Viver dos “pacotes”
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Viver dos “pacotes”
TIC à lupa VOZ FIXA Viver dos “pacotes” O conceito tradicional de voz fixa está a desaparecer. O negócio passa cada vez mais pela sua inclusão em pacotes de serviços que são oferecidos através de todas as plataformas de acesso. Inovação e criatividade são as palavras-chave das novas ofertas crescentemente convergentes O ferta crescente de pacotes dual, triple e quadruple-play. Várias plataformas a disponibilizarem os mesmos serviços. Concorrência cada vez mais aguerrida pela conquista ou manutenção de quota de mercado. Novas tecnologias de acesso. O negócio da voz fixa está em profunda mudança. E a entrada em força de novos concorrentes acelerou o processo, ao fomentar soluções cada vez mais convergentes, onde a inovação e a criatividade são cada vez mais fundamentais para ganhar e fidelizar clientes. Uma estratégia que tem vindo a ser adoptada também pela incumbente Portugal Telecom (PT) para travar a queda nesta área, responsável por metade das suas receitas da rede fixa. E já está a “colher” frutos dessa aposta. Dados do regulador das comunicações mostram que o Grupo PT perdeu 23% de quota de mercado nos acessos telefónicos fixos entre o início de 2004 e o primeiro semestre deste ano. Um recuo explicado não só pela redução da utilização do serviço telefónico fixo (STF) nos moldes tradicionais e pelo efeito de substituição da voz fixa pela móvel, como ainda pelo crescimento das ofertas em pacote das operadoras de televisão por cabo e de Internet e do aparecimento, desde o início de 2005, de ofertas que utilizam a tecnologia GSM como tecnologia de acesso. Estas estão a expandir-se bastante desde o ano passado, 60 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 tal como as ofertas de voz que utilizam o PT Noites Grátis) e reduções de preços da VoIP (voz sobre IP). mensalidade em campanhas de promoção, A detentora da infra-estrutura fixa de para além da oferta da instalação do servicobre, e desde sempre prestadora do serviço ço. Comercializa ainda vários pacotes em universal de telecomunicações, através da que, por um valor mensal fixo, o assinante subsidiária PT Comunicações (PTC), tem tem chamadas ilimitadas nas condições fiapostado em novos pacotes e campanhas xadas. É o caso do Plano Local PT, do Plano de promoção para reter os clientes na sua Total PT, do PT Manhãs, do PT Tardes, do rede. É que a voz fixa continua a repre- PT Noites e do PT Fim-de-Semana. sentar uma parte fundamental das suas Mas é sobretudo através da sua estratégia receitas: do total de 953,7 milhões de euros de pacotes de serviços que o grupo tem de receitas operacionais da PT na ó vindo, recentemente, a conserede fixa, o negócio do retalho foi guir estancar a fuga de clientes % o responsável por 481,5 milhões da rede fixa. A PT refere no de euros. E, dentro deste, as receirelatório semestral que entre tas de voz renderam 389,3 milhões Abril e Junho, pela primeira de euros, evidenciando embora vez em 11 trimestres consecuA quota uma queda de 10,1% face a períotivos, registou uma evolução de mercado do homólogo, contra os pouco positiva no número de RGU das operadoras alternativas mais de 92 milhões de euros de retalho. Conseguiu 27 mil no serviço das receitas de dados no retalho. adições líquidas no trimestre, telefónico fixo A queda é explicada pelo grupo fruto do arranque do serviço pela perda de linhas e pelo aumende TV por subscrição (70 mil to da pressão sobre os preços, especialmente adições líquidas no trimestre e 96 mil no as áreas de desagregação do lacete local e semestre) e da estabilidade do nível de perdo cabo. da das linhas geradoras de tráfego, mesmo num ambiente de aumento da concorrênCOMBATER COM MAIS OFERTA cia, “com ofertas agressivas” das operadoras Mantendo a taxa de assinatura mensal de cabo. Apesar de tudo, teve um decréscisobre a rede fixa, que para os clientes mo de 8% das linhas de voz, para um total residenciais é actualmente de 15,19 euros, de 2,89 milhões de linhas. a estratégia da PT tem sido a de compensar As concorrentes da PT continuam a “ataesse valor através de várias ofertas, nomea- car” o mercado da voz fixa através de ofertas damente de chamadas gratuitas (como o de pacotes e utilizando o argumento da 33,7 OFERTAS EM PACOTE – SUBSCRITORES Tipo de oferta não cobrança da taxa de assinatura mensal. Uma das mais dinâmicas tem sido a “nova” concorrente Zon Multimédia, através do reforço das suas propostas de triple-play baseadas na rede de cabo. O grupo considera, aliás, que o serviço de voz é um factor chave no aumento do nível de penetração dos pacotes de serviços, um dos pilares fundamentais da sua estratégia de crescimento. E esta parece ser uma aposta ganha. No primeiro semestre conseguiu angariar mais de 120 mil clientes de voz, sendo 65 mil só no segundo trimestre. Em Junho, a sua carteira totalizava 204 mil clientes de voz, o equivalente a 18,5% do total de clientes de TV por subscrição na plataforma de cabo, ganho que certamente se ficou a dever às inúmeras campanhas de promoção que foram sendo lançadas. 1 Julho 2007 31 Dezembro 2007 1. Double-play 357 844 385 729 Telefone fixo + Internet de banda larga 228 463 250 784 Telefone fixo + televisão paga 102 609 102 481 Televisão paga + Internet de banda larga 26 772 32 464 2. Triple-play * 146 050 179 291 TOTAL 503 894 565 020 * Telefone fixo, Internet de banda larga e TV paga. A Sonaecom, depois da integração das carteiras de clientes da Tele2 e do segmento residencial da Oni, também tem tentado estancar a saída de clientes, embora admita que o ambiente de pressão competitiva tem sido particularmente visível na área fixa, com “relevantes campanhas promocionais de preços nos segmentos de voz, banda larga e TV”. Com uma aposta clara na protecção Fonte: Anacom e crescimento do negócio de acesso directo de banda larga, tem desenvolvido medidas no sentido de aumentar a fidelização dos clientes e reforçar a oferta de serviços, nomeadamente na oferta de televisão via IP e home video. Uma das frentes tem sido a migração de clientes de acesso indirecto para acesso directo. No final de Junho, tinha 741 mil acessos do negócio fixo (mais 80,2% Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 61 TIC à lupa m A PT aposta cada vez mais nos pacotes... m ... assim como a Sonaecom, através do Clix que um ano antes ou 10,1%, excluindo o contributo das aquisições efectuadas em 2007). Os acessos directos representavam 70,5% do total de acessos do negócio fixo, sendo que o total de activações líquidas de acessos directos no total dos seis meses foi de apenas 12 mil acessos. Um número explicado pelo grupo pelas pressões competitivas, problemas na portabilidade de números do operador incumbente, que geraram um alargamento significativo no prazo médio de activação dos clientes em acesso directo, a abertura em apenas duas novas centrais para serviços ADSL2+ e a crescente utilização de serviços de banda larga móvel. Bastante activa também neste negócio esteve a Vodafone. Primeiro, avançou com uma oferta fixa baseada na sua rede móvel: o T0 Voz (serviço de voz fixa) e do T1 Net (serviço de acesso em banda larga). No ano passado entrou directamente, através da desagregação do lacete local (OLL) nas centrais da incumbente PT, passando a dispor de uma rede própria ADSL+, através da qual disponibiliza o Duplex ADSL em dois pacotes alternativos de Internet de banda PRINCIPAIS INDICADORES DO SFT 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008 2007 (2.º trim.) Prestadores (unidades) Habilitados 24 28 27 26 21 22 22 25 27 Activos 14 14 13 12 13 14 13 17 17 2 3 2 2 1 2 5 5 l Só acesso directo 2 l Só acesso indirecto 6 4 3 3 3 3 2 1 1 l Ambos 6 8 7 7 8 10 9 11 11 4 313,3 4 382,9 4 354,6 4 282,9 4 328,2 4 234,4 4 230,7 4 143,7 4 126,6 Acessos telefónicos (milhões) Acessos directos — 3 250,9 3 217,0 3 143,5 3 133,4 3 133,9 3 245,4 3 194,4 3 242,5 Acessos indirectos — 446,6 511,1 407,0 596,5 572,7 457,7 275,5 248,4 — 389,8 474,2 355,5 494,8 470,1 391,5 246,6 221,8 Acessos VoIP — — — — — — — 4,6 162,3 Acessos GSM — — — — — — — 364,8 390,6 Acessos cabo — — — — — — — 272,5 278,8 l Com pré-selecção Tráfego (milhões de minutos) Total 15 117 15 805 14 794 14 084 11.921 10 269 9 019 8 433 4 152 l Voz nd nd nd 9 034 8 751 8 385 8 017 7 925 3 909 l Internet nd nd nd 5 049 3 169 1 884 1.001 0,414 0,118 N.os portados (unidades) Total l Números fixos * Valores de Setembro de 2008. 62 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 — 2 338 63 572 118 231 203 380 338 822 564 539 837 637 1 081 287* — 2 332 63 427 118 017 158 623 265 077 446 371 664 684 868 029* Fonte: Anacom TIC à lupa m A Vodafone alarga actividades ao fixo... m ... e a Zon ganha cada vez mais clientes larga e voz fixa. Foi a primeira subsidiária do grupo a disponibilizar serviços suportados numa rede própria ADSL+, numa óptica de posicionamento como operadora global e complementando os serviços móveis que compõem o seu core-business. Menos dinâmicas estiveram as restantes operadoras. Com uma oferta através de uma plataforma de cabo, destaque para a Cabovisão. No final de Maio tinha um total de 726,77 mil serviços activos, sendo 247,4 mil serviços de telefonia fixa. A Ar Telecom, que acabou por suspender o plano de investimentos em Portugal, mantendo a sua operação apenas nos locais onde está presente, continua a disponibilizar pacotes que incluem a voz fixa. No final de 2007 existiam um total de 565 mil subscritores de ofertas em pacote (ver quadro). Desses, 179,29 mil eram produtos triple-play (voz, TV e banda larga). fatia de 20,5%, ou seja, 664,726 mil clientes. A Cabovisão surge na terceira posição, muito distanciada, com 7,65% do mercado (246,4 mil clientes), seguida da Zon, com 2,3% (74,5 mil clientes), Vodafone, com 2,2% (71,3 mil clientes) e Ar Telecom, com 0,7% (22,69 mil clientes). Os números revelam ainda que a PT tem vindo a perder quota de “GUERRA” DE QUOTAS Dados oficiais da Anacom mostram que havia no final de Junho um total de 3,242 milhões de clientes em acesso directo na voz fixa, mais 0,6% que um ano antes e mais 0,2% que em Março último. A PT tinha 66,6% dos clientes, o equivalente a 2,159 milhões de subscritores. Segue-se a Sonaecom, com uma 64 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 mercado. Só entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano perdeu 12,6 mil clientes no fixo. Mas mais acentuada foi ainda a quebra de clientes na Sonaecom: perdeu mais de 18 mil subscritores. Já as demais operadoras conseguiram manter – como a Cabovisão – ou reforçar as respectivas quotas. A Zon foi quem mais se destacou: entre o primeiro e o segundo trimestres ganhou quase 36 mil novos clientes de voz fixa. De referir que existia ainda, através de VoIP (voz sobre IP), um total de 162 mil acessos, sendo 115 mil de VoIP nómada, mais 12,9% que no trimestre anterior. O parque de acessos telefónicos principais instalados situava-se, em Junho, nos 4 milhões, correspondendo a uma penetração de cerca de 38,2 acessos por 100 habitantes (menos 1,3% do que no período homólogo). A diminuição dos acessos analógicos e a redução nos acessos RDIS básicos e primários não foram totalmente compensadas pelo crescimento dos acessos suportados noutras tecnologias, como o GSM, VoIP e cabo. No final do primeiro semestre havia 390,6 mil acessos fixos em Portugal baseados na tecnologia móvel GSM, quase 50% mais que um ano antes. Já os acessos VoIP passaram de dois mil no final do ano passado para 662,3 mil em Junho. Em termos de quotas de acessos, a PT detém a maioria: 69,4%, menos 4,5% que um ano antes. Desde o início de 2004, o grupo já perdeu 24,6% de quota nos acessos. Mas também a Sonaecom recuou, passando de 18,2% nos dois trimestres anteriores para uma quota de 17,8%. QUOTAS DE MERCADO NO SERVIÇO TELEFÓNICO FIXO Clientes de acesso Tráfego de voz (minutos) directo 2007 2008 2007 2008 1.º 4.º 1.º 2.º 1.º 4.º 1.º 2.º trim. trim. trim. trim. trim. trim. trim. trim. Grupo PT 73,7 68,5 67,4 66,6 69,5 67,4 67,6 66,3 P. alternativos 26,3 31,5 32,6 33,4 30,5 32,6 32,4 33,7 – 21,4 21,2 20,5 – 20,2 19,0 18,7 3,8 4,2 4,6 0,1 0,6 1,8 l Sonaecom l Vodafone 0,6 1,4 1,9 2,2 l Grupo Zon – 0,1 1,2 2,3 l Cabovisão 7,3 7,7 7,6 7,6 3,1 3,3 3,5 3,7 l Ar Telecom 0,1 0,4 0,6 0,7 2,1 1,9 1,9 1,8 l Outros 2,2 0,5 0,1 0,1 0,3 0,4 0,4 0,5 Em percentagem. 3,0 – Fonte: Anacom TIC à lupa VOZ MÓVEL Caminhos para crescer Apesar de já estar na maturidade, o negócio móvel continua a crescer. Mas prepara-se para maiores desafios com as novas descidas de preços e o acréscimo de concorrência. A aposta vai para ofertas cada vez mais completas e campanhas agressivas para garantir o futuro T axa de penetração bem acima dos 100%. Novas descidas de preços de roaming e de interligação, quer por imposição de Bruxelas quer por determinação da Anacom. Concorrência a aumentar, tanto por via dos novos MVNO como por atribuição de mais licenças pelo regulador sectorial. À partida, as perspectivas para o móvel em Portugal parecem ser bastante complicadas. Mas o mercado continua a crescer a bom ritmo e regista mesmo taxas de crescimento significativas. A aposta da TMN, Vodafone e Optimus em estratégias de retenção e fidelização de clientes, com campanhas agressivas de produtos e serviços, a par do reforço na banda larga móvel, está a dar frutos. Já há algum tempo que o mercado móvel nacional está massificado. No segundo trimestre deste ano, alcançou 14,3 milhões de assinantes, mais 4,8% que no trimestre anterior e mais 15,5% face a período homólogo, sendo uma das subidas mais elevadas dos últimos anos. A taxa de penetração de 134,9% é explicada pela existência de utilizadores com mais de um cartão de acesso (calcula-se que 16,2% dos clientes tenham dois cartões 66 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 activos e que 5,1% tenham três ou mais), da utilização de cartões para serviços de dados e acesso à Internet ou afectos a máquinas, equipamentos e viaturas, assim como afectos a empresas. Estima-se que a taxa de penetração real dos telemóveis se tenha situado em 89,8% no final de 2007, ano em que as três operadoras móveis conseguiram alcançar 3,3 mil milhões de euros de receitas de serviços (mais 4,2% que em 2006), com as receitas de voz a dominarem. DADOS CONTINUAM A CRESCER Mas foram as receitas de dados que apresentaram as maiores taxas de crescimento, absorvendo uma fatia de 17% das receitas de serviços totais, em média, contra 14% em 2006. Um resultado que é explicado pela aposta que tem sido feita nas redes de terceira geração e terceira geração e meia (3G e 3,5G), com o reforço das velocidades de acesso e de transmissão de dados e a oferta de novos serviços de banda larga móvel. Os clientes de redes de 3G ultrapassaram, em Dezembro, os 3 milhões, evidenciando um crescimento anual de 92% e um peso na base total de clientes móveis de 23%. E no final de Junho deste ano eram já 3,7 milhões, embora se estime que só 965 mil eram clientes activos. Outra das consequências da estratégia encetada pelas operadoras móveis para reter e fidelizar clientes através das múltiplas campanhas que têm lançado no mercado é a mudança do tipo de assinantes. Nos últimos anos têm predominado os clientes com cartões pré-pagos, mas a situação está a alterar-se desde o ano passado, com o reforço dos clientes de produtos pós-pagos. Entre meados de 2007 e meados deste ano o peso dos cartões pós-pagos no total de assinantes cresceu 2,9%, passando a representar 25%. Num ano, surgiram mais 936 mil cartões pós-pagos, dos quais 181 mil foram conseguidos entre Abril e Junho últimos. E o aumento do número de clientes móveis levou ao reforço do tráfego de voz. Em 2007 realizaram-se 7 mil milhões de chamadas originadas em redes móveis, com 13,6 mil milhões de minutos de conversação (mais 6% e 9% que um ano antes). No primeiro semestre esses valores foram de, respectivamente, 3,59 mil milhões e 7,1 mil milhões de minutos (mais 5,85 e 9,7%). Quanto a serviços de dados móveis, em 2007 foram enviados 18,9 mil PRINCIPAIS INDICADORES DAS OPERADORAS MÓVEIS 2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2 939,2 3 905,0 4 426,0 4 887,0 5 053,0 5 312,0 5 704,0 6 261,0 824,5 966,0 521,0 461,0 167,0 259,0 391,0 558,0 223,0 1 076,5 406,8 1 474,8 1 522,6 1 606,3 1 557,1 1 502,4 1 542,9 780,8 (1.º sem.) TMN Clientes total * Novos clientes * Receitas totais ** 6 485,0 R. líquidos ** 170,7 271,2 259,7 318,2 281,5 — — — — EBITDA ** 391,3 535,0 623,2 689,9 746,7 673,5 658,7 679,0 338,8 ARPU *** 30,9 30,1 27,1 25,2 24,5 22,8 CCPU *** 17,4 16,6 13,5 12,1 11,4 11,6 21,0 — 19,8 — 18,5 — VODAFONE (1) Clientes total * 2 478,8 2 838,0 3 084,7 3 247,9 3 585,7 4 276,3 4 751,0 5 209, — Novos clientes * 683,8 359,2 246,7 163,1 337,8 690,6 474,2 458,6 — Receitas totais ** 901,3 1 028,4 1 063,6 1 153,2 1 294,7 1 325,1 1 393,0 1 511,3 — 80,9 104,8 98,4 124,3 131,7 169,3 204,4 269,0 — EBITDA ** 258,7 288,0 306,8 350,1 352,4 412,4 471,1 533,2 — ARPU *** 31,98 29,99 27,48 27,43 28,35 25,08 23,23 22,72 — CCPU *** 21,99 21,06 19,06 18,57 20,08 16,57 14,81 14,09 — R. líquidos ** OPTIMUS (2) Clientes total * 1 410,4 1 916,0 2 119,8 2 305,8 2 129,0 2 350,0 2 601,9 2 893,5 Novos clientes * 593,7 505,0 204,1 185,9 (177) 224,0 248,7 291,6 2982,1 88,6 Receitas totais ** 458,2 617,5 607,5 636,2 659,5 627,0 610,4 619,4 303,1 R. líquidos ** — — (10,8) (24,4) (16,3) 25,0 50,5 45,0 34,5 EBITDA ** 99,1 107,3 107,2 146,5 190,1 167,0 169,1 162,0 62,1 ARPU *** 32,1 28,4 23,9 22,4 24,3 20,6 19,7 18,2 16,9 CCPU *** 30,4 26,3 20,1 17,3 17,3 16,4 15,1 14,8 * Em milhares. ** Milhões de euros. *** Euros. (1) A Vodafone alterou, desde 2000, o seu ano fiscal para 1 de Abril a 31 de Março. (2) A Optimus começou a operar a 14 de Setembro de 1998. CCPU: custo médio mensal por cliente. ARPU: receita média mensal por cliente milhões de SMS (mais 51%), em resultado da adesão a tarifários específicos que têm vindo a surgir e que incluem um elevado número de mensagens gratuitas, e o mesmo aconteceu até Junho, com 11,29 mil milhões de mensagens escritas (mais 33%). O regulador estima que no final de 2007 existissem 1,4 milhões de utilizadores com acesso à Internet em banda larga móvel, incluindo acessos WAP, mais 88% que um ano antes e o equivalente a uma taxa de penetração de 13,6%. Um reforço em que, para além das campanhas de promoção das operadoras móveis, pesou, sobretudo, o acordo das operadoras com o governo no âmbito da SI e a concretização do programa e-escolas. MAIS PRESSÃO REGULATÓRIA O mercado móvel continua debaixo de olho dos reguladores. Bruxelas não abran- da os seus esforços de criar um mercado único das comunicações também ao nível das tarifas móveis. Em 2007 impôs um calendário de descidas dos preços das ligações telefónicas realizadas em roaming – que está em implementação e que terminará no próximo ano –, levando os preços em toda a Europa para 43 cêntimos e 19 cêntimos (sem IVA) por minuto nas chamadas realizadas e recebidas em roaming, e promete voltar a analisar a necessidade de maior regulação do mercado. E prepara-se para descer os preços dos SMS e da transmissão de dados no espaço europeu: quer passar os SMS para 11 cêntimos (sem IVA), em vez de 29 cêntimos que se praticam em média; e para 1 euro por megabyte de dados transferidos. A proposta já avançou e a comissária Reding pretende que o corte seja implementado em 2009, depois de ter advertido por várias vezes as — Fonte: Empresas, Relatórios e Contas operadoras para procederem a reduções voluntárias das suas tarifas sem qualquer sucesso. Acresce a regulação nacional. A Anacom já tinha anunciado em 2007, através de uma proposta de deliberação, que pretendia avançar com um novo calendário de redução dos preços de terminação nas redes móveis nacionais (os preços que as operadoras pagam entre si pelas ligações às suas redes). Isto porque chegou à conclusão de que desde 1 de Outubro de 2006 – altura em que terminou um pacote de cortes de preços de interligação também imposto – não se verificaram mais cortes de tarifas, situação que prejudica as demais operadoras e os consumidores. Segundo o regulador, “a manutenção de preços de terminação nas redes móveis muito elevados é factor de distorção de concorrência entre essas redes e as redes fixas”, estimando que Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 67 TIC à lupa introduzida a 23 de Agosto, seguida de uma segunda a 1 de Outubro. No caso da TMN e da Vodafone, faltam mais dois cortes (a 1 de Janeiro e 1 de Abril de 2009), ficando a partir daí os seus preços de interligação em 6,5 cêntimos (menos 40,5% que o preço praticado antes desta imposição). Já a Optimus terá um prazo acrescido de dois trimestres, até 1 de Outubro do próximo ano, para chegar ao mesmo valor. Também o preço do serviço grossista de originação de chamadas móveis foi alvo de atenção do regulador depois de várias reclamações. Os preços mantêm-se em 18,70 cêntimos desde 2002, mais do dobro da tarifa de terminação de chamadas nas redes móveis individuais, pelo que a Anacom avançou em Agosto com uma determinação a pressionar as operadoras a descerem, até 30 de Setembro, os preços dos serviços grossistas de originação de chamadas nas respectivas redes móveis para níveis próximos ou iguais aos níveis máximos da terminação. “Convidou” ainda as empresas a “promoverem simultaneamente descidas dos preços do serviço de facturação e cobrança por conta de terceiros operadores, desejavelmente para níveis que não sejam superiores em mais de 20% aos que se encontram fixados na PRI 2008”. O sector móvel esteve ainda envolvido na polémica desencadeada pelo governo sobre a lei dos serviços mínimos (Lei n.º 12/2008), nomeadamente quanto aos arredondamentos em alta dos preços e a tarifação ao segundo. MAIS OPERADORAS MÓVEIS CDMA... Regulador quer dar luz verde a dois novos concorrentes HÁ UNS MESES ATRÁS, admitia-se o potencial interesse de vários grupos nacionais na corrida à quarta licença móvel, que funcionará na faixa de frequências de 450-470 MHz (CDMA). Nomes como a Zon, a Cabovisão, a Ar Telecom, a Oni ou até os CTT foram referidos como eventuais candidatos. Uma empresa desconhecida e criada para o efeito, a RNT – Rede Nacional de Telecomunicações, foi a única que acabou por concorrer. O consórcio é detido em 85% pela britânica Telephony Holdings e em 15% pela portuguesa Radiomóvel, que também opera na mesma faixa de frequências, e está aberto à novos investidores. Com um investimento previsto de 40 milhões de euros, não pretende ser um grande operador, sendo vocacionada a nichos na voz móvel. O alvo é arrancar ainda em 2009 e alcançar 300 mil clientes em velocidade de cruzeiro. Se vencer, terá de investir, no mínimo, cinco milhões de euros em projectos no âmbito da SI. A TMN, Vodafone, Optimus e Radiomóvel foram impedidas de participar por já fornecerem serviços móveis, mas admite-se que tenham até 20% do capital das entidades candidatas. Este concurso, se for atribuída a licença, terá ainda outra consequência: a formalização de mais um concorrente móvel, exactamente a Radiomóvel. A empresa de trunking (SMRP), que também opera com a tecnologia CDMA, poderá solicitar à Anacom autorização para se transformar em operadora de SMT nas mesmas condições que o novo concorrente. Esta tem sido desde há muito uma pretensão da Radiomóvel, que, apesar de ter uma licença de trunking, tem avançado com a oferta de acessos de banda larga móvel ao público em geral através da marca Zapp. Foi ainda autorizada, depois de ter apresentado uma comunicação sobre o início da oferta de dois novos serviços de comunicações electrónicas (serviço telefónico em local fixo e serviço de VoIP de uso nómada), a avançar com esses serviços. Entretanto, o processo ficou em stand-by depois de a Vodafone e de a TMN terem recorrido aos tribunais a contestar o concurso. Ainda não se sabia no final de Outubro se a Anacom avançaria com declaração de interesse público do concurso para esse poder avançar de novo. as transferências líquidas das redes fixas para as móveis com as tarifas praticadas sejam de 110 milhões de euros anuais. Na altura anunciou ainda a introdução de uma assimetria temporária de preços a favor da Optimus, por considerar que o desbalanceamento do tráfego lhe é desfavorável, dado o aproveitamento dos efeitos de rede por parte das operadoras de maior dimensão. INVESTIR PARA REFORÇAR Polémicas e imposições à parte, os últimos números das operadoras móveis mostram que o sector continua, de facto, a crescer. A TMN mantém-se na liderança, com um total de 6,48 milhões de clientes no final de Junho. Só nos seis primeiros meses do ano conseguiu 223 mil novos clientes, especialmente no segmento pós-pago e Depois de muitos protestos da Vodafone e da TMN, que se mostraram contra este novo calendário de descidas e a reintrodução da assimetria, a medida da Anacom acabou por avançar uns largos meses mais tarde que o previsto. E com uma assimetria ainda mais favorável à Optimus. A primeira redução dos preços máximos de terminação em redes móveis foi CLIENTES DO SERVIÇO MÓVEL TERRESTRE 2002 Total GSM 8 528,9 2003 9 350,6 2004 2005 2006 2007 2008 (1.º sem.) 9 960,0 11 448,0 12 226,4 13 450,9 14 325 10 799 l Pré-pagos 6 690,2 7 359,7 7 817,8 9 291,0 9 770,8 10 319,8 l Assinaturas 1 838,7 1 990,8 2 142,2 2 157,0 2 455,6 3 131,0 3 526 Total UMTS — — — — — 3 075,0 3 700,0 Activos — — — — — 869,0 965,0 l Fonte: Anacom 68 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 na banda larga móvel. No total, viu as receitas subiram 7,2%, para 780,8 milhões de euros. Só as receitas de dados revelaram um crescimento semestral de 41%. E, apesar dos cortes de preços do roaming, as receitas de clientes também subiram 7%, para 571 milhões de euros. A par da aposta no corte de custos, a operadora avançou com um aumento significativo da actividade comercial, focada na migração de clientes pré-pagos para pós-pagos e nas vendas de serviços de banda larga móvel. O CAPEX foi de 60 milhões de euros, com o investimento a incidir no aumento da capacidade e cobertura da rede, para dar resposta à maior utilização dos serviços de voz e dados e para reforçar a qualidade dos serviços de voz e banda larga móvel aos clientes. Mais de 50% do investimento foram direccionados para as redes 3G/3,5G. COMPLEMENTAR NEGÓCIO Na segunda posição, a Vodafone fechou o seu exercício fiscal – que terminou a 31 de Março – com uma carteira de 5,21 milhões de clientes, sendo 459 mil novos clientes. Mais uma vez bateu recordes nos seus indicadores financeiros, com as receitas operacionais a alcançarem 1,51 mil milhões de euros, mais 8,5% que um ano antes, sendo 1,35 mil milhões em receitas de serviços (mais 7,9%). Tal como a concorrente, garantiu o seu crescimento pela sua base de clientes – onde os clientes pós-pagos representaram 21,7% da carteira total – e pelo negócio dos dados. No total, o investimento em activos fixos do ano fiscal foi de 186,8 milhões de euros, sendo que três quartos desse valor foram canalizados para a modernização e aumento de capacidade da rede. Para além da implementação da rede de acesso fixo com tecnologia DSL, que veio complementar as suas redes móveis 2G, 3G e Wi-Fi, e para dar resposta ao crescimento acentuado dos serviços de dados de banda larga, tanto fixa como móvel, procedeu ao reforço das interligações aos prestadores de serviços de Internet nacionais e internacionais e implementou novas ligações em fibra óptica de grande capacidade. A operadora indica que, “como parte da sua estratégia de independência tecnológica”, reforçou o seu programa de construção da rede de transmissão, que ultrapassou no final do exercício o marco dos 60% de rede própria. … E MAIS PROJECTOS VIRTUAIS Grupos CTT e Zon assumem o risco de avançar e alargar negócio CTT E ZON SÃO os dois únicos grupos que assumiram o risco de avançar com projectos de operadoras móveis virtuais (MVNO). Objectivo: diversificar ou complementar as respectivas ofertas. O regulador sectorial sempre tentou promover o aparecimento deste tipo de projectos como forma de trazer mais concorrência ao mercado móvel português. Chegaram a ser anunciadas várias intenções, como a do ACP, da Media Capital ou do Grupo Auchan. Acabaram por ficar pelo caminho. A complicada conjuntura financeira e económica e o facto de o mercado móvel estar já massificado são explicações. Mas a 30 de Novembro do ano passado os CTT avançaram em força com o seu Phone-ix, para aproveitar a extensa rede de balcões e para diversificar actividades, num projecto que marcou a sua entrada nas comunicações. O Phone-ix utiliza a rede da TMN, oferece dois pacotes de voz móvel pré-pagos e alcançou 100 mil clientes seis meses depois do seu arranque. Por enquanto não pretendem ter oferta de banda larga móvel. Quem quer ir mais longe é a Zon Multimédia com o seu Zon Mobile, que lhe vem permitir a oferta de um pacote quadruple- A Optimus foi a que menos cresceu. Com 2,98 milhões de clientes no final de Junho, angariou no semestre 88 mil novos assinantes. É a única das três que faz uma estimativa dos clientes activos – cerca de 2,326 milhões – numa carteira O mercado móvel continua debaixo de olho dos reguladores. Bruxelas e Anacom querem preços mais baixos para os clientes das comunicações total em que os pós-pagos representavam 29,5%. O negócio móvel da Sonaecom teve receitas totais de 303,1 milhões de euros, sendo 288,2 milhões em receitas de serviços (mais 3,9%), graças ao aumento de 5,9% nas receitas de clientes, play (televisão, banda larga, voz fixa e voz móvel). O projecto foi anunciado em Setembro, mas o arranque aconteceu um mês depois. Tal como a concorrente Phone-ix, apostam na simplicidade. O novo MVNO funciona sobre a rede da Vodafone, com a qual foi assinado um contrato de cinco anos, e disponibiliza dois tarifários pré-pagos, embora projecte oferecer em breve pós-pagos. Uma das novidades é a tarifação ao segundo desde o primeiro segundo. E pretende utilizar o projecto como um trunfo para a conquista de mais clientes para os seus pacotes, através de campanhas de descontos, embora o produto esteja à venda para o público em geral. O Zon Mobile é “uma meta absolutamente importante” na estratégia da empresa para ter uma oferta abrangente e apostar numa maior fidelização de clientes. Numa segunda fase, ainda este ano, está prevista a disponibilização de serviços de banda larga móvel até 7,2 Mbps, ficando para depois a oferta de Mobile TV. E as metas são ambiciosas: quer ser a quarta operadora móvel nacional, a seguir às operadoras que detêm infra-estruturas próprias. que compensaram o recuo de 2,5% das receitas de operadores (determinado pela redução das tarifas de roaming ) e a queda na área dos equipamentos. As receitas de dados representavam no final de Junho último 20,9% do total das receitas de serviço, em resultado da aposta no investimento e na promoção da utilização dos serviços de acesso móvel à Internet de banda larga. Para fazer face a esta aposta nos dados, o grupo liderado por Ângelo Paupério continuou a investir na cobertura e capacidade da sua rede móvel 3G/3,5G, através da implementação de novos sites e da disponibilização acrescida de HSDPA. Em Junho, a rede de terceira geração tinha uma cobertura de, aproximadamente, 81% da população. E a taxa de cobertura com a tecnologia HSDPA, que permite velocidades até 7,2 Mbps, atingia já cerca de 80%. Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 69 TIC à lupa INTERNET Acelerar a fundo A luta pela quota de mercado intensifica-se na banda larga fixa, seja por cabo ou por ADSL. Multiplicam-se ofertas e aumentam velocidades, que já chegam a 30 Mbps. E já há uma oferta via RNG. Mas quem está definitivamente a ganhar esta batalha são os acessos a alta velocidade móveis. Tudo graças ao programa e-escolas, que obriga à subscrição deste serviço A concorrência no negócio da Internet a alta velocidade está a acelerar. Trava-se uma verdadeira batalha entre plataformas, num mercado em grande mudança. No negócio fixo, as operadoras com acessos via ADSL e via cabo digladiam-se pela conquista de clientes. Disponibilizam velocidades de acesso cada vez maiores e lançam campanhas comerciais agressivas, onde a oferta de pacotes de serviços domina. Mas são as redes móveis que parecem estar a ganhar a “guerra” da banda larga, apesar de as velocidades de acesso serem significativamente inferiores. Num ano, conseguiram duplicar o número de subscrições e ultrapassar largamente os clientes de soluções fixas. O e-escolas deu o empurrão. E mais transformações se avizinham com o arranque das redes de nova geração, que prometem débitos de muito maior dimensão. A Sonaecom deu o primeiro passo, com um projecto ainda limitado em termos geográficos. Mas há mais na calha. O número de acessos móveis de banda larga começou a disparar ao longo de 2007, acabando este ano por superar em muito os valores dos acessos fixos (ADSL e cabo). Dos 862,2 mil acessos móveis reportados pelo regulador sectorial em Março do ano passado passou-se, em Junho último, para 1,9 milhões, num salto de 122% em apenas cinco trimestres. Só no segundo trimestre deste ano aderiram 202 mil novos clientes. Tem 70 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 ainda crescido a utilização destes acessos, já que no final de Junho era 886 mil o número de utilizadores activos (315,2 mil em Março de 2007), levando, consequentemente, a um aumento do tráfego à Internet. Já no serviço fixo de acesso em banda larga (por cabo ou por ADSL), o reforço tem sido mais lento. O número de subscritores passou de 1,42 milhões em 2006 para 1,52 milhões no ano passado, fixando-se em 1,56 milhões em Junho último. Aqui, a preferência dos utilizadores continua a ir para as ligações em ADSL (pela linha de cobre), O spin-off da Zon, no final do ano passado, trouxe ao mercado da banda larga fixa um novo equilíbrio de forças entre os vários grupos que oferecem este serviço com um total de 914,5 mil clientes no final do primeiro semestre, enquanto no cabo eram 632,2 mil os subscritores. O número de clientes de acesso dial-up continuou a decrescer, fixando-se já num valor residual de 55,4 mil, em resultado da migração dos utilizadores para a banda larga. Do total de clientes de banda larga fixa, 1,55 milhões são subscritores activos. Já quanto a outros tipos de acesso, como os circuitos alugados, FWA e fibra óptica, apesar de representarem apenas 1,4 % do total dos clientes, têm apresentado um reforço substancial graças às ofertas em pacote baseadas em redes alternativas. “GUERRA” ENTRE PT E ZON O spin-off da Zon Multimédia (ex-PT Multimédia), do universo do Grupo PT, no final do ano passado trouxe ao mercado da banda larga fixa um novo equilíbrio de forças entre os vários grupos que oferecem este serviço. E uma nova dinâmica, já que as agora rivais, PT e Zon, disputam taco a taco o negócio, através de uma aposta crescente em pacotes de serviços cada vez mais completos, maiores velocidades de acesso ao mesmo preço e programas de fidelização das respectivas carteiras de clientes, com inúmeras ofertas e descontos. Uma situação que acabou por arrastar também as demais operadoras, em maior ou menor escala, uma vez que as coberturas do serviço de acesso por ADSL e das redes de distribuição por cabo estão, na sua generalidade, nas mesmas áreas e oferecem velocidades e características similares, pelo que a diferenciação faz-se cada vez mais pelas ofertas disponibilizadas. Quem ganha são os clientes, que vêem as velocidades máximas a aumentarem significativamente – até um máximo de 30 Mbps nas redes de cabo – a preços iguais ou mesmo bastante mais baratos. O grupo liderado por Zeinal Bava, agora apenas com uma oferta de banda larga através da sua infra-estrutura de cobre (ADSL), de- PRINCIPAIS INDICADORES DO ACESSO FIXO À INTERNET 2000 Clientes total (1) l Dial-up l Banda larga 2002 2003 2008 2004 2005 2006 2007 (1.º sem.) 903,9 1 233,3 1 436,4 1 582,1 1 623,9 1 623,6 338,2 466,8 664,6 310,9 367,4 404,0 401,9 394,9 271,0 156,4 99,3 55,4 25,2 99,3 260,5 502,0 838,3 1 165,4 1 425,7 1 524,5 1 568,2 l Por ADSL 2,8 52,0 184,3 420,6 672,8 883,5 903,8 914,5 — l Por cabo 25,1 93,7 205,2 314,4 414,9 489,8 537,5 605,7 632,2 l Outras * Prestadores registados (2) l 2001 Prest. actividade Penetração BL — — — — — 2 ,7 4,7 8,3 21,4 — — — — — 39 39 45 48 29 30 32 25 30 30 28 35 36 0,3% 0,9% 2,5% 4,8 % 8,1% 11,3% 13,8% 14,7% 14,8% (1) Em milhares. (2) Em unidades. * Outras tecnologias incluem, por exemplo, ofertas baseadas em FWA e em circuitos alugados. Fonte: Anacom Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 71 TIC à lupa m O grupo PT tem avançado em todas as frentes nesta intensificação da concorrência na banda larga tinha no final de Junho uma quota de 39,7% na banda larga fixa. Já o projecto de Rodrigo Costa, com a sua oferta por modem de cabo, tinha uma fatia de 27,3%. E isto sem contabilizar as aquisições das operadoras regionais de cabo Bragatel, TVTel, Pluricanal Leiria e Pluricanal Santarém, ainda em decisão na AdC, que vão reforçar mais a sua quota. As demais operadoras alternativas detinham, em conjunto, os restantes 33% do mercado da banda larga, com a Sonaecom a absorver uma fatia de 15,4%, seguida da Cabovisão, com 10,4%. Os valores do regulador mostram que as operadoras alternativas têm vindo a perder clientes neste negócio, especialmente a Sonaecom, que no final de Dezembro tinha 16,3% do mercado e ficou em 15,4% em Junho último. Da lista das alternativas, a Vodafone – com o seu Vodafone Casa – é das poucas que apresenta um ligeiro ganho, detendo 2% de quota na banda larga fixa. Em contrapartida, a PT e a Zon apresentam ganhos neste negócio. A incumbente, através da subsidiária PTC, conseguiu um ganho de 0,6% de quota entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano. E a Zon ganhou ainda mais: 1,3%. O grupo de cabo tem encetado uma estratégia de posicionar a sua oferta de banda larga como a mais rápida e fiável do mercado. A sua velocidade máxima de acesso é agora de 30 Mbps e a oferta mínima de acesso é de 2 Mbps, com um tarifário lançado este ano por 14,99 euros destinado a “romper com 72 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 televisão paga, de forma a ganhar e a reter a sua carteira de clientes através de uma oferta de serviços triple-play atractiva a preços competitivos. Para o grupo de Zeinal Bava, as vendas de TV por subscrição e banda larga são cruciais para a estratégia do negócio de rede fixa, de forma a travar a perda de linhas. E destaca que a “nova estratégia de triple-play está a demonstrar ser uma medida bem sucedida para o crescimento dos novos clientes, uma vez que 40% dos novos clientes não subscrevia qualquer outro serviço”. A estratégia da Sonaecom não diverge muito das suas concorrentes do negócio fixo. Onde admite que o “ambiente de pressão competitiva tem sido particularmente visível”, com “relevantes campanhas promocionais de preços nos segmentos de voz, banda larga e TV a vigorarem no mercado”. O enfoque na protecção e crescimento do negócio de acesso directo de banda larga, nomeadamente através de medidas para reduzir os níveis de desactivações e aumentar a fidelização dos clientes, são as apostas, mais uma vez com destaque para as ofertas e campanhas de pacotes de serviços. Nas zonas com acesso directo, as “zonas Clix”, passou a oferecer o seu pacote base ao dobro da velocidade dos seus concorrentes PT e Zon: 4 Mbps por 14,78 euros (preço até final de 2008). E dispõe ainda de ofertas a 12 e 24 Mbps. as práticas estabelecidas no sector e fazer face às ofertas concorrentes que apostam nos preços baixos” e para “elevar a fasquia” nas ofertas básicas de Internet, mostrando ao mercado que a operadora consegue posicionar-se num mercado “em que todos os dias surgem novas ofertas, que apostam essencialmente nos preços baixos”. Para além desta, dispõe ainda de ofertas a 4,8 e 18 Mbps. E recentemente foi a primeira operadora de banda larga fixa a integrar o projecto e-escolinhas, ao qual disponibiliza o seu tarifário de 2 Mbps com serviço telefónico incluído. Agora está a preparar-se para TUDO EM CASA as RGN, com a implementação de testes As demais operadoras também disponibilipiloto com clientes reais, para fornecimento zaram novas ofertas e pacotes promocionais de velocidades de download de 100 Mbps. para defender as respectivas bases de clienO objectivo é avançar com esta oferta co- tes. A Cabovisão, tal como a Zon, já tem um mercial ao longo de 2009. acesso a 30 Mbps, para além das Mas a PT não se tem ficado propostas a 3, 10 e 20 Mbps com % % atrás nesta intensificação da conpreços muito similares aos das corrência. Na sua oferta do Sapo, concorrentes: variam entre um tem também como oferta base os mínimo de 17,99 e 44,99 euros, 2 Mbps, por um preço promociodesde que o serviço seja subscrito A quota de nal de 14 euros, disponibilizando em pacote dual ou triple-play. mercado da PT no negócio da ainda mais três tarifários – 6, 16 Mas a Vodafone não se fica atrás. banda larga fixa Bem pelo contrário. O grupo móe 24 Mbps –, para além do Free, tarifário sem mensalidade. E já vel tem avançado em força com oferece, nas zonas Sapo, o serviço a sua oferta fixa, disponibilizande voz sem assinatura mensal, desde que o do, através do Duplex ADSL, as velocidacliente subscreva o pacote Noites Grátis ou o des de 12 e 24 Mbps a preços promocionais Chamadas Ilimitadas. A aposta tem passado de 19,90 e 24,90 euros, respectivamente. pelo reforço da sua rede para o fornecimento Todas as empresas, para os novos clientes de maiores larguras de banda e serviços de que subscrevam estes serviços, impõem a 39,7 obrigatoriedade de permanência na rede, que varia entre um e dois anos. À excepção da Zon, que acaba de se estrear no negócio móvel através de um MVNO, os outros três grandes grupos de comunicações nacionais detêm também as redes que estão em concorrência na oferta de banda larga móvel. PT, Sonaecom e Vodafone disponibilizam cada vez mais soluções convergentes de serviços, que incluem a oferta de banda larga fixa e móvel, para além dos outros serviços, mostrando que estes podem ser complementares e não concorrentes. E as propostas de cruzamentos de ofertas dentro dos grupos são várias. O Casa Duplex ADSL e o T1 Net Plug & Play, da Vodafone, para além do acesso à rede fixa, disponibilizam também acesso móvel, pago ao dia ou com um acréscimo na mensalidade (no primeiro caso). O Sapo, da PTC, tem uma proposta similar, com soluções para clientes de ADSL. Para os demais interessados num produto móvel, comercializa ainda directamente as propostas da operadora móvel do grupo, a TMN. Esta inclui na sua oferta o “banda larga casa t”, onde, por preços mais baixos, o acesso móvel é utilizado de uma forma fixa. Na Sonaecom, a estratégia de cruzamento de ofertas é similar: o Clix, para além do acesso em ADSL, disponibiliza acesso móvel para os seus clientes do fixo pago ao dia ou com um acréscimo de mensalidade; e o Kanguru, a marca da banda larga móvel do grupo, tem uma oferta de banda larga num só local a preços mais acessíveis. A aposta em força no acesso à Internet de banda larga móvel (através de placas de transmissão que permitem a utilização de computadores pessoais (placas PCMCIA, m A Zon está a preparar a sua rede para a oferta, já no próximo ano, de velocidades até 100 Mbps placas USB, Modem USB, PC-Card, PC USB Card) surgiu em 2004, com as redes de terceira geração (UMTS ou Universal Mobile Telecommunication Systems), e a aposta em novas tecnologias de acesso: HSDPA e, no ano passado, o HSUPA, que veio proporcionar melhorias significativas da velocidade do tráfego de upload. Hoje, as três redes móveis nacionais já disponibilizam acessos até um máximo de 7,2 Mbps, muito embora essa oferta ainda não esteja disponível em todo o território nacional. As velocidades de 512 kbps, 1 Mbps e 3,6 Mbps são as demais opções, depois de terem avançado este ano com um aumento das velocidades máximas de download nos dois tarifários mais baratos (de 384 para 512 kbps e de 640 kbps para 1 Mbps). Todas as ofertas são comercializadas a preços substancialmente superiores aos praticados nas redes fixas (atendendo, sobretudo, às PRINCIPAIS INDICADORES DE ACESSO MÓVEL À INTERNET 2007 2008 1.º trim. 2.º trim. 3.º trim. 4.º trim. 1.º trim. 2.º trim. Clientes total 862,2 983,7 1182,5 Clientes activos 315,2 359,3 478,0 Penetração 8,1% 9,3% 11,3% Em milhares. 1 454,5 1 713,5 1 915,4 659,8 792,9 886,0 13,7% 16,1% 18% Fonte: Anacom velocidades). E são também praticamente iguais entre as três concorrentes. GANHOS COM O E-ESCOLAS Tendo como grande trunfo a mobilidade, a adesão a estes produtos começou por ser lenta, até porque a cobertura e a velocidade de acesso eram no início baixas. De acordo com dados do regulador, desagregando estes acessos por velocidade de transmissão, verifica-se que cerca de 75% dos acessos se concentravam, no final de 2007, nas velocidades até 640 kbps. Os mesmos dados indicam que, em termos de cobertura, menos de metade do território nacional estava coberto a débitos de 128 kbps (o corresponde a mais de três quartos da população), sendo que os débitos de 3,6 Mbps estavam operacionais em menos de 10% do território, envolvendo um terço da população. Mas no ano passado este tipo de ligações conheceu um reforço exponencial. O que se ficou a dever aos programas e-escola, e-professor e e-oportunidades, promovidos pelo governo e que envolvem a cedência de computadores a preços baixos com ligação obrigatória à Internet em banda larga em condições mais favoráveis. Esta aposta resultou de um acordo, celebrado no ano passado entre as operadoras e o Executivo, no âmbito dos compromissos assumidos aquando da atribuição das licenças de 3G, que obrigava a investimentos na SI. Nomeadamente na produção de conteúdos, programas de Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 73 TIC à lupa Há ainda outras tecnologias alternativas de suporte aos serviços de acesso em banda larga, mas sem a dimensão das dominantes e em diferentes estados de implementação e maturidade. É o caso dos sistemas de comunicações via satélite, que têm uma utilização muito reduzida, apenas em situações muito pontuais e a nível empresarial. Ou do FWA (acesso fixo via rádio), apenas utilizado na rede de acesso pela AR Telecom. No futuro, as licenças de BWA também poderão ter algum papel. Mas a oferta que, de facto, promete uma verdadeira revolução no acesso à banda larga são as redes de nova geração. O investimento em fibra óptica vai trazer velocidades até 100 Mbps, podendo constituir uma fonte de forte concorrência às redes actuais. A Sonaecom deu o primeiro passo ao avançar com uma oferta comercial de triple-play assente em fibra óptica (ver texto da página 44). m Tal como as concorrentes, a Sonaecom aposta nas ofertas convergentes fixo-móvel inovação, distribuição de equipamentos ou desenvolvimento das próprias redes móveis. No primeiro semestre foram investidos naquele programa 100 milhões de euros. Uma das grandes novidades deste ano foi o lançamento, em Agosto, da opção de banda larga móvel pré-paga, quebrando-se a regra da obrigatoriedade de permanência na rede pelo menos por um ano que têm os produtos de assinatura mensal. A Vodafone foi a primeira a avançar com o VitaNet, mas a TMN e a Optimus não perderam tempo e replicaram a oferta no mesmo dia nas suas redes, com pequenas diferenças. Na TMN podem utilizar-se os pontos de acesso da rede Wi-Fi da PT. Na Optimus, o Kanguru pré-pago tem mais flexibilidade nos carregamentos. Os carregamentos oferecidos pelas concorrentes variam entre um mínimo de 10 dias e um máximo de 30 ou 60 dias, com algumas diferenças entre empresas. Trata-se de uma oferta destinada a atrair novos clientes com uma utilização pontual e que sai sempre mais cara e a uma menor velocidade, de apenas 512 kbps. O que é facto é que todas as operadoras móveis estão a registar um acréscimo significativo das receitas provenientes dos dados, sendo a banda larga a grande prioridade. Pelo que continuam a reforçar investimentos na cobertura e capacidade das respectivas redes. 74 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 QUOTAS NA BANDA LARGA – ACESSO FIXO 2007 2008 1.º trim. 2.º trim. 3.º trim. 4.º trim. 1.º trim. 2.º trim. 1. Grupo PT 70,3 69,6 69,0 40,0 l PT.Com * 44,8 44,1 43,9 38,1 – l TV Cabo ** 23,6 23,3 22,8 – l PT Prime 0,4 0,4 0,4 0,5 0,5 l PT Wi-Fi 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 l PTC 0,0 0,0 0,0 1,3 38,6 39,1 39,1 39,7 – – 0,5 2. Grupo Zon – – – 26,2 26,6 27,3 l TV Cabo – – – 24,2 24,5 25,0 l TV Cabo Madeirense – – – 1,5 1,6 1,6 l TV Cabo Açoriana – – – 3. Alternativas 29,7 l Cabovisão 10,5 l Sonaecom 9,8 0,5 0,6 0,7 31,0 33,8 34,3 33,0 10,5 10,3 10,8 10,6 10,4 10,6 15,4 16,3 15,8 15,4 30,4 l AR Telecom nd nd nd nd nd 1,4 l TVTel 1,6 1,7 1,7 2,0 2,1 2,0 l Vodafone 0,2 0,2 0,2 0,9 1,7 2,0 l Oni 5,5 4,9 0,6 0,4 0,2 0,2 Outros 1,3 1,5 1,5 1,5 1,6 1,6 l Em percentagem. * A 10/Mar/08 foi realizada a fusão da PT.Com na PTC. **Com o spin-off da PTM (Zon) passou ao universo deste grupo Fonte: Anacom TIC à lupa TELEVISÃO Cenário de “guerra” Pacotes para todos os gostos. Mais alternativas em termos de plataformas. Preços a caírem. Concorrência agressiva. Arranque da televisão digital terrestre e do quinto canal em sinal aberto a partir de 2009. O negócio da televisão em Portugal está no centro das atenções N unca o negócio do “pequeno ecrã” conheceu dias tão agitados. E em todas as frentes. Tudo graças ao spin-off da Zon, (ex-PTM) do universo da PT, passando esta agora a ser a grande “atacante” do mercado. Na televisão paga, a acesa disputa entre as agora concorrentes trouxe uma dinâmica renovada, com novas ofertas e campanhas agressivas de preços a multiplicarem-se e a arrastarem as demais fornecedoras. Sempre com os pacotes de serviços convergentes a dominarem, tanto no cabo, como no satélite e na IPTV. E a TDT parece finalmente ter pernas para andar. A incumbente nacional conseguiu as licenças dos concursos para as duas plataformas, que irão complementar a sua estratégia para a TV, através da marca Meo. E está de olhos postos no quinto canal, tentando travar de todas as formas a participação da Zon num concurso onde deixa claro que quer entrar. Uma “guerra” que promete. O processo de cisão da agora Zon, do universo da PT, na sequência da OPA lançada pela Sonaecom, deixou a incumbente quase sem nada na área da televisão paga. Ficou apenas com uma oferta residual, através da sua rede de cobre (IPTV), que tinha lançado em meados de 2007. Mas o grupo não ficou de braços cruzados, bem pelo contrário. Não perdeu tempo a deixar claras as suas intenções de avançar em força, fazendo frente à posição de domínio da nova concorrente nesta área, com 80% do mercado através da rede de cabo e do satélite. A 2 de Abril, poucos dias depois de ser eleito CEO da PT, Zeinal Bava anunciava 76 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 o arranque da sua oferta de televisão paga por satélite (DTH). Objectivo: massificar o negócio através de uma cobertura nacional de televisão, com uma aposta em paralelo na rede de cobre, prevendo uma cobertura para televisão por IP em 600 centrais no final deste ano, o que permitirá o acesso a 700 mil clientes da PT. A estratégia de investimento nas duas frentes – cobre e satélite – não é para o grupo redundante, mas sim complementar, no âmbito de uma estratégia de “oferta massiva de TV” através de soluções inte- PT e Zon desencadearam uma agressiva campanha de preços para ganhar clientes na TV. A alta definição foi uma das áreas de maiores tensões entre as duas concorrentes e as trocas de acusações não se fizeram esperar gradas de serviços. Esta aposta multiplataforma, que abrange ainda o móvel e a TDT, está agregada numa única marca: o Meo. Através dela, a PT reforçou as suas propostas para os clientes, mas pretende ainda chegar a subscritores de outras operadoras com propostas aliciantes e a preços mais baixos. E para mostrar que esta é uma aposta estratégica, avançou com uma enorme campanha de publicidade, para a qual contrato os Gato Fedorento. A “guerra” com a Zon estava declarada e instalou-se de imediato, tanto em termos de preços como de ofertas, sempre em dual ou triple-play. A detentora da rede de cabo, que tem na televisão paga o seu core-business e oferece o serviço por satélite como complementar ao cabo para as áreas sem cobertura, sendo a única até agora a disponibilizar essa oferta, respondeu de imediato às propostas da PT. Na altura, o líder da Zon, Rodrigo Costa, garantiu que o seu grupo encara com naturalidade o lançamento do Meo Satélite, trabalhando normalmente dentro de uma aposta no triple-play e num mercado “extraordinariamente competitivo e dinâmico”. Mas desceu de imediato os preços e lançou campanhas para captação de clientes. A alta definição (HD) foi uma das áreas de maiores tensões entre as duas concorrentes e as trocas de acusações não se fizeram esperar. A Zon acusou a PT de estar a travar o processo de cisão e a impedi-la de crescer. A incumbente continua a protestar contra a posição dominante da Zon nos conteúdos. O curioso neste processo é que os actuais líderes da Zon e da PT conhecem bem os negócios concorrentes. Rodrigo Costa até ao ano passado liderava a PT Comunicações e foi o mentor do projecto de televisão da incumbente. Zeinal Bava foi o líder por muitos anos da PTM e da subsidiária TV Cabo. GANHAR MERCADO A aposta forte da PT no satélite deu frutos rapidamente. A 23 de Setembro, anunciava que o serviço de TV por subscrição tinha superado 200 mil clientes, sendo mais de metade deste total novos clientes do TV POR SUBSCRIÇÃO – PRINCIPAIS INDICADORES 2000 Alojamentos cablados Assinantes cabo 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 (2.º trim.) 2 601 3 024 3 361 3 488 3 624 3 775 4 022 4 039 4 206 925 1 119 1 262 1 334 1 356 1 398 1 418 1 489 1 496 376 l Norte 192 247 290 315 341 328 336 373 l Centro 88 105 120 162 169 168 171 180 181 l Lx e Vale do Tejo 534 637 690 678 717 707 708 722 718 l Alentejo e Algarve 39 50 68 84 89 89 90 103 104 l RAM e RAA 72 81 88 94 99 106 112 116 117 nd nd nd nd nd nd nd nd 466 224 289 314 384 394 435 483 525 nd nd nd nd nd nd nd nd 118 925 1 343 1 551 1 648 1 740 1 792 1 853 1 972 2 080 Assinantes cabo digital Assinantes DTH (1) Assinantes o. tecn. (2) Total assinantes TV por subscrição — Em milhares. (1) Serviço de TV paga que recorre à tecnologia de satélite ou DTH (direct-to-home) e é prestado por operadoras autorizadas para operações de TV por cabo. (2) Todas as restantes ofertas de TV por subscrição (xDSL/IP e FWA). Fonte: Anacom Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 77 TIC à lupa grupo. As metas iniciais apontavam para 100 mil clientes no total do ano. Só no terceiro trimestre, conseguiu 84 mil adições líquidas. O grupo voltou a reforçar que a oferta integrada de serviços de voz, Internet e televisão “representa uma alavanca essencial” da sua estratégia para “reforçar a proposta de valor oferecida aos seus clientes residenciais, que assenta num conceito de multiplataforma cujo objectivo é fornecer o mesmo conteúdo independentemente da interface do cliente”. A incumbente quer que o Meo se posicione como “a melhor e mais sofisticada oferta de televisão por subscrição no mercado português e evidenciar o seu posicionamento multiple-play como uma oferta 5-play” (TV por subscrição, banda larga fixa, voz, video-on-demand e banda larga móvel). De fora desta guerra parecem ter ficado as demais fornecedoras de TV paga. A Sonaecom, com a sua oferta de IPTV através do Clix SmartTV, continuou a reforçar a sua proposta com mais conteúdos e novas funcionalidades, como a alta definição, sem aumento de preços. Não são adiantados números de clientes. Já a Cabovisão, a segunda maior operadora nacional de televisão por subscrição através da sua rede de cabo, perdeu mais de mil clientes de TV no trimestre terminado a 31 de Maio último. De acordo com os últimos dados da Anacom, que passou a publicar, a partir do segundo trimestre do ano, a evolução dos serviços de TV por subscrição, tendo em conta as várias tecnologias – cabo, satélite, IPTV e FWA –, a Zon detinha em Junho uma quota de mercado de 74,5% (ainda sem contabilizar as quatro operadoras de cabo regionais, processo ainda nas mãos da AdC). A Cabovisão surgia na segunda posição, com 14%, e a PTC já ocupa o terceiro lugar, com uma quota de 5,4%. As demais operadoras detinham os restantes 6,3% do mercado, com destaque para a TVTel (em processo de aquisição pela Zon), com 3,4%. O número de subscritores de serviços de TV paga alcançou, no final de Junho, 2,08 milhões, de um total de 4,21 milhões de alojamentos preparados para receber o serviço. O cabo continua a ser a forma mais comum de acesso a serviços pagos de televisão, com uma fatia de 70% do mercado, ou seja, quase 1,5 milhões de assinantes, sendo que 466 mil já beneficiavam do formato digital. O satélite surge na segunda posição, com 24,5% do mercado, 78 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 O grupo de cabo detém a grande fatia do mercado de TV. Mas a incumbente prepara ataques em todas as frentes o equivalente a 525 mil clientes. Mas as novas ofertas através de IPTV e de FWA começam a ganhar expressão. O regulador indica que havia já 118 mil aderentes a estas novas ofertas, representando já 5,5% do mercado total de acesso pago. POLÉMICAS NA TDT Mas o mercado da televisão em Portugal conheceu ainda grande agitação numa outra frente: a televisão digital terrestre (TDT). Uma plataforma que, apesar das promessas de arranque, tardava em surgir, e que se destina a passar todas as emissões de televisão a digital, de acordo com as regras definidas por Bruxelas, que obrigam a um swich-off as emissões analógicas até ao início de 2012. Sete anos depois do QUOTAS DE MERCADO POR ASSINANTES 2008 (2.º trim.) Grupo Zon 74,3% l Zon Multimédia 65,9% l Zon Açores 4,2% l Zon Madeirense 4,2% Cabovisão 14,0% PT Comunicações 5,4% TVTel 3,4% Outros 2,9% Fonte: Anacom arranque da abertura do primeiro concurso público para a TDT, em Abril de 2001 (cuja licença foi atribuída à PTDP, liderada por João Pereira Coutinho, sendo revogada em Março de 2003), voltou a ser lançado este ano um novo concurso. Desta vez, o Executivo precaveu-se de eventuais problemas que possam surgir quanto à plataforma paga de pay-TV ao estabelecer dois concursos distintos: um para a plataforma de transmissão dos actuais canais gratuitos em sinal aberto (Mux A) e outro para uma operação de canais pagos, que concorrerá com as demais plataformas de televisão paga (Muxes B a F). Ao longo de todo este ano foram surgindo inúmeros potenciais candidatos ao concurso, não só de grupos estrangeiros (como a Indra, Abertis ou Prisa), mas sobretudo nacionais, como a AR Telecom, Vodafone, Sonaecom e até Visabeira, para além dos grupos de media com canais de televisão em sinal aberto. Quase todos levantaram o caderno de encargos para os dois concursos, e muitos apresentaram questões e dúvidas ao regulador sectorial. Mas acabaram por desistir, por considerarem o negócio pouco atractivo e de grande risco, já que a plataforma terá de concorrer com as ofertas já existentes de TV paga. O concurso foi lançado a 25 de Fevereiro, terminando o prazo de candidatura a 23 de Abril. À corrida apresentaram-se apenas a PT – concorrendo às duas plataformas – e os suecos da AirplusTV, apenas na plataforma paga, num processo que gerou polémica e contestação desde o primeiro momento. A PT, na véspera da entrega das candidaturas, anunciou um acordo para gerir a rede analógica de transmissão do sinal da TVI (através da Reti, controlada pela Media Capital) no caso de vencer o concurso para o Mux A. O que a fez passar, na prática, a controlar as duas únicas redes de transmissão analógicas (a outra rede era já sua). Deu ainda a conhecer um acordo com as três operadoras de sinal aberto – RTP (1 e 2), SIC e TVI – sobre as condições de distribuição destes canais na rede da TDT durante o período de difusão simultânea analógica e digital (simulcast), assim como a transmissão digital até ao final do período da licença da TDT. Quem não gostou foi a Airplus TV, que estaria a negociar com a Media Capital um eventual acordo. Foi solicitado de imediato à Anacom um adiamento do processo e contestada a falta de conhecimento dos valores que a PT iria cobrar pela emissão de sinal, o que a impediria de incluir este elemento na sua candidatura e poderia levar à sua desclassificação. Mas o concurso acabou por avançar, sendo aceites as candidaturas da PT, enquanto a dos suecos ficou em stand-by, à espera da apresentação da caução provisória (de 750 mil euros), que não tinha sido prestada e que acabou por o ser dias depois. Seguiu-se o período de análise pela comissão nomeada para o efeito, durante o qual a Airplus por várias vezes ameaçou com o recurso aos tribunais se a decisão tomada não fosse justa. E a Sonaecom veio a público contestar todo o processo, acusando o governo de “ajuste directo travestido de concurso”, criando “condições objectivas” para que a PT fosse a única empresa capaz de apresentar uma proposta viável. A 27 de Junho era conhecida a decisão da comissão de análise, onde, como já era esperado, foi dada a vitória à PT no concurso para a plataforma paga (semanas depois era dada a conhecer a sua vitória no Mux A). A Airplus, entretanto, tinha tentado jogar com mais alguns trunfos a seu favor na decisão, com o anúncio de que Miguel Pais do Amaral entraria com 20% do capital do projecto, caso este fosse vencedor, e de que Luís Nazaré (ex-presidente dos CTT e da Anacom) tinha sido nomeado para presidente não executivo da empresa em Portugal. Sem sucesso. Pelo que anunciou o recurso da decisão, acusando a comissão de ter tomado uma decisão arbitrária e parcial e de ter cometido “erros técnicos grosseiros”, nas palavras de Luís Nazaré. E foi ainda mais longe ao levantar um incidente de suspeição sobre o presidente da comissão, que acabou por se demitir, ameaçando ele próprio a Airplus com o recurso aos tribunais. A mesma comissão, agora reduzida a dois elementos, voltou a analisar a proposta no final de Julho. Quando já decorria uma providência cautelar da Airplus para suspensão do concurso, que levou a Anacom, um mês depois, com o apoio do governo e da ERC, a avançar com a invocação do interesse público para prosseguir com o concurso. A nova decisão do júri surgiu a 23 de Setembro, sem grandes alterações: a PT voltou a vencer. O anúncio da decisão final surgiu a 20 de Outubro: a Anacom anunciou a homologação das propostas do júri dos concursos para atribuição à PT, através da PTC, dos direitos de utilização das frequências dos multiplexers que distribuirão m As licenças para a TDT foram ganhas pelo grupo liderado por Zeinal Bava os projectos da TDT em Portugal. A PT terá agora que reforçar as cauções dos dois concursos (dois milhões de euros no Mux A e 2,5 milhões nos Muxes B a F), sendo as respectivas licenças atribuídas nos 15 dias úteis posteriores a esse pagamento. A incumbente nacional justifica a aposta do grupo na TDT como complementar, enquadrando-se numa estratégia de televisão multiplataforma. “O IPTV é tudo aquilo que de mais inovador existe em oferta de TV. A proposta de satélite (DTH) garante cobertura a 100% do território nacional. O Meo Mobile permite conteúdos em qualquer lado. A TDT enquadra-se nesta oferta, com custos de aquisição perfeitamente suportáveis”, garantia Zeinal Bava na apresentação do seu projecto. Que representará um investimento a três anos de até 120 milhões de euros, prevendo-se a criação de um fundo de 40 milhões de euros para subsidiação dos equipamentos (15 milhões para a plataforma de canais gratuitos e 25 milhões para os pagos). Garantia ainda de que o investimento na TDT não compromete outros investimentos, nomeadamente ao nível da fibra óptica, porque “a PT tem capacidade financeira para todos os projectos estratégicos”. Implementação acelerada e antes do prazo limite, cobertura abrangente, soluções técnicas diferenciadoras, oferta de conteúdos alargada e de qualidade foram as suas promessas. No Mux A, garante o seu sucesso através de uma oferta consensual para todas as estações de televisão de sinal aberto, e nos Muxes B a F uma solução técnica que maximiza a utilização das frequências disponíveis. Recentemente, o líder da PT veio a público garantir que já há trabalho e investimento feito e que ainda há tempo para pôr em marcha o projecto, mesmo que haja mais alguns meses de atraso do processo nos tribunais. MOBILE TV EM STAND-BY Operadoras comercializam serviço, mas sem grande adesão AINDA SEM EXPRESSÃO está a oferta de televisão através dos telemóveis. O mobile TV já está disponível no mercado desde 2006, mas a adesão tem sido escassa. Até porque só com o swich-off das emissões de televisão em analógico e a consequente libertação de espectro (o chamado dividendo digital) é que poderá ganhar expressão. Em Março último, a Comissão Europeia decidiu acrescentar a norma Digital Video Broadcasting Handheld (DVBH) à lista de normas oficiais da UE, sendo considerada a base para incentivar a oferta harmonizada de telecomunicações em toda a EU, sendo encarada como um passo para a criação de um mercado único de televisão móvel na Europa. Pretende-se proporcionar a escala de mercado necessária para o lançamento, em massa, de serviços de televisão móvel em toda a Europa. As ofertas das operadoras móveis nacionais têm sido reforçadas. No âmbito da estratégia de multiplataforma de TV por subscrição da PT, a TMN relançou em Abril a sua oferta de televisão móvel. O Meo Mobile passou a oferecer mais de 30 canais, tendo-se mesmo apostado num telemóvel especificamente desenhado para o efeito, com vista a reforçar os serviços convergentes fixo-móvel e multimédia da PT. Tem cinco tipos de tarifários: diário, semanal e mensal (Meo Notícias e Desporto, Meo Séries e Kids e Meo Total). A Vodafone também oferece o acesso a 27 canais em três tarifários: diário, semanal e mensal. Tal como a Optimus, que disponibiliza 30 canais. Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 79 TIC à lupa ARRANQUE DO QUINTO CANAL Mais concorrência nos conteúdos O novo canal em sinal aberto só estará disponível com o arranque da TDT, já que só funciona em digital. Os projectos já no terreno temem os “estragos” da entrada do novo concorrente. Os principais grupos interessados no concurso garantem que há mercado para todos O projecto do governo foi anunciado em Janeiro, na sequência do processo da introdução da TDT em Portugal. Tendo como objectivo trazer mais concorrência ao mercado, decidiu-se lançar um novo canal em sinal aberto, cujo concurso, de acordo com os timings definidos, deveria ter arrancado em Outubro. O projecto foi contestado por uns e aplaudido por outros. De um lado, os grupos que já têm televisões generalistas – RTP (1 e 2), SIC e TVI – defendem que o bolo publicitário não vai chegar para todos. Do outro está quem quer entrar neste negócio para completar o seu leque de ofertas e que garante a viabilidade do quinto canal. RECEIOS E OPORTUNIDADES O novo canal só estará disponível com o arranque da TDT, já que funciona apenas com emissões em digital. Para o Executivo, é uma forma de desenvolver o sector e promover o aparecimento de grupos nacionais fortes na comunicação social. Mas quem já está neste mercado teme o impacto de um novo projecto face à dimensão do mercado publicitário em Portugal. Francisco Pinto Balsemão, presidente do Grupo Impresa (que detém a SIC), tem sido o rosto da contestação. Alerta para a estagnação das receitas da publicidade, que se poderá agudizar agora com a crise financeira, e para os riscos que o quinto canal implicará para o sector. Nomeadamente terá que se avançar com novos cortes nos custos em programação e investimentos, pelo que a 80 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 nova plataforma poderá colocar em risco não apenas a qualidade do entretenimento e do jornalismo como também a própria independência dos grupos de media. Desde o arranque do processo que são conhecidos pelo menos três grandes interessados: Controlinveste e Cofina, os dois grupos de media nacionais que não têm um canal de televisão, e a Zon, dona da TV Cabo Portugal, que pretende reforçar-se nos conteúdos. Uma candidatura entre os três interessados tem vindo a ser apontada como a solução mais óbvia, até porque, olhando para as ligações entre os três grupos, será uma solução que faz sentido. Controlinveste e Cofina são ambas accionistas de referência na Zon. E a Controlinveste e a Zon partilham em partes iguais o projecto da SportTV. Mas todos os cenários estão em aberto. O líder da Zon admite mesmo a possibilidade de concorrer sozinho, depois de terem corrido notícias de um eventual desentendimento entre os três interes- sados. Tudo dependerá do regulamento final do concurso. Quem se tem mostrado abertamente contra a participação da Zon na corrida ao quinto canal é a PT. À partida proibida de concorrer, até porque é a vencedora das duas licenças da TDT, participou na consulta pública para a elaboração do regulamento do concurso, a que responderam ainda a Zon, Controlinveste e SIC. A incumbente nacional quer impedir a Zon de participar na corrida, defendendo que esta tem posição dominante nos conteúdos, agora fundamentais para impulsionar a sua oferta de TV. E levantou a hipótese de o vencedor do concurso à TDT gratuita ser o mesmo do quinto canal. Zeinal Bava tem-se multiplicado em afirmações sobre a posição da Zon na área dos conteúdos, defendendo mesmo a criação de um grupo constituído pela Anacom, EC e AdC para estudar o “abuso de posição” da agora concorrente e a separação grossista e retalhista dos conteúdos. De acordo com os timings conhecidos, depois da consulta pública, que terminou a 29 de Agosto, o governo pretendia lançar o concurso ainda durante o mês de Outubro (o que ainda não tinha acontecido no fecho desta edição), tendo os interessados 40 dias para se candidatarem. A avaliação será feita pela ERC num relatório a elaborar até 30 dias úteis após a recepção das candidaturas. E o vencedor do concurso terá 12 meses para iniciar as suas emissões. Mas só o poderá fazer quando a plataforma gratuita de TDT já estiver implementada, uma vez que o novo canal será totalmente digital. TIC à lupa SECTOR POSTAL Liberalização total à vista Os serviços postais no espaço comunitário ficam totalmente liberalizados em 2011. A partir daí, todas as empresas estão em concorrência em todas as áreas de negócio. A incumbente postal está a preparar-se. E já há manifestações de interesse na área ainda fechada D epois de anos de indefinição, o Parlamento Europeu decidiu finalmente estabelecer uma data definitiva para a liberalização dos serviços postais no espaço comunitário. A partir de 1 de Janeiro de 2011 todos os serviços postais ficam abertos à exploração de todas as empresas do sector. Uma medida que, dado o calendário de abertura gradual, apenas se aplicará à área da correspondência abaixo das 50 gramas, onde os CTT – Correios de Portugal mantinham o seu monopólio histórico. O texto agora aprovado mantém os elementos-chave da proposta inicial da Comissão Europeia (CE), nomeadamente no que respeita à abolição da área reservada, ao âmbito e critérios do serviço universal, ao reforço dos direitos dos consumidores, à promoção do papel das autoridades nacionais de regulação e à salvaguarda e financiamento do serviço universal. Isto depois de o Conselho Europeu, ainda sob presidência portuguesa, ter incorporado na sua posição comum os principais elementos defendidos pelos eurodeputados, a saber: o serviço universal deve continuar a ser prestado em toda a sua extensão, incluindo pelo menos uma entrega e recolha 82 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 cinco dias por semana para cada cidadão da UE. Todavia, a directiva que prevê a abertura total do mercado postal contempla a possibilidade de alguns Estados membros poderem adiá-la por mais dois anos, nomeadamente nos casos dos países que se encontram mais atrasados no processo: Roménia, Chipre, Eslováquia, Grécia, Hungria, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia e República Checa. Em todo o caso, e para evitar distorções de mercado e concorrência desleal, a CE permite aos Estados membros que tenham aberto o seu mercado, entre 1 de Janeiro de 2011 O correio expresso é o negócio em que existe maior concorrência. Em Junho, representava 7% do total de objectos postais explorados em regime liberalizado. Os CTT detinham 46,1% do total deste mercado, onde estão todas as multinacionais e 31 de Dezembro de 2012, recusar aos monopólios que operam noutros Estados membros autorização para operarem no seu território. Os CTT sempre se mostraram abertos ao aumento da concorrência, garantindo terem os meios para enfrentar os novos desafios do mercado. O próprio ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, que detém a tutela das comunicações, incluindo o sector postal, já assegurou que a operadora incumbente está preparada para a liberalização, deixando clara a expectativa de que a abertura do sector “traga novos serviços, mais diversificados e mais baratos”. De acordo com o governante, os serviços postais são um “elemento importante da Estratégia de Lisboa”, dada a sua contribuição para o crescimento (representam 0,4% do produto interno bruto europeu) e para a criação de emprego, uma vez que dão trabalho, de forma directa, a 1,7 milhões e, indirectamente, a 3,5 milhões de pessoas. A área ainda reservada apenas aos CTT representa mais de 70% do tráfego total. E já são algumas as operadoras interessadas neste bolo, como os casos da DHL, Chronopost e TNT, que têm manifestado essa intenção publicamente. CTT DOMINAM O tráfego postal de serviços liberalizados – envios de correspondência cujo preço seja superior a duas vezes e meia a tarifa de referência (Correio Azul até 20 g), desde que o seu peso seja superior a 50 g – alcançou no primeiro semestre do ano 139,8 milhões de objectos, menos 0,3% que um ano antes. A grande maioria refere-se ao mercado nacional, que representa 92,5% do tráfego total explorado em concorrência. Os números do regulador sectorial mostram que o tráfego internacional tem sido o principal responsável pelos recuos nos números do tráfego total. Só no segundo trimestre recuou 7,8% face ao trimestre anterior. Já o tráfego nacional aumentou 4,9% entre Abril e Junho, face a período homólogo, graças ao aumento do volume de correspondências endereçadas nacionais dos CTT. Do total de 139,8 milhões de objectos postais explorados em regime liberalizado movimentados entre Janeiro e Junho, cerca de 9,2 milhões respeitavam a correio expresso, que tem assim um peso de 7% do total do tráfego explorado em concorrência. O restante é representado por todos os serviços liberalizados fora do correio expresso. Os CTT detinham uma quota média no semes- tre de 46,1% do correio expresso, revelando um ganho gradual de quota às concorrentes há três trimestres consecutivos. Nos serviços não enquadrados na categoria de correio expresso a tendência é inversa, com a incumbente postal a deter uma quota média de 96,1% nos seis primeiros meses do ano. No total, o sector empregava no final de Junho, nos serviços postais liberalizados, mais de 17 mil pessoas, sendo 14,5 mil dos CTT. Existiam 18,85 mil postos de acesso (18,7 mil dos CTT), 491 centros de distribuição (133 dos CTT) e uma frota de 5866 veículos (4,3 mil dos CTT). Em Portugal, estão presentes as principais operadoras postais mundiais, como a DHL, Chronopost, TNT, UPS e FedEx. A DHL Express Portugal está apostada em tirar partido do seu novo terminal, localizado na Alta de Lisboa, um investimento de 22,5 milhões de euros, que permitirá movimentar cerca de 11 milhões de objectos por ano. A Chronopost anunciou recentemente os seus resultados semestrais, onde apresentou um crescimento de 13,7%, alcançando uma facturação de 17,5 milhões de euros. Já a TNT tem vindo a reforçar a sua actividade no mercado ibérico. Reflexo disso foi a aquisição da empresa espanhola TG+. INDICADORES POSTAIS EM PORTUGAL 2008 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Serviços de correio expresso 7 11 10 36 38 54 60 Serviços fora do correio expresso 4 4 4 6 8 10 10 (1.º sem.) Prestadores (unidades) Tráfego postal liberalizado * Total 153 531 212 435 254 503 254 719 303 564 287 806 139 885 12 578 16 363 19 318 15 670 17 194 17 733 9 227 140 953 196 072 238 053 230 049 286 370 287 803 130 657 Serviços de correio expresso Serviços fora do correio expresso Emprego (unidades) Total 18 203 17 531 16 806 16 686 16 769 16 528 17 087 Grupo CTT 16 874 15 698 15 005 14 695 14 355 14 026 14 509 1 329 1 833 1 804 1 991 2 414 2 502 2 578 Outros prestadores Quotas de mercado CTT Out. CTT Out. CTT Out. CTT Out. CTT Out. CTT Out. CTT Out. Serviços de correio expresso 59,6 40,3 44,3 55,7 38,7 61,3 41,6 58,4 42,2 57,8 44,6 55,4 47,2 52,8 Serviços fora do correio expresso 95,5 4,5 95,9 4,1 97,0 3,0 97,4 2,1 97,8 2,2 97,6 2,4 95,6 4,4 Quotas de mercado/tráfego (%) * Em milhares de objectos. Fonte: Anacom Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 83 TIC à lupa FABRICANTES Banda larga impulsiona mercado A concorrência acrescida do mercado de comunicações, a par dos novos projectos que se avizinham, traz “bons ventos” para as principais fabricantes mundiais a operar em Portugal. A crise mundial não deverá travar os investimentos A renovada dinâmica das comunicações nacionais, com a concorrência acrescida no mercado da banda larga e da televisão, e o reforço das ofertas multiple-play estão a abrir novas janelas de oportunidades para as principais fabricantes e fornecedoras do sector. Às quais acrescem os novos projectos, como a TDT, a nova licença móvel, o BWA e o quinto canal. Sem esquecer a aposta do governo na banda larga ou os novos operadores móveis virtuais. IPTV, Wi-Fi, WiMax, HSDPA/HSUPA, ADSL+, FTTH, DVB-T, DVB-H. As expectativas são grandes em torno das tecnologias. Depois do crescimento quase exponencial das comunicações móveis e dos dividendos que daí retiraram todos os players deste mercado, a indústria acabou por se ressentir e a estagnação marcou os últimos anos. Taxas de penetração muito superiores a 100%, alguma indefinição regulatória e atrasos no avançar 84 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 de importantes projectos levaram a um abrandamento generalizado. Mas a recente explosão da banda larga, muito por mérito dos últimos executivos, e o desbloquear de importantes pastas em cima da mesa do regulador sectorial estão a dar um novo ânimo ao sector. A banda larga nas escolas e nos organismos da AP central e local, a voz, os dados e o vídeo nas empresas e nos lares, a Internet sem fios nos hotéis, nos aeroportos, nos cafés, nas ruas e nos jardins. O mundo está cada vez mais dependente das comunicações. PROCURA FAZ CRESCER LARGURA DE BANDA Apesar de muitas consultoras e analistas de mercado garantirem que 2009 será um ano de abrandamento no mercado dos telemóveis, a verdade é que as comunicações não se limitam à voz móvel e encontram nas novas ofertas e soluções tecnológicas uma boa saída para a crise. E mesmo assim não faltam aqui novas oportunidades. Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 85 TIC à lupa Veja-se, por exemplo, o concurso para a quarta operadora móvel em Portugal. Ou ainda o aparecimento de operadoras móveis virtuais, como o Phone-ix dos Correios ou o recente Zon Mobile. Mas é nas novas formas de acesso e nos novos serviços que reside o grande potencial de crescimento para os fornecedores de comunicações. Desde logo a TDT. E a tecnologia IPTV, que conta já com as ofertas do Clix SmartTV, da Sonaecom, e do Meo, da PT. Já para não falar da fibra óptica e de todas as redes de nova geração. Depois de meses e meses a debater modelos de negócio, paradigmas de regulação e cenários de concorrência, começam-se a dar os primeiros passos na corrida pelas RNG. O tiro de partida foi dado pela Sonaecom, já com uma oferta comercial no mercado e um investimento em curso de 240 milhões de euros a três anos. A banda larga é outro dos negócios em forte crescimento e as potencialidades são enormes, tanto nas redes fixas como nas móveis. E nestas as expectativas são ainda maiores, com o programa e-escolas, que está a gerar um boom nos acessos. A nível empresarial, a procura – sobretudo da banda larga – também está a disparar. Um inquérito à actividade empresarial realizado este ano pela AIP mostra que 96% das empresas que participaram na pesquisa afirmam ter ligação à Internet em banda larga. Esta percentagem passa para 98% entre as empresas exportadoras e entre as médias e grandes organizações, sendo de 92% nas microempresas e de 97% nas pequenas. O estudo mostra igualmente que o ADSL é o tipo de acesso à Internet em banda larga preferido por 76% dos respondentes, seguindo-se “outras formas de acesso” (12%) e o “acesso por cabo” (9%). As outras formas de acesso em banda larga são especialmente significativas entre as médias (16%) e grandes (35%) empresas. Mais de 70% dos inquiridos garantem ter página na Internet, 33% referem utilizar alguma forma de comércio electrónico, sobretudo para adquirir bens e serviços, sendo o uso “para vendas” referido por 15% das empresas. Apenas 8% afirmam participar em algum tipo de e-market place. O inquérito indica ainda que o recurso às tecnologias de informação aumenta com a dimensão da 86 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 É nas novas formas de acesso e nos novos serviços que reside o grande potencial de crescimento para os fornecedores de comunicações. Desde logo a TDT. E a tecnologia IPTV. Já para não falar da banda larga e das RNG empresa. Entre as grandes empresas, 92% asseguram ter uma página na Internet (51% nas micro); 42% utilizam alguma forma de e-commerce (27% nas micro) e 15% participam nalgum e-market place (4% entre as microempresas). Este e outros estudos revelam também que a utilização da banda larga tem vindo a incrementar progressivamente, à medida que aumenta as necessidades de comunicação, que o mercado adopta estratégias on-line, que a necessidade de maiores larguras de banda é sentida pelas organizações e que muda a forma como colaboradores e organizações trabalham. À medida que se ‘webizam’, as empresas deixam de poder contar apenas com as velhas formas de acesso. Procuram cada vez mais ligações GigabitEthernet, FastEthernet, VoIP e outros serviços baseados em IP e LAN-WAN. É neste cenário que trabalham alguns dos principais nomes da indústria no mercado nacional. Com bons resultados financeiros e entusiasmo pela forma como está a evoluir o sector no nosso Pais, não deixam, contudo, de mostrar alguma preocupação e cautela quanto às consequências da crise financeira, que já está a afectar a economia mundial. TIC à lupa m Beato Teixeira lidera a Alcatel-Lucent ALCATEL-LUCENT APOSTA NO IP O ano passado foi especialmente desafiante para a Alcatel-Lucent. Foram os primeiros 12 meses de actividade da subsidiária nacional enquanto empresa que resultou da fusão entre a Alcatel e a Lucent e a integração do negócio de acesso UMTS adquirido à Nortel. E o resultado não podia ser melhor: registou proveitos operacionais de 117,7 milhões de euros (mais 26% que em 2006), vendas de 111,5 milhões de euros (mais 23%), sendo 21,1 milhões de exportação de bens e serviços, e um resultado líquido de 3,2 milhões de euros. A subsidiária revela que este ano a taxa de crescimento tem sido positiva nos vários segmentos de negócio, com destaque para as áreas de acesso fixo, acesso móvel (que, a par dos serviços, são as que têm maior peso no negócio) e multicore. Mas também a área de aplicações, nomeadamente serviços de televisão por IP ou redes inteligentes, têm vindo a crescer de importância. O acesso fixo é a que apresenta um crescimento constante nos últimos anos, dada a massificação da Internet de banda larga, prevendo-se que o mesmo se mantenha com a introdução da FTTH (Fiber to the Home) nos próximos tempos. Quanto a investimentos, prevê-se para 2008 a manutenção dos valores registados no ano passado de “vários milhões de euros”. A subsidiária liderada por António Beato Teixeira continua a centrar-se no desenvolvimento de centros de competência (serviços profissionais, planeamento e optimização de redes móveis, operação e manutenção de redes móveis) e reality center (aplicações de vídeo e entretenimento), que potenciam 88 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 a geração de conhecimento e o desenvolvimento de aplicações inovadoras. A fabricante tem, de resto, vindo a apostar fortemente em ser um parceiro tecnológico de referência das operadoras portuguesas na transformação das suas actuais infra-estruturas para redes de nova geração (RNG), sobretudo no desenvolvimento de redes de acesso baseadas em tecnologia GPON (para a rede fixa), LTE (para a móvel) e evolução para IMS e convergência de serviços fixo-móvel. Este ano, a empresa focalizou-se num conjunto de importantes projectos nacionais. Com especial destaque para o Meo, da PTC (plataforma IPTV e serviços associados); para o call center Genesys, da Zon Multimédia; para a rede de acesso UTRAN (3G), da Vodafone Portugal; para a infra-estrutura BB Fixa, da Vodafone, baseada em tecnologia ADSL; para o Mobile TV, da Sonaecom/Optimus, e para a primeira rede de teste WIMAX no aeroporto de Lisboa/ANA. O mercado português apresenta cada vez mais propostas de triple e quadruple-play aos seus clientes, e por isso a Alcatel-Lucent está cada vez mais activa nos serviços convergentes móveis e fixos com Internet e televisão associada, seja ela IPTV ou DVB SH. E a fabricante tem estado “ao lado do governo português na forte aposta que faz para que em 2010 uma Internet verdadeiramente rápida chegue a pelo menos um milhão de empresas e lares em Portugal”. Para concretizar este objectivo, “trabalhamos todos os dias com as operadoras de telecomunicações portuguesas, com o regulador e com as instituições de governo local e regional para concretizar este desígnio nacional”. Embora as expectativas económicas internacionais e nacionais perspectivem uma desaceleração geral da economia, os responsáveis da empresa acreditam que alguns dos projectos em que está a trabalhar em conjunto com operadoras, nomeadamente a fibra até casa ou FTTH através de GPON, são “projectos de interesse nacional tão importantes e relevantes para o desenvolvimento económico que em si são motores da economia nacional”. Pelo que “prevemos que estes projectos se desenvolvam de acordo com as expectativas do governo”, confiando na “existência de recursos financeiros e técnicos dos operadores nacionais capazes de mitigar uma projectada estagnação da economia”. De entre os projectos que, garantem, irão contribuir para o desenvolvimento nacional, apontam como mais relevantes a implementação de FTTH através de GPON e as redes comunitárias IP. De destacar ainda os projectos que desenvolve a partir de Cascais para gestão e monitorização de redes complexas de comunicações e que contribuem com uma interessante fatia de cerca de 10 milhões de euros, essencialmente através da exportação destas tecnologias e serviços para os várias regiões do mundo, nomeadamente Angola, Europa e Sudoeste Asiático. Recentemente, a subsidiária nacional assinou diversos acordos de entendimento (MOU) com as principais instituições científicas e académicas portuguesas para o financiamento de educação em tecnologias avançadas e desenvolvimento de investigação conjunta. m A Cisco tem Carlos Brazão como director-geral CISCO QUER TRIPLICAR ACADEMIAS A reforçar investimentos em Portugal e a contribuir para a produtividade do País está também a Cisco, que este ano inaugurou nova sede da subsidiária nacional. Um investimento de 10 milhões de euros que premeia o talento nacional e representa o reconhecimento das oportunidades que a fabricante vê no mercado nacional, onde pretende investir em muitas áreas, sobretudo na rede do projecto de academias que tem no nosso País. Nesta área, tem como alvo triplicar o número de academias em território português até 2011, quando espera alcançar um total de 400. E pretende dar formação a mais de 10 mil portugueses. De acordo com Carlos Brazão, director-geral da subsidiária, o programa de academias tem tido um grande sucesso, estando actualmente em actividade 140. Ao pretender triplicar o seu número, a intenção é “colocar Portugal no pódio dos países com mais literacia e índices profissionais qualificados em tecnologias de Internet”. A abertura da nova sede surge depois da entrada em funcionamento do centro de operações para a Europa Hércules, que o nosso País conseguiu garantir após vencer as candidaturas da Irlanda e da Holanda. Esta unidade já está a fazer ‘mexer’ a subsidiária nacional, que está à procura de uma centena de novos talentos para contratar a curto prazo. Um grupo inicial, composto por 30 especialistas, irá dedicar-se à área de vendas internas de várias sub-regiões da Europa, que a fabricante pretende concentrar entre nós. Além destes 30, está igualmente prevista a contratação de cerca de uma dezena de colaboradores para o projecto Liberty, que concentra na capital todas as operações europeias de vendas. Tanto no centro Hércules como no projecto Liberty, a Cisco Portugal poderá vir a investir qualquer coisa como 40 milhões de euros nos próximos três a quatro anos. A subsidiária nacional pretende, de resto, fazer do nosso País uma espécie de near shore e transformar estes centros em verdadeiras unidades de negócio. m A Ericsson é presidida por Hans-Herhard Reiter ERICSSON: ASSEGURAR EFICIÊNCIA A Ericsson é outra fabricante que tem dado especial destaque à banda larga móvel, no âmbito da qual garante ter contribuído “para que Portugal assumisse a liderança na Europa em termos de penetração e de débitos”. O foco da estratégia vai para o conceito “Full Service Broadband”, que consiste no acesso de banda larga a qualquer serviço, a partir de qualquer lugar e através de qualquer ecrã: TV, computador, telemóvel – proporcionando, assim, soluções end-to-end para serviços de alto débito e a continuada evolução dos débitos na banda larga móvel continuam a ser importantes apostas. De destacar a actividade em torno do IPTV. A Ericsson foi, de resto, a primeira empresa a nível mundial a lançar uma solução de IPTV integrada com IMS (IP Multimedia Subsystem), tendo ainda sido pioneira no fornecimento de IMS às operadoras portuguesas. Esta aposta na liderança tem, naturalmente, consequências positivas para a performance financeira. Em 2008, o volume de negócios da Ericsson Telecomunicações cresceu 7%, percentagem que tem mesmo subido ao longo deste ano. As áreas com maior crescimento são os serviços profissionais (22%) e multimédia (15%). No contexto actual, a fabricante encara 2009 com alguma cautela. “É provável que o impacto da crise se manifeste também de uma maneira mais incisiva no sector das telecomunicações em Portugal. Nestas circunstâncias, consideramos prudente contar com um nível de negócios semelhante ao de 2008”, salientam os responsáveis pela subsidiária nacional. Independentemente da crise, esperam que no próximo ano a construção das RGN venha a acelerar no nosso País, em linha com as orientações do governo. E pretende posicionar-se para esta nova fase no desenvolvimento das comunicações em Portugal tirando proveito das “avançadas soluções tecnológicas e da competência dos seus colaboradores”. Tanto a nível internacional como nacional, o desenvolvimento do negócio multimédia, a abordagem abrangente da banda larga (através da proposta Full Service Broadband) e o LTE constituem os projectos de maior relevância para os próximos tempos. Mantém igualmente a sua determinação, e consequentes políticas de ser uma empresa muito eficiente, “assegurando que os seus recursos correspondem às necessidades exigidas pelo volume de negócio em qualquer momento”. Pelo que vai prosseguir “a sua forte aposta na formação contínua dos seus colaboradores, que continuam a ser considerados de elevada competência a nível internacional”. m Na NEC, Antonio Morão é administrador-delegado NEC REFORÇA COMPETÊNCIAS Perspectivas optimistas tem também a NEC Portugal. A empresa está a desenvolver projectos em áreas estratégicas como a banda larga e a investigação e desenvolvimento na área empresarial, através do Centro de Competência de Aveiro. O objectivo é impulsionar projectos e serviços com vista à sua internacionalização. As inovações associadas à tendência da convergência fixo-móvel são outra área de focalização, tendo lançado recentemente a solução Femtocell, uma pequena estação de base celular criada para a utilização em ambientes residenciais ou em pequenas empresas e que funciona como ponto de acesso celular que reencaminha o tráfego de voz móvel através das ligações de banda larga preexistentes. “Em Portugal continua a haver um crescimento deste tipo de tecnologia, porque, havendo necessidade de maiores larguras de banda e sendo a tecnologia microondas uma alternativa à fibra, há aqui uma oportunidade de crescimento interessante”, garantem os responsáveis nacionais. Passando a estratégia da fabricante pela aposta em áreas de maior valor, o Centro de Competência de Aveiro tem vindo a desempenhar um papel crucial. Nomeadamente na que é considerada “uma oportunidade muito importante”, a migração da rede de comunicações ferroviárias analógica para digital e a aposta da operadora ferroviária nacional na interoperabilidade entre os Estados da UE, conforme a especificação standard europeia GSM-R, que em breve deverá ser lançada em Portugal. O trabalho de concepção e desenvolvimento da solução tecnológica foi Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 89 TIC à lupa totalmente realizado pelo Centro de Competência em GSM-R da NEC Portugal, que é único no País. E que acumula, com o conhecimento específico da tecnologia GSM-R, 20 anos de investigação e desenvolvimento na área de comunicações ferroviárias para o mercado nacional. Neste âmbito, estão em preparação algumas parcerias internacionais, das quais se destacam as que resultam do desenvolvimento de negócio internacional associado ao rádio de cabina GSM-R. Outra grande oportunidade para a NEC Portugal é a parceria que firmou com a empresa Sepura, o segundo maior fornecedor de rádios TETRA a nível mundial, para alargar a sua oferta no ramo das telecomunicações. Este novo acordo vem dar à operação portuguesa a capacidade de efectuar a promoção, distribuição e suporte pós-venda dos produtos da Sepura no mercado nacional. m João Picoito lidera a operação ibérica da NSN NOKIA SIEMENS CRIA VALOR Iniciou as suas operações oficialmente em Abril do ano passado, na sequência da fusão entre as duas gigantes. A Nokia Siemens Networks (NSN) Portugal arrancou com 220 milhões de euros de receitas e mil postos de trabalho directos. Sem avançar mais números desagregados para o mercado nacional, adianta que uma das apostas estratégicas tem sido a criação de valor em Portugal em áreas de inovação e de tecnologias avançadas recorrendo ao contributo dos engenheiros portugueses. O resultado foi a consolidação dos dois mais recentes centros de inovação mundiais em áreas de telecomunicações e tecnologias de informação. Localizados em Aveiro e no Taguspark, encontram- 90 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 -se actualmente em plena velocidade de cruzeiro e a responder às maiores expectativas. Igualmente de destacar é o novo Global Network Solutions Center na área de serviços, o segundo a nível mundial, considerado pelo governo de José Sócrates de interesse estratégico para a economia nacional. Um dos aspectos de maior realce na actividade da subsidiária é a sua relação com o governo nas mais diversas áreas. E são muitos os exemplos desta colaboração. Um deles envolve a Agência Portuguesa para o Investimento, com a qual assinou um protocolo para a criação do Global Networks Solutions Center nas instalações da NSN, em Alfragide. Este projecto, parte integrante da estratégia de serviços da empresa, veio “reforçar o posicionamento de Portugal como um país de excelência para a localização de investimentos em tecnologias de informação e fornecimento de serviços de alto nível, com competências mundiais”. O projecto em causa tem vindo ainda a contribuir para a criação de um importante número de postos de trabalho qualificados, assim como a colaboração com as universidades e instituições de ensino. O centro foi, de resto, qualificado de interesse estratégico para a economia por uma resolução do Conselho de Ministros. Mais recentemente, e também no seguimento da cooperação com as universidades portuguesas, a fabricante assinou um protocolo com a Universidade de Aveiro e a Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do Programa Ciência 2008, com vista à criação de uma cátedra Nokia Siemens Networks para o desenvolvimento de projectos de investigação e desenvolvimento em áreas de telecomunicações. De salientar ainda a colaboração existente com a COTEC – Associação Empresarial para a Inovação, que tem desenvolvido importantes projectos em parceria com a empresa. SUN DIVERSIFICA INTERESSES O mercado dos servidores, as telecomunicações e as pequenas e médias empresas estão no centro das atenções da Sun Microsystems. A subsidiária nacional da fabricante, à semelhança das suas congéneres, está a diversificar as suas m Jorge Salamanca, director-geral da Sun áreas de negócio, tentando assim aproveitar a curva ascendente de investimento que se está a registar neste sector. É que, apesar da actual crise financeira, a evolução tecnológica e o aparecimento de toda uma nova oferta garantem uma procura que se renova a bom ritmo. A estrutura ibérica da Sun decidiu, assim, assentar a sua estratégia na disponibilização de sistemas e aplicações abertas, as melhores, na opinião dos responsáveis da empresa, para fazer face à crescente massificação dos sistemas de informação e à aposta dos governos (como o português) em plataformas não proprietárias, que contribuam para a democratização das tecnologias. Não é assim por acaso que a Sun passou os últimos três anos a transformar-se numa ‘fabricante aberta’. Mas em Portugal – e em Espanha – o grosso das receitas (70%) ainda provém da venda de produtos, nomeadamente hardware, software e soluções de armazenamento. O restante chega da prestação de serviços. Para tirar partido desta relação de forças dentro da própria Sun, a operação nacional lançou recentemente o programa Startup Essentials, que tem por objectivo incentivar o consumo através de descontos na compra de soluções TIC, suporte técnico e serviços de hosting. Quanto às demais multinacionais a operar no mercado nacional, a COMUNICAÇÕES tentou, sem sucesso, recolher informações sobre a sua actividade, assim como sobre os principais projectos em que estão envolvidas e expectativa de evolução dos respectivos negócios. TIC à lupa TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO Cautela domina Para já, a crise parece não estar a afectar as subsidiárias das principais multinacionais a operar em Portugal. Crescimentos de dois dígitos e aposta em novas áreas de negócio são a tónica dominante. Mas olham com muita cautela o futuro E stará a crise que se abateu sobre os mercados financeiros mundiais a afectar o sector das tecnologias de informação (TI)? Existem sinais de abrandamento? Estão em risco investimentos? Quais as consequências para o futuro? Tudo questões para as quais ainda não existem respostas concretas, mas que não deixam de ser colocadas por todos e por cada um dos principais responsáveis do sector. Quando tudo parecia voltar à normalidade, ultrapassados que estavam os efeitos do rebentar da bolha das dot.com, volta a surgir o fantasma da crise. Depois de anos de racionalização de efectivos, reestruturações, concentração no core-business, contenção de custos e adaptação da oferta às necessidades do mercado, a confiança voltou, os investimentos dispararam, os projectos apareceram, a tecnologia evoluiu. Mas a actual crise financeira e as consequências que já está a ter nas economias mundiais lançam novas sombras sobre as TI. É que os bancos, os piores afectados 92 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 pela crise, são dos seus principais clientes. Apesar das notícias que começam a surgir sobre anúncios de despedimentos de grandes nomes da indústria, existe um sentimento misto entre o pânico contido e a confiança inabalável de quem acredita que ‘já se passou por pior’. Os sinais não são claros. Ao mesmo tempo que a IBM Apesar das notícias que começam a surgir sobre anúncios de despedimentos de grandes nomes da indústria, existe um sentimento misto entre o pânico contido e a confiança inabalável de quem acredita que ‘já se passou por pior’. Os sinais não são claros tem crescimentos trimestrais de 20% e a Microsoft investe mais de 360 milhões de euros na Internet, a HP despede quase 25 mil colaboradores. Na previsões, há cenários para todos os gostos. Dados da IDC garantem, por exemplo, que os portáteis de baixo custo vão continuar a sustentar o crescimento do mercado de computadores pessoais durante os próximos tempos. Para este ano, o incremento esperado das vendas deverá chegar próximo dos 16%, um aumento de dois dígitos que se prolongará pelo menos até 2011. Estes valores baseiam-se, entre outras fontes, nas vendas registadas na Europa durante o segundo trimestre deste ano, com aumentos da ordem de 23%. Em idêntico período de 2007, a subida foi de 12%. A IDC mostra-se, assim, confiante na evolução do negócio dos portáteis de baixo custo e na popularidade que alcançarão entre os consumidores, de tal forma que garante que o sector viverá um boom de vendas nos próximos dois anos. RANKING NACIONAL DOS SERVIÇOS DE TI Empresa Vol. Quota * negócios IBM 248 12,6% Lógica 146 7,4% Novabase 109 5,5% Accenture 92 4,7% HP (com EDS) 87 4,4% Glintt 86 4,4% PT SI 83 4,2% Reditus ** 53 2,7% Outros 1 068 54,2% Total 1 972 100% Fonte: IDC, Setembro 2008. * As quotas são calculadas com base no volume de negócios. ** Incluindo Tecnidata. Em milhões de euros. Mas a realidade parece estar a mostrar outra coisa. Uma sondagem da Forrester Research e dados recolhidos pela agência Bloomberg revelam que quase metade das empresas europeias e norte-americanas está a fazer cortes nos seus orçamentos para investir em tecnologia. Assim como a negociar preços mais baixos nos equipamentos informáticos e a reduzir o número de fornecedores com quem trabalham, situação especialmente constatada nos Estados Unidos. Entre as que mais têm travado o investimento estão empresas de telecomunicações, serviços financeiros e utilities. A Bloomberg vai mais longe e garante mesmo que nomes como a Microsoft, a Cisco e todas as fabricantes de computadores poderão vir a perder qualquer coisa como 3,3 mil milhões de euros no próximo ano com o corte nas encomendas, à medida que cada vez mais empresas se vejam forçadas a combater a crise económica com menos gastos em informática. Basta ver que 20% dos gastos mundiais MERCADO DE TI EM PORTUGAL – 2007-2012 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Hardware 1 422,2 1 636,7 1 889,4 1 954,5 2 010,5 2 080,3 Software 486,4 525,5 569,7 617,7 666,6 717,7 Serviços 834,7 874,6 919,2 965,4 1 017,1 1 070,4 2 743,2 3 036,9 3 378,3 3 537,6 3 694,2 3 868,4 Total TI Em milhões de euros. Fonte: IDC, Junho 2008 com tecnologia são feitos pelo sistema financeiro. A agência dá alguns exemplos: na IBM, 30% das vendas provêem precisamente deste sector económico, na Oracle, 18%, e na Microsoft, 22%. Para o mercado nacional, os sinais são mais encorajadores. Pelo menos para já. As medidas promovidas pelo governo no âmbito do Plano Tecnológico (como o e-escola e, mais recentemente, o e-escolinha), o Programa de Reforma da Administração Pública, do Simplex e das demais iniciativas actualmente em curso (TDT e fibra óptica) estão a alavancar a indústria. O Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) para 2009 tem previstos mais de 266 milhões de euros para a SI e para o governo electrónico, quase 677 milhões de euros para a investigação científica e tecnológica e inovação, 195,8 milhões para a formação e qualificação para o desenvolvimento tecnológico e inovação e 178 milhões para promover a produção científica. A verdade é que a aposta na SI tem impulsionado a adopção de tecnologias como nunca antes. As redes de acesso em banda larga em todas as escolas, a informatização dos serviços públicos, a distribuição de milhares de portáteis – recentemente alargados ao já tão famoso Magalhães – pelos alunos portugueses são medidas acolhidas de bom agrado pelas principais fabricantes e fornecedoras. De acordo com a IDC, só nos primeiros seis meses deste ano foram Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 93 TIC à lupa vendidos mais de 228 mil computadores portáteis em Portugal, mais 115% que um ano antes. Em 2007, as empresas de serviços de TI a actuar no mercado nacional registaram um volume de negócios total de 4,7 mil milhões de euros, 41% dos quais gerados por prestação de serviços de TI, com o restante dividido entre vendas de hardware e software. Se a AP tem sido um dos principais motores da procura de bens e serviços tecnológicos, tudo aponta que esse papel venha, no futuro, a ser representado pelas PME nacionais. Senão veja-se o facto de a linha de crédito PME Investe ter recentemente suspendido as candidaturas, uma vez que o volume de procura registado ultrapassou o montante global de 750 milhões de euros fixados por este instrumento de apoio financeiro. É neste cenário que operam alguns dos principais nomes da indústria no nosso País, entre os projectos que são muitos e o natural posicionamento cauteloso numa época de crise e incerteza. IBM: CONFIANÇA NO FUTURO 2007 foi globalmente positivo para a IBM, na medida em que reflectiu os resultados da transformação feita ao modelo de negócio, crescentemente baseado na inovação e na integração global. Segundo o seu presidente, José Joaquim de Oliveira, a empresa registou “o crescimento mais sólido desde 2003”, graças a um “desempenho excelente ao nível das receitas”, que cresceram 8%. No mesmo contexto, também as margens de lucro cresceram 42,2%, resultado que traduz “o foco na produtividade e a orientação para os segmentos de mercado mais rentáveis, de que é exemplo o software”. Estes resultados repetiram-se em 2008, e, no segundo trimestre, os dividendos líquidos por acção registaram uma subida de 28%, confirmando assim o sucesso do novo caminho traçado pela IBM. Aqui, as áreas de Global Technology Services e Global Business Services foram as que mais contribuíram para o forte desempenho, com reforços de 15% e 18%, respectivamente. A actual situação mundial é motivo de preocupação, “ainda que com serenidade e com a confiança de que é uma conjuntura negativa que se irá resolver, sem maiores dificuldades e fugindo aos cenários mais pessimistas que se apontam. O mercado vai responder naturalmente com as ajudas que têm de ser dadas pelos 94 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 m José Joaquim Oliveira, presidente da IBM bancos centrais e pelo governo, particularmente nos Estados Unidos. Estamos por isso optimistas de que é uma crise com tempo determinado e de que até ao final do ano assistiremos à sua solução e clarificação”, garante o responsável. Pelo que se mantém confiante na capacidade da IBM Portugal em continuar a crescer no futuro. Essa é, de resto, a meta estabelecida para o próximo ano, assente no modelo de negócio que tem garantido a presente estabilidade, “diferenciando-nos da concorrência, permitindo-nos a liderança em diferentes áreas de negócio. Numa economia baseada em serviços e operando a IBM num modelo de integração global, esta continuará a ser uma das principais apostas. Muito particularmente em Portugal, e face à expansão acelerada das PME, é neste segmento de mercado que procuraremos expandir o nosso negócio”. No mesmo sentido, também o outsourcing de processos de negócio continuará a assumir especial relevância na estratégia empresarial. Assim, o futuro é visto com optimismo, “dado que a nossa exposição aos sectores mais afectados pela conjuntura está controlada. Pode acontecer, de facto, que no rescaldo da crise se venham a perspectivar novas apostas. A IBM continuará a trabalhar com os seus clientes e com as empresas parceiras, no sentido de os ajudar a enfrentar esta conjuntura da melhor forma possível”, explicou. Em tempo de crise, uma das questões que se coloca, à partida, é a possibilidade de haver fusões e aquisições. A própria IBM tem vindo a reforçar a sua actividade mediante algumas aquisições estratégicas. “Esta orientação estratégica tem-nos permitido um posicionamento mais competitivo no mercado, pelo que lhe daremos continuidade, paralelamente endereçando uma rede de parceiros cada vez mais focalizada. Nesse sentido, e no nosso modelo de negócio, haverá, decerto, espaço para mais parcerias de uma forma selectiva e ganhadora que connosco queiram agarrar a oportunidade que existe no mercado, designadamente no domínio dos servidores”. TOP 10 VENDEDORES – DESKTOP Empresa Hewlett-Packard 2.º trim. Quota 2007 2.º trim. 2008 Quota Crescimento anual 21 500 31,4% 22 686 32,6% 5,5% Dell 6 650 9,7% 8 014 11,5% 20,5% JP Sá Couto 3 995 5,8% 6 692 9,6% 67,5% NEC 313 0,5% 3 378 4,9% 979,2% Introduxi 3 028 4,4% 2 500 3,6% (17,4%) Acer 0,o% 0,0% 2 386 3,4% N/A Micro Máquinas 3 567 5,2% 2 380 3,4% (33,3%) Lenovo 1 909 2,8% 1 909 2,7% 0,0% Apple 910 1,3% 1 596 2,3% 75,4% Chip7 1 500 2,2% 1 452 2,1% (3,2%) Outros 25 164 36,7% 16 540 23,8% (34,3%) Total 68 536 100% 69 533 100% 1,5% Em unidades. Fonte: IDC EMEA PC Tracker – 2.º trim. 2008 TIC à lupa TOP 10 VENDEDORES – PORTÁTEIS Quota 2.º trim. Quota Hewlett-Packard 27 062 25,5% 66 999 29,3% 147,6% Toshiba 19 610 18,5% 57 844 25,3% 195,0% Asus 15 670 14,8% 23 222 10,2% 48,2% Acer 10 728 10,1% 22 980 10,1% 114,2% 950 0,9% 14 638 6,4% 1440,8% 2 650 2,5% 8 350 3,7% 215,1% Sony 7 354 6,9% 7 038 3,1% (4,3%) Fujitsu Siemens 4 832 4,5% 6 972 3,1% 44,3% JP Sá Couto 1 865 1,8% 5 549 2,4% 197,5% Apple 2 145 2,0% 4 104 1,8% 91,3% 13 352 12,6% 10 637 4,7% (20,3%) 106 218 100% 228 333 100% 115,0% Inforlândia Dell m Carlos Janicas lidera a HP HP: CRESCER POR AQUISIÇÕES A Hewlett-Packard Portugal está apostada em crescer nos serviços, de tal forma que passou a ter liberdade de acção no que concerne à aquisição de empresas neste área de negócio. A casa-mãe já aprovou a estratégia e a subsidiária nacional está agora a olhar para as oportunidades que possam surgir no mercado. De acordo com o seu director-geral, Carlos Janicas, a aposta recai em projectos de nicho que possam acrescentar valor ao actual portefólio de produtos e serviços. O crescimento por aquisições não é, todavia, apenas apanágio da HP Portugal. A própria multinacional tem estado bastante activa neste campo, como o demonstra a compra da Electronic Data Systems (EDS) por 8,9 mil milhões de euros. O negócio permitirá à HP duplicar a sua facturação, graças aos serviços de TI. A EDS também está presente no mercado nacional, o que deverá implicar mudanças organizacionais nestas duas empresas. Em conjunto, facturam qualquer coisa como 400 milhões de euros e empregam 500 pessoas. A aposta nos serviços surge depois de, no ano passado, a subsidiária da HP ter registado no negócio da microinformática o maior crescimento no universo das subsidiárias que tem espalhadas pelo mundo. Para além do crescimento por aquisições, a subsidiária nacional está apostada em ser um elemento impulsionador do estabelecimento de centros de competência da HP em território português, um pouco à semelhança do que fazem alguns dos seus mais importantes concorrentes da indústria das TI, aproveitando os recursos humanos locais e os planos do governo para esta área. O que significa também reforçar o trabalho da operação nacional junto das 96 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 Crescimento anual 2.º trim. Empresa Outros Total 2007 Em unidades. * Ranking com base no volume de negócios. universidades e centros de investigação. No ano passado, a empresa registou um volume de negócios de 328 milhões de euros, mais 9% face a 2006. Para este resultado contribuíram, em partes iguais, unidades como a microinformática, impressão e soluções empresariais. Dados nacionais indicam que a HP continua a ser líder na venda de computadores pessoais, com 70 mil unidades vendidas nos primeiros seis meses deste ano. MICROSOFT: AP E TELCOS Também a Microsoft Portugal está a atravessar um bom período. Depois de um volume de negócios de 222,2 milhões de euros no ano fiscal de 2007, mais 23% que um ano antes, a evolução não deverá ser muito diferente. Para Cláudia Goya, 2008 Fonte: IDC EMEA PC Tracker – 2.º trim. 2008 Business & Marketing Officer, a empresa assenta o sucesso de 30 anos num eixo essencial: “Trazer ao mercado produtos inovadores e cujo objectivo é simplificarem e tornarem mais eficaz e produtiva a vida de empresas, governos e cidadãos e consumidores.” Para 2009, as diversas novidades esperadas na área dos produtos e a crescente aposta num modelo de negócio misto de software e serviços, baseada em soluções de produtividade de negócio on-line, deverão contribuir positivamente para a performance da fabricante. Destaque para as novas áreas de oportunidade permitidas pelas soluções de mobilidade (depois da aquisição da portuguesa Mobicomp) e para os investimentos feitos pelo Executivo na área da SI, que “continuam a permitir perspectivar oportunidades de crescimento apesar da modesta recuperação económica generalizada”. A empresa tem estado particularmente activa na colaboração com o governo português. Recentemente, reforçou a parceria que tinha no âmbito do Plano Tecnológico. Este acordo prevê a colaboração em diferentes pastas e áreas de competência, nomeadamente nos Ministérios da Educação, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Administração Interna, Justiça, Economia, Trabalho e Segurança Social e Presidência. Em 2007 já se tinha juntado à iniciativa Novas Oportunidades e ao programa e-escola. E vai agora disponibilizar software para os computadores a baixo custo que o governo irá disponibilizar aos formandos do programa, aos professores e aos estudantes do ensino básico e secundário, num total de 550 mil cidadãos abrangidos. Adicionalmente, disponibilizou o Curriculum Microsoft de Literacia Digital a todos os portugueses, através de um sítio Web de consulta pública e através dos cursos incluídos no programa Novas Oportunidades. Mas a colaboração da Microsoft com entidades portuguesas não fica por aqui. Tem colaborado também com entidades não governamentais, como é o caso dos projectos Janelas Abertas (com a Fundação de Fronteira y Alorna), PORCIDE, Cais Digital (com a Associação Cais), Programa Escolhas (com o ACIDI – Alto Comissariado para o Diálogo Intercultural) ou Programa TII – Tecnologia, Inovação e Iniciativa (com o CITEVE, centro tecnológico dos têxteis). ORACLE: MUDANÇAS A Oracle pode, em boa verdade, ser considerada como um projecto inteiramente novo. É que a compra de 43 empresas em três anos mudou não só a sua organização como também a sua estratégia. Acima de tudo, deixou de ser uma mera fornecedora de tecnologias para ser um verdadeiro parceiro estratégico de negócio dos seus clientes. Em Portugal, a alteração foi bem visível: telecomunicações, Administração Pública e banca são os sectores que PORTUGAL – TOP 10 VENDEDORES – SERVIDORES X86 Empresa Hewlett-Packard 2.º trim. 2007 Quota Quota Crescimento anual 3 010 53,3% (17,5%) 2.º trim. 2008 3 649 61,5% Dell 700 11,8% 830 14,7% 18,6% IBM 240 4,0% 482 8,5% 100,8% JP Sá Couto 217 3,7% 373 6,6% 71,9% Fujitsu Siemens 218 3,7% 292 5,2% 33,9% Micro Máquinas 55 0,9% 77 1,4% 40,0% NEC 12 0,2% 64 1,1% 433,3% Sun 38 0,6% 42 0,7% 10,5% Apple 21 0,4% 9 0,2% (57,1%) Outros 787 13,3% 463 8,2% (41,2%) 5 937 100% 5 642 100% (5,0%) Total Em unidades. Fonte: IDC EMEA PC Tracker – 2.º trim. 2008 assumem cada vez maior peso no negócio da subsidiária nacional da gigante de tecnologias de informação. Alterado o seu posicionamento, foram definidos objectivos muito precisos e ambiciosos: duplicar a facturação em Portugal num timing de três anos, sobretudo em licenças. No nosso País, a empresa tinha algumas dificuldades em competir contra a rival alemã SAP. E o mesmo acontecia à PeopleSoft, à Siebel ou à J. D. Edwards por si só. Por isso, naturalmente a SAP era cada vez mais líder e mais forte. A Oracle decidiu, então, tornar-se mais forte e criar um ecossistema para poder competir melhor, adquirindo aquelas empresas. Ao passar de fornecedor de TI para parceiro estratégico, a empresa passou também a ser mais forte em bases de dados, em middleware e nas aplicações horizontais (ERP, CRM, etc). E deu início a uma abordagem mais próxima às telecomunicações, área onde a Oracle investiu muito e comprou as melhores aplicações, sobretudo na área do CRM, billing e order management. De referir que neste sector a subsidiária tem uma quota superior a 80% em Portugal em bases de dados e middleware. Em Julho de 2005, os responsáveis da Oracle Portugal propuseram-se duplicar os resultados em Portugal num prazo de três anos, sobretudo em licenças, e isto porque “elas são Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 97 TIC à lupa o espelho da aceitação que a Oracle está a ter pelo mercado”. No primeiro ano, cresceram em licenças praticamente 40% e no segundo ano 25%. Para 2008, garantem que estão “à vontade para cumprir o objectivo inicial”. Depois de ter duplicado o negócio da Oracle em Portugal, o seu líder, João Taron, acredita que a empresa vai continuar a crescer, “logicamente com taxas menos agressivas do que as registadas nos últimos três anos”. Está igualmente confiante no reforço da actividade junto da indústria das telecomunicações, especialmente depois da aquisição da BEA Systems. SAP APOSTA NAS PME A SAP Ibéria (que engloba as operações em Portugal e em Espanha) é outra das empresas que tem vindo a registar crescimentos de dois dígitos. A facturação em 2007 cresceu 10,5%, para 232 milhões de euros. Os lucros alcançaram 22,8 milhões de euros, mais 8,6%. As receitas geradas pela venda de produtos (incluindo licenças de software e manutenção) aumentaram 11,6%, chegando a 185 milhões de euros, enquanto a área de serviços (considerando consultoria e formação) registou receitas de 39 milhões de euros, mais 4% que em 2006. Em 2007, a SAP Ibéria juntou também 512 novos clientes à sua carteira (105 em Portugal), dos quais mais de 90% pertencem ao grupo das PME. No segmento das organizações de grande dimensão foram assinados contratos pela primeira vez com a Electricidade dos Açores, Grupo Valouro e Indáqua, entre outros. Ao longo de 2008, a SAP Ibéria centrará o desenvolvimento da sua actividade nos sectores estratégicos da banca, retalho e sector público. Para além disso, potenciará o seu negócio nas PME através do novo Programa de Referências – uma iniciativa que pretende expandir o modelo comercial a um maior número de empresas ou “influenciadores” (por exemplo, gabinetes de contabilidade, câmaras de comércio), com capacidade para recomendar as soluções SAP aos seus membros e clientes de pequena e média dimensão. Um dos projectos em especial destaque é o do Ministério das Finanças, cuja abrangência envolverá toda a Administração Pública Central. É um projecto que tornará o Estado Português num dos maiores clientes SAP em Portugal e um dos maiores clientes de sector público a nível mundial. 98 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 UNISYS: APROXIMAÇÃO A sua actividade em Angola, os projectos que tem vindo a desenvolver junto das autarquias portuguesas e a estratégia implementada de apostar na proximidade aos clientes estão a marcar positivamente a performance da Unisys em Portugal. A empresa teve um crescimento de 5% em 2007 e espera registar um aumento do negócio na ordem de dois dígitos, impulsionado por uma maior focalização nas suas principais áreas de actuação, como a segurança, o outsourcing (selectivo) e gestão de operações, a gestão de infra-estruturas em tempo real, a consulto- TOP 8 VENDEDORES – IMPRESSORAS 2.º trim. 2008 Quota HP 85 176 50,4% Lexmark 21 463 12,7% Samsung 15 548 9,2% Epson 12 168 7,2% Canon 8 619 5,1% OKI 11 154 6,6% Kyocera Mita 3 549 2,1% Xerox 2 535 1,5% Outros 8 788 5,2% 169 000 100% Total Fonte: IDC EMEA Printer Tracker – 2007 Em unidades. ria, o desenvolvimento e a integração de sistemas e aplicações. Também as áreas de gestão de atendimento, gestão documental/workflow, webização/desmaterialização de processos, RFID e ainda soluções verticais para os serviços financeiros, telecomunicações e media e Administração Pública (central e local) estão na primeira linha da estratégia da fabricante. O mesmo acontece com alguns projectos já realizados ou em implementação no mercado angolano, que têm contribuído positivamente para a actividade desenvolvida pela Unisys Portugal. Recorde-se que a subsidiária nacional foi seleccionada para o projecto do cartão de identidade e registo criminal para o governo daquele país africano, tendo celebrado um contrato de valor superior a 16 milhões de euros. A Unisys não verificou um impacto directo no seu negócio via actual conjuntura negativa, garante Luís Portugal Deveza, administrador-delegado da operação nacional. Continuará, por isso, a apostar numa estratégia de maior proximidade aos seus clientes, através de uma abordagem account based marketing, com acções muito enfocadas a partir de objectivos específicos. Para os responsáveis pela Unisys Portugal, as perspectivas para 2009 são boas, “dentro de uma abordagem pragmática que temos vindo a seguir. Será, no entanto, um ano em que seguiremos muito de perto os sinais do mercado para que adeqúemos em resposta as nossas apostas e recursos”. tendências Desafios para 2009 “E sperava-se em 2008 um ano de profundas transformações nas TIC portuguesas. A crise financeira e económica, que alcançou proporções ainda por determinar, travou o sector? Quais os grandes desafios, numa altura em que o tema do ambiente está cada vez mais na ordem do dia e em que Bruxelas atribuiu ao sector um papel fundamental no âmbito da luta contra as alterações climatéricas? As TIC estão preparadas para dar o exemplo e, ao mesmo tempo, desenvolver esta nova oportunidade de negócio?” O mote foi lançado aos responsáveis das 100 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 principais consultoras que estão presentes no mercado português. Eis as perspectivas e os cenários traçados para 2009. Accenture, AT Kearney, Boston Consulting Group, Deloitte, IBM Consulting, GMS Consulting, Roland Berger, WeDo, Novabase e Logica responderam. Com preocupações e ideias similares: está por determinar o impacto real que a crise poderá ter nas TIC, mas o sector, tal como os demais, vai ressentir-se; a problemática das alterações climáticas assume-se como uma grande oportunidade de negócio que é preciso não perder. PAULO VICENTE VICE-PRESIDENTE DA ACCENTURE PORTUGAL Desafios e oportunidades A crise actual pode afectar o ritmo de algumas iniciativas estratégicas nas TIC. Mas também vai trazer novas dinâmicas. O green é cada vez mais como uma oportunidade de negócio N o início de Outubro, altura em que escrevo estas linhas, para as quais contei com ajuda do meu colega João Borges, as perspectivas da crise financeira, apesar de algo incertas, não deixam de ser preocupantes no curto prazo. Não sabemos qual a completa extensão e propagação dos efeitos desta crise do sector financeiro. Mas é razoável assumir que iremos assistir a uma momentânea quebra da confiança dos investidores e consumidores, com o consequente abrandamento temporário da actividade económica, até que as correcções surtam o seu efeito. Felizmente, a generalidade das TIC destaca-se pelos seus fundamentos sólidos, baseados em activos reais e padrões de procura relativamente pouco voláteis, sobretudo nos produtos e serviços mais maduros, pelo que podem vir a beneficiar da aversão de risco geral dos mercados até pela sua moderada alavancagem financeira. Apesar destas características, é razoável assumir que o sector das TIC não vai ser imune a tudo isto e vai necessariamente sentir os reflexos deste quadro económico. Mas tempos de recessão são também tempos de oportunidades. Projectos que se encontravam adiados vêem o seu interesse multiplicado pelas alterações das assunções financeiras correspondentes. Se, por um lado, tal pode afectar o ritmo de iniciativas estratégicas do sector, em particular as relacionadas com a massificação da fibra óptica (FTTH), por outro lado outros projectos podem ganhar novas dinâmicas (como operações de M&A). cida. Neste quadro, surge uma variável com contributos nesta matéria e outros impactos positivos com cada vez maior relevância: a variável energética. Os custos energéticos são geralmente vistos pelos decisores como de entre os menos controláveis, mas a inovação tecnológica pode mudar este paradigma e traduzir-se também em oportunidades de negócio para as TIC. Esta indústria é responsável, em si, por 2% das emissões globais de CO2 e pela comercialização e fabrico de uma grande fatia de produtos consumidores de energia, eles próprios induzindo a necessidade de outros equipamentos também eles consumidores importantes de energia (como a climatização). Além disso, os produtos tecnológicos têm associadas questões ambientais no fabrico, distribuição, reparação e fim de vida. Por VARIÁVEL ENERGÉTICA Para as TIC, o grande desafio é ajudar os seus clientes a ultrapassar o clima de pessimismo e encontrar soluções que possam ser uma mais-valia no quadro da alteração da conjuntura económica. E, neste âmbito, tudo o que possa contribuir para o aumento da eficiência e da eficácia das suas operações e das dos seus clientes ganha importância acres- “A sustentabilidade ambiental começa a afirmar-se como um ponto importante da agenda dos gestores. O desafio está, assim, lançado para as TIC” isso o sector das TIC tem, em si, um papel importante na pegada ambiental global. Mas mais importante é o potencial que a inovação tecnológica tem para reduzir o consumo e as emissões de toda a economia. E as TIC podem ter este efeito, quer através da substituição de actividades poluentes, quer através da optimização dos consumos energéticos nas diferentes indústrias. Os edifícios consomem 40% a 50% da energia dos países desenvolvidos. A adopção de soluções de “edifícios inteligentes”, com sistemas de gestão energética aliados a telemetria, permite reduzir os consumos de energia entre 15% a 20%. As redes de distribuição de electricidade desperdiçam milhares de megawatts, que podem ser aproveitados por tecnologias de smart grids. As soluções de videoconferência deixaram de ser uma curiosidade e substituem cada vez mais reuniões presenciais e as deslocações que elas implicam. As soluções logísticas de gestão de rotas e transportes permitem optimizar cargas de transportes e passageiros. Obviamente, o exemplo das TIC começa “em casa”. E o “green IT” já não é um conceito idealista, tendo vindo a ser implementado nos data centers, que na origem chegam a consumir 100 vezes mais energia por metro cúbico do que instalações administrativas, e por isso são os primeiros candidatos a reduções. Estes são alguns exemplos dos contributos concretos das TIC para a melhoria ambiental global, crucial para todos nós, habitantes deste planeta. Em Portugal, a sustentabilidade ambiental começa a afirmar-se como um ponto importante da agenda dos gestores. O desafio está, assim, lançado para as TIC, não só para contribuírem para um mundo melhor como para capitalizarem no potencial de negócio associado. Algo que no quadro actual dos mercados ganha ainda mais importância. www.accenture.com/Countries/Portugal/ default.htm Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 101 tendências – opinião TIAGO MONTEIRO PRINCIPAL DA A. T. KEARNEY Prioridades para 2009 Contracção do consumo e maior oferta de serviços colocarão as comunicações sob pressão acrescida. Num ano em que se esperam mais desafios, há que apostar em modelos de negócio inovadores F azer previsões num sector tão dinâmico como as TIC é sempre difícil. Mas a conjugação do dinamismo do sector durante 2008 e do turbulento período que os mercados financeiros atravessam coloca ainda maior dificuldade. Há, no entanto, um conjunto de tendências que acreditamos poderão marcar 2009 apesar do clima de incerteza e, em alguns casos, ligado a ele. Após um período de relativa calma, o ano de 2008 tem sido bastante movimentado em todas as componentes do sector das TIC. As comunicações têm registado importantes movimentações, como o surgimento dos primeiros MVNO, o concurso para a quarta licença móvel, o crescimento da banda larga – com ênfase na banda larga móvel – e, na telefonia fixa, a aparição da ZON e a consolidação liderada pela Sonaecom. No âmbito da televisão, os concursos para a TDT, o impulso à IPTV, o concurso para o quinto canal e o crescimento da televisão móvel têm claramente criado as bases para um novo cenário no sector. O consumidor é claramente o grande beneficiado destas alterações, recebendo mais propostas de serviço inovadoras (especialmente os multiple-play de concorrentes integrados) e, ao mesmo tempo, ofertas de preço muito aliciantes. Igualmente notável é o impulso à sociedade da informação, com especial destaque para os programas para as novas gerações, estruturados à volta do Plano Tecnológico da Educação – banda larga nas escolas, e-escolas, Magalhães… – e aos programas para a simplificação, desburocratização e melhoria do atendimento na Administração Pública. O crescimento da procura e a criação de um novo quadro legal têm impulsionado ambiciosos planos de investimento em redes de nova geração (RNG), que permitirão o desenvolvimento de novos serviços. Nos sistemas de informação, as empresas têm continuado a procurar a dimensão necessária através de operações de concentração – no âmbito das empresas de “produto” 102 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 o aprofundamento na internacionalização da WeDo e o investimento da Microsoft na Mobicomp mostram a capacidade da indústria nacional. Em resumo, o resultado deste ano tem sido um cenário competitivo muito mais aberto, com o advento de novos players nos vários segmentos de mercado e de novos moldes de oferta. 2009: CONTRACÇÃO OU VIRAGEM? Apesar da resiliência da economia nacional, Portugal sofrerá naturalmente os efeitos da actual crise financeira, sendo expectável que a escassa liquidez e o aumento das taxas de juro influenciem negativamente o consumo de famílias e de empresas. A confluência da contracção do consumo e a maior oferta irão continuar a colocar pressão nos preços das comunicações, deteriorando a capacidade de geração de receitas, já afectada pela introdução de alterações a nível regulamentar (roaming, MTR). Entende-se, assim, o congelamento de projectos de MVNO que tinham sido anunciados recentemente. “As pressões sociais, regulamentares e económicas continuarão a impulsionar as empresas para modelos mais sustentáveis” Também em 2009 são expectáveis desafios particulares, tais como a selecção do operador do Serviço Universal de Comunicações, o início das emissões da TDT ou a própria reestruturação do sector financeiro – epicentro da actual crise e principal consumidor de sistemas de informação –, que poderão ter efeitos estruturantes sobre os respectivos mercados. Adicionalmente, a actual situação dos mercados de capitais dificultará o financiamento das empresas, impactando nos investimentos em activos operacionais e na capacidade de defrontar operações de M&A necessárias para a reestruturação de alguns sectores. Neste contexto, a procura de eficácia comercial e de eficiência através de modelos de negócio inovadores e do aproveitamento das possibilidades que apresentam as novas tecnologias torna-se uma prioridade decisiva para as empresas do sector. Por último, as pressões sociais, regulamentares e económicas continuarão a impulsionar as empresas para modelos mais sustentáveis. Não obstante o reduzido papel do sector na emissão de gases de efeito de estufa, torna-se fundamental como catalisador na redução das emissões de CO2 em outros sectores, nomeadamente através da oferta de soluções tecnológicas que resultem na desmaterialização de relações (e-commerce, telepresença), na automatização e gestão inteligente de consumos (processos, edifícios, infra-estruturas comuns) e na gestão integrada de redes (logística, collaborative planning, vendor integration). A capacidade de oferecer estas soluções, em muitos casos através de aplicações e serviços interoperáveis suportados em standards mais universais, pode tornar-se uma ferramenta competitiva num contexto de escassez de recursos financeiros. Neste sentido, 2009 pode não ser um ano preocupante de retracção, mas ser um verdadeiro ano de viragem para o sector. www.atkearney.pt JOÃO HENRIQUES PRINCIPAL DO THE BOSTON CONSULTING GROUP Uma rara oportunidade Portugal presta-se ao desenvolvimento de soluções pioneiras das TIC para combater as alterações climáticas. O sector terá de organizar-se para liderar esta rara oportunidade O Protocolo de Quioto, negociado em 1997, representou o primeiro passo da comunidade internacional não só para o reconhecimento como problema do aquecimento global em resultado do aumento de concentração de gases de efeito de estufa (GAE) na atmosfera, como principalmente para a actuação no sentido de controlar o problema. Na sequência da assinatura do Protocolo, foi estabelecido para Portugal, até ao ano de 2012, um objectivo de emissões de GAE que permite um aumento de 27% relativamente aos níveis de 1990. No entanto, este objectivo foi há muito excedido, e tanto as tendências históricas como uma projecção realista de business as usual para os próximos anos, mesmo considerando as iniciativas já em curso no sentido da redução de emissões unitárias, não nos permitem ser optimistas sobre a possibilidade de cumprimento desta meta. Para além disso, as discussões sobre o período pós-2012 apontam para objectivos de redução ainda mais ambiciosos. O papel das TIC neste quadro nem sempre foi evidente. Ao leitor ocasional da imprensa generalista, e mesmo da imprensa especializada, o sector apareceu durante muito tempo mais como parte do problema do que como parte da solução. Notícias recorrentes sobre o consumo de electricidade e necessidades de refrigeração de mega data centers de grandes empresas de Internet juntam-se ao relevo dado à acumulação de equipamentos obsoletos para construir esta imagem. Esta é, no entanto, uma imagem que não suporta o escrutínio da análise objectiva. Em 2008, a Global eSustainability Initiative (GeSI) publicou o relatório SMART 2020, que pela primeira vez apresentou um caso quantificado sobre o impacto actual e potencial das TIC nas emissões globais de GAE. O peso estimado do sector nas emissões globais de GAE aponta para um valor na casa dos 3% das emissões globais; no entanto, o potencial de redução de emissões estimado noutros sectores da economia por aplicação das TIC ascende a 15%, ou seja, cinco vezes mais que o impacto directo. Este potencial de redução induzida resulta não apenas da desmaterialização de processos e interacções mas também de aplicações ao nível das redes de transporte de energia, edifícios, logística e dos motores e processos industriais. OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO As conclusões quantitativas do estudo deixam pouca margem para dúvidas de que as TIC serão necessariamente muito mais parte da solução do que do problema. Em Portugal, se alguma diferença existe em relação ao panorama internacional, esta é no sentido de uma maior relevância do papel das TIC no combate às alterações climáticas Esta importância acrescida resulta não só das dificuldades específicas que estão a ser encontradas por Portugal em atingir os seus objectivos de redução de emissões e da actual baixa penetração (em comparação com “Mais que um desafio, este combate representa para as TIC e para a economia em geral uma oportunidade de crescer” outros países europeus) das TIC nas famílias e empresas como dos desafios específicos colocados à economia portuguesa. O objectivo de aumento de 27% das emissões de GAE implica que Portugal terá ainda em 2012 o valor mais baixo de emissões per capita da Europa. Isto significa que, para que a economia portuguesa se continue a desenvolver e possa convergir com os padrões da Europa Ocidental, tal desenvolvimento terá que ocorrer com uma muito menor intensidade de carbono por unidade de PIB do que nos restantes países. É neste contexto que o papel das TIC no combate às alterações climáticas tem de ser entendido. Mais que um desafio, representa para o sector e para a economia uma oportunidade de mudar o modelo de crescimento. Para além da necessidade, Portugal tem um conjunto de características – de dimensão, de disponibilidade de recursos qualificados, entre outras – que se prestam ao desenvolvimento e implementação de soluções pioneiras. Soluções de optimização de mobilidade urbana, de gestão eficiente de edifícios e transportes ou de optimização da planificação e gestão da produção e consumo de electricidade são apenas exemplos de aplicações que, potenciando as potencialidades das TIC, podem não só dar um contributo decisivo para a redução de emissões de GAE mas também constituir soluções exportáveis que contribuam para o crescimento da economia numa base de baixa intensidade de carbono. O relatório Portugal Smart 2020, que está a ser desenvolvido pela APDC com a colaboração do BCG, é um esforço no sentido de quantificar a oportunidade e apontar caminhos de desenvolvimento. Cabe, no entanto, ao sector organizar-se no sentido de desenvolver e liderar a implementação de soluções que permitam no terreno materializar esta rara oportunidade de contribuir simultaneamente para melhorar o futuro do Planeta e desenvolver a economia portuguesa. www.bcg.pt Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 103 tendências – opinião MIGUEL EIRAS ANTUNES CONSULTING DA DELOITTE CONSULTORES Selectividade e rigor A crise tem forçado as empresas a refocarem-se nas prioridades estratégicas e projectos que lhes trazem vantagens competitivas concretas. Com maior selectividade e rigor na selecção N ão há nada como uma crise para focar as mentes no que é realmente importante! Quando a generalidade das empresas iniciou o processo de orçamentação de 2008, embora as perspectivas não fossem animadoras, o consenso apontava para um ano de baixo crescimento ou estagnação. E foi nessa base que os orçamentos de TI foram elaborados: manutenção dos níveis de crescimento do ano anterior (+/– 3%), focando os gastos em projectos de contenção de custos, ganhos de eficiência e alinhamento de TI com o negócio. O aprofundamento da crise do sector financeiro (que resultou, até à data, em aumentos das taxas de juro e na destruição de algumas das maiores e mais conceituadas instituições financeiras nos EUA e na Europa), acumulado com os graves efeitos do aumento do preço dos combustíveis e dos produtos alimentares, teve um efeito devastador nos orçamentos familiares e nos níveis de confiança dos empresários. No entanto, e contrariamente ao que é habitual nestes períodos, o investimento em projectos de TI, embora se tenha reduzido, ainda não se ressentiu como em crises anteriores. A crise veio reforçar a tendência de maior selectividade e rigor na selecção dos projectos, tendo sempre em mente o benefício objectivo que os mesmos trazem para o negócio. Seja através da avaliação do ROI do investimento, de análises custo/benefício ou de outros modelos, as empresas estão a concentrar os seus esforços em projectos críticos que permitam concretizar mais rapidamente os objectivos: contenção de custos, aumento de eficiência e reforço da capacidade competitiva através do alinhamento das prioridades de TI com o negócio. Em contrapartida, projectos cujos benefícios não sejam facilmente demonstráveis ou que não se alinhem com os objectivos traçados são atrasados, vêem a sua prioridade reduzida ou são mesmo descontinuados. Ou seja, esta crise tem forçado as empresas a re- 104 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 focarem-se nas suas prioridades estratégicas e nos projectos que lhes trazem vantagens competitivas concretas – o que alguns de nós chamariam de boas práticas de gestão. SUSTENTABILIDADE PRIORITÁRIA O problema da sustentabilidade é, sem dúvida, um dos maiores desafios que as organizações de hoje enfrentam. Após anos de discussões sobre a sustentabilidade do modelo económico actual, foi o próprio mercado que decidiu tornar este tema prioritário. A “onda verde” propagou-se dos movimentos ecologistas para os consumidores, tornandoo um problema político que obrigou o governo e as organizações a desenvolverem novas abordagens para darem resposta à recém-descoberta consciência ecológica. Toda esta movimentação resultou numa miríade de legislação que impulsionou a consolidação do conceito de sustentabilidade, quer seja a nível da redução das emissões de carbono para a atmosfera, à utilização de energias e recursos renováveis, à eficiência energética, entre muitos outros. E se inicialmente as “A crise veio reforçar a tendência recente de maior selectividade e rigor na selecção dos projectos” organizações viam este tema como um faitdivers que as desviava dos objectivos, viramse agora forçadas a navegar a “onda verde” ou serem por ela derrubadas. No contexto das TIC, as movimentações iniciais focaram-se nas questões de eficiência energética – nos EUA, os data centers são responsáveis por 1,5% do consumo energético (relatório da Environmental Protection Agency ao Congresso relativo ao consumo energético em 2006), com tendência a aumentar. É uma factura que tem vindo a crescer significativamente resultado do aumento dos preços da energia e das crescentes necessidades de computação. A sustentabilidade transformou-se de uma questão de imagem, reputação e compliance para uma questão que afecta o bottom line das empresas. Mas a evolução não parou aí! As empresas tecnológicas viram na sustentabilidade ecológica uma oportunidade de negócio ao introduzirem tecnologias que ampliam os esforços de eficiência energética (ex.: virtualização, consolidação do storage) e de gestão do consumo energético (tecnologias de poupança de energia, tais como Wake-onLAN, Intel’s Demand-Based Switching). Paralelamente, a ubiquidade das TI veio permitir novas áreas de intervenção, como a gestão de recursos naturais escassos. A redução do desperdício de recursos hídricos e energéticos pode significar reduções significativas do consumo destes recursos (no Reino Unido estima-se que 4,5 biliões de litros/dia são desperdiçados na rede de distribuição). Embora o sector tecnológico nunca venha a ser “verde”, a aplicação destas e de muitas outras tecnologias pode dar um contributo significativo para a criação de condições de sustentabilidade ambiental no desenvolvimento humano. E no processo gerar inúmeras oportunidades de negócio para as organizações de hoje e de amanhã. http://www.deloitte.com/dtt/home/ 0,1044,sid%253D6360,00.html JOSÉ JOAQUIM OLIVEIRA PRESIDENTE E ADMINISTRADOR-DELEGADO DA IBM PORTUGAL O futuro é “green” “Tornar-se verde” deixou de estar associado a políticas de responsabilidade social orientadas para a consciencialização ambiental. Hoje, assume-se como uma forma de fazer negócios A recessão que abalou os mercados em 2008 afectou vários sectores de actividade, deixando um rasto de mudança. O sector das tecnologias da informação (TI), por seu lado, cresceu transversalmente em todo o mundo. E Portugal não tem sido excepção, caminhando rumo às previsões da IDC que, no início do ano, apontavam para um crescimento assinalável do investimento em TI no mercado nacional. Uma tendência que se manterá nos próximos anos, a avaliar pelas conclusões de diversos outros analistas e opinadores. Por isso, apesar do impacto que a crise financeira internacional já começou a ter na economia portuguesa e das previsões negativas do Fundo Monetário Internacional para 2009, estou certo de que o sector das TI tem ainda muito espaço para crescer dentro e fora de portas. Confiança e inovação assumem-se, neste sentido, como as coordenadas para nortear os trilhos dos próximos anos. Se é verdade que as TI têm funcionado como motor de desenvolvimento económico em muitas regiões, é facilmente entendível que nas próximas décadas serão sobretudo as inovações no domínio da energia os grandes factores de desenvolvimento. QUE PAPEL PARA AS TI? Sabemos como a eficiência energética e todas as questões adjacentes a este tema marcam hoje, mais do que nunca, presença nas agendas públicas de todos os governos. Enquanto assunto determinante, porque global, são várias as instâncias que têm alertado para a necessidade de combinar políticas com soluções ‘verdes’, que garantam a sustentabilidade futura. Nesse sentido, as empresas têm vindo progressivamente a integrar nos seus planos de negócio estratégias de actuação ambiental. “Tornar-se verde” deixou de estar associado a políticas de responsabilidade so- cial orientadas para a consciencialização ambiental, para se assumir hoje como uma forma de fazer negócios. E o debate recentemente lançado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre comércio e alterações climáticas veio, uma vez mais, reforçar esta ideia. Qual, então, o papel das TI neste domínio? E como pode a tendência “As empresas, nomeadamente as que desenvolvem serviços de tecnologias de informação, devem encontrar nesta mudança de paradigma o espaço de afirmação e consequente sucesso. Até porque o princípio da eficiência energética corresponde, cada vez mais, à métrica de avaliação da eficácia operacional das TI” “green” afirmar-se como uma oportunidade de negócio? A aposta em “sociedades renováveis”, que comuniquem através de redes inteligentes, terá certamente um efeito económico multiplicador. A tecnologia afirma-se, neste sentido, como ponto de viragem de um mundo “geopolítico” que caracterizou o século anterior, para uma “bioesfera política” do século XXI, como reconhece Jeremy Rifkin, conselheiro de vários Chefes de Estado em economia, alterações climáticas e energia. Mas os efeitos desta viragem ultrapassam as fronteiras da economia, tocando directamente os consumidores. Há toda uma democratização associada às redes inteligentes que importa considerar na definição e implementação de políticas energéticas. Sobretudo porque, através das redes inteligentes (ou smart grids), o cidadão pode gerir e ajustar o consumo de energia às suas reais necessidades, assumindo um controlo mais efectivo sobre os gastos. E as empresas, nomeadamente as que desenvolvem serviços de TI para estes sectores, devem encontrar nesta mudança de paradigma o espaço de afirmação e consequente sucesso. Até porque o princípio de eficiência energética corresponde, cada vez mais, à métrica de avaliação da eficácia operacional das TI. Neste contexto, as infra-estruturas de centros de dados – determinantes para assegurar a competitividade de qualquer negócio – devem ser pensadas à luz de uma visão holística e baseadas no princípio da sustentabilidade. Assim, se para a sociedade actual as soluções “verdes” ou “inteligentes” são ainda opcionais, para as gerações mais novas – que crescem hoje num mundo menos hierárquico e mais interligado – estas serão mandatórias. www.ibm.com/pt Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 105 tendências – opinião ANTÓNIO LAGARTIXO CONSULTING MANAGING PARTNER DA GMS TIC têm papel crítico A dimensão do desafio no “green” impossibilita as TIC de actuarem sozinhas. Toda a sociedade terá de participar. O sector tem um papel crítico na criação de uma sociedade “mais verde e saudável” A : gestão, monitorização e optimização dos consumos energéticos, e t SMART ELECTRICITY GRIDS: gestão, monitorização e optimização da produção e distribuição de energia. o longo dos anos, as TIC têm vindo a introduzir profundas alterações na nossa forma de viver, criando produtos e serviços que já fazem parte do nosso quotidiano diário. Acresce que o sector tem sistematicamente aumentado os seus níveis de produtividade, funcionando como uma das principais alavancas para o crescimento económico global. Mas então como podem as TIC alcançar a neutralidade das suas próprias emissões e ao mesmo tempo criar soluções que beneficiem toda a economia? A CONSTATAÇÃO É comummente aceite que têm de ser tomadas acções imediatas para reduzir os níveis de emissão de CO2, ao mesmo tempo que temos de ser energeticamente mais eficientes no que fazemos. Uma breve análise de dados públicos permite perceber que, por exemplo: as TIC são responsáveis por aproximadamente 2% das emissões e rapidamente atingirão 3%, sendo a crescente utilização da Internet uma das principais causas deste aumento; durante o fabrico de um desktop, pelo menos 240 kg de combustível fóssil são gastos, o que é dez vezes mais do que o seu peso real; o consumo em standby de PC representa entre 5% a 10% do consumo total de energia, representando cerca de 1% das emissões globais de CO2. Então, como utilizar a evolução nas TIC para inverter esta tendência natural? A forma de utilizar as TIC como “motor” da evolução que se exige à nossa sociedade deve ser sempre entendida ao nível das três formas de influência: redução unitária do consumo energético e emissão de CO2, através da evolução tecnológica dos equipamentos; redução do volume total de consumo energético, através de uma diminuição do desperdício: soluções inteligentes de poupança energética, e criação de equipamentos que aumentem a utilização de green energy. 106 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 t SMART BUILDINGS Esta temática, pelo impacto que tem na vida dos europeus, motivou a Comissão Europeia a criar uma iniciativa de combate às alterações climáticas (IP/08/733), a qual promove a utilização das TIC para melhorar a eficiência energética em todos os sectores da economia. É convicção da CE que as TIC podem contribuir para um comportamento mais ecológico, que, se for amplamente adoptado, reduzirá em grande escala a respectiva emissão de carbono. Nesta área, gostaria de realçar um conjunto de directrizes (partilhadas também pelo Climate Group e pelo GeSI): t SMART MOTOR SYSTEMS: eficiência e eficácia dos processos produtivos e desenvolvimento de motores mais eficientes; t SMART LOGISTICS AND TRANSPORT: maximização da desmaterialização pela massificação da utilização de serviços on-line e optimização de rotas de distribuição; “As TIC têm uma oportunidade única para alavancar a sua rentabilidade, mas também um papel crítico” BE SMART Centrando a análise no tema da redução de emissões pelos produtos e serviços das TIC, na minha opinião, a adopção do Framework SMART desenvolvido pelo Climate Group e GeSI contribuirá significativamente para o objectivo de redução, na medida em que permite actuar nas diversas vertentes relevantes do problema. STANDARDISE: disponibilização standardizada e transversal a todos os sectores dos níveis de consumo e emissão; MONITOR: recolha, integração e monitorização de informação como input no desenho de soluções energeticamente mais eficientes; ACCOUNT: plataformas para melhorar a contabilização e imputação do consumo; RETHINK: abordagens inovadoras para utilização mais eficiente da energia nas infra-estruturas; e TRANSFORM: implementação de abordagens (sistemas e processos) para uma gestão eficiente dos recursos. Com este framework, é dado às TIC o papel de principal enabler para a adopção de mecanismos mais eficientes. Este papel poderá representar, em 2020, uma redução equivalente a cinco vezes o total de emissões previstos para o sector das TIC. Em conclusão, não estamos perante um cenário de “favas contadas”! A dimensão do desafio impossibilita as TIC de actuarem sozinhas. Será necessário a ajuda de todos – governos e players de todos os sectores – para que ocorra a necessária partilha de informação e seja garantido o forte investimento na investigação, nos pilotos e roll-outs. As TIC têm uma oportunidade única para alavancar a sua rentabilidade, mas também um papel crítico na adopção de soluções para criação de uma sociedade “mais verde e saudável”. www.gms.pt tendências – opinião JORGE PEREIRA DA COSTA PARTNER DA ROLAND BERGER STRATEGY CONSULTANTS Contexto de incertezas Num cenário de incertezas, as comunicações precisam de ganhar previsibilidade, especialmente regulatória. Para estimular o investimento e reduzir os riscos de mercado W hen there is no vision the people perish!” (Franklin D. Roosevelt). No seu primeiro discurso inaugural, Roosevelt alertava a América de que a ausência de visão se traduzia no perecimento da população. Esta é uma verdade que pode ser aplicada genericamente a um país, a uma economia, a um sector de actividade ou às telecomunicações nacionais. E, 75 anos depois, os fundamentos deste discurso de Roosevelt, para além de revelarem a sua enorme lucidez, são de uma impressionante actualidade. O mundo, em particular o ocidental, jamais será como nós o conhecemos. Aos desafios da globalização e da democratização do acesso à informação e ao conhecimento juntou-se uma crise financeira de dimensões e efeitos ainda longe de serem plenamente conhecidos ou determinados. Hoje, apenas temos a certeza da incerteza de dimensões desproporcionadas. No momento em que escrevo, o mercado de capitais vive mais uma segunda-feira negra e o euro afunda abaixo dos 1,35 dólares, colocando o barril de petróleo equivalente a mais de 100 dólares de há uns meses atrás. Os seus efeitos na economia são imprevisíveis; apenas se sabe que o mundo ocidental vai entrar em recessão. Quão fundo vamos e por quanto tempo a teremos, ninguém sabe responder. QUE EFEITOS? Naturalmente, o sector das telecomunicações nacionais não lhe estará imune. Desde o início do ano, as cotadas nacionais já perderam mais de um terço do seu valor (duas delas viram o seu valor reduzido a metade), arriscando afirmar que o sector das telecomunicações no seu todo vale hoje menos do que a PT antes da OPA (na altura já pequena à escala internacional em que compete). A dívida das cotadas é superior a 6,5 mil milhões de euros (com tendência para crescer) com um múltiplo médio de 2,4 x o EBITDA. O cash-flow das cotadas no final do primeiro 108 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 semestre rondava 700 milhões de euros, sendo nulo ou negativo em duas delas. Se a performance financeira é dificultada pela crise nos mercados, a evolução económica das operações será afectada pela inevitável recessão que se adivinha. Não me surpreenderá se o próximo relatório trimestral revelar um quebra do tráfego (corrigida da sazonalidade), nem que os ARPU continuem a descer e as dívidas de clientes, em particular as de cobrança difícil, a crescer. Tal como o concebemos, o mercado nacional, sempre pequeno, será ainda menor. Alheias à situação, as tendências do sector continuarão a ser as mesmas: a voz continuará a perder valor, mesmo a móvel; a convergência continuará a afirmar-se; as ofertas “O sector necessita de ganhar previsibilidade, a começar pela regulatória, que estimule o investimento e reduza os riscos de mercado. Mas não será suficiente” combinadas serão a forma privilegiada de vender os serviços; a banda larga, o espaço de crescimento e, conjuntamente, com os conteúdos, o principal domínio de contenda entre os agentes de mercado. O contexto não será indiferente nem para as modificações estruturais do sector nem os benefícios para o consumidor. A irracionalidade do comportamento dos agentes, potenciada pela imperatividade da conquista de quotas num mercado em recessão, pode acelerar, pela destruição de valor inerente, o processo de consolidação sectorial (o qual pode mesmo extravasar as fronteiras nacionais), introduzindo, mais cedo do que o previsível, as inevitáveis estruturas de duopólio de mercado (ou outras formas estruturais colusivas), que, como é sabido, são mais difíceis de regular. Por outro lado, dificultará o investimento, não apenas no acesso a fundos de financiamento mas também na dilação de retornos e mesmo na sua viabilidade. Para responder aos imperativos do crescimento, o sector precisa de investir, particularmente em infra-estruturas – fibra óptica, eurodocsis 3.0 e HSDPA são alguns exemplos. A dilação temporal da realização dos investimentos não é necessariamente benéfica para o consumidor. Neste contexto de incerteza, o sector necessita de ganhar previsibilidade, a começar pela regulatória, que estimule o investimento e reduza os riscos de mercado. Mas esta, embora necessária, não será suficiente. Os agentes precisam de visão, que lhes alargue os horizontes e lhes permita adoptar novos modelos de negócio. O autismo do sector às oportunidades de crescimento que as questões energéticas e climáticas lhes podem proporcionar não é o melhor sinal. O principal risco que esta crise introduz no sector é o seu fecho nas questões internas, ficcionando um cenário concorrencial dificilmente sustentável. E, adaptando a frase de Rosevelt, “quando não há visão, um sector perece!”. www.rolandberger.com.pt RUI PAIVA CEO DA WEDO CONSULTING Saber reinventar-se As TIC têm sabido reinventar-se. Num cenário de crise, têm de apostar na criação de valor/inovação numa óptica global. E ser um meio para que todos os sectores consigam atingir as suas metas E sperava-se, em 2008, um ano de profundas transformações nas tecnologias de informação e comunicação portuguesas. A crise económica e financeira, que alcançou proporções ainda por determinar, travou o sector? A crise económica é viral, pelo que tem vindo a impactar aos poucos os diferentes sectores de actividade a ritmos diferentes. Este impacto reflecte-se sobretudo nos mercados maduros, nomeadamente nos Estados Unidos e na Europa, onde, na verdade, os ritmos de investimentos decaíram brutalmente, impactando como tal o sector das tecnologias de informação e comunicação. Nos mercados de países emergentes, devido ao seu contraciclo de desenvolvimento, este impacto não se verificou como determinante para o abrandamento do sector. Contudo, as tecnologias de informação e comunicação portuguesas têm um âmbito de acção essencialmente nacional e, quando muito (na sua grande maioria), europeu, pelo que o impacto é efectivamente grande e não positivo. As empresas que têm como mercado o mundo conseguem minimizar este factor, compensando o fraco desempenho dos mercados maduros com o melhor desempenho dos mercados emergentes. Esta análise leva-nos à constatação (já há muito conhecida) de que para sobreviver com solidez é fundamental ser-se cada vez mais global. Para tal, é necessário cada vez mais que as empresas portuguesas tenham como objectivo a criação de valor e de inovação. Este será determinante para o desenvolvimento de factores únicos de competitividade que possam ser promovidos de uma forma global. A simples transformação, tendo por base a inovação de terceiros, não cria factores distintivos, que possam ser diferenciadores no mundo global. Em jeito de conclusão, é fundamental para as empresas das TIC: t Ter escala (as empresas podem começar pequenas, mas depressa têm de crescer, seja organicamente ou por fusões e aquisições, para poderem sobreviver na continuidade); t Criar/inovar; t Ter factores únicos de diferenciação; t Promover (globalmente) activamente. “Para sobreviver com solidez, é fundamental ser-se global. Para tal é necessário que as empresas portuguesas tenham como objectivo a criação de valor/inovação, como factor determinante para o desenvolvimento de factores únicos de competitividade que possam ser promovidos globalmente” DAR O EXEMPLO E GANHAR NEGÓCIO Quais os grandes desafios, numa altura em que o tema do ambiente está cada vez mais na ordem do dia e em que Bruxelas atribuiu ao sector um papel fundamental no âmbito da luta contra as alterações climatéricas? Exactamente os mesmos desafios com que se tem deparado até hoje. Isto é, poder contribuir de forma a ajudar a desenvolver ferramentas de apoio e controlo aos sectores de actividade mais determinantes nas alterações climáticas. As tecnologias de informação e comunicação estão preparadas para dar o exemplo e, ao mesmo tempo, desenvolver esta nova oportunidade de negócio? As TIC são um sector de actividade com pouco mais de 50 anos (a IBM e a HP, talvez as empresas mais velhas), mas são o exemplo de um sector que, ainda que jovem, se tem reinventado, no sentido de se melhorar na sua própria eficiência. Mas, sobretudo, adaptando-se às necessidades dos sectores de actividade seus clientes, ajudando-os a ser cada vez mais eficientes, rápidos e, sobretudo, controlados (eficiência, responsabilidade, entre outros). As tecnologias de informação e comunicação são um meio para que todos os sectores de actividade consigam e possam atingir os seus fins e as suas metas. www.wedo.pt Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 109 tendências – opinião PAULO MAGRO DA LUZ PARTNER DA NOVABASE Novo paradigma competitivo Há que repensar modelos de negócio para ter sucesso no novo paradigma. Nas TIC, a diferença virá de factores fundamentais que lhe garantirão a liderança e o processo de transformação no “green” V ivemos tempos complexos. A progressiva expansão da globalização, aliada a uma evolução substancial dos mercados e das tecnologias, está a gerar fenómenos cujo impacto se estende a todos os níveis da nossa vida social. São hoje claras as tendências que irão condicionar fortemente o nosso futuro, como a explosão demográfica, as mudanças climáticas e a procura de modelos energéticos sustentáveis, a expansão da globalização económica, a extensão da vida humana pelos avanços da genética e da biotecnologia e a contínua expansão tecnológica. Neste último ponto, o ritmo actual implica que a humanidade irá provavelmente experimentar mais avanços tecnológicos nos próximos 25 anos do que em todo o século XX, em áreas como a computação, comunicações, inteligência artificial, nanotecnologia ou biotecnologia. E em áreas ainda hoje imprevisíveis, como no caso dos anteriores saltos de paradigma – a ocorrência de uma nova “singularidade” tecnológica, que criará um novo mundo económico e social, ainda inimaginável para nós. Em termos do impacto na nossa vida social e económica, algumas destas tendências são já visíveis. A diminuição gradual das barreiras económicas obrigará as empresas a competir num panorama global, mesmo que seja apenas para defender o seu espaço local. A globalização das cadeias de produção implicará a imperiosa integração das nossas empresas produtoras nessas cadeias, tendo que assegurar os mesmos níveis de qualidade, inovação e produtividade. A quebra de barreiras tornará a competição nos serviços virtualmente global. A integração das tecnologias Web, telefónica, rádio e de comunicações móveis está a criar um mundo “sempre ligado”, que possibilitará uma actividade sem fronteiras e em que os vários devices saberão “interagir” uns com os outros, assegurando muitas das actuais funções sem valor acrescentado e 110 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 criando um mundo “always on, always connected, everyone to everyone, everything to everything”. As empresas serão forçadas à hiperespecialização, mas também a conseguirem fornecer uma gama complexa e dinâmica de produtos e serviços, garantindo elevados níveis de qualidade, rapidez e personalização. EVOLUIR E REPENSAR Para o sucesso neste novo paradigma competitivo, as organizações terão de evoluir para organizações em “tempo real”, tendo que repensar os seus modelos de negócio e as arquitecturas organizacionais. Para o sucesso neste novo paradigma, as organizações: deverão ser ágeis, rápidas e facilmente adaptáveis à mudança cada vez mais acelerada; devem especializar-se num conjunto reduzido de competências centrais, garantindo o acesso “As empresas serão forçadas à hiperespecialização, mas também a fornecerem uma gama complexa e dinâmica de produtos e serviços” a um leque alargado de capacidades best-of-breed através de parcerias; devem centrar a sua actividade nos clientes, personalizando massivamente a sua oferta; e desenvolver novas práticas para uma gestão mais eficaz dos activos da nova economia, como a informação, o capital intelectual e, em última análise, as pessoas. Este quadro implica também que na área das TIC a diferença virá de alguns factores fundamentais. Como a da aposta na modularidade de componentes e nos conceitos de arquitectura de negócio, de serviços e de aplicações para o máximo de flexibilidade, versatilidade e robustez à mudança permanente. E da utilização, de forma pragmática e inovadora, das tecnologias emergentes, com destaque para os novos canais de negócio e as soluções centradas no cliente e de assegurar a partilha de informação em tempo real e a integração eficiente dos processos de negócio entre a organização e os seus parceiros e clientes, esbatendo as fronteiras tradicionais. A estes pontos soma-se, actualmente, a convergência com as políticas globais de ambiente e controlo energético, correntemente “green IT”. O sector das TIC – um dos maiores na economia global – tem uma contribuição fundamental para estas políticas e lidera já muitas das transformações necessárias. Este estatuto de liderança resulta de duas vertentes fundamentais: a estrutura organizacional e cultural destas organizações, naturalmente fluida, desmaterializada e composta por segmentos populacionais especialmente receptivos, e a natureza do próprio negócio, que obriga a uma posição de liderança tecnológica, que só será mantida se convergente com esses princípios. Serão estas as características que garantirão a liderança desta contribuição por parte das TIC por muitos anos e que irão gerar novas e interessantes oportunidades. www.novabase.pt JOSÉ CARLOS GONÇALVES CEO DA LOGICA IBERIA Explorar novos negócios Eficiência energética e defesa do ambiente começam a ser vistas como uma porta para o sucesso. Há muitos exemplos de como a indústria de serviços de TI pode aderir à “tendência verde” C om uma fórmula que fica na memória – “os 20/20/20 targets” – a União Europeia estabeleceu como objectivos até 2020 reduzir em 20% a emissão de gases com efeitos de estufa, assegurar que 20% da energia sejam produzidos a partir de fontes renováveis e diminuir, também em 20%, o consumo no espaço europeu. Por seu turno, é a própria Comissão Europeia quem prevê que os Estados membros terão de investir 750 mil milhões de euros em infra-estruturas para a energia: metade para produção, metade em redes de distribuição. Do lado da produção, Portugal, actualmente o quinto país da Europa com a maior quota de fontes de renováveis no mix de energia, pode ter um papel importante neste cenário. Clima, tecnologia e já alguma experiência fazem do nosso País um caso de boas práticas. Mas pode ter igualmente um papel de destaque no desenvolvimento das infraestruturas ao nível da distribuição. As smart grids são um desafio e uma oportunidade. O Inovgrid é um consórcio liderado pela EDP, que tem precisamente como objectivo desenvolver um sistema de distribuição inteligente de energia para Portugal. O projecto engloba telecontagem, redes inteligentes, microgeração e produção distribuída e está totalmente alinhado com a estratégia da Plataforma Tecnológica Europeia para as smart grids e com as iniciativas internacionais em Espanha e nos EUA. Agregando várias entidades, entre as quais a Logica, para a componente da integração dos sistemas de informação, contempla as dimensões industrial, tecnológica e científica. O esforço pioneiro de I&D pode ser a base para uma fileira tecnológica e industrial de exportação de conhecimento português para outros mercados. Os casos de multinacionais que encontram em Portugal know-how e recursos para criar centros de competência começam a multiplicar-se. No futuro, muitos desses centros endereçarão tecnologias e questões relacionadas com o ambiente. PORTA PARA O SUCESSO As grandes empresas de serviços de TI começam, pois, a ver na eficiência energética e na defesa do ambiente uma porta para o sucesso. A desmaterialização dos processos e documentos ou a monitorização de emissões de CO2 são outros exemplos em como esta indústria pode aderir à “tendência verde” e simultaneamente explorar novas áreas de negócio. Mas a questão ambiental é igualmente uma questão de economia de custos. Qualquer empresa, seja por via da redução da factura de electricidade seja por uma gestão eficiente das suas infra-estruturas de TI, beneficia de um impacto positivo nas suas operações. E o fenómeno estende-se a outras indústrias. A revolução a que assistimos no mundo das comunicações e media tem permitido o uso mais lógico do tempo e do espaço, evitando deslocações não essenciais, o que gera, por sua vez, menor consumo de “A questão ambiental é uma responsabilidade de todos nós enquanto organizações e cidadãos” combustível, logo menos CO2. Mais do que tudo, a questão ambiental é uma responsabilidade de todos nós enquanto organizações e cidadãos. O principal desafio que se coloca aos líderes de todo o mundo é reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa sem comprometer o crescimento económico e as condições de vida dos países desenvolvidos. Um estudo da McKinsey – The Carbon Productivity Challenge – sobre o aumento da produtividade da economia de carbono aponta para a necessidade de o PIB por unidade de carbono ter de aumentar dez vezes até 2050. Conseguir-se-á com tecnologias já disponíveis, com vontade política e, fundamentalmente, com a transformação das atitudes individuais: essa talvez a mais difícil de todas. Outro estudo recente da Logica –Transformar a Preocupação em Acção: a Eficiência Energética e o Consumidor Europeu – concluiu que o custo é a principal motivação dos portugueses para poupar energia. O whitepaper, que recolheu dados de 10 mil consumidores em dez países europeus, confirmou que em Portugal, sem fugir à tendência europeia, existe dificuldade de concretizar em acções as preocupações com o consumo de energia, principalmente quando isso limita ou altera o estilo de vida. Estamos num momento de mudança de atitudes, que, estou convicto, a tecnologia irá induzir. Uma simples informação on-line e em tempo real dos consumos energéticos e respectivo impacto económico é meio caminho para um ajuste no comportamento dos consumidores. O ambiente deixou, pois, de ser uma questão de moda ou da tão falada responsabilidade ambiental. É uma realidade que, à semelhança da Revolução Industrial, vai transformar economias e mentalidades. A questão do ambiente é cada vez mais uma nova revolução, só que esta – a Revolução Ambiental – já está aí e seguramente não demorará tanto tempo. www.logica.pt Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 111 players Nuvens no horizonte Concorrência acrescida e mercado em profunda mudança num ano que se antecipa muito complicado. 2009 será de grandes desafios para as empresas das TIC em Portugal N inguém tem dúvidas de que a crise que se abateu sobre os mercados financeiros e que está já a provocar estragos na economia mundial vai ter um impacte significativo nas TIC em Portugal. Se as empresas cotadas já o sabem melhor do que ninguém, uma vez que viram as respectivas capitalizações bolsistas sofrerem uma verdadeira derrocada, todo o sector se está a preparar para dias de maior aperto, em maior ou menor escala. E com estratégias diferenciadas, que terão ainda de dar resposta a um mercado em profunda mudança e onde se antecipa maior concorrência. Nas comunicações electrónicas, ao arranque da TDT acrescem os projectos novos na área móvel, as pressões sobre os preços e os investimentos nas redes de nova geração. No negócio postal, prepara-se a liberalização total em 2011. Nos media, o arranque do quinto canal, previsto para o próximo ano, torna o cenário ainda mais difícil. Já os projectos de raiz tecnológica de capitais nacionais parecem, por enquanto, estar imunes ao “tufão” que assolou os mercados. A evolução acentuada das comunicações electrónicas, fruto dos rápidos desenvolvimentos tecnológicos e de mercado, está a acentuar a forte pressão competitiva entre os players do 112 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 sector. Onde se posicionam como operadoras globais quatro grandes grupos – PT, Vodafone, Zon e Sonaecom – que oferecem pacotes de serviços convergentes em todas as plataformas. 2008 marcou uma concorrência mais agressiva entre os vários projectos, em resultado do spin-off da Zon, do Grupo PT. E em 2009 poderá acelerar ainda mais, até porque se antecipa que, com o impacto da crise financeira e económica, se acentue a queda da procura. As operadoras estão atentas, mas garantem que irão manter os seus projectos no terreno. O líder da PT, Zeinal Bava, já garantiu que o grupo irá continuar a honrar os seus compromissos com clientes, fornecedores, trabalhadores e accionistas. E afastou a possibilidade de suspender o pagamento do dividendo de 57,5 cêntimos por acção, a pagar em 2009, a que se comprometeu com o programa de remuneração aos accionistas, no âmbito da OPA lançada pela Sonaecom. Este pagamento completa o pacote de benefícios, avaliado em seis mil milhões de euros, e que inclui o spin--off do seu negócio do multimédia e cabo, nas mãos da PTM, a actual Zon. Uma separação que veio trazer uma nova dinâmica ao mercado e à própria incumbente. Apostou forte no negócio da televisão nas várias plataformas, que agregou sob a marca Meo. Depois da IPTV, do satélite e do móvel, prepara agora o arranque da TDT, depois de ter ganho os concursos para as duas plataformas (paga e gratuita). O objectivo é reforçar as suas ofertas de pacotes multiple-play. A Vodafone, cada vez mais posicionada como operadora global, também está a atacar em todas as frentes, com uma oferta convergente (móvel, PC e Internet) assente numa estratégia que reúne banda larga, voz fixa, dados, mobile advertising e outros serviços para além da voz móvel. E admite ainda entrar na televisão fixa, quer por satélite quer por IP, o que lhe permitirá explorar ofertas integradas e convergentes de triple-play. A Sonaecom, perdida a batalha da OPA e depois de ter recuado na TDT, está a avançar com um ambicioso plano de investimentos, que implica o reposicionamento da Optimus, a progressiva melhoria da oferta comercial de triple-play baseada na sua rede de alta velocidade e a desagregação de novas centrais. O destaque, todavia, vai para o investimento de 240 milhões de euros no desenvolvimento de RNG, que em 2011 servirá pelo menos 25% da população. E já adiantou, através do seu presidente, Ângelo Paupério, que a actual crise não pode precipitar decisões, tendo reafirmado os seus investimentos. A Zon Multimédia também não tem parado. Depois de agitar o mercado com significativas descidas de preços, avançou recentemente com uma operação móvel virtual. Agora, preparase para entrar na corrida ao quinto canal de televisão em sinal aberto. Rodrigo Costa, o líder do grupo, reafirma os seus planos, continuando mesmo a analisar oportunidades de crescimento, incluindo por aquisições. Também os CTT começam a explorar novos negócios para além do postal. Acompanhando a crescente desmaterialização das comunicações, depois de ter lançado o MVNO com a marca Phone-ix, está agora a preparar o arranque de uma plataforma bancária, em substituição do velho projecto do banco postal. Quanto às demais operadoras de comunicações, que sentiram fortemente a maior pressão concorrencial, também não têm parado. A Cabovisão concluiu recentemente a digitalização total da rede. A Oni conseguiu finalmente registar lucros e aposta forte no sector público. Já a Ar Telecom optou por focar o seu crescimento nos mercados internacionais, mantendo a operação nacional. Nos media, a RTP, a Impresa, a Media Capital, a Cofina e a Controlinveste lutam para vencer num sector igualmente em profunda mudança. A quebra do mercado publicitário, o aparecimento de novos concorrentes e o lançamento da TDT e do quinto canal lançam acrescidos desafios. Todos procuram explorar novas fontes de receitas, ao mesmo tempo que cortam custos para se prepararem para o impacto da crise financeira na economia real. Para 2009, antecipa-se um recuo da publicidade, numa altura em que se prepara o arranque do quinto canal. Também as tecnologias se preparam para tempos mais complicados. A Novabase focaliza-se na rentabilidade e sustentabilidade dos negócios, olhando cada vez mais para a internacionalização. A nova Glintt, que resultou da fusão entre a ParaRede e a Consiste, reforçou competências e avança para os mercados exteriores. De menor dimensão, mas de cariz ainda mais especializado, as empresas tecnológicas nacionais parecem estar, pelo menos para já, imunes à crise. Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 113 players PORTUGAL TELECOM Liderar todas as frentes Está no centro da “guerra” comercial que tem agitado o grupo das “grandes”. Aposta forte na TV e nos pacotes convergentes. E reforça no mercado internacional, que representa quase metade das receitas. A PT garante ter capacidade de investimento para liderar todas as frentes de negócio E stá a jogar em força em todas as frentes para continuar a crescer. Com uma estratégia convergente fixo-móvel, aposta forte na banda larga e na televisão. Depois do Meo por IPTV e por satélite, prepara-se para lançar a TDT em Portugal. Agressiva nas ofertas comerciais, não tem poupado as suas concorrentes, especialmente a sua ex-participada. Lá fora, a aposta continua a centrar-se na operação móvel brasileira, a Vivo, que partilha com a Telefónica. Mas sem esquecer o mercado africano. A operação internacional já representa quase metade das receitas e em breve ultrapassará 50%. Vencida a “guerra” da OPA lançada pela Sonaecom, a Portugal Telecom (PT) não tem parado. Com o pacote remuneratório proposto aos seus accionistas na defesa da OPA praticamente concluído, Zeinal Bava, presidente executivo da incumbente, garante que o grupo mantém a capacidade de investir e criar valor. O novo líder da PT foi eleito pelos accionistas no final de Março deste ano, com o grupo a regressar ao modelo de governance com um CEO (presidente executivo) e um chairman. Henrique Granadeiro, que liderou os destinos da incumbente no período da OPA, acumulando as duas funções, mantém-se como chairman. Zeinal Bava já deixou bem claras as linhas estratégicas até 2011 (o mandato da actual administração termina este ano, mas a sua 114 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 recondução é dada como certa). Agora sem o negócio do cabo, na sequência do spin-off da ex-PT Multimédia, actual Zon, o grupo aposta forte em ganhar mercado na televisão por subscrição e na banda larga, fixa e sobretudo móvel, já que se encontra em expansão em Portugal, fruto especialmente da oferta do e-escolas e, em menor escala, do Sapo móvel. Estas são, aliás, as áreas de maior crescimento em Portugal e através das quais a incumbente nacional poderá compensar a perda de receitas na rede fixa, com destaque para a voz. O CEO não esconde que pretende “dar cartas” no negócio da televisão paga, através do Meo, seja por IPTV seja por satélite ou mesmo por mobile TV. Ao qual se juntará em breve a TDT, onde venceu os dois concursos – para as plataformas gratuita e paga – num processo que gerou e continua a gerar polémica. Outra prioridade é o aumento de receitas no segmento empresarial e SoHo, aqui especialmente através de produtos convergentes, como o Office Box. De acordo com estimativas do grupo, detém uma quota de mercado de 71% na voz fixa, seguindo-se a Sonaecom (12%), Cabovisão (7%) e Zon (5%). Já no mercado da banda larga, a sua quota é de 43%, detendo aqui a Zon a segunda posição (28%), seguida da Sonaecom (16%) e da Cabovisão (11%). Quanto ao mercado móvel, a sua quota é de 46%, ficando a Vodafone com 37% e a Sonaecom com 17%. É no mercado da TV paga que há que ganhar mercado, já que detém apenas uma fatia de 6%, contra 74% da líder Zon e 14% da Cabovisão. MEO É APOSTA FORTE… Pouco tempo depois de assumir oficialmente o cargo de CEO, Zeinal Bava não perdeu tempo a anunciar e a avançar com a sua estratégia para a televisão. A começar quase do zero, com uma oferta de TV paga através da rede IP (IPTV) disponível desde meados de 2007 apenas em algumas zonas urbanas (encerrou 2007 com 21 mil clientes), anunciou, a 2 de Abril, o objectivo de massificar este negócio com o alargamento da oferta ao satélite (DTH), o que lhe permitiu uma cobertura de âmbito nacional similar à da concorrente Zon. Até porque, como salientou o líder do grupo, “quando decidimos investir num projecto, fazemolo com ambição”. Este passo permite-lhe oferecer uma oferta integrada de serviços triple-play (voz, Internet de banda larga e televisão), numa estratégia para a TV que passa por uma oferta multiplataforma – móvel, IPTV e DTH – agregada numa marca única, o Meo. Quanto à rede de cobre, depois de disponibilizar o Meo através das 20 centrais preparadas para o efeito (18 em Lisboa, uma no Porto e outra em Castelo Branco), espera investir até final deste ano em 580 centrais, o que permitirá o acesso ao serviço de IPTV do Meo de 700 mil clientes PRINCIPAIS INDICADORES 2000 Resultados líquidos Receitas operacionais 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 * 2008 (1.º sem.) 540,3 307,4 391,1 240,2 623,2 654,0 866,8 741,9 252,9 4 236,7 5 777,6 5 582,0 5 776,1 5 967,4 6 385,4 5 765,3 6 148,4 3 250,1 l PT Comunicações (1) 1 989,8 2 423,4 2 441,1 2 287,9 2 144,8 2 050,4 2 071,8 1 962,4 953,7 l TMN 1 005,7 1 394,4 1 474,8 1 522,6 1 462,4 1 455,4 1 502,4 1 542,9 780,8 l Vivo 679,2 1 401,8 1 217,6 1 361,5 1 599,1 2 036,9 2 104,7 2 463,0 1 433,5 l PT Multimédia 232,9 625,8 622,8 684,3 597,9 627,4 663,8 — — EBITDA 1 590,9 2 124,0 2 229,5 2 267,7 2 362,9 2 495,6 2 237,0 2 356,7 1 171,1 Activo total 11 674,9 17 636,3 13 726,1 13 557,8 13 928,7 16 643,1 14 171,2 13 122,2 13 346,8 CAPEX 3 383,8 3 836,7 1 168,2 ** 651,6 761,2 943,1 867,7 899,3 358,4 Dívida líquida 3 544,7 5 456,1 4 037,0 3 215,6 3 573,2 3 672,5 3 756,6 4 381,8 5 800,0 Em milhões de euros. * A PTM passou a ser considerada, para efeitos de reporte financeiro, uma operação descontinuada, tendo o spin-off ocorrido a 7 de Novembro de 2007. (1) Os valores da PTC passam a integrar, a partir de 2003, a PT Prime. ** Sem contabilizar a compra da rede fixa por 348 milhões de euros. Fonte: PT, Relatórios e Contas Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 115 players da PT. Nas zonas onde não tiver cobertura por cobre, terá sempre por satélite. O objectivo é permitir aos clientes do grupo a oferta de pacotes de serviços, mas também chegar a potenciais subscritores de outras operadoras, uma vez que qualquer pessoa pode subscrever o serviço por satélite (pagando embora um preço superior ao do cliente PT). E faz com este serviço um ataque à concorrente, uma vez que assegurou a capacidade de satélite através de um contrato de oito anos com a Hispasat (a mesma que fornece o serviço à Zon TV Cabo), o que permite que os clientes desta possam passar para o Meo satélite sem necessidade de substituir a antena parabólica. O contrato representa um investimento de 43 milhões de euros, já registado nas contas do quarto trimestre de 2007 e reflectido no nível de dívida líquida. O Meo satélite arrancou a 14 de Abril com uma campanha publicitária de peso, com os Gato Fedorento. Zeinal Bava escusou-se a traçar metas e objectivos quantificáveis para este novo serviço, adiantando apenas que os 100 mil clientes que previa ter em IPTV até final de 2008 eram uma meta definida no momento em que o projecto da PT não era tão ambicioso. E os resultados confirmaram-no: no final de Setembro, anunciava ter superado os 200 mil clientes de TV por subscrição, representando a base de clientes do Meo cerca de 30% dos clientes ADSL e 7% das linhas geradoras de tráfego. O grupo reafirmou que “a oferta integrada de serviços de voz, Internet e televisão – Meo – representa uma alavanca essencial da estratégia da PT de reforçar a proposta de valor oferecida aos seus clientes residenciais, o qual assenta num conceito de multiplataforma cujo objectivo é fornecer o mesmo conteúdo independentemente da interface do cliente”. E deixou claro que “pretende posicionar a imagem do Meo como a melhor e mais sofisticada oferta de televisão por subscrição no mercado português e evidenciar o seu posicionamento multiple-play como uma oferta 5-play, incluindo televisão por subscrição, banda larga fixa, voz, video-on-demand e banda larga móvel”. Um posicionamento que visa aumentar a receita média por utilizador, a fidelização da base de clientes e a captação de novos, destacando que já está a recuperar clientes no mercado residencial, uma vez que cerca de 60% das adições líquidas do Meo IPTV são novos clientes para a PT. E o Meo também 116 COMUNICAÇÕES Novembro 2008 Zeinal Bava pretende posicionar o Meo como a melhor e a mais sofisticada oferta de televisão por subscrição se estendeu em força às ilhas, tendo arrancado tanto na Madeira como nos Açores a oferta de TV por IPTV. A estratégia para a televisão deverá ser completada com o arranque da TDT, uma vez que a PT foi a única concorrente ao concurso para a plataforma aberta de transmissão de canais (free-to-air), tendo ainda concorrido à plataforma de TV por subscrição, onde a Airplus também foi candidata. O processo ainda está a decorrer, mas tem vindo a ser marcado pela polémica e contestação. E começou logo no momento da entrega das candidaturas, onde a PT, numa verdadeira “jogada de mestre”, conseguiu chegar a acordo com a Media Capital para gerir a rede analógica de sinal de televisão desta (a Reti) e adquiri-la, passando assim a controlar as duas únicas redes de transmissão de sinal de televisão em analógico. Ao mesmo tempo, acordou com as três estações de televisão em sinal aberto – RTP (1 e 2), SIC e TVI – as condições de distribuição destes canais na rede da TDT durante o período de difusão simultânea analógica e digital (simulcast), assim como a transmissão digital até ao final do período da licença da TDT. A primeira análise preliminar que dava a vitória à PT nos dois concursos foi contestada pelo mercado e especialmente pela Airplus, que recorreu aos tribunais e provocou a demissão do presidente da comissão de análise. Mas uma segunda análise preliminar da comissão voltou a dar, no final de Setembro, a vitória à PT. E esta, através do seu líder, garantia ser possível colocar o piloto da TDT operacional em três meses e a comercialização em seis meses, já que o trabalho já está a ser feito e há investimento realizado. E mesmo que haja algum atraso do processo nos tribunais, Zeinal Bava adianta que há tempo para pôr o processo em marcha. A PT estima um investimento total de 120 milhões de euros nas duas plataformas a três anos, prometendo uma antecipação da implementação dos prazos de cobertura da TDT face ao concurso, de 12 meses na plataforma aberta e de 18 meses na plataforma paga em relação aos timings definidos por Bruxelas para o desligamento das emissões analógicas, em 2012. Mais uma vez, a oferta ficará sob a marca Meo. Outra das apostas em Portugal tem sido a área empresarial e a Administração Pública. Depois de um concurso conturbado, que foi contestado pelos operadores e as associações do sector, o grupo acabou por lhe ver adjudicado pelo Ministério da Educação o contrato para o upgrade do acesso Internet nas escolas. Terá de multiplicar por 10 a velocidade de acesso à Internet em 1200 escolas dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do secundário. E junta-se a um outro de instalação, manutenção e gestão da rede de área local nas escolas. Na área da saúde, venceu ainda recentemente um concurso para o fornecimento de comunicações à Rede de Informática da Saúde em mais um processo envolto em polémica e contestado pelas suas concorrentes. … ASSIM COMO O EXTERIOR Mas a PT está também a reforçar nos seus negócios internacionais. A operação móvel no Brasil, que representa 90% das receitas conseguidas fora de Portugal, é uma prioridade absoluta na estratégia da incumbente. Mesmo depois das tensões com a Telefónica, a sua parceira na Vivo, na sequência da OPA e do alinhamento da espanhola com as pretensões da Sonaecom. Telefónica e PT já disseram várias vezes que estão compradoras mas não vendedoras das respectivas partes do capital. Ambas estão, no entanto, concentradas no investimento e na recuperação da operadora móvel brasileira. Mas recentemente correram rumores de que a Telefónica estaria interessada em vender a sua posição na Telecom Itália e na Vivo em troca da participação que a Telecom Itália detém na TIM Brasil. Para a PT, esta seria a solução ideal para o impasse que dura há vários anos na Vivo, com as duas parceiras a repartir em partes iguais cerca de dois terços do capital (o restante terço está disperso em bolsa). Assumindo-se a área internacional como o principal motor de crescimento das receitas da PT – já representa quase metade das receitas totais consolidadas e deverá ultrapassar esse valor no final deste ano ou no próximo, enquanto a situação económica e do sector em Portugal não antecipa grandes taxas de crescimento –, a aposta vai ainda para outros mercados. Com destaque para África, onde o grupo pretende agarrar novas oportunidades de investimento e de parcerias que lhe permitam crescer através da AfricaTel, a sua holding para o continente. E tem ainda como alvo melhorar o desempenho operacional dos activos já existentes, como a angolana Unitel, onde possui 25% do capital. REFORÇAR EM ÁFRICA Em Setembro, Zeinal Bava fez um périplo pelos países africanos onde o grupo detém participações, mostrando bem a aposta que pretende fazer naquele continente. Um dos alvos é replicar o projecto do e-escolas naquela região, tendo começado pela Namíbia, onde comemorou o cliente um milhão na MTC, a maior operadora móvel do país e onde a PT detém 34% do capital, entregando mil computadores Magalhães em mil escolas primárias no âmbito do programa ConnectED. O projecto abrange ainda a possibilidade de 25 mil estudantes universitários serem abrangidos por computadores com placa de Internet, num investimento de cerca de 900 mil euros. Já antes tinha entregue um Magalhães à ministra das Telecomunicações do Botswana. A aposta passa não só pela voz como pela banda larga móvel, tendo sido lançado pela MTC o primeiro pré-pago para a banda larga, o que aconteceu pela primeira vez em África. Segundo o CEO da PT, “continuamos a crescer em todos os nossos negócios. A Vivo está melhor que o esperado [...], em África vemos forte crescimento” e o mercado português tem uma “razoável visibilidade”, apesar de o ambiente “estar agora mais desafiante do que há seis meses atrás”. Garante que a incumbente está “confortável” com a sua dívida e que vai “continuar a investir em crescimento” e assegura que, face ao aumento da concorrência no mercado nacional, a escala da PT “é uma vantagem competitiva” que “é difícil de replicar”. “ATAQUE” À REGULAÇÃO Anacom e AdC estão de olhos na incumbente APESAR DO ESTILO mais low-profile e comedido de Zeinal Bava face ao seu antecessor, o facto é que o CEO da PT não tem poupado críticas à acção do regulador sectorial. Acusa-o de estar a praticar uma regulação pouco clara e imprevisível, concentrada em atacar a PT, e, por essa via, estar a limitar a capacidade de crescimento do grupo. Uma das áreas em que tem vindo a “atacar” é a da oferta de banda larga no retalho, onde defende uma regulação segmentada por regiões. A Anacom, na sequência de uma análise ao spin-off da Zon (ex-PT Multimédia), acabou por aligeirar a regulação do mercado 12 – do fornecimento grossista de acesso em banda larga –, nomeadamente definindo áreas competitivas nas quais a PT pode lançar livremente propostas de serviços sem ter de garantir uma margem de lucro face às concorrentes (o chamado retail-minus na oferta grossista, que se mantém nas zonas sem concorrência). Em aberto continua o quadro regulatório para as RGN, área onde a incumbente nacional garante que há dinheiro, mas que só investirá depois de o regulador lhe dar garantias de que é possível investir sem ser obrigada a partilhar a rede. Bava entende que “a inovação não deve ser regulada”. Outro tema que opôs a PT à Anacom O grupo já tem praticamente concluído desde Julho o pacote remuneratório prometido aos accionistas no âmbito da defesa da OPA lançada pela Sonaecom, que envolveu um investimento de 6,2 mil milhões de euros. Falta apenas o pagamento do dividendo de 0,575 euros por acção relativo ao exercício de 2008, que será pago no próximo ano. O plano incluía, para além do spin-off da PTM, a aquisição de acções próprias no valor de 2,1 mil milhões de euros, executada desde Março de 2007 e concluída em Julho último. Foram compradas acções equivalentes a 20,58% do capital social à data da proposta. Prova do esforço de investimento está no valor do CAPEX da PT no primeiro semestre desde ano. No total, foram investidos 358 milhões de euros, mais 20,1% que um é a imposição de novas descidas das tarifas de interligação nas redes móveis, assim como a reintrodução de uma assimetria temporária a favor da Optimus. O grupo voltou também a cair mas “malhas” da Concorrência. No início de Setembro, a AdC condenou a PT ao pagamento de uma multa de 2,1 milhões de euros por “abuso de posição dominante” nos mercados grossistas de aluguer de circuitos. Em causa estão os descontos do tarifário de aluguer de circuitos que a operadora praticou entre 1 de Março de 2003 e 7 de Março de 2004. Conclui-se que a PTC “aplicou condições discriminatórias relativamente a prestações equivalentes, limitou a produção, a distribuição, o desenvolvimento técnico e o investimento, através da definição e aplicação de um sistema de descontos que favorecia as empresas do grupo a quem pertence a PT Comunicações (Grupo PT) em detrimento das concorrentes”. Também aqui o grupo recorreu da decisão, por considerar infundadas as alegações. Esta é a segunda multa imposta pela AdC, depois de no ano passado ter sido determinada uma multa de 38 milhões de euros, mais uma vez por abuso de posição dominante da PTC, desta vez no acesso a condutas. ano antes. Excluindo a consolidação da Telemig na Vivo, o CAPEX teria aumentado 12,8%. Para a rede fixa foi uma fatia de 126 milhões de euros (mais 20,1%), destinados sobretudo ao upgrade da rede, com o aumento da largura de banda de forma a dar resposta ao lançamento do serviço de TV por subscrição. Também na TMN o investimento cresceu 27,9% no semestre, para 80 milhões de euros, canalizados para a expansão da capacidade e da cobertura das redes 3G/3,5G, no sentido de melhorar os serviços móveis de voz e de dados aos clientes. No Brasil, o CAPEX da Vivo aumentou 21,9%, sendo direccionado para a consolidação da Telemig e para o aumento da cobertura e capacidade da rede, nomeadamente na rede GSM/EDGE (sem a Telemig, a subida foi de 1,2%). Novembro 2008 COMUNICAÇÕES 117 players CLIENTES POR ÁREAS DE NEGÓCIO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Rede fixa * 4 303 4 301 4 143 4 225 4 377 4 478 4 404 4 176 4 156 Móveis 9 739 9 009 10 486 25 543 31 596 35 117 34 757 39 745,0 46 920,0 TMN 2 939 3 905 4 426 4 887 5 053 5 312 5 704 6 261,0 6 485,0 Vivo 6 800 5 104 6 060 20 656 26 543 29 805 29 053 33 484 ,0 40 435,0 950 1 160 1 307 1 442 1 449 1 479 1 480 — 19 65 193 391 687 933 1 047 652 *** — 3 53 161 380 585 685 652 667 — 19 62 140 230 315 348 362 l l TV por subscrição (1) Banda larga ** l ADSL l Cabo (1) MÓVEIS PERMITEM CRESCER As operações móveis continuam a ser as responsáveis pelo crescimento das receitas do grupo. Nos seis primeiros meses deste ano, as receitas operacionais consolidadas aumentaram 10%, para 3,25 mil milhões de euros, graças à Vivo e à TMN. A primeira teve um reforço de 25,7 % nas receitas em euros, em resultado do crescimento sustentado dos clientes e da consolidação da Telemig (no segundo trimestre de 2008). Na TMN, subiram 7,2%, graças a um crescimento sustentado dos clientes, em particular no segmento pós-pago e de banda larga móvel. Já as receitas operacionais da rede fixa decresceram 4,0%, com o impacto combinado da perda continuada de linhas e da pressão sobre os preços nas receitas de retalho. Mesmo assim, o grupo destaca que já apresentaram uma “tendência de estabilidade sequencial”, sendo a redução mais baixa dos últimos seis semestres, graças ao crescimento dos clientes de TV por subscrição (166 mil no total) e dos negócios empresarial e de dados. Cerca de 50% das adições líquidas de IPTV foram de novos clientes. De referir o aumento contínuo do peso das operações internacionais nas receitas, que alcançou 48,6% no final do primeiro semestre. O grupo antecipa que ou no final deste ano ou em 2009 o seu peso ultrapasse 50%. Já os lucros foram de 252,9 milhões de euros, o que representou um recuo de 41,1% face a 2007, o que é explicado por vários itens excepcionais, como ganhos financeiros de 144 milhões em 2007, ganhos com serviços passados e resultados de operações descontinuadas. Excluindo estes itens excepcionais em ambos os semestres, o resultado líquido teria ascendido a 301 milhões COMUNICAÇÕES Novembro 2008 de euros no primeiro semestre de 2008, face aos 337 milhões de euros no mesmo período do ano anterior. O EBITDA cresceu 2,1% até Junho, para 1,17 mil milhões de euros. O grupo ficou com uma dívida líquida consolidada de 5,8 mil milhões de euros, face a 4,38 mil milhões um ano antes, o que é explicado pela aquisição de licenças 3G no Brasil (227 milhões de euros), pelo programa de recompra de acções (731 milhões de euros) e pelos dividendos pagos pela PT (533 milhões de euros). No total do mercado doméstico, através da holding PT Portugal, o grupo registou nos primeiros seis meses do ano um reforço de 0,6% nas receitas, para 1,7 mil milhões de As operações móveis são responsáveis pelo crescimento do grupo. TMN e Vivo fizeram as receitas crescer 10% no primeiro semestre deste ano. O fixo voltou a recuar euros. Um valor explicado pelo forte desempenho no móvel e pela recuperação sustentada na rede fixa. A TMN viu as suas receitas crescerem 7,4%, para 780,8 milhões, graças ao crescimento da banda larga móvel. Só as receitas de dados móveis aumentaram 41,1%, representando 19% do total das receitas móveis de serviço. Conseguiu 223 mil novas adesões, ficando com uma carteira total de 6,48 milhões de clientes. Na rede fixa, as receitas recuaram 3,6%, fixando-se em 953,7 milhões de euros, mas com o lançamento da TV por subscrição e a área empresarial a contribuírem para uma recuperação do negócio. 116 — Em milhares. * Acessos telefónicos principais. ** Clientes do retalho. *** Inclui limpeza da base de dados de 103 mil clientes. (1) Os valores até 2006 eram da PTM. 118 2008 (1.º sem.) — Fonte: PT, Relatórios e Contas Na melhoria do desempenho pesou ainda “o controlo rigoroso de custos, que continua a ser uma prioridade chave do segmento de rede fixa”. A redução de pessoal manteve-se, com a saída de mais 267 trabalhadores, a representar um custo de 78 milhões de euros (253 trabalhadores e custos de 84 milhões em Junho de 2007). Sem adiantar previsões, Zeinal Bava mostrou-se “confortável” com as perspectivas dos analistas para os resultados deste ano. Embora com a ressalva de que a consolidação da Telemig será de nove meses e das alterações da regulação. Mas garante que a PT continuará a apresentar uma “performance robusta”, depois de em 2007 o grupo ter registado receitas consolidadas de 6,14 mil milhões de euros (mais 6,6% que um ano antes), mais uma vez graças ao crescimento da Vivo e da TMN de, respectivamente, 17% e 2,7%. Os resultados líquidos fixaram-se em 742 milhões de euros (menos 14,4%), provocados pelos custos de 275,6 milhões de euros com o programa de redução de efectivos. O custo com o corte de 1004 trabalhadores na rede fixa foi de 289 milhões de euros, parcialmente compensado com um ganho de 14 milhões referente à liquidação de benefícios. Na que foi a última apresentação de contas liderada por Henrique Granadeiro, o agora chairman destacou que foi a opção responsável para “preparar a empresa para a nova realidade de mercado”. O EBITDA subiu 5,3%, para 2,35 mil milhões de euros. E o CAPEX foi de 899 milhões de euros, mais 3,6%. Só na rede fixa, o investimento cresceu 22,5%, para 292 milhões de euros. www.telecom.pt