Visualize e/ou imprima o artigo na integra em PDF

Transcrição

Visualize e/ou imprima o artigo na integra em PDF
ISSN 1517-6959
R e v i s t a
Ano 18/2012 – N° 56 – R$ 7,00
CFMV
mai/jun/jul/ago
Conselho Federal de Medicina Veterinária
MÉDICOS
VETERINÁRIOS
BRASILEIROS
parceiros NO
CONTROLE DA
RAIVA NO HAITI
E REPÚBLICA
DOMINICANA
9912287428 - DR/BSB
CFMV
CFMV
A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de
Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos
(revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia.
A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos órgãos
públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço:
SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140
Brasília–DF – CEP: 71205-060
Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444
Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: [email protected]
A Revista Cfmv é indexada na base de dados Agrobase.
Revista CFMV. – v.18, n.56 (2012)
Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária,
2012
Quadrimestral
ISSN 1517 – 6959
1. Medicina Veterinária – Brasil – Periódicos.
I. Conselho Federal de Medicina Veterinária.
AGRIS L70
CDU619(81)(05)
Sumário
4Editorial
5
Entrevista
8
Parceria Internacional
|
Maria Cristina Schneider
16Ensino
19
24
Ética e Bem-Estar Animal
Assuntos Políticos
27Nutrição
30
Destaques
34
Suplemento Científico
62
Produção Avícola
69
Saúde da Família
72
Legislação e Sociedade
78Publicação
79Agenda
80
Opinião
|
Cláudia Scholten - Um olhar sobre a RIO+20
Editorial
“O Futuro que Queremos”
A matéria de capa desta edição da Revista CFMV
“A contribuição de médicos veterinários brasileiros no
controle da raiva no Haiti e na República Dominicana”
aborda o quanto o profissional, individual ou coletivamente, pode participar e influenciar o bem estar e a
saúde pública. Interessante que autores de outras áreas
de atuação também abordam temas relacionados a
ações que podem ser efetivadas na saúde coletiva e no
meio ambiente, por Médicos Veterinários e Zootecnistas, tornando-se, inclusive, um novo campo de trabalho.
Reiteramos a importância do Médico Veterinário
nos Núcleos de Assistência a Saúde da Família e, de
forma didática, a Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do CFMV apresenta na matéria “NASF:
do abstrato ao concreto” como o profissional e os
agentes públicos devem atuar.
Perpassando nossas atividades, o artigo de
Opinião remete a impressões sobre a RIO+20 e a
participação do Conselho Federal de Medicina
Veterinária no evento. Ficamos apreensivos com o
documento final apresentado, intitulado “O Futuro que Queremos”, que reafirma ideias aventadas
em outros encontros, sem nunca deixar o papel.
Vemos um texto cheio de promessas de erradicar a pobreza sem prejudicar a natureza, mas de
poucas metas. A falta de decisão foi refletida no
evento. Por outro lado, numa ação sábia, o CFMV
se fez presente, participando ativamente, quando
nossos representantes tiveram oportunidade de
externar o quanto nossas profissões estão envolvidas com a saúde do planeta e com o futuro das
próximas gerações.
Expediente
CONSELHO FEDERAL DE
MEDICINA VETERINÁRIA
SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140
Brasília–DF – CEP: 71205-060
Fone: (61) 2106-0400
Fax: (61) 2106-0444
www.cfmv.gov.br
[email protected]
Conselheiros Efetivos
Adeilton Ricardo da Silva
Tiragem: 95.000 exemplares
Nordman Wall Barbosa
de Carvalho Filho
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente
Benedito Fortes de Arruda
CRMV-GO nº 0272
Vice-Presidente
Eduardo Luiz Silva Costa
CRMV-SE nº 0037
Secretário-Geral
Antônio Felipe
Paulino de Figueiredo Wouk
CRMV-PR nº 0850
Tesoureiro
Amilson Pereira Said
CRMV-ES nº 0093
CRMV-RO nº 002/Z
José Saraiva Neves
CRMV-PB nº 0237
Marcello Rodrigues da Roza
CRMV-DF nº 0594
CRMV-MA nº 0454
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Eduardo Luiz Silva Costa
CRMV-SE nº 0037
Antônio Felipe Paulino
de Figueiredo Wouk
CRMV-PR nº 0850
Amilson Pereira Said
CRMV-ES nº 0093
Editor
Ricardo Junqueira Del Carlo
Raul José Silva Girio
CRMV-MG nº 1759
CRMV-SP nº 2236
Jornalista Responsável
Flávia Tonin
Conselheiros Suplentes
Francisco Pereira Ramos
CRMV-TO nº 0019
João Esteves Neto
CRMV-AC nº 0007
José Helton Martins de Sousa
CRMV-RN nº 0154
Fred Júlio Costa Monteiro
CRMV-AP nº 0073
Heitor David Medeiros
CRMV-MT nº 0951
Nivaldo de Azevedo Costa
MTB nº 039263/SP
Assessoria de Comunicação
CFMV
Márcia Leite
Mat. CFMV nº 0505
Flávia Lobo
MTB nº 4.821/DF
Projeto e Diagramação
Duo Design Comunicação
Impressão
Novo Horizonte Comunicação
CRMV-PE nº 1051
OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFMV.
4
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Entrevista
Maria Cristina
schneider
Médica Veterinária e Epidemiologista, graduada pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, especialista em Atenção Primária de Saúde/Saúde Comunitária; especialização em
Epidemiologia; mestrado em Saúde Pública pela ENSP; doutorado em Saúde Pública, concentração em Epidemiologia, pelo Instituto de Saúde Pública do México; pós-doutorado na Universidade Johns Hopkins nos Estados Unidos. Foi servidora da Secretaria de Saúde do Rio Grande
do Sul e do Ministério da Saúde do Brasil e é Assessora em Interface Saúde Humana/Animal na
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Washington, DC, Estados Unidos.
1. Como iniciou sua vida profissional?
Minha primeira experiência de trabalho foi na
Secretaria de Saúde do Estado de Rio Grande do
Sul, em um projeto sobre a saúde comunitária/
atenção primária em saúde. Trabalhei com médicos, enfermeiras, assistentes sociais e outros profissionais que compunham equipes multidisciplinares que atendiam as famílias numa comunidade
de vulnerabilidade social.
Trabalhar numa equipe multidisciplinar, no início
da carreira, possibilitou-me adquirir uma visão abrangente de saúde e perceber nosso papel dentro do
sistema; assim como vivenciar o dia a dia e os desafios
dos moradores da comunidade reforçou a vontade de
contribuir com a qualidade de vida das pessoas.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
2. Quais são suas atribuições na sede da Organização Pan-Americana da Saúde?
Sou Assessora em Interface Saúde Humana/Animal
no Projeto do Regulamento Sanitário Internacional/Alerta e Resposta/Doenças Epidêmicas, Área de Vigilância,
Prevenção e Controle de Doenças, em Washington D.C.
Minhas atividades estão relacionadas com predição, detecção e resposta a potenciais emergências em
saúde pública de interesse internacional, principalmente no que diz respeito a surtos de leptospirose e
peste. Em relação à leptospirose, estamos realizando
vários estudos metodológicos para a identificação de
zonas críticas (hot spot) para surtos e analisando possíveis fatores condutores (drivers), ambientais e socioeconômicos, para a ocorrência dos surtos.
5
Arquivo da entrevistada
Entrevista
Participo da Rede Global de Ação Ambiental de
Leptospirose, coordenada pela Organização Mundial
da Saúde (OMS). Também faço parte de grupos-tarefas
na Opas, como, por exemplo, para a elaboração da
publicação “ Saúde nas Américas ”. Trabalhamos numa
equipe multidisciplinar.
2. Por que a raiva?
O tema raiva me interessou muito desde a primeira
aula de virologia com o Dr. Renato Silva, professor da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Fui estagiária dele e também da Dra. Norma Silva, sua esposa.
Ter bons modelos a seguir é muito importante para os
jovens profissionais. Fiz vários estágios na área e, em
1986, fui convidada para trabalhar na Fundação Sesp
com o Dr. Albino Belotto, inicialmente como assistente da Coordenação e, depois, quando ele saiu para a
Opas, assumi a Coordenadoria Nacional do Programa
de Profilaxia da Raiva.
Nesse período, constituímos um grupo de profissionais de várias regiões do País comprometidos com a saúde pública, em especial ao tema raiva. Naquela época,
criamos os indicadores para análise de risco de raiva, até
hoje utilizados no Brasil e internacionalmente.
Durante esse período ocorreram surtos de raiva
humana por morcegos hematófagos em regiões
remotas, a exemplo de Alta Floresta, cujo acesso, no
meio da mata, foi possível graças a um helicóptero da
FAB. À época, organizamos curso no qual se abordava a
questão ambiental, pois já sabíamos que vários surtos
estavam sendo registrados em áreas de garimpo e
desmatamentos. Já tínhamos em mente o que hoje é
chamado de “Uma Saúde”.
“Para ter sucesso em qualquer
profissão tem que gostar muito e
acreditar no que se faz”
3. Desde quando está trabalhando na Opas e
em que funções?
Quando fui Coordenadora do Programa de Raiva
do Ministério da Saúde, tive muito contato com a Saúde Pública Veterinária da Opas e participei de várias
reuniões internacionais. Haviam poucas mulheres
atuando nessa área e o trabalho de organismos internacionais era muito atraente para mim. Mas, quando
terminei doutorado e pós doutorado, já morava nos Es-
6
Vacinação antirrábica canina no Haiti, 2007
tados Unidos e não havia vagas na Unidade de Saúde
Pública Veterinária da Opas.
Fiz consultorias como epidemiologista e, inicialmente, trabalhei com minha ex-orientadora na Universidade Johns Hopkins, onde fiz o pós-doutorado. Também, atuei na situação de saúde no Suriname e cólera
e surto de raiva em Belize. Até que me tornei consultora
na Opas, por alguns meses, trabalhando com medição
de desigualdades em saúde.
Em 2000, fui selecionada para um posto fixo da Opas,
em Washington, como epidemiologista em análises
de situação de saúde. No final de 2002, fui transferida
para a Unidade de Saúde Pública Veterinária, também
em Washington e voltei a trabalhar com zoonoses. Fui a
primeira mulher veterinária a trabalhar na sede da Opas.
Realizamos análise conjunta com os paísesmembros sobre a situação da raiva transmitida por
cão, publicada e apresentada na Reunião de Ministros de Saúde e Agricultura, convocada pela Opas; organizamos a Reunião de Raiva das Américas (Rita), na
República Dominicana e a Consulta de Expertos de Raiva Humana por Morcego dos
Países Amazônicos, assim como outras
iniciativas objetivando controle das zoonoses. Participei da equipe que organizou
junto com a Aliança Global para Controle
da Raiva (Garc) e o Centros de Controle de
Doenças dos Estados Unidos (CDC), o Primeiro Dia Mundial da Raiva, em 2007.
Com a transferência da SPV para o Panaftosa e a impossibilidade de mudar-me para o Rio,
voltei a trabalhar como epidemiologista em diferentes
funções e, entre elas, apoiar no processo técnico/político para obter o compromisso dos Ministros de Saúde
para a eliminação de doenças desatendidas relacionadas com a pobreza, no qual a raiva humana transmitida
por cão e a peste foram incluídas. Atualmente, participo da equipe que trata do Regulamento Sanitário
Internacional, onde sou a única veterinária.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Arquivo da entrevistada
4. A senhora poderia contar algum episódio
ocorrido durante esses anos trabalhando por diversos lugares?
Em 2003, a Dra. Lucia Montebello e eu fomos para
um país da América Central visitar regiões críticas para
a raiva e uma delas ficava em bairro onde havia “maras”
(gangues violentas). Sabíamos que era uma área de
vulnerabilidade social, com seguranças armados. Ao
final da visita, chovia muito forte e as ruas alagaram parando totalmente o trânsito e estava anoitecendo num
lugar onde o sistema de segurança das Nações Unidas
informou que deveria ser evitado. O rádio comunicador do carro foi a única forma de o motorista monitorar
a situação e, nesse momento, lembramo-nos do curso
de segurança das Nações Unidas.
Reunião do Termo de Cooperação Técnica entre Haiti, Brasil, Cuba, República
Dominicana e Canadá para apoiar o Plano Nacional de luta contra a raiva ( 2007)
5. Como é estar fora do País há vários anos e continuar presente profissionalmente?
Nesse tempo que estou fora do Brasil, retorno no
mínimo três vezes por ano e, além do vínculo com a
família e os amigos, continuo muito próxima do grupo
que criamos no final dos anos 1980. Vários colegas
atuam em temas relacionados à SPV e sempre que
possível trabalhamos juntos, pois se trata de mistura de
compromisso com amizade, respeito e bom resultado.
Participo dos congressos da ABSPV, e em 2007 tive
a honra de receber uma Homenagem Nacional no II
Congresso Brasileiro de Saúde Pública Veterinária. Tenho sido convidada para ministrar palestras e fico feliz
pelo envolvimento dos alunos com o tema SPV.
6. Qual sua recomendação para um Médico Veterinário que deseja seguir carreira internacional
em Saúde Pública?
Para ter sucesso em qualquer profissão tem que
gostar muito e acreditar no que se faz. Preparar-se
para isso. O requisito mínimo é ter mestrado, mas,
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
atualmente, vários candidatos a cargos na Opas têm
doutorado concluído.
Experiência profissional prática, ter trabalhado nos
diferentes níveis do serviço público, principalmente
em nível nacional. Igualmente importante é publicar
artigos científicos em meios de credibilidade nacional
e internacional.
Falar vários idiomas é fundamental. Se eu não falasse inglês e espanhol, provavelmente, não teria conseguido aproveitar as oportunidades surgidas. Para os
jovens profissionais, estágios são muito importantes,
pois dão uma boa ideia do trabalho e cria conexões.
7. Quais são as principais áreas de atuação dos
veterinários em saúde pública?
Tradicionalmente, trabalhamos muito com zoonoses, hoje ampliada para interface humano/animal,
pois a definição de zoonoses (doenças transmitidas
diretamente por animais vertebrados ao homem)
ficou ­“curta” para pensar a amplitude dessa interface
numa visão de saúde pública ou de “Uma Saúde”. Por
exemplo, na febre amarela, na encefalite equina e na
rickettsiose os animais são hospedeiros essenciais para
manter a doença e ocasionar casos humanos. Nessa
linha da interface, a atuação pode acontecer na predição, prevenção, detecção e resposta a eventos de
potenciais emergências em saúde pública, onde 70%
deles têm animais na cadeia de transmissão.
É importante continuar os programas de controle
de vigilância e zoonoses, como se vem fazendo há
décadas. A inocuidade dos alimentos é um assunto
relevante e nosso papel bastante reconhecido. Nos
Núcleos da Saúde da Família, os profissionais poderão
atuar em vários aspectos de prevenção e controle de
zoonoses, investigação de surtos, orientação das comunidades e tantos outros.
Uma área muito bonita é o papel do Médico
Veterinário em situações de desastres naturais, seja
através da inocuidade dos alimentos das populações
em acampamentos; das pessoas que migram de uma
área para outra com seus animais e a importância
de vacinar; dos animais sem donos e o aumento
das mordidas depois de desastre; picadas de cobras
depois de inundação; sem contar a importância do
resgate e da atenção clínica aos animais. O Brasil
incorporou leptospirose e agressão de animais peçonhentos no Plano Interssetorial para Inundações, o
que me parece muito pertinente.
Salientamos o potencial de nossa categoria no
contexto da “diplomacia global em saúde”, em especial
nos aspectos relacionados com o Regulamento Sanitário Internacional.
7
parceria internacional
Contribuição de médicos
veterinários brasileiros no
controle da raiva no Haiti e
na República Dominicana
Introdução
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima
que ocorrem no mundo, anualmente, mais de 55
mil mortes por raiva, sendo que 99% dos casos
humanos foram transmitidos por cão (WHO, 2012).
Na Ásia e na África, concentra-se a maioria dos
casos, principalmente em populações rurais, onde
a vacina humana e imunoglobulinas nem sempre
estão disponíveis ou acessíveis, até por seus altos
custos. Em grande parte dos países dessas regiões, a profilaxia antirrábica, após exposição, não
é oferecida gratuitamente pelo sistema de saúde,
nem há campanhas massivas de vacinação canina,
como no Brasil.
A Região das Américas tem sido um exemplo no
avanço do controle da raiva, em especial na transmissão das variantes V1 e V2, ciclos que envolvem, predominantemente, o cão. A Organização Pan-Americana
de Saúde (Opas) considera possível eliminar a raiva humana transmitida por cão, nessa região (Opas, 2009). O
árduo trabalho desenvolvido pelos países-membros,
com o apoio desse organismo internacional, a partir
da criação do “Programa Regional de Controle da
Raiva”, em 1983, permitiu a redução de mais
de 90% dos casos de raiva humana e
canina (Schneider, 2009).
8
Nos últimos anos, cerca de 20 casos humanos
transmitidos por cão foram registrados nessa Região (OPS/PANAFTOSA, 2012), a maioria deles ocorrendo em áreas de maior vulnerabilidade social,
como as periferias de grandes cidades, conforme
registrado no Haiti, em 2007, e na República Dominicana, em 2009, e que está novamente ocorrendo
no Haiti. Nessas ocasiões, médicos veterinários
brasileiros associaram-se aos seus colegas veterinários e aos profissionais de distintas disciplinas, em
ambos os países, para controlar a situação epidemiológica da raiva.
Embora não se considere que a raiva possa ser
erradicada, pela quantidade de espécies silvestres
envolvidas e sua distribuição global (Rupprecht
et al., 2008), podemos evitar casos humanos, desde
1885, quando Pasteur criou a vacina, como tratamento profilático após exposição. Mesmo assim,
150 pessoas, na sua maioria crianças, morrem de
raiva diariamente no mundo (Global Alliance
for Rabies Control, 2012). Esse número confirma, também, que o controle da raiva é um tema
complexo, que vai além de vacinar pessoas agredidas, para evitar casos humanos. Inclui um elenco
de medidas interssetoriais associadas às políticas
públicas, às decisões de governos e aos recursos
disponíveis em cada país, assim como aos compromissos regionais e internacionais, e os programas
de cooperação entre países.
A raiva humana, por ser uma doença fatal
com sintomas tão marcantes, desperta especial interesse na população e dos tomadores
de decisão e, por ser também, considerada
uma doença de notificação obrigatória na
maioria dos países das Américas é um excelente exemplo para ser trabalhado numa perspectiva de cooperação internacional. A OMS
considera que meios e estratégias já estão
disponíveis para o controle da raiva. Já não
deveriam mais ocorrer casos dessa doença
conhecida desde 500 a.C.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Para a Região das Américas, o controle da raiva
pode ser também considerado um tema de solidariedade, no qual o Brasil tem se destacado. Este
artigo relata duas experiências, no Haiti e na República Dominicana, em que Médicos Veterinários
brasileiros uniram esforços por meio da cooperação
internacional para apoiar no controle da raiva. É
também, um chamado para que se intensifique a
cooperação com o Haiti para, mais uma vez, ajudar
a controlar a situação de emergência em raiva. A
possibilidade de futuras contribuições do Médico
Veterinário na perspectiva de macrocooperação
internacional como a modalidade “sul-sul”, ou seja,
entre países em desenvolvimento amplia-se, pois
nos blocos que o Brasil participa como a Unasul 1,
Brics 2 e CPLP 3, há países onde a raiva ainda é um
grande desafio.
Situação da raiva no Haiti
Em 2006, o Haiti reportou 11 dos 30 casos humanos transmitidos por cão registrados na Região
das Américas (37%), pois eram, e continuam sendo,
muitos os desafios enfrentados por esse país, como
também são escassos os recursos disponíveis.
Durante a celebração do “Primeiro Dia Mundial
da Raiva”, em 2007, em um evento público na capital
Port-au-Prince, na presença dos Ministros da Saúde
e da Agricultura, e da Representante da Opas nesse
país e com a participação da população, o governo
haitiano assumiu o controle da raiva como uma de
suas prioridades. Com esse objetivo foi constituído
um comitê interinstitucional para elaborar o “Plano
de Luta Contra a Raiva” no Haiti.
Esse Plano visava não somente a identificar as
ações a serem desenvolvidas, pois essas já eram
de conhecimento das autoridades nacionais, mas
também tinha como objetivo buscar apoio para sua
realização. A participação da Opas e, em especial,
a do Brasil, foi muito importante para seu êxito. “O
Plano Nacional do Haiti” é um exemplo concreto do
marco “Uma Saúde”, pois atuam coordenadamente
os setores saúde e agricultura para um fim comum.
Desde 2003, o Brasil faz doações de vacinas
antirrábicas caninas para o Haiti, de acordo com
as possibilidades de operacionalização de campanhas de vacinação desse país. Essas doações foram
promovidas por iniciativa dos médicos veterinários
brasileiros, por meio da Opas, sob coordenação do
Ministério da Saúde do Brasil. Nessa experiência,
foi baseado o projeto de cooperação, de 2007: o
“Termo de Cooperação Técnica entre Países (TCC)
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
envolvendo o Haiti, o Brasil, Cuba, a República Dominicana e o Canadá, para apoiar o “Plano Nacional
do Haiti na Luta Contra a Raiva”. A Opas utiliza com
frequência esse modelo de cooperação, que inclui
alocação de recursos específicos para as atividades
programadas (Opas, 2008).
Nesse TCC, relativo ao controle da raiva no Haiti,
cada um desses países se comprometeu a apoiar diferentes componentes do Plano, cabendo ao Brasil
contribuir com a vacinação canina, com a doação
de meio milhão de doses (vacina tipo Fuenzalida e
Palacios), e cooperação técnica com a participação
de médicos veterinários brasileiros experientes em
planejar e executar campanhas massivas de vacinação canina, que viajaram para trabalhar, integradamente, com os colegas haitianos.
No final de 2007, em Port-au-Prince, representantes dos cinco países do TCC participaram de reunião quando as autoridades do Haiti apresentaram
seu Plano e os países confirmaram seu apoio. Essa
missão, que incluiu uma visita à cidade de Jacmel,
no interior do país, para acompanhar o trabalho
de campo de vacinação canina, contou com a participação de três médicos veterinários brasileiros
(representante da Opas Washington, Ministério da
Saúde e Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul). Na campanha de 2007, foram vacinados
mais de 450 mil animais, número nunca anteriormente alcançado (Boletim da ARC, 2008).
A intensificação das ações de controle da raiva
no Haiti, nesse ano, teve como consequência a
redução do número para quatro casos humanos,
em 2008, mostrando que é possível avançar no
controle, mesmo em situações de maiores desafios,
como no caso do Haiti. O êxito dessas ações foi
compartilhado com outros países com dificuldades
no enfrentamento do controle da raiva. Médicos Veterinários haitianos apresentaram suas experiências em fó-
9
Fotos: Arquivo dos autores/OPAS
parceria internacional
Campanha de vacinação canina em Jacmel, Haiti, dezembro de 2007
runs internacionais, contando com participação de
colegas da África e de outras regiões.
O Brasil fez outra doação de vacina antirrábica
(Fuenzalida e Palácios), em 2009, e as autoridades
haitianas estavam em plena campanha de vacinação canina quando ocorreu o terremoto, em
janeiro de 2010, matando mais de 220 mil pessoas,
destruindo grande parte da capital Port-au-Prince
(Ops, 2012). Porém, essa tragédia não imobilizou
nossos colegas haitianos, que regressaram às atividades de vacinação, duas semanas após o desastre.
Esse esforço profissional e o comprometimento
com a população para o controle da raiva é digno
do nosso respeito e admiração, tendo em vista que
muitos deles haviam perdido seus familiares e suas
próprias casas. Novamente, foram vacinados quase
meio milhão de animais com a vacina brasileira.
Após o terremoto, o Brasil intensificou seu apoio
ao Haiti e, através do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, foi criado o termo de cooperação que
engloba uma série de atividades, entre elas capacitação de recursos humanos.
Em 2010 e 2011, os médicos veterinários brasileiros continuaram visitando o Haiti, para assessoria
técnica, de programa de cooperação com a Opas.
Em 2011 foram registrados 13 casos de raiva humana no Haiti, representando a metade dos casos de
toda a região (24). Com o terremoto, muitos animais
ficaram sem donos e, a raiva canina soma-se aos vários desafios que o país vem enfrentando, aliado a
uma epidemia de cólera. Foram doadas, pela Em-
10
baixada do Brasil no Haiti, 20 mil doses de vacina
antirrábica de uso humano, e mil ampolas de soro,
de grande importância para evitar os casos humanos. Tão logo seja possível, será muito importante a
continuação de novas doações de vacinas caninas
para o Haiti, pois não foi possível a doação em 2011
e 2012.
O material educativo, Revista da Turma da Mônica “Abaixo a Raiva”, em francês: Monica et la petite
bande: À Bas La Rage, impresso e distribuído pela
Opas, em 2004, está sendo reimpresso pela Embaixada do Brasil no Haiti (link no site do PANAFTOSA).
Outras iniciativas, educativas e de disseminação
de informação para o controle da raiva, como a
estratégia comunicação de risco, podem ser úteis e
aplicáveis em países como o Haiti, principalmente
durante um surto de raiva canina.
Situação da raiva na
República Dominicana
A República Dominicana, que divide a ilha de
La Española com o Haiti, já havia avançado consideravelmente no controle da raiva, chegando a
zero caso humano entre 1998 a 2000 (Opas, 2004). E
como acontece em vários países, quando há expressiva redução dos casos humanos, outras doenças
tornam-se prioritárias, enquanto aquelas que já
estão sob controle perdem visibilidade na competição por recursos.
Em janeiro de 2010, quando ocorreu o terremoto no Haiti, a República Dominicana chegou a
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
alcançar seis casos humanos em 12 meses (quatro
em 2009 e dois no início de 2010), preocupando
muito as autoridades nacionais, que pediram
apoio à Opas. No início de 2010, o Brasil participou
na ajuda à República Dominicana, também por
meio de cooperação internacional, doando um
milhão de doses de vacina canina (tipo Fuenzalida e Palacios) e prestando assistência técnica.
As vacinas foram entregues pelo Embaixador do
Brasil ao Ministro da Saúde da República Dominicana em evento noticiado pela imprensa. Médicos
veterinários brasileiros ajudaram a organizar a
maior campanha de vacinação que o país já havia
realizado. Antes, a estratégia utilizada era realizar
campanhas em áreas de risco e controle de focos
e, pela primeira vez, mediante cooperação, houve
descentralização da vacinação massiva e mais de
800 mil animais vacinados.
Ressalte-se a presença de médicas veterinárias
brasileiras em função na Opas e no Ministério da
Saúde do Brasil, durante, aproximadamente, um
mês, na República Dominicana trabalhando lado
a lado com médicos veterinários desse país, tanto
no controle do surto quanto na organização e realização de campanha massiva de vacinação, assim
como nas ações de saúde pública relacionadas com
o terremoto do Haiti.
Participaram, também, da “Sala de Situação do
Haiti”, criada no escritório da Opas na República Do-
minicana para acompanhar e apoiar, diariamente,
as emergências no Haiti. Assim como foram junto
com as autoridades nacionais para a vacinação canina na área de fronteira com o Haiti. O terremoto
provocou aumento relevante da imigração interna
e para o país vizinho, assim como acampamentos
com milhares de pessoas que ficaram sem moradia;
muitas dessas famílias traziam consigo seus animais. Ambos os países realizaram intensificação da
vacinação e vigilância em áreas de fronteira.
A situação epidemiológica da raiva na República
Dominicana foi controlada e após alguns meses de
intensificação das ações de controle, o país, novamente, voltou a ter zero casos de raiva humana em
2011. Mais uma experiência exitosa no controle da
raiva dos países da Região das Américas em situação
de crise, que contou com a cooperação entre países,
com o apoio da Opas e a participação do Brasil.
É importante que esse país mantenha as vacinações massivas por vários anos para garantir o
controle obtido além das demais ações que fazem
parte do Plano Nacional que foi atualizado durante
a situação de emergência. Entre as ações prioritárias definidas no Plano da República Dominicana,
assim como de grande parte dos planos dos países
da Região estão incluídos: a atenção às pessoas
expostas, vigilância epidemiológica, controle de
focos, vacinação canina e comunicação/educação,
além de outras.
Grupo internacional em visita a Jacmel para acompanhar as atividades de vacinação canina, Haiti, dezembro de 2007 . Dra. Motebello, quinta pessoa a partir da esquerda; Dra. Schneider, penúltima à direita; Dr. Bittencourt, último à direita.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
11
parceria internacional
Fotos: Arquivo dos autores/OPAS
Perspectivas da participação
do médico veterinário na
cooperação internacional
Reunião entre o Ministério da Agricultura do Haiti e consultores da Opas do Haiti, de Washington e do Panaftosa, agosto de 2011
Há várias formas de cooperação internacional,
entre elas aquelas promovidas por organismos internacionais como a OMS e a Opas. Neste artigo citamos o
caso do Haiti, onde foi desenvolvido o Termo de Cooperação Técnica entre Países (TCC), uma modalidade que
a Opas utiliza e que estabelece cooperação horizontal
e fortalecimento das capacidades institucionais dos
países para dar resposta às suas necessidades em saúde.
Esse tipo de cooperação é muito usado para o controle
da raiva e outros termos foram firmados entre o Brasil e
países das Américas, como Bolívia e Peru, focalizando
principalmente áreas de fronteira. A participação de
médicos veterinários tem sido importante não somente
para definir as áreas prioritárias, mas, também, para desenvolver o plano de trabalho conjunto.
Outra modalidade de cooperação internacional é
conhecida como “sul-sul”, ou seja, a cooperação entre
países em desenvolvimento (Almeida, 2010). Neste
novo milênio, as necessidades de saúde dos países com
menor renda per capita aumentaram devido a fatores
complexos que resultam em desigualdades ainda
maiores entre esses países e, internamente, em cada um
deles, sendo cada vez mais importante a cooperação
sul-sul. Como exemplo dessa forma de cooperação
pode ser citada a ajuda humanitária ao Haiti, após a
12
catástrofe de um terremoto seguido de uma epidemia
de cólera, que levou os governos de Brasil e de Cuba a
estabelecerem um plano de cooperação humanitária.
O Brasil vem se destacando como um dos mais
ativos patrocinadores da cooperação internacional
na área de saúde, somado a um propósito solidário
intimamente associado à cooperação “sul-sul”, respeitando a soberania e a não intervenção em assuntos
internos dos países parceiros (Buss, 2011). No caso da
raiva, antes mesmo desse termo, o Brasil já vinha realizando, desde os anos 1980, cooperação direta na área
de saúde com o Paraguai.
Há alguns mecanismos de integração entre os
países da região já em andamento, como o Mercado
Comum do Sul (Mercosul). A participação do Médico
Veterinário em acordos internacionais relacionados
com a produção e comércio dos alimentos é reconhecida e necessária. Na perspectiva de cooperação
“sul-sul” está a União de Nações Sul-americanas
(Unasul) para o estabelecimento de alianças sub-regionais de desenvolvimento sociocultural e geopolítico, em prol da equidade e inclusão social (Buss,
2011). No marco da Unasul estão incluídos o fortalecimento das capacidades nacionais em pesquisa e a
formação de recursos humanos na área de saúde e,
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
com essa finallidade, está sendo montado o Instituto
Sul-Americano de Governança em Saúde (Isags), no
Rio de Janeiro, para integração entre os países, membros. A interface saúde humana e saúde animal,
certamente, é assunto relevante e pertinente para
constar na pauta das políticas setoriais integradas,
para benefício das populações dos países aliados,
abrindo valioso espaço de trabalho para os médicos
veterinários desses países.
A cooperação internacional em saúde pública veterinária poderá acontecer em outros agrupamentos de países, como o Brics (Brasil, Rússia,
China, Índia e África do Sul), bloco de influência
geopolítica constituído pelos principais países
emergentes, entre eles, os mais populosos em
crescente expressão na economia mundial e em
dimensão territorial.
O reconhecimento da expressiva presença do
Brasil nos fóruns internacionais e sua crescente importância como componente dos Brics abre novos espaços para cooperação na área da saúde, inclusive no
caso da raiva; a Índia e a China são os países do mundo
com o maior número de casos de raiva humana. O
número de casos de raiva humana tem aumentado
na China, sendo mais de três mil casos reportados em
2007 (Zhang, 2011). Como o Brasil também é um país
continental e com grande extensão de área rural, o
intercâmbio de experiências com a China, no controle
da raiva, pode representar significativos benefícios
para ambos os países.
Desde 1996, a cooperação entre os países de língua portuguesa, Brasil, Portugal e seis países da África,
coordenada no Brasil, pelo Ministério de Relações
Exteriores promove, prioritariamente, atividades nas
áreas de saúde e educação (Almeida, 2010). A África é
um dos continentes com os maiores desafios no que diz
respeito às políticas públicas nessas duas áreas, o que
se reproduz no controle da raiva. A identidade cultural
e a língua fazem com que as iniciativas de cooperação
entre esses países africanos e o Brasil constituam-se em
parcerias produtivas e em significativa experiência para
todos os envolvidos. Desconhecemos que a raiva tenha
sido parte dessa agenda, mas poderá ser.
Se a cooperação internacional, em qualquer
modalidade, significa construir espaços de trabalho
integrando países, a partir de suas diferenças, identidades e possibilidades, respeitando a soberania
de cada um deles, para o alcance de um mesmo objetivo, o Brasil está pronto. As marcantes diferenças
entre as cinco regiões brasileiras ampliam as experiências, que servem de base para as iniciativas de
cooperação, não nos faltando, assim, experiências
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
com grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, e com as remotas áreas de alta vulnerabilidade
social do Nordeste e da Amazônia.
Os exemplos deste ar tigo enfocam duas
experiên­cias exitosas da participação de médicos
veterinários brasileiros em cooperação internacional
no controle de situações de emergência em raiva
no Haiti e República Dominicana, quando a capacidade técnica esteve mesclada ao nosso profundo
sentimento de solidariedade. Esse é um aspecto que
não está formalmente explicitado nos acordos internacionais, mas de valor inestimável: a nossa capacidade de expressar respeito e solidariedade.
No entanto, a participação do Médico Veterinário
pode avançar além do que se vem realizando, tradicionalmente, no setor saúde. Existe uma grande variedade de temas que transcendem as fronteiras nacionais e
requerem ações globais que determinam a saúde dos
povos, por meio do conceito de “Diplomacia Global
em Saúde” (Kickbush, 2011). A diplomacia global em
saúde trata de um elenco de temas que extrapolam a
cooperação entre países, pois envolve um processo de
negociações conjuntas de relações exteriores e saúde
pública, como, por exemplo, o Regulamento Sanitário
Internacional (RSI).
O RSI entrou em vigor em 2007 e é um instrumento jurídico internacional de caráter vinculante
do qual participam 194 países (WHO, 2007). Foi elaborado para proteger a saúde pública prevenindo a
disseminação de doenças com a menor interferência
possível no transporte e no comércio internacionais.
Os países comprometeram-se a notificar à OMS todos
os eventos ocorridos em seus respectivos territórios
que possam ser considerados uma emergência de
saúde pública, em âmbito internacional.
Dentro do marco do RSI e da abordagem de eventos,
manifestação de uma doença e/ou agravo potencialmente patogênico, considera-se uma emergência de saúde de
importância internacional a combinação de, no mínimo,
dois dos critérios abaixo mencionados, quando:
99 Suspeita-se que é um sério problema de saúde pública;
99 Considera-se inusitado e/ou não esperado;
99 Constitui-se um risco de propagação internacional;
99 Poderia representar riscos para viagens e comércio internacionais.
Estudo realizado pela Opas demostrou que 70%
dos eventos das Américas, registrados no sistema
da Organização Mundial da Saúde que respalda o
13
Segurança Alimentar
das práticas de saúde pública,
entre elas as relacionadas com
as ciências veterinárias. Por
tudo isso, a cooperação internacional pode ser oportuna e
pertinente.
A participação do Médico
Veterinário nas diferentes formas de cooperação internacional na área da saúde pública,
como parte de agenda técnica e
das politicas de relações internacionais, pode ser intensificada. A raiva é um bom exemplo, mas
há outros temas a serem analisados e passos políticos a serem
viabilizados. Esse contexto de
Médicas Veterinárias do Ministério da Saúde da República Dominicana e da Opas durante vacinação canina em
oportunidades requer a prepaDajabon, na fronteira com o Haiti. República Dominicana, janeiro 2010
ração dos profissionais médicos
veterinários brasileiros, para assumir esse comproRegulamento Sanitário Internacional, foram consimisso, em nome do Brasil.
derados referentes à interface humana/animal, demonstrando a importância do Médico Veterinário
AGRADECIMENTOS
nas equipes de alerta e resposta e a esses eventos
Aos colegas do Ministério de Agricultura e
(Schneider, 2011). As negociações políticas que
Saúde Pública do Haiti, em especial aos Drs. M.
envolvem eventos que podem causar interrupção
Millien, J. Pierre-Louis e J. Thomas; aos colegas do
de comércio, turismo e grandes perdas econômiMinistério de Saúde da República Dominicana, em
cas, requerem atuação conjunta de diplomatas e
especial aos Drs. M. Viloria, R. Pimentel, Z. Garib, as
profissionais de saúde. Essa área do conhecimento
autoridades de saúde do Brasil, em especial aos Drs.
já é tema de mestrado na Escola Nacional de Saúde
J.S. Barbosa Junior, R. Pio Marins, W.K. Oliveira e M.L.
Publica/Fiocruz e pode ser importante para o exerCarvalho, J. Vallini; à Embaixada do Brasil no Haiti,
cício da nossa profissão. Nesse sentido, o Curso de
à Assessoria Internacional de Assuntos de Saúde
Epidemiologia de Campo, promovido pela Secredo Ministério da Saúde, em especial L. Viegas, aos
taria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da
colegas da OPS no Haiti e na República DominiSaúde, tem contado com a participação de médicos
cana, em especial aos Drs. J.P. Breux, K. Mung, J.M.
veterinários, cuja excelência técnica está sendo reRwangobwoba, F.R. Cabrera e M. Machuca; às auconhecida em distintas oportunidades.
toridades de saúde e agricultura desses países, às
Mencionamos distintos modelos de cooperaautoridades da OPS em especial aos Drs. M. Roses,
ção internacional envolvendo acordos e recortes
S. Gross, M. Lichia, M. Canepa, E. Chamouillet, M.
geopolíticos, com perfis socioeconômicos e cultuFernández, M. Espinal, S. Aldighieri, O. Cosivi; A. Berais específicos, com ou sem a participação de orlotto e P. Arambulo III ex-coordenadores da Saúde
ganismos internacionais. Um conjunto de fatores
Pública Veterinária da Opas pela sua contribuição
com diferenciados níveis de complexidade, desde
ao fortalecimento do papel do Médico Veterinário
as crises econômicas internacionais às questões
na cooperação internacional; à Dra. D. Fernandes,
específicas internas de cada país, vêm intensificolega na Opas em Washington, por haver contricando os desafios, entre eles formar recursos hubuído com o texto; aos Drs. E. Gonzalez e F. Laender;
manos que possam atender a essa nova demanda.
à A. Melo, que fez a revisão bibliográfica, e especialA união de esforços na resolução de problemas
mente à comunicadora social M.J.F. Rodrigues, que
por meio da integração entre os países, reprerevisou, editou e contribuiu muito para este texto,
sentando a otimização de recursos e a inevitável
e que vem sendo uma grande aliada no combate à
troca de experiências entre profissionais, pode ser
raiva por mais de duas décadas.
considerado como facilitador ao aprimoramento
14
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Notas
1. UNASUL: União de Nações Sul-Americanas – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.
2. BRICS – Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul.
3. CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tome e Príncipe e Timor-Leste.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA C.; DE CAMPOS R.P.; BUSS P. et al.
Brazil’s conception of South-South “structural cooperation” in health. RECIIS – R.
Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, 4(1):23-32,2010. Acessado em: 17 de
julho de 2011.
Brasil. Ministério das Relações Exteriores.UNASUL. http://www.itamaraty.gov.
br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/unasul. Acessado em 19 de
abril de 2012.
Global Alliance for Rabies Control.
http://www.rabiescontrol.net/ Acessado em:
16 de abril de 2012.
http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1020-892011000500011&script=sci_arttext&tlng=en
Acessado em: 17 de abril de 2012.
KICKBUSH I.; NOVOTNY T.; DRAGER N. et al.
Global health diplomacy: training across
disciplines. Bulletin of the World Health
Organization, 2007. Acessado em: 12 de
julho de 2011.
Organización Panamericana de la Salud.
Eliminación de la rabia humana transmitida
por perros en América Latina. Washington,
DC: OPS; 2005. 71 p.
http://bvs.panaftosa.org.br/textoc/OPSrabia-humana2004.pdf
scholar?q=cache:stDFofu79hwJ:scholar.
google.com/&hl=en&as_sdt=0,9
Organización Panamericana de la
Salud. La respuesta de salud al terremoto de Haití en enero de 2010. OPS,
2012.
http://new.paho.org/disasters/
index.php?option=com_content&task=
view&id=1626&Itemid=1 Acessado em:
16 de abril de 2012.
SCHNEIDER M.C.; AGUILERA X.; SMITH R.M. et
al. Importance of the Animal/Human Interface
in Potential Public Health Emergencies of International Concern in the Americas. Pan American Journal of Public Health 29(3), 2011.
Organización Panamericana de la
Salud, PANAFTOSA. Sistema de Informação Epidemiológica. http://siepi.panaftosa.
org.br/Panel.aspx?Idioma=e
Organización Panamericana de la Salud. SIRVERA/PANAFTOSA. World Health Organization. Rabies: Factsheet. http://www.
who.int/mediacentre/factsheets/fs099/en/
Acessado em: 16 de abril de 2012.
BUSS P.M.; FERREIRA J.R. Health diplomacy and
South-south cooperation: the experiences of
UNASUR Salud and CPLP’s staragic plan for
cooperation in health. RECIIS – R. Eletr. de
Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, 4(1):99110,2010. Acessado em: 17 de abril de 2012.
RUPPRECHT, C.E.; BARRETT J.; BRIGGS D.;
CLIQUET F. et al. Can rabies be eradicated? OIE. 2008. http://74.125.155.132/
SCHNEIDER M.C.; BELOTTO A.; ADÉ M.P. et
al. Current status of human rabies transmitted by dogs in Latin America. Cad Saude
Publica. 23(9):2049-63,2007. http://www.
scielosp.org/pdf/csp/v23n9/06.pdf
SCHNEIDER M.C.; BREUX J.P.; CANEPA M. World
Rabiesday 2007 encourages rabies control in
Haiti. Rabid Bytes. The Newsletter of the Alliance for Rabies Control, 6, 2008.http://www.
rabiescontrol.net/resources/newsletter-archives.html Acessado em: 18 de abril de 2012.
SI H.; GUO Z.M.; HAO Y.T. et al. Rabies trend
in China (1990-2007) and post-exposure
prophylaxis in the Guangdong Province.
BMC Infect Dis 8:113,2008.
ZHANG J.; ZHEN J.; GUI-QUAN S. et al. Analysis of rabies in China: Transmission Dynamics and Control. PLOS ONE 6(7):e20891.
doi:10.1371/journal.pone.0020891. Acessado em: 17 de abril de 2012.
Dados dos Autores
Maria Cristina Schneider
MédicaVeterinária,CRMV-RSnº2564,AssessoraInterface
Humano/Animal, Regulamento Sanitário Internacional,
Alerta e Resposta, Doenças Epidêmicas; Área de Prevenção e Controle de Doenças, Organização Pan-Americana
daSaúde(OPAS/OMS),WashingtonDC,USA.
E-mail: [email protected]
Lucia Regina Montebello Pereira
Médica Veterinária, CRMV-PI nº 0199, Membro da
Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária
(CNSPV) do Conselho Federal de Medicina Veteri-
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
nária (CFMV) e membro do Fórum dos Conselhos
Federais da Área de Saúde.
Celso Bittencourt dos Anjos
Médico Veterinário, CRMV-RS nº RS 1664, Membro da CNSPV do CFMV e Diretor de Epidemiologia, Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul
Marco Antonio Natal Vigilato
Médico Veterinário, CRMV-SP nº 12759, Panaftosa, Consultor Saúde Pública Veterinária, Panaftosa, Organização Pan-Americana da Saúde, Rio de
Janeiro, Brasil
15
Ensino
ESTRATÉGIAS
PARA A
MELHORIA DA
FORMAÇÃO
ACADÊMICA DE
ZOOTECNISTAS
Peço licença para abordar um assunto complexo,
mas palpitante e importante, pois entendo que para
que a formação acadêmica possa ser alcançada com
sucesso, outros assuntos devam ser trabalhados. Nos
últimos anos, outros aspectos têm preocupado e trazido aflições para docentes e administradores e tendem a se agravar com o passar do tempo, caso não os
enfrentemos, e dando-lhes a devida importância.
Professor versus Educador
A abordagem pode começar com a pergunta:
será que estamos nos preocupando com o aluno, não
somente sob a ótica da formação profissional?
Há, segundo Alves (1995), uma diferença
fundamental entre o professor e o educador. O
professor enxerga o aluno como um número ou
um código de matrícula. Sua preocupação é transmitir-lhe informações, não se importando se elas
serão transformadas em conhecimento. A aplicação profissional destas informações também não
é relevante para o professor.
O educador busca preparar o aluno para a vida.
É um plantador de sonhos, tem uma história de vida
e uma identidade própria. E é dessa forma que o
educador enxerga seu aluno, uma vez que cada um
também tem sua história e identidade. Respeitando
essa história e essa identidade, o educador procura
entender suas necessidades e leva-o a construir o conhecimento. Às vezes auxilia na reconstrução de sua
trajetória e até de sua identidade.
Este profissional preocupa-se com a “saúde emocional” do seu aluno e aí poderá estar a diferença entre
ir bem ou ir mal, parar ou terminar o curso, tornar-se um
bom/ótimo ou um ruim/péssimo profissional e, depois
de tanto esforço, desistir e abandonar a Zootecnia.
16
Franceschini (2007) afirmou, categoricamente,
que 90% dos docentes universitários são professores
e estão longe da envergadura de um educador.
As exigências e cobranças para com o docente tornam-se cada vez maiores, temos que ministrar aulas na
graduação e na pós-graduação, orientar alunos nesses
dois níveis, captar recursos, publicar, e muito, em revistas com bom índice de impacto, administrar etc. Tudo
isso, muitas vezes, impede-nos de enxergar que o aluno
que está próximo é um ser humano, com necessidades
e que pode estar precisando de nossa atenção.
Infelizmente, as coisas têm acontecido da seguinte forma: entro na sala de aula, ministro o conteúdo
programado e vou embora, sem me preocupar se
conteúdo foi absorvido ou não, mas saio com a
consciência tranquila do dever cumprido. Será que
foi cumprido mesmo? Talvez a resposta para esta
pergunta seja não, pois dados assustadores foram
coletados, pela equipe do Dr. Augusto Cury, em três
universidades paulistas, no ano de 2005 e, ficou consRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Shutterstock.com
tatado que a Síndrome do Pensamento Acelerado
(SPA) estava presente em 71% dos jovens analisados,
a síndrome do pânico em 14% e a depressão em 44%
(FRANCESCHINI, 2007).
Talvez este índice elevado de SPA esteja ligado
à prevalência de jovens da Geração Y no público
analisado, que fazem várias coisas ao mesmo tempo. Em 60 segundos já conseguiram pesquisar na
internet, conversar com 10 pessoas simultaneamente no MSN, Facebook, Orkut, mandaram várias
mensagens no celular, atenderam ao telefone e
ficaram dando palpites sobre a mensagem que o
outro colega mandou em um dos 25 e-mails que
ele acabou de ler. É..., esta turminha da Geração Y é
muito aceleradinha (CAMPOS, 2012). Esse exemplo
ilustra bem os alunos atuais da universidade, embora comecem a ser substituídos pelos da Geração
Z, que são mais acelerados ainda.
Muito assustador é constatar o altíssimo número de jovens universitários depressivos. Por trás de
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
boas ou más notas, há jovens
pensando em suicídio, com
isolamento social e uma
insegurança desesperadora. Como esperar rendimento escolar nesse
contexto? Fora dos muros da universidade, são
jovens que, pela própria
condição de vulnerabilidade e pela inabilidade de
lutar, entregam-se ao álcool
e às drogas.
Tudo isso, nos leva a ter certeza da necessidade de que, na universidade, devemos nos preocupar com a saúde emocional do aluno, com sua formação humanística, dandolhe apoio e fortalecimento psicológico e não somente a formação técnica. Afinal, recebemos jovens com
idade média entre 17 e 18 anos, que estarão longe da
família por 5 anos. Não estou dizendo, com isso, que a
família está isenta de responsabilidade, mas a universidade não pode estar à margem deste contexto. Assim, as universidades deveriam ter em seus quadros
profissionais da área de saúde que poderiam oferecer
apoio, principalmente, aos ingressantes. Mesmo assim, a presença do educador é imprescindível.
Porém, alguém pode perguntar: estou na universidade, como docente, para ministrar aulas ou para
cuidar da saúde emocional do aluno? Eu, com muita
tranquilidade e após 31 anos de docência, respondo:
a preocupação deve, obrigatoriamente, estar nos
dois aspectos, pois você pode, com seu comportamento, fazer o aluno gostar ou não de sua área de
trabalho e, consequentemente, ser um bom profissional. Assim, consigo, se trabalhar direito o lado
humano, passar conceitos importantes, não somente
de bovinocultura, suinocultura, avicultura, mas mostrar-lhe o quanto é importante, também, cultivar as
qualidades humanas, representadas por humildade,
socialização, comunicação, responsabilidade, gratidão, interesse, aprimoramento, saúde psíquica, emoção, ética, espiritualidade e comprometimento.
Por outro lado, posso, também, mostrar-lhes o
quanto são abomináveis as limitações humanas,
como a inveja, o individualismo, a soberba, a desonestidade, a mentira, a corrupção, a omissão, a
ganância, a prepotência e a intolerância, peculiares
a jovens que pertencem à Geração N, aquela em que
seus representantes não têm limites e acham que
tudo podem, independentemente do que os outros
pensam ou sentem. Esse tipo de comportamento tem
17
Shutterstock.com
ensino
se manifestado, principalmente com relação ao trote.
O docente que conseguir ser educador transformará seu aluno em cidadão, estimulando-o a sonhar,
perseguir seus sonhos e conquistá-los com base em
qualidades humanas.
Uma alternativa é a criação da figura do tutor. O
professor não é obrigado a ser tutor, mas declara sua
vontade em sê-lo. Com isso e, dependendo do número de alunos que ingressam, poderá receber dois ou
três. O professor-tutor dará atenção e certo aconselhamento, mudando, muitas vezes, o rumo da história
daquele aluno.
Metodologia de Ensino
Será que estou utilizando uma metodologia de
ensino adequada aos novos tempos e às necessidades e anseios desta geração? Será que estou ministrando a chamada Aula Magistral, expondo o assunto
e não estimulando a participação? Normalmente,
não interagimos, não estimulamos e exigimos a participação do aluno na aula. “Eu finjo que ensino e o
aluno finge que aprende?”.
Somos bacharéis, não temos formação na Licenciatura. Muitos de nós desconhecemos Metodologia
Científica e Didática, até nos cursos de pós-graduação. Com isso, estamos nos distanciando cada vez
mais dos alunos, sem atender às suas expectativas e
necessidades, desestimulando o exercício profissional. A universidade deve investir na qualificação do-
18
cente. Não podemos esquecer das
diferenças entre as gerações e que,
queiramos ou não, alteram ritmo e
dinamismo de nossas aulas.
A formação do Zootecnista
precisa ser permeada por valores
e metodologias que permitam
enfrentar as necessidades pessoais e profissionais: que seja
pró-ativo; trabalhe em equipe;
tenha humildade, sem arrogância
e prepotência; fluente em vários
idiomas; tenha conhecimento
de informática (esta é fácil) e que
possua conhecimento técnico.
Além disso, entendo ser importante na matriz curricular adotada para a formação acadêmica
do Zootecnista: oferecimento
de conteúdos que abordem o
bem-estar animal; a necessidade
de criar animais com práticas de
sustentabilidade e que estimulem
o empreendedorismo no aluno.
É dever da universidade formar Zootecnistas
comprometidos com a sobrevivência das próximas
gerações, com espírito crítico e que contribuam para
a construção de um mundo melhor.
Agradecimentos ao Prof. Dr. Paulo Henrique
Franceschini, pelo auxílio na confecção do texto.
Referências Bibliográficas
ALVES, R. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo
- SP, Ars Poética, 1995.
CAMPOS, W. Gerações X, Y e Z. RH.com.br, 2012.
FRANCESCHINI, P.H. O paraíso em perigo: navegando nas
ondas da educação. Jaboticabal – SP, FUNEP, 2007.
Dados da Autora
Maria Cristina Thomaz
Zootecnista, Professora Doutora, Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal-SP. Artigo escrito a convite da Comissão Nacional de Ensino de Zootecnia (cnez) do CFMV.
E-mail: [email protected]
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
ética e bem-estar animal
Bem-estar de
animais de produção:
perspectiva brasileira
A construção de uma maior autonomia brasileira na área de bem-estar de animais de produção
apresenta um potencial significativo, seja do ponto de vista técnico, econômico ou ético. A argumentação técnica sobre questões de bem-estar de
animais de produção está naturalmente nas mãos
dos médicos veterinários e dos zootecnistas. Este
artigo tem por objetivo contribuir para o avanço
da atuação médico-veterinária e zootécnica em
bem-estar de animais de produção.
A demanda por
bem-estar animal
Obser va-se que a expressiva demanda da
sociedade europeia por bem-estar de animais de
produção já surge no âmbito da sociedade brasileira. Sabe-se que, por exemplo, se a população for
informada sobre as condições de vida de frangos
de corte pela simples exibição de fotos mostrando
os sistemas caipira e intensivo, (Figuras 1 e 2) o valor
do atributo bem-estar animal cresce de 3,7% antes
para 24,1% após a visualização das fotos (Bonamigo et al., 2012). Tais resultados demonstram que a
preocupação com bem-estar animal está limitada
no Brasil pelo pouco conhecimento da sociedade
em relação aos sistemas produtivos. Adicionalmente, o Brasil vivencia uma fase de crescimento
econômico, que propicia aumento da demanda por
produtos de origem animal. Isso ocorre primeiro
em quantidade e depois em qualidade, incluindo a
preocupação com bem-estar animal (Van Horne
e Achterbosch, 2008). Tanto informação quanto
melhoria de poder aquisitivo sugerem aumento na
demanda por bem-estar animal.
Além das pressões que emanam dos consumidores internos e externos, a melhoria do bem-estar de animais de produção tem um componente
ligado diretamente ao exercício profissional ético.
A importância da atuação em bem-estar animal
vem recebendo o reconhecimento de entidades
que regem a Medicina Veterinária, tais como a
Associação Mundial de Veterinária, a Federação de
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Veterinários da Europa, a Associação Americana
de Medicina Veterinária e o Conselho Federal de
Medicina Veterinária no Brasil. Um bom exemplo
é a recente aprovação dos primeiros padrões internacionais de bem-estar animal nos sistemas de
produção pecuária pela OIE, em 24 de maio do corrente, durante a 80ª Assembleia Geral da Organização, em Paris. Tal guia representa a continuidade
de uma série de publicações da OIE estabelecendo
padrões de bem-estar animal. Isso significa que os
178 países-membros dessa Organização devem
seguir os referidos padrões, que apresentam,
assim, um grande poder de transformação da
realidade. Vale ressaltar que a OIE é aceita no âmbito da Organização Mundial do Comércio como a
instituição que estabelece padrões para assuntos
veterinários relativos ao comércio global.
Atuação médico-veterinária
e zootécnica em bem-estar
animal no Brasil e seus
reflexos no exterior
No Quadro 1 estão expostos alguns argumentos selecionados de artigos científicos no intuito
de exemplificar a percepção internacional acerca
da realidade brasileira na abordagem do bem-estar de animais de produção. Espera-se que os
exemplos citados possam estimular uma reflexão
quanto à sua veracidade e aos seus impactos para
o Brasil, em termos de mercado internacional,
de qualidade dos serviços médico-veterinários e
zootécnicos e finalmente em termos de desenvolvimento ético da sociedade em geral.
A melhoria da atuação em bem-estar animal
na Medicina Veterinária e na Zootecnia brasileiras
depende do investimento em pesquisa, por meio do
apoio a grupos de pesquisa nacionais. Por se tratar
de uma área científica relativamente nova, há alguns
desafios particulares no que tange à concorrência em
editais gerais de fomento à pesquisa, como a pouca
experiência em bem-estar animal dos revisores das
agências de apoio, o que é condizente com a relativa
19
Ética e bem-estar animal
Quadro 1. A imagem internacional do Brasil com relação a questões de bem-estar de animais de produção, conforme expressa em artigos científicos selecionados sobre bem-estar de aves de produção
“Fora da Europa, somente os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia demonstram algum interesse em bem-estar animal” (Van Horne e Achterbosch, 2008).
“Na China e no Brasil não há legislação específica regulamentando o bem-estar de frangos de
corte, mas isso está fortemente relacionado ao pobre estado econômico desses países” (Van
Horne e Achterbosch, 2008).
“Há muito mais pesquisa e regulamentação em bem-estar de frangos na Europa, e em particular
no Reino Unido, do que em países com indústrias autorreguladas, tais como os Estados Unidos...
...De maneira oposta, a regulamentação relacionada a bem-estar animal em dois dos maiores
produtores de carne de frango do mundo, a saber o Brasil e a China, é insignificante” (Robins e
Phillips, 2011).
escassez de recursos humanos na área específica.
Um importante impulso inicial pode ser a publicação
de editais temáticos na área de bem-estar animal.
Uma estratégia adicional interessante é a oferta de
maiores oportunidades de interação entre os grupos
nacionais e aqueles de destaque na comunidade
científica internacional. Percebe-se a necessidade de
investimento nos grupos já existentes, assim como na
criação de novos grupos.
O ensino de bem-estar animal, por sua vez,
enfrenta desafios cujas resoluções devem ser
entendidas como a base da excelência que o País
pode adquirir. Em primeiro lugar, é imprescindível
a adequação das matrizes curriculares dos cursos
de Medicina Veterinária e Zootecnia no Brasil. As
diretrizes nacionais para o ensino de bem-estar
animal nos referidos cursos devem garantir sua
inserção como tema obrigatório e consolidar o
eixo básico de conteúdo mínimo da disciplina,
conforme literatura específica (ver, por exemplo,
Molento e Calderón, 2009). Adicionalmente, é
urgente a construção de literatura em português,
dando continuidade a traduções de importantes
livros-texto, já iniciadas nas edições brasileiras de
Comportamento e Bem-estar de Animais Domésticos (Broom e Fraser, 2010) e Compreendendo
Bem-estar Animal: a Ciência no seu Contexto Cultural (Fraser, 2012). Livros-textos genuinamente
nacionais constituem uma próxima etapa muito
importante, que pode ser favorecida pela organização de uma série de livros sobre os temas de
bem-estar animal prioritários para o contexto
brasileiro, com o apoio financeiro e editorial de
órgãos públicos.
20
Reações possíveis à demanda
por bem-estar de animais de
produção
Pode-se lidar com a expansão da demanda por
bem-estar na cadeia de produção de alimentos de
forma negativa, neutra ou pró-ativa. As manifestações
negativas são expressas especialmente em contextos
de pouco embasamento científico sobre o tema. Um
exemplo clássico é a afirmação de que “se o animal
está produzindo, ele está bem”, mesmo após o grande
avanço ocorrido nos últimos anos no entendimento
sobre a relação entre bem-estar animal e produtividade (ver, por exemplo, Edwards e Schneider, 2005).
Na forma neutra, nenhuma ação é apresentada. Essa
ausência de ação conduz a uma posição de não engajamento no assunto que, por sua vez, restringe a
busca por estratégias inovadoras e independentes de
resolução das questões de bem-estar quando estas se
apresentam de forma concreta. Tal atitude deixa o País
refém do conhecimento técnico estrangeiro e suas
consequentes decisões. A forma pró-ativa refere-se
à condução consciente do processo, buscando construir um futuro equilibrado em todos os aspectos envolvidos. Pode-se refletir sobre tais formas de reação
tanto no plano individual quanto naquele institucional. Qual será a atitude mais vantajosa?
Como bem-estar animal pode
representar uma vantagem na
produção animal brasileira?
Um exemplo concreto para se racionalizar esta
questão pode ser discutido à luz da avicultura de
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
corte. Qual dos países citados no gráfico está em
melhor posição para oferecer produtos de origem
animal com alto grau de bem-estar animal? O Brasil,
pois tem a menor fração dos custos ligada a trabalho
humano, que é um dos principais fatores de aumento do custo de produção quando se migra para um
sistema de maior potencial de bem-estar animal, e
tem condições climáticas compatíveis. Então, talvez seja o caso do Brasil liderar a pressão para que
questões de bem-estar animal entrem na pauta nas
negociações internacionais. Por que esta situação
não ocorre na prática? Justamente porque os conhecimentos técnicos em bem-estar animal na Medicina
Veterinária e na Zootecnia são ainda incipientes.
A barreira comercial gerada pelas preocupa­
ções éticas com os animais pode representar uma
vantagem para o Brasil e tal fato começa a ser
reconhecido na Europa. Por exemplo, uma maior
exigência de bem-estar para a importação europeia de carne de frango não é mais vista como uma
barreira não tarifária a exportadores como o Brasil,
mas, sim, como a geração de oportunidade para
que tais países agreguem valor a seus produtos
(Van Horne e Achterbosch, 2008).
Para que o Brasil possa usufruir de vantagens
relacionadas à inserção de conceitos de bem-estar
na produção animal, há necessidade de que o País
se torne apto a produzir conhecimento científico,
argumentar e normatizar sobre o assunto. Enfim,
que o País adquira autonomia e identidade nas
questões de bem-estar animal.
Conceito e avaliação de bem-estar
de animais de produção
A capacidade de atuação nas questões conceituais
é muito importante, pois elas podem ter um efeito
significativo na forma como os diferentes sistemas
produtivos são avaliados. Prioritariamente, percebe
-se que o valor do acesso ao ar livre para o bem-estar
de animais de produção está em discussão, e que
o engajamento do Brasil é importante, pois pode
oferecer informações relevantes sobre o bem-estar
animal nesse sistema.
Há consenso sobre três eixos centrais para o
conceito de bem-estar animal: (1) a esfera física,
relacionada à saúde, nutrição e funcionamento orgânico; (2) a esfera comportamental, relacionada à
exibição dos principais comportamentos naturais
da espécie; e (3) a esfera psicológica, relacionada à
predominância de sentimentos positivos e ausência de sentimentos negativos. Há uma tendência
a se questionar a importância da possibilidade de
expressão do comportamento natural no âmbito da
avaliação de bem-estar animal, a qual parece estar
voltada à conveniência da produção animal confinada. Nesse sentido, dois pontos merecem especial
atenção: a necessidade de uma real preocupação
em entender o que é mais importante para o animal,
a partir da perspectiva do próprio animal, e o fato
de parecer tentador subestimar essa esfera do bem-estar animal, principalmente para aqueles países
que são forçados ao confinamento por questões
intrínsecas, como a dificuldade gerada pelo clima de
manter animais com acesso ao pasto durante o ano
todo e a dificuldade de obtenção de mão de obra.
Entretanto, permanece inegável que, comparado a
outros sistemas de produção animal, o sistema intensivo é aquele mais distante do ambiente natural
dos progenitores do animal domesticado moderno,
considerando-se densidade de lotação, características do grupo e controle ambiental, entre outros
fatores (Robins e Phillips, 2011). Assim, parece
80
70
60
50
40
Pinto de 1 dia
30
Alimento
20
Trabalho
10
Degetos + energia
0
Outros
Holanda
Alemanha
França
Reino Unido
Polônia
EUA
Brasil
Gráfico 1. Custos de produção de carne de frango (centavos de Euro por kg de peso vivo), no ano de 2004 (Van Horne e Achterbosch, 2008)
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
21
Ética e bem-estar animal
Elaine Cristina de Oliveira Sans
positivo que o Brasil expanda
o estudo da importância de
sistemas com acesso ao ar livre
para o bem-estar animal, pois
o tema é relevante para os
sistemas produtivos nacionais.
Uma maior inserção científica
brasileira por meio de investimentos em ciência e tecnologia em bem-estar animal pode
favorecer o encaminhamento
de soluções mais equilibradas.
Entretanto, vale reforçar que se
há uma preocupação genuína
com bem-estar animal, deve-se avançar no conhecimento
sobre o que é mais relevante
para o animal, a partir da pers- Figura 1. Sistema extensivo de criação de frango de corte
pectiva dele. Afinal, bem-estar
animal não deve ser usado como instrumento para
Tais protocolos constituem um avanço no diagnósbenefício econômico unilateral, mas ser compreentico de bem-estar, pois permitem a consideração
dido com um fim em si mesmo.
de vários indicadores combinados em 12 critérios,
Para ilustrar quão incipiente é a compreensão do
por sua vez reduzidos a quatro princípios, os quais.
efeito do acesso ao ar livre sobre o bem-estar animal,
ao final, podem ser integrados em uma única nota
serão considerados dois exemplos: uma nuance da
final. Os protocolos são resultado de um esforço
comparação entre manutenção em confinamento
considerável da Comunidade Europeia no formato
e a pasto de vacas leiteiras e algumas características
de fomento significativo à pesquisa com o objetivo
de métodos de diagnóstico. Keyserlingk et al. (2009)
de produzir maior refinamento no diagnóstico de
afirmaram que as piores soluções são aquelas que
bem-estar animal. A ênfase maior dos protocolos é
tentam resolver um problema, por exemplo, a falta
dada aos sistemas confinados, embora sejam mende acesso a pasto para bovinos leiteiros, criando oucionados indicadores a serem usados nos sistemas
tro, como a exposição das vacas a estresse por calor.
com acesso ao ar livre. Como o paradigma central
Entretanto, é importante lembrar que os sistemas
é o sistema confinado, alguns indicadores geram
intensivos receberam grande apoio financeiro para
reflexões ao serem usados em animais a pasto. Por
pesquisa desde a Revolução Verde, sendo as pesexemplo, o indicador limpeza corporal é tido como
quisas envolvendo sistemas com acesso ao ar livre
linearmente relacionado ao bem-estar do animal:
muito mais escassas. Por exemplo, os animais com
quanto mais limpo, melhor. Em ambientes confiacesso a pasto podem desfrutar de medidas de renados, a limpeza corporal está relacionada à manudução do estresse por calor, como o fornecimento de
tenção da limpeza das instalações e com frequência
áreas de sombra, aspersores, bosques e de um galas sujidades envolvem contato com fezes ou excrepão para abrigo, quando desejarem. Tem-se, então,
tas, estando ainda potencialmente correlacionadas
a possibilidade de optar por um sistema que intrincom a qualidade do ar. Entretanto, em animais mansecamente é mais natural para o animal e que pode
tidos a pasto, esse indicador deve ser estudado com
ser melhorado nos desafios que dele resultarem. De
maior profundidade, pois não está claro que tal suqualquer forma, oferecer a opção de escolha entre
jidade tenha impacto similar no grau de bem-estar
estar em ambiente interno ou externo é um compoanimal se comparada àquela do sistema confinado.
nente inquestionável de melhoria da qualidade de
Outro exemplo é a avaliação da boa relação
vida dos animais.
entre seres humanos e frangos de corte por meio
No que tange ao diagnóstico de bem-estar
do teste de distância de evitação, um dos indicaanimal, os protocolos Welfare Quality© (2009), disdores do protocolo Welfare Quality© (2009). Aves
poníveis para bovinos, suínos e aves, são guias para
com acesso ao ar livre são mais ativas, tendo mais
a avaliação de bem-estar nos sistemas produtivos.
facilidade de movimentação e mais amplitude
22
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Juliana Freitas Federici
cisa e acurada as características
de bem-estar dos sistemas com
acesso a pasto. Ressalta-se que
a criação a pasto é comum na
bovinocultura brasileira, e que
pode se tornar mais presente
também na avicultura e na suinocultura, uma vez que o Brasil
tem todas as condições para isso.
Consideração final
Figura 2. Sistema intensivo de criação de frango de corte
de espaço para fuga que os frangos em sistemas
confinados, o que sugere a necessidade de rever a
interpretação proposta para o teste mencionado.
Esses são dois exemplos para expor a necessidade
de investimentos no desenvolvimento de métodos diagnósticos mais eficazes para o contexto
brasileiro, que demonstrem de maneira mais pre-
Foram expostas razões pragmáticas para mudanças na postura da Medicina Veterinária e
da Zootecnia no que tange à atitude e ao conhecimento sobre
bem-estar de animais de produção. Mas o assunto tem ainda
outra dimensão. As mudanças
discutidas acima são necessárias também por uma
razão de justiça: diminuir o sofrimento do outro,
que é exposto a uma condição instrumental para
servir a propósitos humanos. A dimensão ética do
assunto tem um alcance sutil e amplo para contribuir no desenvolvimento de uma sociedade mais
justa no Brasil.
Dados da Autora
Carla Forte Maiolino Molento
Médica Veterinária, CRMV-PR nº 2870; Professora de Bem-estar Animal, Coordenadora do Laboratório de Bem-estar
Animal da Universidade Federal do Paraná, Membro da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal do CFMV.
E-mail: [email protected]
Referências Bibliográficas
BONAMIGO, A.; BONAMIGO, C.B.S.S.; MOLENTO, C.F.M. Atribuições da carne de
frango relevantes ao consumidor: foco no
bem-estar animal. Revista Brasileira de
Zootecnia, v. 41, n. 4, p. 1.044-1.050, 2012.
BROOM, D.M.; FRASER, A.F. Comportamento e Bem-estar de Animais Domésticos. 4ª. Ed. Barueri, SP: Manole, 2010. 438 p.
EDWARDS, J.D.; SCHNEIDER, H.P. The World
Veterinary Association and animal welfare. Revue Scientifique et Technique de
l’Office International des Épizooties, v.
24, n. 2, p. 639-646, 2005.
FRASER, D. Compreendendo Bem-estar
Animal: a Ciência no seu Contexto Cultural. Londrina,PR: Eduel, 2012. 436 p.
MOLENTO, C.F.M.; CALDERÓN, N. Essential
directions for teaching animal welfare in
South America. Revue Scientifique et
Technique de l’Office International des
Épizooties, v. 28, p. 617-625, 2009.
ROBINS, A.; PHILLIPS, C.J.C. International
approaches to the welfare of meat chickens. World’s Poultry Science Journal, v.
67, p. 351-369, 2011.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
VAN HORNE, P.L.M.; ACHTERBOSCH, T.J. Animal welfare in poultry production systems:
impact of EU standards on world trade.
World’s Poultry Science Journal, v.64, p.
40-52, 2008.
VON KEYSERLINGT, M.A.G.; RUSHEN, J.; DE
PASSILLÉ, A.M.; WEARY, D.M. Invited review:
The welfare of dairy cattle - Key concepts
and the role of science. Journal of Dairy
Science, v. 92, p. 4101-4111, 2009.
WELFARE QUALITY© Consortium, Lelystad,
Holanda, 2009.
23
assuntos políticos
MÉDICO VETERINÁRIO e zootecnista:
RELAÇÕES POLÍTICAS E A INTERFACE
COM A SOCIEDADE
24
CONTEXTUALIZAÇÃO
OBJETIVOS
O modelo clássico das habilidades e competências do Médico Veterinário e Zootecnista vem sendo
desafiado constantemente, pois para atender aos
pressupostos da futura dimensão das profissões
frente à sociedade contemporânea será necessária
uma atenção especial às novas demandas que ora
surgem. Ele deve contemplar as respostas para os
principais direcionadores que envolvem a saúde
dos animais e a produção de produtos de origem
animal no mundo, representados pelo crescimento
populacional e urbanização; mudanças no estilo de
vida e o papel dos animais de companhia; desenvolvimento econômico e globalização; mudanças na
demanda de mercado e a revolução na tecnologia de
informações. Portanto, para enfrentar este cenário é
necessário inovar. Todavia, essa inovação é diferente
da que conduziu ao crescimento dessas profissões.
Agora, ela é mais ampla, holística e, às vezes, difusa
no mercado de trabalho, sendo muitas vezes, mal
compreendida pela sociedade. Nessa perspectiva,
emerge o conceito na formação de um novo profissional, com uma formação básica forte associada a
bases humanísticas e filosóficas mais abrangentes.
As novas percepções pela sociedade, a existência
de organizações não governamentais na defesa de
valores intangíveis, as novas regras do mercado de alimentos e a transversalidade de áreas de atuação multiprofissional estimulam o Estado a alterar seus mecanismos regulatórios. Em parte, criam uma conjuntura
de constantes tensões e ameaças às prerrogativas
das profissões de Médico Veterinário e Zootecnista.
Acrescente-se a isso o fato de que as tensões e ameaças, legítimas ou não, podem causar profundos prejuízos às profissões ou a própria sociedade, na medida
em que há uma interface nítida entre estas. Assim,
no sentido de criar mecanismos ativos e dinâmicos,
de proteção profissional ou à sociedade, o Conselho
Federal de Medicina Veterinária instituiu por meio da
Portaria nº 12, de 25 de março de 2011, a Comissão
Nacional de Assuntos Políticos (Conap), cuja definição
das atribuições, funcionamento e estratégias de ação
constituem o objeto deste artigo.
Os objetivos da Conap foram alinhados a partir das
competências legítimas do CFMV no sentido de propor
alterações à legislação que regulamenta o exercício da
Medicina Veterinária e da Zootecnia e intensificar sua
atuação junto ao Congresso Nacional no que se refere
ao tratamento dos interesses políticos e técnicos que
envolvem as profissões, bem como a sua interface com
a sociedade. E, por fim, realizar seleção e emitir pareceres técnicos quanto aos projetos de lei e proposições
em tramitação perante a Câmara dos Deputados e
Senado Federal que envolva o Médico Veterinário e o
Zootecnista.
A partir dessa ampla missão foram definidos objetivos fundamentais para conduzir o CFMV a desencadear ações institucionais de base, com estratégias
organizadas e eficazes (Figura 1).
AÇÕES E ESTRATÉGIAS
A atuação da Conap, no momento que completa
seu primeiro ano de atividades, tem buscado na essência, criar o conhecimento e simpatia às funções
da Medicina Veterinária no contexto do País perante
o Congresso Nacional. Essa premissa segue o princípio fundamental da divulgação e da informação
das principais áreas de atuação profissional e seus
vínculos nas esferas da proteção do cidadão e no
retorno financeiro ao País. Nos pleitos articulados
nas duas casas legislativas, a Conap tem demonstrado a relevância da profissão, particularmente no
que diz respeito à saúde pública, como um bem da
sociedade, e ao agronegócio do País, na medida em
que todas as questões pertinentes às exportações de
alimentos de origem animal são reconhecidamente
associadas à credibilidade internacional dos nossos
serviços veterinários. Assim, qualquer movimento
ou ação propositiva que interfira com esses valores
são veementemente contrapostos pelo CFMV, com
apoio técnico e articulado pela Conap.
As relações com o Congresso Nacional têm ocorrido por meio da Assessoria Parlamentar do CFMV,
a qual cataliza as condições aos membros da Conap
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Junto da Assessoria
Parlamentar do CFMV
99 Supervisão, orientação e controle das atividades relacionadas ao acompanhamento
de matérias legislativas e outros assuntos de interesse do CFMV junto ao Congresso
Nacional.
99 Providenciar o encaminhamento de pareceres técnicos e anteprojetos de lei.
Junto às àreas
técnicas do CFMV
99 Solicitar pareceres técnicos sobre projetos de lei pertinentes às demais comissões
do CFMV.
99 Harmonizar as ações institucionais numa única voz.
Junto ao Poder
Legislativo
99
99
99
99
Junto ao Poder
Executivo
99 Preparar, consultando os órgãos técnicos, o posicionamento conclusivo do CFMV
sobre matérias de seu interesse em fase de sanção presidencial, indicando as razões
de veto ou de apoio.
Diante de alterações
de marcos regulatórios
inerentes às profissões
Atender a requerimentos do Poder Legislativo.
Participar de audiências públicas em matérias de interesse das profissões.
Apresentar pleitos de interesse das profissões.
Acompanhar autoridades do CFMV na Câmara dos Deputados e Senado Federal.
99 Examinar, compatibilizar e consolidar os subsídios fornecidos pelos órgãos técnicos
sobre as proposições ou alterações da legislação ou normas que interfiram nas profissões ou na sua interface com a sociedade.
Figura 1- Objetivos da Comissão Nacional de Assuntos Políticos (Conap) do CFMV.
para agirem junto dos parlamentares propondo alestá inserida nos escopos do Bem-Estar Animal, Reguterações nas proposições de projetos de lei (PLs), forlamentação das Atividades Profissionais e Defesa e Viginecendo subsídios técnicos para aperfeiçoá-los ou
lância Sanitária Animal. Essas dimensões demonstram
demonstrando as implicações contra as profissões
a relevância de proposituras de alteração na legislação
e a sociedade para serem rejeitados. Essa atividade
ou criação de novas leis em decorrência dos principais
busca atender a princípios fundamentais de atuação
temas relacionados às profissões. O bem-estar animal é
da Conap (Figura 2).
uma das principais preocupações da sociedade e os parAs ações e estratégias frente a qualquer projeto de
lamentares federais têm apresentado diversos projetos
lei (PL), que interfira com as profissões ou com a sociede lei na tentativa de regrar esses aspectos. Contudo,
dade, são definidas pela Conap a partir de um fluxoa Conap está atenta aos PLs que tratam desse tema e,
grama alinhado com o seu planejamento estratégico.
por meio de subsídios de especialistas do próprio CFMV
Inicialmente, o PL é detectado no Congresso Nacional
(Cebea), tem auxiliado os parlamentares para avançar
a partir de suas eventuais relações
com o CFMV, analisado por todos
os membros da Conap em suas
Implicações
reuniões ordinárias, avaliados,
profissionais
o impacto e a relevância para as
profissões e emitido um parecer:
desfavorável, favorável, ou de
Leis,
acompanhamento. Este parecer
Acompanhar
Posição
normas,
é encaminhado à presidência do
ações
do CFMV
resoluções
CFMV que avalia e desencadeia
as estratégias de ações, agora alinhadas com os objetivos a serem
Auxiliar nas
estratégias
alcançados com o referido PL.
de ação
No período de um ano foram
analisados mais de 60 PLs de várias
Figura 2 – Princípios fundamentais de atuação da Conap
dimensões (Figura 3). A maioria
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
25
assuntos políticos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ensino / 6%
Saúde Pública Veterinária / 6%
Bem-Estar Animal / 25%
Regulamentação dos
Conselhos Profissionais /6%
Produtos Veterinários / 8%
Outros Assuntos / 12%
Defesa e Vigilância
Sanitária Animal / 14%
Regulamentação das Atividades
Profissionais / 23%
Figura 3 – Dimensões dos Projetos de Lei avaliados pela Conap
na qualificação dos PLs ou até mesmo demonstrando
equívocos da sua propositura.
As mudanças que vêm ocorrendo na sociedade e a
entrada de novas profissões no mercado de trabalho,
especialmente em campos multidisciplinares, também
vêm causando preocupações ao CFMV. Na medida
em que outras profissões, sem as devidas habilidades
e competências de fato e de direito, para atuarem no
campo da sanidade animal e saúde dos alimentos, gestionam prerrogativas no mercado de trabalho. Isso pode
ser demonstrado pela alta participação dos PLs referentes à regulamentação das atividades profissionais. Novamente, a Conap tem atuado proativa e reativamente
na defesa dos interesses da classe e da sociedade.
A dimensão relativa às questões pertinentes à Vigilância Sanitária está relacionada ao papel relevante
que o agronegócio desempenha no País. É inegável
que a intensidade do mercado demanda a atuação
e vigilância permanente do Médico Veterinário na
prevenção das doenças dos animais transmissíveis
ao homem e na inspeção da qualidade dos produtos
de origem animal destinados à alimentação humana.
Isso tem desencadeado por parte dos setores envolvidos na produção de alimentos de origem animal,
a busca por facilidades e a flexibilização nos dispositivos de controle atuais, o que pode não ser benéfico
à profissão e a sociedade. Novamente, a Conap está
atenta e vem atuando ativamente nessas situações.
De modo complementar às suas funções, a Conap
tem atuado em diversas frentes no sentido de divulgar
o seu trabalho, mobilizar os profissionais na defesa de
seus interesses e criar mecanismos para intensificar
as bases de apoio por parte de parlamentares frente a
situações de ameaças às profissões.
26
A mudança de agenda da sociedade e os novos
modelos de governança têm conduzido a alterações
de funções entre as profissões e seus clientes, governo e demais organizações. De certa forma, há um
relacionamento hierarquizado entre os diferentes
agentes, o qual pode conduzir a desequilíbrios, que
produzam impactos negativos ao Médico Veterinário e ao Zootecnista.
As percepções desses desequilíbrios e movimentos para uma nova ordem de relações é detectado imediatamente pelos profissionais e sua entidade de classe. No entanto, as reações planejadas e
cirúrgicas para garantir a eficácia, são lideradas pelo
CFMV, por meio da Conap. Dessa forma, Médico Veterinário e Zootecnista dispõem de uma representação legítima em defesa dos direitos e conquistas
da profissão. Portanto, esse é um objetivo comum e
compartilhado, mas que exige atenção constante e
sincronizada de todos.
Dados dos Autores
Comissão Nacional de Assuntos
Políticos (CONAP) do CFMV
Júlio O. J. Barcellos
(Presidente)
Médico Veterinário, CRMV-RS nº 3185.
E-mail: [email protected]
Carlos Humberto Almeida
Ribeiro Filho
Médico Veterinário, CRMV-BA nº 0454
Geraldo Marcelino Carneiro
Pereira do Rêgo
Médico Veterinário, CRMV-RN nº 0015
Marcelo Henrique Puls da
Silveira
Médico Veterinário, CRMV-SC nº 1646
Nilton Abreu Zanco
Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6956
Ricardo Pedroso Oaigen
Médico Veterinário, CRMV-PA nº 2272 Roberto Baracat de Araújo
Médico Veterinário, CRMV-MG nº 1755
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
NUTRIÇÃO
SEGURANÇA ALIMENTAR:
DISPONIBILIDADE ABASTECIMENTO - QUALIDADE
O alimento compõe a vida do homem em sua
plenitude. Incontestavelmente, todo ser vivo, necessita de nutrientes para sobreviver, salvaguardando
reservas para a vida diária e manutenção de sua saúde. Na história da humanidade, os povos estabeleceram relações comerciais por meio dos alimentos: sal,
especiarias, raízes, carne, leite e água eram moedas
para escambo.
Há relatos de que muitos impérios regozijaram
suas conquistas com fartos banquetes, cuja principal
atração relacionava-se à diversidade de alimentos
disponíveis, não somente aos membros da corte,
mas também aos plebeus, como expressão de poderio e generosidade. Considerando o lado oposto,
as derrotas foram caracterizadas pelas privações
e fome, impostas às populações que, em algumas
si­tuações, foram dizimadas. O acesso ao alimento
sempre associou-se à demonstração de poder e capacidade para negociação.
Independente da época, a necessidade de ampliar o período de vida útil da matéria-prima e dos
alimentos processados constitui contínuo desafio
ao estudo e incorporação de tecnologia e inovação.
Por consequência, métodos alternativos foram e são
desenvolvidos, favorecendo o processamento, beneficiamento e conservação.
Frente a essas transformações históricas,
nações foram impelidas à criação de políticas de
abrangência mundial sobre segurança alimentar
como forma de garantir a disponibilidade, abastecimento e qualidade, com atenção à saúde do
consumidor. Por consequência, diversas classes
profissionais compuseram o rol de ações para a
inocuidade dos alimentos. A Medicina Veterinária,
em seu vasto campo de atuação, contribuiu e contribui sobremaneira para a produção responsável
de alimentos de origem animal. Os médicos veterinários além de habilitarem os sistemas produtivos
(Figura 1) podem atuar nos serviços de regulamentação, fiscalização e inspeção. A atuação do Médico
Veterinário relaciona-se à saúde animal atrelada ao
favorecimento da saúde do homem.
Segundo a Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Orga-
Emissão de Gases
Poluentes
Da Produção ao Consumo
Da Fazendo A Mesa
Agricultura
Processamento
Pecuária
Armazenamento
Pesca
Distribuição
FONTE: AUTOR
Cadeia de Segurança Alimentar
Práticas da
Agricultura
Venda direta
ao consumidor
Preparo
Esgoto
Efluentes Industriais
Figura 1. Cadeia de Segurança Alimentar.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
27
fotos: Arquivo do autor
NUTRIÇÃO
Figura 2. Exemplos de não conformidade em área destinada às operações de
abate de bovinos
Figura 3. Cabeças de Bovinos armazenados em local e condições impróprias
nização Mundial da Saúde (WHO), o conceito da
expressão Segurança Alimentar foi ampliado em
virtude das mudanças globais, exigências de mercados, governamentais e necessidades dos indivíduos. A partir de então, pontuaram-se o acesso
garantido e contínuo ao alimento salvaguardando
hábitos, saúde e bem-estar às populações. Por sua
vez, a segurança dos alimentos aponta estritamente à inocuidade.
O controle direto e indireto da produção de alimentos tem por fundamento a minimização da ocorrência de perigos biológicos, físicos e químicos. Esses
controles compõem elementos dinâmicos que avaliam a probabilidade de contaminação, qualquer que
seja sua classificação, em virtude das variantes dos
sistemas de criação animal e das matrizes alimentares derivadas. Para tanto, há que assegurar a qualida-
de composicional, nutricional, higiênica e sanitária
do alimento (Figuras 2, 3 e 4). Desse modo, deve-se
gerenciar e avaliar todas as etapas como o manejo
dos animais, alimentação fornecida, bem-estar, obtenção da matéria-prima (leite, ovos, carne, pescados
e mel), operações de abate, beneficiamento, processamento e o uso pretendido pelo consumidor.
Nos dias atuais, a disponibilidade do alimento e
sua inocuidade apontam para vários segmentos da
cadeia produtiva: da fazenda à mesa do consumidor.
Assim sendo, Boas Práticas Agropecuárias
(BPA), Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de
Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) são
alguns exemplos de ferramentas que fortalecem e
priorizam a inocuidade.
Por sua vez, o APPCC sistematiza a identificação,
caracterização e controle de perigos para níveis
aceitáveis nos produtos
finais, incluindo o segmento de subprodutos
para alimentação animal.
Para tanto, todos os elementos da cadeia produtiva de alimentos de
origem animal devem ser
gerenciados, avaliados e
interligados para o estabelecimento de conformidade com os preceitos
da segurança alimentar.
Por associação, a elaboração e a adoção desse
sistema contribuem para
a qualificação dos colaboradores envolvidos.
O APPCC baseia-se
em sete princípios:
1. Conduzir a análise
Figura 4. Peças cárneas armazenadas de forma inadequada
28
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
de perigos; 2. Determinar os pontos críticos de
controle (PCC); 3. Estabelecer limites críticos; 4.
Estabelecer um sistema de monitoramento dos
PCCs; 5. Estabelecer as ações corretivas para serem
tomadas quando o monitoramento indicar que
determinado PCC não está sob controle; 6. Estabelecer procedimentos de verificação para confirmar
que o sistema APPCC funciona eficazmente, e 7.
Estabelecer documentação referente a todos os
procedimentos e registros apropriados a esses
princípios e sua implementação.
Outro elemento de grande relevância para a
segurança alimentar é a Norma ISO 22000:2006,
combinação do plano APPCC com Programas de Pré-requisitos (PPR) definidos como toda atividade necessária à manutenção da higiene ao longo da cadeia
produtiva de alimentos.
Esta Norma tem por objetivo estruturar os segmentos da cadeia produtiva (o que inclui produtores
primários, fornecedores de insumos, logística, distribuição, comercialização e estocagem) e de serviços
de alimentação, harmonizando os requisitos de
gestão da segurança de alimentos, permitindo que
organizações interessadas certifiquem-se, independente do grau de desenvolvimento e implementem
medidas combinadas de controle.
À luz da fiscalização, uma mudança de conceitos
tem sido observada. A ação dos órgãos regulamentadores e fiscalizadores, anteriormente com maior
peso punitivo, pauta-se em atos educativos, como
forma de orientação, para posterior advertência e
punição, na ausência de evidências que atestem a
regularização. Um exemplo a ser ilustrado refere-se
ao Serviço de Vigilância Sanitária.
Referências Bibliográficas
ABNT NBR ISO 22000:2006. Sistemas de gestão da segurança de alimentos – Requisitos para qualquer organização
na cadeia produtiva de alimentos. 2006, 35p.
FAO – Food and Agriculture Organization – Food Hygiene.
2003. 72p.
FAO/WHO – Food and Agriculture Organization/World Health
Organization. Garantia de la inocuidade y calidad de los alimentos: Directrices para el fortalecimento de los sistemas
nacionales de control de lis alimentos. 94p.
WHO – World Health Organization. Food Safety Risk Analysis – A Guide for National Food Safety Authorities, Rome,
2006.119p.
WHO – World Health Organization. Microbiological Risk Assessment Serie – Risk Characterization of Microbiological
Hazards in Foodcl. 2009.135p.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Doenças de veiculação alimentar constituem
risco à saúde pública mundial. Este risco pode ser
mensurado em um ou mais elementos dissociados
ou não. Portanto, é possível estabelecer a Análise
de Risco, pela composição dos três eixos: Avaliação
de Risco, Gerenciamento de Risco e Comunicação
de Risco. Assim sendo, esta análise é estruturada e
tem por objetivo melhorar e aprimorar o controle
alimentar para a produção de alimentos seguros,
reduzir a ocorrência de doenças e fortalecer as relações comerciais.
Isto posto, pode-se afirmar que as ações para que
ocorra a segurança alimentar devem denotar abrangência interdisciplinar, preventiva, estruturada, proativa, avaliando riscos e devem permitir responsabilidade compartilhada entre órgãos governamentais
(federal, estadual e municipal), agroindústrias e
consumidores.
Dados dos Autores
Cíntia Silva Minafra-Rezende,
Médica Veterinária, CRMV-GO nº 2685 , Docente da Escola de Veterinária e Zootecnia
(EVZ) da Universidade Federal de Goiás (UFG)
E-mail: [email protected]
Albenones José de Mesquita
Médico Veterinário, CRMV-GO nº 0693, Docente da EVZ/UFG
Marcele Louise
Tadaieski Arruda
Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4926, Fiscal
Estadual – Agrodefesa
Rodrigo Balduino
Soares Neves
Médico Veterinário, CRMV-GO nº 2687, Doutorando, Centro de Pesquisa em Alimentos da
EVZ/UFG
Renata Maria Costa Barcellos
Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4068, Fiscal
Vigilância Sanitária, Goiânia
Marília Cristina Sola
Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4443, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em
Ciência Animal da EVZ/UFG
29
Destaques
Foi sancionado pela Presidente Dilma Rousseff, com publicação em 20 de julho, o Projeto
de Lei 1.080/2003 que prevê a criação dos medicamentos genéricos veterinários com veto
parcial a alguns dispositivos aprovados pelo
Congresso Nacional. A nova Lei n° 12.689/2012
altera o Decreto-Lei no 467/1969, para estabelecer o medicamento genérico de uso veterinário.
O novo texto dispõe sobre o registro, a aquisição
pelo poder público, a prescrição, a fabricação,
o regime econômico-fiscal, a distribuição e a
dispensação de medicamentos genéricos de
uso veterinário, bem como sobre a promoção de
programas de desenvolvimento técnico-científico e de incentivo à cooperação técnica para
aferição da qualidade e da eficácia de produtos
farmacêuticos de uso veterinário.
Para o CFMV, os genéricos veterinários trarão, principalmente, um ganho na qualidade
shutterstock
SANCIONADO PROJETO DE LEI DE GENÉRICOS VETERINÁRIOS PELA PRESIDENTE DILMA
ROUSEFF. CFMV preocupa-se com testes de equivalência
dos produtos. “Hoje, existem medicamentos
de uso veterinário registrados com o mesmo
princípio ativo no órgão federal competente.
Porém, a partir de agora, a comprovação da
equivalência e bioequivalência para esses registros será obrigatória. Sem dúvida, a lei é um
avanço”, afirma o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda.
SENADO APROVA Medida Provisória QUE GARANTE BENEFÍCIOS AOS MÉDICOS VETERINÁRIOS
dava a sanção da presidente Dilma Rousseff.
A MP causou polêmica desde a edição, em
razão de alterações na carga horária de Médicos e
Médicos Veterinários. O CFMV, também, realizou
um trabalho de sensibilização junto ao senador
Eduardo Braga (PMDB-AM), relator do parecer,
que corrigiu o texto e manteve a carga horária em
20 horas semanais e dobrou o valor das tabelas
para a carga horária de 40 horas semanais.
Arquivo CFMV
O Senado Federal aprovou, em julho, a Medida Provisória (MP) 568/2012, que concede reajuste salarial a diversas categorias do serviço público federal e garante benefícios aos Médicos
Veterinários. O Conselho Federal de Medicina
Veterinária (CFMV), contrário à proposta inicial
que prejudicava os salários dos profissionais, comemora os resultados do novo texto aprovado.
Até o fechamento desta edição, o projeto aguar-
30
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
shutterstock
PORTAL SAÚDE BASEADA EM EVIDÊNCIAS é lançado
Desde o início do mês de julho, uma
parceria firmada entre o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e
o Ministério da Saúde permite o acesso
de Médicos Veterinários ao portal Saúde
Baseada em Evidências.
A página eletrônica (http://periodicos.saude.gov.br/) reúne pesquisas,
conteúdos científicos e publicações
sistematicamente revisadas com protocolos clínicos baseados em evidências. O
portal foi desenvolvido entre o Ministério da Educação (Capes/MEC), o Ministério da Saúde (MS) e conselhos de classe.
O acesso deve ser feito por meio do
número do registro profissional e senha
definida pelo usuário.
MÉDICOS VETERINÁRIOS ASSUMEM RESPONSABILIDADE TÉCNICA PELOS BIOTÉRIOS
Para o presidente do Conselho Federal de
Medicina Veterinária (CFMV), Benedito Fortes de
Arruda, a resolução atende a uma preocupação
antiga do Conselho.“Essa orientação do Concea cria
um espaço importante e necessário para a profissionalização dos Médicos Veterinários e reconhece
a importância da segurança e responsabilidade na
assistência aos animais, do bem-estar e dos cuidados veterinários”, afirma.
shutterstock
O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), órgão integrante do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), instituiu
aos profissionais Médicos Veterinários, devidamente registrados no Conselho Regional de sua unidade
federativa, a responsabilidade técnica pelos laboratórios de pesquisa e experimentação animal. A medida foi divulgada após a publicação da Resolução
Normativa n° 6, de 10 de julho de 2012.
Médicos Veterinários e Zootecnistas
Cadastre-se em www.cfmv.gov.br e receba semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
31
Destaques
Arquivo CFMV
CFMV participa do CONASEMS e sensibiliza secretários municipais de saúde
sobre a importância do Médico Veterinário no Nasf
O Conselho Federal de Medicina Veterinária
(CFMV) participou, de 10 a 14 de junho, do XXVIII
Congresso Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde e IX Congresso Nacional de Cultura de Paz
e Não Violência, na cidade de Maceió, AL. O objetivo do CFMV foi evidenciar, para os secretários
municipais de saúde, a importância da participação dos Médicos Veterinários nos Núcleos de
Apoio a Saúde da Família (Nasf ).
O CFMV participou do evento com membros
da Comissão Nacional de Saúde Publica Veterinária (CNSPV) do CFMV, estande no local, distribuição
de folders com informações sobre “O Medico Veterinário no Nasf/ESF”e ações de relacionamento.
O Conselho também organizou, no final de
junho, o IV Fórum das Comissões Nacional e
Regionais de Saúde Publica Veterinária com o objetivo principal de unificar as ações e o discurso
para inserção do Medico Veterinário no Nasf.
CFMV chegou na sua Resolução N°1000
Com 44 anos de existência, o Conselho Federal de Medicina Veterinária, órgão normatizador, fiscalizador e orientador da Medicina Veterinária e da Zootecnia chega a sua Resolução
de número 1.000. Atingir essa marca mostra a
atuação e o empenho do Conselho para as mais
diversas questões que envolvem as profissões
representadas.
A Resolução no. 1000/2012 trouxe, principalmente, novos métodos e processos permitidos
para a eutanásia.
“O CFMV se orgulha de, por meio de suas Resoluções, antecipar muitas normas e práticas que posteriormente foram adotadas pelo governo federal”, reconhece o Presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda.
ConfiraasresoluçõesdoConselhonoPortaldoCFMV.
Em julho, o Conselho Federal de Medicina Veterinária finalizou a pesquisa realizada com profissionais registrados para saber o que pensam
sobre o Conselho, suas atuações e anseios das
classes Medico-Veterinária e Zootécnica.
O questionário esteve disponível no site do CFMV
durante um mês. Cerca de cinco mil profissionais
deram suas opiniões para a valorização das classes.
A pesquisa faz parte do planejamento estratégico
CFMV 2011-2014, que traz o tema Mudar para Melhor.
O Conselho agradece a colaboração de todos
os Médicos Veterinários e Zootecnistas do País. As
informações obtidas farão parte da construção de
32
Agência plá
PESQUISA CFMV: CONSELHO AGRADECE A PARTICIPAÇÃO DOS PROFISSIONAIS
um diagnostico que norteará as próximas ações de
comunicação do CFMV. Dentre os objetivos institucionais, está a valorização da imagem do Medico
Veterinário e do Zootecnista.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Célia Regina Orlandelli Carrer recebe o Prêmio Professor Octávio
Domingues
Durante a abertura do Zootec 2012, em maio, o
Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV)
entregou o “Prêmio Professor Octávio Domingues
Barbosa” à Zootecnista Célia Regina
Orlandelli Carrer. O prêmio homenageia
o Zootecnista brasileiro que tenha realizado relevantes serviços ao desenvolvimento agropecuário no País no ano
anterior (neste caso, em 2011).
Célia recebeu a placa, botóm e
medalha das mãos de Elis Aparecido
Bento, vice-presidente do Conselho
Regional de Medicina Veterinária de
Goiás e membro da Comissão Nacional
de Ensino da Zootecnia do CFMV, representante, no evento, do presidente
do CFMV Benedito Fortes de Arruda.
Durante a cerimônia de premiação, a
agraciada agradeceu o reconhecimento do Conselho. “É uma grande honra
receber o prêmio, especialmente neste
ano de 2012, no qual a Zootecnia comemora 46 anos de existência. Tenho
muito orgulho de fazer parte desta história e de ter
o privilégio de colaborar, como docente, há 28 anos,
com a formação de novos Zootecnistas”.
SEMINÁRIO NACIONAL DE ENSINO DA MEDICINA VETERINÁRIA será em outubro
O XX Seminário Nacional de Ensino da Medicina Veterinária (SENEMEV), um dos mais respeitados e tradicionais eventos da categoria, será
realizado nos dias 8, 9 e 10 de outubro, em Brasília.
O evento, organizado pelo Conselho Federal de
Medicina Veterinária (CFMV), terá a participação
de palestrantes internacionais e será realizado em
novo formato. A idéia é apresentar um seminário
interativo, onde será elaborado, também, um
documento final com a contribuição dos participantes contendo diretrizes, ações e metodologias
para a Medicina Veterinária.
A XX edição do SENEMEV terá tradução
simultânea para palestras internacionais e
será transmitido, ao vivo, aos internautas que
poderão acompanhar o evento pelo site do
CFMV e enviar perguntas em tempo real aos
palestrantes.
Receba via Twitter as notícias e informações de importância da Medicina Veterinária e da Zootecnia.
Para seguir o CFMV, procure, no Twitter, por CFMV_oficial.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
33
SuplementoCientífico
Potenciais fatores de risco da síndrome cólica em equinos
Regina Valéria da Cunha Dias / Maria Verônica de Souza / José Dantas Ribeiro Filho
Síndrome do cão nadador. Descrição de caso.
Tomas Ottoni Barroso da Silva / Igor Mansur Muniz / Denise de Mello Bóbany
Raissa Murta Miranda Carvalho / João Carlos de O. Castro
O uso das lentes acrílicas dobráveis Acrivet® 30V
após cirurgia de catarata em cão
João Alfredo Kleiner
Cicatrização de feridas cutâneas e métodos de avaliação. Revisão de literatura
Caroline Rocha de Oliveira Lima / Rogério Elias Rabelo / Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura
Luiz Antônio Franco da Silva / Leonice Manrique Faustino Tresvenzol
REVISTA DO CFMV - Brasília - DF - Ano XVIII - N° 56 - 2012
CONSELHO FEDERAL DE
MEDICINA VETERINÁRIA
SIA – Trecho 6 –
Lotes 130 e 140
Brasília-DF – CEP: 71205-060
Fone: (61) 2106-0400
Fax: (61) 2106-0444
www.cfmv.gov.br
[email protected]
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente
Benedito Fortes de Arruda
Vice-Presidente
Eduardo Luiz Silva Costa
Secretário-Geral
Antônio Felipe Paulino
de Figueiredo Wouk
34
Tesoureiro
Amilson Pereira Said
Editor da Revista CFMV
Ricardo Junqueira Del Carlo
CRMV-MG nº 1759
Comitê Científico
da Revista CFMV
Presidente
Cláudio Lisias
Mafra de Siqueira
CRMV-MG nº 5170
Conselho Editorial
da Revista CFMV
Roberto Baracat de Araújo
Eduardo Luiz Silva Costa
Gilson Helio Toniollo
Presidente
CRMV-SE nº 0037
CRMV-MG nº1755
CRMV-SP nº 2113
Antônio Felipe Paulino
de Figueiredo Wouk
João Luis
Rossi Júnior
CRMV-PR nº 0850
CRMV-SP nº 11607 e CRMV-ES nº 1206/VS
Amilson Pereira Said
Luiz Fernando Teixeira Albino
CRMV-ES nº 0093
CRMV-MG nº 0018/Z
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Potenciais fatores de risco da
síndrome cólica em equinos
Potential risk factors of colic syndrome in horses
Resumo
O conhecimento mais acurado dos fatores de risco associados à síndrome cólica nos equinos permite uma abordagem mais direcionada e, além disso, a adoção de medidas que reduzem a sua ocorrência e recidiva. A predisposição a
esses fatores varia, com as práticas de manejo alimentar e sanitário, com a atividade física desenvolvida, assim como
com a região geográfica.
Palavras-chave: cavalos, dor abdominal, abdômen agudo, fatores predisponentes, trato gastrointestinal
Abstract
The most accurate knowledge of risk factors associated with colic syndrome in horses allows a more targeted approach
of the animals with this syndrome, as well as the adoption of measures to reduce the occurrence and recurrence of disorder. The predisposition to these factors varies with nutritional and sanitary managements, with the physical activity
performed, as well as by geographic region.
Keywords: horses, abdominal pain, acute abdomen, predisposing factors, gastrointestinal tract
Introdução
A síndrome cólica (Figura 1) é responsável por
perdas econômicas devido a gastos com tratamento,
período de afastamento do animal de suas atividades e, inclusive, por óbito. Conhecer os potenciais
fatores para o seu desenvolvimento é importante
para o melhor entendimento, de forma a preservar
a saúde e o bem-estar dos animais (Laranjeira e
Almeida, 2008).
A importância do fator de risco é determinada
quando a incidência de cólica aumenta em um grupo de equinos expostos a um fator em particular,
comparado a um grupo que não foi exposto (White,
2005a). Por outro lado, devido às diferenças no desenho adotado nos estudos, assim como nas populações-alvo e áreas geográficas a que se referem, os
resultados obtidos são muitas vezes distintos e, nem
sempre, podem ser extrapolados para a população
equina em geral (Hillyer et al., 2002).
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
fotos: Arquivo do Autor
Figura 1. Equino evidenciando quadro de síndrome cólica, demonstrando desconforto
35
Suplemento Científico
Vários criadores de equinos possuem opinião formada sobre as causas de cólica em suas propriedades. Entretanto, estudos epidemiológicos permitem
testar a hipótese da relação entre exposição ao fator
de risco e desenvolvimento da síndrome. Identificar
animais de alto risco pode ajudar a determinar se
existe predisposição generalizada à ocorrência da
síndrome cólica ou se apenas alguns equinos são responsáveis pela maioria dos casos observados. Nesse
sentido, essa revisão teve como objetivo a abordagem dos principais fatores de risco associados à síndrome cólica, para que possa servir de subsídio para
a indicação de medidas preventivas.
Desenvolvimento
A incidência anual de casos, nos Estados Unidos,
é estimada em 4,2 cólicas para cada 100 equinos/
ano, com letalidade de 11%, e 1,4% do total de casos
resultando em cirurgia (Traub-dargatz et al.,
2001). No Brasil, não existem dados estaduais ou
nacionais como os obtidos na pesquisa norte-americana. As pesquisas desenvolvidas no País envolvem
animais em hípicas, hospitais veterinários e unidades militares. Um dos estudos foi um levantamento
realizado nas fichas clínicas de equídeos atendidos
no Hospital Veterinário do campus de Araçatuba, no
período de fevereiro de 2005 a agosto de 2009, com
57 casos de cólica, tendo 39 deles (68%) recebido
tratamento clínico e 18 (32%) tratamento cirúrgico;
a letalidade observada foi de 23% (Vicarivento et
al., 2010). Outra pesquisa teve como objetivo avaliar o perfil e a distribuição da síndrome cólica em
770 equinos, no período entre 2003 e 2004, em três
unidades militares no Rio de Janeiro: o Regimento
Escola de Cavalaria (REsC), a Academia Militar das
Agulhas Negras (Aman) e o Esquadrão Escola de Cavalaria (EEC). A incidência foi de 0,12, 0,21 e 0,95 casos/equino ano na Aman, no EEC e no REsC, respectivamente. Quinze (Aman), trinta (EEC) e sessenta e
nove (REsC) por cento dos animais foram acometidos
(Laranjeira et al., 2009). Esses estudos sinalizam
a necessidade de pesquisas epidemiológicas para
determinação dos fatores de risco a que a população
equina nacional está submetida. Na sequência, são
descritos alguns desses possíveis fatores.
Histórico de cólica
Equinos com histórico anterior de cólica possuem maior risco de apresentarem um novo episódio do quadro (Reeves et al., 1996; Tinker et al.,
36
1997; Cohen et al., 1999b; White, 2005b), sendo,
inclusive, a complicação mais frequente a curto
(Mair e Smith, 2005a) e longo prazo (Mair e Smith,
2005b), após procedimento cirúrgico de problemas
no trato gastrointestinal. Nessas situações, o maior
risco pode estar associado à ocorrência de aderências e estreitamentos intestinais.
O histórico de episódio anterior não ajuda a identificar o mecanismo patofisiológico da síndrome,
nem é um fator de risco que possa ser alterado. Porém, a associação de um episódio de cólica com um
quadro subsequente é uma informação importante
(Cohen, 1997). Possivelmente, a falta de esclarecimento sobre os fatores que determinaram o surgimento da síndrome cólica resulta na permanência
dos fatores de risco na propriedade, contribuindo
para o surgimento de novos episódios.
Idade
Resultados obtidos a partir de investigações
para avaliar a associação entre idade e síndrome
cólica são conflitantes. Enquanto alguns estudos
revelam que equinos mais jovens são menos predispostos (Traub-dargatz et al., 2001), outros
demonstram que animais entre 2 e 10 anos de idade, parecem ser os mais susceptíveis (Tinker et al.,
1997; Mehdi e Mohammad, 2006). Ao que parece,
a problemática aumenta à medida que a faixa etária
é a mais produtiva, e grande parte dessa susceptibilidade deve-se principalmente, às falhas no manejo
nutricional. Por outro lado, certos tipos de cólica
são característicos de determinadas idades, como é
o caso da intussuscepção ileocecal (White, 2005b)
e da obstrução por mecônio ou por ascarídeos nos
potros, assim como do lipoma estrangulante nos
animais idosos (Tinker et al., 1997). Estudando a
incidência de cólica clínica e cirúrgica em equinos,
Abutarbush et al. (2005) observaram que animais
mais velhos (média de 8 anos) eram mais frequentemente submetidos a procedimentos cirúrgicos,
comparados aos equinos mais jovens (média de 6
anos), comumente tratados clinicamente.
Sexo
Apesar de algumas pesquisas não sinalizarem a
associação entre sexo e ocorrência de cólica (Reeves et al., 1989; 1996; Traub-dargatz et al., 2001;
Mehdi e Mohammad, 2006), estudos contradizem
esses achados. White (2005a) demonstrou, em uma
população de éguas prenhes, maior risco de desloRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
camento e vôlvulo de cólon maior durante o final da
gestação e início da lactação. Entretanto, Tinker et al.
(1997), comparando a exposição a fatores de risco,
observaram que éguas possuem maior possibilidade de apresentar cólica no período de 60 a 150 dias
após o parto. Os eventos relacionados a essa maior
frequên­cia são desconhecidos, mas baixos níveis de
cálcio e alterações na dieta, como aumento no teor de
energia devido à adição de concentrados em conse­
quência da lactação, podem estar associados à afecção (White, 2005a). Já os garanhões são susceptíveis
a ocorrência de hérnia inguinal e, mais raramente, ao
encarceramento das alças intestinais no forame epiplóico (White, 2005b), que também é mencionado
em potros e equinos machos idosos. É possível que a
maior prevalência da hérnia esteja relacionada com
uma ampla dimensão do anel inguinal.
Raça
Apesar de Kaneene et al. (1997) descreverem
que não há associação entre raça e síndrome cólica,
pesquisas demonstraram que animais da raça Árabe apresentam maior frequência da doença (Cohen et al., 1995; Cohen e Peloso, 1996; Reeves
et al., 1996; Traub-dargatz et al., 2001), o que
possivelmente está relacionado com a criação
intensiva e falhas no manejo nutricional. Equinos
marchadores e garanhões de sangue quente parecem ser mais predispostos a apresentar hérnias inguinais, devido ao maior tamanho do anel
inguinal. Apesar de rara, a aganglionose
recessiva e letal acarreta cólica em potros
da raça Paint Horse nascidos de éguas e garanhões de pelagem oveira (White, 2005a),
sendo a única causa comprovada da síndrome como de origem genética.
por compactação do intestino grosso em equinos
atendidos no hospital veterinário da Universidade
Federal de Viçosa (Ribeiro Filho et al., 2007).
Importante interação foi encontrada entre a
pessoa (proprietário ou não) responsável pelos cuidados com o animal e histórico de cólica. Equinos
que já apresentaram cólica e que são manejados por
tratadores possuem quase 2,5 vezes mais risco de
apresentarem o quadro do que aqueles sem antecedentes da síndrome e cuidados pelos proprietários
(Reeves et al., 1996). Esses achados destacam as diferenças entre os grupos, e sugerem também a melhor
participação no manejo dos animais por parte dos
proprietários (White, 2005a).
Estudo realizado por Hillyer et al. (2002), com a
finalidade de identificar os fatores de risco da cólica,
por obstrução simples e distensão de cólon maior,
revelou que os três principais fatores foram estabulação intensiva, aerofagia e transporte efetuado até 24
horas antes da manifestação da dor. É amplamente
conhecido que, sob regime de confinamento intensivo, os animais sofrem alterações comportamentais
decorrentes do isolamento e na fisiologia digestiva,
predispondo à ocorrência de síndrome cólica. De
acordo com Cox et al. (2007), a cólica decorrente do
confinamento e restrição de acesso a pasto resulta
de modificações nos hábitos alimentares, o que interfere na motilidade intestinal.
Ainda que a aerofagia possa não ser a causa primária na etiologia da cólica por obstrução simples
Manejo na propriedade
Alterações recentemente efetuadas no
manejo, como, por exemplo, a redução da
área de pastejo e a diminuição do exercício
em frequência e intensidade, também foram
associadas ao aumento do risco de cólica
(Cohen et al., 1999a). Adicionalmente, o
fornecimento de capim de má qualidade
nos períodos da seca é um problema que
frequentemente resulta em cólica. Capineiras mal manejadas gerando fibra de
difícil digestão ou de má qualidade (Figura
2) representaram a principal causa de cólica
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Figura 2. Capim de má qualidade: importante fator de risco de cólica por compactação
37
Suplemento Científico
e distensão de cólon maior, pode ser um sinalizador
sobre práticas de manejo, temperamento e outros
fatores predisponentes da síndrome (Archer et al.,
2004, 2008). De acordo com Archer et al. (2004, 2006),
o quadro está associado ao maior risco de obstrução
simples de cólon menor e encarceramento do intestino
delgado no forâmen epiplóico. Segundo White (2005b),
é provável que o ato de aerofagia ocasione pressão abdominal negativa, o que pode resultar em movimento
do intestino para o espaço referente ao omento menor.
Estresse decorrente da
atividade física, competição e
exposição
As pesquisas ainda são insuficientes para avaliar
de forma adequada os riscos de cólica relacionados a
exercício ou intensidade da atividade física. Animais
de corrida, exposição e enduro apresentam maior risco de úlcera gástrica, que pode resultar em episódios
de cólica (Reeves et al., 1996; Kaneene et al., 1997; Vatistas et al., 1999; White, 2005b). Entretanto, quando
se trata de cólica por compactação, White (2005a)
descreveu menores riscos em animais treinados para
exposição em comparação com aqueles submetidos a
treinamento intenso, como animais de corrida.
Cohen et al. (1999b) relataram aumento do risco
de cólica em equinos que são exercitados pelo menos uma vez por semana comparados com aqueles
não trabalhados. Na opinião dos autores, animais a
pasto, em propriedades com baixa densidade animal,
possuem menor risco, ainda que exista
a possibilidade de tais episódios não
estarem sendo diagnosticados. Nesse
contexto, deve ser levada em consideração a atuação de fatores de risco ligados
a dietas ricas em concentrados, assim
como a diminuição da área de pastejo,
que podem gerar confundimento nos
casos de cólica relacionados à atividade
física dos animais.
maior eficiência na vermifugação dos animais (White
(2005a) que, de acordo com Reinemeyer (2009), deve ser
realizada pelo menos duas vezes ao ano.
A redução no risco de cólica após vermifugação
também é relatada por Reeves et al. (1996). Porém,
outros autores não encontraram esse efeito (Morris et al., 1989; Cohen et al., 1995). Por outro lado,
vermifugações recentemente efetuadas também
podem causar cólica. Isto é mais comum em potros,
em associação com obstrução intestinal, devido a rápida morte de ascarídeos, resultando em obstrução
intraluminal (White, 2005a).
Uhlinger (1992), estudando os efeitos de diferentes protocolos de vermifugação na incidência
de cólica, observou ausência de efeito significativo
sobre o risco de cólica. Adicionalmente, na opinião
de Morris et al. (1989), outros fatores devem ser mais
determinantes para a ocorrência de cólica em uma
população, do que o fator de risco vermifugação.
Ainda que essa afirmativa tenha fundamento, a vermifugação periódica pode ser uma forma de evitar
alguns tipos de cólica. De modo geral, a frequência
de vermifugação preconizada para equinos no Brasil
é trimestral, ou seja, quatro vezes ao ano, ainda que
possa variar com a região geográfica, estação do ano,
tipo de criação, entre outros fatores.
Condições climáticas
A relação entre a prevalência de cólica e variações
climáticas é descrita. A compactação (Figura 3), fre-
Parasitas
O cestódeo Anoplocephala perfoliata
foi associado à intussuscepção íleocecal e
cecocólica em equinos (Uhlinger, 1992;
Plummer, 2009; Reinemeyer, 2009). Por
outro lado, a diminuição da observação
de cólica associada à trombose da artéria
mesentérica cranial devido a larvas de
Strongylus vulgaris pode estar associada a
38
Figura 3. Fezes ressecadas e com a presença de muco: sugestivo de cólica por compactação
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
quentemente observada em equinos de diferentes
regiões do Brasil, ocorre particularmente durante os
meses de inverno seco, quando a disponibilidade
de pastagem é inadequada. De acordo com Ferreira
et al. (2009), a associação entre compactação de cólon menor e a época do inverno está relacionada com
inadequado consumo de água ou modificação na
dieta. Essa afirmativa é corroborada pela casuística
do Hospital Veterinário da Universidade Federal de
Viçosa, (Lopes et al., 1998) onde a maioria dos casos
clínicos de equinos com compactação do cólon
maior ocorre nos meses de maio a agosto, período
de inverno. A associação da fibra de má qualidade e
menor consumo de água são importantes fatores de
risco no aparecimento da cólica por compactação do
intestino grosso.
Segundo Cohen et al. (1999b), mudanças climáticas, como tempestades e quedas bruscas de
temperatura três dias antes do episódio de cólica,
também podem se associar à síndrome cólica. No
entanto, aconselham uma interpretação cuidadosa
desse resultado, já que pode ter sido influenciado
por outros fatores. Na prática, um tipo de cólica frequentemente relacionado com alteração climática
é a espasmódica, caracterizada pelo aumento da
contração intestinal, resultante de espasmos anormais que, nesse caso, está associado ao estresse ou
tensão nervosa.
a transportes (Archer e Proudman, 2006). White
(2009) citou que a associação entre alimentação rica
em concentrados e aerofagia em animais transportados aumenta o risco, mas descreveu que o mecanismo para maior incidência em animais transportados
ainda é desconhecido.
Alimentação
Muitas das informações disponíveis a respeito da
relação entre dieta e síndrome cólica são baseadas
em hipóteses ou extrapolações de dados experimentais que não foram corroborados com observações
epidemiológicas. Adicionalmente, existem controvérsias a respeito desse tema, já que enquanto um
estudo não demonstrou associação entre cólica e
o tipo de concentrado disponibilizado aos animais
(Tinker et al., 1997), outros observaram essa relação
(Cohen et al., 1999a; Traub-dargatz et al., 2001).
Por outro lado, não existem dúvidas sobre a importância da quantidade de concentrado como fator de
risco (Tinker et al., 1997; Hudson et al., 2001).
Mais especificamente, com respeito ao tipo do
concentrado, Tinker et al. (1997) descreveram que
o fornecimento do grão de cereal inteiro apresenta
menor risco de cólica enquanto alimentos mais processados (peletizados e laminados) aumentaram
o risco. Reeves et al. (1996) também observaram
menor risco no fornecimento do grão inteiro, desde
Transporte
Embora a ocorrência de compactação do cólon maior exija, geralmente,
alguns dias para se instalar, o quadro
já foi relacionado como resultante do
transporte realizado 24 horas antes do
episódio de cólica (Hillyer et al., 2002).
Ribeiro Filho (2003) confirmou que a
compactação pode ocorrer em apenas
24 horas, não necessitando de vários dias
para o seu desenvolvimento. Os autores
induziram o quadro, com a privação de
água e a administração de furosemida,
que resultou na formação de massa compacta de alimento facilmente detectada
à palpação transretal.
Apesar de o transporte (Figura 4) ser
um fator de risco, alterações simultâneas
no manejo como confinamento, jejum
hídrico e alimentar podem estar relacionados com o aparecimento da síndrome
em animais recentemente submetidos
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Figura 4. O transporte é considerado um importante fator de risco de síndrome cólica, particularmente se o animal for submetido a outros fatores como, por exemplo, jejum hídrico e alimentar
39
Suplemento Científico
que não fosse milho, entretanto associaram esse
feno de alfafa possui alta concentração de magnésio
achado à atividade física causando confundimento.
e elevado teor protéico. Também é possível que muFinalmente, Hudson et al. (2001) descreveram assodanças na qualidade ou quantidade de volumosos
ciação entre síndrome cólica e o fornecimento de
causem alterações no pH do cólon, na produção de
dietas contendo quantidades superiores a 2,7 kg de
ácidos graxos voláteis e até mesmo na sua microaveia por dia.
biota (Cohen et al., 1999b; Hillyer et al., 2002). No
Com relação à quantidade de concentrado,
Brasil, a associação entre forragem e síndrome cólica
equinos alimentados com mais de 2,5 kg ou 5 kg de
vem sendo estudada de forma mais acurada, nos
concentrado, por dia, apresentarem respectivamenúltimos 10 anos, em animais mantidos em pastagens
te, 4,8 ou 6,3 vezes mais chances de desenvolver a
nos estados localizados na região norte. A síndrome
síndrome cólica (Tinker et al., 1997; Hudson et al.,
de evolução aguda ocorre principalmente na esta2001; Gonçalves et al., 2002; Archer et al., 2006).
ção chuvosa (novembro a maio), causando dor de
Portanto, o aumento da quantidade fornecida de
moderada a intensa, timpanismo e dilatação abdoconcentrado aumenta o risco de ocorrência. Na opiminal em equinos e muares mantidos em pastagens
nião de White (2005b), essa associação entre cólica
de Panicum maximum cultivares Mombaça, Tanzânia
e concentrado deve-se à diminuição do conteúdo
e Massai (Cerqueira et al., 2009; Cerqueira, 2010).
líquido no cólon, em decorrência da redução no teor
O quadro de cólica ocorre quando o Panicum maxide fibra, assim como pelo aumento da produção de
mum está em brotação, período em que possui o dogases, criando ambiente favorável a timpanismo e
bro da concentração de carboidratos não estruturais
deslocamentos.
altamente fermentáveis, quando comparado com a
Com relação ao consumo de fibra, sabe-se que,
pastagem madura (Cerqueira, 2010).
além de ser importante para manutenção de microrgaÉ importante destacar que o fluxo da digesta
nismos desejáveis no intestino grosso, proporciona, nos
no trato digestório é influenciado por vários fatores
equinos, efeito psicológico de saciedade e produção de
como espécie, idade, exercício, temperatura ambienβ-endorfinas durante os movimentos de mastigação
te, além de aspectos diretamente relacionados com
(Braga et al., 2008). Adicionalmente, a fermentação
a dieta (composição, quantidade, qualidade, tipo e
das fibras pela microbiota produz energia e previne a
tamanho das partículas do alimento, frequência da
proliferação de bactérias potencialmente patogênicas
alimentação e teor de água) e particularidades do
(Braga et al., 2008).
O conteúdo de fibras de
um alimento afeta o tempo
de alimentação, a quantidade de mastigação e o conteúdo de matéria seca do bolo
alimentar ingerido (Meyer,
1995). De acordo com Cunha
(1991), a necessidade mínima de ingestão de forragem
é de 25 a 50% da dieta total,
com base na matéria seca.
White (2005b) descreveu que
alguns tipos de forragens podem causar cólica por diversas razões, como exemplos
cita os pastos jovens como
associados a quadros de timpanismo primário do ceco e
do cólon e o feno de alfafa à
formação de enterólitos. O
capim demasiadamente jovem é um alimento altamente fermentável, enquanto o Figura 5. Água de má qualidade e em quantidade restrita pode resultar em síndrome cólica
40
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
trato gastrointestinal. O volumoso passa mais rápido
pelo estômago e intestino delgado do que o concentrado, mas fica retido mais tempo no intestino grosso
(Meyer, 1995; Laranjeira e Almeida, 2008).
O consumo reduzido de água e a dieta rica em
fibras de baixa digestibilidade são tradicionalmente
incriminados no surgimento de cólica por compactação do intestino grosso (Cohen et al., 1999a;
Laranjeira e Almeida, 2008; Plummer, 2009).
Samaille (2006) relatou que o risco da síndrome
aumenta quando a água é de má qualidade (Figura
5) ou é oferecida em quantidades restritas, levando
a uma ingestão diária inferior à necessária, que de
acordo com o National Research Council (NRC, 2007)
é de 2 a 3 litros/kg MS para um animal de 500 kg.
É fato conhecido que o tipo, qualidade e quantidade do alimento fornecido, assim como o número
de refeições podem influenciar no aparecimento da
síndrome cólica nos equinos (White, 2009); sendo
assim, o manejo nutricional adequado deve ser uma
prioridade na prevenção de novos quadros.
Considerações Finais
São muitos os fatores de risco associados à síndrome
cólica em equinos. A maioria deles está relacionada com
o manejo na propriedade, podendo ser controlados ou
prevenidos pelo homem, porém devem ser muito bem
compreendidos para diminuir seu impacto.
No Brasil, são raros os estudos epidemiológicos associando fatores de risco e síndrome cólica. A falta de
conhecimento sobre esses fatores mantém criadores
e veterinários em constante alerta sobre a ocorrência
dessa afecção. Estudos dessa natureza são necessários nas diferentes regiões geográficas brasileiras,
para que se possa reduzir a incidência da síndrome
mediante a tomada de medidas preventivas e, consequentemente, as perdas econômicas ocasionadas.
Referências Bibliográficas
A B UTA R B US H , S . M . ; C A R M ALT, J. L . ;
SHOEMAKER, R.W. Causes of gastrointestinal
colic in horses in western Canada: 604 cases
(1992 to 2002). Canadian Veterinary
Journal, v.46, n.9, p. 800-805, 2005.
ARCHER, D.C.; FREEMAN, D.E.; DOYLE, A.J.;
PROUDMAN, C.J.; EDWARDS, G.B. Association between cribbing and entrapment
of the small intestine in the epiploic
foramen in horses: 68 cases (1991– 2001).
Journal of the American Veterinary
Medical Association, v.224, n.4, p. 562564, 2004.
ARCHER, D.C.; PROUDMAN, C.J. Epidemiological clues to preventing colic. The Veterinary Journal, v.172, n.1, p.29-39, 2006.
ARCHER, D.C.; PINCHBECK, G.L.; PROUDMAN, C.J. Risk factors for epiploic foramen
entrapment colic: an international study.
Equine Veterinary Journal, v.40, n.3,
p.224-230, 2008.
BRAGA, A.C.; ARAÚJO, K.V.; LEITE, G.G.;
MASCARENHAS, A.G. Níveis de fibra em
detergente neutro em dietas para equinos. Revista Brasileira de Zootecnia,
v.37, n.11, p.1965-1972, 2008.
CERQUEIRA, V.D. Cólica em equídeos
mantidos em diferentes cultivares de
Panicum maximum no bioma amazônico. São Paulo, 2010. 90p. Tese (doutorado)
– Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia. Universidade de São Paulo.
CERQUEIRA, V.D.; RIET-CORREA, G.; BARBOSA, J.D.; DUARTE, M.D.; OLIVEIRA,
C.M.C.; OLIVEIRA, C.A.; TOKARNIA, C.H.;
LEE, S.T.; RIET-CORREA, F. Colic caused by
Panicum maximum toxicosis in equidae
in northern Brazil. Journal Veterinary
Diagnostic Investigation, v.21, p.882888, 2009.
COHEN, N.D.; MATEJKA, P.L.; HONNAS,
C.M.; HOOPER, R.N. Case-control study
of the association between various management factors and development of
colic in horses. Journal of the American
Veterinary Medical Association, v.206,
n.5, p.667-673, 1995.
COHEN, N.D.; PELOSO, J.G. Risk factors for
history of previous colic and for chronic,
intermittent colic in a population of horses. Journal of the American Veterinary
Medical Association, v.208, n.5, p.697703, 1996.
COHEN, N.D. Epidemiology of colic. Veterinary Clinics of North America: Equine
Practice, v.13, n.2, p.191-201. 1997.
COHEN, N.D.; GIBBS, P.; WOODS, A. Dietary
and other management factors associated with equine colic. In. ANNUAL CONVENTION OF THE AMERICAN ASSOCIATION
OF EQUINE PRATITIONERS, 45, Albuquerque, United States, 1999. Proceedings...
Albuquerque, American Association of
Equine Practitioners, 1999a. p. 96-98.
COHEN, N.D.; GIBBS, P.; WOODS, A. Dietary
and other management factors associated with equine colic. Journal of the
American Veterinary Medical Association, v.215, n.1, p.53-60, 1999b.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
COX, R.; PROUDMAN, C.J.; TRAWFORD,
A.F.; BURDEN, F.; PINCHBECK, G.L. Epidemiology of impaction colic in donkeys in
the UK. Biomedical central Veterinary
Research, v.3, n.1, p.1-11, 2007.
CUNHA, T.J. Horse feeding and nutrition. 2.ed. Londres: Academy Press, 1991.
445p.
FERREIRA, C.; PALHARES, M.S.; MELO,
U.P.; GHELLER, V.A.; BRAGA, C.E. Cólicas
por compac tação em equinos: etio patogenia, diagnóstico e tratamento.
Ac ta Veterinaria Brasilica, v.3, n.3,
p.117-126, 2009.
GONÇALVES, S.; JULLIAND, V.; LEBLOND,
A. Risk factors associated with colic in
horses. Veterinary Research, v.33, p.641652, 2002.
HILLYER, M.H.; TAYLOR, F.G.R.; PROUDMAN, C.J.; EDWARDS, G.B.; SMITH,
J.E.; FRENCH, N.P. Case control study to
identify risk factors for simple colonic
obstruction and distension colic in horses. Equine Veterinary Journal, v.34, n.5,
p.455-463, 2002.
HUDSON, J.M.; COHEN, N.D.; GIBBS, P.G.;
THOMPSON, J.A. Feeding practices associated with colic in horses. Journal of the
American Veterinary Medical Association, v.219, n.10, p.1419-1425, 2001.
KANEENE, J.B.; MILLER, R.; ROSS, W.A.;
GALLAGHER, K.; MARTENIUK, J.; ROOK,
J. Risk factors for colic in the Michigan
(USA) equine population. Preventive
41
Suplemento Científico
Veterinary Medicine, v.30, n.1, p.23-36,
1997.
and large intestines. Veterinary Clinics
Equine, v.25, n.2, p.317-327, 2009.
LARANJEIRA, P.V.E.H.; ALMEIDA, F.Q.
Síndrome cólica em equinos: ocorrência
e fatores de risco. Revista Universidade
Rural: Série Ciências da Vida, v.28, n.1,
p.64-78, 2008.
REEVES, M.J.; GAY, J.M.; HILBERT, B.J.;
MORRIS, R.S. Association of age, sex and
breed factors in acute equine colic: a
retrospective study of 320 cases admitted
to a veterinary teaching hospital in the
USA. Preventive Veterinary Medicine,
v.7, n.2, p.149-160, 1989.
LARANJEIRA, P.V.E.H.; ALMEIDA, F.Q.;
PEREIRA, M.J.S.; LOPES, M.A.F.; CAMPOS,
C.H.C.; CAIUBY, L.C.A.B.; SOUZA, P.N.B.
Perfil e distribuição da síndrome cólica
em equinos em três unidades militares do
Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Ciência
Rural, v.39, n.4, p.1108-1115, 2009.
LOPES, M.A.F.; SOARES, G.S.; JUNQUEIRA,
L.A.C.; LIMA, L.R.; PINTO, J.O.; RIBEIRO FILHO, J.D.; ASSIS, C.B. Tratamento de compactação do cólon maior em equídeos
com fluidoterapia enteral. Ciência Rural,
v.28, n.3, p.417-422, 1998.
MAIR, T.S.; SMITH, L.J. Survival and complication rates in 300 horses undergoing
surgical treatment of colic. Part 2: shortterm complications. Equine Veterinary
Journal, v.37, n.4, p.303-309, 2005a.
MAIR, T.S.; SMITH, L.J. Survival and complication rates in 300 horses undergoing surgical treatment of colic. Part 3: long-term
complications and survival. Equine Veterinary Journal, v.37, n.4, p.310-314, 2005b.
MEHDI, S.; MOHAMMAD, V. A farm-based
prospective study of equine colic incidence and associated risk factors. Journal
of Equine Veterinary Science, v.26, n.4,
p.171-174, 2006.
MEYER, H. Alimentação de cavalos. São
Paulo: Varela, 1995. 303p.
MORRIS, D.D.; MOORE, J.N.; WARD, S.
Comparison of age, sex, breed, history
and management in 229 horses with colic. Equine Veterinary Journal, Suppl. 7,
p.129-132, 1989.
PLUMMER, A.E. Impactions of the small
REEVES, M.J.; SALMAN, M.D.; SMITH, G.
Risk factors for equine acute abdominal
disease (colic): Results from a multicentre casecontrol study. Preventive
Veterinary Medicine, v.26, n.3-4, p.285301, 1996.
REINEMEYER, C.R. Parasitism and colic.
Veterinary Clinics Equine, v.25, n.1,
p.233-245, 2009.
NRC – National Research Council. Committee on nutrient requirements of horses. Nutrient requirements of horses.
6th ed. Washington: National Academics
Press, 2007. 360p.
RIBEIRO FILHO, J.D. Tratamento da compactação experimental do cólon maior
de equinos com sene, fluidoterapia
enteral e parenteral. 2003. 130f. Tese
(Doutorado em Ciência Animal), Escola
de Veterinária, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.
RIBEIRO FILHO, J.D.; ABREU, J.M.G.; ALVES,
G.E.S.; DANTAS, W.M.F. Hemogsometria
em equinos com compactação expe rimental do cólon maior tratados com
sene, fluidoterapia enteral e parenteral.
Ciência Rural, v.37, n.3, p.755-761, 2007.
SAMAILLE, J.P. Cólicas em equinos: o que
sabemos e o que não sabemos. Hora Veterinária, v.25, n.149, p.42-44, 2006.
TINKER, M.K.; WHITE, N.A.; LESSARD, P.;
THATCHER, C.D.; PELKER, K.D.; DAVIS, B.;
CARMEL, D.K. A prospective study of equine colic risk factors. Equine Veterinary
Journal, v.29, n.6, p.454-458, 1997.
TRAUB-DARGATZ, J.L.; KOPRAL, C.A.;
SEITZINGER, A.H.; GARBER, L.P.; FORDE,
K.; WHITE, N.A. Estimate of the national
incidence of and operation-level risk factors for colic among horses in the United
States, spring 1998 to spring 1999. Journal of the American Veterinary Medical
Association, v.219, n.1, p.67-71, 2001.
UHLINGER, C. Investigations into the incidence of field colic. Equine Veterinary
Journal, Suppl. 13, p.11-18, 1992.
VATISTAS, N.J.; SNYDER, J.R.; CARLSON, G.;
JOHNSON, B.; ARTHUR, R.M.; THURMOND,
M.; ZHOU, H.; LLOYD, K.L. Cross-sectional
study of gastric ulcers of the squamous
mucosa in thoroughbred racehorses.
Equine Veterinary Journal, Suppl. 29,
p.34-9, 1999.
VICARIVENTO. N.B.; CAMARGO, J.S.; PEIRÓ,
J.R.; RODRIGUES, C.A.; FEITOSA, F.L.F.; CADIOLI, F.A.; SANTOS, P.S.P.; MESDES, L.C.N.
Estudo retrospectivo de 57 casos de
síndrome cólica em equideos atendidos
na Unesp Araçatuba (2005 – 2009), São
Paulo. Veterinária e Zootecnia, v.17, n.1,
p.61, 2010.
WHITE, N.A. Prognosis and strategies
to prevent colic. In. FOCUS MEETING
OF AMERICAN ASSOCIATION OF EQUINE
PRATITIONERS, 1, Québec, Canada, 2005.
Proceedings… Québec: International Veterinary Information Service, 2005a. p. 1-8.
WHITE, N.A. Prevalence, demographics,
and risk factors for colic. In. FOCUS MEETING OF AMERICAN ASSOCIATION OF EQUINE PRATITIONERS, 1, Québec, Canada, 2005.
Proceedings... Québec: International Veterinary Information Service, 2005b. p. 9-15.
WHITE, N.A. Colic: Prevalence, Risk factors and Prevention. In. PROCEEDINGS
OF THE ANNUAL RESORT SYMPOSIUM OF
THE AMERICAN ASSOCIATION OF EQUINE
PRACTITIONERS, 11, Gold Coast, Australia,
2009. Proceedings… Gold Coast: International Veterinary Information Service,
2009. p. 296-307.
Dados dos Autores
Regina Valéria da Cunha Dias
Médica Veterinária, CRMV-RN nº 0338; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina
Veterinária - DVT/UFV; Professora Assistente,
Mestre, Universidade Federal Rural do Semi-árido - Ufersa, Mossoró, RN
Maria Verônica de Souza
Médica Veterinária, CRMV-MG nº 4788; Professora Associada, Doutora, DVT/UFV, Viçosa, MG.
E-mail: [email protected]
José Dantas Ribeiro Filho
Médico Veterinário, CRMV-MG nº 5316; Professor
Associado, Doutor, DVT/ UFV, Viçosa, MG
42
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
SÍNDROME DO CÃO NADADOR.
DESCRIçãO DE CASO
SWIMMING PUPPY SYNDROME IN A DOG
Resumo
Um filhote da raça Dogo Argentino, portador da Síndrome do Cão Nadador, Hipoplasia Miofibrilar, de rara ocorrência
na rotina clínica, foi acompanhado em todas as etapas da evolução de seu quadro clínico e tratado mediante diferentes programas de reabilitação. Este trabalho visa divulgar um protocolo de tratamento bem-sucedido, caracterizado
pela utilização de bandagens associadas a trabalhos de fisioterapia, elucidar a recuperação do animal iniciada a partir
da primeira semana e involução de sinais clínicos em 17 dias.
Palavras-chave: hipoplasia miofibrilar, filhotes, imobilização
Abstract
One Argentine Dogo puppy, bearer of the Swimming Puppy Syndrome, Myofibrillar Hypoplasia, a rare occurrence
in routine clinical practice, was accompanied at all stages of its clinical condition evolution and treated by different
rehabilitation programs. This work disclosing of a well succeeded treatment protocol, wich was characterized by the
use of bandages work associated with physiotherapy, with the beginning of recovery on the first week and regression
of clinical signs in 17 days.
Keywords: myofibrillar hypoplasia, puppies, immobilization
Introducao
A síndrome do cão nadador ou Hipoplasia
Miofibrilar, também conhecida popularmente por
“posição de paraquedista” ou “síndrome do cachorro tartaruga”, é o resultado de uma anomalia
no desenvolvimento músculo esquelético caracterizada por tetraparesia ou paresia de membros
torácicos em 26% dos casos e, em menor frequên­
cia, dos membros pélvicos (8%). É considerada
uma rara afecção em Medicina Veterinária, observada em filhotes entre a segunda e terceira semanas de vida, cães de raças condrodistróficas, em
ambos os sexos e raramente observada em felinos
(Burger et al., 2007).
De acordo com Yardimci et al. (2009), a causa
da Hipoplasia Miofibrilar, ainda desconhecida, é
pobre de documentação científica, podendo ser
de origem alimentar. Segundo Angulo (2010),
nesse caso, deve-se a alimentos pobres em proRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
teína fornecidos à mãe entre o 17º ao 22º dias de
gestação. No entanto, no relato de casos de quatro animais portadores por Mello, et al, (2008) há
referência à causa alimentar consequente a dietas
compostas tanto por altas quanto por baixas concentrações protéicas.
Outras possíveis causas são consequentes a
alterações da função sináptica neuromuscular,
deficiência na mielinização dos neurônios motores periféricos e atraso do desenvolvimento
muscular, associadas à manutenção do animal em
piso liso e escorregadio (Burger et al., 2007).
A sintomatologia é observada em filhotes de
uma semana de vida e representada por permanência em decúbito esternal com movimentos de
membros na tentativa de se locomoverem (Yardimci et al.,2009). Quando apresenta tetraparesia,
o filhote rasteja, gerando, como consequência, lesões na região ventral do abdômen e dos membros,
43
Suplemento Científico
fotos: Arquivo do Autor
Figura 1. Filhote de Dogo Argentino com abdução de membros torácicos e pélvicos sugestivas de síndrome do cão nadador.
pelo atrito do corpo com o piso (Burger et al., 2007).
Dentre as possíveis complicações, são observadas
incontinência urinária, dispnéia por aumento de
peso na cavidade torácica e luxação de patela (Burger et al., 2007; Yardimci et al., 2009).
Faz-se o diagnóstico por meio de dados de
anamnese e do exame clínico associados ao exame radiográfico. Pela radiografia de tórax pode-se
proceder ao diagnóstico diferencial, particularmente com pectus excavatum, que revela aprofundamento da região esternal em direção à coluna
vertebral (Fournier, 2008; Rahal et al., 2008),
que pode ocorrer independentemente ou simultaneamente a síndrome do cão nadador (Yardimci et
al., 2009). De acordo com Yardimci et al. (2009), a
síndrome pode vir acompanhada do peito plano,
com a região esternal apresentando-se, paralela
à coluna vertebral devido ao período de decúbito
esternal prolongado, já que o animal está impossibilitado de manter-se em estação.
Embora não se encontre, na literatura, um protocolo de tratamento específico, alguns autores
afirmam que a deficiência resultante da síndrome
é autocorrigida com o fortalecimento e desenvolvimento dos músculos. Trabalhos de fisioterapia
são sugeridos e podem contribuir para a diminuição de eutanásias, às vezes recomendadas como
única solução possível (Verhoeven et al., 2006).
Yardimci et al. (2009) obtiveram recuperação
em 42 dias após instituir fisioterapia, e Verhoeven
44
et al. (2006) alcançaram a cura em 30 dias. Burger
et al. (2007) indicam a imobilização dos membros
por algumas semanas e administração de vitamina E e selênio e relatam recuperação com 20 dias.
Verhoeven et al. (2006) recomendam esse tratamento entre a terceira e quarta semanas de vida
do filhote, quando os ossos e as articulações são
mais flexíveis, aumentando as chances de corre-
Figura 2. Imagem da região ventral do filhote. Presença de escoriações na
pele de membros e umbigo
ção, porém alertam para problemas que a imobilização pode causar, como edema e isquemia, além
de infecções de pele devido à contaminação por
urina e fezes.
O presente relato, protocolado sob o número
0300/10 e aprovado pela Ceta-Unifeso, sugere
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
se arrastava. Não apresentava apatia, nem sinais
neurológicos ou de atrofia muscular, estava sem
febre e se alimentava bem.
O exame radiográfico revelou imagem sugestiva de incongruência coxofemoral bilateral
(Figura 3), que associada à incapacidade de
­d eambulação e alteração anatômica morfofuncional permitiram o diagnóstico de hipoplasia
miofibrilar ou síndrome do cão nadador.
Inicialmente, foi realizado tratamento contra
ectoparasitas por meio da aplicação mensal de selamectina (Revolution® 6%) bem como foram tratadas
Figura 3. Imagem radiográfica ventrodorsal da pelve evidenciando
incongruência coxofemoral
um protocolo para o tratamento da hipoplasia
miofibrilar, pouco agressivo e eficaz, restituindo os
padrões anatômicos e em curto período de tempo.
Relato do caso
No dia 22/2/2010 foi atendido na Clínica-Escola
de Medicina Veterinária do Unifeso um canino, fêmea, da raça Dogo Argentino, com 35 dias de vida,
pesando três quilos, apresentando os membros
torácicos e pélvicos abduzidos (Figura 1).
Além da abdução dos membros, o filhote apresentava intensa infestação por pulgas e diversas
escoriações nas regiões ventral, dos membros
e do umbigo (Figura 2), consequentes ao atrito
provocado entre corpo do animal e o piso, já que
Figura 5. Demonstra aplicação de suporte a base de cintas de couro e cão sobre
piso antiderrapante
Figura 4. Imobilização dos membros torácicos e pélvicos com micropore e
esparadrapo
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
as lesões por atrito com pomada à base de sulfato
de neomicina + bacitracina (Nebacetin®), aplicada
duas vezes ao dia, até a cicatrização completa das lesões. Foi corrigida a alimentação, com papinha para
desmame (A2, Royal Canin®), quatro vezes ao dia, na
quantidade recomendada pelo fabricante.
No dia 24/2/2010 foi feita imobilização dos
membros torácicos e pélvicos com ataduras de micropore e esparadrapo (Figura 4), fixando os membros anteriores por uma algema de esparadrapo.
Como o filhote permanecia em decúbito a
maior parte do tempo, foi adequado um suporte
45
Suplemento Científico
Figura 7. Desvio ósseo (plantigradismo) em região carpal
Figura 6. Lesões eritematosas de pele provocadas pelo material de imobilização
prendendo uma cinta de couro na região torácica
e outra na pélvica, ambas fixadas na parte inferior
do assento de uma cadeira, mantendo o filhote
apoiado e levantado do solo sobre 2m² de piso
antiderrapante (Figura 5), oferecendo uma superfície áspera que impediu quedas, como recomendaram Yardimci et al. (2009).
Foram aplicados movimentos aos membros
pélvicos e torácicos, duas vezes ao dia, por 10 minutos, objetivando fortalecimento de músculos
e ligamentos. Também, na troca dos curativos,
foram realizados trabalhos de extensão, flexão e
adução nas articulações envolvidas, durante 15
minutos em cada membro, como recomendado
por Verhoeven et al. (2006).
Após cinco dias de início do tratamento, o
filhote conseguiu se manter em estação à época
da troca das ataduras, mas foram identificadas
Figura 8. Filhote após a remoção definitiva das bandagens, apresentando postura normal e preservação da anatomia dos membros
46
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
pequenas lesões na pele (Figura 6) provocadas
por sujidades e umidade na imobilização, assim
como encontrado por Verhoeven et al. (2006). A
bandagem foi removida; foi instituído banho com
sabonete neutro líquido para bebês e uso de pomada, sem, contudo, haver evidências de edema e
pontos de isquemia.
Porém, sem imobilizações, foi observado que
o filhote, embora conseguisse manter-se em estação, deambulava incoordenadamente e seus
membros ainda estavam abduzidos. Decidiu-se,
no dia 1/3/2010, unir seus membros posteriores e
anteriores apenas por algemas de micropore com
esparadrapo, diminuindo a superfície de contato
das bandagens com a pele.
No dia 2/3/2010, aos 43 dias de vida, o filhote
foi solto em espaço de piso áspero, onde pôde
se exercitar livremente, contribuindo significativamente para seu bem-estar. No dia seguinte,
as imobilizações no formato de algemas foram
removidas para troca, e nova imobilização apenas nos membros pélvicos foi recolocada. Por
apresentar plantigradismo (extensão carpal) nos
membros torácicos (Figura 7), o filhote passou a
receber 2 mL de Glicopan Pet® a cada 12/12 horas e por trinta dias, para um fornecimento extra
de vitaminas e minerais e 7,5g de sulfato de condroitina A (Condroton injetável®), uma aplicação
de 3 mL, por semana, durante três semanas, na
intenção de favorecer a fisiologia e reparação
articulares.
A partir do dia 4/3/2010, as imobilizações foram removidas a cada dois dias para observação
de resultados até que, no dia 10/3/2010, com 17
dias de tratamento, a cadela teve todas as ataduras removidas em definitivo, mais precocemente
do que os resultados obtidos por Verhoeven et al.
(2006) e Yardimci et al. (2009).
Aos quatro meses de idade obser vou-se
­d eambulação correta e adequada qualidade de
vida (Figura 8 ).
Considerações finais
O tratamento de animais portadores de síndrome do cão nadador é dependente de acompanhamento constante, dedicação do proprietário, cuidados com a alimentação, instituição de
exercícios supervisionados e observação precisa
dos efeitos colaterais da aplicação de bandagens
esparadrapadas.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Referências Bibliográficas
ANGULO, S.M.. Enfermidades de los Neonatos. Disponível em:
<campusveterinariosenweb.com>. Acesso em: 30 Jul. 2010.
BURGER, C.P.; SILVA, R.B.; CANOLA, J.C.; FILHO, J.G.P.; OLIVEIRA,
G.G.S., Síndrome do filhote nadador em gato: relato de caso.
Acta Scientiae Veterinariae, v.35, p.1393-1394, 2007.
FOURNIER, T.E. Dynamic right ventricular outflow tract
(infundibular) stenosis and pectus excavatum in a dog.
Canadian Veterinary Journal, v.49, n.5, p.485-487,2008.
MELLO, F.P.S.; NEUWALD, E.B.; ALIEVIM.M.. Síndrome do cão
nadador - relato de 4 casos. SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – ED. INTERNACIONAL, 8, Hífen, Uruguaiana, v. 32 - nº 61, p.
51- I Semestre - Ano 2008.
MOREIRA, M.B. Efeitos da oxigenoterapia hiperbárica e do
sulfato de condroitina-a associado ao sulfato de glucosamina na reparação óssea de coelhos. São Paulo, 2006. Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.
RAHAL, S.C.; MORISHIN FILHO, M.M.; HATSCHBACH, E.; MACHADO, V.M.V.; APTEKMANN, K.P.; CORRÊA, T.P. Pectus excavatum in two littermate dogs. Canadian Veterinary Journal,
v.49, n.9, p.880-884, 2008.
SILVA JUNIOR, F.S..Osteoartrite experimental em ratos:
efeito de sulfato de glicosamina e sulfato de condroitina
sobre a incapacidade articular e a lesão da cartilagem
articular. São Paulo, 2007. Tese (doutorado). Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo.
VERHOEVEN, G.; DE ROOSTER, H.; RISSELADA, M.; WIEMER, P.;
SCHEIRE, L.; VAN BREE, H. Swimmer syndrome in a Devon rex
kitten and an English bulldog puppy. Journal of Small Animal Practice, v.47, n.10, p. 615–619, 2006.
YARDIMCI, C.; ÖZAK, A.; NISBET, H. O.; SIRIN, Y. S., Swimming
syndrome in two labrador puppies. Kafkas Univ Vet Fak
Derg , v.15, n.4, p.637-640, 2009.
Dados dos Autores
Tomas Ottoni Barroso da Silva
Médico Veterinário, CRMV-RJ nº 10807, Clínica-Escola do Unifeso.
E-mail: [email protected]
Igor Mansur Muniz
Médico Veterinário, CRMV-RJ nº 3819. Doutorando em Clínica e Reprodução Animal (UFF).
Denise de Mello Bóbany
Médica Veterinária - CRMV-RJ nº 1415. Professora-adjunta do curso de graduação em Veterinária do Centro Universitário Serra dos Órgãos
Raissa Murta Miranda Carvalho
Graduanda em Medicina Veterinária – Unifeso
João Carlos de O. Castro
Médico Veterinário - CRMV-RJ nº 8192. Responsável
Técnico da ClínicaVeterinária Cantinho da Bicharada
47
Suplemento Científico
O USO DAS LENTES ACRÍLICAS
DOBRÁVEIS ACRIVET® 30V APÓS
CIRURGIA DE CATARATA EM CÃES
ACRIVET® 30V foldable acrylic intraocular
lenses implant in dogs
Resumo
A catarata é uma das doenças oculares mais comuns na oftalmologia veterinária de pequenos animais, afetando
principalmente cães de diferentes raças e idades. Devido ao seu caráter progressivo, normalmente causa cegueira e
se não tratada origina inflamações intraoculares severas, podendo causar até mesmo a perda do globo ocular. Com o
advento da técnica de facoemulsificação e o desenvolvimento de lentes artificiais especialmente desenvolvidas para
os animais, os resultados obtidos, principalmente quanto ao restabelecimento da visão, tornaram-se melhores.
Palavras-chave: catarata, facoemulsificação, lente intraocular, Acrivet ®
Abstract
Abstract: Cataract is one of the most common ocular diseases in the small animal practice, affecting mainly dogs of
different ages and breeds. Due to its progressive characteristic, the cataract usually causes blindness and if not treated
originates severe intraocular inflammations that could cause ocular globe losses. With the advent of phacoemulsification and the development of artificial lenses specially made for animals the results obtained in the surgery, particularly
pertaining to restoring the vision, became much better.
Keywords: cataract, phacoemulsification, intraocular lenses, Acrivet ®.
INTRODUÇÃO
A lente ou cristalino é uma estrutura avascular,
transparente e biconvexa localizada logo atrás da íris,
na frente do humor vítreo e sustentada na sua região
equatorial pelas fibras zonulares de Zinn do corpo
ciliar (Miller, 2008). É formada de 1/3 de proteínas e
2/3 de água e outros componentes (lipídeos, aminoá­
cidos, eletrólitos e carboidratos) (Slatter, 2001). Essa
alta concentração protéica é responsável pelo alto
índice de refração lenticular, o que, juntamente com a
acomodação, constituiem-se na sua principal função
(Evans, 1993).
O termo catarata é usado para definir uma opacificação parcial ou completa do cristalino (cápsula e/
ou núcleo), impedindo a passagem da imagem e cau-
48
sando perda parcial ou completa da visão (Davidson
e Nelms, 1999). O mecanismo básico da formação é
dado pelo desarranjo protéico lenticular e dentre as
causas principais estão a hereditariedade, diabetes
melito (hiperglicemia), inflamações intraoculares
(Wilcock e Peiffer, 1987), traumas oculares, degeneração avançada da retina, substâncias tóxicas e
radiações (Glover e Constantinescu, 1997).
A catarata aparece mais comumente em cães
do que em gatos, sendo as raças Poodle Toy, Cocker Spaniel, Schnauzer, Pequinês e Dachshund
mais predispostas (Miller, 1987). O único tratamento existente é sua remoção cirúrgica (Turner, 2008), sendo o procedimento de eleição a
facoemulsificação (fragmentação da lente com
uso de ultrassom).
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Fotos: Arquivos do Autor
Figura 1. Catarata madura em um cão sem raça definida de 9 anos de idade. Observar o anel de Thornton para segurar o bulbo do olho no momento da incisão
em córnea clara com bisturi de 3,2 mm (aumento de 16 x).
Com a evolução da facoemulsificação e mais recentemente com o implante de lentes intraoculares dobráveis (Souza et al., 2006), especialmente desenhadas
para os animais (cães, gatos, equinos), o procedimento
tornou-se mais rápido, os resultados obtidos melhores
(95% de sucesso), menor trauma operatório e mínimo
desconforto pós-operatório, devolvendo o estado de
emetropia aos pacientes operados (Lim et al. 2009).
O presente artigo tem como objetivo relatar e
descrever os resultados obtidos na cirurgia de catarata utilizando-se a facoemulsificação seguida de implante de uma lente intraocular (LIO) acrílica dobrável Acrivet® 30V em cães de diferentes raças e idades.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o estudo foram usados arquivos clínicos de
20 cães de diferentes raças e idades (24 olhos operados), sem nenhuma outra patologia ocular ou sistêmica e que possuíam catarata em diferentes estágios
de maturidade tratadas por meio da facoemulsificação seguida de implante de uma lente intraocular
acrílica dobrável de 41 dioptrias (Acrivet ® 30V).
Todos os pacientes possuíam eletroretinogramas
normais ao exame de estimulação retineana utilizando-se o aparelho BPM-200 (RetinoGraphics ®).
O preparo cirúrgico envolveu jejum alimentar
de 12 horas e a dilatação pupilar pré-operatória
utilizando-se colírios de tropicamida, sulfato de
atropina 1% e diclofenaco sódico, alternados com
intervalo de 15 minutos entre eles, e iniciando-se 4
horas antes do procedimento.
Uma hora antes de iniciada a cirurgia, utilizou-se
colírio de Gatifloxacino, também intercalado com
os demais.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
A anestesia geral foi induzida com quetamina
(10 mg/Kg) e diazepam (0,5 mg/Kg) e mantida
com isoflurano.
A centralização do globo ocular foi obtida
utilizando-se bloqueio local em 4 pontos (3, 6, 9 e 12
horas) com lidocaína a 2% e bupivacaína 0,5 % misturadas na mesma seringa na proporção de 1 : 4. O volume empregado variou de 0,5 a 1 mL em cada ponto e
dependeu do tamanho do paciente.
Para evitar o uso de blefarostato e a necessidade de uma cantotomia lateral, foram utilizados dois
pontos interrompidos simples, verticais, na região
palpebral superior e inferior com fio de nailon 0.
Em cães com órbita muito profunda, utilizou-se infusão retrobulbar de solução fisiológica (1 a 4 mL) para melhor exposição do bulbo
do olho, utilizando-se uma seringa de 5 mL com
uma agulha 25 x 7, inserida na região caudal do
arco zigomático.
Na desinfecção do olho a ser operado foi utilizada
solução de iodo-povidine a 5% e soro fisiológico.
A incisão triplanar de 3,2 mm (Figura 1) foi feita na
córnea clara, utilizando-se bisturi descartável, a mais
ou menos 1 mm do limbo, na região de 10 horas, e a
incisão auxiliar (paracentese) foi realizada com bisturi de diamante de 1 mm, na região de 2 horas.
Para realçar a cápsula anterior e facilitar o procedimento de capsulorréxis, utilizou-se 0,2 mL do
corante azul de tripan na câmara anterior, deixando o
corante reagir por 5 minutos.
A proteção endotelial e midríase mecânica foi
obtida por meio da utilização de solução de viscoelástico dispersivo (metilcelulose 2%).
A abertura da cápsula anterior (capsulorréxis) foi
realizada com uma pinça tipo Masket e tesoura de
vannas (Figura 2).
Figura 2. Abertura da cápsula anterior utilizando uma pinça de capsulorréxis.
Notar o enrugamento capsular observado nas cataratas em fase de reabsorção
49
Suplemento Científico
A hidrodissecção e hidrodelineação foi feita
utilizando-se solução de BSS (Solução salina balanceada) injetada com uma seringa de 3mL, com uma
agulha de 27 g.
A técnica de escolha para sulcar o núcleo opaco
foi “dividir e conquistar”, utilizando-se uma ponteira
de faco tipo “flared” de 30º (Figura 3) .
Figura 5. Protetor de silicone usado na ponteira do injetor de titânio
Figura 3. Emulsificação nuclear utilizando uma ponteira de facoemulsificação
tipo “flared” de 30 graus
Após emulsificação nuclear completa e aspiração
cortical, um bom polimento capsular foi realizado
utilizando-se uma ponteira de irrigação e aspiração
reta e parâmetros extremamente baixos. O saco capsular remanescente foi expandido utilizando viscoelástico coesivo e a lente intraocular acrílica dobrável
(Acrivet® 30V) foi dobrada no cartucho de inserção
(Figura 4). A ponta do injetor foi protegido com a
ponteira de silicone (Figura 5) e a LIO foi implantada
(Figura 6). Promoveu-se uma boa aspiração de todo
viscoelástico remanescente, para evitar grandes
picos de pressão nas primeiras horas do pós-operatório, e um bom polimento capsular para minimizar a
proliferação celular na cápsula posterior. Na corneor­
rafia foram utilizados 2 a 3 pontos interrompidos
simples e fio de nailon 9-0.
No pós-operatório imediato (Figura 7), utilizou-se 0,3 mL de dipropionato de betametasona
via subconjuntival e a terapia nos dias subsequentes consistiu, de colírios de lágrima artificial
TID por 30 dias, sulfato de atropina 1% TID por 12
dias, acetato de prednisolona 1% TID por 25 dias,
cetorolac de trometamina BID por 25 dias e gatifloxacino TID por 20 dias. Nenhuma medicação
sistêmica foi utilizada.
As opacidades de cápsula posterior foram classificadas numa escala de I a III, sendo I uma opacidade discreta ao redor das bordas da lente, mas com
eixo visual limpo; II opacidade periférica mais evidente e diminuição da transparência no eixo visual,
originando uma oftalmoscopia incompleta, e grau
III opacidades severas periféricas e no eixo visual
causando importantes distúrbios visuais.
Outros parâmetros analisados incluem manipulação da LIO no momento do implante, edema
de córnea, formação de fibrina na câmara anterior,
discoria, sinéquias, fraturas de lente intraocular,
rupturas capsulares, glaucoma, hifema e descolamento de retina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 4. Lente intraocular acrílica dobrável de 41 D da Acrivet ® . Notar os anéis
na zona óptica
50
Dentre as 15 fêmeas e 5 machos operados,
as raças mais prevalentes foram: Poodle Toy (12
animais, 16 olhos operados), Cocker Spaniel (4
animais, 4 olhos operados), Lhasa Apso (2 animais, 2 olhos operados),Shih-Tzu (2 animais, 2
olhos operados).
A vantagem da não utilização de um blefarostato
é que não tem pressão externa no globo ocular, o
que causa extravasamento humoral e de solução
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
salina balanceada pela incisão, mantendo a forma do
globo ocular e diminuindo casos de expansão vítrea.
As aderências entre cápsula anterior e posterior
frequentemente observadas nos casos em que não
é implantada uma lente artificial e que originam opacidades capsulares mais severas, não foram observadas neste estudo, obtendo-se os mesmos resultados
de publicações anteriores (Siegle e Nasisse, 1999)
Figura 6. Lente intraocular sendo implantada dentro do saco capsular
e reforçando uma das vantagens do implante de
uma lente intraocular, sempre quando possível.
Algum grau de opacidade capsular sempre é
observado, principalmente na região periférica da
LIO, sendo mais discreto nos casos em que se consegue um bom polimento capsular com o sistema
de irrigação e aspiração do facoemulsificador, mas
na maioria dos casos não interfere com a visão do
paciente, ou seja, o eixo visual permanece transparente. No presente estudo observou-se grau 1
em 20 casos e grau 2 em 4 casos e esses foram mais
freqüentes nas cataratas duras (Hayashi et al, 1998),
pois o polimento capsular tornou-se mais difícil devido à existência de plastrões (material lenti­cular)
firmemente aderidos à cápsula posterior e que
sofrem uma pseudometaplasia fibrosa formando
lentóides e originando opacidades mais densas
(Naisse et al., 1995).
Publicações anteriores demonstraram que as
lentes de polimetilmetacrilato (PMMA) originam
opacidades capsulares maiores do que as dobráveis
de acrílico e isso se deve ao fato de que as últimas
possuem um contato mais íntimo com a cápsula posterior, originando uma barreira física e diminuindo
a proliferação e migração celular que originam as
opacidades (Naisse e Dyskstra, 1995).
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
As opacidades corneanas (6 casos) foram frequentemente observadas na região da corneorrafia, mas
resolveram completamente após a retirada dos pontos, que ocorreu após 3 semanas do procedimento.
Discoria (3 casos) , sinéquias (4 casos) e maior formação de fibrina na câmara anterior foram observadas em
cataratas mais duras devido a uma maior lesão iridiana
causada pelo ultrassom e pelo alto fluxo fluídico na
câmara anterior (maior tempo cirúrgico) (Cho, 2002).
Em nenhum dos casos operados foram relatadas
descentralização ou fraturas da LIO, rupturas capsulares radiais, ruptura de cápsula posterior, glaucoma a
curto e longo prazo, hifema, descolamento de retina
(Figura 8). Os casos de uveíte pós-operatória foram
muito discretos, sendo considerados normais e relacionados ao trauma originado pelo procedimento.
Em todos os casos operados obser vou-se
uma melhora muito grande quanto ao aspecto de
­recuperação da visão, sendo isso observado pelo
exame oftalmoscópico (fundoscopia, reflexo piscar-ameaça), movimentação pelo ambiente, noção de
movimento e detalhe de imagem (visão de perto e
de longe), ou seja, melhor acuidade visual quando,
por exemplo, acompanhando e buscando objetos
pequenos (bolinhas de tênis).
Possivelmente, o implante de uma lente intra­ocular
diminui a incidência de glaucoma a longo prazo, pois,
de certa forma, ela contrabalanceia a grande pressão
vítrea observada nos cães, o que pode causar obstrução do ângulo de drenagem e consequente aumento da pressão intraocular, mas estudos deverão ser
feitos para confirmar esta hipótese.
A variação no diâmetro total da lente melhorou
sua centralização em animais de pequeno, médio e
grande porte. A utilização do protetor de silicone na
ponta do injetor foi fundamental para evitar o aprisionamento da LIO durante seu implante, diminuin-
Figura 7. Aspecto do pós-operatório imediato após corneorrafia
51
Suplemento Científico
do assim os casos de fraturas acidentais. A presença
de anéis na superfície da zona óptica (Figura 4) permite que a lente tenha uma espessura menor (1,01
mm de espessura) do que as outras disponíveis no
mercado (2,4 mm), melhorando a difração dos raios
luminosos, seu manuseio, implante e à abertura dentro do saco capsular fez-se de maneira bem delicada
(sem efeito vaulting).
CONCLUSÕES
O estudo demonstrou que com a técnica e a
lente utilizada, os resultados são extremamente
favoráveis na devolução do estado de emetropia
do paciente.
O desenho diferenciado e a espessura mais fina da
lente Acrivet, tornam seu manuseio e implante pela
incisão principal mais fácil.
Possui uma excelente centralização dentro do
saco capsular e as opacidades a longo prazo e complicações são raras.
Figura 8. Aspecto após dois anos da cirurgia. Notar boa centralização e transparência excelente do eixo visual ocular. Presença de pigmento iridiano periférico.
Olho calmo e visual
O preparo dos pacientes reflete os bons resultados obtidos. A precocidade em realizar o procedimento torna a cirurgia mais rápida, as complicações
mais raras e o sucesso maior.
Vídeos disponíveis no canal da VETWEB do Youtube.
Referências Bibliográficas
Cho JO. Complications of cataract surgery.
Small Animal Ophthalmology Secrets.
Hanley & Belfus, p. 125 – 130, Philadelphia, 2002.
Davidson MG, Nelms SR. Diseases of the
lens and cataract formation. In: Veterinary
Ophthalmology, 3rd ed Lippincott, Williams
and Wilkins, Philadelphia, 1999; 797 - 825.
Evans HE. Miller’s Anatomy of the Dog. 3rd
ed. Toronto. WB Saunders, p.1038 - 1039.
1993.
Gelatt KN. Veterinary Ophthalmology. 4th
ed. Iowa, USA. Blackwell Publishing, 2007.
Glover TD, Constantinescu GM. Surgery for cataracts. Veterinary Clinics of North America. 27, p.1.143 - 1.173; 1997.
Hayashi H, Hayashi K, Nakao F, Hayashi F.
Quantitative comparison of posterior capsule opacification after polymethylmethacrylate, silicone and soft acrylic intraocular
lens implantation. Archives of Ophthalmology, 116, p. 1.579 - 1.582; 1998.
Lim CC, Bakker S, Sandmeyer LS. Cataracts in 44 dogs (77 eyes): A comparison
of outcomes for no treatment, topical
medical management, or phacoemulsification with intraocular lens implantation. Proceedings notes of the 40th
Annual Conference of the American College of Veterinary Ophthalmologists,
p.118, Chicago, Illinois, 2009.
Miller PE. et al. Slatter’s Fundamentals of
Veterinary Ophthalmology. 4th ed. St. Louis, USA. Saunders Elsevier, 2008.
Miller, T.R., Whitley, R.D., Meek, L.A.
et al. 1987. Phacofragmentation and
aspiration for catarac t ex trac tion in
dogs: 56 cases. Journal of American
Veterinary Medical Association, N.
190, p.1.577 – 1.580.
Naisse MP, Dyskstra MJ, Cobo LM.
Lens capsule opacification in aphakic and
pseudophakic eyes. Graefe’s Archives for
Clinical Experimental Ophthalmology, 233,
p. 63 - 70, 1995.
Nasisse MP, Davidson MG. Surgery of
the lens. Veterinary Ophthalmology.
Lippincott Willians and Wilkins, Baltimore, p.
827 - 856, 1999.
Sigle KJ, Nasisse MP. Long-term complications after phacoemulsification for
cataract removal in dogs: 172 cases (1995
- 2002). Journal of the American Veterinary
Medical Association, 228, p. 74 - 79, 2006.
Slat ter DH. Fundamentals of Veterinary Ophthalmology. 3th ed. Philadelphia,
Pennsylvania. WB Saunders Company, 2001.
Souza EV, Rodrigues ML, Souza NV.
História da cirurgia da catarata. Medicina,
Riberão Preto. 2006; 39 (4), p. 587 - 590.
Turner, S.M. Small Animal Ophthalmology, Saunders Solutions in Veterinary Practice. Saunders / Elsevier, 2008.
Wilcock, BP, Peiffer RL. The pathology
of lens-induced uveitis in dogs. Veterinary
Pathology 1987, 24: 549 – 553.
Dados do Autor
João Alfredo Kleiner
Médico Veterinário, CRMV-PR nº 3929; Mestre em Ciências Veterinárias.
E-mail: [email protected]
52
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Cicatrização de feridas
cutâneas e métodos de
avaliação. Revisão de
literatura
Cicatrization and methods of evaluation of skin
wounds. A review
Resumo
As lesões cutâneas podem ser relacionadas a injúrias físicas, químicas, biológicas de hipersensibilidade a doenças
auto-imunes. Após um dano tissular, eventos celulares e bioquímicos instalam-se, visando restabelecer a integridade
tecidual. O processo de cicatrização é descrito em três principais fases, que são ao mesmo tempo sequenciais e sobrepostas. Muitos métodos são descritos na avaliação da evolução desse processo, destacando-se recursos visuais e
laboratoriais. Torna-se imprescindível o conhecimento dos métodos diagnósticos disponíveis para que possam ser
utilizados com precisão no acompanhamento da evolução das lesões cutâneas.
Palavras-chave: injúrias cutâneas, evolução do processo cicatricial, recursos visuais e laboratoriais
Abstract
Skin lesions may be related to physical, chemical and biological aggression, and less commonly hypersensitivity reaction and autoimmune diseases. After the tissue injury, cellular and biochemical events are activated in order to recover
the tissue integrity. The healing process is described in three main phases, which are both sequential and overlapping.
Many methods are described to evaluate the evolution of the healing, particularly by visual and laboratorial procedures.
The knowledge of the available diagnostic methods is essential for accurate use in monitoring of the skin lesion healing.
Keywords: skin injury, healing evaluation, visual and laboratorial procedures
cicatrização
de feridas cutâneas
Os eventos que desencadeiam a dinâmica da
cicatrização são intercedidos e sustentados por mediadores bioquímicos, sendo descritos em diferentes
fases que correspondem aos principais episódios
observados em determinado período de tempo. No
entanto, em diversos momentos, ocorre dinamismo
com sobreposição dessas fases, tornando-se impraticável o estabelecimento em períodos específicos. Essa
sobreposição também contribui para a evolução da
cicatrização (Balbino et al., 2005; Hosgood, 2006).
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Assim, o processo de cicatrização de feridas compreende três principais fases, denominadas inflamatória,
proliferativa e de remodelação da ferida (Kummar et
al., 2005) (Figura 1).
Após um dano tecidual, as alterações nas células
endoteliais, a ruptura de vasos sanguíneos e o extravasamento de seus constituintes incitam compostos
vasoativos a promoverem uma vasoconstrição
imediata, visando à minimização da perda sanguínea para o espaço extravascular (Kummar et al.,
2005). O processo de coagulação instala-se sendo
mediado principalmente pela atividade plaquetária
53
Suplemento Científico
Remodelação
Proliferativa
Inflamatória
Injuria
14 dias
3 dias
Sínteses e lises colágnena
1 ano
Força de tensão = 80% Força Inicial
Figura 1. Processo de cicatrização descrito nas fases inflamatória, proliferativa e de remodelação, observadas após ocorrência de injúria tissular. Diversos eventos biológicos ocorrem em determinado período de tempo e caracterizam cada uma das fases cicatriciais (Adaptado de Park & Barbul, 2004)
e a cascata de coagulação. O coágulo formado atua
na ­coaptação das bordas da ferida, minimizando a
perda de sangue e fluídos, protegendo o organismo
contra penetração de agentes exógenos e disponibilizando uma matriz provisória para o início da
organização da ferida (Barbul, 2006).
A ativação plaquetária culmina na liberação de
diversos mediadores químicos, dentre os quais o fator
de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), que
promove vasodilatação e quimiotaxia de leucócitos
para o sítio da lesão (Werner et al., 2005). As moléculas
da superfamília do fator de crescimento transformador (TGF-b; TGF-b1, TGF-b2 e TGF-b3), as quimiocinas,
como as proteínas inflamatórias para macrófagos (MIPs;
MIP-1a, MIP-1b, MIP-2), a proteína quimioatraente de
macrófagos-1 (MCP-1), rantes e interleucina 8 (IL-8),
também participam ativamente nesse período (Efron
e Moldawer, 2004). Dessa forma, ocorre o início da
fase inflamatória, que persiste por um período de 48
a 72 horas e é caracterizada pela presença dos sinais
clássicos da inflamação, ou seja, dor, calor, rubor, tumor
e perda da função (Peranteau et al., 2008).
Os primeiros tipos celulares a predominarem no sítio
da lesão são os neutrófilos que, além de suas conhecidas
atividades de produção de proteases e espécies reativas
de oxigênio e nitrogênio, estão envolvidos nas reações
de formação tecidual por meio da síntese de fatores de
crescimento e citocinas, responsáveis pela recomposição da celularidade regional e restabelecimento da
homeostasia tecidual (Efron e Moldawer, 2004).
54
O PDGF e o TGF-b1 apresentam papel central para a
infiltração de neutrófilos, sendo liberados por plaquetas, macrófagos e fibroblastos, imediatamente após a
lesão (Werner et al., 2005). Devido à meia-vida curta,
após o segundo dia essas células vão sendo gradativamente substituídas por monócitos, que se transformam
em macrófagos na ferida (Balbino et al., 2005).
Os macrófagos chegam à ferida mediados principalmente pelas proteínas inflamatórias para macrófagos
(MIPs; MIP-1a, MIP-1b, MIP-2) e proteína quimioatraente
de macrófagos-1 (MCP-1), e apresentam capacidade fagocítica, além de atuarem como células apresentadoras
de antígenos e fonte de fatores de crescimento e mediadores bioquímicos que ditam e sustentam o processo de
cicatrização (Mandelbaum et al., 2003).
Sequencialmente, a cicatrização evolui para a fase
proliferativa, que se estende até o 12°-14° dias. Nessa
fase, observam-se os eventos de angiogênese, fibroplasia e reepitelização. A transição da fase inflamatória
para a proliferativa é marcada por intensa proliferação
de fibroblastos e deposição de colágeno no sítio da
lesão. A presença desses componentes é modulada
por fatores de crescimento derivados de macrófagos,
como o TGF-α e VEGF-A. Ocorre também aumento
no número de mitoses, formação de tecido de granulação, marcado pela gênese de capilares sanguíneos, além de intensa contração centrípeta da ferida
(Mandelbaum et al., 2003; Sahota et al., 2004). Os
fibroblastos ativados produzem colágeno no sítio da
lesão e, dessa forma, a matriz extracelular começa a
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
ser substituída por um tecido conjuntivo mais forte e
elástico (Ackermann, 2007).
Simultaneamente, ocorre neovascularização mediada principalmente pelo VEGF-A. Nesse momento,
a ferida apresenta-se preenchida por um tecido hiperplásico, de coloração avermelhada, denominado
tecido de granulação, que é composto por macrófagos, fibroblastos e vasos neoformados, que estão sustentados por uma matriz frouxa de fibronectina, ácido
hialurônico e colágenos tipo I e III (Mandelbaum et
al., 2003; Sahota et al., 2004).
Na fase final do processo cicatricial, o tecido de
granulação sofre modificação em sua composição.
Sob estímulo de fatores de crescimento e outros mediadores, as células endoteliais dos capilares intactos
nas margens da ferida começam a secretar colagenase e ativador de plasminogênio, que promovem
aberturas na parede desses vasos, permitindo que
células endoteliais migrem em direção ao leito da
ferida, recobrindo a lesão. As células epiteliais também podem expressar PPARs (receptores ativados
por proliferadores de peroxissoma), contribuindo
para uma rápida reepitelização tecidual (Hatanaka
e Curi, 2007). Gradativamente observa-se retorno
à aparência normal da pele ou formação de cicatriz,
dependendo do grau e extensão do dano tissular
(Balbino et al., 2005; Hosgood, 2006).
Quando as lesões acometem apenas a epiderme,
ocorre regeneração tecidual, com retorno da integridade e atividade funcional do tecido. No entanto, quando
o dano tissular é mais acentuado e se estende a porções
da derme, acometendo glândulas, folículos pilosos
e outras estruturas, o processo resulta em reparação
tecidual. Nesse caso, embora a homeostasia seja restabelecida, a atividade funcional do tecido apresenta-se
comprometida e, como a região lesionada é substituída
integral ou parcialmente por tecido fibroso, observa-se
formação de cicatriz (Mandelbaum et al., 2003; Balbino et al., 2005; Rünger et al., 2007).
No Tabela 1 estão descritos os principais mediadores bioquímicos envolvidos no processo de cicatrização de feridas cutâneas, bem como os tipos celulares
que modulam sua síntese e expressão e os efeitos
desencadeados por eles.
Métodos de avaliação da
cicatrização de feridas
Para acompanhar de forma sistemática a evolução
do processo cicatricial, além de compreender os mecanismos desencadeados pós-instalação da injúria, é
importante ter conhecimento dos meios auxiliares de
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
avaliação da cicatrização. A utilização dos diferentes
métodos disponíveis confere uma caracterização
sistemática das lesões, bem como a avaliação da
resposta terapêutica apresentada pelo portador de lesões cutâneas. Dentre esses, destacam-se a avaliação
clínica da ferida, os achados de necropsia e avaliações
histopatológica, morfométrica e imunoistoquímica
(Lopes et al., 2005; Gul et al., 2008).
Avaliação Clínica
A avaliação clínica da cicatrização de feridas é o
principal método utilizado para verificar a evolução
do processo cicatricial e fundamenta-se, sobretudo,
no exame macroscópico específico da lesão (Lima,
2010). Particularmente, essa avaliação pode ocorrer
durante os exames clínico (Lima, 2010) e necroscópico. A fim de garantir melhor qualidade da investigação, alternativamente, pode-se recorrer ao auxílio de
lupas (Martins et al., 2006) e exame ultrassonográfico (Rabelo et al., 2005).
Os resultados do exame físico permitem a associação entre os achados e o tempo da instalação da injúria tissular, sendo possível inferir a fase do processo
cicatricial. Acrescente-se que a avaliação clínica atua
como parâmetro para efetuar correlação com as avaliações microscópicas (Hosgood, 2006).
Nos primeiros dias após o dano tissular, observa-se
em feridas abertas, a presença de coágulo sanguíneo, exsudato serossanguinolento ou purulento,
ausência de tecido de granulação e pouca contração, compatíveis com a fase inflamatória da cicatrização (Lima, 2010). Quando as bordas da ferida
encontram-se justapostas (cicatrização por primeira
intenção), a epitelização pode iniciar-se ainda nessa
fase (Mandelbaum et al., 2003).
Considerando a avaliação macroscópica da lesão, a
fase proliferativa é marcada pela visualização do tecido
de granulação, que pode assumir aspecto variável, desde avermelhado e exuberante a róseo, esbranquiçado,
granular ou nodular, de acordo com a quantidade de
colágeno e vasos sanguíneos neoformados. A contração da ferida também é observada nessa fase, sendo notável a diminuição do diâmetro da lesão entre o 5º e o 9º
dia. Ressalta-se que a taxa de contração varia de acordo
com a localização anatômica da ferida e a flexibilidade
do tecido adjacente. Ainda, nessa fase, tem início a reepitelização das extremidades da ferida, evidenciada pela
presença de tecido róseo íntegro, localizado nas bordas
da lesão (De Nardi et al., 2004; Martins et al., 2006;
Gul et al., 2008).
Na fase final do processo de cicatrização, durante
a remodelação da ferida, nota-se superfície epitelial
55
Suplemento Científico
íntegra, que inicialmente apresenta coloração rósea,
devido à vascularização do tecido de granulação
subjacente, passando gradualmente a apresentar
coloração empalidecida, conforme ocorre a apoptose dos vasos neoformados e o colágeno se torna mais
denso (Branco Neto et al., 2006; Martins et al.,
2006; Hatanaka e Curi, 2007).
De modo geral, a avaliação clínica é o parâmetro
basal para avaliar a resposta do organismo animal e
confere subsídios sobre o comportamento macroscópico da lesão durante a cicatrização. É uma avaliação essencial e em associação com as respostas dos
testes complementares confere um perfil completo
da evolução da cicatrização, sendo procedimento
de importância sumária, principalmente em relação
a pacientes portadores de feridas crônicas, doenças
concomitantes ou outra condição que prejudica ou
impede a resolução do processo.
Avaliação Morfométrica
Na avaliação da cicatrização de feridas, os testes
morfométricos são empregados para a mensuração
do diâmetro da área lesionada, a fim de estabelecer
um parâmetro comparativo entre a medida inicial
da ferida e as medidas obtidas durante a evolução
do processo. Dessa forma, torna-se possível a deter-
minação da taxa de contração da lesão (Teixeira
et al., 2005). Consiste em método simples, de fácil
aplicabilidade e por meio do acompanhamento da
retração do diâmetro da lesão em períodos definidos
permite inferir se a lesão está apresentando resposta
à terapia instituída.
A morfometria pode ser realizada pela medição direta da área da ferida durante exame físico
ou necroscópico, ou ainda, por meio de exame
ultrassonográfico, tomografia computadorizada,
ressonância magnética e, mais atualmente, por
meio da utilização de softwares de mensuração
na projeção digital de imagens (Gul et al., 2008;
Menezes et al., 2008).
Para a execução da análise morfométrica torna-se
indispensável a utilização de equipamentos de precisão.
A régua milimetrada é um instrumento que pode ser utilizado para a medição das bordas da ferida, de onde se
obtêm o maior e o menor diâmetro da lesão (Menezes
et al., 2008). No entanto, o paquímetro é a ferramenta
mais utilizada por pesquisadores para determinação da
área da ferida. Os paquímetros digitais são os mais empregados, por conferirem medida mais acurada (Branco Neto et al., 2006; Garros et al., 2006; Martins et
al., 2006; Menezes et al., 2008).
Testes de planimetria digital têm a função de
tornar mais objetivas e rápidas a apresentação
Tabela 1. Tipos celulares, mediadores liberados e seus efeitos no processo de cicatrização
Tipos celulares presentes
no ferimento
Principais mediadores liberados
Principais efeitos desencadeados
Plaquetas
TGF-ß, PDGF (PDGF-AA, PDGF-AB,
PDGF-BB, PDGF-CC, PDGF-DD), PAF, fibrinogênio, fibronectina, tromboplastina
Formação do trombo plaquetário
que tampona a lesão e recrutamento de neutrófilos e monócitos
Neutrófilos
Il-6, IL-8, IL-1, TNF-α, CTAP-III, TGF-ß, HGF,
MIP, HLE
Recrutamento de monócitos/
macrófagos
Monócitos /
Macrófagos
TGF-a. TGF-b, VEGF-A, IL-6, IL-*, IL-1,
TNF-a, RANTES, MIP-1a, MIP-1b, MCP-1,
HB-EGF, HGF, MIP, MSP
Quimiotaxia de monócitos e fibroblastos, proliferação de fibroblastos,
angiogênese e síntese de colágeno
Fibroblastos
FGF1, FGF2, FGF4, FGF7, FGF10, IP-10,
MCAF, IL-8, eotaxina, PLGF, TGF-b, Cyr61
Queratinócitos
MCP-1, FGF1, FGF2, TGF-ß, MIP-2, MSP
Células endoteliais
MCP-1
Maturação e remodelamento da
matriz extracelular e angiogênese
Abreviaturas: PDGF (Fator de Crescimento Derivado de Plaquetas), EGF (Fator de Crescimento Epidermal), FGF (Fator de Crescimento de Fibroblastos), VEGF (Fator de Crescimento
Endotelial Vascular), TGF (Fator de Crescimento Transformante), Cyr61 (Fator de Crescimento de Tecido Conectivo (CTGF) rica em cisteína 61), MIP (Proteína Quimioatraente para
Macrófago), MIP (Proteína Inflamatória para Macrófago), HB-EGF (Proteína Ligante de Heparina-Fator de Crescimento Epidermal), PLGF (Fator de Crescimento Placentário), TNF
(Fator de Necrose Tumoral), IL-1 (Interleucina-1), IL-6 (Interleucina-6),IL-8 (Interleucina-8), HGF (Fator de Crescimento de Hepatócito), MSP (Proteína Estimulante de Macrófago),
HLE (Elastase Leucocitária Humana) (Werner et al., 2005; Efron e Moldawer, 2004 Park e Barbul, 2004; Todd et al., 1991).
Fonte: Adaptado de Hatanaka e Curi, 2007.
56
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
e a tabulação de resultados de mensuração de
imagens digitais de feridas, visando à análise quantitativa do processo, para um acompanhamento
sistemático do percentual de contração e evolução
(Teixeira et al., 2005).
O método de análise morfométrica de feridas e
lesões cutâneas consiste em posicionar uma câmera
digital a um dispositivo de captura de imagens, mantendo esta a uma distância constante do animal. Dessa
forma, efetua-se a captura da imagem e, após tempo
pré-estabelecido, novas capturas fotográficas da lesão
são efetuadas. Em seguida, as imagens são transferidas
para um software de mensuração de imagens, para
obtenção das medidas inicial e final da lesão, tornando
possível a obtenção da taxa de contração da ferida
(Teixeira et al., 2005; Garros et al., 2006; Santana
et al., 2008; Lima, 2010).
Imagens microscópicas também podem ser
avaliadas por meio do testes de morfometria digital
de imagens, podendo-se proceder à contagem dos
principais tipos celulares presentes em uma lesão
cutânea em determinado período de tempo (Teixeira et al., 2005).
Avaliação Histopatológica
A análise histopatológica da ferida é empregada
especialmente em associação à avaliação clínica do
processo cicatricial, sendo que essa inter-relação
­entre as características macro e microscópicas confere
maior credibilidade aos resultados (Hosgood, 2006).
Acrescente-se que essa avaliação permite que uma
análise ultra-morfológica acurada, e quando realizada
em períodos definidos fornece o perfil dos tipos celulares, fibras e outras estruturas, bem como a atividade
desses componentes no tecido lesionado.
A coloração de Hematoxilina e Eosina (HE) é utilizada rotineiramente para a análise microscópica
das diferentes fases do processo de reparação tecidual (Margulis et al., 2007). Contudo, outros métodos
de coloração, como Tricrômio de Masson e Picrossírius podem ser úteis para avaliar componentes
específicos nas diferentes etapas de reparo da ferida
cutânea (Azad et al., 2004; Biondo-Simões et al., 2005;
Sezer et al., 2007).
Microscopicamente, a fase inflamatória é caracterizada pela presença de exsudato e neutrófilos,
que perduram principalmente durante a fase inicial
da inflamação. Ao final desse período, os neutrófilos
são gradualmente substituídos por macrófagos e
linfócitos (Garros et al., 2006; Margulis et al., 2007;
Menezes et al., 2008). Na fase proliferativa, destacaRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
se a presença dos fibroblastos, neovascularização,
deposição colágena e, em menor quantidade, células inflamatórias que participam da composição do
tecido de granulação (Azad et al., 2004; Eulálio
et al., 2007; Menezes et al., 2008). Na fase final do
processo cicatricial, durante a remodelação, nota-se
intensa proliferação celular, com renovação das células epiteliais, deposição de colágeno, além de organização das fibras colágenas e diminuição gradativa
da neovascularização, devido a apoptose dos vasos
(De Nardi et al., 2004; Branco Neto et al, 2006;
Martins et al., 2006; Menezes et al., 2008).
O colágeno é um componente fundamental no
processo de reparo tecidual, sintetizado a partir dos
fibroblastos e presente em abundância nas fases proliferativa e de remodelação da ferida (Azad et al., 2004;
Rich e Whittaker, 2005; Hosgood, 2006; Sezer
et al., 2007). As fibras colágenas desempenham papel
vital, não na manutenção da integridade estrutural,
mas também na determinação da função tecidual
(Borges et al., 2007; Lima, 2010).
Dentre os diferentes tipos descritos, os mais expressivos no processo de cicatrização são os tipos I e
III, presentes na pele, vasos sangüíneos e músculos
(Hosgood, 2006; Borges et al., 2007). O colágeno
tipo III aparece primariamente na ferida, é caracterizado como colágeno jovem ou imaturo e confere
aspecto desorganizado às fibras. Já o colágeno tipo
I, maduro, substitui o tipo III em cicatrizes antigas e
caracteriza-se pela maior organização de suas fibras
(Borges et al., 2007).
A coloração Tricrômio de Masson é um método de
coloração consagrado, utilizado em inúmeras pesquisas científicas e possibilita a visualização de fibras colágenas e musculares, corando as primeiras de azul claro
(Junqueira e Carneiro, 2005; Lima, 2010). Apesar
disso, o método não permite diferenciação entre os
tipos de colágeno presentes na ferida. Além disso, a
falta da seletividade específica para esse componente
tecidual e sua incapacidade de corar fibras colágenas
muito delgadas, pode, sob certas circunstâncias, resultar em avaliação subestimada do colágeno presente
(Azad et al., 2004; Sezer et al., 2007).
O método de Picrossírius, além de compreender
coloração específica para colágeno, possibilita a
identificação dos colágenos tipo I e III, presentes na
fibra colágena e encontrados em abundância durante o
processo de cicatrização (Borges et al., 2007; Eulálio
et al., 2007). A diferenciação entre colágenos tipo I e III
é dada pela birrefringência, em que fibras compostas
pelo tipo I apresentam menor birrefringência e coram
de vermelho, enquanto as formadas pelo tipo III apre-
57
Suplemento Científico
sentam maior birrefringência e se coram de verde
(Azad et al., 2004; Biondo-Simões et al., 2005; Borges et al., 2007). Apesar de todas essas peculiaridades,
o método ainda tem utilização limitada, pois depende
de estrutura laboratorial mais elaborada, como microscópio de luz polarizada, além de apresentar custo
mais elevado.
Imunoistoquímica
Em relação ao processo de cicatrização de feridas
cutâneas, a imunoistoquímica é particularmente
aplicada para identificar elementos envolvidos
nesse processo, como colágenos, miofibroblastos
e vasos neoformados (Barra, 2006). Para cada um
desses componentes há um anticorpo mono ou
policlonal específico. Para marcação de colágenos
tipo I e III, utilizam-se anticolágeno I e anticolágeno
III, respectivamente (Emertcan et al., 2008). Para a
marcação de miofibroblastos, emprega-se o anticorpo anti-α-actina muscular lisa (actina α-sm) e para
identificação de vasos neoformados, o antifator VIII,
também denominado fator anti-von Willebrand (Lorena et al., 2002; Chibata, 2003; Skinovsky, 2005;
Emertcan et al., 2008).
Em estudo para avaliação dos efeitos da colagenase e do extrato de Centella asiática na cicatrização de feridas cutâneas em ratos efetuou-se
avaliação imunoistoquímica para formação de
óxido nítrico (anti-iNOS), fator de crescimento tras-
formante β (anti-TGF-β), angiogênese (anti-VEGF),
fator de crescimento transformante α (anti-TGF-α),
membrana basal (antilaminina), fibronectina (antifibronectina), colágeno tipo I (anticolágeno I) e interleucina 8 (anti-interleucina 8) (Emertcan et al.,
2008). Dessa forma, foi possível demonstrar que a
expressão dos principais mediadores envolvidos no
processo de cicatrização pode ser avaliada e quantificada, a fim de se estabelecer o real papel desses
frente à ocorrência de um dano tecidual.
Considerações finais
Para estudar o fenômeno biológico da cicatrização é necessário que se tenha conhecimento sólido
das diferentes fases do processo cicatricial e capacidade técnica para avaliar a resposta do paciente.
Para que esse acompanhamento seja completo e
para que o clínico possa intervir de forma sistemática visando à resolução do processo, o emprego de
métodos complementares de avaliação torna-se
essencial. No entanto, observa-se que o profissional deixa de utilizar tais métodos tanto por desconhecimento, quanto pela insegurança na aplicabilidade e interpretação dos resultados observados.
Esperamos que a par tir das informações
apresentadas nessa revisão o profissional possa
aprimorar a análise crítica do processo cicatricial e
utilize os métodos de avaliação da cicatrização na
rotina clínica com maior frequência e propriedade.
Referências Bibliográficas
ACKERMANN, M.R. Chronic inflammation and
wound healing. In: McGAVIN, M.D.; ZACHARY,
J.F. Pathologic Basis of Veterinary Disease.
4.ed. Amsterdã: Elsevier, p.153-191, 2007.
AZAD, A.K.; SERMSINTHAM, N.; CHANDRKRACHANG, S.; STEVENS, W.R. Chitosan membrane
as a wound-healing dressing: characterization
and clinical application. J Biom Mat Res Part B:
Applied Biomaterials, 69B(2):216-222, 2004.
BALBINO, C.A.; PEREIRA, L.M.; CURI, R. Mecanismos envolvidos na cicatrização: uma
revisão. Rev Bras Ciências Farmacêuticas,
41(1):27-51, 2005.
BARBUL, A. History of wound healing. In:
BRUNICARDI, F.C.; SEYMOUR, I.; SCHWARTS, D.L.;
DUN, D.K.; ANDERSEN, R.E. Schwartz’s Surgery.
Ontario: Companion handbook, 2006, p.25-78.
BARRA, M.B.O. Uso da imunoistoquímica no
diagnóstico: indicações e limitações. Rev
Assoc Médica Rio Grande do Sul 50(2):173184, 2006.
58
BIONDO-SIMÕES, M.L.P.;WESTPHAL,V.L.; PAULA,
J.B.; BORSATO, K.S.; NORONHA, L. Síntese de
colágeno após a implantação de telas de prolipropileno em parede abdominal de ratos jovens
e velhos. Acta Cir Bras 20(4):300-304, 2005.
BRANCO NETO, M.L.C.; RIBAS FILHO, J.M.; MALAFAIA, O.; FILHO, M.A.O.; CZECZKO, N.G.; AOKI,
S.; CUNHA, R.; FONSECA, V.R.; TEIXEIRA, H.M.;
AGUIAR, L.R.F. Avaliação do extrato hidroalcoolico de Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) no
processo de cicatrização de feridas em pele de
ratos. Acta Cir Bras 21(2):17-22, 2006.
DE NARDI, A.B.; RODASKI, S.; SOUSA, R.S.; BAUDI, D.L.K.; CASTRO, J.H.T. Cicatrização secundária em feridas dermoepidérmicas tratadas com
ácidos graxos essenciais, vitamina A e E, lecitina
de soja e iodopolivinilpirrolidona em cães.
ArchVet Science 9(1):1-16, 2004.
EFRON, P.A.; MOLDAWER, L.L. Cytokines and
wound healing: the role of cytokine and anticytokine therapy in the repair response J Burn
Care & Rehabilitation 25(2):149-160, 2004.
BORGES, L.F.; GUTIERREZ, P.S.; MARANA, H.R.C.;
TABOGA, S.R. Picrosirius-polarization staining
method as an efficient histopathogical tool for
collagenolysis detection in vesical prolapsed
lesions. Micron 38(6):580-583, 2007.
EMERTCAN, A.T.; INAN, S.; OZTURCAN, S.;
BILAC, C.; CILAKER, S. Comparison of the effects
of collagenase and extract of centella asiatica in
an experimental model of wound healing: an
immunohistochemical and histopathologica
study. Wound Repair and Regeneration
16:674-681, 2008.
CHIBATA,M.Nicotina subcutânea e cicatrização
da parede abdominal em ratos: estudo histológico e tensiométrico Curitiba, 2003. 68f. Dissertação (Mestrado em Clínica Cirúrgica) – Setor de
CiênciasdaSaúde,UniversidadeFederaldoParaná.
EULÁLIO, J.N.; DANTAS, A.N.M.; GÓES-NETO,
A.; BARBOSA JÚNIOR, A.A.; FREIRE, A.N.M. A
influência da calcitonina sintética do salmão
na cicatrização cutânea de ratos. Rev Col
Bras Cirurgiões 34(4):237-244, 2007.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
GARROS, I.C.; CAMPOS, A.C.L.; TÂMBARA,
E.M.; TENÓRIO, S.B.; TORRES, O.J.M.; AGULHAM, M.Â.; ARAÚJO, A.C.F.; SANTIS-ISOLAN, P.M.B.; OLIVEIRA, R.M.; ARRUDA, E.C.M.
Extrato de Passiflora edulis na cicatrização
de feridas cutâneas abertas em ratos: estudo morfológico e histológico. Acta Cir Bras
21(3):55-65, 2006.
GUL, N.Y.; TOPAL, A.; CANGULT, I.T.; YANIK, K. The
effects of topical tripeptide copper complex
and helium-neon laser on wound healing in
rabbits. Vet Derm 19(1):7-14, 2008.
HATANAKA, E.; CURI, R. Ácidos graxos e cicatrização: uma revisão. Rev Bras Ciên Farmac
88(2), 2007.
HOSGOOD, G. Stages of wound healing
and their clinical relevance. The Veterinary
Clinics of North America. Small Anim Pract
36(4):667-685, 2006.
JUNQUEIRA, L.C.; CARNEIRO, J. Biologia Celular
e Molecular. 8.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2005. 350p.
KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; FAUSTO, N. Robbins and Cotran. Pathologic basis of disease.
7.ed. Amsterdã: Elsevier, 2005. 1.525p.
LIMA, C.R.O. Reparação de feridas cutâneas
incisionais em coelhos após tratamento com
barbatimão e quitosana. Goiânia, 2010. 104f.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Veterinária.
Universidade Federal de Goiás.
LOPES, G.C.; SANCHES, A.C.C.; NAKAMURA, C.V.; DIAS FILHO, B.P.; HERNANDES,
L.; MELLO, J.C.P. Influence of extracts of
Str yphnodendron polyphyllum Mart.
and Stryphnodendron obovatum Benth.
on the cicatrisation of cutaneous wound
in rats. J Ethnopharmacology 99(2):256272,2005.
LORENA, D.; UCHIO, K.; COSTA, A. M.; DEMOLIERE, A. Normal scarring: importance of myofibroblasts. Wound Repair and Regeneration
10(2):86-92, 2002.
RICH, L.; WHITTAKER, P. Collagen and picrosirius
red staining: a polarized light assessment of
fibrilar hue and spatial distribuition. Braz J
Morph Science 22(2):97-104, 2005.
MANDELBAUM, S.H.; SANTIS, E.P.; MANDELBAUM, M.H.S. Cicatrization: current concepts
and auxiliary resources - Part I. Anais Brasileiros de Dermatologia 78(4):393-410, 2003.
RÜNGER, T. M.; QUINTANILLA-DIECK, M. J.;
BHAWAN, J. Role of Cathepsin K in the Turnover
of the Dermal Extracellular Matrix during Scar
Formation. J Invest Dermatology 127:293297, 2007.
MARGULIS, A.; CHAOUAT, M; BEN-BASSAT,
H.; ELDAD, A.; ICEKSON, M.; BREITERMAN, S.;
NEUMAN, R. Comparison of topical iodine and
silver sulfadiazine as therapies against sulfur
mustard burns in a pig model. Wound Repair
and Regeneration 15:916-921, 2007.
MARTINS, N.L.P.; MALAFAIA, O.; RIBAS-FILHO, J. M.;
HEIBEL, M.; BALDEZ, R.N.; VASCONCELOS, P.R.L.;
MOREIRA, H.; MAZZA, M.; NASSIF, P.A.N.; WALLBACH, T.Z. Análise comparativa da cicatrização da
pele com o uso intraperitoneal de extrato aquoso
deOrbignyaphalerata(Babaçu).Estudocomparativoemratos.ActaCirBras21(3):66-75,2006.
MENEZES, F.F.; COELHO, M.C.O.C.; LEÃO, A.M.A.
C. Avaliação clínica e aspectos histopatológicos
de feridas cutâneas de cães tratadas com curativo temporário de pele. Publicações em MedicinaVeterinária e Zootecnia 2(4):1-3,2008.
PERANTEAU, W.H.; ZHANG, L.; MUVARAK, N.;
BADILLO, A.T.; RADU, A.; ZOLTICK, P.W.; LIECHTY,
K.W. Il-10 overexpression decreases inflammatory mediators and promotes regenerative
healing in an adult model of scar formation. J
Invest Dermatology 128(7):1852-1860,2008.
RABELO, R.E.; SANT’ANA, F.J.F.; PAULO, N.M.;
ROMANI, A.F.; SILVA, L.A.F.; VIU, M.A.O.; ALVES,
C.B.; LIMA, C.R.O.; SILVA, O.C. Emprego do
compósito látex, poliamida e polilisina a 0,1%
na correção cirúrgica de hérnias umbilicais recidivantes em bovinos leiteiros. Acta Scientiae
Veterinariae 33(2):169-175,2005.
SAHOTA, P.S.; BURN, J.L.; BROWN, N.J.; MACNEIL,
S. Approaches to improve angiogenesis in
tissue-engineered skin. Wound Repair and
Regeneration 12(6):635-642, 2004.
SANTANA, L.A.; GOMES, F.G.; KAJIWARA, J.K.;
FRADE, M.A.C. Quantificação de áreas de
úlceras de perna através de um programa de
análise de imagem. In: XI Congresso Brasileiro de Informática em Saúde, Campos do
Jordão., 2008.
SEZER, A.D.; HATIPOGLU, F.; CEVHER, E.;
OGURTAN, Z.; BAS, A.L.; AKBUGA, J. Chitosan
film containing fucoidan as a wound dressing for dermal burn healing: preparation
and in vitro/in vivo evaluation. AAPS Pharmscitech 89(2): 2007.
SKINOVSKY, J. A. A influência da nicotina na
cicatrização de anastomoses do intestino
delgado em ratos. Curitiba, 2005. 42f. Dissertação (Mestrado em Clínica Cirúrgica) - Setor
de Ciências da Saúde, Universidade Federal
do Paraná.
TEIXEIRA, V.P.A.; PEREIRA, S.A.L.; RODRIGUES,
D.B.R.; LINO JÚNIOR, R.S.; OLIVEIRA, F.A.; CASTRO, E.C.C; REIS, M.A. Textos didáticos: Técnicas
de morfometria – princípios básicos e aplicações da morfometria. In: Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, 2005. Disponível
em: http://www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/
patge/morfometria01.htm
Dados dos Autores
Caroline Rocha de Oliveira Lima
Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4140, Doutoranda em Ciência Animal, Escola de Veterinária
e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás
(EVZ/UFG), Fiscal Estadual Agropecuário (Agrodefesa-Goiás)
E-mail: [email protected]
Rogério Elias Rabelo
Médico Veterinário, CRMV-GO nº 2456, Professor-Adjunto EVZ/UFG/Campus Jataí
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Veridiana Maria
Brianezi Dignani de Moura
Médica Veterinária, CRMV-GO 3863, Professor-Adjunto EVZ/UFG
Luiz Antônio Franco da Silva
Médico Veterinário, CRMV-GO nº 0780, Professor EVZ/UFG
Leonice M. Faustino Tresvenzol
Farmacêutica, CRF-GO nº 1254, Professora-Adjunta, Faculdade de Farmácia/UFG
59
Suplemento Científico
Normas para
apresentação de Artigos
Informações Gerais
O Suplemento Científico da Revista do Conselho
Federal de Medicina Veterinária (CFMV) tem como objetivo principal a publicação de artigos de investigação
científica, de revisão e de educação continuada, básica,
e profissionalizante, que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina Veterinária e de
Zootecnia. Os artigos, cujos conteúdos serão de inteira
responsabilidade dos autores, devem ser originais e serão submetidos à apreciação do editor e/ou do Conselho
Editorial da Revista CFMV, bem como de assessores ad
hoc de reconhecido saber na especialidade. A publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro
das Normas Editoriais e de pareceres favoráveis. Os pareceres terão caráter sigiloso e imparcial. A periodicidade
da publicação será quadrimestral.
Os artigos devem ser encaminhados para:
E-mail: [email protected]
Normas Editoriais
Os textos de revisão, de educação continuada e
científicos devem ser de primeira submissão, escritos
segundo as normas ortográficas oficiais da língua portuguesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract
e Keywords, que serão apresentados em inglês. Assim
como uma versão do título.
Artigos de Revisão e
de Educação Continuada
Os artigos de revisão e de educação continuada devem ser estruturados para conter Resumo,
Abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências
Bibliográficas e Agradecimentos (quando houver). A
divisão e subtítulos do texto principal ficarão a cargo
do(s) autor(es).
Artigos Científicos
Os artigos científicos deverão conter dados conclusivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract,
Palavras-chave, Keywords, Introdução, Material e
Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões),
Referências Bibliográficas e, quando houver, Agradecimentos, Tabela(s), Quadro(s) e Figura(s). A crité-
60
rio do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão
poderão ser apresentados como uma única seção.
Quando a pesquisa envolver a utilização de animais,
os princípios éticos de experimentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) e aqueles contidos no Decreto
nº 24.645, de 10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638,
de 8 de maio de 1979, devem ser observados. Também deve ser observado o disposto na Resolução
CFMV nº 879, de fevereiro de 2008, ou naquela que
a substituir.
Apresentação
Os manuscritos encaminhados deverão estar
digitados com o uso do editor de textos Microsoft
Word for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato A4 (21,0 x 29,7), com espaço simples, em uma
só face do papel, com margens laterais de 3,0cm e
margens superior e inferior de 2,5cm, na fonte Times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o
texto e 9 cpi para rodapé e informações de tabelas,
quadros e figuras. As páginas e as linhas de cada
página devem ser numeradas. O artigo completo
deverá ter no máximo 12 páginas.
Título
O título do artigo, com 15 palavras no máximo, deverá ser escrito em negrito e centralizado na página, sem
utilizar abreviaturas. A versão na língua inglesa deverá
anteceder o Abstract.
Autores
Citar respectivos registros em conselhos de classe à
excessão de alunos de graduação.
Resumo e Abstract
O Resumo e sua tradução para o inglês, o Abstract,
não podem ultrapassar 250 palavras, com informações
que permitam a adequada caracterização do artigo
como um todo. No caso de artigos científicos, o Resumo
deve informar o objetivo, a metodologia aplicada, os
resultados principais e as conclusões.
Palavras-chave e Keywords
No máximo cinco palavras serão representadas em
seguida ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do texto e não necessariamente do título.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Texto Principal
Deverá ser apresentado em espaço simples, fonte
Times New Roman 12. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sistema Métrico Internacional,
por exemplo, kg, g, cm, ml, EM etc. Quando for o caso,
abreviaturas não usuais serão apresentadas como nota
de rodapé. Exemplo, GH = hormônio do crescimento. As
citações bibliográficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. Quando houver
mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão et al. Exemplos:
Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e Santos
(2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al. (1998),
(Gonçalves et al., 1998).
Referências Bibliográficas
A lista de referências bibliográficas será apresentada em ordem alfabética por sobrenome de autores, de
acordo com a norma ABNT/NBR-6023 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas. Inicia-se a referência
com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s)
letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes
de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais
devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes.
Todos os autores devem ser citados.
Obras anônimas têm sua entrada pelo título do
artigo ou pela entidade responsável por sua publicação. A referência deve ser alinhada pela esquerda
e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro caractere da primeira linha. Os títulos de periódicos da
referência podem ser abreviados, segundo a notação
do BIOSES *BIOSIS. Serial sources for the BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996, 486p.
Abaixo são apresentados alguns exemplos de
referências bibliográficas.
Artigo de periódico
EUCLIDES FILHO, K.; V.P.B.; FIGUEIREDO, M.P. Avaliação de animais nelore e seus mestiços com charolês,
fleckvieh e chianina, em três dietas 1. Ganho de peso
e conversão alimentar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.
Livros
MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia
aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:
Funep, 1994. 296p.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Capítulos de livro
WEEKES, T.E.C Insulin and growyh. In: Buttery, P.J.;
LINDSAY, D.B.; HAYNES, N.B. (ed). Control and manipulation of animal growth. Londres: Butterworths,
1986. p.187-206.
Teses (doutorado) ou
dissertações (mestrado)
MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre salmonella na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinárias. Universidade
Estadual Paulista.
Artigos apresentados em
congressos, reuniões
e seminários
RAHAL, S.S.; W.H.; TEIXEIRA, E.M.S. Uso de fluoresceina na identificação dos vasos linfáticos superficiais
das glândulas mamárias em cadelas. In. CONGRESSO
BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23 Recife,
1994. Anais... Recife, SPEMVE, 1994. p.19.
Tabelas, Quadros
e Ilustrações
As tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fotografias, desenhos etc.) podem ser apresentados
no corpo do artigo. Uma em cada página. Serão
numerados consecutivamente com números arábicos. A tabela deve ter sua estrutura construída
segundo as normas de Apresentação Tabular do
Conselho Nacional de Estatística (Rev. Bras. Est. v.
24, p.42-60, 1963).
Fotografias
As fotografias deverão estar em boa resolução
(nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou
sombras excessivas), com resolução mínima de 300
dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros),
formato TIF e as cores em CMYK. Se possível, também
devem ser enviadas em arquivos separados (JPEG).
Avaliações/Revisões
Os artigos sofrerão as seguintes avaliações/revisões antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo
editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) avaliação do editor e/ou Comitê Editorial.
61
Produção avícola
MANEJO PRÉ-ABATE
DE FRANGOS DE CORTE
INTRODUÇÃO
cido no Regulamento de Inspeção Industrial e
Sanitária dos Produtos de Origem Animal e no
Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica
e Higiênico-Sanitária de Carne de Aves (Riispoa),
(SCHERER FILHO, 2009).
Nesta revisão serão abordadas as etapas que
antecedem o abate (recepção e tempo de espera,
pendura, insensibilização e sangria) e alguns dos
seus impactos no bem-estar e na qualidade da carne.
Entende-se por manejo pré-abate o processo
que se inicia imediatamente após a fase de criação,
com a retirada da ração, indo até o abatedouro com
o sacrifício das aves. Esta é uma etapa importante
para a qualidade da carne, pois os fatores como método de apanha, temperatura e transporte podem
contribuir para a elevação do estresse com interferência significativa na cor, textura e qualidade post
mortem da carne. Para que isso não ocorra, neste
processo é necessário movimentar as aves o mínimo possível, propiciar ambientes calmos e abater
os frangos de forma rápida.
Fotos: Tavernari, F.C
A preocupação com a integridade física das
aves não pode terminar quando alcançam o peso
de abate e estão prontas para a apanha, mas deve
estender-se para as etapas subsequentes, atendo-se
aos cuidados, que considerem o bem-estar animal,
e a obtenção de um produto final com qualidade e
segurança.
Uma vez atendidas as normas de bem-estar, são
maiores as chances de obter-se um produto final de
qualidade, sem que ocorram altos índices de condenação parcial ou total de carcaça. Segundo Ludtke
et al. (2009) os problemas de bem-estar associados
com o transporte e o descarregamento de aves são
morte, hematomas, ossos quebrados, lesão de pele,
exaustão metabólica, desidratação, estresse psicológico e estresse térmico, como consequência afetam a
qualidade de carcaça e os custos de produção.
Embora existam diversos conceitos sobre o
bem-estar animal, no Brasil o pré-abate e o abate
de aves devem ocorrer conforme o estabele-
Figura 1. Apanha de frangos de corte
62
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Figura 2. Carregamento de frangos de corte
Etapas envolvidas
no pré-abate:
Programação de retirada do lote
Planejar data e do horário propícios com menor
estresse possível. Levar em consideração a data de
retirada do lote em função do peso ao abate que, por
sua vez, é determinado pelo mercado consumidor.
Deve-se respeitar o período de jejum que as aves
deverão passar.
Restrição alimentar e hídrica
São considerados material contaminante no
abatedouro o alimento, as fezes, a bile, a parede
intestinal degradada, o material de cama e as sujidades aderidas às patas, pele e penas das aves
(CONY e ZOCCHE, 2004). A retirada da ração é
realizada com o objetivo de esvaziar o trato gastrointestinal das aves para minimizar os riscos de
contaminação da carcaça durante o abate, caso
haja o rompimento do mesmo. Contudo, segundo
Mendes (2001) o jejum pode influenciar na quantidade de bactérias patogênicas no papo das aves.
Com a falta de alimento as bactérias produtoras
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
de ácido lático ficam desprovidas de substrato
para atuar, assim há aumento no pH e proliferação
de Salmonella e Campylobacter que pode ser agravado pela ingestão da cama durante a permanência dos animais em jejum no aviário.
O período de jejum é iniciado quando os comedouros são suspensos e termina com o abate.
A duração ideal desse tempo está entre 4 a 6 horas
na granja e entre 8 a 12 horas no período total
(ROSA et al., 2000; MENDES, 2001; SARCINELLI et
al., 2007). Períodos menores que 8 horas podem
não propiciar o esvaziamento completo do trato
gastrointestinal da ave, contudo segundo Nijdam
(2006) a partir da sexta hora de jejum, pode ocorrer perda de peso, ao redor de 0,22 a 0,56% para
cada hora excedente.
É importante ressaltar que a iluminação é um
fator que deve ser analisado em conjunto com o
tempo de jejum, pois segundo May et al. (1990),
a iluminação durante o período de jejum pode
acelerar o processo de esvaziamento do trato
gastrointestinal.
A União Brasileira de Avicultura preconiza
em seu protocolo para bem-estar de frangos e
de perus que o tempo máximo de 12 horas de
jejum pré -abate não seja ultrapassado (UBA,
63
Produção avícola
2008). Períodos superiores podem levar a ocorrências fisiológicas indesejáveis que comprometem a qualidade da carne, representando
prejuízo econômico.
Algumas ocorrências
indesejáveis durante a evisceração
(1) Rompimento do intestino devido o
a­cúmulo de gases e a redução da espessura
(2) Contaminação com bile no período de
jejum ocorre acúmulo na vesícula biliar
que pode romper durante a evisceração
contaminando a carcaça
(3) Endurecimento do tecido de revestimento das moelas
(4) Aderência do papo a carcaça em razão
da desidratação da ave, entre outros.
Sarcinelli et al. (2007)
O período de restrição hídrica coincide com o
início do carregamento até o momento do abate. Os
bebedouros são suspensos durante a apanha para
facilitar o manejo e evitar danos aos equipamentos.
Apanha dos frangos
Nesta etapa deve-se proporcionar o mínimo de
estresse possível para reduzir a perda de peso e o
número de contusões, de hematomas e de fraturas,
que são características de condenação total ou
parcial da carcaça. Para manter os frangos calmos, a
captura deve ser realizada com rapidez e preferencialmente com o ambiente sob baixa luminosidade.
A luz azul pode ser utilizada, pois as aves não apresentam visibilidade para esta cor.
A apanha pode ser mecânica ou manual.
Resultados obtidos por Lacy e Czarick (1998)
apontam a apanha mecânica como melhor alternativa, em função do menor número de lesões na
carcaça, contudo, no Brasil, só é utilizada a apanha
manual na produção de frangos de corte, em função dos galpões que não comportam a entrada de
determinados tipos de maquinários e em função
dos custos.
Para a apanha manual é importante que se
agrupem as aves em lotes dentro do aviário, facilitando o trabalho dos operadores na captura e
diminuindo o estresse das aves. Vale ressaltar que
a melhor forma de apanhar as aves é se aproximando em silêncio e pela área cega delas, ou seja,
por trás (Figura 1).
64
Tipos de apanha
√Pelas pernas: embora seja possível apanhar
um número considerável de aves dessa maneira em um curto espaço de tempo, este é
um dos métodos que mais causa lesões, pelo
movimento brusco que se faz com os membros, sendo um dos métodos menos indicados quando se considera o bem-estar animal
e a qualidade de carne.
√Pelo pescoço: as aves são apanhadas de 2
a 3 em cada mão, podendo ser considerado
um método rápido e prático, mas leva ao aumento nas lesões de pele e do estresse. Assim
como o anterior, é um método menos indicado quando se considera o bem-estar animal e
a qualidade de carne.
√Pelo dorso: o mais indicado, pois se apanha
individualmente a ave pelo dorso, por sobre
as asas sendo cuidadosamente colocadas nas
caixas, oferecendo maior proteção à integridade física das aves e resultando em maior rendimento pela redução das lesões físicas, perdas e
custos operacionais diretos e indiretos.
A fim de comparar métodos de apanha, Leandro
et al. (2001) testaram dois tipos de apanha, pelo pescoço e pelo dorso. Os resultados demonstraram que
o número de contusões e fraturas hemorrágicas foi
significativamente maior nos lotes onde a captura
das aves foi realizada pelo pescoço.
Carregamento e Transporte
As aves são transportadas em caixas plásticas
(Figura 2), que facilitam a higienização no processo.
É importante que antes do início do carregamento,
o aviário esteja preparado, e as caixas devidamente
posicionadas, bem como os tubos de PVC rígido
dispostos paralelamente, formando um trilho ao
longo do piso do aviário, para deslize das caixas até
o veículo transportador.
A idade associada ao peso são os pontos básicos
para definição do número de aves por caixa. Pouco
adianta um manejo adequado até o carregamento
se a lotação das caixas for excessiva. Segundo Roça
(2004) a densidade de carga recomendada é de
0,022m2/kg (45kg/m 2) no inverno e 0,026m2/kg
(38kg/m2) no verão.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Figura 3. Prática de molhar os frangos de corte para transportar
O período do dia para o transporte e os locais
das caixas no caminhão podem determinar a taxa
de mortalidade. Segundo Barbosa Filho et al. (2009)
o turno da tarde é o período mais crítico para o
transporte do ponto de vista ambiental, e as partes central e traseira da carga do caminhão são as
mais problemáticas para as aves, do ponto de vista
microclimático, portanto, as mais propícias à ocorrência de perdas.
É importante que o transporte seja realizado por
motoristas treinados e conscientes da carga que
transportam, que tenham ideia da mortalidade no
carregamento e no transporte e conhecimento das
lesões que podem ocorrer.
Em dias muito quentes é comum a prática de
molhar as aves para a realização do transporte, o que
pode evitar a morte de alguns animais (Figura 3). Ao
chegar ao abatedouro, os caminhões devem ficar em
plataforma de descanso, sombreadas, com ventiladores e aspersão de água (CASTILHO e RUIZ, 2010).
Recepção e tempo de espera
A área destinada à recepção dos frangos deve
ser um ambiente controlado, ou seja, deve ser
coberta, com baixo nível de ruído, boa circulação
de ar e temperatura adequada (NIJDAM, 2006).
Nesta área é feito o monitoramento da temperatura e umidade, pois um dos principais riscos
nesta etapa é o estresse por calor. Normalmente,
a temperatura das caixas no caminhão fica 9 graus
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
acima da temperatura da área de descanso, logo
se recomenda uma temperatura média nesta área
de 17ºC, podendo ser utilizados ventiladores ou
exaustores ao lado ou por cima das caixas, para
que o máximo de temperatura dentro das caixas
seja de 26ºC (CURSO..., 2010).
A ordem de abate deve obedecer a ordem de chegada dos caminhões, contudo o descanso máximo
recomendado é de duas horas, pois períodos prolongados podem influenciar a incidência da mortalidade,
principalmente em situações de clima desfavorável (alta
temperatura) e períodos longos de transporte, normalmente associado ao jejum alimentar mais prolongado.
Durante o recebimento das aves no frigorífico,
será conferida a documentação de procedência e
realizado o julgamento das condições de sanidade
do lote pelo Serviço de Inspeção (federal, estadual ou
municipal) (SCHELESTEIN, 2007).
A inspeção ante morten consiste, inicialmente, na
verificação documental para que as aves sejam consideradas aptas ao abate, levando em consideração
sua condição sanitária.
Principais objetivos
da inspeção ante morten
√ Detectar doenças cuja identificação que não seja
possível a identificação no exame post mortem
√Evitar o abate de aves com repleção do trato
gastrointestinal
√Identificar lotes tratados com medicamentos
(Declaração Adicional)
√Identificar lotes com suspeita de doença de
alta mortalidade (Declaração Adicional);
Pfeilsticker (2008)
Descarregamento e pendura
As caixas, contendo os frangos, são descarregadas manualmente ou de forma automatizada dos
caminhões, sem movimentos bruscos, e transferidas para o local de pendura. Quando descarregadas,
as caixas não devem ser arremessadas (Figura 4),
por questões de bem-estar animal e segurança
para os operadores.
Após o descarregamento, as caixas são conduzidas em esteiras e por funcionários posicionados ao
longo da nórea (linha contínua com ganchos que
conduzem os animais por toda a linha de abate),
que fazem a pendura manual, assim como a inspeção antimortem do lote. Os animais doentes e que
não se adéquam à uniformidade do lote são separa-
65
Produção avícola
dos, inspecionados individualmente e sacrificados.
A uniformidade do lote facilita a pendura e melhora
a qualidade do produto, pois ocorrem menos lesões no processo.
As caixas devem ser limpas e desinfetadas quando vazias (geralmente com hipoclorito de sódio ou
amônia quaternária) e deve-se proceder ao monitoramento delas, substituindo ou consertando as
caixas quebradas e sem tampas ou que possuam
qualquer irregularidade que possa causar danos às
aves (CURSO..., 2010).
rea até o túnel de sangria servindo para apoio do
peito das aves, minimizando o estresse e fraturas.
Essa seção deve possuir baixa intensidade de luz,
pois ambientes com pouca luz causam menos estresse e excitação nas aves (PFEILSTICKER, 2008),
mas também é possível a utilização de luz azul
para acalmar os frangos.
A maioria dos frangos bate as asas quando são
pendurados, mas param de bater as asas dentro de
12 segundos, sendo este o período mínimo recomendado entre a pendura e a entrada na cuba de
insensibilização e o máximo de 60 segundos (CURSO..., 2010). Vale ressaltar que as condições da linha
de abate influenciam diretamente no estresse sobre
os animais e no bater de asas: para tanto, as linhas de
abate devem ser retas, sem mudança de altura, curvas ou trepidação.
Linhas de abate tidas como inadequadas podem
produzir um pré-choque nas aves na entrada da
cuba, provocando dor desnecessária e promovendo
o comportamento de fuga das aves à entrada na
cuba de insensibilização (levantando a cabeça e as
asas), podendo ocorrer a passagem sem a insensibilização para a sangria. A fim de evitar isso, são utilizadas rampas eletricamente isoladas na entrada da
cuba. Para tanto, é necessário assegurar que não há
extravasamento de água.
Atordoamento ou insensibilização
Figura 4. Descarregamento de frango de corte
A pendura é uma das etapas que devem receber
atenção, assim como a apanha nas granjas, pois são
práticas que, quando mal conduzidas, comprometem a qualidade da carcaça (alta incidência de fraturas e contusões de asa e perna) (SCHELESTEIN, 2007).
Para realizar a pendura ou suspensão pelos
pés nos ganchos da nórea, os funcionários devem
ser treinados, de forma a executar esta atividade
com rapidez, mas com cuidado para garantir a
segurança dos animais, minimizando o estresse.
Este procedimento deve evitar dor, agitação, lesões e contusões. Para tanto, as aves nunca devem
ser retiradas das caixas pela cabeça, asas ou penas; deve haver um parapeito no decorrer da nó-
66
Atordoam-se as aves por razões humanitárias,
pela qualidade do produto final e por segurança.
Este procedimento induz a ave a uma inconsciência à dor e ameniza o estresse durante o sacrifício
e sangria, imobilizando e evitando, convulsões
e contusões (PFEILSTICKER, 2008). É uma etapa
importante do processo tanto para o bem-estar
animal quanto para qualidade das carcaças e dos
cortes. Ao fazê-lo de maneira adequada, estas
reduzem as intensas contrações musculares e
adquirem um estado de insensibilidade à dor do
corte da sangria, posicionando-se com o pescoço arqueado, asas coladas ao corpo, e dedos
das patas distendidos, a chamada fase tônica,
facilitando e tornando mais seguro o manuseio
pelos sangradores ou assegurando a uniformidade no posicionamento de entrada e percurso
do sangrador automático (CURSO..., 2010). Com
este processo, por obter melhor relaxamento
muscular, ocorre a liberação de grande volume
de sangue na sangria.
Com o objetivo de evitar a dor e o sofrimento
das aves, o Mapa criou a Instrução Normativa nº
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
13, de 17 de janeiro de 2000, que regulamenta
todos os métodos permitidos para a insensibilização no abate humanitário. Todos os estabelecimentos destinados ao abate devem aplicar
a insensibilização imediata como etapa prévia
da sangria. Somente é permitido o sacrifício de
animais sem insensibilização prévia à sangria
em caso de a carne ser destinada ao consumo
por comunidade religiosa que faça tal exigência,
como o judaísmo ou islamismo.
Insensibilização elétrica ou
eletronarcose
Na década de 1950, as aves eram atordoadas
com faca eletrificada que, posteriormente, foi
abandonada por questões de inadequabilidade e
de segurança operacional. Na década de 1960, entraram em operação os primeiros atordoadores de
cuba de água, precursores do processo atual que
ficaram sem sofrer modificações por quase 20 anos.
Essas somente vieram a ocorrer no final dos anos
1980, com incorporações de mecanismos de ajustes na altura e no uso de variadores de frequência,
entre outros (NUNES, 2007).
A eletronarcose é um método reversível, comumente utilizado pelos abatedouros. As aves são
suspensas na nórea e levadas à insensibilização, em
que ocorre a imersão da cabeça e parte do pescoço,
por 7 segundos, num tanque contendo água salobra para melhorar a condutividade da eletricidade.
A condução da corrente elétrica na ave promove
epilepsia, que dá-se pela propagação do estímulo
elétrico, provocando despolarização imediata da
célula neuronal, impedindo que haja tradução do
estímulo da dor, provocado pela incisão na sangria
(MONTEIRO, 2007).
O choque é do tipo corrente alternada, e é de extrema importância manter o nível de água da cuba,
para que não ocorra das aves menores não passarem pela imersão ou conseguirem erguer a cabeça
(PFEILSTICKER, 2008).
Para o atordoamento três fatores físicos
devem ser levados em consideração: a corrente
(mA), a voltagem (V ) e a resistência (Ohms). Estes três são relacionados na seguinte fórmula:
Corrente = Voltagem/ resistência (neste caso, a
resistência da ave). Em geral é recomendada a
corrente de 120 mA para atordoar as aves, para
tanto, em função da resistência da ave (quanto
maior a ave, maior a resistência) é definida a
voltagem. A corrente elétrica é definida pela
frequência, sendo preconizado o uso de altas
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
frequências (aproximadamente 600 Hertz) para
a insensibilização, uma vez que baixas frequên­
cias (aproximadamente 50 Her tz) podem
acarretar a parada cardíaca e a morte das aves.
Segundo Sarcinelli et al. (2007) e Pfeilsticker
(2008) a eletronarcose não deve promover a
morte das aves, e deve estar adequada às normas de bem-estar animal.
Para que a corrente elétrica recebida na cuba
de insensibilização passe pelo corpo do animal,
os ganchos que prendem as pernas das aves estão
em contato com um fio-terra. Uma prática comum
para diminuir a resistência é molhar os ganchos
onde as aves estão presas.
A insensibi1ização por eletronarcose é um
método eficiente e de baixo custo de aquisição.
Entretanto, quando realizada de forma inadequada,
diminui a eficiência da sangria e pode, também,
inibir parcialmente as reações bioquímicas post
mortem, atuando na maciez do peito (SARCINELLI
et al., 2007).
Sangria
A sangria, manual ou mecânica, deve ocorrer
imediatamente após a insensibilização, mas o
tempo pode ser variável em função da frequência (hertz) utilizada na cuba de insensibilização.
Acima de 100 Hertz no máximo em 10 segundos
e abaixo no máximo em 20 segundos (CURSO...,
2010). A manual é feita com facas apropriadas. A
mecânica é feita direcionando-se a cabeça da ave
para lâminas circulares ou facas acionadas também por meios mecânicos. É importante evitar o
rompimento da traquéia e o corte das vértebras
(ocorrida principalmente em operações ma­nuais),
para não obstruir a respiração e a sangria ser eficiente. Dessa forma, o ajuste da profundidade do
corte, enfatizando a sangria mecânica, deve ser
observado. Deve-se assegurar no corte que as
duas artérias carótidas tenham sido cortadas para
a morte e sangramento mais rápidos.
O tempo de sangria preconizado pelo SIF é de 3
minutos, sendo considerado que nos primeiros 40
segundos, 80% do sangue é liberado e, no intervalo,
entre 1 e 2 minutos e meio, todo o sangramento estaria
completado. Se a sangria ultrapassar o limite de 3 minutos a depenagem será prejudicada, pois as aves estarão
aprisionando as penas pelos folículos devido ao estado
de rigor mortis (ROÇA, 2004; CUNHA NETO, 2007).
A completa sangria é de extrema importância,
tanto para a boa apresentação da carcaça que
será de cor clara quanto para a boa qualidade mi-
67
Produção avícola
crobiológica dela, caso contrário, seu destino será
a graxaria.
Considerações Finais
As boas práticas de manejo, levando-se em
consideração o bem-estar animal, e as instalações
adequadas garantem o produto final e facilitam o
trabalho dos operadores, tornando os abatedouros
mais eficientes para produzir com qualidade.
O manejo inadequado produz hematomas,
lesões, fraturas e contusões; a ausência de conforto térmico causa aumento do estresse e de
morte, e a insensibilização ou a sangria inadequada causam dor intensa e sofrimento desnecessários. Com a redução do estresse no manejo
das aves diminui-se a incidência de defeitos de
qualidade, como a carne pálida e a ponta de asa
vermelha.
Referências Bibliográficas
BARBOSA FILHO, J. A. D.; VIEIRA, F. M. C.;
SILVA, I. J. O.; GARCIA, D. B.; SILVA, M. A. N.;
FONSECA, B. H. F. Transporte de frangos:
caracterização do microclima na carga
durante o inverno. Revista Brasileira de
Zootecnia, v. 38, n. 12, p. 2442-2446, 2009.
CASTILHO, C. J. C.; RUIZ, J. N. Manejo préabate, operações de abate e qualidade de
carne. In: CONFERÊNCIA FACTA 2010 DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 2010, Santos. Anais. Santos: FACTA, 2010. p. 171-190.
CONY, A. V.; ZOCHE, A. T. Manejo de frangos
de corte. In: MENDES, A. A.; NAAS, I. A.; MACARI, M. Produção de frangos de corte.
Campinas: FACTA, 2004. p. 118-136. Cap. 8.
CUNHA NETO, O. C. Tecnologia de Produtos
de Origem Animal. Universidade do Estado
de Santa Catarina, 2007. Material de Apoio.
CURSO de formação de auditor interno
em bem-estar de aves. Produção de WSPA.
Campinas: São Paulo, 2010. 1 CD-Rom.
LACY, M. P.; CAZRICK, M. Mechanical harvesting of broilers. Poultry Science, v. 77, p.
1794-1797, 1998.
LEANDRO, N. S. M.; ROCHA, P. T.; STRINGHINI,
J. H.; SCHAITL, M.; FORTES, R.M. Efeito do
tipo de captura dos frangos de corte sobre
a qualidade da carcaça. Ciência Animal
Brasileira, v. 2, n. 2, p. 97-100, jul./dez. 2001.
LUDTKE, C. B.; VILELA, J. A.; COSTA, A. D.
Abate humanitário de aves. In: WORKSHOP
DE BIOÉTICA E BEM-ESTAR APLICADOS
AOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO, 2. 2009, Nova
Odessa. Anais... Nova Odessa: Instituto de
Zootecnia, 2009.
MAY, J. D.; LOTT, B. D.; DEATON, J. W. The
effect of light and environmental temperature on broiler digestive tract contents after
feed withdrawal. Poultry Science, v. 69, p.
1681-1684, 1990.
MENDES, A. A. Jejum pré-abate em frangos
de corte. Revista Brasileira de Ciẽncia
Avícola, v. 3, n. 3, 2001.
MONTEIRO, J. M. C. Desempenho, composição da carcaça e características de qualidade da carne de suínos de diferentes
genótipos. 2007. 110 f. Tese (Doutorado) –
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal.
NIJDAM, E. The broiler´s last day of life:
influences of feed withdrawal, catching
and transport on physiology and losses
of broilers. 2006. 105 p. Tese (Doutorado).
Universidade de Utrecht, Holanda.
ROÇA, R. O. Abate de aves. Botucatu: Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial/UNESP, 2004. Apostila. Disponível
em: <http://dgta.fca.unesp.br/carnes/
Artigos%20Tecnicos/Roca104.pdf>. Acesso
em 30 nov. 2010.
ROSA, P. S.; AVILA, V. S. de; JAENISCH, F. R. F.
Restrição alimentar em frangos de corte:
como explorar suas potencialidades.
Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2000.
4 p. (Embrapa Suínos e Aves. Comunicado
Técnico, 250).
SARCINELLI, M. F.; VENTURINI, K.; SILVA, L. C.
Abate de Aves. Boletim Técnico-PIE-UFES,
00607, 2007. Disponível em: <http://www.
agais.com/telomc/b00607_abate_frandodecorte.pdf>. Acesso em 30 nov. 2010.
SCHELESTEIN, A. Avaliação das causas de
condenações de perus (meleagris gallopavo) em 2005 e 2006 no estado do Rio Grande
do Sul. 2007. 75 p. Dissertação (Mestrado em
Medicina Veterinária) - Universidade Federal
de Santa Maria, Santa Maria.
NUNES, F. Atordoamento é qualidade e
rendimento. Aveworld, 2007. Disponível em:
<http://www.aveworld.com.br/aveworld/
artigos/post/atordoamento-e-qualidade-erendimento_1361>. Acesso em: 30 nov. 2010.
SCHERER FILHO, M. W. Análise dos fatores
que influenciam na condenação de carcaças inteiras de frango (Griller). 2009. 53
f. Monografia (Bacharelado em Engenharia
de Alimentos) - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
PFEILSTICKER, M. F. Z. Abate de patos e marrecos. 2008. 43 f. Monografia (Pós graduação) – Universidade Castelo Branco, Instituto
de Pós Graduação Qualittas, Campinas.
UNIÃO BRASILEIRA DE AVICULTURA, 2008.
Protocolo para bem-estar de frangos e perus.
Disponível em: <http://www.uba.org.br.>.
Acesso em: 30 nov. 2010.
Dados dos Autores
Fernando de Castro Tavernari
Zootecnista, CRMV-SC nº 188ZP, Pesquisador da
Embrapa Suínos e Aves
E-mail: [email protected]
Luiz Fernando Teixeira Albino
Zootecnista, CRMV-MG nº 0018/Z, Professor da Universidade Federal de Viçosa
Wagner Azis Garcia de Araújo
Zootecnista CRMV-MG nº 155/Z
68
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
saúde da família
NASF: DO ABSTRATO
AO CONCRETO
O QUE É O NASF e como é
composto?
O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf )
é constituído por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento,
que devem atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais das Unidades de Atenção
Básica, compartilhando as práticas e saberes em
saúde nos territórios sob responsabilidade dessas equipes.
Os Nasf devem contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do Sistema Único de
Saúde (SUS), como processo de trabalho, principalmente no tocante ao aumento da capacidade
de análise e de intervenção sobre problemas e
necessidades de saúde, em termos sanitários e ambientais dentro dos territórios.
Poderão compor os Nasf 1 e 2 as seguintes ocupações do Código Brasileiro de Ocupações (CBO):
Médico Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor de Educação Física; Farmacêutico;
Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Médico Ginecologista/Obstetra; Médico Homeopata; Nutricionista;
Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra;
Terapeuta Ocupacional; Médico Geriatra; Médico
Internista (clínica médica), Médico do Trabalho,
Médico Veterinário, profissional com formação em
arte e educação (arte-educador) e profissional de
saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado
na área de Saúde, com pós-graduação em saúde
pública ou coletiva, ou graduado diretamente em
uma dessas áreas.
COMO SERÁ DEFINIDA A
COMPOSIÇÃO DAS EQUIPES
DO NASF? TODOS OS
PROFISSIONAIS LISTADOS
NA POR TARIA TERÃO
GARANTIA DE ATUAÇÃO
NO NASF?
Não. A composição de cada um dos NASF será definida pelos gestores municipais, seguindo os critérios
de prioridade identificados a partir dos dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de
saúde que serão apoiadas.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
QUAL A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO
DO MÉDICO VETERINÁRIO NO ROL DE
PROFISSÕES QUE PODEM COMPOR O
NASF?
Concretiza o reconhecimento da Medicina Veterinária como profissão da área de Saúde (Resolução
do Conselho Nacional de Saúde - CNS nº 287/1998)
pelo Ministério da Saúde, mostrando o fundamental
e importante papel desse profissional na construção
da Atenção Básica no SUS.
A publicação da Portaria GM/MS n° 2.488, de 21
de outubro de 2011, que aprova a Política Nacional
de Atenção Básica para o SUS, e que inclui a Medicina
Veterinária no Nasf, faz justiça a uma classe profissional que trabalha em prol da saúde pública brasileira
há muitos anos.
O Sistema Único de Saúde, criado a partir de
1990, vem sendo construído ao longo dos anos e
a criação dos Nasf/ESF, em 2008, inicialmente não
incluiu o Médico Veterinário nas profissões possíveis
de compor o Nasf. Tal fato fez com que a Comissão
Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho
Federal de Medicina Veterinária (CNSPV/CFMV), trabalhasse desde a criação do Nasf/ESF até a profissão
ser contemplada na nova Portaria GM/MS n° 2.488,
de 21 de outubro de 2011.
COMO FAÇO PARA
PARTICIPAR DO NASF?
Como citado anteriormente, a Portaria GM/MS N°
2.488, de 21 de outubro de 2011, por si só não garantirá aos profissionais elencados a participação, uma
vez que a composição dos Nasfs será feita a partir dos
dados epidemiológicos, das necessidades locais e das
equipes de saúde que serão apoiadas nos territórios.
Nesse momento, é fundamental um intenso trabalho
de divulgação do papel do Médico Veterinário na
Saúde Pública, para gestores públicos da área, bem
como para as comunidades envolvidas. Vários atores
deverão participar desse processo, quais sejam: Sistema CFMV/CRMVs, Sindicatos, Associações e o próprio Médico Veterinário, principalmente em nível de
Conselhos Municipais de Saúde, instância local onde
ocorrem as discussões e decisões das Políticas Públicas
de Saúde. Portanto, a busca por esse novo espaço profissional é um trabalho que envolve a todos.
69
saúde da família
COMO SERÁ A ATUAÇÃO DO MÉDICO
VETERINÁRIO NO NASF?
As atribuições do Médico Veterinário no Nasf estão
sendo construídas, haja vista ser uma nova área
de atuação da profissão.
Dentro da construção dessas atribuições, algumas contribuições e proposições da CNSPV/CFMV em consonância com o Diretoria de Atenção
Básica da Secretaria de Atenção de
Saúde do Ministério da Saúde (DAB/
SAS/MS) estão descritas a seguir:
O Nasf organizará o seu processo
de trabalho, com foco nos territórios de
sua responsabilidade, conjuntamente com as
equipes de Saúde da Família que a ele se vinculam de
forma a priorizar:
a. Ações clínicas compartilhadas para uma intervenção interdisciplinar, com troca de saberes, capacitação e responsabilidades mútuas, gerando experiência para ambos os profissionais envolvidos. Com
ênfase em estudo e discussão de casos e situações,
espaços de reuniões, bem como consultas e intervenções conjuntas, apoio por telefone, e-mail etc.
b. Intervenções específicas do profissional do Nasf
com os usuários e/ou famílias, com discussão e
negociação a priori com os profissionais da equipe de Saúde da Família responsáveis pelo caso, de
forma que o atendimento individualizado pelo
Nasf se dê apenas em situações extremamente
necessárias, e quando ocorrer, continuar mantendo contato com a equipe de Saúde da Família, que
não se descomprometeria com o caso;
c. Ações compartilhadas nos territórios de sua
responsabilidade, desenvolvidas de forma articulada com as equipes de Saúde da Família. Como,
por exemplo, o desenvolvimento do projeto de
saúde no território com foco nas questões de
vulnerabilidade dos indivíduos frente a animais e
demais riscos ambientais nos territórios, planejamentos, apoio aos grupos, trabalhos educativos,
de inclusão social, enfrentamento da violência,
ações junto aos equipamentos públicos, como
escolas, creches, igrejas, pastorais etc., no intuito
de fortalecimento das Redes de Atenção e Cuidados do SUS. O território é um conjunto de sistemas
naturais e artificiais que engloba indivíduos e
instituições, independentemente de seu poder.
Deve ser considerado em suas divisões jurídicas e
70
políticas, suas heranças históricas e seus aspectos
econômicos e normativos. É nele que se processa
a vida social e nele tudo possui interdependência,
acarretando no seu âmbito a fusão entre o local
e o global. Como decorrência, as equipes de
Saúde da Família precisam conhecer a realidade do território em suas várias dimensões, identificando as suas fragilidades e
possibilidades, figurando-a como algo
vivo e dinâmico.
AÇÕES DO MÉDICO
VETERINÁRIO NOS TERRITÓRIOS
ATENDIDOS PELO NASF:
√Visitas domiciliares para o diagnóstico de riscos
envolvendo o homem, os animais e o ambiente;
√ Prevenção, controle e diagnóstico situacional
de riscos por doenças transmissíveis por animais vertebrados e/ou invertebrados (raiva,
leptospirose, brucelose, tuberculose, leishmanioses, dengue, febre amarela, teníase/cisticercose etc.), e outros fatores determinantes
do processo saúde e doença;
√Educação em saúde com foco na promoção, prevenção e controle de doenças de caráter antropozoonótico e demais riscos ambientais, incluindo
desastres naturais e provocados pelo homem;
√ Desenvolver ações educativas e de mobilização contínua da comunidade, relativas
ao controle das doenças/agravos na área de
abrangência, no uso e manejo adequado do
território com vistas à relação saúde/ambiente (desmatamentos, uso indiscriminado de
medicamentos veterinários entre outros);
√Estudos e pesquisa em saúde pública que favoreçam a territorialidade e a qualificação da atenção;
√ Cuidado com os resíduos sólidos;
√Ações de educação em saúde nas escolas,
divulgação nos meios de comunicação e
sensibilização às comunidades e sociedade
organizada e não organizada;
√ Prevenção e controle de doenças transmissíveis por alimentos;
√ Dar respostas às emergências de saúde pública e
eventos de potencial risco sanitário nacional de
forma articulada com os setores responsáveis;
√Identificação e orientações sobre os riscos
de contaminação por substâncias tóxicas
(agrotóxicos, pesticidas e inseticidas de
uso veterinário).
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Agência Plá
√Elaborar estratégias de comunicação e educação para divulgação e sensibilização das
atividades dos Nasf;
√Elaborar projetos de prevenção de doenças
e promoção à saúde, por meio de discussões
periódicas em equipe, realizando ações interdisciplinares e desenvolvendo a responsabilidade compartilhada.
Referências Bibliográficas
Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento. Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica. Diretrizes do Nasf. Núcleo de Apoio à Saúde da Família.
Série B. N° 27. Editora MS: Brasília/DF. 2009.166p.
Apoio às equipes de saúde:
√ Discussão de casos específicos: prevenção
e controle de doenças transmissíveis por
alimentos, animais e alterações ambientais
provocadas pelo homem e desastres naturais;
√Visitas domiciliares sempre que relacionadas
às casuísticas que envolvam intersecções entre saúde animal e humano;
√Orientações de caráter preventivo e auxílio em
casos de acidentes com animais peçonhentos;
√Identificar emergências epidemiológicas de potencial zoonótico, de modo contínuo e sistemático;
√ Participação em conjunto com todos os
componentes da equipe no planejamento,
monitoramento e avaliação das ações desenvolvidas pelo programa.
Campo comum de atuação entre a
Zoonose e o Médico Veterinário no NASF:
√Identificação e controle de vetores e pragas do
território e domicílios;
√Identificação e controle de animais sinantrópicos;
√Identificação e controle de animais peçonhentos (ofídismo identificação).
Brasil. Ministério de Estado da Saúde. Cria os Núcleos de Apoio
à Saúde da Família – Nasf. Portaria nº 154, 24/01/2008.
Brasil. Ministério de Estado da Saúde. Política Nacional de
Atenção Básica, estabelecendo a revisão de Diretrizes e
Normas para a Organização de Atenção Básica, para estratégia Saúde Família e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Portaria nº 2.488, de 21/10/2011.
CNSPV/CFMV – Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinário do Conselho Federal de Medicina Veterinária. O Médico
Veterinário, a Estratégia de Saúde da Família e o Nasf. Revista
CFMV, N. 48, p. 9-14, 2009.
Dados dos Autores
Comissão Nacional de Saúde Pública
Veterinária (CNSPV) do CFMV
Paulo César Augusto de Souza
MédicoVeterinário, CRMV-RJ nº 1645 (Presidente)
E-mail: [email protected]
Aurélio Belém de Figueiredo Neto
Médico Veterinário, CRMV-SE nº 0036
Celso Bittencourt dos Anjos
Médico Veterinário, CRMV-RS nº 1664
Lúcia Regina Montebello Pereira
Atuação comum de todos os
profissionais do NASF:
√Identificar em conjunto com a ESF e comunidade: as atividades, as ações e as práticas a
serem desenvolvidas em cada uma das áreas
de responsabilidade;
√Atuar de forma integrada e planejada nas atividades desenvolvidas pela ESF;
√ Desenvolver coletivamente ações que se integrem a outras políticas: educação, esporte,
cultura, trabalho etc.;
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Médica Veterinária, CRMV-PI nº 0199
Marcelo Jostmeier Vallandro
Médico Veterinário, CRMV-RS nº 7715
Roberto Francisco Lucena
Médico Veterinário, CRMV- RS nº 4716
Sthenia dos Santos Albano Amora
Médica Veterinária, CRMV-RN nº 0710
71
Legislação e sociedade
Fotos: Flávia Tonin
As políticas públicas, a
sociedade e o bem-estar de
animais de produção
INTRODUÇÃO
Bem-estar refere-se a aspectos da vida do animal
que contemplam seu corpo, sua mente e sua natureza
ou suas necessidades, seus interesses e suas adaptações. O tema perpassa toda a cadeia produtiva, do
nascimento ao abate, e revela-se na qualidade dos
produtos e nas preferências do consumidor (HoetBem-estar animal:
zel, 2005).
O bem-estar animal implica a criação agroEstados naturais, mentais e físicos: referem-se à
ecológica,
que no Brasil está regulamentada
saúde física, mental e à capacidade dos animais de agir
pela
Instrução
Normativa nº 7, de 17/5/1999.
naturalmente.
Atualmente,
a
legislação
brasileira é mais comAs cinco liberdades: livre de fome e sede, do medo e
pleta, como se verifica na Instrução Normativa
da angústia, do desconforto, da dor e ter condições para
expressar seu comportamento natural.
do Ministério da Agricultura, Pecuária e AbasAtendimento as necessidades: exigências da biologia do
tecimento (Mapa) nº 46, de 6/10/2011. Nesta IN,
animal para obter recursos ou respostas particulares a um
dentre as orientações da produção orgânica, é
estímulo corporal ou ambiental específico.
esclarecido que a promoção da saúde animal
(Broom & Johnson, 1993)
deve ser buscada com estratégias preventivas,
manejo fitossanitário da propriedade e adoção
das normas de bem-estar animal.
A Comunidade Europeia incluiu um protocolo soA legislação da União Europeia sobre produtos
bre proteção e bem-estar animal e, desde 1997, recoorgânicos é considerada a mais completa no munnhece que os animais são seres sensitivos (EC, 1997).
do, e pode ser utilizada como referência (Council
Regulation, EC nº1.804/1999),
especialmente nos casos em que
a legislação brasileira é omissa
A Senciência ou sensitividade animal:
(Machado Filho et al., 2001).
√ consciência do ambiente ao seu redor.
O Mapa considera que o co√ dimensão emocional.
nhecimento do comportamento
√ consciência do que está acontecendo com eles.
animal e o uso de estratégias de
√ capacidade de aprender por experiência.
manejo racional podem assegu√ consciência de sensações corporais: dor, fome, calor, frio etc.
rar o bem-estar animal e gerar
√ consciência de suas relações com outros animais.
ganhos diretos e indiretos na
√ capacidade de escolher entre diferentes animais, objetos e situações.
produtividade e qualidade do
produto final. O manejo inadeBem-estar significa não só controle da dor e do
sofrimento, mas a satisfação e a realização da natureza do animal (Fraser & Boom, 2003).
72
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
LEGISLAÇÃO
Produção agro ecológica:
No Brasil, com a promulgação
dos
decretos de Defesa Sanitária
√ superior à convencional em termos ambientais, energético, de
Animal
e Vegetal, foram instituciobem-estar animal.
nalizadas
as normas de bem-estar
√ menor dependência de insumos externos e menor impacto social e
animal pelo Decreto-Lei nº 24.645,
cultural.
de 10 de julho de 1934.
√ tipo de produção que deve interessar a toda a sociedade como
Em seu art. 1º, o decreto define
regra, e não como exceção ou “nicho”.
que todos os animais existentes no
País são tutelados do Estado e nos
demais artigos define com clareza
quado, além de causar estresse e sofrimento, afeta,
o que é considerado “maus-tratos” no sistema de
por exemplo, a qualidade da carne em fatores como
criação e estabelece as exigências para o trânsito,
cor, pH, consistência e tempo de prateleira, além de
comercialização e abate dos animais. No art. 10 são
reduzir significativamente o rendimento de carcaestabelecidas as penalidades e fica esclarecido que
ça, devido à incidência de hematomas e contusões.
são passíveis de multa e prisão os proprietários de
Outros cuidados como dieta, condições higiênicas
animais e os que tenham sob sua guarda ou uso,
e instalações adequadas, saúde animal, devem ser
desde que consintam atos não permitidos no deobservados e praticados pelo produtor rural. No
creto. Demonstra avanço no relacionamento com
manejo pré abate, os cuidados precisam ser intensia sociedade em seu art. 16, pois determina que as
ficados, pois, nesse período os animais são expostos
autoridades federais, estaduais e municipais presa ambientes adversos, como transporte, ambiente
tarão aos membros das sociedades protetoras de
desconhecido e contato com animais diferentes.
animais a cooperação necessária para fazer cumprir
a presente lei, no que se refere aos maus-tratos.
Legislação de bem-estar animal no Brasil :
√
√ Decreto nº 24.645, de julho de 1934, estabelece
Medidas de Proteção Animal, Brasil, 1934.
√ D ecreto nº 30.691, de 1952. Aprova o novo
regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
Produtos de Origem Animal, Brasil, 1952.
√ Instrução Normativa nº 3, de 17 de janeiro de 2000,
do Secretário de Defesa Agropecuária. Aprova e
padroniza os Métodos de Insensibilização para
o Abate Humanitário e estabelece os requisitos
mínimos para a proteção dos animais de açougue
e aves domésticas, bem como os animais silvestres
criados em cativeiro, antes e durante o abate, a fim de
evitar a dor e o sofrimento, Brasil, 2000.
√ Po r ta r i a nº 1 8 5 , d o M i ni s t ro d a Agr icultur a,
Pecuária e Abastecimento, de 17 de março de
2008, instituiu a Comissão Técnica Permanente
de Bem-estar Animal do Mapa, cujo objetivo é
coordenar as diversas ações de bem-estar animal
do M inistério e fomentar a adoção das Boas
Práticas para o Bem-Estar Animal nas diferentes
áreas da cadeia pecuária, Brasil, 2008.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, estabelece os
procedimentos para o uso científico de animais e cria
o Conselho Nacional de Controle de Experimentação
Animal – Concea, Brasil, 2008b.
√ Instrução Normativa nº 56, do Ministro da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, de 6 de novembro de 2008,
estabelece procedimentos gerais de Boas Práticas de
Bem-Estar para Animais de Produção e de Interesse
Econômico – Rebem, abrangendo os sistemas de
produção e o transporte, 2008c.
√
Instrução Normativa nº 64, do Ministro da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, de 18 de dezembro de
2008. Aprova o Regulamento Técnico para os Sistemas
Orgânicos de Produção Animal e Vegetal, que no art.
2º aprova as listas de Substâncias Permitidas para
uso nos Sistemas Orgânicos de Produção Animal e
Vegetal, Brasil, 2008d.
√ Decreto nº 6.899, de 15 de julho de 2009. Define a
composição do Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (Concea), estabelece as
normas para o seu funcionamento e da sua secretaria
executiva, cria o Cadastro das Instituições de uso
científico de Animais (Ciuca), Brasil, 2009.
73
Legislação e sociedade
Legislações de criação agroecológica
envolvendo o bem-estar animal:
√ Instrução Normativa do Ministro da Agricultura
nº 7, de 17 de maio de 1999 – Estabelece as
normas de produção, tipificação, processamento,
envase, distribuição, identificação e certificação
da qualidade para os produtos orgânicos de
origem vegetal e animal. Considera como sistema
orgânico de produção agropecuária e industrial,
os que adotam tecnologias que aperfeiçoam
o uso de recursos naturais e socioeconômicos,
respeitando a integridade cultural e tendo por
objetivo a autossustentação, a maximização dos
benefícios sociais, a minimização da dependência
de energias não renováveis e a eliminação do
emprego de agrotóxicos e outros insumos
artificiais tóxicos, de organismos geneticamente
modificados (OGM/transgênicos), ou radiações
ionizantes em qualquer fase do processo
de produção, armazenamento e consumo,
privilegiando a preservação da saúde ambiental e
humana.
√ IN nº 46, de 6 de outubro de 2011, do Ministro da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Estabelece
o Regulamento Técnico para os Sistemas Orgânicos
de Produção Animal e Vegetal e as listas de
substâncias permitidas para uso nos Sistemas
Orgânicos de Produção. Define que se deve
promover prioritariamente a saúde e o bem-estar
animal em todas as fases do processo produtivo
com a adoção de técnicas sanitárias e práticas de
manejo preventivas.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE,
Office Internacional des Epizooties) refere ao sacrifício sanitário em febre aftosa no caso de foco. As
normas orientam as ações de sacrifício sanitário, e
exigem que estejam descritas, nos planos de emergência, já aprovados e que sejam do conhecimento
da comunidade-alvo, antes de sua execução (OIE,
2007). Orientações semelhantes constam em outras
doenças animais sujeitas ao sacrifício sanitário, em
seu controle ou erradicação.
Legislações Internacionais /
Novas Exigências
A OIE em 2005, por meio do Código de Bem-Estar
Animal, apresentou as normas para o abate de ani-
74
Legislações brasileiras de sacrifício
sanitário relacionadas ao bem-estar
animal:
√ Lei nº 569, de 21 de dezembro de 1948. Autoriza o
sacrifício sanitário de animais para salvaguardar a
saúde pública ou por interesse da Defesa Sanitária
Animal.
√ Decreto nº 51.838, de 14 de março de 1963.
Refere-se ao Ministério da Saúde. Norma Técnica
Especial para o Combate às Leishmanioses,
quando se determina o sacrifício dos animais
doentes como medida de Saúde Pública.
√ Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998: Lei de
Crimes Ambientais – refere ao bem-estar da fauna
silvestre e estabelece penalidade.
mais, o descarte de animais no controle de doenças
e o transporte de animais. Essa atitude induziu a uma
importante mudança na política publica de saúde
animal nos países-membros.
Acrescem-se aos argumentos de bem-estar, o conhecimento e a constatação do ponto de vista mercadológico de que a melhoria no bem-estar animal
pode resultar em maior produtividade e qualidade
no produto final. Para sua implantação como política
pública, alguns aspectos se tornam imprescindíveis,
como: a qualificação e capacitação dos profissionais
e a pronta adoção dos procedimentos operacionais,
que necessitam estar escritos sob a forma de Ma­
nuais Operacionais.
De acordo com Capárroz (2010), na União Européia, a legislação, que possui mais de 30 anos, tem
possibilidade de exigir padrões mínimos para as
instalações rurais, o transporte e o abate de animais;
para práticas agrícolas com animais e produtos consumidos e alto padrão de bem-estar e proteção, com
a mesma exigência nos importados.
Como componente da sociedade civil, as organizações não governamentais estão empenhadas em
acompanhar o impacto do comércio internacional, no
desenvolvimento social e nas políticas públicas dos países. O Eurogroup for Animals, por exemplo, estabelece
que devem ser respeitados os valores da sociedade,
entre os quais o respeito ao bem-estar animal. O aperfeiçoamento das normas de bem-estar para os animais
de trabalho, de produção, de companhia e de animais
silvestres contribuirá para o bem-estar da humanidade,
especialmente em países em desenvolvimento.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
O tratamento que a União Européia vem dando
ao tema demonstra exigências em relação ao comércio internacional. A Diretiva 98/58/EC, exigiu
que a Comissão Européia preparasse um relatório
comparando a legislação da UE com a de outros
países, avaliando até que ponto o não seguimento
dos princípios da Comunidade Européia poderiam
prejudicá-la, pela competição por parte de países
não signatários (EC, 1998, 2002).
No encontro ministerial da OMC em Seattle, Estados Unidos, em 2000, a União Européia submeteu
um documento indicando claramente que considera
bem-estar animal tema-chave nas negociações de
comércio internacional. Medidas propostas incluem
o desenvolvimento de acordos multilaterais, rotulagem de produtos e compensações financeiras que,
segundo o documento, teriam efeitos mínimos na
produção e comércio (Hoetzel, 2005).
Na UE, as organizações sociais estão analisando o
impacto das regras comerciais sobre o meio ambiente
e as políticas sociais. Consideram que o alto padrão
dos produtos locais terá desvantagem quando comparado aos importados de países que desrespeitam as
regras de bem-estar animal. A União Européia oferta
recursos para atender os produtores que desejam
atingir alto padrão de bem-estar animal. O Eurogroup
for Animals apregoa que a OMC poderia promover o
bem-estar animal aplicando tarifas baixas ou nulas na
importação de produtos que estejam de acordo com o
atendimento às normas (Eurogroup, 2011).
Em recente reunião na União Europeia, os produtores questionaram se os consumidores pagarão um
preço maior por produtos oriundos de melhores práticas. Consideraram que não existe reconhecimento
dos esforços e investimentos de longo prazo que os
produtores da UE precisam fazer para cumprir esses
padrões. Solicitaram que a UE buscasse garantias
quando negociar acordos comerciais com países de
fora do bloco de que, os mesmos padrões aplicados
na UE sejam exigidos nas importações. Foi efetuada
uma pesquisa que mostrou que 47% dos compradores britânicos estão dispostos a pagar um preço extra
por produtos produzidos com padrões mais altos de
bem-estar animal.
Normas da OIE
A OIE como Organização Internacional de Referência para Saúde Animal, com 178 países-membros
tem o importante papel de elaborar as normas para o
comércio internacional de animais vivos e seus produtos derivados. Ao assumir a liderança na elaboração de
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
normas de bem-estar animal, o fez por solicitação dos
países-membros e por considerar que a saúde é um
componente básico do bem-estar-animal. Esses aspectos fizeram com que uma das prioridades do Plano
Estratégico da OIE para o período de 2001-2005 fosse
o bem-estar-animal. Em fevereiro de 2002, foi criado
um grupo de trabalho e suas primeiras recomendações foram adotadas no ano seguinte.
Os princípios gerais de bem-estar animal foram
incluídos na Edição 2004 do Código de Animais Terrestres. Em fevereiro de 2004, a OIE organizou a primeira Conferência Mundial sobre Bem-Estar Animal
dirigida aos Serviços Veterinários dos países-membros, aos produtores e aos atores do setor de carnes.
Foram envolvidos ainda veterinários e organizações
não governamentais.
A partir de maio de 2005, os delegados dos
­países-membros adotaram as sete diretrizes elaboradas e incluídas no Código Terrestre e duas normas incluídas no Código Sanitário para Animais Aquáticos.
Temas abordados nas diretrizes da OIE
(2005) sobre bem-estar animal:
√
√
√
√
√
√
√
√
Transporte de animais por via marítima.
Transporte de animais por via terrestre.
Transporte de animais por via aérea.
Sacrifício de animais para consumo humano.
Sacrifício de animais com fins profiláticos.
Controle das populações de cães de rua.
Utilização de animais na pesquisa e na Educação.
Bem-estar de peixes de cultivo durante o
transporte.
√ Aturdimento e matança de peixes de cultivo para
consumo humano.
Em 2008, na Segunda Conferência Mundial sobre Bem-Estar Animal, no Cairo, a OIE identificou a
necessidade de estabelecer ferramentas para ajudar
os paí­s es-membros a reforçar sua competência,
políticas públicas e infraestrutura para consolidar a
aplicação efetiva das normas (OIE, 2011).
Parcerias do Ministério da
Agricultura, Pecuária e
Abastecimento
Tendo em vista que organizações nacionais e
internacionais estabelecem critérios mínimos de
bem-estar dos animais de produção, o Ministério
75
Legislação e sociedade
da Agricultura como responsável pelo fomento de
ações que garantam o bem-estar animal, estabeleceu por meio da Secretaria de Desenvolvimento
Agropecuário e Cooperativismo (SDC), a coordenação da Comissão Técnica Permanente (criada pela
Portaria nº 185, de 17 de março de 2008) e parcerias
com diversas instituições e organizações.
Sob a forma de Manual foram publicadas as “Boas
Práticas de Manejo-Transporte. Trata-se de um Manual
Operacional de qualidade técnica, boa apresentação
e didático que refere desde os documentos necessários para o transporte, características dos veículos, o
embarque, a viagem, as situações de emergência até o
desembarque (www.grupoetco.org.br e www.pfizersaudeanimal.com.br e www.funep.org.br).
Foram elaborados vídeos pela WSPA: Abate Humanitário de Aves; Abate Humanitário de Suínos;
Abate Humanitário de Bovinos.
A publicação “Bem-estar Animal – O Brasil se importa” reúne resumo das principais legislações inerentes ao bem-estar animal, as ações desenvolvidas e
os principais acordos celebrados.
Exemplos de outros manuais e protocolos são: Boas
Práticas de Manejo de Bovinos de Corte (ETCO) Bezerros
ao nascimento; Vacinação; Embarque; Identificação;
Boas Práticas de Manejo de Bovino de Leite. Ordenha
Manual, Manejo, Bem-estar Animal (Marfrig). Protocolo
de bem-estar para Aves Poedeiras (Abef ). Protocolo
de bem-estar Animal de Poedeiras para as empresas
produtoras e indústrias processadoras de ovos do Brasil.
Protocolo de bem-estar de frangos e perus.
Percepções da sociedade e o
bem-estar animal
O Bem-estar-animal é responsável pela qualidade do produto final. O que tem início no sistema
76
de produção acompanha toda a cadeia produtiva
e termina na gôndola do supermercado, envolvendo a embalagem e a conservação. Verifica-se,
porém, que a maioria da população não tem percepção desse processo.
O sacrifício de animais acometidos por zoonoses ou eliminados no processo de erradicação
de doenças induz a reações da comunidade. O
impacto decorrente das medidas de erradicação
da peste suína africana no Brasil foi sem precedentes. A forma de apresentação da doença com baixa
mortalidade, na maioria dos focos, causou desconfiança entre os produtores e entre os médicos
veterinários (Lyra & Garcia, 1983).
A legislação preconiza o sacrifício sanitário
em zoonoses e nas doenças objeto de programas
de erradicação (Brasil, 1963), porém, não existe
um manual operacional que indique a forma mais
rápida, humanitária de realizá-lo e que seja isenta
de maus-tratos.
Pettres et al. (2007), em estudo realizado em
Jóia/RS, num surto de febre aftosa com o sacrifício
de 11.067 animais, principalmente do rebanho
leiteiro, verificaram que as repercussões sociais
concentraram-se na renda das famílias, pois houve uma ruptura prolongada nos modos de vida
no meio rural afetado. Verificou-se efeitos sobre
a saúde mental das pessoas, perda de renda e
alterações na economia local, bem como problemas de manejo e maus-tratos decorretes do uso
do rifle sanitário. Concluiu-se que a experiência
resulta em consequências traumáticas e duradouras e que aspectos sociais, éticos, ambientais, de
bem-estar animal e impacto em outras áreas da
economia não estão incluídos na política pública
de defesa sanitária.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Nos sacrifícios realizados no Brasil na erradicação da peste suína africana e no programa de
erradicação da febre aftosa observa-se que o impacto na comunidade está relacionado ao fato de
que o maior número de sacrifícios é realizado nos
animais sadios ou contatos. Esse aspecto justifica
plenamente a necessidade prévia da educação
sanitária.
Para Woods (2004), a legislação usada na Inglaterra para controlar a aftosa transformou a compreensão da doença em “a mais temida e uma das
piores pragas animais do mundo”, e seus métodos
de controle mais temidos que a própria doença.
A posição governamental de praticar o sacrifício na erradicação de uma doença como a febre
aftosa é válida e necessária, porém os aspectos
sociais dessa prática devem ser considerados. Por
Referências Bibliográficas
BROOM, D.M; JOHNSON, K.G. Stress and animal welfare.
London, 1993, 211p.
CAPÁRROZ, M. The international concept of animal welfare: an update. (Abiec), 2010.
CRISPIN, S.M.; ROGER, P.A.; O´HARE, H.; BINNS, S.H. The 2001
foot and mouth disease epidemic in the United Kingdom:
animal welfare perspectives. Rev. Sci. Tech. Off. Int. Epiz., 21
(3):877-883, 2002.
Eurogroup for animals. WTO Public Forum 2011 The Global
Trade Challenge of Animal Welfare. Briefing, September 2011.
FRASER, A. F; BROOM, D.M. Farm animal behaviour and
welfare. 3ed. 437p.
HÖTZEL, M.J. Bem-estar de animais zootécnicos: Aspectos
éticos, científicos e regulatórios. Trabalho apresentado para
Concurso Público de Títulos e Provas para Professor Adjunto
do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural do
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa
Catarina, 2005.
outro lado, a política de sacrifício deve ser imediata, o que depende da rapidez do diagnóstico.
Improta (2007), levantou dados sobre a percepção que a academia e os médicos veterinários
sanitaristas têm em relação às normas de bem-estar animal em Santa Catarina. Identificou que
os docentes percebem a importância do ensino de
etologia e BEA, considerando que devem ser ministrados de forma obrigatória e interdisciplinar.
Foi relatada a necessidade do engajamento dos
órgãos de classe e governamentais, da academia,
da pesquisa, da defesa sanitária, dos setores produtivos e associativos comunitários e da sociedade em geral. Os sanitaristas que participaram
do estudo consideraram a necessidade de uma
legislação específica que respalde suas ações e
formação profissional sobre o tema na graduação
e pós-graduação.
Considerações finais
Saúde animal, bem-estar animal, Serviços
Veterinários e a Academia devem ser tratados de
forma indissociada.
O Ministério da Agricultura deve manter as
parcerias, nos diversos níveis, considerando que
as legislações seguem um processo dinâmico; assim, necessitam ser constantemente atualizadas e
adequadas.
A capacitação dos profissionais e os programas
de treinamentos devem ser constantes e envolver
a Academia, permitindo o melhor entendimento e
aplicação dos dispositivos legais da legislação.
Dos planos emergenciais deve constar o Ma­
nual Operativo determinando o bem-estar animal
e reduzindo o impacto na população e nos meios
de comunicação das ações impostas.
IMPROTA, C.T.R. Normas de bem-estar animal: da academia
aos agentes sanitaristas. Dissertação. Mestrado, UFSC, 2007.
LYRA, T.M.P.; GARCIA, G.S. Impacto da ocorrência da peste
­suína africana no Brasil. Comun. Cient. Fac. Med. Vet. Zootec. USP, 6/7: 35-48, 1982-83.
MACHADO FILHO, L.C.P; SILVEIRA, M.C.A. C; HÖTZEL, M.J;
MACHADO. L.C.P. Produção agroecológica de suínos – uma
alternativa sustentável para a pequena propriedade no
Brasil. II Conferência Internacional Virtual sobre Qualidade
de Carne Suína, 5 de novembro à 2006 de dezembro de 2001.
PETTRES, B.M; MACHADO, L.C.P; HOTZEL, M.J; LYRA, T.M.P. Febre aftosa: impactos sociais sobre o bem-estar animal da
política de erradicação. Interthesis, UFSC, 4(2):2007.
WOODS, A. A manufactured plague – The history of foot
and mouth disease in Britain. Earthscan Publications, 2004.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Dados dos Autores
Tania Maria de Paula Lyra
Médica Veterinária, CRMV-DF nº 0116, Doutora
em Ciência Animal pela UFMG. Consultora em
Defesa Agropecuária
E-mail: [email protected]
Décio Coutinho
Médico Veterinário, CRMV-MT nº 0691, Consultor da
ConfederaçãodaAgriculturaePecuáriadoBrasil(CNA)
77
Publicações
PRODUÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS NO SEMIÁRIDO
Tadeu Vinhas Voltolini
Editora Embrapa
Tel.: (87) 3866-3734
Site: www.cpatsa.embrapa.br
O livro Produção de Caprinos e Ovinos no Semiárido
traz importantes informações sobre esta atividade, abordando questões como a alimentação dos animais, uso da
água, ambiente e instalações, manejos reprodutivo e sanitário, genética e melhoramento. Nele também é apresentada uma caracterização socioeconômica e ambiental da região e os principais sistemas de produção, além
das boas práticas na criação e aspectos relacionados a
produtos como a carne e o leite. A edição contou com a
colaboração de 62 autores de mais de 20 renomadas instituições nacionais, e teve o apoio do Banco do Nordeste
do Brasil (BNB), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae) e do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
GESTÃO DE EQUIPES RURAIS
Claudio José Ravanini
MidioGraf Gráfica e
Editora
E-mail: [email protected]
O livro possui um texto muito útil a quem já conhece
e também a quem quer conhecer o essencial a respeito
da gestão de pessoas no meio rural. O estilo não é acadêmico, trabalho com dados e fatos que conferem consistência técnica e prática. O autor utiliza opiniões embasadas na vivência diária com colaboradores, técnicos
e empresários do setor. Assim, a experiência e o conhecimento de quem se dedica, há anos, à atividade agropecuária permitem conclusões objetivas sobre o tema.
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE CONFINAMENTO
DE BOVINOS DE CORTE
Sebastião Silva
Aprenda Fácil Editora
Rua Dr João Alfredo, 130,
Ramos, Caixa Postal 01
36570-000 Viçosa – MG
www.afe.com.br ou
www.cpt.com.br
78
O livro tem por objetivo apresentar uma visão geral
da técnica de confinamento para criadores de bovinos
de corte, técnicos, extensionistas e estudantes de Ciências Agrárias para, num primeiro momento, poderem
avaliar a possibilidade de adotar, transmitir e se iniciar
no assunto e, então, procurar conhecimentos mais profundos. São apresentados sistemas de confinamento,
localização e infraestrutura de confinamento, manejo e
preparo dos animais e alimentos para o confinamento,
com indicações de alternativas para solucionar os problemas de ordem técnica e administrativa.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Agenda
Setembro
Novembro
XVII Congresso Brasileiro de Parasitologia
Veterinária
Data: 3 a 6 de setembro de 2012 Local: São Luís (MA)
Informações: www.cbpvcongresso.com.br
1º Simpósio Internacional de Atividades/
Terapia/ Educação Assistida por Animais
Data: 6 a 9 de setembro de 2012
Local: São Paulo (SP)
Informações: www.sintaa.com.br
X Congresso Brasileiro de
Cirurgia e Anestesiologia
Veterinária
Data: 1 a 4 de novembro de 2012
Local: Florianópolis (SC)
Informações:
www.cbcav2012.com.br
International Congress on Medical and
Applied Malacology
Data: 25 a 29 de setembro de 2012
Local: Rio de Janeiro (RJ)
Informações: www.icmam2012.com.br
Outubro
IV International Symposium on Animal
Biology of Reproduction (ISABR)
Data: 17 a 20 de outubro de 2012
Local: São Paulo (SP)
Informações: www.cbra.org.br/portal/eventos/isabr2012/isabr2012.htm
I Congresso Brasileiro de
Cardiologia Veterinária
Data: 2 a 4 de novembro de 2012
Local: São Paulo (SP)
Informações:
www.congressosbcv.com.br
5º Simpósio Internacional de Reprodução
Animal Aplicada
Data: 4 a 6 de outubro de 2012
Local: Londrina (PR)
Informações: www.geraembryo.com.br
XX Seminário Nacional de Ensino da
Medicina Veterinária
Data: 8 a 10 de Outubro de 2012
Local: Brasília (DF)
Informações: www.cfmv.gov.br
II Congresso Internacional
da Associação Brasileira de
Endocrinologia Veterinária
Data: 15 a 17 de novembro de 2012
Local: Búzios (RJ)
Informações:
www.ciabev.com.br
VEJA MAIS EVENTOS EM // www.cfmv.gov.br
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
79
Opinião
Arquivo CFMV
Um olhar sobre a Rio+20
Cláudia Scholten
Comissão Nacional de Meio Ambiente (CNMA ) do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV)
Doutoranda em Medicina Veterinária Preventiva Unesp – Jaboticabal
CRMV-SP nº 20045
Em tempos modernos, onde
a globalização atinge todos os
setores da sociedade, a Conferência das Nações Unidas sobre
o Desenvolvimento Sustentável
(Rio+20) chegou com sua imponência, não só pelo tamanho físico e quantidade de participantes,
mas pelas diversidades, cultural e
étnica, que são importantes para
a existência do caminhar da sustentabilidade. Todos os diferentes
têm que convergir seus pensamentos para o igual. Igual, pois se
luta por um mesmo ideal, ajudar o
planeta e as futuras gerações que clamam por existir.
Convivendo com pessoas de todas as nacionalidades, autoridades de países desenvolvidos e em
desenvolvimento, vi um querer, uma vontade de
caminhar mais longe, e para isso, é preciso caminhar
juntos, pois sozinho chega-se rápido, mas não longe
o bastante.
Vi também divergências de opiniões, discussões
calorosas, mas que na maioria das vezes culminaram
em acordos e concordâncias.
A cada sala em que entrava, observava pessoas
importantes discutindo e decidindo assuntos
igualmente importantes, os debates e às polêmicas
eram ressaltados a todo o tempo, mas era com bons
olhos que via essa situação, pois, assim, geravam-se
ideias, conclusões e troca de experiências com mais
intensidade.
80
Essa troca de experiências era o que mais se observava nos quatro temas de maior interesse para a Medicina Veterinária e Zootecnia, que seriam Florestas,
Água, Oceanos e Segurança Alimentar e Nutricional.
Um dos grandes temas era sobre Florestas, onde
as principais recomendações entre as dez sugeridas
eram: a redução de 150 milhões de hectares de desflorestamento e áreas degradadas até 2020 e a outra
era promover ciência, tecnologia, inovação e conhecimento tradicional para enfrentar o principal desafio das florestas: torná-las produtivas sem destruí-las.
Muitos debates paralelos surgiram em torno
desse tema, principalmente colocando a criação
de gado como vilã, ou uma das principais causas de
desmatamento. Vejo que temos que mudar esse cenário, mas isso envolve uma quebra de paradigmas,
pois somos os agentes transformadores do meio ambiente e temos que planejar o uso das nossas terras,
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
Arquivo Rio+20
Arquivo CFMV
Comissão Nacional de Meio Ambiente participa dos diálogos da Rio+20. No detalhe,
Cláudia Scholten e João Paulo R. de Miranda da CNMA
planejar o uso das águas e assim com um diagnóstico
e uma gestão ambiental de cada situação, fica mais
fácil mitigar os impactos ambientais advindos de
cada produção ou setor que nos envolve.
Sobre a temática Água, o que se ouvia dos painelistas era principalmente o acesso à água e ao
esgotamento sanitário. Particularmente, a Medicina
Veterinária e a Zootecnia têm peso quando discutimos esse valor, pois a primeira ordem de grandeza
é a dessedentação humana e depois a animal. Este
bem precioso, a água, deve ser vista em todos os
seguimentos dentro de nossa classe como um valor
maior, já que 70% de toda a água é utilizada na agricultura, cadeia a qual estamos intimamente ligados.
No tema Oceanos, as recomendações que
mais ressaltaram foram o desenvolver uma rede
global de áreas marinhas protegidas internacionalmente, e lançar um acordo global para salvar a
biodiversidade marinha e o mar. Assim, podemos
enxergar mais possibilidade de colaboração para
Médicos Veterinários.
E por fim, o tema Segurança Alimentar e Nutricional, que foi amplamente discutido pela indiana
Vandana Shiva, referência mundial envolvida com o
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 56 - 2012
movimento ambiental, discorrendo sobre os direitos e
acesso dos pequenos produtores rurais às tecnologias.
Alguns temas, como a pesca em larga e pequena
escala, também foram muito abordados, principalmente na interface com as mudanças climáticas e a
contaminação da água.
Ainda no segmento da segurança alimentar e nutricional, o fundador do programa Slow Food, Carlo
Petrini, citou que 54% de toda produção alimentar
vai para o lixo. Nós, Médicos Veterinários e Zootecnistas, devemos estar alertas, preocupados e envolvidos com o desperdício e resíduos produzidos.
Gostaria de ver tudo, o que foi dito e escrito no
Documento Final, mesmo que encarado pela maioria
como tímido, se tornasse ação imediata, pois a sustentabilidade dentro de qualquer área de atuação é
realidade e não modismo.
Reconhecendo a grandeza da Conferência das
Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável
(Rio+20) e considerando que, mais do que discutir os rumos do desenvolvimento sustentável para os próximos
20 anos, a Conferência vai deixar um legado para o Brasil
na área social e ambiental fazendo com que questões
levantadas tornem-se parte do dia a dia da população.
81
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Piauí – CRMV-PI
Endereço: Av. Joaquim Ribeiro, 1830 - Centro/Sul - Teresina-PI - CEP: 64.019-760
Fone: (86) 3222-9733 • Fax: (86) 3221-1688 • E-mail: [email protected]
Site: www.crmv-pi.org.br • Horário de funcionamento: 7h às 13h.
Diretoria Executiva
Presidente: Antonio Auro da Silva
CRMV-PI nº 0230
Vice-Presidente: Roseli Pizzigatti Klein
CRMV-PI nº 0137
Secretário-Geral: Fernando Aécio Amorim de Carvalho
CRMV-PI nº 0335
Tesoureiro: Airton Leôncio Dutra da Silva
CRMV-PI nº 0256
Vicente de Paula Fernandes Neto
CRMV-PI nº 0984
Ronaldo Sousa Santos
CRMV-PI nº 0184
Conselheiros Suplentes
Leonardo Atta Farias
CRMV-PI nº 0684
Stélio Bezerra Pinheiro de Lima
CRMV-PI nº 0049/Z
Conselheiros Efetivos
Tatiane Cabral de Sousa Ribeiro
CRMV-PI nº 0707
Benedito Barbosa Sousa
Lina Vera de Oliveira Aragão
CRMV-PI nº 0240
CRMV-PI nº 0197
José Assenção das Neves Sobrinho
Ana Virgínia Piauilino Santos
CRMV-PI nº 0434
CRMV-PI nº 0656
Suelmar Marques da Costa
Caroline Guimarães Marques Oliveira
CRMV-PI nº 0715
CRMV-PI nº 0835
João Pereira da Silva
CRMV-PI nº 0369
Mandato: 01/07/2012 a 30/06/2015
Declaração de Comprometimento do Conselho Federal de Medicina
Veterinária (CFMV) com o Desenvolvimento Sustentável
Os Médicos Veterinários e Zootecnistas, com o objetivo de firmarem seu compromisso com o Desenvolvimento
Sustentável, se comprometem a realizar o exercício profissional sempre em observância:
I–
à legislação ambiental, agrária, sanitária e trabalhista;
II –
à preservação, conservação e restauração de processos ecológicos essenciais, bem como ao fomento do
manejo sustentável das espécies e ecossistemas;
III – à preservação, proteção, conservação da biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais e ao patrimônio genético;
IV – ao uso sustentável dos recursos naturais e à preservação e/ou conservação dos espaços especialmente
protegidos, constitucionalmente definidos;
V–
ao controle da produção, comercialização e emprego de técnicas, métodos e substâncias que minimizem riscos
ao ambiente;
VI – à educação ambiental;
VII – ao bem-estar animal;
VIII – à contribuição imediata, quando solicitada, à comunidade e ao Estado sempre que ocorrer desastres naturais
ou outras emergências que possam produzir efeitos súbitos e nocivos ao ambiente;
IX – a notificar as autoridades ambientais competentes, prévia e tempestivamente, sobre riscos ambientais
observados no exercício profissional e fornecer todas as informações necessárias;
X–
às declarações das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável.
Compromisso Público com as Práticas Sustentáveis
O CFMV assumiu um Compromisso Público com o Desenvolvimento
Sustentável. A Declaração de Comprometimento dos Médicos
Veterinários e Zootecnistas com o meio ambiente torna pública a
preocupação de todos com a observância das legislações, normas e
valores para sustentabilidade.
Médicos Veterinários e Zootecnistas, participem desse compromisso
e sejam protagonistas no desenvolvimento e na conscientização das
práticas sustentáveis!

Documentos relacionados