTECE PELA PRIMEIRA VEZ NO ANO. ELA ASSINA ATOS PELA REFORMA AGRÁRIA E PARA AÇÕES CONTRA O RACISMO. Na última quarta, Dilma anunciou nova fase do Minha Casa Minha Vida: contratação de 2 milhões de casas, um milhão a menos do que o prometido. A cerimônia para as novas unidades habitacionais teve militantes uniformizados e com bandeiras. Um dia depois, quinta, artistas e intelectuais compareceram a um ato “contra o golpe”, a exemplo de ato com juristas no Palácio, mas dessa vez em número bem menor de presentes. Ontem, o público voltou a ser de beneficiários diretos de programas sociais e militantes. A presidente voltou a defender a tese de que o país tem a democracia “ameaçada”. A fala de Dilma foi precedida por duros discursos de líderes de que ameaçaram invadir propriedades. — Nós, hoje, precisamos nos manter vigilantes e oferecer resistências às tendências antidemocráticas, oferecer resistência também às provocações. Nós não defendemos qualquer processo de perseguição de qualquer autoridade porque pensa assim ou assado. Nós não defendemos a violência. Eles defendem. Eles exercem a violência. Nós, não — declarou Dilma, que, em cerimônia no Planalto na véspera, comparou a intolerância a petistas ao nazismo. Pouco antes de a presidente fazer seu discurso, Aristides Santos, secretário de Finanças e Administração da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), criticou a “bancada da bala” no Congresso, e ameaçou ARISTIDES SANTOS, SECRETÁRIO DE FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA (CONTAG) “ocupar” e “incomodar” as casas, fazendas e propriedades desses parlamentares. — Vamos ocupar as propriedades deles (parlamentares da “bancada da bala”), as casas deles no campo. É a Contag e os movimentos sociais que vão fazer isso. Vamos ocupar os gabinetes, mas também as fazendas deles. Se eles são capazes de incomodar um ministro do Supremo Tribunal Federal, vamos incomodar as casas deles, as fazendas e as propriedades deles. Vai ter reforma agrária, vai ter luta e não vai ter golpe — disse Aristides. DEM RECORRE AO MINISTÉRIO PÚBLICO O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), decidiu acionar o Ministério Público no Distrito Federal (MPDF) questionando a atitude dela nas instalações do Planalto, classificados por ele como “atos de campanha e comícios políticos”. Pauderney quer que o MPDF investigue Dilma por improbidade administrativa. — A presidente Dilma tem sistematicamente feito atos políticos no Palácio do Planalto que consideramos atos de campanha política. Ela quer mostrar que está prestigiada. — disse Pauderney. — Dilma está instrumentalizando o Planalto. É um desrespeito com o Palácio. Na cerimônia de ontem, a presidente assinou 25 decretos que abrangem 56.512 hectares, 21 para desapropriação de terra para a reforma agrária e quatro para a regularização de territórios quilombolas. De acordo com o governo, 799 famílias quilombolas serão beneficiadas. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, em seu discurso acrescentou ao bordão “Não teremos golpe” o “Teremos reforma agrária”, e foi endossado por Dilma. — Forças empenhadas no retrocesso no passado já demonstraram que não têm maior apego à democracia quando se apegam com maior vigor aos seus interesses e seus privilégios — afirmou o ministro. A média de assentamentos de famílias para a reforma agrária no governo Dilma é muito inferior às dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique. Ano passado, Dilma assentou 26.670 famílias. Em 2014, ano em que mais assentou famílias, foram beneficiadas com títulos de terra 32.019 famílias. Esse número é menor do que o registrado em qualquer ano das gestões e Lula e FH. A quantidade de famílias assentadas sob Lula variaram de 36.301 em 2003 a 136.358 em 2006. Na gestão de FH, o número de assentados oscilou de 42.912 em 1995 (ano em que entrou na Presidência) a 101.094 em 1998. l NA WEB glo.bo/1UYtAUG Base do pedido de impeachment, ‘pedaladas’ dividem juristas l País l Sábado 2 .4 .2016 2ª Edição O GLOBO l 7 A BATALHA DO IMPEACHMENT _ CNBB, MPF e governo temem que disputa política leve à violência CONTRA PT, PMDB E PSDB MARCOS ALVES Acirramento da crise leva Igreja a reunir representantes da sociedade MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL ANDRÉ DE SOUZA [email protected] -BRASÍLIA- O acirramento da crise política brasileira e o risco de que o embate ideológico resulte em violência fez com que a Igreja Católica procurasse representantes do governo e da sociedade civil. Ontem, em evento ocorrido na sede Conferência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), um documento foi assinado pelo ministro da Justiça., Eugênio Aragão, e membros do Ministério Público e da advocacia para que haja um compromisso com soluções pacíficas para a crise. O texto, intitulado Conclamação Dirigida ao Povo Brasileiro, foi assinado pelo ministro da Justiça; pelo secretário geral da CNBB, Leonardo Steiner; pelo procurador da República Aurélio Veiga dos Rios, que representou o Ministério Público Federal (MPF); e pelo presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Técio Lins e Silva. No documento, as entidades destacam que o êxito de um lado na política não pode significar o aniquilamento do outro. Também “conclamam todos os cidadãos e cidadãs, comunidades, partidos políticos e entidades da sociedade civil organizada, a fazer sua parte e cooperar para este mesmo fim, adotando, em suas manifestações, a busca permanente de soluções pacíficas e o repúdio a qualquer forma de violência, convictos de que a força das ideias, na história da humanidade, sempre foi mais bem sucedida do que as ideias de força”. Em seguida, acrescenta: “Se assim o fizermos, a História celebrará a maturidade, o equilíbrio e a racionalidade de nossa geração que terá sabido evitar a conflagração, que somente divide e não cons- Manifestação. Ato reuniu militantes de movimentos de esquerda Protesto ‘contra todos’ em 12 cidades Atos de sindicatos e PSTU criticam governo e oposição Momento crítico. O ministro da Justiça e o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner trói, fazendo emergir dos presentes desafios, ainda mais fortalecidas, as Instituições, a República e a Democracia”. Leonardo Steiner destacou que as diferenças são salutares e necessárias, mas rechaçou a opção pela agressão a quem pensa de forma contrária. — Para nós que temos o Evangelho como livro de vida, cada pessoa humana é um filho e uma filha de Deus. E ninguém pode agredir um filho e uma filha de Deus, seja por meio da palavra ou de uma agressão física — disse Steiner. O ministro Aragão apontou para o sentimento de ódio e raiva decorrente da disputa política. Ele, entretanto, criticou a oposição, e disse que há pessoas interessadas no “quanto pior, melhor”. Aragão afirmou que as tentativas de retirar a presidente Dilma Rousseff do cargo têm ori- gem no resultado da última eleição. — Parece que há grupos, pessoas interessadas no quanto pior, melhor. E com isso deixando o país com dificuldades de manter a qualidade na sua governança e deixando a economia em suspenso na insegurança — disse o ministro. Um dia após alertar que o clima de intolerância entre os que defendem o governo e os pró-impeachment pode gerar “um cadáver”, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, foi ameaçado de morte em seu perfil no Facebook. “Olha Edinho Silva filho da puta que vai morrer é você e os petistas”. Em outro comentário ele diz que os petistas devem morrer à “bala”. O Ministério da Justiça determinou que a Polícia Federal investigue a ameaça de morte a Edinho. l -SÃO PAULO E RIO- C om o slogan “Fora, todos”, manifestantes se reuniram ontem em 12 capitais para protestar contra políticos do governo e da oposição. O ato foi organizado pelo Espaço de Unidade de Ação, que inclui movimentos sociais, como a central sindical CSP-Conlutas e o PSTU. Os alvos foram o governo Dilma, o vice-presidente Michel Temer, os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, além do senador Aécio Neves, do PSDB. De acordo com os organizadores, nenhum dos atos anteriores representou os interesses da classe trabalhadora. O ato pedia uma representação “independente do governo do PT, da velha direita PSDB-PMDB”. Em São Paulo, os participantes chegaram a fechar os dois sentidos da Avenida Paulista no fim da tarde de ontem. No Rio, os manifestantes se concentraram em frente à Assembleia Legislativa. O “Fora, todos” carioca incluiu como alvo o governador Luiz Fernando Pezão. Eles seguiram até a Cinelândia. Também houve protestos menores em mais dez capitais: Belém, Natal, Fortaleza, Aracaju, Macapá, Porto Alegre, Teresina, Curitiba, Belo Horizonte e Recife. l 8 l O GLOBO l País l 2ª Edição Sábado 2 .4 .2016 LAVA-JATO _ PGR deve incluir Lula no inquérito principal Investigação aberta no STF é sobre o crime de formação de quadrilha no esquema de desvios na Petrobras ANDRE COELHO/17-3-2016 VINICIUS SASSINE [email protected] -BRASÍLIA- A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja investigado no principal procedimento da Operação Lava-Jato na Corte, o inquérito-mãe que apura crime de formação de quadrilha no esquema de desvios de recursos da Petrobras. O grupo de trabalho responsável pela Lava-Jato na PGR prepara os primeiros pedidos de abertura de inquérito a partir da delação premiada do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), já homologada pelo STF e tornada pública no último dia 15 de março. Parte das citações a Lula seria encaminhada ao procedimento já existente, conforme um pedido em análise no MPF. O ex-presidente é o político mais citado na delação de Delcídio: são, ao todo, oito acusações ao petista. DILMA E TEMER TAMBÉM NA MIRA A Lava-Jato já resultou em quase 40 inquéritos abertos no STF para investigar autoridades com foro privilegiado e outros políticos conectados às acusações apuradas. Entre eles estão deputados e senadores dos principais partidos que integram ou integraram a base de apoio do governo e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A delação de Delcídio vai ampliar a quantidade de inquéritos da Lava-Jato no STF. Além de Lula, a PGR estuda pedir a abertura de procedimentos para investigar a presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer e o principal líder da oposição, Aécio Neves (PSDB-MG). O inquérito número 3.989, com 39 políticos investigados, é considerado como o principal em curso no STF, dentre os procedimentos relacionados à Lava-Jato. É o único que investiga o crime de formação de quadrilha e que conecta parla- Ex-presidente. A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve incluir no inquérito aberto no Supremo parte das citações de Delcídio a Lula Ex-presidente é o político mais citado na delação de Delcídio Amaral: são, ao todo, oito acusações contra o líder petista mentares do PP, do PMDB e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso em Curitiba. Este inquérito-mãe é visto como oportunidade para se investigar o suposto funcionamento de uma organização criminosa no fatiamento das diretorias da Petrobras entre partidos da base aliada, com pagamentos de propina a partir de contratos superfaturados, em troca de suporte político a diretores. A delação de Delcídio já foi fatiada pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, em 19 petições. Este é o passo prévio ao pedido de abertura de inquéritos. No caso de Lula, fontes consideram provável tanto o pedido de remessa de acusações ao inquéritomãe quanto solicitações de novos inquéritos. Esta possibilidade já existia antes da delação de Delcídio. Investiga- ções em curso apontavam para uma conexão de Lula — sem foro privilegiado — a irregularidades associadas a autoridades com foro, o que motivaria uma apuração em conjunto no STF. Na delação, Delcídio chegou a afirmar que o ex-presidente foi um “grande ‘sponsor’ (patrocinador) dos negócios do BTG”. A narrativa mais detalhada diz respeito à tentativa de se evitar a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Delcídio ficou preso por tentar interferir na colaboração de Cerveró, com proposta de ajuda financeira a familiares e até mesmo um plano de fuga para o exdiretor. Segundo Delcídio, partiu de Lula pedido para que intercedesse por José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. O pedido teria sido feito no Instituto Lula, em maio de 2015, conforme o dela- Janot acusa PP de 668 atos de corrupção Denúncia pede o ressarcimento de R$ 357,9 milhões à União ANDRÉ COELHO/17-8-2011 VINICIUS SASSINE [email protected] A Procuradoria-Geral da República (PGR) atribui 668 atos de corrupção passiva e 1.091 atos de lavagem de dinheiro aos sete parlamentares e ex-parlamentares do PP denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última terça-feira. A denúncia contempla quatro inquéritos da Operação Lava-Jato em curso no STF. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pede na denúncia a perda de bens e valores dos acusados em favor da União no valor de R$ 357,9 milhões — montante que o MPF diz que foi desviado para os integrantes do partido — e reparação por danos morais e materiais neste mesmo valor. O procurador-geral também solicita perda de função pública e dos mandatos em caso de condenação pelo STF. -BRASÍLIA- VOTOS COBIÇADOS Na acusação de mais de 250 páginas, Janot diz que os desvios da Petrobras garantiram a permanência do PP na base de apoio ao governo. A busca pelo controle da propina, inclusive, chegou a motivar a troca do líder do partido na Câmara em 2011, conforme a denúncia. Agora, o PP passou a ser um dos partidos mais cobiçados pela presidente Dilma Rousseff para tentar evitar o impeachment no Congresso, depois do desembarque do PMDB nesta semana. No balcão de cargos, o PP passou a ter prioridade. O suposto esquema de arrecadação de propina que coube ao partido, a partir da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, contou com o protago- Ex-ministro. Mário Negromonte é um dos sete acusados em denúncia do MP nismo de dois ex-deputados diz respeito a uma suposta federais: Mário Negromonte, “ameaça à vida” do ex-deputaque também foi ministro das do Luiz Argôlo, para que ele não Cidades no primeiro governo delatasse pai e filho, como Dilma e depois conselheiro do consta na denúncia. Argôlo foi Tribunal de Contas dos Muni- preso e condenado pela Justiça cípios (TCM) da BaFederal em Curitiba, na U hia, e João Pizzolatti Operação Lava-Jato. Júnior, secretário exLuiz Fernando Faria Números traordinário de Rela(MG), Roberto Britto ções Institucionais do (BA) e Arthur Lira (AL) governo de Roraima. R$ 357,9 são acusados de dois A denúncia ao STF atos de corrupção e MILHÕES atribui 288 atos de cordois de lavagem cada. Total do rupção e 665 de lavaJosé Otávio Germano desvio para o gem a Negromonte. A PP, diz o MPF (RS), de quatro atos de Pizzolatti, são 280 e corrupção e quatro de 326, respectivamente. lavagem de dinheiro. Os outros cinco deCada ato equivale a um 1.091 nunciados do PP estão repasse, uma transfeATOS DE no exercício de seus rência, um benefício ou LAVAGEM mandatos na Câmara e uma solicitação de proAtribuídos a são considerados impina, principalmente integrantes portantes na guerra por por meio de doações do partido votos do impeachoficiais de campanha, ment. Mário Negrono caso dos parlamenmonte Júnior (BA) foi tares com mandato. 288 acusado de 90 atos de A denúncia acusa NeATOS DE corrupção passiva, 90 gromonte pai e PizzoCORRUPÇÃO de lavagem de dinheiro latti de controlarem a Atribuídos ao e um de integração de propina arrecadada peex-ministro organização criminosa. lo PP e de decidirem Negromonte Negromonte Júnior é quais parlamentares suspeito de ter moviseriam beneficiados mentado dinheiro descom o dinheiro, disfar665 viado da Petrobras em çado de doação eleitoATOS DE contas conjuntas com ral. Segundo a PGR, os LAVAGEM o pai. A acusação de orparlamentares tinham Atribuídos a ganização criminosa conhecimento do esNegromonte quema existente e atuavam na Câmara para mantê-lo, por meio de sustentação política ao então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, ligado ao PP. “A sustentação política fornecida por Pizzolatti e Negromonte à indicação e manutenção de Paulo Roberto consistia na sinalização continuada, através do PP, de que a preservação desse estado de coisas era um dos fatores da permanência da agremiação partidária na ‘situação’, ou seja, na coalização partidária que dava ao governo base de votos no Congresso Nacional”, registra a denúncia ao STF. FORNECEDORES FANTASMAS Ainda conforme a acusação, Pizzolatti e Negromonte “agiram no sentido de direcionar vantagens indevidas a outros membros do PP, previamente ajustado com estes, que tinham pleno conhecimento dos fatos, a fim de que eles se elegessem ou se reelegessem, ampliando ou menos mantendo a base de sustentação política do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro”. A PGR cita que diversos fornecedores das campanhas de parlamentares do PP não existem, uma prova de que o sistema eleitoral teria sido usado como “ficção para receber propina”. A denúncia registra ainda que Pizzolatti buscou dinheiro junto ao doleiro Alberto Youssef, considerado o operador do PP, por 23 vezes, no próprio escritório do doleiro. O dinheiro arrecadado somou R$ 3,9 milhões, conforme a acusação. Os investigadores detectaram entregas de dinheiro vivo, depósitos bancários a assessores e repasses a parentes de Pizzolatti e de Negromonte. l NA WEB bit.ly/1PmM7DN Políticos investigados na Lava-Jato tor. “Lula manifestou grande preocupação com a situação de José Carlos Bumlai em relação às investigações da LavaJato. Lula expressou que Bumlai poderia ser preso em razão das colaborações premiadas que estavam vindo à tona, particularmente de Fernando Baiano e Cerveró e que, por conta disso, Bumlai precisava ser ajudado”, disse Delcídio. A partir dessa conversa, o filho de Bumlai, Maurício Bumlai, foi procurado, “momento em que transmitiu o recado e as preocupações de Lula”. “O pedido de Lula para auxiliar Bumlai, no contexto de ‘segurar’ as delações de Cerveró, certamente visaria o silêncio deste último e o custeio financeiro de sua respectiva família”, interpretou o delator. O Instituto Lula disse que “não comenta falatórios”. “Quem quiser levantar suspeitas em relação ao ex-presidente Lula que o faça diretamente e apresente provas, ou não merecerá resposta.” O instituto lembrou que Lula já prestou depoimento no inquérito-mãe da Lava-Jato. “ÉPOCA”: LULA E O LOBISTA DA ODEBRECHT De acordo com a revista “Época”, a Polícia Federal encontrou provas de que Lula, ainda como presidente, atendeu a pedido de um lobista da Odebrecht. Um e-mail recuperado pela Lava Jato indica uma ação de Lula para favorecer a Braskem — uma empresa do grupo Odebrecht — em negócio no México. A Odebrecht queria que Lula fosse ao México, em 2009, se encontrar com o então presidente, Felipe Calderón, em reunião para assinatura de um contrato da Braskem com a mexicana Idesa. O acerto previa a construção de um complexo petroquímico de US$ 5,2 bilhões no estado mexicano de Veracruz. Em fevereiro de 2010, Lula esteve no México para a 2ª Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento. No dia 23, Lula teve a reunião com Calderón, na qual se comemorou a assinatura do contrato entre a Braskem e a Idesa. l Jaques Wagner: ‘Chegou a vez dos pequenos partidos’ Dilma demite aliado de Temer na CEF e indica aliado do PTB para Casa da Moeda CATARINA ALENCASTRO E CRISTIANE JUNGBLUT [email protected] -BRASÍLIA- O ministro Jaques Wag- ner, chefe do gabinete da presidente Dilma Rousseff, disse ontem que o governo transformou o desembarque do PMDB, seu principal aliado, em um fator positivo. Segundo Wagner, agora é hora de os aliados dos pequenos partidos ocuparem os melhores ministérios. Wagner se reuniu à tarde com Dilma, no Palácio da Alvorada, para tratar das mudanças. “Repactuar o governo é reorganizar a base de apoio. Nada a ver com compra de votos. Trata-se de ocupar os espaços vazios com novos partidos que ainda não tiveram oportunidade de ter cargo no primeiro escalão. Chegou a vez de os pequenos partidos, sempre deixados para trás devido ao PMDB ter os melhores ministérios. O governo transformou um fator muito negativo em positivo”, disse Wagner por meio de sua assessoria. Dilma exonerou ontem mais um aliado do vice-presidente Michel Temer: Roberto Derziê de Sant’Anna deixou o cargo de vice-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF). Funcionário do banco, Sant’Anna trabalhou diretamente com Temer, entre junho e outubro do ano passado, quando o vice atuou na articulação política do governo. Ele também é ligado a Geddel Vieira Lima, um dos maiores defensores do desembarque do PMDB. Por outro lado, Dilma ontem nomeou um aliado do PTB, cujo líder da bancada na Câ- | Opinião | TESTE DE REALIDADE DEPOIS DE toda a saliva gasta pelo ministro Nelson Barbosa e pelo professor de Direito Ricardo Lodi, na comissão do impeachment, em defesa de Dilma, continua a pairar sobre o Planalto enorme ponto de interrogação. SE LEIS e regulamentos fiscais foram cumpridos à risca, o que houve então? Crise mundial não foi, sabe quem lê jornal. Ou as leis e regulamentos, se cumpridos fielmente, provocam desastre fiscal? Um contrassenso. OU SEJA, as explicações e justificativas oficiais não passam no teste de uma realidade em que o déficit público bateu nos inimagináveis 10% do PIB, e parte dos quais provém de muitos gastos que foram escondidos pela “contabilidade criativa”. SEM FALAR nos erros mesmos do “novo marco macroeconômico”. Simples. mara, o deputado Jovair Arantes (GO), é relator do processo de impeachment na comissão especial da Câmara. O governo nomeou Jeovah de Araújo Silva Junior para o cargo de diretor da Casa da Moeda, no lugar de Paulo Ricardo de Mattos Ferreira, que foi exonerado. Essas mudanças também estão na edição de ontem do Diário Oficial da União. l l País l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO l 9 A BATALHA DO IMPEACHMENT _ Defesa de Dilma será apresentada na segunda-feira Presidente da comissão de julgamento já pensa em abrir sessão na madrugada do dia 11 para não perder prazo JÚNIA GAMA, EDUARDO BRESCIANI E ISABEL BRAGA [email protected] -BRASÍLIA- A defesa da presidente Dilma pedirá a anulação do processo de impeachment na comissão que analisa o caso na próxima segunda-feira. O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que apresentará a defesa, fará uma arguição de STF divulga decisão de Marco Aurélio sobre Temer por erro Nota explica confusão; vice-presidente também é alvo de Cid Gomes CAROLINA BRÍGIDO E LETÍCIA FERNANDES [email protected] -BRASÍLIA- A assessoria de imprensa do Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou ontem uma decisão do ministro Marco Aurélio Mello determinando que a Câmara dos Deputados inicie processo de impeachment contra o vice-presidente Michel Temer. Logo em seguida, a própria assessoria corrigiu a informação: o documento ainda estava sendo elaborado e não tinha sido assinado pelo ministro. O ministro informou que só julgará o caso na segunda-feira. No documento divulgado, Marco Aurélio determina que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), abra o processo contra Temer e, em seguida, envie o caso a uma comissão especial. A polêmica começou quando o advogado Mariel Márley Marra propôs o processo à Câmara. Cunha arquivou o caso porque não haveria qualquer indício de crime de responsabilidade. Marra recorreu ao STF em um mandado de segurança, sorteado para a relatoria de Marco Aurélio. Segundo a assessoria de imprensa, o documento foi divulgado acidentalmente. Também ontem, o ex-governador do Ceará, Cid Gomes (PDT), protocolou um novo pedido de impeachment contra Michel Temer. Cid citou como justificativa denúncias envolvendo Temer enquanto vice-presidente da República e na condição de presidente do PMDB. Ele cita no documento, entre outras coisas, denúncias feitas pelo ex-líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (Sem partido-MS), e acusações feitas na Operação Catilinárias, instaurada a partir de provas obtidas na Lava-Jato. ‘CITAÇÕES EQUIVOCADAS’ Cid Gomes pediu que, por haver no documento citações diretas a Eduardo Cunha, o processo seja analisado pelo vicepresidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), aliado do peemedebista. A assessoria do vice-presidente soltou nota à noite afirmando que o pedido “traz uma série de citações já esclarecidas à imprensa. Notícias velhas sem sustentação, citações equivocadas e interpretações de pessoas mal informadas”. l acesse 140 BANGU SHOPPING Rua Fonseca, 240 SHOPPING METROPOLITANO BARRA Av. Embaixador Abelardo Bueno, 1.300 CASCADURA Av. Dom Helder Camara, 9.783 nulidade em sua exposição, segundo a qual a denúncia é inepta devido a vícios como se basear em temas relativos ao mandato anterior de Dilma. Cardozo pretende fazer uma sustentação oral de duas horas, na qual usará como base parte do despacho do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no qual ele acatou o pedido de impeachment. No do- cumento, Cunha diz não ser possível a responsabilização da presidente da República por atos anteriores ao mandato vigente. Ainda que rejeite a parte dos argumentos baseados nas contas de 2014, o presidente da Câmara acatou a denúncia com base na indicação de decretos assinados por Dilma em 2015 “sem autorização do Congresso”. A defesa feita por Cardozo também tocará na questão das contas de 2015, considerada “mais fácil” de explicar pelo governo. A comissão do impeachment vai correr contra o tempo para aprovar seu parecer final dentro do prazo. Após a entrega da defesa, na segunda-feira, serão apenas cinco sessões para apresentação, discussão e votação do relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO). Diante desse cenário, o presidente da comissão, Rogério Rosso (PSDDF), já estuda abrir os trabalhos no dia 11 de abril às três horas da manhã, para encerrar os trabalhos no mesmo dia. Jovair já anunciou que não vai deixar seu relatório para o último dia, pois um pedido de vistas deve fazer com que sejam perdidas duas das cinco sessões de que a comissão dispõe. — Eu vou queimar etapas, mas exatamente como o STF determinou, dentro do rito estabelecido pelo STF, dentro da Constituição Federal e usando o regimento — disse Jovair. l NA WEB bit.ly/1VUbrH2 O mapa dos votos do impeachment 10 l O GLOBO l País l Sábado 2 .4 .2016 Chacina de Osasco: um drama longe de ter fim EDILSON DANTAS À espera de indenização e justiça, parentes dos 19 mortos sofrem com medo, depressão e pobreza MARIANA SANCHES [email protected] -SÃO PAULO -Quase oito meses depois da chacina que resultou na morte de 19 pessoas em Osasco e Barueri, região metropolitana de São Paulo, as famílias das vítimas passam por dificuldades financeiras tão grandes que a equipe da Defensoria Pública — responsável pela defesa dos familiares — tem feito “vaquinha” para tentar ajudar a custear despesas tão prosaicas quanto as de uma passagem de ônibus. A maioria dos mortos era formada por homens jovens, cujo salário era a principal, quando não a única, fonte de renda da casa. A penúria é tanta que algumas famílias têm tido dificuldade até para colocar comida no prato. A esperança é que, depois de apresentada denúncia pelo Ministério Público contra um guarda civil municipal e três policiais militares, em janeiro, o governo de São Paulo aceite pagar indenizações às famílias. — Existem grupos especializados em matar dentro da PM. Se um agente do Estado comete um crime, é o Estado quem deve arcar com danos morais e materiais — afirma a defensora pública Maíra Coraci Diniz, responsável pelo caso. À ESPERA DO ÔNIBUS Entre os beneficiários estaria Jean Fábio, de 35 anos, um homem franzino de olhos verdes circundados por sulcos profundos e escuros. Na última vez que Jean viu o companheiro Eduardo dos Santos, de 41 anos, com vida, ele fazia piada com o fato de estar, como de costume, atrasado para um compromisso. Era a manhã do dia 13 de agosto de 2015. Horas depois, Jean encontraria Eduardo ainda sentado na cadeira vermelha que ocupara quando, cansado de esperar pelo ônibus com o amigo Thiago Damas, se sentou para tomar uma cerveja no bar. Eduardo tinha sido baleado diversas vezes e já não respirava mais. Thiago morreria de madrugada, também vítima da matança. Depois do episódio, Jean não reencontrou o fio da própria vida. Ele sofre de depressão e não dorme sem ajuda de remédio. Deixou o emprego como ajudante de cozinha em uma lanchonete no bairro onde os crimes aconteceram por medo de represálias. Saiu da casa simples que dividiu com o companheiro ao longo de seis anos e vive de favor com uma amiga. Sequer consegue receber o dinheiro dos aluguéis de inquilinos que ocupam imóveis na periferia de Osasco pertencentes a Santos. Os ocupantes não reconhecem a relação homossexual do casal e o tratam com hostilidade. — Se não fosse minha mãe, acho que já tinha feito uma besteira — diz, em prantos. ROUBO NO HOSPITAL Na mesma sala da defensoria, Ana Damas esperava com a senha número 1 em mãos. Irmã de Thiago, de 32 anos, amigo de infância do companheiro de Jean, ela tem dificuldade em lidar com a dor da perda e da sequência de fatos que se desenrolou depois da chacina. Enquanto o irmão sofria uma operação para tentar estancar a hemorragia provocada pelas balas, seus documentos e cartões de banco acabaram furtados dentro do próprio hospital. Ultimamente, a família busca, em vão, por notícias sobre as investigações. A roupa que Thiago usava na noite do crime continua guardada pela irmã, que teme se desfazer dela e perder prova que incrimine os culpados. Um mês depois da morte de Thiago, Ana perdeu o emprego. Já não pode contar com a ajuda financeira do caçula, que vivia com ela. Não contém o choro ao lembrar que quatro dias antes de morrer, Thiago fez uma feijoada em comemoração ao aniversário da irmã. — Agora compro um saco de arroz ali, um saco de feijão uma semana depois. Vivo com dificuldade. Em casa, ele fazia tudo por mim. Se queimava um chuveiro, era ele quem consertava. Se eu precisava ir ao médico, ele Vida interrompida. Um dos familiares atingidos pela tragédia é recebido pela defensora pública Maíra Coraci Diniz: falta de recursos e medo de represália EDILSON DANTAS U Memória A MAIOR MATANÇA APÓS CARANDIRU À espera. Número da senha de atendimento nas mãos e dor no coração “Existem grupos especializados em matar dentro da PM. Se um agente do Estado comete um crime, é o Estado quem deve arcar com danos morais e materiais” Maíra Coraci Diniz Defensora pública que me acompanhava. Sinto a ausência dele todo dia, é uma dor que não passa — diz Ana, que teme sofrer vingança. O pintor Amaury Custódio, de 54 anos, costumava sentar para beber e conversar com os amigos no bar sem nome da periferia de Osasco. Não era incomum que, pelo efeito do cansaço e da bebida, ele cochilasse na mesa. Na noite da chacina foi o que aconteceu. Amaury acordou dois dias depois, na UTI de um hospital. Agora depende de um balão de oxigênio para respirar. É improvável que volte a comer algo sólido, mesmo depois de cirurgias que tentaram reconstruir seu maxilar, destruído pelos tiros. Nunca mais voltará a exercer a profissão, mas ainda não conseguiu se aposentar. Tampouco poderá participar dos jogos do time de futebol do bairro. O nome do Sem Saída Futebol Clube, cuja sede fica em frente ao bar que Amaury gostava de frequentar, se converteu em um resumo cru não apenas da noite do dia 13 de agosto, mas dos meses que o sucederam. l Passava pouco das 20h do dia 13 de agosto de 2015 quando homens encapuzados e usando luvas cirúrgicas circularam pela periferia de Osasco e Barueri espalhando o terror. Abordavam quem encontrassem pela rua, perguntavam se a vítima tinha passagem pela polícia e, na sequência, a executavam, com tiros no rosto, cabeça e tronco. O saldo da matança foi de 19 mortos, 18 homens e uma mulher, e dois feridos que sobreviveram com sequelas graves. Foi o maior massacre em São Paulo desde o episódio do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram assassinados na casa de detenção. Desde as primeiras horas após os assassinatos, os familiares acusavam policiais militares de serem os autores dos crimes. No entanto, um mês depois do episódio, as investigações pouco tinham avançado, o que levou manifestantes a ocuparem a Avenida Paulista de mordaças e carregando cruzes. Em janeiro, o Ministério Público denunciou quatro pessoas pela chacina: um guarda civil metropolitano e três policiais militares. Um dos policiais denunciado pelo caso de Osasco já responde a seis processos por matanças na periferia. — Ainda assim é pouco. Sabemos que há mais pessoas envolvidas no crime — afirma a defensora Maíra Coraci Diniz, que atua como assistente de acusação contra os agentes públicos. O crime teria sido motivado por vingança depois do latrocínio do policial Ademilson Pereira de Oliveira. A chacina aconteceu seis dias depois da morte de Oliveira. — Nossa briga é para que as investigações não se encerrem — afirma a defensora Maíra, também responsável pelo pedido de indenização às famílias pelo Estado. Ainda não se sabe qual pode ser o valor a ser pago pelos danos morais e materiais. MARCOS ALVES/28-8-2015 Justiça. Manifestantes protestam com cartazes e sacos pretos na Paulista Secretário de Alckmin citado na máfia da merenda deixa governo Investigação em esquema de fraude foi arquivada por falta de provas SILVIA AMORIM E STELLA BORGES [email protected] Citado no esquema da máfia da merenda, o secretário estadual de Logística e Transportes de São Paulo, Du- -SÃO PAULO- acesse 140 SHOPPING BOULEVARD SÃO GONÇALO Av. Presidente Kennedy, 425 SÃO GONÇALO SHOPPING Av. São Gonçalo, 100 IRAJÁ Av. Monsenhor Felix, 1.154 arte Nogueira, anunciou ontem que vai deixar o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) para reassumir seu mandato de deputado federal. A volta à Câmara dos Deputados, segundo nota, é para participar da votação do impeachment contra a presidente Dilma. Em seguida, Nogueira deve se candidatar à prefeitura de Ribeirão Preto, interior paulista. A Corregedoria Geral da Administração de São Paulo arquivou ontem a investigação contra ele, o ex-secretário da Educação Herman Voorwald, e o ex-chefe de gabinete da secretaria da Educação Fernando Padula. Os três sempre negaram as acusações. Eles eram suspeitos de envolvimento na Operação Alba Branca, deflagrada em janeiro, que investiga um esquema de fraude em licitações para o fornecimento de merenda escolar. Para a corregedoria, não foram encontradas provas suficientes que sustentassem as acusações. AILTON DE FREITAS/7-12-2011 Na Câmara. Duarte Nogueira reassume mandato para participar de votação Os alimentos para merenda — principalmente suco de laranja integral — eram vendidos pela Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf ), baseada em Bebedouro, no interior paulista. A fraude foi descoberta graças ao depoimento de um colaborador, que contou aos investigadores que a cooperativa contratava “lobistas” para que atuassem em defesa de seus interesses junto à Secretaria de Estado de Educação e a pelo menos 22 municípios paulistas. Nesta semana, a Polícia Civil prendeu Paulo Leonel Julio, expresidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, e outras seis pessoas acusadas de ligação com o esquema. O filho dele, Marcel Ferreira Julio, apontado como elo de ligação entre a Coaf e o governo de São Paulo, se entregou à Polícia anteontem. Duarte Nogueira anunciou sua saída do governo Alckmin em uma rede social. “A partir da semana que vem reassumirei meu mandato de deputado federal para participar de um momento de extrema relevância (...) Os paulistas, em especial os da minha cidade natal, Ribeirão Preto, sempre foram destaques nas manifestações pro-impeachment e, tendo sido eleito por eles, não posso deixar de representá-los”, escreveu. Em poucos dias, esta é a segunda baixa na equipe de Alckmin. Na semana passada, Edson Aparecido, braço direito do governador, deixou a secre- taria da Casa Civil. Ele deve se candidatar a vereador nas eleições deste ano. Ao longo das investigações da máfia da merenda foram citados ainda o nome do atual presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), e de outros políticos paulistas: os deputados estaduais Luiz Carlos Gondim (SD) e Fernado Cury (PPS), além dos deputados federais Baleia Rossi (PMDB) e Nelson Marquezelli (PTB). Todos negam ter participado do esquema. l acesse 140 BOULEVARD RIO SHOPPING Rua Barão de São Francisco, 236 SHOPPING NOVA AMÉRICA Linha Amarela, Saída 5 e Metrô Del Castilho GUANABARA ALCÂNTARA Av. Jornalista Roberto Marinho, 221 Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO Rio RENAN FRANÇA UM DIA DE TORMENTO LUÍS GUILHERME JULIÃO Foi de moto Com medo de perder o voo para João Pessoa, o pedreiro Josaíton Amancio, de 45 anos, estacionou seu carro em Jacarepaguá e pediu ao irmão para levá-lo de moto até o Tom Jobim, na Ilha. Suplício RENAN FRANÇA De muletas, o pedreiro Cristiano Inácio, de 32 anos, chegou duas horas atrasado para a consulta marcada às 7h30m no Into. Depois de explicar o ocorrido na recepção, conseguiu ser atendido. l 11 Sem festa Com presentes na mala, a estudante Gabriele Silva iria ao aniversário dos sobrinhos em Cuiabá, mas perdeu o voo das 10h. Ela remarcou a passagem para as 21h. Mas não chegou a tempo da festa. Danem-se os outros Taxistas fecham vias importantes em ato contra Uber e causam 125km de engarrafamento PABLO JACOB Sem passagem. Taxistas bloqueiam o tráfego na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro: por causa da manifestação, o trânsito na região e em seus acessos deu um nó que só se desatou completamente por volta das 15h30m Milhares de pessoas viram o seu direito de ir e vir cerceado ontem por taxistas do Rio, de Niterói e São Gonçalo, que, num protesto contra o Uber, bloquearam importantes vias de acesso ao Centro. Lentas carreatas ocuparam todas as faixas de rolamento, paralisando totalmente o trânsito e provocando 125 quilômetros de engarrafamentos, segundo cálculo da Secretaria municipal de Transportes. Presos no congestionamento, muitos chegaram atrasados ao trabalho, perderam compromissos e voos. Passageiros desembarcaram de ônibus retidos e seguiram a pé. Na Linha Vermelha, uma gestante entrou em trabalho de parto e precisou ser socorrida por PMs. Marcada para as 3h, a concentração de taxistas ocorreu em Copacabana, Ilha do Governador e São Cristóvão. Os que foram para a Avenida Atlântica seguiram, no início da manhã, para o Aterro do Flamengo, e o tráfego ficou parado de Botafogo até a Marina da Glória. A Estrada do Galeão também foi afetada. Ainda de madrugada, manifestantes bloquearam duas faixas da Avenida Francisco Bicalho, causando reflexos no Viaduto do Gasômetro, na Ponte Rio-Niterói, na Avenida Brasil e na Linha Vermelha no sentido Centro. Às 9h30m, o tempo de travessia da Ponte era de 1h45m (um recorde de lentidão na via), caindo para 25 minutos às 12h10m. O Código de Trânsito Brasileiro prevê multa de R$ 5.746,20 para quem bloquear uma via pública. Às 10h, motoristas ainda enfrentavam 68 quilômetros de engarrafamento na cidade. Só por volta de 15h30m, não havia mais registro de congestionamento por causa do protesto. AJUDA E REVOLTA EM MEIO AO CAOS Os pais de Valentina jamais imaginariam que ela escolheria para nascer numa manhã de trânsito caótico. Em meio ao engarrafamento da Linha Vermelha, Priscila da Silva Nolasco de Souza começou a sentir fortes contrações. Ela e o marido, Kleiton Anibolete de Souza, acharam que o bebê viria ao mundo dentro do carro, até que o soldado Jesus cruzou o caminho do casal e levou a gestante para o Instituto Fernandes Figueira, no Flamengo. Segundo o hospital, Valentina e a mãe passam bem. — Eu estava no lugar certo, na hora certa. Foi emocionante — disse o soldado André Cardoso de Jesus. — Paramos a viatura e vimos que a mulher estava tendo fortes contrações. Ligamos a sirene e seguimos. Mesmo assim, só consegui chegar ao hospital 40 minutos depois. Menos sorte teve a dona de casa Maria de Lourdes. Com um exame de eletroneuromiografia marcado, ela ficou revoltada quando viu que não chegaria a tempo ao Centro: — O exame estava marcado há quase dois meses. Quando chega o dia, é um sufoco desse. Já a diarista Susana Cerqueira contou que começaria a fazer faxina numa nova casa ontem: — No meu primeiro dia de trabalho na casa, vou chegar atrasada. Vão pensar o que de mim? Isso é um absurdo. Esses taxistas não podem prejudicar as pessoas assim. Estou indignada. Parado no engarrafamento, o protético Eduardo Raposo criticou a forma de protesto: — Até entendo o motivo da manifestação, mas eles não conseguirão o apoio da população interrompendo o trânsito em vias especiais e não permitindo que as pessoas cheguem ao trabalho. O protesto dos taxistas também prejudicou os passageiros que seguiam para os aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim. Para chegar ao primeiro, alguns precisaram caminhar quase meia hora da estação do metrô da Cinelândia até o terminal. Foi o caso do técnico de informática Iran Alves: — Não tinha transporte e precisei vir caminhando até o aeroporto. Na minha opinião, os taxistas prestam um péssimo serviço e ainda fazem esse tipo de manifestação. Não acho justo com a população. A atriz Maitê Proença conseguiu chegar de carro ao Santos Dumont a tempo de pegar seu voo, apesar do trânsito que enfrentou: — A concorrência é boa para melho- Perfil ANDRÉ DE OLIVEIRA À frente do caos, mas sem autonomia de táxi Com três passagens pela polícia, motorista que atua como auxiliar preside associação da categoria O protesto dos taxistas foi comandado por André de Oliveira, que atua como motorista auxiliar (não tem autonomia), acumula três passagens pela polícia e já foi candidato a deputado federal, com o apoio do ex-secretário de Transportes Carlos Roberto Osorio. Em novembro de 2015, durante outra manifestação contra o Uber, André disse que dirigia táxi há 13 anos, mas que nos dois últimos se dedicava à Associação de Assistência aos Motoristas de Táxi do Brasil, da qual ainda é presidente. De acordo com dados da Secretaria municipal de Transportes, ele está registrado como motorista auxiliar desde 2005. Em 2012, deixou de ser ta- xista, atividade que retomou em 2013. André tentou conquistar uma vaga de deputado federal pelo Solidariedade (SDD), mas foi barrado pelo TSE por causa de seus antecedentes e porque não conseguiu reunir a documentação necessária. Ele responde hoje a uma acusação de ameaça contra uma mulher (Lei Maria da Penha). Outras duas acusações foram arquivadas: uma de violência contra mulher e outra de fraude contra a Caixa. Osorio disse que durante as eleições fez trabalhos com André, mas afirmou desconhecer que ele tinha passagem pela polícia, acrescentando ser contra um movimento que paralise o Rio. l rar o serviço. Mas não sei se a forma de conseguir simpatia é parando o Centro da cidade. Para ir de sua casa, na Barra, ao Tom Jobim, o engenheiro Bernardo Moura levou quatro horas. Ele embarcaria às 9h50m para Porto Alegre, mas só conseguiu chegar às 11h ao aeroporto. Pelo menos conseguiu remarcar a passagem para ontem à tarde. — Entendo a situação dos taxistas, mas acho que não podem privar uma parcela da população de cumprir compromissos. Há outros lugares onde eles poderiam ter feito esse protesto — disse o engenheiro. Segundo o chefe-executivo do Centro de Operações da prefeitura, Pedro Junqueira, a manifestação foi uma das de maior impacto na cidade: — Isso porque, em vez de trafegarem em fila indiana, os taxistas ocuparam mais faixas e bloquearam o trânsito. Portanto, a capacidade das pistas foi reduzida em relação aos protestos anteriores. MOMENTOS DE TENSÃO Muitos manifestantes levaram apitos e cartazes pedindo respeito. Luiz Antônio Rodrigues, de 59 anos, que trabalha como taxista há 26, garantiu que este é o pior momento da sua carreira. — Os motoristas do Uber estão roubando nossos clientes. Se antes eu fazia até 15 corridas por noite, hoje elas chegam a no máximo cinco — disse ele, que aderiu à manifestação vestindo uma peruca e um nariz de palhaço. Grupos de taxistas provocaram momentos de tensão. No Santos Dumont, um casal foi impedido de embarcar num carro que parecia ser do Uber. Em frente ao Tribunal de Justiça, houve alguns incidentes. Num deles, o pintor automotivo Douglas de Souza foi confundido com um motorista do aplicativo ao se envolver num acidente. Disse não ter visto o sinal fechar e atropelou a assistente jurídica Flávia Gomes. Como seu carro é preto, alguém gritou “é Uber!”, e o veículo foi rodeado e chutado por manifestantes. Acuado, Douglas saiu do carro com uma barra de ferro e partiu para cima dos taxistas, sendo contido por guardas municipais e por PMs. Com o protesto, alguns ônibus saíram da Rodoviária Novo Rio com 40 minutos de atraso. Metrô, trens e barcas circularam com a frota máxima e lotados. l ‘A gente tem que fechar o Galeão de manhã, fechar as saídas da Ilha’ Em áudios divulgados no dia anterior, taxistas já ameaçavam radicalizar Um dia antes do protesto, os taxistas, ao divulgarem o ato, já avisavam que pretendiam radicalizar o movimento e paralisar diversas vias da cidade. Por meio de mensagens enviadas pelo aplicativo WhatsApp, alguns manifestantes já ameaçavam quebrar carros do Uber e agredir os motoristas do serviço. “É parar a cidade mesmo, do nosso jeito. Não dar confiança à guarda, nem à polícia. Se a polícia desviar o trânsito para algum lugar, ninguém vai. Se começar a encrencar com a gente, larga o carro na rua. O negócio é tumultuar”, disse o taxista no áudio, cheio de palavrões e até ameaças de morte. “Vai morrer taxista? Vai! Vai morrer Uber também (...). O negócio é começar a quebrar carro deles também”, completou. Em outro áudio, um taxista também falava em parar o trânsito da cidade: “Não pode ser pouco táxi não, galera. Os caras vão sair anotando todo mundo. Se tiver muita gente junta, eles não anotam, porque a galera chega em cima, bota um terror e eles seguram a onda (...). Tem que fechar o Galeão de manhã cedo, fechar a saída da Ilha e a entrada da Ilha para quebrar o Galeão, entendeu? Chegar ao Santos Dumont e fechar a entrada para os carros da Uber não entrar ali para pegar passageiros. Ninguém vai entrar, ninguém vai sair.” l 12 l O GLOBO UM DIA DE TORMENTO l Rio l LUÍS GUILHERME JULIÃO Sábado 2 .4 .2016 RENAN FRANÇA Melhor ir a pé Com o braço quebrado, Edmilson Nogueira, de 60 anos, atravessava a Av. Francisco Bicalho por volta das 9h de ontem. Pecisava chegar ao trabalho, em São Cristóvão, às 8h30m, e caminhava há uma hora. Sozinho LUÍS GUILHERME JULIÃO Thomaz Schulze, de 30 anos, levou cinco horas de Teresópolis ao Tom Jobim. Ele passaria o fim de semana com a namorada, em São Paulo, mas decidiu cancelar a viagem após chegar atrasado ao Galeão. Atraso Depois de enfrentar duas horas de trânsito na Ponte e mais 2km de caminhada, Júlio César Bastos, de 26 anos, chegou atrasado à Rodoviária Novo Rio e teve de remarcar a passagem para Muriaé, em Minas. Autoridades não evitaram fechamento do tráfego GABRIEL DE PAIVA Paes até ameaçou com cassação de permissões, mas a medida ficou para o próximo protesto Autoridades demoraram a agir para evitar o caos no trânsito em decorrência do protesto dos taxistas. Só às 9h30m, a prefeitura decretou estágio de atenção, segundo nível de uma escala de três. A PM também não impediu que motoristas bloqueassem vias. Ainda de manhã, o secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani, conversou com líderes do movimento e exigiu que a normalidade se restabelecesse até o meio-dia. O prefeito Eduardo Paes chegou a ameaçar cassar permissões dos que não desobstruíssem as ruas após esse horário, mas nada aconteceu. Segundo Paes, porque eles cumpriram com a palavra. Mais tarde, o prefeito afirmou que na próxima manifestação em que ruas forem interrompidas haverá cassações. Em nota, a Secretaria de Transportes considerou que houve “um pouco de excesso” dos taxistas. Disse que o grande motivo do protesto é a contestação de uma decisão judicial, o que foge ao controle do governo. Acrescentou que a Procuradoria Geral do Município questionou judicialmente a legalidade do Uber, mas a decisão foi desfavorável. “Entendemos a angústia dos taxistas e que isso gera prejuízo à atividade regulamentada para o táxi no Rio, mas as decisões judiciais precisam ser respeitadas e as contestações precisam se dar no âmbito judicial”, afirma a nota. Paes, que esteve no Centro de Operações, disse que manifestação todo mundo tem direito a fazer: — O que a gente não pode permitir é o que eles fizeram de manhã, esse absurdo de interromper vias e tirar o direito de ir e vir das pessoas. Na conversa de que eu participei, disse que não tinha negociação nenhuma, até porque o que eles estão pleiteando não vão negociar com a gente. GUARDA APLICOU 180 MULTAS Segundo o prefeito, o Rio nunca teve manifestação de taxistas como a de ontem: — Todas as anteriores foram ordeiras, os taxistas respeitaram as regras. Sempre causam um transtorno, mas é o transtorno da democracia, o aceitável. O que não pode é esse absurdo que aconteceu hoje (ontem). Acabou esse diálogo, não vamos aceitar mais esse tipo O Aterro do Flamengo é deles. Taxistas tomam três das quatro faixas em direção ao Centro: só às 9h30m a prefeitura decretou estágio de atenção no Rio de manifestação. Depois que a gente participou da conversa com a categoria, eles saíram. Perguntado se vai atender às queixas contra o volume de taxas pagas pelos taxistas, se comparadas às despesas dos motoristas do Uber, o prefeito ressaltou que o secretário Rafael Picciani avaliará os pedidos para ver o que pode ser atendido: — O que não se pode fazer é botar a faca no pescoço, fechar ruas, cercear o direito de ir e vir e achar que vai negociar. Não tem negociação com esse tipo de coisa. Segundo a Guarda Municipal, foram aplicadas 180 multas a taxistas que participavam do movimento, por infrações diversas, principalmente bloquear a via com veículo. Segundo o diretor de Operações da CET-Rio, Joaquim Dinis, as ações de 550 agentes de trânsito para minimizar o im- pacto dos protestos foram em geral bem-sucedidas. A exceção, disse, foi o plano de contingenciamento tentado na Estrada do Galeão, que ficou bloqueada por 40 minutos, impedindo o acesso ao Aeroporto Internacional Tom Jobim: — Tentamos jogar o tráfego na calha do BRT, mas isso não foi possível porque os taxistas disseram que, se nós o fizéssemos, bloqueariam também aquela pista. Então ficamos praticamente sem alternativa, numa situação crítica. Quando a PM chegou, com reforço do Batalhão de Choque, conseguiu, sem violência, liberar o trânsito. REUNIÃO NO TJ A PM informou que reforçou o patrulhamento nos locais de protestos. O Batalhão de Policiamento em Vias Expressas aumentou o efetivo na Avenida Brasil e nas linhas Amarela e Vermelha. O batalhão da Ilha também reforçou o policiamento, mas não informou o efetivo. A juíza substituta da 6ª Vara de Fazenda Pública, Ana Cecília Gomes de Almeida, recebeu quatro taxistas no Tribunal de Justiça. Os motoristas conversaram com a magistrada sobre possíveis danos causados pelo Uber, tanto para o sistema de táxi como para o transporte no Rio. Ana Cecília não foi a responsável pela liminar, concedida em novembro, que permitiu que os carros do Uber continuassem circulando na cidade. Uma decisão do TJ ratificou a sentença. Durante o encontro no Fórum, um cinegrafista da TV Globo foi impedido de filmar a manifestação em frente ao TJ. Um grupo chegou a ameaçá-lo, mas foi contido pela polícia. Os taxistas soltaram fogos de artifício. Após uma assembleia em frente ao TJ, encerraram o protesto. l U Cronologia MAIO DE 2014: O Rio é a primeira cidade do país a receber o Uber. JULHO DE 2015: Taxistas fecham a pista sentido Centro do Aterro para pedir a proibição do sistema. SETEMBRO DE 2015: O prefeito Eduardo Paes sanciona projeto que confere exclusividade aos taxistas no transporte individual de passageiros, proibindo o Uber. OUTUBRO DE 2015: Liminar da 6ª Vara da Fazenda Pública da Capital autoriza o serviço. NOVEMBRO DE 2015: A 17ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça mantém a decisão. NOVEMBOR DE 2015: Pela quarta vez no ano, taxistas fazem protesto nas ruas da cidade. Artigos Direito à manifestação, legitimidade legal e vale-tudo RODRIGO MASCARENHAS* O enorme movimento promovido ontem por motoristas de táxi no Rio exige um debate sobre os limites do direito à manifestação, em especial quando confrontados com outros direitos. Não há dúvida de que o direito à manifestação é garantido pela Constituição e que ele é um pilar importante de qualquer democracia. Também não há dúvida que, implícito ao direito de manifestação, se encontra a possibilidade de causar algum desconforto a terceiros. De fato, quem se manifesta quer transmitir alguma mensagem política, quer, em suma, atrair o interesse para uma causa (concordemos com ela ou não). Para isso, o bloqueio parcial de uma via importante, a ocupação de uma praça e o transtorno que isso causa são muito eficientes para chamar a atenção; afinal, a democracia é barulhenta. Mas há limites. O direito à manifestação não é um vale-tudo. Em primeiro lugar, esses limites estão na preservação de outros direitos igualmente protegidos pela Constituição, como o direito de ir e vir, o direito ao trabalho, o direito à saúde e mesmo o direito de outras manifestações se realizarem. Por exemplo, uma manifestação que bloqueie o acesso a um hospital está colocando em risco o direito à vida de doentes que precisam chegar a tal hospital para se tratar. Ou que impede o acesso a uma praça onde se realizaria outra manifestação convocada anteriormente está violando o direito à manifestação de terceiros. E, se inviabiliza o deslocamento de pessoas, viola o direito de ir e vir. Não há, em geral, direitos absolutos. Todos têm direito a se manifestar e a chamar a atenção, mas o limite de incômodo que pode razoavelmente ser causado a terceiros por uma manifestação que interessa a milhares de pessoas não pode ser o mesmo de uma manifestação que interesse a poucas dezenas de moradores de uma rua específica. Todos esses cuidados não impedem nem que uma manifestação se realize nem que ela cause algum transtorno. Uma coisa é bloquear uma pista de uma avenida importante, o que já será suficiente para chamar atenção. Pode ser também razoável bloquear uma via importante por alguns minutos, estender uma faixa, transmitir a mensagem que se pretende, e desbloqueá-la. Mas uma manifestação — como parece ter sido a de ontem — que impede ou dificulta que milhares de pessoas cheguem a seu trabalho, que doentes cheguem aos hospitais, que passageiros cheguem a aeroportos, que ultrapassa todos os limites da razoabilidade deixa de ser um legítimo instrumento de manifestação política protegido pela Constituição e segue um caminho que termina na pura chantagem. Saber localizar os limites toleráveis não é fácil, mas é tarefa urgente em nosso aprendizado democrático. l *Rodrigo Mascarenhas é mestre em direito constitucional pela PUC-RJ e doutorando em direito público pela Universidade de Coimbra Liberdade de protesto e outras liberdades GUSTAVO BINENBOJM* dadãos. Aí se inclui, a meu ver, o direito das pessoas de terem acesso ao trabalho, inclusiliberdade de manifestação dos cida- ve os próprios motoristas do Uber. dãos é uma garantia estrutural do Para tanto, no exercício do poder de políEstado democrático de direito. Em- cia, os agentes públicos estão autorizados bora me pareçam equivocados no — na verdade, têm o dever funcional — de mérito de sua causa, defendo o direito dos ta- gerenciar os percursos dos cortejos, deterxistas de se manifestarem contra as decisões minar a sua paralisação e, eventualmente, da Justiça que liberaram as operações do Uber, até ordenar a sua dissolução, em caso de independentemente da prévia autorização de grave risco para outras liberdades fundaqualquer autoridade pública. A liberdade de mentais de outros cidadãos. A regulação expressão não se baseia no da liberdade de manifestamérito intrínseco da ideia deção é essencial para que A liberdade de fendida, mas apenas no direie todas as demais limanifestação dos taxistas esta to de se defender alguma berdades sejam paraleladeve ser assegurada, mas mente exercidas. ideia, seja ela boa ou má. A questão, no entanto, é Em todo o mundo civilizade forma concomitante que viver é conviver, o que o papel da cortes consticom os direitos de ir, vir e do, significa que o exercício de tucionais tem sido o de propermanecer dos cidadãos curar soluções compromisqualquer direito está integrado em um sistema de disórias que permitam a fruireitos de outras pessoas, igualmente assegu- ção compartilhada de direitos aparentemenrados pela Constituição e pelas leis do país. te contrapostos, como é o caso da liberdade Assim, a liberdade de manifestação dos taxis- de imprensa e dos direitos da personalidade. tas deve ser assegurada pelas autoridades Alguém poderia supor que os manifestantes públicas, mas de forma concomitante com os tivessem um direito de perturbar direitos alheios direitos de ir, vir e permanecer dos cidadãos, como forma de chamar a atenção do público paalém, é claro, de sua incolumidade física e ra a sua causa. Mas essa é a fronteira entre a lipatrimonial. O mesmo Estado que atua no berdade e a desobediência civil, entre a demosentido de assegurar as manifestações de al- cracia e a anarquia. Ser livre, numa democracia, guns cidadãos, com ampla liberdade e segu- significa, sobretudo, ser livre de forma coletiva. l rança, deve atuar para adotar as medidas necessárias a preservar os direitos à segurança, *Gustavo Binenbojm é professor titular da à locomoção e à propriedade dos demais ci- Faculdade de Direito da Uerj A Participaram da cobertura: Antônio Werneck, Caio Barretto Briso, Célia Costa, Daniella de Paula, Dayana Resende, Gustavo Goulart, Guilherme Ramalho, Ludmilla de Lima, Luís Julião, Natália Boere, Renan França e Selma Schmidt l Rio l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO l 13 COFRE VAZIO _ Pacientes só poderão ficar em UPAs por 6h MARINA NAVARRO LINS Restringir tempo de permanência nas unidades de saúde é uma das medidas estudadas para cortar gastos MARIA ELISA ALVES [email protected] Deixar de atender casos que não sejam urgentes e limitar a seis horas a permanência de pacientes nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) são algumas das medidas que as Organizações Sociais (OSs) poderão adotar para cortar custos. Por conta da crise financeira, a Secretaria estadual de Saúde estabeleceu que as OSs, que administram 29 UPAs, gastem até R$ 1 milhão por mês em custeio, pagamento de funcionários, exames e medicamentos, como informou ontem O GLOBO. A economia terá que ser grande: somente a UPA de Botafogo, por exemplo, gasta R$ 2.105.530,58 por mês. Rubem César Fernandes, diretor-executivo do Viva Rio, que administra seis UPAs do estado, defende que sejam feitas mudanças no atendimento para que os custos fiquem dentro dos parâmetros que o estado exige. Ele propõe a realização de uma triagem na entrada das UPAs e sugere que | Opinião | PRECAUÇÃO ENQUANTO O Brasil, em especial, e o mundo torcem pelo desenvolvimento rápido da vacina contra a zika, cabe destacar a vantagem até mesmo financeira de se ter pesquisa própria neste ramo da ciência. NA DÉCADA de 90, enquanto a vacina contra hepatite B importada saía por US$ 80 a dose, a desenvolvida no Brasil custava US$ 1. DAÍ A imperiosa necessidade de os governos terem bom senso ao pensar em cortes nesta área. Hoje na web oglobo.com.br/rio l VÍDEO: O caos no trânsito durante manifestação de taxistas. glo.bo/1ZRYJbY Maitê Proença fala em vídeo sobre o ato de taxitas: “Não sei se para o Rio traz simpatia”. l PROTESTO: glo.bo/1Y4L5Ri Saiba como colaborar com o conteúdo do GLOBO. Envie informações, fotos e vídeos para (21) 99999-9110. l WHATSAPP: glo.bo/1YJ2MIi l FACEBOOK: Confira as notícias do GLOBO. www.facebook.com/jornaloglobo acesse 140 COPACABANA Rua Barata Ribeiro, 181 DUQUE DE CAXIAS (PREZUNIC CENTER) Rua José de Alvarenga, 95 NOVA IGUAÇU Av. Nilo Peçanha, 639 SULACAP (PARQUE SHOPPING SULACAP) Av. Marechal Fontenele, s/nº pacientes que não tiverem em situação de risco sejam encaminhados para atendimento nas clínicas de famílias. — A classificação de risco já é feita, mas as UPAs atendem todo mundo. Muita gente que, a rigor, não é caso de urgência ou emergência, vai à UPA, que está aberta 24 horas por dia, sete dias por semana, para se tratar de forma geral. Esses pacientes deveriam estar em clínicas de assistência básica — diz Rubem César, acrescentando que, segundo um estudo feito pelo Viva Rio em cinco UPAs, 64% dos atendimentos são casos classificados na cor azul, que corresponde às situações sem gravidade. TRANSFERÊNCIA PARA HOSPITAIS Com atendimento apenas para casos graves, diz Rubem César, seria possível cortar 30% dos custos das UPAs, incluindo os gastos com pessoal. — Mas isso só daria certo se fosse uma decisão de todas as UPAs da cidade do Rio, que tem uma cobertura de saúde da família abrangente. Em outros municípios, isso não daria certo. Outra medida que pode enxugar custos é a redução do tempo de permanência dos pacientes nas UPAs. De acordo com Rubem César, nas unidades administradas pelo Viva Rio, a média é de 72 horas: — A UPA é supostamente para estabilizar o paciente, e não para internação. Mas o que acontece é que os doentes ficam em média três dias internados. A definição de UPA é que se fique seis horas, no máximo. Depois disso, o paciente tem que ir para casa ou ser transferido para a rede hospitalar. É uma medida de economia importante esse reencaminhamento. Vamos fazer pressão nisso. Mas, para dar certo, a central de regulação de vagas do estado tem que funcionar. A Secretaria de Saúde informou ontem que as UPAs foram criadas para oferecer atendimento a casos de baixa e média complexidade e lembrou que o serviço de urgência e emergência é uma atribuição municipal. Uma reestruturação das Peregrinação. Edmilson na entrada do Hospital Evandro Freire, na Ilha: ele não conseguiu atendimento em UPA “Não temos para onde correr. Sei que existe crise, mas é preciso compaixão com a população” Edmilson Costa Morador da Ilha UPAs também faz parte dos planos de corte de despesas. Pelo menos 12 delas deverão mudar de perfil e passar a atender somente adultos ou pacientes pediátricos. Ontem, a unidade de Itaboraí, que seria fechada para obras e reabriria apenas para crianças, permaneceu funcionando. O estado mudou de ideia e resolveu não fechá-la. Na Ilha, a suspensão do atendimento foi concretizada. Quem procurou a unidade a encontrou com portas fechadas. Foi o caso de Edmilson Costa, de 39 anos, que se queixava de febre há dias e foi encaminhado para o Hospital Municipal Evandro Freire, também na Ilha. — O hospital está lotado, demoraram três horas para me atender. Sem a UPA, não temos mais para onde correr. Sei que existe crise, mas é preciso ter compaixão com a população — disse Edmilson. Nas UPAs da Maré e da Penha, a espera por uma consulta chegou ontem a sete horas. A emergência do Hospital Estadual Getúlio Vargas, também ficou lotada. A Secretaria municipal de Saúde informou que a Coordenação de Emergência Regional da Ilha registrou ontem um aumento de 30% na procura por atendimento. l 14 l O GLOBO l Rio l Meu pirão primeiro ANCELMO GOIS Estas imagens de Nossa Senhora da Conceição e das Dores fazem parte do museu de arte sacra a ser inaugurado, hoje, na belíssima Igreja São Francisco de Paula, que fica no Centro do Rio e começou a ser construída em 1759. O evento faz parte das celebrações do Dia de São Francisco de Paula, “o eremita da caridade”. ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, DANIEL BRUNET E TIAGO ROGERO Fator Banco do Brasil Mais uma vez, de novo, novamente, a enferma Sete Brasil, das sondas da Petrobras, decidiu adiar a decisão sobre o requerimento de recuperação judicial. Especula-se que a recuperação da Sete impactaria, de forma negativa, no balanço do Banco do Brasil. LAIZER FISHENFELD Orquídea para o mestre O querido Luis Fernando Verissimo, 79 anos, que está internado há uma semana no Pró-Cardíaco, no Rio, e colocou, ontem, um marcapasso, tem sido alvo de carinho dos cariocas. Uma fã foi até o hospital só para deixar uma orquídea para o mestre, que vem tendo boa recuperação. Tony Bellotto em NY Aproveitando a turnê dos Titãs, em maio, pelos EUA, a editora Akashic Books fará, com a presença de Tony Bellotto, o pré-lançamento do livro “Rio noir”, dia 11 de maio, em Nova York. Trata-se de uma antologia de contos policiais que o músico e escritor organizou. Negócios à parte Ai, que susto! O deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), ministro da Ciência e Tecnologia de Dilma, foi acusado, lembra-se?, de ser “pau-mandado” de Eduardo Cunha pelo doleiro Alberto Youssef. Agora, contrariando a posição do presidente da Câmara, não quer largar o governo. Celso é ex-professor de português e dono do bar “Barganha” — que não se perca pelo nome! —, em Duque de Caxias. Na manhã de ontem, embora sob sol e boas condições de tempo, passageiros do voo 1485, vindo de Brasília, tomaram um tremendo susto na hora do pouso no Santos Dumont. O avião arremeteu pois havia outra aeronave na pista. Dentre os aflitos, o ministro Luiz Fux, o ex-governador Garotinho, os deputados federais Cristiane Brasil e Otávio Leite. Ditadura partidária O ET de Copacabana O carioca Célio Borja, 87 anos, ex-ministro do STF, faz um apelo ao Congresso: a adoção de candidaturas “independentes”, tanto no Executivo quando no Legislativo. Ele, em entrevista ao coleguinha Geneton Moraes Neto, que vai ao ar hoje, na “GloboNews”, disse existir no Brasil uma “ditadura partidária”. Um grupo de raelianos, religiosos que acreditam em extraterrestres, apresenta hoje, no Posto 3, em Copacabana, seu projeto de construção, em Israel, de uma... embaixada para acolher ETs. Coisa de uns US$ 40 milhões. David Uzal, coordenador da turma na América do Sul, conta que eles se mobilizam para conseguir, na ONU, um estatuto de extraterritorialidade, como toda embaixada tem. Mas... do jeito que as coisas estão por aqui, acho que os ETs não virão. U Zona Franca Fernando Molica lança “Uma selfie com Le- No mais Roberto Jefferson, o delator do mensalão, depois de dizer ao “Estadão”, na edição de ontem, que Lula sabia da ligação do PT com a corrupção, fez uma frase histórica: “Eduardo Cunha é o bandido pelo qual eu mais torço.” Ou seja: a política brasileira virou ou não virou espaço de corrupção generalizada, como disse o ministro Barroso, do STF, sem saber que estava sendo gravado? FOTOS DE DIVULGAÇÃO Para quem gosta de arte sacra www.oglobo.com.br/ancelmo Seguindo os passos de TJ e MP, a Defensoria Pública do Rio conseguiu liminar na Justiça para receber seus salários antes dos demais servidores. Tudo legal, claro. Mas é como se diz em Frei Paulo: quem pode, pode, quem não pode, se sacode. Sábado 2 .4 .2016 PORQUE HOJE É SÁBADO... Até para grandes fotógrafos, como é o caso de nosso Laizer Fishenfeld, retratos assim são raros. Veja o momento em que, enquanto é perseguido por um atrevido bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), este tucano-grande-de-papo-branco (Ramphastos tucanus) parou no ar. Diz “seu” Laizer que bem-te-vi é um passarinho invocado, mesmo; não tem medo de pássaros maiores: “Este tucano provavelmente deve ter feito uma bagunça no ninho do bem-te-vi.” Será? l nin”, terça, às 19h, na Travessa de Botafogo. Ulhôa Canto, Rezende e Guerra Advogados foi premiado pela “International Financial Law Review” na categoria Americas M&A Deal of the Year. O escritório atuou em negócios envolvendo a Olin e a Dow Chemical, a Ambev e a Inbev. Terça, às 19h, Cláudio Carneiro, o presidente da OAB-Barra, lança o ciclo de palestras “Olimpíadas Rio-2016”. Terá participação de Bernardinho, no auditório do Shopping Marapendi. Julieta Guevara fala sobre estimulação magnética transcraniana, na Magventure. Sofá Café, a cafeteria de São Paulo, abre loja em Copacabana. O acadêmico Arnaldo Niskier foi convidado para carregar a tocha olímpica, na abertura dos Jogos. Cena de vandalismo Um dos empresários de moda mais conceituados do país teve seu carro e motorista cercados, ontem, por taxistas, no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, por volta das 11h. Acharam que era Uber. O empresário teve a sua carteira roubada, o carro quebrado e ainda quiseram bater no rapaz que dirigia o carro dele. O pior é que... Dois guardinhas presenciaram a cena e não se manifestaram. Oferecido por Legado urbano gera oportunidades de negócios para Barra e Recreio Investir na região, que surge como o novo eixo de desenvolvimento do Rio, pode trazer ganhos de até 50% A Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes estão ganhando cara nova – e ainda mais bonita, é bom dizer. Os novos viadutos, as vias ampliadas, a ciclovia do Joá e os BRTs já proporcionam mais qualidade de vida aos moradores, no embalo das obras para os Jogos Rio 2016. Mais do que isso: a inauguração de hotéis, shoppings, indústrias, centros médicos e escolas fazem da região o novo eixo urbano do Rio, transformando a área em uma excelente opção de investimento. O legado já é uma realidade. Juntos, BRT Transoeste – que liga o Terminal Alvorada a Campo Grande – e o BRT Transcarioca – que vai do Terminal Alvorada até o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro – transportam mais de 500 mil passageiros por dia. Porém, a grande obra de mobilidade é, sem dúvida, a Linha 4 do Metrô (Barra Ipanema), com inauguração prevista para o primeiro semestre deste ano. Uma das empresas que acredita na Barra é a Brookfield Incorporações, que vem entregando empreendimentos imobiliários e investindo na região. Ela foi uma das pioneiras em projetos de categoria AAA na área que está chamando de Barra Legado, como o premiado Worldwide Office. Somente em 2016 serão empregados R$ 400 milhões em ofertas de novas unidades na cidade. — A região representa um custo-benefício muito vantajoso para o comprador, agora que as obras de infraestrutura começam a ficar prontas — diz Marco Adnet, diretor executivo da Brookfield Incorporações. O legado já está pronto FOTOS DE MARIANA ANNUNZIATO Barra Legado: valorização financeira e qualidade de vida no quadrilátero das avenidas Ayrton Senna, Abelardo Bueno, Américas e Salvador Allende e pode ser usufruído agora. Portanto, a oportunidade é neste ano. Segundo Adnet, a perspectiva de valorização da chamada Barra Olímpica, área composta pelo quadrilátero das avenidas Ayrton Senna, Abelardo Bueno, Américas e Salvador Allende, é de 50% — a partir do início da estabilização da macroeconomia e aumento da demanda pela oferta advinda da nova infraestrutura de mobilidade urbana. — Esse grande quadrilátero tem como principal referência o Centro Metropolitano, pensado na década de 60 pelo urba- Marco Adnet: o legado já está pronto e pode ser usufruído agora nista Lúcio Costa como uma área de convergência entre as regiões norte, sul, leste e oeste. Ele criou um conceito de “centralidade urbana” que só agora é percebido pelas pessoas, com a aproximação dos Jogos. Para a Brookfield, essa é a grande oportunidade que o legado dos Jogos traz. — Quem comprar agora um imóvel nessa região, em pleno desenvolvimento, fará um grande negócio, além de capturar a melhor qualidade de vida e as facilidades de mobilidade. Inclusive, já é mais rápido acessar o aeroporto do Galeão do que o Santos Dumont — conclui Adnet. Conteúdo patrocinado produzido por l Rio l Sábado 2 .4 .2016 l 15 COFRE VAZIO JOÃO MIGUEL JUNIOR/TV GLOBO POSA PRA EU, ANA... O GLOBO _ Cultura se mobiliza contra projeto de lei que põe fim à isenção fiscal Nem parece, mas Ana Furtado, uma das lindas apresentadoras do “É de Casa”, está comemorando 20 anos de carreira. Ao lado, a bela, 42 anos, posa nos jardins da casa onde apresenta o programa hoje junto com André Marques, Tiago Leifert e Patrícia Poeta Comissão irá à Alerj para tentar excluir a área da proposta do governo LUIZ FELIPE REIS [email protected] MAURÍCIO GOUVÊA ENCONTRO DE DOIS CRAQUES Paulo José, o talentoso ator, 79 anos, esteve ontem no lançamento do box “Anos 80” do querido músico Zé Renato, 60 anos, no Rio U Ponto Final EDITORIA DE ARTE CRISE NA ÁFRICA DO SUL Presidente condenado _ Corte sentencia Zuma a devolver dinheiro público usado em reforma indevida de sua casa Deve ser terrível viver num país onde político importante se envolve em irregularidades num imóvel. e-mail: [email protected] Fotos: [email protected] A notícia de que o governo estadual planeja suspender, por meio de um projeto de lei, a concessão de incentivos fiscais a empresas que apoiam ações culturais levou o setor a se mobilizar contra a proposta, que, de acordo com o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Jorge Picciani (PMDB), será votada na próxima terça-feira. Na tarde de ontem, representantes da área criaram uma comissão, com dez integrantes, e acertaram uma reunião com o deputado no mesmo dia da votação. O gabinete da presidência da Alerj confirmou o encontro. Se a proposta for aprovada, empresas que apoiam trabalhos artísticos, como a Light, a Petrobras e a Oi, ficariam impedidas de fazer uso da chamada Lei Estadual de Incentivo à Cultura para arcar com os custos do patrocínio. Noticiado pelo GLOBO na última quarta-feira, o projeto nº 1431/ 2016 provocou várias críticas nas redes sociais. No encontro com Picciani, a comissão de representantes do setor buscará sensibilizar o presidente da Casa e outros deputados. O objetivo é conseguir uma emenda parlamentar que exclua a área de cultura do plano do governo de suspender a isenção fiscal no estado. O principal argumento é que Manifestação fecha o Museu do Amanhã Trabalhadores demitidos da Reduc e do Comperj invadem a instituição Pelo menos 40 trabalhadores demitidos da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) fizeram ontem à tarde um protesto dentro do Museu do Amanhã, na Praça Mauá. Com faixas, cartazes e palavras de ordem, eles pediam emprego. Por questão de segurança, a visitação ao espaço foi suspensa. Um tumulto marcou o início do protesto: os manifestantes tentaram entrar no museu com marmitas, e, ao serem im- pedidos por seguranças, jogaram comida no acesso principal. O secretário municipal de Ordem Pública, Leandro Matiele, foi ao local e negociou a saída do grupo. PÚBLICO LAMENTA Por meio de uma nota, o Museu do Amanhã informou que a bilheteria foi fechada às 14h. O protesto, iniciado pouco depois do meio-dia, foi encerrado por volta das 16h. O espaço abrirá normalmente hoje, às 10h. Muita gente que planejou visitar ontem o museu foi surpreendida pelo protesto e se viu obrigada a adiar o programa. O engenheiro Marcelo Fonseca saiu de Niterói para conhecer o espaço e voltou para casa frustrado. — Quando cheguei, o museu já estava fechado por questão de segurança. Infelizmente, terei de voltar outro dia — disse o engenheiro. Um turista paulista passou pela mesma situação. A visita ao Museu do Amanhã fazia parte do roteiro de João Fernandes, mas terá de ser feita em uma outra viagem ao Rio. — Vou embora sem conhecer esse novo cartão-postal carioca — lamentou João. A segurança na Praça Mauá foi reforçada por equipes da Guarda Municipal e da Polícia Militar. l CARIOCATURAS Lan — Você é contra ou a favor do impeachment? — Não sou contra nem a favor, muito pelo contrário... _ [email protected] projetos culturais representam menos de 0,3% do total de recursos concedidos pelo estado via isenção fiscal. Fazem parte da comissão que vai à Alerj a ex-secretária estadual de Cultura Adriana Rattes, Andrea Alves (Sarau Agência), Bianca De Felippes (Associação dos Produtores de Teatro do Rio, APTR), Celso Athayde (Cufa), Eduardo de Souza Barata (APTR), Junior Perim (Circo Crescer e Viver), Marcia Dias (Tempo Festival), Marcus Faustini (Agência de Redes para Juventude), Roberto Guimarães (Oi Futuro) e Vil- “Se a lei for aprovada como está, o estado decreta quase o encerramento de sua política de fomento à cultura” Eduardo Barata Presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio ma Lustosa (Festival do Rio). — Se a lei for aprovada como está, o estado decreta quase o encerramento de sua política de fomento à cultura — disse o presidente da APTR, Eduardo Barata. — Estamos em contato com o presidente da Alerj e ele parece sensível à cultura, compreende a fundamental importância da isenção fiscal para o fomento ao setor. O que nos preocupa é que o governador em exercício Francisco Dornelles (PP) pede urgência na votação da lei, e precisamos mobilizar a Alerj para que se crie emendas que excluam a cultura do pacote de medidas. FESTIVAIS SOB RISCO De autoria dos deputados Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) e Bruno Dauaire (PR), o projeto de lei tem o apoio de Dornelles, que pediu urgência em sua tramitação. O texto informa que “o governo do estado fica impedido de conceder financiamento, benefício, incentivo, fomento econômico ou investimento estruturante a qualquer empresa sediada ou que venha a se instalar no Rio de Janeiro”. Entrevistado pelo GLOBO, Luiz Paulo disse que a lei “dificilmente será votada na terça-feira, pois deverão surgir emendas”. — Quando isso ocorre, a votação é suspensa e analisamos as emendas. Só na outra semana é que a lei deverá ser votada — afirmou o deputado. — Cada se- tor tentará manter seu incentivo, o que é legítimo, mas precisamos atentar que o estado tem um rombo de R$ 18 bilhões. Nesse contexto, é claro que os setores de esporte e cultura representam um impacto muito pequeno, de cerca de 0,5%. Por isso, sou simpático à exclusão de ambos, mas quem decide é o plenário. A secretária estadual de Cultura, Eva Doris, disse que está em contato com a presidência da Alerj e que Picciani é sensível à exclusão da cultura e do esporte do projeto de lei: — A informação que obtivemos dele é que a cultura e o esporte não serão afetados, que não haverá cortes nos benefícios fiscais para esses setores. Atualmente, algumas das mais importantes iniciativas culturais do Rio dependem de recursos obtidos por meio da isenção fiscal estadual. É o caso de festivais consolidados como o Panorama de Dança, o Multiplicidade, o Tempo Festival e o Festival Intercâmbio de Linguagens, entre outros que obtêm patrocínio do Oi Futuro via lei do ICMS. Na última terça, o Oi Futuro anunciou os vencedores do seu edital 2016/2017, e a preocupação dos contemplados é grande. Uma das principais patrocinadoras do setor cultural do país, a Petrobras também faz uso da lei do ICMS em seu Programa Petrobras Cultural, que patrocina diversos trabalhos no estado. l 16 l O GLOBO l Rio l RIO Previsão Uma massa de ar seco predomina na costa do Rio e garante um fim de semana de sol e calor em boa parte do estado. Na Região Metropolitana, o sol ganha força e não há condição de chuva. HOJE Ontem Mínima Máxima 23,2˚ Vila Militar 33,7˚ Vila Militar PROBABILIDADE DE CHUVA 22°/31° 21°/34° 23°/33° 22°/39° Baixa 23°/34° 22°/37° 24°/36° 23°/40° Baixa 34° 23°/37° 25°/36° 24°/40° Baixa 22° Santo Antônio 22° de Pádua TERÇA 24°/32° 23°/35° 25°/34° 24°/38° Baixa QUARTA 24°/32° 23°/35° 25°/34° 24°/38° Baixa QUINTA 24°/31° 23°/34° 25°/33° 24°/37° Baixa SEXTA 24°/30° 23°/33° 25°/32° 24°/36° Baixa 16° de Mauá 21° do Sul Valença 33° Volta 32° 29° 18° Itaperuna 33° São Fidélis Teresópolis 21° SERRANA 27° Nova Friburgo 16° Santa Maria Madalena 34° Casimiro 32° de Abreu 24° 24° 34° 23° MUNDO 22° AMÉRICA DO SUL Mín. Máx. São Francisco de Itabapoana NORTE Campos Ondas Ondas de 0,5 metro. Ondulação de leste-sudeste. Melhores locais: Prainha, Grumari e Recreio (informações Ricosurf). Praias Impróprias (informações Inea): Flamengo, Botafogo, Leblon, São Conrado e Pepino. Maré Alta Hora 6h10m 11h4m 18h13m 23h59m Altura 0,4m 0,9m 0,2m 1,1m Ventos Vento de oeste a sul/sudeste, entre 5km/h e 30km/h. Rajadas de até 45km/h. Pressão atmosférica de 1.016hPa. Resende Prainha Grumari 24° 24° TEMPERATURAS MÁXIMAS 25° 9° 22° 19° 2° 21° 19° 10° 8° Amanhã Mín. Máx. 38° 17° 29° 28° 13° 28° 30° 27° 26° S C C C C S C S S 26° 10° 21° 20° 4° 22° 20° 8° 9° 0h 38° 17° -2h 0h 26° 26° -1,5h 13° -1h 28° -2h 0h 26° 26° -2h 0h 25° AMÉRICA DO NORTE/CENTRAL 29° 17° Macaé BRASIL Chuva forte no norte do São Conrado São Paulo 20°/ 31° Porto Alegre 20°/ 32° S C C C S S C S S Assunção Bogotá Buenos Aires Caracas La Paz Lima Montevidéu Quito Santiago 31° 33° São João 34° da Barra 23° 21° Quebra-Mar Hoje 32° Redonda Barra 35° 30° Cachoeiras 34° Rio das Nordeste e do Norte. Ar 28° 22° de Macacu do Piraí 22° Petrópolis seco, sol forte e sem chuva 24° Ostras 17° 33° Barra SUL 31° no oeste do PR, de SP, em Silva Jardim 29° Mansa 21° 34° Duque 25° MS, no sul de MT e de GO, Búzios 23° LAGOS de Caxias 32° do litoral sul de SC ao do 31° 23° 31° Niterói 23° Araruama Cabo Frio 29° ES, no interior da BA, de 24° 24° Mangaratiba 34° Rio de 23° PE, de SE e em AL. 30° Janeiro 31°Maricá Saquarema 21° 24° Angra 31° 24° METROPOLITANA Macapá Fortaleza dos Reis Boa Vista 24° 30° 24° / 32° 23°/ 30° Natal 22°/ 34° Paraty 23° 23°/ 30° São Luís Belém 25°/ 30° Manaus João 24°/ 30° Situação das praias 25°/ 30° Pessoa 23°/ 30° Porto Velho O ar seco ganha força no Rio de Teresina Ramos Recife 25°/ 32° 23°/ 32° Janeiro e diminui o risco de chuva 23°/ 31° Palmas na cidade. O mar fica calmo e Rio Branco Maceió 24°/ 35° 24°/ 31° 25°/ 33° muitas praias próprias para o banho. Aracaju Salvador Brasília Cuiabá Flamengo Botafogo 24°/ 30° PRÓPRIA IMPRÓPRIA 25°/ 32° 18°/ 29° 23°/ 36° Urca Vitória Ipanema Campo Grande Leme 24°/ 31° Pepino Leblon 23°/ 34° Belo Horizonte Copacabana Meio da Barra Pepê 19°/ 30° Goiânia Arpoador Rio de Janeiro 20°/ 31° Macumba 21°/ 34° Recreio Crescente Cheia Minguante Nova 14/4 22/4 31/3 7/4 37˚/40˚ Bom Jesus do Itabapoana 24°/34° 21° Acima de 40˚ 31° Porciúncula 21° SEGUNDA 33° Baixa SENSAÇÃO TÉRMICA/RIO 28° Visconde Poente 17h51m Alta ZONA OESTE 34° Paraíba Lua Baixa ZONA NORTE AMANHÃ Sol Nascente 6h01m ZONA SUL Sábado 2 .4 .2016 Florianópolis 21°/ 30° Cid. do México Havana Los Angeles Miami Montreal Nova York Orlando Washington DC S S S S C C C C 12° 23° 12° 24° 1° 10° 22° 11° 28° 33° 24° 32° 10° 21° 32° 23° S C S C S S S S 8° 23° 13° 23° -8° -2° 14° 0° 25° 34° 25° 32° 5° 14° 26° 14° -3h -1h -4h -1h -1h -1h -1h -1h S S S S S S S C C S C C S 6° 11° 6° 1° 5° 3° 4° 7° 4° 1° 1° 4° 15° 13° 21° 19° 14° 19° 18° 22° 17° 14° 17° 3° 19° 19° S S S S S S S C C C C C S 10° 10° 6° 4° 11° 9° 7° 10° 6° 4° 1° 9° 14° 14° 14° 18° 18° 20° 20° 18° 16° 16° 14° 3° 19° 19° +5h +6h +5h +5h +5h +5h +5h +4h +4h +5h +6h +5h +5h EUROPA Amsterdã Atenas Barcelona Berlim Bruxelas Frankfurt Genebra Lisboa Londres Madri Moscou Paris Roma ÁSIA Jerusalém Pequim Tóquio S 14° 25° S 10° 20° C 8° 11° S 13° 26° +5h S 8° 19° +11h C 10° 19° +12h Cairo S 12° 30° Johannesburgo S 11° 29° S 14° 30° +5h C 14° 28° +5h ÁFRICA OCEANIA Sydney S: sol S 15° 32° N: nublado C 16° 24° +14h C: chuvoso Ne: neve Mais informações sobre o tempo NA INTERNET Curitiba 17°/ 29° oglobo.com.br/servicos/tempo/ PREVISÃO 34˚/36˚ 31˚/33º 28˚/30˚ 25˚/27˚ 22˚/24˚ 18˚/21˚ 13˚/17˚ Abaixo de 12˚ Sol Parcialmente nublado Nublado Sol com pancadas de chuva Nublado com chuvas Chuvas com trovoadas Geada Menina sequestrada é encontrada morta em Vicente de Carvalho Segundo a polícia, pedreiro confessou o crime. Ana Carolina estava em um buraco ELISA CLAVERY [email protected] do, ontem, ser o homem que aparece em imagens de câmeras de segurança conduzindo Ana Carolina pelas mãos. A mãe da vítima, Marta Vieira Flor, de 31 anos, estava grávida e deu à luz um menino ontem. Até o início da noite, ela não sabia da morte da filha. O corpo de Ana Carolina Flor dos Santos, de 6 anos, foi encontrado ontem à tarde, em Vicente de Carvalho, escondido em um buraco na Avenida Martin Luther King. O local foi indicado pelo pedreiro Alfredo Santos de Oliveira, de 53 anos, que, segundo a Polícia Civil, confessou ter sequestrado a menina no sábado. Ela estava passando o fim de semana na casa da avó, em Vaz Lobo, a menos de dois quilômetros de onde foi deixada morta. Preso desde quinta-feira, Alfredo chegou a negar envolvimento no desaparecimento da criança. Mas, de acordo com policiais, ele acabou admitin- USO DE ÁLCOOL E DROGA Ana Carolina, que morava no Morro do Juramento, tinha ido passar o fim de semana na casa da avó, na Rua Leri, que dá acesso à comunidade do Terço. Ela foi vista pela última vez por volta das 16h, brincando com um velocípede. Alfredo é vizinho da família da menina e bastante conhecido na região. De acordo com a delegada Ellen Souto, titular da Delegacia de Descoberta de Paradeiros, ele disse que havia consumido cocaína e bebida alcoólica. O pedreiro trabalhava há dois meses em uma obra. O local passou por perícia e material que pode DIVULGAÇÃO/POLÍCIA CIVIL Fim das buscas. Policiais observam o buraco onde a criança foi encontrada CEL. CARLOS JOSÉ PEREIRA Paraquedista MISSA DE 09 ANOS Nair, esposa e eterna namorada, convida parentes e amigos, para a Missa de 09 (Anos), a ser celebrada pelo Pe. Fábio Joseph Lopes Pedroza (Capelão Militar), amanhã (Domingo), dia 03/04/2016, às 9:00 horas, na Capela de N. S. das Graças no Interior do Hospital Central do Exército - H.C.E. - Triagem. ser sangue foi coletado e enviado para análise. A família tinha esperança de encontrar Ana Carolina com vida. O pai da menina, José Antônio dos Santos, ficou muito abalado. Ele passou os últimos dias procurando a filha e já havia encontrado o vestido da criança na linha férrea. — Ela era muito alegre, gostava de funk e estava aprendendo a escrever o nome. Esse cara torturou e destruiu nossa família. Estava desde sábado com minha filha. Espero que a Justiça o deixe 30, 40, 50 anos na cadeia — desabafou. “QUEREMOS ENTENDER” Vizinhos de Alfredo ficaram surpresos ao saber que ele havia admitido o crime. — Nunca poderia imaginar que ele faria isso. Nós o conhecemos há muitos anos. Queremos entender o motivo de ele ter feito isso — disse uma moradora, que pediu para não ser identificada. Durante as investigações, os policiais descobriram que o pedreiro apareceu na casa da avó da menina por volta das 10h, perguntando pelas crianças da família. Uma vizinha lhe disse que elas estavam brincando no quintal. Segundo a delegada, Alfredo costumava distribuir balas na região. Segundo o site de notícias G1, uma testemunha que não teve a identidade divulgada contou à polícia que viu Ana Carolina de mãos dadas com o pedreiro no dia do desaparecimento. Ela soube do sequestro da criança apenas no domingo, por meio de uma rede social. Em seguida, a testemunha procurou os parentes da menina. Ela disse que Ana Carolina deu “tchau” quando a viu. l NA WEB GALERIA DE VÍDEO oglobo.com/rio Alfredo foi filmado levando Ana Carolina pelas mãos. Avisos Fúnebres e Religiosos 2534-4333 MAJOR-BRIGADEIRO AGENOR DE FIGUEIREDO MISSA DE SÉTIMO DIA Seus filhos: Vera Regina, Agenor Jr., João Arnaldo, Tereza Cristina e netos convidam para a Missa que será celebrada no dia 04/04/2016, segunda-feira, às 18:00h, no Mosteiro das Irmãs Clarissas a Rua Jequitibá, 41 - Gávea. MARIA THEREZA DE CASTELLO BRANCO MISSA DE 7º. DIA Seus amigos: Carlos Alberto e Juanita Pardellas, Carlos Arthur Ortenblad, Dalal Bocayuva, Eduardo Figueiredo, Emita de Pourtalès, Frank e Anna Maria Thompson Flores, Frank e Maria Christina Sá, Jayme de Marsillac, João Maurício e Maria Alice de Araújo Pinho, Lolly Hime, Luiz e M. Clara Corrêa do Lago, Lupe Moreira, Manoel e Isabel Corrêa do Lago, Maria Elisa Ortenblad, Maria Thereza Marques, Maria Thereza Williams, Paulo e Gilda Pires do Rio, Pedro e Bia Corrêa do Lago, Pedro e Veronica Carneiro de Mendonça, Roberto Caballero, René Haguenauer, Rogério Scofano, Sarita de Vincenzi, Thereza Muniz, Therezinha Noronha e Walton e Luciana Hoffmann convidam para a Missa de 7º. Dia a ser celebrada no dia 4 de Abril - Segunda-feira, às 18 horas, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na PUC-RIO, situada à Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea - RJ. Plantão sábado / domingo 2534-5501 Sábado 2 .4 .2016 Dos Leitores | oglobo.com.br/participe Eu-repórter O GLOBO Autocrítica | Das redes sociais facebook.com/jornaloglobo _ twitter.com/jornaloglobo PEDRO TEIXEIRA “A praça é utilizada indevidamente por donos e passeadores de cachorro, que deixam seus animais em áreas reservadas ao lazer infantil. Fezes e urina dos cães são deixadas onde dezenas de crianças brincam” twitter.com/jornaloglobo MARCOS ALVES ANDREW TESTA/NEW YORK TIMES Rosana Simões, sobre a sujeira feita por cachorros numa praça na Rua Assunção, próximo à Marquês de Olinda, em Botafogo. A Guarda Municipal informou que vai orientar usuários do local. “Uma das maiores empresas do mundo estar acabada...” “Parem de achacar os brasileiros com preços abusivos” Sueltoni Montenegro @RafaelO11710234 Petrobras lança plano de demissão voluntária para todos os funcionários | Cartas e e-mails Venda de carros tem queda de 23% em março “Líderes islâmicos devem mobilizar seus adeptos para o combate ao extremismo” @sergiomandre ‘Se não reformarmos o Islã, vamos bater no muro’ | As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Dos Leitores. O GLOBO, Rua Irineu Marinho 35, CEP 20233-900. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail [email protected] _ VAMOS TRABALHAR? a “O país está paralisado.” “O país precisa retomar o crescimento.” São alguns dos argumentos dos favoráveis ao impeachment. O Brasil precisa, mesmo, é sair dessa letargia. A Lava-Jato é autônoma, andará por si. Essa crise política não terá fim tão cedo. Empresários, vamos contratar, vamos produzir! Temos que deixar de ser meros repassadores de produtos chineses e parar de especular. E aí não só os empresários, mas Bolsa/dólar, dólar/Bolsa. Isso não é produção. Não gera riqueza. É mera jogatina. Não há risco; somos um mercado de 204 milhões de pessoas com as mesmas necessidades de antes! A moeda tem que circular. Portanto, mãos à obra, já! abusou de suas prerrogativas e, como qualquer servidor público, deveria ser julgado na Justiça comum e não ser blindado pelo STF. ROBERTO OSORIO DE OLIVEIRA NITERÓI, RJ _ a A decisão do STF, trazendo para foro privilegiado os inquéritos envolvendo o ex-presidente Lula parecem querer realizar o desejo do possível réu, conforme o famoso vídeo, gravado pela deputada Jandira Feghali, em que Lula, em conversa ao telefone, diz ao interlocutor para que mande enfiar “naquele lugar” os processos que o investigam. Com isso, foro privilegiado adquire novo sentido no vernáculo português. SUELY ROSSET RIO _ A FAVOR E CONTRA a Recentes manifestações em apoio ao governo Dilma desfilam palavras de ordem a favor da democracia e contra o impeachment e o ajuste fiscal. O governo Dilma já afirmou ser questão de sobrevivência da democracia o ajuste fiscal e que essa posição tem o respaldo das urnas. A reprovação ao governo Dilma, segundo pesquisas recentes, supera 90% da população. Mas, afinal, quem é a favor e quem é contra o quê? MARCELO GOMES JORGE FERES RIO _ PROCESSOS AO STF a Os doutores da lei também erram! É o que me parece, em relação aos grampos em que se envolveu Lula. Por oito a dois, o STF manteve os grampos em Brasília. Mas tais grampos envolveram pessoas com foro privilegiado, essa aberração, e pessoas comuns. Por que, então, não separar? As gravações que não envolveram autoridades seriam examinadas pelo juiz Moro e as demais, pelo STF? Do jeito que está, o STF tomou o partido de Lula, que INÈS ALFARERO RIO do ministro Barroso. Na sua condição de alta autoridade do Judiciário, não deveria expressar publicamente preferências políticas. Pode ser condenado pelo povo por estar julgando ações contra o governo sem a imparcialidade que o cargo requer. _ a O caos em que se transformou o Rio por causa do protesto dos taxistas contra o Uber demonstra que estamos sem autoridades para garantir o direito dos cidadãos. Antes de fazerem um absurdo desses, os taxistas deveriam fazer uma autocrítica do péssimo e caro serviço que prestam, com recusas de destinos e valor de corridas maior devido à estrutura ultrapassada dos seus representantes. Se fossem mais antenados, veriam que carregam nas costas verdeiros sanguessugas, que permitem a multiplicação de soluções como o Uber. EUZEBIO SIMÕES TORRES RIO DURANTE A AULA a Dirigindo-se a estudantes, o ministro do STF Luís Roberto Barroso, entre outras coisas, declarou que nosso sistema político se tornou um “espaço de corrupção generalizada”; o modelo político “é um desastre”; a política está “gravemente enferma”, e que “é preciso mudar”. Ao saber que estava sendo filmado e gravado, ficou contrariado e pediu para desgravar. Não faça isso, ministro. Uma palestra de Lula vale US$ 200 mil, sua aula foi impecável e não tem preço. OTTO AZOI RIO SERGIO JOSÉ NASCIMENTO ASSUMPÇÃO CASIMIRO DE ABREU, RJ a Sem saber que estava sendo gravado, o ministro Luís Roberto JOSÉ EDUARDO SILVEIRA RIO _ necessária a melhor identificação dos motoristas do Rio. Atualmente, o cartão com a identificação desses fica colado no vidro dianteiro, sem que o passageiro possa ver, no caso de reclamação ou até para conferir se a foto corresponde ao rosto do motorista. Que a prefeitura aja rápido e, em vez de protestos, como os de sexta-feira, que o sindicato faça a sua parte sem precisar de tanto controle de órgãos do governo. CARLOS EDUARDO FONTES RIO _ TAXISTAS PARAM O RIO _ RICARDO DROLSHAGEN RIO _ _ viu refém de taxistas que acham que suas reivindicações se sobrepõem ao dia a dia da população. O mais grave é que na prática nada vai acontecer com os baderneiros, que certamente repetirão sua operação de guerra num futuro indefinido. Gostaria apenas de saber se algo poderia ser feito num futuro, já que autonomias são concessões públicas. Não seria o caso de suspensão por um ano ou cassação em definitivo? O que vimos nesta sexta-feira foi baderna e incitação à desordem em via pública. a Como passageiro de táxi, faz-se reformou um imóvel usando propina. No Brasil, ex-presidente reformou dois imóveis, também, usando propina. Os dois casos foram parar na Justiça. A Corte africana sentenciou seu mandatário a ressarcir o erário. Já a brasileira retirou a investigação da primeira instância e levou-a para o seu ninho. Que diferença de julgamentos! Um jurídico. O outro? Totalmente político. a Tomar de assalto a cidade é crime. Mas isso os taxistas já fazem quando assaltam os usuários dando voltas ‘ESTAÇÃO GÁVEA’ a Em resposta à carta do leitor Antônio Carlos N. dos Santos (1/4), o governo do estado esclarece que está ampliando a Estação General Osório (Linha 1 do metrô), com construção de plataformas para embarque e desembarque de passageiros, para aumentar a flexibilidade operacional da estação e viabilizar a integração entre as linhas 1 e 4. Para atender a normas técnicas internacionais e de segurança, eram necessários túnel de ventilação e saída de emergência. O governo do estado decidiu fazer com que esse túnel — com saída para a Lagoa — fosse mais bem aproveitado, servindo também como acesso para usuários do metrô. HEITOR LOPES DIRETOR DE ENGENHARIA DA RIOTRILHOS SECRETARIA DE ESTADO DE TRANSPORTES NA EDIÇÃO DE ONTEM: _ P. 2: “Conte algo que não sei/‘Saber que há pobreza nos EUA surpreende os jovens’.” “Como o jovem pode ajudar a si e a sua comunidade?” Falta do acento grave (para evitar ambiguidade). Certo: “... pode ajudar a si e à sua _comunidade?” P. 2: “Panorama político/ ‘Efeito Mick Jagger’.” “Vascaínos gostaram: ‘Vá, pé frio’.” Erro de grafia (falta do hífen) e falta do ponto de exclamação. Certo: “Vascaínos gostaram: _‘Vá, pé-frio!’.” P. 3: “Nenhum ato constituiu crime.” “Falta de apoio parlamentar, impopularidade e o conjunto geral da obra não alicerça pedido de impeachment.” Erro de concordância. Certo: “Falta de apoio parlamentar, impopularidade e o conjunto geral da obra não alicerçam pedido _ de impeachment.” P. 3: “Nenhum ato constituiu crime.” “... porque foram adotados depois do governo aumentar o corte de gastos.” Combinação inadequada. Certo: “... porque foram adotados depois de o governo aumentar o corte...” _ P. 4: “Um retrato na parede.” “Mas se a alternativa for da mesma laia, só com sinais trocados, mas com o resultado final igual, não teremos solucionado o problema, apenas arranjado um problema novo.” Falta de vírgula no início da circunstância interposta e repetição do “mas”. Certo: “Mas, se a alternativa for da mesma laia, só com sinais trocados, com o resultado final...” _ P. 4: “Dilma compara clima de intolerância ao nazismo.” “Ela criticou a pediatra gaúcha que recusou-se a atender uma criança...” Erro na colocação do pronome pessoal oblíquo átono. Certo: “Ela criticou a pediatra gaúcha que se recusou a atender uma criança...” _ P. 4: “Dilma compara clima de intolerância ao nazismo.” ‘Não se negocia aspectos da democracia’.” Erro de concordância. Certo: “Não se negociam aspectos...” _ P. 4: “Pediatra será alvo de processo.” “O sindicato a polêmica uma ‘notória exploração partidária’ para ‘fins eleitoreiros’.” Falta do verbo. Certo: “O sindicato considera a polêmica...” _ P. 7: “Não tem para onde correr.” “Mas quem é que está assistindo isso?” Erro de regência. Certo: “Mas quem é que está assistindo a isso?” Este é o resumo da crítica realizada e supervisionada pelo professor Ozanir Roberti, sob a coordenação do jornalista Aluizio Maranhão, editor de Opinião do GLOBO. A crítica completa é distribuída todos os dias na Redação. LEIA A ÍNTEGRA DA COLUNA NA WEB oglobo.com.br Há 50 anos 2 de abril de 1966 HENFIL/10-6-1993 POLÊMICO EM PARIS, RIO E NOVA YORK Criado nos EUA, serviço de transporte atende a 56 países e provoca a ira de taxistas. Mensalão STF CONDENA 25 RÉUS Ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares pegou pena de oito anos e 11 meses de prisão. acervo.oglobo.globo.com a Mais uma vez, o carioca ordeiro se a Causaram espanto as declarações Uber UM ANO SEM O DIRETOR PORTUGUÊS Ele viveu 106 anos e encantou Marcello Mastroianni por sua força, lucidez e energia. _ a O ministro Barroso, do STF, em a Na África do Sul, seu presidente FRANCISCO JOSÉ NOBRE DE ALMEIDA ARARUAMA, RJ Hoje no Acervo O GLOBO Manoel de Oliveira _ _ a Sinto-me violentado com essa inflação, investimentos em segurança, saúde ou educação. Isso é assunto exclusivo para campanhas eleitorais. Hoje, o governo se dedica a duas grandes causas: a banca de advogados e o balcão de cargos. JOSÉ LUIZ SALGADO RIO _ _ desnecessárias para aumentar o valor das corridas. O poder público deve cobrar do Sindicato dos Taxistas o valor econômico que este transtorno causa à cidade. O que acham de R$ 100 mil por hora de transtorno? Aí acabava com a palhaçada. ROSANE GUIMARÃES MACHADO RIO proteção do STF ao Lula, cidadão como eu, avocando para si o seu julgamento. Para mim, quebraram a espinha dorsal do STF. Triste! ROGÉRIO CALDAS NITERÓI, RJ _ a Nada de ajuste fiscal, combate à Barroso criticou o PMDB: “Meu Deus do Céu, essa é a nossa alternativa de poder”, disse, referindo-se aos líderes peemedebistas. A recíproca se aplica a muitos dos juízes que procrastinam de seus deveres. Conclusão: meu Deus do céu, que palpite infeliz! conversa com estudantes, sem saber que era gravado, fez declarações pertinentes. Além de se mostrar alarmado com o nível de políticos que se apresentam como alternativa de poder, foi contundente: “Nós temos um sistema político que não tem o mínimo de legitimidade democrática, deu uma centralidade imensa ao dinheiro e à necessidade de financiamento e se tornou um espaço de corrupção generalizada.” Disse, também, que o modelo político “é um desastre”. Bem-vindo, vazamento! Ficou mais fácil entender as indecorosas revelações de outro vazamento: o de Lula. ELIAS MERÊNCIO DA SILVA RIO l 17 Henfil HUMOR COM ACIDEZ Do futebol à política, nada escapava ao traço do cartunista. Empresariado destaca esfôrço Arrancada para o tri com a s do Govêrno na economia seleção reunida nas Paineiras Ao término das reuniões que promoveram em São Paulo, as classes empresariais lançaram manifesto que destaca o esfôrço do Govêrno da revolução para implantar processos técnicos e científicos na Administração Pública, a preocupação de gerir a coisa pública dentro de critérios de probidade e o restabelecimento do princípio da autoridade. Chama porém a atenção para o sistema de relações entre o Govêrno e as classes empresariais, mas acrescenta que o Governo possui potencialidade para que se atinja o ideal de harmonia. Com a chegada de Nado à CBD, por volta das 14 horas de ontem, iniciou-se a apresentação dos 45 craques convocados pela Comissão Técnica da seleção brasileira, prolongando-se até as 20h30m, quando Pelé, Zito, Gilmar, Edu e Lima surgiram no Hotel das Paineiras. Na sede da CBD, com uma multidão do lado de fora, o chefe da delegação, João Havelange, deu as boas-vindas aos jogadores e explicou o trabalho que os espera no período de preparação para o campeonato mundial. Em ônibus especial rumaram a seguir para as Paineiras. Os craques farão exames até meados da próxima semana. 18 l O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 OGLOBO | Opinião | Lava-Jato não pode ter o destino da Mãos Limpas À margem do processo de impeachment da presidente Dilma, surgem temores quanto ao futuro da Operação Lava-Jato, os quais cresceram a partir do momento em que passou a ficar claro que o PMDB, ou a parcela dele mais próxima ao vice Michel Temer, desembarcaria do governo. Com a defecção, grave para os planos lulopetistas de se manter no Planalto, surgiram rumores da possibilidade de um “acordão” pelo qual atingidos pela Lava-Jato e vítimas em potencial da força-tarefa de Curitiba — um universo pluripartidário, inclusive com gente da oposição — se entenderiam em torno da defenestração de Dilma, tendo como objetivo comum desmontar a operação. Descontadas visões conspiratórias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já alertou, em vídeo, ser inaceitável qualquer barganha com vistas a um novo governo que prejudique a Depois da operação na Itália, quando partidos fortes acabaram, Berlusconi agiu para que jamais haja uma investigação como aquela. Lição para o Brasil guns já existem denúncias encaminhadas ao Supremo, e mesmo Temer é citado em delações premiadas. Sequer o tucano Aécio Neves, o mais forte nome para ser novamente candidato a presidente, em 2018, está blindado contra dissabores. A operação Mãos Limpas, lançada na Itália no início da década de 1990, foi estudada por Moro, como uma espécie de prévia da Lava-Jato. Como esta, a “Mani Pulite” atingiu altos escalões federais — até um ex-primeiro-ministro, Betino Craxi, fugiu para a Tunísia e lá morreu sem voltar à Itália — e despedaçou partidos fortes. Em pleito nacional, os eleitores pulverizariam o Partido Socialista e a Democracia Cristã, envolvidos num enorme esquema de propinas muito semelhante ao petrolão do lulopetismo, aliados e empreiteiras. Com a condenação de políticos, surgiu espaço para um dos investigados no mundo empresarial, o poderoso Silvio Berlusconi, chegar ao poder. Lá passou a conspirar contra a operação e a criar Lava-Jato. Enquanto o vice Michel Temer, por força de lei o próximo ocupante do gabinete presidencial caso Dilma seja impedida, aproveitou encontro com empresários em São Paulo para desmentir notícias “plantadas e adubadas” de que trabalharia para estancar o trabalho do juiz Sérgio Moro e da força-tarefa. Mas é fato que, se no governo Dilma há muitos desgostosos com a Lava-Jato, num governo Temer ocorrerá o mesmo. Apenas para se ficar no PMDB, boa parte da cúpula do partido já caiu na malha de investigações da Lava-Jato. Contra al- obstáculos legais a qualquer nova investigação desse tipo. Houve grande repúdio popular, alguns recuos de Berlusconi, mas não se pode dizer que a Mãos Limpas limpou a política italiana. A Lava-Jato não está livre dos mesmos riscos. Que já existem. Por exemplo, o aguerrido deputado lulopetista Wadih Damous (RJ) já age como a tropa de choque de Berlusconi, ao propor projetos para barrar a delação premiada e rever decisão do Supremo de que o cumprimento de pena pode começar na condenação em segunda instância. Ironia: é um deputado petista a serviço de grandes empresários corruptores. Não surpreende, porque essa aliança ficou explícita no petrolão. Pelo menos no Brasil há uma proposta de mudanças legislativas, com apoio de 2 milhões de eleitores, que acaba de ser encaminhada ao Congresso pelo Ministério Público. Transformá-las em leis é a blindagem que o combate à corrupção precisa neste momento. l Argentina assume protagonismo no continente A visita do presidente Barack Obama a Cuba foi um fato histórico de tamanha proporção que acabou por ofuscar a importância e o simbolismo de sua passagem pela Argentina, na sequência de sua viagem à América do Sul. Se o encontro de Obama com Raúl Castro representou o início do fim da obsoleta política de embargo econômico contra a ilha, e uma aposta num continente mais integrado economicamente, a presença do presidente americano na Casa Rosada ressaltou a importância da Argentina no atual cenário político, econômico e social da América do Sul. Após a eleição de Mauricio Macri em dezembro do ano passado, a Argentina deu passos im- der restituir a confiança dos agentes econômicos e políticos. Durante a visita de Obama, num almoço na Câmara Americana de Comércio, o ministro de Finanças, Alfonso Prat-Gay, afirmou que o governo pretende no segundo semestre domar a inflação, hoje em torno de 30%, trazendo-a para um patamar entre 20% e 25%, e reduzir o déficit fiscal de mais de 7% do PIB em um ponto percentual. Metas factíveis, diante da retomada da confiança dos investidores e empresários, bem como do próprio consumidor argentino, que vislumbram alguma ordem no horizonte. Macri agiu rapidamente, logo após assumir a Presidência, aproveitando para adotar medidas difíceis enquanto seu capital político estava elevado. Com isso conseguiu avançar na di- portantes, sobretudo na economia, como a complexa negociação com credores com o propósito de reintegrar o país no sistema financeiro internacional — referendada pelo Congresso —, desfazendo a política de isolamento e calote implementada pelo casal Kirchner. Também desaparelhou importante instituição de estatísticas econômicas, o Indec, reintegrando as equipes técnicas, o que devolveu legitimidade a informações essenciais para tomada de decisões, como os índices de inflação, emprego e crescimento. Outra medida importante foi a eliminação de quase todas as tarifas e taxas cobradas sobre exportações agrícolas. Segundo o governo, os primeiros três meses de gestão foram destinados a “arrumar a casa”, e po- reção do crescimento sustentável, na rota inversa de vizinhos de continente, amarrados na ideologia bolivariana que há mais de uma década domina parte da região. Não é obra do acaso o fato de estes países encontrarem-se hoje paralisados em crises decorrentes da irresponsabilidade fiscal, no campo econômico, e confrontados pelo fracasso de políticas populistas desenhadas para perpetuá-los no poder. Enquanto a Argentina reforça a liderança regional, em baixa com os Kirchner, e o mundo se integra em blocos e por meio de acordos comerciais multilaterais, o Brasil precisa deixar de apostar num Mercosul bolivariano, pois ele já não existe. l ANA MARIA MACHADO Para inglês ver N a segunda metade do século XIX, os ingleses impuseram ao governo brasileiro a proibição do tráfico de escravos. Podiam até estar agindo apenas por seu próprio interesse, de modo a garantir a futura existência de um mercado consumidor para a produção das suas fábricas que se multiplicavam com a Revolução Industrial. Mas, nesse momento, desempenhavam um papel progressista e defendiam a dignidade humana. Para garantir o cumprimento dessa exigência aparentemente libertária, embarcações britânicas patrulhavam as águas do Atlântico Sul, aprisionando os tumbeiros que conseguissem interceptar. É claro que o contrabando negreiro continuava, às escondidas. E o Brasil fazia de conta que suspendia o tráfico. Mas agia apenas para manter as aparências. Daí a origem da expressão “para inglês ver”, usada para exibirmos uma imagem falsa aos olhos do estrangeiro. E ficarmos bem na foto, como se diz hoje. Até há pouco tempo, os meios universitários estrangeiros e a imprensa internacional em geral distinguiam bastante bem a situação política brasileira da existente em seus vizinhos hispano-americanos, bem como em variados regimes ditatoriais de países emergentes em outras partes do mundo. E não apenas pelo nosso potencial econômico e pela disposição de enfrentamento e correção da desigualdade social por meio de programas de distribuição de renda e diminuição do abismo entre as classes. Mas, desde o fim da ditadura militar, o Brasil vinha mostrando a consolidação de suas ins- MARCELO tituições democráticas, eleições regulares com possibilidade de alternância de poder, imprensa livre e atuante, poderes independentes, respeito à Constituição. Incontáveis vezes, em foros de debate internacional, tive a oportunidade de ouvir desses observadores análises que destacavam a autonomia da imprensa e a soberania do Judiciário como fundamentais traços distintivos da democracia brasileira, frente aos vizinhos bolivarianos. É exatamente nessa área, de desmoralização da imprensa e da Justiça, que o governo resolveu atuar agora, em sua ofensiva de contranarrativa do que está acontecendo no país desde que há dois anos começaram as investigações policiais de irregularidades num posto de gasolina e lava a jato de automóveis no Paraná, trazendo à baila doleiros, sone- Fale com O GLOBO PRESIDENTE Roberto Irineu Marinho VICE-PRESIDENTES João Roberto Marinho - José Roberto Marinho _ OGLOBO é publicado pela Infoglobo Comunicação e Participações S.A. DIRETOR - GERAL: Frederic Zoghaib Kachar _ DIRETOR DE REDAÇÃO E EDITOR RESPONSÁVEL AGÊNCIA O GLOBO DE NOTÍCIAS Venda de noticiário: (21) 2534-5656 Banco de imagens: (21) 2534-5777 Pesquisa: (21) 2534-5779 Atendimento ao estudante: (21) 2534-5610 PUBLICIDADE Noticiário: (21) 2534-4310 Classificados: (21) 2534-4333 Acusam a imprensa de mentir, passando por cima do fato de que já foram localizados milhões de dólares no exterior gação fiscal, evasão de divisas, cartel de empreiteiras, licitações combinadas, desvio de dinheiro da Petrobras, propina a dirigentes e políticos, compra de apoio parlamentar, contas ilegais no exterior. E mais, ao que tudo indica, tentativa de obstrução da Justiça. Nessa estratégia vimos nos últimos dias uma escalada de ações para inglês ver, muitas vezes manipulando gente de bem, que não compactua com bandidos e se deixou convencer de que tudo não passa de uma perseguição pessoal do Judiciário e da mí- Geral e Redação (21) 2534-5000 Jornais de Bairro: (21) 2534-4355 Missas, religiosos e fúnebres: (21) 2534-4333. Plantão nos fins de semana e feriados: (21) 2534-5501 Loja: Rua Irineu Marinho 35, Cidade Nova International sales: Multimedia, Inc. (USA). Tel: +1-407 903-5000 E-mail: [email protected] dia contra Lula ou o governo, ou de que há mesmo um complô dos inimigos do povo para tirar dos pobres tudo o que eles melhoraram nos últimos tempos ou liquidar a Petrobras para que os ianques venham se apossar dela a preço de banana. Para isso, desqualificam as investigações. Acusam a imprensa de mentir, passando por cima do fato de que já foram localizados e bloqueados milhões de dólares no exterior, para não falar dos milhões de reais já recuperados. Repetem que impeachment é golpe — por mais que ministros e ex-ministros do STF já tenham negado essa interpretação, desde que os preceitos constitucionais sejam respeitados. Prendem-se a tecnicalidades e firulas jurídicas, esquecendo o ensinamento de tantos outros juristas, como Evandro Classifone (21) 2534-4333 ASSINATURA/Central de atendimento: www.oglobo.com.br/centraldoassinante ou pelos telefones 4002-5300 (capitais e grandes cidades) e 0800-0218433 (demais localidades), de 2ª a 6ª feira, das 6h30m às 19h, e aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 12h Twitter: @falecom_OGLOBO. Facebook: facebook.com/espacodoassinanteoglobo Assinatura mensal com débito automáti- Lins e Silva, citando Nélson Hungria, por ocasião do impeachment do Collor: “O sigilo não protege o crime.” Então, a presidente dá entrevista à imprensa internacional, e faz comício no Planalto diante de embaixadores estrangeiros para angariar apoios à sua tese de que o Brasil não está funcionando de modo democrático. Um diplomata usa canais oficiais para atacar as instituições do país. Intelectuais respeitáveis, por mais bem intencionados que possam ser, abrem mão de qualquer análise menos rasteira e se precipitam em assinar manifestos que enfileiram palavras de ordem sem compromisso com os fatos ou qualquer sutileza. Ao colocar sua própria inteligência a serviço de um palavrório que não assinariam individualmente, embarcam na manada, esquecem sua responsabilidade e acham que estão prestando um serviço à democracia e ao Brasil. A investigação contra Collor foi possível, entre outras coisas, porque ele mesmo acabara com a possibilidade de emissão de cheque ao portador, obrigando à identificação do beneficiário. A Lava-Jato vai em frente, entre outras coisas, porque a Constituição de 88 deu poder ao Ministério Público e no próprio governo Dilma uma lei instituiu a colaboração premiada. Não é a Inquisição do Moro. Por mais que a chamem de delação, é uma ferramenta poderosa para revelar crimes ocultos — se eles existem e depois são comprovados. Isso não é perseguição nem golpe. É fato. Para qualquer um refletir, e não apenas inglês ver. l Ana Maria Machado é escritora Para assinar (21) 2534-4315 ou oglobo.com.br/assine co no cartão de crédito, ou débito em contacorrente (preço de segunda a domingo), para RJ/MG/ES: normal, R$ 95,33; promocional, R$ 83,90 VENDA AVULSA/Estados Dias úteis: RJ, MG e ES: R$ 4,00; SP e DF: 4,00; demais estados: 5,50; Domingos: RJ, MG e ES: R$ 5,00; SP: R$ 5,50; DF: 7,00; demais estados: 10,00 Carga tributária federal aproximada de 20% ATENDIMENTO AO LEITOR De 2ª a 6ª feira, das 6h30m às 19h, e aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 12h, Tel: (21) 2534 5200 oglobo.com.br/faleconosco O GLOBO é associado: ANJ - IVC - GDA - SIP - WAN Ascânio Seleme EDITORES EXECUTIVOS Chico Amaral, Paulo Motta e Silvia Fonseca _ Rua Irineu Marinho 35 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ CEP 20.230-901 Tel: (21) 2534-5000 Fax: (21) 2534-5535 _ Princípios editoriais do Grupo Globo: http://glo.bo/pri_edit a EDITORES - País: Alan Gripp - [email protected] Rio: Rolland Gianotti - [email protected] Economia: Flávia Barbosa - fl[email protected] Mundo: Sandra Cohen [email protected] Sociedade: William Helal [email protected] Segundo Caderno: Fátima Sá - [email protected] Esportes: Márvio dos Anjos - [email protected] Fotografia: Claudio Versiani - [email protected] Arte: Rubens Paiva - [email protected] Opinião: Aluizio Maranhão - [email protected] Acervo e Qualificação: Gustavo Villela - [email protected] a SUPLEMENTOS - Boa Viagem: Léa Cristina - [email protected] Rio Show: Inês Amorim - [email protected] Ela: Renata Izaal - [email protected] Revista O GLOBO: Ana Cristina Reis - [email protected] Bairros: Milton Calmon Filho - [email protected] Site: Eduardo Diniz - [email protected] Videojornalismo: Roberto Maltchik - [email protected] Desenvolvimento de Plataformas: Maíra Carvalho - [email protected] a SUCURSAIS - Brasília: Sergio Fadul - [email protected] São Paulo: Aguinaldo Novo - [email protected] O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 l 19 OGLOBO ZUENIR VENTURA _ O susto de S. Sebastião A expressão grave do governador provisório na sua primeira entrevista à TV, esta semana, parecia a de quem ia anunciar o apocalipse. E era quase isso. Tudo bem que ele nunca foi um Cauã Reymond, mas nessa manhã, talvez por ter dormido mal, caprichou, e sua aparência lembrava, por contraste, a de Pezão, que naquela altura enfrentava um câncer linfático com otimismo e esperança. Nem a quimioterapia conseguira tirar o seu sorriso do caminho. Cheguei a admitir um absurdo — que o doutor Cláudio Domênico havia internado o governador errado. Eu fora visitar meu amigo Verissimo, que estava no mesmo hospital, e, como era também paciente do grande cardiologista, pensei em perguntar ao médico se ele não poderia apressar a alta do nosso mandatário para o bem do nosso astral, o que acabou acontecendo naturalmente, com ele deixando a clínica bem mais magro e abatido, mas se dizendo “com muita força e determinação”. Não que, ao retomar o cargo de Francisco Dornelles, Pezão vá melhorar a crise de nossas finanças; não vai, mas talvez o anúncio do caos tivesse sido menos depressivo. Na entrevista, a repórter ainda tentou aliviar o clima pesado, abrindo uma fresta para a entrada de um pouco de ar fresco no ambiente. Conhecendo a trajetória do entrevistado, sobrinho de Tancredo Neves, cuja morte causou um dos maiores traumas coletivos no país, ela perguntou se ele não tinha vivido momentos mais difíceis. Dornelles admitiu o “grande desafio” que foi assumir o Ministério da Fazenda logo após o falecimento do tio, “mas tenho que confessar para você”, acrescentou, “que esta é a situação mais trágica no campo nacional e estadual que eu já vi em toda a minha carreira política”. Não foi um drama, mas uma tragédia o que nos prometeu esse mineiro habitual- Não foi um drama, mas uma tragédia o que nos prometeu na entrevista Francisco Dornelles, esse mineiro habitualmente comedido O mercado e a política Tristes tempos N T A prisão de Marcelo Odebrecht é celebrada sobretudo por seu potencial de gerar delações que levem à condenação de políticos nem tanto — de que o papel do mercado enquanto força que age sobre a política passa, em geral, despercebido na esfera pública. Esta diferença, ou melhor, esta ambiguidade que a manchete exprime, nos remete à turbulência que o país atravessa. Nesse sentido, é sintomático que a manchete tenha sido alocada na editoria de Economia, não na de Política. Ora, a incapacidade ou recusa a enxergar o mercado como ator político não caminha lado a lado com a nossa insistência em enquadrar o problema da corrupção como exclusivamente referido ao mundo da política? O alvo da indignação é sempre o político corrupto, nunca o empresário corruptor. Basta pensar, por exemplo, que a prisão de Marcelo Odebrecht é celebrada sobretudo por seu potencial de gerar delações que levem à condenação de políticos. O momento para debater as relações espúrias entre política e economia está posto. Cabe aproveitá-lo, sem prejuízo às investigações já em curso, no sentido de buscar reformas que visem reordenar as regras do jogo, e não somente retirar um ou outro peão do tabuleiro. l Antonio Engelke é sociólogo Para que elas cheguem ao gol ANA PAULA OLIVEIRA A história da luta pelos direitos das mulheres tem inúmeros capítulos, sempre em busca da igualdade de oportunidades entre os gêneros e sem abandonar as particularidades que compõem a nossa identidade feminina. Essa batalha se repete todos os dias também no futebol brasileiro. Meninas e mulheres adeptas do esporte mais popular do país enfrentam obstáculos bem diferentes dos encontrados pelos homens. Dentro de campo, as brasileiras colecionam conquistas pautadas quase que exclusivamente no talento. São duas medalhas de prata nos Jogos Olímpicos, três medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos e uma final de Copa do Mundo, além dos cinco prêmios consecutivos de melhor jogadora do mundo para Marta. É fácil imaginar do que seríamos capazes com mais investimento e planejamento. É verdade que tivemos avanços recentes, como a criação do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil femininos e a formação de uma seleção feminina permanente, com salários pagos pela CBF, adotando o mesmo modelo dos Estados Unidos. Mas ainda há muito trabalho pela frente junto às divisões de base, formação de novas árbitras e qualificação de treinadores e DILMA VARGAS Um observador político em Brasília tem uma interpretação para a manobra que, segundo rumores, o governo estaria articulando. Para se livrar do impeachment, a presidente estaria disposta a abrir mão do poder em troca de convocar eleições gerais, a serem realizadas em outubro, junto com as municipais. É uma hipótese tão remota quanto o exemplo que lhe estaria servindo de inspiração, de acordo com o informante. “Dilma quer ser Getúlio sem precisar suicidar-se; ou seja, ela pretende entrar na História sem sair da vida”. l CRISTOVAM BUARQUE ANTONIO ENGELKE uma manchete publicada recentemente no site do GLOBO, lia-se: “Risco-país indica que mercado ainda aposta em impeachment”. O subtítulo arrematava: “Manifestações contra o governo reforçam expectativa de mudança”. Um breve exercício de interpretação da manchete talvez tenha algo a dizer sobre o problema de que ela trata. “Risco-país” é um índice criado por agências de classificação a fim de medir o grau de perigo que o país avaliado representa para investidores estrangeiros. “Mercado” designa uma estrutura de interações que permite a troca, compra e venda de bens ou serviços, sendo portanto atravessada por dinâmicas como a lei da oferta e da demanda. “Aposta” é uma expectativa, uma leitura da realidade que pretende antecipar, dentro da medida do possível, o que pode acontecer. “Impeachment”, a esta altura, não há quem não saiba do que se trata. Tudo somado, a manchete será lida assim: o risco-país, um dos termômetros usados para medir o pulso dessa estrutura de interações econômicas a que chamamos de mercado, indica uma expectativa (favorável, no caso) acerca de um determinado cenário, o impeachment de Dilma. Mas há outra leitura possível. Na prática, “mercado” é apenas um outro nome para o jogo assimétrico de articulação de interesses econômicos que ocorre em nível local, nacional e global. Do mesmo modo, “aposta” designa também um lance num jogo de azar, e não somente uma expectativa. Se assim compreendermos “mercado” e “aposta”, então “risco-país” pode ser visto como um instrumento através do qual esta articulação de interesses transnacionais (o mercado) age segundo sua conveniência. Isso significa que o mercado não apenas observa e espera um desfecho para a nossa crise política, como na primeira interpretação. Ao contrário, o mercado intervém: a manchete se referiria a um lance concreto, por parte de atores economicamente interessados, dentro do cenário de um possível impeachment de Dilma. Ambas as interpretações são válidas; importa observar a diferença entre elas. Na primeira leitura, o mercado é tomado como índice de normalidade, justamente porque visto como uma arena neutra onde interesses diversos negociam. Na segunda, o mercado é um ator político em si mesmo, na medida em que joga, ao sabor de seus próprios interesses, com a conjuntura de países. Não vai aqui nenhum julgamento de valor. Não se trata de reciclar a velha cantilena anticapitalista que vê no mercado o mal maior do mundo, mas sim de chamar a atenção para o fato — materialmente trivial, cognitivamente mente comedido. Se até São Sebastião, nosso padroeiro zen, deve ter levado um susto, imagina os mais de 400 mil servidores que não sabem quando vão receber seus vencimentos. preparadores físicos para trabalharem especificamente com as mulheres. A decisão de apoiar o futebol feminino cumpre um importante papel social de quebrar barreiras que distanciam homens e mulheres. Sabemos que o futebol como um todo passa por um momento de reavaliação e reestruturação. No entanto, é impossível pensar em modernização sem considerar a valorização e o fortalecimento das mulheres nesse universo dominado por homens. A decisão de apoiar o futebol feminino cumpre um importante papel social de quebrar barreiras que distanciam homens e mulheres No fim do mês passado, a Fifa deu um passo importante para aumentar a participação feminina nas tomadas de decisão no esporte. Foi aprovado um pacote de reformas que determina que cada uma das seis federações internacionais tenha pelo menos uma mulher entre seus representantes no conselho da entidade. Temos de aproveitar este momento para reduzir a disparidade de condições entre o fute- bol masculino e o feminino, como já acontece no vôlei, por exemplo. As meninas não querem ser iguais aos homens. Elas querem o mesmo respeito, disputar campeonatos dignos, jogar em grandes estádios e ter mais visibilidade. Como faremos isso? É o que temos que discutir. A CBF acaba de criar o Comitê de Reformas do Futebol, que busca rever processos e aperfeiçoar políticas para o esporte. A jogadora Formiga e eu tivemos a honra de sermos convidadas para liderar o grupo de trabalho sobre o futebol feminino. Já conquistamos uma grande vitória, ao incluir o tema entre os cinco prioritários. Dos 16 assuntos em pauta, o futebol feminino está longe de ser o mais polêmico. Por esse motivo, um dos nossos desafios é mobilizar a sociedade em torno desse debate. É hora de promover as mudanças necessárias para alavancar o futebol feminino no Brasil. E todos estão convidados a participar. Acesse o site do comitê (www.cbf.com.br/comitedereformas), vá aos Temas e Documentos, analise e deixe sua opinião. l Ana Paula Oliveira é integrante da Escola Nacional de Arbitragem de Futebol e do Comitê de Reformas do Futebol ristes tempos em que até o dicionário foi corrompido. Para alguns, um instrumento constitucional é definido por golpe, mesmo se houver prova de crime pela presidente; para outros, o uso deste instrumento se justifica diante da corrupção e do desgoverno, antes mesmo de analisar provas do crime. Tristes tempos quando o debate político se limita ao enfrentamento entre dois grupos que se acusam mutuamente de corruptos ou de golpistas. Um lado preocupado apenas em interromper um governo legal, mas que perdeu a legitimidade, por ser inoperante, incapaz de conduzir as reformas sociais e econômicas de que o país precisa, contaminado pela corrupção; o outro concentrado na defesa deste governo a qualquer custo, cego aos erros e às mentiras; chegando ao ponto de dizer que o desemprego decorre da luta contra a corrupção. Ambos acreditam que, depois da decisão sobre o impeachment, aprovado ou recusado, o país retomará seu rumo, seja sob o novo governo Temer ou o velho governo Dilma. Não se vê debate sobre como: retomar o crescimento do PIB e fazêlo contemporâneo com o avanço técnico e científico; distribuir a renda; erradicar o analfabetismo; assegurar educação de qualidade para cada criança independente da renda dos pais e da cidade onde mora; como recuperar nosso abismal atraso na capacidade científica e tecnológica e de inovação; como aumentar a produtividade, garantir estabilidade monetária e fiscal, equilibrar as contas públicas, controlar os endividamentos; como atender à saúde, enfrentar a violência urbana, dar sustentabilidade à Previdência; como emancipar os Debate pobres da necespolítico se sidade de bolsas e limita ao cotas. Parece que o Brasil real desaconfronto pareceu. entre dois Tristes tempos grupos que se em que a política se faz sem acusam percepção da história. Como se estivéssemos em um campeonato de futebol, com apito final depois de cada eleição. Não se discute as causas atuais e históricas que nos condenam. Nem se considera que, no dia seguinte ao impeachment, se aprovado, mesmo com a credibilidade de novo presidente, todos os problemas continuarão, inclusive as suspeitas sobre os políticos; e que os derrotados irão para as ruas em nome da luta contra o que, acreditam, foi um golpe. Tampouco se discute que, se o impeachment não passar, a população, indignada e desencantada, continuará nas ruas com apoio crescente de desesperados, desempregados, empobrecidos, manifestando-se contra um governo desacreditado e submetido a outros pedidos de impeachment. A solução estaria em uma eleição antecipada, seja para todos os cargos ou apenas para presidente e vice-presidente. Havendo aceitação dos principais atores, isto é possível com uma reforma constitucional. Mas, é pequena a probabilidade de aceitação de uma medida de bom senso, diferente das propostas pelo debate simplista e imediatista do impeachment ou não impeachment. Tristes tempos em que as pessoas de bom senso se sentem estrangeiras em seu próprio país. l Cristovam Buarque é senador (PPS-DF) 20 l O GLOBO l Rio l Sábado 2 .4 .2016 Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO Economia PAULO FRIDMAN / BLOOMBERG NEWS / 18-6-2015 Volta ao passado Vagas olimpícas PÁG. 22 PÁG. 27 INDÚSTRIA TEM TOMBO DE 9,8% EM FEVEREIRO Produção fabril hoje está em patamar 19% inferior ao de dois anos atrás. Crise se espalha por vários setores 11 mil l 21 É o número de vagas temporárias abertas para quem quer trabalhar nos Jogos Olímpicos. As oportunidades são para atividades operacionais, e os salários vão de R$ 1 mil a R$ 6 mil FOLHA DE PAGAMENTOS Empresas também terão eSocial _ Sistema que dificultou a vida dos empregadores domésticos será obrigatório para todos MARCELO CARNAVAL ANDREA FREITAS [email protected] DAIANE COSTA Daiane.costa @oglobo.com.br Prestes a completar seis meses, o eSocial — que reúne dados cadastrais e emite uma guia única para as contribuições fiscais, trabalhistas e previdenciárias devidas pelos empregadores domésticos — ainda enfrenta problemas. Mas mesmo assim deve passar por uma grande expansão este ano. Todas as empresas, do Microempreendedor Individual (MEI) que tenha um empregado às multinacionais, terão de usar o sistema, de forma escalonada, a partir de setembro. As empresas temem que a adequação ao sistema não ocorra a tempo porque, a cinco meses do fim do prazo, o governo ainda não divulgou a versão final da plataforma para testes. E, embora o eSocial empresarial seja maior e mais sofisticado do que o doméstico, há o receio de que os problemas se repitam. Apenas o ambiente de qualificação cadastral dos empregados está liberado. E alguns problemas já apareceram: dados rejeitados por serem incorretos, quando checados no órgão emissor, não apresentam problema. Além disso, como ocorreu na versão doméstica, somente o empregado poderá resolver algumas pendências, como mais de um número de PIS ou divergências entre nome de casado e solteiro. Parece pouco, mas quando projetado para empresas com milhares de empregados, o problema ganha outra dimensão. — Há problemas no eSocial doméstico que até hoje não foram sanados, como não aceitar informações sobre o fracionamento de férias. No empresarial, especificidades de cada categoria, firmadas nos acordos coletivos, como jornadas de trabalho superiores a 10 horas, horários de trabalho de médicos, enfermeiros e seguranças, por exemplo, que cumpre de 12h de trabalho por 36h de descanso não podem ser lançadas no sistema, assim como jornadas parciais, de trabalho por três dias por semana somente — diz Wolnei Ferreira, diretor jurídico da Associação Brasileira Recursos Humanos (ABRH). Para o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, o maior problema são os custos de adequação ao sistema, no momento em que mui- Escaldado. Depois de sofrer com a doméstica, Francisco Palmeira teme: “Ter essa preocupação no âmbito da empresa é assustador” “Não é admissível implantar qualquer tipo de burocracia ou novos custos numa fase em que as empresas estão falindo” Fernando Pimentel Diretor-superitendente da Associação Brasileira da Indústria Textil tas empresas mal conseguem os salários: — É totalmente inadequado trazer uma demanda de investimento às empresas num momento em que estamos vivendo em terra arrasada de negócios. É um projeto que não é urgente. Urgente é preservar o que existe de companhias. Não é admissível implantar qualquer tipo de burocracia ou novos custos numa fase em que as empresas estão falindo. Pelo calendário do site no eSocial, empresas que tiveram faturamento acima de R$ 78 milhões em 2014 terão de cadastrar seus trabalhadores no eSocial a partir de setembro. Em 2017, o uso será obrigatório para todas as empresas, inclusive micro e pequenas. Com isso, dados hoje enviados à Receita Federal, ao INSS, ao Ministério do Trabalho e à Caixa Econômica Federal e Tribunal Regional do Trabalho estarão na mesma plataforma. Também será fornecido via eSocial dados sobre monitoramento da saúde do trabalhador e comunicação de acidente de trabalho O eSocial é um dos braços do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), cri- ado em 2007, que inclui também a nota fiscal eletrônica, e visa combater a sonegação de impostos. Segundo estimativa da consultoria da Ernst & Young (EY), no primeiro ano do novo sistema, a arrecadação deve aumentar em R$ 20 bilhões. Para Marcelo Godinho, sócio da EY e especialista em eSocial, o grande desafio é fazer com que as informações tenham consistência no eSocial e no Sped: — Tem de haver convergência entre as informações citadas nos diferentes campos do eSocial e do Sped. Há uma interdependência entre o eSocial e outros blocos do Sped. Com isso, o governo fecha o cerco às empresas. Segundo Godinho, as dificuldades vão do cumprimento das regras à tecnologia para enviar as informações, além da própria forma de trabalhar. — Não é um projeto de RH. Se um funcionário tiver um filho ou mudar de nome por casar, tem que informar. O banco de horas, por exemplo, continua valendo. Mas a empresa terá de ficar mais vigilante quanto ao abatimento das horas extras. Se o trabalhador não reduzir o banco no prazo estabelecido, terá de pagar. A empresa terá de ficar mais vigilante, a fiscalização vai ficar mais fácil. Uma fonte ligada ao setor privado disse que um dos temores é que essas inconsistências acabem gerando implicações jurídicas para as empresas e perdas para os trabalhadores: — Caso as informações cadastradas no sistema não sejam repassadas aos órgãos a que se destinam,o trabalhador pode ter dificuldades ao sofrer um acidente e ter de se afastar do trabalho. PARA EMPRESÁRIO, SISTEMA SERÁ UM ‘BBB’ Francisco Palmeira, sócio da Vanguarda RH, também teme o novo sistema. Ele tem três empregados, e sua experiência com o eSocial doméstico não foi das melhores. Por isso, não descarta contratar uma consultoria para ajudá-lo, mas afirma que o momento não bom. Com a crise, o número de clientes diminui e a nova exigência vai requerer mais gastos. — Depois de toda a dificuldade para incluir a doméstica no eSocial, como página fora do ar, tive que adiar em um mês a demissão da empregada porque não conseguia fazer isso no sistema. E trata-se de uma coisa simples: admissão e demissão. Não foi fácil. Ter essa preocupação no âmbito da empresa é assustador. E ainda será um “BBB” do governo em cima da gente. E é preciso cumprir a lei apesar da crise. Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae, entende que as empresas passarem a recolher numa mesma base diversos tributos é uma ganho. No entanto, ele pleiteia que a plataforma passe por adaptações para se adequar às especificidades das micro e pequenas empresas. — Há dificuldades até hoje porque esse sistema (eSocial) não é amigável para o contribuinte. Você pede ao cidadão que repita nos formulários informações que já estão em bases existentes, que o Estado já tem. Seria importante que o sistema importasse todas as informações de todas as outras áreas — diz. A Receita Federal informou, em nota, que a expansão do eSocial para empresas está em desenvolvimento e entrará em “pré-produção” no fim do segundo semestre de 2016. E acrescentou que os cronogramas e etapas de implantação ainda estão sendo discutidos. l 22 l O GLOBO l Economia l Sábado 2 .4 .2016 OS DOIS LADOS DA CRISE _ DESEMPENHO DA BALANÇA DE JANEIRO A MARÇO DE 2016 (EM US$ BILHÕES) COMPARAÇÃO COM O ANO ANTERIOR (EM US$ BILHÕES) 20 80 EXPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO 15,994 13,347 15 11,243 [email protected] MÍRIAM LEITÃO 11,559 10,305 5 42,775 40,585 IMPORTAÇÃO 10 10,322 IMPORTAÇÃO 60 40 32,186 20 0 JANEIRO FEVEREIRO MARÇO 0,921 3,043 4,435 SALDO 0 JAN-MARÇO/16 JAN-MARÇO/15 8,398 -5,549 Fonte: Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex). | | COM ALVARO GRIBEL (DE SÃO PAULO) Carbono 14 É muito fundo o poço da corrupção, e isso justifica usar até método de datação para se saber a idade dos crimes. Difícil também entender todos os elos que ligam tão complexa rede de eventos e que junta tantos personagens. A fase de ontem, a 27ª, prova que a Lava-Jato continua em seu trabalho, mesmo debaixo de intensa pressão, e não se perde em meio a múltiplos fios soltos. S iga o dinheiro, é a velha máxima dos investigadores. O empresário José Carlos Bumlai, em 2004, fez um empréstimo no Banco Schahin. A operação nasce quando Silvio Pereira e Delúbio Soares procuram Marcos Valério para ajudar a resolver um problema financeiro do PT. O partido precisa de dinheiro para uma emergência. Pedem ajuda a Bumlai, que aceita pegar um empréstimo de R$ 12 milhões, dando em garantia suas fazendas. O Banco Schahin aceita emprestar. O dinheiro saiu do banco, passou pela empresa de Bumlai e foi para o Bertin. O que tem o frigorífico com isso? A empresa é investigada. Da conta do Bertin foi para a Remar, que já admitiu que é laranja. Daí, R$ 6 milhões vão para beneficiar, de várias maneiras, o empresário Ronan Maria Pinto, de Santo André. Paga dívidas dele e quita a compra do “Diário do Grande ABC”. Ronan era sócio do jornal, mas não tinha o controle. E começaram a ser publicadas no próprio jornal notícias de que ele estaria envolvido na morte de Celso Daniel. Ele decide comprar o “Diário do Grande ABC", e o dinheiro do empréstimo do Schahin vai para a conta dele e depois para a do empresário que vendeu. Por que todo mundo se mobiliza, e se faz uma caminhada tão longa do dinheiro para que um empresário compre um jornal? O que exatamente liga essas pessoas? Ronan Maria Pinto acabou de ser condenado por corrupção em Santo André. Mas o que o MP quer saber é por que ele teria receU bido dinheiro se não há Os pontos-chave motivo aparente para ser pago por este esquema. Uma das conjecturas passa pelo que disse o Nova fase da Lava-Jato notório réu do mensamostra que a investigação lão. Marcos Valério afircontinua firme, mesmo mou que teria participadiante de forte pressão do de uma reunião em 23 de maio de 2004 em que se arquitetou o emOperação identifica elos préstimo. O destino do entre a morte do prefeito dinheiro seria Ronan do PT Celso Daniel, o Maria Pinto, que estaria mensalão e o petrolão ameaçando o PT de fazer revelações sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel, em 2002, Empréstimo de R$ 12 em circunstâncias mismilhões do Schahin pode teriosas. Mais misterioter sido pago com contrato sas foram as mortes de bilionário da Petrobras várias testemunhas. Marcos Valério tentou fazer delação meio tarde, quando o mensalão já condenara seus réus. Abrir a Ação Penal 470 poderia invalidar julgamentos. Bumlai, em depoimento na Lava-Jato, confirmou que parte do dinheiro foi para pagar Ronan. Ao seguir o dinheiro, a Lava-Jato chegou exatamente em Ronan como beneficiário final de R$ 6 milhões. Os outros R$ 6 milhões pagaram marqueteiros do PT em Campinas. Os anos foram passando, e a dívida cresceu. Já era, em 2008, R$ 50 milhões e fora transferida para a securitizadora do grupo para não ter problemas com o Banco Central. Foi quando entrou Nestor Cerveró na história. Ele contratou o grupo Shahin para ser operador do navio sonda Vitoria 10000, da Petrobras, num negócio sem licitação, com sobrepreço, e em várias cláusulas do contrato o grupo é favorecido. Um negócio bilionário. Nada mal para quem emprestou R$ 12 milhões. Para quitar o empréstimo, foi simulada uma operação de entrega de sêmen de boi como “dação em pagamento”. De tão mal feita, até Bumlai já admitiu que não existiu. É muito fundo o poço da corrupção, e complexos os fios que ligam os personagens desses três escândalos — Santo André, mensalão e petrolão. A 27ª fase também investiga pagamentos mensais recebidos por Silvio Pereira, alguns da OAS, inclusive quando ele era julgado no mensalão, beneficiado com pena menor. A Lava-Jato continua suas escavações, desta vez com a Carbono 14. Celso Daniel foi morto há 14 anos. l 48,325 Editoria de Arte Com queda na importação, saldo comercial é o maior em 28 anos Quantidade exportada sobe 15% em março, mas preço baixo atrapalha BÁRBARA NASCIMENTO E [email protected] ELIANE OLIVEIRA [email protected] -BRASÍLIA- A balança comercial brasileira apresentou, em março, o melhor resultado para o mês em 28 anos, desde o início da série histórica. O saldo entre exportações e importações foi positivo em US$ 4,435 bilhões. O número é quase dez vezes maior do que o registrado no ano passado, quando o saldo foi de US$ 460 milhões. No trimestre, as vendas ao exterior superaram as compras em US$ 8,398 bilhões, ante um déficit de US$ 5,549 bilhões em 2015. Os números refletem a alta do dólar e a recessão brasileira, que deixou como única alternativa para crescimento das empresas as exportações. Em março, o resultado positivo da balança foi influenciado principalmente pela queda de 30% nas importações, que somaram US$ 11,5 bilhões. As exportações também caíram, porém em ritmo menor, de 5,8%, para US$ 15,9 bilhões. As vendas externas, no entanto, aumentaram em quantidade. O total exportado subiu 15,7% em março. Mas, com a queda nos preços das commodities — que têm forte peso na pauta brasileira de exportações — o valor pago pelos produtos brasileiros caiu 17,4%. — O superavit de março é histórico. Se dá por conta de uma queda de importação maior do que de exportações. A queda da importação é impactada pela baixa atividade econômica. Enquanto a exportação cresce em volume. Há uma redução de preços, há uma maior demanda por commodities e mais oferta por produtos agrícolas no mundo e isso faz com que os preços se reduzam — explica o diretor de estatística e apoio à exportação da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), Herlon Brandão. Segundo fontes da área econômica do governo, a exportação é, hoje, a única válvula de escape para dar mais fôlego à atividade econômica. Por isso, a melhora da balança comercial é repetida como um mantra pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Economistas e especialistas do setor têm o mesmo diagnóstico. — A única opção é exportar — sentenciou o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo. MAIS EMPRESAS EXPORTANDO As vendas externas correspondem a 11% do PIB. As rotas para o exterior são buscadas, principalmente, por pequenas e médias empresas, conforme um levantamento do MDIC. No primeiro bimestre de 2016, o número de novas empresas exportadoras foi de 1.032 firmas, enquanto em todo o ano passado foram contabilizados 1.088 casos. Por outro lado, em janeiro e fevereiro deste ano houve uma queda de 3.877 empresas importadoras, enquanto em 2015 a redução foi de 2.000 empresas. — De tudo o que aconteceu ultimamente, o que há de mais interessante e positivo para a economia foi a desvalorização do real, o que permitirá a reação das exportações — disse o economista e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo. A indústria enxerga o mesmo horizonte: — Vemos duas saídas, a curtíssimo prazo, todas ligadas ao comércio exterior: aumentar a exportação e recuperar o market share (participação de mercado) que perdemos por causa da valorização do real. Isso significa recuperarmos mercados externo e interno — disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza. Em março, caíram as importações de combustíveis e lubrificantes (-40,8%), bens de consumo (-31%), bens intermediários (-28,3%) e bens de capital (-26,8%). Segundo nota do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), a queda no total gasto com compras de combustíveis se deu “pela diminuição dos preços de gás natural, carvão, petróleo em bruto e óleos combustíveis”. As exportações recuaram em todos os grupos de produtos: semimanufaturados (-14,1%), manufaturados (-5,6%) e básicos (-1,8%). Caíram, principalmente, os embarques de ferro fundido (-48,1%), minério de ferro (-44%) e petróleo em bruto (40%). l 1 Crise no Brasil é o que mais preocupa Argentina 2 Ministro da Fazenda diz que estaria mais otimista, não fosse a recessão brasileira 3 _ oglobo.com.br/economia/miriamleitao -BUENOS AIRES- A crise brasileira preocupa a Argentina mais do que a desaceleração da China ou as taxas de juros nos EUA. Em entrevista ao “Financial Times”, o ministro da Fazenda argentino, Alfonso Prat-Gay disse que, se não fosse pelo Brasil, teria projeções mais otimistas para seu país. — O Brasil é a nossa maior preocupação, já que os laços econômicos (com o país) são mais fortes. Sim, seria ótimo ver a China crescendo a 9%, em vez de 6%, e as taxas do Federal Reserve (Fed, banco central americano) estão próximas a zero (portanto vão subir inevitavelmente). Mas o Brasil é diferente. Há setores e regiões na Argentina que dependem do Brasil — disse Prat-Gay. No cargo desde dezembro do DIEGO LEVY/BLOOMBERG NEWS/29-2-2016 Contra o dragão. Alfonso Prat-Gay espera que inflação caia após ajuste ano passado, o ministro avalia como positiva a reação popular às duras medidas de ajuste que o governo tomou até agora, como um aumento de 500% nas tarifas de energia elétrica. Alguns setores da sociedade, no entanto, já começaram a demonstrar insatisfação. Nesta semana, o líder Hoje na web oglobo.com.br/economia l FOCO NO PRÉ-SAL acesse 140 SÃO JOÃO DO MERITI (SHOPPING GRANDE RIO) Estrada Antonio Sendas, 111 SHOPPING VIA PARQUE Av. Ayrton Senna, 3.000 AMÉRICAS SHOPPING Av. das Américas, 15.500 A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis aprovou plano de investimentos de R$ 1,24 bilhão entre 2015 e 2018 para estudos de geológicos l CUIDADO NOS INVESTIMENTOS sindical Pablo Moyano, disse que “a lua de mel” com o governo havia acabado. — Há muitas coisas que podem dar errado, mas, até agora, nenhuma deu — disse Prat-Gay. Ele avalia que a situação com os chamados “fundos abutres" foi quase completamente re- Segundo Rick Rieder, diretor de investimentos da BlackRock, a gestora pôs o “dedão do pé" no Brasil, mas atua com cautela no país, pois “existe risco" de perdê-lo l MAIS BARATO E SUSTENTÁVEL A Tesla Motors apresentou protótipos do Model 3, veículo elétrico voltado para classe média. O carro, que teve 180 mil pré-encomendas em 24h, terá preço inicial de US$ 35 mil em 2017 solvida. A Argentina planeja emitir US$ 12 bilhões em bônus para pagar os credores. INFLAÇÃO DEVE CAIR Enquanto lida com os figurões de Wall Street, Prat Gay tem nas mãos um problema que deve ter influência direta sobre como o povo argentino perceberá a condução da política econômica: a inflação. O ministro diz que a alta de preços é a prioridade da equipe econômica. O desafio é conciliar a missão aos ajustes inflacionários, como as altas de tarifas autorizadas até agora: — Estamos tomando decisões difíceis para termos certeza que estamos derrotando o dragão (da inflação), e não apenas o colocando em uma jaula por um tempo. l NA WEB http://glo.bo/1qmXkhy Governo da Argentina eleva preço médio do gás natural em 174% acesse 140 JACAREPAGUÁ (PREZUNIC CENTER) Estr. Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, 906 MADUREIRA SHOPPING Estrada do Portela, 222 TIJUCA Rua Conde de Bonfim, 604 ITABORAÍ SHOPPING Rod. Gov. Mario Covas, BR 101, KM 205 l Economia l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO l 23 OS DOIS LADOS DA CRISE _ ATIVIDADE NAS FÁBRICAS EM RELAÇÃO AO MESMO MÊS DO ANO ANTERIOR (EM %) 6 PRODUÇÃO EM RELAÇÃO A FEVEREIRO DE 2014 4,8 3 0 -1,6 -0,4 -2,6 -2,6 -3,0 -3 -6 -5,7 -9 -6,0 -6,7 -9,8 -12 -15 -8,5 -9,2 F M A M J J A S 2014 O N D J F M A M 2015 -8,7 J J -12,5 A S O N D -13,6 J F 2016 INDÚSTRIA GERAL -19% BENS DE CAPITAL (MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS) -43% BENS DE CONSUMO DURÁVEIS (AUTOMÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS) -39% BENS INTERMEDIÁRIOS (USADOS NA PRODUÇÃO DE OUTROS BENS) -13% SEMI E NÃO DURÁVEIS (CALÇADOS, ROUPAS, ALIMENTOS E BEBIDAS) Fonte: IBGE -9% Editoria de Arte Indústria completa 24 meses seguidos de queda na produção Com tombo de fevereiro, atividade está 19% menor que há dois anos PAULO FRIDMAN/BLOOMBERG/15-09-2015 DAIANE COSTA [email protected] A retração no consumo e a queda da confiança de empresários levaram a indústria brasileira a atingir uma marca nada desejável: 24 meses seguidos de taxas negativas da produção completados em fevereiro, mês em que o segmento teve um tombo de 9,8% em relação a igual período ano anterior. Com isso, a atividade da indústria estava 19% menor do que dois anos antes e 21,6% abaixo do seu pico histórico, registrado em junho de 2013. Os dados foram divulgados ontem pelo IBGE. Frente a janeiro deste ano, a produção encolheu 2,5% — pior resultado para o mês da série histórica, iniciada em 2002 —, o que anulou o ligeiro crescimento de 0,4% registrado no primeiro mês do ano. As 24 quedas seguidas da taxa geral refletem principalmente o mau desempenho das indústrias de bens de consumo duráveis (automóveis e eletrodomésticos), e de bens de capital (máquinas, equipamentos e materiais de construção). Ambas também registraram em fevereiro o 24º recuo seguido da produção, mas com intensidade maior, 29,3% e 25,8%, respectivamente, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. São dois segmentos que dependem estritamente da confiança e da renda, afetadas pela crise político-econômica no país, colocando um freio no consumo e nos investimentos e derrubando o resultado geral da indústria. A perda no patamar de produção dos dois grupos também foi maior. No caso dos bens de capital, que representam os investimentos, a queda chega a 43% em dois anos. Para os duráveis, o perda é de 39%. — Os setores de bens de capital e o de consumo durável historicamente são mais voláteis em momentos de recessão, porque estão diretamente ligados ao poder de compra da população e aos As vendas de veículos voltaram a cair no mês passado, levando os resultados do setor no primeiro trimestre ao seu pior nível desde 2006. Dados divulgados na sexta-feira pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) mostram que, entre janeiro e março, foram comercializadas no país 465 mil unidades (automóveis e comerciais leves), uma queda de 28,3% em relação ao primeiro trimestre de 2015. Em março, as vendas somaram 173,2 mil veículos, queda de 23,3% frente ao mesmo mês do ano passado. Embora ainda muito negativos, o desempenho do mercado em março traz alguns sinais alentadores, na avaliação de Raphael Galante, consultor da Oikonomia, empresa especializada na análise do mercado automobilístico. Primeiro, porque os números de vendas dos primeiros meses do ano passado foram influenciados ainda pelo IPI reduzido concedido pelo governo às -SÃO PAULO- Em sessão de julgamento na última segunda-feira, dia 28 de março, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado concedeu liminar em ação de representação de inconstitucionalidade movida pela Fecomércio RJ para suspender os efeitos da Lei 7.176/15, que instituiu a Taxa Única de Serviços Fazendários. A decisão beneficia todas as empresas do Estado – independentemente do segmento –até então obrigadas ao pagamento da Taxa Única. “Além de ilegal, essa taxa significaria uma grande injustiça com o empresariado. Especialmente os pequenos empresários, já tão sobrecarregados e em meio a uma crise sem precedentes nas últimas duas décadas. A atividade econômica deve ser estimulada para a superação das dificuldades hoje enfrentadas e não o contrário”, diz o presidente do Sistema Fecomércio RJ, Orlando Diniz. A criação da taxa, cuja finalidade seria custear serviços prestados pela Receita Estadual, foi instituída no fim de dezembro de 2015. Mesmo sem utilizar os referidos serviços, as empresas estariam obrigadas a recolher trimestralmente, a partir de 29 de março deste ano, valores que poderiam ultrapassar R$ 30 mil. Fator-chave no Mapa do Comércio Bens de capital. Fábrica de tratores em Curitiba. Setor de máquinas foi muito afetado pela crise investimentos, por parte dos empresários, e à confiança, e que geralmente são prejudicados. E, quando a economia vai bem, apresentam taxas mais altas do que a geral da indústria — explica o economista Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea). ESPALHAMENTO PELOS SETORES O espalhamento de taxas negativas pelos diversos setores da indústria se mantém em 2016. Nos dois primeiros meses do ano, 75,7% dos 805 itens pesquisados pelo IBGE tiveram queda na produção. No ano de 2015, este índice ficou em 78,1% — um recorde negativo para a série histórica, iniciada em 2002. — Mesmo nos poucos setores que tiveram resultado positivo em fevereiro, isso ocorreu sobre uma base de comparação baixa, sendo suplantado por resultados negativos anteriores. Então, em nada muda a leitura do cenário. Seja pela taxa geral da indústria, seja pelas das atividades econômicas, observa-se uma manutenção da trajetória negativa descendente — avalia o gerente de Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo. Com o resultado de fevereiro, a in- dústria tem perda de 11,8% nos dois primeiros meses de 2016. No acumulado em 12 meses, a queda foi de 9% em fevereiro — a perda mais intensa desde novembro de 2009 (-9,4%). Carvalho pondera que, mesmo quando houver uma retomada da atividade, o setor de bens de capital ainda levará um tempo para apresentar taxas positivas devido ao alto nível de ociosidade atual da indústria: — Por conta da queda na demanda, basta religar o que já temos. Vai demorar um tempo para que as empresas vejam necessidade de fazer novos investimentos. O que ninguém sabe dizer é quando haverá uma retomada. — Não há sinal algum de que essa trajetória negativa irá ao menos estancar, porque ela é reflexo do atual conturbado ambiente político e da incapacidade de o governo tomar posições econômicas — avalia Silvio Salles, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. Carvalho resume o cenário: — É uma crise disseminada, intensa, que tem produzido recordes negativos persistentes. Os índices são muito ruins, atingem quase tudo e por muito tempo. l Vendas de carros caem 28% no 1º trimestre Para consultor, setor está perto do ‘fundo do poço’. Crise política e restrição de crédito dificultam negócios Fecomércio RJ derruba Taxa Única de Serviços Fazendários montadoras. Os descontos do IPI expiraram em dezembro, mas o mercado virou o ano com estoques bastante altos a preços menores, que acabaram alavancando as vendas. — No começo de 2015 havia preço mais atraente por causa do IPI menor, e também tinha mais crédito. Então, eram condições diferentes — diz Galante, observando que a oferta de crédito para a compra de carros hoje é muito mais restrita. SETOR DEVE ENCOLHER 15% ESTE ANO O consultor observa ainda que o mercado aproxima-se do “fundo do poço”, caminhando para fechar o ano com uma retração da ordem de 15% em relação a 2015. Muito maior que a prevista pela Anfavea, a associação das montadoras, que projetou uma retração de 5% para as vendas em 2016. Em janeiro deste ano, lembra ele, as vendas foram 38% menores que no mesmo mês do ano passado. No primeiro bimestre, o recuo acumulado caiu para 31%, e no trimestre agora a retração ficou em 28,3%. — A queda está diminuindo, estamos teoricamente chegando no fundo do poço, num piso. De qualquer forma, vai ter retração este ano, mas a curva de vendas está indo para um patamar mais próximo de 15% em nossa avaliação — diz Galante. Este será o terceiro ano seguido de retração do mercado brasileiro de automóveis e, segundo estimativas da Oikonomia, as vendas devem ficar ao redor de 2 milhões de unidades. Patamar que significará um recuo aos níveis de vendas do ano de 2007. — Essas são projeções, mas qualquer número que se fale hoje pode ser um chute. Existem variáveis que indicam que o mercado pode melhorar, mas, com a crise política, o crédito não destrava — diz Galante. No segmento de veículos pesados, ônibus e caminhões, a situação é ainda pior: foram comercializadas 16.334 unidades nos três primeiros meses do ano, um tombo de 36,5% ante igual período de 2015. No segmento de motocicletas, que já vem encolhendo há dois anos, o recuo das vendas foi menor, de 12,48%, quando se compara o primeiro trimestre deste ano e o mesmo período do ano passado. l A questão tributária é uma das que mais impactam o Comércio de Bens, Serviços e Turismo, de acordo com o Mapa Estratégico do Comércio do Estado do Rio de Janeiro 20152020. O estudo, desenvolvido pelo Sistema Fecomércio RJ em parceria com a Fundação Getulio Vargas, considerou a tributação como um dos fatores-chave para o desenvolvimento do setor, demonstrando a importância de reduzir a carga de impostos e taxas e o custo administrativo decorrente do cumprimento das exigências tributárias estaduais e municipais. Além de ilegal, essa A formulação do Mapa taxa significaria envolveu a coleta de indiuma grande cadores nas oito regiões injustiça com o do Estado – Costa Verde, empresariado. Centro Sul, Médio ParaíEspecialmente ba, Noroeste, Norte, Serrana, Baixada Litorânea e os pequenos Metropolitana – ratificanempresários, já tão do a importância do Cosobrecarregados mércio de Bens, Serviços e em meio a e Turismo para a econouma crise sem mia estadual. Trata-se do precedentes setor que mais emprega nas últimas – são mais de dois milhões de trabalhadores duas décadas. com carteira assinada. A atividade O Mapa se debruçou econômica deve especialmente sobre teser estimulada para mas que afetam diretaa superação das mente a economia do dificuldades hoje Estado e o desempenho enfrentadas e não o do setor, como Educação, Segurança, Infraescontrário trutura, Tributação e AmOrlando Diniz biente Empresarial. Além de identificar vocações e oportunidades, o Mapa é um instrumento estratégico para a atuação do Senac RJ e do Sesc Rio, braços de Educação Profissional e Sociocultural do Sistema, respectivamente. Encontros Regionais O Sistema Fecomércio-RJ iniciou, na quarta-feira, dia 30, em Angra dos Reis, a primeira rodada regional do Mapa do Comércio. Esses encontros regionais são um desdobramento da segunda edição do Mapa, lançada em outubro do ano passado. Os atores locais participarão de um Grupo de Trabalho que redigirá propostas personalizadas, de acordo com as vocações regionais, identificando similaridades e diferenças entre as economias dos municípios fluminenses. Esse trabalho fará parte de uma proposta a ser encaminhada ao Poder Público. NA WEB http://glo.bo/22WKkk8 O carro de 2026: próxima década será de reinvenção Apoio: Link Comunicação Integrada Conteúdo patrocinado produzido por 24 l O GLOBO l Economia l Sábado 2 .4 .2016 Arábia Saudita criará Petrobras espera a adesão de 12 mil em programa de demissões fundo de US$ 2 tri Companhia estima economizar até R$ 33 bilhões até 2020 com cortes PEDRO TEIXEIRA/30-3-16 RAMONA ORDOÑEZ [email protected] A Petrobras anunciou ontem o lançamento de um novo Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV) aberto a todos os funcionários, independentemente de idade e tempo na empresa. Segundo a estatal, o objetivo é “adequar sua força de trabalho às necessidades do Plano de Negócios e Gestão, buscando otimizar a produtividade e reduzir custos com foco no alcance das metas”. A previsão da estatal é que 12 mil empregados tenham condições de aderir ao plano, representando um corte da ordem de 21% dos 57 mil funcionários da holding. O programa tem um custo previsto de implantação de R$ 4,4 bilhões. Já a economia esperada com as demissões atinge R$ 33 bilhões até 2020. As inscrições no programa começam no próximo dia 11 e vão até 31 de agosto. A Petrobras não divulgou o valor das indenizações a serem pagas. Mas fontes apontam valores entre R$ 212 mil e R$ 706 mil. Os empregados receberam ontem o comunicado da estatal, o que passou a ser o assunto do dia. Um funcionário que está há cerca de 30 anos na companhia disse que a maioria dos colegas que entraram na mesma época deve aderir. — A indenização é um pouco menor do que no plano anterior, mas muitos pretendem aceitar porque está muito ruim trabalhar hoje na Petrobras — afirmou o funcionário, que | Opinião | PARADOXO O INEVITÁVEL ocorrerá com o reconhecimento de uma perda pelo FI-FGTS de R$ 1,7 bilhão, devido ao desastre empresarial que é a Sete Brasil. COM ISSO, em última análise, o PT e seu projeto estatista envolvendo a Petrobras terminaram causando este grande prejuízo aos trabalhadores. E ainda forçam a privatização de parte da estatal. UM HISTÓRICO paradoxo. Enxugamento. Novo PIDV não tem restrições de idade ou tempo de casa não quis ser identificado. A Petrobras disse que o novo PIDV vai preservar o “efetivo necessário à continuidade operacional da companhia e ajuste de pessoal em todas as áreas”. Com dificuldades financeiras em decorrência das investigações da Operação Lava-Jato e do derretimento dos preços do petróleo, a Petrobras vem cortando investimentos e custos ao máximo, já tendo enxugado o quadro de terceirizdos em mais de 120 mil. Na semana passada, a estatal também anunciou a extinção de 2.279 cargos gerenciais. O PIDV anterior da Petrobras, de 2014, era mais restrito: apenas para funcionários com mais de 55 anos. Foram feitos 6.254 desligamentos. Segundo a estatal, outros 1.055 inscritos naquele programa devem deixar a companhia até maio de 2017. CHINA PEDE CONTRAPARTIDAS Se por um lado a companhia busca reduzir seus custos, por outro ela vai atrás de financiamentos. Em abril do ano passado, a estatal fechou um empréstimo de US$ 3,5 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB, na sigla em inglês). O contrato, no entanto foi alvo de um pedido de esclarecimentos no Senado. Em resposta ao questionamento dos parlamentares, a Petrobras informou que, ao fechar o empréstimo de US$ 3,5 bilhões, foi exigido que, no mínimo, 60% do valor fossem adquiridos em equipamentos e serviços chineses — ou seja, os recursos têm contrapartidas. Mas, segundo informou uma fonte, poderiam ser consideradas compras feitas antes da assinatura do contrato, entre 2010 e 2014. O prazo de pagamento é de dez anos, e as taxas cobradas foram Libor (1,21%) mais 2,8% ao ano. Procurada, a Petrobras não quis comentar o assunto. l Objetivo é preparar o país para o declínio da era do petróleo, com preços menores DA BLOOMBERG NEWS A Arábia Saudita se prepara para o declínio da era do petróleo, ao criar o maior fundo soberano do mundo para os ativos mais cobiçados do reino. Essa é a visão do príncipe Mohammed bin Salman, segundo na linha de sucessão do trono, para o Fundo de Investimento Público (FIP), que eventualmente controlará mais de US$ 2 trilhões e ajudará a reduzir a dependência do reino em relação ao petróleo. — Abrir o capital da (petrolífera) Aramco e transferir suas ações para o FIP tecnicamente fará dos investimentos a fonte de renda do governo saudita, em lugar do petróleo — o príncipe afirmou durante uma entrevista no complexo real em Riad à Bloomberg. — O que resta agora é diversificar os investimentos. Assim, dentro de 20 anos, seremos uma economia ou estado que não dependerá tanto do petróleo. Quase oito décadas após a primeira descoberta de petróleo no reino, o filho do rei Salman, de 30 anos, pretende transformar o maior país exportador de petróleo do mundo em uma economia preparada para a próxima era. À medida que essa estratégia é delineada, a velocidade das mudanças pode chocar uma sociedade conservadora, acostumada a décadas de subsídios. A venda da Aramco, a Saudi Arabian Oil Co., deve ocorrer -RIAD- em 2018, talvez até antes, de acordo com o príncipe. O fundo então desempenhará papel importante na economia, investindo internamente e no exterior. Seria grande o bastante para comprar a Apple, a Alphabet (controladora da Google), a Microsoft e a Berkshire Hathaway — as quatro maiores empresas de capital aberto do mundo. — Com certeza será o maior fundo de investimentos do mundo — disse o príncipe. — Isso acontecerá assim que abrirmo o capital da Aramco. O FIP tem planos para ampliar a participação de ativos estrangeiros dos atuais 5% para 50% da carteira até 2020, de acordo com Yasir Alrumayyan, secretário geral do comitê do Fundo. GASTOS MAIS EFICIENTES A ideia de fazer mudanças estruturais programadas se segue às medidas tomadas no ano passado para cortar gastos e impedir que o déficit público ultrapassasse 15% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). No fim de dezembro, as autoridades subiram as tarifas de combustíveis e eletricidade e prometeram combater desperdícios devido ao tombo de mais de 50% nas cotações do petróleo. — Estamos trabalhando para aumentar a eficiência dos gastos — disse o príncipe Salman. O governo costumava estourar seu Orçamento em até 40%, percentual que foi reduzido para 12% em 2015, ele afirmou: — Por isso não acho que temos um problema real quando se trata de preços baixos do petróleo. l Compra do HSBC tem aval de Superintendência do Cade CARLOS IVAN/3-8-2015 Conselho agora vai avaliar as recomendações para evitar concentração ELIANE OLIVEIRA [email protected] ANA PAULA RIBEIRO [email protected] -BRASÍLIA E SÃO PAULO- A Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) emitiu ontem parecer recomendando a aprovação da compra do HSBC pelo Bradesco, desde que as partes assinem um Acordo em Controle de Concentrações. Trata-se de um mecanismo que prevê uma série de medidas para evitar, entre outras coisas, excesso de concentração de mercado, em prejuízo à concorrência. O parecer será publicado no Diário Oficial da União na segunda-feira. Ainda na próxima semana, será sorteado, entre os conselheiros do Cade, quem será o relator. O escolhido poderá acolher a proposta do acordo, expandir as condicionalidades ou mesmo rejeitar totalmente a recomendação que lhe foi passada. A expectativa é que a decisão saia ainda este ano. Em breve comunicado, o Bradesco informou ontem que tomou conhecimento do anúncio do Cade e agora aguarda a conclusão do processo. Em janeiro, o Banco Central já havia se manifestado favoravelmente ao negócio. O Bradesco fechou a compra das operações brasileiras do HSBC no início de agosto do ano passado. Foram dois meses de negociações, ao fim das quais o Bradesco concordou em pagar US$ 5,2 bilhões pelo HSBC Brasil. O banco era o sexto maior do país, com R$ 168 Negócio bilionário. Bradesco comprou HSBC no Brasil por US$ 5,2 bilhões milhões em ativos. O negócio com o Bradesco envolveu apenas as operações de banco comercial e private, com uma rede de 853 agências e 452 postos de atendimento da filial do banco inglês no Brasil. As operações do segmento corporativo não entraram na transação e continuarão sendo conduzidas por uma unidade de negócios que o HSBC manterá no país. ITAÚ FECHA NEGÓCIO NO CHILE Em outra transação no setor bancário, o Itaú Unibanco divulgou ontem que concluiu o processo de fusão entre o Banco Itaú Chile e o CorpBanca. O negócio foi iniciado em 2014. A instituição brasileira terá 33,58% do capital social do agora chamado Itaú CorpBanca, que passará a ser o quarto maior banco privado no Chile em empréstimos — antes da operação, era o sétimo — e permitirá a entrada do Itaú no mercado colombiano. O banco espera que os ganhos dessa fusão apareçam apenas nos próximos anos, não gerando impacto nos resultados de 2016. l U BOLSA TEM ALTA DE 1% DÓLAR RECUA 0,97%, A R$ 3,562 O dia foi volátil, mas a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o câmbio encerraram em tom otimista ontem, com dados da economia americana. O dólar, que subiu pela manhã, recuou 0,97%, a R$ 3,562 — menor cotação desde 27 de agosto de 2015. Na mínima, atingiu R$ 3,536. Já a Bovespa, que chegou a cair mais de 1%, fechou em alta de 1,01%, aos 50.561 pontos. A queda inicial decorreu de dados melhores que o esperado sobre o mercado de trabalho americano, o que renova a aposta de juros maiores nos EUA. Foram criadas 215 mil vagas fora do setor agrícola no mês passado, contra projeções de 205 mil. A taxa de desemprego subiu para de 4,9% para 5%. Mais tarde, o dado sobre a atividade industrial melhorou o humor dos investidores: o indicador passou de 49,5 para 51,8 pontos em março. Números acima de 50 indicam expansão. (Rennan Setti) Sábado 2 .4 .2016 l Economia l O GLOBO l 25 26 l O GLOBO l Economia l Veja estas e outras ofertas no Caderno de Veículos BMW 320i 2016 Sábado 2 .4 .2016 Sócio da Usiminas quer dividir siderúrgica e reativar Cubatão Objetivo é garantir fornecimento para outra empresa dos italianos BRUNO SANTOS/27-1-2016 DANIELLE NOGUEIRA [email protected] R$ Confira! Norden Você encontra essa oferta na página P04 do Classificados do Carro etc Premium. Hilux SR Cabine Dupla 15/16 A partir de R$ 149.900,00 Inter Japan Você encontra essa oferta na página P06 do Classificados do Carro etc Premium. Honda HR-V R$ Confira! Oriental Honda Você encontra essa oferta na página 10 no Classificados de Veículos. L200 Triton HPE Diesel R$ Confira! Yen Motors Você encontra essa oferta na página P02 do Classificados do Carro etc Premium. Nissan Sentra R$ Confira! AB San Diego Você encontra essa oferta na página 03 no Classificados do Carro etc. O empenho com que o grupo italiano Techint — dono da Ternium — tem se engajado na briga com os sócios japoneses da Nippon Steel pelo controle da Usiminas vai além do desejo de comandar uma das maiores siderúrgicas brasileiras. A Usiminas é a principal fornecedora nacional de chapas de aço para outra empresa do conglomerado, a Tenaris, maior fabricante de tubos de aço no mundo e que adquiriu a brasileira Confab em 1993. Assegurar o fornecimento de matéria-prima a preços competitivos é um ponto relevante na estratégia do grupo. Essa é uma das razões, segundo fontes, que explicam por que os italianos estariam dispostos a dividir a Usiminas em duas e ficar com a unidade de Cubatão, na Baixada Santista. As conversas para uma possível divisão de ativos já duram cerca de um ano e vêm amadurecendo nas últimas semanas nos corredores da Ternium. A empresa resultante da partilha já teria até nome: Ternium Cubatão. CONSOLIDAR PRESENÇA NA AMÉRICA LATINA Caso a divisão de fato ocorra, a Ternium poderia religar os dois altos-fornos de Cubatão no período de um ano, segundo fontes a par das discussões. A Usiminas tem duas unidades produtoras de aço: Ipatinga (MG) e Cubatão. Nesta última, a companhia demitiu quase duas mil pessoas só este ano e paralisou os altos-fornos, para se adequar à queda na demanda. Apenas o laminador, etapa posterior à produção de aço, está funcionando. A unidade tem ainda um terminal portuário, pelo qual a Ternium poderia alcançar o mercado externo. Comprar Cubatão também faria sentido na estratégia global do grupo, porque seria uma forma de manter sua presença no Brasil, país que considera fundamental para sua consolidação na América Latina. A Ternium também está presente em México, Argentina, Colômbia, países da América Central e Estados Unidos. A ítalo-argentina Ternium entrou na Usiminas em 2012, ao comprar as fatias de Camargo Corrêa e Votorantim. Hoje, a empresa tem 27,66% das ações ordinárias da empresa e divide o bloco de controle Partilha. Ternium assumiria a unidade de Cubatão da Usiminas em eventual divisão da empresa com a Nippon Steel (com 29,45%) e a Previdência Usiminas (6,75%). Pagou R$ 3 bilhões pelas ações. No balanço financeiro de 2015 da Techint, a fatia na siderúrgica brasileira é avaliada em US$ 276 milhões. Para estancar as perdas com os ativos, os sócios italianos buscam uma solução rápida. Em carta enviada ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), este mês, o presidente mundial da Techint, Paolo Rocca, disse que os acionistas deveriam considerar todas as alternativas possíveis para salvar a empresa, incluindo “a venda de suas participações ou a separação de ativos e unidades de produção”. Segundo fontes, o interesse do grupo seria adquirir a fatia da Nippon, mas os executivos italianos estariam convencidos de que os japoneses não abrirão mão da unidade de Ipatinga, berço da Usiminas. — As relações entre Usiminas e Nippon remontam aos anos 50, são parceiros históricos. Além disso, a Usiminas compra muitos equipamentos japoneses e tem um contrato de transferência de tecnologia com a Nippon. É uma relação importante para as duas empresas — disse uma fonte com trânsito entre os japoneses. Procurada, a Ternium disse que “quer uma solução rápida para o conflito da Usiminas, já que a empresa apresenta um desempenho operacional fraco”. A siderúrgica teve prejuízo recorde em 2015 e depende do aporte bilionário de acionistas, que ainda tem de ser votado em assembleia em 18 de abril, para evitar a recuperação judicial. A Nippon não retornou as ligações do GLOBO, e a Usiminas preferiu não fazer comentários. CONFLITO CHEGA A MINISTÉRIOS A briga entre os dois sócios começou em setembro de 2014, quando executivos da Ternium foram afastados da Usiminas, acusados de receberem bônus irregularmente. De lá para cá, Rocca já se encontrou com executivos da Nippon oito vezes para tentar pôr fim ao imbróglio. Mas o assunto já deixou de ser tratado apenas entre entes privados. Além da interferência direta do governador de Minas Gerais, que chegou a enviar carta aos dois executivos cobrando uma solução, o tema chegou ao primeiro escalão do governo brasileiro. O presidente da Ternium no Brasil, Paolo Bassetti, encontrou-se pessoalmente com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro. O Ministério de Relações Exteriores também acompanha o conflito, já que envolve relações bilaterais com Itália e Japão. l Onix LS 1.0 2016 A partir de R$ 36.990,00 Líder Você encontra essa oferta na página 08 no Classificados de Veículos. Odebrecht venderá R$ 12 bi em ativos para pagar dívidas Empreiteira enfrenta dificuldade para conseguir crédito no mercado, em meio às investigações da Lava-Jato Mercedes Benz GLA 200 R$ Confira! AB Intercar Você encontra essa oferta na página P03 do Classificados do Carro etc Premium. Novo Gol 2017 R$ Confira! Recreio Você encontra essa oferta na página 09 no Classificados de Veículos. Onix LTZ 1.4 automático modelo 2016 Completo (R7Z) A partir de R$ 51.290,00 Simcauto Você encontra essa oferta na página 12 no Classificados de Veículos. Novo HR-V R$ Confira! AB Mobara Você encontra essa oferta na página 03 no Classificados de Veículos. -SÃO PAULO- Investigada pela Operação Lava-Jato, pressionada por credores e com uma dívida bruta de mais de R$ 90 bilhões em valores do fim de 2014, o Grupo Odebrecht confirmou que está negociando a venda de ativos para melhorar o caixa das subsidiárias e equacionar o perfil de seu endividamento. A expectativa, segundo a direção do grupo, é levantar cerca de R$ 12 bilhões até o fim deste ano. Estão na lista de ativos postos à venda a Odebrecht Ambiental, a hidrelétrica de Chaglla e a rodovia Rutas de Lima, ambas no Peru; a participação de 28% do grupo na hidrelétrica de Santo Antônio, uma mina de diamante e um bloco de exploração de petróleo, em Angola. Também estão sendo negociados ativos das áreas de infraestrutura, da Odebrecht Transport, e imobiliários, da Odebrecht Realizações Imobiliárias. A empresa, que atua em 14 setores, descartou a venda de sua participação na petroquímica Braskem, como se cogitou no mercado. FITCH VÊ ESTRATÉGIA PARA OBTER LIQUIDEZ Além de vender ativos, o grupo corre para renegociar débitos. A Odebrecht Agroindustrial, do setor de açúcar e etanol, por exemplo, tem dívidas de R$ 13 bilhões e receitas de menos de R$ 3 bilhões. De acordo com fontes do grupo, as negociações com os principais credores, Bradesco e o BNDES, estão adiantadas. Os bancos já teriam concordado em conceder um prazo de três anos de carência para o principal da dívida, além do alongamento por mais dez anos. Como contrapartida, a Odebrecht reincorporará a usina geradora de energia à base de bagaço de cana, avaliada em R$ 2 bilhões, além de fazer um aporte de capital na empresa. O grupo baiano também está renegociando as dívidas, da ordem de R$ 12 bilhões no fim de 2014, da Odebrecht Óleo e Gás, afetada pela crise do setor do petróleo e pelos problemas da Petrobras, sua maior cliente. Essas negociações envolvem detentores de bônus perpétuos e outros títulos de dívida. Depois da prisão do presidente da holding, Marcelo Odebrecht, há mais de nove meses, o grupo demorou a indicar um novo dirigente, o que deixou os credores ainda mais preocupados. O cargo só foi preenchido em dezembro passado, com a indicação de Newton de Souza, executivo que integrava o Conselho de Administração do grupo. A Odebrecht deve divulgar os números de seu balanço de 2015 no fim deste mês, e a dívida tende a subir um pouco mais, impactada pela variação cambial. Ao mesmo tempo, a companhia deverá apresentar um faturamento maior do que o de 2014, já que cerca de 61% de suas receitas atualmente são obtidas no exterior. Para o diretor da Fitch Ratings, Ricardo Carvalho, a venda de ativos é estratégica para dar liquidez ao grupo. Ele diz que a empresa sofre com o risco de imagem por causa das investigações da Lava-Jato e, por isso, novos financiamentos ficam mais difíceis. — Neste momento de incerteza, os bancos fazem exigências maiores para rolagem das dívidas — explica Carvalho, observando que as vendas dos ativos poderiam ser feitas com maior velocidade. Enquanto a Lava-Jato não se encerra e as penalidades para a companhia não são definidas, é difícil dimensionar o prejuízo que o grupo terá com o processo: — O anúncio de que a empresa negocia acordo de leniência sinaliza que o processo caminha para seu término. l Vale venderá fatia na CSA à ThyssenKrupp por US$ 1, diz agência Mineradora deve se desfazer de 26,87% da siderúrgica, que tem dívida de € 2,6 bilhões A Vale está finalizando uma proposta para sair da deficitária Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), uma parceria que mantém com a alemã ThyssenKrupp, sob termos que vão de encontro à estratégia da mineradora de se desfazer de ativos não rentáveis. Segundo fontes da Reuters, a brasileira venderá 26,87% de sua fatia na CSA para a companhia estrangeira por apenas US$ 1 mais o acolhimento de algumas dívidas. De acordo com o esboço do plano, que ainda precisa ser aprovado pelo Conselho da Vale, a companhia assumiria 10% do contingente de passivos da CSA, que tem capacidade de produção de 5 milhões de toneladas ao ano. A usina, que custou quase US$ 10 bilhões para ser construída, registrou dívida total de € 2,6 bilhões no fim do ano fiscal de 2015. Em 12 meses até setembro, a CSA perdeu quase € 400 milhões, segundo dados da companhia. -FRANKFURT- FORNECIMENTO EXCLUSIVO MANTIDO A ThyssenKrupp está ciente da proposta em formação, e as negociações com a Vale estão “em estágios finais”, disse uma segunda fonte. As duas companhias se negaram a comentar o assunto. As fontes afirmaram que os direitos exclusivos da Vale de fornecimento de minério de ferro e pastilhas à usina seriam mantidos. A Vale também quer o chamado tail period (“período de seguro”), no qual um sócio tem direito ao pagamento em caso de venda ou alienação de ativos em uma companhia, por dez anos, indicou uma das fontes. A CSA viu os custos de produção saltarem em meio à inflação alta, volatilidade cambial e instabilidade política no país que intensificou a recessão no Brasil. l l Economia l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO Olimpíadas abrem 11 mil vagas temporárias de trabalho no Rio Preços de remédios podem subir 12,5% Reajuste é o maior em dez anos e o primeiro a superar a inflação Salários variam entre R$ 1 mil e R$ 6 mil. Não é exigida experiência RENATO SETTE CAMARA/DIVULGAÇÃO MARTHA BECK [email protected] DAIANE COSTA MARCELLO CORRÊA Interessados em trabalhar no Rio em atividades ligadas aos Jogos Olímpicos e sua rede de fornecedores podem se inscrever para uma das 11 mil vagas temporárias disponíveis. Desse total, três mil oportunidades estão diretamente ligadas ao Comitê Organizador Rio 2016 e têm salários mensais que variam entre R$ 1,8 e R$ 6 mil, para uma jornada de trabalho de oito horas, com carteira assinada e auxílios alimentação e transporte. Os contratos são para trabalho entre meados de julho e final de setembro, durante as Olimpíadas e as Paralimpíadas. De acordo com Nilson Pereira, CEO do ManpowerGroup Brasil, empresa que está encarregada de contratar a mão de obra remunerada que trabalhará nos Jogos, a maioria destas vagas são operacionais, para assistência, e por isso não exigem especialização, experiência ou o domínio de uma segunda língua. A única exigência é que o candidato tenha ao menos 18 anos. Segundo Pereira, hoje há 120 mil currículos cadastrados no banco de dados da empresa, interessados em uma dessas oportunidades. São cargos de supervisão e de líder operacional, entre outras funções. — É um trabalho temporário, que as pessoas se candidatam muito mais pela experiência em participar dos jogos do que pelo salário — observa Pereira. As outras oito mil vagas são para trabalho junto aos fornecedores oficiais de serviços aos jogos, como a rede de alimentação, e têm suas cargas horárias e salários definidos de acordo com as convenções de cada categoria e das próprias empresas às quais estarão ligadas. As oportunidades são principalmente para funções operacionais e auxiliar, também para maiores de 18 anos. Há vagas para atuar como atendente, caixa, segurança, ajudante de cozinha, cozinheiro e para serviços gerais. Parte -BRASÍLIA E RIO- [email protected] [email protected] 29/03 0,2133% 30/03 0,1929% 31/03 0,1871% Selic: 14,25% Correção da Poupança Até 03/05/12 14/04 15/04 16/04 17/04 18/04 19/04 20/04 21/04 22/04 23/04 24/04 25/04 26/04 27/04 28/04 A partir de 04/05/12 ÍNDICE 0,7063% 0,7068% 0,6934% 0,6929% 0,6381% 0,6307% 0,6598% 0,7197% 0,6556% 0,6637% 0,6389% 0,6058% 0,6358% 0,6656% 0,7022% DIA 14/04 15/04 16/04 17/04 18/04 19/04 20/04 21/04 22/04 23/04 24/04 25/04 26/04 27/04 28/04 ÍNDICE 0,7063% 0,7068% 0,6934% 0,6929% 0,6381% 0,6307% 0,6598% 0,7197% 0,6556% 0,6637% 0,6389% 0,6058% 0,6358% 0,6656% 0,7022% Obs: Segundo norma do Banco Central, os rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem ao dia 1º do mês subsequente. Outubro +1,8% Novembro -1,63% Dezembro -3,9% Janeiro -6,79% Fevereiro +5,91% Março +16,9% R$ 788 R$ 788 R$ 788 R$ 788 R$ 880 R$ 880 R$ 953,47 R$ 953,47 R$ 953,47 R$ 953,47 R$ 953,47 R$ 953,47 Obs: * O valor do salário mínimo a partir de 1º de janeiro de 2016 é de R$ 880. ** Piso para empregado doméstico, entre outros. IMPOSTO DE RENDA IR NA FONTE ABRIL 2016 Base de cálculo R$ 1.903,98 De R$ 1.903,99 a 2.826,65 De R$ 2.826,66 a 3.751,05 De R$ 3.751,06 a 4.664,68 Acima de R$ 4.664,68 U COMO SE CANDIDATAR VAGAS: Vão desde líderes e supervisores até atendente, caixa, segurança, ajudante de cozinha, cozinheiro e para serviços gerais SALÁRIOS: De R$ 1 mil a R$ 6 mil mensais, por dois meses, entre julho e setembro. Com carteira de trabalho assinada EXIGÊNCIAS: Ter no mínimo 18 anos. Não é necessário ter experiência nem falar um segundo idioma Alíquota Parcela a deduzir Isento 7,5% 15% 22,5% 27,5% — R$ 142,80 R$ 354,80 R$ 636,13 R$ 869,36 www.talentosmanpowergroup.com.br e maisvagasrio.selecty.com.br, ou pessoalmente, de sexta-feira a sábado da semana que vem, em diferentes endereços de acordo com o dia, como na Portela, em Madureira, nos Faetec da Cidade de Deus e de Marechal Hermes, no Metrô da Carioca, no Centro de Referência da Juventude de Manguinhos e em uma ação social de Deodoro Deduções: a) R$ 189,59 por dependente; b) dedução especial para aposentados, pensionistas e transferidos para a reserva remunerada com 65 anos ou mais: R$ 1.903,98; c) contribuição mensal à Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido a acordo ou sentença judicial. Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa. Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRPF este ano. A primeira parcela do IRPF de 2016 vence no dia 29 de abril. INFLAÇÃO Trabalhador assalariado Salário de contribuição (R$) Até 1.556,94 de 1.556,95 a 2.594,92 de 2.594,93 a 5.189,82 Alíquota (%) 8 9 11 Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa (artigo 22 do regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social). Trabalhador autônomo Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da contribuição deverá ser de 20% do salário-base. Contribuição mensal mínima de R$ 176,00 (para o piso de R$ 880,00) e máxima de R$ 1.037,96 (para o teto de R$ 5.189,82) UFIR Abril R$ 1,0641 Obs: foi extinta AUMENTO TERÁ IMPACTO NO IPCA A alta de 12,5% é a maior em mais de dez anos — e a primeira a subir mais que a inflação nesse período. No ano passado, os preços de medicamentos haviam subido 7,7%, exatamente o IPCA acumulado no período. Em 2014, o reajuste foi de 5,68%, também idêntico à inflação oficial. O Ministério da Saúde infor- LOCAIS DE INSCRIÇÃO: Pelos sites INSS/ABRIL BOVESPA SAL. MÍNIMO SAL. MÍNIMO (FEDERAL)* (RJ)** TR DIA CADASTRAMENTO PELA INTERNET As inscrições para todas as vagas devem ser feitas por meio dos sites ww.talentosmanpowergroup.com.br e maisvagasrio.selecty.com.br, que será atualizado diariamente com novas oportunidades até que a seleção seja finalizada, em julho. — Mesmo que o candidato entre no site e não encontre naquele momento a função que procura, ele deve fazer seu cadastro. As vagas vão surgir diariamente — completa o executivo. Na próxima semana, o ManpowerGroup também cadastrará currículos de interessados em escolas, centros de apoio e estações de metrô do Rio. Basta apresentar documento com foto (veja quadro ao lado). l ÍNDICES Indicadores Os remédios com preços controlados podem ficar até 12,5% mais caros. O reajuste foi autorizado ontem pelo governo e já pode ser feito pela indústria farmacêutica. Segundo resolução publicada no Diário Oficial da União, o aumento foi calculado com base no comportamento da inflação no ano passado e também nas perdas de produtividade que os laboratórios tiveram nesse período por causa do câmbio e do aumento da energia. Entre os medicamentos que têm preços controlados no país, estão produtos usados no tratamento de doenças crônicas e câncer. Também estão na lista tranquilizantes, diuréticos, anti-histamínicos, anestésicos locais, produtos antitabagismo e antipsicóticos. Os cálculos para definir o reajuste levaram em consideração a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) entre março de 2015 e fevereiro de 2016, de 10,36%, e uma perda de produtividade de 2,14% na indústria, chegando ao total de 12,5%. O percentual foi definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed). Parque Olímpico. Vagas são para trabalho temporário, entre meados de julho e fim de setembro das oportunidades são para cargos de líder operacional e coordenação de equipes. Os salários variam de R$ 1 mil a R$ 6 mil, com carteira assinada. — É uma oportunidade para quem deseja potencializar o currículo tendo participado do maior evento esportivo do planeta — ressalta o CEO. UFIR/RJ Abril R$ 3,0023 Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08 Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj = 44,2655 Ufir-RJ) DÓLAR Índice Variações percentuais Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro 4370,12 4405,95 4450,45 4493,17 4550,23 4591,18 No mês No ano Últ. 12meses 0,54% 7,64% 0,82% 8,52% 1,01% 9,62% 0,96% 10,67% 1,27% 1,27% 0,90% 2,18% 9,49% 9,93% 10,48% 10,67% 10,71% 10,36% IGP-M (FGV) Índice Variações percentuais (8/94=100) Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março 604,832 614,051 617,044 624,060 632,114 635,349 No mês No ano Últ. 12meses 1,89% 8,35% 1,52% 10,00% 0,49% 10,54% 1,14% 1,14% 1,29% 2,44% 0,51% 2,97% 10,09% 10,69% 10,54% 10,95% 12,08% 11,56% IGP-DI (FGV) Índice Variações percentuais (8/94=100) UNIF CÂMBIO IPCA (IBGE) (12/93=100) Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro 589,897 600,269 607,441 610,128 619,476 624,366 No mês l 27 No ano Últ. 12meses 1,42% 7,03% 1,76% 8,91% 1,19% 10,21% 0,44% 10,70% 1,53% 1,53% 0,79% 2,33% 9,31% 10,58% 10,64% 10,70% 11,65% 11,93% Dólar comercial (taxa Ptax) Paralelo (São Paulo/CMA) Diferença entre paralelo e comercial Dólar-turismo esp. (Banco do Brasil) Dólar-turismo esp. (Bradesco) EURO Euro comercial (taxa Ptax) Euro-turismo esp. (Banco do Brasil) Euro-turismo esp. (Bradesco) Compra R$ Venda R$ 3,5793 3,58 0,02% 3,48 3,5799 3,77 5,31% 3,66 3,45 3,85 Compra R$ Venda R$ 4,0743 3,9594 3,93 4,0764 4,1740 4,38 OUTRAS MOEDAS Cotações para venda ao público (em R$) Franco suíço Iene japonês Libra esterlina Peso argentino Yuan chinês Peso chileno Peso mexicano Dólar canadense 3,72007 0,0319442 5,07142 0,241154 0,550204 0,00533044 0,205422 2,74021 FONTE: MERCADO Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e www.oanda.com. mou, no entanto, que o valor autorizado não vai necessariamente ser transmitido aos preços cobrados dos consumidores. Isso porque tanto a indústria farmacêutica quanto o setor varejista costumam praticar descontos em função da concorrência que existe nesse mercado. Assim, “o impacto no consumidor historicamente tem ficado e deve ficar abaixo do teto de reajuste aprovado este ano”, afirmou o ministério em nota. A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) também informou que os descontos dados aos consumidores vão influenciar os valores cobrados nas farmácias. De acordo com a entidade, o abatimento médio é de 72% para medicamentos genéricos e de 16% para os de referência. — Como esse mercado é muito competitivo, os preços ficam sempre abaixo do índice de reajuste — explicou o presidente-executivo da Interfarma, Antônio Britto. A entidade, no entanto, ressaltou que o reajuste concedido não repõe todas as perdas sofridas pela indústria farmacêutica nos últimos anos. O IPCA acumulado nos últimos dez anos foi de 79,3%, enquanto os índices de reajuste autorizados pela Cmed foram de 61,2% no mesmo período. Nas contas de Luis Otavio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, considerando o reajuste máximo, a alta dos remédios terá impacto de 0,3 ponto percentual sobre a inflação de abril. O peso representa mais da metade do IPCA esperado pelo analista para o mês, de 0,5%. O efeito deve se estender até maio, pois o tempo de troca de estoques varia de acordo com a farmácia. Com isso, entre abril e maio, o impacto deve ser de 0,4 ponto. — Era esperado. A inflação é um dos fatores, e o câmbio influencia, pois boa parte dos remédios tem componentes importados — disse Leal. l BOLSA DE VALORES: Informações sobre cotações diárias de ações e evolução dos índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser obtidas no site da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI podem ser consultadas nos sites de Anbima (www.anbima.com.br) e Cetip (www.cetip.com.br). A Taxa Básica Financeira (TBF) está disponível no site do Banco Central (www.bc.gov.br). Para visualizá-la, clicar em “Economia e finanças” e, posteriormente, em “Séries temporais” FUNDOS DE INVESTIMENTO: Informações disponíveis no site da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), www.anbima.com.br. Clicar em “Fundos de investimento” IDTR: Pode ser consultado no site da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na barra “Serviços” e, posteriormente, em FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados ÍNDICE DE PREÇOS: Outros indicadores podem ser consultados nos sites da Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da Anbima (www.anbima.com.br) 28 l O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 Mundo EXECUÇÃO EM HEBRON O tiro que dividiu Israel _ Morte de agressor palestino inconsciente por militar causa polêmica no país e no exterior AFP/29-3-2016 Corpo a corpo ADAM KELLER ‘A principal culpa é da ocupação’ Ativista critica discurso de setores radicais israelenses diante de onda de violência na Cisjordânia CAROLINA JARDIM [email protected] Adam Keller é ativista israelense e um dos fundadores do grupo pacifista Gush Shalom. Em entrevista por telefone ao GLOBO, de Tel Aviv, ele adverte que a influência da extrema-direita pode provocar impunidade após as acusações de crimes de guerra por soldados contra palestinos. -RIO E TEL AVIV- Respaldo popular. Diante da corte militar, manifestantes dão apoio ao soldado israelense detido após matar um agressor palestino, num episódio que mobilizou o país A execução extrajudicial de um agressor palestino gravemente ferido e caído imóvel no chão por um soldado israelense, na Cisjordânia — captada por um vídeo amador — tornou-se o centro de uma polêmica que dividiu Israel e agora cruza fronteiras. Ocorrido na semana passada, o incidente gerou fortes reações, polarizou as opiniões e ganhou novo capítulo ontem, com a decisão judicial de relaxar a prisão preventiva do soldado e transformá-la em confinamento no quartel. Enquanto continuam as investigações, o caso já virou tema de trocas ásperas entre o premier Benjamin Netanyahu e o senador Patrick Leahy, veterano do Congresso americano, que, com o apoio de dez deputados, pediu providências ao Departamento de Estado dos EUA sobre suspeitas de “sérias violações” de direitos humanos por parte de Israel. Por sua vez, a Anistia Internacional e a Human Rights Watch pediram que a França investigue o caso, se o soldado — que tem dupla nacionalidade israelense e francesa — for exonerado de culpa em Israel. O caso veio à tona após a divulgação de um vídeo filmado secretamente por um palestino voluntário do grupo israelense pró-direitos humanos B’Tselem. As imagens mostravam o agressor palestino de 21 anos, Abdul Fatah al-Sharif, inconsciente no chão após ser baleado ao apunhalar um soldado israelense pouco antes. No momento em que as ambulâncias se aproximavam, o militar de 19 anos, cujo nome está sob sigilo de Justiça, aproximou-se calmamente e atirou em sua cabeça, matando-o na hora. Alvo do ataque, um outro militar teve ferimentos leves. O Exército israelense disse que a investigação do incidente “mostrou um grave caso que vai de encontro aos valores” militares. A defesa do soldado alegou que ele atirou após o agressor “se movimentar”, revelando uma possível bomba acoplada ao corpo sob uma jaqueta. Mas a procuradoria militar disse que testemunhas alegaram tê-lo ouvido dizendo “que o palestino merecia morrer”. — Os vídeos e os testemunhos do incidente indicam que o terrorista neutralizado não representava qualquer ameaça — disse a chefe da promotoria militar, coronel Sharon Zagagi-Pinhas. — O soldado demonstrou indiferença ao atirar. Enquanto o Estado-Maior e o governo condenaram o episódio, políticos e seguidores da extrema-direita apoiaram a ação, e as acusações contra o militar foram rebaixadas de assassinato para homicídio (pela legislação de Israel, com intenção de matar, mas não premeditado). REPRODUÇÃO DE VÍDEO -JERUSALÉM E WASHINGTON- ‘AS MASSAS APLAUDIRAM A CRUELDADE’ O ministro da Defesa, Moshe Ya’alon, classificou o episódio de “altamente severo”, afirmando ainda que “o dever do país é aderir a padrões morais elevados e preservar a Humanidade, e não ser um braço brutal sem ética”. Grupos de extrema-direita reagiram com pôsteres nas ruas e campanhas online, cobrando a demissão de Ya’alon e afirmando que o militar deveria ser apoiado pelo país — uma petição pedindo que receba uma comenda militar já superou 57 mil assinaturas. Anteontem, protestos ocorreram do lado de fora da prisão e da corte onde o soldado será julgado. Numa pesquisa do Canal 2, mais da metade dos votantes discordaram da detenção do militar. O premier Benjamin Netanyahu, que no início do caso falou em “uma grave violação”, amenizou a retórica e anteontem ligou para o pai do O vídeo. Soldado (no centro, com a arma para cima) se prepara para atirar no palestino caído no chão, em Hebron O caso inflama ainda mais as tensões na região? Aumentou as tensões entre israelenses e palestinos e também as tensões entre a direita e a esquerda em Israel. Há muitas pessoas da direita israelense que dizem que o soldado é um herói. É claro que a esquerda está muito irritada com isso. Nós consideramos o soldado um criminoso perigoso. Há cada vez mais e mais casos de israelenses matando palestinos, mais extremismo, comportamentos agressivos e racistas. Os números de palestinos mortos são absolutamente maiores. Não é proporcional. Israelenses dizem que os palestinos são terroristas, enquanto os palestinos dizem que é por causa da ocupação. l A pressão da parcela de extrema-direita pode interferir no julgamento do soldado? As autoridades militares pretendem que ele seja julgado, mas há uma pressão muito forte da direita, inclusive de ministros de extrema-direita do governo de Netanyahu. Dessa forma, o soldado deve ser condenado, mas é provável que seja apenas por um delito leve. Ele não deve ficar muito tempo na prisão. l U Memória SEIS MESES DA ‘INTIFADA DA FACA’ -RAMALLAH, CISJORDÂNIA- O palestino morto pelo soldado israelense tinha atacado militares em Hebron de uma maneira que tem sido recorrente nos últimos meses na Cisjordânia e em Jerusalém: com uma faca. A nova onda de violência — apelidada por alguns de “intifada da faca” — teve início há seis meses, quando Israel intensificou sua presença militar na Esplanada das Mesquitas, também conhecida como Monte do Templo, em Jerusalém. Civis e soldados começaram a ser alvo de ataques a facadas, sobretudo por parte de jovens, mas também de adultos. Desde os primeiros dias de outubro, já são 211 israelenses esfaqueados, enquanto foram registrados 83 baleados e 42 atropelados. Dos alvos destes ataques, morreram 30 israelenses e dois americanos. Por outro lado, mais de 130 palestinos morreram durante ataques a israelenses — na imensa maioria das vezes, após serem baleados pelas forças de segurança. Veículos de comunicação e autoridades chegaram a temer uma possível nova intifada em Israel. — No início, achei que a onda de violência se tratava da presença israelense em al-Aqsa. Mas, nos últimos meses, vimos a situação virando caso de vingança soldado, dizendo reconhecer a pressão à qual os militares estão submetidos e garantindo que seu filho “receberia tratamento justo”. No Parlamento, saiu em defesa das Forças Armadas: — Qualquer desafio à moralidade do Exército é ultrajante e inaceitável. Nosso jovens mantêm padrões éticos altos enquanto combatem corajosamente assassinos sedentos por sangue sob difíceis condições de operação. Seu ministro da Educação, Naftali Bennett, escreveu no Facebook que “o soldado não é um assassino”. “Perdemos a noção? Estamos em guerra contra o terrorismo brutal.” O voluntário que filmou o episódio, Ibad Abu Shamsiyeh, e sua família receberam ameaças de morte, o que levou o B’Tselem a pedir proteção policial para ele. Abu também foi alvo de ataques nas redes sociais, e sua casa, em Hebron, foi alvo de ataques a pedras cinco vezes nesta semana. “A pressão público-midiática apoiou a brutalidade. A sociedade do Facebook criticou os próprios órgãos militares, que agiram de maneira justa. — disse uma alta autoridade militar israelense, sob anonimato, ao jornal britânico “Guardian”. O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, disse anteontem em entrevista ao Canal 2 da TV israelense que está trabalhando para conter os esfaqueamentos. — Em uma escola, achamos 70 meninos e meninas que carregavam facas. Nós as tiramos deles e dissemos: “Isto é um erro. Não queremos que vocês matem e sejam mortos. Queremos que vocês e o outro lado vivam”. Ele pediu ainda que Benjamin Netanyahu retome as negociações de paz entre os lados. Em resposta, o premier disse que está aberto para conversar, mas que Abbas e seus aliados “se recusam e incitam a violência”. Com um grito ensurdecedor, as massas aplaudiram a crueldade”, criticou o experiente jornalista Ari Shavit, em coluna no jornal “Haaretz”. Nos EUA, o senador democrata Patrick Leahy, que preside a Subcomissão de Apropriações de Defesa na Casa, escreveu uma carta ao secretário de Estado, John Kerry, pedindo que o país investigasse esta e outras acusações de violações de direitos humanos por parte dos militares do país aliado e também no Egito. Netanyahu rebateu em nota: “Onde está a preocupação pelas violações contra os tantos israelenses mortos ou feridos por criminosos palestinos?”. Leahy retrucou, dizendo que “nenhum país é isento de escrutínio em termos de segurança” e que “um motivo pelo qual Israel é o maior receptor de ajuda militar dos EUA é para se defender de ataques terroristas”. l NA WEB glo.bo/1TpfAly Vídeo mostra execução extrajudicial de agressor palestino por soldado O vídeo de Abu Shamsiyeh joga luz sobre violações nas colônias? A ONG B’Tselem oferece câmeras a voluntários para registrarem abusos cometidos em territórios ocupados. O vídeo foi a prova de que há muitas situações como essa. l Por causa da gravação, seu autor está sendo alvo de ameaças.... Apreciamos a coragem dessas pessoas. Abu é um fotógrafo muito assediado pelo Exército. Existe o perigo de que ele seja preso ou atacado por soldados. l O que explica o envolvimento cada vez maior de jovens palestinos em ataques com faca? É uma demonstração de que palestinos cada vez mais jovens estão cansados da ocupação. A principal culpa é da ocupação. É o problema básico. Enquanto houver repressão por parte de Israel, vai haver violência do outro lado. É inevitável. l Que solução o senhor vê para essa nova onda de violência? Há mais ódio entre os dois lados. A melhor forma de resolver é a criação de um Estado palestino. E os palestinos reconhecerem Israel e fazerem a paz. l l l Mundo l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO AFP [email protected] ADRIANA CARRANCA | Nossa guerra particular E mbora reúna 8% da população mundial, a América Latina concentra 33% dos homicídios. Desconsideradas as mortes relacionadas com operações militares e guerras, como determina o critério do Escritório da ONU para Drogas e Crime (UNODC), houve 437 mil assassinatos no mundo em 2012, último ano disponível — é mais do que a guerra na Síria matou em cinco anos. Somente no Brasil, foram 56.337 homicídios, pouco menos do que os 60 mil mortos no conflito sírio naquele ano. Uma em cada cinco pessoas mortas violentamente no mundo é brasileiro, colombiano ou venezuelano. Ao menos a metade das mortes está relacionada às drogas. É um tema talvez ainda mais polarizador do que o impeachment e sobre o qual preferimos silenciar, mas a ausência do debate é particularmente preocupante neste momento, às vésperas de uma rara sessão especial da ONU que deverá rever o sistema internacional e as normativas da política global de controle de drogas. O encontro será no dia 19, em Nova York. Será a terceira vez que a U organização se reúne para discutir o tema — a última Os pontos-chave sessão especial foi há 18 anos — e o fato de o encontro ser conduzido na América Latina Assembleia Geral, princiconcentra 33% dos pal organismo da ONU pahomicídios no mundo ra a definição de políticas públicas globais e o mais representativo em número Metade dos 437 mil de países, é um sinal de sua assassinatos em 2010 relevância e urgência. Presfoi relacionada às drogas sionada por países que não estão dispostos a mudar as leis polêmicas junto ao eleitorado, tentou-se miniPolíticas adotadas mizar o espectro do enconprovocaram mais mortes tro levando-o a Viena, onque as substâncias de as discussões para elaboração do documento a ser apresentado no encontro foram realizadas a porta fechadas, com fórum reduzido e sob críticas de falta de transparência. No Brasil, o STF ainda analisa ação pela descriminalização das drogas. A medida é defendida por entidades como a Organização Mundial de Saúde e líderes como o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan. A organização, no entanto, nunca defendeu oficialmente a política. Documento que seria apresentado pelo Escritório da ONU para Drogas e Crime em encontro sobre corrupção em Kuala Lumpur, em 2014, e foi vazado à imprensa, convocava pela primeira vez os países-membros a fazê-lo, mas foi retirado do material do encontro na última hora, segundo a BBC. O texto tão esperado reconhecia a descriminalização como política de direitos humanos, em acordo com tratados internacionais. O principal argumento de seus defensores é que as políticas contra as drogas adotadas até agora provocaram ainda mais danos e mortes dos que as substâncias em si. O México é um exemplo claro disso. Em 2011, a violência matou 30 mil pessoas no país, principalmente jovens, enquanto 70 morreram por abuso de drogas. A proporção de mortos versus feridos na guerra contra o narcotráfico é maior do que em qualquer outro conflito — até mesmo a Segunda Guerra — segundo dados apresentados esta semana em encontro promovido pelo Social Science Research Council com jornalistas latino-americanos, do qual participei. Outro indício dessa política perversa é que uma em cada cinco pessoas presas no mundo foi condenada por crimes de drogas — 80% delas por posse, segundo o Consórcio Internacional de Política de Drogas. Detidos por abuso de substâncias ilícitas, eles sofrem abusos ainda piores nas prisões — tortura, maus-tratos, condições precárias de vida e falta de acesso a tratamento. Com a descriminalização, as forças de segurança poderiam concentrar-se na captura do crime organizado: líderes do narcotráfico, contrabandistas de armas, funcionários públicos e políticos corruptos. Além destes, como em todo conflito, quem mais lucra com a atual política de guerra às drogas é a indústria da segurança. Nem uma nem outra conseguiu evitar que as drogas sejam hoje mais acessíveis do que nunca, tampouco a repressão impediu que a produção, o comércio e o consumo aumentassem na medida da violência. Além disso, a criminalização afasta usuários do tratamento, sobretudo as mulheres que temem perder a guarda dos filhos. Deixamos de enxergar o problema, mas ele continua existindo. Drogas são ruins, mas o que está sendo feito para seu controle, além de ineficiente, é ainda pior. l facebook.com.br/adriana.carranca.oficial instagram.com/adrianacarranca/ twitter.com/adrianacarranca 1 2 3 Zuma pede desculpas por mau uso de verba pública Condenado pela Justiça, presidente sul-africano diz que devolverá dinheiro | Nos últimos quatro meses, desde o início do processo de impeachment da presidente Dilma que paralisa o governo e o Congresso, domina a pauta do Supremo Tribunal Federal e monopoliza o debate público, algo como 17 mil brasileiros morreram assassinados. Cada minuto em que aumenta a incerteza sobre o futuro do país, é certo que dez mais morrerão da mesma forma, sob o silêncio complacente de todos nós. É uma tragédia global que mata mais do que as guerras e o terrorismo e tem como marco zero a América Latina, liderada em números absolutos pelo Brasil. l 29 Alerta. Obama fala em conclusão da Cúpula de Segurança Nuclear: americanos temem materiais em mãos erradas EUA abrirão dados nucleares contra EI Objetivo é dar exemplo frente à ameaça terrorista HENRIQUE GOMES BATISTA Correspondente [email protected] -WASHINGTON- Na plenária da quarta Cúpula de Segurança Nuclear, que acabou ontem, em Washington, o presidente Barack Obama disse ontem que os Estados Unidos vão detalhar suas medidas de segurança adotadas para proteger materiais atômicos, com o objetivo de que outras nações sigam o exemplo. O presidente disse que já são 102 países que ratificaram um adendo à Convenção sobre a Proteção Física de Material Nuclear, dando mais ferramentas para evitar o roubo de material atômico — o Brasil ainda espera a aprovação do Congresso. Apesar dos avanços, Obama disse que o risco de que forças terroristas tenham acesso a material continua e é crescente. — Sabemos que a alQaeda já tentou obter materiais nucleares. Indivíduos envolvidos nos ataques em Paris e em Bruxelas gravaram em vídeo um administrador que trabalha numa instalação na Bélgica. O Estado Islâmico já usou armas químicas, incluindo gás mostarda na Síria e no Iraque. Não há dúvida de que se esses loucos conseguirem colocar suas mãos numa bomba ou em material nuclear, certamente os usariam para matar o maior número possível de inocentes — disse Obama diante de uma plateia com representantes, a maior parte presidentes, de 52 países e quatro organizações. O presidente americano ainda lembrou que as centenas de instalações militares e civis ao redor do mundo contam com cerca de duas mil toneladas de material atômico, nem sempre protegido de maneira apropriada. Ele fez um alerta: uma pequena quantidade da matéria-prima poderia causar estragos imensos. — Só uma pequena quantidade de plutônio, do tamanho de uma maçã, poderia matar ou ferir centenas de milhares de pessoas inocentes. A cúpula, que não contou com a participação da Rússia pela primeira vez, parte de uma iniciativa de Obama, que em 2009 fez um grande discurso em Praga contra a ameaça nuclear. Nesta edição do evento, além do terrorismo, os líderes globais debateram as intenções da Coreia do Norte, que vem fazendo diversos testes militares, e os avanços do acordo com o Irã, que se comprometeu a apenas usar energia nuclear de forma pacífica. O presidente americano co- Obama apelou por ação para impedir acesso de terroristas a material atômico memorou que o mundo está com o menor número de armas atômicas das últimas seis décadas, mas alertou que há muito a se fazer. Questionado numa entrevista coletiva no fim da cúpula sobre como via a proposta do postulante republicano à Presidência Donald Trump de dotar a Coreia do Sul e o Japão de armas nucleares para se contrapor à Coreia do Norte, Obama atacou o bilionário: — Estes comentários partiram de alguém que não sabe muito sobre a política externa, de política nuclear, da Península Coreana ou do mundo em geral — disse Obama. BRASIL QUER FISCALIZAÇÃO O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, representante da presidente Dilma Rousseff no encontro (ela cancelou a ida a Washington pela crise política no país), defendeu abordagem mais abrangente da segurança. — A proteção física dos materiais nucleares não será fortalecida se os nossos esforços ficarem focados apenas em materiais e instalações de programas civis, ignorando que 83% dos materiais físseis que podem ser utilizados em armas nucleares no mundo estão em instalações militares, que não são abrangidas por qualquer mecanismo de fiscalização de compartilhamento de informações ou de reforço da confiança internacional — afirmou Vieira na plenária da cúpula. l -PRETÓRIA- Num pedido de desculpas em pronunciamento à nação pela TV, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, disse ontem que devolverá parte dos US$ 24 milhões gastos na reforma da sua residência privada ao Estado. Ele foi condenado pela Corte Constitucional por violar a Constituição ao recusar-se a devolver — contrariando a determinação da Defensoria do Povo — fundos públicos usados indevidamente para melhorias na propriedade. A reforma, que deveria ser para melhorar a segurança da residência, incluiu a construção de galinheiro, curral, piscina, anfiteatro e centro de visitantes. Zuma reconheceu que sua conduta foi “incompatível com a Constituição”, mas negou que tenha agido de má fé. — Quero enfatizar que nunca, consciente ou deliberadamente, agi para violar a Constituição — disse o presidente, atribuindo qualquer infração ao aconselhamento jurídico que recebeu. Em seguida, desculpou-se “pela frustração” e pela confusão no escândalo. — Peço desculpas em meu nome e no de meu governo. Exorto todas as partes a respeitarem o julgamento e a cumprilo — declarou, em referência à decisão unânime do tribunal. l | Opinião | AVANÇO AFRICANO A CONDENAÇÃO do presidente da África do Sul, Jacob Zuma, pela Corte Constitucional do país, por uso de dinheiro público em sua propriedade privada, equipara o país ao Brasil do mensalão. COMO AQUI, a Corte é composta, em maior parte, por nomeados pelo próprio Zuma. No Brasil, o STF formado, em sua maioria, por indicados por Lula e Dilma condenou petistas, como era necessário para fortalecer as instituições republicanas. GRANDE PASSO da África do Sul para consolidar a democracia. CRÍTICAS EM CUBA Comunistas insatisfeitos Membros do PCC pedem debates, e grupo esquerdista cubano em Madri quer mudar lei eleitoral ENRIQUE DE LA OSA/REUTERS -MADRI E HAVANA- A visita histórica do presidente Barack Obama a Cuba, que atraiu os holofotes para a ilha, parece ter mexido nas bases comunistas. A duas semanas do congresso da legenda, membros do Partido Comunista de Cuba (PCC) pedem mais debates e reclamam que não tiveram acesso a propostas — o que deveria, segundo eles, levar ao adiamento do Congresso. “Não poderíamos ter esperado uns meses para que a militância pudesse conhecer e opinar sobre os documentos, antes de levá-los ao Congresso? A militância de base está chateada, e com razão”, escreveu o acadêmico Esteban Morales no blog “Cuba Says”. Mudanças. Retrato de Fidel Castro em Havana: militantes questionam partido Estimam-se em 700 mil os membros do PCC. O último congresso, em abril de 2011, foi precedido de meses de debates populares nos quais se reuniram mais de um milhão de opiniões de membros do partido e da po- pulação em geral — um marco no caminho a um consenso sobre as reformas. Após Obama, os cubanos querem debater. Militante comunista e jornalista, Francisco Rodríguez tachou o discurso do presidente america- no de “hábil e emotivo”. — A visita nos obriga a fazer um trabalho de reflexão e defender o consenso social sobre a revolução. Em Madri, na Espanha, um grupo de cubanos lançou o #Otro18 — apoiado por 45 organizações — para tentar mudar a lei eleitoral antes de 2018, quando Raúl Castro deixa o poder. Segundo lideranças do partido Arco Progressista, a ideia é acabar com a Comissão Nacional de Candidaturas, que atua como filtro. — Que seja um processo que permita eleger, e não apenas votar — disse Manuel Cuesta Morúa, portavoz da legenda, que se define como social-democrata. As incomuns críticas ao PCC motivaram um artigo de defesa no “Granma”. l 30 l O GLOBO 2ª Edição Sábado 2 .4 .2016 Sociedade OBESIDADE Retrato de uma epidemia mundial _ CESAR BAIMA [email protected] A epidemia de obesidade que assola grande parte dos países do mundo acaba de ganhar um de seus retratos mais acurados. Em uma análise de 1.698 estudos populacionais realizados nas últimas décadas, com dados de mais de 19,2 milhões de adultos, um grupo internacional de centenas de pesquisadores reunidos na Colaboração de Fatores de Risco de Doenças Não-Comunicáveis (NCD RisC, na sigla em inglês) estimou a evolução do índice de massa corporal (IMC) — calculado dividindo o peso pelo quadrado da altura — dos habitantes das cerca de 200 nações e territórios de todo planeta entre 1975 e 2014. E os resultados foram alarmantes. Segundo os cientistas, o mundo tem hoje 641 milhões de pessoas — 10,8% dos homens e 14,9% das mulheres — que podem ser consideradas obesas, isto é, com IMC igual ou acima de 30, contra 105 milhões em 1975, das quais 184 milhões são severamente obesas (IMC maior que 35) ou as chamadas obesas mórbidas (IMC superior a 40). Esse número de obesos já há algum tempo superou o de pessoas que estão muito abaixo do peso ideal, ou seja, com IMC menor que 18,5. Entre as mulheres, essa barreira teria sido ultrapassada em 2004, enquanto entre os homens a mudança no perfil de peso ocorreu em 2011. Na média global, o IMC delas avançou de 22,1 para 24,4 nas últimas quatro décadas, e o deles foi de 21,7 em 1975 para 24,2 em 2014, o que equivale a cada ser humano do planeta ter engordado 1,5 quilo por década no período. — Ao longo dos últimos 40 anos, saímos de um mundo em que a prevalência do peso baixo era mais que o dobro da obesidade para um em que mais pessoas estão obesas do que abaixo do peso — destaca Majid Ezzati, professor da Escola de Saúde Pública do Imperial College London, no Reino Unido, e um dos líderes do levantamento, publicado na edição desta semana da revista médica “The Lancet”. — O número de pessoas em todo o planeta cujo peso é uma séria ameaça à sua saúde é maior do que nunca. E essa epidemia de obesidade severa é muito grande para ser atacada só com medicações para baixar a pressão, tratamentos para diabetes ou com algumas poucas ciclovias mais. TENDÊNCIA É CENÁRIO PIORAR E a tendência é que este cenário piore ainda mais. De acordo com as projeções do pesquisadores, mantido o ritmo observado desde 2000, em 2025 aproximadamente uma em cada cinco pessoas do planeta serão obesas — 18% dos homens e 21% das mulheres —, com a obesidade severa atingindo mais de 6% deles e 9% delas. — Se a tendência atual continuar, o mundo não só não cumprirá o objetivo de frear a alta a prevalência da obesidade nos níveis de 2010 até 2025 como mais mulheres serão obesas severas do que desnutridas em 2025 — acrescenta Ezzati. — Para evitar uma epidemia de obesidade severa, temos que implementar rápido e avaliar rigorosamente novas políticas que podem frear o aumento global no peso corporal, incluindo políticas inteligentes de alimentação e melhorias nos cuidados á saúde. Estimada em cerca de 410 milhões, porém, a população subnutrida do planeta, concentrada nos países pobres do Sul da Ásia e do centro e Leste da África, ainda é fonte de grande preocupação. De acordo com os pesquisadores, a redução no número de pessoas muito abaixo do peso foi relativamente lenta nas últimas quatro décadas, e o maior temor é que as políticas públicas acabem se focando por demais na população obesa e “esqueçam” os me- Mais pessoas estão acima que abaixo do peso ideal, mas desnutrição ainda é problema POPULAÇÃO NA BALANÇA AUMENTO DO VOLUME CORPORAL NOS ÚLTIMOS 40 ANOS PREVALÊNCIA DA DOENÇA NO BRASIL E NO MUNDO (IMC acima de 30, de 1975 e 2014) % de homens % de mulheres 25 RENATA MARIZ [email protected] A primeira edição de um exame criado para avaliar os futuros médicos do Brasil será aplicada em agosto deste ano, anunciou ontem o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. A Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina vai medir o desempenho de todos os alunos do 2°, 4° e 6° anos da graduação. Na última etapa, quem tiver baixa performance na prova ficará impedido de receber o diploma e, portanto, de -BRASÍLIA- 24% 25 20 BRASIL BRASIL MUNDO MUNDO 20 17,1% 15 14,9% 15 10,8% 10 3,5% 5 10 7,4% 5 6,4% 3,2% 0 0 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 08 10 12 14 1975: 110º / 2014: 92º 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 08 10 12 14 POSIÇÃO DO BRASIL NO RANKING DA OBESIDADE 1975: 111º / 2014: 84º PREVALÊNCIA POR CATEGORIAS DE IMC - ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (Em %, no mundo entre 1975 e 2014) Homens Mulheres 80 70 80 FAIXAS (ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, KG/M²) 65,5 Saudável (de 18,5 a 25) 60 70 62,7 60 51,4 50 52,8 Sobrepeso (de 25 a 30) 27,5 Obesidade ou obesidade severa (de 30 a 40) 10,1 Subnutridos (abaixo de 18,5) 40 30 20 10 0 17,5 13,8 3,2 1975 8,8 0,6 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2014 Obesidade mórbida (acima de 40) Entre os homens, a proporção de obesos ultrapassou a de subnutridos em 2011 50 40 24,1 13,3 14,6 6,1 9,7 1,6 0,3 1975 exercer a profissão. Mas poderá repetir o teste, previsto para ser aplicado várias vezes ao ano, frisou Mercadante. Nesta primeira edição, no entanto, somente alunos do 2° ano serão avaliados, estimados em 20 mil no país pelo MEC. Isto porque a lei que criou o exame determinou que ele começasse em 2015. Então, apenas estudantes que entraram na faculdade a partir do ano passado ficam obrigados a fazer o novo teste, segundo a lógica de que a legislação não pode retroagir para prejudicar o cidadão, explicou Mercadante. São esses alunos que, em 2020, quando estiverem cursando o 6° ano, passarão pela fase mais complexa da avaliação, em que uma reprovação poderá significar adiar o sonho do diploma. De acordo com Mercadante, a prova tem como objetivo aumentar o rigor na formação de médicos no Brasil: — É um exame amplo, para que a gente não apenas forme mais médicos no Brasil, mas que a gente forme bons médicos. METODOLOGIA INTERNACIONAL A nota de corte da avaliação será calculada a cada edição, dentro de metodologia internacional de verificação de desempenho, explicou Henry Campos, reitor da Universidade Federal do Ceará e representante da Subcomissão do Revalida, exame que certifica médicos formados no exterior que queiram atuar no Brasil. A nova prova seguirá o modelo do Revalida, no formato e conteúdo. Para alunos do 2° e 4° anos, serão provas escritas. No 6°, haverá avaliações práticas. l 30 20 16,4 1980 1985 1990 1995 2000 2005 10 0 2010 2014 Em 2014, cerca de 15% das mulheres sofrem com algum grau de obesidade. Entre os homens a proporção é de 11% Fonte: NCD Risk Factor Collaboration Diploma de medicina dependerá de aprovação em exame nacional periódico Primeira edição da prova será em agosto para avaliar desempenho de alunos do 2° ano nos favorecidos, aumentando ainda mais a desigualdade entre e dentro dos países. “Com relação à obesidade, nos países de alta renda os pobres são mais sujeitos a serem obesos que os mais ricos”, aponta George Davey Smith, professor de epidemiologia da Universidade de Bristol, também no Reino Unido, em comentário que acompanha o estudo na “Lancet”. “Mas, em muitas partes do mundo, o inverso acontece e os pobres permanecem magros a ponto de comprometer sua saúde e produtividade econômica. Um foco na obesidade às custas do reconhecimento do substancial fardo da subnutrição que resta ameaça desviar recursos das desordens que afetam os pobres para aquelas que mais provavelmente afetam os mais ricos nestes países (de menor renda)”. Editoria de Arte OS NÚMEROS NO BRASIL Com relação ao Brasil, os números na pesquisa não diferem muito das tendências globais. Aqui, o IMC médio das mulheres avançou de 22,7 em 1975 para 26,1 em 2014, enquanto entre os homens ele foi de 22,2 para 25,6 no mesmo período. Já a prevalência da obesidade aumentou de 7,4% da população feminina há 40 anos para 24%, ou cerca de 18 milhões delas, agora, e de 3,5% para 17,1% (12 milhões deles) na masculina. A subnutrição, no entanto, recuou fortemente, saindo de 10,2% das mulheres com peso muito abaixo do ideal em 1975 para 3,5% em 2014 e de 9,3% para 2,1% entre os homens, somando cerca de 4 milhões de pessoas no total. Já para o futuro, a projeção dos pesquisadores é de que 37,6% das mulheres e 37,8% dos homens brasileiros sejam obesos em 2025. — O ganho de renda aqui no Brasil nas últimas décadas teve como consequência um maior acesso a alimentos processados e industrializados que a gente sabe que não são nutricionalmente ideais, como biscoitos, massas, bolos e doces em geral — avalia o endocrinologista Pedro Assed, pesquisador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia e da PUC-Rio. — Nossa dieta é muito ruim, com uma falta de preocupação e atenção generalizada com a alimentação. E também faltam incentivos à prática de exercícios, com um baixo engajamento em atividades físicas. E tudo isso contribui para esse aumento na obesidade. Assed lembra ainda que a obesidade é um conhecido fator de risco para vários problemas de saúde, de doenças cardiovasculares provocadas por hipertensão e colesterol alto a diabetes do tipo 2 e câncer, muitos deles de caráter crônico e que deverão se tornar um fardo ainda maior ao historicamente combalido sistema de saúde brasileiro. — O aumento da obesidade é uma tragédia geral para a saúde da população e uma consequência disso é que nosso sistema de saúde pode entrar em colapso — diz. — Afinal, uma pessoa com uma doença crônica não fica internada uns cinco dias e vai embora. Ela pode ficar no hospital 30, 60, 90 dias e isso onera muito o sistema de saúde. Mesmo assim, o governo tem zero de iniciativa e nunca vi campanha pública nenhuma de alerta sobre os perigos da obesidade. Assim, o endocrinologista defende medidas como, por exemplo, colocar nos rótulos de produtos alimentícios processados alertas como os vistos nos cigarros, além de campanhas de educação em saúde e incentivo à prática de atividades físicas, em especial para o público infantil. — Não é só uma questão de quantidade, mas também de qualidade das calorias que consumimos — conclui. — O difícil é mudar os hábitos. Precisamos consumir mais frutas, legumes e fibras. l Capes bloqueia acesso a mais de sete mil bolsas de pós-graduação em todo o país Órgão nega cortes e diz que vagas estavam ociosas, mas associação de estudantes contesta -BRASÍLIA- A Coordenação de Aper- feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência do Ministério da Educação (MEC) para fomento da ciência, bloqueou o acesso de estudantes a mais de sete mil bolsas de pós-graduação no país — cerca de 9% do total disponibilizado hoje. Em circular ao qual O GLOBO teve acesso, universidades foram comunicadas sobre “a suspensão temporária de cadastramento de novos bolsistas” por até dois meses. O argumento da Capes, segundo o informe, é que as bolsas estavam “ociosas após fechamento do mês de março” e que serão objeto de análise para “recomposição gradual”. O presidente do órgão, Carlos Nobre, garantiu que a medida visa melhorar a eficiência no preenchimento das bolsas e não significa cortes. — As bolsas vão voltar. Vamos fazer um estudo para diminuir o índice de ociosidade, de 8% a 9% — afirmou Nobre. — Se as universidades melhorarem seus índices, teremos mais alunos com bolsa da Capes neste ano. IMPACTO EM 9% DOS INCENTIVOS A presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Tamara Naiz, critica o fato de as bolsas terem março como referência, quando muitos graduandos se desvinculam da bolsa. —Pode demorar um pouco para outro estudante acessar, não significa que está ociosa. São 7.408 bolsas impactadas, o que representa cerca de 9% dos 80.906 incentivos pagos atualmente a alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. A maior parte das bolsas suspensas é do chamado Programa de Demanda Social, focado na formação de mestres e doutores em cursos avaliados pela Capes com nota de 3 a 5, numa escala que vai até 7. De acordo Mercedes Bustamante, diretora de Programas e Bolsas da Capes, pró-reitores das universidades já começarão a se reunir na próxima semana para traçar mecanismos de melhoria da gestão. — Há problemas no orçamento, mas isso não significa que haverá redução de bolsas. (Renata Mariz) l O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 l 31 Esportes Feito inédito ACIMA DE TODOS Quatro meses após trancar a faculdade para se dedicar exclusivamente ao tiro esportivo, o paulista Felipe Wu se torna o primeiro brasileiro a assumir o topo do ranking mundial DIVULGAÇÃO pendência. Somando o Bolsa Atleta, o salário das Forças Armadas e o dinheiro de seu patrocinador, o atirador recebe, mensalmente, em torno de R$ 6,4 mil. — Como engenheiro espacial, eu estaria recebendo um salário que seria o dobro ou mais do que o valor que eu ganho como atleta — afirma Felipe, que está no terceiro período do curso. Sem a obrigação momentânea da faculdade, Felipe consegue treinar em dois períodos e manter o foco apenas no esporte. Ontem, ele já chegou ao Rio para uma fase de treinamento até o início do evento-teste. Sua evolução no tiro também surpreende pela idade precoce. Fora o americano Will Brown (2º colocado), nascido em 1991, e o coreano Kim Cheongyong (5º), em 1997, os 20 primeiros do ranking mundial de pistola com ar 10m têm 30 anos ou mais. O sexto, por exemplo, é o experiente português João Costa, de 41 anos. APOSTA SELETA DO COB Aposta cada vez mais concreta de medalhas na Rio-2016, Felipe tem sido tratado com atenção pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde que se lançou como promessa no tiro esportivo ao conquistar medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2010, em Cingapura. No ano seguinte, então com 18 anos, ele representou o Brasil no Pan de Guadalajara, mas parou nas eliminatórias. Mais tarde, ele afirmou que esta experiência no México foi determinante para a conquista do ouro no Pan de Toronto. A expectativa agora é que algo parecido com a experiência no torneio panamericano também aconteça no Rio. Em Londres-2012, apesar de não competir no megaevento, Felipe foi levado pelo COB, com um Felipe Wu seleto grupo de 16 Atirador promessas esportivas, para a Rio-2016 com o objetivo de ter uma vivência olímpica e “quebrar o gelo”, conforme a própria entidade explicava à época, na capital londrina. — Foi um aprendizado grande ter ido a Guadalajara. Com certeza, essa experiência em 2011 foi determinante para que eu chegasse ao topo em Toronto — reconhece Felipe, ano passado, logo após a conquista do Pan-Americano. Apesar da pouca idade, Felipe começou cedo no esporte. Aos 11 anos, ele já dava os primeiro tiros com o pai. A diversão foi ficando séria a ponto da família Wu montar dentro de casa uma área improvisada de treino. Hoje, passados mais de 12 anos de seu início, Felipe sabe do tamanho de sua responsabilidade para o esporte. Ele deixou isso claro logo após vencer sua primeira Copa do Mundo. — Todos estão de olhos nos brasileiros. A imprensa nacional passou a nos acompanhar de perto. E é extremamente importante que o tiro esportivo vá bem neste momento, pois não é um esporte popular como outros — analisa o atirador. — E eu sei que posso contribuir com este crescimento do tiro com as minhas vitórias. l “Minha meta principal não é me manter no topo do ranking. O meu objetivo é ir bem nas Olimpíadas Evolução rápida. Felipe Wu começou no esporte aos 11 anos por influência do pai: pouco mais de uma década depois, ele é possibilidade real de medalha para o país nos Jogos VICTOR COSTA [email protected] O paulista Felipe Wu, de 23 anos, colocou o tiro esportivo do país em um lugar nunca antes alcançado. Pela primeira vez, um atirador brasileiro chegou à primeira colocação do ranking mundial. O resultado foi confirmado, ontem, no dia 1º de abril, na categoria pistola de ar 10m, que é olímpica. Esta conquista só foi possível após sua brilhante vitória na Copa do Mundo da Tailândia, no início de março. Para se manter no topo até a divulgação do próximo ranking, no dia 1º de maio, o paulista precisará ir bem na próxima etapa da Copa do Mundo, a partir do dia 13 de abril, no Rio, que servirá como eventoteste da modalidade para os Jogos. A publicação do ranking, ontem, pegou a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE) de surpresa. Nos corredores da entidade, existia uma expectativa de ver Felipe entre os 20 primeiros e, talvez, entre os 10. Até Felipe, que interrompeu a faculdade de engenharia aeroespacial, havia feito alguns cálculos nas últimas semanas, mas achava muito remota a possibilidade de assumir o topo do ranking. — O sistema de pontuação é muito complicado. Não é tão fácil assim. Antes, eu estava em 56º. Tem muitas variáveis. Sabia que tinha chances de sair em primeiro, mas, realmente, não acreditava que conseguiria isto — diz Felipe, avaliando sua reta final de preparação para os Jogos. — Minha meta principal não é me manter no topo do ranking. Não estou preocu- pado com isso. O meu objetivo é ir bem nas Olimpíadas. Infelizmente, vou atrasar meus estudos para isso, pois tive que trancar a faculdade para focar na preparação para os jogos. Foi uma escolha difícil. DIFERENÇA SALARIAL Pela primeira vez em sua carreira de atleta, Felipe está apenas concentrado no tiro esportivo. Até o ano passado, quando foi campeão panamericano em Toronto, ele ainda dividia seus dias entre treinos e estudos. Neste ano, com o apoio da família, optou por trancar a faculdade, e chegou ao topo do ranking. Após os Jogos, no entanto, ele garante que vai voltar à faculdade, onde o futuro é mais promissor financeiramente. Como atleta, Felipe consegue ter certa inde- BEISEBOL MLB começa sua maratona de 162 partidas JAMIE SQUIRE/GETTY IMAGES Temporada regular é realizada em ‘apenas’ 182 dias. Dois brasileiros disputam a competição, um deles no atual campeão EDUARDO ZOBARAN [email protected] I magine uma campeonato com 162 jogos, sem contar os playoffs decisivos. Agora, imagine que essas partidas estão espremidas em apenas 182 dias. É o que acontece na Major League Baseball (MLB), principal liga americana de beisebol, que dará início à sua nova temporada amanhã. São 30 times que se enfrentarão em 89% das datas até 2 de outubro, quando terão sido definidos os dez finalistas. Para chegarem preparados para a competição, os times investem na pré-temporada, chamada de “spring training" (ou treino de primavera). As atividades são feitas na Flórida ou no Arizona, onde as franquias fogem de altas temperaturas de outras regiões dos Estados Unidos e do Canadá. É também uma fase competitiva: de cerca de 40 jogadores que começam, apenas 25 compõem o elenco principal para a temporada. Este ano, dois brasileiros passaram pelo crivo: Paulo Orlando, campeão no ano passado pelo Kansas City Royals, e Yan Gomes, do Cleveland Indians. Outros dois ficaram pelo caminho: André Rienzo, do Miami Marlins, e Leonardo Reginatto, do Minnesota Twins. Eles devem iniciar a temporada em times da Triple A, última escala das ligas menores, que são vinculados ao Marlins e ao Twins. A qualquer momento, podem ser convocados para subir ao elenco que disputa a MLB. Outros oito brasileiros fazem parte das divisões inferiores — Double A e Single A completam a escala das ligas menores. PAULO ORLANDO RECEBE SEU “TROFÉU” Se foi um amuleto de seu time no ano passado, a responsabilidade promete ser bem maior para o defensor externo Paulo Orlando nesta temporada. Especialmente após a saída de Alex Rios e a Paulo Orlando. Campeão da World Series lesão de Jarrod Dyson, dois de seus concorrentes. Após dez anos nas ligas menores antes de estrear no Royals no ano passado, dessa vez ele deve começar o ano como titular. — Alguns ajustes ainda tenho que trabalhar, mas são poucos detalhes, que durante a temporada voltam normalmente — afirmou Paulo Orlando em entrevista ao GLOBO. — O mesmo digo para o time. Alguns jogadores já estão bem confiantes e, com isso, os outros se motivam. O “EXPERIENTE” GOMES Amanhã, antes do jogo contra o New York Mets (a ESPN transmite às 21h), adversário da final no ano passado, Paulo Orlando receberá o “troféu” entregue aos jogadores. Tratase de um anel de campeão da World Series. O brilho, ele sabe, vai dificultar o trabalho do Royals em 2016. — Os outros times virão com mais vontade de ganhar os jogos contra a gente. Vamos continuar jogando agressivos e unidos e, com certeza, os resultados aparecerão como no ano anterior — garante o jogador. Mais experiente, Yan Gomes chega à sua quinta temporada. Não é exagero dizer que o catcher tem em sua carreira um papel ainda mais relevante para seus times do que Orlando. Sua equipe atual, o Indians, estreia na segunda-feira, contra o tradicional Boston Red Sox. l classificadosdorio.com.br 2534-4333 32 l O GLOBO l Esportes l Sábado 2 .4 .2016 [email protected] CARLOS EDUARDO MANSUR | Voando para a seleção | Heróis, vilões e ideias Dois tropeços da seleção fizeram a tese da geração ruim dar lugar à da falta de protagonistas ou de comprometimento. O país é fascinado pelos dois temas porque, no fundo, busca salvadores que tragam, sozinhos, soluções num futebol que se vê diante de um desafio coletivo. O time é uma pilha de nervos e problemas, que não serão resolvidos pela busca por heróis ou pela nomeação de vilões. É a dificuldade coletiva que tem feito o Brasil, com sua geração cheia de ótimos jogadores e de protagonistas em clubes importantes, tropeçar em rivais individualmente menos dotados. Passada a data-Fifa, clubes do país buscaram às pressas jogadores das seleções. Guerrero jogou 180 minutos em pouco mais de 24 horas num Flamengo desgastado. Não foi Muricy quem exigiu. Mas a crença geral supervaloriza a aposta no individual. “Se Messi jogasse no Argentinos Juniors, não seria campeão nunca”, disse César Luis Menotti, técnico campeão mundial pela Argentina em 1978. “Por vezes, o Barcelona se deixa atacar pelo pior rival: a urgência. Vira dependente de Messi. Quando o jogo de equipe respalda seus craques, é imbatível”. Ele se refere à estrutura coletiva que sustenta individualidades. Alemanha e Espanha, únicas seleções que foram consistentes coletivamente nas últimas décadas, não dependiam de um mágico individualista. Além de reunirem ótimos jogadores, puderam se estruturar tendo um clube como base. Algo que o Brasil não pode, por realidade e por identidade. Então, como virar um time? O calendário moderno vitima seleções, e as eliminatórias sul-americanas são uma gangorra de desempenho. Na última rodada, só jogou bem a Colômbia, que começara mal. Mas há problemas que são brasileiros. Dunga não é um incapaz, como mostra a equipe organizada da Copa de 2010. Tampouco é o melhor técnico do país, como revela seu curto currículo — o que lhe tira credenciais e respaldo e se soma a uma personalidade dificílima, marcada por conflitos. E conflito era tudo de que não precisava uma seleção tão machucada, a mais pressionada do mundo desde o 7 a 1. Na passagem anterior, Dunga teve resultados na caminhada até o Mundial. Agora, sem eles, a pressão vai a níveis extremos. E os focos de conflito chegam à relação com jogadores. O ponto chave é a seleção ter uma ideia de futebol que sustente o trabalho, seja ele de quem for. Dunga, por característica, tende mais ao pragmatismo do que à estética. Traço talvez reforçado pelo pouco tempo para treinar o time. Tem quase dois anos no cargo. Parece muito, mas na realidade de um clube equivaleria a menos de um semestre. O resultado é um time com dificuldade de jogar coletivamente bem como no primeiro tempo diante do Uruguai. E sim, já seria possível render mais. Mas qual o estilo que se persegue? Que futebol a CBF pretende ver na seleção? Quem, na entidade que vive uma lacuna de poder e legitimidade, pensa o modelo de jogo com a comissão técnica? Tite é visto como o salvador da vez. É o melhor do país, mas, se a troca ocorrer, entrará num mundo novo, sem o dia a dia com o time. Deixaria de ser treinador para ser, muito mais, um selecionador. Não há garantias de resultado. O passo principal é definir o que se espera da seleção, que identidade se busca no time que representa o futebol brasileiro. Depois, escolher quem execute o plano, seja Dunga, Tite ou qualquer outro. E dar tempo para o projeto de futebol aflorar. Para quem busca evolução coletiva, a Copa América é um presente. Se for preciso escolher em que torneio usar Neymar, o clamor pelo salvador que conduza a seleção ao ouro será forte. Mas não seria coerente. Até aqui, o time olímpico se preparou com uma comissão técnica que não o comandará na competição. Se houve uma prioridade, esta tem sido o time que tenta ir à Copa de 2018. E que precisa trabalhar, de preferência com Neymar. Para que o craque seja parte de um coletivo. _ Genial e genioso Neymar sempre foi, e ainda é, muito mais solução do que problema na seleção. Mas sua instabilidade convida a refletir. É razoável que, aos 24 anos, não seja insensível às disputas na Justiça que o envolvem, assim como sua família. Natural, também, ponderar se Neymar entupiu sua rotina de distrações. As suspensões na Espanha há dois anos coincidem com a corrida para um avião rumo à festa da irmã. Do Recife, após o empate com o Uruguai, outro avião e outra festa. Chegou à seleção horas depois do que poderia e, na noite anterior, festa. Tudo frenético demais. Ou pensar se, para um jovem tão pressionado, a seleção de hoje deixou de ser o porto seguro. No Barcelona, é um protagonista. No Brasil, espera-se que seja o salvador num time que não se consolida. O Neymar de Recife era mais fechado, preocupado, irritadiço. Suspenso, foi ausência outra vez no Paraguai. Uma ausência frequente demais. l NOVA CHANCE Natália, destaque do Rio na final da Superliga, vive a melhor fase da carreira neste ano olímpico. Atacante quer compensar os Jogos de 2012, quando não atuou MÁRCIA FOLETTO CAROL KNOPLOCH [email protected] A decisão da Superliga entre Rexona/Rio de Janeiro e Dentil/Praia Clube, de Uberlândia (MG), deve coroar a melhor fase da carreira de Natália. A jogadora foi peça fundamental na campanha do favorito time do Rio, que chega à 12ª decisão seguida. Esse confronto inédito, com as mineiras disputando o título pela primeira vez, será amanhã, às 9 h. A Rede Globo e o Sportv transmitem. O time comandado por Bernardinho busca o 11º título na competição. E chegou à decisão ao derrotar o arquirrival Osasco, na semifinal. — Essa é minha melhor temporada de longe! Foquei muito, me dediquei. Também queria jogar para a seleção porque estamos em ano olímpico. Imagine a busca por um sonho. Estou buscando o meu (Olimpíadas) — afirma a jogadora mais acionada do time do Rio. — Nessa temporada, não teve tempo ruim. Encarei tudo. Treinei a mais quando precisou e cuidei da alimentação. Estou forte, com mais massa magra e dentro de meu peso, entre 80kg e 82kg. Segundo dados da equipe, Natália bateu 623 bolas (264 de ataque e 359 de contra-ataque), cerca de 24% do total do time (2.621) na competição. A oposta Monique foi a segunda mais requisitada (567 bolas atacadas). As estatísticas da Superliga confirmam a boa fase. Natália é a segunda maior pontuadora (379 acertos), atrás apenas da americana Alix, do rival Praia Clube (438 acertos). No ataque, Alix é a líder (374 pontos) e Natália, a terceira (320). A ponteira afirma que tem uma nova chance na carreira. É que, na temporada que antecedeu os Jogos de Londres, na Superliga 2011/2012, ela não jogou nenhuma partida. Sequer foi escalada. Viu do banco a Felicidade. Ponteira é destaque nas estatísticas do clube e da competição derrota para o Osasco na final. Chorou, sentiu-se impotente. A verdade é que Natália passou maus bocados e teve receio de uma aposentadoria precoce. Há quatro anos, ela se recuperava da segunda cirurgia na canela esquerda para retirar um tumor benigno. A primeira intervenção ocorreu em junho de 2011. Em ambos os casos, teve de raspar o osso: primeiro, 1,5cm, depois, 3,5cm, além de enxerto e colocação de haste de titânio. Por dois meses e meio, andou com auxílio de muletas. — Não tive a chance de me preparar para a última Olimpíadas. Não tinha condições de jogo. Uma semana antes da final da Superliga, eu deixei as muletas. Voltei a saltar apenas um mês antes dos Jogos. CONVOCAÇÃO NA SEGUNDA Ela lembra que, mesmo em recuperação, o técnico José Roberto Guimarães a convocou para os Jogos de 2012. — Agradeço até hoje pela confiança. Desta vez, estou bem preparada — garante a ponteira, que evoluiu no passe. A líbero Fabi diz que nunca a viu tão bem, “voando”. — Acompanhei todas as suas fases. Não é uma surpresa o que está jogando. A surpresa é vê-la com tanta regularidade. É nome certo na lista olímpica de Zé Roberto (será divulgada na segunda-feira) — aposta a líbero, já aposentada da seleção. — Talvez a Natália esteja sendo presenteada com essa temporada incrível depois de 2012. Agora poderá viver de fato uma Olimpíada, 100% fisicamente, de corpo, alma e coração. Arrisco 120%. A levantadora Roberta também aposta em Natália como destaque na lista da seleção: — Sei que não vai me deixar na mão nunca. Por isso eu a aciono sempre no jogo. É a melhor ponteira da Superliga. Essa é a sua hora. É nome certo na lista de Zé Roberto. l TÊNIS F-1 Djokovic a uma vitória do hexa Mercedes lidera. Button é surpresa Caso vença a final em Miami amanhã, sérvio vai bater recorde de títulos de Masters 1000 Novak Djokovic está a uma vitória de bater mais um recorde na carreira. Se vencer amanhã, às 14h (de Brasília), a final em Miami, o número 1 do mundo conquistará o 28º troféu de Masters 1000, ultrapassando o espanhol Rafael Nadal nesse quesito — o suíço Roger Federer tem 24. O Sportv 3 transmite. Ontem, o líder do ranking precisou de 2h04m para derrotar o belga David Goffin (15º do mundo), por 7/6 (7/5) e 6/4. — Estava muito abafado e MATTHEW STOCKMAN/AFP -MIAMI- acesse 140 CENTRO - RJ Av. Passos, 42, 44 e 46 SHOPPING JARDIM GUADALUPE Av. Brasil, 22.155 CABO FRIO (SHOPPING PARK LAGOS CABO FRIO) Av. Henrique Terra, 1.700 Suado. Djokovic no jogo com Goffin úmido, mas estou orgulhoso por ter ficado firme nos momentos importantes e ter encaixado alguns grandes serviços — celebrou o finalista. Se confirmar o favoritismo amanhã, o sérvio vai se igualar ao recordista americano Andre Agassi em número de títulos em Miami: seis. Até hoje, Djokovic venceu o torneio em 2007, 2011, 2012, 2014 e 2015. Outra marca que mostra o momento espetacular do natural de Belgrado é que ele disputará a 11ª decisão consecutiva de Masters 1000, feito jamais alcançado na história do esporte. Com 27 vitórias e apenas uma derrota em 2016, o líder do ranking também pode conquistar, em Miami, o segundo hexacampeonato na atual temporada. Em janeiro, ele se tornou o recordista na Era Aberta (desde 1968) de títulos no Aberto da Austrália, um dos quatro Grand Slams do circuito mundial. FINAL FEMININA HOJE Hoje, às 14h , a bielorrussa Victoria Azarenka (oitava do mundo) decide a chave feminina de Miami contra a russa Svetlana Kuznetsova (19ª do ranking). Enquanto a primeira derrotou, na semifinal, a alemã Angelique Kerber, por 6/2 e 7/5, a segunda passou pela suíça Timea Bacsinszky, por 7/5 e 6/3. A Bandsports transmite. As duas finalistas vão fazer um tira-teima nas quadras de Key Biscayne. Até hoje, foram oito jogos entre Azarenka e Kuznetsova, com quatro triunfos para cada. No último duelo, nas quartas de final do Aberto da Austrália de 2013, a bielorrussa — que busca o terceiro título em Miami — levou a melhor. l Novamente, a Mercedes dominou os treinos livres da Fórmula-1 e surge como favorita para o GP do Bahrein, amanhã, às 12h (de Brasília), com Nico Rosberg em primeiro e Lewis Hamilton em segundo. Hoje, no mesmo horário, acontece o treino classificatório. A Rede Globo transmite. A surpresa, porém, pode aparecer. Ontem, o piloto inglês Jenson Button pôs a McLaren em terceiro, posição incomum para a escuderia recentemente, que terá o belga Stoffel Vandoorne no lugar do espanhol Fernando Alonso, que está vetado. l -SAKHIR, BAHREIN- acesse 140 GUANABARA (SHOPPING GUANABARA BARRA) Av. das Américas, 3.501 PARQUE SHOPPING SULACAP Av. Marechal Fontenelle, S/N CAMPOS DE GOYTACAZES (BOULEVARD SHOP. CAMPOS) Av. Jornalista Roberto Marinho, 221 l Esportes l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO FUTEBOL INTERNACIONAL MSN x BBC CHÃO DE ESTRELAS Com uma diferença de 10 pontos na tabela, Barcelona e Real Madrid se enfrentam no Camp Nou tentando esquecer a goleada catalã do primeiro turno e pensando na rodada da Liga dos Campeões MARCELO ALVES [email protected] Poucos jogos de futebol têm tanto apelo e capacidade de parar boa parte do planeta na frente de uma televisão quanto um Barcelona x Real Madrid. Mesmo espremido entre a data Fifa da última semana e os vindouros confrontos de terça e quarta-feira pelas quartas de final da Liga dos Campeões da Europa contra Atlético Madrid e Wolfsburg, respectivamente, o clássico de hoje, às 15h30m (de Brasília), no Camp Nou, desperta enorme interesse e tem um caráter decisivo principalmente para o time comandado por Zinedine Zidane. A oito rodadas do fim da temporada, o Real está dez pontos atrás do Barça. Se perder, dará um adeus definitivo ao título, por mais que a matemática contrarie os fatos apresentados em campo, onde se viu um time catalão mais equilibrado e exibindo um futebol superior aos madridistas em toda a temporada. Quem estará acompanhando este jogo com especial atenção é o rival dos dois, o Atlético de Madrid. Segundo colocado com nove pontos a menos do que o Barcelona, o time do técnico Simeone tentará vencer o Bétis mais cedo, às 11h, para depois só torcer para que o seu rival da cidade o ajude a diminuir a diferença para o líder. Falar em Barcelona x Real Madrid significa inevitavelmente falar da maior rivalidade do futebol atual. Depois de marcarem gols e ajudarem as suas respectivas seleções a vencerem na terçafeira passada, Messi e Cristiano Ronaldo se enfrentarão pela 30º vez — contando os confrontos pelos times atuais e por equipes anteriores e seleções. Um confronto em que o craque argentino leva ampla vantagem. São 14 vitórias dele e oito de Ronaldo. Em número de gols no duelo, eles estão parecidos: são 17 do argentino e 16 do português. HOMENAGEM A CRUYFF No sempre volátil mundo do futebol, até que pouca coisa mudou desde que os dois se enfrentaram pela primeira vez, em novembro de 2009. Na ocasião, o Barcelona venceu por 1 a 0, gol de Ibrahimovic. Se o sueco não está mais no clube, a equipe então comandada por Pep Guardiola manteve mais de meio time titular daquela partida: Daniel Alves, Piqué, Busquets, Messi e Iniesta. No Real Madrid, seis estavam naquele primeiro confronto. Além do português, o time do técnico Manuel Pellegrini tinha Sérgio Ramos, Pepe, Arbeola, Marcelo e Benzema, que entrou no decorrer do jogo. Para Messi, a partida pode ser especial. Ele está a um gol de marcar o seu 500º na carreira. — Seria um lindo cenário atingir esta marca contra o Real Madrid — afirmou o camisa 10, maior artilheiro da história do clássico, com 21 gols. Se no lado do Real o discurso é o de vencer a qualquer custo, na Catalunha a vontade não será menor. Mas o Barcelona quer vencer ao seu estilo, exibindo um jogo bonito para homenagear o grande mentor, Johan Cruyff, que faleceu na semana passada e será homenageado no Camp Nou. A RIVALIDADE ENTRE MESSI E CRISTIANO RONALDO CLÁSSICO DE HOJE ENTRE BARCELONA E REAL MADRID SERÁ O 30º CONFRONTO ENTRE OS DOIS CRAQUES L. MESSI C. RONALDO JOGOS ENTRE OS DOIS (Incluindo Seleção e Manchester United) 14 8 Vitórias de Messi 29 Jogos Vitórias de Ronaldo 17 Gols 7 16 Gols Empates CLÁSSICOS DISPUTADOS ENTRE OS DOIS (entre Barcelona e Real Madrid) 12 Vitórias de Messi 24 Jogos 14 Gols Empates 6 Vitórias de Ronaldo 6 15 Gols NÚMEROS INDIVIDUAIS 31 Clássicos disputados 15 7 9 21 24 Vitórias 6 Empates 6 Derrotas 12 Gols 13 Assistências 15 1 Infográfico: Kayan Albertin / Editoria de Arte — A melhor homenagem a Cruyff é fazer tudo o que ele nos ensinou. Queremos ganhar para dedicar a ele — disse Iniesta. O meia é uma das estrelas de um clássico recheado de craques. Além dele, o Barcelona ainda terá em campo o trio Messi, Suárez e Neymar (MSN), que vem ajudando o time a manter uma invencibilidade de 39 partidas. Em uma temporada em que já trocou de técnico (saiu Rafa Benitez, chegou Zidane), o Real não exibe números tão superlativos, mas sempre há o talento de Cristiano, Gareth Bale, Benzema (o trio BBC) e James Rodríguez. Para Zidane, esta é uma partida para o trio BBC brilhar e o Real apagar a péssima impressão do primeiro turno, quando foi goleado por 4 a 0 em pleno Santiago Bernabéu. — Temos uma ideia de jogo e vamos tentar executá-la — resumiu o técnico. Pelo menos no discurso, não existe a palavra revanche no Real Madrid. — Vemos como uma oportunidade bonita de ganhar uma partida. É o momento de seguir com confiança até o objetivo que queremos. Sabemos que a liga é difícil, mas é preciso seguir com o espírito de luta que caracteriza esse clube — disse o goleiro Keylor Navas. Para Iniesta, os 4 a 0 do primeiro turno ficaram apenas na história. O jogo de hoje será diferente. — É outra situação. As duas equipes se conhecem muito bem. Espero que seja uma partida bonita e que possamos desfrutar dela — encerrou. l l 33 CARIOCA Vasco diz não ao Fla sobre São Januário Rubro-negro conversou com Eurico. Zinho agradece acolhida no ex-rival Dois dias após o clássico Vasco x Flamengo, a rivalidade entre os clubes continua sendo assunto em São Januário. Enquanto Zinho, cria rubronegra, comentava sua relação com o Vasco e a comemoração efusiva no gol de empate na última quarta-feira, o presidente Eurico Miranda rechaçava um possível empréstimo do estádio ao arquirrival. O mandatário teve um encontro com o vice-presidente de futebol do Flamengo, Flávio Godinho, que pretendia conversar sobre a possibilidade de usar São Januário no Brasileiro. A reposta foi negativa. — Sabe por que o Flamengo não pode jogar em São Januário? Como que vai jogar aqui se o presidente do clube diz que meu estádio não tem segurança? Claro que não vai ter (conversa). Não converso sobre isso — afirmou Eurico Miranda, ao site Globoesporte.com, referindo-se ao clássico disputado lá, em fevereiro, pelo Campeonato Carioca. Na ocasião, o presidente Eduardo Bandeira de Mello demonstrou preocupação com a segurança do estádio. JOGADORES SE ATRASAM Já Zinho disse estar tranquilo quanto às reações negativas por parte de alguns torcedores rubro-negros: —Nenhuma mágoa. Eu cheguei ao Flamengo com 11 anos de idade. Só tenho agradecimento, gratidão. Estou muito feliz aqui no Vasco, todos os dias. O clube me recebeu de braços abertos. Por toda essa rivalidade que tem, por toda essa história minha, eu sou um privilegiado. Todo dia eu tenho que comemorar. Ontem, muitos jogadores do Vasco chegaram atrasados por causa da manifestação dos taxistas. l PAULO FERNANDES/VASCO FICHA DO JOGO BARCELONA: Bravo, Daniel Alves, Piqué, Mascherano e Alba; Busquets, Rakitic e Iniesta; Messi, Neymar e Luis Suárez. REAL MADRID: Navas, Danilo, Pepe, Sérgio Ramos e Marcelo; Casemiro, Mödric e Kroos; Benzema, Cristiano Ronaldo e Bale. JUIZ: Alejandro José Hernández (ESP/Fifa). LOCAL: Camp Nou (Barcelona). HORÁRIO: 15h30m (de Brasília) TRANSMISSÃO: ESPN Brasil. Feliz. Zinho no Vasco: adaptado ESPORTES FELIPE WU PRIMEIRO NO RANKING MUNDIAL Desafio coletivo SÁBADO 2.4.2016 oglobo.com.br PÁGINA 31 Carlos Eduardo Mansur PÁGINA 32 MÁRCIO ALVES El gringo. Guerrero treina finalização no Ninho do Urubu: o atacante está confirmado no Flamengo contra o Botafogo Indústria brasileira MARCELO CARNAVAL Estrela. Jefferson chuta a bola no treinamento do Botafogo: o goleiro é o maior trunfo alvinegro no clássico desta tarde COR LOCAL As atrações do Fla x Botafogo de hoje para enfrentar a dura concorrência do Barcelona x Real Madrid na TV J CARLOS EDUARDO MANSUR [email protected] á não tem sido fácil a vida do Campeonato Estadual em sua tentativa de atrair a atenção do torcedor. Fórmula de disputa, duração e falta de estádios não ajudam. E hoje, o Flamengo x Botafogo das 16h encontrou abrigo em Juiz de Fora. Os 180km que separam o Rio da cidade mineira fazem com que a TV seja o veículo em que boa parte dos torcedores cariocas acompanhe o jogo. E a concorrência será dura: meia hora antes começa nada menos que Barcelona x Real Madrid. Flamengo e Botafogo será transmitido pelo Première. Já o clássico espanhol vai ao ar pela ESPN Brasil. Mas há motivos para se dedicar ao tradicional duelo carioca a devida atenção. Haverá atrações no estádio Radialista Mário Helênio — certamente menos midiáticas e globais do que as que desfilarão no Camp Nou, por onde passarão Messi, Neymar, Suárez, Cristiano Ronaldo e Benzema, por exemplo. Mas certamente muito mais ligadas à memória afetiva do torcedor do Rio. Será o primeiro encontro do ano entre Flamengo e Botafogo. Nele, há um certo ar de decisão para os rubro-negros. Uma nova derrota do time que, até agora, somou cinco pontos em 12 possíveis na Ta- ça Guanabara, pode aproximá-lo de uma eliminação precoce. — Não tenho receio, mas temos três jogos que precisamos vencer. O primeiro é contra o Botafogo. Dependemos da gente — disse o zagueiro Juan, lembrando que uma vitória deverá colocar o Flamengo no G-4 da Taça Guanabara. Outra atração do jogo: estaremos diante de mais uma etapa da maratona de Paolo Guerrero? O atacante defendeu o Peru na terça-feira, em Montevidéu, em seguida viajou para Brasília e enfrentou o Vasco, na quarta. Está relacionado para o clássico de hoje. O Botafogo repete, sob o comando de Ricardo Gomes, um traço que o caracterizou na temporada passada: um time FICHA DO JOGO CHARME DO CLÁSSICO BOTAFOGO: Jefferson, Luis Ricardo 1 (Diego), Joel Carli, Renan Fonseca e Diogo; Airton (Fernandes), Bruno Silva, Rodrigo Lindoso e Gegê; Salgueiro (Gervasio Núñez) e Ribamar. FLAMENGO: Paulo Victor, Rodinei, Wallace, Juan e Jorge; Cuéllar, Willian Arão e Ederson; Gabriel (Marcelo Cirino), Guerrero e Emerson. JUIZ: Luís Antônio Silva dos Santos. LOCAL: Estádio Mário Helênio, em Juiz de Fora. HORÁRIO: 16h. TRANSMISSÃO: Premiere e Rádios Globo e CBN. HISTÓRIA. Desde 1913, os rivais já se enfrentaram mais de 350 vezes. O clássico faz parte da história do futebol carioca e da memória afetiva dos torcedores. 2 DECISÃO. Pressionado pelos últimos resultados, o Flamengo precisa vencer. Caso contrário, corre risco sério de eliminação. 3 SUPERAÇÃO DE GUERRERO. O desacreditado, formado com orçamento limitado e que volta a ter resultados acima do esperado. Desvendar os segredos deste Botafogo é sempre uma razão para estar atento ao alvinegro. Nos clássicos, o desempenho até aqui reforça a interrogação sobre o real potencial dos alvinegros. — Até agora, vencemos um clássico, perdemos outro e empatamos dois. Vencer este jogo seria importante pelos três pontos e pela moral. Contra o Vasco, perdemos jogando bem. Contra o Flamengo, queremos jogar bem e ganhar — disse o técnico Ricardo Gomes. l Na página 33, mais um confronto entre Messi e Cristiano Ronaldo na Espanha atacante jogou pelo Peru na terça-feira, pelo Flamengo na quarta e está relacionado hoje. Vai continuar a maratona? 4 SURPRESA ALVINEGRA. Pelo segundo ano seguido, o Botafogo tem bons resultados com um time desacreditado. 5 JEFFERSON. O goleiro, preterido na seleção, comanda a melhor defesa do Estadual: cinco gols sofridos em 12 jogos. Com classificação encaminhada, Fluminense pensa no Brasileiro Time enfrenta Madureira hoje, em Macaé, e Levir Culpi admite necessidade de reforços Em posição confortável na tabela da Taça Guanabara, o Fluminense pode dar um passo grande rumo à classificação para as semifinais do Carioca em caso de vitória sobre o Madureira, hoje, às 18h30m, em Macaé. O tricolor soma oito pontos e, dependendo dos resultados do fim de semana, pode garantir a vaga na próxima rodada, quando enfrentará o Volta Redonda, no Estádio Raulino de Oliveira. Porém, a tranquilidade nas Laranjeiras após a chegada de Levir Culpi e a invencibilidade de seis partidas — três vitórias e três empates — não escondem as questões a serem resolvidas pelo clube. O técnico já apontou algu- FICHA DO JOGO Campeonato Carioca - Taça Guanabara CLASSIFICAÇÃO GRUPO C 1 2 3 4 5 6 7 8 Vasco Fluminense Botafogo Volta Redonda Boavista Flamengo Madureira Bangu MADUREIRA: Rafael, Formiga, QUINTA RODADA P J V E D GP GC ÚLTIMOS JOGOS 10 8 7 6 6 5 1 1 4 4 4 4 4 4 4 4 3 2 2 2 2 1 0 0 1 2 1 0 0 2 1 1 0 0 1 2 2 1 3 3 5 5 4 4 2 2 2 3 1 1 2 4 4 2 5 8 V E E D V V D D V E V V D E D D V V D V D D E E E V V D V E D E HOJE 15:30 16:00 18:30 mas. A um mês do Brasileiro, Levir retoma um discurso comum nesta época do ano: reforços para a principal competição da temporada. Ele não desmerece o elenco que tem em mãos e aponta a movimen- x x x Boavista Flamengo Fluminense Vasco x Volta Redonda Flamengo Vasco x x Boavista Madureira Volta Redonda Botafogo x x Fluminense Bangu AMANHÃ 16:00 SEXTA RODADA 9/4 16:00 18:30 10/4 16:00 18:30 P - Pontos ganhos; J - Jogos; V - Vitórias; E - Empates; D - Derrotas; GP - Gols pró; GC - Gols contra; N - Não jogou Bangu Botafogo Madureira Regulamento: O vencedor da Taça Guanabara vai para as semifinais com os outros três melhores desta fase, tendo a vantagem do empate. Os dois classificados nas semifinais decidem o Campeonato Estadual. tação do mercado a partir do fim dos estaduais como motivo para estar atento. — Para algumas posições, precisamos de reposição. E estamos no mercado. É importante olhar todo o elenco. O ní- vel é parecido. Não gostaria de expor a minha ideia antes de resolver a situação. Ideias são contrariadas. Todo mundo as tem. Estamos analisando nomes, vídeos... Temos algumas possibilidades de trazer joga- Daniel, Jorge Fellipe e Ayrton; William, Rezende e Jéferson; Arthur Faria, João Carlos e Geovane Maranhão. FLUMINENSE: Diego Cavalieri, Jonathan, Gum, Henrique e Giovanni; Pierre, Douglas, Cícero, Gustavo Scarpa e Marcos Júnior; Fred. JUIZ: Rodrigo Carvalhaes de Miranda. LOCAL: Moacyrzão, em Macaé. HORÁRIO: 18h30m. TRANSMISSÃO: Premiere e Rádios Globo e CBN. dores com nível para atuar no Fluminense. Se for muito jovem, prefiro olhar para as categorias de base. Precisamos, sim, contratar, especialmente para o Brasileiro — afirmou. Para quem já perdeu Diego Souza de forma inusitada — o jogador pediu para sair e voltar ao Sport, seu ex-clube —, Levir está escaldado caso outro nome relevante seja levado por outro time. O da vez é o zagueiro Gum, que está nos planos do Palmeiras. — É o mesmo caso do Diego Souza. Uma possível saída faz parte do profissionalismo. Não tenho impedimento nenhum. Mas continuar com ele seria ótimo. Nessa, eu acompanho o o mercado —disse. DESFALQUES PARA HOJE No jogo desta noite, o time terá os desfalques do atacante Osvaldo e do meia Gérson, ambos vetados pelo departamento médico. Ontem, o treinador testou o time com Marcos Júnior e Douglas e terá de mexer na equipe titular. Com as mudanças, Cícero atuará mais adiantado. Wellington Silva foi poupado e ficará na reserva. l SEGUNDO CADERNO OGLOBO Tradição renovada Novo dono da Livraria Leonardo da Vinci, no Centro, Daniel Louzada fala sobre os planos para a reabertura da loja, prevista para este mês PÁGINA 6 SÁBADO 2.4.2016 oglobo.com.br FOTOS DE DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃ0/WALTER CARVALHO DIVULGAÇÃO/ZECA PEREIRA GUIMARÃES Mosaico. Cena de “As incríveis artimanhas da Nuvem Cigana”, que abre a mostra; à direita, de cima para baixo: o brasileiro Armando Freitas Filho, o argentino Ricardo Piglia e o colombiano García Márquez (com Fidel), em outros filmes Pela primeira vez, É Tudo Verdade, que começa na sexta, aposta em documentários com recortes sobre lite ratura PALAVRA ESTILHAÇA DA MARIANA FILGUEIRAS E SILVIO ESSINGER [email protected] M uito antes da computação em nuvem, havia a Nuvem Cigana: uma outra forma de compartilhamento de informações, analógica e movida a calor humano, que teve seu lugar no Rio de Janeiro dos anos 1970, reunindo mais de cem empolgados garotos — muitos deles, poetas de fato; outros tantos, figuras que orbitavam a poesia naqueles tempos em que engajamento e desbunde cindiam a juventude brasileira. A história é contada em “As incríveis artimanhas da Nuvem Cigana”, de Claudio Lobato (poeta da Nuvem) e Paola Vieira, filme que abre na próxima sexta a 21ª edição carioca do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. A palavra — em toda a sua fragmentação e sua potência — é, neste ano, estrela de oito filmes do festival: “Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície”, de Walter Carvalho, sobre Armando Freitas Filho; “Cacaso na corda bamba”, de José Salles e PH Souza, retrato do poeta marginal; “327 cadernos”, de Andrés Di Tella, sobre o argentino Ricardo Piglia; “Pan-cinema permanente”, de Carlos Nader, sobre Waly Salomão; “Gabo: a criação de García Márquez”, de Justin Webster; “Vida ativa: espírito de Hannah Arendt”, de Ada Ushpiz; “E para que poetas em tempo de pobreza?”, curta de Carlos Adriano; além de “Nuvem cigana”. — Nunca tivemos filmes sobre literatura tão marcantes na história do festival. Este é um ano especial nesse sentido: só entre os nacionais, há quatro filmes excepcionais. Eles passam ao largo da estrutura mais clássica de cinema, assumindo um discurso assinado sobre um universo específico — anima-se Amir Labaki, diretor do festival. “POÉTICA” MAIS IMPORTANTE DO QUE A POESIA “As incríveis artimanhas da Nuvem Cigana” revive os dias em que poetas como Chacal, Ronaldo Bastos, Bernardo Vilhena e Ronaldo Santos, agregados a fotógrafos, cineastas, músicos e outros artistas, tomaram como exemplo a experiência coletiva de índios e hippies para iniciar uma produção underground que gerou livros, filmes, programas de rádio, uma revista (“Almanaque vitalidade”), as Artimanhas (improvisos poéticos que acabavam em samba), bloco de carnaval (o Charme da Simpatia), inesquecíveis peladas e performances teatrais. O espírito era o de que a poética era mais importante que a poesia. — A gente não tinha uma compreensão racional daquilo — conta Claudio Lobato. — A nossa ligação não era só com a poesia, era com a vida. E ela foi nos levando para outros lados: o sam- ba, o carnaval, o futebol, a produção gráfica... Lidávamos com dois conceitos que ainda não existiam, os de multimídia e de coletivo. O longa era um projeto que Claudio Lobato começou a alimentar em 2004, quando organizou um filme para a comemoração dos 30 anos da Nuvem Cigana. Havia uma fartura de material fotográfico e alguns filmes em super-8. Numa pesquisa aprofundada, apareceram outros filmes, fotos, gravações de áudio, cadernos das reuniões, “coisas que as pessoas nem lembravam que tinham”. Um material heterogêneo, que foi organizado no documentário “meio como uma colagem, que é como fazíamos as nossas publicações”. — No reencontro com esse material, vimos que ele inspirava uma releitura por intermédio dos recursos digitais. E conseguimos chegar a uma linguagem nossa. O filme namora o cinema experimental nessa busca de se aproximar da poesia — observa Lobato. Foi também para se aproximar da poesia que Walter Carvalho criou uma das cenas mais belas do documentário “Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície”, uma viagem pela poesia do escritor Armando Freitas Filho. Na cena, uma mulher tenta tocar um objeto voador que o tempo inteiro lhe escapa das mãos. É uma metá- fora do nascimento da poesia, explica ele: — Como o poeta escreve a primeira palavra do poema? Ela tenta pegar a palavra e não consegue, é a “luta vã” da qual falava Drummond. Não queria fazer um filme que fosse só o Armando falando de poesia. Queria criar imagens poéticas também — comenta Carvalho. No documentário, o autor de 16 livros e ganhador de três Jabutis faz poesia o tempo inteiro. Faz poesia quando vasculha velhos cadernos, quando conta a última conversa que teve com Ana Cristina Cesar antes do suicídio, quando chumba os dedos na máquina de escrever; ou até quando responde a uma pergunta a si mesmo (“O que é um verso livre? Uma mistura de ar e músculo”). — A poesia é a maneira pela qual eu me relaciono com a vida. Tenho a poesia como eixo de sustentação da existência. Sempre tive curiosidade de saber: como vive um poeta? Ele pega ônibus? Pela proximidade com o Armando, comecei a filmá-lo. E o filme é essa vontade danada de entender como ele vai cavando as palavras com as mãos. Se fazer poesia é voar fora da asa, fazer um documentário é voar junto — brinca Carvalho. O próprio Walter Carvalho é também personagem do filme sobre Cacaso, o poeta marginal por excelência da Zona Sul carioca, que morreu de enfarte aos 43 anos, em 1987. E que acabou ficando mais conhecido pelas muitas canções que compôs do que pela obra poética, defende o diretor. — É um filme com muitas imagens inéditas de arquivo pessoal, muitos desenhos que não são conhecidos e que mostram o seu processo explosivo de criação — comenta PH Souza, um dos diretores do documentário “Cacaso na corda bamba”. — É um filme biográfico, sim, foi uma decisão que tomamos, por ser um personagem que ainda precisa ser mais conhecido pelo público em geral, apesar de ter morrido fazendo músicas com Tom Jobim. E Cacaso tinha muito desejo de mostrar esses cadernos. O filme atende a esse apelo. l É TUDO VERDADE — 21º FESTIVAL INTERNACIONAL DE DOCUMENTÁRIOS ONDE: Espaço Itaú, IMS e Espaço Cultural BNDES. QUANDO: 7 a 17/4. QUANTO: Grátis. PROGRAMAÇÃO: etudoverdade.com.br. NA WEB VÍDEO oglobo.com.br/cultura Veja trailers dos filmes l O GLOBO 2 l Segundo Caderno l [email protected] MARCIO TAVARES D’AMARAL | | Sábado 2 .4 .2016 Gente Boa | CLEO GUIMARÃES Email: [email protected] e Blog: http://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/ COM MARIA FORTUNA (INTERINA), FERNANDA PONTES E GABRIELA LEAL | As estratégias do bolo No século IV a. C. os gregos começaram a perder a medida das marés, do mar que sobe e faz sumir a praia, do mar que foge quando a praia vem. As marés do mundo, não os conceitos na cabeça e as palavras na boca. Essa foi a mais antiga, e mais bela, experiência da verdade. E do que são o mundo e a vida. Nós a perdemos de vista. Vieram os sofistas no século V, disseram que tudo era caos, nada podia ser conhecido, sobrava só a linguagem para convencer os ignorantes. A linguagem, o poder. Os filósofos do IV reagiram salvando a verdade onde puderam, no conhecimento, e iniciaram o processo de ódio às aparências. “As aparências enganam”, poderiam ter dito. A realidade “sensível” é o território do engano, do que parece, mas não é. Terra dos inimigos da verdade, dos sofistas cultivadores do caos. Ora, a “realidade sensível” é simplesmente o mundo. É como se o mundo tivesse ficado inimigo da verdade. A filosofia fez sem dúvida grandes coisas. Mas fez também essa. Pulou fora do Real. UMA NOITE, VÁRIOS ESTILOS Festa de “Liberdade, liberdade” tem decotaço, costeletas, jeans e... tipoia FOTOS DE MARCOS RAMOS E xcelentes sistemas foram construídos apesar do mundo mantido à distância. Esse banimento medroso foi sem dúvida uma dor para a filosofia. Mas precisava ser assim. Ou os sofistas acabariam por ter razão, e tudo mergulharia no relativismo e na indiferença: fim da filosofia, fim da verdade. A filosofia se fez protetora da verdade. Era missão sagrada. Longamente cavalgou a arte de dizer o verdadeiro e afastar as aparências, o caos. O tempo rolou. E no final do século XX os sofistas voltaram. O mundo se tornou tão hipercomplexo, tão contraído, que já não se pode dizer a verdade com a convicção cuidadosa dos filósofos. A verdade se foi. A filosofia acabou. Assim dizem, assim dizem! O que ficou foram as aparências e as opiniões. Ficaram as versões. Versões contra versões. A verdade morreu na opinião, no rumor. Um velho sol grego se pôs. Não creio que nunca mais se levante. Até porque esta nossa parte do mundo há dois mil anos tem dois sóis no seu céu. O grego e o judaico, o da razão e o da fé. As luzes são diferentes. Piscam uma para a outra. Vagalumes na noite, impedem uma definitiva escuridão. Enquanto isso, vivemos nas opiniões. Criamos versões para as realidades que não olhamos com amor. Os fatos viram inimigos quando não concordam com a nossa opinião sobre eles. E eles são tão complexos... Têm tantas variáveis... Fatos cruzados, sins e nãos, bens e males, vai-se saber... Então escolhemos, alinhamo-nos com a melhor aparência. E decretamos a falsidade de tudo que se oponha à nossa certeza. Como se fosse verdade. É daí que irradia a horrível ideologia do “nós e eles”. Opiniões que se batem — que não precisam ter cuidado com o Real, pesar o “sim e não” que alimentou a melhor filosofia — ganharam o mundo como reinado. São soberanas. Opiniões e versões. Colapso da verdade. Diz-se que a verdade é a primeira vítima da guerra. E é mesmo. As guerras produzem desinformação. No mundo das opiniões em estado puro, soterrado por informações excessivas, procurar a verdade dá um tamanho trabalho... Tanto cansaço... Melhor então consumir as informações mais palatáveis. As que fazem melhor figura. Dão melhores imagens. De um mundo de produção da verdade para um do consumo de imagens — que virada bruta! Mas aqui estamos. Nós e eles, os bons e os maus. Já escrevi sobre o maniqueísmo. Pois é. A luta de morte no pensamento é uma forma aguda de maniqueísmo. Em situações de guerra ou revolução, o maniqueísmo impera. O problema é que não há nenhuma revolução no horizonte. Nenhum modelo novo que encerre a colisão das opiniões sem substância. O que há é uma guerra de extermínio. Alguém precisa morrer. Cair. Levar rasteira. Ter a cabeça esmagada. E nem assim a guerra terminará. Porque nada de verdadeiramente novo será posto no lugar vazio. Vivemos cheios de vazios. Pôr um no lugar de outro é só mudar a direção do esvaziamento. Vazios ficamos. Isso tudo tem a ver com a situação violenta que hoje vivemos no Brasil. E não é teórico. Porque, enquanto nos matamos, os pobres olham e esperam. Não como quem tem esperança. Esperam para ver se alguém os porá em cena. Eles estão fora. Os economistas discutem sua fome em números. E divergem sobre as estratégias do bolo. Fazê-lo crescer para depois distribuir, ou distribuí-lo enquanto vai crescendo. Pedir à fome que espere para se fartar ou ir matando-a aos pouquinhos, talvez devagar demais. Mas o problema não é o bolo. É quem controla o forno. Quem determina a altura do fogo. Crescer e distribuir ou distribuir e crescer são caminhos opostos. E em relação a essa oposição já não resolve nada ter e manter uma opinião. Há a fome dos pobres pendurada nessas contas. E a fome é real. Não é questão de ponto de vista. Chamem os filósofos de volta. Eles estão acostumados aos paradoxos. E prontos para voltar a amar a vida. l 2ª JOSÉ EDUARDO AGUALUSA 3ª MARCUS FAUSTINI 4ª FRED COELHO 5ª 6ª FLÁVIA ZÉLIA OLIVEIRA DUNCAN SAB MARCIO TAVARES D'AMARAL DOM FERNANDO GABEIRA O que elas vestem. Sheron Menezzes; Maitê Proença; a protagonista Andréia Horta, acima, e seu decotaço; e à direita, Lilia Cabral: todos os gostos No salão. Maria Ribeiro e Francisca Pinto; o diretor Vinicius Coimbra e Yanna Lavigne; Mateus Solano, de braço quebrado, e o menino Gabriel Palhares P rotagonista de “Liberdade, liberdade”, a atriz Andréia Horta bancou com classe um decotaço na festa de lançamento da nova novela das 23h, anteontem, na Villa Riso, em São Conrado. “Não estou acostumada, mas me sinto superbem, não tenho medo”, disse ela, dentro de um macacão preto com uma abertura entre os seios que chegava quase até o umbigo. “Não vai sair nada do lugar. Trouxe um lenço para usar quando estiver sentada, porque aí o decote fica maior”. l Já entre os homens foi um festival de barbas, bigodes e costeletas. Ambientado no século XVIII, o enredo da novela mistura História e ficção para contar a vida de Joaquina (Andréia Horta), a filha de Tiradentes, após a Inconfidência Mineira. l “Tô gerando essa barba tem uns nove meses”, disse Bruce Gomlevsky, que interpreta um feitor de escravos na trama. O ator e diretor dizia estar muito feliz por participar de uma história que provoque uma reflexão sobre a humanidade. “No momento em que estamos vivendo, é muito importante tocar em temas como o racismo, infelizmente, ainda tão atuais”. l Dalton Vigh, outro barbudaço, parecia um tanto desconfortável, ali perto. “Achei que fosse só uma coletiva de imprensa, tô me sentindo mal arrumado, não sabia que era festa”, comentou ele, de tênis e calça cáqui. Dalton dizia que, para as cenas com cavalo e lutas de espadas, precisou começar a se exercitar. “Tô fazendo ginástica só por Casal. Nathalia Dill e o namorado Sergio Guizé causa da novela, antes não fazia nada, nada. I love sedentarismo”. Sobre a tensão política atual no país, que os repórteres repercutiam com os atores, ele foi econômico: “A trama é propícia para o momento de indignação que vivemos”. l Lilia Cabral respondia a perguntas mais amenas. “O brinco é de verdade, e é meu, não é emprestado”. Na festa, ela não desgrudou da filha Giulia, de 19 anos, que também quer ser atriz, e ruborizava cada vez que algum jornalista puxava assunto com ela. “Sou tímida, mas no palco isso muda!”, contou. “Gosto de acompanhar minha mãe, é uma inspiração constante”. l Lilia desabafou sobre o calorão durante as gravações em que veste figurino de época. “A gente quer se livrar logo da cena. Fico toda suada”, dizia. “Sou capaz de ficar umas 12 horas em pé, mas está difícil...”. l Maitê Proença, que na trama tem um escravo particular que lhe presta favores sexuais, falava sobre a quantidade de personagens com ar de vilão na novela. “Naquela época todo mundo era mais bruto e rígido porque não tinha ninguém para fiscalizar. O ser humano, quando não tem ninguém olhando, é selvagem”. l Ausência sentida na noite era a de Letícia Sabatella, que vive a mãe de Joaquina e mulher de Tiradentes. A atriz não foi à festa porque, no mesmo dia, participava de uma reunião de apoio a Dilma Rousseff, em Brasília. l Segundo Caderno l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR OU ACESSE NO SITE: rioshow.com.br OS DESTAQUES DE HOJE DA PROGRAMAÇÃO CULTURAL Cinema ‘A senhora da van’ Show Nação Zumbi Show Matheus VK Entre risos e dramas Há 20 anos, da lama aos caos Festa 0800 para a cena alternativa “Afrociberdelia”, do Nação Zumbi, está completando 20 anos, e, para comemorar, o grupo fará um show hoje no Circo, tocando todas as faixas do disco, na ordem. Antes da apresentação, será exibido um documentário sobre Chico Science, morto em 1997. O cantor Matheus VK comanda hoje a festa de abertura do “Curto circuito”, no Teatro Ipanema. Com curadoria de Thiago Vedova, o projeto vai reunir representantes da cena alternativa, sempre às sextas. Participações especiais do cantor Jonas Sá, do ator Eber Inácio e da dançarina Upsula. Na comédia dramática de Nicholas Hytner, Maggie Smith vive Mary Shepherd, que mora numa van estacionada num bairro de classe média. Seus hábitos excêntricos e pouco higiênicos incomodam a vizinhança, que tenta expulsá-la. Mas um escritor oferece uma vaga para ela em sua garagem. ONDE: Espaço Itaú de Cinema 5.. Praia de Botafogo 316, Botafogo (2559-8751). QUANDO: Sáb, à meia-noite. QUANTO: R$ 32. CLASSIFICAÇÃO: 10 anos. ONDE: Circo Voador. Rua dos Arcos s/nº, Lapa (2533-0354). QUANDO: Sáb, às 23h. QUANTO: R$ 120 (quem levar 1Kg de alimento paga meia-entrada). CLASSIFICAÇÃO: 18 anos. O Bonequinho viu ONDE: Teatro Ipanema. Rua Prudente de Morais 824, Ipanema (2523-9794). QUANDO: Sáb, às 20h. QUANTO: Grátis (senhas distribuídas a partir das 18h). CLASSIFICAÇÃO: 18 anos. Evento Junta Local na Bhering Tudo junto e misturado no baile Pela primeira vez, a Junta Local, feira de pequenos produtores da cidade, se une ao Circuito Interno da Antiga fábrica da Bhering e, pelos corredores históricos de seu edifício dos anos 1930 na Região Portuária, que abre mensalmente ao público a produção dos ateliês do local, vai celebrar o início de outono também com produtos artesanais como pães, bolos, sanduíches e chocolates. Completam a lista os expositores de design, moda, decoração e artes plásticas da casa, além l 3 de atrações musicais. Às 13h, o som começa com a apresentação da Favela Brass, a big band formada por crianças do projeto musical da favela Pereirão, em Laranjeiras. Às 16h, será a vez de a Go East Orkestar (foto) realizar um baile inspirado na sonoridade das músicas tradicionais do Leste Europeu. Nas picapes, a crew Men At Work 585 comanda a pista durante todo o dia com a seleção de vinis da Supernut MaraRecords. — Muitos dos ritmos do Leste Europeu, co- COMÉDIA DRAMÁTICA ‘ A juventude’ Para André Miranda: “Paolo Sorrentino conta histórias com belas imagens, misturando o clássico com o contemporâneo”. Para Marcelo Janot: “Se a intenção era provocar a sensação de que o tédio não tem fim, Sorrentino conseguiu.” André Miranda e Marcelo Janot DRAMA ‘A garota de fogo’ No cenário da crise econômica espanhola, o início com jeito de drama familiar agridoce logo dará lugar a um envolvente suspense cheio de peculiaridades à la Pedro Almodóvar. Marcelo Janot DOCUMENTÁRIO ‘Quanto tempo o tempo tem’ mo a polca, são bem parecidos com as músicas típicas do nosso Nordeste. Nesta apresentação, vamos começar a dar a nossa caminhada rumo a esse tipo de mistura em nosso repertório — diz Daniel Vasques, maestro e saxofonista da Go East Orkestar. (Gilberto Porcidonio) A percepção da passagem do tempo no mundo contemporâneo dá origem a um documentário valioso sobre a sensação de que vivemos de maneira acelerada rumo a lugar nenhum. Depoimentos de André Comte-Sponville e Domenico De Masi, entre outros. Sérgio Rizzo ONDE: Antiga Fábrica da Bhering. Rua Orestes 28, Santo Cristo. QUANDO: Sáb, do meio-dia às 20h. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre. COMÉDIA ROMÂNTICA ‘Casamento grego 2’ FOTOS DE DIVULGAÇÃO O maior defeito do clã Portokalos é a perfeição. Seus membros são calorosos; seus defeitos, folclóricos; os confrontos, edificantes; e as transgressões, mínimas. O filme aposta, com previsibilidade e algum charme, na zona de conforto familiar. Susana Schild ANIMAÇÃO ‘Norm e os invencíveis’ O esforço do simpático urso Norm para conter a ganância do homem no Ártico rende um entretenimento dotado de mensagem oportuna e personagens coadjuvantes divertidos — em especial, entre os humanos. Mas o resultado é modesto. Daniel Schenker DRAMA ‘Nossa irmã mais nova’ O filme carece da habitual sensibilidade e precisão do diretor que é considerado um herdeiro do cinema de Yasujiro Ozu e Mikio Naruse. As relações são — apenas — cordiais e ingênuas e não provocam reflexão sobre os valores familiares. Simone Zuccolotto DRAMA Evento Afro Circo Infantil ‘Bisa Bia, Bisa Bel’ Infantil ‘Detetives do Prédio Azul’ O mundo dos iorubás Teatro de Ana Maria Machado grátis Cenário chega à Quinta da Boa Vista Braço (e perna e cabeça) circense do Afroreggae, o Afro Circo apresenta, no Teatro Carlos Gomes, o espetáculo “Gênesis — O mix da criação”. Dirigidos por Johayne Ildefonso, 12 atores no palco contam, com técnicas circenses, a criação do mundo pelo olhar dos iorubás. O texto de Ana Maria Machado “Bisa Bia, Bisa Bel”, com adaptação e direção de Joana Lebreiro, reestreia em temporada gratuita na Barra. No enredo, a relação imaginária de uma menina e sua bisavó, que ela viu por foto. ONDE: Teatro Carlos Gomes. Praça Tiradentes s/nº, Centro (22150556). QUANDO: Sex, às 20h. Sáb, às 16h e às 20h. Dom, às 20h. Até 22 de maio. QUANTO: R$ 30. CLASSIFICAÇÃO: Livre. ONDE: Cidade das Artes. Av. das Américas 5.300, Barra (33250448). QUANDO: Sáb e dom, às 16h. Qua (dias 6 e 13), às 10h e às 14h. Até 13 de abril. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre. TRÊS MONÓLOGOS EM CARTAZ A LINHA TÊNUE ENTRE O REAL E A FICÇÃO Marcelo Aquino protagoniza “Entre corvos”, estreia do Espaço Sesc. No texto, uma parceria sua com Ary Coslov, um ator não consegue distinguir entre ficção e realidade. Qui a sáb, às 21h. Dom, às 20h. R$ 20. 16 anos. A JUVENTUDE DE PAULO BETTI EM CENA Hoje (às 21h) e amanhã (às 20h), o ator Paulo Betti leva textos que escreveu durante sua juventude ao palco do Galpão Gamboa, dentro da mostra Gamboavista, com o espetáculo “Autobiografia autorizada". R$ 20. 12 anos. DIRETO DA CARAVELA DE COLOMBO Julio Adrião volta com seu personagem Johan Padan, um zé-ninguém que escapou da fogueira da Inquisição, na apresentação de “A descoberta das Américas”, de Dario Fo, no Parque das Ruínas. Hoje e amanhã, às 19h. Grátis. 14 anos. Os atores de “Detetives do Prédio Azul”, do canal Gloob, estarão na Quinta da Boa Vista neste fim de semana para o evento de lançamento da sétima temporada da série. Num cenário, grupos de dez crianças são convidadas a brincar com a ajuda de instrutores, seguindo pistas até chegarem ao clubinho secreto. ONDE: Quinta da Boa Vista. Av. Pedro II s/nº, São Cristóvão. QUANDO: Sáb e dom, das 9 às 17h. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre. ‘Para minha amada morta’ Constrói com sensibilidade e precisão o universo de um marido em luto que tem uma revelação devastadora. Mas quando chega a hora de trabalhar o thriller, o filme perde parte da personalidade. Ruy Gardnier COMÉDIA DRAMÁTICA ‘Zoom’ É um filme fascinado com a própria capacidade de reciclar formas e técnicas de narração, o que faz razoavelmente bem, sem, no entanto, estender suas ambições aos temas trazidos por seus personagens. Carlos Helí de Almeida Nada como passar o fim de semana com um bom livro. 4 l O GLOBO l Segundo Caderno l Sábado 2 .4 .2016 Os destaques de hoje na TV FOTOS DE DIVULGAÇÃO GloboNews, 20h30m Na estrada atrás do sonho O documentário “Lars — Nada mais importa” acompanha o empenho de dois irmãos para realizar o sonho de um terceiro, Tom Spicer (foto), que tem Síndrome do X Frágil e quer conhecer Lars Ulrich, baterista do Metallica. Natalia Castro [email protected] SBT, 21h30m Globo, 7h RedeTV!, 22h15m TV Brasil, 12h30m ‘BBQ Brasil’ ‘Como será?’ ‘Operação de risco’ ‘Programa especial’ Ticiana Villas Boas apresenta a edição especial de repescagem, que marca a metade dos episódios. Ela definirá os dois participantes que voltarão ao reality que busca o melhor churrasqueiro. O programa apresentado por Sandra Annenberg estreia o quadro “Atrás da medalha”, em que jovens atletas e paratletas relembram suas carreiras e mostram quem esteve por trás delas desde o início. Especialista em segurança pública, Jorge Lordello (foto) segue na nova temporada do reality que mostra os bastidores de grandes operações da polícia brasileira. O programa registra o Dia Mundial de Conscientização do Autismo com uma homenagem a pessoas com o transtorno de desenvolvimento, como o cartunista Rodrigo Tramonte (foto). Horóscopo POR CLAUDIA LISBOA (21/3 a 20/4) Elemento: Fogo. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Libra. Regente: Marte. Você busca novas aventuras. Afinal, tudo o que lhe possibilita ir além o deixa fascinado. Por outro lado, não tem interesse no que está ao lado. É tempo de se satisfazer com conquistas alcançadas. LIBRA (23/9 a 22/10) Elemento: Ar. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Áries. Regente: Vênus. Ao se deparar com conflitos e ânimos exaltados, o melhor a fazer é agir de forma que as hostilidades sejam reduzidas. É tempo de se colocar com firmeza, sem perder a doçura. TOURO (21/4 a 20/5) Elemento: Terra. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Escorpião. Regente: Vênus. Atitudes que o auxiliam a produzir encontros duradouros trazem segurança. Ao agir com doçura, você pode estar assegurando momentos de grande conforto. É tempo de realçar suas qualidades ESCORPIÃO (23/10 a 21/11) Elemento: Água. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Touro. Regente: Plutão. A cautela é base de uma boa estrutura emocional. Sendo assim, quando a ansiedade toma conta, é preciso ser um pouco mais prudente nas ações. É tempo de ser mais generoso com as pessoas. GÊMEOS (21/5 a 20/6) Elemento: Ar. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Sagitário. Regente: Mercúrio. O aprimoramento dos potenciais é uma forma inteligente de se preparar para mudanças que venham a ocorrer. É tempo de investir no saber para se adaptar às situações que não estavam nos planos. SAGITÁRIO (22/11 a 21/12) Elemento: Fogo. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Gêmeos. Regente: Júpiter. É possível que você esteja inclinado a agir com tolerância e paciência, movido pela vontade de proporcionar o bem-estar. É tempo de se colocar no lugar do outro e compreender suas necessidades. CÂNCER LEÃO (21/6 a 22/7) Elemento: Água. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Capricórnio. Regente: Lua. Neste momento, sua imaginação pode lhe fornecer boas ideias para lidar com pequenos problemas. Pequenos, porém essenciais para o bom andamento da vida. É tempo de confiar na intuição. CAPRICÓRNIO (22/12 a 20/1) Elemento: Terra. Modalidade: Impulsivo. Signo complementar: Câncer. Regente: Saturno. (23/7 a 22/8) Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Aquário. Regente: Sol. Quando você cultiva o hábito de compartilhar, pode encontrar modos criativos de negociar diferenças. É tempo de estar aberto ao que o outro pensa, mesmo que você não concorde com ele. AQUÁRIO Quando existe concentração, você sente mais segurança de que pode chegar ao destino almejado e realizar suas ambições. É tempo de se utilizar da disciplina para realizar suas ideias mais criativas. (21/1 a 19/2) Elemento: Ar. Modalidade: Fixo. Signo complementar: Leão. Regente: Urano. A união fortalece e facilita o alcance de metas. Isso porque corações e mentes estarão trabalhando juntos para superar dificuldades. É tempo de unir forças para realizar os desejos. Logodesafio POR SÔNIA PERDIGÃO VIRGEM (23/8 a 22/9) Elemento: Terra. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Peixes. Regente: Mercúrio. O pragmatismo faz com que você precise ver para crer. Questionar é parte essencial de sua natureza indagadora. É tempo de ter delicadeza para mostrar a realidade a quem insiste em não enxergá-la. PEIXES (20/2 a 20/3) Elemento: Água. Modalidade: Mutável. Signo complementar: Virgem. Regente: Netuno. Se o poder de sedução for exercido de forma desmedida, é possível que afaste as pessoas que deseja, em vez de aproximá-las. É tempo de estar mais atento para perceber os desejos do outro. Foram encontradas 32 palavras: 20 de 5 letras, 9 de 6 letras, 3 de 7 letras, além da palavra original. Com a sequência de letras GO foram encontradas 9 palavras. Instruções: Encontrar a palavra original utilizando todas as letras contidas apenas no quadro maior. Com estas mesmas letras formar o maior número possível de palavras de 5 letras ou mais. Achar outras palavras (de 4 letras ou mais) com o auxílio da sequência de letras do quadro menor. As letras só poderão ser usadas uma vez em cada palavra. Não valem verbos, plurais e nomes próprios. Solução: ácido, ávido, caído, caldo, calvo, cílio, civil, covil, dócil, laico, laivo, oliva, vadio, vazio, vilão, viola, vício, vidão, vocal, vodca; alívio, cálido, cozida, idílio, ilíaco, lívida, lívido, vacilo, válido; idílica, idílico, viciado; CIVILIZADO. Com a sequência de letras GO: algo, algoz, código, diálogo, gola, gozado, lago, logo, vago. ÁRIES Expediente EDITORA: FÁTIMA SÁ [email protected] l EDITORES ASSISTENTES: CRISTINA FIBE [email protected], EDUARDO FRADKIN [email protected], EDUARDO RODRIGUES [email protected], GABRIELA GOULART [email protected], HELENA ARAGÃO [email protected] l DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MORGADO, PAULA FABRIS E TOMÁS BREVES l TELEFONES: REDAÇÃO: 2534-5703 l PUBLICIDADE: 2534-4310 [email protected] l CORRESPONDÊNCIA: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. CEP: 20233-900 l Segundo Caderno l Sábado 2 .4 .2016 DIVULGAÇÃO [email protected] PATRÍCIA KOGUT QUARTETO FANTÁSTICO FLORENÇA MAZZA (INTERINA) ANNA LUIZA SANTIAGO E RAFAELA SANTOS MUDANÇA DE GÊNERO A HBO vai lançar uma série documental sobre transexuais, com produção e direção de Tatiana Issa. As gravações estão em curso, por todo o país. O assunto será tema de diferentes atrações: da novela de Gloria Perez; da produção que Daniel Burman dirigirá para a Globo, com Bruno Gagliasso; e também de uma série do Canal Brasil. Bingewatching Separação Com os acontecimentos políticos pegando fogo, muita gente não sai da GloboNews para não perder nenhuma notícia. O que inspirou um gaiato da internet a resumir: “a GloboNews é a nova Netflix”. Maria Luísa Mendonça está cotada para fazer “Vade-retro”, série de Fernanda Young e Alexandre Machado para a Globo. Se fechar com a emissora, ela será a mulher de quem Tony Ramos estará se divorciando. MUNIR CHATACK/RECORD COM EMOÇÃO Roger Gobeth dispensou o dublê e está fazendo todas as cenas em que seu personagem, Sólis, aparecerá escalando na série “Sem volta”. A estreia está prevista para o segundo semestre, na Record ‘NCIS: LA’ Ary Fontoura é só elogios a Camila Queiroz, sua colega de elenco em “Êta mundo bom!”. “Ela é uma menina talentosa, adorável, tem uma vontade incrível de aprender e evoluir”, diz o ator. Na novela de Walcyr Carrasco, ele interpreta o pai da personagem de Camila, Mafalda OUTROS TEMPOS Algumas atrizes de “Liberdade, liberdade”, novela que se passará no século XVIII, estão colando fios de cabelo nas axilas. É o caso de Yanna Lavigne. Tudo porque as mulheres não se depilavam naquela época. A equipe de caracterização também está fazendo marcas de picadas de mosquito no elenco. DIVULGAÇÃO/CBS/ROBERT VOETS CRIMES PELO MUNDO GABRIELA ANTUNES, ESTAGIÁRIA* [email protected] A série “NCIS: Los Angeles” e seus protagonistas, os agentes especiais vividos por Chris O’Donnell e LL Cool J, fazem uso de inovações tecnológicas e trocas de identidade para conseguir seus objetivos: liderança de audiência e solução de crimes, respectivamente. Segundo a rede americana CBS, a franquia “NCIS”, que inclui spinoffs ambientados em Los Angeles e Nova Orleans, é a mais vista no mundo, alcançando 200 mercados em mais de 60 línguas. A série original venceu as duas últimas edições do International Audience Award, que mede justamente índices de audiência pelo mundo. Exibida no Brasil pelo canal A&E, às 21h de sábado, a versão “Los Angeles” chegou há pouco ao 150º episódio, dentro de sua sétima temporada, cujas novidades são missões em diversos países e revelações sobre o passado dos personagens, como diz o ator Eric Christian Olsen, o Marty Deeks da ficção: — Há muitos episódios fantásticos nesta temporada. Além da resolução dos crimes, os enredos estão muito focados no desenvolvimento dos personagens e em suas relações. Nós temos alguns antagonistas maravilhosos, mas no fundo as histórias são sobre essas pessoas que acompanhamos por sete anos e a relação entre elas, seus passa- Solta a voz Já ensaia Lázaro Ramos gravou ao longo de toda a semana numa casa de shows na Barra para “Mister Brau”. O ator fez as sequências em que aparecerá cantando. Luisa Arraes, que se destacou em “Babilônia”, voltará à TV na série de Manuela Dias “Justiça”, com direção de José Luiz Villamarim. Os trabalhos com o elenco já começaram no Projac. Passarada Marcelo Adnet, Dani Calabresa e Fábio Porchat estão dublando o filme “Angry birds”. Adnet será Red; Porchat, Chuck, um pássaro que fala tão rápido quanto o humorista; e Dani, Matilda, uma galinha hippie. Números Na reta final de sua última temporada, “Pé na cova” tem marcado bons índices. O penúltimo episódio, no ar anteontem das 23h26m à 0h10m, voltou a registrar a sua maior audiência em São Paulo com 15 pontos. No Rio, cravou 16. Outros palcos Longe da TV desde o fim de “Além do tempo”, Leticia Persiles se dedica à carreira de cantora. Ela lançará digitalmente o single “No altar” na segunda quinzena deste mês e prepara um novo show. NA WEB patriciakogut.com O mundo da televisão passa por aqui. Visite. MOSTRAS DO BRASIL NO TOPO DE VISITAS P elo terceiro ano consecutivo, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) liderou a lista de exposições pósimpressionistas e modernas mais visitadas do mundo. Em 2015, a mostra “Picasso e a modernidade espanhola”, no Rio, acumulou mais de 620 mil visitantes, com uma média diária de 9,5 mil pessoas entre junho e setembro, e liderou a categoria, dominada por brasileiros — outras quatro exposições no país aparecem no top 10. O CCBB Rio também ocupa a segunda posição, com “Kandinsky: Tudo começa num ponto” (média de 8,2 mil pessoas). No ranking geral, publicado no site “The Art Newspaper”, a mostra de Picasso no CCBB carioca só perde na média de visitantes para “Obrasprimas impressionistas”, que levou 10,3 mil pessoas por dia ao Tokyo Metropolitan Art Museum. A exposição com mais visitantes em 2015 foi “The Paris of Toulouse-Latrec’’, no MoMA, com 1,2 milhão de pessoas. l Em combate. Miguel Ferrer, LL Cool J e Chris O’Donnell na série da franquia mais vista no planeta dos e como elas lidam com isso. Depois de tanto tempo interpretando um mesmo personagem, Olsen confessa que passou a confundir a ficção com a “vida real”: — Eu achava que um personagem não pudesse causar um impacto tão grande na minha vida, até que me pego em situações em que ajo como ele. Uma vez presenciei um acidente de carro e fiz uma aproximação tática em um dos veículos envolvidos, como se fosse de fato um detetive. Só que estava ali sem nada, sem arma, no meio da confusão. Acontece com uma certa frequência esse tipo de situação. Instintivamente você acaba se sentindo confortável nesse papel. FUTURO INCERTO APESAR DO SUCESSO No ar desde 2009, “NCIS: Los Angeles” acompanha a rotina de um grupo de agentes do Serviço Naval de Investigação Criminal em Los Angeles, normalmente mandado em missões de espionagem que exigem o uso de disfarces. Nesta temporada, o personagem de Eric assume um romance com uma colega da equipe, a agente Kensi Blye (Daniela Ruah), e o casal já conta com forte torcida dos fãs fora das telas. — Estamos fazendo algo que nunca foi feito. Juntamos esses personagens e agora estamos explorando o que vem depois. Eles conversam muito sobre isso e o que esperar a seguir, casamento e filhos, por exemplo. O fato de as pessoas gostarem tanto desse casal e estarem emocionalmente envolvidas com esses personagens é fantástico, é o que faz o nosso trabalho divertido. E a pressão que sofremos por conta disso é uma pressão boa, nós devemos aos fãs fazer essa relação parecer real — diz o intérprete de Deeks. Segundo Olsen, além dos casos da semana, a temporada mostra aos espectadores mais da vida pessoal dos personagens. O passado de Deeks, que foi pouco retratado até então, virá à tona num dos episódios mais importantes deste ano. — Ele (Deeks) está definitivamente escondendo alguma coisa, há uma série de episódios decisivos sobre isso. Existem coisas sombrias de seu passado que ele não era capaz de contar a ninguém, até ser obrigado a fazer isso. Ele vai para a prisão e tem motivos para estar lá e, ali, tudo será revelado — declara o ator. Mas, mesmo atingindo índices superiores aos 9 milhões de espectadores nos Estados Unidos, um número considerado alto, o futuro da série ainda não está garantido. Até a sexta temporada, os índices costumavam ser ainda superiores, e isso já está gerando dúvidas sobre o futuro de “NCIS: Los Angeles”. A oitava temporada ainda não está confirmada. l * Sob supervisão de Fátima Sá A Academia Brasileira de Letras convida para o de IDENTIDADE EM QUESTÃO Coordenação-Geral: Acadêmica Ana Maria Machado Coordenação: Acadêmico Candido Mendes de Almeida Terças-feiras | 17h30min Abertura: 5 de abril A dialética da identidade Conferencista: Emmanuel Carneiro Leão 12 de abril Identidade e História Conferencista: Carlos Guilherme Mota 19 de abril Identidade nacional e cultura universal Conferencista: Vamireh Chacon Livre para todos os públicos Sétima temporada da série tem missões em vários países e revelações sobre o passado l 5 ESTEVAM AVELLAR/ TV GLOBO OLHA QUE AMOR Serão fornecidos certificados de frequência. 10 0 Para a participação de Valesca Popozuda no “Arrependimento fashion”, quadro do “GNT fashion”. Você pode não ter o gosto dela, mas não deu para resistir à simpatia e ao jeito espontâneo da funkeira. Para a novela Joelma/Ximbinha (sim, agora com “X”), que voltou a ser explorada ad nauseam pelos programas da RedeTV!. Esta semana, “A tarde é sua” e “TV Fama” se esbaldaram com uma possível reconciliação do casal. As atrizes Mariana Santos, Renata Castro Barbosa, Danielle Winits e Sabrina Korgut se reuniram para fazer as primeiras leituras do longa-metragem “Ninguém entra, ningúem sai”, de Hsu Chien O GLOBO 26 de abril Vias e desvios da identidade literária Conferencista: Acadêmico Eduardo Portella Transmissão ao vivo pelo site: www.academia.org.br Diretoria 2016 – Presidente: Domício Proença Filho Secretária-Geral: Nélida Piñon | 1a Secretária: Ana Maria Machado 2º Secretário: Merval Pereira | Tesoureiro: Marco Lucchesi 6 l O GLOBO l Segundo Caderno l Sábado 2 .4 .2016 Sublinhado Novo livro infantil do escritor peruano, que acaba de completar 80 anos - O barco das crianças/ Mario Vargas Llosa/ Ed. Alfaguara O velho se virou para olhá-lo. Fonchito reparou que em seu rosto cheio de rugas cintilavam uns olhos vivos e ainda jovens. Uns olhos tão intensos que pareciam ter visto todas maravilhas do mundo. Ilustrações de Zuzanna Celej e tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman LEO MARTINS Agora sob o comando de Daniel Louzada, livraria clássica do Centro volta a atender em abril e reabre totalmente em junho, depois de reforma profunda A RENOVADA DA VINCI DIVULGAÇÃO Atrações. No projeto, livraria vai ganhar um café, mesas, cadeiras e sofás para receber visitantes com mais conforto LEONARDO CAZES [email protected] R enovação com continuidade. Essa é a síntese dos planos de Daniel Louzada para a Livraria Leonardo Da Vinci, no Centro do Rio, da qual é o novo dono desde o início de fevereiro. A fachada das três lojas no subsolo do Edifício Marquês do Herval, na Avenida Rio Branco, ainda está coberta por um papel pardo que esconde a transformação que começa a acontecer lá dentro: uma grande reforma que vai devolver a livraria à cidade completamente renovada. Em abril, uma das lojas será reaberta, sem reforma e com acervo limitado, para voltar a gerar receita. Se as obras caminharem no ritmo previsto, em junho a nova Leonardo Da Vinci reabrirá em grande estilo. — A fama da Da Vinci antecede a própria Da Vinci. A livraria tem um modelo que, se precisa de adaptações e mudanças, ao mesmo tempo é bastante atual, porque responde a necessidades dos leitores e clientes que continuam iguais — afirma o novo dono em entrevista ao GLOBO na legendária mesa de madeira onde dona Vanna recebia os pagamentos de clientes famosos, como Carlos Drummond de Andrade. Após uma carreira de 17 anos na rede Saraiva, onde começou como vendedor em Porto Alegre e chegou a à gerência da área de maior faturamento na empresa, o gaúcho radicado em São Paulo decidiu investir suas economias na Da Vinci. Assumiu o empreendimento fundado em 1952 pelo romeno Andrei Duchiade e tocado nas últimas décadas pela esposa dele, dona Vanna, e a filha do casal, Milena Duchiade. Em maio do ano passado, a família anunciou uma grande liquidação do estoque antes de fechar as portas por considerar o modelo de negócios “inviável”. A comoção provocada pela notícia foi seguida por ofertas de investidores. Segundo Milena, entretanto, Louzada foi a única pessoa do ramo que se apresentou e isso pesou na decisão. O empresário Omar Peres, dono do Bar Lagoa, do restaurante Fiorentina e sócio da Boulangerie Guerin, também fez uma oferta. As conversas começaram em julho, mas a negociação só caminhou pa- ra o desfecho no fim de 2015. — Estamos muito felizes com a solução. A Da Vinci precisava de sangue novo, de mais energia para continuar. O nosso sentimento é de torcida para que dê tudo certo — diz Milena, enquanto arruma os últimos papeis da livraria. No projeto de reforma, apresentado por Louzada, a livraria vai perder o seu caráter quase labiríntico — as três lojas eram interligadas por portas estreitas — e ganhar mais amplitude. As paredes serão derrubadas, o piso será trocado, assim como a iluminação e o sistema de refrigeração. A nova Da Vinci vai ganhar também um café com mesas e sofás para receber melhor os clientes. Outra novidade é uma linha de produtos de papelaria com a nova identidade visual. O “L” em estilo gótico, desenhado pelo próprio Andrei Duchiade, foi mantido. O acervo na loja será de 30 mil livros distribuídos pelos 270 metros quadrados. — Do jeito atual, a Da Vinci não é um negócio sustentável. Precisa oferecer mais serviço, mais conforto, mais experiência para o cliente. Mas a espinha dorsal se mantém. Não so- Dono. Daniel Louzada assume a Da Vinci depois de 17 anos trabalhando na Saraiva mos uma livraria generalista, não vamos trabalhar com didáticos ou técnicos. Vamos focar nas nossas áreas tradicionais: humanidades, artes, e vamos ampliar a área de literatura, investindo em seleção e acervo — afirma Louzada. As obras importadas, campo no qual a livraria sempre foi referência, vão demorar um pouco mais para voltar. O livreiro explica que, por contar apenas com capital próprio, precisa trabalhar em consignação com as editoras. No caso dos livros estrangeiros, contudo, não há essa opção, então sua volta deve ocorrer só em 2017. Ainda hoje na Da Vinci há títulos com o preço marcado em pesetas, escudos e francos, moedas que desapareceram após a adoção do euro em 2002. Em compensação, haverá investimentos na área de quadrinhos e até uma seção geek será criada. LANÇAMENTOS E DEBATES A proposta é que todo o novo ambiente seja flexível para receber eventos de pequeno porte, como leituras e debates, além do lançamento de livros. A expectativa de Louzada é que a loja absorva parte da energia da cena literária da cidade. — Vamos oferecer um espaço para essa energia criativa que circula. A vida em torno dos livros é muito maior fora do que dentro das livrarias. Queremos ir além da sessão de autógrafos. Já estamos preparando uma agenda de eventos bastante robusta para retomar e incrementar coisas que a Da Vinci historicamente teve — diz ele, que lembra o texto do ensaísta americano Benjamin Moser sobre a livraria. — No texto (publicado no GLOBO), que me emocionou, Moser diz uma coisa que é essencial e faz sentido para mim como leitor e profissional do livro: “o que distingue uma cidade importante de uma cidade que tem muitos habitantes é a sua vida cultural”. Investir numa livraria física em um ano de recessão no país parece uma aposta arriscada, mas Louzada demonstra confiança. O novo VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) do Centro terá uma estação na frente do prédio. A pista para carros será fechada e transformada em um passeio com ciclovia. Junto com outros equipamentos culturais, como a Caixa Cultural, a Biblioteca Nacional e o Teatro Municipal, ele espera que um novo polo cultural se articule na região: — Há uma oportunidade muito grande de que este ponto, fraco nos fins de semana, se torne um local de encontro dos cariocas. Fica entre a Cinelândia e a Carioca, em frente ao VLT. Tudo isso tende a aumentar a oferta de serviços e de comércio qualificados. l l Segundo Caderno l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO l 7 Sebo Obra-prima do autor húngaro, ganhador do Nobel em 2002, morto na quinta-feira - Sem destino/ Imre Kertész Quando Imre Kertész, morto na quinta aos 86 anos, ganhou o Nobel de Literatura, em 2002, a obra do escritor húngaro era inédita no Brasil. Logo no ano seguinte, porém, foi lançado aqui o romance que é considerado sua obra-prima, “Sem destino”, pela editora Planeta, em tradução de Paulo Schiller, hoje esgotado e disputado em sebos. Livro de estreia de Kertész, lançado em 1975, inspira-se na experiência do autor nos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald, para onde foi enviado na adolescência. Foi o início de uma trilogia sobre o Holocausto, tema central de sua obra. Kertész dizia escrever sobre os campos porque neles descobriu “a condição humana, o ponto final de uma grande aventura, onde o viajante europeu chegou depois de 2 mil anos de história moral e cultural”. Crítica N HISTÓRIA DE AMOR E AMARGURA ão fosse a tradução do “Otelo” de Shakespeare em 1808, assinada por Ivan Velyaminov, provavelmente “O amor de Mítia” (1925) não existiria. Assim como “Lady Macbeth do distrito de Mtzensk” (1865), de Nikolai Leskov, o livro de Búnin — o primeiro escritor russo a receber o Nobel de Literatura, em 1933 — é também um esforço de retomada e reescrita de KELVIN FALCÃO KLEIN certos elementos tipicamente shakespearianos, desde o tema do ciúme até o gênero da tragédia. A história de Mítia é linear, construída por no trem em direção ao interior (“é tudo amor, alBúnin desde o primeiro dia a partir do acú- ma, é tudo sofrimento e alegria inefável”), em sua mulo de pequenas amarguras — a novela co- leve transformação já na casa da mãe (“tudo no meça atestando que “nove de mundo passou a parecer desnecessámarço foi o último dia feliz de Mírio”), até o ponto da derrocada final tia em Moscou”. Seu “amor”, inici(“no mundo tudo era tão monstruosaalmente, é Kátia, uma jovem que mente sem esperança e sombrio como se dedica aos concertos, saraus e não podia ser no além-túmulo, no inaulas de teatro. Esse “amor”, no ferno”). Tal recorrência dá harmonia à entanto, aos poucos se expande breve novela, reforçando no estilo essa até abarcar uma espécie de anopressão inominável que domina Mítia gústia sem nome, “algo inexprie o leva ao limite. mível”, segundo o narrador, que Mas não só de lamentação vive “O acompanha e oprime Mítia quanamor de Mítia”. A novela atinge seu clído ele deixa Moscou e parte para max pouco depois da metade, quando o interior, para a casa da mãe, Mítia descobre certos encantos da vida cansado dos desentendimentos “O AMOR DE MÍTIA” no campo, abandonando momentaneconstantes com Kátia. amente seu isolamento. Búnin, neste AUTOR: Ivan Búnin O trunfo de Búnin está na habili- EDITORA: 34 ponto, deixa Otelo um pouco de lado (e dade de seu narrador, que muito de- TRADUÇÃO: Boris também o Werther de Goethe, outro licadamente entra e sai da consciên- Schnaiderman precursor decisivo de Mítia) e abraça cia de Mítia e dos demais persona- PÁGINAS: 128 certa deriva forte da tradição russa, gens. Um exemplo disso é o uso re- PREÇO: R$ 42 aquela que diz respeito ao contraste escorrente de uma ideia vaga de “tota- COTAÇÃO: Bom candaloso entre campo e cidade — lidade”, presente na fala da mãe de pensemos, por exemplo, em “A aldeia Kátia (“compreendia tudo desde muito tempo, de Stepántchikovo e seus habitantes”, de Dostoiadivinhava tudo), em Mítia observando o povo évski, ou “Memórias de um caçador”, de Ivan Tur- guêniev. A rotina dos trabalhadores da terra surge para Mítia como uma fonte de sensações exóticas, que o atraem e repelem na mesma medida. Quando Búnin traz à tona a forma como o prazer sexual pode ser negociado sem maiores pudores, isso leva a narrativa a um espaço de espontaneidade pagã popular (nos moldes daquela que Bakhtin irá rastrear teoricamente alguns anos depois) e, ao mesmo tempo, a uma transformação do protagonista que será decisiva para seu destino. CRÍTICA À REVOLUÇÃO RUSSA Essa mudança de ares, no entanto, é passageira para Mítia, cuja subjetividade parece blindada à mudança. O caráter extremo dos gestos e sentimentos de Mítia pode indicar, obliquamente, a resolução de Búnin de permanecer ligado a uma Rússia que para ele, no exílio em Paris a partir de 1920, já não existia mais. Assim como seu contemporâneo Vladimir Nabokov, Búnin fazia parte daquele vasto contingente de emigrados russos que viam a revolução como uma derrota, como o evento responsável por uma perda irreparável. Logo depois de “O amor de Mítia”, Búnin publica “Dias malditos”, seus diários de 1918 a 1920, em que relata a guerra civil, e também um “Manifesto da emigração russa”. Pode-se especular que o que chamou a atenção de bons leitores para “O amor de Mítia” à época — como Thomas Mann, Rilke e André Gide — tenha sido não apenas o meticuloso apuro estilístico de Búnin, mas também a sutileza de sua reflexão, escondida sob a cobertura de um amor adolescente, sobre o trauma histórico compartilhado por tantos. l Kelvin Falcão Klein é professor da Escola de Letras da UniRio Loredano UM OUTRO LADO DA HISTÓRIA PARA ALÉM DOS MITOS DA ‘LUSOFONIA’ GUILHERME FREITAS [email protected] “N ão há separação essencial entre os povos que fallam a língua portugueza”, escreveu Fernando Pessoa em uma carta dos anos 1910. A ideia de unidade entre os países lusófonos, que fascinava o poeta, repete-se com entonações variadas desde as pregações do padre António Vieira sobre o Quinto Império, no século XVII, até a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 1996. No livro “História sociopolítica da língua portuguesa” (Ed. Parábola), o linguista Carlos Alberto Faraco investiga a trajetória dessa ideia para desmontar mitos sobre a “lusofonia”. E reflete sobre o que ela pode significar hoje, quando ainda se busca um modelo de colaboração entre os países do bloco. O livro remonta às origens medievais da língua portuguesa, na região onde hoje fica a Galícia, e narra sua expansão pelo mundo a partir das navegações dos séculos XIV e XV, quando a colonização implantou à força o idioma na América, na África e na Ásia. Naquele momento, diz Faraco, foi forjada uma ideia “mítica” de lusofonia que reaparece ao longo do tempo, e que ele analisa de forma crítica no livro. — Há um discurso muito forte, principalmente no fim do século XIX e início do XX, sobre o mito de uma comunidade de língua portuguesa que teria um papel especial na História humana. Era a expectativa um pouco eufórica de que, para usar uma expressão de Pessoa, seria construído o “Império da Língua Portuguesa”. De certa forma, essa é a raiz do discurso atual em torno da “lusofonia” — diz Faraco, professor titular aposentado da Universidade Federal do Paraná. Linguista Carlos Alberto Faraco lança livro sobre ‘história sociopolítica’ da língua portuguesa Ivan Búnin Escritor russo, ganhador do Nobel de 1933 Lançamentos “Assim se pariu o Brasil” "Spotlight — Segredos revelados” “As aventuras de Jajá” Pedro Almeida Vieira Equipe de jornalismo investigativo do Boston Globe Susana Schild NÃO FICÇÃO Ed. Sextante, 320 pgs. R$ 39,90 Neste livro, com ilustrações de Enio Squeff, o jornalista e escritor português Pedro Almeida Vieira, autor de romances históricos, escreve com humor sobre 25 episódios da História colonial do Brasil. JORNALISMO Trad. Antonio Carlos Vilela. Ed. Vestígio, 288 pgs. R$ 39,90 O volume traz as reportagens do jornal americano “The Boston Globe” sobre pedofilia na Igreja católica que inspiraram “Spotlight”, ganhador do Oscar de melhor filme e melhor roteiro original este ano. Classificados do Rio. Achou de verdade. COMPRO LIVROS E CDS classificadosdorio.com.br 2534-4333 2215-3528 ou 2532-3646 INFANTIL Ed. Rocco, 96 pgs. R$ 24,50 A jornalista e crítica de cinema Susana Schild dá voz a uma gata neste livro ilustrado por Mika Takahashi, que será lançado amanhã, às 16h, na Travessa do Shopping do Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco 290). Outros Livros e CDs Classificados do Rio. Achou de verdade. classificadosdorio.com.br / 2534-4333 Segundo Faraco, a concepção atual de “lusofonia” surge depois das guerras de independência na África, nos anos 1960 e 1970, como uma forma de Portugal tentar recuperar “cacife político” entre as ex-colônias. Mas o projeto esbarra na realidade de países africanos, por exemplo, onde idiomas locais são os mais falados. — O discurso “lusófono” é basicamente de Portugal. No Brasil quase não se fala nisso. E na África há uma resistência grande ao termo. Considerando a diversidade linguística dos países africanos, onde o português é geralmente a segunda língua, é possível chamá-los de “lusófonos”? Apesar de questionar a visão “mítica” de uma comunidade lusófona, Faraco defende os benefícios da cooperação entre países de língua portuguesa. Ele é o atual coordenador da comissão brasileira junto ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), vinculado à CPLP. Criado em 1999, o órgão começou a desenvolver em 2010 um plano de ação para “promoção, difusão e projeção da língua portuguesa”. Mas a execução do plano ainda depende de um apoio maior no bloco, avalia Faraco: — Há muitas questões de interesse para os países, desde o desenvolvimento de um vocabulário básico comum à padronização de terminologias técnicas e científicas. O processo de difusão da língua portuguesa no espaço internacional se beneficiaria de um aumento da cooperação multilateral. l FASE RACIONAL A Fase do 3º Milênio, da Imunização Racional, anunciada há séculos passados e revelada agora pela cultura racional nos livros UNIVERSO EM DESENCANTO Já leu, Não precisa mais? Compartilhe!!! Disponibilizamos Doações para Bibliotecas Comunitárias Tel.: (21) 2719-6827 RETIRAMOS NO LOCAL 8 l O GLOBO l Segundo Caderno l O uço muita gente dizer que está deprimida. Não é aquela depressão “endógena”, que depende de propensão, tendência familiar ou desequilíbrio químico natural, e que pode vir sem motivo algum. Não. É a depressão 100% exógena, provocada por uma série de baques externos, e capaz de derrubar a mais equilibrada e imune fortaleza. Se o sujeito já tiver a tendência, é melhor chamar logo o doutor. Não sei. Sei que a dose está para leão. Economia na lona, política na lama, o mundo em chamas. Mas vejo o pessoal assim mesmo na praia e vem aí o céu cada vez mais límpido, como na canção do Ed Motta: “Há um lugar para ser feliz/além de abril em Paris/ outono/outono/no Rio”. O novo disco dele, aliás, anda rodando direto no CD player do meu carango, cuja lataria branca está cheia de amassados e arranhões. E não é que o acho bonito assim? Pode ser um modo de não me deprimir pensando numa utópica lanternagem, mas é fato que quando olho para a carroça sinto-me numa permanente estrada empoeirada dos anos 1970 a caminho, sei lá, de Cabo Frio, quilômetros de salinas e lagoas, estradas noturnas com ar de interlúdio planetário. A gente vai levando, né? Dourando a pílula e, se necessário, tomando uma, dando saltos no tempo, marcando na agenda um cigarro extemporâneo, um joguinho de futebol, uma chuveirada direto do cano (arranquei a cabeça do chuveiro, que vazava), um piano, esses momentos sagrados que catapultam o viver disto aqui para diante. Sábado 2 .4 .2016 E-mail: [email protected] ARNALDO BLOCH DEPRIMIDO DE BOA Falei em futebol? Os jogos de Dunga têm mais me divertido do que deprimido. Quem em sã consciência torce por esta seleção, por esta CBF, pela inexpressividade psicológica deste grupo sob comando daquela figura nefasta com ar abobalhado? Se há um impeachment justo no país é o de Dunga. A cada gol do Uruguai e do Paraguai voltavam minha fibra, meu desejo de resistir aos maus ventos. A arte pode ajudar, mas nem sempre a gente escolhe o que vê do ponto de vista do astral. No fim de semana passado, foram três pedradas de uma vez. Primeira: a exposição “Zeitgeist”, de arte contemporânea de Berlim, no CCBB. A instalação com o relógio gigante numeral feito de estrutura de madeira encaixada, como brinquedo de montar (que três operários com uma escada vão manipulando sem parar, minuto a minuto, 12 horas a fio), é ao mesmo tempo angustiante e relaxante. O que dá uma mistura dos diabos. Deve-se resistir à tentação TOC de ficar ali, por toda a eternidade, ou, ao menos, de percorrer o período da performance para “decifrar” o quebra-cabeças de um tempo artesanal fora do tempo. Melhor passar ao segundo piso e encon- trar, entre a produção de pinturas, alguns vídeos estimulantes e até engraçados, como o do sujeito que vai ao supermercado “caçar” produtos com arco e flecha e um curta-metragem ambientado numa Berlim-inferno dos 1930, uma obra-prima de desolação que muito diz dos nossos dias. A coxinha (sem conotações políticas) de galinha bechamel na bela, escura e triste Confeitaria Colombo, de almoço, é exceção num momento de pouco apetite, uma vantagem relativa da depressão: tira-se uma onda de A coxinha (sem conotações políticas) bechamel na bela e triste Colombo é exceção num momento de pouco apetite, uma vantagem relativa da depressão emagrecimento, reforçada com obediência à ordem do pilates e uma volta obstinada à bicicleta: endorfina lúdica na veia. Mas, à noite, a segunda pedrada: vou à última apresentação da temporada de “Processo de conscerto do desejo”, o mais que belo monólogo de Matheus Nachtergaele inspirado nos escritos de sua mãe, que se suicidou quando ele ainda era um bebê. Iluminação lúgubre, violão e violino intensos e o ator em ápices de expressão, economia gestual, sutileza, consciência corporal e cênica — e muita, muita dor. Não tem pra onde fugir, portas lacradas, só mesmo em caso de incêndio. Mas, no final, uma valsa, e lá vou eu e meu par valsar na pista do teatro, recuperar as forças, despertar. No dia seguinte, segundinha-feira à noite, pra relaxar, um cineminha com título alentador: “Para a minha amada morta”, primeiro longa do baiano Aly Muritiba. Morte, traição, fotografia subjetiva, muito silêncio, muito vazio e até um cachorro sacrificado. Pipoca e Coca de graça, ok. Mas recusei o refri por estar evitando intoxicação por cafeína, esse maldito ansiolítico. À saída preciso correr para “Criação”, de Gore Vidal. Sua deliciosa e incrivelmente inventiva (sem perda de profundidade de pesquisa) descrição das aventuras de um suposto neto de Zoroastro na corte persa 500 anos antes da Era Comum (quando nascia a pré-filosofia, Buda andava pela Índia e Confúcio professava na China) tem me rendido, além de um baita conhecimento matricial, risadas saborosas e uma lembrança daquela alegria indizível que ocorre quando se está diante de um dos melhores livros de nossas vidas. Assim a gente vai se deprimindo, mas nunca, nunca, jamais, se deixa golpear. l ENTREVISTA Roberto Minczuk U PROGRAMA EDUCATIVO ‘HOJE SOU MAIS PACIENTE’ DUAS MIL CRIANÇAS FARÃO CONCERTO NO MUNICIPAL Neste ano, a OSB inaugura uma parceria com o Carnegie Hall, de Nova York, e traz ao Brasil o programa educativo Link Up. Foram arregimentados 48 professores de música — cada um de uma escola do Rio, sendo a maioria da rede pública municipal — para receber treinamento (workshops com o professor de flauta da UniRio Hélder Parente) e material didático com o qual prepararão 2 mil estudantes para uma apresentação no Teatro Municipal, no dia 8 de novembro, junto à orquestra. São alunos principalmente do 6º ano do ensino fundamental (mas também há alguns de até três séries acima). O concerto não será aberto ao público, por um simples motivo: as milhares de crianças ocuparão os assentos do teatro, onde tocarão flauta doce e cantarão. Os instrumentos serão fornecidos pela orquestra. — As crianças poderão voltar para casa dizendo que estrearam com a OSB no Teatro Municipal. Elas serão protagonistas. O material didático já está pronto, traduzido e adaptado à realidade brasileira, e outras orquestras do Brasil que queiram implementar esse programa poderão aproveitá-lo. Nós cederemos tudo gratuitamente, da mesma forma que recebemos do Carnegie Hall. Esse é um projeto que auxilia a educação musical nas escolas. A criança aprende a ler partitura, a tocar flauta doce. É uma forma de contribuirmos com a formação musical das crianças brasileiras — diz o diretor artístico da OSB, Pablo Castellar. Diretora do Weill Music Institute, que é o braço educacional do Carnegie Hall, Sarah Johnson dá a dimensão do programa: — No mundo todo, 81 orquestras, em cinco continentes, já participam do Link Up. Só aqui em Nova York, temos 14.000 alunos e professores participantes. Não é um programa de profissionalização, mas de introdução à música. Prevemos que, em até dez anos, teremos 5 milhões de crianças participantes no mundo. Ex-regente titular da OSB, agora emérito, maestro diz que lapidou orquestra e lamenta falta de infraestrutura DIVULGAÇÃO/CICERO RODRIGUES Amadurecimento. Minczuk abre hoje a nova temporada da OSB: mais tolerância com músicos nos ensaios EDUARDO FRADKIN [email protected] C omeça hoje, às 20h, no Teatro Municipal, a nova temporada da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), com regência do maestro Roberto Minczuk, que pilotará outros cinco concertos ao longo do ano. Ele volta ao pódio no papel de maestro emérito da orquestra, e não mais no de titular, posto que ocupou por uma década, até 2015. Em entrevista ao GLOBO, Minczuk faz um balanço desse período, com altos e baixos, inclusive a pior crise da OSB, enfrentada por ele em 2011. O concerto deste sábado terá um tributo ao maestro alemão Kurt Masur (morto em dezembro) com a 5ª sinfonia de Mendelssohn. Como o senhor ficou amigo de Masur? Eu tive o privilégio de trabalhar com ele desde os meus 20 anos. Eu era fã da orquestra dele, a Gewandhaud de Leipzig, e descobri que estava precisando de um trompista. Então, fui à Alemanha Oriental ser trompista da Gewandhaus. Eu era o único estrangeiro. Nessa época, eu já estudava regência e me aproximei do Kurt Masur. Tive a oportunidade de aprender tudo com ele, um dos maiores maestros de sua geração. Quando eu era regente associado da Osesp, o Masur esteve no Brasil e me viu regendo. Ele ficou tão feliz que me convidou a fazer concurso na Filarmônica de Nova York para maestro assistente. Concorri com dezenas de maestros, e a orquestra me escolheu. Então, voltei a trabalhar com ele lá. Além da nossa l conexão musical, havia a conexão Tomoko, que era a mulher dele, ex-violista da OSB. Nós três criamos um vínculo familiar, tanto que eu fui uma das quatro pessoas a discursar no funeral do Masur. O que lembra de seus primeiros dias na OSB? Quando tinha 14 anos, eu já era primeira trompa do Teatro Municipal de São Paulo, e o trompista principal da OSB ficou doente antes de dois concertos importantíssimos. Então, o maestro Isaac Karabtchevksy me convidou a substituí-lo. Ali, toquei pela primeira vez com a OSB. Quando surgiu a oportunidade de eu assumir a orquestra (como regente), ela estava num estado difícil, vindo de crises financeiras. Os músicos ficavam cinco meses sem salário. Mas eu vim apaixonado. E consciente do desafio. Vim para arregaçar as mangas e botar a OSB no patamar que ela merecia. Eu me lembro de ter encontrado uma orquestra com um potencial enorme. Mas os salários dos músicos eram os mais baixos de todas as orquestras do Brasil. Então foi preciso fazer um trabalho musical e de busca de recursos. Um ano e meio depois, praticamente dobramos o salário dos músicos. l Com a melhoria das finanças, o senhor pôde cobrar mais resultado dos músicos? Com certeza. Até porque o músico não precisava mais ter três empregos para pagar suas contas. Com isso, podia se preparar melhor. l Sim, o próprio conselho (curador da OSB), que são os meus chefes, me apresentou isso como meta e ambição da instituição. E, pagando salários atraentes, conseguimos trazer muitos dos melhores músicos brasileiros que estavam estudando ou tocando no exterior. Em 2011, foi anunciado que os músicos da OSB teriam de fazer uma audição para continuar na orquestra. O episódio gerou uma crise institucional. Analisando isso hoje, o senhor acha que poderia ter agido de outra forma? Eu acho que existem caminhos... Acho que, ali, o problema maior foi uma questão de comunicação com os músicos, de entendimento. Hoje, a gente faria isso de forma diferente. A gente se comunicaria melhor. l Como é a rotina de trabalho e a remuneração na OSB em relação a outras orquestras? Hoje, o que um músico da OSB ganha por ensaio e por concerto é mais do que em qualquer outra orquestra no Brasil. Os salários da Osesp e da orquestra do Municipal de SP são mais altos, mas a gente trabalha praticamente a metade, em termos de quantidade de ensaios e concertos. Eu gostaria que a OSB tocasse mais, fizesse toda semana um concerto no Municipal e um na Cidade das Artes. Que concerto mais o marcou na OSB? O de aniversário de um ano da pacificação do Complexo do Alemão. Fizemos no morro a 9ª sinfonia de Beethoven. Além de ter sido maravilhoso, esse tipo de ação dá relevância à orquestra e a faz presente na mídia, ajuda a atrair investidores. l Que qualidades artísticas o senhor procurou dar à orquestra nessa década? Unidade sonora, homogeneidade, equilíbrio entre os naipes. Conseguir que todos os staccatos sejam feitos da mesma forma, com a mesma duração da nota, conseguir que os naipes estejam equilibrados, de forma que um não ofusque outro. Tocar com muita garra e precisão técnica. A OSB é uma joia que foi lapidada. l l O que impede isso? A falta de controle que temos da pauta dessas salas de concerto. Orquestras como a Filarmô- l O senhor entrou na OSB com a missão de transformá-la na melhor orquestra do Brasil? l nica de Minas Gerais ou a Osesp, que têm suas salas, podem dispor de palco toda semana. O senhor acha que mudou nesses dez anos como titular da orquestra? Amadureceu? Com certeza. Hoje, com 48 anos, sou uma pessoa mais paciente. Não exijo que a orquestra tenha, logo no primeiro ensaio, um resultado como o que deveria apresentar no dia do concerto. l Algum arrependimento? O que falta é a orquestra poder fazer temporadas mais completas. Ainda não temos a infraestrutura para isso. Temos limitação de uso da Cidade das Artes. Precisamos ter temporadas mais abrangentes. l l OGLOBO REFÚGIO PODE ACREDITAR: EXISTE UM LUGAR EM SÃO PAULO ONDE O ESTRESSE DO COTIDIANO NÃO TEM VEZ. PÁGINA 5 SÁBADO 2.4.2016 oglobo.com.br COLÔMBIA O NOSSO ROTEIRO POR CARTAGENA DAS ÍNDIAS, DA MULTIMARCAS IMPERDÍVEL AOS RESTAURANTES. PÁGINA 6 RICARDO ABRAHAO UMA HISTÓRIA DE AMOR TOP ALEMÃ TONI GARRN MOSTRA O ROMÂNTICO VERÃO 2016 CRIADO POR ALESSANDRO MICHELE PARA A GUCCI PÁGINAS 2 E 3 Toni Garrn com look desenhado por Alessandro Michele 2 l O GLOBO l ela l Sábado 2 .4 .2016 UMA HISTÓRIA DE AMOR A TOP alemã Toni Garrn posa com a coleção de verão 2016 da Gucci [email protected] ( Ana Cristina Reis MISTÉRIOS ) Está indo rápido. Ao ler sobre os avanços científicos e de comportamento, a sensação é que puseram o pé no acelerador. Deve ter sido o que pensaram os súditos de Ludovico Sforza, no século XV, quando Leonardo da Vinci sugeriu a criação de “um pano individual”, o guardanapo, para ser usado à mesa, ou os europeus, durante a Revolução Industrial, quando viram que as máquinas tinham chegado para ficar. “Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!”, disse o Coelho em “Alice no País das Maravilhas”. O sexo para a procriação está com os dias contados nos países desenvolvidos, de acordo com um professor de Stanford. Henry Greely, em seu livro “The end of sex and the future of human reproduction”, defende que em breve o processo de geração de bebês será todo feito em laboratórios. — Entre 20 e 40 anos à frente, quando um casal quiser um bebê, o homem vai providenciar o esperma e a mulher, um pedaço da pele — disse Greely ao jornal “Times” esta semana. Diretor do Center for Law and the Biosciences da universidade, Greely esclareceu que o fragmento de pele feminina seria usado para criar células-tronco, que por sua vez poderiam gerar óvulos. Depois da união em laboratório de esperma e óvulo, os embriões seriam analisados para detectar: 1) males fatais; 2) doenças que poderiam ser evitadas; 3) características físicas desejáveis. — O quarto fator é o comportamental. Aqui teremos limite para nossa exatidão, mas seremos capazes de prever em até 60% se o embrião será o de uma criança muito inteligente, por exemplo. E eu achando que o enredo de filmes do tipo “Gattaca” (preocupação com as tecnologias reprodutivas que facilitam a eugenia) era coisa de um futuro distante. Alice: “Quanto tempo dura o eterno?” Coelho: “Às vezes, apenas um segundo”. Um planeta misterioso, escondido nas franjas do Sistema Solar, pode ser o responsável pelas extinções que acontecem na Terra a cada 27 milhões de anos. Apelidado de Planeta 9, ele é assunto entre panelinhas científicas há algum tempo, mas nos últimos meses foi tema de dois estudos publicados. Um deles, de um professor aposentado de Astrofísica, senhor Daniel Whitmire, defende que o Planeta 9 é um incitador de chuvas de cometas. Não bastasse, ele seria dez vezes maior que a Terra e mil vez mais afastado da Lua do que nós. Então quer dizer que toda a boa intenção em reciclar o lixo pode ser em vão? Alice: “Meu Deus, meu Deus! Como tudo é esquisito hoje! E ontem tudo era exatamente como de costume. Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: ‘Quem é que eu sou?’. Ah, essa é a grande charada!”. Peggy Orenstein, 54 anos, natural de Minneapolis, em Minnesota, acaba de lançar um livro chamado “Girls & Sex”, em que entrevista 70 mulheres entre 15 e 20 anos para saber a quantas anda a vida sexual de americanas de classe média e média alta. Peggy ouviu que: a pornografia influencia (os rapazes esperam parceiras sempre dispostas e depiladas; as moças emulam as acrobacias e gemidos vistos nos filmes); os pais, que antes diziam “Não pode!”, hoje não sabem o que dizer; o ritual é geralmente precedido de bebida, muita bebida, com inclinação para Jäger bombs (mistura de Jägermeister com Red Bull) e shots de tequila; a maioria considera o sexo oral moeda de troca. “É um jeito de ficar amiga dos garotos populares. E é menos íntimo que o papai e mamãe”, resumiu uma das entrevistadas. Está indo rápido mesmo. Ou estou ficando velha. O sexo, que tinha seus tabus na minha juventude, continua um mistério para mim em alguns aspectos. E muito pessoal. l Editora: Renata Izaal ([email protected]) Diagramação: Lígia Lourenço ([email protected]) Telefone/Redação: 2534-5000 Publicidade: 2534-4310 E-Mails: [email protected] | [email protected] oglobo.com.br/ela | facebook.com/ElaOGlobo twitter.com/cadernoela | www.instagram.com/cadernoela POESIA VINTAGE E ATUAL FOTOS DE RICARDO ABRAHAO GILBERTO JÚNIOR [email protected] A lessandro Michele virou o cara da noite para o dia. Literalmente. Um completo desconhecido até janeiro de 2015, o estilista viu-se no centro das atenções ao assumir, de repente, a direção da Gucci, após a saída de Frida Giannini, semanas antes do desfile feminino de inverno 2016. O mercado mal teve tempo de especular quem ocuparia a cadeira deixada pela designer. Há pouco mais de um ano no comando, Michele já imprimiu sua marca pessoal, que não lembra em nada o reinado supersexy de Tom Ford e, tampouco, a elegância gélida da mulher idealizada por Frida. Na atual fase, as roupas têm um forte perfume vintage, os acessórios (que fazem o caixa girar em praticamente todas as maisons) são cool à beça e a questão dos gêneros é debatida às claras, impactando, diretamente, toda a indústria. O fato é que o romano de cabelos longos encantou com sua visão romântica e discurso apaixonado. — Dou voz à minha criatividade conectando elementos, línguas, sinais e mundos diferentes. Gosto de sobrepor referências variadas e fazêlas explodir em novos significados — explica Michele, de 43 anos. l CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE TONI GARRN veste look do verão 2016 da Gucci Coordenação: Gilberto Júnior. Edição de moda: Mariaelena Morelli. Modelo: Toni Garrn (Women Management Paris). Maquiagem: Fidel Fernandez (com produtos M.A.C. Cosmetics). Cabelo: Quentin Guyen. Produção: Paris Media Prod. Locação: Pin Up Studios. Agradecimentos: Marta Mota. l ela l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO l 3 TONI POSA com vestido do verão 2016 da Gucci UMA HISTÓRIA DE AMOR RICARDO ABRAHAO UM JOGO FIGURATIVO A pesar de estar há somente três temporadas no topo, Alessandro Michele é um veterano. Ele chegou à Gucci em 2002, contratado por Tom Ford. No mandato de Frida Giannini, era o diretor de acessórios da grife. Em seu currículo, consta ainda uma passagem pela Fendi, um celeiro de talentos — Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli, a dupla da Valentino, e a própria Frida passaram por lá. É claro que o cenário muda drasticamente ao ser jogado diante dos holofotes, na cova dos leões, mas o estilista vem tirando de letra, parecendo não sentir a pressão de estar à frente de uma das grifes mais emblemáticas da Itália. Após a elogiada estreia na edição de inverno 2016 da semana de moda de Milão, Michele continuou acertando. O verão 2016, fotografado no corpo da top alemã Toni Garrn para o ensaio de capa desta edição, confirmou que o hype não era momentâneo. — Para esta coleção, fiquei louco de amor por um retrato da rainha Elizabeth I — entrega o designer, indicando que muitas de suas influências são do passado. Observando a trajetória de Michele na casa, fica evidente que a flora e a fauna são fontes de inspiração. A cobra, por exemplo, é um elemento recorrente em suas criações. — Para mim, a serpente e todos os animais representam a beleza. É o meu jeito de lembrar sempre que as coisas mais fascinantes do mundo são aquelas que vêm da natureza — comenta o estilista, emendando uma explicação filosófica sobre ilusão de óptica, uma das características da festejada coleção de verão, à venda no Brasil: — Penso que a moda é um trompe l'oeil. Você pode ser o que não é. O que você enxerga, às vezes, não é necessariamente a verdade. Moda é um jogo figurativo. E eu gosto de brincar com babados falsos, laços e golas. É uma ideia de como você pode inventar a si mesmo e a roupa. Michele começou a sua revolução antes de ser anunciado oficialmente como diretor de criação. Nos lançamentos masculinos para o inverno 2016, ele liderou a equipe de estilo, fazendo o maior barulho ao propor looks para os homens que flertavam descaradamente com o universo feminino. Na ocasião, o romano repensou e produziu todas as peças em apenas cinco dias — afinal, Frida saiu de cena, liberando o caminho para o seu sucessor. A promoção, como sabemos, não tardou e o estilista, com carta branca de Marco Bizzarri, o CEO da Gucci, executou mudanças importantes. Trocou as destemidas supermodelos por rostos mais frescos e renovou a comunicação, colocando o fotógrafo Glen Luchford no lugar da badalada dupla Mert Alas & Marcus Piggott. l ‘NÃO É UMA PESSOA QUE TEM MEDO DE ERRAR’ ROUPAS PARA MADONNA E CATE BLANCHETT A A lessandro Michele é descrito pelo site da edição americana da “Vogue” como “caloroso”, não “hot”, como Tom Ford. Ele também é tido como falante e cativante. A modelo catarinense Aléxia Bellini, que participou do desfile de inverno 2017, em fevereiro, em Milão, acha que ele é apaixonado pelo que faz. — Michele é muito criativo e supersimpático. Está sempre conversando com a equipe, decidindo os mínimos detalhes. Não é uma pessoa que tem medo de errar — aponta Aléxia, continuando: — Ele não me pediu para fazer nada especial na passarela. Mas o que chamou a atenção foi a quantidade de anéis que meu look tinha. Quando Michele veio ajustar a roupa, notei que ele usava vários. Percebi aí que sua personalidade era a essência da coleção. O Instagram do estilista (@lallo25) é uma ferramenta fundamental para decodificar o novo universo da Gucci. Há imagens de animais, antiguidades, paisagens e da rainha Elizabeth I, por exemplo. Mais eclético, impossível. O que salta aos olhos, não só na rede social, mas nos shows e campanhas publicitárias, é o clima escapista, de sonho, que Michele espertamente colocou em primeiríssimo plano. l Gucci poética e com ares de brechó — o que não quer dizer que não tenha o espírito do nosso tempo — caiu nas graças de fashionistas gabaritados. A it-girl inglesa Alexa Chung foi clicada com o mocassim-chinelo peludo do inverno 2016, batizado de Princetown. Anna Wintour, a editora-chefe da “Vogue” americana, circulou por aí com looks desenhados por Alessandro Michele. No tapete vermelho, Cate Blanchett, Kirsten Dunst, Carey Mulligan, Keira Knightley e Elle Fanning entraram na onda do romântico criador. Entre os homens, Harry Styles, da banda One Direction, é o maior entusiasta. Além do red carpet, Michele fez figurinos para as turnês de Madonna e Florence Welch, da banda Florence + The Machine. O estilista, que estudou na Accademia di Costume e di Moda, em Roma, colhe os louros da fama. Na última cerimônia do Oscar, posou para fotos ao lado do ator Jared Leto. Na fashion week de Paris, foi a sensação da primeira fila do desfile de estreia de Demna Gvasalia na Balenciaga. A indústria também festejou o talento do italiano. No fim de 2015, ganhou o prêmio de designer do ano do British Fashion Council. l TOP ALEMÃ TONI GARRN DIVIDE O TEMPO ENTRE A MODA E O ATIVISMO FEMININO P ara dar vida aos looks do verão 2016 da Gucci, recrutamos a top alemã Toni Garrn, que posou para o ELA durante a semana de moda de Paris, no mês passado. Toni, um furacão de sensualidade com desfiles para a Victoria’s Secret no currículo, é o oposto das manequins que frequentam os desfiles atuais da casa. É uma carinha celebrada, que já representou etiquetas poderosas como Prada, Fendi, Dior, Hugo Boss e Emporio Armani. — Uma modelo narra uma história diferente quase a cada trabalho. É nossa função sermos capazes de assumir o caráter de qualquer marca. Amo isso. E sou muito orgulhosa de estar no único negócio no qual a maioria das mulheres ganha mais do que os homens — aponta Toni, de 23 anos. Engajada, a alemã, um dos ícones da moda segundo o portal “Models.com”, é embaixadora da campanha “Because I am a girl”, da Plan International. ÁFRICA E VIETNÃ A modelo conta que a ideia do projeto é apoiar os direitos femininos nos países em desenvolvimento. Seu foco é o continente africano. — Sempre soube que gostaria de ajudar garotas em todo o mundo, especialmente as que não têm a oportunidade de lutar por si mesmas. Acredito, definitivamente, no “girl power” — justifica a top. — Vou à África como uma mulher que quer ver mais do planeta e conhecer outras meninas. Lá, meu trabalho não faz diferença nenhuma. A maior parte das pessoas dos lugares que visito não sabe o que é o mercado fashion e, muito menos, o que é uma modelo. Elas me enxergam como uma companheira, que é confiante, viaja, ganha o seu próprio di- nheiro e faz o que deseja. Por isso, acho que sou um exemplo e uma inspiração para elas permanecerem na escola e não abandoná-la por volta dos 13 ou 14 para se casarem. Toni apadrinhou uma menina vietnamita aos 16, “quando consegui meu primeiro cachê”, diz ela, que agora tem três afilhados. Gente que faz, a alemã pediu recentemente para amigos venderem suas roupas de grife para levantar fundos para a Plan International. Natural de Hamburgo, Toni Garrn despontou em 2008, ao ser alçada ao posto de garotapropaganda da Calvin Klein. Na sequência, virou musa de perfumes da Versace e da Cartier, acabou entrando, consequentemente, no ranking das modelos que mais faturam. Apareceu ainda nas capas das versões russa, italiana e espanhola da revista “Vogue”. Fechou exclusividade com Elie Saab no inverno 2017 ARQUIVO PESSOAL da semana de moda de Paris. Sua beleza é assunto batido no meio. Ela diz que fica honrada com os elogios, mas deixa os comentários sobre a sua aparência para terceiros. — Soa chato, mas meu segredo de beleza é dormir. É o melhor remédio. Um solzinho ajuda — entrega a loura. CLOSET DE ANGELINA Toni tem uma quedinha pelo closet de Carrie Bradshaw, personagem de Sarah Jessica Parker na franquia “Sex and the city” — e olha que ela tinha só 5 anos na época em que o primeiro episódio da série foi ao ar. — Porém, meu armário segue a linha Angelina Jolie: limpo e confortável, mas com bons desenhos. Toni Garrn, pelo visto, tem mais em comum com Angelina do que o look do dia. (Gilberto Júnior). l TONI GARRN no Zimbábue durante uma missão l O GLOBO l ela l Sábado 2 .4 .2016 RENATA IZAAL COM LÍVIA BREVES REPRODUÇÕES 4 DANIEL MATTAR EXPOSIÇÃO DO ELA Depois de passar pela Barra, a exposição “Caminhos de Lisboa” chega ao shopping Rio Design Leblon na quinta-feira, dia 7 de abril. Está uma delícia de ver, sabem o porquê? As imagens formam o the best da edição especial de moda inverno do ELA, toda fotografada na capital portuguesa pelo craque Daniel Mattar. Na foto ao lado, a modelo Isabela Eing veste o novo grunge tendo como cenário o horizonte infinito do Terreiro do Paço. Mas guardamos muito mais para vocês: as noivas do Minho, o sexy boudoir, a alfaiataria glam, doçaria, o deslumbrante Cabo Espichel, o célebre bonde 28... Não dá para perder, concordam? Portanto, anotem: Rio Design Leblon, de 7 a 24 de abril. Segunda a sábado, de 10h às 22h. Domingos e feriados, de 15h às 21h. PERFUMES COM CHARME DÉCO A linha de perfumaria fina da Phebo (phebo.com.br) ganha quatro fragrâncias: frangipani, baunilha, patchouli e jacarandá. Agora são dez perfumes, todos em frascos de vidro que reproduzem as linhas déco das primeiras fragrâncias da marca. Para que fique tudo bem combinadinho, também foram lançados sabonetes em barra para cada cheirinho. Um charme! A Páscoa já passou e, se você não ganhou um ovo de chocolate, há tempo para um presente mais interessante e livre de calorias. O objeto da foto acima é criação da francesa Christofle, que há mais de 180 anos desenha itens para a casa que atiçam os nossos desejos. É quase um ovo, não é mesmo? E vem recheado com um faqueiro de prata com 24 peças para seis pessoas. Batizada de Egg Mood, acaba de chegar à loja Image, no Rio Design Leblon. E você aí com vontade de comer mais chocolate... MODA EM ALTO-MAR (E NO INSTA!) O HOTEL DE PHILIPPE STARCK NO RIO Falta pouco para o Rio ganhar o primeiro hotel yoo2 ,da grife londrina de design yoo, de Phillipe Starck e John Hitchcox. De cara para Baía de Guanabara e com uma vista incrível para o Pão de Açúcar, o hotel, na Praia de Botafogo, contará com 143 apartamentos, incluindo uma suíte presidencial. O bar do terraço promete virar um dos lugares mais disputados e cool da noite carioca. A bandeira será operada por aqui pela rede brasileira InterCity. Abre no primeiro dia de junho. MUITO MELHOR QUE CHOCOLATE DIVULGAÇÃO/ADRIANA GRANADO Já segue o Instagram do ELA? Eis, então, uma ótima oportunidade para apertar o “follow”. Neste fim de semana, nossa Talita Duvanel estará no Chilli Beans Fashion Cruise e vai postar direto do navio MSC Esplendida. Vai ter moda, música e festa, além dos desfiles de marcas top, como Herchcovitch; Alexandre, Blue Man, Cavalera e Wasabi. Você não quer ficar por fora, não é? Então, corra para o smartphone e procure por @cadernoela. A VERSÃO CARIOCA DO KEDS A Keds® (lembram do clássico tênis branco, levíssimo?) faz cem anos. Para comemorar, lança na quinta-feira uma coleção-cápsula em parceria com a Maria Filó (mariafilo.com.br). São três versões para o modelo Champion, entre eles o da foto: o primeiro da história das duas grifes feito a partir do tricô. Na composição, quatro fios diferentes torcidos dão um interessante aspecto 3D em tons de marfim, azul e preto, sem contar, é claro, com o brilho do lurex. Mas atenção: é edição limitada e está apenas nas lojas físicas da marca. DIVULGAÇÃO/RODRIGO BUENO GISELLA AMARAL É FASHION Gisella Amaral nada (são quatro mil braçadas diárias), faz ioga e localizada. Mesmo com tanta disposição, dá para acreditar que a primeira-dama da noite carioca faz só agora a sua primeira campanha de moda? A Eva, marca feminina da Reserva, escolheu Gisella pelo espírito jovem e, é claro, por todo o estilo que ela exibe na foto acima. l ela l Sábado 2 .4 .2016 O GLOBO l 5 REPRODUÇÕES NO AIGAI SPA, EM SÃO PAULO, A ÚNICA LEI É ESQUECER DE TUDO. POR LÁ, NADA DE PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS UM LUGAR DE DESCONEXÃO JACQUELINE COSTA [email protected] S -SÃO PAULO- e até Netuno, o Deus dos Mares na mitologia romana, precisava de um refúgio, o que dizer de nós, pobres mortais? Aigai seria o nome dessa região submarina onde Netuno descansava, sem que nada o perturbasse. No Alto de Pinheiros, em São Paulo, Aigai é um spa. Mas não desses que são procurados para tratamentos estéticos ou por quem busca emagrecer. É um refúgio de luxo para gente que está em busca de sossego e de restabelecer o equilíbrio. Lugar para parar e respirar. Naomi Campbell já esteve lá duas vezes. E disse que, sempre que estiver no Brasil, retornará. Fernanda Pinazo, proprietária do Aigai, gosta de usar a palavra desconexão para descrever a experiência de bem-estar que oferece a quem passa pelo seu spa. Até 2007, ela trabalhava como advogada. E aí resolver largar o Direito e ir em busca do sonho de abrir o próprio negócio, o que demorou quatro anos para se concretizar. Durante todo esse tempo, fez dezenas de viagens para conhecer o mercado de spas de luxo no mundo inteiro. O foco foi, principalmente, a Ásia. —No Camboja, fiquei encantada pela cidade de Siem Reap. Lá, as pessoas têm prazer em servir. E você percebe uma energia diferente. Tudo o que vi e senti serviu de inspiração para a criação do conceito do meu próprio oásis urbano. Terminadas as viagens, veio a procura pelo imóvel. Depois de dois anos e meio, Fernanda achou o lugar certo e ali demoliu uma casa para construir outra no lugar. —Escolhi o arquiteto Mario Figueroa, que projetou tudo sob medida para abrigar o Aigai. A construção, que tem 1.200 metros quadrados, durou um ano e oito meses, mas tudo foi feito sob medida. Precisava materializar um oásis no meio de São Paulo e blindar quem entra aqui. De dentro, elas só conseguem ver o céu e as árvores. A experiência de bem-estar é vivenciada antes, durante e após as terapias. A pessoa pode ficar nos lounges quanto tempo quiser — explica Fernanda. Na fachada, uma caixa de concreto ripado emoldura um grande painel cerâmico, pin- tado à mão especialmente para o projeto, e um extenso jardim vertical, com mais de vinte variedades de plantas com diferentes formatos, texturas e tonalidades. Também chamam a atenção as pérgulas de muxarabi, que remetem às janelas de palácios árabes. Depois de passar pelo vestiário, se chega aos pátios internos, confortáveis espaços de espera e relaxamento, com muitos espelhos d’água. Aliás, a água está presente em quase todo canto. São sete salas de tratamento, sendo seis no térreo e uma mais reservada no segundo piso. AYURVEDA E UM HAMMAM O menu de rituais é enxuto. São nove massagens, além de esfoliação e banhos terapêuticos. Uma das que mais faz sucesso é abhyanga, que combina o uso abundante de óleo vegetal aquecido com movimentos suaves, longos e contínuos. Surgiu há sete mil anos, na Índia, com a medicina ayurvédica. Outra terapia diferenciada é a Balinesa, tradicional na Indonésia, que combina movimentos precisos e profundos, ativando e equilibrando os pontos de energia do corpo com movimentos suaves e relaxantes. Mãe de três meninos e casada há 13 anos, Fernanda diz que quase metade da clientela é formada por homens. No segundo andar, fica o My Spa, uma área que conta com uma sala de massagem para uma pessoa ou para um grupo maior. O acesso pode ser por uma entrada exclusiva, para grupos ou clientes que não querem ser vistas. Até agora, só Naomi usou deste artifício. Além disso, o local tem uma piscina climatizada. Nesta área, outro luxo é a sala para o hammam, ritual ancestral no qual, após ficar alguns minutos em um ambiente aquecido a vapor d’água, a pessoa segue para uma sala contígua, quente e úmida (e coberta de lindos ladrilhos), onde se deita sobre um bloco de pedra para passar por uma esfoliação, seguida por um banho. A pressão e a temperatura de vários jatos d’água são regulados para promover um relaxamento intenso. Tem também o Vertical Shower (banho com dispositivos que combinam pontos de saída de água sobre a cabeça, ombros e coluna). Se a fome bater, é só pedir o menu gourmet, que inclui desde sanduíches e sopas — para alimentar e confortar — a vinhos e cafés, para relaxar e despertar. l ACIMA, o lounge do primeiro piso, com teto de muxarabi. Abaixo, uma das seis salas de massagem do térreo. Ao lado, área comum com jardim vertical 6 l O GLOBO OS BALCÕES floridos da cidade amuralhada de Cartagena estão por todos os lados Sábado 2 .4 .2016 MUITA COR e muitos vendedores ambulantes pelas ruas MAR CARIBENHO a um curto passeio de barco A PEQUENA CARTAGENA TEM UM POUCO DE TUDO O QUE É BOM: GASTRONOMIA, LUXO, MODA, ARTE, DESIGN, MÚSICA E PRAIAS CARIBENHAS E FICA LOGO AQUI DO LADO... LÍVIA BREVES [email protected] C -CARTAGENA DAS ÍNDIAS, COLÔMBIA- artagena é amarela. É azul-caribe. É ainda de todas as cores que as frutas, as flores, os vestidos das palenqueras e as bolsas Wayuu podem ter. Destino de gypsetters, a cidade ainda tem hotéis e restaurantes para aqueles que só querem saber de muito luxo. FOTOS DE LÍVIA BREVES PALENQUERAS são clássicas na cidade e vendem frutas docinhas La Vitrola: tradicional, concorrido e, para os mais animados, com música ao vivo. O restaurante com inspiração cubana, fica em uma casa amarela com sacadas floridas. (+57 5) 660 0711 La Mulata: o melhor custo benefício da cidade. Pratos típicos e fartos, sem releituras e saborosíssimos. Cada dia da semana tem suas sugestões e todos são sempre clássicos locais. É ponto de encontro entre moradores e turistas. (+57 5) 664 6222 Tcherassi Hotel: foi em um casarão de 250 anos que a estilista Silvia Tcherassi resolveu abrir o seu hotel, que também tem um ótimo spa e o restaurante italiano Vera. tcherassihotels.com Don Juan: está sempre cheio e o motivo é claro: comida ótima e ambiente elegante na medida. Como a maioria dos restaurantes da cidade, é preciso fazer reserva e regatas e bermudas não são bem-vindas. donjuancartagena.com Sofitel Legend Santa Clara Cartagena: talvez seja a hospedagem mais sofisticada da cidade amuralhada. O restaurante El Claustro, aberto do café da manhã ao jantar, é ótimo. sofitel-legend.com/cartagena Mila Cafe & Patisserie: ótimo café da manhã, com diversas opções de sanduíches, ovos, shakes e sucos. O ambiente é super simpático. mila.com.co Casa Quero: pequeno e charmoso, este hotel butique é ideal para quem prefere um clima mais descontraído e super aconchegante. hotelcasaquero.com Palanqueras: elas são o cartão-postal da cidade, mas vá além da foto e prove suas frutas tão frescas e docinhas. Nem o abacaxi tem o mesmo sabor do nosso. Experimentar manga verde com sal pode não ser a coisa mais gostosa do mundo, mas esta é uma das comidas de rua que os locais mais gostam, junto com as arepas quentinhas. St Dom: a multimarcas com uma curadoria espetacular tem roupas, acessórios, peças de design, móveis, livros e zines de nomes colombianos. Tudo é incrivelmente bem selecionado e disposto na loja de 700 metros quadrados. stdom.co Artesanías de Colombia: absolutamente todas as peças artesanais do país estão ali em sua melhor versão. Da cestaria Guacamaya às cabeças de madeira de Barranquilla, mais que uma loja, o endereço é quase um museu para se inspirar na arte da Colômbia. artesaniasdecolombia.com.co Abaco Libros y Café: café com livraria simpático para começar o dia, ter um refresco do sol da tarde ou para conhecer publicações locais. abacolibros.com El Gobernador by Raush: restaurante dos irmãos Rausch, os mesmos do famoso Criterion, em Bogotá. Fica dentro do hotel Bastión e é o tipo de restaurante para ir bem arrumado. Am- me, o restaurante é sofisticado e tem uma carta de drinques ótima, com ousadias na medida. Bom até mesmo para petiscar com boas bebidinhas de tarde, depois do almoço e antes do jantar. (+57 5) 664 1779 biente sisudo e sóbrio. bastionluxuryhotel.com La Cevicheria: descontraído, saboroso e badalado. É preciso fazer reserva nos jantares, até mesmo para as mesinhas que ficam na rua. No cardápio, adivinha, ceviches de tipos variados. lacevicheriacartagena.com Juan del Mar: o restaurante tem um pátio interno acolhedor e frutos do mar bem feitos. Muitos tartares fresquinhos, peixes assados e opções de risotos. juandelmar.com Carmen: fica dentro do hotel Boutique Anandá. Ambiente delicioso, com vista e cobertura aberta. Como todo o bom restaurante de Cartagena, os peixes são as melhores opções. carmencartagena.com El Kilo Marisquería: não se deixe levar pelo no- Getsemani: do lado de fora da muralha, a cinco minutos a pé, está o bairro, que, no passado, era onde ficavam as casas dos escravos. É uma ótima para badalar à noite. Lá ficam o Café Havana (cafehavanacartagena.com) e o Quiebra Canto (quiebracanto.com), dois endereços com bons shows de salsa. Com bares descontraídos e menos turistas típicos, é um passeio para ser feito toda noite por quem quer animação. San Pedro de Majagua: Há duas maneiras de aproveitar este hotel na praia caribenha das Ilhas del Rosário, arquipélago que fica pertinho de Cartagena. Você pode se hospedar lá ou fazer um bate e volta com day use. Ambas são ótimas opções para relaxar na praia de água azul esverdeada. hotelmajagua.com l Sala de Jantar Belle CASASHOPPING BL. C - 2º PISO • 3329-3080 maisondesign.com.br OGLOBO SÁBADO 2.4.2016 oglobo.com.br UM ITALIANO NO BAR SIMONE CAPORALE FAZ DRINQUES PARA MEXER COM OS SENTIDOS. PÁGINA 4 E DEUS SALVE A RAINHA UM BANQUETE BRASILEIRO PARA OS 90 ANOS DE ELIZABETH II. PÁGINA 6 SERGIO COIMBRA Felipe é uma brasa, mora? Prestes a abrir o novo Oro, no Leblon, o chef busca o equilíbrio entre o tradicional e o moderno, de olho no primitivismo do fogo e no conforto da comida de casa. Páginas 2 e 3 2 l O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 A FACHADA do novo Oro, no Leblon: muitas texturas, verde e luz natural Luiz Horta FOTOS DE MÔNICA IMBUZEIRO Sob a sombra do vulcão A cordei acronicado, sem vontade de escrever sobre taninos e retrogosto, com um desejo de contar casos apenas. Acho que o calor me deixa reflexivo (ou sonolento). Formas educadas de dizer: preguiçoso. Uma parte peculiar deste trabalho bem esquisito que exerço é a da obrigação de beber em serviço. E almoçar e jantar mais que gostaria. Estou me queixando de barriga extremamente cheia. É compulsório comer com as gentes do vinho, produtores, agricultores, aristocratas e plebeus. Passo mais tempo ouvindo, faço uma pergunta eventual e tento não afundar enquanto navego na piscina vinífera sem bordas. Houve um ano, quando o mercado brasileiro ainda crescia furiosamente, e o Brasil entrou numa enomania, que tinha degustações diárias, passava mais tempo à mesa de restaurantes que em casa. Nestes anos conheci muita gente corriqueira, ouvi milhares de vezes frases parecidas, “sem uvas sadias não se faz bom vinho” e “o vinho se faz no vinhedo” sendo as top no ranking das repetições. Assisti filmes, projeção de slides e power point sobre vinhedos, cortes de solo, índices pluviométricos e questões comerciais de exportação e importação de fazer inveja a um CEO de banco suíço. Ouvi as perguntas “carvalho francês ou americano?”, “usa leveduras do ambiente?” e “qual a percentagem de Merlot no corte do vinho?” centenas, talvez um milhar de vezes. Ficava com os ouvidos tontos pela repetição. Fim da choraminga. Como todo trabalho tem grandes recompensas, no meu as líquidas são as óbvias, uma lista grande de garrafas extraordinárias que nunca beberia de outra maneira. Não cabe contá-las todas, mas sintetizo no Tondonia Gran Reserva 1964 branco, que os gentilíssimos Julio César López de Heredia e senhora trouxeram na mala para beber comigo. E um Quinta do Noval Nacional 1963 de torna viagem (que foi exportado e voltou) bebido na própria Quinta. Umas noites passadas sozinho no Château Pichon-Baron (com a chave da porta!) ficam nas boas lembranças também. Mas as supresas humanas, os personagens especiais, é que são o bônus, pois vinho é feito por pessoas e há uma grande qualidade em boa parte delas (ou dou sorte, não sei). Como estou ficando velho, tenho um direito avoengo de contar histórias (ainda não alcancei meu sonho, ser ancião suficiente para bater a bengala em carros que buzinam na rua, como velhinha francesa grunhidora). E D Vinho e história são poeticamente sinônimos, pois vinho lida com a passagem do tempo Dia destes voltei a beber o Villa dei Misteri da Mastroberardino. Piero Mastroberardino foi um dos primeiros produtores que gostei de entrevistar, mais de uma década atrás. Quando cheguei ao saguão do hotel, esperando encontrar um exuberante aristocrata italiano (já tinha uma lista de pavões bem exibidos no currículo), encontrei um afável sociólogo de paletó de tweed e colete, mais parecido a um professor universitário escrevendo sua tese que um agricultor. E ele é mesmo acadêmico e o Villa dei Misteri é uma espécie de sua tese. Vinho e história são poeticamente sinônimos, pois vinho lida com a passagem do tempo, alguns precisam envelhecer, alguns “ficam prontos” como se diz no jargão, em décadas. Todo vinho, mesmo o mais simples, tem uma conversa séria com o calendário. Como nas garrafas que citei antes, a idade foi decisiva para sua completa expressão. O Villa dei Misteri talvez seja o único caso de vinho recente mas com débito tão grande com o passado. Pompeia, a cidade destruída pelo Vesúvio no ano 79 (permito o oxímoro, “congelada pelo vulcão”, pois os gestos e atos que aconteciam no momento da catástrofe, ficaram parados no ar, conservados sob 6 metros de cinza vulcânica, que lentamente e cuidadosamente é retirada pelos arqueólogos) tinha vinhedos, produzia vinho. Nos anos 70, surgiu a ideia de recuperá-los, ver como eram, o que se fazia na vinicultura de 2 mil anos atrás, projeto que só se concretizou na década de 1990. Hoje, estamos num momento de fascínio pelo artesanal, ânforas, formas ancestrais de vinificação, recuperação de uvas autóctones. Teria sido mais fácil propor agora o que a família Mastroberardino começou quase 50 anos atrás. Replantar variedades que pesquisas ampelográficas, testes de DNA em sementes achadas nas cinzas, mostravam como as possíveis originais, no exato local em que havia vinhedos, menos de 1 hectare, um quintalzinho, que rende 1500 garrafas em cada safra. As castas usadas são a Piedirosso e a Sciascinoso. Mastroberardino, que é representado no Brasil pela importadora Mistral, tem outros envolvimentos com a história antiga, o Naturalis Historia homenageia Plínio, o velho, o verdadeiro homem que comeu de tudo da Antiguidade. Estou mantendo o suspense intencionalmente, todo mundo quer saber, afinal, que gosto tem este vinho pompeiano. É elegante, muito aromático, com um cheiro sedutor de pinheiro, especiarias, resina, couro. Longo e saboroso, faz lembrar um vermute, com algo cítrico na boca (isto é um elogio, gosto muito dos bitters em geral). Não é um vinho difícil ou inabordável, como costumam ser as teses. É para beber. Se não soubesse tudo que envolveu sua produção, já o elogiaria pela dignidade e altivez, concentrado com fluidez. A minha garrafa era de 2005, sorvida com uma ponta de orgulho e alguma melancolia. ‘Vou me divertir com o fogo’ ELÍVIA BREVES / [email protected] D F elipe Bronze mudou. De endereço: está prestes a abrir o EOro no Leblon. D De estilo: não vai mais preparar pratos pirotécnicos. De direção: agora caminha em busca do primitivo. Na cozinha do novo restaurante na esquina da Avenida General San Martin com General Venâncio Flores, um trio de equipamentos quentíssimos: uma parrilla, um yakitori japonês e um forno de carvão. — Ter brasa foi a minha primeira e principal decisão. O conceito foi formado em cima disso. Todos os meus pratos passarão pela brasa. Até mesmo as sobremesas — avisa o chef, que durante cinco anos comandou o primeiro Oro usando muito bem o nitrogênio líquido. Tanto que ganhou uma estrela Michelin. A fase das surpresas mirabolantes à mesa ficou para trás. Felipe quer fazer uma cozinha focada no sabor, sem pegadinhas moleculares. — Não vou mais criar pratos que precisem de explicações. As pessoas reconhecerão o que estão comendo — garante, e continua. — Gosto de esgotar limites. Em cinco anos, fui a fundo na técnica. Agora, vou me divertir com o fogo. Farei uma cozinha de produto. Vou parar de subverter texturas. A necessidade de mudança veio à tona junto com algumas comemorações: Felipe completou 38 anos na semana passada e, este ano, soma duas décadas de carreira. Além disso, este restaurante é o primeiro em que ele é o proprietário. O enfant terrible ajuizou-se. — Antes eu pensava demais. Queria mostrar a minha criatividade o tempo todo. Estou diferente: agora, quando a comida está gostosa, está pronta — diz, e enfatiza. — Quero simplificar a minha vida e a das pessoas que comem no meu restaurante. Mas vou manter o mesmo olhar estético para o que sirvo. Simples assim. FELIPE, entre o sous-chef Rodrigo Guimarães e a sommelier Cecilia Aldaz, e a equipe ao fundo Editora: Renata Izaal. Diagramação: Lígia Lourenço. E-mail redação: [email protected] Redação: 2534-5000. E-mail publicidade: [email protected] Publicidade: 2534-4310. Correspondência: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. Cep: 20230-901. O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 l 3 BATATA-VIOLETA, repolho kimchee e baroa: tudo com o croc da brasa TEMPURÁ do dia e purê de limão com lula braseada com aioli No menu do Oro que abrirá este mês, estão de fora pratos como a carne de sol no pó gelado de manteiga de garrafa; o gazpacho nitrocongelado; a cavaquinha com baru e espuma de coco; o tartare de mignon com gema de parmesão e fumaça de churrasco; a costela de boi 36 horas servida com espuma de leite de castanhas e trufas. Entram o porco com missô, bok shoy e maçã verde; o crustáceo com creme de pistache e alcachofra; o arroz com chorizo pata negra, anchovas e cebolas tostadas; e o pescado com tahine de castanhas cruas, couve-flor tostada e picles de maxixe. — A parte mais criativa ficará nos snacks, que eu já preparava antes e vou manter no novo Oro — adianta Felipe, que lista a pururuca de vieiras e minimilho, com crocante de galinha caipira e caldinho de feijão e o dim sum de rabada e miniagrião com empanada de milho doce como os novos petiscos. — Eu vou criar novidades sempre, mas esta não é mais a minha principal finalidade. A surpresa como fim não me interessa mais. Não quero mais chocar as pessoas. Serão duas maneiras para conhecer o novo cardápio. A opção Criatividade (R$ 320 ou R$ 495 com harmonização), um menu degustação com cinco pratos preparados com ingredientes do mercado, mais os snacks e as sobremesas. E a Afetividade (R$ 215 ou R$ 335 com harmonização), com os mesmos “bocadinhos para despertar os sentidos”, dois pratos à escolha do cliente e os doces. — Nos dois menus, os snacks serão iguais. Este início é a essência do Oro, quando mostramos a nossa criatividade, a vanguarda estética e uma combinação inusitada e saborosa de ingredientes — explica o chef, e continua. — Achei necessário montar uma opção mais curta para que as pessoas não sejam obrigadas a comer um longo menu degustação. Reconheço que nós, chefs, às vezes, exageramos na imposição de menus fechados. Este movimento de abandonar as tecnologias contemporâneas para voltar ao fogo ancestral FOTOS DE SERGIO COIMBRA PURURUCA de vieiras e minimilho foi acontecendo aos poucos. Primeiro, o chef percebeu o que gostava de comer em casa, com os amigos e a família. Aos fins de semana, Felipe prepara churrascos. Com direito a couve-flor assada com raspinhas de limão. — Senti necessidade de colocar essa sensação dentro do restaurante. Fazer isso parece óbvio, mas não é. Levarei esse sentimento para a cozinha, mas com o olhar e a técnica de um cozinheiro profissional. Para isso, tive que criar um caminho do meio, entre o moderno e o primitivo. E a harmonia entre os opostos será a minha vanguarda. Mas, um alerta: não vou abandonar o cozimento à vácuo e posso usar nitrogênio, sim! — avisa ele, e esclarece: — A nossa linha é a criatividade com afetividade. Albert e Ferran Adrià definiram muito bem isso como “tecnoemocional”, um nome horroroso, mas perfeito. DISPENSANDO EXPLICAÇÕES Outra inspiração foi o próprio Pipo. Felipe notou que, como cliente, gostava mais de frequentar o seu boteco descontraído do que o seu restaurante sofisticado. — No Oro antigo, eu obrigava as pessoas a comerem de uma certa forma, experimentar tantos pratos, numa ordem tal e tudo precisava de legenda. Hoje me pergunto: será que interessava ao cliente aquela explicação enorme? Acho que não. No Pipo, tal explicação não existe. Por isso, exportei essa simplicidade totalmente necessária ao Oro — admite ele, que, nos próximos meses, reabrirá também o gastrobar, dessa vez no Fashion Mall e com projeto de Bel Lobo. O coração da antiga equipe continuará ao lado de Felipe, como Rodrigo Guimarães, braço direito e que criou o novo menu junto com Bronze, e Cecilia Aldaz, sommelier das melhores e mulher do chef. Ainda terá o plus do barman Rod Werner. — Trabalharei com pouca gente dessa vez. Quero ter um time juntinho, azeitado. Todos olhando para o mesmo lugar e com execução afi- nada. O processo de criação dos pratos é feito levando em conta a opinião de todos. Eu e Rodrigo fazemos vários testes, trazemos nossas ideias e experimentos para construir um novo prato. Apesar de estar prestes a abrir um Oro bem diferente do anterior, Felipe garante que este será um restaurante que reunirá um pouco de cada cozinha por onde passou. Todas as experiências ajudaram a formatar a sua nova cozinha. Ele lembra, por exemplo, que lá atrás, no Zuka, os preparos já eram baseados na brasa. No antigo Oro, um yakitori foi instalado no telhado e era usado para grelhar o tutano e transformá-lo em espuma. Mas sua bagagem tem ainda influências japonesas, espanholas e argentinas colecionadas por passagens pelo Sushi Leblon, Zuka, Z Contemporâneo, Mix, hotéis Marina, além da modernidade tecnológica do Oro e do despojamento do Pipo. — Só consegui chegar a conclusão de que o fogo será a minha impressão digital por ter vivido estes momentos anteriores. Eu metabolizei todo o meu caminho e transformei ele na minha nova cozinha. Além do mais, tenho uma relação afetiva com ligar o fogo. Juntar o carvão, a palha, riscar um fósforo e sentir o aroma da queima me traz a sensação de que estou realmente cozinhando, em sua mais profunda natureza — reflete o chef, que pretende manter a renovação permanente da sua cozinha. — Sou inquieto, estou em constante evolução e isso é ser vanguardista. Posso mudar o meu foco a qualquer hora. Do projeto, assinado por Eduardo Novaes, às louças, garimpadas em lojas especiais e viagens ou encomendadas em ateliês, Felipe opinou em tudo e nem um detalhe lhe escapou. Os móveis são todos de designers brasileiros, como Zanini de Zanine e Irmãos Campana. Nas paredes, um painel enorme de Laercio Redondo, uma serigrafia do Rio Antigo em homenagem a Debret, fotografias de Sérgio Coimbra (que assina a foto de capa desta edição) feitas para o livro “Felipe Bronze — Cozinha Brasileira de Vanguarda” e um quadrinho com o desenho que os grafiteiros OsGemeos fizeram para ele. — Este restaurante será a extensão da minha casa. Estou trazendo várias coisas de lá, aliás — comenta ele, que colocou uma jabuticabeira flutuando no meio do salão. — Tive cuidado para escolher móveis que formassem um ambiente bem tátil, com texturas. Nada é aleatório. Cada mesa forma um nicho: pode-se comer no balcão, em uma mesa de onde se observa todo o salão, na mesa da adega, em uma bem discreta ou em uma redonda intimista. O clima é de brasilidade contemporânea. São 35 lugares no primeiro piso e um bar no segundo, que servirá uma coquetelaria moderna e clássica com frutas brasileiras, infusões, gelos especiais e preparo de 100% dos produtos, desde a água de tomates aos refrigerantes da casa. GAROTO DO LEBLON O endereço da casa também faz todo o sentido para Felipe. Estar no Leblon, bairro onde cresceu e vive até hoje, é um sonho antigo. Tanto que, apesar de ter planejado lançar o restaurante de Miami antes deste (o projeto continua de pé, só será mais adiante), a chance de pegar o ponto onde ficava o Juice & Co foi irresistível. Colocou a agenda de planejamento de pontacabeça e abriu no Rio antes. — Foi por acaso. No fim do ano passado, um amigo que não via há anos me ligou perguntando se eu não queria comprar o local. O ponto é a minha cara: alto, claro, com parede de vidro. Fechei o negócio antes mesmo de saber o valor, tamanha era a afinidade que tive. Vou à praia aqui na frente há 20 anos, conheço o jornaleiro, os atendentes das padarias. Eu não abriria um restaurante imediatamente se não fosse por esta casa — diz Felipe, que continua com uma animada agenda de gravações com os programas “Que seja doce” e “The taste Brasil”. Felipe é realmente um espalha-brasas. 4 l O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 O às dos Pedro Henriques Devemos muito aos italianos A culinária italiana talvez seja a que mais influenciou o surgimento de restaurantes no Rio de Janeiro. E é ela que, por nacionalidades, agrupa o maior conjunto de bons estabelecimentos da cidade. Por causa da maciça migração para as Américas, iniciada no último quarto do século XIX e motivada pela unificação da Itália e pelo começo do processo de industrialização, milhares de italianos vieram tentar a sorte no Brasil, e uma parte oriunda de centros urbanos optou por viver no Rio. Com isso, as massas, as pizzas, as sopas e os embutidos incorporaram-se à dieta caseira dos cariocas. Inicialmente, os restaurantes italianos reproduziam as receitas domésticas dos imigrantes, sem pretensão gastronômica, o que, aliás, ninguém tinha à época no país. Os restaurantes eram extensões das macarronadas familiares de domingo e espaços de congraçamentos, onde não se escrutinava a comida. Ia-se a restaurantes pelo programa de se reunir e celebrar, com parentes e amigos, fora de casa, e não para vivenciar experiências culinárias. Instalados na segunda metade dos anos 50, o La Fiorentina e o La Mole ainda refletem esse espírito do passado, onde a qualidade das refeições importa menos do que a memória afetiva dos lugares. Diversos são os ristorantes, trattorias, cantinas e osterias, além das pizzerias, que cumprem a mesma função de atiçar prazerosas reminiscências. Assim como a portuguesa, a comida italiana está, culturalmente, vinculada ao paladar dos cariocas. O curso evolutivo dos restaurantes da cidade melhor se expressou, quando por aqui aportaram os italianos Angelo Neroni, Danio Braga e Luciano Pollarini, com os seus respectivos e saudosos Grottammare, Enotria e Arlecchino, e incutiram outro padrão à cena gastronômica. Danio e Luciano também foram responsáveis pela intromissão de excelentes vinhos à mesa, o que ajudou a estabelecer a bebida como acompanhante civilizada dos pratos, ao invés do despropositado uísque. Em 1983, o italiano Miro Leopardi criara o Satyricon, que, no entanto, só deslancharia posteriormente. Após a senda aberta por eles, surgiram casas com propostas afinadas; embora só se tenha alcançado um nível, realmente, incomum, quando Danio Braga inaugurou o Locanda Della Mimosa, em Itaipava. De lá para cá, abriram-se e se fecharam algumas firmas habilitadas gastronomicamente, como o Gibo, o Terzetto, o original Quadrifoglio etc. Outras tantas não chegaram a cerrar as portas, como o Margutta, mas já não ostentam as credenciais distintas de outrora. E D A maioria dos restaurantes italianos do Rio cumpre o papel rabiscado no passado. Hoje, a maioria dos restaurantes italianos do Rio cumpre o papel rabiscado no passado; são ambientes simpáticos de comidas medianas. Poucos atingem gabaritos superiores e se inserem no catálogo das seletas casas da cidade. A saber; Alloro, D’Amici, Duo, Fasano Al Mare, Gero e Satyricon. Pela sua trajetória, o Cipriani certamente faz parte deste time. Como não o visitamos há tempos, preferimos não o valorar por lembranças inatuais. Grosso modo e sob o risco de equívocos circunstanciais, podemos sintetizá-los por certas características. O Alloro tem bons risotos e polentas, um cordeiro digno e vinhos apropriados, mas carece de inspiração no trato dos elementos marítimos. As presenças do chef Luciano Boseggia, dos maîtres Ary e Valney e do sommelier João Pedro Lamonica adicionam. No Duo, a assinatura de Dionísio Chaves na carta de vinhos é um ativo. As entradas de mar e as massas também são estimulantes. Elegante e profícuo é o desfile de Nicola Giorgio pelos salões. As carnes, contudo, não acompanham a média. Os restaurantes da família Fasano — os Geros (Ipanema e Barra) e o Fasano Al Mare — exibem como marca as massas, as entradas de frutos do mar e as polentas. As carnes são voláteis; ora encantam, ora ficam aquém. Nos Geros, a onipresença do maître-gerente Alves assegura um serviço mais cuidadoso, mas os doces precisam de renovação. No Fasano Al Mare, o chef Paolo Lavezzini é o cara. Em todas as três casas do grupo, a oferta de vinhos já foi mais criativa e excitante. O reconhecimento do Satyricon assenta-se sobre a variedade e o frescor dos seus frutos do mar. Nesse quesito, é imbatível. Os acompanhamentos, entretanto, são convencionais, o que, em geral, debilitam os pratos. As sobremesas não somam. Entre os vinhos, há boas alternativas. O D’Amici também tem nas sugestões de mar os seus melhores predicados. E uma paleta de cordeiro memorável, embora já tenha impressionado mais. Fraqueja nos acompanhamentos e na carta de vinhos despersonalizada. Não se destaca nas sobremesas, mas oferece um dos tiramisús mais corretos da cidade. É Antonio Salustiano, porém, o ponto mais alto do lugar, que quase nunca decepciona, mesmo quando não arrebata. Em comum, esses restaurantes praticam preços caros, sendo que os da família Fasano e Satyricon exorbitam; este, inclusive, cobra, separadamente, por certos “contornos”. Uma vergonha. Há outros restaurantes reverenciados no Rio, como alguns franceses e contemporâneos. Os italianos, contudo, destacamse pelo volume e pela história de relação com a cidade. A eles, aos grandes de hoje e de ontem, devemos a nossa inserção mais consistente no maravilhoso universo gastronômico. drinques ELUIZA BARROS/ [email protected] D C om clientes como Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, o Ebartender italiano D Simone Caporale é também uma celebridade. Depois de ganhar fama no Artesian, eleito quatro vezes o melhor bar do mundo, ele roda o planeta em busca de novos sabores. REPRODUÇÃO O ITALIANO Simone Caporale: mexer com sentidos é chave para garantir drinques inesquecíveis Uma das primeiras lembranças de Simone Caporale é a de beber água tirada por seu pai de uma das fontanas de sua Itália natal. — Lembro de sentir as mãos dele, e dos meus lábios. Isso não sai da minha cabeça, e estou pensando nisso para um coquetel. Eu sei que é doido — recorda o bartender de 29 anos, nascido em Como, na Lombardia, após se esquivar de me dizer qual é o seu drinque favorito. Quando, ao invés disso, peço por uma memória marcante, ele prefere a simplicidade da água limpa aos coquetéis que lhe garantiram fama e sucesso antes de chegar à casa dos 30. Talvez porque, para o italiano, vencedor do prêmio de barman do ano da premiação Tales of the Cocktail em 2014, as memórias e os sentidos aos quais eles remetem sejam os elementos mais fundamentais de seus drinques. — A inspiração vem de tudo que é lugar. Talvez um coquetel seja reflexo de uma história minha, uma viagem, um lugar. Todas essas coisas importam para mim. O método deu certo até aqui: ao lado do seu mentor, Alex Kratena, Simone garantiu ao Artesian, no luxuoso hotel The Langham, em Londres, o título de melhor bar do mundo, quatro vezes seguidas. Na última premiação, em outubro do ano passado, ele e Kratena entregaram as cartas de demissão horas antes da cerimônia, para, como descreveu a imprensa especializada, “sair no auge”. A dupla promete inaugurar um “espaço multidisciplinar” em Londres em 2017, que reunirá, além de barmans, outros criativos em busca de coquetéis excepcionais. — O Artesian é um bar clássico, de um hotel cinco estrelas — comenta. — E você sabe que num hotel clássico sempre recebe a mesma coisa. Um dia começamos a questionar isso e começamos a mexer com os sentidos. Porque com quantos mais sentidos você consegue mexer, mais vai lembrar das experiências. Essa explicação fica mais fácil de entender, evidentemente, provando um dos drinques de Simone, como alguns cariocas sortudos fizeram esta semana no Paris Bar, no Flamengo. A convite do amigo Alex Mesquita, residente da casa, ele apresentou criações como o Cherry Blossom (receita ao lado) e o GinZen, que deve ser degustado após o apreciador inalar uma infusão servida dentro de um balão de ar. Já no Artesian, uma de suas cocriações mais memoráveis foi o menu surrealista, inspirado no movimento artístico do começo do século XX. Só para imple- mentar a carta, renovada anualmente, foram gastos US$ 200 mil, segundo Simone. — O surrealismo apresentou filmes, pinturas e molduras. Nós pensamos em como seriam os coquetéis — explica. Sem ter mais que bater ponto, o italiano agora está fazendo o que qualquer pessoa sensata na sua situação faria: dando a volta ao mundo, conhecendo gente e novos sabores. Quando conversamos, na terça-feira, ele havia acabado de chegar da Coreia do Sul. Algumas semanas atrás, estava no Peru, desbravando as frutas da Amazônia. — Sou muito apaixonado pelos ingredientes da América do Sul. Do Brasil, adoro cupuaçu, caju, carambola e a mucilagem do cacau — diz ele, que vê a floresta como um “Eldorado” da criatividade — Há muitas criações que já foram feitas, mas 80% delas foram com ingredientes da Europa. Por isso que eu adoro a Amazônia. É um mundo dentro de outro mundo. Recentemente, Simone também encontrou um espaço na agenda para comandar uma festa surpresa para Leonardo DiCaprio, após o astro ganhar seu primeiro Oscar de melhor ator, em fevereiro. Apesar de ter feito um drinque especial para a data, ele garante que isso não fez diferença para Leo, que recebeu 150 amigos, entre eles Quentin Tarantino e Lenny Kravitz. — Uma pessoa que ganha o Oscar depois de esperar 20 anos por isso está tão animada que não vai conseguir degustar nada. Você podia entregar um celular que ele comeria como se fosse uma torrada — brinca o barman, que, despretensioso, diz preferir a vida noturna da Lapa às baladas de Hollywood e recusa o título de mixologista, palavra da moda para designar quem faz drinques. — É um nome fresco que, para mim, não faz sentido. Quando você pergunta qual é a diferença entre isso e um bartender, ninguém sabe dizer — critica ele, que começou a carreira aos 15 anos, clandestinamente, como uma forma de descolar uma grana durante as férias. — Pela lei, eu podia trabalhar no bar fazendo sucos e cafés, mas não servindo álcool. Então, eu fazia os drinques, mas sem o uniforme da equipe, como se fosse um cliente — conta ele, que tem entre as memórias mais engraçadas do começo da profissão um encontro com Robert De Niro. — Perguntei para um senhor se nunca tinham dito que ele parecia com um ator de cinema. Ele falou: “É mesmo?”. Só depois me contaram que era o próprio. Eu era ingênuo. JOSE RENATO ANTUNES CHERRY BLOSSOM SERVE 1 DOSE • INGREDIENTES • • • • • • 10 ml de rum branco 50 ml de saquê 20 ml de lime 5 ml de yuzu 20 ml de cherry purée 1 dose de Tonka bitter • Coloque todos os ingredientes dentro de uma coqueteleira • Bata com muito gelo • Coloque em um copo com muito gelo também O GLOBO Façam as suas apostas l 5 REPRODUÇÕ ES Sábado 2 .4 .2016 Vem aí o guia Michelin Rio e São Paulo 2016, com lançamento no próximo dia 28, no Copacabana Palace. Michael Ellis, diretor internacional dos guias, dá o seu aval: a cozinha brasileira amadureceu, e as duas cidades são hoje referências gastronômicas no mundo. Na edição de estreia, porém, nenhum restaurante local ganhou a cotação máxima, as três cobiçadas estrelinhas. O D.O.M chegou perto, com duas, e os cariocas Olympe, Lasai, Oro, Fasano al Mare, Roberta Sudbrack, Mee e Le Pré Catelan mereceram uma estrela cada. “Os inspetores não levam em conta se o restaurante está na moda, se a cozinha é local, internacional ou exótica. O que está em jogo é a qualidade do que está no prato”, diz Ellis. Na torcida! LUCIANA FRÓES SELMY YASSUDA RODRIGO AZEVEDO Embarque imediato A noite vai ser boa O Maria Panela (tem nome mais simpático?) é novidade das boas pelas águas de Paraty: a escuna, linda, adentra o outono fazendo um tour pelo Saco de Mamanguá, com suas 33 praias e 8 comunidades caiçaras. E se lança “al mare” carregada de finas iguarias a bordo, obra do chef belga Bertrand Materrne, que programa almoço no meio tarde, sem pressa nenhuma. Peixe fresquinho no sal grosso com ervas, ceviche, camarões, ostras... Tudo vai depender da maré.. Ah, mas o mimo (e bota mimo nisso) é só para os hóspedes da Pousada Literária, no Centro Histórico de Paraty (24-3371-1460). Elia Schramm, do Laguiole, e Kiko Faria, do Brigite´s, dividem as panelas no próximo dia 19. Assinam a quatro mãos um jantar recheado de gratas atrações, já eleitas: gazpacho de caqui com lassi de coco e nibs de cacau; carpaccio de vieiras com salpicão de maçã verde; pescadinha com quinoa, milho verde, vôngole e mexilhão; cordeiro braseado com especiarias, caviar de berinjela defumado, coalhada seca e farofa de gergelim. Só uma provinha. Os vinhos serão escolhidos por Paulo Nicolay. Não tem erro. No Brigite’s, Leblon (2274-5590). Outono, em Búzios Fotos Marcos Pinto BRUNO DE LIMA PORQUE É NA RUA QUE O RIO É MAIS GOSTOSO. Os mais deliciosos representantes da famosa comida de rua carioca esperam por você em um evento cheio de sabores, além de atrações musicais e artísticas para toda a família. O evento marca o lançamento do Celebra, Programa de Cultura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Não perca. A chegada do outono anuncia o melhor de Búzios: luz filtrada, cidade (quase) vazia, clima ameno, praias limpas e transatlânticos longe... A chef Joana Gallo dá boas-vindas à estação com menu novo no seu Donna Jô, no Porto da Barra, Manguinhos, de onde se tem o por do sol mais bonito do balneário. Provei ceviche com redução de água de coco e curry e polvo grelhado ao pesto de pistache com nhoque de azeitonas pretas, tomate e manjericão. Memorável (22 2623-6303). Faz bonito Tem de tomate confit com figos e erva-doce e antipasti de berinjela com cogumelos, pimentão com alecrim, cebola roxa no vinho tinto. Você jura (de pé junto) que é da casa. Da sua casa. O rótulo do Legurmê diz que é natural, sem conservante, sem glúten. Eu digo que é bom e que faz um bonito danado. Na Cosa Nostra Deli tem ( 2523-2745). Do acarajé ao sushi. Do tacacá à tapioca. Dos caldos à cocada. Da esha ao angu. Do espetinho ao pão de queijo. E muito mais. 09/04, das 13h às 21h 10/04, das 11h às 20h MAM - Av. Infante Dom Henrique, 85 - Flamengo Entrada gratuita, sujeita à lotação. Patrocínio Realização Curadoria e Produção Executiva Apoio 6 l O GLOBO Sábado 2 .4 .2016 Festade REUTERS Elizabeth ERENATA IZAAL/[email protected] D B abette, que nada! Convidamos três chefs para criar um banquete em Ehomenagem à rainha, D que completa 90 anos no dia 21 de abril. Elizabeth Alexandra Mary é a monarca mais longeva da história do Reino Unido. Desde sua ascensão ao trono, em 6 de fevereiro de 1952, já ofereceu numerosos banquetes e foi homenageada em outros tantos. Para o aniversário de 90 anos da rainha, o ELA GOURMET criou uma deliciosa ficção: “e se Elizabeth II viesse ao Brasil, quais os sabores que apresentaríamos a ela?”. Três especialistas em festas — o Cooking Buffet, de Adriana Mattar e Ana Cecília Gros, o Buffet Monique Benoliel e o chef Frédéric de Maeyer, do Eça — montaram um banquete brasileiríssimo para Elizabeth II (confira os três menus abaixo), que inclui ingredientes como jabuticaba, goiabada, pupunha e batata-baroa. Será que ela aprovaria? Da ficção para a realidade, o que sabemos sobre o paladar da rainha não é muito, já que o Palácio de Buckingham zela pela privacidade da família real. Mas, em se tratando dos Windsor, há sempre um ex-fiel escudeiro que, depois de trocar de emprego, entrega-se a pequenas inconfidências. Elizabeth II tem 20 chefs ao seus dispor. Em um caderno, a monarca anota desejos, pedidos especiais, elogios ou reclamações sobre algum prato. Consta que ela escreve todas as manhãs. Quanto rigor! EARL GREY E GIM DUBONNET Dizem que Elizabeth é uma mulher de gostos simples. No café da manhã, come cereal com iogurte e adora geleia. Gosta de ovos mexidos ou fritos, mas faz questão que sejam caipiras. Vez ou outra, ela pede o clássico francês oeufs en cocotte. A bebida é chá, of course. A rainha já afirmou publicamente que o seu favorito é o Earl Grey, mas reza a lenda que a Fortnum & Mason criou a versão defumada do blend a pedido dela. Verdade ou não, o Smoky Earl Grey é um dos chás mais vendidos da casa. Antes do almoço, ela bebe rigorosamente uma dose de gim dubonnet, o coquetel que tam- bém era o favorito da rainhamãe. Aliás, parece que as duas sempre preferiram o gim ao vinho. Talvez seja uma questão de identidade nacional. O 5 o’clock tea é servido pontualmente e, para ela, bastam chá com biscoitos. Elizabeth também não dispensa um bom chocolate. Danadinha... Muito do que é consumido pela realeza é fornecido por centenas de produtores que receberam o Royal Warrant, uma espécie de selo de qualidade conferido pela família real. Nem todos são britânicos, como o champanhe Pol Roger, que foi servido no casamento de William & Kate. Fundamental mesmo é saber que, em um banquete, quando ela acaba de comer, todos devem parar também. Ou seja, na festa de Elizabeth, o negócio é ser rápido! NA WEB GALERIA DE FOTOS oglobo.com/ela Em detalhes, o menu do nosso trio de banqueteiros RAINHA. Elizabeth II prefere gim ao vinho, adora chocolate e só come ovo caipira FRÉDÉRIC DE MAEYER MONIQUE BENOLIEL ADRIANA MATTAR E ANA CECÍLIA GROS CHEF DO EÇA CHEF DO BUFFET MONIQUE BENOLIEL SÓCIAS NO COOKING BUFFET FOTOS DE MÔNICA IMBUZEIRO Fred buscou adequar os sabores brasileiros ao gosto da rainha. — Pesquisei o gosto dela e coloquei alguns toques de brasilidade, usando farofa, batatabaroa, pupunha e bastante fruta. No resto, preocupei-me com o sabor e o visual. Não quis ser radical. Li que ela gosta de queijo de cabra, então fiz uma musse bem leve com vários brotos e picles de legumes. Para a sobremesa, lembrei que a rainha usa sempre chapéus, então criei uma religiosa estilizada coberta com chocolate belga e creme leve de maracujá. O MENU Canapés: blinis com creme de ervas finas, raspas de limão e salmão marinado Chips de baroa com brandade de palmito pupunha e aioli de gengibre Entrada: musse de queijo de cabra, picles de legumes e brotos, vinagrete de beterraba e farofa de azeitona Prato principal: coxa de pato com molho de manga e cítricos, batatas amandines Sobremesa: religiosas com creme leve de maracujá e chocolate belga Monique trouxe referências clássicas da cozinha inglesa, como o salmão defumado, e outras tantas brasileiríssimas. — Pensei nos aromas e nos sabores que uma rainha gostaria de apreciar. Decidi trabalhar com sabores suaves do Brasil e um mix de sabores da Inglaterra. Acho que isso torna a experiência incrível. Se Elizabeth II realmente viesse ao Brasil para conhecer a nossa gastronomia, eu recomendaria a ela o nosso sorvete de açaí, o pirarucu, o pato no tucupi e a bolinha de tapioca. O MENU Entrada: carpaccio de carne de sol com lascas de queijo coalho e mel de rapadura Haddock em lâminas com molho de limão Salmão defumado com tartare de abacate e caviar mujol Prato principal: peixe ensopadinho, farofinha do Pará com coentro e molho de castanha do Pará Medalhão de mignon com alhos assados, molho de jabuticaba e batatas assadas Sobremesa: shot de musse de queijo com goiabada cascão Shot de abóbora com coco Adriana e Ana Cecília concentraram-se no Brasil, optando por um menu nacionalíssimo: — Pensamos em um cardápio simples e tropical, com o que mais gostamos de comer da culinária brasileira. Além do nosso menu, achamos que a rainha poderia experimentar, mas com cuidado e parcimônia, a feijoada, o bolinho de bacalhau, o escondidinho de carneseca e a broa de milho. Essa pode ser uma opção para o 5 o’clock tea, que ela adora. Ah, e por que não uma caipirinha de limão-verde? O MENU Entrada: mini acarajés, dadinhos de tapioca e gota de jabuticaba nossa coxinha de galinha Prato Principal: moqueca leve de peixe branco, farofa de dendê e ervas frescas Picadinho clássico, purê de banana-da-terra, nuvem de couve frita Sobremesa: manjar de coco e baba de moça Bolo molhado de chocolate brasileiro Amma Macarons de jabuticaba