Viver dos “pacotes”

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Viver dos “pacotes”
TIC à lupa
VOZ FIXA
Viver dos “pacotes”
O conceito tradicional de voz fixa está a desaparecer. O negócio passa cada vez mais pela sua
inclusão em pacotes de serviços que são oferecidos através de todas as plataformas de acesso.
Inovação e criatividade são as palavras-chave das novas ofertas crescentemente convergentes
O
ferta crescente de pacotes dual, triple e quadruple-play. Várias plataformas a disponibilizarem os mesmos serviços.
Concorrência cada vez mais
aguerrida pela conquista ou manutenção
de quota de mercado. Novas tecnologias de
acesso. O negócio da voz fixa está em profunda mudança. E a entrada em força de
novos concorrentes acelerou o processo,
ao fomentar soluções cada vez mais convergentes, onde a inovação e a criatividade
são cada vez mais fundamentais para ganhar e fidelizar clientes. Uma estratégia
que tem vindo a ser adoptada também pela
incumbente Portugal Telecom (PT) para
travar a queda nesta área, responsável por
metade das suas receitas da rede fixa. E já
está a “colher” frutos dessa aposta.
Dados do regulador das comunicações
mostram que o Grupo PT perdeu 23% de
quota de mercado nos acessos telefónicos
fixos entre o início de 2004 e o primeiro
semestre deste ano. Um recuo explicado não só pela redução da utilização do
serviço telefónico fixo (STF) nos moldes
tradicionais e pelo efeito de substituição
da voz fixa pela móvel, como ainda pelo
crescimento das ofertas em pacote das operadoras de televisão por cabo e de Internet
e do aparecimento, desde o início de 2005,
de ofertas que utilizam a tecnologia GSM
como tecnologia de acesso. Estas estão a
expandir-se bastante desde o ano passado,
60
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
tal como as ofertas de voz que utilizam o PT Noites Grátis) e reduções de preços da
VoIP (voz sobre IP).
mensalidade em campanhas de promoção,
A detentora da infra-estrutura fixa de para além da oferta da instalação do servicobre, e desde sempre prestadora do serviço ço. Comercializa ainda vários pacotes em
universal de telecomunicações, através da que, por um valor mensal fixo, o assinante
subsidiária PT Comunicações (PTC), tem tem chamadas ilimitadas nas condições fiapostado em novos pacotes e campanhas xadas. É o caso do Plano Local PT, do Plano
de promoção para reter os clientes na sua Total PT, do PT Manhãs, do PT Tardes, do
rede. É que a voz fixa continua a repre- PT Noites e do PT Fim-de-Semana.
sentar uma parte fundamental das suas
Mas é sobretudo através da sua estratégia
receitas: do total de 953,7 milhões de euros de pacotes de serviços que o grupo tem
de receitas operacionais da PT na ó
vindo, recentemente, a conserede fixa, o negócio do retalho foi
guir estancar a fuga de clientes
%
o responsável por 481,5 milhões
da rede fixa. A PT refere no
de euros. E, dentro deste, as receirelatório semestral que entre
tas de voz renderam 389,3 milhões
Abril e Junho, pela primeira
de euros, evidenciando embora
vez em 11 trimestres consecuA quota
uma queda de 10,1% face a períotivos, registou uma evolução
de mercado
do homólogo, contra os pouco
positiva no número de RGU
das operadoras
alternativas
mais de 92 milhões de euros
de retalho. Conseguiu 27 mil
no serviço
das receitas de dados no retalho.
adições líquidas no trimestre,
telefónico fixo
A queda é explicada pelo grupo
fruto do arranque do serviço
pela perda de linhas e pelo aumende TV por subscrição (70 mil
to da pressão sobre os preços, especialmente adições líquidas no trimestre e 96 mil no
as áreas de desagregação do lacete local e semestre) e da estabilidade do nível de perdo cabo.
da das linhas geradoras de tráfego, mesmo
num ambiente de aumento da concorrênCOMBATER COM MAIS OFERTA
cia, “com ofertas agressivas” das operadoras
Mantendo a taxa de assinatura mensal de cabo. Apesar de tudo, teve um decréscisobre a rede fixa, que para os clientes mo de 8% das linhas de voz, para um total
residenciais é actualmente de 15,19 euros, de 2,89 milhões de linhas.
a estratégia da PT tem sido a de compensar
As concorrentes da PT continuam a “ataesse valor através de várias ofertas, nomea- car” o mercado da voz fixa através de ofertas
damente de chamadas gratuitas (como o de pacotes e utilizando o argumento da
33,7
OFERTAS EM PACOTE – SUBSCRITORES
Tipo de oferta
não cobrança da taxa de assinatura mensal.
Uma das mais dinâmicas tem sido a “nova”
concorrente Zon Multimédia, através do
reforço das suas propostas de triple-play
baseadas na rede de cabo. O grupo considera, aliás, que o serviço de voz é um factor
chave no aumento do nível de penetração
dos pacotes de serviços, um dos pilares fundamentais da sua estratégia de crescimento.
E esta parece ser uma aposta ganha. No
primeiro semestre conseguiu angariar mais
de 120 mil clientes de voz, sendo 65 mil
só no segundo trimestre. Em Junho, a sua
carteira totalizava 204 mil clientes de voz, o
equivalente a 18,5% do total de clientes de
TV por subscrição na plataforma de cabo,
ganho que certamente se ficou a dever às
inúmeras campanhas de promoção que
foram sendo lançadas.
1 Julho 2007 31 Dezembro 2007
1. Double-play
357 844
385 729
Telefone fixo + Internet de banda larga
228 463
250 784
Telefone fixo + televisão paga
102 609
102 481
Televisão paga + Internet de banda larga
26 772
32 464
2. Triple-play *
146 050
179 291
TOTAL
503 894
565 020
* Telefone fixo, Internet de banda larga e TV paga.
A Sonaecom, depois da integração das
carteiras de clientes da Tele2 e do segmento
residencial da Oni, também tem tentado
estancar a saída de clientes, embora admita
que o ambiente de pressão competitiva tem
sido particularmente visível na área fixa,
com “relevantes campanhas promocionais
de preços nos segmentos de voz, banda larga
e TV”. Com uma aposta clara na protecção
Fonte: Anacom
e crescimento do negócio de acesso directo
de banda larga, tem desenvolvido medidas
no sentido de aumentar a fidelização dos
clientes e reforçar a oferta de serviços, nomeadamente na oferta de televisão via IP
e home video. Uma das frentes tem sido a
migração de clientes de acesso indirecto
para acesso directo. No final de Junho, tinha
741 mil acessos do negócio fixo (mais 80,2%
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
61
TIC à lupa
m A PT aposta cada vez mais nos pacotes...
m ... assim como a Sonaecom, através do Clix
que um ano antes ou 10,1%, excluindo o
contributo das aquisições efectuadas em
2007). Os acessos directos representavam
70,5% do total de acessos do negócio fixo,
sendo que o total de activações líquidas
de acessos directos no total dos seis meses
foi de apenas 12 mil acessos. Um número
explicado pelo grupo pelas pressões competitivas, problemas na portabilidade de
números do operador incumbente, que
geraram um alargamento significativo no
prazo médio de activação dos clientes em
acesso directo, a abertura em apenas duas
novas centrais para serviços ADSL2+ e a
crescente utilização de serviços de banda
larga móvel.
Bastante activa também neste negócio
esteve a Vodafone. Primeiro, avançou com
uma oferta fixa baseada na sua rede móvel:
o T0 Voz (serviço de voz fixa) e do T1 Net
(serviço de acesso em banda larga). No ano
passado entrou directamente, através da
desagregação do lacete local (OLL) nas centrais da incumbente PT, passando a dispor
de uma rede própria ADSL+, através da
qual disponibiliza o Duplex ADSL em dois
pacotes alternativos de Internet de banda
PRINCIPAIS INDICADORES DO SFT
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2008
2007
(2.º trim.)
Prestadores (unidades)
Habilitados
24
28
27
26
21
22
22
25
27
Activos
14
14
13
12
13
14
13
17
17
2
3
2
2
1
2
5
5
l
Só acesso directo
2
l
Só acesso indirecto
6
4
3
3
3
3
2
1
1
l
Ambos
6
8
7
7
8
10
9
11
11
4 313,3
4 382,9
4 354,6
4 282,9
4 328,2
4 234,4
4 230,7
4 143,7
4 126,6
Acessos telefónicos (milhões)
Acessos directos
—
3 250,9
3 217,0
3 143,5
3 133,4
3 133,9
3 245,4
3 194,4
3 242,5
Acessos indirectos
—
446,6
511,1
407,0
596,5
572,7
457,7
275,5
248,4
—
389,8
474,2
355,5
494,8
470,1
391,5
246,6
221,8
Acessos VoIP
—
—
—
—
—
—
—
4,6
162,3
Acessos GSM
—
—
—
—
—
—
—
364,8
390,6
Acessos cabo
—
—
—
—
—
—
—
272,5
278,8
l
Com pré-selecção
Tráfego (milhões de minutos)
Total
15 117
15 805
14 794
14 084
11.921
10 269
9 019
8 433
4 152
l
Voz
nd
nd
nd
9 034
8 751
8 385
8 017
7 925
3 909
l
Internet
nd
nd
nd
5 049
3 169
1 884
1.001
0,414
0,118
N.os portados (unidades)
Total
l
Números fixos
* Valores de Setembro de 2008.
62
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
—
2 338
63 572
118 231
203 380
338 822
564 539
837 637
1 081 287*
—
2 332
63 427
118 017
158 623
265 077
446 371
664 684
868 029*
Fonte: Anacom
TIC à lupa
m A Vodafone alarga actividades ao fixo...
m ... e a Zon ganha cada vez mais clientes
larga e voz fixa. Foi a primeira subsidiária do
grupo a disponibilizar serviços suportados
numa rede própria ADSL+, numa óptica
de posicionamento como operadora global
e complementando os serviços móveis que
compõem o seu core-business.
Menos dinâmicas estiveram as restantes
operadoras. Com uma oferta através de
uma plataforma de cabo, destaque para
a Cabovisão. No final de Maio tinha um
total de 726,77 mil serviços activos, sendo
247,4 mil serviços de telefonia fixa. A Ar
Telecom, que acabou por suspender o plano
de investimentos em Portugal, mantendo
a sua operação apenas nos locais onde está
presente, continua a disponibilizar pacotes
que incluem a voz fixa. No final de 2007
existiam um total de 565 mil subscritores
de ofertas em pacote (ver quadro). Desses,
179,29 mil eram produtos triple-play (voz,
TV e banda larga).
fatia de 20,5%, ou seja, 664,726 mil clientes. A Cabovisão surge na terceira posição,
muito distanciada, com 7,65% do mercado
(246,4 mil clientes), seguida da Zon, com
2,3% (74,5 mil clientes), Vodafone, com 2,2%
(71,3 mil clientes) e Ar Telecom, com 0,7%
(22,69 mil clientes). Os números revelam
ainda que a PT tem vindo a perder quota de
“GUERRA” DE QUOTAS
Dados oficiais da Anacom mostram que havia
no final de Junho um total de 3,242 milhões
de clientes em acesso directo na voz fixa,
mais 0,6% que um ano antes e mais 0,2%
que em Março último. A PT tinha 66,6% dos
clientes, o equivalente a 2,159 milhões de
subscritores. Segue-se a Sonaecom, com uma
64
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
mercado. Só entre o primeiro e o segundo
trimestres deste ano perdeu 12,6 mil clientes no fixo. Mas mais acentuada foi ainda
a quebra de clientes na Sonaecom: perdeu
mais de 18 mil subscritores. Já as demais
operadoras conseguiram manter – como a
Cabovisão – ou reforçar as respectivas quotas. A Zon foi quem mais se destacou: entre
o primeiro e o segundo trimestres ganhou
quase 36 mil novos clientes de voz fixa. De
referir que existia ainda, através de VoIP
(voz sobre IP), um total de 162 mil acessos,
sendo 115 mil de VoIP nómada, mais 12,9%
que no trimestre anterior.
O parque de acessos telefónicos principais instalados situava-se, em Junho, nos 4
milhões, correspondendo a uma penetração
de cerca de 38,2 acessos por 100 habitantes
(menos 1,3% do que no período homólogo).
A diminuição dos acessos analógicos e a redução nos acessos RDIS básicos e primários
não foram totalmente compensadas pelo
crescimento dos acessos suportados noutras
tecnologias, como o GSM, VoIP e cabo.
No final do primeiro semestre havia 390,6
mil acessos fixos em Portugal baseados na
tecnologia móvel GSM, quase 50% mais que
um ano antes. Já os acessos VoIP passaram
de dois mil no final do ano passado para
662,3 mil em Junho. Em termos de quotas
de acessos, a PT detém a maioria: 69,4%,
menos 4,5% que um ano antes. Desde o
início de 2004, o grupo já perdeu 24,6%
de quota nos acessos. Mas também a Sonaecom recuou, passando de 18,2% nos
dois trimestres anteriores para uma quota
de 17,8%.
QUOTAS DE MERCADO NO SERVIÇO TELEFÓNICO FIXO
Clientes de acesso
Tráfego de voz
(minutos)
directo
2007
2008
2007
2008
1.º
4.º
1.º
2.º
1.º
4.º
1.º
2.º
trim. trim. trim. trim. trim. trim. trim. trim.
Grupo PT
73,7
68,5
67,4
66,6
69,5
67,4
67,6
66,3
P. alternativos
26,3
31,5
32,6
33,4
30,5
32,6
32,4
33,7
–
21,4
21,2
20,5
–
20,2
19,0
18,7
3,8
4,2
4,6
0,1
0,6
1,8
l
Sonaecom
l
Vodafone
0,6
1,4
1,9
2,2
l
Grupo Zon
–
0,1
1,2
2,3
l
Cabovisão
7,3
7,7
7,6
7,6
3,1
3,3
3,5
3,7
l
Ar Telecom
0,1
0,4
0,6
0,7
2,1
1,9
1,9
1,8
l
Outros
2,2
0,5
0,1
0,1
0,3
0,4
0,4
0,5
Em percentagem.
3,0
–
Fonte: Anacom
TIC à lupa
VOZ MÓVEL
Caminhos
para
crescer
Apesar de já estar na maturidade,
o negócio móvel continua a crescer.
Mas prepara-se para maiores desafios
com as novas descidas de preços
e o acréscimo de concorrência.
A aposta vai para ofertas cada
vez mais completas e campanhas
agressivas para garantir o futuro
T
axa de penetração bem acima
dos 100%. Novas descidas de
preços de roaming e de interligação, quer por imposição de
Bruxelas quer por determinação da Anacom. Concorrência a aumentar,
tanto por via dos novos MVNO como por
atribuição de mais licenças pelo regulador
sectorial. À partida, as perspectivas para o
móvel em Portugal parecem ser bastante
complicadas. Mas o mercado continua a
crescer a bom ritmo e regista mesmo taxas de crescimento significativas. A aposta
da TMN, Vodafone e Optimus em estratégias de retenção e fidelização de clientes,
com campanhas agressivas de produtos e
serviços, a par do reforço na banda larga
móvel, está a dar frutos.
Já há algum tempo que o mercado
móvel nacional está massificado. No
segundo trimestre deste ano, alcançou
14,3 milhões de assinantes, mais 4,8%
que no trimestre anterior e mais 15,5%
face a período homólogo, sendo uma das
subidas mais elevadas dos últimos anos.
A taxa de penetração de 134,9% é explicada
pela existência de utilizadores com mais
de um cartão de acesso (calcula-se que
16,2% dos clientes tenham dois cartões
66
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
activos e que 5,1% tenham três ou mais),
da utilização de cartões para serviços de
dados e acesso à Internet ou afectos a máquinas, equipamentos e viaturas, assim
como afectos a empresas. Estima-se que
a taxa de penetração real dos telemóveis
se tenha situado em 89,8% no final de
2007, ano em que as três operadoras móveis conseguiram alcançar 3,3 mil milhões
de euros de receitas de serviços (mais 4,2%
que em 2006), com as receitas de voz a
dominarem.
DADOS CONTINUAM A CRESCER
Mas foram as receitas de dados que apresentaram as maiores taxas de crescimento,
absorvendo uma fatia de 17% das receitas
de serviços totais, em média, contra 14%
em 2006. Um resultado que é explicado
pela aposta que tem sido feita nas redes de
terceira geração e terceira geração e meia
(3G e 3,5G), com o reforço das velocidades
de acesso e de transmissão de dados e a
oferta de novos serviços de banda larga
móvel. Os clientes de redes de 3G ultrapassaram, em Dezembro, os 3 milhões,
evidenciando um crescimento anual de
92% e um peso na base total de clientes
móveis de 23%. E no final de Junho deste
ano eram já 3,7 milhões, embora se estime
que só 965 mil eram clientes activos.
Outra das consequências da estratégia
encetada pelas operadoras móveis para reter e fidelizar clientes através das múltiplas
campanhas que têm lançado no mercado
é a mudança do tipo de assinantes. Nos
últimos anos têm predominado os clientes com cartões pré-pagos, mas a situação
está a alterar-se desde o ano passado, com
o reforço dos clientes de produtos pós-pagos. Entre meados de 2007 e meados
deste ano o peso dos cartões pós-pagos no
total de assinantes cresceu 2,9%, passando
a representar 25%. Num ano, surgiram
mais 936 mil cartões pós-pagos, dos quais
181 mil foram conseguidos entre Abril e
Junho últimos.
E o aumento do número de clientes
móveis levou ao reforço do tráfego de voz.
Em 2007 realizaram-se 7 mil milhões de
chamadas originadas em redes móveis,
com 13,6 mil milhões de minutos de conversação (mais 6% e 9% que um ano antes). No primeiro semestre esses valores
foram de, respectivamente, 3,59 mil milhões e 7,1 mil milhões de minutos (mais
5,85 e 9,7%). Quanto a serviços de dados
móveis, em 2007 foram enviados 18,9 mil
PRINCIPAIS INDICADORES DAS OPERADORAS MÓVEIS
2008
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2 939,2
3 905,0
4 426,0
4 887,0
5 053,0
5 312,0
5 704,0
6 261,0
824,5
966,0
521,0
461,0
167,0
259,0
391,0
558,0
223,0
1 076,5
406,8
1 474,8
1 522,6
1 606,3
1 557,1
1 502,4
1 542,9
780,8
(1.º sem.)
TMN
Clientes total *
Novos clientes *
Receitas totais **
6 485,0
R. líquidos **
170,7
271,2
259,7
318,2
281,5
—
—
—
—
EBITDA **
391,3
535,0
623,2
689,9
746,7
673,5
658,7
679,0
338,8
ARPU ***
30,9
30,1
27,1
25,2
24,5
22,8
CCPU ***
17,4
16,6
13,5
12,1
11,4
11,6
21,0
—
19,8
—
18,5
—
VODAFONE (1)
Clientes total *
2 478,8
2 838,0
3 084,7
3 247,9
3 585,7
4 276,3
4 751,0
5 209,
—
Novos clientes *
683,8
359,2
246,7
163,1
337,8
690,6
474,2
458,6
—
Receitas totais **
901,3
1 028,4
1 063,6
1 153,2
1 294,7
1 325,1
1 393,0
1 511,3
—
80,9
104,8
98,4
124,3
131,7
169,3
204,4
269,0
—
EBITDA **
258,7
288,0
306,8
350,1
352,4
412,4
471,1
533,2
—
ARPU ***
31,98
29,99
27,48
27,43
28,35
25,08
23,23
22,72
—
CCPU ***
21,99
21,06
19,06
18,57
20,08
16,57
14,81
14,09
—
R. líquidos **
OPTIMUS (2)
Clientes total *
1 410,4
1 916,0
2 119,8
2 305,8
2 129,0
2 350,0
2 601,9
2 893,5
Novos clientes *
593,7
505,0
204,1
185,9
(177)
224,0
248,7
291,6
2982,1
88,6
Receitas totais **
458,2
617,5
607,5
636,2
659,5
627,0
610,4
619,4
303,1
R. líquidos **
—
—
(10,8)
(24,4)
(16,3)
25,0
50,5
45,0
34,5
EBITDA **
99,1
107,3
107,2
146,5
190,1
167,0
169,1
162,0
62,1
ARPU ***
32,1
28,4
23,9
22,4
24,3
20,6
19,7
18,2
16,9
CCPU ***
30,4
26,3
20,1
17,3
17,3
16,4
15,1
14,8
* Em milhares. ** Milhões de euros. *** Euros.
(1) A Vodafone alterou, desde 2000, o seu ano fiscal para 1 de Abril a 31 de Março. (2) A Optimus começou a operar a 14 de Setembro de 1998.
CCPU: custo médio mensal por cliente. ARPU: receita média mensal por cliente
milhões de SMS (mais 51%), em resultado
da adesão a tarifários específicos que têm
vindo a surgir e que incluem um elevado
número de mensagens gratuitas, e o mesmo aconteceu até Junho, com 11,29 mil
milhões de mensagens escritas (mais 33%).
O regulador estima que no final de 2007
existissem 1,4 milhões de utilizadores com
acesso à Internet em banda larga móvel,
incluindo acessos WAP, mais 88% que um
ano antes e o equivalente a uma taxa de
penetração de 13,6%. Um reforço em que,
para além das campanhas de promoção
das operadoras móveis, pesou, sobretudo,
o acordo das operadoras com o governo
no âmbito da SI e a concretização do programa e-escolas.
MAIS PRESSÃO REGULATÓRIA
O mercado móvel continua debaixo de
olho dos reguladores. Bruxelas não abran-
da os seus esforços de criar um mercado
único das comunicações também ao nível
das tarifas móveis. Em 2007 impôs um
calendário de descidas dos preços das ligações telefónicas realizadas em roaming
– que está em implementação e que terminará no próximo ano –, levando os preços
em toda a Europa para 43 cêntimos e 19
cêntimos (sem IVA) por minuto nas chamadas realizadas e recebidas em roaming,
e promete voltar a analisar a necessidade
de maior regulação do mercado. E prepara-se para descer os preços dos SMS e da
transmissão de dados no espaço europeu:
quer passar os SMS para 11 cêntimos (sem
IVA), em vez de 29 cêntimos que se praticam em média; e para 1 euro por megabyte de dados transferidos. A proposta já
avançou e a comissária Reding pretende
que o corte seja implementado em 2009,
depois de ter advertido por várias vezes as
—
Fonte: Empresas, Relatórios e Contas
operadoras para procederem a reduções
voluntárias das suas tarifas sem qualquer
sucesso.
Acresce a regulação nacional. A Anacom já tinha anunciado em 2007, através
de uma proposta de deliberação, que pretendia avançar com um novo calendário
de redução dos preços de terminação nas
redes móveis nacionais (os preços que as
operadoras pagam entre si pelas ligações
às suas redes). Isto porque chegou à conclusão de que desde 1 de Outubro de 2006
– altura em que terminou um pacote de
cortes de preços de interligação também
imposto – não se verificaram mais cortes
de tarifas, situação que prejudica as demais
operadoras e os consumidores. Segundo o
regulador, “a manutenção de preços de terminação nas redes móveis muito elevados
é factor de distorção de concorrência entre
essas redes e as redes fixas”, estimando que
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
67
TIC à lupa
introduzida a 23 de Agosto, seguida de uma
segunda a 1 de Outubro. No caso da TMN
e da Vodafone, faltam mais dois cortes (a
1 de Janeiro e 1 de Abril de 2009), ficando
a partir daí os seus preços de interligação
em 6,5 cêntimos (menos 40,5% que o preço praticado antes desta imposição). Já a
Optimus terá um prazo acrescido de dois
trimestres, até 1 de Outubro do próximo
ano, para chegar ao mesmo valor.
Também o preço do serviço grossista
de originação de chamadas móveis foi alvo
de atenção do regulador depois de várias
reclamações. Os preços mantêm-se em
18,70 cêntimos desde 2002, mais do dobro da tarifa de terminação de chamadas
nas redes móveis individuais, pelo que a
Anacom avançou em Agosto com uma
determinação a pressionar as operadoras
a descerem, até 30 de Setembro, os preços
dos serviços grossistas de originação de
chamadas nas respectivas redes móveis
para níveis próximos ou iguais aos níveis
máximos da terminação. “Convidou” ainda
as empresas a “promoverem simultaneamente descidas dos preços do serviço de
facturação e cobrança por conta de terceiros operadores, desejavelmente para
níveis que não sejam superiores em mais
de 20% aos que se encontram fixados na
PRI 2008”. O sector móvel esteve ainda
envolvido na polémica desencadeada pelo
governo sobre a lei dos serviços mínimos
(Lei n.º 12/2008), nomeadamente quanto
aos arredondamentos em alta dos preços
e a tarifação ao segundo.
MAIS OPERADORAS MÓVEIS CDMA...
Regulador quer dar luz verde a dois novos concorrentes
HÁ UNS MESES ATRÁS, admitia-se o
potencial interesse de vários grupos
nacionais na corrida à quarta licença
móvel, que funcionará na faixa de
frequências de 450-470 MHz (CDMA).
Nomes como a Zon, a Cabovisão, a
Ar Telecom, a Oni ou até os CTT foram
referidos como eventuais candidatos.
Uma empresa desconhecida e criada
para o efeito, a RNT – Rede Nacional
de Telecomunicações, foi a única que
acabou por concorrer. O consórcio
é detido em 85% pela britânica
Telephony Holdings e em 15% pela
portuguesa Radiomóvel, que também
opera na mesma faixa de frequências,
e está aberto à novos investidores.
Com um investimento previsto de 40
milhões de euros, não pretende ser um
grande operador, sendo vocacionada
a nichos na voz móvel. O alvo é
arrancar ainda em 2009 e alcançar
300 mil clientes em velocidade de
cruzeiro. Se vencer, terá de investir,
no mínimo, cinco milhões de euros
em projectos no âmbito da SI. A TMN,
Vodafone, Optimus e Radiomóvel
foram impedidas de participar por
já fornecerem serviços móveis, mas
admite-se que tenham até 20% do
capital das entidades candidatas. Este
concurso, se for atribuída a licença,
terá ainda outra consequência: a
formalização de mais um concorrente
móvel, exactamente a Radiomóvel.
A empresa de trunking (SMRP), que
também opera com a tecnologia CDMA,
poderá solicitar à Anacom autorização
para se transformar em operadora de
SMT nas mesmas condições que o novo
concorrente. Esta tem sido desde há
muito uma pretensão da Radiomóvel,
que, apesar de ter uma licença de
trunking, tem avançado com a oferta
de acessos de banda larga móvel ao
público em geral através da marca
Zapp. Foi ainda autorizada, depois de
ter apresentado uma comunicação
sobre o início da oferta de dois novos
serviços de comunicações electrónicas
(serviço telefónico em local fixo e
serviço de VoIP de uso nómada), a
avançar com esses serviços. Entretanto,
o processo ficou em stand-by depois de
a Vodafone e de a TMN terem recorrido
aos tribunais a contestar o concurso.
Ainda não se sabia no final de Outubro
se a Anacom avançaria com declaração
de interesse público do concurso para
esse poder avançar de novo.
as transferências líquidas das redes fixas
para as móveis com as tarifas praticadas
sejam de 110 milhões de euros anuais. Na
altura anunciou ainda a introdução de uma
assimetria temporária de preços a favor da
Optimus, por considerar que o desbalanceamento do tráfego lhe é desfavorável, dado
o aproveitamento dos efeitos de rede por
parte das operadoras de maior dimensão.
INVESTIR PARA REFORÇAR
Polémicas e imposições à parte, os últimos
números das operadoras móveis mostram
que o sector continua, de facto, a crescer.
A TMN mantém-se na liderança, com um
total de 6,48 milhões de clientes no final
de Junho. Só nos seis primeiros meses do
ano conseguiu 223 mil novos clientes,
especialmente no segmento pós-pago e
Depois de muitos protestos da Vodafone e da TMN, que se mostraram contra este novo calendário de descidas e a
reintrodução da assimetria, a medida da
Anacom acabou por avançar uns largos
meses mais tarde que o previsto. E com
uma assimetria ainda mais favorável à Optimus. A primeira redução dos preços máximos de terminação em redes móveis foi
CLIENTES DO SERVIÇO MÓVEL TERRESTRE
2002
Total GSM
8 528,9
2003
9 350,6
2004
2005
2006
2007
2008 (1.º sem.)
9 960,0
11 448,0
12 226,4
13 450,9
14 325
10 799
l
Pré-pagos
6 690,2
7 359,7
7 817,8
9 291,0
9 770,8
10 319,8
l
Assinaturas
1 838,7
1 990,8
2 142,2
2 157,0
2 455,6
3 131,0
3 526
Total UMTS
—
—
—
—
—
3 075,0
3 700,0
Activos
—
—
—
—
—
869,0
965,0
l
Fonte: Anacom
68
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
na banda larga móvel. No total, viu as
receitas subiram 7,2%, para 780,8 milhões
de euros. Só as receitas de dados revelaram um crescimento semestral de 41%.
E, apesar dos cortes de preços do roaming,
as receitas de clientes também subiram
7%, para 571 milhões de euros. A par da
aposta no corte de custos, a operadora
avançou com um aumento significativo da
actividade comercial, focada na migração
de clientes pré-pagos para pós-pagos e
nas vendas de serviços de banda larga
móvel. O CAPEX foi de 60 milhões de
euros, com o investimento a incidir no
aumento da capacidade e cobertura da
rede, para dar resposta à maior utilização
dos serviços de voz e dados e para reforçar
a qualidade dos serviços de voz e banda
larga móvel aos clientes. Mais de 50% do
investimento foram direccionados para
as redes 3G/3,5G.
COMPLEMENTAR NEGÓCIO
Na segunda posição, a Vodafone fechou
o seu exercício fiscal – que terminou a
31 de Março – com uma carteira de 5,21
milhões de clientes, sendo 459 mil novos
clientes. Mais uma vez bateu recordes
nos seus indicadores financeiros, com as
receitas operacionais a alcançarem 1,51
mil milhões de euros, mais 8,5% que um
ano antes, sendo 1,35 mil milhões em receitas de serviços (mais 7,9%). Tal como
a concorrente, garantiu o seu crescimento pela sua base de clientes – onde os
clientes pós-pagos representaram 21,7%
da carteira total – e pelo negócio dos dados. No total, o investimento em activos
fixos do ano fiscal foi de 186,8 milhões de
euros, sendo que três quartos desse valor
foram canalizados para a modernização
e aumento de capacidade da rede.
Para além da implementação da rede
de acesso fixo com tecnologia DSL, que
veio complementar as suas redes móveis
2G, 3G e Wi-Fi, e para dar resposta ao
crescimento acentuado dos serviços de
dados de banda larga, tanto fixa como
móvel, procedeu ao reforço das interligações aos prestadores de serviços de
Internet nacionais e internacionais e
implementou novas ligações em fibra
óptica de grande capacidade. A operadora indica que, “como parte da sua estratégia de independência tecnológica”,
reforçou o seu programa de construção
da rede de transmissão, que ultrapassou
no final do exercício o marco dos 60%
de rede própria.
… E MAIS PROJECTOS VIRTUAIS
Grupos CTT e Zon assumem o risco de avançar e alargar negócio
CTT E ZON SÃO os dois únicos grupos
que assumiram o risco de avançar com
projectos de operadoras móveis virtuais
(MVNO). Objectivo: diversificar ou
complementar as respectivas ofertas.
O regulador sectorial sempre tentou
promover o aparecimento deste tipo
de projectos como forma de trazer
mais concorrência ao mercado móvel
português. Chegaram a ser anunciadas
várias intenções, como a do ACP, da
Media Capital ou do Grupo Auchan.
Acabaram por ficar pelo caminho.
A complicada conjuntura financeira e
económica e o facto de o mercado móvel
estar já massificado são explicações.
Mas a 30 de Novembro do ano passado
os CTT avançaram em força com o seu
Phone-ix, para aproveitar a extensa rede
de balcões e para diversificar actividades,
num projecto que marcou a sua entrada
nas comunicações. O Phone-ix utiliza a
rede da TMN, oferece dois pacotes de
voz móvel pré-pagos e alcançou 100
mil clientes seis meses depois do seu
arranque. Por enquanto não pretendem
ter oferta de banda larga móvel. Quem
quer ir mais longe é a Zon Multimédia
com o seu Zon Mobile, que lhe vem
permitir a oferta de um pacote quadruple-
A Optimus foi a que menos cresceu.
Com 2,98 milhões de clientes no final
de Junho, angariou no semestre 88 mil
novos assinantes. É a única das três que
faz uma estimativa dos clientes activos
– cerca de 2,326 milhões – numa carteira
O mercado móvel continua
debaixo de olho dos
reguladores. Bruxelas
e Anacom querem preços
mais baixos para os
clientes das comunicações
total em que os pós-pagos representavam
29,5%. O negócio móvel da Sonaecom
teve receitas totais de 303,1 milhões de
euros, sendo 288,2 milhões em receitas
de serviços (mais 3,9%), graças ao aumento de 5,9% nas receitas de clientes,
play (televisão,
banda larga, voz fixa e voz móvel).
O projecto foi anunciado em Setembro,
mas o arranque aconteceu um mês
depois. Tal como a concorrente
Phone-ix, apostam na simplicidade.
O novo MVNO funciona sobre a rede da
Vodafone, com a qual foi assinado um
contrato de cinco anos, e disponibiliza
dois tarifários pré-pagos, embora projecte
oferecer em breve pós-pagos. Uma das
novidades é a tarifação ao segundo
desde o primeiro segundo. E pretende
utilizar o projecto como um trunfo para
a conquista de mais clientes para os
seus pacotes, através de campanhas
de descontos, embora o produto esteja
à venda para o público em geral. O Zon
Mobile é “uma meta absolutamente
importante” na estratégia da empresa
para ter uma oferta abrangente e apostar
numa maior fidelização de clientes.
Numa segunda fase, ainda este ano, está
prevista a disponibilização de serviços de
banda larga móvel até 7,2 Mbps, ficando
para depois a oferta de Mobile TV.
E as metas são ambiciosas: quer
ser a quarta operadora móvel nacional,
a seguir às operadoras que detêm
infra-estruturas próprias.
que compensaram o recuo de 2,5% das
receitas de operadores (determinado
pela redução das tarifas de roaming )
e a queda na área dos equipamentos.
As receitas de dados representavam no
final de Junho último 20,9% do total
das receitas de serviço, em resultado da
aposta no investimento e na promoção
da utilização dos serviços de acesso móvel à Internet de banda larga.
Para fazer face a esta aposta nos dados, o grupo liderado por Ângelo Paupério continuou a investir na cobertura e
capacidade da sua rede móvel 3G/3,5G,
através da implementação de novos
sites e da disponibilização acrescida de
HSDPA. Em Junho, a rede de terceira
geração tinha uma cobertura de, aproximadamente, 81% da população. E a taxa
de cobertura com a tecnologia HSDPA,
que permite velocidades até 7,2 Mbps,
atingia já cerca de 80%.
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
69
TIC à lupa
INTERNET
Acelerar a fundo
A luta pela quota de mercado intensifica-se na banda larga fixa, seja por cabo ou por ADSL.
Multiplicam-se ofertas e aumentam velocidades, que já chegam a 30 Mbps. E já há uma
oferta via RNG. Mas quem está definitivamente a ganhar esta batalha são os acessos a alta
velocidade móveis. Tudo graças ao programa e-escolas, que obriga à subscrição deste serviço
A
concorrência no negócio da
Internet a alta velocidade está a acelerar. Trava-se uma
verdadeira batalha entre plataformas, num mercado em
grande mudança. No negócio fixo, as operadoras com acessos via ADSL e via cabo digladiam-se pela conquista de clientes. Disponibilizam velocidades de acesso cada vez
maiores e lançam campanhas comerciais
agressivas, onde a oferta de pacotes de serviços domina. Mas são as redes móveis que
parecem estar a ganhar a “guerra” da banda
larga, apesar de as velocidades de acesso serem significativamente inferiores. Num ano,
conseguiram duplicar o número de subscrições e ultrapassar largamente os clientes de
soluções fixas. O e-escolas deu o empurrão.
E mais transformações se avizinham com
o arranque das redes de nova geração, que
prometem débitos de muito maior dimensão. A Sonaecom deu o primeiro passo, com
um projecto ainda limitado em termos geográficos. Mas há mais na calha.
O número de acessos móveis de banda
larga começou a disparar ao longo de 2007,
acabando este ano por superar em muito
os valores dos acessos fixos (ADSL e cabo).
Dos 862,2 mil acessos móveis reportados
pelo regulador sectorial em Março do ano
passado passou-se, em Junho último, para 1,9
milhões, num salto de 122% em apenas cinco
trimestres. Só no segundo trimestre deste
ano aderiram 202 mil novos clientes. Tem
70
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
ainda crescido a utilização destes acessos, já
que no final de Junho era 886 mil o número
de utilizadores activos (315,2 mil em Março
de 2007), levando, consequentemente, a um
aumento do tráfego à Internet.
Já no serviço fixo de acesso em banda
larga (por cabo ou por ADSL), o reforço tem
sido mais lento. O número de subscritores
passou de 1,42 milhões em 2006 para 1,52
milhões no ano passado, fixando-se em 1,56
milhões em Junho último. Aqui, a preferência dos utilizadores continua a ir para
as ligações em ADSL (pela linha de cobre),
O spin-off da Zon, no final
do ano passado, trouxe
ao mercado da banda larga
fixa um novo equilíbrio de
forças entre os vários grupos
que oferecem este serviço
com um total de 914,5 mil clientes no final
do primeiro semestre, enquanto no cabo
eram 632,2 mil os subscritores. O número
de clientes de acesso dial-up continuou a
decrescer, fixando-se já num valor residual
de 55,4 mil, em resultado da migração dos
utilizadores para a banda larga. Do total de
clientes de banda larga fixa, 1,55 milhões são
subscritores activos. Já quanto a outros tipos
de acesso, como os circuitos alugados, FWA e
fibra óptica, apesar de representarem apenas
1,4 % do total dos clientes, têm apresentado
um reforço substancial graças às ofertas em
pacote baseadas em redes alternativas.
“GUERRA” ENTRE PT E ZON
O spin-off da Zon Multimédia (ex-PT
Multimédia), do universo do Grupo PT,
no final do ano passado trouxe ao mercado
da banda larga fixa um novo equilíbrio de
forças entre os vários grupos que oferecem
este serviço. E uma nova dinâmica, já que
as agora rivais, PT e Zon, disputam taco a
taco o negócio, através de uma aposta crescente em pacotes de serviços cada vez mais
completos, maiores velocidades de acesso
ao mesmo preço e programas de fidelização
das respectivas carteiras de clientes, com
inúmeras ofertas e descontos. Uma situação
que acabou por arrastar também as demais
operadoras, em maior ou menor escala, uma
vez que as coberturas do serviço de acesso
por ADSL e das redes de distribuição por
cabo estão, na sua generalidade, nas mesmas
áreas e oferecem velocidades e características
similares, pelo que a diferenciação faz-se
cada vez mais pelas ofertas disponibilizadas.
Quem ganha são os clientes, que vêem as
velocidades máximas a aumentarem significativamente – até um máximo de 30 Mbps
nas redes de cabo – a preços iguais ou mesmo
bastante mais baratos.
O grupo liderado por Zeinal Bava, agora
apenas com uma oferta de banda larga através
da sua infra-estrutura de cobre (ADSL), de-
PRINCIPAIS INDICADORES DO ACESSO FIXO À INTERNET
2000
Clientes total (1)
l
Dial-up
l
Banda larga
2002
2003
2008
2004
2005
2006
2007
(1.º sem.)
903,9
1 233,3
1 436,4
1 582,1
1 623,9
1 623,6
338,2
466,8
664,6
310,9
367,4
404,0
401,9
394,9
271,0
156,4
99,3
55,4
25,2
99,3
260,5
502,0
838,3
1 165,4
1 425,7
1 524,5
1 568,2
l
Por ADSL
2,8
52,0
184,3
420,6
672,8
883,5
903,8
914,5
—
l
Por cabo
25,1
93,7
205,2
314,4
414,9
489,8
537,5
605,7
632,2
l
Outras *
Prestadores registados (2)
l
2001
Prest. actividade
Penetração BL
—
—
—
—
—
2 ,7
4,7
8,3
21,4
—
—
—
—
—
39
39
45
48
29
30
32
25
30
30
28
35
36
0,3%
0,9%
2,5%
4,8 %
8,1%
11,3%
13,8%
14,7%
14,8%
(1) Em milhares. (2) Em unidades. * Outras tecnologias incluem, por exemplo, ofertas baseadas em FWA e em circuitos alugados.
Fonte: Anacom
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
71
TIC à lupa
m O grupo PT tem avançado em todas as frentes nesta intensificação da concorrência na banda larga
tinha no final de Junho uma quota de 39,7%
na banda larga fixa. Já o projecto de Rodrigo
Costa, com a sua oferta por modem de cabo,
tinha uma fatia de 27,3%. E isto sem contabilizar as aquisições das operadoras regionais
de cabo Bragatel, TVTel, Pluricanal Leiria e
Pluricanal Santarém, ainda em decisão na
AdC, que vão reforçar mais a sua quota. As
demais operadoras alternativas detinham,
em conjunto, os restantes 33% do mercado
da banda larga, com a Sonaecom a absorver
uma fatia de 15,4%, seguida da Cabovisão,
com 10,4%. Os valores do regulador mostram
que as operadoras alternativas têm vindo a
perder clientes neste negócio, especialmente a Sonaecom, que no final de Dezembro
tinha 16,3% do mercado e ficou em 15,4%
em Junho último. Da lista das alternativas,
a Vodafone – com o seu Vodafone Casa – é
das poucas que apresenta um ligeiro ganho,
detendo 2% de quota na banda larga fixa.
Em contrapartida, a PT e a Zon apresentam
ganhos neste negócio. A incumbente, através
da subsidiária PTC, conseguiu um ganho de
0,6% de quota entre o primeiro e o segundo
trimestres deste ano. E a Zon ganhou ainda
mais: 1,3%.
O grupo de cabo tem encetado uma estratégia de posicionar a sua oferta de banda
larga como a mais rápida e fiável do mercado.
A sua velocidade máxima de acesso é agora
de 30 Mbps e a oferta mínima de acesso é de
2 Mbps, com um tarifário lançado este ano
por 14,99 euros destinado a “romper com
72
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
televisão paga, de forma a ganhar e a reter a
sua carteira de clientes através de uma oferta de serviços triple-play atractiva a preços
competitivos. Para o grupo de Zeinal Bava,
as vendas de TV por subscrição e banda larga são cruciais para a estratégia do negócio
de rede fixa, de forma a travar a perda de
linhas. E destaca que a “nova estratégia de
triple-play está a demonstrar ser uma medida
bem sucedida para o crescimento dos novos
clientes, uma vez que 40% dos novos clientes
não subscrevia qualquer outro serviço”.
A estratégia da Sonaecom não diverge
muito das suas concorrentes do negócio fixo.
Onde admite que o “ambiente de pressão
competitiva tem sido particularmente visível”,
com “relevantes campanhas promocionais
de preços nos segmentos de voz, banda larga
e TV a vigorarem no mercado”. O enfoque
na protecção e crescimento do negócio de
acesso directo de banda larga, nomeadamente
através de medidas para reduzir os níveis de
desactivações e aumentar a fidelização dos
clientes, são as apostas, mais uma vez com
destaque para as ofertas e campanhas de
pacotes de serviços. Nas zonas com acesso
directo, as “zonas Clix”, passou a oferecer o
seu pacote base ao dobro da velocidade dos
seus concorrentes PT e Zon: 4 Mbps por 14,78
euros (preço até final de 2008). E dispõe ainda
de ofertas a 12 e 24 Mbps.
as práticas estabelecidas no sector e fazer
face às ofertas concorrentes que apostam
nos preços baixos” e para “elevar a fasquia”
nas ofertas básicas de Internet, mostrando ao mercado que a operadora consegue
posicionar-se num mercado “em que todos
os dias surgem novas ofertas, que apostam
essencialmente nos preços baixos”. Para
além desta, dispõe ainda de ofertas a 4,8
e 18 Mbps. E recentemente foi a primeira
operadora de banda larga fixa a integrar o
projecto e-escolinhas, ao qual disponibiliza
o seu tarifário de 2 Mbps com serviço telefónico incluído. Agora está a preparar-se para TUDO EM CASA
as RGN, com a implementação de testes As demais operadoras também disponibilipiloto com clientes reais, para fornecimento zaram novas ofertas e pacotes promocionais
de velocidades de download de 100 Mbps. para defender as respectivas bases de clienO objectivo é avançar com esta oferta co- tes. A Cabovisão, tal como a Zon, já tem um
mercial ao longo de 2009.
acesso a 30 Mbps, para além das
Mas a PT não se tem ficado
propostas a 3, 10 e 20 Mbps com
%
%
atrás nesta intensificação da conpreços muito similares aos das
corrência. Na sua oferta do Sapo,
concorrentes: variam entre um
tem também como oferta base os
mínimo de 17,99 e 44,99 euros,
2 Mbps, por um preço promociodesde que o serviço seja subscrito
A quota de
nal de 14 euros, disponibilizando
em pacote dual ou triple-play.
mercado da PT
no negócio da
ainda mais três tarifários – 6, 16
Mas a Vodafone não se fica atrás.
banda larga fixa
Bem pelo contrário. O grupo móe 24 Mbps –, para além do Free,
tarifário sem mensalidade. E já
vel tem avançado em força com
oferece, nas zonas Sapo, o serviço
a sua oferta fixa, disponibilizande voz sem assinatura mensal, desde que o do, através do Duplex ADSL, as velocidacliente subscreva o pacote Noites Grátis ou o des de 12 e 24 Mbps a preços promocionais
Chamadas Ilimitadas. A aposta tem passado de 19,90 e 24,90 euros, respectivamente.
pelo reforço da sua rede para o fornecimento Todas as empresas, para os novos clientes
de maiores larguras de banda e serviços de que subscrevam estes serviços, impõem a
39,7
obrigatoriedade de permanência na rede,
que varia entre um e dois anos.
À excepção da Zon, que acaba de se estrear no negócio móvel através de um
MVNO, os outros três grandes grupos de
comunicações nacionais detêm também as
redes que estão em concorrência na oferta de
banda larga móvel. PT, Sonaecom e Vodafone
disponibilizam cada vez mais soluções convergentes de serviços, que incluem a oferta
de banda larga fixa e móvel, para além dos
outros serviços, mostrando que estes podem
ser complementares e não concorrentes. E as
propostas de cruzamentos de ofertas dentro
dos grupos são várias.
O Casa Duplex ADSL e o T1 Net Plug
& Play, da Vodafone, para além do acesso
à rede fixa, disponibilizam também acesso
móvel, pago ao dia ou com um acréscimo na
mensalidade (no primeiro caso). O Sapo, da
PTC, tem uma proposta similar, com soluções para clientes de ADSL. Para os demais
interessados num produto móvel, comercializa ainda directamente as propostas da
operadora móvel do grupo, a TMN. Esta
inclui na sua oferta o “banda larga casa t”,
onde, por preços mais baixos, o acesso móvel
é utilizado de uma forma fixa. Na Sonaecom, a estratégia de cruzamento de ofertas
é similar: o Clix, para além do acesso em
ADSL, disponibiliza acesso móvel para os
seus clientes do fixo pago ao dia ou com um
acréscimo de mensalidade; e o Kanguru, a
marca da banda larga móvel do grupo, tem
uma oferta de banda larga num só local a
preços mais acessíveis.
A aposta em força no acesso à Internet
de banda larga móvel (através de placas de
transmissão que permitem a utilização de
computadores pessoais (placas PCMCIA,
m A Zon está a preparar a sua rede para a oferta, já no próximo ano, de velocidades até 100 Mbps
placas USB, Modem USB, PC-Card, PC
USB Card) surgiu em 2004, com as redes
de terceira geração (UMTS ou Universal
Mobile Telecommunication Systems), e
a aposta em novas tecnologias de acesso:
HSDPA e, no ano passado, o HSUPA, que
veio proporcionar melhorias significativas
da velocidade do tráfego de upload. Hoje,
as três redes móveis nacionais já disponibilizam acessos até um máximo de 7,2
Mbps, muito embora essa oferta ainda não
esteja disponível em todo o território nacional. As velocidades de 512 kbps, 1 Mbps e
3,6 Mbps são as demais opções, depois de
terem avançado este ano com um aumento
das velocidades máximas de download nos
dois tarifários mais baratos (de 384 para
512 kbps e de 640 kbps para 1 Mbps). Todas as ofertas são comercializadas a preços
substancialmente superiores aos praticados
nas redes fixas (atendendo, sobretudo, às
PRINCIPAIS INDICADORES DE ACESSO MÓVEL À INTERNET
2007
2008
1.º trim. 2.º trim. 3.º trim. 4.º trim. 1.º trim. 2.º trim.
Clientes total
862,2
983,7
1182,5
Clientes activos
315,2
359,3
478,0
Penetração
8,1%
9,3%
11,3%
Em milhares.
1 454,5
1 713,5
1 915,4
659,8
792,9
886,0
13,7%
16,1%
18%
Fonte: Anacom
velocidades). E são também praticamente
iguais entre as três concorrentes.
GANHOS COM O E-ESCOLAS
Tendo como grande trunfo a mobilidade,
a adesão a estes produtos começou por ser
lenta, até porque a cobertura e a velocidade
de acesso eram no início baixas. De acordo
com dados do regulador, desagregando estes acessos por velocidade de transmissão,
verifica-se que cerca de 75% dos acessos se
concentravam, no final de 2007, nas velocidades até 640 kbps. Os mesmos dados indicam que, em termos de cobertura, menos de
metade do território nacional estava coberto
a débitos de 128 kbps (o corresponde a mais
de três quartos da população), sendo que os
débitos de 3,6 Mbps estavam operacionais
em menos de 10% do território, envolvendo
um terço da população.
Mas no ano passado este tipo de ligações
conheceu um reforço exponencial. O que
se ficou a dever aos programas e-escola, e-professor e e-oportunidades, promovidos
pelo governo e que envolvem a cedência de
computadores a preços baixos com ligação
obrigatória à Internet em banda larga em
condições mais favoráveis. Esta aposta resultou de um acordo, celebrado no ano passado
entre as operadoras e o Executivo, no âmbito
dos compromissos assumidos aquando da
atribuição das licenças de 3G, que obrigava a investimentos na SI. Nomeadamente
na produção de conteúdos, programas de
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
73
TIC à lupa
Há ainda outras tecnologias alternativas
de suporte aos serviços de acesso em banda
larga, mas sem a dimensão das dominantes
e em diferentes estados de implementação e
maturidade. É o caso dos sistemas de comunicações via satélite, que têm uma utilização
muito reduzida, apenas em situações muito
pontuais e a nível empresarial. Ou do FWA
(acesso fixo via rádio), apenas utilizado na
rede de acesso pela AR Telecom. No futuro, as
licenças de BWA também poderão ter algum
papel. Mas a oferta que, de facto, promete
uma verdadeira revolução no acesso à banda
larga são as redes de nova geração. O investimento em fibra óptica vai trazer velocidades até 100 Mbps, podendo constituir uma
fonte de forte concorrência às redes actuais.
A Sonaecom deu o primeiro passo ao avançar com uma oferta comercial de triple-play assente em fibra óptica (ver texto da
página 44).
m Tal como as concorrentes, a Sonaecom aposta nas ofertas convergentes fixo-móvel
inovação, distribuição de equipamentos ou
desenvolvimento das próprias redes móveis.
No primeiro semestre foram investidos naquele programa 100 milhões de euros.
Uma das grandes novidades deste ano
foi o lançamento, em Agosto, da opção de
banda larga móvel pré-paga, quebrando-se
a regra da obrigatoriedade de permanência
na rede pelo menos por um ano que têm os
produtos de assinatura mensal. A Vodafone
foi a primeira a avançar com o VitaNet, mas
a TMN e a Optimus não perderam tempo e
replicaram a oferta no mesmo dia nas suas
redes, com pequenas diferenças. Na TMN
podem utilizar-se os pontos de acesso da
rede Wi-Fi da PT. Na Optimus, o Kanguru
pré-pago tem mais flexibilidade nos carregamentos. Os carregamentos oferecidos pelas
concorrentes variam entre um mínimo de
10 dias e um máximo de 30 ou 60 dias, com
algumas diferenças entre empresas. Trata-se de uma oferta destinada a atrair novos
clientes com uma utilização pontual e que
sai sempre mais cara e a uma menor velocidade, de apenas 512 kbps. O que é facto é que
todas as operadoras móveis estão a registar
um acréscimo significativo das receitas provenientes dos dados, sendo a banda larga a
grande prioridade. Pelo que continuam a
reforçar investimentos na cobertura e capacidade das respectivas redes.
74
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
QUOTAS NA BANDA LARGA – ACESSO FIXO
2007
2008
1.º trim. 2.º trim. 3.º trim. 4.º trim. 1.º trim. 2.º trim.
1. Grupo PT
70,3
69,6
69,0
40,0
l
PT.Com *
44,8
44,1
43,9
38,1
–
l
TV Cabo
**
23,6
23,3
22,8
–
l
PT Prime
0,4
0,4
0,4
0,5
0,5
l
PT Wi-Fi
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
l
PTC
0,0
0,0
0,0
1,3
38,6
39,1
39,1
39,7
–
–
0,5
2. Grupo Zon
–
–
–
26,2
26,6
27,3
l
TV Cabo
–
–
–
24,2
24,5
25,0
l
TV Cabo Madeirense
–
–
–
1,5
1,6
1,6
l
TV Cabo Açoriana
–
–
–
3. Alternativas
29,7
l
Cabovisão
10,5
l
Sonaecom
9,8
0,5
0,6
0,7
31,0
33,8
34,3
33,0
10,5
10,3
10,8
10,6
10,4
10,6
15,4
16,3
15,8
15,4
30,4
l
AR Telecom
nd
nd
nd
nd
nd
1,4
l
TVTel
1,6
1,7
1,7
2,0
2,1
2,0
l
Vodafone
0,2
0,2
0,2
0,9
1,7
2,0
l
Oni
5,5
4,9
0,6
0,4
0,2
0,2
Outros
1,3
1,5
1,5
1,5
1,6
1,6
l
Em percentagem.
* A 10/Mar/08 foi realizada a fusão da PT.Com na PTC.
**Com o spin-off da PTM (Zon) passou ao universo deste grupo
Fonte: Anacom
TIC à lupa
TELEVISÃO
Cenário de “guerra”
Pacotes para todos os gostos. Mais alternativas em termos de plataformas. Preços a caírem.
Concorrência agressiva. Arranque da televisão digital terrestre e do quinto canal em sinal
aberto a partir de 2009. O negócio da televisão em Portugal está no centro das atenções
N
unca o negócio do “pequeno
ecrã” conheceu dias tão agitados. E em todas as frentes. Tudo graças ao spin-off da Zon,
(ex-PTM) do universo da PT,
passando esta agora a ser a grande “atacante” do mercado. Na televisão paga, a
acesa disputa entre as agora concorrentes trouxe uma dinâmica renovada, com
novas ofertas e campanhas agressivas de
preços a multiplicarem-se e a arrastarem
as demais fornecedoras. Sempre com os
pacotes de serviços convergentes a dominarem, tanto no cabo, como no satélite e
na IPTV. E a TDT parece finalmente ter
pernas para andar. A incumbente nacional conseguiu as licenças dos concursos
para as duas plataformas, que irão complementar a sua estratégia para a TV, através
da marca Meo. E está de olhos postos no
quinto canal, tentando travar de todas as
formas a participação da Zon num concurso onde deixa claro que quer entrar.
Uma “guerra” que promete.
O processo de cisão da agora Zon, do
universo da PT, na sequência da OPA lançada pela Sonaecom, deixou a incumbente
quase sem nada na área da televisão paga.
Ficou apenas com uma oferta residual,
através da sua rede de cobre (IPTV), que
tinha lançado em meados de 2007. Mas o
grupo não ficou de braços cruzados, bem
pelo contrário. Não perdeu tempo a deixar
claras as suas intenções de avançar em força, fazendo frente à posição de domínio da
nova concorrente nesta área, com 80% do
mercado através da rede de cabo e do satélite. A 2 de Abril, poucos dias depois de ser
eleito CEO da PT, Zeinal Bava anunciava
76
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
o arranque da sua oferta de televisão paga
por satélite (DTH). Objectivo: massificar o
negócio através de uma cobertura nacional
de televisão, com uma aposta em paralelo
na rede de cobre, prevendo uma cobertura
para televisão por IP em 600 centrais no
final deste ano, o que permitirá o acesso
a 700 mil clientes da PT.
A estratégia de investimento nas duas
frentes – cobre e satélite – não é para o
grupo redundante, mas sim complementar, no âmbito de uma estratégia de “oferta
massiva de TV” através de soluções inte-
PT e Zon desencadearam
uma agressiva campanha
de preços para ganhar
clientes na TV. A alta
definição foi uma das áreas
de maiores tensões entre
as duas concorrentes
e as trocas de acusações
não se fizeram esperar
gradas de serviços. Esta aposta multiplataforma, que abrange ainda o móvel e a
TDT, está agregada numa única marca: o
Meo. Através dela, a PT reforçou as suas
propostas para os clientes, mas pretende
ainda chegar a subscritores de outras operadoras com propostas aliciantes e a preços
mais baixos. E para mostrar que esta é
uma aposta estratégica, avançou com uma
enorme campanha de publicidade, para a
qual contrato os Gato Fedorento.
A “guerra” com a Zon estava declarada
e instalou-se de imediato, tanto em termos
de preços como de ofertas, sempre em
dual ou triple-play. A detentora da rede de
cabo, que tem na televisão paga o seu core-business e oferece o serviço por satélite
como complementar ao cabo para as áreas
sem cobertura, sendo a única até agora a
disponibilizar essa oferta, respondeu de
imediato às propostas da PT. Na altura, o
líder da Zon, Rodrigo Costa, garantiu que
o seu grupo encara com naturalidade o
lançamento do Meo Satélite, trabalhando
normalmente dentro de uma aposta no
triple-play e num mercado “extraordinariamente competitivo e dinâmico”. Mas
desceu de imediato os preços e lançou
campanhas para captação de clientes.
A alta definição (HD) foi uma das áreas
de maiores tensões entre as duas concorrentes e as trocas de acusações não se fizeram esperar. A Zon acusou a PT de estar a
travar o processo de cisão e a impedi-la de
crescer. A incumbente continua a protestar contra a posição dominante da Zon nos
conteúdos. O curioso neste processo é que
os actuais líderes da Zon e da PT conhecem
bem os negócios concorrentes. Rodrigo
Costa até ao ano passado liderava a PT
Comunicações e foi o mentor do projecto
de televisão da incumbente. Zeinal Bava
foi o líder por muitos anos da PTM e da
subsidiária TV Cabo.
GANHAR MERCADO
A aposta forte da PT no satélite deu frutos
rapidamente. A 23 de Setembro, anunciava
que o serviço de TV por subscrição tinha
superado 200 mil clientes, sendo mais
de metade deste total novos clientes do
TV POR SUBSCRIÇÃO – PRINCIPAIS INDICADORES
2000
Alojamentos cablados
Assinantes cabo
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
(2.º trim.)
2 601
3 024
3 361
3 488
3 624
3 775
4 022
4 039
4 206
925
1 119
1 262
1 334
1 356
1 398
1 418
1 489
1 496
376
l
Norte
192
247
290
315
341
328
336
373
l
Centro
88
105
120
162
169
168
171
180
181
l
Lx e Vale do Tejo
534
637
690
678
717
707
708
722
718
l
Alentejo e Algarve
39
50
68
84
89
89
90
103
104
l
RAM e RAA
72
81
88
94
99
106
112
116
117
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
466
224
289
314
384
394
435
483
525
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
118
925
1 343
1 551
1 648
1 740
1 792
1 853
1 972
2 080
Assinantes cabo digital
Assinantes DTH (1)
Assinantes o. tecn. (2)
Total assinantes
TV por subscrição
—
Em milhares. (1) Serviço de TV paga que recorre à tecnologia de satélite ou DTH (direct-to-home) e é prestado por operadoras autorizadas
para operações de TV por cabo. (2) Todas as restantes ofertas de TV por subscrição (xDSL/IP e FWA).
Fonte: Anacom
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
77
TIC à lupa
grupo. As metas iniciais apontavam para
100 mil clientes no total do ano. Só no
terceiro trimestre, conseguiu 84 mil adições líquidas. O grupo voltou a reforçar
que a oferta integrada de serviços de voz,
Internet e televisão “representa uma alavanca essencial” da sua estratégia para
“reforçar a proposta de valor oferecida
aos seus clientes residenciais, que assenta
num conceito de multiplataforma cujo
objectivo é fornecer o mesmo conteúdo independentemente da interface do
cliente”. A incumbente quer que o Meo
se posicione como “a melhor e mais sofisticada oferta de televisão por subscrição
no mercado português e evidenciar o seu
posicionamento multiple-play como uma
oferta 5-play” (TV por subscrição, banda
larga fixa, voz, video-on-demand e banda
larga móvel).
De fora desta guerra parecem ter ficado
as demais fornecedoras de TV paga. A Sonaecom, com a sua oferta de IPTV através
do Clix SmartTV, continuou a reforçar a
sua proposta com mais conteúdos e novas
funcionalidades, como a alta definição, sem
aumento de preços. Não são adiantados números de clientes. Já a Cabovisão, a segunda
maior operadora nacional de televisão por
subscrição através da sua rede de cabo, perdeu mais de mil clientes de TV no trimestre
terminado a 31 de Maio último.
De acordo com os últimos dados da
Anacom, que passou a publicar, a partir
do segundo trimestre do ano, a evolução
dos serviços de TV por subscrição, tendo
em conta as várias tecnologias – cabo, satélite, IPTV e FWA –, a Zon detinha em
Junho uma quota de mercado de 74,5%
(ainda sem contabilizar as quatro operadoras de cabo regionais, processo ainda
nas mãos da AdC). A Cabovisão surgia
na segunda posição, com 14%, e a PTC já
ocupa o terceiro lugar, com uma quota de
5,4%. As demais operadoras detinham os
restantes 6,3% do mercado, com destaque
para a TVTel (em processo de aquisição
pela Zon), com 3,4%.
O número de subscritores de serviços
de TV paga alcançou, no final de Junho,
2,08 milhões, de um total de 4,21 milhões
de alojamentos preparados para receber
o serviço. O cabo continua a ser a forma
mais comum de acesso a serviços pagos
de televisão, com uma fatia de 70% do
mercado, ou seja, quase 1,5 milhões de
assinantes, sendo que 466 mil já beneficiavam do formato digital. O satélite surge na
segunda posição, com 24,5% do mercado,
78
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
O grupo de cabo
detém a grande fatia
do mercado de TV. Mas
a incumbente prepara
ataques em todas
as frentes
o equivalente a 525 mil clientes. Mas as
novas ofertas através de IPTV e de FWA
começam a ganhar expressão. O regulador
indica que havia já 118 mil aderentes a
estas novas ofertas, representando já 5,5%
do mercado total de acesso pago.
POLÉMICAS NA TDT
Mas o mercado da televisão em Portugal
conheceu ainda grande agitação numa
outra frente: a televisão digital terrestre
(TDT). Uma plataforma que, apesar das
promessas de arranque, tardava em surgir,
e que se destina a passar todas as emissões
de televisão a digital, de acordo com as
regras definidas por Bruxelas, que obrigam
a um swich-off as emissões analógicas até
ao início de 2012. Sete anos depois do
QUOTAS DE MERCADO
POR ASSINANTES
2008
(2.º trim.)
Grupo Zon
74,3%
l
Zon Multimédia
65,9%
l
Zon Açores
4,2%
l
Zon Madeirense
4,2%
Cabovisão
14,0%
PT Comunicações
5,4%
TVTel
3,4%
Outros
2,9%
Fonte: Anacom
arranque da abertura do primeiro concurso público para a TDT, em Abril de
2001 (cuja licença foi atribuída à PTDP,
liderada por João Pereira Coutinho, sendo
revogada em Março de 2003), voltou a ser
lançado este ano um novo concurso. Desta
vez, o Executivo precaveu-se de eventuais
problemas que possam surgir quanto à
plataforma paga de pay-TV ao estabelecer
dois concursos distintos: um para a plataforma de transmissão dos actuais canais
gratuitos em sinal aberto (Mux A) e outro
para uma operação de canais pagos, que
concorrerá com as demais plataformas de
televisão paga (Muxes B a F).
Ao longo de todo este ano foram surgindo inúmeros potenciais candidatos ao
concurso, não só de grupos estrangeiros
(como a Indra, Abertis ou Prisa), mas sobretudo nacionais, como a AR Telecom,
Vodafone, Sonaecom e até Visabeira, para
além dos grupos de media com canais de
televisão em sinal aberto. Quase todos
levantaram o caderno de encargos para
os dois concursos, e muitos apresentaram
questões e dúvidas ao regulador sectorial.
Mas acabaram por desistir, por considerarem o negócio pouco atractivo e de grande
risco, já que a plataforma terá de concorrer
com as ofertas já existentes de TV paga.
O concurso foi lançado a 25 de Fevereiro, terminando o prazo de candidatura a 23
de Abril. À corrida apresentaram-se apenas a PT – concorrendo às duas plataformas – e os suecos da AirplusTV, apenas na
plataforma paga, num processo que gerou
polémica e contestação desde o primeiro
momento. A PT, na véspera da entrega das
candidaturas, anunciou um acordo para
gerir a rede analógica de transmissão do
sinal da TVI (através da Reti, controlada
pela Media Capital) no caso de vencer o
concurso para o Mux A. O que a fez passar, na prática, a controlar as duas únicas
redes de transmissão analógicas (a outra
rede era já sua). Deu ainda a conhecer um
acordo com as três operadoras de sinal
aberto – RTP (1 e 2), SIC e TVI – sobre as
condições de distribuição destes canais na
rede da TDT durante o período de difusão
simultânea analógica e digital (simulcast),
assim como a transmissão digital até ao
final do período da licença da TDT.
Quem não gostou foi a Airplus TV, que
estaria a negociar com a Media Capital um
eventual acordo. Foi solicitado de imediato
à Anacom um adiamento do processo e
contestada a falta de conhecimento dos
valores que a PT iria cobrar pela emissão
de sinal, o que a impediria de incluir este
elemento na sua candidatura e poderia levar à sua desclassificação. Mas o concurso
acabou por avançar, sendo aceites as candidaturas da PT, enquanto a dos suecos ficou em stand-by, à espera da apresentação
da caução provisória (de 750 mil euros),
que não tinha sido prestada e que acabou
por o ser dias depois. Seguiu-se o período
de análise pela comissão nomeada para o
efeito, durante o qual a Airplus por várias
vezes ameaçou com o recurso aos tribunais
se a decisão tomada não fosse justa. E a
Sonaecom veio a público contestar todo
o processo, acusando o governo de “ajuste
directo travestido de concurso”, criando
“condições objectivas” para que a PT fosse
a única empresa capaz de apresentar uma
proposta viável.
A 27 de Junho era conhecida a decisão
da comissão de análise, onde, como já era
esperado, foi dada a vitória à PT no concurso para a plataforma paga (semanas
depois era dada a conhecer a sua vitória
no Mux A). A Airplus, entretanto, tinha
tentado jogar com mais alguns trunfos a
seu favor na decisão, com o anúncio de
que Miguel Pais do Amaral entraria com
20% do capital do projecto, caso este fosse
vencedor, e de que Luís Nazaré (ex-presidente dos CTT e da Anacom) tinha sido
nomeado para presidente não executivo
da empresa em Portugal. Sem sucesso.
Pelo que anunciou o recurso da decisão,
acusando a comissão de ter tomado uma
decisão arbitrária e parcial e de ter cometido “erros técnicos grosseiros”, nas palavras
de Luís Nazaré. E foi ainda mais longe ao
levantar um incidente de suspeição sobre o
presidente da comissão, que acabou por se
demitir, ameaçando ele próprio a Airplus
com o recurso aos tribunais.
A mesma comissão, agora reduzida a
dois elementos, voltou a analisar a proposta no final de Julho. Quando já decorria uma providência cautelar da Airplus
para suspensão do concurso, que levou
a Anacom, um mês depois, com o apoio
do governo e da ERC, a avançar com a
invocação do interesse público para prosseguir com o concurso. A nova decisão do
júri surgiu a 23 de Setembro, sem grandes
alterações: a PT voltou a vencer.
O anúncio da decisão final surgiu a
20 de Outubro: a Anacom anunciou a
homologação das propostas do júri dos
concursos para atribuição à PT, através
da PTC, dos direitos de utilização das frequências dos multiplexers que distribuirão
m As licenças para a TDT foram ganhas pelo grupo
liderado por Zeinal Bava
os projectos da TDT em Portugal. A PT
terá agora que reforçar as cauções dos dois
concursos (dois milhões de euros no Mux
A e 2,5 milhões nos Muxes B a F), sendo as
respectivas licenças atribuídas nos 15 dias
úteis posteriores a esse pagamento.
A incumbente nacional justifica a aposta do grupo na TDT como complementar,
enquadrando-se numa estratégia de televisão multiplataforma. “O IPTV é tudo
aquilo que de mais inovador existe em
oferta de TV. A proposta de satélite (DTH)
garante cobertura a 100% do território
nacional. O Meo Mobile permite conteúdos em qualquer lado. A TDT enquadra-se
nesta oferta, com custos de aquisição perfeitamente suportáveis”, garantia Zeinal
Bava na apresentação do seu projecto. Que
representará um investimento a três anos
de até 120 milhões de euros, prevendo-se
a criação de um fundo de 40 milhões de
euros para subsidiação dos equipamentos
(15 milhões para a plataforma de canais
gratuitos e 25 milhões para os pagos).
Garantia ainda de que o investimento
na TDT não compromete outros investimentos, nomeadamente ao nível da fibra
óptica, porque “a PT tem capacidade financeira para todos os projectos estratégicos”. Implementação acelerada e antes
do prazo limite, cobertura abrangente,
soluções técnicas diferenciadoras, oferta
de conteúdos alargada e de qualidade
foram as suas promessas. No Mux A,
garante o seu sucesso através de uma
oferta consensual para todas as estações
de televisão de sinal aberto, e nos Muxes
B a F uma solução técnica que maximiza a utilização das frequências disponíveis. Recentemente, o líder da PT veio
a público garantir que já há trabalho e
investimento feito e que ainda há tempo
para pôr em marcha o projecto, mesmo
que haja mais alguns meses de atraso do
processo nos tribunais.
MOBILE TV EM STAND-BY
Operadoras comercializam serviço, mas sem grande adesão
AINDA SEM EXPRESSÃO está a oferta
de televisão através dos telemóveis.
O mobile TV já está disponível no
mercado desde 2006, mas a adesão
tem sido escassa. Até porque só
com o swich-off das emissões
de televisão em analógico e a
consequente libertação de espectro
(o chamado dividendo digital) é
que poderá ganhar expressão. Em
Março último, a Comissão Europeia
decidiu acrescentar a norma Digital
Video Broadcasting Handheld (DVBH) à lista de normas oficiais da UE,
sendo considerada a base para
incentivar a oferta harmonizada de
telecomunicações em toda a EU,
sendo encarada como um passo para
a criação de um mercado único de
televisão móvel na Europa. Pretende-se proporcionar a escala de mercado
necessária para o lançamento, em
massa, de serviços de televisão
móvel em toda a Europa. As ofertas
das operadoras móveis nacionais
têm sido reforçadas. No âmbito da
estratégia de multiplataforma de TV
por subscrição da PT, a TMN relançou
em Abril a sua oferta de televisão
móvel. O Meo Mobile passou
a oferecer mais de 30 canais,
tendo-se mesmo apostado
num telemóvel especificamente
desenhado para o efeito, com vista
a reforçar os serviços convergentes
fixo-móvel e multimédia da PT. Tem
cinco tipos de tarifários: diário,
semanal e mensal (Meo Notícias
e Desporto, Meo Séries e Kids e Meo
Total). A Vodafone também oferece
o acesso a 27 canais em três
tarifários: diário, semanal
e mensal. Tal como a Optimus,
que disponibiliza 30 canais.
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
79
TIC à lupa
ARRANQUE DO QUINTO CANAL
Mais concorrência nos conteúdos
O novo canal em sinal aberto só estará disponível com o arranque da TDT, já que só funciona
em digital. Os projectos já no terreno temem os “estragos” da entrada do novo concorrente.
Os principais grupos interessados no concurso garantem que há mercado para todos
O
projecto do
governo foi
anunciado
em Janeiro,
na sequência do processo da introdução da TDT em Portugal.
Tendo como objectivo trazer mais concorrência ao
mercado, decidiu-se lançar um novo canal em sinal aberto, cujo concurso,
de acordo com os timings definidos, deveria ter
arrancado em Outubro.
O projecto foi contestado
por uns e aplaudido por
outros. De um lado, os grupos que já têm televisões
generalistas – RTP (1 e 2),
SIC e TVI – defendem que
o bolo publicitário não
vai chegar para todos.
Do outro está quem quer entrar neste negócio para completar o seu leque de ofertas e
que garante a viabilidade do quinto canal.
RECEIOS E OPORTUNIDADES
O novo canal só estará disponível com o
arranque da TDT, já que funciona apenas
com emissões em digital. Para o Executivo,
é uma forma de desenvolver o sector e promover o aparecimento de grupos nacionais
fortes na comunicação social. Mas quem
já está neste mercado teme o impacto de
um novo projecto face à dimensão do mercado publicitário em Portugal. Francisco
Pinto Balsemão, presidente do Grupo Impresa (que detém a SIC), tem sido o rosto
da contestação. Alerta para a estagnação
das receitas da publicidade, que se poderá
agudizar agora com a crise financeira, e
para os riscos que o quinto canal implicará
para o sector. Nomeadamente terá que se
avançar com novos cortes nos custos em
programação e investimentos, pelo que a
80
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
nova plataforma poderá colocar em risco
não apenas a qualidade do entretenimento
e do jornalismo como também a própria
independência dos grupos de media.
Desde o arranque do processo que são
conhecidos pelo menos três grandes interessados: Controlinveste e Cofina, os dois
grupos de media nacionais que não têm
um canal de televisão, e a Zon, dona da TV
Cabo Portugal, que pretende reforçar-se nos
conteúdos. Uma candidatura entre os três
interessados tem vindo a ser apontada como
a solução mais óbvia, até porque, olhando
para as ligações entre os três grupos, será
uma solução que faz sentido. Controlinveste e Cofina são ambas accionistas de
referência na Zon. E a Controlinveste e a
Zon partilham em partes iguais o projecto
da SportTV. Mas todos os cenários estão
em aberto. O líder da Zon admite mesmo a
possibilidade de concorrer sozinho, depois
de terem corrido notícias de um eventual
desentendimento entre os três interes-
sados. Tudo dependerá
do regulamento final do
concurso.
Quem se tem mostrado abertamente contra a
participação da Zon na
corrida ao quinto canal é
a PT. À partida proibida
de concorrer, até porque
é a vencedora das duas licenças da TDT, participou
na consulta pública para
a elaboração do regulamento do concurso, a que
responderam ainda a Zon,
Controlinveste e SIC. A incumbente nacional quer
impedir a Zon de participar na corrida, defendendo
que esta tem posição dominante nos conteúdos,
agora fundamentais para
impulsionar a sua oferta
de TV. E levantou a hipótese de o vencedor
do concurso à TDT gratuita ser o mesmo do
quinto canal. Zeinal Bava tem-se multiplicado em afirmações sobre a posição da Zon
na área dos conteúdos, defendendo mesmo
a criação de um grupo constituído pela Anacom, EC e AdC para estudar o “abuso de
posição” da agora concorrente e a separação
grossista e retalhista dos conteúdos.
De acordo com os timings conhecidos,
depois da consulta pública, que terminou a
29 de Agosto, o governo pretendia lançar o
concurso ainda durante o mês de Outubro
(o que ainda não tinha acontecido no fecho
desta edição), tendo os interessados 40 dias
para se candidatarem. A avaliação será feita
pela ERC num relatório a elaborar até 30
dias úteis após a recepção das candidaturas.
E o vencedor do concurso terá 12 meses
para iniciar as suas emissões. Mas só o poderá fazer quando a plataforma gratuita de
TDT já estiver implementada, uma vez que
o novo canal será totalmente digital.
TIC à lupa
SECTOR POSTAL
Liberalização
total à vista
Os serviços postais no espaço comunitário ficam
totalmente liberalizados em 2011. A partir daí,
todas as empresas estão em concorrência
em todas as áreas de negócio. A incumbente
postal está a preparar-se. E já há manifestações
de interesse na área ainda fechada
D
epois de anos de indefinição, o
Parlamento Europeu decidiu finalmente estabelecer uma data
definitiva para a liberalização
dos serviços postais no espaço
comunitário. A partir de 1 de Janeiro de
2011 todos os serviços postais ficam abertos
à exploração de todas as empresas do sector. Uma medida que, dado o calendário de
abertura gradual, apenas se aplicará à área
da correspondência abaixo das 50 gramas,
onde os CTT – Correios de Portugal mantinham o seu monopólio histórico.
O texto agora aprovado mantém os elementos-chave da proposta inicial da Comissão Europeia (CE), nomeadamente no
que respeita à abolição da área reservada,
ao âmbito e critérios do serviço universal,
ao reforço dos direitos dos consumidores, à promoção do papel das autoridades
nacionais de regulação e à salvaguarda e
financiamento do serviço universal. Isto
depois de o Conselho Europeu, ainda sob
presidência portuguesa, ter incorporado
na sua posição comum os principais elementos defendidos pelos eurodeputados,
a saber: o serviço universal deve continuar
a ser prestado em toda a sua extensão, incluindo pelo menos uma entrega e recolha
82
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
cinco dias por semana para cada cidadão
da UE.
Todavia, a directiva que prevê a abertura total do mercado postal contempla
a possibilidade de alguns Estados membros poderem adiá-la por mais dois anos,
nomeadamente nos casos dos países que
se encontram mais atrasados no processo: Roménia, Chipre, Eslováquia, Grécia,
Hungria, Letónia, Lituânia, Luxemburgo,
Malta, Polónia e República Checa. Em todo
o caso, e para evitar distorções de mercado
e concorrência desleal, a CE permite aos
Estados membros que tenham aberto o
seu mercado, entre 1 de Janeiro de 2011
O correio expresso
é o negócio em que existe
maior concorrência. Em
Junho, representava 7%
do total de objectos
postais explorados em
regime liberalizado. Os CTT
detinham 46,1% do total
deste mercado, onde estão
todas as multinacionais
e 31 de Dezembro de 2012, recusar aos
monopólios que operam noutros Estados
membros autorização para operarem no
seu território.
Os CTT sempre se mostraram abertos
ao aumento da concorrência, garantindo
terem os meios para enfrentar os novos
desafios do mercado. O próprio ministro
das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, que detém a tutela das
comunicações, incluindo o sector postal, já
assegurou que a operadora incumbente está
preparada para a liberalização, deixando clara a expectativa de que a abertura do sector
“traga novos serviços, mais diversificados e
mais baratos”. De acordo com o governante,
os serviços postais são um “elemento importante da Estratégia de Lisboa”, dada a
sua contribuição para o crescimento (representam 0,4% do produto interno bruto
europeu) e para a criação de emprego, uma
vez que dão trabalho, de forma directa, a
1,7 milhões e, indirectamente, a 3,5 milhões
de pessoas. A área ainda reservada apenas
aos CTT representa mais de 70% do tráfego
total. E já são algumas as operadoras interessadas neste bolo, como os casos da DHL,
Chronopost e TNT, que têm manifestado
essa intenção publicamente.
CTT DOMINAM
O tráfego postal de serviços liberalizados
– envios de correspondência cujo preço seja
superior a duas vezes e meia a tarifa de referência (Correio Azul até 20 g), desde que
o seu peso seja superior a 50 g – alcançou
no primeiro semestre do ano 139,8 milhões
de objectos, menos 0,3% que um ano antes.
A grande maioria refere-se ao mercado nacional, que representa 92,5% do tráfego total
explorado em concorrência. Os números do
regulador sectorial mostram que o tráfego internacional tem sido o principal responsável
pelos recuos nos números do tráfego total.
Só no segundo trimestre recuou 7,8% face
ao trimestre anterior. Já o tráfego nacional
aumentou 4,9% entre Abril e Junho, face a
período homólogo, graças ao aumento do
volume de correspondências endereçadas
nacionais dos CTT.
Do total de 139,8 milhões de objectos
postais explorados em regime liberalizado
movimentados entre Janeiro e Junho, cerca
de 9,2 milhões respeitavam a correio expresso, que tem assim um peso de 7% do
total do tráfego explorado em concorrência.
O restante é representado por todos os serviços liberalizados fora do correio expresso. Os
CTT detinham uma quota média no semes-
tre de 46,1% do correio expresso, revelando
um ganho gradual de quota às concorrentes
há três trimestres consecutivos. Nos serviços
não enquadrados na categoria de correio
expresso a tendência é inversa, com a incumbente postal a deter uma quota média de
96,1% nos seis primeiros meses do ano.
No total, o sector empregava no final de
Junho, nos serviços postais liberalizados,
mais de 17 mil pessoas, sendo 14,5 mil dos
CTT. Existiam 18,85 mil postos de acesso
(18,7 mil dos CTT), 491 centros de distribuição (133 dos CTT) e uma frota de 5866
veículos (4,3 mil dos CTT). Em Portugal,
estão presentes as principais operadoras
postais mundiais, como a DHL, Chronopost, TNT, UPS e FedEx. A DHL Express
Portugal está apostada em tirar partido do
seu novo terminal, localizado na Alta de
Lisboa, um investimento de 22,5 milhões
de euros, que permitirá movimentar cerca
de 11 milhões de objectos por ano. A Chronopost anunciou recentemente os seus
resultados semestrais, onde apresentou
um crescimento de 13,7%, alcançando uma
facturação de 17,5 milhões de euros. Já a
TNT tem vindo a reforçar a sua actividade
no mercado ibérico. Reflexo disso foi a
aquisição da empresa espanhola TG+.
INDICADORES POSTAIS EM PORTUGAL
2008
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Serviços de correio
expresso
7
11
10
36
38
54
60
Serviços fora do correio
expresso
4
4
4
6
8
10
10
(1.º sem.)
Prestadores (unidades)
Tráfego postal liberalizado *
Total
153 531
212 435
254 503
254 719
303 564
287 806
139 885
12 578
16 363
19 318
15 670
17 194
17 733
9 227
140 953
196 072
238 053
230 049
286 370
287 803
130 657
Serviços de correio
expresso
Serviços fora do correio
expresso
Emprego (unidades)
Total
18 203
17 531
16 806
16 686
16 769
16 528
17 087
Grupo CTT
16 874
15 698
15 005
14 695
14 355
14 026
14 509
1 329
1 833
1 804
1 991
2 414
2 502
2 578
Outros prestadores
Quotas de mercado
CTT
Out.
CTT
Out.
CTT
Out.
CTT
Out.
CTT
Out.
CTT
Out.
CTT
Out.
Serviços de correio
expresso
59,6
40,3
44,3
55,7
38,7
61,3
41,6
58,4
42,2
57,8
44,6
55,4
47,2
52,8
Serviços fora do correio
expresso
95,5
4,5
95,9
4,1
97,0
3,0
97,4
2,1
97,8
2,2
97,6
2,4
95,6
4,4
Quotas de mercado/tráfego (%)
* Em milhares de objectos.
Fonte: Anacom
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
83
TIC à lupa
FABRICANTES
Banda larga
impulsiona
mercado
A concorrência acrescida do mercado de comunicações,
a par dos novos projectos que se avizinham, traz “bons ventos”
para as principais fabricantes mundiais a operar em Portugal.
A crise mundial não deverá travar os investimentos
A
renovada dinâmica das comunicações nacionais, com
a concorrência acrescida no
mercado da banda larga e da
televisão, e o reforço das ofertas multiple-play estão a abrir novas janelas de oportunidades para as principais
fabricantes e fornecedoras do sector. Às
quais acrescem os novos projectos, como
a TDT, a nova licença móvel, o BWA e o
quinto canal. Sem esquecer a aposta do governo na banda larga ou os novos operadores móveis virtuais. IPTV, Wi-Fi, WiMax,
HSDPA/HSUPA, ADSL+, FTTH, DVB-T,
DVB-H. As expectativas são grandes em
torno das tecnologias.
Depois do crescimento quase
exponencial das comunicações móveis e
dos dividendos que daí retiraram todos os
players deste mercado, a indústria acabou
por se ressentir e a estagnação marcou
os últimos anos. Taxas de penetração
muito superiores a 100%, alguma indefinição regulatória e atrasos no avançar
84
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
de importantes projectos levaram a um
abrandamento generalizado. Mas a recente
explosão da banda larga, muito por mérito
dos últimos executivos, e o desbloquear de
importantes pastas em cima da mesa do
regulador sectorial estão a dar um novo
ânimo ao sector. A banda larga nas escolas
e nos organismos da AP central e local,
a voz, os dados e o vídeo nas empresas e
nos lares, a Internet sem fios nos hotéis,
nos aeroportos, nos cafés, nas ruas e nos
jardins. O mundo está cada vez mais dependente das comunicações.
PROCURA FAZ CRESCER
LARGURA DE BANDA
Apesar de muitas consultoras e analistas
de mercado garantirem que 2009 será um
ano de abrandamento no mercado dos telemóveis, a verdade é que as comunicações
não se limitam à voz móvel e encontram
nas novas ofertas e soluções tecnológicas
uma boa saída para a crise. E mesmo assim não faltam aqui novas oportunidades.
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
85
TIC à lupa
Veja-se, por exemplo, o concurso para a
quarta operadora móvel em Portugal. Ou
ainda o aparecimento de operadoras móveis
virtuais, como o Phone-ix dos Correios ou
o recente Zon Mobile.
Mas é nas novas formas de acesso e
nos novos serviços que reside o grande
potencial de crescimento para os fornecedores de comunicações. Desde logo a
TDT. E a tecnologia IPTV, que conta já
com as ofertas do Clix SmartTV, da Sonaecom, e do Meo, da PT. Já para não falar da fibra óptica e de todas as redes de
nova geração. Depois de meses e meses a
debater modelos de negócio, paradigmas
de regulação e cenários de concorrência,
começam-se a dar os primeiros passos na
corrida pelas RNG. O tiro de partida foi
dado pela Sonaecom, já com uma oferta
comercial no mercado e um investimento
em curso de 240 milhões de euros a três
anos. A banda larga é outro dos negócios
em forte crescimento e as potencialidades
são enormes, tanto nas redes fixas como
nas móveis. E nestas as expectativas são
ainda maiores, com o programa e-escolas,
que está a gerar um boom nos acessos.
A nível empresarial, a procura – sobretudo da banda larga – também está a disparar.
Um inquérito à actividade empresarial realizado este ano pela AIP mostra que 96%
das empresas que participaram na pesquisa
afirmam ter ligação à Internet em banda larga. Esta percentagem passa para 98% entre
as empresas exportadoras e entre as médias
e grandes organizações, sendo de 92% nas
microempresas e de 97% nas pequenas.
O estudo mostra igualmente que o ADSL é
o tipo de acesso à Internet em banda larga
preferido por 76% dos respondentes, seguindo-se “outras formas de acesso” (12%) e o
“acesso por cabo” (9%). As outras formas
de acesso em banda larga são especialmente
significativas entre as médias (16%) e grandes (35%) empresas.
Mais de 70% dos inquiridos garantem
ter página na Internet, 33% referem utilizar
alguma forma de comércio electrónico, sobretudo para adquirir bens e serviços, sendo
o uso “para vendas” referido por 15% das empresas. Apenas 8% afirmam participar em
algum tipo de e-market place. O inquérito
indica ainda que o recurso às tecnologias
de informação aumenta com a dimensão da
86
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
É nas novas formas
de acesso e nos novos
serviços que reside
o grande potencial
de crescimento para
os fornecedores de
comunicações.
Desde logo a TDT.
E a tecnologia IPTV. Já
para não falar da banda
larga e das RNG
empresa. Entre as grandes empresas, 92%
asseguram ter uma página na Internet (51%
nas micro); 42% utilizam alguma forma de
e-commerce (27% nas micro) e 15% participam nalgum e-market place (4% entre as
microempresas).
Este e outros estudos revelam também
que a utilização da banda larga tem vindo
a incrementar progressivamente, à medida
que aumenta as necessidades de comunicação, que o mercado adopta estratégias
on-line, que a necessidade de maiores larguras de banda é sentida pelas organizações
e que muda a forma como colaboradores
e organizações trabalham. À medida que
se ‘webizam’, as empresas deixam de poder contar apenas com as velhas formas de
acesso. Procuram cada vez mais ligações
GigabitEthernet, FastEthernet, VoIP e outros serviços baseados em IP e LAN-WAN.
É neste cenário que trabalham alguns dos
principais nomes da indústria no mercado
nacional. Com bons resultados financeiros e
entusiasmo pela forma como está a evoluir o
sector no nosso Pais, não deixam, contudo,
de mostrar alguma preocupação e cautela
quanto às consequências da crise financeira,
que já está a afectar a economia mundial.
TIC à lupa
m Beato Teixeira lidera a Alcatel-Lucent
ALCATEL-LUCENT APOSTA NO IP
O ano passado foi especialmente desafiante
para a Alcatel-Lucent. Foram os primeiros 12
meses de actividade da subsidiária nacional
enquanto empresa que resultou da fusão entre
a Alcatel e a Lucent e a integração do negócio
de acesso UMTS adquirido à Nortel. E o resultado não podia ser melhor: registou proveitos
operacionais de 117,7 milhões de euros (mais
26% que em 2006), vendas de 111,5 milhões
de euros (mais 23%), sendo 21,1 milhões de
exportação de bens e serviços, e um resultado
líquido de 3,2 milhões de euros.
A subsidiária revela que este ano a taxa
de crescimento tem sido positiva nos vários
segmentos de negócio, com destaque para
as áreas de acesso fixo, acesso móvel (que, a
par dos serviços, são as que têm maior peso
no negócio) e multicore. Mas também a
área de aplicações, nomeadamente serviços
de televisão por IP ou redes inteligentes,
têm vindo a crescer de importância. O
acesso fixo é a que apresenta um crescimento constante nos últimos anos, dada
a massificação da Internet de banda larga,
prevendo-se que o mesmo se mantenha
com a introdução da FTTH (Fiber to the
Home) nos próximos tempos.
Quanto a investimentos, prevê-se para
2008 a manutenção dos valores registados
no ano passado de “vários milhões de euros”.
A subsidiária liderada por António Beato
Teixeira continua a centrar-se no desenvolvimento de centros de competência (serviços
profissionais, planeamento e optimização de
redes móveis, operação e manutenção de
redes móveis) e reality center (aplicações
de vídeo e entretenimento), que potenciam
88
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
a geração de conhecimento e o desenvolvimento de aplicações inovadoras. A fabricante
tem, de resto, vindo a apostar fortemente em
ser um parceiro tecnológico de referência das
operadoras portuguesas na transformação
das suas actuais infra-estruturas para redes
de nova geração (RNG), sobretudo no desenvolvimento de redes de acesso baseadas
em tecnologia GPON (para a rede fixa), LTE
(para a móvel) e evolução para IMS e convergência de serviços fixo-móvel.
Este ano, a empresa focalizou-se num
conjunto de importantes projectos nacionais.
Com especial destaque para o Meo, da PTC
(plataforma IPTV e serviços associados); para
o call center Genesys, da Zon Multimédia;
para a rede de acesso UTRAN (3G), da Vodafone Portugal; para a infra-estrutura BB Fixa,
da Vodafone, baseada em tecnologia ADSL;
para o Mobile TV, da Sonaecom/Optimus,
e para a primeira rede de teste WIMAX no
aeroporto de Lisboa/ANA. O mercado português apresenta cada vez mais propostas de
triple e quadruple-play aos seus clientes, e
por isso a Alcatel-Lucent está cada vez mais
activa nos serviços convergentes móveis e
fixos com Internet e televisão associada, seja
ela IPTV ou DVB SH.
E a fabricante tem estado “ao lado do governo português na forte aposta que faz para
que em 2010 uma Internet verdadeiramente
rápida chegue a pelo menos um milhão de
empresas e lares em Portugal”. Para concretizar este objectivo, “trabalhamos todos os
dias com as operadoras de telecomunicações
portuguesas, com o regulador e com as instituições de governo local e regional para
concretizar este desígnio nacional”. Embora
as expectativas económicas internacionais e
nacionais perspectivem uma desaceleração
geral da economia, os responsáveis da empresa acreditam que alguns dos projectos
em que está a trabalhar em conjunto com
operadoras, nomeadamente a fibra até casa
ou FTTH através de GPON, são “projectos de
interesse nacional tão importantes e relevantes para o desenvolvimento económico que
em si são motores da economia nacional”.
Pelo que “prevemos que estes projectos se
desenvolvam de acordo com as expectativas
do governo”, confiando na “existência de recursos financeiros e técnicos dos operadores
nacionais capazes de mitigar uma projectada
estagnação da economia”.
De entre os projectos que, garantem,
irão contribuir para o desenvolvimento
nacional, apontam como mais relevantes a
implementação de FTTH através de GPON e
as redes comunitárias IP. De destacar ainda os
projectos que desenvolve a partir de Cascais
para gestão e monitorização de redes complexas de comunicações e que contribuem
com uma interessante fatia de cerca de 10
milhões de euros, essencialmente através da
exportação destas tecnologias e serviços para
os várias regiões do mundo, nomeadamente
Angola, Europa e Sudoeste Asiático.
Recentemente, a subsidiária nacional assinou diversos acordos de entendimento (MOU)
com as principais instituições científicas e académicas portuguesas para o financiamento de
educação em tecnologias avançadas e desenvolvimento de investigação conjunta.
m A Cisco tem Carlos Brazão como director-geral
CISCO QUER TRIPLICAR ACADEMIAS
A reforçar investimentos em Portugal e
a contribuir para a produtividade do País
está também a Cisco, que este ano inaugurou nova sede da subsidiária nacional. Um
investimento de 10 milhões de euros que
premeia o talento nacional e representa o
reconhecimento das oportunidades que a
fabricante vê no mercado nacional, onde
pretende investir em muitas áreas, sobretudo
na rede do projecto de academias que tem
no nosso País. Nesta área, tem como alvo triplicar o número de academias em território
português até 2011, quando espera alcançar
um total de 400. E pretende dar formação a
mais de 10 mil portugueses.
De acordo com Carlos Brazão, director-geral da subsidiária, o programa de academias
tem tido um grande sucesso, estando actualmente em actividade 140. Ao pretender triplicar
o seu número, a intenção é “colocar Portugal no
pódio dos países com mais literacia e índices
profissionais qualificados em tecnologias de
Internet”. A abertura da nova sede surge depois da entrada em funcionamento do centro
de operações para a Europa Hércules, que o
nosso País conseguiu garantir após vencer as
candidaturas da Irlanda e da Holanda. Esta
unidade já está a fazer ‘mexer’ a subsidiária
nacional, que está à procura de uma centena
de novos talentos para contratar a curto prazo.
Um grupo inicial, composto por 30 especialistas, irá dedicar-se à área de vendas internas de
várias sub-regiões da Europa, que a fabricante
pretende concentrar entre nós. Além destes
30, está igualmente prevista a contratação de
cerca de uma dezena de colaboradores para o
projecto Liberty, que concentra na capital todas
as operações europeias de vendas.
Tanto no centro Hércules como no projecto Liberty, a Cisco Portugal poderá vir a
investir qualquer coisa como 40 milhões
de euros nos próximos três a quatro anos.
A subsidiária nacional pretende, de resto, fazer do nosso País uma espécie de near shore
e transformar estes centros em verdadeiras
unidades de negócio.
m A Ericsson é presidida por Hans-Herhard Reiter
ERICSSON: ASSEGURAR EFICIÊNCIA
A Ericsson é outra fabricante que tem dado
especial destaque à banda larga móvel, no
âmbito da qual garante ter contribuído “para
que Portugal assumisse a liderança na Europa em termos de penetração e de débitos”.
O foco da estratégia vai para o conceito “Full
Service Broadband”, que consiste no acesso
de banda larga a qualquer serviço, a partir de
qualquer lugar e através de qualquer ecrã:
TV, computador, telemóvel – proporcionando, assim, soluções end-to-end para serviços
de alto débito e a continuada evolução dos
débitos na banda larga móvel continuam a
ser importantes apostas.
De destacar a actividade em torno do
IPTV. A Ericsson foi, de resto, a primeira empresa a nível mundial a lançar uma solução
de IPTV integrada com IMS (IP Multimedia
Subsystem), tendo ainda sido pioneira no
fornecimento de IMS às operadoras portuguesas. Esta aposta na liderança tem, naturalmente, consequências positivas para a
performance financeira. Em 2008, o volume
de negócios da Ericsson Telecomunicações
cresceu 7%, percentagem que tem mesmo
subido ao longo deste ano. As áreas com
maior crescimento são os serviços profissionais (22%) e multimédia (15%).
No contexto actual, a fabricante encara
2009 com alguma cautela. “É provável que
o impacto da crise se manifeste também de
uma maneira mais incisiva no sector das
telecomunicações em Portugal. Nestas circunstâncias, consideramos prudente contar
com um nível de negócios semelhante ao
de 2008”, salientam os responsáveis pela
subsidiária nacional. Independentemente
da crise, esperam que no próximo ano a
construção das RGN venha a acelerar no
nosso País, em linha com as orientações
do governo. E pretende posicionar-se para
esta nova fase no desenvolvimento das comunicações em Portugal tirando proveito
das “avançadas soluções tecnológicas e da
competência dos seus colaboradores”.
Tanto a nível internacional como nacional,
o desenvolvimento do negócio multimédia,
a abordagem abrangente da banda larga
(através da proposta Full Service Broadband) e o LTE constituem os projectos de
maior relevância para os próximos tempos.
Mantém igualmente a sua determinação, e
consequentes políticas de ser uma empresa
muito eficiente, “assegurando que os seus
recursos correspondem às necessidades
exigidas pelo volume de negócio em qualquer momento”. Pelo que vai prosseguir
“a sua forte aposta na formação contínua
dos seus colaboradores, que continuam a
ser considerados de elevada competência
a nível internacional”.
m Na NEC, Antonio Morão é administrador-delegado
NEC REFORÇA COMPETÊNCIAS
Perspectivas optimistas tem também a NEC
Portugal. A empresa está a desenvolver projectos em áreas estratégicas como a banda
larga e a investigação e desenvolvimento
na área empresarial, através do Centro de
Competência de Aveiro. O objectivo é impulsionar projectos e serviços com vista à
sua internacionalização. As inovações associadas à tendência da convergência fixo-móvel são outra área de focalização, tendo
lançado recentemente a solução Femtocell,
uma pequena estação de base celular criada
para a utilização em ambientes residenciais
ou em pequenas empresas e que funciona
como ponto de acesso celular que reencaminha o tráfego de voz móvel através das
ligações de banda larga preexistentes. “Em
Portugal continua a haver um crescimento
deste tipo de tecnologia, porque, havendo
necessidade de maiores larguras de banda
e sendo a tecnologia microondas uma alternativa à fibra, há aqui uma oportunidade
de crescimento interessante”, garantem os
responsáveis nacionais.
Passando a estratégia da fabricante pela
aposta em áreas de maior valor, o Centro de
Competência de Aveiro tem vindo a desempenhar um papel crucial. Nomeadamente na
que é considerada “uma oportunidade muito
importante”, a migração da rede de comunicações ferroviárias analógica para digital e a
aposta da operadora ferroviária nacional na
interoperabilidade entre os Estados da UE,
conforme a especificação standard europeia
GSM-R, que em breve deverá ser lançada
em Portugal. O trabalho de concepção e
desenvolvimento da solução tecnológica foi
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
89
TIC à lupa
totalmente realizado pelo Centro de Competência em GSM-R da NEC Portugal, que é
único no País. E que acumula, com o conhecimento específico da tecnologia GSM-R,
20 anos de investigação e desenvolvimento
na área de comunicações ferroviárias para o
mercado nacional. Neste âmbito, estão em
preparação algumas parcerias internacionais,
das quais se destacam as que resultam do
desenvolvimento de negócio internacional
associado ao rádio de cabina GSM-R.
Outra grande oportunidade para a NEC
Portugal é a parceria que firmou com a empresa Sepura, o segundo maior fornecedor de
rádios TETRA a nível mundial, para alargar
a sua oferta no ramo das telecomunicações.
Este novo acordo vem dar à operação portuguesa a capacidade de efectuar a promoção,
distribuição e suporte pós-venda dos produtos da Sepura no mercado nacional.
m
João Picoito lidera a operação ibérica da NSN
NOKIA SIEMENS CRIA VALOR
Iniciou as suas operações oficialmente em
Abril do ano passado, na sequência da fusão
entre as duas gigantes. A Nokia Siemens Networks (NSN) Portugal arrancou com 220
milhões de euros de receitas e mil postos de
trabalho directos. Sem avançar mais números desagregados para o mercado nacional,
adianta que uma das apostas estratégicas
tem sido a criação de valor em Portugal em
áreas de inovação e de tecnologias avançadas
recorrendo ao contributo dos engenheiros
portugueses. O resultado foi a consolidação
dos dois mais recentes centros de inovação
mundiais em áreas de telecomunicações
e tecnologias de informação. Localizados
em Aveiro e no Taguspark, encontram-
90
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
-se actualmente em plena velocidade de
cruzeiro e a responder às maiores expectativas. Igualmente de destacar é o novo
Global Network Solutions Center na área
de serviços, o segundo a nível mundial,
considerado pelo governo de José Sócrates
de interesse estratégico para a economia
nacional.
Um dos aspectos de maior realce na
actividade da subsidiária é a sua relação
com o governo nas mais diversas áreas. E
são muitos os exemplos desta colaboração.
Um deles envolve a Agência Portuguesa
para o Investimento, com a qual assinou
um protocolo para a criação do Global Networks Solutions Center nas instalações
da NSN, em Alfragide. Este projecto, parte integrante da estratégia de serviços da
empresa, veio “reforçar o posicionamento
de Portugal como um país de excelência
para a localização de investimentos em
tecnologias de informação e fornecimento
de serviços de alto nível, com competências
mundiais”. O projecto em causa tem vindo
ainda a contribuir para a criação de um
importante número de postos de trabalho
qualificados, assim como a colaboração
com as universidades e instituições de ensino. O centro foi, de resto, qualificado de
interesse estratégico para a economia por
uma resolução do Conselho de Ministros.
Mais recentemente, e também no
seguimento da cooperação com as universidades portuguesas, a fabricante assinou um protocolo com a Universidade
de Aveiro e a Fundação para a Ciência
e Tecnologia, no âmbito do Programa
Ciência 2008, com vista à criação de uma
cátedra Nokia Siemens Networks para o
desenvolvimento de projectos de investigação e desenvolvimento em áreas de
telecomunicações. De salientar ainda a
colaboração existente com a COTEC – Associação Empresarial para a Inovação, que
tem desenvolvido importantes projectos
em parceria com a empresa.
SUN DIVERSIFICA INTERESSES
O mercado dos servidores, as telecomunicações e as pequenas e médias empresas estão no centro das atenções da Sun
Microsystems. A subsidiária nacional
da fabricante, à semelhança das suas
congéneres, está a diversificar as suas
m Jorge Salamanca, director-geral da Sun
áreas de negócio, tentando assim aproveitar a curva ascendente de investimento
que se está a registar neste sector. É que,
apesar da actual crise financeira, a evolução tecnológica e o aparecimento de toda
uma nova oferta garantem uma procura
que se renova a bom ritmo.
A estrutura ibérica da Sun decidiu, assim,
assentar a sua estratégia na disponibilização
de sistemas e aplicações abertas, as melhores, na opinião dos responsáveis da empresa, para fazer face à crescente massificação
dos sistemas de informação e à aposta dos
governos (como o português) em plataformas não proprietárias, que contribuam
para a democratização das tecnologias.
Não é assim por acaso que a Sun passou
os últimos três anos a transformar-se numa
‘fabricante aberta’.
Mas em Portugal – e em Espanha – o
grosso das receitas (70%) ainda provém
da venda de produtos, nomeadamente
hardware, software e soluções de armazenamento. O restante chega da prestação
de serviços. Para tirar partido desta relação de forças dentro da própria Sun, a
operação nacional lançou recentemente o
programa Startup Essentials, que tem por
objectivo incentivar o consumo através
de descontos na compra de soluções TIC,
suporte técnico e serviços de hosting.
Quanto às demais multinacionais a
operar no mercado nacional, a COMUNICAÇÕES tentou, sem sucesso, recolher
informações sobre a sua actividade, assim
como sobre os principais projectos em
que estão envolvidas e expectativa de
evolução dos respectivos negócios.
TIC à lupa
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO
Cautela domina
Para já, a crise parece não estar a afectar as subsidiárias
das principais multinacionais a operar em Portugal.
Crescimentos de dois dígitos e aposta em novas áreas
de negócio são a tónica dominante. Mas olham
com muita cautela o futuro
E
stará a crise que se abateu sobre os
mercados financeiros mundiais a
afectar o sector das tecnologias de
informação (TI)? Existem sinais
de abrandamento? Estão em risco investimentos? Quais as consequências
para o futuro? Tudo questões para as quais
ainda não existem respostas concretas, mas
que não deixam de ser colocadas por todos
e por cada um dos principais responsáveis
do sector. Quando tudo parecia voltar à
normalidade, ultrapassados que estavam os
efeitos do rebentar da bolha das dot.com,
volta a surgir o fantasma da crise. Depois
de anos de racionalização de efectivos, reestruturações, concentração no core-business, contenção de custos e adaptação da
oferta às necessidades do mercado, a confiança voltou, os investimentos dispararam, os projectos apareceram, a tecnologia
evoluiu. Mas a actual crise financeira e as
consequências que já está a ter nas economias mundiais lançam novas sombras sobre
as TI. É que os bancos, os piores afectados
92
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
pela crise, são dos seus principais clientes. Apesar das notícias que começam a
surgir sobre anúncios de despedimentos
de grandes nomes da indústria, existe um
sentimento misto entre o pânico contido
e a confiança inabalável de quem acredita que ‘já se passou por pior’. Os sinais não
são claros. Ao mesmo tempo que a IBM
Apesar das notícias
que começam a surgir
sobre anúncios de
despedimentos de grandes
nomes da indústria, existe
um sentimento misto
entre o pânico contido
e a confiança inabalável
de quem acredita que
‘já se passou por pior’.
Os sinais não são claros
tem crescimentos trimestrais de 20% e a
Microsoft investe mais de 360 milhões de
euros na Internet, a HP despede quase 25
mil colaboradores.
Na previsões, há cenários para todos
os gostos. Dados da IDC garantem, por
exemplo, que os portáteis de baixo custo
vão continuar a sustentar o crescimento
do mercado de computadores pessoais durante os próximos tempos. Para este ano,
o incremento esperado das vendas deverá
chegar próximo dos 16%, um aumento de
dois dígitos que se prolongará pelo menos
até 2011. Estes valores baseiam-se, entre
outras fontes, nas vendas registadas na
Europa durante o segundo trimestre deste
ano, com aumentos da ordem de 23%. Em
idêntico período de 2007, a subida foi de
12%. A IDC mostra-se, assim, confiante na
evolução do negócio dos portáteis de baixo
custo e na popularidade que alcançarão
entre os consumidores, de tal forma que
garante que o sector viverá um boom de
vendas nos próximos dois anos.
RANKING NACIONAL
DOS SERVIÇOS DE TI
Empresa
Vol.
Quota *
negócios
IBM
248
12,6%
Lógica
146
7,4%
Novabase
109
5,5%
Accenture
92
4,7%
HP (com EDS)
87
4,4%
Glintt
86
4,4%
PT SI
83
4,2%
Reditus **
53
2,7%
Outros
1 068
54,2%
Total
1 972
100%
Fonte: IDC, Setembro 2008.
* As quotas são calculadas com base no volume
de negócios. ** Incluindo Tecnidata.
Em milhões de euros.
Mas a realidade parece estar a mostrar
outra coisa. Uma sondagem da Forrester
Research e dados recolhidos pela agência
Bloomberg revelam que quase metade das
empresas europeias e norte-americanas
está a fazer cortes nos seus orçamentos
para investir em tecnologia. Assim como
a negociar preços mais baixos nos equipamentos informáticos e a reduzir o número
de fornecedores com quem trabalham,
situação especialmente constatada nos
Estados Unidos. Entre as que mais têm
travado o investimento estão empresas
de telecomunicações, serviços financeiros
e utilities. A Bloomberg vai mais longe e
garante mesmo que nomes como a Microsoft, a Cisco e todas as fabricantes de computadores poderão vir a perder qualquer
coisa como 3,3 mil milhões de euros no
próximo ano com o corte nas encomendas,
à medida que cada vez mais empresas se
vejam forçadas a combater a crise económica com menos gastos em informática.
Basta ver que 20% dos gastos mundiais
MERCADO DE TI EM PORTUGAL – 2007-2012
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Hardware
1 422,2
1 636,7
1 889,4
1 954,5
2 010,5
2 080,3
Software
486,4
525,5
569,7
617,7
666,6
717,7
Serviços
834,7
874,6
919,2
965,4
1 017,1
1 070,4
2 743,2
3 036,9
3 378,3
3 537,6
3 694,2
3 868,4
Total TI
Em milhões de euros.
Fonte: IDC, Junho 2008
com tecnologia são feitos pelo sistema
financeiro. A agência dá alguns exemplos:
na IBM, 30% das vendas provêem precisamente deste sector económico, na Oracle,
18%, e na Microsoft, 22%.
Para o mercado nacional, os sinais são
mais encorajadores. Pelo menos para já.
As medidas promovidas pelo governo no
âmbito do Plano Tecnológico (como o
e-escola e, mais recentemente, o e-escolinha), o Programa de Reforma da Administração Pública, do Simplex e das demais
iniciativas actualmente em curso (TDT e
fibra óptica) estão a alavancar a indústria.
O Programa de Investimentos e Despesas
de Desenvolvimento da Administração
Central (PIDDAC) para 2009 tem previstos mais de 266 milhões de euros para
a SI e para o governo electrónico, quase
677 milhões de euros para a investigação
científica e tecnológica e inovação, 195,8
milhões para a formação e qualificação
para o desenvolvimento tecnológico e
inovação e 178 milhões para promover a
produção científica.
A verdade é que a aposta na SI tem impulsionado a adopção de tecnologias como
nunca antes. As redes de acesso em banda
larga em todas as escolas, a informatização
dos serviços públicos, a distribuição de
milhares de portáteis – recentemente alargados ao já tão famoso Magalhães – pelos
alunos portugueses são medidas acolhidas
de bom agrado pelas principais fabricantes
e fornecedoras. De acordo com a IDC, só
nos primeiros seis meses deste ano foram
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
93
TIC à lupa
vendidos mais de 228 mil computadores
portáteis em Portugal, mais 115% que
um ano antes. Em 2007, as empresas de
serviços de TI a actuar no mercado nacional registaram um volume de negócios
total de 4,7 mil milhões de euros, 41% dos
quais gerados por prestação de serviços de
TI, com o restante dividido entre vendas
de hardware e software. Se a AP tem sido
um dos principais motores da procura de
bens e serviços tecnológicos, tudo aponta
que esse papel venha, no futuro, a ser
representado pelas PME nacionais. Senão
veja-se o facto de a linha de crédito PME
Investe ter recentemente suspendido as
candidaturas, uma vez que o volume de
procura registado ultrapassou o montante
global de 750 milhões de euros fixados por
este instrumento de apoio financeiro.
É neste cenário que operam alguns dos
principais nomes da indústria no nosso
País, entre os projectos que são muitos e
o natural posicionamento cauteloso numa
época de crise e incerteza.
IBM: CONFIANÇA NO FUTURO
2007 foi globalmente positivo para a
IBM, na medida em que reflectiu os
resultados da transformação feita ao
modelo de negócio, crescentemente
baseado na inovação e na integração
global. Segundo o seu presidente, José
Joaquim de Oliveira, a empresa registou
“o crescimento mais sólido desde 2003”,
graças a um “desempenho excelente ao
nível das receitas”, que cresceram 8%.
No mesmo contexto, também as margens de lucro cresceram 42,2%, resultado
que traduz “o foco na produtividade e a
orientação para os segmentos de mercado mais rentáveis, de que é exemplo o
software”. Estes resultados repetiram-se
em 2008, e, no segundo trimestre, os
dividendos líquidos por acção registaram
uma subida de 28%, confirmando assim
o sucesso do novo caminho traçado pela
IBM. Aqui, as áreas de Global Technology Services e Global Business Services
foram as que mais contribuíram para o
forte desempenho, com reforços de 15%
e 18%, respectivamente.
A actual situação mundial é motivo de
preocupação, “ainda que com serenidade
e com a confiança de que é uma conjuntura negativa que se irá resolver, sem
maiores dificuldades e fugindo aos cenários mais pessimistas que se apontam.
O mercado vai responder naturalmente
com as ajudas que têm de ser dadas pelos
94
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
m
José Joaquim Oliveira, presidente da IBM
bancos centrais e pelo governo, particularmente nos Estados Unidos. Estamos
por isso optimistas de que é uma crise
com tempo determinado e de que até ao
final do ano assistiremos à sua solução e
clarificação”, garante o responsável. Pelo
que se mantém confiante na capacidade
da IBM Portugal em continuar a crescer
no futuro. Essa é, de resto, a meta estabelecida para o próximo ano, assente no
modelo de negócio que tem garantido a
presente estabilidade, “diferenciando-nos da concorrência, permitindo-nos
a liderança em diferentes áreas de negócio. Numa economia baseada em serviços e operando a IBM num modelo
de integração global, esta continuará a
ser uma das principais apostas. Muito
particularmente em Portugal, e face à
expansão acelerada das PME, é neste
segmento de mercado que procuraremos
expandir o nosso negócio”.
No mesmo sentido, também o outsourcing de processos de negócio continuará a assumir especial relevância na
estratégia empresarial.
Assim, o futuro é visto com optimismo, “dado que a nossa exposição aos sectores mais afectados pela conjuntura está
controlada. Pode acontecer, de facto,
que no rescaldo da crise se venham a
perspectivar novas apostas. A IBM continuará a trabalhar com os seus clientes
e com as empresas parceiras, no sentido
de os ajudar a enfrentar esta conjuntura
da melhor forma possível”, explicou. Em
tempo de crise, uma das questões que
se coloca, à partida, é a possibilidade
de haver fusões e aquisições. A própria
IBM tem vindo a reforçar a sua actividade
mediante algumas aquisições estratégicas. “Esta orientação estratégica tem-nos permitido um posicionamento mais
competitivo no mercado, pelo que lhe
daremos continuidade, paralelamente
endereçando uma rede de parceiros cada
vez mais focalizada. Nesse sentido, e no
nosso modelo de negócio, haverá, decerto, espaço para mais parcerias de uma forma selectiva e ganhadora que connosco
queiram agarrar a oportunidade que
existe no mercado, designadamente no
domínio dos servidores”.
TOP 10 VENDEDORES – DESKTOP
Empresa
Hewlett-Packard
2.º trim.
Quota
2007
2.º trim.
2008
Quota
Crescimento
anual
21 500
31,4%
22 686
32,6%
5,5%
Dell
6 650
9,7%
8 014
11,5%
20,5%
JP Sá Couto
3 995
5,8%
6 692
9,6%
67,5%
NEC
313
0,5%
3 378
4,9%
979,2%
Introduxi
3 028
4,4%
2 500
3,6%
(17,4%)
Acer
0,o%
0,0%
2 386
3,4%
N/A
Micro Máquinas
3 567
5,2%
2 380
3,4%
(33,3%)
Lenovo
1 909
2,8%
1 909
2,7%
0,0%
Apple
910
1,3%
1 596
2,3%
75,4%
Chip7
1 500
2,2%
1 452
2,1%
(3,2%)
Outros
25 164
36,7%
16 540
23,8%
(34,3%)
Total
68 536
100%
69 533
100%
1,5%
Em unidades.
Fonte: IDC EMEA PC Tracker – 2.º trim. 2008
TIC à lupa
TOP 10 VENDEDORES – PORTÁTEIS
Quota
2.º trim.
Quota
Hewlett-Packard
27 062
25,5%
66 999
29,3%
147,6%
Toshiba
19 610
18,5%
57 844
25,3%
195,0%
Asus
15 670
14,8%
23 222
10,2%
48,2%
Acer
10 728
10,1%
22 980
10,1%
114,2%
950
0,9%
14 638
6,4%
1440,8%
2 650
2,5%
8 350
3,7%
215,1%
Sony
7 354
6,9%
7 038
3,1%
(4,3%)
Fujitsu Siemens
4 832
4,5%
6 972
3,1%
44,3%
JP Sá Couto
1 865
1,8%
5 549
2,4%
197,5%
Apple
2 145
2,0%
4 104
1,8%
91,3%
13 352
12,6%
10 637
4,7%
(20,3%)
106 218
100%
228 333
100%
115,0%
Inforlândia
Dell
m
Carlos Janicas lidera a HP
HP: CRESCER POR AQUISIÇÕES
A Hewlett-Packard Portugal está apostada
em crescer nos serviços, de tal forma que
passou a ter liberdade de acção no que
concerne à aquisição de empresas neste
área de negócio. A casa-mãe já aprovou
a estratégia e a subsidiária nacional está
agora a olhar para as oportunidades que
possam surgir no mercado. De acordo com
o seu director-geral, Carlos Janicas, a aposta
recai em projectos de nicho que possam
acrescentar valor ao actual portefólio de
produtos e serviços. O crescimento por
aquisições não é, todavia, apenas apanágio
da HP Portugal. A própria multinacional
tem estado bastante activa neste campo,
como o demonstra a compra da Electronic
Data Systems (EDS) por 8,9 mil milhões de
euros. O negócio permitirá à HP duplicar
a sua facturação, graças aos serviços de TI.
A EDS também está presente no mercado
nacional, o que deverá implicar mudanças
organizacionais nestas duas empresas. Em
conjunto, facturam qualquer coisa como
400 milhões de euros e empregam 500
pessoas. A aposta nos serviços surge depois
de, no ano passado, a subsidiária da HP ter
registado no negócio da microinformática
o maior crescimento no universo das subsidiárias que tem espalhadas pelo mundo.
Para além do crescimento por aquisições, a subsidiária nacional está apostada
em ser um elemento impulsionador do estabelecimento de centros de competência
da HP em território português, um pouco
à semelhança do que fazem alguns dos
seus mais importantes concorrentes da
indústria das TI, aproveitando os recursos
humanos locais e os planos do governo para
esta área. O que significa também reforçar
o trabalho da operação nacional junto das
96
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
Crescimento
anual
2.º trim.
Empresa
Outros
Total
2007
Em unidades.
* Ranking com base no volume de negócios.
universidades e centros de investigação. No
ano passado, a empresa registou um volume de negócios de 328 milhões de euros,
mais 9% face a 2006. Para este resultado
contribuíram, em partes iguais, unidades
como a microinformática, impressão e
soluções empresariais. Dados nacionais
indicam que a HP continua a ser líder na
venda de computadores pessoais, com 70
mil unidades vendidas nos primeiros seis
meses deste ano.
MICROSOFT: AP E TELCOS
Também a Microsoft Portugal está a atravessar um bom período. Depois de um
volume de negócios de 222,2 milhões
de euros no ano fiscal de 2007, mais 23%
que um ano antes, a evolução não deverá
ser muito diferente. Para Cláudia Goya,
2008
Fonte: IDC EMEA PC Tracker – 2.º trim. 2008
Business & Marketing Officer, a empresa
assenta o sucesso de 30 anos num eixo
essencial: “Trazer ao mercado produtos
inovadores e cujo objectivo é simplificarem e tornarem mais eficaz e produtiva
a vida de empresas, governos e cidadãos
e consumidores.” Para 2009, as diversas
novidades esperadas na área dos produtos
e a crescente aposta num modelo de negócio misto de software e serviços, baseada
em soluções de produtividade de negócio
on-line, deverão contribuir positivamente
para a performance da fabricante. Destaque para as novas áreas de oportunidade
permitidas pelas soluções de mobilidade
(depois da aquisição da portuguesa Mobicomp) e para os investimentos feitos pelo
Executivo na área da SI, que “continuam
a permitir perspectivar oportunidades de
crescimento apesar da modesta recuperação económica generalizada”.
A empresa tem estado particularmente activa na colaboração com o governo
português. Recentemente, reforçou a
parceria que tinha no âmbito do Plano
Tecnológico. Este acordo prevê a colaboração em diferentes pastas e áreas de competência, nomeadamente nos Ministérios
da Educação, Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior, Administração Interna, Justiça,
Economia, Trabalho e Segurança Social e
Presidência. Em 2007 já se tinha juntado à
iniciativa Novas Oportunidades e ao programa e-escola. E vai agora disponibilizar
software para os computadores a baixo
custo que o governo irá disponibilizar
aos formandos do programa, aos professores e aos estudantes do ensino básico e secundário, num total de 550 mil
cidadãos abrangidos. Adicionalmente,
disponibilizou o Curriculum Microsoft
de Literacia Digital a todos os portugueses, através de um sítio Web de consulta
pública e através dos cursos incluídos no
programa Novas Oportunidades. Mas a
colaboração da Microsoft com entidades portuguesas não fica por aqui. Tem
colaborado também com entidades não
governamentais, como é o caso dos projectos Janelas Abertas (com a Fundação de
Fronteira y Alorna), PORCIDE, Cais Digital (com a Associação Cais), Programa Escolhas (com o ACIDI – Alto Comissariado
para o Diálogo Intercultural) ou Programa
TII – Tecnologia, Inovação e Iniciativa
(com o CITEVE, centro tecnológico dos
têxteis).
ORACLE: MUDANÇAS
A Oracle pode, em boa verdade, ser considerada como um projecto inteiramente
novo. É que a compra de 43 empresas em
três anos mudou não só a sua organização
como também a sua estratégia. Acima de
tudo, deixou de ser uma mera fornecedora
de tecnologias para ser um verdadeiro
parceiro estratégico de negócio dos seus
clientes. Em Portugal, a alteração foi bem
visível: telecomunicações, Administração Pública e banca são os sectores que
PORTUGAL – TOP 10 VENDEDORES – SERVIDORES X86
Empresa
Hewlett-Packard
2.º trim.
2007
Quota
Quota
Crescimento
anual
3 010
53,3%
(17,5%)
2.º trim.
2008
3 649
61,5%
Dell
700
11,8%
830
14,7%
18,6%
IBM
240
4,0%
482
8,5%
100,8%
JP Sá Couto
217
3,7%
373
6,6%
71,9%
Fujitsu Siemens
218
3,7%
292
5,2%
33,9%
Micro Máquinas
55
0,9%
77
1,4%
40,0%
NEC
12
0,2%
64
1,1%
433,3%
Sun
38
0,6%
42
0,7%
10,5%
Apple
21
0,4%
9
0,2%
(57,1%)
Outros
787
13,3%
463
8,2%
(41,2%)
5 937
100%
5 642
100%
(5,0%)
Total
Em unidades.
Fonte: IDC EMEA PC Tracker – 2.º trim. 2008
assumem cada vez maior peso no negócio da subsidiária nacional da gigante
de tecnologias de informação. Alterado
o seu posicionamento, foram definidos
objectivos muito precisos e ambiciosos:
duplicar a facturação em Portugal num
timing de três anos, sobretudo em licenças. No nosso País, a empresa tinha algumas dificuldades em competir contra
a rival alemã SAP. E o mesmo acontecia
à PeopleSoft, à Siebel ou à J. D. Edwards
por si só. Por isso, naturalmente a SAP era
cada vez mais líder e mais forte. A Oracle
decidiu, então, tornar-se mais forte e criar
um ecossistema para poder competir melhor, adquirindo aquelas empresas.
Ao passar de fornecedor de TI para
parceiro estratégico, a empresa passou
também a ser mais forte em bases de
dados, em middleware e nas aplicações
horizontais (ERP, CRM, etc). E deu início a uma abordagem mais próxima às
telecomunicações, área onde a Oracle
investiu muito e comprou as melhores
aplicações, sobretudo na área do CRM,
billing e order management. De referir
que neste sector a subsidiária tem uma
quota superior a 80% em Portugal em
bases de dados e middleware. Em Julho de
2005, os responsáveis da Oracle Portugal
propuseram-se duplicar os resultados em
Portugal num prazo de três anos, sobretudo em licenças, e isto porque “elas são
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
97
TIC à lupa
o espelho da aceitação que a Oracle está
a ter pelo mercado”. No primeiro ano,
cresceram em licenças praticamente 40%
e no segundo ano 25%. Para 2008, garantem que estão “à vontade para cumprir
o objectivo inicial”. Depois de ter duplicado o negócio da Oracle em Portugal,
o seu líder, João Taron, acredita que a
empresa vai continuar a crescer, “logicamente com taxas menos agressivas do
que as registadas nos últimos três anos”.
Está igualmente confiante no reforço da
actividade junto da indústria das telecomunicações, especialmente depois da
aquisição da BEA Systems.
SAP APOSTA NAS PME
A SAP Ibéria (que engloba as operações
em Portugal e em Espanha) é outra das
empresas que tem vindo a registar crescimentos de dois dígitos. A facturação em
2007 cresceu 10,5%, para 232 milhões de
euros. Os lucros alcançaram 22,8 milhões
de euros, mais 8,6%. As receitas geradas
pela venda de produtos (incluindo licenças
de software e manutenção) aumentaram
11,6%, chegando a 185 milhões de euros,
enquanto a área de serviços (considerando
consultoria e formação) registou receitas de 39 milhões de euros, mais 4% que
em 2006. Em 2007, a SAP Ibéria juntou
também 512 novos clientes à sua carteira
(105 em Portugal), dos quais mais de 90%
pertencem ao grupo das PME. No segmento das organizações de grande dimensão
foram assinados contratos pela primeira
vez com a Electricidade dos Açores, Grupo
Valouro e Indáqua, entre outros.
Ao longo de 2008, a SAP Ibéria centrará o desenvolvimento da sua actividade nos sectores estratégicos da banca,
retalho e sector público. Para além disso, potenciará o seu negócio nas PME
através do novo Programa de Referências
– uma iniciativa que pretende expandir
o modelo comercial a um maior número
de empresas ou “influenciadores” (por
exemplo, gabinetes de contabilidade,
câmaras de comércio), com capacidade
para recomendar as soluções SAP aos seus
membros e clientes de pequena e média
dimensão. Um dos projectos em especial
destaque é o do Ministério das Finanças,
cuja abrangência envolverá toda a Administração Pública Central. É um projecto
que tornará o Estado Português num dos
maiores clientes SAP em Portugal e um
dos maiores clientes de sector público a
nível mundial.
98
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
UNISYS: APROXIMAÇÃO
A sua actividade em Angola, os projectos
que tem vindo a desenvolver junto das
autarquias portuguesas e a estratégia implementada de apostar na proximidade
aos clientes estão a marcar positivamente
a performance da Unisys em Portugal.
A empresa teve um crescimento de 5%
em 2007 e espera registar um aumento do
negócio na ordem de dois dígitos, impulsionado por uma maior focalização nas
suas principais áreas de actuação, como
a segurança, o outsourcing (selectivo) e
gestão de operações, a gestão de infra-estruturas em tempo real, a consulto-
TOP 8 VENDEDORES –
IMPRESSORAS
2.º trim.
2008
Quota
HP
85 176
50,4%
Lexmark
21 463
12,7%
Samsung
15 548
9,2%
Epson
12 168
7,2%
Canon
8 619
5,1%
OKI
11 154
6,6%
Kyocera Mita
3 549
2,1%
Xerox
2 535
1,5%
Outros
8 788
5,2%
169 000
100%
Total
Fonte: IDC EMEA Printer Tracker – 2007
Em unidades.
ria, o desenvolvimento e a integração
de sistemas e aplicações. Também as
áreas de gestão de atendimento, gestão
documental/workflow, webização/desmaterialização de processos, RFID e ainda soluções verticais para os serviços
financeiros, telecomunicações e media
e Administração Pública (central e local)
estão na primeira linha da estratégia da
fabricante.
O mesmo acontece com alguns projectos já realizados ou em implementação
no mercado angolano, que têm contribuído positivamente para a actividade
desenvolvida pela Unisys Portugal. Recorde-se que a subsidiária nacional foi
seleccionada para o projecto do cartão
de identidade e registo criminal para o
governo daquele país africano, tendo celebrado um contrato de valor superior a
16 milhões de euros.
A Unisys não verificou um impacto
directo no seu negócio via actual conjuntura negativa, garante Luís Portugal
Deveza, administrador-delegado da operação nacional. Continuará, por isso, a
apostar numa estratégia de maior proximidade aos seus clientes, através de uma
abordagem account based marketing,
com acções muito enfocadas a partir de
objectivos específicos. Para os responsáveis pela Unisys Portugal, as perspectivas para 2009 são boas, “dentro de uma
abordagem pragmática que temos vindo
a seguir. Será, no entanto, um ano em
que seguiremos muito de perto os sinais
do mercado para que adeqúemos em resposta as nossas apostas e recursos”.
tendências
Desafios para 2009
“E
sperava-se em 2008 um ano de profundas transformações
nas TIC portuguesas. A crise financeira e económica, que
alcançou proporções ainda por determinar, travou o sector? Quais os grandes desafios, numa altura em que o tema do
ambiente está cada vez mais na ordem do dia e em que Bruxelas atribuiu ao sector um papel fundamental no âmbito da luta
contra as alterações climatéricas? As TIC estão preparadas para
dar o exemplo e, ao mesmo tempo, desenvolver esta nova oportunidade de negócio?” O mote foi lançado aos responsáveis das
100
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
principais consultoras que estão presentes no mercado português. Eis as perspectivas e os cenários traçados para 2009.
Accenture, AT Kearney, Boston Consulting Group, Deloitte, IBM
Consulting, GMS Consulting, Roland Berger, WeDo, Novabase e
Logica responderam. Com preocupações e ideias similares: está
por determinar o impacto real que a crise poderá ter nas TIC, mas
o sector, tal como os demais, vai ressentir-se; a problemática
das alterações climáticas assume-se como uma grande oportunidade de negócio que é preciso não perder.
PAULO VICENTE VICE-PRESIDENTE DA ACCENTURE PORTUGAL
Desafios e oportunidades
A crise actual pode afectar o ritmo de algumas iniciativas estratégicas nas TIC. Mas também
vai trazer novas dinâmicas. O green é cada vez mais como uma oportunidade de negócio
N
o início de Outubro, altura em
que escrevo estas linhas, para as
quais contei com ajuda do meu
colega João Borges, as perspectivas da crise financeira, apesar
de algo incertas, não deixam de ser preocupantes no curto prazo. Não sabemos qual a
completa extensão e propagação dos efeitos
desta crise do sector financeiro. Mas é razoável assumir que iremos assistir a uma momentânea quebra da confiança dos investidores e consumidores, com o consequente
abrandamento temporário da actividade económica, até que as correcções surtam o seu
efeito. Felizmente, a generalidade das TIC
destaca-se pelos seus fundamentos sólidos,
baseados em activos reais e padrões de procura relativamente pouco voláteis, sobretudo nos produtos e serviços mais maduros,
pelo que podem vir a beneficiar da aversão
de risco geral dos mercados até pela sua moderada alavancagem financeira.
Apesar destas características, é razoável
assumir que o sector das TIC não vai ser
imune a tudo isto e vai necessariamente
sentir os reflexos deste quadro económico. Mas tempos de recessão são também
tempos de oportunidades. Projectos que se
encontravam adiados vêem o seu interesse
multiplicado pelas alterações das assunções
financeiras correspondentes. Se, por um
lado, tal pode afectar o ritmo de iniciativas estratégicas do sector, em particular
as relacionadas com a massificação da fibra óptica (FTTH), por outro lado outros
projectos podem ganhar novas dinâmicas
(como operações de M&A).
cida. Neste quadro, surge uma variável com
contributos nesta matéria e outros impactos
positivos com cada vez maior relevância: a
variável energética. Os custos energéticos são
geralmente vistos pelos decisores como de
entre os menos controláveis, mas a inovação
tecnológica pode mudar este paradigma e
traduzir-se também em oportunidades de
negócio para as TIC.
Esta indústria é responsável, em si, por
2% das emissões globais de CO2 e pela
comercialização e fabrico de uma grande fatia
de produtos consumidores de energia, eles
próprios induzindo a necessidade de outros
equipamentos também eles consumidores importantes de energia (como a climatização).
Além disso, os produtos tecnológicos têm
associadas questões ambientais no fabrico,
distribuição, reparação e fim de vida. Por
VARIÁVEL ENERGÉTICA
Para as TIC, o grande desafio é ajudar os seus
clientes a ultrapassar o clima de pessimismo
e encontrar soluções que possam ser uma
mais-valia no quadro da alteração da conjuntura económica. E, neste âmbito, tudo o
que possa contribuir para o aumento da eficiência e da eficácia das suas operações e das
dos seus clientes ganha importância acres-
“A sustentabilidade
ambiental começa
a afirmar-se como
um ponto importante
da agenda dos gestores.
O desafio está, assim,
lançado para as TIC”
isso o sector das TIC tem, em si, um papel
importante na pegada ambiental global. Mas
mais importante é o potencial que a inovação
tecnológica tem para reduzir o consumo e as
emissões de toda a economia. E as TIC podem
ter este efeito, quer através da substituição
de actividades poluentes, quer através da
optimização dos consumos energéticos nas
diferentes indústrias.
Os edifícios consomem 40% a 50%
da energia dos países desenvolvidos.
A adopção de soluções de “edifícios inteligentes”, com sistemas de gestão energética
aliados a telemetria, permite reduzir os
consumos de energia entre 15% a 20%.
As redes de distribuição de electricidade
desperdiçam milhares de megawatts, que
podem ser aproveitados por tecnologias de
smart grids. As soluções de videoconferência
deixaram de ser uma curiosidade e substituem cada vez mais reuniões presenciais e as
deslocações que elas implicam. As soluções
logísticas de gestão de rotas e transportes
permitem optimizar cargas de transportes
e passageiros.
Obviamente, o exemplo das TIC começa
“em casa”. E o “green IT” já não é um conceito idealista, tendo vindo a ser implementado
nos data centers, que na origem chegam a
consumir 100 vezes mais energia por metro
cúbico do que instalações administrativas,
e por isso são os primeiros candidatos a
reduções. Estes são alguns exemplos dos
contributos concretos das TIC para a melhoria ambiental global, crucial para todos
nós, habitantes deste planeta.
Em Portugal, a sustentabilidade ambiental
começa a afirmar-se como um ponto importante da agenda dos gestores. O desafio está,
assim, lançado para as TIC, não só para contribuírem para um mundo melhor como para
capitalizarem no potencial de negócio associado. Algo que no quadro actual dos mercados
ganha ainda mais importância.
www.accenture.com/Countries/Portugal/
default.htm
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
101
tendências – opinião
TIAGO MONTEIRO PRINCIPAL DA A. T. KEARNEY
Prioridades para 2009
Contracção do consumo e maior oferta de serviços colocarão as comunicações sob pressão acrescida.
Num ano em que se esperam mais desafios, há que apostar em modelos de negócio inovadores
F
azer previsões num sector tão dinâmico como as TIC é sempre difícil.
Mas a conjugação do dinamismo
do sector durante 2008 e do turbulento período que os mercados
financeiros atravessam coloca ainda maior
dificuldade. Há, no entanto, um conjunto de
tendências que acreditamos poderão marcar
2009 apesar do clima de incerteza e, em alguns casos, ligado a ele.
Após um período de relativa calma, o ano
de 2008 tem sido bastante movimentado em
todas as componentes do sector das TIC. As
comunicações têm registado importantes
movimentações, como o surgimento dos
primeiros MVNO, o concurso para a quarta
licença móvel, o crescimento da banda larga
– com ênfase na banda larga móvel – e, na
telefonia fixa, a aparição da ZON e a consolidação liderada pela Sonaecom. No âmbito da televisão, os concursos para a TDT,
o impulso à IPTV, o concurso para o quinto
canal e o crescimento da televisão móvel
têm claramente criado as bases para um
novo cenário no sector. O consumidor é
claramente o grande beneficiado destas alterações, recebendo mais propostas de serviço
inovadoras (especialmente os multiple-play
de concorrentes integrados) e, ao mesmo
tempo, ofertas de preço muito aliciantes.
Igualmente notável é o impulso à sociedade da informação, com especial destaque
para os programas para as novas gerações,
estruturados à volta do Plano Tecnológico da
Educação – banda larga nas escolas, e-escolas, Magalhães… – e aos programas para a
simplificação, desburocratização e melhoria
do atendimento na Administração Pública.
O crescimento da procura e a criação de
um novo quadro legal têm impulsionado
ambiciosos planos de investimento em redes
de nova geração (RNG), que permitirão o
desenvolvimento de novos serviços.
Nos sistemas de informação, as empresas
têm continuado a procurar a dimensão necessária através de operações de concentração – no âmbito das empresas de “produto”
102
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
o aprofundamento na internacionalização
da WeDo e o investimento da Microsoft na
Mobicomp mostram a capacidade da indústria nacional. Em resumo, o resultado deste
ano tem sido um cenário competitivo muito
mais aberto, com o advento de novos players
nos vários segmentos de mercado e de novos
moldes de oferta.
2009: CONTRACÇÃO OU VIRAGEM?
Apesar da resiliência da economia nacional,
Portugal sofrerá naturalmente os efeitos da
actual crise financeira, sendo expectável que
a escassa liquidez e o aumento das taxas de
juro influenciem negativamente o consumo
de famílias e de empresas. A confluência da
contracção do consumo e a maior oferta irão
continuar a colocar pressão nos preços das
comunicações, deteriorando a capacidade
de geração de receitas, já afectada pela introdução de alterações a nível regulamentar (roaming, MTR). Entende-se, assim, o
congelamento de projectos de MVNO que
tinham sido anunciados recentemente.
“As pressões sociais,
regulamentares
e económicas continuarão
a impulsionar
as empresas para modelos
mais sustentáveis”
Também em 2009 são expectáveis desafios particulares, tais como a selecção do
operador do Serviço Universal de Comunicações, o início das emissões da TDT ou a
própria reestruturação do sector financeiro
– epicentro da actual crise e principal consumidor de sistemas de informação –, que
poderão ter efeitos estruturantes sobre os
respectivos mercados.
Adicionalmente, a actual situação dos
mercados de capitais dificultará o financiamento das empresas, impactando nos
investimentos em activos operacionais e
na capacidade de defrontar operações de
M&A necessárias para a reestruturação de
alguns sectores. Neste contexto, a procura de
eficácia comercial e de eficiência através de
modelos de negócio inovadores e do aproveitamento das possibilidades que apresentam
as novas tecnologias torna-se uma prioridade
decisiva para as empresas do sector.
Por último, as pressões sociais, regulamentares e económicas continuarão a impulsionar as empresas para modelos mais
sustentáveis. Não obstante o reduzido papel
do sector na emissão de gases de efeito de estufa, torna-se fundamental como catalisador
na redução das emissões de CO2 em outros
sectores, nomeadamente através da oferta
de soluções tecnológicas que resultem na
desmaterialização de relações (e-commerce,
telepresença), na automatização e gestão
inteligente de consumos (processos, edifícios, infra-estruturas comuns) e na gestão
integrada de redes (logística, collaborative
planning, vendor integration).
A capacidade de oferecer estas soluções,
em muitos casos através de aplicações e serviços interoperáveis suportados em standards
mais universais, pode tornar-se uma ferramenta competitiva num contexto de escassez de recursos financeiros. Neste sentido,
2009 pode não ser um ano preocupante de
retracção, mas ser um verdadeiro ano de
viragem para o sector.
www.atkearney.pt
JOÃO HENRIQUES PRINCIPAL DO THE BOSTON CONSULTING GROUP
Uma rara oportunidade
Portugal presta-se ao desenvolvimento de soluções pioneiras das TIC para combater as alterações
climáticas. O sector terá de organizar-se para liderar esta rara oportunidade
O
Protocolo de Quioto, negociado em 1997, representou o primeiro passo da comunidade
internacional não só para o reconhecimento como problema
do aquecimento global em resultado do aumento de concentração de gases de efeito de
estufa (GAE) na atmosfera, como principalmente para a actuação no sentido de controlar o problema. Na sequência da assinatura
do Protocolo, foi estabelecido para Portugal,
até ao ano de 2012, um objectivo de emissões
de GAE que permite um aumento de 27%
relativamente aos níveis de 1990.
No entanto, este objectivo foi há muito
excedido, e tanto as tendências históricas
como uma projecção realista de business as
usual para os próximos anos, mesmo considerando as iniciativas já em curso no sentido
da redução de emissões unitárias, não nos
permitem ser optimistas sobre a possibilidade de cumprimento desta meta. Para além
disso, as discussões sobre o período pós-2012
apontam para objectivos de redução ainda
mais ambiciosos.
O papel das TIC neste quadro nem sempre
foi evidente. Ao leitor ocasional da imprensa
generalista, e mesmo da imprensa especializada, o sector apareceu durante muito tempo
mais como parte do problema do que como
parte da solução. Notícias recorrentes sobre o
consumo de electricidade e necessidades de
refrigeração de mega data centers de grandes
empresas de Internet juntam-se ao relevo
dado à acumulação de equipamentos obsoletos para construir esta imagem.
Esta é, no entanto, uma imagem que não
suporta o escrutínio da análise objectiva.
Em 2008, a Global eSustainability Initiative
(GeSI) publicou o relatório SMART 2020,
que pela primeira vez apresentou um caso
quantificado sobre o impacto actual e potencial das TIC nas emissões globais de GAE.
O peso estimado do sector nas emissões globais de GAE aponta para um valor na casa
dos 3% das emissões globais; no entanto, o
potencial de redução de emissões estimado
noutros sectores da economia por aplicação
das TIC ascende a 15%, ou seja, cinco vezes
mais que o impacto directo. Este potencial
de redução induzida resulta não apenas da
desmaterialização de processos e interacções
mas também de aplicações ao nível das redes
de transporte de energia, edifícios, logística
e dos motores e processos industriais.
OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO
As conclusões quantitativas do estudo deixam pouca margem para dúvidas de que as
TIC serão necessariamente muito mais parte
da solução do que do problema. Em Portugal,
se alguma diferença existe em relação ao
panorama internacional, esta é no sentido
de uma maior relevância do papel das TIC
no combate às alterações climáticas
Esta importância acrescida resulta não só
das dificuldades específicas que estão a ser
encontradas por Portugal em atingir os seus
objectivos de redução de emissões e da actual baixa penetração (em comparação com
“Mais que um desafio,
este combate representa
para as TIC e para a
economia em geral uma
oportunidade de crescer”
outros países europeus) das TIC nas famílias
e empresas como dos desafios específicos
colocados à economia portuguesa.
O objectivo de aumento de 27% das emissões de GAE implica que Portugal terá ainda
em 2012 o valor mais baixo de emissões per
capita da Europa. Isto significa que, para que
a economia portuguesa se continue a desenvolver e possa convergir com os padrões da
Europa Ocidental, tal desenvolvimento terá
que ocorrer com uma muito menor intensidade de carbono por unidade de PIB do que
nos restantes países.
É neste contexto que o papel das TIC no
combate às alterações climáticas tem de ser
entendido. Mais que um desafio, representa
para o sector e para a economia uma oportunidade de mudar o modelo de crescimento.
Para além da necessidade, Portugal tem um
conjunto de características – de dimensão, de
disponibilidade de recursos qualificados, entre
outras – que se prestam ao desenvolvimento
e implementação de soluções pioneiras.
Soluções de optimização de mobilidade
urbana, de gestão eficiente de edifícios e transportes ou de optimização da planificação e
gestão da produção e consumo de electricidade são apenas exemplos de aplicações
que, potenciando as potencialidades das TIC,
podem não só dar um contributo decisivo para
a redução de emissões de GAE mas também
constituir soluções exportáveis que contribuam para o crescimento da economia numa
base de baixa intensidade de carbono.
O relatório Portugal Smart 2020, que está
a ser desenvolvido pela APDC com a colaboração do BCG, é um esforço no sentido de
quantificar a oportunidade e apontar caminhos de desenvolvimento. Cabe, no entanto,
ao sector organizar-se no sentido de desenvolver e liderar a implementação de soluções
que permitam no terreno materializar esta
rara oportunidade de contribuir simultaneamente para melhorar o futuro do Planeta
e desenvolver a economia portuguesa.
www.bcg.pt
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
103
tendências – opinião
MIGUEL EIRAS ANTUNES CONSULTING DA DELOITTE CONSULTORES
Selectividade e rigor
A crise tem forçado as empresas a refocarem-se nas prioridades estratégicas e projectos que lhes
trazem vantagens competitivas concretas. Com maior selectividade e rigor na selecção
N
ão há nada como uma crise para focar as mentes no que é
realmente importante! Quando
a generalidade das empresas iniciou o processo de orçamentação de 2008, embora as perspectivas não fossem animadoras, o consenso apontava para
um ano de baixo crescimento ou estagnação.
E foi nessa base que os orçamentos de TI foram elaborados: manutenção dos níveis de
crescimento do ano anterior (+/– 3%), focando os gastos em projectos de contenção
de custos, ganhos de eficiência e alinhamento
de TI com o negócio.
O aprofundamento da crise do sector
financeiro (que resultou, até à data, em aumentos das taxas de juro e na destruição de
algumas das maiores e mais conceituadas
instituições financeiras nos EUA e na Europa), acumulado com os graves efeitos do
aumento do preço dos combustíveis e dos
produtos alimentares, teve um efeito devastador nos orçamentos familiares e nos níveis
de confiança dos empresários.
No entanto, e contrariamente ao que é
habitual nestes períodos, o investimento em
projectos de TI, embora se tenha reduzido,
ainda não se ressentiu como em crises anteriores. A crise veio reforçar a tendência de
maior selectividade e rigor na selecção dos
projectos, tendo sempre em mente o benefício objectivo que os mesmos trazem para o
negócio. Seja através da avaliação do ROI do
investimento, de análises custo/benefício ou
de outros modelos, as empresas estão a concentrar os seus esforços em projectos críticos
que permitam concretizar mais rapidamente
os objectivos: contenção de custos, aumento
de eficiência e reforço da capacidade competitiva através do alinhamento das prioridades
de TI com o negócio.
Em contrapartida, projectos cujos benefícios não sejam facilmente demonstráveis
ou que não se alinhem com os objectivos
traçados são atrasados, vêem a sua prioridade
reduzida ou são mesmo descontinuados. Ou
seja, esta crise tem forçado as empresas a re-
104
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
focarem-se nas suas prioridades estratégicas
e nos projectos que lhes trazem vantagens
competitivas concretas – o que alguns de nós
chamariam de boas práticas de gestão.
SUSTENTABILIDADE PRIORITÁRIA
O problema da sustentabilidade é, sem dúvida, um dos maiores desafios que as organizações de hoje enfrentam. Após anos de discussões sobre a sustentabilidade do modelo
económico actual, foi o próprio mercado
que decidiu tornar este tema prioritário.
A “onda verde” propagou-se dos movimentos
ecologistas para os consumidores, tornandoo um problema político que obrigou o governo e as organizações a desenvolverem novas
abordagens para darem resposta à recém-descoberta consciência ecológica. Toda esta
movimentação resultou numa miríade de
legislação que impulsionou a consolidação
do conceito de sustentabilidade, quer seja a
nível da redução das emissões de carbono
para a atmosfera, à utilização de energias e
recursos renováveis, à eficiência energética,
entre muitos outros. E se inicialmente as
“A crise veio reforçar
a tendência recente
de maior selectividade
e rigor na selecção
dos projectos”
organizações viam este tema como um faitdivers que as desviava dos objectivos, viramse agora forçadas a navegar a “onda verde” ou
serem por ela derrubadas. No contexto das
TIC, as movimentações iniciais focaram-se
nas questões de eficiência energética – nos
EUA, os data centers são responsáveis por
1,5% do consumo energético (relatório da
Environmental Protection Agency ao Congresso relativo ao consumo energético em
2006), com tendência a aumentar. É uma
factura que tem vindo a crescer significativamente resultado do aumento dos preços
da energia e das crescentes necessidades
de computação.
A sustentabilidade transformou-se de
uma questão de imagem, reputação e compliance para uma questão que afecta o bottom line das empresas. Mas a evolução não
parou aí! As empresas tecnológicas viram na
sustentabilidade ecológica uma oportunidade
de negócio ao introduzirem tecnologias que
ampliam os esforços de eficiência energética
(ex.: virtualização, consolidação do storage) e
de gestão do consumo energético (tecnologias
de poupança de energia, tais como Wake-onLAN, Intel’s Demand-Based Switching). Paralelamente, a ubiquidade das TI veio permitir
novas áreas de intervenção, como a gestão
de recursos naturais escassos. A redução do
desperdício de recursos hídricos e energéticos pode significar reduções significativas do
consumo destes recursos (no Reino Unido
estima-se que 4,5 biliões de litros/dia são desperdiçados na rede de distribuição).
Embora o sector tecnológico nunca venha
a ser “verde”, a aplicação destas e de muitas
outras tecnologias pode dar um contributo
significativo para a criação de condições de
sustentabilidade ambiental no desenvolvimento humano. E no processo gerar inúmeras
oportunidades de negócio para as organizações de hoje e de amanhã.
http://www.deloitte.com/dtt/home/
0,1044,sid%253D6360,00.html
JOSÉ JOAQUIM OLIVEIRA PRESIDENTE E ADMINISTRADOR-DELEGADO DA IBM PORTUGAL
O futuro é “green”
“Tornar-se verde” deixou de estar associado a políticas de responsabilidade social orientadas
para a consciencialização ambiental. Hoje, assume-se como uma forma de fazer negócios
A
recessão que abalou os mercados em 2008 afectou vários
sectores de actividade, deixando um rasto de mudança. O sector das tecnologias
da informação (TI), por seu lado, cresceu transversalmente em todo o mundo.
E Portugal não tem sido excepção, caminhando rumo às previsões da IDC que, no
início do ano, apontavam para um crescimento assinalável do investimento em
TI no mercado nacional. Uma tendência
que se manterá nos próximos anos, a avaliar pelas conclusões de diversos outros
analistas e opinadores.
Por isso, apesar do impacto que a crise
financeira internacional já começou a ter
na economia portuguesa e das previsões
negativas do Fundo Monetário Internacional para 2009, estou certo de que o
sector das TI tem ainda muito espaço para
crescer dentro e fora de portas.
Confiança e inovação assumem-se,
neste sentido, como as coordenadas para
nortear os trilhos dos próximos anos. Se é
verdade que as TI têm funcionado como
motor de desenvolvimento económico em
muitas regiões, é facilmente entendível
que nas próximas décadas serão sobretudo as inovações no domínio da energia os
grandes factores de desenvolvimento.
QUE PAPEL PARA AS TI?
Sabemos como a eficiência energética e
todas as questões adjacentes a este tema
marcam hoje, mais do que nunca, presença
nas agendas públicas de todos os governos.
Enquanto assunto determinante, porque
global, são várias as instâncias que têm
alertado para a necessidade de combinar
políticas com soluções ‘verdes’, que garantam a sustentabilidade futura. Nesse
sentido, as empresas têm vindo progressivamente a integrar nos seus planos de
negócio estratégias de actuação ambiental.
“Tornar-se verde” deixou de estar associado a políticas de responsabilidade so-
cial orientadas para a consciencialização
ambiental, para se assumir hoje como
uma forma de fazer negócios. E o debate
recentemente lançado pela Organização
Mundial do Comércio (OMC) sobre comércio e alterações climáticas veio, uma
vez mais, reforçar esta ideia.
Qual, então, o papel das TI neste
domínio? E como pode a tendência
“As empresas,
nomeadamente as que
desenvolvem serviços
de tecnologias de
informação, devem
encontrar nesta mudança
de paradigma o espaço de
afirmação e consequente
sucesso. Até porque o
princípio da eficiência
energética corresponde,
cada vez mais, à métrica
de avaliação da eficácia
operacional das TI”
“green” afirmar-se como uma oportunidade de negócio? A aposta em “sociedades
renováveis”, que comuniquem através
de redes inteligentes, terá certamente
um efeito económico multiplicador.
A tecnologia afirma-se, neste sentido,
como ponto de viragem de um mundo
“geopolítico” que caracterizou o século
anterior, para uma “bioesfera política”
do século XXI, como reconhece Jeremy
Rifkin, conselheiro de vários Chefes de
Estado em economia, alterações climáticas e energia.
Mas os efeitos desta viragem ultrapassam as fronteiras da economia, tocando
directamente os consumidores. Há toda
uma democratização associada às redes
inteligentes que importa considerar na
definição e implementação de políticas
energéticas. Sobretudo porque, através
das redes inteligentes (ou smart grids),
o cidadão pode gerir e ajustar o consumo
de energia às suas reais necessidades,
assumindo um controlo mais efectivo
sobre os gastos.
E as empresas, nomeadamente as que
desenvolvem serviços de TI para estes
sectores, devem encontrar nesta mudança de paradigma o espaço de afirmação
e consequente sucesso. Até porque o
princípio de eficiência energética corresponde, cada vez mais, à métrica de
avaliação da eficácia operacional das TI.
Neste contexto, as infra-estruturas de
centros de dados – determinantes para
assegurar a competitividade de qualquer
negócio – devem ser pensadas à luz de
uma visão holística e baseadas no princípio da sustentabilidade.
Assim, se para a sociedade actual as
soluções “verdes” ou “inteligentes” são
ainda opcionais, para as gerações mais
novas – que crescem hoje num mundo
menos hierárquico e mais interligado –
estas serão mandatórias.
www.ibm.com/pt
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
105
tendências – opinião
ANTÓNIO LAGARTIXO CONSULTING MANAGING PARTNER DA GMS
TIC têm papel crítico
A dimensão do desafio no “green” impossibilita as TIC de actuarem sozinhas. Toda a sociedade terá
de participar. O sector tem um papel crítico na criação de uma sociedade “mais verde e saudável”
A
: gestão, monitorização e
optimização dos consumos energéticos, e
t SMART ELECTRICITY GRIDS: gestão, monitorização e optimização da produção e distribuição de energia.
o longo dos anos, as TIC têm
vindo a introduzir profundas
alterações na nossa forma
de viver, criando produtos e
serviços que já fazem parte
do nosso quotidiano diário. Acresce que o
sector tem sistematicamente aumentado
os seus níveis de produtividade, funcionando como uma das principais alavancas para o crescimento económico global.
Mas então como podem as TIC alcançar a
neutralidade das suas próprias emissões e
ao mesmo tempo criar soluções que beneficiem toda a economia?
A CONSTATAÇÃO
É comummente aceite que têm de ser tomadas acções imediatas para reduzir os níveis
de emissão de CO2, ao mesmo tempo que
temos de ser energeticamente mais eficientes no que fazemos. Uma breve análise de
dados públicos permite perceber que, por
exemplo: as TIC são responsáveis por aproximadamente 2% das emissões e rapidamente
atingirão 3%, sendo a crescente utilização
da Internet uma das principais causas deste
aumento; durante o fabrico de um desktop,
pelo menos 240 kg de combustível fóssil
são gastos, o que é dez vezes mais do que
o seu peso real; o consumo em standby de
PC representa entre 5% a 10% do consumo
total de energia, representando cerca de 1%
das emissões globais de CO2.
Então, como utilizar a evolução nas
TIC para inverter esta tendência natural?
A forma de utilizar as TIC como “motor”
da evolução que se exige à nossa sociedade
deve ser sempre entendida ao nível das
três formas de influência: redução unitária do consumo energético e emissão
de CO2, através da evolução tecnológica
dos equipamentos; redução do volume
total de consumo energético, através de
uma diminuição do desperdício: soluções
inteligentes de poupança energética, e
criação de equipamentos que aumentem
a utilização de green energy.
106
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
t SMART BUILDINGS
Esta temática, pelo impacto que tem
na vida dos europeus, motivou a Comissão
Europeia a criar uma iniciativa de combate às alterações climáticas (IP/08/733),
a qual promove a utilização das TIC para
melhorar a eficiência energética em todos
os sectores da economia. É convicção da
CE que as TIC podem contribuir para um
comportamento mais ecológico, que, se for
amplamente adoptado, reduzirá em grande
escala a respectiva emissão de carbono.
Nesta área, gostaria de realçar um conjunto de directrizes (partilhadas também pelo
Climate Group e pelo GeSI):
t SMART MOTOR SYSTEMS: eficiência e eficácia
dos processos produtivos e desenvolvimento de motores mais eficientes;
t SMART LOGISTICS AND TRANSPORT: maximização da desmaterialização pela massificação da
utilização de serviços on-line e optimização
de rotas de distribuição;
“As TIC têm uma
oportunidade única
para alavancar a sua
rentabilidade, mas
também um papel crítico”
BE SMART
Centrando a análise no tema da redução de
emissões pelos produtos e serviços das TIC,
na minha opinião, a adopção do Framework
SMART desenvolvido pelo Climate Group e
GeSI contribuirá significativamente para o
objectivo de redução, na medida em que permite actuar nas diversas vertentes relevantes
do problema. STANDARDISE: disponibilização
standardizada e transversal a todos os sectores dos níveis de consumo e emissão; MONITOR: recolha, integração e monitorização
de informação como input no desenho de
soluções energeticamente mais eficientes;
ACCOUNT: plataformas para melhorar a contabilização e imputação do consumo; RETHINK:
abordagens inovadoras para utilização mais
eficiente da energia nas infra-estruturas; e
TRANSFORM: implementação de abordagens
(sistemas e processos) para uma gestão eficiente dos recursos.
Com este framework, é dado às TIC o
papel de principal enabler para a adopção
de mecanismos mais eficientes. Este papel
poderá representar, em 2020, uma redução
equivalente a cinco vezes o total de emissões
previstos para o sector das TIC.
Em conclusão, não estamos perante um
cenário de “favas contadas”! A dimensão do
desafio impossibilita as TIC de actuarem sozinhas. Será necessário a ajuda de todos – governos e players de todos os sectores – para que
ocorra a necessária partilha de informação e
seja garantido o forte investimento na investigação, nos pilotos e roll-outs. As TIC têm
uma oportunidade única para alavancar a sua
rentabilidade, mas também um papel crítico
na adopção de soluções para criação de uma
sociedade “mais verde e saudável”.
www.gms.pt
tendências – opinião
JORGE PEREIRA DA COSTA PARTNER DA ROLAND BERGER STRATEGY CONSULTANTS
Contexto de incertezas
Num cenário de incertezas, as comunicações precisam de ganhar previsibilidade, especialmente
regulatória. Para estimular o investimento e reduzir os riscos de mercado
W
hen there is no vision the
people perish!” (Franklin
D. Roosevelt). No seu primeiro discurso inaugural,
Roosevelt alertava a América de que a ausência de visão se traduzia no
perecimento da população. Esta é uma verdade que pode ser aplicada genericamente
a um país, a uma economia, a um sector de
actividade ou às telecomunicações nacionais.
E, 75 anos depois, os fundamentos deste discurso de Roosevelt, para além de revelarem
a sua enorme lucidez, são de uma impressionante actualidade.
O mundo, em particular o ocidental,
jamais será como nós o conhecemos. Aos
desafios da globalização e da democratização
do acesso à informação e ao conhecimento
juntou-se uma crise financeira de dimensões
e efeitos ainda longe de serem plenamente
conhecidos ou determinados. Hoje, apenas
temos a certeza da incerteza de dimensões
desproporcionadas. No momento em que
escrevo, o mercado de capitais vive mais uma
segunda-feira negra e o euro afunda abaixo
dos 1,35 dólares, colocando o barril de petróleo equivalente a mais de 100 dólares de há
uns meses atrás. Os seus efeitos na economia
são imprevisíveis; apenas se sabe que o mundo ocidental vai entrar em recessão. Quão
fundo vamos e por quanto tempo a teremos,
ninguém sabe responder.
QUE EFEITOS?
Naturalmente, o sector das telecomunicações nacionais não lhe estará imune. Desde
o início do ano, as cotadas nacionais já perderam mais de um terço do seu valor (duas
delas viram o seu valor reduzido a metade),
arriscando afirmar que o sector das telecomunicações no seu todo vale hoje menos do
que a PT antes da OPA (na altura já pequena à escala internacional em que compete).
A dívida das cotadas é superior a 6,5 mil milhões de euros (com tendência para crescer)
com um múltiplo médio de 2,4 x o EBITDA.
O cash-flow das cotadas no final do primeiro
108
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
semestre rondava 700 milhões de euros, sendo nulo ou negativo em duas delas.
Se a performance financeira é dificultada
pela crise nos mercados, a evolução económica das operações será afectada pela inevitável
recessão que se adivinha. Não me surpreenderá se o próximo relatório trimestral
revelar um quebra do tráfego (corrigida da
sazonalidade), nem que os ARPU continuem
a descer e as dívidas de clientes, em particular
as de cobrança difícil, a crescer. Tal como o
concebemos, o mercado nacional, sempre
pequeno, será ainda menor.
Alheias à situação, as tendências do sector
continuarão a ser as mesmas: a voz continuará a perder valor, mesmo a móvel; a convergência continuará a afirmar-se; as ofertas
“O sector necessita
de ganhar previsibilidade,
a começar pela
regulatória, que
estimule o investimento
e reduza os riscos
de mercado. Mas não
será suficiente”
combinadas serão a forma privilegiada de
vender os serviços; a banda larga, o espaço
de crescimento e, conjuntamente, com os
conteúdos, o principal domínio de contenda
entre os agentes de mercado.
O contexto não será indiferente nem para
as modificações estruturais do sector nem
os benefícios para o consumidor. A irracionalidade do comportamento dos agentes,
potenciada pela imperatividade da conquista
de quotas num mercado em recessão, pode
acelerar, pela destruição de valor inerente, o processo de consolidação sectorial (o
qual pode mesmo extravasar as fronteiras
nacionais), introduzindo, mais cedo do
que o previsível, as inevitáveis estruturas
de duopólio de mercado (ou outras formas
estruturais colusivas), que, como é sabido,
são mais difíceis de regular. Por outro lado,
dificultará o investimento, não apenas no
acesso a fundos de financiamento mas também na dilação de retornos e mesmo na sua
viabilidade. Para responder aos imperativos
do crescimento, o sector precisa de investir,
particularmente em infra-estruturas – fibra
óptica, eurodocsis 3.0 e HSDPA são alguns
exemplos. A dilação temporal da realização
dos investimentos não é necessariamente
benéfica para o consumidor.
Neste contexto de incerteza, o sector necessita de ganhar previsibilidade, a começar
pela regulatória, que estimule o investimento e reduza os riscos de mercado. Mas esta,
embora necessária, não será suficiente. Os
agentes precisam de visão, que lhes alargue
os horizontes e lhes permita adoptar novos
modelos de negócio. O autismo do sector às
oportunidades de crescimento que as questões energéticas e climáticas lhes podem proporcionar não é o melhor sinal. O principal
risco que esta crise introduz no sector é o
seu fecho nas questões internas, ficcionando
um cenário concorrencial dificilmente sustentável. E, adaptando a frase de Rosevelt,
“quando não há visão, um sector perece!”.
www.rolandberger.com.pt
RUI PAIVA CEO DA WEDO CONSULTING
Saber reinventar-se
As TIC têm sabido reinventar-se. Num cenário de crise, têm de apostar na criação de valor/inovação
numa óptica global. E ser um meio para que todos os sectores consigam atingir as suas metas
E
sperava-se, em 2008, um ano de
profundas transformações nas
tecnologias de informação e comunicação portuguesas. A crise
económica e financeira, que alcançou proporções ainda por determinar,
travou o sector?
A crise económica é viral, pelo que tem
vindo a impactar aos poucos os diferentes
sectores de actividade a ritmos diferentes. Este impacto reflecte-se sobretudo
nos mercados maduros, nomeadamente
nos Estados Unidos e na Europa, onde,
na verdade, os ritmos de investimentos
decaíram brutalmente, impactando como
tal o sector das tecnologias de informação
e comunicação. Nos mercados de países
emergentes, devido ao seu contraciclo
de desenvolvimento, este impacto não
se verificou como determinante para o
abrandamento do sector.
Contudo, as tecnologias de informação
e comunicação portuguesas têm um âmbito de acção essencialmente nacional e,
quando muito (na sua grande maioria),
europeu, pelo que o impacto é efectivamente grande e não positivo. As empresas
que têm como mercado o mundo conseguem minimizar este factor, compensando o fraco desempenho dos mercados
maduros com o melhor desempenho dos
mercados emergentes.
Esta análise leva-nos à constatação
(já há muito conhecida) de que para
sobreviver com solidez é fundamental
ser-se cada vez mais global. Para tal, é
necessário cada vez mais que as empresas
portuguesas tenham como objectivo a
criação de valor e de inovação. Este será
determinante para o desenvolvimento de
factores únicos de competitividade que
possam ser promovidos de uma forma
global.
A simples transformação, tendo por
base a inovação de terceiros, não cria
factores distintivos, que possam ser diferenciadores no mundo global.
Em jeito de conclusão, é fundamental
para as empresas das TIC:
t Ter escala (as empresas podem começar pequenas, mas depressa têm de crescer, seja organicamente ou por fusões e
aquisições, para poderem sobreviver na
continuidade);
t Criar/inovar;
t Ter factores únicos de diferenciação;
t Promover (globalmente) activamente.
“Para sobreviver com
solidez, é fundamental
ser-se global.
Para tal é necessário
que as empresas
portuguesas tenham
como objectivo a criação
de valor/inovação,
como factor determinante
para o desenvolvimento
de factores únicos
de competitividade
que possam ser
promovidos
globalmente”
DAR O EXEMPLO
E GANHAR NEGÓCIO
Quais os grandes desafios, numa altura
em que o tema do ambiente está cada vez
mais na ordem do dia e em que Bruxelas
atribuiu ao sector um papel fundamental
no âmbito da luta contra as alterações
climatéricas?
Exactamente os mesmos desafios com
que se tem deparado até hoje. Isto é, poder contribuir de forma a ajudar a desenvolver ferramentas de apoio e controlo
aos sectores de actividade mais determinantes nas alterações climáticas.
As tecnologias de informação e comunicação estão preparadas para dar o
exemplo e, ao mesmo tempo, desenvolver esta nova oportunidade de negócio?
As TIC são um sector de actividade com
pouco mais de 50 anos (a IBM e a HP,
talvez as empresas mais velhas), mas são
o exemplo de um sector que, ainda que
jovem, se tem reinventado, no sentido de
se melhorar na sua própria eficiência.
Mas, sobretudo, adaptando-se às necessidades dos sectores de actividade seus
clientes, ajudando-os a ser cada vez mais
eficientes, rápidos e, sobretudo, controlados (eficiência, responsabilidade, entre
outros).
As tecnologias de informação e comunicação são um meio para que todos os
sectores de actividade consigam e possam
atingir os seus fins e as suas metas.
www.wedo.pt
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
109
tendências – opinião
PAULO MAGRO DA LUZ PARTNER DA NOVABASE
Novo paradigma competitivo
Há que repensar modelos de negócio para ter sucesso no novo paradigma. Nas TIC, a diferença virá
de factores fundamentais que lhe garantirão a liderança e o processo de transformação no “green”
V
ivemos tempos complexos.
A progressiva expansão da
globalização, aliada a uma evolução substancial dos mercados
e das tecnologias, está a gerar
fenómenos cujo impacto se estende a todos
os níveis da nossa vida social. São hoje claras as tendências que irão condicionar fortemente o nosso futuro, como a explosão
demográfica, as mudanças climáticas e a
procura de modelos energéticos sustentáveis, a expansão da globalização económica,
a extensão da vida humana pelos avanços da
genética e da biotecnologia e a contínua expansão tecnológica.
Neste último ponto, o ritmo actual implica que a humanidade irá provavelmente
experimentar mais avanços tecnológicos
nos próximos 25 anos do que em todo o
século XX, em áreas como a computação,
comunicações, inteligência artificial, nanotecnologia ou biotecnologia. E em áreas
ainda hoje imprevisíveis, como no caso dos
anteriores saltos de paradigma – a ocorrência
de uma nova “singularidade” tecnológica,
que criará um novo mundo económico e
social, ainda inimaginável para nós.
Em termos do impacto na nossa vida social e económica, algumas destas tendências
são já visíveis. A diminuição gradual das barreiras económicas obrigará as empresas a
competir num panorama global, mesmo
que seja apenas para defender o seu espaço
local. A globalização das cadeias de produção
implicará a imperiosa integração das nossas
empresas produtoras nessas cadeias, tendo
que assegurar os mesmos níveis de qualidade, inovação e produtividade. A quebra de
barreiras tornará a competição nos serviços
virtualmente global.
A integração das tecnologias Web, telefónica, rádio e de comunicações móveis
está a criar um mundo “sempre ligado”, que
possibilitará uma actividade sem fronteiras e
em que os vários devices saberão “interagir”
uns com os outros, assegurando muitas das
actuais funções sem valor acrescentado e
110
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
criando um mundo “always on, always connected, everyone to everyone, everything to
everything”. As empresas serão forçadas à
hiperespecialização, mas também a conseguirem fornecer uma gama complexa e
dinâmica de produtos e serviços, garantindo elevados níveis de qualidade, rapidez e
personalização.
EVOLUIR E REPENSAR
Para o sucesso neste novo paradigma competitivo, as organizações terão de evoluir para
organizações em “tempo real”, tendo que
repensar os seus modelos de negócio e as
arquitecturas organizacionais. Para o sucesso
neste novo paradigma, as organizações: deverão ser ágeis, rápidas e facilmente adaptáveis
à mudança cada vez mais acelerada; devem
especializar-se num conjunto reduzido de
competências centrais, garantindo o acesso
“As empresas serão forçadas
à hiperespecialização,
mas também a fornecerem
uma gama complexa
e dinâmica de produtos
e serviços”
a um leque alargado de capacidades best-of-breed através de parcerias; devem centrar a
sua actividade nos clientes, personalizando
massivamente a sua oferta; e desenvolver
novas práticas para uma gestão mais eficaz
dos activos da nova economia, como a informação, o capital intelectual e, em última
análise, as pessoas.
Este quadro implica também que na área
das TIC a diferença virá de alguns factores
fundamentais. Como a da aposta na modularidade de componentes e nos conceitos
de arquitectura de negócio, de serviços e de
aplicações para o máximo de flexibilidade,
versatilidade e robustez à mudança permanente. E da utilização, de forma pragmática e
inovadora, das tecnologias emergentes, com
destaque para os novos canais de negócio e
as soluções centradas no cliente e de assegurar a partilha de informação em tempo
real e a integração eficiente dos processos
de negócio entre a organização e os seus
parceiros e clientes, esbatendo as fronteiras
tradicionais.
A estes pontos soma-se, actualmente,
a convergência com as políticas globais de
ambiente e controlo energético, correntemente “green IT”. O sector das TIC – um
dos maiores na economia global – tem uma
contribuição fundamental para estas políticas e lidera já muitas das transformações
necessárias.
Este estatuto de liderança resulta de
duas vertentes fundamentais: a estrutura
organizacional e cultural destas organizações, naturalmente fluida, desmaterializada
e composta por segmentos populacionais
especialmente receptivos, e a natureza do
próprio negócio, que obriga a uma posição
de liderança tecnológica, que só será mantida se convergente com esses princípios.
Serão estas as características que garantirão
a liderança desta contribuição por parte das
TIC por muitos anos e que irão gerar novas
e interessantes oportunidades.
www.novabase.pt
JOSÉ CARLOS GONÇALVES CEO DA LOGICA IBERIA
Explorar novos negócios
Eficiência energética e defesa do ambiente começam a ser vistas como uma porta para o sucesso.
Há muitos exemplos de como a indústria de serviços de TI pode aderir à “tendência verde”
C
om uma fórmula que fica na memória – “os 20/20/20 targets” – a
União Europeia estabeleceu como objectivos até 2020 reduzir em 20% a emissão de gases
com efeitos de estufa, assegurar que 20% da
energia sejam produzidos a partir de fontes
renováveis e diminuir, também em 20%, o
consumo no espaço europeu. Por seu turno,
é a própria Comissão Europeia quem prevê
que os Estados membros terão de investir
750 mil milhões de euros em infra-estruturas para a energia: metade para produção,
metade em redes de distribuição.
Do lado da produção, Portugal, actualmente o quinto país da Europa com a maior
quota de fontes de renováveis no mix de
energia, pode ter um papel importante neste
cenário. Clima, tecnologia e já alguma experiência fazem do nosso País um caso de boas
práticas. Mas pode ter igualmente um papel
de destaque no desenvolvimento das infraestruturas ao nível da distribuição. As smart
grids são um desafio e uma oportunidade.
O Inovgrid é um consórcio liderado pela
EDP, que tem precisamente como objectivo
desenvolver um sistema de distribuição inteligente de energia para Portugal. O projecto
engloba telecontagem, redes inteligentes,
microgeração e produção distribuída e está
totalmente alinhado com a estratégia da
Plataforma Tecnológica Europeia para as
smart grids e com as iniciativas internacionais em Espanha e nos EUA. Agregando
várias entidades, entre as quais a Logica, para
a componente da integração dos sistemas
de informação, contempla as dimensões
industrial, tecnológica e científica.
O esforço pioneiro de I&D pode ser a base
para uma fileira tecnológica e industrial de
exportação de conhecimento português para
outros mercados. Os casos de multinacionais
que encontram em Portugal know-how e
recursos para criar centros de competência
começam a multiplicar-se. No futuro, muitos
desses centros endereçarão tecnologias e
questões relacionadas com o ambiente.
PORTA PARA O SUCESSO
As grandes empresas de serviços de TI começam, pois, a ver na eficiência energética
e na defesa do ambiente uma porta para
o sucesso. A desmaterialização dos processos e documentos ou a monitorização
de emissões de CO2 são outros exemplos
em como esta indústria pode aderir à “tendência verde” e simultaneamente explorar
novas áreas de negócio.
Mas a questão ambiental é igualmente
uma questão de economia de custos. Qualquer empresa, seja por via da redução da
factura de electricidade seja por uma gestão
eficiente das suas infra-estruturas de TI,
beneficia de um impacto positivo nas suas
operações. E o fenómeno estende-se a outras indústrias. A revolução a que assistimos
no mundo das comunicações e media tem
permitido o uso mais lógico do tempo e do
espaço, evitando deslocações não essenciais,
o que gera, por sua vez, menor consumo de
“A questão ambiental
é uma responsabilidade
de todos nós enquanto
organizações e cidadãos”
combustível, logo menos CO2.
Mais do que tudo, a questão ambiental é
uma responsabilidade de todos nós enquanto
organizações e cidadãos. O principal desafio
que se coloca aos líderes de todo o mundo
é reduzir as emissões de gases com efeitos
de estufa sem comprometer o crescimento
económico e as condições de vida dos países desenvolvidos. Um estudo da McKinsey
– The Carbon Productivity Challenge – sobre
o aumento da produtividade da economia
de carbono aponta para a necessidade de o
PIB por unidade de carbono ter de aumentar dez vezes até 2050. Conseguir-se-á com
tecnologias já disponíveis, com vontade política e, fundamentalmente, com a transformação das atitudes individuais: essa talvez
a mais difícil de todas.
Outro estudo recente da Logica –Transformar a Preocupação em Acção: a Eficiência
Energética e o Consumidor Europeu – concluiu que o custo é a principal motivação dos
portugueses para poupar energia. O whitepaper, que recolheu dados de 10 mil consumidores em dez países europeus, confirmou que
em Portugal, sem fugir à tendência europeia,
existe dificuldade de concretizar em acções
as preocupações com o consumo de energia,
principalmente quando isso limita ou altera
o estilo de vida.
Estamos num momento de mudança de
atitudes, que, estou convicto, a tecnologia irá
induzir. Uma simples informação on-line e
em tempo real dos consumos energéticos e
respectivo impacto económico é meio caminho para um ajuste no comportamento dos
consumidores. O ambiente deixou, pois, de
ser uma questão de moda ou da tão falada
responsabilidade ambiental. É uma realidade
que, à semelhança da Revolução Industrial,
vai transformar economias e mentalidades.
A questão do ambiente é cada vez mais uma
nova revolução, só que esta – a Revolução
Ambiental – já está aí e seguramente não
demorará tanto tempo.
www.logica.pt
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
111
players
Nuvens
no horizonte
Concorrência acrescida e mercado
em profunda mudança num ano que
se antecipa muito complicado. 2009
será de grandes desafios para
as empresas das TIC em Portugal
N
inguém tem dúvidas de que a crise que se abateu sobre
os mercados financeiros e que está já a provocar estragos na economia mundial vai ter um impacte significativo nas TIC em Portugal. Se as empresas cotadas já o sabem
melhor do que ninguém, uma vez que viram as respectivas capitalizações bolsistas sofrerem uma verdadeira derrocada, todo o
sector se está a preparar para dias de maior aperto, em maior ou
menor escala. E com estratégias diferenciadas, que terão ainda
de dar resposta a um mercado em profunda mudança e onde se
antecipa maior concorrência. Nas comunicações electrónicas,
ao arranque da TDT acrescem os projectos novos na área móvel, as pressões sobre os preços e os investimentos nas redes
de nova geração. No negócio postal, prepara-se a liberalização
total em 2011. Nos media, o arranque do quinto canal, previsto para o próximo ano, torna o cenário ainda mais difícil. Já os
projectos de raiz tecnológica de capitais nacionais parecem, por
enquanto, estar imunes ao “tufão” que assolou os mercados.
A evolução acentuada das comunicações electrónicas, fruto dos rápidos desenvolvimentos tecnológicos e de mercado,
está a acentuar a forte pressão competitiva entre os players do
112
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
sector. Onde se posicionam como operadoras globais quatro
grandes grupos – PT, Vodafone, Zon e Sonaecom – que oferecem pacotes de serviços convergentes em todas as plataformas.
2008 marcou uma concorrência mais agressiva entre os vários
projectos, em resultado do spin-off da Zon, do Grupo PT. E em
2009 poderá acelerar ainda mais, até porque se antecipa que,
com o impacto da crise financeira e económica, se acentue a
queda da procura. As operadoras estão atentas, mas garantem
que irão manter os seus projectos no terreno.
O líder da PT, Zeinal Bava, já garantiu que o grupo irá continuar a honrar os seus compromissos com clientes, fornecedores, trabalhadores e accionistas. E afastou a possibilidade de
suspender o pagamento do dividendo de 57,5 cêntimos por acção, a pagar em 2009, a que se comprometeu com o programa
de remuneração aos accionistas, no âmbito da OPA lançada pela
Sonaecom. Este pagamento completa o pacote de benefícios,
avaliado em seis mil milhões de euros, e que inclui o spin--off
do seu negócio do multimédia e cabo, nas mãos da PTM, a actual Zon. Uma separação que veio trazer uma nova dinâmica ao
mercado e à própria incumbente. Apostou forte no negócio da
televisão nas várias plataformas, que agregou sob a marca Meo.
Depois da IPTV, do satélite e do móvel, prepara agora o arranque
da TDT, depois de ter ganho os concursos para as duas plataformas (paga e gratuita). O objectivo é reforçar as suas ofertas de
pacotes multiple-play.
A Vodafone, cada vez mais posicionada como operadora global, também está a atacar em todas as frentes, com uma oferta
convergente (móvel, PC e Internet) assente numa estratégia que
reúne banda larga, voz fixa, dados, mobile advertising e outros
serviços para além da voz móvel. E admite ainda entrar na televisão fixa, quer por satélite quer por IP, o que lhe permitirá
explorar ofertas integradas e convergentes de triple-play.
A Sonaecom, perdida a batalha da OPA e depois de ter recuado na TDT, está a avançar com um ambicioso plano de investimentos, que implica o reposicionamento da Optimus, a progressiva melhoria da oferta comercial de triple-play baseada na
sua rede de alta velocidade e a desagregação de novas centrais.
O destaque, todavia, vai para o investimento de 240 milhões
de euros no desenvolvimento de RNG, que em 2011 servirá pelo
menos 25% da população. E já adiantou, através do seu presidente, Ângelo Paupério, que a actual crise não pode precipitar
decisões, tendo reafirmado os seus investimentos.
A Zon Multimédia também não tem parado. Depois de agitar o mercado com significativas descidas de preços, avançou
recentemente com uma operação móvel virtual. Agora, preparase para entrar na corrida ao quinto canal de televisão em sinal
aberto. Rodrigo Costa, o líder do grupo, reafirma os seus planos,
continuando mesmo a analisar oportunidades de crescimento,
incluindo por aquisições.
Também os CTT começam a explorar novos negócios para
além do postal. Acompanhando a crescente desmaterialização
das comunicações, depois de ter lançado o MVNO com a marca
Phone-ix, está agora a preparar o arranque de uma plataforma
bancária, em substituição do velho projecto do banco postal.
Quanto às demais operadoras de comunicações, que sentiram fortemente a maior pressão concorrencial, também não têm
parado. A Cabovisão concluiu recentemente a digitalização total da rede. A Oni conseguiu finalmente registar lucros e aposta
forte no sector público. Já a Ar Telecom optou por focar o seu
crescimento nos mercados internacionais, mantendo a operação nacional.
Nos media, a RTP, a Impresa, a Media Capital, a Cofina e a
Controlinveste lutam para vencer num sector igualmente em
profunda mudança. A quebra do mercado publicitário, o aparecimento de novos concorrentes e o lançamento da TDT e do
quinto canal lançam acrescidos desafios. Todos procuram explorar novas fontes de receitas, ao mesmo tempo que cortam
custos para se prepararem para o impacto da crise financeira na
economia real. Para 2009, antecipa-se um recuo da publicidade,
numa altura em que se prepara o arranque do quinto canal.
Também as tecnologias se preparam para tempos mais
complicados. A Novabase focaliza-se na rentabilidade e sustentabilidade dos negócios, olhando cada vez mais para a
internacionalização. A nova Glintt, que resultou da fusão entre
a ParaRede e a Consiste, reforçou competências e avança para
os mercados exteriores. De menor dimensão, mas de cariz ainda
mais especializado, as empresas tecnológicas nacionais parecem estar, pelo menos para já, imunes à crise.
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
113
players
PORTUGAL TELECOM
Liderar todas as frentes
Está no centro da “guerra” comercial que tem agitado o grupo das “grandes”. Aposta forte na TV
e nos pacotes convergentes. E reforça no mercado internacional, que representa quase metade
das receitas. A PT garante ter capacidade de investimento para liderar todas as frentes de negócio
E
stá a jogar em força em todas as
frentes para continuar a crescer.
Com uma estratégia convergente
fixo-móvel, aposta forte na banda larga e na televisão. Depois do
Meo por IPTV e por satélite, prepara-se
para lançar a TDT em Portugal. Agressiva
nas ofertas comerciais, não tem poupado
as suas concorrentes, especialmente a sua
ex-participada. Lá fora, a aposta continua
a centrar-se na operação móvel brasileira,
a Vivo, que partilha com a Telefónica. Mas
sem esquecer o mercado africano. A operação internacional já representa quase metade das receitas e em breve ultrapassará
50%. Vencida a “guerra” da OPA lançada pela Sonaecom, a Portugal Telecom (PT) não
tem parado. Com o pacote remuneratório
proposto aos seus accionistas na defesa da
OPA praticamente concluído, Zeinal Bava, presidente executivo da incumbente,
garante que o grupo mantém a capacidade
de investir e criar valor.
O novo líder da PT foi eleito pelos accionistas no final de Março deste ano, com
o grupo a regressar ao modelo de governance com um CEO (presidente executivo) e um chairman. Henrique Granadeiro,
que liderou os destinos da incumbente
no período da OPA, acumulando as duas
funções, mantém-se como chairman. Zeinal Bava já deixou bem claras as linhas
estratégicas até 2011 (o mandato da actual
administração termina este ano, mas a sua
114
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
recondução é dada como certa). Agora
sem o negócio do cabo, na sequência do
spin-off da ex-PT Multimédia, actual Zon,
o grupo aposta forte em ganhar mercado
na televisão por subscrição e na banda
larga, fixa e sobretudo móvel, já que se
encontra em expansão em Portugal, fruto
especialmente da oferta do e-escolas e, em
menor escala, do Sapo móvel.
Estas são, aliás, as áreas de maior crescimento em Portugal e através das quais a
incumbente nacional poderá compensar a
perda de receitas na rede fixa, com destaque
para a voz. O CEO não esconde que pretende “dar cartas” no negócio da televisão
paga, através do Meo, seja por IPTV seja por
satélite ou mesmo por mobile TV. Ao qual
se juntará em breve a TDT, onde venceu
os dois concursos – para as plataformas
gratuita e paga – num processo que gerou
e continua a gerar polémica. Outra prioridade é o aumento de receitas no segmento
empresarial e SoHo, aqui especialmente
através de produtos convergentes, como
o Office Box.
De acordo com estimativas do grupo,
detém uma quota de mercado de 71% na
voz fixa, seguindo-se a Sonaecom (12%),
Cabovisão (7%) e Zon (5%). Já no mercado
da banda larga, a sua quota é de 43%, detendo aqui a Zon a segunda posição (28%),
seguida da Sonaecom (16%) e da Cabovisão
(11%). Quanto ao mercado móvel, a sua
quota é de 46%, ficando a Vodafone com
37% e a Sonaecom com 17%. É no mercado
da TV paga que há que ganhar mercado, já
que detém apenas uma fatia de 6%, contra
74% da líder Zon e 14% da Cabovisão.
MEO É APOSTA FORTE…
Pouco tempo depois de assumir oficialmente o cargo de CEO, Zeinal Bava não
perdeu tempo a anunciar e a avançar com
a sua estratégia para a televisão. A começar
quase do zero, com uma oferta de TV paga
através da rede IP (IPTV) disponível desde
meados de 2007 apenas em algumas zonas
urbanas (encerrou 2007 com 21 mil clientes), anunciou, a 2 de Abril, o objectivo de
massificar este negócio com o alargamento
da oferta ao satélite (DTH), o que lhe permitiu uma cobertura de âmbito nacional
similar à da concorrente Zon. Até porque,
como salientou o líder do grupo, “quando
decidimos investir num projecto, fazemolo com ambição”. Este passo permite-lhe
oferecer uma oferta integrada de serviços
triple-play (voz, Internet de banda larga e
televisão), numa estratégia para a TV que
passa por uma oferta multiplataforma – móvel, IPTV e DTH – agregada numa marca
única, o Meo. Quanto à rede de cobre, depois de disponibilizar o Meo através das 20
centrais preparadas para o efeito (18 em
Lisboa, uma no Porto e outra em Castelo
Branco), espera investir até final deste ano
em 580 centrais, o que permitirá o acesso ao
serviço de IPTV do Meo de 700 mil clientes
PRINCIPAIS INDICADORES
2000
Resultados líquidos
Receitas operacionais
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007 *
2008
(1.º sem.)
540,3
307,4
391,1
240,2
623,2
654,0
866,8
741,9
252,9
4 236,7
5 777,6
5 582,0
5 776,1
5 967,4
6 385,4
5 765,3
6 148,4
3 250,1
l
PT Comunicações (1)
1 989,8
2 423,4
2 441,1
2 287,9
2 144,8
2 050,4
2 071,8
1 962,4
953,7
l
TMN
1 005,7
1 394,4
1 474,8
1 522,6
1 462,4
1 455,4
1 502,4
1 542,9
780,8
l
Vivo
679,2
1 401,8
1 217,6
1 361,5
1 599,1
2 036,9
2 104,7
2 463,0
1 433,5
l
PT Multimédia
232,9
625,8
622,8
684,3
597,9
627,4
663,8
—
—
EBITDA
1 590,9
2 124,0
2 229,5
2 267,7
2 362,9
2 495,6
2 237,0
2 356,7
1 171,1
Activo total
11 674,9
17 636,3
13 726,1
13 557,8
13 928,7
16 643,1
14 171,2
13 122,2
13 346,8
CAPEX
3 383,8
3 836,7
1 168,2 **
651,6
761,2
943,1
867,7
899,3
358,4
Dívida líquida
3 544,7
5 456,1
4 037,0
3 215,6
3 573,2
3 672,5
3 756,6
4 381,8
5 800,0
Em milhões de euros.
* A PTM passou a ser considerada, para efeitos de reporte financeiro, uma operação descontinuada, tendo o spin-off ocorrido
a 7 de Novembro de 2007. (1) Os valores da PTC passam a integrar, a partir de 2003, a PT Prime.
** Sem contabilizar a compra da rede fixa por 348 milhões de euros.
Fonte: PT, Relatórios e Contas
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
115
players
da PT. Nas zonas onde não tiver cobertura
por cobre, terá sempre por satélite.
O objectivo é permitir aos clientes do
grupo a oferta de pacotes de serviços, mas
também chegar a potenciais subscritores de
outras operadoras, uma vez que qualquer
pessoa pode subscrever o serviço por satélite (pagando embora um preço superior
ao do cliente PT). E faz com este serviço
um ataque à concorrente, uma vez que assegurou a capacidade de satélite através de
um contrato de oito anos com a Hispasat
(a mesma que fornece o serviço à Zon TV
Cabo), o que permite que os clientes desta
possam passar para o Meo satélite sem necessidade de substituir a antena parabólica.
O contrato representa um investimento de
43 milhões de euros, já registado nas contas
do quarto trimestre de 2007 e reflectido no
nível de dívida líquida.
O Meo satélite arrancou a 14 de Abril
com uma campanha publicitária de peso,
com os Gato Fedorento. Zeinal Bava escusou-se a traçar metas e objectivos quantificáveis para este novo serviço, adiantando
apenas que os 100 mil clientes que previa
ter em IPTV até final de 2008 eram uma
meta definida no momento em que o projecto da PT não era tão ambicioso. E os
resultados confirmaram-no: no final de
Setembro, anunciava ter superado os 200
mil clientes de TV por subscrição, representando a base de clientes do Meo cerca
de 30% dos clientes ADSL e 7% das linhas
geradoras de tráfego. O grupo reafirmou
que “a oferta integrada de serviços de voz,
Internet e televisão – Meo – representa
uma alavanca essencial da estratégia da
PT de reforçar a proposta de valor oferecida aos seus clientes residenciais, o qual
assenta num conceito de multiplataforma
cujo objectivo é fornecer o mesmo conteúdo independentemente da interface do
cliente”.
E deixou claro que “pretende posicionar
a imagem do Meo como a melhor e mais
sofisticada oferta de televisão por subscrição no mercado português e evidenciar o
seu posicionamento multiple-play como
uma oferta 5-play, incluindo televisão por
subscrição, banda larga fixa, voz, video-on-demand e banda larga móvel”. Um
posicionamento que visa aumentar a receita
média por utilizador, a fidelização da base
de clientes e a captação de novos, destacando que já está a recuperar clientes no
mercado residencial, uma vez que cerca de
60% das adições líquidas do Meo IPTV são
novos clientes para a PT. E o Meo também
116
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
Zeinal Bava pretende
posicionar o Meo
como a melhor
e a mais sofisticada
oferta de televisão
por subscrição
se estendeu em força às ilhas, tendo arrancado tanto na Madeira como nos Açores a
oferta de TV por IPTV.
A estratégia para a televisão deverá ser
completada com o arranque da TDT, uma
vez que a PT foi a única concorrente ao
concurso para a plataforma aberta de transmissão de canais (free-to-air), tendo ainda
concorrido à plataforma de TV por subscrição, onde a Airplus também foi candidata.
O processo ainda está a decorrer, mas tem
vindo a ser marcado pela polémica e contestação. E começou logo no momento da
entrega das candidaturas, onde a PT, numa
verdadeira “jogada de mestre”, conseguiu
chegar a acordo com a Media Capital para
gerir a rede analógica de sinal de televisão
desta (a Reti) e adquiri-la, passando assim a
controlar as duas únicas redes de transmissão de sinal de televisão em analógico. Ao
mesmo tempo, acordou com as três estações
de televisão em sinal aberto – RTP (1 e 2),
SIC e TVI – as condições de distribuição
destes canais na rede da TDT durante o
período de difusão simultânea analógica
e digital (simulcast), assim como a transmissão digital até ao final do período da
licença da TDT.
A primeira análise preliminar que
dava a vitória à PT nos dois concursos foi
contestada pelo mercado e especialmente
pela Airplus, que recorreu aos tribunais
e provocou a demissão do presidente da
comissão de análise. Mas uma segunda
análise preliminar da comissão voltou a
dar, no final de Setembro, a vitória à PT.
E esta, através do seu líder, garantia ser possível colocar o piloto da TDT operacional
em três meses e a comercialização em seis
meses, já que o trabalho já está a ser feito
e há investimento realizado. E mesmo que
haja algum atraso do processo nos tribunais,
Zeinal Bava adianta que há tempo para pôr o
processo em marcha. A PT estima um investimento total de 120 milhões de euros nas
duas plataformas a três anos, prometendo
uma antecipação da implementação dos
prazos de cobertura da TDT face ao concurso, de 12 meses na plataforma aberta e
de 18 meses na plataforma paga em relação
aos timings definidos por Bruxelas para o
desligamento das emissões analógicas, em
2012. Mais uma vez, a oferta ficará sob a
marca Meo.
Outra das apostas em Portugal tem sido a
área empresarial e a Administração Pública.
Depois de um concurso conturbado, que foi
contestado pelos operadores e as associações do sector, o grupo acabou por lhe ver
adjudicado pelo Ministério da Educação o
contrato para o upgrade do acesso Internet
nas escolas. Terá de multiplicar por 10 a
velocidade de acesso à Internet em 1200
escolas dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico
e do secundário. E junta-se a um outro de
instalação, manutenção e gestão da rede
de área local nas escolas. Na área da saúde,
venceu ainda recentemente um concurso
para o fornecimento de comunicações à
Rede de Informática da Saúde em mais um
processo envolto em polémica e contestado
pelas suas concorrentes.
… ASSIM COMO O EXTERIOR
Mas a PT está também a reforçar nos seus
negócios internacionais. A operação móvel
no Brasil, que representa 90% das receitas
conseguidas fora de Portugal, é uma prioridade absoluta na estratégia da incumbente.
Mesmo depois das tensões com a Telefónica, a sua parceira na Vivo, na sequência da
OPA e do alinhamento da espanhola com as
pretensões da Sonaecom. Telefónica e PT
já disseram várias vezes que estão compradoras mas não vendedoras das respectivas
partes do capital. Ambas estão, no entanto,
concentradas no investimento e na recuperação da operadora móvel brasileira. Mas
recentemente correram rumores de que a
Telefónica estaria interessada em vender
a sua posição na Telecom Itália e na Vivo
em troca da participação que a Telecom
Itália detém na TIM Brasil. Para a PT, esta
seria a solução ideal para o impasse que
dura há vários anos na Vivo, com as duas
parceiras a repartir em partes iguais cerca
de dois terços do capital (o restante terço
está disperso em bolsa).
Assumindo-se a área internacional como
o principal motor de crescimento das receitas da PT – já representa quase metade
das receitas totais consolidadas e deverá
ultrapassar esse valor no final deste ano
ou no próximo, enquanto a situação económica e do sector em Portugal não antecipa
grandes taxas de crescimento –, a aposta vai
ainda para outros mercados. Com destaque
para África, onde o grupo pretende agarrar
novas oportunidades de investimento e de
parcerias que lhe permitam crescer através
da AfricaTel, a sua holding para o continente. E tem ainda como alvo melhorar
o desempenho operacional dos activos já
existentes, como a angolana Unitel, onde
possui 25% do capital.
REFORÇAR EM ÁFRICA
Em Setembro, Zeinal Bava fez um périplo
pelos países africanos onde o grupo detém
participações, mostrando bem a aposta que
pretende fazer naquele continente. Um
dos alvos é replicar o projecto do e-escolas naquela região, tendo começado pela
Namíbia, onde comemorou o cliente um
milhão na MTC, a maior operadora móvel
do país e onde a PT detém 34% do capital,
entregando mil computadores Magalhães
em mil escolas primárias no âmbito do
programa ConnectED. O projecto abrange
ainda a possibilidade de 25 mil estudantes universitários serem abrangidos por
computadores com placa de Internet,
num investimento de cerca de 900 mil
euros. Já antes tinha entregue um Magalhães à ministra das Telecomunicações do
Botswana. A aposta passa não só pela voz
como pela banda larga móvel, tendo sido
lançado pela MTC o primeiro pré-pago
para a banda larga, o que aconteceu pela
primeira vez em África.
Segundo o CEO da PT, “continuamos a
crescer em todos os nossos negócios. A Vivo
está melhor que o esperado [...], em África vemos forte crescimento” e o mercado
português tem uma “razoável visibilidade”,
apesar de o ambiente “estar agora mais desafiante do que há seis meses atrás”. Garante
que a incumbente está “confortável” com
a sua dívida e que vai “continuar a investir em crescimento” e assegura que, face
ao aumento da concorrência no mercado
nacional, a escala da PT “é uma vantagem
competitiva” que “é difícil de replicar”.
“ATAQUE” À REGULAÇÃO
Anacom e AdC estão de olhos na incumbente
APESAR DO ESTILO mais low-profile e
comedido de Zeinal Bava face ao seu
antecessor, o facto é que o CEO da PT
não tem poupado críticas à acção do
regulador sectorial. Acusa-o de estar
a praticar uma regulação pouco clara
e imprevisível, concentrada em atacar
a PT, e, por essa via, estar a limitar a
capacidade de crescimento do grupo.
Uma das áreas em que tem vindo a
“atacar” é a da oferta de banda larga no
retalho, onde defende uma regulação
segmentada por regiões. A Anacom, na
sequência de uma análise ao spin-off
da Zon (ex-PT Multimédia), acabou por
aligeirar a regulação do mercado 12
– do fornecimento grossista de acesso
em banda larga –, nomeadamente
definindo áreas competitivas nas quais
a PT pode lançar livremente propostas
de serviços sem ter de garantir uma
margem de lucro face às concorrentes
(o chamado retail-minus na oferta
grossista, que se mantém nas zonas
sem concorrência). Em aberto continua
o quadro regulatório para as RGN, área
onde a incumbente nacional garante que
há dinheiro, mas que só investirá depois
de o regulador lhe dar garantias de que
é possível investir sem ser obrigada
a partilhar a rede. Bava entende que
“a inovação não deve ser regulada”.
Outro tema que opôs a PT à Anacom
O grupo já tem praticamente concluído desde Julho o pacote remuneratório
prometido aos accionistas no âmbito da
defesa da OPA lançada pela Sonaecom,
que envolveu um investimento de 6,2 mil
milhões de euros. Falta apenas o pagamento
do dividendo de 0,575 euros por acção relativo ao exercício de 2008, que será pago no
próximo ano. O plano incluía, para além do
spin-off da PTM, a aquisição de acções próprias no valor de 2,1 mil milhões de euros,
executada desde Março de 2007 e concluída
em Julho último. Foram compradas acções
equivalentes a 20,58% do capital social à
data da proposta.
Prova do esforço de investimento está no
valor do CAPEX da PT no primeiro semestre desde ano. No total, foram investidos
358 milhões de euros, mais 20,1% que um
é a imposição de novas descidas
das tarifas de interligação nas redes
móveis, assim como a reintrodução
de uma assimetria temporária a favor
da Optimus. O grupo voltou também a
cair mas “malhas” da Concorrência. No
início de Setembro, a AdC condenou
a PT ao pagamento de uma multa de
2,1 milhões de euros por “abuso de
posição dominante” nos mercados
grossistas de aluguer de circuitos. Em
causa estão os descontos do tarifário
de aluguer de circuitos que a operadora
praticou entre 1 de Março de 2003 e 7
de Março de 2004. Conclui-se que a
PTC “aplicou condições discriminatórias
relativamente a prestações equivalentes,
limitou a produção, a distribuição,
o desenvolvimento técnico e o
investimento, através da definição e
aplicação de um sistema de descontos
que favorecia as empresas do grupo
a quem pertence a PT Comunicações
(Grupo PT) em detrimento das
concorrentes”. Também aqui o grupo
recorreu da decisão, por considerar
infundadas as alegações. Esta é a
segunda multa imposta pela AdC, depois
de no ano passado ter sido determinada
uma multa de 38 milhões de euros,
mais uma vez por abuso de posição
dominante da PTC, desta vez
no acesso a condutas.
ano antes. Excluindo a consolidação da Telemig na Vivo, o CAPEX teria aumentado
12,8%. Para a rede fixa foi uma fatia de 126
milhões de euros (mais 20,1%), destinados
sobretudo ao upgrade da rede, com o aumento da largura de banda de forma a dar
resposta ao lançamento do serviço de TV
por subscrição. Também na TMN o investimento cresceu 27,9% no semestre, para 80
milhões de euros, canalizados para a expansão da capacidade e da cobertura das redes
3G/3,5G, no sentido de melhorar os serviços
móveis de voz e de dados aos clientes. No
Brasil, o CAPEX da Vivo aumentou 21,9%,
sendo direccionado para a consolidação da
Telemig e para o aumento da cobertura
e capacidade da rede, nomeadamente na
rede GSM/EDGE (sem a Telemig, a subida
foi de 1,2%).
Novembro 2008 COMUNICAÇÕES
117
players
CLIENTES POR ÁREAS DE NEGÓCIO
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Rede fixa *
4 303
4 301
4 143
4 225
4 377
4 478
4 404
4 176
4 156
Móveis
9 739
9 009
10 486
25 543
31 596
35 117
34 757
39 745,0
46 920,0
TMN
2 939
3 905
4 426
4 887
5 053
5 312
5 704
6 261,0
6 485,0
Vivo
6 800
5 104
6 060
20 656
26 543
29 805
29 053
33 484 ,0
40 435,0
950
1 160
1 307
1 442
1 449
1 479
1 480
—
19
65
193
391
687
933
1 047
652 ***
—
3
53
161
380
585
685
652
667
—
19
62
140
230
315
348
362
l
l
TV por subscrição (1)
Banda larga **
l
ADSL
l
Cabo (1)
MÓVEIS PERMITEM CRESCER
As operações móveis continuam a ser as
responsáveis pelo crescimento das receitas
do grupo. Nos seis primeiros meses deste
ano, as receitas operacionais consolidadas
aumentaram 10%, para 3,25 mil milhões de
euros, graças à Vivo e à TMN. A primeira
teve um reforço de 25,7 % nas receitas em
euros, em resultado do crescimento sustentado dos clientes e da consolidação da
Telemig (no segundo trimestre de 2008).
Na TMN, subiram 7,2%, graças a um crescimento sustentado dos clientes, em particular no segmento pós-pago e de banda
larga móvel. Já as receitas operacionais da
rede fixa decresceram 4,0%, com o impacto
combinado da perda continuada de linhas
e da pressão sobre os preços nas receitas
de retalho. Mesmo assim, o grupo destaca
que já apresentaram uma “tendência de
estabilidade sequencial”, sendo a redução
mais baixa dos últimos seis semestres, graças ao crescimento dos clientes de TV por
subscrição (166 mil no total) e dos negócios
empresarial e de dados. Cerca de 50% das
adições líquidas de IPTV foram de novos
clientes. De referir o aumento contínuo
do peso das operações internacionais nas
receitas, que alcançou 48,6% no final do
primeiro semestre. O grupo antecipa que
ou no final deste ano ou em 2009 o seu
peso ultrapasse 50%.
Já os lucros foram de 252,9 milhões de
euros, o que representou um recuo de 41,1%
face a 2007, o que é explicado por vários
itens excepcionais, como ganhos financeiros de 144 milhões em 2007, ganhos com
serviços passados e resultados de operações
descontinuadas. Excluindo estes itens excepcionais em ambos os semestres, o resultado líquido teria ascendido a 301 milhões
COMUNICAÇÕES Novembro 2008
de euros no primeiro semestre de 2008,
face aos 337 milhões de euros no mesmo
período do ano anterior. O EBITDA cresceu 2,1% até Junho, para 1,17 mil milhões
de euros. O grupo ficou com uma dívida
líquida consolidada de 5,8 mil milhões de
euros, face a 4,38 mil milhões um ano antes,
o que é explicado pela aquisição de licenças
3G no Brasil (227 milhões de euros), pelo
programa de recompra de acções (731 milhões de euros) e pelos dividendos pagos
pela PT (533 milhões de euros).
No total do mercado doméstico, através
da holding PT Portugal, o grupo registou nos
primeiros seis meses do ano um reforço de
0,6% nas receitas, para 1,7 mil milhões de
As operações móveis
são responsáveis pelo
crescimento do grupo.
TMN e Vivo fizeram as
receitas crescer 10% no
primeiro semestre deste
ano. O fixo voltou a recuar
euros. Um valor explicado pelo forte desempenho no móvel e pela recuperação sustentada na rede fixa. A TMN viu as suas receitas
crescerem 7,4%, para 780,8 milhões, graças
ao crescimento da banda larga móvel. Só as
receitas de dados móveis aumentaram 41,1%,
representando 19% do total das receitas móveis de serviço. Conseguiu 223 mil novas
adesões, ficando com uma carteira total de
6,48 milhões de clientes. Na rede fixa, as
receitas recuaram 3,6%, fixando-se em 953,7
milhões de euros, mas com o lançamento da
TV por subscrição e a área empresarial a contribuírem para uma recuperação do negócio.
116
—
Em milhares.
* Acessos telefónicos principais. ** Clientes do retalho. *** Inclui limpeza da base de dados de 103 mil clientes. (1) Os valores até 2006 eram da PTM.
118
2008
(1.º sem.)
—
Fonte: PT, Relatórios e Contas
Na melhoria do desempenho pesou ainda “o
controlo rigoroso de custos, que continua a
ser uma prioridade chave do segmento de
rede fixa”. A redução de pessoal manteve-se,
com a saída de mais 267 trabalhadores, a
representar um custo de 78 milhões de euros
(253 trabalhadores e custos de 84 milhões
em Junho de 2007).
Sem adiantar previsões, Zeinal Bava
mostrou-se “confortável” com as perspectivas dos analistas para os resultados
deste ano. Embora com a ressalva de que
a consolidação da Telemig será de nove
meses e das alterações da regulação. Mas
garante que a PT continuará a apresentar
uma “performance robusta”, depois de
em 2007 o grupo ter registado receitas
consolidadas de 6,14 mil milhões de euros
(mais 6,6% que um ano antes), mais uma
vez graças ao crescimento da Vivo e da
TMN de, respectivamente, 17% e 2,7%.
Os resultados líquidos fixaram-se em 742
milhões de euros (menos 14,4%), provocados pelos custos de 275,6 milhões de euros
com o programa de redução de efectivos.
O custo com o corte de 1004 trabalhadores
na rede fixa foi de 289 milhões de euros,
parcialmente compensado com um ganho
de 14 milhões referente à liquidação de
benefícios. Na que foi a última apresentação de contas liderada por Henrique
Granadeiro, o agora chairman destacou
que foi a opção responsável para “preparar
a empresa para a nova realidade de mercado”. O EBITDA subiu 5,3%, para 2,35 mil
milhões de euros. E o CAPEX foi de 899
milhões de euros, mais 3,6%. Só na rede
fixa, o investimento cresceu 22,5%, para
292 milhões de euros.
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