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ISSN 1517-6959 R e v i s t a Ano 18/2012 – N° 56 – R$ 7,00 CFMV mai/jun/jul/ago Conselho Federal de Medicina Veterinária MÉDICOS VETERINÁRIOS BRASILEIROS parceiros NO CONTROLE DA RAIVA NO HAITI E REPÚBLICA DOMINICANA 9912287428 - DR/BSB CFMV CFMV A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia. A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço: SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília–DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444 Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: [email protected] A Revista Cfmv é indexada na base de dados Agrobase. Revista CFMV. – v.18, n.56 (2012) Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2012 Quadrimestral ISSN 1517 – 6959 1. Medicina Veterinária – Brasil – Periódicos. I. Conselho Federal de Medicina Veterinária. AGRIS L70 CDU619(81)(05) Sumário 4Editorial 5 Entrevista 8 Parceria Internacional | Maria Cristina Schneider 16Ensino 19 24 Ética e Bem-Estar Animal Assuntos Políticos 27Nutrição 30 Destaques 34 Suplemento Científico 62 Produção Avícola 69 Saúde da Família 72 Legislação e Sociedade 78Publicação 79Agenda 80 Opinião | Cláudia Scholten - Um olhar sobre a RIO+20 Editorial “O Futuro que Queremos” A matéria de capa desta edição da Revista CFMV “A contribuição de médicos veterinários brasileiros no controle da raiva no Haiti e na República Dominicana” aborda o quanto o profissional, individual ou coletivamente, pode participar e influenciar o bem estar e a saúde pública. Interessante que autores de outras áreas de atuação também abordam temas relacionados a ações que podem ser efetivadas na saúde coletiva e no meio ambiente, por Médicos Veterinários e Zootecnistas, tornando-se, inclusive, um novo campo de trabalho. Reiteramos a importância do Médico Veterinário nos Núcleos de Assistência a Saúde da Família e, de forma didática, a Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do CFMV apresenta na matéria “NASF: do abstrato ao concreto” como o profissional e os agentes públicos devem atuar. Perpassando nossas atividades, o artigo de Opinião remete a impressões sobre a RIO+20 e a participação do Conselho Federal de Medicina Veterinária no evento. Ficamos apreensivos com o documento final apresentado, intitulado “O Futuro que Queremos”, que reafirma ideias aventadas em outros encontros, sem nunca deixar o papel. Vemos um texto cheio de promessas de erradicar a pobreza sem prejudicar a natureza, mas de poucas metas. A falta de decisão foi refletida no evento. Por outro lado, numa ação sábia, o CFMV se fez presente, participando ativamente, quando nossos representantes tiveram oportunidade de externar o quanto nossas profissões estão envolvidas com a saúde do planeta e com o futuro das próximas gerações. Expediente CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília–DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br [email protected] Conselheiros Efetivos Adeilton Ricardo da Silva Tiragem: 95.000 exemplares Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho DIRETORIA EXECUTIVA Presidente Benedito Fortes de Arruda CRMV-GO nº 0272 Vice-Presidente Eduardo Luiz Silva Costa CRMV-SE nº 0037 Secretário-Geral Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk CRMV-PR nº 0850 Tesoureiro Amilson Pereira Said CRMV-ES nº 0093 CRMV-RO nº 002/Z José Saraiva Neves CRMV-PB nº 0237 Marcello Rodrigues da Roza CRMV-DF nº 0594 CRMV-MA nº 0454 CONSELHO EDITORIAL Presidente Eduardo Luiz Silva Costa CRMV-SE nº 0037 Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk CRMV-PR nº 0850 Amilson Pereira Said CRMV-ES nº 0093 Editor Ricardo Junqueira Del Carlo Raul José Silva Girio CRMV-MG nº 1759 CRMV-SP nº 2236 Jornalista Responsável Flávia Tonin Conselheiros Suplentes Francisco Pereira Ramos CRMV-TO nº 0019 João Esteves Neto CRMV-AC nº 0007 José Helton Martins de Sousa CRMV-RN nº 0154 Fred Júlio Costa Monteiro CRMV-AP nº 0073 Heitor David Medeiros CRMV-MT nº 0951 Nivaldo de Azevedo Costa MTB nº 039263/SP Assessoria de Comunicação CFMV Márcia Leite Mat. CFMV nº 0505 Flávia Lobo MTB nº 4.821/DF Projeto e Diagramação Duo Design Comunicação Impressão Novo Horizonte Comunicação CRMV-PE nº 1051 OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFMV. 4 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Entrevista Maria Cristina schneider Médica Veterinária e Epidemiologista, graduada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, especialista em Atenção Primária de Saúde/Saúde Comunitária; especialização em Epidemiologia; mestrado em Saúde Pública pela ENSP; doutorado em Saúde Pública, concentração em Epidemiologia, pelo Instituto de Saúde Pública do México; pós-doutorado na Universidade Johns Hopkins nos Estados Unidos. Foi servidora da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul e do Ministério da Saúde do Brasil e é Assessora em Interface Saúde Humana/Animal na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Washington, DC, Estados Unidos. 1. Como iniciou sua vida profissional? Minha primeira experiência de trabalho foi na Secretaria de Saúde do Estado de Rio Grande do Sul, em um projeto sobre a saúde comunitária/ atenção primária em saúde. Trabalhei com médicos, enfermeiras, assistentes sociais e outros profissionais que compunham equipes multidisciplinares que atendiam as famílias numa comunidade de vulnerabilidade social. Trabalhar numa equipe multidisciplinar, no início da carreira, possibilitou-me adquirir uma visão abrangente de saúde e perceber nosso papel dentro do sistema; assim como vivenciar o dia a dia e os desafios dos moradores da comunidade reforçou a vontade de contribuir com a qualidade de vida das pessoas. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 2. Quais são suas atribuições na sede da Organização Pan-Americana da Saúde? Sou Assessora em Interface Saúde Humana/Animal no Projeto do Regulamento Sanitário Internacional/Alerta e Resposta/Doenças Epidêmicas, Área de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças, em Washington D.C. Minhas atividades estão relacionadas com predição, detecção e resposta a potenciais emergências em saúde pública de interesse internacional, principalmente no que diz respeito a surtos de leptospirose e peste. Em relação à leptospirose, estamos realizando vários estudos metodológicos para a identificação de zonas críticas (hot spot) para surtos e analisando possíveis fatores condutores (drivers), ambientais e socioeconômicos, para a ocorrência dos surtos. 5 Arquivo da entrevistada Entrevista Participo da Rede Global de Ação Ambiental de Leptospirose, coordenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Também faço parte de grupos-tarefas na Opas, como, por exemplo, para a elaboração da publicação “ Saúde nas Américas ”. Trabalhamos numa equipe multidisciplinar. 2. Por que a raiva? O tema raiva me interessou muito desde a primeira aula de virologia com o Dr. Renato Silva, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Fui estagiária dele e também da Dra. Norma Silva, sua esposa. Ter bons modelos a seguir é muito importante para os jovens profissionais. Fiz vários estágios na área e, em 1986, fui convidada para trabalhar na Fundação Sesp com o Dr. Albino Belotto, inicialmente como assistente da Coordenação e, depois, quando ele saiu para a Opas, assumi a Coordenadoria Nacional do Programa de Profilaxia da Raiva. Nesse período, constituímos um grupo de profissionais de várias regiões do País comprometidos com a saúde pública, em especial ao tema raiva. Naquela época, criamos os indicadores para análise de risco de raiva, até hoje utilizados no Brasil e internacionalmente. Durante esse período ocorreram surtos de raiva humana por morcegos hematófagos em regiões remotas, a exemplo de Alta Floresta, cujo acesso, no meio da mata, foi possível graças a um helicóptero da FAB. À época, organizamos curso no qual se abordava a questão ambiental, pois já sabíamos que vários surtos estavam sendo registrados em áreas de garimpo e desmatamentos. Já tínhamos em mente o que hoje é chamado de “Uma Saúde”. “Para ter sucesso em qualquer profissão tem que gostar muito e acreditar no que se faz” 3. Desde quando está trabalhando na Opas e em que funções? Quando fui Coordenadora do Programa de Raiva do Ministério da Saúde, tive muito contato com a Saúde Pública Veterinária da Opas e participei de várias reuniões internacionais. Haviam poucas mulheres atuando nessa área e o trabalho de organismos internacionais era muito atraente para mim. Mas, quando terminei doutorado e pós doutorado, já morava nos Es- 6 Vacinação antirrábica canina no Haiti, 2007 tados Unidos e não havia vagas na Unidade de Saúde Pública Veterinária da Opas. Fiz consultorias como epidemiologista e, inicialmente, trabalhei com minha ex-orientadora na Universidade Johns Hopkins, onde fiz o pós-doutorado. Também, atuei na situação de saúde no Suriname e cólera e surto de raiva em Belize. Até que me tornei consultora na Opas, por alguns meses, trabalhando com medição de desigualdades em saúde. Em 2000, fui selecionada para um posto fixo da Opas, em Washington, como epidemiologista em análises de situação de saúde. No final de 2002, fui transferida para a Unidade de Saúde Pública Veterinária, também em Washington e voltei a trabalhar com zoonoses. Fui a primeira mulher veterinária a trabalhar na sede da Opas. Realizamos análise conjunta com os paísesmembros sobre a situação da raiva transmitida por cão, publicada e apresentada na Reunião de Ministros de Saúde e Agricultura, convocada pela Opas; organizamos a Reunião de Raiva das Américas (Rita), na República Dominicana e a Consulta de Expertos de Raiva Humana por Morcego dos Países Amazônicos, assim como outras iniciativas objetivando controle das zoonoses. Participei da equipe que organizou junto com a Aliança Global para Controle da Raiva (Garc) e o Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o Primeiro Dia Mundial da Raiva, em 2007. Com a transferência da SPV para o Panaftosa e a impossibilidade de mudar-me para o Rio, voltei a trabalhar como epidemiologista em diferentes funções e, entre elas, apoiar no processo técnico/político para obter o compromisso dos Ministros de Saúde para a eliminação de doenças desatendidas relacionadas com a pobreza, no qual a raiva humana transmitida por cão e a peste foram incluídas. Atualmente, participo da equipe que trata do Regulamento Sanitário Internacional, onde sou a única veterinária. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Arquivo da entrevistada 4. A senhora poderia contar algum episódio ocorrido durante esses anos trabalhando por diversos lugares? Em 2003, a Dra. Lucia Montebello e eu fomos para um país da América Central visitar regiões críticas para a raiva e uma delas ficava em bairro onde havia “maras” (gangues violentas). Sabíamos que era uma área de vulnerabilidade social, com seguranças armados. Ao final da visita, chovia muito forte e as ruas alagaram parando totalmente o trânsito e estava anoitecendo num lugar onde o sistema de segurança das Nações Unidas informou que deveria ser evitado. O rádio comunicador do carro foi a única forma de o motorista monitorar a situação e, nesse momento, lembramo-nos do curso de segurança das Nações Unidas. Reunião do Termo de Cooperação Técnica entre Haiti, Brasil, Cuba, República Dominicana e Canadá para apoiar o Plano Nacional de luta contra a raiva ( 2007) 5. Como é estar fora do País há vários anos e continuar presente profissionalmente? Nesse tempo que estou fora do Brasil, retorno no mínimo três vezes por ano e, além do vínculo com a família e os amigos, continuo muito próxima do grupo que criamos no final dos anos 1980. Vários colegas atuam em temas relacionados à SPV e sempre que possível trabalhamos juntos, pois se trata de mistura de compromisso com amizade, respeito e bom resultado. Participo dos congressos da ABSPV, e em 2007 tive a honra de receber uma Homenagem Nacional no II Congresso Brasileiro de Saúde Pública Veterinária. Tenho sido convidada para ministrar palestras e fico feliz pelo envolvimento dos alunos com o tema SPV. 6. Qual sua recomendação para um Médico Veterinário que deseja seguir carreira internacional em Saúde Pública? Para ter sucesso em qualquer profissão tem que gostar muito e acreditar no que se faz. Preparar-se para isso. O requisito mínimo é ter mestrado, mas, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 atualmente, vários candidatos a cargos na Opas têm doutorado concluído. Experiência profissional prática, ter trabalhado nos diferentes níveis do serviço público, principalmente em nível nacional. Igualmente importante é publicar artigos científicos em meios de credibilidade nacional e internacional. Falar vários idiomas é fundamental. Se eu não falasse inglês e espanhol, provavelmente, não teria conseguido aproveitar as oportunidades surgidas. Para os jovens profissionais, estágios são muito importantes, pois dão uma boa ideia do trabalho e cria conexões. 7. Quais são as principais áreas de atuação dos veterinários em saúde pública? Tradicionalmente, trabalhamos muito com zoonoses, hoje ampliada para interface humano/animal, pois a definição de zoonoses (doenças transmitidas diretamente por animais vertebrados ao homem) ficou “curta” para pensar a amplitude dessa interface numa visão de saúde pública ou de “Uma Saúde”. Por exemplo, na febre amarela, na encefalite equina e na rickettsiose os animais são hospedeiros essenciais para manter a doença e ocasionar casos humanos. Nessa linha da interface, a atuação pode acontecer na predição, prevenção, detecção e resposta a eventos de potenciais emergências em saúde pública, onde 70% deles têm animais na cadeia de transmissão. É importante continuar os programas de controle de vigilância e zoonoses, como se vem fazendo há décadas. A inocuidade dos alimentos é um assunto relevante e nosso papel bastante reconhecido. Nos Núcleos da Saúde da Família, os profissionais poderão atuar em vários aspectos de prevenção e controle de zoonoses, investigação de surtos, orientação das comunidades e tantos outros. Uma área muito bonita é o papel do Médico Veterinário em situações de desastres naturais, seja através da inocuidade dos alimentos das populações em acampamentos; das pessoas que migram de uma área para outra com seus animais e a importância de vacinar; dos animais sem donos e o aumento das mordidas depois de desastre; picadas de cobras depois de inundação; sem contar a importância do resgate e da atenção clínica aos animais. O Brasil incorporou leptospirose e agressão de animais peçonhentos no Plano Interssetorial para Inundações, o que me parece muito pertinente. Salientamos o potencial de nossa categoria no contexto da “diplomacia global em saúde”, em especial nos aspectos relacionados com o Regulamento Sanitário Internacional. 7 parceria internacional Contribuição de médicos veterinários brasileiros no controle da raiva no Haiti e na República Dominicana Introdução A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que ocorrem no mundo, anualmente, mais de 55 mil mortes por raiva, sendo que 99% dos casos humanos foram transmitidos por cão (WHO, 2012). Na Ásia e na África, concentra-se a maioria dos casos, principalmente em populações rurais, onde a vacina humana e imunoglobulinas nem sempre estão disponíveis ou acessíveis, até por seus altos custos. Em grande parte dos países dessas regiões, a profilaxia antirrábica, após exposição, não é oferecida gratuitamente pelo sistema de saúde, nem há campanhas massivas de vacinação canina, como no Brasil. A Região das Américas tem sido um exemplo no avanço do controle da raiva, em especial na transmissão das variantes V1 e V2, ciclos que envolvem, predominantemente, o cão. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) considera possível eliminar a raiva humana transmitida por cão, nessa região (Opas, 2009). O árduo trabalho desenvolvido pelos países-membros, com o apoio desse organismo internacional, a partir da criação do “Programa Regional de Controle da Raiva”, em 1983, permitiu a redução de mais de 90% dos casos de raiva humana e canina (Schneider, 2009). 8 Nos últimos anos, cerca de 20 casos humanos transmitidos por cão foram registrados nessa Região (OPS/PANAFTOSA, 2012), a maioria deles ocorrendo em áreas de maior vulnerabilidade social, como as periferias de grandes cidades, conforme registrado no Haiti, em 2007, e na República Dominicana, em 2009, e que está novamente ocorrendo no Haiti. Nessas ocasiões, médicos veterinários brasileiros associaram-se aos seus colegas veterinários e aos profissionais de distintas disciplinas, em ambos os países, para controlar a situação epidemiológica da raiva. Embora não se considere que a raiva possa ser erradicada, pela quantidade de espécies silvestres envolvidas e sua distribuição global (Rupprecht et al., 2008), podemos evitar casos humanos, desde 1885, quando Pasteur criou a vacina, como tratamento profilático após exposição. Mesmo assim, 150 pessoas, na sua maioria crianças, morrem de raiva diariamente no mundo (Global Alliance for Rabies Control, 2012). Esse número confirma, também, que o controle da raiva é um tema complexo, que vai além de vacinar pessoas agredidas, para evitar casos humanos. Inclui um elenco de medidas interssetoriais associadas às políticas públicas, às decisões de governos e aos recursos disponíveis em cada país, assim como aos compromissos regionais e internacionais, e os programas de cooperação entre países. A raiva humana, por ser uma doença fatal com sintomas tão marcantes, desperta especial interesse na população e dos tomadores de decisão e, por ser também, considerada uma doença de notificação obrigatória na maioria dos países das Américas é um excelente exemplo para ser trabalhado numa perspectiva de cooperação internacional. A OMS considera que meios e estratégias já estão disponíveis para o controle da raiva. Já não deveriam mais ocorrer casos dessa doença conhecida desde 500 a.C. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Para a Região das Américas, o controle da raiva pode ser também considerado um tema de solidariedade, no qual o Brasil tem se destacado. Este artigo relata duas experiências, no Haiti e na República Dominicana, em que Médicos Veterinários brasileiros uniram esforços por meio da cooperação internacional para apoiar no controle da raiva. É também, um chamado para que se intensifique a cooperação com o Haiti para, mais uma vez, ajudar a controlar a situação de emergência em raiva. A possibilidade de futuras contribuições do Médico Veterinário na perspectiva de macrocooperação internacional como a modalidade “sul-sul”, ou seja, entre países em desenvolvimento amplia-se, pois nos blocos que o Brasil participa como a Unasul 1, Brics 2 e CPLP 3, há países onde a raiva ainda é um grande desafio. Situação da raiva no Haiti Em 2006, o Haiti reportou 11 dos 30 casos humanos transmitidos por cão registrados na Região das Américas (37%), pois eram, e continuam sendo, muitos os desafios enfrentados por esse país, como também são escassos os recursos disponíveis. Durante a celebração do “Primeiro Dia Mundial da Raiva”, em 2007, em um evento público na capital Port-au-Prince, na presença dos Ministros da Saúde e da Agricultura, e da Representante da Opas nesse país e com a participação da população, o governo haitiano assumiu o controle da raiva como uma de suas prioridades. Com esse objetivo foi constituído um comitê interinstitucional para elaborar o “Plano de Luta Contra a Raiva” no Haiti. Esse Plano visava não somente a identificar as ações a serem desenvolvidas, pois essas já eram de conhecimento das autoridades nacionais, mas também tinha como objetivo buscar apoio para sua realização. A participação da Opas e, em especial, a do Brasil, foi muito importante para seu êxito. “O Plano Nacional do Haiti” é um exemplo concreto do marco “Uma Saúde”, pois atuam coordenadamente os setores saúde e agricultura para um fim comum. Desde 2003, o Brasil faz doações de vacinas antirrábicas caninas para o Haiti, de acordo com as possibilidades de operacionalização de campanhas de vacinação desse país. Essas doações foram promovidas por iniciativa dos médicos veterinários brasileiros, por meio da Opas, sob coordenação do Ministério da Saúde do Brasil. Nessa experiência, foi baseado o projeto de cooperação, de 2007: o “Termo de Cooperação Técnica entre Países (TCC) Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 envolvendo o Haiti, o Brasil, Cuba, a República Dominicana e o Canadá, para apoiar o “Plano Nacional do Haiti na Luta Contra a Raiva”. A Opas utiliza com frequência esse modelo de cooperação, que inclui alocação de recursos específicos para as atividades programadas (Opas, 2008). Nesse TCC, relativo ao controle da raiva no Haiti, cada um desses países se comprometeu a apoiar diferentes componentes do Plano, cabendo ao Brasil contribuir com a vacinação canina, com a doação de meio milhão de doses (vacina tipo Fuenzalida e Palacios), e cooperação técnica com a participação de médicos veterinários brasileiros experientes em planejar e executar campanhas massivas de vacinação canina, que viajaram para trabalhar, integradamente, com os colegas haitianos. No final de 2007, em Port-au-Prince, representantes dos cinco países do TCC participaram de reunião quando as autoridades do Haiti apresentaram seu Plano e os países confirmaram seu apoio. Essa missão, que incluiu uma visita à cidade de Jacmel, no interior do país, para acompanhar o trabalho de campo de vacinação canina, contou com a participação de três médicos veterinários brasileiros (representante da Opas Washington, Ministério da Saúde e Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul). Na campanha de 2007, foram vacinados mais de 450 mil animais, número nunca anteriormente alcançado (Boletim da ARC, 2008). A intensificação das ações de controle da raiva no Haiti, nesse ano, teve como consequência a redução do número para quatro casos humanos, em 2008, mostrando que é possível avançar no controle, mesmo em situações de maiores desafios, como no caso do Haiti. O êxito dessas ações foi compartilhado com outros países com dificuldades no enfrentamento do controle da raiva. Médicos Veterinários haitianos apresentaram suas experiências em fó- 9 Fotos: Arquivo dos autores/OPAS parceria internacional Campanha de vacinação canina em Jacmel, Haiti, dezembro de 2007 runs internacionais, contando com participação de colegas da África e de outras regiões. O Brasil fez outra doação de vacina antirrábica (Fuenzalida e Palácios), em 2009, e as autoridades haitianas estavam em plena campanha de vacinação canina quando ocorreu o terremoto, em janeiro de 2010, matando mais de 220 mil pessoas, destruindo grande parte da capital Port-au-Prince (Ops, 2012). Porém, essa tragédia não imobilizou nossos colegas haitianos, que regressaram às atividades de vacinação, duas semanas após o desastre. Esse esforço profissional e o comprometimento com a população para o controle da raiva é digno do nosso respeito e admiração, tendo em vista que muitos deles haviam perdido seus familiares e suas próprias casas. Novamente, foram vacinados quase meio milhão de animais com a vacina brasileira. Após o terremoto, o Brasil intensificou seu apoio ao Haiti e, através do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, foi criado o termo de cooperação que engloba uma série de atividades, entre elas capacitação de recursos humanos. Em 2010 e 2011, os médicos veterinários brasileiros continuaram visitando o Haiti, para assessoria técnica, de programa de cooperação com a Opas. Em 2011 foram registrados 13 casos de raiva humana no Haiti, representando a metade dos casos de toda a região (24). Com o terremoto, muitos animais ficaram sem donos e, a raiva canina soma-se aos vários desafios que o país vem enfrentando, aliado a uma epidemia de cólera. Foram doadas, pela Em- 10 baixada do Brasil no Haiti, 20 mil doses de vacina antirrábica de uso humano, e mil ampolas de soro, de grande importância para evitar os casos humanos. Tão logo seja possível, será muito importante a continuação de novas doações de vacinas caninas para o Haiti, pois não foi possível a doação em 2011 e 2012. O material educativo, Revista da Turma da Mônica “Abaixo a Raiva”, em francês: Monica et la petite bande: À Bas La Rage, impresso e distribuído pela Opas, em 2004, está sendo reimpresso pela Embaixada do Brasil no Haiti (link no site do PANAFTOSA). Outras iniciativas, educativas e de disseminação de informação para o controle da raiva, como a estratégia comunicação de risco, podem ser úteis e aplicáveis em países como o Haiti, principalmente durante um surto de raiva canina. Situação da raiva na República Dominicana A República Dominicana, que divide a ilha de La Española com o Haiti, já havia avançado consideravelmente no controle da raiva, chegando a zero caso humano entre 1998 a 2000 (Opas, 2004). E como acontece em vários países, quando há expressiva redução dos casos humanos, outras doenças tornam-se prioritárias, enquanto aquelas que já estão sob controle perdem visibilidade na competição por recursos. Em janeiro de 2010, quando ocorreu o terremoto no Haiti, a República Dominicana chegou a Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 alcançar seis casos humanos em 12 meses (quatro em 2009 e dois no início de 2010), preocupando muito as autoridades nacionais, que pediram apoio à Opas. No início de 2010, o Brasil participou na ajuda à República Dominicana, também por meio de cooperação internacional, doando um milhão de doses de vacina canina (tipo Fuenzalida e Palacios) e prestando assistência técnica. As vacinas foram entregues pelo Embaixador do Brasil ao Ministro da Saúde da República Dominicana em evento noticiado pela imprensa. Médicos veterinários brasileiros ajudaram a organizar a maior campanha de vacinação que o país já havia realizado. Antes, a estratégia utilizada era realizar campanhas em áreas de risco e controle de focos e, pela primeira vez, mediante cooperação, houve descentralização da vacinação massiva e mais de 800 mil animais vacinados. Ressalte-se a presença de médicas veterinárias brasileiras em função na Opas e no Ministério da Saúde do Brasil, durante, aproximadamente, um mês, na República Dominicana trabalhando lado a lado com médicos veterinários desse país, tanto no controle do surto quanto na organização e realização de campanha massiva de vacinação, assim como nas ações de saúde pública relacionadas com o terremoto do Haiti. Participaram, também, da “Sala de Situação do Haiti”, criada no escritório da Opas na República Do- minicana para acompanhar e apoiar, diariamente, as emergências no Haiti. Assim como foram junto com as autoridades nacionais para a vacinação canina na área de fronteira com o Haiti. O terremoto provocou aumento relevante da imigração interna e para o país vizinho, assim como acampamentos com milhares de pessoas que ficaram sem moradia; muitas dessas famílias traziam consigo seus animais. Ambos os países realizaram intensificação da vacinação e vigilância em áreas de fronteira. A situação epidemiológica da raiva na República Dominicana foi controlada e após alguns meses de intensificação das ações de controle, o país, novamente, voltou a ter zero casos de raiva humana em 2011. Mais uma experiência exitosa no controle da raiva dos países da Região das Américas em situação de crise, que contou com a cooperação entre países, com o apoio da Opas e a participação do Brasil. É importante que esse país mantenha as vacinações massivas por vários anos para garantir o controle obtido além das demais ações que fazem parte do Plano Nacional que foi atualizado durante a situação de emergência. Entre as ações prioritárias definidas no Plano da República Dominicana, assim como de grande parte dos planos dos países da Região estão incluídos: a atenção às pessoas expostas, vigilância epidemiológica, controle de focos, vacinação canina e comunicação/educação, além de outras. Grupo internacional em visita a Jacmel para acompanhar as atividades de vacinação canina, Haiti, dezembro de 2007 . Dra. Motebello, quinta pessoa a partir da esquerda; Dra. Schneider, penúltima à direita; Dr. Bittencourt, último à direita. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 11 parceria internacional Fotos: Arquivo dos autores/OPAS Perspectivas da participação do médico veterinário na cooperação internacional Reunião entre o Ministério da Agricultura do Haiti e consultores da Opas do Haiti, de Washington e do Panaftosa, agosto de 2011 Há várias formas de cooperação internacional, entre elas aquelas promovidas por organismos internacionais como a OMS e a Opas. Neste artigo citamos o caso do Haiti, onde foi desenvolvido o Termo de Cooperação Técnica entre Países (TCC), uma modalidade que a Opas utiliza e que estabelece cooperação horizontal e fortalecimento das capacidades institucionais dos países para dar resposta às suas necessidades em saúde. Esse tipo de cooperação é muito usado para o controle da raiva e outros termos foram firmados entre o Brasil e países das Américas, como Bolívia e Peru, focalizando principalmente áreas de fronteira. A participação de médicos veterinários tem sido importante não somente para definir as áreas prioritárias, mas, também, para desenvolver o plano de trabalho conjunto. Outra modalidade de cooperação internacional é conhecida como “sul-sul”, ou seja, a cooperação entre países em desenvolvimento (Almeida, 2010). Neste novo milênio, as necessidades de saúde dos países com menor renda per capita aumentaram devido a fatores complexos que resultam em desigualdades ainda maiores entre esses países e, internamente, em cada um deles, sendo cada vez mais importante a cooperação sul-sul. Como exemplo dessa forma de cooperação pode ser citada a ajuda humanitária ao Haiti, após a 12 catástrofe de um terremoto seguido de uma epidemia de cólera, que levou os governos de Brasil e de Cuba a estabelecerem um plano de cooperação humanitária. O Brasil vem se destacando como um dos mais ativos patrocinadores da cooperação internacional na área de saúde, somado a um propósito solidário intimamente associado à cooperação “sul-sul”, respeitando a soberania e a não intervenção em assuntos internos dos países parceiros (Buss, 2011). No caso da raiva, antes mesmo desse termo, o Brasil já vinha realizando, desde os anos 1980, cooperação direta na área de saúde com o Paraguai. Há alguns mecanismos de integração entre os países da região já em andamento, como o Mercado Comum do Sul (Mercosul). A participação do Médico Veterinário em acordos internacionais relacionados com a produção e comércio dos alimentos é reconhecida e necessária. Na perspectiva de cooperação “sul-sul” está a União de Nações Sul-americanas (Unasul) para o estabelecimento de alianças sub-regionais de desenvolvimento sociocultural e geopolítico, em prol da equidade e inclusão social (Buss, 2011). No marco da Unasul estão incluídos o fortalecimento das capacidades nacionais em pesquisa e a formação de recursos humanos na área de saúde e, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 com essa finallidade, está sendo montado o Instituto Sul-Americano de Governança em Saúde (Isags), no Rio de Janeiro, para integração entre os países, membros. A interface saúde humana e saúde animal, certamente, é assunto relevante e pertinente para constar na pauta das políticas setoriais integradas, para benefício das populações dos países aliados, abrindo valioso espaço de trabalho para os médicos veterinários desses países. A cooperação internacional em saúde pública veterinária poderá acontecer em outros agrupamentos de países, como o Brics (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), bloco de influência geopolítica constituído pelos principais países emergentes, entre eles, os mais populosos em crescente expressão na economia mundial e em dimensão territorial. O reconhecimento da expressiva presença do Brasil nos fóruns internacionais e sua crescente importância como componente dos Brics abre novos espaços para cooperação na área da saúde, inclusive no caso da raiva; a Índia e a China são os países do mundo com o maior número de casos de raiva humana. O número de casos de raiva humana tem aumentado na China, sendo mais de três mil casos reportados em 2007 (Zhang, 2011). Como o Brasil também é um país continental e com grande extensão de área rural, o intercâmbio de experiências com a China, no controle da raiva, pode representar significativos benefícios para ambos os países. Desde 1996, a cooperação entre os países de língua portuguesa, Brasil, Portugal e seis países da África, coordenada no Brasil, pelo Ministério de Relações Exteriores promove, prioritariamente, atividades nas áreas de saúde e educação (Almeida, 2010). A África é um dos continentes com os maiores desafios no que diz respeito às políticas públicas nessas duas áreas, o que se reproduz no controle da raiva. A identidade cultural e a língua fazem com que as iniciativas de cooperação entre esses países africanos e o Brasil constituam-se em parcerias produtivas e em significativa experiência para todos os envolvidos. Desconhecemos que a raiva tenha sido parte dessa agenda, mas poderá ser. Se a cooperação internacional, em qualquer modalidade, significa construir espaços de trabalho integrando países, a partir de suas diferenças, identidades e possibilidades, respeitando a soberania de cada um deles, para o alcance de um mesmo objetivo, o Brasil está pronto. As marcantes diferenças entre as cinco regiões brasileiras ampliam as experiências, que servem de base para as iniciativas de cooperação, não nos faltando, assim, experiências Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 com grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, e com as remotas áreas de alta vulnerabilidade social do Nordeste e da Amazônia. Os exemplos deste ar tigo enfocam duas experiências exitosas da participação de médicos veterinários brasileiros em cooperação internacional no controle de situações de emergência em raiva no Haiti e República Dominicana, quando a capacidade técnica esteve mesclada ao nosso profundo sentimento de solidariedade. Esse é um aspecto que não está formalmente explicitado nos acordos internacionais, mas de valor inestimável: a nossa capacidade de expressar respeito e solidariedade. No entanto, a participação do Médico Veterinário pode avançar além do que se vem realizando, tradicionalmente, no setor saúde. Existe uma grande variedade de temas que transcendem as fronteiras nacionais e requerem ações globais que determinam a saúde dos povos, por meio do conceito de “Diplomacia Global em Saúde” (Kickbush, 2011). A diplomacia global em saúde trata de um elenco de temas que extrapolam a cooperação entre países, pois envolve um processo de negociações conjuntas de relações exteriores e saúde pública, como, por exemplo, o Regulamento Sanitário Internacional (RSI). O RSI entrou em vigor em 2007 e é um instrumento jurídico internacional de caráter vinculante do qual participam 194 países (WHO, 2007). Foi elaborado para proteger a saúde pública prevenindo a disseminação de doenças com a menor interferência possível no transporte e no comércio internacionais. Os países comprometeram-se a notificar à OMS todos os eventos ocorridos em seus respectivos territórios que possam ser considerados uma emergência de saúde pública, em âmbito internacional. Dentro do marco do RSI e da abordagem de eventos, manifestação de uma doença e/ou agravo potencialmente patogênico, considera-se uma emergência de saúde de importância internacional a combinação de, no mínimo, dois dos critérios abaixo mencionados, quando: 99 Suspeita-se que é um sério problema de saúde pública; 99 Considera-se inusitado e/ou não esperado; 99 Constitui-se um risco de propagação internacional; 99 Poderia representar riscos para viagens e comércio internacionais. Estudo realizado pela Opas demostrou que 70% dos eventos das Américas, registrados no sistema da Organização Mundial da Saúde que respalda o 13 Segurança Alimentar das práticas de saúde pública, entre elas as relacionadas com as ciências veterinárias. Por tudo isso, a cooperação internacional pode ser oportuna e pertinente. A participação do Médico Veterinário nas diferentes formas de cooperação internacional na área da saúde pública, como parte de agenda técnica e das politicas de relações internacionais, pode ser intensificada. A raiva é um bom exemplo, mas há outros temas a serem analisados e passos políticos a serem viabilizados. Esse contexto de Médicas Veterinárias do Ministério da Saúde da República Dominicana e da Opas durante vacinação canina em oportunidades requer a prepaDajabon, na fronteira com o Haiti. República Dominicana, janeiro 2010 ração dos profissionais médicos veterinários brasileiros, para assumir esse comproRegulamento Sanitário Internacional, foram consimisso, em nome do Brasil. derados referentes à interface humana/animal, demonstrando a importância do Médico Veterinário AGRADECIMENTOS nas equipes de alerta e resposta e a esses eventos Aos colegas do Ministério de Agricultura e (Schneider, 2011). As negociações políticas que Saúde Pública do Haiti, em especial aos Drs. M. envolvem eventos que podem causar interrupção Millien, J. Pierre-Louis e J. Thomas; aos colegas do de comércio, turismo e grandes perdas econômiMinistério de Saúde da República Dominicana, em cas, requerem atuação conjunta de diplomatas e especial aos Drs. M. Viloria, R. Pimentel, Z. Garib, as profissionais de saúde. Essa área do conhecimento autoridades de saúde do Brasil, em especial aos Drs. já é tema de mestrado na Escola Nacional de Saúde J.S. Barbosa Junior, R. Pio Marins, W.K. Oliveira e M.L. Publica/Fiocruz e pode ser importante para o exerCarvalho, J. Vallini; à Embaixada do Brasil no Haiti, cício da nossa profissão. Nesse sentido, o Curso de à Assessoria Internacional de Assuntos de Saúde Epidemiologia de Campo, promovido pela Secredo Ministério da Saúde, em especial L. Viegas, aos taria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da colegas da OPS no Haiti e na República DominiSaúde, tem contado com a participação de médicos cana, em especial aos Drs. J.P. Breux, K. Mung, J.M. veterinários, cuja excelência técnica está sendo reRwangobwoba, F.R. Cabrera e M. Machuca; às auconhecida em distintas oportunidades. toridades de saúde e agricultura desses países, às Mencionamos distintos modelos de cooperaautoridades da OPS em especial aos Drs. M. Roses, ção internacional envolvendo acordos e recortes S. Gross, M. Lichia, M. Canepa, E. Chamouillet, M. geopolíticos, com perfis socioeconômicos e cultuFernández, M. Espinal, S. Aldighieri, O. Cosivi; A. Berais específicos, com ou sem a participação de orlotto e P. Arambulo III ex-coordenadores da Saúde ganismos internacionais. Um conjunto de fatores Pública Veterinária da Opas pela sua contribuição com diferenciados níveis de complexidade, desde ao fortalecimento do papel do Médico Veterinário as crises econômicas internacionais às questões na cooperação internacional; à Dra. D. Fernandes, específicas internas de cada país, vêm intensificolega na Opas em Washington, por haver contricando os desafios, entre eles formar recursos hubuído com o texto; aos Drs. E. Gonzalez e F. Laender; manos que possam atender a essa nova demanda. à A. Melo, que fez a revisão bibliográfica, e especialA união de esforços na resolução de problemas mente à comunicadora social M.J.F. Rodrigues, que por meio da integração entre os países, reprerevisou, editou e contribuiu muito para este texto, sentando a otimização de recursos e a inevitável e que vem sendo uma grande aliada no combate à troca de experiências entre profissionais, pode ser raiva por mais de duas décadas. considerado como facilitador ao aprimoramento 14 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Notas 1. UNASUL: União de Nações Sul-Americanas – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. 2. BRICS – Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. 3. CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tome e Príncipe e Timor-Leste. Referências Bibliográficas ALMEIDA C.; DE CAMPOS R.P.; BUSS P. et al. Brazil’s conception of South-South “structural cooperation” in health. RECIIS – R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, 4(1):23-32,2010. Acessado em: 17 de julho de 2011. Brasil. Ministério das Relações Exteriores.UNASUL. http://www.itamaraty.gov. br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/unasul. Acessado em 19 de abril de 2012. Global Alliance for Rabies Control. http://www.rabiescontrol.net/ Acessado em: 16 de abril de 2012. http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1020-892011000500011&script=sci_arttext&tlng=en Acessado em: 17 de abril de 2012. KICKBUSH I.; NOVOTNY T.; DRAGER N. et al. Global health diplomacy: training across disciplines. Bulletin of the World Health Organization, 2007. Acessado em: 12 de julho de 2011. 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Celso Bittencourt dos Anjos Médico Veterinário, CRMV-RS nº RS 1664, Membro da CNSPV do CFMV e Diretor de Epidemiologia, Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul Marco Antonio Natal Vigilato Médico Veterinário, CRMV-SP nº 12759, Panaftosa, Consultor Saúde Pública Veterinária, Panaftosa, Organização Pan-Americana da Saúde, Rio de Janeiro, Brasil 15 Ensino ESTRATÉGIAS PARA A MELHORIA DA FORMAÇÃO ACADÊMICA DE ZOOTECNISTAS Peço licença para abordar um assunto complexo, mas palpitante e importante, pois entendo que para que a formação acadêmica possa ser alcançada com sucesso, outros assuntos devam ser trabalhados. Nos últimos anos, outros aspectos têm preocupado e trazido aflições para docentes e administradores e tendem a se agravar com o passar do tempo, caso não os enfrentemos, e dando-lhes a devida importância. Professor versus Educador A abordagem pode começar com a pergunta: será que estamos nos preocupando com o aluno, não somente sob a ótica da formação profissional? Há, segundo Alves (1995), uma diferença fundamental entre o professor e o educador. O professor enxerga o aluno como um número ou um código de matrícula. Sua preocupação é transmitir-lhe informações, não se importando se elas serão transformadas em conhecimento. A aplicação profissional destas informações também não é relevante para o professor. O educador busca preparar o aluno para a vida. É um plantador de sonhos, tem uma história de vida e uma identidade própria. E é dessa forma que o educador enxerga seu aluno, uma vez que cada um também tem sua história e identidade. Respeitando essa história e essa identidade, o educador procura entender suas necessidades e leva-o a construir o conhecimento. Às vezes auxilia na reconstrução de sua trajetória e até de sua identidade. Este profissional preocupa-se com a “saúde emocional” do seu aluno e aí poderá estar a diferença entre ir bem ou ir mal, parar ou terminar o curso, tornar-se um bom/ótimo ou um ruim/péssimo profissional e, depois de tanto esforço, desistir e abandonar a Zootecnia. 16 Franceschini (2007) afirmou, categoricamente, que 90% dos docentes universitários são professores e estão longe da envergadura de um educador. As exigências e cobranças para com o docente tornam-se cada vez maiores, temos que ministrar aulas na graduação e na pós-graduação, orientar alunos nesses dois níveis, captar recursos, publicar, e muito, em revistas com bom índice de impacto, administrar etc. Tudo isso, muitas vezes, impede-nos de enxergar que o aluno que está próximo é um ser humano, com necessidades e que pode estar precisando de nossa atenção. Infelizmente, as coisas têm acontecido da seguinte forma: entro na sala de aula, ministro o conteúdo programado e vou embora, sem me preocupar se conteúdo foi absorvido ou não, mas saio com a consciência tranquila do dever cumprido. Será que foi cumprido mesmo? Talvez a resposta para esta pergunta seja não, pois dados assustadores foram coletados, pela equipe do Dr. Augusto Cury, em três universidades paulistas, no ano de 2005 e, ficou consRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Shutterstock.com tatado que a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) estava presente em 71% dos jovens analisados, a síndrome do pânico em 14% e a depressão em 44% (FRANCESCHINI, 2007). Talvez este índice elevado de SPA esteja ligado à prevalência de jovens da Geração Y no público analisado, que fazem várias coisas ao mesmo tempo. Em 60 segundos já conseguiram pesquisar na internet, conversar com 10 pessoas simultaneamente no MSN, Facebook, Orkut, mandaram várias mensagens no celular, atenderam ao telefone e ficaram dando palpites sobre a mensagem que o outro colega mandou em um dos 25 e-mails que ele acabou de ler. É..., esta turminha da Geração Y é muito aceleradinha (CAMPOS, 2012). Esse exemplo ilustra bem os alunos atuais da universidade, embora comecem a ser substituídos pelos da Geração Z, que são mais acelerados ainda. Muito assustador é constatar o altíssimo número de jovens universitários depressivos. Por trás de Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 boas ou más notas, há jovens pensando em suicídio, com isolamento social e uma insegurança desesperadora. Como esperar rendimento escolar nesse contexto? Fora dos muros da universidade, são jovens que, pela própria condição de vulnerabilidade e pela inabilidade de lutar, entregam-se ao álcool e às drogas. Tudo isso, nos leva a ter certeza da necessidade de que, na universidade, devemos nos preocupar com a saúde emocional do aluno, com sua formação humanística, dandolhe apoio e fortalecimento psicológico e não somente a formação técnica. Afinal, recebemos jovens com idade média entre 17 e 18 anos, que estarão longe da família por 5 anos. Não estou dizendo, com isso, que a família está isenta de responsabilidade, mas a universidade não pode estar à margem deste contexto. Assim, as universidades deveriam ter em seus quadros profissionais da área de saúde que poderiam oferecer apoio, principalmente, aos ingressantes. Mesmo assim, a presença do educador é imprescindível. Porém, alguém pode perguntar: estou na universidade, como docente, para ministrar aulas ou para cuidar da saúde emocional do aluno? Eu, com muita tranquilidade e após 31 anos de docência, respondo: a preocupação deve, obrigatoriamente, estar nos dois aspectos, pois você pode, com seu comportamento, fazer o aluno gostar ou não de sua área de trabalho e, consequentemente, ser um bom profissional. Assim, consigo, se trabalhar direito o lado humano, passar conceitos importantes, não somente de bovinocultura, suinocultura, avicultura, mas mostrar-lhe o quanto é importante, também, cultivar as qualidades humanas, representadas por humildade, socialização, comunicação, responsabilidade, gratidão, interesse, aprimoramento, saúde psíquica, emoção, ética, espiritualidade e comprometimento. Por outro lado, posso, também, mostrar-lhes o quanto são abomináveis as limitações humanas, como a inveja, o individualismo, a soberba, a desonestidade, a mentira, a corrupção, a omissão, a ganância, a prepotência e a intolerância, peculiares a jovens que pertencem à Geração N, aquela em que seus representantes não têm limites e acham que tudo podem, independentemente do que os outros pensam ou sentem. Esse tipo de comportamento tem 17 Shutterstock.com ensino se manifestado, principalmente com relação ao trote. O docente que conseguir ser educador transformará seu aluno em cidadão, estimulando-o a sonhar, perseguir seus sonhos e conquistá-los com base em qualidades humanas. Uma alternativa é a criação da figura do tutor. O professor não é obrigado a ser tutor, mas declara sua vontade em sê-lo. Com isso e, dependendo do número de alunos que ingressam, poderá receber dois ou três. O professor-tutor dará atenção e certo aconselhamento, mudando, muitas vezes, o rumo da história daquele aluno. Metodologia de Ensino Será que estou utilizando uma metodologia de ensino adequada aos novos tempos e às necessidades e anseios desta geração? Será que estou ministrando a chamada Aula Magistral, expondo o assunto e não estimulando a participação? Normalmente, não interagimos, não estimulamos e exigimos a participação do aluno na aula. “Eu finjo que ensino e o aluno finge que aprende?”. Somos bacharéis, não temos formação na Licenciatura. Muitos de nós desconhecemos Metodologia Científica e Didática, até nos cursos de pós-graduação. Com isso, estamos nos distanciando cada vez mais dos alunos, sem atender às suas expectativas e necessidades, desestimulando o exercício profissional. A universidade deve investir na qualificação do- 18 cente. Não podemos esquecer das diferenças entre as gerações e que, queiramos ou não, alteram ritmo e dinamismo de nossas aulas. A formação do Zootecnista precisa ser permeada por valores e metodologias que permitam enfrentar as necessidades pessoais e profissionais: que seja pró-ativo; trabalhe em equipe; tenha humildade, sem arrogância e prepotência; fluente em vários idiomas; tenha conhecimento de informática (esta é fácil) e que possua conhecimento técnico. Além disso, entendo ser importante na matriz curricular adotada para a formação acadêmica do Zootecnista: oferecimento de conteúdos que abordem o bem-estar animal; a necessidade de criar animais com práticas de sustentabilidade e que estimulem o empreendedorismo no aluno. É dever da universidade formar Zootecnistas comprometidos com a sobrevivência das próximas gerações, com espírito crítico e que contribuam para a construção de um mundo melhor. Agradecimentos ao Prof. Dr. Paulo Henrique Franceschini, pelo auxílio na confecção do texto. Referências Bibliográficas ALVES, R. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo - SP, Ars Poética, 1995. CAMPOS, W. Gerações X, Y e Z. RH.com.br, 2012. FRANCESCHINI, P.H. O paraíso em perigo: navegando nas ondas da educação. Jaboticabal – SP, FUNEP, 2007. Dados da Autora Maria Cristina Thomaz Zootecnista, Professora Doutora, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal-SP. Artigo escrito a convite da Comissão Nacional de Ensino de Zootecnia (cnez) do CFMV. E-mail: [email protected] Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 ética e bem-estar animal Bem-estar de animais de produção: perspectiva brasileira A construção de uma maior autonomia brasileira na área de bem-estar de animais de produção apresenta um potencial significativo, seja do ponto de vista técnico, econômico ou ético. A argumentação técnica sobre questões de bem-estar de animais de produção está naturalmente nas mãos dos médicos veterinários e dos zootecnistas. Este artigo tem por objetivo contribuir para o avanço da atuação médico-veterinária e zootécnica em bem-estar de animais de produção. A demanda por bem-estar animal Obser va-se que a expressiva demanda da sociedade europeia por bem-estar de animais de produção já surge no âmbito da sociedade brasileira. Sabe-se que, por exemplo, se a população for informada sobre as condições de vida de frangos de corte pela simples exibição de fotos mostrando os sistemas caipira e intensivo, (Figuras 1 e 2) o valor do atributo bem-estar animal cresce de 3,7% antes para 24,1% após a visualização das fotos (Bonamigo et al., 2012). Tais resultados demonstram que a preocupação com bem-estar animal está limitada no Brasil pelo pouco conhecimento da sociedade em relação aos sistemas produtivos. Adicionalmente, o Brasil vivencia uma fase de crescimento econômico, que propicia aumento da demanda por produtos de origem animal. Isso ocorre primeiro em quantidade e depois em qualidade, incluindo a preocupação com bem-estar animal (Van Horne e Achterbosch, 2008). Tanto informação quanto melhoria de poder aquisitivo sugerem aumento na demanda por bem-estar animal. Além das pressões que emanam dos consumidores internos e externos, a melhoria do bem-estar de animais de produção tem um componente ligado diretamente ao exercício profissional ético. A importância da atuação em bem-estar animal vem recebendo o reconhecimento de entidades que regem a Medicina Veterinária, tais como a Associação Mundial de Veterinária, a Federação de Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Veterinários da Europa, a Associação Americana de Medicina Veterinária e o Conselho Federal de Medicina Veterinária no Brasil. Um bom exemplo é a recente aprovação dos primeiros padrões internacionais de bem-estar animal nos sistemas de produção pecuária pela OIE, em 24 de maio do corrente, durante a 80ª Assembleia Geral da Organização, em Paris. Tal guia representa a continuidade de uma série de publicações da OIE estabelecendo padrões de bem-estar animal. Isso significa que os 178 países-membros dessa Organização devem seguir os referidos padrões, que apresentam, assim, um grande poder de transformação da realidade. Vale ressaltar que a OIE é aceita no âmbito da Organização Mundial do Comércio como a instituição que estabelece padrões para assuntos veterinários relativos ao comércio global. Atuação médico-veterinária e zootécnica em bem-estar animal no Brasil e seus reflexos no exterior No Quadro 1 estão expostos alguns argumentos selecionados de artigos científicos no intuito de exemplificar a percepção internacional acerca da realidade brasileira na abordagem do bem-estar de animais de produção. Espera-se que os exemplos citados possam estimular uma reflexão quanto à sua veracidade e aos seus impactos para o Brasil, em termos de mercado internacional, de qualidade dos serviços médico-veterinários e zootécnicos e finalmente em termos de desenvolvimento ético da sociedade em geral. A melhoria da atuação em bem-estar animal na Medicina Veterinária e na Zootecnia brasileiras depende do investimento em pesquisa, por meio do apoio a grupos de pesquisa nacionais. Por se tratar de uma área científica relativamente nova, há alguns desafios particulares no que tange à concorrência em editais gerais de fomento à pesquisa, como a pouca experiência em bem-estar animal dos revisores das agências de apoio, o que é condizente com a relativa 19 Ética e bem-estar animal Quadro 1. A imagem internacional do Brasil com relação a questões de bem-estar de animais de produção, conforme expressa em artigos científicos selecionados sobre bem-estar de aves de produção “Fora da Europa, somente os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia demonstram algum interesse em bem-estar animal” (Van Horne e Achterbosch, 2008). “Na China e no Brasil não há legislação específica regulamentando o bem-estar de frangos de corte, mas isso está fortemente relacionado ao pobre estado econômico desses países” (Van Horne e Achterbosch, 2008). “Há muito mais pesquisa e regulamentação em bem-estar de frangos na Europa, e em particular no Reino Unido, do que em países com indústrias autorreguladas, tais como os Estados Unidos... ...De maneira oposta, a regulamentação relacionada a bem-estar animal em dois dos maiores produtores de carne de frango do mundo, a saber o Brasil e a China, é insignificante” (Robins e Phillips, 2011). escassez de recursos humanos na área específica. Um importante impulso inicial pode ser a publicação de editais temáticos na área de bem-estar animal. Uma estratégia adicional interessante é a oferta de maiores oportunidades de interação entre os grupos nacionais e aqueles de destaque na comunidade científica internacional. Percebe-se a necessidade de investimento nos grupos já existentes, assim como na criação de novos grupos. O ensino de bem-estar animal, por sua vez, enfrenta desafios cujas resoluções devem ser entendidas como a base da excelência que o País pode adquirir. Em primeiro lugar, é imprescindível a adequação das matrizes curriculares dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia no Brasil. As diretrizes nacionais para o ensino de bem-estar animal nos referidos cursos devem garantir sua inserção como tema obrigatório e consolidar o eixo básico de conteúdo mínimo da disciplina, conforme literatura específica (ver, por exemplo, Molento e Calderón, 2009). Adicionalmente, é urgente a construção de literatura em português, dando continuidade a traduções de importantes livros-texto, já iniciadas nas edições brasileiras de Comportamento e Bem-estar de Animais Domésticos (Broom e Fraser, 2010) e Compreendendo Bem-estar Animal: a Ciência no seu Contexto Cultural (Fraser, 2012). Livros-textos genuinamente nacionais constituem uma próxima etapa muito importante, que pode ser favorecida pela organização de uma série de livros sobre os temas de bem-estar animal prioritários para o contexto brasileiro, com o apoio financeiro e editorial de órgãos públicos. 20 Reações possíveis à demanda por bem-estar de animais de produção Pode-se lidar com a expansão da demanda por bem-estar na cadeia de produção de alimentos de forma negativa, neutra ou pró-ativa. As manifestações negativas são expressas especialmente em contextos de pouco embasamento científico sobre o tema. Um exemplo clássico é a afirmação de que “se o animal está produzindo, ele está bem”, mesmo após o grande avanço ocorrido nos últimos anos no entendimento sobre a relação entre bem-estar animal e produtividade (ver, por exemplo, Edwards e Schneider, 2005). Na forma neutra, nenhuma ação é apresentada. Essa ausência de ação conduz a uma posição de não engajamento no assunto que, por sua vez, restringe a busca por estratégias inovadoras e independentes de resolução das questões de bem-estar quando estas se apresentam de forma concreta. Tal atitude deixa o País refém do conhecimento técnico estrangeiro e suas consequentes decisões. A forma pró-ativa refere-se à condução consciente do processo, buscando construir um futuro equilibrado em todos os aspectos envolvidos. Pode-se refletir sobre tais formas de reação tanto no plano individual quanto naquele institucional. Qual será a atitude mais vantajosa? Como bem-estar animal pode representar uma vantagem na produção animal brasileira? Um exemplo concreto para se racionalizar esta questão pode ser discutido à luz da avicultura de Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 corte. Qual dos países citados no gráfico está em melhor posição para oferecer produtos de origem animal com alto grau de bem-estar animal? O Brasil, pois tem a menor fração dos custos ligada a trabalho humano, que é um dos principais fatores de aumento do custo de produção quando se migra para um sistema de maior potencial de bem-estar animal, e tem condições climáticas compatíveis. Então, talvez seja o caso do Brasil liderar a pressão para que questões de bem-estar animal entrem na pauta nas negociações internacionais. Por que esta situação não ocorre na prática? Justamente porque os conhecimentos técnicos em bem-estar animal na Medicina Veterinária e na Zootecnia são ainda incipientes. A barreira comercial gerada pelas preocupa ções éticas com os animais pode representar uma vantagem para o Brasil e tal fato começa a ser reconhecido na Europa. Por exemplo, uma maior exigência de bem-estar para a importação europeia de carne de frango não é mais vista como uma barreira não tarifária a exportadores como o Brasil, mas, sim, como a geração de oportunidade para que tais países agreguem valor a seus produtos (Van Horne e Achterbosch, 2008). Para que o Brasil possa usufruir de vantagens relacionadas à inserção de conceitos de bem-estar na produção animal, há necessidade de que o País se torne apto a produzir conhecimento científico, argumentar e normatizar sobre o assunto. Enfim, que o País adquira autonomia e identidade nas questões de bem-estar animal. Conceito e avaliação de bem-estar de animais de produção A capacidade de atuação nas questões conceituais é muito importante, pois elas podem ter um efeito significativo na forma como os diferentes sistemas produtivos são avaliados. Prioritariamente, percebe -se que o valor do acesso ao ar livre para o bem-estar de animais de produção está em discussão, e que o engajamento do Brasil é importante, pois pode oferecer informações relevantes sobre o bem-estar animal nesse sistema. Há consenso sobre três eixos centrais para o conceito de bem-estar animal: (1) a esfera física, relacionada à saúde, nutrição e funcionamento orgânico; (2) a esfera comportamental, relacionada à exibição dos principais comportamentos naturais da espécie; e (3) a esfera psicológica, relacionada à predominância de sentimentos positivos e ausência de sentimentos negativos. Há uma tendência a se questionar a importância da possibilidade de expressão do comportamento natural no âmbito da avaliação de bem-estar animal, a qual parece estar voltada à conveniência da produção animal confinada. Nesse sentido, dois pontos merecem especial atenção: a necessidade de uma real preocupação em entender o que é mais importante para o animal, a partir da perspectiva do próprio animal, e o fato de parecer tentador subestimar essa esfera do bem-estar animal, principalmente para aqueles países que são forçados ao confinamento por questões intrínsecas, como a dificuldade gerada pelo clima de manter animais com acesso ao pasto durante o ano todo e a dificuldade de obtenção de mão de obra. Entretanto, permanece inegável que, comparado a outros sistemas de produção animal, o sistema intensivo é aquele mais distante do ambiente natural dos progenitores do animal domesticado moderno, considerando-se densidade de lotação, características do grupo e controle ambiental, entre outros fatores (Robins e Phillips, 2011). Assim, parece 80 70 60 50 40 Pinto de 1 dia 30 Alimento 20 Trabalho 10 Degetos + energia 0 Outros Holanda Alemanha França Reino Unido Polônia EUA Brasil Gráfico 1. Custos de produção de carne de frango (centavos de Euro por kg de peso vivo), no ano de 2004 (Van Horne e Achterbosch, 2008) Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 21 Ética e bem-estar animal Elaine Cristina de Oliveira Sans positivo que o Brasil expanda o estudo da importância de sistemas com acesso ao ar livre para o bem-estar animal, pois o tema é relevante para os sistemas produtivos nacionais. Uma maior inserção científica brasileira por meio de investimentos em ciência e tecnologia em bem-estar animal pode favorecer o encaminhamento de soluções mais equilibradas. Entretanto, vale reforçar que se há uma preocupação genuína com bem-estar animal, deve-se avançar no conhecimento sobre o que é mais relevante para o animal, a partir da pers- Figura 1. Sistema extensivo de criação de frango de corte pectiva dele. Afinal, bem-estar animal não deve ser usado como instrumento para Tais protocolos constituem um avanço no diagnósbenefício econômico unilateral, mas ser compreentico de bem-estar, pois permitem a consideração dido com um fim em si mesmo. de vários indicadores combinados em 12 critérios, Para ilustrar quão incipiente é a compreensão do por sua vez reduzidos a quatro princípios, os quais. efeito do acesso ao ar livre sobre o bem-estar animal, ao final, podem ser integrados em uma única nota serão considerados dois exemplos: uma nuance da final. Os protocolos são resultado de um esforço comparação entre manutenção em confinamento considerável da Comunidade Europeia no formato e a pasto de vacas leiteiras e algumas características de fomento significativo à pesquisa com o objetivo de métodos de diagnóstico. Keyserlingk et al. (2009) de produzir maior refinamento no diagnóstico de afirmaram que as piores soluções são aquelas que bem-estar animal. A ênfase maior dos protocolos é tentam resolver um problema, por exemplo, a falta dada aos sistemas confinados, embora sejam mende acesso a pasto para bovinos leiteiros, criando oucionados indicadores a serem usados nos sistemas tro, como a exposição das vacas a estresse por calor. com acesso ao ar livre. Como o paradigma central Entretanto, é importante lembrar que os sistemas é o sistema confinado, alguns indicadores geram intensivos receberam grande apoio financeiro para reflexões ao serem usados em animais a pasto. Por pesquisa desde a Revolução Verde, sendo as pesexemplo, o indicador limpeza corporal é tido como quisas envolvendo sistemas com acesso ao ar livre linearmente relacionado ao bem-estar do animal: muito mais escassas. Por exemplo, os animais com quanto mais limpo, melhor. Em ambientes confiacesso a pasto podem desfrutar de medidas de renados, a limpeza corporal está relacionada à manudução do estresse por calor, como o fornecimento de tenção da limpeza das instalações e com frequência áreas de sombra, aspersores, bosques e de um galas sujidades envolvem contato com fezes ou excrepão para abrigo, quando desejarem. Tem-se, então, tas, estando ainda potencialmente correlacionadas a possibilidade de optar por um sistema que intrincom a qualidade do ar. Entretanto, em animais mansecamente é mais natural para o animal e que pode tidos a pasto, esse indicador deve ser estudado com ser melhorado nos desafios que dele resultarem. De maior profundidade, pois não está claro que tal suqualquer forma, oferecer a opção de escolha entre jidade tenha impacto similar no grau de bem-estar estar em ambiente interno ou externo é um compoanimal se comparada àquela do sistema confinado. nente inquestionável de melhoria da qualidade de Outro exemplo é a avaliação da boa relação vida dos animais. entre seres humanos e frangos de corte por meio No que tange ao diagnóstico de bem-estar do teste de distância de evitação, um dos indicaanimal, os protocolos Welfare Quality© (2009), disdores do protocolo Welfare Quality© (2009). Aves poníveis para bovinos, suínos e aves, são guias para com acesso ao ar livre são mais ativas, tendo mais a avaliação de bem-estar nos sistemas produtivos. facilidade de movimentação e mais amplitude 22 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Juliana Freitas Federici cisa e acurada as características de bem-estar dos sistemas com acesso a pasto. Ressalta-se que a criação a pasto é comum na bovinocultura brasileira, e que pode se tornar mais presente também na avicultura e na suinocultura, uma vez que o Brasil tem todas as condições para isso. Consideração final Figura 2. Sistema intensivo de criação de frango de corte de espaço para fuga que os frangos em sistemas confinados, o que sugere a necessidade de rever a interpretação proposta para o teste mencionado. Esses são dois exemplos para expor a necessidade de investimentos no desenvolvimento de métodos diagnósticos mais eficazes para o contexto brasileiro, que demonstrem de maneira mais pre- Foram expostas razões pragmáticas para mudanças na postura da Medicina Veterinária e da Zootecnia no que tange à atitude e ao conhecimento sobre bem-estar de animais de produção. Mas o assunto tem ainda outra dimensão. As mudanças discutidas acima são necessárias também por uma razão de justiça: diminuir o sofrimento do outro, que é exposto a uma condição instrumental para servir a propósitos humanos. A dimensão ética do assunto tem um alcance sutil e amplo para contribuir no desenvolvimento de uma sociedade mais justa no Brasil. Dados da Autora Carla Forte Maiolino Molento Médica Veterinária, CRMV-PR nº 2870; Professora de Bem-estar Animal, Coordenadora do Laboratório de Bem-estar Animal da Universidade Federal do Paraná, Membro da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal do CFMV. E-mail: [email protected] Referências Bibliográficas BONAMIGO, A.; BONAMIGO, C.B.S.S.; MOLENTO, C.F.M. Atribuições da carne de frango relevantes ao consumidor: foco no bem-estar animal. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 41, n. 4, p. 1.044-1.050, 2012. BROOM, D.M.; FRASER, A.F. Comportamento e Bem-estar de Animais Domésticos. 4ª. Ed. Barueri, SP: Manole, 2010. 438 p. EDWARDS, J.D.; SCHNEIDER, H.P. The World Veterinary Association and animal welfare. Revue Scientifique et Technique de l’Office International des Épizooties, v. 24, n. 2, p. 639-646, 2005. FRASER, D. Compreendendo Bem-estar Animal: a Ciência no seu Contexto Cultural. Londrina,PR: Eduel, 2012. 436 p. MOLENTO, C.F.M.; CALDERÓN, N. Essential directions for teaching animal welfare in South America. Revue Scientifique et Technique de l’Office International des Épizooties, v. 28, p. 617-625, 2009. ROBINS, A.; PHILLIPS, C.J.C. International approaches to the welfare of meat chickens. World’s Poultry Science Journal, v. 67, p. 351-369, 2011. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 VAN HORNE, P.L.M.; ACHTERBOSCH, T.J. Animal welfare in poultry production systems: impact of EU standards on world trade. World’s Poultry Science Journal, v.64, p. 40-52, 2008. VON KEYSERLINGT, M.A.G.; RUSHEN, J.; DE PASSILLÉ, A.M.; WEARY, D.M. Invited review: The welfare of dairy cattle - Key concepts and the role of science. Journal of Dairy Science, v. 92, p. 4101-4111, 2009. WELFARE QUALITY© Consortium, Lelystad, Holanda, 2009. 23 assuntos políticos MÉDICO VETERINÁRIO e zootecnista: RELAÇÕES POLÍTICAS E A INTERFACE COM A SOCIEDADE 24 CONTEXTUALIZAÇÃO OBJETIVOS O modelo clássico das habilidades e competências do Médico Veterinário e Zootecnista vem sendo desafiado constantemente, pois para atender aos pressupostos da futura dimensão das profissões frente à sociedade contemporânea será necessária uma atenção especial às novas demandas que ora surgem. Ele deve contemplar as respostas para os principais direcionadores que envolvem a saúde dos animais e a produção de produtos de origem animal no mundo, representados pelo crescimento populacional e urbanização; mudanças no estilo de vida e o papel dos animais de companhia; desenvolvimento econômico e globalização; mudanças na demanda de mercado e a revolução na tecnologia de informações. Portanto, para enfrentar este cenário é necessário inovar. Todavia, essa inovação é diferente da que conduziu ao crescimento dessas profissões. Agora, ela é mais ampla, holística e, às vezes, difusa no mercado de trabalho, sendo muitas vezes, mal compreendida pela sociedade. Nessa perspectiva, emerge o conceito na formação de um novo profissional, com uma formação básica forte associada a bases humanísticas e filosóficas mais abrangentes. As novas percepções pela sociedade, a existência de organizações não governamentais na defesa de valores intangíveis, as novas regras do mercado de alimentos e a transversalidade de áreas de atuação multiprofissional estimulam o Estado a alterar seus mecanismos regulatórios. Em parte, criam uma conjuntura de constantes tensões e ameaças às prerrogativas das profissões de Médico Veterinário e Zootecnista. Acrescente-se a isso o fato de que as tensões e ameaças, legítimas ou não, podem causar profundos prejuízos às profissões ou a própria sociedade, na medida em que há uma interface nítida entre estas. Assim, no sentido de criar mecanismos ativos e dinâmicos, de proteção profissional ou à sociedade, o Conselho Federal de Medicina Veterinária instituiu por meio da Portaria nº 12, de 25 de março de 2011, a Comissão Nacional de Assuntos Políticos (Conap), cuja definição das atribuições, funcionamento e estratégias de ação constituem o objeto deste artigo. Os objetivos da Conap foram alinhados a partir das competências legítimas do CFMV no sentido de propor alterações à legislação que regulamenta o exercício da Medicina Veterinária e da Zootecnia e intensificar sua atuação junto ao Congresso Nacional no que se refere ao tratamento dos interesses políticos e técnicos que envolvem as profissões, bem como a sua interface com a sociedade. E, por fim, realizar seleção e emitir pareceres técnicos quanto aos projetos de lei e proposições em tramitação perante a Câmara dos Deputados e Senado Federal que envolva o Médico Veterinário e o Zootecnista. A partir dessa ampla missão foram definidos objetivos fundamentais para conduzir o CFMV a desencadear ações institucionais de base, com estratégias organizadas e eficazes (Figura 1). AÇÕES E ESTRATÉGIAS A atuação da Conap, no momento que completa seu primeiro ano de atividades, tem buscado na essência, criar o conhecimento e simpatia às funções da Medicina Veterinária no contexto do País perante o Congresso Nacional. Essa premissa segue o princípio fundamental da divulgação e da informação das principais áreas de atuação profissional e seus vínculos nas esferas da proteção do cidadão e no retorno financeiro ao País. Nos pleitos articulados nas duas casas legislativas, a Conap tem demonstrado a relevância da profissão, particularmente no que diz respeito à saúde pública, como um bem da sociedade, e ao agronegócio do País, na medida em que todas as questões pertinentes às exportações de alimentos de origem animal são reconhecidamente associadas à credibilidade internacional dos nossos serviços veterinários. Assim, qualquer movimento ou ação propositiva que interfira com esses valores são veementemente contrapostos pelo CFMV, com apoio técnico e articulado pela Conap. As relações com o Congresso Nacional têm ocorrido por meio da Assessoria Parlamentar do CFMV, a qual cataliza as condições aos membros da Conap Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Junto da Assessoria Parlamentar do CFMV 99 Supervisão, orientação e controle das atividades relacionadas ao acompanhamento de matérias legislativas e outros assuntos de interesse do CFMV junto ao Congresso Nacional. 99 Providenciar o encaminhamento de pareceres técnicos e anteprojetos de lei. Junto às àreas técnicas do CFMV 99 Solicitar pareceres técnicos sobre projetos de lei pertinentes às demais comissões do CFMV. 99 Harmonizar as ações institucionais numa única voz. Junto ao Poder Legislativo 99 99 99 99 Junto ao Poder Executivo 99 Preparar, consultando os órgãos técnicos, o posicionamento conclusivo do CFMV sobre matérias de seu interesse em fase de sanção presidencial, indicando as razões de veto ou de apoio. Diante de alterações de marcos regulatórios inerentes às profissões Atender a requerimentos do Poder Legislativo. Participar de audiências públicas em matérias de interesse das profissões. Apresentar pleitos de interesse das profissões. Acompanhar autoridades do CFMV na Câmara dos Deputados e Senado Federal. 99 Examinar, compatibilizar e consolidar os subsídios fornecidos pelos órgãos técnicos sobre as proposições ou alterações da legislação ou normas que interfiram nas profissões ou na sua interface com a sociedade. Figura 1- Objetivos da Comissão Nacional de Assuntos Políticos (Conap) do CFMV. para agirem junto dos parlamentares propondo alestá inserida nos escopos do Bem-Estar Animal, Reguterações nas proposições de projetos de lei (PLs), forlamentação das Atividades Profissionais e Defesa e Viginecendo subsídios técnicos para aperfeiçoá-los ou lância Sanitária Animal. Essas dimensões demonstram demonstrando as implicações contra as profissões a relevância de proposituras de alteração na legislação e a sociedade para serem rejeitados. Essa atividade ou criação de novas leis em decorrência dos principais busca atender a princípios fundamentais de atuação temas relacionados às profissões. O bem-estar animal é da Conap (Figura 2). uma das principais preocupações da sociedade e os parAs ações e estratégias frente a qualquer projeto de lamentares federais têm apresentado diversos projetos lei (PL), que interfira com as profissões ou com a sociede lei na tentativa de regrar esses aspectos. Contudo, dade, são definidas pela Conap a partir de um fluxoa Conap está atenta aos PLs que tratam desse tema e, grama alinhado com o seu planejamento estratégico. por meio de subsídios de especialistas do próprio CFMV Inicialmente, o PL é detectado no Congresso Nacional (Cebea), tem auxiliado os parlamentares para avançar a partir de suas eventuais relações com o CFMV, analisado por todos os membros da Conap em suas Implicações reuniões ordinárias, avaliados, profissionais o impacto e a relevância para as profissões e emitido um parecer: desfavorável, favorável, ou de Leis, acompanhamento. Este parecer Acompanhar Posição normas, é encaminhado à presidência do ações do CFMV resoluções CFMV que avalia e desencadeia as estratégias de ações, agora alinhadas com os objetivos a serem Auxiliar nas estratégias alcançados com o referido PL. de ação No período de um ano foram analisados mais de 60 PLs de várias Figura 2 – Princípios fundamentais de atuação da Conap dimensões (Figura 3). A maioria Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 25 assuntos políticos CONSIDERAÇÕES FINAIS Ensino / 6% Saúde Pública Veterinária / 6% Bem-Estar Animal / 25% Regulamentação dos Conselhos Profissionais /6% Produtos Veterinários / 8% Outros Assuntos / 12% Defesa e Vigilância Sanitária Animal / 14% Regulamentação das Atividades Profissionais / 23% Figura 3 – Dimensões dos Projetos de Lei avaliados pela Conap na qualificação dos PLs ou até mesmo demonstrando equívocos da sua propositura. As mudanças que vêm ocorrendo na sociedade e a entrada de novas profissões no mercado de trabalho, especialmente em campos multidisciplinares, também vêm causando preocupações ao CFMV. Na medida em que outras profissões, sem as devidas habilidades e competências de fato e de direito, para atuarem no campo da sanidade animal e saúde dos alimentos, gestionam prerrogativas no mercado de trabalho. Isso pode ser demonstrado pela alta participação dos PLs referentes à regulamentação das atividades profissionais. Novamente, a Conap tem atuado proativa e reativamente na defesa dos interesses da classe e da sociedade. A dimensão relativa às questões pertinentes à Vigilância Sanitária está relacionada ao papel relevante que o agronegócio desempenha no País. É inegável que a intensidade do mercado demanda a atuação e vigilância permanente do Médico Veterinário na prevenção das doenças dos animais transmissíveis ao homem e na inspeção da qualidade dos produtos de origem animal destinados à alimentação humana. Isso tem desencadeado por parte dos setores envolvidos na produção de alimentos de origem animal, a busca por facilidades e a flexibilização nos dispositivos de controle atuais, o que pode não ser benéfico à profissão e a sociedade. Novamente, a Conap está atenta e vem atuando ativamente nessas situações. De modo complementar às suas funções, a Conap tem atuado em diversas frentes no sentido de divulgar o seu trabalho, mobilizar os profissionais na defesa de seus interesses e criar mecanismos para intensificar as bases de apoio por parte de parlamentares frente a situações de ameaças às profissões. 26 A mudança de agenda da sociedade e os novos modelos de governança têm conduzido a alterações de funções entre as profissões e seus clientes, governo e demais organizações. De certa forma, há um relacionamento hierarquizado entre os diferentes agentes, o qual pode conduzir a desequilíbrios, que produzam impactos negativos ao Médico Veterinário e ao Zootecnista. As percepções desses desequilíbrios e movimentos para uma nova ordem de relações é detectado imediatamente pelos profissionais e sua entidade de classe. No entanto, as reações planejadas e cirúrgicas para garantir a eficácia, são lideradas pelo CFMV, por meio da Conap. Dessa forma, Médico Veterinário e Zootecnista dispõem de uma representação legítima em defesa dos direitos e conquistas da profissão. Portanto, esse é um objetivo comum e compartilhado, mas que exige atenção constante e sincronizada de todos. Dados dos Autores Comissão Nacional de Assuntos Políticos (CONAP) do CFMV Júlio O. J. Barcellos (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-RS nº 3185. E-mail: [email protected] Carlos Humberto Almeida Ribeiro Filho Médico Veterinário, CRMV-BA nº 0454 Geraldo Marcelino Carneiro Pereira do Rêgo Médico Veterinário, CRMV-RN nº 0015 Marcelo Henrique Puls da Silveira Médico Veterinário, CRMV-SC nº 1646 Nilton Abreu Zanco Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6956 Ricardo Pedroso Oaigen Médico Veterinário, CRMV-PA nº 2272 Roberto Baracat de Araújo Médico Veterinário, CRMV-MG nº 1755 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 NUTRIÇÃO SEGURANÇA ALIMENTAR: DISPONIBILIDADE ABASTECIMENTO - QUALIDADE O alimento compõe a vida do homem em sua plenitude. Incontestavelmente, todo ser vivo, necessita de nutrientes para sobreviver, salvaguardando reservas para a vida diária e manutenção de sua saúde. Na história da humanidade, os povos estabeleceram relações comerciais por meio dos alimentos: sal, especiarias, raízes, carne, leite e água eram moedas para escambo. Há relatos de que muitos impérios regozijaram suas conquistas com fartos banquetes, cuja principal atração relacionava-se à diversidade de alimentos disponíveis, não somente aos membros da corte, mas também aos plebeus, como expressão de poderio e generosidade. Considerando o lado oposto, as derrotas foram caracterizadas pelas privações e fome, impostas às populações que, em algumas situações, foram dizimadas. O acesso ao alimento sempre associou-se à demonstração de poder e capacidade para negociação. Independente da época, a necessidade de ampliar o período de vida útil da matéria-prima e dos alimentos processados constitui contínuo desafio ao estudo e incorporação de tecnologia e inovação. Por consequência, métodos alternativos foram e são desenvolvidos, favorecendo o processamento, beneficiamento e conservação. Frente a essas transformações históricas, nações foram impelidas à criação de políticas de abrangência mundial sobre segurança alimentar como forma de garantir a disponibilidade, abastecimento e qualidade, com atenção à saúde do consumidor. Por consequência, diversas classes profissionais compuseram o rol de ações para a inocuidade dos alimentos. A Medicina Veterinária, em seu vasto campo de atuação, contribuiu e contribui sobremaneira para a produção responsável de alimentos de origem animal. Os médicos veterinários além de habilitarem os sistemas produtivos (Figura 1) podem atuar nos serviços de regulamentação, fiscalização e inspeção. A atuação do Médico Veterinário relaciona-se à saúde animal atrelada ao favorecimento da saúde do homem. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Orga- Emissão de Gases Poluentes Da Produção ao Consumo Da Fazendo A Mesa Agricultura Processamento Pecuária Armazenamento Pesca Distribuição FONTE: AUTOR Cadeia de Segurança Alimentar Práticas da Agricultura Venda direta ao consumidor Preparo Esgoto Efluentes Industriais Figura 1. Cadeia de Segurança Alimentar. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 27 fotos: Arquivo do autor NUTRIÇÃO Figura 2. Exemplos de não conformidade em área destinada às operações de abate de bovinos Figura 3. Cabeças de Bovinos armazenados em local e condições impróprias nização Mundial da Saúde (WHO), o conceito da expressão Segurança Alimentar foi ampliado em virtude das mudanças globais, exigências de mercados, governamentais e necessidades dos indivíduos. A partir de então, pontuaram-se o acesso garantido e contínuo ao alimento salvaguardando hábitos, saúde e bem-estar às populações. Por sua vez, a segurança dos alimentos aponta estritamente à inocuidade. O controle direto e indireto da produção de alimentos tem por fundamento a minimização da ocorrência de perigos biológicos, físicos e químicos. Esses controles compõem elementos dinâmicos que avaliam a probabilidade de contaminação, qualquer que seja sua classificação, em virtude das variantes dos sistemas de criação animal e das matrizes alimentares derivadas. Para tanto, há que assegurar a qualida- de composicional, nutricional, higiênica e sanitária do alimento (Figuras 2, 3 e 4). Desse modo, deve-se gerenciar e avaliar todas as etapas como o manejo dos animais, alimentação fornecida, bem-estar, obtenção da matéria-prima (leite, ovos, carne, pescados e mel), operações de abate, beneficiamento, processamento e o uso pretendido pelo consumidor. Nos dias atuais, a disponibilidade do alimento e sua inocuidade apontam para vários segmentos da cadeia produtiva: da fazenda à mesa do consumidor. Assim sendo, Boas Práticas Agropecuárias (BPA), Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) são alguns exemplos de ferramentas que fortalecem e priorizam a inocuidade. Por sua vez, o APPCC sistematiza a identificação, caracterização e controle de perigos para níveis aceitáveis nos produtos finais, incluindo o segmento de subprodutos para alimentação animal. Para tanto, todos os elementos da cadeia produtiva de alimentos de origem animal devem ser gerenciados, avaliados e interligados para o estabelecimento de conformidade com os preceitos da segurança alimentar. Por associação, a elaboração e a adoção desse sistema contribuem para a qualificação dos colaboradores envolvidos. O APPCC baseia-se em sete princípios: 1. Conduzir a análise Figura 4. Peças cárneas armazenadas de forma inadequada 28 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 de perigos; 2. Determinar os pontos críticos de controle (PCC); 3. Estabelecer limites críticos; 4. Estabelecer um sistema de monitoramento dos PCCs; 5. Estabelecer as ações corretivas para serem tomadas quando o monitoramento indicar que determinado PCC não está sob controle; 6. Estabelecer procedimentos de verificação para confirmar que o sistema APPCC funciona eficazmente, e 7. Estabelecer documentação referente a todos os procedimentos e registros apropriados a esses princípios e sua implementação. Outro elemento de grande relevância para a segurança alimentar é a Norma ISO 22000:2006, combinação do plano APPCC com Programas de Pré-requisitos (PPR) definidos como toda atividade necessária à manutenção da higiene ao longo da cadeia produtiva de alimentos. Esta Norma tem por objetivo estruturar os segmentos da cadeia produtiva (o que inclui produtores primários, fornecedores de insumos, logística, distribuição, comercialização e estocagem) e de serviços de alimentação, harmonizando os requisitos de gestão da segurança de alimentos, permitindo que organizações interessadas certifiquem-se, independente do grau de desenvolvimento e implementem medidas combinadas de controle. À luz da fiscalização, uma mudança de conceitos tem sido observada. A ação dos órgãos regulamentadores e fiscalizadores, anteriormente com maior peso punitivo, pauta-se em atos educativos, como forma de orientação, para posterior advertência e punição, na ausência de evidências que atestem a regularização. Um exemplo a ser ilustrado refere-se ao Serviço de Vigilância Sanitária. Referências Bibliográficas ABNT NBR ISO 22000:2006. Sistemas de gestão da segurança de alimentos – Requisitos para qualquer organização na cadeia produtiva de alimentos. 2006, 35p. FAO – Food and Agriculture Organization – Food Hygiene. 2003. 72p. FAO/WHO – Food and Agriculture Organization/World Health Organization. Garantia de la inocuidade y calidad de los alimentos: Directrices para el fortalecimento de los sistemas nacionales de control de lis alimentos. 94p. WHO – World Health Organization. Food Safety Risk Analysis – A Guide for National Food Safety Authorities, Rome, 2006.119p. WHO – World Health Organization. Microbiological Risk Assessment Serie – Risk Characterization of Microbiological Hazards in Foodcl. 2009.135p. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Doenças de veiculação alimentar constituem risco à saúde pública mundial. Este risco pode ser mensurado em um ou mais elementos dissociados ou não. Portanto, é possível estabelecer a Análise de Risco, pela composição dos três eixos: Avaliação de Risco, Gerenciamento de Risco e Comunicação de Risco. Assim sendo, esta análise é estruturada e tem por objetivo melhorar e aprimorar o controle alimentar para a produção de alimentos seguros, reduzir a ocorrência de doenças e fortalecer as relações comerciais. Isto posto, pode-se afirmar que as ações para que ocorra a segurança alimentar devem denotar abrangência interdisciplinar, preventiva, estruturada, proativa, avaliando riscos e devem permitir responsabilidade compartilhada entre órgãos governamentais (federal, estadual e municipal), agroindústrias e consumidores. Dados dos Autores Cíntia Silva Minafra-Rezende, Médica Veterinária, CRMV-GO nº 2685 , Docente da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) da Universidade Federal de Goiás (UFG) E-mail: [email protected] Albenones José de Mesquita Médico Veterinário, CRMV-GO nº 0693, Docente da EVZ/UFG Marcele Louise Tadaieski Arruda Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4926, Fiscal Estadual – Agrodefesa Rodrigo Balduino Soares Neves Médico Veterinário, CRMV-GO nº 2687, Doutorando, Centro de Pesquisa em Alimentos da EVZ/UFG Renata Maria Costa Barcellos Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4068, Fiscal Vigilância Sanitária, Goiânia Marília Cristina Sola Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4443, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal da EVZ/UFG 29 Destaques Foi sancionado pela Presidente Dilma Rousseff, com publicação em 20 de julho, o Projeto de Lei 1.080/2003 que prevê a criação dos medicamentos genéricos veterinários com veto parcial a alguns dispositivos aprovados pelo Congresso Nacional. A nova Lei n° 12.689/2012 altera o Decreto-Lei no 467/1969, para estabelecer o medicamento genérico de uso veterinário. O novo texto dispõe sobre o registro, a aquisição pelo poder público, a prescrição, a fabricação, o regime econômico-fiscal, a distribuição e a dispensação de medicamentos genéricos de uso veterinário, bem como sobre a promoção de programas de desenvolvimento técnico-científico e de incentivo à cooperação técnica para aferição da qualidade e da eficácia de produtos farmacêuticos de uso veterinário. Para o CFMV, os genéricos veterinários trarão, principalmente, um ganho na qualidade shutterstock SANCIONADO PROJETO DE LEI DE GENÉRICOS VETERINÁRIOS PELA PRESIDENTE DILMA ROUSEFF. CFMV preocupa-se com testes de equivalência dos produtos. “Hoje, existem medicamentos de uso veterinário registrados com o mesmo princípio ativo no órgão federal competente. Porém, a partir de agora, a comprovação da equivalência e bioequivalência para esses registros será obrigatória. Sem dúvida, a lei é um avanço”, afirma o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda. SENADO APROVA Medida Provisória QUE GARANTE BENEFÍCIOS AOS MÉDICOS VETERINÁRIOS dava a sanção da presidente Dilma Rousseff. A MP causou polêmica desde a edição, em razão de alterações na carga horária de Médicos e Médicos Veterinários. O CFMV, também, realizou um trabalho de sensibilização junto ao senador Eduardo Braga (PMDB-AM), relator do parecer, que corrigiu o texto e manteve a carga horária em 20 horas semanais e dobrou o valor das tabelas para a carga horária de 40 horas semanais. Arquivo CFMV O Senado Federal aprovou, em julho, a Medida Provisória (MP) 568/2012, que concede reajuste salarial a diversas categorias do serviço público federal e garante benefícios aos Médicos Veterinários. O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), contrário à proposta inicial que prejudicava os salários dos profissionais, comemora os resultados do novo texto aprovado. Até o fechamento desta edição, o projeto aguar- 30 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 shutterstock PORTAL SAÚDE BASEADA EM EVIDÊNCIAS é lançado Desde o início do mês de julho, uma parceria firmada entre o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e o Ministério da Saúde permite o acesso de Médicos Veterinários ao portal Saúde Baseada em Evidências. A página eletrônica (http://periodicos.saude.gov.br/) reúne pesquisas, conteúdos científicos e publicações sistematicamente revisadas com protocolos clínicos baseados em evidências. O portal foi desenvolvido entre o Ministério da Educação (Capes/MEC), o Ministério da Saúde (MS) e conselhos de classe. O acesso deve ser feito por meio do número do registro profissional e senha definida pelo usuário. MÉDICOS VETERINÁRIOS ASSUMEM RESPONSABILIDADE TÉCNICA PELOS BIOTÉRIOS Para o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Benedito Fortes de Arruda, a resolução atende a uma preocupação antiga do Conselho.“Essa orientação do Concea cria um espaço importante e necessário para a profissionalização dos Médicos Veterinários e reconhece a importância da segurança e responsabilidade na assistência aos animais, do bem-estar e dos cuidados veterinários”, afirma. shutterstock O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), órgão integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), instituiu aos profissionais Médicos Veterinários, devidamente registrados no Conselho Regional de sua unidade federativa, a responsabilidade técnica pelos laboratórios de pesquisa e experimentação animal. A medida foi divulgada após a publicação da Resolução Normativa n° 6, de 10 de julho de 2012. Médicos Veterinários e Zootecnistas Cadastre-se em www.cfmv.gov.br e receba semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 31 Destaques Arquivo CFMV CFMV participa do CONASEMS e sensibiliza secretários municipais de saúde sobre a importância do Médico Veterinário no Nasf O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) participou, de 10 a 14 de junho, do XXVIII Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e IX Congresso Nacional de Cultura de Paz e Não Violência, na cidade de Maceió, AL. O objetivo do CFMV foi evidenciar, para os secretários municipais de saúde, a importância da participação dos Médicos Veterinários nos Núcleos de Apoio a Saúde da Família (Nasf ). O CFMV participou do evento com membros da Comissão Nacional de Saúde Publica Veterinária (CNSPV) do CFMV, estande no local, distribuição de folders com informações sobre “O Medico Veterinário no Nasf/ESF”e ações de relacionamento. O Conselho também organizou, no final de junho, o IV Fórum das Comissões Nacional e Regionais de Saúde Publica Veterinária com o objetivo principal de unificar as ações e o discurso para inserção do Medico Veterinário no Nasf. CFMV chegou na sua Resolução N°1000 Com 44 anos de existência, o Conselho Federal de Medicina Veterinária, órgão normatizador, fiscalizador e orientador da Medicina Veterinária e da Zootecnia chega a sua Resolução de número 1.000. Atingir essa marca mostra a atuação e o empenho do Conselho para as mais diversas questões que envolvem as profissões representadas. A Resolução no. 1000/2012 trouxe, principalmente, novos métodos e processos permitidos para a eutanásia. “O CFMV se orgulha de, por meio de suas Resoluções, antecipar muitas normas e práticas que posteriormente foram adotadas pelo governo federal”, reconhece o Presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda. ConfiraasresoluçõesdoConselhonoPortaldoCFMV. Em julho, o Conselho Federal de Medicina Veterinária finalizou a pesquisa realizada com profissionais registrados para saber o que pensam sobre o Conselho, suas atuações e anseios das classes Medico-Veterinária e Zootécnica. O questionário esteve disponível no site do CFMV durante um mês. Cerca de cinco mil profissionais deram suas opiniões para a valorização das classes. A pesquisa faz parte do planejamento estratégico CFMV 2011-2014, que traz o tema Mudar para Melhor. O Conselho agradece a colaboração de todos os Médicos Veterinários e Zootecnistas do País. As informações obtidas farão parte da construção de 32 Agência plá PESQUISA CFMV: CONSELHO AGRADECE A PARTICIPAÇÃO DOS PROFISSIONAIS um diagnostico que norteará as próximas ações de comunicação do CFMV. Dentre os objetivos institucionais, está a valorização da imagem do Medico Veterinário e do Zootecnista. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Célia Regina Orlandelli Carrer recebe o Prêmio Professor Octávio Domingues Durante a abertura do Zootec 2012, em maio, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) entregou o “Prêmio Professor Octávio Domingues Barbosa” à Zootecnista Célia Regina Orlandelli Carrer. O prêmio homenageia o Zootecnista brasileiro que tenha realizado relevantes serviços ao desenvolvimento agropecuário no País no ano anterior (neste caso, em 2011). Célia recebeu a placa, botóm e medalha das mãos de Elis Aparecido Bento, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás e membro da Comissão Nacional de Ensino da Zootecnia do CFMV, representante, no evento, do presidente do CFMV Benedito Fortes de Arruda. Durante a cerimônia de premiação, a agraciada agradeceu o reconhecimento do Conselho. “É uma grande honra receber o prêmio, especialmente neste ano de 2012, no qual a Zootecnia comemora 46 anos de existência. Tenho muito orgulho de fazer parte desta história e de ter o privilégio de colaborar, como docente, há 28 anos, com a formação de novos Zootecnistas”. SEMINÁRIO NACIONAL DE ENSINO DA MEDICINA VETERINÁRIA será em outubro O XX Seminário Nacional de Ensino da Medicina Veterinária (SENEMEV), um dos mais respeitados e tradicionais eventos da categoria, será realizado nos dias 8, 9 e 10 de outubro, em Brasília. O evento, organizado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), terá a participação de palestrantes internacionais e será realizado em novo formato. A idéia é apresentar um seminário interativo, onde será elaborado, também, um documento final com a contribuição dos participantes contendo diretrizes, ações e metodologias para a Medicina Veterinária. A XX edição do SENEMEV terá tradução simultânea para palestras internacionais e será transmitido, ao vivo, aos internautas que poderão acompanhar o evento pelo site do CFMV e enviar perguntas em tempo real aos palestrantes. Receba via Twitter as notícias e informações de importância da Medicina Veterinária e da Zootecnia. Para seguir o CFMV, procure, no Twitter, por CFMV_oficial. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 33 SuplementoCientífico Potenciais fatores de risco da síndrome cólica em equinos Regina Valéria da Cunha Dias / Maria Verônica de Souza / José Dantas Ribeiro Filho Síndrome do cão nadador. Descrição de caso. Tomas Ottoni Barroso da Silva / Igor Mansur Muniz / Denise de Mello Bóbany Raissa Murta Miranda Carvalho / João Carlos de O. Castro O uso das lentes acrílicas dobráveis Acrivet® 30V após cirurgia de catarata em cão João Alfredo Kleiner Cicatrização de feridas cutâneas e métodos de avaliação. Revisão de literatura Caroline Rocha de Oliveira Lima / Rogério Elias Rabelo / Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura Luiz Antônio Franco da Silva / Leonice Manrique Faustino Tresvenzol REVISTA DO CFMV - Brasília - DF - Ano XVIII - N° 56 - 2012 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília-DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br [email protected] DIRETORIA EXECUTIVA Presidente Benedito Fortes de Arruda Vice-Presidente Eduardo Luiz Silva Costa Secretário-Geral Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk 34 Tesoureiro Amilson Pereira Said Editor da Revista CFMV Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG nº 1759 Comitê Científico da Revista CFMV Presidente Cláudio Lisias Mafra de Siqueira CRMV-MG nº 5170 Conselho Editorial da Revista CFMV Roberto Baracat de Araújo Eduardo Luiz Silva Costa Gilson Helio Toniollo Presidente CRMV-SE nº 0037 CRMV-MG nº1755 CRMV-SP nº 2113 Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk João Luis Rossi Júnior CRMV-PR nº 0850 CRMV-SP nº 11607 e CRMV-ES nº 1206/VS Amilson Pereira Said Luiz Fernando Teixeira Albino CRMV-ES nº 0093 CRMV-MG nº 0018/Z Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Potenciais fatores de risco da síndrome cólica em equinos Potential risk factors of colic syndrome in horses Resumo O conhecimento mais acurado dos fatores de risco associados à síndrome cólica nos equinos permite uma abordagem mais direcionada e, além disso, a adoção de medidas que reduzem a sua ocorrência e recidiva. A predisposição a esses fatores varia, com as práticas de manejo alimentar e sanitário, com a atividade física desenvolvida, assim como com a região geográfica. Palavras-chave: cavalos, dor abdominal, abdômen agudo, fatores predisponentes, trato gastrointestinal Abstract The most accurate knowledge of risk factors associated with colic syndrome in horses allows a more targeted approach of the animals with this syndrome, as well as the adoption of measures to reduce the occurrence and recurrence of disorder. The predisposition to these factors varies with nutritional and sanitary managements, with the physical activity performed, as well as by geographic region. Keywords: horses, abdominal pain, acute abdomen, predisposing factors, gastrointestinal tract Introdução A síndrome cólica (Figura 1) é responsável por perdas econômicas devido a gastos com tratamento, período de afastamento do animal de suas atividades e, inclusive, por óbito. Conhecer os potenciais fatores para o seu desenvolvimento é importante para o melhor entendimento, de forma a preservar a saúde e o bem-estar dos animais (Laranjeira e Almeida, 2008). A importância do fator de risco é determinada quando a incidência de cólica aumenta em um grupo de equinos expostos a um fator em particular, comparado a um grupo que não foi exposto (White, 2005a). Por outro lado, devido às diferenças no desenho adotado nos estudos, assim como nas populações-alvo e áreas geográficas a que se referem, os resultados obtidos são muitas vezes distintos e, nem sempre, podem ser extrapolados para a população equina em geral (Hillyer et al., 2002). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 fotos: Arquivo do Autor Figura 1. Equino evidenciando quadro de síndrome cólica, demonstrando desconforto 35 Suplemento Científico Vários criadores de equinos possuem opinião formada sobre as causas de cólica em suas propriedades. Entretanto, estudos epidemiológicos permitem testar a hipótese da relação entre exposição ao fator de risco e desenvolvimento da síndrome. Identificar animais de alto risco pode ajudar a determinar se existe predisposição generalizada à ocorrência da síndrome cólica ou se apenas alguns equinos são responsáveis pela maioria dos casos observados. Nesse sentido, essa revisão teve como objetivo a abordagem dos principais fatores de risco associados à síndrome cólica, para que possa servir de subsídio para a indicação de medidas preventivas. Desenvolvimento A incidência anual de casos, nos Estados Unidos, é estimada em 4,2 cólicas para cada 100 equinos/ ano, com letalidade de 11%, e 1,4% do total de casos resultando em cirurgia (Traub-dargatz et al., 2001). No Brasil, não existem dados estaduais ou nacionais como os obtidos na pesquisa norte-americana. As pesquisas desenvolvidas no País envolvem animais em hípicas, hospitais veterinários e unidades militares. Um dos estudos foi um levantamento realizado nas fichas clínicas de equídeos atendidos no Hospital Veterinário do campus de Araçatuba, no período de fevereiro de 2005 a agosto de 2009, com 57 casos de cólica, tendo 39 deles (68%) recebido tratamento clínico e 18 (32%) tratamento cirúrgico; a letalidade observada foi de 23% (Vicarivento et al., 2010). Outra pesquisa teve como objetivo avaliar o perfil e a distribuição da síndrome cólica em 770 equinos, no período entre 2003 e 2004, em três unidades militares no Rio de Janeiro: o Regimento Escola de Cavalaria (REsC), a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e o Esquadrão Escola de Cavalaria (EEC). A incidência foi de 0,12, 0,21 e 0,95 casos/equino ano na Aman, no EEC e no REsC, respectivamente. Quinze (Aman), trinta (EEC) e sessenta e nove (REsC) por cento dos animais foram acometidos (Laranjeira et al., 2009). Esses estudos sinalizam a necessidade de pesquisas epidemiológicas para determinação dos fatores de risco a que a população equina nacional está submetida. Na sequência, são descritos alguns desses possíveis fatores. Histórico de cólica Equinos com histórico anterior de cólica possuem maior risco de apresentarem um novo episódio do quadro (Reeves et al., 1996; Tinker et al., 36 1997; Cohen et al., 1999b; White, 2005b), sendo, inclusive, a complicação mais frequente a curto (Mair e Smith, 2005a) e longo prazo (Mair e Smith, 2005b), após procedimento cirúrgico de problemas no trato gastrointestinal. Nessas situações, o maior risco pode estar associado à ocorrência de aderências e estreitamentos intestinais. O histórico de episódio anterior não ajuda a identificar o mecanismo patofisiológico da síndrome, nem é um fator de risco que possa ser alterado. Porém, a associação de um episódio de cólica com um quadro subsequente é uma informação importante (Cohen, 1997). Possivelmente, a falta de esclarecimento sobre os fatores que determinaram o surgimento da síndrome cólica resulta na permanência dos fatores de risco na propriedade, contribuindo para o surgimento de novos episódios. Idade Resultados obtidos a partir de investigações para avaliar a associação entre idade e síndrome cólica são conflitantes. Enquanto alguns estudos revelam que equinos mais jovens são menos predispostos (Traub-dargatz et al., 2001), outros demonstram que animais entre 2 e 10 anos de idade, parecem ser os mais susceptíveis (Tinker et al., 1997; Mehdi e Mohammad, 2006). Ao que parece, a problemática aumenta à medida que a faixa etária é a mais produtiva, e grande parte dessa susceptibilidade deve-se principalmente, às falhas no manejo nutricional. Por outro lado, certos tipos de cólica são característicos de determinadas idades, como é o caso da intussuscepção ileocecal (White, 2005b) e da obstrução por mecônio ou por ascarídeos nos potros, assim como do lipoma estrangulante nos animais idosos (Tinker et al., 1997). Estudando a incidência de cólica clínica e cirúrgica em equinos, Abutarbush et al. (2005) observaram que animais mais velhos (média de 8 anos) eram mais frequentemente submetidos a procedimentos cirúrgicos, comparados aos equinos mais jovens (média de 6 anos), comumente tratados clinicamente. Sexo Apesar de algumas pesquisas não sinalizarem a associação entre sexo e ocorrência de cólica (Reeves et al., 1989; 1996; Traub-dargatz et al., 2001; Mehdi e Mohammad, 2006), estudos contradizem esses achados. White (2005a) demonstrou, em uma população de éguas prenhes, maior risco de desloRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 camento e vôlvulo de cólon maior durante o final da gestação e início da lactação. Entretanto, Tinker et al. (1997), comparando a exposição a fatores de risco, observaram que éguas possuem maior possibilidade de apresentar cólica no período de 60 a 150 dias após o parto. Os eventos relacionados a essa maior frequência são desconhecidos, mas baixos níveis de cálcio e alterações na dieta, como aumento no teor de energia devido à adição de concentrados em conse quência da lactação, podem estar associados à afecção (White, 2005a). Já os garanhões são susceptíveis a ocorrência de hérnia inguinal e, mais raramente, ao encarceramento das alças intestinais no forame epiplóico (White, 2005b), que também é mencionado em potros e equinos machos idosos. É possível que a maior prevalência da hérnia esteja relacionada com uma ampla dimensão do anel inguinal. Raça Apesar de Kaneene et al. (1997) descreverem que não há associação entre raça e síndrome cólica, pesquisas demonstraram que animais da raça Árabe apresentam maior frequência da doença (Cohen et al., 1995; Cohen e Peloso, 1996; Reeves et al., 1996; Traub-dargatz et al., 2001), o que possivelmente está relacionado com a criação intensiva e falhas no manejo nutricional. Equinos marchadores e garanhões de sangue quente parecem ser mais predispostos a apresentar hérnias inguinais, devido ao maior tamanho do anel inguinal. Apesar de rara, a aganglionose recessiva e letal acarreta cólica em potros da raça Paint Horse nascidos de éguas e garanhões de pelagem oveira (White, 2005a), sendo a única causa comprovada da síndrome como de origem genética. por compactação do intestino grosso em equinos atendidos no hospital veterinário da Universidade Federal de Viçosa (Ribeiro Filho et al., 2007). Importante interação foi encontrada entre a pessoa (proprietário ou não) responsável pelos cuidados com o animal e histórico de cólica. Equinos que já apresentaram cólica e que são manejados por tratadores possuem quase 2,5 vezes mais risco de apresentarem o quadro do que aqueles sem antecedentes da síndrome e cuidados pelos proprietários (Reeves et al., 1996). Esses achados destacam as diferenças entre os grupos, e sugerem também a melhor participação no manejo dos animais por parte dos proprietários (White, 2005a). Estudo realizado por Hillyer et al. (2002), com a finalidade de identificar os fatores de risco da cólica, por obstrução simples e distensão de cólon maior, revelou que os três principais fatores foram estabulação intensiva, aerofagia e transporte efetuado até 24 horas antes da manifestação da dor. É amplamente conhecido que, sob regime de confinamento intensivo, os animais sofrem alterações comportamentais decorrentes do isolamento e na fisiologia digestiva, predispondo à ocorrência de síndrome cólica. De acordo com Cox et al. (2007), a cólica decorrente do confinamento e restrição de acesso a pasto resulta de modificações nos hábitos alimentares, o que interfere na motilidade intestinal. Ainda que a aerofagia possa não ser a causa primária na etiologia da cólica por obstrução simples Manejo na propriedade Alterações recentemente efetuadas no manejo, como, por exemplo, a redução da área de pastejo e a diminuição do exercício em frequência e intensidade, também foram associadas ao aumento do risco de cólica (Cohen et al., 1999a). Adicionalmente, o fornecimento de capim de má qualidade nos períodos da seca é um problema que frequentemente resulta em cólica. Capineiras mal manejadas gerando fibra de difícil digestão ou de má qualidade (Figura 2) representaram a principal causa de cólica Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Figura 2. Capim de má qualidade: importante fator de risco de cólica por compactação 37 Suplemento Científico e distensão de cólon maior, pode ser um sinalizador sobre práticas de manejo, temperamento e outros fatores predisponentes da síndrome (Archer et al., 2004, 2008). De acordo com Archer et al. (2004, 2006), o quadro está associado ao maior risco de obstrução simples de cólon menor e encarceramento do intestino delgado no forâmen epiplóico. Segundo White (2005b), é provável que o ato de aerofagia ocasione pressão abdominal negativa, o que pode resultar em movimento do intestino para o espaço referente ao omento menor. Estresse decorrente da atividade física, competição e exposição As pesquisas ainda são insuficientes para avaliar de forma adequada os riscos de cólica relacionados a exercício ou intensidade da atividade física. Animais de corrida, exposição e enduro apresentam maior risco de úlcera gástrica, que pode resultar em episódios de cólica (Reeves et al., 1996; Kaneene et al., 1997; Vatistas et al., 1999; White, 2005b). Entretanto, quando se trata de cólica por compactação, White (2005a) descreveu menores riscos em animais treinados para exposição em comparação com aqueles submetidos a treinamento intenso, como animais de corrida. Cohen et al. (1999b) relataram aumento do risco de cólica em equinos que são exercitados pelo menos uma vez por semana comparados com aqueles não trabalhados. Na opinião dos autores, animais a pasto, em propriedades com baixa densidade animal, possuem menor risco, ainda que exista a possibilidade de tais episódios não estarem sendo diagnosticados. Nesse contexto, deve ser levada em consideração a atuação de fatores de risco ligados a dietas ricas em concentrados, assim como a diminuição da área de pastejo, que podem gerar confundimento nos casos de cólica relacionados à atividade física dos animais. maior eficiência na vermifugação dos animais (White (2005a) que, de acordo com Reinemeyer (2009), deve ser realizada pelo menos duas vezes ao ano. A redução no risco de cólica após vermifugação também é relatada por Reeves et al. (1996). Porém, outros autores não encontraram esse efeito (Morris et al., 1989; Cohen et al., 1995). Por outro lado, vermifugações recentemente efetuadas também podem causar cólica. Isto é mais comum em potros, em associação com obstrução intestinal, devido a rápida morte de ascarídeos, resultando em obstrução intraluminal (White, 2005a). Uhlinger (1992), estudando os efeitos de diferentes protocolos de vermifugação na incidência de cólica, observou ausência de efeito significativo sobre o risco de cólica. Adicionalmente, na opinião de Morris et al. (1989), outros fatores devem ser mais determinantes para a ocorrência de cólica em uma população, do que o fator de risco vermifugação. Ainda que essa afirmativa tenha fundamento, a vermifugação periódica pode ser uma forma de evitar alguns tipos de cólica. De modo geral, a frequência de vermifugação preconizada para equinos no Brasil é trimestral, ou seja, quatro vezes ao ano, ainda que possa variar com a região geográfica, estação do ano, tipo de criação, entre outros fatores. Condições climáticas A relação entre a prevalência de cólica e variações climáticas é descrita. A compactação (Figura 3), fre- Parasitas O cestódeo Anoplocephala perfoliata foi associado à intussuscepção íleocecal e cecocólica em equinos (Uhlinger, 1992; Plummer, 2009; Reinemeyer, 2009). Por outro lado, a diminuição da observação de cólica associada à trombose da artéria mesentérica cranial devido a larvas de Strongylus vulgaris pode estar associada a 38 Figura 3. Fezes ressecadas e com a presença de muco: sugestivo de cólica por compactação Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 quentemente observada em equinos de diferentes regiões do Brasil, ocorre particularmente durante os meses de inverno seco, quando a disponibilidade de pastagem é inadequada. De acordo com Ferreira et al. (2009), a associação entre compactação de cólon menor e a época do inverno está relacionada com inadequado consumo de água ou modificação na dieta. Essa afirmativa é corroborada pela casuística do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa, (Lopes et al., 1998) onde a maioria dos casos clínicos de equinos com compactação do cólon maior ocorre nos meses de maio a agosto, período de inverno. A associação da fibra de má qualidade e menor consumo de água são importantes fatores de risco no aparecimento da cólica por compactação do intestino grosso. Segundo Cohen et al. (1999b), mudanças climáticas, como tempestades e quedas bruscas de temperatura três dias antes do episódio de cólica, também podem se associar à síndrome cólica. No entanto, aconselham uma interpretação cuidadosa desse resultado, já que pode ter sido influenciado por outros fatores. Na prática, um tipo de cólica frequentemente relacionado com alteração climática é a espasmódica, caracterizada pelo aumento da contração intestinal, resultante de espasmos anormais que, nesse caso, está associado ao estresse ou tensão nervosa. a transportes (Archer e Proudman, 2006). White (2009) citou que a associação entre alimentação rica em concentrados e aerofagia em animais transportados aumenta o risco, mas descreveu que o mecanismo para maior incidência em animais transportados ainda é desconhecido. Alimentação Muitas das informações disponíveis a respeito da relação entre dieta e síndrome cólica são baseadas em hipóteses ou extrapolações de dados experimentais que não foram corroborados com observações epidemiológicas. Adicionalmente, existem controvérsias a respeito desse tema, já que enquanto um estudo não demonstrou associação entre cólica e o tipo de concentrado disponibilizado aos animais (Tinker et al., 1997), outros observaram essa relação (Cohen et al., 1999a; Traub-dargatz et al., 2001). Por outro lado, não existem dúvidas sobre a importância da quantidade de concentrado como fator de risco (Tinker et al., 1997; Hudson et al., 2001). Mais especificamente, com respeito ao tipo do concentrado, Tinker et al. (1997) descreveram que o fornecimento do grão de cereal inteiro apresenta menor risco de cólica enquanto alimentos mais processados (peletizados e laminados) aumentaram o risco. Reeves et al. (1996) também observaram menor risco no fornecimento do grão inteiro, desde Transporte Embora a ocorrência de compactação do cólon maior exija, geralmente, alguns dias para se instalar, o quadro já foi relacionado como resultante do transporte realizado 24 horas antes do episódio de cólica (Hillyer et al., 2002). Ribeiro Filho (2003) confirmou que a compactação pode ocorrer em apenas 24 horas, não necessitando de vários dias para o seu desenvolvimento. Os autores induziram o quadro, com a privação de água e a administração de furosemida, que resultou na formação de massa compacta de alimento facilmente detectada à palpação transretal. Apesar de o transporte (Figura 4) ser um fator de risco, alterações simultâneas no manejo como confinamento, jejum hídrico e alimentar podem estar relacionados com o aparecimento da síndrome em animais recentemente submetidos Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Figura 4. O transporte é considerado um importante fator de risco de síndrome cólica, particularmente se o animal for submetido a outros fatores como, por exemplo, jejum hídrico e alimentar 39 Suplemento Científico que não fosse milho, entretanto associaram esse feno de alfafa possui alta concentração de magnésio achado à atividade física causando confundimento. e elevado teor protéico. Também é possível que muFinalmente, Hudson et al. (2001) descreveram assodanças na qualidade ou quantidade de volumosos ciação entre síndrome cólica e o fornecimento de causem alterações no pH do cólon, na produção de dietas contendo quantidades superiores a 2,7 kg de ácidos graxos voláteis e até mesmo na sua microaveia por dia. biota (Cohen et al., 1999b; Hillyer et al., 2002). No Com relação à quantidade de concentrado, Brasil, a associação entre forragem e síndrome cólica equinos alimentados com mais de 2,5 kg ou 5 kg de vem sendo estudada de forma mais acurada, nos concentrado, por dia, apresentarem respectivamenúltimos 10 anos, em animais mantidos em pastagens te, 4,8 ou 6,3 vezes mais chances de desenvolver a nos estados localizados na região norte. A síndrome síndrome cólica (Tinker et al., 1997; Hudson et al., de evolução aguda ocorre principalmente na esta2001; Gonçalves et al., 2002; Archer et al., 2006). ção chuvosa (novembro a maio), causando dor de Portanto, o aumento da quantidade fornecida de moderada a intensa, timpanismo e dilatação abdoconcentrado aumenta o risco de ocorrência. Na opiminal em equinos e muares mantidos em pastagens nião de White (2005b), essa associação entre cólica de Panicum maximum cultivares Mombaça, Tanzânia e concentrado deve-se à diminuição do conteúdo e Massai (Cerqueira et al., 2009; Cerqueira, 2010). líquido no cólon, em decorrência da redução no teor O quadro de cólica ocorre quando o Panicum maxide fibra, assim como pelo aumento da produção de mum está em brotação, período em que possui o dogases, criando ambiente favorável a timpanismo e bro da concentração de carboidratos não estruturais deslocamentos. altamente fermentáveis, quando comparado com a Com relação ao consumo de fibra, sabe-se que, pastagem madura (Cerqueira, 2010). além de ser importante para manutenção de microrgaÉ importante destacar que o fluxo da digesta nismos desejáveis no intestino grosso, proporciona, nos no trato digestório é influenciado por vários fatores equinos, efeito psicológico de saciedade e produção de como espécie, idade, exercício, temperatura ambienβ-endorfinas durante os movimentos de mastigação te, além de aspectos diretamente relacionados com (Braga et al., 2008). Adicionalmente, a fermentação a dieta (composição, quantidade, qualidade, tipo e das fibras pela microbiota produz energia e previne a tamanho das partículas do alimento, frequência da proliferação de bactérias potencialmente patogênicas alimentação e teor de água) e particularidades do (Braga et al., 2008). O conteúdo de fibras de um alimento afeta o tempo de alimentação, a quantidade de mastigação e o conteúdo de matéria seca do bolo alimentar ingerido (Meyer, 1995). De acordo com Cunha (1991), a necessidade mínima de ingestão de forragem é de 25 a 50% da dieta total, com base na matéria seca. White (2005b) descreveu que alguns tipos de forragens podem causar cólica por diversas razões, como exemplos cita os pastos jovens como associados a quadros de timpanismo primário do ceco e do cólon e o feno de alfafa à formação de enterólitos. O capim demasiadamente jovem é um alimento altamente fermentável, enquanto o Figura 5. Água de má qualidade e em quantidade restrita pode resultar em síndrome cólica 40 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 trato gastrointestinal. O volumoso passa mais rápido pelo estômago e intestino delgado do que o concentrado, mas fica retido mais tempo no intestino grosso (Meyer, 1995; Laranjeira e Almeida, 2008). O consumo reduzido de água e a dieta rica em fibras de baixa digestibilidade são tradicionalmente incriminados no surgimento de cólica por compactação do intestino grosso (Cohen et al., 1999a; Laranjeira e Almeida, 2008; Plummer, 2009). Samaille (2006) relatou que o risco da síndrome aumenta quando a água é de má qualidade (Figura 5) ou é oferecida em quantidades restritas, levando a uma ingestão diária inferior à necessária, que de acordo com o National Research Council (NRC, 2007) é de 2 a 3 litros/kg MS para um animal de 500 kg. É fato conhecido que o tipo, qualidade e quantidade do alimento fornecido, assim como o número de refeições podem influenciar no aparecimento da síndrome cólica nos equinos (White, 2009); sendo assim, o manejo nutricional adequado deve ser uma prioridade na prevenção de novos quadros. Considerações Finais São muitos os fatores de risco associados à síndrome cólica em equinos. A maioria deles está relacionada com o manejo na propriedade, podendo ser controlados ou prevenidos pelo homem, porém devem ser muito bem compreendidos para diminuir seu impacto. No Brasil, são raros os estudos epidemiológicos associando fatores de risco e síndrome cólica. A falta de conhecimento sobre esses fatores mantém criadores e veterinários em constante alerta sobre a ocorrência dessa afecção. Estudos dessa natureza são necessários nas diferentes regiões geográficas brasileiras, para que se possa reduzir a incidência da síndrome mediante a tomada de medidas preventivas e, consequentemente, as perdas econômicas ocasionadas. Referências Bibliográficas A B UTA R B US H , S . M . ; C A R M ALT, J. L . ; SHOEMAKER, R.W. Causes of gastrointestinal colic in horses in western Canada: 604 cases (1992 to 2002). Canadian Veterinary Journal, v.46, n.9, p. 800-805, 2005. ARCHER, D.C.; FREEMAN, D.E.; DOYLE, A.J.; PROUDMAN, C.J.; EDWARDS, G.B. Association between cribbing and entrapment of the small intestine in the epiploic foramen in horses: 68 cases (1991– 2001). Journal of the American Veterinary Medical Association, v.224, n.4, p. 562564, 2004. ARCHER, D.C.; PROUDMAN, C.J. Epidemiological clues to preventing colic. The Veterinary Journal, v.172, n.1, p.29-39, 2006. ARCHER, D.C.; PINCHBECK, G.L.; PROUDMAN, C.J. 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DESCRIçãO DE CASO SWIMMING PUPPY SYNDROME IN A DOG Resumo Um filhote da raça Dogo Argentino, portador da Síndrome do Cão Nadador, Hipoplasia Miofibrilar, de rara ocorrência na rotina clínica, foi acompanhado em todas as etapas da evolução de seu quadro clínico e tratado mediante diferentes programas de reabilitação. Este trabalho visa divulgar um protocolo de tratamento bem-sucedido, caracterizado pela utilização de bandagens associadas a trabalhos de fisioterapia, elucidar a recuperação do animal iniciada a partir da primeira semana e involução de sinais clínicos em 17 dias. Palavras-chave: hipoplasia miofibrilar, filhotes, imobilização Abstract One Argentine Dogo puppy, bearer of the Swimming Puppy Syndrome, Myofibrillar Hypoplasia, a rare occurrence in routine clinical practice, was accompanied at all stages of its clinical condition evolution and treated by different rehabilitation programs. This work disclosing of a well succeeded treatment protocol, wich was characterized by the use of bandages work associated with physiotherapy, with the beginning of recovery on the first week and regression of clinical signs in 17 days. Keywords: myofibrillar hypoplasia, puppies, immobilization Introducao A síndrome do cão nadador ou Hipoplasia Miofibrilar, também conhecida popularmente por “posição de paraquedista” ou “síndrome do cachorro tartaruga”, é o resultado de uma anomalia no desenvolvimento músculo esquelético caracterizada por tetraparesia ou paresia de membros torácicos em 26% dos casos e, em menor frequên cia, dos membros pélvicos (8%). É considerada uma rara afecção em Medicina Veterinária, observada em filhotes entre a segunda e terceira semanas de vida, cães de raças condrodistróficas, em ambos os sexos e raramente observada em felinos (Burger et al., 2007). De acordo com Yardimci et al. (2009), a causa da Hipoplasia Miofibrilar, ainda desconhecida, é pobre de documentação científica, podendo ser de origem alimentar. Segundo Angulo (2010), nesse caso, deve-se a alimentos pobres em proRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 teína fornecidos à mãe entre o 17º ao 22º dias de gestação. No entanto, no relato de casos de quatro animais portadores por Mello, et al, (2008) há referência à causa alimentar consequente a dietas compostas tanto por altas quanto por baixas concentrações protéicas. Outras possíveis causas são consequentes a alterações da função sináptica neuromuscular, deficiência na mielinização dos neurônios motores periféricos e atraso do desenvolvimento muscular, associadas à manutenção do animal em piso liso e escorregadio (Burger et al., 2007). A sintomatologia é observada em filhotes de uma semana de vida e representada por permanência em decúbito esternal com movimentos de membros na tentativa de se locomoverem (Yardimci et al.,2009). Quando apresenta tetraparesia, o filhote rasteja, gerando, como consequência, lesões na região ventral do abdômen e dos membros, 43 Suplemento Científico fotos: Arquivo do Autor Figura 1. Filhote de Dogo Argentino com abdução de membros torácicos e pélvicos sugestivas de síndrome do cão nadador. pelo atrito do corpo com o piso (Burger et al., 2007). Dentre as possíveis complicações, são observadas incontinência urinária, dispnéia por aumento de peso na cavidade torácica e luxação de patela (Burger et al., 2007; Yardimci et al., 2009). Faz-se o diagnóstico por meio de dados de anamnese e do exame clínico associados ao exame radiográfico. Pela radiografia de tórax pode-se proceder ao diagnóstico diferencial, particularmente com pectus excavatum, que revela aprofundamento da região esternal em direção à coluna vertebral (Fournier, 2008; Rahal et al., 2008), que pode ocorrer independentemente ou simultaneamente a síndrome do cão nadador (Yardimci et al., 2009). De acordo com Yardimci et al. (2009), a síndrome pode vir acompanhada do peito plano, com a região esternal apresentando-se, paralela à coluna vertebral devido ao período de decúbito esternal prolongado, já que o animal está impossibilitado de manter-se em estação. Embora não se encontre, na literatura, um protocolo de tratamento específico, alguns autores afirmam que a deficiência resultante da síndrome é autocorrigida com o fortalecimento e desenvolvimento dos músculos. Trabalhos de fisioterapia são sugeridos e podem contribuir para a diminuição de eutanásias, às vezes recomendadas como única solução possível (Verhoeven et al., 2006). Yardimci et al. (2009) obtiveram recuperação em 42 dias após instituir fisioterapia, e Verhoeven 44 et al. (2006) alcançaram a cura em 30 dias. Burger et al. (2007) indicam a imobilização dos membros por algumas semanas e administração de vitamina E e selênio e relatam recuperação com 20 dias. Verhoeven et al. (2006) recomendam esse tratamento entre a terceira e quarta semanas de vida do filhote, quando os ossos e as articulações são mais flexíveis, aumentando as chances de corre- Figura 2. Imagem da região ventral do filhote. Presença de escoriações na pele de membros e umbigo ção, porém alertam para problemas que a imobilização pode causar, como edema e isquemia, além de infecções de pele devido à contaminação por urina e fezes. O presente relato, protocolado sob o número 0300/10 e aprovado pela Ceta-Unifeso, sugere Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 se arrastava. Não apresentava apatia, nem sinais neurológicos ou de atrofia muscular, estava sem febre e se alimentava bem. O exame radiográfico revelou imagem sugestiva de incongruência coxofemoral bilateral (Figura 3), que associada à incapacidade de d eambulação e alteração anatômica morfofuncional permitiram o diagnóstico de hipoplasia miofibrilar ou síndrome do cão nadador. Inicialmente, foi realizado tratamento contra ectoparasitas por meio da aplicação mensal de selamectina (Revolution® 6%) bem como foram tratadas Figura 3. Imagem radiográfica ventrodorsal da pelve evidenciando incongruência coxofemoral um protocolo para o tratamento da hipoplasia miofibrilar, pouco agressivo e eficaz, restituindo os padrões anatômicos e em curto período de tempo. Relato do caso No dia 22/2/2010 foi atendido na Clínica-Escola de Medicina Veterinária do Unifeso um canino, fêmea, da raça Dogo Argentino, com 35 dias de vida, pesando três quilos, apresentando os membros torácicos e pélvicos abduzidos (Figura 1). Além da abdução dos membros, o filhote apresentava intensa infestação por pulgas e diversas escoriações nas regiões ventral, dos membros e do umbigo (Figura 2), consequentes ao atrito provocado entre corpo do animal e o piso, já que Figura 5. Demonstra aplicação de suporte a base de cintas de couro e cão sobre piso antiderrapante Figura 4. Imobilização dos membros torácicos e pélvicos com micropore e esparadrapo Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 as lesões por atrito com pomada à base de sulfato de neomicina + bacitracina (Nebacetin®), aplicada duas vezes ao dia, até a cicatrização completa das lesões. Foi corrigida a alimentação, com papinha para desmame (A2, Royal Canin®), quatro vezes ao dia, na quantidade recomendada pelo fabricante. No dia 24/2/2010 foi feita imobilização dos membros torácicos e pélvicos com ataduras de micropore e esparadrapo (Figura 4), fixando os membros anteriores por uma algema de esparadrapo. Como o filhote permanecia em decúbito a maior parte do tempo, foi adequado um suporte 45 Suplemento Científico Figura 7. Desvio ósseo (plantigradismo) em região carpal Figura 6. Lesões eritematosas de pele provocadas pelo material de imobilização prendendo uma cinta de couro na região torácica e outra na pélvica, ambas fixadas na parte inferior do assento de uma cadeira, mantendo o filhote apoiado e levantado do solo sobre 2m² de piso antiderrapante (Figura 5), oferecendo uma superfície áspera que impediu quedas, como recomendaram Yardimci et al. (2009). Foram aplicados movimentos aos membros pélvicos e torácicos, duas vezes ao dia, por 10 minutos, objetivando fortalecimento de músculos e ligamentos. Também, na troca dos curativos, foram realizados trabalhos de extensão, flexão e adução nas articulações envolvidas, durante 15 minutos em cada membro, como recomendado por Verhoeven et al. (2006). Após cinco dias de início do tratamento, o filhote conseguiu se manter em estação à época da troca das ataduras, mas foram identificadas Figura 8. Filhote após a remoção definitiva das bandagens, apresentando postura normal e preservação da anatomia dos membros 46 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 pequenas lesões na pele (Figura 6) provocadas por sujidades e umidade na imobilização, assim como encontrado por Verhoeven et al. (2006). A bandagem foi removida; foi instituído banho com sabonete neutro líquido para bebês e uso de pomada, sem, contudo, haver evidências de edema e pontos de isquemia. Porém, sem imobilizações, foi observado que o filhote, embora conseguisse manter-se em estação, deambulava incoordenadamente e seus membros ainda estavam abduzidos. Decidiu-se, no dia 1/3/2010, unir seus membros posteriores e anteriores apenas por algemas de micropore com esparadrapo, diminuindo a superfície de contato das bandagens com a pele. No dia 2/3/2010, aos 43 dias de vida, o filhote foi solto em espaço de piso áspero, onde pôde se exercitar livremente, contribuindo significativamente para seu bem-estar. No dia seguinte, as imobilizações no formato de algemas foram removidas para troca, e nova imobilização apenas nos membros pélvicos foi recolocada. Por apresentar plantigradismo (extensão carpal) nos membros torácicos (Figura 7), o filhote passou a receber 2 mL de Glicopan Pet® a cada 12/12 horas e por trinta dias, para um fornecimento extra de vitaminas e minerais e 7,5g de sulfato de condroitina A (Condroton injetável®), uma aplicação de 3 mL, por semana, durante três semanas, na intenção de favorecer a fisiologia e reparação articulares. A partir do dia 4/3/2010, as imobilizações foram removidas a cada dois dias para observação de resultados até que, no dia 10/3/2010, com 17 dias de tratamento, a cadela teve todas as ataduras removidas em definitivo, mais precocemente do que os resultados obtidos por Verhoeven et al. (2006) e Yardimci et al. (2009). Aos quatro meses de idade obser vou-se d eambulação correta e adequada qualidade de vida (Figura 8 ). Considerações finais O tratamento de animais portadores de síndrome do cão nadador é dependente de acompanhamento constante, dedicação do proprietário, cuidados com a alimentação, instituição de exercícios supervisionados e observação precisa dos efeitos colaterais da aplicação de bandagens esparadrapadas. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Referências Bibliográficas ANGULO, S.M.. Enfermidades de los Neonatos. Disponível em: <campusveterinariosenweb.com>. Acesso em: 30 Jul. 2010. BURGER, C.P.; SILVA, R.B.; CANOLA, J.C.; FILHO, J.G.P.; OLIVEIRA, G.G.S., Síndrome do filhote nadador em gato: relato de caso. Acta Scientiae Veterinariae, v.35, p.1393-1394, 2007. FOURNIER, T.E. Dynamic right ventricular outflow tract (infundibular) stenosis and pectus excavatum in a dog. Canadian Veterinary Journal, v.49, n.5, p.485-487,2008. MELLO, F.P.S.; NEUWALD, E.B.; ALIEVIM.M.. Síndrome do cão nadador - relato de 4 casos. SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – ED. 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Responsável Técnico da ClínicaVeterinária Cantinho da Bicharada 47 Suplemento Científico O USO DAS LENTES ACRÍLICAS DOBRÁVEIS ACRIVET® 30V APÓS CIRURGIA DE CATARATA EM CÃES ACRIVET® 30V foldable acrylic intraocular lenses implant in dogs Resumo A catarata é uma das doenças oculares mais comuns na oftalmologia veterinária de pequenos animais, afetando principalmente cães de diferentes raças e idades. Devido ao seu caráter progressivo, normalmente causa cegueira e se não tratada origina inflamações intraoculares severas, podendo causar até mesmo a perda do globo ocular. Com o advento da técnica de facoemulsificação e o desenvolvimento de lentes artificiais especialmente desenvolvidas para os animais, os resultados obtidos, principalmente quanto ao restabelecimento da visão, tornaram-se melhores. Palavras-chave: catarata, facoemulsificação, lente intraocular, Acrivet ® Abstract Abstract: Cataract is one of the most common ocular diseases in the small animal practice, affecting mainly dogs of different ages and breeds. Due to its progressive characteristic, the cataract usually causes blindness and if not treated originates severe intraocular inflammations that could cause ocular globe losses. With the advent of phacoemulsification and the development of artificial lenses specially made for animals the results obtained in the surgery, particularly pertaining to restoring the vision, became much better. Keywords: cataract, phacoemulsification, intraocular lenses, Acrivet ®. INTRODUÇÃO A lente ou cristalino é uma estrutura avascular, transparente e biconvexa localizada logo atrás da íris, na frente do humor vítreo e sustentada na sua região equatorial pelas fibras zonulares de Zinn do corpo ciliar (Miller, 2008). É formada de 1/3 de proteínas e 2/3 de água e outros componentes (lipídeos, aminoá cidos, eletrólitos e carboidratos) (Slatter, 2001). Essa alta concentração protéica é responsável pelo alto índice de refração lenticular, o que, juntamente com a acomodação, constituiem-se na sua principal função (Evans, 1993). O termo catarata é usado para definir uma opacificação parcial ou completa do cristalino (cápsula e/ ou núcleo), impedindo a passagem da imagem e cau- 48 sando perda parcial ou completa da visão (Davidson e Nelms, 1999). O mecanismo básico da formação é dado pelo desarranjo protéico lenticular e dentre as causas principais estão a hereditariedade, diabetes melito (hiperglicemia), inflamações intraoculares (Wilcock e Peiffer, 1987), traumas oculares, degeneração avançada da retina, substâncias tóxicas e radiações (Glover e Constantinescu, 1997). A catarata aparece mais comumente em cães do que em gatos, sendo as raças Poodle Toy, Cocker Spaniel, Schnauzer, Pequinês e Dachshund mais predispostas (Miller, 1987). O único tratamento existente é sua remoção cirúrgica (Turner, 2008), sendo o procedimento de eleição a facoemulsificação (fragmentação da lente com uso de ultrassom). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Fotos: Arquivos do Autor Figura 1. Catarata madura em um cão sem raça definida de 9 anos de idade. Observar o anel de Thornton para segurar o bulbo do olho no momento da incisão em córnea clara com bisturi de 3,2 mm (aumento de 16 x). Com a evolução da facoemulsificação e mais recentemente com o implante de lentes intraoculares dobráveis (Souza et al., 2006), especialmente desenhadas para os animais (cães, gatos, equinos), o procedimento tornou-se mais rápido, os resultados obtidos melhores (95% de sucesso), menor trauma operatório e mínimo desconforto pós-operatório, devolvendo o estado de emetropia aos pacientes operados (Lim et al. 2009). O presente artigo tem como objetivo relatar e descrever os resultados obtidos na cirurgia de catarata utilizando-se a facoemulsificação seguida de implante de uma lente intraocular (LIO) acrílica dobrável Acrivet® 30V em cães de diferentes raças e idades. MATERIAL E MÉTODOS Para o estudo foram usados arquivos clínicos de 20 cães de diferentes raças e idades (24 olhos operados), sem nenhuma outra patologia ocular ou sistêmica e que possuíam catarata em diferentes estágios de maturidade tratadas por meio da facoemulsificação seguida de implante de uma lente intraocular acrílica dobrável de 41 dioptrias (Acrivet ® 30V). Todos os pacientes possuíam eletroretinogramas normais ao exame de estimulação retineana utilizando-se o aparelho BPM-200 (RetinoGraphics ®). O preparo cirúrgico envolveu jejum alimentar de 12 horas e a dilatação pupilar pré-operatória utilizando-se colírios de tropicamida, sulfato de atropina 1% e diclofenaco sódico, alternados com intervalo de 15 minutos entre eles, e iniciando-se 4 horas antes do procedimento. Uma hora antes de iniciada a cirurgia, utilizou-se colírio de Gatifloxacino, também intercalado com os demais. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 A anestesia geral foi induzida com quetamina (10 mg/Kg) e diazepam (0,5 mg/Kg) e mantida com isoflurano. A centralização do globo ocular foi obtida utilizando-se bloqueio local em 4 pontos (3, 6, 9 e 12 horas) com lidocaína a 2% e bupivacaína 0,5 % misturadas na mesma seringa na proporção de 1 : 4. O volume empregado variou de 0,5 a 1 mL em cada ponto e dependeu do tamanho do paciente. Para evitar o uso de blefarostato e a necessidade de uma cantotomia lateral, foram utilizados dois pontos interrompidos simples, verticais, na região palpebral superior e inferior com fio de nailon 0. Em cães com órbita muito profunda, utilizou-se infusão retrobulbar de solução fisiológica (1 a 4 mL) para melhor exposição do bulbo do olho, utilizando-se uma seringa de 5 mL com uma agulha 25 x 7, inserida na região caudal do arco zigomático. Na desinfecção do olho a ser operado foi utilizada solução de iodo-povidine a 5% e soro fisiológico. A incisão triplanar de 3,2 mm (Figura 1) foi feita na córnea clara, utilizando-se bisturi descartável, a mais ou menos 1 mm do limbo, na região de 10 horas, e a incisão auxiliar (paracentese) foi realizada com bisturi de diamante de 1 mm, na região de 2 horas. Para realçar a cápsula anterior e facilitar o procedimento de capsulorréxis, utilizou-se 0,2 mL do corante azul de tripan na câmara anterior, deixando o corante reagir por 5 minutos. A proteção endotelial e midríase mecânica foi obtida por meio da utilização de solução de viscoelástico dispersivo (metilcelulose 2%). A abertura da cápsula anterior (capsulorréxis) foi realizada com uma pinça tipo Masket e tesoura de vannas (Figura 2). Figura 2. Abertura da cápsula anterior utilizando uma pinça de capsulorréxis. Notar o enrugamento capsular observado nas cataratas em fase de reabsorção 49 Suplemento Científico A hidrodissecção e hidrodelineação foi feita utilizando-se solução de BSS (Solução salina balanceada) injetada com uma seringa de 3mL, com uma agulha de 27 g. A técnica de escolha para sulcar o núcleo opaco foi “dividir e conquistar”, utilizando-se uma ponteira de faco tipo “flared” de 30º (Figura 3) . Figura 5. Protetor de silicone usado na ponteira do injetor de titânio Figura 3. Emulsificação nuclear utilizando uma ponteira de facoemulsificação tipo “flared” de 30 graus Após emulsificação nuclear completa e aspiração cortical, um bom polimento capsular foi realizado utilizando-se uma ponteira de irrigação e aspiração reta e parâmetros extremamente baixos. O saco capsular remanescente foi expandido utilizando viscoelástico coesivo e a lente intraocular acrílica dobrável (Acrivet® 30V) foi dobrada no cartucho de inserção (Figura 4). A ponta do injetor foi protegido com a ponteira de silicone (Figura 5) e a LIO foi implantada (Figura 6). Promoveu-se uma boa aspiração de todo viscoelástico remanescente, para evitar grandes picos de pressão nas primeiras horas do pós-operatório, e um bom polimento capsular para minimizar a proliferação celular na cápsula posterior. Na corneor rafia foram utilizados 2 a 3 pontos interrompidos simples e fio de nailon 9-0. No pós-operatório imediato (Figura 7), utilizou-se 0,3 mL de dipropionato de betametasona via subconjuntival e a terapia nos dias subsequentes consistiu, de colírios de lágrima artificial TID por 30 dias, sulfato de atropina 1% TID por 12 dias, acetato de prednisolona 1% TID por 25 dias, cetorolac de trometamina BID por 25 dias e gatifloxacino TID por 20 dias. Nenhuma medicação sistêmica foi utilizada. As opacidades de cápsula posterior foram classificadas numa escala de I a III, sendo I uma opacidade discreta ao redor das bordas da lente, mas com eixo visual limpo; II opacidade periférica mais evidente e diminuição da transparência no eixo visual, originando uma oftalmoscopia incompleta, e grau III opacidades severas periféricas e no eixo visual causando importantes distúrbios visuais. Outros parâmetros analisados incluem manipulação da LIO no momento do implante, edema de córnea, formação de fibrina na câmara anterior, discoria, sinéquias, fraturas de lente intraocular, rupturas capsulares, glaucoma, hifema e descolamento de retina. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 4. Lente intraocular acrílica dobrável de 41 D da Acrivet ® . Notar os anéis na zona óptica 50 Dentre as 15 fêmeas e 5 machos operados, as raças mais prevalentes foram: Poodle Toy (12 animais, 16 olhos operados), Cocker Spaniel (4 animais, 4 olhos operados), Lhasa Apso (2 animais, 2 olhos operados),Shih-Tzu (2 animais, 2 olhos operados). A vantagem da não utilização de um blefarostato é que não tem pressão externa no globo ocular, o que causa extravasamento humoral e de solução Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 salina balanceada pela incisão, mantendo a forma do globo ocular e diminuindo casos de expansão vítrea. As aderências entre cápsula anterior e posterior frequentemente observadas nos casos em que não é implantada uma lente artificial e que originam opacidades capsulares mais severas, não foram observadas neste estudo, obtendo-se os mesmos resultados de publicações anteriores (Siegle e Nasisse, 1999) Figura 6. Lente intraocular sendo implantada dentro do saco capsular e reforçando uma das vantagens do implante de uma lente intraocular, sempre quando possível. Algum grau de opacidade capsular sempre é observado, principalmente na região periférica da LIO, sendo mais discreto nos casos em que se consegue um bom polimento capsular com o sistema de irrigação e aspiração do facoemulsificador, mas na maioria dos casos não interfere com a visão do paciente, ou seja, o eixo visual permanece transparente. No presente estudo observou-se grau 1 em 20 casos e grau 2 em 4 casos e esses foram mais freqüentes nas cataratas duras (Hayashi et al, 1998), pois o polimento capsular tornou-se mais difícil devido à existência de plastrões (material lenticular) firmemente aderidos à cápsula posterior e que sofrem uma pseudometaplasia fibrosa formando lentóides e originando opacidades mais densas (Naisse et al., 1995). Publicações anteriores demonstraram que as lentes de polimetilmetacrilato (PMMA) originam opacidades capsulares maiores do que as dobráveis de acrílico e isso se deve ao fato de que as últimas possuem um contato mais íntimo com a cápsula posterior, originando uma barreira física e diminuindo a proliferação e migração celular que originam as opacidades (Naisse e Dyskstra, 1995). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 As opacidades corneanas (6 casos) foram frequentemente observadas na região da corneorrafia, mas resolveram completamente após a retirada dos pontos, que ocorreu após 3 semanas do procedimento. Discoria (3 casos) , sinéquias (4 casos) e maior formação de fibrina na câmara anterior foram observadas em cataratas mais duras devido a uma maior lesão iridiana causada pelo ultrassom e pelo alto fluxo fluídico na câmara anterior (maior tempo cirúrgico) (Cho, 2002). Em nenhum dos casos operados foram relatadas descentralização ou fraturas da LIO, rupturas capsulares radiais, ruptura de cápsula posterior, glaucoma a curto e longo prazo, hifema, descolamento de retina (Figura 8). Os casos de uveíte pós-operatória foram muito discretos, sendo considerados normais e relacionados ao trauma originado pelo procedimento. Em todos os casos operados obser vou-se uma melhora muito grande quanto ao aspecto de recuperação da visão, sendo isso observado pelo exame oftalmoscópico (fundoscopia, reflexo piscar-ameaça), movimentação pelo ambiente, noção de movimento e detalhe de imagem (visão de perto e de longe), ou seja, melhor acuidade visual quando, por exemplo, acompanhando e buscando objetos pequenos (bolinhas de tênis). Possivelmente, o implante de uma lente intraocular diminui a incidência de glaucoma a longo prazo, pois, de certa forma, ela contrabalanceia a grande pressão vítrea observada nos cães, o que pode causar obstrução do ângulo de drenagem e consequente aumento da pressão intraocular, mas estudos deverão ser feitos para confirmar esta hipótese. A variação no diâmetro total da lente melhorou sua centralização em animais de pequeno, médio e grande porte. A utilização do protetor de silicone na ponta do injetor foi fundamental para evitar o aprisionamento da LIO durante seu implante, diminuin- Figura 7. Aspecto do pós-operatório imediato após corneorrafia 51 Suplemento Científico do assim os casos de fraturas acidentais. A presença de anéis na superfície da zona óptica (Figura 4) permite que a lente tenha uma espessura menor (1,01 mm de espessura) do que as outras disponíveis no mercado (2,4 mm), melhorando a difração dos raios luminosos, seu manuseio, implante e à abertura dentro do saco capsular fez-se de maneira bem delicada (sem efeito vaulting). CONCLUSÕES O estudo demonstrou que com a técnica e a lente utilizada, os resultados são extremamente favoráveis na devolução do estado de emetropia do paciente. O desenho diferenciado e a espessura mais fina da lente Acrivet, tornam seu manuseio e implante pela incisão principal mais fácil. Possui uma excelente centralização dentro do saco capsular e as opacidades a longo prazo e complicações são raras. Figura 8. Aspecto após dois anos da cirurgia. Notar boa centralização e transparência excelente do eixo visual ocular. Presença de pigmento iridiano periférico. Olho calmo e visual O preparo dos pacientes reflete os bons resultados obtidos. A precocidade em realizar o procedimento torna a cirurgia mais rápida, as complicações mais raras e o sucesso maior. Vídeos disponíveis no canal da VETWEB do Youtube. Referências Bibliográficas Cho JO. Complications of cataract surgery. Small Animal Ophthalmology Secrets. Hanley & Belfus, p. 125 – 130, Philadelphia, 2002. Davidson MG, Nelms SR. Diseases of the lens and cataract formation. In: Veterinary Ophthalmology, 3rd ed Lippincott, Williams and Wilkins, Philadelphia, 1999; 797 - 825. Evans HE. Miller’s Anatomy of the Dog. 3rd ed. Toronto. WB Saunders, p.1038 - 1039. 1993. Gelatt KN. Veterinary Ophthalmology. 4th ed. Iowa, USA. Blackwell Publishing, 2007. Glover TD, Constantinescu GM. Surgery for cataracts. Veterinary Clinics of North America. 27, p.1.143 - 1.173; 1997. Hayashi H, Hayashi K, Nakao F, Hayashi F. Quantitative comparison of posterior capsule opacification after polymethylmethacrylate, silicone and soft acrylic intraocular lens implantation. 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Revisão de literatura Cicatrization and methods of evaluation of skin wounds. A review Resumo As lesões cutâneas podem ser relacionadas a injúrias físicas, químicas, biológicas de hipersensibilidade a doenças auto-imunes. Após um dano tissular, eventos celulares e bioquímicos instalam-se, visando restabelecer a integridade tecidual. O processo de cicatrização é descrito em três principais fases, que são ao mesmo tempo sequenciais e sobrepostas. Muitos métodos são descritos na avaliação da evolução desse processo, destacando-se recursos visuais e laboratoriais. Torna-se imprescindível o conhecimento dos métodos diagnósticos disponíveis para que possam ser utilizados com precisão no acompanhamento da evolução das lesões cutâneas. Palavras-chave: injúrias cutâneas, evolução do processo cicatricial, recursos visuais e laboratoriais Abstract Skin lesions may be related to physical, chemical and biological aggression, and less commonly hypersensitivity reaction and autoimmune diseases. After the tissue injury, cellular and biochemical events are activated in order to recover the tissue integrity. The healing process is described in three main phases, which are both sequential and overlapping. Many methods are described to evaluate the evolution of the healing, particularly by visual and laboratorial procedures. The knowledge of the available diagnostic methods is essential for accurate use in monitoring of the skin lesion healing. Keywords: skin injury, healing evaluation, visual and laboratorial procedures cicatrização de feridas cutâneas Os eventos que desencadeiam a dinâmica da cicatrização são intercedidos e sustentados por mediadores bioquímicos, sendo descritos em diferentes fases que correspondem aos principais episódios observados em determinado período de tempo. No entanto, em diversos momentos, ocorre dinamismo com sobreposição dessas fases, tornando-se impraticável o estabelecimento em períodos específicos. Essa sobreposição também contribui para a evolução da cicatrização (Balbino et al., 2005; Hosgood, 2006). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Assim, o processo de cicatrização de feridas compreende três principais fases, denominadas inflamatória, proliferativa e de remodelação da ferida (Kummar et al., 2005) (Figura 1). Após um dano tecidual, as alterações nas células endoteliais, a ruptura de vasos sanguíneos e o extravasamento de seus constituintes incitam compostos vasoativos a promoverem uma vasoconstrição imediata, visando à minimização da perda sanguínea para o espaço extravascular (Kummar et al., 2005). O processo de coagulação instala-se sendo mediado principalmente pela atividade plaquetária 53 Suplemento Científico Remodelação Proliferativa Inflamatória Injuria 14 dias 3 dias Sínteses e lises colágnena 1 ano Força de tensão = 80% Força Inicial Figura 1. Processo de cicatrização descrito nas fases inflamatória, proliferativa e de remodelação, observadas após ocorrência de injúria tissular. Diversos eventos biológicos ocorrem em determinado período de tempo e caracterizam cada uma das fases cicatriciais (Adaptado de Park & Barbul, 2004) e a cascata de coagulação. O coágulo formado atua na coaptação das bordas da ferida, minimizando a perda de sangue e fluídos, protegendo o organismo contra penetração de agentes exógenos e disponibilizando uma matriz provisória para o início da organização da ferida (Barbul, 2006). A ativação plaquetária culmina na liberação de diversos mediadores químicos, dentre os quais o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), que promove vasodilatação e quimiotaxia de leucócitos para o sítio da lesão (Werner et al., 2005). As moléculas da superfamília do fator de crescimento transformador (TGF-b; TGF-b1, TGF-b2 e TGF-b3), as quimiocinas, como as proteínas inflamatórias para macrófagos (MIPs; MIP-1a, MIP-1b, MIP-2), a proteína quimioatraente de macrófagos-1 (MCP-1), rantes e interleucina 8 (IL-8), também participam ativamente nesse período (Efron e Moldawer, 2004). Dessa forma, ocorre o início da fase inflamatória, que persiste por um período de 48 a 72 horas e é caracterizada pela presença dos sinais clássicos da inflamação, ou seja, dor, calor, rubor, tumor e perda da função (Peranteau et al., 2008). Os primeiros tipos celulares a predominarem no sítio da lesão são os neutrófilos que, além de suas conhecidas atividades de produção de proteases e espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, estão envolvidos nas reações de formação tecidual por meio da síntese de fatores de crescimento e citocinas, responsáveis pela recomposição da celularidade regional e restabelecimento da homeostasia tecidual (Efron e Moldawer, 2004). 54 O PDGF e o TGF-b1 apresentam papel central para a infiltração de neutrófilos, sendo liberados por plaquetas, macrófagos e fibroblastos, imediatamente após a lesão (Werner et al., 2005). Devido à meia-vida curta, após o segundo dia essas células vão sendo gradativamente substituídas por monócitos, que se transformam em macrófagos na ferida (Balbino et al., 2005). Os macrófagos chegam à ferida mediados principalmente pelas proteínas inflamatórias para macrófagos (MIPs; MIP-1a, MIP-1b, MIP-2) e proteína quimioatraente de macrófagos-1 (MCP-1), e apresentam capacidade fagocítica, além de atuarem como células apresentadoras de antígenos e fonte de fatores de crescimento e mediadores bioquímicos que ditam e sustentam o processo de cicatrização (Mandelbaum et al., 2003). Sequencialmente, a cicatrização evolui para a fase proliferativa, que se estende até o 12°-14° dias. Nessa fase, observam-se os eventos de angiogênese, fibroplasia e reepitelização. A transição da fase inflamatória para a proliferativa é marcada por intensa proliferação de fibroblastos e deposição de colágeno no sítio da lesão. A presença desses componentes é modulada por fatores de crescimento derivados de macrófagos, como o TGF-α e VEGF-A. Ocorre também aumento no número de mitoses, formação de tecido de granulação, marcado pela gênese de capilares sanguíneos, além de intensa contração centrípeta da ferida (Mandelbaum et al., 2003; Sahota et al., 2004). Os fibroblastos ativados produzem colágeno no sítio da lesão e, dessa forma, a matriz extracelular começa a Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 ser substituída por um tecido conjuntivo mais forte e elástico (Ackermann, 2007). Simultaneamente, ocorre neovascularização mediada principalmente pelo VEGF-A. Nesse momento, a ferida apresenta-se preenchida por um tecido hiperplásico, de coloração avermelhada, denominado tecido de granulação, que é composto por macrófagos, fibroblastos e vasos neoformados, que estão sustentados por uma matriz frouxa de fibronectina, ácido hialurônico e colágenos tipo I e III (Mandelbaum et al., 2003; Sahota et al., 2004). Na fase final do processo cicatricial, o tecido de granulação sofre modificação em sua composição. Sob estímulo de fatores de crescimento e outros mediadores, as células endoteliais dos capilares intactos nas margens da ferida começam a secretar colagenase e ativador de plasminogênio, que promovem aberturas na parede desses vasos, permitindo que células endoteliais migrem em direção ao leito da ferida, recobrindo a lesão. As células epiteliais também podem expressar PPARs (receptores ativados por proliferadores de peroxissoma), contribuindo para uma rápida reepitelização tecidual (Hatanaka e Curi, 2007). Gradativamente observa-se retorno à aparência normal da pele ou formação de cicatriz, dependendo do grau e extensão do dano tissular (Balbino et al., 2005; Hosgood, 2006). Quando as lesões acometem apenas a epiderme, ocorre regeneração tecidual, com retorno da integridade e atividade funcional do tecido. No entanto, quando o dano tissular é mais acentuado e se estende a porções da derme, acometendo glândulas, folículos pilosos e outras estruturas, o processo resulta em reparação tecidual. Nesse caso, embora a homeostasia seja restabelecida, a atividade funcional do tecido apresenta-se comprometida e, como a região lesionada é substituída integral ou parcialmente por tecido fibroso, observa-se formação de cicatriz (Mandelbaum et al., 2003; Balbino et al., 2005; Rünger et al., 2007). No Tabela 1 estão descritos os principais mediadores bioquímicos envolvidos no processo de cicatrização de feridas cutâneas, bem como os tipos celulares que modulam sua síntese e expressão e os efeitos desencadeados por eles. Métodos de avaliação da cicatrização de feridas Para acompanhar de forma sistemática a evolução do processo cicatricial, além de compreender os mecanismos desencadeados pós-instalação da injúria, é importante ter conhecimento dos meios auxiliares de Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 avaliação da cicatrização. A utilização dos diferentes métodos disponíveis confere uma caracterização sistemática das lesões, bem como a avaliação da resposta terapêutica apresentada pelo portador de lesões cutâneas. Dentre esses, destacam-se a avaliação clínica da ferida, os achados de necropsia e avaliações histopatológica, morfométrica e imunoistoquímica (Lopes et al., 2005; Gul et al., 2008). Avaliação Clínica A avaliação clínica da cicatrização de feridas é o principal método utilizado para verificar a evolução do processo cicatricial e fundamenta-se, sobretudo, no exame macroscópico específico da lesão (Lima, 2010). Particularmente, essa avaliação pode ocorrer durante os exames clínico (Lima, 2010) e necroscópico. A fim de garantir melhor qualidade da investigação, alternativamente, pode-se recorrer ao auxílio de lupas (Martins et al., 2006) e exame ultrassonográfico (Rabelo et al., 2005). Os resultados do exame físico permitem a associação entre os achados e o tempo da instalação da injúria tissular, sendo possível inferir a fase do processo cicatricial. Acrescente-se que a avaliação clínica atua como parâmetro para efetuar correlação com as avaliações microscópicas (Hosgood, 2006). Nos primeiros dias após o dano tissular, observa-se em feridas abertas, a presença de coágulo sanguíneo, exsudato serossanguinolento ou purulento, ausência de tecido de granulação e pouca contração, compatíveis com a fase inflamatória da cicatrização (Lima, 2010). Quando as bordas da ferida encontram-se justapostas (cicatrização por primeira intenção), a epitelização pode iniciar-se ainda nessa fase (Mandelbaum et al., 2003). Considerando a avaliação macroscópica da lesão, a fase proliferativa é marcada pela visualização do tecido de granulação, que pode assumir aspecto variável, desde avermelhado e exuberante a róseo, esbranquiçado, granular ou nodular, de acordo com a quantidade de colágeno e vasos sanguíneos neoformados. A contração da ferida também é observada nessa fase, sendo notável a diminuição do diâmetro da lesão entre o 5º e o 9º dia. Ressalta-se que a taxa de contração varia de acordo com a localização anatômica da ferida e a flexibilidade do tecido adjacente. Ainda, nessa fase, tem início a reepitelização das extremidades da ferida, evidenciada pela presença de tecido róseo íntegro, localizado nas bordas da lesão (De Nardi et al., 2004; Martins et al., 2006; Gul et al., 2008). Na fase final do processo de cicatrização, durante a remodelação da ferida, nota-se superfície epitelial 55 Suplemento Científico íntegra, que inicialmente apresenta coloração rósea, devido à vascularização do tecido de granulação subjacente, passando gradualmente a apresentar coloração empalidecida, conforme ocorre a apoptose dos vasos neoformados e o colágeno se torna mais denso (Branco Neto et al., 2006; Martins et al., 2006; Hatanaka e Curi, 2007). De modo geral, a avaliação clínica é o parâmetro basal para avaliar a resposta do organismo animal e confere subsídios sobre o comportamento macroscópico da lesão durante a cicatrização. É uma avaliação essencial e em associação com as respostas dos testes complementares confere um perfil completo da evolução da cicatrização, sendo procedimento de importância sumária, principalmente em relação a pacientes portadores de feridas crônicas, doenças concomitantes ou outra condição que prejudica ou impede a resolução do processo. Avaliação Morfométrica Na avaliação da cicatrização de feridas, os testes morfométricos são empregados para a mensuração do diâmetro da área lesionada, a fim de estabelecer um parâmetro comparativo entre a medida inicial da ferida e as medidas obtidas durante a evolução do processo. Dessa forma, torna-se possível a deter- minação da taxa de contração da lesão (Teixeira et al., 2005). Consiste em método simples, de fácil aplicabilidade e por meio do acompanhamento da retração do diâmetro da lesão em períodos definidos permite inferir se a lesão está apresentando resposta à terapia instituída. A morfometria pode ser realizada pela medição direta da área da ferida durante exame físico ou necroscópico, ou ainda, por meio de exame ultrassonográfico, tomografia computadorizada, ressonância magnética e, mais atualmente, por meio da utilização de softwares de mensuração na projeção digital de imagens (Gul et al., 2008; Menezes et al., 2008). Para a execução da análise morfométrica torna-se indispensável a utilização de equipamentos de precisão. A régua milimetrada é um instrumento que pode ser utilizado para a medição das bordas da ferida, de onde se obtêm o maior e o menor diâmetro da lesão (Menezes et al., 2008). No entanto, o paquímetro é a ferramenta mais utilizada por pesquisadores para determinação da área da ferida. Os paquímetros digitais são os mais empregados, por conferirem medida mais acurada (Branco Neto et al., 2006; Garros et al., 2006; Martins et al., 2006; Menezes et al., 2008). Testes de planimetria digital têm a função de tornar mais objetivas e rápidas a apresentação Tabela 1. Tipos celulares, mediadores liberados e seus efeitos no processo de cicatrização Tipos celulares presentes no ferimento Principais mediadores liberados Principais efeitos desencadeados Plaquetas TGF-ß, PDGF (PDGF-AA, PDGF-AB, PDGF-BB, PDGF-CC, PDGF-DD), PAF, fibrinogênio, fibronectina, tromboplastina Formação do trombo plaquetário que tampona a lesão e recrutamento de neutrófilos e monócitos Neutrófilos Il-6, IL-8, IL-1, TNF-α, CTAP-III, TGF-ß, HGF, MIP, HLE Recrutamento de monócitos/ macrófagos Monócitos / Macrófagos TGF-a. TGF-b, VEGF-A, IL-6, IL-*, IL-1, TNF-a, RANTES, MIP-1a, MIP-1b, MCP-1, HB-EGF, HGF, MIP, MSP Quimiotaxia de monócitos e fibroblastos, proliferação de fibroblastos, angiogênese e síntese de colágeno Fibroblastos FGF1, FGF2, FGF4, FGF7, FGF10, IP-10, MCAF, IL-8, eotaxina, PLGF, TGF-b, Cyr61 Queratinócitos MCP-1, FGF1, FGF2, TGF-ß, MIP-2, MSP Células endoteliais MCP-1 Maturação e remodelamento da matriz extracelular e angiogênese Abreviaturas: PDGF (Fator de Crescimento Derivado de Plaquetas), EGF (Fator de Crescimento Epidermal), FGF (Fator de Crescimento de Fibroblastos), VEGF (Fator de Crescimento Endotelial Vascular), TGF (Fator de Crescimento Transformante), Cyr61 (Fator de Crescimento de Tecido Conectivo (CTGF) rica em cisteína 61), MIP (Proteína Quimioatraente para Macrófago), MIP (Proteína Inflamatória para Macrófago), HB-EGF (Proteína Ligante de Heparina-Fator de Crescimento Epidermal), PLGF (Fator de Crescimento Placentário), TNF (Fator de Necrose Tumoral), IL-1 (Interleucina-1), IL-6 (Interleucina-6),IL-8 (Interleucina-8), HGF (Fator de Crescimento de Hepatócito), MSP (Proteína Estimulante de Macrófago), HLE (Elastase Leucocitária Humana) (Werner et al., 2005; Efron e Moldawer, 2004 Park e Barbul, 2004; Todd et al., 1991). Fonte: Adaptado de Hatanaka e Curi, 2007. 56 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 e a tabulação de resultados de mensuração de imagens digitais de feridas, visando à análise quantitativa do processo, para um acompanhamento sistemático do percentual de contração e evolução (Teixeira et al., 2005). O método de análise morfométrica de feridas e lesões cutâneas consiste em posicionar uma câmera digital a um dispositivo de captura de imagens, mantendo esta a uma distância constante do animal. Dessa forma, efetua-se a captura da imagem e, após tempo pré-estabelecido, novas capturas fotográficas da lesão são efetuadas. Em seguida, as imagens são transferidas para um software de mensuração de imagens, para obtenção das medidas inicial e final da lesão, tornando possível a obtenção da taxa de contração da ferida (Teixeira et al., 2005; Garros et al., 2006; Santana et al., 2008; Lima, 2010). Imagens microscópicas também podem ser avaliadas por meio do testes de morfometria digital de imagens, podendo-se proceder à contagem dos principais tipos celulares presentes em uma lesão cutânea em determinado período de tempo (Teixeira et al., 2005). Avaliação Histopatológica A análise histopatológica da ferida é empregada especialmente em associação à avaliação clínica do processo cicatricial, sendo que essa inter-relação entre as características macro e microscópicas confere maior credibilidade aos resultados (Hosgood, 2006). Acrescente-se que essa avaliação permite que uma análise ultra-morfológica acurada, e quando realizada em períodos definidos fornece o perfil dos tipos celulares, fibras e outras estruturas, bem como a atividade desses componentes no tecido lesionado. A coloração de Hematoxilina e Eosina (HE) é utilizada rotineiramente para a análise microscópica das diferentes fases do processo de reparação tecidual (Margulis et al., 2007). Contudo, outros métodos de coloração, como Tricrômio de Masson e Picrossírius podem ser úteis para avaliar componentes específicos nas diferentes etapas de reparo da ferida cutânea (Azad et al., 2004; Biondo-Simões et al., 2005; Sezer et al., 2007). Microscopicamente, a fase inflamatória é caracterizada pela presença de exsudato e neutrófilos, que perduram principalmente durante a fase inicial da inflamação. Ao final desse período, os neutrófilos são gradualmente substituídos por macrófagos e linfócitos (Garros et al., 2006; Margulis et al., 2007; Menezes et al., 2008). Na fase proliferativa, destacaRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 se a presença dos fibroblastos, neovascularização, deposição colágena e, em menor quantidade, células inflamatórias que participam da composição do tecido de granulação (Azad et al., 2004; Eulálio et al., 2007; Menezes et al., 2008). Na fase final do processo cicatricial, durante a remodelação, nota-se intensa proliferação celular, com renovação das células epiteliais, deposição de colágeno, além de organização das fibras colágenas e diminuição gradativa da neovascularização, devido a apoptose dos vasos (De Nardi et al., 2004; Branco Neto et al, 2006; Martins et al., 2006; Menezes et al., 2008). O colágeno é um componente fundamental no processo de reparo tecidual, sintetizado a partir dos fibroblastos e presente em abundância nas fases proliferativa e de remodelação da ferida (Azad et al., 2004; Rich e Whittaker, 2005; Hosgood, 2006; Sezer et al., 2007). As fibras colágenas desempenham papel vital, não na manutenção da integridade estrutural, mas também na determinação da função tecidual (Borges et al., 2007; Lima, 2010). Dentre os diferentes tipos descritos, os mais expressivos no processo de cicatrização são os tipos I e III, presentes na pele, vasos sangüíneos e músculos (Hosgood, 2006; Borges et al., 2007). O colágeno tipo III aparece primariamente na ferida, é caracterizado como colágeno jovem ou imaturo e confere aspecto desorganizado às fibras. Já o colágeno tipo I, maduro, substitui o tipo III em cicatrizes antigas e caracteriza-se pela maior organização de suas fibras (Borges et al., 2007). A coloração Tricrômio de Masson é um método de coloração consagrado, utilizado em inúmeras pesquisas científicas e possibilita a visualização de fibras colágenas e musculares, corando as primeiras de azul claro (Junqueira e Carneiro, 2005; Lima, 2010). Apesar disso, o método não permite diferenciação entre os tipos de colágeno presentes na ferida. Além disso, a falta da seletividade específica para esse componente tecidual e sua incapacidade de corar fibras colágenas muito delgadas, pode, sob certas circunstâncias, resultar em avaliação subestimada do colágeno presente (Azad et al., 2004; Sezer et al., 2007). O método de Picrossírius, além de compreender coloração específica para colágeno, possibilita a identificação dos colágenos tipo I e III, presentes na fibra colágena e encontrados em abundância durante o processo de cicatrização (Borges et al., 2007; Eulálio et al., 2007). A diferenciação entre colágenos tipo I e III é dada pela birrefringência, em que fibras compostas pelo tipo I apresentam menor birrefringência e coram de vermelho, enquanto as formadas pelo tipo III apre- 57 Suplemento Científico sentam maior birrefringência e se coram de verde (Azad et al., 2004; Biondo-Simões et al., 2005; Borges et al., 2007). Apesar de todas essas peculiaridades, o método ainda tem utilização limitada, pois depende de estrutura laboratorial mais elaborada, como microscópio de luz polarizada, além de apresentar custo mais elevado. Imunoistoquímica Em relação ao processo de cicatrização de feridas cutâneas, a imunoistoquímica é particularmente aplicada para identificar elementos envolvidos nesse processo, como colágenos, miofibroblastos e vasos neoformados (Barra, 2006). Para cada um desses componentes há um anticorpo mono ou policlonal específico. Para marcação de colágenos tipo I e III, utilizam-se anticolágeno I e anticolágeno III, respectivamente (Emertcan et al., 2008). Para a marcação de miofibroblastos, emprega-se o anticorpo anti-α-actina muscular lisa (actina α-sm) e para identificação de vasos neoformados, o antifator VIII, também denominado fator anti-von Willebrand (Lorena et al., 2002; Chibata, 2003; Skinovsky, 2005; Emertcan et al., 2008). Em estudo para avaliação dos efeitos da colagenase e do extrato de Centella asiática na cicatrização de feridas cutâneas em ratos efetuou-se avaliação imunoistoquímica para formação de óxido nítrico (anti-iNOS), fator de crescimento tras- formante β (anti-TGF-β), angiogênese (anti-VEGF), fator de crescimento transformante α (anti-TGF-α), membrana basal (antilaminina), fibronectina (antifibronectina), colágeno tipo I (anticolágeno I) e interleucina 8 (anti-interleucina 8) (Emertcan et al., 2008). Dessa forma, foi possível demonstrar que a expressão dos principais mediadores envolvidos no processo de cicatrização pode ser avaliada e quantificada, a fim de se estabelecer o real papel desses frente à ocorrência de um dano tecidual. Considerações finais Para estudar o fenômeno biológico da cicatrização é necessário que se tenha conhecimento sólido das diferentes fases do processo cicatricial e capacidade técnica para avaliar a resposta do paciente. Para que esse acompanhamento seja completo e para que o clínico possa intervir de forma sistemática visando à resolução do processo, o emprego de métodos complementares de avaliação torna-se essencial. No entanto, observa-se que o profissional deixa de utilizar tais métodos tanto por desconhecimento, quanto pela insegurança na aplicabilidade e interpretação dos resultados observados. Esperamos que a par tir das informações apresentadas nessa revisão o profissional possa aprimorar a análise crítica do processo cicatricial e utilize os métodos de avaliação da cicatrização na rotina clínica com maior frequência e propriedade. Referências Bibliográficas ACKERMANN, M.R. Chronic inflammation and wound healing. In: McGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Pathologic Basis of Veterinary Disease. 4.ed. Amsterdã: Elsevier, p.153-191, 2007. AZAD, A.K.; SERMSINTHAM, N.; CHANDRKRACHANG, S.; STEVENS, W.R. Chitosan membrane as a wound-healing dressing: characterization and clinical application. 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Disponível em: http://www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/ patge/morfometria01.htm Dados dos Autores Caroline Rocha de Oliveira Lima Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4140, Doutoranda em Ciência Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ/UFG), Fiscal Estadual Agropecuário (Agrodefesa-Goiás) E-mail: [email protected] Rogério Elias Rabelo Médico Veterinário, CRMV-GO nº 2456, Professor-Adjunto EVZ/UFG/Campus Jataí Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura Médica Veterinária, CRMV-GO 3863, Professor-Adjunto EVZ/UFG Luiz Antônio Franco da Silva Médico Veterinário, CRMV-GO nº 0780, Professor EVZ/UFG Leonice M. Faustino Tresvenzol Farmacêutica, CRF-GO nº 1254, Professora-Adjunta, Faculdade de Farmácia/UFG 59 Suplemento Científico Normas para apresentação de Artigos Informações Gerais O Suplemento Científico da Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) tem como objetivo principal a publicação de artigos de investigação científica, de revisão e de educação continuada, básica, e profissionalizante, que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina Veterinária e de Zootecnia. Os artigos, cujos conteúdos serão de inteira responsabilidade dos autores, devem ser originais e serão submetidos à apreciação do editor e/ou do Conselho Editorial da Revista CFMV, bem como de assessores ad hoc de reconhecido saber na especialidade. A publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Normas Editoriais e de pareceres favoráveis. Os pareceres terão caráter sigiloso e imparcial. A periodicidade da publicação será quadrimestral. Os artigos devem ser encaminhados para: E-mail: [email protected] Normas Editoriais Os textos de revisão, de educação continuada e científicos devem ser de primeira submissão, escritos segundo as normas ortográficas oficiais da língua portuguesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract e Keywords, que serão apresentados em inglês. Assim como uma versão do título. Artigos de Revisão e de Educação Continuada Os artigos de revisão e de educação continuada devem ser estruturados para conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências Bibliográficas e Agradecimentos (quando houver). A divisão e subtítulos do texto principal ficarão a cargo do(s) autor(es). Artigos Científicos Os artigos científicos deverão conter dados conclusivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas e, quando houver, Agradecimentos, Tabela(s), Quadro(s) e Figura(s). A crité- 60 rio do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão poderão ser apresentados como uma única seção. Quando a pesquisa envolver a utilização de animais, os princípios éticos de experimentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, devem ser observados. Também deve ser observado o disposto na Resolução CFMV nº 879, de fevereiro de 2008, ou naquela que a substituir. Apresentação Os manuscritos encaminhados deverão estar digitados com o uso do editor de textos Microsoft Word for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato A4 (21,0 x 29,7), com espaço simples, em uma só face do papel, com margens laterais de 3,0cm e margens superior e inferior de 2,5cm, na fonte Times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e informações de tabelas, quadros e figuras. As páginas e as linhas de cada página devem ser numeradas. O artigo completo deverá ter no máximo 12 páginas. Título O título do artigo, com 15 palavras no máximo, deverá ser escrito em negrito e centralizado na página, sem utilizar abreviaturas. A versão na língua inglesa deverá anteceder o Abstract. Autores Citar respectivos registros em conselhos de classe à excessão de alunos de graduação. Resumo e Abstract O Resumo e sua tradução para o inglês, o Abstract, não podem ultrapassar 250 palavras, com informações que permitam a adequada caracterização do artigo como um todo. No caso de artigos científicos, o Resumo deve informar o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados principais e as conclusões. Palavras-chave e Keywords No máximo cinco palavras serão representadas em seguida ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do texto e não necessariamente do título. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Texto Principal Deverá ser apresentado em espaço simples, fonte Times New Roman 12. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sistema Métrico Internacional, por exemplo, kg, g, cm, ml, EM etc. Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apresentadas como nota de rodapé. Exemplo, GH = hormônio do crescimento. As citações bibliográficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. Quando houver mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão et al. Exemplos: Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e Santos (2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al. (1998), (Gonçalves et al., 1998). Referências Bibliográficas A lista de referências bibliográficas será apresentada em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a norma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Inicia-se a referência com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s) letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes. Todos os autores devem ser citados. Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigo ou pela entidade responsável por sua publicação. A referência deve ser alinhada pela esquerda e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro caractere da primeira linha. Os títulos de periódicos da referência podem ser abreviados, segundo a notação do BIOSES *BIOSIS. Serial sources for the BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996, 486p. Abaixo são apresentados alguns exemplos de referências bibliográficas. Artigo de periódico EUCLIDES FILHO, K.; V.P.B.; FIGUEIREDO, M.P. Avaliação de animais nelore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em três dietas 1. Ganho de peso e conversão alimentar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997. Livros MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: Funep, 1994. 296p. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Capítulos de livro WEEKES, T.E.C Insulin and growyh. In: Buttery, P.J.; LINDSAY, D.B.; HAYNES, N.B. (ed). Control and manipulation of animal growth. Londres: Butterworths, 1986. p.187-206. Teses (doutorado) ou dissertações (mestrado) MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre salmonella na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Universidade Estadual Paulista. Artigos apresentados em congressos, reuniões e seminários RAHAL, S.S.; W.H.; TEIXEIRA, E.M.S. Uso de fluoresceina na identificação dos vasos linfáticos superficiais das glândulas mamárias em cadelas. In. CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23 Recife, 1994. Anais... Recife, SPEMVE, 1994. p.19. Tabelas, Quadros e Ilustrações As tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fotografias, desenhos etc.) podem ser apresentados no corpo do artigo. Uma em cada página. Serão numerados consecutivamente com números arábicos. A tabela deve ter sua estrutura construída segundo as normas de Apresentação Tabular do Conselho Nacional de Estatística (Rev. Bras. Est. v. 24, p.42-60, 1963). Fotografias As fotografias deverão estar em boa resolução (nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou sombras excessivas), com resolução mínima de 300 dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros), formato TIF e as cores em CMYK. Se possível, também devem ser enviadas em arquivos separados (JPEG). Avaliações/Revisões Os artigos sofrerão as seguintes avaliações/revisões antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) avaliação do editor e/ou Comitê Editorial. 61 Produção avícola MANEJO PRÉ-ABATE DE FRANGOS DE CORTE INTRODUÇÃO cido no Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal e no Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico-Sanitária de Carne de Aves (Riispoa), (SCHERER FILHO, 2009). Nesta revisão serão abordadas as etapas que antecedem o abate (recepção e tempo de espera, pendura, insensibilização e sangria) e alguns dos seus impactos no bem-estar e na qualidade da carne. Entende-se por manejo pré-abate o processo que se inicia imediatamente após a fase de criação, com a retirada da ração, indo até o abatedouro com o sacrifício das aves. Esta é uma etapa importante para a qualidade da carne, pois os fatores como método de apanha, temperatura e transporte podem contribuir para a elevação do estresse com interferência significativa na cor, textura e qualidade post mortem da carne. Para que isso não ocorra, neste processo é necessário movimentar as aves o mínimo possível, propiciar ambientes calmos e abater os frangos de forma rápida. Fotos: Tavernari, F.C A preocupação com a integridade física das aves não pode terminar quando alcançam o peso de abate e estão prontas para a apanha, mas deve estender-se para as etapas subsequentes, atendo-se aos cuidados, que considerem o bem-estar animal, e a obtenção de um produto final com qualidade e segurança. Uma vez atendidas as normas de bem-estar, são maiores as chances de obter-se um produto final de qualidade, sem que ocorram altos índices de condenação parcial ou total de carcaça. Segundo Ludtke et al. (2009) os problemas de bem-estar associados com o transporte e o descarregamento de aves são morte, hematomas, ossos quebrados, lesão de pele, exaustão metabólica, desidratação, estresse psicológico e estresse térmico, como consequência afetam a qualidade de carcaça e os custos de produção. Embora existam diversos conceitos sobre o bem-estar animal, no Brasil o pré-abate e o abate de aves devem ocorrer conforme o estabele- Figura 1. Apanha de frangos de corte 62 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Figura 2. Carregamento de frangos de corte Etapas envolvidas no pré-abate: Programação de retirada do lote Planejar data e do horário propícios com menor estresse possível. Levar em consideração a data de retirada do lote em função do peso ao abate que, por sua vez, é determinado pelo mercado consumidor. Deve-se respeitar o período de jejum que as aves deverão passar. Restrição alimentar e hídrica São considerados material contaminante no abatedouro o alimento, as fezes, a bile, a parede intestinal degradada, o material de cama e as sujidades aderidas às patas, pele e penas das aves (CONY e ZOCCHE, 2004). A retirada da ração é realizada com o objetivo de esvaziar o trato gastrointestinal das aves para minimizar os riscos de contaminação da carcaça durante o abate, caso haja o rompimento do mesmo. Contudo, segundo Mendes (2001) o jejum pode influenciar na quantidade de bactérias patogênicas no papo das aves. Com a falta de alimento as bactérias produtoras Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 de ácido lático ficam desprovidas de substrato para atuar, assim há aumento no pH e proliferação de Salmonella e Campylobacter que pode ser agravado pela ingestão da cama durante a permanência dos animais em jejum no aviário. O período de jejum é iniciado quando os comedouros são suspensos e termina com o abate. A duração ideal desse tempo está entre 4 a 6 horas na granja e entre 8 a 12 horas no período total (ROSA et al., 2000; MENDES, 2001; SARCINELLI et al., 2007). Períodos menores que 8 horas podem não propiciar o esvaziamento completo do trato gastrointestinal da ave, contudo segundo Nijdam (2006) a partir da sexta hora de jejum, pode ocorrer perda de peso, ao redor de 0,22 a 0,56% para cada hora excedente. É importante ressaltar que a iluminação é um fator que deve ser analisado em conjunto com o tempo de jejum, pois segundo May et al. (1990), a iluminação durante o período de jejum pode acelerar o processo de esvaziamento do trato gastrointestinal. A União Brasileira de Avicultura preconiza em seu protocolo para bem-estar de frangos e de perus que o tempo máximo de 12 horas de jejum pré -abate não seja ultrapassado (UBA, 63 Produção avícola 2008). Períodos superiores podem levar a ocorrências fisiológicas indesejáveis que comprometem a qualidade da carne, representando prejuízo econômico. Algumas ocorrências indesejáveis durante a evisceração (1) Rompimento do intestino devido o acúmulo de gases e a redução da espessura (2) Contaminação com bile no período de jejum ocorre acúmulo na vesícula biliar que pode romper durante a evisceração contaminando a carcaça (3) Endurecimento do tecido de revestimento das moelas (4) Aderência do papo a carcaça em razão da desidratação da ave, entre outros. Sarcinelli et al. (2007) O período de restrição hídrica coincide com o início do carregamento até o momento do abate. Os bebedouros são suspensos durante a apanha para facilitar o manejo e evitar danos aos equipamentos. Apanha dos frangos Nesta etapa deve-se proporcionar o mínimo de estresse possível para reduzir a perda de peso e o número de contusões, de hematomas e de fraturas, que são características de condenação total ou parcial da carcaça. Para manter os frangos calmos, a captura deve ser realizada com rapidez e preferencialmente com o ambiente sob baixa luminosidade. A luz azul pode ser utilizada, pois as aves não apresentam visibilidade para esta cor. A apanha pode ser mecânica ou manual. Resultados obtidos por Lacy e Czarick (1998) apontam a apanha mecânica como melhor alternativa, em função do menor número de lesões na carcaça, contudo, no Brasil, só é utilizada a apanha manual na produção de frangos de corte, em função dos galpões que não comportam a entrada de determinados tipos de maquinários e em função dos custos. Para a apanha manual é importante que se agrupem as aves em lotes dentro do aviário, facilitando o trabalho dos operadores na captura e diminuindo o estresse das aves. Vale ressaltar que a melhor forma de apanhar as aves é se aproximando em silêncio e pela área cega delas, ou seja, por trás (Figura 1). 64 Tipos de apanha √Pelas pernas: embora seja possível apanhar um número considerável de aves dessa maneira em um curto espaço de tempo, este é um dos métodos que mais causa lesões, pelo movimento brusco que se faz com os membros, sendo um dos métodos menos indicados quando se considera o bem-estar animal e a qualidade de carne. √Pelo pescoço: as aves são apanhadas de 2 a 3 em cada mão, podendo ser considerado um método rápido e prático, mas leva ao aumento nas lesões de pele e do estresse. Assim como o anterior, é um método menos indicado quando se considera o bem-estar animal e a qualidade de carne. √Pelo dorso: o mais indicado, pois se apanha individualmente a ave pelo dorso, por sobre as asas sendo cuidadosamente colocadas nas caixas, oferecendo maior proteção à integridade física das aves e resultando em maior rendimento pela redução das lesões físicas, perdas e custos operacionais diretos e indiretos. A fim de comparar métodos de apanha, Leandro et al. (2001) testaram dois tipos de apanha, pelo pescoço e pelo dorso. Os resultados demonstraram que o número de contusões e fraturas hemorrágicas foi significativamente maior nos lotes onde a captura das aves foi realizada pelo pescoço. Carregamento e Transporte As aves são transportadas em caixas plásticas (Figura 2), que facilitam a higienização no processo. É importante que antes do início do carregamento, o aviário esteja preparado, e as caixas devidamente posicionadas, bem como os tubos de PVC rígido dispostos paralelamente, formando um trilho ao longo do piso do aviário, para deslize das caixas até o veículo transportador. A idade associada ao peso são os pontos básicos para definição do número de aves por caixa. Pouco adianta um manejo adequado até o carregamento se a lotação das caixas for excessiva. Segundo Roça (2004) a densidade de carga recomendada é de 0,022m2/kg (45kg/m 2) no inverno e 0,026m2/kg (38kg/m2) no verão. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Figura 3. Prática de molhar os frangos de corte para transportar O período do dia para o transporte e os locais das caixas no caminhão podem determinar a taxa de mortalidade. Segundo Barbosa Filho et al. (2009) o turno da tarde é o período mais crítico para o transporte do ponto de vista ambiental, e as partes central e traseira da carga do caminhão são as mais problemáticas para as aves, do ponto de vista microclimático, portanto, as mais propícias à ocorrência de perdas. É importante que o transporte seja realizado por motoristas treinados e conscientes da carga que transportam, que tenham ideia da mortalidade no carregamento e no transporte e conhecimento das lesões que podem ocorrer. Em dias muito quentes é comum a prática de molhar as aves para a realização do transporte, o que pode evitar a morte de alguns animais (Figura 3). Ao chegar ao abatedouro, os caminhões devem ficar em plataforma de descanso, sombreadas, com ventiladores e aspersão de água (CASTILHO e RUIZ, 2010). Recepção e tempo de espera A área destinada à recepção dos frangos deve ser um ambiente controlado, ou seja, deve ser coberta, com baixo nível de ruído, boa circulação de ar e temperatura adequada (NIJDAM, 2006). Nesta área é feito o monitoramento da temperatura e umidade, pois um dos principais riscos nesta etapa é o estresse por calor. Normalmente, a temperatura das caixas no caminhão fica 9 graus Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 acima da temperatura da área de descanso, logo se recomenda uma temperatura média nesta área de 17ºC, podendo ser utilizados ventiladores ou exaustores ao lado ou por cima das caixas, para que o máximo de temperatura dentro das caixas seja de 26ºC (CURSO..., 2010). A ordem de abate deve obedecer a ordem de chegada dos caminhões, contudo o descanso máximo recomendado é de duas horas, pois períodos prolongados podem influenciar a incidência da mortalidade, principalmente em situações de clima desfavorável (alta temperatura) e períodos longos de transporte, normalmente associado ao jejum alimentar mais prolongado. Durante o recebimento das aves no frigorífico, será conferida a documentação de procedência e realizado o julgamento das condições de sanidade do lote pelo Serviço de Inspeção (federal, estadual ou municipal) (SCHELESTEIN, 2007). A inspeção ante morten consiste, inicialmente, na verificação documental para que as aves sejam consideradas aptas ao abate, levando em consideração sua condição sanitária. Principais objetivos da inspeção ante morten √ Detectar doenças cuja identificação que não seja possível a identificação no exame post mortem √Evitar o abate de aves com repleção do trato gastrointestinal √Identificar lotes tratados com medicamentos (Declaração Adicional) √Identificar lotes com suspeita de doença de alta mortalidade (Declaração Adicional); Pfeilsticker (2008) Descarregamento e pendura As caixas, contendo os frangos, são descarregadas manualmente ou de forma automatizada dos caminhões, sem movimentos bruscos, e transferidas para o local de pendura. Quando descarregadas, as caixas não devem ser arremessadas (Figura 4), por questões de bem-estar animal e segurança para os operadores. Após o descarregamento, as caixas são conduzidas em esteiras e por funcionários posicionados ao longo da nórea (linha contínua com ganchos que conduzem os animais por toda a linha de abate), que fazem a pendura manual, assim como a inspeção antimortem do lote. Os animais doentes e que não se adéquam à uniformidade do lote são separa- 65 Produção avícola dos, inspecionados individualmente e sacrificados. A uniformidade do lote facilita a pendura e melhora a qualidade do produto, pois ocorrem menos lesões no processo. As caixas devem ser limpas e desinfetadas quando vazias (geralmente com hipoclorito de sódio ou amônia quaternária) e deve-se proceder ao monitoramento delas, substituindo ou consertando as caixas quebradas e sem tampas ou que possuam qualquer irregularidade que possa causar danos às aves (CURSO..., 2010). rea até o túnel de sangria servindo para apoio do peito das aves, minimizando o estresse e fraturas. Essa seção deve possuir baixa intensidade de luz, pois ambientes com pouca luz causam menos estresse e excitação nas aves (PFEILSTICKER, 2008), mas também é possível a utilização de luz azul para acalmar os frangos. A maioria dos frangos bate as asas quando são pendurados, mas param de bater as asas dentro de 12 segundos, sendo este o período mínimo recomendado entre a pendura e a entrada na cuba de insensibilização e o máximo de 60 segundos (CURSO..., 2010). Vale ressaltar que as condições da linha de abate influenciam diretamente no estresse sobre os animais e no bater de asas: para tanto, as linhas de abate devem ser retas, sem mudança de altura, curvas ou trepidação. Linhas de abate tidas como inadequadas podem produzir um pré-choque nas aves na entrada da cuba, provocando dor desnecessária e promovendo o comportamento de fuga das aves à entrada na cuba de insensibilização (levantando a cabeça e as asas), podendo ocorrer a passagem sem a insensibilização para a sangria. A fim de evitar isso, são utilizadas rampas eletricamente isoladas na entrada da cuba. Para tanto, é necessário assegurar que não há extravasamento de água. Atordoamento ou insensibilização Figura 4. Descarregamento de frango de corte A pendura é uma das etapas que devem receber atenção, assim como a apanha nas granjas, pois são práticas que, quando mal conduzidas, comprometem a qualidade da carcaça (alta incidência de fraturas e contusões de asa e perna) (SCHELESTEIN, 2007). Para realizar a pendura ou suspensão pelos pés nos ganchos da nórea, os funcionários devem ser treinados, de forma a executar esta atividade com rapidez, mas com cuidado para garantir a segurança dos animais, minimizando o estresse. Este procedimento deve evitar dor, agitação, lesões e contusões. Para tanto, as aves nunca devem ser retiradas das caixas pela cabeça, asas ou penas; deve haver um parapeito no decorrer da nó- 66 Atordoam-se as aves por razões humanitárias, pela qualidade do produto final e por segurança. Este procedimento induz a ave a uma inconsciência à dor e ameniza o estresse durante o sacrifício e sangria, imobilizando e evitando, convulsões e contusões (PFEILSTICKER, 2008). É uma etapa importante do processo tanto para o bem-estar animal quanto para qualidade das carcaças e dos cortes. Ao fazê-lo de maneira adequada, estas reduzem as intensas contrações musculares e adquirem um estado de insensibilidade à dor do corte da sangria, posicionando-se com o pescoço arqueado, asas coladas ao corpo, e dedos das patas distendidos, a chamada fase tônica, facilitando e tornando mais seguro o manuseio pelos sangradores ou assegurando a uniformidade no posicionamento de entrada e percurso do sangrador automático (CURSO..., 2010). Com este processo, por obter melhor relaxamento muscular, ocorre a liberação de grande volume de sangue na sangria. Com o objetivo de evitar a dor e o sofrimento das aves, o Mapa criou a Instrução Normativa nº Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 13, de 17 de janeiro de 2000, que regulamenta todos os métodos permitidos para a insensibilização no abate humanitário. Todos os estabelecimentos destinados ao abate devem aplicar a insensibilização imediata como etapa prévia da sangria. Somente é permitido o sacrifício de animais sem insensibilização prévia à sangria em caso de a carne ser destinada ao consumo por comunidade religiosa que faça tal exigência, como o judaísmo ou islamismo. Insensibilização elétrica ou eletronarcose Na década de 1950, as aves eram atordoadas com faca eletrificada que, posteriormente, foi abandonada por questões de inadequabilidade e de segurança operacional. Na década de 1960, entraram em operação os primeiros atordoadores de cuba de água, precursores do processo atual que ficaram sem sofrer modificações por quase 20 anos. Essas somente vieram a ocorrer no final dos anos 1980, com incorporações de mecanismos de ajustes na altura e no uso de variadores de frequência, entre outros (NUNES, 2007). A eletronarcose é um método reversível, comumente utilizado pelos abatedouros. As aves são suspensas na nórea e levadas à insensibilização, em que ocorre a imersão da cabeça e parte do pescoço, por 7 segundos, num tanque contendo água salobra para melhorar a condutividade da eletricidade. A condução da corrente elétrica na ave promove epilepsia, que dá-se pela propagação do estímulo elétrico, provocando despolarização imediata da célula neuronal, impedindo que haja tradução do estímulo da dor, provocado pela incisão na sangria (MONTEIRO, 2007). O choque é do tipo corrente alternada, e é de extrema importância manter o nível de água da cuba, para que não ocorra das aves menores não passarem pela imersão ou conseguirem erguer a cabeça (PFEILSTICKER, 2008). Para o atordoamento três fatores físicos devem ser levados em consideração: a corrente (mA), a voltagem (V ) e a resistência (Ohms). Estes três são relacionados na seguinte fórmula: Corrente = Voltagem/ resistência (neste caso, a resistência da ave). Em geral é recomendada a corrente de 120 mA para atordoar as aves, para tanto, em função da resistência da ave (quanto maior a ave, maior a resistência) é definida a voltagem. A corrente elétrica é definida pela frequência, sendo preconizado o uso de altas Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 frequências (aproximadamente 600 Hertz) para a insensibilização, uma vez que baixas frequên cias (aproximadamente 50 Her tz) podem acarretar a parada cardíaca e a morte das aves. Segundo Sarcinelli et al. (2007) e Pfeilsticker (2008) a eletronarcose não deve promover a morte das aves, e deve estar adequada às normas de bem-estar animal. Para que a corrente elétrica recebida na cuba de insensibilização passe pelo corpo do animal, os ganchos que prendem as pernas das aves estão em contato com um fio-terra. Uma prática comum para diminuir a resistência é molhar os ganchos onde as aves estão presas. A insensibi1ização por eletronarcose é um método eficiente e de baixo custo de aquisição. Entretanto, quando realizada de forma inadequada, diminui a eficiência da sangria e pode, também, inibir parcialmente as reações bioquímicas post mortem, atuando na maciez do peito (SARCINELLI et al., 2007). Sangria A sangria, manual ou mecânica, deve ocorrer imediatamente após a insensibilização, mas o tempo pode ser variável em função da frequência (hertz) utilizada na cuba de insensibilização. Acima de 100 Hertz no máximo em 10 segundos e abaixo no máximo em 20 segundos (CURSO..., 2010). A manual é feita com facas apropriadas. A mecânica é feita direcionando-se a cabeça da ave para lâminas circulares ou facas acionadas também por meios mecânicos. É importante evitar o rompimento da traquéia e o corte das vértebras (ocorrida principalmente em operações manuais), para não obstruir a respiração e a sangria ser eficiente. Dessa forma, o ajuste da profundidade do corte, enfatizando a sangria mecânica, deve ser observado. Deve-se assegurar no corte que as duas artérias carótidas tenham sido cortadas para a morte e sangramento mais rápidos. O tempo de sangria preconizado pelo SIF é de 3 minutos, sendo considerado que nos primeiros 40 segundos, 80% do sangue é liberado e, no intervalo, entre 1 e 2 minutos e meio, todo o sangramento estaria completado. Se a sangria ultrapassar o limite de 3 minutos a depenagem será prejudicada, pois as aves estarão aprisionando as penas pelos folículos devido ao estado de rigor mortis (ROÇA, 2004; CUNHA NETO, 2007). A completa sangria é de extrema importância, tanto para a boa apresentação da carcaça que será de cor clara quanto para a boa qualidade mi- 67 Produção avícola crobiológica dela, caso contrário, seu destino será a graxaria. Considerações Finais As boas práticas de manejo, levando-se em consideração o bem-estar animal, e as instalações adequadas garantem o produto final e facilitam o trabalho dos operadores, tornando os abatedouros mais eficientes para produzir com qualidade. O manejo inadequado produz hematomas, lesões, fraturas e contusões; a ausência de conforto térmico causa aumento do estresse e de morte, e a insensibilização ou a sangria inadequada causam dor intensa e sofrimento desnecessários. Com a redução do estresse no manejo das aves diminui-se a incidência de defeitos de qualidade, como a carne pálida e a ponta de asa vermelha. Referências Bibliográficas BARBOSA FILHO, J. A. D.; VIEIRA, F. M. C.; SILVA, I. J. O.; GARCIA, D. B.; SILVA, M. A. N.; FONSECA, B. H. F. Transporte de frangos: caracterização do microclima na carga durante o inverno. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. 12, p. 2442-2446, 2009. CASTILHO, C. J. C.; RUIZ, J. N. 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O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf ) é constituído por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que devem atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais das Unidades de Atenção Básica, compartilhando as práticas e saberes em saúde nos territórios sob responsabilidade dessas equipes. Os Nasf devem contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), como processo de trabalho, principalmente no tocante ao aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, em termos sanitários e ambientais dentro dos territórios. Poderão compor os Nasf 1 e 2 as seguintes ocupações do Código Brasileiro de Ocupações (CBO): Médico Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor de Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Médico Ginecologista/Obstetra; Médico Homeopata; Nutricionista; Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra; Terapeuta Ocupacional; Médico Geriatra; Médico Internista (clínica médica), Médico do Trabalho, Médico Veterinário, profissional com formação em arte e educação (arte-educador) e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de Saúde, com pós-graduação em saúde pública ou coletiva, ou graduado diretamente em uma dessas áreas. COMO SERÁ DEFINIDA A COMPOSIÇÃO DAS EQUIPES DO NASF? TODOS OS PROFISSIONAIS LISTADOS NA POR TARIA TERÃO GARANTIA DE ATUAÇÃO NO NASF? Não. A composição de cada um dos NASF será definida pelos gestores municipais, seguindo os critérios de prioridade identificados a partir dos dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de saúde que serão apoiadas. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 QUAL A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO NO ROL DE PROFISSÕES QUE PODEM COMPOR O NASF? Concretiza o reconhecimento da Medicina Veterinária como profissão da área de Saúde (Resolução do Conselho Nacional de Saúde - CNS nº 287/1998) pelo Ministério da Saúde, mostrando o fundamental e importante papel desse profissional na construção da Atenção Básica no SUS. A publicação da Portaria GM/MS n° 2.488, de 21 de outubro de 2011, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica para o SUS, e que inclui a Medicina Veterinária no Nasf, faz justiça a uma classe profissional que trabalha em prol da saúde pública brasileira há muitos anos. O Sistema Único de Saúde, criado a partir de 1990, vem sendo construído ao longo dos anos e a criação dos Nasf/ESF, em 2008, inicialmente não incluiu o Médico Veterinário nas profissões possíveis de compor o Nasf. Tal fato fez com que a Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNSPV/CFMV), trabalhasse desde a criação do Nasf/ESF até a profissão ser contemplada na nova Portaria GM/MS n° 2.488, de 21 de outubro de 2011. COMO FAÇO PARA PARTICIPAR DO NASF? Como citado anteriormente, a Portaria GM/MS N° 2.488, de 21 de outubro de 2011, por si só não garantirá aos profissionais elencados a participação, uma vez que a composição dos Nasfs será feita a partir dos dados epidemiológicos, das necessidades locais e das equipes de saúde que serão apoiadas nos territórios. Nesse momento, é fundamental um intenso trabalho de divulgação do papel do Médico Veterinário na Saúde Pública, para gestores públicos da área, bem como para as comunidades envolvidas. Vários atores deverão participar desse processo, quais sejam: Sistema CFMV/CRMVs, Sindicatos, Associações e o próprio Médico Veterinário, principalmente em nível de Conselhos Municipais de Saúde, instância local onde ocorrem as discussões e decisões das Políticas Públicas de Saúde. Portanto, a busca por esse novo espaço profissional é um trabalho que envolve a todos. 69 saúde da família COMO SERÁ A ATUAÇÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO NO NASF? As atribuições do Médico Veterinário no Nasf estão sendo construídas, haja vista ser uma nova área de atuação da profissão. Dentro da construção dessas atribuições, algumas contribuições e proposições da CNSPV/CFMV em consonância com o Diretoria de Atenção Básica da Secretaria de Atenção de Saúde do Ministério da Saúde (DAB/ SAS/MS) estão descritas a seguir: O Nasf organizará o seu processo de trabalho, com foco nos territórios de sua responsabilidade, conjuntamente com as equipes de Saúde da Família que a ele se vinculam de forma a priorizar: a. Ações clínicas compartilhadas para uma intervenção interdisciplinar, com troca de saberes, capacitação e responsabilidades mútuas, gerando experiência para ambos os profissionais envolvidos. Com ênfase em estudo e discussão de casos e situações, espaços de reuniões, bem como consultas e intervenções conjuntas, apoio por telefone, e-mail etc. b. Intervenções específicas do profissional do Nasf com os usuários e/ou famílias, com discussão e negociação a priori com os profissionais da equipe de Saúde da Família responsáveis pelo caso, de forma que o atendimento individualizado pelo Nasf se dê apenas em situações extremamente necessárias, e quando ocorrer, continuar mantendo contato com a equipe de Saúde da Família, que não se descomprometeria com o caso; c. Ações compartilhadas nos territórios de sua responsabilidade, desenvolvidas de forma articulada com as equipes de Saúde da Família. Como, por exemplo, o desenvolvimento do projeto de saúde no território com foco nas questões de vulnerabilidade dos indivíduos frente a animais e demais riscos ambientais nos territórios, planejamentos, apoio aos grupos, trabalhos educativos, de inclusão social, enfrentamento da violência, ações junto aos equipamentos públicos, como escolas, creches, igrejas, pastorais etc., no intuito de fortalecimento das Redes de Atenção e Cuidados do SUS. O território é um conjunto de sistemas naturais e artificiais que engloba indivíduos e instituições, independentemente de seu poder. Deve ser considerado em suas divisões jurídicas e 70 políticas, suas heranças históricas e seus aspectos econômicos e normativos. É nele que se processa a vida social e nele tudo possui interdependência, acarretando no seu âmbito a fusão entre o local e o global. Como decorrência, as equipes de Saúde da Família precisam conhecer a realidade do território em suas várias dimensões, identificando as suas fragilidades e possibilidades, figurando-a como algo vivo e dinâmico. AÇÕES DO MÉDICO VETERINÁRIO NOS TERRITÓRIOS ATENDIDOS PELO NASF: √Visitas domiciliares para o diagnóstico de riscos envolvendo o homem, os animais e o ambiente; √ Prevenção, controle e diagnóstico situacional de riscos por doenças transmissíveis por animais vertebrados e/ou invertebrados (raiva, leptospirose, brucelose, tuberculose, leishmanioses, dengue, febre amarela, teníase/cisticercose etc.), e outros fatores determinantes do processo saúde e doença; √Educação em saúde com foco na promoção, prevenção e controle de doenças de caráter antropozoonótico e demais riscos ambientais, incluindo desastres naturais e provocados pelo homem; √ Desenvolver ações educativas e de mobilização contínua da comunidade, relativas ao controle das doenças/agravos na área de abrangência, no uso e manejo adequado do território com vistas à relação saúde/ambiente (desmatamentos, uso indiscriminado de medicamentos veterinários entre outros); √Estudos e pesquisa em saúde pública que favoreçam a territorialidade e a qualificação da atenção; √ Cuidado com os resíduos sólidos; √Ações de educação em saúde nas escolas, divulgação nos meios de comunicação e sensibilização às comunidades e sociedade organizada e não organizada; √ Prevenção e controle de doenças transmissíveis por alimentos; √ Dar respostas às emergências de saúde pública e eventos de potencial risco sanitário nacional de forma articulada com os setores responsáveis; √Identificação e orientações sobre os riscos de contaminação por substâncias tóxicas (agrotóxicos, pesticidas e inseticidas de uso veterinário). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Agência Plá √Elaborar estratégias de comunicação e educação para divulgação e sensibilização das atividades dos Nasf; √Elaborar projetos de prevenção de doenças e promoção à saúde, por meio de discussões periódicas em equipe, realizando ações interdisciplinares e desenvolvendo a responsabilidade compartilhada. Referências Bibliográficas Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento. Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica. Diretrizes do Nasf. Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Série B. N° 27. Editora MS: Brasília/DF. 2009.166p. Apoio às equipes de saúde: √ Discussão de casos específicos: prevenção e controle de doenças transmissíveis por alimentos, animais e alterações ambientais provocadas pelo homem e desastres naturais; √Visitas domiciliares sempre que relacionadas às casuísticas que envolvam intersecções entre saúde animal e humano; √Orientações de caráter preventivo e auxílio em casos de acidentes com animais peçonhentos; √Identificar emergências epidemiológicas de potencial zoonótico, de modo contínuo e sistemático; √ Participação em conjunto com todos os componentes da equipe no planejamento, monitoramento e avaliação das ações desenvolvidas pelo programa. Campo comum de atuação entre a Zoonose e o Médico Veterinário no NASF: √Identificação e controle de vetores e pragas do território e domicílios; √Identificação e controle de animais sinantrópicos; √Identificação e controle de animais peçonhentos (ofídismo identificação). Brasil. Ministério de Estado da Saúde. Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – Nasf. Portaria nº 154, 24/01/2008. Brasil. Ministério de Estado da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de Diretrizes e Normas para a Organização de Atenção Básica, para estratégia Saúde Família e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Portaria nº 2.488, de 21/10/2011. CNSPV/CFMV – Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinário do Conselho Federal de Medicina Veterinária. O Médico Veterinário, a Estratégia de Saúde da Família e o Nasf. Revista CFMV, N. 48, p. 9-14, 2009. Dados dos Autores Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV) do CFMV Paulo César Augusto de Souza MédicoVeterinário, CRMV-RJ nº 1645 (Presidente) E-mail: [email protected] Aurélio Belém de Figueiredo Neto Médico Veterinário, CRMV-SE nº 0036 Celso Bittencourt dos Anjos Médico Veterinário, CRMV-RS nº 1664 Lúcia Regina Montebello Pereira Atuação comum de todos os profissionais do NASF: √Identificar em conjunto com a ESF e comunidade: as atividades, as ações e as práticas a serem desenvolvidas em cada uma das áreas de responsabilidade; √Atuar de forma integrada e planejada nas atividades desenvolvidas pela ESF; √ Desenvolver coletivamente ações que se integrem a outras políticas: educação, esporte, cultura, trabalho etc.; Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Médica Veterinária, CRMV-PI nº 0199 Marcelo Jostmeier Vallandro Médico Veterinário, CRMV-RS nº 7715 Roberto Francisco Lucena Médico Veterinário, CRMV- RS nº 4716 Sthenia dos Santos Albano Amora Médica Veterinária, CRMV-RN nº 0710 71 Legislação e sociedade Fotos: Flávia Tonin As políticas públicas, a sociedade e o bem-estar de animais de produção INTRODUÇÃO Bem-estar refere-se a aspectos da vida do animal que contemplam seu corpo, sua mente e sua natureza ou suas necessidades, seus interesses e suas adaptações. O tema perpassa toda a cadeia produtiva, do nascimento ao abate, e revela-se na qualidade dos produtos e nas preferências do consumidor (HoetBem-estar animal: zel, 2005). O bem-estar animal implica a criação agroEstados naturais, mentais e físicos: referem-se à ecológica, que no Brasil está regulamentada saúde física, mental e à capacidade dos animais de agir pela Instrução Normativa nº 7, de 17/5/1999. naturalmente. Atualmente, a legislação brasileira é mais comAs cinco liberdades: livre de fome e sede, do medo e pleta, como se verifica na Instrução Normativa da angústia, do desconforto, da dor e ter condições para expressar seu comportamento natural. do Ministério da Agricultura, Pecuária e AbasAtendimento as necessidades: exigências da biologia do tecimento (Mapa) nº 46, de 6/10/2011. Nesta IN, animal para obter recursos ou respostas particulares a um dentre as orientações da produção orgânica, é estímulo corporal ou ambiental específico. esclarecido que a promoção da saúde animal (Broom & Johnson, 1993) deve ser buscada com estratégias preventivas, manejo fitossanitário da propriedade e adoção das normas de bem-estar animal. A Comunidade Europeia incluiu um protocolo soA legislação da União Europeia sobre produtos bre proteção e bem-estar animal e, desde 1997, recoorgânicos é considerada a mais completa no munnhece que os animais são seres sensitivos (EC, 1997). do, e pode ser utilizada como referência (Council Regulation, EC nº1.804/1999), especialmente nos casos em que a legislação brasileira é omissa A Senciência ou sensitividade animal: (Machado Filho et al., 2001). √ consciência do ambiente ao seu redor. O Mapa considera que o co√ dimensão emocional. nhecimento do comportamento √ consciência do que está acontecendo com eles. animal e o uso de estratégias de √ capacidade de aprender por experiência. manejo racional podem assegu√ consciência de sensações corporais: dor, fome, calor, frio etc. rar o bem-estar animal e gerar √ consciência de suas relações com outros animais. ganhos diretos e indiretos na √ capacidade de escolher entre diferentes animais, objetos e situações. produtividade e qualidade do produto final. O manejo inadeBem-estar significa não só controle da dor e do sofrimento, mas a satisfação e a realização da natureza do animal (Fraser & Boom, 2003). 72 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 LEGISLAÇÃO Produção agro ecológica: No Brasil, com a promulgação dos decretos de Defesa Sanitária √ superior à convencional em termos ambientais, energético, de Animal e Vegetal, foram instituciobem-estar animal. nalizadas as normas de bem-estar √ menor dependência de insumos externos e menor impacto social e animal pelo Decreto-Lei nº 24.645, cultural. de 10 de julho de 1934. √ tipo de produção que deve interessar a toda a sociedade como Em seu art. 1º, o decreto define regra, e não como exceção ou “nicho”. que todos os animais existentes no País são tutelados do Estado e nos demais artigos define com clareza quado, além de causar estresse e sofrimento, afeta, o que é considerado “maus-tratos” no sistema de por exemplo, a qualidade da carne em fatores como criação e estabelece as exigências para o trânsito, cor, pH, consistência e tempo de prateleira, além de comercialização e abate dos animais. No art. 10 são reduzir significativamente o rendimento de carcaestabelecidas as penalidades e fica esclarecido que ça, devido à incidência de hematomas e contusões. são passíveis de multa e prisão os proprietários de Outros cuidados como dieta, condições higiênicas animais e os que tenham sob sua guarda ou uso, e instalações adequadas, saúde animal, devem ser desde que consintam atos não permitidos no deobservados e praticados pelo produtor rural. No creto. Demonstra avanço no relacionamento com manejo pré abate, os cuidados precisam ser intensia sociedade em seu art. 16, pois determina que as ficados, pois, nesse período os animais são expostos autoridades federais, estaduais e municipais presa ambientes adversos, como transporte, ambiente tarão aos membros das sociedades protetoras de desconhecido e contato com animais diferentes. animais a cooperação necessária para fazer cumprir a presente lei, no que se refere aos maus-tratos. Legislação de bem-estar animal no Brasil : √ √ Decreto nº 24.645, de julho de 1934, estabelece Medidas de Proteção Animal, Brasil, 1934. √ D ecreto nº 30.691, de 1952. Aprova o novo regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, Brasil, 1952. √ Instrução Normativa nº 3, de 17 de janeiro de 2000, do Secretário de Defesa Agropecuária. Aprova e padroniza os Métodos de Insensibilização para o Abate Humanitário e estabelece os requisitos mínimos para a proteção dos animais de açougue e aves domésticas, bem como os animais silvestres criados em cativeiro, antes e durante o abate, a fim de evitar a dor e o sofrimento, Brasil, 2000. √ Po r ta r i a nº 1 8 5 , d o M i ni s t ro d a Agr icultur a, Pecuária e Abastecimento, de 17 de março de 2008, instituiu a Comissão Técnica Permanente de Bem-estar Animal do Mapa, cujo objetivo é coordenar as diversas ações de bem-estar animal do M inistério e fomentar a adoção das Boas Práticas para o Bem-Estar Animal nas diferentes áreas da cadeia pecuária, Brasil, 2008. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, estabelece os procedimentos para o uso científico de animais e cria o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal – Concea, Brasil, 2008b. √ Instrução Normativa nº 56, do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de 6 de novembro de 2008, estabelece procedimentos gerais de Boas Práticas de Bem-Estar para Animais de Produção e de Interesse Econômico – Rebem, abrangendo os sistemas de produção e o transporte, 2008c. √ Instrução Normativa nº 64, do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de 18 de dezembro de 2008. Aprova o Regulamento Técnico para os Sistemas Orgânicos de Produção Animal e Vegetal, que no art. 2º aprova as listas de Substâncias Permitidas para uso nos Sistemas Orgânicos de Produção Animal e Vegetal, Brasil, 2008d. √ Decreto nº 6.899, de 15 de julho de 2009. Define a composição do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), estabelece as normas para o seu funcionamento e da sua secretaria executiva, cria o Cadastro das Instituições de uso científico de Animais (Ciuca), Brasil, 2009. 73 Legislação e sociedade Legislações de criação agroecológica envolvendo o bem-estar animal: √ Instrução Normativa do Ministro da Agricultura nº 7, de 17 de maio de 1999 – Estabelece as normas de produção, tipificação, processamento, envase, distribuição, identificação e certificação da qualidade para os produtos orgânicos de origem vegetal e animal. Considera como sistema orgânico de produção agropecuária e industrial, os que adotam tecnologias que aperfeiçoam o uso de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a autossustentação, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, de organismos geneticamente modificados (OGM/transgênicos), ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e consumo, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana. √ IN nº 46, de 6 de outubro de 2011, do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Estabelece o Regulamento Técnico para os Sistemas Orgânicos de Produção Animal e Vegetal e as listas de substâncias permitidas para uso nos Sistemas Orgânicos de Produção. Define que se deve promover prioritariamente a saúde e o bem-estar animal em todas as fases do processo produtivo com a adoção de técnicas sanitárias e práticas de manejo preventivas. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, Office Internacional des Epizooties) refere ao sacrifício sanitário em febre aftosa no caso de foco. As normas orientam as ações de sacrifício sanitário, e exigem que estejam descritas, nos planos de emergência, já aprovados e que sejam do conhecimento da comunidade-alvo, antes de sua execução (OIE, 2007). Orientações semelhantes constam em outras doenças animais sujeitas ao sacrifício sanitário, em seu controle ou erradicação. Legislações Internacionais / Novas Exigências A OIE em 2005, por meio do Código de Bem-Estar Animal, apresentou as normas para o abate de ani- 74 Legislações brasileiras de sacrifício sanitário relacionadas ao bem-estar animal: √ Lei nº 569, de 21 de dezembro de 1948. Autoriza o sacrifício sanitário de animais para salvaguardar a saúde pública ou por interesse da Defesa Sanitária Animal. √ Decreto nº 51.838, de 14 de março de 1963. Refere-se ao Ministério da Saúde. Norma Técnica Especial para o Combate às Leishmanioses, quando se determina o sacrifício dos animais doentes como medida de Saúde Pública. √ Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998: Lei de Crimes Ambientais – refere ao bem-estar da fauna silvestre e estabelece penalidade. mais, o descarte de animais no controle de doenças e o transporte de animais. Essa atitude induziu a uma importante mudança na política publica de saúde animal nos países-membros. Acrescem-se aos argumentos de bem-estar, o conhecimento e a constatação do ponto de vista mercadológico de que a melhoria no bem-estar animal pode resultar em maior produtividade e qualidade no produto final. Para sua implantação como política pública, alguns aspectos se tornam imprescindíveis, como: a qualificação e capacitação dos profissionais e a pronta adoção dos procedimentos operacionais, que necessitam estar escritos sob a forma de Ma nuais Operacionais. De acordo com Capárroz (2010), na União Européia, a legislação, que possui mais de 30 anos, tem possibilidade de exigir padrões mínimos para as instalações rurais, o transporte e o abate de animais; para práticas agrícolas com animais e produtos consumidos e alto padrão de bem-estar e proteção, com a mesma exigência nos importados. Como componente da sociedade civil, as organizações não governamentais estão empenhadas em acompanhar o impacto do comércio internacional, no desenvolvimento social e nas políticas públicas dos países. O Eurogroup for Animals, por exemplo, estabelece que devem ser respeitados os valores da sociedade, entre os quais o respeito ao bem-estar animal. O aperfeiçoamento das normas de bem-estar para os animais de trabalho, de produção, de companhia e de animais silvestres contribuirá para o bem-estar da humanidade, especialmente em países em desenvolvimento. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 O tratamento que a União Européia vem dando ao tema demonstra exigências em relação ao comércio internacional. A Diretiva 98/58/EC, exigiu que a Comissão Européia preparasse um relatório comparando a legislação da UE com a de outros países, avaliando até que ponto o não seguimento dos princípios da Comunidade Européia poderiam prejudicá-la, pela competição por parte de países não signatários (EC, 1998, 2002). No encontro ministerial da OMC em Seattle, Estados Unidos, em 2000, a União Européia submeteu um documento indicando claramente que considera bem-estar animal tema-chave nas negociações de comércio internacional. Medidas propostas incluem o desenvolvimento de acordos multilaterais, rotulagem de produtos e compensações financeiras que, segundo o documento, teriam efeitos mínimos na produção e comércio (Hoetzel, 2005). Na UE, as organizações sociais estão analisando o impacto das regras comerciais sobre o meio ambiente e as políticas sociais. Consideram que o alto padrão dos produtos locais terá desvantagem quando comparado aos importados de países que desrespeitam as regras de bem-estar animal. A União Européia oferta recursos para atender os produtores que desejam atingir alto padrão de bem-estar animal. O Eurogroup for Animals apregoa que a OMC poderia promover o bem-estar animal aplicando tarifas baixas ou nulas na importação de produtos que estejam de acordo com o atendimento às normas (Eurogroup, 2011). Em recente reunião na União Europeia, os produtores questionaram se os consumidores pagarão um preço maior por produtos oriundos de melhores práticas. Consideraram que não existe reconhecimento dos esforços e investimentos de longo prazo que os produtores da UE precisam fazer para cumprir esses padrões. Solicitaram que a UE buscasse garantias quando negociar acordos comerciais com países de fora do bloco de que, os mesmos padrões aplicados na UE sejam exigidos nas importações. Foi efetuada uma pesquisa que mostrou que 47% dos compradores britânicos estão dispostos a pagar um preço extra por produtos produzidos com padrões mais altos de bem-estar animal. Normas da OIE A OIE como Organização Internacional de Referência para Saúde Animal, com 178 países-membros tem o importante papel de elaborar as normas para o comércio internacional de animais vivos e seus produtos derivados. Ao assumir a liderança na elaboração de Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 normas de bem-estar animal, o fez por solicitação dos países-membros e por considerar que a saúde é um componente básico do bem-estar-animal. Esses aspectos fizeram com que uma das prioridades do Plano Estratégico da OIE para o período de 2001-2005 fosse o bem-estar-animal. Em fevereiro de 2002, foi criado um grupo de trabalho e suas primeiras recomendações foram adotadas no ano seguinte. Os princípios gerais de bem-estar animal foram incluídos na Edição 2004 do Código de Animais Terrestres. Em fevereiro de 2004, a OIE organizou a primeira Conferência Mundial sobre Bem-Estar Animal dirigida aos Serviços Veterinários dos países-membros, aos produtores e aos atores do setor de carnes. Foram envolvidos ainda veterinários e organizações não governamentais. A partir de maio de 2005, os delegados dos países-membros adotaram as sete diretrizes elaboradas e incluídas no Código Terrestre e duas normas incluídas no Código Sanitário para Animais Aquáticos. Temas abordados nas diretrizes da OIE (2005) sobre bem-estar animal: √ √ √ √ √ √ √ √ Transporte de animais por via marítima. Transporte de animais por via terrestre. Transporte de animais por via aérea. Sacrifício de animais para consumo humano. Sacrifício de animais com fins profiláticos. Controle das populações de cães de rua. Utilização de animais na pesquisa e na Educação. Bem-estar de peixes de cultivo durante o transporte. √ Aturdimento e matança de peixes de cultivo para consumo humano. Em 2008, na Segunda Conferência Mundial sobre Bem-Estar Animal, no Cairo, a OIE identificou a necessidade de estabelecer ferramentas para ajudar os país es-membros a reforçar sua competência, políticas públicas e infraestrutura para consolidar a aplicação efetiva das normas (OIE, 2011). Parcerias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Tendo em vista que organizações nacionais e internacionais estabelecem critérios mínimos de bem-estar dos animais de produção, o Ministério 75 Legislação e sociedade da Agricultura como responsável pelo fomento de ações que garantam o bem-estar animal, estabeleceu por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC), a coordenação da Comissão Técnica Permanente (criada pela Portaria nº 185, de 17 de março de 2008) e parcerias com diversas instituições e organizações. Sob a forma de Manual foram publicadas as “Boas Práticas de Manejo-Transporte. Trata-se de um Manual Operacional de qualidade técnica, boa apresentação e didático que refere desde os documentos necessários para o transporte, características dos veículos, o embarque, a viagem, as situações de emergência até o desembarque (www.grupoetco.org.br e www.pfizersaudeanimal.com.br e www.funep.org.br). Foram elaborados vídeos pela WSPA: Abate Humanitário de Aves; Abate Humanitário de Suínos; Abate Humanitário de Bovinos. A publicação “Bem-estar Animal – O Brasil se importa” reúne resumo das principais legislações inerentes ao bem-estar animal, as ações desenvolvidas e os principais acordos celebrados. Exemplos de outros manuais e protocolos são: Boas Práticas de Manejo de Bovinos de Corte (ETCO) Bezerros ao nascimento; Vacinação; Embarque; Identificação; Boas Práticas de Manejo de Bovino de Leite. Ordenha Manual, Manejo, Bem-estar Animal (Marfrig). Protocolo de bem-estar para Aves Poedeiras (Abef ). Protocolo de bem-estar Animal de Poedeiras para as empresas produtoras e indústrias processadoras de ovos do Brasil. Protocolo de bem-estar de frangos e perus. Percepções da sociedade e o bem-estar animal O Bem-estar-animal é responsável pela qualidade do produto final. O que tem início no sistema 76 de produção acompanha toda a cadeia produtiva e termina na gôndola do supermercado, envolvendo a embalagem e a conservação. Verifica-se, porém, que a maioria da população não tem percepção desse processo. O sacrifício de animais acometidos por zoonoses ou eliminados no processo de erradicação de doenças induz a reações da comunidade. O impacto decorrente das medidas de erradicação da peste suína africana no Brasil foi sem precedentes. A forma de apresentação da doença com baixa mortalidade, na maioria dos focos, causou desconfiança entre os produtores e entre os médicos veterinários (Lyra & Garcia, 1983). A legislação preconiza o sacrifício sanitário em zoonoses e nas doenças objeto de programas de erradicação (Brasil, 1963), porém, não existe um manual operacional que indique a forma mais rápida, humanitária de realizá-lo e que seja isenta de maus-tratos. Pettres et al. (2007), em estudo realizado em Jóia/RS, num surto de febre aftosa com o sacrifício de 11.067 animais, principalmente do rebanho leiteiro, verificaram que as repercussões sociais concentraram-se na renda das famílias, pois houve uma ruptura prolongada nos modos de vida no meio rural afetado. Verificou-se efeitos sobre a saúde mental das pessoas, perda de renda e alterações na economia local, bem como problemas de manejo e maus-tratos decorretes do uso do rifle sanitário. Concluiu-se que a experiência resulta em consequências traumáticas e duradouras e que aspectos sociais, éticos, ambientais, de bem-estar animal e impacto em outras áreas da economia não estão incluídos na política pública de defesa sanitária. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Nos sacrifícios realizados no Brasil na erradicação da peste suína africana e no programa de erradicação da febre aftosa observa-se que o impacto na comunidade está relacionado ao fato de que o maior número de sacrifícios é realizado nos animais sadios ou contatos. Esse aspecto justifica plenamente a necessidade prévia da educação sanitária. Para Woods (2004), a legislação usada na Inglaterra para controlar a aftosa transformou a compreensão da doença em “a mais temida e uma das piores pragas animais do mundo”, e seus métodos de controle mais temidos que a própria doença. A posição governamental de praticar o sacrifício na erradicação de uma doença como a febre aftosa é válida e necessária, porém os aspectos sociais dessa prática devem ser considerados. Por Referências Bibliográficas BROOM, D.M; JOHNSON, K.G. Stress and animal welfare. London, 1993, 211p. CAPÁRROZ, M. The international concept of animal welfare: an update. (Abiec), 2010. CRISPIN, S.M.; ROGER, P.A.; O´HARE, H.; BINNS, S.H. The 2001 foot and mouth disease epidemic in the United Kingdom: animal welfare perspectives. Rev. Sci. Tech. Off. Int. Epiz., 21 (3):877-883, 2002. Eurogroup for animals. WTO Public Forum 2011 The Global Trade Challenge of Animal Welfare. Briefing, September 2011. FRASER, A. F; BROOM, D.M. Farm animal behaviour and welfare. 3ed. 437p. HÖTZEL, M.J. Bem-estar de animais zootécnicos: Aspectos éticos, científicos e regulatórios. Trabalho apresentado para Concurso Público de Títulos e Provas para Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, 2005. outro lado, a política de sacrifício deve ser imediata, o que depende da rapidez do diagnóstico. Improta (2007), levantou dados sobre a percepção que a academia e os médicos veterinários sanitaristas têm em relação às normas de bem-estar animal em Santa Catarina. Identificou que os docentes percebem a importância do ensino de etologia e BEA, considerando que devem ser ministrados de forma obrigatória e interdisciplinar. Foi relatada a necessidade do engajamento dos órgãos de classe e governamentais, da academia, da pesquisa, da defesa sanitária, dos setores produtivos e associativos comunitários e da sociedade em geral. Os sanitaristas que participaram do estudo consideraram a necessidade de uma legislação específica que respalde suas ações e formação profissional sobre o tema na graduação e pós-graduação. Considerações finais Saúde animal, bem-estar animal, Serviços Veterinários e a Academia devem ser tratados de forma indissociada. O Ministério da Agricultura deve manter as parcerias, nos diversos níveis, considerando que as legislações seguem um processo dinâmico; assim, necessitam ser constantemente atualizadas e adequadas. A capacitação dos profissionais e os programas de treinamentos devem ser constantes e envolver a Academia, permitindo o melhor entendimento e aplicação dos dispositivos legais da legislação. Dos planos emergenciais deve constar o Ma nual Operativo determinando o bem-estar animal e reduzindo o impacto na população e nos meios de comunicação das ações impostas. IMPROTA, C.T.R. Normas de bem-estar animal: da academia aos agentes sanitaristas. Dissertação. Mestrado, UFSC, 2007. LYRA, T.M.P.; GARCIA, G.S. Impacto da ocorrência da peste suína africana no Brasil. Comun. Cient. Fac. Med. Vet. Zootec. USP, 6/7: 35-48, 1982-83. MACHADO FILHO, L.C.P; SILVEIRA, M.C.A. C; HÖTZEL, M.J; MACHADO. L.C.P. Produção agroecológica de suínos – uma alternativa sustentável para a pequena propriedade no Brasil. II Conferência Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne Suína, 5 de novembro à 2006 de dezembro de 2001. PETTRES, B.M; MACHADO, L.C.P; HOTZEL, M.J; LYRA, T.M.P. Febre aftosa: impactos sociais sobre o bem-estar animal da política de erradicação. Interthesis, UFSC, 4(2):2007. WOODS, A. A manufactured plague – The history of foot and mouth disease in Britain. Earthscan Publications, 2004. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Dados dos Autores Tania Maria de Paula Lyra Médica Veterinária, CRMV-DF nº 0116, Doutora em Ciência Animal pela UFMG. Consultora em Defesa Agropecuária E-mail: [email protected] Décio Coutinho Médico Veterinário, CRMV-MT nº 0691, Consultor da ConfederaçãodaAgriculturaePecuáriadoBrasil(CNA) 77 Publicações PRODUÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS NO SEMIÁRIDO Tadeu Vinhas Voltolini Editora Embrapa Tel.: (87) 3866-3734 Site: www.cpatsa.embrapa.br O livro Produção de Caprinos e Ovinos no Semiárido traz importantes informações sobre esta atividade, abordando questões como a alimentação dos animais, uso da água, ambiente e instalações, manejos reprodutivo e sanitário, genética e melhoramento. Nele também é apresentada uma caracterização socioeconômica e ambiental da região e os principais sistemas de produção, além das boas práticas na criação e aspectos relacionados a produtos como a carne e o leite. A edição contou com a colaboração de 62 autores de mais de 20 renomadas instituições nacionais, e teve o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). GESTÃO DE EQUIPES RURAIS Claudio José Ravanini MidioGraf Gráfica e Editora E-mail: [email protected] O livro possui um texto muito útil a quem já conhece e também a quem quer conhecer o essencial a respeito da gestão de pessoas no meio rural. O estilo não é acadêmico, trabalho com dados e fatos que conferem consistência técnica e prática. O autor utiliza opiniões embasadas na vivência diária com colaboradores, técnicos e empresários do setor. Assim, a experiência e o conhecimento de quem se dedica, há anos, à atividade agropecuária permitem conclusões objetivas sobre o tema. PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE CONFINAMENTO DE BOVINOS DE CORTE Sebastião Silva Aprenda Fácil Editora Rua Dr João Alfredo, 130, Ramos, Caixa Postal 01 36570-000 Viçosa – MG www.afe.com.br ou www.cpt.com.br 78 O livro tem por objetivo apresentar uma visão geral da técnica de confinamento para criadores de bovinos de corte, técnicos, extensionistas e estudantes de Ciências Agrárias para, num primeiro momento, poderem avaliar a possibilidade de adotar, transmitir e se iniciar no assunto e, então, procurar conhecimentos mais profundos. São apresentados sistemas de confinamento, localização e infraestrutura de confinamento, manejo e preparo dos animais e alimentos para o confinamento, com indicações de alternativas para solucionar os problemas de ordem técnica e administrativa. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Agenda Setembro Novembro XVII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária Data: 3 a 6 de setembro de 2012 Local: São Luís (MA) Informações: www.cbpvcongresso.com.br 1º Simpósio Internacional de Atividades/ Terapia/ Educação Assistida por Animais Data: 6 a 9 de setembro de 2012 Local: São Paulo (SP) Informações: www.sintaa.com.br X Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Data: 1 a 4 de novembro de 2012 Local: Florianópolis (SC) Informações: www.cbcav2012.com.br International Congress on Medical and Applied Malacology Data: 25 a 29 de setembro de 2012 Local: Rio de Janeiro (RJ) Informações: www.icmam2012.com.br Outubro IV International Symposium on Animal Biology of Reproduction (ISABR) Data: 17 a 20 de outubro de 2012 Local: São Paulo (SP) Informações: www.cbra.org.br/portal/eventos/isabr2012/isabr2012.htm I Congresso Brasileiro de Cardiologia Veterinária Data: 2 a 4 de novembro de 2012 Local: São Paulo (SP) Informações: www.congressosbcv.com.br 5º Simpósio Internacional de Reprodução Animal Aplicada Data: 4 a 6 de outubro de 2012 Local: Londrina (PR) Informações: www.geraembryo.com.br XX Seminário Nacional de Ensino da Medicina Veterinária Data: 8 a 10 de Outubro de 2012 Local: Brasília (DF) Informações: www.cfmv.gov.br II Congresso Internacional da Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária Data: 15 a 17 de novembro de 2012 Local: Búzios (RJ) Informações: www.ciabev.com.br VEJA MAIS EVENTOS EM // www.cfmv.gov.br Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 79 Opinião Arquivo CFMV Um olhar sobre a Rio+20 Cláudia Scholten Comissão Nacional de Meio Ambiente (CNMA ) do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) Doutoranda em Medicina Veterinária Preventiva Unesp – Jaboticabal CRMV-SP nº 20045 Em tempos modernos, onde a globalização atinge todos os setores da sociedade, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) chegou com sua imponência, não só pelo tamanho físico e quantidade de participantes, mas pelas diversidades, cultural e étnica, que são importantes para a existência do caminhar da sustentabilidade. Todos os diferentes têm que convergir seus pensamentos para o igual. Igual, pois se luta por um mesmo ideal, ajudar o planeta e as futuras gerações que clamam por existir. Convivendo com pessoas de todas as nacionalidades, autoridades de países desenvolvidos e em desenvolvimento, vi um querer, uma vontade de caminhar mais longe, e para isso, é preciso caminhar juntos, pois sozinho chega-se rápido, mas não longe o bastante. Vi também divergências de opiniões, discussões calorosas, mas que na maioria das vezes culminaram em acordos e concordâncias. A cada sala em que entrava, observava pessoas importantes discutindo e decidindo assuntos igualmente importantes, os debates e às polêmicas eram ressaltados a todo o tempo, mas era com bons olhos que via essa situação, pois, assim, geravam-se ideias, conclusões e troca de experiências com mais intensidade. 80 Essa troca de experiências era o que mais se observava nos quatro temas de maior interesse para a Medicina Veterinária e Zootecnia, que seriam Florestas, Água, Oceanos e Segurança Alimentar e Nutricional. Um dos grandes temas era sobre Florestas, onde as principais recomendações entre as dez sugeridas eram: a redução de 150 milhões de hectares de desflorestamento e áreas degradadas até 2020 e a outra era promover ciência, tecnologia, inovação e conhecimento tradicional para enfrentar o principal desafio das florestas: torná-las produtivas sem destruí-las. Muitos debates paralelos surgiram em torno desse tema, principalmente colocando a criação de gado como vilã, ou uma das principais causas de desmatamento. Vejo que temos que mudar esse cenário, mas isso envolve uma quebra de paradigmas, pois somos os agentes transformadores do meio ambiente e temos que planejar o uso das nossas terras, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 Arquivo Rio+20 Arquivo CFMV Comissão Nacional de Meio Ambiente participa dos diálogos da Rio+20. No detalhe, Cláudia Scholten e João Paulo R. de Miranda da CNMA planejar o uso das águas e assim com um diagnóstico e uma gestão ambiental de cada situação, fica mais fácil mitigar os impactos ambientais advindos de cada produção ou setor que nos envolve. Sobre a temática Água, o que se ouvia dos painelistas era principalmente o acesso à água e ao esgotamento sanitário. Particularmente, a Medicina Veterinária e a Zootecnia têm peso quando discutimos esse valor, pois a primeira ordem de grandeza é a dessedentação humana e depois a animal. Este bem precioso, a água, deve ser vista em todos os seguimentos dentro de nossa classe como um valor maior, já que 70% de toda a água é utilizada na agricultura, cadeia a qual estamos intimamente ligados. No tema Oceanos, as recomendações que mais ressaltaram foram o desenvolver uma rede global de áreas marinhas protegidas internacionalmente, e lançar um acordo global para salvar a biodiversidade marinha e o mar. Assim, podemos enxergar mais possibilidade de colaboração para Médicos Veterinários. E por fim, o tema Segurança Alimentar e Nutricional, que foi amplamente discutido pela indiana Vandana Shiva, referência mundial envolvida com o Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012 movimento ambiental, discorrendo sobre os direitos e acesso dos pequenos produtores rurais às tecnologias. Alguns temas, como a pesca em larga e pequena escala, também foram muito abordados, principalmente na interface com as mudanças climáticas e a contaminação da água. Ainda no segmento da segurança alimentar e nutricional, o fundador do programa Slow Food, Carlo Petrini, citou que 54% de toda produção alimentar vai para o lixo. Nós, Médicos Veterinários e Zootecnistas, devemos estar alertas, preocupados e envolvidos com o desperdício e resíduos produzidos. Gostaria de ver tudo, o que foi dito e escrito no Documento Final, mesmo que encarado pela maioria como tímido, se tornasse ação imediata, pois a sustentabilidade dentro de qualquer área de atuação é realidade e não modismo. Reconhecendo a grandeza da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) e considerando que, mais do que discutir os rumos do desenvolvimento sustentável para os próximos 20 anos, a Conferência vai deixar um legado para o Brasil na área social e ambiental fazendo com que questões levantadas tornem-se parte do dia a dia da população. 81 Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Piauí – CRMV-PI Endereço: Av. Joaquim Ribeiro, 1830 - Centro/Sul - Teresina-PI - CEP: 64.019-760 Fone: (86) 3222-9733 • Fax: (86) 3221-1688 • E-mail: [email protected] Site: www.crmv-pi.org.br • Horário de funcionamento: 7h às 13h. Diretoria Executiva Presidente: Antonio Auro da Silva CRMV-PI nº 0230 Vice-Presidente: Roseli Pizzigatti Klein CRMV-PI nº 0137 Secretário-Geral: Fernando Aécio Amorim de Carvalho CRMV-PI nº 0335 Tesoureiro: Airton Leôncio Dutra da Silva CRMV-PI nº 0256 Vicente de Paula Fernandes Neto CRMV-PI nº 0984 Ronaldo Sousa Santos CRMV-PI nº 0184 Conselheiros Suplentes Leonardo Atta Farias CRMV-PI nº 0684 Stélio Bezerra Pinheiro de Lima CRMV-PI nº 0049/Z Conselheiros Efetivos Tatiane Cabral de Sousa Ribeiro CRMV-PI nº 0707 Benedito Barbosa Sousa Lina Vera de Oliveira Aragão CRMV-PI nº 0240 CRMV-PI nº 0197 José Assenção das Neves Sobrinho Ana Virgínia Piauilino Santos CRMV-PI nº 0434 CRMV-PI nº 0656 Suelmar Marques da Costa Caroline Guimarães Marques Oliveira CRMV-PI nº 0715 CRMV-PI nº 0835 João Pereira da Silva CRMV-PI nº 0369 Mandato: 01/07/2012 a 30/06/2015 Declaração de Comprometimento do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) com o Desenvolvimento Sustentável Os Médicos Veterinários e Zootecnistas, com o objetivo de firmarem seu compromisso com o Desenvolvimento Sustentável, se comprometem a realizar o exercício profissional sempre em observância: I– à legislação ambiental, agrária, sanitária e trabalhista; II – à preservação, conservação e restauração de processos ecológicos essenciais, bem como ao fomento do manejo sustentável das espécies e ecossistemas; III – à preservação, proteção, conservação da biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais e ao patrimônio genético; IV – ao uso sustentável dos recursos naturais e à preservação e/ou conservação dos espaços especialmente protegidos, constitucionalmente definidos; V– ao controle da produção, comercialização e emprego de técnicas, métodos e substâncias que minimizem riscos ao ambiente; VI – à educação ambiental; VII – ao bem-estar animal; VIII – à contribuição imediata, quando solicitada, à comunidade e ao Estado sempre que ocorrer desastres naturais ou outras emergências que possam produzir efeitos súbitos e nocivos ao ambiente; IX – a notificar as autoridades ambientais competentes, prévia e tempestivamente, sobre riscos ambientais observados no exercício profissional e fornecer todas as informações necessárias; X– às declarações das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável. Compromisso Público com as Práticas Sustentáveis O CFMV assumiu um Compromisso Público com o Desenvolvimento Sustentável. A Declaração de Comprometimento dos Médicos Veterinários e Zootecnistas com o meio ambiente torna pública a preocupação de todos com a observância das legislações, normas e valores para sustentabilidade. Médicos Veterinários e Zootecnistas, participem desse compromisso e sejam protagonistas no desenvolvimento e na conscientização das práticas sustentáveis!